124
FU WEN HSIEN Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas de Informática e Cidadania da Cidade de São Paulo PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO – 2004

Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

FU WEN HSIEN

Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas de Informática e Cidadania da Cidade de São Paulo

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO

SOCIAL

SÃO PAULO – 2004

Page 2: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

FU WEN HSIEN

Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas de Informática e Cidadania da Cidade de São Paulo

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, sob orientação da Profa. Dra. Mariangela Belfiore Wanderley.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO

SOCIAL

SÃO PAULO – 2004

Page 3: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________

___________________________________________

___________________________________________

Page 4: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Mariangela Belfiore Wanderley, minha orientadora, por

ter me acompanhado nesses dois anos e meio de estudos e de pesquisa; por

ter incrustado em mim conceitos indispensáveis para o estudo do Serviço

Social, contribuindo para a transformação do meu modo de pensar e de agir

perante a sociedade. Palavras são insuficientes para descrever a minha

gratidão e a honra de ter compartilhado de sua preciosa amizade.

À Profa. Dra. Carmelita Yazbek, pela honra de ter participado de uma

de suas disciplinas na Pós-graduação, ocasião em que, com seus inestimáveis

comentários, pude enriquecer meu conhecimento em Serviço Social.

Ao Prof. Dr. Fernando Almeida, por seu incentivo no estudo da

Inclusão Digital, sob a visão de educadores; e pelo seu sentimento nobre ao

compartilhar comigo a alegria do nascimento do meu filho Victor.

À Profa. Dra. Maria do Carmo Brant de Carvalho, Carminha, por suas

orientações no estudo sobre o Terceiro Setor no campo de Gestão Social; pela

serenidade com que transmite seus conhecimentos, despertando interesse.

À Profa. Dra. Luziele Tapajós, por seu incentivo e valorosa

contribuição como membro da Banca de Qualificação deste mestrado.

À Profa. Dra. Aldaíza Sposati, por seu incessante incentivo, que levou-

me a aprofundar o estudo do Serviço Social e o enriquecimento dos meus

conhecimentos, trazidos pelos debates de Exclusão e Inclusão Social.

Ao Prof. Dr. Luiz Eduardo Wanderley, por seu carisma, despertando

interesse no estudo de Ciências Sociais.

Page 5: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

À Profa. Dra. Dirce Koga, que sempre me ajudou nos dados da

pesquisa, principalmente na confecção do Mapa de Exclusão e Inclusão

Social da Cidade de São Paulo e por sua simpatia.

À Profª. Dra. Maria Lúcia Carvalho da Silva, Malú, por sua preciosa

amizade e porque sua visão apaixonante das situações do cotidiano e dos

movimentos sociais é um exemplo e um incentivo constante, particularmente

nos momentos difíceis, ao aprofundamento dos estudos e também para que

haja uma atuação concreta em prol da melhoria das sociedades.

A todos os professores que contribuíram para a consecução deste

estudo.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPQ), pelo apoio financeiro e incentivo a esta pesquisa.

Ao Prof. Dr. Robert Liang Koo, por ter me conduzido a conhecer o

verdadeiro caminho da Vida; por seu incentivo ao meu aperfeiçoamento

profissional e pela oportunidade da iniciação em serviço social nas

comunidades, o que inspirou o tema desta pesquisa.

Ao CDISP: Rodrigo Alvarez, Daniel, Elaine Souza, Fátima Oliveira e a

amiga Rosi, além de toda a equipe técnica, pelo auxílio indispensável a esta

pesquisa.

Aos coordenadores e educadores das Escolas de Informática e

Cidadania, pela receptividade e pelo fornecimento dos dados para este

estudo. Em especial, à Amparo, ao Itamar e à Gladis.

Às colegas e amigas que me acompanharam nestes dois anos e meio de

vivência nesta Universidade; em especial, à Carla, pela nossa participação

Page 6: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

no III Fórum Social Mundial; à Francisca, pela sua espontaneidade; à Ling,

pela sua simpatia; à Áurea, pelas suas mensagens confortantes; à Tânia e

Ana Paula, novas amizades, além de outros que porventura eu possa ter

omitido por um esquecimento involuntário. A todos, sem exceção, os meus

sinceros agradecimentos.

Em especial, dedico este trabalho à minha família;

À Julia Helena Fu, “a Dudita”, que mesmo sem entender, soube dar

importância a este estudo.

Ao Christian Andrei Fu, “o Quiquito”, que soube esperar o papai para

brincar.

Ao Victor Martin Fu, “o Quiquitinho”, que me tirou noites de sono.

À minha esposa, pela sua inteligência e paciência, pelo seu amor, por

saber me acalmar nas horas difíceis e me compreender nas horas

incompreensíveis.

Aos meus sogros, pelo apoio e incentivo incessantes durante o estudo:

“O conhecimento é o único bem que você pode ter e que não podem tirar de

você”.

Ao meu cunhado e à sua esposa Milena, pelo cuidado com os meus

filhos e apoio nos momentos difíceis. A Min, que mesmo longe revisou a

tradução do Resumo.

Aos meus pais, agradeço pela minha existência. Aos meus irmãos,

obrigado por seus cuidados e carinho.

Page 7: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

RESUMO Nosso estudo parte da hipótese de que, promovendo a inclusão digital, seria possível melhorar as condições de inclusão social por meio de inserção no mercado de trabalho, especificamente dos jovens da cidade de São Paulo. Desta forma, foi delineada esta pesquisa, com o intuito de caracterizar os jovens empobrecidos da cidade de São Paulo, alunos dos cursos de informática em três Escolas de Informática e Cidadania (EIC), apoiadas pelo Comitê para Democratização da Informática (CDI) de São Paulo, quanto ao conhecimento de informática; além de identificar as ações de inclusão digital nessas escolas e analisar se essas ações são indutoras de inclusão social. O estudo foi realizado por meio de entrevista, estruturada a partir de questões abertas e fechadas previamente estabelecidas. Foram entrevistados 30 jovens. Os resultados obtidos foram sistematizados e, posteriormente, analisados de forma qualitativa, sendo comparados a alguns indicadores de inclusão/exclusão social que compõem o Mapa de Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo de 2002. A análise foi realizada em três segmentos: conhecimento do perfil dos jovens entrevistados, conhecimento da sua situação socioeconômica e a apropriação e utilização dos conhecimentos adquiridos na EIC. Como complemento ao estudo, foram também entrevistados os professores/coordenadores das EICs, e questionados quanto ao seu entendimento sobre a inclusão digital como meio de inclusão social. Como resultados, pudemos perceber que as condições individuais e socioeconômicas de exclusão social dos jovens entrevistados são condizentes com os apontados pelos índices já existentes entre jovens empobrecidos, tais como: a escolaridade, cor da pele, renda, condições de moradia e de trabalho, e o acesso a lazer e cultura. A educação para a cidadania teve o seu papel fundamental em capacitar os jovens para a auto-organização, participação e intervenção social, melhorando a sua auto-estima e a sua qualidade de vida. Porém, a insuficiência de atividades socioculturais, demonstrada por algumas EICs, levou a resultados insatisfatórios quanto à inclusão social desses jovens, com limitação, inclusive, da sua prática de cidadania. Podemos concluir que a aquisição de novas tecnologias de informação e o acesso ao conhecimento, a inclusão digital, podem facilitar o acesso ao mundo do trabalho pelos jovens empobrecidos; mas que, por si só, é insuficiente como indutora da inclusão social, se não estiver aliada a meios de promoção das atividades socioculturais.

Page 8: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

ABSTRACT Our study starts from the hypothesis that, by promoting the digital inclusion, it would become possible to improve the social inclusion conditions, since it makes it easier to get a job, mainly for young people in São Paulo city. This research was done following this idea, in order to distinguish the poor young people from São Paulo city, that study in the information courses in three Information and Citizenship Schools (EIC), that are supported by the Information Democracy Committee (CDI) of São Paulo, based on information knowledge; besides that, we also intended to identify the digital inclusion actions in these schools, and to analyze if these actions influence the social inclusion. The research was done by structured interviews of open and multiple choices questions previously established. There were 30 interviews with young people that followed the conditions above. The results were qualitatively systematized and analyzed and they were compared to some social inclusion/exclusion indicators from the Social Inclusion/Exclusion Map of São Paulo City, 2002. The analysis was done in three segments: knowledge of the interviewed young people profile, knowledge of their social-economic situation and the learning and use of the knowledge acquired in the EIC. In order to improve this research, we also interviewed the teachers/coordinators of the EICs, and questionned them about their understanding of the digital inclusion as a way to the social inclusion. As results, we could feel that the individual and social-economic conditions of social exclusion of the interviewed young people are consonant to the ones showed by the already known indicators among poor young people, such as, such as: the scholarship, the color of the skin (ethnicity), the earnings, the home and job conditions and the access to leisure and culture. The education to the citizenship had a fundamental role to qualify the young people to the auto-organization, to the social participation and intervention, improving their self-esteem and the quality of their lives. Although, the lack of social-cultural activities, showed by some of the EICs, leaded to unsatisfactory results for the social inclusion of these young people, restricting also their citizenship practice. We can conclude that with the acquisition of new information technologies and the access to knowledge, the digital inclusion can ease the access to the job world by the poor young people, but this alone is not sufficient to promote the social inclusion, if this is not joined with the promotion of social-cultural activities.

Page 9: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

SUMÁRIO

Apresentação, 13

Capítulo I CENÁRIO E UNIVERSO DA PESQUISA, 17

1. Comitê para Democratização da Informática (CDI), 20

2. Inclusão/exclusão social na cidade de São Paulo, 25

3. Jovens da cidade de São Paulo: alguns dados relevantes, 29

4. Breve apresentação das Escolas de Informática e Cidadania (EICs), pesquisadas, 35

4.1 EIC InstitutoGabi, 35

4.2 EIC Gotas de Flor com Amor, 37

4.3 EIC Associação Beneficente Provisão, 39

Capítulo II OS PROCESSOS DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO DE JOVENS NA CIDADE DE

SÃO PAULO E ANÁLISE DA PESQUISA, 42

1. Inclusão/exclusão social dos jovens na cidade de São Paulo, 42

2. Exclusão/inclusão digital dos jovens na cidade de São Paulo, 52

3. Os jovens paulistanos e o acesso à cultura, 60

Capítulo III APRESENTANDO A PESQUISA REALIZADA, 65

1. Perfil dos jovens entrevistados da pesquisa, 65

2. Universo sociocultural dos entrevistados e suas famílias, 79

3. Apropriação e utilização dos conhecimentos adquiridos na EIC, 89

4. Motivação para o curso de informática, 94

5. Um destaque para a cidadania, 97

Considerações Finais, 101

Referências Bibliográficas, 107

Anexos, 112

Page 10: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição percentual dos jovens que estudam, segundo as Zonas Homogêneas.

Tabela 2: Jovens que estudam nas escolas públicas, privadas ou cooperativas, segundo as Zonas

Homogêneas.

Tabela 3: Inserção no mercado de trabalho dos jovens pesquisados pelo Mapa da Juventude,

segundo as Zonas Homogêneas.

Tabela 4: Setor onde os jovens do Mapa da Juventude trabalham, segundo as Zonas

Homogêneas.

Tabela 5: Fonte de renda entre os jovens paulistanos pesquisados pelo Mapa da Juventude.

Tabela 6: Cor da pele dos entrevistados do Mapa da Juventude.

Tabela 7: Localidade de acesso à Internet dos jovens pesquisados pelo Mapa da Juventude,

segundo as Zonas Homogêneas.

Tabela 8: Comparação entre IEX e ICJ dos distritos das EICs pesquisadas.

Tabela 9: Gênero dos entrevistados.

Tabela 10: Município de São Paulo – distribuição dos beneficiários dos programas

redistributivos, por sexo, em 2002.

Tabela 11: Idade dos entrevistados.

Tabela 12: Estado civil dos entrevistados.

Tabela 13: Escolaridade dos entrevistados.

Tabela 14: Cor da pele dos entrevistados.

Tabela 15: Comparação entre o Mapa da Juventude e a pesquisa atual.

Tabela 16: Situação de moradia I.

Tabela 17: Situação de moradia II.

Tabela 18 Número de pessoas que moram na casa dos entrevistados.

Tabela 19: Número de cômodos existentes na casa dos entrevistados.

Tabela 20: Número de pessoas que trabalham na casa dos entrevistados.

Tabela 21: Renda familiar dos entrevistados.

Tabela 22: A profissão que tem maior salário dentre as pessoas que moram na casa dos

entrevistados.

Tabela 23: Situação de trabalho dos entrevistados.

Tabela 24: Inserção no mercado de trabalho formal.

Tabela 25: Situação de trabalho dos entrevistados que responderam sim.

Tabela 26: Local onde os entrevistados costumam ter o lazer.

Page 11: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Tabela 27: Lugares onde os jovens pesquisados praticam suas atividades de lazer.

Tabela 28: Comparação das atividades de lazer entre os jovens do Mapa da Juventude e os

jovens da Pesquisa.

Tabela 29: Local onde a família dos entrevistados faz relacionamentos sociais.

Tabela 30: Atividades sociais e culturais nas EICs pesquisadas.

Tabela 31: Situação de utilização dos conhecimentos de informática pelos jovens entrevistados.

Tabela 32: Local onde os jovens entrevistados utilizam o computador.

Tabela 33: Situação de acesso à Internet pelos jovens entrevistados.

Tabela 34: Situação de acesso regular à Internet dos jovens entrevistados em comparação com os

jovens do Mapa da Juventude.

Tabela 35: Local onde os jovens entrevistados têm acesso à Internet.

Tabela 36: As atividades procuradas pelos jovens entrevistados em relação à Internet.

Tabela 37: Motivo que levaram os jovens entrevistados a procurar a EIC.

Tabela 38: Atividades extras que os jovens gostariam de aprender na EIC.

Tabela 39: Outras atividades extras que ampliam o universo cultural dos jovens entrevistados.

Tabela 40: Situação do educador como promotor de temáticas de cidadania.

Tabela 41: Temáticas sobre cidadania mais discutida em sala de aula.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Distritos por região, Cidade de São Paulo.

Quadro 2: Distritos da região sul da Cidade de São Paulo, com IEX e ICJ.

Quadro 3: Critérios de manifestação da Nova e da Velha Exclusão Social.

Quadro 4: Ranking de número de Hosts no Mundo.

Quadro 5: Ranking de número de Hosts na América.

Quadro 6: Atividades e equipamentos públicos que permitem acesso à cultura e lazer, nos

distritos de Capão Redondo, Jabaquara e Campo Belo.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Cidade de São Paulo e seus distritos, conforme IEX.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Uso da Internet, Mapa da Juventude de São Paulo, 2003.

Page 12: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1: Transcrição da fala dos coordenadores das EICs pesquisadas.

Anexo 2: Transcrição da fala de alguns alunos pesquisados.

Anexo 3: Ranking de IEX nos distritos do Município de São Paulo.

Anexo 4: Roteiro de entrevista.

LISTA DE SIGLAS

ACB – Ação Comunitária Brasil ABP – Associação Beneficente Provisão CCM – Cadastro de Contribuinte Municipal CDI – Comitê para Democratização da Informática CDM – Clubes Desportivos Municipais CEE – Centro Educacional Esportivo CEJ – Coordenadoria Especial da Juventude CEDEC – Centro de Estudos de Cultura Contemporânea CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária CEUS – Centros Educacionais Unificados CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica COHAB – Companhia de Habitação DER – Departamento de Estrada e Rodagem DUED – Departamento de Unidades Esportivas EIC – Escola de Informática e Cidadania IAE – Instituto Adventista de Ensino IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas ICJ – Indicador Composto Juvenil IDI – Índice de Discrepância IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IEX – Índice de Exclusão/Inclusão Social IEX DH – Índice de Desenvolvimento Humano IEX DX - INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais NEPSAS – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Seguridade e Assistência Social NIED – Núcleo de Informática Aplicada à Educação ONG – Organização não Governamental POLIS – Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa SAS – Secretaria de Atenção à Saúde UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas ZH – Zona Homogênea

Page 13: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

APRESENTAÇÃO

Este estudo tem como origem o interesse de aprofundar o conhecimento sobre a

inclusão digital como promotora de inclusão social para jovens da cidade de São Paulo,

por meio da capacitação/qualificação para o mercado de trabalho. É uma pesquisa

realizada a partir de uma organização do terceiro setor, denominado Comitê para

Democratização da Informática (CDI), que tem por objetivo instalar equipamentos de

informática nas comunidades em situação de exclusão social, oferecendo aos jovens o

conhecimento de informática por meio de discussões de cidadania.

O objeto de análise é a inclusão digital como indutora da inclusão social de

jovens empobrecidos, através do estudo das ações desenvolvidas pelo CDI, por meio de

Escolas de Informática e Cidadania (EICs), situadas na Zona Sul do Município de São

Paulo.

Os objetivos gerais são conhecer o modo de acesso de jovens empobrecidos aos

conhecimentos de informática; identificar as ações de inclusão digital; e analisar se estas

são fomentadoras de inclusão social.

Para a realização deste estudo, foram tomados dois indicadores básicos de

inclusão de jovens empobrecidos: a inserção no mercado de trabalho e a participação em

atividades socioculturais.

A partir das questões seguintes - que estão na origem deste estudo: A

alfabetização digital é uma ferramenta essencial para a inserção do jovem no mercado de

trabalho? As aquisições sociotecnológicas ampliam o universo cultural dos jovens

empobrecidos? Assim como suas redes sociais? - formulamos a seguinte hipótese

orientadora deste estudo: as aquisições sociotecnológicas obtidas nas EICs ampliam as

possibilidades de inclusão social para os jovens empobrecidos.

Page 14: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Definimos como objetivo principal: analisar as possibilidades de inclusão social

de jovens empobrecidos, pela alfabetização digital promovida pelas EICs, subsidiadas

pelo CDI-São Paulo, organização não-governamental (ONG) que mais empreende

inclusão digital no Brasil.

Os objetivos específicos são os seguintes: Conhecer a proposta de atuação do

CDI; Conhecer como se dá o aprendizado de informática dos jovens que participam das

atividades das EICs; Identificar atividades socioculturais potencializadoras da inclusão

social; Contribuir para ampliar a reflexão sobre o tema da inclusão digital.

O seguinte o caminho metodológico foi empreendido:

1- Pesquisa bibliográfica sobre a temática, inclusive na rede mundial de computadores;

2- Aproximação da temática da inclusão digital pela participação em encontros e

eventos;

3- Pesquisa documental da ONG CDI e das EICs pesquisadas;

4- Pesquisa de campo.

A escolha do universo da pesquisa, as regiões sul, sudeste e centro-sul da cidade

de São Paulo, que possuem 36 dos 96 distritos da cidade, deve-se ao fato de que, nesse

espaço territorial, há distritos com IEX DH polarizados.

Para definir a amostra, utilizamos o Mapa da Exclusão/Inclusão Social da cidade

de São Paulo1, 2002, elaborado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Seguridade e

Assistência Social (NEPSAS-PUC/SP), Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe),

Programa de Pesquisas em Geoprocessamento e Instituto de Estudos, Formação e

Assessoria em Políticas Sociais (Polis). O Mapa da Exclusão/Inclusão Social, segundo

seus pesquisadores, é “uma metodologia de análise geo-espacial de dados e produção de 1 SPOSATI, Aldaíza (Coord.). Mapa da exclusão/inclusão social da cidade de São Paulo: dinâmica social nos anos 90. São Paulo: PUC/SP: Pólis: Inpe, 2000b. (CD-ROM).

Page 15: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

índices intra-urbanos sobre a exclusão/inclusão social e a discrepância territorial da

qualidade de vida”. Ele permite conhecer “o lugar” dos dados (sua posição geográfica no

território) como elemento para a análise geoquantitativa da dinâmica social e da

qualidade ambiental. Constrói índices de discrepância (IDI) e IEX. Foram escolhidas

para compor a amostra da pesquisa, as EICs, localizadas nos distritos, com menor, com

médio e com maior IEX DX2.

Os distritos que compõem o universo da pesquisa são: Vila Mariana, Moema,

Saúde, Campo Belo, Santo Amaro, Jabaquara, Campo Grande, Pari, Brás, Belém,

Tatuapé, Mooca, Água Rasa, Carrão, Vila Formosa, Aricanduva, Ipiranga, Vila

Prudente, São Lucas, Sapopemba, Cursino, Sacomã, Vila Andrade, Campo Limpo,

Capão Redondo, Jardim São Luis, Socorro, Cidade Dutra, Cidade Ademar, Pedreira,

Grajaú, Parelheiros e Marsilac. Os distritos escolhidos para fazer parte da amostra foram

os seguintes: Campo Belo, Capão Redondo e Jabaquara.

A pesquisa qualitativa foi realizada por meio de entrevistas, estruturadas a partir

de questões abertas e fechadas, previamente estabelecidas.

Para sistematização e análise, os dados coletados nas entrevistas foram tratados,

de modo a facilitar a compreensão crítica.

O público atendido pelas EICs é composto de jovens de ambos os sexos, com

escolaridade variada, com ou sem trabalho e na faixa etária entre 16 a 21 anos.

Foram entrevistados 30 alunos, de três EICs: Gotas de Flor com Amor, Fundação

Gabi e Associação Beneficente Provisão, localizados em distritos cujos IEX DH são –

0,72, -0,36 e 0,59, respectivamente, e ICJ 0,22, 0,39 e 0,59, respectivamente.

Esta dissertação está estruturada em três capítulos e Consideração Final, quais

sejam:

2 Anexa a tabela com os índices de IEX de todos os distritos da cidade de São Paulo. Fonte: Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo.

Page 16: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

- Capítulo 1: Cenário e Universo da Pesquisa;

- Capítulo 2: Os Processos de Inclusão/Exclusão de Jovens na Cidade de São Paulo e

Análise da Pesquisa;

- Capítulo 3: Apresentando a Pesquisa Realizada;

- Considerações Finais.

No Capítulo 1, mostramos o cenário da nossa pesquisa, que é composta da

análise da ONG denominada CDI; da inclusão e exclusão, na cidade de São Paulo, de

jovens da cidade de São Paulo; e uma breve apresentação das EICs pesquisadas.

No Capítulo 2, apresentamos os processos de inclusão e exclusão de jovens na

cidade de São Paulo. Neste processo, abordamos as inclusões e exclusões sociais e

digitais dos jovens da cidade de São Paulo e o seu acesso à cultura.

No Capítulo 3, analisamos o conteúdo do roteiro da pesquisa efetuada nas EICs

selecionadas, através do perfil dos jovens entrevistados, do nível sociocultural dos

entrevistados e suas famílias e da apropriação e utilização dos conhecimentos

disponíveis na EIC.

E, por fim, nossa conclusão está explicitada nas Considerações Finais.

Page 17: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

CAPÍTULO I

CENÁRIO E UNIVERSO DA PESQUISA

Apresentamos, neste capítulo, uma breve reflexão acerca do cenário no qual esta

pesquisa está inserida, bem como sobre alguns dos princípios norteadores que

subsidiaram nossa análise.

Antes de tratar do tema propriamente dito, a inclusão digital como promotora da

inclusão social, tornou-se necessário um olhar sobre o cenário nacional para, então, nos

voltarmos à cidade de São Paulo, local desta pesquisa.

Não pretendemos, aqui, reconstruir definições a respeito de inclusão/exclusão

digital e social, mas estabelecer um estudo sobre a inclusão social mediada pela inclusão

digital; reconhecer como se processa a inclusão digital nas comunidades e sua relação

com o exercício da cidadania entre os jovens.

A temática envolvida nos fez percorrer alguns caminhos. Buscamos entender a

inclusão digital desde sua gênese até os dias de hoje e suas implicações sobre a inclusão

social.

Em Jean Lojkine, na obra A Revolução Informacional, fomos buscar as questões

colocadas pela máquina-ferramenta, quando ele considera que:

(...) as dificuldades para manipular um material delicado ou superior à

força física humana – todos estes problemas implicaram uma revolução

na organização das fábricas e dos meios de transporte e de comunicação,

sem mencionar o esforço de pesquisa científica ligada à indústria. Mas o

que vale para a base tecnológica, vale ainda mais para a força de

trabalho humana: seu desperdício sem limites, bem como a sua

desqualificação, nos primórdios da grande indústria, que acabaram por

provocar crises profundas na própria regulação capitalista. (LOJKINE,

2002:61)

Page 18: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Quanto ao estudo da inclusão/exclusão digital, tomamos como base as seguintes

obras: Exclusão Digital: A Miséria na Era da Informação (2001); Software Livre e

Inclusão Digital (2003), ambas de Sérgio Amadeu da Silveira; o Mapa da

Inclusão/Exclusão Digital, lançado em 2003 pela ONG CDI e a Fundação Getúlio

Vargas. Pesquisas de informações na Internet também complementaram este estudo.

No que se refere às questões de inclusão/exclusão social, baseamo-nos nos

estudos e análises de José de Souza Martins, Robert Castel, Aldaíza Sposati, Mariangela

Belfiore Wanderley, Maria do Carmo Brant de Carvalho, Gilberto Dupas, Dirce Koga, e

Márcio Pochmann.

O principal eixo temático tomado para análise, neste trabalho, é a inclusão digital

como elemento importante para a inclusão social.

Historicamente, os primeiros sinais de exclusão digital foram identificados após a

Revolução Industrial, no século XVIII, na Inglaterra; tendo ganhado reforço posterior,

no século XIX, com a revolução nos Estados Unidos e na Inglaterra. Essas revoluções

geraram o uso intensivo de novas fontes de energia, exigindo, de seus usuários, o

conhecimento de novas tecnologias.

Porém, o período que caracteriza o início da era da exclusão digital (se é que

podemos assim denominar) situa-se em meados do século XX, após as duas grandes

guerras mundiais, com o advento do computador. Esse instrumento era utilizado

inicialmente para realizar cálculos balísticos, auxiliando na trajetória dos mísseis. Em

1951, com a evolução, esse equipamento, passou a processar dados numéricos e

alfabéticos. Em 1953, a empresa IBM lançou os seus primeiros mainframes3. Em 1971,

teve início a era dos microprocessadores, que permitiram multiplicar inúmeras vezes a

capacidade de processamento de dados. Em 1978, foi criado o Apple II, um

microcomputador “caseiro”, com monitor colorido, entrada para discos flexíveis e,

3 Computador de grande porte, que pode ser acessado através de um terminal remoto, isto é, por um conjunto composto de monitor e teclado.

Page 19: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

concomitantemente, foi apresentado o primeiro programa de computador de planilhas e

cálculos, o VisiCalc.

No final dos anos 1970, a redução do tamanho do computador possibilitou o seu

uso em várias atividades econômicas, culturais, educacionais, e, posteriormente, em

domicílios. Além disso, a sua capacidade de processar informações vem aumentando

progressivamente.

Em 1969, a ARPANET4, acrônimo de ARPA5 Network, conseguiu interligar

quatro centros universitários dos Estados Unidos: Stanford, Berkeley, Ucla e Utah,

proporcionando o surgimento da Internet. Essas experiências progrediram e, a partir dos

anos 90, geraram a explosão das conexões à Internet para todos os computadores,

inclusive os domiciliares.

No Brasil, essas tecnologias chegaram no final dos anos 1980 e, imediatamente,

foram sendo apropriadas pelo mercado, pela política, pela educação e, lentamente, pelos

domicílios. Conseqüentemente, exigiram a capacitação dos trabalhadores na aquisição

de novas proficiências para operar as máquinas. Assim, o mercado de trabalho, cada vez

mais, passou a exigir mão-de-obra qualificada para operar essas novas tecnologias,

condenando grande massa de trabalhadores analfabetos digitais ao desemprego e à

exclusão social.

A ONG CDI surgiu nesse contexto, com o objetivo de atuar em favor dos jovens

que vivem em comunidades socialmente excluídas, que não conseguem ingressar em seu

primeiro emprego por falta de proficiência digital, fomentando a democratização do

conhecimento da informática nessas comunidades.

4 Pesquisadores do Lincoln Lab do Instituto de Tecnologia de Massachussets, como Paul Baran, Larry Roberts, Ivan Sutherland e Bob Taylor, criaram a Arpanet. 5 Advanced Research Projects Agency, criado pelo presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, com o intuito de pesquisar e desenvolver projetos militares que recuperem a vanguarda tecnológica norte-americana.

Page 20: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Escolhida como objeto empírico desta pesquisa, apresentamos a seguir, a ONG

CDI: sua história, missão e estratégia a favor da inclusão digital.

1. Comitê para Democratização da Informática (CDI)

O CDI é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, sem vínculos

partidários ou religiosos, que tem como objetivo proporcionar às comunidades de baixa

renda o mais amplo acesso e uso da informática. O CDI foi fundado no Rio de Janeiro,

em 1995. Sua atividade principal é a criação de Escolas de Informática e Cidadania

(EICs), que promovem o acesso às técnicas e ao uso da informática, às pessoas que

fazem parte de comunidades de baixo poder aquisitivo e/ou com necessidades especiais.

Os cursos oferecidos pelas EICs possibilitam aos alunos o conhecimento da realidade

em que vivem. Isto significa que os alunos são estimulados a refletir criticamente sobre

as suas necessidades e suas lutas pelos direitos da cidadania.

O CDI oferece gratuitamente, às comunidades, capacitação de educadores,

auxílio no desenvolvimento de metodologias, currículos específicos para diferentes

grupos sociais, cedendo, também, computadores, impressoras, softwares e apostilas para

auxiliar o trabalho dos educadores. Além do acompanhamento técnico e pedagógico

permanente, o CDI também presta assessoria administrativa.

O modelo de escola desenvolvido pelo CDI tem sido tão bem-sucedido que

pessoas de diversas regiões do Brasil e do mundo procuram essa ONG, dispostas a

implementar EICs em suas comunidades e países. Porém, a simples implementação de

uma EIC não é suficiente para o seu sucesso. É necessário, também, um grupo de apoio

para que as EICs e o projeto de democratização da informática obtenham o sucesso

objetivado. É fundamental, portanto, que exista esse grupo organizado, com as seguintes

finalidades: Fazer contatos com organizações comunitárias e/ou organizações não-

governamentais que irão, efetivamente, montar as escolas; Organizar campanhas para

Page 21: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

arrecadar equipamentos e fundos para viabilizar projetos; Dar suporte técnico,

pedagógico e metodológico às EICs, incluindo a capacitação dos futuros instrutores.

Cada CDI é formado, inicialmente, por uma equipe de voluntários (pessoas

dispostas a lutar pela democratização da informática) que cumpre as três funções antes

mencionadas. Esse grupo requer um perfil que o qualifique para cumprir essas funções,

ou seja, experiência com comunidades e/ou organizações não-governamentais de modo a

viabilizar parcerias; formação pedagógica e noção avançada de informática para ensinar

aos futuros instrutores das EICs; além de conhecimentos técnicos em software e

hardware necessários à montagem e instalação de computadores; e, ainda, capacidade

para articular campanhas de arrecadação de equipamentos e solicitar o apoio de

empresários, companhias e outras instituições. O grupo assim formado é denominado de

CDI Regional ou CDI Internacional. Atualmente, existem no Brasil 37 CDIs Regionais e

dez Internacionais. Todos esses fatores podem ser resumidos na seguinte lista de

recursos necessários para o sucesso de um CDI:

• Recursos humanos: contatos com organizações e comunidades, gerenciamento de

voluntários, secretariado;

• Recursos técnicos: manutenção de computadores, instalação de software,

conectividade à Internet, gerenciamento de correios eletrônicos;

• Recursos financeiros: campanhas de arrecadação de equipamentos e arrecadação

de verbas para projetos (incluindo divulgação na mídia local), contatos com

grupos empresariais.

Eventualmente, um CDI pode até tornar-se juridicamente uma organização não-

governamental. Foi isso que aconteceu com o CDI-RJ (hoje, CDI Matriz), o que

possibilitou a arrecadação de verbas e a formação de parcerias com diversas fundações

para montar uma equipe de profissionais que se dedicam unicamente à democratização

da informática. Os CDIs contam com o apoio do CDI Matriz para viabilizar seus

projetos. A equipe trabalha para auxiliar todos os CDIs através de novos canais de

Page 22: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

comunicação, novos materiais didáticos, e de campanhas de arrecadação de

equipamentos e verbas.

Em seus nove anos de atuação, e graças aos seus voluntários e parceiros, o CDI

já conta com mais de 600 EICs, além de ter parcerias importantes com empresas,

fundações e o poder público. A maior parte da atuação do CDI realiza-se pelo trabalho

voluntário. Bastante heterogêneo e com características complementares, o Grupo de

Voluntários do CDI é o principal responsável pelo crescimento e manutenção da

iniciativa.

Nesses anos de existência, o CDI conta com uma rede de 671 EICs em todo o

Brasil e 33 no Exterior e já capacitou mais de 293.440 mil crianças6, jovens e adultos em

informática e cidadania.

O CDI-SP recebe apoio de empresas, fundações e do poder público, o que

demonstra um claro reconhecimento do trabalho desenvolvido. Essas parcerias, que vão

desde a doação de equipamentos, ou recursos financeiros, até o engajamento direto em

seus projetos, têm sido vitais para o desempenho de sua missão de levar a informática e

cidadania a comunidades em situação de exclusão social.

O projeto pedagógico utilizado pelo CDI-SP foi elaborado pelo Núcleo de

Informática Aplicada à Educação (Nied), da Universidade de Campinas (Unicamp),

com o apoio da sua equipe pedagógica. Nesse modelo pedagógico, o ensino de

informática não é efetuado apenas pela instrumentalização do aluno nas ferramentas

comerciais mais usadas, mas na discussão de questões e projetos relativos à cidadania e

aos interesses dos participantes. As EICs seguem uma Proposta Político-Pedagógica

desenvolvida pelo CDI que está baseada na Pedagogia de Projetos. A Proposta procura

disseminar nas comunidades beneficiadas o ensino técnico aliado a temas da realidade

local. Para cada ferramenta computacional, é elaborado um projeto que envolve um

processo de reflexão/ação. Utilizando a linguagem digital como meio, o conteúdo

6 Informações obtidas através do coordenador de CDI-SP, estatística de 2002.

Page 23: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

didático fomenta a construção da cidadania, por meio de discussões envolvendo temas

como os direitos humanos, sexualidade, não-violência, ecologia e saúde.

O CDI-SP, formado há pouco mais de cinco anos, conta com 21 EICs em

funcionamento. Foram atendidos mais de 2.000 alunos, principalmente jovens de

periferia da cidade. Os cursos são ministrados por 120 instrutores, que aplicam a

metodologia de ensino desenvolvida pelo CDI Matriz ao longo dos oito anos de

experiência. O conteúdo das aulas abrange o aprendizado de Informática e Cidadania por

meio de atividades práticas e do cotidiano dos alunos.

As aulas e as condições de infra-estrutura de algumas EICs podem ser

enriquecidas por empresas parceiras e por voluntários. As melhores iniciativas e

soluções são sistematizadas e disseminadas para a rede de Escolas de São Paulo. O

aumento do número de EICs depende da quantidade de computadores disponíveis, da

equipe de capacitação pedagógica e da estrutura de acompanhamento (equipe e

recursos).

O modelo administrativo das EICs está baseado na auto-sustentabilidade. O CDI

implementa dois tipos de Escolas de Informática e Cidadania: as EICs financiadas, as

quais são mantidas pela instituição parceira; e as denominadas EICs auto-sustentáveis,

que se mantém através da cobrança de uma taxa simbólica de mensalidade. Essas

últimas são sediadas, em sua maioria, por entidades comunitárias.

As EICs são autônomas, ou seja, elas pertencem e são gerenciadas pelas

entidades parceiras responsáveis pelo projeto, as quais também oferecem o espaço físico

para a implantação das escolas. Esse espaço deve ser próprio, com instalação elétrica,

iluminação e ventilação adequadas.

Cada EIC é implementada com cinco computadores e uma impressora. As turmas

têm capacidade para dez alunos cada uma (dois alunos por computador), em aulas

semanais de três horas. Logo, com seis horas de funcionamento diário, durante cinco

Page 24: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

dias por semana, cada EIC pode abranger dez turmas, totalizando cem alunos

matriculados nos cursos. Esses cálculos levam em consideração a capacidade média de

funcionamento de uma EIC. Assim sendo, fica a critério de cada unidade o

preenchimento de horários noturnos e aos sábados.

Estipulando uma mensalidade simbólica de R$ 15,00 a R$ 20,00 por aluno, cada

EIC tem capacidade de arrecadar R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00 por mês7, para pagamento

de instrutores e despesas de manutenção. O baixo custo operacional possibilita o rateio

de aproximadamente 50% da receita para a manutenção da escola.

A cidade de São Paulo possui 21 EICs distribuídos em seu território, sendo que

52,38% das escolas ficam nas regiões sul, centro-sul e sudeste. Nessas regiões, há 11

EICs, a saber: Lar Redenção, Kagohara, Gotas de Flor com Amor, Associação

Comunitária Favela Monte Azul, Aldeias Infantis SOS, EE 2º Grau Padre Sabóia de

Medeiros, Mamãe, Creche Irene, Fundação Gabi, Associação Beneficente Provisão e

Associação de Amigos de Americanópolis. Todas essas comunidades ou instituições

atendem a seu público interno, quando há, e à comunidade local, principalmente jovens

paulistanos de áreas que apresentam indicadores de exclusão social.

A seguir, apresentamos a caracterização do Município de São Paulo, cenário de

nossa pesquisa, especialmente no que diz respeito à juventude, elaborada a partir de

dados contidos em:

- Estudo elaborado pela Prefeitura de São Paulo, em 2003, com algumas

perspectivas sobre os jovens da cidade de São Paulo, pois eles fazem parte do

universo desta pesquisa;

- Mapa da Juventude8;

- Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, 2000/2002.

7 Cotação de dólar em 8 de agosto de 2004, no mercado paralelo, é de R$ 3,06/US$ 1,00. Baseado nesta cotação, as mensalidades simbólicas são de US$ 4,90/US$ 6,53, as EICs arrecadam entre US$ 490,19/US$ 653,59 para suas despesas. 8 Coordenadoria Especial da Juventude da Prefeitura do Município de São Paulo.

Page 25: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

2. Inclusão/ exclusão social na cidade de São Paulo

Figura 1. Cidade de São Paulo e seus distritos, conforme o IEX.

Fonte: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/subprefeituras/projeto/0010 (acesso em 3 set.2004)

Neste item, apresentamos os dados sobre a cidade de São Paulo, município onde

estão inseridas as organizações sociais pesquisadas, e que é parte relevante do cenário

da nossa pesquisa, pois subsidia a análise a ser apresentada posteriormente.

A cidade de São Paulo está localizada em uma área de 1.522.986 km2, IDH de

0,81 e 10.434.252 habitantes. Sua densidade demográfica9 é de 6.914,68 habitantes/km2.

A população urbana (9.813.187) é superior à rural ( 621.085) e a taxa de urbanização10 é

de 90,04%. Possui 1.650 pré-escolas, 2.204 de ensino fundamental e 1.007 de ensino

médio. (11)

A cidade de São Paulo é constituída de 96 distritos, que são agrupados em

regiões denominadas Norte1 e Norte2, Leste1 e Leste2, Centro, Oeste, Sul1 e Sul2

(Quadro 1):

Quadro 1: Distritos por região, Cidade de São Paulo

Região Distritos Norte1 (Noroeste)

Anhangüera, Perus, Jaraguá, Pirituba, São Domingos, Brasilândia e Freguesia do Ó.

Norte2 (Nordeste)

Tremembé, Cachoeirinha, Jaçanã, Mandaqui, Tucuruvi, Vila Medeiros, Limão, Santana, Casa Verde, Vila Guilherme e Vila Maria.

Leste1 Cangaíba, Emelino Matarazzo, Ponte Rasa, Penha, Vila Matilde, Artur Alvim, Itaquera, Cidade Líder, Parque do Carmo, Cidade Líder, José Bonifácio, São Mateus, São Rafael e Iguatemi.

Leste2 Jardim Helena, São Miguel, Vila Jacuí, Vila Curuçá, Itaim Paulista, Lajeado, Guaianazes e Cidade Tiradentes.

9 IBGE, 2000. 10 IBGE, 2000. É o percentual da população urbana em relação à população total e calculado, geralmente, a partir de dados censitários, segundo a fórmula: Taxa de Urbanização = População Urbana/População Total x 100 (População Urbana dividida pela População Total, multiplicado por cem). 11 As informações contidas neste parágrafo estão disponíveis no endereço www.prefeitura.sp.gov.br.

Page 26: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Centro Bom Retiro, Santa Cecília, República, Consolação, Sé, Bela Vista, Liberdade e Cambuci.

Oeste Jaraguá, Vila Leopoldina, Lapa, Barra Funda, Perdizes, Alto de Pinheiros, Jaguaré, Pinheiros, Jardim Paulista, Butantã, Rio Pequeno, Raposo Tavares, Vila Sônia, Morumbi e Itaim Bibi.

(Continuação)

Centro-Sul

Vila Mariana, Moema, Saúde, Campo Belo, Santo Amaro, Jabaquara e Campo Grande.

Sul1 (Sudeste)

Pari, Brás, Belém, Tatuapé, Mooca, Água Rasa, Carrão, Vila Formosa, Aricanduva, Ipiranga, Vila Prudente, São Lucas, Sapopemba, Cursino e Sacomã.

Sul2 (Sul) Vila Andrade, Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim São Luis, Socorro, Cidade Dutra, Cidade Ademar, Pedreira, Grajaú, Parelheiros e Marsilac.

Fonte: http://www6.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/planejamento/mapas/0001/upload_fs/00_SUB_GRUPOS09_06-09-02-Model.jpg .Acesso em: 22 ago. 2003.

Reunindo os distritos da região Centro-Sul, Sudeste e Sul, há 35 distritos, que

representam 36,45% da sua totalidade, encontrando, nesse espaço territorial, bairros com

várias características. Se tomado como indicador o desenvolvimento humano, os índices

variam desde –1,00 até +1,00 conforme o Mapa da Inclusão e Exclusão Social (2002). O

índice negativo representa a intensidade de exclusão social, contrário ao índice no

sentido positivo.

Segundo o Mapa da Inclusão/Exclusão da Cidade de São Paulo, classifica-se com

o índice–1 o distrito onde a oferta de emprego é nula, há cerca de 10 % de chefes de

família sem rendimentos, além de um grande número de adultos e de crianças como

moradores de rua12, ou mesmo, quando possuem moradia, estas estão em condições de

extrema precariedade, sendo, em sua quase totalidade, desprovidas de saneamento

básico. Quanto à questão educacional, um terço da população condizente não tem acesso

ao ensino fundamental; e o índice de analfabetismo entre as populações adulta e infantil

é elevado. Os habitantes de distritos assim classificados, na prática, não possuem acesso

12 Esses números absolutos são indicadores de população adulta e infantil de rua para distritos com IEX –1 da tabela de descrição dos padrões territoriais de inclusão social em autonomia – dados de São Paulo, 1991-1993. Mapa de Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, 2000.

Page 27: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

a serviços básicos de saúde; e sofrem ainda com altos índices de violência. Nessas

condições, muitas vezes, a liderança nas famílias fica a cargo de mulheres e, entre elas,

com alto índice de analfabetismo. A título de exemplo, o distrito com maior índice de

exclusão social encontra-se na zona sul, sendo representado pelo Jardim Ângela, seguido

de Grajaú e Parelheiros; os dois primeiros concentram a maior porcentagem de crianças

e jovens da cidade de São Paulo, juntamente com os distritos de Cidade Ademar e

Jardim São Luiz.

Na mesma zona sul da cidade de São Paulo, é possível encontrar distritos cujo

índice de exclusão social é próximo a zero, como, por exemplo, o distrito de Jabaquara,

cujo índice é de –0,23, representando alguma tendência à exclusão social, com

crescimento de 0,20% ao ano; densidade demográfica de 151,91 habitantes/km2,

totalizando 214.199 habitantes e abrangendo uma área de 1.410 km2. Situado na região

sudoeste, o distrito é composto pelos bairros de Parque Jabaquara, Vila Guarani, Vila do

Encontro, Jardim Oriental, Vila Parque Jabaquara, Vila Santa Catarina, Vila Babilônia,

Vila Paulista, Jardim Jabaquara, Cidade Vargas, Vila Faccine e Americanópolis.

O distrito de Vila Mariana é tem o mais alto índice de inclusão, apresentando

0,72 de IEX. Possui 123.618 habitantes, em uma área com 8,6 km2, e está localizado na

região centro-sul de São Paulo.

Esses índices sofrem influência da heterogeneidade das condições

socioeconômicas que caracterizam o distrito:

“Analisando detalhadamente indicador por indicador e as condições

de vida dos distritos, é possível verificar que a exclusão está presente em

territórios incluídos e vice-versa. Por exemplo, o distrito do Morumbi,

embora apresentasse em 1991 o maior percentual de chefes de família da

cidade que ganham mais de 20 salários mínimos (38,6%), também é o

distrito com as mais altas taxas de densidade populacional, ultrapassando a

4 pessoas por domicílio, em grau de igualdade no ‘ranking’ com Jardim

São Luiz e Perus. A presença de áreas faveladas, como a de Paraisópolis,

pode estar interferindo nestas notas negativas do distrito. Assim, o

Page 28: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

território do Morumbi apresenta maiores desigualdades internas do que

alguns outros distritos incluídos da cidade, como Moema e Alto de

Pinheiros.” (KOGA, 2003:218)

A seguir, caracterizamos os jovens da Cidade de São Paulo quanto ao seu perfil

socioeconômico, situando-os de acordo com os indicadores do Mapa de

Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo e do Mapa da Juventude;

especificamos, também, dados relacionados ao seu acesso a informações através de

Internet, que indicam a sua capacidade digital. E, por fim, apresentados as EICs que

constituem o universo desta pesquisa, as quais estão localizadas na zona sul da cidade de

São Paulo, e os princípios que nortearam a escolha delas.

3. Jovens da cidade de São Paulo: alguns dados relevantes

Dada a particularidade do nosso objeto de estudo, tomamos como um dos

parâmetros, para a construção da nossa amostra, o Mapa da Juventude de São Paulo,

uma pesquisa realizada por meio de parceria entre a Coordenadoria Especial da

Juventude (CEJ) e o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), que criou o

Indicador Composto Juvenil (ICJ), utilizado para agrupar os distritos de São Paulo em

cinco conglomerados, os quais foram denominados de Zonas Homogêneas (ZH).

O ICJ foi construído através das variáveis escolhidas a partir dos resultados de

pesquisas anteriormente realizadas pela PUC/SP – Mapa da Exclusão Social; pelo Cedec

- Mapas de Risco da Violência; e pela Faculdade de Medicina da Universidade de São

Paulo (USP) – Análise do Fluxo da População em Busca de Atenção à Saúde.

As ZH são numeradas de um a cinco, sendo a ZH 1 aquela que reúne os distritos

com as melhores condições para os jovens e, a ZH 5, as piores. A idade média dos

jovens identificados por esses indicadores foi de 18,6 anos, com mediana de 18 anos.

Nesse estudo, os jovens foram assim caracterizados: a maioria (51,9%) representada por

Page 29: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

jovens de cor “branca”; seguida da cor “parda”, com 28,6%; e 14,8% de cor

“preta/negra”. A cor “indígena” representa 2,3% e, por fim, a cor amarela, com 2,1%. O

tempo médio de residência em São Paulo, entre aqueles não nascidos na cidade, foi de

11,2 anos.

No Quadro 2, estão representados os distritos da região sul da cidade de São

Paulo, e seus respectivos índices de exclusão13, o ICJ14 e, quando é o caso, as EICs

sediadas nos distritos.

Quadro 2: Distritos da região sul da cidade de São Paulo, com IEX e ICJ

Distrito IEX, 2000 ICJ, 2003 EICs Jardim Ângela -1,00 0,18 Kagohara

Grajaú -0,98 0,14 Projeto Anchieta Parelheiros -0,88 0,13

Pedreira -0,83 0,21 Mamãe (Fundação Telefônica) Capão Redondo -0,72 0,22 Creche Irene, Associação Provisão Cidade Ademar -0,67 0,23

Marsilac -0,66 0,25 Sapopemba -0,64 0,28

Jardim São Luís -0,61 0,25 Associação Comunidade Favela Monte AzulCidade Dutra -0,54 0,30 Campo Limpo -0,54 0,29 Vila Andrade -0,48 0,33

Jabaquara -0,36 0,39 Am. de Americanópolis, Instituto Gabi Brás -0,34 0,49

Sacomã -0,31 0,36 Aricanduva -0,29 0,41 São Lucas -0,27 0,44

Vila Prudente -0,23 0,47 Carrão -0,12 0,52

13 Mapa da Exclusão / Inclusão Social, dados 2002. 14 Essas variáveis foram escolhidas a partir dos resultados de pesquisas anteriormente realizadas pela Fundação Seade (Índice de Vulnerabilidade Juvenil), pelo Cedec (Mapa da Exclusão Social e Mapas de Riscos da Violência) e pela Faculdade de Medicina da USP (Análise do Fluxo da População em Busca de Atenção a Saúde). Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo.

Quadro 2. Distritos da região sul da cidade de São Paulo, com IEX e ICJ

(Continuação)

Page 30: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Vila Formosa -0,09 0,46 Ipiranga -0,08 0,51 Belém -0,06 0,52 Lar Redenção (Telefônica)

Cursino -0,04 0,50 Água Rasa -0,04 0,55

Mooca -0,02 0,64 Pari 0,00 0,52

Campo Grande 0,00 0,51 Socorro 0,02 0,46 Tatuapé 0,14 0,64 Saúde 0,19 0,61

Campo Belo 0,25 0,59 Gotas de Flor com Amor Vila Mariana 0,32 0,65 Aldeias Infantis SOS Santo Amaro 0,34 0,65 EE 2º Grau Sabóia de Medeiros

Itaim Bibi 0,35 0,74 Moema 1,00 0,77

A identificação dos distintos perfis dos distritos baseou-se em um ICJ construído

com as seguintes , variáveis:

• percentual da população jovem no conjunto do distrito;

• taxa anual de crescimento populacional do distrito entre 1991 e 2000;

• percentual de mães adolescentes no total de nascidos vivos;

• coeficiente de mortalidade por homicídios na faixa etária de 15 a 24 anos;

• percentual de jovens que não freqüentam a escola;

• coeficiente de viagens por motivo de lazer, por distrito;

• índice de mobilidade da população de 15 a 24 anos;

• valor do rendimento médio mensal familiar.

A partir da análise dessas variáveis foi criada uma nota para cada distrito. O

melhor distrito recebeu nota 1 e, o pior, nota 0, sendo que as notas dos outros distritos

foram distribuídas proporcionalmente. Ao final, apurou-se a média ponderada, que levou

ao indicador composto juvenil (Tabela 2). A partir da definição do ICJ, os distritos

foram agrupados em cinco, sendo denominados de Zonas Homogêneas (ZH). A ZH1 é

aquela que reúne os distritos com as melhores condições para os jovens e, a ZH5, as

piores.

Page 31: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

A Tabela 1 corresponde à distribuição percentual dos jovens que estudam no

Município de São Paulo. Por essa tabela, na ZH1, 84% estudam e 16% não. O contraste

pode ser percebido na ZH5, onde quase a metade, 42,9%, não estuda. Ressalta-se que

uma das características, ainda, da inclusão/exclusão social, é o fato de que o percentual

de jovens que estudam a noite aumenta proporcionalmente em direção às zonas de maior

exclusão.

Tabela 1: Distribuição percentual dos jovens que estudam, segundo as zonas homogêneas

ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5 Município SIM 84 69 64,5 60,6 57,1 63 NAO 16 31 35,5 39,4 42,9 37

SOMATÓRIO 100 100 100 100 100 100 Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003

Entre os jovens das ZHs, como mostra a Tabela 2, 74,9% estudam nas escolas

públicas e a minoria, 24,9%, estuda em escolas privadas. Na análise comparativa entre

as distintas Zonas Homogêneas observa-se uma relação inversa, pois enquanto na ZH1

63,4% estudam na escola privada, 90,6% da ZH5 estudam nas escolas públicas. Poucos

jovens de ZH estudam nas escolas cooperativistas.

Tabela 2: Jovens que estudam nas escolas públicas, privadas ou cooperativas, segundo as zonas homogêneas

% ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5

Público 74,9 35,9 52,2 73 85,1 90,6 Privado 24,9 63,4 47,2 27 14,6 9,4

Cooperativa 0,2 0,8 0,6 - 0,3 - SOMATÓRIO 100 100 100 100 100 100

Fonte: Mapa de Juventude de São Paulo, 2003

Na Tabela 3, pode-se verificar a inserção no mercado de trabalho, por ZH, sendo

que a maioria, 66,8% dos jovens, não está inserida em qualquer forma de trabalho com

geração de renda.

Renato Hsien
Acho que deve substituir todos os entrevistados quando não se fala dos resultados da sua pesquisa.
Page 32: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Tabela 3: Inserção no mercado de trabalho dos jovens pesquisados pelo Mapa da Juventude, segundo as zonas homogêneas

ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5 TOTAL

NÃO 56,4 64,6 64,7 70,8 68,1 66,8 SIM 43,6 35,4 35,3 29,2 31,9 33,2

SOMATÓRIO 100 100 100 100 100 100 Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003

A Tabela 4 descreve o setor em que trabalha, por ZH. O principal setor que

emprega os jovens é o setor de serviços (44%), seguido de comércio (27,5%), entre

outros, que são pouco representativos.

Tabela 4: Setor onde os jovens do Mapa da Juventude trabalham, segundo as zonas homogêneas

ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5 TOTAL

Serviços 51,5 48,9 41,2 39,8 45,3 44 Comércio 19,1 20,7 28,4 31 29,3 27,5 Indústria 4,4 10,9 13,9 15,2 16 13,6 Outros 23,5 19,6 16,5 8,2 9,3 13,5

Ignorado 1,5 - - 5,8 - 1,5 SOMATÓRIO 100 100 100 100 100 100

Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003

A Tabela 5 mostra a fonte de renda entre os jovens paulistanos. A maioria é

dependente (68,1%) ou semidependente, com 19,5%. Somente 11,8% dos jovens

possuem renda própria. Dentre eles, há uma distinção quanto à cor referida: o maior

contingente dos jovens com renda própria é representado pela cor amarela, e o de renda

mista pela cor branca (Tabela 6).

Tabela 5: Fonte de renda entre os jovens paulistanos pesquisados pelo Mapa da Juventude

(Continuação)

Page 33: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Percentual Renda Própria 11,8 Dependente 68,1

Renda Própria e Dependente 19,5 Não Respondeu 0,6 SOMATÓRIO 100

Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003

Tabela 6: Cor da pele dos entrevistados do Mapa da Juventude

Renda Própria Dependente Renda Mista SOMATÓRIO BRANCA 29,7 7,4 62,4 99,5 PARDA 41,2 4,9 53,9 96

PRETA / NEGRA 40,2 2,5 57,4 100,1 AMARELA 43,8 18,8 37,5 100,1 INDÍGENA 20 13,3 66,7 100 IGNORADO 66,7 - 33,3 100

Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003

Ainda no que se refere à inserção no mundo digital, oMapa da Juventude

de São Paulo aponta que apenas 38,2% dos jovens utilizam a Internet (Gráfico 1).

Gráfico 1: Uso da internet, Mapa da Juventude de São Paulo, 2003

Uso da Internet

%

61,8%

38,2

SIMNÃO

Page 34: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Quanto ao local de acesso à Internet, pelos jovens paulistanos, por ZH

Homogênea., a Tabela 7 mostra que 47,4% dos jovens o fazem em casa.

Tabela 7: Localidade de acesso à Internet dos jovens pesquisados pelo Mapa da Juventude, segundo as zonas homogêneas

ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5 TOTAL

CASA 54,6 56,4 46,3 44,5 37,4 47,4 ESCOLA 23,5 16,2 15,6 17 15 17,1

TRABALHO 8,7 12,3 16 17,9 13,1 13,9 CASA DE AMIGO 4,9 4,9 10,4 7,8 9,3 7,8

OUTRO 3,8 5,9 5,9 6,4 13,6 7,1 CYBER CAFÉ 3,8 2,9 3,9 1,8 3,3 3,2 TELECENTRO 0,5 0,5 2 4,6 6,1 2,8

IGNORADO - 1 - - 2,3 0,6 SOMATÓRIO 99,8 98,7 100,1 100 100,1 99,9

Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003

O Mapa da Juventude não demonstrou resultados específicos sobre a questão da

inclusão digital na cidade de São Paulo. Diante deste cenário, procuramos, através desta

pesquisa, identificar os jovens paulistanos quanto à sua capacitação digital como

indicadora de sua inclusão digital e o que ela representa do ponto de vista de inserção no

mercado de trabalho.

A população-alvo da pesquisa são os jovens inseridos nas EICs da cidade de São

Paulo, pois estes já possuem um programa específico de inclusão digital; fato que

permitirá a análise do conteúdo digital desses jovens ao final do programa; conhecer

quais são as suas aspirações em relação aos resultados que obtiverem com este programa

e, na concepção deles, como o aprendizado de novas tecnologias de informação os

ajudariam a se inserir no mercado de trabalho.

4. Breve apresentação das Escolas de Informática e Cidadania (EICs) pesquisadas

4.1 EIC Instituto Gabi

Page 35: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

O Instituto Gabriele Barreto Sogari é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de

natureza privada e caráter filantrópico, regido por um estatuto registrado em cartório,

com registros no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), no Cadastro do

Contribuinte Municipal (CCM), e inscrito no Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente. O Instituto é dirigido por uma diretoria eleita em assembléia.

O Instituto Gabi possui uma EIC equipada com dez computadores e uma

impressora. O curso de informática é ministrado para seu público interno, que é

composto por portadores de deficiência mental, e o público externo, interessados de

qualquer idade, que pagam uma taxa mensal simbólica de R$ 15,00, para ter acesso ao

curso de informática.

De acordo com Itamar Barreto, coordenador do curso, além das técnicas de

informática, a escola aprofunda conceitos e práticas de cidadania e inclusão social.

Segundo Itamar, o espaço de ensino do Instituto Gabi possibilita disseminar entre a

comunidade a idéia de que sociedade e informática podem beneficiar-se mutuamente.

Itamar comenta que “no estágio atual de desenvolvimento socioeconômico, os

benefícios da revolução digital são restritos à elite. Na contramão desse processo, o

Instituto Gabi proporciona, de maneira acessível e eficaz, acesso ao universo da

informática de forma diferenciada, reconhecendo esse aparato tecnológico como

instrumento na construção da cidadania”.

A principal atividade do Instituto Gabi é acolher as pessoas portadoras de

deficiência mental auxiliando-as na alfabetização e oferecendo suporte psicológico para

que obtenham sua autonomia no exercício de suas funções na comunidade. Para esse

grupo de pessoas especiais, são oferecidas atividades como informática, arte-

pintura/terapia, atividades de vida diária e atividades socioeducativas. Na saúde, são

oferecidas seções de fisioterapia e fonoaudiologia.

Page 36: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

4.2 EIC Gotas de Flor com Amor

O Programa Social Gotas de Flor com Amor deu início às suas atividades no ano

de 1992, sem pretender constituir-se em entidade, na época. Através de ação voluntária,

levava atendimento floral às ruas e avaliava as necessidades, com administração de

essências florais às crianças e adolescentes que vendiam doces nos semáforos de São

Paulo, prática que se demonstrou insuficiente perante a grande carência detectada.

Decorridos cerca de seis meses, ficou evidente a necessidade de realizar,

quinzenalmente, trabalho de orientação familiar, acompanhamento escolar e atividades

socioeducativas, em local cedido pela Secretaria Municipal de Esportes da Prefeitura do

Município de São Paulo.

Com essa nova visão, constituiu-se juridicamente, em junho de 1993, com o

objetivo de educar e reestruturar a vida de crianças e adolescentes em situação de risco e

suas respectivas famílias.

No ano de 1995, o Departamento de Estrada e Rodagem (DER) cedeu por

empréstimo um imóvel na Rua Acapurana, 33, no Brooklin, local em que foram

iniciados os programas já como EIC. Três vezes por semana, através de trabalhos

voluntários, passou a operar a oficina de artesanato.

O sistema de exploração das crianças que arrecadam dinheiro em faróis e a

grande distância das casas das crianças atendidas dificultavam as atividades da EIC, pois

as crianças deixavam de freqüentar a entidade, o que reorientou a forma de atuação do

projeto para ações preventivas junto às famílias, de forma a evitar que as crianças

chegassem a ir para as ruas. O trabalho, então, foi remodelado, passando ao atendimento

de crianças e adolescentes da Favela do Buraco Quente e de becos e cortiços da região

do Brooklin.

Atualmente, no espaço, são desenvolvidas oficinas de conserto de micro, costura

artesanal e patchwork, desenvolvidas pelas mães, e bazar de usados.

Page 37: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

A EIC Gotas de Flor com Amor possui duas salas de informática. Uma das salas,

de propriedade da Gotas, conta com dez computadores e uma impressora laser, que são

disponibilizadas somente para o seu público interno, composto de jovens que fazem

trabalhos escolares e pesquisas pela Internet. Uma outra sala, montada em parceria com

o CDI, também é equipada com dez computadores e uma impressora jato de tinta. O

curso de informática e cidadania é voltado para os públicos interno e externo.

À noite, são oferecidas aulas de alfabetização de adultos, oficina de informática

para pais e pessoas da comunidade e curso de web designer e programação de web para

os adolescentes. Todo o trabalho é desenvolvido em conjunto com a família.

Em 2002, a ONG ficou entre os 30 finalistas do Prêmio Itaú Unicef pela

Educação, entre 686 concorrentes, com o Projeto Transferindo Valores Humanos da

Escola Não Formal para a Escola Formal.

Muitos parceiros estão envolvidos com o Programa, entre eles aqueles que

contribuem financeiramente, como a Dédalus Sistemas, a Knauf Isopores e a EMC,

que, juntos, contribuem com R$3.500,00 ao mês, cobrindo cerca de 22% das despesas

da EIC.

Essa EIC ainda promove eventos, possuindo um ponto-de-venda do material

produzido pelos adolescentes de 16 a 18 anos, nas Oficinas Profissionalizantes, e

composto de uma extensa linha de brindes em papel reciclado, pintura em mosaico na

seda e bonecas para empresas, completando assim a verba necessária para a manutenção

do trabalho da entidade.

O protagonismo juvenil também tem sua vez, envolvendo escolas como Móbile,

Augusto Laranja, Friburgo, além de universidades, como a PUC, com os alunos da PUC

Jr.

Page 38: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

4.3 EIC Associação Beneficente Provisão

A Associação Beneficente Provisão (ABP) teve início em janeiro de 1991, com o

atendimento a um público de 80 crianças, em parceria com a ACB, com o projeto

Primeiras Letras, voltada à educação infantil e berçário, para atender 60 crianças de

quatro a seis anos, proporcionando-lhes a pré-alfabetização. No período de 1991 a 1997,

também foram desenvolvidos alguns cursos, como os de corte e costura, e cabeleireiro,

eletricista, entre outros. Em 1996, com uma nova diretoria, começaram a acontecer as

principais mudanças. Em 1997, a instituição foi registrada juridicamente, passando por

uma reestruturação organizacional e administrativa, ampliando os projetos e o

atendimento. Desde então, foi notória e motivadora a transformação que começou a

acontecer, levando a ampliar o atendimento para 228 crianças.

A reforma do prédio também foi viabilizada em virtude de uma doação recebida

do Banco JP Morgan, através da ACB.

Em 2002, a Associação deu início ao projeto Crê-ser que atende 60 crianças e

adolescentes de 7 a 14 anos, com uma proposta de promover atividades de educação

complementar, contribuindo com a sua formação global.

Em 2003, recebeu um prêmio do Consulado Americano em parceria com o

Senac, que proporcionou à coordenadora da ABP uma viagem aos Estados Unidos para

conhecer 16 instituições sociais. O prêmio foi alcançado através do curso de gestão

social Formatos 500, promovido pelo Senac, quando foi apresentado um projeto

denominado Criação que enfoca o protagonismo juvenil e que ainda almeja

patrocinadores para tornar-se realidade.

Em 2004, firmou parceria com o CDI, com o objetivo de promover a inclusão

digital para adolescentes, jovens e adultos.

Page 39: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Em 2004, deu início ao projeto Jovens Urbanos, que atenderá 60 jovens de 16 a

24 anos, em parceria com a Fundação Itaú Social, o Cenpec e a ACB.

A ABP possui 17 pessoas que trabalham e se dedicam a ela, além dos voluntários

e a diretoria. Conta com uma sala de informática equipada com dez computadores e uma

impressora.

Hoje, com a sede e mais um núcleo, atende, ao ano, 1.252 pessoas, em cinco

programas sociais, tendo como público-alvo crianças, adolescentes, jovens e adultos.

• PROGRAMA PRIMEIRAS LETRAS

Contribui com a formação e desenvolvimento de 168 crianças de quatro a seis anos,

considerando seus aspectos físico, afetivo e intelectual.

• PROGRAMA CRÊ-SER

Proporciona atividades de educação complementar a 60 crianças e adolescentes de 7 a

14 anos, em horário alternativo à escola formal.

• PROJETO PROVISÃO E FAMÍLIA

Promove encontros, palestras, passeios, cursos e debates, oportunizando lazer, cultura,

informação e autodesenvolvimento às famílias da comunidade.

• PROJETO PROVENDO INCLUSÃO DIGIT@L

Possibilita a inclusão digital e a sensibilização para a cidadania, capacitando 280 jovens

e adultos em conhecimentos básicos da informática e motivando-os para o exercício da

cidadania.

• PROJETO JOVENS URBANOS

Page 40: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Idealizado pela Fundação Itaú Social, com o Cenpec, em parceria com o setor

governamental e ONGs, o projeto pretende oferecer a oportunidade de intervir na

comunidade local, ampliar seu repertório cultural, social e conquistar melhores níveis de

escolaridade. O diferencial reside em tomar a busca da qualidade de vida na cidade

como fio condutor da formação dos jovens, e a participação em ações coletivas como

base para o desenvolvimento de suas competências.

A atuação dessas EICs que promovem a inclusão digital insere-se no contexto de

inclusão e exclusão social da localidade em que estão sediadas. Desta forma, a pesquisa

delineada parte dos jovens que participam dos programas de inclusão digital promovidos

pelas EICs selecionadas, sempre confrontados com os aspectos socioeconômicos que

eles vivenciam na cidade de São Paulo.

Page 41: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

CAPÍTULO II

OS PROCESSOS DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO DE JOVENS NA CIDADE DE SÃO PAULO E ANÁLISE DA PESQUISA

1. Inclusão/exclusão social dos jovens na cidade de São Paulo

Inúmeros são as definições e os estudos sobre a temática inclusão/exclusão

social. Dentre elas, considerando nosso objeto de estudo, optamos por analisar as formas

de exclusão especialmente relacionadas com a desinserção do mundo do trabalho e a

inserção de jovens em seu primeiro emprego, na cidade de São Paulo. A questão da

cidadania e seus direitos, incluindo trabalho, lazer, cultura, arte e subjetividade pessoal,

como formas de inclusão social, também são tratados neste estudo.

Na cidade de São Paulo, a exclusão social dos jovens tem como uma das

características a dificuldade em ingressar no mercado de trabalho. Esta dificuldade, em

parte, é explicada pela falta de proficiência ou de alguma habilidade que os tornaria

empregáveis. Essa condição de empregabilidade poderia ser obtida a partir do

conhecimento de novas tecnologias de informação. Por outro lado, a cidade de São

Paulo apresenta mercado de trabalho capitalista e globalizado, que tem as suas próprias

regras.

Uma dessas regras é a desqualificação de pessoas; que se acentua naqueles que

não conseguem acompanhar a evolução do sistema. Para esses indivíduos restam apenas

os serviços marginais, com baixos salários, geralmente insuficientes para a

sobrevivência digna. O mercado exclui para incluir de outra forma e esta condição é

denominada por Sawaia (1999) como sendo inserção social perversa. Assim, a sociedade

que exclui também inclui, e essa alternância constitui-se num processo longo e gradativo

de exclusão seguido de inclusão em uma outra realidade, isto é, com caráter ilusório da

inclusão; retirando do indivíduo o seu direito de possuir o mínimo necessário para a

própria sobrevivência digna. “Todos estamos inseridos de algum modo, nem sempre

decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sendo a grande

Page 42: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

maioria da humanidade inserida através da insuficiência e das privações, que se

desdobram para fora do econômico”. (SAWAIA, 1999:8)

Outros autores também realizaram estudos sobre os processos excludentes em

sociedades contemporâneas, tais como, os franceses Paugam e Castel, que analisaram as

conseqüências societárias das transformações do mundo do trabalho, cunhando os

conceitos de desqualificação e desfiliação, respectivamente, especificando processos que

seriam tratados genericamente como sendo de exclusão social.

Robert Castel (1988: 526-530), ao analisar a questão social, aponta três situações

que são caracterizadas na sociedade salarial15 como: desestabilização dos estáveis, isto

é, trabalhadores que possuíam estabilidades no mercado de trabalho e que foram

expulsos desse sistema produtivo; a instalação na precariedade, que atinge

principalmente os jovens, alternando entre períodos de atividade, desemprego e

trabalhos temporários; e, a redescoberta dos sobrantes, como sendo aqueles que não têm

lugar, ou que não são integrados, nem integráveis na sociedade.

A desfiliação é um termo cunhado por Castel apud Wanderley (1999:21-22)

como sendo uma ruptura de pertencimento, de vínculo societal. “Efetivamente,

desfiliado é aquele cuja trajetória é feita de uma série de rupturas com relação a estados

de equilíbrios anteriores, mais ou menos estáveis ou instáveis”. Nessa condição, estão

incluídas as populações com insuficiência de recursos materiais, assim como aquelas

fragilizadas pela instabilidade do tecido relacional; ou seja, populações em vias de

pauperização e também as que estão em vias de desfiliação, com perda de vínculo

societal, gerando “a ausência de inscrição do sujeito em estruturas que tem um sentido”.

15 Para Castel, sociedade salarial é, sobretudo, uma sociedade na qual a maioria dos sujeitos sociais tem sua inserção social relacionada ao lugar que ocupam no salariado, ou seja, não somente sua renda, mas também, seu status, sua proteção, sua identidade... (2000:243). Uma sociedade salarial é a que continua fortemente hierarquizada. Não é uma sociedade de igualdade, porque nela permanecem as injustiças e até mesmo a exploração. Também é uma sociedade conflituosa, na qual concorrem diferentes grupos sociais, mas é uma sociedade na qual cada indivíduo desfruta de uma mínimo de garantia e de direitos (2000:245).

Page 43: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

De um modo geral, as empresas têm suas matrizes operacionais baseadas numa

sociedade salarial, para diminuir os custos e maximizar os lucros. Assim, a corrida ao

máximo da eficiência é movida pela competitividade, gerando a desqualificação dos

menos aptos e exigindo a atualização da formação dos trabalhadores de maneira

constante. Assim, nessa disputa, vence o melhor qualificado, restando aos jovens e,

principalmente, àqueles com dificuldades de acesso aos meios de qualificação, as vagas

de estágio ou outros serviços não efetivos.

A desqualificação e a desfiliação são processos excludentes, que representam

apenas a parte visível de uma série de outros meios de desinserção do indivíduo numa

sociedade salarial. A porção submersa é representada pela grande erosão do coeficiente

de empregabilidade daqueles que poderiam se inserir no mundo do trabalho ou, mesmo,

daqueles que já se encontram nele. Essa erosão é mediada pela diferença entre as

mudanças sucessivas da tecnologia nas indústrias e a velocidade da desqualificação dos

trabalhadores.

As mudanças tecnológicas requerem novos conhecimentos e habilidades para

manter o trabalhador atualizado. Essa reciclagem deve ser constante. A estagnação do

indivíduo, quanto à renovação de suas qualidades profissionais, torna-o

tecnologicamente obsoleto e, como conseqüência, é retirado do mercado de trabalho,

iniciando assim o processo de exclusão, com perda do status social e até da identidade.

Essa exclusão, segundo Paugam (2003: 45-47), não se refere apenas ao estado de uma

pessoa que carece de bens materiais, mas corresponde também a um status social

específico, inferior e desvalorizado, marcando profundamente a identidade daqueles que

a vivenciam. O autor denomina essa perda do status social como sendo a

desqualificação social, isto é, o estigma que se associa às populações que se encontram

em situação de precariedade socioeconômica, constituindo o que o autor denomina de

novos pobres.

A nova pobreza é, assim, explicada por Paugam, como sendo o fenômeno que

remete a uma série de evoluções simultâneas, que se referem, em particular, à

Page 44: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

degradação do mercado de trabalho, com a multiplicação dos empregos instáveis e o

grande aumento do desemprego prolongado, como, também, ao enfraquecimento dos

vínculos sociais (2003:31). A pobreza é fruto do conflito entre a problemática da

integração normativa e funcional de indivíduos, situação em que o emprego é parte

essencial, e o produto da construção social. Ou, então, é conseqüência da

desqualificação social decorrente do processo relacionado a fracassos, por um lado, e,

por outro, do sucesso da integração social; sendo a desqualificação social o inverso da

integração social. Nesta situação, o Estado é convocado para criar políticas de

integração, visando à regulação do vínculo social, como garantia de coesão social

(PAUGAM apud WANDERLEY, 1999:21).

Um indivíduo que sofre com esses processos excludentes, relacionados ao mundo

do trabalho, está também sujeito a mudanças sociais geradas pela redução de seus

relacionamentos. Essa condição é percebida em grandes cidades, onde o sistema

capitalista e globalizada impera, como, por exemplo, em São Paulo.

Numa cidade como São Paulo, os desempregados encontram-se numa situação de

escassez financeira, que diminui, inclusive, as suas possibilidades de gerar

relacionamentos, as quais, muitas vezes, dependem de atividades de lazer, restringindo-

os a laços entre pessoas de sua proximidade territorial. Além disso, nesse contexto, são

fatos, também, a precariedade de emprego e a desfiliação social.

Em Metamorfoses da Questão Social, de Robert Castel, o elemento trabalho é

entendido num contexto que extrapola as relações técnicas de produção, implicando um

feixe de relações sociais, culturais e de identidade entre indivíduos e grupos. Nessa

realidade, os desempregados sentem-se ameaçados pela demora ou pela falta de

perspectivas de inserção no mundo do trabalho. Esse processo compromete as relações

sociais, reduzindo sua abrangência e restringindo seu acesso, inclusive, a serviços de

integração social, nas áreas de educação, lazer e outros. Além disso, os indivíduos que

tentam se inserir pela primeira vez no mercado de trabalho, segundo Castel (1998: 526-

529), sentem-se angustiados pela demora em ter acesso a um emprego ou mesmo um

Page 45: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

estágio. Assim, pela falta de trabalhos formais, são obrigados a se ocupar com trabalhos

temporários ou informais, muitas vezes em condições precárias, não tendo direito a

contrato ou garantias. Essa precarização do trabalho é entendida como sendo “um

processo central, comandado pelas novas exigências tecnológicas-econômicas da

evolução do capitalismo moderno”, provocando desestabilização dos estáveis e

aumentando o déficit de lugares ocupáveis na estrutura social, sendo estes “posições às

quais estão associados uma utilidade social e um reconhecimento público”.

Os estudos de exclusão e inclusão social realizados em nosso meio,

particularmente em São Paulo, corroboram as idéias apresentadas anteriormente.

Segundo Dupas, os contornos tomados pela economia global são fomentadores da

exclusão social. As sociedades emergentes não são capazes de gerar um modelo de

mercado com mecanismos que levem a estabilidades de postos de trabalho, mesmo que

flexíveis, compatíveis com uma renda mínima que seja suficiente para garantir uma

qualidade de vida essencial. Na análise desse autor, a exclusão social se dá em todos os

níveis sociais. Esse processo pode ser identificado não somente nos desempregados, mas

também naqueles que não conseguem ascensão em sua categoria de emprego. Quanto

aos jovens que tentam se inserir no mercado de trabalho, a ausência de oportunidades

gera um círculo vicioso, em que a falta de recursos financeiros impede progressos e é

traduzida, na prática, pela falta de chances de educar seus filhos, de praticar atividades

de lazer, como cinema, teatro, shopping centers, visitar amigos e familiares, sendo,

estes, condenados à exclusão sem direitos; além do que, a situação da desesperança por

um emprego diminui sua expectativa perante a vida, dando vigor à infelicidade.

“(...) as sociedades deste final de século, embora fascinadas por vários

benefícios e promessas oferecidas pela globalização, já elegeram seu

grande inimigo: o medo da exclusão social, que atinge todos os níveis. Os

inequivocamente incluídos, acumulam informações, riqueza e circulam

pela aldeia global – têm medo do potencial de violência do excluído, além

de um razoável sentimento de culpa cujo tamanho depende do seu grau de

solidariedade social. Aqueles ainda incluídos, assustados com a diminuição

dos empregos formais e a redução Estado-protetor, temem escorregar para

Page 46: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

a exclusão. E, por último, aqueles que são ou sentem-se excluídos, no seu

dia-a-dia de sobreviventes, tem razões de sobra para sentirem medo”

(DUPAS, 1998:69).

Dupas assim descreve a relação entre o desenvolvimento tecnológico e a

fragilidade do contrato de emprego na sociedade industrial, assim como sua relação

com o Estado:

“Questão que agrava a sensação de exclusão é a deterioração

progressiva do Estado no seu tradicional papel de supridor de serviços

essenciais (...) Parte da sociedade está começando a acreditar que a

globalização traz a exclusão. Esse mal-estar é devido a inúmeros fatores,

mas sem dúvida o mais importante entre eles é a mudança no paradigma

do emprego (...) fica claro que hoje há uma crescente e progressiva

informalização das relações de trabalho, decorrente tanto da automação e

modalidades de trabalho à distância, como pelas tendências de

terceirização, porque se respaldam em sólida lógica de mercado:

menores preços e maior qualidade do produto final”. (DUPAS, 1998:70-

75)

As empresas inseridas no mercado consumidor global tiram proveito da sua mão-

de-obra, de tecnologias e das matérias-primas disponíveis da forma mais eficiente

possível. As relações de trabalho são determinadas pelas “transnacionais, que além de

fabricarem diferentes partes do produto em diferentes países, o fazem sob contratos de

trabalho variados. Onde lhes é conveniente, utilizam mão-de-obra familiar e pagam por

peça; outras vezes, contratam nos moldes convencionais de trabalho” (DUPAS,

1999:15). Essas empresas, univocamente, apresentam um único objetivo, que é

minimizar os custos de produção e maximizar os lucros, levando ao surgimento da

precariedade do trabalho, uma vez que essa revolução, ocorrida no âmbito das

tecnologias da informação, gerou a perda da importância na questão da localização

espacial e geográfica, isto é, deixou de ser essencial a instalação do indivíduo nas

proximidades de algum centro produtor, já que os seus produtos ou peças de produtos

podem vir de diversas partes do mundo. Desta forma, a sociedade que possuir maior

Page 47: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

contingência de trabalhadores desocupados, ociosos, particularmente jovens, ou seja,

aquelas fatias da sociedade sensíveis à questão da exclusão social, ficam a mercê do

mercado e assistem à quebra de seu vínculo social, por falta de condições de acessos.

Assim, verificamos também, segundo Roger apud Dupas, que a exclusão pode se

dar, em vários aspectos, na sua “multidimensionalidade incluindo uma idéia de falta de

acesso não só a bens e serviços, mas também à segurança, à justiça e à cidadania”. Está

intimamente ligada às desigualdades econômica, política, cultural e étnica, entre outras.

Esses aspectos de exclusão são apontados pelo autor em várias instâncias, sendo todos

considerados excluídos: do mercado de trabalho; do trabalho regular; do acesso a

moradias decentes e a serviços comunitários; do acesso a bens e serviços, inclusive os

públicos; dentro do mercado de trabalho; da possibilidade de garantir a sobrevivência;

em relação à segurança física, sobrevivência e proteção contra contingências; dos

direitos humanos (DUPAS, 1999:20).

Martins (2002:11) é autor da noção de exclusão perversa. Para ele, a “sociedade

que exclui é a mesma que inclui e integra, que cria formas também desumanas de

participação, na medida em que delas faz condição de privilégios e não de direitos”. E,

ainda, não se trata apenas de diferenças econômicas, mas da não distribuição igualitária

dos bens sociais, culturais e políticos que a sociedade produz.

Assim, exclusão e inclusão sociais fazem parte de um mesmo processo. Martins

retoma os conceitos de pobre, marginalizados e excluídos:

“Provavelmente estamos mudando o nome da mesma coisa porque a

mesma coisa está nos mostrando coisas novas, que não conhecíamos e

não éramos capazes de ver. De certo modo, a palavra exclusão está

desmistificando a palavra pobre. Através deste pseudoconceito, não

revelador, que acoberta de algum modo o que seria o pobre na fase

anterior, nós estamos tentando revelar a nossa desconfiança em relação à

antigamente suposta abrangência explicativa das palavras pobre e

pobreza (...) a palavra exclusão indica uma dificuldade, mais que uma

certeza – revela uma incerteza no conhecimento que se pode ter a

Page 48: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

respeito daquilo que constitui o objeto da nossa preocupação – a

preocupação com os pobres, os marginalizados, os excluídos, os que

estão procurando identidade e um lugar aceitável na sociedade. Portanto,

a palavra exclusão nos fala, possivelmente, de um lado, da necessidade

prática de uma compreensão nova daquilo que, não faz muito, todos

chamávamos de pobreza”. (MARTINS, 1997:28).

Essa exclusão é mais longa e o tempo que se leva do momento da exclusão para

o momento da inclusão está cada vez mais alongado; está deixando de ser um período

transitório. A inclusão “se dá no plano econômico, pois a pessoa consegue ganhar

alguma coisa para sobreviver, mas não se dá no plano social” (MARTINS, 1997:33).

Para Martins, o indivíduo ganha o suficiente para a sua sobrevivência, porém não o

bastante para sua sociabilidade.

Ao construir o Mapa de Exclusão e Inclusão Social de São Paulo, Sposati aborda

esses conceitos e sua interligação, ou seja, as condições de vida das pessoas, em

sociedade, que se relacionam mutuamente em seus próprios territórios. A autora também

conclui, em sua argumentação, que exclusão e inclusão fazem parte do mesmo processo

e explica:

“O que se constatou é que a relação exclusão/inclusão social é

indissolúvel ao contrário das metodologias que realizam a medida da

riqueza ou da pobreza como unidade autônoma com variáveis

autoexplicativas. A exclusão e inclusão social são necessariamente

interdependentes. Alguém é excluído de uma dada situação de inclusão.

O desafio foi, portanto, o de resolver esta questão através da construção

metodológica”. (SPOSATI, Aldaíza. Cidade, Território,

exclusão/inclusão Social. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE

GEOINFORMAÇÃO – GEO Brasil/2000. São Paulo, Palácio de

Convenções do Anhembi, 16 jun. 2000. Disponível em:

www.dpi.inpe.br/geopro/exclusao/cidades.pdf)

A dialética exclusão/inclusão é também analisada sob o ponto de vista de

território, com base no debate “sobre as condições de vida do território como um dos

Page 49: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

instrumentos para concretizar a redistribuição social no enfrentamento das desigualdades

sociais” (KOGA, 2003:19). Essa relação entre o sujeito e o território, está intimamente

ligada com a dimensão da cidadania que busca o “rompimento do processo de

naturalização das situações de exclusão social e de pobreza que se introjeta com

facilidade no cotidiano da sociedade brasileira”.

Para determinar as principais especificidades do Município de São Paulo, através

de alguns indicadores que retratem a configuração socioeconômica, as características da

população, as mudanças verificadas no seu perfil, na década de 1990 e sua distribuição

no espaço territorial, Pochmann analisa o que denominou de o abandono e esperança na

cidade de São Paulo; o processo de exclusão e a estratégia paulistana de inclusão social,

em que

“a desigualdade de renda, de oportunidades de trabalho, de acesso à

saúde, à justiça, à escola, à cultura, ao lazer, à segurança, à escolha e

cidadania política constituem, cada uma delas, faces de uma única

questão abrangente que, quando estudada em conjunto e focada sobre os

que estão despojados desses direitos, costuma chamar-se de exclusão

social” (POCHMANN, 2003:15).

Pochmann investiga a cidade de São Paulo através de indicadores de condições

de vulnerabilidade contidos em mapas produzidos pela Prefeitura do Município de São

Paulo - PMSP e a Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade – SDTS,

que retratam “a cidade de forma abrangente, levando em consideração temas que vão do

nível de renda das famílias até o número de homicídios entre jovens, e a descrição da

reação paulistana à exclusão social” (POCHMANN, 2003:13). Em seu estudo,

Pochamann compara a velha exclusão, a situação das pessoas antes da década de 1980, e

a nova exclusão, nos últimos 24 anos (Quadro 3).

Quadro 3: Critérios de manifestação da nova e da velha exclusão Social

(Continuação)

Page 50: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Condições de Vulnerabilidade Velha Exclusão Nova Exclusão Faixa etária Presença de crianças Presença de velhos Raça e procedência Negro e/ou imigrante Branco e/ou não migrante Estrutura familiar Muitos dependentes Monoparentais Condição de habitação Ausência de moradia Moradia precária Conhecimento Analfabetismo na língua pátria Analfabeto digital Posição no trabalho Ocupado com baixa

produtividade Desemprego recorrente

Renda Insuficiente monetização Desmonetizado Fonte: SDTS/PMSP, 2002 apud (POCHMANN, 2003: 21)

Esse processo renovado de produção e reprodução de exclusão social está longe

de substituir a velha exclusão, sobrepondo-se a ela. A nova exclusão está transbordando

dos lugares onde antes esteve configurada, ou seja, o mundo rural, no Nordeste, e franjas

do mercado de trabalho urbano. Ao analfabetismo na língua pátria, ocupação de baixa

produtividade, negro e imigrante, famílias numerosas, etc., juntam-se novas

características, que surgem como fomentadoras da exclusão social, como o

analfabetismo digital, desemprego recorrente, branco e não imigrante, famílias

monoparentais, entre outros.

Inseridos nesse contexto, os jovens da cidade de São Paulo buscam as suas

formas de sobrevivência, tentando se posicionar na sociedade. A exclusão social desses

jovens paulistanos é caracterizada por sua dificuldade em ingressar no mercado de

trabalho, isso porque a falta de oportunidades, aliada à formação escolar precária e às

restrições ao acesso a atividades socioculturais dificulta ainda mais a sua inserção na

sociedade. O baixo nível de educação escolar pode ser representado pelo índice de

analfabetismo, entre jovens de 15 a 24 anos, que se situava em 34,1%, em 1999, e

17,1%, em 2000, na região Sudeste do Brasil, segundo Censos Demográficos da

Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a baixa

qualidade de educação pública é justificada não apenas pela falta de infra-estrutura,

como também pelo baixo salário dos educadores, o que gera desinteresse e leva à

formação de jovens com qualificação insuficiente. Não obstante, os jovens que estão

Page 51: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

inseridos no mercado, muitas vezes, são descartados por falta de proficiência ou de

conhecimentos atualizados de acordo com a realidade do trabalho.

“Essas condições deterioradas, acompanhadas de um processo educativo

descompassado dos sujeitos jovens e adolescentes, produzem como

resultados o desinteresse, a resistência, dificuldades escolares acentuadas

e, muitas vezes, práticas de violência, que caracterizam a rotina das

unidades escolares”. (SPOSITO, 2003:16)

Como conseqüência, os jovens, muitas vezes, nesta busca pela inserção no

circuito econômico e no meio social, acabam se situando de uma forma inadequada,

precária.

Em vista de todos esses fatores, é que os jovens, na cidade de São Paulo, buscam

meios de qualificação para tornarem-se empregáveis. Construímos, para este estudo, a

hipótese de que o conhecimento de novas tecnologias de informação pode ser um dos

meios para se alcançar a condição de empregabilidade, ajudando o indivíduo a se inserir

no mercado de trabalho, melhorando a sua situação no contexto social. Assim, a inclusão

digital é, a seguir, discutida como uma das formas de se alcançar as novas tecnologias de

informação.

2. Exclusão/Inclusão Digital dos Jovens na Cidade de São Paulo

A exclusão digital diz respeito à falta de acesso à informação gerada e

transmitida pelo computador e pelo desconhecimento mínimo do uso de computador

como proficiência para o mercado de trabalho.

O acesso ao mundo digital pode ser alcançado em diversas instâncias: nas

residências, no trabalho, nas viagens durante negócios, nas escolas, nos serviços

públicos, entre outras. Segundo Neri16 (2003), a inclusão digital é cada vez mais parceira

da cidadania e da inclusão social e, ainda, é solicitada desde o voto nas urnas eletrônicas 16 NERI, Marcelo Côrtes. Inclusão Digital e Combate à Miséria. In: Valor Econômico, 1o abr. 2003.

Page 52: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

ao uso dos cartões bancários do Bolsa-Escola, passando pelo primeiro contato dos

jovens com o computador, que poderá ser o passaporte para o acesso ao primeiro

emprego.

O combate à exclusão digital, também denominada por Neri de “brecha digital”,

não se resume apenas em prover os desprovidos da tecnologia digital. A cada ano que

passa, surgem novas tecnologias, trazendo mais velocidade de processamento de

informações e tornando os equipamentos de gerações anteriores obsoletos. Essa brecha

digital tende a aumentar à medida que as tecnologias digitais vão sendo renovadas. A

cada inovação/substituição, novas proficiências tornam-se necessárias como requisito de

qualificação dos operadores desses novos equipamentos.

Oportunizar, aos excluídos digitais, novas proficiências, significa incluí-los

digitalmente. Essa inclusão digital objetiva diminuir a distância informacional entre os

que dominam as tecnologias emergentes e aqueles que são leigos e promove vias de

ganho aos excluídos digitais e, também, aos excluídos sociais.

Ainda de acordo com Neri, existem poucos diagnósticos e debates sobre o

binômio inclusão/exclusão digital, devido ao tardio reconhecimento da importância do

tema no escopo das políticas públicas ou, quando a discussão existe, está raramente

ligada ao acesso pelo usuário “pobre”, seja ele trabalhador, desempregado ou estudante.

O autor acredita que a inclusão digital funciona como criadora de oportunidades de

geração de renda e de cidadania na nossa desigual sociedade, em plena era do

conhecimento.

Para Silveira17, os “novos excluídos” são aqueles que não conseguem se

comunicar, na velocidade dos incluídos, por meio do computador. Os incluídos têm a

possibilidade de efetivar essa comunicação através do uso da Internet, na rede de

computadores mediada por provedores de acesso e da linha telefônica. Os novos

excluídos representam, assim, aqueles que não têm acesso a essas novas tecnologias.

17 Coordenador do Governo Eletrônico da Prefeitura de São Paulo, responsável pelo Plano de Inclusão Digital do Município.

Page 53: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

A era atual é regida pelo computador e por seu desenvolvimento desenfreado,

que torna a comunicação, baseada no envio de mensagens eletrônicas, instantânea,

facilitando e ampliando os contatos em alta velocidade, inclusive no contexto

internacional. O conhecimento dessas novas tecnologias, responsáveis pela evolução da

computação, é apontado por Silveira como facilitador do acesso ao trabalho, pois “para

se obter um emprego, cada vez mais será preciso ter alguma destreza no uso do

computador” (2001:17). Conseqüentemente, é fator de ampliação das chances de o

indivíduo ser incluído socialmente, “uma vez que as principais atividades econômicas,

governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade vão migrando para a rede,

sendo praticadas e divulgadas por meio da comunicação informacional” (Silveira,

2001:18).

O uso do computador é comum em setores de trabalho como, escolas, repartições

públicas, indústrias, prestadoras de serviços, enfim, em todos os campos em que se

almeja obter maior velocidade de produção. Isso porque, essas novas tecnologias

proporcionam a redução do tempo em que o objetivo de determinada tarefa deve ser

alcançado.

O domínio dessas destrezas, portanto, é imprescindível, para quem procura

emprego, principalmente para os jovens que querem entrar no mercado de trabalho,

sendo, muitas vezes, um pré-requisito primordial.

A sociedade da capital paulistana é cada vez mais provida de informação

mediada pelo computador. Assim, aquele que não souber “manipular, reunir, desagregar,

processar e analisar informações ficará distante da produção do conhecimento,

estagnado ou vendo se agravar sua condição de miséria” (Silveira, 2001:21).

A manipulação de dados somente torna-se possível ao indivíduo que conhece os

tipos de sistemas operacionais inseridos no computador e seus comandos, tornando o

computador um instrumento obediente ao seu comandante. Esses comandos permitem ao

usuário reunir, desagregar e processar os dados, transformando-os em informações.

Page 54: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Por essa razão, a necessidade de assegurar o acesso às pessoas excluídas desse

sistema de tecnologia e informação é primordial como estratégia de inclusão social.

Para isto, Silveira propõe:

“(...) a formulação de políticas públicas de orientação, educação não-

formal, proficiência tecnológica e de uso das novas tecnologias da

informação para mudar a vida, ou seja, para fomentar instrumentos ágeis

para organizar reivindicações, realizar referendos e plebiscitos, lutar por

prioridades orçamentárias, fiscalizar por prioridades orçamentárias,

fiscalizar governos e expor preocupações e necessidades coletivas”

(SILVEIRA, 2001:22).

A formulação dessas políticas públicas, citadas por Silveira, já está sendo

realizada e com resultados, para os primeiros grupos de incluídos digitais. Os

telecentros, instalados pela Prefeitura da Cidade de São Paulo, promovem aprendizado

aos excluídos digitais através do uso de softwares livres.

Os softwares livres são sistemas operacionais denominados Linux, que executam

tarefas idênticas aos softwares privados (Microsoft). Nos telecentros, são ensinados os

comandos do Linux para execução das tarefas como editoração de textos, planilhas de

cálculos, banco de dados, páginas de apresentações e Internet.

O governo do Estado de São Paulo vem fomentando a inclusão digital através do

projeto Acessa São Paulo, dispondo computadores em lugares estratégicos como, por

exemplo, no Poupa Tempo, o que permite a digitação de currículos profissionais e o

acesso à Internet para a procura de empregos.

Iniciativas como fundações empresariais, organizações não-governamentais e

associações de bairro já estão recebendo computadores doados para projetos de inclusão

digital.

Todas essas iniciativas objetivam promover a proficiência aos excluídos digitais

e, juntamente com outras atividades sociais e culturais, possibilitam a melhora da

Page 55: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

qualidade de vida dos jovens, tornando-os mais sociáveis, atribuindo-lhes

conhecimentos básicos para o ingresso no mundo do trabalho.

Silveira (2001:23) ainda aponta que inclusão digital é importante instrumento

para facilitar a redução da miséria, rompendo a “reprodução do ciclo da ignorância e do

atraso tecnológico”.

Uma das conseqüências da inclusão digital é favorecer grandes conglomerados

da nova economia “com mão-de-obra capacitada”, com experiência no uso das redes e

com “habilidade em informática”, criando também enorme contingente de

“consumidores de produtos de informática, hardware, software e serviços de

manutenção”. Ou seja, com a inclusão digital, mais pessoas podem acessar as novas

tecnologias e seus serviços. Desta forma, Silveira defende uma justiça de cobrança

desses conglomerados da nova economia, de tal forma que haja um meio de troca justa

em contrapartida ao “crescimento de seus lucros com a prática e manutenção da inclusão

digital” (Silveira, 2001:23).

Assim, conclui o autor, as pessoas apartadas da sociedade da informação estão

percebendo a importância de sua inserção, buscando as menores brechas para não

perderem os bits da história. O computador conectado à Internet já é, para as famílias,

uma esperança de um futuro melhor para seus filhos. Ou seja, o conhecimento de novas

tecnologias promove melhores chances para inserção no mundo do trabalho.

A inclusão digital já é praticada nas escolas públicas de várias cidades brasileiras,

principalmente na capital de São Paulo. Segundo o Censo Escolar de 2001, do Inep, do

total de alunos matriculados no ensino fundamental regular, 25,4% freqüentavam

escolas com acesso à Internet e, no ensino médio regular, este número é de 45,6%. Um

estudo divulgado no Mapa de Inclusão/Exclusão Digital18 em 2003 apontou que a

correlação entre desempenho escolar e acesso ao computador é positiva em todas as

faixas etárias e é maior na faixa que compreende os alunos de 13 a 18 anos que

18 FGV e CDI.

Page 56: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

freqüentam a oitava série. Como resultado, houve melhor desempenho desses alunos nas

provas de Português e de Matemática, matérias em que os maiores impactos foram

constatados.

A discrepância da escolaridade média entre os incluídos e excluídos digitais,

segundo mostra o Mapa de Inclusão e Exclusão Digital, é praticamente o dobro, pois os

incluídos digitais possuem 8,72 anos completos de estudo. Além disso, o Mapa mostrou

que a renda média do primeiro grupo é de R$ 1.677,00 contra os R$ 569,00 do total da

população.

O Brasil possui, segundo o Censo de 2000 (IBGE), apenas 10,29% de moradores

com acesso ao computador, sendo São Paulo o líder de todos os Estados brasileiros na

inclusão digital, com 17,98% de seus moradores.

A controvérsia dessa revolução tecnológica pode ser deduzida quando se

verifica a exclusão digital no mundo e, particularmente, no Brasil. O Quadro 4 mostra a

posição brasileira no ranking de número de hosts19 no mundo.

Quadro 4: Ranking de número de hosts no mundo

Países Hosts % Estados Unidos 120.571.516 72,03% Japão 9.260.117 5,53% Itália 3.864.315 2,31% Canadá 2.993.982 1,79% Alemanha 2.891.407 1,73% Reino Unido 2.583.753 1,54% Austrália 2.564.339 1,53% Holanda 2.415.286 1,44% Brasil 2.237.527 1,34% Taiwan 2.170.233 1,30% França 2.157.628 1,29% Espanha 1.694.601 1,01% Demais Países 11.980.296 7,16% Total de Hosts em 30 países 167.385.000 100%

19 Host, na Internet, é um computador que tem acesso bidirecional completo a outros computadores. Um host tem um número específico que, somado ao número da rede, formam seu endereço IP. O host armazena, centraliza e distribui arquivos, serviços de correio eletrônico, redes de impressão, etc. Sua capacidade vai de um micro a um supercomputador.

Page 57: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Fonte: Network Wizards, 2003.

O Brasil ocupa a nona classificação, com apenas 1,34%, seguida por Taiwan e

França, com 1,30% e 1,29%, respectivamente. Os Estados Unidos ocupam a primeira

posição, com 72,03%, apresentando o maior número de hosts do mundo.

Nas Américas, o Brasil assume uma posição melhor no ranking. O Quadro 5

mostra que o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking, com 1,75%, antecedido pelos

Estados Unidos, com 94,35%, e Canadá, com 2,34%. Na América do Sul, o Brasil ocupa

o primeiro lugar no ranking, com 73%, seguido pela Argentina, com 16,23%.

Quadro 5: Ranking de número de hosts na América

Países Hosts % Estados Unidos 12.057.1516 94,35%Canadá 2.993.982 2,34%Brasil 2.237.527 1,75%México 1.107.795 0,87%Argentina 495.920 0,39%Chile 135.155 0,11%Uruguai 78.660 0,06%Colômbia 55.626 0,04%República Dominicana 45.508 0,04%Venezuela 24.138 0,02%Peru 17.447 0,01%Guatemala 9.789 0,01%Outros 15.937 0,01%Total de hosts em 15 países 127.789.000 100,00%

Fonte: Network Wizards, 2003.

No Brasil, apesar da sua boa classificação20 no nível mundial, nas Américas e na

América do Sul, o número de pessoas que se conectam à Internet, os denominados

usuários de computadores, é muito pequeno. Segundo a Sociedade da Informação no

Brasil – Livro Verde, o nível de alfabetização digital da população brasileira é muito 20 Vale a pena ressaltar que o Brasil ocupa a nona classificação pelo número de hosts no mundo. Excelente posição, se comparada com os países desenvolvidos nos quais predominam os incluídos digitais.

Page 58: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

baixo. As oportunidades de aquisição das noções básicas de informática indispensáveis

para acesso à rede e seus serviços são insuficientes. O desenvolvimento histórico da

Internet no Brasil foi marcado, desde a sua origem no final da década de 1980, por

estreita aliança entre o setor acadêmico e as ONGs, destacando-se a cooperação entre a

Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP)21 e o Instituto Brasileiro de Análises

Sociais e Econômicas (Ibase)22, que culminou com o esforço de abertura de serviços da

Internet para quaisquer interessados, ocorrida em 1995.

No cenário de inclusão/exclusão digital até aqui descrito, existe uma questão

instigante para nossa reflexão: è possível pensar a inclusão social a partir da inclusão

digital?

Segundo a RNP23,

“o objetivo da Inclusão Digital é a Inclusão Social. O que se quer é

erradicar, no campo da tecnologia de informação e de comunicação, algo

análogo ao analfabetismo funcional, e não a qualificação de pessoas nos

aspectos mais avançados da tecnologia de informação e de

comunicação”.

Entende-se, então, que a inclusão digital é uma das formas de induzir à inclusão

social para as classes subalternas, sendo assim, um dos objetivos da Inclusão Digital é a

Inclusão Social.

Desta forma, a essência da inclusão digital,, em primeira instância, caracteriza-se

pela alfabetização digital na busca da inclusão social. A alfabetização digital:

“é uma expressão que remete ao processo de capacitação da população

para que essa ganhe proficiência na utilização dos recursos de tecnologia

de informação e de comunicação disponíveis. Sua definição clara é

fundamental, pois pode levar à dissipação de recursos que devem se

21 Rede Nacional de Ensino e Pesquisa. Disponível em: http://www.rnp.br/ 22 Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Disponível em : www.ibase.org.br/ 23 http://www.rnp.br/noticias/2001/not-010510-gt.html Acesso em : 9 jun. 2003.

Page 59: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

concentrar na solução da questão da Inclusão Digital, delimitar os

contornos do que é ‘utilizar com proficiência os recursos de tecnologia

de informação e de comunicação disponíveis’, dada a ênfase em inclusão

social que deve pautar o processo de Inclusão Digital”. (RNP, acesso em

15 jan. 2003)

A seguir, mostramos a importância de atividades socioculturais e o impacto na

vida de jovens paulistanos, principalmente no que diz respeito à sua inserção no mundo

do trabalho.

3. Os Jovens Paulistanos e o Acesso à Cultura

A cultura24 não é propriedade da academia, do governo ou da burguesia. Pertence

àquele que é capaz de produzi-la. “Ser sujeito da história e ser o agente criador da

cultura não são adjetivos qualificadores do homem. São seu substantivo”

(BRANDÃO,Carlos25, 1985:24).

A cultura pode ter um poder transformador, contribuindo para a construção da

identidade e da auto-estima de adolescentes e jovens adultos, convertendo a vergonha da

vida discriminada da favela à altivez própria dos que se descobrem capazes de fazer arte;

mudando, assim, o sentido da própria vida. Ou seja, converter a falta de uma perspectiva

existencial na saudável e transformadora consciência da cidadania.

O jovem, socialmente excluído, vai tomando a consciência da desigualdade

social, da discriminação, da limitação de acesso e usufruto de bens e serviços da cidade

em que vive e, conseqüentemente, confinado a uma vida de poucas relações e

oportunidades. Em outra época, os jovens tinham o trabalho como o princípio educativo

de excelência, sendo os primeiros a serem atingidos pela urbanização, pela revolução 24 A cultura tem um significado muito vasto. É um processo histórico pelo qual o homem relaciona-se ativamente com o mundo e com os outros homens (pelo conhecimento e pela ação) transformando a natureza e a si mesmo. Assim, o homem transforma e significa o mundo, ao mesmo tempo em que transforma e significa o próprio homem. É uma prática coletiva e socialmente necessária. Paulo Freire, em sua obra Educação como Prática da Liberdade, 1967, já ressaltava que o homem, ao criar a cultura, não apenas interage com o mundo, mas responde a seus desafios ativamente. 25 Obra: A Educação como Cultura.

Page 60: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

informacional e pelos avanços tecnológicos; possuindo, ainda, grandes oportunidades

culturais, sociais e de relações. Porém, esses avanços nem sempre estão disponíveis a

todos os jovens, muitos deles inseridos na sociedade de maneira repetitiva, linear e

subalternizante:

“o adolescente/jovem vai tomando consciência da desigualdade social,

da discriminação e da ausência de repertório cultural para fazer frente

aos processo de exclusão com que dia-a-dia – e cumulativamente – se

depara. Reconhece-se discriminado no acesso e usufruto de bens e

serviços da cidade. Percebe-se confinado a uma vida de poucas relações,

oportunidades e possibilidades” ( CARVALHO, 2000:30).

Assim, os jovens pertencentes aos segmentos sociais mais desfavorecidos,

dependem de programas políticos ou de projetos privados específicos para a sua inclusão

saudável na sociedade.

Projetos de desenvolvimento comunitário, agregados ou não a movimentos

sócio-culturais específicos, geram oportunidades aos jovens de se inserirem socialmente.

Há, por exemplo, projetos que capacitam jovens de baixa escolaridade, provenientes de

família de baixa renda, com habilidades que lhes permitem a geração de renda, podendo

também contribuir para a inserção no mundo do trabalho; conseqüentemente,

fortalecendo a auto-estima, melhorando a sociabilidade, ampliando a comunicação no

meio em que está inserido e despertando a consciência de cidadania. Este processo pode,

ainda, reforçar os vínculos do jovem beneficiado com a escola formal, ampliando o seu

interesse pelo conhecimento, e é também, uma forma de prevenção e combate à

violência, distanciando os jovens do mundo das drogas.

Por outro lado, segundo a crítica de Andere26, a inserção precoce de crianças no

mercado acarreta sérios comprometimentos físicos e emocionais, além de tolher suas

perspectivas de profissionalização e escolarização, determinando a sua exclusão do

26 ANDERE, Denise Costamillan. Um breve olhar na história do trabalho infanto-juvenil. In: CALDERÓN, Adolfo Ignácio (Org.) Juventude, capacitação profissional e inclusão social: uma experiência de extensão universitária. Prefácio de Célia M. de Ávila. São Paulo: Olho d’Água, 2000.

Page 61: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

processo econômico e social quando adultos. Para Andere é fundamental educar e

sociabilizar a juventude procedente de famílias empobrecidas para o trabalho,

enaltecendo-se os valores do progresso e da indústria. E ainda, nesta ideologia, a fábrica

assumia destaque como órgão pedagógico e disciplinador, funcionando não apenas como

local de trabalho, mas assumindo o status de espaço de socialização dos jovens

trabalhadores, impingindo-lhes a consciência do trabalho (ANDERE, 2000:31).

A escola, a música, o canto, o esporte, a informática, o aprendizado de novas

linguagens e expressões culturais devem ser largamente divulgadas, permitindo o acesso

irrestrito de adolescentes e jovens. A profissionalização é um dos direitos dos

adolescentes. Sobretudo, esses programas devem priorizar o aspecto educativo sobre o

produtivo, habilitando o jovem ao acesso de novas linguagens e habilidades que

possibilitem a ampliação dos seus horizontes, conforme, aliás, está definido no artigo 4o

do Estatuto de Criança e Adolescente:

“É dever da família, da comunidade, da Sociedade em geral e do Poder

Público assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, a

efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

comunitária”.

Mesmo diante desse entendimento, no Brasil, as políticas e programas

socioculturais ainda são escassos e raras as oportunidades oferecidas aos jovens das

classes subalternas que lhes permitam evoluir em seus conhecimentos. Para Carvalho, há

um “vazio de políticas e programas sócio culturais para os jovens brasileiros. Em geral,

ficam restritos à escola e a uma vida cotidiana em seu próprio bairro, com os mesmos

amigos e as mesmas atividades lúdicas”. A autora complementa a reflexão,

argumentando que “é preciso dar-lhes oportunidades de novas relações e trocas

culturais, importantes para a sua vida em sociedade, exercício de sua cidadania e melhor

inserção no mundo do trabalho” (Carvalho, 2000:31)

Page 62: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

No campo cultural, também se precede a influência do status digital dos jovens.

Aqueles que não têm conhecimento dos códigos impostos pela sociedade informacional,

foram excluídos de alguns espaços de participação social, política, do mercado de

trabalho, entre outros. Sem saída, o jovem empobrecido precisa inserir-se em outras

atividades, tanto no plano social, cultural, como político; necessita de condições que

aumentem a sua fluência comunicativa e o domínio de outras linguagens, segundo

Carvalho, de forma a se sentir competente para acessar as riquezas societárias e obter

ganhos de pertencimento e reconhecimento de sua cidadania.

Os fenômenos da sociedade da informação e suas revoluções tecnológicas, que

parecem não terminar, fazem com que a sociedade tenha interesses fragmentados, dando

lugar ao individualismo, à insegurança, ao consumo exagerado, fazendo com que os

jovens subalternos, a cada microrrevolução, percam a noção de processo e,

conseqüentemente, do sentido de projetos coletivos que necessitam de continuidade.

Apesar disso, a revolução informacional ou tecnológica trouxe muitas

facilidades. Aproximou pessoas em tempo simultâneo, através do áudio e imagem, como

a videoconferência, agilizando reuniões de executivos em partes diferentes do globo

terrestre, gerando aquisição de novos dados para ampliação de conhecimentos;

possibilitou o acesso a distancia a informações governamentais, culturais e sociais,

enfim, promovendo inclusão social em todos os âmbitos. Em teoria, a inovação

informacional e tecnológica seria benéfica ao homem, particularmente aos jovens, na sua

tentativa de inserção social. Porém, na prática nem sempre é assim. Essa revolução, na

realidade, aumenta ainda mais o distanciamento entre as camadas sociais, levando à

inclusão de poucos e gerando a exclusão da grande maioria. Podemos interpretar essa

revolução como sendo o palco teatral onde os incluídos revelam as portas de exclusão

aos subalternos.

Assim, permanece ainda a questão de: Como promover a inclusão social?

Page 63: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Para Carvalho (2000:33), o desafio, portanto, para qualquer programa

emancipatório voltado a esses jovens, é “fazer chegar a eles os avanços tecnológicos e

riquezas sociais. É capacitar os jovens para localizar, acessar e processar informações e

conhecimento de maneira autônoma”.

Neste sentido, a escolaridade na educação formal, em si, não é suficiente.

Carvalho enfatiza que “são necessários programas complementares que ponham acento

em valores e no desenvolvimento de capacidades, talentos e habilidades voltadas a

assegurar a inclusão social”. (Carvalho, 2000:34)

“O desenho de programas formativos, inovadores e ambiciosos deve

possibilitar que o jovem apreenda, pela ação/relação, a consciência de

direitos e deveres que a inclusão social mobiliza, possibilitando-lhe

conviver e usufruir da cultura jovem. Não basta levá-lo para conhecer

arte; é necessário usufruir a arte. Trata-se de propiciar relações,

informações, vivência e valores que lhe possibilite ganhar confiança,

competência e habilidades para viver de forma pró-ativa e crítica numa

sociedade de múltiplos apelos, mudanças e incertezas.” (Carvalho,

2000:35)

Em suma, nota-se que a inclusão digital, nos tempos modernos, torna-se uma via

necessária para se alcançar a inserção dos jovens na sociedade, particularmente das

classes sociais menos favorecidas; seja através do acesso a atividades socioculturais, seja

como meio para se alcançar a inclusão social através da sua inserção no mundo do

trabalho.

Com o objetivo de caracterizar os jovens deste estudo, apresentamos a seguir o

perfil sociocultural dos entrevistados. Os dados foram coletados nas Escolas de

Informática e Cidadania, nos seguintes distritos: Capão Redondo, Jabaquara e Brooklin.

E, mais adiante, caracterizamos esses jovens quanto ao seu conhecimento sobre

informática e quais são as suas pretensões no futuro quanto à sua inserção no mercado

de trabalho e na sociedade.

Page 64: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

CAPÍTULO III

APRESENTANDO A PESQUISA REALIZADA

Neste capítulo, realizamos a análise qualitativa dos dados obtidos nos

questionários das entrevistas, relacionando-os com os conteúdos teóricos acerca da

temática aqui apreendida.

Para tanto, inicialmente, tomamos como eixo de análise:

1. O perfil dos jovens;

2. A situação socioeconômica;

3. Apropriação e utilização dos conhecimentos adquiridos;

4. Motivação para o curso de informática;

5. Um destaque para cidadania.

1. Perfil dos Jovens Entrevistados da Pesquisa

Para realização deste estudo, foram feitas 30 entrevistas, em três EICs, quais

sejam: Gotas de Flor com Amor, Instituto Gabi e Associação Beneficente Provisão,

localizadas nos distritos de Campo Belo, Jabaquara e Capão Redondo, respectivamente.

A escolha dos indivíduos entrevistados foi feita pelos coordenadores e/ou

educadores das próprias EICs. Assim, foram entrevistados 30 alunos, que estão no final

do curso de informática e cidadania. Esses jovens estão tentando a inserção no mercado

de trabalho formal, pela primeira vez, mediada pela aprendizagem de novas tecnologias.

A Tabela 8 mostra os distritos onde estão localizadas as EICs pesquisadas e seus

respectivos IEX e ICJ.

Page 65: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Tabela 8: Comparação entre IEX e ICJ dos distritos das EICs pesquisadas

Distritos EICs IEX ICJ Capão Redondo Associação Beneficente Provisão - 0,72 0,22

Jabaquara Instituto Gabi -0,36 0,39 Campo Belo Gotas de Flor com Amor 0,25 0,59

De acordo com os critérios estabelecidos, essas EICs foram escolhidas por

pertencer, cada uma delas, a uma das três faixas de IEX: aquela que é próxima do

extremo de exclusão social (distrito de Capão Redondo) e com ICJ baixo; aquela com

índice de exclusão social baixo (distrito de Jabaquara); e a que possui alguma inclusão

social com IEX no sentido positivo (distrito de Campo Belo), com ICJ satisfatório.

A Tabela 9 refere-se à questão de gênero dos entrevistados, sendo 40% dos

entrevistados homens, enquanto que 60% são mulheres.

Tabela 9: Gênero dos entrevistados

Situação Casos Percentual

Homens 12 40,00%

Mulheres 18 60,00%

SOMATÓRIO 30 100,00%

Os dados nos permitem supor que há maior procura de jovens do sexo feminino

por uma capacitação informacional. Tal fato pode ser explicado pelas características

atuais do mercado de trabalho, que levam as mulheres a procurarem as formas de

capacitação possíveis que as tornem igualmente qualificadas em relação aos homens; ou

devido à necessidade socioeconômica, como foi citado anteriormente, pois, em muitas

famílias, o provedor econômico é a mulher, posição que exige dela melhor qualificação

para o trabalho, com o objetivo de obter melhores salários.

Vale ressaltar, também, que a Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e

Solidariedade (SDTS), da Prefeitura de São Paulo, desde 2001, possui estratégias de

Renato Hsien
Não bate com o que você citou no texto do capítulo I
Page 66: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

inclusão social apresentadas pelos programas redistributivos, passando pelos programas

emancipatórios e finalizando com os programas de apoio ao desenvolvimento local27,

como mostra a Tabela 10.

Tabela 10: Município de São Paulo - distribuição dos beneficiários dos programas redistributivos, por gênero, em 2002

GÊNERO Quantidade Em %

Masculino 53.305 19,4 Feminino 221.464 80,6 Total 274.769 100,0

Fonte: SDTS/PMSP

Dos beneficiários dos programas de garantia de renda, 80,6% são mulheres e

19,4% são homens. Isso se deve ao fato da ampliação do papel da mulher como

responsável pelo domicílio, como provedora de renda da família, e devido à sua inserção

no mercado de trabalho. Embora considerando a hipótese, também, da mulher ter papel

fundamental na busca de renda para sustento da família, não podemos afirmar que essa

distribuição de benefícios pode ser definida como voltada para a mulher como provedora

da família.

A Tabela 11 traz a média de idade dos entrevistados como sendo de 20,5 anos. A

mediana de idade desses jovens é de 18 anos. A maioria dos entrevistados (40%) tem 17

anos; 13,33% tem 18 anos; 6,67% correspondem aos jovens de 19 anos; mesmo índice

para os entrevistados de 20 anos. Os 10% são de jovens de 21 anos, mesmo índice para

os de 22 anos. Existem 3,33% com 23 anos e 10% com 24 anos.

27 Os objetivos dos programas redistributivos são: o aumento da escolaridade de crianças e jovens e capacitação de jovens e adultos, associado à transferência de renda para as famílias. Além das bolsas mensais, oferecem cursos que proporcionam maior participação na cidadania, aprendizado de novos conhecimentos, melhoria da auto-estima, financiamentos (pelo Banco do Povo) e apoio técnico para incubação de empreendimentos populares.

Page 67: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Tabela 11: Idade dos entrevistados

Idades Casos Percentual

17 12 40,00%

18 4 13,33%

19 2 6,67%

20 2 6,67%

21 3 10,00%

22 3 10,00%

23 1 3,33%

24 3 10,00%

SOMATORIO 30 100,00%

A Tabela 12 indica o estado civil dos entrevistados. A maioria deles (83,33%) é

solteira; enquanto que 13,33% são casados e apenas 3,33% vivem informalmente com

um parceiro.

Tabela 12: Estado civil dos entrevistados.

Situação Casos %

Solteiro 25 83,33%

Casado 4 13,33%

Viúvo 0 0,00%

Desquitado/Divorciado 0 0,00%

Informal 1 3,33%

SOMATÓRIO 30 100,00%

A Tabela 13 refere-se à escolaridade dos entrevistados, apesar de 33,33% dos

jovens terem concluído o primeiro grau, a maioria dos entrevistados (86,67%) está

cursando o ensino regular. Apenas 23,33% terminaram o primeiro grau; 30% estão ainda

Page 68: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

cursando o segundo grau e 13,33% concluíram o segundo grau. Dos que já completaram

o ensino regular, nenhum deles teve a oportunidade de iniciar o curso superior.

Tabela 13: Escolaridade dos entrevistados

Situação Casos %

Primeiro Grau Incompleto 10 33,33%

Primeiro Grau Completo 7 23,33%

Segundo Grau Incompleto 9 30,00%

Segundo Grau Completo 4 13,33%

Terceiro Grau Incompleto 0 0,00%

SOMATÓRIO 30 100,00%

A Tabela 14 traz a cor da pele dos entrevistados. A maioria é branca, com

46,67%; 30% tem pele parda; e 23,33% tem a pele negra.

Tabela 14: Cor da pele dos entrevistados

Cor da Pele Casos %

Branca 14 46,67%

Parda 9 30,00%

Negra 7 23,33%

SOMATÓRIO 30 100,00%

O perfil dos entrevistados nas EICs coincide em alguns aspectos com os

resultados da Mapa de Juventude da Cidade de São Paulo. A mediana das idades dos

pesquisados é de 18 anos nas EICs e 18,65 anos no Mapa da Juventude. Ao comparar

com o Mapa da Juventude, detectamos ainda outras coincidências entre os jovens

paulistanos, como, por exemplo, a freqüência nas escolas. No Mapa da Juventude, a

ocorrência entre os que estudam é de 63% de todos os seus entrevistados, enquanto que,

nesta pesquisa, detectou-se que 63,33% estudam, contra os 36,66% que não. Coincide,

Page 69: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

também, no indicador cor da pele, em que a maioria dos entrevistados é de pele branca,

seguidas das peles parda e negra.

Diante das coincidências apresentadas pela Tabela 15, podemos inferir que a

amostragem selecionada desta pesquisa possui um perfil representativo e adequado para

a análise dos jovens da cidade de São Paulo como um todo. Dessa forma, as conclusões

a indicadas no final são significativamente relevantes.

Tabela 15: Comparação entre o Mapa da Juventude e a pesquisa atual

Mapa da Juventude Pesquisa Idade mediana 18,65 anos 18 anos

Cor da pele Branca, parda e negra. Branca, parda e negra. Jovens que estudam Sim (63%) – Não (37%) Sim (63,3%) – Não (33,6%)

Foram selecionados alguns indicadores das condições socioeconômicas dos

jovens entrevistados, sendo: o grau de escolaridade (Tabela 13); situação da moradia;

condições de emprego (quem e quantos são empregados na família e seus salários, além

das características desses empregos) e, por fim, as condições de acesso a atividades

socioculturais como indício de exclusão/inclusão social. No geral, detectamos que a

maioria dos jovens entrevistados mora em habitação precária, pertence a famílias em

situação de desemprego, ou quando empregados, estão sob regime de baixos salários ou

insuficientes, além de, muitas vezes, trabalharem sob condições prejudicadas. Foi

necessário refinar as questões sobre as condições de moradia, pois a resposta inicial foi

mascarada pela “vergonha” desses jovens em face das condições precárias em que

vivem.

Conhecer a situação de moradia é conhecer uma parte da condição de vida

social e econômica dos entrevistados, como mostra a Tabela 16.

Page 70: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Tabela 16: Situação de Moradia I

Situação Casos %

Casa própria (terreno legal) 18 60,00

Casa alugada (terreno legal) 3 10,00

Casa em terreno público 7 23,33

Compartilhada com outras famílias 1 3,33

Abrigo 1 3,33

Outros 0 0,00

SOMATÓRIO 30 100,00

Na Tabela 16, verifica-se que os jovens com casa própria perfazem 60% dos

entrevistados; 10% das moradias são alugadas e 23,33% estão em terrenos da prefeitura.

Dentre os jovens que responderam que possuíam casa própria, 38,89% confirmaram ter

casa própria, em terreno legalizado, em entrevista realizada numa segunda instância,

com refinamento da pergunta, a fim de diferenciar a casa própria situada em terreno

próprio legal daquela que é situada em terrenos públicos, como os da prefeitura, ou

pertencentes a outrem. O restante (61,11%) confirmou possuir moradia própria, mas em

terrenos com situação irregular, sendo 38,88% em terrenos da prefeitura e 22,23% em

terrenos invadidos.

A Tabela 17 resume a situação de moradia dos entrevistados, após o segundo

contato. Desta forma, a maioria (50%) dos entrevistados, afirmou morar em terreno da

prefeitura; seguida de casa própria, com 23,33%. As demais situações correspondem a:

10% de situação de moradia em forma de aluguel; 3,33% de moradia compartilhada com

outras famílias; e o mesmo índice para moradores de abrigo; e o restante 10% é

representado por outras situações de maior complexidade.

Tabela 17: Situação de moradia II

(Continuação)

Page 71: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Situação Casos %

Casa própria (terreno legal) 7 23,33

Casa alugada (terreno legal) 3 10,00

Casa em terreno público 15 50,00

Compartilhada com outras famílias 1 3,33

Abrigo 1 3,33

Outras situações 3 10,00

SOMATORIO 30 100,00

Reafirmamos que informação imprecisa dos jovens pesquisados sobre a sua

moradia pode ser explicada por seu sentimento de inferioridade social e a falta de

recursos. Paugam (2003: 86) denomina tal situação de “fragilidade interiorizada”, ou

seja, desqualificação do indivíduo provocada por uma crise de identidade. Em outras

palavras, eles sofrem humilhação, perturbação, isolamento e ressentimento. Esses

sentimentos vieram à tona quando questionados sobre a sua moradia, principalmente por

uma pessoa que não vive em seu meio social,. Na segunda abordagem (Tabela17), os

jovens mostraram-se mais abertos à entrevista e descreveram melhor sua situação e a

precariedade dos lugares onde vivem.

Para ampliar o conhecimento sobre a exclusão social dos entrevistados, eles

foram questionados quanto ao número de pessoas que moram na mesma casa, cujo

resultado está na Tabela 18.

Tabela 18: Número de pessoas que moram na casa dos entrevistados

Situação Casos %

Três 5 16,67

Quatro 7 23,33

Cinco 6 20,00

Seis 7 23,33

Sete 4 13,33

Oito 1 3,33

SOMATÓRIO 30 100,00

Page 72: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Destacam-se as moradias com quatro, cinco e seis pessoas, correspondendo a

23,33%, 20% e 23,33%, respectivamente. Três pessoas por moradia representam

16,67%; sete pessoas com 13,33% e apenas 3,33% com oito pessoas na mesma casa.

Na tabela descritiva, São Paulo 1991/1993, dos padrões territoriais de inclusão

social em qualidade de vida, apresentada por Koga (2003:182), morar em um distrito no

qual vivem mais de quatro pessoas por domicílio significa residir nos distritos com

índices de IEX negativos entre –1 e –0,25. Esse índice aproxima-se na totalidade

negativa quando o distrito apresenta 38% dos moradores vivendo em domicílios

precários. Com os mesmos índices, conclui-se também que os chefes de família estão

abaixo da linha de pobreza, isto é, sem rendimento, ou vivendo na linha de pobreza, com

ganho de até dois salários mínimos (Tabela 21).

“No interior destes enclaves de riqueza e inclusão social encontram-se

situações de pobreza e exclusão, como é o caso do Morumbi. Além de os

distritos representarem numericamente populações de cidades médias

brasileiras, a heterogeneidade e a desigualdade da cidade se manifestam

também no interior dos distritos. Significa dizer que a dimensão

territorial distrital, embora represente um importante avanço enquanto

elemento de análise sobre a cidade, ainda, pode ser desagregada, a fim

de se capturar outras diferenças existentes.” (KOGA, 2003:167)

Quando indagados sobre o número de cômodos que existem na casa, uma parte

dos entrevistados respondeu que possuía somente dois cômodos (16,67%), formados por

um pequeno quarto e uma sala misturada com cozinha. Quando uma dessas salas era

dividida com lençol, respondiam que havia três cômodos. Mas a maioria respondeu que

possuía quatro cômodos (46,67%), 10% responderam que possuíam mais de cinco

cômodos e 6,67% responderam que a casa possuía mais de cinco cômodos (Tabela 19).

Tabela 19: Número de cômodos existentes na casa dos entrevistados.

(Continuação)

Page 73: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Ocorrências Casos %

1 0 0,00

2 5 16,67

3 6 20,00

4 14 46,67

5 3 10,00

MAIS DE 5 2 6,67

SOMATÓRIO 30 100,00

As condições de vida dos jovens empobrecidos e seus familiares têm

conseqüências notáveis no espaço urbano. A sua periferização e formação de favelas são

símbolos claros de exclusão social. As razões que levam populações a ocuparem essas

áreas referem-se à necessidade de diminuir seus gastos com moradia, para adequá-los

aos baixos salários e à falta de emprego. Nesse sentido, excluídos do mercado formal de

habitação passam a invadir e a ocupar desordena e ilegalmente áreas informais urbanas

com conseqüências para a salubridade ambiental. Não obstante, a pesquisa levantou

situações em que, além das condições precárias, ainda recebem pessoas migrantes de

outros Estados, geralmente das regiões Norte e Nordeste, comprometendo ainda mais

sua precariedade habitacional, pois o número de pessoas por domicílio, nesses casos,

chega a oito, comprimidos em um minúsculo espaço físico. Compromete ainda mais

esse estado precário o fato de que nem todos os migrantes que se agregam num único

espaço possuem acesso a emprego formal.

Ainda para conhecera situação de exclusão social das famílias dos entrevistados,

pesquisamos sobre o número de pessoas que trabalham na casa (Tabela 20), sobre a

renda familiar, o maior salário e o tipo de profissão. Isso porque tal situação é agravada,

quando se relaciona o número de pessoas que trabalham e o número de pessoas que

habitam na moradia.

Page 74: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Tabela 20: Número de pessoas que trabalham na casa dos entrevistados.

Situação Casos %

1 21 70,00

2 5 16,67

3 0 0,00

4 1 3,33

5 0 0,00

Todas as pessoas trabalham na casa. 1 3,33

Prefeitura 2 6,67

SOMATÓRIO 30 100,00

A Tabela 20 mostra que, na maioria das moradias, 70% possui somente uma

pessoa trabalhando para obter sustento para todos. Apenas 16,67% possuem duas

pessoas representando a força economicamente ativa, índice idêntico para os

entrevistados que recebem recursos da prefeitura. Ainda, dentre eles, houve somente um

caso em que todos os membros da família trabalhavam.

Esse agravamento pode ser explicado pela “origem da crise da sociedade salarial,

com a emergência do desemprego e da precarização das relações de trabalho, como

problemas centrais dessas sociedades”; onde a nova pobreza é apontada para reforçar a

velha, de tal forma a “designar os desempregados de longa duração que vão sendo

expulsos do mercado produtivo”, e ainda, em relação aos jovens, estes “não conseguem

nele entrar, impedidos do acesso ao ‘primeiro emprego” (WANDERLEY, 1999:18-19).

No tocante à renda familiar, 80% das famílias dos jovens entrevistados

sobrevivem com apenas um a três salários mínimos, como demonstra a Tabela 21.

Existem 13,33% que vivem com quatro a cinco salários e apenas 6,67% vivem com seis

a oito salários mínimos.

Page 75: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Tabela 21: Renda familiar dos entrevistados

Número de salários mínimos Casos %

1 a 3 24 80,00

4 a 5 4 13,33

6 a 8 2 6,67

Mais que 8 0 0,00

SOMATÓRIO 30 100,00

Vale ressaltar que dos 80% dos entrevistados que recebem entre um a três

salários mínimos, 58,33% têm renda de um salário mínimo para o sustento de sua

família.

No que tange à profissão do membro da família que tem o maior salário, a mais

comum é a de empregada doméstica, representada pelas mães dos alunos entrevistados.

Há profissão de balconista, com 6,67%; mecânico de automóveis, 6,67%; pedreiros e

ajudante de obra, 10%; autônomo, 3,33%; outros, como motorista de ônibus, auxiliares

de limpeza, auxiliares de produção, 20%; assim demonstrados na Tabela 22.

Tabela 22: A profissão que tem maior salário dentre pessoas que moram na casa dos

entrevistados.

Situação Casos %

Mãe, profissão doméstica 16 53,33

Mãe, profissão balconista 2 6,67

Por conta própria 1 3,33

Pai, profissão mecânico de carros 2 6,67

Pedreiro e obras 3 10,00

Outros 6 20,00

SOMATÓRIO 30 100,00

Page 76: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

No item situação de trabalho do entrevistado, foi perguntado se estavam

empregados ou desempregados, e, quando estavam empregados, se o regime era formal

ou informal.

O resultado da pergunta sobre se os entrevistados estavam empregados

atualmente, ou não, independentemente de ser na formalidade ou na informalidade, está

na tabela 23:

Tabela 23: Situação de trabalho dos entrevistados

Situação Casos %

Sim 9 30,00

Não 21 70,00

SOMATÓRIO 30 100,00

A Tabela 23 mostra que a maioria (70%) dos jovens não trabalha, enquanto que

somente 30% dos entrevistados estão ocupados profissionalmente. Dado semelhante é

encontrado no Mapa da Juventude, em que o índice dos jovens que não trabalham

corresponde a 66,8%. Ou seja, a maioria dos jovens paulistanos não está inserida em

nenhum tipo de trabalho. Os que estão inseridos, 44% trabalham em serviços, 27,5% em

comércio, 4,4% em indústria e 25% trabalham na informalidade. E, ainda, 33,33% têm

registro na carteira, 55,56% são temporários e 11,11% fazem “bico”.

Ao comparar a pesquisa ao Mapa da Juventude, verificamos que a diferença entre

os dois estudos é mínima. Enquanto que no Mapa da Juventude, 43,3% dos jovens

paulistanos estão inseridos no mercado de trabalho formal; em nossa pesquisa o índice é

de 44,44%, como mostra a Tabela 24.

Tabela 24: Inserção no mercado de trabalho formal

(Continuação)

Page 77: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Mapa da Juventude Pesquisa

Sim 43,30% 44,44%

Não 52,20% 55,55%

SOMATÓRIO 97,5% 100%

Perguntamos aos entrevistados que trabalham, qual a sua situação no emprego,

como mostra a Tabela 25.

Tabela 25: Situação de trabalho dos entrevistados que responderam sim

Situação Casos %

Efetivo 3 33,33

Temporário 5 55,56

Bico 1 11,11

SOMATÓRIO 9 100,00

Dos entrevistados que trabalham, 33,33% são efetivos, com registro na carteira;

55,56% são temporários; e apenas 11,11% fazem “bico”. A pesquisa demonstrou ainda

que 33,33% dos jovens estão sob regime de trabalho temporário, enquanto que deveriam

estar no trabalho formal. Dos entrevistados que trabalham como temporários, 80% estão

na informalidade, sem registro em carteira.

A precarização das condições de trabalho, como afirma Pochmann (1996:38) ao

analisar o crescimento do setor industrial brasileiro, demonstra que, “a transferência das

tarefas de limpeza, alimentação, segurança etc., antes administradas pela própria

empresa industrial, para a administração de terceiros ajuda a explicar o maior

crescimento relativo da participação dos estabelecimentos de micro e pequeno porte

deste setor no emprego total” aliando ao processo de terceirização de serviços.

Esse crescimento do setor industrial e a sua mutação na forma de contratação de

empregados têm influências da intensificação da globalização. Martins (2002:17)

explica que é própria do processo do capital, isto é, “fez com que o capital se

reencontrasse com a forma de exploração pré-capitalista de trabalho, das quais

Page 78: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

aparentemente se divorciara há muito. Mas, também, porque encontrou-se com valores,

mentalidades e concepções da vida e do trabalho muito frágeis em face do poder

destrutivo e de sujeição do capital globalizado”.

Com a finalidade de completar a visão quanto à inclusão/exclusão social entre os

jovens entrevistados, buscamos conhecer a sua participação nas atividades socioculturais

na cidade de São Paulo, e identificar se existem espaços para a participação ativa, com

plenos direitos do exercício da cidadania. Os resultados obtidos a partir das entrevistas

realizadas são apresentados a seguir.

2. Universo Sociocultural dos Entrevistados e suas Famílias

Nesse item, mostramos as atividades de cultura e lazer (Tabela 26) dos

entrevistados e o local onde acontecem os relacionamentos sociais.

Tabela 26: Local onde os entrevistados costumam ter o lazer

Ocorrências Casos %

Shopping 5 16,67

Parque do Ibirapuera 5 16,67

Associação que abriga a EIC 15 50,00

Não opinaram 5 16,67

SOMATÓRIO 30 100,00

Os jovens, em sua grande maioria, responderam que gostam de ficar na

organização que abriga as EICs para o curso de informática e outras atividades

socioculturais da comunidade. Outros 50% preferem realizar as atividades de lazer nos

shopping centers, no parque do Ibirapuera ou não quiseram opinar a respeito. Uma

jovem entrevistada (GB03) comentou que não sente prazer em sair de casa porque isso

gera algum tipo de gasto e ela não tem condição financeira para realizar passeios, nem

mesmo para atravessar a rua, explicou.

Page 79: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Os jovens empobrecidos também realizam suas atividades culturais através do

uso do computador. Esse instrumento de informação não é utilizado somente para

ensinar digitar cartas ou planilhas, escrever currículos ou enviar e-mails. As EICs são

fomentadores de cultura digital por meio do uso de Internet, ocasião em que o acesso à

cultura e à possibilidade de conhecer problemas de seu meio social ficam ao alcance dos

jovens nele inseridos.

De alguma forma, quem fez o curso básico quer continuar utilizando os

computadores. Os jovens procuram as EICs para ter acesso ao computador e realizar

tarefas escolares ou pesquisas pela Internet. Para os jovens empobrecidos, dominar o

computador, desvendar seu segredo e das suas operações, torna-os parte do grupo seleto

de usuários da informática. Desta forma, o ato eleva a sua auto-estima e melhora a sua

qualidade de vida.

No Quadro 6 são mostradas as atividades culturais encontradas nos distritos

pesquisados. Nos três distritos, Capão Redondo, Jabaquara e Campo Belo, existem

equipamentos públicos e privados para o lazer e acesso à cultura, tais como, teatros

municipais, casas de cultura, bibliotecas, Centros Educacionais Unificados (CÉUS),

clubes da cidade, museus, centros de informação e computação, campos de futebol,

delegacias de ensino, escolas especiais para excepcionais, faculdades, parques, galerias

de arte e clubes esportivos municipais.

Um fato importante a ressaltar é que esses equipamentos públicos de lazer são

freqüentados por seus moradores locais, que não permitem a aproximação de outros

grupos. Essa exclusividade é comprometida pela formação de grupos de gangues locais.

A aproximação de moradores de outros bairros, para eles, significa provocação ou a

invasão de espaços dominados por gangues, explicou um dos educadores da EIC

Provisão.

Os jovens têm conhecimento dos perigos que seus bairros apresentam: violência

entre gangues, narcotráfico, morte precoce de jovens, entre outros.

Page 80: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Dentre muitos fatos, é importante salientar que os jovens empobrecidos

participam pouco desses espaços de lazer e cultura por falta de dinheiro ou de iniciativas

de organizações sociais. A preocupação das organizações que abrigam as EICs

pesquisadas está em torno de suas aulas de informática e atividades que procuram

ampliar a cidadania de seus alunos.

A pesquisa mostra que 26, 50% dos jovens preferem ter lazer nas EICs, enquanto

que, os outros, em shopping ou no parque de Ibirapuera, isto é, procuram segurança para

o seu lazer.

Quadro 6: Atividades e equipamentos públicos que permitem acesso a cultura e lazer, nos distritos de Capão Redondo, Jabaquara e Campo Belo Capão Redondo Jabaquara Campo Belo Imediações Teatros Municipais, Estaduais e Particulares

Teatro Paulo Eiró, Av. Santo Amaro, 765. Teatro do Sesc Santo Amaro, Rua Amador Bueno, 505. Teatro Alfa, Rua Bento Branco de Andrade Filho, 733.

Casas de Cultura

Casa de Cultura M’Boi Mirim, Av. Inácio Dias da Silva, s/n.

Centro Cultural Jacob Salvador Zveibil – Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro Caio Egydio de Souza Aranha. Rua Arsênio Tavoliere, 45. Centro Cultural Paulo Duarte – Municipal Casa Histórica – Sítio Ressaca Espaço Cultural Iniciação Artística – Municipal

Casa da Cultura de Santo Amaro. Praça Francisco Ferreira Lopes, 434. Casa de Cultura Amarela. Praça Floriano Peixoto, 131.

(Continuação)

Page 81: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Bibliotecas de Bairro

Helena Silveira Marcos Rey Infanto-juvenil de Campo Limpo

Dr. Joaquim J. Carvalho Paulo Duarte

Benedito B. Barreto Malba Tahan Pres. Kennedy

CEUs Campo Limpo Clubes da Cidade, Campos de Futebol, Balneários, Municipais, Estaduais e Particulares

Clube da Cidade de Campo Limpo DUED 171 Mini Bal. Sinério Rocha Campo de Futebol de Caju – Municipal Campo de Futebol de Capão Redondo – Municipal Campo de Futebol Conjuntura Habitacional – Municipal Campo de Futebol Jardim Aurélio – Municipal Campo de Futebol Parque da Independência – Municipal Mini Campo Bem Bolado – Cohab Adventista – Municipal Mini Campo Jardim Campo de Flor – Municipal

Clube da Cidade de Jabaquara. Clube da Cidade de Vila Santa Catarina DUED 132 Balneário Jalisco Campo de Futebol – Cidade Júlia – Municipal CDM Ângelo Moni – Municipal CDM Ferradura – Municipal CDM Krake Sorriso – Municipal CDM Unidos da Vila Guarani – Municipal Centro Esportivo Riyuso Ogawa – CEE

Esporte Clube Compacto Vicente Rao Salito Esport Center CDM Municipal Amigos de Moema CDM Municipal Congonhas

Clube da Cidade de Santo Amaro Sesi Sto Amaro Sesc Sto Amaro

Museus Casa do Sítio da Ressaca Centro Cultural do Jabaquara

(Continuação)

Page 82: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Acessa São Paulo (Infocentros) e Telecentros

Infocentro Jardim Irene Infocentro turma da Touca Infocentro Promorar Infocentro Acec Telecentro IAE Telecentro Jd Comercial Telecentro Jd Rosana Telecentro Estrela Nova Telecentro Comgas Telecentro Cohab

Telecentro Comgas Telecentro Cruz de Malta

Passatempo Sto. Amaro Bom Prato Sto. Amaro Telecentro Sta. Lucia Telecentro Rainha da Paz Telecentro SAS Telecentro VIVO

Delegacias de Ensino

19 DE 17 DE

Escolas Especiais para Excepcionais

SAPNE Emef. José Olympio Pereira Filho Drem-5

Faculdade Faculdade Adventista

Faculdade Impacta Fac. Brasileira de RH

Parques, praças, quadras, ruas de lazer

Pq. Sto Dias Pq. do Guarapiranga Sociedade Amigos parque Fernanda – Municipal Rua de Lazer – Limbari - Municipal

Pq. Lina e Paulo Raia Pista de Skate Cingapura Vila Nilo – Municipal Praça/Quadra de Diederichsen Praça e Quadra Prof. Carlos Rizzini Rua de Lazer Constantino Cavaf Rua de Lazer Filinto Eliseo Rua de Lazer Guian

Ibirapuera (Continuação)

Page 83: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Galeria de Arte

Laborarte Laboratório de Arte

Fonte: www.prefeitura.sp.gov.br e www.portaldoseubairro.com.br. Acesso em: Ago. 2004)

“É fundamental esta participação dos moradores para fazer valer o

aspecto cultural, das relações deles com o lugar. A não-observação desta

condição pode ter como conseqüências a não-incorporação da divisão

territorial pela sociedade, gerando conflitos de informações e

dificuldades em se produzir dados e estes serem de utilidade para a

população” (KOGA, 2003:134).

A Tabela 27 mostra outros lugares freqüentados pelos jovens pesquisados. Note-

se que lazer em casa não há nenhum caso. Porém, no campo Outros, respondeu a

entrevistada (GB03) que não sentia prazer em ficar em casa, mas que também não gosta

de ter outras atividades de lazer, ficando restrita apenas ao EICs.

Tabela 27: Lugares onde os jovens pesquisados praticam suas atividades de lazer

Situação Casos %

Clubes 0 0,00

Atividades no bairro 1 3,33

Atividades na comunidade e EIC 15 50,00

Bailes/Festas 1 3,33

Restaurantes 0 0,00

Parques 5 16,67

Shoppings 5 16,67

Cinema e teatro 2 6,67

Em casa 0 0,00

Outros 1 3,33

SOMATÓRIO 30 100,00

A seguir, mostramos (Tabela 28) uma comparação entre o Mapa da Juventude e

a esta pesquisa sobre as atividades de lazer dos jovens paulistanos.

Page 84: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Tabela 28: Comparação das atividades de lazer entre os jovens do Mapa da

Juventude e os jovens da Pesquisa.

Mapa da Juventude % Pesquisa %

Esportivas 48,70 Clubes 0,00

Festas/Baladas e Bares 11,90 Bailes e Festas 3,33

Doméstica 11,90 Em casa 0,00

Passeio 8,20 Parques 16,67

Música 6,70 Música 0,00

Culturais 5,70 Atividades na comunidade e EIC 50,00

Jogos 3,30 Shoppings 16,67

Estudo/Cursos 2,00 Cinema 6,67

Religiosas 0,90 Religiosas 0,00

Outros 0,60 Outros 3,33

SOMATÓRIO 99,9 96,67

Na comparação acima, os jovens das EICs pesquisados neste estudo

demonstraram diferença de preferências nas atividades de lazer em relação àqueles

pesquisados pelo Mapa da Juventude. Os jovens do Mapa da Juventude preferem, em

sua maioria práticas esportivas, 48,7%; seguidas de festas/baladas/bares, e atividades

domésticas, representadas por 11,9%; passeio, 8,2%; música, 6,7%; culturais, 5,7%;

jogos, 3,3%; estudo/cursos, 2% e atividades religiosas, 0,90%. A maioria dos jovens

entrevistados dessa pesquisa, por sua vez, gostam de atividades na comunidade que

abriga a EIC, o que está representado com 50% dos jovens. Preferência seguida por

parques e shoppings, com 16,67%; cinema, com 6,67%; bailes e festas, com 3,33% e

3,33% para outras atividades. A expressiva diferença encontrada entre as preferências

dos entrevistados que compõem a amostra da pesquisa e a do Mapa da Juventude, é

explicada pelo fato de que a deste último abrange jovens todas as classes sociais e os

mais favorecidos moram em territórios diferenciados, acessam com facilidade

equipamentos públicos e muitos deles também os privados.

Page 85: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Segundo Andere (2000:24), “a escola, a música, o canto, o esporte, a informática

e o aprendizado de novas linguagens e expressões culturais são bens cujo acesso é

restrito a determinados segmentos sociais. Trata-se de uma ampla gama de alternativas a

que as crianças e adolescentes subalternizados também deveriam ter acesso”.

As relações estabelecidas com a família e outros grupos sociais, estão

representadas na a Tabela 29.

Tabela 29: Local onde a família dos entrevistados mantém relacionamentos sociais

Situação Casos %

Vizinhos 15 50,00

Parentes 12 40,00

NNão faz relacionamentos sociais 3 10,00

SOMATORIO 30 100,00

Em relação ao local onde a família desenvolve relacionamentos sociais, a metade

dos entrevistados informou que acontece com a vizinhança; 40% dos entrevistados vão

à casa de parentes; e 10% não saem de casa. Os dados indicam predominância das

relações de proximidade, com a própria família e vizinho, o que coincide com o Mapa da

Juventude, no qual a grande maioria dos pesquisados faz seus relacionamentos na

vizinhança, com 35,7%, e no bairro, com 33,2%.

A seguir, são caracterizadas as formas de participação dos jovens nas atividades

das EICs onde estão inseridas.

Apesar de a oferta da inclusão digital com o objetivo de promover a inclusão

social ser, aparentemente, uma tarefa fácil, para a qual basta um espaço físico com infra-

estrutura apropriada e algum computador contendo softwares privados ou livres, e

iniciar o curso de informática, muito mais é preciso ser feito, como afirma Carvalho,

pois o processo de capacitação de jovens deve ser acompanhado de outras atividades

socioculturais que possibilitem uma maior inserção de jovens a no mundo do trabalho.

Page 86: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Essas atividades devem ser planejadas pelas organizações que pretendem

oferecer inclusão digital para a comunidade e ser atribuídas aos jovens junto com

proficiência digital. Carvalho (2000:28-29) lembra que “até um passado recente,

apostou-se na educação para e pelo trabalho quando tratava-se de adolescentes e jovens

das camadas populares”. Entretanto, pesquisas apontam que “jovens adolescentes que

trabalham e estudam têm dificuldades de compatibilizar escola e trabalho, resultando,

em geral, na queda do aprendizado e abandono escolar”. Mas, por outro lado, trabalhar

precocemente pode apresentar vantagens no “âmbito cognitivo e de habilidades para a

vida autônoma28, apesar de essas vantagens diminuírem com o passar do tempo”.

“Enfim, trata-se de apostar na positividade de adolescentes e jovens

mesmo quando se apresentam como galeras, punks, grafiteiros, rebeldes

ou acomodados. A aposta na positividade pode transformar danos e

comportamentos divergentes em habilidades e talentos recuperadores

das dimensões ética, estética e comunicativa, tão caras ao projeto

educativo que se quer implementar.” (CARVALHO, 2000:35)

As atividades das quais os jovens entrevistados gostariam de participar na organização,

estão representadas na Tabela 30.

Tabela 30: Atividades sociais e culturais nas EICs pesquisadas

Atividades Presente nas EICs Casos %

Pintura e arte Gotas, Gabi 3 10

Línguas estrangeiras Gotas 5 16,67

Comunicação Gotas 1 3,33

Jornalismo Gotas 1 3,33

Teatro Gotas, Gabi 3 10

Dança, Capoeira Gotas, Gabi 3 10

(Continuação)

28 Para Carvalho, essas vantagens se traduzem em capacidade para tomar iniciativas, circulação no espaço, criatividade e agilidade de respostas.

Page 87: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Nada 5 16,67

Voluntariar Gotas, Gabi e Provisão 1 3,33

Fazer curso de informática de novo Gotas, Gabi e Provisão 1 3,33

Palestras e seminários Gotas, Gabi e Provisão 4 13,33

Música e instrumentos Gotas, Provisão 2 6,67

Leitura Gotas, Gabi e Provisão 1 3,33

SOMATÓRIO 30 100

Entre os quesitos sobre atividades sociais e culturais, houve grande diversidade

nas opiniões, predominando 16,67%, com interesse em estudar línguas estrangeiras na

comunidade, e 13,33% em ouvir palestras e assistir seminários que acontecem no bairro,

nas escolas, ou na própria organização que abriga a EIC.

As atividades de pintura e arte, teatro, dança e capoeira, eram de interesse de

10% dos jovens, respectivamente. Comunicação, jornalismo, atividades de voluntários,

fazer curso de informática novamente e leitura interessavam a 3,33%, respectivamente.

Música e instrumentos têm 6,67% de interesse cada.

Destaque maior ficou no grupo dos entrevistados (16,67%) que responderam que

não querem participar de atividades. Indagados sobre o porquê do desinteresse pelas

atividades sociais e culturais, as respostas, em suas próprias palavras, foram as

seguintes:

GT07 comentou:

“Não faço nenhuma destas atividades porque muito delas precisa pagar. A minha

mãe já sua muito para pagar o meu curso de informática que é R$15,00 por mês. Vejo

que a minha mãe sofre muito para ganhar dinheiro. Quero economizar”.

GB06 comentou:

Page 88: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

“Não faço estas atividades porque esta organização possui atividades para

deficientes. Não conheço outras instituições que promovem atividades que não precisa

pagar. Aqui mesmo na informática preciso pagar R$15,00”.

GB09 comentou:

“Ainda não fui informado dos lugares que possuem estas atividades. Aqui mesmo

não tem ou não me ofereceram. Na igrejinha perto de casa tem só para crianças

pequenas”.

PR14 comentou:

“Fui uma vez fazer em outro bairro, aqui mesmo no Capão Redondo. Lá fui

ameaçado porque não era de lá. Falaram para eu ir embora que iam me matar. Fiquei

com muito medo, por isso não vou mais em nenhum lugar”.

GT17 comentou:

“Tudo é muito caro e preciso, nas horas que tenho tempo, ajudar a minha mãe. Vou

pedir trocados na rua, fazer um bico aqui, fazer alguma coisa para ganhar dinheiro.

Ganhar dinheiro é mais importante pra mim agora”.

As análises feitas por Carvalho corroboram os comentários dos jovens. A autora

faz referência ao vazio de programas socioculturais em nosso meio, a partir de

iniciativas de políticas públicas, falta incentivo para obter uma maior participação dos

jovens, promovendo o seu exercício de cidadania e facilitando a sua inclusão na

sociedade (CARVALHO, 2000:31).

3. Apropriação e Utilização dos Conhecimentos Adquiridos na EIC

Page 89: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Nesse item, demonstramos a apropriação e utilização dos conhecimentos

adquiridos na EIC.

A Tabela 31 demonstra a utilização dos conhecimentos adquiridos pelos

entrevistados no curso de informática e cidadania, de acordo com a resposta de cada um.

Tabela 31: Situação de utilização dos conhecimentos de informática pelos entrevistados

Situação Casos %

Sim 22 73,33

não 8 26,67

SOMATÓRIO 30 100,00

O que se destaca, nesta tabela, é que 26,67% dos entrevistados responderam que

não utilizam os conhecimentos adquiridos. É importante ressaltar que os indivíduos que

nunca tiveram computador ou que o desconhecem totalmente, ao fazer o curso e não ter

oportunidades de manuseá-lo rotineiramente acabam esquecendo com facilidade o que

aprenderam.

Dos 73,33% que responderam positivamente, a utilização dos conhecimentos foi

assim situada, como mostra a Tabela 32:

Tabela 32: Local onde os jovens entrevistados utilizam o computador

Situação Casos %

Não opinaram 2 6,67

Na escola 4 13,33

Em casa 3 10,00

Na EIC 18 60,00

No trabalho 3 10,00

SOMATÓRIO 30 100,00

A maioria dos entrevistados continua utilizando o computador na EIC para

treinamento de digitação, elaboração de trabalhos escolares, acessar jogos e Internet. Os

Page 90: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

jovens que responderam que utilizam o computador na escola correspondem a 13,33%.

Poucos jovens, 10%, utilizam o conhecimento em casa. Os que treinam no trabalho são

apenas 10% e 6,67% dos entrevistados não quiseram opinar.

O resultado dos entrevistados que conhecem a Internet e se têm ou não acesso a

ela; compõe a Tabela 33:

Tabela 33: Situação de acesso à internet pelos jovens entrevistados

Situação Casos %

Não, não sei como é Internet. 9 30,00

Não, sei o que é Internet, mas não tenho acesso. 4 13,33

Sim, mas não compreendo muito bem o que é Internet. 4 13,33

Sim, sei muito bem o que é Internet. 13 43,33

SOMATÓRIO 30 100,00

Quando perguntados sobre o acesso à Internet, 43,33% dos entrevistados

responderam que tem algum meio de acesso; 13,33% dos entrevistados responderam que

sim, mas não sabiam bem o que era Internet. Os jovens que responderam que não havia

acesso, mas que sabiam o que significa Internet, correspondem a 13,33%. Chama a

atenção o fato de que 30% dos entrevistados não sabiam o que é Internet e que nunca

tiveram acesso a ela. O fato é que duas EICs pesquisadas, o Instituto Gabi e Provisão,

não possuem Internet na sua rede de computadores disponível para o acesso. A EIC

Gotas de Flor possui acesso à Internet de banda larga em rede e disponibiliza o acesso

livre para seus alunos.

Ressalta-se que, na sociedade da informação, a defesa da inclusão digital é

“fundamental não somente por motivos econômicos ou de

empregabilidade, mas por razões político-sociais, principalmente para

assegurar o direito inalienável à comunicação, e, mais, o direito de

acesso passa a viabilizar também o direito de fiscalizar, cobrar e propor

medidas aos poderes públicos. Pode até viabilizar o direito de votar pela

rede. Democracia na sociedade da informação deve incluir a

Page 91: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

democratização do acesso, que pode viabilizar a democracia eletrônica”.

(SILVEIRA, 2001: 30-31)

Os entrevistados que têm acesso regular à Internet, estão indicados na Tabela 34.

Tabela 34: Situação de acesso regular à internet dos jovens entrevistados em comparação

com os jovens do Mapa da Juventude

Mapa da Juventude Pesquisa

Sim 38,2% 43,33%

Não 61,8% 56,66%

Comparando as duas pesquisas, o Mapa da Juventude e a Pesquisa, a

aproximação dos resultados é semelhante. Segundo o Mapa da Juventude, 38,2% dos

jovens têm acesso e 61,8% não. Nossa pesquisa revelou que 43,33% têm acesso e

56,66% não.

Tabela 35: Local onde os jovens entrevistados têm acesso à internet

Situação Casos %

Casa 3 10,00

Escola 3 10,00

Trabalho 4 13,33

Na EIC 9 30,00

No shopping 2 6,67

Não tenho acesso 9 30,00

SOMATÓRIO 30 100,00

Quando perguntados onde têm acesso à Internet, 30% responderam que acessam

na EIC, 13,33% acessam no trabalho, 10% acessam na escola, 10% acessam em casa e

6,67% no shopping. Os entrevistados que não têm acesso à Internet representam 30% do

total. Essa incidência diminuiria, caso todas as EICs possuíssem acesso à Internet em

suas salas de aula.

Page 92: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Silveira (2003:33) aponta como objetivo da inclusão digital “a universalização do

acesso ao computador conectado à Internet, bem como, ao domínio da linguagem básica

para manuseá-lo com autonomia”. Neste sentido, o autor entende a inclusão digital como

acesso à rede mundial de computadores, aos conteúdos da rede (sites governamentais,

notícias, bens culturais, diversão, entre outros), à caixa postal eletrônica e a modos de

armazenamento de informações, às linguagens básicas e instrumentos para usar a rede,

às técnicas de produção de conteúdo e à construção de ferramentas e sistemas voltados

às comunidades, e não apenas como uso do computador, sem acesso à Internet.

O objetivo com que acessam a Internet, está demonstrado na Tabela 36.

Tabela 36: As atividades procuradas pelos jovens entrevistados em relação à internet

Situação Casos %

Pesquisa escolares 14 46,67

Governo 5 16,67

Bate-papo 9 30,00

E-mails 13 43,33

Notícias e sites 13 43,33

Revistas 11 36,67

Jornais 9 30,00

Downloads 4 13,33

Filmes 8 26,67

Home pages 1 3,33

Conhecer problemas na comunidade 8 26,67

Procurar emprego 16 53,33

Apostilas e cursos 12 40,00

Indagados sobre as atividades procuradas quando acessam a Internet, 53,33% dos

entrevistados acessariam para procurar emprego; 46,67% a utilizariam para pesquisas

escolares; 43,33% para receber e enviar e-mails, ler notícias e acessar sites; 36,67% para

procurar revistas; 30% para entrar nas salas de bate-papo ou ler jornais; 26,67% para ver

filmes ou conhecer problemas na comunidade; 16,67% para pesquisar assuntos do

Page 93: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

governo e 13,33% para fazer downloads. Apenas 3,33% dos entrevistados queriam

utilizar a Internet para construir home pages com o intuito de buscar alguma renda.

Verificamos, também, que 40% dos entrevistados queriam imprimir apostilas e cursos

para aprender coisas novas.

Os jovens empobrecidos têm como principal objetivo, após o curso de

informática, acesso ao seu primeiro emprego. Desta forma, utilizam o que aprenderam

na EIC como currículo e, desta forma quando acessam à internet, a emergência de

trabalhar e compor renda familiar é prioridade. O uso da internet para este processo de

inserção no seu primeiro emprego pode ser primordial. Este item “procurar emprego” se

relaciona com “emails” devido à espera (convocação) dos jovens para entrevista.

Enquanto aguardam a chamada para entrevista, fazem “pesquisas escolares” e procuram

“apostilas e cursos” para melhorarem seus conhecimentos em relação à informática.

Um dos focos que o Silveira (2003:32) aponta como promotor de inclusão digital

é justamente o “elemento voltado à inserção das camadas pauperizadas no mercado de

trabalho na era da informação”. Explica o autor que, o foco da inclusão digital tem o seu

“epicentro na profissionalização e na capacitação”.

Diante ao aprendizado de novos conhecimentos de informática, os jovens

entrevistados foram especificamente indagados a respeito do motivo que os levou a

ingressar num curso de informática na EIC.

4. Motivação para o Curso de Informática

A informação sobre o motivo que levou aos entrevistados a fazer o curso de

informática nos permite conhecer as prioridades dos jovens urbanos da cidade de São

Paulo em relação ao seu projeto de vida.

Page 94: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Lemos, apud Silveira (2003:23-24), afirma que “o que está em jogo com as

cibercidades é o intuito de lutar contra a exclusão social, regenerar o espaço público e

promover a apropriação social das novas tecnologias”. Mas, o que acontece hoje é bem

diferente, pois o capitalismo cria dependências na sociedade sobre capacidades e

necessidades de gerar conhecimentos.

Tabela 37: Motivos que levaram os jovens entrevistados a procurar a EIC

Situação Casos %

Bom emprego, mercado de trabalho 14 46,67

Mais conhecimento 5 16,67

Oportunidade de aprender informática 7 23,33

Ter salário digno 1 3,33

Tédio, insistência da mãe 2 6,67

Curso mais barato 1 3,33

SOMATÓRIO 30 100,00

Dos jovens que responderam, 46,67% almejam bom emprego de modo a se

inserirem no mercado de trabalho. A oportunidade de aprender a informática

correspondeu a 23,33% (PR01, PR06, FT03, GT05)29 e 16,67% queriam adquirir mais

conhecimento (GB04, GB18, PR08). Ter um salário digno, insistência da mãe (PR10) e

curso mais barato (PR05) que os oferecidos no mercado complementam as respostas dos

entrevistados.

Dentre os entrevistados, 46,67% associaram idéia de conhecer a informática com

a esperança de obter um emprego ou um bom salário (GB01, GB03, GB05, GB06,

PR03, PR04, GT01, GTP9 e GT17). Alguns entrevistados, totalizando 23,33%,

acreditam que o curso freqüentado foi a oportunidade que tiveram de aprender

informática.

29 Ver Anexo2: Transcrição da fala de alguns alunos das EICs pesquisadas.

Page 95: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Muitos entrevistados falaram sobre as atividades que não aprenderam, ou aquelas

atividades que gostariam de reforçar, como mostra a Tabela 38.

Tabela 38: Atividades extras que os jovens gostariam de aprender na EIC

Situação Casos %

Aprofundar os cursos de powerpoint e excel 2 6,67

Digitar rápido 8 26,67

Internet 9 30,00

Access 1 3,33

Montar o próprio blog 1 3,33

Cursos de mercado de trabalho 7 23,33

Nada 2 6,67

SOMATORIO 30 100,00

Dos jovens que responderam, 30% queriam aprender as técnicas de acesso à

Internet e a EIC não oferecia tal curso; 26,67% queriam curso de digitação, pois o curso

de informática não proporcionou habilidades de digitação; 23,33% gostariam de fazer

“cursos de mercado de trabalho”, termo utilizado pelos jovens pesquisados, que quer

dizer palestras ou atividades por meio de dinâmicas sobre o tema trabalho e capacitação

para uma determinada especialização na área de informática. Segundo os jovens que

responderam ao quesito “cursos de mercado de trabalho”, citaram ser a hora ideal, pois

haviam acabado de fazer o curso de informática. Outros queriam aprofundar alguns

conhecimentos específicos (powerpoint e excel). Apenas 3,33% dos entrevistados

pediram o curso de access, porque o sistema não fazia parte do programa das EICs e

outros 3,33% queriam cursos para montar blogs; 6,67% entrevistados não queriam

aprender mais porque acharam o curso muito chato.

Cursos e palestras sobre o mercado de trabalho, Internet e digitação rápida são

necessárias, segundo os jovens que responderam, para suas habilidades manuais e

conhecimentos e facilitariam a sua inserção no mundo do trabalho. Com essas

necessidades, somam-se 80% dos entrevistados.

Page 96: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Além do curso de informática oferecido na EIC, questionamos também sobre

seus interesses por outras atividades que pudessem ampliar o universo cultural, como

mostra a Tabela 39.

Tabela 39: Outras atividades extras que ampliam o universo cultural dos jovens

entrevistados

Situação Casos %

Palestras 11 36,67

Digitação 1 3,33

Professores melhores e mais aulas 1 3,33

Internet 12 40,00

Não opinou 2 6,67

Tempo 3 10,00

SOMATÓRIO 30 100,00

Ao perguntar, novamente, aos entrevistados, sobre as atividades que podem ser

acrescentadas ao curso, a maioria respondeu que necessitavam de palestras e acesso à

Internet. A Tabela 39 mostra que 40% dos alunos reivindicam acesso à internet; 36,67%

sentiram falta de palestras sobre o trabalho; 10% propuseram que deviam aumentar o

tempo de curso; 3,33% gostariam de ter professores melhores e mais aulas. Somente

6,67% dos entrevistados não quiseram opinar.

5. Um Destaque para a Cidadania

Os jovens pesquisados aprenderam a informática e a vivência da cidadania.

Durante o curso, aprenderam a capacidade de organizar, participar e intervir nas

atividades sociais e, também, puderam construir a própria cidadania com suas novas

relações e consciência. Tiveram oportunidade para o convívio do dia-a-dia e, através

dessas relações que estabeleceram entre eles, seja com colegas, seja com equipamentos

públicos ou com o próprio meio ambiente, perpassando por várias temáticas como a

Page 97: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

solidariedade, a democracia, os direitos humanos e a ética, conheceram os seus valores

individuais e os seus direitos. São direitos que lhes possibilitariam, segundo Oliveira

(1999), ”capacidade de intervir nos negócios da sociedade, e através de outras

mediações, intervir também nos negócios do Estado que regula a sociedade da qual ele

faz parte”, e, mais, definir seu próprio “estado pleno de autonomia, ou seja, saber

escolher, poder escolher e efetivar as escolhas”.

Para conhecer o universo da participação dos entrevistados, sobre o tema de

cidadania, promovida pelas EICs, propusemos aos jovens entrevistados algumas

questões, demonstradas nas tabelas a seguir.

Perguntamos aos entrevistados quais discussões sobre as temáticas da cidadania

que os levariam à ampliação da sua participação na sociedade.

Tabela 40: Situação do educador como promotor de temáticas de cidadania

Situação Casos %

Sim, discute cidadania 16 53,33

Não 14 46,67

SOMATÓRIO 30 100,00

Perguntado aos jovens se cidadania perpassada pelos educadores, por meio de

temáticas, foi suficiente, no entendimento deles próprios, 53,33% dos entrevistados

informaram que acreditam que as ações de cidadania discutidas em sala de aula

ampliaram o seu relacionamento com a sociedade; e 46,67% dos entrevistados não

perceberam quaisquer atividades de educação para a cidadania.

As temáticas mais desenvolvidas pelos educadores da educação para cidadania

foram caridade/solidariedade, com 31,25%, e também música, religião, educação,

cotidiano, mercado de trabalho e responsabilidade, entre outros. Uma questão abordada

pelos entrevistados foi o trabalho voluntariado na própria instituição. As preferências

entre os jovens entrevistados, quanto às suas ações de cidadania, estão na Tabela 41.

Page 98: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Tabela 41: Temáticas sobre cidadania mais discutidas em sala de aula

Situação Casos %

Caridade, solidariedade 5 31,25

Música 1 6,25

Religião 3 18,75

Educação 1 6,25

Dia-a-dia, cotidiano 2 12,50

Atividades da própria instituição 2 12,50

Mercado de trabalho 1 6,25

Responsabilidade 1 6,25

SOMATÓRIO 16 100,00

Fomentar a inclusão social, pela via de inclusão digital, envolvem fatores

coadjuvantes indispensáveis. A capacitação digital, além de incluir socialmente o jovem

pela sua inserção no mercado de trabalho, com geração de renda, proporciona que esta

sua evolução também possa ser acompanhada de relacionamentos saudáveis com a

sociedade, através das suas ações de cidadania. Além disso, os resultados da inclusão

digital poderão ser melhores, se os envolvidos forem adequadamente conscientizados e

preparados para a sua função. Dessa forma, devem existir, entre os educadores das EICs,

condições que lhes permitam transmitir não apenas informações como também melhorar

os fundamentos para promover a inclusão digital como um meio de inclusão social,

passando pelo exercício da cidadania.

Conforme Silveira (2003:32-33), a inclusão digital deve acontecer levando em

conta três focos relevantes. O primeiro deve proporcionar a “ampliação da cidadania,

buscando o discurso do direito de interagir e do direito de se comunicar através das redes

informacionais”. O segundo deve levá-lo ao mercado de trabalho através da capacitação

profissional. O terceiro está voltado mais à educação, isto é, à “formação sociocultural

dos jovens na sua orientação diante do dilúvio informacional, ao fomento de uma

inteligência coletiva capaz de assegurar a inserção autônoma do país na sociedade

informacional”.

Page 99: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

Assim, para combater a exclusão digital é necessário evitar que a sociedade

informacional seja mais um fator que alimente a exclusão social, preparando a sociedade

para os desafios de mercado de trabalho e para produzir incluídos digitais capazes de

competir neste cenário de mundialização. Silveira (2001:42) declara que:

“a informação hoje é recurso produtivo dominante nos processos de

maior valor agregado do capitalismo mundial. Estar conectado às redes

de informações e dominar tecnologias estratégicas pode fazer a diferença

entre a construção de uma sociedade com qualidade de vida e uma

sociedade de desindustrialização endividada, de pobreza informacional e

de miséria social”.

Page 100: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudar exclusão social é uma tarefa árdua; não menos difícil é identificar ou

criar meios para se promover a inclusão social. O motivo dessa complexidade é que a

exclusão social é multifatorial, dinâmica e, infelizmente, constante; a exclusão social é

influenciada por fatores individuais, culturais, políticos, econômicos e até religiosos,

dentre outros. E, por acompanhar a evolução das sociedades, torna-se um processo

contínuo. Desta forma, a busca por meios de promoção da inclusão social deve

considerar as causas da exclusão social, na sociedade em questão, e como os fatores se

inter-relacionam.

Buscamos, nesta pesquisa, aprofundar o estudo da exclusão/inclusão digital,

relacionando-a aos processos de inclusão/exclusão social. Tomamos, como população

de nosso estudo, os jovens empobrecidos moradores na cidade de São Paulo, uma vez

que eles são os mais atingidos pelo avanço das tecnologias de informação, pois o não

conhecimento delas pode ser mais um empecilho para a sua inserção no mercado de

trabalho.

Escolhemos o CDI-SP como objeto empírico do nosso estudo, desenvolvendo

nossa pesquisa com os jovens freqüentadores.

O trabalho objetivou analisar as possibilidades de inclusão social de jovens

empobrecidos, através da alfabetização digital promovida pelas EICs subsidiadas pelo

CDI na cidade de São Paulo. Os caminhos percorridos para possibilitar esta análise

foram, em primeiro lugar, conhecer a proposta de atuação do CDI; as ações

desenvolvidas pelas EICs no ensino da informática e em atividades socioculturais. Um

segundo movimento foi o conhecimento do perfil dos jovens participantes das EICs,

entidades potencializadoras de inclusão social, passando pela educação da cidadania.

A utilização de um questionário com alternativas abertas possibilitou ampliar o

conhecimento das condições socioeconômicas dos jovens entrevistados, uma vez que a

Page 101: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

liberdade nas respostas levou à detecção de situações, às vezes, inusitadas, como a que

ocorreu sobre a moradia dos jovens entrevistados, necessitando de refinamento das

questões aplicadas, fato que confirmou o que já havia sido referido por alguns autores,

de que a exclusão social repercute sobre a identidade dos jovens com comprometimento

da sua auto-estima. Em um outro momento, as respostas abertas possibilitaram

caracterizar melhor o papel das atividades socioculturais e do exercício da cidadania

sobre a inclusão social.

Os dados obtidos nas entrevistas refletem a realidade dos jovens da cidade de São

Paulo, de acordo com o Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. O predomínio de

mulheres em busca da capacitação informacional mostra a ampliação do papel da mulher

como provedora de renda da família, o que exige dela melhor qualificação para que

possa alcançar melhores empregos, com melhores salários. As características individuais

obtidas por esta pesquisa, como a cor da pele, a idade mediana e a escolaridade dos

jovens, são comparáveis com as levantadas pelo Mapa, sendo, esses dados,

representativos para o estudo dos jovens da cidade de São Paulo.

Identificar as condições socioeconômicas nos indivíduos segregados socialmente

não é uma tarefa fácil. Novamente, a crise de identidade aflora neles, a partir das

vivências de exclusão social. Tal situação leva, por um lado, à apatia e vergonha e, por

outro, pode gerar situações de revolta. Esta última não foi identificada nesta pesquisa,

enquanto que, a vergonha de revelar as condições socioeconômicas, particularmente

quanto à situação de moradia e o tipo de emprego, foi gritante, levando ao

mascaramento das respostas em primeira instância, gerando a necessidade de se fazer

um refinamento da entrevista, até com maior número de visitas às EICs e maior

aproximação entre os jovens entrevistados e o entrevistador, a fim de criar algum

vínculo com maior confiança entre as partes. Foram, assim, reveladas condições ainda

mais precárias que aquelas inicialmente descritas pelos jovens, como, por exemplo,

moradias “próprias” mas em terrenos irregulares; maior número de cômodos na mesma

casa, mas criados com divisórias precárias e não por aumento do espaço físico; e a

superpopulação na mesma moradia, ao abrigar pessoas migrantes, muitas vezes, fora do

Page 102: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

círculo familiar. Essas situações aumentam ainda mais o fardo do provedor econômico

da casa, que já enfrenta o desgosto de, muitas vezes, estar trabalhando sob condições

precárias, em serviços desvalorizados, não permanentes e sem garantias, minimizando as

suas esperanças de um futuro melhor para si e para os seus dependentes, perpetuando o

círculo vicioso do comprometimento da identidade do indivíduo e de sua família.

Com relação à primeira inserção no mercado de trabalho, detectou-se que as

oportunidades de trabalho, além de escassas, são também precárias, ou seja, serviços

pouco qualificados e inconstantes, alimentando a gênese de trabalhos no setor de

serviços por meio de prestação a terceiros.

A proposta de atuação do CDI é a inclusão digital, equipando com instrumentos

(computadores) as EICs subsidiadas nas comunidades, oferecendo também capacitação

aos educadores, com metodologias de aprendizagem de informática e educação para a

cidadania.

Nesta pesquisa, detectamos que, quanto ao uso da informática, a maioria dos

jovens ainda acredita que o conhecimento dessa tecnologia pode abrir caminhos para a

inserção no mercado de trabalho, enquanto que alguns têm interesse em adquirir mais

conhecimentos através do acesso à rede mundial de informação (Internet), e uma

minoria nem sabe o que fazer ainda com essa aquisição. Com isto, podemos concluir que

a inclusão digital representa, para muitos, um determinante de sua condição no mercado

de trabalho, com repercussão em sua situação social.

Por outro lado, dominar as técnicas de informática, para muitos jovens, pode

representar um importante meio de lazer; às vezes, até o único meio, através do acesso à

Internet. Os jovens empobrecidos tendem a se confinar cada vez mais a relacionamentos

nas proximidades de onde vivem, para evitar gastos e porque é esse o meio com o qual

ele se identifica. Estreita-se, assim, o seu horizonte cultural e de lazer. A Internet, nesse

momento, seria um meio de ampliação cultural e social.

Page 103: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

A proposta das EICs pesquisados é oferecer, além dos cursos de informática,

atividades socioculturais indutoras da construção da cidadania, contribuindo na

formação do indivíduo (jovem), enquanto cidadão ativo, atuante, capacitado para a

organização, a participação e a intervenção social. Sob esse aspecto, o resultado obtido

foi heterogêneo, pois apenas a EIC Gotas de Flor com Amor apresentou infra-estrutura

apropriada para oferecer esses tipos de atividades. Assim, mais uma vez, mesmo aquelas

escolas que objetivam oferecer acesso a meios de cultura aos jovens, não oferecem

concretamente maiores oportunidades de conhecimento e de inserção no território de

vivência deles próprios.

Desta forma, através desta pesquisa, conhecemos a proposta de atuação do CDI e

como é promovido o aprendizado de informática pelos jovens atendidos pelos programas

das EICs subsidiadas; além de identificar as atividades socioculturais como agentes

potencializadores de inclusão social.

Diante dos resultados apresentados, analisando as possibilidades de inclusão

social de jovens empobrecidos, pela alfabetização digital, podemos concluir que a

hipótese deste trabalho confirma-se parcialmente. A aquisição de novas tecnologias de

informação e o acesso ao conhecimento, à inclusão digital, pode melhorar a situação dos

jovens no mercado de trabalho, mas não são suficientes como indutoras de inclusão

social, necessitando maior articulação com atividades socioculturais, ampliando o

conhecimento e o exercício da cidadania. Esse conjunto, como um todo, faria com que

os jovens se tornassem produtores de suas realizações, não somente no que se refere ao

trabalho como emprego, mas também como agentes criadores e transformadores do

meio em que vivem. Promover a inclusão social através da inclusão digital significa

capacitar os jovens com tecnologia de informação, melhorando a sua inserção no

mercado de trabalho. Isso aliado a fatores coadjuvantes indispensáveis, como a sua

evolução nos relacionamentos com a sociedade, estimulando o exercício da cidadania.

Vale ressaltar que a pesquisa aqui apresentada contém parte do perfil dos jovens

paulistanos incluídos precariamente, conforme expressão de Martins, em busca de sua

Page 104: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

inserção no mercado de trabalho. Este estudo apresenta aspectos relevantes às

comunidades, ONGs e associações que intentam promover a inclusão social por meio da

inclusão digital.

O estudo realizado nos incitou a formular novas questões que poderão ser

consideradas em novas pesquisas, tais como:

1. Qual é a capacitação que os educadores das EICs recebem para fomentar entre os

jovens a construção da cidadania?

2. A seleção de entidades para implementação da EIC leva em conta as suas

prioridades em projetos comunitários, ou seja, possuem a capacidade de aplicar a

tecnologia em problemas da sua região e conhecer as dificuldades reais da

população local?

3. Os educadores/coordenadores possuem papel estratégico na comunidade, isto é,

conhecem como a informática poderá ser um meio facilitador para desenvolver

processos de inclusão dessa população?

4. O acesso à cultura e informações utilizando a Internet é essencial na educação

dos jovens para sua ampliação no campo de cidadania?

5. Os educadores/coordenadores possuem contatos com outras lideranças locais e se

articulam com os conselhos gestores para animar e incrementar atividades de

desenvolvimento comunitário?

6. As EICs possuem algum tipo de acompanhamento dos alunos egressos?

7. Os alunos egressos voltam à entidade para usufruir da convivência ou participam

de outras atividades?

8. Qual é a preocupação efetiva dos gestores de inclusão digital em relação à

implementação de atividades socioculturais que promovam a ampliação de

talentos e habilidades dos seus alunos?

9. Os educadores utilizam os equipamentos públicos, tais como: teatro, quadra

esportiva, museu, entre outros, para promover o acesso à cultura entre os jovens?

Page 105: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

As considerações aqui descritas, por fim, são contextualizações específicas do

universo desta pesquisa e, apesar de os dados obtidos terem características

representativas para o conhecimento do perfil dos jovens da cidade de São Paulo,

estudos posteriores são necessários para melhorar essa caracterização e para subsidiar

eventuais generalizações.

Page 106: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERE, Denise Costamillan. Juventude, capacitação profissional e inclusão social:

uma experiência de extensão universitária In: CALDERÓN, Adolfo I. (Coord.) Um

breve olhar na história do trabalho infanto-juvenil. Prefácio de Célia M. de Ávila,

São Paulo: Olho d’Água, 2000.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação como cultura. São Paulo: Brasiliense, 1985.

CALDERÓN, Adolfo (Org.) Juventude, capacitação profissional e inclusão social:

uma experiência de extensão universitária. Prefácio de Célia M. de Ávila. São Paulo:

Olho d’Água, 2000.

CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. Juventude, capacitação profissional e inclusão

social: uma experiência de extensão universitária. In: CALDERÓN, Adolfo (Org.)

Juventude: Reflexões sobre o mundo do trabalho e a inclusão social. Prefácio de

Célia M. de Ávila. São Paulo: Olho d’Água, 2000.

CASTEL, Robert. Desigualdade e a questão social. Organização de Mariângela

Belfiore-Wanderley, Lúcia Bogus, Maria Carmelita Yazbek. São Paulo: Educ, 2000.

________. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Tradução de

Iraci D. Poleti. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

________. Lês metarmophoses de la question sociale. Paris: Libs. Arthème Fayard,

1995.

CASTELLS, Manuel. Fim de milênio. Tradução de klauss Brandini Gerhardt e Roneide

Venancia Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

DEMO, Pedro. Charme da exclusão social. Campinas, SP: Autores Associados, 1998.

(Coleção Polêmicas do Nosso Tempo, 61).

Page 107: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

DUPAS, Gilberto. Economia global e exclusão social: pobreza, emprego, estado e o

futuro do capitalismo. São Paulo: Paz e Terra,, 1999.

________. O novo paradigma do emprego. In: São Paulo em Perspectiva, v.. 12 n. 3.

Revista Fundação Seade, 1998.

ESTATUTO de Criança e Adolescente (ECA).

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Introdução de Francisco C.

Weffort. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967, 150p.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Políticas Sociais. Comitê para

Democratização da Informática (CDI). Mapa de inclusão e exclusão digital. Rio de

Janeiro, 2003.

KOGA, Dirce. Medidas de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. São

Paulo: Cortez, 2003.

LEMOS, André. Cibercidades, 2002. Disponível em: :

http://unpan1.um.org/intradoc/groups/public/documents/iciepa/unpan005410.pdf.

Acesso em mar. 2003.

LOJKINE, Jean. A revolução informacional. Tradução de José Paulo Neto. 3 ed. São

Paulo: Cortez, 2002..

MARTINS, José de Souza. Exclusão Social e a Nova Desigualdade. São Paulo. Editora

Paulus, 1997. (Coleção temas de atualidade).

________. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão, pobreza e

classes sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

Page 108: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

MELUCCI, Alberto. Conferência movimentos sociais e sociedade complexa. Caderno

Movimentos Sociais na Contemporaneidade. Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre

Movimentos Sociais. 1997.

NERI, Marcelo Côrtes. Inclusão Digital e Combate à Miséria. In: Valor Econômico”,

1o abr.2003.

OLIVEIRA, Chico. Entrevista de Sílvio Cachiabrava, dezembro de 1999. Disponível

em: http://www.polis.org.br/publicacoes/artigos/entrevchico.html. Acesso em 6 set. 2004)

PAUGAM, Serge. Desqualificação social: ensaio sobre a nova pobreza. Tradução de

Camila Giorgetti e Tereza Lourenço. Prefácio e ver. Maura Pardini Bicudo Veras. São

Paulo: Educ/Cortez, 2003.

________. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade

social. In AUTOR???: O enfraquecimento e a ruptura dos vínculos sociais – uma

dimensão essencial do processo de desqualificação social. 3 ed. Petrópolis, RJ: Vozes,

1999.

________. L’exclusion l’etat de savoir. Paris: La découverle, 1996.

POCHMANN, Márcio (Org.). Outra cidade é possível: alternativas de inclusão social

em São Paulo. São Paulo: Cortez, 2003.

________. Desenvolvimento, trabalho e solidariedade: novos caminhos para a

inclusão social. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. Coordenadoria Especial da

Juventude e Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec). Mapa da juventude

de São Paulo, 2003.

ROCHA, Sônia. Pobreza no Brasil: afinal, do que se trata? Rio de Janeiro: FGV, 2003.

Page 109: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.

SAWAIA, Bader. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da

desigualdade social. 3 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão digital: a miséria na era da informação. São

Paulo: Fundação Perseu Abramo. 2001.

________,CASSINO, João.(Orgs) Sofware livre e inclusão digital. . São Paulo: Conrad

Editora do Brasil, 2003.

SPOSATI. Aldaíza. Mapa de exclusão e inclusão social. 2000 e dados de 2002.

________, Aldaíza. Cidade, Território, exclusão/inclusão Social. In: CONGRESSO

INTERNACIONAL DE GEOINFORMAÇÃO – GEO Brasil/2000. São Paulo, Palácio

de Convenções do Anhembi, 16 jun. 2000. Disponível em:

www.dpi.inpe.br/geopro/exclusao/cidades.pdf)

SPOSITO, Pontes Sposito. Os Jovens no Brasil: desigualdades multiplicadas e novas

demandas políticas. São Paulo: Ação Educativa, 2003.

VERAS, Maura Pardini Bicudo. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética

da desigualdade social. In: VERAS, Maura Pardini Bicudo. Exclusão social – um

problema brasileiro de 500 anos (notas preliminares). Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

WANDERLEY, Mariângela Belfiore. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e

ética da desigualdade social. In: Bader Sawaia (Org.). Refletindo sobre a noção de

exclusão. 3 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

Page 110: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

INTERNET: Páginas pesquisadas.

www.cdi.org.br

www.cdisaopaulo.org.br

http://www6.prefeitura.sp.gov.br/guia/guiadacidade/mapas/0001/upload_imagem/mapa_regiao_metropolitana.jpg http://www6.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/planejamento/mapas/0001/upload_fs/00_SUB_GRUPOS09_06-09-02-Model.jpg

www.ibge.org.br

www.prefeitura.sp.gov.br

http://www.catolicanet.com.br/institutogabi/

www.gotasdeflor.org.br

www.abprovisao.com.br

http://www.isc.org/ds/

http://www.rnp.br/

www.ibase.org.br/

Page 111: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

ANEXOS

ANEXO 1: Transcrição da fala dos coordenadores das EICs pesquisadas

“A EIC tem como objetivo ser um instrumento de aproximação com a organização para

que se possa trabalhar temas ligados a realidade social regional, e como o sujeito de

direitos e deveres pode estar inserido nesta comunidade e sociedade, permitindo

também a este público o acesso à comunicação digital e à tecnologia moderna.”

(CD01)

“Estamos fazendo trabalhos com diversos temas, e que tenham há a ver com as coisas

que acontecem e vemos em nossa vida. Estamos orientando os alunos, que, sozinhos,

não somos capazes mudar o mundo, mas junto conseguimos melhorar um pouco. O

melhor caminho é mostrar aos alunos que todos nós temos uma importância na

sociedade, incentiva-los é a base de tudo.” (CD02)

“A nossa EIC tem como objetivo sensibilizar os alunos no sentido de agir de uma forma

ativa na relação com o computador onde ele, o sujeito que tem poder de decisão e o que

ele produz, será usado para melhoria de sua qualidade de vida, apoderamento de

informação de bens e serviços como um direito assegurado na Constituição brasileira.

Sempre respeitando o limite do aluno.” (CD03)

“Atualmente estamos atendendo 84 alunos em nossas três EICs na Escola

Profissionalizante. Este número se renova a cada um mês e meio. O nosso objetivo é

educar, dando ênfase na iniciação profissional, juntando o conhecimento técnico com

prática de cidadania. Nossas EICs já estão funcionando há mais de três anos e, neste

período, obtivemos muitos resultados positivos, como a inclusão de vários garotos no

mercado de trabalho.” (CD04)

“A proposta da organização é utilizar a inclusão digital como instrumento para

possibilitar a inclusão social. A proposta é desafiar os alunos e questioná-los quanto ao

seu papel social, direitos e deveres e capacitá-los para tal. Queremos realizar um

Page 112: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

trabalho que promova auto-estima, motivação, algo que impulsione esses alunos a

acreditar mais em si mesmos. A informática será para nós uma ferramenta que

“possibilitará” essas propostas. É claro que capacitá-los enquanto futuros

conhecedores da era digital é importante para nós, mas pensamos que apenas isso é

muito pouco diante daquilo que cada um de nós pode despertar nesses alunos:

autoconhecimento, integração, participação social, relacionamentos, etc.” (CD05)

“Temos quatro turmas de informática: a primeira para alunos semi-alfabetizados, essa

turma, além de promover a inclusão digital, funciona como um reforço escolar para o

aluno do ensino formal. A segunda e a terceira turmas trabalham com os principais

programas: Word, Windows, Excel, WordPage, PowerPoint. E a quarta turma é uma

turma mais avançada, em convênio com a Fundação Bradesco. Os resultados têm sido

os melhores; avanços no ensino formal, melhora da auto-estima, etc. Contudo, temos

uma demanda maior do que podemos atender.” (CD06)

Page 113: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

ANEXO 2: Transcrição da fala de alguns alunos pesquisados.

“(...) ter mais oportunidade no mercado de trabalho.” (GB01)

“(...) procurei emprego e faltou curso de informática. Quando cheguei na imobiliária,

não fui aceita por falta de computação.” (GB03)

“(...) porque cada vez mais no mercado de trabalho está se usando informática nos

trabalhos.” (GB05)

“(...) porque posso alcançar os meus objetivos na vida profissional.” (GB06)

“(...) porque conta na hora em que procuramos um emprego e também porque estamos

numa era em que a globalização está em frente com a tecnologia avançada e por esse

motivo temos que estar sempre junto às novas mudanças.” (PR03)

“(...) foi a dificuldade de trabalhar do mercado de trabalho. Para ter uma boa imagem

sobre a meu respeito no mercado de trabalho e para ter mais conhecimento.” (PR04)

“(...) para conhecer e arrumar um trabalho digno ter um salário legal que eu possa

ajudar minha família que passa necessidades.” (GT01)

“(...) no mercado não vive sem essa tecnologia, ela é muito usada.” (GT09)

“(...) a tecnologia, os ganhos salariais são melhores e é o meio que me interessa. Hoje

em dia só surgem vagas de emprego somente para quem já fez informática.” (GT17)

Alguns dos entrevistados (23,33%) afirmaram que o curso foi a oportunidade que

tiveram para aprender a informática. .

“(...) eu queria aprender a mexer com o computador e foi uma oportunidade que tive

para aprender.” (PR01)

Page 114: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

“(...) foi a oportunidade e acho muito interessante aprender informática. É muito legal

você ficar mexendo com o computador você aprender muitas coisas interessantes.”

(PR06)

“(...) uma oportunidade de aprender a informática. Aprendendo a informática posso ter

outras coisas como um emprego e mais informações.” (GT03)

“(...) foi a oportunidade para obter mais conhecimento da informática e a base para

ser inserido no mercado de trabalho.” (GT05)

“(...) foi um incentivo da patroa para fazer o curso. Aprender porque nunca teve

oportunidade.” (GB10)

Dos entrevistados, 16,67% opinaram que queriam ampliar seus conhecimentos.

“(...) obter mais conhecimentos para utilizar na Internet.” (GB04)

“Ter mais conhecimento para poder crescer com o País, ou você fica para trás.”

(GB08)

“(...) porque a gente, não só eu mas todos, porque eu aprendo muito com informática

como fazer currículo e muito texto.” (PR08)

Alguns entrevistados disseram que fizeram o curso por tédio ou insistência da

mãe, salário digno e por ser o curso mais barato.

“(...) pra não ficar em casa.” (GB02)

“(...) porque o curso é mais barato e muito mais fácil de aprender.” (PR05)

“(...) Minha mãe não gosta que eu fique em casa( ...) vive me enchendo pra fazer o

curso.” (PR10)

Page 115: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

ANEXO 3: Ranking de IEX nos distritos do Município de São Paulo, 2002

Ranking 2002 Distrito IEX Final 2002 1 JARDIM ANGELA -1,002 GRAJAU -0,983 LAJEADO -0,924 CIDADE TIRADENTES -0,905 PARELHEIROS -0,886 JARDIM HELENA -0,847 IGUATEMI -0,838 PEDREIRA -0,839 BRASILANDIA -0,81

10 ITAIM PAULISTA -0,8111 CAPAO REDONDO -0,8112 VILA CURUCA -0,7713 GUAIANASES -0,7614 SÃO RAFAEL -0,7215 CACHOEIRINHA -0,7016 CIDADE ADEMAR -0,6717 MARSILAC -0,6618 SAPOPEMBA -0,6419 PERUS -0,6320 VILA JACUI -0,6221 JARDIM SÃO LUIS -0,6122 JOSE BONIFACIO -0,6023 ANHANGUERA -0,5624 ITAQUERA -0,5525 CIDADE DUTRA -0,5426 CAMPO LIMPO -0,5427 JARAGUA -0,5428 SÃO MIGUEL -0,5129 VILA ANDRADE -0,4830 RAPOSO TAVARES -0,4831 PARQUE DO CARMO -0,4632 VILA MEDEIROS -0,4633 TREMEMBE -0,4434 VILA MARIA -0,4335 CANGAIBA -0,4236 ARTUR ALVIM -0,4237 SÃO MATEUS -0,4138 PONTE RASA -0,4139 ERMELINO MATARAZZO -0,3940 JACANA -0,37

Page 116: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

41 JABAQUARA -0,3642 LIMAO -0,3543 BRAS -0,3444 CIDADE LIDER -0,3445 SE -0,3246 RIO PEQUENO -0,3247 JAGUARE -0,3248 PIRITUBA -0,3149 SACOMA -0,3150 ARICANDUVA -0,2951 SÃO DOMINGOS -0,2852 REPUBLICA -0,2853 SÃO LUCAS -0,2754 PENHA -0,2455 VILA PRUDENTE -0,2356 FREGUESIA DO O -0,2357 VILA SONIA -0,2258 VILA MATILDE -0,1659 LIBERDADE -0,1560 BOM RETIRO -0,1561 CASA VERDE -0,1462 CARRAO -0,1263 JAGUARA -0,1264 VILA FORMOSA -0,0965 IPIRANGA -0,0866 VILA GUILHERME -0,0767 BELEM -0,0668 SANTA CECILIA -0,0569 MANDAQUI -0,0570 CURSINO -0,0471 AGUA RASA -0,0472 TUCURUVI -0,0473 CAMBUCI -0,0374 MOOCA -0,0275 PARI 0,0076 CAMPO GRANDE 0,0077 SOCORRO 0,0278 BELA VISTA 0,0379 BARRA FUNDA 0,0480 VILA LEOPOLDINA 0,1181 SANTANA 0,1282 TATUAPE 0,1483 SAUDE 0,19

Page 117: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

84 MORUMBI 0,1985 BUTANTA 0,2386 CAMPO BELO 0,2587 LAPA 0,2688 CONSOLACAO 0,2989 VILA MARIANA 0,3290 PERDIZES 0,3391 SANTO AMARO 0,3492 ITAIM BIBI 0,3593 ALTO DE PINHEIROS 0,4294 PINHEIROS 0,4395 JARDIM PAULISTA 0,9796 MOEMA 1,00

Fonte: Mapa de Exclusão e Inclusão Social do Município de São Paulo.

Page 118: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

ANEXO 4: Roteiro da Entrevista

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. IDENTIFICAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO/COMUNIDADE:

Organização que abriga a EIC:

_______________________________________________________________

Nome da EIC:

_______________________________________________________________

Endereço:

_______________________________________________________________

Data da Entrevista: _____/_____/__________

Local:__________________________________________________________

2. IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO:

Nome:

_______________________________________________________________

Endereço:

_______________________________________________________________

Telefone:

_______________________________________________________________

RG: ___________________ Data de Nascimento: ___________ Idade: ______

Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Cor: ______________________________

1. Estado civil do entrevistado: ( ) 1. Solteiro(a)

( ) 2. Casado(a)

( ) 3. Viúvo(a)

( ) 4. Desquitado(a) ou divorciado(a)

( ) 5. Informal (amasiado, concubinato, “vivem juntos”)

Page 119: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

2. Escolaridade: ( ) 1. Primeiro grau incompleto ____________________

( ) 2. Primeiro grau completo

( ) 3. Segundo grau incompleto ___________________

( ) 4. Segundo grau completo

3. LEVANTAMENTO DE SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA:

3.1 Situação de moradia: ( ) casa própria (terreno legal) ( ) alugada (terreno legal)

( ) casa em terreno público

( ) compartilhada com outras famílias ( ) abrigo

( ) outros _______________________________________________________

3.2 Quantas pessoas moram na casa? ( ) 1 a 3 ( ) 4 a 6 ( ) 7 a 9 ( ) 10 – 12 ( ) mais que 12

3.3 Quantas pessoas trabalham em casa?

________________________________________________________________

3.4 Qual é a renda familiar? ( ) 1 a 3 salários mínimos

( ) 4 a 5 salários mínimos

( ) 6 a 8 salários mínimos

( ) Mais de 8 salários mínimos

3.5 Das pessoas que trabalham em casa, qual profissão tem o maior salário?

________________________________________________________________

3.6 Quem sustenta a casa? ________________________________________________________________

4. Quantos cômodos existem na sua casa? _____ banheiros _____salas _____quartos _____ área de serviço

_____ garagem _____ carros _____ geladeiras _____ fogão

_____ computadores

5. Situação de lazer: Local onde costuma ter o lazer:

________________________________________________________________

Page 120: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

( ) clubes ( ) atividades no bairro ( ) atividades na comunidade

( ) bailes/festas ( ) restaurantes ( ) outros:

________________________________________________________________

6. Situação social familiar: Qual é o local onde a família faz relacionamentos sociais?

________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

8. Situação de trabalho do entrevistado: 8.1 Está trabalhando atualmente? ( ) sim ( ) não ( ) efetivo ( ) temporário

( ) bico

8.2 Se sim, em quê?

________________________________________________________________

8.3 Há quanto tempo está trabalhando?

________________________________________________________________

8.4 Se não está trabalhando, há quanto tempo está sem trabalho?

________________________________________________________________

8.5 Em que trabalhou antes?

________________________________________________________________

8.6 Em que pretende trabalhar?

________________________________________________________________

8.7 Condição do último trabalho? ( ) efetivo ( ) temporário ( ) bico

8.8 Quanto à sua pretensão salarial?

________________________________________________________________

9. Acompanhamento pedagógico: 9.1 O que o levou a fazer o curso de informática na EIC? _________________________________________________________________________________________________________________________.

Page 121: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

9.2 Para você, qual a importância do conhecimento da informática? _________________________________________________________________________________________________________________________ . 9.3 Você utiliza os conhecimentos adquiridos na informática? ( ) sim, onde: ____________________________________________________

( ) não, por quê? _________________________________________________

9.4 Onde você acha que se costuma exigir a informática? ________________________________________________________________

9.5 Você pretende utilizar os conhecimentos adquiridos na informática no trabalho? ( ) sim, como? ___________________________________________________

( ) não

9.6 O que você não aprendeu no curso e que gostaria de aprender? ________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.7 O que você acha que deveria ser acrescentado no curso? ________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.8 O que muda na vida das pessoas que conhecem a informática? ________________________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.9 Durante as aulas na EIC, existe algum tipo de discussão além de coisas sobre informática? ( ) sim, o quê? ___________________________________________________

( ) não.

Page 122: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

9.10 Estas discussões geraram algum tipo de atividade com o computador? ________________________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.11 Estas atividades têm alguma ligação com a comunidade/trabalho/outros? ________________________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.12 No geral, o curso tem contribuído para a sua vida? ( ) sim, em quê? __________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

( ) não, por quê? _________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.13 Você acha importante estudar cidadania num curso de informática? ( ) sim, por quê? _________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

( ) não, por quê? _________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.14 Quanto ao ambiente, você considera a sala de aula... ( ) adequada, gosto da forma como ela está disposta.

( ) há muito barulho durante as aulas.

( ) poderia melhorar.

( ) outros: _______________________________________________________

Page 123: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

9.15 Como você avalia o curso? ( ) péssimo ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo

9.16 O que pode ser acrescentado no curso para melhorar? ________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.17 Nessa organização que abriga a EIC, tem mais alguma atividade sociocultural que você pode participar? Você participa? ________________________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.18 Existe alguma outra atividade em que você gostaria de participar? ________________________________________________________________

_______________________________________________________________ .

9.19 O que estas atividades podem melhorar na sua

vida?__________________________________________________________ .

10. Além da informática, você tem acesso à Internet?

( ) Não, não sei como é Internet.

( ) Não, sei o que é Internet mas não tenho acesso.

( ) Sim, mas não compreendo muito bem o que é Internet.

( ) Sim, sei muito bem o que é Internet. Onde?

________________________________________________________________

11. Se você pudesse ter acesso à Internet, em quq você acessaria?

( ) pesquisas escolares. ( ) atividades de governos. ( ) chats/bate- papo

( ) e-mails/mensagens eletrônicas ( ) acessar sites/notícias ( ) revistas

( ) jornais ( ) downloads ( ) filmes ( ) fazer home pages

( ) conhecer problemas da comunidade ( ) procurar emprego

Page 124: Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas

( ) apostilas e cursos

( ) Outras coisas como:

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________.