Upload
andre-reis
View
450
Download
5
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Dissertação de mestrado no PRODEMA UFPB - defendida em Novembro de 2010
Citation preview
ANDRÉ LUIZ QUEIROGA REIS
ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE APLICADO À BACIA DO RIO
CUIÁ - JOÃO PESSOA (PB)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Programa Regional de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente
PRODEMA
João Pessoa – PB
2010
Universidade Federal da Paraíba
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
ANDRÉ LUIZ QUEIROGA REIS
ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE APLICADO À BACIA DO RIO
CUIÁ - JOÃO PESSOA (PB)
João Pessoa – PB
2010
R375i Reis, André Luiz Queiroga.
Índice de sustentabilidade aplicado à Bacia do Rio Cuiá-João Pessoa(PB) / André Luiz Queiroga Reis.- - João Pessoa : [s.n.], 2010.
137 f.: il.
Orientador: Roberto Sassi e Maristela Oliveira de Andrade.
Dissertação (Mestrado) – UFPB/CCEN.
1.Meio ambiente. 2.Indicadores ambientais. 3.Bacia hidrográfica - Rio Cuiá/PB. 4.Índices de sustentabilidade. I. Reis, André Luiz Queiroga.
ANDRÉ LUIZ QUEIROGA REIS
ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE APLICADO À BACIA DO RIO
CUIÁ – JOÃO PESSOA (PB)
Dissertação apresentada ao Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente – PRODEMA, da Universidade
Federal da Paraíba, em cumprimento às
exigências para obtenção do grau de MESTRE
EM DESENVOLVIMENTO E MEIO
AMBIENTE.
Orientador (es):
Prof. Dr. Roberto Sassi
Profª Dra. Maristela Oliveira de Andrade
João Pessoa – PB
2010
ANDRÉ LUIZ QUEIROGA REIS
ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE APLICADO À BACIA DO RIO
CUIÁ – JOÃO PESSOA (PB)
Dissertação apresentada ao Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente – PRODEMA, da Universidade
Federal da Paraíba, em cumprimento às
exigências para obtenção do grau de MESTRE
EM DESENVOLVIMENTO E MEIO
AMBIENTE.
Aprovado em ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Roberto Sassi – UFPB
Orientador
Profª. Dra. Maristela Oliveira de Andrade – UFPB
Orientadora
Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima– UFPB
Examinador Interno
Profª. Dra. Claudia Coutinho Nóbrega – UFPB
Examinadora Externa
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família e a meu pai José
Mainart Reis (in memorian) que por causa deles e do que me
ensinaram, me tornei o homem que sou hoje e durante minha
jornada neste trabalho pude aprender cada vez mais com eles,
isso me incentivou e promoveu minha imagem de cientista.
Alcanço esse estágio da vida deixando registrado o orgulho que
tenho em ser filho, esposo e pai dessa família que tanto amo.
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer primeiramente a Deus e a meus pais (Maria Gerúsia de Oliveira e José
Mainart Reis) por me guiarem e me orientarem nas escolhas pessoais e profissionais da
minha vida.
A minha esposa Christianne Maria Moura Reis que sempre me incentivou e me motivou a
atingir meus objetivos e serviu como exemplo de perseverança em estudar e pesquisar e nos
momentos de dúvida foi uma fonte inspiradora para o meu trabalho.
A minha filha Ana Beatriz Moura Reis, que me deu motivos de sobra para realizar um
trabalho que pudesse proporcionar um meio ambiente mais equilibrado e ensinasse a ela o
valor da natureza.
Ao meu orientador Roberto Sassi, que me guiou com sua experiência e tranquilidade no
caminho do conhecimento e ainda derrubou barreiras e paradigmas de um modo de pensar
insustentável.
A minha orientadora Maristela Andrade, que acreditou em mim e na minha ideia em
desenvolver essa dissertação, contribuindo significativamente para o desenvolvimento do
trabalho e me inserindo no contexto social da sustentabilidade.
Aos professores do PRODEMA, que contribuíram para minha formação, em especial os
professores Eduardo Viana, Gustavo Lima, Martin Lindsey e Loreley Garcia, que em
suas disciplinas me fizeram enxergar e a valorizar a diversidade de conhecimentos da área
ambiental.
A secretária do PRODEMA, Amélia Limeira, que me conduziu no cumprimento dos
procedimentos internos do programa, sempre estando disponível as minhas solicitações.
Ao departamento de Engenharia Civil da UFPB, em especial a professora Carmem Gadelha,
que através de seu apoio, foi possível dar mais profundidade a pesquisa.
Aos componentes da banca de avaliação, em especial ao professor Eduardo Viana e a
professora Claudia Coutinho, que aceitaram o convite para participar da avaliação do
trabalho e contribuíram de maneira singular na conclusão desta dissertação.
E por fim e não menos importante, aos meus colegas de curso, que foram fundamentais para
meu aprendizado. Em especial os amigos (em ordem alfabética) Anderson, Catiana,
Claudio, Eugênio, Ligia e Lúcia, que nos momentos difíceis da jornada, dividimos alegrias e
angústias de estar em um mestrado.
Se vontades fossem sonhos,
os desejos voariam (Ana
Beatriz Moura Reis, 2009).
x
RESUMO
Na atualidade existe a necessidade do desenvolvimento e aplicação de técnicas de
monitoramento ambiental, que apresentem e forneçam dados confiáveis, práticos e de fácil
obtenção às principais esferas do poder público e a população inserida em um determinado
ecossistema. Uma dessas técnicas é a aplicação de Índices de Sustentabilidade, que aglutinam
aspectos qualitativos e quantitativos das dimensões social, ambiental, econômica e
institucional. Desta forma a qualidade da água e de outros recursos naturais de uma bacia
hidrográfica se tornam os principais indicadores ambientais relacionados à sustentabilidade e
podem ser influenciados por diversos fatores relacionados aos meios biótico, físico e social.
As relações entre os meios biótico e abiótico fazem parte de um sensível equilíbrio, motivo
pelo qual as alterações que interferem nessas relações presentes em uma bacia hidrográfica
podem alterar a sua qualidade. Desenvolver um ou mais índices, que melhor representem a
tendência de sustentabilidade ambiental, fornecendo informações de advertência à sociedade e
ao poder público e, consequentemente, propor ações de conservação na bacia hidrográfica do
rio Cuiá, segundo a Agenda 21 local, compõe a estrutura principal deste trabalho. Foram
utilizados indicadores das quatro dimensões da sustentabilidade (social, ambiental, econômica
e institucional), para compor o índice de sustentabilidade aplicado especificamente na bacia
hidrográfica do rio Cuiá em João Pessoa. A metodologia utilizada para a avaliação da
condição de sustentabilidade da bacia foi baseada no Painel da Sustentabilidade. Esse sistema
ou método é proposto principalmente por 4 estágios: 1 - Levantar informações de referência e
de relevância específicos da área em estudo, agrupando dessa forma os dados primários; 2 -
Analisar cada dado primário e compor os parâmetros de análise; 3 - Avaliar o desempenho de
cada parâmetro para compor o Indicador de Sustentabilidade de cada dimensão; 4 - Agregar o
desempenho dos indicadores para compor o Índice de Tendência de Sustentabilidade da área
estudada. Conclui – se que neste trabalho foi possível contextualizar e discutir os aspectos
teóricos conceituais da sustentabilidade e propor o uso de uma metodologia de
operacionalização destes conceitos a partir do Painel da Sustentabilidade e ainda propor ações
que promovam a melhoria do índice de sustentabilidade. Os resultados obtidos pela pesquisa
revelam a fragilidade de um socioecossistema urbano, a exemplo da bacia hidrográfica do
Cuiá, onde o elevado grau de urbanização sem o devido planejamento deteriora as condições
ambientais, bem como reflete a necessidade do poder público em trabalhar de maneira
integrada na conservação do meio ambiente, equidade social e desenvolvimento econômico.
Palavras-Chave: 1. Sustentabilidade. 2.Indicadores. 3.Bacia hidrográfica 4.Índices
xi
ABSTRACT
Currently there is a need for the development and application of techniques for
environmental monitoring and provide data showing reliable, practical and easy to obtain the
main spheres of public and population inserted in a given ecosystem. One such technique is
the application of Sustainability Indexes, they combine qualitative and quantitative aspects of
social, environmental, economic and institutional. This way quality of water and other natural
resources in a watershed become the main environmental indicators related to sustainability
and can be influenced by many factors relacioned by the biotic, physics and social
environment. The relations between biotic and abiotic environment make up part of a sensible
balance, which is why change in this relations in the hydrographic basin can alter its quality.
Develop one or more indexes that better represent the trend of environmental sustainability,
providing warning information to society and the government and therefore propose
conservation actions in the Cuiá hydrographic basin, according to the Local Agenda 21, forms
the main structure of this work. Were used as indicators of the four dimensions of
sustainability (social, environmental, economic and institutional) to form the index of
sustainability applied specifically in the hydrographic basin of Cuiá river in João Pessoa. The
methodology for assessing the trend of sustainability of the basin was based on the Dashboard
Sustainability. This system or method is proposed mainly by four stages: 1 - Identify
reference information and specific relevance of the study area, thereby gathering the primary
data, since each 2-Analyze primary and make the analysis parameters, 3 - Evaluate the
performance of each parameter to compose the indicator of each dimension of sustainability,
and 4 - Add performance indicators to compose the Tendency of Sustainability Index Trend in
the study area. The conclusion in this work that was possible context and discuss the
theoretical concepts of sustainability and propose the use of a methodology to operationalize
these concepts from the Dashboard Sustainability and still propose actions that promote
actions to improvement of the sustainability index. The results obtained by the research
revealed the fragility of an urban socioecosystemic, like the Cuiá hydrographic basin, where
the high degree of urbanization without proper planning continuously deteriorating
environmental conditions, and reflects the greater need of government and society work in an
integrated way in environmental conservation, social equity and economic development.
Key-words: 1. Sustainability, 2. Indicators, 3. Hidrographic basin, 4. Index
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
SIGLA SIGNIFICADO
PSR Presure – State – Response
OECD Organization for Economic Cooperation and
Development
PSIR Pressure, State, Impact, Response
DSR Driving force, State, Response
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
DS Desenvolvimento Sustentável
ONU Organização das Nações Unidas
BBC British Broadcasting Corporation
FAO Food and Agriculture Organization
DLS Desenvolvimento Local Sustentável
IDMC Informações Descritivas de Monitoramento
Contínuo
WWF World Wildlife Fund
PNMA Política Nacional de Meio Ambiente
DSE Diagnóstico Sócio-Econômico
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PIB Produto Interno Bruto
UTM Universal Transverso de Mercator
SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
PMJP Prefeitura Municipal de João Pessoa
SEMAM Secretária Municipal de Meio Ambiente
DIEP Divisão de Estudos e Projetos
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
SUDEMA Superintendência de Meio Ambiente
AESA Agência Estadual de Águas
ETA Estação de Tratamento de Água
DL Desenvolvimento Local
DQO Demanda Química de Oxigênio
BH Bacia Hidrográfica
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
SIGLA SIGNIFICADO
DETRAN Departamento Estadual de Trânsito
APP Área de Preservação Permanente
OD Oxigênio Dissolvido
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DFC Diagnóstico Físico Conservacionista
AGP Avaliação Global da Paisagem
VMP Valor Máximo Permitido
CAGEPA Companhia de Água e Esgotos da Paraíba
PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos
ETE Estação de Tratamento de Esgotos
ONG Organização Não Governamental
DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos
IDSM Índice de Desenvolvimento Sustentável para
Municípios
IPTU Imposto Predial Territorial Urbano
COPAM Conselho de Política Ambiental
ICMS Impostos sobre Circulação de Mercadorias e
Prestação de Serviços
ISS Imposto Sobre Serviços
xiv
LISTA DE FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Modelo de interação pressão – estado – resposta em
sistemas ambientais 30
Figura 2 Modelo de Equilíbrio Sustentável 31
Figura 3 Modelo de Interação Eficiente do Estado 32
Figura 4 Esquema de Interação de Influências Dinâmicas entre
Diferentes Escalas Territoriais 33
Figura 5 Diagrama esquemático para Avaliação Global da
Paisagem 37
Figura 6 Esquema para Identificação de Áreas de Estudo – Limite
Territorial 38
Figura 7 Esquema para Identificação de Áreas de Estudo – Raio
de Ação 38
Figura 8 Esquema para Identificação de Áreas de Estudo –
Corredor 38
Figura 9 Esquema para Identificação de Áreas de Estudo –
Unidade Homogênea 39
Figura 10 Fluxograma Simplificado de Planejamento 43
Figura 11 Pirâmide de Dados 51
Figura 12 Apresentação de Dados pelo Painel da Sustentabilidade 52
Figura 13 Localização dos Pontos de Coleta da SUDEMA,
CAGEPA/PMJP e da Pesquisa 61
Figura 14 Localização da Área de Estudo 71
Figura 15 bacia Hidrográfica do rio Cuiá – Apresentação da Malha
Urbana dos Bairros e Sistema de Drenagem 72
Figura 16 Uso e Ocupação do Solo do Cuiá 74
Figura 17 bacia Hidrográfica do rio Cuiá – Apresentação dos
Limites Territoriais dos Bairros e Sistema de Drenagem 80
Figura 18 Foto Mosaico de lançamento de efluentes no rio Cuiá 83
xv
LISTA DE FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 19 Ponto de Coleta Próximo a Nascente - Bairro Grotão 85
Figura 20 Ponto de Coleta Próximo a Confluência entre os rios Laranjeiras e Cuiá –
Bairros: Mangabeira – Cuiá – José Américo 86
Figura 21 Ponto de Coleta Próximo a Ponte de divisa dos Bairros Valentina e
Mangabeira 87
Figura 22
Ponto de Coleta à Aproximadamente a 50m a jusante do lançamento do
efluente tratado pela ETE de Mangabeira – Bairros: Mangabeira -
Valentina
88
Figura 23 Ponto de Coleta Próximo a confluência entre o riacho Buracão e rio Cuiá –
Bairros: Costa do Sol – Paratibe – Barra de Gramame 89
Figura 24 Ponto de Coleta Próximo a principal desembocadura do rio Cuiá no
Oceano Atlântico 90
Figura 25 Estimativa de Densidade Populacional 91
Figura 26 Avaliação de Desenvolvimento do Comércio 92
Figura 27 Avaliação dos Serviços Essenciais 93
Figura 28 Painel da Sustentabilidade da bacia Hidrográfica do Cuiá 95
Figura 29 Representação ilustrativa de “células” de sustentabilidade nos bairros 99
xvi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Análise Comparativa do Conjunto dos Indicadores de Sustentabilidade 53
Tabela 2 Parâmetros de Monitoramento da Água e seus métodos 60
Tabela 3 Localização dos Pontos de Coleta na bacia do Cuiá da SUDEMA e
CAGEPA 60
Tabela 4 Relação entre Pontuação e Gradiente de Cores 68
Tabela 5 Caracterização dos solos nos Baixos Planaltos Costeiros 76
Tabela 6 Caracterização dos solos na Superfície e encostas dos tabuleiros costeiros 77
Tabela 7 Caracterização dos solos as Planícies Aluviais 78
Tabela 8 Caracterização dos solos as Planícies Aluviais 79
Tabela 9 Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a
Nascente - Bairro Grotão 84
Tabela 10
Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a
Confluência entre os rios Laranjeiras e Cuiá – Bairros: Mangabeira – Cuiá
– José Américo
85
Tabela 11 Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a Ponte
de divisa dos Bairros Valentina e Mangabeira 86
Tabela 12
Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta à
Aproximadamente a 50m a jusante do lançamento do efluente tratado pela
ETE de Mangabeira – Bairros: Mangabeira - Valentina
87
Tabela 13
Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a
confluência entre o riacho Buracão e rio Cuiá – Bairros: Costa do Sol –
Paratibe – Barra de Gramame
88
Tabela 14 Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a
principal desembocadura do rio Cuiá no Oceano Atlântico 89
Tabela 15 Pontuação dos Indicadores da bacia do Cuiá 94
xvii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Comparação entre o Novo Paradigma Ecológico e o Paradigma Social
Predominante, proposta por Naess 23
Quadro 2 Relação de instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente 41
Quadro 3 Relação de instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos 42
Quadro 4 Distribuição de Classes 65
Quadro 5 Indicadores e Parâmetros de Sustentabilidade Aplicados a bacia do rio Cuiá 66
Quadro 6 Indicadores e Parâmetros de Sustentabilidade Aplicados a bacia do rio Cuiá 66
Quadro 7 Caracterização dos Tipos de Vegetação da bacia do Cuiá 73
Quadro 8 Uso e Ocupação do Solo da bacia do Cuiá 74
Quadro 9 Classes Sociais da bacia 93
xviii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 19
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 22
2.1 Considerações sobre a Sustentabilidade 22
2.2 O uso de Bacias Hidrográficas como Unidades de Planejamento
para o Desenvolvimento Local Sustentável 35
2.3 Indicadores e o Índice de Sustentabilidade 44
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 56
4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 70
5. RESULTADOS 81
5.1.1 Avaliação dos Parâmetros físico-químicos e microbiológicos da
Água do rio Cuiá 81
5.1.2 Avaliação Socioeconômica da bacia Hidrográfica do rio Cuiá 90
5.1.3 Indicadores de Sustentabilidade Encontrados na bacia do Cuiá 94
5.2. DISCUSSÃO 100
6. CONCLUSÕES 110
6.1 Recomendações 113
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 117
8. APÊNDICES 124
9. ANEXOS 129
19
1. INTRODUÇÃO
A reflexão sobre o tema desenvolvimento sustentável, juntamente com o aumento da
pressão exercida pela antroposfera sobre a ecosfera, levou ao crescimento da consciência
sobre os problemas ambientais gerados por padrões de vida incompatíveis com o processo de
regeneração do meio ambiente (VAN BELLEN, 2006).
De acordo com Dias (2002), devido a escassez de estudos sistêmicos sobre os
socioecossistemas urbanos, é necessário criar uma Rede de Informações e uma Estabilidade
Ecossistêmica que possibilite identificar ecossistemas estressados por impactos urbanos.
Esses impactos são relacionados por Guerra et al. (2005) e são definidos como processos de
mudanças sociais e ecológicas causados por perturbações no ambiente.
Na atualidade existe a necessidade do desenvolvimento e da aplicação de técnicas de
monitoramento ambiental que apresentem e forneçam dados confiáveis, práticos e de fácil
obtenção nas principais esferas do poder público e com a população, sobre os impactos
sofridos em um determinado ecossistema. Uma dessas técnicas é a aplicação de Índices de
Sustentabilidade, que aglutinam aspectos qualitativos e quantitativos das dimensões social,
ambiental, econômica e institucional.
Alguns sistemas foram desenvolvidos para mensurar tensores antrópicos como o PSR
(Pressure, State, Response), publicado pela OECD (Organization for Economic Cooperation
and Development, 1993) e suas derivações como o PSIR (Pressure, State, Impact, Response)
e o DSR (Driving force, State, Response) que permitem avaliar as pressões das atividades
humanas exercidas sobre o ecossistema, o estado ou a condição da qualidade ambiental e a
intensidade das reações da sociedade em responder as mudanças em prevenir impactos
negativos no meio ambiente e, dessa forma, identificar o grau de desenvolvimento sustentável
do ecossistema.
Dessa forma, a qualidade da água de uma bacia hidrográfica torna - se os principais
indicadores ambientais relacionados à sustentabilidade e podem ser influenciados por diversos
fatores e pressões antrópicas: clima, cobertura vegetal, topografia, geologia e formas de uso e
ocupação do solo. Esses processos fazem parte de um frágil equilíbrio, motivo pelo qual
alterações de ordem física, química ou climática, na bacia hidrográfica, podem alterar a sua
qualidade (DONADIO, 2005).
É possível identificar ao longo do litoral paraibano, sete grandes bacias hidrográficas
(Guajú, Camaratuba, Miriri, Mamanguape, Paraíba, Gramame e Abiaí), além de inúmeras
pequenas bacias que completam a rede de drenagem do litoral paraibano recortando a costa
20
em direção leste - oeste. A maioria dessas bacias apresenta em suas desembocaduras um
sistema estuarino-lagunar usualmente barrado por um cordão arenoso e margeado por
vegetação típica de mangue.
A área objeto de estudo deste trabalho, compreende uma dessas pequenas bacias,
correspondendo a do rio Cuiá, localizada no litoral Sul de João Pessoa, capital do Estado da
Paraíba, que possui aproximadamente 41km2 de área e se encontra submetida a diferentes
tipos de tensores antrópicos de distintos graus de magnitude e importância, como expansão
imobiliária, lançamento clandestino de esgoto doméstico, acúmulo de resíduos sólidos, etc.
Por estar inserida totalmente em uma área urbana e ter alguns trechos classificados
como área de preservação permanente, a bacia do Cuiá necessita que sejam utilizados
métodos de monitoramento das condições ambientais que possibilitem identificar rapidamente
e com precisão os níveis de degradação, bem como as condições sociais e econômicas das
comunidades existentes na área.
Devido aos fatores de tensão na área em estudo não serem tão significativos e ainda existir
um médio nível de urbanização, há a necessidade de fornecer subsídios técnicos para
identificar e monitorar o nível de sustentabilidade dessa área, com elevado grau de
legitimidade, favorecendo uma resposta adequada para a sociedade a partir da intervenção do
poder público.
A pouca quantidade de estudos que promovam a integração entre as dimensões social,
econômica e ambiental e que foquem os preceitos do desenvolvimento sustentável em bacias
hidrográficas é considerado um problema deveras de repercussão muito mais ampla.
Contudo, na área delimitada por este trabalho (a bacia do rio Cuiá), o problema pode
ser identificado como a necessidade de criar ou incrementar a metodologia de coleta e análise
integrada de dados, que forneça suporte para ações de compensação ou preservação
ambiental, evolução social e desenvolvimento econômico, sempre havendo referência à
manutenção da sustentabilidade local.
A pesquisa tem como objetivo principal, aplicar o índice de sustentabilidade na bacia
hidrográfica do rio Cuiá, com o intuito de gerar informações para a sociedade e para o poder
público e subsídios para a definição de ações de conservação para a bacia, segundo a Agenda
21 local.
Como objetivos secundários, pretende-se:
1. Elaborar um diagnóstico geral e atual sobre as características da área de estudo.
2. Efetuar o levantamento de dados socioeconômicos da bacia hidrográfica através de
entrevistas.
21
3. Obter dados sobre a qualidade da água do rio Cuiá.
4. Identificar indicadores de desenvolvimento sustentável e sua melhor aplicabilidade.
5. Identificar oportunidades de melhoria e recuperação da bacia hidrográfica do rio Cuiá.
6. Propor ações de melhoria a partir do índice de sustentabilidade utilizado na área de
estudo.
O que este trabalho propõe é a utilização de um sistema de indicadores e índices que
se fundamenta pela representação de características e propriedades quantitativas e
qualitativas de uma dada realidade, mesmo que Van Bellen (2006) considere os
indicadores como instrumentos imperfeitos e não universalmente aplicáveis, mas que
fazem parte do processo de compreensão das relações entre o meio natural e a sociedade,
para que possam ser estipuladas metas financeiramente viáveis, politicamente praticáveis,
social e ambientalmente aceitáveis.
Esta dissertação está dividida basicamente em seis partes.
A primeira é Introdução.
A segunda é a fundamentação teórica que apresenta considerações sobre a evolução
dos conceitos de sustentabilidade, o uso de bacias hidrográficas como unidades de
planejamento para o desenvolvimento local sustentável e discussões acerca do Índice de
Sustentabilidade empregado em socioecossistemas urbanos.
No terceiro capítulo são descritos os aspectos metodológicos utilizados na pesquisa.
O quarto capítulo trata da descrição da área de estudo, abordando as diferentes
características da bacia hidrográfica, quanto aos aspectos gerais de cobertura vegetal,
pedologia, geologia, malha urbana, manejo e uso dos solos e recursos hídricos.
O quinto e o sexto capítulo destacam a apresentação e discussão dos resultados do
trabalho, caracterizado pela avaliação dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos
da água do rio Cuiá e o levantamento das características socioeconômicas dos bairros que
compõe a bacia hidrográfica em estudo. Neste ultimo, também são discutidos os
indicadores de sustentabilidade que foram identificados na bacia e a aplicação prática do
sistema de índices e indicadores, as conclusões e descreve de maneira propositiva,
algumas sugestões para a melhoria dos indicadores de sustentabilidade que foram
visualizados na área de estudo e como posterior consequência a melhoria do índice de
sustentabilidade da bacia hidrográfica.
22
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Considerações Sobre a Sustentabilidade
Em 1968 é criado o Clube de Roma, um grupo que reúne cientistas, economistas,
políticos, chefes de Estado, etc. interessados em promover um crescimento econômico estável
e sustentável da humanidade. Criava-se neste momento os termos Bioeconomia, Ecoeconomia
ou Economia Ecológica de Georgescu-Roegen, que combinava conceitos econômicos e
biológicos tornando imperativo a internalização dos custos ecológicos e sistemas regulatórios
dos mecanismos de mercado.
Esse conceito de Economia Ecológica modela uma filosofia em que os sistemas
ecológicos estão inseridos no sistema econômico e se comportam de maneira semelhante,
sugerindo a possibilidade de reordenar o mercado introduzindo condições ecológicas no
sistema econômico.
De acordo com Buarque (2008), o mercado é um mecanismo de racionalidade
econômica, pois orienta com “eficiência” e “rapidez” a viabilidade de investimentos
financeiros, mas o mercado possui um horizonte de curto prazo e restrito, características que o
torna incapaz de estar integrado ao novo paradigma de desenvolvimento sustentável de longo
prazo.
Contudo, os interesses de utilização e extração dos recursos oferecidos pela natureza
são totalmente dominados pela lógica mecanicista do mercado, considerando a conservação e
preservação do meio ambiente como custo adicional e a sustentabilidade como uma forma de
perpetuação do conflito político gerado entre os interesses ambientais e econômicos,
agravados ainda pela complexidade e diversificação dos agentes, atores, instituições e a
necessidade de uma participação democrática, forçando ações de planejamento do Estado para
tentar conter o mercado.
Em 1972 o Clube de Roma que publicou o documento The Limits of Growth (Limites
do Crescimento), com o mesmo relatório que simulava como seria a evolução da humanidade,
se esta continuasse seu ritmo de exploração dos recursos naturais até o ano de 2100.
Como consequência destes fatores, a conclusão do Clube de Roma basicamente era a
que teria que haver “Crescimento Zero” ou uma “Economia de Estado Estacionária” que
limitasse o desenvolvimento dos países de terceiro mundo.
Essa proposta se configurou ser verdadeiramente utópica, devido a natureza
desestruturadora do paradigma econômico - político vigente e pela radicalização de seus
23
fundamentos, que não visualizavam a possibilidade de integração proposta por Roegen. Essa
mesma proposta ganhou força quando no ano seguinte (1973) surge a Ecologia Profunda
proposta por Arne Naess.
O Quadro 1 resume comparativamente a dicotomia identificada por Naess, entre as
características da Novo Paradigma Ecológico e o Paradigma Social Predominante. Nessa
comparação são destacados seus representantes, os Cornucopians1, que apoiam a visão de
mundo atual em que o desenvolvimento e uso dos recursos podem ser infinitos e o
Doomsayers2 que defendem a Ecologia Profunda como método para evitar a catástrofe
inevitável da extinção humana.
Quadro 1: Comparação entre o Novo Paradigma Ecológico e o Paradigma Social
Predominante, proposta por Naess
Paradigma Social Predominante Novo Paradigma Ecológico
Domínio da Natureza Harmonia com a Natureza
Ambiente natural como recurso para os seres humanos
Toda a Natureza tem valor intrínseco
Seres humanos são superiores aos demais seres vivos
Igualdade entre as diferentes espécies
Crescimento econômico e material como base para o crescimento humano
Objetivos materiais a serviço de objetivos maiores de auto realização
Crença em amplas reservas de recursos Planeta tem recursos limitados
Progresso e soluções baseados em alta tecnologia
Tecnologia apropriada e ciência não dominante
Consumismo Fazendo com o necessário e reciclando
Comunidade nacional centralizada Biorregiões e reconhecimento de
tradições das minorias
Fonte: Modificado de Naess, 1996.
Entretanto, recomendações do Clube de Roma, como a Ecoconomia, e as teorias de
Naess (Ecologia Profunda), por serem essencialmente ecocentristas, foram taxadas como
teorias radicais em descompasso com a realidade, que desconsideravam os fatores
econômicos e políticos que governam a sociedade.
Seria necessário reformular os fundamentos dessas propostas, considerando- se as
relações capitalistas dominantes do mercado sobre os recursos naturais.
1 Classe de pensadores que defende a capacidade infinita dos recursos naturais e da sabedoria humana em administrar tais recursos de forma a utilizá-los “ad infinitum”.
2 Corrente filosófica catastrofista, que apoia a mudança do paradigma social dominante por uma visão contundentemente ecocentrista.
24
Surge então, em junho 1973, em uma reunião do Conselho Administrativo do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em Genebra, o termo
ECODESENVOLVIMENTO, criado por Maurice Strong e reestruturado por Ignacy Sachs,
formulou-se como uma proposta que intermediava o conflito gerado em 1972 durante a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente em Estocolmo, onde a crise entre os
países pobres que queriam o crescimento a qualquer custo e os países ricos que defendiam a
idéia do crescimento reduzido para preservar os recursos naturais teve início.
De acordo com Sachs o Ecodesenvolvimento é a forma de desenvolvimento que
engloba além das questões ambientais, agrega fatores sociais, de gestão participativa, ética e
cultura. Sachs ainda elaborou seis aspectos fundamentais que devem nortear o
Ecodesenvolvimento:
1. A satisfação das necessidades básicas.
2. A solidariedade com as gerações futuras.
3. A participação da população envolvida.
4. A preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral.
5. A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e
respeito a outras culturas.
6. Programas de educação.
A partir dessas propostas, o desenvolvimento começou a ser analisado mediante uma
ótica diferenciada do que estava sendo discutido anteriormente, ou seja, havia sido lançada a
fundamentação política que iria se preocupar não somente com os índices de crescimento
econômico, mas também os impactos sócio-ambientais gerados pelas ações do homem,
mudando o significado da forma de pensar a relação entre o homem e a natureza.
Sachs escreveu em 1986, em seu livro (página 257), Ecodesenvolvimento : crescer
sem destruir:
[...] Promover o ecodesenvolvimento é no essencial, ajudar as
populações envolvidas a organizar-se, a educar-se, para que elas repensem
seus problemas, identifiquem as suas necessidades e os recursos potenciais
para conceber e realizar um futuro digno de ser vivido, conforme os
postulados de Justiça social e prudência ecológica [...]
Desta forma é possível visualizar que a crise não é somente ecológico-ambiental, é
uma crise de percepção dos problemas que envolvem a relação entre os seres humanos e o
meio ambiente, e assim criando a necessidade de fundar novos modos de produção e estilos
25
de vida, adaptados as potencialidades ecológicas locais e a diversidade cultural das
populações (Sachs, 1986).
Entretanto, para que seja possível alcançar esse estágio de modos de produção
considerados sustentáveis, a civilização precisa passar por uma crise, uma crise que leve a
humanidade aos limites de sua existência, esta por sua vez se manifesta, segundo Leff (2009),
na elevada degradação ambiental, regida pelo predomínio do desenvolvimento tecnológico
sobre a organização da natureza.
De acordo com Leff (2009), os fatores que tornam a crise mais grave, dificultando a
implementação de medidas que tornem factível o equilíbrio entre o desenvolvimento e a
preservação ambiental, são as ações e interpretações tomadas pelos atores sociais no
tratamento das dívidas ambiental, financeira e da razão. Cada uma delas representa os pilares
das principais mudanças que a civilização precisa entender para alcançar o equilíbrio.
A dívida financeira está associada ao modelo econômico vigente, enquanto a
mentalidade capitalista e consumista estiver norteando os valores da sociedade, sempre haverá
um dominante e um dominado, ocorrerão conflitos que sempre serão resolvidos pelo uso do
poder econômico.
Ou seja, sempre que os interesses econômicos estiverem presentes, os demais
interesses (sociais e ambientais) estarão em segundo plano, pois dívida financeira em qualquer
nível pode ser paga, ajustada, refinanciada.
A dívida ambiental pode ser caracterizada pela forma de valoração dos serviços
oferecidos pela natureza3. Essa dívida não pode ser paga, pois não é possível dar valor para
certos aspectos da natureza, mas ela pode ser redistribuída de forma mais equitativa entre os
países, evitando o desequilíbrio entre países que extraem e utilizam todos os seus recursos
para subvencionar países mais industrializados.
3 CONSTANZA, 1980. O método da análise de energia propõe que, uma vez que os seres humanos avaliam os
objetos de acordo com o custo de produção, então os valores ecológicos devem ser definidos de acordo com
custos de energia para ser organizados com relação a seu meio ambiente. Essa quantidade de energia e assumida
como sendo a capacidade de um ecossistema em desempenhar as funções uteis para um sistema socioeconômico.
CONSTANZA, 1997. Os serviços dos ecossistemas e do estoque de capital natural são produzidos
essencialmente para o funcionamento do sistema terrestre de apoio à vida. Eles contribuem para o bem-estar
humano, direta ou indiretamente, portanto, representam parte do valor econômico total do planeta. Foi estimado
o valor econômico atual de 17 serviços do ecossistema para 16 biomas, com base em estudos publicados e alguns
cálculos originais. Para toda a biosfera, o valor é estimado na faixa de US$ 16-54 (1012) por ano, com uma média
de US$ 33 trilhões dólares por ano. Devido à natureza das incertezas, é necessário considerar uma estimativa
mínima global total do produto nacional bruto que é de cerca de US$18 trilhões dólares por ano.
26
A outra dívida é a da razão, as posições tomadas diante desta, podem fomentar a
manutenção do círculo vicioso da dominação e opressão do sistema econômico, ou, libertar os
mecanismos de submissão utilizados para manter a perpetuação da dívida financeira dos
países em desenvolvimento, quebrando o elo da dependência da ordem mundial.
Avaliando a evolução da preocupação mundial em manter o equilíbrio das relações
entre desenvolvimento econômico, preservação dos recursos naturais e introduzir fatores de
equidade social, um novo termo foi criado para que fosse possível unificar de forma mais
abrangente as diversas e complexas interações dos sistemas ecossocioambientais e político-
econômicos, pois as propostas anteriores tiveram dificuldade em se adaptar as rápidas
mudanças tecnológicas, que por sua vez influenciam diretamente em cada um desses sistemas.
Desta vez o termo proposto foi de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.
A expressão foi usada oficialmente pela primeira vez na Assembleia Geral das Nações
Unidas em 1979, mas a definição oficial somente foi aceita e adotada pela academia depois de
descrita e elaborada pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no
Relatório Brundtland, também conhecido como Nosso Futuro Comum (Our Commom
Future), publicado em 1987. O foco principal desse documento traduz a Sustentabilidade
como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Esse conceito foi muito bem aceito por parte da sociedade da década de 80, que
sempre usufruiu dos recursos naturais de forma desmedida e através deste conceito configura-
se uma forma de compensar séculos de extração predatória e agressiva dos recursos, pois a
escassez destes levaria a humanidade a um futuro pouco promissor e de destruição.
A ideologia política deste documento é revolucionária, os documentos e tratados
posteriores, elaborados utilizando como base as informações do relatório Brundtland,
apresentavam a verdadeira dimensão do problema que a humanindade iria enfrentar, caso não
fossem tomadas medidas efetivas para conter o consumismo, a degradação ambiental e a
redução das desigualdades sociais. Ou seja, segundo a Comissão, o desenvolvimento deveria
ser um direito equitativo inter e intrageracional, independente de como ou a que custo isso
ocorreria.
Nessa época, as recomendações do relatório eram revolucionárias, era a saída para a
humanidade desviar - se do abismo para o qual estava se dirigindo. O documento traçava
metas para que a humanidade continuasse a consumir indefinidamente, buscando alternativas
tecnológicas que melhorassem o rendimento da utilização de seus recursos, objetivando
27
garantir a permanencia do homem na Terra, mas não deixava claro qual o caminho a ser
seguido para se alcançar tais objetivos.
Entretanto, o relatório não descreve nenhum mecanismo global de inclusão das
pessoas (de quaisquer gerações) atual e futuramente excluídas deste sistema de
desenvolvimento para que se reduzam as desigualdades sociais.
Desta forma a sustentabilidade do desenvolvimento seria aplicada globalizadamente
apenas para aqueles que já estão inseridos no sistema econômico vigente. De acordo com
Sachs (2008), é proposto avançar a um grau de pós – desenvolvimento acompanhando a
lógica do mercado, mas sem explicar qualquer conteúdo operacional concreto.
Então, é possivel inferir que o desenvolvimento sustentável (DS) descrito pela
comissão Brundtland indica a direção política que deve ser tomada, mas não exige que
mudanças cruciais sejam feitas para que os preceitos da sustentabilidade mantenham - se em
equilíbrio, fragilizando a ideia de justiça social e fortalecendo o pressuposto de que o DS é
apenas mais uma forma de garantir que recursos naturais estejam disponíveis ao mercado por
muito mais tempo.
Muitos consideram que este conceito de DS tem uma natureza muito ampla,
multifacetada que não exige mudanças realmente importantes, capazes de alcançar o
equilíbrio entre as dimensões ambiental, social e econômica, e ainda que elas sejam
mutuamente excludentes, ou seja, admitem que não é possível compatibilizar crescimento
econômico com a conservação ambiental e equidade social.
O uso da expressão Desenvolvimento Sustentável ou Sustentabilidade tornou - se tão
comum na atual sociedade e nas diversas discussões de nível acadêmico que hoje existe certa
dificuldade em entender seu real conceito. Por esse motivo, grande parte das opiniões, que
circulam nos meios científicos, são antagônicas. Consideram a sustentabilidade como algo
utópico, um engodo, uma forma de conservar os recursos naturais, preservando as relações de
dominação e consumo da sociedade, mantendo o crescimento econômico e lucrativo das
empresas.
Segundo Leonardo Boff (2002):
[...] Atrás da expressão desenvolvimentos sustentável se escondem oportunidades e
também equívocos perigosos. Não podemos falhar com respeito ao tema, pois suas
consequências podem ser desastrosas para o futuro da Terra e da Humanidade [...]
Em suas produções literárias, Leonardo Boff defende veementemente a idéia de que o
desenvolvimento dificilmente será sustentável, pois está representado por uma contradição
conceitual. Ele explica que o termo desenvolvimento provém do sistema econômico
28
dominante que é capitalista, obedecendo à regra de otimização produtiva e aumento da
eficiência na obtenção de lucros.
Já o termo sustentabilidade é a tradução da tendência dos ecossistemas em manter o
equilíbrio dinâmico cooperativo de todos os seres, do mais forte ao mais fraco. Boff ainda
dicotomiza o termo, identificando o desenvolvimento como uma forma de privilegiar o
indivíduo, a competição, a evolução do mais apto, o outro destaca a coletividade, a
cooperação e a co-evolução. Mas em um de seus artigos ele descreve a sustentabilidade ideal
como (Boff, 2006):
[...] Por fim, o ideal é chegarmos a um modo sustentável de vida,
bom para nós e para toda a cadeia da vida, desde os microorganismos
passando pelos vegetais e animais até os mais complexos que somos nós
mesmos [...]
E diversas autoridades científicas concordam com ele. Pesquisadores como David
Pearce (1993), Philippe Sands (2003) e Wilson Luiz Bonalume (2006), que justificam suas
posições mediante fatos mundiais que corroboram com a versão insustentável do
desenvolvimento.
Bonalume (2006), faz uso da expressão UTILIZAÇÃO PROGRAMADA em
substituição ao termo SUSTENTABILIDADE, em virtude de sua imprecisão e ambiguidade,
tendo em vista o uso incorreto e tendencioso do adjetivo, sustentabilidade.
Muitas empresas (públicas ou privadas) utilizam o termo sustentável de maneira a
confundir a população, transformando qualquer programa de distribuição e plantio de mudas,
racionalização de recursos, redução de resíduos em DS.
Esse tipo de comportamento coloca em cheque a integridade do verdadeiro foco da
sustentabilidade que é o equilíbrio dinâmico entre as dimensões ambiental, social e
econômica. Nesse caso sim, o que essas empresas fazem é a utilização programada, visando
não a sustentabilidade, mas a manutenção coorporativa de acesso aos recursos naturais,
minimizando os custos e maximizando os lucros.
A outra opinião está fundamentada na possibilidade da unificação equilibrada dos
interesses político-econômicos e socioambientais, buscando a integração ativa do fator
humano com a natureza e ainda modificar a percepção que a humanidade tem do meio
ambiente, desta forma é possível constituir uma base para discussão e reorientação das
políticas de desenvolvimento relacionando-as com os fatores ambientais.
É assim que a geóloga Suzi Huff Theodoro (2002) vê o desafio do desenvolvimento
sustentável, ela percebe que são necessárias mudanças estruturais nas diversas áreas de
conhecimento e na prática social, pois a grande amplitude do termo aglutina e converge as
29
dimensões que antes eram vistas fragmentadamente, repensando “... a conexão entre a
ecologia e a economia, entre o público e o privado, entre a natureza, a comunidade e a
dimensão intersubjetiva.”
Outros pesquisadores compartilham da mesma opinião de Suzi Theodoro, como
Enrique Leff (2009), Ignacy Sachs (1993), Michael Hans van Bellen (2006), Sergio C.
Buarque (2004), pois entendem que o desenvolvimento e a conservação dos recursos naturais
não são excludentes, são na maioria das vezes conflitantes, mas podem ser compatibilizadas.
Esses autores percebem que a sustentabilidade é uma forma dinâmica de equilibrar as
distorções das dimensões econômica, ambiental e social. Entretanto, existe um impasse para
sua consolidação, esse impasse é originado a partir do conflito dessas dimensões e assim
inviabiliza ou dificulta o entendimento do que realmente é o desenvolvimento sustentável.
Então se não é possível conceituar de forma correta o DS, devido à ineficácia em
dirimir os conflitos gerados a partir dos diferentes interesses das esferas ambiental, social e
econômica, dificilmente será possível que sua operacionalização seja a mais adequada. Ou
seja, o conceito de sustentabilidade é simples, o complexo é entender o seu mecanismo
operacional para que os resultados sejam sustentáveis. Qualquer ação que não resulte em um
equilíbrio entre as dimensões não é sustentabilidade.
Buarque (2008, página 58) diz que:
[...] O conceito desenvolvimento sustentável resulta do
amadurecimento das consciências e do conhecimento dos problemas sociais
e ambientais e das disputas diplomáticas, mas também de várias
formulações acadêmicas e técnicas que surgem durante as três últimas
décadas com críticas ao economicismo e defesa do respeito ao meio
ambiente e às culturas [...]
Mas, uma dificuldade de ordem técnica, observada no método de operacionalizar o DS
é o tamanho da escala utilizada.
Quanto maior a área de influência das metas e ações relativas à sustentabilidade, maior
será o número de interações entre as diretrizes sociais, ambientais e econômicas e quanto mais
interações, maior será a necessidade de ajustar e compatibilizar as distorções e interesses das
dimensões da sustentabilidade.
Essas interações podem ser verificadas, por exemplo, na relação entre o plano diretor
de uma cidade, disponibilidade dos recursos ambientais e status social da população e no uso
do modelo pressão – estado – resposta (Figura 1), onde a complexidade das relações
especificam os indicadores de pressão das atividades humanas sobre o meio ambiente. Os
indicadores de estado, fornecem a visão da situação do ambiente e sua evolução temporal e os
30
indicadores de resposta social mostram o “feedback” ou a resposta da sociedade às alterações
e mudanças ambientais.
Figura 1. Modelo de interação Pressão – Estado – Resposta em sistemas ambientais.
Fonte: Adaptado de Lira (2008).
Em resumo, as metas traçadas no relatório Brundtland envolviam parâmetros de
preservação ambiental, redução das desigualdades sociais e estabilidade econômica, mas não
descreviam a metodologia para sua implementação, contudo reforçam a teoria Malthusiana,
indicando que a escassez dos recursos naturais é a principal causa do desequilibrio da balança
da sustentabilidade.
Mas será que o real problema ou empecilho para se alcançar a sustentabilidade é a
quantidade dos recursos que são extraídos do meio ambiente sem que haja reposição? Na
obsolescência programada? No uso dos recursos para fins fúteis? No cosumismo
desnecessário? Ou será a forma como estes são utilizados e distribuídos? Ou o problema
ocorre no horizonte de mudanças políticas mundiais, que desvirtuou a sustentabilidade para
interesses dos países economicamente dominantes?
Em seu livro Ecologia do Absurdo, Tom Thomas (1994) critica contundentemente a
percepção distorcida dos ecologistas, que apontam as razões para a crise ambiental, como
sendo a escassez de alimentos, o crescimento demográfico elevado, etc.
O autor justifica sua posição, pelo fato comprovado de haver superavit na produção de
alimentos, mas esses alimentos não estão chegando democraticamente a todas as pessoas, pois
o poder econômico domina e dita as diretrizes sócio-políticas do planeta.
É possível acreditar que as políticas governamentais globalizadas almejam alcançar o
DS integralmente, incluindo o interesse na redução das desigualdades sociais e inclusão dos
que vivem à margem do sistema?
31
Devido ao capitalismo, um sistema que reduza as desigualdades sociais
globalizadamente, não parece ser viável, entretanto a viabilidade da criação de uma sociedade
sustentável4 se configura uma alternativa política e ambientalmente operacional para o
cotidiano das sociedades.
Para a atual sociedade, essa definição de sustentabilidade (descrita no Relatório
Brundtland) necessita de diretrizes políticas concretas e adaptações técnicas que tornem viável
sua implementação, pois o conceito oficial já não atende as expectativas socioambientais da
população, devido às acentuadas distorções de percepção da crise ambiental. Ou seja, já não é
suficiente garantir quali e quantitativamente os recursos na atual e nas futuras gerações. Para
se alcançar a sustentabilidade é necessário, além de preservar o meio ambiente e seus
recursos, promover o equilíbrio econômico e subsidiar populações socialmente equilibradas.
É a partir dessa necessidade de ajustes, que é possível apresentar a sustentabilidade,
não como mecanismo de controle ou regulatório e sim como uma condição de equilíbrio
dinâmico entre as dimensões ambiental, social e econômica.
Independente das pressões sofridas em qualquer uma das esferas, a sustentabilidade é
o foco central e qualquer resultado fora dessa intersecção não pode ser considerado
desenvolvimento sustentável (Figura 2).
Figura 2. Modelo de equilíbrio sustentável.
Fonte: Adaptado de Buarque (2008)
4 "Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz as suas necessidades sem diminuir as possibilidades das gerações futuras de satisfazer as delas". (Fritjof Capra e Ernest Callenbach), 2008.
Baseiam-se principalmente na eficiência, economicidade e aproveitamento dos processos produtivos da sociedade e na utilização de matrizes energéticas de reduzido impacto ambiental.
Sugere a reflexão e a mudança do paradigma comportamental das pessoas de modo a compatibilizar os limites ambientais e as necessidades humanas.
32
É a percepção interpretativa deste modelo associada ao dimensionamento da escala de
aplicação do DS que é possivel configurar o tamanho do desafio para sua implementação.
Por esse motivo, entender a sustentabilidade como uma condição a ser alcançada,
exige o desenvolvimento de mecanismos de planejamento, gerenciamento e execução de
planos e ações, direcionadas a atingir e manter o dinamismo do equilibrio sustentável,
servindo como forma de monitoramento contínuo e ainda fornecendo, através da aplicação de
sistemas de indicadores, dados confiáveis, práticos e de fácil obtenção junto as principais
esferas do poder público e a população inserida em uma determinada unidade de
planejamento, como por exemplo, um bioma, uma bacia hidrográfica, um município, um
estado, etc.
Em Buarque (2008) e Santos (2004) a proposição de um planejamento multi e
interdisciplinar para alcançar o desenvolvimento sustentável setorizado, localizado e pontual é
muito produtiva e com resultados esperados satisfatórios, pois desta forma é possível
minimizar o efeito das distorções das escalas de trabalho, sem haver isolamento das áreas de
influência direta e indireta da área planejada.
Ainda segundo Buarque (2008), é possível atingir o equilíbrio sustentável através do
Desenvolvimento Local (DL), que em suas palavras, é um processo endógeno de mudança,
que mobiliza e aproveita as potencialidades locais, torna mais competitiva a economia local e
aumenta a expectativa de conservação dos recursos naturais em pequenas unidades
territoriais.
Entretanto, para que esse desenvolvimento local seja consolidado, é preciso uma forte
intervenção do Estado para regular de forma eficiente e equitativa os resultados obtidos com a
sustentabilidade através de políticas públicas e uma gestão eficiente, como no esquema
apresentado na Figura 3.
Figura 3. Modelo de interação eficiente do Estado
Fonte: Adaptado de Buarque (2008).
33
Contudo, é relevante destacar a necessidade dos aspectos de Governança5 estarem
associados ao planejamento e integração dos processos de desenvolvimento local com as
diretrizes de maior amplitude e maior complexidade (diretrizes regionais ou nacionais). Tendo
em vista sua inserção nas demais escalas, é claramente perceptível às influências positivas e
negativas, onde o DL está suscetível e desta forma aproveitar os fatores de dinamicidade
presentes nas relações entre cada esfera de planejamento, como apresentado de forma
esquemática na Figura 4.
Figura 4. Esquema de interação de influências dinâmicas entre diferentes escalas territoriais.
Fonte: Autor
Portanto, o planejamento ambiental associado à ideia de escala do Desenvolvimento Local
Sustentável configura- se como uma ferramenta útil para alcançar a sustentabilidade, pois ao
se determinar espacialmente a área de abrangência do planejamento e levar em consideração
os fatores externos intrínsecos às áreas de influência direta e indireta, será possível estipular
metas voltadas à sustentabilidade com maior precisão.
Entretanto, ainda nessa fase é necessário um grande número de dados que garantam
subsídios para a tomada de decisões, sobre quais metas e ações são relevantes para o
planejamento, esses dados podem ser caracterizados por Informações Descritivas de
Monitoramento Contínuo (IDMC) que representam a verdadeira situação local e em tempo
real, favorecendo a rapidez nas respostas às situações indesejáveis pelos tomadores de
decisão, representados pelo Estado, sociedade civil organizada e outros atores sociais.
5 A governança está relacionada ao respeito, atendimento de múltiplas expectativas, transparência, compromisso e responsabilidade e assim associa–lá a cidadania e vice- versa.
34
Contudo, há o questionamento sobre como operacionalizar o monitoramento contínuo
para que seja possível utilizá-lo como ferramenta de ajuste aos objetivos traçados pela
sociedade, que procura uma relação e interação dinâmica e equilibrada com o meio ambiente.
Essa discussão vem ocorrendo desde 1960, formulando-se tratados políticos e
parâmetros de regulação econômica completamente inúteis, pois foram implementadas
parcialmente de acordo, principalmente, com os interesses dos países do primeiro mundo. O
dito desenvolvimento sustentável tem se apresentado tecnicamente possível, mas
politicamente inviável.
É suficiente apenas citar os artigos 5, 9 e 10 da Declaração Universal dos Direitos da
Água (1992) e contrapor com os relatórios da ONU:
Art. 5º - A água não é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um
empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como
uma obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.
Art. 9º - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as
necessidades de ordem econômica, sanitária e social.
Art. 10º - O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o
consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.
Relatório da ONU estima que 3 bilhões de pessoas, sofrerão com escassez de água
no planeta em 2025 (George Vidor, 2009)
Mais da metade da população mundial - cerca de três bilhões de pessoas - sofrerá
escassez de água em 2025, revela relatório divulgado pela Unesco, a agência da ONU para
Educação, Ciência e Cultura. Se as atuais tendências continuarem, incluindo as secas, o
aumento populacional, a crescente urbanização, a mudança climática, a proliferação
indiscriminada do lixo e a má administração dos recursos, o mundo se dirigirá para uma
catástrofe.
Com recursos cada vez mais escassos, o gerenciamento correto e o consumo
sustentável se tornam essenciais para que se mantenha o acesso às fontes de água, evitando o
agravamento da fome no planeta - diz diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsura.
Crescimento populacional significa também mais pressão na agricultura, setor que
mais consome água no planeta (cerca de 70%). Caso os atuais métodos de irrigação do solo
não sejam aprimorados, a demanda do setor agrícola por água vai aumentar entre 70 e 90%
até 2050.
Fonte: Vidor, 2009.
35
Nesse panorama, as perspectivas não são promissoras, pois a elevação da demanda de
água e o descuido com o acesso às fontes de água irão apresentar conflitos sociais graves,
como o aumento do número de doenças de transmissão e veiculação hídrica, por exemplo.
Está bem clara a relevância da relação entre os recursos hídricos e a sustentabilidade
no que diz respeito à proteção deste recurso e as necessidades de ordem econômica e social.
Isso reforça a necessidade de gerenciar os recursos nas bacias hidrográficas e que
levem em consideração não somente os aspectos técnicos do meio ambiente, mas também
contemplem as diretrizes sociais e econômicas que também fazem parte do conceito de bacia
ambiental urbana.
2.2 O Uso de bacias Hidrográficas como Unidades de Planejamento para o
Desenvolvimento Local Sustentável
A unidade espacial utilizada neste trabalho é uma bacia hidrográfica, pois
metodologicamente esta área está inserida em um contexto de compreensão, onde se
apresentam de forma unificada as interações e pressões sobre os sistemas naturais ou criados
pelo homem. Mas definir os limites dinâmicos de um ecossistema terrestre era considerado
difícil, até Bormann & Likens proporem a bacia hidrográfica como a unidade básica de
trabalho (Golley, 1993).
De acordo com Santos (2004), conforme já reconhecido por muitos autores, a adoção
da bacia hidrográfica6 (BH) como unidade de planejamento é de aceitação universal. Esse
critério é muito usado porque constitui um sistema natural bem delimitado no espaço,
composto por um conjunto de terras topograficamente drenadas por um curso d´água e seus
afluentes, onde as interações são integradas e melhor interpretadas e caracterizadas.
Mas para Odum (1988), um sistema somente é considerado ecológico quando constitui
uma unidade funcional que “abrange todos os organismos que funcionam em conjunto numa
dada área, interagindo com o ambiente físico de tal forma que um fluxo de energia produza
estruturas bióticas claramente definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas e
não vivas.”.
Desta forma é possível considerar os recursos hídricos como um bem natural
renovável, circulando ciclicamente entre a atmosfera e o subsolo, organizadas em bacias
6 Conceito clássico de bacia hidrográfica para identificação de limites territoriais.
36
hidrográficas (ANEXO 1), entretanto esse ecossistema se fragiliza perante a complexidade
das funções urbanas.
Ao se tornar um território que inserido nas diversas atividades urbanas, a bacia
hidrográfica, tem elevado o grau de complexidade entre as interrelações dos usuários que a
compõem, assim são definidos novos desenhos hidrográficos com novas paisagens
ecossistêmicas. Se a localização das cidades às margens de cursos d’água permitiu, em um
primeiro momento, que o meio natural bacia hidrográfica fosse satisfatório como unidade de
planejamento, a diversidade de variáveis, que conduzem à expansão urbana, obriga a
visualização de novas conformações do meio físico. (Rutkowski & dos Santos, 1998).
Ou seja, conceitualmente, a definição clássica de BH considera apenas os aspectos
hidrológicos e hidrográficos pertinentes a área de estudo e estabelece prioritariamente que
esse é seu limite físico de análise.
Já o conceito de bacia ambiental é caracterizado por um espaço territorial de
propriedades dinâmicas, cujos limites são estabelecidos pelas relações ambientais de
sustentabilidade entre as dimensões envolvidas (econômica, ambiental e social) – (ANEXO
2).
É com base nesse conceito que o planejamento voltado para a sustentabilidade local se
concretiza, pois segue o mesmo direcionamento na realização das interconexões dinâmicas
entre as escalas de gestão ambiental.
Mas é relevante destacar que Santos (2004, página 43), propõe o conceito de Bacia
Ambiental7 como área de estudo voltada ao ambiente urbano. Nas palavras da própria autora,
por ser diferente do conceito clássico de bacia hidrográfica, a Bacia Ambiental é caracterizada
pelo:
[...] Somatório de unidades territoriais definidas pelas drenagens naturais de
águas superficiais, drenagens antrópicas (águas estocadas, de interesse dos
principais grupos sociais). É um espaço de conformação dinâmica que
valoriza as modificações feitas pelo homem no desenho natural da paisagem
e as relações ambientais de sustentabilidade de ordens ecológica, econômica
e social. [...]
7 RUTKOWSKI (1998) e SANTOS (2004) O conceito de bacia hidrográfica não considera em seus limites todas
as relações existentes entre as necessidades e anseios dos grupos sociais que atuam diretamente no espaço urbano e a disponibilidade de recursos hídricos. Em muitos casos não respeita limites políticos territoriais definidos pela sociedade, ocasionado interpretações parciais da real situação presente na área, assim, este conceito se apresenta de forma ineficiente na identificação da área real de influência dos objetivos propostos. O conceito de bacia ambiental ao relativizar o espaço físico, flexibiliza seus limites, privilegia as inter-relações nos diversos níveis e permite uma análise dinâmica da situação de uma área urbana.
37
A mesma autora indica o grave erro de utilizar nos trabalhos de planejamento
ambiental os espaços territoriais de maneira isolada com técnicos de diferentes áreas de
conhecimento, pois esses tendem a considerar como produto final integrado a soma dos dados
espacialmente sobrepostos.
Mas as áreas que são exceções a esta regra são avaliadas considerando apenas a
temática original do inicio do planejamento. Ela afirma que essa técnica em muitos casos
retrata uma equipe desestruturada e com resultados poucos consistentes.
Por isso a proposta do estudo de uma Bacia Ambiental, trata todos os dados de forma
unificada por toda a equipe, sem haver priorização de focos ou objetivos.
O diagrama esquemático apresentado na Figura 5 demonstra o procedimento básico
para a definição da área de estudo dentro do conceito de bacia ambiental, este método
representa a soma das áreas que retratam as ações humanas atuais e do passado, bem como
engloba os efeitos ambientais de suas atividades, descrevendo dessa forma o interesse dos
grupos sociais e os interesses ambientais para constituir a bacia ambiental.
A definição da área de estudo como uma bacia ambiental corrobora e reafirma a
necessidade do uso de uma ferramenta que utilize as mesmas prerrogativas, como nesse caso
em especifico a metodologia do Painel da Sustentabilidade, que será descrita detalhadamente
mais adiante neste trabalho.
Figura 5: Diagrama esquemático para Avaliação Global da Paisagem.
Fonte: Adaptado de SANTOS, 2004.
Contudo é possível fazer uso diferentes estratégias para a definição das áreas de estudo
dentro de uma bacia hidrográfica ou ambiental. Em Santos (2004) são sugeridas quatro
formas de delimitação de áreas de estudo.
38
A primeira delas é a de Limites Territoriais, muito utilizada por planos diretores, pois
restringem os cenários de atuação do plano aos limites territoriais legais, ou seja, divisão
política dos municípios ou estados (Figura 6).
Figura 6: Esquema para definição de área de estudo – Limite Territorial.
Fonte: Adaptado de SANTOS, 2004.
A segunda estratégia é chamada de Raio de Ação, pois são delimitadas áreas
concêntricas de interferência de diversos graus de magnitude. Esse método pode ser utilizado
no planejamento de atividades humanas de forma concentrada ou dispersa em uma
determinada área (Figura 7).
Figura 7: Esquema para definição de área de estudo – Raio de Ação.
Fonte: Adaptado de SANTOS, 2004.
A terceira estratégia é chamada de Corredor, sendo bastante utilizada no planejamento
que visa a conservação de territórios onde os padrões de paisagem possuem um padrão linear,
como por exemplo, rodovias, linhas de transmissão e assim é possível abranger um corredor
que margeia as atividades ou a paisagem que se planeja estudar (Figura 8).
Figura 8: Esquema para definição de área de estudo – Corredor.
Fonte: Adaptado de SANTOS, 2004.
A quarta e última estratégia é chamada de Unidade Homogênea, onde as regiões
apresentam territórios bem definidos em função de uma dinâmica própria de relação entre os
fatores de uso do solo. Nesse caso, o planejador deve delimitar a própria área, utilizando
características marcantes do local, como os limites um ecossistema ou somar áreas de
39
diferentes escalas, como unir as áreas de uma bacia, os limites legais, corredores, etc. de
forma que uma complemente a outra (Figura 9).
Este tipo de estratégia favorece ao planejador o uso do método de indicadores, pois é
possível visualizar as potencialidades e fraquezas do território.
Figura 9: Esquema para definição de área de estudo – Unidade Homogênea.
Fonte: Adaptado de SANTOS, 2004.
Independente da estratégia escolhida para a definição da área de estudo, a ação
antrópica, a implantação progressiva de atividades econômicas e o adensamento populacional
de forma desordenada ao longo das bacias hidrográficas são fatores que têm promovido a
degradação da qualidade da água. Esses fatores, associados ao seu mau uso, torna esse recurso
um dos bens naturais de uso mais conflitante, haja vista, principalmente, o interesse mútuo
dos usuários (MESQUITA, 2005).
Dessa forma, a qualidade da água de uma bacia torna-se o principal indicador
ambiental relacionado à sustentabilidade e pode ser influenciado por diversos fatores e
pressões antrópicas: clima, cobertura vegetal, topografia, geologia, formas de uso e ocupação
do solo e crescimento da malha urbana.
Esses processos fazem parte de um frágil equilíbrio, motivo pelo qual alterações de
ordem física, química ou climática, na bacia podem alterar a sua qualidade (DONADIO,
2005).
Segundo Filho et al. (2005) os usos e atividades rurais insustentáveis provocam
alterações no ambiente natural, com reflexos sobre os recursos hídricos. Os desmatamentos,
os movimentos de terra e a poluição resultante do uso de pesticidas e fertilizantes são
exemplos de alterações ambientais que podem ocorrer no meio rural.
Assim, o controle qualitativo e quantitativo dos recursos hídricos depende do
disciplinamento do uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica, os quais devem ser feitos de
modo a provocarem alterações compatíveis com os mananciais, em função dos seus usos.
Um dos mais importantes instrumentos para a gestão ambiental e de seus recursos é o
gerenciamento dos recursos hídricos, que pode ser traduzido como sendo uma ferramenta que
orienta o poder público e a sociedade, em longo prazo, na utilização e monitoramento dos
40
recursos ambientais, econômicos e sócio-culturais, na área de abrangência de uma bacia
hidrográfica, de forma a promover o desenvolvimento sustentável (FARIAS, 2006).
A sustentabilidade está, portanto, intimamente ligada aos recursos hídricos, já que a água
vem se tornando um recurso esgotável (MIRANDA, 1999).
Contudo, o gerenciamento ambiental é composto por diversos mecanismos que subsidiam
os objetivos e ações das atividades do gerenciamento, bem como é formado por parâmetros
reguladores do Estado, que caracterizam o ambiente a ser transformado ou conservado.
Por exemplo, segundo Braga (2009), o uso de ferramentas de ordenamento territorial,
como Plano Diretor de Bacias e Microbacias Hidrográficas8, Plano Diretor Municipal e
Florestal, Zoneamento Ambiental Regional e Municipal e a implementação de áreas
legalmente protegidas, são os principais mecanismos para formulação de diretrizes
institucionais para manejo e conservação de áreas consideradas estratégicas para o Estado.
Assim, o disciplinamento das políticas públicas para conservação de recursos hídricos
(Lei nº 9433/97) prevê que “... a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso
múltiplo das águas (art. Iº, IV) e apresenta como objetivos assegurar à atual e futuras gerações
a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos
usos; a utilização racional integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário,
com vistas ao desenvolvimento sustentável (art. 2º, I e II).”
E para institucionalizar as regras de utilização dos recursos naturais, o Estado cria o
Comitê Gestor de Bacias com o objetivo de criar, implementar e avaliar as políticas públicas
necessárias para a efetiva gestão ambiental tendo como foco a sustentabilidade e desta forma
possibilitar a integração política, econômica e cultural.
Entretanto para que as regras sejam seguidas, o comitê gestor necessita de parâmetros,
valores mensuráveis, que analisados criticamente, fornecem dados aos tomadores de decisão,
e como dito em Yoshida (2007), é a partir desses dados que o comitê poderá iniciar uma
sólida e frutífera discussão visando a elaboração de um plano de bacia factível e significativo.
Então, para que ocorra o planejamento em qualquer unidade ambiental, faz-se necessário
gerar dados relevantes, que monitorem e direcionem as decisões relativas ao uso dos recursos.
Existem várias metodologias de geração e análise de dados, contudo, todas elas devem
obedecer ao marco regulador das leis. As duas principais leis federais são a de número 6.938
8 Previsto na Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Recursos Hídricos.
41
(BRASIL, 1981), que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) e a de
número 9.433, que dispõe sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).
Na primeira lei citada, são identificados doze instrumentos que visam a preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia para a vida, assegurando, no país,
condições ao desenvolvimento sócio – econômico, aos interesses da segurança nacional e a
proteção da vida humana (BRAGA, 2009).
Já na segunda lei citada, os objetivos são de assegurar inter e intrageracionalmente,
qualitativamente e quantitativamente o acesso aos recursos hídricos, sua utilização racional e
integrada, com vistas ao desenvolvimento sustentável, a preservação e a defesa contra eventos
hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos
naturais (BRAGA, 2009).
Esses instrumentos identificados nas duas leis Quadros 2 e 3, também são apresentados no
artigo 225 da Constituição Federal de 1988. Essas diretrizes legais são os principais
fundamentos básicos para uma gestão ambiental sólida e constituem os mais importantes
subsídios para as tomadas de decisão na gestão ambiental, desde que plenamente
implementados.
Essas leis utilizam mecanismos diferentes para atingir seus objetivos e para que se
obtenham os efeitos esperados, é necessário aplicá-las de forma integralizada através do
planejamento dos comitês de bacia e de seus planos diretores, elaborados e executados de
acordo com as escalas temáticas e o planejamento do uso e conservação do recurso natural.
Instrumentos PNMA Lei nº 6.938 Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental
Zoneamento Ambiental Avaliação de impactos ambientais
Licenciamento de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras Incentivo à produção e instalação e produção de equipamentos e à criação de tecnologias voltadas para
a melhoria da qualidade ambiental Estabelecimento de espaços territoriais especialmente protegidos, como UC, federais, estaduais,
municipais e privadas Sistema nacional de informações sobre meio ambiente
Cadastro técnico federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental Penalidades disciplinares ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção de
degradação ambiental Instituição do relatório de qualidade ambiental
Garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente, obrigando ao Poder Público a produzi-las, quando inexistentes
Cadastro técnico federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais
Quadro 2: Relação de instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente
Fonte: Adaptado de BRAGA, 2009.
42
Instrumentos PNRH Lei nº 9.433 Planos de recursos hídricos
Enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos
Cobrança pelo uso de recursos hídricos Sistema de informações sobre recursos hídricos
Quadro 3: Relação de instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos
Fonte: Adaptado de BRAGA, 2009.
Entretanto, é necessário salientar e destacar que os mecanismos e objetivos descritos pelas
leis são e estão intimamente ligados ao conceito de sustentabilidade criado na década de 60
pelo Clube de Roma, onde é necessário analisar e conservar apenas os parâmetros ambientais
e consequentemente as demais diretrizes da sustentabilidade não são contempladas, nos
planos de gerenciamento de bacias, descartando dessa forma as reais influências antrópicas a
que uma bacia hidrográfica está submetida.
Braga (2009) destaca que os planos diretores de uma bacia de médio e longo prazo devem
conter no mínimo:
• Diagnóstico do status atual dos recursos hídricos.
• Análise dos padrões de ocupação do solo.
• Alternativas de controle demográfico.
• Balanço entre demandas futuras a atuais dos recursos naturais (quantitativo e
qualitativo).
• Identificação potencial de conflitos.
• Metas para o uso racional dos recursos hídricos.
• Plano de melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis.
• Ações preventivas e corretivas para implementação das metas traçadas.
• Cobrança financeira para uso ou poluição dos recursos hídricos e criação de áreas com
restrições de uso.
Não somente Braga (2009), mas também Silva (2002) e Santos (2004), consideram o uso
dos parâmetros qualitativos e quantitativos dos recursos naturais como informações
prioritárias para o desenvolvimento sustentável.
Mas para atender às verdadeiras prerrogativas da sustentabilidade, faz-se necessário a
unificação de outras informações de natureza sócio-política e econômico-institucional, no
plano diretor e não somente utilizar parâmetros técnicos de medições ambientais e dessa
forma compor uma Avaliação Global da Paisagem (AGP).
43
Sendo assim, para que haja um plano diretor ou um planejamento ambiental adequado e
efetivamente as políticas públicas (a exemplo da PNMA) sejam efetivamente implementadas
com vistas a sustentabilidade, é necessário fazer uso de métodos que agreguem informações
das quatro dimensões do desenvolvimento sustentável, criando e analisando, não somente os
indicadores de qualidade ambiental, mas utilizando os indicadores sociais, econômicos e
institucionais em conjunto.
Somente nessas condições, será possível atingir as metas de sustentabilidade, propor um
planejamento executável, sem que haja priorização de exigências antrópicas ou naturais. Ou
seja, o planejamento ambiental que subsidia o plano diretor de uma bacia, precisa ser
formulado ou reformulado utilizando dados confiáveis, de fácil obtenção, financeiramente
viáveis, socialmente relevantes, facilmente absorvidos pela comunidade em geral e seu
resumo apresente o desempenho ou performance da sustentabilidade, segundo as diretrizes
traçadas pelo poder público e as condições específicas de cada local e escala de aplicação, no
caso deste trabalho, uma bacia hidrográfica.
Santos (2004) expõe essa preocupação do planejamento customizado9 para cada área de
trabalho, apresentando diversos fluxogramas para o planejamento ambiental, que se adaptado,
podem ser utilizados como estrutura simplificada para a elaboração de planos diretores. Por
exemplo, o fluxograma mostrado na Figura 10:
Figura 10: Fluxograma simplificado de planejamento
Fonte: Adaptado de SANTOS, 2004.
9 O planejamento customizado é personalizado para ser aplicado em um determinado local, ou seja, adaptado para as condições espaço-temporais da área de aplicação, mas tem garantida a reprodutibilidade em outras situações.
44
Isso significa dizer que em cada local, de acordo com a escala espaço-temporal, que será
estudado, irá haver ajustes de acordo com a realidade do local, objetivos e metas a serem
traçadas, disponibilidade de recursos e tecnologia, marcos reguladores, áreas de influência,
etc.
É com base na necessidade de garantir a operacionalização de um planejamento em uma
bacia ambiental focado na sustentabilidade, que é possível desenvolver e aplicar subsídios
metodológicos que objetivem de maneira conservacionista manter quali e quantitativamente a
água, o solo, a vegetação e outros recursos naturais renováveis presentes em uma bacia urbana
e ainda associar outros fatores de natureza social e econômica.
2.3 Indicadores e o Índice de Sustentabilidade
Segundo Van Bellen (2006), uma das maneiras que viabiliza a sustentabilidade é o
desenvolvimento e a aplicação de sistemas de indicadores ou ferramentas de avaliação que
procuram mensurar a sustentabilidade.
O desenvolvimento dessa ferramenta faz uso de instrumentos técnico-científicos na
construção de respostas sustentáveis que reduzam o conflito entre sociedade e meio ambiente
possibilitando que se quantifique a sustentabilidade.
Isso somente será possível quando o poder público identificar, esclarecer e apresentar à
sociedade os processos não sustentáveis que podem ser monitorados, avaliados e, em função
dessa avaliação, os processos que podem ser mantidos, revertidos, agravados ou sanados,
dependendo apenas das ações e medidas corretivas e preventivas tomadas pelo gestor público
e pela população em geral, utilizando decisões políticas baseadas em informações reais,
concretas e confiáveis.
Entretanto, a complexidade do conceito de desenvolvimento sustentável e suas dimensões
multifacetadas, têm dificultado a utilização adequada dessa ferramenta, tendo em vista a
variedade de tipos de abordagens utilizadas para avaliar o grau de sustentabilidade, em função
do campo ideológico-ambiental ou da dimensão em que cada membro participante se coloca
dentro das perspectivas econômica, social, ambiental, geográfica e cultural.
De acordo com Veiga et al. (2008), o crescimento econômico sempre se deu em
detrimento da conservação da natureza, uma vez que os indicadores do desenvolvimento
sustentável têm demonstrado que a produção e o consumo das populações que mais
enriqueceram vêm causando um elevada pressão sobre a biosfera.
O Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF - World Wildlife Fund) desenvolveu
indicadores básicos para mostrar como a saúde dos ecossistemas está se deteriorando
45
rapidamente. O primeiro deles é o Índice Planeta Vivo (Living Planet Index) que avalia e
monitora a biodiversidade do Planeta e a Pegada Ecológica (Ecological Footprint) que mede a
pressão que a humanidade exerce sobre a biosfera. Esses indicadores demonstram claramente
as idéias de Amartya Sen, Celso Furtado e Ignacy Sachs que distinguem o crescimento
econômico do desenvolvimento (VEIGA et al. 2008).
Reis et al. (2005), descrevem que um modelo de desenvolvimento sustentável deve ser
capaz não só de contribuir para a superação dos atuais problemas, mas também de garantir a
própria vida, por meio da proteção e manutenção dos sistemas naturais.
Para tanto é possível fazer uso de métodos de avaliação e planejamento que
caracterizem o ecossistema possibilitando a criação de uma estratégia integrada na gestão e
conservação destes, culminando na identificação de indicadores e índices de desenvolvimento
sustentável local, de forma dinâmica.
Fornecendo a imagem real da situação de sustentabilidade e possibilitando agregar e
quantificar informações, tornando – as mais significativas, de fácil entendimento e
financeiramente viáveis.
Contudo, para que tais métodos de avaliação sejam eficazmente utilizados faz-se
necessário uma revisão de pressupostos éticos dos atuais modelos de organização econômica
e social. Buarque (2002, página 62) diz:
[...] tanto a natureza quanto a sociedade (incluindo o sistema econômico)
constituem sistemas complexos em equilíbrio dinâmico que combinam uma tendência
a desorganização e uma capacidade de auto-organização e auto-regeneração [...]
É possível dizer que o uso desta ferramenta, torna as quatro dimensões do sistema
analisado como um sistema transparente, como uma casa com paredes de vidro, onde todas as
informações podem ser vistas, avaliadas e planejadas dinamicamente, de acordo com o
resultado dos índices.
Avaliar que o DS tem que manter o equilíbrio entre as quatro dimensões através do
método sistemático de índices e indicadores pode responder a indagação de Bonalume (2006),
que diz: “Como é possível falar de desenvolvimento sustentável na utilização de recursos não
renováveis?” A resposta a essa pergunta pode ser dada descrevendo o que é Sustentabilidade
e o que não é.
Desenvolvimento Sustentável é o equilíbrio dinâmico e integrado entre as diretrizes
econômicas, ambientais, sociais e institucionais, onde essas diretrizes têm pesos iguais para a
sociedade, e garantir esse equilíbrio intrageracional é também garantir as gerações futuras,
46
desde que este seja includente, ou seja, haja a inclusão pelo trabalho dos menos favorecidos
(SACHS, 2008). Qualquer coisa diferente disso é mera retórica.
Tendo em vista o exposto, é possível fazer os seguintes questionamentos.
1. Como equacionar problemas de múltiplas realidades e apresentando interações que
vão da esfera local a global?
2. Como eliminar as distorções causadas pela corrupção, conflitos e desigualdades
sociais e econômicas, degradação dos recursos naturais, etc.?
3. Como incluir na sustentabilidade as pessoas menos favorecidas que primeiro precisam
sobreviver para viver?
4. Como suprimir a ideia que a sustentabilidade é algo utópico, transformando em uma
realidade praticável?
É notório que existe a relevância das interferências da esfera global nas demais esferas
(nacional, regional e local), bem como ocorrem interferências no sentido inverso. A diferença
ocorre no grau de magnitude e na rapidez das mudanças entre uma esfera e outra.
Partindo da escala global para local, as mudanças são muito mais rápidas e apresentam
um espectro de abrangência mais amplo. Já partindo da escala local para a global, as
mudanças são muito mais lentas e tendem a abranger apenas o espaço de sua aplicação,
entretanto a consolidação dos resultados obtidos em uma escala local são mais eficientes
(Buarque,2008). Pode ter sido a partir daí que foi criada a premissa “Pense global, haja
local!”.
Sendo assim, uma forma utilizada para quantificar a sustentabilidade através de um
acompanhamento simultâneo e dinâmico das características e variáveis de uma determinada
área (bairro, bacia hidrográfica, município, região, Estado, país, etc.) é a criação de um Índice
de Sustentabilidade, que utiliza a avaliação agrupada dos indicadores característicos da área
como fonte de dados primários.
A aplicação desses indicadores é recomendada na Agenda 21 Global, que orienta que
os países devem desenvolver sistemas de monitoramento e avaliação do desenvolvimento
sustentável, adotando indicadores que mensurem as alterações e desequilíbrios nas dimensões
econômica, social e ambiental.
Diversos autores apresentam conceitos similares quanto ao uso de indicadores para
obtenção de características comportamentais, atributos expressivos e perceptíveis do sistema
analisado.
Para a OECD (1993), o indicador deve ser considerado um parâmetro que indique
informações sobre o estado de um fenômeno de significativa relevância.
47
Para o IBGE (2008), “Os indicadores são ferramentas constituídas por uma ou mais
variáveis que, associadas através de diversas formas, revelam significados mais amplos
sobre os fenômenos a que se referem; também são essenciais para guiar a ação e subsidiar o
acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado rumo ao desenvolvimento
sustentado, sendo este, um processo em construção, a formulação de indicadores também é
um trabalho em aberto.”
Para Van Bellen (2006 Página 42), o objetivo principal do indicador é:
“Agregar e quantificar informações de modo que sua
significância seja aparente. Eles simplificam as informações sobre
fenômenos complexos tentando melhorar com isso o processo de
comunicação.”
Essa significância que trata Van Bellen é a política social, bem como a relevância
ambiental e econômica.
Por esse motivo, para entender o conceito de indicadores aplicados a sustentabilidade,
é preciso abordar e conhecer suas principais funções.
TUNSTALL (1992) descreve as principais funções dos indicadores:
• Avaliar as condições e tendências em relação a metas e objetivos.
• Comparar lugares e situações.
• Prover informações de advertência.
• Antecipar futuras condições e tendências.
E Van Bellen (2002) ainda complementa o quadro de função de indicadores de Tunstall,
acrescentando as seguintes funções:
Função Analítica – As medidas ajudam a interpretar os dados, dentro de um sistema
coerente, agrupando - os em índices.
Função de Comunicação, Aviso e Mobilização – Familiarização dos conceitos e métodos
envolvidos na sustentabilidade pelos tomadores de decisão e ainda no estabelecimento de
metas e no mecanismo de avaliação e tornar público o sistema de indicadores, desde sua
concepção até sua implementação.
Função de Coordenação – Criar relatórios integrados entre os dados de diferentes áreas e
coletados por agências de controle distintas. A coordenação também deve funcionar em
termos orçamentais e de recursos humanos. Tudo deve ser aberto à população para que a sua
participação seja realmente efetiva e a mensuração dos indicadores sirva ao seu propósito.
Contudo, uma observação feita por Van Bellen (2002), alerta que “os indicadores são
de fato um modelo da realidade (semelhante a uma realidade ampliada), mas não podem ser
48
considerados a própria realidade, entretanto devem ser analiticamente legítimos e
construídos dentro de uma metodologia coerente de mensuração.”
Vale ressaltar que a maioria dos sistemas de indicadores foram criados para atender
uma demanda ou necessidade específica e localizada (indicadores ambientais, econômicos, de
saúde, etc.) e por isso não podem ser considerados como indicadores de sustentabilidade, mas,
o agrupamento das informações desses indicadores, se apresentam com uma relativa
importância dentro do contexto do Desenvolvimento Sustentável.
Por isso existe a necessidade imperativa de utilizar sistemas interligados, indicadores
inter-relacionados ou de diferentes estados de agregação para se trabalhar com a complexa
realidade do desenvolvimento sustentável.
Os indicadores e índices tem o objetivo de mensurar o grau de sustentabilidade, de
modo que alerte sobre os efeitos do problema antes que se agrave, atuando proativamente nas
causas geradoras do problema e ainda possuir características imprescindíveis de acordo com
Van Bellen (2006).
As carateristicas ideais para os indicadores são:
a. Serem significativos em relação à sutentabilidade do sistema.
b. Serem politicamente relevantes.
c. Traduzir fiel e sinteticamente as preocupações do sistema planejado.
d. Permitirem a reprodutibilidade temporal das medições.
e. Prever a interação temporal e espacial dos diferentes elementos populacionais.
f. Promover as relações integradas dos indicadores trabalhados.
g. Ter a capacidade de mensurabilidade e viabilidade de tempo e custo para realizar as
medições dos indicadores.
h. Devem ser replicáveis e verificáveis.
i. Apresentar claramente os objetivos a serem alcançados.
j. Ser facilmente interpretado pelos usuários.
k. Possuir uma metodologia de medição clara e objetiva.
Desta forma os indicadores propiciam a transformação da discussão do plano teórico do
desenvolvimento sustentável para a possibilidade de uso operacional praticável.
Segundo Benetti (2006), a sociedade necessita de instrumentos técnicos- científicos e
políticos que descrevam qualquer informação relevante e identifiquem processos
potencialmente insustentáveis de desenvolvimento na relação entre a sociedade e o meio
49
ambiente, e assim possam mensurar as percepções de sustentabilidade a curto, médio e longo
prazo de alguma forma.
Para criar e manter um sistema de monitoramento de uma realidade tão complexa é
necessário alimentá - lo com informações precisas e em todos os níveis de influência
(individual, comunitário, local, municipal, regional, estadual, nacional e internacional).
Portanto é necessário traçar metas ou objetivos para utilização dos indicadores de acordo com
as escalas ou níveis de influência. Mas de modo geral Van Bellen (2006) descreve como
objetivos de um indicador como:
a) Definir ou monitorar a sustentabilidade de uma realidade.
b) Facilitar o processo de tomada de decisão.
c) Evidenciar em tempo hábil a modificação significativa de um sistema.
d) Caracterizar uma realidade e permitir regular sistemas integrados.
e) Estabelecer restrições em detrimento de padrões determinados.
f) Detectar limites críticos e de segurança de acordo com a capacidade de resiliência de
um sistema.
g) Perceber as tendências e vulnerabilidades de um sistema.
h) Sistematizar as informações e simplificar a interpretação de fenômenos complexos.
i) Identificar ações relevantes e avaliar a evolução para alcançar a sustentabilidade.
j) Prever o desempenho do sistema, para alertar sobre condições de risco.
k) Detectar não conformidades que necessitem de replanejamento.
Esses objetivos favorecem a interação e intregação dos atores envolvidos, permite a
avaliação e o monitoramento contínuo do sistema, fornece informações que orientem a
tomada de decisões e eleva a percepção social sobre a realidade local focada na
sustentabilidade.
Mas devido à abragência desses objetivos é possível selecionar quais e quantos
indicadores são pertinentes ao planejamento da área de aplicação (município, bacia
hidrográfica, etc), desde que atendam aos critérios de confiabilidade, facilidade no
entendimento, mensuração e relevância para a avaliação de políticas de sustentabilidade e
possuam a estrutura de indicadores PSR ou suas derivações (DSR, DPSIR).
Entrentanto os indicadores estão fragmentados por dimensões (Indicadores Ambientais,
Indicadores Sociais, Indicadores Econômicos e Institucionais) e avaliar e monitorar cada
indicador isoladamente não garante as condições adequadas para alcançar o desenvolviemento
sustentável.
50
Então é necessário separar os indicadores de sustentabilidade por estrutura temática,
avaliar de acordo com critérios descritos anteriormente e novamente unificá-los
qualitativamente através de um ou mais índices, que agregam um grande número de
indicadores, mas é imprescindível que não haja perda de informação vital na interpretação
desses dados.
Como exemplo é possível citar o Produto Interno Bruto (PIB), que agrega diversas
informações da economia, mas não pondera indicadores sociais e ambientais, assim, este
índice não é suficiente para caracterizar a sustentabilidade.
Mas de acordo com Beltrame (1994), é necessário eleger indicadores do meio físico ou
abiótico para fins conservacionistas que indiquem as potencialidades de proteção ou
degradação dos recursos naturais. Esses parâmetros foram escolhidos por refletirem as
características intrínsecas de uma bacia hidrográfica no que diz respeito aos aspectos
ambientais.
Portanto, o mecanismo de operação do uso de indicadores e índices é sequencial.
Inicialmente é identificada a escala e o local de aplicação do planejamento para atingir a
sustentabilidade, os dados primários são coletados, esses dados são analisados e comparados a
uma relação de indicadores relevantes para a área de acordo com as dimensões da
sustentabilidade e o tipo de sistema de monitoramento, o resultado quantitativo dessa
comparação gera indicadores das condições do sistema separadamente.
O agrupamento qualitatitvo desses indicadores produz um índice que agrega informações
relativas às dimensões social, ambiental, econômica e instituicional e assim é possÍvel
identificar a tendência da sustentabilide da área estudada. Esse esquema sequencial é
represantado pela pirâmide de dados (Figura 11).
Onde:
Dados primários são: Informação Bruta coletada junto a órgãos governamentais e a
população.
Dados analisados são: Dados relevantes que são agregados para elaboração dos
indicadores. São obtidos após a análise estatística ou multicriterial dos dados primários.
Indicadores são: Parâmetros ou diretrizes quantitativas formadas a partir da agregação de
dados levantados em campo.
Índice é: Representação média qualitativa elaborada a partir da avaliação do desempenho
quantitativo dos indicadores.
51
Figura 11: Pirâmide de dados. Fonte:
Adaptado de Van Bellen (2006).
De acordo com Van Bellen, (2006), existem diversas ferramentas que monitoram o
grau ou a tendência de sustentabilidade de um sistema, cada uma com vantagens e
desvantagens e características diferenciadas pelo escopo, tipologia dos dados, esfera de
atuação, nível de agregação, participação, complexidade, apresentação, abertura e potencial
educativo.
As três metodologias reconhecidas internacionalmente são: Pegada ecológica
(Ecological Footprint Method), Painel de Sustentabilidade (Dashboard of Sustainability) e o
Barômetro de Sustentabilidade (Barometer of Sustainability).
O Ecological Footprint Method é considerado um método que possui pouca
influência nos tomadores de decisão por consistir em estabelecer a área de um espaço
ecológico necessária para a sobrevivência de uma determinada população e permite o
fornecimento de energia e recursos naturais capaz de absorver os resíduos ou dejetos do
sistema, considerando apenas a dimensão ecológica no levantamento de seus indicadores
(BRITO, 2007; DIAS, 2002e VAN BELLEN, 2006).
O Barometer of Sustainability utiliza duas dimensões: ecológica e social e possui
menor impacto sobre o público-alvo, pois possibilita através de uma escala de performances, a
comparação de diferentes indicadores representativos do sistema, gerando uma ampla visão
do estado da sociedade e do meio ambiente. Os resultados são apresentados por índices, em
uma escala que varia de uma base 0 (ruim ou péssimo) a 100 pontos (bom ou ótimo). (VAN
BELLEN, 2006).
O Dashboard of Sustainability é um índice que representa a sustentabilidade de um
sistema englobando a média de vários indicadores com pesos iguais, catalogados em quatro
categorias de performance: econômica, social, ambiental e institucional. É apresentado através
52
de uma escala de cores que varia do vermelho-escuro (resultado crítico), passando pelo
amarelo (médio) até chegar ao verde-escuro (resultado positivo).
A Figura 12 mostra a representação da tendência de sustentabilidade utilizando o
método do Painel da Sustentabilidade.
Figura 12: Apresentação de dados pelo painel de sustentabilidade.
Fonte: Modificado de Van Bellen (2006).
Ao representar o baixo desempenho de indicadores locais (como indicadores sociais
em uma bacia hidrográfica, por exemplo) é possível corrigi-los ou melhorá-los mais rápida e
eficazmente, desde que as ações tomadas atinjam a causa dos problemas. Ao reproduzir em
diversos territórios da esfera local a metodologia de índices pelo Painel da Sustentabilidade,
que apresentam o desempenho dos indicadores e, consequentemente propõe ações de
melhoria, será possível influenciar fatores da esfera regional, a reprodução dos resultados
nesta esfera, proporcionará modificações nas condições da área investigada.
Mas vale salientar que é necessário um profundo compromisso ético do poder público
para subsidiar programas de assistência emergencial, como moradia e acesso a serviços
públicos de qualidade que garantam dignidade a população.
Programas que fomentem e desenvolvam oportunidades de qualificação e oferta de
emprego a população, bem como haja punição de crimes ambientais, proteção de áreas e
recursos naturais estratégicos e recuperação de áreas degradadas.
53
A característica mais importante desta ferramenta é a de identificar clara e
rapidamente o que precisa ser solucionado, pois se as ações forem direcionadas para resolver
os verdadeiros problemas e suas reais causas, quem possui menor poder aquisitivo não irá
necessitar degradar o meio ambiente, pois será papel do Estado fomentar e complementar as
suas necessidades e ainda será papel do gestor público regular a oferta dos serviços públicos
equitativamente a todas as classes sociais.
Mas cabe ao Poder Público executar ações de efeito em longo prazo e a Sociedade
Civil monitorar e fiscalizar a implementação de tais ações.
O uso da metodologia de índices pelo Painel de Sustentabilidade pode reduzir as
distorções entre as escalas territoriais, pois utiliza a prerrogativa de reunir indicadores de
baixa agregação e considerar as conexões com as demais escalas, transformando a área de
abrangência em que foi aplicada. A metodologia é um exemplo a ser reproduzido em outras
dimensões.
Este trabalho faz uso do Painel da Sustentabilidade por considerar as quatro dimensões
da sustentabilidade e entender que o método de apresentação dos dados é mais simples se
comparado com as duas outras metodologias (BENETTI, 2006; VAN BELLEN, 2006).
Van Bellen (2006) analisou comparativamente os 3 (três) métodos de acordo com a
Tabela 1.
Sistema de Análise
Ecological Footprint Barometer of Sustainability
Dashboard of Sustainability
Escopo Ecológico Ecológico, Social Ecológico, Social,
Econômico e Institucional.
Esfera Global, Continental,
Nacional, Regional, Local, Individual, Organizacional.
Global, Continental, Nacional, Regional,
Local
Continental, Nacional, Regional,
Local, Organizacional
Tipologia dos dados
Quantitativo Quantitativo Quantitativo
Nível de agregação
Alto Alto Muito Alto
Participação Top- down Mista Mista Complexidade Elevada Mediana Mediana Apresentação Simples Simples (visual) Simples (visual)
Abertura Reduzida Mediana Mediana
Potencial Educativo
Forte impacto sobre o público-alvo. Pouco impacto
nos tomadores de decisão. Ênfase na dependência dos
recursos naturais
Forte impacto sobre os tomadores de decisão,
pouco impacto no público-alvo. Representação visual
Maior impacto sobre os tomadores de
decisão e no público-alvo.
Representação visual
Tabela 1: Análise comparativa conjunta dos indicadores de sustentabilidade.
Fonte: Adaptado de Benetti (2006).
54
É através da criação e evolução das ferramentas que operacionalizam o
desenvolvimento sustentável que o conceito teórico de sustentabilidade pode se tornar real.
É no uso de um sistema de Índices e Indicadores que o verdadeiro ciclo DS ocorre,
pois desta forma é possível visualizar o objetivo final (a sustentabilidade integrada), fazer uso
de informações em escala espacial e temporal adequada (indicadores), monitorar a tendência
de sustentabilidade das dimensões de forma integral (índices) e assim fornecer aos tomadores
de decisão o subsídio técnico - científico que fomente a criação de políticas públicas e ações
corretivas que suprimam as não conformidades no cerne das suas causas e não nos seus
efeitos.
Entretanto alguns cuidados precisam ser levados em consideração na formulação dos
indicadores. Um deles é a agregação de dados na formulação do indicador ou do índice.
Agregar muitos dados em um indicador muitas vezes é necessário para elevar o grau
de conhecimento a respeito dos problemas ou não conformidades das dimensões analisadas,
contudo também devem fazer parte do método de mensuração da sustentabilidade, dados de
indicadores desagregados, para que possibilitem ações específicas, em áreas específicas do
escopo do sistema.
Isso quer dizer que quanto mais agregado ou agrupado o indicador, mais distante ele
estará dos reais problemas do sistema analisado e, consequentemente, ocorrerão maiores
dificuldades na articulação das medidas e estratégias a situações específicas.
A classificação dos indicadores segue o método de Painel da Sustentabilidade,
bastante estudado por VAN BELLEN (2006), que divide a sustentabilidade em indicadores de
4 (quatro) dimensões clássicas, seguindo a orientação da Comissão de Desenvolvimento
Sustentável das Nações Unidas. São elas:
DIMENSÃO SOCIAL – Indicadores formulados a partir de condições de equidade social,
como saúde, condições sanitárias, segurança, educação, moradia, etc.
DIMENSÃO ECONÔMICA – Indicadores caracterizados pelo desempenho financeiro local,
como comércio, consumo de bens, serviços e energia, renda familiar, etc.
DIMENSÃO AMBIENTAL – Indicadores formulados a partir de características ambientais
que promovam o equilíbrio e a preservação ambiental, como cobertura vegetal, qualidade de
recursos naturais (solo, ar, água, etc.), conservação da fauna, etc.
DIMENSÃO INSTITUCIONAL - Indicadores baseados na ação do poder público na
promoção do desenvolvimento sustentável, implementação e monitoramento do
desenvolvimento sustentável, preparo e resposta a desastres naturais, etc.
55
Entretanto, os pesquisadores que criaram a metodologia do Painel da
Sustentabilidade, generalizaram os indicadores, tornando alguns deles inaplicáveis a
determinados locais ou até mesmo, desconsiderando certas particularidades da escala de
trabalho.
O tipo de abordagem na seleção dos indicadores, também pode funcionar como um
fator limitante em sua formulação. Existem dois tipos de abordagem, a top-down10
e bottom-
up11.
10
Top-down - Pesquisadores definem o sistema e o grupo de indicadores, que serão utilizados pelos tomadores de decisão, no caso o poder público e a sociedade, podendo ainda optar por adaptar as determinações dos pesquisadores às condições locais, mas não tem autonomia para alterar nada. A vantagem desse tipo de abordagem é a proximidade de validação científica e homogênea em termos de indicadores. A desvantagem é a nulidade do contato com as prioridades da comunidade.
11 Bottom-up - As escolhas são realizadas de forma participativa com a comunidade, líderes comunitários e representantes do
poder público, consolidando as decisões finais em consultas aos especialistas. O uso dessa abordagem é comum em escalas regionais e locais, pois envolve a comunidade como fonte primária na identificação de suas prioridades. A desvantagem é a limitação do foco na sustentabilidade, pois existe a possibilidade latente na priorização de aspectos emergenciais ou de curto prazo, levando a omissão de diretrizes cruciais para os demais aspectos da sustentabilidade.
56
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O trabalho foi desenvolvido na bacia hidrográfica do rio Cuiá no litoral Sul de João
Pessoa (ver figura 14) e esta área foi selecionada por conter limites geográficos bem definidos
e facilmente identificados e ainda por apresentar importância estratégica para diversas
relações sociais e econômicas da cidade de João Pessoa e relevância na conservação de
ecossistemas costeiros.
Foram identificados e em seguida selecionados, de acordo com as possibilidades técnicas
de pesquisa, grupos de indicadores gerais que podem ser subdivididos em indicadores
específicos, de acordo com as características relevantes da bacia hidrográfica estudada.
Os indicadores biofísicos identificados pelo IBGE foram:
I – CLIMA
a. Erosividade pluviométrica.
b. Balanço Hídrico da BH.
c. Regime de chuvas.
II – PEDOLOGIA e GEOLOGIA
a. Características físicas e químicas dos solos (densidade de drenagem, nutrientes,
granulometria, taxa de escoamento e infiltração).
b. Suscetibilidade à erosão associada às características de declividade.
c. Características de relevo.
III - VEGETAÇÃO
a. Grau de semelhança entre a cobertura vegetal atual e cobertura vegetal original ou
nativa da BH.
b. Grau de proteção da cobertura vegetal fornecida ao solo.
IV – BIODIVERSIDADE ANIMAL
a. Variedade de espécies nos ecossistemas presentes na BH.
Cada um desses indicadores ambientais possui extrema relevância em uma bacia
hidrográfica, tendo em vista a inter-relação entre eles.
Como exemplo, o tipo e a qualidade da cobertura vegetal e o tipo de relevo irão ter efeitos
diretos na taxa de erosão, nas características pedológicas (porosidade, permeabilidade,
umidade e fertilidade), no regime de escoamento e infiltração, que por sua vez irá alterar o
balanço hídrico, como uma reação em cadeia dentro da BH.
[...] Quanto mais difícil a infiltração da água, maior o
escoamento superficial, o que consequentemente levará
57
a maior esculturação dos canais. Isso pode explicar a
relação entre densidade de drenagem e sua influência no
potencial erosivo de uma bacia hidrográfica. [...]
(BELTRAME 1994, página 15).
Contudo, a manutenção ou a preservação das características ambientais, não garante o
atendimento às prerrogativas atuais da sustentabilidade, ou seja, o Diagnóstico Físico
Conservacionista (DFC) ou das características biofísicas, é altamente influenciado por fatores
antrópicos, que precisam ser diagnosticados a avaliados igualitariamente através do
Diagnóstico Socioeconômico (DSE) da bacia hidrográfica.
Sendo assim, foram identificados grupos de indicadores Socioeconômicos relevantes
na bacia hidrográfica descritos pelo IBGE.
São eles:
I – SERVIÇOS ESSENCIAIS
a. Acesso a educação.
b. Serviços de Saúde.
c. Disponibilidade de Transporte.
d. Disposição de resíduos e efluentes.
e. Acesso à água potável e energia elétrica.
f. Estruturas de moradia.
II – IMPACTOS ANTRÓPICOS
a. Densidade Populacional.
b. Usuários e Fontes poluidoras.
c. Uso e manejo dos recursos naturais (solo e água).
III – RECURSOS ESTRUTURAIS
a. Empregabilidade.
b. Desenvolvimento do comércio.
c. Telefonia e acesso a internet.
d. Estruturas de lazer.
e. Associações de bairro.
As mesmas interrelações entre os indicadores do DFC, são semelhantes aos indicadores
do DSE.
Por exemplo, quanto maior a magnitude dos indicadores de Impactos Antrópicos, oriundo
do crescimento dos Recursos Estruturais, maior é a necessidade do desenvolvimento da
qualidade e quantidade dos Recursos Essenciais. Consequentemente, quanto maior a sua
disponibilidade, maior é a necessidade de ajustes no uso dos recursos naturais renováveis ou
58
não presentes na bacia hidrográfica, modificando a relação existente entre os aspectos
biofísicos e o Desenvolvimento Sócio – Econômico.
Dentre os indicadores descritos pelo IBGE, este trabalho selecionou alguns (que serão
descritos posteriormente), relacionando parâmetros de mensuração aos seus respectivos
indicadores.
A pesquisa foi realizada seguindo as seguintes etapas:
• Levantamento bibliográfico sobre o tema proposto em livros, revistas, periódicos,
internet, junto à Superintendência de Administração de Meio Ambiente
(SUDEMA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Prefeitura
Municipal de João Pessoa e também por meio do cadastro de empreendimentos
imobiliários e turísticos da área, a fim de conhecer as atividades ali existentes, bem
como as características dos impactos ambientais gerados nessas áreas, e a Agenda
21 local.
• Determinação da escala local, como ponto de partida para a avaliação da
sustentabilidade.
A escolha da escala local para a avaliação da sustentabilidade foi feita de forma a
facilitar a incorporação e aplicação da metodologia do Painel da Sustentabilidade,
proposta por esse trabalho, ou seja, a escala definida para o trabalho foi uma bacia
hidrográfica urbana com limites territoriais definidos dentro da cidade de João
Pessoa, para que a consulta de documentações oficiais ficasse concentrada em
poucos órgãos governamentais.
• A escolha do sistema de análise da sustentabilidade da bacia do Cuiá foi feita
mediante a comparação entre as três principais metodologias reconhecidas
internacionalmente e optando por aquela que incorporasse melhor em seu escopo
as características identificadas na área de estudo.
O painel da sustentabilidade atende a essa expectativa por conter em seu escopo a
prerrogativa sistêmica de considerar as dimensões ambiental, social, econômica e
institucional.
• Identificação e caracterização da área de estudo, que têm por finalidade conhecer
“in loco” as principais características do local (vegetação, uso do solo, qualidade
dos recursos hídricos, ocupação urbana, oferta de serviços públicos, etc), fazendo
uso de questionários e visitas ao local, de modo a fornecer subsídios para a escolha
do método de gestão e planejamento a ser aplicado. A estrutura para a avaliação de
59
escolha do método de planejamento é baseada na forma de Pressão – Estado –
Resposta, havendo a necessidade da verificação dos Indicadores de Pressão,
Indicadores de Estado e Indicadores de Resposta à que a área está submetida e
dessa forma, atendendo as principais características de confiabilidade, facilidade
de entendimento, mensuração e relevância para posteriores ações políticas.
• Coleta e análise de dados primários. A coleta dos dados primários em campo, na
aplicação de questionários e em gabinete está é a etapa de comparação que
forneceu parâmetros quantitativos e qualitativos das principais características
ambientais, econômicas e sociais e que posteriormente irão compor os indicadores
de sustentabilidade.
Esses dados primários são obtidos após a avaliação dos dados bibliográficos,
passiveis de mensuração e fatores aplicáveis a área de estudo.
A aplicação dos questionários semiestruturados e entrevistas foram realizadas em
todos os bairros que compõem a bacia do Cuiá, ao todo 21 bairros (Apêndice 2) e
aplicados 100 questionários por bairro, totalizando 2100 domicílios visitados no
período de dezembro de 2009 e Janeiro, Fevereiro e Março de 2010. O universo
amostral da pesquisa foi determinado aleatoriamente, devido a impossibilidade na
obtenção de informações junto aos órgãos públicos sobre dados populacionais da
região.
• Realização de monitoramento da qualidade físico – química e microbiológica da
água em seis estações ou pontos de coleta ao longo do rio pelo período de 10
meses, de setembro de 2009 a junho de 2010.
As metodologias utilizadas estão descritas na Tabela 2. Foram escolhidos esses
seis parâmetros de análise de água considerando-se três aspectos.
O primeiro é que existe a exigência de monitoramento desses parâmetros pelos
órgãos fiscalizadores.
Segundo, existe uma relação técnica entre esses parâmetros que reforçam a
interpretação e confiabilidade analítica entre eles e foram escolhidos por
representarem uma íntima relação entre si e as características ambientais.
E terceiro esses foram os parâmetros que a viabilidade e disponibilidade financeira
da pesquisa permitiu realizar durante toda a fase de coleta de dados para o
monitoramento da qualidade da água, pelo período de dez meses.
60
Parâmetros analisados
Metodologia utilizada Metodologia
Coliformes Fecais Contagem de UFC em placas por membrana filtrante Standard Methods
Oxigênio Dissolvido Medição direta em oxímetro de campo Standard Methods
Condutividade Medição direta em condutivímetro de campo Standard Methods
pH Medição direta em pHmetro de campo Standard Methods
DBO Medição da depleção do OD por oxímetro Standard Methods
DQO Espectrofotometria de UV- VIS Standard Methods
Tabela 2: Parâmetros de monitoramento da água e seus métodos.
Fonte: Autor.
Os pontos foram estrategicamente escolhidos de forma a avaliar as características
do rio desde sua nascente até sua desembocadura, assim é possível acompanhar as
variações da qualidade da água do rio em locais que tenha relevância para
manutenção de sua qualidade. Essa forma de coleta possibilita contrapor os dados
oficiais pelas agências de controle ambiental do Estado e do Município.
A localização dos pontos de monitoramento da SUDEMA e da CAGEPA são:
Tabela 3: Pontos de coleta da SUDEMA e da CAGEPA na bacia do Cuiá.
Fonte: Autor
ÓRGÃOS SUDEMA CAGEPA
Ponto de Coleta
CA 01 - 05 metros à Jusante da Ponte de acesso ao Conjunto Ernesto Geisel
P 01 - 50 metros à montante do lançamento do efluente doméstico
tratado pela ETE
Ponto de Coleta
CA 02 - 05 metros à jusante da ponte que interliga Mangabeira ao Valentina
P 02 - 50 metros à jusante do lançamento do efluente doméstico
tratado pela ETE Ponto de Coleta
CA 03 - 2000 metros à montante da desembocadura no Oc. Atlântico
-
Ponto de Coleta
CA 04 - 50 metros à montante da desembocadura no Oc. Atlântico (Praia
do Arraial) -
Ponto de Coleta
LA 01 – 05 metros à montante da ponte que interliga Mangabeira a BR 230
-
61
A Figura 13 mostra os pontos de coleta para monitoramento da qualidade da água pela
SUDEMA, os pontos de Coleta da CAGEPA e da PMJP e os pontos de coleta da pesquisa.
LEGENDA:
Figura 13 – Localização dos Pontos de Coleta da SUDEMA, CAGEPA/PMJP e da Pesquisa.
Fonte: Modificado da PMJP/SEMAM/DIEP 2009.
• Identificação e atribuição de Indicadores e do Índice de Sustentabilidade. Nessa
etapa de identificação dos Indicadores, foi feita uma avaliação multicriterial e
multidisciplinar dos dados primários levantados na etapa anterior. Essa avaliação
forneceu especificações mensuráveis, caracterizadas pelos Indicadores de
Sustentabilidade. A escolha dos indicadores foi feita de acordo com a
característica significativa em relação à sustentabilidade local, reprodutibilidade
das medições, mensurabilidade e enfoque integrado.
Dimensão Ambiental da bacia do Cuiá
• Cobertura Vegetal – Este indicador relaciona três parâmetros diretamente
proporcionais e que o resultado de sua avaliação abrange o estado da vegetação
presente na bacia. A relação entre Área Degradada, Área de Preservação e Zona
Urbanizada indica que o crescimento desordenado da Zona Urbanizada ou o aumento
da Área degradada, incidirá na redução da Área de Preservação. Esses parâmetros
foram mensurados mediante a visualização de mapas temáticos da área (SILVA, 2007)
292000
294000
296000
298000
300000
9208000
9206000
9204000
9202000
Pontos de Coleta SUDEMA Pontos de Coleta CAGEPA/PMJP Pontos de Coleta da Pesquisa
62
(PMJP/SEMAN/DIEP,2009), que quantificaram os percentuais da vegetação de
acordo com o Uso do Solo como área urbanizada, plantio de culturas, áreas loteadas,
etc.
A pontuação deste item foi dada pelo percentual da área preservada em relação à área
total da bacia, fazendo uso dos mapas temáticos de uso e ocupação do solo, então o
percentual encontrado representou a nota dada para este indicador.
• Qualidade da água do rio – Este indicador relacionou os parâmetros de qualidade
físico-química e microbiológica da água selecionando pontos estratégicos do rio é
utilizando os mesmos parâmetros analíticos dos órgãos fiscalizadores do Estado da
Paraíba e do Município de João Pessoa. Os resultados encontrados são confrontados
com as exigências do CONAMA 357, para águas doces da classe três, avaliando desta
forma, o desempenho ou o nível de agressões a que o rio está submetido.
A pontuação deste item foi dada pelo percentual de todos os parâmetros de todos os
pontos analisados que não atendem as especificações da resolução CONAMA 357,
então o percentual encontrado representou a nota dada para este indicador.
Dimensão Institucional da bacia do Cuiá
• Implementação e Monitoramento do Desenvolvimento Sustentável – Este
indicador relaciona o parâmetros de desenvolvimento, divulgação, planejamento e
implementação de programas institucionais e ferramentas públicas de gestão local para
alcançar o Desenvolvimento Sustentável em sua concepção de equilíbrio igualitário
entre todas as dimensões da Sustentabilidade.
A pontuação deste item foi feita através da verificação das evidências de
funcionamento e eficiência dos programas institucionais promovidos pelos órgãos
públicos do Município e do Estado. Ou seja, a pontuação é proveniente pelo
percentual entre os itens exigidos pelo IBGE pelos itens que não foram implementados
na bacia.
• Monitoramento de Áreas de Preservação Permanente – Este indicador verifica o
nível de ações preventivas efetivas para o monitoramento das APP, cabendo ao poder
público monitorar e punir os que descumprem as determinações legais. Foram
verificados os parâmetros de Ações Preventivas Registradas nas Secretárias de Meio
Ambiente do Estado e do Município e o histórico de punições aos infratores.
A pontuação deste item foi feita pelo percentual de programas institucionais
promovidos para o monitoramento ambiental pelos programas exigidos pelo IBGE.
63
• Preparo e Resposta a Desastres Naturais – Este indicador institucional relaciona a
capacidade do Poder Público em anteceder problemas de riscos ambientais a que a
população está submetida e intervir positivamente junto a população em caso de
desastres naturais. Os parâmetros avaliados para composição deste indicador foram de
encontrar a evidência nas agências governamentais um Programa de Prevenção a
Riscos Ambientais, Ferramenta de Divulgação de Procedimento Emergencial para
Remoção de Pessoas em Locais de Risco Ambiental e Plano Emergencial de
Recuperação de Desastres Naturais.
Ou seja, a pontuação é proveniente da comparação entre percentuais dos itens exigidos
pelo IBGE pelos itens que não foram implementados na bacia.
• Planejamento e Acesso a Informações – Este indicador é caracterizado pelo
planejamento e divulgação de metas e ações a serem concretizadas pelo poder público.
Único parâmetro passível de mensuração, foi a implementação do Orçamento
Democrático, pela PMJP e as ações da ONG Salve o Cuiá. Ou seja, a pontuação é
proveniente da comparação entre os percentuais dos itens exigidos pelo IBGE pelos
itens que não foram implementados na bacia.
Dimensão Social da bacia do Cuiá
• Estimativa de Densidade Populacional – Neste indicador a estimativa populacional
está diretamente relacionada à exigência da oferta e qualidade dos serviços essenciais,
também está relacionado com a melhor distribuição de moradias de acordo com a área
disponível. Foi verificado de acordo com o levantamento da malha urbana feito pela
da PMJP. Este parâmetro é caracterizado pela estimativa de aglomeração populacional
no bairro, este não é um parâmetro de quantificação, apenas estimado, mediante o
levantamento do número de habitações, áreas loteadas e demais características do uso
do solo. Neste trabalho foi classificado como Alta Densidade Populacional, Média
Densidade Populacional e Baixa Densidade Populacional.
A pontuação deste item foi dada considerando o percentual de alta densidade
populacional.
• Qualidade de Serviços Essenciais – Este indicador trata da avaliação que os atores
sociais (os usurários ou moradores da bacia) fazem dos serviços essenciais ofertados
pelo poder público ou por empresas privadas que possuem concessões de oferta. Foi
avaliada a qualidade do transporte coletivo, qualidade no fornecimento da energia
elétrica, qualidade no fornecimento da água potável, qualidade do ensino nas escolas
64
públicas, sensação de insegurança, qualidade do atendimento médico nos postos de
saúde, saneamento básico e limpeza urbana. Este parâmetro é caracterizado pela
qualidade e quantidade da oferta dos serviços essenciais oferecidos à população, em
geral, englobam a oferta de serviços de empresas públicas ou serviços essenciais com
concessão às empresas privadas. Foram observados fatores de promoção da saúde
(postos de saúde, saneamento básico, fornecimento de água potável, coleta de lixo) e
segurança pública, acesso a educação, malha de transporte coletivo, rede de energia
elétrica e telecomunicações. A qualidade desses serviços foi classificada como
Satisfatória, Moderadamente Satisfatória e Insatisfatória, de acordo com o identificado
em entrevistas de campo (Apêndice 2 – Questionário de Avaliação Socioeconômica).
A pontuação deste item foi feita de acordo com o percentual de avaliação dos usuários
que responderam ao questionário de Avaliação Socioeconômica considerando a
qualidade do serviço como Insatisfatória.
Dimensão Econômica da bacia do Cuiá
• Desenvolvimento do Comércio – Este indicador avaliou se a diversidade do comércio
local dentro dos bairros atende as necessidades de seus moradores, ou se eles precisam
se deslocar para outros bairros ou regiões da cidade para encontrar o produto que
precisam. Este indicador foi mensurado utilizando como parâmetro a opinião dos
moradores captada nas entrevistas. Este parâmetro é caracterizado pela diversidade e
qualidade do comércio presente nos bairros (farmácias, mercados, lojas de serviços,
lojas de departamentos, serviços de alimentação, etc). O comércio dos bairros foi
classificado neste trabalho como Altamente Desenvolvido, Medianamente
Desenvolvido e Pouco Desenvolvido (Apêndice 2 – Questionário de Avaliação
Socioeconômica).
A pontuação deste item foi feita de acordo com o percentual de avaliação dos usuários
que responderam ao questionário de Avaliação Socioeconômica considerando a
qualidade do serviço como Insatisfatória Pouco Desenvolvido.
• Consumo de Serviços – Este indicador econômico utilizou como parâmetro o acesso
e o uso de serviços não essenciais, mas de relativa importância para a sociedade.
Como o uso de serviços de internet, TV por assinatura e planos de saúde. Este
indicador está intimamente relacionado com o indicador de Classes Sociais.
Neste item a pontuação foi dada pelo percentual de entrevistados que fazem uso desses
serviços em relação ao total de entrevistados.
65
• Classes Sociais – Distribuição das Classes Sociais presentes em toda a bacia. Neste
indicador é contabilizada qual a representatividade das classes sociais encontradas na
bacia hidrográfica do Cuiá. Consequentemente, quanto maior o número de pessoas
com maior poder aquisitivo, maior será o consumo de recursos, energia, etc. Este
indicador foi obtido, utilizando o parâmetro de renda mensal familiar informado pelos
entrevistados. Esse parâmetro é caracterizado pela variedade das classes sociais
presentes nos bairros que compõem a bacia do Cuiá, decorrente da renda mensal
familiar (Apêndice 2 – Questionário de Avaliação Socioeconômica). Sendo
classificado de acordo com o quadro abaixo:
Classe Renda Mensal Familiar Classe Renda Mensal Familiar
A1 ≥R$ 14.400 C1 ≥ R$ 1.400
A2 ≥ R$ 8.100 C2 ≥ R$ 950
B1 ≥ R$ 4.600 D ≥ R$ 600
B2 ≥ R$ 2.300 E ≤ R$ 400
Quadro 4 – Distribuição de Classes Sociais.
Fonte: Consultoria Target
Neste item a pontuação foi dada pelo percentual médio das pessoas que se encontram
na faixa de renda mensal familiar nas classes C1, C2, D e E, que são as classes que possuem
renda mensal inferior a R$1.987,00, que segundo o DIEESE é o valor ideal de rendimentos
para suprir as necessidades básicas de uma família brasileira de até 3 pessoas.
O apêndice 1 apresenta o resumo das informações de caracterização socioeconômica
por bairro.
Os indicadores de todas as dimensões são compostos por parâmetros específicos
encontrados na bacia hidrográfica do Cuiá. Cada parâmetro é avaliado quanto o seu
desempenho ou impacto em relação à avaliação dos atores sociais envolvidos ou ao
atendimento das diretrizes legais estabelecidas por leis federais, estaduais ou municipais.
De acordo com os resultados obtidos na Avaliação dos Parâmetros físico-químicos e
microbiológicos da água do rio Cuiá, na Avaliação socioeconômica da bacia hidrográfica do
rio Cuiá e nas informações coletadas na Caracterização geral da bacia (características de
cobertura vegetal, uso e ocupação do solo, malha urbana, etc.) é possível determinar quais os
indicadores são aplicáveis à área de estudo e em seguida avaliar o desempenho de cada um
deles, utilizando o sistema de pontuação descrito na metodologia do trabalho.
66
Neste trabalho, a pesquisa de campo para o levantamento de dados de caracterização
da bacia, possibilitou fazer um recorte dos indicadores aplicáveis e relevantes na mesma,
levantando apenas fatores dentro das quatro dimensões da sustentabilidade encontrados na
área de estudo. Os indicadores da bacia estão descritos nos Quadros 5 e 6.
Quadro 5 – Indicadores e Parâmetros de Sustentabilidade aplicados à bacia do Cuiá.
DIMENSÕES INDICADORES PARÂMETROS
Ambiental Cobertura Vegetal
Área Degradada Área de Preservação
Zona Urbanizada Uso do Solo
Qualidade do rio Qualidade Físico – Química Qualidade Microbiológica
Institucional
Implementação e Monitoramento do Desenvolvimento Sustentável
Programas Públicos de Preservação Ambiental e Planejamento Urbano na área da bacia
Programas de Desenvolvimento Social em Comunidades Subnormais
Monitoramento de Áreas de Preservação Permanente
Histórico de Punições e Ações Preventivas Registradas
Preparo e Resposta a Desastres Naturais
Programa de Prevenção a Riscos Ambientais Divulgação de Procedimento Emergencial para
Remoção de Pessoas em Locais de Risco Ambiental
Plano Emergencial de Recuperação de Desastres Naturais
Planejamento e Acesso a Informações
Orçamento Democrático/ Ações da ONG
Fonte: Autor
Quadro 6 – Indicadores e Parâmetros de Sustentabilidade aplicados à bacia do Cuiá.
DIMENSÕES INDICADORES PARÂMETROS
Social
Estimativa de Densidade Populacional
Densidade da Malha Urbana
Qualidade de Serviços Essenciais
Avaliação dos Cidadãos Quanto a Qualidade Transporte Coletivos
Qualidade no Fornecimento da Água Potável Qualidade do Ensino nas Escolas Públicas
Sensação de Insegurança Qualidade do Atendimento Médico nos Postos de
Saúde Qualidade da Limpeza Urbana
Qualidade Saneamento Básico (rede de esgotos)
Econômica
Desenvolvimento do Comércio Diversidade do Comércio Local
Consumo de Serviços Internet
TV por Assinatura Planos de Saúde
Classes Sociais Renda Mensal Familiar Fonte: Autor
Quanto pior o seu desempenho, menor será sua nota, essa nota será representada por uma
cor, no caso da menor nota a cor é vermelha escura, é justamente esse parâmetro de nota mais
67
baixa que as ações corretivas precisam ser concentradas para que sejam sanadas as não
conformidades do indicador.
Se o indicador apresentar uma melhor condição, ele será representado por outra
cor e assim sucessivamente. Essa relação de pontuação com a escala de cores está
descrita na metodologia do trabalho.
• A união dos vários indicadores de sustentabilidade ambiental, social e econômica
forneceu o Índice de Sustentabilidade específico da área estudada, sem que ocorra
o isolamento com as demais áreas de abrangência da bacia, respeitando quatro
critérios gerais: relevância para ações políticas, utilidade para usuários,
fundamentação técnica e facilidade de medição.
• Para cada dimensão da sustentabilidade foi atribuído um peso igual12, (tendo em
vista, não haver consenso dos pesquisadores quanto às atribuições de pesos para os
indicadores) de acordo com o número de indicadores identificados na área de
estudo, dessa forma foi possível qualificar a tendência de sustentabilidade do local
de acordo com a pontuação multicriterial, onde 100 é excelente (valor máximo) e 0
é o Estado Crítico (valor mínimo) e sua tendência é dada pela fórmula 100*(X-
pior)/(melhor- pior), onde X é o valor atribuído pelo IBGE ao IDSM13 no Estado
da Paraíba, pior é o menor valor constante e melhor é o maior valor constante;
• Criação do Painel de Sustentabilidade. Após obter os resultados quantitativos da
avaliação de desempenho dos indicadores foi criada uma relação entre esses
valores e um gradiente de cores que vai do verde escuro, que representa a maior
nota, ao vermelho escuro, que representa a menor nota de acordo com a Tabela 4:
12 A atribuição de pesos iguais entre as dimensões da sustentabilidade segue a metodologia do Painel da
Sustentabilidade descrito por Van Bellen, 2006. 13 Índice de Desenvolvimento Sustentável para Municípios, no caso do Estado da Paraíba, o valor atribuído é 19.
68
Intervalo de Pontuação Gradiente de Cores Intervalo de Pontuação Gradiente de Cores
0 - 10
51 - 60
11 - 20
61 - 70
21 - 30
71 - 80
31 - 40
81 - 90
41 - 50
91 – 100
Tabela 4: Relação entre pontuação e gradiente de cores.
Fonte: Modificado de Van Bellen (2006).
Essa relação entre as cores e o intervalo de pontuação foi processada da seguinte forma:
seguindo a premissa do método para o uso de pesos iguais para as dimensões, foram
estipuladas quatro faixas de cores para a zona crítica, quatro faixas para a zona ótima e duas
faixas para a zona intermediária, dessa forma os intervalos entre cada cor são equipolentes,
obedecendo ao valor de 10 pontos para cada faixa de cor.
• Ao concluir a relação numérica com as cores que caracterizam o desempenho de
cada indicador em suas respectivas dimensões foi confeccionada a primeira parte
do painel da sustentabilidade, onde a apresentação visual do desempenho dos
indicadores é de fácil entendimento.
• Para qualificar o índice que caracteriza a tendência da sustentabilidade local
através do painel da sustentabilidade foi feita uma operação de média aritmética
entre as dimensões da sustentabilidade analisadas, a qual forneceu um valor
numérico, que foi relacionado com a escala de cores. A cor identificada após essa
relação foi identificada como representação da Tendência de Sustentabilidade
Local, confeccionando - se a segunda parte do Painel de Sustentabilidade.
69
• Desenvolvimento do método de avaliação da Sustentabilidade integrada. Nesta
fase foram consideradas as particularidades e especificidades da área de estudo,
como recursos hídricos, características de conservação da fauna e flora,
urbanização, desmatamento e outros indicadores de sustentabilidade ambiental,
equidade social e desenvolvimento econômico da área, sendo assim, de acordo
com a identificação e caracterização, foi possível representar o método para
atender os objetivos traçados no trabalho.
• Ao determinar-se a tendência de sustentabilidade pela elaboração do Índice de
Sustentabilidade Local, ações mitigadoras de conservação, manejo e uso do solo,
planejamento urbano e melhorias dos serviços públicos oferecidos pelas
instituições poderão ser formulados.
• Formulação de diretrizes. Identificados os Índices de Sustentabilidade da bacia do
rio Cuiá, foi possível formular diretrizes de controle e monitoramento de
sustentabilidade da área e ainda fornecer ao poder público e a comunidade,
subsídios e fundamentação científica para a manutenção do Desenvolvimento
Sustentável, respeitando as quatro dimensões temáticas da Sustentabilidade
(Dimensão Social, Ambiental, Institucional e Econômica) e ainda garantir o
planejamento do desenvolvimento local, observados os aspectos legais e
institucionais do uso e manejo dos recursos naturais presentes na bacia.
70
4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A bacia hidrográfica do rio Cuiá está localizada na Mesorregião do Litoral Paraibano e na
Microrregião de João Pessoa, no Município de João Pessoa, na parte sul do litoral Paraibano,
entre as coordenadas (UTM) de 9.210.000 mN / 302.000 mE e 9200.00 mN / 292.000 mE
(Figura 14).
O clima local é do tipo tropical úmido com pluviosidade média anual de 2.000mm, e
temperatura média apresentando um gradiente entre 26 e 27ºC.
A área esta sob a influência dos ventos de sudoeste e as massas de ar mais características
que podem ser identificadas na bacia são:
Sistema do Norte, representado pela zona de Convergência Intertropical, o sistema do Sul,
representado pelas Frentes Polar Atlântica e Massa Polar Atlântica e o sistema do Leste, que
são a Massa Equatorial Atlântica e Alísios e o sistema do Oeste, representados pelas massas
equatorial continental e pelas linhas de instabilidade Tropical (Memorial Descritivo das
Intervenções Propostas para as Áreas das Comunidades Situadas nos Trechos do Alto e
Médio Curso do Rio, 2009).
A principal nascente do rio Cuiá está localizada no conjunto habitacional do Grotão
desaguando na planície costeira da Praia do Sol.
Um dos principais afluentes do rio Cuiá é o riacho Laranjeiras localizado na sua margem
esquerda e o riacho Buracão localizado na sua margem direita. Além desses riachos há um
grande número de córregos e ressurgências naturais que garantem a sua perenização,
mantendo uma vazão regular durante o ano todo.
Ao longo de seu percurso de aproximadamente 10 km, o mesmo segue o sentido
Oeste/Leste, até desaguar no Oceano Atlântico na Praia do Sol onde se forma um ecossistema
estuarino-lagunar.
A principal nascente do rio está localizada nas encostas dos rebordos dos tabuleiros
sedimentares costeiros no setor sul de João Pessoa, onde existem instalados diversos bairros.
71
Figura 14 – Localização da Área de Estudo.
Fonte: Carta topográfica N.S. da Penha (escala original, 1:25.00) e imagem Google Earth, disponível em 20/04/09.
72
Por estar totalmente inserida no meio urbano e permeada por bairros altamente
populosos (Figura 15). A bacia do rio Cuiá, apresenta características ambientais e
paisagísticas profundamente alteradas como fator agravante, a própria expansão dos conjuntos
habitacionais após os anos 70, que se intensificou nos anos 80 e 90 e mais recentemente a
aprovação de inúmeros loteamentos, consolidou as alterações da sua fisionomia.
LEGENDA:
Figura 15 – bacia Hidrográfica do Rio Cuiá apresentando a Malha Urbana e o sistema de
drenagem.
Fonte: PMJP/SEMAM/DIEP 2009.
Uma dessas alterações é a qualidade da água do rio, que desde sua nascente até a sua
desembocadura sofre continuamente os efeitos do desmatamento e do lançamento clandestino
de efluentes domésticos.
A SUDEMA, órgão ambiental responsável pelo monitoramento das características
físico-químicas e microbiológicas dos recursos hídricos do Estado e também os demais
diretrizes ambientais (cobertura vegetal, por exemplo), monitora mensalmente alguns
parâmetros exigidos pelo CONAMA 357, em 6 (seis) estações de coleta ao longo do rio para
Malha Urbana. Rede de Drenagem.
292000
294000
296000
298000
300000
9208000
9206000
9204000
9202000
73
caracterizar, segundo o monitoramento do órgão fiscalizador, a qualidade da água ao longo de
seu curso, pois existem dados conflitantes quanto aos resultados das análises laboratoriais
entre os órgãos que monitoram a qualidade do rio e a sua realidade encontrada.
Segundo o Conselho de Politica Ambiental do Estado da Paraíba, o rio Cuiá está
classificado como sendo de ÁGUA DOCE, CLASSE 3, ou seja são águas destinadas a:
• Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado.
• A irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras.
• A pesca amadora.
• A recreação de contato secundário.
• A dessedentação de animais.
Juntamente com as alterações de ordem hídrica, ocorreram modificações nas
características qualitativas da vegetação, que foram descritas por Melo (2001), pois foram
introduzidas espécies exóticas, não naturais da mata atlântica na região do litoral, como o
Sábia (Turdus rufiventris), o Ficus (Ficus benjamina), a Aroeira (Schinus terebinthifolius) etc.
Consequentemente houve modificações também na área ocupada pelos diferentes tipos
de vegetação, devido aos tensores antrópicos e como dito anteriormente, a expansão
imobiliária foi um dos fatores que mais contribuiu para a consolidação dessas alterações.
Os principais tipos de vegetação existentes na bacia, são listados no Quadro 7.
Tipo de Vegetação Características da Vegetação
Capoeira de mata Formações vegetais secundárias decorrentes do desmatamento com
árvores menos que 10m.
Formações arbustivas
Revestimento de gramíneas e vegetação de médio a pequeno porte.
Vegetação herbácea
Gramíneas e com arbustos de menos porte, ocorrendo nas áreas alagadiças das planícies de inundação.
Mangues Áreas alagadas de influência marinha, ou seja, regiões alagadiças e
pantanosa, sujeitas ao movimento das marés.
Quadro 7 – Caracterização dos Tipos de Vegetação da bacia do Rio Cuiá.
Fonte: Modificado de MELO, 2001.
O que corrobora com os dados do trabalho de Melo (2001) sobre os tipos de vegetação
e o percentual do uso e ocupação do solo na área é o trabalho de Silva (2007), apresentado no
Quadro 8 e na Figura 16.
74
Extensão em km2do Uso do
Solo Características do Uso de Solo
3,49 Cobertura de culturas, como culturas irrigadas e de ciclo curto.
6,47 Área destinada à expansão de loteamentos ou solos expostos.
15,73 Áreas ocupadas por conjuntos habitacionais e loteamentos.
7,98 Área coberta por gramíneas ou áreas de pastagem, predominantemente
vegetação natural de porte médio a baixo, árvores dispersas e áreas preparadas para plantações.
4,84 Áreas ocupadas por resquícios de Mata Atlântica matas e capoeiras.
1,36 Vegetação de mangue, que é caracterizado pela presença de área úmida
com influência da maré.
Quadro 8 – Uso e Ocupação do Solo da bacia do Rio Cuiá.
Fonte: Modificado de SILVA, 2007.
LEGENDA:
Figura 16: Uso e Ocupação do Solo do Cuiá
Fonte: Adaptado de SILVA, 2007.
A bacia é limitada ao norte com a bacia do Rio Jacarapé, ao sul com bacia do rio
Gramame, a oeste pelo Conjunto habitacional Ernany Sátiro e a leste pelo Oceano Atlântico.
Mangue. Ocupação Urbana. Expansão Urbana.
Mata e Capoeira. Gramínea Herbácea/ Pastagem. Culturas.
75
A bacia do rio Cuiá compreende uma área de aproximadamente 40km2, com altitude média de
5 metros.
De acordo com o estudo realizado pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (Memorial
Descritivo das Intervenções Propostas para as Áreas das Comunidades Situadas nos Trechos
do Alto e Médio Curso do Rio, 2009) é possível identificar 3 (três) compartimentos
geomorfológicos:
• Os Baixos Planaltos Costeiros - tabuleiros com interflúvios planos revestidos por
fragmentos de vegetação muito descaracterizada pela urbanização. Esses locais
encontram - se tomados pela construção e expansão de inúmeros conjuntos
residenciais, por exemplo, Ernesto Geisel, Funcionários I, II, Grotão, João Paulo II,
Valentina e Mangabeira.
• As Encostas - que abrigam em alguns setores, formações vegetais secundárias
remanescentes de porte arbóreo, o relevo desta área é considerado instável e muito
propenso ao processo de erosão eólica e pelo regime de chuvas.
• Planícies Aluviais - esta unidade é bem demarcada, composta por solos mal drenados,
encharcados com a formação de paús e vegetação muito característica de áreas
alagadas.
A geologia geralmente evidenciada na área é caracterizada pela presença exclusiva das
formações sedimentares meso-cenozóicas, identificadas também pelas formações do Grupo
Paraíba/Formação Gramame, representado pelo Calcário e pela Formação Barreiras,
constituída pelos litotipos como arenitos, argilitos e siltitos. Ocorrem também dispersos na
área os sedimentos Quaternários Holocênicos.
Em cada compartimento é identificado uma variedade de tipos de solo que apresentam
características bem definidas quanto a sua composição e a sua tendência à erodibilidade. De
acordo com as Tabelas 5, 6, 7 e 8 é possível observar suas diferenças.
76
Unidade
geomorfológica
Tipo de solo
Características
Tendência à
Erosão
Baixos Planaltos
Costeiros Argissolos
Classe bastante heterogênea, que tem em comum um aumento substancial
no teor de argila com a profundidade. Podem ser muito arenosos ou muito
argilosos.
Intermediária
Litoral Argissolos Vermelho
Amarelos distróficos
Classes acinzentadas com fragipan e com horizonte A proeminente
abrúptico com fragipan Baixa
Tabuleiros Latossolos Vermelho
Amarelos Textura mais arenosa Elevada
Tabela 5 – Caracterização dos solos nos Baixos Planaltos Costeiros.
Fonte: Modificado da PMJP/SEMAM/DIEP 2009
77
Unidade
Geomorfológica
Tipo de solo
Características
Tendência à
Erosão
Superfície e
encostas dos
tabuleiros
costeiros
Associações de
Latossolo Vermelho
Amarelo Distrófico
Textura média fase transição floresta subperenifólia/cerrado relevo plano e fase
cerrado relevo plano. Intermediária
Associações de
Argissolos
Vermelho Amarelos
Textura média fase floresta subperenifólia relevo plano e fase transição floresta
subperenifólia/cerrado relevo plano. Intermediária
Argissolo Vermelho
Amarelo Textura indiscriminada fase cerrado relevo plano. Intermediária
Argissolo Vermelho Textura argilosa fase floresta subcaducufólia relevo plano. Baixa
Argissolo Vermelho
Amarelo
Equivalente
Textura argilosa fase floresta subcaducifólia relevo suave ondulado. Baixa
Neossolos
Quartzarênicos Fase cerrado relevo plano e Aluvial. Intermediária
Tabela 6 – Caracterização dos solos na superfície e encostas dos tabuleiros costeiros.
Fonte: Modificado da PMJP/SEMAM/DIEP 2009.
78
Unidade
geomorfológica
Tipo de solo
Características
Tendência à
Erosão
Planícies
Aluviais
Organossolos com
horizonte hístico (Solos
Orgânicos distróficos e
eutróficos)
Solos hidromórficos, pouco desenvolvidos, essencialmente orgânicos, muito ácidos,
constituídos de resíduos vegetais fibrosos de coloração preta a cinzenta muito escura,
com elevado teor de matéria orgânica, muito mal drenada, encontrada sob condições de
permanente encharcamento e originada de progressivas acumulações de matéria
orgânica proveniente dos vegetais.
Baixa
Organossolos tiomórficos
Organossolos háplicos
Gleissolos sálicos
(Solonchak)
Solos halomórficos e hidromórficos encontrados na orla marítima e na restinga
estuarina, que se desenvolvem sobre sedimentos recentes do Holoceno, nas
áreas baixas influenciadas pelas águas do mar ou salobra, estuários.
Correm na desembocadura do Rio Cuiá. A diminuição da correnteza favorece a
deposição de sedimentos finos de natureza argilo-siltosa, argilo-arenosa, em
mistura com detritos de matéria orgânica, ocorrendo também material mineral
de natureza arenosa.
Elevada
Gleissolos sálicos sódicos
(Solos salinos de mangue)
Gleissolos Tiomórficos
(Solos Tiomórficos
(mangues e paús)
Tabela 7 – Caracterização dos solos das Planícies Aluviais.
Fonte: Modificado da PMJP/SEMAM/DIEP 2009
79
Unidade
geomorfológica
Tipo de solo
Características
Tendência à
Erosão
Planícies
Aluviais
Neossolos
Quartzarênicos
São solos com sequência de horizontes A-C, sem contato lítico dentro de 50 cm de
profundidade, apresentando textura arenosa ou arenosa fina nos horizontes. Elevada
Neossolos Flúvicos
(Solos aluviais,
eutróficos e
distróficos).
São solos derivados de sedimentos aluviais com horizonte A assentando sobre horizonte C
constituído por camadas estratificadas, sem relação pedogenética entre si. Elevada
Espodossolos
húmicos
Solos minerais com horizonte B espódico abaixo do horizonte A ou E ou abaixo de
hístico com menos de 40 cm.
Solos com acúmulo predominante de carbono orgânico e alumínio no horizonte B
espódico.
Intermediária
Ferrihumilúvicos
Solos com acúmulo predominante de compostos de ferro em relação ao alumínio.
Presença apenas de horizonte Bs dentro de 200 cm da superfície do solo, ou de 400
cm de profundidade.
Intermediária
Tabela 8 – Caracterização dos solos das Planícies Aluviais.
Fonte: Modificado da PMJP/SEMAM/DIEP 2009.
80
Estão inseridos nessa bacia os seguintes bairros ou conjuntos habitacionais e ou parte
deles (Figura 17): Mangabeira, Valetina, José Américo, Cuiá, Costa do Sol, Paratibe,
Gramame, Cidade dos Colibris, Jardim Cidade Universitária, Água Fria, Planalto Boa
Esperança, Funcionários I e II, João Paulo II, Barra de Gramame, Grotão, Jardim São Paulo,
Anatólia, Bancários, Monsenhor Magno, Ernesto Geisel.
LEGENDA:
Figura 17 – Bacia Hidrográfica do Rio Cuiá apresentando os limites territoriais dos bairros e o
sistema de drenagem.
Fonte: PMJP/SEMAM/DIEP 2009.
Limites Territoriais dos Bairros. Rede de Drenagem.
Costa do Sol
Barra de Gramame
Mangabeira
Cuiá
Paratibe
Valentina
J. Américo
Monsenhor Magno
Gramame
Geisel
Água Fria Jardim Cidade Universitária
Colibris
Jardim São Paulo/ Bancários/ Anatólia
Funcionários 1 e 2
Grotão
João Paulo II
292000
294000
296000
298000
300000
9208000
9206000
9204000
9202000
81
5. RESULTADOS
5.1.1 Avaliação dos Parâmetros físico-químicos e microbiológicos da Água do rio Cuiá.
Uma das características do meio físico natural, relevante e de alto grau de importância
para avaliação de uma bacia hidrográfica, além da cobertura vegetal, relevo, hidrografia, uso
do solo, etc. é a qualidade dos recursos hídricos.
Existem órgãos fiscalizadores no Estado e no Município, que monitoram a qualidade
das águas dos rios que cruzam as cidades. A Agência Estadual de Águas (AESA), a
Superintendência de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA) e o Comitê Estadual de
Bacias, deveriam monitorar a qualidade de todos os rios considerados estratégicos nas cidades
do Estado da Paraíba, contudo, esses órgãos consideram rios estratégicos, aqueles que
alimentam Estações de Tratamento de Água (ETAS), para fins de abastecimento público de
água potável, ou seja, que funcionam como reservatórios para consumo da água pela
população.
Há pouca preocupação com os rios de bacias urbanas, que possuem outras
características importantes, como por exemplo, servirem de melhoria para a ambiência local,
recebimento de efluentes das Estações de Tratamento de Efluentes e servirem como área de
refúgio para a vida silvestre e até servirem de subsistência de comunidades ribeirinhas.
Mas o que é possível verificar atualmente é que o controle e monitoramento da
qualidade dos recursos hídricos das bacias urbanas, sobretudo da bacia do rio Cuiá, tem ficado
em segundo plano ou até vem sendo realizado, mas sem a confiabilidade adequada para a
preservação das características exigidas por lei.
É possível comprovar estas afirmações tendo em vista o conflito do acompanhamento
das análises físico-químicas e microbiológicas inter – agências de fiscalização. O que acentua
e torna ainda mais confuso esse conflito é se forem comparados os resultados obtidos pelas
agências e os resultados obtidos em visitas de campo.
A Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) analisa trechos alternados do rio,
quando ocorrem denúncias graves de poluição, mas apenas dois pontos são continuamente
monitorados e estão localizados a montante e a jusante do lançamento do efluente da ETE de
Mangabeira.
82
Dentre os 3 (três) órgãos mencionados, existem dois pontos de monitoramento que são
muito próximos (a montante e a jusante do lançamento da ETE de Mangabeira) e deveriam
apresentar resultados de DBO, DQO, pH, OD e microbiologia coerentes entre si e a realidade
ambiental, independente do método analítico adotado para fazer medições.
Por isso, foram definidos neste trabalho seis estações de coleta distribuídas no alto,
médio e baixo curso do rio Cuiá, de forma a dirimir os conflitos existentes nos resultados
oficiais, e ainda apresentar resultados analíticos mais compatíveis com o ambiente da bacia.
A SUDEMA e a CAGEPA apresentam resultados analíticos relativamente razoáveis
para um rio que recebe efluente doméstico tratado, com oxigênio dissolvido suficiente para
manter a vida aquática. Já a PMJP têm resultados muito diferentes dos apresentados pelos
outros órgãos, contudo, mais condizentes com as condições ambientais encontradas no local.
É importante ressaltar que a ETE de Mangabeira recebe o esgoto doméstico dos
bairros Valentina, Geisel e Mangabeira e após o tratamento por Lagoas facultativas e
anaeróbias, o efluente tratado é lançado no rio Cuiá.
É realizado na própria estação o monitoramento físico – químico e microbiológico da
entrada e da saída do efluente, contudo, não existe nenhum método do controle de vazão do
lançamento deste efluente no rio. Sendo assim, se não existe controle da vazão de lançamento,
não é possível garantir que a capacidade de autodepuração do rio não esteja comprometida em
períodos de baixo regime pluviométrico.
Outro ponto de coleta onde o resultado médio de alguns parâmetros analisados é
divergente da realidade é o CA 01, monitorado pela SUDEMA, pois a mais de cinco anos,
segundo informações dos moradores locais, foram feitas ligações clandestinas de esgoto
doméstico nas galerias de esgoto pluvial, levando o esgoto bruto direto para o rio (Figura 18),
mas os resultados divulgados pelo órgão apresentam um rio em condições naturais e normais.
83
Figura 18: Foto Mosaico de lançamento de efluentes no rio Cuiá, nos bairros do Geisel e
Valentina. Fonte: Autor, 2009.
Infelizmente, neste trabalho, somente será possível apresentar os resultados de análises
físico-químicas e microbiológicas da água feitos pela pesquisa, pois não foi autorizado utilizar
os resultados atuais obtidos pelos órgãos fiscalizadores.
Mesmo os resultados do monitoramento da água serem de domínio público, as
informações que foram disponibilizadas para compor este trabalho estão disponíveis na
página da SUDEMA, contudo os dados são do período de 1998 a 2007. Isto pode indicar duas
situações, ou o monitoramento não é realizado há 3 anos ou os resultados podem
comprometer institucionalmente alguma das agências estaduais de controle da água dos rios.
É importante salientar que os parâmetros analisados neste trabalho são os mesmos que
a SUDEMA monitora e a média dos resultados das análises realizadas nos pontos de
amostragem da pesquisa, foram comparados com o Valor Máximo Permitido determinado
pela Resolução CONAMA 357, que classifica o rio Cuiá como um corpo hídrico da classe 3.
Todos os parâmetros escolhidos possuem uma relação analítica entre si e ainda
apresentam indícios diretos e indiretos sobre as condições ambientais e do corpo hídrico.
Por exemplo, a presença de coliformes termotolerantes, (anteriormente conhecidos
como coliformes fecais), indica que a água entrou em contato recente com fezes, que muito
possivelmente sejam oriundas de esgoto doméstico.
Se a presença desses microrganismos é detectada e estimada em grande quantidade, o
Oxigênio Dissolvido poderá ser reduzido a níveis insuficientes para manter a vida aquática
(animais e plantas), consequentemente a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) será
elevada. A presença de esgoto sanitário em corpos hídricos, também pode causar eutrofização
84
da água, que é caracterizada pelos altos teores de nitrogênio e fósforo, causando o
crescimento de algas e dificultando o desenvolvimento de outras espécies de seres vivos.
Como dito anteriormente, as 06 (seis) estações de coleta deste trabalho, foram
escolhidas estrategicamente em locais de relevante importância para a manutenção da
qualidade da água do rio, ou seja, próximo a sua nascente, na confluência do rio com seus 02
(dois) maiores tributários, a montante e a jusante do lançamento contínuo de efluente
doméstico tratado e próximo a sua desembocadura.
Desta forma foi possível constatar que o rio Cuiá sofre agressões desde a sua nascente
até muito próximo da desembocadura no oceano, devido ao lançamento contínuo de esgoto
bruto e tratado, resíduo de pocilgas e vacarias, resíduos sólidos, uso e ocupação de áreas de
preservação, desmatamento etc. E que o rio sobrevive por causa do volume de água
proveniente das chuvas, de vários pontos de ressurgência e de seus inúmeros tributários, que
ajudam na autodepuração de alguns poluentes.
Contudo, as condições do rio estão totalmente fundamentadas em condições
ambientais extremamente instáveis, agravada pela pressão antrópica, falta de fiscalização
efetiva e ações preventivas e corretivas para a preservação, proporcionando elevado risco de
degradação.
Os parâmetros destacados em vermelho indicam que as médias dos resultados
encontrados não atendem as exigências legais do CONAMA (Tabelas 9, 10, 11, 12, 13 e 14).
Ponto de Amostragem: Próximo a Nascente - Bairro Grotão
Parâmetros Analisados Média de Resultados Encontrados (n = 10)
Desvio Padrão
VMP14 da água para Classe 3/ CONAMA 357
Coliformes termotolerantes 2160,00 943,04 2500 UFC/ 100 mL
Oxigênio Dissolvido 2,18 0,74 ≥ 4,00
Condutividade 168,81 14,20 NA
pH 6,72 0,49 6 a 9
DBO 12,28 3,80 ≤ 10,0
DQO 64,33 10,82 NA
Tabela 9: Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a Nascente - Bairro
Grotão.
Fonte: Autor.
14 VMP – Valor Máximo Permitido, segundo a Resolução CONAMA 357.
85
A Figura 19 mostra o ponto de coleta próximo a nascente do rio Cuiá.
Figura 19 – Foto do Ponto de Coleta Próximo a Nascente - Bairro Grotão
Fonte: Autor
Ponto de Amostragem: Próximo a Confluência entre os rios Laranjeiras e Cuiá – Bairros:
Mangabeira – Cuiá – José Américo
Parâmetros Analisados Média de Resultados Encontrados (n = 10)
Desvio Padrão
VMP da água para Classe 3/ CONAMA 357
Coliformes termotolerantes 745,00 514,48 2500 UFC/ 100 mL
Oxigênio Dissolvido 4,88 0,34 ≥ 4,00
Condutividade 160,18 15,41 NA
pH 6,99 0,07 6 a 9
DBO 9,47 1,62 ≤ 10,0
DQO 59,38 9,27 NA
Tabela 10: Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a Confluência
entre os rios Laranjeiras e Cuiá – Bairros: Mangabeira – Cuiá – José Américo.
Fonte: Autor
86
A Figura 20 mostra o ponto de coleta 2 Confluência entre os rios Laranjeiras e Cuiá.
Figura 20 – Foto do Ponto de Coleta Próximo a Confluência entre os rios Laranjeiras e Cuiá –
Bairros: Mangabeira – Cuiá – José Américo.
Fonte: Autor
Ponto de Amostragem: Próximo a Ponte de divisa dos Bairros Valentina e Mangabeira
Parâmetros Analisados Média de Resultados Encontrados (n = 10)
Desvio Padrão
VMP da água para Classe 3/ CONAMA 357
Coliformes termotolerantes 2718,00 666,98 2500 UFC/ 100 mL
Oxigênio Dissolvido 0,22 0,20 ≥ 4,00
Condutividade 266,94 19,07 NA
pH 6,20 0,20 6 a 9
DBO 41,06 11,65 ≤ 10,0
DQO 192,30 35,73 NA
Tabela 11: Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a Ponte de divisa
dos Bairros Valentina e Mangabeira.
Fonte: Autor
87
A Figura 21 mostra o ponto de coleta Próximo a Ponte de divisa dos Bairros Valentina
e Mangabeira.
Figura 21 – Foto do Ponto de Coleta Próximo a Ponte de divisa dos Bairros Valentina e
Mangabeira.
Fonte: Autor
Ponto de Amostragem: Aproximadamente a 50m a jusante do lançamento do efluente
tratado pela ETE de Mangabeira – Bairros: Mangabeira - Valentina
Parâmetros Analisados Média de Resultados Encontrados (n = 10)
Desvio Padrão
VMP da água para Classe 3/CONAMA 357
Coliformes termotolerantes
272,50 47,26 2500 UFC/ 100 mL
Oxigênio Dissolvido 0,53 0,48 ≥ 4,00
Condutividade 391,08 192,31 NA
pH 5,95 0,57 6 a 9
DBO 66,88 11,05 ≤ 10,0
DQO 247,52 43,24 NA
Tabela 12: Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta à Aproximadamente a 50m
a jusante do lançamento do efluente tratado pela ETE de Mangabeira – Bairros: Mangabeira –
Valentina.
Fonte: Autor
88
A Figura 22 mostra o ponto de coleta aproximadamente a 50m a jusante do
lançamento do efluente tratado pela ETE de Mangabeira
Figura 22: Ponto de Coleta à Aproximadamente a 50m a jusante do lançamento do efluente
tratado pela ETE de Mangabeira – Bairros: Mangabeira – Valentina.
Fonte: Autor
Ponto de Amostragem: Próximo a confluência entre o riacho Buracão e rio Cuiá – Bairros:
Costa do Sol – Paratibe – Barra de Gramame
Parâmetros Analisados Média de Resultados Encontrados (n = 10)
Desvio Padrão
VMP da água para Classe 3/ CONAMA 357
Coliformes termotolerantes
35,30 25,83 2500 UFC/ 100 mL
Oxigênio Dissolvido 3,41 0,92 ≥ 4,00
Condutividade 253,73 44,62 NA
pH 6,96 0,21 6 a 9
DBO 17,18 1,31 ≤ 10,0
DQO 68,47 9,08 NA
Tabela 13: Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a confluência
entre o riacho Buracão e rio Cuiá – Bairros: Costa do Sol – Paratibe – Barra de Gramame.
Fonte: Autor
89
A Figura 23 mostra o Ponto de Coleta Próximo a confluência entre o riacho Buracão e
rio Cuiá.
Figura 23: Ponto de Coleta Próximo a confluência entre o riacho Buracão e rio Cuiá –
Bairros: Costa do Sol – Paratibe – Barra de Gramame
Ponto de Amostragem: Próximo a principal desembocadura do rio Cuiá no Oceano
Atlântico.
Fonte: Autor
Parâmetros Analisados Média de Resultados Encontrados (n = 10)
Desvio Padrão
VMP da água para Classe 3/ CONAMA 357
Coliformes termotolerantes
87,4 31,43 2500 UFC/ 100 mL
Oxigênio Dissolvido 4,07 0,28 ≥ 4,00
Condutividade 10470,5 274,28 NA
pH 5,97 0,31 6 a 9
DBO 22,85 5,13 ≤ 10,0
DQO 95,28 17,88 NA
Tabela 14: Média dos Resultados das Análises no Ponto de Coleta Próximo a principal
desembocadura do rio Cuiá no Oceano Atlântico.
Fonte: Autor
90
A Figura 24 mostra o principal desembocadura do rio Cuiá no Oceano Atlântico.
Figura 24: Ponto de Coleta Próximo a principal desembocadura do rio Cuiá no Oceano
Atlântico.
Fonte: Autor
Esses dados de qualidade da água, associados às demais características reunidas neste
trabalho (cobertura vegetal, uso do solo, etc.) fornecem subsídios suficientes para criar e
avaliar o desempenho dos indicadores ambientais da bacia do Cuiá.
5.1.2 Avaliação Socioeconômica da bacia Hidrográfica do rio Cuiá.
A diversidade socioeconômica dos bairros que compõem a bacia hidrográfica do Cuiá
é grande. Como dito anteriormente, esta é uma bacia que apresenta um alto índice de
ocupação urbana, com suas feições naturais alteradas por fatores antrópicos, contudo mantém
um estreito corredor classificado como Área de Preservação Ambiental que sofre constantes
pressões do crescimento urbano.
Por meio de entrevistas, visitas de campo e o estudo de documentos oficiais da
Prefeitura Municipal de João Pessoa, que possui um cadastro de informações sobre a
identidade social e econômica dos bairros, foi possivel levantar informações que caracterizem
de maneira geral os aspectos socioeconômicos dos bairros que constituem a bacia hidrográfica
estudada.
91
Ao observar o Apêndice 1 é possível inferir que dos 21 bairros que constituem a bacia
hidrográfica do Cuiá, em 42,85 %, ou seja, 9 bairros, existe Alto Adensamento Populacional15
e consequentemente as características desse adensamento populacional moldam e reafirmam
de certa forma as características ambientais da bacia hidrográfica em estudo, bem como a
percepção e as características socioeconômicas encontradas em cada bairro e ainda, através
dessas informações foi possível classificar os indicadores relevantes e aplicáveis para atingir
os objetivos deste estudo.
A Figura 25 mostra a Estimativa de Densidade Populacional na bacia do Cuiá.
Figura 25 – Estimativa de densidade populacional.
Fonte: Autor
Os bairros com média16 e baixa17 densidade populacional são caracterizados por serem
mais distantes dos centros comerciais, com pouca oferta de serviços públicos (linhas de
ônibus para transporte coletivo, postos de saúde e escolas, etc.).
Quanto a tendência do comércio localizado na área da BH, está entre o Pouco e o
Medianamente Desenvolvido, ocorrendo devido principalmente as características do
adensamento populacional.
Apenas 3 (Mangabeira, Bancários e Jardim Cidade Universitária) dos 21 bairros
possuem o comércio altamente desenvolvido, pois são considerados com elavada densidade
populacional. São bairros de ligação e transição com outros bairros da cidade e as praias do 15 Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009, do IBGE, acima de 60 habitantes por quilometro quadrado é considerado alto ou elevado adensamento populacional.
16 Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009, do IBGE, é considerado como média ou moderada densidade populacional o intervalo entre 20 e 59 habitantes por quilômetro quadrado.
17 Ainda segundo o PNAD 2009, baixo adensamento populacional é considerado quando há cerca de 19 habitantes por quilômetro quadrado.
92
litoral sul, apresentando variedade de classes sociais, oferta de serviços públicos satisfatória e
abrigando importantes instituições tais como o Departamenteo Estadual de Trânsito
(DETRAN), o Centro Administrativo Municipal, grandes redes de supermercados, mercados
públicos de gêneros alimenticios. Apresentam elevado poder de compra, além de áreas
disponíveis para a construção de edificios comerciais e residenciais.
Os demais bairros apresentam como principal caracterisitca o comércio medianamente
ou pouco desenvolvido. Mesmo muitos deles sendo caracterizados por uma alta taxa de
ocupação e densidade demográfica, como por exemplo os bairros do Valentina, Geisel, etc, o
comércio dessses bairros ainda se encontra em fase de expansão devido ao poder aquisitivo
dos moradores desses bairros, que no período de sua criação eram considerados como bairros
populares de periferia, ou seja, pessoas com menor poder aquisitivo. Entrentanto, com a
evolução do poder de compra de seus moradores, está ocorrendo o desenvolvimento do
comércio nesses bairros.
A Figura 26 mostra a avaliação da população em relação ao desenvolvimento do
comércio local.
Figura 26 – Avaliação de desenvolvimento do comércio.
Fonte: Autor
A avaliação da população dos bairros em relação a qualidade e quantidade da oferta
dos serviços essenciais ofertados é de Moderadamente Satisfatória.
Vale salientar que o percentual das pessoas que consideraram a oferta de serviços
públicos como Satisfatória, estão localizadas nos seis bairros mais populosos e que tem a
presença de classes sociais de maior poder aquisitivo e ainda três deles apresentam o
comércio altamente desenvolvido.
Já o percentual das pessoas que avaliaram a oferta de serviços como moderadamente
satisfatória, apresentam características populacionais intermediárias entre o mais populoso e o
93
menos populoso, tem comércio medianamente desenvolvido e possui uma variedade média de
classes sociais que vai da A2 a D (segundo a classificação de Classes Sociais – Quadro 4)
Os entrevistados que avaliaram a qualidade dos serviços essenciais como
Insatisfatória, apresentam características de classes sociais de baixo poder aquisitivo, de
bairros pouco populosos, com comércio pouco desenvolvido e principalmente, são visíveis as
deficiências no que diz respeito à quantidade e qualidade do transporte coletivo, postos de
saúde, escolas, segurança, etc. (Figura 27).
Figura 27 – Percentual de avaliação da qualidade dos serviços essenciais.
Fonte: Autor
Existem bairros na área de estudo em que a maioria das pessoas são da classe social
A1, contudo, existe um pequeno percentual de pessoas das classes D e E.
O inverso também é encontrado, em locais que a maioria da população é da classe D e
E, é possivel encontrar pessoas das classes A e B. Sendo assim, a classe social de maior
representatividade na área é da classe B2, com rendimento familiar mensal ≥ R$ 2.300,
contudo, as classes C1, C2, D e E, se somadas, representam mais de 50% das pessoas
presentes nos bairros da bacia hidrogáfica do rio Cuiá (Quadro 9).
Classe Quantidade Famílias por
Classe % da Classe
Classe Quantidade Famílias por
Classe % da Classe
A1 125 5,98 C1 305 14,52
A2 180 8,60 C2 305 14,52
B1 252 11,96 D 305 14,52
B2 323 15,38 E 305 14,52
Quadro 9 – Percentual de classes sociais da bacia hidrográfica do Cuiá.
Fonte: Autor
94
Após o levantamento das características da bacia hidrográfica do rio Cuiá, é possível
construir o painel de indicadores de sustentabilidade, avaliar seu desempenho e, por
conseguinte gerar o Índice de Sustentabilidade aplicável à bacia em estudo, desta forma
identificar a Tendência da Sustentabilidade Local e propor ações de melhoria.
5.1.3 Indicadores de Sustentabilidade encontrados na bacia do Cuiá
DIMENSÕES INDICADORES NOTA COR
Ambiental
Cobertura Vegetal 15
Qualidade do rio 50
AGRUPAMENTO 33
Institucional
Implementação e Monitoramento do Desenvolvimento Sustentável 9
Monitoramento de Áreas de Preservação Permanente 20
Preparo e Resposta a Desastres Naturais 7
Planejamento e Acesso a Informações 45 AGRUPAMENTO 20
Social
Estimativa de Densidade Populacional 43
Qualidade de Serviços Essenciais 33
AGRUPAMENTO 38
Econômica
Desenvolvimento do Comércio 43
Consumo de Serviços 9
Classes Sociais 15
AGRUPAMENTO 22
AGRUPAMENTO FINAL PARA O ÍNDICE 28
*Valores arredondados
Tabela 15 – Pontuação dos Indicadores aplicados à bacia do Cuiá.
Fonte: Autor.
Utilizando a fórmula descrita na metodologia, a pontuação do agrupamento final para
o Índice de Sustentabilidade encerra o valor de número 28.
A Tabela 15 representa a pontuação do desempenho de cada indicador
95
E para representar o agrupamento dos indicadores, é utilizado o Painel da
Sustentabilidade, onde é possível visualizar simultaneamente o desempenho dos indicadores e
a tendência da Sustentabilidade do local.
A Figura 28 representa a condição de sustentabilidade da bacia do Cuiá.
Figura 28 – Painel da Sustentabilidade da Bacia Hidrográfica do rio Cuiá.
Fonte: Autor
Os resultados representados pela Figura 28 apresentam quais os indicadores precisam
ser melhorados e mostram a tendência da sustentabilidade na área de estudo. Também é
possível explicar o baixo desempenho de cada indicador apontado e, consequentemente, do
índice. Esse baixo desempenho ocorre devido ao desequilíbrio dos indicadores em cada
dimensão e o agrupamento dos indicadores tende a baixar o desempenho do índice.
Na dimensão Ambiental as avaliações realizadas no Indicador de Cobertura Vegetal e
na Qualidade da Água do rio indicam que não estão sendo respeitadas as diretrizes legais, no
que diz respeito aos Valores Máximos Permitidos para determinadas características físico-
químicas e microbiológicas da água descritas no CONAMA 357, tão pouco estão sendo
respeitados os limites da Área de Preservação Permanente, em relação ao Uso e Ocupação do
Solo, onde é nítida a pressão da expansão imobiliária para o loteamento e construção de
moradias em áreas protegidas por lei e as ações do poder público limitam-se a apenas
demarcar com placas de identificação as APP. A situação não é mais crítica devido a
96
sazonalidade de fatores climáticos e ao balanço hídrico que interfere nos parâmetros
analisados.
Esses indicadores estão intimamente relacionados ao Monitoramento de Áreas de
Preservação Permanente, Implementação e Monitoramento do Desenvolvimento Sustentável e
Estimativa de Densidade Populacional (indicadores da dimensão institucional e social,
respectivamente), que também apresentam rendimento muito baixo. Destaca-se uma
particularidade da bacia, que é o indicador de Estimativa de Densidade Populacional, que
apresenta desempenho intermediário devido a grande extensão da bacia e a área possuir
localidades pouco urbanizadas.
Na dimensão social a avaliação feita no indicador de Qualidade de Serviços
Essenciais, apresentou um desempenho relativamente baixo, pois está relacionado ao
indicador de Classes Sociais (analisado pela renda mensal familiar – Dimensão Econômica).
Como grande parte da área da bacia é ocupada por famílias de classes sociais de Média e
Baixa Renda, alguns serviços essenciais são oferecidos com certa deficiência.
Isso foi observado principalmente em comunidades ou bairros em que a maioria de
seus moradores não possui elevado poder aquisitivo. Os serviços considerados insatisfatórios
para a maioria da população inserida na bacia foram:
a. Transporte coletivo.
b. Qualidade do Atendimento Médico nos Postos de Saúde.
c. Segurança.
d. Qualidade da Limpeza Urbana.
É válido destacar que os serviços de Fornecimento da Água Potável e Saneamento
Básico (rede de esgotos) atendem as expectativas dos usuários, entretanto, na opinião dos
entrevistados, esses serviços são satisfatórios porque são pagos diretamente à companhia que
administra o serviço.
Na maioria dos bairros que compõem a bacia, o comércio é pouco desenvolvido,
entretanto, nos bairros mais populosos e nos bairros de integração com outras áreas da cidade,
o comércio é bem desenvolvido, desta forma é possível evidenciar que o comércio presente na
área apresenta um nível intermediário de desenvolvimento.
Seguindo este raciocínio, o indicador de Consumo de Serviços apresenta uma das
avaliações mais baixas de todos os indicadores, pois o uso desses serviços é praticamente
restrito a famílias de elevado poder aquisitivo, mas que, pela definição de inclusão do
desenvolvimento sustentável, são serviços que deveriam ser oferecidos gratuitamente pelo
97
poder público, como tratamento médico-hospitalar, ou a um custo baixo, como o acesso a
internet de boa qualidade.
Na dimensão institucional existem dois indicadores que representam o nível de
integração do poder público local com a comunidade. São eles: Preparo e Resposta a
Desastres Naturais e Planejamento e Acesso a Informações.
O primeiro indicador apresenta a avaliação feita dos Programas de Prevenção a
Desastres Naturais ou Planos Emergenciais de Contingência, que atualmente é de
responsabilidade da Defesa Civil Municipal. O que foi possível evidenciar das ações
registradas pela Defesa Civil está resumido ao monitoramento de algumas áreas de risco na
cidade, inúmeras ações corretivas e algumas medidas preventivas destinadas ao efeito dos
problemas e não as suas reais causas.
São praticamente nulos os resultados deste órgão em relação a prevenção de desastres
naturais, sem que haja uma padronização de procedimentos e o uso de uma ferramenta de
gestão que anteceda os efeitos negativos a serem adotados em caso de alguma ocorrência.
Ainda na dimensão institucional, o indicador Planejamento e Acesso a Informações é
avaliado como regular. O parâmetro analisado foi a criação do Orçamento Democrático (OD).
Esta é uma importante ferramenta do gestor público de como planejar e informar a população
onde são gastos os impostos, de acordo com a vontade popular.
Contudo, a forma de apresentação das informações no OD, precisa de ética, para que a
população tome conhecimento das verdadeiras causas dos problemas da comunidade e não
apresentar problemas e soluções convenientes aos interesses da classe política.
É possível evidenciar a relação integrada entre os indicadores das quatro dimensões da
sustentabilidade, conferindo robustez ao índice que indica a tendência de sustentabilidade
encontrada na bacia do Cuiá, apresentando um valor coerente de acordo com a avaliação e
relação de seus indicadores.
Em tese, se uma dimensão apresenta indicadores com baixo desempenho, os
indicadores de outra dimensão deveriam ser inversamente proporcionais. Por exemplo, se os
indicadores ambientais apresentam um fraco desempenho, isso indica um elevado nível de
poluição e degradação ambiental, um dos motivos poderia ser o alto desempenho das
dimensões econômica e social, que tendem a exercer maior pressão sobre o meio ambiente
natural.
Também é possível encontrar a situação inversa, por exemplo, uma área com altos
índices de conservação, sem contaminações de solo, água ou ar, vegetação nativa bem
98
desenvolvida, apresentaria baixos índices de urbanização, consumo de energia, baixas taxas
de modificação do ambiente, etc. Seriam inúmeros motivos que poderiam justificar essa
inversão de desempenho.
Contudo, a situação encontrada na bacia urbana do Cuiá foge a essa regra. Pois além
de encontrar o desequilíbrio entre as dimensões avaliadas, o fraco desempenho de uma não é
compensado pelo alto desempenho da outra, pois todos os indicadores de todas as dimensões
obtiveram avaliações similares.
Isso ocorre pelo fato de não poder haver dissociação ou isolamento da bacia
hidrográfica com as demais áreas da cidade, comprovando que o desenvolvimento sustentável
é um conceito dinâmico e de larga abrangência e ainda que a metodologia para sua
implementação precisa ser integrada com as áreas de influência através de outro conceito
espacial de semelhante abrangência, como a Bacia Ambiental.
Outro fator é a complexidade, a diversidade e o elevado grau de particularidades
encontradas nas diversas regiões e zonas inseridas na maior bacia hidrográfica da zona sul do
município de João Pessoa. As várias realidades representadas pelos bairros componentes da
bacia do Cuiá dificultam ainda mais a manutenção do equilíbrio sustentável das dimensões
social, econômica, ambiental e institucional.
Entretanto, é possível agrupar indicadores locais, destinados a uma avaliação mais
restrita da área de estudo, diminuindo a interferência de fatores externos ao local de aplicação
da metodologia, mas ainda ser possível avaliar de maneira globalizada a situação de uma
bacia urbana específica, sem que ocorram falhas na confiabilidade dos dados coletados e
avaliados.
Tendo em vista o exposto, é possível evidenciar que os melhores e mais eficientes
resultados na promoção da sustentabilidade podem ser obtidos em escalas reduzidas, como
“ilhas” ou “células” de sustentabilidade, contidas em unidades territoriais maiores. Ou seja, se
inicialmente algumas ruas do bairro promovem condições sustentáveis (uma “ilha” de
sustentabilidade), isso pode incentivar que outras ruas façam o mesmo, criando outras “ilhas”,
por conseguinte, quando todas as ruas se tornassem “células” sustentáveis, o bairro seria
sustentável.
Se isso acontecesse em outros bairros, a sustentabilidade iria ser refletida na bacia
hidrográfica que contém os respectivos bairros, por sua vez, como uma reação em cadeia, às
condições de sustentabilidade da BH, se refletiriam no município e assim seria possível
99
chegar a observar consequências ou externalidades em nível global. Esse comportamento
poderia ser comparado a um tipo de progressão celular em organismos vivos.
A Figura 29 mostra uma representação ilustrativa de como seriam distribuídas as
células de sustentabilidade, pela bacia do Cuiá.
Figura 29: Representação ilustrativa de “células” de sustentabilidade nos bairros.
Fonte: Autor
E assim mais uma vez pode-se afirmar a ideia do “agir localmente e pensar
globalmente!”.
Esse método não iria resolver rapidamente todos os problemas, mas seria possível
planejar em longo prazo os indicadores das quatro dimensões da sustentabilidade e reduzir as
distorções entre elas em grande parte da área de implementação da metodologia.
292000
294000
296000
298000
300000
9208000
9206000
9204000
9202000
100
5.2. DISCUSSÃO
A abordagem atual sobre o Desenvolvimento Sustentável se caracteriza pela missão de
relevar os fatores de insustentabilidade do padrão vigente de desenvolvimento e consumo da
sociedade, levando – se em consideração as particularidades dos aspectos sociais,
econômicos, ambientais e institucionais (políticos), bem como as limitações espaço -
temporais e culturais de uma população, que tem se enraizado na vida cotidiana a cultura do
capitalismo.
O debate sobre a sustentabilidade é caracterizado por diversas formas e perspectivas
de qual é sua correta definição e seu melhor mecanismo de operacionalização, contudo, não
existe consenso entre os estudiosos do assunto assim polarizando a estrutura do
desenvolvimento sustentável em duas correntes antagônicas.
A corrente conservadora defendida por Boff (2002), Bonalume (2006), etc. apoia a
ideia de que o desenvolvimento é a total e completa antítese do sustentável, pois o termo
desenvolvimento remete ao processo destrutivo, consumista, não retornável, finito e o termo
sustentável destaca características duradouras, equilibradas e renováveis.
A corrente moderada defendida por Buarque (2008), Van Bellen (2006), Sachs (2008)
o principio de que desenvolvimento e sustentabilidade podem sim caminhar juntos, entretanto
é uma dura e árdua tarefa, pois para sua realização é preciso quebrar barreiras e obstáculos
culturais, sociais, econômicos e principalmente políticos e para que isso ocorra é necessária
uma mudança da consciência global sobre o que é preciso fazer. Esse sim é o verdadeiro
Desenvolvimento Sustentável, com fundamentação Sustentada.
Dentro da óptica do verdadeiro Desenvolvimento Sustentável, é necessário considerar
quatro fatores para sua operacionalização e que sua implementação seja realmente efetiva:
1. A humanidade não estacionará ou retrocederá em seu desenvolvimento.
2. A complexidade do conceito de desenvolvimento sustentável, devido a suas inúmeras
interações é agravada pelo marketing político capitalista que prostitui o termo
sustentabilidade, como um adjetivo banalizado.
3. Existe a necessidade de equiparação do meio natural com as ações no horizonte
político em longo prazo.
4. Tipo de abordagem (top –down e bottom up) na implementação do DS.
É levando em consideração esses fatores e associados a uma avaliação dinâmica das 4
(quatro) dimensões da sustentabilidade, que será possível estabelecer uma postura equilibrada
101
entre os interesses de cada dimensão e como consequência gerenciar seus conflitos e assim
transformar as políticas públicas de gestão em uma ferramenta que promova o
desenvolvimento na direção da sustentabilidade.
Então qual mecanismo pode ser utilizado diante de um cenário multifacetado, com a
interação de inúmeros atores e que sirva como modelo de unificação de informações, avalie o
grau de sustentabilidade ou insustentabilidade e indique o caminho a ser seguido para que as
metas sustentáveis sejam atingidas?
O objetivo principal que justifica o uso desse sistema de indicadores de
sustentabilidade é o de proporcionar a transformação conceitual do desenvolvimento
sustentável em uma realidade factível e operacional. Pois esse sistema promove e auxilia na
democratização do conhecimento, introduzindo os indicadores como ferramentas de gestão de
políticas públicas, conferindo aplicabilidade direcionada à equidade social, crescimento
econômico e qualidade ambiental.
Contudo, essa ferramenta precisa ser utilizada institucionalmente, ou pelo menos,
fazer parte do horizonte político do poder e dos gestores públicos como uma prioridade, para
que os verdadeiros frutos da sustentabilidade possam ser colhidos.
Para auxiliar nessa operacionalização, a escolha do método de abordagem dos
indicadores é outro fator a ser considerado. As duas abordagens dominantes descritas neste
trabalho são a top-down e bottom-up, utilizadas pelo poder público municipal e estadual.
No contexto em que a bacia hidrográfica do Cuiá está inserida, as duas abordagens
aplicadas não apresentam resultados satisfatórios, devido à inversão de prioridades do poder
público e às características sociais, políticas, econômicas e culturais envolvidas.
Um exemplo dessas prioridades trata- se da atuação dos comitês de bacia, que
procuram trabalhar na conservação dos recursos hídricos nas grandes bacias hidrográficas,
consideradas estratégicas a curto e médio prazo para o abastecimento de água da população.
Ficando em segundo plano as pequenas bacias urbanas que são sistemas caracterizados pela
definição de sustentabilidade local.
Podem ser feitos os seguintes questionamentos:
1 – Como abordar o método top – down, se os especialistas que definem os indicadores aos
gestores públicos, estão comprometidos com os interesses dos próprios gestores e não com os
interesses da Sustentabilidade?
102
2 - Como abordar o método top – down, se os resultados do estudo dos especialistas não
servem como referencial para o planejamento dos gestores públicos? Salvo no caso em que os
resultados favorecem o interesse dos próprios gestores.
3 – Como abordar o método bottom – up, se os atores não são mobilizados, não possuem a
formação adequada ou não são apresentados os esclarecimentos das reais causas dos
problemas que a comunidade enfrenta? Pois a informação que é apresentada aos atores pelas
instituições públicas é feita de maneira fragmentada, induzindo a escolha dos participantes ao
que favorece o interesse dos gestores públicos.
A maneira mais confortável e correta seria aquela em que a comunidade determina as
suas prioridades, através da participação ativa e livre de pressões que estejam em desacordo
com o interesse da comunidade. Por sua vez, essas prioridades são incorporadas a um sistema
customizado desenvolvido por especialistas.
Não é pretensão deste trabalho, esgotar a discussão sobre o desenvolvimento
sustentável e muito menos concluir e encerrar o seu conceito integralmente. Mas faz parte do
objetivo deste trabalho tentar esclarecer o que é Desenvolvimento Sustentável e o que não é.
É através do entendimento do seu verdadeiro conceito, que será possível criar um
mecanismo operacional viável de mensuração da tendência da sustentabilidade do local de
estudo e desta forma criar metas de desempenho econômico, social, ambiental e institucional
aplicadas e customizadas para a bacia do rio Cuiá, na expectativa da reprodutibilidade da
metodologia em outras bacias ambientais.
Considera- se que na atualidade, a melhor ferramenta destinada a alcançar a
sustentabilidade é o Sistema de Indicadores agregados, independente do método de
abordagem, coleta de dados ou apresentação. Entretanto, é extremamente relevante afirmar o
compromisso com a ética, a fidelidade e legitimidade na coleta e apresentação dos dados, bem
como evitar a super - agregação de parâmetros nos indicadores e ainda considerar o índice
como uma espécie de “farol” que guiará o gestor nas ações voltadas com o objetivo
sustentável.
O método utilizado neste trabalho reproduz o utilizado por Benetti (2006), que em sua
tese de doutorado, avaliou o Índice de Desenvolvimento Sustentável do município de
Lages/SC pelo Painel da Sustentabilidade. É importante registrar que este após a pesquisa
bibliográfica, o trabalho de Benetti (2006) foi o único trabalho encontrado no Brasil, entre
teses e dissertações, que verdadeiramente utilizou a metodologia do Painel da
Sustentabilidade, contudo foram encontrados trabalhos que abordaram o tema de maneira
103
pouco aprofundada, como o de Lira (2008), Braga et.al (2010), Martins (2008), Rabelo (2008)
que falam sobre o método e o descrevem, ou até mesmo utilizam outros métodos para a
avaliação de indicadores.
Na comparação com esses trabalhos é possível evidenciar que independente da escala
territorial utilizada (bacia hidrográfica, município ou país) a aplicação desse método para
mensurar a sustentabilidade é bastante eficaz, pois considera dinamicamente as relações
espaço-temporais do território analisado. E ainda se apresenta como uma excelente ferramenta
para o planejamento ambiental, pois considera e avalia o desempenho de todas as dimensões
simultaneamente, apresentando quais são as prioridades do sistema que precisam ser
corrigidas ou melhoradas.
Podem ser observadas algumas semelhanças entre esse trabalho e o de Benetti (2006),
guardadas as devidas proporções. Na referida tese, a metodologia do Painel de
Sustentabilidade foi aplicada em um município altamente desenvolvido e nesta pesquisa o
mesmo método foi utilizado em uma bacia hidrográfica urbana, composta por cerca de 20
bairros medianamente desenvolvidos.
Ambos os trabalhos destacam as vulnerabilidades e potencialidades das áreas de
estudo, integradas a problemática da conservação ambiental, equidade social e
desenvolvimento econômico, equitativamente em toda a bacia hidrográfica.
Outra similaridade entre os trabalhos é a capacidade de propor políticas públicas
baseadas em uma realidade avaliada por meio do emprego de uma ferramenta de abrangência
internacional e que direciona o sistema avaliado na direção de padrões sustentáveis.
Entretanto, a diferença primordial entre os dois trabalhos está relacionada ao tipo de
levantamento, avaliação e quantidade de indicadores utilizados. Benetti (2006) fez uso de um
programa de computador (software MAPLINK) para calcular a pontuação dos indicadores e
do índice. Ao contrário deste trabalho, que utilizou como método de pontuação o percentual
de atendimento de diretrizes legais e a avaliação dos usuários ou atores sociais envolvidos.
Em ambas as situações o método que foi utilizado para quantificar ou mensurar o grau
de sustentabilidade da área em estudo apresentou resultados satisfatórios em relação aos
objetivos traçados pelas pesquisas, mas a comparação das duas formas de cálculo de
pontuação dos indicadores revela uma distorção pontual na avaliação da Sustentabilidade.
As informações de cada indicador são inseridas no uso do software MAPLINK que
basicamente compila os dados e os transforma em dados qualitativos através de algoritmos de
programação e que são necessários para a construção do Painel.
104
Contudo, é possível observar uma desvantagem crítica na utilização do programa, que
é justamente a limitação do número de indicadores que podem ser trabalhados. Ou seja, os
indicadores que serão avaliados e pontuados precisam ter parâmetros de mensuração que
façam parte do banco de dados do programa, caso contrário não é possível fazer alterações na
escala de aplicação do método ou inserir parâmetros locais específicos, limitando a
abrangência de avaliação às diretrizes impostas pela escala regional.
Já na forma de pontuação que utiliza o percentual de atendimento de diretrizes legais e
a avaliação dos usuários envolvidos no local de avaliação, podem ser incorporados
indicadores endógenos e específicos da área, havendo a flexibilização na escolha da
quantidade e de quais parâmetros e na avaliação do desempenho dos indicadores.
Faz - se necessário destacar a grande quantidade de trabalhos que tratam do tema da
Sustentabilidade, entretanto, a maioria deles considera a ideia equivocada do
Desenvolvimento Sustentável. Termos como Sustentabilidade Social, Sustentabilidade
Econômica ou Sustentabilidade Ambiental, não podem ser discutidos separadamente, pois a
sustentabilidade somente ocorrerá quando houver o equilíbrio entre as 3 dimensões.
Também é grande a quantidade de trabalhos científicos disciplinares que não agregam
os dados ou informações destas dimensões, assim é possível caracterizar a relevância de
trabalhos que agrupem tais informações com o objetivo de identificar a tendência de
sustentabilidade ou insustentabilidade de um sistema ambiental.
De acordo com Benetti (2006 Página 147),
A parte crucial está em identificar as relações
essenciais num sistema. Isto requer um processo de
agregação e condensação de informação disponível
e a procura dirigida para informação perdida
necessária para uma compreensiva descrição do
sistema.
A vantagem em utilizar essa metodologia se dá pela possibilidade de incorporar
diferentes indicadores de plataformas variadas (IBGE, OECD) para o cálculo do IDS, todos
eles com baixo custo e facilmente obtidos através de análises de campo, compilação de dados
de órgãos públicos, mesmo levando em consideração a enorme dificuldade em ter acesso a
essas informações, talvez por empecilhos burocráticos ou impedimentos “legais”.
Se houvesse uma comparação entre a aplicação da metodologia em uma bacia
hidrográfica e um município, um fator pode ser identificado como constante. É a participação
e a inclusão politica da população no planejamento da localidade.
105
O sucesso das ações do Estado tende a aumentar quando a população participa de
maneira ativa, integrada e verdadeira.
A situação encontrada na bacia hidrográfica do rio Cuiá com relação à sustentabilidade
é crítica e muito preocupante, pois nenhum dos indicadores chega a alcançar uma pontuação
mediana se comparada à escala do painel de sustentabilidade, no máximo podem ser
considerados com um desempenho regular.
No caso do indicador de qualidade da água do rio o resultado é regular não por haver
um plano para garantir a manutenção de suas características, mas sim por haver condições
naturais que promovam sua “sobrevivência”.
O rio conta com a sazonalidade das condições climáticas, a instabilidade do regime de
chuvas e o grande número de contribuintes para manter uma vazão moderadamente perene e
assim suportar as inúmeras agressões a que está submetido, como lançamento clandestino de
efluentes domésticos brutos, resíduos de pocilga e até efluentes sanitários tratados, mas sem
nenhum controle da vazão de lançamento.
Este resultado também é reflexo do efeito da degradação da vegetação da área da
bacia. O indicador de cobertura vegetal está avaliado como uma condição crítica, pois a
vegetação que possibilita a infiltração e percolação da água da chuva que alimenta o rio, está
resumida a um estreito corredor e em alguns lugares é quase inexistente, quando, em teoria, é
protegida pelo Código Florestal Brasileiro e por leis Estaduais e Municipais que classificam
Área de Preservação Permanente.
Isso ocorre devido a expansão e especulação imobiliária identificada na área,
justificando assim o desempenho crítico e muito crítico de dois indicadores da dimensão
institucional (Monitoramento de APP e Implementação e Monitoramento do
Desenvolvimento Sustentável). Ou seja, a presença do poder público com respeito às leis
ambientais é nula. Pois áreas dentro dos limites protegidos por lei são loteadas,
comercializadas e degradadas com a anuência silenciosa dos gestores públicos.
Outro indicador da dimensão institucional em situação muito crítica é o de Preparo e
Resposta a Desastres Naturais. A entidade responsável para trabalhar com esse indicador é a
Defesa Civil Municipal, entretanto, suas ações estão restritas a apenas monitorar e notificar os
moradores de áreas de risco, mas não foi evidenciado nenhum plano de contingência
preventivo ou corretivo adequado para os problemas de desastres ambientais, como
deslizamentos ou enchentes. Gostaria de destacar ainda neste item a escassez de informações
106
dos órgãos públicos acessíveis e disponíveis de qualquer forma, caracterizando o despreparo
organizacional da gestão pública.
O único indicador com avaliação regular é o de Planejamento e Acesso a Informações,
mas com certas ressalvas. Existem dois parâmetros que foram avaliados para sua construção.
Foram eles: A utilização do Orçamento Democrático Municipal e os trabalhos de uma
Organização Não Governamental, conhecida como ONG Salve o Cuiá.
As ações provenientes do Orçamento Democrático e pela ONG, promovem a
divulgação de informações sobre as condições do rio e planejam metas participativas de como
cada bairro pode destinar recursos financeiros para a aplicação em melhorias no próprio local.
A idéia é excelente, mas incompleta, pois a população participa apenas da destinação
dos recursos para a resolução de problemas ou melhorias no bairro apresentadas pela
prefeitura (top – down), os atores envolvidos não participam da elaboração e identificação dos
problemas. Ou seja, o gestor público apresenta o problema que ele considera importante e não
o que a comunidade identifica como prioridade. A comunidade somente tem o direito de
participar na indicação do uso dos recursos, mas somente nos itens sinalizados pela equipe
que coordena o programa do Orçamento Democrático.
Isso está bem claro nas informações divulgadas no site da prefeitura municipal, no
trabalho de dissertação de Rodrigues (2001), além do fato que não existe nenhuma campanha
institucional que promova a educação ambiental para a população para fins de conservação do
meio ambiente ou de esclarecimento e mobilização da importância do rio Cuiá para a vida
cotidiana do bairro em que as pessoas residem.
Isso pôde ser evidenciado através das entrevistas realizadas em campo, onde ficou
claro o distanciamento das pessoas em relação ao rio. As únicas pessoas que souberam avaliar
positivamente ou negativamente a sua relação com o rio Cuiá eram aquelas que viviam muito
próximo a ele, quase em suas margens.
Afirmar que o Orçamento Democrático é uma ferramenta para o desenvolvimento
sustentável está correto, mas não seguindo o formato atualmente praticado, onde a abordagem
e a perspectiva dos problemas da comunidade são apresentadas parcialmente e a população
somente consegue enxergar a necessidade da classe política dominante. É esse tipo de atitude
governamental que desestrutura e desmoraliza o conceito de sustentabilidade.
Dos dois indicadores da dimensão econômica, o de Estimativa de Densidade
Populacional apresenta um desempenho regular, pois o aglomerado de pessoas distribuídas
pelas áreas desocupadas ou em ocupação é relativamente baixo, entretanto, em certos locais é
107
possível evidenciar que o espaço é disputado ou ocupado por um número de pessoas acima do
recomendável. Por exemplo, uma casa com dois cômodos abrigando 10 pessoas.
Isso é verificado, principalmente, nos bairros em que estão presentes famílias de
classes sociais de menor poder aquisitivo ou menor renda familiar mensal (indicador social).
A conexão entre esses dois indicadores reafirma a relação entre densidade demográfica e
distribuição de renda.
Vale salientar que o indicador de Classes Sociais apresenta um desempenho crítico
devido à enorme desigualdade entre as camadas sociais. Mais de 50% da população
entrevistada apresenta renda familiar mensal cerca de cinco a dez vezes menor que quase 6%
dos entrevistados.
Essas informações refletem diretamente nos outros indicadores. Nos bairros onde foi
identificada elevada estimativa populacional, o comércio é bem desenvolvido, contudo o
consumo de serviços, como planos de saúde, é crítico devido ao maior percentual de famílias
de baixa renda que residem na bacia.
Mas o indicador mais intrigante é a avaliação da qualidade dos serviços essenciais que
foram considerados em uma faixa entre o regular e o crítico. Outros serviços foram
considerados bons ou excelentes, como abastecimento de água potável e saneamento básico,
os demais serviços variaram bastante de acordo com a localidade avaliada.
Mas em todos os bairros os serviços que foram considerados péssimos foram o de
transporte coletivo, devido a quantidade insuficiente para atender a demanda da população, e
a segurança pública, devido a alta criminalidade registrada pela própria comunidade.
Vale também destacar que os serviços que foram mais bem avaliados por todos os
entrevistados (abastecimento de água potável e saneamento básico), são serviços pagos
diretamente à companhia de água e esgotos do Estado, mas os serviços que são ofertados pelo
repasse de pagamento de impostos (IPTU, ISS, ICMS), foram considerados insatisfatórios
pela população.
De maneira geral, o desempenho do índice de sustentabilidade da bacia do Cuiá é
muito baixo devido ao baixo desempenho interligado de seus indicadores, que por sua vez,
apresentam performance oscilando entre o regular e o muito crítico.
Isso ocorre principalmente por não haver diretrizes ou políticas públicas direcionadas
para o verdadeiro desenvolvimento sustentável, o respeito às leis já criadas e a ausência do
monitoramento das diretrizes relevantes para uma bacia ambiental urbana.
108
Um fator que precisa também ser destacado, durante a realização da pesquisa, é a
grande dificuldade em obter dados oficiais das agências governamentais. Somente foi possível
ter acesso, deveras restrito, a certas informações por meio de contatos pessoais com algumas
pessoas conhecidas. Isso caracteriza a falta de transparência e ética no repasse de informações
para a sociedade. E dessa forma é possível apresentar mais uma justificativa na aplicação do
sistema de indicadores para avaliar a sustentabilidade local.
Depois de expor todas essas considerações é possível criar mais alguns
questionamentos:
1. Como um rio perene, com uma vazão de água relativamente grande, que corta 21
bairros da cidade de João Pessoa, classificado pelo COPAM como um rio de Classe 3,
que ainda apresenta resquícios de mata atlântica em suas margens, não está sendo
protegido e preservado pelo poder público para que este escasso recurso (água) seja
aproveitado eficiente e eficazmente de maneira sustentável?
2. Por que esse recurso está sendo desperdiçado e utilizado para fins tão pouco
produtivos?
Resposta: As duas primeiras perguntas podem ser respondidas da seguinte forma: Isso
ocorre principalmente pela ineficácia do poder público em gerenciar e promover ações
integradas de preservação, educação e punição junto aos próprios usuários.
3. É possível promover distribuição de renda e ter eficiência econômica?
Resposta: Sim, o círculo virtuoso do crescimento envolve a distribuição de renda
como um dos pilares para se atingir a eficiência econômica através do consumo. No
caso da bacia do Cuiá, a melhoria da renda nos bairros, induziria ao crescimento
econômico.
4. Como incorporar os atores sociais (cidadãos) democraticamente nos processos de
desenvolvimento da bacia do Cuiá?
Resposta: De alguma forma isto já está sendo feito através do orçamento democrático
da PMJP, contudo a participação popular ainda é muito insipiente, faz-se necessário
instigar a população a participar do processo educativo e de conservação do meio
ambiente. O IPTU VERDE, a coleta seletiva nos bairros é uma forma de promover
essa incorporação.
5. Como tratar no mesmo grau de relevância ambiental, social, institucional e econômica,
a bacia hidrográfica do rio Cuiá?
109
Resposta: Uma forma de tratar com o mesmo grau de relevância as 4 dimensões do
desenvolvimento sustentável é através do uso de indicadores e índices de
sustentabilidade pelo método do Painel da Sustentabilidade que este trabalho propõe.
Tendo em vista que a possibilidade de utilização sustentável dessa área é grande, basta
apenas que sejam cumpridas as diretrizes legais na conservação e recuperação da vegetação,
uso e ocupação do solo e conscientização ambiental. Os benefícios colhidos seriam inúmeros
em todas as dimensões.
Por exemplo, a recuperação e proteção das nascentes do rio e da vegetação nativa
(respeitando o código florestal brasileiro), o não lançamento clandestino de efluentes brutos
(domésticos, de pocilgas e vacarias), já seriam ações que melhorariam a qualidade da água e,
consequentemente, outros aspectos do meio natural (desenvolvimento da fauna terrestre e
aquática).
Com a água e vegetação de boa qualidade, o vale do Cuiá se tornaria um ambiente de
refúgio de espécies de animais da mata atlântica, o rio poderia ser um reservatório
emergencial de água para consumo humano, exploração do turismo ecológico dentro da área
urbana que consequentemente melhoraria os indicadores sociais e econômicos, pois geraria
empregos, aumento de renda etc.
Entretanto, seria altamente recomendado que as agências públicas de regulação,
controle e monitoramento urbano do Estado e do Município estivessem acessíveis para o
fornecimento de informações e consequentemente a realização de modificações no plano
diretor da cidade, desta forma esta pesquisa poderia ser mais completa em integrar a
diversidade de parâmetros e assim realizar inter-conexões com outros indicadores, como a
relação de poluição atmosférica, a ocorrência de congestionamentos de automóveis e aspectos
mais amplos em se tratando de nível de qualidade de vida da população inserida na bacia
hidrográfica do rio Cuiá.
110
6. CONCLUSÕES
Partindo do pressuposto definido sobre o desenvolvimento sustentável, foi possível
concluir que com os dados obtidos neste trabalho a partir das leituras que embasaram seu
referencial teórico, a sustentabilidade é uma condição de equilíbrio dinâmico entre as
dimensões envolvidas (ambiental, social, econômica e institucional), e desconsiderando
qualquer forma de desagregação entre elas e qualquer proposição que priorize alguma das
dimensões não pode ser encarado como Desenvolvimento Sustentável.
Também foi possível concluir que em se tratando da sustentabilidade, sua
operacionalidade fica nitidamente visível ao se aplicar como ferramenta do planejamento
ambiental, a metodologia de indicadores pelo Painel da Sustentabilidade, e que
operacionalmente, através dela foi possível avaliar as condições atuais de sustentabilidade da
bacia do Cuiá.
Contatou-se ainda que através desse método é possível visualizar de maneira dinâmica,
todas as dimensões da sustentabilidade, pois este integra diferentes dimensões com pesos
equivalentes e sugere indicadores que são reconhecidos nacional e internacionalmente,
identificando as potencialidades e vulnerabilidades da área em estudo do método, se
mostrando muito adequado para alcançar os objetivos propostos.
Pode- se dizer que este trabalho teve principalmente dois fatores de restrição. As
limitações inerentes ao próprio método de Painel da Sustentabilidade e a limitação
proveniente da pesquisa de maneira geral, devido à carência de dados sistemáticos e registros
de informações nos órgãos públicos municipais, estaduais e federais. Além disso, para os
dados obtidos, observou-se que eles são de momentos diferentes ao de desenvolvimento deste
trabalho.
Considerando-se as limitações do uso do método de indicadores é possível identificar com
uma desvantagem primordial é a perda de informação vital, devido a necessidade de
condensar muitos dados em um único índice.
Uma limitação específica para o Painel de Sustentabilidade é a necessidade contínua e
simultânea de suporte científico confiável, que atualize constantemente os indicadores e ainda
desenvolva sistemas de integração e comunicação capazes de reduzir as distorções temporais
que fundamentam o método, pois a essência deste é fundamentada principalmente na escala
temporal dos acontecimentos capazes de mudar a situação no instante da avaliação.
111
Para Tunstall (1992), através do sistema de indicadores é possível prever tendências
futuras do sistema, contudo, é necessário ter uma série temporal com uma quantidade
relevante de dados para que possa ser identificada alguma tendência do sistema.
Agora as limitações relativas à pesquisa resumem-se na pouca produção acadêmico-
científica sobre o uso do painel da sustentabilidade como ferramenta de planejamento. No
Brasil o marco teórico sobre o assunto é basicamente creditado a Van Bellen (2006), que
analisou e aplicou exaustivamente diversos métodos para avaliar a sustentabilidade. Outra
limitação já comentada neste trabalho é a dificuldade em ter acesso aos dados oficiais dos
órgãos públicos das três esferas sem uma justificativa. É impreciso afirmar se os órgãos não
possuem tais informações ou qual o motivo da negação em fornecer os dados.
Uma conclusão de ordem técnica, bastante relevante, é sobre o conceito de bacia
hidrográfica e bacia ambiental. Depois de revisar a literatura sobre o tema a definição clássica
de bacia hidrográfica pode e deve ser aplicada para a delimitação da área de estudo,
entretanto, a definição mais adequada para se avaliar as interações entre os diversos processos
de uma bacia urbana é o de bacia ambiental, até mesmo porque o estudo do território, segundo
esta definição, proporciona uma melhor fundamentação e aplicação do Painel da
Sustentabilidade.
Os dois fatores ambientais analisados neste trabalho são compostos pelos parâmetros de
qualidade da água e pela qualidade e extensão da cobertura vegetal relacionada ao
crescimento da malha urbana.
Após a avaliação destes dois parâmetros conclui - se que a redução da vegetação da área
de preservação da bacia influencia diretamente na qualidade da água do rio. Essa dupla
degradação oriunda da expansão imobiliária presente no local é agravada pela ausência de
ações em nível institucional, como por exemplo, o lançamento indiscriminado e descontrolado
de efluentes domésticos tratados ou não no rio sem qualquer punição aos poluidores, o total
desrespeito as leis ambientais já instituídas no âmbito federal, estadual e municipal é nítido e
bastante evidente na bacia do Cuiá.
Assim os efeitos da degradação ambiental na bacia do Cuiá tem como uma das principais
causas a impunidade e a falta de vontade política para o cumprimento de uma agenda de ações
de baixo custo e de fácil implementação. Não se pode esquecer que os interesses econômicos
e sociais são fatores que influenciam diretamente no planejamento da agenda municipal de
desenvolvimento.
112
As características sociais e econômicas encontradas na bacia do Cuiá seguem a tendência
comum do Município de João Pessoa e do Estado da Paraíba. Ou seja, o crescimento ou
evolução econômica é presente e latente na bacia, entretanto essa “riqueza” é mal distribuída
nos bairros que a compõem.
Existem bairros onde estão concentradas as maiores rendas mensais e é justamente nesses
locais onde a qualidade dos serviços prestados pelo poder público ou por empresas privadas é
melhor oferecido. Já nos bairros em que a maioria dos moradores tem uma renda mensal
familiar intermediária ou inferior às classes A e B, a qualidade dos serviços oferecidos pelo
poder público ou por empresas não atende integralmente às expectativas dos usuários.
Pode - se concluir, que ainda na bacia do Cuiá as características de promoção e equidade
social estão intimamente relacionadas ao poder aquisitivo das famílias que residem nos
bairros. Ou seja, o desenvolvimento social e o crescimento econômico não são uniformes em
toda a bacia, porque existem áreas de concentração de renda e onde ocorre essa concentração
os aspectos sociais são mais evoluídos.
Através das respostas obtidas pela aplicação dos questionários nos 21 bairros, foi possível
concluir que todos os entrevistados consideram insatisfatório ou moderadamente satisfatório a
qualidade dos serviços essenciais prestados gratuitamente, onde o pagamento pelo serviço é
feito indiretamente através de impostos, taxas ou emolumentos. Já o contraponto a essas
opiniões é a avaliação dos usuários que consideram satisfatório os serviços prestados, onde o
pagamento é feito diretamente a empresa que detém a concessão pública para o fornecimento
do serviço, como por exemplo, o fornecimento de água, luz, telefonia e transporte.
Finalmente pode – se concluir que a utilização do sistema de indicadores é uma alternativa
viável para mensurar, avaliar o desenvolvimento sustentável local, mas o êxito de programas
de sustentabilidade efetivamente poderá ser avaliado utilizando pequenas áreas territoriais
para sua aplicação, como “células” modelo de sustentabilidade, inseridas em uma área maior.
Essa ideia de células modelo pode ajudar a reduzir as distorções do desenvolvimento
sustentável em escalas maiores, apresentando respostas viáveis politicamente e favorecendo a
melhoria do desempenho do índice global, baseado na melhoria dos indicadores locais e
endógenos de cada área.
113
6.1 Recomendações
Esta parte finaliza o trabalho apresentando algumas ações para melhoria do
desempenho dos indicadores de sustentabilidade identificados na bacia do rio Cuiá.
Essas ações consideram os aspectos espaço - temporais da bacia hidrográfica,
envolvem todas as dimensões da sustentabilidade proposta pelo trabalho e precisariam ser
implementadas a curto, médio e longo prazo por diversos setores da sociedade (sociedade
civil, poder público Municipal e Estadual e empresários). Os resultados somente serão obtidos
se houver o esforço conjunto de todos os atores envolvidos na localidade.
Inicialmente o planejamento para a melhoria dos indicadores está dividido em ações
urgentes e ações importantes e segue uma sequência lógica de relevância objetivando
diminuir as distorções encontradas entre as dimensões analisadas. Mas é preciso ficar atento,
pois certas ações importantes fundamentam ou agem de forma complementar em relação às
ações emergenciais.
Todas as ações propostas aqui poderiam apresentar um melhor critério de refinamento
e aplicabilidade, se as informações colhidas junto aos órgãos públicos apresentassem um grau
de confiabilidade e acessibilidade suficiente para propor tais ações.
Lista de ações emergenciais para melhoria dos indicadores
• Eliminar todos os lançamentos clandestinos de esgotos domésticos ou de pocilgas e
vacarias;
• Realizar a limpeza e remoção de todo o resíduo sólido de grande volume que dificulte
a passagem natural do rio e favoreça a proliferação de vetores de doenças;
• Retirar toda e qualquer construção, habitação, plantação, criação, etc. das margens do
rio e do restante da área protegida pelo Código Florestal Brasileiro;
• Recuperar a vegetação nativa através do plantio de mudas da mata atlântica na área
das nascentes e nos demais trechos ao longo do rio que se apresente altamente
degradado;
• Dragagem de alguns trechos do rio, para o desassoreamento;
• Exigir da CAGEPA o monitoramento adequado da carga poluidora do lançamento do
efluente tratado pela ETE de Mangabeira, considerando a capacidade de
autodepuração do rio;
• Realizar Investimentos na melhoria e aparelhamento dos serviços públicos essenciais
nos bairros com menor densidade populacional e pouco desenvolvidos, como postos
114
de saúde, postos de polícia, levando em consideração a proporção adequada entre a
quantidade de moradores e a disponibilidade de serviços;
• Aumento da disponibilidade de linhas de transporte coletivo para bairros populosos e
mais distantes, a exemplo de Costa do Sol, Paratibe, Gramame, Planalto Boa
Esperança, Barra de Gramame e Monsenhor Magno (bairros como esses tem 90% de
usuários com apenas uma linha de ônibus e no bairro do Bessa, no outro extremo da
cidade, apenas 10% de usuários com 5 linhas de ônibus);
• Melhoria nas condições de infra estrutura nas escolas e valorização do professor;
• Policiamento ostensivo nos bairros;
• Nos bairros onde o comércio é pouco desenvolvido, incentivar a migração de
comerciantes para atender a demanda local, reduzindo impostos para fixação nos
bairros.
• Fazer cumprir imediatamente as leis de restrição, monitoramento e punição para
poluidores e desmatadores;
• Criar programas de educação e preservação ambiental;
• Criar planos emergenciais e de contingência em caso de desastres naturais;
• Implementar programas e metas preventivas contra desastres naturais;
• Criar e implementar programas de ajuste social em comunidades subnormais;
• Atualizar, segundo as diretrizes sustentáveis, o Planejamento Urbano do local;
• Atualizar o plano diretor da cidade em sintonia com as ações das outras dimensões.
Lista de ações importantes para melhoria dos indicadores
• Implementar, a exemplo do município de Belo Horizonte, o IPTU VERDE, que
resumidamente seria a concessão de descontos nos tributos (Imposto Predial e
Territorial Urbano) a contribuintes que comprovadamente preservem, protejam e
recuperem o meio ambiente. (Projeto de Lei Complementar da Prefeitura Municipal de
Belo Horizonte, ANEXO 3).
• Criar programas de conscientização e mobilização ambiental nos bairros que
compõem a bacia;
• Exigir dos órgãos públicos responsáveis o monitoramento contínuo do desmatamento
e da qualidade das águas e promover ações mitigadoras e corretivas em relação a
esgotamento sanitário e criação e plantio extensivo encontrado no local, bem como a
implementação de uma punição exemplar aos poluidores;
• Fiscalizar e punir exemplarmente a expansão imobiliária clandestina e criminosa.
115
• Comprometimento do repasse de verbas para as comunidades que mais precisam de
recursos;
• Exigir das empresas privadas que possuem concessão pública para explorar o serviço
de transportes coletivos, uma frota condizente com a realidade do bairro, obedecendo
a horários regulares e em quantidade suficiente de ônibus e ainda respeitando o limite
máximo de passageiros em um ônibus;
• Urbanizar bairros e conjuntos habitacionais fornecendo condições de moradia
adequada (ruas calçadas, telefonia fixa, escolas,etc.)
• No programa para criação de micro e pequenas empresas, preferir a implantação de
empreendimentos comerciais no local onde o comércio for pouco desenvolvido;
• Introduzir atendimento bancário diversificado no bairro;
• Tornar éticas e transparentes todas as etapas do Orçamento Democrático;
• Auxiliar e fomentar as ações da ONG Salve o Cuiá;
• Identificar e monitorar fontes poluidoras do rio Cuiá;
• Promover junto a produtores agrícolas de grande, médio, pequeno porte e da
agricultura familiar, localizados na bacia e com suporte das empresas de apoio técnico
(Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Da Paraíba – EMATER ou da
Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S. A. – EMEPA) o uso de
tecnologias menos agressivas ao meio ambiente e que confiram melhor eficiência no
processo produtivo e de redução de poluentes, a exemplo de Digestores Anaeróbios
para o tratamento de fezes de animais, compostagem para resíduos orgânicos, redução
de implementos agrícolas industrializados, etc.
• Incentivar a criação de células modelo de sustentabilidade local, onde a população
participe ativamente da preservação ambiental (cultivo, distribuição e plantio de
mudas de plantas, uso de energias alternativas renováveis, separação, reciclagem e
reutilização de resíduos, conscientização ambiental, etc.), comercialização de itens
produzidos pela própria comunidade e mobilização conjunta dos moradores no sentido
de avaliar e exigir providências do poder público.
Sugestões para aplicação em trabalhos futuros:
• Identificar o Índice de Sustentabilidade da bacia hidrográfica do rio Cuiá, através do
Método do Painel de Sustentabilidade, utilizando indicadores de maior abrangência e
agregação, sugeridos pelo método;
116
• Calcular o Índice de Sustentabilidade de outras bacias hidrográficas de relevante
importância no município de João Pessoa, através do Método do Painel de
Sustentabilidade, e compará- los com a bacia do rio Cuiá;
• Calcular o Índice de Sustentabilidade do município de João Pessoa e assim comparar
os dados da escala local (bacia hidrográfica) com outra unidade territorial (município);
• Utilizar o Método do Painel de Sustentabilidade como forma de acompanhar e
monitorar o desenvolvimento da bacia do Cuiá, realizando o cálculo do índice em
momentos diferentes.
117
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
2a ed. Brasília: Senado Federal, Sub Secretaria de Edições Técnicas, 1997.
AGENDA DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUSTENTÁVEL PARA O
BRASIL DO SÉCULO XXI. Brasília: Athalaia, 2002.
BARTELMUS, Peter. Indicators of sustainable growth and development – Linkage
Integration and Policy Use. Background Paper of Scientific Workshop on Indicators of
Sustainable Development, Wuppetal, 1995.
BECKER, Berta; BUARQUE, Cristovam; DO NASCIMENTO, Elimar Pinheiro;
BURSZTYN, Marcel; DE MELLO, Neli; VIANNA, João Nildo; SACHS, Ignacy;
DUARTE, Laura; WERMANN, Magda Soares de Fria. Dilemas e desafios do
desenvolvimento sustentável no Brasil. Rio de Janeiro. Editora Garamond, 2009.
BELTRAME, Ângela da Veiga. Diagnóstico do meio físico de bacias hidrográficas.
Modelo e Aplicação. Florianópolis: Editora UFSC, 1994.
BENETTI, Luciana Borba. Avaliação do Índice de Desenvolvimento Sustentável através
do Método do Painel de Sustentabilidade (IDS) do município de Lages/SC. Tese de
Doutorado do Programa de Pós graduação em Engenharia Ambiental da UFSC, Santa
Catarina, 2006.
BOFF, Leonardo – Desenvolvimento (In)Sustentável – 2002/ Disponível em:
<http://www.leonardoboff.com/> Acesso em: 25 de novembro de 2009.
BOFF, Leonardo – Desenvolvimento ou Sociedade Sustentável – 15 de setembro de 2006.
Disponível em: <http://www.leonardoboff.com/> Acesso em: 25 de novembro de 2009.
BOFF, Leonardo – História da Sustentabilidade – 30 de novembro 2007. Disponível em:
<http://www.leonardoboff.com/> Acesso em: 25 de novembro de 2009.
BONALUME, Wilson Luiz. Desenvolvimento Insustentável: Imprecisão e Ambigüidade
nas Ciências Ambientais. Tese de Doutorado aprovada pela Sherwood University of
London, 2006.
BOSSEL, Hartmut. Indicators for sustainable development: Theory, Method, Aplications:
A report to the balaton group. Winnipeg: IISD, 1999.
BRAGA, Tânia Moreira. FREITAS, Ana Paula Gonçalves. DUARTE, Gabriela de Souza.
Índice de Sustentabilidade Urbana. Disponível em: <
118
http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro1/gt/sustentabilidade_cidades/Braga%2
0-%20Freitas%20-%20Duarte.pdf>. Acesso em: 30 de janeiro de 2010.
BRAGA, Ricardo. Instrumentos para Gestão Ambiental e de Recursos Hídricos. Recife:
Editora Universitária da UFPE, 2009.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 5 de outubro 1988.
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional de Meio
Ambiente.
BRASIL. Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos
Hídricos e cria o Sistema Nacional de Recursos Hídricos.
BRITO, Francisco. Corredores Ecológicos: Uma estratégia integradora na gestão de
ecossistemas, Santa Catarina, Editora UFSC (2007).
BUARQUE, Sergio Costa. Construindo o desenvolvimento local sustentável –
Metodologia de Planejamento – Rio de Janeiro, Editora Garamond, 2008 – 4°edição.
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: A ciência, a sociedade e a cultura emergente. São
Paulo – SP. Editora Cultrix, 2006.
CAPRA, Fritjof, CALLENBACH, Ernest. Esboços de uma sociedade planetária
sustentável. Revista Eco & Ação: Ecologia e Responsabilidade 24 de março de 2008.
CLARK, Robin. KING, Jannet. O Atlas da Água. O Mapeamento Completo do Recurso
Mais Precioso do Planeta. São Paulo. Editora Publifolha, 2005.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (2005) – Resolução n° 357, 17/03/05,
Brasília, CONAMA.
COSTANZA, Robert. Embodied Energy and Economic Valuation. Science, vol. 210,
1980.
COSTANZA, Robert; D’ARGE, Ralph; DE GROOT, Rudolf; FARBERK, Stephen;
GRASSO, Monica; HANNON, Bruce; LIMBURG, Karin; NAEEM, Shahid; O’NEILL,
Robert; PARUELO, Jose; RASKIN, Robert; SUTTONKK, Paul; VAN DEN BELT,
Marjan. The value of the world’s ecosystem services and natural capital. NATURE
volume 387, de 15 de maio de 1997. Páginas 253 a 260.
DIAS, Genebaldo Freire. Pegada Ecológica e sustentabilidade humana, São Paulo, Brasil,
1°Edição, Editora Gaia (2002).
DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Salário
Mínimo nominal e necessário. Disponível em:
<http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml>. Acesso em: 01/02/2010.
119
DONADIO, Nicole Maria Matos; GALBIATTI, João Alberto; PAULA, Rinaldo Costa.
Qualidade da Água de Nascentes com diferentes usos do solo na bacia hidrográfica do
córrego Rico, São Paulo, Brasil Revista de Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.25, n.1,
p.115-125, jan./abr. 2005.
FARIAS, Maria Sallydelandia Sobral. 2006. Monitoramento da Qualidade da Água na
Bacia Hidrográfica do Rio Cabelo. Tese de doutorado Centro de Tecnologia e Recursos
Naturais/Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola UFCG.
FILHO, GILBERTO MONTIBELLER. O Mito do Desenvolvimento Sustentável,
Florianopolis - Santa Catarina, Brasil, 2º Edição Revisada, Editora da UFSC, 2004.
FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA - NOVA ESCOLA, Edição Especial N°31 – Meio
Ambiente. Maio, 2010.
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores de
desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro, 2008.
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Rio de Janeiro 2009.
GALLOPIN.Gilberto Carlos. Enviromental and sustainability indicators and the concept
of situacional indicators1996.
GOLLEY, Frank Benjamin. A HISTORY OF THE ECOSYSTEM CONCEPT IN
ECOLOGY — MORE THAN THE SUM OF THE PARTS. New Haven/London: Yale
University Press, 1993.
GRISI, Bruno. Ecologia na conservação dos recursos naturais. 2° Edição. João Pessoa,
2002, 192p.
GUERRA, Antônio José Teixeira, CUNHA, Sandra Batista. Impactos Ambientais
Urbanos no Brasil, Editora Bertrand Brasil Ltda. Rio de Janeiro (2005).
HAMMOND, Albert .et al. Environmental Indicators: a Systematic Approach to
Measuring and Reporting on Environmental Policy Performance in the Context of
Sustainable Development. Washington: WRI, 1995.
HARDI, Paul; JESINGHAUS, Jochen. Dashboard of sustainability: indicator guidance to
the 21ST century. In: WORLD SUMMIT ON SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2002,
Johannesburg, South Africa. Disponível em: http://biodiversityeconomics.org/pdf/020831-
42.pdf> Acesso em: 15 outubro. 2010.
HARDI, Paul. The dashboard of sustainability: from a metaphor to an operational set of
indices. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON SOCIAL SCIENCE
120
METHODOLOGY, 5. 2000, Cologne, Germany. Disponível em: <
http://www.gesis.org/163dauerbeobachtung/sozialindikatoren/veranstaltungen/PDFs/RC3
3_Hardi21.pdf> Acesso em: 15 outubro. 2010.
IISD – International Institute for Sustainable Development. The dashboard of sus
tainability. Canadá: IISD, 1999. Disponível em: < http://iisd1.iisd.ca/cgsdi/.htm> Acesso
em: 15 outubro. 2010.
LIRA, Waleska Silveira. Sistema de Gestão do conhecimento para indicadores de
sustentabilidade – SIGECIS: Proposta de uma metodologia. Tese de doutorado do
Programa de Pós Graduação em Recursos Naturais, Campina Grande – PB, 2008.
LEFF, Henrique. Saber Ambiental. Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade,
Poder. 7º Edição, Petropólis, RJ: Editora:Vozes, 2009.
LEFF, Henrique. Os limites do crescimento. Disponível em:
<http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15196>.
Acesso em: 06/01/10.
MAGALHÃES JÚNIOR, Antônio Pereira. Indicadores Ambientais e Recursos Hídricos:
Realidade e Perspectivas para o Brasil a partir da Experiência Francesa. Rio de Janeiro:
Editora Bertrand Brasil, 2007.
Mais de um bilhão de pessoas passam fome no mundo, diz ONU. BBC BRASIL. Notícia
publicada em 14 de outubro de 2009. Disponível em
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/10/091014_fomerelatorioonufn.shtml>.
Acesso em 20/10/2009.
MARTINS, Maria de Fátima; CÂNDIDO, Gesinaldo Ataíde. Índice de Desenvolvimento
Sustentável para Municípios – IDSM – Metodologia para cálcuco e análise do IDSM e
classificação dos níveis de sutentabilidade para espaços geográficos. Uma aplicação no
Estado da Paraíba. João Pessoa, PB. Editora SEBRAE, 2008.
MEADOWS, Donella. Indicators and informations sustems for sustainable development.
The Sustainability institute, 1998.
MELO, Nivaneide Alves. Diagnóstico Geoambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Cuiá.
Recife. UFPE,2001.
MESQUITA, Waldeli Rozane Silva de; SANTOS, Verônica Jussara Costa. Proposta do
Plano de Ação de Educação Ambiental em Recursos Hídricos para o Estado do Pará.
Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, Núcleo de
121
Hidrometeorologia – NHM/ SECTAM. Disponível em:
<www.sectam.pa.gov.br/download/artigo%20educambiental.pdf.>Acesso em:01/11/2008.
MIRANDA, Aline Branco; TEIXEIRA, Bernardo Arantes do Nascimento. Indicadores de
Sustentabilidade para os sistemas urbanos de água e esgotamento sanitário (2004). Revista
de Engenharia Sanitária e Ambiental – Volume 9 – número 4 – out/dez 2004, 269-279.
NAESS, Arne. Ecology: the shallow and the deep. Thinking about the enviroment –
readings on politics, property and physical world. London: M.E. Sharpe, 1996.
ODUM, Eugene Pleasants. ECOLOGIA. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan Ltda.
1988, 434p.
ONU. Declaração Universal dos Direitos da Água. Paris, 1992. Disponível em:
<http://www.dhnet.org.br/direitos/direitosglobais/textos/direitos_aguas.html.>. Acesso em
25/05/10.
PARANHOS FILHO, Antônio Conceição; CARNELOSSI, Cristiany Fosquiani;
STREILLING, Sérgio de Souza; FERREIRA, José Hilário Delconte; PRATES, Kátia
Valéria Marques Cardoso. Análise do Impacto da Ação Antrópica sobre uma nascente do
Rio Água Grande (Ubiratã – PR) através de imagem de satélite Cbers. Anais XII Simpósio
Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 16-21 abril 2005, INPE, p. 1451-
1458.
PEARCE, David. et.al, Enviroment economics. Baltimore: The Johns Hopkins University
Press, 1993.
PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet.
Curso de Gestão Ambiental, Editora Manole – Coleção Ambiental - São Paulo (2004)
PLANO DIRETOR DA CIDADE DE JOÃO PESSOA. João Pessoa – PB, 1994.
PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA/SEMAM/DIEP. Memorial Descritivo
das Intervenções Propostas para as Áreas das Comunidades Situadas nos Trechos do Alto
e Médio Curso do Rio Cuiá. 2009.
RABELO, Laudemira Silva. Indicadores de Sustentabilidade: A possibilidade do
Desenvolvimento Sustentável. Fortaleza: Editora: PRODEMA – UFC, 2008.
REIS, Lineu Belico; FADIGAS, Elaine Amaral; CARVALHO, Claudio Elias. Energia,
Recursos Naturais e a Prática do Desenvolvimento Sustentável, Editora Manole – Coleção
Ambiental - São Paulo (2005).
122
RODRIGUES, Marisa Santos. Participação Popular como Estratégia para o
Desenvolvimento Urbano Sustentável. O caso do orçamento democrático do Município de
João Pessoa. Dissertação de Mestrado PRODEMA/UFPB, João Pessoa, 2007.
ROMERO, Marta Adriana Bustos; DA GUIA, George; ANDRADE, Liza; PERSON,
Elisângela; SILVEIRA, Ana Lúcia Camilo. Indicadores de Sustentabilidade dos Espaços
Públicos Urbanos: Aspectos Metodológicos e Atributos das Estruturas Urbanas.
Seminário A QUESTÃO AMBIENTAL URBANA: EXPERIÊNCIAS E
PERSPECTIVAS. Universidade de Brasília, julho de 2004.
ROSA, Maria Socorro Mendes. Gestão Participativa e descentralizada dos recursos
hídricos: uma contribuição para a bacia do Rio Gramame, PB. Dissertação de Mestrado
PRODEMA/UFPB, João Pessoa, 2001.
RUTKOWSKI, Emília; SANTOS, Rozely Ferreira dos. BACIA AMBIENTAL: UM
OUTRO OLHAR PARA A GESTÃO DAS ÁGUAS DOCES URBANAS. Trabalho a ser
apresentado no Congreso Ibérico sobre Planificaión y Gestión de Aguas, em Zaragoza
(Espanha) em setembro/98.
SACHS, Ignacy. Ecodesenvolvimento : crescer sem destruir. Tradução de Edição. Araujo.
- São Paulo: Vértice, 1986.
SACHS, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio
ambiente. São Paulo: Studio Nobel/FUNDAP, 1993.
SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro:
Garamond, 2009.
SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável sustentado. Rio de Janeiro:
Garamond, 2008.
SANDS, Philippe. Principles of international environmental law. 2ª ed. Cambridge, 2003.
SANTOS, Rozely Ferreira. Planejamento Ambiental: Teoria e Prática – São Paulo,
Editora: Oficina de Textos, 2004.
SATO, Ana Carla Kawazoe. Índices de sustentabilidade. Disponível em:
<http://www.unicamp.br/fea/ortega/temas530/anacarla.htm>. Acesso em: 15/11/2009.
da SILVA, Tarcisio Cabral; de SILANS, Alain Marie Bernard; GADELHA, Carmem
Lúcia Moreira (Organizadores). Bacia do Gramame. Hidrologia e Aspectos Ambientais
para Gestão dos seus recursos hídricos. João Pessoa – PB, Editora Universitária UFPB,
2002.
123
SILVA, Leonardo Pereira. Modelagem e Geoprocessamento na Identificação de Áreas
com Risco de Inundação e Erosão na Bacia do rio Cuiá. Dissertação de Mestrado do
PPGEUA. João Pessoa, 2007.
THE CLUB OF ROME. Statement of the Club of Rome to the World Summit on the
Information Society. Geneva, 2003.
THEODORO, Suzi Huff. Mediação de Conflitos Socioambientais. Editora Garamond, Rio
de Janeiro, 2002.
THOMAS, Tom. Ecologia do Absurdo. Editora Sodilivros, 1994.
TUNSTALL, Dan. Developing enviromental indicators: Definitions, framework and
issues.In: WORKSHOP ON GLOBAL ENVIROMENTAL INDICATORS, Washington,
DC, Dec. 7-8, 1992. Washington, DC: World Resources Institute, 1992.
VEIGA, José Eli; ZATZ, Lia. Desenvolvimento Sustentável - Que bicho é esse? – São
Paulo, Editora: Autores Associados ltda. (2008).
VAN BELLEN, Hans Michael. Indicadores de Sustentabilidade: Uma Análise
Comparativa, 2° Edição, Editora FGV (2006).
VIDOR, George. Relatório da ONU estima que 3 bilhões de pessoas, sofrerão com
escassez de água no planeta em 2025. Jornal O Globo. São Paulo. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2009/03/13/relatorio-da-onu-estima-que-3-bilhoes-
sofrerao-com-escassez-de-agua-no-planeta-em-2025-754818688.asp.> Acesso em
25/05/10.
YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Recursos Hídricos: Aspectos Éticos,
Jurídicos, Econômicos e Socioambientais – Volume 1. Campinas: Editora Alínea, 2007.
YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Recursos Hídricos: Aspectos Éticos,
Jurídicos, Econômicos e Socioambientais – Volume 2. Campinas: Editora Alínea, 2007.
ZHOURI, Andréa; LASCHEFSKI, Klemens; PEREIRA, Doralice Barros. A insustentável
leveza da política ambiental: Desenvolvimento e conflitos socioambientais. Belo
Horizonte: Editora Autêntica, 2005.
124
APÊNDICE 1
Nº Bairros
Estimativa de
Densidade
Populacional
Desenvolvimento
do Comércio
Qualidade de
Serviços
Essenciais
Classes
Sociais Serviços
1 Mangabeira Alta densidade
populacional
Altamente
desenvolvido Satisfatória
A1, A2,
B1, B2,
C1, C2, D,
E
Moderado
2 Valetina Alta densidade
populacional
Medianamente
Desenvolvido
Moderadamente
Satisfatória
A2, B1,
B2, C1,
C2, D, E
Moderado
3 José
Américo
Alta densidade
populacional
Medianamente
Desenvolvido
Moderadamente
Satisfatória
A2, B1,
B2, C1,
C2, D, E
Moderado
4 Cuiá Média densidade
populacional
Pouco
Desenvolvido
Moderadamente
Satisfatória
A2, B1,
B2, C1,
C2, D, E
Moderado
5 Costa do
Sol
Baixa densidade
populacional
Pouco
Desenvolvido Insatisfatória
B1, B2,
C1, C2, D,
E
Baixo
6 Paratibe Baixa densidade
populacional
Pouco
Desenvolvido Insatisfatória
B2,C1,
C2, D, E Baixo
7 Gramame Baixa densidade
populacional
Pouco
Desenvolvido Insatisfatória
C1, C2, D,
E Baixo
8 Muçumagro Média densidade
populacional
Pouco
Desenvolvido Insatisfatória
C1, C2, D,
E Baixo
9 Água Fria Baixa densidade
populacional
Medianamente
Desenvolvido
Moderadamente
Satisfatória
A1, A2,
B1, B2,
C1, C2, D,
E
Moderado
125
10 Planalto Boa
Esperança
Média densidade
populacional
Pouco
Desenvolvido
Moderadamente
Satisfatória
B1, B2,
C1, C2,
D, E
Baixo
11 Funcionários I Baixa densidade
populacional
Medianamente
Desenvolvido
Moderadamente
Satisfatória
B2, C1,
C2, D, E Baixo
12 Funcionários II Baixa densidade
populacional
Medianamente
Desenvolvido Insatisfatória
B2, C1,
C2, D, E Baixo
13 João Paulo II Baixa densidade
populacional
Pouco
Desenvolvido Insatisfatória
B2, C1,
C2, D, E Baixo
14 Ernesto Geisel Alta densidade
populacional
Medianamente
Desenvolvido Satisfatória
A1, A2,
B1, B2,
C1, C2,
D, E
Moderado
15 Barra de
Gramame
Baixa densidade
populacional
Pouco
Desenvolvido Insatisfatória
C1, C2,
D, E Baixo
16 Grotão Alta densidade
populacional
Medianamente
Desenvolvido
Moderadamente
Satisfatória
B1, B2,
C1, C2,
D, E
Baixo
17 Jardim São
Paulo
Alta densidade
populacional
Pouco
Desenvolvido
Moderadamente
Satisfatória
B1, B2,
C1, C2,
D, E
Moderado
18 Anatólia Alta densidade
populacional
Medianamente
Desenvolvido Satisfatória
A1, A2,
B1, B2 Alto
19 Bancários Alta densidade
populacional
Altamente
Desenvolvido Satisfatória
A1, A2,
B1, B2 Alto
20 Cidade dos
Colibris
Média densidade
populacional
Medianamente
Desenvolvido Satisfatória
A1, A2,
B1, B2 Alto
21 Jardim cidade
Universitária
Alta densidade
populacional
Altamente
Desenvolvido Satisfatória
A1, A2,
B1, B2 Alto
126
APÊNDICE 2
Questionário de Avaliação Socioeconômica
1. Em termos de comércio, você encontra tudo o que precisa no bairro em que mora?
( ) SIM ( ) NÃO
Você considera seu bairro com o comércio:
( ) Altamente desenvolvido ( ) Medianamente Desenvolvido
( )Pouco Desenvolvido
Se a resposta for não, que tipo de comércio falta no bairro?
____________________________________________________________________
2. Qual a estimativa de renda familiar?
( ) 1 salário mínimo ( ) 2 salários mínimos( ) 3 salários mínimos
( ) 4 salários mínimos ( ) 5 salários mínimos ( ) 5 salários mínimos
( ) 6 salários mínimos ( ) 7 salários mínimos ( ) 8 salários mínimos
( ) 9 salários mínimos ( ) 10 salários mínimos ( ) >10 salários mínimos
( ) >15 salários mínimos ( ) >28 salários mínimos
3. Como você avalia os serviços oferecidos no bairro?
Segurança Pública ( ) Satis. ( ) Mod. Satis. ( ) Insatis.
Educação ( ) Satis. ( ) Med. Satis. ( ) Insatis.
Postos de Saúde ( ) Satis. ( ) Med. Satis. ( ) Insatis.
Transporte Coletivo ( ) Satis. ( ) Med. Satis. ( ) Insatis.
Limpeza Urbana ( ) Satis. ( ) Med. Satis. ( ) Insatis.
Saneamento Básico ( ) Satis. ( ) Med. Satis. ( ) Insatis.
Fornecimento de Água( ) Satis. ( ) Med. Satis. ( ) Insatis.
Se você considera algum dos serviços medianamente satisfatório ou insatisfatório, o que você
gostaria que fosse modificado?
____________________________________________________________________
4.Você acha que seu bairro precisa de algum tipo de serviço?
____________________________________________________________________
5. Consumo de Serviços.
Plano de Saúde ( ) Internet ( ) TV por Assinatura ( )
6. Qual a importância do rio Cuiá para o seu bairro?
____________________________________________________________________
7. Você acha que deveria ser feito algum tipo de melhoria ou controle em alguma parte do rio?
____________________________________________________________________
MUITO OBRIGADO PELA SUA ATENÇÃO!
127
APÊNDICE 3 Próximo a Nascente - Bairro Grotão P1 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 Média VMP CONAMA 357 Classe 3 Desvio P
Coli 2000 3200 2300 1200 500 1700 1900 2200 2900 3700 2160,00 2500 UFC/ 100 mL 943,04
OD 2 1,3 2,1 2 4,1 2,4 2 2 2,2 1,7 2,18 >4,00 0,74
Cond 176,9 170,3 159,6 160,4 149,7 156,3 173,9 159,8 188 193,2 168,81 NA 14,20
pH 6,8 7,1 7 6,9 6,4 7,3 5,9 6,2 6,3 7,3 6,72 6 a 9 0,49
DBO 12 10,1 8,4 13,1 8 9,1 10,3 16,1 17,3 18,4 12,28 <10 3,80
DQO 74,1 65,1 59,4 60 51,3 43,7 69,1 72,3 69,7 78,6 64,33 NA 10,82
Próximo a Confluência entre os rios Laranjeiras e Cuiá
P2 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 Média VMP CONAMA 357 Classe 3 Desvio P
Coli 300 500 350 1000 500 700 2000 1000 300 800 745,00 2500 UFC/ 100 mL 514,48
OD 5,2 5,1 4,9 5 5,1 4,3 4,3 4,7 5,2 5 4,88 >4,00 0,34
Cond 172,4 174,4 159 142 158 149 169 131 169 178 160,18 NA 15,41
pH 7 7 7 7,1 6,9 6,9 7 7,1 6,9 7 6,99 6 a 9 0,07
DBO 8 11 8,5 10,5 9,3 7,5 8,2 8,3 12,1 11,3 9,47 10 1,62
DQO 71,3 63,4 62 52,4 52,4 49,3 49,3 52,3 69,8 71,6 59,38 NA 9,27
Próximo a Ponte de divisa dos Bairros Valentina e Mangabeira
P3 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 Média VMP CONAMA 357 Classe 3 Desvio P
Coli 4000 3600 2910 2930 2810 2350 2300 2170 2020 2090 2718,00 2500 UFC/ 100 mL 666,98
OD 0,1 0,5 0 0,1 0,5 0,2 0,2 0 0,5 0,1 0,22 >4,00 0,20
Cond 234 274 279 281 279,4 289 278 261 257 237 266,94 NA 19,07
pH 6,05 6,1 6 6,2 6 6,4 6,2 6 6,5 6,5 6,20 6 a 9 0,20
DBO 23,7 24,5 31,3 42,8 48,5 42 45 51 60,5 41,3 41,06 10 11,65
DQO 184 182 193 189 192 179 163 194 288 159 192,30 NA 35,73
128
Aproximadamente a 50m a jusante do lançamento do efluente tratado pela ETE de Mangabeira
P4 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 Média VMP CONAMA 357 Classe 3 Desvio P
Coli 350 319 274 272 255 282 199 314 210 250 272,50 2500 UFC/ 100 mL 47,26
OD 0,5 0 0,8 1 0 0,5 0,5 1,5 0,5 0 0,53 >4,00 0,48
Cond 737,1 753,2 403,3 298 288 302 327,2 281 214 307 391,08 NA 192,31
pH 5,2 5,1 6,5 6,3 5,8 6,3 5,9 6,2 6,8 5,4 5,95 6 a 9 0,57
DBO 68,3 70 53,7 63,7 43,7 68,5 82,9 74,7 71 72,3 66,88 10 11,05
DQO 239,7 227 213 201,7 197,4 218 305,4 291 273 309 247,52 NA 43,24
Próximo a confluência entre o riacho Buracão e rio Cuiá
P5 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 Média VMP CONAMA 357 Classe 3 Desvio P
Coli 88 54 0 34 25 17 19 26 27 63 35,30 2500 UFC/ 100 mL 25,83
OD 1,3 2,3 4 4,2 3,5 3,8 3,9 4 3,9 3,2 3,41 >4,00 0,92
Cond 307 324 301 279 238 237 213 215 216,3 207 253,73 NA 44,62
pH 6,6 6,6 6,9 7 7,1 7 7,1 7,2 7,1 7 6,96 6 a 9 0,21
DBO 18,4 18 15,3 17,9 16,3 15,5 18,3 17,9 15,7 18,5 17,18 10 1,31
DQO 88,2 72,9 53,1 68,2 74,7 67,3 63,5 65,3 63,8 67,7 68,47 NA 9,08 Próximo a principal desembocadura do rio Cuiá no Oceano Atlântico
P6 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 Média VMP CONAMA 357 Classe 3 Desvio P
Coli 130 142 95 103 98 72 63 52 55 64 87,4 2500 UFC/ 100 mL 31,43
OD 3,5 4,1 4,3 4,5 4,2 3,8 4 4,1 4 4,2 4,07 >4,00 0,28
Cond 10439 10589 10372 9843 10238 10531 10584 10623 10833 10653 10470,5 NA 274,28
pH 6,2 5,8 5,7 5,5 5,7 5,9 6 6,3 6,5 6,1 5,97 6 a 9 0,31
DBO 22 26 31 20,4 19,7 17,3 18,9 19 22,3 31,9 22,85 10 5,13
DQO 108 123 110 98,3 81,7 75,3 77,3 75,8 88,4 115 95,28 NA 17,88
129
ANEXO 1
Fonte: Adaptado de SANTOS, 2004 Legenda: Bacia Hidrográfica
130
ANEXO 2
Fonte: Adaptado de SANTOS, 2004 Dinâmica Energética do Ecossistema Hídrico
131
ANEXO 3
PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DA PREFEITURA MUNICIPAL DE
BELO HORIZONTE
CAPÍTULO I
Disposições Preliminares
Art. 1°. Fica instituído no âmbito do município de Curitiba, o Programa IPTU Verde,
cujo objetivo é fomentar medidas que preservem, protejam e recuperem o meio
ambiente, ofertando em contrapartida benefício tributário ao contribuinte.
CAPÍTULO II
Dos requisitos
Art. 2°. Será concedido benefício tributário, consistente em reduzir o Imposto Predial e
Territorial Urbano (IPTU), aos proprietários de imóveis residenciais e territoriais não
residenciais (terrenos) que adotem medidas que estimulem a proteção, preservação e
recuperação do meio ambiente.
Parágrafo único: As medidas adotadas deverão ser:
I - Imóveis Residencias (incluindo condomínios horizontais e prédios):
a) Sistema de captação da água da chuva;
b) Sistema de reuso de água;
c) Sistema de aquecimento hidráulico solar;
d) Sistema de aquecimento elétrico solar;
e) Construções com material sustentável;
f) Utilização de energia passiva;
132
g) Sistema de utilização de energia eólica.
II - Imóveis territoriais não residenciais (terrenos):
a) Manutenção do terreno sem a presença de espécies exóticas e cultivação de espécies
arbóreas nativas.
III - Imóveis residenciais (exclusivo para condomínios horizontais ou prédios):
a) Separação de resíduos sólidos.
Art. 3°. Para efeitos desta lei, considera-se:
I - Sistema de captação da água da chuva: sistema que capte água da chuva e armazene
em reservatórios para utilização do próprio imóvel;.
II - Sistema de Reuso de Água: utilização, após o devido tratamento, das águas residuais
proveniente do próprio imóvel, para atividades que não exijam que a mesma seja
potáve;.
III - Sistema de aquecimento hidráulico solar: utilização de sistema de captação de
energia solar térmica para aquecimento de água, com a finalidade de reduzir
parcialmente, o consumo de energia elétrica na residência;
IV - Sistema de aquecimento elétrico solar: utilização de captação de energia solar
térmica para reduzir parcial ou integralmente o consumo de energia elétrica da
residência, integrado com o aquecimento da água.
V - Construções com material sustentável: utilização de materiais que atenuem os
impactos ambientais, desde que esta característica sustentável seja comprovada
mediante apresentação de selo ou certificado;
VI - Utilização de energia passiva: edificações que possuam projeto arquitetônico onde
seja especificado dentro do mesmo, as contribuições efetivas para a economia de
energia elétrica, decorrentes do aproveitamento de recursos naturais como luz solar e
vento, tendo como consequencia a diminuição de aparelhos mecânicos de climatização;
133
VII - Manutenção do terreno sem a presença de espécies exóticas invasoras e que
cultivem espécies arbóreas nativas: o proprietário de terreno sem edificações, que
proteja seu imóvel de espécies exóticas invasoras, não típicas do local, que passam a
tomar conta do terreno, causando grande impacto ambiental, ecológicos, e perda
considerável da biodiversidade. Ainda, deve destinar pelo menos 20% de seu espaço ao
cultivo de espécies nativas, a fim de aumentar a biodiversidade no período urbano.
Art. 4°. Os padrões técnicos mínimos para cada medida estão previstos no Anexo I, da
presente Lei.
CAPÍTULO III
Do benefício tributário
Art. 5°. A título de incentivo, será concedido o desconto no Imposto Predial e Territorial
Urbano (IPTU), para as medidas previstas no parágrafo único, do artigo 2°, na seguinte
proporção:
I - 3% para as medidas descritas nas alíneas c e f, inciso I e alínea a, inciso III;
II - 5% a 9% para a medida descrita na alínea e, inciso I;
III - 7% para as medidas descritas nas alíneas a e b, inciso I;
IV - 9% para a medida descrita na alínea a, inciso II
V - 11% para as medidas descritas nas alíneas g e d, inciso I e alínea b, inciso II;
VI - 20% para a medida descrita na alínea d e g, inciso I.
Art. 6°. O benefício tributário não poderá exceder a 20% do Imposto Predial e
Territorial Urbano (IPTU) do contribuinte.
CAPITULO IV
Do Procedimento para concessão do benefício
134
Art. 7°. O interessado em obter o benefício tributário deve protocolar o pedido
devidamente justificado para a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, até data de 30
de setembro do ano anterior em que deseja o desconto tributário, expondo a medida que
aplicou em sua edificação ou terreno, instruindo o mesmo com documentos
comprobatórios.
§1° Para obter o incentivo fiscal, o contribuinte deverá estar em dia com suas
obrigações tributárias.
§2° A Secretaria Municipal do Meio Ambiente designará um responsável para
comparecer até o local e analisar se as ações estão em conformidade com a presente Lei,
podendo solicitar ao interessado documentos e informações complementares para
instruir seu parecer.
§3° Após a análise, o Secretário Municipal do Meio Ambiente elaborará um parecer
conclusivo acerca da concessão ou não do benefício.
§4° Sendo o parecer favorável, após ciência do interessado, o pedido será enviado para
a Secretaria de Finanças para providências.
§5° Entendendo pela não concessão do benefício, a Secretaria arquivará o processo,
após ciência do interessado.
Art. 8°. Aquele que obtiver o desconto referido nesta Lei, receberá o selo de “amigo do
meio ambiente”, para afixar na parede de seu imóvel, sendo que sua regulamentação
será feita através de Resolução.
Art. 9°. Só poderá ser beneficiado pela presente Lei, os imóveis residenciais (incluindo
condomínios horizontais e prédios) ligados à Rede de Esgoto, desde que disponível, ou
que possua sistema ecológico de tratamento de esgoto, como uma fossa ecológica, onde
ocorra o processo de biometanação, envolvendo a conversão anaeróbia de biomassa em
metano.
Art. 10. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente realizará a fiscalização a fim de
verificar se as medidas estão sendo aplicadas corretamente.
135
Art. 11. A renovação do pedido de benefício tributário deverá ser feita anualmente.
CAPÍTULO V
Da extinção do benefício
Art. 12. O Benefício será extinto quando:
I - O proprietário do imóvel inutilizar a medida que levou à concessão do desconto;
II - O IPTU for pago de forma parcelada e o proprietário deixar de pagar uma parcela;
III - O interessado não fornecer as informações solicitadas pela Secretaria Municipal do
Meio Ambiente.
CAPÍTULO VI
Das disposições finais
Art. 13. A presente Lei atende à compensação exigida pelo disposto no artigo 14, da Lei
Complementar 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal).
Art. 14. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Exigências mínimas técnicas das medidas
PARA IMÓVEIS RESIDENCIAIS (incluindo prédios e condomínios horizontais)
Imóveis Residenciais com sistema de aquecimento
hidráulico solar
Placas de captação de energia solar que sejam
responsáveis pelo aquecimento da água da
residência.
3%
Potencialização da utilização de energia passiva
Edificações que possuam projeto arquitetônico onde
seja especificado dentro do mesmo, as contribuições
3%
136
efetivas para a economia da energia elétrica,
decorrentes da potencialização do uso de recursos
naturais, como vento e luz solar, consequentemente
reduzindo a utilização de aparelhos mecânicos de
climatização.
Construções com material sustentável Utilização
de materiais que atenuem os impactos ambientais,
desde que comprovado mediante apresentação de
certificado ou selo, em 40% a 60% da área edificada.
5%
Imóveis Residenciais com sistema de captação de
água da chuva
O sistema deverá possuir tubos de condução de água,
a caixa d’agua deverá ter a capacidade mínima de
2.000 litros, ser tampada, e funcionar integrado ao
sistema hidráulico da casa.
7%
Imóveis Residenciais com sistema de reuso da
água
O sistema deverá ser nos moldes do art. 6° e 7° da
Lei Municipal n. 10.785 de 18 de setembro de 2003
e funcionar integrado ao sistema hidráulico da casa.
7%
Construções com material sustentável Utilização
de materiais que atenuem os impactos ambientais,
desde que comprovado mediante apresentação de
certificado ou selo, em 61% a 80% da área edificada.
7%
Construções com material sustentável Utilização
de materiais que atenuem os impactos ambientais,
desde que comprovado mediante apresentação de
certificado ou selo, em 81% a 100% da área
edificada.
9%
Sistema de utilização de energia eólica: Deverá
captar vento, através de moinhos ou cata-ventos,
para produção de pelo menos 20% da energia
elétrica da residência.
11%
137
Imóveis Residenciais com sistema elétrico solar
Deverá estar integrado ao sistema de energia elétrica
da casa e ser responsável pelo menos a 20% do seu
consumo total da residência.
11%
PARA IMÓVEIS TERRITORIAIS NÃO RESIDENCIAIS (terrenos)
Imóveis territoriais sem a presença de espécies
exóticas e com cultivo às espécies arbóreas
nativas
Terrenos sem a presença de nenhuma das espécies
citadas na lista de espécies exóticas do Paraná,
Portaria expedida pelo IAP, n. 074, de 19 de Abril de
2007 e que cultivem 20% ou mais com espécies
nativas plantadas, desde que plantadas numa
densidade maior que uma árvore por metro
quadrado.
11%
IMÓVEIS RESIDENCIAIS (exclusivo para condomínios horizontais ou prédios)
Imóveis Residenciais com programa de separação de
resíduos sólidos
Condomínios ou prédios com maios de seis unidades
que forneçam a infra-estrutura básica (lixeiras,
galões ou recintos), devidamente identificadas com
nome, diferenciadas por cor, voltados à separação
dos resíduos sólidos produzidos pelos condôminos
em vidro, metal, plástico, papel, e resíduos não
recicláveis.
11%