104
http://uploading.com/files/get/2c964e3d/Terror%2BEmpire%2B-%2BFace%2Be%2BTerro r%2B%2528320%2B-%2Brash%2B-%2BPortugal%2B-%2B2012%2529.zip

Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Register on ISSUU to download the PDF file! Regista-te no ISSUU para descarregares o PDF! Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Citation preview

Page 1: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

http://uploading.com/files/get/2c964e3d/Terror%2BEmpire%2B-%2BFace%2BThe%2BTerror%2B%2528320%2B-%2BThrash%2B-%2BPortugal%2B-%2B2012%2529.zip

Page 2: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 3: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 4: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

ELEMENTOS À SOLTA, LDARua Adriano Correia Oliveira 153 1B3880-316 Ovar / PORTUGAL[e] [email protected]

EDITOR-CHEFETiago Moreira[e] [email protected]

DIRECÇÃO / DESIGN & PAGINAÇÃOElementos À Solta, LDA[e] [email protected]átia Cunha[e] [email protected] Costa[e] [email protected]

COLABORADORESAna Miranda André BalçasBruno FarinhaCarlos CarianoCátia CunhaDavid HortaDavide GravatoEduardo MarinhoFlávio SantiagoHelena GranjoÍris JordãoIvan SantosJaime FerreiraJoel CostaJosé BrancoJosé MachadoLiliana QuadradoMarcos FarrajotaMark MartinsMónia CamachoNarciso AntunesNocturnus HorrendusRicardo AlmeidaRita LimedeRuben InfanteRute GonçalvesTiago Moreira

FOTOGRAFIACréditos nas páginas

[email protected]+351 92 502 80 81

ACORDO ORTOGRÁFICO:A Infektion apresenta alguns textos redigidos mediante as normas do novo acordo ortográfico.

Não é fácil, não é nada fácil. Numa altura em que a música é vista como um mero entretenimento para massas, onde lojas de discos fecham as portas diariamente, e as pessoas só marcam presença em festivais de verão… é preciso ter “tomates”. É de louvar o amor GENUÍNO, que algumas pessoas têm pela música, ou mesmo pela arte em geral. E é desse amor genuíno que nasce a Amplificasom, mais que uma mera promotora, ela assume-se como uma comunidade aberta (todos são convidados a participar), que teima em PARTILHAR cultura, mesmo quando esta é considerada um luxo. Já lá vão seis anos, completados no passado dia 10 Novembro. Foi há seis anos que um grupo de jovens sonhadores, e aventureiros, arriscaram trazer os desconhecidos que eram, e são, os norte-americanos, Enablers. E desde então, nunca mais olharam para trás! Em 2011 foram audazes, ao edificar o que é agora, um evento cultural incontornável, no nosso Portugal… o magnificente Amplifest. O Amplifest que se traduz num fim-de-semana de sonho, onde Godflesh, Jesu, Acid Mothers Temple, Amenra, Oxbow Duo, Go-dspeed You! Black Emperor, e muitos outros, foram uma realidade. In-crível, hein? As conquistas, nesta altura do campeonato, falam por si, e mesmo quando poderia haver espaço para arrogâncias, eles atiram “A Amplificasom não é do André, nem de quem quer que seja. A Amplifi-casom é de todos nós, de todos os que acreditam nela.”.

Resta-me dizer… MUITO OBRIGADO! Vocês são uma verdadeira fonte de inspiração. Um verdadeiro motivo de orgulho.

Tiago Moreira (Editor-Chefe)

06 HORRORSCOPE08 ENTRANHAS, POR NOCTURNUS HORRENDUS10 DISCOS ESPECIAIS12 AMPLIFICASOM26 ENSLAVED30 PORTA NIGRA32 MONOLITHE34 SYLOSIS36 AMENRA40 UNDERGROUND ‘N PROUD42 DOWNFALL OF GAIA46 HUATA48 AZAGATEL50 GERM52 GRAVE54 SERPENTINE PATH56 DESTINITY58 GOD SEED59 SINISTER60 INFEÇÃO URINÁRIA DE MARTE62 REVIEWS78 LIVE REPORTS

Page 5: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 6: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 7: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 8: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Entendem como pode haver tanta banda de metal num país tão pe-queno? Tantos fóruns, tantos chatlines, tantos blogs, etc. Por vezes tenho

a sensação que estamos num país com 50 milhões de habitantes. Mas não. Estamos num pequeno, e acanhado, país de 10 mi-lhões de habitantes, onde os TOPs nacio-nais nem fazem qualquer tipo de referên-cia ao metal. Tirando a excepção que são os Moonspell, que volta e meia lá conse-guem o seu lugar. Sim, pelo menos temos essa banda, que merecidamente, conse-gue, nem que seja por breves momentos, colocar o metal em Portugal na ribalta. Não que isso sirva de muito, pois poucos, ou mesmo nenhum de nós (músicos), po-dem tirar partido dessa situação, que logi-camente seria proveitosa. Parece que nem podemos pensar em tal coisa.Mas seja como for, eu que trabalho alguma coisa em audiovisuais, tenho a oportuni-dade de ver (sempre numa visão “Matrix”) o mundo bonito da televisão, música, etc. Todo aquele pessoal que está ligado a es-sas áreas, e falo, claro, do pessoal ligado ao rock e ao metal. Pessoas que não se me-tem à frente da câmera de filmar, mas que possivelmente até estão a ser os operado-res das mesmas.Muitos possivelmente são bons músicos, integrantes de boas bandas, mas que pre-cisam de meter o “pão na mesa”, pois nin-guém lhes dá o merecido crédito.Alguns poderão vir dizer que isto é o un-derground, mas não o é. O termo “metal” está em todo o lado, mesmo sem o dévido mérito, mas a verdade é que está mesmo em todo o lado. Já ninguém o pode igno-rar, seja pelo vizinho do lado, todo gade-lhudo de cruzes invertidas, ou o seu colega de trabalho na fábrica que anda de hea-dphones a ouvir os seus clássicos de metal, dos anos oitenta.O que mais faz confusão é o facto de verifi-car o aumento exponencial de pessoal que se pavoneia na rua com a t-shirt da sua ban-da predilecta, e ao mesmo tempo verificar que estas, mesmas pessoas raramente es-tão presentes nos concertos. É mais do que

sabido que isto tudo vai ter de acabar um dia. Uma pessoa não pode perder horas e horas de ensaios, gravações e ter dinheiro perdido no meio disto tudo, para depois ser louvado, aplaudido pela sua Arte, mas no final do dia levar para casa uns míseros 20 euros de vencimento. E não tenham dúvi-das que isto acontece… e com grande fre-

quência, deixem-me acrescentar.Mas espera “man, tu tens de ficar agrade-cido por teres esses 20 euros”. Sim, pois. É esta a realidade. Nós, músicos e artistas, temos de ficar agradecidos pelos trocos, como se fossemos uns glorificados arru-madores de carros, que levam esses trocos como de caridade se tratasse. //

Page 9: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 10: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

por VULTURIUS (IRAE)

Antes de mais quero agra-decer e mandar um grande abraço ao pessoal da In-fektion Magazine pelo con-vite que me fizeram, para

a participar nesta rubrica do “Discos Especiais”

Não sei bem como começar isto mas acho que vai ser mesmo assim: a convi-te do pessoal da Infektion Magazine vou falar sobre a influência que este disco teve para mim e a minha história em re-

dor dele, assim como uma pequena “review”Ora bem, corria o final do ano de 1994, mais coisa menos coisa, isto porque passado mui-tos anos é difícil recordar a data com preci-são, e era eu fã acérrimo de Sepultura/Pan-tera (entre outros). Álbuns como o “Beneath the Remains”, “Arise” ou o “Vulgar Display of Power” ainda a rolar em cassete no walkman ou aparelhagem e alguns em CD, pois não ha-via internet nem muito dinheiro para comprar CDs há “toa”. Na altura as trocas entre ami-gos “rulavam” bastante. Cada vez que recebia um disco novo este era observado e escutado

SAMAEL «Blood Ritual»Lançamento: 1 de Dezembro de 1992 / Century Media

Page 11: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

cuidadosamente de uma ponta à outra, como uma obra de arte e ainda agora assim defen-do que seja feito dessa maneira, mas devido à internet, e quantidade astronómica de lan-çamentos , reedições, surgimento das mais variadas “vagas” de metal e a própria desva-lorização da musica… deixou que esta assim se tratasse.

Foi nesta altura que juntamente com uns amigos comecei-me a sentir atraído pelo lado mais negro da musica, assim como as artes do oculto, conceitos e formas de estar. Devi-do ainda há inadaptação da minha audição e pouca percepção para produções podres con-fesso que antes deste “Blood Ritual”… lembro que me passaram álbuns pelas mãos como o “Under the Sign of the Black Mark” de Ba-thory ou o “Obsessed by Cruelty” dos Sodom. Na altura não lhes prestei muita atenção, mas hoje em dia tenho uma opinião diferente e penso que são essenciais.

Eis que certo dia vou a casa de um amigo meu aqui da própria rua onde vivia, e vivo agora novamente, sendo ele um pouco mais velho, tendo um maior conhecimento, e uma co-lecção já considerável, que me aconselhou, e emprestou, ainda a 1ªedição deste “Blood Ritual” dos Samael. Ainda me recordo das pa-lavras dele “se queres ouvir um álbum de bla-ck metal e não estás habituado a produções podres… ouve isto”

Bem, só posso dizer que cheguei a casa, meti o CD a tocar e… fiquei completamente colado do princípio ao fim, porque simplesmente até então foi a música mais negra e obscura que me tinha passado pelas mãos. Desde o epilo-gue o qual me pus a ler as letras a observar o booklet vendo imagens de cruzes invertidas, pentagramas (ALL MY LIFE FOR HIS GLORY, THEIR BLOOD FOR HIS TRIUMPH), punhais, fa-cas, velas, Baphomet… a capa que me parecia ser um ritual, sacrificando uma criança. E tudo isto já para não falar nas obscuras fotos dos músicos que vinham na contra-capa e os no-mes que eles usavam. Tudo isto ainda era um mistério para mim. Escutava a música de teor completamente negro, sombrio e oculto. que também aborda a morte e o sacrifício huma-no em tom ritualista. Algumas partes, intros e interlúdios de teclado, ainda levantavam bem mais alto a chama negra deste álbum. Desde a entrada destaco completamente:

SINCE THE CREATION:Every men born evilSomeone will try to be good as they canSome other will dedicate their lifeTo the unholy lord of the earth

Foram letras e músicas destas que marcaram tudo o que fiz até agora. Seja com IRAE, ou mesmo com outros projectos que tenho, ou

já tive, e até como modo de vida e vão repa-rar que letras como esta estão muito perto do que realmente é a verdade neste mundo

Outro tema, simplesmente magnifico, que destaco é o:

TOTAL CONSECRATION:From the north, from the southFrom the west, from the east

I summon you, gods of the pitCome to us, infernal legions

Satan, father of men, god of godsTake a look at your childrenTonight, they give you their souls

Orquestrações e conteúdos maléficos como este, puxam-me, definitivamente. para as trevas e para o black metal. Mas voltando um pouco atrás, o tema BEYOND THE NOTHING-NESS arranca de forma soberba, com um ex-celente riff de guitarra e um ritmo de bate-ria… só dá vontade de fazer headbanging sem parar. E quando entra, e acaba, a letra é… sim-plesmente algo superior. Aa voz do Vorphala-ck é de alguém cheio de ódio, e na altura um discípulo do diabo. Só aquela parte do fim:

We’re all oneAnd one is him

Outro tema de destaque é o AFTER THE SE-PULTURE. Completamente ritualista, negro e profano:

Nothing ever stopsEverything starts againThe end and the beginningAre eternal lovers

Prisoners of or bodiesFrom the cot to the graveImpotent puppetsWe aspire to the light

The sun will turn in blackYou will see the dark...After the sepulchre

Grams of their brother’s criesSpirit lastly free oneselfLike raise the incense smokeAnd the funeral orations

Here time is unrealHours and minutes are meaninglessHere eternity has a nameRemorse and penitence

The sun will turn in blackYou will see the dark...After the sepulchreLife is just an illusion

Going round and round

Simples e directo! Para mim esta é uma das melhores letras que já vi num álbum de bla-ck metal, e dá-me vontade de rir quando vejo bandas a abordar as mesmas temáticas, mas com palavras e expressões tiradas, e estu-dadas, de uma enciclopédia de um livro, ou da internet. E aplicam-lhe com termos como evangélico ou ortodoxo, pensando que fazem algo de diferente. Criam um circulozito e as ovelhas seguem-nos.....

MACABRE OPERETTA, o nome diz tudo: LEN-TO E MACABRO. Executado de forma amaldi-çoada e perfeita:

Bodies consecrated to the earthSpirit to the light

Life can’t be infiniteOnly pain is eternal

Cry for the ruined timeYou’ve lost to understandThe meaning of life will stay a mysteryBut you now have the answers about death

BLOOD RITUAL adoro esse tema. Mais uma vez executado de forma perfeita e com exce-lentes riffs:

Life, where suffering is the only satisfactionSadness of my nights without sleepAnguish to be alone against all

Ritual of blood, where a human beingGives his life for mineSpills his blood for mine

Now I will be them and they will be mineAnd we’ll be one above your god

Blood ritual / Purification by the bloodBlood ritual / Total consecration

WITH THE GLEAM OF THE TORCHES riffs e at-mosfera musical perfeita. Negra e implacável:

Here she is the promised virgin!

O álbum acaba com BESTIAL DEVOTION e ...UNTIL THE CHAOS. Dois temas intensos, de grande profundidade… como todo o álbum, aliás. Negro e essencial! Cheio de excelentes riffs, devoção e intensidade.

Aconselho a todos os amantes de black metal, e da música negra, a ouvirem este álbum em suas casas ou num sítio remoto. Às escuras enquanto lêem as letras. É de facto uma bela maneira de O admirar. //

Page 12: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

A minha relação com a Amplificasom é especial. Tão especial ao ponto de dizer que a Amplifica-som faz parte de mim e da minha vida. E falar-mos de algo tão especial, algo tão nosso, poderá

resultar num turbilhão de emoções. Comecei por fazer parte de um sonho e posso dizer que vi esse sonho tornar-se realidade com o primeiro concerto da Amplificasom: o de Enablers. Ao longo do tempo, sem pres-sas, um caminho começou a ser traçado, neste pequeno, grande mundo que é hoje a Amplificasom. O nosso mundo, o vosso mundo, o mundo de todos nós. A Amplificasom nasceu da vontade de trazer bandas que de outro modo não passariam pelo nosso cantinho esquecido e ver mais do mesmo já começava a cansar. A Amplifica-som nasceu como que uma sede de alargar os horizontes e a partilha sempre foi algo primordial, o risco de trans-mitir uma mensagem, muito própria, que só alguns iriam acompanhar e tem sido esta a essência da Amplificasom e o que a faz não ter rótulos. Destaco a enorme capacidade da Amplificasom estar com todos e em todo o lado, nutrindo tão boas relações com aqueles que trabalham e já trabalha-ram com ela. Na Amplificasom, o mais importante é o “fa-

zer acontecer”, o “estar a acontecer”. A Amplificasom sabe o que quer, a Amplificasom tem personalidade. Acima de tudo, somos sinceros, sinceros connosco, com a forma como trabalhamos, e, acima de tudo, sinceros com todos aqueles que fazem parte da Amplificasom. Destaco os amigos, gran-des amigos que se têm feito ao longo desta viagem, uma verdadeira família. Obrigada, vocês sabem quem são.Quanto às minhas funções na Amplificasom englobam to-das aquelas que forem precisas e todas aquelas onde eu poderei dar o meu contributo. Para mim, o mais importante é estar presente, todos os dias, com a Amplificasom, desde 2006. O entusiasmo em trazer uma banda como se da pri-meira se tratasse, o empenho e a dedicação que se coloca em cada concerto, tudo isso torna a Amplificasom tão es-pecial. É ver, o rosto cansado das bandas quando chegam e o enorme sorriso com que saem. Os abraços sentidos, as palavras que ficam. Momentos sinceros, de partilha, que fi-cam imortalizados no tempo. São estes momentos o motor da Amplificasom.Porque a Amplificasom é isto: amor em tudo, com todos.

por Mónica Ovaia

ZU

Page 13: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

ZU

Page 14: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Como nasce a Amplificasom? O que impulsionou a cria-ção deste “projecto”?André Mendes: Nasce de uma maneira completamente descomprometida, impulsionada pela vontade de que-

rermos ver as nossas bandas preferidas na nossa cidade e… que ninguém o fazia, nem tão pouco se mostravam interessados em fazê-lo. Estamos a falar de 2006, o panorama cultural no Porto é completamente diferente. Ainda estamos a falar daquele tempo em que as pessoas se organizavam em excursões para ir a Lisboa ver determinados concertos. Aqui no Porto, tirando os concertos “mainstream”, não tinhas praticamente nada a acontecer. A Ampli-ficasom nasce um bocado por ai, descomprometida, de forma na-tural e com esse objectivo de vermos as nossas bandas preferidas. Nos dias de hoje a ideologia é a mesma.

Enablers, 10 de Novembro de 2006 n’O Meu Mercedes. Primei-ro e único concerto de 2006…Toda aquela emoção, todas as memórias: onde fomos jantar e in-clusive a t-shirt que envergava nesse dia. Lembro-me de muitos momentos do concerto, de ter conhecido algumas pessoas que até então só conhecia por e-mail… e lembro-me de termos per-dido algum dinheiro. E acima de tudo lembro-me do que o Joe, dos Enablers, me disse, “it was a learning experience”. Uma frase que até hoje recordo, porque no fundo todos os concertos são uma “learning experience”. Foi um concerto brutal... O cartaz tão DIY, o minúsculo bilhete... Marcou-nos.

Como relembras os primeiros obstáculos que tiveste que ul-trapassar nesses primeiros tempos? Foi tudo…

…uma “learning experience”?Exactamente! É por isso que nunca irei esquecer essa frase. O Joe disse-me isso quando nos estávamos a despedir no hotel e nunca mais me esqueci. Eu podia dizer que foi uma caminhada, mas a verdade é que é uma caminhada, está a ser uma caminhada. Ainda no fim-de-semana passado (Amplifest’12) aprendemos coisas que certamente temos que melhorar, e o objectivo é sempre esse: ter bons momentos com as bandas, com o público que vem assistir a estes eventos, e no fundo aprender com os erros para que no fu-turo a experiência possa ser ainda mais enriquecedora para todos os envolvidos.

Um dos factores para o sucesso da Amplificasom será, certa-mente, o apoio a nível de recursos humanos que tens tido ao longo dos tempos. Concordas?Sem dúvida! Há muitos factores que proporcionam a sustentabili-dade da Amplificasom… a todos os níveis. Uma delas, é a quanti-dade de BONS amigos que nos dão uma mão… no Amplifest, por exemplo, seria impossível fazer tudo sozinho. Estamos a falar de menos de dez pessoas, mas pessoas com quem travei amizade há

muitos anos. Por exemplo, a minha namorada (Mónica) que é o meu braço direito… ela conseguiu coisas que eu acho que não teria conseguido. Um grupo de pessoas que veste a camisola, que acre-dita no projecto, e que…

… têm um amor genuíno pela música e pela arte?Sem dúvida! Nós se quiséssemos viver disto teríamos que compro-meter os nossos gostos musicais, e fazer aquelas merdas grandes que basicamente não têm qualquer interesse para nós. Interessa--nos fazer o Amplifest. Interessa-nos fazer o Michel Henritzi, que vai ser tão bom como foi o Amplifest. Cada concerto que nós fa-zemos é porque realmente temos um grande gosto, admiração e confiança, na banda/ artista em questão. E são aquelas coisas que as bandas, e o público, sentem.

Sem falsas modéstias, achas que o país estava a precisar de uma “alternativa” como a Amplificasom?Não sei se poderemos analisar as coisas dessa forma. Há bandas que eu tenho a certeza que se não fosse a Amplificasom nunca teriam passado cá ou, pelo menos, teriam demorado muito mais tempo a passarem por cá. Mas sim, a Amplificasom tem o seu mé-rito, sem falsas modéstias. Na programação coerente, na quanti-dade assinalável (cerca de 60%) de estreias… bandas essas que se não fossemos nós talvez ninguém arriscasse. E depois há uma sé-rie de coisas que se originam em volta da Amplificasom, que são invisíveis. Falo de promotoras que nasceram inspiradas no nosso trabalho (algo que poderá ser confirmado por essas pessoas), e até mesmo de conselhos e apoios que concedemos aos nossos pares. Lá está, nasce tudo de um amor que se tem por isto. E é muito bom termos conquistado algum espaço, principalmente no Porto. E isso é confirmado pelas pessoas que acreditam nos nossos eventos (ar-riscam a irem a concertos sem conhecer o artista em questão, por exemplo) e até nos artistas que relevam grande interesse em tra-balhar connosco. Dou-te um exemplo: o ano passado, no Domingo do Amplifest’11, uma banda, após o feedback de outra que tocou no sábado, enviou-nos um email a pedir para actuar neste Ampli-fest’12. São estas coisas que nos alegram o coração.

No lado mais prático das coisas, podes desvendar o “misté-rio” que está por detrás das vossas escolhas a nível de artis-tas? Como é que isso se processa? O eclectismo é fundamental nesse processo?O eclectismo nunca foi um objectivo nem uma condicionante, sim-plesmente acontece de forma natural. Falando do Amplifest, por exemplo, aquilo que pretendemos é que cada banda traga algo único, algo que os distinga. Não vale a pena ter uns Godspeed You! Black Emperor com outra banda de post-rock. Não vale a pena ter uns Ufomammut com outra banda stoner. Ou seja, esse eclectismo serve para proporcionar experiências únicas dentro do evento em questão.Relativamente ao processo de escolha dos artistas, é muito sim-

Page 15: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

ISIS

Page 16: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

ples. São aqueles que nos acompanham em casa, no caminho para o trabalho, no próprio trabalho… são os artistas que GOSTAMOS.

Consideras a escolha de uma sala de concerto é fundamen-tal? Estás satisfeito com o que Portugal tem para oferecer nesse aspecto?Completamente! Há concertos em que nós podíamos ter uma pre-visão de vender 300 ou 400 bilhetes, mas balanceando tudo, pre-ferimos escolher uma sala que tenha uma capacidade inferior mas que se adeqúe e que seja, no final, uma experiência muito mais rica e interessante tanto para o público como para o artista. Preferimos esse cenário em detrimento do que podem ser opções mais viáveis a nível financeiro. Mas claro que a questão financeira é bastante importante, não sejamos hipócritas. O importante é balancear toda a situação e encontrar a opção mais perfeita, a todos os níveis.Em relação às salas que Portugal tem para oferecer… em primeiro lugar há que ter bem ciente que a Amplificasom vê no Porto a “sua” cidade. Foi aqui que crescemos, e é aqui que faz sentido “traba-lharmos”. O Porto tem salas fantásticas! O Passos Manuel, O Meu Mercedes, o Porto-Rio, o Plano B… o Hard Club...

Vocês não se limitam a organizar concertos. Há também um

trabalho de agenciamento, um trabalho de apoio aos artis-tas, onde se incluem os nossos: EAK, Lobo e Process of Guilt. Porquê essa necessidade de dar um apoio mais directo e cons-tante?Voltamos ao início da nossa conversa: acreditamos nos projectos. E acreditamos que os artistas se devem dedicar à sua arte, e quando temos o know-how para os ajudarmos, então torna-se a relação ideal. Por exemplo, no caso dos Processo of Guilt, eles querem to-car com qualidade e não querem tocar por despesas de deslocação ou door deals que é algo que se vê muito por aí. Sendo assim, a nossa função é conseguirmos dar todos os “instrumentos” neces-sários para que eles se possam dedicar à suamúsica e que tenham possibilidade de oferecer a melhor experiência possível aos espec-tadores dos seus concertos.

Aproveitando o mote da pergunta anterior, Process of Guilt no Roadburn em 2013. Deduzo que tenhas estado envolvido no processo. Podes revelar como foi esse processo, e acima de tudo o que significa para ti, e para toda a equipa Amplifi-casom, ter um reconhecimento de tal magnitude?Eu nunca levo as coisas para o lado pessoal. O mérito é todo da banda. Eu fui simplesmente uma “ponte” entre a banda e o festival.

MONO

Page 17: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Mas claro que fico satisfeito com este reconhecimento.

Ainda sobre os Process of Guilt. A tour que fizeram de pro-moção ao novo disco, que passou aqui pelo porto, mais con-cretamente pelo Hard Club registou um número vergonhoso de espectadores…80 espectadores! Sim, a data no Hard Club de facto correu bas-tante mal, o que felizmente não aconteceu nas restantes datas da tour. São situações que me deixam bastante triste, mas tens que aprender a viver com elas. Há uma mentalidade de que as bandas portuguesas estão num segundo plano, porque há sempre outras oportunidades para as ver. E depois são as atitudes de alguns agen-tes culturais. Por exemplo, não faltam por aí concertos a 4€/5€ e a realidade é esta: se tu pagas todas as despesas inerentes a um con-certo, se tu pagas os impostos… mesmo com cento e tal pessoas a assistir não terás possibilidade de pagar à banda de forma digna e justa. E digo isto porque sei que muita gente refere os preços como condicionante, principalmente quase se fala em bandas nacionais - se pagas 4€/5€ para ver uma banda internacional, percebe-se que depois pensem que 8€/10€ será muito para ver uma banda nacio-nal. Isto arruína completamente o mercado. E depois há os doors deals. É algo que não fazemos. As bandas merecem dignidade e há que tratá-las com o devido respeito proporcionando as tais condi-ções necessárias.E esse “fracasso” que houve com os Process of Guilt motivou-nos a convidá-los para voltarem ao Amplifest. Quisemos mostrar às pes-soas o que é realmente um concerto dos POG, perfeito... Nós não gostamos de nos repetir, mesmo tendo bandas a pedirem para cá voltar, mas teve mesmo que ser e a verdade é que o feedback foi tudo o que estávamos à espera.

A nível pessoal, qual foi o concerto que mais te marcou? (pausa) Para mim, e nunca escondi isto… os ISIS foram uma banda que me marcaram muito. Foram uma banda que demorou muito tempo a trazer cá. Sabes que para certos agentes, e até mesmo bandas, Portugal é como se ficasse em África. Mas não foram mais ou menos especiais do que todas as outras bandas. Cada evento é especial, quem faz as coisas com o coração vai perceber o que digo. Dedicamo-nos muito, damos tudo de nós para que tudo corra bem. Mas sim, esse fim-de-semana com os Isis marcou-me.

Vocês demarcam-se do papel que, habitualmente, as promo-toras assumem. Não funcionam como um mero ponto de co-mércio. As provas vão desde concertos gratuitos onde há o mítico convite para lanchar, até à comunicação constante que dão, a todos os que “caem” no universo Amplificasom. Há intenção de criar um sentimento de família? Se não formos todos uma família… não vale a pena! O dinheiro para nós não é prioritário. É fundamental, mas não é prioritário. É ele que te permite pagar as despesas e fazer que as coisas aconte-çam. Por muita vontade que haja por parte do artista, eles preci-sam de ser recompensados por este “trabalho” que fazem. Agora a nossa credibilidade chegou a um ponto de termos, por exemplo, uma banda que depois de ter actuado no Amplifest’12 me disse “não nos pagues, depois fazes transferência”. Transferências antes do concerto é normal, pagamentos no dia o habitual... Mas isto é uma prova viva da credibilidade e confiança que as pessoas têm para com a Amplificasom. Mas respondendo à tua pergunta: entre nós e o público, e atenção nós também somos público, há, realmente, uma relação de famí-lia. Temos pessoas que vêm aos nossos concertos sem conhecer o

artista, a confiança é tal que eles arriscam horas do seu precioso tempo para se deslocarem aos nossos eventos. Ficamos sempre sensibilizados. E sim, temos que ser uma família! Tu, por exemplo, estás aqui num sábado ao final da tarde a fazer uma entrevista co-migo para que nos ajudes a continuar a espalhar a palavra… tu és uma das pessoas para as quais nós tentamos fazer as coisas. Esta-mos agradecidos pelo facto de estarmos aqui a falar contigo, como estamos agradecidos pelo facto das pessoas comprarem bilhetes para fazerem parte dos nossos eventos. Se não formos todos uma família, com o objectivo de vermos as bandas que gostamos… qual é o objectivo de tudo isto?

Vês o blog, e agora o facebook, como ferramentas funda-mentais para a criação desse sentimento de família que se en-contra tão bem enraizado neste vosso universo?Não há nada como estares com as pessoas nos dias de concerto, e comunicares pessoalmente, cara-a-cara. Evidente que só encontras grande parte dessas pessoas quando há um evento. Agora o face-book e o blog são ferramentas essenciais para comunicar com o público-alvo. É verdade que tivemos, este ano, muppies por toda a cidade, e sempre que temos um concerto fazemos questão de dei-xar posters em sítios estratégicos… mas eu não acredito, muito sin-ceramente, que este tipo de eventos consigam trazer pessoas pelos cartazes que estão espalhadas pela cidade. Duvido que alguém que vá no autocarro venha ao Amplifest, por exemplo, porque viu o car-taz numa parede. Mas sim, faz parte.

Relembro a história do Jorge Silva (que acompanha a Ampli-ficasom há muito tempo, tirando fotos dos concertos) que descreveu a forma como tu, no antigo blog, incentivaste que ele participasse nos eventos da Amplificasom. Passados seis anos continua haver essa preocupação da tua parte…No dia em que tu, seja no que for, te sintas acomodado com algo… estás no mau caminho. Isto é um trabalho, e uma aprendizagem constante. O Jorge Silva é um dos meus amigos pessoais, conheci-o graças à Amplificasom.Sim, estas plataformas podem ser um ponto de encontro. Na minha opinião, apesar de essencial, eu acho que o facebook acaba por ser algo mais frio. Acho que é no nosso site/ blog, onde nos sentimos melhor. No facebook podes estar online, recebes uma notificação e é isso. Já as 600 pessoas que diariamente se dão ao trabalho de entrar no nosso blog chegaram lá com aquele propósito de ver o que há de novo, seja um post ou um evento acabado de anunciar.

Vocês têm uma coisa fantástica que é o espaço, que cedem às outras pessoas no vosso blog. Falo nos convidados que pas-sam todas as semanas no blog, ou mesmo na Caixa de Paleio…Sim respondemos a toda a gente, mesmo quando, no caso de pro-postas para concertos via e-mail, a resposta é não. Se há alguém interessado no trabalho que tu fazes, o mínimo que podes fazer é responder e esclarecer essa pessoa. E fazer isto de forma genuí-na. Por exemplo, quando eu disse ao Jorge Silva para ir aparecen-do, não o estava a fazer com o intuito de vender mais um bilhete. Quanto mais pessoas tivermos interessados nisto dos concertos… se todos os anos as o Amplifest correr bem, é mais certo que ele se repita no futuro.Se todos acreditarmos nisto, e se todos fizerem a sua parte… a Am-plificasom não é do André, nem de quem quer que seja. A Amplifi-casom é de todos nós, de todos os que acreditam nela.

Há uma clara aposta em artistas pouco conhecidos, e reco-

Page 18: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

nhecidos. Inerente a esse facto está a problemática financei-ra. Como consegues “driblar” esse problema? Tens que ser um gestor minucioso, é a única forma para que haja uma sustentabilidade. Uma Amplificasom não tem qualquer apoio, patrocínios ou qualquer fundo. Se não fazes uma verdadeira gestão de tudo, o mais provável é que não resulte. Parte do segredo está definitivamente aí.

Acham que faz parte da vossa “missão”: servir como guia, aju-dar as pessoas nestas pequenas encruzilhadas, ao apresentar esses artistas que são poucos conhecidos e reconhecidos?Aquilo que podemos dizer a todos aqueles que gostem de aven-turar, de experimentar novos sons, de arriscar em algo diferente... Sim, espreitem a Amplificasom e garantimos que serão bem re-compensados.

A crise económico-social que se vive em Portugal, na Europa e no Mundo, infelizmente algo que poderá criar dificuldades ainda maiores na “empreitada” da Amplificasom. Como vês este problema que afecta todos nós, e que tem afectado a in-dústria musical?Não vivemos tempos fáceis... O custo de vida, o desemprego, a auto-estima, a cultura que em Portugal é vista como um luxo, a ex-

tensa oferta cultural, o facto da nossa programção não ser óbvia... Todos estes factores nos afectam, claro. Como mencionei anterior-mente, o facto de não nos dedicarmos exclusivamente à Amplifi-casom dá-nos liberdade de programar o que queremos e quando queremos. Vamos continuar o nosso caminho e esperar que um dia seja mais fácil de viver em Portugal. Não só no que respeita a esta crise como em termos burocráticos, em termos de impostos, na falta de bom senso naqueles que representam a lei. Muitas vezes, a própria lei em si. Somos um país demasiado pequeno, geri-lo não seria nada complicado se quem o faz o fizesse com os objectivos a que se propôs.

Há uma grande articulação entre a Amplifcasom e outras promotoras/editoras, como a Prime Artists, Lovers & Lolly-pops, SWR, etc. Achas que é fulcral este tipo de relações?Completamente! Estamos num meio underground, não faz sentido entrarmos em guerra para fazer inflaccionar cachets. Se tu estás interessado numa banda e eu também estou então unimo-nos e fa-zemos acontecer, promovemos a dobrar, temos recursos a dobrar… as coisas deviam funcionar assim, estarmos todos unidos em prol do que acreditamos.

Page 19: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

PROCESS OF GUILT

Page 20: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Houve uma idealização, ou pelo menos um sonho, em criar este tipo de evento desde os primórdios da Amplificasom? André Mendes: Sim. Sempre tive essa ambição. É, no fundo, resumir num fim-de-semana o que é a Amplifi-

casom... a programação da Amplificasom. Receber pessoas de todo o mundo e estar lá em comunidade… em família. Estás a ver um concerto, estás a falar ou a conhecer alguém, estás a descobrir uma banda. Lembro-me de vir à inauguração do Hard Club, há dois anos atrás, e dizer à Mónica “Olha, vai ser aqui!”. Depois foi uma questão de ponderar bem as coisas e dar um passo de cada vez.

Recordas o momento em que tu disseste para ti mesmo: “Bem, vou avançar com isto!”?Eu só dei conta que fiz o primeiro Amplifest no dia seguinte. O tra-balho é tanto, a responsabilidade é tanta que tu só no fim é que dás conta de tudo o que se passou.

A soma das duas edições do Amplifest traduz-se em mais de 30 bandas, 2 exposições de artistas gráficos, uma série de docu-mentários e uma listening party. Um pesadelo logístico? Mui-tas horas sem dormir, muito stress acumulado…… e qualquer elemento da Amplificasom não faz disto “vida”, como já te expliquei. Temos que adicionar a nossa vida profisional e pessoal a toda essa equação. São muitas dores de cabeça, muitas insónias… muito tudo! Agora quanto melhor te prepares, menos surpresas tens e acho que foi o caso deste fim de semana… e do outro também.

O Amplifest’12 terminou há pouquíssimo tempo. Qual o ba-lanço que fazes desta segunda edição? A confirmação de um sonho, tendo sido o Amplifest’11 a “incerteza”?O balanço é super positivo. Tivemos casa cheia, concertos a ho-ras, zero cancelamentos (nas duas edições!!), um cartaz excelente a respirar ecletismo, pessoas de todo o lado… só nos dá motivação para continuar, claro. Queremos continuar a aprender, a crescer.. Não queremos repetir fórmulas, respeitar regras.. Não queremos que se torne óbvio, que deixe de desafiar, que deixe de crescer. Queremos continuar apaixonados pelo Amplifest.

Disseste numa entrevista, com o Ponto Alternativo, que pre-ocupa-te o facto de só teres críticas positivas… e note-se que as críticas positivas não advêm única e exclusivamente do pú-blico. Inúmeros artistas já revelaram o carinho que nutrem por esta família.Se tu só tiveres críticas positivas tens uma tendência a acomodar--te… é algo que não queremos fazer, nunca! O objectivo é tentar sempre melhorar. Por isso é que pedimos o feedback das pessoas que vêm aos nossos eventos. Tem que haver um carinho especial, sem segundas intenções… explicar, por exemplo, às pessoas por-que é que houveram aquelas filas para entrar na Sala 2, etc. Há a

problemática de certas bandas quererem fazer soundcheck com as portas fechadas, o facto da entrada do Hard Club ser afunilada… são tudo um conjunto de situações que iremos tentar contornar e corrigir no futuro.

Há uma preocupação, da vossa parte, em tentar não entrar na rotina. Os mais atentos terão notado que houve modifi-cações e adições na segunda edição, comparativamente com a primeira. Novos locais e até mesmo a listening party. Será uma preocupação constante?Perderia a piada toda se assim não fosse, especialmente para nós que passamos meses e meses à volta disto. Queremos continuar a fazer coisas diferentes, inovar, tornar o Amplifest uma experiência sempre melhor em relação ao ano anterior. Cair na rotina seria um grande erro e o verbo acomodar não existe no nosso dicionário.

A listening party que fizeram do novo álbum de Neurosis. Para começar escolheram um sítio que é fundamental para o que é hoje a Amplificasom, O Meu Mercedes. Explica o que le-vou a organizarem uma listening party numa era da internet e da partilha de informação desenfreada.Neurosis é aquela banda consensual que todos nós gostamos, que todos nós gostávamos de ver no Amplifest… Quando soubemos que o disco saía exactamente no fim-de-semana do Amplifest’12, entramos em contacto com eles. Mostraram-se interessados e nós achamos que seria realmente uma experiência interessante e que sedimentava ainda mais este sentimento de comunhão e diferen-ciável que tentamos enraizar nos eventos da Amplificasom. Hoje em dia consome-se música como fast food e quisemos recuperar aqueles momentos em que o disco tinha outro significado. Quer dizer, para nós mantém-se.

Godspeed You! Black Emperor foram os “cabeças de cartaz” do Amplifest’12. Foi o primeiro concerto da nova digressão da, já mítica, banda canadiana, que coincide como lançamen-to do novo álbum. Quais são os sentimentos que esta con-quista te desperta?Cabeça de cartaz é algo que as pessoas já associam quando têm um evento, que há sempre um nome mais “forte”. A verdade é esta: GY!BE não é mais importante que a tal listening party, Barn Owl, o Josef, Amenra, etc. Que eram a banda mais conhecida do cartaz? É verdade! Agora nós vemos o Amplifest – e será sempre este o objectivo, como um todo. Se depois no todo, tens uma banda como GY!BE… brutal! Foi uma grande satisfação para nós, e tornou o fes-tival mais interessante.

Como te sentes ao conseguir trazer uma banda como os GY!BE, que acaba de editar um disco, que começou a tour de promoção ao novo álbum aqui no Amplifest?Não penso muito nisso, apenas reajo emocionalmente e nesta, como em qualquer confirmação, fico extremamente feliz por saber

Page 21: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

AMENRA

Page 22: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Godspeed You! Black Emperor

Page 23: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

que vou ver a banda ao vivo. Claro que há um trabalho que não pode ser ignorado e tê-los cá quando pretendiam começar a tour no fim-de-semana seguinte ao Amplifest, quanto não pretendiam passar novamente por Espanha, quando trouxeram aquele enorme tour bus de Hamburgo de propósito para começar a tour aqui... É porque também merecemos e é este o tipo de bandas com quem nós gostamos de trabalhar, aqueles que também fazem um esforço por fazer as coisas acontecerem. Eles são enormes, não precisam da Amplificasom para nada, mas mesmo assim fazem questão de trabalhar com quem é apaixonado pela arte deles… a nossa dife-rença também está aí. O facto de terem alterado toda a logística para começarem a tour mais cedo, aqui no Amplifest… deixa-nos com um grande sorrido por dentro.

Já confirmaste que irá haver um Amplifest’13, aliás este é um projecto que fazes questão em continuar certo?Como te disse anteriormente, não há regras nem fórmulas a serem respeitadas, mas neste momento sentimo-nos com força e vonta-de em ter o Amplifest por muitos anos. Não gostamos de pensar a

longo prazo, vivemos cada dia e cada evento de cada vez e a men-sagem que importa passar neste momento é que o Amplifest’13 começou a ser preparado antes do 12 por isso sim, conta com ele.

A continuação será feita na Invicta, ou não descartam a pos-sibilidade de levar este projecto mais para Sul?Nascemos aqui, crescemos aqui, 99% da nossa programação foi fei-ta aqui, etc. Para nós não faz sentido fazer noutra cidade que não no Porto, mas também nunca dizemos “nunca”…

Qual foi o momento mais complicado nos 6 anos de existência da Amplificasom? Assim de repente, não estou a ver nenhum momento que possa considerar que foi realmente complicado. Há sempre imprevistos que são inerentes a estas coisas… mas nada que eu considere ver-dadeiramente complicado. Preparamo-nos bem, temos a compa-nhia de grandes amigos, temos bandas que são tudo menos estre-las e o público do mais civilizado que existe. Não há melhor. //

GODFLESH

Page 24: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 25: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 26: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 27: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Antes de mais falemos da re-cente passagem dos Ensla-ved por portugal, na edição de 2012 do Vagos Open Air. O que acharam desse con-

certo, em particular?Acho que foi um bom concerto, diria que talvez seja o concerto mais agradável que demos em Portugal, apesar de não termos tocado muitas vezes no vosso país. Nós gos-tamos de Portugal, gostamos das pessoas, do vinho, da comida e do público. Foi de facto uma experiência muito agradável.

Mais de 20 anos de actividade, 12 ál-buns de estúdio, 3 EP’s, 2 splits e 2 DVD’s lançados. Os Enslaved são, sem dúvida, uma das bandas mais respeitadas, e pro-lificas, neste meio. Como recordas tu isto?Acho que somos uma banda muito criati-

va... temos um guitarrista (Ivar Bjørnson) muito criativo, que cria grandes quanti-dades de riffs. A verdade é que estamos sempre a trabalhar em novo material. Nós adoramos trabalhar com a música, em qualquer situação... seja ao vivo ou em es-túdio. É a nossa vida, é o nosso trabalho... não sabemos fazer mais nada (risos).

Falemos sobre o novo álbum. No You-Tube há um vídeo sobre a capa que ilus-tra este vosso novo álbum. Nesse vídeo confessas que preferes coisas simples. Qual é o significado por detrás da ima-gem que ilustra a vossa capa?Não revelarei tais segredos (risos). Posso di-zer que a música é uma espécie de banda--sonora para todo o artwork. Mas não irei relevar os significados que estão por detrás desta capa. Acho que é algo que cada um terá que decifrar, enquanto ouve a música

e lê as nossas letras.

Relativamente ao processo de gravação e composição. Como foi desta vez? Dife-rente das experiências anteriores? Sei que o álbum foi gravado em três estú-dios diferentes...Sim, é verdade. A grande diferença no pro-cesso de gravação, prende-se com o facto de termos gravado o disco live, no estúdio. O baixo, a bateria e as guitarras foram gra-vadas ao mesmo tempo... foi tudo gravado em um take. Tivemos que ensaiar bastante, para conseguir ser bem sucedidos nessa ta-refa. Apesar de todo o esforço necessário, acho que acabou por compensar no fim. Penso que se nota ao ouvir o disco. Há, sem dúvida, uma dinâmica bem mais forte, en-tre os membros da banda. A verdade é que parece que as coisas fluem melhor, quan-do há este tipo de processo de gravação, e

Page 28: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 29: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

este tipo de trabalho. É algo que queremos continuar a fazer no futuro. Definitivamente! Estamos cansados dos processos modernos de gravação...

A actual formação dos Enslaved está junta desde 2004, quando o Larsen (gui-tarrista, vocalista e teclista) se juntou à banda. As coisas têm se tornado mais fácil?Sim, há tendência para as coisas funciona-rem cada vez melhor. Isto advém de uma dis-tribuição e consciência, do papel que cada um ocupa na banda. Há imenso respeito entre os membros, e sabemos as qualidade que cada um possui. Acima de tudo, sabe-mos como não “pisar os calos”, e quando não devemos interferir. Há confiança mútua. É como tu dizes, as coisas têm se tornando cada vez mais fáceis, com o passar dos anos.

O nome do álbum advém de uma criação que a banda fez, em volta das palavras nórdicas, “direito” e “ritual”. Estou cor-recto?Correctíssimo!

A intenção foi “misturar” as vossas raí-zes norueguesas, com uma expansiva ex-plicação do disco, como um todo?Não é só sobre nossas raízes norueguesas. «RIITIIR», significa algo do género: “A Vida do Homem”. Todos os humanos, têm uma visão do mundo desde o primeiro momento em que começam a viver. Claro que estas vi-sões são influenciadas pelas culturas onde se inserem essas pessoas, mas podes encontrar bastantes semelhanças entre visões de pes-soas que advém de culturas diferentes. De alguma forma, os “primeiros passos”, a for-ma como abordas as coisas.. acaba por ser algo transversal a todas as pessoas. É o lado primitivo do ser humano.

O que podes revelar relativamente ao conceito, e letras, deste novo álbum?Apesar de ser algo conceptual, não se limita a ser uma história. É um conjunto de histó-rias interligadas. Abordamos o pensamento universal, os instintos universais... o lado ins-tintivo, e primitivo, do ser humano. Depois existem algumas partes abstractas que per-mitem uma leitura pessoal.

Sinto que este é um dos melhores traba-lhos da carreira dos Enslaved. Sentes a mesma coisa?Sim, totalmente. Mas a verdade é que este sentimento manifesta-se cada vez que lan-çamos um novo álbum (risos). Quando tra-balhas tanto num disco, quando depositas tanto de ti para o criar... é normal que tenhas esse sentimento. Mas é bom que esse tipo de sentimento se manifeste. Quando tiver-mos criado um álbum e acharmos que foi o 2º melhor álbum que já fizemos... há qual-quer coisa de errada (risos).

Há um balanceamento entre melodia e agressividade. Foi intencional?Para ser sincero, não. Não é algo que seja calculado nos Enslaved. Se tiveres planos e se andares a calcular como vai ser o produto final, acho que acabas por limitar a tua cria-tividade.

Há uma grande coesão entre as músicas do álbum. Diria que tu encaixa perfeita-mente bem...Sim. É uma questão a que damos bastante atenção. A questão da ordem das músicas, é um exemplo prático. A “Thoughts Like Ham-mers”, foi uma das faixas que eu decidi que teria que abrir o álbum... apesar de todos discordarem (risos). Achei que o álbum tinha que ser introduzido com algo mais “caótico”, e por isso achei que a “Thoughts Like Ham-mers” encaixaria perfeitamente nesse “per-fil”. Há um certo groove à Celtic Frost. Mas sim, considero que haja um bom balanço en-tre a melodia e as partes mais agressivas. E no final, a música é um reflexo das próprias letras.

Vocês são bastante influenciados pelo universo do rock progressivo. Que tipo de música, progressiva, tens ouvido ulti-mamente?Completamente.Eu, pessoalmente, tenho uma grande adoração pela música dos 70’s. Muitas bandas como Led Zeppelin, Deep Purple, Van de Graff Generator, e mesmo a cena progressiva italiana, como por exem-plo: Premiata, Banco del Mutuo Soccorso, Area, etc. //

editora: nuclear blast

Page 30: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Como é que nascem os Porta Ni-gra?Eu e o O. tocamos juntos numa banda de black metal durante tre-ze anos, na qual nos dedicamos ao

metal mais caótico, e niilista. Mas eu gosto de diferentes estilos musicais, por isso es-crevi algumas músicas menos complicadas, e desenvolvi um background lírico para “Fin de Siècle”. Felizmente a minha alma gémea juntou-se a Porta Nigra, e desde então nós

trabalhamos como um duo, com diferentes convidados.

Porta Nigra é um portão romano em Trier, Alemanha. É hoje considerado o maior portão romano a norte dos Alpes. Porquê escolher este nome, em particu-lar, para a banda?Nenhuma razão em particular. A banda não está ligada a esse edifício. É simplesmente um nome com duas palavras agradáveis e que

não são muito usadas. Vais encontrar o signi-ficado por detrás dessa “alcunha” exclusiva-mente na nossa música, capa e letras.

Fin de Siècle, o título do vosso álbum de estreia tem algumas conotações, sendo a conotação de decadência uma das mais básicas. Podes falar sobre esta escolha e qual o seu significado para a banda?Nós temos esta referência para o tempo de “Fin de Siècle”. Usamo-la para nos expressar-

Page 31: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

-mos a nós próprios, porque vemos muitas ligações com esse tempo e aqueles artistas. Sentimos que esses espíritos experienciaram emoções/pensamentos similares, como nós. Para eles com o nascimento da mecanização e industrialização, uma era chegou ao seu fim, e eles responderam à sua maneira, tal como nos respondemos à decadência do nosso tempo, e geração. Um exemplo para este declínio no nosso tempo é de a música já não possuir um valor real. As pessoas estão a tratar a música e os músicos como merda. As antigas obras de literatura e arte decadentista são chaves necessárias para decifrar o mundo que nós criamos. “À rebours” (Contra a natureza) do escritor francês Joris-Karls Huysmans, carre-ga muitas das ideias programáticas em que o conceito de Porta Nigra é baseado. A obra conta a historia do aristocrata Jean Des Es-seintes, que se esconde da sociedade na sua enorme casa, estudando a história de arte e filosofia, num total isolamento, e finalmente

encontra a sua paz interior ao cometer cri-mes, ou mais precisamente: obtendo ordens para cometer crimes. Toda a atmosfera do livro, o isolamento, a infinita decadência na toda sua beleza e hediondez, a afinidade com o caos e anarquia: tudo isso formou a músi-ca e ideia de PORTA NIGRA. Outros trabalhos que tiveram uma influência foram as obras do Oscar A.H. Schmitz e, o mais conhecido, “O retrato de Dorian Gray” do Oscar Wilde (a nossa musica “Der Spiegel” está ligada a isso). Outra influência seria o relatório criminal do Georges Bataille sobre Gilles de Rais.

Como foi criar este álbum? As referências no nome da banda e no título são apenas para dar aos ouvintes uma pista, ou todo o álbum foi construído com outros “te-souros escondidos”?A composição veio naturalmente, como sem-pre. A gravação foi um bocado diferente pois eu queria um som que é, de alguma maneira,

diferente daquilo que ouvimos hoje em dia. Mas com algumas experiências tudo resultou bastante bem, na minha opinião (dado tam-bém o facto de que esta é realmente uma produção de baixo orçamento). Os “tesouros escondidos” não são apenas para os ouvintes mas para nós também. Queríamos criar um álbum com uma mensagem, escondida, de niilismo extremo. Mas queríamos também evitar quaisquer “máscaras”, disparates po-líticos ou religiosos que muitas das bandas tentam se fazer especiais com. Queríamos ser o mais autênticos possível. O “Fin de Siècle”, a “pequena fada verde”… são apenas símbo-los, imagens, ilustrações. Por que sem cor não conseguirias desenhar uma imagem, não é? Nós usamos os “tesouros escondidos” para construir um mundo fictício que tem uma mensagem não fictícia, e realista por detrás dele.

A capa é a imagem da decadência?É aquilo que tu queres que ela seja.

Como é que nasceu a parceria com Debe-mur Morti Productions? O EP foi lançado já pela Debemur, portanto eles apoiam a banda quase desde o início…

Juntamo-nos da maneira clássica. Nós sim-plesmente enviámos-lhes algumas coisas e por sorte eles gostaram, e desde aí tem sido uma parceria muito dedicada e produtiva. Se as gravadoras como DMP morrerem, a músi-ca morrerá também. Eu garanto-te. Void é um maníaco, um mágico e eu vou-lhe pagar com um álbum estrondoso, o sucessor do “Fin de Siècle.”

Há planos para promover (espectáculos ao vivo) este álbum?Não. Nós decidimos “ficar no escuro”, e es-conder-mo-nos atrás de uma grande nuvem de ópio. Na realidade não somos uma grande fonte de entretenimento. Comprem o álbum e terão o melhor concerto em vossa casa. //

editora: debemur morti

Page 32: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 33: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Desde o primeiro longa-du-ração dos Monolithe, que a banda decidiu editar ál-buns de uma única faixa a rondar os 50 minutos, ou

mais. Porque decidiram escolher esse “formato”? É alguma maneira de dizer que quem ouve o álbum, tem de ouvir o trabalho todo?Podes dizer isso, sim, mas não é só isso. Os Monolithe têm como premissa a sin-gularidade, coisas únicas, por isso, álbuns de uma única faixa fazem completamente parte do conceito. “Mono” (do grego “mo-nos”) significa “um só”. Outra razão é que cada álbum é um capítulo de uma saga maior, saga essa desenvolvida com o lança-mento de cada novo álbum. Quando esti-ver completa, terás mais do que uma faixa, mas terás de estar libertado de todos os compromissos enquanto ouves tudo por completo de uma vez. De qualquer manei-ra, quando dás à tua banda o nome “Mo-nolithe”, não podes ter meias-músicas de dois minutos... simplesmente, não encaixa. Nós tentamos manter uma certa coerência em tudo o que fazemos.

A dupla série dos EPs Interlude ajuda-ram, em alguma maneira, na criação deste novo álbum? E o que nos podes dizer sobre a história por detrás de “Interlude Second”?As séries Interlude não ajudaram bem a criar este novo álbum mas, de alguma maneira, visto que são registos mais expe-rimentais que os longa-duração, permiti-ram-nos saciar alguma fome que tínhamos dentro de nós de experimentar coisas no-vas. Desde o início da banda que tentámos ter um som próprio, mas também tentá-mos não nos afastar demasiado de certas regras do género musical que tocamos. Senão, não estaríamos mais a tocar esse género, entendes? Com os EPs é uma his-tória diferente, porque permitimos a nós próprios de fazer o que quer que fosse, o que quiséssemos, mesmo sendo fora dos limites, das regras do género, que é exacta-mente o caso de “Interlude Second”. Na re-alidade não podes categorizar esse lança-mento num género específico. Esse EP era suposto ter sido o terceiro longa-duração,

em primeiro lugar, mas aconteceram de-masiadas coisas entretanto, e aí tens, em vez disso, tornou-se em “Interlude Second EP”. Foi melhor assim, suponho, pois en-curtámo-lo para melhorar a sua eficiência.

Os Monolithe lidam com a origem da Humanidade. Podes descrever as dife-rentes “etapas” com que a banda lida em cada álbum, incluindo este?Os Monolithe lidam com a origem e queda da Humanidade de um ponto de vista de ficção-cientifica. No mundo que criámos, o universo é um ser senciente, omnisciente e omnipotente. Não é um deus, no termo re-ligioso da palavra, mas uma forma de vida, demasiado grande e diferente para que uma mente humana o perceba. Este ser – chamar-lhe-emos “The Great Clockmaker” (“O Grande Relejoeiro”) – está prestes a morrer de uma condição, ou doença, cha-mada “The Great Vacuum” (“O Grande Vácuo”), que é uma condição em que de-masiado vazio e propósito a menos, toma lugar na sua existência. Como “TGC” pode prevenir a sua própria morte, ele gera uma “vacina”, que é a Humanidade. O Homem é, assim, elevado à sabedoria extrema, o que o leva a colonizar o universo e cumprir a sua tarefa: dar um sentido ao universo e preenchê-lo com vida, ambição e propó-sito. Quando a tarefa estiver completa, a humanidade está destinada a desaparecer, pois já não terá propósito, objectivo. Estas são as ideias principais! “Monolithe I” e “Monolithe II” são narrados de um ponto de vista omnisciente. “M1” relata a cria-ção da humanidade e a sua aparição no universo vazio, depois erguida a sua evo-lução com a ajuda dos monólitos, que são o pontapé inicial e os sentinelas. “M2” des-creve a expansão da humanidade por todo o universo. “Interlude Premier”, “Interlude Second” e “Monolithe III” são narrados do ponto de vista da humanidade. Em “I1” o Homem atinge uma sabedoria superior. Encontraram diversos monólitos e ques-tionam-se sobre a existência de outras formas de vida. Em “I2”, a sua sabedoria é tão avançada que a humanidade consegue atingir quase tudo. Isto leva a uma crise existencial e de identidade, visto que não há mais propósito em existir se não desejas

mais nada, o que leva à descoberta lenta e demorada da sua verdadeira natureza e ra-zão de existir. “M3” relaciona-se com como a humanidade, por fim, adquire o último conhecimento inexistente antes da extin-ção: quem eles são na realidade. O Homem pode responder às questões metafísicas. Eles “sentiram”, finalmente, o seu criador. Acaba com a extinção da raça humana, en-quanto o universo (“O Grande Relojoeiro”) volta ao seu estado de equilíbrio original. “O Grande Relojoeiro” está curado. “Mo-nolithe IV” será o final da história, na qual a humanidade não fará já parte do elenco!

Que nos podes dizer sobre a capa do álbum? Foi criada por Robert Høyem, o artista norueguês que também já trabalhou com outras bandas (recen-temente com os Evoken no seu último álbum “Atra Mors”), certo?Sim, Robert é o criador da capa. Contactei--o porque admiro o seu trabalho. É tão simples quanto isso. Disse-lhe apenas para criar algo em que ambos o espaço, e um monólito, estivessem envolvidos, e ele pro-pôs-me essa capa espectacular e um logó-tipo reformulado. A primeira tentativa foi a certa! Ele é um artista muito talentoso.

Em relação ao som, qual é, na tua opi-nião, a maior diferença entre “Monoli-the III” e os outros registos?A produção difere em cada álbum, depen-dendo no que é preciso para a música em si. “Monolithe III” tem uma produção mais límpida. É pesado, mas os outros também eram pesados. A maior diferença é que “M3” tem um som mais polido. É exac-tamente o que era necessário para a sua música. A afinação é igualmente diferente, não é tão grave como os álbuns anterior, e por isso consegues ouvir mais claramente ao que os riffs mais pesados, na realidade, soam.

Agora, a banda juntou forças à De-bemur Morti Productions. Como tem sido até agora?Eles são, nada mais, nada menos, a melhor editora com quem eu já trabalhei. //

editora: debemur morti

Page 34: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Diz-se que este novo álbum tem inspiração na mitologia Gre-ga. Como te interessaste por este tema?Josh Middleton: Este é um ál-

bum concetual. E a história em geral é ba-seada em Orfeu e Eurídice. E lembro-me de ouvir falar deles em miúdo. Talvez fosse uma animação num programa de televisão. Surgiu-me esta ideia sobre um homem que tenta trazer a mulher de volta do mundo dos mortos e isso lembrou-me Orfeu e Eurídice. Tentei procurar as similitudes. E trouxe daí algumas ideias. Mas é só isso, não é tanto centrado na Grécia. Mas esta história pare-ceu-me interessante.

Estilisticamente como descreverias este “Monolith”?Eu diria que é um pouco mais negro e um pouco mais sinistro. Tem tudo aquilo que as pessoas gostaram em nós no passado, tem passagens com influências frescas e rápidas, tem passagens épicas, mas tem muito mais zonas negras, de “doom” e “gloom”, das mú-sicas que costumamos ouvir, como em ban-das como “Neurosis”, “High on Fire”, esse tipo de coisa. Pelo menos estas influências aparecem mais realçadas. Mas é algo mais negro, diria.

Achas que com este álbum entraste num nível mais profundo conceptualmente?Não…Provavelmente não. O último álbum tem também uma base fortemente concep-tual. Por isso estarão em igualdade quanto a isso.

Qual foi a primeira canção a nascer nes-te álbum?Acho que a faixa que se chama também “Monolyth” foi a primeira que escrevi e remonta talvez a 2010, ainda antes de Em-pyreal ter saído. Foi essa e uma canção cha-mada “What Dwells Within”. Serão, talvez, as canções mais diferentes no álbum. Gosto de fazer coisas que ainda não tenhamos fei-to. Gosto de sons que ainda não tenhamos usado ou criado. Sim essas foram as primei-ras canções.

Quando estás a criar uma canção qual é para ti o momento mais interessante desse processo?Não sei. Depende da canção. Mas acho que o melhor, é quando estás a trabalhar duas partes diferentes da canção ou até duas canções diferentes e apercebes-te que essas duas canções podem tornar-se uma única cancão, se mudares umas coisinhas aqui e ali. Para ser honesto, de cada vez, é diferen-te.

Em que ponto da criação é que entra o resto da banda?Depende. Faço muita da composição/escrita sozinho em casa, mas às vezes, ideias sur-gem de estarmos simplesmente a praticar e a inventar numa jam. Às vezes começo a to-car um riff e construímos uma canção sobre ele. Não há nenhuma regra… Pode ser tudo.

Muitas faixas começam com melodias etéreas que depois evoluem para sons mais fortes e complexos. É uma coinci-dência ou é um padrão?

Por vezes, gostamos de coisas melódicas, e às vezes fazem sentido no princípio, outras vezes no meio, é o que chamamos interlú-dios. Mas quer seja no princípio ou no fim, a abrir ou fechar, o que interessa é que confira personalidade à música. Mas sim, é algo que nos interessa. Gostamos de muitos tipos de musica, também. Gostamos muito, de músi-ca progressiva, de bandas como Pink Floyd, Rush ou até Radiohead. E trazemos estas secções acústicas, mais calmas para a can-ção.

Como foi gravar no Monnow Valley Stu-dio?Bandas como “Black Sabbath” e “Judas Priest” gravaram lá. Grandes bandas gra-varam lá. Foi a primeira vez que estivemos num grande estúdio. É bastante caro. Nor-malmente, não há dinheiro para gravar nes-se tipo de estúdios, apenas as grandes ban-das podem fazê-lo. Tivemos sorte de poder gravar ali. É uma área de trabalho porreira.

Que diferenças encontraste em relação aos pequenos estúdios?Bem, primeiro é o tamanho que mais te im-pressiona. Mas quando começas a gravar acaba por ser igual, porque te concentras é na música.

O que nos podes dizer sobre os elemen-tos que constam da capa do álbum?É uma representação do conceito. Uma das figuras representa a tal mulher que re-torna dos mortos e aquele que tem cabeça de bode representa o Diabo disfarçado, ou uma espécie de fantasma. Nós pedimos ao

Page 35: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

artista, Dan Goldsworthy, que trabalhasse algumas ideias e cores, e que considerasse um estilo art noveau que algumas bandas progressivas dos anos 70 usaram. Não gos-tamos tanto do tipo de capas que as bandas de metal normalmente usam. Queríamos fa-zer algo um pouco diferente disso.

A rocha, o monólito, parece estar no lu-gar de um Deus…Está a romper de um túmulo. É como se rompesse o solo como uma árvore. Mas não queremos entrar em detalhes, queremos guardar isso um pouco para nós.

Encontras alguma ligação entre o últi-

mo álbum e este?Há muita coisa que constava no último ál-bum que voltamos a fazer, mas trouxemos muitos elementos novos. Acho que melho-ramos algumas coisas também.

E já levaram o álbum para a estrada?Não. Ainda não tocamos nenhuma das can-ções ao vivo. Vamos começar a fazê-lo den-tro de alguns meses.

Fizeram uma pausa?De certa forma. Mas tocamos em alguns fes-tivais.

Queres dizer mais alguma coisa sobre

este trabalho?Sim, quero dizer que este é um álbum que nos resume como banda. Tem todas as nos-sas influências. Situa-nos melhor face às no-vas bandas.

Quando vais para casa, que música ou-ves?Ultimamente, tenho ouvido muito Black Breath, o último álbum deles é para mim o álbum do ano. Depois Rush ou Pink Floyd, Cult of luna, esse estilo. Na verdade não há assim muitas… //

editora: nuclear blast

Page 36: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 37: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Novo álbum! Quatro anos de-pois do Mass IIII, com splits, um disco ao vivo, e um EP du-rante este tempo que separa

os dois longa-durações. Como se sen-tem ao terem um novo álbum, já fina-lizado?Colin: É uma pergunta difícil. Lennart: Acho que cada um sente este feito de uma forma diferente. Para mim e para o Levy (Seynaeve, baixista), este é o primeiro longa-duração que gravamos enquanto membros de Amenra. Para nós os dois é tudo novo e excitante, mas acho que para o Colin, e os outros membros, é um sentimento diferente.Colin: Sim, é esquisito. Sentes sempre uma incerteza quando lanças um álbum. Trabalhas nele durante anos, chegas ao ponto de te “perder” nele, e agora sabes que ele está finalizado e temos que ver qual é o resultado. Por isso é que eu disse que era uma pergunta difícil. É um sen-timento muito estranho, e não sei, para ser sincero, como me sinto. Sinto-me feliz obviamente, há uma sensação de missão cumprida. Penso que este álbum, para os Amenra, é uma espécie de marco para o próximo álbum. Sinto que ao alcançar este resultado com o “Mass V”, irá ser mais fá-cil escrever o próximo álbum. Quero dizer com isto, que encontramos um lugar con-fortável, na relação que temos entre nós. Porque as coisas têm tendência para ficar mais difíceis conforme o tempo se vai acumulando. E depois as coisas podem se alterar, apesar de termos uma certa ma-neira de fazer as coisas, e queremos que isso permaneça inalterado, a verdade é que o resultado pode ser bem diferente.

Querem que o núcleo se mantenha inalterado. Por exemplo, na “Nowe-na | 9.10” os dois primeiros minutos, apresentam, a nível sonoro, uns Amen-ra diferentes à primeira vista, mas a verdade é que é claramente Amenra. O sentimento, a maneira como as coisas

se processam, mantém-se inalterado…Colin: Exacto! É isso que tentamos fazer. Apesar das coisas puderem mudar em certos aspectos, a verdade é que quere-mos que esse núcleo permaneça inaltera-do… o mesmo sentimento base.

A banda decidiu gravar o disco com o Billy Anderson a ocupar o lugar de produtor. Acham que ele foi essencial para o álbum funcionar na perfeição? Lennart: As músicas já estavam compos-tas quando ele chegou. Mas a nível sóni-co, ele deu um grande input.Colin: Eu tenho uma opinião particular sobre esse assunto. Para mim o mais im-portante é a música que é criada. Podes ter excelente música, e mesmo que elas sejam gravadas da pior forma possível… será sempre excelente música. Mas acre-dito que a chegada do Billy ajudou a en-grandecer as coisas. Até ao “Mass IIII” tínhamos um som bastante denso, e o Billy conseguiu “abrir” esse som, tornar as coisas ainda mais ferozes. Era algo que conseguíamos fazer quando tocávamos ao vivo, mas em estúdio só agora com o Billy é que alcançamos esse som. E sim, relativamente a essa parte, pode-se dizer que o Billy foi essencial.

Como foi trabalhar com ele?Colin: Foi a primeira vez que trabalhamos com alguém que não pertence à banda. Foi bastante difícil, ultrapassar as barrei-ras linguísticas. Ele tem uma maneira dife-rente de falar sobre música. A dificuldade prende-se com a tradução de dinâmicas e emoções, que são tão importantes na nossa música. E quando se fala em algo bastante emocional, a verdade é que é difícil comunicar com alguém do exterior, é algo que ultrapassa a questão sonora. Mas foi bastante divertido. Ele fez um tra-balho fantástico.

O álbum foi gravado numa catedral, que agora está a funcionar como um

estúdio de gravação, perto da flores-ta nas Ardenas. Acham que este fac-tor, ajudou a banda a alcançar outro nível? Lennart: A nível sónico… sem dúvida! Não conseguíamos alcançar este tipo de som, na nossa sala de ensaios.Colin: A sala grande da catedral para gra-var a bateria… é uma imensidão, e isso transparece no resultado final. Foi muito agradável estar lá. É um sítio que trans-mite sentimentos que se adequam ao que estávamos a fazer. É preferível estar ali, em vez de estar num estúdio no meio de uma cidade. E depois tivemos lá todos juntos, numa espécie de enclausuramen-to. Isso ajudou a criar a atmosfera correc-ta, e criar laços ainda mais fortes, inclusi-ve com o Billy.

A música dos Amenra é muito intensa. Abordar certos assuntos, é uma expe-riência dolorosa, ou uma maneira de libertar alguns sentimentos negati-vos?Lennart: Está, definitivamente, relaciona-do com sentimentos negativos, mas nós tentamos pegar nesses sentimentos ne-gativos e transformá-los numa experiên-cia positiva. Não queremos ser uma ban-da com uma mensagem negativa, mas a dor, é a coisa mais importante na nossa música.Colin: É uma espécie de sacrifício. Dar tudo…

Sim. Tu disseste, numa entrevista, que era doloroso tocar ao vivo, porque exige tanto de ti..Colin: Sim, a nível emocional. Durante o dia, nós estamos sempre bem-dispostos, a comunicar, a beber cerveja, a divertimo--nos, etc. Mas logo que um concerto se aproxima… tudo se altera. É uma coisa bastante séria, e canaliza-se tudo o que tens, focas-te. É uma luta constante. Aca-ba por, no fim, tornar-se em algo positivo. Mas é muito difícil, porque abordas coisas

Page 38: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

que na verdade, não queres abordar… são coisas bastante complicadas. Nem sem-pre queremos falar sobre certos assuntos, mas a verdade é que temos que o fazer.

Podem falar sobre a capa do “Mass V”? Colin: Fomos para o norte de França, por alguns dias. Dormimos em um dos bunkers e a foto foi tirada pela manhã, de-pois de esperarmos umas horas até que o sol nascesse. Estava maré alta e não podí-amos sair de lá. Quando o álbum sair no mercado, poderão ver que é uma imagem panorâmica, que recai sobre a imagem de todos aqueles bunkers e de toda aquela atmosfera. Estamos a falar num sítio his-tórico, onde batalhas da Segunda Guerra Mundial, aconteceram. Transmite uma vibe bem especial… até porque permitiu--nos pensar o que tinha acontecido na-quele preciso lugar. Imaginar os soldados, e tudo o que eles sentiram. É inimaginável tudo o que lá aconteceu, as muitas pesso-as que lá perderam a vida.Lennart: Outro factor importante, é o de se tratar de um lugar bem real. Cada vez

mais, temos a necessidade de nos focar em coisas que são verdadeiras, que são reais. Basicamente é uma forma de tudo ser coerente na nossa arte.

A banda assinou, recentemente, com a Neurot. Como tem sido essa experi-ência?Lennart: Não tenho nada, a não ser coisas boas, a apontar. Há uma espécie de senti-mento de “voltar a casa”. É uma evolução óbvia. Colin: É incrível a quantidade de con-fiança que eles depositam em nós. Eles contactaram-nos, e disseram que que-riam lançar o nosso próximo álbum, mas que iriam apoiar, qualquer que fossem as nossas decisões. É algo incomum, numa relação com uma editora. Eles estão cons-tantemente a pressionar-te e a querer saber como as coisas estão a correr. Isso não acontece com a Neurot. Nós sabemos exactamente o que queremos. Não preci-samos de uma editora para nos apontar o caminho. Por exemplo, com o artwork, nós temos a tendência de usar bastantes recursos, e normalmente as editoras de-

sincentivam esse tipo de situações. Isso não acontece com a Neurot. E mesmo os pequenos pormenores… temos liberdade total. Apoio e respeito. Não podemos pe-dir mais. Estamos extramente felizes em estar na Neurot.

O que significa, para os Amenra, tra-balhar com os membros dos Neuro-sis?Colin: É extremamente compensador, e torna-te mais humilde ao teres pessoas que admiras, a elogiar o teu trabalho e a apoiarem-te. É algo que transcende todas as nossas expectativas. Ter o respeito de-les, sair em tour com eles, estar na mes-ma editora… nem parece real. Lembro--me que nos primórdios de Amenra, eu e o Mathieu (J. Vandekerckhove, guitar-rista) falamos como seria fantástico tocar com os Neurosis. Falávamos disso como se de um sonho se tratasse, e de repente estamos a tocar com eles, simplesmente acontece. Indiscritível! //

editora: neurot recordings

Page 39: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 40: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 41: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 42: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 43: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Então, como é que vão as coisas?Muito bem. Acabei a minha edu-cação (licenciatura em serviço so-cial) na passada sexta-feira… sou um homem livre (risos).

“Suffocating In The Swarm Of Cranes” é o sexto lançamento da banda, depois de editarem uma demo em 2009, o EP, dois splits e o vosso álbum de estreia, “Epos”. A banda começou por tocar crust, mas entretanto sofreu uma mutação. Achas que esta é a verdadeira entidade dos Downfall of Gaia?Acho que a verdadeira entidade da banda é qualquer que fosse a coisa que tenha saído naquele momento, porque na altura sen-tíamos que era a coisa mais certa a fazer. É um processo natural, na medida em que sempre fizemos aquilo que quisemos. Nun-ca houve um plano. Nós sofremos imensas influências, por isso é natural que o som da banda sofra algumas mutações. Não somos

o tipo de banda que quer fazer a mesma coisa durante 30 anos. Quando eu me jun-tei à banda, tive a necessidade de adicionar alguns blast beats, de forma a alcançar um som mais direccionado para o metal. Com isto quero dizer que cada um tem o seu input, e que este varia pois cada um de nós, tem as suas influências.

Este álbum fala sobre alguns aspectos da condição humana. Podes explicar um pouco melhor o conceito do álbum?Claro. O conceito baseia-se numa pessoa que sofre de insónias, e tem problemas do foro psiquiátrico. Isto tudo advém da in-fluência e pressão que a sociedade impõe a este indivíduo. A maneira como mundo fica, cada vez mais complicado, mais frio. O ser humano passa a ser uma mera máqui-na, um mero número, e há menos liberda-de, menos espaço para ti mesmo. Não há uma liberdade individual. Todas as estas coisas, que se vão agravando conforme os temas do álbum vão avançando, fazem este individuo sufocar… daí o título. É uma refle-

xão da sociedade moderna.

Podemos dizer que a sociedade mo-derna foi uma grande inspiração para criar este álbum, certo?Sim, totalmente! Este tópico influenciou não só a parte lírica do álbum, mas também a parte sonora. Foi, realmente, uma grande inspiração.

Sei que tiveste problemas de saúde, que acabaram por atrasar a gravação do álbum. Apesar deste problema, foi fácil gravar o álbum?Sim, realmente tive problemas de saúde. Mas, tirando esse problema, tudo correu bem. Nós conseguimos encontrar uma nova data para gravar o álbum. Foram mo-mentos bastante intensos, porque só tínha-mos alguns dias para gravar o álbum. Che-gávamos a estar doze horas por dia a gravar, no estúdio… bem old-school. Foi muito bom gravar com o Christoph Scheidel, o

nosso produtar. Ele disse, “eu não sou ba-terista, mas quero ter o melhor som de ba-teria possível, sem que seja preciso editar algo na mixagem… vamos preparar o som para que fique perfeito”. E a verdade é que no primeiro dia, gastamos quatro horas só para conseguir ter o melhor som possível na bateria. E o resultado é um álbum que flui muito bem, na minha opinião.

E comparativamente com outras experi-ências foi diferente gravar este álbum?Não. É apenas o processo natural, que te-mos desenvolvido deste o primeiro dia. Não sentimos a pressão por termos assi-nado o contracto discográfico com a Metal Blade.

Como foi criar este novo álbum? O que nos podes dizer sobre o processo criati-vo da banda?Se escrevemos novo material, todos os membros têm as suas próprias ideias, e posteriormente juntamos esse material todo, na sala de ensaios. Mas em casa te-

mos novas ideias, e desenvolvemos essas mesmas ideias, que depois são discutidas e partilhadas quando estamos todos jun-tos. E há mesmo a possibilidade de darmos dicas em relação ao trabalho dos outros membros. É um trabalho em conjunto. Sabemos que nem todas as bandas conse-guem trabalhar desta forma, mas a verdade é que isto funciona com nós. Este material, para o “Suffocating In The Swarm Of Cra-nes”, demorou cerca de um ano até estar completamente finalizado.

A banda é originária da Alemanha, por isso é natural que as letras sejam escri-tas em alemão. Pretendem continuar assim?Sim. O título do álbum, e o nome das mú-sicas, estão em inglês, mas há sensação de naturalidade ao escrever as letras em ale-mão. Se fossemos traduzir tudo para inglês, o poder das palavras seria totalmente dife-rente. E temos sempre a preocupação de,

no nosso site, fazer uma pequena tradução para inglês, para que as pessoas compreen-dam do que estamos do que falar.

Já se encontra disponível o vídeo da “In The Rivers Bleak”. Quem foi o autor?Foi um artista (John Bradburn) da Escandi-návia que nos escreveu a dizer que queria fazer um vídeo para uma das nossas músi-cas, e acabou por nos mostrar alguns traba-lhos que ele tinha feito até à data. Ficamos bastantes admirados, porque a iniciativa partiu toda dele, sem que nós tivéssemos pedido. Claro que ficamos extremamente felizes com esta generosa oferta, e aceita-mos de imediato. Depois ele mostrou as ideias que tinha para o vídeo e o projecto seguiu para a frente. Tivemos uma tremen-da sorte, e estamos muito agradecidos por isso. Ele fez um trabalho fantástico.

A capa do álbum é fantástica. Simples e profunda, tal como a música. Concor-das?Obrigado. Concordo com essa observa-

Page 44: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

ção, e é muito bom saber que as pessoas gostaram. Nós gostamos desta tendência abstracta. Procuramos que a capa seja coe-rente com a atmosfera da música, tal como referiste, e que foque as coisas importan-tes. As imagens são fantásticas, estamos muito felizes com o resultado final. São da autoria do vocalista dos Vestiges (Alex Moo-dy). Os Vestiges são bons amigos nossos, e já tivemos a oportunidade de partilhar uma tour europeia e norte-americana, com eles. O Alex, tirou todas as fotos e cedeu-as. Está imensamente satisfeitos com elas… e bas-tante agradecidos pelo trabalho dele.

A banda está actualmente na Metal Bla-de. Como é que nasceu essa parceria?Basicamente aconteceu a mesma coisa que tinha acontecido com o vídeo (risos). Foi realmente fantástico. Nós estávamos constantemente a brincar com a possível situação da banda estar na Metal Blade, e passado uns tempos recebemos um email da Metal Blade. Eles apresentaram-se e disseram que estavam interessados em trabalhar com a banda. Nós não queríamos acreditar. Posso confessar que tivemos a necessidade de fazer uma pequena pesqui-sa, para ter a certeza que não era alguém a pregar uma partida. Nós não queríamos acreditar naquela situação, ficamos extre-mamente felizes. Para mim, a Metal Blade, de há 10 anos para cá, é uma das melhores editoras que existe no mercado do metal. A verdade é que eu nunca pensei que uma

banda como os Downfall of Gaia pudesse assinar como uma a Metal Blade, até por-que o catálogo deles é bastante diferente do tipo de música que nós produzimos. Pessoalmente, como fã de death metal, é muito porreiro estar na editora de muito dos meus ídolos. É, realmente, uma situa-ção fantástica.

Como tem sido trabalhar com a Metal Blade?Tem sido uma relação muito boa. Nós ana-lisamos bem a proposta deles porque de al-guma forma, ainda continuamos a ser uma banda DIY, e não queríamos perder toda a liberdade que tínhamos. Gostamos de ter o apoio de uma editora como a Metal Bla-de, mas não abdicamos de ter o poder de decisão, tanto a nível criativo, como a nível logístico. Tendo em conta que eles nos dão essa liberdade, nós não pensamos duas ve-zes. Eles fazem uma promoção incrível das bandas. E é isso que realmente nos interes-sa. Queremos mais, e melhores condições, mas sem abdicar da liberdade que sempre tivemos. A verdade é que continuamos a fazer as coisas como sempre fizemos, a úni-ca diferença é que temos que nos apoie. É uma situação perfeita para nós.

Vocês estão actualmente a dar alguns concertos. Como é que o público tem reagido a este novo material?Muito bem. Posso dizer que têm gosta-do mais deste novo material, comparati-

vamente com o material mais antigo. Há muitas pessoas que não tinham ouvido a música dos Downfall of Gaia, e ficam ma-ravilhadas, chegando haver pessoas a dizer que nunca ouviram este tipo de música. Uma das melhores experiências que tive-mos foi num festival na Holanda, onde to-camos com bandas de grindcore e crust. Aquele público não tinha grande conheci-mento do tipo de música que criamos e fi-caram muito satisfeitos com o que ouviram.

Têm intenções de fazer uma tour para promover o novo álbum?Sim. Queremos fazer alguns concertos no próximo ano. Infelizmente temos proble-mas a nível de compatibilidade, porque não dedicamos 100% do nosso tempo aos Downfall of Gaia. Mas a intenção passa por fazermos bastantes tours no futuro.

Dominik Gonçalves dos Reis. Há alguma relação com Portugal?Sim. Os pais do Dominik são portugueses. Eles imigraram para a Alemanha antes de ele nascer e ele acabou por ser criado aqui na Alemanha.

É uma boa razão para visitarem Portu-gal…Sim! Ele tem que entrar em contacto com as suas origens (risos).

editora: metal blade

Page 45: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 46: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Fim do concerto. O que acharam desta vossa estreia em Portu-gal?Benjamin: Acho que foi realmente fantástica. Tocamos tal como pre-

tendíamos, com bastante volume. O som na frente era enorme, e conseguimos um grande trabalho na bateria.Ronan: O som aqui é mesmo bom.

Uma das coisas mais interessantes é o efeito de voz que utilizaste. Dá a sensa-ção que estamos numa caverna, crian-do uma atmosfera bem especial.Ronan: Sim. É, aliás, uma escolha estética. Nós queremos que a voz esteja atrás de to-dos os outros instrumentos. Normalmente as bandas preferem que a voz receba uma maior atenção, sobrepondo-se aos restan-tes instrumentos. Nós não queremos isso. A voz, em Huata funciona como qualquer outro instrumento.Benjamin: O principal é o fuzz criado pelo baixo e guitarra.

O concerto é uma espécie de ritual. Por-que fazem questão de criar esse tipo de ambiente?Benjamin: Não queremos dar um mero concerto de rock, apesar de não termos nada contra esse tipo de concertos, muito pelo contrário. Mas a intenção é criar uma atmosfera muito própria, onde o público se

sinta confortável em participar. Algo bas-tante intimista. E para além de tudo, é algo que encaixa perfeitamente com o tipo de música que tocamos.Ronan: Queremos que seja uma comunhão espiritual e física entre todos os interve-nientes. E ao contrário do que muitos pen-sam, a intenção não a de é criar algo obscu-ro, mas sim algo que ilumina as pessoas… com uma força devastadora. Tentamos ape-lar aos sentimos mais positivos do Homem.Benjamin: Algumas das críticas que recebe-mos, relativamente ao nosso álbum, diziam que tínhamos uma aura negra e demonía-ca, mas a verdade é que não foi essa a nos-sa intenção. A única coisa que queremos, é algo grande, algo poderoso, que encaixe na natureza do ser humano. E aí é que entram os elementos primitivos que podem ouvir, e até sentir, na nossa música.

Sobre as projecções que utilizaram du-rante o concerto. São magníficas…Benjamin: Sim. São imagens retiradas do filme The Holy Mountain, do Alejandro Jodorowsky. Eu fiz as projecções para o concerto que demos no Roadburn, e é a primeira vez que as utilizamos desde esse concerto. Sempre que temos a oportunida-de de o utilizar… não hesitamos (risos).Ronan: E expressa aquilo que estávamos a falar há pouco. À procura de Cristo, à pro-cura da espiritualidade. Uma espécie de

odisseia espiritual.Benjamin: Este filme é realmente marado. Fala sobre alquimia, assuntos espirituais, assuntos religiosos. E é bastante psicadé-lico. E gostamos da forma como por vezes é marado, e outras vezes é completamente parvo e estúpido. E está aberto para inter-pretações, tal como a nossa música. Con-cluindo, encaixa de forma perfeita na nossa música.

Já tem planos para o futuro, mais con-cretamente para 2013?Ronan: Sim. Temos que criar uma peça a rondar os 25 minutos, para ser incluída num split com uma banda alemã, chamada Bitcho. Nós tocamos uma pequena parte no concerto de hoje. Queremos continuar a dar muitos concertos.

E planos para um novo álbum?Ronan: Ainda não. Está a progredir muito lentamente. Já temos algumas ideias para que se percorram outros caminhos, algo mais drone, algo mais sludge. Ainda esta-mos numa fase muito embrionária. Há mui-to caminho a percorrer até lá chegar. Mas queremos optar por outras direcções no fu-turo. Não queremos criar limites na nossa música. //

editora: mordgrimm records

Page 47: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 48: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Para os que ainda não conhe-cem os Azagatel, podes resu-mir o percurso da banda?Claro. A banda foi criada em 1995 comigo e com o Nélson,

na guitarra. Depois gravamos a primeira demo, “The Middle Earth”, que foi edita-da em 1999. Houve sempre, ao longo de todo este percurso, mudanças na forma-ção, principalmente a nível de guitarristas, e mais tarde a nível da baterista. Em 2003 lançamos o nosso primeiro longa-duração, o “Nautilus, e observou-se uma separação de alguns membros que estavam desde o início da banda. Esta situação criou al-guns problemas para a banda, atrasando os lançamentos futuros. Antes desde novo álbum, ainda tivemos oportunidade de lan-çar um split, limitado a 150 cópias, com a banda israelita, Dagor Dagorath, e um EP. Esse EP acabou por passar despercebido devido aos problemas que tivemos com a distribuição. Este álbum, para além de eu achar que é o mais significativo a seguir ao “Nautilus”, é onde conseguimos reunir a formação, mais ou menos, original, tra-duzindo-se numa maior estabilidade. Po-demos considerar que esta formação, com membros originais, revela a verdadeira gé-nese dos Azagatel.

Todos estes contratempos contribuí-ram para estes onze anos que separam o “Nautilus” do “Lux-Citanea”?Sem dúvida! Relembro que durante estes onze anos, a banda fez dois lançamentos e foi-se apresentando ao vivo. Mas sim, estes contratempos foram a causa que mais con-tribuiu para este “atraso”. O facto de haver muita instabilidade na formação fez com que este “atraso” fosse aumentando com o tempo. Por vezes quando tínhamos mú-sicos já perfeitamente enquadrados com os Azagatel, estes saiam da banda, e tínhamos que voltar à “estaca zero”. Espero que esta situação, com esta “nova” formação termi-ne, e que tenhamos a possibilidade de edi-tar trabalhos de forma mais assídua.

Consideras que essa instabilidade de formação é das coisas mais complica-das que pode acontecer a uma banda?Sim. É realmente muito complicado. E de-pois quando unes isso a uma falta de mú-sicos, interessados em tocar num projecto como os Azagatel… as coisas complicam-se ainda mais. É bastante complicado encon-trar músicos que sejam capazes de executar tecnicamente, e que acima de tudo estejam ali com alma, e porque acreditam, de facto, no projecto.

Mas a verdade é que nunca perdeste o ânimo… Não, nunca perdi o ânimo. Se há uma virtu-de que eu tenho, ou defeito, dependendo da perspectiva, é a perseverança. E é de-vido a essa perseverança que os Azagatel ainda continuam activos. De outra forma já tinham posto um ponto final nisto.

Achas que é um problema que afecta muitas bandas em Portugal, este de não ter músicos interessados e capazes? Principalmente quando se fala no me-tal mais extremo…Acho que sim. Principalmente quando es-tamos a falar em cidades, ou zonas, longe dos grandes centros urbanos como são o Porto e Lisboa. É muito complicado, prin-cipalmente para bandas como os Azagatel que possuem uma sonoridade bastante pe-culiar. Como não há muita gente interessa-da, em Portugal, neste tipo de sonoridade, torna-se bastante complicado encontrar músicos dispostos a tocar.

“Lux-Citanea”. Este título é uma espécie de jogo de palavras que vocês criaram, certo?Sim. «Lux» é luz, enquanto «Citanea» é ci-dade. No fundo é “Cidade da Luz”. Há docu-

Page 49: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

mentos que referem que o culto a Lúcifer teve origem na antiga Lusitânia, ou mesmo antes. Há uma analogia entre luz e Lusitâ-nia (nome atribuído na Antiguidade ao ter-ritório oeste da Península Ibérica), entre o culto à luz, ao conhecimento, a procura por esse conhecimento. A ideia foi associar a luz, que é a sabedoria, à Lusitânia. Relati-vamente à questão do Lúcifer, ele também está ligado à luz, ao conhecimento. Factos bíblicos apontam que Deus expulsou Lúci-fer do Céu, porque este havia-o desobede-cido. Lúcifer havia procurado o tal conhe-cimento, libertando-se assim da tirania de Deus. A ideia base de todo o álbum é o re-gresso às raízes, é frisar a importância que os nossos valores e antepassados possuem. Eles não podem ser esquecidos. Tem que haver o tal conhecimento do passado, para que se possa construir um futuro melhor.

Apostaram num conceito que enaltece as raízes portuguesas. Dirias que a situ-ação económico-social que se vive actu-almente em Portugal, e na Europa, foi uma inspiração para este álbum?Não, pelo menos de uma forma directa. O álbum começou a ser composto em 2008. Mas a temática abordada no álbum conse-gue relacionar-se com a situação económi-co-social que se vive no Mundo. Quando, no álbum, se fala da revolta do povo lusita-no contra os romanos…

Exacto! Tu achas que a crise de valores que se vem sentido em Portugal (que teve início antes desta crise económica), foi uma inspiração para enaltecer, e tentarem mostrar que somos um povo forte?Sim, é mesmo por ai. Tocas-te mesmo no “ponto” (risos). Actualmente, a meu ver, está a acontecer a mesma coisa que se pas-sou com os romanos. Estamos a ser inva-didos pela globalização, pelo capitalismo, e estamos a perder os valores. O multicul-turalismo está a desaparecer, fazendo com que os povos percam a sua própria identi-dade. E este álbum serve como uma espé-cie de “alerta” conta a perda de identidade

que se vem sentido de há uns anos para cá.

Quais é que tu apontarias, como sendo as principais diferenças entre o “Lux--Citanea” e o “Nautilus”. Achas que há diferenças?Há diferenças significativas, sem dúvida. Penso que alteramos ligeiramente a nossa sonoridade, mas continuando com alguns elementos base que sempre tivemos. Creio que houve uma evolução, nomeadamente num resultado final bastante mais madu-ro, a nível de composição. Abdicamos dos teclados, e passamos a dar mais uso aos instrumentos tradicionais. Começamos a utilizar a língua portuguesa… infelizmen-te não deu para serem em todas as músi-cas, porque já tínhamos temas formulados quando comecei a utilizar o português. E acho que, pela primeira vez, tivemos uma produção profissional, que ficou a cargo do Lino Vinagre.

Achas que todos os problemas que fo-ram tendo nos Azagatel, ajudou com que as coisas hoje em dia fossem mais maduras?Ajudou, ajudou muito. Tanto como pesso-as como músicos. Apesar do mal todo que nos trouxe, teve essa parte boa. Tivemos que aprender a fazer as coisas com o mí-nimo possível. Este álbum foi praticamen-te composto por dois, ou três, membros, onde houve maior comunicação entre nós, e onde havia um esforço para que as coisas acontecessem, mesmo quando as condi-ções não eram as ideais. A troca de sinergia foi muito grande.

Outro aspecto interessante neste “Lux--Citanea” é o artwork…Sim, foi o Ricardo Fernandes que tratou de toda a concepção do artwork e layout. E depois há a edição especial, onde achamos que seria engraçado incluir um pequeno saco de serapilheira e o livro com o Panteão dos deuses lusitanos. Como o disco abor-da as raízes, eu achei que teria a sua piada fazer uma edição especial onde tudo fosse feito manualmente.

É um factor que diferencia os Azaga-tel dos seus pares. Num mercado que é mantido por coleccionadores, a me-lhor maneira é oferecer um produto diferente.Exactamente. Eu sou coleccionador há mui-to tempo, e actualmente confesso que ape-nas invisto o meu dinheiro em vinil e em edições especiais. Já não tenho interesse em comprar um álbum numa jewel case, onde o artwork se resume a uma folha do-brada a meio.

Como tem sido o feedback?Ainda não recebemos muito feedback. Mas o pouco que temos recebido, tem superado todas as minhas expectativas. Temos tido algumas críticas na imprensa portuguesa, inclusive alcançando notas máximas. Pes-soas que me abordam… tem sido tudo po-sitivo.

Como é que definirias a Nekrogoat He-resy Productions?É uma relação de amizade. Nós já somos amigos há bastante tempo, tanto que lan-çamos a compilação “XV Years of Pagan Chants” pela Nekrogoat. Já tínhamos falado desta colaboração, mas só agora é que se materializou. Mas foi uma coisa naturalíssi-ma. Somo amigos, somos vizinhos (pratica-mente), e aconteceu (risos).

Discos que tens ouvido ultimamente?Um que tem rodado muito, por estes lados, é o novo dos Lunar Aurora, o “Hoagascht”, “With Hearts Toward None” dos Mgła e Nokturnal Mortum. Depois há aqueles clás-sicos como o “Ceremony of Opposites” dos Samel, Emperor, Dissection, etc. Esses vão sempre rodando. //

editora: nekrogoat heresy productions

Page 50: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Germ combina diferentes ele-mentos, de diferentes gé-neros musicais. Como é que

surgiu a ideia de criar este projecto e apresentar esta sonoridade única?A ideia surgiu-me há imenso tempo. Eu só queria combinar diferentes géneros musicais que eu adoro, sem limites, e fazendo algo que eu gostaria de criar e que gostaria de ouvir. Penso que nunca estive muito focado na ideia de editar algo, por isso é que esta estreia demo-rou tanto tempo a ser editada. Mas es-tou muito contente ao verificar que as pessoas estão a gostar e a aproveitar o

resultado final.

É possível descreveres o teu próprio som ou é algo complicado tendo em conta que é algo muito diferente?Honestamente, eu não sei como des-crevê-lo. Actualmente encontro-me bastante desenquadrado relativamen-te ao heavy metal e black metal, por isso não sei como é que as coisas são “rotuladas” hoje em dia. Penso que possa dizer que Germ é uma mistura entre o lado mais rock do black metal depressivo, com elementos eletróni-cos dos anos setenta e oitenta, e com

alguma orquestração à mistura! Pelo menos parece-me que é a verdade re-lativamente ao “Wich” e ao “Loss”.

Germ é um projecto de um homem só. Consideras a possibilidade de tocar ao vivo? Se sim, serias apenas o vocalista ou tocarias outros ins-trumentos também?Já considerei essa opção, e tive, inclu-sive, algumas propostas de alguns mú-sicos que estão dispostos a ajudar-me nessa empreitada. Mas mesmo assim penso que ainda estamos longe de por em prática esse “conceito”. Seria

Page 51: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

preciso imensa coisa e eu não quero apressar as coisas porque acho que é necessário fazer tudo da melhor forma possível. Relativamente aos instrumen-tos… iria fazer todas as vocalizações e talvez tocar guitarra também. Mas con-fesso que ainda não pensei muito bem nisso. Ainda falta muito tempo para apresentar Germ ao vivo.

Como descreverias o “Loss” a nível lírico? Onde foste buscar a inspira-ção para criar este disco?É um disco bastante negro e fodido, a nível lírico. A maior parte das letras que eu escrevo advêm de eventos que se dão na minha vida. São bastante pes-soais. Sinto que ao escrever letras, con-sigo, de alguma forma, libertar alguma “merda” que guardo dentro de mim.

“So Lonely, Dead Lonely”, é uma das melhores músicas que já ouvi em toda a minha vida! Qual o signifi-cado desta música em particular e como é que o processo de criação funciona contigo, de forma a con-seguires criar peças musicais tão fantásticas como esta?Uau, muito obrigado! Eu escrevi gran-de parte das canções entre 2009 e 2010 e nessa altura a intenção seria usar as canções no próximo álbum de Austere. Claro que isso acabou por não acontecer e tinha então estas canções guardadas no fundo da minha mente. Quando chegou a altura do EP “Loss, e eu estava a compilar todo o material

que tinha, decidi regravar esta canção e usá-la no EP. A composição foi feita numa guitarra acústica em casa, como costumo fazer sempre. Depois pas-sei a música para o meu computador, usando guitarra eléctrica, teclas, baixo e bateria programada. Aliás, o fim da canção, quando os vocais limpos come-çam…. essa parte não estava na demo original, mas eu sempre senti que fal-tava alguma coisa para completar a canção. O fim da canção foi escrito no início deste ano, numa noite. Eu criei a melodia com um piano e depois adicio-nei alguns acordes. Confesso que não é a minha música favorita de Germ mas continua a ter um significado muito especial para mim, especialmente con-siderando as letras e o significado que elas têm para mim.

Tendo em conta que gravaste todas as vozes e instrumentos, quando es-tás a gravar vês-te como um todo ou é como que te dividisses e cada parte de ti funcionasse de forma di-ferente?Eu não me vejo necessariamente como um “todo”, mas tento fazer as coisas como sendo “um”. Quando estou a es-crever um riff ou uma melodia para um instrumento, geralmente consigo ouvir o que os outros instrumentos irão fazer. Penso que o meu trabalho é, de alguma forma, facilitado enquanto único mem-bro de Germ. As pessoas ouvem de ma-neira diferente a mesma música, e eu ao tocar todos os instrumentos consigo

garantir que a visão não seja “defrauda-da”. É a minha visão na forma mais real e verdadeira possível. Claro que o Lord Tim, o meu produtor, vai-me conceden-do algumas dicas, mas eu tenho muita sorte porque ele entende exactamente de onde venho e para onde quero ir. Estás envolvido em outro projecto musical para além de Germ?Faço ocasionalmente trabalho de estú-dio para outras bandas, como também componho músicas para outros artis-tas. Relativamente às minhas bandas, eu tenho agora uma nova banda que estou a tentar projectar. Essa banda tem tido alguns contra-tempos recen-temente e eu por agora deixei esse pro-jecto no fundo da minha mente.

O que se segue com Germ?Vou entrar no estúdio no início de 2013 para começar a gravar o próximo ál-bum. Já tenho o álbum escrito e posso adiantar que será um pouco diferente daquilo que as pessoas possam esperar depois do “Wish” e do “Loss”. De qual-quer maneira o som de Germ continua lá! Fiquem atentos para novidades em www.facebook.com/germofficial //

editora: eisenwald

Page 52: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Os primeiros sete discos dos Gra-ve foram editados pela Century Media. Em 2007, assinaram com

a Regain Records e lançaram o “Domi-nion VIII” e o “Burial Ground”. Cinco anos depois, estão de regresso à Cen-tury Media. Por que razões abandona-ram a editora na altura e o que vos fez

regressar?Queríamos experimentar algo novo, foi por isso que saímos da Century Media quando o contrato expirou. Entretanto, a Regain faliu e a Century Media estava interessada em voltar a assinar connosco. Como é uma editora que funciona muito bem e que lan-çou a maioria da nossa discografia, achá-

mos que seria o melhor a fazer. E não há quaisquer arrependimentos relativamente a essa decisão!

Como correu o processo de escrita para o novo álbum?Eu e o Tobias iniciámos o processo ao ir para a sala de ensaios mais cedo. O Ola só

Page 53: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

se juntou a nós depois. Escrevemos a es-trutura básica de três canções, “Amongst the Marble and the Dead”, “Passion of the Weak” e “Perimortem”. Depois disso, tudo começou a ganhar forma e escrevemos o álbum em três, quatro semanas. Fui eu e o Ola que escrevemos o “Burial Ground e o “Dominion VIII”. No caso do “Burial Ground”, escrevemo-lo a meias e ainda fui eu que gravei as partes do baixo, porque não houve interesse por parte do Fredik em tocar nesse álbum.

Tal como o seu antecessor, o “Endless Procession of Souls” foi produzido, gravado e misturado nos estúdios do Ola. No entanto, desta vez tudo soa mais limpo e poderoso. A que se deve esta mudança de som?Tanto o “Burial Ground” como o “Dominion VIII” sofreram de uma produção demasia-do lamacenta, algo que não era a nossa intenção quando os gravámos. Simples-mente saiu assim e tanto o Ola como eu detestámos. Desta vez, conseguimos um som de bateria limpo desde o primeiro dia e não tivemos que fazer grandes ajustes. Não usámos triggers, por isso o que ouves relativamente à bateria é o verdadeiro som do meu kit! As guitarras foram gravadas da mesma forma que no “Dominion VIII”, ou seja, através de um Line 6 Digital Box. Para quê complicar quando podes fazer as coisas em casa e ainda conseguir com que elas soem extraordinárias?

Diria que este álbum é mais equilibrado e melódico que o “Burial Ground” e o “Dominion VIII”. Concordas?Completamente. Não foi uma escolha ou algo do género, simplesmente aconteceu. No entanto, acho que as ideias que o To-bias teve de certa forma estabeleceram a direção que tomámos. Ele tinha mais de 70 ideias! (risos) Por isso, escolher os riffs e as ideias para canções dessa quantidade não foi fácil e posso assegurar que ainda sobrou um montão de riffs porreiros para o próximo álbum!

A “Epos” possui uma abordagem Death/Doom reminiscente de bandas como

Celtic Frost ou Asphyx. Curiosamente, a edição em vinil do “Endless Procession of Souls” inclui uma versão de cada uma dessas bandas. São grandes influ-ências para vocês? Para o Ola, sim. Para o som da banda quan-do começou, também. Para mim, não... (risos) Os Grave sempre tiveram uma abor-dagem mais melancólica, negra e Doom quando comparados aos nossos compa-triotas Entombed, Dismember ou Unlea-shed, e isso provem da veneração do Ola pelos Celtic Frost.

Consegues escolher um tema favorito do “Endless Procession of Souls” e di-zer porquê? Consigo escolher três, um não. “Disem-bodied Steps”, “Passion of the Weak” e “Plague of Nations”. Estes temas são muito diferentes uns dos outros, mas são muito orelhudos, cheios de groove e energia... Em três formas diferentes!

Como correram as últimas digressão? Planeiam tocar em Portugal em breve?Correram muito bem, mas oito semanas seguidas a tocar este tipo de música dei-xam as suas mazelas no corpo. Quatro ou cinco semanas seria o ideal. Diria que a nossa pequena digressão como cabeças--de-cartaz na Europa (especialmente na Alemanha) foi espetacular. As bandas de suporte, Sonne Adam e Freund Hein, foram demolidoras em todas as noites. E, depois, andar em digressão com os poderosos Morbid Angel... Bem, foi um sonho torna-do realidade para mim! Os nossos compa-triotas Dark Funeral também se juntaram a nós. Um arraso! De momento, não temos mais nenhuma digressão planeada, mas eu adoraria tocar em Portugal outra vez.

Os Grave já existem há muitos anos e o Ola é o único membro sobrevivente da formação original. Como lidam com as mudanças de formação? A formação atual é facilmente a mais for-te desde que entrei para a banda em 2006 e sei que o Ola também pensa o mesmo! É óbvio que, por vezes, é difícil lidar com novos membros. Contudo, o Tobias, por

exemplo, já era nosso amigo desde a Mas-ters of Death Tour que fizemos em 2006 e o Mika encaixou tão bem na banda que foi uma coisa absurda. Somos todos amigos, saímos juntos no nosso tempo livre... E, pelo que vejo, não é algo tão comum quan-to isso.

Desde o início que os Grave se têm man-tido fiéis às suas raízes Death Metal sem seguir qualquer tipo de modas. Nunca sentem vontade de trazer novas influ-ências para a banda? Há uma razão para os Grave ainda existi-rem e fazerem mais digressões do que nunca. Chama-se “consistência”! Se come-çássemos a experimentar, perderíamos a nossa identidade musical e aposto que os fãs também perderiam o interesse. Isso não é algo que queiramos colocar em ris-co. No entanto, se fores a um concerto de Grave hoje em dia e o comparares a, diga-mos, aos que dávamos há dois anos, por exemplo, vais assistir a um espetáculo mais enérgico e divertido, porque estamos mais “vivos” em palco. Sorrimos e brincamos ao bom estilo dos velhos anos 80. Acho que é tão aborrecido ver bandas especadas no mesmo lugar durante uma atuação inteira. Estão num palco, caramba! Mexam-se!

O Death Metal sueco voltou a tornar-se muito popular nos últimos anos. O que pensas deste revivalismo? Tem sido bom para nós, mas não vejo ra-zões para as bandas velhas se voltarem a reunir, gravar um álbum e depois não po-derem ir em digressão ou fazer espetáculos e tal... Qual é o sentido de lançar um disco e não promovê-lo? A piada de tocar música é, na minha opinião, o tempo que passa-mos em palco a tocar para os nossos fãs. É isso que me faz continuar... //

editora: century media

Page 54: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Primeiro que tudo, diz-nos como é que os Serpentine Path começaram.Juntámo-nos quando o Tim (Bagshaw) se mudou para os Estados Unidos e foi parar

a uma cidade em Nova Jérsia, perto de Nova Iorque. A sua proximidade e o facto de nos juntarmos outra vez como velhos amigos permitiu a formação desta nova besta.

Os caminhos de Tim e Unearthly Tran-ce já se tinham cruzado, certo?

Sim, nós (Unearthly Trance) conheçemos o Tim quando ele se encontrava nos Elec-tric Wizard, em 2002, na turnê america-na com os Electric Wizard, Sons of Otis e Unearthly Trance. Depois disso os Unear-thly Trance fizeram três digressões com os Ramesses no Reino Unido, Europa e mais além. Tornámo-nos bons amigos com o passar dos anos, e por isso fazia todo o sentido começar um novo projec-to quando ele se moveu para aqui.

Como foi receber outra pessoa no projecto com quem já tinhas passado

bastante tempo noutra banda?Como era um projecto totalmente novo, não havia o sentimento de como se fosse alguém a juntar-se aos Unearthly Trance, isso seria uma situação completamente diferente. Como eramos todos conheci-dos e bons amigos, foi muito fácil come-çar-mos a tocar e a improvisar nalgumas ideias que o Tim já tinha, e ver no que isso daria. Juntar forças com o Tim foi bastante natural, como se tivesse desti-nado a acontecer, para ser honesto.

O capítulo dos Unearthly Trance está

Page 55: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

terminado. Necessitavas de um novo começo?Nós, os Serpentine Path, começámos ainda quando os Unearthly Trance esta-vam activos. A criação desta nova banda facilitou uma saída limpa para nós, mas esse não foi o nosso objectivo. Foi apenas o resultado das circunstâncias. Através dos nossos encontros apercebemo-nos de que estar numa situação em que não havia pressão sobre nós como uma ban-da era bastante gratificante e agradável, e isso trouxe mais do aspecto divertido que é tão importante para criar música. Tocar música para o nosso próprio prazer. O capítulo dos Unearthly Trance acabou, porque eu acho que estar numa banda underground bastante activa e ambicio-sa como os Unearthly Trance foram, teve o seu efeito em nós, membros, e assim tomámos a difícil decisão de por a banda no descanso de uma maneira respeitosa. E foi exactamente o que fizemos, senti-mos que estava na hora.

Como têm sido as críticas ao novo ál-bum? Parece-me que ambos os fãs e a crítica gostaram deste debut.As críticas a este novo álbum têm sido extraordinariamente positivas, estou re-almente surpreendido pelas respostas até agora. Acho que este álbum pode agradar a todos os que já gostavam das nossas bandas anteriores, mas ao mes-mo tempo tem a sua personalidade espe-cial, única aos Serpentine Path. O grande apoio até agora dá-nos forças para que continuemos a avançar e trabalhar em novo material.

Na tua opinião, qual a maior diferen-

ça entre UT e SP, conceptual ou sono-ricamente?Bem, a razão mais óbvia é o guitarrista! Eu escrevia maior parte das músicas nos UT, e o Tim é a mesma coisa, escreve maior parte das músicas dos SP. Somos guitarristas completamente diferentes, mas temos obviamente algo em comum no que toca aos nossos riffs e estilo de doom no geral. O Tim é um guitarrista de Doom mais clássico e inventa com cada música... Eu abordei os UT de uma forma muito experimental, como eu sempre me desafiei a abordar as coisas de maneiras diferentes a nível sonoro. Cada álbum dos UT tem um som diferente do anterior, e isso era exactamente o que queriamos. O conceito dos SP é de se focar nos lados mais sombrios e mais doom dos nossos gostos, enquanto que os UT eram uma besta imprevisível e caótica.

Escolheste permanecer na Relapse Re-cords. Deves gostar de trabalhar com eles, e permanecer na mesma editora deve ser uma maneira mais fácil de fa-zer isto, certo?Hoje em dia a Relapse Records é a edito-ra perfeita para nós. Eles parecem estar a focar-se nas coisas certas para as ban-das. Tivemos alguns percalços anterior-mente mas, no geral, esta longa relação com eles tem provado ser uma coisa mui-to boa para todos nós. Ter feito este ál-bum com a Relapse Records foi a melhor e mais fácil experiência que já tive com eles até à data. Acho que fizeram um tra-balho excepcional. Estou pessoalmente, bastante agradecido por conseguir con-tinuar a trabalhar e lançar álbuns com a Relapse.

Vês os Serpentine Path a lançar mais álbuns no futuro? Alguns planos neste departamento?Absolutamente. Os SP não são definitiva-mente uma banda de um só álbum. Já es-tamos a falar em escrever músicas novas e estamos a ter ideias para novo material. Especialmente com a audição do nosso novo guitarrista...

Stephen Flam, dos lendários Winter, ingressou recentemente a banda. Pa-rabéns, que grande adição.Obrigado! Somos tomos grandes fãs de Winter! Funcionou perfeitamente. O Stephen é um guitarrista lendário, uma pessoa espectacular a adicionar à nossa banda. A sua experiência e profissionalis-ta só tem a acrescentar ao que já somos capazes de fazer. Ele já soa perfeitamente nos ensaios e já tem ideias para contri-buir. É uma situação maravilhosa e uma grande honra.

Têm alguns planos para uma digres-são na Europa?Não temos planos nenhuns para a Europa de momento. Estamos disponíveis para tocarmos num festival ou algo interes-sante. Estamos a levar as coisas lenta e conservadoramente no que toca a mar-car concertos. Estamos todos preparados para sermos pacientes e esperar que al-gumas ofertas interessantes se apresen-tem. Veremos. //

editora: relapse records

Page 56: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Vamos falar do vosso último trabalho, porque decidiram chamar-lhe “Resolve in Cri-mson”?Mick (voz): O título significa li-

teralmente “uma solução de sangue”. “Cri-mson” refere-se à cor do sangue e “Resol-ve” refere-se ao significado solução, mas também à força de vontade. O título resu-me os temas principais do álbum, que são a vingança, o individualismo e a raiva. A ver-

dadeira mensagem deste álbum é, que mais tarde ou mais cedo, tudo vai ser resolvido pelo sangue…

Este álbum mostra que são músicos ex-perientes tecnicamente. Isto dá-vos li-berdade naquilo que decidem fazer?Mick (voz): Bem, obrigada pelo elogio! Pare-ce que os nossos ensaios foram úteis afinal! (risos). A técnica é definitivamente útil, de forma a que possamos tocar tudo o que nos

venha à cabeça, mas não torna boa, uma canção medíocre. A técnica tem que servir a canção para não sermos apenas rápidos para mostrar que somos rápidos. Na maior parte dos casos, nem sequer pensamos na dificuldade daquilo que estamos a tocar. Tentamos focar-nos mais na própria música.

A melodia parece estar construída por camadas. Essa é uma boa forma de cons-truir uma canção?

Page 57: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Seb V.s (guitarra): Desde o princípio da ban-da que tivemos muitas melodias na nossa música. É o nosso estilo e é o que gostamos. Por isso, em qualquer das nossas canções, vais, definitivamente, ouvir melodias, seja na guitarra, nas vozes ou em orquestrações feitas em fundo. Por vezes, misturamos to-dos estes elementos para obter uma parte massiva, mas ainda assim melodiosa. Vais ouvir muitas passagens dessas em “Resolve in Crimson” como na introdução feita em “The Hatred”.

Fala-me das secções rítmicas deste ál-bum.Seb V.s (guitarra): O nosso baterista (Mor-teus) e o baixista (Dave) têm trabalhado muito juntos, para obter um som groove em bateria/baixo, neste álbum. Isso ajuda muito, pois são ambos muito talentosos nos seus instrumentos e encontram sempre a parte certa para tocar num riff. O nosso objetivo é sermos brutais e rápidos mas ao mesmo tempo groovy. E acho que eles con-seguiram perfeitamente.

Têm uns riffs bastante interessantes em “Aiming a fist in enmity”. Podem falar desta canção?Seb V.s (guitarra): A canção surgiu primeiro na melodia da guitarra principal que ouves na introdução. Depois, o resto da canção surgiu naturalmente. É uma mistura exce-lente de riffs de trash, melodias black metal

e uma dose massiva de coros épicos com a marca especial dos Destinity. Quando ouvi-mos a canção pela primeira vez, depois do estúdio, ficamos banzados!! POWER!

E “Break into his heart”?Mick (voz): Esta canção é muito mais pro-gressiva do que as outras.

Em termos das emoções expostas neste álbum, quais diriam que são as mais evi-dentes?Seb V.s (guitarra): Bem, a raiva é a mais ób-via. Uma vez que a maioria das letras pro-vém de experiências da vida real, a raiva é real, e não falsa, e eu dei vocalmente tudo o que tinha neste álbum. Depois a vingança, porque acredito, que chegou a hora de al-gumas pessoas pagarem. Convido todos os interessados no nosso álbum, a ouvirem as letras e a deixarem-nos alguns comentários no nosso facebook…

A vossa percepção de uma música muda, depois de a tocarem muito?Mick (voz): Tocar ao vivo é um dos nossos pontos fortes. Por isso ao escrever as can-ções, lembramo-nos sempre, que as tere-mos que tocar em palco. O objetivo princi-pal é ir para o palco e tocar a canção que escreveste e é geralmente aí que te aper-cebes, verdadeiramente, se a canção é boa ou má. A reação da audiência nunca mente! Por isso, sim, a nossa perceção de uma can-

ção pode mudar e é aí que decidimos passar a toca-la ao vivo, ou não.

Como têm os vossos fans recebido este álbum?Seb V.s (guitarra): Todos parecem estar ex-citados com o lançamento do álbum. Colo-camos um vídeo “teaser” na internet antes do lançamento e as pessoas ficaram malu-cas e queriam ver mais… Mas todos concor-dam que este é o melhor álbum da banda em muitos anos. E estamos muito orgulho-sos do que conseguimos.

Como descreveriam a cena musical no vosso país?Mick (voz): Graças a bandas como Gojira, Benighted, Loudblast, Dagoba e muitas ou-tras bandas talentosas, a cena do metal em França está a melhorar, de ano para ano. Mais e mais bandas francesas estão a ga-nhar estatuto internacional, e isso é ótimo, pois por um lado merecem e por outro lado empurram para a frente o resto da cena do metal. E nós orgulhamo-nos de estar no topo do metal francês, apesar de a nossa intenção ser apenas espalhar a nossa mú-sica internacionalmente. Não se esqueçam de visitar o nosso website e o nosso face-book para terem novidades sobre os nossos concertos, pois vamos visitar-vos muito em breve! //

editora: lifeforce records

Page 58: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Como te sentes em relação ao “I Begin”? O resultado final foi de acordo com as expetativas que tinhas quando começaste a tra-balhar nele?

É óbvio que quando começas a trabalhar num álbum não sabes exatamente como tudo vai soar no final. Contudo, eu e o Gaahl sabíamos que queríamos construir algo a partir daqui-lo que fizemos no passado e tentar criar algo novo, usando influências dos anos 70. E foi isso que acabou por acontecer.

Foi difícil criar este álbum? Fala-me um pouco do seu processo de composição e gravação. Compus a maioria do material para este ál-bum antes de envolver quem quer que fos-se. Quando já tinha uma boa quantidade de canções escritas, eu e o Gaahl recrutámos os restantes membros para os God Seed, que são o Kenneth Kapstad dos Motorpsycho na bateria, o Geir Bratland dos Dimmu Borgir nos teclados, e nas guitarras o Lust Kilman dos Ba-tallion e o Sir, que tocou com o Gaahl na sua antiga banda, os Trelldom. Eles também con-tribuíram com muitas ideias para este álbum.

Por que motivo convidaste estes mem-bros para fazer parte dos God Seed? Todos eles já eram amigos meus e do Gaahl antes de lhes termos perguntado, mas tam-bém foi por causa das suas aptidões musicais. Todos eles são bons músicos e têm conheci-mentos em outras sonoridades, como Pop,

Jazz, Rock… Por isso, têm um estilo único. O Lust Kilman, por exemplo, foi muito importan-te na composição. Não só acrescentou varie-dade às canções, como também compôs uma delas, a “Aldrande Tre”. Também trabalhei nas partes dos teclados em estreita colaboração com o Geir Bratland, que foi um membro cru-cial.

Por acaso, a próxima pergunta está ligada aos teclados. Tal como é referido na nota de imprensa, o “I Begin” possui uma at-mosfera à anos 70 muito devido à forma como os teclados são utilizados. Pensas que os God Seed te deram a oportunida-de de explorar novos horizontes musicais que não terias explorado se tu e o Gaahl tivessem ficado nos Gorgoroth? Essa é uma pergunta difícil! Não sei, mas provavelmente as canções teriam soado um pouco diferentes. Também tem a ver com o facto de sermos mais velhos agora. Passaram cinco ou seis anos desde que escrevemos jun-tos o “Ad Majorem Sathanas”. Por isso, talvez tenhamos amadurecido entretanto.

Vês os God Seed como uma continuação daquilo que fizeste nos Gorgoroth ou considera-los um projeto diferente? Vejo-os como uma progressão natural do meu próprio método de composição. O que fiz nos Gorgoroth, faço agora nos God Seed com o Gaahl e os novos membros. Por isso, tudo se baseia em nós, digamos assim. Tentá-mos evoluir e fazer algo de diferente.

Em Agosto de 2009, o Gaahl anunciou que se tinha retirado do Metal e, como con-sequência, dos God Seed. Como lidaste com essa situação na altura? Ponderaste enterrar a banda ou encontrar um novo vocalista, por exemplo?Não foi nenhum drama. O Gaahl simplesmen-te queria afastar-se um pouco de tudo, por isso congelámos a banda. Houve um enten-dimento mutuo de que ele iria apenas fazer uma pausa, que iríamos deixar a banda em espera por algum tempo e que depois voltarí-amos a pegar nela. E foi o que fizemos.

Em Novembro, os God Seed iniciarão uma digressão europeia ao lado de Cradle of Filth, Rotting Christ e Blynd. O que pode-mos esperar dos vossos concertos? É óbvio que vamos tocar muito material novo, mas também vamos incluir algumas das can-ções antigas que escrevemos quando estáva-mos nos Gorgoroth. Contudo, vamos focar--nos principalmente no material novo.

Quais são os teus planos e objetivos para os God Seed? O que pretendes alcançar com esta banda? Hmm... Não sei se há algo que queira alcançar para além de expressar-me. E não sei o que irei alcançar com isso, mas o importante para mim é fazer música e expressar-me através dela. //

editora: indie recordings

Page 59: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Em Maio de 2011, ficaste numa posi-ção difícil quando o Alex e o Edwin abandonaram os Sinister. No entan-to, poucos dias do seu abandono,

anunciaste que os teus colegas de banda nos Absurd Universe seriam os substitu-tos. Por que razão os escolheste e como é que eles reagiram ao teu convite?Sim, não foi fácil, mas não era razão para aca-bar com os Sinister. Nem pensar! Contactei os meus colegas de banda nos Absurd Universe e falei-lhes sobre a hipótese de fazerem par-te dos Sinister e eles disseram logo que sim. Por isso, foi muito bom... Uma formação nova num dia.

Agora que os Sinister e os Absurd Univer-se partilham a mesma formação, em que situação ficam os Absurd Universe?Eu não tenho tempo para os Absurd Universe. Os Sinister, as nossas famílias e trabalhos já nos consomem todo o tempo que temos.

As mudanças de formação trazem novas ideias e motivação extra, mas, por outro lado, também afetam a estabilidade e a identidade musical de uma banda. Tendo em conta a tua carreira com os Sinister, como analisas a recente mudança de for-mação?Já estou tão farto de falar sempre das mudan-ças de formação... Não posso fazer nada em relação a isso, as coisas são como são. A últi-ma formação não era boa para mim, estava a tocar com pessoas que não estavam lá muito interessadas em música e, muito menos, em Death Metal. Elas saíram por falta de motiva-ção e, olhando para trás, fico contente que assim tenha sido, porque agora tenho uma formação cujos membros estão realmente in-

teressados em Metal. Além disso, também sa-bem o que é tocar numa banda como Sinister.

“The Carnage Ending” é um título curio-so. Já vi alguns fãs preocupados com a possibilidade de este ser o vosso último álbum. No entanto, quando leio as tuas entrevistas, passas a ideia de que acabar com a banda não é algo que te passe se-quer pela cabeça. Podes explicar, então, o significado deste título?(Risos) Sim, eu sei disso e não sei o porquê de os fãs pensarem isso. “The Carnage Ending” é um título que soa bem e foi essa a única a razão para o escolhermos. Também já temos o título para o próximo álbum, que vai ser um trabalho conceptual. Já escrevemos seis le-tras para ele!

Este álbum foi gravado nos Soundlodge Studios com o Jörg Uken, tal como o “Le-gacy of Ashes”. Presumo que estejas muito contente com os resultados obtidos e que gostes de trabalhar com o Jörg. Claro! Estou mesmo muito contente com os resultados. Trabalhar com o Jörg é sem-pre bom para os Sinister, porque ele dá-nos sempre o som que gostamos de ter. Os dois últimos álbuns também foram gravados nos Soundlodge Studios, por isso não precisámos de pensar muito na hora de voltar lá.

Gravaram cinco versões para a edição es-pecial. Como surgiu esta ideia e como es-colheram as versões que iam fazer?Foi ideia minha. Já a tinha em mente há mais tempo, mas não foi possível concretizá-la com os membros da formação anterior, porque para eles isso dava demasiado trabalho. Ago-ra com esta formação foi a altura certa para

colocar esta ideia em prática e penso que fun-cionou incrivelmente bem. Ficou claro desde o primeiro momento que teriam de ser can-ções do nosso passado e, por isso, escolhe-mos cinco que toda a gente conhece. Só a dos Bloodfeast é que talvez não seja tão famosa.

De todas as versões, tens alguma favori-ta?É difícil dizer, porque gosto de todas as ban-das. Contudo escolho a “Spit on Your Grave”, dos Whiplash. Gosto muito dessa.

Até ao momento, o que te têm dito os fãs sobre o “The Carnage Ending”?Temos tido respostas incríveis e estamos mes-mo muito felizes por isso. Matámo-nos a tra-balhar neste álbum para que soasse o melhor possível.

Como único membro sobrevivente da for-mação original, quais foram para ti os melhores e piores momentos durante es-tas duas décadas nos Sinister?Há demasiado para dizer em relação a isso! Todas as bandas têm os seus altos e baixos, mas posso dizer que estou muito orgulhoso desta grande banda.

Quando formaste os Sinister, eras o bate-rista e agora és o vocalista. Como compa-ras esses dois papéis na banda e que vanta-gens e desvantagens trazem?Estou feliz por agora ser o vocalista, porque graças a isso recuperei o prazer em fazer mú-sica. Depois de tantos anos como baterista, já não sentia esse prazer. Uma coisa boa agora é que já apareço nas fotografias dos concertos (risos).

editora: massacre records

Page 60: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Nova “crónica sónica Suomi”! Só que este regresso à Finlândia foi mais pobre musical-mente do que as outras quatro vezes que lá estive. Algum cansaço da viagem impediu--me de ir à Digelius e outras lojas de música de Helsínquia fazendo com que trouxesse menos discos deslumbrantes deste país.

Mais uma vez fui representar a Associação Chili Com Carne ao Festival de BD de Hel-sínquia que decorreu no início de Setembro, durante as minhas férias de verão. Pergun-tam vocês o que me leva fazer férias para um país escandinavo chato?

Em primeiro lugar acompanho a cena da BD da Finlândia desde 2004, a sua evolução ar-tística e mercantil, por isso tenho todo o in-teresse ir lá despachar livros que se vendem mais facilmente do que em Portugal (inclusi-ve até os que estão escritos em português!) e voltar a ver caras conhecidas, finlandesas e de outras nacionalidades - o festival tem muitos convidados estrangeiros. Segundo, não considero a Finlândia um país chato. Desde a primeira vez que estive lá acontece-ram-me peripécias impensáveis – algumas registadas numa BD de Jarno Latva-Nikkola – o que mata os mitos e preconceitos que se têm dos nórdicos. Algumas histórias de tão absurdas que estão mais próximas do imaginário latino ou dos Balcãs… Não tendo bem a certeza do que afirmo para justificar alguma loucura que por lá impera, diria que a Finlândia é a “pobretanas” da rica zona es-candinava. Só que a Noruega tem petróleo, a Suécia os ABBA e a Finlândia só sauna, al-ces e gelo! Foi o sucesso da Nokia que fez subir a Finlândia ao estatuto de país rico mas mesmo assim a julgar pelos preços das cer-vejas comparando com a vizinha Suécia, por exemplo, continua a ser o país mais barato daquelas zonas...

E nada melhor que ser “pobrezinho” para ser-se humilde e não ter peneiras. Basta ver o tal Festival de BD, por exemplo, é de fac-to um evento de grande dimensão mas que não tem um orçamento gigantesco como outros festivais na Europa, como o “nosso” vergonhoso Festival de BD da Amadora ou o supra-sumo dos festivais, o de Angoulême (França). O espaço principal é uma grande

tenda no centro da capital onde se encon-tram as mesas das editoras para venderem as suas edições ao público. Como disse há convidados especiais e estrangeiros, alguns com viagens pagas outros com dormidas pa-gas, dependendo se os autores tem custos suportados por editoras comerciais ou se os artistas tem alguma exposição patente organizada pelo Festival. Outros convidados – como era o meu caso – são metidos em casas de particulares de pessoas que se vo-luntariaram em receber os convidados nas suas habitações. No fundo, serve para dizer que se não há dinheiro para hotéis não é por isso que os estrangeiros não deverão deixar de vir a um festival de BD possibilitando si-nergias e parcerias para promover a BD fin-landesa.

Normalmente os convidados devem ficar em casa de artistas, que cinicamente signifi-ca “estamos em casa” pois vamos encontrar os mesmos livros, discos, objectos, cartazes, serigrafias e arte na parede… Mas também podem aparecer outras situações como as casas de leitores! Foi o que me aconteceu desta vez. Fiquei na casa de um casal super--simpático de classe média. O tipo deu-me um CD da sua banda, os Monolith Resistor, intitulado Exit Autumn (auto-edição, 2010?) que é um revivalismo de Acid House, tipo de música que não me aquece nem me ar-refece, para além de ser uma grande seca a maior parte das vezes. A cena Rave e Acid já teve os seus dias quando significava noma-dismo, liberdade, confrontos com os porcos da bófia e claro, muita muita muita droga na cabeça. Passados 20 e tal anos este projecto parece apenas um gesto anacrónico, não só pela música poder ser considerada “retro” mas precisamente porque se volta apenas à sua forma superficial, um mimetismo pu-ramente centrado no som sem que haja uma envolvência na cultura e acção que lhe estão (estavam?) inatas. Neste caso temos “música de informáticos” e não é preciso fa-zer 4h30 de viagem para apanhar com isto, basta ir aos discos funcionais das “nossas” Thisco ou Marvellous Tone para termos algo idêntico, para não dizer melhor. Avanti!

E realmente para se avançar é preciso re-cuar qualquer coisa… Temos de ir parar ao

Fricara Pacchu, do qual apanhei numa mesa do Festival de BD um single já velho (passe a redundância) intitulado de Stories of the Old (Fonal; 2007). É anterior ao álbum Mid-night Pyre (ver tira) e é composto por três temas de neo-psicadelismo que foge aos velhos rocks dos 60s, ao Techno dos anos 90 e às novas fornadas folktrónicas e outras “friqualhadas” dos últimos anos. Os temas são quase indescritíveis na sua mescla de guitarras espremidas, de vez em quando acompanhadas por batidas motorika ou Hip Hop. Temos aqui um ambiente de trip em sintonia com este nosso mundo industrial cheio de referências Pop, plástico, desper-dício e cores berrantes. Não é uma má trip nem estamos perante ambientes negros e opressivos de malta Dark, a embriaguez é positiva que até lembra alguns momentos de Pure Guava dos Ween ou as mamadices dos Butthole Surfers. O single é acompanha-do por um livro que compila trabalhos grá-ficos do autor / músico, onde encontramos um denominador comum da psicadelia fin-landesa – em que o jornal de BD Kuti será o seu órgão de comunicação mais oficial e acessível – ou seja, temos colagens, foto-grafias encontradas (bastante bizarras! e não no sentido clássico de “sexo & morte!), desenhos rabiscados em marcadores de cor, tudo numa orgia sensorial que “bate” bem com a música. Como o autor de BD Tommi Musturi me confidenciou: «o Kevin [o Frica-ra Pacchu] é uma pessoa muito especial». Eu subscrevo!

Depois do fim-de-semana “bedéfilo” em Helsínquia fui para Tampere, a segunda maior cidade da Finlândia mas como qual-quer cidade finlandesa, é quase minúscula para chamarmos de cidade... É conhecida pela cena Punk e lojas de segunda mão – ou “feiras da ladra” como eles lhe chamam. No entanto estas “ladras” são na realidade espaços enormes, onde as pessoas podem alugar uma mesa / estante para vender a sua tralha. Tudo está etiquetado e no final paga--se numa caixa comum. Não é uma Feira da Ladra como a de Lisboa, Vandoma (Porto) ou os “Rastros” de Espanha, em que estamos ao ar livre a confrontar as pessoas que co-mercializam as suas bodegas. Para aqueles lados, como se pode bem imaginar, com o

Page 61: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

frio, vento, chuva e gelo a apanhar a maior parte do ano, tal prática seria inviável – ou então os finlandeses, bons nórdicos que são, não tem coragem de estar a regatear com outras pessoas preços...

Considero estas lojas como outro exemplo de humildade finlandesa, no final de con-tas não é preciso, neste mundo de super--abudância, gastar muito dinheiro para se ter roupa, cultura ou acessórios – para quê comprar tudo novinho em folha? Lojas em segunda mão e/ou feiras da ladra são habi-tuais pelo país inteiro, no caso de Tampere é um exagero, há por todo o lado! No centro há umas sete, nos limites da cidade existem outras três gigantescas – pelo o que me foi dito. Fui a quatro no centro e já estava far-to de ver tanto lixo da nossa sociedade do consumo…Por gozo “vintage” comprei um disco a 1,5 euros do Coro masculino da Es-tónia, Meeksoorid (Мелодия / Melodia; 1969?), que canta em estónio (parecido com o Suomi) e o disco foi editado nos tempos da URSS, o que significa que provavelmente o coro deve cantar sobre o fantástico novo homem soviético, o proletário iluminado ou algo assim – não creio que será religioso afi-nal este LP vêm desses curtos e bons tempos da Humanidade em que o Cristianismo foi proibido!!! É o tipo de disco que deve ter in-

fluenciado Type O Negative a gravarem com o seu “Bensonhoist Lesbian Choir”, hehehe…

Voltando ao Punk e afins, quem quiser ouvir esse som ao vivo tem de ir ao Clube Vasta-virta, onde numa quarta-feira à noite, por três euros (!) deu para ver três bandas (de Metal, na realidade), sendo a que mais curti foi The Reality Show, power-trio bem co-ordenado que cada música tocada por eles parecia uma estalada na cara. Vi algures num sítio na ‘net a catalogá-los de Fastco-re. Não sei de tanto sobre sub-géneros no Hardcore e nem me interessa mas se existe essa caixa, os Reality Show são bem capazes de caberem nela, pois é Hardcore bem rápi-do e cheio de riffagem Metal da antiga. Por isso adquiri o EP 7” de estreia A Candle in Hell (Eternal Now Records + Raakanaama + Psychedelica Records; 2011) que é uma des-carga eléctrica que deve aquecer os finlan-deses no Inverno…

Talvez seja pela estação do frio que desde o final dos anos 70 que o Punk e Hardcore finlandês surgiu com tal agressividade que teve uma influência monstruosa a nível na-cional e global. É seminal o género de som que os Terveet Kädet começaram a fazer por aquelas bandas chegando a influenciar bandas como Ratos de Porão, por exemplo…

Para completar o ramalhete de Punkcore finlandês actual, o Tommi Musturi ofereceu--me outro EP 7”. Desta vez dos Haistelijat, intitulado Pakkomielle (Nuuhkaja + Joteskii Groteskii; 2012) onde apresentam 10 te-mas que raramente passam de um minuto de duração. É outro power trio que ultra-passa Mudhoney e Discharge em rapidez Rock’n’Roll com letras cuspidas na língua materna - que a dada altura soa a desenhos animados sei lá porquê. Algures percebi que havia uma música dedicada ao artista e au-tor de BD Kalervo Palsa (1947-1987), figura acarinhada pelas instituições e pelo público depois da sua morte e exibição no importan-te centro de arte contemporânea Kiasma - à qual foi oferecido o enorme acervo do artis-ta em 1999. Palsa morreu no seu miserável atelier na Lapónia, de onde era natural, devi-do a uma pneumonia agravada pela depres-são e alcoolismo. As BDs e pinturas que fez são violentas e com um estilo gráfico “brut” cheio de pilas que podem lembrar Mike Dia-na mas Palsa é mais iconoclasta e intelectu-al. Musturi traduziu-me a letra dessa música e acho que diz algo do tipo «K. Palsa encon-tra-se morto ali, ali onde é a fronteira»…Inaugura-se um novo estilo? O Haiku Punk?

Kiitos Tommi & Tiina

Page 62: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 63: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 64: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Numa época em que muitas bandas fa-zem-se ouvir por o que tocam e por o que não tocam, os Amenra são um balde de água fria, por vezes doce, mas acima de tudo, verdadeira. Em Mass V os Amenra apresentam-nos o que pode bem ser o seu álbum mais negro até à data, cheio de pó, sangue e raiva. O ritual que começa com Dearborn and Buried é feito de altos e baixos, gritos e sussurros. Passando por Boden e À mon âme, somos acorrentados pelos gritos ferozes de CHVE e pelas suas palavras mais calmas. Nowena I 9.10, a última música deste magnifico álbum, é uma autêntica obra prima, criada a partir de dor e de chamamentos, que nos testa e nos faz viver. Usando a fórmula a que já nos tinham habituado, os Amenra criam paredes de riffs lentos, mais lentos que o

habitual, e ritmos de bateria que mais pa-recem um ritual. Nowena I 9.10 começa como o EP Afterlife, com guitarra acústica e vocais limpos. Bastante bonito até... A segunda parte da música é mais a repeti-ção do que nos foi descarregado anterior-mente... mas com um toque especial que faz a diferença: os vocais. Os vocais são tão sofridos, tão grunhidos que fazem so-frer quem ouve. Juntamente com a lenti-dão dos riffs, o baixo sufocante anuncia o fim, juntamente com os vocais. Mais uma vez os Amenra demonstram que são uma das apostas mais interessantes dentro do Sludge(ish), e deixam a sua pegada, defi-nitivamente, em terrenos mais obscuros.

Sérgio Rosado

Page 65: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

qualidade e originalidade das restantes bandas. Com produção algo límpida, ao contrário de uns Portal, e com longos momentos de introspecção atmosférica acompanhada de citações, De Mas-ticatione Mortuorum in Tumulis é outro balde de água fresca para quem achava que o Death Metal estava acabado… o antigo poderá estar, mas, com Ævangelist na lista, a nova vaga dá pe-sadelos e terrores a quem está atento. Este pri-meiro álbum torna-se assim, provavelmente, o melhor disco do género de 2012, pondo Ævan-gelist no mapa, deixando, assim, qualquer um com medo de ouvir o que sairá mais da cabeça de Matron Thorn.

Sérgio Rosado

Imergindo da forma de Benighted in Sodom, os Ævangelist são, em forma de assombração, a continuação da nova onda refrescante de Death Metal apresentada por bandas como Mitochondrion ou Portal. Com o seu primeiro álbum, intitulado De Masticatione Mortuorum in Tumulis, Ævangelist apresentam-se com uma fórmula de fazer frente a alguns álbuns de Blut Aus Nord, Deathspell Omega, ou mesmo das bandas já referidas acima. Aos riffs arrastados e dissonantes, acompanhados de atmosferas assombrosas de Matron Thorn, fazendo lem-brar Darkspace, juntam-se os vocais graves de Ascaris (ex-Velnias), transportando-nos para um mundo de terror totalmente arrepiante e devastador. O estilo apresentado não se poderá chamar de “novo” mas com certeza de extrema

misturam-se e apartam-se, colocam perguntas e oferecem respostas, coabitando num espaço de tão intrínseca unidade como se quase de apenas um instrumento e um instrumentista se tratasse. Ao longo de cerca de hora e meia, dei-xamo-nos de bom grado enredar num mundo negro e depressivo, de noite perpétua e de frio constante, ermo e estéril. Vivamente recomen-dado para todos os que procuram sonoridades fora do comum e discos à margem daquilo que é tradicional, “Occult Rock” é um trabalho a não perder. Rompam-se os grilhões da mediocrida-de quotidiana e abram-se alas para os Aluk To-dolo.

Jaime Ferreira

Depois de uma surpreendente mas muito bem sucedida colaboração com os Der Blutharsch num split datado do ano passado, vê agora a luz do dia o novo longa-duração do enigmáti-co trio francês. Buscando inspiração tanto ao black metal atmosférico de Burzum como ao rock psicadélico e a ambientes análogos ao do projecto de Albin Julius, os Aluk Todolo são um dos mais bem guardados segredos gauleses. Apresentados, são 8 temas de carácter hipnó-tico e ritualístico, instrumentais e sem título à excepção do número, divididos irmãmente por dois discos. Com uma formação canónica de power trio mas extremamente original ao nível da composição, a guitarra de Shantidas Riedacker, o baixo de Matthieu Canaguier e a bateria de Antoine Hadjioannou completamse,

assumindo assim um papel preponderante. Na espinhosa tarefa de seleccionar temas em tão bem conseguida obra, saliento, sem desprimor para os restantes, os brilhantes “Forging Towar-ds the Sunset” e “Make Glorious the Embrace of Saturn”, assim como o surpreendente “Todos somos humanos”, com o refrão cantado em por-tuguês. Indubitavelmente no auge da carreira, os Anaal Nathrakh acabam de lançar um forte candidato a disco do ano, elevando de tal forma a fasquia que a curiosidade acerca de como irão gizar o sucessor de “Vanitas” instalar-se-á com fervor nas nossas mentes. Sublime.

Jaime Ferreira

Cerca de um ano e meio depois de “Passion”, eis que estão de volta os Anaal Nathrakh com o seu sétimo álbum. Disposto a validar o epíteto de uma das grandes promessas do metal bri-tânico, o duo de Birmingham regressa à carga com dez coléricos temas construídos dentro da sua eficaz receita de black / death metal plena de diversidade e de classe. Os atributos de Mick Kenney tanto ao nível da composição como em termos puramente técnicos no domínio dos di-versos instrumentos estão sempre presentes por todo o álbum, sem nunca algo a soar de-senquadrado ou supérfluo. A execução é exímia e a produção irrepreensível, com destaque para a multi-facetada prestação de Dave Hunt que, por intermédio dos seus diversos registos, au-fere ao disco variedade e interesse constantes,

Page 66: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

mamente bem enquadrado. A mistura das duas sonoridades (black e folk) é feita de forma natu-ral alcançando uma efeito sinérgico admirável. Onze anos depois de «Nautilus», os Azagatel regressam aos longa-durações. Uma prova, e lição, de como a perseverança acaba por co-lher os seus frutos. De referenciar o excelente artwork que nos é apresentado. Um belo lan-çamento de uma banda, da qual se espera mais lançamentos num futuro próximo.

Tiago Moreira

Nada em «Lux-Citanea» é feito só por acaso, tudo faz sentido. Os Azagatel enveredaram por um caminho que enaltece as raízes portuguesas de forma eloquente e inteligente. São muitas, e preciosas, as minudências que constituem este segundo álbum do colectivo de Aveiro. Numa época onde o multiculturalismo se desvane-ce a uma velocidade inquietante, os Azagatel “comprometeram-se” a criar um trabalho que tenta contrariar tais infortúnios eventos, ou pelo menos tentar alertar as pessoas para esse facto, “os povos são como as árvores, sem as suas raízes não crescem…”. Alternando entre as vocalizações limpas e agressivas, e entre as proclamações em português e inglês, os Azaga-tel aliam os factos históricos a uma base black metal que é complementada por um folk extre-

adotam um compasso mais lento, mas não me-nos cativante, onde os Behexen mostram a ver-tente decadente e ritualista do seu Black Metal ortodoxo. Porém, o entusiasmo criado por este conjunto de temas acaba por esmorecer na se-gunda parte de “Nightside Emanations”. Não é que faixas como “Awaken Tiamat” ou “Shining Death” sejam más, longe disso. Não estão é ao nível do material apresentado na primeira me-tade do álbum que, por si só, é digna da atenção dos fãs de Black Metal da segunda vaga.

Eduardo Marinho

Vá-se lá saber se por capricho ou mera coin-cidência, todos os álbuns dos Behexen estão separados por um intervalo de quatro anos. Depois da ligeira desilusão que foi “My Soul for His Glory”, os finlandeses surgem com o seu quarto registo, “Nightside Emanations”, no qual contam com a preciosa ajuda de uma nova dupla de guitarristas, constituída por Wraath e Shatraugh, mentor de outra respeitada banda do país dos mil lagos, os Sargeist. Terminada a lúgubre introdução que dá início a este disco, “Wrathful Dragon Hau-Hra” e “Death’s Black Light” fustigam o ouvinte com uma fúria con-tagiante. São dois temas rápidos, embora bem distintos, possuidores de uns riffs que têm tan-to de maléfico como de orelhudo. Em seguida, Circle Me…” e “We Burn with Serpent Fire”

musicas mais longas e complexas. As de maior destaque são a “Lay Your Ghosts to Rest” , “Te-los” e“Bloom”. Na primeira, a banda faz o que melhor sabe, experimentar e conjugar diferen-tes estilos de uma forma harmoniosa. Por sua vez as outras duas, complementam-se uma a outra e descrevem bem o ambiente do album no geral.É mais um grande resgisto de longa du-ração de uma banda que nos ultimos anos pro-vou a sua qualidade. É seguramente um forte candidato a álbum do ano.

Rita Limede

O novo longa duração da banda norte-ameri-cana é a continuação do conceito criado no EP que a banda lançou no ano passado, The Para-lax I- Hypersleep Dialogues. O conceito envolve a existência de duas personagens, Prospect I e Prospect II que apesar de viverem a uma dis-tância de milhões de anos de luz um do outro, e de não saberem da existencia do outro, par-tilham uma mesma alma. As 12 faixas deste re-gisto giram em torno desta história complexa, e como não poderia deixar de ser estas mesmas também o são. Com um ambiente espacial, ri-ffs complexos e bem trabalhados e ritmos in-tensos, encontramos todas as caracteristicas base para um bom album de progressive me-tal. O esquema é aquele que a banda sempre nos habituou, musicas curtas intercaldas com

Page 67: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

com muitas surpresas a descobrir (Epitome XV, por exemplo). Os amantes da língua francesa poderão regozijar-se, porque encontraram vá-rias letras na língua franca dos Blut aus Nord. É um álbum longo e negro, próprio para ouvir nos dias cinzentos que se avizinham, junto à lareira, ou sozinhos, na orla de uma qualquer floresta.

Narciso Antunes

Os franceses Blut aus Nord entregam-nos mais um capítulo do que tem vindo a ser a “saga” 777. No rescaldo de 2011, com o lançamento de 777 – Sect(s) e 777 – The Desantification, chega-nos agora 777 – Cosmosophy. Não que-brando a tradição dos dois últimos trabalhos, todas as faixas do registo chamam-se Epitome, desta vez indo do número XIV ao XVII, cinco canções longas, que na totalidade chegam aci-ma da fasquia dos 45 minutos. O trio norman-do volta outra vez aos registos longos, negros, mais ambient, que o black estrito pelo qual começaram a sua carreira. Estes… Compêndios (leia-se epítomes) ,que se apresentam um de-pois do outro, estão carregados de longos e riffs profundos. É um álbum muito bem estrutura-do, fiel ao espírito do movimento dark ambient,

nossos RidingPanico, encontrarão aqui uma in-teressante banda sonora para os dias de Inver-no que se aproximam. Colaris não reinventam a roda de maneira nenhuma, mas fazem o que fa-zem com uma mestria invejável, servindo-se de um excelente trabalho de percussão, um tom de baixo à lá Tool ou ISIS e guitarras que ora dese-nham texturas e paisagens com toda a subtileza, ora embarcam em fraseados desafiadores, ora unem forças e nos tentam esmagar com acor-des e distorção.

Ricardo Almeida

Nem só de más notícias é sinónimo a Alema-nha nos dias que correm. Recordemo-nos, por exemplo, dos estupendos Long Distance Calling que nos visitaram o ano passado e deram dois dos concertos mais competentes e entusias-mantes que tiveram lugar em Lisboa e no Porto nesse ano. Desta vez chega-nos às mãos, ou aos ouvidos neste caso, uma excelente proposta no campo do rock instrumental com nuances de pós-qualquer-coisa. Renewal é o primeiro ál-bum dos Colaris, que após terem lançado um promissor Ep em 2011, nos vêm provar que mesmo estando o género mais do que satu-rado de bandas a imitarem-se umas às outras, ainda é possível fazer música interessante. Fans de bandas como ISIS, RedSparowes, os supra-citados Long DistanceCalling e por que não, os

que materializa a sua vontade em manter-se relevante na atualidade. No entanto, por mais competente que a formação atual seja, está longe de recuperar aquela magia que tornou os Cradle of Filth numa banda à parte durante os anos 90. Os tempos são outros, a voz de Dani Filth já não é o que era e o pesado legado que fica para trás também não ajuda. Ainda assim, “The Manticore and Other Horrors” não deixa de ser uma peça interessante no percurso re-cente dos britânicos.

Eduardo Marinho

Após um EP e a uma compilação medíocres, os Cradle of Filth estão de volta com o seu déci-mo álbum, “The Manticore and Other Horrors”. Desta vez, os britânicos apresentam uma abor-dagem mais direta quando comparada à dos discos anteriores, reduzindo os floreados or-questrais ao essencial e apostando na força das guitarras. Liricamente, Dani Filth também se afasta das obras concetuais em detrimento de um conjunto de histórias sobre monstros, no qual a Manticora, uma criatura mitológica per-sa, ocupa o papel principal. Da brutalidade de “The Abhorrent”, passando pelos andamentos Punk de “For Your Vulgar Delectation” ou pelo orientalismo de “Manticore”, até à orientação romântica e teatral de “Frost on Her Pillow”, a banda assina um trabalho cativante e variado

Page 68: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

entre ambos funciona muito melhor, neste que é, por vezes, um verdadeiro exercício de rock operático. Com efeito, este quinto registo com o cunho Devin Townsend Project resume um pouco de tudo o que musicalmente foi feito an-teriormente. Mas é certo que a veia esquizofré-nica e trocista estão um pouco dormentes, até porque este é um álbum que pretende repre-sentar uma visão emocional e um pouco mais séria. “Epicloud” reúne, no fundo, todos os in-gredientes para agradar aos fãs do músico, até porque deslinda mais uma faceta de Townsend.

José Branco

A viver um período de uma proliferação sem paralelo, o genial músico canadiano, tem em “Epicloud” o seu registo mais aproximado da Pop. Sem perder a experimentação que carate-riza o seu som, nem a dose de loucura contro-lada – sempre vincada no seu DNA – podemos dizer que estes 13 temas são a representação do otimismo e do amor, aos olhos de Town-send. Para tal recorre ao trio da sua confiança, composto por Ryan Van Poederooyen (bateria), Mike Young (baixo) e Dave Young (guitarras), voltando a convocar também a holandesa An-neke Van Giersbergen (ex-The Gathering) – que assina uma prestação mais vincada que em “Addicted” (2009). Aliás, sendo este um álbum com grande preponderância vocal e com inci-dência em refrões (… e em coros), a química

pírito presente seja semelhante, Dar De Duh apresenta-nos algo muito próprio, revelando influência também de projectos como Enslaved e Wardruna, sendo uma experiência bastante eteral, usando a faceta Folk e misturando-a com uns elementos progressivos, que aproveitam por completo a duração prolongada das faixas.

David Horta

Sendo este apenas o seu primeiro segundo tra-balho e primeiro full-length, não se sabia bem o que se haveria de esperar deste quarteto rome-no, exceptuando o facto que metade dos seus membros já foram parte dos Negura Bunget, e como tal, alguma influência seria esperada. Tal presunção não foi de todo infundada, porque o que temos aqui é uma mescla de Folk e Black onde Atmosférico é a palavra de ordem; ao lon-go de 8 faixas -a sua grande maioria para cima dos 7 minutos- encontramos toda uma panópla de cânticos, intrumentos acústicos, e riffs bem sentidos, envoltos numa embalagem de espiri-tualidade e misticismo bem similar á aquela de Negura. Contudo, desengane-se quem pensar que Dordeduh é apenas Negura Bunget 2.0, pois tal não é verdade; embora algum do es-

que os seus criadores têm uma perspectiva po-derosa e lúcida do som e do silêncio, enquanto formas de comunicação. Em faixas como “In the Rivers Blade” nota-se um certo tom progressi-vo e muita pujança, já em faixas como “I Fade Away” é debitada melancolia em estado puro, numa mansidão enganadora, quebrada por uma violência em tom mais industrial, em que os gritos chegam baços, numa tensão dramática inquietante. As melodias têm uma textura pró-pria sempre consistente, muitas vezes apoiadas em sons que se repetem em crescendo até à ex-plosão gritante, mantendo-se em vibração/dis-torção, a debitar energia, como é o caso da faixa “Giving Their Heir to The Masses”. Um álbum, capaz de proporcionar uma experiencia mui-to física, tendo ao mesmo tempo um universo muito mental.

Mónia Camacho

A banda Downfall of Gaia mostra-se no seu esplendor neste “Suffocation In the Swarm of Cranes”, um álbum misterioso em que a força e a intensidade aparecem embrulhadas em boas melodias. Um trabalho onde a beleza e a feal-dade convivem, numa mistura interessante, e em que a energia se liberta nos momentos mais inesperados. A própria música é o ambiente. O álbum ideal para quem gosta de sentir na audi-ção uma certa cenografia, se é que me consigo explicar. A envolvência é mesmo um dos pontos fortes deste trabalho, que consegue colocar o ouvinte dentro da música. Tem ainda a quali-dade de dar espaço à imaginação e à especu-lação de quem ouve. Sim, é talvez uma música, que ao mesmo tempo que agarra, dá espaço, num movimento contínuo. A influencia death e doom no seu melhor, em grande riqueza de pormenores. O lado negro das composições surge de uma forma hipnotizante. Percebe-se

Page 69: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

ciar com os ambientes naturais e gélidos da Is-lândia. As letras, na sua totalidade em islandês, prendem-se com o declínio da humanidade e da sua insignificância no mundo e no tempo, segundo os autores. Os Dynfari foram capazes de entregar um álbum longo, arrastado, pesado q.b., mas eximiamente construído, majestoso e belíssimo, nunca perdendo profundidade ou causando cansaço naqueles que o ouvem. Sem Skugginn merece ser ouvido, apreciado e degus-tado devagar, com os sentidos e com a alma.

Narciso Antunes

No segundo álbum do dueto islandês Dynfari encontramos mais de uma hora de excelente black metal atmosférico. No geral, Sem Skug-gin transporta-nos para as paragens geladas e austeras da Islândia, onde os fiordes se confun-dem com vulcões adormecidos e a paisagem é deserta e austera. É um registo completo, onde as notas se repetem e arrastam de uma forma robusta, sem cair na exaustão ou mediocrida-de. Encontramos duas faixas acima dos dez minutos, tais como a grandiosa de Hjartmyrkvi, com mais de 15 minutos de duração, e a incrível Sem Skugginn I, com mais de onze, que se pro-longa na Sem Skugginn II. Stillt, por outro lado, é uma faixa instrumental simples e curta, que completa o trabalho de Jón Emil e Jóhann Örn. Extremamente visual, impossível de desasso-

dando refrões memoráveis, que prometem ficar na memória de todos os que tiverem coragem (entenda-se por ausência de “preconceito”) de se aventurar neste novo lançamento desta ban-da mítica da cena norueguesa. E à acompanhar os vocais, estão as paisagens sonoras fantásti-cas, auxiliadas pelas habituais “variações”, ine-rentes ao lado mais progressivo da banda. É o regresso da banda aos álbuns colossais, e mais um excitante, e excelente, lançamento neste, já fantástico, 2012.

Tiago Moreira

Dissecar todos os possíveis motivos que, nos últimos anos, fizeram com que a opinião dos fãs da banda norueguesa se dividisse, revela--se um exercício tão desnecessário, como inú-til. Deixar de prestar qualquer tipo de atenção, ou tentar perceber, com uma mente aberta, o que os Enslaved têm vindo a fazer. São estas as duas únicas hipóteses, tendo em conta que esta “nova” direcção musical veio para ficar. O “RIITIIR” revela os Enslaved com um nível de excelência tanto sublime, como irrepreensível. Alternando entre a agressividade, que lhes é atribuída desde os primórdios, e a melodia vi-ciante, os homens de Bergen criam, ao décimo segundo álbum, um balanço quase perfeito, entre estes dois “mundos”. As vocalizações de Grutle atingem proporções quase que épicas,

soar assim. Os Germ marcam assim mais um ponto ao apresentarem um registo inovador e que quebra-barreiras, onde o melhor da música extrema se alia a excelentes atmosferas e a uma dose suficiente de emoções. Só lamento o facto de, por ser um projecto de um só homem, não ser possível (pelo menos para já) promover esta proposta ao vivo. No entanto há boas notícias no horizonte: Tim Yatras irá entrar em estúdio de novo muito brevemente e só podemos espe-rar que venha dali algo muito, muito bom!

Joel Costa

Depois de no início do ano os Germ terem edi-tado “Wish”, um longa-duração que arrancou alguns aplausos da crítica, Tim Yatras (vocalista e único músico do projecto) está de volta com o EP “Loss”. Como já vem sido habitual, o projec-to Germ combina o Black Metal com elementos electrónicos e de rock e apesar de à primeira vista parecer uma receita um tanto arriscada, a verdade é que esta fusão resulta em algo ver-dadeiramente mágico. “Loss” é um pouco de tudo: tem músicas longas e curtas, vozes limpas e gritos agonizantes que nos fazem embarcar numa viagem de empatia e dor. A solidão está presente, não fosse este projecto também soli-tário. “Loss” é a prova de que ainda é possível ser surpreendido pela positiva com a música e por vezes sentimos que toda a música devia

Page 70: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

dos anos 70 passa a ser uma constante, assim como a alternância entre faixas rápidas e outras mais arrastadas. “From the Running Blood” e “Aldrande Tre” são bons exemplos da veia mais agressiva da banda norueguesa, ao passo que “Alt Liv” ou a belíssima “Hinstu Dagar”, com um refrão de voz limpa que evoca tenuemente o trabalho recente dos Enslaved, são composi-ções mais lentas e ritualistas. Já no fim, os God Seed voltam a surpreender com Bloodline”, um instrumental puramente eletrónico e possuidor de uma atmosfera sinistra. Não há dúvidas que “I Begin” é uma semente de qualidade, agora é esperar que os rebentos sejam tão bons ou melhores.

Eduardo Marinho

Ultrapassados os problemas e controvérsias inerentes à sua formação, os God Seed es-treiam-se finalmente com “I Begin”. Atendendo ao percurso musical de Gaahl e King ov Hell, as probabilidades de estarmos perante um disco de Black Metal direto eram elevadas e os mi-nutos iniciais do tema de abertura, “Awake”, apontam exatamente nessa direção. Contudo, o uso subtil de teclados Hammond já perto do fim é um prenúncio para o que se segue. “This from the Past” mantém a abordagem furiosa e veloz até que, a meio, abranda para um com-passo dominado pelas teclas de Geir Bratland que nos remete inesperadamente para um am-biente 70s, com claras influências psicadélicas e espaciais. A partir daqui, o cruzamento entre o Black Metal e as referências ao Prog Rock

de rock está aqui presente: é “bluesy” e psicadélico com um toque de doom, há riffs, solos, refrões me-moráveis e uma das melhores vozes da actualidade. Aliás, diria mesmo que o ponto forte da banda é o vocalista/guitarrista Joakim Nillson. Ele consegue encher a música com todo o seu “feeling” e valiosas cordas vocais. Um verdadeiro monstro! Mas, como foi dito anteriormente, os Graveyard não seriam os mesmos sem os grandiosos leads e solos de Jonatan Larocca-Ramm. Faixas como “An Inudstry Of Mur-der”, “Endless Night” e “Goliath” são inesquecíveis e bons exemplos de como se chega perto da perfeição em termos de composição. A produção é brilhante e transmite-nos um ambiente intenso e ao mesmo tempo confortável. Estamos perante uma banda que sabe perfeitamente aquilo que quer e sabe o que está a fazer. Esperamos vê-los e ouví-los fazer boa música durante muitos e longos anos. Um dos grandes candidatos a disco do ano!

Mark Martins

Tem havido, nos últimos anos, uma grande explo-são de bandas com uma sonoridade mais retro, ca-sos dos The Sword, Red Fang e os Royal Thunder. Até de um país onde normalmente aparecem ban-das de Death Metal e Black Metal como a Suécia têm aparecido algumas bandas de qualidade acima da média como os Ghost, King Hobo e os Witch-craft. Os Graveyard, também eles suecos, são um caso sério de sucesso. Contam já com três álbuns, sendo que foi com o anterior, Hisingen Blues, que tiveram maior exposição e conquistaram muitos fãs e críticos. “Lights Out” este novo registo, promete lançá-los para outros patamares mais elevados. Mais obscuro e mais “straight to the point” que os seus antecessores, este álbum é a confirmação dos Graveyard no mundo da música. Em pouco mais de 30 minutos de puro brilhantismo, provam que são exímios compositores e músicos e que por vezes não é preciso criar um estilo musical novo para atin-gir a excelência. “Lights Out” é extremamente fácil de absorver e adorar. Tudo o que um verdadeiro fã

com letras duras e ferozes, mas também bastan-te acessíveis e interessantes. Temas a destacar são: “Sternenfall”, “The Black Projector”,”The Second Coming Of The Pig” e “Jericho”. Em suma, um bom trabalho dos “Hell Militia”. Para ouvir com atenção.

Rute Gonçalves

Desde 2001 que os franceses “Hell Militia” têm vindo a tornar-se uma das mais importantes bandas de Black Metal na cena underground do seu país. Já com dois álbuns editados, em 2005 e 2010 respetivamente, e mantendo ele-mentos ativos noutras bandas como os “Arkhon Infaustus”, “Secrets of the Moon” e “Temple of Baal”, a banda conseguiu uma base sólida de fãs e boas críticas ao seu trabalho. “Jacob´s La-dder”, o mais recente longa-duração do coleti-vo, lançado sob a chancela da Season of Mist, e gravado no SOS Studio na Alemanha, é mais um ótimo trabalho no que ao Black Metal diz res-peito. Explorando os temas a que já nos habitu-aram como a adoração ao diabo, crime, morte e depravação, o disco consegue aliar nas suas oito faixas, o feeling do black metal old school

Page 71: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

pectativa, e uma “aposta”, em Irae regista-se uma certeza. O projecto liderado por Vulturius, há muito que já se afirmou como sendo um dos melhores, e mais seguro, valores do black metal nacional. As composições de Vulturius apresen-tam um excelente complemento ao trabalho desenvolvido por Velório. Se a primeira parte, deste split, ataca o coração e alma, com Irae so-fremos golpes dilacerantes no corpo. Os riffs são como farpas, que não hesitam em violar o corpo dos mais aventureiros. “Deceiver’s Light” ataca em todos os sítios possíveis, e imagináveis. Até as produções (que são distintas) revelam-se adequadas. Fantástico!

Tiago Moreira

Note-se o lado historio deste “Deceiver’s Light”. É aqui, neste split, que se assinala a estreia de Velório. Angel-O, que regista actividade em Corpus Christii, Irae e PanzerFrost, toma, em Velório, a decisão de enveredar por caminhos mais “solitários”. Se no início poderá haver a sensação que se tratam de composições caóti-cas, e dispersas, a verdade é que estes 4 temas acabam por revelar uma coesão, e dinamismo que, no mínimo, impressionam. Atente-se à qualidade dos riffs debitados por Angel-O. Tudo isto revela o quão oportuno é arriscar: este será um dos projectos mais interessantes de acom-panhar no futuro. Que este seja o primeiro de muitos, e bons, lançamentos. Precisamos de mais Velório. A segunda metade apresenta 6 composições de Irae. Se em Velório existe ex-

mundos, e imensos períodos de solidão e de-sespero por entre essas batalhas. Esses momen-tos mais melódicos, com teclados apelativos e acordes de guitarra límpidos não são, por isso, menos poderosos e importantes do que o res-to, pelo contrário. É o balanço entre o pesado e longo com o leve e calmo que torna Monolithe III um álbum tão fácil de ouvir por inteiro sem interrupção alguma. Com uma produção lim-pa, os Monolithe aperfeiçoam a sua fórmula ao ponto de conseguirmos identificar cada detalhe de guitarra, de bateria ou mesmo de teclado e baixo, tornado assim, Monolithe III num álbum interessantíssimo com o qual podemos viajar.

Sérgio Rosado

Como o nome diz, este é o terceiro longa-du-ração dos franceses Monolithe, segunda banda de Sylvain Bégot dos Anthemon até que esses acabaram. Depois dos Anthemon se separarem em 2007, os Monolithe lançaram dois EPs inti-tulados Interlude Premier e Second, revisitan-do o som já emblemático da banda, um Funeral Doom Metal com longos períodos mais progres-sivos, riffs confiantes e, de certa forma, épicos, e vocais graves já identificáveis do estilo. Com este terceiro álbum, os Monolithe regressam em grande, sete anos depois, com uma faixa de exactamente 52 minutos, juntando elementos do Doom mais arrastado e demorado, ao som mais cru e directo de uns Murkrat ou Faal. Mo-nolithe III é o que I e II foram: uma autêntica viagem pelo espaço, com épicas batalhas entre

dos My Sleeping Karma, é a atmosfera mais evi-dente e mais similar a uma banda de Post-Rock, facilitando um pouco a entrada no mundo da banda alemã, isto sem lhe retirar qualquer qua-lidade ou essência, embora o rápido acesso tire um pouco o sabor da descoberta que se sentia em registos anteriores. Mesmo assim , os temas continuam experiências longas e relaxantes in-tercaladas por interlúdios para que não haja quebra na passagem entre músicas. Resta só mesmo entregarmo-nos ao nosso Karma ador-mecido e deixa-lo despertar ao som de mais um grande álbum dos alemães.

Bruno Farinha

“Soma” é o quarto trabalho dos My Sleeping Karma, uma banda alemã formada em 2006 que sempre se apresentou igual a si mesma, com um estilo muito próprio. Stoner Rock para deambular em paisagens emocionais. Este tra-balho não foge à regra e continua o mesmo re-gisto associado a este quarteto. Basta ouvir o primeiro riff de “Pachyclada” para se perceber que este é um álbum de riffs que se colam a cabeça sem sequer uma pessoa se aperceber disso mesmo. Inconscientemente, somos leva-dos pela simplicidade do ambiente para outra dimensão e sentimo-nos levitar pela compo-nente psicadélica deste Stoner Rock puramente instrumental. Prova disso é a fantástica “Ephe-dra”, talvez o melhor tema do disco. A única diferença em relação aos trabalhos anteriores

Page 72: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

bem o ambiente geral que nos é transmitido por este registo. Foi sem dúvida um regresso ao mais alto nível de Neurosis, um registo de qua-lidade que de certo cumpriu as expectativas. É um forte candidato a album do ano.

Rita Limede

O seguidor de “Given to the Rising” é prova-velmente dos albuns mais aguradados do ano. Lançado 5 anos depois, este ” Honor Found In Decay” não desiludiu. Após uma carreira com mais de um quarto de século, os Neurosis conti-nuam a surpreender. Estão cada vez mais longe das suas raízes de punk hardcore com que co-meçaram no final da década de 1980. Este novo lançamento, transporta-nos para uma atmosfe-ra sombria, que se apodera de nós, fazendo-nos sentir na pele o ambiente das musicas. Apesar de ser um albúm bastante homogéneo há fai-xas que se destacam mais. A “My Heart For Deliverance” é uma peça harmoniosa e épica, podemos até mesmo dizer que é o auge musi-cal deste registo. Outra faixa a destacar é a “All is Found... In Time”, uma musica que descreve

temas que mais se destacam e permitem ao disco elevar-se acima do terreno algo estéril onde grassa. A sensação que este novo traba-lho deixa no ar é, basicamente, de que os Nine Covens descuraram o processo evolutivo e op-taram por uma hipotética aposta segura, que acaba por não reverter inteiramente a favor dos ingleses. Considerando-se a qualidade do primeiro álbum, esperava-se bem mais de “On the Dawning of Light”, que se revela, desta for-ma, decepcionante. Não sendo um mau disco, é apenas redundante e susceptível de fazer es-morecer o interesse e a curiosidade à volta do grupo.

Jaime Ferreira

Composto por músicos irredutíveis nos seus desígnios de conservarem anónimas as suas identidades, o oculto colectivo inglês apresen-ta agora o sucessor da promissora estreia “...On the Coming of Darkness”, datada de 2011. Imbuídos em fontes de inspiração escandinava, os Nine Covens combinam elementos tanto de black metal sinfónico como depressivo, bem tocado e competente, com uma produção rica e cuidada. Contudo, e não obstante cumprirem todos e mais alguns requisitos técnicos para a manufactura de um bom disco, a falta de origi-nalidade caracteriza grande parte das compo-sições aqui presentes, repetitivas e previsíveis. Os poderosos “As Fire Consumes” e “The Fog of Deceit”, o contido “The Mist of Death” e o instrumental “White Star Acception” são os

te estes 28 minutos. A sonoridade dos Nuklear Goat mistura as influências punk e rock, para criarem um black metal bem sujo e porco. Tudo flui de forma notável, e a coesão sentida impe-de que hajam momentos de saturação. Há mo-mentos de verdadeira proclamação… isso sim! Uma proclamação que tanto é feita em portu-guês como em inglês. Os 28 minutos de “Geno-cidal Storm”, fazem dele um álbum curto, mas felizmente o botão repeat já foi inventado… há que pressiona-lo sem medo! Enquanto se pres-siona o botão repeat, fica-se à espera de con-certos e novos trabalhos. Isto é demasiado bom para ficar por aqui..

Tiago Moreira

O álbum abre com “Hic Est Adamastor” uma in-trodução cedida por La Chanson Noire, que po-dia muito bem se encontrar em “Dauði Baldrs”, ou “Hliðskjálf”. Álbuns editados por Burzum quando Varg Vikernes cumpria a sua sentença.Este tema introdutório funciona extremamente bem, ao criar um clima de expectativa e tensão acumulada. A expectativa é completamente dissipada quando os blast beats e os riffs gé-lidos entram em cena. Instrumentos utilizados de forma dilacerante, que recebem a compa-nhia das vocalizações caóticas, que são escupi-das por Ben, letrista e vocalista da banda. As vocalizações de Ben, revelam-se como sendo um dos maiores trunfos deste colectivo. Aliás, há que se reverenciar (sim!), a notável perfor-mance vocal com que somos premiados duran-

Page 73: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

olho que, além de dinâmica e técnica q.b., flui muito bem com o trabalho de guitarra. Ao caos criado por estes quatro membros, junta-se ain-da em alguns temas a contribuição vocal dos convidados Jason Netherton (também dos Mi-sery Index) e Richard Johnson e Kat (ambos dos Agoraphobic Nosebleed), que confere a este álbum uma maior variedade. Apesar de todos os seus trunfos, falta a “Book Burner” algo que sacie completamente as elevadas expetativas criadas ao longo destes últimos cinco anos. De todas as formas, estamos perante um candidato a figurar na lista dos melhores lançamentos de 2012.

Eduardo Marinho

Desde 2007 sem editar qualquer material, os Pig Destroyer atravessaram um período complicado que chegou a colocar em causa a continuidade da sua carreira e até culminou na saída do baterista Brian Harvey. Felizmen-te, essa fase negativa já está ultrapassada e o coletivo natural de Washington D.C. regressa com “Book Burner”, uma notável descarga de Grindcore com 32 minutos de duração dividida em 19 faixas. Scott Hull volta a brindar-nos com riffs demolidores e pegajosos, JR Hayes adota um registo mais grave, mas igualmente raivo-so, e Blake Harrison ajuda a criar a atmosfera doentia necessária através das suas samples. A ocupar o lugar por detrás do kit da bateria está agora Adam Jarvis (dos Misery Index), sen-do responsável por uma prestação de encher o

próximos do black metal tradicional e passa-gens relaxantes com portentosas descargas de agressividade, o disco dos alemães encontra-se pleno de pontos altos. A ter que o fazer, realço “Der Spiegel” como o tema mais bem consegui-do e o fantástico trabalho de guitarra do tema homónimo, mas todo o álbum é digno de uma audição integral. A desfavor encontra-se a pro-dução, a soar por vezes amadora e de índole de-masiado underground, destoando daquilo que o trabalho merecia. No entanto, tal facto não faz, de todo, com que os Porta Nigra não sejam um nome a reter como uma das boas surpresasdo presente ano.

Jaime Ferreira

Formados há apenas dois anos e envoltos numa imagética que remete para o ambiente de libertinagem característico das primeiras décadas dos século XX, repleto de bordéis e de cafés de ambiente boémio onde se dava pri-mazia ao consumo de absinto, os Porta Nigra apresentam agora o seu álbum de estreia, su-cessor do single de apresentação “Megaloma-niac”. Empenhado na celebração da decadência europeia derivada da sua crescente e inevitável industrialização, em “Fin de Siècle” o duo pro-veniente de Koblenz põe-nos na presença de um black metal avantgarde com forte pendor ambiental, vanguardista e de tal forma bem concebido que sem dificuldade nos deixamos envolver, de bom grado, no mundo proposto. Intercalando vozes limpas com registos mais

a melodia excessivamente alegre que conduz “Necromantic Summoning Ritual” ou a previsi-bilidade de “Iron Cross – Posthumous”. Tal como em “Collectors of the King”, o reputado Magnus Andersson assume mais uma vez os controlos da mesa de mistura, não deixando os seus crédi-tos cair em mãos alheias e pondo “Malediction” a soar tão agressivo quanto cristalino, tal como seria desejável. No cômputo geral, é uma apos-ta de elevada qualidade técnica e com diversas boas ideias, mas ambígua nos seus intentos. Numa tentativa de agradar a gregos e a troia-nos, corre o risco de cair algures no meio..

Jaime Ferreira

Apesar de nunca terem alcançado o sucesso dos seus congéneres de primeira linha e não obstante um interregno de quatro anos e uma mudança quase total de formação, os Ragnarok contam já com 18 anos de carreira e apresen-tam agora o seu sétimo álbum, segundo desta nova encarnação. A nova proposta do quarteto norueguês revela-se, no entanto, um trabalho algo contraditório em si próprio: de raízes vin-cadas no raw black metal mas pejado de riffs acessíveis a roçar o comercial, somos confron-tados com uma constante dualidade. Pontos francamente altos, como o excelente refrão de “Demon in my View”, o interlúdio instrumental de “Divide et Impera” e o assumido “maidenis-mo” da introdução de “Dystocratic” contrastam com outros menos bem conseguidos, tais como

Page 74: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Aphelium e Compendium of Suffering. As vozes arrastam-se ao longo de toda a gravação e as guitarras não lhe ficam atrás. Um álbum cheio, pesado e negro, para um nicho muito próprio e fiel do estilo, que se apresentará como uma nova experiência para os que não estão familia-rizados com o género.

Narciso Antunes

Recém formados – 2011 – e vindos de Nova Jér-sia, chegam até costas lusas os Serpentine Path, que nos entregam o primeiro álbum, do mesmo nome. Serpetine Path (álbum) assume-se como o pilar de uma promissora carreira de metal sujo e negro, de traços nitidamente doom/de-ath. Gravado pela Relapse, estes mais de qua-renta minutos de muito bem produzida música, leva-nos por caminhos que poucos se atrevem a trilhar, mas que os Serpentine Path (banda) conseguem desbravar na perfeição. Para um disco de estreia – EP do mesmo nome Serpenti-ne Path, lançado este ano – o coletivo demons-tra maturidade musical e lírica. É um trabalho exigente para os incautos, mas que poderá ser desfrutado ao longo de sucessivas audições. Sublinhem-se as faixas Bats Among Heathens,

-se abaixo da fasquia dos cinco minutos, sendo possível contar este conto no conjunto total. De interesse encontramos as The Great Bear, Star City I e Star City II e The Roar. O quinteto de Denver conseguiu assim entregar uma peça digna de registo e de escuta. Há muitas coisas a assinalar, algumas pequenas surpresas, como por exemplo a terceira faixa, 1969, onde pode-mos ouvir um pequeno monólogo em russo! Este álbum, um E se… que nos leva à conquista espacial que acabou prematuramente, visto de uma perspetiva à qual não estamos habituados é digno de ouvir e degustar, neste final de verão.

Narciso Antunes

E se a Rússia tivesse ido ainda mais longe, du-rante a Guerra Fria e em retaliação à ida dos EUA à Lua? É isto que os Silencer questionam no seu terceiro longa duração, também o seu primeiro registo conceptual. Decididos a “bai-xar o volume”, deixaram a sua antiga aproxima-ção ao metal pelo thrash, seguindo um novo rumo, mais próximo do que seria de esperar de álbuns de rock influenciado pelos Rush ou Queensryche. O resultado? 11 faixas de Hard ‘n Heavy puro e duro! Rápido e potente. Riffs bem compostos e simples, sem encruzilhadas extre-ma ou exageradamente técnicas, que preen-chem muito bem o lugar delas. A voz de Chad Armstrong, parece vinda diretamente dum con-texto rock and roll ao mais puro nível. As faixas não são exageradamente longas, mantendo-

que também decidem arriscar, os Silent Leges Inter Arma assumem-se como bons composito-res, pois apesar de misturarem outros elemen-tos fora daquilo a que podíamos chamar a sua zona de conforto, fazem-no de forma impecável sem que o produto final soe a algo confuso. Não é, portanto, um álbum que possa agradar aos ouvintes mais exigentes mas certamente é um registo que está no caminho certo e que tem muito a seu favor. Venha o próximo!

Joel Costa

Da Alemanha chega-nos o álbum de estreia dos Silent Leges Inter Arma, um colectivo que pratica um Black Metal ambicioso e que não se rege às regras de ouro do estilo, procuran-do muitas vezes ir mais além e apostar em algo que marque a diferença. Afinal de contas é isso mesmo que deve ser feito nos dias de hoje: marcar pela diferença e não fazer mais do mes-mo. Este álbum homónimo é um bom ponto de partida para uma banda com potencial e que poderá ter à sua frente uma valiosa discografia. Há apenas alguns detalhes a nível da produção que poderiam ter sido melhor cuidados, fazen-do assim de “Silent Leges Inter Arma” um regis-to com todas as arestas devidamente limadas. Apesar disso a banda é composta por excelen-tes músicos que procuram arriscar e questionar os parâmetros do Black Metal defendidos pelos mais puristas. Tudo isto é feito de forma caute-losa e quando comparado com outras bandas

Page 75: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

com mais intensidade. No minuto 2.06 surgem uns riffs que merecem audição num bom equi-pamento. O álbum mostra em algumas músicas, como “Blood on the Valley” e “Taree”, um tom blues que casa bem com a estrutura hard rock. Já em “Black Saturday” há um toque levemente “Nirvaniano”. O álbum chega a apresentar uma abordagem quase pop na faixa de bónus “Hal-fway There”. A verdade é que todos os músicos da banda mantêm as suas qualidades intactas, sendo certo, que o todo é neste caso, mais do que a soma das partes. E foi simpático disponi-bilizarem o álbum em “Stream”, melhor, só se fosse aqui na INFEKTION..

Mónia Camacho

Depois de um afastamento de 16 anos, os SOUNDGARDEN não poderiam ter nomeado melhor a primeira faixa do álbum “King Ani-mal”. Mas este “Been Away too Long” não é, exatamente, a pérola do disco. Embora seja uma peça muito razoável de hard e indie rock, pode ser abafada por comparações com o pas-sado. E no fundo, falta-lhe novidade. Mas, ain-da estes pensamentos nos passam pela cabe-ça, e, já o álbum nos dá uma boa entrada com “Non-State Actor”. O interesse vai sendo des-pertado, e, lá para o minuto 1.20, começa a ha-ver subtileza e variações que nos agarram. “By Crooked Steps” é uma música fantástica, com uma letra atraente e com um suporte rítmico muito consistente. Tem diversidade q.b. e aqui sim, notamos que a novidade começa a rolar

-se numa componente um pouco orquestral, com os teclados a ganharam maior preponde-rância. O problema é que a repetição da fórmu-la durante cerca de uma hora, torna-o bastante monótono e sem a componente “ao vivo”, a ci-nemática do trabalho acaba por cair por terra. A falta de audácia e de momentos que abalem a melancolia que se instala acaba por tornar a au-dição por vezes penosa. A experiência em palco poderá ser soberba, mas a falta de inspiração acaba por deitar por terra uma ideia bastante engenhosa. É esperar para ver se o Diabo ganha pernas para andar.

Bruno Farinha

A premissa era algo fascinante e interessante no panorama da música pesada por ser inovadora. Um Sexteto anónimo, formado em Londres, onde os músicos se juntaram para criar um projeto instrumental em que o som é apenas um veículo para dar ambiente a um conjunto de gravações históricas de teor político e social, assinalando alguns momentos determinantes do passado, como os atentados do 11 de Se-tembro, a possível existência de Extraterrestres e até o assassinato de Kennedy. Com um tom sarcástico, o álbum desenvolve-se como uma banda-sonora de um filme de conspiração e critica sobre os diversos encobrimentos da era moderna e apresenta-se bastante adequado, com uma tonalidade obscura e envolvente ao início. Riffs a roçar o Doom e o Gótico instalam-

futuro dita a crueza e a urgência do momento presente. As faixas, na maioria bastante rápidas e quase encadeadas (apesar de perfeitamente diferenciáveis entre si) avançam a um ritmo alu-cinante, sendo necessário aguardar por “Here-tic Temple” (o 8º tema) para que a velocidade decresça consideravelmente. Em “Obscure Dog-ma” assiste-se a uma incursão pelo death para regressar ao nihilismo black/crust de “Seven Billion Graves” que encerra o álbum. Chegamos ao final com a certeza inexorável da nossa pró-pria finitude, ao som de um feroz candidato a banda sonora do Apocalipse..

Ana Miranda

A impressão inicial após ouvir “Agnus Dei” é a de que um furacão entrou em casa e revirou a mobília de pantanas. O quarto álbum dos ita-lianos The Secret é sujo, negro, violento e belo – belo como só uma tempestade medonha o pode ser. Em 13 faixas, num total de cerca de 45 minutos, celebra-se (?) a destruição e o caos. Depois de tímidas abordagens em tra-balhos precedentes, a banda “blackeniza-se” de vez, manipulando o black metal a seu bel--prazer, testando os seus limites e fundindo-o com o hardcore e o crust. Não há aqui flores-tas norueguesas mergulhadas na névoa, mas criptas infectas, onde à Humanidade só resta cuspir o ódio acumulado durante milénios. Não há corpse paints nem picos, intros ou outros, nem teclados para encher. A ausência de um

Page 76: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

ouvir sobre batalhas épicas passadas no outro lado do mundo. Não nos dececionaremos, nes-se ponto. Mas, o que seria de esperar, era uma roupagem nova, sons diferentes, nuances na composição das músicas, etc. Por exemplo, os coros que floreiam uma grande parte do álbum, mais facilmente são identificados com uma ca-tedral ocidental, que um pagode chinês… Para fazer algo de novo e fresco, algo de criativo, não basta apenas dar um nome novo a um conceito, mas sim recheá-lo de sons novos e diferentes. E, daquele lado do mundo, ainda há tanto para explorar. ShiHuangDi vale por aquilo que é e não aquilo que aspirava a ser. Gostas de power me-tal sinfónico? Então, este é para ti!

Narciso Antunes

O longínquo Oriente é para onde nos levam os Italianos Thy Majestie. Desde 1999 que o coleti-vo de Palermo nos leva a ambientes de batalha, guerra e triunfos medievais: Hastings, 1066 e Jeanne d’Arc foram os dois longa duração que nos transportaram pela imaginação e pela His-tória. Neste terceiro registo, os Thy Majestie continuam a oferecer o mesmo power metal sinfónico que estaríamos à espera, não fican-do atrás dos últimos registos. Pelo contrário, a banda conseguiu subir mais um degrau, nessa longa escada que leva à perfeição musical. Ao ler um nome do álbum ShiHuangDi – o primei-ro imperador da China, o grande unificador dos sete reinos que então ocupavam aquilo no que se tornou uma das mais poderosas potências mundiais (faixa 2: Seven Kingdoms), esperamos

auge com “Dystopia”, uma viagem psicadélica de quase sete minutos em que a meio surge um dos mais grandiosos riffs de gutarra. Esta faixa bem pode ser o tributo dos Witchcraft aos Black Sabbath. “Dead End”, para terminar, com riffs e mais riffs que só nos dá vontade de fazer “head-bang” ao seu ritmo e é outro momento alto do disco. 2012 já nos presenciou com muitos ex-celentes álbuns e este é um deles. Esperemos é que agora não seja preciso uma paragem de cinco anos para podermos ouvir mais música destes talentosos suecos.

Mark Martins

Depois do muito bem recebido “The Alchemist” já de 2007, os Witchcraft regressam cinco anos mais tarde de cara lavada. “Legend”, o quarto álbum de originais mostra uns Witchcraft mais descontraídos, mais estabelecidos e com uma sonoridade mais rock que anteriormente. Logo após os primeiros acordes de “Deconstruction” conseguimos verificar que a produção já não é tão lo-fi e o seu som mais moderno. Conti-nuamos a ter, no entanto, por todo o álbum, aquilo que caracteriza o som dos Witchcraft: RIFFS! Exemplo disso é a logo a primeira faixa. Segue-se uma sequência de músicas alternan-do entre os ritmos mais elevados com os mais mid-tempo. Não há aqui nada de pretensioso, nada forçosamente retro, apenas rock com for-te presença de guitarras. “Legend” atinge o seu

tions” e “Shahensha”. É fácil tornarmo-nos fãs de “Embers and Revelations”. A forma certeira como os “Weapon” misturam a melodia com o seu Black/Death Metal áspero e corrosivo, faz deste disco uma experiência auditiva bastante interessante. Em suma, boas e muito bem exe-cutadas canções, com a dose certa de agressivi-dade e frenesi. Vale a pena ouvir.

Rute Gonçalves

Diretamente de Calgary, Canadá, os “Wea-pon” são uma banda de Death Metal nascida em 2003, pela mão de Vetis Monarch, músico nascido no Bangladesh que mais tarde se mu-dou para Alberta. Depois de quase 10 anos de carreira, várias Demos e dois álbuns editados, os “Weapon” regressam agora aos registos dis-cográficos com “Embers and Revelations”, sob a chancela da Relapse Records. “Embers and Revelations” é um disco com uma sonoridade muito mais limpa e rica do que o anterior re-gisto da banda “From the Devil’s Tomb” e que aposta de forma muito forte na parte melódi-ca, mas nunca descurando a agressividade e a rapidez do ritmo. Faixas e ter em atenção são: “The first witnesses of Lucifer”, “Crepuscular Swamp”, “Liber Lilith”, “ Embers and revela-

Page 77: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

teria parece não esgotar a sua energia durante os quase 43 minutos, com agressividade, mas sem parecer que está tentar espancar alguém e dando ainda mais razões para o “headbanging”. Este, que parece ser um álbum de transição na história da banda – metamorfose essa, talvez personificada pela borboleta na capa - , tem tudo para resultar nas actuações ao vivo e será uma boa adição à colecção de qualquer fã do grupo..

Ivan Santos

E ao sexto trabalho, os As I Lay Dying tornaram--se mais melódicos! Mas iguais a si próprios. Confuso? Misturando o caos com a melodia, conseguem manter um som coeso, embora menos abrasivo que em trabalhos anteriores. Claramente ambicionando mais, a banda afas-ta-se um bocado do metal mais obscuro e entra mais no metalcore, com canções com momen-tos interessantes e uma boa produção, onde as partes mais melódicas ganham mais relevo. E esta é a grande mudança. Os vocais misturam muito bem o agressivo e, às vezes, quase gu-tural de Tim Lambesis, com o limpo e nítido do baixista Josh Gilbert. Nas guitarras parece haver mais inovação, mais rapidez e com solos bem trabalhados, que faz com que este seja um pontos que mais sobressai neste álbum. A ba-

riência nova e refrescante, e as faixas revelam uma enorme simplicidade e honestidade, mas nunca esquecendo a sua marca única. Temas a não perder são: “Aimless Arrow”, “Trespasses”, “Sadness Comes Home”, “Coral Blue”, e “Pre-datory Glow”. Apesar de existirem há quase 25 anos, os Converge nunca desiludem. E “All we love we leave behind” é a prova irrefutável dis-so. Enquanto outras bandas do género se per-dem na obscuridade do tempo e na falta de cria-tividade, este quarteto torna-se cada vez mais relevante no panorama musical à medida que lançam trabalhos novos. E o tempo só ajuda. Mais um grande disco. Imperdível.

Rute Gonçalves

Os Converge são uma banda de Punk Hardcore originária de Salem, Massachussets, formada em 1990 e considerada por muitos como uma das mais originais e inovadoras bandas emer-gidas do Punk underground. A banda conta já com sete álbuns editados e o último registo “Axe to Fall”, lançado em 2009, teve um sucesso estrondoso na critica e perdura ainda na me-mória dos fãs da banda. Os Converge entram agora numa nova era com “All we love we leave behind”, o mais recente álbum do coletivo.“All we love we leave behind” mostra uma fa-ceta muito mais crua da banda do que até aqui tinham mostrado noutros registos e está longe de ser um regresso ao passado ou uma incur-são em sonoridades antigas, antes pelo contrá-rio, o disco é, do princípio ao fim, uma expe-

co. Temas a ter em atenção são: “Behind Barbed Wire”, “ Resistance”, “South East Asian Rebels”, “Morality Police”, “Life on the Line” e “Corazo-nes Intoxicados”. Em suma, “Resistance” é mais um grande disco dos “The Casualties”, mais uma grande obra Punk, com um toque de Trash e um cheirinho de Rock onde Jorge Herrera, o vocalista do coletivo, volta a mostrar a sua garra e o seu eterno carisma. Definitivamente, o Punk não está morto e está mesmo de regresso. E em boa hora.

Rute Gonçalves

No início dos anos 90, um grupo de Punks va-gueava nas ruas de New jersey á procura de recuperar a glória da cena Punk, emergida nos anos 70 e 80 e já desaparecida, ultrapassada nessa década por outros estilos mais populares. Assim surgem os “The Casualties”, que tendo influências de bandas como “The Exploited”, “Discharge”, “Sex Pistols” e “Charged GBH”, elegeram como sua missão devolver ao mundo a loucura do movimento Punk. Com oito álbuns editados no seu currículo, surgem agora com o novíssimo “Resistance”. “Resistance” não deixa por mãos alheias as bandeiras do Punk, a resis-tência política e a rebeldia social, como sempre foi aliás, apanágio destes rapazes. É um álbum frenético, cheio de agressividade e de raiva, um verdadeiro manifesto político em forma de dis-

Page 78: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

parecendo que quase não sofreu uma produção em estúdio. O objectivo devia ser mesmo esse. Transportar todo o caos e causticidade que a banda oferece ao vivo para um disco. One Wing é enorme em som, energia e vigor. Inventivo e ousado, puxa pelos limites e questiona as nor-mas. E pode ser muito bem o melhor álbum, até agora, da carreira de uma banda cheia de artis-tas – no verdadeiro sentido da palavra – que nos habituaram a esperar o inesperado.

Ivan Santos

A loucura, o caos e a incoenrência voltaram na forma do quinto álbum destes norte-ame-ricanos. No entanto, este é bem capaz de ser o trabalho mais coerente da banda até ao mo-mento. Toda a fúria crua, a escrita frenética e os elementos caóticos continuam bem presentes. Mas parecem melhor conjugados e trabalha-dos. Parecem quase...lógicos. Josh Scogin grita de tal modo, tão alto e com tanta raiva, que pa-rece que os seus pulmões saem pela boca. As guitarras distorcidas têm aquele som de espec-táculo ao vivo, muito esterilizado. Junta-se al-gumas vozes gospel, orgãos, uns ruídos de fun-do, alguns “erros” propositados, elementos de filmes tipo western spaghetti e até o discurso de Charlie Chaplin no filme “O Grande Ditador” e, todo o albúm fica com um tom muito cru,

Page 79: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 80: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

No âmbito da tour que reunia quatro importantes nomes do metal mais ex-tremo, eis que um grupo de portugue-ses se aventurou, em excursão, seguir até à vizinha Espanha, mais concreta-

mente Valga, para marcar presença num evento que infelizmente não tinha planos de passar por Portugal. A data em Valga contava com uma dis-coteca local, a Chanteclair, para receber este grupo de titãs do metal extremo. Os problemas logísticos impediram a visualização, e audição, do concerto dos thrashers norte-americanos, Fueled By Fire. Felizmente ainda houve tempo para consumir o death metal técnico, fortemente inspirado pela mitologia egípcia, dos Nile. A formação liderada por Karl Sanders não deixou que a qualidade (a falta dela, entenda-se) do som, influenciasse uma performance que apesar de curta, acabou por ser bem à figura da própria banda: brutal e objectiva. Em palco seguia-se para uma das actuações mais esperadas da noite: os míticos Morbid Angel. Por muitos considerada A banda de death metal. Os homens de Flórida, liderados por um sempre ca-rismático David Vincent, explicaram o porquê de serem tão idolatrados. Com «Immortal Rites» a abrir, o quarteto teve logo o público à sua merce. «Rapture», «Chapel of Ghouls» e «God of Empti-ness», foram alguns dos clássicos celebrados numa

actuação ímpar da banda norte-americana. Nem o ingresso pelo mal-amado “Illud Divinum Insanus”, com «Existo Vulgoré» e «Nevermore», consegui-ram manchar a actuação dos Morbid Angel, até porque estamos a falar de canções que resultam muito bem ao vivo.

Para terminar a noite em grande estilo, eis os ger-mânicos Kreator. Abrindo com a faixa-título do mais recente álbum, “Phantom Antichrist”, a míti-ca banda de thrash, criou o caos. Com as melhores condições sonoras da noite, o colectivo liderado por Mille Petrozza não conseguiu defraudar as ex-pectativas de nenhum dos presentes, nem mesmo apostando tocar cinco músicas de “Phantom An-tichrist”. Claro que os clássicos fizeram as delícias de todos os presentes, e ninguém ficou indiferente a músicas como «Flag of Hate», «Enemy of God», «Extreme Agression», «Pleasure To Kill», etc.

Um concerto BRUTAL, onde o Sr. Mille Petrozza fez questão de saudar os portugueses presentes. Fantástico momento, numa noite ainda mais fan-tástica.

Texto: Tiago MoreiraFotografia: Craneo Metal - Staff Portugal

Page 81: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 82: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Dia 0 – 26 Outubro(Passos Manuel)

O primeiro dia, ou dia zero se preferirem, marcava o inicio do Amplifest’12, no sem-pre excelente Passos Manuel. Com uma limitação máxima para 200 pessoas, este concerto de abertura poderia ser conside-rado uma espécie de “prendinha” do pes-soal da Amplificasom, que estava disposto a atirar um concerto “gratuito”, para todos os que tivessem comprado (e feito a devi-da reserva) o bilhete mais cedo. Polémicas à parte, a verdade é que o Passos Manuel esteve como se quer… cheio! 200 almas, entre as quais se incluíam o trio italiano Ufomammut, prontas para receber o duo norte-americano, Barn Owl. Repetente nestas andanças do Amplifest, a verdade é que o duo composto por Evan Caminiti e Jon Porrasm esteve longe de repetir a expe-riência de 2011… muito pelo contrário. Ao drone habitual, que fez estremecer pare-ces e corpos, juntaram-se fortes investidas pelo universo da electrónica e dos sinteti-zadores. Um concerto, que rondou os 60 minutos, e que comprovou o quão ideal, e proveitosa, esta sala pode ser para bandas, e projectos, como os Barn Owl.

Dia 1 – 27 Outubro(Hard Club & O Meu Mercedes)

Hard Club! Aqui está uma das peças cen-trais neste maravilhoso projecto que é o Amplifest. O dia 27 marcava o regresso ao, sempre imponente, Hard Club. A fes-ta começava bem antes dos concertos, com a excelente exposição de alguns dos trabalhos feitos pela Malleus Rock Art. As paredes do lobbie, estavam assim enfeita-das alguns dos melhores cartazes que por ai andam… um verdadeiro regalo para os olhos dos presentes. O acompanhamento seria feito pelas bandas de merch, e pelos músicos que andavam ali entre a “plebe”. Este à vontade permitiu, por exemplo, que

a entrevista (publicada neste número) com os belgas Amenra fosse feita sem grandes complicações.

17:30 e dá-se início à programação. O início seria dado pelo documentário Instrument, de Jem Cohen, sobre os míticos Fugazi. De seguida a Sala 1 iria receber o primeiro con-certo do dia. Os Six Organs of Admittance, entram em palco e debitam uma completa mixórdia de sons. Dessincronização perme-ditada. É assim que se pode descrever o concerto da banda liderada por Ben Chas-ny. Se houve falta de foco em Six Organs of Admittance, o mesmo não se sucedeu com o trio de Brooklyn. Os White Hills muniram--se de psicadelismo, e ambientes espaciais, para criarem uma atmosfera sonhadora. Fim do concerto, muda-se de sala e muda--se de ambiente. Os Bohren & Der Club Of Gore, ofereçam momentos de intimidade impar com o jazz-noir que tão bem os dis-tingue. O falatório dos presentes foi um dos pontos negativos durante este concerto. In-felizmente a logística não o permitiria, mas os alemães, e o público, ficariam a ganhar se tivessem actuado no, já mencionado, Passos Manuel. Segue-se para o que seria a primeira, actuação portuguesa nesta se-gunda edição do Amplifest. Os eborenses, Process of Guilt, que editaram recentemen-te o maravilhoso “FÆMIN”, que lhes valeu rasgados elogios e a oportunidade de par-ticiparem no mítico Roadburn, deram um concerto verdadeiramente demolidor. Há verdade é que não é espanto nenhum. Não há – ou pelo menos não deveriam haver – dúvidas relativamente há exímia qualidade destes senhores.

Se o concerto dos eborenses tinha feito despender bastante energia, então o que dizer da actuação dos Amenra? Não há ma-neira para descrever tamanha experiência. Estes senhores deram um dos melhores concertos neste festival. A carga emotiva chegou a atingir momentos desesperantes,

e a verdade é que ninguém pode ficar indi-ferente. Mágico! O último concerto do dia apresentava os nacionais Löbo. Missão in-grata a do colectivo de Setúbal, não tivesse sido tão destruidor o concerto dos belgas Amenra. Mesmo assim cumpriram com as suas obrigações, e deslumbram os presen-tes com o contraste de densidades sonoras. Esta dinâmica, permitiu que a participação de RA se enquadrasse, acabando assim os concertos, com batidas electrónicas certei-ras. O dia finalizou-se com uma descida à Ribeira, mais concretamente O Meu Mer-cedes, onde muitos resistentes se juntaram para ouvir, em grande comunhão, o novo álbum dos míticos Neurosis, o fantástico “Honor Found In Decay”… isto em estreia mundial. Fantástico!

Dia 2 – 28 Outubro(Hard Club & O Meu Mercedes)

O último dia do Amplifest, fez com que as pessoas se deslocassem até ao local histo-rio, que é a Sé, para presenciar o concerto de Josef Van Wissem. Se havia dúvidas que o local do concerto é uma variável essen-cial para toda a equação, então essas dú-vidas foram todas dissipadas. Os Claustros encheram-se para receber o holandês. Munido do seu alaúde, Van Wissem, ofe-receu um dos momentos mais intimistas e belos de todo o festival, com as suas composições a fazerem viagem os presen-tes para temos bem longínquos. Segue-se para o Hard Club, e eis que é apresenta-da mais uma banda portuguesa. Os Black Bombaim, que tal como os Process of Guilt terão oportunidade de tocar no mítico Ro-adburn, apresentaram-se na Sala 1 para debitar as suas jams poderosas, cheias de energia contagiante. Munidos de um tere-mim, o trio de Barcelos deu o mesmo de sempre: um concerto fantástico. Na Sala 2 estariam os Necro Deathmort, envoltos em ambientes de brutal negritude. Com as suas batidas puramente industriais, a du-

Page 83: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 84: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 85: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 86: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 87: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

pla londrina conseguiu criar um ambiente tenebroso. Ninguém saiu indiferente, prin-cipalmente quando as vocalizações entram em cena. De novo na Sala 1, para receber o gigante Eugene S. Robinson. Em forma-to Oxbow Duo, Eugene Robinson e Niko Wenner, foram os protagonistas de um dos concertos mais arrebatadores de todo o festival. A intensidade e compostura física, que faziam lembrar a de um Howlin’ Wolf, de Eugene foram suficientes para subjugar as centenas de pessoas presentes. A poe-sia decadente de Robinson, com o apoio, sempre certeiro, da guitarra de Wenner, fez mossa. Quem estava preparado para o se-melhante? Momentos depois recebia-se o trio transalpino, os colossais Ufomammut. O objectivo era bem simples, tocar a du-pla ORO e despedaçar almas com o doom que lhes é característico. Missão cumprida.

As expectativas foram todas superadas, e ninguém conseguiu desviar o olhar. Uma actuação ímpar, destes italianos que estão no topo das sonoridades lentas. E chegava o momento tão esperado por centenas de pessoas… a actuação dos Godspeed You! Black Emperor. A entrada da mítica banda canadiana fez-se com uma procissão bem drone, que só foi interrompida para dar lugar à magnífica “Mladic”, que integra o novo álbum, “Allelujah! Don’t Blend! As-cend!”. E assim prosseguiu a celebração da humanidade que são os GY!BE. Com um au-xílio de quatro projectores, a actuação do colectivo de Montreal ganhou ainda mais encanto. Infelizmente a banda viu-se com um problema em mãos. Problemas com a guitarra, impediram que o concerto se fi-nalizasse da maneira pretendida… “Descul-pem Porto, a guitarra está como o Governo

de Portugal e a União Europeia: partida”. O problema “contornou-se” com a mestria de um violino e contra-baixo, que fecharam de maneira soturna e lenta esta actuação dos reis do post-rock. Mesmo com o problema com a guitarra, de certeza que os presentes não deram o seu tempo como perdido.

E chegou assim ao fim, mais um Amplifest. A segunda edição de algo que, orgulhosa-mente participamos. O Amplifest é, sem dúvida, muito mais que um mero festival de música. É uma inusitada cerimónia que chega a parecer irreal. É difícil de acreditar, mas a verdade é que é ainda mais difícil o período de espera pela próxima edição. FANTÁSTICO!

Texto: Tiago MoreiraFotografia: Jorge Silva

Page 88: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Depois dos Paradise Lost no início do mês, um Hard Club igualmente bem--composto recebeu outra figura da trí-ade do Doom Metal britânico dos anos 90: os Anathema. A banda dos irmãos

Cavanagh regressou ao nosso país pelo quarto ano consecutivo, desta vez para apresentar o novo “Weather Systems” num concerto que se adivi-nhou, como seria de esperar, memorável.

Encarregues de dar início ao evento, os Astra co-meçaram a atuar antes da hora prevista e foram muitos, incluindo a nossa equipa, os que perderam o início da sua atuação. Embora não tenha sido possível assistir às duas primeiras canções, “Co-coon” e “The River Under”, houve tempo suficien-te para apreciar o Rock Progressivo retro destes norte-americanos naturais da California através de “The Black Chord” e “The Weirding”, que se revela-ram autênticas viagens sonoras.

Seguiu-se, então, a principal atração da noite. “Un-touchable Part 1” e “Untouchable Part 2” serviram de ponto de partida para os Anathema conquista-rem a plateia sem grande esforço, comprovando, mais uma vez, a existência de uma química es-pecial entre a banda e o público português. Nem mesmo as dificuldades técnicas com o equipamen-to de Daniel Cavanagh em “Thin Air”, “Dreaming Light” e “Everything” prejudicaram o belo início de espetáculo e a boa-disposição que se respirava no recinto. Já com os problemas resolvidos, Vincent Cavanagh anunciou três temas de “Judgement”, in-

terpretados sem interrupções. Entre eles, figurou o clássico “Deep” – dedicado ao público – durante o qual teve lugar um fantástico jogo de luzes. O con-certo foi prosseguindo ao som de faixas retiradas de “We’re Here Because We’re Here” e “Weather Systems”, com especial destaque para “A Simple Mistake”, dedicada ao teclista Daniel Cardoso, e a eletrónica “The Storm Before the Calm”, na qual Vincent trocou a guitarra pelos sintetizadores. Contudo, o melhor ainda estava para vir. Depois de uma interpretação muito aplaudida de “Closer”, Vincent pediu que se apagassem as luzes e fosse o próprio público a iluminar a sala com o que tivesse à mão. Com isqueiros e telemóveis no ar, a plateia cantou com os Anathema “A Natural Disaster”, re-gistando ali um momento único e que jamais será esquecido por quem o vivenciou. No fim, Vincent falou sobre a estranha união entre a música cria-da pela banda e os seus fãs. Já em encore e com o tempo a escassear, o vocalista perguntou qual era a canção que os presentes mais queriam ouvir e, entre os vários nomes que se ouviram, prevale-ceu “One Last Goodbye”. Cantada em uníssono, foi mais outro momento incrível numa atuação que viria a terminar da melhor forma logo a seguir, ao som de “Fragile Dreams”. No fim, os irmãos Cava-nagh e o resto da banda andavam pelo Hard Club a conversar com os fãs e a tirar fotografias com eles, demonstrando uma humildade que se vê pouco nos dias de hoje.

Texto: Eduardo MarinhoFotografia: Joana Cardoso

Page 89: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 90: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Estamos a chegar às 22h30 e eis que vemos os três músicos que compõem o Full Blast a subir as escadas que dão acesso ao palco. Em último lugar aparece um homem de 71 anos, que para além de ser uma das maio-

res referências do free jaz europeu, é um artista. Ar-tista, uma palavra que nem sempre é devidamente utilizada. Peter Brötzmann no alto dos seus 71 anos, arrecada qualquer requisito que esta palavra possi-velmente terá.

Eles posicionam-se em palco, à direita do palco (perspectiva dos músicos) posiciona-se o suíço Ma-rino Pliakas com o seu baixo Steinberger, no centro Michael Wertmüller na bateria, e para finalizar o trio, encontramos na esquerda o Mestre, o Sr. Peter Brötzmann, com a peso do mundo nas suas costas e com o saxofone nas suas mãos. Os momentos se-guintes são como trovões fulminantes no coração de todos os que arriscaram marca presença no exce-lente Passos Manuel. A atitude caótica que tão bem está associado ao movimento free jazz, encheu uma sala que chegou a estremecer… seria impossível as paredes ficaram imóveis com tanto poder explosivo libertado. O baixo e a bateria em constante despi-que, enquanto o saxofone de Brötzmann libertava gritos de pura loucura. Imaginem dezenas de pes-soas com os olhos bem arregalados, enquanto três músicos assumem a postura de demolidores. Pois foi isso que, literalmente, se passou. Nem a corda que partiu no baixo de Pliakas, foi desculpa… tama-nha brutalidade não se deixa limitar por meros, e insignificantes, problemas técnicos. Apenas pare-ceu instigar Pliakas a debitar mais fúria. Inacreditá-vel! No fim deste exorcismo, era ver as pessoas a caminhar porta fora… sem palavras. É por situações como esta, que Peter Brötzmann é uma lenda viva. Pena que o Passos Manuel não estivesse a abarro-tar… muitos perdam um dos melhores concertos das suas vidas.

Texto: Tiago MoreiraFotografia: Jorge Silva

Page 91: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

O s Paradise Lost regressaram a Portugal com data dupla, assinalando assim o início de mais uma digressão pela Europa em promoção do seu

13º álbum, “Tragic Idol”. Depois de terem estado em Lisboa no dia 3 de Outubro, os britânicos passaram também pelo Porto no dia seguinte. A acompanhá-los como banda de abertura em ambas as datas es-tiveram os Soen, que se estrearam no nos-so país.

Devido a problemas técnicos, as portas da Sala 1 do Hard Club só abriram às 21h30 e quando os Soen começaram a atuar, ain-da uma longa fila esperava para entrar no recinto. Em palco, os suecos apresentaram algumas surpresas a nível de formação, com um baixista substituto a ocupar o lugar de Steve DiGiorgio e um quinto ele-mento responsável pelos teclados e pela percussão e vozes adicionais. “Fraktal” e “Fraccions” deram o mote a uma pres-tação seguríssima que pouco demorou a cativar o público. À medida que se iam ouvindo outras canções, como “Delema”, “Oscillation” ou a suave “Last Light”, tanto Joel Ekelöf como Martin Lopez iam assu-mindo uma posição de destaque, o pri-meiro pela envolvência com que cantava e o segundo pela complexidade e poder

que imprimia na forma como tocava a sua bateria. Já a encerrar um concerto muito aplaudido, “Savia” sublinhou que há neste projeto uma identidade própria mais vin-cada do que se pensa.

Após meia hora de preparações e já com a sala praticamente cheia, as luzes apa-garam-se finalmente e, ao som de “De-solate”, os Paradise Lost foram subindo um a um para o palco sob uma chuva de aplausos e assobios vindos da plateia. Foi ao som da clássica “Widow” que o espe-táculo começou, com Nick Holmes a puxar pelo público desde o primeiro instante e a receber uma resposta efusiva. Seguiram--se “Honesty in Death e “Erased”, que cor-roboraram a excelente entrada do coletivo britânico. Depois, foi altura para um dos momentos mais especiais da noite. As luzes apagaram-se por breves segundos e ouviram-se os teclados iniciais de “En-chantment”, uma surpresa para aqueles que esperavam um alinhamento seme-lhante ao da noite anterior em Lisboa. Mais uma vez, os presentes mostraram um apoio incondicional à banda, cantando e marcando o ritmo com palmas e heys. Ainda durante a interpretação deste tema, o vocalista recebeu uma ovação depois de ter oferecido duas palhetas a um fã que exibia um cartaz na fila da frente e lhe ter

dito que eram “10€, por favor”. Apesar de se ter mostrado sempre bem-disposto e comunicativo, Nick teve dificuldades em imprimir a intensidade necessária nas suas vocalizações, que revelaram algumas debi-lidades e se afundaram aos poucos no po-der dos instrumentos dos outros membros à medida que o concerto decorria. Entre-tanto, foram-se ouvindo outras canções de um alinhamento eclético q.b. que englo-bou clássicos como “Pity the Sadness” ou “As I Die”, temas da fase eletrónica (neste caso, “Soul Courageous” e “One Second”) e faixas mais recentes, sendo elas “Praise Lamented Shade” ou “The Enemy”, sem esquecer, claro, novidades como “In This We Dwell” e “Tragic Idol”. Já em regime de encore, foram interpretadas a icónica “Embers Fire”, “Fear of Impending Hell”, “Faith Divides Us – Death Unites Us” e, em despedida, “Say Just Words” que pela última vez naquela noite encheu o recinto de fortes aplausos. É certo que faltaram mais alguns clássicos, mas foram quase 90 minutos de música ao vivo muito bem passados.

Texto: Eduardo MarinhoFotografia: Fotografias gentilmente cedi-das por Antonio Aguirre (Craneo Metal)

Page 92: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Foi no ultimo dia de Setembro que o Hard Club, e os portuenses, se prepararam para receber esta festa do rock’n’roll, que se estendia por mais três datas em território nacional. A abertura da fantástica noite de

Domingo, foi da responsabilidade dos Wild Tiger Affair, banda oriunda de São João da Madeira. O quarteto que recentemente (2011) viu o seu álbum de estreia, “Lost Fathers”, a ser editado, abriu da melhor maneira, numa noite que já por si prome-tia. Debitaram o seu stoner, com laivos sludge, de forma irrepreensível e poucos foram os que conse-guiram ficar indiferentes. De seguida apresentava--se os Miss Lava, que utilizam esta mini-tour para apresentar o segundo, e mais recente, registo dis-cográfico. A banda lisboeta, veio munida com “Red Supergiant”, e apresentou momentos de completa euforia e energia. Estamos, muito provavelmente, a falar da banda mais bem-disposta de Portugal. Se a essa boa disposição adicionarmos um stoner cativante, então temos a festa completa. A abertu-

ra com “Desert Mind”, serviu de ponto de partida para uma performance tanto energética como con-tagiante… não se pode pedir mais. Para fechar a noite, que já estava bem animada, eis que entram em cena os suecos Truckfighters. Famosos pelas imagens que revelam um Josh Homme, alcoolica-mente bem disposto, a tecer rasgados elogios so-bre a banda (apesar de não a conhecer), este sue-cos são actualmente umas das maiores expressões do stoner europeu. Dando continuação ao elevado nível energético das bandas anteriores, os Truckfi-ghters fecharam a noite em grande. Desde grooves deliciosos, até jams bem psicadélicas. Estava assim fechada uma grande noite de rock’n’roll. Fazem falta, noites destas. Não só pela qualidade óbvia das bandas em questão, mas também pelo clima de festa em torno daquilo que tanto amamos… a música. Excelente noite, excelente ambiente!

Texto: Tiago MoreiraFotografia: André Cardoso

Page 93: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 94: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Decorreu no Porto, durante uma solarenga tarde de sábado, um evento que terá passado desper-cebido a alguns. Os dinamarqueses Hexis e os suecos This Gift Is a Curse estiveram na Casa Viva para um concerto gratuito incluído na sua digres-

são pela Europa, que também os levou a Braga e a Lisboa.

Numa sala envolta por um denso fumo e iluminada em tons escarlate, os This Gift Is a Curse começaram a atuar diante de um público ainda reduzido, mas que veio a aumentar en-quanto “Inferno”, a primeira canção do alinhamento, era exe-cutada. Já com o recinto mais cheio e com a assistência em-brenhada na música do quarteto de Estocolmo, “The Swarm” e “Att Hata Allt Mänskligt Liv” deram azo a um moshpit vio-lento. Satisfeito com as mossas causadas, o vocalista Jonas Holmberg agradeceu o apoio e afirmou que era um prazer es-tar ali, apresentando em seguida o próximo tema, “The Cros-sing”, que incitou a um mosh ainda mais caótico. Por vezes, a intensidade era tal que ocasionalmente caíam espetadores por cima das hardcases dos instrumentos encostadas a uma das paredes da sala. A banda acabou a sua atuação com uma pujante “The Sounds of Broken Bells”, mas não sem antes ter voltado a agradecer aos que compareceram para testemu-nhar a sua enérgica prestação.

De novo num ambiente fumoso e escuro, os Hexis arranca-ram para um concerto que só pecou pela sua curta duração. Durante um quarto de hora, um público atento e menos dado a movimentações assistiu à descarga intensa protagonizada pelo coletivo dinamarquês, que aproveitou a ocasião para apresentar duas composições novas logo no início e dedicou o resto do set ao EP “XI”, com a faixa “Crux” a revelar-se o ponto alto da atuação. No fim, ficou a sensação de que tinha sabido a pouco, mas, atendendo às circunstâncias do evento, é como diz o velho ditado: a cavalo dado não se olha o dente.

Texto: Eduardo Marinho

Page 95: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Na primeira noite de outono do ano, um Metalpoint bem com-posto recebeu o Apocalipse Lusitano, evento que também passou pelo Bar Roterdão, em Lisboa, no dia anterior e que contou com os Morte Incandescente como cabeças-de-cartaz e os Nefastu, os Göatfukk e os Enclavement como bandas de

apoio.

Ausentes nesta data no norte estiveram os Enclavement, que não pu-deram marcar presença por motivos de saúde. Assim sendo, coube aos Göatfukk dar início às hostilidades com o seu Black Metal injetado de Punk e D-Beat. “Nocturnal Guidance” foi a primeira canção interpretada, seguindo-se “XIV Crosses”, “Black Candles Burn” e “Your God That Never Was” quase sem interrupções. Foi com a versão de “Outbreak of Evil”, dos Sodom, que surgiram as primeiras manifestações do público, que perma-neceu contemplativo e quase imóvel durante todo o concerto. Este com-portamento deveu-se, em parte, à postura em palco de Vulturius, o novo vocalista de sessão, que, embora tenha vociferado as letras das canções de forma convincente, se mostrou pouco comunicativo. Já perto do fim e após “We Are the Spear”, voltaram a registar-se algumas reações por par-te dos presentes ao som de “Drunk, Slut, 666” e “Chaos Is My Life”, cover dos The Exploited, que encerrou a atuação da banda.

Como estava um calor intenso no recinto, muitos abandonaram-no em busca de um local mais fresco enquanto se procedia à troca de equipa-mentos e soundcheck para o próximo espetáculo. Por essa razão, quando os Nefastu começaram a tocar não estava mais do que uma dúzia de pes-soas a assistir. Contudo, o quarteto portuense não pareceu minimamente afetado com isso e, com a ajuda de um ambiente nebuloso e um bom som, assinou uma prestação intensa e envolvente. Num alinhamento de 40 minutos, a atenção recaiu sobre a nova demo, intitulada “Versículo II” e a ser editada em breve, tendo sido possível escutar algumas das canções que a compõem, como “O Triunfo dos Iníquos”, “Desespero Incessante”, “Inexistência” e “Vagueando pela Oculta Noite”. A primeira demo tam-bém foi revisitada, através de “Renascido pelo Ódio” logo no início, “Fla-gelo do Ser” e “...Em Lúgubre Nostalgia” já a fechar.

Já com o público mais próximo do palco, seguiram-se os Morte Incandes-cente, que se apresentaram com uma postura mais descontraída e até sem o habitual corpsepaint. “Noite em Chamas” deu início a uma atua-ção cujo set incluiu temas dos três álbuns da banda, algumas novidades, como “Into a Pit e “To Praise the One with Black Wings” que figurarão no próximo 10’ intitulado “Black Fucking Cancer”, e ainda a inesperada “De-sabafo”. Apesar da performance coesa de Nocturnus Horrendus, Vulturius e V-Kaos, em certos momentos o ambiente adivinhou-se menos intros-petivo do que seria de esperar entre algum público que se encontrava à frente, o que prejudicou consideravelmente o impacto da música. Ainda assim, a interpretação sublime de “Your Bloodstream” e “Desabafo” recu-perou o clima intimista que faltou em alguns momentos de um concerto que serviu como uma boa conclusão para uma noite dedicada às sonori-dades obscuras.

Texto: Eduardo Marinho

Page 96: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

A enorme enxurrada de chuva que se fez sentir durante terça-feira, antecipava algo de tenebroso para a ren-trée que a Amplificasom proporcionava. Um regresso a uma casa que já tinha recebido actuações tão ím-pares como Nadja, Orthodox, Zatokrev, Minsk, Kongh,

Aluk Todolo e Altar of Plagues.

Depois de mais de dois anos sem qualquer concerto na Fábrica de Som, a Amplificasom decidiu pegar nos franceses Huata e honrar este espaço tão intimista, com uma estreia absoluta em terras lu-sas. A banda natural de Rennes, Bretanha, trazia debaixo do braço o fantástico e esmagador álbum de estreia, «Atavist of Mann».O primeiro impacto visual foi suficiente para criar expectativas, ainda maiores, relativamente ao futuro. A veste de pura cerimó-nia ritualista que o vocalista Ronan envergava, e os pés descalços, davam a entender isso mesmo, estaríamos a breves momentos de presenciar algo transcendental e bem especial.

Um fuzz de guitarra arranca e juntamente com ela, somos presen-teados com a projecção do filme, de culto, «Holy Mountain», de Alejandro Jodorowsky. Este arranque transportou de imediato to-dos os presentes para um universo paralelo. Os riffs viciantes que Christophe arrancava da sua guitarra, acompanhados de uma sec-ção rítmica (créditos a Benjamin e Alexis) que subjugou por com-pleto os estupefactos presentes. Para complementar o instrumen-tal ímpar, e hipnotizante, junta-se a voz de Ronan, que de forma perspicaz utiliza um efeito que transformou a sala numa auténtica caverna… assustador e magnífico!

As palavras revelam-se improfícuas quando se trata de descrever tudo o que se passou nesta noite mágica de Setembro. Com uma setlist centrada no álbum de estreia, e com algumas novidades que revelaram os Huata a entrarem por caminhos claramente drone, o ponto alto foi a “Lords of the Flame”, a faixa de abertura do disco de estreia, que criou um impacto colossal nas almas dos sortudos que presenciavam a actuação. Na recta final há uma bênção, na testa, a alguns sortudos da plateia (nos quais este escriba se in-clui) e uma partilha de néctar (com teor alcoólico, claro) entre os presentes. Néctar esse que foi utilizado pela banda durante todo o concerto. Estará aqui o segredo? Esperemos que não.

Um dos concertos mais mágicos do ano!

Texto: Tiago MoreiraFotografia: Jorge Silva

Page 97: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 98: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Em sua terceira passagem pelo Brasil os poloneses do Behemoth fizeram sem duvidas o melhor show por aqui, Nergal completamente recuperado do quadro de leucemia fez ao lado de Seth (guitar-

ra), Orion (baixo), Inferno (bateria) um espetaculo primoroso no lotado Carioca Club em Sao Paulo.

Com um set curto mas potente os poloneses to-caram “Ov Fire And The Void”, uma das ótimas faixas do último trabalho de estúdio da banda, “Evangelion” alem de Demigod, Moonspell Rites, Conquer All, Christians to the Lions e The Seed ov I, o publico foi ao delirio e se encarregou de for-mar imensos circle pits enquanto um ar soturno tomava conta do Carioca Club por conta da ilu-

minacao usada propiciando o clima macabro ao show.

Nergal era o encarregado de se comunicar com os fãs pouco o fazia mas era convincente , sem du-vidas um show potente, denso e que poderia ter sido um pouco mais longo, mas sem duvidas um serio candidato a show do ano.

Texto + Fotografia: Flávio Santiago

Page 99: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012

Após impasse juridico que vetou a apresentacao das bandas no Carioca Club es-paco maior e mais apropria-do houve uma transferencia

de local as pressas para o intimista In-ferno Club, com esta mudanca os fas se aglomeraram para conferir os paulistas do Paura que fizeram um show intenso e cheio de energia aonde musicas como “Scars of Life”, “No Hard Feelings!? Fuck You!” e “Unhuman Mankind” fizeram a alegria dos presentes.Logo em seguida foi a vez do First Blood debutar por terras tupiniquins e fizeram isso com muita propriedade e agres-

sividade, Mesclando músicas de seus lançamentos mais conhecidos “Killafor-nia” – e “Silence Is Betrayal” desde sons mais antigos como “Next Time I See You, You’re Dead” e “Armageddon”, foram os responsáveis pelos primeiros circle pits da noite, show primoroso.

A noite estava esquentando literalmen-te e foi com esse calor humano que o pu-blico recebeu os novaiorquinos do H2O, o show foi uma verdadeira aula de hard-core a banda fez um set matador aonde musicas como: Family Tree, Thicker than Water, One Life, One Chance foram can-tadas e unissono pelos presentes.

Enfim a hora mais esperada da noite afinal nao e qualquer banda que faz 30 anos e se mantem no topo por todo esse tempo e eis que Roger Miret e Vinnie Stigma surgem ao palco e iniciam o mas-sacre sonoro com classicos do hardcore mundial como Victim in Pain”,”United and Strong” , “Blind Justice” e “Cruci-fied” uma verdadeira aula de atitude e energia em palco, para encerrar a apre-sentacao uma cover de outra grande banda punk: Ramones com “Blitzkrieg Bop”, evento obrigatorio para fas de boa musica.

Texto + Fotografia: Flávio Santiago

Page 100: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 101: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 102: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 103: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012
Page 104: Infektion Magazine #18 - Novembro 2012