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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 688 – STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RMS 31538/DF; HC 112977/RJ. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: AP 470/MG. DIREITO PENAL Estatuto do Desarmamento – 1 O réu foi preso por posse ilegal de arma de fogo em data anterior a 31/12/2009, período no qual ainda vigia a abolitio criminis temporária prevista nos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento. Logo, em tese, ele ainda estava dentro do prazo para regularizar sua arma. No entanto, a 2ª Turma do STF não reconheceu, neste caso concreto, a ocorrência de abolitio criminis temporária porque restou provado que a arma encontrada era utilizada para garantir a prática do delito de tráfico de drogas, crime pelo qual ele também foi condenado. Assim, diante dessa situação, a Corte entendeu que, mesmo que o réu tivesse a intenção de regularizar a arma não poderia, pois ela era utilizada para a prática do crime de tráfico de drogas. Comentários Abolitio criminis temporária ou descriminalização temporária ou vacatio legis indireta Os arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento preveem: Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4º desta Lei. (Obs1: Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Obs2: esse prazo foi prorrogado até 31/12/2009 pela Lei 11.922/2009) Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. Desse modo, os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada poderiam solicitar o registro da arma até o dia 31/12/2009. Assim, até esse prazo (31/12/2009), não era típica a conduta de possuir arma de fogo de uso permitido. Nesse período, a posse de arma de fogo de uso permitido não era crime porque houve abolio criminis temporária (também chamada de descriminalização temporária ou vacatio legis indireta). Página1

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Informativo 688 – STF

Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RMS 31538/DF; HC 112977/RJ.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: AP 470/MG.

DIREITO PENAL Estatuto do Desarmamento – 1

O réu foi preso por posse ilegal de arma de fogo em data anterior a 31/12/2009, período no qual ainda vigia a abolitio criminis temporária prevista nos arts. 30 e 32 do Estatuto do

Desarmamento. Logo, em tese, ele ainda estava dentro do prazo para regularizar sua arma. No entanto, a 2ª Turma do STF não reconheceu, neste caso concreto, a ocorrência de abolitio

criminis temporária porque restou provado que a arma encontrada era utilizada para garantir a prática do delito de tráfico de drogas, crime pelo qual ele também foi condenado. Assim,

diante dessa situação, a Corte entendeu que, mesmo que o réu tivesse a intenção de regularizar a arma não poderia, pois ela era utilizada para a prática do crime de tráfico de drogas.

Comentários Abolitio criminis temporária ou descriminalização temporária ou vacatio legis indireta Os arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento preveem:

Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4º desta Lei. (Obs1: Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Obs2: esse prazo foi prorrogado até 31/12/2009 pela Lei 11.922/2009)

Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma.

Desse modo, os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada poderiam solicitar o registro da arma até o dia 31/12/2009. Assim, até esse prazo (31/12/2009), não era típica a conduta de possuir arma de fogo de uso permitido. Nesse período, a posse de arma de fogo de uso permitido não era crime porque houve abolio criminis temporária (também chamada de descriminalização temporária ou vacatio legis indireta).

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No caso concreto julgado pela 2ª Turma do STF, o réu foi preso em flagrante, antes do dia 31/12/2009, em sua casa, com uma arma de fogo e inúmeras munições. Segundo restou comprovado nos autos, essa arma era utilizada pelo réu para garantir a prática do delito de tráfico de drogas, crime pelo qual ele também foi condenado. A defesa alegou que o réu teria até o dia 31/12/2009 para regularizar a arma de fogo encontrada na sua casa, valendo ressaltar que ele foi preso antes dessa data. Logo, segundo a defesa, tendo sido o condenado flagrado dentro do período chamado de vacatio legis indireta, em que estava suspensa a eficácia do crime de posse de arma de fogo, deveria ser reconhecida a atipicidade da sua conduta. A 2ª Turma do STF concordou com essa tese? NÃO. Segundo entendeu a Corte, as provas produzidas demonstraram que a arma encontrada foi utilizada para garantir a prática do tráfico de drogas (delito pelo qual ele também foi condenado). Logo, mesmo que o réu tivesse a intenção de regularizá-la, não poderia, pois tal armamento era utilizado para a prática do crime de tráfico de drogas.

Processo Segunda Turma. HC 111842/ES, rel. Min. Cármen Lúcia, 13.11.2012.

Estatuto do desarmamento – 2

A posse ou o porte apenas da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime. Isso porque tal conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não

importa o resultado concreto da ação. Comentários A posse ou o porte apenas da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime?

SIM. Há previsão expressa no Estatuto do Desarmamento: Posse irregular de arma de fogo de uso permitido Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Neste julgado, foi reiterado esse entendimento.

Para a 2ª Turma do STF, a posse ou o porte de munição configura crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa o resultado concreto da ação.

Existem precedentes da 5ª Turma do STJ e da 1ª Turma do STF no mesmo sentido:

O simples fato de portar munição de uso permitido configura a conduta típica prevista no art. 14 da Lei n.º 10.826/03, por se tratar de delito de mera conduta ou de perigo abstrato, cujo objeto imediato é a segurança coletiva. (HC 222.758/MS, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 20/03/2012) 1. Malgrado os relevantes fundamentos esposados na impetração, este Tribunal já firmou o entendimento segundo o qual o porte ilegal de arma de fogo desmuniciada e o de munições, mesmo configurando hipótese de perigo abstrato ao objeto jurídico protegido pela norma, constitui conduta típica.

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2. Desse modo, estando em plena vigência o dispositivo legal ora impugnado, não tendo sido declarada sua inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, não há espaço para o pretendido trancamento da ação penal, em face da atipicidade da conduta. (HC 178.320/SC, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 28/02/2012) 3. A conduta de portar arma de fogo desmuniciada sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar configura o delito de porte ilegal previsto no art. 14 da Lei nº 10.826/2003, crime de mera conduta e de perigo abstrato. 4. Deveras, o delito de porte ilegal de arma de fogo tutela a segurança pública e a paz social, e não a incolumidade física, sendo irrelevante o fato de o armamento estar municiado ou não. Tanto é assim que a lei tipifica até mesmo o porte da munição, isoladamente. Precedentes: HC 104206/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 1ª Turma, DJ de 26/8/2010; HC 96072/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, Dje de 8/4/2010; RHC 91553/DF, rel. Min. Carlos Britto, 1ª Turma, DJe de 20/8/2009. (HC 88757, Relator(a): Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 06/09/2011)

Maiores informações

Ficou na dúvida quanto à diferença entre os delitos de posse e porte de arma de fogo? Releia o INFORMATIVO Esquematizado 506 do STJ.

Processo Segunda Turma. HC 113295/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 13.11.2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR (obs: este julgado somente interessa para os concursos que exigem a matéria)

Competência

A prática de crime de estelionato por militar contra civil em local sujeito à administração castrense e com emprego de nota de empenho falsa em nome da Marinha caracteriza conduta

apta a causar dano, ainda que indireto, à credibilidade e à imagem das Forças Armadas, atraindo a competência da Justiça Militar.

Comentários O réu, militar da Marinha, apresentou-se fardado perante a vítima (civil), no estabelecimento comercial desta. Declarou falsamente representar o Comando do 1º Distrito Naval e obteve a vantagem indevida, a aquisição de aparelhos de sonorização, mediante a apresentação de nota de empenho falsa em nome da Marinha. As mercadorias foram entregues nas dependências do Distrito Militar. Os fatos configuraram o crime de estelionato do art. 251 do CPM. Embora não tenha havido dano patrimonial contra as Forças Armadas, trata-se de crime impropriamente militar, enquadrado na alínea “b” do inciso II do art. 9º do CPM, tendo o réu se aproveitado de sua condição de militar para praticá-lo, além de ter utilizado documento militar falsificado. Ademais, o delito consumou-se em local sob a administração castrense.

Crimes militares em tempo de paz Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

Processo Primeira Turma. HC 113177/RJ, rel. Min. Rosa Weber, 13.11.2012.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Julgue os itens a seguir: 1) (Promotor MP/ES – 2010) Segundo a jurisprudência do STJ, diante da literalidade dos artigos da Lei n.º

10.826/2003, relativos ao prazo legal para regularização do registro da arma, ocorreu abolitio criminis temporária em relação à posse ilegal de armas de fogo, munição e artefatos explosivos, praticada dentro desse período. ( )

2) O porte apenas da munição, ainda que desacompanhada da respectiva arma, configura crime. ( )

Gabarito

1. C 2. C