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Informativo publicado pelo Escritório Regional da EMATER/RS – Pelotas Redação e editoração: Mara Helena Saalfeld, Médica Veterinária Assistente Técnica Regional da EMATER Público alvo: Técnicos da EMATER e Produtores assistidos pela EMATER Edição 01 / agosto de 2006 Contatos: (053) 32 25 70 70 - [email protected] USO DE SILAGEM DE COLOSTRO COMO SUBSTITUTO DO LEITE NA ALIMENTAÇÃO DE TERNEIRAS LEITEIRAS. Mara Helena Saalfeld, Médica Veterinária Assistente Técnica Regional da EMATER Na maioria das explorações leiteiras do país a criação das terneiras é realizada de forma inadequada, uma vez que não se dispensam cuidados especiais com as fêmeas, e os machos são sacrificados ao nascimento. As terneiras recebem colostro durante três ou quatro dias de vida, passando então a serem alimentadas com leite integral. O leite tem alto valor biológico e econômico para os produtores e pela necessidade de sua comercialização a terneira passa a ser alimentada incorretamente. Na procura por produtos baratos que substituam o leite o produtor acaba tendo prejuízos no desenvolvimento de suas futuras vacas de leite. O leite ou substitutos do leite são os componentes mais caros no custo final da criação de terneiras leiteiras. Muitas vacas produzem colostro em quantidades acima da capacidade de ingestão da terneira,

Informativo Técnico Regional sobre Silagem de Colostro

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Page 1: Informativo Técnico Regional sobre Silagem de Colostro

Informativo publicado pelo Escritório Regional da EMATER/RS – PelotasRedação e editoração: Mara Helena Saalfeld, Médica Veterinária Assistente Técnica Regional da EMATERPúblico alvo: Técnicos da EMATER e Produtores assistidos pela EMATEREdição 01 / agosto de 2006 Contatos: (053) 32 25 70 70 - [email protected]

USO DE SILAGEM DE COLOSTRO COMO SUBSTITUTO DO LEITE NA ALIMENTAÇÃO DE TERNEIRAS LEITEIRAS.

Mara Helena Saalfeld, Médica VeterináriaAssistente Técnica Regional da EMATER

Na maioria das explorações leiteiras do país a criação das terneiras é realizada de forma inadequada, uma vez que não se dispensam cuidados especiais com as fêmeas, e os machos são sacrificados ao nascimento. As terneiras recebem colostro durante três ou quatro dias de vida, passando então a serem alimentadas com leite integral. O leite tem alto valor biológico e econômico para os produtores e pela necessidade de sua comercialização a terneira passa a ser alimentada incorretamente. Na procura por produtos baratos que substituam o leite o produtor acaba tendo prejuízos no desenvolvimento de suas futuras vacas de leite. Os níveis de substituição do leite in natura em sistemas de aleitamento está intimamente agregado ao custo comparado do produto substituinte, como sucedâneos à base de soja e soro de queijo (Germano,1992), ou colostro (Foley & Otterby, 1978).

Dada a impossibilidade de reduzir a idade de consumo do leite anterior há 6 semanas, realizaram-se ensaios para avaliar substitutos baratos do leite para estas primeiras semanas de vida, surgindo como alternativa o uso de silagem de colostro (Durán, 1988).

O Colostro é o sucedâneo que apresenta características nutritivas

“ O leite ou substitutos do leite são os componentes mais caros no custo final da criação de terneiras leiteiras. Muitas vacas produzem colostro em quantidades acima da capacidade de ingestão da terneira, e este excesso na maioria das propriedades é jogado fora ou usado para alimentação de suínos e cães.

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Informativo EMATER/RS – Pelotas

semelhantes ao leite, tendo boa disponibilidade, fácil armazenamento, e principalmente valor comercial nulo, havendo possibilidade de ser aproveitado na alimentação dos terneiros. O colostro difere do leite normal principalmente por sua alta concentração de proteínas, minerais, vitaminas, gordura, sólidos totais e cinzas. (Foley & Otterby, 1978). Em relação à proteína há uma variação do teor de 14% no colostro para 3,3% no leite, ao passo que o nível de lactose é ampliado de 2,7% a 4,9%.

A concentração de proteínas e sólidos totais diminui do primeiro dia de produção do colostro em relação ao terceiro dia, então existe a necessidade da identificação do dia de coleta do colostro. No período inicial de aleitamento foi utilizado colostro de primeiro e segundo dia de coleta e deixamos os coletados no terceiro e quarto dia para o período final de aleitamento.

O objetivo da criação correta das terneiras é a obtenção de um ganho de peso nos primeiros 6 meses de 550g/dia a 600g/dia para as terneiras, desta forma teremos condições de inseminar estas novilhas dos 14 aos 16 meses de idade com peso adequado de 250 e 350 Kg Jérseis e Holandesas respectivamente (Curso de gado Leiteiro CETAC-EMATER/RS).

Em experimentos realizados a média do ganho de peso dos animais alimentados com silagem de colostro no primeiro mês foi de 823 gramas por dia e no período de 6 meses foi de 667 gramas por dia, sendo superior aos dados de ganho de peso dos alimentados com leite integral observados em propriedades da região, no CETAC e apresentados na literatura. A economia por animal criado é de 200 litros de leite, que nos dias atuais representam R$ 88,00( Saalfeld M.H; et al, 2003).

Este ganho de peso se deve-se provavelmente aos maiores teores de proteínas e matéria seca presentes no

colostro que é em torno de 14% e 23,9 respectivamente contra 3,1% e 12,9% encontrados no leite (Foley & Otterby, 1978). A percentagem de proteínas e de matéria seca é maior que a encontrada no leite mesmo após a diluição do colostro em água. O colostro fermentado apresenta uma cor semelhante ao colostro fresco, tem odor ácido, agradável, semelhante a queijo, pode apresentar uma coagulação fina e tem um sabor bastante salgado. Após o período de fermentação ocorre uma separação da parte sólida e do soro do leite, existindo a necessidade da homogeneização da silagem de colostro para sua utilização.

Forma de fazer a SILAGEM DE COLOSTRO

Após alimentar a terneira colocar o excedente de colostro em garrafas plásticas bem limpas de 0,5 e 2 litros e fechar sem a presença de ar. Armazenar sem refrigeração, sem incidência do sol e deixar fermentar por um período de no mínimo 21 dias.

Forma de utilizar:

Após a fase inicial de três dias recebendo o colostro da mãe os terneiros podem receber a silagem de colostro.

Para utilizar a silagem diluí-la em igual quantidade de água ficando com 38°C.

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Existe a necessidade de acostumar os animais ao sabor da silagem de colostro, o que acontece quando introduzimos alimentos novos na alimentação dos animais. Neste trabalho acrescentou-se ao leite pequenas quantidades de colostro até que o animal passou a receber o colostro apenas diluído em água

Para acostumar as terneiras ao gosto da silagem procede-se da seguinte forma:

1º dia – 0,5 litros da mistura ( silagem + água) + 1,5 litros de leite

2º dia – 1,0 litros da mistura ( silagem + água) + 1,0 litros de leite

3º dia - 1,5 litros da mistura ( silagem + água) + 0,5 litros de leite

4º dia - Dar a mistura pura (silagem de colostro + água)

Provavelmente a não aceitação inicial deve-se ao sabor salgado do colostro, e isto acontece porque além do colostro ter uma quantidade maior de sais minerais que o leite a percentagem de lactose vai diminuindo conforme os dias de armazenamento, passando de 1,93% no colostro fresco para 0,09% em colostro com 45 dias de armazenamento (Durán 1988).

Tabela de Alimentação de Terneiras

IDADE

Raça Holandesa Raça Jersei

Leite ( Lts) ou Silagem de colostro Ração

Leite ( Lts) ou Silagem de colostro Ração

Manhã Tarde Manhã Tarde

24 horas Junto a vaca - Junto a vaca -

2º ao 14 dia 2,0 2,5 à vontade 1,5 2,0 à vontade

15º ao 60º dia - 3,5 à vontade - 3,0 à vontade

60º ao 180 dias à vontade à vontade

Até 2 Kg/dia Até 1,5/ Kg dia

Água à vontade a partir do 1º dia e pastagem a partir da 1ª semana

Além de um substituto eficiente, a silagem de colostro apresenta vantagens econômicas. O produtor gasta em torno de 208 litros de leite para alimentar corretamente uma terneira. Utilizando o colostro na alimentação este leite passa a ser vendido. Com um custo do leite de R$ 0,44 o produtor economiza por cada terneira criada o equivalente a R$ 88,00.

Atualmente todos os animais nascidos no CETAC são criados com silagem de colostro e esta recomendação é passada aos produtores que fazem o curso de Gado Leiteiro no CETAC, que já adotam esta tecnologia como mais uma alternativa de sustentabilidade em suas propriedades.

edição 01/ agosto 2006

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Informativo EMATER/RS – Pelotas

Literatura Citada

Apostila do Curso de Gado Leiteiro do CETACDurán, H. Uso de Colostro acidificado ou Silagem de Colostro na criação

de terneiras de raças leiteiras. La propaganda Rural 1988. Estação Experimental La Estanzuela CIAAAB, MGAP.

Foley, J. A. & Otterby, D.E.J. Dairy Sci.,Availability, storage, treatment, composition, and feeding value of surplus colostrums: a revive. Journal of Daity Science, v.61, p.1033-1060, 1978 Champpaing.,61:1033-10601978

Germano, J. L. Utilização de substitutos de leite a base de soja e soro de queijo na alimentação de bezerros. Lavras: Universidade Federal de Lavras, 1992. 95p. Dissertação de Mestrado em Zootecnia

Saalfeld M.H: Garcia,J.P.; Domingues, F.S.: Costa, G.M.; Medina,E.D. Uso de Silagem de Colostro como substituto do leite na alimentação de terneiras leiiteiras. No prelo 2003.

PublicaçãoA publicação deste informativo será mensal sempre contendo

informações consideradas importantes aos técnicos e produtores. Sugestões de temas poderão ser enviadas que sempre serão muito

bem vindas.Obrigada pela atenção.

Mara Helena Saalfeld

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