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1726 SILAGEM DE COLOSTRO Artigo 165 Volume 09 · Número 03 p.1816-1820 Maio/Junho 2012 Revista Eletrônica Nutritime, Artigo 165 v.9, n° 03 p.1816- 1830 – Maio/Junho 2012

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SILAGEM DE COLOSTRO

Artigo 165 Volume 09 · Número 03 p.1816-1820 Maio/Junho 2012

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SILAGEM DE COLOSTRO

Artigo 165 Volume 09 · Número 03 p.1816-1820 Maio/Junho 2012

SILAGEM DE COLOSTRO NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

Artigo Número 165

1Doutorandos do programa de Pós-graduação em Zootecnia da EV-UFMG, Brasil. e-mail: [email protected] 2Professor Adjunto, Departamento de Zootecnia, EV-UFMG, Brasil ³Mestrandos do programa de Pós-graduação em Zootecnia da EV-UFMG 4Pós-Doutoranda Zootecnia do programa de Pós-graduação em Zootecnia da EV-UFMG

Pedro Augusto Dias Andrade¹; Iran Borges²; Leonardo de Rago Nery Alves³; Veridiana Basoni Silva4; Nhayandra Christina Dias e Silva³;Hemilly Cristina

Menezes de Sá¹

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INTRODUÇÃO Devido aos altos valores

biológicos e econômicos do leite integral, a sua substituição na alimentação de ruminantes neonatos, por um produto de menor custo e níveis nutricionais semelhantes, tem constituído um desafio dentro dos sistemas de produção (Modesto et.al, 2002). O nível de substituição do leite in natura em sistemas de aleitamento está intimamente agregado ao custo comparado ao produto substituinte, como sucedâneos à base de soja e soro de queijo (Barreto, 1993), ou colostro (Foley e Otterby, 1978).

No entanto, a utilização de produtos desta natureza demonstra, em muitos casos, disparidades no desempenho dos animais em função das diferentes fontes e dos níveis da dieta líquida, em especial, quando se trata de sucedâneos comerciais, com menores digestibilidade da proteína, eficiência alimentar e ganho de peso, quando comparados ao leite integral (Vasconcelos et al., 1996).

O colostro constitui-se em um dos sucedâneos que mantém características nutritivas mais similares às do leite, tendo boa disponibilidade na propriedade a um valor comercial nulo (Modesto et al, 2002). Pela riqueza de seus constituintes, principalmente anticorpos, recomenda-se aos neonatos a ingestão do colostro, sendo o excedente produzido geralmente descartado devido à sua alta perecibilidade, tornando a armazenagem difícil, com quedas drásticas dos níveis nutricionais à medida que este envelhece (Muller et al., 1976).

Visando um melhor aproveitamento do colostro, Saalfeld et al. (2006) desenvolveram a silagem de colostro, processo onde ele é armazenado em garrafas de plástico, fermentado anaerobicamente por um período de 21 dias, sem refrigeração, e armazenado por período indeterminado.

Objetivou-se com esse seminário demonstrar as propriedades físicas e químicas da silagem de colostro bem como a sua utilização na alimentação de ruminantes neonatos.

REVISÃO DE LITERATURA

O colostro, secreção formada durante o terço final da gestação e expelida até o 5° dia pós-parto. É uma das fontes de nutrientes por excelência, contendo aproximadamente o dobro de sólidos totais, o dobro de energia contida presentes no leite integral (em torno de 1,16Kcal de energia bruta/g) e com conteúdo de proteínas quatro vezes maior, devido principalmente, às altas taxas de concentração de imunoglobulinas. As porcentagens de gordura, minerais e vitaminas também são superiores às do leite (FONTES, et al. 2007). Na tabela 1 está representada a composição do colostro após as sucessivas ordenhas comparada com a constituição do leite bovino integral.

Sua composição e características físicas variam, sendo em média o teor total de proteína de 14 para 3,2%, do primeiro ao décimo primeiro dia pós-parto, ao passo que o nível de lactose é ampliado de 2,7 a 4,9%. Reduções, neste período, são também observadas sobre os teores de gordura, sólidos totais e cinzas (Wattiaux, 1996).

O consumo de colostro é responsável por importantes mudanças na secreção de vários hormônios envolvidos no desenvolvimento, secreção e motilidade do sistema digestório. Possui substâncias fundamentais para a diferenciação e crescimento dos animais, com o fator de crescimento semelhante ao da insulina I e II, o fator de crescimento epidermal, o fator de crescimento transformador e o fator de crescimento nervoso, assim como os hormônios insulina, cortisol e tiroxina (FONTES, et al. 2007). Possui também uma alta concentração

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de lactoferrina, uma proteína que se liga ao ferro e exibe um amplo espectro de efeitos antimicrobianos, podendo ocasionar aumento no ganho de peso diário, maior ingestão de matéria seca do concentrado, e redução da idade ao desaleitamento (JOSLIN et al., 2002).

Trabalhos conduzidos com colostro visaram sua melhor adequação sob condições de armazenamento. Assim, poderia não somente ser fornecido in natura aos animais, mas também após determinado período de conservação, com o auxílio de congelamento, refrigeração ou fermentação (Foley & Otterby, 1978), sendo este último vantajoso em relação aos demais, por não exigir maiores dispêndios com equipamentos e energia elétrica. O colostro, quando é armazenado corretamente, em lugares frescos, dificilmente desenvolve odores (Kaiser, 1976; Rindsig & Bodosh, 1977; Jenny et al., 1977), e problemas quanto à aceitabilidade, advindos de quedas acentuadas no pH, principalmente em valores inferiores a 4,0, podem ser contornados pela adição, ao fornecimento, de agentes tamponantes, como bicarbonato de sódio (Eppard et al., 1982; Hodge et al., 1983; Jenny et al., 1984) ou benzoato de sódio (Jenny et al., 1977).

Saafeld et al. (2006) empregou o processo de fermentação anaeróbica para armazenar o colostro produzindo o que denominou de silagem de colostro. Na fermentação anaeróbica, ocorre a transformação da lactose em ácido lático, promovendo a queda do pH e impedindo o crescimento de microrganismos indesejáveis, o que contribui para a sua conservação. A silagem de colostro é produzida em garrafas plásticas que variam de 0,5 a 2,5 litros, com o completo preenchimento e fechamento sem a presença de ar, onde deve-se selar a tampa com cera ou parafina, para evitar entrada de ar, visando a melhor ocorrência da fermentação (Saalfed et al., 2006).

As garrafas devem ser identificadas e armazenadas em locais limpos, secos, sem incidência de raios solares e sem refrigeração durante 21 dias, tempo mínimo necessário para que ocorra a total fermentação do colostro. A identificação se faz necessária por motivo de concentrações de proteínas e demais constituintes do colostro, que vão se alterando ao passar dos dias. O tempo de armazenamento da silagem de colostro em garrafas depende das condições de armazenagem, não excedendo o período de dois anos. Temperaturas elevadas e exposição do material à luz podem acarretar em perda de palatabilidade e redução da aceitabilidade pelos animais. (Jenny et al., 1984; Lizieire e Campos, 1986). Sinais de mau cheiro, deterioração e consequentemente putefração são indicadores de perdas de material por mau acondicionamento ou tempo de armazenagem excedido. (Lizieire e Campos, 1986).

A silagem de colostro deve ser fornecida somente após a ingestão de colostro in natura pelo neonato nas primeiras 24 horas de vida, visando assim uma maior absorção de imunoglobulinas pelos animais. Após esse período, a silagem pode ser ofertada aos animais numa proporção de 1:1 de silagem de colostro e água aquecida a 50°C, para maior dissociação e redução da viscosidade do material ensilado (Saalfed et al., 2006).

Quando se oferece a silagem de colostro logo após o período de fornecimento do colostro na forma natural é esperado que não haja rejeição. Porém, em casos de consumo de leite pelos animais, pode haver a necessidade de adaptação dos mesmos à silagem, sendo esta realizada através do aumento gradativo da mistura em substituição ao leite integral (Saalfed et al., 2006). O emprego desta tecnologia em bezerros da raça Holandesa promoveu ganhos de peso médio de 823 gramas/dia no primeiro mês de vida e de 667 gramas/dia até os 6 meses de

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vida (Saafeld, 2008b), graças aos elevados teores de proteína e matéria-seca presentes no colostro quando comparados ao leite normal.

Avaliando o desempenho produtivo de 40 bezerros mestiços holandês x zebú, desmamados precocemente, alimentados com diferentes dietas liquidas associadas ou não a promotores de crescimento, Modesto et al (2002), concluiram que o fornecimento de colostro fermentado proporcionou melhores resultados para peso corporal e ganho de peso, quando comparado ao leite integral. O mesmo experimento contrariou os resultados observados por Campos et al. (1986), os quais concluíram que o colostro fermentado em temperatura ambiente e diluído na proporção 2:1 em água, apresentou problemas de aceitabilidade. Testando os mesmos fatores, porém, em 24 cabritos, Mancio et al. (2005), observaram que o colostro de vaca fermentado pode ser utilizado como fonte de substituição ao leite de cabra integral, sem alterar o tamanho dos órgãos dos animais; e que a adição de óleo de soja ao colostro fermentado estimulou o consumo de concentrado, proporcionando maior ganho de peso. Analisando o desempenho e rendimento de carcaça de bezerros

alimentados com colostro fermentado, associados ao óleo de soja e zeranol, Castro et al. (2004), observaram que o colostro fermentado proporcionou melhores resultados de peso corporal e ganho de peso quando comparado ao leite integral, mas semelhantes aos resultados com zeranol. Também promoveu maior ingestão de matéria seca em relação ao leite integral, o que resultou em desempenhos semelhantes para esses dois tipos de alimento. O tratamento com leite e zeranol resultou em maior peso de carne industrial e o com óleo de soja aumentou a proporção de gordura interna. Os mesmos autores concluem ainda que o colostro fermentado é uma boa opção para a recria de machos leiteiros e o efeito do zeranol sobre o ganho de peso é dependente da dieta dos animais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O colostro fermentado (silagem de colostro) pode representar uma importante alternativa dietética em nível de recria de animais.

Maiores estudos são necessários avaliando o desempenho de outras espécies com o mesmo.

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