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CESA – CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS ESPECIALIZAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA GESTORES DO SISTEMA ESTADUAL DE AGRICULTURA MÁRCIO DE ALCANTARA BAPTISTA VIABILIDADE E LIMITAÇÕES DA PRODUÇÃO DE VITELO TROPICAL A PARTIR DA PROPOSTA DE OPÇÃO DE RENDA PARA O PRODUTOR DE LEITE LONDRINA

MÁRCIO DE ALCANTARA BAPTISTA VIABILIDADE E … · Figura 5 – Silagem de colostro após fermentação ... Tabela 7 – Estimativa de despesas para ... mundial de leite com mais

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CESA – CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOSESPECIALIZAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA GESTORES DO

SISTEMA ESTADUAL DE AGRICULTURA

MÁRCIO DE ALCANTARA BAPTISTA

VIABILIDADE E LIMITAÇÕES DA PRODUÇÃO DE VITELO TROPICAL A PARTIR DA PROPOSTA DE OPÇÃO DE

RENDA PARA O PRODUTOR DE LEITE

LONDRINA

2011

11

MÁRCIO DE ALCANTARA BAPTISTA

VIABILIDADE E LIMITAÇÕES DA PRODUÇÃO DE VITELO TROPICAL A PARTIR DA PROPOSTA DE OPÇÃO DE

RENDA PARA O PRODUTOR DE LEITE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Especialização em Administração Pública para Gestores do Sistema Estadual de Agricultura, do Departamento de Administração da UEL, como requisito final para obtenção do título de Especialista.

Orientador: Prof. Ms. João Massarutti

LONDRINA2011

MÁRCIO DE ALCANTARA BAPTISTA

VIABILIDADE E LIMITAÇÕES DA PRODUÇÃO DE VITELO TROPICAL A PARTIR DA PROPOSTA DE OPÇÃO DE

RENDA PARA O PRODUTOR DE LEITE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Especialização em Administração Pública para Gestores do Sistema Estadual de Agricultura, do Departamento de Administração da UEL, como requisito final para obtenção do título de Especialista.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________

Prof. Ms. João MassaruttiUniversidade Estadual de Londrina

____________________________________Prof. Dr. Sidnei Nascimento

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________Prof. Dr. Luiz Antonio Felix

Universidade Estadual de Londrina

Londrina, _____de ___________de _____.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................10

1.1 OBJETIVOS.... 14

1.1.1 Objetivo Geral....................................................................................................14

1.1.2 Objetivo Especifico.............................................................................................14

1.1.2 Justificativa....................................................................................................... 14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...............................................................................15

2.1 SISTEMA DE PRODUÇÃO DO VITELO TROPICAL...................................................................16

2.1.1 Fase de Aleitamento..........................................................................................17

2.1.2 Fase de Terminação..........................................................................................18

2.1.3. Formulação da Mistura Concentrada (Fase de Aleitamento) e do Suplemento

(Fase de Terminação).................................................................................................20

2.1.4. Mercado e Qualidade de Carne........................................................................21

2.1.5. Manejo Sanitário..............................................................................................23

2.1.5.1. Procedimentos sanitários preventivos ..........................................................23

2.1.5.1.1 Vacinação..............................................................................................................................

23

2.1.5.2. Procedimentos sanitários curativos...............................................................24

2.1.6 Instalações.........................................................................................................25

2.2 SILAGEM DE COLOSTRO...............................................................................................26

2.2.1 Coleta e Processamento da Silagem de Colostro.............................................27

3 METODOLOGIA......................................................................................................31

3.1 CLASSIFICAÇÃO GERAL DA PESQUISA..............................................................................31

4 APRESENTAÇÃO E ANALISE DOS DADOS........................................................33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES..........................................................41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................42

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Comparação entre cortes de bovinos adultos (superior) e vitelo (inferior)

....................................................................................................................................22

Figura 2 – Animais em aleitamento, presença de cochos de ração e água, em

casinhas de estilo tropical..........................................................................................25

Figura 3 – Animais em confinamento (Fase II).........................................................26

Figura 4 – Preparo da silagem de colostro...............................................................28

Figura 5 – Silagem de colostro após fermentação....................................................28

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Esquema do fornecimento de alimento a partir da 6ª semana...............19

Tabela 2 – Estimativa do consumo de alimento sólido na fase de terminação para

atingir peso de abate..................................................................................................19

Tabela 3 – Composição de algumas carnes.............................................................23

Tabela 4 – Despesas para construção de dez abrigos individuais para vitelos.......33

Tabela 5 – Despesas para construção do abrigo coletivo para dez vitelos..............34

Tabela 6 – Cálculos de depreciação das instalações por ciclo produtivo.................34

Tabela 7 – Estimativa de despesas para produção de dez vitelos tropical na fase I

utilizando leite fresco como parte da alimentação.....................................................35

Tabela 8 – Estimativa de despesas para produção de dez vitelos tropical na Fase I

utilizando silagem de colostro em substituição ao leite fresco..................................36

Tabela 9 – Adaptação de bezerros para fornecimento de silagem de colostro........37

Tabela 10 – Estimativa de despesas para a fase II de produção de um lote com dez

vitelos tropical.............................................................................................................38

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Parâmetro de comparação coleta em latões e coleta granel do leite de

uma cooperativa ........................................................................................................11

Quadro 2 – Composição da mistura concentrada (Nutrientes na matéria seca)......20

Quadro 3 – Suplemento (nutrientes na matéria seca)..............................................20

Quadro 4 – Composição do colostro em diferentes períodos expresso em %........27

BAPTISTA, Márcio de Alcântara. Viabilidade e limitações da produção de vitelo tropical a partir da proposta de opção de renda paro o produtor de leite. 2011. 46 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.

RESUMO

O objetivo do trabalho foi o de avaliar a viabilidade econômica e limitações da utilização do vitelo tropical como fonte de renda para o produtor de leite. Estima-se que todos os anos milhares de bezerros são descartados em propriedades produtoras de leite desprezando-se uma fonte potencial de renda. Apesar do alto potencial genético dos bezerros machos leiteiros, estes animais são muitas vezes descartados por apresentarem elevado custo de criação e reduzido valor comercial para atividade leiteira, haja visto que grande parte dos rebanhos não utiliza touros para fertilizar as vacas e sim técnicas de inseminação artificial. O vitelo tropical é caracterizado como um vitelo pesado, alimentado com dieta predominantemente sólida, respeitando a fisiologia do animal, e abatido com seis a oito meses de idade, produzindo alimento de qualidade para o ser humano. As principais dificuldades na criação destes animais são os gastos com o aleitamento e comercialização com preço diferenciado. Verificou-se neste trabalho que a lucratividade da produção de vitelos pode chegar a 91% sobre os custos de produção, viabilizando a atividade na propriedade produtora de leite. A lucratividade pode ser elevada caso a propriedade disponha de mão-de-obra familiar para ser utilizada nas atividades produtivas, ou em casos onde o produtor possa utilizar alimento alternativos de menor custo. Pode-se observar que as maiores despesas foram com alimentação, chegando a 97%, na fase I o leite foi responsável por 70% das despesas, já na fase II o milho representou 49,56% dos gastos. A utilização da silagem de colostro como alternativa para a substituição do leite na fase de aleitamento dos bezerros pode reduzir em 51,53% as despesas nesta fase.

Palavras-chave: Vitelo tropical. Produção. Silagem de colostro. Viabilidade. Mercado.

BAPTISTA, Márcio de Alcântara. Feseability and limitation of calf prodution from tropical to the proposed income option stop the milk producer. 2011. 46 f. End of Course Work – State University of Londrina, Londrina, 2011.

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate the economic feasibility and limitations of using the calf rain as a source of income for dairy farmers. It is estimated that every year thousands of calves are dropped into milk-producing farms ignoring a potential source of income. Despite the high genetic potential of male dairy calves, these animals are often discarded because of high cost of creating and reduced commercial value to dairy farming, given the fact that most livestock do not use bulls to fertilize the cows, but artificial insemination techniques . The calf is characterized as a tropical heavy calf, fed predominantly solid, respecting the physiology of the animal, and slaughtered at six to eight months old, producing quality food for humans. The main difficulties in creating these animals are spending on feeding with differential pricing and marketing. There was this work that the profitability of producing calves can reach 91% of production costs, enabling the activity in the dairy farm. Profitability can be increased if the property available for labor, family labor to be used in productive activities, or in cases where a producer can use lower-cost alternative food. It can be observed that the largest expenses were for food, reaching 97% in Phase I milk was responsible for 70% of expenditure in the phase II corn represented 49.56% of expenditures. The use of silage as an alternative to colostrum substitute milk during suckling calves can reduce 51.53% of expenditure in this phase.

Key words: Calf tropical. Production. Silage colostrum. Viability. Market.

10

1. INTRODUÇÃO

A pecuária leiteira nasceu no Brasil em 1532, quando a expedição

de Martim Afonso de Souza trouxe da Europa os primeiros bois e vacas para a

colônia portuguesa, precisamente para a vila de São Vicente. Nestes quase cinco

séculos de existência, a atividade caminhou lentamente, sem grandes evoluções

tecnológicas (RUBEZ, 2003).

Desde o seu surgimento a pecuária leiteira no país sempre foi

caracterizada pela baixa produtividade dos fatores de produção (terra, mão-de-obra

e capital). Essa característica, somada à alta sazonalidade da oferta, e a falta de

qualidade do leite, colocava o país na lista dos atrasados em produção leiteira. A

grande mudança no cenário da produção leiteira começou a ocorrer em 1997,

quando as grandes indústrias de laticínios, pressionadas pelas novas legislações,

passaram a incentivar efetivamente o processo de resfriamento do leite na

propriedade e o seu transporte a granel. (NETTO & GOMES, 2010).

Segundo Nero et al (2005) apenas em meados da década de

noventa o Ministério da Agricultura do Brasil iniciou uma discussão, envolvendo os

setores científicos e econômicos do setor leiteiro, buscando alternativas para

melhorar a qualidade do leite produzido no país. Essa discussão resultou na Portaria

nº 166, que estabeleceu um grupo de trabalho para analisar e propor um programa

de medidas visando o aumento da competitividade e a modernização do setor

leiteiro. Esse grupo desenvolveu uma versão do Programa Nacional de Melhoria da

Qualidade do Leite (PNMQL), este projeto foi submetido a consulta pública pela

Portaria nº 56.

A versão definitiva das novas normas de produção leiteira foi

publicada na Instrução Normativa nº 51, de 18 de setembro de 2002, que determina

novas normas na produção, identidade e qualidade de leites tipos A, B, C,

pasteurizado e cru refrigerado, além de regulamentar a coleta de leite cru refrigerado

e seu transporte a granel.

Outro incentivo à modernização da produção leiteira no Brasil

ocorreu em 2003, pela Resolução nº 3088, que aprovou financiamento de

equipamentos de resfriamento e coleta a granel para produtores de leite.

Ente os maiores detentores de tecnologia para coleta

processamento e industrialização do leite no país temos as cooperativas, união de

produtores que facilita na aquisição de insumos e tecnologias além de auxiliar na

comercialização de produtos da empresa rural. No quadro a seguir pode ser

observado que mesmo após quase cinco séculos do inicio da pecuária leiteira no

Brasil, até meados da década de noventa, os grandes “detentores de tecnologia”

coletaram leite em latões, sem qualquer tipo de refrigeração. Este quadro mostra a

fragilidade tecnológica da pecuária leiteira.

Fonte: Fonseca (2001)

Segundo dados disponibilizados pela Embrapa (2009), a produção

leiteira apresentou aumento de 40% nos últimos 10 anos. Em 2010 a produção

brasileira de leite foi de 30,6 bilhões de litros (IBGE, 2010), representando um

aumento de 5% quando comparado ao ano de 2009.

Segundo o Rubez (2011) este crescimento na produção foi auxiliado

pelo aumento da demanda ocasionado pelo crescimento da renda do consumidor

fazendo com que o consumo por habitante/ano aumentasse 4,55% de 2009 para

2010, alcançando valores de 161 litros por pessoa.

O Brasil possui o terceiro maior rebanho leiteiro do mundo com

aproximadamente 17 milhões de vacas e também o sexto lugar em produção

mundial de leite com mais de 30 bilhões de litros/ano, ficando atrás dos Estados

11

Unidos, União Européia, China, Rússia e Índia (Anualpec, 2009).

Segundo Rubez (2003) o Brasil tem todas as condições ideais para

alcançar a maior plataforma mundial de produtora e exportadora de leite, seja qual

for o sistema de produção. Temos 2 mil horas/luz/ano que auxiliam na produção

agrícola ou seja, na produção de alimentos para os animais, contra mil horas do

hemisfério norte. Temos também, 100 milhões de hectares agriculturáveis e ainda

virgens, 20% das reservas de água doce do mundo, o maior rebanho bovino do

planeta, e, uma grande vontade de crescer.

A pecuária leiteira é de fundamental importância social para os

brasileiros, tendo em vista que a atividade participa na formação da renda de grande

número de produtores, além de ser responsável por elevada absorção de mão-de-

obra rural, propiciando a fixação do homem no campo (CAMPOS, 2007).

Com a mudança no perfil do setor leiteiro no Brasil, bem como o

emprego de tecnologias para aumentar a eficiência da exploração leiteira, cresce o

número de animais machos, que podem ser destinados ao abate e cuja carne entra

como fonte alternativa de renda, sobretudo para pequenos e médios produtores de

leite que podem agregar valor a um produto antes rejeitado (RIBEIRO, 1997).

A utilização de machos leiteiros para a produção de carne é comum

nos mercados da América do Norte e principalmente da Europa. O vitelo pode ser

caracterizado pelo sistema de alimentação, que se dividem basicamente em dois

tipos:

I – Animais alimentados exclusivamente com leite e sucedâneos até

o abate, para produção de carne branca;

II - Animais alimentação com leite e posteriormente com

concentrados e fenos, com teores mínimos de ferro presentes na dieta, para

produção do vitelo róseo (LUCCI, 1989). Em que se enquadra o vitelo tropical.

O Vitelo Tropical é um pesado, alimentado com dieta

predominantemente sólida, respeitando a fisiologia do animal, e abatido com seis a

oito meses de idade, produzindo alimento de qualidade. (CODAGNONE, 2008)

Todos os anos milhares de bezerros machos são sacrificados nas

principais bacias leiteiras do país. De maneira geral, os produtores sacrificam ou

vendem estes bezerros a preços muito baixos, para fins industriais, resultando em

prejuízo na atividade. Quando permanecem no rebanho, são criados sob condições

precárias de manejo e de alimentação, o que leva a altas taxas de mortalidade e

12

morbidade, sendo os sobreviventes desmamados fracos e subdesenvolvidos, o que

tem levado tal prática a ser considerada antieconômica.

Os machos de raças leiteiras mais apuradas, apesar de

apresentarem grande potencial para ganhar peso, são muito exigentes em nutrição e

questões sanitárias e desta forma, não conseguem se adaptar às condições rústicas

de um sistema de criação extensivo (LUCCI, 1989).

Grande parte dos bezerros produzidos por vacas leiteiras são

resultado de uma ou mais inseminações artificiais ao custo médio de R$ 12,00 e

concorrem com as fêmeas por área, alimento e manejo (TOLEDO, 2001), além dos

gastos com a manutenção da gestação da vaca (mão de obra, alimentação,

medicamentos, entre outros) .

A maior rentabilidade da atividade de criação do vitelo depende do

oferecimento de instalações e manejo nutricional adequados, procupando-se com as

questões de bem-estar-animal, em especial nas regiões de clima tropical,

principalmente ao se tratar de raças leiteiras especializadas, originárias da Europa.

(ROMA JUNIOR, 2004)

Para que a criação desses animais seja viabilizada é fundamental

diferenciar a sua carne daquela de bovinos maduros, aumentando o seu valor de

venda e derrubando as barreiras culturais que inibem a sua comercialização

(FELLET, 2000), mas também há que se reduzir ao máximo o custo de produção.

De acordo com Dias e Resende (2006) só no estado de São Paulo

existe potencial para produção de 170 mil bezerros machos por ano. Grande parte

do rebanho brasileiro é composta de animais mestiços, com potencial para produção

de vitelos. Em contrapartida, são poucas as pesquisas com intuito da comprovação

deste potencial.

Sendo assim, pesquisas que envolvam a produção de vitelos

provenientes de rebanhos puros ou mestiços são necessárias, tendo em vista que a

maioria do rebanho leiteiro nacional é de origem mestiça, e pode apresenta menores

exigências em nutrição, ambiente e sanidade quando comparados a animais

europeus puros (ROMA JUNIOR, 2004).

Diante do exposto, indaga-se:

É viável para o produtor de leite utilizar o macho leiteiro para a

produção do vitelo tropical?

13

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Avaliar a viabilidade da produção de vitelo tropical, bem como

apresentar as limitações deste sistema, como alternativa de renda para o produtor

de leite.

1.1.2 Objetivos Específicos

• Reunir informações sobre o manejo sanitário, produtivo e

comercialização do vitelo tropical.

• Apresentar análise econômica da produção do vitelo tropical.

• Sugerir o uso de alimentos como alternativa para a redução de

custos na produção do vitelo tropical.

1.2 JUSTIFICATIVA

Grande parte do leite produzido no Brasil é originado de pequenas

propriedades rurais, fruto do trabalho familiar, onde a rentabilidade da atividade nem

sempre é suficiente para o sustento. Além disso, a producão leiteira, assim como

outros ramos da agropecuária, é influenciada por inúmeros fatores econômicos e

climáticos, gerando insegurança econômica ao produtor.

Esse estudo se propõe a avaliar a utilização do bezerro macho

leiteiro para a produção de carne, diversificando a atividade produtiva trazendo uma

alternativa de renda para a agropecuária familiar.

14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O vitelo tropical é resultado de projeto dirigido pelo setor de

produção animal do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), destinado a

produtores de leite, este projeto tem como objetivo viabilizar o aproveitamento do

bezerro macho de origem leiteira.

A utilização destes animais além de disponibilizar ao consumidor

carne de alta qualidade, com menor teor de ácidos graxos saturados, permite aos

produtores gerar renda a partir dos bezerros que são abatidos entre seis e oito

meses de idade, com aproximadamente 200 quilos de peso vivo.

Diferente dos vitelos de carne branca, que são animais criados em

baias individuais sem exposição ao sol consumindo dieta líquida ferro privada

baseada em sucedâneos de leite, o vitelo tropical é criado em piquetes coletivos,

são abatidos mais pesados com 170 a 220 kg e recebem dieta predominantemente

sólida (concentrados + feno). Por este motivo produzem carne rosada de alta

qualidade, macia, magra e suculenta, além do menor custo de produção. (TOLEDO

& PETRIN, 2001).

O vitelo tropical apresenta maiores perspectivas de produção no

Brasil, tanto pelos aspectos humanitários da criação que isentam seus produtores de

pressões por parte de entidades protetoras dos animais, quanto pelo hábito

alimentar da população, já que os animais apresentam carne parecida com a dos

bovinos adultos e também, apresentam menores custos de produção (CALDAS,

2003).

Fato é que esses bezerros são animais caracterizados por

apresentarem elevadas exigências em nutrição, manejo e sanidade. Como a criação

desses animais requer aleitamento artificial e generosa suplementação concentrada,

isso repercute em aumento nos custos da atividade e em função desses e outros

fatores, a criação dos mesmos para a produção de carne se torna um grande

desafio e a maioria dos produtores acaba optando pelo seu descarte logo ao

nascimento (CAMPOS et al., 1996).

Em um país como o Brasil que possui um plantel bovino de cerca de

205 milhões de cabeças (IBGE, 2003) criadas em sua maioria, quase que

15

exclusivamente em pasto, é muito difícil viabilizar a engorda desses machos em

condições economicamente competitivas com os tradicionais bovinos de ciclo longo.

Para que a criação desses animais seja viabilizada é fundamental

diferenciar a sua carne daquela de bovinos maduros, aumentando o seu valor de

venda e derrubando as barreiras culturais que inibem a sua comercialização

(FELLET, 2000), mas também há que se reduzir ao máximo o seu custo de

produção.

A indústria de processamento de carne de vitelo é um importante

segmento da economia agrícola em diversas áreas dos Estados Unidos.

Anualmente, 800 mil bezerros são utilizados em sistema de criação de vitelos róseos

(Smith et al., 1999). Porém, o consumo de carne de vitelo por ano nos Estados

Unidos está em aproximadamente 0,22 kg/ habitante, ao passo que o de carne

bovina é de 29,8 kg/ habitante (LAWRENCE, 2004).

Embora a carne de vitelo seja considerada por alguns autores como

magra e com baixo teor de colesterol, ou seja, uma carne “saudável” existem ainda

algumas barreiras quanto ao consumo da mesma no país (FELLET, 2000). Talvez a

primeira seja a econômica, já que se trata de uma carne mais cara, mas há também

a barreira cultural, uma vez que o vitelo de carne branca não apresenta o sabor

característico da carne bovina consumida pela população e requer o preparo

especial de culinárias finas (ALMEIDA JUNIOR, 2005).

2.1 SISTEMA DE PRODUÇÃO DO VITELO TROPICAL.

Ao desenvolver o projeto os pesquisadores Dr. Humberto C. V.

Codagnone e Dr. José A. C. Lançanova, juntamente com os demais integrantes da

equipe de produção animal do Instituto Agronômico do Paraná, dividiram a produção

do vitelo tropical em três fases, sendo as duas primeiras produtivas e a terceira fase

de comercialização.

1ª – Aleitamento;

2ª – Terminação;

3ª – Comercialização.

16

2.1.1 Fase de Aleitamento

Período compreendido entre o nascimento até a 5ª ou 8ª semana de

vida, dependendo do desenvolvimento do bezerro.

O plano de aleitamento prevê o fornecimento de leite duas vezes ao

dia. Pesquisas recentes mostraram que fornecer a quantidade diária total de leite em

uma única vez pode resultar em excelentes taxas de ganhos de peso, reduzindo por

outro lado o custo com a mão de obra. Deve levar-se em conta, no entanto, que os

bezerros são especialmente sensíveis ao nível de manejo e que se desenvolvem

mais saudáveis quando monitorados frequentemente. No caso de usar sucedâneo

do leite, o mesmo deve obrigatoriamente ser fornecido duas vezes ao dia

(CODAGNONE, 2008).

O Colostro é a secreção produzida pelas vacas por

aproximadamente cinco dias após o parto. Essa secreção é rica em nutrientes e

imunoglobulinas, tornando a ingestão do colostro um dos pontos mais importantes

da produção do bezerro, uma vez que eles não possuem anticorpos no organismo e

a primeira imunização com imunoglobulina é feita de forma passiva pela ingestão do

colostro (RIBEIRO, et. al 1983).

Nesta fase são comuns os problemas advindos da má imunização

por baixa ingestão de colostro ou exposição espoliativa a endo e ectoparasitas, o

que irá incorrer em elevados índices de morbidez e mortalidade (ALMEIDA JUNIOR,

2005). Normalmente os machos, por não apresentarem o valor comercial das

fêmeas nos rebanhos leiteiros especializados, são mais susceptíveis a problemas

nessa fase por terem pouca ou nenhuma ingestão de colostro, o que aumenta

excepcionalmente os riscos de doenças e mortalidade nestes animais (MACHADO

NETO et al., 2004). Isto se torna um grande problema para o produtor que desejar

especializar-se na produção de vitelos e que venha a adquirir bezerros de outros

planteis.

Apesar de toda a importância do leite nesta fase inicial de vida, seu

fornecimento deve ser proibitivo, pois o fornecimento do leite implica em subtração

da principal fonte de receita de uma propriedade leiteira (ALMEIDA JUNIOR, 2005).

Além da dieta liquida, os bezerros devem ser estimulados o mais

17

cedo possível ingerirem alimentos concentrados já que este consumo é o fator mais

importante para que o animal desenvolva o seu rúmen e respectiva flora microbiana,

saindo da fase de pré-ruminante e passando a ruminante, de modo a permitir que o

mesmo seja desaleitado precocemente (ANDERSON et al., 1987).

Codagnone (2008) sugere o fornecimento ad libitum de alimento

concentrado com 18% de proteína e no máximo 200mg de ferro/kg, em baias

individuais, evitando competição com outros bezerros e que estes venham a sugar

um ao outro, devido a restrição láctea.

A partir do momento em que o bezerro estiver se desenvolvendo

satisfatoriamente e consumindo 800 a 1000 gramas de mistura concentrada por dois

dias consecutivos deve ser desmamado e transferido para as instalações de

terminação, passando a receber nova dieta, sendo aconselhado um período

pequeno de adaptação a essa nova situação.

Esta adaptação consiste na redução gradativa do leite oferecido aos

animais, forçando o bezerro a ingerir maior quantidade de alimentos sólidos evitando

que ele entre em balanço energético negativo, pela redução do consumo de leite.

2.1.2 Fase de Terminação

Nesta fase o bezerro pode ser mantido em grupos de 5 a 10

animais, reservando-se uma área de 3,0 m2 por animal em instalações fechadas.

Áreas a céu aberto criam uma condição de grande conforto para o animal, mas

podem ocorrer problemas com ectoparasitas (carrapatos, bernes, mosca-do-chifre) e

endoparasitas. Estes problemas podem ser contornados consultando-se um

veterinário para definir estratégias apropriadas de ação (CODAGNONE, 2008)

Quando mantidos em áreas a céu aberto, os animais devem dispor

de abrigos para protegê-los das intempéries. Estes abrigos não necessitam ser

dispendiosos, mas simples e funcionais e construídos com materiais rústicos.

Até a 14ª semana de vida, cada animal recebe uma mistura de 3

partes de milho em grão + 1 parte de suplemento com 32 % de proteína na matéria

seca e feno de gramínea (tifton 85, coast-cross).

Esta mistura de grãos é oferecida duas vezes ao dia, na base de

aproximadamente 2,5% do peso vivo do animal. O feno pode ser oferecido uma vez

18

ao dia e colocado em local apropriado (fenil ou similar) para ser consumido à

vontade, sendo preferível, no entanto, oferecê-lo picado grosseiramente em mistura

completa junto com os alimentos concentrados nas proporções (Tabela 1).

Fonte: Codagnone (2008).

A partir da 15ª semana, o animal passa a receber 4 partes de milho

e 1 parte de suplemento, sendo o milho em ambas as situações fornecido na forma

de grãos inteiros. As quantidades de milho e de suplemento são reajustadas

semanalmente, enquanto a quantidade de feno pode ser reajustada a cada cinco

semanas (Tabela 2).

19

Fonte: Codagnone (2008)

Esse procedimento implica em variações nas proporções constantes

da Tabela 1, mas facilita em termos práticos o processo de alimentação dos animais.

O comedouro para fornecimento dos alimentos deve ser bem dimensionado para

garantir acesso a todos os animais do lote, e pode ser fabricado com tabuas ou

tambores plásticos cortados ao meio.

2.1.3 Formulação da mistura concentrada (fase de aleitamento) e do suplemento

(fase de terminação).

Um grande número de alimentos pode ser utilizado para a

formulação da mistura concentrada e do suplemento. Devendo, no entanto, serem

respeitados os valores constantes nos Quadro 2 e 3, para as fases I e fase II,

respectivamente.

Quadro 2 – Composição da mistura concentrada (nutrientes na matéria seca).

20

Total

Fonte: Codagnone (2008)

Quadro 3 – Suplemento (nutrientes na matéria seca)

Fonte: Codagnone (2008)

2.1.4 Mercado e Qualidade de Carne

Ao se tratar do mercado da carne de vitelo, não se pode deixar de

ressaltar a importância da qualidade da carne, por este motivo estes dois topicos

serão abordados conjuntamente.

O Brasil não tem tradição na produção de carne de vitelo; inclusive,

o termo “vitelo” tem sido desprovido de identidade tanto para produtores quanto

consumidores e é genericamente usado para descrever diversos tipos de animais

abatidos jovens. Mesmo no Sistema Nacional de Tipificação de Carcaças Bovinas

(Portaria 193/84), o vitelo é apenas descrito como o bovino (macho ou fêmea)

abatido com até 12 meses (ALMEIDA JUNIOR, et al. 2008).

Segundo Ribeiro, et al. (2001) no país existe demanda de carne

bovina de qualidade, de forma que os produtores de leite cujas propriedades estão

localizadas nas proximidades de grandes centros consumidores poderiam se

21

estruturar para estabelecer sistemas de produção desta natureza.

De acordo com Caldas (2003) a carne de vitelos é responsável por

grande parte da carne bovina consumida em muitos países europeus, norte-

americanos e asiáticos que são importadores tradicionais de carne convencional, in

natura ou industrializada brasileira. Segundo o autor, a carne de vitelo pode tornar-

se uma opção a mais de oferta tanto para o consumidor doméstico quanto para o

mercado externo por ser muito macia e possuir menor teor de gordura, o que a

classifica como carne “light”, nobre e saudável .

Em levantamento realizado pela Coordenadoria de Desenvolvimento

Agropecuário do Estado de São Paulo, verificou-se um potencial muito grande para

a criação de bezerros machos. Cerca de 170 mil animais/ano poderiam resultar na

produção de aproximadamente 11 mil toneladas de carne de vitelo, gerando uma

receita estimada em R$ 54 milhões (Dias & Resende, 2006)

Um dos grandes entraves na comercialização do vitelo tropical, sem

duvida é a cobertura de gordura sobre a carcaça, ponto este que esta intimamente

ligada ao teor energético da dieta e capacidade genética do animal em depositar

gordura precocemente.

Segundo Restle et al. (1999), dois pontos são particularmente

importantes quando se busca a produção do novilho super precoce: o peso de abate

e o grau de acabamento da carcaça. O peso de carcaça normalmente buscado

pelos frigoríficos é acima de 230 kg. No entanto, carcaças com menor peso (acima

de 180 kg) estão sendo gradativamente aceitas pelos açougues e supermercados,

que estão associando pesos mais leves de carcaça como sendo de animais mais

jovens e, portanto, carne de melhor qualidade.

O ponto crítico é a espessura de gordura de cobertura da carcaça,

que deve ser acima de 3 mm e no máximo 6 mm (RESTLE et al., 1999). A

espessura de gordura tem importância para proteger as carcaças de efeitos

prejudiciais do resfriamento intenso e brusco ao qual as carcaças são submetidas

nos frigoríficos. Abaixo de 3 mm ocorre o escurecimento da parte externa dos

músculos que recobrem a carcaça, depreciando o seu valor comercial, aumenta a

quebra ao resfriamento, em função da maior perda de água com consequente

desidratação, e pode ocorrer o encurtamento das fibras musculares pelo frio,

prejudicando a maciez da carne (LAWRIE, 1981).

A carne do Vitelo Tropical tem uma cor rosada (Figura 1).

22

Restaurantes sofisticados constituem um mercado potencial para este tipo de carne.

Ela pode fazer parte de regimes dietéticos que recomendem consumo de carne

magra. Neste particular, a carne do Vitelo Tropical rivaliza, com vantagem, com

outras carnes (Tabela 3).

Figura 1 – Comparação entre corte de bovinos adulto (superior) e vitelo (inferior)Fonte: Imagem fornecida por José A. Cogo Lançanova

Tabela 3 – Composição de algumas carnes

Fonte: Codagnone (2008)

2.1.5 Manejo Sanitário

Manejo sanitário é um conjunto de medidas cuja finalidade é

proporcionar aos animais ótimas condições de saúde, visando evitar, eliminar ou

23

reduzir ao máximo a incidência de doenças no rebanho. Os procedimentos

relacionados à sanidade dos animais podem ser subdivididos basicamente em dois:

os de caráter preventivo e os de caráter curativo (LANGONI, 2001).

2.1.5.1 Procedimentos sanitários preventivos

Os procedimentos sanitários preventivos estão relacionados a

aplicação de medidas profiláticas como vacinações e vermifugações sistemáticas,

medidas de higiene e assepsia, isolamento dos animais doentes, exames de fezes,

entre outras (LANGONI, 2001).

2.1.5.1.1 Vacinações

• Contra clostridioses (vacina polivalente) – 2 doses com

intervalos de 30 dias (14 e 45 dias de idade)

• Contra pneumenterite – 14 e 45 dias de idade.

• Contra aftosa – De acordo com a legislação em vigor.

• Ecto e endoparasitas – Consultar veterinário da região sobre

as medidas mais adequadas.

• Acidose – Devem ser tomadas providências para evitar a

ocorrência de acidose, possível neste tipo de dieta com alta

quantidade de alimentos concentrados. Entre outros

problemas, a acidose pode determinar a morte súbita dos

animais. As providências mais comuns seriam as seguintes:

• Não fornecer os alimentos concentrados separadamente, mas

sim em mistura completa com o feno (milho + suplemento +

feno).

• Alimentar os animais sempre nos mesmos horários

• Fornecer a ração duas ou mais vezes ao dia

24

• Conservar os bebedouros e a água limpos

• O suplemento deve ser bem balanceado (Tabelas 3 e 4)

• Dimensionar os cochos (comedouros) de forma a garantir

acesso, sem competição, a todos os animais do lote.

2.1.5.2 Procedimento sanitários curativos

Os procedimentos sanitários curativos relacionam-se com as

medidas a serem tomadas imediatamente quando à constatação de problemas,

como doenças, traumatismos, deficiências nutricionais e intoxicações. Neste

procedimento devemos contabilizar os gastos com os medicamentos, além do risco

de morte do animal (LANGONI, 2001).

• Diarreias brandas – Reduzir a quantidade de leite durante

dois ou três aleitamentos. Para casos mais severos, interromper o fornecimento de

leite por duas ou três refeições e substituir um aleitamento inteiramente com água

aquecida contendo 110 g de xarope de milho (karo), 7,5 g de bicarbonato de sódio,

30 g de sal comum em 4,5 litros de água.

• Diarreias severas – Brancas ou sanguinolentas, contínuas

com alta temperatura, perda de apetite e olhos fundos. Chamar o veterinário e

manter o animal isolado dos demais, tomando as medidas de higiene cabíveis.

2.1.6 Instalações

As instalações têm por objetivo, oferecer conforto ao animal e

permitir que ele expresse seu potencial de produção. Devem ser construídas e

planejadas com a finalidade principal de diminuir a ação direta do clima, que pode

agir negativamente no desempenho dos animais (SEVEGNANI et al., 1994).

Para a produção do vitelo tropical não é necessário grandes

investimentos com instalações nem mesmo alto desprendimento de tecnologias, as

instalações são simples e funcionais. São necessárias basicamente uma instalação

individual para a fase de aleitamento (Figura 2) e para a fase de terminação os

animais podem ser agrupados em outra instalação.

25

Figura 2 – Animais em aleitamento, presença de cochos de ração e água, em casinhas do estilo Tropical.Fonte: Santos (2008).

Segundo Santos (2008) as casinhas em estilo tropical devem

apresentar as seguintes medidas:

• 1,10 metros de largura;

• 1,50 metros de comprimento;

• 1,38 metros de altura;

• telhas de 1,79 metros.

Após os animais permanecerem por 8 semanas ou 60 dias na fase

de aleitamento, recebendo uma dieta a base de leite ou sucedâneo mais

concentrado e água, os animais são desaleitados, e passam para o confinamento

(Figura 3), para completar 20 semanas ou mais de idade, em que serão alimentados

com milho integral moído, suplemento mineral/vitamínico e feno, até atingir o peso

ideal de mercado entre 170 a 220 kg.

Como se pode observar a estrutura pode ser simples, fornecendo

apenas uma área de cocho coberto para fornecimento de ração, suplemento mineral

e água, a simplicidade das instalações reduz custos de implantação e auxilia a

viabilizar a produção de vitelo tropical em pequenas propriedades onde o produtor

tem menores condições financeiras.

26

Figura 3 – Animais em confinamento (Fase II).

Fonte: Santos (2008).

2.2. SILAGEM DE COLOSTRO

O colostro, por não ter valor comercial, normalmente não é

aproveitado pelos produtores e pela indústria. Esse alimento contém características

químicas e nutritivas que o diferem do leite normal (Quadro 4). De forma geral, o

colostro apresenta alta concentração de proteína, dentre estas as imunoglobulinas

ou anticorpos, minerais, vitaminas, gordura, sólidos totais e cinzas.

Os ruminantes nascem praticamente sem anticorpos na circulação

sanguínea, sendo estes adquiridos por meio da ingestão do colostro materno. O

colostro é indispensável para o recém-nascido, uma vez que é a única fonte de

anticorpos e de nutrientes necessários para garantir o desenvolvimento inicial do

bezerro. Entretanto nem todo o colostro é utilizado.

Considerando que existe sobra de colostro que é desperdiçada na

propriedade e que o custo de aleitamento dos bezerros é um fator que pesa na

rentabilidade da bovinocultura leiteira. A equipe da EMATER/RS coordenada pela

médica veterinária Mara Helena Saalfeld propôs uma alternativa que vem sendo

utilizada nas propriedades rurais, a qual consiste na conservação do colostro com

ausência de oxigênio. Esta técnica é conhecida como ensilagem e o produto final é

denominado de silagem de colostro.

27

Quadro 4 - Composição do colostro em diferentes períodos expresso em %.

Fonte: Foley & Otterby, 1978

Esta alternativa baseia- se no fato de que o colostro, quando

armazenado de forma correta, pode contribuir significativamente para a adequada

nutrição dos animais; bem como, diminuir os custos com aleitamento das crias.

2.2.1. Coleta e Processamento da Silagem de Colostro

O colostro pode ser coletado entre o primeiro e o quinto dia após

o parto e armazenado em garrafas pets, previamente higienizadas com água limpa e

detergente neutro. Recomenda-se apertar as garrafas no momento de fechar para

retirada da maior quantidade de oxigênio possível (Figura 4). Em seguida os

recipientes contendo o colostro devem ser devidamente identificados com a data da

coleta e dia após parto e armazenados em locais limpos, secos, sem incidência de

raios solares e sem refrigeração, durante os 21 dias de ensilagem, tempo

recomendado para que ocorra a fermentação (Figura 5).

28

Figura 4 – Preparo da silagem de colostro.Fonte: Mara Helena Saalfeld

Outra vantagem deste processo é a destruição das bactérias

patogênicas que podem estar presente no colostro devido ao pH ácido. Após o

nascimento os bezerros devem obrigatoriamente receber o colostro na forma natural

até 24 horas de vida. Passado esse período podem receber a silagem de colostro.

Antes do fornecimento a silagem de colostro deve ser diluída em igual quantidade de

água morna (50ºC).

Figura 5 – Silagem de colostro após fermentação

Fonte: Mara Helena Saalfeld

Além de ser um eficiente substituto do leite, a silagem de colostro

29

apresenta vantagens econômicas. O produtor gasta em torno de 200 litros de leite

para alimentar corretamente um bezerro, ao utilizar a silagem de colostro o leite que

seria utilizado no aleitamento do bezerro passa a ser comercializado. Considerando

o preço de venda do leite de R$ 0,71 o produtor economiza cerca de R$ 142,00 por

bezerro.

A conservação do colostro na forma de ensilagem constitui uma

ferramenta tecnológica de fácil execução na propriedade e que apresenta impacto

econômico significativo na atividade. Entretanto, para que a técnica seja utilizada

com sucesso é de extrema importância que todas as recomendações sejam

seguidas, de forma que o produto final apresente a qualidade nutricional desejada e

não haja rejeição de consumo pelos animais (ANDRADE et al. 2010)

Outros substitutos do leite podem ser utilizados na produção do

vitelo tropical, estes substitutos são misturas comercializadas para alimentação de

bezerros e possuem em sua formulação inúmeros ingredientes além do leite em pó

e o chamado leite de soja. Alguns cuidados devem ser tomados quando for utilizar

este tipo de produto, principalmente observar a constituição do alimento, evitando

sucedâneos com altos teores de fibra.

Os bovinos são ruminantes, diferenciando-se dos monogástricos

pelo fato de terem quatro estômagos ao invés de apenas um. Estes quatro

estômagos são respectivamente, rúmen, retículo (onde ocorre a digestão dos

alimentos por uma flora microbiana e absorção de nutrientes), omaso, (onde ocorre

a absorção de água) e abomaso, (onde ocorre a digestão do leite), semelhante ao

único estômago dos monogástricos.

Os ruminantes possuem a capacidade de utilizar alimentos fibrosos,

como pastos, fenos, silagens, através de fermentação microbiana ocorrida no

rúmen, o maior de seus compartimentos, que transforma aqueles alimentos em

energia e proteína disponível para o animal. Porém, ao nascer, o bezerro pode ser

considerado um monogástrico, pois seu rúmen não está desenvolvido e a digestão

da sua alimentação, (leite), será realizada no seu estômago verdadeiro, ou

abomaso.

Com o passar das semanas e, principalmente, através do estímulo

dos alimentos sólidos o rúmen passa a se desenvolver e o bezerro se torna apto a

utilizar alimentos sólidos (EMBRAPA, 2008)

Importante ressaltar que, nesta primeira fase da vida do bezerro, o

30

leite deverá ser digerido no abomaso, já que é o compartimento apto para tal. Então,

para que o leite vá para o abomaso sem passar pelo rúmen, o que ocasionaria

diarreia e desnutrição, forma-se, mediante estímulos, um canal de passagem,

através do qual o leite passa pelo rúmen sem que ali se detenha e vá direto ao

abomaso para ser digerido. Temos então, a chamada goteira esofágica (EMBRAPA,

2008).

Para formação da goteira esofágica, é necessário que o leite ou o

substituto do leite seja fornecido entre 37ºC e 39°C e que, ao fornecer o leite em

baldes, cochos ou biberões, respeite-se uma altura mínima de 30 cm do solo

(EMBRAPA, 2008).

31

3 METODOLOGIA

Para este trabalho foi realizada uma pesquisa descritiva com o

objetivo de reunir informações, através de revisão bibliográfica, sobre a produção de

vitelo tropical com, a hipótese de possível fonte alternativa de renda ao produtor de

leite.

Neste contexto, pode ser considerada, também, uma pesquisa

quantitativa, pois efetua uma análise econômica de uma área específica, haja vista o

levantamento efetuado por meio de coleta de dados na área em estudo.

3.1. CLASSIFICAÇÃO GERAL DA PESQUISA

Tomando-se por base material obtido em levantamento bibliográfico

sobre criação e produção do vitelo tropical realizou-se também uma analise

econômica com o objetivo de ilustrar quantitativamente a possível lucratividade da

atividade.

Foram utilizados para a revisão bibliográfica dados e informações

que discorrem sobre diversos pontos importantes na criação e produção do vitelo

tropical. Estes dados e informações foram obtidos através de pesquisas em

materiais publicados em periódicos científicos nas áreas de agropecuária e nutrição,

livros, revistas, boletins informativos, comunicados de institutos de pesquisa, além

de materiais disponibilizados em mídia digital, limitando-se a informações

pertinentes a produção de vitelos no Brasil.

As entrevistas e orçamentos que auxiliam na elaboração da analise

econômica foram limitados a estabelecimentos situados nas cidades de Ibiporã e

Londrina no Estado do Paraná.

Os dados e valores utilizados para a analise econômica foram

obtidos através de entrevistas com três produtores de vitelo tropical, dois

responsáveis por abatedouros e frigoríficos além de vendedores de insumos e

32

materiais utilizados para construção das instalações e criação de vitelos tropicais.

Para cada um dos materiais e insumos utilizados foram feitos três orçamentos em

vinte e dois estabelecimentos distintos, os valores utilizados para esta analise forma

os que se referem aos produtos de menor custo.

Após a obtenção dos dados e informações os materiais foram

organizados e posteriormente, com auxilio de planilhas de calculo desenvolvidas no

programa Microsoft Office Excel 2003, foram obtidos valores referentes as despesas

e receita. Estes valores são apresentados nas tabelas 4, 5, 6, 7, 8 e 10.

Os valores referentes a depreciação das instalações foram

determinados através da divisão do custo de total de construção entre os prováveis

anos de vida útil, posteriormente este valor foi dividido pelo numero de ciclos

produtivos possíveis de serem realizados em cada um dos anos, totalizando 16

ciclos produtivos, sendo a vida útil de 8 anos e considerado a produção de 2 lotes ao

ano.

Apesar da alta qualidade da carne do vitelo a baixa procura por este

produto no mercado dificulta a comercialização com preço diferenciado, por este

motivo nas entrevistas os administradores de frigorifico afirmaram pagar preços

semelhantes ao boi gordo. Para eles a menor cobertura de gordura destes animais é

um critério de desvalorização, porém está desvalorização não seria aplicada por ser

de certa forma compensada pela maior maciez do produto.

Após a analise, os resultados foram interpretados e discutidos no

capitulo 4.

33

4 APRESENTAÇÃO E ANALISE DOS DADOS

Para a avaliação econômica da produção de vitelo tropical foram

realizadas pesquisas de preços de mercado dos materiais, insumos e mão-de-obra

utilizados para a produção dos animais. Limitando-se a região de Londrina.

Com base na pesquisa de preços foram feitas algumas analises

econômicas com o objetivo de avaliar de forma mais objetiva a possibilidade de

utilização do vitelo tropical como fonte alternativa de renda para o produtor de leite.

Os valores apresentados nas Tabelas 4, 5, 6, 7, 8, 10 e 11 são

referentes as necessidades de investimento para produção de um lote com dez

vitelos tropical e foram obtidas através de planilhas de calculo.

Para a construção e o levantamento de custos das instalações

individuais e coletivas foram utilizados como base as medidas propostas por Santos

(2008) e os valores obtidos na pesquisa para aquisição de materiais e mão-de-obra

conforme apresentado nas Tabela 4 e 5.

Tabela 4 – Despesas para construção de dez abrigos individuais para vitelos.

Discriminação QuantidadeUnidad

eValor unitário

R$ Total R$Caibro eucalipto trat. 88 m 4,00 352,00Tabua eucalipto trat. de 20 cm 93 m 5,00 465,00

Telha fibrocimento 5 mm 22 m2 11,20 246,40Outros* 80,00Mão de obra carpintaria 3 dias 80,00 240,00Cocho de água 10 un 7,90 79,00Cocho de ração 10 un 7,90 79,00TOTAL 1541,40

* Despesas com materiais para contenção dos animais (corda, argola e mosquetão)Fonte: Baptista (2011)

O custo para construção de cada uma das instalações foi dividido

entre 8 anos considerados como de vida útil da benfeitoria, posteriormente dividido

por 2 ciclos anuais, dando um total de 16 ciclos produtivos durante a vida útil da

instalação, conforme apresentado na Tabela 6. Os valores de depreciação foram

inclusos nos gastos das respectivas fases onde são utilizadas as instalações.

34

Tabela 5 – Despesas para construção do abrigo coletivo para dez vitelos.

Discriminação QuantidadeUnidad

eValor unitário

R$ Total R$Caibro de eucalipto trat. 18 m 4,00 72,00Palanque de eucalipto trat. 14 un 15,00 210,00

Telha fibrocimento 5mm 24 m2 11,20 268,80Pregos 18/24 1 maço 6,00 6,00Mão de obra carpintaria 2,5 Dias 80,00 200,00Cocho de ração 1 un 50,00 50,00Cocho de água 1 un 20,00 20,00Arame 160 m 0,29 46,40TOTAL 873,20Fonte: Baptista (2011)

Tabela 6 – Cálculos de depreciação das instalações por ciclo produtivo.Discriminação Valor Vida útil Nº de ciclos Depr./cicloAbrigo individual 1.541,40 8 16 96,34Abrigo coletivo (10 animais) 873,20 8 16 54,58Fonte: Baptista (2011)

Com o intuito de detalhar as fases de produção e facilitar a

visualização dos resultados a analise econômica foi feita separadamente para as

duas fases de produção do vitelo tropical.

Não foram considerados, como despesas, máquinas empregadas e

depreciação das mesmas, assim como transporte dos animais ao abatedouro e

custos de abate, haja visto que os frigoríficos da região aceitam como pagamento

componentes não carcaça, (couro, patas, cabeça, pulmão, coração, figado e

intestino).

Com relação as despesas com mão-de-obra, insumos e

medicamentos, utilizaram-se estritamente aqueles previstos em condições normais

de criação conforme Codagnone (2008), não considerando gastos com prováveis

enfermidades. Na determinação dos custos de mão-de-obra foi considerado o valor

de R$ 40,00 pago no mês de abril de 2011, para funcionários diaristas por 8 horas

de trabalho em propriedades rurais da região de Londrina - Paraná

O custo de oportunidade da venda do bezerro foi obtido a partir de

relatos de produtores que vendem os bezerros machos para os chamados

linguiceiros, forma mais comum de comercialização destes animais.

35

As despesas com alimentação foram calculadas tornando-se por

base os dados propostos por Codagnone (2008), apresentados na Tabela 2.

Determinou a fase I compreendendo do nascimento do animal até a 6ª semana, e a

fase II no intervalo entre a 7ª a 25ª semana de vida.

Para a fase I de produção do vitelo tropical, foram feitas duas

avaliações substituindo apenas os gastos com aleitamento (Tabelas 7 e 8).

Na Tabela 7 são apresentados os gastos com um lote de dez vitelos

tropical, com o fornecimento lácteo exclusivo de leite fresco.

Como pode ser observado 70% dos custos de produção na fase I

fica por conta do consumo de leite fresco, o leite possuí maior valor venal

possibilitando um melhor custo de oportunidade ao produtor, além de ser a principal

fonte de renda em propriedades produtoras de leite.

Tabela 7 – Estimativa de despesas para produção de dez vitelos tropical na fase I utilizando leite fresco como parte da alimentação.

Alimentação fase IDiscriminação Quantidade Unidade Valor unitário R$ Total R$

Animais1 10 un 15,00 150,00Leite 1520,0 lt 0,71 1079,20Ração 193,5 kg 0,52 100,62Feno 40,0 kg 0,30 12,00

Mão-de-obra2 12 hrs 5 60,00Total alimentação fase I 1401,82

VacinaçãoVacina febre aftosa 10,0 un 1,60 16,00Vacina pneumoenterite 10,0 un 0,32 3,20Vacinas clostridiose 20,0 un 1,21 24,20Total vacinação 43,40

Depreciação dos abrigos individuais/ciclo de produçãoDiscriminação Valor total Vida útil Nº de ciclos Depr./cicloAbrigo individual 1.541,40 8 anos 16 96,34Total depreciação fase I 96,34Total de despesas fase I 1541,561 - Valor que o produtor poderia ter recebido pela venda do bezerro recém nascido.2 - Mão-de-obra para tratar os animais.Fonte: Baptista (2011)

A silagem de colostro foi sugerida como alternativa para produção

36

de vitelo tropical na fase I de criação, substituído em grande parte o leite fresco. Por

se tratar de um produto originado a partir do colostro, que geralmente é descartado

na propriedade.

Considerou-se a silagem de colostro como custo zero, sendo

acrescido a esse estudo apenas os valores referentes ao aumento de mão-de-obra

para o envase da silagem, haja visto que as embalagens utilizadas para a

embalagem da silagem são garrafas plasticas ou galões reaproveitados.

Podemos observar que a redução nos gastos na fase I, com a

utilização da silagem de colostro (Tabela 8 ), é de 51,53% quando comparado com a

alimentação dos animais com leite fresco, na mesma fase, passando de R$1541,56

para R$747,22 quando foi substituindo parte do leite por silagem de colostro.

Tabela 8 – Estimativa de despesas para produção de dez vitelos tropical na fase I utilizando silagem de colostro em substituição ao leite fresco.

Alimentação fase IDiscriminação Quantidade Unidade Valor unitário R$ Total R$

Animais1 10 un 15,00 150,00Leite 260,0 lt 0,71 184,60Silagem de colostro 730,0 lt 0,00 0,00Ração 194,0 kg 0,52 100,88Feno 40,0 kg 0,30 12,00

Mão-de-obra2 20,0 hrs 5,00 100,00

Mão-de-obra3 12 hrs 5 60Total alimentação fase I 607,48

VacinaçãoVacina febre aftosa 10,0 doses 1,60 16,00Vacina pneumoenterite 10,0 doses 0,32 3,20Vacinas clostridiose 20,0 doses 1,21 24,20Total vacinação 43,40

Depreciação dos abrigos individuais/ciclo de produçãoDiscriminação Valor total Vida útil Nº de ciclos Depr./cicloAbrigo individual 1.541,40 8 16 96,34

Total depreciação fase I 96,34Total de despesas fase I 747,22

1 - Valor que o produtor poderia ter recebido pela venda do bezerro recém nascido.2 - Mão-de-obra para produção de silagem de colostro.3 - Mão-de-obra para tratar dos animais.Fonte: Baptista (2011)

Essa redução nos custos de produção certamente viabiliza o

37

fornecimento deste alimento que outrora, era desprezado na forma de colostro. Haja

visto que um bezerro recém nascido consome aproximadamente 4 litros de colostro

por dia, e uma vaca comum recém parida produz aproximadamente 15 litros de

colostro por 5 dias, dando um excedente de aproximadamente 55 litros de

colostro/vaca parida.

Os gastos com mão-de-obra para a produção da silagem de colostro

representam 13,38% dos gastos totais de produção, esse valor não precisa ser

contabilizado quando utiliza-se leite fresco.

Segundo Saalfeld et al. (2006) a silagem de colostro pode ser

produzida na propriedade, sem grandes dificuldades, podendo ser utilizada como

substituto do leite fresco com boa eficiência. A silagem de colostro pode ser

fornecida mediante adaptação prévia, após o fornecimento do colostro fresco. A

adaptação consiste no fornecimento gradativo, a autora sugere o seguinte esquema

de fornecimento (Tabela 9).

Tabela 9 – Adaptação de bezerros para fornecimento de silagem de colostro.Dias de vida Colostro fresco Leite fresco Silagem de colostro Água

1 a 5 4 --- --- ---6 --- 3 0,5 0,57 --- 2 1 18 --- 1 1,5 1,5

9 até a desmama --- 0 2 2Fonte: Saalfeld et al. (2006)

A demonstração de despesas com alimentação, mão-de-obra e

depreciação das instalações na fase II de criação são apresentadas na Tabela 10.

Podemos observar que os maiores gastos na produção do vitelo tropical ocorre

nesta fase, isto é facilmente explicado pelo maior período de duração da fase além

do aumento do consumo de alimento que acompanha o desenvolvimento do animal.

Nesta fase, assim como ocorre na fase I, os maiores custos ficam

por conta da alimentação 97,72%, sendo que o milho, maior componente da dieta, é

responsável por 49,56% das despesas nesta fase.

O milho é um alimento energético rico em carboidratos e gordura,

utilizado na alimentação animal, humana, e atualmente bastante utilizado pela

industria. A ampla área de utilização do milho faz com que haja um um aumento na

procura por este ingrediente que por sua vez, apesar da excelente produtividade,

38

sofre influência da sazonalidade climática, apresentando períodos de entre safra. No

momento de entre safra que podemos observar a redução da oferta e

consequentemente elevação dos custos.

Tabela 10 – Estimativa de despesas para a fase II de produção de um lote com dez vitelos tropical

Alimentação fase IIDiscriminação Quantidade Unidade Valor unitário R$ Total R$Milho grão 3125,0 kg 0,38 1187,50Ração 851,0 kg 0,63 536,13Feno 951,0 kg 0,30 285,30Mão de obra 66,5 hrs 5,00 332,50Total alimentação 2341,43

Despesas com depreciação das instalações coletivas/ciclo de produçãoDiscriminação Valor Vida útil Nº de ciclos Depr./cicloAbrigo coletivo 873,20 8 16 54,58Total depreciação 54,58TOTAL 2396,01

Neste sentido, é impressindivel as pesquisas com alimentos

alternativos, como por exemplo os resíduos da produção do biodiesel e das

industrias em geral.

Para obtenção das despesas totais para produção do vitelo tropical

deve-se somar os valores referentes a fase I e fase II de criação. Desta forma, as

despesas para a produção de um lote com dez vitelos tropicais pode variar entre R$

3143,23 e R$ 3937,57 para animais que consumiram silagem de colostro na primeira

fase e para animais que foram alimentados com leite fresco, respectivamente.

O maior custo de produção na Fase I utilizando leite fresco corrobora

com Biondi et al. (1984) quando afirmou que durante a fase de aleitamento o bezerro

requer quantidade de leite que, se não for vendida, diminuirá a receita do produtor.

A redução nos gastos totais de produção, utilizando a silagem de

colostro na fase I, é de 20,17% quando comparado aos gastos com animais

recebendo leite fresco.

Nas diversas pesquisas voltadas para avaliação de alimentos

alternativos, os chamados sub-produtos, ou co-produtos da agroindústria tem

ganhado ganhado espaço dentro das instituições de pesquisa. Com intuito de avaliar

a qualidade nutricional e os efeitos da inclusão deste tipo de alimento nas dietas de

39

animais de produção.

A inclusão de co-produtos da agroindústria poderia ser uma

alternativa para substituir itens presentes na alimentação dos vitelos, como por

exemplo o milho e o soja que representam uma parcela considerável das despesas

com alimentação.

Uma possível alternativa para a redução dos gastos com o milho

seria a substituição parcial deste alimento por casquinha de soja, que é um dos co-

produto da extração do óleo de soja. Este co-produto, por apresentar pouca utilidade

para industria e não ser utilizado pela nutrição humana apresenta em certas épocas

do ano preço atrativo.

Porém estudos devem ser feitos com o objetivo de avaliar os efeitos

e os níveis adequados de inclusão deste alimento em substituição ao milho na

produção do vitelo tropical.

O grande entrave na produção do vitelo tropical continua sendo a

comercialização, por ser uma carne de qualidade diferenciada poderia atender

alguns nichos de mercado que valorizam este tipo de produto obtendo assim valor

superior aos valores pagos pela carne bovina convencional. Porém, segundo

frigoríficos que atendem a região de Londrina, o mercado da carne de vitelos não é

bem característico, e a procura por carne de vitelo não é expressiva.

A carne de qualidade dos vitelos poderia ser consumida na

propriedade e apenas o excedente comercializado. Uma alternativa para

comercialização do vitelos, seria vender os animais para abatedouros da região, que

compram estes animais porém não pagam como carne de vitelo, e sim como carne

de bovinos comum, conforme valor de arroba fixado pelo mercado da região.

No acumulado do mês de abril, a cotação do boi ficou na faixa de R$

98,00/@, considerando o abate dos vitelos com 200kg de peso vivo, e um

rendimento de carcaça de 46%, conforme observado por Roma Junior (2008), temos

920 kg de carcaça em cada lote, que representam 61,3@, ou seja, o valor venal de

cada lote de vitelos tropical seria de R$ 6010,67.

Descontando da receita o valor das despesas, os vitelos que

receberam leite fresco na primeira fase, proporcionariam um lucro de R$

2073,10/lote. Já os vitelos que receberam silagem de colostro, a lucratividade seria

de R$ 2867,44. Deve-se ressaltar que essa receita esta intimamente ligada com a

recente alta nos preços da carne e que pode sofrer variações.

40

Em pequenas propriedade produtoras de leite esta atividade poderia

ser viável e lucrativa, considerando o baixo tempo criação (6 meses), e um fluxo

aproximado de 10 animais a cada 6 meses tem-se o equivalente a R$ 477,91/ mês.

A utilização de mão-de-obra familiar poderia agregar o valor

desprendido com mão-de-obra a renda da família, aumentando a lucratividade e a

receita mensal da propriedade.

A produção de 10 animais a cada 6 meses pode ser obtida em

propriedades que possuam aproximadamente 60 animais/ano em lactação, com

bons índices produtivos, considerando uma taxa de natalidade de 75% e mortalidade

dos bezerros de 10% temos o equivalente a 40 bezerros viáveis por ano,

considerando que 50% são fêmeas, 20 bezerros machos seriam destinados a

produção de vitelo tropical.

Outra alternativa seria o produtor comprar bezerros recém nascidos

de propriedades vizinhas para completar o lote desejado de animais para criação,

para isto o produtor deve atentar-se para possíveis problemas sanitários,

ocasionados por baixa ingestão de colostro ao nascimento ou falta de medidas

preventivas contra enfermidades.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES

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O aproveitamento do macho leiteiro para a produção de vitelo

tropical pode ser uma alternativa de renda para produtores de leite, podendo

alcançar lucros de aproximadamente 91% sobre os custos de produção, chegando a

R$ 2867,44/Lote. A rentabilidade da atividade pode ser elevada em propriedades

onde a mão-de-obra familiar pode ser utilizada nas atividades produtivas.

A utilização de mão-de-obra familiar poderia agregar o valor

desprendido com mão-de-obra a renda da família, aumentando a lucratividade e a

receita mensal da propriedade.

Utilizar de tecnologias de produção assim como o alimentos

alternativos e o acompanhamento dos dados econômicos e produtivos são pontos

indispensáveis para auxiliar no sucesso da atividade.

A redução nos gastos totais de produção, utilizando a silagem de

colostro na fase I, é de 20,17% quando comparado aos gastos com animais

recebendo leite fresco.

Os gastos com alimentação na fase de terminação são responsáveis

por 97,72% das despesas no período sendo que o milho, maior componente da dieta

é representa 49,56% deste gasto.

Em pequenas propriedade produtoras de leite esta atividade poderia

ser viável e lucrativa, considerando o baixo tempo criação (6 meses), e um fluxo

aproximado de 10 animais a cada 6 meses tem-se o equivalente a R$ 477,91/ mês.

A principal dificuldade na região de Londrina é o preço de

comercialização do vitelo tropical, devido à baixa procura por este tipo de produto os

animais geralmente são comercializados pelo preço da cotação do boi gordo que no

momento desta avaliação se mostravam satisfatórios, proporcionando boa

lucratividade.

Antes de iniciar a produção de Vitelo Tropical o produtor deve

assegurar-se da existência de mercado para colocação do produto e familiarizar-se

com a tecnologia, começando a atividade com um numero pequeno de animais.

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