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VOLUME II C OLEÇÃ O Inovações Sociais inova II.indd 1 8/7/2008 16:51:00

Inovações Sociais - arquivos.portaldaindustria.com.brarquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_18/2012/05/15/569/... · inovação, empreendedorismo e propriedade intelectual,

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VOLUME II

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Inovações Sociais

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FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná RodrigoCostadaRochaLoures Presidente DiretorRegionalSESI

SESI – Serviço Social da Indústria JoséAntonioFares Diretor Superintendente OvaldirNardin Diretor Financeiro

AntonioBentoRodriguesPontes Diretor de Administração e Controle

PedroCarlosCarmonaGallego Diretor de Tecnologia de Gestão da Informação

CarmenWeberdeCamargo Gerente de Gestão da Saúde e Segurança do Trabalho

DernizoCaron Gerente de Planejamento, Orçamento e Gestão

LilianLuitz Gerente de Gestão da Educação e Formação Cidadã

MariaAparecidaLopes Gerente de Negócios

MaríliadeSouza Gerente Observatório de Prospecção e Difusão de Iniciativas Sociais

RobertoCostacurtaPinto Gerente de Gestão do Lazer

RosaneAparecidaLara Gerente Regional

SôniaMariaBeraldideMagalhães Gerente de Gestão Social

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Inovações Sociais

Daniele Farfus (org)Maria Cristhina de Souza Rocha (org)

Antoninho CaronAriane Brunetti de Jesus

Beatris Kemper FernandesBeatriz Mecelis Rangel

Belmiro Valverde Jobim CastorChristian Luiz da Silva

Cristiano LafetáDalberto Adulis

Daniel Moraes PinheiroElisabete Grande Friebe

Jesus Carlos Delgado GarciaKarina Martins

Ladislau DowborLiliane Casagrande Sabbag

Maria Carolina de Castro LealMaria do Carmo Brant de Carvalho

Philip Hiroshi UenoSonia Beraldi de Magalhães

Zania Maria Diório

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2007,FIEP–FederaçãodasIndústriasdoEstadodoParanáQualquerpartedestaobrapoderáserreproduzida,desdequecitadaafonte.

OsvolumesdaColeçãoInovaestãodisponíveisparadownloadnosite:www.fiepr.org.br/colecaoinova

ConselhoEditorialdoVolumeII

DanieleFarfusLúciaFortunaPadilhaNehrerMariciliaVolpatoMariaCristhinadeSouzaRochaSoniaReginaHienoParolin-Coordenação

Inovaçõessociais./DanieleFarfus(org.),MariaCristhinadeSouzaRocha (org.);AntoninhoCaron...[etal.].–Curitiba: SESI/SENAI/IEL/UNINDUS,2007. 246p.:il.;30cm.–(ColeçãoInova;v.2).

1.Inovaçõessociais.

I.Farfus,Daniele(org.).II.Rocha,MariaCristhinadeSouza(org.).III.Caron,Antoninho. CDU364.442

ProgramaInovaSENAI/SESI/IELPRAv.CândidodeAbreu,200CentroCívico–Curitiba–PRTel(41)3271-9353/3271-9354Homepage:www.pr.senai.br/inovae-mail:[email protected]

ISBN978-85-88980-21-1

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Sobre a Coleção Inova

Ainovaçãoéumelementofundamentalparaodesenvolvimentoeconômicoeénosetorprodutivoqueelaencontraoespaçoidealparasemanifestar.

Aindústriabrasileiraaprendeunapráticaqueprecisaenfrentardiversos desafios nessa área: aumentar os investimentos nodesenvolvimento de produtos, renovar processos e aindatornar-se mais ágil para responder com rapidez às novasdemandasdomercado.

Remar em outra direção traz como resultado a perda dacompetitividade. Por isso, cada vez mais, as empresasbuscamprofissionaiscomcapacidadedecriar,iniciativaparaformularsoluçõesefacilidadeparatrabalharemequipe.

Asinstituiçõesdeeducaçãotêmqueestarpreparadasparaformarprofissionaiscomesteperfil.

Uma forte contribuiçãonesse sentido está sendo oferecidapela Coleção Inova. Editada pelo Sistema Federação dasIndústrias do Estado do Paraná, através do Senai, Sesi,Iel e Unindus Pr., irá tratar de um tema diferente a cadavolume,apresentandoàcomunidadeacadêmicaecientífica,

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empresárioseaopúblicoemgeralinformaçõesqueampliemacompreensãodopapeldecadaumnoesforçodirecionadoàinovação.

Serão discutidos assuntos relacionados à criatividade,inovação, empreendedorismo e propriedade intelectual,de formaacontribuirparaoaprimoramentodaeducaçãoprofissional e para a competitividade sustentável daindústria.

AColeçãoInovatambématendeaoobjetivoestratégicodoSistemaFiep,dedesenvolveraculturaempreendedoraeumambientepropícioàinovação.

Rodrigo Costa da Rocha LouresPresidentedoSistemaFederação

dasIndústriasdoEstadodoParaná

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SUMÁRIOAPRESEntAnDo o VoLUME ii ..............................................................................................09

José Antonio Fares

PARtE 11. inoVAção SoCiAL: UM ConCEito EM ConStRUção .....................................................13

Daniele Farfus e Maria Cristhina de Souza Rocha

1. Contextualizando ................................................................................................................................132. A inovação social: uma reflexão a partir de conceitos ........................................................................1�3. Considerações para uma recriação ....................................................................................................30Referências ...........................................................................................................................................32

2. inoVAção SoCiAL E SUStEntABiLiDADE .........................................................................3� Ladislau Dowbor

1. Um pouco de realismo .......................................................................................................................3�2. A economia do desperdício ................................................................................................................4�3. os processos de decisão: rumos da racionalidade .............................................................................��Referências ...........................................................................................................................................�8

3. inoVAção SoCiAL E DESEnVoLViMEnto ........................................................................�1Belmiro Valverde Jobim Castor

1. introdução ..........................................................................................................................................�12. Uma era de limites .............................................................................................................................��3. que é “inovação social”?....................................................................................................................��4. A contribuição da inovação social no processo de desenvolvimento ..................................................81Referências ...........................................................................................................................................82

4. inoVAção SoCiAL E o PAPEL DA inDúStRiA ...................................................................8�Antoninho Caron

1. inovação tecnológica .........................................................................................................................8�2. novas formas organizacionais ............................................................................................................90 3. importância do local diante global ......................................................................................................9�4. tecnologias convencionais, adequadas e sociais ...............................................................................98�. Pequena e média indústria, inovação social e desenvolvimento local ...............................................103�. Conclusão ........................................................................................................................................112Referências .........................................................................................................................................113

PARtE 21. tRAnSFoRMAnDo iDéiAS EM PLAnoS DE nEGóCioS: A ExPERiênCiA Do PRoGRAMA SESi EMPREEnDEDoRiSMo SoCiAL no EStADo Do PARAná ...........................................11�

Daniele Farfus, Maria Cristhina de Souza Rocha e Beatris Kemper Fernandes

1. As novas exigências sociais .............................................................................................................11�2. o empreendedorismo social e a inovação social ..............................................................................1193. Em busca da paz social com desenvolvimento .................................................................................12�4. o Sesi empreendedorismo social: uma proposta de inovação social ................................................129�. o início da construção de um longo caminho ...................................................................................13�Referências .........................................................................................................................................13�

2. tECEnDo inoVAção SoCiAL no PARAná: RESPonSABiLiDADE EMPRESARiAL E tECnoLoGiAS SoCiAiS EM REDE ............................................................139

Sonia Beraldi de Magalhães, et al

1. introdução ........................................................................................................................................1392. Histórico ..........................................................................................................................................1403. o projeto ..........................................................................................................................................144

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4. Formação do grupo mobilizador .......................................................................................................14��. Diagnóstico e análise das experiências de tecnologia social que formarão parte da rede ................148�. A construção da estratégia de rede .................................................................................................1�2�. Perspectivas.....................................................................................................................................1��Referências .........................................................................................................................................1�0

3. PEçA PoR PEçA: UM PRoGRAMA DE RESPonSABiLiDADE SoCiAL ...............................1�1 Elisabete Grande Friebe e Karina Martins

1. introdução ........................................................................................................................................1�12. Metodologia e estrutura...................................................................................................................1�23. Desenvolvimento prático ..................................................................................................................1�44. os projetos ......................................................................................................................................1���. Resultados .......................................................................................................................................1���. Motivações ......................................................................................................................................1�8�. outras considerações ......................................................................................................................1�9

4. BoM ALUno: o BRASiL PRECiSA DEStE tALEnto ..........................................................1�1Zania Maria Diório

1. Palavras de um “bom aluno” ............................................................................................................1�12. Realidade brasileira ..........................................................................................................................1�23. Caráter inovador do programa bom aluno ........................................................................................1�34. Histórico do programa bom aluno ....................................................................................................1�4�. Franquias sociais bom aluno ............................................................................................................1���. o programa bom aluno.....................................................................................................................1�8�. Algumas vitórias ..............................................................................................................................1838. Premiações ......................................................................................................................................18� Referências .........................................................................................................................................18�

�. inoVAção SoCiAL E PARCERiAS EStRAtéGiCAS: A PRátiCA Do PRoGRAMA CoMUniDADE ESCoLA DE CURitiBA ...................................................................................189

Liliane Casagrande Sabbag e Christian Luiz da Silva

1. introdução ........................................................................................................................................1892. Modelos participativos envolvenddo as escolas ...............................................................................1913. Programa comunidade escola: modelo de gestão e parcerias estratégicas ................................... . 1934. Avaliação preliminar do programa e de suas parcerias .....................................................................20��. Considerações finais ........................................................................................................................210 Referências .........................................................................................................................................212

�. UMA ContRiBUição CoM AS inoVAçõES SoCiAiS: AVALiAçãoDE PRoJEtoS SoCiAiS .......................................................................................................21�

Maria do Carmo Brant de Carvalho

1. introduzindo a temática ...................................................................................................................21�2. Avaliações de projetos educação .....................................................................................................21�3. Finalizando .......................................................................................................................................22�Referências .........................................................................................................................................22�

�. inDiCAçõES SoBRE inoVAção SoCiAL ........................................................................22�Beatris Kemper Fernandes e Ariane Brunett de Jesus

1. Sites ................................................................................................................................................22�2. Artigos .............................................................................................................................................2333. Livros ...............................................................................................................................................23�

DADoS SoBRE oS AUtoRES ...............................................................................................239

CRéDitoS .............................................................................................................................24�

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ApReSentAndO eSte vOlUMe

ApReSentAndO O vOlUMe II:InOvAÇÕeS SOCIAIS

Astransformaçõesocorridasnomundonasúltimasdécadasimpõemconstantesecadavezmaiscomplexosdesafiosàsempresas e organizações. Há uma permanente busca denovosprocessosetecnologias,denovosprodutos,denovosmercadosenovasformasdenegócios.

Umadaspontasde lançadestenovocenárioé,semdúvida,arápidaeradicalmudançadopapeldasempresaseorganizaçõesenquanto organismos inseridos e partícipes da comunidade.Hoje,aeconomiajánãoobedeceapenasaumadinâmicaprópria,competitivaeisolada,masseenvolvecomosinteressesdetodaasociedade,assumindosuacondiçãodeco-responsávelpelomaioroumenorgraudesustentabilidadedestamesmasociedade.

Orelacionamentoentreempresasecomunidadesedápormeiodeiniciativassociais,destinadasamelhoraravidadacomunidadeedoscidadãos,dentroeforadoambientedetrabalho.

Eestanovaconfiguraçãodarelaçãocomasociedadeevidenciaa premente necessidade de acabar definitivamente com omitodequena área socialnão se inova.A inovação socialpodeserdefinidacomoumconjuntodeprocessos,produtosemetodologiasquepossibilitaamelhoriadaqualidadedevidadooutroediminuaasdesigualdades.Ouseja,éacontribuiçãoparaasustentabilidadedacomunidadeedopaís.

O investimento em novas tecnologias é dimensionáveis,porqueinvariavelmenteresulta,porexemplo,emum“novoprodutonaprateleira”,portantovisívelepalpável.Naáreasocial,amensuraçãoémaiscomplexaemenosperceptível,jáquehámuitomaisvariáveisenvolvidasnoprocesso.

Éprecisoacabarcomalendadequeosinvestimentossociaisnão são tangíveis e mensuráveis. O investimento socialé um diferencial percebido pelo mercado, portanto é fatorindiscutíveldeagregaçãodevaloraoprodutoeàmarca.

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Hoje podemos afirmar que as indústrias paranaenses vêminvestindo emeducação, saúde e segurançano trabalho, emprogramasdelazerecultura,emaçõesderesponsabilidadesocialparaoscolaboradoreseseusfamiliareseparaacomunidade.

OSESIParanáajudaaindústriaacumpriressepapelsocialdecrescerefazercrescer.Aentidaderespondeademandaporinovação,atravésdeumaefetivacolaboração,comprogramase ações que são verdadeiras ferramentas para as empresasem seus projetos sociais, iniciativas de desenvolvimentocomunitário,investimentosemaçõespreventivasecorretivasparapreservaraqualidadedevidadosfuncionários.

Neste ano, o SESI Paraná realiza a pesquisa “Qualidade deVidadoTrabalhadorda IndústriadoParaná”,uma iniciativainéditanoPaís.Apesquisaabrangeascondiçõesdevidanoambiente do trabalho e na família do industriário, de formaaestabelecersua relaçãocomaprodutividadedaempresaeobservaroimpactodasaçõesdaindústrianaqualidadedevidadaregiãoemqueseinsere.

Oobjetivoégerarinformaçõesedadosdeformaorganizada,assim contribuirão para a gestão de pessoas e para aorientação de investimentos na área social, propiciando àindústriaretornoemprodutividadeedesempenho.

Já o programa “Empreendedorismo Social”, em andamentodesdeoanopassado,temporobjetivodesenvolvercompetênciasespecíficasnaspessoasquequeiramsetornarempreendedorassociais,atendendoacrescentedemandadomercadoparaestaárea.Oprogramacapacitaautoresdeprojetossociais,aplicandometodologiainovadora,quebuscacriaratitudeempreendedora,desenvolvimentopessoaleprofissionaleestratégiasdenegócios,visandoàconcepçãodeprojetoseprodutoscomcaracterísticassociaisesustentáveis.

OSESIParanáéumdosarticuladoresdaRededeInovaçãoSocial,quevemaserumcanalparapotencializarasaçõesnestescampos,fortalecerodiálogo,ainteraçãoeasparceriaspara o desenvolvimento social. A Rede de Inovação

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Social começou a ser desenvolvida em 2007 e já reúnemaisde30parceiros, entre empresasprivadas, sindicatosempresariais,universidades,entidadesciviseorganizaçõesnãogovernamentais.

Essas iniciativas demonstram que a linha de atuação doSESI Paraná é traçada a partir de condições concretaspara promover o encontro entre indivíduos e organizaçõesde diferentes setores, interessadas em contribuir para odesenvolvimentolocaleregional.

Ao lançar um livro que aborda a inovação social, o SESIpropõe à comunidade paranaense a discussão e reflexãosobre este tema. A publicação não encerra em si mesma.O objetivo é promover, a partir do seu lançamento, umasistematizaçãodestanovaculturadainovaçãosocial.

Muito já vem acontecendo e várias são as instituiçõesdesenvolvendoinovaçãosocialnoBrasil.Essapublicação,sem dúvida, contribuirá para ampliar e disseminar aindamais este movimento, já que informações, conhecimentoe visão de diferentes autores, de áreas específicas, irãoinfluenciaredisseminarnovaspráticasdeinovaçãosocial.

Esta publicação é somente o início da construção de umlongo caminho que deverá ser percorrido por instituiçõescomprometidascomasuperaçãodosproblemassociaiseaconquistadeumasociedademaisjustaedemocrática.

JoséAntonioFares

Diretor Superintendente SESI/ PR

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1. InOvAÇÃO SOCIAl: UM COnCeItO eM COnStRUÇÃO

Daniele Farfus

Maria Cristhina de Souza Rocha

1. COnteXtUAlIZAndO

Aeconomiaglobalizadaeasinovaçõestecnológicasexigemdas empresas atualização continuada de seus métodosprodutivos, hoje se produzmais commenos.Nabuscadecustosdeproduçãocadavezmenores,aeconomiavoltadaparaomercadovemdesafiandoasorganizaçõesaformularumnovoquadroquepermitaajustarotrabalhoàsnecessidadesda tecnologia e da competição. Este contexto apresentadesafiosdiáriosqueobrigamareflexõesequestionamentosna busca da identificação de inovações que transformamcomportamentos, posicionamentos e trajetórias, porqueafetam e valoram o que se convencionou, em primeirainstância,chamardecapitalhumano.

parte 1

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Presencia-se uma visível revolução nas relações entre omercadoeasociedade.Enquantoomercadobuscaformasdeexplorarnovosnichos,manter-seàfrentedeconcorrentese se tornar mais competitivo, a sociedade, por sua vezpareceiniciarumnovomovimento,saindodeumestadodeacomodaçãoperanteasmudançasocorridasquetrouxeramà tona ou intensificaram diversos problemas, tais como oaumentodadesigualdadesocial,dodesempregoeaexclusãosocial.Adécadade90revelouasconseqüênciasexcludentesdaglobalização,comooaumentoexponencialdapolarizaçãoentrericosepobres–nãoapenasentrepaísesricosepobres,masentrepobresericosdecadapaís(SANTOS,2005).

Astentativasdesuperaçãodasociedademoderna,apartirdesuascondiçõesconcretasdeexistência,provocamumexercíciometódicoesistemáticoparacriaçãodereferenciais,comnovosparadigmas, que se tornem mediadores dessa superação,buscandoainclusãodetodososindivíduos.

Por diferentes razões, o setor privado tem se mostradopreocupadocomasproblemáticassociaisquegravitamaoseuredor,evemcadavezmaisbuscandomaneirasdeaproximar-se da comunidade e comprometer-se com a melhoria daqualidadedevida,sejadentroouforadoambientedetrabalho,umavezque“asempresasnãocompetemisoladamente,masofazemjuntamentecomoentornoprodutivoeinstitucionaldequeformamparte”(VÁSQUEZ-BARQUERO,1999).

Assim, a lógica do mercado sustentável começa a serpriorizadaemdetrimentodomercadocompetitivoeisolado.ParaSwedbergeSmelser(1994),aeconomiaéencaradacomoumapartedasociedade,aocontráriodaconcepçãobásica,naqualaeconomiaévistasobaóticadomercado.Porisso,nãoédifícilcompreenderosmotivosquelevamàvalorizaçãodeaçõesderesponsabilidadesocialouaoretornodasdiscussõessobretemascomoterceirosetoresociedadecivil.

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Refazerahistóriaéco-responsabilidadedaquelesqueestãocomprometidoscomarecriaçãodeumasociedadecommaisjustiçaeeqüidade,asseguradapeloprocessosolidárioentreos indivíduos. Para Santos (2005), como a solidariedadeé uma forma de conhecimento que se obtém por via doreconhecimentodooutro,ooutrosópodeserconhecidocomoprodutor de conhecimento. Daí que todo o conhecimento-emancipaçãotenhaumavocaçãomulticultural.

“Asociedadecontemporâneaécapacitadahistoricamenteamobilizar-seapartirdaapreensãodeseupróprioesgotamento,isto é, do esgotamento de seus próprios referenciais e daracionalidade que mediou a construção de seu processode existência histórica até o presente”, aponta Simionato(2007).Combasenestaargumentação,amulticulturalidadeexpressaoesforçodeproduçãodenovasbaseshistóricas,a partir da própria superação dos ideais universalizantesdoprojetomodernoqueoperaramnadireçãodesufocaraconstruçãodassubjetividadesdossujeitosepovos,nasuaplenitude,comprometendoaconstruçãodaemancipação.

2. A InOvAÇÃO SOCIAl: UMA ReFleXÃO A pARtIR de COnCeItOS

Asdiscussõesquepermeiamoconceitodeinovação,voltadaao mercado, trazem como suporte teórico a construção deSchumpeter(1934),queatéosdiasatuaistemsuainfluência,apontando que o desenvolvimento econômico, conduzidopela inovação, é um processo dinâmico no qual as novastecnologias substituem as antigas. Existem, segundo esteautor,cincotiposdeinovação:

introduçãodenovosprodutos;

introduçãodenovosmétodosdeprodução;

aberturadenovosmercados;

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desenvolvimentodenovasfontesprovedorasdematérias-primaseoutrosinsumos;

criaçãodenovasestruturasdemercadoemumaindústria.

De acordo com Fleury (2001), o ciclo schumpeteriano dainovação tecnológica envolve três estágios da mudança:a invenção, a inovação e a difusão. Abrangendo desde ageraçãodenovasidéias,odesenvolvimentoeaconversãodeprodutoseprocessosatéaextensãodestesparaomercado.ParaSchumpeter(1934),aprosperidadeeodesenvolvimentosó podem vir por meio da inovação, compreendida pelasubstituiçãodeformasantigaspornovasformasdeproduzireconsumir.Essasubstituiçãopermanentepornovosprodutos,processos e modelos caracteriza o conceito de “destruiçãocriativa”,cujaaçãosedáporindivíduoscomcaracterísticasempreendedoras,quesãoosprotagonistasdessasmudanças.

Dentre as produções técnicas da OCDE1 , que trazem aabordagem empresarial, destaca-se o Manual de Oslo,referência para as atividades de inovação tecnológica naindústria brasileira, segundo o qual as empresas realizamváriostiposdemudanças,sejaemmétodosdetrabalho,sejanousodefatoresdeprodução,sejanotipoderesultadosqueaumentam a produtividade e(ou) desempenho comercial.Existemquatrotiposdeinovação:deproduto,deprocesso,demarketingeorganizacional.

AindasegundoesseManual(1997,p.55),“umainovaçãoéa implementaçãodeumproduto(bemouserviço)novoousignificativamentemelhorado,ouumprocesso,ouumnovométododemarketing,ouumnovométodoorganizacionalnaspráticasdenegócios,naorganizaçãodolocaldetrabalhoounasrelaçõesexternas”.Assim,paradefinirumainovaçãoorequisitomínimoéque sejamnovosou significativamente

1oCDE – organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, instituição intergovernamental que agrega 30 governos com o objetivo de endereçar os desafios econômicos, sociais e ambientais da globalização. Agrega também esforços para compreender e ajudar os governos a responder a novos desenvolvimentos e inquietações provendo um ambiente que possibilita comparar experiências políticas e buscar respostas para problemas comuns, identificar boas práticas e trabalhar para coordenar políticas domésticas e internacionais. Maiores informações em: www.finep.gov.br

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melhoradosparaaempresa,incluindoprodutos,processosemétodosqueasempresassãopioneirasadesenvolvereaquelesque foram adotados de outras empresas ou organizações.Segundo o mesmo Manual, há um elo indissociável entreinovação edesenvolvimento econômico, namedida emqueacriaçãoe adifusãodenovosconhecimentosalavancamodesenvolvimento de novos produtos e métodos. Assim, oconceitode inovaçãoutilizadodizrespeitoamudançasqueapresentemosseguintesaspectos:

Ainovaçãoestáassociadaàincertezasobreosresultadosdasatividadesinovadoras.

A inovação envolve investimentos que podem renderretornospotenciaisnofuturo.

A inovação é o substrato dos transbordamentos deconhecimentos.

A inovação requer a utilização de conhecimento novoou um novo uso ou combinação para o conhecimentoexistente.

Ainovaçãovisamelhorarodesempenhodeumaempresacom ganho de uma vantagem competitiva por meio damudançadacurvadedemandadeseusprodutosoudesuacurvadecustosoupeloaprimoramentodacapacidadedeinovaçãodaempresa.

Emborareconheçaqueainovaçãopodesedaremqualquersetordaeconomia,comoserviçosgovernamentais,desaúdeeeducação,oManualdeOslodaOCDEpriorizaasinovaçõesdeempresascomerciais(indústriadetransformação,indústriasprimáriasesetordeserviços).Recomendaestudosàpartepara formação de arcabouço conceitual para processos deinovaçãoemsetoresnãoorientadosaomercado.

Pode-se afirmar que os sistemas culturais e empresariaisconsolidarammodelosdegestãoquenãotêmdadocontadasdemandassociais,concebidos,exclusivamente,apartirdodesenvolvimento econômico e, nesse sentido,movimentos,

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em todasasdireções,buscamdiminuirasmazelassociaisvividas nas diferentes realidades. O desenho de novasestratégias é condição sine qua non para a superação dosdesafiosdasociedadepós-moderna,consideradapormuitosestudiososcomoummomentodetransiçãohistórica.

O conceito de inovação social, uma das estratégias parasuperar os desafio da sociedade, vem sendo construído,porémo fenômenonãoénovo.Muitas iniciativas já foramimplementadasemuitosesforçosvêmsendo realizadosnaconstruçãodeconceito,metodologiaseindicadoresquehojetemoscomoreferênciaparaumareflexãosobreotema.

De acordo com Elias (1994), pode-se afirmar que novosreferenciaisestãosendobuscadosparacriaçãodesoluçõesqueagreguemvalorparatodos:

[...] na vida social de hoje, somos incessantemente confrontados pela questão de se e como é possível criar uma ordem social que permita uma melhor harmonização entre as necessidades e inclinações pessoais dos indivíduos, de um lado, e, de outro, as exigências feitas a cada individuo pelo trabalho cooperativo de muitos, pela manutenção e eficiência do todo social. não há dúvida de que isso – o desenvolvimento da sociedade de maneira a que não apenas alguns, mas a totalidade de seus membros tivesse a oportunidade de alcançar essa harmonia – é o que criaríamos se nossos desejos tivessem poder suficiente sobre a realidade. (ELiAS, 1994, p.1�)

A articulação dos indivíduos em rede, trabalhando de formasintonizadaeharmônicapotencializaoquedefineElias(1994,p.19),[...]“Nãohádúvidadequecadaserhumanoécriadoporoutrosqueexistiamantesdele.Elecresceevivecomopartedeumaassociaçãodepessoas,deumtodosocial–sejaestequalfor[...],eondeselocalize,passado,presenteoufuturo.”

Opodersuficientesobrearealidaderequerautilizaçãodemetodologiasadequadas,processossistematizados,aliançasestratégicas,sistemasefetivosdedisseminação,entreoutrosfatores,queconduzamàcriaçãoeincorporaçãodeinovaçõesquecontribuamparaodesenvolvimentosustentávelnotecidosocioeconômico-cultural.

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Logo, se os homens tornam-se solidários no processo deemancipação nas (e das) sociedades, são produtores deconhecimento e reconhecidos como tal, interagem comvárias culturas mediante ações de comunicação e trocamconhecimentoe informaçõesemrede,estãocriandonovosprocessose,portanto,inovandoemsuasrelações.

Novosparadigmasereferenciaiscomeçamaapresentarumpotencial de atendimento às necessidades sociais. Surge,então,oconceitodeinovaçãosocialcomopontodepartidaparaaconstruçãodeumnovomodeloparaatendimentoàsdemandas sociais com respeito à diversidade e à unidadehumana,equecontribuaparaapromoçãodaigualdadenasociedadepós-moderna.

Esse conceito está ancorado no pressuposto apontado porSantos(2005,p.32),[...]“aprofissionalizaçãodoconhecimentoéindispensável,masapenasnamedidaemquetornapossível,eficazeacessívelaaplicaçãopartilhadaedesprofissionalizadado conhecimento. Esta co-responsabilização contém na suabase um compromisso ético”. Nesse compromisso ético deco-responsabilizaçãoencontra-serespaldadaaexperiênciadeinovaçãosocial.

SegundooInstitutoBrasileirodeQualidadeeProdutividade-IBQP2(2007),natentativadebuscaralternativasaomodeloeconômico dominante, baseado na avaliação econômicae técnica sob a ótica do capital, surgiram abordagensalternativas,sobadenominaçãodetecnologiasocial,sendoestaconsideradacomo todo:produto,método,processooutécnica, criada para solucionar algum tipo de problemasocial,levandoemconsideraçãotambémasimplicidade,obaixocusto,a facilidadedeaplicaçãoeacomprovaçãodoimpactosocial.

2iBqP – Entidade privada, sem fins lucrativos, de abrangência nacional, formada por associações empresariais, organizações governamentais e não-governamentais, entidades de classe, instituições técnico-científicas, universidades e cidadãos. Sua missão é ser um centro de aprendizagem, aprimoramento e disseminação contínua do conhecimento que envolve os ambientes naturais, sociais e de produção, bem como suas interações, sob o enfoque da produtividade sistêmica. Seu papel é o de ser plataforma de conhecimento inovador e catalisador para os novos processos e negócios, em um cenário de cooperação e sustentabilidade. Maiores informações em: www.ibqp.org.br

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Comaparticipaçãodediversas instituições, tem-seoprojetoCBRTS (Centro Brasileiro de Referências em TecnologiaSocial), citado em publicação do ITS3 (2007, p.25), quecunhouoseguinteconceitopara tecnologiasocial:“conjuntodetécnicasemetodologiastransformadoras,desenvolvidase/ouaplicadasnainteraçãocomapopulaçãoeapropriadasporela,querepresentamsoluçõesparainclusãosocialemelhoriadascondiçõesdevida”.

Emconsulta àdivulgaçãodo ITS3 (InstitutodeTecnologiaSocial)(2007),localiza-seque:“aofazeraderirapalavrasocialàtecnologia,pretende-setrazeradimensãosocioambiental,aconstruçãodoprocessodemocráticoeoobjetivodesolucionaras principais necessidades da população para o centro doprocessodedesenvolvimentotecnológico”.

OITS(2007)complementaseuconceitocomaindicaçãodequeas tecnologias sociais envolvem uma abordagem sistêmica queconsideraosseguintesfatores:

1.compromissocomatransformaçãosocial;

2. criação de um espaço de descoberta de demandas enecessidadessociais;

3.relevânciaeeficáciasocial;

4.sustentabilidadesocioambientaleeconômica;

5.inovação;

6.organizaçãoesistematização;

7.acessibilidadeeapropriaçãodastecnologias;

8.processopedagógicoparatodososenvolvidos;

9.diálogoentrediferentessaberes;

10.difusãoeaçãoeducativa;

11.processosparticipativosdeplanejamento,acompanhamentoeavaliação.

� itS – Associação de direito privado, qualificada como oSCiP, que tem como missão promover a geração, o desenvolvimento e o aproveitamento de tecnologias voltadas para o interesse social e reunir as condições de mobilização do conhecimento, a fim de que se atendam as demandas da população. Maiores informações em: www.itsbrasil.org.br

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Realizando-se uma breve análise comparativa entre essesconceitos,percebe-seaamplitudecrescenteeaextensãodaabrangência,segundoocritériodebuscademetodologiasparaatransformaçãoeainclusãosocial,quepoderáculminarnoprocessodeemancipaçãoeproduçãodeconhecimentopelaprópriapopulaçãodeindivíduos,aindaexcluídos,segundoasnormasderacionalidadedasociedademoderna.

Nobojodoconceitoapresentado,destacam-seatransformaçãosocial, o processo pedagógico, o diálogo entre diferentessaberese,principalmente,ainovação,comofatoresquesãodemarcadoresdomomentohistóricodetransiçãodenominadosociedade pós-moderna. Sobre esse último conceito é queesteartigoestásedetendocomotemaprincipal.

A inovação social como temaemconstruçãonos remete àbuscadeexperiênciasquevalidemaimportânciadotempodedicado à elaboração desta publicação. Comentar sobreexperiências de sucesso já desenvolvidas oportuniza aoleitor a compreensão do destaque do tema, inovador paraa realidade brasileira e conceito ainda em construção,bem como sua importância em um cenário de economiaglobalizada.

Dessa forma, buscou-se a experiência da CEPAL4 que,no anode2004–Ciclo 2004/2005, lançou oConcursodeExperiências em Inovação Social na América Latina e noCaribe. O concurso aberto pela primeira vez em 2004,identifica iniciativas inovadoras de desenvolvimento socialparadifundi-lasecontribuirnamelhoriadepráticasepolíticasembenefíciodapopulaçãomaispobredaRegião.NoanofoipublicadooCiclo2005/2006efinalmenteoCiclo2006/2007,doqualseguemalgunscomentários.

4 CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe foi constituída em 1948. A CEPAL é uma das cinco comissões regionais das nações Unidas e sua sede está em Santiago do Chile. Sua função é contribuir com o desenvolvimento econômico da América Latina, coordenar as ações encaminhadas a sua promoção e reforçar as relações econômicas dos países entre si e com as demais nacionais do mundo. Posteriormente, seu trabalho se ampliou incorporando a promoção do desenvolvimento social. tem se dedicado particularmente ao estudo dos desafios que sustentam a necessidade de retomar o eixo do crescimento sustentável e o desenvolvimento com sustentabilidade ambiental, assim como a consolidação de sociedades mais democráticas, nas quais persistem demandas concretas para solucionais as desigualdades sociais, e buscar cada vez mais a equidade que almeja a maioria da população destes países. A CEPAL tem sedes sub-regionais, uma para cada sub-região da América Central. Maiores informações em: www.eclac.org/brasil

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No Ciclo 2006/2007 foram inscritos 806 projetos; destes,64projetosinovadores,contemplando14paísesdaAméricaLatina,foramselecionadosparaseguirparticipandodoconcursoque,alémdaCEPAL,temopatrocíniodaFundaçãoW.K.Kellogg.As64iniciativasquecontinuamconcorrendonesteanoprovêmdoBrasil(19),Argentina(7),México(7),Colômbia(6),Peru(4),Chile(4),CostaRica(3),Equador(3),Paraguai(3),Bolívia(2),Honduras(2),ElSalvador(2),Guatemala(1)eVenezuela(1).

Fonte: CEPAL – CoMiSSão EConÔMiCA PARA A AMéRiA LAtinA E CARiBE.

Disponível em: http://www.eclac.cl/ acesso em 11 jul. 200�.

ConsiderandoqueoBrasilficoucomumpercentualde28%dosprojetosselecionadosnoCiclo2006/2007,valeconferirem quais áreas as iniciativas inovadoras brasileiras estãoatuandocomseusprojetos/programas:

Jovens, filhos de pescadores, que desenvolvem novasopçõesdetrabalhoemconseqüênciadocolapsopesqueiroemFlorianópolis–SantaCatarina.

Projetos que contribuem na segunda fase de seleção:distribuição por países

12%

3%

6%

9%

5%

5%3%

2%3%11%

5%

6%

2%

28%ArgentinaBolíviaChileColombiaCosta RicaEquadorEl SalvadorGuatemalaHondurasMéxicoParaguaiPeruVenezuelaBrasil

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Uma experiência que revaloriza os conhecimentos dosartesãos locais e abre mercados nos Estados Unidos,FrançaeSuécia.

Agricultoresdezonassemi-áridasestabelecemredesdecolaboraçãoeapoioàagroindústria.

21 comunidades guaranis melhoram sua qualidade devida,fazendousodeplantasmedicinaiseficazes,segurasebaratas,noEstadodoRioGrandedoSul.

Ummunicípioconseguiureduziramortalidadematerno-infantil.

Umprogramaquefacilitaareintegraçãodecriançasex-internasasuascasas.

Outroprepara“padrinhosemadrinhas”voluntáriosqueestabelecemvínculos afetivos comcriançasque vivememhospitaismunicipaisdeGoiânia.

Uma nova prática pedagógica, uma metodologia queauxiliamenorescomdéficitdeaprendizagem.

Visibilizaçãodotrabalhoinfantildoméstico.

Ajudaacriançasejovensobesosdebaixarenda.

ParaqueexistaacompreensãomelhordequaissãoasáreasprioritáriasqueosprojetosinscritosnoConcursoCEPALatuam,a seguir apresenta-se um gráfico por atuação, considerandotodososselecionadosnoCiclo2006/2007.

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FontE: Proyecto Experiencias en innovación Social. División de Desarrollo Social, CEPAL

Os indicadores do Ciclo 2006/2007 nos mostram como oBrasiléumpaísqueoportunizaas inovaçõessociais,sejapor sua condição de país em desenvolvimento, seja pornecessidadeou,talvez,aindavalhaapenaousarnareflexãode que o espírito coletivo dos brasileiros traz consigo asolidariedadecomovaloreabuscade justiçasocialcomomeiodapromoçãodetodos.

Entendendo a importância da questão da inovaçãocomo instrumento de transformação social, inicia-se odelineamentodosconceitos,combasenalegislaçãovigente.Escolheu-se a Lei que dispõe sobre incentivos à própriainovaçãoeàpesquisacientíficaetecnológicanoambienteprodutivo, para sermos fiéis ao contexto proposto. A LeiFederal no 10.973/04 consultada, em seu capítulo I dasDisposiçõesPreliminares,expressanoart.2.º, inciso IVoseguinteconceitodeinovação:“introduçãodenovidadeouaperfeiçoamentonoambienteprodutivoousocialqueresulteemnovosprodutos,processosouserviços”.

14% 17%

20%

15%

9%

3%

11%

11%

Desenvolvimento Rural

Geração de Renda

Educação

Saúde

Programas para Jovens

Responsabilidade Social Empresarial

Trabalho Voluntário

Outros

Concurso de Inovação Social: áreas cobertas pelos semi-finalistas / 2007

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Encontra-senocenáriopolíticoinstitucionalbrasileiro,juntoàFINEP5,oconceitode“inovaçãoparaodesenvolvimentosocial,como:criaçãodetecnologias,processosemetodologiasoriginais que possam vir a se tornar propostas de novosmodeloseparadigmasparaoenfrentamentodeproblemassociais,combateàpobrezaepromoçãodacidadania”.

AFINEPanualmentelançaumprêmiodenominadoPrêmioFINEPdeInovaçãoTecnológica,queatualmenteestáemsua10aedição,foicriadocomoobjetivodeidentificar,divulgarepremiaresforçosinovadoresdesenvolvidoseaplicadosnopaís,sejaporempresaseinstituiçõesdeciênciaetecnologiabrasileiras,comoformadeelevarseupotencialcompetitivo,seja por instituições públicas ou privadas brasileiras semfinslucrativos,comoformadeencontrarsoluçõesdeimpactopositivonaqualidadedevidadasociedadebrasileira.

Utilizando as definições contidas no Manual de Oslo daOCDEemrelaçãoàsquestõesdeinovação,oPrêmiopauta-senascategoriasde:produto,processo,pequenaempresa,grandeempresa,instituiçõesdeCiênciaeTecnologia(C&T).Porém,desdeoanode2005inseriumaisumacategoriaparaqueinstituiçõespudessemconcorrer–inovaçãosocial.

Inovaçãosocialnessecontexto,éentendidacomoautilizaçãode tecnologias que permitam promover a inclusão social,geraçãodetrabalho,rendaemelhorasnascondiçõesdevida.Nestacategoriapoderãoconcorrerinstituiçõesdeciênciaetecnologia,associações,cooperativaseinstituiçõespúblicasou privadas sem fins lucrativos. As empresas poderãocandidatar-se com projetos tecnologicamente inovadores,quenãoselimitemaoselementosjáconsagradosdasaçõesderesponsabilidadesocialempresarial.

� FinEP – Financiadora de Estudos e Projetos, empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e tecnologia que tem como objetivo principal promover e financiar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica em empresas, universidades, institutos tecnológicos, centros de pesquisa e outras instituições públicas e privadas, mobilizando recursos financeiros e interando instrumentos para o desenvolvimento econômico e social do país. Sua missão é “promover e financiar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica em empresas, universidades, institutos tecnológicos, centros de pesquisa e outras instituições públicas ou privadas, mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o desenvolvimento econômico e social do País“. Maiores informações em: www.finep.gov.br

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ParaessacategoriadoPrêmio,aFINEPutilizacomocritérios:característicasdainovação,impactossociaiseeconômicoseparcerias.Oprocessodeavaliaçãodosprojetosinscritosemcadaumdoscritériosobservaosseguintesindicadores:

Características da inovação: descrição da soluçãodesenvolvidaeaplicada;utilizaçãodeelementosdaculturaeconhecimentolocais;viabilidadedeaplicaçãoemambientessocioculturais semelhantes e auto-sustentabilidade doprojeto.

Impactos sociais e econômicos: problemas sociaisrelacionados e tamanho da comunidade afetada pelainovação;melhorianos indicadoresde trabalhoe rendanascomunidadeenvolvidas;reconhecimentosalcançados;eficáciaempromoverumamaiororganizaçãosocialdascomunidadesenvolvidas.

Parcerias:articulaçãocompolíticaspúblicasecomosetorprodutivo.

Na categoria inovação social os indicadores quantitativosapresentadosnosanosde2005e2006foramosseguintes:em2005foraminscritos166projetoseem2006houveumtotalde159inscrições.OsnúmerosdasinscriçõesporregiãodoPaísforamasseguintes:

PRêMio FinEPCAtEGoRiA inoVAção SoCiAL

REGião 200� 200�

SUL 43 24

SUDEStE �0 �9

noRDEStE 29 30

noRtE 14 14

CEntRo-oEStE 20 22

totAL 1�� 1�9

totAL DE inSCRiçõES no PRêMio EM toDAS AS CAtEGoRiAS ��9 ���

% DE inSCRiçõES nA CAtEGoRiA inoVAção SoCiAL 2�.92% 23,48%

FontE: as autoras

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Considerando os dados apresentados, em que evidencia-sea participação de todas as regiões do país, reflete-se que oPrêmio FINEP é um importante instrumento de promoção edesenvolvimentodoconceitodeinovaçãosocial.OPrêmiovemsendoreconhecidoporinstituiçõesdecredibilidadeenecessitaquesuadivulgaçãoatinjadiferentescamadasdapopulaçãoparaserdifundidoeassimiladoportodos,hajavistosuaimportânciaparaaconstruçãodeumanovarealidadesocial.

Dessaforma,levantarasinscriçõesnoPrêmioporcategoriatornou-seumexercícioimportanteparaacomposiçãodestetrabalho.Fazendouma junçãodas inscrições realizadasnacategoriainovaçãosocialnosanosde2005e2006,temososeguintereferencial:

FontE: as autoras

Analisando os dados acima se pode constatar a importânciada categoria de inovação social no Prêmio FINEP, quandoatinge em dois anos consecutivos um patamar de 24% dototaldasinscrições.Esteindicadorpodeserobjetodeestudosmais profundos e que demonstrem conforme apresentadoanteriormentequeexisteummovimentosocialpreocupadocomabuscadecondiçõesmaisjustasparaasociedadebrasileira.

24%

46%

17%5%

5%3%

ProdutosProcessoPequenas EmpresasGrandes EmpresasInstituições de C&TInovação Social

Inscrições do anos 2005 / 2006 -por Categoria

Prêmio FINEP

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Emumabreveanálisepercebe-seque,seforcontextualizadaa inovaçãoemseucarátersocial,oconceito reveste-sedequalidadecidadãetranscendeosentidomeramentedevaloreconômico(dáumadestinaçãosocial).Essamaioramplitudeerelevânciasocialconduzemparaacriaçãodeproposiçõesno enfrentamento de problemas, tais como a pobreza e aausênciadecidadania.Aqualidadenoconceitoéumatributodevalorsocialecomplementa,àmedidaquetranscende,oconceitodeinovaçãoexpostonaliteraturavigente.

Nessamesmalinhacomparativa,pode-seestenderaindamaisoconceitodeinovaçãosocialaolocalizarmosacaracterizaçãoporSoniaFleury(apudGENRO,1997,p.14),dequeinovaçãosocial,nocontextodeumasociedadedemocrática,estáassociadaa dois processos: a) transformação das estruturas de gestãopúblicacomoformadeinclusãodosinteressesdominadosnaesferapública,paraalémdaformatradicionalderepresentação;b) geração de redes associativas, capaz de gerar processossinérgicos entre as instituições estatais democratizadas e asorganizaçõesdasociedade.

Ainda segundo a mesma autora, “o processo de inovaçãotemoefeitodereconstruirossistemasderelaçõessociaiseaestruturaderegraserecursosquereproduzemaquelessistemas.Podemosfalardeumainovaçãosocialquandoasmudançasalteramosprocessoserelaçõessociais,alterandoasestruturasdepoderpreexistentes”.

Volta-se aqui à idéia inicial apresentada no artigo, emsua parte introdutória, com base em Santos (2005), quetodo o conhecimento-emancipação tem uma vocação desolidariedade incluindo a produção de conhecimento pelohomem,comoagenteinstitucionalecomoagenteinstituintereconhecido.Namedidaemquesereconheceooutro,comoprodutor de conhecimento, ocorre, de forma gradativa, oprocessodealteraçãodasestruturasdepoderpreexistentes.

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Agradaçãodessaalteraçãoeasubstituiçãopornovasformas,a partir de referenciais consistentes, possuem um ritmolento. Sabe-seque a inovação, comoprocesso complexo econtínuo,podeocorreremtodosossetoresdaeconomia.

A inovação é um processo de procura, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação, e, adoção efetiva de novos produtos, de novos processos de produção ou novos arranjos organizacionais. A inovação envolve uma atividade intrinsecamente incerta de pesquisa e solução de problemas, baseada em variadas combinações de conhecimentos públicos e privados, princípios científicos gerais e experiências idiossincráticas, procedimentos sistematizados e competências tácitas (DoSi, 1988 apud FLEURY, 2001, p.0�).

Identifica-se,portanto,aimportânciadeumagenteparaquesejapossívelpromoverainovação.Umtipoespecialdepessoaquetemespíritoempreendedor.Ainovaçãoéoatoquecontemplaosrecursoscomanovacapacidadedecriarriqueza.Ainovação,defato,criaumrecursoenãoexistealgodenominadorecursoatéqueohomemencontreumusoparaalgumacoisananaturezaeassimatribuaumvaloreconômico.Dessaforma,segundoDrucker:

A inovação, portanto, é um termo econômico ou social, mais que técnico. Ela pode ser definida da maneira como J.B. Say definiu ‘entrepreneurship’, como podendo mudar o rendimento dos recursos. ou, como um economista moderno tenderia a fazer, ela pode ser definida em termos de demanda em vez de termos de oferta, isto é, como capaz de mudar o valor e a satisfação obtidos dos recursos pelo consumidor. (DRUCKER, 200�, p.43)

Apartirdetodososconceitoscoletadoscabeareflexãosobreascondiçõeseosmomentoshistóricosquepermitemfloresceraquestãodainovaçãosocial,nãomaisvinculadaametodologiase processos impostos, mas em uma visão sustentada emprincípiosdemocráticoseéticosquebuscamainclusãodetodaadiminuiçãodoabismosocialpresenteemdiferentessociedades,apromoçãodoexercícioplenodacidadania,asolidariedadenoconhecimento-emancipação,amulticulturalidadeemredeeosprocessosdecomunicaçãoeeducação.

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Dessaforma,buscaracompreensãodequeestamosinseridosemumambienteautoprodutor,vivoesocialcomplexo,que,segundoCapra(1995),secaracterizapordesenvolversuasconexões em forma de redes e portanto exige um ‘pensardeformaholística’,épontodepartidaparaoentendimentodas relações sociais. Perceber os padrões que envolvemas relações humanas, suas estruturas e possibilidadesdarão uma nova visão da vida sistêmica fazendo com queos sistemas sociais precisem ser projetados e planejadosdemaneirasustentável.Énestecenárioqueestáalocadaagrandecontribuiçãodasinovaçõessociais,abuscadenovasformasdepensar,serelacionar,criarestruturas,padrõeseconexõesemdiferentesdimensões.

3. COnSIdeRAÇÕeS pARA UMA ReCRIAÇÃO

Nos ambientes organizacionais, somente pode ocorrera inovação social, voltada ou não ao mercado, quandoocorrer aaprendizagemorganizacional.Acompreensãodaaprendizagemorganizacional,comoumprocessoestruturadoecontínuo,éencontradaemSenge(1998),quandoafirma“que as organizações que aprendem devem desenvolvercontinuamenteacapacidadedeseadaptaremudaratravésdacriatividadeeinovação.”Segundooautor,oestímuloeaconduçãodoprocessodeaprendizagem,pormeiodeumconjuntodeaçõesqueenglobaaspectostécnicos,sociaisecomportamentais,devemcontemplar:

domínio pessoal: por meio do autoconhecimento aspessoasaprendemaaprofundarseusprópriosobjetivos,expandircontinuamentesuacapacidadedecriareinovareaconcentraresforçoscomumavisãomaisobjetivadarealidade;

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questionamento dos modelos mentais: idéias enraizadas,generalizaçõeseimagensqueinfluenciamomodocomoaspessoasvêemomundoeasimesmasdevemviràtonaeserquestionadasparapermitiraconstruçãoeadoçãodenovasmaneirasdepesquisar,testaremelhorar;

formação de visões compartilhadas: um objetivopercebidocomolegítimolevaaspessoasadedicarem-seeaprenderemdeformaespontâneaeaconstruíremumavisãocomumecompartilhada;

aprendizagememequipe:capacidadeparaaaçãocoordenadaqueteminíciocomodiálogoquepossibilitaaosváriosmembrosdaequipetrocarexperiências,idéiaseconhecimentos;

adoçãodepensamentosistêmico:percepçãodasrelaçõesentreaspartesedaimportânciadecadaumaemrelaçãoaotodo.

Importaqueasorganizaçõesproduzaminovaçõesemdiferentescontextoseoportunizemacriaçãodenovasmetodologiasquepromovamnãosomenteasuperaçãodedesigualdades,masarealizaçãoeauto-realizaçãodossujeitosquecriamedisseminamo conhecimento. Essas pessoas e organizações são as queantecipamasnovasformas,enfrentandooconservadorismodemodelosenraizadosedeflagramnovosparadigmasqueserãoseguidos,construídosecertamente reconstruídos,apartirdeumnovomodeloquesecrieegereoutrainovaçãosocial.

Umaspectogeraldeuma inovaçãoéqueeladeve ter sidoimplementada.Umprodutonovooumelhoradoéimplementadoquandointroduzidonomercado.Umprojetosocialinovadorprecisasercolocadoempráticaparaquesejaavaliadoemsuapotencialidadedetransformaçãodasociedade.

Emtodososconceitosabordadosnestecapítulo,ainovaçãodeveconteralgumgraudenovidadeparaaempresa,paraomercadoeparaomundo.

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Quandosetratadeinovaçãosocial,alémdograudenovidadeedacontribuiçãoparaconstruçãodoconhecimentoedisseminaçãovoltados para o mercado, com base na aprendizagemorganizacional, deve-se incluir, ao lado desses ingredientes, ocompromisso solidário coma transformação, o reconhecer e ovalorizardoconhecimentodooutro,oprincípiodasustentabilidadedodesenvolvimento,abuscadamulticulturalidadenoprocessoeasmetodologiasparaemancipaçãodetodososindivíduos.

Todaainovaçãosocialéumprocessoconstituídodemúltiplosagentes que interagem solidariamente para a recriaçãocontínua da sociedade e precisa ter respeito à unidade danaturezahumanaporquetodossãoiguaisporparticiparemdamesmaespécie,comcorpo,menteeespírito,eàdiversidadepormeiodaqual todosossujeitos–agentesdoprocesso–aprendemeseexpressamdiferentemente,recriandocontínuaecontemporaneamenteaculturanasociedadepós-moderna.

ReFeRÊnCIAS

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DRUCKER, P. Inovação e espírito empreendedor(entrepreneurship): prática e princípios. Tradução CarlosMalferrari.SãoPaulo:PioneiraThomsonLearning,2005.

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FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS. PrêmioFINEPinovaçãotecnológica2005:catálogodeparticipantes.RiodeJaneiro:FINEP,2005.

FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS. PrêmioFINEPinovaçãotecnológica2006:catálogodeparticipantes.RiodeJaneiro:FINEP,2006.

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SANTOS,B.deS.Paraumnovosensocomum:aciência,odireitoeapolíticana transiçãoparadigmática.5.ed.,SãoPaulo:Cortez,2005.v.1.

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2. InOvAÇÃO SOCIAl e SUStentABIlIdAde

Ladislau Dowbor

1. UM pOUCO de ReAlISMO

Nãohámaiscomonegar,hoje,aamplitudedosdesafiosqueenfrentamos. Um dos resultados indiretos das tecnologiasda informação e da comunicação, aliadas à expansão daspesquisasemtodososníveis,équeemergecomclarezaotamanhodosimpasses.Nãosetratadediscursosacadêmicosoudeempolamentospolíticos.Sãodados,nusecrus, e jábastante confiáveis, sobre processos que atingem a todos.Gradualmente,aquelaatitudedelermosnojornalasdesgraçasdomundo,esuspirarsobrecoisastristes,masdistantes,vaisendosubstituídapelacompreensãodequesetratadenósmesmos, dos nossos filhos, e que a responsabilidade é decadaumdenós.Umaamostradosrelatóriosinternacionaismaisrecentesdeixaascoisasclaras.

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MUDAnçA CLiMátiCA

Oaquecimentoglobalestánaordemdodia.Nãohádúvidasde que a mídia freqüentemente se apropria das notíciascientíficasparaumalarmismomais centradonavendadanotíciaedapublicidadedoquepropriamenteparainformaro cidadão. Mas, indo diretamente à fonte, vemos no IVRelatório do Painel Intergovernamental sobre MudançasClimáticas que “o aquecimento do sistema climático éinequívoco, como se tornou agora evidente a partir deobservaçõesdoaumentodastemperaturasmédiasglobaisdoar e dos oceanos, derretimento generalizado da neve e dogelo,eaelevaçãoglobaldonívelmédiodomar”.6

Não é o caso aqui de entrar em detalhes técnicos. Oaquecimento global, particularmente graças à ampladivulgação do filme Uma verdade inconveniente de AlGore,tornou-sepresentepelaprimeiravezparaamassadapopulação razoavelmente informada. Os dados científicossaem aos poucos dos laboratórios, penetram entre osformadoresdeopiniãoesobemgradualmenteparaoníveldequemtomadecisõesnosgovernosenasgrandesempresas.Nestenível,gera-segradualmenteumatensãoentreosquetomaram consciência dos desafios e os que se satisfazemcomochamadobusinessasusual,expressãoqueentrenóspodesertraduzidacomopopularempurrarcomabarriga.

A ContA Do AqUECiMEnto GLoBAL

A lentidão na mudança de comportamentos no nível dasestruturasdepodertemseuscustos.NicholasStern,quefoieconomista-chefe do Banco Mundial e, portanto, é poucopropenso a extremismos ecológicos, foi encarregado pelogoverno Blair de fazer as contas. As contas do RelatórioSternreferem-seaosdadosclimáticosmaisconfiáveis,queeleutilizaparaavaliaroimpactopropriamenteeconômico:

� iPCC – Summary for Policymakers – Climate Change 200�: the physical Science Basis, p. � – www.ipcc.ch/spm2feb0�.pdf

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oqueacontecerá,emtermosdecustos,aoseverificaremasprojeçõesclimáticasjárazoavelmenteseguras,calculando-se os impactos mais prováveis, sem desconhecer o grauinevitável de incerteza. Trata-se da primeira avaliaçãoabrangenteda“contaclimática”.

O Relatório está tendo um grande impacto mundial, poisveio justamente preencher esta grande necessidade, porparte de pessoas de bom-senso e não-especializadas, deentenderospontoscentraisdaquestão.Aanálisedosdados,segundoStern,“levaaumaconclusãosimples:osbenefíciosdeumaaçãoforteeprecoceultrapassamconsideravelmenteoscustos.Asnossasaçõesnaspróximasdécadaspoderiamcriarriscosdeampladesarticulaçãodaatividadeeconômicaesocial,maistardenesteséculoenopróximo,numaescalasemelhanteàqueestáassociadacomasgrandesguerraseadepressãoeconômicadaprimeirametadedoséculo20.Eserádifícilouimpossívelreverterestasmudanças”.

Osmecanismosdemercadosãosimplesmenteinsuficientes,pois,emtermosdemercado,saimaisbaratogastaropetróleoque já está pronto no subsolo, queimar a cana no campo,encher as nossas cidades de carros. E os dois principaisprejudicadosdoprocesso,anaturezaeaspróximasgerações,sãointerlocutoressilenciosos.Avisãosistêmicaedelongoprazoseimpõe,eistoimplicamecanismosdedecisãoedegestãoquevãoalémdointeressemicroeconômicoimediato.Nesteponto,Sternédiretonassuasafirmações:“Amudançaclimáticaapresentaumdesafioúnicoàciênciaeconômica:trata-sedamaioremaisabrangentefalênciadomercadojávista”.7Éumadeclaraçãoforte,quemarcaaevoluçãogeraldasopiniõessobreosnossosprocessosdecisóriosporpartede especialistas que pertencem ao próprio sistema, e nãomaisapenasdecríticosexternos.

� no original ingles, “Climate change presents a unique challenge for economics: it is the greatest and widest-ranging market failure ever seen” – nicholas Stern – the Economics of Climate Change – out. 200�, http://www.hm-treasury.gov.uk/media/8AC/F�/Executive_Summary.pdf.

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DESiGUALDADE DE REnDA

Umoutroeixodramáticodetransformaçãoestánarealidadesocial que enfrentamos.AONU realizou, dez anos após o“Social Summit”deCopenhague, umbalançoda situaçãono planeta. A apresentação vai muito além do conceitode pobreza, envolvendo amplamente “indicadores nãoeconômicosdedesigualdade”.8

No plano da desigualdade econômica, o resultado é que“as análises dos padrões de desigualdade sugerem que adesigualdadederendaeconsumoentrepaísessemanteverelativamenteestávelduranteosúltimos50anos”,oqueemsi é impressionante, dados os imensos avanços nos meiostécnicosdisponíveisnesteperíodo.Houve,semdúvida,umavançonasituaçãodapartemaispobredapopulação.Noentanto, “aprofundando a análise, a imagem que emergenão é tão positiva. Primeiro, a maior parte da melhoriana distribuição de renda no mundo pode ser explicadapelo rápidocrescimentoeconômicodaChinae,emmenorproporção,daÍndia,comboapartedamudançarefletindoosganhosdossegmentosmaispobresdasociedadeàcustados grupos de renda média nestes dois países. Segundo,a participação dos 10% mais ricos da população mundialaumentoude51,6%para53,4%dototaldarendamundial.Terceiro, quando tiramos aChina e a Índiada análise, osdados disponíveis mostram um aumento da desigualdadederendadevidoaoefeitocombinadodedisparidadesmaiselevadasderendadentrodospaísesedoefeitodistributivoadverso do aumento mais rápido da população nos paísesmaispobres.Quarto, “gap”de rendaentreospaísesmaisricos e os mais pobres aumentou nas décadas recentes”.(ONU,Inequality...2005,p.44)

8 onU – the inequality Predicament: report on the world social situation 200� – Department of Economic and Social Affairs – Un, new York 200� http://www.ilo.org/public/english/region/ampro/cinterfor/news/inf_0�.htm

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Adesigualdadederendainternadospaísesdiminuiuduranteas décadasde50, 60 e70namaior parte das economiasdesenvolvidas, em desenvolvimento e de planejamentocentral.Desdeadécadade80,noentanto,estedeclíniosetornoumaislentoouseestabilizou,edentrodenumerosospaísesadesigualdadeestácrescendodenovo.Éigualmentenovoocrescimentodadesigualdadeempaísesdesenvolvidos:“Um estudo da evolução da desigualdade econômica emnove países da OCDE confirma em geral a visão de queocorreu um deslocamento significativo na distribuição derendaemtodosospaísesanalisados,comapossívelexceçãodoCanadá”.(ONU,Inequality...2005,p.48)

A América Latina continua bem representada: “Umacaracterística que distingue o padrão de desigualdadeinternanaAméricaLatinadasoutrasregiõeséaparticipaçãodos10%dasfamíliasmaisricasnarendatotal.”...“Ofossomaisprofundo situa-senoBrasil, ondea rendapercapitados10%maisricosdapopulaçãoé32vezesados40%maispobres.OsníveismaisbaixosdedesigualdadederendanaregiãopodemserencontradosnoUruguaienaCostaRica,paísesondeasrespectivasrendaspercapitados10%maisricossão8,8e12,6vezesmaiselevadasdoqueasdos40%maispobres”.(ONU,Inequality...2005,p.50).

Ondeprogressosforamconstatados,foigraçasaprogramasde combate à pobreza: “Em nível global um progressoconsiderável foi feito na redução da pobreza durante asúltimas duas décadas, em grande parte como resultadode programas e políticas antipobreza mais focados”...“Os avanços feitos na China e na Índia contribuíramsubstancialmenteparaumaimagempositivanonívelglobal.Como estes dois países representam 38% da populaçãomundial,arápidaexpansãodassuaseconomiaslevouaumareduçãosignificativadonúmerodepessoasquevivemempobrezaabsolutanomundo;entre1990e2000estenúmerobaixoude1,2bilhãopara1,1bilhão.NaChina,aproporçãodepessoasvivendocommenosde2dólarespordiacaiude88para47%entre1981e2001,eonúmerodepessoasque

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vivemcommenosde1dólarpordiacaiude634milhõespara 212 milhões. Na Índia, a proporção dos que vivemcom menos de 2 dólares por dia baixoude90para 80%,eonúmerodosquevivememextremapobrezabaixoude382para359milhões”.(ONU,Inequality...2005,p.51).Oimpactopositivoprincipal,portanto,éclaramentedevidoàChina,e,noconjunto,aimensidãododramasemantém.

Onossointeresseprincipalaquinãoestáapenasnascifrasenosrespectivosdramas,masnofatoqueelasrepresentamclaramente a necessidade de intervenções positivas,organizadas,paraenfrentarapobreza.Ecomoadesigualdadeconstitui oprincipalproblemahoje, ao ladodadestruiçãodomeioambiente,temosdeconcentraresforçosmuitomaisamplosna compreensãodaspolíticas ativasde combate àpobrezaederesgatedasustentabilidade.

Umsegundopontoéquenãobastaolharparaosmecanismoseconômicos, pois a desigualdade constitui um processomuitomaisamplo.“Talvezaindamaisimportantedoqueoscrescentesníveisdepobrezaéaemergênciaeencrustamento(entrenchment)denovospadrõesdepobrezaemnumerosospaíses. Mudanças dignas de nota incluem uma tendênciacrescenteparaarotaçãodaspessoasparadentroeparaforadapobreza,umaumentodapobrezaurbanaeaestagnaçãona pobreza rural, bem como aumento na proporção detrabalhadores informais entre os pobres urbanos e emgrandenúmerodospobresdesempregados.(...)Detodasasdesigualdadesdentroeentrenações,a impossibilidadedeumaparcelacrescentedapopulaçãodomundoquebuscaempregodeencontrá-loconstituitalvezofatodeimplicaçõesmaisprofundas”.(ONU,Inequality...2005,p.54-55)

Nãosóprecisamosolharparaasdinâmicassociaisdemaneiramaisampla,comotemosdevoltaradarimportânciacentralparaaorganizaçãodeprocessosdecisóriosparticipativos:“Aagendadotrabalhodecentevisaenfrentarnumerososdesafiosquesurgemdaglobalização,inclusiveaperdadeemprego,adistribuiçãoinequitáveldosbenefícios,eadesorganização(disruption) que foi causada na vida de tantas pessoas.

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Responderaestesdesafiosexigiráaparticipaçãodeatoresemtodososníveis”.(ONU,Inequality...2005,p.58)

Assim,aagendanoslevaàelaboraçãodepropostaspolíticasproativaseaintervençãoorganizadadosdiversossegmentossociais,enfrentandoasduasprincipaismacrotendênciasdosistema,quesãoadeterioraçãoambientaleadesigualdade,aliásfortementearticuladas.

A qUEM PERtEnCE o PLAnEtA?

A pesquisa do WIDER (World Institute for DevelopmentEconomicsResearch),daUniversidadedasNaçõesUnidas,apontaparaoutrodrama,queéodaconcentraçãodariquezaacumulada. Na realidade, as duas metodologias estãovinculadas,poisarendamaiordosmaisricospermitequeacumulemmaispropriedades,maisaplicaçõesfinanceiras,enquantoospobresestagnam.Assim,ariquezaacumulada(“networth:thevalueofphysicalandfinancialassetslessdebts”, o que equivale ao que o relatório define como “acomprehensiveconceptofhouseholdwealth”),oupatrimôniofamiliaracumulado,tendeapolarizaraindamaisasociedade,elevaemparticularàformaçãodegigantescasfortunasquepouco têma ver coma contribuiçãoque estaspessoas oufamíliasderamparaaproduçãodariquezasocial.9

A acumulação de riqueza dentro dos países reforçanaturalmente amesma tendência,pois famíliasmais ricastendemapoderacumularmaispatrimônio.Ofossointernodospaísesagrava-se,portanto:“Apartedos10%maisricosvariade40%naChinaa70%emaisnosEstadosUnidosealgunsoutrospaíses”...“Nossosresultadosmostramqueodecilsuperiorderiquezaeradonode85%dariquezaglobalnoano2000.Os2%deadultosmaisricosdomundotinhammaisdametadedariquezaglobal,eo1%maisricosdetinha

9 James Davies, Susana Sandström, Anthony Shorrocks, and Edward n. Wolff - the Global Distribution of Household Wealth - 200�, ii - www.Wider.unu.edu/newsletter/newsletter

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40%detodaariquezafamiliar.Emcontraste,ametadedebaixodapopulaçãoadultamundialdetinhameramente1%da riqueza global. O valor Gini para a riqueza global foiestimadoem89,sendoqueomesmovalorGiniseriaobtidose 100 dólares fossem distribuídos entre 100 pessoas detalmaneiraqueumapessoarecebesse90dólares,eos99restantes10centavoscada”.

Ariquezafamiliaracumuladaéestimadaem125trilhõesdedólaresparaoano2000,equivalendoa144mildólaresporpessoanosEUA,181milnoJapão,1.100dólaresnaÍndia,1.400naIndonésia,oquedáumadimensãodesteoutrotipodepolarização.

Curiosamente, quando se fala em distribuição de renda, emimpostosobreafortuna,emimpostosobreherança,amídiafalaempopulismoedemagogia.Nãoverosdramasqueseavolumamcomasdinâmicasatuaiséserperigosamentecego.

oS DEixADoS PoR ContA DA GLoBALiZAção

OIFC(InternationalFinanceCorporation)doBancoMundialanalisaaconcentraçãodarendaedariquezapeloprismadopotencialempresarial.Tradicionalmente,oBancoMundialapresentaosdadosquesereferemaospobresavaliandoadimensãododrama.Sãoosdadosquenosdizem,porexemplo,quenaviradadoséculotínhamos2,8bilhõesdepessoascommenosde2dólarespordiaparaviver,dosquais1,2bilhãomenosde1dólar.Nopresente estudo, avalia-se a imensamassados“mal inseridos”nodesenvolvimentoeconômicodoplaneta,ebusca-seaformadegeraroportunidades.Trata-sedos4bilhõesdepessoascujarendapercapitaestáabaixode3mildólaresporano,equeconstituemummercadode5trilhõesdedólares.Nãosefalamaisemtragédiasocial,fala-seemoportunidadeseconômicas.10

10 iFC (international Finance Corporation) – the next 4 billion: market size and business strategy at the base of the pyramid – Banco Mundial, Executive Summary, 200�, 11 p. - http://www.wri.org/business/pubs_description.cfm?pid=4142

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“Os4bilhõesdepessoasnabasedapirâmideeconômicaBOP (Base Of the Pyramid), todos aqueles cuja renda éinferiora3mildólaresempoderdecompralocal,vivememrelativapobreza.AsuarendaemdólarescorrentesdosEUAéinferiora$3,35pordianoBrasil,$2,11naChina,$1,89no Ghana, e $1,56 na Índia. No entanto, juntos eles têmumacapacidadedecomprasignificativa:abasedapirâmideconstituiummercadoconsumidorde$5trilhões”.

Oenfoquejágerouumentusiasmopassageirocomosestudosde De Soto sobre a capitalização dos pobres dando-lhestítulosdepropriedade,enavegahojenasvisõesdePrahaladsobre a possibilidadede transformar os pobres senão emempresários,pelomenosemconsumidores.

Paranósquebuscamosainclusãoprodutivadestaimensamassadapopulaçãomundial,noentanto,osdadosapresentados,comaforçadepenetraçãodasvisõesdoBanco,nãodeixamdeserinteressantes,aoexplicitaremaconstataçãodequeaimensamaioriadapopulaçãomundialestáficandoforadochamadoprogresso. Na realidade, o mundo corporativo está gerandomuitomaisdoquepobreza,estáreduzindoacapacidadedestapopulaçãodeapropriar-sedoseudesenvolvimento.Trata-sedaexclusãoeconômicademaisdedoisterçosdapopulaçãomundial.Segundoorelatório,“theBOPpopulationsegmentsfor the most part are not integrated into the global marketeconomyanddonotbenefitfromit”(ossegmentosde“baseda pirâmide” da população na sua maior parte não estãointegradosnaeconomiademercadoglobaledelanãotiramproveito”).Aparentemente,aironiadofatodesequalificar4bilhõesdepessoasde“segmentosdapopulação”,quandosetratadequasedoisterçosdapopulaçãomundial,escapouaosautoresdorelatório.11

11 “BoP markets are often rural – especially in rapidly growing Asia – very poorly serviced, dominated by the informal economy, and, as a result, relatively inefficient and uncompetitive. Yet these markets represent a substantial share of the world’s population. Data from national household surveys in 110 countries show that the BoP makes up �2% of the �.��� million people recorded by the surveys and an overwhelming majority of the population in Africa, Asia, Eastern Europe, and Latin America and the Caribbean – home to nearly all the BoP”. Segundo o relatório, isto é ruim para todos: “that these substantial markets remain underserved is to the detriment of the BoP households. Business is also missing out.”

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Oestudoconfirmatambémqueháumaconsciênciacrescentedanecessidadedesegerarumambientepropícioàinclusãoprodutiva deste “andar de baixo” da economia: “There isgrowingrecognitionoftheimportanceofremovingbarrierstosmallandmedium-sizebusinessesandagrowingtoolboxfor moving firms into the formal economy and creatingmoreefficientmarkets”.(Háumreconhecimentocrescenteda importância de remover barreiras à pequena e médiaempresa,eumagamamaisampladeferramentasparalevarasempresasparaaeconomiaformaleparagerarmercadosmaiseficientes”).

A filosofia,portanto,consisteaquiemcriarum“bottom-upmarketapproach”,literalmenteumcapitalismovindodebaixo.Oqueé óbvio, na verdade, équeo“capitalismodecima”geraastendênciasinversas.Aplantaçãodesojautiliza1sótrabalhador por 200hectares deplantio, a pesca industrialoceânica está reduzindo àmisériamais de300milhõesdepessoasquevêemdesapareceropeixenasregiõescosteirasquesustentavamapescatradicional,aespeculaçãofinanceiraestádescapitalizandoascomunidades,oabusodoregistrodepatentesparatudoequalquercoisa(97%pertencemapaísesricos)travacadavezmaisasiniciativaslocaisdecriaçãodevalor. A Coca-Cola na Índia lançou garrafas pequenas cujopreçocorrespondeaovalordeumamoeda:trocarasúltimasmoedas dos pobres por Coca-Cola foi apresentado como“inclusãocomercial”.EstamosaquimuitolongedasabedoriaeeficiênciadoGrameenBankdeYunus.

Masodocumentoéimportante,poismostraindiretamenteograude tensõesqueosistemaestágerandonoplaneta,eanecessidadedeprocessos alternativos.A idéiadeque“umoutromundoépossível”nãoseapóiaapenasnumavisãomaishumanaeemideaissociais:trata-secadavezmaisdeumacondiçãonecessáriadanossaviabilidadeeconômica.

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DinâMiCAS ConVERGEntES

Um último enfoque que vale a pena citar nesta nossaapreciação fria e realista das dificuldades em que nosmetemos, é a análise de como os dramas ambientais esociais se articulam. O estudo de Thomas Homer-Dixon,cientistapolíticocanadense,organizaosdiversosrelatórioseinformessetoriais,eapresentaumavisãodeconjuntomuitobemdocumentada.Aidéiafortequeoautordemonstracomclareza,équeasgrandesameaçasestruturaisconvergemesetornamsinérgicas.12

A prosperidade artificial e o consumo predatório que aconcentraçãoderendaederiquezafamiliarpermitenopólorico do planeta gera uma pressão mundial por consumo eestilo de vida semelhantes. Homer-Dixon cruza os dadosdas polarizações econômicas com a evolução da pressãodemográfica.Temoshoje6,4bilhõesdepessoasnomundo,aumentandonumritmodealgocomo75milhõesacadaano,ecomumperfildeconsumocrescentementesurrealista,nasduaspontas,naescassezenosexcessos,nadesnutriçãoenaobesidade.Cercade2/3docrescimentopopulacionalsedánaáreadamiséria.Nãoestamosmaisnaeradaspopulaçõespobreseisoladas.Oplanetaéumsó,encolhendodia-a-dia,eospobressabemquesãopobres.

Omodelodeconsumodoplanetaéodosricos.Porquerazãonãoteriamtodososchinesesetodososindianosdireitoatertambémcadaumoseucarro?Apressãocoletivaqueresultaédesastrosa,simplesmenteporqueosricossedotaramdeumperfildeconsumocujageneralizaçãoéinviável.Estapolíticasetraduznumapressãosobrerecursosnão-renováveisqueoplanetanãopodesuportar.Osdadossobreoesgotamentodavidanosmares,aerosãodossolos,areduçãodasreservasdeáguadocenos lençóis freáticos,adestruiçãoaceleradadabiodiversidade,odesmatamentoeoutrosprocessosestãohojesendoacompanhadosemdetalhe,numademonstração

12 thomas Homer-Dixon – the Upside of Down – island Press, Washington, 200�, 42� p.

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impressionantedoquepodemoschamardecapacidadetécnicaeimpotênciapolítica,poistodosvemosascoisasacontecereme ficamos passivos, pois não há correspondência entre osmecanismospolíticosea realidadeque temosdeenfrentar,entreadimensãodosdesafioseosmecanismosdegestão.

Asdinâmicasatuaissobrevivemtemporariamenteapoiando-senumamatriz energéticaque sabemos ser insustentável.A nossa pequena espaçonave Terra veio com tanques decombustível,opetróleo,queseacumuloudurantemilhõesde anos, e que teremos liquidado em menos de duzentos.Achamosnormalmobilizarmosumcarrodeduastoneladasparalevaronossocorpode70quilosparapostarnocorreioumacartade20gramas.O“homo economicus”do séculoXXI joganasnossascidadesmodernascercadeumquilodeprodutosnolixopordia,eaindapagaporsuaremoção.Não nos damos conta do desperdício. Todos sabemos quevivemos um sistema insustentável a prazo, conhecemos adimensãodosimpasses,eapenasesperamosqueapareçamtecnologiasmilagrosasqueabramnovoscaminhosnaúltimahora.Equealternativarestaaocidadão?Senãotivercarro,nasdinâmicasditasmodernas,comosobrevive?Ealguémvaielegerumpolíticoqueassumequevaiaumentaropreçodoscombustíveis?Estalógicavaletambémparaasreservasdeáguadoce,avidanosmareseassimpordiante.

Pessimismo? Não, apenas bom senso e informaçãoorganizada.Osdesafiosprincipaisdoplanetanãoconsistememinventarumchipmaisvelozouumaarmamaiseficiente:consistememnosdotarmosdeformasdeorganizaçãosocialquepermitamaocidadãoterimpactosobreoquerealmenteimporta, em gerar processos de decisão mais racionais.Com a globalização, o processo se agravou. As decisõesestratégicas sobre para onde caminhamos como sociedadepassaramapertencerainstânciasdistantes.Asreuniõesdosque mandam, em Davos, lembram vagamente as reuniõesdepríncipesbrilhanteseinconscientesnaVienadoséculoXIX.AONUcarregaumaherançasurrealista,poisqualquerilhotadopacíficocomstatusdenaçãotemumvoto,talcomo

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aÍndiaquetemumsextodapopulaçãomundial.Asgrandesempresastransnacionaistomamdecisõesfinanceiras,fazemopções tecnológicas ou provocam dinâmicas de consumoque afetam a humanidade, sem que ninguém tenha comoinfluenciá-las. Democracia econômica ainda é uma noçãodistante.Somoscidadãos,masarealidadenosescapa.

Pensardemaneirainovadorasobreosprocessosdecisóriosque regem o planeta e o nosso cotidiano não é mais umaquestão de estar à esquerda e protestando, ou à direitae satisfeito: é uma questão de bom senso e de elementarinteligênciahumana.

2. A eCOnOMIA dO deSpeRdÍCIO

O balanço de situação que fizemos acima é importante.Claramente, precisamos inovar, e as instituições que seadiantarem,demonstrandoousadiaecapacidadederepensaros processos decisórios e as dinâmicas institucionais,colherão frutos.Nãosãodadosgeraisdistantesdasnossasrealidades.Osdoisdramas,osocialeoambiental,balizamprecisamenteasinovaçõessociaisquetemosdeempreender,poiséemfunçãodelasquetemosdetrabalhar.

Partirdaanálisedosdesperdíciosedasubutilizaçãodefatores,comosugereIgnacySachs,nãoconstituiapenasumavisãocrítica, pois aponta justamente para os reequilibramentosnecessários.

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o DESPERDíCio DA CAPACiDADE DE tRABALHo

Amão-de-obraconstituiumprimeirofatoróbviodedesperdício.Tomandooanode2004comoreferência,temos180milhõesdehabitantes.Destes,121milhõesestãoem idadeativa, entre15e 64 anos de idade, pelo critério internacional. Na populaçãoeconomicamenteativa,temos93milhõesdepessoas,oquejáapontaparaumasubutilizaçãosignificativa.Asestatísticasdoemprego,porsuavez,mostramquetemosnesteanoapenas27milhõesdepessoasformalmenteempregadasnosetorprivado,comcarteiraassinada.Podemosacrescentaros7milhõesdefuncionáriospúblicosdopaís,echegamosa34milhões.Aindaassim,estamoslongedaconta.Oquefazemosoutros?Temosempresários,semdúvida,bemcomoumamassaclassificadacomo“autônomos”,cercade15milhõesdedesempregados,eumaamplamassaclassificadanoconceitovagode“informais”,avaliadospelo IPEAem51%daPEA.Oestudosublinhaque“aexistênciadessaparceladetrabalhadoresàmargemdosistemanãopodeemnenhumahipóteseserencaradacomoumasoluçãoparaomercado”(IPEA,2006,p.346).Essa“parcela”representaametadedopaís.13

Ofatoessencialparanóséqueomodeloatualsubutilizaametadedascapacidadesprodutivasdopaís.Eimaginarqueocrescimentocentradoemempresastransnacionais,grandesextensões de soja (200 hectares para gerar um emprego),ou ainda numa hipotética expansão do emprego público,permitiráabsorverestamão-de-obra,nãoérealista.Evoluirparaformasalternativasdeorganizaçãotorna-sesimplesmentenecessário.14

Assim,odramadadesigualdadequevimosacimanãoconstituiapenasumproblemadedistribuiçãomaisjustodarendaedariqueza:envolveainclusãoprodutivadecentedamaioriadapopulaçãodesempregada,subempregada,ouencurraladanosdiversostiposdeatividadesinformais.

13 iPEA – Brasil, o estado de uma nação – mercado de trabalho, emprego e informalidade – ipea, Rio de Janeiro, 200� – “na sua expressão mais direta, o setor informal é encarado como gerador de empregos de baixa qualidade e remuneração, ineficiências e custos econômicos adicionais, constituindo uma distorção a ser combatida”...”Em 1992 o percentual da informalidade era de �1,9%, atingiu �3,9% em 1998, voltando a �1,�% em 2003 e caindo para �1,2% em 2004” – (pp. 33� e 339)

14 A esse respeito, ver o nosso “o que acontece com o trabalho”, 3ª ed. atualizada, São Paulo: Ed. Senac, 200�

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o DESPERDíCio DE RECURSoS FinAnCEiRoS

Muitosdizemquenãohárecursosparaempregarestagente.Tomandoumexemploprático, as estimativas tantodaOMScomo do SUS indicam que um real gasto em saneamentobásicopermite reduzirosgastosentre4e5reais.Ouseja,sãoatividadesquenãoabsorvemrecursos,pelocontrárioosliberamemultiplicam.Dizerquenãohádinheiroparaaçõesqueeconomizamdinheiroéreal,masabsurdo.Aponteentreosdoismomentossefazpormeiodecrédito,mobilizandodeforma produtiva as poupanças dos que têm excedentes emproveitodequemteminiciativasafinanciar.

AANEFACrealizaperiodicamenteumapesquisadejuros.Astaxasdejurosnãosãocoisasdeespecialista.Bastacompararoquantoasinstituiçõesdeintermediaçãofinanceiraremuneramas nossas poupanças, e o quanto elas cobram quandoprecisamosdeumcrédito.OestudoédaAssociaçãoNacionalde Executivos em Finanças, Administração e Contabilidade,portantotrata-sedepessoascomedidas.Masosdadosnãosãonadacomedidos.15

Ataxadejurosmédiageralparapessoafísicaemfevereirode2007éde7,38%aomês,ouseja135,1%aoano.Ataxadejurosmédiageralparapessoajurídicanomesmoperíodoéde4,19%aomêsouseja63,65%aoano.OestudolembraqueataxabásicadejurosSelicfoireduzidade19,75%emsetembrode2005para13,00%emfevereirode2007.Nomesmoperíodoataxadejurosmédiaparapessoafísicafoireduzidaem6,11pontospercentuais (de141,12%aoanoem setembro de 2005 para 135,01% ao ano em fevereirode 2007). Para pessoa jurídica, a redução foi de 4,58%percentuais(de68,23%aoanoemsetembrode2005para63,65%aoanoemfevereirode2007).

1� AnEFAC – Pesquisa de juros fevereiro de 200� – Associação nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade – Fevereiro de 200�, 1� p., disponível em www.anefac.com.br, veja sob “Pesquisa de Juros”. o Akatu, onG que pesquisa e divulga formas mais racionais de consumo editou uma interessante cartilha sobre como se relacionar com o crédito, veja em www.akatu.org.br

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Algunsdadosmais:ataxadejurosdocomércioemfevereirode2007éde6,02%aomês(101,68%aoano).Nocartãodecrédito,ataxaéde10,25%aomês(222,51%aoano).Nochequeespecial,ataxaéde7,88aomês(148,48%aoano).Oempréstimopessoalnosbancosficouem88,40%aoano,enasfinanceiras265,67%aoano.

O documento da Anefac é elaborado com cuidado,apresentandoemdetalheametodologia,osdiversostiposdejuros,os tiposdeinstituiçõesdeintermediaçãofinanceira,otipodetomadoreassimpordiante.Noconjunto,ofatoéquehouvequedamuitosignificativada taxabásica fixadapelo governo, mas as variações nos juros para tomadoresfinaissãoridículas.Aindaassim,ovolumedecréditoestáse expandindo, mas com custos absolutamente indecentesparaostomadores.16

O estudo lembra ainda que “As taxas de juros são livrese estas são estipuladas pela própria instituição financeiranão existindo assim qualquer controle de preços ou tetospelos valores cobrados”. (ANEFAC,2007,p.13)Oestudorecomendaqueos tomadorespesquisema taxade juros e“demaisacréscimos”,poishaveria“expressivasvariações”entreasdiversas instituições financeiras.Narealidade,as“expressivas variações” referem-se a diferenças ridículasquando consideramos os números e os comparamos comas taxas praticadas no resto do mundo. Não há como nãosentirquecomacartelizaçãodosetor,não temosescolha.E quando não há escolha, não estamos mais enfrentandointermediáriosfinanceiros,esimatravessadores.

Nasrecomendações,asituaçãorealtransparece:“Sepossíveladiesuascomprasparajuntarodinheiroecompraràvista,evitando os juros”. O fecho é filosófico, e resume o queenfrentamos: “O crédito foi feito para você realizar seussonhos,nãoparatirarseusono”.Narealidadearecomendação

1� o volume de crédito relativamente ao PiB é da ordem de 3�% em 200�, cerca de metade do volume relativo de países mais desenvolvidos. trabalhar com um volume baixo de crédito e com taxas de juros muito altas é característico de processos cartelizados.

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dosprofissionaisdaáreaéparaquenãoutilizemosocrédito,pois os intermediários financeiros trabalham com dinheiroqueédopúblico,eprecisamdeumacartapatentedoBancoCentralparafuncionar.Ageneralizaçãodafiguradopedágiofinanceiro reduz drasticamente a capacidade de todos osoutrosagentesdinamizarematividadeseconômicas,gerandooutraáreadeimensasubutilizaçãodefatores.

Emoutros termos, adesigualdadeaquinãoéapenasumaherança:trata-sedeumprocessoemcurso,emqueosistemadeintermediaçãofinanceirapermiteadescapitalizaçãodasempresas,dascomunidadesedasfamílias,gerandolucrosabsolutamenteindecentesnorestritoclubedeintermediáriosfinanceiros e de grandes aplicadores e reforçando osdesequilíbriosquetemosdecorrigir.17

o DESPERDíCio DoS ConHECiMEntoS tECnoLóGiCoS

Um terceiro eixo de subutilização de fatores está ligadoàs tecnologias. Sabemos que estamos em plena revoluçãotecnológica,queaeconomiadoconhecimentoestádespontando,equeoacessoàinformaçãoeàtecnologiatornou-seessencialparaodesenvolvimentodequalqueratividademoderna.

JosephStiglitz é outroespecialista insuspeitodequalquerextremismo.Mas,diantedacorridahistéricaportrancartodoequalquerconhecimentopormeiodepatentes,copyrights,regulamentaçõesdoTRIPs,eproteçãodedireitosintelectuaisemgeral,eleconstataqueestamosdificultandooacessoainformações que são de utilidade geral. A importância datomadadeposiçãodeStiglitzvemdofatodesuacondiçãodeex-economistachefedaCasaBrancaedoBancoMundial,deprêmio“Nobel”deEconomia,edavisibilidadequeoseuposicionamento temnestedebate.Numaeracaracterizadapelacentralidadedoconhecimentonosprocessoeconômicos,

1�no primeiro trimestre de 200�, o itaú apresentou um lucro líquido de 1,9 bilhão de reais, o Bradesco de 1,� bilhão.

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temospatentesqueimobilizamáreaspor20anos,copyrightsquedurammaisde70anos,prazosque,dadooritmodasinovações,constituemautênticosmonopólios,egeramoutrotipodepedágio.18

“Ainovação,escreveStiglitz,estánocoraçãodosucessodeumaeconomiamoderna.Aquestãoédecomomelhorpromovê-la. O mundo desenvolvido arquitetou cuidadosamenteleis que dão aos inovadores um direito exclusivo às suasinovaçõeseaoslucrosquedelasfluem.Masaquepreço?Háumsentimentocrescentedequealgoestáerradocomosistemaquegovernaapropriedade intelectual.O receioéqueofoconoslucrosparaascorporaçõesricasrepresenteumasentençademorteparaosmuitopobresnomundoemdesenvolvimento.”

Por exemplo, explica Stiglitz, “isto é particularmenteverdadeiroquandopatentes tomamoqueerapreviamentededomíniopúblicoeo ‘privatizam’–oqueos juristasdapropriedade intelectual têm chamado de novo ‘enclosuremovement’.PatentessobreoarrozBasmati(queosindianospensavam conhecer havia centenas de anos) ou sobre aspropriedades curativas do turmeric (gengibre) constituembonsexemplos”.

Segundooautor, “ospaísesemdesenvolvimento sãomaispobresnãosóporquetêmmenosrecursos,masporqueháumhiatoemconhecimento.Poristooacessoaoconhecimentoétãoimportante.Mas,aoreforçarocontrole(stranglehold)sobreapropriedadeintelectual,asregrasdePI(chamadasTRIPS), do acordo do Uruguai reduziram o acesso aoconhecimentoporpartedospaísesemdesenvolvimento.OTRIPSimpôsumsistemaquenãofoidesenhadodemaneiraótima para um país industrial avançado, mas foi aindamenos adequado para um país pobre. Eu era membro doConselho Econômico do presidente Clinton na época em

18 Joseph Stiglitz - Patentes ajudam ou atrapalham a pesquisa? new Scientist, 1� September 200�, p. 20. www.newscientist.com; para uma visão técnica do processo, ver Lawrence Lessig, the Future of ideas, Random House, new York, 2001

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queanegociaçãodoUruguaiRoundsecompletava.NóseoOfficeofScienceandTechnologyPolicynosopunhamosaoTRIPS.Achávamosqueeraruimparaaciênciaamericana,ruim para o mundo da ciência, ruim para os países emdesenvolvimento”.

Éumatomadadeposiçãoimportante,nestaépocaemqueé debom tom respeitar a propriedade intelectual, quandoestamos essencialmente respeitando a sua monopolização.Precisamos de regras mais flexíveis e mais inteligentes,e sobretudo reduzir os prazos absurdos de décadas queextrapolam radicalmente o tempo necessário para umaempresa recuperar os seus investimentos sobre novastecnologias. Quanto a patentear bens naturais de paísespobres para a seguir cobrar royalties sobre produçõestradicionais,jáésimplesmentepirataria.Eospiratas,nestecaso,sãocorporaçõesquesepretendemrespeitáveis.

O resultado prático é que perdemos a capacidade deaproveitarosimensosavançosdoconhecimentoqueasnovastecnologiaspermitem,pagandopedágiosdesnecessáriosemcascatasobreavançosqueemgeralsãoobradeumprocessosocial até que uma grande empresa compre os direitos.Trata-se aqui de mais um fator de concentração de rendae de riqueza, e de reprodução das dinâmicas diretamenteligadasàproblemáticaambiental:aspessoasesquecem,porexemplo,quepor faltade outros recursosquase ametadedapopulaçãomundialaindacozinhacomlenha.Emcurtoprazo, os pedágios cobrados sobre o conhecimento geramlucros para as grandes empresas. Em médio prazo, noentanto,estaremostodosemdificuldades.19

19 não há como não lembrar aqui do livro de Ha-Joon Chang, Chutando a Escada, que mostra que todos os países hoje desenvolvidos copiaram sem nenhuma vergonha uns dos outros. o que seria do Japão e da Coréia do Sul, por exemplo, se todos os “direitos” tivessem sido respeitados?

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oS DESPERDíCioS PoR Má-GEStão

Outroníveldesubutilizaçãodosfatoresmanifesta-sesobformade desperdício organizacional. O FMI publica um estudo nosentido de “cair na real” relativamente ao financiamento dasaúde,equeconstituiumbomexemploparaonossoargumento.ÀsvezesébastanteútilacompanharpublicaçõesdoFMI,poissãoinsuspeitasdequalquervisãoprogressista.20

Osdadossãoduros.Primeiro,oartigolembraquejápassamosde25milhõesdemortesprovocadaspelaAIDS.Comovãomorrendo permanentemente, nenhuma manchete aparece.Mas,asperdasdecapacidadedetrabalho,porsimplesreduçãodapopulaçãoativa,bemcomoossobrecustosdetratamentosehospitalizaçõessãoimensos.Assimodesequilíbrioentreosavançosdaproduçãocomercialeosatrasosnaspolíticassociaisgeramaltoscustosparaasociedadecomoumtodo.21

Oartigo lembraque“globalmente,morrem5milpessoaspordiade tuberculose,apesardeelaserpassívelde tratamentoedeprevenção...Arealidadeéqueospaísesemdesenvolvimentocontinuamafazerfacea90%dacargaglobaldasdoenças,mascontamcomapenas12%dogastoglobalcomsaúde”.Istotraduzidoemgastosporpessoanosdáoseguinte:“Ogastototalpercapitaéde22dólaresempaísesdebaixarenda,eacimade3.000dólaresnospaísesdealtarenda”.Oquadroéimpressionante:

20 Schieber,George; Lisa Fleisher e Pablo Gottret - Gettting Real on Health Financing, Finance and Development, publicação do Fundo Monetário internacional, Dezembro de 200� http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/200�/12/schieber.htm

21 é interessante pensar o que aconteceria se tivesse morrido este número de americanos. nas torres de nY morreram 3.800 pessoas. não é o caso de minimizar a tragédia. Mas é bom fazermos o paralelo. o poema do português Fernando Pina é significativo: é muito mais doente um alemão com gripem que um indiano com lepra. Sofre muito mais uma americana com caspa que uma iraquiana sem leite para os filhos.

PAíSES DE: PiB PER CAPitA

SAúDE PER CAPitA

SAúDE SoBRE PiB

PARtE PúBLiCA

Baixa Renda 481 22 4,�% 31,2%

Renda média baixa 1.��9 9� �,�% 43,�%

Renda média alta �.�9� 341 �,4% ��.�%

Alta renda 30.811 3.4�� 10,�% �4,8%

Média mundial �.989 �02 �,0% 42,9%FontE: FMi (extraído da tabela 1 do artigo Gettting Real on Health Financing).

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Algunscomentários:paraos5.989dólaresdebenseserviçosproduzidos por pessoa no mundo seriam amplamentesuficientes para uma vida confortável e digna para todos.Alguns claramente são mais dignos que os outros. Adistribuição mundial que aparece na primeira coluna épatética.Nasegundacoluna,vemosqueháumacorrelaçãoinversa rigorosa entre quem mais precisa de apoio desaúde,poisémaisatingido,equemcomelamaisgasta.Aterceira colunamostra opeso impressionanteque a saúdeatingiu(trata-seaquidosgastostotaiscomsaúde,privadosepúblicos),6%nonívelmundial,equase11%doPIBdospaísesricos.

Naúltimacoluna,umavisãoparticularmente interessante:quantomais ricosospaíses,maioraparticipaçãodo setorpúbliconosgastostotaisdesaúde.Aprogressãoacompanharigorosamente a renda. A recomendação que resulta éprática:“Countriesshouldalsobuilduptheirabilitytoraisemoney through taxes” (Os países deveriam incrementar asuacapacidadedelevantardinheiropormeiodeimpostos).ColoqueinooriginalporquenãoétododiaquelemosistoemfontesdoFMI.Avisãoécorreta:éprecisosimdesenvolvero setor público, e lutar por maior eficiência nos gastos,modernizandoedemocratizandoagestão.

A tabela a seguir é igualmente interessante, pois mostrajustamentequequantomaispobreopaís,maisfracaéabasefinanceirapública:nospaísesderendabaixa,apartedoPIBquecabeaogovernocentraléde17,7%,elevando-senumaprogressãoregularàmedidaquechegamosaospaísesdealtarenda.Ospaísesricostambémfalammaldogoverno,masnãosãobobos(note-sequesetratadosgastosdogovernocentralapenas,osgastospúblicostotaissãobemmaisamplos).

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PAíSES DE: GoVERno CEntRAL, PoRCEntAGEM Do PiB, iníCio AnoS 2000

Baixa Renda 1�,�%

Renda média baixa 21,4%

Renda média alta 2�,9%

Alta renda 31,9%

FontE: FMi (extraído da tabela 1 do artigo Gettting Real on Health Financing).

O estudo lembra ainda dois pontos importantes. Primeiro,ogastodiretocomsaúde,ouseja,aformamaisprivadaemqueocidadãopagadiretamenteosgastosnosistema“out-of-pocket” (literalmente tirandodobolso),constitui“umadasmais regressivas e ineficientes fontes de financiamento dosetordasaúdeparaospobres,poislhesnegaosbenefíciosde redistribuiçãode renda, repartiçãode riscos e proteçãofinanceira”.Noentanto,nospaísesdebaixarenda,60%dosgastos totais com saúde se dão nesta forma, contra apenas20%nospaísesricos.Segundo,osdiversosplanosprivadosempresariaiseoutrossãoineficientesempaísesondeamassadetrabalhadoresinformaiségrande.

Asáreassociais,enãosóasaúde,precisamdemecanismospúblicospara funcionar,acrescentando-se fortecontroleeparticipaçãodacomunidade.Fazerdinheirocomsaúdenarealidade equivale ao que conhecemos como indústria dadoença,enãoéeficienteemlugarnenhum,anãoserparaminorias de alta renda. Fazer dinheiro com educação, nalinhadaindústriadodiploma,tampoucoresolve.Nasáreassociais,precisamosrecuperaracapacidadededesenvolverpolíticas públicas competentes, com forte apoio dasorganizaçõesdasociedadecivil.Comoaspolíticassociaiscomfinslucrativossófuncionamparaquemtemcapacidadedecompra,oresultadoéumimensodesperdícioderecursoseoaprofundamentodasdesigualdades.

Focamosnestepontoquatro formasdedesperdício social:onão-aproveitamentodegigantescas reservasdemão-de-obra,que,emvezdeseremmobilizadasparamelhoraroníveleaqualidadedodesenvolvimento,tornam-seumproblema

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eumcusto;odesperdíciodasnossaspoupançasdesviadasparaatividadesespeculativasemvezdeservirparafinanciara inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável; acriação de um sistema de pedágios sobre o conhecimentotecnológicoquedificultaoacessoàspopulaçõesquemaisprecisariam de apoio, quando deveríamos, pelo contrário,fomentar a sua apropriação; e o desequilíbrio entre aeconomiacomercialeaspolíticassociais,quegeraimensossobrecustos estruturais. As bobagens simplificadores quereduzirama inovaçãosocialaumEstadomínimoeaumaeconomiabaseadanovale-tudoquechamamoseducadamentede “mercado”, não chegam perto do sistema racional detomada de decisão que um desenvolvimento sustentável eequilibradoexige.Precisamosiralém.

3. OS pROCeSSOS de deCISÃO: RUMOS dA RACIOnAlIdAde

Felizmente, há cada vez menos gente que acredita emsimplificações, sejam elas acadêmicas ou ideológicas. Háumaforteorientaçãoparasebuscarvalores,bomsensoeumpragmatismovoltadopararesultadosefetivosemtermosdequalidadedevidadaspessoasesustentabilidadedoprocesso.E há um valor relativamente novo que está gradualmenteocupandoespaço:acompreensãodequeoavançodeunsemdetrimentodosoutrosnãoresolvegrandecoisa.Amarétemdelevantartodososbarcos.Estamosevoluindodoparadigmadacompetiçãoparaoparadigmadacolaboração,daguerraburradetodoscontratodosparapolíticasinteligentes.Nãohácomonãolembrarqueafasemaisprósperadocapitalismofoiduranteos“trintaanosdeouro”apósaSegundaGuerraMundial, quando se seguiram políticas redistributivas derendaedeapoiosocialgeneralizadoàspopulações.Obem-estareconômicoesocialdetodosdeixatodosmelhor,enãosóospobres.Dosricos,oqueseestáexigindocadavezmais,nãoébondade,éinteligência.

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Oquevimosnaprimeirapartedestepequenoestudo,équese generalizam claramente dois grandes dramas planetários,que são a degradação do meio ambiente e a desigualdade.Na segunda parte, identificamos os gigantescos desperdíciosde recursos demão-de-obra, financeiros,de tecnologias,degestão–queapontamparaos imensosganhosquepodemosgerar com formas mais inteligentes e mais colaborativas degestão.Nesta terceiraparte, apontamosalgumasalternativas.Trata-sedemobilizarosrecursossubutilizadosemfunçãodosdoisobjetivosprincipais:ambientalesocial.

MEDiR oS RESULtADoS REAiS

Voltando ao estudo anterior doFMI, é interessante constataraqueponto os avançosdependemmuitomaisde formasdeorganização do que propriamente de grandes investimentos:“O mundo em desenvolvimento teve reduções significativasdemortalidadeinfantilnosúltimos50anos.Estesganhossedevemessencialmenteàmelhornutrição,intervençõesdesaúdepública ligadas à água e ao saneamento, e avanços médicostaiscomoousodevacinaseantibióticos”.Osgrandesavançosconstatados nesta área resultam, portanto, essencialmentede intervençõespreventivasdebaixocusto,comoacessoaoscuidados primários de saúde, alimentação equilibrada, águalimpa, vacinas. Com exceção talvez dos antibióticos, nadaque envolva grandes inovações tecnológicas complexas ouequipamentossofisticados,masexigindosimmaiordensidadeorganizacionalnabasedasociedade.

Transformadoemcálculoeconômico,nalinhadametodologiatradicionaldeavaliaçãodoProdutoInternoBruto(PIB),estetipo de medicina preventiva é péssimo: evitar doenças deformabaratanãoaumentaoPIB.Setemosmuitosdoentes,intervençõescirúrgicas,comprademuitosmedicamentos,aísimaumentaoPIB,queécalculadosobreovalorcomercialdos produtos vendidos. Para uma empresa privada deprestaçãodeserviçosdesaúde,privá-ladedoentessignifica,afinal,privá-ladeclientes.

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Isto significa simplesmente que na forma como avaliamos osucesso dos nossos esforços econômicos, contabilizamos ovalordosmeiosdespendidos,echamamosistode“produto”.Na realidade, oprodutoquenos interessanãoégastarmaiscommedicamentosehospitais,esimnãoficarmosdoentes.Emoutrostermos,guiamo-nospelosmeios,enãopelosfins.Estamoscalculandoovalorcomercialdebenseserviços(output),enãoosresultadosemtermosdequalidadedevida(outcome).

O absurdo dessa forma de contabilidade é cada vez maispatente, e estende-se a outras áreas. Liquidar a vida nosmares(ochamadooverfishing,ousobrepesca)aparececomoaumento do PIB, quando só contabiliza o que se extrai, enão contabiliza a descapitalização planetária que resulta.Cortamosasnossasflorestas,destruímosacamadaorgânicado solo, liquidamos as reservas de petróleo, esgotamos oslençóisfreáticosdeágua,enadadistoécontabilizado,anãosercomovalorpositivonoprodutovendido,semdescontodoscustosambientais.Em termoscontábeis,oPIBécalculadodeformaerrada.Nenhumaempresaouadministraçãopúblicateriaassuascontasaprovadassenãolevasseemconsideraçãoareduçãodeestoques.

Viveret apresenta como simbólico o caso paradoxal donaufrágio do petroleiro Erika, que gerou imensos esforçosdedespoluição,contribuindoparaoPIB.UmapraialimpanãocontribuiparaoPIB,inclusiveporqueolazergratuitoéconsideradosemvaloremtermoseconômicos,enquantoumapraia poluída gera grandes contratos, e portanto preciosospontos percentuais no PIB, que o político vai explorardevidamentecomosucessodasuagestão.22

22 Viveret, Patrick – Reconsiderar a Riqueza. Brasilia: UnB, 200�, 221 p.

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Comopodemosavançar, se anossabússola,queorienta eavaliapara ondevamos, apontaparaumadireção errada?Hoje o bom senso começa a ocupar algum espaço, com oIDH das Nações Unidas, os indicadores de vida Calvert-Henderson, a própria mudança de orientação do BancoMundial,queantescontabilizavaaexploraçãodepetróleocomoproduto,ehojeacontabilizacomodescapitalização.23

O PIB não mede o bem-estar. Essa constatação de JeanGadreyedeJany-Catrice,autoresdeumexcelenteestudosobre o estado da arte dos indicadores de riqueza, é hojede suma importância. Na realidade, o PIB mede o valordos bens e serviços comerciais produzidos durante umano.Nadadizsobreariquezaacumuladanumasociedade,nemseoPIBelevadoestásendoatingidoàcustadavendado capital natural (o petróleo dos países produtores, porexemplo),nemsobreaqueixadadonadecasaqueconstataquequemplantouecolheuumpédealfacecontribuiuparao PIB do país, enquanto ela que comprou, lavou, picou eserviuasaladanãocontribuiucomnada.OPIBseinteressaapenaspeloequivalentemonetáriodeumgruporestritodeatividades.24

O problema não consiste necessariamente em refutar osconceitos adotados nos cálculos do PIB (existe imensabibliografiaa respeito)e sim,umavezconstatadoogrupolimitado de atividades que esta metodologia contabiliza,buscarmetodologiasmais adequadas e completas.Gadreye Jany-Catrice realizam um excelente trabalho de revisãodas diferentes metodologias disponíveis, dos tipos deindicadores,dopotencialquehojeseapresentaparaquemquer saber não apenas se o PIB cresceu, mas se estamosvivendomelhor.

23 Ver em particular Calvert-Henderson quality of Life indicators: a new tool for assessing national trends – Calvert Group, Bethesda, MD, 2000 www.calvertgroup.com

24 Jean Gadrey, Florence Jany-Catrice – os novos indicadores de riqueza. São Paulo: Ed. Senac, 200�.

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Encontramosaquibemordenadososindicadoresobjetivoseossubjetivos,osbalançosdetalhadoseosindicadoressintéticos,asavaliações traduzidasemvaloresmonetárioseasqueseexpressam em volumes físicos, os indicadores de produção(outputs) e de resultados (outcomes), a diferenciação denúmerosqueapresentam“oque”cresceunaeconomia,eosqueindicam“quem”sebeneficioudoprocesso.

Retrospectivamente, as mudanças são extremamente fortes.Nosanos80,comReagannosEUAeMargarethThatchernaInglaterra, o social saiu do mapa, tudo foi concentrado nosresultadoseconômicosefinanceiros.Nadécadade90,comoIDHdoPnud,assistimosaumareviravolta,comavisãodequeaeconomiadeveriaservirobem-estarhumano,enãoocontrário.Apartirdaídesenvolvem-semetodologiasqueavaliamotrabalhovoluntário,otrabalhonão-remuneradodoméstico,adestruiçãoou proteção do meio ambiente, o sentimento de insegurançagerado nos processos produtivos, a dilapidação dos recursosnão-renováveis(atéoBancoMundial,vejaWorldDevelopmentIndicators2003).Olequedemetodologias,asuasofisticaçãoeconfiabilidade,estásetornandobastanteimpressionante.Pelaprimeira vez, começamos a ter instrumentos que podem serdisponibilizados,equedeverãopermitiraocidadãosaberseoqueestásendofeitocorrespondeàssuasopçõeseconômicas,sociaiseambientais.

Osautorespassamemrevistao“Barômetrodedesigualdadeedepobreza”daFrança,o“IndexofEconomicWellbeing”,o“IndexofSustainableEconomicWelfare”,o“GenuineProgressIndicator”, o “Personal Security Index”, o “Index of SocialHealth”,eoutros(alémevidentementedoIDHdoPnud),demaneiraorganizada,deformaquevemosclaramentecomoasmedidasdeutilidadeempresarial(PIB)evoluemparamedidasque avaliam os resultados práticos em termos de bem-estardaspopulações.Ouseja,pelaprimeiravez,estamosrealmentemedindoautilidadesocialdasnossasatividades.Umasociedadeondeaeconomiavaibem,masopovovaimaleoplanetaédilapidado,éevidentementeumasociedadesemrumos.

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Narealidade,gerarinstrumentosquepermitamàpopulaçãoavaliar o “progresso genuíno” e a sua qualidade de vida,o que Gadrey chama de “performance societal”, tende areequilibrar os critérios de decisão na sociedade. Umapopulação informada pode se tornar cidadã. A populaçãodesinformada, ou mal informada, como a que hoje temos,tendeaficarapenasangustiada.25

Portanto, criar instrumentos de medida que nos permitamsaberparaondevamosjáconstituiumpassoimportante,decerta forma é a luz que ilumina o processo decisório, poisdefineosobjetivos.Emoutronível,noentanto,valeapenadarumaolhadanadiscussãosobreasformasdeorganização.

DEMoCRAtiZAR o GoVERno

Adotarmedidasquenospermitamacompanharoprogressorealdasociedadeedoplanetaénecessário,masnãosuficiente.Temosdeassegurarqueasociedadetenhamaispossibilidadedecobrarosresultados.Ascríticasaotamanhodosetorpúblicoconstituem no geral uma solene bobagem. Nas palavras deum diretor da Ecole Nationale d’Administration, a famosaENA,melhoraraprodutividadedosetorpúblicoconstituiamelhor maneira de melhorar a produtividade sistêmica detodaasociedade.ORelatórioMundialsobreoSetorPúblicode2005,dasNaçõesUnidas,mostraaevoluçãoquehouveapartirdavisãotradicionalda“AdministraçãoPública”baseadaemobediência,controlesrígidoseconceitode“autoridades”,transitandoporumafaseemquesebuscouumagestãomaisempresarial,nalinhado“publicmanagement”quenosdeupor exemplo o conceito de “gestor da cidade” no lugar doprefeito,edesembocandoagoranavisãomaismodernaqueorelatóriochamade“responsivegovernance”.

2� A este respeito ver o nosso informação para a cidadania e o desenvolvimento sustentável, em http://dowbor.org, sob “Artigos on-line”.

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O conceito é difícil de traduzir. A “governança” já foiincorporadaaonossovocabulário,implicandoquenoespaçopúblico aboa gestão se conseguepormeioda articulaçãointeligenteeequilibradadoconjuntodosatoresinteressadosno desenvolvimento, os chamados “stakeholders”. Oadjetivo“responsive”jáémaiscomplicado,poisimplicademaneiraamplaumagestãosensívelequesabe“responder”,ou “corresponder” aos interesses que diferentes gruposmanifestam,esupõesistemasamplamenteparticipativos,eem todo caso mais democráticos. É uma gestão em que oprefeitonãoditaoseuprogramaparaacidade,masajudaoscidadãosadesenvolverosprogramasqueelesdesejam.Podemoschamaristode“governançaparticipativa”.

Oresultadoéumquadrointeressante:

ADMiniStRAção PúBLiCA

GEStão PúBLiCA GoVERnAnçA PARtiCiPAtiVA

Relação cidadão-estado

obediência Credenciamento Empoderamento

Responsabilidade da administração superior

Políticos Clientes Cidadãos, atores

Princípios orientadores

Cumprimento de leis e regras

Eficiência e resultados

Responsabilidade, transparência e

participação

Critério para sucesso

objetivos quantitativos

objetivos qualitativos

Processo

Atributo chave imparcialidade Profissionalismo Participação

FontE: Adaptado do documento: onu: World Public Sector Report 200�, p. �.

Teríamosassimtrêsmodelos.Aevoluçãodaadministraçãopública tradicional (Public Administration) para o NewPublic Management se baseou numa visão privatista dagestão, buscando chefias mais eficientes. A evolução maisrecenteparaoresponsivegovernanceestábaseadanumavisãomais pública, em que as chefias escutam melhor o cidadão,

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eemqueaparticipaçãocidadã,pormeiodeprocessosmaisdemocráticos, é que assegura que os administradores serãomaiseficientes,poismaisafinadoscomoquedelessedeseja.Éadiferençaentreaeficiênciaautoritáriaporcimaeaeficiênciademocrática pela base. A eficiência é medida não só noresultado,masnoprocesso.

“Omodelodegovernançaenfatizaumgovernoabertoequese relaciona com a sociedade civil, mais responsabilizadae melhor regulada por controles externos e a lei. Propõe-sequea sociedade tenhavozatravésdeorganizaçõesnãogovernamentais e participação comunitária. Portanto,o modelo de governança tende a se concentrar mais naincorporação e inclusão dos cidadãos em todos os seuspapéisdeatoresinteressadosstakeholders,nãoselimitandoasatisfazerclientes,numalinhamaisafinadacomanoçãode“criaçãodevalorpúblico”...”Ateoriadagovernançaolhaparaalémda reformadagestãoedos serviços,apontandoparanovostiposdearticulaçãoEstado-sociedade,bemcomopara formas de governo com níveis mais diferenciados edescentrados”...”Aabertura(“openness”)eatransparênciaconstituem,portantopartedestemodeloemergente”(ONU,WorldPublicSectorReport,2005,p.13)

O novo modelo que emerge está essencialmente centradonumavisãomaisdemocrática,comparticipaçãodiretadosatoresinteressados,maiortransparência,comforteaberturaparaasnovas tecnologiasdainformaçãoecomunicação,esoluções organizacionais para assegurar a interatividadeentre governo e cidadania. A visão envolve “sistemas degestãodoconhecimentomaissofisticados”,comumpapelimportante do aproveitamento das novas tecnologias deinformaçãoecomunicação.

Para a nossa discussão no Brasil, esses pontos são muitoimportantes.Têmavirtudedeultrapassarvisõessaudosistasautoritárias,etambémapseudomodernizaçãoquecolocavaum“manager”ondeantestínhamosumpolítico,resultandonuma mudança cosmética por cima. É uma evolução quebusca a construção de uma capacidade real de resolução

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de problemas por meio das pactuações necessárias coma sociedade realmente existente. Esta sistematização detendênciasmundiaisvemdarmaiorcredibilidadeaosquelutam pela reapropriação das políticas pela cidadania, nabasedasociedade,emvezdatrocadeumasoluçãoautoritáriaporoutra.

DEMoCRAtiZAR AS CoRPoRAçõES

Mas as transformações, evidentemente, não se limitam aosetorpúblico.Estágradualmenteseenraizandoaidéiageralde que nenhuma corporação pode limitar-se a maximizaros lucros,deque toda iniciativaque temimpactosocialeambiental temde responderde certa forma aos interessesda sociedade em geral. Ou seja, as dimensões sociaise ambientais da atividade empresarial deixam de serconsideradas“externalidades”queasociedadeirácustearpormeiodosimpostosedosetorpúblico,parasetornarumfator intrínseco da atividade econômica. Temos notáveisavanços,nestaárea,apartirdasmetodologiasdo InstitutoEthos de Responsabilidade Empresarial. Não entraremosaqui no detalhe destas mudanças, sobre as quais está sedesenvolvendo uma literatura impressionante. Para nósaqui, o essencial é constatar que não basta uma empresadesenvolver algumas atividades sociais para melhorar aimagem:éopróprio“corebusiness”,o“negócio”daempresa,quedeveserdesenvolvidodemaneiraresponsável.Etornou-sehojeessencial,comopesopolíticodequedispõemhojeascorporações,queelascontribuamparaaconstruçãodeumarcabouçojurídicoquefaciliteagestãodasociedadeemgeral,indoalémdossistemasdelobbiesquebuscamtorcerasregrasdojogoafavordeinteressessetoriais.26

2� A batalha (felizmente perdida) da FEBRABAn, usando de todo o seu peso para tentar obter uma decisão da justiça que colocaria os intermediários financeiros fora da alçada do Procon, deixando os usuários totalmente desprotegidos, é nesse sentido característica.

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Podemosduvidar aqueponto interesses setoriaispoderiamse interessarpelosobjetivosmaisamplosda sociedade.Noentanto, a tendência nos parece inevitável, pois os ganhossistêmicossãograndes,easpolíticasatuaisnãosesustentam.Em termos práticos, temos de evoluir para a avaliação daprodutividadesistêmicadoterritório,emcadamunicípiooupor microrregião. Esta outra contabilidade incompleta, quepermite que a empresa contabilize os seus lucros, mas sedesresponsabilizedoscustosambientaisesociaisgeradospelamesmaatividade,tambémprecisaserultrapassada,eavisãosistêmicaporterritóriopermiteumaavaliaçãoracional.27

Assim,buscamosumasociedademaisinformada,paraquepossa participar, e com metodologias mais atualizadas edesagregadas do que as simples estatísticas do PIB. Mas,tambémtemosdetrabalharporinstituiçõesdeEstadomaisdescentralizadastransparenteseabertasparamecanismosparticipativosdasociedadecivil.Eomundoempresarialtemdetrazeroseuquinhão,contribuindodemaneiraequilibradapara o econômico, o social e o ambiental, indo além da“cosmética”damarca,avançandoparaumcomportamentoefetivamenteresponsável.

REFoRçAR A SoCiEDADE CiViL

Como fica a sociedade civil neste quadro? A realidadeéquenoBrasil temosasociedadecivildecima,aqueseorganiza, apóia ONGs, protesta através do Idec, chamao Procon, escreve cartas aos jornais e assim por diante.Enfim,participa,aindaque freqüentementeaausênciadesistemas racionais de informação leve a uma participaçãodesencontrada. Estamos avançando rapidamente nesteplano, o que nos abre para processos mais democráticos.Mastambémtemosumandardebaixonasociedadecivil,osqueformamos51%de“economiainformal”vistosacima,

2� Um exemplo muito interessante e uma metodologia exemplar nos é dado pela cidade de Jacksonville, nos EUA, que publica anualmente um quality of Life Progress Report, avaliando os progressos efetivos da qualidade de vida da cidade, junto com organizações da sociedade civil. Ver em www.jcci.com

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asvítimasdaconcentraçãoderenda,osperdidosnanoitedas imensas periferias urbanas, os acampados nas beirasdas estradas, os sem terra, sem teto, sem internet, semparticipaçãoefetiva.

Elesestãoabrindocaminhos,semdúvida,equemacompanhaasuarealidadeficaimpressionadocomaformacomoconseguemtirar leite de pedra. Para esta massa que podemos considerarnoBrasil como formandoabasedecercade100milhõesdepessoas,muitopoucosefaz.Houveavançosindiscutíveis,comobolsa-familia,elevaçãodosaláriomínimo,aumentodoPronaf,disseminação do microcrédito, abertura de universidades eoutrasiniciativasextremamenteimportantesparaumpaísquenarealidadenuncaolhouparabaixo.

Mas temos de ir além. Este é um desafio onde hoje existemnumerosas propostas, e insuficientes realizações. Estaproblemáticaconstituioutrocapítulo,quenãoabordamosaqui.No quadro do Instituto Cidadania, fizemos durante os anos2005e2006umaamplapesquisajuntoaestapopulaçãoeàsinstituiçõesquedesenvolvemprogramasdeapoio.Oresultadoestásintetizadonumdocumentochamado“PolíticaNacionaldeApoioaoDesenvolvimentoLocal”,emquesãoapresentadasdezenasdepropostaspráticasparairalémdaspolíticasdistributivas,egeneralizarainclusãoprodutiva.28

Arealidadeéqueavançamosmuitonaorganizaçãodoandardecima,dapolíticaparaasclassesaltaemédia,daparticipaçãodo mundo empresarial, da estabilização da macroeconomia.Mas nenhum país se estabiliza quando deixa de lado umaimensamassadepobres,edilapidaosseusrecursos.Esteéodesafiodomomento.Apontamosbrevementeaquialgunsrumosda mudança organizacional. Um outro mundo é sem dúvidapossível,poisoqueaprontamosatéagoranãoérecomendável.Étempodemostrarmosqueumaoutragestãoéviável.

28 o documento “Política nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local” pode ser encontrado em http://dowbor.org sob “Artigos on-line, no site do instituto Cidadania e numerosos outros. http://dowbor.org/0�dlfinal.pdf ou http://www.desenvolvimentolocal.org.br

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ReFeRÊnCIAS

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LESSIG,L.TheFutureofIdeas.NewYork:RandomHouse,2001.

ONUTheInequalityPredicament:reportontheworldsocialsituation2005.DepartmentofEconomicandSocialAffairs.NewYork:UN,2005.

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VIVERET,P.ReconsideraraRiqueza.Brasília:UNB,2006.

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3. InOvAÇÃO SOCIAl e deSenvOlvIMentO

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1. IntROdUÇÃO

A discussão sobre o processo de desenvolvimento envolveresponderaduasquestõesfundamentaisquecondicionamaescolhadaspolíticaseaçõesaseremdesenvolvidas:oquerealmenteédesenvolvimento?Eemsegundolugar,quaissãooscaminhosmaisadequadosparaatingirasituaçãoinvejáveldeumasociedadedesenvolvida?

Aolongodasúltimasduasoutrêsdécadas,essesconceitosexperimentaramsignificativamodificação:

A visão do desenvolvimento como resultado do progressoeconômicoematerialcedeuprogressivamente lugaraumaconcepçãointegradaqueassociaocrescimentoeconômicoaoaumentodosníveisdebem-estarsocial,desustentabilidadeambientaledeafirmaçãopolíticaecultural.

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Avisãoporassimdizerconvencional,prevalentenasdécadasde50e60,associavaaausênciadodesenvolvimentoquasedemaneira exclusiva àpobrezamaterial.Dessacrença seextraíaumcoroláriobásico:combata-seapobreza,aumente-se a riqueza material de um país ou de uma região eautomaticamenteestarãocolocadasascondiçõesfundamentaispara o desenvolvimento. A afluência material deflagrariaespontaneamente outros processos de aperfeiçoamentosocial,poisumarendamaiselevadapermitiriamaioracessoà nutrição, à educação, à saúde, enfim, àquilo que JohnRawls denominou “bens sociais básicos” , promovendodessamaneiraoaperfeiçoamentogeraldasociedade.EssaconcepçãoconvencionaldodesenvolvimentoébemdescritaporGarofaloeNese:

o desenvolvimento [era] considerado como um processo entrelaçado de mudança estrutural para uma economia, que consiste basicamente numa alteração da composição do Produto e do emprego, na inovação dos métodos de produção, distribuição e redistribuição. Em outras palavras, o desenvolvimento pode ser definido como a habilidade de uma economia em produzir um número crescente de bens e serviços. isso propicia crescentes oportunidades em termos de renda, emprego e trocas para os agentes que agem nessa economia.

Essavisãosimplistafoisendoaperfeiçoadaprogressivamente,passandoaincorporaroutrasdimensõescomoadistribuiçãoda riqueza, a preservação do tecido social ameaçado pelabuscairrestritadamodernidade,aafirmaçãopolíticacomodemonstraçãodedesenvolvimentoe,apartirdasdécadasde70e80,asustentabilidadeambiental;

O desenvolvimento era convencionalmente entendidocomo resultado de um processo de mudança lideradopelo Estado que intervinha direta ou indiretamenteem alguns setores mais dinâmicos (leading sectors),os quais promoveriam transbordamentos (spillovers)nos setores mais atrasados (lagging sectors) gerando

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umefeitode“causaçãocumulativa”29; essaconcepçãoprogressivamente cedeu lugar à percepção de que odesenvolvimentoéoresultantedeumesforçomúltiploqueenvolvediferentesatorespúblicoseprivadosesetores,múltiplostiposdearranjosprodutivosediferentesníveisdemodernidadetecnológica.

Como corolário da primeira visão, as políticasdesenvolvimentistas eram fundamentalmentedirecionadas para alguns poucos setores consideradosestratégicos, tais como a infra-estrutura básica deenergia,comunicações,portos;eparaoestabelecimentode capacidades industriais próprias em setores degrande repercussão, tais como as chamadas indústriasbásicas. Acreditava-se que o desenvolvimento dessascapacidades e deuma infra-estrutura satisfatória seriacapazdesemultiplicarportodaaeconomiaeportodoosistemasocialproduzindoochamadoefeitodetrickledown, o “gotejamento para baixo”. Ainda associada aessavisãoexistiaacrençadequeerafundamentalqueoEstadodesempenhasseopapeldeinvestidordiretoedeindutordeinvestimentosprivadosnossetorescríticosmedianteaexecuçãodepolíticasadequadastaiscomooprotecionismo,osbenefíciosfiscais,aextensãodecréditoeafacilitaçãodaatividadeempresarialdegrandeporte.

Maismodernamentepassou-seaentenderqueoprocessodedesenvolvimentoenvolve,deumamaneiraououtra,uma infinidadede iniciativasabsolutamentediferentesentre si: o estímulo à expansão de empresas de altatecnologiapodeedeveconvivercomapreservaçãodetecnologias tradicionais; empreendimentos de grandeescala de produção podem e devem coexistir compequenasemédiasempresas;políticasdeinvestimentopúblicooudeintervençãodiretadeorganizaçõesestataispodemedevemconvivercomatransferênciadeencargospúblicosparaosetorprivado.Eassimpordiante.

29 Vejam-se, por exemplo, as teorias de Albert Hirschmann e Gunnar Myrdal.

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Evidentemente essa alteração conceitual não deve serentendida como uma sucessão de posições doutrináriasantagônicas e sim como resultado da evolução do próprioprocesso. Quando a situação econômica e social de umdeterminado país ou região é absolutamente atrasada erudimentar,umaaçãodecididaeconcentradadoEstadoedealgunsatorespoderosos investindoe intervindoemalgunspontos cruciais para superar graves estrangulamentos éabsolutamenteindispensável,poisseessesgrandesatoresnãoagiremnãoexistirãooutrasforçasorganizadasqueofaçam.Àmedidaporém,queas grandescarências são superadase as capacidades humanas, materiais e tecnológicas dopaís ou da região se multiplicam e se disseminam, ficamcriadasascondiçõesparaumprocessodedesenvolvimentodenaturezamenosconcentrada,maisamplaedenaturezadifusaenvolvendoumamultiplicidadedeatoreseconômicosesociaisenãoapenasalgunspoucos.

Foi isso exatamente o que ocorreu com o Brasil. Quandoa Revolução de Trinta desencadeou o grande esforçomodernizadoredesenvolvimentistaqueemcinqüentaanosiriatransformaropaísdeumasociedadeagráriarudimentaremumadasdezmaioreseconomiasdomundo,duaspercepçõesforam dominantes: a de que a modernização da infra-estruturaeconômica(energia,transporte,telecomunicações)e do aparelho produtivo para permitir ao país a auto-suficiênciaderecursoseinsumosbásicosemáreascríticas(siderurgia,petróleoepetroquímica,bensdecapital,bensdeconsumodurável,agriculturamoderna)deveriamserofocodetodooesforçodesenvolvimentista;equeemumpaísdebaixaounulacapacidadeempreendedoraprivada,opapelde principal ator do processo estava destinado ao Estadoagindodiretamenteouestimulandoacriaçãodeumaeliteeconômica nacional. Essa concepção prevaleceu por maisdemeioséculopermeandoaspolíticasdesenvolvimentistasdo Governo Kubitschek e os 20 anos do regime militar.Nasúltimas trêsdécadas–atécomo resultadodasetapasanterioresdoprocesso–oBrasilexperimentouumaprofunda

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alteraçãonaavaliaçãodospoderesgovernamentaisedequaiseramrealmenteafinalidadeeosobjetivosdosprocessosdedesenvolvimento;eassim,asestratégias,açõeseiniciativasdesenvolvimentistas se multiplicaram, envolvendo umnúmerocrescentedesetoresedeatoressociais.

2. UMA eRA de lIMIteS

Essamodernizaçãoconceitualcoincidecomoutraevoluçãocrucial:apercepçãodequeomundonãoeraorepositórioinesgotávelderecursosnaturaisinfinitoscomoseacreditouporséculos;aocontrário,afinitudedosrecursosdoplanetaexigiria uma atitude de respeito aos limites naturais parapermitir a sustentabilidade em longo prazo da existênciahumana. Para utilizar a linguagem de Kenneth Boulding,eranecessárioentenderqueaexistênciahumananãopodiaserinterpretadacomoumconviteàexploraçãoinclementeeilimitadadanatureza–queBouldingcomparouàeconomiadoscowboys–esimaumaviagememumanaveespacialemqueosrecursosnãorenováveisqueseesgotaremnãopoderãoserrepostos.Progressivamenteodesenvolvimentopassouaserentendidocomoumprocessoextremamenteparcimoniosoemqueosrecursosdisponíveisdequalquernaturezadevemsermaximizadoseexploradosracionalmente.

Oslimitesdenossaeranãoseresumem,noentanto,àquelesdenaturezaambiental.Tambémospoderesdeintervençãodos governos encontraram seus limites na multiplicaçãoda complexidade das sociedades modernas. Enquantonas sociedades atrasadas, a diversidade econômica esociocultural é invariavelmente baixa, nas sociedades emprocessoaceleradodedesenvolvimentooujádesenvolvidas,produz-se uma multiplicação exponencial de estruturas

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sociais,deatividades,setoresetiposdeorganizações.

Analisandoessefenômeno,FredRiggsutilizouumametáfora,a da concentração e da difração da luz, para descrever amultiplicação das estruturas e das funções sociais. ParaRiggs, da mesma forma como a luz branca é altamenteconcentradae,atravessandoumprismasedecompõeemumespectrodecores(difração)emqueosdiversosmatizessãoclaramente identificáveis, também as sociedades simples,tradicionais, são “concentradas”, ou seja, têm pouca ounenhuma diferenciação, caracterizando-se por poucasestruturas sociais multivalentes, nas quais as funçõesse superpõem: uma mesma estrutura é encarregada decumprirmaisdeumafunçãosocial(afamília,porexemplo,pode cumprir funções religiosas, educacionais, políticas eeconômicasemumasociedadetradicional);mas,àmedidaqueas sociedades sedesenvolveme semodernizam, suasestruturassediferenciameseespecializam,ampliandoseusgrausdeheterogeneidadeeaomesmotemporeduzindoseusníveisdesuperposiçãodefunções.

Ora,éfácilentenderqueumgovernopodeintervireficazmenteemumasociedade“concentrada”poislhebastaráatuaremalgunspoucos setores, processos e estruturas para obter resultadosimportantes.Omesmonãoacontecenassociedadesdifratadas,pois intervir em suas múltiplas estruturas exigiria uma escalagigantesca e uma variedade de habilidades e de capacidadesvirtualmente impossíveis de concentrar em uma estruturagovernamental.

Daí a importância de multiplicar as ações e as políticasdesenvolvimentistas, utilizando-se da multiplicidade dearranjossociaiseprodutivosexistentesnassociedadesemprocessoavançadodemodernizaçãoededesenvolvimentocomooBrasil.

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3. QUe É “InOvAÇÃO SOCIAl”?

Tratando-se de um conceito relativamente novo, não existeuma definição única para “inovação social”. Para Dosi,inovaçãoenglobaabusca,adescoberta,aexperimentação,odesenvolvimento,aimitaçãoeaadoçãodenovosprodutos,novosprocessos de produção e novas formas organizacionais. Umainovação“social”poderiaanalogamenteserentendidacomoabusca,descoberta,experimentação,desenvolvimento,imitaçãoeadoçãode“arranjossociaisalternativos”paraproduziralgo.

Que “arranjos sociais” seriam esses? Para entender esseconceito é necessário retomar a definição de “organizaçãoprodutiva”. Uma organização é um grupo de indivíduos quedivideentresioesforço,aautoridadeeasresponsabilidadespararealizarumdeterminadotrabalhoecumprirdeterminadosobjetivos. “Arranjos sociais alternativos” são formas nãoconvencionais de organizar o esforço coletivo de produção.Formas diferentes daquelas normalmente adotadas pelasempresas estritamente econômicas guiadas exclusivamentepelasregrasdaracionalidadeinstrumental.

Cabeentãoumasegundapergunta:porqueadotar“arranjosalternativos” quando, por definição, uma empresa agindoeconomicamente,semprebuscautilizarrecursosescassosdamaneiramaiseficazpossível?Paraestasegundapergunta,háduasrespostaspossíveis:emprimeirolugar,nemtodososcustosqueseriamobrigatoriamenteconsideradosemumaempresaeconômica estariam presentes em determinados tipos deorganizaçõesalternativas.Porexemplo,oscustosdotrabalhohumanoqueteriamdeserobrigatoriamentecomputadosnaoperação de uma empresa econômica convencional, não“existem” em muitos arranjos alternativos ondeo trabalhoé voluntário e gratuito, o que é uma característica comum

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de organizações altruísticas, benemerentes ou filantrópicas.Outros custos, como, por exemplo, recursos materiais, sãodoadosaessestiposdeorganizações,diminuindoassimseucustodeoperaçãoreduzido.Emboraemtermosestritamenteeconômicos esses custosnãodeixemde existir, elesnão setraduzem em necessidade de pagamento efetivo, pois sãoabsorvidos pelos próprios voluntários. Assim, a capacidadeprodutiva desses arranjos alternativos é ampliada sem anecessidadederecursosadicionais.

Segundo, porque na adoção desses arranjos alternativosestá presente implicitamente um alargamento da idéia deproduçãoetambémdosobjetivosdodesenvolvimento.ComoargumentavaGuerreiroRamosnãoéapenasnasorganizaçõespuramente econômicas que ocorre a produção em umasociedade.Narealidade,as“economias”sãoapenasumdosnumerosos“espaços”(ouarranjos)sociaisondeaproduçãotem lugar. Para Ramos, o processo de produção de bens eserviços socialmente relevantes ocorre em todo o tecidosocial, mesmo que utilizando modalidades de organizaçãodiversas.Umaigrejaouumaorganizaçãodeapoioamenoresabandonadossãolocaisdeproduçãotantoquantoumafábricaouumescritório.Nocasodasigrejasedasorganizaçõesdeapoio,seus“produtos”sãoimateriais,intangíveis,taiscomoo conforto espiritual e a orientação científica, enquantoumafábricaeumescritórioproduzirãobenseserviçoscomvalor econômico. Um artista trabalhando isoladamente ouuma cooperativa de catadores de papéis geram “produtos”totalmentediversosmasigualmenterelevantes.

Alémdisso,aidéiadeinovaçãosocialserespaldaemumavisão mais abrangente do desenvolvimento, o que – comovimos – vem encontrando crescente aceitação entre osteóricosdesenvolvimentistas:adequeaspolíticaseaçõestendentes a propiciar ou acelerar o desenvolvimento nãodevemperseguirapenasobjetivoseconômicos.Elasdevemserguiadastambémporobjetivosquenãosãoeconômicos

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no sentido estrito do termo e sim também pela busca dajustiça, da eqüidade, da solidariedade, da inclusão dosgruposmarginalizados,daexpressãodas individualidades,daminimizaçãodosimpactosambientaisedapreservaçãodotecidosocioculturalentreoutros.

3.1 MoDALiDADES DE inoVAção SoCiAL

As inovações sociais podem tomar diferentes formas,todas elas importantes como instrumentos de políticasdesenvolvimentistas.Entremuitasoutrasiniciativas,podemserconsideradasinovaçõessociais:

O trabalho realizado naquilo que modernamente seconvencionou chamar de Terceiro Setor. De acordocomoManualdoTerceiroSetornoSistemadeContasNacionais (Handbook on Non-Profit Institutions in theSystem of National Accounts) recomendado pela ONU(OrganizaçãodasNaçõesUnidas):

“Oterceirosetorousetornãolucrativoédefinidocomoformado por (a) organizações que (b) são sem finslucrativos e que, por lei ou costume, não distribuemqualquerexcedente,quepossasergeradoparaseusdonosoucontroladores;(c)sãoinstitucionalmenteseparadasdogoverno,(d)sãoautogeridas;e(e)nãocompulsórias”.

Visto de outra perspectiva, o Terceiro Setor englobatodas as atividades de interesse público realizadas pororganizações privadas e da sociedade civil voltadaspara a ampliação da cidadania, tais como o ensino, aassistênciasocial,jurídicaoudequalqueroutrotipo,asaçõesfilantrópicasebenemerentesetc.

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Noentanto,asinovaçõessociaisvãobemmaisalémeenglobamigualmente:

Otrabalhodasorganizaçõesad-hoccriadaspelopoderpúblicoparaatenderasituaçõesdeemergência(desastresnaturais,desemprego,soluçãodeproblemastemporários,taiscomocampanhasnaáreadasaúdepública,etc.)

Trabalhos cooperativos desenvolvidos igualmenteno ambiente das organizações públicas como nasparticularesvisandoàampliaçãodosbenefíciosdainfra-estruturasocial(AssociaçõesdePaiseMestres,conselhoscomunitários, mutirões, organizações comunitárias deinclusãosocialetc.)

Ações temporárias desenvolvidas pelas organizaçõesda sociedade civil para a consecução de objetivosimediatosetransitórios:feiras,campanhas,movimentospara arrecadação de recursos para determinados finsmeritóriosetc.

E por último, mas não menos importante, a ação dasorganizaçõesde“vigilânciacívica”(quesãoconhecidasna língua inglesa por watchdog organizations e sededicam a acompanhar atentamente o que ocorre noâmbitodapolíticapúblicaedasaçõeseiniciativasdosgrandesgruposeconômicosem relaçãoa assuntosqueconsideremrelevantes.OGreenpeaceeosmovimentosde defesa do meio ambiente são bons exemplos dessacategoria tais como as organizações que se dedicam aidentificaratitudeseatosdiscriminatóriosdegêneroeraça,corrupçãogovernamentaletc.

Pela sua própria natureza, o número de inovações sociais évirtualmenteinfinito,sendoimportantenãoosimplestrabalhodecatalogaçãodasexperiênciasbemoumalsucedidasesimaadoçãode uma filosofia de desenvolvimento que, sistematicamente,incorporeosarranjossociaiseorganizacionaisalternativosentreosatoresrelevantesdoprocesso.

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4. A COntRIBUIÇÃO dA InOvAÇÃO SOCIAl nO pROCeSSO de deSenvOlvIMentO

Em síntese, numa situação de crescente complexidadeeconômicaesocialcomoaquevivemos,apossibilidadedeacelerareaperfeiçoaroprocessodedesenvolvimentoemumasociedadenãoestánempodeestarassociadaaumaampliaçãosignificativadospapéisgovernamentais,poisnãohaveriamaisrecursoshumanos,materiais, tecnológicoseorganizacionaiscapazesdepromoveramudançadesejada.Essapossibilidadede promover o desenvolvimento está diretamente associadaà capacidade de seus governantes e dos principais atoressociaisdeagirimaginativamenteparamultiplicaraeficáciadesuaspolíticasedesuasações.Acombinaçãoidealparaaconduçãodoprocessodesenvolvimentistapodeserresumidaemalgumaspropostas:

O processo de desenvolvimento é resultante de umacombinaçãoentredecisõespúblicaseprivadas,emqueessasúltimaspodemtercaráterlucrativoounão.

O interesse dos empreendedores privados em seenvolvercomprojetoseiniciativasdesenvolvimentistasmovidospelasexpectativasdeobtençãodelucronãoéincompatívelcomoethosdesenvolvimentista.

Agentes privados, buscando maximizar seus resultadoseconômicos e empresariais podem tentar abusar daassimetria de poderes na sociedade e cometer abusoscontraosindivíduosegrupossociaismaisfragilizados.Isso,porém,nãodesqualificaaparticipaçãoativadosagentesprivados nos esforços desenvolvimentistas, cabendo aoEstado,por suas instituiçõespolíticas,prevenirecoibirtaisabusos.

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Aparticipação ativa de organizações doTerceiro SetoréfundamentalparaampliarolequedeintervençõesdeinteressepúblicosemonerarmaisaindaoSetorPúblico.É, portanto, uma atitude sensível dos governantesfacilitar, viabilizar e prestigiar a sobrevivência e odesenvolvimentodasorganizaçõesdoTerceiroSetor.

Oestímuloàinovaçãosocialéoutrocomponenteessenciale insubstituível das políticas desenvolvimentistasmodernas, tanto pela sua agilidade de resposta comopor suacapacidadedeampliaroefeitodaspolíticaseaçõesdesenvolvidaspeloEstado(PrimeiroSetor)epelomercado(SegundoSetor).

Adicionalmente, a multiplicação das inovações sociaiscomo ferramentas desenvolvimentistas amplia o lequeda participação popular nas ações de interesse público,aumentando assim o nível de cidadania, cuja origemetimológica(civitas)temexatamenteestatradução:“cidadãoéaquelequeparticipadagestãodoEstado”.

ReFeRÊnCIAS

BOULDING,K.TheEconomicsofSpaceshipEarth.1986.

CASTOR,B.V.J.;FRANÇA,C.F.AdministraçãoPúblicanoBrasil:ExaustãoeRevigoramentodoModelo.InCASTOR,B. V. J. et al., Estado e Administração Pública: reflexões.Brasília:FUNCEP,1987.

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RAMOS,A.G.ANovaCiência dasOrganizações.Rio deJaneiro:FGV,1981.

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RIGGS, F. A Ecologia da Administração Pública. Rio deJaneiro:FGV,1964.

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4. InOvAÇÃO SOCIAl e O pApel dA IndÚStRIA

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Oobjetivodestecapítuloédiscutiraquestãodainovaçãosocialna pequena e média empresa industrial e sua contribuiçãoparaodesenvolvimentolocalsustentado.

Este trabalho é composto por seis partes distintas. Aprimeiraparteapresentaconsideraçõessobreinovaçõesnoseuaspectogeral.Asegundatratadasmudançasnasformasde organização do processo de produção tradicional e aorganizaçãodaproduçãoflexível.Aterceirapartedestacaaimportânciadodesenvolvimentolocalemtemposdeeconomiaglobal.Porsuavez,aquartaparterefletesobretecnologiasconvencionais,tecnologiasadequadasetecnologiassociais.Aquintaabordaasquestõesdapequenaemédiaempresaindustrialesuascontribuiçõesparaodesenvolvimentolocalsustentável, assim como o novo modo de organização daproduçãoflexível,osdesejos,asnecessidadeseasvontadesdassociedades(comunidades locais)deconquistarmelhorqualidadedevida,bem-estarsocialeexistencial.Finalmente,

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aconclusãosintetizaosdesafiosfuturosparaaincorporaçãodeinovaçõessociaisnaindústriaparaumdesenvolvimentojustoesolidário.

1. InOvAÇÃO teCnOlÓGICA

Otermoinovação,aolongodotempo,sempreesteveligadoàquestãodoganhodecompetitividadedosprodutosedasempresas.Inovaréumadasprincipaisestratégiascompetitivasdas empresas que procuram manter-se competitivas nosmercados, por meio de novos produtos, processos e(ou)novasformasdegestão.Ainovaçãosempreesteveligadaàsquestões do desenvolvimento econômico e das estratégiasdeempresasparacrescerecompetiremmercadoscadavezmaisacirrados.Nessesentido,aOCDE(OrganizaçãoparaCooperação e Desenvolvimento Econômico) por meio doManualdeOslodefineinovação:

inovação tecnológica de produto ou processo compreende a introdução de produtos ou processos tecnologicamente novos e melhorias significativas em produtos e processos existentes. Considera que uma inovação tecnológica de produto ou processo tenha sido implementada se tiver sido introduzida no mercado (inovação de produto) ou utilizada no processo de produção (inovação de processo). As inovações tecnológicas de produto ou processo envolvem uma série de atividades científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais. A firma inovadora é aquela que introduziu produtos e processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados num período de referência.(...)Atividades inovativas compreendem todos os passos científicos, tecnológicos, organizacionais, financeiros e comerciais, inclusive o investimento em novos conhecimentos, que, efetiva ou potencialmente, levem à introdução de produtos ou processos tecnologicamente novos ou substancialmente melhorados. As atividades inovativas mais destacada são: aquisição e geração de novos conhecimentos relevantes para a firma; preparação para a produção; marketing de produtos novos ou melhorados. (oCDE – Manual de oslo, 199� p. 3� e 44).

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A inovação éumacombinaçãodenecessidades sociais ededemandasdomercado,comosmeioscientíficosetecnológicospara resolvê-las. A inovação tecnológica é entendida aquicomotransformaçãodoconhecimentoemprodutos,processoseserviçosquepossamsercolocadosnomercado.

A capacidade de a empresa inovar constantemente é o fatormaisrelevantenanovaeconomiamundial(PORTER,1985)–tambémdenominadasociedadedoconhecimento,poisosaber(conhecimento)geraprodutoseserviçospormeiodasempresasquebuscamlucrosnoatendimentodenecessidadessociaisdosconsumidores,istoé,nabuscademelhorníveldebem-estar.

Quandosetratadeinovaçõestecnológicas,osdiferentesautoressão unânimes emdestacar a importância da contribuiçãodeSchumpeter(1982)sobreoassunto,citando-ocomopioneiroem estudar a inovação tecnológica como fonte principal dodinamismo do sistema capitalista. Schumpeter, ao analisar aimportânciadainovaçãonadinâmicacapitalista,afirma:

o capitalismo, então é, pela sua própria natureza, uma forma ou um método de mudança econômica, e não apenas nunca está, mas nunca pode estar estacionário. E tal caráter evolutivo do processo capitalista não se deve meramente ao fato de a vida econômica acontecer num ambiente social que muda e, por sua mudança, altera os dados da ação econômica; isso é importante e tais mudanças freqüentemente condicionam a mudança industrial, mas não são seus motores principais. tampouco se deve esse caráter evolutivo a um aumento quase automático da população e do capital ou dos caprichos dos sistemas monetários, para os quais são verdadeiras exatamente as mesmas coisas. o impulso fundamental que inicia e mantém o movimento da máquina capitalista decorre de novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização industrial que a empresa capitalista cria. (...) A abertura de novos mercados – estrangeiros ou domésticos – e o desenvolvimento organizacional, da oficina artesanal ao conglomerado (...), ilustram o mesmo processo de mutação industrial (...) que incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando uma nova. Esse processo de Destruição Criativa é o fato essencial do capitalismo. é nisso que consiste o capitalismo e é aí que têm de viver todas as empresas capitalistas. (SCHUMPEtER, 1982, p.112-113).

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ParaSchumpeter,ainovaçãoéumconjuntodenovasfunçõesevolutivas que alteram os métodos de produção, criandonovasformasdeorganizaçãodotrabalho,eque,aoproduzirnovasmercadorias,possibilitaaaberturadenovosmercadosmedianteacriaçãodenovosusoseconsumos.Aslimitaçõesdocrescimentoedesenvolvimentodeumaeconomia,navisãode Schumpeter, não está na capacidade de investimentos,mas sim na existência de projetos rentáveis, pelo estoquede conhecimentos e pela disponibilidade de pessoascapazesdeempreender.Dentrodessavisão,paraquehajadesenvolvimentoéindispensávelaexistênciadeumareservadeconhecimentoadequadoàgeraçãodeinovaçõesenovastecnologias capazes de transformar as idéias em produtosrentáveisparaasempresas.

A inovação que dá lugar ao processo de desenvolvimentoeconômico,progressoeconômicoouevoluçãoeconômicaéo fenômeno fundamental da vida econômica capitalista.Acapacidadedegeraçãodeinovaçõeséoresultadodoacúmulodecompetênciastécnicaseeconômicasparaasobrevivênciaeocrescimentodafirma.(HIRATUKA,1997)

Quando Schumpeter fala de novas combinações de meiosprodutivos–Inovações–noprocessodedesenvolvimento,consideraasseguintesalternativas:

a)introduçãodeumnovobem,oudeumanovaqualidade,comoqualosconsumidoresaindanãoestãofamiliarizados;

b) introdução de um novo método de produção que aindanão tenha sido testado pela indústria de transformação equedealgummodoprecisaestarbaseadonumadescobertacientífica nova, quepode constituir umanovamaneira decomercializarumamercadoria;

c)aberturadeumnovomercado,ummercadoemqueumramoparticularda indústriade transformaçãodopaísnãotenhaentrado;

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d)conquistadeumanovafontedeofertadematérias-primasoudebenssemimanufaturados,independentementedofatodeessafontejáexistirouterquesercriada;

e) estabelecimento de uma nova organização de qualquerindústria,comoacriaçãodeumaposiçãodemonopóliooufragmentaçãodeumaposiçãodemonopólio.

Em síntese, fazer coisas de formas diferentes ou aplicarrecursosprodutivosemusosdiferentesouorganizarsistemasprodutivosdeformasdiferentes.Nessesentido,asinovaçõesconstituemoimpulsofundamentalqueacionaemantémemmovimentoamáquinacapitalista.Portanto,asinovaçõestêmorigens no próprio processo capitalista, são um fenômenodosistemacapitalistaparasemanteremnomercadoe(ou)conquistaremnovosmercados.

Ofatormotivadordainovaçãoparaaempresaéolucro.Porém,podem ser considerados como fatores indutores da inovaçãooutrosfatores,taiscomo:fatorespsicológicosecomportamentaisdosempresários,buscadepoder,buscadereconhecimentodasociedade,exercíciodacriatividadeindividual,buscadosucesso,buscadenovassoluçõesparaproblemasdasociedade.

Aempresaéo“lócus”dainovaçãocapitalista.Ocrescimentodaseconomiascapitalistasprovémdasubstituiçãodeantigosprodutoseserviçospornovos,queatendamcommaiseficiênciaàsnecessidadesdosconsumidores.

Oprocessodeproduçãodebenseserviçosnosistemacapitalistaéumprocessodemudançaemdireçãoàinovaçãoparaatenderàsexigênciasdoconsumidor,comestratégiasemodosdiferentesentreasempresasprodutoras.

Afirmaobtémlucroatendendoàsnecessidadesdeprodutose serviços do consumidor. Pode-se, então, concluir queo processo evolutivo do capitalismo é um processo decompetição entre firmas na busca incessante de novas emelhoresmaneirasdeatenderàsnecessidadeseexigênciasdoconsumidore,destemodo,garantirlucrosparaaempresa.

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Logo,ainovaçãoeadiferenciaçãodeprodutosdecorremdavontadedeaempresaconquistarlucrodiantedeumcenáriodemudançasdeinformações,dehábitos,depreferências,decomportamentodosconsumidores.

2. nOvAS FORMAS ORGAnIZACIOnAIS

A administração clássica pensava as organizações comosistemasrelativamentefechados,poisdefendiaqueaeficáciaeosucessodependiamdaeficiênciadasoperaçõesinternas.Acreditava-sequeasorganizaçõesepolíticasadministrativaseramcriadaspararealizarumconjuntoestáveldetarefasemetasorganizacionais.(BOWDITCH,1992,p.142)

A teoria organizacional contemporânea considera asorganizaçõescomosistemasabertos,queprecisamseadaptaràscondiçõesexternasmutantesparasobreviver,cresceretersucesso.(BOWDITCH,1992,p.142)

Asempresassãosistemasabertos.Istoé,recebeminfluênciasdo ambiente onde estão inseridas e exercem influênciassobreomeioemqueatuam.Comoobjetivodecompreenderainovaçãotecnológicaesuasimplicaçõesparaaestruturaorganizacional, pesquisas desenvolvidas por Kimbeerly(1986, p.23-43) identificam cinco tipos de inovaçãoorganizacional, sendo que para cada tipo surgem desafiosgerenciais e organizacionais específicos: a) organizaçãocomo usuária da tecnologia inovadora; b) organizaçãocomo inventora da inovação; c) organização como usuáriae inventora; d) organização como veículo da inovação; e)organizaçãocomoumainovação.

a) Usuárias da inovação exigem o desenvolvimento dehabilidades e flexibilidade para identificar, adotar e usarinovaçõespromissoras.

b)Organizaçõesinventorasdainovaçãodemandamacriaçãodeestruturasquefomentemacriatividadeeprodutividade,especialmentepesquisaedesenvolvimentodeprodutos,deciênciaetecnologia.

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c)Usuáriaseinventorasdainovaçãoprópriasoudeoutros.

d) Veículos para inovação: organizações de assistênciamédica,empresasdeconsultoria.

e) Organizações, como uma inovação, são criadas parafomentar alianças entre a indústria e a universidade paragerarfundosedesenvolveravançostecnológicos.Odesafionesse tipodeorganizaçãoéassegurarestabilidade internasuficientesemdesestimularacriatividadeeainovação,demaneira talqueaspessoaspossamrealizarseus trabalhoscomeficiência,enquantoestãosendocriadosasarticulaçõese os elos facilitadores entre entidades de pesquisa,universidades,entidadesdegoverno,empresasdetodososportesepúblicoexterno.

Hádiversasmaneirasdeestruturarasorganizações.Oimportanteéassegurarqueaestruturasejaadequadaaotipodeambienteegarantiroajustamentodaorganizaçãoàsexigências,limitaçõeseincertezasdoambiente.

“A crescente competição internacional e a necessidadede introduzir nos processos produtivos os avanços dastecnologias de informação e comunicação têm levado asempresas a centrar suas estratégias no desenvolvimentode capacidade inovativa. Esta é essencial para permitiràs empresas a participação nos fluxos de informação econhecimentoquemarcamopresenteestágiodocapitalismomundial”.(CASSIOLATOeLASTRES,2000,p.237)

Cassiolato e Lastres, analisando os fatores que maiscontribuíramparaoprocessodeinovaçãonosúltimosanos,destacam:

a) inovações e conhecimentos são elementos centrais dadinâmica do crescimento das nações, das regiões, dossetores,dasorganizaçõesedasinstituições;

b) inovação é um processo de busca e aprendizado,dependendoda interaçãoentre instituiçõeseorganizaçõesespecíficas;

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c) existem grandes diferenças entre os agentes e suascapacidades de aprender, dependendo do estoque deaprendizadoanterior;

d)existemgrandesdiferençasentresistemasdeinovaçãodepaíses,regiões,organizaçãoetc.emfunçãodecadacontextosocial,políticoeinstitucionalnoqualestãoinseridos;

e)conhecimentostácitosdecaráterlocalizadoeespecíficocontinuam tendo um papel primordial para o sucessoinovativoecontinuamdifíceisdeseremtransferidos.

Continuando a análise sobre o processo de aprendizado eacumulação do conhecimento como força determinante nageraçãoda inovação eda conquista debases sustentáveisde competitividade, Cassiolato e Lastres (2000) apontamquatro tendênciasnoprocessode inovação identificadasapartir dos estudos e relatórios da União Européia sobre oassunto.

1.Otemponecessárioparaolançamentodenovosprodutostem se reduzido, os ciclos de vida dos produtos e dastecnologiassãomenoreseoprocessoquelevaaproduçãodoconhecimentoatéacomercializaçãoestásereduzindo.

2.Acooperaçãoentrefirmaseamontagemderedesindustriaiséumamodalidadeorganizacionalquefacilitaoprocessodeinovação.Aintegraçãodediferentestecnologiaseempresasfacilitaageraçãodenovosprodutos.

3. A integração e a interação ente empresas, a formaçãode redes, trazem vantagens e rapidez para as empresasidentificarem e introduzirem processos de inovação,conquistandovantagensnacompetição.

4. A necessidade crescente de novos processos inovativosenovosprodutostêminduzidoodesenvolvimentodenovosprocessos de cooperação com os centros produtores deconhecimento.

Portanto, as empresas estão reduzindo as alternativas eestratégiasdeatuaçãoindependenteseisoladasebuscando

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cada vezmais processosde interação e interdependência,sejanaprópriacadeiadecompetição,sejanofortalecimentodaredeparacriaçãodevalores.Nãobastaserbom,éprecisoestarentreosbons.(MAITAL,1996).

Ocapitalismoéumprocessodemudanças.Nesseprocessodeconflitointracapitalismoeentregruposcapitalistassurgeanecessidadedaconstantebuscadenovospadrõestecnológicosdeproduçãoedeorganização.

A sociedade atual vive um tempo de rápidas, intensas,profundas e freqüentes mudanças. Se, por um lado, essasmudanças são tempos de ameaças e riscos, também sãotempos de experimentação e criatividade. As épocas detransição são de mudanças de posições estratégicas parapaíses,paralocaiseparaempresas.

Osdesafiosparaas empresasnestesnovoscenários sãodeabandonar a estratégia de atuação “solo” e buscar novasalternativasdeatuaçãocooperada,dealianças.Nãosetratamaisdediscutir se a empresaé autônomae independente,mas sim quais são as alternativas de interdependência ecooperaçãoquetornemaestratégiadaempresamaiseficientee eficaz na busca de lucro, crescimento e sobrevivência.(CARON,2003).

As razões que justificam atuação cooperada podem seridentificadascomo:

a) melhorar a capacidade de competir via melhoria daqualidadedoproduto, racionalidadenousodos fatoresdeproduçãoeprodutividade,invençõeseinovações;

b) participar de um círculo virtuoso de identificaçãoe transferência de tecnologias para antecipar-se aoconcorrentes;

c) participar de novos mercados de produtos diante dasmudançasdociclodevidadosprodutosedastecnologias;

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d)conquistarcapacidadedeflexibilidadedeajustamentoàsmudanças,ondeserágilémaisimportantedoquesergrandeoupequeno;

e) reduzir incertezas e ampliar segurança estratégicaparaconquistarlucrosecrescimento;

f)aumentarescaladeproduçãoviaespecializaçãoeusodosfatoresdeproduçãocommaiorracionalidade;

g)conquistarnovosmercadosnacionaiseinternacionaisdetecnologias,decapitais,deinvestimentos,deoportunidadesdenegócios;

h) buscar oportunidades de complementação da produçãocommaiseficiência,eficáciaeefetividade.

Essas reflexões nos remetem a novas estratégias deorganizaçãosocialdaprodução.Daorganizaçãotradicional,emqueofatordeintegraçãodaempresaeraacapacidadedemanterocontroledocapitaleahierarquiadopoderdecisório,queseexpressavaporumorganogramadaempresacomochefetodopoderosonotopoeasequipesdesubordinadosemsituaçãodedominaçãoecontrole,paraumanovaformadeorganização,emqueoeloeaintegraçãoéoescopocomum,sãoosobjetivoscomunsdesucesso,lucroecrescimento.

A construção de um novo modelo de crescimento surgecomo resultado de um processo intensivo de confrontaçãosocial, criatividade e compromisso para romper a inérciae projetar o futuro. O resultado dependerá da força dosváriosgrupossociaisedesuacapacidadededesenvolvereimplementarrespostasviáveiseinovadoras.Umnovomodelonãosurgedeumaúnicavez,masdeumaredecoerentedemudanças sucessivas e do poder das forças sociais paradesenvolver e implementar respostas viáveis e inovadorasàsnovasdemandasdasociedade.Osperíodosdetransiçãotecnológicasãoótimasoportunidadesparadarumsaltonodesenvolvimento.(PEREZ,1984)

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3. IMpORtÂnCIA dO lOCAl dIAnte dO GlOBAl

Ocapitaléglobal,masaproduçãoé local.Ossonhoseaexistênciadoserhumanosãouniversais.Oespaçofísicodavidaétemporaleterritorial.Astecnologiassãouniversais,mas se manifestam na sociedade por meio de produtos eserviços gerados pelas organizações sociais de produçãoparaatenderàsnecessidadesdosconsumidoresquevivememlocais.

Como as sociedades (comunidades) locais evoluemincorporandopadrõestecnológicosuniversais,incorporandotecnologias convencionais e gerando tecnologias sociaisadequadasaosestágios,aosdesejoseàsvontadeslocaiseregionaisdedesenvolvimento?

o agente ativo e passivo do desenvolvimento é o homem, o indivíduo, enquanto célula básica de uma sociedade. Só o indivíduo desenvolvido pode construir uma sociedade desenvolvida. Só uma sociedade desenvolvida pode garantir o desenvolvimento de uma nação, o progresso de um povo. o desenvolvimento do indivíduo, da sociedade, da comunidade, e da nação é um processo de evolução e de mudanças contínuas, de instabilidade, de ansiedade, de busca permanente de uma nova maneira de ser, agir e se realizar. (CARon, 199�, p. 13)

Casarotto, discutindo questões do desenvolvimento localemtemposdeglobalização,afirmaqueenquantooprocessode globalização se expressa na crescente competiçãointernacional, o processo de regionalização socialcompreendeumcrescenteesforçodassociedadesregionaisparaconfiguraresustentarseuprojetodedesenvolvimento”.(CASAROTTOFILHO,1998,p.86).

Mas, entende que “viabilizando esses dois processoscontraditórios,globalizaçãoeregionalismo,emergeoterceiroprocesso,muitodinâmico,adescentralizaçãopolítica,queresulta numa crescente flexibilização das relações entreagentesdodesenvolvimento”.(CASAROTTOFILHO,1998,p.86)

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Acapacidadedeolocaltornar-seuniversaléumaconquistadasforçasvivaslocaisquesemobilizamesearticulamparaempoderar-se e desenvolver-se a partir das capacidadese competências locais, das habilidades de articulação enegociação dos interesses locais junto aos poderes dosgovernos,dasempresas,degruposdeinteresseseconômicosesociaisvisandoaodesenvolvimentolocaleregional.

“A necessidade de criação de um sistema local/regional competitivo, por meio da articulação dos atores responsáveis pela eficácia relacional das empresas, determina um forte processo de concentração dos interesses sociais, denominado regionalismo social. (...) A flexibilização por meio da descentralização e desverticalização das organizações, possibilita a instauração de uma rede relacional que permita e estimule a cooperação entre os atores locais/regionais e que garanta a representatividade e o envolvimento nas ações comuns. (CASARotto FiLHo,1998, p.8�)

Não basta crescer, o que as comunidades querem é aoportunidade de desenvolvimento sustentável. Isto é,continuado, constante com preservação e renovação dosrecursos existentes, criando condições para melhorar aqualidadedevida.Trata-sedeumprocessocomprometido,de causa compartilhada entre governo central e local,facilitadores sociais nacionais e locais, processos decooperação,articulaçãoeinterdependência,deredesentreempresas internacionais, nacionais e locais na busca desoluções para o desenvolvimento econômico e social daregiãoedolocal.

Discutindo a importância do desenvolvimento localsustentável, Augusto Franco (2000, p. 20) afirma que oscidadãosquerempromoveravida,melhoraromododeviverdaspessoasenãoriquezascomoprioridade.Apropostadodesenvolvimento local é rediscutir qualidadede vida, nãopelo processo de acumulação, mas pela oportunidade derealizaçãodoserhumanonaintegridadedesuapersonalidadeexistencial.(FRANCO,2000;CAPRA,1997).

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O processo de globalização considerado como estratégiade empresas na busca de lucro, ou como um processo deinclusãodepessoasnoprocessopolítico,econômicoesocialdereorganizaçãodasociedademoderna,nãodiminuiaimportânciadolocal,masfortaleceeseconsolidanolocal.Surgemnovosfenômenoseconômicosesociais,novasformasdeorganizaçõeseconômicasesociaisdaproduçãocomoobjetivodeexploraraspotencialidadeslocaisepromoveradistribuiçãodoprogressotécnico-produtivo. Esta nova visão projeta objetivos voltadosparaahumanizaçãodoprocessodedesenvolvimento,buscandoorientar o desenvolvimento local para um novo modelo decrescimentoeconômicoqueaproveitecommaiseficiênciaosrecursosexistentesparacriarempregos,melhorarqualidadedevidadaspopulaçõesresidentesnasregiões.(FRANCO,2000,p.16)Porisso,“Asidentidadesligadasaolugartornaram-semaisimportantesemummundoondediminuemasbarreirasespaciais para a troca, o movimento e a comunicação”.(HARVEY,2000,p.16).

“Olocalatuacomoelementode transformaçãosociopolítico-econômico, representando o lócus privilegiado para novasformasdesolidariedadeeparceriasentreosatoressociais,emqueacompetiçãocedeespaçoàcooperação.Olocalrepresenta,nestecontexto,umafronteiraexperimentalparaoexercíciodenovaspráticas”. (BECKER,1997),eparaoestabelecimentode redes sociais fundadas em novas territorialidades diantedasexigênciascolocadasporproblemasdeâmbitoglobal,cujoenfrentamentodependeemgrandepartedeintervençõesqueserealizamemnívellocal.

Olocalconstitui,assim,umespaçodearticulação–ousíntese–entreomodernoeotradicional,sinalizandoapossibilidadededesenvolverem-se,apartirdesinergiasproduzidasporessasinterações,soluçõesinovadorasparamuitosdosproblemasdasociedadecontemporânea(ALBAGLI,1999).

Constata-se, então, a importância do local para a melhoriae o aprimoramento da qualidade de vida dos cidadãos,mas também como espaço de interação, interdependência,complementaridade e cooperação entre o tradicional e o

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moderno, a produção capitalista competitiva em economiasinternacionalizadas e a produção local com tecnologiase organizações sociais adequadas aos interesses dodesenvolvimentolocal,continuadoesustentável.

O desenvolvimento local não é apenas um processo decrescimento econômico, mas tem dimensões econômicas,sociais, culturais, ambientais, físico-territoriais, político-institucionais,científico-tecnológicos–quemantêmentresiumprocessodeinteratividadeeinterdependência.Éprecisoqueaspessoastenhamacessoàrenda,àriqueza,aoconhecimento,aopoder,àsinformações.(FRANCO,2000,p.30)

A sustentabilidade do desenvolvimento local é dada pelodesenvolvimentodoserhumanoquepossibilitaaconstanteinovação e renovação do processo de desenvolvimentoeconômico, social, cultural, político e institucional. “Odesenvolvimento local vem se tornando uma questão desobrevivência”.(FRANCO,2000,p.78).

Pode-seconcluirqueodesenvolvimentolocaléaagregaçãode valores à qualidade de vida do cidadão que vive e sereproduznoespaçolocal.

4. teCnOlOGIAS COnvenCIOnAIS, AdeQUAdAS e SOCIAIS

Nostemposatuaissurgemnovasreflexõessobreinovaçõesque não são mais do campo econômico da competição deprodutosedeempresas,masdocampodasinovaçõessociais,quediscutemalternativasdecrescimentoedesenvolvimentodascomunidadesedosindivíduos,ondeaquestãocentraldadiscussãonãoestá“notermais”,massimem“sermais”,ouseja,estácentradanabuscadarealizaçãodaspotencialidadesdosindivíduos,nabuscadeummelhorníveldequalidadedevidaebem-estarenabuscapelafelicidadeerealizaçãodessesindivíduoscomopessoashumanas.

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Naparte1destetrabalho–InovaçõesTecnológicas–discutiu-se a questão das inovações de produtos e processos nasempresas como estratégias de conquista do lucro. Pode-sedizer que se tratoudabuscadeTecnologiasConvencionaisparacompetireobtersucessonolucrodasempresas.

Na parte 2 – Inovações Organizacionais na empresadiscutiram-se formas sociais de organização da produção.Nestaparte3,procura-seanalisarasquestõesdetecnologiasapropriadas e de tecnologias sociais. O entendimentode tecnologias adequadas é o de um conjunto de meiosmateriais e abstratos criados, desenvolvidos e utilizadospelohomem,comofimderesolverproblemasemtodososdomínios de sua vida, tanto individuais como no coletivo.Tecnologiaadequadaédefinida,então,comoumconjuntodeinstrumentos,máquinas,utensílios,produtosemgeral,istoé,oconjuntodemeiosmateriaisqueosindivíduoslançammãoparasatisfazersuasnecessidadesouseusdesejos;ecomoumconjuntodeconcepçõesabstratas,formasdeorganizaçãosocialeprocessosporelesutilizadosparaomesmofim.Taisnecessidadesedesejos,porsuavez,podemserdenaturezaindividual ou derivada da vida associativa dos indivíduosem grupos, comunidades ou sociedades. (CASTOR, 1982,p.1-2).Oentendimentoéquehácertastecnologiasquesãomaisapropriadasdoqueoutras,istoé,algumastecnologiassão apropriadas para resolver certas necessidades sociaisenquantooutrasnãoosão.(CASTOR,1982,p.9).

OMinistériodeCiênciaeTecnologiacriouaSecretariadeCiência e Tecnologia para Inclusão Social - SEICS com ocompromisso de democratizar as decisões e ações quetransfiramàpopulaçãoosbenefíciosgeradospelaCiência,Tecnologia e Inovação, principalmente para o segmentopopulacional excluído do processo econômico e Social.NestecontextooProgramadeTecnologiaSocialSustentável(PTS)éuminstrumentoimportantedepolíticapúblicaedeC&TI no processo de inclusão e desenvolvimento social,regional e local, na medida em que promove, incentiva edivulgaoacessoeaapropriaçãodoconhecimentotécnico-

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científico, de maneira a contribuir para a redução dasdesigualdades econômicas e sociais, inter-regionais einterpessoais.(EDUARDOCAMPOSMinistrodeEstadodaCiência e Tecnologia in Tecnologia Social: uma estratégiaparaodesenvolvimento.FundaçãoBancodoBrasil.RiodeJaneiro,2004,p.7).

A SECIS/MCT, por meio do PTS, promove as condiçõesnecessárias para que as comunidades menos favorecidas, osmicro e pequenos empreendedores, rurais eurbanos, sejamcapazes de executar projetos de investimentos produtivos,aumentando a produção, ganhando economia de escala, pormeio de associações e parcerias, absorvendo, difundindo edesenvolvendotecnologiassocialmentesustentáveis.(idemp.7).OPTSbuscaatenderàdimensãohumanadodesenvolvimentoeaosinteressescoletivos,garantindo,demaneirasustentável,melhorqualidadedevida.(idemp.8).

TecnologiaConvencional-TCéatecnologiautilizadapelainiciativaprivadaemgeral.Semlevaremconsideraçãoseénovaouvelha,massimsepropiciaretornolucrativosegundoo interesse imediato da empresa. Em geral trata-se detecnologiapoupadorademão-de-obraetemcomoobjetivoo crescimento e a sobrevivência da empresa mediante amaximizaçãodolucro.

Tecnologia Adequada está associada a um conjunto detécnicas de produção que utiliza, de maneira ótima, osrecursosdisponíveisdecerta sociedade,maximizando seubem-estar(DAGNINO,1976,p.86).ATecnologiaAdequadapodeseridentificadaporcaracterísticasprópriasepressupõeoenvolvimentocomprometidodacomunidadenoprocessodecisóriodeescolhatecnológica,obaixocustodosprodutose(ou) serviços finais e do investimento necessário paraproduzi-los,apequenaoumédiaescala,asimplicidade,osefeitos positivos que traz para a geração de renda, saúde,trabalho,nutrição,habitação,relaçõessociaiseparaomeioambiente.(DAGNINOp.22-23).

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Isto é, para o desenvolvimento econômico e social dascomunidades locais, o uso dos recursos naturais locais,a capacidade de gerar ocupação intensiva de mão-de-obra, aliados ao respeito e à valorização da cultura local,ao empoderamento local e à implementação de projetoslocaisviáveis,sãocaracterísticasecondiçõesfundamentaisparaa sociedade local sebeneficiarda implementaçãodetecnologiasadequadas.

Tecnologias Sociais –TS são “um conjunto de técnicas eprocedimentos,associadosàformasdeorganizaçãocoletiva,querepresentamsoluçõesparaainclusãosocialemelhoriadaqualidadedevida”.(DOWBOR,2004in:TecnologiaSocialp.66).ARededeTecnologiaSocialadotacomoconceitodeTecnologiaSocialas“técnicasemetodologiastransformadoras,desenvolvidasnainteraçãocomapopulação,querepresentamsoluções para a inclusão social”. (Tecnologia Social:2004, p.106) O Instituto de Tecnologia Social define comoTecnologia Social um “conjunto de técnicas, metodologiastransformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interaçãocom as populações apropriadas por ela, que representamsoluções para inclusão social e melhoria das condições devida”.(TecnologiaSocial:2004,p.130).

Fortalecendo esta idéia do envolvimento da comunidade nabusca de soluções para seus problemas, pode-se lembrar opensamento de Muhammed Yunus (economista Bengali) quedá início ao microcrédito e afirma que... “a erradicação dapobrezanãovemdoaumentodariquezaquesedistribuiparaospobres.Vemdaaçãodiretasobreospobres,mobilizandosuaenergiaparaquepossamproduziroquenecessitamparasairdapobreza,sejapormeiodaprodução,sejapormeiodemudançadepolíticaspúblicas.(TecnologiaSocial:2004,p.108)

Conclui-se que as Tecnologias Sociais – TC podem serentendidas como métodos e técnicas que permitemimpulsionarprocessosdeempoderamentodasrepresentaçõescoletivas da cidadania, para habilitá-las a disputar, nosespaços públicos, as alternativas de desenvolvimento que

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seoriginamdasexperiênciasinovadorasequeseorientampeladefesadosinteressesdasmaioriasepeladistribuiçãoderenda”.(TecnologiaSocial:2004,p.116).

Considerando-se as definições anteriores de diferentesautoreseinstituições,pode-sedizerqueaTecnologiaSocialsecaracteriza:

a)peloenvolvimentodacomunidadenabuscadesoluçõesparaodesenvolvimentolocal;

b) na tomada de decisões conjuntas sobre as alternativaslocaisdedesenvolvimentoecrescimento;

c)nageraçãodeocupaçõeseconômicas,trabalhoeempregoque possam garantir aos cidadãos, renda e sobrevivênciadigna;

d) respeito aos recursos locais (humanos, materiais,financeiros, tecnológicos)eàutilizaçãodestesrecursosdeformaracional,renovável,semdesperdíciose(ou)destruiçãoquecomprometamgeraçõesfuturas.

ATecnologiaSocialtemalgumascaracterísticasprópriaseadicionaisàsanteriormentemencionadas,quandoaplicadaspelas empresas, especialmente às indústrias de basesprodutivas locais comprometidas com o desenvolvimentolocaleregional;comodestacaRenatoDagnino(DAGNINO,2004inTecnologiaSocial:p.193)éadaptadaaopequenotamanhofísicoefinanceiro:

a)não-discriminatória(patrãoxempregado);

b) orientada para o mercado interno de massa, tanto dademandaquantodaoferta;

c) liberadora do potencial e da criatividade do produtordireto;

d)capazdeviabilizareconomicamenteosempreendimentosautogestionárioseaspequenasemédiasempresas.

UmadasidéiasbásicasinerentesàTecnologiaSocialéqueacomunidadedescobreassoluçõesparaseusprópriosproblemas.

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Portanto, a Tecnologia Social é especialmente importante efundamental para o desenvolvimento de espaços locais esegmentossociaismarginalizados,comoobjetivodeinseri-losnoprocessododesenvolvimentoeconômicoesocial.Aescolhade uma ou outra alternativa tecnológica não depende dosresultadoseconômicosquepossatrazer,masdasuacapacidadede trazer soluções para os problemas econômicos e sociaisvividosporumadeterminadasociedadeeoucomunidadedepequenoportee(ou)marginalizadaemgrandescentros.

A capacidade de gerar, de adaptar/recontextualizar e de aplicar conhecimentos, de acordo com as necessidades de cada, organização, país, e localidade. Desse modo, tão importante quanto a capacidade de produzir novo conhecimento é a capacidade de processar e recriar conhecimento, por meio de processos de aprendizado; e, mais ainda, a capacidade de converter esse conhecimento em ação, ou em inovação... (ALBAGLi & MACiEL, 2004: p.9-1�).

Portanto, tecnologias sociais implicam o envolvimentodo indivíduo e da comunidade na busca de soluções aosproblemas e necessidades da sociedade local. Porém, épreciso ter consciência da necessidade de organizar aprodução em entidades e processos sociais que, por meiode produtos e serviços destinados a mercados, melhorema qualidade de vida dos cidadãos individualmente e dacomunidadecomoumtodo.

5. peQUenA e MÉdIA IndÚStRIA, InOvAÇÃO SOCIAl e deSenvOlvIMentO lOCAl

A análise dos diferentes conceitos de Capital Social,Tecnologia Social, Responsabilidade Social da Empresa eTecnologiaApropriadanosremetesempreareflexõessobreo desenvolvimento local continuado, à busca de soluçõesdos problemas das comunidades locais e regionais e às

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possibilidadesdeasempresas,notadamentedepequenoemédioporte, teremumaatuaçãoestratégicacomprometidacom a busca da melhoria da qualidade de vida doscidadãos.

Estapartedotrabalhoanalisaaimportânciadapequenaemédiaempresa,noprocessodeinovaçãoebuscadesoluçõesparamelhoriadaqualidadedevidadaspessoas.

Um dos direitos mais sagrados do ser humano é o deconquistar o próprio sustento e a subsistência da famíliacomo frutodo seu trabalho.Para tanto, énecessáriaumaocupaçãoeconômicaquepropicierendaparaosindivíduoseempresasquegeremempregosparapessoasqueprecisamdotrabalhoedarenda.Nessecontexto,aresponsabilidadesocialdaempresaadquireváriasinterfaces:

a)oportunidadedeaempresagerarprodutoseserviçosqueatendam às necessidades dos consumidores de maneiracontinuada;

b) a empresa precisa ser lucrativa para poder crescer ese desenvolver de modo continuado, e então desenvolverprodutosegerarempregos;

c)éfunçãosocialdeaempresagerarsoluçõesdetrabalhoe renda para o cidadão da comunidade onde ele estáinserido;

d) cabe ainda à empresa desenvolver produtos semcomprometeromeioambiente,semdestruirrecursosnaturais,semdesperdiçar, utilizandode forma racional os fatores deprodução,demodoanãofaltarparaasgeraçõesfuturas;

e) é responsabilidade de a empresa promover e valorizarsuas equipes de colaboradores e facilitadores sociais(fornecedores,distribuidores,prestadoresdeserviçosetc.),para que também cresçam, prosperem e se desenvolvamcomo indivíduos e(ou) como empresa. Portanto, a pressãoexcessivaquegeraangústiainsuperável,doençaocupacional,diminuiçãodotempodevidadotrabalhadore(ou)daempresaéfaltaderesponsabilidadesocial.

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Umanaçãoéfortequandotemumgrandenúmerodepequenasemédiasempresaspermeandotodosossetoresprodutivosecapilarizadasemtodosossegmentosdaeconomiaeregiõesdanação.

Apequenaempresafuncionacomooóleoquelubrificaasengrenagens,reduzosatritosepermiteavelocidadedetodooaparatosocialeprodutivo.Simbolizaasforçasprodutivasvivas de uma sociedade e por meio dela se expressa osentido de risco, de empreendimento, de auto-realização,de criatividade, de iniciativa e de autopreservação, darealizaçãodosonhoempresarial.Apequenaemédiaempresatêm especial importância para a geração de empregos, ainteriorizaçãododesenvolvimento e a complementaçãodaaçãodasgrandesempresas.

ConformeAmatoNeto(2000,p.18):

Para atingir seus objetivos em busca da excelência empresarial, é preciso que as grandes empresas estejam apoiadas numa base industrial de PMEs mais dinâmica. Historicamente, as PMEs vêm desempenhando um importante papel socioeconômico, tanto do ponto de vista da geração de emprego e de renda, quanto do ponto de vista de seu potencial de inovação incremental, principalmente quando tais empresas estão vinculadas a uma cadeia de suprimento de peças componentes e serviços para a grande empresa.

Observando-se o universo empresarial, mas tambémcontrapondo com a natureza de todas as sociedades,facilmentepodeserconstatadoquenãoháprosperidadeesobrevivênciasódeentesgrandes,nemsódeentespequenos,masháprocessosdeinterdependênciaecomplementação.

MônicaAlvesAmorin(1998),analisandoaimportânciadapequenaempresaparaodesenvolvimentolocalecontrapondocomaaçãodagrandeempresaparaodesenvolvimentolocalintegrado,afirma:

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As pequenas empresas podem de fato constituir importantes estratégias de desenvolvimento econômico, proporcionando maior competitividade a regiões inteiras e integrando um número maior de indivíduos no processo. os percalços sofridos pelo parque industrial brasileiro podem ser amenizados à medida que o País se prepare para apoiar de forma sistemática o desenvolvimento de pequenas e médias empresas competitivas, inovadoras, de estrutura flexível e que sejam capazes de uso adequado de moderna tecnologia. Encarar pequenas empresas como sendo, de fato, fonte de dinamismo econômico introduz novas e mais conseqüentes perspectivas para esse segmento do qual se pode aguardar bem mais do que absorver a mão-de-obra que não consegue encontrar emprego nas grandes firmas. (...) o desenvolvimento fundamentado nas grandes empresas tende assim a ser excludente e concentrador. As pequenas e médias empresas em contraste abrem oportunidades de um desenvolvimento mais integrador, economicamente mais justo e socialmente mais desejado. A questão, no entanto, reside em encontrar formas de garantir competitividade às empresas de menor porte para que essas possam assim ser capazes de iniciar e sustentar um processo de desenvolvimento econômico de uma região. (AMoRin, 1998 p.13-14).

Pode-sededuzir,então,queapequenaemédiaempresaexercemumpapelfundamentalnaequalizaçãododesenvolvimento,naintegraçãodaeconomiaenaintegraçãodasociedadenomododeproduçãoeconsumocapitalista.

A base da indústria local é a produção para mercadosconhecidos,respostaàsdemandasexistenteseconhecidas.Combinando o antigo com o novo, o tradicional com omoderno,tecnologiastradicionaiscomasinovações,tirandoproveitodenichosdemercado,ondeasescalasdeproduçãonãoestimulamasgrandesempresas.

OagregadodaeconomiadasPMEsconstituiumaespéciede poderosa força complementar para a grande empresa,governoesindicatosdetrabalhadores,naeconomiamoderna(SOLOMON,1986,citadoporAMATONETO,2000,p.36).

Destaca-setambémqueaspequenasemédiasempresassãoinstrumentosindispensáveisparaodesenvolvimentosocialeaconsolidaçãodepolíticasnacionaisdedesenvolvimentoeconômicoesocial.

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(...) la generación de riquezas en los espacios nacional y subnacional dependen en gran medida de las políticas e institucionalidad territoriales específicas que los diferentes actores sociales, a partir de iniciativas locales, logren concertar con miras al fomento económico endógeno a fin de alcanzar niveles de eficiencia productiva adecuados y contribuir así a la difusión del crecimento económico la generación de empleo e ingreso. (ALBUqUERqUE, 199�, p.1�0).

O desafio é definir estratégias de desenvolvimento nacional,regionalelocalqueestimulemaspequenasemédiasempresasà incorporação de tecnologias de produto, de processo, decomercialização e de organização que garantam a inserçãocompetitivadosprodutosedosserviçosoriginadosdaspequenase médias empresas de base local, nos mercados nacionais einternacionais comospadrõesdequalidade, racionalidadedeusodosfatoresdeprodução,quegarantamacompetitividadedosprodutosnosmercados.

Umdosgrandesdesafiosdonovomododeorganizaçãodaproduçãocapitalistaestáemgarantirauniversalizaçãodasoportunidadesdemelhoriaseaprimoramentoparatodasasempresasquequeremevoluir,enãosóparaaquelasempresasqueparticipamdomercadointernacionalqualquerquesejaoprocessodecooperaçãoemandamento.

Nãosetratadebuscaralgunsnichosdemercado,massimdecriarmecanismosdeuniversalizaçãodosprocessodeinvenções,inovações, melhorias, avanços, progressos e de estimular asempresasaaprenderaaprender,aidentificarasoportunidadesestratégicasdenegócioedeorganizaçãoprodutivaeficiente.

Acapacidadedeinserçãocompetitivanosmercadosnacionaiseinternacionaiseacapacidadedeincorporaçãodetecnologiasnão é uma obra do acaso ou uma ação isolada de algumasempresas, mas é uma causa compartilhada entre governoscentrais, regionais e locais, com universidades e centros depesquisacomossetoresprodutivoslocalizadosnosmunicípios(locais).Emgeral,empresasdepequenoemédioportesãoasquemaisnecessitamdeapoio,mastambémtêmgrandepotencialdeinovaçãoeflexibilidadeparaajustesrápidoseadequados

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aos novos desafios da inovação e competição. A pequenaempresa ocupa um lugar de destaque na incorporação doprogressotécnico,nadifusãoeespraiamentodoprocessodecrescimentoedesenvolvimentoeconômicoenageraçãodeempregoedistribuiçãoderenda.

Oprocessodeglobalizaçãoeosdesafiosdodesenvolvimentolocal têm estimulado o surgimento de novos modos deorganizaçãosocialdasempresasedosprocessosdeprodução.

Nosestudosdasnovasformasdeorganizaçãodaproduçãoconstatamduasformasdistintasdeorganizaçãoempresarial,as redes de pequenas empresas independentes – modeloitaliano(PIOREeSABEL,1984)easfirmasemredemodelodeempresas japonesas.Nomodelo italiano,oprocessodeintegraçãoentreempresasdemenorporteestáassociadoaumamploprocessodecooperaçãoeflexibilidadecriativa.

Nocasojaponês,aspequenasemédiasempresasseorganizamcomo firmas-redes articuladas pela complementaridadee pela especialização a uma grande empresa. Em ambosos casosháumprocessode interdependênciamútuaedecooperação, tanto entre pequenas empresas entre si comodaspequenasempresascomasgrandesempresas.

Pode-se afirmar que a globalização vem estimulando as grandes empresas substituírem a dependência e o controle exercidos na sua relação com as pequenas e médias empresas por uma parceria seletiva, onde a interdependência conduz à sinergia, flexibilidade e aumento de competitividade. Da mesma forma as empresas de menor porte têm buscado sua melhor participação no mercado, ocupando espaços e oportunidades criadas nessa nova fase. é importante destacar que nesse novo posicionamento de mercado, onde o processo de reengenharia utilizado pelas grandes empresas tem freqüentemente levado a profundos cortes nos postos de trabalho, a pequena empresa e mesmo o profissional liberal autônomo passam a ter destacado papel na geração de empregos e de ocupações econômicas. (CARon, 199�).

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Àmedidaqueadinâmicadarevoluçãotecnológicasedifunde,seuuso se intensificaepermeia todosos setoresprodutivos,setoresdeserviços,meiosuniversitáriosedepesquisa.Entãoocorre uma revolução produtiva, e surgem novos espaçospara reestruturação da organização da produção; viabilidadede combinação entre fabricação de pequenos lotes e altarentabilidade;diversificaçãodalinhadeprodutos,cujosciclosdevidasãoencurtados.

Asestratégiasdecompetiçãoentreempresaseentrepaísessão redefinidasapartirdeuma revolução tecnológicaquetrazalteraçõesnosquadroseconômico,socialepolítico,quetêmcomoconseqüênciasalteraçõesnanaturezadasrelaçõesintraeinterfirmas;mudançasnasestratégiascompetitivas,diversificação nas linhas de produtos; especializações;alteraçãono tamanhodasplantas;novosramos industriaise novas qualificações; alterações na organização social eespacialdosprocessosdeproduçãoeconstantealteraçãodoperfildademanda.

Diantedesseintensivoprocessodemudanças,otraçocomumentreosagenteseconômicosdaproduçãoé fugirdarigideze buscar maior flexibilidade. Neste quadro, a busca deflexibilidadeeosajustesdecorrentesocorremtantonointeriordas unidades produtivas que os promovem (oligopólios emonopólios)comonosambientesexternosdosgrandesgruposa partir de novos modos de organização, terceirização, co-inversões, reorganização das relações entre fornecedores ecompradores.

SegundoestudosfeitosporMenlderseWilkim(1987),esseprocessodeinteraçãodasflexibilidadesinternaseexternasàs empresas configura um novo modelo de organizaçãoprodutiva(contrapondo-seaomodelofordista)queconstituiaoportunidadedesurgimento,crescimentoefortalecimentoparapequenas,médiasegrandesempresaseparanovasformasde interação entre elas.Assim, as revoluções tecnológicasrecentesprovocamumatransformaçãodomodelodeproduçãotaylorista-fordista,baseadonaproduçãoemmassa,paraum

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modeloalternativodaespecializaçãoflexível,queincorporacommais facilidadee rapidez as invenções e inovações eque,porsermaisflexívelemtermosdemáquinas,produtosetrabalhadores,respondecommaioreficiênciaeeficáciaasconstantesmudançasdastécnicaseprocessosdeproduçãoeasnovasexigênciasdosconsumidores.E istopressupõee também facilita uma estratégia de permanente inovação(PIORE e SABEL, 1984) em que as pequenas e médiasempresassãomaiságeisecompetentes.

As condições que explicam a permanência da produçãodaspequenas emédias empresas estãonaprópria lógicadomodelo de produção de massa. As máquinas especializadasqueaproduçãoemmassaexigenãosãoproduzidasemlargaescala.Asproduçõesemmassapressupõemtambémgrandesmercadosqueestãosujeitosaflutuaçõesdedemandaoucomníveisdedemandabaixosquenãosãoumaboaalternativaparaosprodutoresemmassa,massãoumaboaopçãoparapequenasemédiasempresas.

Piore e Sabel (1984) observaram que, desde o século XIX,haviaexemplos,formasdeorganizaçãodaproduçãonasquaisaspequenasemédiasempresasdesenvolviamouexploravamtecnologiassemsetornaremgrandesempresasequegrandesempresasusavamtecnologiassofisticadasnãosóparaaproduçãodebenspadronizados(demassa),mastambémparapequenasquantidades.Destaforma,PioreeSabel(1984)constatamqueavisãoclássicadeprogressoeconômicorelacionadoàproduçãoem massa e às idéias de que a pequena produção deva sertradicional ou subordinada não é verdadeira. Ao contrário,pequenasegrandesproduçõessãoalternativasadequadasparaincorporaçãodeavançostecnológicos.

Sintetizando,aespecializaçãoflexívelempaísesindustrialmenteadiantados se confunde com a estratégia de crescimento esobrevivênciadosoligopóliosemonopólios.

Váriosautoresconcordamemsuasanálisesqueocorreumagrande mudança na organização industrial nas economiascapitalistas mais avançadas. Isto é, a produção em série

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(produçãoemmassa) está emdeclínio e está se fortalecendoaproduçãobaseadaemestruturasdeproduçãomaisadaptáveis,istoé, flexíveis. SegundoSchmitz, o trabalhomais importantedestaanáliseé“AsegundaDivisãoIndustrial”,dePioreeSabel(1984).

Analisando a crise econômica que afetou as economiasindustrializadasdoocidentenasdécadasde70e80,PioreeSabelafirmamque:“Apresentedeterioraçãododesempenhodaeconomiaresultadoslimitesdomodelodedesenvolvimentoindustrialqueseapóianaproduçãoemsérie”.Achavedaprosperidadeestánaespecializaçãoflexível,oquesignifica:

a) fugir da rigidezdaprodução em série, padronizada, queexige trabalhadores semi-especializados como agentes co-responsáveisecriativosdoprocessoprodutivo;

b)procurarumsistemadeproduçãocriativo,inovador,queenvolvaotrabalhadorcomo“sercriador”doprodutoe,portanto,sesintaparte integranteecomprometidacomoprocessodeprodução,paraistoseespecializamais,reageàsmudançasdetecnologiasdeproduçãoe contribui criativamenteparaa incorporaçãodeinovaçõesenovospadrõestecnológicosnoprocessodeprodução.Isto ocorre porque os indivíduos (trabalhadores) com a vendada sua força de trabalho buscam um ganho econômico parasuaprópriasobrevivência.Noentanto,istonãoésuficiente,osindivíduostambémseauto-realizamcomascoisasquecriameproduzem;e,quando seenvolvemcriativamentenaprodução,sãocriadorese,portanto,serealizamcomoseresexistenciais.

Aorganizaçãodaproduçãoindustrialemproduçãoemmassaeproduçãoflexívelinduzasformasdeorganizaçãoquetenhamrespostas diferentes e eficientes a um mesmo problema nopadrãodaempresa flexível.Aconcorrência e a cooperaçãodevemcorrer aomesmo tempo; a concorrência comomotorda inovação e a cooperação, para facilitar a coordenaçãodo processo, manter a coesão e evitar que a concorrêncianecessáriasetornedestrutiva.

Nessesentido,paraasobrevivênciaeocrescimentoadequadoda empresa flexível, é necessário um aparato institucionalmoderadordasinterações.

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6. COnClUSÃO

Diante das reflexões apresentadas, pode-se concluir quegestão sustentável é a capacidade que a empresa tem deanalisar o ambiente e melhor conhecer o mercado, buscaralternativasdemelhoriacontínuadeprodutoseprocessosdegestãoedeprodução,quepermitamcriarvalorcommelhorianosistemadeinovação,dequalidadeeprodutividade,afimdeconquistarpermanênciaecrescimentonosmercadosdemodocontinuado, competitivo e sustentável. Gestão Sustentávelnãoéumpontodechegada,masumdesafiopermanentedeavanço,progressoemodernidade.

Asustentabilidadedaempresaédadapelasuacapacidadedeacompanharomovimentodoseutempo,agirnoseutempo,promover,interpretareincorporarasmudançasnaatividadeeconômica empresarial, via geração de novos produtos eserviçoscommaiorvaloragregado.

Aproduçãoflexívelpormeiodapequenaemédiaempresaindustrial pressupõe ajustes e processos de cooperação ealiançascomgrandesempresasnacionaiseinternacionais.Éfundamentalqueocorramprocessosdeinterdependênciae interatividade com outras pequenas e médias empresaslocais,regionaisenacionais.

Ainovaçãosocialnapequenaemédiaempresaindustrialdebaselocaléresultantedavontadeenecessidadedeaempresagerarprodutoseserviçosquepossamparticipardosmercadosdeformalucrativa,porémeigualmente,quetragamconsigorespostasàsansiedadeseaosdesejosdacomunidadedeocupaçãoeconômica,trabalho, emprego e renda, como forma de conquistar melhorqualidadedevidaeníveldebem-estarsocial.

Estaconquistanãoéumacausaisolada,deatuação“solo”.Maséresultantedeflexibilidadeorganizacional,deparceriasealiançasentreempresas,governos,universidadesecentrosdepesquisaquesecomprometemebuscamcorresponderaosanseioseàsaspiraçõesdosindivíduos,dascomunidadesedassociedadesdeproduzir,prosperarecriarummelhorlugarparaviver.

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1. tRAnSFORMAndO IdÉIAS eM plAnOS de neGÓCIOS: A eXpeRIÊnCIA dO pROGRAMA SeSI eMpReendedORISMO

SOCIAl nO eStAdO dO pARAnÁDaniele Farfus

Maria Cristhina de Souza Rocha Beatris Kemper Fernandes

1. AS nOvAS eXIGÊnCIAS SOCIAIS

O processo de mudança nas relações entre a sociedadee o mercado requer uma maneira inovadora de trabalharem diferentes contextos. No bojo do cenário globalizadoe complexo, compreender e atuar nos campos político,econômico,cultural,ambientalousocialéfundamentalparaque problemas sociais, hoje consolidados, não se tornemabismos intransponíveis. O desafio colocado envolve aparticipaçãodediversosatoressociaisearevisão,oumesmo,atransformaçãodeconceitosevalores.

Por diferentes razões, o setor privado tem se mostradopreocupado com as problemáticas sociais que gravitam aoseuredorevembuscandoestratégiasparaseaproximardacomunidadeecomprometer-secomamelhoriadaqualidadedevida,sejadentroouforadoambientedetrabalho.Nessecontexto,profissionaiscapacitadostornam-sefundamentais

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paraprocederàleituradarealidadeeauxiliarnaimplantaçãoeimplementaçãodeprogramasdemelhoria,elaborarprodutosde impacto social significativo e, ainda, criar e difundirnovas tecnologias sociais adaptadas às especificidades decadacomunidade.Na interfacecomasempresas, torna-seimprescindívelaobjetividadenasinformações,acoerêncianasações,atransparêncianaprestaçãodecontaseofoconosresultados,justificandoaaplicaçãoderecursos.

Com a geração de processos de inovação e difusão detecnologias sociais, os empreendedores também sãoresponsáveis pelo desenvolvimento econômico de umpaís.Assim,alógicadomercadosustentávelcomeçaaserpriorizadaemdetrimentodomercadocompetitivoeisolado.Aeconomiaévistacomopartedasociedade,edestaformatodasasaçõesqueefetivamentedevemserconsideradas.

OpresenteartigotemporfocoapresentaroProgramaSESIEmpreendedorismo Social, desenvolvido no Estado doParaná,cujoobjetivoéfomentaroempreendedorismosociale capacitar empreendedores para a elaboração de planosde negócio consistentes. Estruturado em quatro seções, aintrodução do artigo apresenta uma contextualização dasnovasexigênciasdomercado,enquantoalgunsreferenciaisteóricos que sustentam a proposta e o papel do SESI sãoabordadosnasegundaseção.Naterceiraseçãodescreve-seoprogramaSESIEmpreendedorismoSocial,desdeseuprojetoinicialatéafinalizaçãodaimplantação,noseuprimeiroano.Porfim,ressalta-seaimportânciadasinovaçõessociaisparaodesenvolvimentosustentável.

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2. O eMpReendedORISMO SOCIAl e A InOvAÇÃO SOCIAl

Quandoseiniciaoestudosobreotemaempreendedorismo,éprecisolevaremcontaalgunsdadosestatísticospresentesemnossocotidiano.OGlobalEntrepreunershipMonitor-GEM,mapeiaeanalisaanualmenteopapeldoempreendedorismoe sua correlação com o crescimento econômico. Em seuRelatório Executivo – 2006, o Brasil aparece ocupando adécimacolocaçãonorankingdospaísesnosquaismaissecriamnegócios,comaproximadamente9,5%dapopulaçãocom faixa etária entre 18 e 64 anos envolvida na criaçãoouàfrentedealgumaatividadeempreendedora.Ataxadeempreendedores iniciais (TEA, conforme denomina estainstituição) se mantém inalterada em relação ao ano de2005,e“[...]apartirdaestabilidadedaTEA,infere-sequeadinâmicabrasileiradecriaçãodenegóciostemcaracterísticasestruturais, as quais correspondemaos aspectosmacrodaeconomia,dapolíticaedacultura”(GEM,2006,p.43).

Segundoequipe técnicadoGEM,umambientepropícioaoempreendedorismoapresentaalgumascaracterísticas,sendoqueaspectoscomoliderança,criatividadeeinovaçãodevemservalorizados,implicandodemandaspornovascompetências.Issolevaànecessidadedeformar-secadavezmaispessoasdisseminadoras da inovação, característica básica para aformação de empreendedores. São esses comportamentose atitudes que conduzem à inovação, à capacidade detransformaçãodomundoe,portanto,àgeraçãoderiquezas.

Umconjuntodeautoresteminterpretadoasdiferençasnosníveisdedesenvolvimentoedesempenhoeconômicoentrepaíses, regiões e comunidades com dotações similares decapitalnatural,físicoehumano,apartirdesuasdesiguaisdisponibilidades de capital social (ALBAGLI; MACIEL,2002).Capitalsocialpodeserdefinidocomooconjuntoderecursos socioestruturais que constituem um ativo para oindivíduoefacilitamdeterminadasaçõesdeindivíduosquepertencemaumamesmaestrutura(COLEMAN,1990).

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Omesmoautorclassificaocapitalsocialemtrêscategorias:aprimeiraéreferenteaoníveldeconfiançaeàrealextensãodas obrigações percebidas em um ambiente social. Sendoassim,tantomaiselevadoocapitalsocialquantomaiselevadoograudeconfiançaqueaspessoastêmumasnasoutras,comaceitaçãomútuadeobrigações.Asegundadizrespeitoacanaisde trocas de informações e idéias, e a terceira apresenta ocapitalsocialcomosendoconstituídopornormasesançõesque encorajam os indivíduos a trabalharem por um bemcomum,emdetrimentodeinteressesprópriosimediatos.

Ousodotermocapitalimplicaqueestamoslidandocomumativo.Jáotermosocialdemonstraqueesteativoéalcançadopelopertencimento aumacomunidade.Ocapital social éacumuladoporumacomunidadepormeiodeprocessosdeinteraçãoeaprendizado(MASKELL,2000).

Aliando os indicadores apresentados pelo GEM aoentendimento da questão do capital social, há que seintroduziraquestãodoempreendedorismo.Oestudosobreesta questão não é recente, muito menos o seu conceito:há referenciais teóricosque reportamaorigemdapalavraao século XVI, com a palavra entrependre. O termo foiusadoparadesignaros“francesesqueseencarregavamdeliderarexpediçõesmilitares.Porvoltadoano1700otermofoi estendido incluindo contratistas que se encarregavamde construções para os militares: estradas, pontes, portose fortificações, sendo também utilizado por economistasfranceses para descrever pessoas que corriam riscose suportavam incertezas a fim de realizar inovações”(CUNNINGHAM;LISCHERON,1991).

DeacordocomTimmons(1994),empreendedorismoéumarevoluçãosilenciosaqueserá,paraoséculoXXI,maisdoquearevoluçãoindustrialfoiparaoséculoXX,sendoquenessarevoluçãotudoestáemconstrução,inclusiveaprópriaconceituaçãodeempreendedorismo.Nessamesmalinhadepensamento,Schumpeter (1934)destacaascaracterísticasvoltadas para a necessidade de inovação e de mudanças

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da sociedade, por meio do comportamento empreendedor.Este processo é a combinação de recursos econômicos ecapacidade inovativa que promove o desenvolvimento e ocrescimentoeconômico.

O empreendedorismo possui melhores condições dedesenvolver-se em ambientes propícios à colaboração,à interação e ao aprendizado.Nessa visão, o complexodeinstituições,costumeserelaçõesdeconfiançalocaisassumeumpapelcríticoparaoempreendedorismo,assimcomoasrelações–pessoaisesociais–queconstituemosprincipaisveículosoucanaisparaodesenvolvimentodoaprendizadoedainovação(ALBAGLI;MACIEL,2002).

Para Fillion (1993), “o empreendedor é alguém queimagina, desenvolve e realiza visões”. Compartilhandoda mesma dinâmica, Pinchot (1989) acrescenta que “oempreendedor é uma pessoa que transforma sonhos emrealidade”.Empreendedorismosignifica,então,desenvolvercompetências específicas que oportunizem o constanteaprenderaaprender,paraquesetornepossívelarelaçãodeconhecerooutroeaspossibilidadesemergentespararealizarpropósitosalinhadosaopapeldoempreendedorsocial.Háque se pensar em modelos que atendam às necessidadesatuais,buscandoaconsolidaçãodeumprocessoeducacionalvoltadoàeducaçãodoséculoXXI,comapossibilidadedodesenvolvimentodecompetênciastécnicasehumanas,comumnovoolhardosujeitoparasuarealidadesocial.

Segundo Dolabela (1999), a palavra empreendedor, deemprego amplo, é utilizada para designar principalmenteas atividades de quem se dedica à geração de riquezas,seja na transformação de conhecimentos em produtosou serviços, na geração do próprio conhecimento ou nainovaçãoemáreascomomarketing,produção,organizaçãoetc. O empreendedor é motivado pela liberdade de ação;arregaçaasmangasecolaboranotrabalhodosoutros;temmais“faro”paraosnegóciosquehabilidadesgerenciaisoupolíticas; apresenta como centro de interesse a tecnologiaeomercado;consideraqueoerroeofracassosãoocasiões

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para aprender; segue a própria visão, toma suas própriasdecisões e privilegia a ação em relação à discussão; se osistemanãoosatisfaz,eleorejeitaparaconstituiroseu;eemrelaçãoaosoutrosastransaçõesenegociaçõessãoseusprincipaismodosde relação.Assim,pode-se inferirqueoempreendedoréumapessoacomcaracterísticasprópriasequeatendeàscontingênciasdeumasociedade,quenecessitaurgentementerevisitarmodelosarcaicosesedimentados.

Oempreendedornãoficaesperandopelainovação,peladescobertamaravilhosa, pela solução ideal. Pelo contrário, ele busca apráticadainovação,tomaaçõesproativascomointuitodeobterinovaçõesdeformasistemática.Issonãolhegarante,entretanto,queasinovaçõessejamsempredealtoimpacto,descontínuasouradicais.Porém,mesmoinovaçõesincrementaisfeitasdeformasistemática acabam por trazer vantagens competitivas a seusnegócios(DORNELAS,2003,p.18)

Aindasegundoomesmoautor,osempreendedoresqueremsempre ir além e mudar. Descobrir algo novo os motiva abuscarepraticarainovação,oque,feitodeformasistemática,éumaatividadecomumaosempreendedores.

Drucker (2005) defende que a inovação, para a área deempreendedorismo, é o instrumento específico por meio doqual os empreendedores exploram a mudança como umaoportunidade para um negócio ou serviço diferente. Osempreendedoresprecisambuscar,compropósitodeliberado,asfontesdeinovação,asmudançaseseussintomasqueindicamoportunidadesparaqueumainovaçãotenhaêxito.Elesprecisamconhecer e pôr em prática os princípios da inovação bem-sucedidacomoumadisciplinaaseraprendidaepraticada.

Além do empreendedorismo voltado aos negócios paraatender a uma demanda específica de mercado, outraabordagem é o empreendedorismo social, uma espécie degênero do empreendedor de negócios. Empreendedoressociais realizam mudanças fundamentais no setor social,

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com visão arrojada, tratando a causa do problema ebuscandocriarvisãosistêmicavoltadaàsustentabilidadedasociedade,comoobjetivodepromovermudançaspormeiodeseusempreendimentos.

Oavançonaorganizaçãodasociedadecivileapressãopeloempoderamento de segmentos sociais excluídos e regiõesmarginalizadas projetam o empreendedorismo social comoexpressão da capacidade de segmentos e organizaçõessociais,comunidadeseinstituiçõespúblicasdeorganizareimplementariniciativaspertinentesàmelhoriadascondiçõesde vida locais e à abertura de oportunidades para grupossociaismenosfavorecidos(ALBAGLI;MACIEL,2002).

MacMillan(2006)defineoempreendedorismosocialcomoum“processonoqualacriaçãodeumanovaempresalevaaoaumentodariquezasocialdemodoabeneficiartantoasociedadequantooempreendedor”.Hartigan(2006)defineo empreendedor social como “um tipo diferente de lídersocial que, entre outras coisas, aplica soluções práticas aproblemas sociais através da combinação da inovação,disponibilizaçãoderecursoseoportunidades.Ainovaçãodeum empreendedor social pode estar em um novo produto,serviçoouabordagemparaumproblemasocial”.

Oempreendedorsocialéumtipoespecialdelíder,poissuasidéiaseinovaçõessãoincorporadasaosprodutoseserviçosaseremproduzidoseprestadose,sobretudo,àmetodologiautilizadanabuscade soluções para os problemas sociais,objeto das ações de empreendedorismo. Essas pessoastrazemaosproblemas sociais amesma imaginaçãoqueosempreendedoresdomundodosnegóciostrazemàcriaçãoderiquezas(MELONETO;FRÓES,2002).

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Oempreendedorprivadoeoempreendedorsocialapresentamdiferenças distintas que podem ser identificadas no perfildessaspessoasenas inovaçõesquecadaumapodegerar,conformeapresentadonoquadro1,aseguir:

EMPREEnDEDoRiSMo PRiVADo EMPREEnDEDoRiSMo SoCiAL

1. é individual 1. é coletivo

2. Produz bens e serviços para o mercado

2. Produz bens e serviços para a comunidade

3. tem foco no mercado 3. tem o foco na busca de soluções para os problemas sociais

4. Sua medida de desempenho é o lucro

4. Sua medida de desempenho é o impacto social

�. Visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio

�. Visa resgatar pessoas da situação de risco social e promovê-las

quadro 1: FontE: MELo nEto; FRóES, 2002.

Analisando o quadro acima é possível constatar que oempreendedorsocialterásuaaçãofocadanainovaçãoqueenvolveosocialemsuadimensão,assimacompreensãodoquevemaserestainovaçãosocialépontodepartidaparaoestabelecimentodassuasmetas.

SegundooconceitodaFINEP,citadoporZanoneNardelli(2006),inovaçãoparaodesenvolvimentosocialéacriaçãode tecnologias, processos e metodologias originais quepossamvir a se constituir empropostasdenovosmodelose paradigmas para o enfrentamento de problemas sociais,combateàpobrezaepromoçãodacidadania.

O empreendedor social neste contexto é aquele que crianovas tecnologias, desenvolve novos processos, sistematizametodologiasquepossamtornarasociedademaisjustaequepromovamaeqüidadesocial,possibilitandoodesenvolvimentodecomunidadesdiversaspormeiodesuasações.

Características/habilidadespróprias, citadaspordiferentesautores,definemoperfildoempreendedorsocial.

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Características/Habilidades Referência

Cooperativos, visão social, habilidade de comunicação, empáticos, criatividade na solução de problemas reais, forte fibra ética, pragmáticos

Johnson (2000)

Sinceros, paixão, clareza, confiança pessoal e organizacional, planejamento, habilidade para improviso

Boschee (2002)

Criativos, líderes Melo neto e Froes (2002)

inovadores, arrojados, transparentes Dees (1998)

quadro 2: DAViD, 2004.

Compreender as características do empreendedor social,seuperfilesuascompetênciaspossibilitaasistematizaçãode práticas que promovam a formação de pessoasenvolvidas com o social e que desejam atuar em prol dodesenvolvimento sustentável e das comunidades locais.Aaçãodediferentes setoresdasociedade, interagindoemvertentes complementares oportunizará a criação de umanovacultura,naqualseesperaque,embreve,indicadoresdeempreendedorismosocialsejamanalisadoserespeitadosdadasaspossibilidadesdeinovaçãoquecriam.

3. eM BUSCA dA pAZ SOCIAl COM deSenvOlvIMentO

ParapromoverapazsocialnoBrasil,oSESI(ServiçoSocialdaIndústria)foicriadonadécadade40,epormeiodesuasaçõessociais,assumiuamissãodecontribuirparaasoluçãodeproblemasepreenchimentodecarênciasdotrabalhador.Assim,vemcriando,atéhoje,mecanismosparamelhoriadecondiçõesdehabitaçãoetransporte,alimentaçãoehigiene,assistênciamédicaeodontológica,educação,conhecimentosenormassobredeverescívicosesociais,lazer,serviçosocial.A cooperação e assistência aos trabalhadores da indústriaemseusproblemaseconômicos,nadefesadossaláriosreais,

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emproblemasdomésticosdecorrentesdasdificuldadesdevidaoudasrelaçõesdeconvivênciatambémfazempartedoescopodesuaatuação.

Nodecorrerdessasseisdécadasdeatuação,asatividadesdesenvolvidas pelo SESI se caracterizam por amplitudeediversificação.Asdiferençasdas ênfasesnosprogramasdecorrem das diversas realidades contextualizadas, emdiferentesépocas,consideradaspelograudedesenvolvimentodas atividades industriais, os tipos principais de produtosprocessados,oformatodaestruturaindustrialcompequenas,médiasougrandesindústrias,eaindaoutrascaracterísticaseidiossincrasiasregionais.

Em sua trajetória, o SESI se auto-avalia, constantemente,e questiona seu papel na sociedade, direcionando suasaçõesdeformaaajudaraindústriaapromoveroaumentoda produtividade e competitividade, mediante ações quefavoreçamacriaçãodeambientesquepropicieminovação,emdiversosfocos.

Mais recentemente, volta-se para a informação criada,coletadaedisseminadanopróprioSistemaFIEP,doqualoSESI/PRfazparte.Priorizaaçõeseprojetoscomessaênfaseebuscaoferecerserviçosparaseusagentesinternosetambémàsociedade,comoumtodo,pormeiodaextensãoeaplicaçãodos conhecimentos acumulados em sua evolução. O SESIacompanhouoprocessobrasileirodeproduçãocientíficaetecnológica,contribuindoparacolocaraindústrianopatamardegeradoraedisseminadoradeconhecimento.

SegundoGoes(1972),“aidéiadequeoprogressocientíficoe tecnológico é fator importante para o desenvolvimentoeconômicoesocialérelativamentenova.AtéoiníciodoséculoXXasatividadescientíficaseramnarealidadeconseqüênciasdoprogresso.Apartirdaíobservamosumainversãoeaopiniãounânimeéqueodesenvolvimentocientíficoetecnológicoéqueacarretamoprogresso,emtodosossentidos.”

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Por meio de pesquisas, estudos e métodos inovadores, oSESI/PRevidenciaaconsciênciadesuaco-responsabilidadenaprofissionalizaçãodeseusagentesparaqueoambienteindustrial enfrente os inúmeros desafios e crie modos desistematização do conhecimento tecnológico e científicoproduzido,tambémnoâmbitosocial.Aofertaedifusãodetecnologias sociais para o crescente número de indústriasque vêm assumindo suas responsabilidades socioculturaisperanteasociedadeestãopresentesnasaçõescotidianasdoSESI/PR.

A pesquisa, realizada em 2000, sobre a produtividadesocialeoimpactodaqualidadedevidanaprodutividadedotrabalhodaindústriadoParaná30,jáexpressavaointeressedoSESI/PRemestudareinvestigarasaçõessociaissobreotrabalhonaindústria.Maisrecentemente,apartirde2004,muitosprojetosvêmsendocriadoserealizadoscomfoconainovaçãosocial.

ParaLundvall(2001),asinovaçõessociais“afetamomododevidadaspopulaçõesnoseudia-a-diaeconstituemelementosvaliososnaestratégiadocrescimentosustentado.”EssaéaconcepçãoquenorteiaasaçõesdoSESI-PRequejustificaaelaboraçãodosubcapítuloaseguir:

3.1 A inoVAção SoCiAL DESEnVoLViDA PELo SESi PARAná

Em2006váriasforamasaçõespioneirasdesenvolvidaspeloSESI/PRvoltadasparaosocialeainovação.Salienta-sealgunsprogramasque,deacordocomconceitosdeinovaçãosocialapresentadosnoprimeiroartigodeste livro,poderão levaroleitoraobservarecompreenderoquevemaserainovaçãosocialtranspostaparaaprática.Seguemosprogramas:

30 Pesquisa realizada pelo SESi/PR, em parceria com o instituto Brasileiro da qualidade e Produtividade - iBPq (2000) que comprova que a qualidade de vida do trabalhador é reconhecidamente um dos fatores determinantes da produtividade e competitividade das organizações.

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SESI Empreendedorismo Social: uma inovação socialapresentadanestecapítulo.

Inclusão Digital Itinerante: oportuniza o acessoàs tecnologias da informação e comunicação e odesenvolvimentoplenodacidadania,paraostrabalhadoresdasindústriasparanaenses.Comoprocessodeinovaçãosocialapresentaumametodologiaque,alémdeensinarosfundamentostecnológicos,abrenovoscaminhosparaoexercícioplenodacidadania,apartirdeeixotransversal,quetemcomofocoaresponsabilidadesocial.

IndústriaItinerante:orientapessoaleprofissionalmenteoalunodoensinofundamental,visandoàsuaformaçãopormeiodeações técnico-pedagógicas.Ametodologiaincluitemasdetecnologia,valores,empreendedorismoebem-estardeformainterdisciplinar,emcooperaçãocomo ensino público, aproximando a indústria das escolaspara apresentação aos jovens de sua tecnologia, seustrabalhos sociais e ambientais, alémde oferecer apoioparaorientaçãoprofissional.

SistemadeGestãodeQualidadedeVidadoTrabalhadorda Indústria do Paraná: metodologia que possibilitaconhecer,comparareacompanharíndicesdequalidadedevidadotrabalhadordaindústriaparanaense,criandoumbancodedadoscominformaçõesatualizadassobreosinvestimentosnamelhoriadaqualidadedevidadostrabalhadoresdaindústria.

Rede de Inovação Social: originada da necessidadede integrar experiências em responsabilidade socialempresarial, disseminando práticas inovadoras queatendam às necessidades regionais e oportunizem ocompartilhamento de tecnologias sociais, entre todasas partes interessadas das indústrias. Seu objetivo éa sistematização de redes de responsabilidade socialempresarial,emdiferentesregiõesdoEstadodoParaná,valorizandoaculturalocalerespeitandoadiversidade,

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com uma metodologia de integração da inovaçãotecnológica à inovação social. Esta inovação seráapresentadadeformamaisaprofundadaemoutroartigodestapublicação.

OCaminhodaProfissão:anovaetapadedesenvolvimentodasforçasprodutivas,oaumentododesempregoentreosjovens,ascrescentesdificuldadesnoprocessoeducacionaleanecessidadedasindústriasemcontratarmão-de-obraqualificada,aliadoàcrescentedemandadaparticipaçãodasorganizaçõesempráticassocialmenteresponsáveis,levamoSistemaFIEPaincentivarformasdiferenciadasdequalificaçãodo trabalhador.Esteprogramaobjetivaoportunizar a iniciação profissional aliada à formaçãocidadã,emconsonânciacomanecessidadedaindústriae com a necessidade de inclusão dos profissionaisqualificadosnomercadodetrabalho.

4. O SeSI eMpReendedORISMO SOCIAl: UMA pROpOStA de InOvAÇÃO SOCIAl

ParaBrinckerhoff (2000),“ocentrodoempreendedorismosocial é uma boa administração”. No entanto, a falta deferramentas gerenciais específicas para as organizaçõessem fins lucrativos tem exigido dos empreendedoressociais esforços de adaptação das ferramentas típicas daadministraçãodeempresasparaocontextosocial,conformeatesta Silva (2003), ao afirmar que “ao longo das últimasdécadas, asdenominadasorganizações sem fins lucrativosrecorrentementetêmseutilizadodasferramentasgerenciaisassociadasàescoladoempreendedorismo,oquepossibilitoua emergência de uma nova conceituação nesta área deconhecimento:oempreendedorismosocial”.

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Percebendo a necessidade de uma capacitação voltadapara atender à demanda por profissionais qualificadospara a concepção e implementação de projetos sociais,atendeu-seaoedital intitulado“DiretrizesdeIncentivodoDepartamentoNacionalparaosProgramasEstratégicosdoSESI – 2005 Educação, Lazer e Saúde”, publicado peloSESINacional,queapresentavacomoobjetivo“consolidaraunidadesistêmica,estimularnovastecnologias,fortalecerosprogramasestratégicosepromoveraexpansãodoatendimentoàempresaindustrial”.Oeditalapresentavacomoprincípios:foconaempresaindustrialenoatendimentoaotrabalhadorda indústria; fortalecimento sistêmico; melhoria contínuada gestão; transparência; monitoramento e avaliaçãosistemáticas; alto desempenho; capacidade de inovação;representatividadeinstitucional;eqüidadeeintegração.Comolinhasdeaçãooeditalabordou:incrementoparaempresa;disseminação de tecnologias e metodologias; consolidaçãodenegóciosinovadores,prospecçãoedesenvolvimento.

Considerando as questões acima, o SESI/PR iniciou umprocesso de mobilização de competências internas paraa formatação e apresentação de um projeto estratégicoinovador,queestivessealinhadoàlinhadeaçãoprospecçãoe desenvolvimento. Após análise de cenário, estudos dereferenciaisteóricos,identificaçãodepontosfortesefracos,estabeleceu-se o foco em empreendedorismo social, coma intenção de se acompanhar as aceleradas mudançasque estão ocorrendo no campo social e a possibilidadede oferecer um ambiente que fosse propício à geração deidéias, ao desenvolvimento de competências na área deempreendedorismo social e à busca da definição de umametodologia própria para a realização deste processo,que visava também à disseminação da cultura doempreendedorismosocialnoEstadodoParaná.

As estratégias concebidas para o Programa tiveram comofocoodesenvolvimentodecompetênciastécnicasehumanasparaoempreendedorsocial.Nodesenhodametodologiafoibuscadoodomínioda ferramentadeeducaçãoadistância

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(EAD), formatação de um suporte teórico consistente,oportunidades de desenvolvimento de comunicação oral eampliaçãodaredederelacionamentos,umavisãosistêmicarespeitandoàdiversidade,entreoutrosaspectos.

A busca de experiências de sucesso para a realização devisitas de benchmarking revelou um descompasso entre arealidade no Paraná e de outros estados brasileiros, comoRiodeJaneiro,SãoPauloeMinasGerais,oqueconfirmoua importância de uma formação no Estado do Paraná,suprindoademandareprimidaparaqualificaçãodefuturosempreendedoressociais.

Umdos grandesdesafiosna concepçãodoPrograma foi ofortalecimentodoconceitodeempreendedorismosocialnacultura paranaense, e em especial, no Sistema FederaçãodasIndústriasdoEstadodoParaná-FIEP.Omovimentoqueenvolveoempreendedorjátemseuespaçoconquistadonasociedade,porémainovaçãodoempreendedorsocialaindasuscitamuitosquestionamentoseabuscaderespostasquedêemcontadeestruturarumanovarealidadesocial.

Deflagraram-se,então,asquestõesinternaspararealizaçãodo programa, respeitando todos os trâmites legais queenvolvem a instituição SESI. Após processo de licitação,firmou-se parceria para a implantação inicial da propostacomaFEESC(FundaçãodeEnsinoeEngenhariadeSantaCatarina), uma instituição com competências na área deempreendedorismoedomíniodetecnologiasemEAD.

O modelo a ser adotado em 2006 foi concebido de formaconjunta pelo SESI/PR e a FEESC, para implantação doprograma como um piloto. O Programa foi constituído dequatro módulos, que abordavam as seguintes temáticas: oindivíduo;planodenegócios;empreendedorsocialefontesdefinanciamento.

Odesenvolvimentodeumprocessodelogísticaqueatendesseà demanda estadual exigiu uma estratégia nas cincoregionaisenas30unidadesdoSESI/PRparaadivulgaçãodas inscrições aoPrograma, comas seguintes ferramentas

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de marketing: flyers, ficha de inscrição com regulamento,e-mailmarketingetotenApósummêsdedivulgaçãoforamrecebidas51inscrições,sendotrêsdesclassificadaspornãoatenderemaoscritériosdoedital.Entreestes,solicitava-seque as idéias sociais fossem inseridas emumadas linhasde ação do SESI/PR, que são: educação, gestão social,lazer,culturaesaúde,considerandoaexpertisejáexistentenainstituiçãoequepoderiaviracontribuircomasidéiasapresentadas.

Após revisão de literatura, elaborou-se uma ficha deavaliação para a fase de análise dos projetos, respeitandoos critérios estabelecidos para avaliação de projetossociais,taiscomo:inserçãodoconceitodedesenvolvimentosustentáveledesenvolvimentolocal;identificaçãodacriaçãodeprodutos,serviçosetecnologiassociais;apresentaçãodecaracterísticas inovadoras; viabilidade do projeto, caráterde empreendedorismo social; utilização de parcerias paraconcretização;apresentaçãodepotencialdetransformaçãosocial,entreoutros.

Designou-se,então,umaComissãodeAvaliaçãocompostaportécnicosdoSESI/PRedocentes representantes daFEESC.Cada projeto foi avaliado por dois avaliadores e somentedepois se chegou à lista dos classificados: um total de 32projetoscom39participantesrepresentandoseismunicípiosdoEstadodoParaná.Oresultadodoprocessodeavaliaçãofoidivulgadoviasiteee-mailencaminhadoatodososinscritos.

No desenho do programa ficou definida a realização dosencontrospresenciaisaossábados,visandooportunizaraefetivaparticipaçãodetodos,incluindoaquelesquevinhamdeoutrosmunicípios,etambémparanãohaverprejuízodasatividadesprofissionais dos participantes. A metodologia contemplaseteencontrospresenciais,comduraçãodeoitohoras,cada,e complementação de carga horária mediante a ferramentadeEAD–plataformaEureka.Aparticipaçãono curso nãorepresentoudesembolsoparaosparticipantes.Asdespesasdehospedagem,alimentaçãoematerialdidáticoimpresso,foramcusteadospeloSESI-PRatodososparticipantes.

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Nodia2desetembrode2006 teve iníciooprograma.Osconceitosabordadosnosencontrospresenciaistinhamcomosuporte a plataforma Eureka para manter os participantesconectados no intervalo entre os encontros, e o conteúdocomplementarfoidesenhadonamesmavertentepedagógicadomaterialimpresso.Autilizaçãodemomentosassíncronos,para realização dos exercícios propostos e de momentossíncronos,comencontrosvirtuais(chats)dosparticipantes,possibilitouoreforçodosconceitosapresentadosnomaterialimpressoeoesclarecimentodedúvidason-line.

Definiu-secomoestratégiadurantearealizaçãodoprogramaaentregadoreferencialbibliográficoEmpreendimentosSociais

Sustentáveis:comoelaborarplanosdenegóciosparaorganizaçõessociais,editadopelaFundaçãoAshokaeMckinsey&Company,Inc.,umareferênciaparaaáreasocialeumaformademostraraimportânciajáreconhecidapelomercadodanecessidadedeque empreendimentos sociais sejam sustentáveis. As idéiassociais apresentadas na ficha de inscrição aos poucos foramtransformadasemplanosdenegóciosconsistentesparaseremapresentadosàcomunidadeparanaense.

No processo de gerenciamento do Programa um dos desafiossuperadosfoiaconquistadacoesãodogrupo,queapresentavaumadiversidadepeculiarequesetransformouemumacomunidadedepráticanaáreadeempreendedorismosocial,possibilitandooatendimentodasdiferentesexpectativasdosparticipantes,aomesmotempoemquemantinhaofoconabuscadatransformaçãodasidéiasemplanosdenegócios.Outrodesafioenfrentadofoiaconsolidaçãodeumaredederelacionamentoscomincentivosmútuos,trocadeinformaçõesepercepções.

Ao final de dezembro, 24 planos de negócios foramapresentadosevalidados.ComocontinuidadedoPrograma,durante o ano de 2007 estes empreendedores sociaisrecebem acompanhamento mensal para monitoramentoda implantação de seus projetos, de modo a garantir quecontribuirãoefetivamenteparaatransformaçãosocial.EstefoiumdosindicadoresdosucessodoPrograma,quetambém

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previa como metas: implantação de parte dos planos denegóciosapresentados,nosdoisprimeirosanos;publicaçãodosplanosdenegóciosapresentados;sistematizaçãodeumvolumeda Coleção Inova SESI/SENAI com foco na área de inovaçãosocial; realização de nove encontros presenciais mensais, aolongodoano,paraacompanhamentoemonitoramentodosplanosdenegócios;2aediçãodoProgramano2osemestrede2007.

A figura a seguir ilustra o fluxograma do Programa SESIEmpreendedorismoSocial.

EDITAL

Análise das Inscrições

Comissão de Avaliação

Divulgação dos Resultados

Aprovados

1° Encontro Presencial: Apresentação

2° Encontro Presencial - Tema: O Indivíduo

3° Encontro Presencial - Tema: Plano de Negócios

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EAD

EAD

EAD

4° Encontro Presencial - Tema: O Empreendedor

5° Encontro Presencial - Tema: Fontes de Financiamento

Apresentação Pública Planos deNegócios Sistematizados

Encontros Mensais do GrupoSESI Empreendedorismo Social

NãoAprovados

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5. O InÍCIO dA COnStRUÇÃO de UM lOnGO CAMInHO

Apesar do aumento no número de pessoas atuando eminiciativas sociais, ainda há escassez de empreendedoressociaisnascomunidadesatuais.Drucker(1998)questiona:“oqueestamosfazendoparaencorajarosempreendedoressociais?Eoqueestamosfazendoparatorná-loseficazes?”.

Precisamos de uma nova sociedade, uma comunidaderenovada e uma cidade civilizada. O empreendedor socialtem orientação voltada para resultados de longo prazo,semprecomumavisãodefuturo.Investeseudinheironosprojetos,querresolverproblemasenãoinstitucionalizá-los.Muitosatuamforadosradaresdamídia.

O empreendedor social é aquele que busca e desenvolvetecnologiassociais,queviabilizaaimplantaçãodeprogramas,sugereaçõesresponsáveis,inovaprocessossociaisepossibilitaodesenvolvimentodeestratégiasdegestãosocial,cujaresultantetenhaimpactodiretonamelhoriadosíndicessociais.

Esteéoelementomotivadordesteprojeto:darsubsídiosparaaprimorarvaloressociaisegerarumespíritoempreendedor.Comisso,épossívelassegurarjuntoàcomunidadeindustriala marca do SESI e do Sistema FIEP, como referência ecompetência no desenvolvimento de pessoas na área doempreendedorismosocial.

O Sistema FIEP reconhece a inovação social comofundamental para suas decisões estratégicas e sustenta-se no conceito da FINEP para disseminar suas ações e acriação de tecnologias, processos e metodologias originaisquepossamvirase tornarpropostasdenovosparadigmaspara o enfrentamento de problemas sociais, combate àpobrezaepromoçãodacidadania.Assimsendo,oProgramaSESIEmpreendedorismoSocialaindatemmuitocomoquecontribuirnatransformaçãodestecenárioemuitoaaprendercom outras experiências desenvolvidas por diferentes

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instituições, aprimorando suas ações e divulgando o járealizado para possibilitar a outros o desenvolvimento denovosprodutossociais.

Para responder às perguntas de Peter Drucker, o SESI/PRimplantou no ano de 2006 o SESI EmpreendedorismoSocial com o objetivo de formar empreendedores sociaisque transformem sonhos em novas realidades, por meiode uma capacitação que os fortaleça no desenvolvimentodesuascompetênciasecontribuaparaapromoçãosocial,oportunizandoodesenvolvimentolocal.

ReFeRÊnCIAS

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2. teCendO InOvAÇÃO SOCIAl nO pARAnÁ:ReSpOnSABIlIdAde eMpReSARIAl e

teCnOlOGIAS SOCIAIS eM Rede

1. IntROdUÇÃO

O texto que segue apresenta o projeto Rede de InovaçãoSocial,comorelatodeumaexperiênciarecentenocampodainovaçãosocial.

Designificativopotencial,elearticulatrêssinaisdeidentidade:

Responsabilidade Social Empresarial + tecnologias Sociais + Rede

A concepção do projeto, uma rede de tecnologias sociaiscomo expressão das atividades de responsabilidade socialdoempresariadoparanaense,osprocessosdeelaboraçãodoseudetalhamento,aarticulaçãosocialemtornodasidéias-força e as estratégias em construção revelam um conjuntode inovações, que poderiam se resumir nas seguintescaracterísticas:

Sonia Beraldi de Magalhães, Beatriz Mecelis Rangel, * Cristiano Lafetá, Dalberto Adulis, Daniel Moraes Pinheiro,

Jesus Carlos Delgado Garcia, Maria Carolina de Castro Leal e Philip Hiroshi Ueno

* Equipes: SESi/PR [Sonia Beraldi de Magalhães, Daniel Moraes Pinheiro, Maria Carolina de Castro Leal]. itS Brasil [Beatriz Mecelis Rangel, Jesus Carlos Delgado Garcia e Philip Hiroshi Ueno]. ABDL [Cristiano Lafetá e Dalberto Adulis].

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Umaformainovadoradepraticararesponsabilidadesocialdasempresas,naqualbuscasuperaroassistencialismoeprocuraserrealizadapormeiodetecnologiassociais,istoé,projetosinovadoresparaasoluçãodedemandasounecessidadessociais.

Uma rede de atores articulados da sociedade civil:empresas,ONGs, instituiçõesdeensinoepesquisaemtornodoprojeto.

Umamaneiraalternativadeusoeapropriaçãosocialdastecnologiasdainformaçãoecomunicação.

O desenvolvimento de novas ferramentas de análise,pesquisa, diagnóstico e avaliação de TecnologiasSociais, com possibilidades de monitoramento on-line de programas, de fortalecimento institucional dasONGsprodutorasde tecnologiassociaisemelhoradosindicadoresdeimpactosocial.

Uma forma inovadora de promover a capacitação e oempoderamentodosatoressociaisparaodesenvolvimentodasaçõesemRede.

2. HIStÓRICO

Trata-sedeumprojeto,emfasedeimplantação,quepartiudainiciativadoServiçoSocialdaIndústriadoParaná(SESI/PR),emparceriacomaABDLAssociaçãoBrasileiraparaoDesenvolvimentodeLideranças-ABDLeoInstitutodeTecnologiaSocial-ITS,cujodestinofinaléaformaçãodeumarededeinovaçãosocial,comoumprojetodeconstruçãocoletiva,aproximandoostrêssetoresdasociedade.

AáreadeGestãoSocialdoSESI/PRsedeparoucomodesafiodeincentivarnovasformasderealizaçãodaresponsabilidadesocialpelasempresas.Nofinalde2005,foirealizadapeloSESI/PR a Semana de Difusãode Iniciativas Sociais, que

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reuniudiversasinstituiçõesparapromoveremoficinassobreo tema. Na oportunidade, estiveram presentes a ABDL,tratando da temática Redes, e o ITS, que abordou o temaTecnologiaSocial.Noprimeirosemestrede2006,usandoosresultadosalcançadosnesteencontroemedianteaaberturadeEditaldoSESINacional,quecontemploupelaprimeiravezalinhadeaçãoResponsabilidadeSocialeotemadeRedenachamadadeprojetosinovadores31,oSESI/PRapresentouoprojetoRededeDifusãodeIniciativasSociais.32

NaelaboraçãodoprojetoparaenvioaoSESINacional,surgiuaidéiadereunirestasorganizaçõesparceiras,agregandosuaexpertiseparaoatendimentodoobjetivoprincipaldaRedequeseriaformada.Asnoçõesde“tecnologiasocial”,“rede”e“liderança”,queorientamdeváriasformasasatividadesdasduasentidades,poderiamseraspectos-chavedapropostaqueseestavaimaginando.

PRé-PRoJEto

Consolidada a parceria, a participação foi escolhida comométodoassegurandoqueoprocessodeimplantaçãodaRedeseguisse um dos pressupostos básicos para sua formação:a participação democrática33. Desse modo, foi proposta arealizaçãodeumaoficinadedetalhamentoevalidaçãodasatividadesparaimplantaçãodoprojetoRedeSocialSESI/PR.

31 Para o SESi, projeto de inovação é aquele voltado para o desenvolvimento de novos produtos e serviços que atendam a todos os requisitos básicos a seguir relacionados: desenvolver produto ou serviço inexistente no Sistema SESi; pertencer à linha de negócio alinhada aos objetivos estratégicos do Sistema SESi; focar o atendimento na clientela institucional: indústria, trabalhadores e dependentes, agregando valor ao cumprimento da missão institucional do SESi; ser passível de disseminação pelos Departamentos Regionais; ter pelo menos um dos seguintes objetivos: pesquisar mercado, desenvolver, avaliar, testar ou implantar tecnologia ou negócio inovador.

32 Essa foi a primeira nomenclatura do projeto. no decorrer do texto, é possível observar que serão utilizados outros termos. A idéia é que o nome oficial seja fruto da interação entre os atores que participam da Rede ao longo do processo.

33 Segundo Martinho (200�), são conceitos fundamentais para o desenho e funcionamento de uma rede, sem os quais ou bem a articulação não se trata de rede ou bem a rede existirá de maneira parcial ou insuficiente: valores e objetivos compartilhados; autonomia; vontade; multiliderança; descentralização; e múltiplos níveis.

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Oevento, realizadoemCuritiba (PR),em22desetembrode 2006, apostou na idéia de que a Rede de articulaçãoda responsabilidade empresarial e as experiências detecnologias sociais de diferentes atores da sociedade civildevemter,comofundamentoefim,umaestreitarelaçãodedoisaspectosquenemsempreocorremdeformaarticuladanosprocessosdedesenvolvimento:ainovaçãotecnológicaeainovaçãosocial.

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA+

INOVAÇÃO SOCIAL

Rede Social SESI / PR

Naoficinaforamalinhadososprincipaisconceitos,ométododetrabalhoeocronogramadedesenvolvimentodoprojetoqueobedeceuàidéiaderealizaçãodetrêsencontrosdeformação,seguidosde“ação”,comoseexprimenoseguintequadro:

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FiGURA 01 - Processo de Mobilização do Grupo Gestor

FontE: Elaborada pelo itS/ABDL (200�)

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3. O pROJetO

3.1 ContExto E JUStiFiCAtiVA

Omercadoglobalizadoexigedasorganizaçõesumrevisitarde suas práticas e um realinhamento das suas açõesestratégicas.Nessecenário,muitassãoasempresasquejáperceberamanecessidadedainserçãodeaçõessocialmenteresponsáveisequeatendamseusstakeholders,ou,a redequecompõesuacadeiaprodutiva.

Para as pequenas e médias empresas o fortalecimento deaçõesemredeampliasuacadeiadevalorepossibilitaumposicionamento estratégico competitivo,mas,nemsempreparaessasorganizaçõesaarticulaçãoestáacessível.

Portanto,surgemnovosmodelosdegestãoeexperiênciasbem-sucedidasque,seimplantadasdeformaadequada,podemtornar-se instrumentos poderosos para o desenvolvimentosustentável.

A atuação regionalizada que tenha como foco umplanejamento territorial com o envolvimento de todos ossetoresequeasseguremorespeitoàcultura,contemplemadiversidadeemelhoreaqualidadedevidadoshabitantes,fazpartedeaçõessocialmenteresponsáveis.

Assim sendo, a criação e fortalecimento de redescontemplando todas as dimensões sociais é condiçãofundamentalparamudançasqueatendamaosparadigmasatuaisdegestão.

3.2 o PRoJEto

OprojetoconsistenaformaçãodeumespaçoemredeemqueasTecnologiasSociaisdesenvolvidaspelasorganizaçõesdasociedadecivilconvirjamcomaresponsabilidadesocialdas empresas.Trata-sedeumcanal parapotencializar asaçõesnestesdoiscamposefortalecerodiálogo,ainteraçãoeasparceriasparaodesenvolvimentosocial.

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3.3 tECnoLoGiAS SoCiAiS. o qUE São? PARA qUE SERVEM?

As tecnologias sociaispodemserdescritas como técnicas,procedimentos, metodologias e processos; produtos,dispositivos, equipamentos; serviços; inovações sociaisorganizacionaisedegestão,desenvolvidase(ou)aplicadasna interação com a população, que representam soluçõesparainclusãosocialemelhoriadascondiçõesdevida.

As tecnologias sociais fundamentam-se em pesquisas,conhecimentos populares ou científicos e tecnológicose solucionam os mais variados problemas do povo (desdealimentaçãoesaúde,saneamentoehabitação,atéatividadesprodutivas,dedesenvolvimentoedefesadomeioambiente,passando por áreas como as tecnologias assistivas paraa autonomia das pessoas com deficiência, o resgate deconhecimentos de povos indígena no manejo da floresta,entreoutros).

O projeto incorpora uma ferramenta de diagnóstico dastecnologiassociaisdoParaná,assimcomoumametodologiainovadoraparaavaliá-lasemelhorá-las.

3.4 REDES: o qUE São? PARA qUE SERVEM?

As redes são formas inovadoras de articulação entreatores sociais que possibilitam o compartilhamento deinformações,acolaboração,ofortalecimentoeaampliaçãodeescaladesuasações.Aparticipaçãoemredespermitequeorganizaçõeseindivíduosatuemdeformamaiseficaznapromoçãodemudançassociaisquelevemaodesenvolvimentosustentável.

Segundo Engel, um estudioso da relação entre Redes eDesenvolvimento, “redes são iniciativas de organizaçõesbaseadasnacomunicaçãoenocompartilhamento(informação,experiências,conhecimentoerecursos)comopropósitodegerarsinergiasocialquepermitaaseusmembrosaprimoraraqualidadeerepercussãodesuasintervenções,avançarnacompreensãoeelaboraçãodemodelosdedesenvolvimento

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etercapacidadeparaapresentá-losedisseminá-losemumaescalaampliadaeemníveismaisaltos.”Entreasprincipaiscaracterísticasdeuma redepode-sedestacar a autonomiados participantes e a horizontalidade nas suas relações,que favorecem a livre comunicação e a colaboração entretodos.Asnovas tecnologiasde informaçãoecomunicação,com especial destaque para a internet, têm facilitado aformação e o funcionamento de redes nas mais diferentesáreas de atuação, como meio ambiente, direitos humanos,comunicação,saúde,educaçãoeresponsabilidadesocial.Oprojeto pretende estimular a formação de uma rede sobre“tecnologias sociais no Paraná” a partir da colaboraçãoentreempresassocialmenteresponsáveiseorganizaçõesdasociedadecivil.

4. FORMAÇÃO dO GRUpO MOBIlIZAdOR

Como primeiro passo, o SESI/PR estimulou a participaçãode empresas próximas a Curitiba e do Norte do Estado,cooperativas, sindicatos, organizações não-governamentais(ONGs)einstituiçõesdeensinosuperior.Apropostaeraqueestegrupo,chamadodeGrupoMobilizador,passasseporumprocessodeformaçãoparadominarosconceitosdeTecnologiaSocialedeRedeseassumisseopapeldecriaraidentidadeeasestratégiasdoprojeto,alémderealizaraçõesparadivulgarefortalecerarededentrodasinstituiçõesondetrabalham.

Aformaçãofoiconcebidacomainteraçãodetrêsrecursospedagógicos:

a) Encontros de Formação: eventos de dois ou três dias,nosquaisosparticipantesdogrupomobilizadorreceberamaportes teórico-metodológicos e técnicos, compartilhandosuasexperiênciase trabalhandonaconstruçãoda rededetecnologiassociais.

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b)Atividades interencontros:osparticipantesretornaramaosseuslocaisdetrabalhocomamissãodecompartilharcomsuaequipeeinstituiçõesparceirasoconhecimentoapreendido.Foi também nesse momento que o grupo mobilizador eos grupos de trabalho desempenharam as atividades deformataçãodarede.

c)Atividades a distância: osparticipantescompartilharamexperiências, relataram as atividades de seus projetos,comentaram as ações dos colegas e obtiveram assessoriatécnicadaABDLeITSpormeiodoEureka,umaplataformavirtualdecomunicaçãoeeducaçãoadistância.

Nográficoseguinte,éapresentadaaconcepçãodeformação→ ação→formação,conteúdos,objetivoseaestratégiageraldostrêsencontrosdeformaçãoatéoeventodelançamentodaRede:

Formação

Tecnologia Social,Rede Liderança Pesquisa

Gráfico Radase Gts

Preparação do

Diagnóstico eAnálise

Conceito e Estratégia

Seminário deLançamento da Rede

AçãoIDÉIA

ESCOPO

PRÉ-PROJETO

PROJETO

FiGURA 02 – Concepção de Formação-Ação-Formação

Fonte: Elaborada por itS e ABDL. (200�)

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5. dIAGnÓStICO e AnÁlISe dAS eXpeRIÊnCIAS de teCnOlOGIA SOCIAl QUe FORMARÃO pARte dA Rede

Naconcepçãodoprojetoescolheu-sequeasorganizaçõesa ingressarem na rede deveriam ter desenvolvido ouapoiadoexperiênciascomaltadensidadeoupotencialidadecomo tecnologias sociais. Algumas característicasdessas experiências, como a capacidade de resolução denecessidades sociais, seu componente tecnológico, seucaráter inovador, assim como seu compromisso com aparticipação democrática e com os processos educativos,fazem-nas muito atrativas para canalizarem as ações deresponsabilidadesocialdasempresas.

Daí é que a primeira tarefa que se propôs foi pesquisar,dentrodoEstadodoParaná,quaisprogramasouexperiênciaspreenchiam esses pré-requisitos. Essa indagação levoua um novo problema, sintetizado pergunta de vários dosparticipantes: Como saber se os projetos que estamosindicandopararealizaçãodapesquisasãoounãotecnologiassociais?

Frenteaessedesafiofoidesenvolvidoumprojetoinovadorde mapeamento, diagnóstico e análise, que oferecepossibilidades on-line de construção de histogramas egráficos.Ametodologiadeavaliaçãodetecnologiassociaisleva em consideração 12 características agrupadas em 4grandesdimensões,conformeilustraatabelaaseguir:

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DiMEnSõES CARACtERíStiCAS/inDiCADoRES

Conhecimento, Ciência, tecnologia e inovação

1. objetiva solucionar demanda social

2. organização e sistematização

3. Grau de inovação

Participação, Cidadania e Democracia

4. Democracia e cidadania

�. Metodologia participativa

�. Difusão

Educação

�. Processo pedagógico

8. Diálogo entre saberes

9. Apropriação/Empoderamento

Relevância Social

10. Eficácia

11. Sustentabilidade

12. transformação social

Naaplicaçãodoquestionáriodemapeamento,essascaracterísticassão ponderadas por meio de 22 questões para as quais sãoatribuídasnotasde1a5.Apartirdasnotasatribuídascalcula-seumapontuaçãogeralparacadaindicador,quevariade0a10.Osistemapossibilita,porexemplo,gerarumgráfico-radarparavisualizarodesempenhodecadaumdosprojetospesquisadosem relação às 12 características identificadoras da TecnologiaSocialmencionadas.SegueumexemplodegráficoradarsobrehipotéticocasodeTecnologiaSocial.

tabala 1: indicadores de tecnologia Social

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FiGURA 03: Análise da tecnologia Social “x” 34

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Teste JC

Conhecimento

Educação

Relevância Social

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Cidadania

Valores dos indicadores: i1 - objetiva solucionar Demanda Social - 8.08; i2 - organização e Sistematização

- 8.�0; i3 - Grau de inovação - �.�3; i4 - Democracia e Cidadania - 3.��; i� - Metodologia Participativa - 2.92;

i� - Difusão/Disseminação - 2.2�; i� - Processo pedagógico - �.�3; i8 - Diálogo entre Saberes - �.88, i9 -

Apropriação/Empoderamento - �.00; i10 - Eficácia - 1.�8; i11 - Sustentabilidade - 3.30, i12 - transformação

Social - 2.1�

34 Comentário: no gráfico, aparece o espaço escuro, que corresponde ao “desenho” das suas propriedades e características. observa-se, então, que esse espaço estende sua mancha muito em relação ao canto direito acima das características que tem a ver com a aplicação do conhecimento e inovação, e também avança muito em relação ao canto esquerdo e embaixo, às características da educação. esses são seus pontos fortes. mas o espaço que ocupa em relação aos cantos que têm a ver com a democracia e a relevância social é muito pequeno, revelando suas vulnerabilidades ou pontos débeis.

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Essaferramentaoferece,também,on-line,apossibilidadedegerarhistogramasecruzamentossobretodasastecnologiassociaisqueestiveremnobancodedados.Porexemplo, seescolhermosclassificarasexperiênciasdetecnologiasocialpeloseuperfilinstitucional,acrescentandoascaracterísticasde inovação e relevância social significativas, o sistemaseleciona, neste momento, 20 tecnologias sociais que seenquadramnessaseleção:

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Histograma escolhido: Perfil da EntidadeFiltro(s) aplicado(s):

- Relevância social da Tecnologia = Alto- Grau de inovação da Tecnologia Social = Alto

1 - Associação Civil / ONG4 - Instituição de Ensino Superior e Tecnológico7 - Poder Público8 - Empresa11- Cooperativas0 - Outros

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FiGURA 04: Histograma Gerado pelo Sistema

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Com essa ferramenta a Rede pode, a qualquer momento,oferecer diagnósticos e análises sobre as tecnologiasdesenvolvidaspelasorganizaçõessobvariadasperspectivas.Osmembrosdogrupomobilizadorestãocapacitadoscomoanalistas de Tecnologia Social na Rede ou dentro de suainstituição,devendo,portanto,orientaraleituradosgráficos.NaspalavrasdeSôniaBeraldiMagalhães,coordenadoradaáreadeGestãoSocialdoSESI/PR,quelançouapropostadaredeaoSESINacional:

“trazer essas experiências à luz de um processo metodológico, com capacidade de quantificar o grau de abrangência de cada tecnologia para os problemas que deseja enfrentar e solucionar, se ela é inovadora, se é reaplicável, se avança na educação, na participação, na aplicação de conhecimentos, enfim, uma série de questões, isso facilita para que as pessoas e as onGs se apropriem e utilizem dessa informação, diagnostiquem, registrem e difundam suas ações, como parte de um processo que visa fortalecer os investimentos sociais”.

Dessa forma, são oferecidos ao grupo mobilizador umacapacitaçãoeoempoderamentopormeiodeumaplataformadepesquisaeminternet,comsignificativaspossibilidadesdemonitoramentoprogressivodastecnologiassociais.

6. A COnStRUÇÃO dA eStRAtÉGIA de Rede

Duranteosdoisprimeirosencontrosdeformação(setembrode2006emarçode2007),ogrupomobilizadorestudouatemática da Tecnologia Social e das Redes e avançou nadefiniçãodeaspectosessenciaisàredeemconstrução.

Ogrupo tambémsededicoua identificarumaseleçãodeprojetoscomcaracterísticasdeTecnologiaSocial,emcursonoParaná,realizandovisitaseaplicandooquestionáriodemapeamento, como uma das atividades interencontro. Noretorno,osparticipantesutilizaramaferramentadográfico-radar e discutiram os resultados encontrados. Assim,

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buscou-seoferecerumaoportunidadeconcreta–apráticadodiagnóstico,análiseeavaliaçãodeTecnologiasSociais.

Ainda no segundo encontro, o grupo definiu a missão daRede Social: “Inspirar, articular e promover ações entreos setores da sociedade visando mapear, disseminar,reaplicar,aprimorarecriar tecnologias sociaisvoltadasaodesenvolvimentosustentávelnoEstadodoParaná”.

Para a atividade interencontro seguinte, formaram-se doisgruposdetrabalho:(GT1)desenhodaRedee(GT2)meiosemecanismosdeação,comunicaçãoedisseminação,comoobjetivodedarcontinuidadeàformataçãodoprojeto.Cadaparticipante também assumiu o compromisso de convidarpelomenosumnovointegrantedesuainstituição,demodoainiciaraampliaçãodogrupomobilizador.

Oterceiroencontrodeformaçãoocorreuemmaiode2007,com os objetivos de aprofundar questões como açõesprioritáriasdaRede,entreelasotermodeadesãoeacartadeprincípios;prepararaapresentaçãodoprojetoparaogrupoampliado; conhecer o resultado final do mapeamento dasTecnologiasSociais;construirereferendarasaçõesparaolançamentodaRededeInovaçãoSocialeavaliaroencontroeoprocessodeconstruçãodarede.

AvisãoeosprincípiosdaRede foramconsolidadosnestaocasião.

ViSão

Ser referência em Tecnologias Sociais e na articulação deparceriasquepotencializemodesenvolvimentosustentável.

PRinCíPioS:

a)ocomprometimento,aparticipaçãoearesponsabilidadedeseusintegrantespelarede;

b) a pluraridade, acolhendo os diversos atores, sabores epráticas;

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c) A multiliderança, a horizontalidade e a isonomia, comautoridades e responsabilidades compartilhadas pelosparceiros;

d)OfavorecimentodoacessoecompartilhamentodasTS;

e)Asustentabilidade,comopontodeapoioparaasTS;

f) A promoção de parcerias, fortalecendo a aproximaçãoentreosatores;

g) A transparência na forma de atuação e condução derede;

h)Acondutaéticadeseusintegrantes.

Alémdisso,elaborou-seumacartadeadesãoeorganizaram-seospreparativosparaaoficinadelançamentodaRededeInovaçãoSocial,queocorreunodia5dejulho,emCuritiba,durante a 6a Mostra de Ação Voluntária. O evento reuniu74 representantes de ONGs, empresas e poder público,sendo que 50 não pertenciam ao grupo mobilizador e seinteressaramporconheceroprojeto.

ODiretorExecutivodoSESI/PR,JoséAntonioFares,presenteaoevento,fezumaconvocaçãoàspessoaseinstituiçõesque“trabalhamcomseriedadepelopropósitododesenvolvimentosocial”.Ressaltou,comodesafiodaRedeedopróprioSESI,o fomento a uma “cooperação inteligente” entre os trêssetores,capazdeevitarodesperdíciodetempoerecursos,gerar impactos duradouros e dar às ações sociais “umadimensãodevaloragregado”,queaindaépoucopercebidapelomercadoecomeçaaserincorporada,cominstrumentosecritériosmaisclaros,pelasentidadesdoTerceiroSetor.

“Temos que pensar a área social de uma maneiradefinitivamentediferentedaquelaqueestamos,aindahoje,estimulando. Não dá mais para conviver com iniciativaspontuais.ARedede InovaçãoSocial é umapossibilidadedefazercomqueaspessoasdaáreasocial,ospensadores,os criadores, os inovadores se juntem em torno de uma

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idéiaedeumprocesso,deummovimentomaisorganizado,maisestruturado.Édissoqueprecisamos:deorganizaçõesde aprendizagem e que, nessa aprendizagem, criem-seos vínculos que estruturam o ‘social’ para que ele possafazer,finalmente,adiferençanomovimentoeconômico,nodesenvolvimentodascomunidades”.

7. peRSpeCtIvAS

O Projeto da Rede de Inovação Social apresenta váriosaspectosdeinovação.

Uma forma inovadora de realizar a responsabilidade social empresarial

A responsabilidade social das empresas está crescendocomo um espaço para além do assistencialismo e daspráticas altruístas. No projeto em construção trabalha-secomaperspectivadequeessetemanãopodeficardeforadainovaçãoempresarial,comoumespaçoparaserpreenchidocomacaridadetradicional.Buscam-secaminhosparaqueainovaçãotecnológicadasempresassedesenvolvajuntamentecomaresponsabilidadeeainovaçãosocial.

Reunir em rede tecnologias sociais para que possam serexpressões de realização da responsabilidade empresarialsignifica introduzir inovações complexas dentro de umdeterminadoterritório.Significaadotaroconhecimentoesuasaplicaçõescomoguiadeconstruçãodesoluçõesparaproblemassociais.Representa, também,acreditaremlaçoshorizontaisdecooperaçãoentreoempresariado,asdiversasinstituiçõesda sociedade civil sejam ONGs, movimentos populares,sindicatos,cooperativas, igrejasetc.eopoderpúblicoparageraremvalores,práticasemetodologiastransformadoras.

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Alógicaquepresideaaçãodasredesoferececondiçõespara“casaraexpertisedecadaumdosatoresnabuscaporrealizarobjetivos e projetos comuns, criar um valor de confiançaentreeleseumesforçomenorparatodos”,conformepontuaMariaCarolinadeCastroLeal,AnalistaSêniordoSESI-PR.“Vimos que algumas Tecnologias Sociais mapeadas estãodentro das universidades e que elas já têm resposta paraalgunsdostemasquesurgiramnogrupomobilizador.PodemserumpóloparaatrocadeconhecimentosqueasONGseasempresasprocuram,inclusive,paraencomendadepesquisasesoluções.”

Por essas características, uma vez consolidada, a Redede Inovação Social pode alavancar oportunidades queenvolvamostrêssetoreserevertamemsaldopositivoparaodesenvolvimento social. “A redeexisteparaque seumaorganização,empresaouuniversidadejáconseguiuresolverum determinado problema e desenvolveu uma soluçãopara isso, pode ajudar quem está buscando justamenteesse conhecimento. Esse é o diferencial do trabalho emrede:vocêsedescobreimportantenaquelemeioevêumainterdependência entre todos, de igual para igual”, dizDanielPinheiro,AnalistaSeniornoSESI/PR.

Justamenteporissonãosetratasimplesmentedeelaborarumalistagemouumbancodedados.“Aredeéumafontequenãopodeseesgotar.Éondeeuvenhobuscar,mastambémvenhodepositaroconhecimentoqueeutenhoparacolocaràdisposiçãodeoutros.Aredetemdentrodeseusprincípioso dispor esses conhecimentos e o compartilhar entreorganizaçõesepessoas,deformademocrática.Porisso,elanãotemumdono”,completaSoniaBeraldideMagalhães.

Uma ferramenta de transparência na utilização das tecnologias da informação e comunicação

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A advogada Silvana Geara, da Companhia Paranaense deEnergia-Copel,participoudedoisencontrosdaRedeSociale acredita que o gráfico-radar, ao fornecer um “espelhocompleto”dosprojetos,confereumatransparênciamaioràsações das ONGs, cooperativas e associações comunitáriase tambémsubsídiosparaquemquer financiaremonitoraros projetos. Ela cita que a Copel destina 1% do impostoderendaaoFundodaInfânciaeAdolescência-FIA,comoformadeapoiaraçõesqueatendamàPolíticadeDefesadosDireitosdaCriançaedoAdolescente.“Masnãoencerramosaí.Nósvamosacompanhar,porquequeremosveracontecer,estamosempenhadosnatransformaçãodasociedade.Hojenãoémaispossívelumaempresacorrer somenteatrásdelucro,dasuavisãoemissão,esquecendoasociedadecomoumtodoeaquestãodasustentabilidade,emsuadimensãoambiental,econômicaesocial”,esclarece.AaplicaçãodofundoéfiscalizadapeloConselhoEstadualdosDireitosdaCriançaedoAdolescente,que tambémdefineoscritériosparacontemplarpropostas, tendocomobaseoEstatutodaCriançaedoAdolescente-ECA.

DonaJulietaCerri,presidentedaCoopercostura,cooperativaformada por 22 costureiras com idade acima de 45 anos,moradorasdobairroVilaVerde(Curitiba),acreditaquearededará complementação ao trabalhoque organizações comoaquerepresentajáfazem.Fundadaem2001pormulheres“queestavamdesempregadas,nãotinhammaisidadeparairparaas empresas nem dinheiro”, mas tinham “experiência, boavontadeeforça”,comodescreveDonaJulieta,acooperativasedesenvolveuapartirdeumaparceriacomaunidadedaBosch em Curitiba, sediada na mesma Vila Verde. “O queeuentendodestaredeéquequemfazvaicontinuarfazendoemelhorando,equemnãofazvaiaprendera fazer.Paraasempresasvai serbomporqueoqueelasplantaramnãovaiacabar,vaitercontinuidadeevaicrescer.Vaiserummeioparajuntarmaisentidades,maispessoas,maisempresas,paraelesveremotrabalho,veremquetemnecessidade”,diz.

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Fonte de inovação no empoderamento e capacitação dos atores sociais

Umavez implantadae funcionandocomaparticipaçãodosetorprivadoedasorganizaçõesdasociedadecivil,aRededeInovaçãoSocialquersetornarumcanalparaestimularainovação,tantonagestãodasTecnologiasSociaisquantodaresponsabilidadesocialempresarial.“Asempresassempreestãoprocurandoinovação,criarnovasformasdetrabalho.Comoobjetivodetrabalhararesponsabilidadesocialinternaeexterna,precisamostambémperceberseasnossasaçõessãode fato eficientes.Quandovocêcomeçaamonitorar ecriarosindicadores,começatambémadarumcarátermaissérioeprofissionalparaosprojetos”,comentaaassistentesocial Marli Brunkhorst, que trabalha no departamentodeSaúde,SegurançaeMeioAmbientedaVolvo.“AgentepercebequeaTecnologiaSocialétambémimportanteparavalidarosprojetoseparaelaseradotadapelasempresaséumaquestãodetempo.”

A secretária-executiva da Sadia, Maria Neli, também dogrupomobilizadordaRedeSocial,reconhecequenãoéumtrabalhorápidonemfácil.“OconceitodeTecnologiaSocialénovoeagenteestáprocurandoconhecermaisafundoparaverquaisaçõesaempresapode fazerparacontribuircomessetema.”Paraela,aprenderaidentificarascaracterísticasdaTecnologiaSocialnosprojetos trouxeumamudançadevisão da própria ação social, do assistencialismo para ofoco no desenvolvimento. “A principal diferença é que aTecnologiaSocialpressupõedarsustentabilidade.Partedeumanecessidadedacomunidadeealiseprocuradesenvolverumtrabalhoemque todosparticipam.Maso importanteéqueelesejaconstante.Oassistencialismonão:vocêcobreumanecessidadeimediata,porumdeterminadoperíodo,epronto.Oproblemanãodeixadeexistir.”

Odesafioagoraécolocarempráticaessamudança.“Nãoadianta ficar só na teoria. Primeiro, a gente (do grupomobilizador) tem que conscientizar o público interno, a

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própriaempresa,parateraçõesjuntocomacomunidade”.

“Pessoaspensando,refletindoetrabalhandoemconjunto”éoqueDalbertoAdulisrecomendaparaquearedenãosejasomenteumaidéia,masseconcretizecomaçõescolaborativasdosdiversossetoresdasociedade.

Fazer com que o avanço do conhecimento e o acesso àsinformações atendam prioritariamente às necessidadesbásicasdapopulaçãopormeiodeaçõesderesponsabilidadesocialincentivamessegrupoadarcontinuidadeàcapacidadedeligaratoresheterogêneosecomplementares.

Pelas características inovadoras e o potencial socialrecomendam-se aos poderes públicos e à iniciativa privadaaçõesdefortalecimentoesustentaçãovisandoàampliaçãoeaoaprofundamentodaexperiênciadaRededeInovaçãoSocial.

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ReFeRÊnCIA

MARTINHO,C.Algumaspalavrassobreredes.Disponívelemhttp://www.rits.org.br/redes_teste/rd_tmes_fev2006.cfm.Acessomaio2007.

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3. peÇA pOR peÇA: UM pROGRAMA de ReSpOnSABIlIdAde SOCIAl

Elisabete Grande Friebe Karina Martins

1. IntROdUÇÃO

AunidadedaBoschemCuritibadetémaproduçãodetodaalinhadieseldaBoschnoBrasil,quecompreendeaproduçãode bombas injetoras, porta-injetores e peças de reposiçãoparaveículosaDiesel.Contahojecom4.400colaboradoreseestáinstaladanaCidadeIndustrialdeCuritiba.

AochegaraoBrasilem1954,aBosch,trouxeconsigoconceitosde responsabilidade social idealizados pelo seu fundador,RobertBosch.“Meuobjetivoé,alémdoalíviodanecessidade,atuar,acimadetudo,naelevaçãodasforçasmorais,sanitáriase mentais.... Serão promovidos: saúde, educação, formação,promoção de talentos, reconciliação dos povos e tais...”(Extratosdas regrasdeRobertBoschparaaAdministraçãoPatrimonialBoschLtda.,de19dejulhode1935).

DesdeasuafundaçãoemCuritiba,em1978,aBoschpossuipolíticassociaisecomunitárias.Mas,foisomenteapartirde1999queaempresaimplantouumprojetoqueenvolviaacomunidadeinterna (Colaboradores), com estímulo ao voluntariado, paraimplantarprojetosnaregiãoaoredordafábrica.

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Objetivo: Mediante a implementação de um programade Responsabilidade Social baseado principalmente nodesenvolvimentosustentávelenaeducação,aBoschCuritibapretendecriarcondiçõesparaquecomunidadesdaperiferiadeCuritibapossamidentificaroportunidadesdedesenvolvimentoeconômicoesocialemmédioelongoprazo.

O programa tem a participação da empresa, dos seuscolaboradores como voluntários, das escolas, unidades desaúde, anexos,FaróisdoSaber, comunidades envolvidas eoutrosparceirosinstitucionais.Adatadeimplementaçãofoinoanode2000.

2. MetOdOlOGIA e eStRUtURA

A idéia central desse programa foi implantar um modelode gestão social, baseado em ações que possibilitem odesenvolvimentosocialauto-sustentadodeumacomunidadeespecífica.

Outro aspecto relevante no “Peça por Peça” é que eleestá fundamentado na educação como fonte geradora deconhecimentoecomoaprincipalreferênciaparaqualquermodelodedesenvolvimento.

O“PeçaporPeça”utilizaasescolasdacomunidade,unidadede saúde, Farol do Saber e anexos, destes espaços físicosestãosurgindotodasasatividadesplanejadas,paraqueasescolasassumamseupapelemumcontextomaisampliado.

Nafaseinicialdo“PeçaporPeça”procurou-seidentificar,por meio de pesquisa, quais são os principais problemas,ascarênciaseosestigmassociaisdascomunidadesdaVilaVerdeeVilaBarigüi.Comesselevantamento,foramdefinidasasprioridades,asáreasdeação,osrecursosnecessáriosàsinstituiçõeseentidadesaseremenvolvidas.

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Para cada açãoplanejada foramestabelecidos indicadoresquantitativosequalitativos,bemcomodefinidasasmetas,complanodeação,responsáveiseprazos.Pequenasaçõesde melhoria, mas de forma continuada e planejada é odiferencialdesseprograma,sustentado,efetivo,mensurávelecompartilhado.Passoapasso,“PeçaporPeça”.

O “Peça por Peça” caracteriza-se, portanto, pela suaflexibilidade,focandoemresultados,valorizaçãodopapeldaeducação,estímuloaotrabalhocooperativoentreempresas,instituiçõespúblicasecomunidade,alémdepriorizaraçõesconcretas,metasdesafiadoras,porématingíveis.

Com este programa, a Bosch foi uma empresa pioneirano Paraná em desenvolvimento e aplicação de projetosvoluntários que demonstram não apenas sua preocupaçãocom responsabilidade social, mas também com suaparticipação ativa nas mudanças culturais necessárias aodesenvolvimentodacidadania.

A idéia central desse programa foi implantar um modelode gestão social, baseado em ações que possibilitem odesenvolvimentosocialauto-sustentadodeumacomunidadeespecífica, neste caso a Vila Verde. Após cinco anos deatividades e excelentes resultados, o Peça por Peça foimultiplicadonaVilaBarigüi.

A Vila Verde, comunidade escolhida pela empresa paraimplantar o projeto, tem hoje uma população de 14.000habitantes e destes, 4.000 são crianças de 0 a 14 anos(dadosdaunidadedesaúdeVilaVerde).Hoje,aVilaVerdetemaaparênciadeumapequenacidadedointerior,comamaioriadasruasasfaltadas,águaencanada,energiaelétrica,esgotosanitário,postodesaúde,escolaspúblicas,creches,linhas de ônibus, correios etc. Há também um razoávelcomércio varejista. Os moradores são desqualificadosprofissionalmenteparaos trabalhos técnicosnasempresasvizinhas. Quando conseguem emprego é para atividadesauxiliares ou serviços gerais, de baixa remuneração. Asmulheresdisputamvagasdeserviçosdomésticos,namaioria

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dasvezesalongadistância,oqueseobrigaasairmuitocedoevoltaraofinaldodia.Ashabitaçõesnãosãomaisdotipofavela,comonocomeço,emboraaindamuitomodestas,jádemonstramumarazoávelevoluçãonosplanoseconômicoefamiliar.

AVilaBarigüiestásituadanobairroCidadeIndustrialdeCuritiba e abriga, aproximadamente, 20.000 habitantes.Sua infra-estrutura urbana ainda não é 100%. As ruasprincipais são asfaltadas, têm redede saneamentobásico,energiaelétricalegaleumrazoávelcomérciovarejista.Nasviasprincipaisháescolaspúblicas,creches,postodesaúde,farmácia, lojas variadas, sendo as duas principais ruasseparadaspeloRioBarigüi.Noentanto,asruasinternasdavilasãodeterraeainfra-estruturaaparecedeumamaneiramaisinformal.

3. deSenvOlvIMentO pRÁtICO

Em2000,foiaplicadaumapesquisajuntoa30%dapopulaçãodaVilaVerdeeabordouosseguintes temas:escolaridade,documentação para o exercício da cidadania, educação,famílianaescola,ocupaçãoprofissional,habitação,saúde,hábitosalimentares,cultura, lazereutilizaçãoderecursosdacomunidade.

ApartirdapesquisaforamdefinidasasPeças:EducaçãopeloEnsino

EducaçãopeloEsporteeLazer

EducaçãonaSaúdepeloMeioAmbiente

EducaçãopelaComunicação

EducaçãopelaCultura

EducaçãoparaGeraçãodeRenda

EducaçãoSocialeProfissionalizantesparaAdolescentes

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APeçaEducaçãonaSaúdepeloMeioAmbientefoiaprimeirapeça a ser implantada. O projeto promoveu a realização de3.000examesnascriançasenosadolescentesdasduasescolasmunicipais e um colégio estadual da Vila Verde. Com essesexames, clínicos e laboratoriais, a Bosch, trabalhando comparcerias,procuroupromoveraçõesdemelhoriadosíndicesdesaúde,noaspectoeducativoepreventivo.Foielaboradoumplanodeaçãoquedavaprioridadeàsdoençasorigináriasdoproblemalixo/higieneparadepoisseremtrabalhadasoutrasdoenças.

No aspecto preventivo, já foram introduzidas em todas asdisciplinasdasduas escolas trabalhos referentes ao tema,comfoconaVilaVerde.Gruposdealunosdoensinomédio,monitorados pelos professores, montaram trabalhos sobreosprincipaisproblemaslevantadoseapresentaramparaascriançasdasescolas.

No início de 2002, os professores foram envolvidos de umamaneiramaisefetivanoprojeto.EleselaboraramdiversosprojetosqueforamimplantadosduranteoanocomapoiodealunosdasescolasedosvoluntáriosdaBosch.Sãoprojetossimples,comnecessidadeslevantadaspelaprópriacomunidade.

OutraPeçadesenvolvidaem2001foiaEducaçãopeloEsporteeLazer.AscriançasdasEscolasdesenvolvematividadesesportivas,oficinasdeaprendizagemereceberamlanchenocontraturnodeseusestudos.Odestaquedestapeçafoiqueduranteasférias,períodoemquegeralmenteascriançasficavamsemteroquefazer,aescolaficouabertapromovendocampeonatos,atividadeseducativasemesporte,oficinasdearte,teatroecinema.

NapeçaEducaçãopelaCulturaaprimeiraaçãofoiaconstruçãode um Teatro chamado Peça por Peça no terreno da EscolaMunicipalProfessoraAméricaSabóia.OTeatrotemcapacidadepara250pessoaseestásendoutilizadopelasescolasmunicipaiseestaduaisepelavizinhança,sobadministraçãoconjuntadaAssociaçãodePais,Professoresedacomunidade.

Oespaçoestásendoutilizadoparaapresentaçõesdepeçasdeteatro,oficinas,palestraseoutrasatividadesculturais.Napesquisainicialfeitanacomunidade,olazereafaltadeum

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espaçoculturalforamumdosprincipaispontossolicitados,oquecomeçaaserresolvidocomaocupaçãodesteespaço.

Na peça Educação para Geração de Renda os voluntáriosda Bosch implantaram e acompanham a “Cooperativade Costureiras da Vila Verde – Coopercostura”. Alémdisso, a Bosch construiu um espaço chamado “OficinaProfissionalizanteVilaVerde”comoobjetivodepromovercursos de capacitação técnica, desenvolvimento pessoal ecidadaniaparaadolescentesdacomunidadeVilaVerde.

“A Cooperativa de Costura” é composta por um grupo desenhorasquetrabalhamproduzindouniformesprofissionais,sacolasdeTNT,camisetasedemaisprodutos,tendoaBoscheaRaddaCalçadoscomoseusprincipaisclientes,vendendoaproduçãoedividindoassobras.OsVoluntáriosdaBoschestãodesenvolvendoprojetodesustentabilidadecomcursosmaiselaborados,paraqueelasproduzamcommaiorqualidadeediversidadepara, assim,atenderàpossíveldemandadeserviços de confecção que o comércio e as empresas daCidade Industrial de Curitiba necessitem. Desde 2006, aCooperativajáéauto-sustentávelfinanceiramente,poispagatodasassuasdespesassemdependerderecursosdefora.

Em todas essas atividades, a Bosch conta com diversosparceiros, como a Prefeitura Municipal de Curitiba, oInstitutoPró-Cidadania,oServiçoSocialdaIndústria(SESI),universidades,equipamentosdaVilaVerdeeVilaBarigüi,voluntáriosdaBoschelíderesdacomunidade.

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4. OS pROJetOS

OsprojetosdesenvolvidospelosprofessoreseprofissionaisparceirosdentrodoPeçaporPeçadivididosporbairrodeatuação,são:

4.1 Vila Verde: Escola Municipal Professora América daCostaSabóia(HigieneeSaúde;CicloeReciclo;FundodeQuintal; Criar e Brincar é Só Começar, Damas e Reis naEscola,KungFueLiteratura),EscolaMunicipalPoetaJoãoCabraldeMeloNeto (MaluquinhoporSaúde eAlegria) eColégioEstadualRodolphoZaninelli(JornalMuraleBoletimInformativo).

4.2 Vila Barigüi: Escola Municipal Pró-Morar Barigüi(ArteemMovimento,LeréSaudável,VivendooEsportenaEscola,ConstruindoaIdentidadeeHortaorgânica),AnexoPró-MorarBarigüi(Alimentação,higieneesaúde),FaroldoSaberJoaquimNabuco(HoradoConto)eUnidadedeSaúdeVilaBarigüi(MulheresemAção)

5. ReSUltAdOS

AsatividadesimplementadasdoPeçaporPeça,segundoosprofessores, foram elementos motivadores para o aumentodafreqüênciaàsaulas.Comrelaçãoàsatividadesdelazer,esportivaseculturais,houveinclusivearevelaçãodetalentoscomocampeõesdexadrezeproduçãodetextosliterários.

Dentre os resultados obtidos em uma pesquisa realizadacompaiseprofessores,95%dosentrevistadosconstatarammudançasnocomportamentodosalunosnaescola,85%dascrianças apresentaram interesse por atividades culturaise 50% descobriram algum talento específico. Além disso,87%dapopulaçãoauditadaassimilouhábitosdehigiene,emudançassignificativasforamobservadas,taiscomo:tomarbanho,lavarasmãos,escovarosdentes,cuidardoscabelos

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eroupas,melhorandoassimaaparênciadascrianças.Alémdisso, foi observado o cuidado comomaterial escolar e opatrimônio da escola. Houve também melhorias quanto ahábitosalimentares,ouseja,umaalimentaçãomaissaudável,nutritiva,variadaehigiênica.

Alémdisso,napercepçãodacomunidade,devidoàmelhorianaqualidadedaeducação,cresceramasperspectivasdeempregoparaosjovensediminuiuonúmerodecriançasforadaescola.

Em2005,oProgramaPeçaporPeçacomeçouasermultiplicadonaVilaBarigüi,aproveitandoaricaexperiênciaobtidaemcincoanosdeVilaVerde.AVilaBarigüifoiescolhidapeloscolaboradores da empresa, por meio de eleição em 2004,parareceberamultiplicaçãodoprograma.

Hoje,são21projetosatendendoàsduascomunidades,todosdeacordocomasnecessidadeslevantadasnoMapaSocialdecadaumadelas.

6. MOtIvAÇÕeS

Fatoresquedeterminamosucessodoprograma:Equilíbrio entre as ações de responsabilidade socialinternaeexterna;

Envolvimentodoscolaboradorescomovoluntários;

Desenvolvimento gerencial para a ResponsabilidadeSocial;

Parcerias;

Embasamento teórico-científico do Programa deResponsabilidadeSocialPeçaporPeça;

Planejamentosistematizadoeaçõeseducativascontinuadas;

Participaçãoefetivadacomunidade.

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Principaisdificuldadesedesafiosencontrados:Noiníciodotrabalhoconvencimentodaaltadireção;

Preparaçãoqualificadadosenvolvidos;

Poucoenvolvimentodaschefias;

Culturadoassistencialismo.

EStRAtéGiAS

Descentralização do Programa e maior envolvimento deoutrasáreasdaempresa:

Relatórios mensais apontando a programação e osresultadosalcançadosparachefias;

Desenvolvimento de um único projeto em umacomunidadeespecíficaenãoaçõespontuaiseisoladas;

Desenvolvimentodeumprogramasocialnãodirecionadoparaatividadesassistencialistas,massimparabuscadeexercerefetivamentearesponsabilidadesocialbaseadonaeducaçãoenodesenvolvimentosustentável.

7. OUtRAS COnSIdeRAÇÕeS

SistematizarumprogramadeResponsabilidadeSocial,maisdoquepretendercriarsoluçõesinovadoras,buscaconsolidarum outro pressuposto, em que a maioria das atividadessociaisimplementadas,sejamelasdecunhofilantrópicoounão, dificilmente conseguem se manter e alegando váriasrazões,masquedealgumaformasempreserefletenafaltadeumasistemáticadetrabalho,commetas,monitoramento,resultados esperados, com um planejamento estratégicoque protege as ações em curto, médio e longo prazo. Issotambém é uma evidência de que um programa social não

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direcionadoparaatividadesassistencialistas,massimparaabuscadeexercerefetivamentearesponsabilidadesocial,nãodeveternofatortempoaprincipalreferênciadesucessodo empreendimento, mas sim na existência de pequenasaçõesdemelhoria,deformacontinuadaeplanejada,auto-sustentada,efetiva,mensurávelecompartilhada.

O Programa Peça por Peça tem como pressuposto básicoqueodesenvolvimentosocialdeumacomunidadecarenteteránaeducação,oumelhor,nocontextoeducacional,suaprincipalalavanca.Procurarestimularecriarcondiçõesdeconscientizarosenvolvidosdequeasmudançasnecessáriasapenas serão efetivas na medida em que aumenta o nívelde comprometimento, ou seja, tornar-se uma populaçãocapaz de organizar-se, de preservar e defender seusinteresses e anseios, desenvolvendo seu papel naturaldo exercício da cidadania e de uma convivência socialque assegure direitos básicos que são fundamentais paraqualquerprocessodeevoluçãodeumasociedade.ABoschacredita,portanto,queumaempresa interessadaematuarde forma socialmente responsável, com ações planejadas,envolvendoseusfuncionárioscomovoluntários,buscandoodesenvolvimentosustentável,tendonocontextoeducacionalsuabasedesustentação,terácondiçõesdecolaborarparaosurgimentodeumacomunidadecidadã,emqueaspessoasnelaenvolvidas sejamcapazesde refletir e agir sobre suarealidadecotidiana.

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4. BOM AlUnO: O BRASIl pReCISA deSte tAlentO

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1. pAlAvRAS de UM “BOM AlUnO”

Sempre ouvi pessoas falarem que alguns nasceram virados para a Lua, dizendo que estas são pessoas de sorte.Eu não sou uma dessas pessoas, eu não nasci virada para a Lua, eu nasci virada para o Sol, que sempre iluminou minha vida, enchendo-a de desafios, alegrias e pessoas maravilhosas, minha família, o Alexandre e os meus amigos. Além de sorte, tive perspicácia para ver as portas que se abriam para mim e, eventualmente, algumas janelas abertas. (...)o instituto Bom Aluno do Brasil é sinônimo de dedicação, amor e fé. Fé nas pessoas, fé nas crianças, fé no futuro, fé no Brasil. E foi esta fé que depositaram em mim, em 1994, quando eu ainda era uma criança, com 10 anos, cheia de sonhos e vontades, queria ser médica, advogada, professora, talvez nunca tenha pensado em ser engenheira, mas mesmo assim, me deram a oportunidade de escolher meu caminho e correr atrás dos meus sonhos. Aprendi outros idiomas, viajei, conheci outras culturas, trabalhei no exterior e hoje, sou Engenheira, e tudo graças, principalmente, ao apoio pedagógico, psicológico e, é claro, financeiro que recebi desses anjos que Deus colocou em meu caminho e que o Sol iluminou.A maioria das pessoas que entra num colégio público, numa sala de 4.ª série, vê apenas crianças de baixa renda com cerca de 10 anos. os recrutadores do instituto Bom Aluno vêem talentos, crianças que precisam uma frase de incentivo, de um empurrão, para se tornarem Agentes de transformação social.

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Às vezes eles não acertam, poucas vezes, mas esta é a �3ª (septuagésima terceira) vez que eles acertaram e estão renovando suas esperanças pelos que ainda estão por vir (mais 400 em Curitiba, contabilizando 1.000 com as outras franquias pelo Brasil).Mas por quê? E para quê? Porque eles acreditam no potencial dessas crianças e têm certeza de que esta contribuição vai melhorar cada vez mais o nosso País, afinal, assim que tiver condições, espero também ajudar, pelo menos duas crianças, a fim de passar adiante esta corrente do bem.todos nós podemos ajudar, alguns com auxílio financeiro, outros com tempo e dedicação como voluntários e alguns, assim como eu, passando o legado adiante.o que o nosso País precisa é de educação. o que nossas crianças precisam é oportunidade.Vamos fazer diferença por um mundo melhor.Ao instituto Bom Aluno, por terem me auxiliado a chegar até aqui e ser transformação social, muito obrigada.

Evelyn Renata de Moraes fez um discurso de homenagem ao instituto Bom Aluno do Brasil - iBAB na noite de

2� de janeiro de 200�, na PUCPR. o iBAB recebeu da formanda uma placa de agradecimento e reconhecimento

ao instituto por todo o suporte material e psicológico prestado durante 12 anos.

2. ReAlIdAde BRASIleIRA

A exclusão social, as dificuldades de acesso à escola dequalidade,bemcomoamádistribuiçãoderendanoBrasil,perpetuamumasociedadeemquemaisde48%dapopulaçãoéconsideradapobreoumiserável(IPEA,2001).

E,desafortunadamente,oBrasiltemsidoapontadocomoumdospaísescommenorníveldeescolarizaçãodomundo.Entreadolescentesacimade15anoseadultos,12,4%aindasãoanalfabetos. Os brasileiros levam, aproximadamente, 11,2anosparaconcluíremasoitosériesdoensinofundamental.Das crianças com idades entre 5 e 17 anos, 12,7% delastrabalhamparaajudarnosustentodesuasfamílias,fatoqueinvariavelmenteafetao seu rendimentoescolar.Asperdaseducacionais resultantesdo trabalho infantil e juvenil sãograves,“nãoapenasporquenãoserãorecuperadasaolongo

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davidados indivíduos,mas também,porque tendema sepropagarintergeracionalmente”(SOUZA,2000).

ArealidadeeducativaesocioeconômicanacionalcriaumalacunanodesenvolvimentodoPaísque,paraalcançarumaposiçãodecompetitividadenomercado,temnecessitadodecidadãosprodutivos,comummaiorníveldeconhecimentoecultura,aptosaassumirpostosdetrabalhocadavezmaisexigentes em termos qualitativos. Para ajudar o Brasil acrescer, são necessários profissionais capacitados e, paraisso, é preciso interferir nos problemas que acarretam nafaltadequalificaçãoprofissional(DIÓRIO,2002).

Políticasinternacionais,comoasdiretrizesdaUNESCO,cujolemaé“Educaçãoparatodos”,entreoutras,apontamcomoprincipal caminhopara amudança social a escolarização,a qual seria revertida em maior qualificação profissional,seguidapormelhoressalários,oquelevariaaumaquebradocírculodepobreza.

3. CARÁteR InOvAdOR dO pROGRAMA BOM AlUnO

Éemfacedoalarmantecenárioeducacional,profissionaledeexclusãosocialvigenteemnossoPaísqueoProgramaBomAluno-PBAfoicriado.Suaatuaçãoéembasadanaidéiadeque somente com o aumento do grau de escolarização, osbrasileirosobterãoqualidadedevidaecapacitaçãobastantepara se tornar força produtiva em auxílio ao desempenhoeconômicoesocialdoBrasil.

Os profissionais que vão enfrentar o mundo modernodevemestarpreparados tantoparao trabalhoquantoparao exercícioda cidadania.Háque seultrapassar a fasedaformaçãoparaumpostodetrabalhopreparatóriadohomem,mero “executor de tarefas”. A nova educação profissionaldeve formar um trabalhador pensante e flexível, capaz deinserir-senouniversodastecnologiasavançadas.

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OsestudantesdoProgramaBomAlunosãoselecionadosna5ªsériedaredepúblicadeensinoerecebemcondiçõeseestímulospara continuaremsua formaçãoaté osníveisdegraduação e pós-graduação, inclusive, no exterior. Então,a educação é a mola propulsora para que, num primeiromomentoeemumavisãomicro,osalunostenhammelhorescondiçõesdemoradia,saúde,educação,trabalho,culturaelazer;jáemumasegundaetapaenumavisãomacro,existeodirecionamentonosentidodequeosalunosutilizemsuaformaçãodecidadãoscríticoseformadoresdeopiniãodemodoefetivo(eeficaz);estimula-seasuaintensaparticipação,afimdequecolaboremparaocrescimentodeumanaçãoforteepromissora,medianteoexercíciodacidadania.

Aoseinvestirnaformaçãodecidadãos,sãocriadaspossibilidadesparacriançastalentosasvislumbraremumfuturomelhor,noqualpoderãomudarahistóriadesuasvidase,conseqüentemente,adesuasfamílias.Osalunos,aoexerceremsuacidadaniadeformacompetente,contribuirãoparaocrescimentodeumanaçãocompetitiva, moderna e produtiva; ao tornarem seus sonhosrealidade, cada integrantedoProgramapoderáajudar outrosdoisbonsalunosatrilharemumnovocaminho,isto,seguindoamesmafilosofiae,estes,porsuavez,ajudarãonovamenteoutrosdoise,assim,sucessivamente.

4. HIStÓRICO dO pROGRAMA BOM AlUnO

Em1993,doisempresáriosparanaenses,FranciscoSimeãoeLuizBonacin,vislumbraramedecidirampelaimplantaçãodo Programa Bom Aluno. Essa decisão foi sustentada nadiscussãoentreelessobrequaldeveriaserocompromissode empresários na sociedade. Em seus questionamentos,concluíramqueamaiordeficiênciadopovobrasileiroeraafaltadeescolaridadee treinamentotécnico;portanto,paraambos,ocaminhoseguroparacorrigirasdistorçõessociaisemnossoPaísera,semdúvida,odaescola.

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As atividades do Programa iniciaram-se em 1994, com 33alunos, em uma das empresas dos idealizadores, a PinhaisEmpreendimentos Imobiliários Ltda. Em 1997, o Programacontemplava200alunose,nessemesmoano,foiavaliadoereconhecidopeloMEC,integrandooProgramaAcordaBrasil,cujoobjetivoprimordialéapoiarprogramaçõesdesenvolvidasporempresasemsuadivulgaçãonoâmbitonacional.

Em2000oProgramafoiincorporadopeloInstitutoBomAlunodoBrasil,parafinsdedifusãonacional,pormeiodomodelodeFranquiaSocial.Constituídocomoentidadecivilsemfinslucrativos,trata-sedeumaorganizaçãonão-governamental,comsedeeforonacidadedePiraquara,RegiãoMetropolitanadeCuritiba,EstadodoParaná.OendereçoeletrônicodoProgramaé[email protected],www.bomaluno.com.br.Apartirdeentão,oProgramaBomAlunonãoparoudecrescer:em2003atendeua261alunoseháprevisãodeatingir5.000alunos,brevemente,emtodooBrasil.

Atualmente,existemseisfranquiasdoProgramaBomAluno,asquaisconstituemunidadesautônomas,masqueseguemametodologiaeosprocedimentosdeterminadospeloIBAB.Este, por seu turno, fornece apoio técnico necessário àimplantaçãoeaoacompanhamentodasunidadesemquestão.São elas: PBA – Vipal (Nova Prata-RS); PBA – Maringá(Maringá-PR); PBA – Londrina (Londrina-PR); PBA– Canarinhos (Petrópolis-RJ); PBA – BH (Belo Horizonte-MG)ePBA–Adebori(Salvador-BA).

Quantoaoingressonoensinosuperior,desdequeaprimeiraturma de alunos chegou ao vestibular, em todos os anoshouve 100% de aprovação e em 2004, 50% dos alunosque completaram o ensino médio foram aprovados naUniversidadeFederaldoParaná.OutropontodedestaquedoPBAéavivênciainternacional,poismuitosdeseusalunosjá participaram de estágios, cursos de aperfeiçoamento etrabalhostemporáriosforadoBrasil,fatoquelhesviabilizaacessibilidadeaomundodotrabalhojánoiníciodesuavidauniversitária,nãorarasvezes,comsucessoenoslocaisnosquaisexercemsuaatividadelaboral.

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5. FRAnQUIAS SOCIAIS BOM AlUnO

O modelo de Franquia Social Bom Aluno tem papelde relevância, por propiciar a implantação e operaçãodo Programa Bom Aluno em diversas regiões do País,beneficiandonãosócomunidades,mascontribuindoparaoseudesenvolvimentosustentável.

Osparceirosdo InstitutoBomAlunopodemassumirduasmodalidades:adesócio-mantenedorouadefranqueado.Osócio-mantenedorpodeserumapessoafísicaoujurídicaeeleseclassificanessamodalidadeporquerepassaumvalorfinanceiropara amanutençãodeumdeterminadonúmerodealunos,emumaunidadedoPBA,jáexistente.Deoutrasorte,ofranqueadopodeconstituir-seapartirdeumúnicomantenedor, necessariamente, uma pessoa jurídica. Tantoumcomoooutrotêmosseusnomeseatuaçõesassociadosao Programa e, por conseguinte, a uma ação social que,comprovadamente,trazbenefíciosconsistenteseduradourosparaasociedade,poiscapacitaalunos,antessemperspectivadefuturo,paraatuaremnomercadodetrabalhoeexerceremseuspapéisdecidadãosbrasileiros.Esseprofissional,bomaluno, poderá ser incorporado pela empresa mantenedora.Assim,osresultadosdoProgramaacabamsendovinculadosàempresaquemantémalunos,fazendocomqueaspessoasreconheçam seu trabalho social e os benefícios queproporcionaparaacomunidadeemqueestáinserida.

AgrandemetadoInstitutoBomAlunodoBrasil-IBABédarumexemploconsistente,comresultadosexpressivos,afimdecatalisaremotivaraclasseempresarialbrasileiraasomar-seàtrabalhosatarefadereconstruçãodosvaloresimportantesparanós,especialmentenoquedizrespeitoànecessidadedeencurtaradistânciaqueseparaospobresdos ricosnoBrasil, criando condições para a transformação social dapopulaçãocarente,oportunizadapelaeducaçãoamplaedequalidade, geradora da capacidade de produtividade e demelhoriadoPaís.

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1. Vantagens de fazer parte do Instituto Bom Aluno doBrasil

Padrão operacional comprovado pela transferênciade normas e condutas de funcionamento, bem comode colaboração no planejamento e implementação deunidadedoPrograma;

Apoio técnico garantido durante o planejamento, aimplementação e manutenção de nova unidade doPrograma;

Indiscutível credibilidade, pois os bons resultadosobtidos por várias unidades do Programa viabilizamtal reconhecimento perante a sociedade e órgãos deeducaçãoededesenvolvimentodejovenstalentos;

Dimensãosocialeinternacional,vistoqueoINSTITUTOBOMALUNODOBRASILseráoórgãorepresentativoedisseminadordessafilosofianoBrasilenoexterior;

Apoiodamídia,vistoqueocrescentenúmerodealunosatendidospelasnovasunidadesdoPrograma facilita adivulgação dos resultados alcançados, bem assim dafilosofia de trabalho que norteia/direciona o ProgramaBomAluno;

Possibilidade de utilização do marketing social,associando-seàmarcaBomAluno.

2.Pré-requisitosnecessáriosparaaformaçãodeumaunidadedoProgramaBomAluno

Garantiaderecursosparaamanutençãodaunidade;

Definiçãodonúmerodealunosaseralcançado;

ComprometimentocomosprincípioscontidosnoestatutodoInstitutoBomAlunodoBrasil-IBAB,bemassimcomoobjetivoeasnormasdefuncionamentoestabelecidaspeloProgramaBomAluno.

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6. O pROGRAMA BOM AlUnO

OProgramatemporobjetivorealizartrabalhosdeprevençãoe atendimento a crianças, adolescentes e suas respectivasfamíliasemsituaçãoderisco,pormeiodesuacapacitaçãoeducacional e técnico-profissional, bem como habilitá-losquanto à cidadania e à solidariedade,paraque se tornemagentesdetransformaçãodesuasituaçãosocioeconômicaedadesigualdadesocialexistentenoBrasil.

As ações do PBA na área socioeducacional são de cunhoprotetivo e de desenvolvimento; os alunos beneficiáriosingressamnoProgramana6ªsériedoensino fundamentale são acompanhados até a pós-graduação, por intermédiode cursos complementares, ministrados no contraturno daescola,alémdeseremestimuladospelaequipe técnicadoPBAazelarempelorendimentoescolar.

ParaqueosalunosacompanhemecompareçamaoscursosdisponibilizadospeloPBAéfornecidomaterialescolar,vale-transporteeauxílioalimentação.Oscursosocorremdeumaatrêsvezesporsemana,sendoplanejadosdeacordocomafaixaetária e asnecessidadesdosalunos.Noprocessodemudançadaescolapúblicaparaaescolaconveniada(apartirda7.ªou8.ªsérie),considera-sesobremaneiraoambientesocioculturaldoaluno,isto,natentativadelheminimizarochoqueculturalepreservarasuaintegridadesocial.

O acompanhamento do aluno dentro do Programa se dávia monitoramento de seu desempenho, e o processo deintervenção individual é realizado quando necessário,visandoaoaspectopermanêncianoProgramaBomAluno.OdesligamentoéfeitopelacoordenaçãodoProgramaeocorrequando,apesardosbenefícios,oestudantenãocorrespondeàs metas exigidas, ou, solicita, por vontade própria, suadesvinculação.

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�.1 PúBLiCo-ALVo

O PBA tem suas atividades voltadas para crianças eadolescentes oriundos de famílias que denotam carênciafinanceira, cuja renda máxima atinge 1,0 salário mínimopercapita,comhistóricodevidacalcadonapobrezaenafaltadeacessoàeducação.Muitasdessasfamíliasvivememsituaçãoderiscosocial,vistoqueseusmembrosapresentamcondiçõesdesubemprego,desemprego,escolaridadebaixaeausênciade/incipientequalificaçãoprofissional,e,poristomesmo,éfato,elasestãoexpostasaumasériedeproblemasdecorrentesdetalsituação.

Os beneficiados ingressam no Programa na 6.ª série doensino fundamental e podem permanecer nele até a pós-graduação.Operfildo“bomaluno”dizrespeitoacriançaseadolescentesqueapresentemdisciplinaeinteressepelosestudos. Demais disso, no decorrer da programação asfamíliasdosalunospassama seracompanhadasmedianteaçõesespecíficas.

Ao interviremumapopulaçãonaqualo índicedeevasãoescolaréelevadoequecarecederecursosparacomplementarseus estudos, o PBA oferece cursos que auxiliem na suaformaçãoprofissionaledácondiçõesfavoráveisàprevençãode graves problemas sociais que envolvam o jovem; oProgramaoportunizaamelhoriadascondiçõesdeestudodecriançaseadolescentespobrese,deconseqüência,promoveamudançasocialdeseusintegrantes,bonsalunos,osquaisnãotransformarãonãoapenasahistóriadesuasvidas,masadeseusfilhosedasgeraçõesseguintes.

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�.2 EixoS DE DESEnVoLViMEnto Do ALUno

Após o ingresso no Programa, inicia-se a fase dedesenvolvimento do indivíduo, com fundamento baseadono investimento, além do sistema formal de ensino. Odesenvolvimentodoalunorealiza-seapartirdetrêseixosdetrabalho:oEixodeDesenvolvimentoAcadêmico,peloqualestá previsto o ensino formal (nível fundamental, médio,superior e pós-graduação) e a qualificação complementar,o Eixo de Desenvolvimento Pessoal, que promove odesenvolvimento nos aspectos comportamentais, sociais eculturaisdosalunos,objetivandotantoaformaçãoprofissionalquantoacidadã;oEixodaFamília,poisoProgramavalorizaa relação próxima com os pais de seus integrantes, visajustamenteaodesenvolvimentosaudáveldonúcleofamiliardeorigemdoaluno.

a)EixodeDesenvolvimentoAcadêmico

O ensino formal tem como objetivo promover o aumento daescolarizaçãodoaluno,paraqueestealcancesuagraduaçãoepós-graduaçãocomexcelência.Paralelamenteaoensinoformal,dá-seoensinocomplementarparaaprofissionalizaçãodoaluno.NocursodeRedação–desenvolvimentode textos eLeituraViva–háincentivoadiferentesformasdeleituraeexpressão.DuranteocursodeHábitodeEstudosãotrabalhadastécnicasdeestudoparaamanutençãoe(ou)melhoriadodesempenhoescolar; talcursoé fundamental,hajavistaqueosalunosdoPrograma provêm de realidades socioeconômicas distintas eoshábitos,bemcomoas formasdeestudar,nemsempresãoadequados.AssiméqueautorescomoDelval(2001)apontamparaosbenefíciosdessetipodeação.

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ALGUnS CURSoS CoMPLEMEntARES oFERECiDoSHábitosdeEstudo

MatemáticaeLínguaPortuguesa

LeituraViva

Projeto“DeOlhoemsuacidade”

Redação

Inglês,Espanhol

Informática

Oratória

b)EixodeDesenvolvimentoPessoal

Tal trabalho inicia-se na entrada dos alunos no PBA,geralmente,na6ªsérie,esedesenvolveatéofinaldesuaestadacomoalunodoPrograma,ouseja,éocursocommaiortempoecargahoráriadoPBA,vistoqueseufoco tratadeimplementarnosparticipantescomportamentosnecessáriosàsuaplenaadaptaçãoanovoscontextos(entradanoPrograma,mudançadeescola,adaptaçãoaoensinomédioesuperior),informaçãoevisãocríticaarespeitodeseucontextosocial,desuafasededesenvolvimento;alémdisso,promovejuntoaeles,acapacidadedeescolhaprofissionaledeadequaçãodoperfilprofissional,entreoutrostantostemastrabalhadosnodecorrerdosanosdeDP.

AlgunscursoscomplementaresoferecidosSexualidade

Gravidezzero

Escolhadoparceiro

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Educaçãofinanceira

Escolhaprofissional

Empregabilidadeemercadodetrabalho

Oprofissionaldofuturo

Planodecarreira

o PAPEL DE AGEntE tRAnSFoRMADoR SoCiAL

Os estudantes beneficiados são sensibilizados a secomprometercomasociedadeemgeralecomacomunidadeemqueviveme,paratanto,sãoorientadosaorganizaraçõesvoluntárias e sociais, dentro e fora do PBA, auxiliando,também, outros bons alunos, da mesma forma que foramajudados. O trabalho se inicia no ensino fundamental,mediante a realização de atividades de conscientização,debates e reflexões, ações práticas e voluntárias. Taisatividadesocorremnoscursoscomplementares.Noensinosuperior,háumprojetoespecífico,desenvolvidonosentidode que os universitários sejam autônomos no exercício dasolidariedadeedovoluntariado.

c)Eixodafamília

NaconcepçãodoPBA,afamíliadoalunodevecumprirseupapeldecriareorientarseusfilhosparaavida.Entretanto,dada as exigências decorrentes da participação do alunono PBA, a família deve ser apoiada e fortalecida para seadaptaraessanovarealidade.Assim,constituindo-secomomaisumpilardametodologiadetrabalhodoPBA,existeoEixodeDesenvolvimentodePais,que trazparadentrodoPrograma os familiares dos alunos. Tal Eixo segue aquiloquealiteraturaapontacomofatordiferencialparaosucessode programas preventivos: a inclusão familiar como parteintegranteeativadoprocesso.

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AtiViDADES DE DESEnVoLViMEnto DA FAMíLiACursodeintegraçãodepais

Adolescência,sexualidadeedrogas

Empregabilidade

7. AlGUMAS vItÓRIAS

O Programa Bom Aluno constitui-se num investimentoprogramado, de retorno garantido no que se refere àsatisfaçãopelosucessodosalunos,osquaissecaracterizam,principalmente,porserempessoasinteressadas,dedicadas,disciplinadas e com iniciativa. Ou seja, eles possuemconsciência clara dos seus objetivos de vida, esforçam-separaseremexcelentesprofissionais.

RESULtADoS ALCAnçADoS PELo PBA

a)Aumentodaescolarização,seminterrupçãoourepetênciaparaosalunosdoPrograma;

b)Médiade1%deperdadealunos,noensinomédio;

c) 100% de aprovação nos vestibulares desde quandocomeçaramaprestaressesexames(1998a2007);

d) Entre os aprovados nos exames vestibulares, 50%conquistaramentreostrêsprimeiroslugares;

e)Marcade1º lugargeraldovestibularnaUFPRem2000,PUCPRem2001,UNIBRASILem2005eUNIFAEem2006;

f)Formaçãoprofissionaldealtonível–itemcujaocorrênciasedápormeiodeumaescolhacriteriosadasinstituiçõesdeensino médio e superior. No ensino superior os alunos doProgramaestudameminstituiçõesidôneas,commaisde20anosdeserviçoeducacionais;

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g) Qualificação profissional, viabilizada pelo exercício deatividade laboral: universitários são inseridos no mercadodetrabalhopormeiodeestágiosouempregoemempresasdeporte;

h)OsparticipantesdoProgramatambémtêmalcançadoosprimeiroslugaresemconcursosparaoensinomédio,ensinoregular e cursos extracurriculares, cursos avançados delínguasnoBrasileexterior.

Resultados indiretos que podem ser observados atingemáreascomo:

A CoMUniDADE

Os alunos servem de exemplo para muitos estudantes,umavezqueparaumbomalunosempreseapresentammaioresoportunidadesnavida.

A FAMíLiAPerspectivadeumfuturomelhorparaoseufilho;

Auxilio e estímulo aos irmãos e primos nas atividadesescolares;

Incentivoàmelhoriadevida,medianteamassacríticaformadapelospróprios filhos,queacabampormotivarospaisparaarealizaçãodeseussonhos,aexemplodaperspectivaderetornoaosestudos.

A ESCoLA

Osalunosincentivamoutroscolegasamelhoraremsuasnotas,e,conseqüentemente,oaproveitamentoescolar;

CorpodocentedaescolasesenteorgulhosoporparticipardoPrograma.

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ExPAnSãoFormação de novas parcerias, mediante a atuação deinstituiçõeseprofissionaisquebuscamconstituirnovasFranquiasSociaisdoProgramaBomAluno.

8. pReMIAÇÕeS

O Programa Bom Aluno já foi reconhecido diversas vezescomo um importante fator de transformação social. EntrealgunsprêmiosconquistadospeloProgramaestão:

ABRH–PR2000–IBAB2000

TalentodoParaná2000–IBAB2000

FundaçãoBancodoBrasil–TecnologiaSocial– IBAB2001

Valor Social – Jornal Valor Econômico – BS Colway2003

LIF–CâmaradeComércioFrançaBrasil–BSColway2004

FAE – FIEP – Responsabilidade Social – BS Colway2004

FIEP–MedalhadeMéritoIndustrialdaFederaçãodasIndústriasdoEstadodoParaná(FranciscoSimeão)–BSColway2006

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ReFeRÊnCIAS

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DELVAL,J.Aprendernavidaeaprendernaescola.PortoAlegre:Artmed.2001.

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5. InOvAÇÃO SOCIAl e pARCeRIAS eStRAtÉGICAS

A pRÁtICA dO pROGRAMA COMUnIdAde eSCOlA de CURItIBA

Liliane Casagrande Sabbag Christian Luiz da Silva

1. IntROdUÇÃO35

AcidadedeCuritibaenfrentou,especialmentenadécadade70,aurbanizaçãoacelerada,emgrandeparteprovocadapelasmigraçõesdocampo,oriundasdasubstituiçãodamão-de-obraagrícolapelasmáquinas.Em1970,apopulaçãodeCuritibaerade609.026habitantes.Em2000,Curitibacontavacomumapopulação1.587.315 (100%urbana) (IPPUC,2006).Uma cidade, que como muitas regiões metropolitanas, sedesenvolve em “várias cidades”. Abramovay, Waiselfisz,Andrade e Rua (2002, p. 37) argumentam que “existeumadissociação física entre os grupos sociais emcidades

3� os autores agradecem à Prefeitura Municipal de Curitiba pela possibilidade de participação e sistematização das informações relativas ao Programa Comunidade Escola como agentes diretos de desenvolvimento dessa política pública. os autores agradecem também ao corpo técnico da Unidade Gestora do Programa, Adriane Aparecida Mayer Seixas Pombeiro, Eliane de Fátima Elias Machado, Marise Jeudi Moura de Abreu e Suzana Cristina A. Pianezzer, e do Departamento de Planejamento e informações da Secretaria Municipal de Educação, Cléa Mara Félix e Márcia Helena Carvilhe, pelo apoio na sistematização das informações relativas ao programa apresentadas neste artigo.

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diferenciadas, enclaves, com uma forte concentração dapopulação com menos recursos nas cidades da periferia–cidadesdericoecidadesdepobre”.Esteconvívioocorredentrodeummesmo limítrofedenominadomunicípioquetraz realidades opostas com ações de uma administraçãopúblicaúnica.Taisdivergênciasdemandamaoadministradorpúblico compreender essas diferenças e dar oportunidadeaospertencentesaos“enclaves”desedesenvolverem.Umasdessasalternativaséaatraçãoecriaçãoderedesegestãosocialapartirdoestabelecimentodeumespaçocomum:aescola. Braslavsky e Werthein (2004) trazem exemplos daconstituição histórica de países como Finlândia, Irlanda,Malásia,Espanha,CoréiadoSuleReinoUnidoeassociaoseudesenvolvimentoàformadeestruturaçãodoseusistemadeensinoedopapeldaescola.Vinculandoopapeldaescolapara a comunidade epara aspessoas, os autores afirmamque “education plays a fundamental role in the struggle against social exclusion, in the promotion of social cohesion and sustainable development, and in the development of fairer and more democratic societies”. Esta base sustentaprogramasdeabrirasescolaspúblicasnosfinaisdesemanaoferecendoacomunidademarcadapeloprocessodeexclusãosocial atividades que a desenvolvam (UNESCO, 2006).Com este intuito, Curitiba criou o Programa ComunidadeEscolaem2005paraasescolasmunicipaiscomvistasaodesenvolvimentosustentável36domunicípio.

OobjetivodesteartigoérealizarumaavaliaçãopreliminardomodelodegestãoedasparceriasestratégicasdoprogramaComunidadeEscoladeCuritiba.Salienta-sequeaavaliaçãoé preliminar pelo pouco tempode existência doprograma(menos de dois anos) e que se consideram as parceriasestratégicascomoacontribuiçãoquesetoresdasociedade,comoinstituiçõesacadêmicas,empresas,associações,igrejaseterceirosetor,desempenhampararealizaçãodoPrograma.

3� Entende-se por desenvolvimento sustentável neste artigo como “um processo de transformação que ocorre de forma harmoniosa nas dimensões espacial, social, ambiental, cultural e econômica a partir do individual para o global. Essas dimensões são inter-relacionadas por meio de instituições que estabelecem as regras de interações e, também, influenciam o comportamento da sociedade local” (SiLVA, 200�).

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Parte-se do pressuposto que a formação e a informaçãode crianças, jovens e adultospodemcriar umaculturadeincrementodarelaçãosocialdacomunidadelocal,criandoumaestruturasolidificante.

OmodelodegestãoadotadonoProgramaComunidadeEscolaprocuraimplementarumprocessodeinovaçãosocial37,namedidaemqueestabelecesignificativadinâmicadeinteraçãoentre Estado e sociedade, tendo em vista a expansão dacidadaniaeareduçãodaexclusãosocial,atransformaçãodepráticaseprocessosdegestãopúblicaeodesenvolvimentode novos instrumentos e metodologias de planejamento,tomadadedecisões,implementaçãoeavaliação.

Este artigo está organizado em cinco seções, incluindo estaintrodução.Asegundaseçãoapresentaalgunsmodelosdegestãosocial similares ao programa em discussão com a finalidadedeavaliá-loscomparativamente.AterceiraseçãoapresentaoprogramaComunidadeEscoladeCuritiba,seumodelodegestãoeaquartaseçãoapresentaumaavaliaçãopreliminarapartirdepesquisasrealizadascomacomunidadeecomoscoordenadoresdeárea(gestãodescentralizada).Aquintaseçãoapresentaasconsideraçõesfinaisepropostadenovostrabalhos.

2. MOdelOS pARtICIpAtIvOS envOlvendO AS eSCOlAS

Oscomponentesprincipaisdasiniciativasdedesenvolvimentolocal são, segundoLorens, citadoemFischer (2002,p.27):desenvolvimento territorial equilibrado, criaçãode entornosinstitucionais, desenvolvimento do potencial local ereorganizaçãodasbaseslocais.Esselocalremeteaoâmbitoespacialdelimitadoeaoespaçoabstratoderelaçõessociais.

3� no caso da gestão pública a inovação social está associada muito mais a uma mudança de postura, que se reflete em ações que introduzem posições e valores de combate à exclusão causada pela disparidade de renda e também pela falta de acesso aos serviços públicos, do que a uma inovação tecnológica (PinHo E SAntAnA, 1998).

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Sob essabase, programasque seutilizamna escola comomeio irradiador da integração social e empoderamento dasociedadelocaldesenvolvemoufortalecemlaçosfortesentreaspessoas,transformando-asemumacomunidade.

A Unesco proporciona programas, metodologia e açãoconstrutivadesdefinsdadécadade90queprivilegiamaescolacomoespaçoparadesenvolvimentodeatividadesintegrativas,tais como os programas: Escolas da Paz no Rio de Janeiro(abertoem2000),EscolaAbertaemPernambuco(cominícioem 2000) e a Abrindo Espaços da Bahia (aberto em 2001)(NOLETO,2004,p.55-85).AEscoladaPazbuscaconsolidaraescolacomoindutorade“processosdeformaçãoéticaecidadã,promovendooacessoaosjovensabenseserviçosculturaiseesportivos”(NOLETO,2004,p.61).OprojetoEscolaAberta,segundopesquisarealizadapelaunidadegestoradoprograma,mostrouumamelhoraem todasas“unidadesdeensinocomrelação ao interesse da comunidade pela escola, na relaçãoentreprofessoresealunos,narelaçãoentreosprópriosalunos,na diminuição do vandalismo e depredação e nas ofensaspessoais,entreoutrostiposdeviolência”(NOLETO,2004,p.66),similaraosresultadosalcançadospeloprogramaAbrindoEspaçosdaBahia.

Outras experiências, em parceria com a UNESCO, podemser observadas nos Estados de São Paulo, Rio Grande doSul, Piauí, Minas Gerais e no município de Juazeiro. Emtodas estas alternativas observa-se uma incorporação dacomunidade ao programa, pela carência que possuíam dealternativasdepromoção localdeações sociais, culturais,educacionaiseeconômicas.Háumatendênciadeapopulaçãolocalinteragirintensamentecomoprogramaecriarlaçosderelacionamentoquepermitemcriaralternativasàdiscussãododesenvolvimentolocal(NOLETO,2004;UNESCO,2006;ABRAMOVAY,WAISELFISZ,ANDRADEeRUA,2002).

A próxima seção tem o objetivo de apresentar o modelodesenvolvido para Curitiba a fim de caracterizá-lo paraposteriormenteapresentarresultadosparciaisapósdoisanosdedesenvolvimento.

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3. pROGRAMA COMUnIdAde eSCOlA: MOdelO de GeStÃO e pARCeRIAS eStRAtÉGICAS

A Prefeitura Municipal de Curitiba, em sua atual gestão2005/2008,estabeleceoProgramaComunidadeEscolacomouma de suas prioridades no âmbito das políticas públicasde desenvolvimento social. Coordenado pela SecretariaMunicipal da Educação, o programa consiste em espaçoprivilegiadoparaaintegraçãodasdiversaspolíticaspúblicasepotencializaçãoderecursosdassecretariasmunicipaisdoEsporteeLazer,Saúde,DefesaSocial,Abastecimento,MeioAmbiente, Comunicação Social e Governo Municipal, daFundação Cultural de Curitiba, Fundação de Ação Social,Curitiba S/A, Instituto Curitiba de Turismo, InstitutoMunicipal de Administração Pública - IMAP e InstitutodePesquisaePlanejamentoUrbanodeCuritiba - IPPUC,da participação direta das Administrações Regionais, dosNúcleos Regionais de Educação e das escolas da RedeMunicipal de Ensino com quadras de esporte e canchascobertas,laboratóriosdeinformáticaconectadosàinternet,bibliotecaspúblicas,cozinha,salasdeaulaeauditórios.

O programa iniciou com a implantação do projeto piloto,em maio de 2005, em nove unidades de ensino, uma emcadaAdministraçãoRegionaldacidade.Em16/08/2005foiinstituídaaUnidadeGestoradoPrograma-UGP,pormeiodoDecretono1.218,eoprogramafoilançadooficialmente,comexpansãoparamais21escolasaténovembrode2005.Os critérios estabelecidos para indicação das escolas sãoa vulnerabilidade social no entorno da escola; condiçõesdas instalações físicas para realização de atividadessocioeducativas;interessedadireçãodaescolaemparticipardo programa. Inscreveram-se nesse momento 35 escolasparaparticipardoprograma.Atémaiode2007,53escolasmunicipais, 3 bibliotecas escolares e 12 Faróis do Saber,anexos a essas unidades, passaram a permanecer abertosparaacomunidadenosfinaisdesemana.Prevê-seaexpansão

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gradativa do programa de modo a atender à demanda dascomunidadesqueresidempróximasàsunidadesdeensinodaredemunicipal.

AimplantaçãodoProgramaComunidadeEscolatemcomoresultadosdesejadosaconsolidaçãodeumnovoformatoderelaçãodacomunidadecomaescola,transformandoaescolaem local de referência onde a população possa encontraratividadeseducacionaisgratuitasparaqualquerfaixaetária;a perspectiva de profissionalização; o acesso aos diversosserviçospúblicos:oacessoàinformáticaeàinteratividade;amelhorianascondiçõesdeaprendizagemescolar,garantindooingresso,oregresso,apermanênciaesucessoeducacional;apromoçãodeumaculturadepaz,comareduçãodosíndicesde violência, depressão, solidão, estresse, drogadição,degradaçãodeespaçosedistúrbiossociais;ofortalecimentodas relações familiares; a valorização do papel social daescola;oreconhecimentodaescolacomoumlugarprazerosoedeconvíviocordialesolidário;avalorizaçãodotrabalhovoluntário; o desenvolvimento de vocações e habilidadesnaturaiseapromoçãodaorganizaçãosocial.

Desde sua concepção, o Comunidade Escola tem sidoimplementadodemodointersetorial,pormeiodeinstânciasrepresentativasdonívelcentral,regionalelocaldogovernomunicipal,ecompartilhadocomasociedade,visandogarantirumaleituraintegradadasdemandassociaiseaanálisedaspossibilidadesdosdiversosatoresdemodoapotencializarascompetênciaseosrecursosdosentesmunicipaisedosparceirosdasociedade,visandoaodesenvolvimentosustentávellocal.Naprática, essemodelo articulaplanejamento e orçamentomonitoradoereferenciadonosindicadoressociaisedemandasdascomunidadeslocais.Descrevem-seaseguirasprincipaiscaracterísticasdomodelodegestãoadotadoparaoprograma:

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1.Estratégica–oprogramaestácontínuaesistematicamentesendodirecionadoparaatingirsuamissão,numaperspectivadevisãodefuturo.Paratanto,ocenárionoqualoprogramaestáinseridoéanalisado;objetivoseprojetosdefinidos;eosmodosdeaçãoparaviabilizá-lostraçados,bemcomoomonitoramentodesuaexecuçãoeanálisedaadequaçãodasestratégias.

2.Compartilhada–oprogramapressupõeaampliaçãodoscanaisdecomunicaçãoentreopoderpúblicomunicipaleasociedade,visando a co-responsabilidade na gestão e potencializaçãode recursos, por meio do estabelecimento de parcerias cominstituições de ensino, empresas, terceiro setor, associações,igrejas e cidadãos/voluntários. O mapeamento de recursos epotencialidades das comunidades busca adequar as ações doprogramacomarealidadelocal,eadefiniçãoemconjuntodeprioridades.Aavaliaçãodesseprocessoedeseusresultadosérealizada junto comosparceiros, comvistas a relação ganha-ganha.Ainserçãodacomunidadenagestãodoprogramaocorrenosdiferentesmomentosdeplanejamento,execuçãoeavaliaçãodoprograma,valorizandoiniciativaslocaisdesenvolvidaspelasadministraçõesanterioresemconjuntocomentidadesprivadasecomunitárias.

3. Descentralizada – o programa é planejado, implantado eavaliadopeloColegiadodeÓrgãos–nívelcentral,ColegiadosRegionais e Comitês Locais nas escolas, de modo a garantira complementaridade entre os três níveis de gestão. Adescentralização agiliza o tempo de resposta, aproxima oscidadãosdosprocessosdecisórios,produtoseserviçospúblicos.

4.Intersetorial–possibilitaaleituraintegradadasdemandas,favorecendo a visão holística da realidade local, além depossibilitar a integração de recursos humanos, financeiros,materiaiseintelectuais.Asavaliaçõessetoriaissãointegradasemanáliseconjunta.

5. Voltada para Resultados – trata do grau com que seatinge os objetivos e as metas – eficácia; relação custo xbenefício–eficiência,eoimpactodasaçõesnacomunidade– efetividade. Indicadores são definidos, medidos einterpretados,permitindoaanálisedosresultadosobtidos.

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OmodelodegestãodoProgramaComunidadeEscolacumpreafunçãodeorientarosatoresinternoseexternosàprefeituraparaaaçãosinérgica.Tratadecomoosdiversosagentesdoprogramaseorganizamparacumprirosobjetivos,demaneiraquearealizaçãodecadaumgarantasuasatisfaçãoeaindaconstruaoresultadoconjuntopretendido.

Oprogramaestáfundamentadonofuncionamentomatricialtantoemsuasatividadesfinalísticasnascomunidadeslocaisquanto nas atividades intermediárias que permitem seufuncionamentoemconsonânciacomasdiretrizesjurídicas,financeiraseadministrativasdaPrefeituradeCuritiba.

A gestão do programa está pautada em quatro instâncias,de acordo com nível de atribuições e responsabilidades:estratégico,táticoeoperacional,conformeilustraafigura1.

ColegiadodeÓrgãos:compostopor representantesdassecretarias e órgãos municipais indicados por seustitulares, e representantes de instituições parceiras.Tem como principais atribuições o planejamento e aintegração dos projetos setoriais, acompanhamento eavaliação do programa, articulação das propostas deinstituiçõesparceirasedesenvolvimentodeestratégiasvisandoàsustentabilidadedoprograma.

UnidadeGestoradoPrograma-UGP:coordenadapelaSecretaria Municipal da Educação, é composta porrepresentantes das secretarias municipais do Esportee Lazer, Saúde, Defesa Social, Fundação Cultural deCuritiba,FundaçãodeAçãoSocial.Temporprincipaisatribuiçõesaarticulaçãodosdiferentesníveisdegestãodoprograma; formalizaçãodeparcerias;elaboraçãodemanuais, documentos, formulários, relatórios; gestãode estagiários universitários e voluntários; planos decapacitação; monitoramento e avaliação; divulgaçãonasdiversasmídias;articulaçãodasdemandascomosaspectosadministrativos,legais,fiscaisefinanceiros.

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Colegiado Regional - COR: coordenado pelosadministradores regionais, é composto por gerentesregionais dos órgãos da prefeitura, pelos diretores dasescolas do programa e por um Coordenador de Área,indicadopelaSecretariaMunicipaldaEducaçãoeUGP.Tem como principais atribuições planejar e avaliar oprograma considerando as especificidades regionaise locais; buscar parcerias; promover a integração daspolíticaspúblicasedosdiversosagentesemsuaregional;seroórgãodeinterlocuçãoentreonívellocaleaUGP.

Comitê Local – COL: Constituído por ProfessoresCoordenadores, representantes da direção da escola,pais de alunos, representantes da comunidade local,agentessociaisdaprefeitura,empresários,terceirosetoreinstituiçõeslocais,temporprincipaisatribuições:planejar,implantareavaliaroprogramanaescola; identificarosinteresses da comunidade; definir a agenda de projetoslocais;gerenciarasaçõesdosagenteslocaisdoprograma(voluntários, estagiários, representantes das instituiçõesparceiras e agentes sociais da prefeitura); promover aarticulaçãoentreacomunidadelocal,órgãosdaprefeitura,empresas e entidades representativas de movimentossociais,formandoredesdecolaboraçãolocal.

Oprocessodegestãodoprogramapressupõeacompreensãodarealidade,apercepçãodeoportunidadeseaproposiçãodeintervençõesvisandoàsmudançasnecessárias.Garanteespaçoparaoinesperadoeimprovável,numpermanenteexercíciodereflexãosobreasaçõeseseusimpactos.Agarantiadeespaçosinstitucionaisfavoráveisaoaprendizado,trocadeexperiênciaseproduçãodeconhecimentoétarefadetodos.

Dentre osdesafios a seremobservadosna implantaçãodoprogramaestáanecessidadedegarantirsuauniversalização,evitar paralelismos com ações voltadas ao mesmo fim,considerar as necessidades da comunidade e adequar ecapacitarosrecursoshumanosàsdemandasdoprograma.

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Cada agente representa uma liderança do programa,dentrodesuacompetênciaegraudeinfluência.Todossãoresponsáveispelasustentaçãoepeloaprimoramentocontínuodo programa, de modo a gerir “junto com” e não “para”.Ahabilidadedesseslíderesemagregarpessoas,explicitarmetas e objetivos tem-se demonstrado essencial para oalcancederesultados,umavezquea literaturademonstraque,maisdoquebonsinstrumentosemetodologiasdegestão,oquefazadiferençanasaçõesdesucessoéainteligênciaeacriatividadenautilizaçãodessesrecursospelaspessoas.

Figura 1: Estrutura de Gestão do Programa Comunidade Escola

Colegiadode

Órgãos

UnidadeGestora doprogramaUGP

ColegiadoRegionalCOR

ComitêLocalCOL

ComunidadeOrganização SocialMobilização dePareceriasFórum LocalPauta de

Necessidades

EscolaDireçãoProjeto

PedagógicoEstrutura FísicaSuporte Lógico,

Físico e Operacional

5 membros(Professor, Agente Social da PMC.

Empresas, ONGs,Pais)

Fonte: Unidade Gestora do Programa, 200�.

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3.1 AçõES SoCioEDUCAtiVAS

OPrograma temsidooperacionalizadocomaaberturadasescolas municipais nos finais de semana, com atividadessocioeducativas gratuitas ministradas por voluntários,estudantes universitários, instrutores, representantes deinstituições parceiras e servidores municipais, de acordocomasdemandaslocais.

Asaçõessocioeducativasdoprogramasãoconcebidasapartirdaintegraçãodaspolíticaspúblicaseestão,didaticamente,apresentadasem

cincoeixos:Saúde:visaestimularoautocuidadoeocuidadocomomeioambiente;aprevençãodedoenças;aprevençãoasituaçõesdeviolênciaeacidentes,entreoutros.

EsporteeLazer:visaestimulararealizaçãodeatividadesfísicaseducativas,inclusivas,cooperativasesaudáveis.

Cultura: fomento e difusão de atividades artísticas –literatura,música,dança,cinema,teatroeartesvisuais.

Educação e Cidadania: ações para o desenvolvimentosocioculturalepolíticodocidadão.

Geração de Renda: estímulo ao desenvolvimentoeconômicodocidadãoedacomunidade.

As propostas de ações socioeducativas são transformadasem projetos avaliados pelos Comitês Locais, e desde queatendamaointeresseeàespecificidadedecadaComunidadeEscola,sãoaprovadaspara implantaçãoemonitoradasporessainstância.

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3.2 GEStão SoCiAL PARCERiAS EStRAtéGiCAS

As parcerias desenvolvidas pelo Programa têm uma especialcaracterística: a espontaneidade das partes para estabeleceruma relação a partir de um objetivo comum de promover odesenvolvimento da comunidade. A Unidade Gestora doPrograma -UGPpromoveoComunidadeEscolaparaagenteslocaisinteressados,masnormalmenteéapenasumindutorparaque as organizações procurem a unidade gestora para proporparceriasdeatuaçãonacomunidade.Estasparceriasvisamatingirtodasasaçõessocioeducativas,particularmentecadapromotordeatividadeemsuaespecialidade,masqueabrangepraticamentetodasasdimensõesdodesenvolvimentosustentável.

Em termos econômicos, existem parcerias de geração derenda,comoasaçõesdoprojetoIndústriaItinerantedaFIEP–SESI/SENAI.AquestãodasaúdeperpassaematividadescomodaCOAN,ServiçoseAlimentaçãoedaRisotolândia,quebuscamdesenvolveraeducaçãonutricionaleovalordosalimentossaudáveis.Aeducaçãoeacidadaniasãomotivosdeoficinasdeinformática,comoaparceriacomaUnibrasil,ocursopré-vestibularcomaEducon,ocursodelinguagemde surdos – Libras – pela Pastoral dos Surdos. A culturapode ser vista com palestras sobre a não-violência, pelaCiênciaMeditativa,oucomprojetodecontaçãodehistóriase oficinasde línguasdaPUCPR.A liderançacomunitáriae do programa, visando ao empoderamento local, podeser vista nas parcerias com a Landys Gyr e no Centro deCombateaViolênciaInfantil-CECOVI.Oesporte,também,podeservistoemváriasparcerias,comoemconjuntocomaFEPALAeFederaçãoParanaensedeTênis,alémdeaçõesqueperpassamtodososeixosemparceriascomosclubesdeRotarydoDistrito4370(quadro1).

Outrasinstituiçõesestabelecemparceriaslocaisdiretamentecom os Comitês Locais e Colegiados Regionais, como aGazetaAlternativaeFolhadoCampodeSantana–jornaisdebairro–quecontribuemnadivulgaçãodoprograma.

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Igrejas de diferentes orientações, como Paróquia ProfetaElias,IgrejaSãoJosédasFamílias,CapelaSãoVicentedePaulo, Assembléia de Deus, Nossa Senhora de Lourdes,ComunidadeKarismaeComunidadeSãoPedro, 4.ª IgrejaQuadrangular, Igreja Irmãos Menonitas do Xaxim, IgrejaInternacional,ParóquiaSantoAntôniodeOrleansencontramnoComunidadeEscolaespaçoparapromoçãodacidadaniaedevaloreséticosdeconvivência,estudosbíblicos,promoçãoda culturadepaz e respeito àsdiferençasde credo, alémde promoverem casamentos ecumênicos, batizados, cursoscomoorçamentofamiliaredesaúde,divulgaçãodoprograma,atividades esportivas e culturais voluntárias como coral,arbitragemdejogos,recreação.

Organizações não-governamentais também são parceiras doprogramacomoaLegiãodaFraternidade,querealizapalestrassobreeducaçãoecidadania,seguidasdedistribuiçãodealmoçoaosdomingosparafamíliascadastradas.APastoraldaCriança,comoficinasdenutrição;Criarte,comapromoçãododespicheeapresentaçãodeteatroseencontrosdeHip-hop;ONGProjetoGeraAção;ONGGrêmioEsportivoJovemdaPaz.

AssociaçõesdeMoradorescomoaParigotdeSouza,Asmocult,Amigos do Jardim Aliança, Duque de Caxias, Tapajós,Vila Pantanal – Amoviplan, Bairro Atenas, Andorinha eNova República, Parolim, Arranom, Moradores de 1º deJulho, Clube Beneficente de Mães do Jardim Pinheiro ePlantaSanta,Tapajós,têmseintegradoaosComitêsLocaiscontribuindo na organização do programa em nível local;buscando outros parceiros e voluntários; desenvolvendooficinas como bordado e escolinhas de futebol; doandomateriais,troféus,brindes;organizandotorneiosesportivos.AAssociaçãoCapoeiraKauande,comoficinasdecapoeira.

Empresasdediferentessetoresparticipamdoprogramacompromoçãodeeventos,comoaKaléoPresentes;comdoações,divulgaçãodoprograma,promoçãodeoficinas,comoEmpresaNew Laser Fotolitos, Marli Presentes, Marcelo Enxovais,SupermercadoPacelli,SupermercadoTissi,MercadoIdeal,Posto de Combustível Bela Vista, Mercado Santo Antonio,

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Elétrica Chiquinho, Panificadora Vovó Geni, PanificadoraAvenida,SilvinhaModas,EstiloPróprio,SalãoLadyLord,SalãoLinoAnjo.AescolaprofissionaldecabeleireiroRuthJunqueira,doaçãodeDVDspelaStudioVídeo,

Além das instituições de ensino superior parceiras doprogramacomaçõesemmaioráreadeabrangência,comoasindicadasnoquadro1,nonívellocaloprogramacontacomaparceriadasFaculdadesSantaCruz,comcursosdelínguasestrangeiras,reforçoescolar,entreoutros;edasFaculdadesDom Bosco. Essas instituições encontram no programapossibilidade de desenvolver estágio extracurricular paraseusestudantesnosfinaisdesemana.

A rede de atores do programa também inclui estudantesuniversitários contratados para o desenvolvimento deatividades dentro de sua área de formação. Atualmenteoprogramaconta commaisde300estudantesdos cursosdeeducação física,cultura,nutrição,edecursosvariadospara as atividades de inclusão digital nos laboratórios deinformáticaeFaróisdoSaber.

Outro importanteatordoprogramasãoosvoluntários.Hojesãomaisde300pessoasquedisponibilizamseutempoparacompartilharcompetênciasehabilidades,nasdiferentesáreasdoconhecimentohumano,desdeoficinasdelatim,espanhol,inglês, dança, artes, culinária, artesanato, até cursos depedreiro,elétricabásica,cursosdeDJ–DiskJóquei.

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PARCEiRo PERíoDo AçõES

UnESCo Desde 200�Cooperação técnica visando à consolidação do programa.

Federação das indústrias do Estado do Paraná/SESi/SEnAi

Desde 200�Ações do projeto indústria itinerante, de cultura e de esporte e lazer.

Landis+Gyr Desde 200

qualificação em gestão e competências interpessoais para agentes do programa – professores coordenadores e coordenadores de área.

Risotolândia - Serviços de Alimentação

Desde 200�

Desenvolve o ensino do valor dos alimentos saudáveis por meio da cozinha experimental, peças teatrais, palestras.também participa voluntariamente em eventos do programa fornecendo lanches.

Ciência Meditativa Ltda.

Desde 200�

Palestras e cursos, proferidos por Vitor Caruso Junior sobre a cultura de não-violência para professores, estagiários e voluntários do Programa.

CoAn, Serviços e Alimentação. Desde 200�

Desenvolvimento de atividades educativas, culturais e de entretenimento como peças teatrais, oficina de culinária e palestras de educação nutricional. também participa voluntariamente em eventos do programa fornecendo lanches e cafés da manhã.

EDUCon – Sociedade Civil de Educação Continuada Ltda.

Desde 200�

Curso a distância para pré-vestibular, com o projeto piloto nas escolas municipais Durival Brito e Silva e Maria do Carmo Martins. implementação de novas escolas em 200�.

ESSo Brasileira de Petróleo LtDA

Desde 200�Doação de 1�0 CPUs para os laboratórios de informática.

Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC

Desde 200�

Projeto Comunitário com atividades por meio da Caravana Escolar e Comunhão do Saber, cujos estagiários voluntários desenvolvem atividades como: de lazer, esporte, orientações jurídicas, contação de estórias, oficinas de línguas, em ter outras, nos finais de semana com a comunidade.

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PARCEiRo PERíoDo AçõES

UniBRASiL Desde 200�oficinas de informática e atividades físicas e de saúde da família.

Universidade tuiuti do Paraná – UtP

Desde 200�

• implantação de Rádio Comunitária• Jornal mural• Declaração de imposto de renda para isentos• orientação jurídica• Projeto turismo Virtual pela internet• Projeto de Biologia

Federação Paranaense de tênis

Desde 200�oficinas de tênis com professores e estagiários da Federação

Rotary internacional – Distrito 4�30

Desde 200�

implantação do projeto “Rotary: uma ponte para o futuro das crianças”, com atividades voluntárias visando à integração familiar, o desenvolvimento das aptidões profissionais, à melhoria do nível cultural, à prática de esportes, à segurança alimentar, à conscientização sanitária, à saúde, ao meio ambiente e à cidadania.

Centro de Combate a Violência infantil -CECoVi

Desde 200�Capacitação de multiplicadores da comunidade e da prefeitura para o combate à violência infantil

Faculdade Evangélica – FEPAR

Desde 200�

Disponibilizar à comunidade o acesso aos conhecimentos referentes à saúde, por meio de oficinas sobre: hipertensão arterial, diabete, obesidade, cefaléia, doenças sexualmente transmissíveis, tabagismo, câncer de pele, saúde da mulher e da criança.

Pastoral dos Surdos - Mitra da Arquidiocese de Curitiba

Desde 200�Desenvolvimento do curso de Libras abrangendo professores, educadores e comunidade em geral.

Federação Paranaense de Lutas Associadas - FEPALA

Desde 200�implantação da Luta olímpica e do Judô detectando e incentivando novos talentos esportivos e a promoção de festivais escolares.

FontE: Pesquisa de campo, 200�.

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4. AvAlIAÇÃO pRelIMInAR dO pROGRAMA e de SUAS pARCeRIAS

Noiníciodoprograma,entremaiode2005,edezembrode2006,foramregistradasemtornode668milparticipaçõesnas atividades do programa e crescimento médio de 10%nas participações escola/mês, chegando à média de 1.857participações semanais por escola (gráficos 1 e 2). Asatividades foram desenvolvidas por 308 voluntários, 311estagiários universitários, 48 instrutores contratados pelaFAS,alémdasatividadessobresponsabilidadedeservidoresmunicipaisdasdiversassecretariasenvolvidas.

GRáFiCo 1 – PARtiCiPAçõES no CoMUniDADE ESCoLA 200� – 200�

7000.000

6000.000

5000.000

4000.000

3000.000

2000.000

1000.000

02005

169.768

NÚMERO DE PARTICIPAÇÕES DO COMUNIDADE ESCOLA

498.261

668.029

2006 TOTAL

Fonte: Sistema Gestor do Comunidade Escola

Elaboração: Unidade Gestora do Programa Comunidade Escola, 200

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GRáFiCo 2 – PARtiCiPAçõES MEnSAiS no CoMUniDADE ESCoLA EM 200�

14.00

0

28.00

0

42.00

0

56.00

0

70.00

0

84.00

0

98.00

0

8.650

JANE

IRO

FEVE

REIRO

MARÇ

OAB

RIL

MAIO

JUNH

OJU

LHO

AGOS

TOSE

TEMB

ROOU

TUBR

ONO

VEMB

RODE

ZEMB

RO(3sema

nas)

(4sema

nas)

(4sema

nas)

(4sema

nas)

(4sema

nas)

(4sema

nas)

(4sema

nas)

(4sema

nas)

(4sema

nas)

(4sema

nas)

(3sema

nas)

(5sema

nas)

13.71

0

28.16

134

.755

32.14

435

.149

42.50

651

.890

45.30

2

60.62

6

91.01

5

54.35

3

NÚME

RODE

PART

ICIPA

ÇÕES

NOCO

MUNIDA

DEES

COLA

EMCU

RITIBA

-JA

NEIROADE

ZEMB

RODE

2006

668.0

29

Fonte: Sistema Gestor do Comunidade Escola

Elaboração: Unidade Gestora do Programa Comunidade Escola, 200

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Dentreasparticipações,observa-sequeoseixosesporteelazer,cultura,educaçãoecidadaniaqueincluiasatividadesdeinclusãodigital,sãoosmaisprocurados.Entreopúblicopreferencialdoprograma,cercade80%dosparticipantessãocriançasejovens(gráficos3e4),comligeirapredominânciadosexomasculino.

GRáFiCo 3 – PARtiCiPAçõES no CoMUniDADE ESCoLA PoR Eixo EM 200�

5%

56%

13%

24%2%

Saúde

Esporte e Lazer

Geração deRenda

Cultura

Educação eCidadania

(Informática 11%)

PARTICIPAÇÕES NO COMUNIDADE ESCOLA POR EIXO - 2006

Fonte: Sistema informatizado de Gestão

Elaboração: Unidade Gestora do Programa Comunidade Escola, 200

GRáFiCo 4 – PARtiCiPAçõES no CoMUniDADE ESCoLA PoR FAixA EtáRiA – 200

Fonte: Sistema informatizado de Gestão

Elaboração: Unidade Gestora do Programa Comunidade Escola, 200

31%

16%2%

51%Crianças

Jovens

AdultosIdosos

PARTICIPAÇÕES NO COMUNIDADE ESCOLA POR FAIXAETÁRIA - 2006

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Afimdeavaliarapercepçãodosprofessorescoordenadoresqueatuaramnomêsdejaneirode2007,edacomunidadeparticipantedasescolasqueforamabertasentreoutubroedezembrode2006,foramrealizadasduaspesquisas.

4.1 AVALiAção Do PRoGRAMA PELoS PRoFESSoRES CooRDEnADoRES

Nosmesesdejaneiroefevereirode2007,foirealizadapelaUGPcoletadedadosjuntoaos47professorescoordenadoresqueatuaramnas47escolasquepermaneceramabertasnomêsde janeiro/07.Essapesquisa teveporobjetivoavaliarofuncionamentodoprogramanesseperíodo,tendoemvistaoaprimoramentodasaçõesnoperíodode fériasescolares,bem como sugestões para melhores resultados em 2007.A metodologia utilizada foi o questionário aplicado, queenvolveu temasrelacionadosa infra-estrutura,atuaçãodosprofissionais, voluntários/parceiros, capacitação, eventos,atividades ofertadas em cada eixo do programa, alémde espaço para sugestões para melhoria continuada nosresultadoscorrentenoano.

A maioria dos respondentes considerou que as ações doprograma atenderam ou superaram suas expectativas. Dasatividadesdesenvolvidasemcadaeixo,85%mencionouquedentrodoesporteelazer,aqualidadedasaçõeseoresultadoobtidoatenderamousuperaramasexpectativas;quantoaoeixoeducaçãoecidadania,aaprovaçãofoide85%,enoeixocultural55%,comsignificativopercentualdesolicitaçãoparaqueaofertadeatividadesdoseixossejamaumentadas,bemcomoampliadaapresençadeestagiáriosnoseixos,conformepercentualaseguir:geraçãoderenda(77%),saúde(49%),cultura(43%),esporteelazer(17%)eeducaçãoecidadania(15%).Essesdadossugeremqueàmedidaqueoprogramaofereça atividades voltadas à geração de renda e saúde,atraia maior público adulto e da terceira idade. Quanto à

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atuaçãodosestagiários,74%dosprofessorescoordenadoresconsiderou que a atuação dos estagiários de informáticaatendeuousuperousuasexpectativas,68%emrelaçãoaosestagiáriosdeesporteelazere47%decultura.Observa-sequeosmaioresdesafios com relaçãoaos estagiários e aosvoluntáriosnoperíododefériasescolaressãooselesmesmos:aumentononúmerodefaltasemrelaçãoaoperíodoletivo,alémdarelevânciadeprocessodequalificaçãoanterioraoinício das atividades e desenvolvimento de plano de açãodesenvolvidocomosprofessorescoordenadores.

4.2 AVALiAção Do PRoGRAMA PELA CoMUniDADE

A coleta de dados foi realizada nos meses de novembro,dezembroeiníciodejaneirode2007,com499funcionáriosdasunidadesescolares,3.583paisdeestudantese12.140moradoresdascomunidadesdoentornodasescolasMadreAntonia, Tereza Matsumoto, Santa Ana Mestra, ErasmoPiloto,UlissesFalcãoVieira,MariaClaraBrandãoTeressoli,RaquelMaeder,MariadeLourdesPegoraroeCEIBelaVistadoParaíso, totalizando17.167.Oobjetivodapesquisa foiobter informações sobre o conhecimento, o interesse e aparticipaçãodosfuncionários,estudantesdasescolas,suasfamíliasecomunidadeemgeral,quantoaoprograma.

Osresultadosmostraramqueosrespondentesemsuamaioriasãomulheres(72%),nafaixaetáriade30a59anos(61%),distribuídosemdiferentesníveisdeescolaridadeprevalecendoo nível médio (34,62%) e com renda de até 05 SM (66%).Apenas18%dosentrevistadospossuemfilhosnaescolaondeoprogramaestáinseridoedeste,75%temumfilhonaescola.

Com relação ao lançamento do programa na escolamunicipaldeseuentorno,39%informouterconhecimentodolançamento,sendoque27%soubepormeiodaprópriaescola, 24% via Central de Relacionamento da prefeitura(serviçotelefônico).Destes,24%afirmamtercomparecido

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ao lançamento do programa – eles próprios ou alguémde sua família. Dos 76% que não compareceram, 80%justificaramaausênciaporrazõesparticularescomonãoterfilho na escola, desconhecimento quanto à localização daescola,desconhecimentodaexistênciadeatividadesparaasua faixa etária (terceira idade) e falta de companhia. Osdemais referiram falta de interesse, de divulgação ou nãoexplicitaram o motivo. Cabe ressaltar que dentre os quecompareceramaolançamento,91%gostaramdoprograma.

Quanto à participação no programa nos finais de semanasubseqüentesaolançamento,22%dosentrevistadosafirmamterparticipadodoprograma–aprópriapessoaoufamiliar;63%referiraminteresseemparticipardoprograma,masafirmamnãotertempo(32%).Quantoàsatividadesquegostariamdeparticipar,destacam-seasrelacionadasaoseixosdeesporteelazer(30%),educaçãoecidadania(14%)esaúde(13%).Dosquejáparticiparamdealgumaatividade,62%participaramdeumaatrêsvezese30%participarammaisde3vezes–33%noeixodeesporteelazer,17%noeixoculturae13%noeixoeducaçãoecidadania.Essestambémforamoseixosdestacadoscomodemaiorinteresse.Quantoàcontinuidadedesuaparticipaçãonoprograma86%afirmamterinteresseequerecomendariamparaseusamigosevizinhos.

5. COnSIdeRAÇÕeS FInAIS

OProgramaComunidadeEscola temseevidenciadocomoalternativaefetivaparaodesenvolvimentosustentávellocal,namedidaemqueasatividadesdesenvolvidasenvolvemtodasassuasdimensões,quaissejam:econômica,pelageraçãoderenda;social,pelasaçõesdeeducação,cidadania,saúdeeesporte;culturaleambiental,pelasaçõesdeeducaçãonesteaspectoeatividadeseconômicascomprodutosrecicláveis.

Cabe ao governo municipal atuar como agente articuladorincentivando a ampliação e o fortalecimento de redes de

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colaboração com representantes da sociedade civil, comoinstituições de ensino, empresas, terceiro setor, igrejas,associaçõesevoluntários,paraumaatuaçãosinérgicaquefortaleçaaintegraçãodaspolíticaspúblicas.

Estudoscomprovamqueabrirasescolasparaapopulaçãoasseguraaosjovens,àscrianças,suasfamíliaseàcomunidadeemgeralespaçosdeconvíviosolidário,éticoedeacessoàeducaçãoeaolazer.AexperiênciadedoisanosdoProgramaComunidade Escola de Curitiba é respaldada por açõessimilares em outras cidades brasileiras e acompanha osresultados positivos de mobilização social em prol do seudesenvolvimento. Dentre os ganhos observados destacam-se:melhorianaauto-estimadosparticipantes;revelaçãodetalentos;diminuiçãonosepisódiosdedepredaçãoepichaçãonasescolas;aproximaçãoentrepaisefilhos;protagonismodacomunidadelocalemaçõesvisandoàmelhoriadobairroeformaçãoderedeslocais.

Talvez o principal entrave para a mudança social seja acompreensão dos ganhos com a efetiva participação noprograma, evidenciada nas pesquisas realizadas pelaquantidadedepessoas(32%dosentrevistados)quedizemnãotertempoparaparticipardasatividades,apesardointeressede63%dosentrevistados.Amudançadacomunidadeeacriação de alternativas dependem não somente do espaçoabertopelaescola,masdasoportunidades inerentespelasrelaçõessociaisedeaprendizagemcontínuaqueacontecemnaquele local. O desejo de aprender e se desenvolver écondição necessária para este tipo de programa ter êxitona sua missão de servir como meio para a promoção dodesenvolvimentosustentávellocal.

Enfim, várias atividades, que envolvem as dimensões dodesenvolvimentosustentável,sãodeterminantesnoprocessodecriaçãodeumaculturadegestãodacomunidade locale desenvolvimento de alternativas consistentes para oaprimoramentocontínuodaquelescidadãos.Esseconjuntodeaçõesenvolveumprocessodeapropriaçãoepertencimentodapopulaçãoaolocalemquevivem,bemcomoaformaçãode

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parceriasestratégicasparafortalecereampliarredeslocaisdeaçãointegrada,consolidandooComunidadeEscolacomoumaexperiênciadeinovaçãosocialdogovernomunicipal.

Considera-sequeodesenvolvimentodeestudoavaliativodomodelodegestãodoprogramaedasatividades realizadasporsuarededeparceirospossacontribuirsignificativamenteparaacompreensãodasuarealefetividadeparaconsecuçãodapromoçãododesenvolvimentosustentávellocal.

ReFeRÊnCIAS

ABRAMOVAY, M. WAISELFISZ, J. J; ANDRADE, C. C.de. RUA, Maria das Graças. Gangues, Galeras, Chegadose Rappers: Juventude, violência e cidadania nas cidadesperiferiasdeBrasília.RiodeJaneiro:Garamond,2002.

BRASLAVSKY, C.; WERTHEIN, J. Education, EconomyandDevelopment: learning fromsucessful cases.Brasília:UNESCO,2006.

CURITIBA. Prefeitura Municipal. Instituto Municipal deAdministraçãoPública.ModelodeGestãoCuritiba.Curitiba,2000.

CURITIBA. Prefeitura Municipal. Instituto Municipalde Administração Pública. O Aperfeiçoamento da AçãoIntegrada da PMC nos Territórios Priorizados. Curitiba,2000.

FISCHER,T.(org.).GestãodoDesenvolvimentoePoderesLocais: marcos teóricos e avaliação. Casa da Qualidade:Salvador,BA,2002.

IPPUC. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano deCuritiba. Obtida na internet < http://www.ippuc.org.br/>(acessoem:18/08/2006).

NOLETO,M.J.AbrindoEspaços:educaçãoeculturaparaapaz.3ed.Revisada.UNESCO:Brasília,2004.

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PINHO, J. A. G.; SANTANA, M.W. Inovação na GestãoPúblicadoBrasil:umaaproximaçãoteórico-conceitual.In:ENANPAD,22.Anais...FozdoIguaçu,Anpad,1998.

SILVA, C. L. Desenvolvimento sustentável: um conceitomultidisciplinar. In:SILVA,C.L;MENDES, J.T.G. (Org.).Reflexões sobre o Desenvolvimento Sustentável: agentese interações sob a ótica multidisciplinar. Rio de Janeiro:Vozes,2005.

UNESCO. Fazendo a diferença: o Projeto Escola AbertaparaaCidadanianoEstadodoRioGrandedoSul.Brasília:Unesco/ Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul,2006.

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6. UMA COntRIBUIÇÃO COM AS InOvAÇÕeS SOCIAIS:

AvAlIAÇÃO de pROJetOS SOCIAISMaria do Carmo Brant de Carvalho

1. IntROdUZIndO A teMÁtICA

Noprocessodemocráticoemquevivemos,sociedadeecidadãosreivindicam relações de transparência e participação nasdecisõesreferentesàaçãosocialpública.Reivindicamconhecereacompanharainsuprimívelequaçãoentregastospúblicosecusto-efetividadedepolíticaseprogramasdestinadosaproduzirmaior eqüidade social. Este é o atributo mais importante daavaliaçãodepolíticaseprogramassociais.

Assiméqueodesafioatualpermanecesendoodeintroduzirsistemasdeinformaçãoemetodologiasavaliativascapazesdeapreenderetraduziratotalidadedosfluxosenexosinerentesà tomada de decisões, à implementação, à execução, aosresultados e aos impactos produzidos pela ação pública.Monitoramento e avaliação devem oferecer informaçõessubstantivas para influir nos fatores institucionais eprocessuais geradores de ineficiências crônicas nodesempenhodaspolíticaseprogramassociais.

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Entretanto, a recente hipervalorização da avaliação depolíticas e programas sociais pode nos levar a cair emarmadilhas. A primeira e mais preocupante delas é depensar a avaliação numa perspectiva, tão-somente, deaferiçãoeconométrica,expressandoaaçãonasuaeficiênciaeeficáciaimediatas,semumcompromissointencionalcoma real transformaçãoemelhoriadaqualidadedevidadoscidadãospelaviadeprogramaseserviçospúblicos.

Nesse patamar, a avaliação se espelha na reificação deindicadores e índices despolitizando a própria ação. Emoutraspalavras,osindicadoresapresentam-secomomedidasreificadasdevalor,instrumentosdecontroleparaosagentesdecisórios,quasecomocartõesde“apresentaçãodeexcelênciatécnica”dasinstituições,maspoucopenetráveisesuscetíveisdetransformarem-seemferramentasdepoderecontroledoscidadãoscomuns,usuáriosdeprogramaseserviços.

Éprecisoinsistir:A avaliação não tem um valor em si, não substitui apolítica ou programa nos processos e resultados quemoveepersegue.

Aavaliaçãoéoportunidadede reflexãocríticadaaçãoepossibilidadededisputaemtornodaprogramáticadapolítica.

Aavaliaçãoéimperativoético,desconstróiereconstróiapolíticaouprogramanasuaintencionalidade,resultadoseimpactos.

O monitoramento e avaliação comportam-se como“vigilância”daprópriapolítica.

A avaliação é oportunidade de transparência einterlocuçãopolítica.Possibilitaoexercíciodocontrolesocial,mecanismovaliosodedemocratizaçãodagestãopública.

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2. AvAlIAÇÕeS de pROJetOS de edUCAÇÃO

No Brasil, as informações e avaliações sobre a educaçãoestãoconsubstanciadassobretudonoscensosescolaresenasavaliaçõesderesultados/rendimentosescolaresdosalunos.(Saeb, Enem, Saresp...). Estas informações ganharam, naúltimadécada,continuidade,visibilidadeereconhecimentopúblico.Esteé,semdúvida,umgrandeavanço,sobretudose atentarmos para o tamanho de nossa rede de ensinobásico(cercade140.000escolas;45milhõesdealunos;2,5milhõesdeprofessores).

Outrograndeavançoéodepossuirmoshojeapossibilidadede conhecer e comparar longitudinalmente, na linha dotempo,aevoluçãododesempenhodaeducaçãonopaís.

Aquestãoéqueessasinformaçõesavaliativasnãochegamàpontadosistemadeensinocomoferramentaestratégicademudançaeaprimoramentodaaçãoeducacional;permanecemapropriadasapenaspelosgestoresdapolítica.

Aprincipalfunçãodaavaliaçãoéperseguiraefetividadedaaçãopública.Seasinformaçõesavaliativaserecomendaçõesnãosãousadasparaamelhoriaouacorreçãodaaçãoacabamservindoapenasparaengordardiagnósticos.

Comorevelaçãoda realidade,aavaliação indicaacertoseequívocos, ilumina inovaçõese sugerecorreçõesde rumo.Entretanto, as informações educacionais, traduzidas pelamídiacolocamacentoapenasnoreiteradofracassoescolar.Seassimfor,háumdesperdíciodoesforçoavaliativonacional.

Osdadosavaliativosprecisamsersocializadosnaponta,emcadaescoladeformaaqueseusagentesescolares(diretores,professores, funcionários, pais e alunos) conheçam suacondição de funcionamento, a qualidade da aprendizagemofertada,orendimentoescolardosalunos–demaneiraaqueaprópriacomunidadeescolarsecomprometacommudanças.

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Insistoemqueestatarefaéimportanteporqueasdiferentesunidadesdeensinoconservamumfortegraude liberdadenaorganizaçãodeseutrabalho.Asocializaçãodaavaliaçãoéoportunidadedeconsciênciada situaçãoecompromissocomsuaefetividade.

As informações educacionais comportam-se ainda comodados formais de tipificação da rede de ensino, perfildos professores, recursos escolares alocados, rendimentoescolardosalunos.Estasinformaçõesavaliativassãomuitoimportantes,masnãosuficientes.Nãosãosuficientesparaqualificararededeensino,paraexplicarsucessosoufracassosescolares,parainstigarainovaçãonaaprendizagem.

Nabuscadequalificarhámuitosestudosavaliativos,porémpontuais e, em geral, escondidos na academia. Não sãoapropriadoscomoinstrumentosparainovação.

No compromisso maior com a efetividade dos sistemas deensinoeaprendizagem,aavaliaçãoparaoCenpec(organizaçãoque represento)constituiu-seem instrumentonecessárionaprodução de conhecimentos. Nesta intenção, as avaliaçõesdeprocessosãovalorizadasporquemelhorindicamfatoresevariáveisaseremaprendidas,alteradasouaperfeiçoadas.

O que aprendemos na avaliação de programas e projetoseducacionais?Comotraduzirnossoaprendizado?

1.Emeducaçãonãobastamasmacroestatísticaseducacionais.É preciso mapear e localizar resultados para melhorcompreendê-los.Estudosdecasosãodeextremaimportânciapara qualificar resultados. É preciso avaliar soluções/inovaçõesparabuscarampliá-lasnaconquistadaefetividade,compromissomaiorcomqueinsistonatarefaavaliativa.

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2. As avaliações de programas/projetos sociais guardamespecificidades importantes: são sociais e relacionais.Exigemcontextualização.É social e relacional, porqueháinúmerasfontesefatoresintervenientessimultaneamente.

A aceitação e atribuição de significado aos novosconhecimentosreveladospelaavaliaçãosedãopormeiodeprocessosnãoapenascognitivos,mastambémsocioafetivo-culturais.A supervalorizaçãodosaspectos cognitivos edemérito individual encontra resistências cristalizadas nasrepresentações e cultura de grupos. Por isso é tão difícilmudaraspráticasquandoimplicamexpectativasdealteraçãodecondutas,posturaseatitudes.(GATTI,2004)

Masháoutraquestãoimportante:sendosociorrelacional,osprogramassociaisemsuaimplementação(emesmoemsuaavaliação) exigem negociação, articulação e adesão de umconjuntoheterogêneodesujeitos sociais (Estado, sociedadecivil,iniciativaprivadaeaprópriacomunidadebeneficiária).

ComobemafirmaBernadeteGatti(2004),éprecisoqueofazeravaliativovincule-se, assim,a trêsaspectosbásicos:primeiro ao cenário histórico-social; segundo relacionadoaoanterior,aopapel socialdaprópriaavaliação,e, ligadoaambos,avinculaçãoaumaperspectivadeconhecimentocomo instrumento para viver melhor. Sem base nestesfundamentos“poucoseavançanoconhecimentodoimpacto,darealefetividadedessesprogramas.Valoressignificantesaumprojetodevidahumanaemsociedadesãochamadosadarsentidoaosdadosaserembuscados”.

Sendoaavaliaçãoumaatribuiçãodevalor,éprecisolembrarquetodoprogramasocialtrazumaintencionalidade,istoé,trazumadadaconcepçãoeumaética,quedefineodesenhoeapropostaprogramática.

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Há em projetos educacionais intencionalidades diversas:é muito comum pensar a educação como investimentoeconômico,ouparareduzirviolência,combaterapobreza,ou,ainda,uminvestimentoéticocomodireitodosindivíduosde desenvolverem capacidades substantivas, como dizAmarthia Sen, para exercerem suas liberdades tambémsubstantivas.

3. Informação,monitoramento, avaliação caminham juntosdeformaabuscaramelhorapreensãoevigilânciacontínua,doprogramaemação.

Avaliação requer monitoramento. Monitoramento requera produção de informações relevantes no continuum daimplementação e execução do programa. “Informaçõesoportunaspara lidarcomcadaprocessoparticular,comaspeculiaridades que lhe são próprias.” (GARCIA; 2001;IPEA). Informações oportunas, simples e sintéticas paraque todos os implicados na ação, sobretudo executorese beneficiários, possam apreendê-las e utilizá-las paraaprimoramentooudescartedesoluções.

4. Avaliação é processo contínuo que abarca o programadesdesuaconcepção,implementaçãoeresultados.

Metodologiasdeavaliaçãoseguemumpercursoquearticulaemespiral,poraproximaçõesepercepçõescumulativas,ocontextoemquesedáoprograma,insumos/inputs,processos(negociação, implementação, realização) e resultados.Tem sempre a perspectiva de apreender a lógica da açãoplanejada e a lógica dos atores no desenvolvimento doprograma.Porissomesmo,exigeaadesãoeparticipaçãodossujeitos implicados (gestores, técnicos e beneficiários) nopróprioprocessoeproduçãoavaliativadoprogramasocialemquestão.

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Assim,asmetodologiasdeavaliaçãodevemconsiderar:Aapropriaçãocontínuaearticuladadocontexto,inputs,processos

eresultados;O monitoramento sistemático do desenvolvimento doProgramaedecadaumdosseuscomponenteseprodutos,nas suas diversas etapas, correlacionando objetivos,estratégiaseresultados;

Uma abordagem quali-quantitativa que permitaapreenderprocessos

eresultados;

Oreconhecimentodossabereseintençõesdasequipeslocaisedasinstituiçõesenvolvidas,gestandoumaefetiva“comunidadedeaprendizagem”;eumprocessocoletivodeavaliação;

Aconstruçãodeindicadoresdedesempenhoeefetividadequepermitamacomparaçãocomparâmetrosregionais/nacionais e, igualmente, com padrões de qualidade/coberturaquesebuscaatingir.

Agrandedificuldadenaconstruçãodeindicadoreséadequenãoháregulaçãoclarasobrepadrõesdedesempenhodeprogramasemalgumasáreas,porexemplo,naassistênciasocial.

5.Nocicloavaliativoqueacompanhaoprojetodesdesuaconcepção e execução (avaliações ex-ante, avaliações deimplementação/desempenho, resultados e impactos) éprecisodestacaraimportânciadaavaliaçãoex-ante,tambémchamada marco zero, ou linha de base. Estas avaliaçõessãopoucoexercitadas.Osprojetosnogeraltêmnascidodovoluntarismodeseuspromotores.Éimprescindíveloexamepréviodarelevânciaesustentabilidadedeprojetoscolocadosnaagendapública.Énecessárioperguntarsobreseudesenho

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propriamenteditoeemconseqüênciasuaexeqüibilidadeepotencialdeefetividadepretendido.Podemosexemplificarcom um programa do governo federal “Meu PrimeiroEmprego”, em que tanto a literatura internacional quantonacionaleaprópriaexperiênciasocialacumuladasinalizampara seus pressupostos falsos e risco; portanto, a falta deadesão do jovem e de empresários que possam assegurarpostosdetrabalho.

Deve-se buscar, com coerência e rigor metodológico, osfatoressignificativos intervenientesnatomadadedecisõese formataçãodoprojeto,asdemandaseargumentosqueosustentam, o meio institucional e social em que se situa,os insumosdisponíveis para sua consecução e a açãodosdiferentesgruposebeneficiáriosenvolvidosnoprograma.

6.Éprecisocombinaravaliaçõesdeprocessoàschamadasavaliações de resultados e impactos. A relação entreprocessos e resultados é imprescindível em avaliações deprogramassociais.

Éprecisoapreenderosprocessoseasdinâmicasdaaçãocomopontes/fluxospormeiodosquaisosobjetivossetransformamem resultados.Objetivos, estratégias, resultados sópodemserapreendidosemarticulação,portantoinseridosnumdadoprocessoedinâmicadeação,contextualizadosnumespaçoetempodeterminados.

Háváriosprocessospoucomonitoradoseavaliadoseque,noentanto,sãomuitoimportantes:

Processosdeapresentaçãodoprogramaaocoletivoparaoqualsedestina:umprogramasocialdependedeadesão;portanto, depende de concertação/negociação com osdiversosgruposdeinteresseimplicadosnaação.

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Processosdeimplementação,(informaçãoedivulgação;seleção e capacitação dos agentes executores; seleçãodo público alvo; apoio logístico; financiamento; basessociaisdeapoio(eficiênciasocial)38;

Processos de enraizamento do programa no contextosociocultural,econômicoepolíticonoqualserealiza;oquantooprogramasetraduzeinteragecomalinguagemdeseusagenteslocais;oquantosearticulaesesomaametasdocoletivoemicroterritório.

7. A avaliação no campo social deve estar atenta paraapreender os impactos. Isso requer, portanto, situar oprogramaemrelaçãoaocontextoemqueelesegesta,aograudelegitimidadealcançadonainstituiçãoenacomunidadeeaograudeadesãoouresistênciadosagentesqueomovem,produzindoestaouaqueladinâmica.

Há pequenas ou grandes mudanças que serão grandes oupequenasmudançasdependendodo contexto onde se situaoprograma.Há igualmente impactosnãoprevistosque sãoigualmente significativos para o bem ou para o mal. Porexemplo,noprogramacapacitaçãosolidária,capacitaçãodejovens,espera-secomoimpactoainserçãodojovemcapacitadonomundodotrabalho.Oqueseobservouemmuitosjovensnão foi a inserção do jovem no mercado de trabalho, massuare-inserçãonoensino fundamental,médioeatémesmouniversitário. Em outros casos um impacto expresso pelojovens refere-se à grupalização entre osparesquepropiciatambémpossibilidadedeinserçãosocial:“fizamigos”.

8.Aavaliaçãonãopodesertotalmenteexternaaoprograma;faz-sepreferencialmentecomosprópriossujeitosimplicadosnoprojeto(gestores,executores,beneficiários,parceiros...);colocacomocompromissoasocializaçãodopoderavaliativo,

38 Ver Sonia Draibe, in tEnDEnCiAS E PESPECtiVAS nA AVALiAçAo DE PoLítiCAS E PRoGRAMAS SoCiAiS, EDit. Cortez, 2002.

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a reflexão e produção de conhecimentos com os diversossujeitosapartirdaaçãodoprograma.

Falamos hoje em modelos e procedimentos avaliativosreflexivos-participativos.Estestêmcomoeixometodológicofundante o envolvimento e a participação dos sujeitosimplicadosnoprojetosubmetidoàavaliação.Aobjetividadepretendidanoatoavaliativoéentãoresultadodeumprocessode debate e triangulação ente os gestores, a comunidademaispróximadoprogramae os especialistas.Oprogramaemavaliaçãosubmete-se,assim,aumaformaespecíficademultipleadvocacy39.Aparticipaçãodosimplicadosretiraoavaliadordaposiçãosolitáriadeúnicoagentevalorativo.Ovaloratribuídoéconstruçãodeumcoletivo.

Aavaliaçãoassimconduzidadesencadeiaumprocessodeaprendizagem social. Agrega valor ao projeto. ExemplosricosnestadireçãosãoomododeavaliaçãoeseleçãodosprogramassocioeducativosinscritosnosPrêmiosItaúUnicefoudos textosproduzidosporalunosde4.ª e5.ª sériesdeescolaspúblicasinscritosnosPrêmioEscrevendooFuturo,tambémdeiniciativadaFundaçãoItaúSocial.Nessescasosaavaliaçãoeseleçãosãorealizadasporagentespróximosdolocal/região, formadores de opinião pública como gestoresmunicipais de educação e assistência social, conselheirosestaduais de políticas públicas sociais, jornalistas locais/regionais,professoresdeuniversidadeseatémesmogerentesdobancoItaú.Definidososparâmetros,oquadroreferencialnormativo,osindicadores,essesagentesrefletemeavaliamjuntos.Nestecaso,nãosóaavaliaçãoganhaemobjetividadeesignificadocoletivo/participativo,mas também,ocorreaíumricoaprendizadosocialapropriadoporestecoletivo.

39 Cf. G. D. Majone, Evidence argument and persuasion, p. 40; Joan Subirats, Evaluación de políticas de intervención social..., p. 2�4

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3. FInAlIZAndO

Programassociais“clamamporummododeavaliarquesereferencie, para além do que se convencionou chamar deeficáciaoueficiência,emprincípiosquefundamentemumaoutra qualidade de vida e convivência, que tragam maioreqüidade social. Considerar na avaliação de programassociais essas questões nos leva a poder discutir a suaefetividade”.(GATTI,2004)

Avaliar programas sociais não é tarefa simples, pois estespossuem objetivos que são por sua natureza complexos,ganhamumatessiturasociorrelacionalecontextualizada.Aavaliação,então,nãoselimitaaapreendersua“engenhariainstitucional” e os resultados imediatos. Exige explicitarsua intencionalidade, conhecer a densidade de propósitosqueaportaerealiza;apreenderosprocessosquesustentamessesprogramasounão,suaefetividade;tambéméprecisoconhecerasbasesdeeficiênciasocialqueosconstróieoslegitima.Maisainda,éprecisogarantircomparabilidadenalinhadotempoeentreopçõesprogramáticas.

Avaliação assim compreendida produz conhecimentosnecessáriosàproposiçãodesoluçõeseavançosresponsáveisnodesempenhodapolíticasocial.

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ReFeRÊnCIAS

CARVALHO,M.doC.B.de.avaliaçãoparticipativa:umaescolha metodológica. In Rico, E.M. (org.) Avaliação dePolíticasSociais.IEE-Pucsp,2.ed.1999.

DRAIBE, S. Tendências e perspectivas na avaliação depolíticaseprogramassociais.SãoPaulo:Cortez,2002.

FIGUEIREDO,M.F.eFIGUEIREDO,A.M.C.Avaliaçãopolítica e avaliaçãodepolíticas:umquadrode referênciateórica.TextosIDESP,n.15,SãoPaulo,1986.

FREIRE,P.Pedagogiadooprimido.Riode Janeiro:PazeTerra,1978,6.ed.

GATTI, B. Avaliação de projetos sociais. Doc. mimeo.,2004.

MAJONE, G. D.Evidence argument and persuasion, JoanSubirats,Evaluacióndepolíticasde intervención social...,p.254.

MCDONALD, B.A. A political classification of evaluationstudies.In:Hamilton,D.(org.)Beyondthenumbersgame.Hampshire:McMilan,1977.

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7. IndICAÇÕeS SOBRe InOvAÇÃO SOCIAlBeatris Kemper Fernandes

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Alistaabaixotemporobjetivoauxiliaraquelesquetivereminteresse em aprofundar seus conhecimentos na área deinovaçãosocial.Ossitespesquisadosapresentaminformaçõesdiversassobreotema.Asreferênciasbibliográficasnacionaiseinternacionaissustentamdiscussõespropostasnestaárea.

1. SIteS

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e oCaribe,éumadascincocomissõeseconômicasregionaisdasNações Unidas (ONU). Criada para coordenar as políticasdirecionadas à promoção do desenvolvimento econômico daregião latino-americana, coordenar as ações encaminhadasparasuapromoçãoereforçarasrelaçõeseconômicasdospaísesdaárea,tantoentresicomocomasdemaisnaçõesdomundo,ampliouseutrabalhoparaospaísesdoCaribeeincorporouoobjetivodepromoverodesenvolvimentosocialesustentável.

http://www.eclac.org/brasil/–Acessadoem02/05/2007.

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REDE UNIDA – reúne projetos, instituições e pessoasinteressadasnamudançadaformaçãodosprofissionaisdesaúdeenaconsolidaçãodeumsistemadesaúdeeqüitativoeeficaz,com forteparticipaçãosocial.Aprincipal idéia forçadaRedeUnidaéapropostadeparceriaentreuniversidades,serviçosdesaúde e organizações comunitárias, numa modalidade de co-gestãodoprocessode trabalhocolaborativo,emqueossócioscompartilhampoderes,sabereserecursos.

http://www.redeunida.org.br/index.asp – Acessado em02/05/2007.

ADI – Agência de Inovação promove a inovação e odesenvolvimentotecnológico,facilitandooaprofundamentodas relações entre o mundo da investigação e o tecidoempresarialportuguês.

http://www.adi.pt/–Acessadoem02/05/2007.

INOVATIX–OrganizaçãoSocialInstitutoIntegraldeInvestigação,InovaçãoeSustentabilidadeéumainstituiçãocientifico-tecnológica-ICTsemfinslucrativoscommissãoinstitucionaldeparticiparproativamente do desenvolvimento sustentável, colaborando nodesenvolvimentodeiniciativasdeeducaçãoepesquisaquegeremrenda, emprego, competitividade econômica, inovação e umapercepçãointegraldosfenômenossociais,ambientaisehumanos,proporcionandoaexperiênciadeestadoselevadosdeconsciênciaporindivíduos,comunidadeseempresas.

http://www.inovatix.org–Acessadoem03/05/20007.

MERCADO ÉTICO – portal de sustentabilidade que sepropõe a disseminar uma visão inovadora de uma economiaglobalaomesmotempocompetitivaeadequadaàsexigênciassocioambientais.Épossívelencontrarváriosassuntosligadosàresponsabilidadesocial,comérciojusto,ética,inovação,etc.

http://www.mercadoetico.art.br/2007/index.php–Acessadoem03/05/2007.

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IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do InvestimentoSocialéumainstituiçãocomprometidacomodesenvolvimentosocial.Pormeiodapromoçãoeestruturaçãodoinvestimentosocialprivado,oIDISbuscasistematizardiferentesmodelosde intervenção social que contribuam com a redução dasdesigualdadessociaisnoPaís.

http://www.idis.org.br–Acessadoem03/05/2007.

BAWB(BusinessasanAgentofWorldBenefit)disseminainiciativas e ações desenvolvidas por empresas lucrativasque promovem o desenvolvimento sustentável no âmbitoregional,nacionaleglobaleque trazembenefíciosparaasociedade.

http://www.bawb.org.br–Acessadoem03/05/2007.

AKATU–instituiçãoquetemcomomissãoconscientizaremobilizarocidadãobrasileiroparaoseupapelprotagonista,comoconsumidor,naconstruçãodasustentabilidadedavidanoplaneta.

http://www.akatu.org.br–Acessadoem03/05/2007.

ITS–InstitutodeTecnologiaSocialéumaassociaçãoquebuscacontribuirparaaconstruçãode“pontes”eficazesdasdemandas e necessidades da população com a produçãode conhecimento do país, qualquer que seja o lugar ondeé produzido – instituições de pesquisa e ensino, ONGs,movimentospopulares,poderespúblicoeprivado.

http://www.itsbrasil.org.br–Acessadoem04/05/2007.

MPC – rede formada por organizações públicas e privadaque compartilham informações e experiências nas áreasde Qualidade e Produtividade, melhorando com isso suacapacidade de prosperar de forma sustentável, gerando

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emprego e renda para a população. Tem como objetivogeral coordenar e promover ações estruturantes deconteúdo inovador na área de qualidade, produtividade ecompetitividade.

http://www.ibip.org.br/index.htm-Acessadoem10/05/2007

DIVERSA–RevistaUniversitáriadaFaculdadedeMinasGerais contém temas variados e de diferentes faces daInstituição.

http://www.ufmg.br/online/diversa – Acessado em07/05/2007.

Destacamosaseguintematéria:

Tecnologiasocial:umconceitoemconstrução.MatériadeC.R.HORTApublicadanaRevistadaUniversidadeFederaldeMinasGerais-Ano5–no10-outubrode2006.

http://www.ufmg.br/diversa/10/artigo6.html – Acessado em07/05/07.

INOVAÇÃO TEMPO DE REDE – apresentação emPowerPoint,sobreosdiferentestiposderede,equeincluemasredesdeinovaçãotecnológicadeinteressesocial.

h t t p : / / w w w . r e d e t s q c . o r g . b r / g e i a / d o c s /GEIAManhasInov2006MarPlonski.ppt - Acessado em08/05/07.

FINEP–FinanciadoradeEstudoseProjetos,empresapúblicavinculadacriadaem1967equeatuaemconsonânciacoma política do Ministério da Ciência e Tecnologia no apoioa ações de Ciência, Tecnologia e Inovação de instituiçõespúblicaseprivadas.

www.finep.gov.br–Acessadoem02/05/07.

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O site da FINEP oferece diversos links úteis para odesenvolvimento de projetos que buscam financiamento.Dentreeles,destacamos:

ProjetosdeSucessodaFINEP-nestapáginavocêpoderáconhecer um resumo de inúmeros casos de sucessode projetos financiados de forma reembolsável e não-reembolsávelpelaFINEP.

http://www.finep.gov.br/o_que_e_a_finep/projetos_sucesso.asp

BibliotecaEletrônicaFINEP–serviçodeinformaçãocomobjetivodefacilitaroacesso,ousoeadisseminaçãodoacervoquecontribuiparageraçãodenovosconhecimentosna área de Ciência e Tecnologia. Oferecem diversosserviços e produtos, tais como consulta ao acervo (pormeiodobancodedadosdositeou“inloco”),pesquisabibliográfica,empréstimoecópias.www.prossiga.br/finep

Revista Brasileira da Inovação – iniciativa da FINEPcomopropósitodecontribuirparaoavançodaciênciabrasileira e para o desenvolvimento nacional. Compublicação semestral, está aberta à comunidadecientíficaparadivulgaçãodeartigosoriginais,resultadosdepesquisasetrabalhosquecontribuamparaoresgateda história das instituições brasileiras no campo datecnologiaedainovação.

www.finep.gov.br/revista_brasileira_inovacao/revista_ini.asp

Glossário – definições de termos ligados à ciência etecnologia,emmuitoscasosligadosàinovação.

http://www.finep.gov.br/o_que_e_a_finep/conceitos_ct.asp

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REDEDETECNOLOGIASOCIAL–siteparaquemquerficar por dentro do que acontece em Tecnologia Social,com notícias sobre eventos, artigos, e possibilidade departicipaçãonaRededeTecnologiaSocial.

www.rts.org.br

CENTRO DE DIFUSÃO DE ESTUDOS ECONHECIMENTOS,INOVAÇÃOESUSTENTABILIDADE– espaço de ação interdisciplinar que visa promover eestimularodebateeapesquisanocampodaproduçãoedifusãodeciência, tecnologiae inovaçãoesuas relaçõescomodesenvolvimentoeasustentabilidade.

www.ufrgs.br/cedcis/index.html-Acessadoem07/05/2007.

LABORATÓRIO INTERDISCIPLINAR SOBREINFORMAÇÃO E CONHECIMENTO – espaçointerinstitucionalemultidisciplinar,coordenadoemparceriaentre a UFRJ e o IBICT, voltado para a reflexão críticasobreinformação,conhecimentoedesenvolvimento,anteastransformaçõesnomundocontemporâneo.

www.liinc.ufrj.br/index2.html-Acessadoem07/05/2007.

SERVIÇODACIDADANIA–artigodoAnuárioExpressãosobreInovaçãoeaimportânciaequalidadedosprojetosdeinovaçãosocialapresentadosnoConcursoFINEP2005.

http://www.expressao.com.br/restrito/inovacao/anuarios_eletronicos/anuario2005/conteudos/inovacao_social.htm -Acessadoem07/05/2007.

RENDA E DIGNIDADE – Artigo do Anuário ExpressãosobreInovaçãoeaimportânciaequalidadedosprojetosdeinovaçãosocialapresentadosnoConcursoFINEP2006.

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http://www.expressao.com.br/restrito/inovacao/anuarios_eletronicos/anuario2006/conteudos/inov_social.html -Acessadoem07/05/2007.

CARE–Experiênciasdesucessonoincentivoaoprocessode desenvolvimento local para o combate à pobreza naBahia, Piauí, São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas. Oconhecimento gerado com essas experiências fortalece ascomunidades envolvidas, sensibilizam outras para investire replicar as ações bem-sucedidas e permite influenciarpolíticaspúblicas.

www.care.org.br-Acessadoem07/05/2007.

MURALMANIA–Notícia sobre possibilidadedeparceriacomoTecpar(InstitutodeTecnologiadoParaná)naaplicaçãode tecnologias simples e baratas que tragam benefícios egeremrendaparaapopulaçãomaiscarente.

http://www.muralmania.com.br/noticia.php?id_noticia=20–Acessadoem07/05/2007

REVISTAESPACIOS(emespanhol)–RevistaVenezuelanade Gestão Tecnológica que publica, divulga e estimula aprodução de pesquisas nas áreas de Política e Gestão deCiênciaeTecnologia,focalizandosuaatençãonaVenezuelaedemaispaísesibero-americanos.

www.revistaespacios.com-Acessadoem07/05/2007.

2. ARtIGOS

Artigo“ASPECTOSSOCIAISETECNOLÓGICOSDASATIVIDADES DE INOVAÇÃO”, de Thales Novaes deAndrade.

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Nesteartigo,oautoresquematizaváriosmodosdevisualizaro sentido de inovação, debatendo tendências e impassesqueenvolvema incorporaçãodosdiferentesatores sociaisna construção da inovação tecnológica, relacionandofatores econômicos e sociais no processo de inovação.Também são discutidas questões envolvendo inovação egestão do conhecimento, e a importância da tecnicidadeedaconfiguraçãodosobjetos técnicospara seentenderoprocessoinovativo.

Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ln/n66/29087.pdf -Acessadoem02/05/2007.

Artigo“EMPREENDEDORISMOSOCIALNOBRASIL:ATUAL CONFIGURAÇÃO, PERSPECTIVAS EDESAFIOS – NOTAS INTRODUTÓRIAS”, de EdsonMarquesOliveira-Rev.FAE,Curitiba,v.7,n.2,p.9-18,jul./dez.2004.

Neste artigo são apresentados os principais elementosintrodutórios ao tema empreendedorismo, tomando comoexemploarealidadebrasileira.Partiu-sedaconstataçãodequeoempreendedorismosocialemergenocenáriodosanos90anteacrescenteproblematizaçãosocial,a reduçãodosinvestimentospúblicosnocamposocial,ocrescimentodasorganizaçõesdoterceirosetoredaparticipaçãodasempresasnoinvestimentoenasaçõessociais.

Disponível http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_da_fae/fae_v7_n2/rev_fae_v7_n2_02.pdf – Acessado em02/05/2007.

Artigo “SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTALATRAVÉS DE ALIANÇAS ESTRATÉGICASINTERSETORIAIS: UM ESTUDO DE CASO SOBRECOMUNIDADES EXTRATIVISTAS NA REGIÃO DA

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AMAZÔNIA”, de Rosa Maria Fischer, Maria CristinaLopesFedato,PedroFalcoBelasco.

Esteartigomostraacorrelaçãoentreosocialeocapitalismo,uma vez que o setor privado vive um paradoxo dentro dalógicadocapitalismo,dosresultadosedasmetaseconômicas,ao buscar conciliá-los aos valores sociais, econômicos eambientais. O artigo questiona se é possível a construçãode um círculo virtuoso, mediante o qual organizações,indivíduosesociedadesaemganhando.

Disponível em http://www.lasociedadcivil.org/uploads/ciberteca/p_belasco.pdf–Acessadoem02/05/2007.

Artigo “ECOORGÂNICA – Cooperativa de ProdutoresFamiliaresOrgânicos”, integrantedasExperiênciasemInovaçãoSocial–Ciclo2004-2005daCEPAL.

Estudo de caso da cooperativa Ecoorgânica, projeto quetransformoupequenaspropriedadesemnegóciosprodutivoselucrativos.

Disponível em: http://www.cepal.org/dds/Innovacionsocial/p/proyectos/doc/Relatorio.Ecoorganica.Brasil.port.pdf –Acessadoem02/05/2007.

Artigo “OBSERVAÇÃO DE INOVAÇÃO SOCIAL” –SôniaFleury–Ano2001–BuenosAires/Argentina.

“Observação de Inovação Social”, de Sônia Fleury, sobrepolíticaspúblicasemecanismosinstitucionaisquesurgempararesponderàsnovasdemandaseànecessidadedefortalecimentodasformasdeorganizaçãoautônomadasociedade.

Disponível em: www.clad.org.ve/fulltext/0042403.pdf -Acessadodia02/05/2007.

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3. lIvROS

AZEVEDO, A. Inovação tecnológica em empreendimentosautogestionários: utopia ou possibilidade? Trabalhoapresentado no IX Colóquio Internacional sobre PoderLocal, em Salvador, no período de 15 a 18 de junho de2003.Disponívelemhttp://www.ecosol.org.br/txt/tecno.doc.Acessadoem09/05/07.

BIAGIO,L.A.Incubadorasdeempreendimentosorientadospara o desenvolvimento local e setorial planejamento egestão.Brasília:Anprotec,2006.

BORNSTEIN,D.Comomudaromundo.SãoPaulo:EditoraRecord,2005.

CARRION,R.M.;HELLWIG,B.C.;VALENTIM,I.V.L.(orgs.)Residênciasolidária-vivênciadeuniversitárioscomodesenvolvimentodeumatecnologiasocial.PortoAlegre:URFGS,2006.

DEPAULOA.;MELLO,C.J.;NASCIMENTOFILHO,L.P.N.;KORACAKIST.Tecnologiasocial:umaestratégiaparaodesenvolvimento.RiodeJaneiro:FundaçãoBancodoBrasil,2004.

DOWBOR,L.Areproduçãosocial:tecnologia,globalizaçãoegovernabilidade.Petrópolis:Vozes,v.I.2002.

FARIA,R.F.F.(org.)Marketingparaincubadoras–Oquedebomestáacontecendo?Brasília:Anprotec,2006.

GUERREIRO, E. P. Cidade digital: infoinclusão social etecnologiaemrede.SãoPaulo:SENAC,2006.

GUIMARÃES,G.;SALOMÃO,I.Planejamentoegestãodeincubadorasdetecnologiassociaisparaodesenvolvimentocaracterísticaseinstrumentos.Brasília:Anprotec,2006.

HADDAD, S. As organizações do terceiro setor como“produtoras” de ciência, tecnologia e inovação. In: ABC;ITS (orgs.) Papel e inserção do terceiro setor no processo

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de construção e desenvolvimento da ciência, tecnologia einovação.Brasília:AthalaiaGráfica,2002.

LAGES,V.;TONHOLO,J.Desafiosdecompetitividadeemarranjosprodutivoslocais:dinâmicasdeinovaçãoepapeldasincubadorasdeempresaseparquestecnológicos.Brasília:ANPROTEC/SEBRAE,2006.

MARTENS,B.;KEUL,A.G.Designingsocial innovation:planning,building,evaluating.Cambridge:Hogrefe,2005.

Mckinsey & Company, Inc. Negócios sociais sustentáveis:estratégiasinovadorasparaodesenvolvimentosocial.3.ed.SãoPaulo:Peirópolis,2006.

SINGER,P.etalii.TecnologiaSocial:umaestratégiaparaodesenvolvimento.RiodeJaneiro:FundaçãoBancodoBrasil,2004.

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ZOUAIN, D. M.; PLONSKI, G.A. Parques tecnológicos:planejamentoegestão.Brasília:Anprotec,2006.

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dAdOS SOBRe OS AUtOReS

1. Ariane Brunetti de Jesus

Graduanda do Curso de Negócios Internacionais da Unifae.EstagiáriadaCoordenaçãodeProjetosdeArticulaçãoEstratégicadoSESIParaná.E-mail:[email protected]

2. Antoninho Caron

Doutor em Engenharia da Produção pela UFSC. Mestre emDesenvolvimentoEconômicopelaUFPR.ProfessordoMestradoem Desenvolvimento e Organizações da UNIFAE. Foi DiretorGeraldaSecretariadeEstadodaIndústriaeComércio.Secretariade Estado do Planejamento e Coordenação Geral. Secretáriode Indústria, Comércio e Turismo de Curitiba. Consultor emEstratégiaseDesenvolvimento.E-mail:[email protected]

3. Belmiro Valverde Jobim Castor

PhDemAdministraçãoPúblicapelaUniversityofSouthernCalifornia de Los Angeles, Estados Unidos. Professor doCorpo Permanente do Programa de Doutorado da PUC-Pre Professor Colaborador do Mestrado em Organizações eDesenvolvimentodaUnifae.FoiSecretáriodePlanejamentoeSecretáriodeEducaçãodoEstadodoParaná.Éconsultordediversasentidadespúblicaseprivadasnacionaisnaáreadeplanejamentoinstitucional.E-mail:[email protected]

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4. Beatris Kemper Fernandes

Mestre em Administração pelo UnicenP, especialista emMarketing pelo UnicenP e em Recursos Humanos pelaUnifae,formadaemLetraspelaTuiuti.AtuacomoAnalistaTécnicoPlenodoSESIParanánaCoordenaçãodeProjetosdeArticulaçãoEstratégica.CoordenaeatuacomodocentenoCursodeEspecializaçãoemGestãoSocialdoUnicenP/Sesi/Unindus.E-mail:[email protected]

�. Beatriz Mecelis Rangel

JornalistaformadapelaEscoladaComunicaçãoeArtesdaUSP e bacharel em História pela Faculdade de Filosofia,LetraseCiênciasHumanasdaUSP.ResponsávelpelaáreadecomunicaçãodoInstitutodeTecnologiaSocial.E-mail:[email protected]

�. Christian Luiz da Silva

Pós-doutor em Administração pela USP, Doutor emEngenhariadeProduçãopelaUFSCeeconomista.Diretorde Planejamento e Informações da Secretaria Municipalde Educação. Professor da UTFPr e do Mestrado emOrganizações e Desenvolvimento da UNIFAE. E-mail:[email protected].

�. Cristiano Lafetá

Graduado em Ciências Sociais pela FFLCH da USP.CoordenadordeProjetosdaABDL(AssociaçãoBrasileiraparaoDesenvolvimentodeLiderança).E-mail:[email protected]

8. Dalberto Adulis

Mestre e graduado em Administração pela Faculdade deEconomiaeAdministraçãodaUSP.CoordenadorExecutivoda ABDL (Associação Brasileira para o Desenvolvimentode Liderança) e Diretor do LEAD Brazil (Leadership for

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EnvironmentandDevelopment)econsultordaRITS(Redede Informações para o Terceiro Setor). E-mail: [email protected]

9. Daniel Moraes Pinheiro

Mestre em Administração pela UFPR. Bacharel emAdministraçãopelaUFRN.MembroPesquisadordoCIRIEC-Brasil(CentreInternationaldeRechercheetd’Informationsurl’ÉconomiePublique,SocialeetCoopérative).DocentenaFaculdadeOPET.AnalistaTécnicoSêniordoSESIParanána área de Gestão Social. Docente na pós-graduação emGestão Social do UnicenP/SESI/Unindus. E-mail: [email protected]

10. Daniele Farfus

MestrandaemOrganizaçõeseDesenvolvimentopelaUnifae,especialista em Educação pela UFPR e em Administraçãoe Desenvolvimento de Recursos Humanos pela PUC/PR epedagoga pela UFPR. Atua como Analista Técnico SêniordoSESIParanánaCoordenaçãodeProjetosdeArticulaçãoEstratégica.Docentenapós-graduaçãoemGestãoSocialdoUnicenP/Sesi/Unindus.E-mail:[email protected]

11. Elisabete Grande Friebe

EspecialistaemGestãoSocialpeloUnicenpepós-graduandanoMBAemGestãodePessoaspelaFaculdadeBAGOZZI.GraduadaemTecnologiaemProcessamentodeDadospelaFaculdade Santa Cruz Inove. Analista na coordenação doPrograma de Responsabilidade Social da empresa RobertBosch-PeçaPorPeçaedoProgramadeRelacionamentoeIncentivoaoVoluntariadodamesma.

E-mail:[email protected]

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12. Karina Martins

Pós Graduada em Psicologia Clinica Psicanalítica pelaUniversidadeEstadualdeLondrina.GraduadaemPsicologia.AutoracolaboradoradoLivro:TeatroeDeficiênciaMental:A Arte na Superação de nossos limites. Coordenadora doProgramadeResponsabilidadedaempresaRobertBosch-PeçaPorPeça.

E-mail:[email protected]

13. Jesus Carlos Delgado Garcia

MestreedoutoremCiênciasSociaispelaPUC/SP.ProfessordaUNIa-CentroUniversitáriodeSantoAndréedaFSA-CentroUniversitáriodaFundaçãoSantoAndré.Coordenadordo Curso de Pós-graduação: Mediações Tecnológicas emAmbientes Educacionais. Gestor de Projetos do InstitutodeTecnologiaSocial.CoordenadordaPesquisaNacionaldeTecnologiaAssistiva.E-mail:[email protected]

14. Ladislau Dowbor

Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central dePlanejamentoeEstatísticadeVarsóvia.ProfessortitulardaPUCdeSãoPauloeconsultordediversasagênciasdasNaçõesUnidas.Éautorde“AReproduçãoSocial:propostasparaumagestão descentralizada”, “O Mosaico Partido: a economiaalém das equações”, “Tecnologias do Conhecimento: osDesafiosdaEducação”(Ed.Vozes),alémde“OqueAcontececomoTrabalho?”(Ed.Senac)e“DemocraciaEconômica”(Ed. BNB). Seus numerosos trabalhos sobre planejamentoeconômicoesocialestãodisponíveisnosite:http://dowbor.org.E-mail:[email protected]

1�. Liliane Casagrande Sabbag

Mestre em Administração pela PUC/ PR, psicóloga.Coordenadora geral do Programa Comunidade Escola.

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Professoradepós-graduaçãodoBagozzi.E-mail:[email protected],.gov.br

1�. Maria Cristhina de Souza Rocha

Mestre em Administração Pública pela Fundação GetulioVargas, especialista em Desenvolvimento Gerencial pelaUnifae, psicóloga pela UFPR. Gerente de Projetos deArticulação Estratégica do SESI Paraná. Professora deinstituiçõesdeensinosuperior,atuandonasáreasdegestãodepessoasegerenciamentodeprojetos.E-mail:[email protected]

1�. Maria Carolina de Castro Leal

Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela TuiutieGestãoIndustrialpelaUFPR,psicóloga.EspecialistaemDesenvolvimentoOrganizacionalpeloConselhoRegionaldePsicologia e Dinâmica de Grupos pela SBDG (SociedadeBrasileiradeDinâmicadeGrupos),FormaçãoemInvestigaçãoApreciativa pela CASE Western Reserve University. Atuacomo Analista Técnico Sênior no SESI Paraná na área deGestãoSocial.E-mail:[email protected]

18. Maria do Carmo Brant de Carvalho

Pós-Doutorado na Ecole des Hautes Etudes en SciencesSociales, EHESS, Paris, França. Doutorado em ServiçoSocialpelaPUC/SP.GraduaçãoemServiçoSocialnaPUC/SP.Professora epesquisadoranoProgramadePós-GraduaçãoemServiçoSocial –PUC/SP.É autorade vários trabalhospublicados e coordenadora geral do Centro de Estudose Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária(Cenpec).Temvastaexperiêncianagestãopúblicamunicipalnas áreas de Assistência Social e Habitação de InteresseSocial.E-mail:[email protected]

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19. Philip Hiroshi Ueno

BacharelemAdministraçãoPúblicapelaFundaçãoGetulioVargas. Consultor de projetos do Instituto de TecnologiaSocialatuandoemprojetosdeGeraçãodetrabalhoerenda,pesquisa e capacitação em Tecnologias Sociais. E-mail:[email protected]

20. Sonia Beraldi de Magalhães

EspecialistaemGestãodeIniciativasSociaispelaUFRJeespecialistaemMetodologiadoServiçoSocialpelaPUC/RS,assistentesocialpelaPUC/PR.GerentedeGestãoSocialdoSESIParaná.E-mail:[email protected]

21. Zania Maria Diório

Mestre em Psicologia da Infância e Adolescência pelaUniversidade Federal do Paraná, Psicóloga pela UFPRe Gerente do Instituto Bom Aluno do Brasil. Atua nodesenvolvimento e implantação de projetos sociais, tendoexperiêncianadisseminaçãodetecnologiasocialpelomodelode“franquiasocial”.E-mail:[email protected]

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Créditos

Revisão:AntôniaSchwinden

FederaçãodasIndústriasdoEstadodoParaná-FIEP

ServiçoNacionaldeAprendizagemIndustrial/DepartamentoRegional-SENAI

DiretorRegional-SENAIPR João Barreto Lopes

ServiçoSocialdaIndústria-SESI DiretorSuperintendenete José AntônioFares

ProgramaInovaSENAI/SESI/IEL

Sonia Regina Hierro Parolin Gerente

Maricilia Volpato Técnico

Heloisa Cortiani De Oliveira Técnico

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EquipeTécnicadeelaboração

Coordenação–Tânia Regina Rover Virmond

Lucio Suckow

Revisão–José Carlos Klocker Vasconcellos Filho

ProjetoGráfico–Ana Célia Souza França

Priscila Bavaresco

Tratamentodeimagens– Priscila Bavaresco

Editoração–Ana Célia Souza França

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