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INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA COMO ÁREA DO CONHECIMENTO:
DESAFIOS PARA A PERMANÊNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NAS
PRÁTICAS ESCOLARES
Maria de Lourdes Benedita Galvão Jacobs*
RESUMO
Através do presente estudo objetivou-se implantar e avaliar os efeitos de
um programa de Educação Física que ampliasse a contribuição desta
disciplina nas escolas e reforça-se a sua importância não apenas para o
desenvolvimento físico e orgânico, mas integral do estudante. Assim, a
partir de novas propostas de aulas, levou-se aos alunos um programa
integrado, com base nos conhecimentos conceituais e procedimentais
sobre o movimento humano e suas manifestações. Se hoje a Educação
Física passa por um processo de transformações faz-se necessário
valorizar o seu ensino, trazendo uma nova abordagem à disciplina, que
não é vista como as demais que compõem o currículo escolar. A partir de
conteúdos da área denominada biodinâmica, buscou-se com as propostas
contidas neste trabalho despertar o interesse dos alunos pela disciplina,
atribuindo-lhe uma concepção interdisciplinar, e possibilitando a aplicação
e utilização dos conhecimentos específicos da Educação Física no dia-a-dia
do aluno. Após quatro meses de aula dentro da proposta de ensino pôde-
se observar que os alunos demonstraram-se mais conscientes do modo
como realizam o movimento, ou seja, seus movimentos nas atividades
propostas pareciam ter um por que. A partir dos conteúdos conceituais,
atitudinais e procedimentais, aplicados em sala de aula, os alunos
passaram a se preocupar mais em fazer movimentos corretos.
Palavras-chave: Biodinâmica. Conteúdos conceituais. Educação
Física. Ensino Fundamental. Movimento Humano.
1
*Graduação em Educação Física em 1980 pela FEFI. Comunicação Social/jornalismo em 1981 pela UEL. Especialização em Metodologia do Ensino pelo IEDA. Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná desde 1987 na disciplina de Educação Física. Participa do Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE- 2007. Sempre atuou em Londrina e atualmente no Colégio Estadual Vicente Rijo – Londrina-PR.
2
INTEGRATION OF PHYSICAL EDUCATION AS AREA OF KNOWLEDGE:
CHALLENGES FOR MAINTENANCE PHYSICAL EDUCATION
IN SCHOOL PRACTICES
Maria de Lourdes Benedita Galvão Jacobs*
ABSTRACT
Through the present study, it was aimed at to implant and to evaluate the
effects of a program of Physical Education it to enlarge the contribution of
this discipline in the schools and his importance is not just reinforced for
the student's physical and organic, but integral development. Like this,
starting from new proposed of classes, to take to the students an
integrated program, with base in the conceptual knowledge and procedure
about the human movement and their manifestations. If today the Physical
Education goes by a process of transformations, is done necessary to
value his teaching, bringing a new approach to the discipline that is not
seen as the others that compose the school curriculum. Starting from
contents of the area denominated biodynamics, it was looked for with the
proposals contained in this work to wake up the students' interest for the
discipline, attributing him interdisciplinary conception, and making
possible the application and use of the specific knowledge of the physical
education in the student's day by day. After four months of class inside of
the teaching proposal could be observed the following changes: the
students demonstrated to be more conscious of the way as they
accomplish the movement, in other words, their movements in the
proposed activities seemed to have a reason. Starting from the conceptual
contents and applied procedure in classroom the students passed
worrying more in doing correct movements.
Word-key:Biodynamics. Conceptual Contents. Physical Education.
Fundamental Teaching. Human Movement.
*Graduation in Physical education in 1980 at FEFI. Graduation in Journalism and Social
3
Communication in 1981 at UEL. Specialization in Methodology Didacticism of the Teaching at IEDA. Teacher of the Paraná State, public education since 1987 in the discipline of Physical Education. She is participating of Education Development Program – (PDE- 2007). She always has acted in Londrina and now at the Vicente Rijo State School - Londrina-PR.
INTRODUÇÃO
Acredita-se que o nosso sistema de ensino atual seja proveniente
da educação institucional que surgiu na Grécia e o que se tem percebido,
até mesmo nas sociedades capitalistas tecnologicamente avançadas, é
que poucas inovações foram feitas na forma como a educação escolar é
concebida (BRANDÃO, 1991). Conseqüentemente, conceituar
conhecimento escolarizado é primordial para se entender como está
inserido o conhecimento da Educação Física neste contexto.
A ausência de uma conceituação, construída a partir de uma
reflexão filosófica radical, tem implicado na criação de considerações,
pautadas em interesses políticos e econômicos momentâneos.
Como reflexo desta ausência crítica, podemos citar as tendências
pedagógicas que a Educação Física escolar assumiu nos últimos cem anos
de sua existência: Educação Física Higienista, Militarista, Pedagogicista e
Competitivista (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1988).
Da Costa (2006), por exemplo, cita que a partir da década de 1950
o esporte começa a fazer parte importante das aulas de Educação Física e,
em 1955, pela Portaria n° 104 e 06/04/1955, criavam-se os Centros de
Educação Física o que oficializava o vínculo da Educação Física com o
esporte.
Somou-se a isso o fato de na década de 1960 ocorrer o “Boom” do
corpo. Depois de ser discutido basicamente no plano acadêmico, o corpo
passa a ser para a mídia um “objeto”, acerca de representações
amplamente construídas e reproduzidas. A partir de textos jornalísticos,
anúncios publicitários, fotos e ilustrações na televisão e na mídia impressa
surgem novos discursos, vozes sobre o corpo e sobre como ele é visto.
Capas de revistas aparecem como representações de imaginários, cujo
objetivo é explorar o corpo feminino.
4
Conseqüentemente à exploração do corpo pelos meios de
comunicação surgem os interesses comerciais e com eles, torna-se
possível observar a influência da mídia na orientação da Educação Física
atual: um dos grandes problemas relacionados ao corpo está ligado aos
padrões estéticos pré-estabelecidos como modelos ideais.
Nesse processo de “descaminhos”, uma afirmação tem se tornado
consenso entre os professores, ou seja, a Educação Física apresenta-se
eminentemente como uma função social voltada à área educacional. Seu
objetivo, dentro de sua especificidade, consiste em contribuir com a
educação básica do indivíduo, desenvolvendo aspectos da vida cidadã,
como saúde, sexualidade, vida familiar, trabalho, ciência e tecnologia,
bem como a cultura e a linguagem. Por outro lado, esta concepção de
Educação Física, cada vez mais ampla e flexível, absorveu integralmente
os fundamentos da recreação para atender as exigências, cada vez
maiores, do aproveitamento das horas de lazer, do discurso da saúde para
um estilo de vida ativo e da boa qualidade de vida.
Coll (1997), um dos consultores dos PCN´s, considera que a
proposta para o ensino escolar está pautado na organização curricular de
conhecimentos que o aluno deve aprender na escola: os conceituais, os
procedimentais e os atitudinais. Porém, essa classificação não deve ser
entendida como uma tentativa de divisão e de separação das estruturas
do conhecimento, mas como um recurso para que o professor avalie se
realmente está oferecendo um ensino significativo para o aluno.
Contudo, o conteúdo conceitual da Educação Física escolar, diante
dos acontecimentos históricos, políticos e ideológicos acabou sendo
abandonado. Acredita-se que o referencial que norteia o planejamento, o
desenvolvimento e a avaliação dos programas da Educação Física tem
contemplado apenas as dimensões atitudinal (socialização) e
procedimental do conhecimento (saber executar gestos técnicos de
modalidades esportivas, lutas etc.).
Tani (1991) aponta que o papel da Educação Física refere-se à
aprendizagem do movimento e sobre o movimento, sendo que este último
refere-se à aquisição formal de conceitos e de princípios que expliquem o
5
que é o movimento e sobre como ele é organizado. Entretanto, o que
atrapalha o desenvolvimento da Educação Física como componente
curricular é o fato de ela não ter claramente definido o seu objetivo, que é
o principal requisito para qualquer componente curricular. Isso devido não
apenas à diversidade de objetivos propostos pelos especialistas como a
própria organização e seriação dos seus conteúdos. A partir dessa
constatação, os educadores deveriam observar o que deve ser alterado no
ensino da Educação Física.
Em relação às propostas de aula que são vistas até hoje, pode-se
afirmar que elas, na prática, são incompletas. Um resultado da falta de
unidade, representado pela distância cada vez maior entre as propostas e
um conhecimento fragmentado sendo oferecido ao aluno. Assim, surge a
necessidade de ações que façam tentativas de superação dos conflitos
entre as diferentes propostas apresentadas, para que se manifeste uma
visão mais ampla e completa do conhecimento pertinente à disciplina
Educação Física Escolar.
Na escola, o que se pode observar é o desinteresse dos alunos pela
aprendizagem “teórica”. Então, todos os componentes do ambiente
escolar precisam trabalhar integrados para promover o projeto político
pedagógico da escola, bem como, construir a função educacional da
disciplina Educação Física, através de uma articulação orgânica dos seus
objetivos conceituais, procedimentais e atitudinais.
Todas as aulas de Educação Física devem articular estes objetivos.
Mesmo numa aula “prática” na quadra poliesportiva, o professor deve
estruturar procedimentos de ensino que relacionem conhecimentos
“teóricos” e “práticos”. A parte teórica tem como objetivo proporcionar ao
aluno o conhecimento dos principais conceitos do tema que está sendo
desenvolvido, além disso, explicar a importância e o porquê trabalhar tal
tema nas aulas. Na parte prática, o aluno poderá vivenciar os conceitos
estudados na teoria e, através da orientação e supervisão do professor,
realizará movimentos corretos que possibilitarão a aprendizagem do tema
estudado, tanto os conceitos, quanto os movimentos.
Como componente do currículo escolar, com a finalidade de se
6
evidenciar a importância da relação entre Educação e o papel da
Educação Física a ser desempenhado na escola, o Coletivo de Autores
(1992) defende a idéia de que a Educação Física, como disciplina do
currículo escolar, tem as mesmas tarefas da escola em geral que é ensinar
e ensinar bem. Assim, torna-se necessário saber quais conhecimentos a
disciplina deve oferecer aos seus alunos, pelo fato de que estes
apresentam uma base fundamental para que o aluno reflita, aprenda e
aplique, de acordo com a realidade social na qual ele está inserido.
De acordo com Freire (1999), o que tem se confirmado ainda nos
dias atuais são aulas de Educação Física, baseadas no “saber fazer”, com
inúmeras atividades motoras, sem a preocupação de se garantir o
aprendizado de conhecimentos tão importantes quanto os oferecidos por
outros componentes curriculares. Portanto, esse pode ser o motivo da
disciplina ser tratada com diferença na escola em comparação com os
demais componentes curriculares.
Assim, atualmente pode-se observar que ocorre algum
desinteresse dos alunos pelas aulas de Educação Física, pautados,
sobretudo, pela falta de seqüência dos conteúdos apresentados nas
diferentes séries escolares. Assim, a Educação Física tem se apresentado
como uma disciplina essencialmente procedimental, principalmente
voltada para o ensino e a prática de jogos com tipificação esportiva ou
recreação. O que pode levar à compreensão de que os professores de
Educação Física identifiquem a idéia de que os conteúdos pertinentes à
sua área são os advindos, quase que unicamente, dos conhecimentos de
conotação utilitaristas ou voltados para a descontração.
Num outro ponto de vista, o Coletivo de Autores (1992), apresenta
que a área de conhecimento da Educação Física é a cultura corporal e
define que a prática pedagógica, na escola, deve tematizar formas de
expressões corporais, as quais incluem os jogos, o esporte, a dança e a
ginástica. Contudo, para a valorização da Educação Física como área de
conhecimento, os profissionais precisam elaborar um programa integrado
e eficiente, com base em conhecimentos sobre, por exemplo, a saúde
social enquanto uma construção social, o movimento humano enquanto
7
reflexo do meio, ao mesmo tempo em que modifica este meio.
O professor de Educação Física deve possibilitar a
vivência e experimentação de diversas modalidades esportivas com o
objetivo de valorizar a cultura local, pensando a (re) criação de um esporte
da escola, e não somente aplicar o esporte na escola (BRACHT, 1992). Isso
pressupõe considerar a necessidade individual e regional da comunidade
escolar. Assim, as DCE’s do PR propõem que o modelo institucional do
esporte deve ser questionado, isto é, além de localizar as diferentes
práticas esportivas, em tempos e espaços específicos, é importante recriar
outras formas possíveis de efetivar sua prática.
Para Daolio (2004) o profissional de Educação Física não atua
somente sobre o corpo ou com o movimento em si, não trabalha com o
esporte em si, não lida com a ginástica em si. Ele trata do ser humano nas
suas manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento
humano historicamente definido como jogo, esporte, dança, luta e
ginástica.
A Educação Física deve ser fundamental na escola, pois desenvolve
um trabalho de conhecimento, de aprendizagem contínua sobre
descobertas de movimentos do corpo humano. Porém, a disciplina não é
vista dentro da escola como as demais que compõem o currículo escolar.
Ao analisar as concepções gerais da composição do conhecimento
conceitual, FREIRE (1999) afirma que é possível serem elas coerentes e
compostas de conhecimentos que não são apresentados em outros
componentes curriculares, o que deixa claro a existência de uma base de
informações específicas da Educação Física. Porém, eles são apresentados
de forma fragmentada, sem a constituição de um corpo de conhecimentos
organizados.
Assim, para a estruturação de novas propostas de ensino da
Educação Física é necessário relacionar os objetivos presentes nas
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná e tecer uma rede entre os
Profissionais da Educação Física do Estado, de forma que os conteúdos
conceituais façam parte do processo ensino-aprendizagem, integrados,
eficientes e comprometidos com uma Educação Física realmente atrelada
8
a uma escola cidadã.
Deve-se ainda, considerar o que propõem as DCE’s do PR quando
apresentam, além dos conteúdos estruturantes, os elementos
articuladores, que devem permear todo o trabalho do professor,
articulando os conteúdos de forma contextualizada, considerando o
cotidiano escolar e apresentando-se como fins e meios da educação
escolar (PARANÁ, 2005).
De acordo com Faria Filho (1997) assim como a escola
“escolarizou” conhecimentos e práticas sociais, buscou também apropriar-
se de diversas formas do corpo constituir uma corporeidade que lhe fosse
mais adequada. Assim, é importante observar que o tratamento do corpo
na Educação Física sofre influências externas da cultura de maneira geral,
mas também internas, ou seja, da própria instituição escolar.
Portanto, torna-se necessário analisar que na instituição escolar o
termo disciplina envolve um duplo aspecto: por um lado, tem-se a
dimensão das relações hierárquicas, observância de preceitos, normas, de
conduta do corpo; por outro, os aspectos do conhecimento propriamente
dito. Conseqüentemente, a escola passa a promover a educação corporal,
na qual se deve considerar o que realmente tem significado na educação
corporal do ponto de vista educativo e, ainda, que tipo de educação
corporal a escola e a Educação Física almejam.
Coll (1997) destaca que a escola deve promover o crescimento
pessoal do aluno, mediante a assimilação e a aprendizagem da
experiência social culturalmente organizada, que são os conhecimentos,
as habilidades, os valores e as normas, através das atividades educativas.
Dessa forma no desenvolvimento dos conteúdos da disciplina, o professor
de Educação Física deve buscar uma interação efetiva com seus alunos e
a coerência entre teoria e prática, com o objetivo de proporcionar uma
educação que não se resuma a reproduzir modelos ou perpetuar
estruturas de poder, mas um conjunto de saberes socialmente relevantes
para que os alunos possam transformar sua participação enquanto ser no
mundo.
9
CONHECIMENTOS DA ÁREA DE BIODINÂMICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA
De acordo com Tani (1989) a área de Biodinâmica do Movimento
Humano reúne os estudos dos mecanismos de sustentação para o
movimento, (bioquímica, fisiologia, etc.), bem como de organização
motória em seus aspectos físicos internos e externos (controle motório,
desenvolvimento motório, aprendizagem motória e biomecânica).
Tradicionalmente os conhecimentos desta área são utilizados pelo
professor de Educação Física, para ordenar programas de
condicionamento físico, voltados à saúde (individual) – endurance RML,
Força, Flexibilidade e Composição Corporal – ou voltados ao rendimento
esportivo – velocidade, agilidade, potência, etc.
Contudo, na aplicação dos conteúdos, os conceitos relacionados à
Biodinâmica na Educação Física deve levar em consideração: (a) os
conhecimentos já teorizados sobre o comportamento do corpo humano
durante o movimento e os conceitos básicos da Biomecânica, e (b) as
experiências e as práticas corporais que os alunos trazem de situações de
fora das aulas de Educação Física, de forma que tais conhecimentos
sejam, progressivamente, sistematizados, tornando-se significantes para
os alunos, na medida em que são aplicados em sua realidade, no seu
cotidiano.
Para Manoel (1986) existe a preocupação com a especificidade do
objeto de investigação da Educação Física: tratar o movimento humano do
ponto de vista dos mecanismos que possibilitam o comportamento motor.
Assim, Tani (1989) admite que o movimento humano pode ser
reconhecido como um objeto de investigação que pode trazer
conhecimentos para a Educação Física.
Na Educação Física os conhecimentos da área da Biodinâmica
aplicados ao ensino podem possibilitar que o aluno execute, com o
sucesso esperado, determinado exercício físico ou habilidade motora.
Assim, por exemplo, o domínio da posição do corpo no espaço ou a força
aplicada para manter a postura são essenciais para a execução dos
movimentos em geral. Os alunos ao vivenciarem a execução de
10
determinado movimento serão capazes de alcançar maior controle sobre
suas variáveis. Os procedimentos de avaliação podem ser tratados para a
compreensão e aplicação de conhecimentos biodinâmicos mais
complexos, como a identificação de erros cometidos por colegas durante a
execução de uma habilidade motora, que envolverão a percepção das
variáveis mecânicas envolvidas em cada momento.
A compreensão do Movimento Humano deve estar articulada com
as vivências do aluno no contexto lúdico para que seja valorizado como
elemento articulador do conhecimento. Segundo as Diretrizes Gerais para
a Educação Física (1981), a Educação Física Escolar tem "um fim em si
mesma", e mostra-se como "um conjunto de atividades educativas que
visam a criar o gosto e o hábito do exercício físico regular". Então, o
professor pode trabalhar com a abordagem de informações básicas sobre
diferentes aspectos da Biodinâmica, como: características do tecido
muscular e ósseo ou o sistema articular, dentro de experiências motoras
ou sociais mais amplas como os jogos coletivos, ou as caminhadas
ecológicas com amigos.
No entanto, ainda se vê uma parcela dos alunos desmotivados a
participar das aulas de Educação Física. Alguns dizem não saber por que
precisam ter essa aula na escola, por que não podem ficar de fora das
atividades e outras justificativas para não aprender sobre a prática de
atividades físicas e o desenvolvimento das habilidades do corpo humano.
UMA AVALIAÇÃO PRÉVIA DE COMO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
TEM SIDO CONCEBIDA
Para o desenvolvimento do presente trabalho, depoimentos foram
colhidos para que fosse possível identificar quais os conceitos que pais,
alunos, professores e diretores de escola têm sobre a Educação Física e já
começar a pensar qual caminho os professores poderão seguir, para
introduzir novos métodos de aulas, novas propostas para o ensino da
disciplina. Acompanhe os depoimentos colhidos sobre a disciplina durante
estudos sobre o cenário atual da Educação Física:
11
Professor de Educação Física
(P1) “Para mim o desmotivo dos alunos é a situação deles, a criação. Muitos não
têm incentivo dos pais, pois os pais já não praticam atividade física e tem casos
em que os pais são fumantes e tem aqueles que gostam de tomar uma
cervejinha no fim de semana. Então, acredito que quando os pais não têm o
hábito de praticar esportes com os amigos, os próprios filhos já não tem
estímulo. Acontece às vezes do aluno não ter um estímulo na própria escola. Isso
acontece quando a escola não proporciona o espaço físico, tem escolas que não
tem ginásio e a aula tem que ser improvisada. Eu ainda acredito na idéia de que
o papel da escola, do professor é proporcionar uma boa aula de educação física
aos alunos”.
(P2) “O que se encontra nas escolas hoje são alunos com pouco interesse pela
disciplina educação física. A idade não colabora para que eles estejam
completamente habituados com seus corpos ou satisfeitos com seu
desenvolvimento, já que em certos momentos o corpo pode parecer
desconhecido e abstrato. É preciso trabalhar intensivamente com estes alunos”.
(P3) “A falta de respeito para com os professores é o que mais atrapalha as
aulas. Já tive alunos que se negavam a participar das aulas práticas e diziam que
odiavam as aulas teóricas. Hoje a gente tem concorrentes eletrônicos e os alunos
acabam dando mais valor às “novas tendências”. Eu faço a minha parte, mas se
os alunos não colaboram a situação de aprendizagem fica complicada”.
Diante do exposto acima, deve-se considerar que é chegada à hora
do professor mudar os métodos de ensino. Na área de Educação Física,
essa mudança faz-se necessária com urgência, já que os alunos
encontram-se desmotivados a participar das aulas teóricas e práticas que
envolvem o movimento humano. Dessa forma, cabe ao professor
estruturar aulas para que os alunos passem a conhecer os fundamentos
do movimento humano, e que saibam como utilizá-los de modo
consciente. Mostrar a eles que praticar atividade física pode representar
um prazer sem esforço, desde que os movimentos sejam parte de sua vida
cotidiana. Assim, levar ao aluno exemplos dos benefícios que a atividade
física pode trazer para o seu corpo e para sua vida. É o começo de um
aprendizado mais estruturado, e que representa muito na busca por um
12
corpo saudável.
Alunos
(Ad1) “Até hoje eu ainda não entendi por que a gente tem que ter essa aula. O
professor sempre leva a gente pra quadra e faz jogos com a gente lá. Às vezes
até é legal, mas quando vamos pra sala e temos que ficar ouvindo falar, aí é
difícil. Sabe, ninguém gosta, mas se a gente tem que estudar, então a gente
fica.”
(Ad2) “Eu acho que o professor deveria continuar as aulas. É ruim quando a
gente começa a gostar da aula e volta todo animado e o professor muda de
assunto. Se a gente tem que aprender educação física então por que o professor
não fala mais, assim, em várias aulas sobre o mesmo assunto pra gente poder
aprender bem?”
(Ad3) “Eu adoro as aulas de Educação Física. Pra mim é bem divertido e sei que
faz bem para o nosso corpo praticar atividade física. Tenho alguns colegas que
não gostam dessa aula, mas eu procuro sempre mostrar pra eles como é legal
participar dos jogos, das aulas, de tudo que a professora ensina na sala”.
Exemplos como esses revelam a direção que segue o ensino da
Educação Física na escola atualmente. Porém, essa realidade não pode
continuar assim, pois a atividade física deve fazer parte, não apenas da
vida escolar, mas de toda uma vida. O corpo humano é feito para o
movimento. Não movimentar-se, significa a negação de um potencial
presente e de uma condição futura. Assim, a cada dia, pode-se perceber a
importância do ensino da Educação Física no ambiente escolar. Uma
disciplina que tem muito a colaborar com o ser humano, num aspecto em
que ele necessita para viver: o conhecimento de si e de suas
potencialidades. Dessa forma, chega o momento dos professores de
Educação Física buscarem alternativas para rever este quadro e
estabelecer mudanças que tornem a disciplina mais bem aceita pelos
alunos, que devem ser os mais interessados nela.
Pais de alunos
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(P7) “Eu acho que o professor de Educação Física deve ter uma organização das
atividades práticas e teóricas. Meu filho sempre volta pra casa com as roupas
mais sujas quando tem aula de Educação Física. Ele chega todo cheio de suor e
isso acaba dando mais trabalho pra gente que é dona de casa”.
(P8) “Sinceramente, eu espero que meus filhos aprendam algo de bom nas aulas
de Educação Física. Eu me preocupo com o risco que existe do meu filho cair, se
machucar e a gente ter que levar pro hospital. O professor tem que organizar
uma aula produtiva mas, sem riscos para as crianças”.
(P9) “Pra mim os professores precisam passar atividades para os alunos que
deixem todos calmos e educados. Não pode acontecer muita agitação nas aulas.
Eu quero minha filha na escola aprendendo coisas que tenham aplicação para a
vida”.
Pode-se perceber, a partir de exemplos como esses, que existem
casos em que os pais não têm conhecimento sobre os objetivos das aulas
de Educação Física, como disciplina escolar. Esse desconhecimento se
torna maior quando os alunos não levam para os pais a realidade da
escola, que muitas vezes não possui espaços adequados para a prática da
atividade física, mas que, mesmo assim, orienta o aluno quanto aos
objetivos da disciplina. Um fato que preocupa bastante os pais é saber o
que seus filhos fazem na escola e, principalmente, na hora da aula de
Educação Física. Esse preconceito quanto à disciplina Educação Física
acaba se tornando mais forte quando o aluno se apresenta rebelde,
quando ele acha que não precisa participar das aulas. Dessa forma, pode-
se considerar que a melhor maneira de manter o aluno nessa aula é
despertar-lhe o interesse pela atividade física, ou fazer com que passe a
conhecer como pode desenvolver movimentos conscientes e conseguir
excelentes retornos para a sua vida, em termos de uma melhor qualidade
de vida.
Diretores
(P4) “Durante a aula de Educação Física o aluno fica solto na escola. A gente não
consegue ter um controle, pois eles estão fora das quatro paredes de uma sala
de aula. Eles se sentem mais livres e podem fugir ao nosso controle. Mas a gente
14
sabe da importância da disciplina, então sempre existe aquela preocupação com
o que os alunos podem “aprontar” na hora da aula fora da sala”.
(P6) “Minha maior preocupação é um aluno se machucar durante as aulas. A
quadra não se parece em nada com a sala de aula. E quando acontece de um
aluno se machucar durante um treinamento esportivo a responsabilidade é da
diretoria da escola e não do professor. Eu sempre peço aos professores muito
cuidado com os treinamentos nas aulas”.
(P5) “As aulas nem sempre parecem ser o que realmente são. A disciplina exige
uma “sala de aula” muito maior que a convencional e costuma ser mais cara.
Quando tenho que comprar material para a disciplina de Educação Física já sei
que os usados nas aulas são mais caros que os das outras disciplinas, sempre
“estouro” o orçamento, para poder atender aos pedidos dos professores”.
Para o bom desenvolvimento da disciplina Educação Física faz-se
necessário que toda a comunidade escolar esteja disposta a colaborar. Os
diretores, como representantes da escola, são os principais personagens
que devem se empenhar para que seus alunos tenham uma aula de
Educação Física de boa qualidade. Quanto à indisciplina, ela deixa de
existir no momento em que o aluno reconhece a importância do que é
ensinado, não só pelo que é dito pelo professor de Educação Física, mas
por todo o corpo docente da instituição. Portanto, para que a disciplina
Educação Física promova mudanças e possibilite bons retornos, é
necessária uma comunidade escolar integrada, que busque alternativas
viáveis, que não apenas critique, mas que esteja disposta a colaborar.
A partir de depoimentos como estes, fica explícito que é preciso
traçar novos caminhos para o desenvolvimento da Educação Física na
escola. Assim, estudar e trabalhar com os alunos diante de novas
propostas, novas abordagens dos conteúdos e conceitos que envolvam a
disciplina. E, acima de tudo, deve-se valorizar o ensino da Educação Física,
que é uma disciplina fundamental e deve ter a mesma importância e
respeito como as demais do currículo escolar.
O papel do professor, para um melhor desenvolvimento da Educação
Física deve começar com a estruturação das aulas. Deste modo, torna-se
15
possível estabelecer critérios que colaborem para o bom desempenho dos
conteúdos apresentados aos alunos. As aulas devem ser de um modo que
o professor alcance seu objetivo, que é o de mostrar para o aluno a
importância da atividade física na vida do ser humano. Porém, em
algumas escolas, os professores ficam impossibilitados de trabalhar certas
atividades com os alunos, pois não há estrutura como quadras, vestiários,
materiais, horários apropriados, etc.
VALORIZAR O ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Desde 1987 atuo como professora na Rede Estadual de Ensino do
Paraná, na disciplina de Educação Física. Durante o desenvolvimento do
meu trabalho como docente foi possível observar que há divergências no
modo de se ver a Educação Física, ou seja, o mesmo ponto é visto de
maneira diferente por alunos, professores, pedagogos e diretores. O que
pode ser? Se o condutor, que é o professor, aponta para um local e seu
aluno vê outro? Talvez esta mensagem não esteja sendo clara o suficiente
para ser entendida, pode estar havendo “ruído” na comunicação. Acredito
que para a aprendizagem acontecer é necessário haver trocas, e uma
comunicação bidirecional.
Comparando os vários depoimentos colhidos para o
desenvolvimento do presente trabalho, percebe-se que não existe unidade
de trabalho e o professor não atinge seus objetivos, porque considera um
aspecto importante para seu aluno, mas ele elege outro para si. Sabe-se
que todos querem aprimoramento e qualidade, mas é preciso integração
dos participantes para se chegar ao consenso que certamente leva ao
sucesso.
É preciso traçar objetivos comuns, que atendam a todos da
comunidade, bem como suas necessidades e anseios e, então, criar um
modelo eficiente para trabalhar a disciplina Educação Física, tendo suporte
teórico, maior credibilidade enquanto disciplina escolar e formação cidadã.
O resultado deste trabalho de conhecimento trará, certamente, os
subsídios que estamos precisando para tornar viável nosso projeto: a
16
elaboração de materiais teóricos para as aulas Educação Física.
Tani (1991) considera que o saber ao ser sistematizado deve ser
orientado de maneira que atenda a aprendizagem do, sobre e através do
movimento. Sabendo que a escola tem como finalidade a formação para a
cidadania, para o mundo do trabalho e o desenvolvimento da ciência é
fundamental valorizar o ensino da Educação Física, tratando dos
conteúdos conceituais.
Betti (2003) considera que se cabe à Educação Física introduzir e
integrar o aluno na cultura corporal de movimento. Há que se considerar
que: i) a integração há de ser do aluno concebido como uma totalidade
humana, com suas dimensões físico-motora, afetiva, social e cognitiva, e
ii) o consumo de informações e imagens proveniente das mídias faz parte
da cultura corporal contemporânea e, portanto, não pode ser ignorada;
pelo contrário, deve ser objeto e meio de educação, visando
instrumentalizar o aluno para manter uma relação crítica e criativa com as
mídias.
Portanto, cabe ao professor de Educação Física reconhecer qual o
papel da influência da mídia ligada à saúde e à atividade física e fazer
uma leitura crítica do cenário atual dentro da sala de aula. Debater com os
alunos, abrindo um jornal, lendo uma revista ou assistindo à TV, como são
insistentes os apelos feitos em prol da atividade física.
Dessa forma, procurei estruturar uma proposta de ensino da
disciplina Educação Física e apliquei esse projeto na escola onde atuo.
Trabalhei com uma turma de 5ª série do ensino fundamental do Colégio
Estadual Vicente Rijo, na cidade de Londrina (PR). O resultado foi
satisfatório. Consegui explorar bastante os conteúdos escolhidos e ganhei
a confiança dos alunos, quando despertei neles o interesse pela atividade
física e para alguns jogos que haviam ficado esquecidos “nos armários”,
substituídos pela evolução tecnológica.
TRABALHAR CONTEÚDOS CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO FÍSICA:
UMA PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO
17
A Proposta de Implementação dos Conteúdos da Educação Física
foi aplicada ao longo do ano letivo de 2008 com a turma de 5ª Série do
Colégio Vicente Rijo, totalizando 34 horas/aula. Durante a aplicação dos
conteúdos planejados foi possível observar as reações dos alunos frente a
essa nova proposta de aprender Educação Física.
Para os testes de aptidão física foram trabalhados conceitos
referentes à prática de exercícios físicos, vida ativa e saudável, bem como
o conhecimento do próprio corpo e suas estruturas funcionais. Conceitos
que versaram sobre as estruturas do corpo humano relacionadas com o
movimento e, conseqüentemente, a relação dos músculos que produzem
os principais movimentos diários. Nos conteúdos atitudinais foram
trabalhados o autocontrole, a cooperação, o auto-respeito pelo outro,
durante a prática de exercícios físicos e a autoconfiança e esforço para a
própria superação.
Segundo FERRAZ (1996, p.17) essas dimensões podem ser
entendidas da seguinte maneira na Educação Física:
A dimensão procedimental diz respeito ao saber fazer [...]. No que diz respeito à dimensão atitudinal, está se referindo a uma aprendizagem que implica na utilização do movimento como um meio para alcançar um fim, mas este fim não necessariamente se relaciona a uma melhora na capacidade de se mover efetivamente. Neste sentido, o movimento é um meio para o aluno aprender sobre seu potencial e suas limitações [...]. [A dimensão conceitual] [...] significa a aquisição de um corpo de conhecimentos objetivos, desde aspectos nutricionais até sócio-culturais como a violência no esporte ou o corpo como mercadoria no âmbito dos contratos esportivos.
Os conteúdos relacionados na proposta foram escolhidos com a
intenção de proporcionar aos alunos conhecimentos sistematizados sobre
as estruturas corporais, relacionadas com a locomoção e a necessidade de
incluir os exercícios físicos em benefício do fortalecimento das estruturas
corporais, para um melhor desempenho nas atividades diárias.
Antes de dar início às atividades, entre as ações previstas estava a
realização do exame biométrico, para verificar o peso e a altura dos
alunos e, em seguida, calcular o Índice de Massa Corpórea (IMC), uma
fórmula que indica se a pessoa está acima ou abaixo do peso ideal que é
considerado saudável. Depois de saber como estava o peso, os alunos
18
puderam sentir a pulsação tocando a artéria do pulso ou do pescoço. A
proposta era ensinar o que é a Freqüência Cardíaca, a quantidade de
vezes que o coração se contrai num determinado espaço de tempo.
Primeiro os alunos passaram por um teste dentro da sala de aula.
Foi pedido que eles se mantivessem imóveis por alguns minutos depois
anotassem no caderno as medições para obterem a quantidade de
batimentos por minuto. Com o objetivo de já estimular uma atividade
física, os alunos foram levados para uma caminhada ao redor do campo
de futebol suíço do Colégio. De volta à sala de aula, cada aluno deveria
anotar e novamente calcular a sua Freqüência Cardíaca Máxima
registrando, as Freqüências Cardíacas obtidas em repouso e após as
atividades físicas.
Com o conhecimento sobre os batimentos cardíacos, os alunos já
estavam preparados para a sondagem motora, que avalia a resistência
cardio-respiratória. A atividade foi realizada após a execução e
comentários sobre a importância do aquecimento/alongamento. A
princípio procurou-se fazer uma corrida de forma moderada.
A corrida representa uma forma de locomoção altamente
complexa, que requer acentuada coordenação de movimento; e seu
estudo específico justifica-se pelo aumento significativo no número de
praticantes dessa modalidade nos últimos anos (QUEEN; GROSS; LIU,
2006). Corredores profissionais e técnicos buscam constantemente a
melhora do desempenho (MIDGLEY; McNAUGHTON; WILKINSON, 2006), e a
avaliação biomecânica constitui-se de uma importante ferramenta para
alcançar esse objetivo.
Entre testes de aptidão física, habilidades e conhecimentos de
conteúdos os alunos descobriram que Educação Física não lida apenas
com músculos e ossos, mas com o ser humano, que está envolvido num
contexto histórico e social. O projeto desenvolvido no colégio em Londrina
(PR) envolveu conteúdos relacionados ao atletismo, ginástica, jogos e
brincadeiras. Atividades que abordaram conteúdos da Biodinâmica, das
Capacidades Físicas, do Corpo Humano e estruturas do Sistema Locomotor
e os Benefícios da Prática da Atividade Física para a Saúde.
19
Foi importante ressaltar para os alunos que possíveis alterações no
padrão de força e resistência da musculatura abdominal, poderiam
prejudicar a postura do indivíduo, facilitando o aparecimento de eventuais
problemas posturais e dores associadas. O teste abdominal teve o objetivo
de avaliar a força abdominal, dado que a musculatura abdominal é
responsável pela manutenção de nossa postura.
Já para o desenvolvimento das capacidades físicas e motoras
tivemos a Ginástica Formativa. Uma atividade que auxilia no
desenvolvimento corporal, propõe movimentos que desenvolvem a
elasticidade, a flexibilidade, a força, a velocidade, a resistência muscular
localizada e a coordenação motora entre outras capacidades físicas.
Durante as aulas de Educação Física ressaltou-se a importantância
e clareza da definição das capacidades físicas. São elas:
Resistência Cárdio-respiratória
- Capacidades físicas relacionadas à
saúdeResistência muscular
Flexibilidade
Força
Agilidade
Coordenação motora
- Capacidades físicas relacionadas
ao rendimento atléticoEquilíbrio
Velocidade
Potência
Para efetivar o ensino sobre essas capacidades, adotei como
estratégia a ginástica natural, por ser uma atividade que não requer
nenhum tipo de equipamento, pois você usa apenas o peso do próprio
corpo, mas é um exercício vigoroso, exigindo bastante esforço do
praticante e, como só utiliza o peso do próprio corpo, diminui bastante o
risco de lesões. Qualquer pessoa pode fazer, independente de idade, sexo
20
e peso. São centenas de movimentos, oferecendo um trabalho completo,
que desenvolve qualidades físicas como a força, a flexibilidade, o
alongamento, a coordenação e através de técnicas de respiração,
promove uma melhora no controle motor e mental.
Após o desenvolvimento da proposta foi possível constatar que
houve apreensão do conhecimento conceitual ou cognitivo por parte dos
alunos. A nova abordagem dada à disciplina conseguiu despertar neles o
interesse pelos componentes da Educação Física. Também foi possível
observar que eles tinham vontade de aprender sobre determinadas
modalidades esportivas e saber os fundamentos de cada uma, mas faltava
um melhor planejamento para inserir os conteúdos da Educação Física na
sala de aula.
Para este trabalho optou-se pelos conhecimentos advindos da área
da biodinâmica do movimento humano, pois no aspecto atual da área de
Educação Física, em que se enfatiza a visão crítica e consciente do
movimento. Este bloco de conteúdo se apresenta como um bom
instrumento para o desenvolvimento das potencialidades dos alunos, ao
abordar as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais dos
conteúdos.
Um dos objetivos do projeto era a mudança de hábitos de jovens
sedentários, que passam muitas horas em jogos eletrônicos ou assistindo
a televisão durante o tempo livre. Assim, conscientizar os alunos de que o
nosso corpo foi projetado para os movimentos e que, além de ser capaz de
realizá-los com harmonia e eficiência, precisam deles para manter-se
saudável.
AVALIAÇÃO DOS CONTEÚDOS TRABALHADOS NA PROPOSTA
Por compreender que os alunos já estavam mais familiarizados com
a proposta de aula, então foi proposta uma verificação da aprendizagem.
Para avaliação dos conteúdos teóricos trabalhados, as questões tinham as
opções:Sim ( ), Não lembro ( ), Não ( ). Quando assinalada a resposta
“Sim”, o aluno deveria explicar. Veja as questões:
21
• O que significa sistema locomotor? Se a resposta for sim, explique.
• Qual a função dos ossos?
• Qual a função dos músculos?
• O que é articulação?
• O que são ligamentos e tendões?
• O que é potência?
• Qual a diferença entre velocidade e agilidade?
• O que é coordenação motora?
• O que significa sedentarismo?
• Qual o significado da Biodinâmica?
• O que é resistência cárdio-respiratória?
• Qual é a diferença entre força e resistência muscular?
• O que é equilíbrio?
• Quais os benefícios da prática de atividades físicas para a saúde?
• Por que é importante realizar atividades físicas todos os dias?
Acompanhe na TABELA 1, os números correspondentes às
respostas do questionário aplicado:
TABELA 1: Freqüência das respostas na avaliação de retenção da
aprendizagem.
Questões Quantidade de alunos
reposta sim
Quantidade de alunos reposta
não lembro
Quantidade de alunos reposta
não
% de alunos que explicaram corretamen
te
1. O que significa sistema locomotor?
20 10 09 51%
2. Qual a função dos ossos? 20 09 10 51 %
3. Qual a função dos músculos? 20 09 10 51 %
4. O que á articulação? 18 12 09 46 %
5. O que são ligamentos e tendões? 19 10 10 48 %
6. O que é potência? 20 10 09 51 %
7. Qual a diferença entre velocidade e agilidade?
20 10 09 51 %
8. O que é coordenação motora? 20 10 09 51 %
22
9. O que significa sedentarismo? 20 10 09 51 %
10. Qual o significado da Biodinâmica?
20 10 09 51 %
11. O que é resistência cárdio-respiratória?
19 10 10 48 %
12. Qual é a diferença entre força e resistência muscular?
20 10 09 51 %
13. O que é equilíbrio? 20 09 10 51 %
14. Quais os benefícios da prática de atividades físicas para a saúde?
39 - - 100%
15. Por que é importante realizar atividades físicas todos os dias?
39 - - 100%
Se os alunos ouvem o professor e buscam aprender ainda mais
sobre o assunto que despertou mais interesse, então fica visível em suas
atitudes, o encantamento provocado pelo conhecimento da Educação
Física. A partir daí foi possível observar que houve mudanças na forma de
se tratar a disciplina Educação Física. As respostas dos alunos, em relação
aos métodos adotados para se trabalhar durante a aula, refletiram a
atuação do professor e o caminho que foi seguindo. Assim, cada período
de atuação pôde ser observado a partir da forma como se dá o
desenvolvimento da disciplina. Em duas questões, as respostas dos
alunos, quanto aos benefícios e a importância de se realizar atividades
físicas, foram excelentes, pois todos os 39 alunos comentaram sobre o
assunto. Eles escreveram sobre a melhora na respiração, o bom
funcionamento dos órgãos etc. Na questão sobre a função dos músculos
20 dos 39 alunos souberam dar respostas corretas. Os alunos deram
respostas satisfatórias sobre assuntos como sedentarismo e Biodinâmica.
Na seqüência, os alunos receberam um questionário para uma
avaliação geral das aulas de Educação Física 2008; cujas questões foram:
O que você aprendeu/praticou nas aulas teóricas e práticas de Educação
Física neste ano?
• Entre os conteúdos citados na questão 1, o que você gostou de
fazer/estudar? Justifique
• Entre os conteúdos citados na questão 1, o que você não gostou de
fazer/estudar? Justifique
23
• O que você gostaria de aprender ou praticar nas aulas de Educação Física
ainda este ano? Explique por quê?
• Deixe algum comentário sobre suas aulas de Educação Física deste ano.
Numa avaliação geral das aulas de Educação Física em 2008 foi
possível observar, a partir das respostas, que os alunos se familiarizaram
com o conteúdo aplicado na proposta. Nas respostas, eles citaram que
aprenderam na teoria e na prática a jogar basquete, voleibol, fazer
arremesso, fazer dribles, corrida, passes etc. Qualidade de vida
relacionada à prática de atividades físicas, tudo sobre nosso
desenvolvimento de ossos e músculos, fundamentos das modalidades
esportivas, várias atividades como “ping-pong”, handebol, bola queimada
e aulas teóricas são algumas das respostas dos alunos.
O trabalho de Educação Física nas séries finais do ensino
fundamental é muito importante, na medida em que possibilita aos alunos
uma ampliação da visão sobre a cultura corporal de movimento. Assim,
viabiliza a autonomia para o desenvolvimento de uma prática pessoal e a
capacidade para interferir na comunidade, seja na manutenção ou na
construção de espaços de participação em atividades culturais, como
jogos, atividades e jogos esportivos, lutas, ginástica e danças, com
finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afeto e emoções.
No período que antecedeu a minha participação no grupo de estudos
do PDE, antes da aplicação da proposta, desenvolvia os planejamentos de
aula da mesma maneira, nesses anos de docência. As aulas eram
expositivas, procurava obter dados sobre as condições motoras dos
alunos, desenvolvia atividades de cooperação e solicitava que todos os
alunos participassem das aulas para conhecer as diversas modalidades
esportivas. Porém, passei a observar que as aulas de Educação Física já
não atraíam tanto a atenção dos alunos, pois seguiam sempre o mesmo
rítmo: apresentação do conteúdo, trabalhos em grupo, jogos, observação
e avaliação. Seguia um roteiro de avaliação que contemplava três
aspectos: o social, o cognitivo e o cognitivo-motor. Uma avaliação com
base em critérios que não atendiam às necessidades dos alunos na
prática. Assim, como as aulas teóricas e, às vezes, as práticas não se
24
apresentavam tão atrativas ao ponto de manter os alunos interessados e,
assim, eu não conseguia atingir um resultado satisfatório com o trabalho
desenvolvido.
Após a aplicação da nova proposta de aulas de Educação Física,
pode-se considerar que trabalho desenvolvido seja mais válido e de maior
importância, tanto para os alunos da escola, quanto para o
desenvolvimento da disciplina. Acompanhe os depoimentos dos alunos do
Colégio Vicente Rijo após a participação nas aulas da Proposta de
Implementação da disciplina de Educação Física:
(A1) “Adoro as aulas de Educação Física, acho uma aula muito importante
para a nossa aprendizagem, aprendemos coisas diferentes”.
(A2) “A professora é muito legal e trata a gente com carinho na hora de
ensinar as coisas que são boas para a nossa vida. Praticar a Educação
Física é muito bom para melhorar a nossa saúde”.
(A3) “Tudo foi ótimo, e aprendemos bastante com a professora deste
ano”.
(A6) “Gostei muito das aulas de Educação Física e acho a matéria
divertida, espero ter sido uma boa aluna”.
(A8) “As aulas foram muito bem explicadas, muito legal e eu adoro
praticar exercícios físicos”.
(A9) “Foi muito bom ter Educação Física desse jeito diferente. Achei que
foi tudo legal, maravilhoso, nada foi chato e nada mal ensinado”.
Percebeu-se a boa aceitação do projeto por parte dos alunos, o que
aponta para possibilidades de mudanças na forma de condução do ensino
da Educação Física, dentro do cenário escolar e, isso foi possível com
abordagens nos conteúdos estruturantes para a disciplina, propostos pelas
Diretrizes Curriculares do Paraná, contemplando os conteúdos conceituais,
atitudinais e procedimentais.
Pôde-se perceber a tomada de conhecimentos provenientes da
25
área da Biodinâmica do movimento humano, sinalizando um bom
resultado do trabalho realizado, comprovando que os alunos entenderam
a necessidade de aprendizagem dos conteúdos nas três dimensões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No trabalho de intervenção realizado, com a aplicação da proposta,
foi possível levantar um diagnóstico, junto aos alunos, com o objetivo de
conhecer quais conteúdos teóricos eram considerados importantes para
eles. Em seguida, a análise do relato dos alunos, mostrou como percebiam
os conteúdos teóricos desenvolvidos nas aulas e quais conteúdos
conceituais seriam considerados necessários e mais aceitos na disciplina
de Educação Física.
O desenvolvimento do projeto suscitou diversos comentários por
parte dos alunos. Explanações positivas em relação à aprendizagem e
demonstrações de apropriações de conteúdos importantes, apresentados
durante a aplicação da proposta, mostraram que o objetivo do trabalho foi
conquistado.
Após análise do processo, constatou-se que as aulas de Educação
Física, da maneira como estavam acontecendo, antes da nossa proposta,
embora tivessem um programa de ensino adequado, não se
apresentavam para os alunos como algo que pudesse ser usado em suas
vidas, não mostravam aplicabilidade em suas rotinas diárias, não se
faziam importantes o suficiente para serem necessárias. O trabalho de
intervenção, utilizado nas aulas, pautou-se no programa proposto durante
estudos sobre a sub-área Biodinâmica da Educação Física, considerando
que a proposta apresentava-se adequada aos anseios dos alunos.
Após as 34 aulas observou-se que, apesar da oposição inicial de
alguns alunos à proposta, percebeu-se que este quadro foi revertido no
decorrer da aplicação das atividades e, que os conteúdos conceituais
nelas inseridos, foram assimilados. Houve aceitação, por parte dos alunos,
quando reconheceram como interessantes e necessários os conteúdos
quando contemplam as três dimensões do conhecimento: a conceitual, a
26
atitudinal e a procedimental, presentes nas aulas de Educação Física,
mesmo quando, em alguma fase do processo de ensino, nem todas
estivessem em evidência.
Este modelo de trabalho apresentado no colégio Vicente Rijo, em
Londrina (PR), teve como objetivo principal o de levar às crianças e aos
jovens a importância de se praticar exercício físico regularmente, para a
obtenção da boa qualidade de vida e seus benefícios para a saúde.
Por fim, dentro do contexto da biodinâmica, pode-se afirmar a
necessidade e interesse da presença das dimensões conceituais,
procedimentais e atitudinais, pois podem representar o caminho para o
entendimento da Educação Física como disciplina e área de conhecimento.
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