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INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA COMO ÁREA DO CONHECIMENTO: DESAFIOS PARA A PERMANÊNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NAS PRÁTICAS ESCOLARES Maria de Lourdes Benedita Galvão Jacobs* RESUMO Através do presente estudo objetivou-se implantar e avaliar os efeitos de um programa de Educação Física que ampliasse a contribuição desta disciplina nas escolas e reforça-se a sua importância não apenas para o desenvolvimento físico e orgânico, mas integral do estudante. Assim, a partir de novas propostas de aulas, levou-se aos alunos um programa integrado, com base nos conhecimentos conceituais e procedimentais sobre o movimento humano e suas manifestações. Se hoje a Educação Física passa por um processo de transformações faz-se necessário valorizar o seu ensino, trazendo uma nova abordagem à disciplina, que não é vista como as demais que compõem o currículo escolar. A partir de conteúdos da área denominada biodinâmica, buscou-se com as propostas contidas neste trabalho despertar o interesse dos alunos pela disciplina, atribuindo-lhe uma concepção interdisciplinar, e possibilitando a aplicação e utilização dos conhecimentos específicos da Educação Física no dia-a-dia do aluno. Após quatro meses de aula dentro da proposta de ensino pôde- se observar que os alunos demonstraram-se mais conscientes do modo como realizam o movimento, ou seja, seus movimentos nas atividades propostas pareciam ter um por que. A partir dos conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais, aplicados em sala de aula, os alunos passaram a se preocupar mais em fazer movimentos corretos. Palavras-chave: Biodinâmica. Conteúdos conceituais. Educação Física. Ensino Fundamental. Movimento Humano. 1

INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA COMO ÁREA DO … · que a área de conhecimento da Educação Física é a cultura corporal e define que a prática pedagógica, na escola, deve

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INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA COMO ÁREA DO CONHECIMENTO:

DESAFIOS PARA A PERMANÊNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NAS

PRÁTICAS ESCOLARES

Maria de Lourdes Benedita Galvão Jacobs*

RESUMO

Através do presente estudo objetivou-se implantar e avaliar os efeitos de

um programa de Educação Física que ampliasse a contribuição desta

disciplina nas escolas e reforça-se a sua importância não apenas para o

desenvolvimento físico e orgânico, mas integral do estudante. Assim, a

partir de novas propostas de aulas, levou-se aos alunos um programa

integrado, com base nos conhecimentos conceituais e procedimentais

sobre o movimento humano e suas manifestações. Se hoje a Educação

Física passa por um processo de transformações faz-se necessário

valorizar o seu ensino, trazendo uma nova abordagem à disciplina, que

não é vista como as demais que compõem o currículo escolar. A partir de

conteúdos da área denominada biodinâmica, buscou-se com as propostas

contidas neste trabalho despertar o interesse dos alunos pela disciplina,

atribuindo-lhe uma concepção interdisciplinar, e possibilitando a aplicação

e utilização dos conhecimentos específicos da Educação Física no dia-a-dia

do aluno. Após quatro meses de aula dentro da proposta de ensino pôde-

se observar que os alunos demonstraram-se mais conscientes do modo

como realizam o movimento, ou seja, seus movimentos nas atividades

propostas pareciam ter um por que. A partir dos conteúdos conceituais,

atitudinais e procedimentais, aplicados em sala de aula, os alunos

passaram a se preocupar mais em fazer movimentos corretos.

Palavras-chave: Biodinâmica. Conteúdos conceituais. Educação

Física. Ensino Fundamental. Movimento Humano.

1

*Graduação em Educação Física em 1980 pela FEFI. Comunicação Social/jornalismo em 1981 pela UEL. Especialização em Metodologia do Ensino pelo IEDA. Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná desde 1987 na disciplina de Educação Física. Participa do Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE- 2007. Sempre atuou em Londrina e atualmente no Colégio Estadual Vicente Rijo – Londrina-PR.

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INTEGRATION OF PHYSICAL EDUCATION AS AREA OF KNOWLEDGE:

CHALLENGES FOR MAINTENANCE PHYSICAL EDUCATION

IN SCHOOL PRACTICES

Maria de Lourdes Benedita Galvão Jacobs*

ABSTRACT

Through the present study, it was aimed at to implant and to evaluate the

effects of a program of Physical Education it to enlarge the contribution of

this discipline in the schools and his importance is not just reinforced for

the student's physical and organic, but integral development. Like this,

starting from new proposed of classes, to take to the students an

integrated program, with base in the conceptual knowledge and procedure

about the human movement and their manifestations. If today the Physical

Education goes by a process of transformations, is done necessary to

value his teaching, bringing a new approach to the discipline that is not

seen as the others that compose the school curriculum. Starting from

contents of the area denominated biodynamics, it was looked for with the

proposals contained in this work to wake up the students' interest for the

discipline, attributing him interdisciplinary conception, and making

possible the application and use of the specific knowledge of the physical

education in the student's day by day. After four months of class inside of

the teaching proposal could be observed the following changes: the

students demonstrated to be more conscious of the way as they

accomplish the movement, in other words, their movements in the

proposed activities seemed to have a reason. Starting from the conceptual

contents and applied procedure in classroom the students passed

worrying more in doing correct movements.

Word-key:Biodynamics. Conceptual Contents. Physical Education.

Fundamental Teaching. Human Movement.

*Graduation in Physical education in 1980 at FEFI. Graduation in Journalism and Social

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Communication in 1981 at UEL. Specialization in Methodology Didacticism of the Teaching at IEDA. Teacher of the Paraná State, public education since 1987 in the discipline of Physical Education. She is participating of Education Development Program – (PDE- 2007). She always has acted in Londrina and now at the Vicente Rijo State School - Londrina-PR.

INTRODUÇÃO

Acredita-se que o nosso sistema de ensino atual seja proveniente

da educação institucional que surgiu na Grécia e o que se tem percebido,

até mesmo nas sociedades capitalistas tecnologicamente avançadas, é

que poucas inovações foram feitas na forma como a educação escolar é

concebida (BRANDÃO, 1991). Conseqüentemente, conceituar

conhecimento escolarizado é primordial para se entender como está

inserido o conhecimento da Educação Física neste contexto.

A ausência de uma conceituação, construída a partir de uma

reflexão filosófica radical, tem implicado na criação de considerações,

pautadas em interesses políticos e econômicos momentâneos.

Como reflexo desta ausência crítica, podemos citar as tendências

pedagógicas que a Educação Física escolar assumiu nos últimos cem anos

de sua existência: Educação Física Higienista, Militarista, Pedagogicista e

Competitivista (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1988).

Da Costa (2006), por exemplo, cita que a partir da década de 1950

o esporte começa a fazer parte importante das aulas de Educação Física e,

em 1955, pela Portaria n° 104 e 06/04/1955, criavam-se os Centros de

Educação Física o que oficializava o vínculo da Educação Física com o

esporte.

Somou-se a isso o fato de na década de 1960 ocorrer o “Boom” do

corpo. Depois de ser discutido basicamente no plano acadêmico, o corpo

passa a ser para a mídia um “objeto”, acerca de representações

amplamente construídas e reproduzidas. A partir de textos jornalísticos,

anúncios publicitários, fotos e ilustrações na televisão e na mídia impressa

surgem novos discursos, vozes sobre o corpo e sobre como ele é visto.

Capas de revistas aparecem como representações de imaginários, cujo

objetivo é explorar o corpo feminino.

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Conseqüentemente à exploração do corpo pelos meios de

comunicação surgem os interesses comerciais e com eles, torna-se

possível observar a influência da mídia na orientação da Educação Física

atual: um dos grandes problemas relacionados ao corpo está ligado aos

padrões estéticos pré-estabelecidos como modelos ideais.

Nesse processo de “descaminhos”, uma afirmação tem se tornado

consenso entre os professores, ou seja, a Educação Física apresenta-se

eminentemente como uma função social voltada à área educacional. Seu

objetivo, dentro de sua especificidade, consiste em contribuir com a

educação básica do indivíduo, desenvolvendo aspectos da vida cidadã,

como saúde, sexualidade, vida familiar, trabalho, ciência e tecnologia,

bem como a cultura e a linguagem. Por outro lado, esta concepção de

Educação Física, cada vez mais ampla e flexível, absorveu integralmente

os fundamentos da recreação para atender as exigências, cada vez

maiores, do aproveitamento das horas de lazer, do discurso da saúde para

um estilo de vida ativo e da boa qualidade de vida.

Coll (1997), um dos consultores dos PCN´s, considera que a

proposta para o ensino escolar está pautado na organização curricular de

conhecimentos que o aluno deve aprender na escola: os conceituais, os

procedimentais e os atitudinais. Porém, essa classificação não deve ser

entendida como uma tentativa de divisão e de separação das estruturas

do conhecimento, mas como um recurso para que o professor avalie se

realmente está oferecendo um ensino significativo para o aluno.

Contudo, o conteúdo conceitual da Educação Física escolar, diante

dos acontecimentos históricos, políticos e ideológicos acabou sendo

abandonado. Acredita-se que o referencial que norteia o planejamento, o

desenvolvimento e a avaliação dos programas da Educação Física tem

contemplado apenas as dimensões atitudinal (socialização) e

procedimental do conhecimento (saber executar gestos técnicos de

modalidades esportivas, lutas etc.).

Tani (1991) aponta que o papel da Educação Física refere-se à

aprendizagem do movimento e sobre o movimento, sendo que este último

refere-se à aquisição formal de conceitos e de princípios que expliquem o

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que é o movimento e sobre como ele é organizado. Entretanto, o que

atrapalha o desenvolvimento da Educação Física como componente

curricular é o fato de ela não ter claramente definido o seu objetivo, que é

o principal requisito para qualquer componente curricular. Isso devido não

apenas à diversidade de objetivos propostos pelos especialistas como a

própria organização e seriação dos seus conteúdos. A partir dessa

constatação, os educadores deveriam observar o que deve ser alterado no

ensino da Educação Física.

Em relação às propostas de aula que são vistas até hoje, pode-se

afirmar que elas, na prática, são incompletas. Um resultado da falta de

unidade, representado pela distância cada vez maior entre as propostas e

um conhecimento fragmentado sendo oferecido ao aluno. Assim, surge a

necessidade de ações que façam tentativas de superação dos conflitos

entre as diferentes propostas apresentadas, para que se manifeste uma

visão mais ampla e completa do conhecimento pertinente à disciplina

Educação Física Escolar.

Na escola, o que se pode observar é o desinteresse dos alunos pela

aprendizagem “teórica”. Então, todos os componentes do ambiente

escolar precisam trabalhar integrados para promover o projeto político

pedagógico da escola, bem como, construir a função educacional da

disciplina Educação Física, através de uma articulação orgânica dos seus

objetivos conceituais, procedimentais e atitudinais.

Todas as aulas de Educação Física devem articular estes objetivos.

Mesmo numa aula “prática” na quadra poliesportiva, o professor deve

estruturar procedimentos de ensino que relacionem conhecimentos

“teóricos” e “práticos”. A parte teórica tem como objetivo proporcionar ao

aluno o conhecimento dos principais conceitos do tema que está sendo

desenvolvido, além disso, explicar a importância e o porquê trabalhar tal

tema nas aulas. Na parte prática, o aluno poderá vivenciar os conceitos

estudados na teoria e, através da orientação e supervisão do professor,

realizará movimentos corretos que possibilitarão a aprendizagem do tema

estudado, tanto os conceitos, quanto os movimentos.

Como componente do currículo escolar, com a finalidade de se

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evidenciar a importância da relação entre Educação e o papel da

Educação Física a ser desempenhado na escola, o Coletivo de Autores

(1992) defende a idéia de que a Educação Física, como disciplina do

currículo escolar, tem as mesmas tarefas da escola em geral que é ensinar

e ensinar bem. Assim, torna-se necessário saber quais conhecimentos a

disciplina deve oferecer aos seus alunos, pelo fato de que estes

apresentam uma base fundamental para que o aluno reflita, aprenda e

aplique, de acordo com a realidade social na qual ele está inserido.

De acordo com Freire (1999), o que tem se confirmado ainda nos

dias atuais são aulas de Educação Física, baseadas no “saber fazer”, com

inúmeras atividades motoras, sem a preocupação de se garantir o

aprendizado de conhecimentos tão importantes quanto os oferecidos por

outros componentes curriculares. Portanto, esse pode ser o motivo da

disciplina ser tratada com diferença na escola em comparação com os

demais componentes curriculares.

Assim, atualmente pode-se observar que ocorre algum

desinteresse dos alunos pelas aulas de Educação Física, pautados,

sobretudo, pela falta de seqüência dos conteúdos apresentados nas

diferentes séries escolares. Assim, a Educação Física tem se apresentado

como uma disciplina essencialmente procedimental, principalmente

voltada para o ensino e a prática de jogos com tipificação esportiva ou

recreação. O que pode levar à compreensão de que os professores de

Educação Física identifiquem a idéia de que os conteúdos pertinentes à

sua área são os advindos, quase que unicamente, dos conhecimentos de

conotação utilitaristas ou voltados para a descontração.

Num outro ponto de vista, o Coletivo de Autores (1992), apresenta

que a área de conhecimento da Educação Física é a cultura corporal e

define que a prática pedagógica, na escola, deve tematizar formas de

expressões corporais, as quais incluem os jogos, o esporte, a dança e a

ginástica. Contudo, para a valorização da Educação Física como área de

conhecimento, os profissionais precisam elaborar um programa integrado

e eficiente, com base em conhecimentos sobre, por exemplo, a saúde

social enquanto uma construção social, o movimento humano enquanto

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reflexo do meio, ao mesmo tempo em que modifica este meio.

O professor de Educação Física deve possibilitar a

vivência e experimentação de diversas modalidades esportivas com o

objetivo de valorizar a cultura local, pensando a (re) criação de um esporte

da escola, e não somente aplicar o esporte na escola (BRACHT, 1992). Isso

pressupõe considerar a necessidade individual e regional da comunidade

escolar. Assim, as DCE’s do PR propõem que o modelo institucional do

esporte deve ser questionado, isto é, além de localizar as diferentes

práticas esportivas, em tempos e espaços específicos, é importante recriar

outras formas possíveis de efetivar sua prática.

Para Daolio (2004) o profissional de Educação Física não atua

somente sobre o corpo ou com o movimento em si, não trabalha com o

esporte em si, não lida com a ginástica em si. Ele trata do ser humano nas

suas manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento

humano historicamente definido como jogo, esporte, dança, luta e

ginástica.

A Educação Física deve ser fundamental na escola, pois desenvolve

um trabalho de conhecimento, de aprendizagem contínua sobre

descobertas de movimentos do corpo humano. Porém, a disciplina não é

vista dentro da escola como as demais que compõem o currículo escolar.

Ao analisar as concepções gerais da composição do conhecimento

conceitual, FREIRE (1999) afirma que é possível serem elas coerentes e

compostas de conhecimentos que não são apresentados em outros

componentes curriculares, o que deixa claro a existência de uma base de

informações específicas da Educação Física. Porém, eles são apresentados

de forma fragmentada, sem a constituição de um corpo de conhecimentos

organizados.

Assim, para a estruturação de novas propostas de ensino da

Educação Física é necessário relacionar os objetivos presentes nas

Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná e tecer uma rede entre os

Profissionais da Educação Física do Estado, de forma que os conteúdos

conceituais façam parte do processo ensino-aprendizagem, integrados,

eficientes e comprometidos com uma Educação Física realmente atrelada

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a uma escola cidadã.

Deve-se ainda, considerar o que propõem as DCE’s do PR quando

apresentam, além dos conteúdos estruturantes, os elementos

articuladores, que devem permear todo o trabalho do professor,

articulando os conteúdos de forma contextualizada, considerando o

cotidiano escolar e apresentando-se como fins e meios da educação

escolar (PARANÁ, 2005).

De acordo com Faria Filho (1997) assim como a escola

“escolarizou” conhecimentos e práticas sociais, buscou também apropriar-

se de diversas formas do corpo constituir uma corporeidade que lhe fosse

mais adequada. Assim, é importante observar que o tratamento do corpo

na Educação Física sofre influências externas da cultura de maneira geral,

mas também internas, ou seja, da própria instituição escolar.

Portanto, torna-se necessário analisar que na instituição escolar o

termo disciplina envolve um duplo aspecto: por um lado, tem-se a

dimensão das relações hierárquicas, observância de preceitos, normas, de

conduta do corpo; por outro, os aspectos do conhecimento propriamente

dito. Conseqüentemente, a escola passa a promover a educação corporal,

na qual se deve considerar o que realmente tem significado na educação

corporal do ponto de vista educativo e, ainda, que tipo de educação

corporal a escola e a Educação Física almejam.

Coll (1997) destaca que a escola deve promover o crescimento

pessoal do aluno, mediante a assimilação e a aprendizagem da

experiência social culturalmente organizada, que são os conhecimentos,

as habilidades, os valores e as normas, através das atividades educativas.

Dessa forma no desenvolvimento dos conteúdos da disciplina, o professor

de Educação Física deve buscar uma interação efetiva com seus alunos e

a coerência entre teoria e prática, com o objetivo de proporcionar uma

educação que não se resuma a reproduzir modelos ou perpetuar

estruturas de poder, mas um conjunto de saberes socialmente relevantes

para que os alunos possam transformar sua participação enquanto ser no

mundo.

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CONHECIMENTOS DA ÁREA DE BIODINÂMICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA

De acordo com Tani (1989) a área de Biodinâmica do Movimento

Humano reúne os estudos dos mecanismos de sustentação para o

movimento, (bioquímica, fisiologia, etc.), bem como de organização

motória em seus aspectos físicos internos e externos (controle motório,

desenvolvimento motório, aprendizagem motória e biomecânica).

Tradicionalmente os conhecimentos desta área são utilizados pelo

professor de Educação Física, para ordenar programas de

condicionamento físico, voltados à saúde (individual) – endurance RML,

Força, Flexibilidade e Composição Corporal – ou voltados ao rendimento

esportivo – velocidade, agilidade, potência, etc.

Contudo, na aplicação dos conteúdos, os conceitos relacionados à

Biodinâmica na Educação Física deve levar em consideração: (a) os

conhecimentos já teorizados sobre o comportamento do corpo humano

durante o movimento e os conceitos básicos da Biomecânica, e (b) as

experiências e as práticas corporais que os alunos trazem de situações de

fora das aulas de Educação Física, de forma que tais conhecimentos

sejam, progressivamente, sistematizados, tornando-se significantes para

os alunos, na medida em que são aplicados em sua realidade, no seu

cotidiano.

Para Manoel (1986) existe a preocupação com a especificidade do

objeto de investigação da Educação Física: tratar o movimento humano do

ponto de vista dos mecanismos que possibilitam o comportamento motor.

Assim, Tani (1989) admite que o movimento humano pode ser

reconhecido como um objeto de investigação que pode trazer

conhecimentos para a Educação Física.

Na Educação Física os conhecimentos da área da Biodinâmica

aplicados ao ensino podem possibilitar que o aluno execute, com o

sucesso esperado, determinado exercício físico ou habilidade motora.

Assim, por exemplo, o domínio da posição do corpo no espaço ou a força

aplicada para manter a postura são essenciais para a execução dos

movimentos em geral. Os alunos ao vivenciarem a execução de

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determinado movimento serão capazes de alcançar maior controle sobre

suas variáveis. Os procedimentos de avaliação podem ser tratados para a

compreensão e aplicação de conhecimentos biodinâmicos mais

complexos, como a identificação de erros cometidos por colegas durante a

execução de uma habilidade motora, que envolverão a percepção das

variáveis mecânicas envolvidas em cada momento.

A compreensão do Movimento Humano deve estar articulada com

as vivências do aluno no contexto lúdico para que seja valorizado como

elemento articulador do conhecimento. Segundo as Diretrizes Gerais para

a Educação Física (1981), a Educação Física Escolar tem "um fim em si

mesma", e mostra-se como "um conjunto de atividades educativas que

visam a criar o gosto e o hábito do exercício físico regular". Então, o

professor pode trabalhar com a abordagem de informações básicas sobre

diferentes aspectos da Biodinâmica, como: características do tecido

muscular e ósseo ou o sistema articular, dentro de experiências motoras

ou sociais mais amplas como os jogos coletivos, ou as caminhadas

ecológicas com amigos.

No entanto, ainda se vê uma parcela dos alunos desmotivados a

participar das aulas de Educação Física. Alguns dizem não saber por que

precisam ter essa aula na escola, por que não podem ficar de fora das

atividades e outras justificativas para não aprender sobre a prática de

atividades físicas e o desenvolvimento das habilidades do corpo humano.

UMA AVALIAÇÃO PRÉVIA DE COMO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

TEM SIDO CONCEBIDA

Para o desenvolvimento do presente trabalho, depoimentos foram

colhidos para que fosse possível identificar quais os conceitos que pais,

alunos, professores e diretores de escola têm sobre a Educação Física e já

começar a pensar qual caminho os professores poderão seguir, para

introduzir novos métodos de aulas, novas propostas para o ensino da

disciplina. Acompanhe os depoimentos colhidos sobre a disciplina durante

estudos sobre o cenário atual da Educação Física:

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Professor de Educação Física

(P1) “Para mim o desmotivo dos alunos é a situação deles, a criação. Muitos não

têm incentivo dos pais, pois os pais já não praticam atividade física e tem casos

em que os pais são fumantes e tem aqueles que gostam de tomar uma

cervejinha no fim de semana. Então, acredito que quando os pais não têm o

hábito de praticar esportes com os amigos, os próprios filhos já não tem

estímulo. Acontece às vezes do aluno não ter um estímulo na própria escola. Isso

acontece quando a escola não proporciona o espaço físico, tem escolas que não

tem ginásio e a aula tem que ser improvisada. Eu ainda acredito na idéia de que

o papel da escola, do professor é proporcionar uma boa aula de educação física

aos alunos”.

(P2) “O que se encontra nas escolas hoje são alunos com pouco interesse pela

disciplina educação física. A idade não colabora para que eles estejam

completamente habituados com seus corpos ou satisfeitos com seu

desenvolvimento, já que em certos momentos o corpo pode parecer

desconhecido e abstrato. É preciso trabalhar intensivamente com estes alunos”.

(P3) “A falta de respeito para com os professores é o que mais atrapalha as

aulas. Já tive alunos que se negavam a participar das aulas práticas e diziam que

odiavam as aulas teóricas. Hoje a gente tem concorrentes eletrônicos e os alunos

acabam dando mais valor às “novas tendências”. Eu faço a minha parte, mas se

os alunos não colaboram a situação de aprendizagem fica complicada”.

Diante do exposto acima, deve-se considerar que é chegada à hora

do professor mudar os métodos de ensino. Na área de Educação Física,

essa mudança faz-se necessária com urgência, já que os alunos

encontram-se desmotivados a participar das aulas teóricas e práticas que

envolvem o movimento humano. Dessa forma, cabe ao professor

estruturar aulas para que os alunos passem a conhecer os fundamentos

do movimento humano, e que saibam como utilizá-los de modo

consciente. Mostrar a eles que praticar atividade física pode representar

um prazer sem esforço, desde que os movimentos sejam parte de sua vida

cotidiana. Assim, levar ao aluno exemplos dos benefícios que a atividade

física pode trazer para o seu corpo e para sua vida. É o começo de um

aprendizado mais estruturado, e que representa muito na busca por um

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corpo saudável.

Alunos

(Ad1) “Até hoje eu ainda não entendi por que a gente tem que ter essa aula. O

professor sempre leva a gente pra quadra e faz jogos com a gente lá. Às vezes

até é legal, mas quando vamos pra sala e temos que ficar ouvindo falar, aí é

difícil. Sabe, ninguém gosta, mas se a gente tem que estudar, então a gente

fica.”

(Ad2) “Eu acho que o professor deveria continuar as aulas. É ruim quando a

gente começa a gostar da aula e volta todo animado e o professor muda de

assunto. Se a gente tem que aprender educação física então por que o professor

não fala mais, assim, em várias aulas sobre o mesmo assunto pra gente poder

aprender bem?”

(Ad3) “Eu adoro as aulas de Educação Física. Pra mim é bem divertido e sei que

faz bem para o nosso corpo praticar atividade física. Tenho alguns colegas que

não gostam dessa aula, mas eu procuro sempre mostrar pra eles como é legal

participar dos jogos, das aulas, de tudo que a professora ensina na sala”.

Exemplos como esses revelam a direção que segue o ensino da

Educação Física na escola atualmente. Porém, essa realidade não pode

continuar assim, pois a atividade física deve fazer parte, não apenas da

vida escolar, mas de toda uma vida. O corpo humano é feito para o

movimento. Não movimentar-se, significa a negação de um potencial

presente e de uma condição futura. Assim, a cada dia, pode-se perceber a

importância do ensino da Educação Física no ambiente escolar. Uma

disciplina que tem muito a colaborar com o ser humano, num aspecto em

que ele necessita para viver: o conhecimento de si e de suas

potencialidades. Dessa forma, chega o momento dos professores de

Educação Física buscarem alternativas para rever este quadro e

estabelecer mudanças que tornem a disciplina mais bem aceita pelos

alunos, que devem ser os mais interessados nela.

Pais de alunos

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(P7) “Eu acho que o professor de Educação Física deve ter uma organização das

atividades práticas e teóricas. Meu filho sempre volta pra casa com as roupas

mais sujas quando tem aula de Educação Física. Ele chega todo cheio de suor e

isso acaba dando mais trabalho pra gente que é dona de casa”.

(P8) “Sinceramente, eu espero que meus filhos aprendam algo de bom nas aulas

de Educação Física. Eu me preocupo com o risco que existe do meu filho cair, se

machucar e a gente ter que levar pro hospital. O professor tem que organizar

uma aula produtiva mas, sem riscos para as crianças”.

(P9) “Pra mim os professores precisam passar atividades para os alunos que

deixem todos calmos e educados. Não pode acontecer muita agitação nas aulas.

Eu quero minha filha na escola aprendendo coisas que tenham aplicação para a

vida”.

Pode-se perceber, a partir de exemplos como esses, que existem

casos em que os pais não têm conhecimento sobre os objetivos das aulas

de Educação Física, como disciplina escolar. Esse desconhecimento se

torna maior quando os alunos não levam para os pais a realidade da

escola, que muitas vezes não possui espaços adequados para a prática da

atividade física, mas que, mesmo assim, orienta o aluno quanto aos

objetivos da disciplina. Um fato que preocupa bastante os pais é saber o

que seus filhos fazem na escola e, principalmente, na hora da aula de

Educação Física. Esse preconceito quanto à disciplina Educação Física

acaba se tornando mais forte quando o aluno se apresenta rebelde,

quando ele acha que não precisa participar das aulas. Dessa forma, pode-

se considerar que a melhor maneira de manter o aluno nessa aula é

despertar-lhe o interesse pela atividade física, ou fazer com que passe a

conhecer como pode desenvolver movimentos conscientes e conseguir

excelentes retornos para a sua vida, em termos de uma melhor qualidade

de vida.

Diretores

(P4) “Durante a aula de Educação Física o aluno fica solto na escola. A gente não

consegue ter um controle, pois eles estão fora das quatro paredes de uma sala

de aula. Eles se sentem mais livres e podem fugir ao nosso controle. Mas a gente

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sabe da importância da disciplina, então sempre existe aquela preocupação com

o que os alunos podem “aprontar” na hora da aula fora da sala”.

(P6) “Minha maior preocupação é um aluno se machucar durante as aulas. A

quadra não se parece em nada com a sala de aula. E quando acontece de um

aluno se machucar durante um treinamento esportivo a responsabilidade é da

diretoria da escola e não do professor. Eu sempre peço aos professores muito

cuidado com os treinamentos nas aulas”.

(P5) “As aulas nem sempre parecem ser o que realmente são. A disciplina exige

uma “sala de aula” muito maior que a convencional e costuma ser mais cara.

Quando tenho que comprar material para a disciplina de Educação Física já sei

que os usados nas aulas são mais caros que os das outras disciplinas, sempre

“estouro” o orçamento, para poder atender aos pedidos dos professores”.

Para o bom desenvolvimento da disciplina Educação Física faz-se

necessário que toda a comunidade escolar esteja disposta a colaborar. Os

diretores, como representantes da escola, são os principais personagens

que devem se empenhar para que seus alunos tenham uma aula de

Educação Física de boa qualidade. Quanto à indisciplina, ela deixa de

existir no momento em que o aluno reconhece a importância do que é

ensinado, não só pelo que é dito pelo professor de Educação Física, mas

por todo o corpo docente da instituição. Portanto, para que a disciplina

Educação Física promova mudanças e possibilite bons retornos, é

necessária uma comunidade escolar integrada, que busque alternativas

viáveis, que não apenas critique, mas que esteja disposta a colaborar.

A partir de depoimentos como estes, fica explícito que é preciso

traçar novos caminhos para o desenvolvimento da Educação Física na

escola. Assim, estudar e trabalhar com os alunos diante de novas

propostas, novas abordagens dos conteúdos e conceitos que envolvam a

disciplina. E, acima de tudo, deve-se valorizar o ensino da Educação Física,

que é uma disciplina fundamental e deve ter a mesma importância e

respeito como as demais do currículo escolar.

O papel do professor, para um melhor desenvolvimento da Educação

Física deve começar com a estruturação das aulas. Deste modo, torna-se

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possível estabelecer critérios que colaborem para o bom desempenho dos

conteúdos apresentados aos alunos. As aulas devem ser de um modo que

o professor alcance seu objetivo, que é o de mostrar para o aluno a

importância da atividade física na vida do ser humano. Porém, em

algumas escolas, os professores ficam impossibilitados de trabalhar certas

atividades com os alunos, pois não há estrutura como quadras, vestiários,

materiais, horários apropriados, etc.

VALORIZAR O ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Desde 1987 atuo como professora na Rede Estadual de Ensino do

Paraná, na disciplina de Educação Física. Durante o desenvolvimento do

meu trabalho como docente foi possível observar que há divergências no

modo de se ver a Educação Física, ou seja, o mesmo ponto é visto de

maneira diferente por alunos, professores, pedagogos e diretores. O que

pode ser? Se o condutor, que é o professor, aponta para um local e seu

aluno vê outro? Talvez esta mensagem não esteja sendo clara o suficiente

para ser entendida, pode estar havendo “ruído” na comunicação. Acredito

que para a aprendizagem acontecer é necessário haver trocas, e uma

comunicação bidirecional.

Comparando os vários depoimentos colhidos para o

desenvolvimento do presente trabalho, percebe-se que não existe unidade

de trabalho e o professor não atinge seus objetivos, porque considera um

aspecto importante para seu aluno, mas ele elege outro para si. Sabe-se

que todos querem aprimoramento e qualidade, mas é preciso integração

dos participantes para se chegar ao consenso que certamente leva ao

sucesso.

É preciso traçar objetivos comuns, que atendam a todos da

comunidade, bem como suas necessidades e anseios e, então, criar um

modelo eficiente para trabalhar a disciplina Educação Física, tendo suporte

teórico, maior credibilidade enquanto disciplina escolar e formação cidadã.

O resultado deste trabalho de conhecimento trará, certamente, os

subsídios que estamos precisando para tornar viável nosso projeto: a

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elaboração de materiais teóricos para as aulas Educação Física.

Tani (1991) considera que o saber ao ser sistematizado deve ser

orientado de maneira que atenda a aprendizagem do, sobre e através do

movimento. Sabendo que a escola tem como finalidade a formação para a

cidadania, para o mundo do trabalho e o desenvolvimento da ciência é

fundamental valorizar o ensino da Educação Física, tratando dos

conteúdos conceituais.

Betti (2003) considera que se cabe à Educação Física introduzir e

integrar o aluno na cultura corporal de movimento. Há que se considerar

que: i) a integração há de ser do aluno concebido como uma totalidade

humana, com suas dimensões físico-motora, afetiva, social e cognitiva, e

ii) o consumo de informações e imagens proveniente das mídias faz parte

da cultura corporal contemporânea e, portanto, não pode ser ignorada;

pelo contrário, deve ser objeto e meio de educação, visando

instrumentalizar o aluno para manter uma relação crítica e criativa com as

mídias.

Portanto, cabe ao professor de Educação Física reconhecer qual o

papel da influência da mídia ligada à saúde e à atividade física e fazer

uma leitura crítica do cenário atual dentro da sala de aula. Debater com os

alunos, abrindo um jornal, lendo uma revista ou assistindo à TV, como são

insistentes os apelos feitos em prol da atividade física.

Dessa forma, procurei estruturar uma proposta de ensino da

disciplina Educação Física e apliquei esse projeto na escola onde atuo.

Trabalhei com uma turma de 5ª série do ensino fundamental do Colégio

Estadual Vicente Rijo, na cidade de Londrina (PR). O resultado foi

satisfatório. Consegui explorar bastante os conteúdos escolhidos e ganhei

a confiança dos alunos, quando despertei neles o interesse pela atividade

física e para alguns jogos que haviam ficado esquecidos “nos armários”,

substituídos pela evolução tecnológica.

TRABALHAR CONTEÚDOS CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO FÍSICA:

UMA PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO

17

A Proposta de Implementação dos Conteúdos da Educação Física

foi aplicada ao longo do ano letivo de 2008 com a turma de 5ª Série do

Colégio Vicente Rijo, totalizando 34 horas/aula. Durante a aplicação dos

conteúdos planejados foi possível observar as reações dos alunos frente a

essa nova proposta de aprender Educação Física.

Para os testes de aptidão física foram trabalhados conceitos

referentes à prática de exercícios físicos, vida ativa e saudável, bem como

o conhecimento do próprio corpo e suas estruturas funcionais. Conceitos

que versaram sobre as estruturas do corpo humano relacionadas com o

movimento e, conseqüentemente, a relação dos músculos que produzem

os principais movimentos diários. Nos conteúdos atitudinais foram

trabalhados o autocontrole, a cooperação, o auto-respeito pelo outro,

durante a prática de exercícios físicos e a autoconfiança e esforço para a

própria superação.

Segundo FERRAZ (1996, p.17) essas dimensões podem ser

entendidas da seguinte maneira na Educação Física:

A dimensão procedimental diz respeito ao saber fazer [...]. No que diz respeito à dimensão atitudinal, está se referindo a uma aprendizagem que implica na utilização do movimento como um meio para alcançar um fim, mas este fim não necessariamente se relaciona a uma melhora na capacidade de se mover efetivamente. Neste sentido, o movimento é um meio para o aluno aprender sobre seu potencial e suas limitações [...]. [A dimensão conceitual] [...] significa a aquisição de um corpo de conhecimentos objetivos, desde aspectos nutricionais até sócio-culturais como a violência no esporte ou o corpo como mercadoria no âmbito dos contratos esportivos.

Os conteúdos relacionados na proposta foram escolhidos com a

intenção de proporcionar aos alunos conhecimentos sistematizados sobre

as estruturas corporais, relacionadas com a locomoção e a necessidade de

incluir os exercícios físicos em benefício do fortalecimento das estruturas

corporais, para um melhor desempenho nas atividades diárias.

Antes de dar início às atividades, entre as ações previstas estava a

realização do exame biométrico, para verificar o peso e a altura dos

alunos e, em seguida, calcular o Índice de Massa Corpórea (IMC), uma

fórmula que indica se a pessoa está acima ou abaixo do peso ideal que é

considerado saudável. Depois de saber como estava o peso, os alunos

18

puderam sentir a pulsação tocando a artéria do pulso ou do pescoço. A

proposta era ensinar o que é a Freqüência Cardíaca, a quantidade de

vezes que o coração se contrai num determinado espaço de tempo.

Primeiro os alunos passaram por um teste dentro da sala de aula.

Foi pedido que eles se mantivessem imóveis por alguns minutos depois

anotassem no caderno as medições para obterem a quantidade de

batimentos por minuto. Com o objetivo de já estimular uma atividade

física, os alunos foram levados para uma caminhada ao redor do campo

de futebol suíço do Colégio. De volta à sala de aula, cada aluno deveria

anotar e novamente calcular a sua Freqüência Cardíaca Máxima

registrando, as Freqüências Cardíacas obtidas em repouso e após as

atividades físicas.

Com o conhecimento sobre os batimentos cardíacos, os alunos já

estavam preparados para a sondagem motora, que avalia a resistência

cardio-respiratória. A atividade foi realizada após a execução e

comentários sobre a importância do aquecimento/alongamento. A

princípio procurou-se fazer uma corrida de forma moderada.

A corrida representa uma forma de locomoção altamente

complexa, que requer acentuada coordenação de movimento; e seu

estudo específico justifica-se pelo aumento significativo no número de

praticantes dessa modalidade nos últimos anos (QUEEN; GROSS; LIU,

2006). Corredores profissionais e técnicos buscam constantemente a

melhora do desempenho (MIDGLEY; McNAUGHTON; WILKINSON, 2006), e a

avaliação biomecânica constitui-se de uma importante ferramenta para

alcançar esse objetivo.

Entre testes de aptidão física, habilidades e conhecimentos de

conteúdos os alunos descobriram que Educação Física não lida apenas

com músculos e ossos, mas com o ser humano, que está envolvido num

contexto histórico e social. O projeto desenvolvido no colégio em Londrina

(PR) envolveu conteúdos relacionados ao atletismo, ginástica, jogos e

brincadeiras. Atividades que abordaram conteúdos da Biodinâmica, das

Capacidades Físicas, do Corpo Humano e estruturas do Sistema Locomotor

e os Benefícios da Prática da Atividade Física para a Saúde.

19

Foi importante ressaltar para os alunos que possíveis alterações no

padrão de força e resistência da musculatura abdominal, poderiam

prejudicar a postura do indivíduo, facilitando o aparecimento de eventuais

problemas posturais e dores associadas. O teste abdominal teve o objetivo

de avaliar a força abdominal, dado que a musculatura abdominal é

responsável pela manutenção de nossa postura.

Já para o desenvolvimento das capacidades físicas e motoras

tivemos a Ginástica Formativa. Uma atividade que auxilia no

desenvolvimento corporal, propõe movimentos que desenvolvem a

elasticidade, a flexibilidade, a força, a velocidade, a resistência muscular

localizada e a coordenação motora entre outras capacidades físicas.

Durante as aulas de Educação Física ressaltou-se a importantância

e clareza da definição das capacidades físicas. São elas:

Resistência Cárdio-respiratória

- Capacidades físicas relacionadas à

saúdeResistência muscular

Flexibilidade

Força

Agilidade

Coordenação motora

- Capacidades físicas relacionadas

ao rendimento atléticoEquilíbrio

Velocidade

Potência

Para efetivar o ensino sobre essas capacidades, adotei como

estratégia a ginástica natural, por ser uma atividade que não requer

nenhum tipo de equipamento, pois você usa apenas o peso do próprio

corpo, mas é um exercício vigoroso, exigindo bastante esforço do

praticante e, como só utiliza o peso do próprio corpo, diminui bastante o

risco de lesões. Qualquer pessoa pode fazer, independente de idade, sexo

20

e peso. São centenas de movimentos, oferecendo um trabalho completo,

que desenvolve qualidades físicas como a força, a flexibilidade, o

alongamento, a coordenação e através de técnicas de respiração,

promove uma melhora no controle motor e mental.

Após o desenvolvimento da proposta foi possível constatar que

houve apreensão do conhecimento conceitual ou cognitivo por parte dos

alunos. A nova abordagem dada à disciplina conseguiu despertar neles o

interesse pelos componentes da Educação Física. Também foi possível

observar que eles tinham vontade de aprender sobre determinadas

modalidades esportivas e saber os fundamentos de cada uma, mas faltava

um melhor planejamento para inserir os conteúdos da Educação Física na

sala de aula.

Para este trabalho optou-se pelos conhecimentos advindos da área

da biodinâmica do movimento humano, pois no aspecto atual da área de

Educação Física, em que se enfatiza a visão crítica e consciente do

movimento. Este bloco de conteúdo se apresenta como um bom

instrumento para o desenvolvimento das potencialidades dos alunos, ao

abordar as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais dos

conteúdos.

Um dos objetivos do projeto era a mudança de hábitos de jovens

sedentários, que passam muitas horas em jogos eletrônicos ou assistindo

a televisão durante o tempo livre. Assim, conscientizar os alunos de que o

nosso corpo foi projetado para os movimentos e que, além de ser capaz de

realizá-los com harmonia e eficiência, precisam deles para manter-se

saudável.

AVALIAÇÃO DOS CONTEÚDOS TRABALHADOS NA PROPOSTA

Por compreender que os alunos já estavam mais familiarizados com

a proposta de aula, então foi proposta uma verificação da aprendizagem.

Para avaliação dos conteúdos teóricos trabalhados, as questões tinham as

opções:Sim ( ), Não lembro ( ), Não ( ). Quando assinalada a resposta

“Sim”, o aluno deveria explicar. Veja as questões:

21

• O que significa sistema locomotor? Se a resposta for sim, explique.

• Qual a função dos ossos?

• Qual a função dos músculos?

• O que é articulação?

• O que são ligamentos e tendões?

• O que é potência?

• Qual a diferença entre velocidade e agilidade?

• O que é coordenação motora?

• O que significa sedentarismo?

• Qual o significado da Biodinâmica?

• O que é resistência cárdio-respiratória?

• Qual é a diferença entre força e resistência muscular?

• O que é equilíbrio?

• Quais os benefícios da prática de atividades físicas para a saúde?

• Por que é importante realizar atividades físicas todos os dias?

Acompanhe na TABELA 1, os números correspondentes às

respostas do questionário aplicado:

TABELA 1: Freqüência das respostas na avaliação de retenção da

aprendizagem.

Questões Quantidade de alunos

reposta sim

Quantidade de alunos reposta

não lembro

Quantidade de alunos reposta

não

% de alunos que explicaram corretamen

te

1. O que significa sistema locomotor?

20 10 09 51%

2. Qual a função dos ossos? 20 09 10 51 %

3. Qual a função dos músculos? 20 09 10 51 %

4. O que á articulação? 18 12 09 46 %

5. O que são ligamentos e tendões? 19 10 10 48 %

6. O que é potência? 20 10 09 51 %

7. Qual a diferença entre velocidade e agilidade?

20 10 09 51 %

8. O que é coordenação motora? 20 10 09 51 %

22

9. O que significa sedentarismo? 20 10 09 51 %

10. Qual o significado da Biodinâmica?

20 10 09 51 %

11. O que é resistência cárdio-respiratória?

19 10 10 48 %

12. Qual é a diferença entre força e resistência muscular?

20 10 09 51 %

13. O que é equilíbrio? 20 09 10 51 %

14. Quais os benefícios da prática de atividades físicas para a saúde?

39 - - 100%

15. Por que é importante realizar atividades físicas todos os dias?

39 - - 100%

Se os alunos ouvem o professor e buscam aprender ainda mais

sobre o assunto que despertou mais interesse, então fica visível em suas

atitudes, o encantamento provocado pelo conhecimento da Educação

Física. A partir daí foi possível observar que houve mudanças na forma de

se tratar a disciplina Educação Física. As respostas dos alunos, em relação

aos métodos adotados para se trabalhar durante a aula, refletiram a

atuação do professor e o caminho que foi seguindo. Assim, cada período

de atuação pôde ser observado a partir da forma como se dá o

desenvolvimento da disciplina. Em duas questões, as respostas dos

alunos, quanto aos benefícios e a importância de se realizar atividades

físicas, foram excelentes, pois todos os 39 alunos comentaram sobre o

assunto. Eles escreveram sobre a melhora na respiração, o bom

funcionamento dos órgãos etc. Na questão sobre a função dos músculos

20 dos 39 alunos souberam dar respostas corretas. Os alunos deram

respostas satisfatórias sobre assuntos como sedentarismo e Biodinâmica.

Na seqüência, os alunos receberam um questionário para uma

avaliação geral das aulas de Educação Física 2008; cujas questões foram:

O que você aprendeu/praticou nas aulas teóricas e práticas de Educação

Física neste ano?

• Entre os conteúdos citados na questão 1, o que você gostou de

fazer/estudar? Justifique

• Entre os conteúdos citados na questão 1, o que você não gostou de

fazer/estudar? Justifique

23

• O que você gostaria de aprender ou praticar nas aulas de Educação Física

ainda este ano? Explique por quê?

• Deixe algum comentário sobre suas aulas de Educação Física deste ano.

Numa avaliação geral das aulas de Educação Física em 2008 foi

possível observar, a partir das respostas, que os alunos se familiarizaram

com o conteúdo aplicado na proposta. Nas respostas, eles citaram que

aprenderam na teoria e na prática a jogar basquete, voleibol, fazer

arremesso, fazer dribles, corrida, passes etc. Qualidade de vida

relacionada à prática de atividades físicas, tudo sobre nosso

desenvolvimento de ossos e músculos, fundamentos das modalidades

esportivas, várias atividades como “ping-pong”, handebol, bola queimada

e aulas teóricas são algumas das respostas dos alunos.

O trabalho de Educação Física nas séries finais do ensino

fundamental é muito importante, na medida em que possibilita aos alunos

uma ampliação da visão sobre a cultura corporal de movimento. Assim,

viabiliza a autonomia para o desenvolvimento de uma prática pessoal e a

capacidade para interferir na comunidade, seja na manutenção ou na

construção de espaços de participação em atividades culturais, como

jogos, atividades e jogos esportivos, lutas, ginástica e danças, com

finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afeto e emoções.

No período que antecedeu a minha participação no grupo de estudos

do PDE, antes da aplicação da proposta, desenvolvia os planejamentos de

aula da mesma maneira, nesses anos de docência. As aulas eram

expositivas, procurava obter dados sobre as condições motoras dos

alunos, desenvolvia atividades de cooperação e solicitava que todos os

alunos participassem das aulas para conhecer as diversas modalidades

esportivas. Porém, passei a observar que as aulas de Educação Física já

não atraíam tanto a atenção dos alunos, pois seguiam sempre o mesmo

rítmo: apresentação do conteúdo, trabalhos em grupo, jogos, observação

e avaliação. Seguia um roteiro de avaliação que contemplava três

aspectos: o social, o cognitivo e o cognitivo-motor. Uma avaliação com

base em critérios que não atendiam às necessidades dos alunos na

prática. Assim, como as aulas teóricas e, às vezes, as práticas não se

24

apresentavam tão atrativas ao ponto de manter os alunos interessados e,

assim, eu não conseguia atingir um resultado satisfatório com o trabalho

desenvolvido.

Após a aplicação da nova proposta de aulas de Educação Física,

pode-se considerar que trabalho desenvolvido seja mais válido e de maior

importância, tanto para os alunos da escola, quanto para o

desenvolvimento da disciplina. Acompanhe os depoimentos dos alunos do

Colégio Vicente Rijo após a participação nas aulas da Proposta de

Implementação da disciplina de Educação Física:

(A1) “Adoro as aulas de Educação Física, acho uma aula muito importante

para a nossa aprendizagem, aprendemos coisas diferentes”.

(A2) “A professora é muito legal e trata a gente com carinho na hora de

ensinar as coisas que são boas para a nossa vida. Praticar a Educação

Física é muito bom para melhorar a nossa saúde”.

(A3) “Tudo foi ótimo, e aprendemos bastante com a professora deste

ano”.

(A6) “Gostei muito das aulas de Educação Física e acho a matéria

divertida, espero ter sido uma boa aluna”.

(A8) “As aulas foram muito bem explicadas, muito legal e eu adoro

praticar exercícios físicos”.

(A9) “Foi muito bom ter Educação Física desse jeito diferente. Achei que

foi tudo legal, maravilhoso, nada foi chato e nada mal ensinado”.

Percebeu-se a boa aceitação do projeto por parte dos alunos, o que

aponta para possibilidades de mudanças na forma de condução do ensino

da Educação Física, dentro do cenário escolar e, isso foi possível com

abordagens nos conteúdos estruturantes para a disciplina, propostos pelas

Diretrizes Curriculares do Paraná, contemplando os conteúdos conceituais,

atitudinais e procedimentais.

Pôde-se perceber a tomada de conhecimentos provenientes da

25

área da Biodinâmica do movimento humano, sinalizando um bom

resultado do trabalho realizado, comprovando que os alunos entenderam

a necessidade de aprendizagem dos conteúdos nas três dimensões.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No trabalho de intervenção realizado, com a aplicação da proposta,

foi possível levantar um diagnóstico, junto aos alunos, com o objetivo de

conhecer quais conteúdos teóricos eram considerados importantes para

eles. Em seguida, a análise do relato dos alunos, mostrou como percebiam

os conteúdos teóricos desenvolvidos nas aulas e quais conteúdos

conceituais seriam considerados necessários e mais aceitos na disciplina

de Educação Física.

O desenvolvimento do projeto suscitou diversos comentários por

parte dos alunos. Explanações positivas em relação à aprendizagem e

demonstrações de apropriações de conteúdos importantes, apresentados

durante a aplicação da proposta, mostraram que o objetivo do trabalho foi

conquistado.

Após análise do processo, constatou-se que as aulas de Educação

Física, da maneira como estavam acontecendo, antes da nossa proposta,

embora tivessem um programa de ensino adequado, não se

apresentavam para os alunos como algo que pudesse ser usado em suas

vidas, não mostravam aplicabilidade em suas rotinas diárias, não se

faziam importantes o suficiente para serem necessárias. O trabalho de

intervenção, utilizado nas aulas, pautou-se no programa proposto durante

estudos sobre a sub-área Biodinâmica da Educação Física, considerando

que a proposta apresentava-se adequada aos anseios dos alunos.

Após as 34 aulas observou-se que, apesar da oposição inicial de

alguns alunos à proposta, percebeu-se que este quadro foi revertido no

decorrer da aplicação das atividades e, que os conteúdos conceituais

nelas inseridos, foram assimilados. Houve aceitação, por parte dos alunos,

quando reconheceram como interessantes e necessários os conteúdos

quando contemplam as três dimensões do conhecimento: a conceitual, a

26

atitudinal e a procedimental, presentes nas aulas de Educação Física,

mesmo quando, em alguma fase do processo de ensino, nem todas

estivessem em evidência.

Este modelo de trabalho apresentado no colégio Vicente Rijo, em

Londrina (PR), teve como objetivo principal o de levar às crianças e aos

jovens a importância de se praticar exercício físico regularmente, para a

obtenção da boa qualidade de vida e seus benefícios para a saúde.

Por fim, dentro do contexto da biodinâmica, pode-se afirmar a

necessidade e interesse da presença das dimensões conceituais,

procedimentais e atitudinais, pois podem representar o caminho para o

entendimento da Educação Física como disciplina e área de conhecimento.

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