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1 Instituto A Vez do Mestre LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A PRESENÇA DA PSICOLOGIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA ANÁLISE DE TEMAS ABORDADOS EM PROGRAMAS CURRICULARES DE LICENCIATURAS. Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre, como requisito parcial para obtenção do grau de licenciatura em pedagogia. Por.: Rosane Barbosa Marendino Orientador: prof. Dr. Vilson de Carvalho Rio de Janeiro 2010 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Instituto A Vez do Mestre LICENCIATURA EM PEDAGOGIA ... · psicologia necessita destituir-se de sua identidade instrumental a serviço da educação, e partir para a ideia de se fortalecer

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Instituto A Vez do Mestre

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

A PRESENÇA DA PSICOLOGIA NA FORMAÇÃO DE

PROFESSORES: UMA ANÁLISE DE TEMAS ABORDADOS EM

PROGRAMAS CURRICULARES DE LICENCIATURAS.

Apresentação de monografia ao

Instituto A Vez do Mestre, como

requisito parcial para obtenção do grau

de licenciatura em pedagogia.

Por.: Rosane Barbosa Marendino

Orientador: prof. Dr. Vilson de Carvalho

Rio de Janeiro

2010

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2

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus familiares pelo

incentivo, compreensão e auxilio

fundamental na conclusão de mais uma

tarefa: tivemos horas roubadas, mas

tudo faz parte de um projeto que é

nosso: bem coletivo e afetuosos.

Agradeço aos colegas e professores

com os quais convivi nessa trajetória;

sejam eles “virtuais” ou presentes de

forma “física”: aprendi que a

solidariedade e a aprendizagem não

são necessariamente demarcadas por

espaços conhecidos; há muita

experiência diferente a se descobrir.

Agradeço a existência da psicologia e

da educação no mundo: elas tem sido

objetos apurados do meu olhar e a elas

devo todo o sentido e prazer que me

constituem profissionalmente.

Agradeço aos autores de minha

referencia bibliográfica: os seus

trabalhos puderam fortalecer as bases

de meu pensamento e organizar as

minhas reflexões.

3

DEDICATÓRIA

Ao meu querido companheiro, amigo

de todas as horas, braço forte que

comigo percorre caminhadas e que

constantemente me faz lembrar o

quanto posso contribuir com um mundo

melhor. A você, Elias, que me ilumina,

me acalma, me entende, me completa

e me faz crescer um pouco mais a

cada dia...

4

RESUMO

Nesta pesquisa, de cunho histórico e teórico/conceitual, buscou-se

analisar os conteúdos veiculados pelas disciplinas de psicologia nos cursos de

licenciatura no Brasil, através do estudo dos temas apontados pelas ementas e

planos curriculares. Alguns cursos formaram a amostra da pesquisa, que

também contou com narrativas produzidas através de entrevistas realizadas

com alguns professores e alunos dos referidos cursos. É possível entrever, a

partir do material selecionado, que uma grande parte das temáticas contidas

nas ementas, são apresentadas de forma recorrente, com poucas alterações e

que refletem ideais sociais, políticos e ideológicos. Entende-se que a seleção

de tais temas acaba por estabelecer uma manutenção de certas visão de

mundo, mediadas por concepções e práticas políticas e culturais. Conclui-se,

portanto, que diante da complexidade que envolve a prática pedagógica

cotidiana e a necessidade de uma atuação docente estabelecida nos

parâmetros da reflexão e da critica, a psicologia necessita destituir-se de sua

identidade instrumental a serviço da educação, e partir para a ideia de se

fortalecer enquanto um conjunto de conhecimentos construtivos do saber e das

competências do professor. Compreende-se, sobretudo, que as

transformações precisam ser pensadas e que elas só ocorrerão, efetivamente,

ao se partir para o dialogo e o exame da realidade, do cotidiano, do que é

vivenciado pelo professor em seu dia-a-dia, na sua ação docente.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................7 CAPÍTULO I: UM BREVE ESTUDO HISTORIOGRÁFICO SOBRE A PSICOLOGIA NO BRASIL.................................................................................10 1.1. O contexto das décadas de 10 e 20 no Brasil e a presença da psicologia

no cenário da educação..........................................................................11

1.2. Os primeiros laboratórios experimentais brasileiros ligados a psicologia e pedagogia...............................................................................................13

1.3. A disciplina “psicologia” e alguns dados bibliográficos dos primeiros

professores.............................................................................................14 1.4. Considerações acerca deste estudo historiográfico...............................15 CAPÍTULO II: A TRAJETÓRIA DOS CURSOS DE LICENCIATURA NO BRASIL E A PSICOLOGIA COMO SABER DOCENTE....................................22 2.1. Breve histórico das licenciaturas no Brasil.................................................22 2.2. A presença da psicologia nos cursos brasileiros de licenciatura...............25 CAPÍTULO III: ANÁLISE DE ALGUNS PROGRAMAS CURRICULARES DAS DSICIPLINAS “PSI” EM CURSOS DE LICENCIATURA..................................27 CONCLUSÃO...................................................................................................35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................38 ANEXOS...........................................................................................................44

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INTRODUÇÃO

Falar sobre o campo de estudos da psicologia não é tarefa simples.

Chego a pensar que, de fato, essa história é possível de ser contada. Digo

isso, sobretudo, por serem várias as vertentes, os caminhos, as construções e

as desconstruções do camp psicológico que, longe de ser um campo uno, é

plurifacetados e complexo. E parece que esta questão se complexifica, ainda

mais, quando se une ao campo das ideias pedagógicas no Brasil.

Segundo Luis Claudio Figueiredo(2005), deve-se adotar não mais a

perspectiva de “uma” história da psicologia educacional, mas sim das “muitas”

histórias das psicologias de contá-las/narrá-las/apresentá-las sem reduzir suas

complexidades e tessituras¹.

Portanto, o que guiará a construção desse trabalho são perguntas de

partida devidamente captadas pelos insigths proporcionados mediante meu

interesse pessoal, tanto sobre os estudos relacionados a historiografia da

psicologia no campo da educação, quanto da compreensão entre as

interlocuções formadas entre estes campos: relações estas que muitas vezes

ocorreram de forma aparentemente harmônica, mas, no fundo são marcadas

por conflitos e tensões.

Mesmo sem pretender responder ou esgotar todas as perguntas que

aqui trago, considero importante suscitá-las, repensá-las e, sobretudo, refletir

de que forma temos, em nosso tempo, dialogado com elas.

Sendo assim, entendo ser pertinente partir dos seguintes

questionamentos:

- De que forma podemos compreender as relações sociais e de poder

que se estabelecem nas particularidades históricas da psicologia tecida com a

educação?

- Considerando os aspectos dessa relação, de que forma os conteúdos

veiculados pela psicologia no campo educacional vem se construindo,

principalmente se considerarmos a formação de professores nos cursos de

licenciatura?

É fato que a atuação psicológica no Brasil antecede a regulamentação

da profissão – que só ocorrerá em 1962 – e que desde o século passado

“algumas preocupações teóricas de ordem psicológica já eram partilhadas com

7

a medicina, pedagogia, filosofia e outros campos disciplinares” (MANCEBO,

1999, p.20). O que esse fato parece demonstrar é que passa a ser cultura

comum a presença dos saberes psicológicos em instituições de características

diversas – incluindo aí a educação. Isso marca, de certa forma, os sentidos e

as subjetividades do campo da psicologia.

Se em sua história, vemos que a psicologia tem se apresentado como

importante fonte de conhecimento no campo educacional, provocando

impactos e estabelecendo relações, também é fato que a psicologia emerge no

contexto educacional sob a influencia do liberalismo e que tal implicação levou

muitos autores a reforçarem a crítica quanto ao “psicologismo” veiculado na

educação. Mediante essa questão, vários estudos passam a ser produzidos a

partir dessa justificativa, principalmente, no inicio dos anos 80.

Se tais estudos reforçaram bastante este enfoque na época citada, nos

últimos anos temos visto produções que caminham no sentido do

desvelamento dessas pluralidades, contidas nas contribuições da psicologia

acerca da prática educativa e, de acordo com Larocca (1999), “as críticas a

perspectiva psicológico para a educação” (p.15). Diante dessa afirmativa,

pergunto-me, então: qual seria a responsabilidade social do ensino de

psicologia na escola contemporânea? Em que sentido ela serve para a sala de

aula e para a tarefa educativa do professor? Essa é, portanto, são questões

centrais que mobilizam a pesquisa e que justificam a temática.

Para desenvolvê-la, os capítulos forma dispostos de forma que o

primeiro (capítulo I) traz em breve estudo historiográfico sobre a psicologia no

Brasil, focalizando mais especificamente a incursão da psicologia no campo

educacional. O segundo capítulo (capítulo II) trata de observações gerais

referentes a presença das “disciplinas psi” nas licenciaturas de alguns cursos

mediante a própria história destes cursos no Brasil. No terceiro capítulo

buscou-se fazer uma análise de programas curriculares de algumas

licenciaturas, baseando-se em estudos das ementas destas disciplinas em uma

amostra de dez cursos no Brasil.

Alguns autores foram fundamentais quanto as referencias teórico-

metodológicas dessa pesquisa. Dentre eles, citamos os trabalhos de autores

que constituem o campo da historiografia, como Le Goff (2006) e, mais

especificamente, nos estudos da história da psicologia no Brasil, como Antunes

8

(2004; Massimi (1990), Pessoti (2004), Jacó-Vilela (2005). Também foi possível

contar com os autores que estudam o ensino superior no Brasil e que,

poratanto, forneceram preciosos dados para análise, dentre eles, os trabalhos

de Pereira (1998,1999,2000), Gatti (2000) e, mais especificamente, os de Azzi

e Sadalla (2002). Os estudos de Larocca (1996, 1999 e 2000), acerca dos

conteúdos-temas referentes ao processo educacional e as implicações com a

psicologia, também foram subsídios fundamentais.

Após análise dos dados encontrados, concluiu-se que diante da

complexidade que envolve a prática pedagógica cotidiana e a necessidade de

uma atuação docente estabelecida nos parâmetros da reflexão e da critica, a

psicologia necessita destituir-se de sua identidade instrumental a serviço da

educação, e partir para a ideia de se fortalecer enquanto um conjunto de

conhecimentos construtivos do saber e das competências do professor.

Se, ao longo dos tempos, a psicologia se constituiu como um campo

complexo e tensionado nas suas relações com a educação, por outro lado, é

inegável que ela também tenha auxiliado, muitas vezes, através da

compreensão mais ampla sobre a natureza da prática educacional e dos

elementos que a constitui.

Mesmo com todas as mazelas enfrentadas, acredito que a psicologia

ainda venha proporcionando contribuições e possibilidades de transformação

da prática educacional cotidiana. Portanto, baseando-me nessa afirmativa é

que produzo este trabalho: com a esperança de que tais debates possam

proporcionar novos rumos e pensamentos no campo da psicologia brasileira.

9

CAPÍTULO I

UM BREVE ESTUDO HISTORIOGRÁFICO SOBRE A

PSICOLOGIA NO BRASIL

Reconstituir a trajetória de um saber ou conhecimento exige, de certa

forma, uma abordagem que não poderia deixar de levar em conta as rupturas,

os cortes, as retomadas e as continuidades de um movimento. Essa proposta

de recomposição analítica pretende, antes de mais nada, verificar ligações

significativas que possam explicar aquilo que se quer estudar dentro de um

contexto mais amplo, buscando evidencias para tal relação. Sendo, assim,

pode-se compreender que este oficio – o qual podemos designar ‘do

historiador’ – trabalha com ideias e lugares, percebendo-os para além de uma

linha contínua do tempo.

A partir desses pressupostos é que surge uma proposta de historiografia

– ou seja, a história da história – que irá se constituir como campo autônomo

no século XX, se consolidando através de autores como Henri Marrou, Paul

Ricoeur, Michael Foucault, Paul Veyne, Michel de Certeau, Lucien Febvre,

dentre outros.

De acordo com Godoy (2009), os estudos da historiografia:

“abrem a possibilidade de aprofundarmos a reflexão sobre o estatuto e

os mecanismos a partir dos quais uma determinada sociedade define a relação

com seu passado. Nesse processo, podem-se entender as relações que se

estabelecem entre o discurso profissional e esse universo mais amplo e

complexo da memória coletiva. E, a medida que entendemos como isso

funcionou nas sociedades passadas, podemos relativizar algumas indicações

10

mais presunçosas da total independência da ciência histórica na sociedade do

presente” (p.76).

Nestes termos, a discussão historiográfica deve se constituir num

exercício permanente junto as reflexos e atividades dos estudiosos e

pesquisadores. É isso que se propõe esse capítulo: compreender a

historiografia, especificamente da psicologia, revendo, para tal, as

transformações que ela vem passando nos últimos tempos. Pretende-se

mergulhar na interioridade da instituição “psicologia”, tentando construir uma

historiografia que compreenda melhor as implicações dela diante da realidade

educacional e que faça uma menção ao papel dos agentes, grupos e classes

sociais que são envolvidos no mesmo processo, no qual circula esse

conhecimento...(LAPA, 1976, p.20).

1.1. O contexto das décadas de 10 e 20 no Brasil e a presença da psicologia

no cenário da educação.

De 1920 a 1930, na recém-instaurada, o Brasil atravessaria um período

cuja tarefa primordial seria a de construção da nação. Tal tema passou a ser o

alvo principal dos grupos intelectuais de vários segmentos, tendo, os mesmos,

tomado para si, a responsabilidade em conduzir tal processo. A modernidade e

sua ordem faziam parte do reclame geral tornando-se necessário institui-las

com urgência. Sem duvidas, um dos mais expressivos caminhos, julgado como

fundamental importância para atingir a ordem moderna, foi a educação

(MARENDINO, 2009).

O modernismo – movimentos de ideias renovadoras e de grande

heterogeneidade – já circulava desde a segunda metade dos anos 10, através

das ideias portadas por homens que “faziam parte de grupos sociais

11

organizados” (GOMES, 1993) e é através dessa ambiência que seria

implementado o projeto nacional de modernização. Tanto a escola quanto a

cidade passaram a representar espaços de aprendizado, de fermentação e de

circulação de ideias, percebidas, sobretudo, como “arenas sociais” de variados

sentidos, inclusive os contraditórios convivendo lado a lado.

O Rio de janeiro – que naquele momento configurava-se como Distrito

Federal do Brasil – tornava-se um “importante polo irradiador dos valores

exaltados por esse mesmo projeto de modernização nacional” (CHAVES,

2005), apesar das desqualificações que os modernistas paulistas vinham

delegando a capital ao julgá-la atrasada quanto ao processo que já vinham se

dando rumo a modernização. Por conta da pressão – vivida por tal cobrança

nos avanços – as reformas e projetos passam a ser implementados mais

rapidamente, fato esse que favoreceu o papel de destaque a capital federal.

Em tais projetos, novas atitudes e comportamentos são requisitados e, nesse

aspecto, são os intelectuais envolvidos com a educação que irão propor a luta

contra o analfabetismo e o atraso, colaborando de forma efetiva e intensa com

a instauração da ordem moderna.

Portanto é no rio de janeiro, através de sucessivas administrações, que

o modelo de cidade passa a adquirir respeito e valorização, trazendo, em seu

bojo, os projetos e reformas educacionais que culminariam no movimento que

ficou conhecido como “escola nova”.

Vidal & Paulilo (2003) expressam, de forma clara, o que representou o

movimento escolanovista no Brasil:

[ele] designou um movimento de renovação dos processos

educacionais, apoiado no progresso das ciências biológicas e psicológicas, nas

12

atribuições sociais da escola, no industrialismo, na atividade infantil e no

trabalho em solidariedade” (p.375)

Um grupo de intelectuais liberais – dentre eles Fernando de Azevedo,

Anísio Teixeira e Lourenço Filho – empenhava-se na reforma educacional que,

por sua vez, era acompanhada diretamente por uma reforma social, traduzida

pelo sentimento de velocidade nas transformações e na “interiorização de

normas e comportamentos otimizados” (VIDAL, 2000, p.498). A rejeição a tudo

que inspirasse o “tradicional” foi substituída pelas inovações e pela

possibilidade de se construir uma escola onde um numero cada vez maior de

crianças pudesse frequentar. A cientificidade como método de compreensão do

humano foi conclamada e, nesse ínterim, as observações de claparede,

Dewey, e outros pensadores envolvidos com a questão dos processos

psicológicos presentes na aprendizagem, ganham força no projeto de uma

nova escola para o Brasil. Segundo Carvalho de Carvalho (2002)

À psicologia, com suas técnicas inovadoras, era atribuído o papel de

disciplina coadjuvante na construção de um novo homem, especialmente por

sua contribuição aos aspectos metodológicos do ensino, ou seja, o como

ensinar”. (p.52)

Embora seja vasta e rica a história deste momento no pais, para os

limites dessa pesquisa iremos focalizar-nos mais especificamente no que

representou a psicologia diante desta reviravolta teórica e das novas propostas

e reformas educacionais estabelecidas no inicio deste movimento. E é por

conta dessa questão que importa explicitar a convicção dos intelectuais sobre a

intensificação da figura da criança e no preparo das mesmas para a construção

do projeto de modernização, assim como, na importância dada as

13

metodologias cientificas que pudessem iluminar os estudos sobre a infância.

Inegavelmente, a referencia dos estudos psicológicos recaia sobre os fatos

humanos e as leis da natureza, prevalecendo o método e a objetividade como

procedimentos primordiais na investigação destes dados.

1.2. Os primeiros laboratórios experimentais brasileiros ligados a psicologia e

pedagogia

Dentre alguns movimentos ligados a psicologia no Brasil, um deles

traduz grande importância e ligação com as questões postas pela/na educação.

Tal movimento seria o da criação dos primeiros laboratórios experimentais.

Os laboratórios de psicologia experimental – ligados a educação – já

vinham sendo implementados desde 1903 no Brasil, tendo, na figura de Manoel

de Bonfim, um dos pioneiros nessa atividade. Depois de concluir seus estudos

em medicina (1890) e de ter assumido vários cargos políticos ligados ao

ensino, Bomfim, seguiu para a Europa no ano de 1902, em missão pedagógica,

com o intuito de estudar com o professor Alfred Binet – pioneiros nos estudos

de mensuração da inteligência – retornando no ano seguinte ao Brasil para

montar e administrar o já citado laboratório (CIAVATTA & GONTILO, 2002) que

funcionou por mais de 15 anos, produzindo pesquisas e publicações, varias

delas na revista educação e pediatria. Sempre se portando como defensor da

instrução publica no país – Bonfim retorna a Europa em 1910, comissionado

pelo governo municipal, com a finalidade de estudar a organização do ensino

profissional europeu. Em 1911, Bonfim teve a colaboração de Plínio Olinto na

cátedra da escola normal do Rio de Janeiro. Tanto a exaltação a ciência quanto

as afirmações de que a educação seria o meio capaz de levar a sociedade ao

progresso eram questões presentes na produção de Manoel Bomfim, ideias

14

essas que, sem dúvidas, já previam o que a década de 20 viria, então, a

afetivar.

Outras experiências referentes ao método experimental ligado aos

laboratórios de psicologia também ocorriam em outros locais e, dentre as

observações a serem feitas, vale lembrar que tais laboratórios, em grande

número, foram construídos como anexos de escolas. É o caso do gabinete de

psicologia experimental, criado em 1909 e dirigido por Clemente Quaglio. O

gabinete funcionava junto a escola Rangel Pastana, na cidade de amparo, São

Paulo.

Outro exemplo de experiência a ser citado é o laboratório de psicologia

experimental, organizado em 1912 e inaugurado em 1914 pelo médico e

pedagogo italiano Ugo Pizzoli, anexo a escola normal de São Paulo (MASSIMI,

1990). Pizzoli teria sido diretor da escola normal em módena, na Itália, sendo

considerado um profundo conhecedor da psicologia experimental (CAMPOS,

2001). Criou, ainda, um teste denominado “Aparelho Pizzoli” que visava

examinar o processo lógico nos indivíduos. Também foi o responsável pela

elaboração da “carteira biographica escolar” , a ser adotada pelas escolas do

estado. Em 1924. Ao retornar para a Itália, Ugo Pizzoli deixa o laboratório sob a

responsabilidade de Antonio Sampaio Dória.

Em 1928 o primeiro laboratório de psicologia de Minas Gerais é

inaugurado por Francisco Campos, junto a escola de aperfeiçoamento de

professores em Belo Horizonte, contando, para tal, com a presença de

Theodore Simon, psiquiatra francês e colaborador de Alfred Binet, na sua

implantação.

15

Plínio Olinto – que trabalhou no laboratório pedagogium – escreve, em

1994, um artigo histórico denominado “A psicologia experimental no Brasil”.

Nele, Olinto relata os caminhos percorridos pela psicologia desde o inicio do

século e declara que, em 1916, ele e Manoel Bonfim iniciaram uma serie de

cursos de psicologia experimental nas escolas normais, cursos esses que

duraram até 1930 (ANTUNES, 2004), demonstrando, assim, a forte presença

do viés experimental nas relações da psicologia com a educação.

Reforçamos, como sendo de fundamental importância, o fato de

atentarmos para o surgimento da psicologia no cenário educacional através

dos movimentos de criação de laboratórios anexos as escolas, evidenciando

sobretudo o caráter experimental entre as relações mantidas entre a psicologia

e a educação.

1.3. A disciplina “psicologia” e alguns dados biográficos dos primeiros

professores.

Quanto ao quadro que se apresentava mediante o ensino da psicologia

nas instituições, Massimi (1990) aponta que, já no século XIX, a disciplina

inseria-se em diferentes áreas do saber, constituída como matéria obrigatória

em diversos currículos de instituições escolares no país e estabelecendo uma

relação de complementaridade com a pedagogia. A psicologia era, então,

entendida como “o conhecimento filosófico da natureza e do funcionamento

das faculdades da alma e se ocuparia em definir o significado, a função, as

características e a dinâmica evolutiva das faculdades psíquicas” (MASSIMI,

idem, p.55)

Como o interesse dessa pesquisa concentra-se mais na formação de

professores e na circulação das ideias psicológicas no campo pedagógico, as

16

informações nos levam ao fato de que as escolas normais brasileiras, fundadas

a partir da segunda metade do século XIX, assistiram o surgimento da

psicologia no âmbito da disciplina “Metódica e pedagógica”, cuja ementa tinha

a preocupação em introduzir a metodologia cientifica no ensino, utilizando-se

da psicologia para tal e sempre considerando os moldes europeus e norte-

americanos.

Vários nomes de intelectuais iriam compor a rede que então se formava

em torno não só da disciplina, mas também dos ideais já reforçados aqui,

referentes aos estudos da infância, dos métodos experimentais, científicos e

das relações entre psicologia e ensino, ocorridas, principalmente, no âmbito

das escolas normais do pais. Portanto, essa pesquisa aborda alguns aspectos

biográficos destes intelectuais cuja apresentação está baseada em

documentos oficiais, registros de pesquisadores e dados colhidos em

referencias bibliográficas que tratam do tema.

O primeiro nome a ser apresentado é o de Antonio de Sampaio Dória,

bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, que assume a cadeira “psicologia,

pedagogia e educação cívica” na escola normal secundaria de São Paulo, em

1914, sendo reconhecido por seu aluno Lourenço Filho como um grande

defensor do caráter social da psicologia . reconhecida ainda, a importância

atribuída a vinculação entre pedagogia, psicologia e prática pedagógica. Dória,

no artigo intitulado “Educação moral e econômica”, diria que “quem quer que

conheça de perto o mecanismo de uma escola normal sabe que sua espinha

dorsal é a psicologia e a pedagogia encaradas a luz da ciência” (DÓRIA, s/d,

p.7). vale ressaltar que Sampaio Dória, em 1920, conduz a reforma do ensino

no estado de São Paulo, e logo após, em 1925, nomeia Lourenço Filho como

17

seu sucessor e professor na escola normal (CARVALHO, 2002). Em seus

escritos, sempre defendeu a necessidade de a educação fundamentar-se em

conhecimentos científicos sobre a alma da criança, citando, como suas

referencias teóricos básicas, autores como Spencer, Willian James, Claparede,

Binet e Pestalozzi.

Ainda no estado de São Paulo, Manoel Bergstrom Lourenço Filho, após

ser diplomado, em 1916, pela escola normal da praça da república, resolve

dedicar-se a psiquiatria, matriculando-se, em 1918 na faculdade de medicina.

Porém, o curso é interrompido e Lourenço Filho inicia o curso de direito na

faculdade de São Paulo. Em 1920 é chamado como professor substituto de

pedagogia e educação cívica na escola normal secundaria. Passa um período

em Fortaleza, assumindo alguns cargos administrativos, mas retorna a

docência, em 1924, na escola normal de Piracicaba, onde lecionou “psicologia”,

“disciplina na qual se tornaria um dos maiores especialistas do país” (GANDINI

& RISCAL, 2002). No ano 1925, como já dito anteriormente, substitui Sampaio

Dória na cátedra de “psicologia” na escola normal de São Paulo. É nessa

instituição que Lourenço Filho conhece Fernando Azevedo, em 1930, ocasião

em que foi nomeado diretor-geral da instrução pública de São Paulo. Dentre

suas ações, destaca-se a transformação as escola normal em instituto

pedagógico, instituindo o curso normal de aperfeiçoamento da capital, que deu

origem, posteriormente, ao primeiro curso superior de educação. Também criou

o primeiro serviço de psicologia aplicada do Brasil. Em 1932, aceita o convite

de Anísio Teixeira para dirigir o instituto de educação do Distrito Federal, Rio

de Janeiro. Foi o autor de um significativo número de publicações em

psicologia, dentre as quais se destacam os estudos referentes a o teste ABC,

18

amplamente utilizado nos sistemas de ensino do país. Uma de suas alunas e

que, mais tarde, se tornará sua grande colaboradora, foi Noemy da Silveira

Rudolfer.

Nascida em são Paulo, Noemy Rudolfer é motivada por Lourenço Filho,

em 1927 (ano em que Henry Piéron chega ao Brasil para lecionar “psicologia

experimental e psicometria” na escola normal de são Paulo), a cursar

disciplinas na universidade de Colúmbia, local este onde manterá contato com

as ideias de John Dewey, Kilpatrick e Gates. Posteriormente, tornar-se-ia uma

das grandes divulgadoras destes autores no Brasil e colaboraria, intensamente,

no laboratório de psicologia experimental que funcionava anexo a cadeira de

psicologia e pedagogia da escola normal de São Paulo.

Um pouco antes de Noemy Rudolfer, a universidade de Colúmbia já teria

sido visitada, inúmeras vezes, por Anísio Teixeira realizou diversas viagens de

estudo a Europa e aos Estados Unidos, entusiasmando-se, principalmente,

com a obra de Dewey, fato esse que marcou, definitivamente, a sua trajetória.

Em 1928 resolve deixar o cargo na Bahia e retorna a universidade de

Colúmbia, obtendo o título de Master of arts do teacher’s college. Sua

publicação “Aspectos americanos da educação”, datada de 1928, “trouxe o

primeiro estudo sistematizado das ideias de John Dewey seriam lançados por

Anísio Teixeira no Brasil. Na trajetória do mesmo, a sua persistência em defesa

da educação para a democracia é uma marca expressiva e, nesse aspecto, a

leitura de John Dewey contribuiu para que encontrasse respostas as questões

educacionais, estudos sistematizados sobre a infância e uma nova versão de

mundo.

19

Em Recife, outro nome de expressão na historiografia dos pioneiros em

disciplinas ligadas a psicologia educacional, é o de Ulisses Pernambuco.

Embora sua formação fosse em medicina, ele vê despertar vocação docente e

inscreve-se, no ano de 1918, para a cadeira de psicologia e pedagogia da

escola normal oficial do estado de Pernambuco concorre ao cargo intitula-se

“classificação das crianças anormais. A parada do desenvolvimento intelectual

e suas formas; a instabilidade e a astenia mental.” (MEDEIROS, 2002).

Segundo aponta Medeiros (idem, idem) a escola normal de oficial e o ginásio

Pernambucano representavam, na época, as mais significativas unidades do

ensino público do estado e Ulisses Pernambuco é nomeado diretor do ano

1923. Cria, ainda, o instituto de psicologia do Recife, em 1925, que segundo

Scheffer (1976), é a primeira instituição cientificamente autônoma a funcionar

regularmente no Brasil. A frente da instituição, Ulisses Pernambuco formou um

amplo grupo de pesquisadores e fundou alguns periódicos onde publicava

vários artigos, dentre eles, o trabalho, “formação de hábitos sadios nas

crianças” escrito pelo próprio, em 1926. Pela sua constante defesa em prol das

minorias marginalizadas – doentes mentais, crianças deficientes e adeptos de

seitas africanas – Ulisses Pernambuco é acusado de subversivo e preso, em

1930, permanecendo detido por sessenta dias na Casa de detenção de recife,

“além de ser aposentado compulsoriamente do ensino público” (CAMPOS,

2001, p.290).

Também no estado pernambucano, Sylvio de Lyra Rabello teve a

psicologia como opção motivadora de sua prática profissional e assume a

disciplina na escola normal em 1926. Deixou varias obras referentes ao estudo

psicológico sobre o desenho infantil e sobre a psicologia da criança.

20

Nestor dos Santos Lima, nascido no rio grande do norte, concluiu o

curso de direto em 1911, entrando para o magistério logo em seguida.

Assumiria a cadeira de “pedagogia” na escola normal de Natal neste mesmo

ano e também criaria a cadeira de “pedologia” com o objetivo de questionar a

relevância do estudo da psicologia geral para a formação de professores

(CAMPOS, 2001). Em 1913 esteve no Rio de Janeiro, designado oficialmente

pelo governador do Rio Grande do Norte, Alberto Maranhão, para observar os

melhoramentos que a capital federal vinha introduzindo no sistema

educacional. O mesmo procedimento foi posteriormente recomendado no

estado de São Paulo, gerando um relatório e posteriores reformas (PAIVA,

2002). Foi um dos defensores do estudo cientifico da infância, na forma

proposta por Claparede, sobretudo nas escolas normais. Em 1928 não só criou

como, também, assumiu a cadeira de “psicologia infantil”, na qual permaneceu

até 1934.

No estado da Bahia, Isaias Alves – que se formou em direito no ano de

1910 – passa a dirigir o Ginásio Ypiranga em 1911. Logo após, ministraria a

disciplina “psicologia educacional” na escola normal da Bahia, sendo, ainda,

comissionado pelo governo baiano a “orientar professores primários no uso de

testes psicológicos e pedagógicos” (CAMPOS, idem, p.38). Desde 1924 vinha

trabalhando na adaptação brasileira da escala Binet-Simon, além de ter escrito

inúmeras obras sobre a tradução de testes para a realidade brasileira e

pesquisas sobre a evolução psicológica da criança.

Outro nome a ser citado é o de Fernando Azevedo que estudou, entre

1903 e 1914, em colégios dirigidos pela companhia de Jesus. Porém, Azevedo

deixa a ordem para ingressar na faculdade de direito. Foi nomeado para a

21

cadeira, ministrou várias outras disciplinas em escolas paulistas. Assumiu a

diretoria da instrução pública do distrito federal – Rio de Janeiro – de 1927 a

1930 e em 1933, tomando posse do cargo de diretor do órgão correspondente,

porém no estado de São Paulo. Dentre outras atividades, Fernando de

Azevedo também foi o primeiro secretário da sociedade Eugênica de São

Paulo em 1919. Percebemos, nessa ação, o afã nacionalista e o entusiasmo

pedagógico que, dentre outras questões, culmina na defesa da escolarização

de toda a população, na multiplicação da rede de ensino e no movimento

escolanovista, ideias estas que a corrente eugenista reconheceria como

fundamentais, estimulando-as através de campanhas preventivas e

implantação de serviços de proteção a infância.

Quanto aos nomes que marcaram o desenvolvimento da psicologia em

Minas Gerais, talvez um dos mais expressivos seja o de Francisco Campos. A

reforma que ele implementa no estado, estabelece que as teorias psicológicas,

influenciadas pelos europeus e americanos, seriam o carro-chefe do ensino

primário, já que a espontaneidade infantil deveria ser conhecida cientificamente

tanto em suas bases psíquicas, quanto biológicas. Francisco Campos estimula,

ainda, que a reforma não se dê apenas no cerne das salas de aula, mas

também no ensino normal, preparando as professoras segundo os novos

métodos. Com esse objetivo é que Francisco Campos cria a escola de

aperfeiçoamento em Belo Horizonte, passando a “psicologia educacional” a

constar, pela primeira vez, como disciplina independente e prevista durante os

dois anos de duração do curso. Além das ações citadas, Francisco Campos

envia algumas professoras para estudarem com John Dewey na universidade

da Colúmbia e traz, para o Brasil, vários psicólogos europeus que juntar-se-iam

22

ao quadro de professores da escola de aperfeiçoamento, dentre eles, Helena

Antipoff.

Nascida na Rússia, Helena Antipoff estudou ciências na Sorbonne –

Paris – entre 1910 e 1911. Interessou-se, em seguida, pela psicologia e teve

Theodore Simon como seu orientador nos experimentos referentes a medida

da capacidade intelectual de crianças em idade escolar. Especializou-se em

psicologia educacional a convite de Claparede em 1916. Em 1929, ao chegar

no Brasil, atuaria como professora de “psicologia” na escola de

aperfeiçoamento em Minas Gerais, tendo seu contrato renovado sucessivas

vezes ao longo do tempo permaneceu na instituição. Desenvolveu inúmeras

pesquisas nesse ínterim, sobretudo as voltadas para a introdução dos testes de

inteligência nas escolas primárias. Propôs as escolas a adoção de programas,

denominados pela mesma de “ortopedia mental” (CAMPOS, 2001, p.54), com o

objetivo de auxiliar na equalização de oportunidades para crianças

provenientes dos meios de baixa renda e que obtinham resultados “abaixo da

média” nos testes de inteligência.

Através da reforma Francisco Campos, em Minas Gerais, outro nome

deve ser citado: o de Iago Pimentel, um médico convidado por Campos para

assumir a cadeira de “psicologia educacional” da escola normal de Belo

Horizonte. Devido a certa tendência positivista e pragmatista mantida por

Pimentel durante o curso, a igreja católica mineira teria criado oposições a

atuação docente do mesmo, gerando um clima de rejeição ao plano de

reforma. Seria Mario Casasanta – na época inspetor-geral da instrução-pública

que resolveria a controvérsia, assumindo uma postura conciliatória e sugerindo

o nome de um professor católico para assumir a cadeira de “biologia e higiene”.

23

No Rio Grande do Sul, as professoras Olga Acauan Gayer e Natércia

Cunha Velloso são nomes expressivos nos cursos de formação de professores.

A professora Natércia, diplomada em 1915 pela escola complementar de Porto

Alegre, começou a dar aulas no curso que formava professores primários, em

1925, regendo a disciplina “psicologia e direito pátrio”. Cadeira essa a qual

Olga Acauan já teria assumido em 1923. Segundo campos (2001), Natércia

Cunha foi a primeira professora a lecionar a cadeira de psicologia após o seu

desmembramento da pedagogia. O decreto que tornaria a disciplina oficial, no

curso normal do estado de Rio Grande do Sul, é o de n°4277 de 13 de março

de 1929 e, pela primeira vez, um documento de caráter oficial previa a carga

horária para a disciplina psicologia, assim como o período pelo qual seria

lecionada, sugerindo, ainda, a criação de um gabinete especifico.

Difusores de ideias psicológicas dentro da comunidade de professores,

os nomes citados compõem grande parte de uma lista dos pioneiros na

divulgação dos conhecimentos psicológicos, que, junto a outros nomes de

expressão, formavam uma elite científico-tecnológica responsável por tomar

decisões quanto aos destinos da população naquele momento, imbuídos de um

ideal comum, no qual a psicologia cumpriria o papel de fornecer as leis

necessárias a compreensão do funcionamento humano, orientando,

sobremaneira, várias decisões políticos-governamentais. Não são nomes

isolados apenas: mais que isso, são intelectuais que se encontravam imbuídos

de uma mesma missão, estabelecendo entre si vínculos, acordos, debates.

Respiravam o zeitgeist de uma época, espírito esse influenciador do

nascimento da psicologia cientifica no Brasil.

1.4. Considerações acerca deste estudo historiográfico.

24

O que foi possível trazer até aqui, reflete que dentre uma geração de

intelectuais que, nas primeiras décadas do século xx, manifestou a

preocupação de organizar a nação – tanto pelas reformas no campo da

educação quanto pelos programas de ação forjados em “afinidades eletivas”

destaca-se, neste trabalho, a compreensão sobre a forma como essas relações

influenciariam e participaram na demarcação do campo de atuação da

psicologia na educação, sobretudo com uma das disciplinas presentes nos

cursos de formação de professores no Brasil.

Segundo Nunes (1995)

(...) as disciplinas das escolas normais foram concebidas como

instrumentos de divulgação e vulgarização de teorias e experiências em curso,

por intelectuais dispostos a pensar projetos de sociedade e de educação, no

momento em que procuravam consolidar as chamadas “ciências sociais”

(p.15).

O ideário da modernidade se fazia presente na educação a partir da

década de 1910, comungando o ideal do progresso, de reconstrução da nação

e de modernização da cidades. Havia um projeto político social sendo

implantado e um sentimento moral movia os intelectuais nesse sentido. Em

concordância com a afirmação de Nunes, descrita acima, entendemos que a

psicologia é conclamada a fazer parte de tal projeto com a função de construir

o suporte teórico e organizar a educação. Solicitada enquanto método científico

de compreensão do humano, ela atendia perfeitamente aos interesses

referentes a construção do “novo homem”. Adentra, portanto, os espaços

educativos, primeiramente como uma metodologia e, posteriormente, como

disciplina escolar, disciplina essa que iria, a partir de então, institucionalizar-se

25

nos currículos das escolas de formação de professores e manter-se nessa

condição até os dias atuais. Certa hegemonia da psicologia no espaço

educativo vai demarcando seu local e fixando suas marcas através das redes

de sociabilidades construídas pelos intelectuais envolvidos com ela.

Portanto, conclui-se esse capitulo considerando que, inegavelmente, é

preciso pensar sobre a história e identidade, confrontar as representações

históricas com as realidades que elas representam e perceber que o tempo

histórico encontra, num nível muito sofisticado, a memória, que atravessa a

história e que alimenta (LE GOFF, 2006). Mais do que examinar um período

estanque, o que este capitulo buscou, ainda que brevemente, foi compreender

uma época e nela um evento (o surgimento da psicologia no cenário da

educação) que traçou subjetividades, redes, acordos, desacordos, afinidades,

complexidades e ritmos. Época que trouxe personagens a cena: intelectuais,

professores, filósofos, pensadores, psicólogos, construindo afinidades eletivas

com o objetivo de pensar o papel da psicologia na educação. Tratou-se aqui,

de propor uma investigação histórica deste percurso, sem a pretensão de fazê-

lo através de esquemas explicativos ou modelos generalizantes, mas sim

através de um enfoque que permitisse, ao menos, perceber a multiplicidade de

fenômenos que envolvem uma determinada experiência.

26

CAPÍTULO II

A TRAJETÓRIA DOS CURSOS DE LICENCIATURA NO

BRASIL E A PSICOLOGIA COMO SABER DOCENTE.

2.1. Breve histórico das licenciaturas no Brasil

Podemos perceber, no esquema abaixo, como as idas e vidas da

formação de professores vão ocorrendo no cenário educacional do país:

1835 – inaugurada a primeira escola normal do pais. A formação, de

nível médio, preparava docentes para a etapa inicial da escolarização.

1939 – criados os cursos de licenciatura, para especialistas das séries

finais, e pedagogia, para formar docentes das escolas normais.

1969 – modificado o perfil da pedagogia, que também passa a formar

especialistas em educação (diretores, coordenadores e supervisores).

1971 – A escola normal é substituída pela habilitação de magistério,

também de nível médio, para formar professores polivalentes.

1996 – A exigência de formação superior para lecionar acaba com o

magistério. A opção é o normal superior, de dois ou três anos.

2006 – Encerrada a oferta de vagas para o normal superior. A pedagogia

passa a acumular a formação de professores polivalentes.

Tal esquema traduz a dicotomia, que desde há muito se impõe, entre

“ensino/pesquisa, educação/conteúdo, pedagogia/conhecimentos disciplinares”

(GATTI, 2000, p.52)

De acordo com Pereira (1998), os cursos de licenciatura se iniciam na

década de 1930 no Brasil. As faculdades de filosofia tinham como meta que

nos três primeiros anos o licenciando cumprisse matérias relativas ao

27

conteúdo. Após a formação, ele cumpriria a prática de lecionar e somente no

último ano é que realizaria o que então se chamava de “disciplinas

pedagógicas”. Segundo Sadalla (2002, p.48), este tipo de formação docente é

chamada de “modelo de racionalidade técnica” na qual o professor era visto

como um técnico e o estágio visto como oportunidade de aplicar esse

conhecimento técnico adquirido.

Na década de 70, a lei de diretrizes e bases da educação nacional (lei

5692/71), recém promulgada, institucionaliza a modalidade “licenciatura curta”,

inclusive para responder a demanda crescente pela procura de vagas nos

cursos e a falta de professores nas escolas. O objetivo da licenciatura curta era

o de formar, em dois anos, docentes que atuassem a partir da 5° série do 1°

grau (o que hoje chamamos de ensino fundamental).

Atualmente, a lei substituta a de número 5692, ou seja, a LDB 9394/96,

extinguiu a “licenciatura curta” e traz, no artigo 62, a seguinte afirmação: “A

formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível

superior, em curso d graduação plena, em universidades e institutos superiores

de educação” (BRASIL, 1996, p.29)

Outro modelo que vem se difundindo, em nossos dias, são as chamadas

“complementações pedagógicas”, ou seja, os profissionais que querem atuar

como professores, a eles bastaria fazer uma complementação que os

permitissem exercer a docência, baseando-se em leis que asseguram essa

prática. Essa urgência na formação do professor, Pereira (1999) considera que

leva ao risco da “improvisação, aligeiramento e desregulamentação” (p.115) na

formação do professor.

28

Quanto as políticas educacionais referentes aos locais de formação

docente, vamos encontrar a extinção da formação no nível médio de ensino

(artigo 2° grau); a manutenção das universidades como centros formativos e a

criação dos institutos superiores de educação (ISE’s). A respeito dos ISE’s, a

reflexão crítica se volta para o fato de serem, em sua maioria, entidades de

ensino privadas, distantes das universidades e dos saberes que ali são

produzidos.

Diante desse panorama, o que se pode perceber é que os problemas

estruturais existentes desde a criação das licenciaturas no Brasil, permanecem

ainda hoje sem solução. Ao contrario de se pensar que o professor nasce feito,

é preciso valorizar uma formação sólida e de qualidade.

Nos cursos de licenciatura, o que se pode perceber em vários estudos já

realizados, é que tal formação torna-se fragmentada, com disciplinas

desarticuladas, prevalecendo “a rotina e a repetição mecânica das estruturas já

falidas, de formação e das disciplinas” (GATTI, 2000, p.52).

Ainda para Gatti (idem), são três os principais pontos problemáticos dos

cursos de licenciatura: a ausência de uma proposta sobre o profissional

docente formado; a falta de integração entre as disciplinas pedagógicas e as de

conteúdo especifico e a falta de clareza sobre quem educa o educador.

Sintetizando esse pensamento, a mesma autora diz que uma das possíveis

soluções para as licenciaturas seria a de “tornar reais as teorias que são

importantes” (idem, p.54)

Percebe-se que a situação dos educadores torna-se desarticulada e

complexa diante de tantas mudanças estruturais que, de forma mais geral, vêm

priorizando a visão tecnicista já apontada. Esteves (1995, p.97) argumenta

29

sobre essa questão através de uma alegoria bastante interessante ao dizer

que:

A situação dos professores perante a mudança social é comparável a de

um grupo de atores, vestidos com traje de determinada época, a quem sem

prévio aviso se muda o cenário, em metade do palco, desenrolando um novo

pano de fundo, no cenário anterior. Uma nova encenação pós-moderna,

colorida e fluorescente oculta a anterior, clássica e severa. A primeira reação

dos atores seria a surpresa. Depois, tensão e desconserto, com um forte

sentimento de agressividade, desejando acabar o trabalho para procurar os

responsáveis, a fim de pelo menos, obter uma explicação. Que fazer?

Continuar a recitar versos, arrastando largas roupagens em metade de um

cenário pós moderno, cheio de luzes intermitentes? Parar o espetáculo e

abandonar o trabalho? Pedir ao público que deixe de rir para que se ouçam os

versos? O problema reside em que, independentemente de quem provocou a

mudança, são os atores que dão a cara. São eles, portanto, que terão de

encontrar uma saída honrosa, ainda que não sejam os responsáveis.

Portanto, resgatar o papel do professor, destacando a importância de se

pensar quê professores queremos, assim como a sua formação e seu preparo

docente, é um desafio apontado por vários pesquisadores e que procurou-se

dar relevância nesta pesquisa.

Entende-se, assim, que por mais que o problema da formação se

relacione com diversas e polemicas questões da educação – aspectos estes

que vão desde a seleção de alunos até situações da carreira docente – uma

mudança do quadro atual exige, sem dúvidas, medidas urgentes de impacto

direto nas instituições formadoras e educativas.

30

2.2. A presença da psicologia nos cursos brasileiros de licenciaturas.

No capítulo 1 desta pesquisa, foi possível constatar, através das

análises históricas trazidas, o quanto a psicologia exerceu, desde a sua

institucionalização, grandes interferências no fenômeno educativo. Sempre

presente na grade curricular dos cursos de formação docente, ela tem se

apresentado com múltiplas facetas que, segundo Larocca (1999, p.42),

“permitiu que no seu seio se formassem diversas posições ao longo de sua

história”.

De acordo com Sadalla (idem, p.65), “uma das primeiras iniciativas da

psicóloga da educação, foi a aplicação de conhecimentos sobre medidas e

diferenças individuais, processo de aprendizagem e desenvolvimento infantil”.

Tal aspecto também foi possível perceber nos dados trazidos no capitulo 1

desta pesquisa. Essa característica inicial configura o campo da psicologia

como uma ciência que se utiliza de um modo mais criterioso de analise e que,

assim, pode contribuir com a educação.

Entretanto, há que se perceber que tal movimento histórico, seja no

campo da psicologia ou no campo da educação, não seguiu sempre uma linha

harmônica. Ao contrario, ele se constrói através de tensões e especialidades

importantes de serem reconhecidas. No caso da psicologia é possível perceber

que enquanto nos EUA, por exemplo, os estudos longitudinais do

desenvolvimento eram a tônica, na Europa a psicologia genética era difundida,

assim como a psicologia histórico-cultural que surgia nos estudos dos

soviéticos.

Toda essa movimentação constitui um panorama que se mostra

profundo e, muitas vezes, contraditório. Como articular as diversas correntes

31

teóricas? Percebe-se, assim, que uma compreensão mais abrangente dos

fenômenos educativos, dentro de um enfoque multidisciplinar, era tarefa

extremamente complexa para a psicologia.

Seriam as múltiplas possibilidades de análise da psicologia suficientes

para a compreensão do campo educacional?

Qual concepção deveria ser veiculada nos currículos dos cursos de

licenciatura?

Tais questões movimentaram o pensamento sobre o papel da psicologia

na educação e, mais especificamente, o seu papel na formação docente.

Uma das grandes críticas, que surge nos anos oitenta, refere-se a

distancia entre o conteúdo veiculado pela psicologia e a prática do professor

em sala de aula. Concatenar teorias científicas ao espaço cotidiano da escola,

constituindo, assim, o caráter de “fundamento da educação”, embora fosse o

papel assumido pela psicologia, também era alvo de debates.

Questionada como teórica, abstrata e modeladora (SADALLA, idem), a

psicologia não conseguiria estabelecer pontes entre modelos explicativos e

ação concreta.

Conclui-se, portanto, que o ensino de psicologia na educação vem se

dando de modo deficitário e ineficaz, o que também é reflexo da própria

organização dos cursos de licenciatura no Brasil, assim como vimos na parte

2.1 deste capitulo.

32

CAPÍTULO III

ANÁLISE DE ALGUNS PROGRAMAS CURRICULARES

DAS DISCIPLINAS “PSI” EM CURSOS DE LICENCIATURA

Com a pretensão de dar maior visibilidade a temática dessa pesquisa,

assim como, dar continuidade as analises das problemáticas levantadas no

capitulo II, buscou-se analisar algumas ementas de disciplinas relacionadas a

psicologia em 10 instituições de ensino superior, abaixo listadas e designadas

pelo curso:

- Instituto superior de educação do Rio de Janeiro (ISERJ) – curso de

pedagogia;

- Faculdade de filosofia de Campos (FAFIC) – curso de pedagogia;

- Pontífica universidade Católica (PUC-RJ) – curso de pedagogia;

- Universidade do estado da Bahia (UNEB) – curso de pedagogia;

- Universidade federal de campinas (UNICAMP) – curso de pedagogia;

- Consorcio CEDERJ/UNIRIO – curso de pedagogia – ensino à distancia;

- Consorcio CEDERJ/UNIRIO – curso de licenciatura em história – ensino a

distancia;

- Universidade Veiga de Almeida (UVA-RJ) – curso de pedagogia;

-UNIFESP-GUARULHOS – curso de licenciatura em filosofia, história, ciências

sociais.

- Faculdade de formatação de professores (FFP/UERJ) – curso de licenciatura

em geografia.

O critério utilizado para a análise foi, principalmente, a frequência de

temas específicos em quase todas, ou todas, as ementas dos cursos

selecionados.

Além da análise dessas ementas, buscou-se, quando possível, realizar

algumas conversas com professores e alunos nas possíveis instituições

selecionadas. A partir das inserções no campo da pesquisa possibilitou-se

vivenciar algumas repetições constantes nos discursos e que são demandas

que têm perdurado nas análises feitas em relação ao contexto da psicologia na

33

educação. Tornou-se uma destas constantes o ouvir de alunos e professores

acerca da prática; ou seja, diante da teoria, o que fazer na atuação? A

expectativa das intervenções, das fórmulas e das receitas prontas aparece

significantemente nas falas, o que, há de se reconhecer, está pautado nas

próprias referencias da psicologia como um saber que prescreve, que cura, que

estabelece padrões “normais” e enquadrativos de sujeito.

Um reforço da imagem citada encontra base na própria forma como a

disciplina psicologia tem sido veiculada na maioria dos cursos que formam

professores. Os referenciais predominantes na psicologia, muitas vezes

desarticulados de nosso contexto histórico-social, tem se mantido duradouros e

praticamente permanentes nas ementas. O lugar cristalizado e naturalizado da

ciência se fixa e se repete em vários programas da disciplina. Na maioria dos

cursos analisados, percebemos a redução do número de disciplinas “psi” nos

últimos anos, o que poderia, de certa forma, demonstrar um avanço. Porem, tal

possibilidade ainda não garante uma ação transformadora, que o que

normalmente se tem feito é condensar, em menos tempo, os mesmos

conteúdos. Por exemplo: dos dez cursos analisados, um deles (curso de

pedagogia da UNICAMP e cursos de licenciatura da UNIFESP-GRARULHOS)

se mantiveram com três e quatro disciplinas “psi” respectivamente. No caso da

UNIFESP, encontramos, inclusive, uma disciplina com o título “psicanálise e

educação”. Os programas dos outros cursos selecionados reduziram para o

total de 02 disciplinas “psi” apenas, a serem concluídas em um ano. No caso

da licenciatura em geografia, da FFP/UERJ, consta apenas uma disciplina “psi”

na sua grade curricular. Já no caso de curso de licenciatura de história da

CEDERJ-UNIRIO (modalidade de ensino a distancia), os conhecimentos sobre

psicologia a distancia na mesma instituição. Mas, especificamente neste curso

e após experiência de uma temporada, compreendeu-se a necessidade de

desmembrar, novamente, as disciplinas. Assim, filosofia, psicologia e sociologia

tornaram disciplinas independentes, em uma retomada da proposta clássica.

Esta pesquisa encontrou, em tais cursos, alguns conteúdos teóricos

comuns a todos eles, destacando-se, assim, pela sua própria pregnância. Foi

possível listar alguns deles, como:

As teorias clássicas como formas de representação do processo de

aprendizagem: aqui se percebe, como ponto comum, a divulgação das

34

contribuições dos sistemas Behaviorista, Gestaltista e Psicanalítico como

grandes blocos (e quase uníssonos) que explicam o homem e a psique.

- o desenvolvimento e a construção do conhecimento no homem: neste

aspecto, o mais relevante é a fragmentação deste processo em alguns pontos

de vista teóricos bem aceitos e que se tornam universalizados e destacados

pelas etapas que descrevem. É fato comum que se estude as teorias de Jean

Piaget (teoria psicogenética); a de Lev Vygotsky (teoria sócio-interacionista) e

Henry Wallon (teoria da afetividade). É possível ver, ainda, um interesse atual

na teoria de H. Gardner (as inteligências múltiplas). Localizada em sistemas

teóricos, a forma como são veiculados esses saberes, parece sugerir que se

escolha o que melhor lhe agrade, provocando, assim, um esquadrinhamento do

individuo e uma disputa pelo campo teórico que, por sua vez, coloca os

sistemas para brigarem entre si, o que leva a uma provável exclusão uns dos

outros. Como no poema de Cecília Meirelles, ou é “isso ou aquilo”; jamais “isso

e aquilo” se em pertinência e complementaridade.

- O papel da linguagem na construção do homem: embora tão fundamental se

pensar nessa relação, ela acaba por se tornar isolada na forma como é dada.

Olhada por somente uma dimensão (a da sua ligação estanque com o

pensamento), perde-se, muitas vezes, a possibilidade de ligar este saber aos

temas referentes a cultura humana e/ou a formação de subjetividades e

afetividades.

Poderíamos até considerar que tais temáticas – que perfizeram

expressivamente 100% de todas as ementas analisadas – poderiam ser

traduzidas através de concepções críticas ao serem dadas em sala de aula.

Isso poderia minimizar os efeitos fragmentados das teorias estanques. Porem,

não é o que nos mostra o discurso de alguns alunos.

Em busca de ouvir um determinado número deles, a proposta ocorreu no

curso de licenciatura em pedagogia do CEDERJ-UNIRIO. Foi possível colher

algumas falas em um encontro presencial, realizado em um dos polos de

funcionamento do curso. Neste momento, fazia-se uma analise do material

estudado na apostila da disciplina “psicologia e educação”.

Não consigo entender tanta teoria assim, explicando tanta coisa. Fica muito

complexo e parece que o que eu leio, eu não entendo. Ai fico tentando analisar

meus filhos através delas e penso: eles estão se encaixando em várias! Isso

35

me deixa mais confusa ainda e também me faz pensar em quando eu estiver

na sala de aula como colocarei isso em prática. Eu vou ter que olhar meus

alunos dessa forma, tentando entende com qual teoria vou classificá-los?

(Carla, 29 anos, cursando o primeiro período de pedagogia).

Até a hora em que estávamos estudando a maneira como a psicologia entrou

na educação, estava tudo bem. Mas quando começou esse monte de gente,

falando cada um sobre um tipo de pessoas e um monte de estágios e fases

para decorar, aí passei a achar difícil a matéria. Alguns ainda pareceram falar

as mesmas coisas que outros e eu sinto uma dificuldade enorme em diferenciar

o que eles estão afirmando. Fico me perguntando: o que é diferente aí?

(Márcia, 48 anos, cursando o primeiro período de pedagogia).

Gostei muito do que o Wallon fala sobre afetividade. Li bastante essa parte

porque me chamou a atenção. Mas, acho que fica só na teoria. Na verdade,

quando penso na escola onde sou professora, eu também penso que a teoria,

por mais que pareça bonita, interessante e etc., ela não nos ajuda no dia-a-dia.

Na hora de agir na sala de aula, eu nem me lembro do que o teórico fala...isso

tudo tinha que ser mais vivenciado, mais sentido, sabe? Se fosse assim, acho

que seria mais fácil a gente aprender esse monte de matéria. O que menos ia

importar era o nome do teórico, ou do sistema dele. A gente ia incorporando

isso e iria sair naturalmente quando estivéssemos dando aula.

(Angélica, 26 anos, cursando o 1° período de pedagogia).

A minha impressão é que a apostila começa com um tema, depois muda para o

outro e parece que não esta ligado ao outro. Como se tivesse tudo em

gavetinhas diferentes. Não consegui muito fazer a ligação entre os pontos.

(Rita, 32 anos, 1° período de pedagogia).

Este contato com as falas de alunos das graduações convoca a

pensarmos sobre o lugar da crítica na psicologia.

Já em relação aos professores, é necessário questionar como eles tem

reagido a tais demandas. Enquanto professores de futuros professores, o que

eles teriam para falar?

36

Haveria uma psicologia que pudesse, de fato, iluminar os problemas

educacionais?

Pudemos ouvir duas professoras de disciplinas “psi”: uma do curso de

pedagogia da UVA-RJ e outra do curso de pedagogia do ISERJ.

Minha graduação é em pedagogia. Especializei-me em psicopedagogia e há 3

anos assumi a disciplina fundamentos psicológicos da educação I no ISE.

Recebi uma ementa pronta e baseei-me nela para montar meu planejamento.

Não quis fugir muito do que era pedido ali porque fica sempre o receio de

algum outro professor reclamar que aquele ponto não foi dado anteriormente.

Falar sobre as correntes da psicologia seria o conteúdo mais central da

disciplina e sempre me prendo mais a elas. Mas, muitas vezes me pergunto

para que elas servem de fato... não chego a falar de Piaget, Vygotsky e Wallon

porque eles só serão dados em fundamentos psicológicos II. Mas, abordo as

teorias clássicas, como a comportamental, a gestaltista e um pouco da visão de

Freud sobre a educação. Aí, vou um pouco além do que a ementa propõe e

tento mostrar aos alunos que essas correntes influenciaram a prática do

professor na medida em que criaram alguns modelos de entender a educação.

Mas, eu entendo as críticas de alguns alunos. Eles perguntam se vão usar os

teóricos nas suas práticas. Ficam querendo soluções que eles acham que a

psicologia tem. Eu percebo que é assim que ela tem sido solicitada: para

resolver os problemas como tábua de salvação...

(Glaucia, 32 anos, professora do ISE-RJ)

Fui contratada para assumir a disciplina psicologia da aprendizagem. Sou

graduada em psicologia, meu mestrado é em educação. Trabalhamos com

essa disciplina sendo dada em um período. Recebemos uma emenda, porem,

me sinto a vontade em flexibilizá-la de acordo com o que acredito ser mais

pertinente. É obvio que não é possível reformular tudo, até porque a ementa é

um documento, os alunos tem acesso a ela e seria algo muito totalitário

modificá-la por completo. Mas busco promover um debate com eles, logo no

inicio do período, acerca do que está ali e que poderíamos não chegar

diretamente a tratar. Alguns alunos até apontam que muitos conteúdos se

repetem em varias disciplinas e que eles não veem sentido em estudar, mais

uma vez aqueles conceitos. Tenho minha visão crítica sobre a questão da

37

prática na sua relação com a teoria. Portanto, busco oferecer aos alunos a

possibilidade de pensar na sua relação com a teoria. Portanto, busco oferecer

aos alunos a possibilidade de pensar as construções teóricas como sendo

instrumentos de seu cotidiano. Além do mais, procuro vinculá-las a um

momento histórico específico. Elas não nasceram do nada. Elas foram criadas

em um momento, por conta de uma demanda, para um certo grupo de

pessoas... se não entendemos isso, fazemos um transplante de teorias para

uma realidade que não tem nada a ver com elas...tem dado certo buscar essa

percepção em pesquisas que solicito a eles. Em todas as turmas que assumo,

procuro pedir como P2 (um trabalho a ser entregue no final do curso) uma

pesquisa de campo, uma observação in loco da prática de um professor e a

identificação dela com as teorias estudadas. Oriento que eles atentem para

essa relação. E questiono sobre os momentos que as teorias nos servem; se

elas conseguem ser aplicadas na integra de seus conceitos; se conhecer o que

os teóricos falam faz diferenças na atuação, enfim, isso ajuda muito a

compreender essa ligação.

(Rose, 46 anos, professora da UVA).

É interessante perceber que a questão da prática entremeada a teoria é

algo que está presente nas falas dos professores também. As ementas

prontas, significando formatos estanques, parece não garantir a riqueza de

possibilidade de interações no aprendizado. Uma das professoras, talvez com

mais ousadia que a outra, rompe com esse engessamento da teoria e busca

alternativa no cotidiano da escola, incentivando os alunos a fazerem essa

ponte com o que aprendem teoricamente. Percebe-se, assim, a importância

que pode ter o conceito de experiência na transformação dos conteúdos.

Larrosa (2004) se refere a experiência como “a possibilidade de que algo nos

passe ou nos aconteça ou nos toque” e que “requer parar para pensar, para

olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, parar para sentir, sentir mais

devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o

juízo...”(p.160). Essa ausência de experiência no decorrer das disciplinas

dadas, talvez traga uma fragilidade na vivencia das situações. O excesso de

informações que recebemos, assim como o volume de opiniões produzidas são

fatos contemporâneos que atravessam o espaço escolar. Vemos isso na

queixa dos alunos quando se perguntam para que tanta teoria, para que

38

estudar algo que já foi visto anteriormente? Assim,, a experiência fica cada vez

mais escassa, ou vai sendo transformada em créditos nas disciplinas de

estágio ou de práticas pedagógicas.

Na análise das ementas e programa dos cursos selecionados para essa

pesquisa, percebe-se o engessamento já citado em relação ao conteúdo e a

sua característica fortemente demarcada no que diz respeito aos sistemas

teóricos.

Levantou-se, assim, alguns termos comuns em todas as ementas,

havendo a prevalência dos seguintes:

Campos de estudo da psicologia;

Conceitos das correntes psicológicas;

Perspectivas teóricas no processo de aprendizagem;

Teorias psicológicas clássicas.

Quanto as especialidades desses conceitos, os termos que mais se

destacam são:

Conceito de desenvolvimento;

Conceito de aprendizagem;

Conceito de cognição;

Conceito de linguagem.

Em relação aos campos teóricos, percebe-se o domino dqas seguintes

teorias e teóricos:

O construtivismo e as teorias cognitivas de J. Piaget

A abordagem sócio-interacionista de L. Vygotsky

A psicologia genética de H. Wallon

A teoria das inteligências múltiplas de H. Gardner

Concepção apriorista e a teoria humanista de C. Rogers

Concepção empirista e as teorias de condicionamento de B.

Skinner

A teoria psicanalista de S. Freud.

Quanto aos autores e obras mais indicados e/ou citados nas referencias

bibliográficas das ementas analisadas, encontram-se:

LA TAILLE, Y; OLIVEIRA, M. K & DANTAS, H. Piaget, Vygotsky,

Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. SP: Summus.

39

CAMPOS, Dinah Martins, Psicologia da adolescência. Petrópolis:

vozes.

SALVADOr, Cesar Coll (org). Psicologia da educação. Porto

Alegre: Artmed.

CUNHA, Marcus Vinicius da. Psicologia da educação. Rio de

janeiro, RJ: DP & A.

DAVIS, Claudia e oliveira, zilma de, psicologia na educação. São

Paulo, cortez. Ao buscar perceber como os alunos vem pensando a utilização dos

livros indicados nas ementas, junto aos temas vinculados aos mesmos, ouviu-

se as seguintes afirmativas:

Sinto que os livros são usados pela professora como uma referencia mesmo.

Alguns textos são selecionados para leitura e trabalhos, mas percebo que

todos eles estão sempre ligados a informações que precisam ser transmitidas,

geralmente sobre algum teórico que foi ou que será dado em sala de aula e os

conceitos ligados a ele (Angélico).

Os livros são importante para fixar nosso conhecimento. Muitas vezes, o que a

professora falou em sala, a gente encontra nos livros a mesma informação. Aí,

a gente tem um material que reforça o que ela disse. (Ana Claudia, 25 anos,

aluna de pedagogia da UVA).

Interessa a pesquisa aqui realizada, reforçar, de forma sumária, que os

livros didáticos, com suas linguagens especificas, representam um modelo de

pensamento, traçando configurações intelectuais que, mesmo considerando a

subjetividade implícita entre leitor e texto, há que se convir que alguns

discursos vão se veiculando e sendo determinados pelas escolhas dos textos

por parte das ementas. Segundo Assunção (2007, p.82), “mesmo não podendo

afirmar que os conteúdos dos livros didáticos representam, efetivamente, o que

se ensinava na sala de aula, eles nos indicam as preocupações, as discussões

e o que estava se produzindo em determinada área”.

Todas as informações trazidas neste capítulo conduzem a compreensão

de que é inegável o efeito do currículo sobre os cursos e a formação. Também

inegável que essas ressonâncias estão intimamente ligadas as questões

sociais, culturais e, consequentemente, coletivas.

40

CONCLUSÃO

Esta pesquisa buscou de forma geral, compreender a presença das

disciplinas ligadas a psicologia nos cursos de licenciatura, procurando construir

essa análise a partir dos temas que de forma geral, são veiculados nas

ementas dos programas destas disciplinas.

Recorreu-se , inicialmente, ao contexto historiográfico que faça a

presença da psicologia na educação e o estudo sobre como esse processo

vem se veiculando ate os nossos dias. Baseou-se, para tal, na percepção de

que “ o passado nos interessa hoje pela sua permanência no mundo atual”

(NUNES, 1996, p.19) e, assim sendo, foi possível perceber que o discurso

veiculado pelas disciplinas “psi” enredaram e orientaram um fazer cotidiano,

cadenciado na cultura escolar – cultura essa que pode ser traduzida como os

modos de pensar, sentir e agir desse grupo que, assim com a afirmativa diz,

literalmente pensa, sente e age nos espaços educativos.

Diante dos aspectos históricos, é importante ressaltar que os cursos de

graduação de psicólogos no Brasil, só começaram a tomar vulto na década de

60. Portanto, esse fato reproduz a ideia de que, anteriormente ao período

citado, todo material produzido e selecionado para as disciplinas “psi” eram

propostos por professores que geralmente tinham formação em outras áreas,

como a medicina, filosofia, educação, dentre outras. Estes professores eram,

também, quem ministravam as aulas de psicologia.

Outro dado histórico que tem forte contexto com a presença da

psicologia nos espaços educativos é o movimento da escola nova, já que tal

pensamento entendia a psicologia como um campo técnico de saber que teria

como maior objetivo proporcionar estudos sobre a criança e o desenvolvimento

infantil. Neste momento, conceitos de teóricos funcionalistas, principalmente os

de John Dewey e Claparede, formaram o pilar estrutural na colaboração da

psicologia a educação. Esse papel que os conteúdos “psi’ trariam a pedagogia

– papel esse considerado como edificante pelos envolvidos no movimento da

educação no Brasil – estabeleceria uma relação de confiança consensual entre

os dois campos. Tal ação, contribuiu para que a psicologia se configurasse

como a ciência que teria a finalidade de estudar os fenômenos educativos de

41

maneira criteriosa, contribuindo, dessa forma, com os avanços no campo da

educação.

Mesmo diante do destaque, que até então, o ensino da psicologia passa

a ter no campo educacional, isso não ocorreria sem críticas. Portanto, esta

pesquisa foi em busca da indagação sobre o quê, a psicologia produziu – e

vem produzindo – diante da educação. Foi perseguindo essa questão central

que se deparou com algumas representações sobre a psicologia e seus

conteúdos, especialmente nos cursos aqui selecionados. Entende-se que, com

essa pequena amostra, foi possível apontar a psicologia como uma disciplina

de “auxilio”, pregnantemente vista como técnica, e que se constrói, assim, a

partir de uma trama implícita na sua própria história enquanto campo de saber.

De acordo com Assunção (2007, p.82):

O conhecimento, ao ser transformado em disciplina escolar, passa por

um processo de transposição didática que acaba por decompor o

conhecimento (científico) em saber escolar, por meio de segmentação de

conteúdo, incluindo cortes, simplificações, até que se transforme em lições,

exercícios e questões de avaliação. É dessa forma que os conteúdos chegam a

sala de aula, para ser aprendido e orientar a prática dos(as) futuros(as)

professores(as).

Os temas e conteúdos aqui apontados representam o que se ensina na

sala de aula e, ao revelá-los, tentou-se trazer uma reflexão crítica acerca das

discussões e debates produzidos pela introdução e manutenção dos mesmos

no contexto escolar.

Entende-se, sobretudo, que os conteúdos oficialmente propostos nas

ementas refletem ideais sociais, políticos e ideológicos; e que a seleção dos

mesmos acaba por estabelecer uma manutenção de certas visões de mundo,

medidas por concepções e práticas políticas e culturais. O fato de ter sido

considerada, durante sua história, como a ciência que contribui de forma

teórica no estudo dos fenômenos educativos, guarda implicações tanto para as

teorias quanto para as práticas educativas, queixa esta que foi revelada nas

narrativas organizadas nesta pesquisa. A distancia entre o conteúdo e a prática

escolar tem demonstrado uma grave limitação no ensino ao contexto

psicológico (LIBANÊO, 1986), sem chegar ao pedagógico propriamente dito e,

muito menos ao social (SADALLA, 2002)

42

Convencionada como disciplina que faz parte dos fundamentos da

educação, é possível perceber que tal ideia origina-se – assim como nos fala

Wittrock (1992) – da estratégias, a qual as disciplinas “psi” se utilizam, a fim de

concatenar teorias cientificas a um contexto aparentemente relacionado a elas.

Dessa forma, ela passa a ser tratada, pelos docentes, como um “conjunto de

conhecimentos a serem aprendidos pelos futuros professores, a título de base

para sua atuação profissional” (BZUNECK, 1999, p.49), argumento este que

aparece nesta pesquisa, retratando no discurso dos docentes entrevistados.

Bzuneck (ibdem) refere-se ao conjunto de conhecimentos como uma

“ferramenta intelectual”, comparativamente a um arcabouço de teorias

psicológicas veiculadas pelas disciplinas “psi”, e que carregam em si a

propriedade de levar o aluno a aprendê-las para, então, aplicá-las em sala de

aula. A lógica dessa perspectiva é a de que possa transportá-lo a seus alunos

de licenciatura, criando, assim, um movimento conhecido como “psicologização

da educação”, transformando os saberes “psi” em magnânimos e

fundamentais.

Chegamos a conclusão de que aquilo que se tem ensinado nas

disciplinas “psi” durante os cursos de licenciatura, na maioria das vezes,

caracteriza-se por um saber abstrato, modelador e que não favorece a ligação

entre o teórico e o vivido. Foi possível perceber que os alunos chegam a

conhecer as teorias veiculadas, porem, continuam sem saber o que fazer com

as mesmas, onde situa-las ou como aplicá-las quando chegarem a sala de

aula.

Compreende-se, assim, que as transformações precisam ser pensadas.

Porem, essas mudanças só ocorrerão, efetivamente, ao se partir para o diálogo

e o exame da realidade, do cotidiano, do que é vivenciado pelo professor em

seu dia a dia, na sua ação docente.

Inegavelmente, há de se convir que essas questões não estão ligadas

da própria forma como os cursos de licenciatura vem se construindo na

educação brasileira. Há todo um contexto que precisa ser cuidado,

transformado, compreendido. Afinal a educação não contém apenas a

psicologia como campo de aplicação. Além do mais, nem tudo o que foi trazido

pela psicologia deve ser rejeitado; em alguns momentos, como significativas a

tarefa educativa.

43

Diante de tal complexidade, esta pesquisa se encerra, deixando ponto

de partida e propostas:

Que possa pensar, ainda mais, sobre os possíveis diálogos entre

psicologia e educação;

Que as dificuldades presentes na formação e na prática dos professores

possam ser identificados e repensadas enquanto propostas de mudanças;

Que as questões e problemas educacionais sejam a base para a

construção dos currículos, ementas e programas das disciplinas “psi”.

Que nos processos de reflexão, a realidade escolar e sócio-educacional

seja permanentemente confrontada com o tema a ser abordado nas disciplinas;

Que se possa compreender que o tempo social e histórico é mutante e

ágil, e que os constructos teóricos da psicologia precisam acompanhar esse

movimento, na tentativa de compreensão do – sempre – novo homem.

44

BIBLIOGRAFIA

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ANEXOS

CURSO DE PEDAGOGIA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO – ISERJ EMENTA DAS DISCIPLINAS DE PSICOLOGIA Psicologia geral – 40h/a Visão epistemológica da psicologia. Campos de estudo e de aplicação, métodos de investigação. Correntes teóricas da psicologia e suas repercussões na educação. Inteligência e afetividade sob a ótica da teoria psicogenética de Piaget, sócio-interacionalista de Vygotsky e psicogenética de Henry Wallon. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem I – 40h/a O papel da linguagem no desenvolvimento do pensamento e da aprendizagem. Intervenção na aprendizagem e produção do fracasso escolar: o normal e o patológico. O tema do corpo em psicologia. Formação das estruturas espaços-temporais. Principais perturbações psicomotoras na criança e sua reeducação. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem II – 40h/a Desenvolvimento da personalidade segundo a psicanálise. Distúrbios da personalidade: neurose e psicose. Desenvolvimento da sexualidade. Comportamentos atípicos no ambiente escolar. Disponível em: http://iserj.net/content/uploads/2010/05/ement%c3%a1 rio de-pedagogia.pdf UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINAS (UNICAMP) CURSO DE PEDAGOGIA EMENTAS DAS DISCIPLINAS DE PSICOLOGIA Ep128 – psicologia I Ementa: contribuições das perspectivas teóricas comportamental e psicanalítica implicações para o contexto educativo. Ep129 – psicologia II Ementa: contribuições das respectivas teóricas cognitiva e histórico-cultural para implicações para o contexto educativo. Ep226 – psicologia e educação Ementa: contribuições da psicologia para a análise de questões relativas ao contexto educativo com base em pesquisas e relatos de experiência. Disponível em: http://www.fe.unicamp.br/ensino/graduaçao/pedagogia-curri_pedago-ementas.html UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB) CURSO DE PEDAGOGIA EMENTAS DAS DISCIPLINAS DE PSICOLOGIA Psicologia e educação I – 60h Ementa: conceito de psicologia. Evolução histórica da psicologia. A multideterminação do homem. Constituição moderna da psicologia como

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ciência humana. A psicologia e os processos em curso nas sociedades contemporâneas e suas contribuições para a educação. Psicologia e educação II – 60 h Ementa: articulação entre as áreas constituem os campos de estudo da psicologia e da pedagogia. Abordagens teóricas da psicologia que buscam compreender as mudanças ao longo de suas vidas (aprendizagens, desenvolvimento, aprendizagem social, etc.) e o modo como definem o espaço pedagógico. Disponível em: http://www.uneb.br/juazeiro/dch/pedagogia/estrutura-curricular Pontifica universidade católica – RJ (PUC-rj) Curso de pedagogia Ementas das disciplinas de psicologia Psicologia educacional I Ementa: princípios e conceitos fundamentais da psicologia educacional: percepção, motivação, pensamento e linguagem, memória e esquecimento, relação mente/corpo, tendo como referencia as linhas teóricas da psicologia moderna. Bibliografia: BAETA, A. M. psicologia e educação; Rio de Janeiro: forma & ação, 2006. CARPIGIANI, B. psicologia: das raízes aos movimentos contemporâneos; São Paulo: Thomson Learning, 2000. Psicologia educacional II Ementa: desenvolvimento e aprendizagem, o ciclo vital: as diferentes idades dos seres humanos em suas dimensões física, cognitiva, afetiva e social (contextual e relacional), a construção das identidades; especialistas e implicações educacionais. Bibliografia: GOLSE, B. o desenvolvimento afetivo e intelectual da criança; porto alegre: artes médicas, 1998. TANAMACHI E OUTROS. Psicologia e educação: desafios teórico-práticos; São Paulo: casa do psicólogo, 2002. FACULDADE DE FILOSOFIA DE CAMPOS (FAFIC) CURSO DE PEDAGOGIA EMENTAS DAS DISCIPLINAS DE PSICOLOGIA Disciplina: psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem Ementa: das teorias psicológicas clássicas as contemporâneas: uma retrospectiva histórica da psicologia. Desenvolvimento do educador para o exercício competente da ação pedagógica Disciplina: psicologia da educação Ementa: psicologia da educação, conceito clássico, contemporâneos, seu campo de estudo buscando-se uma articulação, integração entre elementos psicológicos e educacionais e possibilidades desta ciência ser um instrumento para a pratica pedagógica comprometida dos educadores. Disponível em: http://www.ffc.br/?area=graduaçao&show-58