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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 1
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI
FACULDADES IDEAU
TÉCNICA DE CONSERVAÇÃO ANATÔMICA E HISTOLÓGICA DO SISTEMA
DIGESTÓRIO DE UM SUÍNO
GOLICZESKI, Tatiane Thaís1*
COMANDULLI, Renata Carla¹
SALVI, Miguel Henrique¹
LUCINI, Ricardo Luíz¹
MATEJEC, Luciana Paula¹
OLIVEIRA, Daniela dos Santos de2
MAHL, Deise Luiza²
BAZZAN, Alan Eduardo²
URIO, Elisandra Andréia²
PIEROZAN, Morgana Karin²
ALMEIDA, Mauro Antonio de²
WRZESINSKI, Andiara²
COPPE, Bruna Claudia²
RESUMO: O sistema digestório dos suínos é monogástrico (animais não ruminantes com um estômago
simples). É uma estrutura tubular com pouca capacidade de armazenamento, formado pelos seguintes órgãos:
boca (lábios, bochechas, gengivas, língua, palato duro e mole, dentes, glândulas salivares), faringe, esôfago,
estômago, intestino delgado (dividido em duodeno, jejuno, íleo), intestino grosso (dividido em ceco, colo, reto),
ânus, e possui alguns órgãos acessórios (fígado, pâncreas). Este trabalho teve por objetivo mostrar todas as
estruturas e respectivas funções do sistema, além das técnicas de dissecação, formalização e salinização nas
quais foram utilizadas. Essas técnicas consistem em manter a peça em bom estado de conservação para a
utilização em estudos, e apresenta também a elaboração de lâmina histológica. Os resultados obtidos no trabalho
foram satisfatórios tendo em vista a facilidade para a realização das técnicas, e por não deixar a peça com forte
odor.
Palavras-chave: salinização, formalização, suíno.
ABSTRACT: The pig digestive system is monogastric (non-ruminant animals with a single stomach). It is a
tubular structure with little storage capacity, formed by the following organs: mouth (lips, cheeks, gums, tongue,
hard and soft palate, teeth, salivary glands), pharynx, esophagus, stomach, small intestine (divided into
duodenum, jejunum , ileum), large intestine (divided into cecum, colon, rectum), anus, and has some accessory
organs (liver, pancreas). The objective of this work was to show all the structures and respective functions of the
system, besides the techniques of dissection, formalization and salinization in which they were used. These
techniques consist in keeping the piece in good condition for use in studies, and also present the elaboration of
histological slide. The results obtained in the work were satisfactory in view of the easiness to perform the
techniques, and for not leaving the piece with strong odor.
Keywords: salinization, formalization, pig.
1 INTRODUÇÃO
Os suínos surgiram a mais de 40 milhões de anos e são animais pertencentes à família
Suidae. O suíno doméstico (Sus domesticus) evoluiu a partir do javali selvagem, embora haja
1 Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 2 2017/1- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.
2 Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 2 2017/1 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.
*E-mail para contato: [email protected]
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controvérsia quanto à espécie exata. É suposto que a esses sejam decentes dos Sus scrofa, uma
espécie de javali que habitava regiões da Europa. Porém outros pesquisadores dizem que a
origem ocorreu a partir da espécie Sus vitatus, que habitavam a Ásia e na bacia do Mar
Mediterrâneo.
Por vários séculos, o suíno doméstico conservou as características físicas de seus
antepassados, no entanto, com o aperfeiçoamento da criação, foi modificando suas
características externas: o tamanho do corpo e do cérebro diminuiu, os dentes tornaram-se
menores e o focinho encolheu. Em muitas raças, as orelhas também se modificaram,
tornando-se caídas. Dependendo do lugar e da raça, também se alterou a forma do corpo,
assim como o tamanho, densidade e coloração dos pêlos.
Ainda nos dias de hoje, os suínos desfrutam de uma imagem bastante negativa em
muitas culturas, e os motivos estão ligados, possivelmente, a idéia de "impureza" da espécie,
que foi transmitida pela história. No entando, esse contexto vem tentando ser modificado e
hoje também pode-se perceber um grande crescimento da suínocultura como fonte de renda
de muitas pessoas.
Em relação ao trato digestório, o suíno é um animal monogástrico que possui o trato
digestivo relativamente pequeno, com baixa capacidade de armazenamento. Tem alta
eficiência na digestão dos alimentos e no uso dos produtos da digestão, necessitando de dietas
bastante concentradas e balanceadas. Sua dieta se baseia principalmente em cereais, que têm a
finalidade de fornecer energia ao animal, e os mais utilizados são o milho, o trigo e a cevada.
A conservação das peças, objetiva preservar da melhor maneira possível, as
características e a morfologia delas como nos animais vivos, e atualmente pode-se contar com
diversas técnicas de preservação dessas estruturas anatômicas. Dentre as técnicas mais
conhecidas para a preparação de peças anatômicas, estão a formolização, a glicerinização, a
criodesidratação, e a salinização.
Diante do que foi apresentado, o presente trabalho objetivou a aplicação da técnica
anatômica de formalização e salinização, e a preparação de lâminas histológicas do sistema
digestório de um suíno.
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2 DESENVOLVIMENTO
Nesta parte do trabalho será detalhado o referencial teórico, a metodologia empregada
e os resultados encontrados. Contém a exposição ordenada e pormenorizada do assunto
tratado do estudo.
2.1 Referencial Teórico
2.1.1 Sistema Digestório
O sistema digestório (trato digestório) é formado por um tubo muscular revestido por
mucosa contínua com a pele externa da boca e do ânus. Suas funções básicas são a preensão, a
mastigação, a digestão e a absorção de alimento, bem como a eliminação dos resíduos sólidos.
O sistema digestório reduz os constituintes nutritivos do alimento a compostos
moleculares pequenos o bastante para serem absorvidos e usados para a obtenção de energia e
a formação de outros compostos para incorporação nos tecidos do corpo (FRANDSON;
WILKE; FAILS, 2011). Os órgãos desse aparelho recebem o alimento, degradam química e
mecanicamente, absorvem seus componentes, para depois eliminarem os excretos que não
foram absorvidos.
O aparelho digestório estende-se dos lábios até o ânus e apresenta as seguintes
divisões: boca, faringe, canal alimentar e orgãos acessórios – dentes, língua, glândulas
salivares, fígado e pâncreas (GETTY, 2013).
2.1.2 Boca
A boca usada basicamente para manter, triturar e misturar o alimento com saliva, mas
também pode ser usada para manipular o ambiente (pegando objetos) e como uma arma de
defesa e ataque (FRANDSON; WILKE; FAILS, 2011), ela é a entrada do sistema digestório,
composta por dentes, língua, lábios, bochechas, palato e glândulas salivares.
A cavidade oral se divide em vestíbulo e cavidade própria da boca. A cavidade
própria da boca é o espaço delimitado pelas arcadas dentárias, cercada dorsalmente pelo
palato duro, ventralmente pela língua que é composta pelas glândulas salivares que são as
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parótidas, mandibulares e sublingual, e pela mucosa refletida, e lateral e rostralmente pelos
dentes, arcos dentais e gengiva (KONIG, 2016). O espaço externo aos dentes e processos
alveolares, circundado pelos lábios e bochechas é denominado vestíbulo da boca (EVANS,
1993).
O palato é uma divisória composta parcialmente de tecido ósseo e parcialmente de
tecido mole que separa as passagens digestiva e respiratória da cabeça (KONIG, 2016). É o
teto da cavidade oral, dividido em palato duro (rostralmente) e palato mole (caudalmente).
O limite dorsal da boca, céu da boca, é constituído pela abóbada palatina ou palato
duro (palatum durum), formado pelos processos palatinos dos ossos incisivos, maxilares e
palatinos (EVANS, 1993). Estendendo-se caudalmente do ducto incisivo, junto à sua entrada
na cavidade nasal, está o órgão vomeronasal, localizado na ase do septo nasal, dorsalmente ao
palato duro, sendo um receptor olfatório de estímulos sexuais (EVANS & LAHUNTA, 1994).
O palato mole ou véu palatino prossegue caudalmente desde o palato duro até o óstio
intrafaríngeo, cuja margem rostral é formada pela borda caudal do palato mole (KONIG,
2016).
Quanto à dentição, cada espécie apresenta sua dentição característica quanto à forma e
quantidade de dentes. Os dentes estão dispostos em duas arcadas dentárias, uma associada a
mandíbula e outra aos ossos incisivos e maxila (FRANDSON; WILKE; FAILS, 2011). O
primeiro conjunto de dentes são os dentes decíduos que já estão presentes quando o animal
nasce, ou aparecem logo em seguida. Estes dentes mais tarde são substituídos pelos dentes
permanentes, que propiciam uma melhor mastigação no animal adulto.
A língua é responsável pela captação de água e alimento, pela manipulação do
alimento dentro da boca e pela deglutição. Ela possui receptores para paladar, temperatura e
dor e ainda possui papilas. Com base em suas funções, elas se dividem em papilas mecânicas
e papilas gustativas, as quais são cobertas por botões gustativos (KONIG, 2016).
Papilas filiformes, fungiformes e circunvaladas são encontradas em todos os animais
domésticos, enquanto papilas folhadas estão presentes em equinos, suínos e cães, mas não nos
ruminantes (FRANDSON; WILKE; FAILS, 2011).
2.1.3 Faringe
A faringe é a cavidade comum através da qual passam o ar e o material ingerido. Ela
conecta a cavidade oral ao esôfago e a cavidade nasal à laringe (KONIG, 2016). É na faringe
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que ocorre o processo de deglutição, em que a epiglote se fecha para evitar que o alimento vá
até a traqueia (Figura 1).
A faringe pode ser dividida de forma arbitrária em parte nasal da faringe (nasofaringe),
parte oral da faringe (orofaringe) e parte laríngea da faringe (laringofaringe), assim
denominadas por sua associação a essas regiões (FRANDSON; WILKE; FAILS, 2011).
Figura 1: Relação da faringe e da boca com a laringe e o esôfago durante (A) a respiração normal e (B) a
deglutição. Fonte: FRANDSON; WILKE; FAILS. Anatomia e Fisiologia dos Animais de Fazenda.
2.1.4 Esôfago
O órgão muscular que é responsável por transportar o alimento da faringe ao estômago
através de movimentos peristálticos é o esôfago. Em sua origem passa para a esquerda da
traqueia, de forma que, na entrada da cavidade torácica, ele se posiciona na face lateral
esquerda da traqueia (KONIG, 2016). Entre o esôfago e o estômago, há o esfíncter
gastroesofágico que impede o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago (LOWE &
ANDERSON).
2.1.5 Estômago
O estômago se interpõe entre o esôfago e o intestino delgado. Nos mamíferos
domésticos, o estômago apresenta grande variação quanto à forma e distribuição dos
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diferentes tipos de mucosa que o revestem. Considerando sua forma, eles podem ser divididos
em estômago unicavitário, com apenas um compartimento, e pluricavitário, com diversos
compartimentos (KONIG, 2016).
O estômago simples é subdividido macroscopicamente em cárdia (sua entrada), fundo,
corpo e região pilórica (sua saída); a região pilórica tem um músculo esfincteriano denso,
denominado piloro, que controla o esvaziamento gástrico nas partes mais distais do trato
digestório (FRANDSON; WILKE; FAILS, 2011).
Segundo Konig (2016) a arquitetura geral da parede gástrica corresponde à do
esôfago, composta por mucosa, submucosa, camada muscular e peritônio. A mucosa é
aglandular quando próxima da união do esôfago com o estômago, e glandular no revestimento
do restante do estômago. A submucosa tem uma camada delgada, contêm vasos sanguíneos,
nervos, tecido linfático e adiposo, além de fibras de colágeno e elastina. Já a camada muscular
é muito importante, pois tem a função de misturar o alimento com o suco gástrico e o
empurrar para o intestino delgado.
Como estômago pluricavitário há o dos ruminantes. É na verdade, um estômago
simples modificado pela expansão acentuada da região esofágica em três divertículos distintos
e volumosos, o rúmen, o retículo e o omaso, conhecidos coletivamente como compartimentos
gástricos anteriores (FRANDSON; WILKE; FAILS, 2011).
De acordo com Konig (2016) o rúmen, o retículo e o omaso costumam ser chamados
de proventrículos, os quais possuem uma mucosa aglandular e são responsáveis pela
destruição enzimática dos carboidratos complexos e a produção de ácidos graxos de cadeia
curta com auxílio de micróbios. Já o abomaso é glandular e pode ser comparado com o
estômago unicavitário.
2.1.6 Intestino delgado e intestino grosso
O intestino é a parte caudal do canal alimentar, que se inicia no piloro e vai até o ânus,
medindo cerca de 20 metros de comprimento no suíno. O intestino delgado compreende três
porções: duodeno, jejuno e íleo. Já o intestino grosso compõe-se de ceco, colo e reto.
As principais funções do intestino delgado são digestão e absorção, no qual abrem-se
ductos pancreáticos e biliares. O duodeno é a primeira porção do intestino delgado e surge no
piloro do estômago e recebe ductos do pâncreas e do fígado (FRANDSON; WILKE; FAILS,
2011). No jejuno, que é a maior parte do intestino delgado, há uma maior mobilidade devido
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ao longo mesojejuno, que suspende o jejuno e o íleo do teto abdominal. Compondo a última e
menor porção do intestino delgado, está o íleo, que tem uma mucosa rica em tecido linfoide, o
qual agrega muitos linfonodos, formando assim as placas de Peyer (KONIG, 2016).
Iniciando o intestino grosso temos como primeira porção o ceco. Trata-se de um tubo
cego, cuja delimitação do colo é marcada pela entrada do íleo. Em carnívoros, ruminantes e
no equino, o ceco posiciona-se na metade direita do absome; no suíno ele se encontra na
metade esquerda (KONIG, 2016).
O colo é a segunda porção do intestino grosso e pode ser dividido em ascendente,
transverso e descendente. Há consideravelmente mais variação no intestino grosso de uma
espécie para outra do que no intestino delgado e, a maioria dessa variação resulta de
modificações do colo ascendente (FRANDSON; WILKE; FAILS, 2011).
Ao entrar na pelve, o colo descendente se torna o reto, o qual passa caudalmente como
a parte mais dorsal das vísceras pélvicas (KONIG, 2016), sendo a estrutura de antecede a
ultima porção, que é o esfíncter anal. O ânus é curto e controlado por esfíncteres, compostos
respectivamente de músculo estriado e músculo liso.
2.1.7 Órgãos digestórios acessórios
Além das glândulas que são presentes nas paredes do estômago e intestino, há as
glândulas de acessoria, que são as salivares, o fígado e o pâncreas.
O fígado é a maior glândula do corpo e tem função tanto exócrina quanto endócrina.
Seu produto exócrino, a bile, é armazenado e concentrado na vesícula biliar antes de ser
eliminado no duodeno (KONIG, 2016). A sua localização exata e número de lobos podem
variar dependendo da espécie, mas está sempre localizado caudalmente ao diafragma, e tende
a ficar ao lado direito do corpo.
O pâncreas é outra glândula do sistema digestório, que tem partes exócrinas e
endócrinas. Situa-se na parte dorsal da cavidade abdominal e está intimamente relacionado
com a parte proximal do duodeno (KONIG, 2016). As principais glândulas salivares são as
parótidas, mandibulares e sublinguais (FRANDSON; WILKE; FAILS, 2011).
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2.1.8 Histologia da parede do trato digestório
A parede do trato digestório apresenta quatro camadas ou túnicas, que são a túnica
mucosa, a submucosa, a muscular e a túnica adventícia.
De acordo com Frandson; Wilke; Fails (2011), a túnica mucosa é a camada mais
próxima do espaço (lúmen) dentro do trato digestório e tem três camadas histológicas: a mais
interna composta de epitélio estratificado pavimentoso, que vai da boca ao nível da parte
glandular do estômago, outra até o ânus que é composta de epitélio colunar simples, e uma
subjacente ao epitélio da túnica mucosa que apresenta uma camada de tecido conjuntivo e
uma de músculo liso.
Segundo Eurell e Frappier (2012), a tela submucosa, ou simplesmente submucosa é
uma camada de tecido conjuntivo que pode conter glândulas. Também estão presentes vasos
sanguíneos, vasos linfáticos e o plexo submucoso (de Meissner). Em órgãos sem lâmina
muscular a lâmina própria e a submucosa se fundem formando uma própria submucosa.
A túnica muscular é o revestimento do músculo liso ou do músculo esquelético
responsável pela mobilização do material ingerido através do trato. As fibras musculares da
camada interna estão orientadas circularmente, enquanto as fibras musculares da camada
externa estão arranjadas em sentido longitudinal. Entre essas duas camadas há um plexo
nervoso ganglionar, o plexo mientérico (de Auerbach). (EURELL; FRAPPIER, 2012).
Ainda de acordo com as informações de Eurell e Frappier (2012), a túnica mais
externa pode ser uma túnica serosa ou uma túnica adventícia. A túnica serosa é composta por
uma camada de tecido conjuntivo com revestimento de mesotélio. Os órgãos que limitam as
cavidades pleural, pericárdica e peritoneal são revestidos por uma serosa. Todos os órgãos que
não margeiam essas cavidades, como a parte cervical do esôfago, não possuem mesótelio.
Esses órgãos exibem uma camada de tecido conjuntivo, chamada túnica adventícia, ou
simplesmente adventícia.
2.2 Material e Métodos
O presente trabalho foi realizado na sala de patologia do Hospital Veterinário São
Francisco de Assis (Figura 2) decorrente do Curso de Graduação de Medicina Veterinária,
situado na cidade de Getúlio Vargas-RS.
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O animal utilizado foi um suíno macho da raça landrace que pesava cerca de 15 quilos,
o mesmo foi obtido na Granja Lucini, localizada na cidade de Severiano de Almeida, onde
veio a óbito, e levado até o hospital por integrantes do grupo.
O corpo deste suíno passou por técnicas de dissecação, que consistem na retirada de
muscúlos e tecidos, mantendo somente os órgãos desejados sem a danificação dos mesmos.
Após foi realizada a formalização, que consiste em conservar e enrijecer as peças anatômicas,
e de salinização que consiste também em conservar as peças para toda a vida, sendo assim
necessário somente repôr a salina, pois como a mistura consiste em água e sal pode vir a
evaporar ao longo do tempo.
Figura 2: Frente do Hospital Veterinário São Francisco de Assis, Getúlio Vargas-RS. Fonte:
http://www.jornalboavista.com.br/site/print/26754
O processo de dissecação teve início com a retirada da peça anatômica, a qual seria o
sistema digestório de um suíno, o mesmo citado acima. A retirada teve inicio com um corte
mediano na região ventral do animal com o auxilio de um bisturi n° 24, algumas facas e uma
serra de açougue (Figura 3), após foram sendo retirados respectivamente, a língua, faringe,
esôfago, estômago, fígado, intestino delgado e grosso, reto e ânus.
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Figura 3: Corte mediano na região ventral do animal. Fonte: Comandulli, Renata, 2017. Getúlio Vargas/RS
Deu-se continuidade ao trabalho fazendo primeiramente a lavagem de todas as partes
da peça para tirar o excesso de sangue (Figura 4). Seguindo com o processo de limpeza, foi
realizado um corte na região do corpo do estômago para a retirada do bolo alimentar que
havia restado, e no intestino foram feitas pequenas incisões para a retirada das fezes, que com
a ajuda de uma mangueira e água puderam ser eliminadas para fora.
Figura 4: Lavagem de todas as partes da peça. Fonte: Comanduli, Renata, 2017. Getúlio Vargas/RS
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Após o processo de limpeza a peça foi colocada ao sol por alguns minutos para que o
excesso de água evaporasse, para então seguir com o preenchimento do estômago e algumas
partes maiores do intestino, com o objetivo de uma estrutura mais realista. O preenchimento
foi realizado com uma espuma de travesseiro e por fim as incisuras foram costuradas para
manter a espuma fixa dentro da estrutura (Figura 5).
Figura 5: Preenchimento do estômago e algumas partes do intestino com a espuma. Fonte: Salvi, Miguel, 2017.
Getúlio Vargas/RS
Após o término de todos os procedimentos, a peça foi levada para o freezer onde ficou
conservada por sete dias, até iniciar-se a técnica de formalização. Para essa técnica usou-se
um recipiente de plástico resistente com capacidade para 45 litros, e então a peça foi
mergulhada no recipiente de forma a deixar todas as partes em suas devidas posições para
uma melhor visualização e explicação.
Para a mistura precisou-se transformar um formol 30% em um formol a 10%, então,
dentro da caixa colocou-se 9 litros de água para 1 litro de formol, tendo então, o formol a
10%. Esse processo repetiu-se duas vezes, pois a quantidade da solução não seria suficiente
para cobrir a peça, portanto, ao final do processo resultou-se em 18 litros de água para 2 litros
de formol.
Por conta da espuma usada no preenchimento de alguns órgãos, a peça ficava a flutuar
na solução de formol, então foram utilizadas garrafas pet cheias de água para manter a
estrutura submersa, sendo necessário mudar as garrafas de posição após três dias para o peso
não danificar o formato original da peça (Figura 6). A estrutura ficou no formol por 10 dias.
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Figura 6: Garrafas pet sendo colocadas para manter a estrutura submersa. Fonte: Comanduli, Renata, 2017.
Getúlio Vargas/RS.
Após a formalização iniciou-se a técnica de salinização. Retirou-se a peça do formol,
lavando-a algumas vezes para a retirada completa da substância, assim como a lavagem do
recipiente para a retirada de resíduos restantes, pois o mesmo foi utilizado para a técnica de
salinização. Então, colocou-se 5,400 kg de sal para 2 litros de água iniciando-se assim a
dissolução da substância sólida (Figura 7).
Figura 7: Sal sendo dissolvido. Fonte: Comanduli, Renata, 2017. Getúlio Vargas/RS.
Após dissolver o sal, completou-se a mistura com mais 10 litros e 600 ml de água, no
intuito de fechar os 18 litros, como fizera na técnica de formalização. A peça por fim, foi
colocada na mistura com cada parte no seu devido lugar, assim como na formalização e ali
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permanecerá para toda a vida, sendo necessária somente a reposição da salina, por conta de
poder vir a evaporar com o tempo.
A preparação da lâmina histológia deu-se início com a retirada de uma pequena porção
da região do corpo do estômago com o auxílio de um bisturi n° 24, o tamanho dessa porção
era de aproximadamente 1 cm de comprimento por 1 cm de largura. Após ter sido retirada, a
peça foi lavada em água destilada que proporcionou uma melhor limpeza. Depois se colocou a
peça em um pequeno recipiente com formol a 10% em quantidade suficiente para cobri-lá.
Logo após a peça foi retirada do formol e lavada novamente em água destilada por três vezes,
para que se iniciasse a desidratação em álcool.
Depois deste processo a peça passou pelos procedimentos necessários que foram:
diafanização em capela, parafinização em estufa, emblocamento, microtomia, coloração em
hematoxilina e eosina, hidratação e montagem colando a lamínula com Entellan.
2.3 Resultados e Discussão
A técnica de dissecação permitiu que as partes indesejadas da peça anatômica fossem
retiradas, permitindo também a limpeza das partes que seriam utilizadas. A formalização
contribuiu na conservação da peça, mantendo-a rígida e sem o seu odor característico. Por fim
utilizou-se uma solução salina para que peça antômica se mantenha conservada por tempo
indeterminado, contribuindo assim para estudos futuros.
No decorrer do estudo, também foi possível entender muitas particularidades do
sistema digestório do suíno em relação a outros animais. Desenvolvendo pesquisas aprendeu-
se que o suíno possui um conjunto de dentes decíduos composto por 3 dentes incisivos, 1
canino e 3 pré-molares, e quando são substituídos por dentes permanentes ficam com 3
incisivos, 1 canino, 4 pré-molares e 3 molares, todos bilaterais.
Viu-se que, os dentes caninos grandes e curvados ou presas são a característica mais
marcante da dentição suína, os quais crescem continuamente por toda a vida (KONIG, 2016).
Por esse motivo que muitos criadores de suínos serram os dentes caninos e incisivos quando
os leitões nascem.
Foi possível entender durante o estudo que os suínos, juntamente com os equinos e
cães, apresentam em sua língua as papilas filiformes, fungiformes, circunvaladas e folhadas,
diferentemente dos ruminantes que não apresentam as papilas folhadas (Figura 11).
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Figura 11: Língua, faringe e esôfago de suíno (representação esquemática). Fonte: KÖNIG, H. E. Anatomia
dos animais domésticos: texto e atlas colorido.
Outra particularidade do animal do estudo é que o seu estômago é unicavitário e é
caracterizado por ter um divertículo acima do fundo gástrico. A área aglandular envolve a
abertura cárdica e se prolonga até o divertículo, do qual reveste uma pequena parte (Figura
12).
A parte principal do divertículo é revestida pela mucosa glandular. A região das
glândulas é relativamente extensa, composta pelas glândulas cardíacas responsáveis pela
produção de muco, grandulas gástricas que secretam o ácido clorídrico e enzimas (pepsina e
lipase) e glândulas pilóricas que também secretam muco e protegem a mucosa da ação do
ácido clorídrico. O piloro é evidenciado por uma protuberância carnosa, o toro pilórico
(KONIG, 2016).
Figura 12: Estômago de um suíno (região cárdica, interior). Fonte: KÖNIG, H. E. 2016.
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O ceco do suíno é um saco cego moderadamente grande (com capacidade ara 1,5 a
2,2L) que se projeta em direção cranioventral perto da linha média (FRANDSON; WILKE;
FAILS, 2011). Ele possui três faixas musculares longitudinais com três fileiras de saculações
entre eles. A faixa ventral proporciona fixação para a prega ileocecal; as faixas lateral e
medial permanecem livres (KONIG, 2016).
Segundo Frandson; Wilke; Fails (2011), o colo ascendente do suíno, como o dos
ruminantes apresenta uma forma espiralada de alças, embora no caso do suíno a alça espiral
esteja disposta em forma de cone, não plana.
Sobre o fígado, de acordo com Frandson; Wilke; Fails (2011) entendeu-se que, os
lóbulos hepáticos individuais do suíno são envoltos por septos de tecido conjuntivo resistente
que conferem um aspecto lobulado, de “paralelepípedos”, a superfície do órgão.
No caso do animal que está sendo estudado, o suíno, ele faz uma digestão que é
chamada de monogástrica. Nesta, o alimento deglutido estratifica-se no estômago com
movimentos peristálticos contínuos que misturam o alimento com o suco gástrico. Esta
mistura é jogada para o duodeno em pequenas quantidades, controlados pelo esfíncter
pilórico.
O tempo que o alimento fica no estômago e intestino depende da consistência do
alimento bem como da espécie animal em questão. Os suínos precisam normalmente um dia
todo sem comer para esvaziar um estômago cheio.
Quanto à absorção dos nutrientes, nenhum é absorvido antes de o alimento chegar no
estômago. As proteínas e os carboidratos são digeridos parcialmente no estômago, mas a
maior parte da absorção acontece no intestino delgado.
Desenvolvendo pesquisas, entendeu-se que o suíno é um animal onívoro (do
latim omnis e vorus, que significa “aquele que come tudo”) são aqueles que se alimentam
tanto de fonte vegetal quanto de fonte animal. Sendo assim, ele tem maior possibilidade de
sobrevivência, pois corre menos risco de morrer de fome já que pode se alimentar de
alimentos variados.
Quanto à alimentação, em todas as fases da vida, especialmente na de engorda, as
vitaminas são muito importantes, pois auxiliam no ganho de peso e também previnem
inúmeras doenças. Alguns dos principais alimentos da dieta do suíno são o milho moído e o
farelo de soja que tem os nutrientes que o suíno necessita. No entanto, somente o consumo
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desses dois alimentos pode não ser suficiente para o animal, sendo assim necessário incluir-se
algum tipo de vitamina, específico para cada fase da vida.
3 CONCLUSÃO
Ao concluir o trabalho proposto, pode-se observar que a técnica de dissecação usada
para retirada da peça anatômica, teve um bom resultado, mas precisou-se desenvolvê-la da
maneira mais correta possível, com muito cuidado, atenção, e sem agir com pressa, caso
contrário os resultados não seriam os desejados. A peça anatômica ficou com aspecto rígido, e
após a ingeção do formol em alguns dos órgãos, eles ficaram com aparência desbotada.
Para empregar a técnica de formalização precisou-se tomar alguns cuidados, com a
peça na hora de medir a quantidade correta de formol para a quantidade necessária de água,
pois ao contrário a mistura não teria o mesmo efeito. E com a sua manipulação, pois o formol
é um componente químico muito forte, tornando-se assim tóxico e prejudicial à saúde.
Para a salinização que foi a principal técnica empregada, os cuidados não foram menos
importantes dos que se teve na formalização. Precisou-se medir a quantidade correta de sal
para a quantidade necessária de água, pois ao contrário a salina também não teria o mesmo
efeito. Está por sua vez não se tornou tóxica à saúde, pelo fato de não ser um composto
químico.
Na preparação da lâmina histológica conclui-se que é de extrema importância, pois
ajuda a conciliar o estudo teórico com a parte prática, principalmente na disciplina de
histologia. Durante sua preparação encontrou-se algumas dificuldades, pois a técnica
necessita de muito cuidado, prática e também auxílio. Não se obteve sucesso na primeira peça
retirada, pois não se tinha conhecimento das técnicas necessárias, porém, na segunda peça
com todo auxílio e cuidados necessários se obteve o resultado desejado.
Ao término do trabalho conclui-se que a execução dos processos ocorreu corretamente
para todas as técnicas desenvolvidas, que foram: coleta, dissecação, formalização e
salinização, alcançando-se assim o resultado desejado, que foi o sistema digestório de um
suíno.
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REFERÊNCIAS
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