79

Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula
Page 2: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

Instituto Federal do Espírito Santo

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM

CIÊNCIAS EMATEMÁTICA

Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática

Frédéric André Robert Vaillant

Carlos Roberto Pires Campos

USO DE TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NAS

AULAS DE FÍSICA

Série Guia Didático de Ciências - N° 49

Grupo de Pesquisa DIVIPOP

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Espírito Santo

Vitória

2017

Page 3: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula
Page 4: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

Editora do Ifes

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo

Pró-Reitoria de Extensão e Produção

Av. Rio Branco, no. 50, Santa Lúcia

Vitória – Espírito Santo - CEP 29056-255

Tel. (27) 3227-5564

E-mail: [email protected]

Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e

Matemática

Centro de Referência em Formação e Educação à Distância - CEFOR/IFES

Rua Barão de Mauá, 30 - Jucutuquara

Prédio Administrativo, 3° andar. Sala do Programa Educimat

Vitória – Espírito Santo – CEP 29040 860

Comissão Científica

Maria Alice Veiga Ferreira de Souza, D.Ed. - IFES

Emmanuel Marcel Favre Nicolin, D.F. - IFES

Antonio Carlos Frasson, D.Ed. - UTFPR

Coordenação Editorial

Alex Jordane de Oliveira, D.Ed. - IFES

Danielli Veiga Carneiro Sondermann, D.Ed. - IFES

Revisão do Texto

Carlos Roberto Pires Campos, D.Ed. - IFES

Capa e Editoração Eletrônica

Programa EDUCIMAT - IFES

Produção e Divulgação

Grupo de Estudo e Pesquisa em Divulgação e Popularização da Ciência - DIVIPOP

Programa EDUCIMAT - IFES

Page 5: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

Instituto Federal do Espírito Santo

Jadir José Pella Reitor

Adriana Pionttkovsky Barcellos Pró-Reitor de Ensino

André Romero da Silva Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação

Renato Tannure Rotta de Almeida Pró-Reitor de Extensão e Produção

Lezi José Ferreira Pró-Reitor de Administração e Orçamento

Ademar Manoel Stange Pró-Reitora de Desenvolvimento Institucional

Diretoria do Campus Vitória do Ifes

Hudson Luiz Côgo Diretor Geral do Campus Vitória – Ifes

Márcio Almeida Có Diretor de Ensino

Márcia Regina Pereira Lima Diretora de Pesquisa e Pós-graduação

Christian Mariani Lucas dos Santos Diretor de Extensão

Roseni da Costa Silva Pratti Diretor de Administração

Page 6: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

MINI CURRÍCULO DOS AUTORES

Frédéric André Robert Vaillant: Possui

graduação em Física e Química pela Universidade

de Rouen- França (1993), Mestrado Profissional em

Educação em Ciências e Matemática

(EDUCIMAT) pelo Instituto Federal de Espírito

Santo (IFES) (2017). Professor concursado do

Ministério da Educação Nacional - França desde

1994, lecionando as disciplinas de Física e Química nos Ensinos

Fundamental e Médio de 1994 até 2012. É bolsista da Fundação de

Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES). Membro do

Grupo de Pesquisa Divulgação e Popularização da Ciência (DIVIPOP),

liderado pelo prof. Dr. Carlos Roberto Pires Campos.

Carlos Roberto Pires Campos: Licenciado em

Ciências Sociais e Letras pela Faculdade de

Filosofia Ciências e Letras de Belo Horizonte

(1988 e 1990), Geólogo Quaternarista pelo Museu

Nacional da UFRJ, Mestrado em Letras pela

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

(1995), Mestrado em Arqueologia pelo Museu

Nacional da UFRJ (2012), Doutorado em História Social da Cultura

pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2003) e Pós-

Doutorado em Educação, Ciência e Tecnologia pelo CEFET-RJ (2015).

Atualmente é professor permanente do Programa de Mestrado em

Educação em Ciências e Matemática e do Programa de Mestrado em

Ensino de Humanidades do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Espírito Santo, Campus Vitória. É Líder do Grupo de

Pesquisa DIVIPOP.

Page 7: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las.

FREIRE (1981, p.10)

Page 8: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

A todos os professores que aceitaram participar da nossa pesquisa, com

todo nosso respeito e nossa gratidão.

Page 9: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO ......................................................................................... 9

2 OS TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO ENSINO DE

CIÊNCIA ......................................................................................................... 11

2.1 DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TEXTOS DE DIVULGAÇÃO ............. 11

CIENTÍFICA..................................................................................................... 11

2.2 O USO DE TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM .................. 12

SALA DE AULA .............................................................................................. 12

3 ALGUMAS RECOMENDAÇÕES SOBRE O USO DE TEXTOS DE

DIVULGAÇÃO CIENTIFICA (TDC) .......................................................... 15

3.1 ONDE ENCONTRAR OS TDC? ............................................................... 16

3.2 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS TDC ..................................................... 18

3.3 MOTIVAR OS ALUNOS A LER O TEXTO ............................................ 19

3.3.1 Estratégias de pré-leitura ...................................................................... 22

3.3.2 Estratégias de leitura ............................................................................. 24

3.3.3 Estratégias pós-leitura ........................................................................... 28

3.3.4 Conquistar sua autonomia..................................................................... 32

4 E NA PRÁTICA? ......................................................................................... 34

Texto 1 - Primeiro satélite geoestacionário brasileiro chega ao espaço ...... 35

Texto 2 - A força elétrica ................................................................................ 44

Texto 3 - Energia nuclear no cenário pós-Fukushima ................................. 52

Texto 4 - A decomposição da luz .................................................................... 62

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 75

Page 10: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

9

1 APRESENTAÇÃO

O presente Guia Didático foi elaborado como produto educacional,

fruto da pesquisa intitulada “Divulgação Científica e Ensino de

Ciência: os relatos dos professores de Física”. Tanto a pesquisa

quanto o guia didático são requisitos do curso de Mestrado Profissional

em Educação em Ciências e Matemática (EDUCIMAT) do Instituto

Federal do Espírito Santo (IFES).

Esta pesquisa surgiu de interrogações sobre as interações possíveis

entre o ensino de ciências e a divulgação científica no processo de

Alfabetização Científica: qual pode ser o papel da escola nesse

processo? Qual deve ser o papel dos professores de Física nesse

processo? Qual pode ser o elo entre escola e divulgação científica?

Como os professores de Física podem transformar os Textos de

Divulgação Científica em recursos didáticos?

Para responder a essas questões, foi realizado um estudo com 14

professores da disciplina de Física do Ensino Médio (ensino regular e

EJA), que trabalham em 12 escolas públicas estaduais da Grande

Vitória, a fim de verificar se há utilização de texto de divulgação

científica nas aulas de Física no Ensino Médio e como os professores

transformam os Textos de Divulgação Científica em recursos didáticos

para suas aulas.

A pesquisa parte do pressuposto, de acordo como Norris e Phillips

(2003), de que a Alfabetização Científica pode ser tomada como uma

ferramenta cultural por ser relacionada à formação do leitor crítico

capaz de lidar, por exemplo, com os textos de divulgação científica (de

jornais, de revistas, de livros, da internet etc.), analisando-os,

Page 11: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

10

criticando-os, interpretando-os. Nessa perspectiva, o leitor crítico

apropria-se da cultura científica e pode ampliar sua leitura do mundo e

participar criticamente na sua transformação.

Isso exige que a educação não seja desenvolvida na lógica de uma

concepção “bancária”, como uma mera transmissão de conteúdo, mas,

como ação para o desenvolvimento das capacidades de leitura crítica,

de autoria e de autonomia dos cidadãos. Desse modo, a leitura do texto

pelos alunos deve permitir instaurar um diálogo no qual os estudantes e

o professor se encontrem como investigadores críticos, assumindo o

papel de sujeitos que criam e re(criam) ideias em vez de as consumir

(FREIRE, 1981).

O presente material tem, como objetivo, auxiliar os professores que

desejam utilizar os Textos de Divulgação Científica como recurso

pedagógico em suas aulas de física no Ensino Médio. No entanto, não

pretendemos fornecer roteiros prontos para serem aplicados pelos

professores, mas trazer elementos de reflexão, pistas para apreender

alguns aspectos a serem considerados para tornar os Textos de

Divulgação Científica (TDC) um recurso valioso para o ensino de

física.

Boa leitura!

Os autores

Page 12: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

11

2 OS TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO ENSINO

DE CIÊNCIA

Depois de entender o contexto de produção deste material, discutiremos

sobre o conceito de Textos de Divulgação Científica, buscando

justificar o uso desses textos no contexto escolar.

2.1 DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TEXTOS DE DIVULGAÇÃO

CIENTÍFICA

A palavra divulgação vem do verbo latim divulgare constituído de dis

(movimento para fora) e vulgus (gente comum, a multidão). Assim,

divulgação é ação de fazer conhecer, de tornar público. Em francês, o

termo divulgação significa ação de levar o conhecimento ao público,

levar uma informação que estava ignorada, secreta. Ou seja, esta

informação passa de um círculo de iniciados para ir até o público.

A partir de diferentes autores, Bueno (1985), Jacobi, Schiele e Cyr

(1990), Salèm e Kawamura (1996), podemos esboçar uma definição de

Texto de Divulgação Científica (TDC): Um texto que circula fora da

escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e

sem excesso de formalismo matemático, dá acesso à informação

científica e tecnológica para o público em geral.

Desse modo, podemos considerar como TDC textos diversos tão

diferentes que podem ser, tanto um artigo de divulgação científica

escrito por um cientista para uma revista especializada tal como

Scientific American quanto uma notícia jornalística de divulgação da

ciência escrita por um jornalista para um site ou um jornal de

informação geral.

Page 13: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

12

2.2 O USO DE TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM

SALA DE AULA

As últimas décadas viram surgir a necessidade democrática de uma

maior Alfabetização Científica capaz de permitir ao cidadão uma

leitura ampliada e crítica do mundo, que o capacite a participar dos

debates e das decisões sociais e políticas ligadas à ciência e a

tecnologia.

O conceito de Alfabetização Científica é multidimensional. A partir de

uma revisão de literatura sobre o conceito, Norris e Phillips (2003)

identificaram onze objetivos da Alfabetização Científica que podem ser

agrupados em dois feixes, segundo Santos (2007):

Quadro 1: Objetivos da Alfabetização Científica

Objetivos que se referem ao

conhecimento e ao desenvolvimento

de habilidades em relação à

atividade científica:

Objetivos que se referem à função social

da atividade científica, incluindo

categorias de natureza cultural, prática e

democrática:

Conhecimento do conteúdo

científico e a habilidade em

distinguir ciência de não-ciência;

Compreensão da ciência e de suas

aplicações;

Conhecimento do que se

considera como ciência;

Autonomia no aprendizado da

ciência;

Habilidade para pensar

cientificamente.

Habilidade para usar o conhecimento

científico na resolução de problemas;

Conhecimento necessário para

participação inteligente em questões

sociais relativas à ciência;

Compreensão da natureza da ciência,

incluindo as suas relações com a

cultura;

Apreciação do conforto com a ciência,

incluindo apreciação e curiosidade por

ela;

Conhecimento dos riscos e benefícios

da ciência;

Habilidade para pensar criticamente

sobre ciência e lidar com o

conhecimento científico.

Fonte: Norris e Phillips (2003); Santos (2007).

Page 14: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

13

Norris e Phillips (2003) insistem no fato de que, sem texto, as práticas

sociais que participam do processo de construção das ciências não

seriam possíveis. Assim, se não existe ciência sem texto, é

imprescindível, para alcançar a Alfabetização Científica, considerar seu

sentido literal, isto é, formar um leitor e um escritor com capacidades

de compreensão, elaboração de significados, análise e crítica.

Qual pode ser, então, o papel da escola nessa perspectiva? Uma

possibilidade seria ajudar os alunos a interagirem criticamente com as

informações trazidas pelos Textos de Divulgação Científica (livros de

divulgação científica, artigos de revistas de divulgação científica,

artigos de revistas gerais, artigos de jornais, textos encontrados nos

blogs etc.).

Os Textos de Divulgação Científica não têm como função, ou ambição,

serem didáticos, e não se preocupam em apresentar assuntos em relação

com o currículo escolar. Eles são dirigidos a um público não cativo,

razão pela qual devem ser acessíveis, atraentes e suscitar a curiosidade

do leitor potencial. Assim, eles apresentam, como características, a

busca de certa cumplicidade com o leitor, uso de analogias e metáforas,

uso de uma iconografia rica.

Para Salèm e Kawamura (1996), os TDC se caracterizam pela ênfase

dada às ideias e aos conceitos que são apresentados de forma não linear

e não fragmentada. Também, eles são marcados para uma quase

ausência de formalismo matemático, o que não exclui o uso de uma

linguagem sofisticada, e, muitas vezes, são mais extensos que os textos

encontrados nos livros didáticos.

Para essas duas autoras, os TDC que não são didáticos poderiam ser

usados em sala de aula, funcionando como um complemento ao ensino

Page 15: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

14

de Física. Mesmo sem ser a reposta em si às demandas e aos problemas

do ensino da Física, o uso de TDC seria, além de um possível

complemento, um convite a repensar a escola e o ensino.

Mas como poderia ser construída a relação entre ensino da Física e o

uso dos TDC?

De acordo com Rocha (2012), o uso de Textos de Divulgação

Científica em sala de aula implica uma adaptação ao novo contexto de

leitura e um propósito didático. A transformação do texto de

divulgação em recurso didático deve acontecer na sala de aula, por

meio de atividades dos alunos mediada e planejada pelo professor.

Segundo Norris e Phillips (2003), o ato de ler não pode ser limitado a

decodificar palavras ou localizar informações num texto, mas, antes

disso, à capacidade de interpretação do texto. Ao ato de inferir

significados a partir do texto escrito, associando as informações do

texto e seus conhecimentos, o leitor cria algo novo que vai além do

texto e dos conhecimentos do leitor: uma interpretação do texto.

Para essas autoras, ler significa compreender, interpretar, analisar e

criticar textos, configurando-se como atividades centrais na ciência, e

necessitam de conhecimentos sobre o conteúdo da ciência. Mas, em vez

de considerar os conhecimentos, leis, teorias isoladamente, esse

processo de interpretação permite e necessita de realizar suas

interconexões. Ao negligenciar esta dimensão, o ensino de ciências

arrisca-se a condenar-se a não permitir aos estudantes uma

aprendizagem crítica.

Page 16: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

15

3 ALGUMAS RECOMENDAÇÕES SOBRE O USO DE

TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTIFICA (TDC)

A utilização de TDC em sala de aula exige do professor um trabalho

de preparação minucioso:

- Identificando os conceitos que vão poder ser trabalhados a partir

da leitura do TDC;

- Buscando todas as informações relevantes presentes no texto que

vão permitir seu uso em sala de aula.

- Pensando na maneira como as condições de leitura, o trabalho

decorrente e as possíveis discussões serão encaminhados, para

permitir que os alunos possam expressar suas interpretações do

texto, suas inquietações, discutir e argumentar, a fim de produzir

sentido ao que foi lido.

A preparação pode incluir um trabalho de reformulação (por

eliminação de elementos ou de partes do texto; combinação de

elementos de diferentes textos, produção de figuras ou esquemas

alternativos, preparação de definição de termos encontrados no

texto...) em função do perfil dos alunos, dos objetivos propostos.

É interessante trabalhar com os outros professores de Física da

escola para buscar e selecionar os TDC, conceber estratégias para

usá-los, trocar ideias e ficar mais seguro no seu uso em sala de aula.

Page 17: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

16

3.1 ONDE ENCONTRAR OS TDC?

No cenário nacional brasileiro, os TDC podem ser encontrados em

um grande número de publicações impressas e digitais (jornais de

informação geral, magazine, revistas de divulgação científica etc.).

Os TDC encontrados podem ser de formatos e qualidades também

bem diferentes, variando de uma notícia de algumas linhas no site

G1 da rede Globo, por exemplo, até um artigo de algumas páginas

da revista “Scientific American Brasil”.

A

Figura 1 - Exemplos de revistas encontradas no Brasil

Fonte: Coleção dos autores.

Você conhece as revistas de divulgação científica que podem ser

encontradas nas bancas de revistas no Brasil?

Este trabalho de reformulação deve ser limitado para não produzir

um documento que, na intenção de ser didático, antecipa e elimina

as dificuldades dos alunos, perdendo seu potencial.

Os TDC podem ser encontrados, não apenas em publicação

periódicas, mas, também, em livros de Divulgação Científica

como, por exemplo, “Evolução da Física”, de Einstein e Infeld.

A biblioteca da sua escola funciona? O que tem lá no acervo? Há

um bibliotecário com quem trabalhar? Quem é responsável pela

escolha das publicações para atualizar o acervo?

TDC podem ser encontrados não somente em publicação

periódicas, mas, também em livros de Divulgação Científica como,

Page 18: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

17

A seguir, apresentamos, no Quadro 2, uma seleção de publicações

online com algumas considerações:

Quadro 2- Seleção de publicações online de TDC

Ciência

Hoje http://www.cienciah

oje.org.br/.

Criada em 1982, a revista Ciência Hoje foi uma publicação

mensal de divulgação científica do Instituto Ciência Hoje (ICH)

vinculado à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

(SBPC). A partir de fim de 2014, o IHC manteve apenas a revista

digital. A última edição da revista (n° 342) data de novembro

2016. Vale a pena consultar as colunas dos físicos Carlos Alberto

dos Santos e Adilson de Oliveira.

Revista

Galileu http://revistagalileu.

globo.com/.

Publicação mensal de divulgação científica e variedades da

Editora Globo. Foi criada em 1991. Estão acessíveis gratuitamente online algumas reportagens e alguns dossiês.

Revista

Com

Ciência http://www.com

ciencia.br/.

Publicação eletrônica gratuita mensal de jornalismo científico

criada em 1999, produzida pelo Laboratório de Estudos

Avançados em Jornalismo (Labjor), da Universidade de

Campinas (Unicamp) com a parceria da Sociedade Brasileira

para o Progresso da Ciência (SBPC). Cada edição da revista é

organizada na forma de um dossiê temático.

Revista

Pesquisa

Fapesp http://revistapesquis

a.fapesp.br/.

Revista criada em 1995 e editada pela Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Tem, como

objetivo, a divulgação dos resultados da produção científica e

tecnológica brasileira, da qual a FAPESP é uma das mais

importantes agências de fomento. As notícias e uma parte dos

artigos estão disponíveis gratuitamente online.

Scientific

American

Brasil http://www2.uol.co

m.br/sciam/.

Edição brasileira da revista Scientific American (criada nos

Estados Unidos em 1845) publicada desde 2002. É uma

publicação mensal de divulgação científica da Editora Duetto.

Notícias, reportagens e uma parte dos artigos estão disponíveis

gratuitamente online.

Desafio da

Física: http://www.cbpf.br

/~desafios/index.p

hp.

Um site do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) que,

com apoio da Fundação Vitae, disponibiliza um material de

divulgação científica, como folders e o livro “Um olhar para o

Futuro: desafio da física para o século 21”, editado em 2008 e

coordenado pelo Pesquisador João dos Anjos, do Centro

Brasileiro de Pesquisas Físicas e pelo jornalista Cássio Leite

Vieira, do Instituto Ciência Hoje.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Page 19: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

18

3.2 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS TDC

- O texto deve, de preferência, estar em adequação com o conteúdo

curricular de modo que o trabalho com o TDC permita a expansão, o

aprofundamento do tema abordado.

- É preferível escolher textos que abordam assuntos contemporâneos

e que possam ser relacionados a aspectos do cotidiano dos

estudantes.

- Os textos escolhidos devem ter um tamanho que seja compatível

com seu uso em sala de aula. Um texto muito extenso poderia tornar

a aula cansativa e, ao final, ser contra produtivo.

- A linguagem e a dificuldade conceitual do texto devem ser em

adequação com o nível dos alunos, sem, por isso, buscar a qualquer

custo a facilidade.

- Se o objetivo é fomentar um debate, escolher um texto cujo tema

central seja uma controvérsia científica ou um tema sócio-científico

polêmico (por exemplo, Organismos Geneticamente Modificados

(OGM), mudança climática, utilização da energia nuclear).

Como eu posso avaliar a confiabilidade das informações trazidas

pelo texto? O TDC foi escrito a partir de um artigo científico ou se

trata de um material difundido por uma agência de notícias, ou da

recuperação de outro TDC? Quem é o autor, um cientista, um

jornalista? A fonte das informações é dada?

E as imagens e ilustrações? Elas facilitam a compreensão do texto

escrito? Contêm equívocos conceituais?

Page 20: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

19

3.3 MOTIVAR OS ALUNOS A LER O TEXTO

Como motivar os alunos para ler o texto que vou levar em sala de

aula? Como posso ajudar-lhes a ler e entender o texto?

Apresentamos estratégias de pré-leitura, de leitura e de pós-leitura,

utilizando como exemplo um texto intitulado “Radioisótopos na

medicina”. Trata-se de um Texto de Divulgação Científica

encontrado no site da revista “Ciência Hoje” e que foi publicado em

2012, na edição 333. Ele está disponível no link:

http://www.cienciahoje.org.br/revista/materia/id/999/n/radioisotopo

s_na_medicina

Page 21: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

20

Page 22: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

21

Page 23: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

22

3.3.1 Estratégias de pré-leitura

Essas estratégias têm, como objetivo, mobilizar os conhecimentos

prévios dos alunos para que estejam prontos a conectá-los com o

conteúdo do texto. Elas podem também ter um aspecto

motivacional, despertando a curiosidade pelo assunto abordado no

texto. Para o professor, elas possibilitam fazer um levantamento dos

conhecimentos prévios dos alunos.

Questionamento-contextualização

A partir de um questionamento, iniciar um diálogo que permita a

expressão dos conhecimentos prévios dos estudantes e a

contextualização do assunto. No caso do texto “radioisótopos na

medicina”, isso poderia ser feito a partir de uma pergunta sobre as

possíveis relações entre a radioatividade e a medicina, ou a partir de

uma noticia de jornal/TV sobre a falta de material de tomografia,

por exemplo.

Prever o que vou ler:

O professor fornece uma lista de palavras-chaves e conceitos

encontrados no texto, assim como o título do texto. A partir dessas

informações, o aluno deve escrever uma predição de o que deve

encontrar no texto (Quadro 3):

Quadro 3- Exemplo da utilização da estratégia “Prever o que vou

ler” Título do texto Radioisótopos na medicina

Palavras encontradas no

texto

Próton, nêutron, decaimento radioativo,

isótopos, medicina nuclear, radiação gama.

Minha predição sobre o

conteúdo do texto

Fonte: Elaborado pelos autores.

Page 24: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

23

Pode-se seguir uma discussão mediana pelo professor na qual os

alunos indiquem como eles relacionam esses elementos. No caso do

texto “Radioisótopos na medicina”, conforme Gomes; Silva e Souza

(2017), é provável que a maioria dos alunos relacione a medicina

nuclear às pessoas sofrendo dos efeitos da radioatividade.

Nesse exemplo, as palavras selecionadas, à exceção de medicina

nuclear, devem ser, provavelmente, utilizadas em aulas anteriores.

Se acontecer de alunos não conhecerem as palavras selecionadas, a

discussão precisa permitir dar um apoio suficiente para que eles

consigam entender sobre o assunto. Além disso, é bom de indicar

para os alunos que, no texto, serão encontrados elementos

permitindo apreender melhor os conceitos abordados. Escrever uma

definição no quadro não é recomendável, pois tende manter os

alunos em uma situação de dependência e de passividade.

Ampliar meu vocabulário

Trata-se de uma estratégia complementar da anterior. Para cada uma

das palavras selecionadas, os alunos podem escrever uma definição

em contexto, exemplos de aplicações, equações e unidade

relacionadas, se é conveniente. A lista poderá ter acrescentada,

durante a leitura, palavras que os alunos consideram importantes ou

que são desconhecidas e, do mesmo modo, as informações para cada

conceito, que poderão ser completadas e modificadas (Quadro 4).

Page 25: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

24

Quadro 4- Exemplo de aplicação da estratégia “Ampliar meu

vocabulário” Palavras Definição em

contexto

Outras informações

associadas (símbolo;

unidade; equação)

Exemplos

Nêutron

Próton

Decaimento radioativo

Medicina nuclear

Radiação gama

Número atômico

Isótopos

(…)

Fonte: Elaborado pelos autores.

3.3.2 Estratégias de leitura

Uma leitura individual e silenciosa

Primeiramente, a leitura do texto deve ser individual e silenciosa.

Uma leitura coletiva em voz alta tende a desconsiderar o fato de que

cada leitor tem seu próprio ritmo e que a leitura não é um ato linear:

às vezes, é preciso voltar atrás, outras vezes tem antecipação, ou

podem existir leituras paralelas a partir dos títulos, subtítulos,

elementos de ilustração (imagens, representações gráficas e

simbólicas, como fotos, esquemas, curvas, tabelas).

Questões sobre o texto

Uma estratégia frequentemente utilizada pelos professores consiste a

dar aos alunos uma série de questões a serem respondidas a partir da

leitura do texto. Nesse caso, a instrução de trabalho consiste em uma

frase de tipo “ler o texto e responder às seguintes perguntas”.

Page 26: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

25

O problema desse tipo de trabalho é que os alunos e o professor

focalizam sobre a segunda parte da tarefa: “responder às perguntas”,

esquecendo que a primeira, “ler o texto”, é primordial e não óbvia.

No entanto, queremos ressaltar que o modo de leitura do aluno é

fortemente relacionado aos comentários prévios e às solicitações do

professor. As perguntas vão orientar a leitura, destacar aspectos do

texto em detrimento de outros. Existe, também, o risco de que as

perguntas, mesmo que sejam abertas, levem os alunos a se limitarem

em fazer uma extração direta de informações do texto, identificando

um trecho para responder. Assim, não terá uma verdadeira leitura,

um esforço de interpretação do texto com um todo.

Assim, antes de responder às perguntas ou de produzir qualquer

trabalho a partir do texto, é preciso ler o texto! Mas quais estratégias

nós podemos usar para auxiliar os alunos nessa atividade? Assim,

apresentamos estratégias que podem ajudar os alunos durante a

leitura do texto.

Ampliar seu vocabulário

Consiste em prosseguir o trabalho iniciado na fase de pré-leitura,

completando o quadro com as palavras-chave e palavras

desconhecidas encontradas no texto.

Após leitura completa do texto, o professor poderá fornecer

elementos de etimologia de algumas palavras, permitindo uma

melhor compreensão dos conceitos. No caso do texto

“Radioisótopos na medicina” isso pode ser feito, por exemplo, para

as palavras isótopos e tomografia.

Page 27: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

26

A palavra isótopo foi criada em 1913, pelo físico Inglês Soddy, a

partir das palavras gregas Isos (mesmo, igual) e topos (lugar).

Assim, isótopos são átomos que têm o mesmo número atômico e

correspondem ao mesmo elemento químico e, portanto, se

encontram no mesmo lugar na classificação periódica.

A palavra tomografia foi criada a partir das palavras gregas tomos

(corte, fatia) e graphein (escrever). Assim, a tomografia é uma

técnica que permite visualizar as estruturas anatômicas na forma de

cortes. Na palavra átomo encontramos também a palavra grega

tomos. Associada ao prefixo “a” que indica o privativo, átomo pode

ser entendido como “que não pode ser cortado”. Outras palavras do

mesmo texto merecem atenção: cintilografia;

metabolismo/metabólico; radiação; radioativo; fisiologia;

cardiologia; oncologia; neurologia; tumor; glicose; aniquilação.

Anotar as ideais principais dos parágrafos do texto

Após atribuir um número a cada um dos parágrafos do texto, o aluno

lê cada um e anota as ideias principais assim como palavras-chave

(Quadro 5):

Quadro 5- Exemplo de aplicação da estratégia “Anotar as ideias

principais dos parágrafos do texto” N° do parágrafo Ideias principais do parágrafo; palavras-chave

Fonte: Elaborado pelos autores.

Essa estratégia pode se aplicar, também, para todos os elementos

que compõem e estruturam o texto: parágrafos, rubricas, caixas de

Page 28: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

27

texto, títulos e subtítulos, legendas, ilustração, gráficos, quadros,

tabelas, listas, palavras em negrito, entre outros. Esses elementos

utilizados pelos autores com intenção de facilitar a compreensão do

texto são guias importantes para a leitura. Assim, os alunos

precisam apreender a estrutura do texto e relacioná-la com suas

ideias principais e as intenções dos autores.

Quadro 6- Aplicação da estratégia “Anotar as ideias principais” a

partir do início do texto “radioisótopos na medicina” Elemento Descrição, papel, ideia principal

Título Radioisótopos na medicina

Introdução O fenômeno da radioatividade descoberto em 1896 é utilizado

em medicina e contribui para salvar vidas.

Ilustração

1 +

legenda

Ilustra a introdução e mostra o que aparece nas radiografias de

corpos humanos. A legenda precisa que elementos radioativos

podem ser usados pela medicina nuclear para diagnosticar e

tratar doenças.

Parágrafo

1

Definição de isótopos: átomos com mesmo número atômico Z

(mesmo número de prótons no núcleo) e que, portanto,

correspondem ao mesmo elemento químico. O número de

nêutrons, e, portanto, o número de massa A (soma de prótons

e de nêutron) é diferente.

Parágrafo

2

Definição de radioisótopo: isótopo instável suscetível a sofrer

um processo de decaimento radioativo ou de desintegração

radioativa.

Parágrafo

3

A denominação moderna de radioisótopo é radionuclídeo.

Durante a desintegração radioativa do radionuclídeo, podem

ser emitidos: nêutron, partícula alfa (núcleo de hélio 4

constituído de dois prótons e de dois nêutrons), partícula beta

– (elétron), partícula beta+ (pósitron), fóton gama. Nota: o

texto é confuso, pois ele deixa acreditar que a desintegração

de um radionuclídeo pode emitir simultaneamente todos eles

(ver o curso ou o livro-texto).

Caixa de

texto 1

Destaca a definição de radioisótopo encontrada no parágrafo 2.

(…)

Fonte: Elaborado pelos autores.

Page 29: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

28

No quadro 6, a linha dedicada ao parágrafo 3, mostra a possibilidade

de estabelecer uma relação com os conhecimentos prévios e apontar

possíveis discordâncias, concordâncias, interrogações em relação

com o texto.

Falar da sua leitura

Versão coletiva e interativa da estratégia precedente. Os alunos

trabalham em grupo de 4 ou 5, formando um círculo de leitura.

Após a leitura individual de cada parágrafo, um aluno do grupo dá

sua interpretação do parágrafo, sua ideia principal e destaca as

palavras importantes para a compreensão daquele. Essa curta

exposição é seguida por uma discussão no grupo que permite

aprofundar a compreensão do parágrafo e complementar as

anotações. O processo começa de novo para o parágrafo seguido

com outro aluno na roda de leitura.

Essa estratégia pode permitir motivar os alunos que têm mais

dificuldades em relação à leitura. Ela é também particularmente

adaptada se se pretende fomentar uma produção coletiva a partir da

leitura do texto, como um debate ou um mapa conceitual.

3.3.3 Estratégias pós-leitura

Essas estratégias visam uma compreensão global do texto.

Releitura

Usando o material produzido durante a leitura, o aluno retoma cada

parágrafo ou elemento do texto para pensar de novo no seu

significado e acrescentar ou modificar sua interpretação, identificar

Page 30: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

29

as partes do texto que não foram ainda bem apreendidas. É

importante, também, que essa fase sirva para articular os diferentes

elementos do texto entre si, agrupando-lhes em conjunto de

organização e de significação maior. Depois dessa fase de avaliação

de sua leitura, o aluno relê de novo as partes do texto que ficaram

confusas.

Mapa conceitual

Os mapas conceituais são ferramentas gráficas para organizar e

representar o conhecimento. Eles foram desenvolvidos por Novak,

em 1972, e é baseada na Teoria da Aprendizagem Significativa de

Ausubel; Novak; Hanesian (1980). Nos mapas conceituais,

conceitos são colocados dentro de círculos ou quadros e as relações

entre eles são representadas por linhas que os interligam. A relação

entre os conceitos é explicitada por uma frase de ligação (que pode

ser uma palavra só). Assim, proposições estão construídas com dois

ou mais conceitos conectados por frases de ligação para compor

uma afirmação com sentido:

Figura 2- Representação de uma proposição em mapa conceitual

Fonte: Elaborado pelos autores.

Geralmente, os conceitos são representados de forma hierárquica,

com os conceitos mais inclusivos no topo e os mais específicos

Page 31: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

30

abaixo. Ligações cruzadas (cross links) relacionam conceitos

situados em áreas diferentes do mapa.

O mapa deve ser elaborado a partir de uma questão focal a qual ele

vai ajudar a respondê-la.

Tendo como base o artigo de Novak e Cañas (2010), sugerimos um

roteiro para construir um mapa conceitual:

1) Determinar uma questão focal que será respondida pelo mapa.

2) Identificar os conceitos-chaves que se aplicam a essa questão.

3) Ordenar os conceitos numa lista, do conceito mais geral, que

ficará o topo da lista até o conceito mais específico que ficará na

base da lista.

4) Escrever os conceitos em pedaços de papel. Partir do conceito

mais geral e ordenar os conceitos e conectá-los com linhas que serão

rotuladas por frases de ligação que explicitem a relação entre os

conceitos. Esse trabalho pode necessitar várias tentativas e pode ser

feito usando um software com Cmap Tools disponível em:

https://cmap.ihmc.us/.

5) As linhas de ligação podem ser orientadas por setas.

A Figura 3 apresenta um exemplo de mapa conceitual elaborado a

partir da questão focal: como a medicina nuclear utiliza os

radioisótopos?

Page 32: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

31

Figura 3- Exemplo de mapa conceitual realizado com o Cmap Tools

Fonte: Elaborada pelos autores.

É importante esclarecer que não existe o mapa conceitual, mas,

mapas conceituais que vão responder à questão focal, e que, assim,

podemos dizer que não existe mapa certo ou errado. Além disso,

mesmo se as palavras colocadas acima das linhas de conexão entre

os conceitos tendem a evidenciar o significado da relação

conceitual, elas não tornam o mapa inteiramente explicito.

Desse modo, é interessante prever a socialização dos mapas

conceituais que serão apresentados e explicitados pelos seus autores.

Apresentamos, a seguir, um exemplo de barema que pode ser usado

para avaliar o mapa conceitual e sua apresentação (Quadro 7).

Page 33: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

32

Quadro 7- Barema para avaliação do mapa conceitual e da sua

apresentação Critérios Pontuação

Concepção do mapa

Identificação dos conceitos chaves 2

Hierarquização dos conceitos (do mais geral para os menos abrangentes) 2,5

Proposições (ligações válidas entre conceitos, frase de ligação) 2

Ramificações (Inter-relacionam conceitos de forma adequada) 2

Cross links (Relacionam de forma significativa áreas diferentes do mapa) 1

Estética do mapa 0,5

Coerência da apresentação

Apresentação coerente com a estrutura hierárquica do mapa 2

Justificação dos conceitos 2

Justificação da relação entre conceitos 2

Qualidade da expressão e organização

Objetividade na exposição das ideias 1,5

Oratória 1

Adequação ao tempo 1

Organização do grupo durante a apresentação 0,5

TOTAL 20

Fonte: Elaborado pelos autores.

3.3.4 Conquistar sua autonomia

As estratégias apresentadas são ferramentas para ajudar os alunos a

serem mais autônomos na leitura de textos. O objetivo é que os

alunos consigam articular e integrar de forma autônoma essas

estratégias nas suas práticas de leitura.

Um passo intermediário para alcançar isso poderia ser o de propor

um roteiro de leitura integrando as diferentes estratégias.

Apresentamos um exemplo de roteiro inspirado no trabalho de Hart

(2012):

Page 34: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

33

1- Fazer uma pré-leitura

Observando os elementos como o título, subtítulos, palavras em

negrito ou frequentemente utilizadas, caixa de textos, ilustrações e

legendas, nome do autor e sua afiliação, a origem da publicação, o

primeiro e o último parágrafos, construindo uma ideia sobre o que o

texto trata.

2- Fixar-se em um objetivo

O que estou esperando da leitura? A qual questão o texto vai

responder?

3- Se organizar, formar um plano

Qual estratégia eu vou usar para facilitar minha compreensão do

texto? Por exemplo, vou numerar os parágrafos e anotar para cada

um sua ideia principal.

4- Ler o texto

Tendo em mente os objetivos e o plano.

5- Estabelecer conexões

Como posso relacionar o texto com meus conhecimentos, minha

vida, outros textos?

6- Avaliação-reflexão

Essa avaliação e reflexão podem ser guiadas pelas perguntas

seguintes:

O objetivo foi alcançado? O texto respondeu às minhas

expectativas?

Qual é a organização do texto?

Consigo dar a ideia principal de todos os parágrafos?

Com quais pontos estou em acordo e em desacordo?

O que aprendi?

Poderia fazer um resumo do texto? Poderia expressar minha

interpretação do texto e debater? Poderia fazer um mapa conceitual?

O que ficou confuso e que não entendi?

Page 35: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

34

7- Reler

Reler as partes do texto que ficaram confusas.

8- Organizar e memorizar

Memorizar, organizar os conhecimentos: elaborar um mapa

conceitual, um resumo, ficha de vocabulário.

Ao final, precisamos mostrar aos alunos que a leitura é um ato ativo

e criativo que necessita de construir imagens mentais sobre o que é

lido, construir interpretações do texto ligando logicamente suas

informações, usando de forma criativa seus conhecimentos,

controlando em permanência da coerência destas interpretações.

4 E NA PRÁTICA?

Selecionamos quatro textos de divulgação científica para aprofundar

nossa discussão sobre as possíveis utilizações de TDC. Nossa

intenção não é fornecer roteiros prontos para o uso, mas, por meio

de exemplos, propor elementos de reflexão e pistas para utilizar esse

material em sala de aula.

Page 36: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

35 Texto 1

Primeiro satélite geoestacionário brasileiro chega ao espaço

Page 37: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

36

Page 38: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

37

Seleção do texto e preparação

O texto é uma notícia publicada no site da revista “Galileu” em

maio de 2017 e disponível no endereço:

http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2017/03/primeiro-

satelite-geoestacionario-brasileiro-vai-ao-espaco-hoje.html.

.

Ela fornece informações sobre o satélite de maneira fragmentada,

sem tentar inter-relacioná-las para explicar seu funcionamento. É

um texto que poderia ser utilizado apenas para extrair os dados da

ficha técnica (massa, altitude e velocidade) a serem utilizados para

conceber um exercício de aplicação sobre o movimento circular

uniforme (MCU).

Contudo, o texto usa uma linguagem acessível, é pouco extenso e o

assunto apresentado pode ser relacionado ao conteúdo de Física do

Ensino Médio: o foco principal sendo o estudo do MCU e as leis de

Newton, mas podem ser abordados outros aspectos, tais como

energia e ondas.

A única modificação no texto feita pelos autores deste trabalho

consistiu em adicionar legendas no esquema representando o

satélite, de modo a facilitar a identificação de seus elementos.

Público-alvo: Alunos da 3ª série do Ensino Médio.

Proposta de utilização:

Estratégia de pré-leitura: Questionamento-contextualização

Page 39: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

38

Para estabelecer uma relação entre o texto e o cotidiano dos

estudantes e avaliar seus conhecimentos prévios, o professor poderá

formular as seguintes perguntas:

Qual é o papel das antenas de TV parabólicas? Em qual direção elas

estão orientadas, por quê?

Pode-se seguir uma tempestade de ideias, que, entre outras coisas,

permite discutir sobre a palavra parabólica, sobre a natureza do sinal

recebido e sobre o interesse da forma da antena. Também poderá se

interrogar sobre a posição do satélite, seu movimento, como ele foi

colocado em órbita.

Estratégia de leitura: Falar de sua leitura

Os alunos trabalham em grupo de quatro alunos, dividem o texto, e

para cada parte, após sua leitura individual, discutem sua

interpretação, sua ideia principal, destacam as palavras-chaves.

Estratégias pós-leitura:

Questões sobre o texto:

As perguntas têm, como objetivo, aprofundar a interpretação do

texto e ajudar os alunos a estabelecerem conexões entre o texto e

conhecimentos anteriores. Além disso, as perguntas incentivam uma

releitura do texto. Essa fase de trabalho pode ter a forma de uma

aula dialógica.

Questão sobre o impacto social, econômico, estratégico do

lançamento do satélite:

Qual é o interesse, os benefícios, do lançamento do satélite SGDC?

Page 40: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

39

Questionamento sobre a temática energia:

- Por que o satélite necessita de uma fonte de energia elétrica (12

kWh)?

- Por que a duração de vida do satélite é limitada (18 anos)?

- Por que é preciso os painéis laterais para manter uma temperatura

interna ideal?

Questionamento sobre o movimento do satélite:

a- Descrever o movimento do satélite (trajetória, velocidade,

aceleração).

Nesta questão não é mencionado o referencial de estudo. A

discussão deve permitir esclarecer que é importante precisar o

referencial a fim de descrever o movimento (trajetória, velocidade).

b- Representar, por meio de um esquema, a Terra, o satélite e as

forças exercidas sobre ele.

Na representação das forças, é provável que alguns alunos

representem a força gravitacional exercida pela Terra sobre o

satélite e outra que corresponderia à pseudoforça centrífuga (Figura

4a). A ideia é que essa pseudoforça permite explicar o equilíbrio do

satélite sobre a órbita (ou, para dizer melhor, sua imobilidade no

referencial ligado ao satélite). De maneira implícita, a segunda lei de

Newton é aplicada no referencial considerado como não inercial e

ligado ao satélite.

Page 41: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

40

Figura 4- Representações das forças exercidas sobre o satélite e os

vetores velocidade e aceleração.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Torna-se necessário entender inicialmente que, no caso, o recurso à

pseudoforça centrífuga deve ser evitado. O movimento do satélite

pode ser estudado no referencial geocêntrico, considerado como

inercial. Assim, existe uma força, centrípeta (Figura 4b) e, portanto,

mesmo se o movimento é uniforme e a aceleração tangencial é nula,

o vetor aceleração não é nulo (Figura 4c).

c- O que é um satélite geoestacionário?

A definição de satélite geoestacionário dada no texto é imprecisa:

É uma espécie de cinturão com mais de 400 satélites cujas órbitas

acompanham a rotação da Terra. Por isso, o SGDC estará sempre no

mesmo ponto do céu para observadores na superfície, fornecendo

comunicação ininterrupta com o território brasileiro e o Oceano

Atlântico.

Podemos constatar que, nesta definição, não é indicado que a

trajetória deve se encontrar no plano do equador. O trabalho com os

alunos deverá permitir melhorá-la. Por isso, podemos usar o site de

rastreamento de satélites n2yo.com (http://www.n2yo.com/) e

visualizar a localização do satélite SGDC e outros satélites

(geoestacionários ou não): Para selecionar um satélite, ir até a

secção “Satellites on orbite”; para encontrar o SGDC. O mais

simples é usar a busca por país; dados sobre o satélite aparecem à

Page 42: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

41

direita do mapa (altitude, velocidade, entre outras); a linha do

equador não aparece no mapa; para isso, é necessário recuar (Figura

5):

Figura 5- Localização do Satelite SGDC com o site n2yo.com

Fonte: Captura de tela do site.

Outra opção é usar o site satflare.com, que oferece a possibilidade

de visualizar a trajetória em 3-D. Para isso, deve-se entrar o numero

NORAD do satélite (para o SGDC, este número é 42692).

Figura 6- Localização do Satélite SGDC com o satflare.c

Fonte: Captura de tela do site.

Page 43: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

42

d- Como posicionar o satélite na sua órbita geoestacionária?

Produzir um esquema.

O vídeo do lançamento do foguete Ariane 5 (mostrar no mapa onde

fica Kourou) e da colocação em órbita do satélite brasileiro SGDC

está disponível no site da Visiona:

http://www.visionaespacial.com.br/sgdc

O vídeo, em Inglês e Francês, retrata a missão em tempo real, tem

duração de uma hora. Por estas razões, o vídeo não é explorável em

sala de aula, mas ele oferece informações importantes: dois satélites

foram lançados nesta missão (VA 236), que consistiu em levar os

satélites à órbita de transferência geoestacionária. O melhor

entendimento do encaminhamento da missão nos permitiu produzir

um material de apoio para apresentar as etapas da colocação dos

dois satélites em órbita de transferência e a evolução da altitude em

função do tempo de missão (Figura 7):

Figura 7- Material de apoio para explicar a colocação em órbita

do satélite

Page 44: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

43

Fonte: Elaboradas pelos autores a partir das informações de arianespace.

Em seguida, o professor poderá estabelecer as expressões do valor

do período do movimento e da velocidade no referencial

geocêntrico, e propor a utilização dos dados da ficha técnica:

- Verificamos que os dados da ficha técnica estão de acordo com aos

valores que serão obtidos pelo cálculo (altitude de 35 786 km e

velocidade de 11066 km/h).

- Nos cálculos precedentes, o período T do movimento corresponde

ao dia sideral (23h56min4s = 86164 s) e não ao dia solar de 24h. É

importante preparar uma explicação da diferença entre os dois que

seja simples e convincente.

Page 45: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

44 Texto 2

A força elétrica

Page 46: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

45

O livro “Lições de Física”, de Feynman, Leighton e Sands, é fruto de

palestras que Feynman pronunciou para alunos de graduação do

Instituto de Física da Califórnia em 1962-1963. O extrato utilizado

apresenta a força elétrica sem formalismo matemático, com uma

linguagem acessível aos alunos do Ensino Médio.

Público-alvo

Utilizamos a edição francesa deste texto em 2008, com uma turma do

segundo ano do Ensino Médio na França para introduzir o estudo da

parte do conteúdo curricular dedicado às interações fundamentais do

Universo e à coesão da matéria. Ele poderia também ser utilizado no

Brasil com alunos do terceiro ano do Ensino Médio. A leitura do texto

Page 47: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

46

deve permitir refletir sobre as razões da coesão do núcleo, e as

condições de sua possível desintegração.

Suprimimos uma passagem do texto sobre os efeitos quânticos que

impedem o colapso do átomo:

[...] Se tentarmos confinar nossos elétrons numa região muito próxima dos

prótons, de acordo com o princípio da incerteza, estes elétrons adquiririam um

momento quadrático médio que aumentaria conforme tentássemos confiná-los

em uma região menor. É este movimento, exigido pelas leis da mecânica

quântica, que impede a atração elétrica de juntar ainda mais as cargas

(FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008).

Cortamos o texto no final para que ele não ficasse extenso demais e

para não perder de vista nosso objetivo. No entanto, a leitura do texto

na integra é útil para se ter uma visão geral das intenções dos autores, e,

também, por que ele traz precisões interessantes: por exemplo, sobre o

fato de considerar que a força elétrica possa ser descrita com a lei de

Coulomb, o que pressupõe que as cargas sejam imóveis.

Apresentamos, com alguns apontamentos, qual foi a nossa utilização do

texto e indica os acertos e erros dessa aplicação:

Leitura em casa e utilização da primeira parte do texto

- A primeira parte do texto foi distribuída duas semanas antes da aula

para que os estudantes pudessem ler e responder a uma série de

questões. Este trabalho foi devolvido pelos alunos uma semana antes da

aula para que o professor fizesse sua correção.

- O início da aula foi dedicado à correção das questões e a responder as

dúvidas dos alunos sobre o texto:

Page 48: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

47

Quadro 8 - Questões sobre a primeira parte do texto de Feynman

Fonte: Elaborado pelos autores.

Discussão

Várias perguntas consistem em uma extração de informações no texto.

Constatamos que, quando essas questões foram aplicadas, os alunos

responderam copiando trechos do texto suscetíveis de conter as

respostas. Outras questões envolviam cálculos, que podiam ser feitos

[A] Quem é o autor principal?

Escreva em poucas linhas (máx. 10) uma nota bibliográfica sobre Richard Feynman.

[B] Caraterísticas da força elétrica

1) Encontre no texto as semelhanças e as diferenças entre as forças gravitacionais e elétricas.

2) Como R. Feynman, Leighton e Sands explicam o fato de que a força elétrica não se

manifesta no nível macroscópico?

3) Como os autores interpretam a coesão dos sólidos? Com qual exemplo eles ilustram esta

coesão?

C] Comparação entre o valor da força elétrica e o valor da força gravitacional

1) Expresse como uma potência de 10 o quociente Fe/Fg, entre as forças gravitacionais e

elétricas dado por R. Feynman, Leighton e Sands

2) Considerando dois prótons separados por uma distância d:

a - Escrever a expressão literal do valor da força elétrica Fe, exercida sobre cada próton.

b - Escrever a expressão literal do valor da força gravitacional Fg exercida sobre cada próton.

c - Exprimir a relação Fe/Fg.

Dados: Cada próton possui uma massa mp = 1, 7.10-27 kg e uma carga elétrica e = 1,6. 10-19 C.

Constante gravitacional G = 6,67. 10-11 m3.kg - 1s -2; Constante elétrica k = 9.109 N.m2.C-2.

D] Erguer o “peso” da Terra inteira?

1) A massa de cada pessoa contada por R. Feynman é da ordem de 70 kg. A média da massa

atômica dos átomos constituindo o corpo humano é da ordem de10 g.mo1 – 1. Cada um destes

átomos contém, em média, 10 prótons. Avaliar o número de prótons contidos no corpo

humano, sabendo que a constante de Avogadro NA = 6,0.1023 mol – 1.

2) Assumindo que o corpo de cada pessoa possui um excedente em elétrons de um por cento

(1%), calcular o valor da carga elétrica de cada corpo.

(3) Avaliar o valor da força elétrica, considerando dois pontos carregados, com valores

calculados anteriormente e separados por 60 cm.

(4) Mostrar que é da mesma ordem de grandeza qual o valor da força seria necessário para

levantar a massa da terra, seu “peso”.

Dados: g = 10 N.kg-1 e a massa da Terra M = 6,1024 kg.

Page 49: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

48

quase sem ler o texto. A conclusão é que as atividades propostas não

incentivaram uma verdadeira leitura do texto.

Seria melhor pedir para os alunos produzirem um mapa conceitual a

partir do texto. Isso evitaria o fenômeno de copiar/colar e exigiria deles

relacionar os conceitos evocados no texto, buscando as relações entre

eles, mobilizando seus conhecimentos, e, portanto, compreendendo o

texto. Esse mapa poderia ser apresentado, comentado e completado em

sala de aula.

Do mesmo modo, pedir uma nota bibliográfica de Richard Feynman,

teve, por resultado, que os alunos copiaram textos encontrados na

internet. Seria mais interessante perguntar aos alunos como eles

avaliam a confiabilidade das informações trazidas. Justificar a resposta

implicaria buscar informações sobre o autor e o contexto de produção

do texto.

Leitura e utilização da segunda parte do texto

Estratégia de pré-leitura

- Pedimos aos alunos para fornecerem uma descrição da estrutura de

um átomo.

- Em seguida, para que avaliassem a idade dos átomos que constituem

seu próprio corpo.

Esse ponto abre uma discussão sobre a origem dos átomos, sobre as

modificações que eles são suscetíveis de sofrer ao nível de suas

camadas eletrônicas externas e do seu núcleo. Isso permite mobilizar

conhecimentos do primeiro ano: conceito de reação química, de

isótopo, de conservação dos elementos químicos, origem estelar dos

elementos a partir da fusão termonuclear, o que permite dizer que

Page 50: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

49

somos todos constituídos de poeira de estrela, segundo a imagem do

astrofísico francês Hubert Rives. A discussão envolve não apenas

conhecimentos científicos, mas, também para alguns alunos,

convicções religiosas, aspectos emocionais e existenciais. Portanto, sua

mediação demanda cuidado e delicadeza.

- Leitura individual da segunda parte do texto seguida de uma aula

dialógica.

Ao fazermos essa leitura em sala, um aluno propôs uma analogia

gravitacional com o sistema solar para tentar justificar a estabilidade do

átomo. Analogia, porém, que não dá conta da perda de energia por

radiação, levando, assim, a uma questão historicamente importante e

ligada ao desenvolvimento da física quântica (postulado de Bohr).

Essa segunda parte do texto de Feynman, Leighton e Sands apresenta

uma dificuldade: o nêutron aparece somente a partir do parágrafo 3, e

alguns alunos ficaram reclamando de que os autores, na hora de

descreverem o átomo no parágrafo 1, não citaram o nêutron. Isso

mostra que os alunos estabeleceram conexões entre o texto e seus

conhecimentos anteriores. O papel primordial do nêutron para explicar

a estabilidade do núcleo não aparece de maneira explícita. O único

núcleo estável que não possui nêutron é o . Já o núcleo de Hélio 2,

constituído de dois prótons, é extremamente instável. De mesmo

modo, Feynman, Leighton e Sands não indicam claramente que a força

nuclear é de natureza atrativa, mas, implicitamente, indicando que ela

“permite manter os prótons unidos, apesar da repulsão elétrica”.

A partir da leitura do fim do texto é possível identificar o conceito de

desintegração do núcleo e uma questão surge: qual deve ser o número

de nêutrons para que o núcleo seja estável?

Page 51: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

50

Uma atividade antecipadamente planejada pelo professor, com um

diagrama N-Z (Figura 8), permite mostrar que, para os núcleos até

Z=20, os núcleos estáveis se encontram principalmente na bissetriz de

equação Z = N, e que, para os valores superiores do número de próton

Z, o número de nêutrons deve ser superior (N>Z), ou seja, os núcleos

estáveis se encontram em cima da bissetriz:

Figura 8- Diagrama N-Z

Fonte: Arquivo dos autores.

A curva da Figura 9, que representa a variação de

(El energia de

ligação e A número de núcleos), é chamada de curva de Aston.

Ela foi utilizada para mostrar que durante uma reação nuclear, os

núcleos formados estão em posição mais baixa na curva que os núcleos

de partida, pois seus núcleos estão ligados mais fortemente.

Page 52: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

51

Figura 9 - Curva de Aston

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para as estrelas entre 8 e 25 vezes a massa solar, o processo de fusão

nuclear vai terminar quando ele chegue ao Ferro 56 porque a energia de

ligação desse núcleo é a mais alta. A estrela entra em colapso, sob o

efeito de seu próprio peso, em uma explosão chamada de supernova,

antes de formar uma estrela de nêutrons.

A natureza aleatória e os diferentes modos de desintegrações do núcleo

e a lei de decaimento são assuntos que podem ser abordados nas aulas

seguintes.

Page 53: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

52 Texto 3

Energia nuclear no cenário pós-Fukushima

Page 54: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

53

Page 55: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

54

Seleção do texto e preparação

Queremos ressaltar o interesse em fomentar discussões sobre temas

com foco em Ciência Tecnologia Sociedade e Ambiente (CTSA), a

partir de uma situação vivenciada pelos estudantes ou acerca do tema

de controvérsias sócio-científicas. A leitura de TDC pode iniciar ou

alimentar esse tipo de abordagem e ter, como objetivo, favorecer uma

visão dos conhecimentos científicos como não estáticos, mas sujeitos a

debates e mudanças. Também promover a ideia que discutir sobre estas

questões não pode se resumir a um único discurso científico,

meramente técnico e supostamente neutro.

A reportagem “Energia nuclear no cenário pós-Fukushima”, da

jornalista Sarah Schmidt, foi publicada na revista eletrônica

“ComCiência” no endereço:

http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=

116&id=1398

Trata-se de um texto de quatro páginas cuja primeira metade

contextualiza a reportagem a partir da retomada do programa nuclear

no Japão, em agosto de 2015, quatro anos após o acidente em

Fukushima. A autora descreve as circunstâncias do acidente e suas

consequências sobre o programa nuclear do Japão e de outros países.

Para evitar trabalhar com um texto muito extenso, propomos oferecer

para leitura em sala de aula somente a segunda metade da reportagem

que pode ser dividida em duas partes: 1) Descrição do funcionamento

de uma usina nuclear de produção de eletricidade; 2) Apresentação de

argumentos em favor ou em desfavor da utilização da energia nuclear

para produzir eletricidade.

Page 56: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

55

Público-alvo

Alunos do 3ª ano do Ensino Médio. A utilização deste texto pode ser

feita após apresentação conceitual sobre a radioatividade, as reações

nucleares e cálculos de energia liberada a partir da perda de massa.

Uma proposta de utilização

Apresentamos uma utilização possível do texto em quatro aulas.

Aula 1: Leitura da segunda parte do texto: prós e contras

Estratégia de pré-leitura

Dividir a turma em grupos de quatro ou cinco alunos e apresentar a

situação seguinte:

No fim dos anos 1970, existia um projeto de implantação de uma usina

nuclear de produção elétrica no norte do Espírito Santo, no município

de Aracruz. O projeto foi abandonado, mas ainda recentemente, a

possibilidade de implantação desse tipo de usina no mesmo estado foi

evocada na imprensa. Quais argumentos vocês poderiam dar para

defender a implantação dessa usina nuclear? Quais argumentos vocês

poderiam dar para opor-se à implantação da usina?

Durante a fase de discussão, o professor circula entre os grupos e pode

prestar mais atenção às contribuições dos alunos, fazer um primeiro

levantamento dos conhecimentos prévios sobre o tema, mas deve evitar

intervir e orientar os trabalhos. Essa fase de debates nos grupos é

seguida de uma discussão coletiva moderada pelo professor, mas

alimentada pelas próprias interrogações e questionamentos

compartilhados entre grupos. Nesta fase do trabalho, a mediação do

professor é importante para problematizar o questionamento inicial e

relacionar o tema abordado com o conhecimento da Física.

Page 57: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

56

Essa fase pré-leitura pode permitir iniciar um debate sobre a utilização

da energia nuclear para a produção de eletricidade considerando seus

impactos sociais e ambientais, evidenciando que, para discutir sobre

este assunto, é necessário considerar as dimensões política, econômica,

cultural e histórica do tema sócio-científico. Ela deve permitir, também,

evidenciar que o assunto não é simples, nem consensual.

Durante a fase coletiva, pedir aos alunos para anotarem os argumentos

apresentados em duas colunas: prós e contras a implantação da usina.

Estratégia de leitura

Os alunos trabalham de novo em grupos de 4 ou 5 e utilizam a

Estratégia Falar de sua leitura. Eles podem, assim, acrescentar a lista

de argumentos em favor ou em desfavor da implantação da usina

nuclear.

Pós-leitura

Em uma fase de discussão coletiva, fazer um levantamento de

questionamentos dos alunos sobre o tema da produção de eletricidade

em usina nuclear pode ser interessante.

Preparação dos seminários que serão apresentados durantes as aulas 3 e

4: Você vai elaborar como seu grupo um seminário de 15 minutos (10

de apresentação e 5 de perguntas) sobre um dos temas apresentados

abaixo. Você pode criar alguns slides ou um pôster para auxiliar sua

apresentação.

Temas propostos

Se possível, usar as perguntas feitas durante a primeira aula. A seguir,

algumas ideias de temas:

Page 58: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

57

1) Qual é o número de usinas nucleares no mundo e no Brasil? Qual é

a contribuição destas usinas nucleares na produção elétrica no

mundo e no Brasil? O que isso representa no consumo total de

energia?

2) As usinas nucleares ajudam a lutar contra o aquecimento global?

Como?

3) De onde vem o combustível utilizado nas usinas nucleares? Qual é

o impacto social, geopolítico e ambiental da sua mineração e do seu

processo de enriquecimento em Urânio 235?

4) Quais são os riscos ligados ao funcionamento de uma usina

nuclear? Já aconteceu algum acidente no mundo? Quais foram os

efeitos sobre a saúde humana e o meio ambiente?

5) O que fazer com os lixos gerados pela exploração das usinas?

6) Qual tipo de controle o Estado exerce sobre o planejamento, a

construção e a gestão das usinas nucleares? (Quem autoriza a

construção? Quem financia a construção? Quem fiscaliza o bom

funcionamento das instalações? Quem é responsável pela gestão

das usinas? O funcionamento da usina dá lucro? Na afirmativa,

quem se apropria deste lucro?).

Aula 2: Leitura da primeira parte do texto: Mas, como funciona

uma usina?

Estratégia de pré-leitura

Durante a aula 1, entre outras coisas, emergiu da discussão a

necessidade de entender melhor o funcionamento da usina.

Page 59: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

58

Ampliar seu vocabulário:

Quadro 8- utilização da estratégia “Ampliar seu vocabulário”

Palavras Definição em

contexto

Outras informações

associadas (símbolo;

unidade; equação)

Exemplos

Reação nuclear

Núcleo

Turbina

Urânio 235

Reator

Calor

Gerador

Bomba

Nêutron

Fonte: Elaborado pelos autores.

Estratégia de leitura

Os alunos completam o quadro com as palavras-chaves e

desconhecidas encontradas no texto (como, por exemplo, Yellowcake,

redundantes).

As palavras “núcleo” e “bombas” necessitam de uma atenção particular

do leitor por conta da sua natureza polissêmica.

Estratégia pós-leitura

A partir do texto, pedir aos alunos conceber em grupo de 4 um esquema

explicativo do funcionamento da usina nuclear de produção elétrica. O

trabalho de interpretação do texto e de mudança de registro (passar do

texto para o esquema) é difícil para os alunos, pois impõe formar

imagens mentais de o que o texto descreve. Em vez de esquema, a

produção de um mapa conceitual a partir da questão focal “como

produzir eletricidade numa usina nuclear?” poderia atingir o mesmo

resultado.

Page 60: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

59

Os esquemas dos grupos são, então, socializados, o que permite um

aprofundamento da interpretação do texto.

Apresentamos, na Figura 10, uma proposta de esquema. O circuito

terceiro que não é mencionado no texto foi incluído. O esquema

poderia ser completado colocando um pressurizador no circuito

primário e um transformador para elevar a tensão elétrica ao sair do

alternador.

Figura 10- Esquema do funcionamento de uma usina nuclear

Fonte: Elaborada pelos autores.

Além disso, este momento de socialização oferece a oportunidade de os

alunos terem um olhar crítico sobre as informações trazidas nele. Por

exemplo, mesmo se a jornalista usa a fala de um cientista, a descrição

do funcionamento fica incompleta, pois não menciona a existência de

um terceiro “circuito” que, à diferença dos dois outros, é aberto. Ora,

para a discussão sobre os possíveis impactos ambientais da usina, esse

ponto é muito importante.

Page 61: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

60

U235

92 n1

0 Sr94

38 Xe140

54 2 n1

0

U235

92 n1

0 Br85

35 La148

57 3 n1

0

Outro ponto de destaque diz respeito à redação, que é, às vezes,

confusa ou conceitualmente discutível. Por exemplo, o texto insiste em

falar de produção ou de geração de energia, porém, em vez disso, seria

preferível falar em transformação de energia.

Portanto, faz-se necessário retomar a parte conceitual sobre as reações

nucleares de fissão. O fenômeno da fissão foi observado pela primeira

vez em 1938 após o bombardeio de uma amostra de metal de urânio

por nêutrons. A fissão do isótopo 235 do urânio leva a produtos muito

diversos, e os núcleos formados nem sempre são os mesmos, como

demonstrado abaixo:

Se todos os nêutrons liberados são eficazes, (quer dizer, provocam a

fissão de outros núcleos de urânio 235), como vai evoluir no tempo, o

número de fissões?

Isso deve possibilitar evocar o conceito de reação em cadeia e o papel

das barras de controle. Pode ser útil precisar que os nêutrons devem ser

“lentos” para ser eficazes (papel do moderador não evocado pelo texto)

e também que uma parte dos nêutrons é suscetível de ser capturada

pelos núcleos de urânio 238 (neste caso não vai sofrer uma fissão, mas

se transformar, por decaimento β, em Neptúnio 239 e, depois, em

Plutônio 239, que é físsil).

Isso permite entender melhor, também, a necessidade do processo de

enriquecimento para, partindo da proporção de 99,3% em isótopo 238 e

apenas 0,7 % em isótopo 235, obter uma proporção de 3% em urânio

Page 62: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

61

235. Isso abre a questão da origem geográfica do urânio, do local de

sua transformação (existe esse setor de mineração no Brasil?).

Aulas 3 e 4: Seminários

Os seminários serão apresentados durante duas aulas.

- É indispensável que o professor faça seu próprio trabalho de pesquisa

e de síntese sobre cada um dos temas propostos para poder moderar os

debates durante a apresentação dos seminários.

- É importante, também, dar um retorno para os alunos sobre a

qualidade das apresentações tanto sobre a forma quanto sobre o

conteúdo. É útil conceber e dar, com antecedência, orientações sobre a

apresentação e os critérios de avaliação.

Atividade de síntese

Como atividade de síntese, os alunos entregarão uma produção escrita

que poderia ser uma curta redação individual para explicar porque eles

são favoráveis ou desfavoráveis à implantação de uma usina nuclear no

Espírito Santo?

Page 63: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

62 Texto 4

A decomposição da luz

Page 64: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

63

Page 65: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

64

Seleção do texto e preparação

Neste exemplo, queremos apresentar algumas considerações sobre a

utilização de TDC abordando a história das ciências. Matthews (1995)

ressalta as possíveis contribuições da história e da filosofia da ciência

para desenvolver uma capacidade mais profunda e crítica de ler e

compreender a ciência em seus diversos contextos: ético, social,

histórico, filosófico e técnico. Além de humanizar o ensino de ciências

e motivar os alunos, isso pode contribuir a: uma melhor compreensão

dos conceitos por traçar seu desenvolvimento e aperfeiçoamento;

abordar questões sobre a produção e validação desse conhecimento

mostrando que necessita de um diálogo entre teoria e observação, teoria

e experimentação e envolve debate, confrontação de ideias.

Portanto, essa abordagem não pode se resumir em uma apresentação

linear e positivista e consistir em enfatizar algumas figuras de cientistas

e a apresentação de anedotas ou lendas difundidas de geração em

geração.

O Texto de Divulgação Científica utilizado é extraído da edição 7 de

Gênios da Ciência intitulado “Newton, o pai da física moderna” e que

foi reeditada em 2012 pela “Scientific American Brasil”. É uma

publicação de 100 páginas, ricas em ilustrações cujo editorial precisa

que os artigos foram elaborados por Níccoló Guicciardini, professor

associado de história das ciências do Departamento de Filosofia e

Ciências Sociais da Universidade de Siena (Itália).

O título da publicação contribui para reproduzir a representação social

muito difundida do cientista como um gênio, um ser de exceção, que de

uma fulgurante intuição muda o jogo. No entanto, o conteúdo vale mais

que o título, trazendo elementos interessantes sobre o contexto social,

político e cultural assim como sobre a intensa vida científica da época.

Page 66: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

65

Figura 11- Capa da revista

Fonte: Coleção dos autores.

Utilizamos dois extratos do artigo da “Scientific American Brasil” e um

da tradução comentada de Silva e Martins (1996) da carta de Newton

de 1672, publicada na “Philosophical Translation of the Royal Society

of London”.

Público-alvo

O público-alvo é constituído de alunos do 2º ano do Ensino Médio,

após o estudo dos fenômenos de reflexão e de refração.

Quando se pretende fazer uma abordagem histórica, recomendamos

consultar e, se possível, utilizar os textos ou parte deles escritos

pelos cientistas envolvidos no assunto.

Page 67: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

66

Uma proposta de utilização

Leitura individual do texto 1:

Estratégia de pré-leitura: Prever o que vou ler.

A partir do título e de palavras encontradas no texto (Quadro 9), os

alunos devem escrever uma predição do conteúdo.

Quadro 9- Aplicação da estratégia para o texto 1

Título do texto A decomposição da luz

Palavras encontradas no

texto

Newton, prisma, luz, cor

Minha predição sobre o

conteúdo do texto

Fonte: Elaborado pelos autores.

É possível que os alunos não saibam o que é um prisma. Mostrar para a

turma um exemplar de um prisma. A palavra prisma vem do Grego

prisma, querendo dizer “algo serrado”. Vem do verbo grego prizein,

“serrar”.

Outra estratégia possível: questionamento-contextualização

Perguntar aos alunos se eles têm uma explicação para o fenômeno do

arco-íris e se eles conhecem outros fenômenos similares.

Estratégia de leitura: Anotar a ideia principal dos parágrafos

Os alunos fazem uma leitura individual do texto e, para cada elemento

que estrutura o texto (imagem, parágrafos), dão a ideia principal e

escrevem anotações para destacar as palavras-chaves.

Page 68: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

67

Como indica a legenda da figura 12, essa se trata de uma gravura do

século XIX e diz respeito à imagem utilizada para ilustrar como

Newton fez a sua experimentação com o prisma.

Figura 12- Gravura utilizada no TDC

Fonte: Scientific American Brasil (2012, p.26).

Primeiramente, então, trata-se de um documento bem posterior à

realização da experiência, e diz respeito a uma idealização construída

com uma intenção didática. Todos os elementos estão lá: o buraco na

janela que deixa entrar um raio de luz branca, o prisma, com o Newton

pensando, a luz dispersada pelo prisma, o espectro. A legenda indica

que se trata “da famosa experiência do prisma de Newton, que define

que a luz branca é composta de um conjunto de raios coloridos”. Para

apoiar esta afirmação, estão representados na mesa, os instrumentos

que permitem realizar experimentos como a inversão da dispersão da

luz, quer sejam: o disco de Newton e uma lente convergente (Figura

13):

Page 69: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

68

Figura 13- Detalhe da gravura: o disco de Newton e a lente convergente

Fonte: Scientific American Brasil (2012, p.26).

O editor da revista coloriu a gravura, sem mencionar este fato, para

mostrar as “sete cores” supostamente presentes no Espectro e que

seriam, também, presentes no arco-íris: vermelho, laranja, amarelo,

verde, azul, índigo e violeta (Figura 14):

Figura 14- Detalhe da gravura: as cores no espectro

Fonte: Scientific American Brasil (2012, p.26).

Em um artigo, Martins (1998) faz uma análise crítica do livro “A dança

do universo: dos mitos de criação ao big-bang” de Gleiser,

posicionando a atenção sobre dois equívocos:

O primeiro diz respeito à distinção entre azul e índigo é artificial, pois,

na verdade, ninguém vê a diferença, e foi inventada por Newton para

ter “sete cores” e fazer uma analogia musical. No entanto, mesmo sem

conseguirem ver o índigo, estudantes doutrinados aceitam

passivamente as sete cores.

Page 70: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

69

O segundo diz respeito ao fato de que não tem sete cores, mas, uma

infinidade de cores (percepção de uma infinidade de ondas

monocromáticas) que foram agrupadas por grupos de cores

semelhantes, delimitados arbitrariamente.

Como para os textos a leitura e a interpretação de imagens são

múltiplas e dependem das leituras e conhecimentos anteriores do leitor,

faz-se necessário mobilizar esta ação com criatividade. Para ilustrar

esta afirmação, queremos apresentar, de forma simplificada, uma das

nossas interpretações dessa gravura.

A gravura utilizada no texto, por sua composição, nos evoca às pinturas

do início do renascimento representando a Anunciação, cujo um

exemplo é dado por uma obra de Fra Angélico (Figura 15)

Figura 15- Anunciação de FraAngélico (1425-1428)

Fonte: Museo del Prado (2017).

Nesta imagem, podemos destacar as figuras do Arcanjo Gabriel e da

Virgem Maria e, no meio, uma coluna que materializa a presença

Page 71: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

70

divina, Deus pai. Anunciação da chegada de Jesus e de uma era nova,

promessa de salvação para a humanidade (ver a esquerda da imagem a

expulsão de Adão e Eva do jardim do Éden).

Na gravura representando Newton, ele ocupa (com o prisma e seu

suporte) o lugar central daquela coluna e de Deus; o Espectro da luz

branca tem o papel do Arcanjo anunciando à personagem à direita (uma

anônima, leiga e virgem de conhecimento científico) uma era nova, o

progresso como salvação da humanidade.

Trata-se de uma interpretação pessoal, mas, ela vai em direção da

afirmação de Bensaude-Vincent (2010), segundo a qual a Divulgação

Científica participou, no século XIX, de um processo de sacralização

da ciência.

No texto original da notícia, palavras necessitam certo trabalho para

compartilhar o sentido delas por meio de elementos de etimologia:

Prisma; óptica, éter, dióptrica, impulsão, vibração, tremor. Outras,

como “refletida” e “refratada”, permitem ativar conhecimentos de ótica

contemplados durantes aulas anteriores.

Também os nomes de cientistas (Newton, Descartes, Charleton, Boyle,

Hooke) e de lugar (Sturbridge) citados no texto são convites para um

trabalho necessário de contextualização. Vale lembrar, por exemplo,

que os anos 1665-1666 foram marcados pela Grande Peste em Londres.

Considerando o número elevado de palavras do texto que necessitam de

um trabalho, a estratégia “Ampliar seu vocabulário” poderia ser

utilizada durante o estudo desse texto.

Estratégia pós-leitura

Questionamento e produção de um esquema explicativo.

Page 72: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

71

O objetivo dessa leitura é mostrar que Newton não foi o único nem o

primeiro a ter se interessado pelo fenômeno. Por exemplo, a luz é

concebida por Descartes na forma de corpúsculos que entram em

rotação quando atravessam o prisma (concepção “modificacionista”).

Mostrar um prisma aos alunos e pedir para os alunos:

- Segundo Descartes, de que é constituída a luz?

- Fazer um esquema para mostrar como Descartes interpretou o que

acontece quando a luz branca atravessa o prisma.

A socialização das produções dos alunos permite uma discussão e um

aprofundamento da compreensão dos terceiro e quarto parágrafos do

texto. Um dos aspectos interessantes do terceiro parágrafo é a distinção

entre o fenômeno físico (rotação de partículas) e a percepção que nós

podemos ter (impressão de cor).

O fim do texto indica que existem duas concepções sobre a natureza da

luz: corpuscular e ondulatória. A leitura do texto 3 será uma momento

para aprofundar esse aspecto.

Leitura individual do primeiro parágrafo do Texto 2:

Estratégia de pós-leitura

Realização da experiência de dispersão da luz por um prisma pelo

professor.

Pode ser realizada utilizando, como fonte de luz, um retroprojetor ou

um projetor de diapositivo. Mostrar primeiro o resultado delimitando o

feixe com uma abertura circular e depois como uma fenda, que permite

um resultado melhor.

Page 73: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

72

Cada aluno produz uma escrita (inclusive esquema) a partir de suas

observações.

Socialização das observações dos alunos: qual é a cor que tem o

maior desvio? Há mesmo “setes cores”? E no arco-íris (projetar uma

foto) tem mesmo as sete cores?

Discussão sobre uma possível interpretação do fenômeno. Podem

emergir questões como: Qual é a origem das cores observadas no

espectro? Elas são presentes na luz branca ou são criadas pelo prisma?

O que acontece no prisma? Qual é o percurso da luz no prisma?

(fenômeno de refração)? Também pode ser considerada a hipótese

sobre a função da espessura do vidro atravessado.

Pode ser proposto tentar reunir de novo os feixes coloridos. Nesse

caso, os alunos deveriam poder sugerir usar uma lente convergente.

Fazer o experimento e pedir aos alunos para verificarem se isso está de

acordo com a interpretação de Descartes.

Leitura da segunda parte do Texto 2 (Figura e sua legenda)

Estratégia de pré-leitura: Contextualização

A forma oblonga obtida na experiência anterior foi chamada de

Spectrum (Espectro em latim) por Newton. A tentativa para encontrar

uma explicação das proporções desse espectro e da origem das cores

levou Newton a formular várias hipóteses antes de conceber o que ele

chamou de experiência crucial (Esperimemtum cruxis). Assim,

contrariamente ao que sugere o artigo da “Scientific American Brasil”,

não se tratou somente de ter uma intuição genial:

Ele [Newton] consegue assim formar o espectro luminoso: recolhe uma

imagem não circular, mas alongada, e põe em evidência o conjunto de cores do

Page 74: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

73

arco-íris. Naquele momento, Newton teve, sem dúvida, a intuição de que as

cores não são modificações da luz branca, mas ao contrário, elas a compõem:

o prisma não modificaria a luz branca, ele só desvelaria seus componentes

(SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, 2012, p. 27).

Estratégia de leitura

Pode-se sugerir para os alunos identificar sobre a figura, elementos

citados na legenda.

Estratégia pós-leitura

Realizar a experiência.

Se você não dispõe de um segundo prisma, você pode trabalhar com

um só, e trocar a fonte de luz branca por uma fonte de luz de cor, seja

colocando um filtro colorido, seja usando um feixe de laser verde ou

vermelho (pode-se encontrar laser de baixo custo). Mostrar, então, que

a luz não é aparentemente decomposta pelo prisma, mas, que ela tem

um desvio.

Pedir aos alunos para escreverem uma conclusão.

Se essa experiência permitiu a Newton contestar as teorias de que a luz

branca é pura e as cores provêm de sua modificação, ela é insuficiente

para concluir alguma coisa quanto à natureza corpuscular ou não da

luz.

Contrariamente à apresentação feita no cotidiano escolar ensino de

ciências, a teoria das cores de Newton é um assunto complicado: ela

faz intervir a percepção, e também, no decorrer das explicações, nos

leva a utilizar e misturar as teorias corpuscular e ondulatória.

Assim, Newton convencido da natureza corpuscular da luz, estabelece

uma relação entre refração e velocidade, mas tratava-se de teoria e não

de medidas experimentais. Martins (1998), na sua análise do livro de

Page 75: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

74

Gleiser, aponta sobre a não concordância nesse ponto entre a teoria

corpuscular e a teoria ondulatória. Precisamos, então ter cuidado para

não misturar as duas teorias, tentando usar uma para justificar a outra.

Leitura individual do texto 3:

O objetivo dessa leitura é fomentar uma reflexão e uma discussão

acerca das condições de construção e de validação do conhecimento

científico, mostrando, em particular, que a ciência não é uma atividade

individual, mas, social, e, ao mesmo tempo, contribuir para se afastar

da imagem de uma comunidade científica que seria toda colaborativa,

neutra e desinteressada.

Depois de uma leitura individual do texto, uma discussão pode ser

alimentada pelas questões dos alunos e as perguntas do professor

poderão ressaltar, entre outras, a controvérsia entre Huyguens e

Newton sobre a natureza da luz e que ela não é esgotada (dualidade

onda- corpúsculo).

Se possível, mostrar um fenômeno de interferência ou de difração.

A afirmação de Huyguens sobre a “desigual refractabilidade” poderá

ser explorada ulteriormente no quadro da teoria ondulatória para

determinar o caminho de um raio considerando as leis da refração e a

variabilidade do indício de refração em função do comprimento da

onda da radiação.

Também, outra possibilidade é os alunos formados em grupos de

quatro poderem refletir e debater sobre em quais condições um

conhecimento pode ser considerado científico.

Page 76: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

75

REFERÊNCIAS

AUSUBEL, D. F. ; NOVAK, J.; HANESIAN, H. Psicologia

Educacional. Rio de Janeiro: Editora Interamericana, 1980.

BENSAUDE-VINCENT, Bernadette. Splendeur et décadence de la

vulgarisation scientifique. Questions de communication, n.17, 2010.

Disponível em: <http://questionsdecommunication.revue.org/368>.

Acesso em: 24 jan. 2016.

BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo científico: conceito e funções.

Ciência e cultura, v. 37, n. 9, p.1429-1427, 1985. Disponível em:

<http://biopibid.ccb.ufsc.br/files/2013/12/Jornalismo-

cient%C3%ADfico-conceito-e-fun%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso

em: 29 jan. 2016.

EINSTEIN, Albert; INFELD, Leopold. A Evolução da Física. Lisboa:

Edição livros do Brasil, s.d. Disponível em:

<https://pt.scribd.com/document/114884035/A-Evolucao-Da-Fisica-

Einstein-A-Infeld-L>. Acesso em: 12 jun. 2017.

FEYNMAN, Richard; LEIGHTON, Robert; SANDS, Matthew. Lições

de física: v. II. Porto Alegre: Bookman, 2008.

FREIRE Considerações em torno do ato de estudar. In: FREIRE, Ação

cultural para a liberdade e outros escritos. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz

e Terra, p. 8-11, 1981.

GOMES, Verenna Barbosa; SILVA, Roberto Ribeiro da; SOUZA,

Amanda Karla S. Uma Investigação sobre o uso de um texto de

divulgação científica no ensino de radioatividade no nível médio. In:

ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM

CIÊNCIAS, 11, 2017, Florianópolis. Anais… Belo Horizonte:

ABRAPEC, 2017. Disponível em:

Page 77: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

76

<http://www.abrapecnet.org.br/enpec/xi-enpec/anais/resumos/R0940-

1.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2017.

HART, Yvette Strandell. Reading Strategies in a High School

Science Classroom. 90 f. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação).

Montana State University, Bozeman, 2012. Disponível em :

<https://scholarworks.montana.edu/xmlui/bitstream/handle/1/1438/Hart

Y0812.pdf?sequence=1>. Acesso em: 10 nov. 2017.

JACOBI, Daniel; SCHIELE Bernard; CYR Marie-France. La

vulgarisation scientifique et l’éducation non formelle. Revue

Française de Pédagogie, n. 91, p. 81-111, 1990. Disponível em:

<http://www.persee.fr/doc/rfp_0556-7807_1990_num_91_1_1390>.

Acesso em: 22 set. 2016.

MARTINS, R. A. Como distorcer a Física: considerações sobre um

exemplo de divulgação científica. 1: física clássica. Caderno

Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v. 15, n. 3, p. 243-

264, 1998. Disponível em:

<https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5165983.pdf>. Acesso em:

05 set. 2017.

MATTHEWS, Michael R. História, filosofia e ensino de ciências: a

tendência atual de reaproximação. Caderno Brasileiro de Ensino de

Física, Florianópolis, v. 12, n. 3, p. 164-214, jan. 1995. Disponível em:

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/7084>. Acesso

em: 28 maio 2017.

MUSEO DEL PRADO. Colección. Disponível em:

<https://www.museodelprado.es/coleccion>. Acesso em: 13 dez. 2017.

NORRIS, Stephen P.; PHILLIPS, Linda M. How Literacy in Its

Fundamental Sense Is Central to Scientific Literacy. Science

Education, v. 87, n. 2, p. 224-240, 2003. Disponível em:

<http://dx.doi.org/ 10.1002/sce.10066>. Acesso em: 23 nov. 2016.

Page 78: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula

77

NOVAK, Joseph D.; CAÑAS, Alberto J. A teoria subjacente aos mapas

conceituais e como elaborá-los e usá-los. Práxis Educativa, Ponta

Grossa, v. 5, n. 1, p. 9-29, 2010. Disponível em:

<http://cmap.ihmc.us/docs/pdf/teoriasubjacenteaosmapasconceituais.pd

f>. Acesso em: 2 nov. 2017.

ROCHA, Marcelo Borges. O potencial didático dos textos de

divulgação científica segundo professores de ciências. Revista

Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia. Ponta Grossa: UFTPR,

v. 5, n. 2, p. 47- 68, 2012. Disponível em:

<https://periodicos.utfpr.edu.br/rbect/article/view/1263/847>. Acesso

em: 23 set. 2015.

SALÈM, Sónia; KAWAMURA, Maria Regina. O texto de divulgação e

o texto didático: conhecimentos diferentes? In: ENCONTRO DE

PESQUISADORES EM ENSINO DE FÍSICA, 5. Belo Horizonte.

Atas… Belo Horizonte: Sociedade Brasileira de Física. p. 588- 598,

1996.

SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos. Educação científica na

perspectiva de letramento como prática social: funções, princípios e

desafios. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 12, n. 36,

p. 474-550, 2007. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v12n36/a07v1236.pdf>. Acesso em:

10 abr. 2017.

SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL. Newton, o pai da física

Moderna. Gênios da Ciência, n.7. 2.ed. São Paulo: Duetto, 2012.

SILVA, Cibelle Celestino; MARTINS, Roberto de Andrade. A Nova

teoria sobre luz e cores de Isaac Newton: uma tradução comentada.

Revista Brasileira de Ensino de Física, v.18, n.4, p.313-327, 1996.

Disponível em: <http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/v18a33.pdf>.

Acesso em: 10 set. 2017.

Page 79: Instituto Federal do Espírito Santo CIÊNCIAS EMATEMÁTICA ...€¦ · escola, que não é didático, e que, utilizando uma linguagem acessível e ... Científica em sala de aula