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Interacção entre instabilidade local-de-placa e distorcional em colunas de aço enformadas a frio de secção em Z Carlos Eduardo Aniceto de Serra Barreta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Prof. Fernando Manuel Fernandes Simões Orientadores: Prof. Pedro Manuel de Castro Borges Dinis Prof. Dinar Reis Zamith Camotim Vogal: Prof. João Carlos Gomes Rocha de Almeida Junho de 2011

INTERACÇÃO ENTRE MODOS DE INSTABILIDADE · Resumo Apresentam-se e discutem-se os resultados de um estudo sobre o comportamento de pós-encurvadura, em regime elástico e elasto-plástico,

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Interacção entre instabilidade local-de-placa e distorcional

em colunas de aço enformadas a frio de secção em Z

Carlos Eduardo Aniceto de Serra Barreta

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil

Júri Presidente: Prof. Fernando Manuel Fernandes Simões

Orientadores: Prof. Pedro Manuel de Castro Borges Dinis Prof. Dinar Reis Zamith Camotim

Vogal: Prof. João Carlos Gomes Rocha de Almeida

Junho de 2011

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Resumo

Apresentam-se e discutem-se os resultados de um estudo sobre o comportamento de pós-

encurvadura, em regime elástico e elasto-plástico, de perfis de aço enformados a frio com

secção em Z, quando afectados por fenómenos de interacção entre modos de instabilidade

local-de-placa e distorcional. As análises geometrica e fisicamente não lineares são efectuadas

através do método dos elementos finitos, utilizando o programa ABAQUS e adoptando

elementos de casca para discretizar os perfis. As colunas analisadas (i) exibem secções

extremas articuladas (local e globalmente) e com empenamento livre, (ii) têm secções

transversais com dimensões que asseguram tensões críticas local-de-placa e distorcional com o

mesmo valor, e (iii) contém imperfeições geométricas com várias configurações (combinações

lineares dos modos local-de-placa e distorcional) e uma amplitude comum. Os resultados

numéricos apresentados consistem em (i) trajectórias de pós-encurvadura elásticas e elasto-

plásticas, (ii) curvas que descrevem o modo como a configuração deformada da coluna evolui

ao longo das trajectórias elásticas e (iii) figuras que mostram a evolução da deformação

plástica e as características do modo de colapso das colunas elasto-plásticas.

Palavras-chave

Colunas de aço enformadas a frio de secção em Z

Instabilidade local-de-placa e distorcional

Interacção modal

Pós-encurvadura elástica e elasto-plástica

Método dos elementos finitos

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Abstract

One presents and discuss the results of a study on the behavior of post-buckling in elastic and

elastic-plastic, steel cold formed Z-section affected by phenomena of interaction between

local-plate/distortional buckling modes. All geometric and physically nonlinear analysis are

carried out by finite element method using the program ABAQUS and adopting shell elements

to discretize the columns. The analyzed columns (i) exhibit extreme articulated sections

(locally and globally) and are warp free, (ii) have cross sections with dimensions that provide

similar local-plate/distortional stress values (iii) contains geometric imperfections with various

configurations (linear combinations of local-plate/distortional modes) and a common

amplitude. The numerical results consist of (i) elastic and elastic-plastic post-buckling

trajectories, (ii) curves that describe how the deformed configuration of the column evolves

along the elastic trajectories and (iii) figures showing the plastic deformation evolution and the

elastic-plastic columns collapse mode characteristics.

Keywords

Cold formed steel Z-section columns

Local-plate and distortional buckling

Mode interaction

Elastic and elastic-plastic post-buckling

Finite element method

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I

ÍNDICE Índice de Figuras.............................................................................................................................................................................III

Índice de Tabelas .......................................................................................................................................................................... VII

CAPÍTULO 1 ....................................................................................................................................................................................1

INTRODUÇÃO

1.1. Considerações gerais ........................................................................................................................................................1

1.2. Motivação e âmbito do trabalho .....................................................................................................................................4

1.3. Organização do trabalho ..................................................................................................................................................6

CAPÍTULO 2 ....................................................................................................................................................................................9

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

2.1. Introdução ..........................................................................................................................................................................9

2.2. Conceitos básicos..............................................................................................................................................................9

2.3. Análises de estabilidade.................................................................................................................................................14

2.4. Estabilidade de perfis metálicos de parede fina .........................................................................................................16

2.4.1. Instabilidade global e local............................................................................................................................................16

2.4.2. Interacção entre modos de instabilidade .....................................................................................................................20

2.5. Métodos de análise .........................................................................................................................................................22

CAPÍTULO 3 ..................................................................................................................................................................................25

MODELAÇÃO POR ELEMENTOS FINITOS

3.1. Introdução ........................................................................................................................................................................25

3.2. Discretização do perfil ...................................................................................................................................................25

3.2.1. Escolha do elemento finito ............................................................................................................................................26

3.2.2. Definição da malha .........................................................................................................................................................29

3.3. Condições de apoio.........................................................................................................................................................29

3.4. Carregamento ..................................................................................................................................................................32

3.5. Imperfeições iniciais .......................................................................................................................................................34

3.6. Modelação do material...................................................................................................................................................35

3.7. Técnicas de resolução numérica ...................................................................................................................................37

3.8. Exemplos de validação ..................................................................................................................................................38

3.8.1. Análise linear de estabilidade .......................................................................................................................................39

3.8.2. Análise de pós-encurvadura ..........................................................................................................................................40

CAPÍTULO 4 ..................................................................................................................................................................................43

ANÁLISE DE PÓS-ENCURVADURA COM INTERACÇÃO MODAL

4.1. Introdução ........................................................................................................................................................................43

4.2. Selecção da geometria dos perfis .................................................................................................................................44

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II

4.2.1 Estudos paramétricos ..................................................................................................................................................... 46

4.2.2 Escolha do perfil em interacção modal ...................................................................................................................... 49

4.2.3 Análise por elementos finitos do perfil seleccionado .............................................................................................. 51

4.3. Imperfeições geométricas in iciais ............................................................................................................................... 53

4.3.1 Simetria ............................................................................................................................................................................ 55

4.4. Análise de pós-encurvadura ......................................................................................................................................... 56

4.4.1 Pós-encurvadura em regime elástico .......................................................................................................................... 56

4.4.2 Pós-encurvadura em regime elasto-plástico .............................................................................................................. 63

CAPÍTULO 5.................................................................................................................................................................................. 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

Referências ...................................................................................................................................................................................... 73

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III

Índice de Figuras

Figura 1.1 (a) Perfis de secção aberta e fechada, (b) painéis e (c) laminagem a

frio de elementos estruturais de aço enformados a frio. 2

Figura 1.2

Configurações dos modos de instabilidade de uma coluna simplesmente apoiada com secção em C: (a) local de placa, (b) distorcional, (c) flexão-torção e (d) flexão.

3

Figura 1.3

Configurações dos modos de instabilidade (a) local, (b) distorcional e (c) combinado (com interacção entre os modos local e distorcional) de uma coluna simplesmente apoiada com secção em

Z.

6

Figura 2.1 Modelo estrutural. Configuração (a) indeformada e (b) deformada do modelo [29].

10

Figura 2.2

Trajectórias de pós-encurvadura do modelo perfeito. (a)

Comportamento simétrico estável, (b) comportamento simétrico instável e (c) comportamento

assimétrico [29].

12

Figura 2.3 Modelo estrutural imperfeito. Configuração (a) inicial e (b) deformada [29].

12

Figura 2.4

Trajectórias de pós-encurvadura de sistemas perfeitos e imperfeitos.

Comportamento (a) simétrico estável, (b) simétrico instável e (c) assimétricos estável e instável [29].

13

Figura 2.5

Placa simplesmente apoiada submetida a compressão uniforme

[25]. 18

Figura 2.6

Exemplos de configurações deformadas de uma viga com secção em Z: (a) modo local (b) modo distorcional e (c) modo

“combinado” local/distorcional.

18

Figura 2.7

Curvas λb vs. L ilustrativas dos diferentes casos de interacção modal. (a) Interacção local/global, (b) interacção distorcional/global

e (c) interacção local/distorcional/global [25].

21

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IV

Figura 2.8 Discretização de uma barra de secção em C (a) em elementos finitos de casca, (b) em faixas finitas [1].

24

Figura 3.1

(a) Elemento com quatro nós. Localização dos pontos de integração da parcela de corte dos elementos (b) S4 (integração completa), e

(c) S4R, S4R5 (integração reduzida).

26

Figura 3.2 Influência do elemento finito no valor da tensão crítica em colunas de secção (a) em C e Z e (b) em “Rack” [35].

28

Figura 3.3 Influência do elemento finito nas trajectórias de pós-encurvadura distorcional de coluna de secção em C [36].

28

Figura 3.4 Ilustração da diferença entre as rotações de flexão globais e locais [35].

30

Figura 3.5 Influência da concentração de tensões no valor da tensão crítica em colunas de secção em (a) C, (b) Z e (c) “Rack” [35].

32

Figura 3.6 Perfil em Z submetido à compressão uniforme. 33

Figura 3.7

Perfil em Z submetido à flexão uniforme. Modo de instabilidade e momento crítico associado a dois carregamentos estaticamente

equivalentes [25].

34

Figura 3.8 Curvas tensão-deformação para dois tipos de aço [42]. 36

Figura 3.9

Alguns modelos de comportamento mecânico adoptados para o aço: modelo (a) elástico linear, (b) elasto-plástico perfeito e (c) elasto-

plástico com endurecimento.

36

Figura 3.10 Trajectória de equilíbrio não linear genérica. 37

Figura 3.11 Modo de instabilidade dos perfis: (a) C e (b) Z [25]. 40

Figura 3.12 Trajectórias elásticas de pós-encurvadura da coluna C. 41

Figura 3.13 Trajectórias elásticas de pós-encurvadura da viga Z. 41

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V

Figura 4.1

Variação da carga Pb de bifurcação com o comprimento L de colunas de secção em Z. Perfil com valores mínimos PL e PD (a)

diferentes ou (b) semelhantes.

46

Figura 4.2 (a) Dimensões da secção transversal com variação da alma e (b) curvas σb vs L.

47

Figura 4.3 (a) Dimensões da secção transversal com variação dos banzos e (b) curvas σb vs L.

47

Figura 4.4 (a) Dimensões da secção transversal com variação dos reforços e (b) curvas σb vs L.

48

Figura 4.5 (a) Dimensões da secção transversal com variação da espessura e (b) curvas σb vs L.

48

Figura 4.6

(a) Geometria da secção transversal do perfil seleccionado, (b)

curva σb vs. L e (c) configuração deformada da secção transversal referente a três modos de instabilidade das colunas: I-Modo local; II-Modo distorcional; III-Modo global (flexão).

50

Figura 4.7

Análise de estabilidade do perfil seleccionado. (a) Curva σb vs. L e (b) configuração do modo de instabilidade “acoplado”

local/distorcional.

52

Figura 4.8 Imperfeição geométrica inicial dos perfis. Factores de participação dos modos L e D.

54

Figura 4.9 Configuração das imperfeições geométricas iniciais “puras” da coluna Z: locais (θ= 90º e 270º) e distorcionais (θ=0º e 180º).

55

Figura 4.10

Trajectórias de equilíbrio (a) P/Pcr vs. v/t e (b) P/Pcr vs. w/t das colunas com imperfeições distorcionais “puras” (θ=0º) e locais

“puras” (θ=90º).

58

Figura 4.11 Configuração deformada da coluna com imperfeições iniciais definidas por (a) θ=0º e (b) θ=90º.

58

Figura 4.12

Pós-encurvadura de colunas de secção em C com imperfeições iniciais θ=0º, 90º, 180º e 270º. Trajectórias de equilíbrio (a) P/Pcr

vs. v/t e (b) P/Pcr vs. w/t [45].

59

Figura 4.13a Trajectórias de equilíbrio P/Pcr vs. v/t das colunas Z com imperfeições caracterizadas por 0º ≤ θ ≤ 90º.

60

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VI

Figura 4.13b Trajectórias de equilíbrio P/Pcr vs. w/t das colunas Z com imperfeições caracterizadas por 0º ≤ θ ≤ 90º.

60

Figura 4.14 Identificação das componentes distorcional (CD) e local (CL) de uma configuração deformada genérica da coluna.

61

Figura 4.15 Evolução do quociente de interacção modal CL /CD ao longo das trajectórias de equilíbrio.

62

Figura 4.16 Evolução do quociente de interacção modal CL /CD ao longo das trajectórias de equilíbrio para colunas de secção em C.

63

Figura 4.17

Trajectórias de pós-encurvadura elasto-plásticas P/Pcr vs. v/t das

colunas com imperfeições 0º 90º para (a) fy=355 MPa, (b) fy=460 MPa e (c) fy=550 MPa.

65

Figura 4.18

Diagramas de deformação plástica e configuração deformada no colapso de colunas com imperfeições geométricas iniciais (a) θ=0º

e (b) θ=90º (fy/σcr ≈ 2,08 – fy=460 MPa).

66

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VII

Índice de Tabelas

Tabela 3.1 Geometria e características elásticas dos perfis analisados. 39

Tabela 3.2 Carga/momentos críticos e modos de instabilidade dos perfis. 40

Tabela 4.1 Dimensão do perfil, carga crítica e natureza do modo de

instabilidade do perfil seleccionado. 52

Tabela 4.2 Resistência última (Pu /Pcr) das colunas Z para diferentes

valores de θ e fy. 67

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1

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1. Considerações gerais

Por razões de ordem económica e/ou estética, os engenheiros têm sido desafiados ao

longo dos tempos a conceber e dimensionar estruturas cada vez mais leves e resistentes. Esta

constante procura de uma maior eficiência deu origem a soluções estruturais muito variadas,

com a solução metálica a ser uma das mais vantajosas. De facto, a elevada resistência e a

considerável ductilidade dos metais, designadamente do aço, aliada à pré-fabricação e ao transporte

fácil dos elementos estruturais, à rapidez de montagem e desmontagem das estruturas, e à possível

reutilização dos materiais, tornam esta solução cada vez mais competitiva em termos estruturais,

originando elementos estruturais muito esbeltos. Contudo, a elevada esbelteza destes elementos

acaba por os tornar bastante susceptíveis a fenómenos de instabilidade, o que explica a

importância que a estabilidade tem no estudo do comportamento de estruturas de secção de

parede fina, em particular, quando constituídas por perfis de aço enformados a frio.

Os primeiros elementos estruturais de aço enformados a frio surgiram no início do

século XX, no âmbito da indústria automóvel, com o seu uso a ser rapidamente estendido a

outras indústrias, como a aeronáutica e a naval. A excelente resistência exibida por estes elementos,

aliada à reduzida quantidade de material utilizado (aspecto de particular importância devido à

diminuição da quantidade de aço disponível), esteve na origem do sucesso desta solução

estrutural, a qual foi inicialmente adoptada na indústria da construção civil em termos de

edifícios industriais [1].

Os elementos estruturais enformados a frio são obtidos tirando partido da grande

ductilidade que caracteriza determinados tipos de aços. De facto, esta característica material

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2

permite obter a partir de chapas de reduzida espessura (entre 0,4 e 6 mm), e sem custos

significativos, perfis e painéis de elevada resistência e com secção transversal de geometria

muito variada (função das necessidades de aplicação) nas Figuras 1.1(a)-(b) apresenta-se um

conjunto de secções transversais de perfis e painéis utilizados no âmbito da engenharia civil, e

na Figura 1.1(c) ilustra-se um dos processos mais utilizados para “dar forma” aos perfis

(laminagem a frio ou “cold rolling”, na designação anglo-saxónica) [2].

(a)

(c)

(b)

Figura 1.1 – (a) Perfis de secção aberta e fechada, (b) painéis e (c) laminagem a frio de elementos estruturais de

aço enformados a frio.

Contudo, os perfis enformados a frio exibem (i) uma reduzida rigidez de torção, em

particular, os de secção aberta, e (ii) uma grande deformabilidade, com o empenamento das

secções a poder ser muito significativo. Por outro lado, a grande esbelteza dos perfis, aliada à

sua elevada resistência, torna-os bastante susceptíveis a fenómenos de instabilidade, os quais

podem ter natureza local ou global [1].

Os modos de instabilidade locais são caracterizados pelo facto de o eixo da barra

permanecer indeformado e de as secções transversais se deformarem no seu próprio plano, com

a instabilidade a poder ocorrer tanto em modos locais de placa (apenas ocorrem deslocamentos

de flexão das paredes do perfil), como (ii) distorcionais (a deformação da secção ocorre,

fundamentalmente, por distorção, com determinadas paredes a exibirem deslocamentos quase

de corpo rígido, flectindo as restantes por compatibilidade). Por sua vez, os modos de instabilidade

globais são caracterizados pelo facto de o eixo da barra se deformar e de as secções transversais

sofrerem apenas deslocamentos de corpo rígido no seu plano, podendo a instabilidade ocorrer

tanto por (i) flexão (as secções transversais sofrem translação), como por (ii) flexão-torção (as secções

sofrem simultaneamente translação e rotação) a título ilustrativo, na Figura 1.2 representa-se a

configuração deformada dos referidos modos para uma coluna de secção em C. Dependendo (i)

da geometria do elemento estrutural (e.g., configuração e dimensões da secção transversal,

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3

comprimento), (ii) das suas condições de apoio (e.g., secções extremas apoiadas, encastradas),

e (iii) do carregamento a que está submetido (e.g., compressão, flexão, flexo-compressão),

qualquer um destes modos de instabilidade pode ser crítico. Além disso, chama-se a atenção para o

facto de que, para determinadas dimensões dos perfis, poder ocorrer uma bifurcação simultânea (ou

quase) em mais do que um modo de instabilidade de natureza distinta (i.e., envolvendo dois ou mais

dos mencionados anteriormente), facto que está na origem dos chamados fenómenos de interacção

entre modos de instabilidade (interacção modal), âmbito no qual este estudo se insere.

(a) (b) (c) (d)

Beams

Columns

Figura 1.2 – Configurações dos modos de instabilidade de uma coluna simplesmente apoiada com secção em C:

(a) local de placa, (b) distorcional, (c) flexão-torção e (d) flexão.

A determinação rigorosa do comportamento estrutural de perfis com secção de parede

fina, em particular na presença de fenómenos de instabilidade local, tem sido efectuada

recorrendo a métodos numéricos sofisticados (método dos elementos finitos, das faixas finitas,

etc.) e também a ensaios experimentais. Deste modo, tem sido possível obter um conhecimento

suficientemente sólido sobre o comportamento de pós-encurvadura de perfis de parede fina, o

qual permitiu desenvolver modelos com um adequado suporte físico para serem utilizados no

dimensionamento dos mesmos.

Os estudos efectuados sobre perfis de parede fina permitiram concluir que estes exibem

comportamentos de pós-encurvadura local de placa e global estáveis, com diferentes resistências

pós-críticas: elevada no primeiro caso e diminuta no segundo. Por outro lado, estudos recentes

mostraram também que o comportamento de pós-encurvadura distorcional se situa entre os dois

anteriores (em termos cinemáticos e de resistência), exibindo em alguns casos uma clara

assimetria em relação ao sentido do movimento dos banzos e.g., [1, 3].

Quanto aos fenómenos de interacção que podem afectar a pós-encurvadura e a

resistência última dos perfis, os devidos à quase coincidência entre as tensões críticas local de placa e

global são bem conhecidos – os seus efeitos são contabilizados nos regulamentos de estruturas

metálicas, através da “largura efectiva” ou do recente Método da Resistência Directa (“Direct

Strength Method”, em língua inglesa), o qual foi proposto por Schafer e recentemente

incorporado na regulamentação australiana e norte americana [4, 5]. Quanto aos fenómenos

que resultam da interacção do modo distorcional com os restantes dois, i.e., a interacção local

de placa/distorcional, distorcional/global e local de placa/distorcional/global, só mais

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4

recentemente têm sido objecto de análise. Note-se que, o conhecimento sobre o efeito das

referidas interacções no desempenho dos elementos estruturais, designadamente em termos da

sua resistência última, é importante pois sem esse conhecimento não é possível garantir que as

fórmulas e/ou procedimentos incluídos nos códigos de dimensionamento (por norma,

estabelecidas na ausência de interacção) continuam a ser racionais, eficientes e seguros.

Das três interacções atrás mencionadas, sem dúvida que a primeira é a mais estudada,

como demonstram os trabalhos sobre colunas com secção em C e interacção local de

placa/distorcional realizados por Hancock et al. [6], Schafer e Peköz [7], Ungureanu e Dubina

[8], Yang e Hancock [9, 10], Dinis et al. [11, 12] e Silvestre et al. [13-15]. Chama-se também a

atenção para o facto de que alguns dos estudos mencionados terem permitido desenvolver e

calibrar novas aplicações do Método da Resistência Directa para ter em conta o efeito da

referida interacção no dimensionamento de perfis de aço enformados a frio (e.g., [10, 15]).

Os estudos sobre o efeito da interacção distorcional/global e local de placa/distorcional/global

na pós-encurvadura e resistência última de perfis são ainda mais recentes e em número mais

reduzido, sendo de destacar os elaborados por Dinis e Camotim [16-18] e por Rossi et al. [19], os quais

analisaram o efeito dessa interacção em colunas com secção em C, de aço carbono e de aço inoxidável,

com os primeiros estudos a identificarem as imperfeições iniciais mais desfavoráveis em

termos de resistência última destes perfis – no entanto, ainda está por verificar se as expressões

actuais do Método da Resistência Directa podem ser utilizadas no dimensionamento desses

perfis quando estes são afectados por tais interacções.

1.2. Motivação e âmbito do trabalho

Em face do exposto anteriormente, pode concluir-se que o estudo do comportamento de

perfis de parede fina, quando afectados por interacções envolvendo o modo distorcional,

constitui um tema bastante actual no âmbito dos perfis enformados a frio, sendo de destacar a

actividade de investigação que nos últimos anos tem vindo a ser desenvolvida no Instituto

Superior Técnico neste âmbito – em particular, refiram-se os estudos efectuados sobre a

interacção local de placa/distorcional [11, 12, 20, 21], distorcional/global [16, 17, 22] e local de

placa/distorcional/global [18, 22, 23]. Contudo, esta investigação tem-se centrado sobretudo em

perfis de secção em C (secções extremas apoiadas ou encastradas), quando submetidos a compressão

uniforme (colunas) – efectivamente, fora deste contexto, apenas foram estudadas (i) colunas de

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5

secção em “rack”1 [24] e (ii) vigas de secção em C, i.e., perfis submetidos a flexão recta

(uniforme) em torno do eixo de maior inércia [25, 26].

O objectivo deste trabalho consiste em estudar o comportamento de pós encurvadura, em

regime elástico e elasto-plástico, de barras simplesmente apoiadas com secção em Z, quando

submetidas a compressão uniforme – nomeadamente, pretende-se verificar quais as semelhanças

e diferenças de comportamento em relação ao observado em colunas de secção em C [12, 13].

Os perfis seleccionados apresentam dimensões tais que originam a bifurcação nos modos local de

placa (por simplicidade, este modo passará a ser designado daqui para a frente apenas por local – L) e

distorcional (D) para valores de carga/tensão semelhantes – a título de exemplo, representa-se nas

Figuras 1.3(a)-(b) a configuração desses modos, com a Figura 1.3(c) a ilustrar um caso de

interacção entre os referidos modos de instabilidade.

A selecção dos perfis, i.e., a identificação de uma geometria que conduzisse a valores

semelhantes de carga/tensão de bifurcação nos modos L e D, fez-se recorrendo a análises de

estabilidade efectuadas por faixas finitas no programa comercial CUFSM [27]. Por sua vez,

estudou-se o comportamento de pós-encurvadura dos perfis seleccionados por elementos

finitos, recorrendo ao programa comercial ABAQUS [28] e discretizando as colunas por elementos

de casca de 4 nós. Analisou-se um grande número de colunas que apenas diferem na forma da

imperfeição inicial (as configurações consideradas são obtidas por combinação linear das

formas dos modos de instabilidade L e D, todas com uma amplitude igual a 10% da espessura

da parede t) com o objectivo de identificar, nomeadamente, (i) as características mais

importantes do fenómeno, (ii) os modos de colapso mais comuns e (iii) as imperfeições iniciais

“críticas”, i.e., as que conduzem a uma maior redução da resistência última dessas colunas, as

quais desempenham um papel importante no dimensionamento dos perfis afectadas por

interacção L/D. Efectivamente, o conhecimento dessas imperfeições é essencial para se poderem

efectuar estudos numéricos exaustivos envolvendo perfis com diferentes geometrias, condições

de apoio e tensões de cedência do material – esses estudos visam obter uma base de dados

suficientemente vasta sobre a resistência última de perfis afectados por interacção L/D que

possibilite avaliar se as expressões actuais do já referido Método da Resistência Directa

permanecem eficientes e seguras quando as colunas são afectadas pela referida interacção.

1 Esta designação deve-se ao facto de este tipo de perfis ser utilizado em estruturas de armazenamento (“storage

rack”, na língua inglesa).

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(a) (b) (c)

Figura 1.3 – Configurações dos modos de instabilidade (a) local, (b) distorcional e (c) combinado (com

integração entre os modos local e distorcional) de uma coluna simplesmente apoiada com secção em

Z.

1.3. Organização do trabalho

O presente trabalho tem por base dois estudos anteriores de âmbito semelhante [20, 25],

dos quais se retém muito dos conteúdos relativos a conceitos básicos, caracterização dos métodos

numéricos de análise e organização do trabalho.

Assim, no presente capítulo faz-se uma apresentação de carácter introdutório ao tema

da dissertação, indicam-se as motivações que estiveram na origem do trabalho realizado e

descreve-se o conteúdo dos restantes quatro capítulos da dissertação.

No Capítulo 2 apresentam-se os principais conceitos subjacentes ao trabalho. De facto, neste

capítulo ilustram-se alguns conceitos básicos de estabilidade e caracterizam-se os fenómenos de

instabilidade que podem ocorrer em perfis metálicos de secção de parede fina. O capítulo termina

com a apresentação dos tipos de análises de estabilidade e com uma breve caracterização dos

métodos numéricos utilizados neste trabalho para efectuar as referidas análises.

No Capítulo 3 apresentam-se vários aspectos relativos à utilização e implementação

computacional do método dos elementos finitos, com vista a efectuar a análise linear de

estabilidade e a análise de pós-encurvadura de perfis de aço enformados a frio. Abordam-se os

aspectos relacionados com (i) a discretização dos perfis, (ii) a modelação das condições de apoio e

do carregamento, (iii) as imperfeições iniciais a considerar nas análises de pós-encurvadura,

(iv) os modelos constitutivos adoptados para o aço e, finalmente, (v) as técnicas de resolução

de problemas de valores próprios (análise linear de estabilidade) e de sistemas de equações de

equilíbrio não lineares (análises de pós-encurvadura). O capítulo termina com alguns exemplos

de validação dos procedimentos adoptados.

No início do Capítulo 4 faz-se a selecção dos perfis de aço enformados a frio,

simplesmente apoiados e com secção em Z, submetidos a compressão pura, afectados por

interacção L/D, i.e., colunas que apresentam instabilidade num modo acoplado com interacção

entre o modo local e o modo distorcional. A identificação das dimensões dos perfis é efectuada

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a partir da análise linear de estabilidade, recorrendo ao método das faixas finitas, sendo

escolhidas dimensões que conduzem a valores semelhantes das cargas de bifurcação nos dois

modos referidos. Seleccionados os perfis, o capítulo apresenta o conjunto de imperfeições

iniciais considerado na análise de pós-encurvadura, em regime elástico e elasto-plástico, das

colunas simplesmente apoiadas de secção em Z, afectadas por interacção L/D. Os resultados

que se apresentam e comentam, consistem em (i) trajectórias de pós-encurvadura relativas a

pontos significativos dos perfis, (ii) configurações de pós-encurvadura, (iii) gráficos que

ilustram a evolução da contribuição das componentes modais para a configuração deformada

dos perfis ao longo das trajectórias de equilíbrio, (iv) diagramas que ilustram a evolução das

deformações plásticas, e por fim, (v) as configurações deformadas dos perfis no colapso.

Finalmente, o Capítulo 5 inclui uma síntese dos principais resultados obtidos e as

conclusões mais importantes a que se chegou com este trabalho. Faz-se ainda alusão a alguns

tópicos que se julga de interesse a desenvolver em trabalhos futuros.

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9

CAPÍTULO 2

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

2.1. Introdução

Este capítulo tem como finalidade apresentar os principais conceitos teóricos necessários à

elaboração da dissertação. De modo a fundamentar todas as considerações tomadas, ilustram-se

alguns conceitos de estabilidade, caracterizam-se os tipos de instabilidade que podem ocorrer

em perfis metálicos de secção de parede fina e, finalmente, mostram-se os tipos de análises de

estabilidade e caracterizam-se alguns métodos numéricos disponíveis para efectuar as referidas

análises.

2.2. Conceitos básicos

De acordo com Reis e Camotim [29], considere-se o modelo ideal2, representado na Figura

2.1, com apenas 1 grau de liberdade, constituído por duas barras rígidas e articuladas, em que o

nó articulado está impedido de se deslocar lateralmente por uma mola elástica de rigidez não

linear

k(u)=c1 u+c2 u2+c3 u

3 , (2.1)

o qual está submetido à acção de duas forças horizontais de valor P.

2 Sem imperfeições iniciais.

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L LP P

L L

P P

u

(a) (b)

Figura 2.1 – Modelo estrutural. Configuração (a) indeformada e (b) deformada do modelo [29].

Na configuração indeformada (Figura 2.1(a)), não existe qualquer deslocamento do nó

central tendo-se, por isso, u=0. Nestas condições, o sistema está naturalmente em equilíbrio

sem qualquer reacção vertical nos apoios. Na configuração deformada (Figura 2.1(b)), o

deslocamento do nó é não nulo (u≠0), originando uma reacção vertical na mola de

3

3

2

21)( ucucucuR , (2.2)

Adoptando para grau de liberdade o parâmetro adimensional

L

uq , (2.3)

é possível estabelecer as equações de equilíbrio do modelo na configuração deformada

F 0 ;

M 0 , (2.4)

e obtém-se a equação

01)()(2

1 23

3

2

21 qqLcqLcqLcqP , (2.5)

que tem por solução

0q ou 223

3

2

21 12

1qqLcqLcLcP . (2.6)

Estas soluções definem as trajectórias de equilíbrio3 do sistema, que são respectivamente, a

trajectória fundamental e a trajectória de pós-encurvadura. As trajectórias intersectam-se num

ponto de bifurcação de coordenadas 0q e P=c1L/2, que identifica a designada carga crítica

do modelo. Esta carga corresponde ao menor valor de P para o qual ocorre um “ponto de

bifurcação” do equilíbrio. Para o sistema supra, a carga crítica, corresponde ao valor

2

1 LcPcr . (2.7)

Observe-se que este valor também podia ser obtido desprezando na equação 2.5 os termos

superiores aos lineares, procedimento que corresponde a efectuar o que se designa por análise

3 Por definição, uma trajectória de equilíbrio consiste num conjunto de pontos que relacionam a carga aplicada

com deslocamentos evidenciados pelo sistema em cada configuração de equilíbrio.

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linear de estabilidade do sistema – num caso geral, esta análise aplica-se apenas a problemas

de instabilidade bifurcacional, permitindo identificar as cargas de bifurcação, assim como a

configuração dos modos de instabilidade das estruturas/elementos estruturais que lhes estão

associadas.

As configurações de equilíbrio traduzidas pela equação 2.6 podem corresponder a

configurações de equilíbrio estável ou instável do sistema. Diz-se que uma estrutura apresenta

uma configuração de equilíbrio estável se, depois de sofrer uma pequena perturbação, ela volta

à configuração de equilíbrio inicial. Caso a estrutura não regresse à referida configuração

inicial, então diz-se que a configuração de equilíbrio é instável.

Nos anos quarenta, Koiter provou que as características fundamentais do

comportamento de pós-encurvadura de uma estrutura são determinadas na sua fase inicial, i.e.,

na vizinhança do ponto de bifurcação. Sendo assim, supondo q<<1 e desprezando os termos de

ordem superior ou igual a três, obtém-se a partir da equação 2.6,

2

1

3

3

2

21

223

3

2

21 )(2

11

2

1qLcLcqLcLcqqLcqLcLcP . (2.8)

Substituindo nesta equação o valor de Pcr e simplificando, chega-se à seguinte expressão

2

321 qCqCPP cr , (2.9)

onde

1

22

c

LcC 1

1

2

33

c

LcC . (2.10)

Na Figura 2.2 representam-se três trajectórias de equilíbrio do modelo determinadas

considerando diferentes valores para os coeficientes C2 e C3. A observação desta figura permite

detectar diferentes características para as trajectórias de equilíbrio, podendo concluir-se o

seguinte:

(i) As trajectórias representadas nas Figuras 2.2(a) e 2.2(b), obtidas com C2=0 e C3≠0,

apresentam um comportamento simétrico, i.e., exibem uma evolução semelhante

independentemente do deslocamento ser positivo ou negativo. Contudo, dois casos são

possíveis: (i1) quando C3>0, o modelo apresenta bifurcação de equilíbrio simétrica e

estável (ver Figura 2.2(a)); (i2) quando C3<0, o modelo apresenta bifurcação de

equilíbrio simétrica, mas instável (ver Figura 2.2(b)).

(ii) As trajectórias representadas na Figura 2.2(c), obtidas com C2≠0 e C3=0, exibem um

andamento diferente consoante o sentido do deslocamento, estando, por isso, associadas

a comportamentos de pós-encurvadura assimétricos.

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q q q

PP

cr

P

crP P

cr

P

(a) (b) (c)

Figura 2.2 – Trajectórias de pós-encurvadura do modelo perfeito. (a) Comportamento simétrico estável,

(b) comportamento simétrico instável e (c) comportamento assimétrico [29].

Na análise anterior considerou-se o modelo como perfeito, i.e., sem qualquer

imperfeição. Contudo, na realidade não existem sistemas ideais, exibindo estes imperfeições de

natureza geométrica (e.g., em termos da configuração inicial, eventuais excentricidades na

aplicação da carga) que vão alterar significativamente o comportamento dos sistemas. Para

ilustrar o que se acaba de dizer, considere-se de novo o modelo de um grau de liberdade, mas

admitindo agora uma imperfeição geométrica inicial dada por (ver Figura 2.3)

L

u0 . (2.11)

u0

L L

PP

L L

P P

u

(a) (b)

Figura 2.3 – Modelo estrutural imperfeito. Configuração (a) inicial e (b) deformada [29].

Nestas condições, o equilíbrio na configuração deformada conduz à seguinte equação

23

3

2

21 )(1)()(2

1 qLqcLqcLqcqP , (2.12)

pelo que, substituindo Pcr, C2 e C3 definidos nas equações 2.7 e 2.10, se obtém

q

qCqCqPP cr

3

3

2

2 )23( . (2.13)

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Na Figura 2.4, representam-se as trajectórias de equilíbrio que se obtêm admitindo

valores de C2 e C3 semelhantes aos considerados para as trajectórias da Figura 2.2 – as linhas a

cheio indicadas na Figura 2.4 são relativas ao modelo perfeito e as a tracejado ao modelo imperfeito.

A observação destas trajectórias permite retirar algumas conclusões amplamente conhecidas

sobre o comportamento de pós-encurvadura de sistemas imperfeitos, designadamente que:

(i) A trajectória fundamental ( 0q ) deixa de ser solução do problema, quando o modelo

exibe imperfeições geométricas iniciais.

(ii) As imperfeições iniciais não têm uma influência significativa na resistência de pós-

encurvadura4 de sistemas reais estáveis (ver Figura 2.4(a)), com estes a resistirem a

cargas superiores à carga crítica.

(iii) Em sistemas com um comportamento de pós-encurvadura instável ou assimétrico, as

imperfeições podem dar origem a um ponto limite nas trajectórias de equilíbrio, ponto

esse associado a um valor da carga (Pmax) inferior à carga crítica (Pcr) – ver Figuras

2.4(b) e 2.4(c). Refira-se que estruturas que exibem este tipo de fenómeno são

habitualmente designadas por estruturas sensíveis às imperfeições.

q q q

PP

cr

P

crP P

cr

P

maxP

Pmax

(a) (b) (c)

Figura 2.4 – Trajectórias de pós-encurvadura de sistemas perfeitos e imperfeitos. Comportamento (a) simétrico

estável, (b) simétrico instável e (c) assimétricos estável e instável [29].

Apesar de o comportamento de sistemas elásticos imperfeitos (i.e., reais) poder ser

“previsto” tendo por base as trajectórias de pós-encurvadura dos sistemas perfeitos5, a

determinação destas trajectórias para sistemas de complexidade superior à deste problema

modelo envolve o recurso a técnicas numéricas muito sofisticadas (e.g., análise de perturbação),

nem sempre disponíveis. Por isso, é prática corrente proceder “apenas” à determinação das

trajectórias de pós-encurvadura de estruturas reais, de forma a determinar a possibilidade destas

4 Quando os sistemas podem suportar cargas superiores à sua carga crítica (e.g., é o caso do sistema da Figura 2.4(a)),

diz-se que estes exibem resistência de pós -encurvadura. 5 O conhecimento destas trajectórias permite antever a possibilidade dos sistemas reais exibirem (i) pontos limites

iniciais nas trajectórias de pós-encurvadura (só sistemas com trajectórias instáveis podem apresentar tais pontos),

(ii) alguma resistência de pós-encurvadura (só sistemas com trajectórias estáveis exibem tais resistências).

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exibirem (i) alguma resistência de pós-encurvadura e (ii) eventuais pontos limites iniciais nas

trajectórias de equilíbrio.

As cargas máximas elásticas (Pmax) associadas a pontos limites de trajectórias de pós-

encurvadura semelhantes às da Figura 2.4 não correspondem, de um modo geral, às cargas

últimas ou de colapso das estruturas (ou elementos estruturais) reais. De facto, estas cargas são

também condicionadas por um segundo aspecto ainda não mencionado: a resistência dos

materiais (e.g., a plasticidade é muitas vezes determinante no colapso de estruturas ou

elementos estruturais metálicos). Assim sendo, compreende-se que a resistência de pós-

encurvadura de uma estrutura metálica real possa depender de dois factores: (i) do declive da

trajectória de pós-encurvadura e (ii) do valor da carga crítica face ao valor da carga

correspondente ao início da cedência. Por exemplo, placas comprimidas axialmente apresentam

trajectórias de pós-encurvadura em que o declive da curva é acentuado, pelo que, se a

plasticidade se manifestar apenas em estádios avançados de pós-encurvadura, exibem uma

resistência de pós-encurvadura significativa. Contudo, as trajectórias de pós-encurvadura de

colunas axialmente comprimidas que instabilizam por flexão (instabilidade de Euler)

apresentam declives suaves (muito menos pronunciadas que no caso das placas) –

naturalmente, a carga de colapso destes elementos estruturais não será muito diferente do seu

valor crítico, para valores da relação tensão cedência/tensão crítica superiores à unidade.

2.3. Análises de estabilidade

O estudo do comportamento geometricamente linear de uma estrutura (ou elemento

estrutural) envolve a determinação dos esforços, tensões e deslocamentos provocados pelo

conjunto de acções a que a estrutura está submetida – análise linear ou de 1ª ordem. Por sua vez, o

estudo do comportamento geometricamente não linear dessa estrutura faz-se (i) identificando o valor

do parâmetro de carga crítico e a forma do respectivo modo de instabilidade – análise linear de

estabilidade, e (ii) determinando o comportamento de pós-encurvadura da referida estrutura –

análise não linear de estabilidade ou de 2ª ordem [1,30]. Logicamente, o presente estudo sobre

colunas de secção em Z deverá envolver a execução de ambas as análises de estabilidade, i.e., a

análise linear e a análise de pós-encurvadura dos elementos estruturais que são objecto do

estudo.

A análise linear de estabilidade corresponde à mais simples das análises geometricamente

não lineares. Aplica-se unicamente a problemas de instabilidade bifurcacional e pressupõe um

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comportamento elástico linear para o material. Em termos matemáticos, corresponde a um

problema de valores e funções próprios (vectores próprios, no caso de estruturas/barras

discretizadas que resultam da aplicação dos métodos numéricos), no qual (i) os parâmetros de

carga (no caso de elementos estruturais, tensões/esforços) de bifurcação são os valores próprios

e (ii) os correspondentes modos de instabilidade são as funções (sistemas contínuos) ou os

vectores (sistemas discretos) próprios – recorde-se que o parâmetro de carga é um factor

multiplicativo aplicado a um determinado carregamento de referência. O menor dos parâmetros

de carga de bifurcação e o correspondente modo de instabilidade são habitualmente designados

por “parâmetro de carga crítico” e por “modo de instabilidade crítico”.

No caso de perfis de aço, o valor da tensão/esforço crítico de bifurcação e a natureza do

correspondente modo de instabilidade dependem (i) da geometria do perfil (i.e., do seu

comprimento, forma e dimensão da secção transversal), (ii) das suas condições de apoio (i.e.,

das restrições aos deslocamentos existentes em secções interiores ou de extremidade), (iii) do

carregamento a que está submetido e (iv) das constantes elásticas adoptadas para o aço.

A análise não linear de estabilidade ou de pós-encurvadura de uma estrutura (ou

elemento estrutural), submetida a um determinado carregamento, corresponde a uma análise

muito mais complexa. O comportamento material do aço pode ser modelado através de leis

constitutivas elásticas ou elasto-plásticas e este tipo de análises (i) aplica-se a barras reais (i.e.,

com imperfeições iniciais e/ou tensões residuais) e (ii) envolve a determinação de (ii1) trajectórias

de equilíbrio não lineares, também designadas por trajectórias de pós-encurvadura (curvas que

relacionam o carregamento aplicado, habitualmente dependente de um único parâmetro de carga,

com componentes de deslocamentos criteriosamente escolhidas), assim como (ii2) a evolução das

tensões e/ou deformações na estrutura (ou elemento estrutural) ao longo da análise. Em termos

matemáticos, é necessário resolver o sistema de equações de equilíbrio não lineares que rege o

comportamento do elemento estrutural (discretizado), o que obriga à utilização de procedimentos

incrementais-iterativos adoptam-se frequentemente o método de Newton-Raphson e a técnica do

controle do comprimento de arco. O colapso da estrutura/elemento estrutural (i.e., a sua perda de

estabilidade) ocorre num ponto limite situado sobre a sua trajectória de equilíbrio os

correspondentes valores do parâmetro de carga e configuração deformada fornecem a resistência

última e o modo de colapso da estrutura/barra.

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2.4. Estabilidade de perfis metálicos de parede fina

Embora, de um modo geral, o colapso de estruturas metálicas seja provocado por uma

combinação de fenómenos (e.g., plasticidade), a reduzida espessura das chapas de aço

utilizadas origina frequentemente perfis com secções de parede muito esbelta, o que os torna

muito susceptíveis em relação ao colapso por instabilidade. A determinação precisa do

comportamento de estabilidade desses perfis envolve a possibilidade destes exibirem

deformabilidades tanto de natureza local como global. Seguidamente, caracterizam-se os

fenómenos de deformabilidade global e local e indicam-se os correspondentes modos de

instabilidade que surgem associados ao comportamento de estabilidade de perfis metálicos de

secção de parede fina aberta [28, 1, 30].

2.4.1. Instabilidade global e local

Os fenómenos de deformabilidade global que podem afectar os perfis metálicos são

caracterizados pela ocorrência de deformação do eixo da barra, sofrendo as suas secções

transversais unicamente deslocamentos de corpo rígido no seu próprio plano (no caso geral,

duas translações e uma rotação). São exemplos deste tipo de fenómenos, (i) a instabilidade de

colunas (barras comprimidas) por flexão ou (ii) a instabilidade lateral de vigas (barras flectidas)

por flexão-torção – ver Figura 1.2(c). Normalmente, estes modos de instabilidade global (MG) são

críticos sempre que as barras sejam suficientemente “longas” e não estejam adequadamente

contraventadas, com a sua configuração longitudinal do modo a depender das condições de apoio

das barras, mas exibindo sempre um número muito pequeno de semi-comprimentos de onda

(apenas um).

Por sua vez, os fenómenos de deformabilidade local envolvem, essencialmente,

deformações das paredes da barra, permanecendo o seu eixo indeformado. Tal como já

referenciado no Capítulo 1, os fenómenos de instabilidade local que podem afectar os perfis

metálicos de parede fina são de dois tipos: (i) os modos locais (ML) e (ii) os modos

distorcionais (MD) – ver Figuras 1.2(a) e 1.2(b). De um modo geral, as “barras curtas” são

particularmente sensíveis a fenómenos de instabilidade local, enquanto que, as “barras

intermédias”, são mais susceptíveis a fenómenos de instabilidade distorcional. Seguidamente,

descrevem-se detalhadamente as características destes dois modos locais, que são de grande

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importância no presente estudo – recorde-se que se pretende analisar o efeito da interacção

entre estes modos no comportamento de pós-encurvadura de colunas de aço enformadas a frio.

Modo local

Estes modos são caracterizados por os bordos longitudinais internos da barra (i.e., os

bordos que unem duas paredes adjacentes) permanecerem indeformados, com a deformação

das secções a dever-se, exclusivamente, à flexão das paredes interiores.

Os elementos estruturais de aço enformados a frio podem ser encarados como um

conjunto de placas longas, ligadas entre si ao longo dos respectivos bordos longitudinais. Do

ponto de vista estrutural, a estabilidade destas secções em relação ao ML e a estabilidade de

placas isoladas são fenómenos análogos, facto que explica que a instabilidade de uma secção

deste tipo seja, precisamente, condicionada e precipitada por a instabilidade da parede (placa)

mais esbelta que a constitui (as restantes deformam-se apenas por compatibilidade).

Os trabalhos iniciais sobre estabilidade de placas datam do século XIX, princípio do

século XX, devendo-se (i) a Saint-Venant, a determinação da equação diferencial de equilíbrio

de uma placa submetida à compressão uniforme, (ii) a Bryan, a determinação da solução dessa

equação para placas simplesmente apoiadas, e (iii) a Reissener e a Timoshenko, a solução para

placas com outras condições de apoio. Na equação (2.14) apresenta-se a expressão da tensão de

bifurcação para uma placa simplesmente apoiada nos quatro bordos, comprimida segundo a sua

maior dimensão (ver Figura 2.5)

2

2

2

2

bb

a

m

1m

a

D , (2.14)

onde D=Et3/12(1-2), E é o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do material da

placa, t a sua espessura, m o número de semi-ondas do modo segundo a direcção x, e a e b as

dimensões da placa a expressão está particularizada para modos com uma semi-onda

segundo y, i.e., para placas em que a>b.

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b

a

y

x

z

t

Figura 2.5 – Placa simplesmente apoiada submetida a compressão uniforme [25].

Naturalmente, o estudo rigoroso do comportamento de estabilidade de secções de

parede fina no ML tem por base os trabalhos referidos sobre placas isoladas, requerendo,

contudo, a consideração de outros aspectos resultantes da “presença” de várias placas,

designadamente quanto (i) à compatibilidade de deslocamentos e rotações entre placas e (ii) ao

equilíbrio de forças e momentos ao longo dos bordos longitudinais internos. A necessidade de

satisfazer estas condições adicionais, combinada com a não linearidade das equações de

equilíbrio que governam o comportamento de cada placa, dificulta a obtenção de soluções

analíticas gerais (apenas existem soluções analíticas para problemas simples em termos de

condições de apoio e/ou carregamento). Nestas condições, o estudo do comportamento de

estabilidade de secções de parede fina no ML faz-se, na prática, recorrendo a métodos

(aproximados) numéricos. Na Figura 2.6(a) ilustra-se a configuração de um ML (cinco semi-

ondas) obtido por elementos finitos para uma coluna de secção em Z, onde se observam

precisamente as características atrás indicadas para este modo local: os bordos longitudinais

internos da barra permanecem indeformados, com a deformação das secções a dever-se à

flexão das paredes, nomeadamente da alma.

(a) (b) (c)

Figura 2.6 – Exemplos de configurações deformadas de uma coluna com secção em Z: (a) modo local (b) modo

distorcional e (c) modo “combinado” local/distorcional.

Modo distorcional

Estes modos são caracterizados por a deformação da secção ocorrer fundamentalmente

por distorção, com determinadas paredes a exibirem deslocamentos “quase” de corpo rígido. A

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deformação da secção tem origem na torção de um conjunto de paredes em torno de um bordo

interno, flectindo as restantes paredes de forma a garantir a necessária compatibilidade entre placas.

Os trabalhos iniciais sobre instabilidade distorcional são relativamente recentes (meados

do século XX) e devem-se a Lundquist e Stowell. Os estudos mais importantes neste domínio

foram efectuados nos finais dos anos setenta, princípios de oitenta, por dois grupos de

investigadores das Universidades de Cornell e de Sydney, os quais (i) detectaram a presença de

um segundo mínimo local nas curvas que fornecem a variação da carga crítica de certas colunas

com o seu comprimento e (ii) propuserem as primeiras expressões analíticas para estimar a carga

crítica distorcional de colunas com secção em C. Neste ponto em particular (i.e., expressões

analíticas para a determinação da carga crítica) devem salientar-se as fórmulas propostas por

Silvestre [1] para perfis de aço enformados a frio, obtidas tirando partido das propriedades

modais que caracterizam a Teoria Generalizada de Vigas (Generalised Beam Theory, GBT).

Essas fórmulas foram estabelecidas para barras (i) submetidas à compressão uniforme (colunas),

flexão pura (vigas) ou a uma combinação arbitrária de compressão e flexão (colunas-viga), (ii)

exibindo várias condições de apoio, e (iii) com secções em C, em Z e em “hat”6. Na equação

2.15 indica-se, a título ilustrativo, a expressão proposta para o esforço axial crítico distorcional

(Pb.min) para uma coluna de secção em C.

S

SBCSS

bX

GDBECP

2min. , (2.15)

onde E e G são os módulos de elasticidade e distorção do aço, CS, BS, DS e XS, são um conjunto

de coeficientes para os quais os autores forneceram expressões analíticas (função das dimensões

da secção transversal), dependendo os coeficientes C e B das condições de apoio da coluna.

Contudo, habitualmente, o estudo do comportamento de estabilidade no MD em perfis

de parede fina, faz-se recorrendo a métodos numéricos (e.g., métodos da faixas finitas ou

elementos finitos), ilustrando-se na Figura 2.6(b) a configuração de um modo distorcional

(uma semi-onda) obtida por elementos finitos para uma viga de secção em Z – nesta figura

podem observar-se as características atrás mencionadas sobre este modo de instabilidade,

designadamente, o facto dos bordos longitudinais internos da barra permanecerem

indeformados, com os banzos do perfil a exibirem deslocamentos “quase” de corpo rígido.

6 Designação anglo-saxónica para secções transversais que se assemelham a um “chapéu” – secção semelhante à

em C, mas com os reforços para o exterior.

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2.4.2. Interacção entre modos de instabilidade

No presente contexto, a designação “interacção entre modos de instabilidade” aplica-se

a um conjunto de fenómenos que condicionam o comportamento de pós-encurvadura de

estruturas (ou elementos estruturais) e que têm como principal característica o facto de a

instabilidade estar associada à ocorrência simultânea (ou quase) de mais do que um modo de

natureza distinta – certamente esta ocorrência traduz-se em valores quase idênticos para o

parâmetro de carga de bifurcação associado aos modos em questão [1].

Os elementos estruturais com secção de parede fina aberta, nomeadamente, os perfis de

aço enformados a frio, têm uma maior susceptibilidade para exibirem fenómenos de interacção

modal devido ao facto de utilizarem chapas de reduzida espessura para os perfis. De facto, é

frequente encontrar, para um dado carregamento e determinadas características dos perfis (e.g.,

geometria e dimensões da secção transversal, comprimento, condições de apoio), valores próximos

para os esforços de bifurcação em vários modos de instabilidade de natureza diferente. Na Figura

2.6(c) ilustra-se precisamente uma situação onde ocorre um fenómeno de interacção deste tipo,

envolvendo a estabilidade de uma coluna simplesmente apoiada de secção em Z – observe-se que

a coluna instabiliza num modo “combinado” distorcional (uma semi-onda) e local (cinco semi-

ondas).

A identificação de potenciais situações de interacção modal para um perfil com uma

determinada secção de parede fina faz-se a partir da análise linear de estabilidade (i)

determinando curvas que ilustram a variação do esforço crítico de bifurcação com o

comprimento L do perfil, e (ii) identificando os valores de L para os quais se observa a coincidência

entre os esforços de bifurcação para dois ou mais modos de instabilidade de natureza diferente.

Na Figura 2.7 apresentam-se, esquematicamente, três curvas b vs. L (onde b é o parâmetro de

carga de bifurcação) para um perfil simplesmente apoiado (de secção arbitrária, mas exibindo

instabilidade distorcional), quando se admite apenas um semi-comprimento de onda para os

vários modos de instabilidade. A observação desta figura permite identificar os seguintes

fenómenos de interacção modal:

(i) Interacção entre os modos locais e globais7 (L/G). Esta interacção está associada ao

comprimento LL/G (ver Figura 2.7(a)), ao qual corresponde, normalmente, uma configuração

deformada do perfil com (i1) um semi-comprimento de onda global e (i2) “muitos”

7 Recorde-se que estes podem ser por flexão ou flexão-torção.

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semi-comprimentos de onda locais – recorde-se que na figura apenas se representam as

curvas associadas à instabilidade com uma única semi-onda.

(ii) Interacção entre modos distorcionais e globais (D/G). Esta interacção apenas ocorre

quando o mínimo distorcional é inferior ao local e está associada ao comprimento LD/G

representado na Figura 2.7(b), para o qual corresponde, em geral, uma configuração

deformada do perfil com (ii1) um único semi-comprimento de onda global e (ii1)

“poucos” semi-comprimentos de onda distorcionais.

(iii) Interacção entre modos locais e distorcionais (L/D). Esta interacção está associada aos

comprimentos LL/D da Figura 2.7(c), para o qual corresponde, normalmente, uma

configuração deformada do perfil com (iii1) um único semi-comprimento de onda

distorcional e (iii1) “alguns” semi-comprimentos de onda locais.

(iv) Finalmente, interacção entre modos locais, distorcionais e globais (L/D/G). Esta interacção

está associada ao comprimento LL/D/G da Figura 2.7(c) e envolve uma configuração

deformada com (iv1) um semi-comprimento de onda global, (iv2) “poucos” semi-

comprimentos de onda distorcionais e (iv3) “muitos” semi-comprimentos de onda locais.

cr

LP-GL

LPL

b b

cr

LD

LD-G

LLP

LLP/D-G

L

cr

b

LP-D (a) (b) (c)

Figura 2.7 – Curvas b vs. L ilustrativas dos diferentes casos de interacção modal. (a) Interacção local/global, (b)

interacção distorcional/global e (c) interacção local/distorcional/global [25].

No presente trabalho, estuda-se um problema de interacção envolvendo os modos locais

L e D, i.e., um problema com características semelhantes às do item (iii). Em particular, procura

analisar-se o comportamento de pós-encurvadura de perfis de aço enformados a frio, (i)

simplesmente apoiados e com secção em Z, (ii) submetidos a compressão pura, e (iii) exibindo

valores semelhantes da carga de bifurcação nos modos L e D. O estudo a efectuar procura

determinar o efeito da interacção na resistência de pós-encurvadura e identificar o modo de

colapso das colunas. Refira-se, por curiosidade, que durante algum tempo se julgou que o

“dimensionamento óptimo” de um sistema estrutural consistia em conseguir que a instabilidade

ocorresse, em simultâneo, nos vários modos de instabilidade relevantes – segundo esta filosofia

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de dimensionamento, perfis como os considerados no presente estudo seriam considerados os

ideais. Contudo os estudos entretanto efectuados mostraram que a interacção tem um efeito

adverso na resistência dos elementos estruturais [e.g. 12, 25].

2.5. Métodos de análise

Os enormes progressos que ocorreram nas últimas décadas na área da mecânica

computacional e da análise numérica de estruturas, em conjunto com a disseminação de

computadores cada vez mais rápidos e com maiores capacidades, e de sofisticadas ferramentas

de cálculo, conduziram à utilização generalizada de vários métodos numéricos de análise em

engenharia de estruturas, os quais envolvem a discretização da estrutura, i.e., a sua

transformação num sistema (discreto) com um número finito de graus de liberdade. Dos

diversos métodos existentes para efectuar a análise de estabilidade de perfis de secção de

parede fina destacam-se, (i) o Método dos Elementos Finitos, sem dúvida o mais popular, [e.g.,

31], (ii) o Método das Faixas Finitas [e.g., 32] e (iii) as implementações numéricas de formulações

da Teoria Generalizada de Vigas [e.g.,33]. Em seguida apresentam-se, muito sumariamente, as

principais características dos dois primeiros, os quais foram utilizados nas análises de

estabilidade efectuadas no decurso desta dissertação [30].

Método dos Elementos Finitos (MEF)

Devido à necessidade de considerar na análise de elementos estruturais de secção de

parede fina, simultaneamente, modos de deformação/instabilidade locais e globais, torna-se

indispensável adoptar nessas análises uma modelação bidimensional para as barras, i.e.,

proceder à discretização da sua superfície média através de elementos finitos de casca (ver

Figura 2.8(a)). Em cada elemento finito, geralmente de forma triangular ou quadrangular, o

campo de deslocamentos é aproximado por meio de uma combinação linear de “funções de

forma” (em geral polinómios), cujos coeficientes são os deslocamentos nodais generalizados

(e.g., deslocamentos propriamente ditos ou rotações). “Somando” de forma conveniente a

rigidez dos vários elementos finitos (operação conhecida por assemblagem da matriz de rigidez

global) e impondo as apropriadas condições de apoio, é possível obter a rigidez discretizada do

elemento estrutural, a qual é necessária para efectuar as análises atrás referidas. Refira-se que a

larga maioria das análises actualmente efectuadas pela comunidade técnico-científica ligada às

estruturas metálicas são executadas, recorrendo a um dos vários programas comerciais

existentes no mercado (e.g., ABAQUS, ADINA ou ANSYS). De facto, dada a sua sólida

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23

fundamentação matemática, versatilidade, eficácia e sofisticação, estes programas tornaram-se

num instrumento precioso para a realização de qualquer tipo de análise, designadamente, quando

se consideram comportamentos geométrica e fisicamente não lineares.

Método dos Faixas Finitas (MFF)

Este método pode ser encarado como uma variante do MEF (elementos de casca), tendo

sido desenvolvido de modo a superar os problemas relacionados com o elevado esforço

computacional necessário para efectuar as análises por elementos finitos de perfis de secção de

parede fina. O método (i) tira partido da natureza prismática dos referidos elementos estruturais

e (ii) discretiza a linha média da secção transversal num número finito de segmentos, (iii) com

cada segmento a corresponder a uma faixa com uma dimensão longitudinal igual à do

comprimento total da barra – ver Figura 2.8(b). No interior de cada faixa o campo dos

deslocamentos é aproximado (i) na direcção transversal, por funções de forma polinomiais que

asseguram a compatibilidade entre faixas adjacentes, e (ii) na direcção longitudinal, por funções

que, simultaneamente, devem ser capazes de descrever a variação longitudinal do campo de

deslocamentos e de satisfazer as condições de apoio da barra. A precisão dos resultados obtidos

por este método depende do nível de discretização da secção transversal, i.e., do número de faixas, e

da “qualidade” destas funções longitudinais (em geral, sinusoidais) – só será exacta quando os

elementos estruturais são simplesmente apoiados e estão sujeitos a esforço constante. Neste contexto,

é importante referir o desenvolvimento do Método das Faixas Finitas com Funções “Spline” [e.g.,

34], o qual permite alargar o domínio de aplicação do MFF a elementos estruturais com outras

condições de apoio e, de algum modo, o “combina” com o MEF (a variação longitudinal das

componentes dos deslocamentos é aproximada por meio de funções “B3-Spline”, as quais

substituem as funções analíticas adoptadas pelo MFF).

Apesar do enorme desenvolvimento que ocorreu na última década em termos de

computadores (particularmente em termos de computadores pessoais), o MFF ainda hoje

constitui uma alternativa bastante vantajosa ao MEF, nomeadamente, no âmbito da análise de

estabilidade de barras (prismáticas) simplesmente apoiadas, submetidas a carregamentos

simples (e.g., compressão, flexão uniformes) – não pode deixar de referir-se que estão actualmente

disponíveis dois programas de cálculo de muito fácil utilização para efectuar esse tipo de análises: (i)

THIN-WALL, desenvolvido na Universidade de Sydney, e (ii) CUFSM [27], elaborado por Schafer da

Universidade Johns Hopkins de Baltimore e que foi utilizado no decurso da presente dissertação.

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(a) (b)

Figura 2.8 – Discretização de uma barra de secção em C (a) em elementos finitos de casca, (b) em faixas finitas

[1].

Por fim, refira-se que, a maioria das análises lineares de estabilidade realizadas no

decurso deste trabalho foram efectuadas por faixas finitas, recorrendo ao programa CUFSM

[27], e tiveram por objectivo seleccionar as dimensões dos perfis de secção em Z afectadas por

interacção modal L/D. As respectivas análises por elementos finitos foram em menor número e

tiveram por objectivo (i) confirmar e validar o modelo de elementos finitos adoptado, assim como

(ii) obter a configuração dos modos de instabilidade L e D, cuja combinação define a

imperfeição geométrica inicial a considerar nas análises não lineares de estabilidade com

interacção modal. Naturalmente, todas as análises de pós-encurvadura dos perfis foram

efectuadas por elementos finitos, recorrendo ao programa comercial ABAQUS [28],

descrevendo-se no capítulo seguinte as características do modelo adoptado.

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25

CAPÍTULO 3

MODELAÇÃO POR ELEMENTOS FINITOS

3.1. Introdução

Neste capítulo apresentam-se e discutem-se os vários aspectos relativos à utilização e

implementação computacional do método dos elementos finitos (MEF) para efectuar a análise

linear de estabilidade e de pós-encurvadura de perfis de aço enformados a frio. Todas as análises

são efectuadas utilizando o programa ABAQUS [28], referindo-se, em seguida, os aspectos mais

importantes relativos (i) à discretização dos perfis, (ii) à modelação das condições de apoio e

do carregamento, (iii) às imperfeições iniciais a considerar nas análises de pós-encurvadura, (iv)

aos modelos constitutivos adoptados para o aço e (v) às técnicas de resolução de problemas de valores

próprios (análise linear de estabilidade) e de sistemas de equações de equilíbrio não lineares

(análises de pós-encurvadura). Finalmente, apresentam-se alguns exemplos de validação dos

procedimentos adoptados.

3.2. Discretização do perfil

A discretização de um problema por elementos finitos envolve dois aspectos fundamentais: (i)

a escolha do elemento finito, e (ii) a definição do número de elementos (i.e., dos graus de liberdade)

do problema. Seguidamente, descrevem-se os motivos que estiveram na origem da escolha do

elemento finito e das discretizações adoptadas para os vários perfis analisados neste trabalho.

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3.2.1. Escolha do elemento finito

Para analisar a instabilidade local e global de perfis de secção de parede fina é

necessário discretizar a superfície média das paredes, utilizando elementos finitos de casca. De

entre os vários elementos disponíveis na biblioteca de elementos do ABAQUS, os elementos

isoparamétricos com quatro nós (ver Figura 3.1) permitem uma adequada discretização das

placas rectangulares que constituem os perfis de aço enformados a frio, tendo a vantagem

adicional de simplificar bastante a geração automática das malhas. Foram, por isso, os

escolhidos para a realização deste trabalho.

1 2

3

4

Elemento com 4 nósElemento com 4 nós

4

3

21

1

1 2

3

44

3

21

2

1 2

3

44

3

21

1

43

1

1 2

3

44

3

21

2

1 2

3

44

3

21

1

43

(a) (b) (c)

Figura 3.1 – (a) Elemento com quatro nós. Localização dos pontos de integração da parcela de corte dos elementos

(b) S4 (integração completa) e (c) S4R, S4R5 (integração reduzida).

A biblioteca do ABAQUS dispõe de três elementos finitos de casca com quatro nós

designados, respectivamente, por S4, S4R e S4R5 (a letra “S” corresponde à inicial de shell).

Relativamente às características e ao domínio de aplicação destes elementos, o manual do

ABAQUS refere o seguinte:

(i) Os três elementos tomam em consideração a deformação por corte.

(ii) Os elementos S4 e S4R são elementos de casca, eventualmente espessa, cuja

formulação é válida para grandes deformações de membrana.

(iii) O elemento S4R5 deve ser preferencialmente utilizado na resolução de problemas que

envolvam cascas finas8 e pequenas deformações, i.e., deve evitar-se a sua utilização

quando as deformações são finitas. Note-se que o elemento permite, no entanto,

modelar comportamentos estruturais com grandes rotações, desde que estas estejam

naturalmente associadas a pequenas deformações.

8 De acordo com o manual do ABAQUS, uma casca diz-se fina se a sua espessura for inferior a cerca de 1/15 do

comprimento característico da respectiva superfície média, cuja natureza depende do tipo de problema em

análise (e.g., o comprimento de onda do modo de instabilidade, a distância entre apoios).

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Para além destas diferenças na formulação, os elementos S4, S4R e S4R5 diferem entre

si também no número de graus de liberdade por nó e no número de pontos considerados na

integração da parcela devida ao corte da matriz de rigidez do elemento9. Os elementos S4 e

S4R consideram seis graus de liberdade por nó (três deslocamentos e três rotações), enquanto

que os elementos S4R5 consideram apenas cinco a rotação de eixo perpendicular à superfície

média do elemento é condensada. Quanto ao número de pontos envolvidos na integração

numérica da parcela da matriz de rigidez devida ao corte, cuja localização se apresenta na

Figura 3.1(b) e 3.1(c), o elemento S4 considera quatro pontos (integração completa), enquanto

que os elementos S4R e S4R5 consideram apenas um ponto (integração reduzida) 10.

A integração reduzida diminui consideravelmente o tempo de execução, sobretudo em

problemas tridimensionais, e evita o designado problema do “locking” da solução11. Por estas

razões, os elementos S4R e S4R5 (ou de tipo semelhante) são frequentemente adoptados na

análise de perfis de aço enformados a frio. Contudo, estudos recentes chamaram a atenção para

a necessidade de ter de haver algum cuidado na utilização deste tipo de elementos,

designadamente na análise linear de estabilidade e de pós-encurvadura distorcional de colunas.

No primeiro dos estudos [35], determinaram-se curvas que traduzem a variação da tensão

crítica e da correspondente natureza do modo de instabilidade em função do comprimento L do

perfil de colunas simplesmente apoiadas de secção em C, em Z e em “Rack”12 (ver Figura 3.2).

A observação dessas curvas mostrou que (i) o valor da carga crítica obtido quando as colunas

são discretizadas por elementos S4R e S4R5 é praticamente coincidente, (ii) os valores obtidos

utilizando elementos S4 e S4R são muito semelhantes nas colunas “curtas” (instabilidade num

modo local), e um pouco diferentes (ii1) nas colunas “intermédias” (instabilidade num modo

distorcional), e (ii2) nas colunas “longas” (instabilidade num modo global – por flexão ou

flexão-torção), (iii) no caso das colunas “intermédias” e nas colunas “longas”, os valores

obtidos com elementos S4R são sempre inferiores aos obtidos com elementos S4, e finalmente,

(iv) os elementos S4 apresentam um melhor desempenho quando comparados com os

resultados de referência (obtidos com base na Teoria Generalizada de Vigas GBT).

9 A determinação dos coeficientes das matrizes de rigidez elementares faz-se, de um modo geral, por integração numérica,

recorrendo a fórmulas do tipo

f (x,y,z)dxdydz f (xi,yi,zi)uiviwii1

N

i1

N

i1

N

, onde xi, yi e zi são as

coordenadas dos pontos de integração, ui, vi e wi os denominados pesos e N é o número de pontos (ou ordem) da

integração. 10

A integração numérica designa-se por completa quando o número de pontos considerado é suficiente para

garantir a exacta integração dos coeficientes e por reduzida quando esse número é inferior à da ordem de

integração exacta. 11

Problema da excessiva rigidez da solução quando se considera a formulação de cascas espessas e se faz tender

para zero a espessura da casca. 12

Esta designação, de difícil tradução, deve-se ao facto de este tipo de perfis ser utilizado com frequência em

estruturas de armazenamento (“storage rack”, na língua inglesa).

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(a) (b)

Figura 3.2 – Influência do elemento finito no valor da tensão crítica em colunas de secção (a) em C e Z e (b) em “Rack”

[35].

O segundo estudo [36], respeitante ao comportamento de pós-encurvadura distorcional

de colunas simplesmente apoiadas de secção em C (ver Figura 3.3), mostrou que as trajectórias

de equilíbrio vs. v/t (onde é a tensão normal média, v o deslocamento vertical na ligação

banzo-reforço da secção de meio vão e t a espessura da chapa) que se obtêm quando se

discretiza o perfil (i) por elementos S4R e S4R5, também não se distinguem; (ii) com

elementos S4 são mais rígidas do que as determinadas com elementos S4R; e, finalmente, (iii)

com elementos S4 são praticamente coincidentes com as determinadas com base no MFF com

funções “Spline” (considerada como referência e indicada na figura como SFSM).

100

200

0 2 4

v / t

(MPa )

S4

S4R

SFSM

Figura 3.3 – Influência do elemento finito nas trajectórias de pós-encurvadura distorcional de coluna de secção em C

[36].

A menor rigidez dos resultados obtidos com os elementos de casca S4R e S4R5, tanto

na análise linear de estabilidade como na de pós-encurvadura, deve-se (i) à importância que o

corte tem no comportamento distorcional dos perfis (a distorção e o empenamento

desempenham um papel essencial nesse comportamento) e (ii) à sub-avaliação que estes

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elementos fazem da rigidez de corte ao sub-integrarem a respectiva parcela da matriz de

rigidez elementar. Estudos posteriores dos mesmos autores mostraram que os resultados

obtidos com os referidos elementos S4R e S4R5 melhoram com uma maior discretização dos

reforços dos perfis (zona onde a distorção é mais acentuada no modo MD), continuando,

contudo, a ser mais vantajosa a utilização dos elementos S4 [36].

Em face deste comportamento, de entre os vários elementos finitos de casca de quatro

nós disponíveis no ABAQUS, escolheram-se os elementos S4 para analisar o comportamento de

estabilidade e de pós-encurvadura de todos os perfis de aço enformados a frio considerados no

decurso deste trabalho.

3.2.2. Definição da malha

O número de graus de liberdade e pontos de integração considerados numa análise por

elementos finitos influenciam bastante o esforço computacional e a precisão dos resultados

obtidos. Sendo estes efeitos antagónicos, é necessário identificar o número óptimo de

elementos para discretizar um determinado perfil. Com isto, assume-se o facto de nem sempre

uma grande quantidade de elementos conduzir a resultados precisos ou a uma boa discretização

i.e., a que consegue equilibrar o esforço computacional com a precisão dos resultados obtidos.

Neste trabalho, seguiu-se um conjunto de regras estabelecidas quanto à discretização

transversal e longitudinal a utilizar na análise linear de estabilidade e de pós-encurvadura de

perfis de aço enformados a frio [35,37]. Assim, para cada malha, consideram-se discretizações

em que (i) a dimensão dos elementos é mantida constate ao longo da direcção longitudinal do

perfil (i.e., não há um aumento do número de elementos junto aos apoios), (ii) o nível de

discretização é estabelecido mediante uma análise linear de estabilidade “preliminar” que

conduzisse a resultados próximos dos obtidos através do MFF e (iii) a dimensão dos elementos

quadrados é de aproximadamente 10mm de lado.

3.3. Condições de apoio

As condições de apoio têm uma grande importância no comportamento dos perfis de aço

enformados a frio, podendo a sua inadequada modelação influenciar significativamente os

resultados obtidos na análise linear de estabilidade ou de pós-encurvadura de perfis. Este facto

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30

assume particular importância quando se pretende comparar resultados numéricos com os

obtidos em ensaios experimentais, sendo frequente encontrar na literatura referência a várias

situações em que essas diferenças são atribuídas (i) à inadequada modelação das condições de

apoio por elementos finitos ou (ii) à dificuldade em materializar, em termos experimentais,

condições de apoio ideais [37, 38].

Antes de proceder à modelação das condições de apoio dos perfis, é conveniente

clarificar alguns aspectos importantes, designadamente a distinção que é necessário fazer entre

condições de apoio globais e locais [35]:

(i) As condições de apoio globais dizem respeito aos deslocamentos de corpo rígido das

secções extremas das barras, i.e., deslocamentos e rotações do eixo da barra, existindo

6 condições de apoio deste tipo em cada extremidade do perfil.

(ii) As condições de apoio locais dizem respeito aos deslocamentos e rotações dos bordos

transversais das paredes que formam a barra, os quais têm que ser compatíveis (ii1)

com as condições globais e (ii2) entre si, ao longo da linha média de cada secção

extrema o empenamento consiste num exemplo de um deslocamento associado a

uma condição de apoio local.

Para ilustrar a diferença entre as rotações de flexão globais e locais, a Figura 3.4 mostra

três situações distintas e fisicamente possíveis, envolvendo a ligação entre o bordo transversal

da parede de um perfil e uma chapa de extremidade rígida (i.e., o empenamento está impedido

na secção extrema): (i) rotação global impedida e rotação local livre (Figura 3.5(a)), (ii) rotação

global livre e rotação local impedida (Figura 3.4(b)) e (iii) as duas rotações livres (Figura 3.4(c)).

G

L

parede

fina

chapa

rígida fixa

L

G

(a) (b) (c)

Figura 3.4 – Ilustração da diferença entre as rotações de flexão globais e locais [35].

Seguidamente, apresenta-se e descreve-se um conjunto de condições de apoio frequentemente

modeladas nas análises numéricas e/ou consideradas em ensaios experimentais:

(i) Secção livre. Todos os deslocamentos/rotações locais e globais livres.

(ii) Secção fixa. Todos os deslocamentos/rotações locais e globais impedidos. Esta é a

condição de apoio implementada na maioria dos ensaios experimentais com colunas

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31

realizados, por exemplo, na Universidade de Sydney [38] obviamente, o

deslocamento axial da extremidade onde a carga é aplicada deverá ser considerado

livre.

(iii) Secção simplesmente apoiada. Os deslocamentos transversais e as rotações de torção

globais da secção (i.e., do seu centro de gravidade) estão impedidos, havendo várias

possibilidades quanto aos deslocamentos locais de flexão e membrana: (iii1) podem

estar todos impedidos (condição semelhante à considerada no MFF), (iii2) só alguns

impedidos ou (iii3) só um impedido apoio do tipo “forquilha”.

(iv) Secção localmente fixa e globalmente simplesmente apoiada. Os deslocamentos

transversais e as rotações de torção globais da secção estão impedidos, assim como os

deslocamentos de flexão e membrana e as rotações locais. Esta condição de apoio foi,

por exemplo, admitida num conjunto de ensaios experimentais efectuados na

Universidade Federal do Rio de Janeiro [39].

(v) Secção localmente rotulada e globalmente fixa. Os deslocamentos transversais e as

rotações de torção globais da secção estão impedidos, enquanto que os deslocamentos

de flexão e membrana e as rotações locais encontram-se livres.

Nas análises efectuadas, consideraram-se as secções extremas dos perfis como

simplesmente apoiadas, o que significa que estas secções estão articuladas e podem empenar

livremente. No que diz respeito ao modelo de cálculo, esta condição de apoio foi simulada (i)

impedindo os deslocamentos transversais e (ii) permitindo o deslocamento axial e as rotações

de flexão de todos os nós das extremidades da barra. De modo a evitar problemas numéricos

relacionados com movimentos de corpo rígido do perfil, impediram-se também (i) as rotações

de torção nas secções extremas e (ii) o deslocamento axial do nó situado a meia altura da alma

da secção de meio vão do perfil.

Importa referir que a modelação da condição de secção simplesmente apoiada, através

da imposição de deslocamentos transversais nulos em todos os nós da secção, provoca um

fenómeno de concentração de tensões nas extremidades que pode ter consequências na análise

de estabilidade dos perfis pelo MEF [35, 37] 13. As Figuras 3.5(a)(c) ilustram essa influência

para colunas de secção C, Z e “Rack”. Nesta figura apresentam-se pares de curvas cr vs. L/b1

(sendo cr a tensão crítica, b1 a altura da alma e L o comprimento do perfil) quando a referida

condição de apoio é modelada de duas formas: (i) impedindo todos os deslocamentos

13

Este fenómeno não surge nas análises através do MFF ou da GBT.

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32

transversais ao longo dos bordos do perfil (procedimento adoptado neste trabalho e que gera o

referido estado não uniforme de tensão no perfil curva nun) ou (ii) libertando alguns deles,

de forma selectiva (procedimento que conduz a estados uniformes de tensão curva un). O

estudo permitiu concluir que (i) a concentração de tensões reduz o valor de cr apenas nas

colunas “curtas”, i.e., naquelas que instabilizam em modos locais, (ii) o efeito da concentração

de tensões diminui com o comprimento da coluna, mas só desaparece totalmente quando o

modo crítico passa a ser distorcional (isto se os valores mínimos dos dois modos forem

razoavelmente diferentes – caso da Figura 3.5(a)), (iii) os valores mínimos, relativos à

instabilidade em modos locais com um número crescente de semi-comprimentos de onda, vai

aumentando e tendendo para o “valor ideal”, i.e., o valor obtido com um estado de tensão

uniforme – caso das Figuras 3.5(b) e 3.5(c).

(a) (b) (c)

Figura 3.5 Influência da concentração de tensões no valor da tensão crítica em colunas de secção em (a) C,

(b) Z e (c) “Rack” [35].

3.4. Carregamento

Neste trabalho são analisados perfis submetidos à compressão simples, sendo os estados

de tensão obtidos por aplicação, nas secções extremas dos perfis, de um conjunto de forças

nodais segundo a direcção longitudinal e estaticamente equivalentes aos referidos estados de

tensão (ver Figura 3.6).

O carregamento consiste numa carga distribuída, de valor uniforme na secção, que gera

um estado de tensão de compressão de 1 MPa nos perfis. Deste modo, o valor do parâmetro de

carga fornecido pelo ABAQUS consiste na tensão média de compressão na coluna (em MPa),

sendo o valor da carga determinado multiplicando o parâmetro de carga pela área da secção

transversal do perfil.

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33

Figura 3.6 – Perfil em Z submetido à compressão uniforme.

O ABAQUS não permite a introdução de cargas distribuídas actuando segundo a

superfície média do elemento finito de casca. Por isso, todos os carregamentos distribuídos

aplicados nesta direcção têm de ser transformados em “forças nodais” equivalentes, com estas

forças a serem (i) estaticamente equivalentes às tensões aplicadas.

Convém referir que não é conveniente a consideração de forças ou momentos

concentrados (e.g., aplicados no centro de gravidade de secções extremas) em perfis

simplesmente apoiados e com empenamento livre14. De facto, nestes casos, a consideração de

uma única força ou momento aplicado num nó origina concentração de tensões/deformações na

vizinhança do ponto de aplicação da carga que naturalmente altera o comportamento de

estabilidade do perfil, designadamente o modo de instabilidade e o valor da carga/momento

crítico15 [25].

Na Figura 3.7, ilustra-se este aspecto da modelação para o perfil de secção transversal

em Z, submetido a flexão uniforme (desviada) a ser aplicada por meio de forças distribuídas e

momentos concentrados, sendo possível concluir que (i) os dois tipos de carregamento

conduzem a diferentes configurações dos modos críticos de instabilidade (a aplicação de um

momento flector concentrado conduz a uma instabilidade local do perfil) e (ii) a concentração

de tensões que resulta da aplicação de um momento flector no centro de gravidade da secção

reduz significativamente o valor de Mcr (neste caso, para menos de 45%).

14

Este fenómeno não surge nas análises através do MFF ou da GBT (a introdução das forças aplicadas é distinta). 15

Este efeito não ocorre se a secção extrema estiver ligada a uma placa rígida, uma vez que esta acaba por

redistribuir a carga por os restantes nós da secção.

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34

(a)

(b)

Figura 3.7 – Perfil em Z submetido à flexão uniforme. Modo de instabilidade e momento crítico associado a dois

carregamentos estaticamente equivalentes. [25]

3.5. Imperfeições iniciais

É habitual classificar as imperfeições dos perfis metálicos em:

(i) Imperfeições materiais, de que são exemplo (i1) as tensões residuais e (i2) a

variabilidade das propriedades mecânicas do material (tensão de cedência, módulo de

elasticidade, etc.).

(ii) Imperfeições geométricas, de que são exemplo (ii1) a curvatura inicial do eixo da

barra (flecha inicial), (ii2) a variabilidade das dimensões (incluindo a espessura da chapa),

(ii3) a existência de distorção e/ou (ii4) de empenamento da secção transversal do perfil.

Vários estudos mostram que a importância das tensões residuais (imperfeições

materiais mais significativas) depende do tipo de perfil metálico (e.g. [40]).

Nos perfis com secções laminadas a quente, os valores das tensões residuais

desenvolvidas no processo de arrefecimento são muito significativas, podendo ser superiores a

1/3 da tensão de cedência do material. Essas tensões (de componentes longitudinal e

transversal) ocorrem em zonas importantes da secção transversal, como as extremidades dos

banzos de secções em I ou C, devendo ser tidas em conta na previsão da resistência última dos

elementos de aço laminados a quente.

Nos perfis de aço enformados a frio, desenvolvem-se também tensões residuais durante

o processo de fabrico dos perfis, designadamente durante a dobragem. Contudo, as

Mcr = 851 Nm

Mcr = 372 Nm

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35

componentes mais significativas destas tensões ocorrem segundo a direcção transversal do

perfil e não segundo a direcção longitudinal (direcção segundo a qual o carregamento gera as

tensões mais elevadas). Estudos efectuados por vários autores, (e.g. [40]), mostraram que as

tensões residuais não afectam de forma significativa a resistência dos perfis de aço enformados

a frio, razão pela qual não se considera a sua presença nos perfis analisados no decurso deste

trabalho.

As imperfeições geométricas, sempre presentes em qualquer elemento estrutural,

podem afectar significativamente a resistência de perfis metálicos. Torna-se, por isso,

indispensável contabilizar este tipo de imperfeições ao efectuar o estudo do comportamento de

pós-encurvadura de perfis de aço enformados a frio.

Sarawit et al. [41] propõem três possíveis abordagens para incluir as imperfeições

geométricas nas análises numéricas, designadamente (i) utilizar uma imperfeição que consista

na sobreposição dos vários modos de instabilidade, com uma amplitude a definir, (ii) utilizar o

espectro dos valores das imperfeições gerado a partir de medições (só viável se for possível

efectuar medições rigorosas), (iii) recorrer a técnicas estocásticas e gerar aleatoriamente a

forma da imperfeição geométrica.

No presente trabalho seguiu-se a primeira abordagem, i.e., as imperfeições geométricas

são consideradas como combinações lineares das configurações dos modos de instabilidade,

tendo o programa ABAQUS a possibilidade de incorporar tais imperfeições nas análises de pós-

encurvadura, bastando para tal (i) efectuar a análise de estabilidade dos perfis, (ii) seleccionar

os modos de instabilidade a combinar e (iii) definir o coeficiente de participação do modo na

configuração pretendida.

3.6. Modelação do material

Na Figura 3.8 apresentam-se dois diagramas tensão-deformação obtidos em ensaios de

tracção uniaxial para dois tipos de aço (carbono) [42]. De um modo geral, pode afirmar-se que

os diagramas apresentam (i) um troço inicial linear (até à tensão limite de elasticidade), troço

esse caracterizado pelas constantes elásticas E e , respectivamente, o módulo de elasticidade e

o coeficiente de Poisson, e (ii) um segundo troço não linear, onde ocorrem grandes

deformações plásticas e algum endurecimento, mais ou menos significativo, em função do tipo

de aço ensaiado. Este segundo troço, de difícil caracterização, envolve o conhecimento dos

valores da tensão de cedência (fy) e da tensão última (fu) do material.

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36

Figura 3.8 – Curvas tensão-deformação para dois tipos de aço [42].

Têm sido considerados vários modelos constitutivos para descrever o comportamento

mecânico de um material com as características do aço. Na Figura 3.9 apresentam-se alguns

desses modelos, designadamente os modelos (i) elástico linear, (ii) elasto-plástico perfeito e

(iii) elasto-plástico com endurecimento.

1E E

1

E1

(a) (b) (c)

Figura 3.9 – Alguns modelos de comportamento mecânico adoptados para o aço: modelo (a) elástico linear, (b)

elasto-plástico perfeito e (c) elasto-plástico com endurecimento.

Neste trabalho, considerou-se o aço como um material homogéneo e isotrópico, com um

comportamento (i) elástico-linear ou (ii) elástico/perfeitamente plástico. No último caso,

utilizou-se o modelo Prandtl-Reuss, que considera o critério de cedência de von Mises e a

correspondente regra de escoamento plástico associada. Os dois modelos referidos estão

disponíveis na biblioteca dos materiais do programa ABAQUS e a sua utilização implica apenas

a definição dos valores de E, e fy.

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37

3.7. Técnicas de resolução numérica

Seguidamente, referem-se algumas técnicas numéricas adoptadas neste trabalho para (i)

resolver os problemas de valores e vectores próprios (análise linear de estabilidade) e (ii)

determinar e caracterizar as trajectórias de equilíbrio não lineares (análise de pós-encurvadura).

As análises lineares de estabilidade envolvem a resolução de um problema de valores e

vectores próprios, o qual é definido pelas matrizes de rigidez elástica e geométrica do perfil

(discretizado). Os métodos de resolução deste tipo de problema disponíveis no ABAQUS são (i)

o método Lanczos, baseado no algoritmo com o mesmo nome, e (ii) o método de iteração em

sub-espaços. O primeiro é, em geral, mais eficiente quando se pretende determinar um número

elevado de modos e tem a vantagem adicional de permitir definir o intervalo de valores no qual se

pretende identificar as cargas/momentos. O método de iteração em sub-espaços é apropriado

quando se pretende determinar um número reduzido de modos (geralmente inferior a 20)

sendo, por isso, o utilizado no presente trabalho. Independentemente do método escolhido, o

programa identifica as configurações dos n modos de instabilidade e respectivos valores de

bifurcação (tensões/cargas), com o valor n a ser definido pelo utilizador.

A determinação da resistência última de elementos de aço enformados a frio implica

obter trajectórias de equilíbrio não lineares, que relacionam as forças/momentos aplicados com

um determinado deslocamento do perfil. Genericamente, estas trajectórias podem apresentar um

comportamento como o ilustrado na Figura 3.10, onde se mostra que, à medida que a solução

evolui, o incremento da carga e/ou deslocamento pode não ser monotónico.

Carga

Deslocamento

P

Figura 3.10 – Trajectória de equilíbrio não linear genérica.

Quando as trajectórias de equilíbrio exibem pontos limite (ponto P da Figura 3.10,

associados, por exemplo, à resistência última do perfil), a determinação do ramo descendente

obriga ao uso de estratégias específicas de resolução do sistema de equações não lineares (e.g.,

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38

controle de deslocamento ou controle de comprimento de arco). Para analisar problemas

estruturais com estas características, o programa ABAQUS utiliza o método de Riks [43]. Este método

(i) utiliza uma estratégia de “comprimento de arco”, (ii) admite a amplitude da carga como

uma variável adicional e (iii) resolve o sistema de equações não lineares, considerando o

carregamento como proporcional (i.e., a magnitude das cargas varia com um parâmetro escalar

).

Deve ainda referir-se que os parâmetros de controlo do método (i.e., o comprimento inicial

de arco e os seus valores mínimo e máximo) podem ter um papel importante na “qualidade” da

trajectória de pós-encurvadura determinada para os perfis. O programa ABAQUS admite,

automaticamente, determinados valores para estes parâmetros que, de um modo geral, são

adequados a muitas das situações analisadas. Contudo, quando o comportamento estrutural é

“irregular” (e.g., quando ocorrem fenómenos com “snap back”) ou se pretende identificar o

início da plasticidade, pode ser necessário alterar (diminuir) o valor desses parâmetros de

forma a poder acompanhar adequadamente a trajectória de pós-encurvadura dos perfis.

Naturalmente, esta diminuição faz aumentar o número de incrementos dessas análises que, no

presente caso do estudo do comportamento de pós-encurvadura em perfis com interacção

modal, atingiu as várias centenas de incrementos.

3.8. Exemplos de validação

Com o intuito de validar as opções e os procedimentos indicados nos parágrafos

anteriores, consideraram-se alguns exemplos de validação relativos (i) à análise linear de

estabilidade e (ii) à análise de pós-encurvadura elástica de perfis de aço enformados a frio.

Apresentam-se os resultados obtidos com o modelo de elementos finitos atrás descrito e

comparam-se esses resultados com os determinados por outros autores, os quais analisaram os

perfis recorrendo, designadamente, (i) ao MEF [12] e (ii) à GBT [44].

Na Tabela 3.1 apresentam-se a geometria e as características elásticas do aço dos perfis

analisados. Consideraram-se perfis submetidos (i) a compressão uniforme (i.e., colunas), de

secção em C [12], e (ii) a flexão uniforme (i.e., vigas – compressão nas fibras superiores), de

secção em Z [44]. As dimensões dos perfis foram escolhidas por forma a estes instabilizarem

(na maioria dos casos) no modo distorcional, porque este desempenha um papel fundamental

nos estudos a efectuar no próximo capítulo, i.e., no estudo da pós-encurvadura de perfis com

interacção L/D. Nestas condições, é conveniente avaliar se o modelo de elementos finitos

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39

permite reproduzir, de forma adequada, o comportamento distorcional de perfis de aço

enformados a frio, pois só assim poderá ser utilizado, com confiança, nos estudos de interacção

modal.

Tabela 3.1 – Geometria e características elásticas dos perfis analisados.

Secção b1 b2 b3 t L

[mm] [mm] [mm] [mm] [mm]

t

3b

1b

2b

4b

2b

1b

3b

t

b2

b3

b1

tt

3b

1b

2b

4b

2b

1b

3b

t

b2

b3

b1

t

C 100 50 5 1,0 270

Z 100 60 5 1,0 300

3.8.1. Análise linear de estabilidade

Apresentam-se agora os resultados relativos ao comportamento de estabilidade

(bifurcação), em regime elástico, da coluna de secção em C e da viga, de secção em Z.

Analisam-se perfis com secções extremas apoiadas e que podem empenar livremente, e

determina-se (i) o valor da carga/momento crítico, e (ii) a configuração do correspondente modo

de instabilidade. Na Tabela 3.2 indicam-se os valores da carga/momento crítico determinados

com este modelo e faz-se a sua comparação com os valores de referência, enquanto que na

Figura 3.11 se apresenta a discretização e a configuração dos modos críticos de instabilidade

obtidas com o modelo de elementos finitos descrito anteriormente. A observação destes

resultados permite retirar as seguintes conclusões:

(i) Nos dois casos, os perfis instabilizam em MD (ver Figura 3.11), com os modos a

exibirem apenas um semi-comprimento de onda e no caso da viga em Z a envolverem

apenas o banzo comprimido.

(ii) Independentemente do carregamento, verifica-se uma excelente concordância entre os

valores determinados com o presente modelo e os valores de referência – pequenas

diferenças (máximo de 0,5%) resultam das naturais diferenças entre os modelos e/ou

métodos de análise (MEF e GBT).

(iii) Nestas condições, considera-se validado o modelo de elementos finitos adoptado

neste trabalho, no que se refere à sua utilização no estudo do comportamento de

estabilidade de perfis de aço enformados a frio afectados por instabilidades

distorcionais.

E=210GPa

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Tabela 3.2 – Carga/momentos críticos e modos de instabilidade dos perfis.

Perfil

MEF Valores de referência

Valor Crítico Modo Crítico Modo

C Pcr [kN] 715,5 MD 715 MD

Z Mcr [Nm] 785,9 MD 785 MD

(a) (b)

Figura 3.11 – Modo de instabilidade dos perfis : (a) C e (b) Z [25].

3.8.2. Análise de pós-encurvadura

Nesta secção apresentam-se os resultados das análises de pós-encurvadura, em regime

elástico, de colunas e vigas bi-apoiadas, cuja estabilidade (elástica) se analisou na sub-secção

anterior. Apresentam-se trajectórias de pós-encurvadura de perfis com imperfeições

geométricas iniciais que exibem a forma do modo crítico de instabilidade (MD), com

amplitudes de pequena dimensão, nomeadamente, (i) para a coluna C, com amplitude de ±10%

da espessura da parede do perfil (v0= 0,1 t), e (ii) para a viga Z, v0= 0,15 t. Note-se que (i) v

consiste no deslocamento vertical (máximo) do nó de ligação banzo-reforço da secção central

do modo MD, e (ii) v > 0 está associado à “abertura” das secções e v < 0 ao seu “fecho”.

Na Figura 3.12 apresentam-se as trajectórias de equilíbrio P/Pcr vs. v/t para a coluna C,

enquanto que, na Figura 3.13, se apresentam as trajectórias M/Mcr vs. v/t para a viga Z. As

trajectórias de pós-encurvadura determinadas com o presente modelo de elementos finitos e a

sua comparação com as curvas de referência (nas figuras representadas por círculos) permite

retirar as seguintes conclusões:

(i) A observação das trajectórias P/Pcr vs. v/t da Figura 3.12 permite confirmar a

existência de uma clara assimetria de pós-encurvadura distorcional, associadas a

valores de v0 positivos e negativos correspondendo a maior resistência pós-crítica a

v0<0 (fecho do perfil). Esta assimetria, é bastante mais acentuada para a viga Z, como se

pode ver na Figura 3.13. A título de exemplo, observe-se que, para v/t=10, o valor do

momento é cerca de 18% superior para v0 < 0 (“fecho” das secções).

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(ii) Há uma concordância quase absoluta entre os resultados das análises baseadas no

presente modelo de elementos finitos e os de referência as diferenças não excedem 1%.

(iii) Assim sendo, considera-se validado o modelo de elementos finitos adoptado neste

trabalho também em termos do comportamento de pós-encurvadura de perfis de aço

enformados a frio afectados por fenómenos de instabilidade distorcional.

Figura 3.12 – Trajectórias elásticas de pós-encurvadura da coluna C.

Figura 3.13 – Trajectórias elásticas de pós-encurvadura da viga Z

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

10 5 0 5 10

P/Pcr

ABAQUS

Dinis & Camotim 2005

v/t

10 15

| v | / t

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 5

M/Mcr

Silvestre 2005

ABAQUS

v<0 “fecha”

v>0 “abre”

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42

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43

CAPÍTULO 4

ANÁLISE DE PÓS-ENCURVADURA COM INTERACÇÃO

MODAL

4.1. Introdução

Como já se mencionou, a maioria dos perfis de aço enformados a frio apresenta secção

de parede fina aberta, muito esbelta, o que os torna bastante susceptíveis à ocorrência de

fenómenos de instabilidade. O objectivo do presente trabalho consiste em estudar o

comportamento de pós-encurvadura, em regime elástico e elasto-plástico, de perfis afectados

por fenómenos de interacção entre os dois modos locais, i.e., o ML e o MD. Para estudar o

referido comportamento é fundamental identificar perfis cujas dimensões conduzam a valores

semelhantes para as tensões/esforços de bifurcação nos dois modos, valores esses a determinar

(assim como as respectivas configurações dos modos de instabilidade) a partir da análise linear

de estabilidade dos perfis.

Como já foi referenciado, o valor do esforço crítico de um perfil e a natureza do

correspondente modo de instabilidade dependem (i) da geometria do perfil, (ii) das condições

de apoio, (iii) do carregamento e (iv) das constantes elásticas adoptadas para o aço.

No presente estudo, consideram-se perfis (i) de secção transversal em Z, (ii) com secções

extremas apoiadas e que podem empenar livremente, (iii) submetidos a compressão uniforme,

(iv) constituídos por aço com E=210 GPa e =0,3. Nestas condições, o valor do esforço e a

natureza do modo crítico de bifurcação só dependem das dimensões do perfil, i.e., das

dimensões da secção transversal e do comprimento.

A identificação das dimensões dos perfis é efectuada recorrendo ao método das faixas

finitas semi-analítico e, em particular, ao programa CUFSM [27]. Foram seleccionadas dimensões

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44

que conduzem a valores semelhantes das cargas de bifurcação nos dois modos referidos,

posteriormente confirmados mediante a análise de estabilidade por elementos finitos dos perfis,

efectuada recorrendo ao programa ABAQUS [28]. Estas análises permitiram também determinar

a configuração dos modos de instabilidade, cuja combinação define o conjunto de imperfeições

geométricas iniciais dos perfis analisados.

Por sua vez, a análise de pós-encurvadura de um perfil real de aço (i.e., com

imperfeições geométricas e tensões iniciais) submetido a um determinado carregamento, envolve

a determinação de trajectórias de equilíbrio não lineares, também designadas por trajectórias de

pós-encurvadura, as quais consistem em curvas que relacionam o carregamento aplicado

(habitualmente dependente de um único parâmetro de carga) com determinados componentes

de deslocamentos escolhidos de modo a ilustrar convenientemente o comportamento dos

perfis.

Estas análises são complexas, envolvendo a resolução do sistema de equações de

equilíbrio não lineares que rege o comportamento do elemento estrutural, com o

comportamento material do aço a ser modelado através de leis constitutivas elásticas ou elasto-

plásticas. Contudo, quando os elementos estruturais são afectados por fenómenos de interacção

modal, a realização dessas análises apresenta dificuldades específicas, desde logo quanto às

imperfeições a considerar nas análises numéricas. De facto, os procedimentos correntes de

incluir imperfeições com a configuração do modo crítico de instabilidade, deixam de estar bem

definidos quando o valor do esforço de bifurcação associado a dois ou mais modos de

instabilidade é idêntico. Além disso, a determinação numérica das várias soluções de equilíbrio

torna-se mais difícil, podendo as trajectórias exibir pontos limites elásticos logo no início das

análises.

Seguidamente, faz-se a selecção dos perfis afectados por interacção local e explica-se o

procedimento para a inclusão das imperfeições geométricas iniciais, terminando o capítulo com

a análise de pós-encurvadura elástica e elasto-plástica dos perfis seleccionados.

4.2. Selecção da geometria dos perfis

A identificação da geometria da coluna que conduz a valores semelhantes das cargas de

bifurcação nos modos local e distorcional envolveu a análise linear de estabilidade dos perfis,

efectuada com o recurso ao programa CUFSM. Neste caso, a análise requer a discretização do

perfil ao longo da linha média da secção transversal, tendo sido efectuado um estudo prévio

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45

para determinar o nível adequado – os perfis encontram-se simplesmente apoiados e, portanto,

as funções sinusoidais descrevem exactamente a variação longitudinal do campo de deslocamentos

e satisfazem as condições de apoio correspondentes. Seguidamente, descreve-se a forma como

foi seleccionada a geometria da coluna de secção em Z considerada nas análises de pós-

encurvadura.

(i) Determinaram-se várias curvas que traduzem a variação dos valores das cargas de

bifurcação e da natureza dos modos de instabilidade com o comprimento L das

colunas, as quais permitem detectar os valores mínimos dos esforços de bifurcação no

ML e MD (PL, PD) e os respectivos valores de L (LL, LD). Na Figura 4.1(a), apresenta-

se (i1) uma curva típica16 determinada pelo programa CUFSM (função sinusoidal com um

único semi-comprimento de onda) e (i2) a configuração da secção transversal de uma

coluna de secção em Z associada a bifurcação em ML, MD e MG.

(ii) Realizaram-se estudos paramétricos a partir dos quais se investigou a influência das

dimensões da secção transversal dos perfis na estabilidade local das colunas, i.e., no

valor da carga crítica e na natureza do modo de instabilidade local. Estes estudos

paramétricos procuraram identificar geometrias para as quais o valor dos esforços de

bifurcação em ML e MD é semelhante a igualdade dos valores mínimos (PL, PD)

potencia a ocorrência de fenómenos de interacção modal no comportamento de pós-

encurvadura dos perfis. Na Figura 4.1(b) apresenta-se uma curva típica P vs. L,

determinada pelo programa CUFSM quando esse objectivo é atingido, estando identificado

por LL/D o menor valor de L para o qual o valor mínimo do esforço de bifurcação

distorcional é semelhante ao local.

(iii) A selecção da geometria dos perfis foi também condicionada por outro aspecto: (iii1) a

conveniência do ML apresentar um número ímpar de semi-comprimentos de onda –

esta imposição visou apenas simplificar a identificação das participações dos dois

modos na configuração de pós-encurvadura elástica, uma vez que ambos apresentam

amplitudes máximas na mesma secção (a secção de meio vão).

16

Escala horizontal logarítmica.

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46

ML MD MG

(a)

(b)

Figura 4.1 – Variação da carga Pb de bifurcação com o comprimento L de colunas de secção em Z. Perfil

com valores mínimos PL e PD (a) diferentes ou (b) semelhantes.

De seguida ilustram-se alguns estudos paramétricos efectuados para atingir o objectivo

referido anteriormente, i.e., para identificar geometrias com valores mínimos semelhantes dos

esforços de bifurcação em ML e MD.

4.2.1 Estudos paramétricos

Nos estudos paramétricos realizados, isolam-se as principais características geométricas

do perfil (alma, banzos, reforços e espessura), e analisa-se o efeito que a variação dessas

características tem na tensão e na natureza do modo crítico das colunas de secção em Z. De

seguida, apresentam-se os resultado de alguns desses estudos. Os resultados são obtidos de

forma iterativa, numa base de tentativa/erro, em que as características já mencionadas sofrem

alterações “positivas” ou “negativas” e o resultados dessas alterações é registado. Os dados são

manipulados de forma gráfica por forma a facilitar a análise e a conclusão a retirar sobre quais

as dimensões necessárias para que a interacção modal seja maximizada (mínimos L e D muito

próximos).

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47

t

3b

1b

2b

4b

2b

1b

3b

t

b2

b3

b1

t

b1 [mm]

Za1 80

Za2 100

Za3 120

(a)

(b)

Figura 4.2 – (a) Dimensões da secção transversal com variação da alma e (b) curvas σb vs L

t

3b

1b

2b

4b

2b

1b

3b

t

b2

b3

b1

t

b2 [mm]

Zb1 40

Zb2 50

Zb3 60

(a)

(b)

Figura 4.3 – (a) Dimensões da secção transversal com variação dos banzos e (b) curvas σb vs L

b1 = variável

b2 = 50mm b3 = 10mm t = 0,4mm

E = 210GPa

b1 = 100mm

b2 = variável b3 =10mm t = 0,4mm

E = 210GPa

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48

t

3b

1b

2b

4b

2b

1b

3b

t

b2

b3

b1

t

b3

[mm]

Zr1 10

Zr2 12,5

Zr3 15

(a)

(b)

Figura 4.4 – (a) Dimensões da secção transversal com variação dos reforços e (b) curvas σb vs L

t

3b

1b

2b

4b

2b

1b

3b

t

b2

b3

b1

t

t

[mm]

Ze1 0,4

Ze2 0,5

Ze3 0,6

(a)

(b)

Figura 4.5 – (a) Dimensões da secção transversal com variação da espessura e (b ) curvas σb vs L

b1 = 100mm b2 = 50mm

b3 = variável t = 0,4mm E = 210GPa

b1 = 100mm

b2 = 50mm b3 = 10mm t = variável

E = 210GPa

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49

Nos gráficos das Figuras 4.2(b) a 4.5(b), observe-se que cada uma das curvas σb vs. L

apresenta dois mínimos locais, correspondendo o primeiro a um ML e o segundo a um MD.

Alem disto, é possível concluir que:

(i) O aumento da dimensão da alma conduz a uma descida da tensão de bifurcação

para os modos ML e MD, sendo ainda assim esse decremento maior para o ML.

(ii) A carga de bifurcação no modo ML é praticamente insensível à variação das

dimensões do banzo, o mesmo não acontecendo para o MD. Neste caso, reage

de forma antagónica ao aumento do banzo.

(iii)Aparentemente as dimensões dos reforços não influenciam em nada o ML, mas

a sua variação positiva faz variar o MD positivamente e vice-versa.

(iv) A espessura faz ambos os modos variarem, com os gráficos a sofrerem

translações no eixo das ordenadas e o MD a ter translações no eixo das abcissas,

estando o aumento da espessura relacionado com translações positivas em yy e

negativas em xx.

4.2.2 Escolha do perfil em interacção modal

Efectuaram-se estudos paramétricos semelhantes aos anteriores para encontrar um

conjunto de perfis cujas geometrias permitam obter resultados elucidativos acerca do fenómeno

de interacção L/D, com a instabilidade local precipitada pela alma da coluna. A secção

seleccionada encontra-se indicada na tabela da Figura 4.6(a), apresentando-se na Figura 4.6(b)

os resultados relativos ao comportamento de estabilidade que estiveram na origem da selecção

do comprimento do perfil. Na Figura 4.6(c) apresenta-se, de forma esquemática, a configuração

deformada da secção transversal da coluna referente a alguns modos de instabilidade – a sua

natureza depende do comprimento das barras.

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50

t

3b

1b

2b

4b

2b

1b

3b

t

b2

b3

b1

t

b1 [mm]

b2 [mm]

b3 [mm]

t [mm]

100 60 10 1,5

(a)

0

500

1 1000

σb (MPa )

L (cm )

1000

10 LL/D

σb L/D I II

III

100

(b)

I

II

III

(c)

Figura 4.6 – (a) Geometria da secção transversal do perfil seleccionado, (b) curva σb vs. L e (c) configuração

deformada da secção transversal referente a três modos de instabilidade das colunas: I-Modo local; II-

Modo distorcional; III-Modo global (flexão).

Da observação da Figura 4.6(b), é possível retirar as seguintes conclusões:

(i) Para valores de L < 8,2 cm (LL), a coluna instabiliza num modo local, com a

instabilidade a ser precipitada pela alma (ver modo I da figura).

(ii) A curva apresenta um segundo mínimo para L 40,3 cm (LL/D), o qual está associado à

instabilidade distorcional – ver modo II. Observe-se a semelhança de valor das duas

tensões mínimas (σb L/ σb D=0,98).

(iii) Para L > 120 cm (valor associado a LL/D/G), a coluna instabiliza num modo global por

flexão ver modo III.

(iv) Para valores de L compreendidos entre 8,2 < L < 120 cm, as curvas obtidas com o

programa CUFSM não descrevem totalmente o comportamento das colunas, pelos

seguintes motivos: (iv1) o número de semi-comprimentos de onda poderá ser superior à

unidade e (iv2) o valor semelhante dos mínimos σbL e σbD faz com que, para

determinados valores de L, o modo de instabilidade corresponda a uma combinação

linear dos modos ML e MD (modos I e II representados na figura). De facto, para 8,2 <

L < 40,3 cm, a instabilidade pode ocorrer num modo local com um número de semi-ondas

E=210 GPa

=0.3

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51

maior ou igual à unidade, enquanto que, para 40,3 < L < 120 cm, a instabilidade pode

ocorrer num modo acoplado L/D.

(v) Concretamente para L 40,3 cm, a coluna instabiliza para σb=221 MPa (Pb=79,56

kN), combinando um modo local com cinco semi-comprimentos de onda

(

n 40,38,2

5) e um modo distorcional com apenas um.

4.2.3 Análise por elementos finitos do perfil seleccionado

A análise linear de estabilidade por elementos finitos do perfil, com as dimensões

seleccionadas no parágrafo anterior teve vários objectivos, designadamente, (i) confirmar a

susceptibilidade desse perfil em relação a fenómenos de interacção ML/MD, (ii) determinar o

valor da carga crítica por elementos finitos, e (iii) obter a configuração dos dois modos locais

(ML e MD), cuja combinação define o conjunto de imperfeições geométricas iniciais admitidas

no estudo do comportamento de pós-encurvadura com interacção modal, a realizar na sub-

secção seguinte. Na modelação por elementos finitos, considerou-se o modelo descrito no

capítulo anterior, o que significa que (i) se discretizaram os perfis com elementos S4, (ii) se

adoptou uma relação comprimento/largura próxima da unidade para os elementos finitos, (iii)

se consideraram impedidos todos os deslocamentos transversais nas secções extremas dos

perfis e (iv) se aplicou nos nós de extremidade dos perfis um conjunto de forças longitudinais

estaticamente equivalentes a um estado uniforme de compressão.

A curva representada na Figura 4.7(a) mostra, novamente, a variação da tensão de

bifurcação σb com o comprimento L para a coluna, curva essa obtida através de uma análise

linear de estabilidade baseada no MEF e no MFF – a curva MFF é a da Figura 4.6(a), sendo

incluída para efeito de comparação com a solução por elementos finitos. Por outro lado, na Tabela

4.1 indicam-se os valores das cargas críticas obtidas em cada uma das referidas análises para a

coluna, cuja configuração dos modos críticos de instabilidade se indica na Figura 4.7(b). A

observação destes resultados permite retirar as seguintes conclusões:

(i) De novo, existe uma excelente concordância entre os resultados determinados com o

presente modelo de elementos finitos e os obtidos através do método das faixas finitas

com o programa CUFSM. Observe-se que, no caso onde aparentemente as diferenças

são mais acentuadas (mínimo local e mínimo distorcional), estas resultam, em grande

parte, das concentrações de tensões introduzidas pela restrição dos deslocamentos

transversais nas secções extremas do perfil (ver secção 3.3).

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52

(ii) Apesar da dimensão superior das discretizações por elementos finitos, as análises

realizadas com o programa ABAQUS permitem a imediata caracterização do

comportamento de estabilidade da coluna: basta reter o valor do parâmetro de carga e

observar a respectiva configuração dos modos de bifurcação para identificar de forma

clara o número de semi-comprimentos de onda associado a cada modo crítico.

(iii) Finalmente, confirma-se a natureza e o número de semi-comprimentos de onda do

modo de instabilidade acoplado da coluna com L=40,3cm: este modo combina o

modo distorcional, com um semi-comprimento de onda, com modos locais com cinco

semi-comprimentos de onda (ver figura 4.7(b)) – observe-se que os dois modos

apresentam um número ímpar de semi-comprimentos de onda.

0

500

1 1000

σb (MPa )

L (cm )

1000

10 LL/D

σb L/D

MFF

MEF

100

(a)

(b)

Figura 4.7 – Análise de estabilidade do perfil seleccionado. (a) Curva σb vs. L e (b) configuração do modo de

instabilidade “acoplado” local/distorcional.

Tabela 4.1 – Dimensão do perfil, carga crítica e natureza do modo de instabilidade do perfil seleccionado.

MFF

MEF

b1 [mm] b2 [mm] b3 [mm] t [mm] L [mm]

Pcr [N] Pcr [N] Modo

100 60 10 1,5 403

79560 79224 ML(5)+ MD(1)

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53

4.3. Imperfeições geométricas iniciais

As imperfeições de natureza geométrica desempenham um papel importante no

comportamento de pós-encurvadura de perfis de aço enformados a frio, visto alterarem o

comportamento e a resistência última dos elementos estruturais. Para analisar o efeito da

interacção modal no comportamento de pós-encurvadura de perfis é necessário determinar

trajectórias de equilíbrio de barras com imperfeições iniciais que (i) cubram toda a gama de

possibilidades (i.e., combinem de forma variada os diferentes modos) e, simultaneamente, (ii)

tenham amplitudes comparáveis. Nesse sentido, considerou-se a seguinte metodologia na

definição das imperfeições iniciais das barras, a qual tem em conta o facto dos modos de

instabilidade terem um número ímpar de semi-comprimentos de onda:

(i) Determinar as configurações dos modos de instabilidade puros17 que exibem valores

unitários dos deslocamentos máximos na secção média dos perfis: (i1) no ML, o

deslocamento máximo de flexão (w) a ocorrer na alma do perfil18; (i2) no MD, o

deslocamento vertical do nó de ligação banzo-reforço (v).

(ii) Considerar imperfeições geométricas iniciais obtidas por combinação dos modos

puros multiplicados por certos factores, designados por factores de participação

modal (neste caso, CL0 e CD0), os quais indicam a contribuição de cada modo para a

configuração inicial do perfil.

(iii) Impor imperfeições iniciais da mesma dimensão a todos os perfis, sendo considerado,

neste caso, uma amplitude igual a 10% da espessura da parede t do perfil. Para

conseguir este objectivo, começa-se por normalizar os modos puros de forma a obter

w0=0,1t e v0=0,1t, respectivamente, para o modo ML e MD – o índice zero significa

valor inicial. Em seguida, impõe-se a seguinte condição

1)()( 2

0

2

0 LD CC . (4.1)

Para melhor visualizar esta condição, considere-se a circunferência de raio unitário

representada na Figura 4.8. As várias imperfeições geométricas iniciais consideradas

17

Nos casos em que o modo crítico fornecido pelo ABAQUS corresponde a um modo “combinado”, os modos

“puros” foram obtidos a partir da análise linear de estabilidade de um perfil com igual geometria, mas com uma

espessura ligeiramente alterada em relação à espessura do perfil com interacção modal. 18

Devido ao fenómeno de concentração de tensões resultante da modelação por elementos finitos da condição

“simplesmente apoiada”, a coluna considerada neste trabalho não apresenta modos locais com semi-ondas de

igual amplitude e.g., a semi-onda central do perfil tem um deslocamento máximo de flexão inferior ao valor

das semi-ondas de extremidade. Naturalmente, a referida normalização deste modo faz com que estas semi-

ondas (as de extremidade) apresentem deslocamentos de flexão superiores à unidade.

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54

neste estudo encontram-se sobre esta circunferência, podendo ser identificadas

através do valor de um ângulo , medido a partir do eixo horizontal e no sentido

directo. Observe-se que, as configurações relativas a imperfeições puras, i.e., com

(iii1) CD0= 1 e CL0=0 (imperfeições distorcionais puras), e (iii2) CD0=0 e CL0 = 1,

(imperfeições locais puras), correspondem, nesta representação, a =0º, 180º e a

=90º, 270º, respectivamente – ver figura 4.9.

(iv) Considerar imperfeições de natureza geométrica com configurações a que correspondem

ângulos compreendidos entre 0º e 360º, com intervalos de 15º. Na verdade

consideraram-se apenas os ângulos referentes ao primeiro quadrante, tal como se

explica na subsecção 4.3.1 referente à simetria. Isto significa que, neste estudo, se

analisaram perfis com sete imperfeições geométricas iniciais diferentes.

Figura 4.8 – Imperfeição geométrica inicial dos perfis. Factores de participação dos modos L e D.

C L0

C D0

270

= 180

= 90

= 0 r=1

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55

=90º =270º

=0º =180º

Figura 4.9 – Configuração das imperfeições geométricas iniciais “puras” da coluna Z: locais (= 90º e 270º) e

distorcionais (=0º e 180º).

4.3.1 Simetria

De modo a simplificar a elaboração do documento e aligeirar o número de análises,

observa-se a Figura 4.9, onde é possível concluir que as deformadas dos modos puros são

idênticas. De facto, tomando como exemplo a deformada do modo = 0º, observe-se que

quando invertemos a mesma, esta torna-se idêntica à deformada do modo = 180º - no caso do

modo ML essa simetria é ainda mais evidente. Nestas condições, uma coluna com uma

imperfeição inicial definida por CD.0= cos15º e CL.0= sen15º apresenta uma imperfeição

idêntica à da coluna com =165º e =345º.

Assim sendo, basta analisar colunas com imperfeições associadas ao primeiro quadrante

da circunferência dos factores de participação modal (0º ≤ ≤º) para obter todo o espectro

de resultados.

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56

4.4. Análise de pós-encurvadura

Nesta secção analisa-se o comportamento de pós-encurvadura da coluna Z, simplesmente

apoiada, cujas dimensões (e propriedades elásticas do aço) se indicam na Tabela 4.1. A coluna

instabiliza em regime elástico para uma carga de Pcr=79,56 kN (cr=221 MPa), associado a um

modo de instabilidade “combinado” (ver Figura 4.7) com interacção entre o MD (uma semi-

onda) e o ML (cinco semi-ondas). Analisa-se o comportamento de pós-encurvadura, de sete

perfis exibindo diferentes imperfeições geométricas iniciais de pequena dimensão (amplitude

igual a 10% do valor da espessura da chapa), cuja configuração resulta da combinação dos

modos de instabilidade mencionados – recorde-se que, conforme o estabelecido na secção

anterior, a configuração inicial das colunas será identificada por um ângulo compreendido

entre 0º e 90º.

O estudo do comportamento de pós-encurvadura das colunas com interacção modal L/D

será efectuado em duas fases. Em primeiro lugar, procede-se à análise do comportamento de

pós-encurvadura dos perfis em regime elástico linear e, posteriormente, à sua análise em regime

elasto-plástico, considerando diferentes valores para a tensão de cedência do aço.

Recorrentemente, estes estudos são efectuados mediante o traçado de trajectórias de equilíbrio,

P/Pcr vs. v/t e P/Pcr vs. w/t, onde, Pcr é a carga crítica da coluna, t a espessura das paredes do

perfil e v e w os deslocamentos da ligação banzo-reforço e o meio da alma na secção média da

coluna.

4.4.1 Pós-encurvadura em regime elástico

Nesta sub-secção investiga-se o comportamento de pós-encurvadura, em regime

elástico, de sete colunas, as quais diferem entre si quanto à configuração das imperfeições

iniciais. O estudo será apresentado do modo seguinte. Inicia-se com a análise do

comportamento de colunas que exibem imperfeições geométricas “puras”, i.e., com a forma do

modo distorcional e do modo local. Posteriormente, analisa-se o comportamento das colunas

com imperfeições geométricas iniciais que combinam essas duas configurações puras.

Finalmente, estima-se a contribuição das componentes distorcional e local na configuração

deformada das colunas, a qual será obtida a partir dos deslocamentos v e w referentes à secção

de meio vão.

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57

Trajectórias de equilíbrio

A Figura 4.10(a)-(b) apresenta a evolução das trajectórias de pós-encurvadura P/Pcr vs.

v/t e P/Pcr vs. w/t, para colunas com imperfeições iniciais puramente distorcionais (=0º) e locais

(=90º) – notar que as escalas horizontais das duas figuras não são iguais. Por sua vez, a Figura

4.11 apresenta a configuração deformada dessas colunas num estádio avançado de pós-

encurvadura elástica. A observação destas figuras permite concluir o seguinte:

(i) As colunas apresentam alguma resistência de pós-encurvadura, com as trajectórias de

equilíbrio a evoluírem no mesmo sentido.

(ii) Inicialmente, as quatro colunas exibem apenas componentes distorcionais ou locais

com a forma e dimensão da imperfeição inicial. A dimensão destas componentes

mantém-se praticamente invariável até valores próximos de P/Pcr0,4, começando

posteriormente a aumentar.

(iii) As colunas (i1) apresentam uma resistência de pós-encurvadura mais significativa e (i2)

exibem um comportamento distinto do evidenciado por colunas em C, no estudo com

interacção L/D: para imperfeições puramente locais (=90º) as colunas em C tendem

sempre a abrir para o interior do perfil, ocorrendo o fenómeno de “snap back”.

(iv) Para valores superiores da carga, a componente local aumenta de forma progressiva,

com a configuração da imperfeição inicial a determinar o sentido da flexão da alma,

observe-se que, para valores de P/Pcr>1,20, ocorre o fenómeno de “snap trough”.

(v) A componente distorcional aumenta essencialmente para valores de P/Pcr>1,0.

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58

v/ t

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

0 5

P/Pcr

10

v>0

=90º

=0º

w/ t

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

-5

P/Pcr

0

w<0

=90º

=0º

(a) (b)

Figura 4.10 – Trajectórias de equilíbrio (a) P/Pcr vs. v/t e (b) P/Pcr vs. w/t das colunas com imperfeições

distorcionais “puras” (=0º) e locais “puras” (=90º).

v/ t

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

0 5

P/Pcr

10

A

B

(a) (b)

Figura 4.11 – Configuração deformada da coluna com imperfeições iniciais definidas por (a) =0º e (b) =90º.

Estes resultados são de alguma forma esperados quando comparados com os obtidos em

estudos anteriores também relativos ao comportamento de pós-encurvadura distorcional

(elástico) de perfis simplesmente apoiados, de aço enformados a frio e com secção em C, também

afectados por interação L/D [45]. De facto, a observação da Figura.4.12 retirada do referido

estudo mostra que nas colunas de secção em C (i) o “sentido” da imperfeição distorcional

determina a evolução da configuração deformada de pós-encurvadura, (ii) esta evolui

B

B

A

=0º

=90º

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59

predominantemente no sentido da “abertura” da secção e (iii) a imperfeição distorcional a abrir é a

mais desfavorável.

v/ t

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

10 5 0

P/Pcr

5 10

=0

v<0 v>0

270 90

180

(a)

0.2

0.4

0.6

0.8

1.2

1.4

4 2 0

P/ Pcr

w<0

4

w>0

2

w/ t

1

270 90

180

=0

(b)

(a) (b)

Figura 4.12 – Pós-encurvadura de colunas de secção em C com imperfeições iniciais =0º, 90º, 180º e 270º.

Trajectórias de equilíbrio (a) P/Pcr vs. v/t e (b) P/Pcr vs. w/t [45].

Finalmente, as Figuras 4.13(a) e 4.13(b) apresentam as trajectórias de pós-encurvadura

elásticas das restantes colunas analisadas, i.e., das que exibem imperfeições geométricas

iniciais cuja configuração resulta da combinação dos modos, MD (uma semi-onda) e ML

(cinco semi-ondas). A Figura 4.13(a) apresenta os troços superiores (P/Pcr0,8) das trajectórias

P/Pcr vs. v/t, enquanto que a Figura 4.13(b) apresenta troços semelhantes, mas agora referentes às

trajectórias P/Pcr vs. w/t. Em relação a estas figuras, deve notar-se o seguinte: (i) apesar de já

terem sido objecto de análise, representam-se também as trajectórias das colunas com

imperfeições “puras” (i.e., com =0º, 90º). Da observação desta figura pode concluir-se o

seguinte:

(i) Todas as trajectórias revelam uma significativa resistência de pós-encurvadura, mais

acentuada à medida que aumenta a componente local.

(ii) As várias curvas confundem-se numa fase avançada da pós-encurvadura.

(iii) As trajectórias de pós-encurvadura exibiram, na maioria dos casos, um

comportamento “irregular” (e.g., pontos limites, instabilidade por “snap-through”)

resultante do processo de adaptação da coluna à configuração final L/D.

(iv) As imperfeições de natureza geométrica mais desfavoráveis, i.e., as que conduzem às

menores resistências de pós-encurvadura elástica para as colunas Z, são as imperfeições

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60

distorcionais =0º. Este facto é importante, confirmando o comportamento observado

em colunas de secção em C, também com interacção MD/ML: onde se constatou que as

imperfeições mais desfavoráveis eram as distorcionais a “abrir” (=180º) [45].

v/ t

0.9

1.0

1.1

1.2

1.3

1.4

0 5

P/Pcr

10

90º 75º

60º 45º 30º 15º

0.7

0.8

v>0

Figura 4.13a – Trajectórias de equilíbrio P/Pcr vs. v/t das colunas com imperfeições caracterizadas por 0º 90º.

w/ t

0.8

0.9

1.0

1.1

1.2

1.3

1.4

-5

P/Pcr

0

90º 75º 60º

45º 30º 15º 0º

0.7

w<0

Figura 4.13b – Trajectórias de equilíbrio P/Pcr vs. w/t das colunas Z com imperfeições caracterizadas por 0º 90º.

Factores de Participação Modal

Obtidas as trajectórias P/Pcr vs. v/t e P/Pcr vs. w/t para os sete perfis, determina-se agora

a contribuição relativa das componentes distorcional (CD) e local (CL) para a configuração

deformada de pós-encurvadura das colunas Z com interacção L/D. Concretamente, a estimativa

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61

dessa contribuição baseia-se numa metodologia semelhante à já apresentada [45], ou seja, na

evolução de apenas dois deslocamentos da secção de meio vão: o deslocamento vertical do nó de

ligação banzo/reforço e o deslocamento de flexão a meio da alma. A Figura 4.14 mostra uma

configuração deformada genérica da coluna Z e a forma como foram identificadas as referidas

componentes de participação modal (CD e CL). A metodologia adoptada foi a seguinte:

(i) A configuração deformada da coluna pode ser decomposta em duas parcelas: (i1) a

distorcional, e (i2) a local.

(ii) As duas parcelas podem ser expressas como uma combinação linear dos modos de

instabilidade distorcional e local normalizados, i.e., com os deslocamentos máximos

na secção de meio vão iguais à unidade – recorde-se que esses deslocamentos

máximos correspondem ao deslocamento vertical do nó de ligação banzo/reforço

(MD) e ao deslocamento de flexão a meio da alma (ML).

(iii) Designando os deslocamentos desses pontos (iii1) na configuração deformada genérica, por

vmax e por wmax , (iii2) na configuração do modo distorcional normalizado, por vD e wD, e

(iii3) na configuração do modo local normalizado, por vL e wL, pode admitir-se os

deslocamentos nos dois pontos dados por

vmax= CD vD + CL vL wmax= CD wD + CL wL . (4.2)

(iv) Atendendo a que, nos modos normalizados, vD=1, wD=0,619 e wL=1, vL≈ 0, então

obtêm-se as seguintes expressões para os factores de participação modal

CD ≈ vmax CL ≈ wmax – 0,619 (vmax ) . (4.3)

Figura 4.14 – Identificação das componentes distorcional (CD) e local (CL) de uma configuração deformada

genérica da coluna.

wL =1

vL 0

+ CD CL +

wmax

vmax

wD -0.619

vD=1

=

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62

A Figura 4.15 mostra a evolução, ao longo das várias trajectórias de equilíbrio, do

quociente de interacção modal definido pela relação CL/CD – razão entre os valores dos

factores de participação local e distorcional presentes na configuração deformada da coluna. A

observação das curvas CL vs. CD permite tirar as seguintes conclusões sobre o efeito da

interacção L/D no comportamento de pós-encurvadura das colunas Z:

(i) Todas as curvas começam em pontos situados a uma distância igual a 0,1t da origem

(ver pormenor) e exibem inclinações iniciais cujo valor depende da forma das

imperfeições iniciais – recorde-se que 0,1t corresponde ao valor da amplitude da

imperfeição geométrica inicial.

(ii) As várias curvas tendem para uma linha quase recta: (ii1) CL ≈ -0,167 CD

(0º90º). Parece razoável admitir que esta recta fornece a caracterização do modo

acoplado da coluna – note-se que, o modo distorcional é claramente predominante.

(iii) Refira-se que no caso das colunas de secção em C afectadas por interacção L/D as

várias curvas tendiam para duas rectas CL ≈ -0,34 CD e CL ≈ -0,25 CD [45] (ver

Figura 4.16).

Figura 4.15 – Evolução do quociente de interacção modal CL /CD ao longo das trajectórias de equilíbrio.

0

15

-2

2

CL

CD

90º

75º 60º 45º 30º 15º

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63

Figura 4.16 – Evolução do quociente de interacção modal CL /CD ao longo das trajectórias de equilíbrio para

colunas de secção em C.

4.4.2 Pós-encurvadura em regime elasto-plástico

Nesta subsecção estuda-se o comportamento de pós-encurvadura em regime elasto-

plástico das colunas Z, com o objectivo de determinar a resistência última e o modo de colapso

destas. Analisa-se o mesmo conjunto de colunas considerado no estudo elástico, i.e., sete perfis

exibindo imperfeições inicias (i) com uma amplitude igual a 10% da espessura da parede t, (ii)

cuja configuração resulta da combinação dos referidos modos de instabilidade ML e MD.

Admite-se um comportamento elástico perfeitamente plástico para o aço (i.e., sem ter em conta

o endurecimento) e analisa-se o efeito que o valor da tensão de cedência do material tem na

resistência última das colunas. Consideram-se três valores de tensão de cedência para o aço,

fy=355, 460 e 550 MPa, os quais correspondem os seguintes valores de relação com a tensão

crítica fy/cr ≈ 1,61; 2,08 e 2,49 (cr=220,93 MPa). A subsecção está dividida em duas fases.

Inicialmente, apresentam-se as trajectórias elasto-plásticas determinadas para os sete perfis

(admitindo diferentes valores de fy), com os resultados a serem apresentados numa sequência

idêntica à anterior, i.e., inicia-se com a análise das colunas que exibem imperfeições geométricas

“puras “ com a forma do modo MD e do modo ML, para, por fim, se analisarem as colunas com

imperfeições geométricas iniciais que combinam a forma dos dois modos. Numa segunda fase,

apresentam-se diagramas que ilustram a evolução das deformações plásticas ao longo de duas

trajectórias consideradas representativas do comportamento dos perfis, identificam-se os mecanismos

de colapso das colunas, terminando a sub-secção com a identificação dos valores de resistência

última para as vinte e uma colunas analisadas (i.e., sete perfis e três valores de tensão de cedência).

-8 -6 -4

1

2

2

-1

-2 4 6

CD

CLP

-2

8

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64

Na Figura 4.17 representam-se as trajectórias de equilíbrio em regime elasto-plástico,

P/Pcr vs. v/t (significado das grandezas igual ao estudo elástico), determinadas para todos os

perfis analisados, i.e., para sete perfis exibindo diferentes imperfeições geométricas iniciais

resultantes da combinação de dois modos de instabilidade MD (uma semi-onda) e ML (cinco

semi-ondas), caracterizadas por um valor de compreendido entre 0º e 90º (valores espaçados

de 15º). A observação desta figura permite concluir o seguinte:

(i) Neste caso (i.e., para fy/cr ≈ 1,61; 2,08 e 2,49), a “separação” das trajectórias elasto-

plásticas relativamente às trajectórias elástica, (i1) dá-se de forma brusca (i.e., as curvas

“divergem” muito rapidamente), (i2) com a “separação” a precipitar o colapso

“abrupto” das colunas – ainda que as colunas exibam resistência elasto-plástica

significativa.

(ii) À semelhança do que acontece em regime elástico, pode afirmar-se que as várias

trajectórias de pós-encurvadura elasto-plásticas acabam por evoluir de forma

semelhante, com ligeiras discrepâncias durante a evolução, mas sem diferenças

significativas no que respeita à resistência última dos perfis.

(iii) As imperfeições de natureza geométrica mais desfavoráveis, i.e., as que conduzem a

menores resistências de pós-encurvadura elasto-plásticas, continuam a estar associadas

a imperfeições distorcionais “puras” =0º.

(iv) As colunas que exibem maior resistência estão associadas a imperfeições locais puras

=90º, confirmando-se assim o comportamento observado em colunas de aço

enformadas e frio e de secção em C, com interacção L/D [45].

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v/ t

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

0 5

P/Pcr

10

=90º

=75º

=60º

=45º

=30º

=15º

=0º

v/ t

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

0 5

P/Pcr

10

=90º

=75º

=60º

=45º

=30º

=15º

=0º

(a) (b)

v/ t

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

0 5

P/Pcr

10

=90º

=75º

=60º

=45º

=30º

=15º

=0º

(c)

Figura 4.17 – Trajectórias de pós-encurvadura elasto-plásticas P/Pcr vs. v/t das colunas com imperfeições

0º 90º para (a) fy=355 MPa, (b) fy=460 MPa e (c) fy=550 MPa.

Mecanismos de Colapso e Resistência Última das Colunas

Na Figura 4.18 apresentam-se dez diagramas de deformação plástica determinados pelo

programa ABAQUS, os quais ilustram a evolução e localização dessa deformação, assim como a

configuração deformada no colapso de duas colunas constituídas por aços com fy=460 MPa,

concretamente, (i) para a coluna =0º (diagramas A a C, à esquerda da figura), e (ii) para a

coluna =90º (diagramas D a F, à direita) – note-se que para os diagramas B, C, E e F se

apresentam duas perspectivas da coluna com o intuito de melhorar a percepção da localização

das deformações plásticas. A observação destes diagramas sugere os seguintes comentários:

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v/ t

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

0 5

P/Pcr

10

-Elástica -fy=460MPa

A

B

C

(a)

v/ t

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

0 5

P/Pcr

10

-Elástica -fy=460MPa

D

E

F

(b)

Figura 4.18 – Diagramas de deformação plástica e configuração deformada no colapso de colunas com

imperfeições geométricas iniciais (a) =0º e (b) =90º (fy/cr ≈ 2,08 – fy=460 MPa).

(i) Para a coluna com =0º, as deformações plásticas têm início na extremidade dos

reforços, na zona de meio vão (i.e., típica origem distorcional – ver diagrama B),

originando a “separação” das trajectórias elasto-plásticas relativamente às elásticas. O

colapso fica a dever-se (i1) à formação de uma charneira plástica na ligação do banzo

à alma e (i2) à total plastificação do reforço (ver diagrama C).

(ii) As colunas com =90º exibem uma evolução semelhante das deformações plásticas.

(iii) O mecanismo representado é o “possível” para a coluna, no sentido em que todas as

colunas analisadas entram em colapso exibindo esse mecanismo.

D

E1

A

B1

F1 C1

B2

C2

E2

F2

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Por sua vez, na Tabela 4.2 indica-se o valor da relação Pu/Pcr para cada uma das vinte e

uma colunas analisadas, onde Pu consiste no valor máximo do parâmetro de carga determinado

pelo programa ABAQUS. A observação dos resultados indicados na Tabela 4.2 permitem retirar

as seguintes conclusões:

(i) O aumento da tensão de cedência do aço faz naturalmente subir o valor da resistência

última das colunas, mas observe-se que esse aumento não é muito significativo – por

exemplo, para a coluna com =0º, aumentar o valor de fy de 355 para 550 MPa (i.e.,

55%) apenas dá origem a um aumento da resistência última de 3%.

(ii) As colunas que exibem maior resistência última estão associadas a imperfeições locais

“puras” =90º. Neste caso

(iii) À semelhança do verificado em regime elástico, as imperfeições de natureza

geométrica mais desfavoráveis, i.e., as que conduzem a menores resistências de pós-

encurvadura elasto-plásticas, continuam a estar associadas a imperfeições distorcionais

“puras” =0º.

Tabela 4.2 – Resistência última (Pu /Pcr) das colunas Z para diferentes valores de e fy.

fy [MPa]

º 355 460 550

0 0,95 0,98 0,98

15 0,97 1,01 1,02

30 1,02 1,07 1,09

45 1,05 1,11 1,13

60 1,07 1,15 1,17

75 1,06 1,18 1,19

90 1,06 1,21 1,22

As conclusões deste estudo, em particular as que dizem respeito às imperfeições mais

desfavoráveis e à resistência última das colunas, são importantes para o dimensionamento de

perfis de aço enformados a frio com secção em Z. Constituem um primeiro contributo para a

compreensão do comportamento destes elementos estruturais quando afectados por fenómenos

de interacção modal L/D, devendo naturalmente ser complementados por outros estudos para

poderem ser retiradas conclusões mais definitivas sobre o comportamento desses perfis.

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69

CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS E DESENVOLVIMENTOS

FUTUROS

Apresenta-se seguidamente uma síntese da actividade de investigação desenvolvida no

âmbito da elaboração da presente dissertação, com o objectivo de (i) transmitir uma

perspectiva global do trabalho realizado e, simultaneamente, (ii) identificar os principais

resultados e conclusões a que este trabalho conduziu.

1. Antes de mais, convém referir que o âmbito desta dissertação se restringiu ao estudo do

comportamento de colunas simplesmente apoiadas, de aço enformadas a frio e com

secção em Z, quando submetidas a compressão uniforme. O estudo teve por principal

objectivo investigar o efeito da interacção entre modos de instabilidade local de placa (L) e

distorcional (D) no comportamento de pós encurvadura, em regime elástico e elasto-plástico,

dos referidos perfis.

2. Inicialmente, abordaram-se alguns tópicos de carácter geral, tendo sido (i) apresentados

alguns conceitos e definições gerais de estabilidade estrutural, (ii) identificados os

fenómenos de instabilidade local e global que podem afectar o comportamento dos perfis de

parede fina, (iii) caracterizados os vários tipos de análises (linear de estabilidade e pós-

encurvadura) e métodos disponíveis para estudar a estabilidade desses elementos

estruturais, nomeadamente os métodos das faixas finitas (utilizado neste trabalho para

seleccionar a geometria dos perfis) e dos elementos finitos (adoptado para efectuar as

análises de pós-encurvadura das colunas).

3. Abordaram-se, com alguma profundidade, vários aspectos relacionados com a utilização

e implementação computacional do método dos elementos finitos, designadamente, os relativos

(i) à discretização dos perfis por elementos de casca, (ii) à modelação das condições de apoio

e do carregamento, (iii) à incorporação das imperfeições iniciais a considerar nas análises de

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70

estabilidade no programa ABAQUS. Por fim, para validar o modelo de elementos finitos

adoptado neste trabalho, reproduziram-se alguns resultados publicados por outros autores

os resultados obtidos permitiram a validação do referido modelo.

4. Após tecer algumas considerações gerais relativas à análise linear de estabilidade, procedeu-

se à selecção da geometria dos perfis de aço enformados a frio (simplesmente apoiados e de

secção em Z) a considerar no estudo do comportamento de pós-encurvadura de colunas com

interacção modal. A selecção fez-se com o recurso ao programa de faixas finitas CUFSM v2.6,

tendo sido identificada a geometria que conduz a valores semelhantes para as tensões/cargas de

bifurcação nos modos L e D a escolha da geometria foi condicionada pela conveniência do

modo local apresentar um número ímpar de semi-comprimentos de onda. A análise linear de

estabilidade desse perfil efectuada por elementos finitos permitiu confirmar a referida

interacção modal e determinar a configuração dos modos de instabilidade L e D, cuja

combinação define o conjunto de configurações iniciais do perfil a considerar nas

análises de pós-encurvadura efectuadas posteriormente.

5. Após a explicação do modo como se definiu o conjunto de imperfeições geométricas iniciais

de pequena amplitude (10% da espessura t dos perfis) a incluir nas análises não lineares de

estabilidade efectuadas no programa ABAQUS, apresentaram-se e discutiram-se os

resultados do estudo sobre o comportamento de pós-encurvadura com interacção modal de

colunas com a geometria seleccionada no ponto anterior.

6. A apresentação e discussão desses resultados fez-se em duas fases. Iniciou-se com o estudo

do comportamento em regime elástico, onde se apresentaram (i) trajectórias de pós-

encurvadura de colunas com diferentes imperfeições geométricas iniciais (primeiro,

configurações iniciais puras, i.e., imperfeições iniciais apenas com componente L ou D;

depois, configurações iniciais que combinam estes dois modos), (ii) configurações

deformadas das colunas em várias fases da pós-encurvadura, e (iii) gráficos que

representam a evolução do quociente dos factores de participação local (CL) e distorcional

(CD) presentes na configuração deformada das colunas analisadas. Numa segunda fase,

procedeu-se ao estudo do comportamento de pós-encurvadura em regime elasto-plástico,

considerando diferentes valores para a tensão de cedência do aço. Apresentaram-se (i)

trajectórias de pós-encurvadura, (ii) diagramas de deformação plástica em vários pontos

dessas trajectórias para colunas com imperfeições iniciais representativas do

comportamento, e, finalmente, (iii) tabelas identificando a resistência última de todas as

colunas analisadas (i.e., sete perfis, cada um deles com três valores diferentes de tensão

de cedência para o aço).

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7. As principais conclusões que foi possível extrair da análise dos resultados obtidos neste

trabalho, relativamente ao efeito da interacção L/D no comportamento de pós-encurvadura de

colunas de aço enformadas a frio com a secção em Z, são as seguintes:

(i) As colunas analisadas exibem alguma resistência elástica de pós-encurvadura, e

evoluem para configurações deformadas de pós-encurvadura que combinam as formas

dos modos D (uma semi-onda), predominante, e L (cinco semi-ondas).

(ii) As trajectórias de pós-encurvadura exibiram, na maioria dos casos, um

comportamento “irregular” (e.g., pontos limites, instabilidade por “snap-through”)

resultante do processo de adaptação da coluna à configuração final L/D.

(iii) As imperfeições de natureza geométrica mais desfavoráveis, i.e., que conduzem às

menores resistências de pós-encurvadura elásticas e elasto-plásticas, são distorcionais.

(iv) As colunas exibem uma resistência elasto-plástica significativa, cujo valor aumenta

com a tensão de cedência do aço e depende da imperfeição geométrica inicial.

Tal como foi referido na introdução deste trabalho, o âmbito desta dissertação, i.e., o estudo

do efeito da interacção modal no comportamento de pós-encurvadura de perfis de aço

enformados a frio, (i) está na “ordem do dia”, (ii) é muito vasto, e (iii) encontra-se muito longe de

estar “esgotado”. Nestas condições, é de prever que nos próximos anos o número de trabalhos

de investigação neste domínio seja significativo, listando-se seguidamente alguns dos possíveis

estudos a realizar na sequência do trabalho efectuado. Assim, há todo o interesse em abordar os

seguintes aspectos:

1. Analisar o comportamento de colunas de secção em Z, também afectadas por interacção

L/D, mas exibindo outras condições de apoio, designadamente, perfis com secções extremas

(i) encastradas ou (ii) globalmente apoiadas (i.e., com rotação global livre), mas fixas a

chapas que impeçam o empenamento (condição de apoio muito frequente em ensaios

experimentais). Tais estudos permitiam confirmar uma das conclusões importantes desta

dissertação em termos do dimensionamento destes perfis, i.e., o facto de serem as

imperfeições distorcionais puras as que conduzem a uma maior redução da resistência última

dessas colunas, as quais podem ser designadas por imperfeições “criticas”.

2. Efectuar estudos numéricos exaustivos, envolvendo perfis em Z com imperfeições

“criticas” e afectados por interacção L/D, mas com diferentes geometrias, condições de

apoio, tensões de cedência do material. Tais estudos permitiam obter, em conjunto com a

realização vários ensaios experimentais, uma base de dados suficientemente vasta sobre a

resistência última destes perfis, a qual possibilitará avaliar se as actuais expressões do

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72

Método da Resistência Directa permanecem eficientes e seguras quando as colunas são

afectadas pela referida interacção.

3. Estudar o efeito da interacção L/D em colunas com outras secções transversais que não

em C, Z ou “rack” e.g., perfis de aço enformados a frio com secção transversal em

“hat”. Tais estudos permitiriam também identificar quais as imperfeições “criticas” para

tais perfis, as quais, como foi referido anteriormente, são indispensáveis para a realização

de estudos numéricos exaustivos envolvendo colunas com diferentes geometrias, condições

de apoio, tensões de cedência do material.

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