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2019 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL Interações entre cetáceos e a pesca de cerco em Portugal Continental: o que mudou com as alterações da comunidade de pequenos peixes pelágicos Inês Caseiro Dias Mestrado em Ecologia Marinha Dissertação orientada por: Doutora Alexandra Silva Professora Doutora Isabel Domingos

Interações entre cetáceos e a pesca de cerco em Portugal ...€¦ · Um especial obrigada à Beatriz, pelo mini curso de introdução ao QGIS e pela “brutal” ajuda e paciência

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2019

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Interações entre cetáceos e a pesca de cerco em Portugal

Continental: o que mudou com as alterações da comunidade de

pequenos peixes pelágicos

Inês Caseiro Dias

Mestrado em Ecologia Marinha

Dissertação orientada por:

Doutora Alexandra Silva

Professora Doutora Isabel Domingos

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III

Agradecimentos

Quero agraceder, em primeiro lugar, à Dr.ª Alexandra Silva, pela orientação excecional, pelo apoio e

acompanhamento em todo o desenvolvimento deste trabalho e pela enorme ajuda na estatística e

modelação.

Agradecer à professora Isabel Domingos pela sua orientação e revisão a nível da escrita.

Um enorme obrigada à Ana Marçalo e à Diana Feijó, pela ajuda imprescidível durante todo o trabalho,

deste o fornecimento e tratamento dos dados até ao esclarecimento de dúvidas, foram de facto pessoas

excecionais. Toda a aprendizagem e conhecimento adquirido a bordo das embarcações de cerco, deve-

se a elas.

Agradecer ao projeto Sardinha 2020 pelo financiamento dos embarques e ao Instituto Português do Mar

e da Atmosfera (IPMA) pelo fornecimento da base de dados, recolhidos no âmbito dos projetos PNAB-

DCF – Programa Nacional de Amostragem Biológica – Data Collection Framework, Life + MarPro e

SafeSea EEAGrants.

Agradecer à Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) pela

cedência de dados relativos à frota de cerco continental.

Agradecer a todos os investigadores do IPMA que embarcaram, por terem contribuído para a recolha de

informação e compilação da base de dados.

Um enorme obrigada a todos os mestres e membros da tripulação das embarcações de cerco de todos os

portos onde foram realizadas as viagens de 2003 a 2018, por permitirem o embarque dos observadores

e pela disponibilidade demonstrada em contribuir para a recolha de informação.

Um enorme obrigada a todos os meus amigos que me acompanharam durante esta importante etapa,

pela paciência que tiveram, pela frases motivadoras nos últimos dias e, simplesmente, por terem estado

presentes.

Um especial obrigada à Beatriz, pelo mini curso de introdução ao QGIS e pela “brutal” ajuda e paciência

que teve, na elaboração dos mapas.

Agradeço a toda a minha família, em especial à minha mãe, ao meu pai, ao meu irmão gémeo Bruno,

por estarem sempre presentes e principalmente por aturarem as minhas crises de nervosismo, ansiedade

e stress. Um grande obrigada à Joana, pela enorme ajuda nas edições finais da dissertação.

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IV

Resumo

Muitas pescarias mundiais têm, como espécies-alvo, as principais presas de alguns predadores de topo,

tais como os cetáceos, bem como áreas de pesca sobrepostas às áreas de distribuição de algumas espécies

de cetáceos. Esta sobreposição pode resultar em interações diretas entre os mamíferos marinhos e as

artes de pesca, provocando perdas económicas para a atividade de pesca e a morte por captura acidental

de cetáceos. Em Portugal Continental, a pesca de cerco é considerada uma das artes de pesca mais

importantes para o país, sendo responsável por cerca de 50% dos desembarques no continente. Esta arte

é considerada por vários autores, como sendo das artes de pesca com elevado nível de interação com

cetáceos. Deste modo, este estudo pretende analisar as interações entre cetáceos e a pesca de cerco em

Portugal Continental, através de observações a bordo de embarcações de cerco, entre 2003 e 2018.

Foram observadas um total de 754 lances de pesca, em 550 viagens de cerco, que correspondeu a 0,3%

do esforço realizado pela frota. Em 10% dos lances de pesca realizados foram observadas interações,

com a observação de três espécies de cetáceos: o golfinho-comum (Delphinus delphis), o roaz-

corvineiro (Tursiops truncatus) e o bôto (Phocoena phocoena), tendo o golfinho-comum sido a espécie

mais observada a interagir, com uma ocorrência de 89% do total das interações. A captura acidental e a

morte de cetáceos, ocorreu em 1,6% e 0,8% do total de lances de pesca, respetivamente, em que o

golfinho-comum foi a única espécie com registo de morte. Recorreu-se ao modelo estatístico GAM,

para analisar como é que as variações ao nível da atividade de cerco e da abundância de pequenos

pelágicos influenciaram a probabilidade de ocorrência de interações cetáceos-pesca. Os resultados

obtidos revelaram que a probabilidade de ocorrência de interações é significativamente influenciada

pelo ano, latitude e longitude e pela captura por unidade de esforço da sardinha e biqueirão. Foi

observada uma tendência de estabilização da variação anual da probabilidade de ocorrência de

interações, com uma influência significativa da captura por unidade de esforço da sardinha. A ocorrência

de interações predominou em áreas geográficas de grande abundância de sardinha (latitudes superiores),

mas também em zonas do país com conhecimento prévio de reduzida abundância da mesma (latitudes

inferiores), o que sugere que as interações cetáceos-pesca não foram apenas influenciadas pela

abundância de sardinha, mas sim pela abundância e disponibilidade de outras espécies pelágicas alvo de

captura. As estimativas anuais de interações entre os cetáceos e a pesca ao nível da frota continental de

cerco, sugerem que o nível de interação pode ser muito superior ao obtido no presente estudo. Torna-se,

por isso, necessário prosseguir com a monitorização da atividade de pesca de modo a melhorar e

implementar planos de gestão, bem como medidas de mitigação apropriadas, com o objetivo de reduzir

as interações e, consequentemente a captura acidental e a morte de cetáceos.

Palavras-chave: Interações, cetáceos, pesca de cerco, espécies de peixe pelágicas, costa portuguesa.

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V

Abstract

Many worldwide fisheries have as target species the main prey of some top predators, such as cetaceans,

as well as fishing areas overlapping with the distribution areas of some cetacean species. This overlap

may lead to direct interactions between marine mammals and fishing gear, causing economic losses to

fishing activities and accidental mortality of cetaceans. The purse seine fleet is one of the most important

fisheries in mainland Portugal, accounting for 50% of landings on the continent. This gear is also pointed

out by various studies as one of the gears with a higher level of interactions with cetaceans. Therefore,

this study aims to analyze the interactions between cetaceans and the Portuguese purse seine fishery

through on-board observations between 2003 and 2018. A total of 754 hauls was observed in 550 fishing

trips corresponding to 0.3% of the fleet effort. Interactions were observed in 10% of the fishing events.

Three species of cetaceans were involved: common dolphins (Delphinus delphis), bottlenose dolphins

(Tursiops truncatus) and harbor porpoise (Phocoena phocoena). The common dolphin was the most

frequently observed species involved in interactions, occurring in 89% of all interactions. Accidental

capture and mortality occurred in 1.6% and 0.8% of fishing events, respectively. The common dolphin

was the only specie with mortality occurred. A GAM model was used to analyze how the fishing activity

and small pelagic fish abundance influenced the probability of occurrence of interactions between

cetaceans and fisheries. Results reveal that the probability of interactions is significantly affected by the

year, latitude and longitude and catch per unit effort of sardine and anchovy. There was a trend to

stabilize of the annual variation in the probability of interactions, which was significantly affected by

the sardine catch per unit effort. The occurrence of interactions was higher in geographical areas of high

abundance of sardines (higher latitudes), but also in areas where the abundance of sardine was low

(lower latitudes), which suggests that the cetacean-fishery interactions were not only affected by the

abundance of sardines but also by the abundance and availability of other pelagic fish species targeted

by the fishery. Annual estimates of interactions between cetaceans and the purse seine fishery suggest

that the level of interaction may be much higher than that obtained in the present study. Therefore, it is

necessary to continue monitoring the Portuguese purse seine fishery to improve and implement

management plans, as well as appropriate mitigation measures to reduce the interactions and

consequently accidental capture and mortality of cetaceans.

Keywords: Interactions, cetaceans, purse seine fishery, pelagic fish species, Portuguese coast.

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VI

Índice

1. Introdução ............................................................................................................................................ 1

1.1. Interações entre cetáceos e as pescarias mundiais ........................................................................ 1

1.2. Pesca de cerco em Portugal Continental ...................................................................................... 2

1.3. Interações cetáceos-pesca em Portugal Continental ..................................................................... 4

1.4. Objetivos ...................................................................................................................................... 5

2. Material e Métodos .............................................................................................................................. 6

2.1. Recolha de Dados ......................................................................................................................... 7

2.1.1. Atividade de pesca ................................................................................................................. 7

2.1.2. Observação de cetáceos ......................................................................................................... 8

2.2. Análise estatística ......................................................................................................................... 8

2.2.1. Atividade de pesca ................................................................................................................. 9

2.2.2. Presença e interação com cetáceos ........................................................................................ 9

2.2.3. Modelação das interações entre cetáceos e a pesca de cerco ............................................... 10

2.2.4. Extrapolação ao nível da frota continental .......................................................................... 11

3. Resultados ......................................................................................................................................... 13

3.1. Esforço de observação e esforço de pesca .................................................................................. 13

3.2. Capturas, desembarques, desenvases e rejeições ....................................................................... 15

3.3. Presença de cetáceos nas viagens ............................................................................................... 19

3.4. Interações cetáceos-pesca ........................................................................................................... 21

3.4.1. Interação em função do esforço de observação ................................................................... 21

3.4.2. Interações em função da abundância das espécies pelágicas............................................... 23

3.4.3. Modelação das interações de cetáceos com a pesca de cerco .............................................. 25

3.4.4. Extrapolação ao nível da frota continental .......................................................................... 28

4. Discussão ........................................................................................................................................... 29

5. Considerações Finais ......................................................................................................................... 34

6. Referências Bibliográficas ................................................................................................................ 35

7. Anexos ............................................................................................................................................... 40

Anexo I .............................................................................................................................................. 40

Anexo II ............................................................................................................................................. 42

Anexo III ........................................................................................................................................... 43

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VII

Índice de Figuras

Figura 1.1. Imagens de deteção de cardumes obtidas com equipamentos diferentes. Imagem obtida

através de sonar (esquerda) e de sonda (direita) ........................................................................................3

Figura 1.2. Operação de pesca, composta pela alagem (esquerda), enxugar da rede (centro) e pelo

transbordo do peixe (direita) para bordo da embarcação, com auxílio de um xalavar................................4

Figura 2.1. Mapa da área de estudo (Portugal Continental), com a divisão por zonas de pesca (Norte,

Centro e Sul), os portos de desembarque da frota de cerco portuguesa e a distribuição dos lances de

pesca (pontos pretos) realizados entre 2003 e 2018. Estão representadas as batimétricas de 50, 100 e 200

metros........................................................................................................................................................6

Figura 3.1. Variação média anual do número de lances de pesca realizados por viagem na costa

portuguesa, entre 2003 e 2018.................................................................................................................13

Figura 3.2. Número de viagens e lances de pesca realizados, por zona (Norte, Centro e Sul) (a) e por

estação do ano (Inverno, Primavera, Verão e Outono) (b), entre 2003 e 2018.

................................................................................................................................................................13

Figura 3.3. Variação anual do esforço de pesca, por viagem, entre 2003 e

2018........................................................................................................................................................14

Figura 3.4. Variação anual do esforço de pesca por zona (Norte, Centro e Sul), por viagem, entre 2003

e 2018......................................................................................................................................................15

Figura 3.5. Quantidade média de pescado capturado (a), desembarcado (b), desenvasado (c) e rejeitado

(d) e respetivo desvio-padrão, por lance, entre 2003 e 2018. Devido ao valor elevado do desvio-padrão

em 2007 (a) e (c) e em 2014 (d), excluiu-se este valor da análise gráfica, para obter uma melhor

visualização do comportamento dos gráficos..........................................................................................16

Figura 3.6. Composição percentual das capturas por espécie entre 2003 e 2018. (PIL – sardinha; MAS

– cavala; HOM – carapau-branco; ANE – biqueirão; GAR – peixe-agulha; BON – sarrajão; JAA –

carapau-negrão; MAC – sarda; BOG – boga, Outros – ex: sargo-legítimo, sargo-safia, besugo, pescada,

faneca, choupa, linguados entre outras) ................................................................................................ 17

Figura 3.7. Quantidade média de PIL (a), MAS (b), HOM (c) e ANE (d) capturada, por lance, no período

de 2003 a 2018 (PIL – sardinha, MAS – cavala, HOM – carapau-branco e ANE – biqueirão).

Removeram-se os valores elevados do desvio-padrão em 2007 (b), 2013 (c), 2016 e 2017 (d). .......... 18

Figura 3.8. Quantidade média de PIL, MAS, HOM e ANE capturada e respetivo desvio-padrão, por

lance, em função da zona de pesca (a) e da estação do ano (b) (PIL – sardinha, MAS – cavala, HOM –

carapau-branco e ANE – biqueirão). ..................................................................................................... 19

Figura 3.9. Variação anual do número de viagens realizadas e a frequência de ocorrêcia (%) de viagens

com presença de cetáceos, entre 2003 e 2018. ...................................................................................... 20

Figura 3.10. Variação anual do número de lances de pesca observados e a frequência de ocorrência (%)

de lances de pesca com interações cetáceos-pesca, em Portugal Continental, entre 2003 e 2018. ....... 21

Figura 3.11. Localização dos lances de pesca com e sem registo (+) de interações entre cada espécie de

cetáceo e a pesca de cerco, em Portugal Continental, entre 2003 e 2018. Representação dos portos de

pesca e as batimétricas de 50, 100 e 200m. ........................................................................................... 22

Figura 3.12. Variação anual da CPUE média e respetivo desvio-padrão, e da frequência de ocorrência

(%) de lances de pesca com interações, entre 2003 e 2018: (a) PIL, (b) MAS, (c) HOM e (d) ANE. (PIL

– sardinha, MAS – cavala, HOM – carapau-branco e ANE – biqueirão).. ........................................... 24

Figura 3.13. Efeito das variáveis significativas na probabilidade de ocorrência de interação cetáceos-

pesca: Ano (a), CPUE.PIL (b), CPUE.ANE (c) e interação entre latitude e longitude, em valores

decimais (d). A linha a tracejado nos gráficos de (a) a (c), representa o intervalo de confiança de 95% e

os traços verticais no eixo horizontal representam o número de observações. No gráfico (d), está

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VIII

representado o perfil da costa portuguesa, sendo que os valores apresentados nas linhas do gráfico

refletem a probabilidade de interações cetáceos-pesca. As cores mais claras e escuras refletem uma

maior e menor probabilidade de ocorrência de interações,

respetivamente........................................................................................................................................27

Índice de Tabelas

Tabela 2.1. Amostragem realizada para cada ano do período de estudo entre 2003 e

2018..........................................................................................................................................................7

Tabela 3.1. Total de viagens com presença de cada espécie de cetáceo, número de viagens com presença

de cetáceos (N) e a respetiva frequência de ocorrência (%) de cada espécie de cetáceo, em função do

total de viagens realizadas por zona (Norte, Centro e Sul) e estação do ano (Inverno, Primavera, Verão,

Outono), entre 2003 e 2018. Delphinus delphis – Golfinho-comum; Tursiops truncatus – Roaz-

corvineiro; Phocoena phocoena – Bôto e Balaenoptera acutorostrata – Baleia-anã

................................................................................................................................................................20

Tabela 3.1. Número total de indivíduos observados (Ind), número de lances de pesca com interações,

captura acidental e morte de cetáceos (N) e a respetiva frequência de ocorrência de cada espécie de

cetáceo (%), em função do número total de lances de pesca observados entre 2003 e 2018 (n = 754).

Delphinus delphis – Golfinho-comum; Tursiops truncatus – Roaz-corvineiro; Phocoena phocoena –

Bôto e Balaenoptera acutorostrata – Baleia-

anã...........................................................................................................................................................22

Tabela 3.2. Número de lances de pesca com interação, captura acidental e morte de cetáceos (N) e a

respetiva frequência de ocorrência (%), em função do total de lances de pesca realizados por zona (Norte,

Centro e Sul) e estação do ano (Inverno, Primavera, Verão, Outono), entre 2003 e

2018........................................................................................................................................................23

Tabela 3.4. Modelo inicial desenvolvido com as variáveis explicativas e modelo final com as variáveis

relevantes para a modelação da variável resposta. Para ambos os modelos, é apresentada a respetiva

deviance explicada e o valor de AIC (Akaike Information Criterion). Para cada variável explicativa são

apresentados os graus de liberdade e o p-value: (***) corresponde a p-value < 0,001; (**) p-value < 0,01

e (*) p-value < 0,05. CPUE.PIL – captura por unidade de esforço de sardinha; CPUE.MAS – captura

por unidade de esforço de cavala; CPUE.HOM – captura por unidade de esforço de carapau-branco e

CPUE.ANE – captura por unidade de esforço de

biqueirão.................................................................................................................................................25

Tabela 3.5. Parâmetros utilizados na extrapolação das interações cetáceos-pesca: Nº de viagens

amostradas (n), Nº de interações por viagem amostrada (a), Nº de viagens realizadas pela frota de cerco

(N), Nº de interações estimadas ao nível da frota (A) e respetivo coeficiente de variação (CV), e a

frequência de ocorrência das interações (%) estimadas sobre as viagens realizadas pela frota,

anualmente, entre 2003 e 2018................................................................................................................28

Anexo II

Tabela 1. Variáveis recolhidas durante as viagens a bordo das embarcações de cerco, entre 2003 e

2018........................................................................................................................................................42

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IX

Lista de acrónimos e abreviaturas

ICES – International Council for the Exploration of the Sea

SCANS II e III – Small Cetaceans in the European Atlantic and North Sea

IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera

PNAB – Programa Nacional de Amostragem Biológica

DCF – Data Collection Framework

SafeSea – Sustainable local fisheries and promotion of a safe sea for cetaceans

MarPro – Conservation of Marine protected species in mainland Portugal

EEAGrants - Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu

DGRM – Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos

GAM – Generalized Additive Models

CPUE – Captura por unidade de esforço (kg/h)

AIC – Akaike Information Criterion

g.l – graus de liberdade

VMS – Vessel Monitoring System

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1

1. Introdução

1.1. Interações entre cetáceos e as pescarias mundiais

Os mamíferos marinhos são considerados predadores de topo imprescindíveis para a estrutura,

dinâmica e manutenção dos ecossistemas marinhos (Escalle et al. 2015). No entanto, o facto de não se

encontrarem adaptados a rápidas alterações nas condições do meio e de apresentarem uma maturidade

sexual tardia, associada a uma reduzida taxa de reprodução (Hamer 2012), torna-os vulneráveis aos

vários impactos provenientes da ação humana. Assim, a sua proteção e monitorização são de extrema

importância, para a manutenção das suas populações. Uma das problemáticas conservacionistas

associadas aos cetáceos é a interação direta destes com as várias pescarias (Read 2008), razão pela qual

diversos estudos sobre esta temática têm sido realizados um pouco por todo o mundo (López 2006;

Garrison et al. 2007; Wise et al., 2007; Rogan e Mackey 2007; Hamer 2012; Goetz et al. 2014b; Escalle

et al. 2015; Marçalo et al. 2015b).

Muitas das pescarias mundiais têm como espécies-alvo as principais presas de diversas espécies

de cetáceos, bem como áreas de pesca sobrepostas às áreas de distribuição de alguns mamíferos

marinhos (Goetz et al. 2014a,b; Escalle et al. 2015). Esta competição pelos recursos e a sobreposição

das áreas geográficas, resulta em interações entre os mamíferos marinhos e as várias pescarias, que

podem ser de dois tipos: operacionais e biológicas. As interações operacionais ocorrem quando o mesmo

cardume é detetado pela atividade de pesca e pelos mamíferos marinhos em simultâneo (Hamer et al.

2008), podendo levar a um contacto físico direto dos mamíferos com a arte de pesca (Read et al. 2006;

Roche et al. 2007; Hamer et al. 2008; Read 2008; Hamer 2012). As interações biológicas ocorrem

quando existe competição pelos mesmos recursos, ou seja, pelo peixe (Roche et al. 2007; Hamer 2012).

Contudo, é de referir que a sobreposição de recursos, por si só, não fornece evidências diretas de

competição entre os mamíferos marinhos e a pesca, uma vez que os recursos podem ser suficientes para

suportar as necessidades de ambos. Para que ocorra competição, os recursos têm de ser limitados e

sujeitos a uma elevada pressão pesqueira (Pusineri et al. 2004; Wise et al. 2018). Estes tipos de

interações são complexos e difíceis de observar, dificultando a sua caracterização e quantificação direta

(Hamer 2012). Maioritariamente, são as interações operacionais que originam consequências adversas

para os mamíferos marinhos e para a pesca. A captura acidental ou o aprisionamento de cetáceos na

rede, pode provocar lesões graves ou a mortalidade destes indivíduos, bem como a remoção ou dano do

peixe capturado resultante da presença dos mamíferos marinhos (depredação) (Goetz et al. 2014b), que

contribui para a redução do valor do pescado e a eventual danificação do material de pesca (Read 2008;

Hamer 2012). Estas situações podem originar medidas de retaliação por partes dos pescadores, que põem

em causa a conservação das espécies (Read 2008). Pode ainda ocorrer a dispersão dos cardumes e,

consequentemente, a não realização da pesca ou o atraso na atividade da mesma (Silva et al. 2011).

Contudo, também podem ser observadas interações positivas entre os cetáceos e a operação de pesca,

quando o avistamento de grupos de cetáceos pode ser indicativo da presença de cardumes nas

proximidades e a presença destes pode facilitar o aglomerar dos cardumes (Wise et al. 2007).

A depredação acarreta um risco para os mamíferos marinhos. No entanto, existem situações em

que a depredação do peixe presente na rede pode revelar-se benéfica, uma vez que não exige

praticamente gasto energético na procura e perseguição da presa (Roche 2007; Read 2008; Hamer 2012).

A captura acidental de cetáceos também designada por bycatch (termo inglês), que corresponde à

captura não intencional de espécies sem interesse comercial, é considerada uma das principais ameaças

para a megafauna marinha (López et al. 2003; Read et al. 2006; Boer et al. 2012; Lassalle et al. 2012;

Escalle et al. 2015). A avaliação do impacto da pesca sobre os mamíferos marinhos, realizada através

de programas de observação a bordo das embarcações, apresenta algumas dificuldades, uma vez que

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2

muitos dos indivíduos capturados acidentalmente podem escapar com vida, ou com material de pesca

preso, o qual pode causar ferimentos ou infeções, provocando uma morte lenta e dolorosa (Hamer 2012).

A pesca de cerco do atum, no Oceano Pacífico tropical oriental (Gerrodette 2018) e, a pesca de

cerco da sardinha no sul da Austrália (Hamer et al. 2008), apresentaram um nível de impacto, sobre as

populações de cetáceos, insustentável. Contudo, através de planos de monitorização e sensibilização da

comunidade pesqueira, este impacto foi drasticamente reduzido. A pesca de cerco do atum no Oceano

Pacífico tropical oriental, com a utilização de embarcações e redes de pesca de dimensões superiores à

pesca de cerco de pequenos pelágicos, apresentou entre 1960 e 1970, centenas de milhares de golfinhos

mortos por ano, uma vez que a operação de pesca consistia na perseguição e captura, por vezes

intencional, de golfinhos, de modo a capturar os atuns. Era uma prática comum, os pescadores utilizarem

a presença dos cetáceos como indicador da presença dos cardumes de atum, largando a rede na

proximidade dos mesmos. No entanto, através de sensibilização e educação dos pescadores, bem como

a modificação das redes e alterações na atividade de pesca, houve uma redução de cerca de 98% na

mortalidade dos cetáceos (Gerrodette 2018). Na pesca de cerco no sul da Austrália, implementou-se um

Código de Boas Práticas, devido à elevada interação do golfinho-comum (Delphinus delphis) com esta

arte. Anteriormente à adoção do Código de Boas Práticas, os programas de observação revelaram

elevadas taxas de captura acidental e de mortalidade de golfinho-comum (1,78 e 0,39 indivíduos por

lance, respetivamente) em 49 lances de pesca. Com a introdução deste código, em setembro de 2005,

foi conduzido um segundo programa de observação, que revelou decréscimos significativos de 87,3%

na taxa de captura acidental e de 97,1% na taxa de mortalidade (0,22 e 0,01 indivíduos por lance,

respetivamente) em 89 lances de pesca (Hamer et al. 2008).

1.2. Pesca de cerco em Portugal Continental

A pesca de cerco é considerada das artes mais importantes, para Portugal Continental, sendo

responsável por cerca de 50% (em peso) dos desembarques no continente (Wise et al. 2007, 2018; Feijó

2013; Feijó et al. 2018). A principal espécie-alvo desta arte de pesca é a sardinha (Sardina pilchardus),

no entanto outras espécies são também capturadas em grandes quantidades, como cavala (Scomber

colias), carapau-branco (Trachurus trachurus), biqueirão (Engraulis encrasicolus) e a sarda (Scomber

scombrus), juntamente com outras em menor quantidade, como carapau-negrão (Trachurus picturatus),

boga (Boops boops), sarrajão (Sarda sarda), peixe-agulha (Belone belone), entre outros (Wise et al.

2005, 2018; Feijó 2013; Feijó et al. 2018).

A sardinha foi, até recentemente, a espécie mais desembarcada pela arte de cerco em Portugal

Continental e desde sempre considerada de elevada importância socioeconómica para o país (Marçalo

2009). Contudo a sua abundância, e respetivos desembarques sofreram um decréscimo, tendência que

se acentuou a partir de 2009 (Feijó 2013; Feijó et al. 2018; ICES 2018), devido à existência de um

reduzido recrutamento (Silva et al. 2015). Dada a importância desta espécie para Portugal, foram

implementadas medidas de gestão da pesca do cerco, tais como: limitação do número de dias de pesca,

fecho temporário de áreas de pesca e imposição de limites diários de captura em alguns portos (Feijó

2013; Silva et al. 2015; Monteiro 2017). Até 2009, não havia regulamentação nem fiscalização dos

limites anuais impostos à captura de sardinha e, só a partir de 2010, é que estes limites começaram a ser

regulados passando a ser gradualmente mais restritivos (Silva et al. 2015; Monteiro 2017; Feijó et al.

2018), o que se traduziu em decréscimos anuais acentuados dos desembarques. Com o objetivo de

manter uma viabilidade económica, a pesca de cerco, foi direcionada para a captura de outras espécies

pelágicas, como a cavala, o carapau-branco e o biqueirão (Monteiro 2017). A abundância de cavala tem

vindo a aumentar na costa portuguesa, passando a ser considerada a segunda espécie mais desembarcada

pela atividade de cerco, e tendo ultrapassado os desembarques de sardinha em 2012 (Martins et al. 2013;

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Feijó et al. 2018). O carapau-branco, a partir de 2012, apresenta um aumento considerável da sua

biomassa (ICES 2018). Por sua vez, o biqueirão é considerado uma espécie de ocorrência esporádica

em Portugal Continental, traduzindo-se em grandes variações ao longo dos anos. No entanto, a sua

captura apresentou um aumento considerável entre 2015 e 2018 (ICES 2018).

A pesca de cerco é uma pesca costeira que ocorre, geralmente, perto dos portos de origem (Feijó

2013), com viagens diárias e de curta duração (Feijó 2011; Feijó et al. 2018). As viagens no cerco são

constituídas por quatro fases: navegação, pesquisa, pesca e paragem de descanso (Feijó 2013). A viagem

inicia-se quando a embarcação sai do porto de origem em direção à zona de pesca (navegação) (Feijó,

2013). A pesquisa é iniciada quando se ligam os aparelhos de deteção de cardumes (sonar e sonda)

(Figura 1.1) (Marçalo 2009). Durante esta fase, a embarcação encontra-se à procura de cardumes da

espécie-alvo pretendida. Dependendo da densidade do cardume e da espécie pretendida, o mestre dará

ordem de largada da rede (Feijó 2013), iniciando-se a operação de pesca.

Figura 1.1. Imagens de deteção de cardumes obtidas com equipamentos diferentes. Imagem obtida através de sonar (esquerda)

e de sonda (direita).

Sempre que a rede é colocada na água, ocorre um lance de pesca, o qual é composto por quatro

etapas: largada da rede, viragem da retenida, alagem e enxugar da rede e, transbordo do peixe (Figura

1.2) (Feijó 2013). Durante a largada da rede, o cardume é cercado rapidamente (rede com 500 a 1000

metros de comprimento e 90 a 150 metros de altura) (Feijó et al. 2018), seguindo-se o fecho da rede,

com o auxílio de um cabo (cabo da retenida), que passa num conjunto de argolas, formando e fechando

um saco, aprisionando o cardume (Feijó 2013). A alagam da rede é uma das fases mecânicas, que

consiste no puxar da rede para dentro da embarcação, com o auxílio de aladores. Posteriormente inicia-

se o enxugar da rede, que é realizado, manualmente, por toda a tripulação (Feijó 2013; Feijó et al. 2018).

Esta etapa tem como objetivo juntar o peixe numa determinada zona da rede (copejada), preparada para

suportar o peso de todo o peixe concentrado (Feijó 2013). Finalmente, procede-se ao transbordo do

peixe, que consiste na passagem do peixe da rede para dentro da embarcação, com o auxílio de um

xalavar (Feijó 2013).

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Figura 1.2. Operação de pesca, composta pela alagem (esquerda), enxugar da rede (centro) e pelo transbordo do peixe (direita)

para bordo da embarcação, com auxílio de um xalavar.

No final da operação de pesca, a captura pode sofrer três destinos: desembarque no cais do porto

e preparação para venda, rejeição, a bordo, de pequenas quantidades de pescado morto e sem valor

comercial (fenómeno raro), e slipping i.e., o desenvasar ou destombar de parte da captura (Marçalo

2009; Feijó 2013). Este procedimento consiste na libertação de capturas excessivas ou indesejadas,

através da abertura ou rebaixamento da rede, permitindo que o peixe vivo escape por cima da mesma.

Estas decisões são tomadas pelo mestre e devem-se a vários motivos: restrições diárias impostas à

captura de certas espécies; mistura com espécies não comerciais e consequente desvalorização da

captura; e a presença de espécies abaixo do tamanho mínimo de captura permitido (Stratoudakis e

Marçalo 2002; Marçalo 2009; Feijó 2013; Feijó et al. 2018).

É durante a largada da rede que ocorre uma maior probabilidade de interação entre a pesca de

cerco e os cetáceos, e de estes ficarem presos dentro da rede, caso surjam na proximidade, a competir

pelo mesmo cardume detetado pela embarcação.

1.3. Interações cetáceos-pesca em Portugal Continental

Em Portugal Continental, foram realizados dois estudos com o propósito de analisarem a

interação de cetáceos com a pesca de cerco. O estudo de Wise et al. (2007), avaliou as interações de

pequenos cetáceos com a pescaria de cerco na costa ocidental portuguesa (4 meses), através de

observações a bordo de cercadoras e de inquéritos realizados aos pescadores e provou que a ocorrência

destas interações se devia a duas razões: o tipo de pesca ser dirigido às principais presas dos pequenos

cetáceos e ao facto de operar dentro da área de distribuição dos mesmos. Marçalo et al. (2015b), utilizou

um período de amostragem de 2 anos e ao longo de todo o continente português, onde avaliou os níveis

de interações entre a pescaria de cerco e os cetáceos, assim como o cálculo dos primeiros índices de by-

catch, concluindo que as interações estão relacionadas com o aumento de captura de sardinha e com o

esforço de pesca. Estes estudos, bem como outros autores (Goetz et al. 2014a), permitiram concluir que,

as espécies de cetáceos que apresentam a sua zona de maior abundância sobreposta à área de operação

da pesca de cerco são: o golfinho-comum (Delphinus delphis), o roaz-corvineiro (Tursiops truncatus) e

o bôto (Phocoena phocoena), sendo o golfinho-comum a espécie mais abundante (Silva e Sequeira

2003; Wise et al. 2018). Estas espécies de cetáceos encontram-se distribuídas ao longo da costa

portuguesa, tanto em zonas de maior profundidade (200m), como em zonas costeiras, apresentando uma

alimentação à base de espécies pelágicas e mesopelágicas, o que revela uma elevada probabilidade de

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interagirem com a pesca de cerco (Santos et al. 2007; Goetz et al. 2014a; Correia et al. 2015; Wise et al.

2018).

Embora a pescaria de cerco em Portugal Continental esteja bem caracterizada ao nível da

operacionalidade e quanto às interações cetáceos-pesca (Wise et al. 2007, 2018; Goetz et al. 2014a;

Marçalo et al. 2015b), os estudos realizados analisaram um período de amostragem reduzido. Torna-se,

assim, importante alargar o período de amostragem, em virtude de ser crucial analisar possíveis

tendências temporais das interações entre os cetáceos e a operação de pesca. As restrições de que tem

sido alvo a pesca de cerco, nomeadamente ao nível da redução do esforço da frota (número de dias de

mar) e da captura de sardinha, pode resultar num decréscimo das interações cetáceos-pesca.

Adicionalmente, e devido às alterações da comunidade das espécies pelágicas, nomeadamente o declínio

da abundância de sardinha, é necessário averiguar se houve alterações ao nível das interações entre

cetáceos e a pesca de cerco, visto a sardinha ser considerada a presa preferencial dos cetáceos, em

particular do golfinho-comum.

1.4. Objetivos

Este estudo tem como objetivo principal analisar as interações entre cetáceos e a pesca de cerco

em Portugal Continental, com base em dados recolhidos a bordo de embarcações de cerco, no período

entre 2003 e 2018. Para compreender essa dinâmica, foram definidos dois objetivos específicos: 1)

Analisar a tendência anual, bem como a variação geográfica e sazonal das interações cetáceos-pesca; 2)

Investigar se as variações da abundância de peixes pelágicos, em particular a redução da abundância de

sardinha, afetaram a intensidade de interações.

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2. Material e Métodos

O presente estudo decorreu na costa continental Portuguesa, tendo sido consideradas três zonas

distintas (Figura 2.1): a zona Norte (de Caminha a norte do Canhão da Nazaré), a zona Centro (do canhão

da Nazaré ao Cabo de São Vicente) e a zona Sul (do Cabo de São Vicente até Vila Real de Santo

António). No âmbito do PNAB (Programa Nacional de Amostragem Biológica), na recolha de dados

relativos à atividade de pesca, é comum a divisão da costa portuguesa nestas três zonas definidas com

base na localização dos principais portos de desembarque.

Figura 2.1. Mapa da área de estudo (Portugal Continental), com a divisão por zonas de pesca (Norte, Centro e Sul), os portos

de desembarque da frota de cerco portuguesa e a distribuição dos lances de pesca (pontos pretos) realizados entre 2003 e 2018.

Estão representadas as batimétricas de 50, 100 e 200 metros.

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2.1. Recolha de Dados

O IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera), iniciou um programa de observação a

bordo de embarcações de cerco em 2005, no âmbito do PNAB, que se estendeu até aos dias de hoje.

Este programa, que se integra no âmbito do Quadro Comunitário da Recolha de Dados ou Data

Collection Framework (DCF), contempla, nos seus objetivos, a obtenção de informação sobre a

atividade de pesca, a localização dos lances, e a caracterização das capturas, desembarques e rejeições.

Mais recentemente, a recolha de informação relativa às interações de cetáceos e aves marinhas com a

pesca de cerco, em colaboração com os projetos SafeSea (Sustainable local fisheries and promotion of

a safe sea for cetaceans), financiado pelo EEAGrants (Mecanismo Financeiro do Espaço Económico

Europeu), e LIFE+ MarPro (Conservation of Marine protected species in mainland Portugal),

financiado pelo programa LIFE (Feijó 2013).

Os dados utilizados no presente estudo, foram recolhidos em viagens de pesca realizadas a bordo

de cercadoras ao longo de Portugal Continental, por observadores do IPMA no âmbito do PNAB, no

período entre 2003 e 2018. Foram ainda usados dados de 2010 e 2011, recolhidos no âmbito dos projetos

SafeSea e MarPro. No decurso do presente trabalho de dissertação, as observações foram intensificadas

pela estudante, entre julho e outubro de 2018, tendo-se estabelecido uma periocidade de dois embarques

semanais, alternados entre os portos de pesca de Peniche e Sesimbra, o que somou um total de 19

embarques. Não existem dados para 2004, uma vez que não foram realizados embarques. Na tabela 2.1,

apresenta-se um resumo do esforço anual de observação realizado durante o período de estudo.

Tabela 2.1. Amostragem realizada para cada ano do período de estudo entre 2003 e 2018

2.1.1. Atividade de pesca

Em todos os embarques realizados no período compreendido entre 2003 e 2018, os observadores

utilizaram um protocolo pré-definido no âmbito do PNAB (Anexo I). Este protocolo contempla a

informação necessária a recolher durante os lances de pesca. A informação registada foi a seguinte: o

Anos Nº de

viagens

Nº de lances

de pesca

Per

íod

o d

e es

tudo

2003 49 75

2004 0 -

2005 8 5

2006 21 19

2007 22 27

2008 22 23

2009 22 28

2010 104 175

2011 58 89

2012 53 65

2013 27 40

2014 27 30

2015 39 53

2016 26 30

2017 25 29

2018 47 66

Total 550 754

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local de largada da rede (latitude e longitude); a hora de início e fim de cada etapa da viagem de pesca,

incluindo a navegação de e para o porto; a pesquisa dos cardumes e a operação de pesca; a caracterização

do pescado capturado, pescado desenvasado (slipping) ou alvo de rejeição a respetiva composição por

espécies.

2.1.2. Observação de cetáceos

Foi registada a presença e interação com cetáceos durante as viagens e lances de pesca,

respetivamente. Considerou-se que os cetáceos estavam presentes, quando estes eram avistados longe

da embarcação (aproximadamente > 30 metros das embarcações) ou, quando eram avistados perto da

embarcação durante a fase de navegação e pesquisa, sem demonstrar qualquer interferência com a

operação de pesca. Considerou-se que havia interação, caso a ocorrência de cetáceos na proximidade da

embarcação (5 a 10 metros) ou durante a operação de pesca, conduzisse à dispersão do cardume e,

consequentemente à não largada da rede, ao atraso da atividade de pesca, a danos na rede e no peixe

capturado ou, ainda, à sua captura acidental e eventual morte (Vingada et al. 2015). Foram tidas em

consideração as observações realizadas pelos mestres, relativamente aos efeitos da presença de cetáceos

sobre a operação de pesca e sobre o comportamento dos cardumes. Na presença ou interação com

cetáceos podem estar envolvidos um ou mais indivíduos. No avistamento de cetáceos, foi registada a

fase da viagem ou lance de pesca em que se deu o evento, bem como a espécie envolvida. Em situações

de não identificação da espécie ou em situações de avistamento de indivíduos identificados como

“toninhas” por parte dos mestres ou tripulação, classificou-se como “Delfinídeo Não Identificado”, uma

vez que consoante a zona do país, a designação de “toninhas” pode ser atribuída a golfinhos-comuns ou

a bôtos. Em relação ao tamanho do grupo, foi registado o valor exato do número de indivíduos

envolvidos. Nos casos em que tal não foi possível, anotou-se um valor máximo e mínimo. Foi também

registado o comportamento apresentado pelos indivíduos e, consequentemente, o efeito ou tipo de

interação que estes possam ter tido com a pesca, incluindo a captura acidental e, consequentemente, o

destino dos indivíduos capturados, i.e., se permaneceram presos na rede acabando por morrer, se

escaparam, ou se foram libertados com vida.

2.2. Análise estatística

Os dados foram compilados em tabela, no software Microsoft Office Excel 2016. Para cada

lance, foi calculada a duração total e de cada fase da viagem - navegação, pesquisa, pesca e paragem

para descanso (horas). As coordenadas geográficas (latitude e longitude) do local de largada da rede,

foram convertidas para o sistema decimal. Por último, adicionaram-se quatro variáveis de presença e

ausência (0 e 1), indicadoras da presença, interação, captura acidental e morte de cetáceos. O esforço de

pesca e a captura por unidade de esforço (CPUE) de cada lance, foram calculados de acordo com Feijó

(2013). O esforço de pesca é a soma do tempo despendido na pesquisa e na pesca para realizar um lance,

em horas, e a CPUE é o quociente entre o total capturado, em peso, e o esforço de pesca, com unidades

em quilogramas por hora. A análise exploratória dos dados foi realizada com recurso a estatística

descritiva e representação gráfica. Para a escolha dos testes estatísticos, foi necessário analisar se os

pressupostos de normalidade da distribuição e homocedasticidade eram cumpridos. Sempre que o

pressuposto de normalidade não era cumprido, recorria-se à utilização de testes não paramétricos.

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2.2.1. Atividade de pesca

Com o objetivo de descrever as modificações que ocorreram no comportamento da atividade de

cerco, realizou-se uma análise gráfica da variação anual do número médio de lances de pesca realizados

por viagem. Utilizou-se estatística descritiva para caracterizar o tempo médio despendido, por viagem,

e o respetivo desvio-padrão em cada fase de pesca (navegação, pesquisa, pesca e paragem para

descanso). Foram excluídas, desta análise, 83 viagens consideradas incompletas por não apresentarem

o tempo de navegação e de pesquisa discriminados. Procedeu-se à análise da variação anual do esforço

de pesca, uma vez que revela a quantidade de peixe presente de interesse para o mestre, refletindo-se

numa menor ou maior rapidez de procura por cardumes numa determinada zona. Nesta análise, foram

excluídas as 83 viagens consideradas incompletas.

Para descrever as variações da captura das espécies de peixes pelágicos na costa portuguesa ao

longo dos anos, elaboraram-se gráficos de linhas para visualizar a variação média anual das capturas,

desembarques, desenvases e rejeições. Analisou-se a quantidade capturada por espécie e por ano, com

o objetivo de compreender que espécies apresentaram uma maior captura anual ao longo do período de

estudo. Procedeu-se à análise das variações anuais, regionais e sazonais da captura média das quatro

principais espécies pelágicas capturadas pela atividade de cerco, i.e., a sardinha (Sardina pilchardus), a

cavala (Scomber colias), o carapau-branco (Trachurus trachurus) e o biqueirão (Engraulis

encrasicolus).

2.2.2. Presença e interação com cetáceos

A análise da presença de cetáceos foi realizada em função das viagens. Realizou-se uma análise

descritiva do número de viagens com presença de cetáceos por ano, zona e estação do ano, bem como a

frequência de ocorrência das várias espécies de cetáceos presentes durante as viagens. A análise das

interações com cetáceos foi realizada em função dos lances de pesca, uma vez que se considerou que as

interações estão associadas aos lances. Deste modo, e de acordo com o objetivo definido no início do

trabalho, pretendeu-se avaliar como é que a ocorrência de interações entre cetáceos e os lances de pesca

variou ao longo do período de estudo. Analisou-se assim, o número de lances de pesca com interações

por ano, zona e estação do ano e a frequência de ocorrência das espécies de cetáceos observadas a

interagir durante os lances. Os lances de pesca com e sem interações foram mapeados usando um

software de sistema de informação geográfica (QGIS), versão 3.4.12 'Madeira'.

Para visualizar as variações anuais da captura por unidade de esforço das quatro espécies de

peixes pelágicos capturadas e a frequência de ocorrência de interações por lance, realizou-se uma análise

gráfica. Nesta análise foi calculada a CPUE das quatro principais espécies pelágicas: sardinha, cavala,

carapau-branco e biqueirão.

Dado o reduzido número de viagens com registo de presença de cetáceos e o reduzido número

de lances de pesca com interações observadas, em cada ano, recorreu-se à realização de um teste de

correlação de Kendall, para averiguar se a proporção de presenças por viagem e a proporção de

interações por lance de pesca não eram influenciados pelo número de viagens e de lances de pesca

realizados em cada ano, respetivamente. Ambos os testes apresentaram um valor de p-value não

significativo (p > 0,05), pelo que o número de observações não afetou os resultados obtidos.

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2.2.3. Modelação das interações entre cetáceos e a pesca de cerco

Para analisar se as variações da abundância das espécies pelágicas, bem como as restrições

introduzidas à pesca de cerco afetaram a ocorrência de interações cetáceos-pesca, utilizou-se um modelo

estatístico GAM (Generalized Additive Models), por admitir relações não lineares entre a variável

resposta e as variáveis explicativas e devido à sua capacidade para modelar estas relações não-lineares

utilizando smoothers não paramétricos (Wood 2017). A variável resposta a ser modelada, foi o número

de interações com cetáceos (Inter_cet). Sendo esta uma variável binária com dados 0 e 1 (0 para eventos

de ausência e 1 para eventos de presença), utilizou-se uma distribuição binomial com a função de ligação

logit.

Das variáveis recolhidas durante as viagens de pesca (Tabela 1, Anexo II), optou-se pela escolha

das variáveis explicativas com base na relevância anual, regional e sazonal da atividade de pesca e, no

facto de refletirem a situação local das espécies pelágicas alvo de captura. Realizaram-se testes de

correlação entre as variáveis, de modo a evitar casos de colinearidade. Obtiveram-se p-values

significativos (p-value < 2,22e-16) com um coeficiente de correlação reduzido (𝜏 = 0,361), tal

acontecimento deveu-se à grande dimensão da base de dados (n = 754). Para tal, optou-se por retirar,

aleatoriamente, uma amostra de 100 observações da base de dados original e procedeu-se novamente ao

cálculo das correlações. As relações obtidas através deste método foram consideradas como aplicáveis

para a restante base de dados. O nível de significância baseou-se na correção de Bonferroni. Este tipo

de correção é utilizado quando a mesma variável está envolvida em múltiplas comparações, sendo o

nível de significância de 0,05, dividido pelo número de comparações em que a variável está envolvida

(Abdi 2010).

As nove variáveis explicativas selecionadas a integrarem o modelo foram as seguintes: Ano,

Latitude e Longitude, Estação do ano, Esforço de pesca, CPUE.PIL, CPUE.MAS, CPUE.HOM e

CPUE.ANE. A variável Ano (2003 a 2018), traduz a escala temporal utilizada no estudo, tendo sido

modelada como variável contínua, pois pretende-se observar uma tendência anual ao longo do período

de estudo. As coordenadas geográficas do local de pesca (Latitude e Longitude), refletem o local de

realização da operação da pesca. Esta variável foi modelada como uma interação entre a latitude e a

longitude, utilizando-se um smooth multi-dimensional – te (tensor product smooth). A Estação do ano,

relevante para compreender o papel das variações sazonais na ocorrência de interações, foi modelada

como variável categórica com quatro níveis (Inverno, Primavera, Verão e Outono). O Esforço de pesca

(em horas), que reflete as alterações ao nível da operacionalidade da pesca, foi modelado como variável

contínua e numérica. A CPUE de sardinha (CPUE.PIL), a CPUE de cavala (CPUE.MAS), a CPUE de

carapau-branco (CPUE.HOM) e a CPUE de biqueirão (CPUE.ANE), em kg/h, modeladas como

variáveis contínuas e numéricas. O cálculo destas quatro variáveis foi obtido, pelo quociente da captura

de cada espécie pelo esforço de pesca, por lance de pesca. Estas variáveis refletem, indiretamente, a

abundância relativa de cada espécie no meio, um vez que a variação anual da CPUE das quatro espécies

pelágicas em estudo, apresentam um padrão anual semelhante às séries anuais de abundância de

pequenos pelágicos recolhidas em campanhas de investigação, presentes nos relatórios anuais do ICES

(International Council for the Exploration of the Sea) (ICES 2018). Comprovando, que a CPUE é um

bom indicador da abundância relativa destas espécies. É, ainda, possível inferir que, o esforço

despendido na procura de determinada espécie juntamente com a quantidade capturada, poderá indicar

quão abundante essa espécie é numa determinada zona. No entanto, fatores como: mau tempo, rede

partida, presença de cetáceos, entre outras, pode resultar na não captura de uma espécie, resultando numa

CPUE nula. Estas quatro variáveis apresentavam 7 observações influentes, com uma ordem de grandeza

muito elevada comparativamente aos restantes valores. Para um melhor ajuste do modelo, estas

observações foram retiradas antes de serem incluídas no modelo. Foram assim analisados um total de

747 observações, no seguinte modelo inicial:

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Inter_cet = s(Ano, k =12) + te(Longitude, Latitude) + Estação do ano + s(Esforço de pesca) +

s(CPUE.PIL) + s(CPUE.MAS) + s(CPUE.HOM) + s(CPUE.ANE, k = 11)

Os termos s e te, representam o smooth associado a cada termo do modelo, sendo que k

representa a dimensão do termo e o seu valor corresponde ao valor máximo dos graus de liberdade para

cada termo do modelo. Este valor máximo é dado por k - 1, que representa a dimensão do termo menos

um grau de liberdade (Wood 2017). O valor de k deve ser escolhido, de modo a ser suficientemente

grande para representar bem o modelo, sem que ocorra a sobrestimação, mas pequeno para manter uma

eficiência computacional. A função GAM por norma, estabelece um valor de k padrão igual a 10.

Recorreu-se a uma particularidade dos modelos GAM, o gam.check, para verificar se os graus de

liberdade eram os indicados. Para a variável Ano e CPUE.ANE, o número de graus de liberdade

estabelecido era reduzido, pelo que foi alterado. Estipulou-se assim 11 graus de liberdade (k = 12) para

a variável Ano, 10 graus de liberdade (k = 11) para CPUE.ANE e para as restantes variáveis foi utilizado

o valor padrão (k = 10), com exceção do smooth te, o valor de k foi obtido pelo produto da dimensão de

cada termo, sendo a dimensão para cada um igual a 5, o valor de k para este termo foi de 25 (Wood

2017).

Para a obtenção do modelo, o mais simplificado possível, foram construídos modelos retirando

uma a uma, as variáveis não significativas (p-value > 0,05). Quando uma variável era retirada, o modelo

resultante era comparado com o anterior, para confirmar se a remoção dessa variável não iria afetar o

modelo. Recorreu-se assim ao teste da razão de log-verossimilhança, método que compara a deviance

residual do modelo mais simples com o modelo mais completo. Se a diferença entre a deviance residual

de ambos for significativa, a variável não deve ser removida. A seleção do modelo final foi realizada

com base no teste da razão de log-verossimilhanças e o valor de AIC (Akaike Information Criterion) foi

utilizado complementarmente.

2.2.4. Extrapolação ao nível da frota continental

Para a estimativa anual do número de interações entre os cetáceos e a pesca, ao nível de toda a

frota de cerco continental, entre 2003 e 2018, recorreu-se a informação cedida pela DGRM (Direção

Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos) relativa ao número de vendas-dia das

embarcações de cerco, em que uma venda corresponde a uma viagem de cerco. Para ser possível esta

extrapolação, o número de interações foi contabilizado em função das viagens de pesca amostradas.

Borges et al. (2005), referem que as viagens de pesca são a unidade de amostragem indicada para a

extrapolação de bycatch ao nível da frota. Para o cálculo das estimativas, recorreu-se à metodologia

utilizada em Cochran (1977). A estimativa anual do número de interações com cetáceos ao nível da frota

(A), foi calculada através da seguinte fórmula:

𝐴 = 𝑁𝑝 (2.1)

𝑝 = 𝑎

𝑛 (2.2)

N representa o número total de viagens realizadas pela frota, por ano, p representa a proporção

do número de viagens com interações de cetáceos observadas (a) pelo número total de viagens

amostradas (n), em cada ano. De seguida, calculou-se o desvio-padrão (sA) associado a cada ano, através

da seguinte fórmula:

𝑠𝐴 = √𝑁 (𝑁 − 𝑛)

𝑛 − 1𝑝𝑞 (2.3)

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12

𝑞 = 1 – 𝑝 (2.4)

Por fim, calculou-se o coeficiente de variação (CV) para cada ano:

𝐶𝑉(%) = 𝑠𝐴

𝐴 × 100 (2.5)

A análise estatística foi realizada no software estatístico R (R Development Core Team 2018).

O package utilizado para o ajuste do modelo GAM foi mgcv (Wood 2017). Considerou-se ainda um

nível de significância de 5%, com exceção das correlações múltiplas, em que o valor de significância

foi definido pela correção de Bonferroni.

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13

3. Resultados

3.1. Esforço de observação e esforço de pesca

Entre 2003 e 2018, foram monitorizadas um total de 550 viagens nas quais se realizaram 754

lances de pesca, que corresponderam a aproximadamente 0,3% do total de viagens realizadas pela frota

continental de cerco (Nfrota = 180 951) no período em causa. Do total das viagens monitorizadas, em

12% (n = 65) não ocorreram lances de pesca. A média do número de lances realizados por viagem

apresentou um decréscimo de 1,53 em 2003 para 0,63 em 2005. Seguiu-se um aumento progressivo do

número médio de lances por viagem, que atingiu um valor máximo (1,68) em 2010. Até ao final do

período de estudo observou-se uma ligeira redução, com a média de lances realizados por viagem a

variar entre 1 e 1,5 (Figura 3.1).

Figura 3.1. Variação média anual do número de lances de pesca realizados por viagem na costa portuguesa, entre 2003 e 2018.

O esforço de observação variou por zona e ao longo do ano (Figura 3.2), tendo-se registado um

menor esforço na zona Sul (Figura 3.2a) e durante o inverno (Figura 3.2b). Destaca-se a zona Norte e o

verão pelo maior esforço global de observações efetuadas.

(a) (b)

Figura 3.2. Número de viagens e lances de pesca realizados, por zona (Norte, Centro e Sul) (a) e por estação do ano (Inverno,

Primavera, Verão e Outono) (b), entre 2003 e 2018.

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14

As viagens realizadas no período de estudo tiveram uma duração média de 8h 29 min (DP = 3

h 19 min), tendo a viagem mais curta apresentado uma duração de 2 h 11 min e, a mais longa, de 20 h

30 min. Na análise da duração das fases de pesca, excluíram-se 83 viagens consideradas como

incompletas, uma vez que apresentavam a navegação e a pesquisa englobadas no mesmo tempo. Das

quatro fases de pesca que caracterizam uma viagem de cerco (navegação, pesquisa, pesca e paragem

para descanso), foi despendido uma média por viagem de 2 h 32 min (Desvio Padrão = 1 h 35 min) na

navegação, 3 h 32 min (DP = 2 h 16 min) na pesquisa, 2 h 06 min (DP = 1 h 20 min) na operação de

pesca e 39 min (DP = 1 h 16 min) na paragem para descanso.

No esforço de pesca foram despendidas em média, 5 h 38 min (DP = 2 h 32 min) por viagem ao

longo do período de estudo. Da observação da figura 3.3, verifica-se que existe uma diminuição do

esforço de pesca entre 2003 e 2005, seguida de um aumento até 2011, ano em que se regista um ligeiro

decréscimo que continua até ao final do período de estudo. É o tempo médio despendido na pesquisa

por cardumes que provoca, maioritariamente, esta variação anual do esforço de pesca. O tempo médio

da pesca mantém-se relativamente constante do longo dos anos, com exceção do ano de 2005.

Figura 3.3. Variação anual do esforço de pesca, por viagem, entre 2003 e 2018.

Comparando as três zonas, observa-se que a variação anual do esforço de pesca médio não foi

semelhante, destacando-se a zona Norte com um esforço de pesca superior e com tendência para

aumentar ao longo dos anos (Figura 3.4). O valor apresentado para 2005, deve-se ao facto de terem sido

realizadas apenas duas viagens no Norte do país com um elevado esforço de pesca despendido, que se

traduziu num valor médio superior. Entre a zona Centro e Sul existe uma tendência contrária. Na zona

Centro existe um aumento do esforço de pesca até 2011 e uma estabilização nos anos posteriores,

contrariamente à zona Sul, onde se observa um decréscimo gradual do esforço de pesca até ao fim do

período de estudo (Figura 3.4).

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15

Figura 3.4. Variação anual do esforço de pesca por zona (Norte, Centro e Sul), por viagem, entre 2003 e 2018.

3.2. Capturas, desembarques, desenvases e rejeições

Durante o período de estudo, a captura média, por lance, foi de 4 776 kg (DP = 10 516 kg), o

desembarque médio foi de 3 435 kg (DP = 4 380 kg), a quantidade média desenvasada foi de 1 162 kg

(DP = 9 254 kg) e a rejeição média de pescado correspondeu a 123 kg (DP = 1 087 kg), a qual pode ter

ocorrido a bordo da cercadora ou na lota de desembarque.

Em 2007 ocorreu uma captura excecionalmente elevada de cavala de 226 125 kg, num único

lance de pesca, a qual foi desenvasada na sua quase totalidade (225 000 kg). Esta situação explica o

elevado valor apresentado pelo desvio-padrão nos gráficos presentes ao longo deste capítulo, relativos

ao ano de 2007 e à cavala.

Observa-se que a captura média, durante o período de estudo, decresceu progressivamente até

2018 (Figura 3.5a). Com a existência de uma forte correlação entre as capturas e desembarques (𝜏 =

0,74, p-value = 2,22e-16), seria de prever que a diminuição da captura levasse ao decréscimo gradual dos

desembarques, o que se pode verificar no gráfico da figura 3.5b. O desenvase médio apresenta valores

inferiores a 2 500 kg em todo o período de estudo, com exceção do ano de 2007, como mencionado

anteriormente. Observa-se, ainda, uma pequena diminuição de desenvase nos anos mais recentes do

período em estudo (Figura 3.5c). Em relação à rejeição média, observa-se que até 2013 não excedeu os

100 kg, no entanto em 2014 esta atingiu um máximo de 938 kg, que decresceu novamente nos anos

seguintes (Figura 3.5d).

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(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 3.5. Quantidade média de pescado capturado (a), desembarcado (b), desenvasado (c) e rejeitado (d) e respetivo desvio-

padrão, por lance, entre 2003 e 2018. Devido ao valor elevado do desvio-padrão em 2007 (a) e (c) e em 2014 (d), excluiu-se

este valor da análise gráfica, para obter uma melhor visualização do comportamento dos gráficos.

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À exceção do ano de 2007, a sardinha domina as capturas até 2011. Em anos mais recentes, a

frequência de ocorrência de cavala e carapau-branco aumentam, ultrapassando, por vezes, a captura de

sardinha. É visível, a partir de 2011, uma diminuição clara da quantidade de sardinha e, mais

recentemente, a existência de uma captura mais variada em termos de espécies (Figura 3.6).

Figura 3.6. Composição percentual das capturas por espécie entre 2003 e 2018. (PIL – sardinha; MAS – cavala; HOM –

carapau-branco; ANE – biqueirão; GAR – peixe-agulha; BON – sarrajão; JAA – carapau-negrão; MAC – sarda; BOG – boga,

Outros – ex: sargo-legítimo, sargo-safia, besugo, pescada, faneca, choupa, linguados entre outras).

A quantidade média de sardinha capturada em cada lance, aumentou entre 2003 e 2007, com

um máximo de 4 500 kg em 2007, tendo a partir deste ano, exibido pequenas flutuações com uma

tendência claramente decrescente até 2018, com uma média capturada de 930 kg (Figura 3.7a). Este

decréscimo foi acompanhado pelo aumento da captura média das outras três espécies pelágicas

apresentadas (Figura 3.7b, c e d).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Esp

écie

s ca

ptu

rad

as (

%)

PIL MAS HOM ANE GAR BON JAA MAC BOG Outros

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18

(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 3.7. Quantidade média de PIL (a), MAS (b), HOM (c) e ANE (d) capturada, por lance, no período de 2003 a 2018 (PIL

– sardinha, MAS – cavala, HOM – carapau-branco e ANE – biqueirão). Removeram-se os valores elevados do desvio-padrão

em 2007 (b), 2013 (c), 2016 e 2017 (d).

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19

A quantidade média de sardinha capturada é superior na zona Norte, enquanto que nas zonas

Centro e Sul, a cavala é a espécie dominante nas capturas (Figura 3.8a). O carapau-branco e o biqueirão,

apresentam capturas médias muito reduzidas para as três zonas. Relativamente às estações do ano,

destacam-se os meses de outono, com uma quantidade média de cavala e sardinha superior às restantes

estações. Nos meses de inverno, a cavala destaca-se, representando capturas médias superiores às das

restantes espécies (Figura 3.8b). O valor excecional do desvio-padrão no Norte e no outono, representa

a captura elevada de cavala mencionada anteriormente.

(a)

(b)

Figura 3.8. Quantidade média de PIL, MAS, HOM e ANE capturada e respetivo desvio-padrão, por lance, em função da zona

de pesca (a) e da estação do ano (b) (PIL – sardinha, MAS – cavala, HOM – carapau-branco e ANE – biqueirão).

3.3. Presença de cetáceos nas viagens

Das 550 viagens amostradas, registou-se a presença de cetáceos em 21% (n = 115). Na figura

3.9, pode verificar-se que a presença de cetáceos ocorreu durante todos os anos do período em análise,

com um aumento da proporção de presenças por viagem até 2010, seguido de um decréscimo com

algumas oscilações até 2018.

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Figura 3.9. Variação anual do número de viagens realizadas e a frequência de ocorrência (%) de viagens com presença de

cetáceos, entre 2003 e 2018.

Do total de viagens em que se registou a presença de cetáceos, o golfinho-comum foi a espécie

mais avistada (83,5%, n = 96), seguindo-se o roaz-corvineiro em 5,2% dos casos (n = 6), o bôto, que

esteve presente em 3 viagens (2,6%) e a baleia-anã presente em apenas uma viagem (0,86%). Houve

ainda 9 viagens (7,8%), em que não foi possível a identificação da espécie presente, por parte do

observador (Tabela 3.1). Considerando o esforço realizado, i.e., o número de viagens, para cada zona, o

Norte apresentou a maior frequência de ocorrência de cetáceos, que correspondeu a 28,4%, seguindo-se

a zona Sul com 19% e, por fim, com uma menor ocorrência de presenças, a zona Centro com 13,5%

(Tabela 3.1). Relativamente às estações do ano, a maior ocorrência de cetáceos registou-se no outono

(27,6%), seguindo-se os meses de verão (20,1%), primavera (18,7%) e, por último, o inverno com a

menor ocorrência (8,8%) (Tabela 3.1).

Tabela 3.1. Total de viagens com presença de cada espécie de cetáceo, número de viagens com presença de cetáceos (N) e a

respetiva frequência de ocorrência (%) de cada espécie de cetáceo, em função do total de viagens realizadas por zona (Norte,

Centro e Sul) e estação do ano (Inverno, Primavera, Verão, Outono), entre 2003 e 2018. Delphinus delphis – Golfinho-comum;

Tursiops truncatus – Roaz-corvineiro; Phocoena phocoena – Bôto e Balaenoptera acutorostrata – Baleia-anã.

Espécie de

cetáceo Total

Presença de cetáceos

Zona Estação do ano

Norte Centro Sul Inverno Primavera Verão Outono

N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%)

Delphinus

delphis 96 57 (26,1) 13 (7)

26

(17,7) 2 (5,9) 20 (15,6) 43 (16,9) 32 (23,9)

Tursiops

truncatus 6 2 (0,91) 3 (1,6) 1 (0,68) 1 (2,9) 1 (0,78) 3 (1,2) 1 (0,74)

Phocoena

phocoena 3 2 (0,91) 1 (0,54) 0 0 1 (0,78) 2 (0,79) 0

Balaenoptera

acutorostrata 1 0 1 (0,54) 0 0 0 1 (0,39) 0

Delfinídeo Não

Identificado 9 1 (0,46) 7 (3,8) 1 (0,68) 0 2 (1,6) 2 (0,78) 4 (3)

Total 115 62 (28,4) 25 (13,5) 28 (19) 3 (8,8) 24 (18,7) 51 (20,1) 37 (27,6)

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3.4. Interações cetáceos-pesca

3.4.1. Interação em função do esforço de observação

Dos 754 lances de pesca observados ao longo do estudo, 75 registaram interações entre os

cetáceos e a operação de pesca (incluindo captura acidental e morte de cetáceos), correspondendo a

aproximadamente 10%. O registo de interações ocorreu na maioria dos anos, com exceção de 2005,

2006 e 2009. De salientar os picos de interação nos anos 2008, 2010, 2011 e 2013, cujos valores variaram

entre 15% e 17,4% (Figura 3.10).

Figura 3.10. Variação anual do número de lances de pesca observados e a frequência de ocorrência (%) de lances de pesca com

interações cetáceos-pesca, em Portugal Continental, entre 2003 e 2018.

O golfinho-comum foi a espécie mais observada a interagir com a operação de pesca, com uma

frequência de ocorrência de 89% do total das interações e com uma ocorrência em 8,9% do total de

lances de pesca observados. Por sua vez, foi alvo de uma captura acidental superior, com o envolvimento

de 22 indivíduos, em 1,3% dos lances observados e, foi a única espécie com registo de mortalidade, em

0,8% dos lances e um total de 12 indivíduos mortos (Tabela 3.2, Figura 3.11). Foram registadas mais

duas espécies de cetáceos a interagir com a pesca, o roaz-corvineiro e o bôto, com a captura acidental

de um indivíduo de cada espécie, o que correspondeu a 0,13% do total de lances observados. Em 6

lances de pesca, não foi possível a identificação de 10 indivíduos envolvidos na interação, o que

correspondeu a 0,8% (Tabela 3.2, Figura 3.11).

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Tabela 3.2. Número total de indivíduos observados (Ind), número de lances de pesca com interações, captura acidental e morte

de cetáceos (N) e a respetiva frequência de ocorrência de cada espécie de cetáceo (%), em função do número total de lances de

pesca observados entre 2003 e 2018 (n = 754). Delphinus delphis – Golfinho-comum; Tursiops truncatus – Roaz-corvineiro;

Phocoena phocoena – Bôto e Balaenoptera acutorostrata – Baleia-anã.

Figura 3.11. Localização dos lances de pesca com e sem registo (+) de interações entre cada espécie de cetáceo e a pesca de

cerco, em Portugal Continental, entre 2003 e 2018. Representação dos portos de pesca e as batimétricas de 50, 100 e 200m.

Espécies de cetáceos

Interações

Total observado Captura acidental Mortalidade

Ind N (%) Ind N (%) Ind N (%)

Delphinus delphis 784 67 (8,9) 22 10 (1,3) 12 6 (0,8)

Tursiops truncatus 1 1 (0,13) 1 1 (0,13) 0 0

Phocoena phocoena 1 1 (0,13) 1 1 (0,13) 0 0

Balaenoptera acutorostrata 0 0 0 0 0 0

Delfinídeo Não

Identificado 10 6 (0,8) 0 0 0 0

Total 796 75 (10) 24 12 (1,6) 12 6 (0,8)

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Tendo em conta o esforço de observação (lances de pesca) realizado em cada zona, o Norte e o

Sul apresentaram uma proporção de lances com interação semelhante, de 12,6% e 12,4%,

respetivamente. A zona Centro apresentou uma proporção inferior (5,4%). Relativamente à captura

acidental e morte de cetáceos, não houve qualquer registo de interações na zona Centro. Pelo contrário,

a zona Norte apresentou os valores superiores, com 2,8% e 1,3% e a Sul com 1,9% e 1,2%,

respetivamente (Tabela 3.3). Relativamente à sazonalidade, a maior proporção de interações,

predominou durante os meses de outono (14,7%), seguindo-se o verão e a primavera e, por fim, os meses

de inverno, em que se registou o menor valor (4,7%) (Tabela 3.3).

Tabela 3.3. Número de lances de pesca com interação, captura acidental e morte de cetáceos (N) e a respetiva frequência de

ocorrência (%), em função do total de lances de pesca realizados por zona (Norte, Centro e Sul) e estação do ano (Inverno,

Primavera, Verão, Outono), entre 2003 e 2018.

3.4.2. Interações em função da abundância das espécies pelágicas

A figura 3.12 mostra a relação existente entre a captura por unidade de esforço de cada espécie

pelágica e a frequência de ocorrência de lances de pesca com interações. É visível um aumento da

CPUE.PIL nos primeiros anos, com uma estabilidade até 2009, a partir deste ano observa-se uma

diminuição gradual até ao final do estudo. Observa-se que a frequência de ocorrência de interações

acompanhou o decréscimo na abundância relativa de sardinha a partir de 2010 até ao fim do estudo

(Figura 3.12a). Relativamente à CPUE das restantes três espécies pelágicas, não parece haver uma

variação conjunta com a frequência de ocorrência de interações por ano (Figura 3.12b, c e d), exceto no

caso da CPUE.MAS que, nos últimos três anos, parece apresentar uma variação conjunta. Não é, no

entanto, possível garantir que apresente influência sobre as interações, tendo em conta a restante série

temporal. De uma maneira geral, é a abundância relativa de sardinha que parece apresentar uma clara

influência sobre a frequência de ocorrência de interações. No entanto, estas relações serão comprovadas

mais aprofundadamente através do modelo estatístico desenvolvido, descrito no próximo subcapítulo.

INTERAÇÕES

Zona de pesca Estação do ano

Total Norte Centro Sul Inverno Primavera Verão Outono

N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%)

Total 40 (12,6) 15 (5,4) 20 (12,4) 2 (4,7) 16 (8,2) 32 (9,2) 25 (14,7) 75

Captura

acidental 9 (2,8) 0 3 (1,9) 0 3 (1,5) 6 (1,7) 3 (1,8) 12

Mortalidade 4 (1,3) 0 2 (1,2) 0 0 3 (0,87) 3 (1,8) 6

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Figura 3.12. Variação anual da CPUE média e respetivo desvio-padrão, e da frequência de ocorrência (%) de lances de pesca

com interações, entre 2003 e 2018: (a) PIL, (b) MAS, (c) HOM e (d) ANE. (PIL – sardinha, MAS – cavala, HOM – carapau-

branco e ANE – biqueirão).

(a)

(b)

(c)

(d)

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3.4.3. Modelação das interações de cetáceos com a pesca de cerco

O modelo inicial foi criado tendo sido selecionadas nove variáveis explicativas: Ano, Latitude,

Longitude, Estação do ano, Esforço de pesca, CPUE.PIL, CPUE.MAS, CPUE.HOM e CPUE.ANE. As

variáveis não significativas foram removidas do modelo inicial, com exceção do CPUE.ANE que

permaneceu no modelo final, pois segundo o teste de log-verossimilhança apresentou um p-value

significativo (p = 0,034). O modelo final obtido apresentou um AIC de 452 e uma deviance explicada

de 16,3%. As variáveis que apresentaram uma influência significativa sobre a probabilidade de

ocorrerem interações entre os cetáceos e a pesca de cerco foram: Ano (p < 0,05), interação entre Latitude

e Longitude (p < 0,05), CPUE.PIL (p < 0,01) e CPUE.ANE (p < 0,05) (Tabela 3.4).

Tabela 3.4. Modelo inicial desenvolvido com as variáveis explicativas e modelo final com as variáveis relevantes para a

modelação da variável resposta. Para ambos os modelos, é apresentada a respetiva deviance explicada e o valor de AIC (Akaike

Information Criterion). Para cada variável explicativa são apresentados os graus de liberdade e o p-value: (***) corresponde a

p-value < 0,001; (**) p-value < 0,01 e (*) p-value < 0,05. CPUE.PIL – captura por unidade de esforço de sardinha; CPUE.MAS

– captura por unidade de esforço de cavala; CPUE.HOM – captura por unidade de esforço de carapau-branco e CPUE.ANE –

captura por unidade de esforço de biqueirão.

1 valor de p-value obtido pelo teste de log-verosimilhança

O modelo revela que a probabilidade de interações é influenciada significativamente pelo ano,

pelas coordenadas geográficas do local do lance de pesca, pela captura por unidade de esforço de

sardinha e de biqueirão. Observa-se que a probabilidade de ocorrerem interações varia ao longo dos

anos, com uma tendência para estabilizar nos anos mais recentes, destacando-se os anos de 2005 e 2006

com uma menor probabilidade de interações (Figura 3.13a). A partir de 2008 as variações vão sendo

menos pronunciadas, decrescendo entre 2015 e 2017, e voltando a aumentar em 2018. O tracejado

apresentado no gráfico corresponde ao intervalo de confiança de 95% e, quanto mais estreita for esta

região maior será a confiança sobre os dados, e vice-versa. Neste sentido, para a variável Ano, os anos

de 2005 e 2006 apresentam intervalos de confiança elevados, consequência do reduzido esforço de

observação, o que revela reduzida confiança nestes anos. Nos anos seguintes a confiança sobre os dados

aumenta, bem como o esforço amostrado (Figura 3.13a).

A variável CPUE.PIL apresenta uma relação muito significativa (p = 0,005) com a variável

resposta. Observa-se que quanto maior a CPUE.PIL, maior a probabilidade de haver interações,

atingindo um máximo entre os 4 000 e 5 000 kg/h. Para valores superiores a 5 000 kg/h parece haver

uma diminuição da probabilidade de interações, no entanto, e devido ao reduzido número de observações

para valores elevados, visível pelos traços presentes no eixo horizontal, não é possível afirmar com

certeza este comportamento (Figura 3.13b). O intervalo de confiança mantém-se constante, aumentando

Modelo Variáveis explicativas graus de liberdade p-value AIC Deviance

explicada

Inicial s (Ano) 9,60 <0,05* 455 16,3%

te (Latitude, Longitude) 2,72 <0,05*

Estação do ano - >0,05

s (Esforço) 5,14 >0,05

s (CPUE.PIL) 0,68 <0,05*

s (CPUE.MAS) 8,10e-06 >0,05

s (CPUE.HOM) 0,71 >0,05

s (CPUE.ANE) 0,69 >0,05

Final s (Ano) 9,47 <0,05* 452 16,3%

te (Latitude, Longitude) 4,09 <0,05*

s (CPUE.PIL) 1,50 <0,01**

s (CPUE.ANE) 6,24 <0,05*1

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26

ligeiramente para valores muito elevados da CPUE.PIL (Figura 3.13b). Este aumento no intervalo de

confiança é consequência da existência de poucas observações de elevada ordem de grandeza, que

conduzem à diminuição da confiança sobre estes dados.

Segundo o modelo a variável CPUE.ANE não apresentou uma significância sobre a variável

resposta, no entanto o p-value obtido pelo teste log-verossimilhança foi significativo, o que indica que

o modelo considerou o seu efeito importante na modelação da variável resposta (Figura 3.13c). Os

elevados intervalos de confiança, traduzem o reduzido número de observações de elevada ordem de

gradeza, contudo para valores inferiores de CPUE.ANE, existe uma maior concentração de observações,

que reflete um intervalo de confiança menor (Figura 3.13c).

A figura 3.13d, representa a relação dimensional da variável resposta com a interação entre a

longitude e a latitude. Na costa oeste de Portugal Continental, a longitude reflete a profundidade,

enquanto que na costa sul, a profundidade é representada pela latitude. Observa-se assim que, na costa

oeste, a probabilidade de interações aumenta para valores de latitude entre os 40º e 42º N e para valores

de longitude entre os -9,5º e -9º W. Estes resultados refletem uma maior probabilidade de interações no

Norte do país, nomeadamente junto à costa e ao largo. Para a costa sul, existe um aumento da

probabilidade de interações para latitudes inferiores a 37º N e para longitudes entre os -9º e -8º W,

refletindo um aumento das interações na região centro-oeste da costa sul.

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(a) (b)

(c)

(d)

Figura 3.13. Efeito das variáveis significativas na probabilidade de ocorrência de interação cetáceos-pesca: Ano (a), CPUE.PIL

(b), CPUE.ANE (c) e interação entre latitude e longitude, em valores decimais (d). A linha a tracejado nos gráficos de (a) a (c),

representa o intervalo de confiança de 95% e os traços verticais no eixo horizontal representam o número de observações. No

gráfico (d), está representado o perfil da costa portuguesa, sendo que os valores apresentados nas linhas do gráfico refletem a

probabilidade de interações cetáceos-pesca. As cores mais claras e escuras refletem uma maior e menor probabilidade de

ocorrência de interações, respetivamente.

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3.4.4. Extrapolação ao nível da frota continental

Na tabela 3.5, apresentam-se os parâmetros utilizados na extrapolação das interações cetáceos-

pesca, por ano. Em 2005, 2006 e 2009 não se registaram interações, pelo que a estimativa das interações

não foi calculada. No ano de 2004 o cálculo da estimativa das interações também não foi efetuado, por

não terem sido realizados embarques. Os coeficientes de variação das estimativas obtidos foram

elevados (CV > 30%), com exceção dos anos 2003, 2010 e 2011. Estes valores do CV, justificam-se

pelo reduzido número de interações em contraste com o elevado número de viagens da frota.

Tabela 3.5. Parâmetros utilizados na extrapolação das interações cetáceos-pesca: Nº de viagens amostradas (n), Nº de interações

por viagem amostrada (a), Nº de viagens realizadas pela frota de cerco (N), Nº de interações estimadas ao nível da frota (A) e

respetivo coeficiente de variação (CV), e a frequência de ocorrência das interações (%) estimadas sobre as viagens realizadas

pela frota, anualmente, entre 2003 e 2018.

Ano

Viagens

amostradas

(n)

Interações por

viagem

amostrada

(a)

Viagens da

frota

(N)

Estimativa

(A) CV (%)

Estimativa

(%)

2003 49 9 13 577 2 494 30 18,4

2004 0 - - - - -

2005 8 0 13 536 0 0 0

2006 21 0 12 916 0 0 0

2007 22 1 11 936 543 100 4,5

2008 22 4 11 113 2 021 46 18,2

2009 22 0 10 804 0 0 0

2010 104 25 10 981 2 640 17 24,0

2011 58 14 10 865 2 623 23 24,1

2012 53 2 11 674 441 70 3,8

2013 27 6 13 444 2 988 37 22,2

2014 27 3 11 459 1 273 55 11,1

2015 39 1 12 517 321 100 2,6

2016 26 1 11 903 458 100 3,8

2017 25 1 12 657 506 100 4,0

2018 47 4 11 569 985 48 8,5

Total 550 71 180 951

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4. Discussão

Interações entre cetáceos e a pesca de cerco

De 2003 a 2018, as interações entre os cetáceos e a pesca de cerco ocorreram ao longo de toda

a costa portuguesa e foram observadas em 10% do total de lances de pesca, com a captura acidental e a

morte de cetáceos a ocorrerem em 1,6% e 0,8% do total de lances de pesca realizados. Estes valores são

relativamente elevados, tendo em conta que a amostragem realizada durante o estudo correspondeu a

apenas 0,3% do esforço da frota de cerco continental. Estudos relativos às interações entre os cetáceos

e a pesca de cerco são limitados, estando a maioria direcionada para a pesca de cerco do atum (Escalle

et al. 2015), e poucos relacionados com a pesca de cerco dirigida a pequenos pelágicos (Hamer et al.

2008). No sul da Austrália, interações entre o golfinho-comum e a pesca de cerco da sardinha,

apresentaram uma captura acidental em 10% e a morte de cetáceos em 1%, dos 89 lances de pesca

realizados entre 2005 e 2006 (Hamer et al. 2008). Com uma ocorrência de morte de cetáceos semelhante

ao presente estudo, após a implementação de um Código de Boas Práticas (Hamer et al. 2008).

Comparativamente com outras artes de pesca, a pesca de cerco do atum no Oceano Atlântico e Índico

(frota de cerco francesa e espanhola), apresentou, entre 1995 e 2011, uma ocorrência de captura acidental

de 0,6% no total das duas frotas, com 0,74%, no Oceano Atlântico e, 0,6% no Oceano Índico (Escalle

et al. 2015). Estudos realizados na costa portuguesa e em águas adjacentes (Galiza), identificam a pesca

de arrasto e as redes de emalhar ou tresmalho, como sendo as artes de pesca com níveis de interação e

taxas de morte por captura acidental superiores (López et al. 2003; Ferreira 2007; Vingada et al. 2011,

2015; Goetz et al. 2014b), comparativamente à pesca de cerco.

Espécies de cetáceos envolvidas nas interações

O presente estudo, permitiu identificar a ocorrência de interações com o golfinho-comum, o

roaz-corvineiro e o bôto, sendo o golfinho-comum a espécie que apresentou maior frequência de

interações (89%), o que está de acordo com resultados obtidos por outros autores, que referem que esta

espécie é a mais abundante na costa portuguesa e a que mais interage com a pesca de cerco (Silva e

Sequeira 2003; Goetz et al. 2014a; Hammond et al. 2017; Wise et al. 2018). O elevado nível de interação

entre o golfinho-comum e a pesca de cerco deve-se, ao interesse comum pelo mesmo recurso, a sardinha

(S. pilchardus), e ao facto de a sua área de distribuição se sobrepor à área de operação da pesca de cerco

(Wise et al. 2007, 2018; Marçalo et al. 2015b). Com uma vasta distribuição ao longo de toda a costa

portuguesa, particularmente sobre a plataforma continental (200 metros) (Wise et al. 2018), o golfinho-

comum é frequentemente avistado nestas águas costeiras (Goetz et al., 2014a; Correia et al., 2015). A

grande diversidade de habitats utilizados por este pequeno cetáceo, está relacionada com a distribuição

das suas presas preferenciais, nas quais se incluem espécies pelágicas, como a sardinha (S. pilchardus),

cavala (S. colias), sarda (S. scombrus), carapau (Trachurus spp) e biqueirão (E. encrasicolus) (Silva

1999; Marçalo et al. 2018; Wise et al. 2018; Veiga-Malta et al. 2019) e espécies mesopelágicas, como

o verdinho (Micromesistius poutassou) (Silva 1999), presentes sobre a plataforma continental. A

sardinha, considerada a presa preferencial do golfinho-comum, é a principal espécie-alvo da pesca de

cerco e a espécie pelágica mais abundante nas águas portuguesas (Silva 1999; Wise et al. 2007; Marçalo

et al. 2015b, 2018). O roaz-corvineiro e o bôto apresentaram um reduzido nível de interação com a pesca

de cerco, comparativamente ao golfinho-comum, apesar de serem espécies abundantes na costa

portuguesa (Vingada et al. 2011). Esta menor ocorrência de interações com a pesca pode estar

relacionada com as suas áreas de distribuição e preferências alimentares. Na costa portuguesa, o roaz-

corvineiro, apresenta uma ampla distribuição, ocorrendo em diversos habitats, tanto costeiros como

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oceânicos, apesar de preferir as zonas costeiras (Vingada et al. 2011). Possui uma dieta variada,

constituída por espécies bentónicas nas zonas costeiras e por espécies pelágicas, nas zonas oceânicas

(Santos et al. 2007; Vingada et al. 2011). Assim, e segundo Vingada et al. (2011), esta espécie interage,

normalmente, com o palangre e a redes de emalhar, sendo responsável pela depredação do pescado e

danificação das redes de pesca. Estudos realizadas nas águas atlânticas ibéricas, comprovam a existência

de uma forte associação entre roaz-corvineiro e a depredação das redes de emalhar (Goetz et al. 2014a).

O bôto apresenta uma distribuição ao longo de toda a orla costeira portuguesa, normalmente observado

em zonas de profundidade inferior a 200m, sendo mais frequente na zona Norte do país e apresenta uma

alimentação à base de espécies demersais, bentónicas e pelágicas (Vingada et al. 2011). Nas águas

ibéricas, Goetz et al. (2014a), refere uma preferência alimentar, deste pequeno cetáceos, por espécies

como, verdinho (Micromesistius poutassou), carapau (Trachurus spp) e faneca (Trisopterus luscus).

Assim, esta espécie, é mais frequentemente observada a interagir com a arte de xávega e redes de

emalhar (Vingada et al. 2017), em conformidade com a análise de arrojamentos de cetáceos, no Norte e

Centro de Portugal, realizada por Ferreira (2007), que revelou uma vulnerabilidade do bôto à captura

acidental em artes de xávega.

Variação espacial, sazonal e anual da ocorrência de interações com a pesca de cerco

A localização dos lances de pesca influenciou a ocorrência de interações, tendo ocorrido uma

maior probabilidade de interações na zona Norte e Sul, comparativamente à zona Centro. Este padrão

está relacionado com os locais de operação da pesca de cerco e com as áreas de distribuição de cetáceos,

que, por sua vez, são influenciados pela abundância e distribuição das principais espécies-alvo a capturar

e das presas preferenciais dos cetáceos (Moura et al. 2012; Correia et al. 2015; Escalle et al. 2015).

Com base no modelo, a probabilidade de ocorrência de interações foi semelhante em toda a

região Norte, tanto na zona costeira como ao largo. Possível explicação, pode estar relacionada com o

facto da zona Norte ser considerada das principais áreas de recrutamento de sardinha do país, que se

traduziu numa maior quantidade média capturada no estudo, refletindo uma maior abundância desta

espécie na região (Silva et al. 2009; Rodríguez-Climent et al. 2017) que, em conjunto com a vasta área

de distribuição e a preferência alimentar, pela sardinha, apresentada pelo golfinho-comum, explica a

ocorrência de interações registadas na zona Norte. No presente estudo, o registo de interações foi inferior

para o Centro, comparativamente com a zona Norte e Sul, tal como previsto pelo modelo desenvolvido.

A probabilidade de ocorrência de interações foi superior na região de Peniche, o que poderá estar

relacionado com a influência do canhão da Nazaré, um vale submarino onde ocorre o transporte, até à

superfície, de águas ricas em nutrientes (upwelling), que atraem uma diversidade de espécies pelágicas

alvo de captura e, consequentemente, os seus predadores (Brito et al. 2009). A região de Peniche foi

considerada uma área de elevada probabilidade de ocorrência de golfinho-comum por Moura et al.

(2012). Em direção à zona Sul do país, existe um decréscimo da abundância de golfinho-comum (Wise

et al. 2018) e de sardinha (Martins et al. 2013), o que seria de prever uma menor ocorrência de interações

nesta zona. Contudo, e de acordo com os resultados obtidos, a probabilidade de ocorrência de interações

volta a aumentar em latitudes inferiores, com uma ocorrência de interações observadas semelhante à

zona Norte, a qual pode ser explicada pelo comportamento oportunístico apresentado, pelo golfinho-

comum, a espécie responsável pela maioria das interações no presente estudo. O golfinho-comum

apresenta diferentes estratégias de alimentação, que variam em função da espécie mais abundante na

zona (Meynier et al. 2008; Moura et al. 2012; Santos et al. 2013; Spitz et al. 2010; Marçalo et al. 2018).

Tendencialmente, seleciona as presas, com base na sua densidade no meio, de modo a compensar os

elevados requisitos energéticos (Meynier et al. 2008; Spitz et al. 2010). Assim, apesar da sua presa

preferencial ser a sardinha, quando esta escasseia, o golfinho-comum adota um comportamento

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oportunístico, alimentando-se da espécie mais abundante no meio (Moura et al. 2012; Santos et al. 2013;

Marçalo et al. 2018). Na zona Sul, a espécie pelágica predominante é a cavala, com uma quantidade

média capturada superior às restantes espécies pelágicas, sugerindo uma maior abundância da mesma

no meio, facto comprovado pelo estudo de Martins et al. (2013), onde refere que a abundância de cavala

aumenta em direção ao sul do país. De referir que, segundo o modelo, a probabilidade de ocorrência de

interações predomina na região centro-oeste da costa Sul, o que está de acordo com os resultado obtidos

por Martins et al. (2013), que referem que, na costa algarvia, a abundância de cavala é superior na região

centro-oeste. A captura por unidade de esforço de cavala parece apresentar uma papel importante sobre

a ocorrência de interações na zona Sul, contudo o seu efeito não foi considerado significativo,

possivelmente devido à covariação existente com a variável latitude, incluída no modelo.

Relativamente ao padrão sazonal, a análise exploratória dos dados revelou uma maior

percentagem de interações no outono, contudo não foi considerado um fator significativo sobre a

probabilidade de ocorrência das mesmas. Possível explicação pode estar relacionada com o facto de o

número de observações não ter sido suficiente, para ser detetada uma variação entre as estações do ano

ou, a significância estatística ser inexistente.

A pesca de cerco esteve sujeita a alterações ao longo dos anos do estudo, nomeadamente um

aumento ao nível do número médio de lances de pesca realizados por viagem, a que se seguiu uma

estabilização. Esta situação reflete a diminuição de cardumes disponíveis, que em conjunto com as várias

restrições impostas à pesca de cerco e aos limites de captura diários para a sardinha, obrigou ao aumento

do esforço de pesca, com o objetivo de obter o mesmo rendimento (Feijó 2013; Feijó et al. 2018). Com

a utilização de um extenso período de amostragem, foi possível analisar a tendência da ocorrência de

interações ao longo do tempo, que revelou a existência de uma influência anual significativa sobre a

probabilidade de ocorrência de interações. Apesar de ser expectável que a variação anual das interações

fosse influenciada pelo esforço de pesca, os resultados do modelo contrariam essa hipótese e permitem

identificar as causas dessas interações. A captura por unidade de esforço da sardinha, apresentou uma

influência muito significativa sobre a probabilidade de ocorrência de interações, no modelo

desenvolvido. Deste modo, é esperada uma maior probabilidade de ocorrência de interações em anos

com uma CPUE de sardinha elevada, uma vez que esta variável traduz indiretamente a abundância

relativa de sardinha no meio. Ao longo do estudo, a CPUE de sardinha sofreu um decréscimo, que se

acentuou a partir de 2011 devido às restrições impostas à sua captura, como consequência do decréscimo

da abundância do seu stock, que atingiu níveis muito reduzidos nos últimos anos (Silva et al. 2015;

ICES, 2018). Tendo em conta o decréscimo da abundância de sardinha, previa-se que a probabilidade

de ocorrência de interações com cetáceos diminuísse. Contudo, e segundo os resultados do modelo, o

comportamento anual da variável resposta apresentou uma tendência para estabilizar nos anos mais

recentes. Uma possível explicação para este acontecimento, pode estar relacionada com a abundância

das outras espécies pelágicas alvo de estudo. Contudo, os resultados do modelo não permitem identificar

a espécie pelágica que mais influenciou os resultados, uma vez que não existe uma influência

significativa por parte das outras espécies analisadas. A única exceção é a CPUE de biqueirão, já que o

modelo considerou o seu efeito importante na modelação da variável resposta, provavelmente devido

ao recente aumento substancial da sua captura e abundância relativa no meio. Deste modo, a explicação

mais plausível, está relacionada com o comportamento oportunístico dos cetáceos, nomeadamente do

golfinho-comum, que se alimenta da espécie mais abundante no meio e, pelo comportamento

oportunístico da pesca de cerco, que, segundo Feijó et al. (2018), para manter uma viabilidade

económica, durante os períodos de proibição da captura de sardinha, incide sobre a captura de outras

importantes espécies pelágicas como a cavala, carapau-branco e biqueirão. Situação evidenciada nos

anos mais recentes do estudo.

A crescente importância de outras espécies pelágicas, na dieta do golfinho-comum, em paralelo

com a redução da sardinha, tem sido evidenciada por alguns estudos (Silva 1999, Marçalo et al. 2018).

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Silva (1999), com recurso à análise do conteúdo estomacal de golfinhos-comuns arrojados, revelou que

a sardinha ocorreu em 81% dos estômagos analisados e correspondeu a cerca de 40% do peso estimado.

Mais recentemente, o estudo de Marçalo et al. (2018), sugere que, apesar da sardinha permanecer a presa

preferencial do golfinho-comum, a presença no conteúdo estomacal foi inferior ao revelado por Silva

(1999) e, espécies como a cavala e o carapau revelaram ser importantes na dieta do mesmo.

O avistamento de cetáceos durante as viagens de pesca, poderia explicar a maior ou menor

probabilidade de ocorrência de interações ao longo dos anos, uma vez que depende da abundância de

cetáceos na costa portuguesa. A informação existente em Portugal Continental sobre a abundância e

distribuição de cetáceos é escassa, pelo que não é possível explicar como variou ao longo do presente

estudo. No entanto, os relatórios SCANS (Small Cetaceans in the European Atlantic and North Sea),

realizados para estimar a abundância de pequenos cetáceos no Mar do Norte e nas águas Atlânticas

Europeias em 2005 (SCANS II 2005; Hammond et al. 2013) e em 2016 (Hammond et al. 2017), revelam

que a abundância de cetáceos variou na águas atlânticas da Península Ibérica, num período de 10 anos,

fornecendo informação indireta sobre o que pode ter acontecido para as águas portuguesas. Em

particular, registou-se um aumento da abundância de golfinho-comum nas águas atlânticas da Península

Ibérica, com 17 916 indivíduos estimados em 2005 (SCANS II 2005; Hammond et al. 2013) e 81 701

indivíduos em 2016 para a costa portuguesa e sul do Golfo de Cádiz (Hammond et al. 2017).

Incidência das interações a nível da pescaria de cerco e medidas de mitigação

As estimativas anuais de interações cetáceo-pesca revelaram uma incidência considerável de

interações entre os cetáceos e a pesca de cerco. Os elevados coeficientes de variação obtidos sugerem,

contudo, que estas estimativas são pouco robustas e representativas, uma vez que o esforço de

observação não foi uniforme ao longo dos anos e, correspondeu a apenas 0,3% do esforço total realizado

pela frota continental de cerco. A utilização de vendas-dia como método de extrapolação, não traduz

todo o esforço da frota, uma vez que corresponde apenas às viagens com venda do pescado, ao que

significa que as viagens sem captura não são contabilizadas, conduzindo a uma subestimativa das

interações cetáceos-pesca ao nível da frota. A extrapolação às viagens da frota, é considerado o método

mais indicado na estimativa de índices de bycatch (Borges et al. 2005; Amandé et al. 2010). Apesar das

limitações que este método apresenta, permite inferir sobre um possível cenário de interações cetáceos-

pesca para a frota durante o período de estudo.

A ocorrência de interações entre os cetáceos e a pesca de cerco pode ser frequente, devido à

sobreposição espacial e de recursos que existe entre ambos, pelo que a sua redução e mitigação se

revelam de extrema importância. Têm sido testadas e implementadas medidas de mitigação, como a

utilização de alarmes acústicos (pingers), que se revelaram de grande eficácia na redução das interações

e da captura acidental de cetáceos nas redes de emalhar e tresmalho (Dawson et al. 2013). Relativamente

à pesca de cerco, a implementação de um Código de Boas Práticas apresentou um enorme sucesso na

mitigação das interações entre o golfinho-comum e a pesca de cerco da sardinha, no sul da Austrália,

com uma redução de 87% e 97% da taxa de captura acidental e morte de cetáceos (Hamer et al. 2008).

Uma década após a implementação deste código, os resultados de Ward et al. (2018), demonstram uma

redução, a longo prazo, da captura acidental e morte de cetáceos, onde concluiu que as ações praticadas

pelos pescadores são mais eficazes na mitigação das interações, que as modificações ao nível da rede de

pesca. Em Portugal, também se implementou um Código de Boas Práticas, em 2012, com criação de

respetivos Manuais de Boas Práticas para várias artes de pesca, incluindo o cerco, tendo como objetivo

reduzir as interações entre as artes de pesca portuguesa e as espécies de cetáceos, identificando os

principais problemas associados à captura acidental e apresentando medidas e soluções para reduzir a

morte por captura acidental (Marpro 2012). As medidas de mitigação propostas por este código,

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envolvem a alteração do comportamento dos pescadores ou a modificação das artes de pesca. A

implementação de medidas técnicas, como os alarmes acústicos, têm sido testados em algumas pescarias

portuguesas, nomeadamente na pesca de cerco, com resultados positivos na redução da captura acidental

e mortalidade dos cetáceos (Vingada et al. 2015). Contudo, um ensaio com alarmes acústicos colocados

numa embarcação de cerco, no sul de Portugal, revelou um aumento do índice de captura acidental na

presença destes aparelhos (Marçalo et al. 2015a; Vingada et al. 2015), destacando a necessidade de dar

continuidade a este tipo de ensaios.

A consciencialização dos pescadores sobre a problemática das interações cetáceos-pesca foi

notória, durante o presente estudo. A maioria dos mestres implementa, de forma voluntária, medidas de

mitigação na presença de cetáceos nas proximidades, como a não realização da pesca, a deslocação para

outro local e a comunicação entre os mestres das embarcações sempre que se avistavam cetáceos em

determinadas zonas. Em situações de deteção dos cetáceos já dentro da rede, um dos principais

problemas relatados pelos pescadores, consistia nas manobras de libertação dos indivíduos. Apesar de

todos os esforços para evitar interações, foi possível verificar, ao longo do estudo, que as manobras de

libertação nem sempre foram as mais adequadas, resultando em ferimentos ou na morte dos indivíduos.

No entanto, mesmo quando ocorre a libertação dos indivíduos vivos e sem ferimentos visíveis, é

impossível saber, com certeza, o destino destes.

Limitações e recomendações futuras

O número de viagens amostradas no presente estudo foi limitado, com a obtenção de um

reduzido índice de cobertura da frota continental (0,3%). Para ser possível estimar o nível de captura

acidental e morte dos cetáceos, com elevado grau de confiança, é necessário aumentar a percentagem

de cobertura da frota, em virtude de o enviesamento e a incerteza associada às estimativas de bycatch

estar fortemente dependente do nível de cobertura (Amandè et al. 2010). Ao calcular os primeiros

índices de bycatch associados à pesca de cerco na costa portuguesa, Marçalo et al. (2015b), referiram

que são necessárias, cerca de 500 viagens de pesca anuais, para que sejam produzidas estimativas anuais

de bycatch representativas, com um reduzido intervalo de confiança de 95%. Para tal, recomenda-se que

o estudo seja complementado com uma metodologia mais abrangente, que permita uma maior cobertura

da frota, nomeadamente, a realização de entrevistas, por permitir analisar vastas áreas geográficas e

amostrar várias artes de pesca num curto espaço de tempo, a um custo reduzido (López et al. 2003;

Goetz et al. 2014a,b), a utilização de sistemas de monitorização eletrónica a bordo das embarcações

(câmaras de vídeo) em substituição dos observadores e a utilização de dados VMS (Vessel Monitoring

System), que consiste num sistema de monitorização de navios por satélite e, permite adicionar

informação mais detalhada e a larga escala das áreas de operação da pesca que, segundo Katara e Silva

(2017), fornecem uma cobertura muito superior às observações a bordo.

A informações disponível sobre a distribuição e abundância de pequenos cetáceos nas áreas de

operação da frota de cerco portuguesa é escassa, pelo que são necessários estudos sobre a ecologia das

espécies de cetáceos envolvidas nas interações, de modo a quantificar o impacto das interações,

nomeadamente da morte por captura acidental, sobre as populações de cetáceos.

Algumas das viagens realizadas, não tinham como objetivo principal a recolha de informação

relativa às interações cetáceos-pesca, o que pode ter resultado na não deteção de algumas interações. As

observações foram realizadas por investigadores do IPMA que, apesar de terem alguma formação na

identificação de cetáceos, não são especialistas, o que pode ter originado erros na identificação da

espécie de cetáceo envolvida. Contudo e, em situações de incerteza, os indivíduos não eram

identificados até à espécie, o que revela um reduzido impacto sobre os resultados obtidos.

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5. Considerações Finais

O presente estudo, permitiu, pela primeira vez, analisar as variações ao nível das interações entre

os cetáceos e a pesca de cerco em Portugal Continental, utilizando uma série temporal de 15 anos de

observações a bordo de cercadoras. A variação anual observada, é um reflexo das alterações a que a

comunidade de peixes pelágicos está a ser sujeita, com particular ênfase a redução da abundância de

sardinha. O seu decréscimo, obrigou à adoção de um comportamento oportunístico por partes dos

cetáceos e da pesca de cerco, nomeadamente ao consumo e captura de espécies pelágicas alternativas.

A cavala surge como uma opção, quer pelo aparecimento de novos mercados, quer pelo aumento da sua

captura pela pesca de cerco. As estimativas obtidas sugerem que a frequência de interações entre os

cetáceos e a pesca de cerco na costa portuguesa, pode ser superior ao obtido. Torna-se, por isso,

necessário prosseguir com a monitorização da atividade de pesca de modo a melhorar e implementar

planos de gestão, bem como medidas de mitigação apropriadas, com o objetivo de reduzir as interações

e, consequentemente a captura acidental e a morte de cetáceos. Para que a implementação de medidas

de mitigação seja bem-sucedida, é necessária a cooperação com os pescadores, através do

estabelecimento de parcerias entre as comunidades piscatórias e científica.

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7. Anexos

Anexo I

Programa Nacional de Amostragem Biológica - PNAB

Amostragem Biológica a Bordo das Frotas Comerciais

Folha de Cerco

Nome da embarcação: ____________________ Nome do Mestre: ________________

Matrícula: ______________________________ Potência do motor: _________ (kW/cv)

Porto de Embarque: ____________________ Porto de desembarque: _________________

Data do início da viagem: _____/_____/_____ Data do fim da viagem: ____/_____/______

Hora do início da viagem: _____________ Hora do fim da viagem: _________________

Rede de pesca: Malhagem da rede (mm): _______ Comprimento x altura (m): __________

Captura total: ____________________ (kg) Valor (€):______________________

Desembarque: ___________________ (kg/caixa) Caldeirada: _________________ (kg)

Rejeições: ______________________ (kg/caixa) Rejeição (bordo) □ Rejeição (cais) □

Slipping:_______________________ (kg/caixa) 1 caixa = ______________ (kg)

Amostra c/ destino laboratório: sim □ não □ Nome do Observador: ________________

Resumo do Lance de Pesca:

Data: ___/___/_____ Lance nº: ___ de ___ Local de pesca: _________________________

Início largada: Posição Geográfica: Lat. __________N Long._________W Prof.:_____ m/br

Fim alagem: Posição Geográfica: Lat. ________ N Long._________W Prof.:_____ m/br

Tipo de Fundo: □Rochoso □Arenoso Escala Beaufort: _______________

Transferência p/outras embarcações: □Sim □Não Nome:____________________ _______kg/cx

Marcação na sonda: □Pouca □Moderada □Intensa Espécie Prevista: ______________________

Operações: Hora início Hora fim Observações

Navegação 1 Ex: Razões Paragem da

Pesquisa? Nº outras embarcações

no mesmo pesqueiro, etc

Temp. Água (ºC):

Pesquisa (sonar ligado)

Largada da rede

Viragem da retenida

Alagem da rede

Enxugar a rede

Transbordo do Pescado

Paragem para descanso

Navegação 2

Resumo da viagem:

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Cód Espécie Capt Rej Slip Des Cald Cód Espécie Capt Rej Slip Des Cald

SBA besugo

EOI polvo-

cabeçudo

PAC bica

OCC polvo-vulgar

ANE biqueirão SQU potas

HOM carapau-

branco

SKA raias spp.

JAA carapau-

negrão

GUU ruivo

MAS cavala MAC sarda

CTC choco PIL sardinha

BIB faneca

SWA sargo-

legítimo

SQC lulas

CTB sargo-

safia

HKE pescada BON sarrajão

TRG peixe-

porco

MGA taínha

MOX peixe-lua BSH tintureira

Resumo sobre a captura:

Fonte de dados: M = Mestre; O = Observador; L = Lota

Folha de venda recolhida? □Sim □Não

Resumo sobre os avistamentos e interações e/ou captura acidental com cetáceos e aves marinhas:

ESPÉCIES ASSOCIADAS

Espécie A/C

Nº animais na proximidade da rede Nº animais dentro da arte Libertad

os vivos Min. Ópt. Máx. Juvenis Comportamento

*

Interações

** Mortos Feridos Ilesos

Observações:

Coordenadas de devolução do animal à água (morto ou vivo):

CETÁCEOS (C)

(Código/, nome científico e comum):

AVES (A)

(Código/, nome científico e comum):

* Comportamento

dos aninais:

** Interações cetáceos

com a pesca

DD D. delphis Golfinho -comum UA U. aalge Airo ou arau-

comum

DN – deslocação

normal

AP – Afundaram

peixe

SC S. coeruleoalba Golfinho-

riscado Psps Puffinus sp. Pardelas EN – evita o navio

EP – Espantaram

peixe

TT T. truncatus Roaz-corvineiro MB M. bassanus Gnso-patola S - saltos CP – Comeram peixe

PP P. phocoena Bôto AT A. torda Torda-

mergulheira AL – alimentação JP - Juntaram peixe

GG G. griseus Grampo MN M.. nigra Pato-preto AN – atraído para o

navio ER - Estragaram rede

GM G. melaena Baleia-piloto CD C. diomedea Cagarra NP-natação á

proa

AE - Aproximação da

embarcação PM P.

macrocephalus Cachalote LM L. michahellis

Gaivota-

argêntea

BP B. physalus Baleia-comum Lsps Larus sp. Outras gaivotas S- socialização

BA B. acutorostrata Baleia-anã

TARTARUGAS: CC – Caretta caretta (Tartaruga-comum); DC – Dermochelys coriacea (Tartaruga-de-couro)

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Anexo II

Tabela 1. Variáveis recolhidas durante as viagens a bordo das embarcações de cerco, entre 2003 e 2018.

Variáveis Explicação

Ano 2003, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017

e 2018

Estação do Ano Inverno, Primavera, Verão e Outono

Zona de pesca Norte, Centro e Sul

Porto de pesca

VIANA – Viana do castelo, PV – Póvoa de Varzim, MAT – Matosinhos, AV –

Aveiro, FF – Figueira da Foz, PEN – Peniche, LIS/ALG – Lisboa/Algés, SES –

Sesimbra, SET – Setúbal, SIN – Sines, POR – Portimão e OLH - Olhão

Lances de pesca Nº de lances de pesca realizados por viagem

Latitude e Longitude Coordenadas geográficas do local de realização do lance de pesca (convertidas a valor

decimal)

Navegação Registo da hora de início e fim e o tempo total despendido na navegação

Pesquisa Registo da hora de início e fim e o tempo total despendido na pesquisa

Pesca Registo da hora de início e fim e o tempo total despendido na pesca

Esforço de pesca Obtido pela soma do tempo total despendido na pesquisa e na pesca

Descanso Registo da hora de início e fim e o tempo total despendido na paragem para descanso

Duração do lance Registo da hora de início (Início da navegação) e fim (Fim da pesca) e o tempo total

da duração do lance de pesca

Profundidade Profundidade do local de realização do lance de pesca, em braças (br)

Captura

Registado por lance de pesca, em quilogramas (kg) Desembarque

Desenvase

Rejeição

CPUE Obtido pelo quociente da captura total pelo esforço de pesca, por lance, em

quilogramas por hora (kg/h)

Captura, desembarque,

desenvase e rejeição

PIL – sardinha, MAS – cavala, HOM – carapau-branco, ANE – biqueirão, GAR –

peixe-agulha, BON - sarrajão, JAA – Carapau-negrão, MAC – sarda, BOG – boga e

Outros – outras espécies.

Presença de cetáceos Nº de indivíduos e as espécie observadas por viagem de pesca

Interações com

cetáceos Nº de indivíduos e as espécies observadas por lance de pesca

Captura acidental

Mortalidade

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Anexo III

Código FAO das espécies pelágicas:

PIL – Sardina pilchardus (Sardinha)

MAS – Scomber colias (Cavala)

HOM – Trachurus trachurus (Carapau-branco)

ANE - Engraulis encrasicolus (Biqueirão)

GAR - Belone belone (Peixe-agulha)

BON - Sarda sarda (Sarrajão)

JAA - Trachurus picturatus (Carapau-negrão)

MAC - Scomber scombrus (Sarda)

BOG - Boops boops (Boga)