Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-2297-1.pdf · Processos Comunicacionais, Educação e Cultura, da UFJF. ... produto

Embed Size (px)

Citation preview

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    Desafios da comunicao comunitria: participao e contedo no Jornal de Chiador1

    Bruno FUSER2

    Rodrigo Galdino FERREIRA3

    Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

    Resumo: A partir de reviso de literatura, especialmente sobre os conceitos de cidadania e participao, o presente artigo apresenta e analisa uma experincia de comunicao comunitria voltada para a ampliao do protagonismo popular. Destaca-se a discusso, com base em quatro edies do Jornal de Chiador, focada especialmente em dois aspectos: as distintas formas de participao presencial e virtual e o contedo ali produzido. Entre outros referenciais esto BOBBIO (1986), DAGNINO (2004) e PERUZZO (2011). Conclui-se que tal jornal tem forte participao dos moradores daquele municpio, em grande medida atravs de mecanismos digitais, mas que ainda se faz necessrio novos mecanismos de mobilizao social para a manuteno de vnculos do pblico com o projeto comunitrio e para a consequente ampliao do seu potencial democrtico-cidado.

    Palavras-chave: comunicao comunitria; participao; cidadania; mobilizao social; Jornal de Chiador

    O Jornal de Chiador

    Experincias de comunicao comunitria so colocadas em prtica nas mais

    diversas localidades do Brasil. A caracterstica que normalmente converge em projetos de

    comunicao comunitria a participao popular. Ou seja, o envolvimento de pessoas

    que pertencem a segmentos sociais subalternos, em prol de um objetivo comum, que

    confere a essas iniciativas um diferencial, se comparado mdia massiva, que normalmente

    marginaliza tais setores do protagonismo na produo miditica.

    Noutro estudo (FERREIRA, 2009), j apontvamos o incentivo participao como

    uma caracterstica inerente s experincias de comunicao comunitria. Junto desta

    caracterstica, elencamos ainda a origem na comunidade; a finalidade no lucrativa; a

    ruptura com os meios de comunicao de massa; e, finalmente, o incentivo cidadania. Tal

    1 Trabalho apresentado no GP Comunicao para a Cidadania do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicao, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao.2 Jornalista; doutor em Comunicao pela Universidade de So Paulo; professor efetivo da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Coordenador do Grupo de Pesquisas Processos Comunicacionais, Educao e Cultura, da UFJF. Email: [email protected] Bacharel em Comunicao Social com habilitao em Jornalismo, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG); presidente da Associao Comunitria Amigos do Jornal de Chiador, publicao da qual editor desde 2008; jornalista/assessor de imprensa concursado na Cmara Municipal de Monte Mor (SP); integrante do Grupo de Pesquisas Processos Comunicacionais, Educao e Cultura, da UFJF. Email: [email protected]

    1

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    estudo foi elaborado a partir da discusso de conceitos aplicados a uma experincia de

    jornalismo comunitrio, o Jornal de Chiador.

    Em 2015, no Congresso da Intercom realizado na Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, apresentamos uma discusso sobre participao poltica e jornalismo comunitrio,

    com reflexes a partir de projeto que teve esse mesmo jornal como um de seus principais

    elementos (FUSER E FERREIRA, 2015). Nesse artigo, destacvamos a intensa

    participao dos moradores na elaborao do peridico, e discutamos tambm as

    limitaes de tal participao, em distintos mbitos da sociabilidade.

    Neste ano trazemos para conhecimento e debate dados de pesquisa que possui dois

    objetivos principais: a reflexo sobre as vrias formas de participao no jornalismo

    comunitrio, em tempos de comunicao digital, e, ainda, quais so os discursos produzidos

    por tais moradores, no seu exerccio de protagonismo. Da mesma forma, o estudo

    realizado a partir de reflexes tericas, aplicadas a essa experincia concreta que seguimos

    desenvolvendo naquele municpio da Zona da Mata mineira.

    Pretendemos que este trabalho possa contribuir para futuras anlises de experincias

    prticas. Estamos, assim, falando de uma reflexo que dever ser feita na e sobre a

    prtica. Logo, trabalhamos com a perspectiva de ampliar o potencial da comunicao

    comunitria a partir de reflexes que auxiliem no processo de formao da conscincia

    crtica dos cidados. Como afirma Paulo Freire (1980, p.26), A conscientizao no pode

    existir fora da prxis, ou melhor, sem o ato ao reflexo. Esta unidade dialtica

    constitui, de maneira permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza

    os homens. Ou seja, teoria e prtica so indivisveis, na perspectiva freiriana.

    Democracia, cidadania, participao

    Bobbio aponta que, na contemporaneidade, impossvel imaginar que todos os

    cidados participem diretamente de todas as decises a eles pertinentes (BOBBIO, 1986,

    p.12). Da surge o conceito de democracia representativa, que tem o potencial de vigorar em

    conjunto com a democracia direta - e no em contraposio a ela. J a educao para a

    cidadania seria imprescindvel para o projeto de democracia ideal, mas tambm no se

    efetivou. Bobbio considera que os discursos sobre democracia sempre levaram em

    considerao a cidadania ativa; citando Stuart Mill, ele pontua:

    atravs da discusso poltica que o operrio, cujo trabalho repetitivo e concentrado no horizonte limitado da fbrica, consegue compreender a conexo existente entre eventos distantes e o seu interesse pessoal e estabelecer relaes com cidados diversos daqueles com os quais

    2

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    mantm relaes cotidianas, tornando-se assim membro consciente de uma comunidade. (BOBBIO, 1986, p.32)

    Inevitvel lembrar ainda que, mesmo as sociedades que garantem uma participao

    efetiva, a partir da formao de cidados conscientes, crescente a chamada apatia

    poltica. Ou seja, garantir as condies para a participao no significa, necessariamente,

    que ela venha ocorrer intensamente. Como afirma Bobbio, Nada ameaa mais matar a

    democracia que o excesso de democracia (1986, p.26). Ou seja, ingnuo pensar que

    vivel requerer dos cidados uma participao deveras efetiva, quase instantnea ou

    mecnica, que at poderia ser passvel de ocorrer na nossa atual sociedade, informatizada;

    entretanto, o excesso de participao, produto do fenmeno que Dahrendorf chamou

    depreciativamente de cidado total, pode ter como efeito a saciedade de poltica e o

    aumento da apatia eleitoral (BOBBIO, 1983, p.26).

    No artigo O futuro da democracia (SANTOS, 2006), o socilogo portugus

    Boaventura de Sousa Santos aponta os desafios da democracia na contemporaneidade,

    dentre eles: as desigualdades sociais, que transformam a igualdade jurdico-poltica -

    indispensvel democracia - numa hipocrisia social constitucionalizada; o despreparo da

    democracia para as lutas contra os diversos tipos de discriminao; a existncia de

    imposies econmico-militares nada democrticas; e finalmente, a inexistncia de

    condies que viabilizem a participao democrtica dos cidados. Essas condies

    mnimas para a participao seriam, de acordo com Santos, as garantias de sobrevivncia

    (sade, alimentao etc.), o fato de o cidado no estar ameaado e estar bem informado.

    Quem no dispe da informao necessria a uma participao esclarecida, equivoca-se quer quando participa, quer quando no participa. Pode dizer-se com segurana que a promoo da democracia no ocorreu de par com a promoo das condies de participao democrtica. Se esta tendncia continuar, o futuro da democracia, tal como a conhecemos, problemtico. (SANTOS, 2006)

    Ou seja, ao se negar o direito comunicao, inibe-se, logicamente, a participao

    popular. O que sinaliza que o pas, apesar dos avanos (como a prpria criao da lei das

    rdios comunitrias, em 1998), ainda no possui a cultura do incentivo participao

    popular e democratizao dos processos de comunicao. Exemplo disso foi o

    cancelamento da Poltica Nacional de Participao Social, proposta pelo governo federal,

    em 2014, com o intuito de legitimar a influncia social na formulao de polticas pblicas.

    Aps longo debate, partidos oposicionistas suspenderam a proposta, por considerar que ela

    3

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    invade prerrogativas do Congresso Nacional e pode significar uma tentativa de

    aparelhamento do Estado4.

    Conclui-se, assim, que necessrio haver avanos na legislao do pas, para que o

    direito participao seja efetivado, no mbito comunicacional e noutros. Pois, como

    afirma Bordenave, Para um crescente nmero de pessoas, democracia no apenas um

    mtodo de governo onde existem eleies. [...] Democracia um estado de participao

    (BORDENAVE, 1983, p.8). Ou seja, para no deixarmos margem diversas camadas da

    sociedade, que no tm direito participao, no bastam as experincias de comunicao

    comunitria - que, se autnticas, priorizam-na. Tambm preciso que Estado brasileiro, no

    campo da legislao, garanta o direito comunicao e, por consequncia, participao e

    democratizao das temticas, inclusive na mdia massiva.

    Ainda no que se refere ao debate sobre participao, importante destacarmos duas

    questes que consideramos essenciais: os ambientes colaborativos de construo de

    conhecimento; e as possibilidades de apropriao das tecnologias digitais e da comunicao

    mediada pelas tecnologias digitais.

    MACHADO FILHO, XAVIER E FERREIRA (2013) assinalam a importncia, nos

    tempos de convergncia miditica, do uso das ferramentas interativas na participao dos

    receptores na produo de contedo nas mdias, tornando-os ativos. Tais ferramentas

    possibilitariam o dilogo, a interao; "a comunicao poltica gerada a partir da atuao

    colaborativa e participativa dos cidados pode implicar em uma nova esfera pblica de

    discusso", assinalam os autores (MACHADO FILHO, XAVIER E FERREIRA, 2013,

    p.173). Salientamos, nesse sentido, o carter de possibilidade - que pode, portanto, realizar-

    se ou no - defendido pelos autores.

    No debate sobre as possibilidades de as tecnologias digitais estimularem, ou

    significarem nova dimenso da cidadania, Rousiley Maia (2002) adverte que no basta a

    Internet potencialmente poder propiciar um ambiente de debate e participao. Debate

    mais que pluralidade de vozes, requer um entendimento partilhado sobre um tema, devem

    ouvir e responder s questes e objees, o que demanda uma atitude de respeito mtuo

    (MAIA, 2002, p. 55). Estudos sobre grupos virtuais de discusso poltica mostram um

    quadro desanimador em termos de criao de um ambiente de deliberao em tais grupos.

    Se todos falam e ningum ouve, temos o resultado semelhante ao de uma torre de Babel

    (idem, p. 56). Os participantes de listas e chats expressam a prpria opinio, buscam e 4 PLENRIO aprova projeto que cancela a Poltica Nacional de Participao Social. Cmara dos Deputados. 28 out. 2014. Disponvel em: . Acesso em: 23 set. 2015.

    4

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    disponibilizam informao, sem que se vinculem a um debate propriamente dito (ibidem).

    As NTCI no determinam o procedimento da interao comunicativa e nem garantem a

    reflexo crtico-racional (idem, p. 56).

    Peruzzo (2011) destaca a importncia que assumem as tecnologias digitais, mesmo

    entre segmentos da populao que esto margem dos benefcios de tais inovaes, pois

    as pessoas de baixo poder aquisitivo e suas organizaes sociais que vivem ou atuam em regies perifricas das cidades, ou no campo, procuram se inserir nesse ambiente de transformao de estruturas comunicativas e de relaes sociais. Esse tipo de incluso ocorre como parte de uma dinmica social em que no se separa o mundo concreto daquele constitudo pelo ciberespao. (PERUZZO, 2011, p.83)

    Para a pesquisadora, embora no se dispense a continuidade das lutas presenciais, a

    comunicao popular, comunitria e alternativa pode se revigorar, na perspectiva de incluir

    em suas prticas comunicativas o empoderamento coletivo das tecnologias da informao e

    da comunicao. "O custo social do no empoderamento coletivo das TICC para efeito de

    implementao de alternativas durveis de comunicao comunitria contribui para o atraso

    na transformao da realidade local", alerta Peruzzo (idem, 83).

    Mais que a criao de canais ou meios de comunicao, Peruzzo enfatiza o carter

    processual nas prticas dessa comunicao, de forma a "inser-los como facilitadores de

    processos de mobilizao social, razo pela qual suas expresses originrias e, em muitos

    casos tambm atuais, se desenvolvem no contexto dos movimentos sociais". (idem, p. 85)

    No estamos tratando neste texto da criao de canais de comunicao em si ou daqueles protagonizados por pessoas individualmente, mas aqueles inseridos nas dinmicas de mobilizao e organizao de grupos subalternos progressistas, pois interessa compreender o sentido coletivo a constitudo. (idem, p. 87)

    Uma advertncia nos feita por DAGNINO (2004), autora que nos aponta que, nos

    ltimos anos, existe uma confluncia perversa entre o projeto neoliberal e o projeto

    participativo - e de fato democratizante. Ela denuncia que, apesar de terem objetivos e

    estrutura bastante diferentes, existem duas propostas polticas que se utilizam de

    argumentos e referncias aparentemente comuns (participao, sociedade civil, cidadania,

    democracia), dando a entender que ambas visam aparentemente a mesma ampliao da

    democracia e da participao popular. Dessa forma, A perversidade estaria colocada,

    desde logo, no fato de que, apontando para direes opostas e at antagnicas, ambos os

    projetos requerem uma sociedade civil ativa e propositiva (DAGNINO, 2004, p.142).

    5

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    Nesse artigo, julgamos importante diferenciar essas duas propostas e,

    principalmente, deixar claro qual delas estamos considerando legitima, ao mencionarmos a

    participao como um princpio basilar da comunicao comunitria. Pois, especialmente

    no campo da democratizao do espao pblico, consideramos que a estratgia neoliberal

    limita o significado da participao social, ao retirar dela o seu carter poltico e coletivo

    (DAGNINO, 2004, p.152). Dessa forma, o modelo de fato democratizante - que considera a

    participao como a partilha efetiva de poder (DAGNINO, 2002) - o que adotamos ao

    mencionar o potencial de ampliao da cidadania inerente a projetos de comunicao

    comunitria autnticos.

    Por um lado, a ressignificao da participao acompanha a mesma direo seguida pela reconfigurao da sociedade civil, com a emergncia da chamada participao solidria, e a nfase no trabalho voluntrio e na responsabilidade social, tanto de indivduos como de empresas. O princpio bsico aqui parece ser a adoo de uma perspectiva privatista e individualista, capaz de substituir e redefinir o significado coletivo da participao social. A prpria ideia de solidariedade, a grande bandeira dessa participao redefinida, despida de seu significado poltico e coletivo, passando a apoiar-se no terreno privado da moral. [...] (DAGNINO, 2004, p.151-152)

    Nesse contexto, a participao que reivindicamos em experincias de comunicao

    comunitria precisa se dar de maneira consciente e crtica, inclusive levando-se em

    considerao a anlise dos mecanismos pouco democrticos adotados pela mdia

    convencional.

    Participao e contedo no JC

    Tendo em vista tais preocupaes tericas, buscamos analisar as edies do Jornal

    de Chiador produzidas em 2016 - as quatro primeiras edies (janeiro - 60; fevereiro - 61;

    maro-abril - 62; maio-63), pois a de junho foi concluda muito perto do prazo de entrega

    do texto para inscrio no congresso deste ano da Intercom.

    Assim, as edies de nmero 60 a 63 foram analisadas em termos de participao, a

    partir de dois parmetros principais de anlise: de quem a autoria do material publicado

    (se de moradores ou do ncleo responsvel pela edio) e de que forma se deu tal

    participao, quando era o caso. Essas quatro edies foram analisadas tambm com a

    metodologia da anlise de contedo, a partir de categorias criadas com os temas e as

    angulaes das unidades de informao publicadas (texto e imagem). Em ambos os casos,

    considerou-se o espao ocupado pelo material editorial.

    6

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    Considerou-se a mancha grfica de cada pgina (686 cm2 cada pgina, de 24,5 cm x

    28 cm). Os espaos em branco foram quase sempre incorporados nas unidades de

    informao adjacentes (as excees foram pginas em que os espaos em branco possuam

    dimenso significativamente distinta das usuais). Foram, assim, 5.488 cm2 totais em cada

    edio (8 pginas), e um total de 21.952 cm2, considerando-se as quatro edies. Passemos

    aos resultados obtidos e respectiva anlise.

    Participao

    Em termos gerais, podemos dividir a participao no Jornal de Chiador em trs

    grandes grupos: o material produzido com participao direta, ou exclusiva, de

    colaboradores; aquele produzido pela Redao, ou seja, pelo grupo coordenador do

    projeto; e, ainda, textos produzidos em conjunto por tal grupo e por colaboradores (ou seja,

    numa atividade de formao). Assim, como interessa-nos fundamentalmente verificar a

    intensidade da participao de colaboradores na produo do jornal, neste ltimo caso

    optou-se por contabilizar tal contedo como parcialmente produzido pelos mesmos, j

    que se trata de situaes em que h tambm atuao de algum integrante do grupo

    coordenador do projeto.

    Do contedo produzido a partir da interao de colaboradores com integrantes do

    grupo coordenador, considerou-se o percentual de 50% para a categoria participao

    direta e 50% para a categoria Da Redao. Estamos cientes das limitaes de tal deciso

    metodolgica, j que no possvel medir quali-quantitativamente se, na produo de

    determinado contedo, a participao do colaborador se equivale do coordenador do

    projeto. Entretanto, trata-se de uma maneira de relativizar os percentuais, impedindo

    distores maiores. Ressalta-se, ainda, que o projeto objetiva sempre garantir o

    protagonismo mximo dos colaboradores - logo, as nossas intervenes tentem a ser

    reduzidas.

    Visando compreender a maneira como este contedo produzido pelos colaboradores

    chega at o JC, foram analisados ainda os aspectos relativos utilizao das tecnologias

    digitais - e, em especial, da internet - neste envio/recebimento. Logo, verificamos se a

    participao dos colaboradores se deu de maneira virtual ou no virtual (ou seja,

    presencial). Para essa anlise, estamos considerando como participao virtual aquela

    mediada pelo computador ou outros artefatos tecnolgicos, na qual o envio do contedo

    produzido - com ou sem o uso de tecnologias digitais - se d atravs da internet. As

    atividades que envolveram duas formas de envio foram contabilizadas parcialmente (50%).

    7

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    Importante ressaltar que, tendo em vista que o grupo coordenador do projeto no

    reside em Chiador, a maneira como esse contedo nos chega pode suscitar grandes

    reflexes. Afinal, visando dar autonomia aos colaboradores e garantir a legitimidade do

    veculo, que se prope comunitrio, um bolsista do projeto vai at o municpio pelo menos

    duas vezes ao ms. Alm disso, outros integrantes da equipe coordenadora viajam ao

    municpio, com frequncia, para interagir com os moradores. E, ainda, as lideranas locais

    servem como base de apoio para o recebimento de contedos daqueles moradores que no

    tm acesso s novas tecnologias. Pois, como nos ressalta PERUZZO (2011):

    As potencialidades participativas/interativas que as tecnologias digitais e a comunicao mediada por computador possibilitam no que se refere criao de instrumentos autnomos e comunitaristas de produzir, controlar, difundir e receber contedos so indiscutveis, mas encontram-se imersas num conjunto de contradies que inibem ou dificultam o avano da comunicao das classes subalternas. (PERUZZO, 2011, p.88)

    A pesquisadora pondera que as desigualdades das condies de acesso s

    tecnologias, os antagonismos derivados das diferenas nos nveis de escolaridade, os

    valores culturais e ideolgicos expressos nas prticas e linguagens sociais, assim como as

    singularidades locais (PERUZZO, 2011, p.88), dentre outros fatores, podem ser capazes de

    configurar situaes complexas quanto insero real da populao no universo do

    ciberespao. Em Chiador, por exemplo, a taxa de analfabetismo de 13%, conforme o

    censo demogrfico de 2010, do IBGE. O mesmo censo constatou que 11% da populao do

    municpio encontra-se na faixa etria de 65 anos ou mais. Nesse sentido, tanto a situao de

    analfabetismo quanto faixa etria de parcela dos moradores pode se tornar um impeditivo

    participao virtual no Jornal.

    Com relao participao dos colaboradores (aqui, compreendidos como todos os

    moradores e no moradores de Chiador que enviam material ao jornal, com exceo dos

    integrantes da equipe coordenadora do mesmo), nossa pesquisa contabilizou um percentual

    mdio de 70% do contedo. Ou seja, essa foi a mdia de espaos ocupados por contedos

    editoriais (textos ou fotos ou anncios gratuitos) produzidos e/ou enviados diretamente por

    colaboradores, nas quatro edies do Jornal analisadas. Separadamente, o contedo

    originado de participao foi de 69% na edio 60 (janeiro de 2016), 67,5% na edio 61

    (fevereiro), 65,7% na edio 62 (maro e abril) e, finalmente, 77% na edio 63 (maio).

    Percebe-se, dessa forma, que a edio de maio de 2016, a ltima analisada nesta

    pesquisa, foi a que teve o maior quantidade de contedos oriundos da participao de

    colaboradores. importante frisar, ainda, que tal edio tambm foi a que menos teve a

    8

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    atuao da equipe coordenadora do projeto em atividades de formao (como dito acima,

    momentos nos quais um bolsista atua juntamente com um morador, produzindo contedos).

    Na edio 63, apenas 2% do contedo oriundo de participao se referiu a atividades

    conjuntas com a equipe coordenadora do projeto. J as demais edies tiveram 19% (ed.

    60), 37% (ed. 61) e 17% (edio 62).

    Paralelamente, ao analisarmos o contedo que no foi originado pela participao

    dos colaboradores, teremos uma mdia de 21% elaborado pela Redao (ou seja, por

    integrantes da equipe coordenadora do projeto) e outros 6% de mdia de publicidade

    (anncios pagos, majoritariamente de pequenos comrcios e empresas localizadas no

    municpio). O contedo elaborado pela Redao ocupou cerca de 21% da mancha grfica

    nas edies 60 e 61 (janeiro e fevereiro de 2016, respectivamente); 25% na edio maro-

    abril (n 62) e 15% na edio 63 (maio). Com relao publicidade, o espao ocupado foi

    de 6,7% na edio 60, 8% na 61, 4,5% na 62 e 4,3% na 63.

    Vale destacar os resultados obtidos na anlise da edio 61, que abordou o

    assassinato do prefeito Moiss Gumieri. De todo o contedo publicado oriundo da

    participao dos colaboradores, 37% foi elaborado em atividades com a participao da

    equipe coordenadora do projeto, a maior taxa verificada nas quatro edies que aqui

    estudamos. Basicamente, esse contedo se refere a uma entrevista com o vice-prefeito, que

    assumiu o municpio aps o crime; e uma linha do tempo que contextualiza os fatos. J a

    edio que teve a maior taxa de participao (a 63, com 77%) foi a que teve o menor

    percentual de contedos elaborados juntamente com os coordenadores do projeto (2,2%).

    Ainda em relao ao contedo produzido pelos colaboradores, analisamos tambm o

    percentual que se refere participao virtual. A mdia, nas quatro edies analisadas, de

    76% desse tipo de participao. Ou seja, de todo o contedo enviado pelos colaboradores, a

    maioria nos chega atravs de artefatos baseados em tecnologias digitais e da internet. A

    edio que teve a maior participao virtual foi a 63, com 92%, seguida pela 62, 82%,

    edio 60, 71% e edio 61, que contabilizou 61,6%. Percebe-se, assim, que a edio que

    teve menos participao virtual tambm a que teve mais contedos elaborados

    conjuntamente por colaboradores e equipe coordenadora, o que se explica pelo fato de tais

    atividades serem essencialmente presenciais.

    Internamente chamadas de fazer-com, as atividades de produo de contedo de

    maneira conjunta entre colaboradores e equipe coordenadora do projeto geram contedos

    que so preferencialmente concludos inloco, na prpria comunidade. Logo, tais

    contedos normalmente no so enviados virtualmente pelos moradores, o que tende a

    9

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    ampliar a participao no virtual, constatada em maior percentual nas edies 60 e 61.

    Ressalta-se, entretanto, que prpria bolsista recorre internet para repassar o contedo aos

    demais integrantes da equipe coordenadora. Logo, presume-se que a internet

    imprescindvel para a produo do peridico, na atual fase.

    Outros resultados de destaque so: 1) na participao virtual, foi constatada a

    utilizao majoritria da rede social Facebook pelos colaboradores, tanto para o envio de

    contedos quanto para a interao com a equipe coordenadora do projeto; 2) a forma como

    se d a interao via Facebook varia tanto pelo uso da pgina do Jornal quanto dos perfis

    pessoais dos coordenadores; 3) na edio 62 (maro e abril de 2016), houve o maior

    percentual de contedo produzido pela Redao, resultado esse claramente influenciado

    pela publicao de publicidade institucional visando a mobilizao dos colaboradores para

    envio de contedo, que ocupou praticamente 50% da pgina 4.

    Essa pesquisa nos demostra que, apesar de o contedo elaborado pelos

    colaboradores do Jornal de Chiador ser majoritrio (mdia de 70%), ele est longe de

    alcanar a meta, que ter um veculo produzido unicamente por estes. Talvez a sada seja

    intensificar os processos de mobilizao, inclusive atravs das pginas do prprio jornal,

    mas tambm pela internet, alm de criar iniciativas de formao e de educao para a

    cidadania, que dariam condies para que os colaboradores assumissem o protagonismo de

    todas as atividades do projeto, inclusive a sua diagramao. Imprescindvel tambm ampliar

    a atuao presencial junto comunidade, garantindo que as pessoas que no possuem

    acesso internet possam participar ativamente da produo do peridico.

    Contedo - As edies do jornal foram analisadas com base no mtodo da anlise de

    contedo, que pode ser definida como:

    Um conjunto de tcnicas de anlises das comunicaes visando obter, por procedimentos, sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores (quantitativos ou no) que permitam a inferncia de conhecimentos relativos s condies de produo/recepo (variveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1977, p.42).

    Tal estudo permitiu criar categorias, divididas em dois grupos: os temas abordados

    por cada unidade informativa, e as respectivas angulaes. Distintos temas (por exemplo,

    Esporte e Memria desenvolveram por vezes angulaes similares, voltadas para a

    valorizao da identidade do municpio e de seus moradores). Optamos por fazer essa

    categorizao em dois nveis pois ocorria tambm de um mesmo tema ter angulaes muito

    10

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    distintas - por exemplo, entre as unidades informativas classificadas sob o tema Cultura

    encontraram-se angulaes bem distintas, como um texto que incentivava a leitura e outro,

    voltado basicamente para informar sobre evento cultural que se realizara em Chiador. Essa

    dupla anlise permitiu ter uma viso tanto em relao aparncia manifesta nas unidades

    informativas - que a anlise apenas do ttulo j permitiria - como, tambm, do sentido

    manifesto em tal texto.5

    Essa anlise de contedo categorial permitiu:

    (...) tomar em considerao a totalidade de um texto, passando-o pelo crivo da classificao e do recenseamento, segundo a frequncia de presena (ou de ausncia) de itens de sentido. Isso pode constituir um primeiro passo, obedecendo ao princpio de objetividade e racionalizando atravs de nmeros e porcentagem, uma interpretao que sem ela, teria de ser sujeita a aval. o mtodo das categorias (...) bem concebido para satisfazer os colecionadores preocupados em introduzir uma ordem, segundo certos critrios, na desordem aparente. (BARDIN, 1977, p.37)

    Uma das principais intenes da anlise de contedo a inferncia de

    conhecimentos relativos s condies de produo, inferncia esta que recorre a indicadores

    quantitativos ou no (BARDIN, 1977). Os procedimentos da anlise de contedo podem ser

    bastante diferentes e no se findam com os primeiros estudos do analista. Pelo contrrio,

    como diz Bardin (1977, p.34), quanto mais o cdigo se torna complexo, ou instvel, ou

    mal explorado, maior ter de ser o esforo do analista, no sentido de inovao com vistas

    elaborao de tcnicas novas.

    Em relao aos temas encontrados, obtiveram-se aqueles mais presentes foram

    (percentual do total 21.952 cm2): Morte do prefeito (15,9%) (5 pginas) 63,6% de uma

    edio; Perfil: (8,2%); Cultura: (7,5%); Poltica: (6,9%). Esses temas ocuparam o

    equivalente a duas pginas ou mais, e menos de trs, entre as 32 pginas das 4 edies.

    Em seguida estavam: Religio (5,7%); Esporte (5,1%); Memria e histria do

    municpio (4,9%); Pessoal (4,6%); Jornal de Chiador (4,3%); Famlia (4,2%). Nestes, tais

    percentuais representam o equivalente a uma pgina ou mais, e menos de duas pginas, no

    total.

    Um terceiro grupo foi formado por: Social (em grande parte uma seo fixa de

    aniversrios) (2,9%); Infraestrutura (2,1%); Economia (1,9%); Comportamento (1,9%);

    Educao (1,8%); Culinria (1,7%). Tais temas configuram o equivalente a metade ou mais

    de uma pgina, e menos de uma inteira.

    5 Texto, aqui, entendido como determinado conjunto de informaes a serem analisadas, no importa se por texto verbal ou no verbal (fotos e ilustraes), que tambm foram includas na anlise.

    11

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    Finalmente, temos um quarto grupo temtico, que ocupa, no total das 32 pginas,

    menos de meia pgina: Trabalho (1,1%); Atualidade geral (0,5%); Agropecuria (0,1%).

    Importante assinalar que anncios somaram 5,9%; logotipo e slogan de capa, 2,6%,

    e expediente, 2,6%.

    Dessa anlise temtica tecemos, inicialmente, as seguintes consideraes: em

    primeiro lugar h que se ter em conta que no dia 8 de fevereiro deste ano o ento prefeito de

    Chiador, Moiss Gumieri, foi assassinado, durante um evento social, morte que foi assistida

    inclusive por seu filho. Tal assassinato causou comoo da cidade, e uma edio teve sua

    maior parte ocupada por esse tema - criado como categoria em separado na anlise. Mas se

    considerarmos que essa temtica foi excepcional, temos um equilbrio entre os temas de

    Perfil, Cultura e Poltica.

    O Perfil uma seo que traz em quase todas as edies a histria de um morador

    ou uma moradora, quase sempre idoso ou idosa, que conta sua experincia de vida, sua

    trajetria pessoal e profissional. Em Cultura habitualmente se publicam poemas, e uma

    reportagem sobre o incentivo leitura se destacou entre essas quatro edies. E Poltica tem

    sido tema tratado por vrias angulaes, como abordaremos mais frente.

    Entendemos que h de certa forma um equilbrio entre tais temas, em especial se

    considerarmos que em seguida a esses vm alguns bastante prximos, em termos de espao

    publicado: Religio, Esporte, Memria e histria do municpio, Pessoal, Jornal de Chiador e

    Famlia.

    No entanto, em que pese tal equilbrio, consideramos que podemos fazer algumas

    associaes entre tais temas. Por exemplo, se somarmos Pessoal (questes como busca de

    parentes), Famlia, Social, temos 11,7% do espao do jornal dedicado a tais questes. Muito

    mais que Poltica ou Cultura. Assim, levando em conta as categorias temticas, pode-se

    concluir (sempre provisoriamente, como assina Laurence Bardin - os procedimentos de

    anlise no se findam com os primeiros estudos) que o Jornal de Chiador possui temtica

    bastante intensa em questes de cunho familiar, social e pessoal, se comparadas a questes

    como poltica e economia, ou infraestrutura urbana. Isso ficaria ainda mais claro se

    considerssemos a categoria Perfil como se somando a Pessoal, Famlia e Social, mas

    entendemos que os textos publicados em perfil extrapolam essas caractersticas mais

    propriamente de cunho social e pessoal. O jornal parece cumprir, portanto, um papel de

    aproximao entre os moradores em nveis de sociabilidade que, em grande intensidade,

    referem-se a questes como homenagens familiares, aniversrios, buscas de parentes.

    12

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    Quanto s angulaes, verificou-se antes de tudo que o JC publica, em distintos

    temas, um contedo voltado de forma geral para a identidade chiadorense, para a

    valorizao da cidade e de seus moradores. Quase 7 pginas (21,4% do espao total

    ocupado por 32 pginas, no perodo estudado) possuem essa perspectiva. So textos sobre

    moradores idosos, sua vida, so fotos e textos histricos, de memria, so depoimentos de

    ex-moradores que tm saudades e que visitam o municpio de vez em quando, so

    reportagens sobre chiadorenses ilustres - como um jogador do Flamengo, Felipe Vizeu -

    que saram da cidade mas que voltam para ver os parentes, o lugar onde nasceram. Essa

    angulao se destaca de forma marcante.

    Outra, tambm de destaque, Atualidade (10,6%; equivalente a mais de trs e

    menos de quatro pginas), mas, aqui, essa angulao no de se estranhar, tendo em vista

    que muitos textos se pautam por descrever assuntos ou fatos que ocorreram no municpio,

    sem ter outra angulao que essa perspectiva que no jornalismo habitualmente se denomina

    informativo.

    Da mesma forma como em temas assumem importncia Social, Famlia e Pessoal,

    em termos de angulao o que denominamos de Social-familiar vem em seguida, com 7,1%

    do espao, o equivalente a duas pginas ou mais, e menos de trs, o que tambm ocorre

    com a categoria Eventos, em termos de angulao. Da mesma forma como no se estranhou

    o resultado da angulao Atualidade, o mesmo ocorreu com Evento. De certa forma

    poderiam ser somadas, mas se preferiu separar, pois o sentido da angulao nos textos de

    Evento bastante claro - trata-se de festa do Dia das Mes, aula de capoeira, festa de

    Corpus Christi.

    Com um espao de uma pgina ou mais, mas menos de duas pginas, esto trs

    categorias de angulaes: Tristeza (5,5%), Denncias, reclamaes (4%) e Discurso

    proselitista religioso (3,4%). Aqui, foi possvel confirmar o que j nos parecia s vezes uma

    realidade: o jornal tem publicado relativamente pouco material "apimentado", de denncia,

    reclamaes. Se pensarmos que, em termos de possibilidade de publicao de demandas

    populares - que no so poucas -, o JC tem de certa forma dado pouco espao. O mesmo,

    alis, de maneira geral, que textos com proselitismo religioso - contedo este que muito

    criticado em termos de mdia, mais comum em rdios evanglicas e catlicas, e que pouco

    do espao pluralidade ideolgica. A angulao Tristeza entra, aqui, em funo do

    assassinato do prefeito Moiss Gumieri.

    Tambm por conta desse fato, e do espao por ele ocupado em especial em uma das

    edies, ganhou espao no JC uma angulao que tambm deve ser objeto de reflexo, o

    13

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    Discurso de dio (2%), percentual prximo a: Poesia (2,8%); Elogios Prefeitura (2,4%) e

    Elogios, divulgao do JC e suas atividades - institucional (2%). Com outras categorias

    (Crtica ao materialismo, Servio, Valorizao do ambiente escolar, Estmulo leitura,

    Solidariedade, Preveno dengue e Busca de notcias), essas angulaes ocupam a metade

    ou mais de uma pgina, e menos de uma inteira, entre as 32 pginas das quatro edies.

    Fecham as angulaes, em termos de espao, as categorias: Mobilizao do JC

    (1,5%), Justia (1,5%), Institucional da Cmara (0,9%), Outras edies do JC (0,5%) e

    Errata do JC (0,3%), com menos de meia pgina, no total.

    Alm das consideraes feitas sobre a angulao Identidade de Chiador -

    valorizao da cidade, dos chiadorenses, principal marca do discurso do peridico, em

    termos de formao de sentido, e do relativo pouco espao ocupado por denncias e

    reclamaes de moradores, foi possvel perceber em termos de angulao que o espao

    destinado propriamente mobilizao tambm relativamente pequeno. Mas, aqui,

    preciso observar que tal atividade se d essencialmente na pgina do JC no Facebook - que,

    tambm, mereceria uma anlise parte.

    Consideraes finais

    Desde 2008, temos trabalhado num projeto de comunicao comunitria que

    prioriza o protagonismo dos moradores na escolha das pautas e na produo de contedos -

    o Jornal de Chiador. Foi visando ter bases para refletir sobre esta prtica quotidiana que

    redigimos o presente artigo, utilizando referenciais tericos sobre cidadania, participao,

    democracia e mobilizao social. Julgamos que, assim como nos ensina FREIRE (1980),

    unir a teoria e a prtica, na perspectiva da dialtica ao/reflexo, significa ampliar o

    potencial de conscientizao, indispensvel para a mudana social.

    O potencial da comunicao comunitria - aqui compreendida como um conjunto de

    experincias que, num contexto democrtico, estimula a participao do povo visando a

    reflexo sobre pautas cidads - ampliado quando o direito comunicao de fato

    garantido pelo Estado. Os esforos nesse sentido realizados pelo Jornal de Chiador,

    portanto, esbarram em limitaes e situaes de ordem geral que, embora no possam ser

    consideradas o nico motivo, certamente colaboram no sentido de que a participao na

    elaborao do peridico tenha o quadro que foi apontado anteriormente.

    Um dos principais desafios enfrentados por experincias de comunicao

    comunitria - alm da falta de recursos financeiros - tm sido a manuteno dos nveis de

    participao e de protagonismo dos envolvidos. Estamos convictos de que temos realizado

    14

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    esforos nessa direo. No entanto, como vimos acima, novas estratgias de mobilizao

    social precisam ser utilizadas, tendo em vista que, conforme nos diz a literatura sobre o

    assunto (HENRIQUES et al.; 2004), tais mecanismos so capazes de manter os vnculos do

    pblico com o projeto. Ressalta-se que, nos processos de mobilizao, necessrio realizar

    tambm uma comunicao dialgica e libertadora, que permita a real conscientizao do

    povo quanto importncia do seu protagonismo.

    Pensar na mobilizao social visando uma maior participao em iniciativas

    comunitrias significa romper com as estruturas arraigadas em nossa sociedade, de origem

    patriarcal. Ou seja, para compreender as dificuldades de se ampliar os processos de

    participao popular preciso considerar a origem histrica - e pouco democrtica - do

    Brasil, ltimo pas do continente americano a abolir a escravido. Assim sendo, para

    romper com essa estrutura, imprescindvel adotarmos um modelo de fato democratizante -

    que considere a participao como a partilha efetiva de poder (DAGNINO, 2002).

    RefernciasBARDIN, Laurence. Anlise de Contedo. Lisboa: Edies 70, 1977.

    BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

    BORDENAVE, Juan E. Dias. O que Participao. So Paulo: Editora Brasiliense, 1983

    DAGNINO, Evelina. Construo democrtica, neoliberalismo e participao: os dilemas da confluncia perversa. Revista Poltica & Sociedade. v. 3, n. 5, out. 2004. Disponvel em: . Acesso em: 02 set. 2015.

    FERREIRA, Rodrigo Galdino. Jornal de Chiador: comunitrio, alternativo ou popular? Trabalho de Concluso de Curso. Faculdade de Comunicao Social. UFJF. Juiz de Fora, 2009.

    FREIRE, Paulo. Conscientizao, teoria e prtica da libertao: uma introduo ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. So Paulo: Moraes, 1980.

    FUSER, B.; FERREIRA, R.G. Jornalismo Comunitrio e Participao Poltica em Chiador, MG: Exemplo de Cidadania Bloqueada? Anais do XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo, Intercom, 2015.

    HENRIQUES, Mrcio S.; BRAGA, Clara S.; SILVA, Daniela Brando do Couto; MAFRA, Rennan Lanna Martins. Relaes pblicas em projetos de mobilizao social: funes e caractersticas. In: HENRIQUES, Mrcio S. (org.). Comunicao e estratgias de mobilizao social. Belo Horizonte: Autntica: 2004.

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Censo Demogrfico 2010. Disponvel em: < http://www.ibge.gov.br/>. Acesso em: 05 out. 2015.

    MACHADO FILHO, Francisco, XAVIER, Juarez e FERREIRA, Mayra Fernandes. A comunicao colaborativa e a construo de uma sociedade cidad e uma nova agenda na comunicao pblica.

    15

    https://periodicos.ufsc.br/index.php/politica/article/view/1983/1732https://periodicos.ufsc.br/index.php/politica/issue/view/974

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXIX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao So Paulo - SP 05 a 09/09/2016

    Anurio Unesco/Metodista de Comunicao Regional, Ano 17, n.17, p. 171-180, jan/dez. 2013. So Bernardo do Campo.

    MAIA, R. C. M. Redes cvicas e internet. Em: Eisenberg, Jos e Cepik, Marco. (orgs.) Internet e Poltica: teoria e prtica da democracia eletrnica. Belo Horizonte : Editora UFMG, 2002. P. 141-163.

    PERUZZO, Cicilia. Desafios da Comunicao Popular e Comunitria na Cibercultur@: Aproximao proposta de Comunidade Emergente de Conhecimento Local. Ciberlegenda, n. 25, 2011/2, p.82-99, jul/ago 2011. Revista Eletrnica do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade Federal Fluminense.

    PLENRIO aprova projeto que cancela a Poltica Nacional de Participao Social. Cmara dos Deputados. 28 out. 2014. Disponvel em: . Acesso em: 23 set. 2015.

    RODRIGUES, Thefilo C. M. A Constituio de 1988 e a comunicao: histria de um processo inacabado de regulamentao. Revista Mosaico, Edio n 7, ano IV, 08 Jan. 2014.

    SANTOS, B. S. O futuro da democracia. So Paulo: Carta Maior. Disponvel em: http://cartamaior.com.br/?/Coluna/O-futuro-da-democracia/19415. Acesso em 05 out. 2015.

    16