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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte – Boa Vista - RR – 06 a 08/07/2016 1 Jornalistas da imprensa de Belém, 1870-1900 1 Camila Lima GUIMARÃES 2 Netília Silva dos Anjos SEIXAS 3 Universidade Federal do Pará, Belém, Pará RESUMO O presente artigo busca reunir informações sobre os jornalistas que fizeram parte da imprensa de Belém no século XIX, conhecendo quem eram esses indivíduos, como eles trabalhavam e, a partir de então, perceber de que forma o jornalismo como profissão foi se desenvolvendo nas décadas iniciais da imprensa paraense. O artigo faz uma leitura das principais mudanças ocorridas entre 1830 e 1860 e, com base em levantamento bibliográfico, apresenta informações sobre os profissionais da imprensa de Belém entre os decênios de 1870 e 1900, a fim de compreender a configuração do jornalismo como profissão no período delimitado. Neste recorte, foram identificados 53 jornalistas, dentre os quais apenas 16 tiveram informações nas fontes bibliográficas consultadas. PALAVRAS-CHAVE: História da imprensa; Jornalistas; Pará; Amazônia; Século XIX. Introdução Considerando o jornalista como “figura central no processo de transformação da imprensa” (BARBOSA, 2010, p. 11), este trabalho se dedica a reunir informações sobre os jornalistas que fizeram parte da imprensa de Belém no século XIX, no sentido de conhecer quem eram esses indivíduos, como eles trabalhavam e, a partir de então, perceber de que forma o jornalismo como profissão veio se desenvolvendo ao longo do tempo. O percurso da pesquisa se iniciou em 2011, com o artigo “Protagonistas da imprensa belenense entre 1820 e 1830” (PAULA; FERNANDES; SEIXAS, 2011), desenvolvido no âmbito do projeto “Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém” (SEIXAS, 2009). O artigo tinha por objetivo traçar um perfil do profissional da imprensa paraense entre 1820 e 1830, partindo da descrição e análise da atuação dos principais jornalistas ativos naquele período. 1 Trabalho apresentado na subárea IJ 1 Jornalismo da Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, pertencente ao XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte realizado em Boa Vista, Roraima (RR), de 6 a 8 de julho de 2016. 2 Estudante de Graduação 7º. semestre do Curso de Comunicação Social-Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA). Bolsista PIBIC/CNPq do projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará: do impresso à internet” email: [email protected] 3 Professora da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação, Comunicação, Cultura e Amazônia da UFPA, coordenadora do projeto de pesquisa, e-mail: [email protected].

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Jornalistas da imprensa de Belém, 1870-1900

1

Camila Lima GUIMARÃES

2

Netília Silva dos Anjos SEIXAS 3

Universidade Federal do Pará, Belém, Pará

RESUMO

O presente artigo busca reunir informações sobre os jornalistas que fizeram parte da

imprensa de Belém no século XIX, conhecendo quem eram esses indivíduos, como eles

trabalhavam e, a partir de então, perceber de que forma o jornalismo como profissão foi se

desenvolvendo nas décadas iniciais da imprensa paraense. O artigo faz uma leitura das

principais mudanças ocorridas entre 1830 e 1860 e, com base em levantamento

bibliográfico, apresenta informações sobre os profissionais da imprensa de Belém entre os

decênios de 1870 e 1900, a fim de compreender a configuração do jornalismo como

profissão no período delimitado. Neste recorte, foram identificados 53 jornalistas, dentre os

quais apenas 16 tiveram informações nas fontes bibliográficas consultadas.

PALAVRAS-CHAVE: História da imprensa; Jornalistas; Pará; Amazônia; Século XIX.

Introdução

Considerando o jornalista como “figura central no processo de transformação da

imprensa” (BARBOSA, 2010, p. 11), este trabalho se dedica a reunir informações sobre os

jornalistas que fizeram parte da imprensa de Belém no século XIX, no sentido de conhecer

quem eram esses indivíduos, como eles trabalhavam e, a partir de então, perceber de que

forma o jornalismo como profissão veio se desenvolvendo ao longo do tempo.

O percurso da pesquisa se iniciou em 2011, com o artigo “Protagonistas da imprensa

belenense entre 1820 e 1830” (PAULA; FERNANDES; SEIXAS, 2011), desenvolvido no

âmbito do projeto “Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém” (SEIXAS,

2009). O artigo tinha por objetivo traçar um perfil do profissional da imprensa paraense

entre 1820 e 1830, partindo da descrição e análise da atuação dos principais jornalistas

ativos naquele período.

1 Trabalho apresentado na subárea IJ 1 – Jornalismo da Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, pertencente ao

XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte realizado em Boa Vista, Roraima (RR), de 6 a 8 de julho de

2016. 2 Estudante de Graduação 7º. semestre do Curso de Comunicação Social-Jornalismo da Faculdade de Comunicação da

Universidade Federal do Pará (UFPA). Bolsista PIBIC/CNPq do projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará: do

impresso à internet” email: [email protected] 3 Professora da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação, Comunicação, Cultura e Amazônia da

UFPA, coordenadora do projeto de pesquisa, e-mail: [email protected].

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A pesquisa seguindo a mesma temática teve continuidade em 2015 (SEIXAS, 2012)

e gerou dois artigos: “Jornalismo paraense da década de 1830: personagens e histórias”

(SEIXAS; GUIMARÃES, 2015) e “Jornalistas de destaque: profissionais da imprensa de

Belém entre 1840 e 1860” (GUIMARÃES; SEIXAS, 2015)4. Deste modo, o presente

estudo dá prosseguimento ao trabalho, retomando as principais conclusões obtidas na

primeira parte da pesquisa, que abrangeram os decênios de 1830-1860, para, em seguida, se

encaminhar para o recorte que vai de 1870 a 1900, completando o estudo do século XIX 5.

No total, foram identificados 111 jornalistas que atuaram ao longo do século XIX,

em Belém, de acordo com os dados do Catálogo Jornais Paraoaras (1985), da Biblioteca

Pública do Pará. Apesar de relativamente alto, é importante ressaltar que os registros são

escassos e muitos dos jornais catalogados não apresentam nome de responsáveis ou

redatores. Entre 1870 e 1900, foram identificados 53 jornalistas, porém, não houve

informações sobre todos eles, como se observa no Quadro 1:

Quadro 1: Número de jornalistas entre 1870 e 1900, em Belém, Pará.

Período Número de jornalistas

1870-1900

Total 53

Com informações 16

Sem informações 37

Fonte: Dados da pesquisa, a partir de Biblioteca Pública do Pará (1985); Borges (1986),

Coelho (1989), Cunha (1970), Cruz (2013), Rocque (1967-1968,1976), Sarges (2002), Salles

(1992), Valente (1993) e Seixas (2012).

O Quadro 2 mostra de forma sintética a relação de jornalistas da imprensa de Belém

do século XIX, identificados no período definido para esta pesquisa, de 1870 a 1900, com

destaque (em lilás claro), para os profissionais sobre os quais foram encontradas

informações nas fontes bibliográficas consultadas.

4 Os estudos foram realizados no âmbito do projeto de pesquisa “A Trajetória da Imprensa no Pará”, desenvolvido na

Faculdade de Comunicação e no Programa de Pós-Graduação Comunicação Cultura e Amazônia, na Universidade Federal

do Pará, apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Edital Universal MCT/CNPq nº

14/2012, concluído em 2015, tendo sido substituído pelo projeto aprovado para o período 2016-2017. 5 Texto finalizado já no âmbito do atual projeto de pesquisa, “A Trajetória da Imprensa no Pará: do impresso à internet”,

aprovgado para o período 2016-2017 (SEIXAS, 20016).

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Quadro 2 - Jornalistas da imprensa de Belém, entre as décadas de 1870 e 1900.

Jornalista Jornal

1870

José Lourenço da Costa Aguiar

A Boa Nova (1871-1883)

José de Andrade Pinheiro

A Boa Nova (1871-1883)

Antônio Rodrigues da Luz

A Luz da Verdade (1871-1877)

Arthur Costa

O Santo Officio (1871-1876)

Joaquim José de Assis

O Tira-dentes (1871-1872)

O Futuro (1872-?)

O Pelicano (1872-1874)

A Província do Pará (1876)

Julio César Ribeiro de Sousa

O Tira-dentes (1871-1872)

Américo Marques Santa Rosa

O Tira-dentes (1871-1872)

O Democrata (1890-1895)

Carmino Leal O Pelicano (1872-1874)

Jorge Sobrinho O Pelicano (1872-1874)

Antônio Gonçalves da Rocha

Jornal do Commercio (1873)

Samuel Wallace Mac-Dowell

Regeneração (1873-1877)

“Estudantes do Lyceu Paraense”

República das Letras (1873)

Francisco de Souza Cerqueira (tipógrafo)

A Província do Pará (1876)

Antônio José de Lemos (redator gerente)

A Província do Pará (1876)

F. de P. P. Cirne Lima Gazeta Mechanica 1879-?

P. de Alcântara C. Motta

Gazeta Mechanica 1879-?

A. Castello da Fonseca

Gazeta Mechanica 1879-?

Jornalista Jornal

1880

Felipe José de Lima Diário de Notícias (1880-1898)

Frederico Augusto da Gama Costa

Diário de Notícias (1880-1898)

Domingos Olympo Jornal da Tarde (1881-1884)

Vicente Carmino Leal Jornal da Tarde (1881-1884)

João Francisco da Cruz

Correio do Norte (1882-1884)

Abimael e Silva Vinte e Oito de Maio (1882-1886)

Octávio Pinto (editor)

O Cosmopolita (1885-1889)

Gentil Augusto de Moraes Bittencourt (vice-presidente do Clube Republicano)

A República (1886-1887)

Acrísio Mota Gazeta Postal (1889-1894)

Guilherme de Miranda

Gazeta Postal (1889-1894)

Raul de Azevedo Gazeta Postal (1889-1894)

Licinio Silva Gazeta Postal (1889-1894)

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J. P. Borralho Sobrinho

Gazeta Mechanica 1879-?

Jornalista jornal

1890

João Hosannah de Oliveira

República (1890-1897)

Antônio Marques de Carvalho

República (1890-1897)

João Chaves da Costa República (1890-1897)

Francisco Veigas O Telephonista (1893)

Manoel Perdigão O Telephonista (1893)

Cypriano Santos

(Fundador. Neto de Honório José dos Santos)

Folha do Norte (1896-1974)

Raymundo C. da Silveira

Ordem e Progresso (1896-1897)

Fulgêncio Simões O Pará (1897-1900)

Ovídio Filho O Pará (1897-1900)

Theotonio de Brito República (1899-1902)

Martins Pinheiro República (1899-1902)

Alberto Dias (diretor)

Gazeta de Belém (1900-1903)

Jornalista Jornal

1900

José Barata O Apóstolo (1900-?)

G. Salles O Apóstolo (1900-?)

Jeconias Silva O Apóstolo (1900-?)

Pio Ramos O Apóstolo (1900-?)

Alberto Dias Gazeta de Belém (1900-1903)

João Marques de Carvalho

O Jornal (1900)

Ismael de Castro Pastorinha (1900-1901)

Anna Sarah de Mattos

Pallas (1900-?)

Mirandolina F. Damascena

Pallas (1900-?)

Anísia Uchôa Brandeira

Pallas (1900-?)

José Pinto Marques Pallas (1900-?)

Fonte: Dados da pesquisa, a partir de Biblioteca Pública do Pará (1985) .

A partir dos dados levantados, com base em levantamento bibliográfico

(LAKATOS; MARCONI, 2010), em fontes como Borges (1986), Coelho (1989), Cunha

(1970), Cruz (2013), Rocque (1967-1968 e 1976), Sarges (2002), Salles (1992), Valente

(1993) e Seixas (2012), apresentamos as principais informações sobre a configuração da

imprensa de Belém, a partir da atuação dos jornalistas que se destacaram, ao deixar suas

marcas no fazer jornalístico da cidade, levando em conta que, “para compreender a história

e as transformações sociais, é pertinente considerar o local de onde se fala e a participação

dos autores no processo” (PAULA, FERNANDES, SEIXAS, 2011, p. 2).

O jornalismo em Belém a partir dos jornalistas: primeira parte da pesquisa (1830-

1860)

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O jornalismo no Pará possui uma relação profunda com a política desde seus

primórdios, em 1822, quando surgiu o primeiro impresso, O Paraense, editado por Felippe

Alberto Patroni Martins Maciel Parente (mais conhecido como Felippe Patroni) 6. O jornal

publicava críticas e denúncias sobre o governo da época e defendia os ideais do Movimento

Vintista, que incluíam a liberdade de imprensa e outros direitos da sociedade civil

(COELHO, 1993; BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

O envolvimento entre política e jornalismo não era apenas um fenômeno local,

mas também uma característica observável no Brasil, como explica Barbosa (2010):

É como se a imprensa fosse uma amplificadora dos debates políticos ou o

lugar privilegiado onde ecoam os discursos vinculados aos lugares

políticos. Mas é preciso considerar também que isso que enfeixamos com

o rótulo de temas políticos é, efetivamente, a novidade por aqueles dias.

Os decretos governamentais, os atos ordinários e extraordinários das

Câmaras Legislativas informam sobre assuntos que interferem no

cotidiano dos leitores daquelas publicações. (BARBOSA, 2010, p. 69).

Dessa forma, muitos dos indivíduos que se dedicaram à imprensa, em Belém,

possuíam carreira política ou trabalhavam, de alguma forma, no serviço público. O

jornalismo era, principalmente, um instrumento utilizado por esses profissionais para

assumir publicamente seus posicionamentos e difundir discursos políticos (SEIXAS;

GUIMARÃES; BEMERGUY, 2015).

Esta característica torna-se muito evidente no período da Cabanagem7, em que se

acentuavam os conflitos na capital da Província do Grão-Pará entre os capitalistas,

proprietários brasileiros e portugueses, aliados na defesa dos antigos privilégios de classe, e

os povos nativos da região (caboclos, negros e índios), subjugados por uma elite detentora

de grandes propriedades, do poder político e dos meios de produção (SALLES, 1992).

Nesse contexto, segundo Salles (1992), jornais como O Orpheu Paraense (1831-

1831) e A Opinião (1831-1831) se rivalizavam, sendo o primeiro órgão de propriedade da

Câmara Municipal de Belém, redigido pelo cônego João Batista Campos, partidário da

6 Filippe Patroni nasceu em Belém em 1798, estudou Direito em Coimbra (Portugal), onde se tornou partidário dos ideais

do Movimento Vintista. Ao retornar a Belém, fundou, em 1822 o jornal O Paraense, trazendo a imprensa à Província do

Grão-Pará (COELHO, 1993). 7 De acordo com Rocque (1966), a Cabanagem foi um movimento revolucionário que eclodiu na Amazônia em 1835,

porém, já possuía antecedentes. A revolução terminou oficialmente em 1840. Batista Campos foi o grande líder do período

pré-Cabanagem.

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Sociedade Patriótica, Instrutiva e Filantrópica, que defendia o direito das classes

subjugadas. O segundo, A Opinião, era redigido por João Batista de Figueiredo Tenreiro

Aranha, partidário da Sociedade União Liberal, exercia o jornalismo de cunho conservador,

filiado ao Governo da Província, defensor dos capitalistas e proprietários de terras e dos

meios de produção (SALLES, 1992).

Uma especificidade desse fazer jornalístico, que diferencia seu momento histórico

em relação às décadas seguintes, é a utilização de uma linguagem mais pessoal, direta e

exaltada. Exemplo claro dessa passionalidade é a postura do jornalista Vicente Ferreira

Lavor Papagaio, que escreveu o breve Sentinella Maranhense na Guarita do Pará (1834-

1934). Segundo Borges (1986), o texto de Lavor Papagaio era tão violento e insultuoso que

o jornal foi empastelado pelo Governo ainda no segundo número a circular na cidade, e seu

redator foi condenado à prisão.

Era comum, também, nos primeiros anos da imprensa, os fundadores dos jornais

serem seus próprios redatores. Não havia ainda estruturação empresarial do fazer

jornalístico. Em Belém, a maioria dos profissionais não tinha a imprensa como profissão de

carreira, eles eram políticos, cônegos, servidores públicos, professores, dentre outros ofícios

considerados estáveis à época (SEIXAS; GUIMARÃES; BEMERGUY; 2015).

Contudo, com o passar do tempo, a relação desses indivíduos com o jornalismo foi

mudando. A partir do trabalho de Honório José dos Santos, que também era livreiro e

editor, nota-se uma dedicação mais específica ao jornalismo. Em 1837, criou o primeiro

jornal da Província pós-Cabanagem, a Folha Commercial do Pará, que durou até 1840,

quando Santos “resolveu (...) criar um novo órgão de publicidade que melhor preenchesse

os fins utilitários da divulgação das ideias” (ROCQUE, 1968, p. 1553). Foi então que o

jornalista instituiu o Treze de Maio (1840-1862), órgão oficial do governo e primeiro jornal

de longa duração na história da Província do Grão-Pará (BIBLIOTECA PÚBLICA DO

PARÁ, 1985).

Segundo Rocque (1968), o objetivo de Honório José dos Santos, ao redigir o Treze

de Maio, era produzir uma folha mais informativa que opinativa, diferentemente do que era

feito nos primeiros jornais a circular na Província. A partir dele, também, observa-se o

jornalismo como um negócio de família, já que após a morte do seu fundador, em 1857, o

filho, Cypriano José dos Santos, passou a assumir não apenas o jornal, mas também a

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tipografia fundada pelo pai, chamada Santos & Menor. Após o término do Treze de Maio,

em 1862, Cypriano Santos fundou o Jornal do Pará (1862-1878), impresso de forte caráter

político, mas que também publicava diversos assuntos, no objetivo de “agradar o disputado

público” (MENDES, 2013, p. 3). Em seguida, Cypriano Santos transferiu os negócios para

seu filho homônimo, Cypriano Santos, que foi a terceira geração da família a assumir o

jornalismo como ofício8.

Aos poucos, o fazer jornalístico foi tomando forma de ofício, os profissionais

foram se organizado em grupos, dando indicações de uma configuração mais empresarial.

Um marco para esta nova fase do jornalismo em Belém se deu a partir da década de 1850,

com a criação do primeiro jornal diário da região. O Diário do Gram-Pará (1853-1892)

apresentava não apenas um jornalista, como acontecia no começo da imprensa em Belém,

mas um grupo de redatores responsáveis pelas suas edições: Dr. José Ferreira Cantão,

Antônio Gonçalves Nunes, Antônio Ricardo de Carvalho Penna, Thimóteo Teixeira,

Frederico Carlos Rhossard, Bento Aranha e Cônego Siqueira Mendes (BILBIOTECA

PÚBLICA DO PARÁ, 1985). Apesar de as fontes bibliográficas não evidenciarem ainda

uma estruturação empresarial e os jornais não apresentarem espaço para expediente, com a

relação de nomes e funções de seus profissionais, a partir do trabalho em grupo dos

jornalistas é possível inferir que essa estruturação estava em desenvolvimento, já que, mais

adiante, é possível perceber que alguns profissionais são citados em fontes bibliográficas

com funções específicas, como tipógrafos, redatores e administradores.

O jornalismo em Belém a partir dos jornalistas: segunda parte da pesquisa (1870-

1900)

No recorte temporal desta parte da pesquisa foram identificados 53 jornalistas,

com base nos dados do Catálogo Jornais Paraoaras da Biblioteca Pública do Pará (1985).

Desses, 17 apresentaram informações nas fontes bibliográficas consultadas, tais como

Borges (1986), Coelho (1989), Cunha (1970), Cruz (2013), Rocque (1967-1968 e 1976),

Sarges (2002), Salles (1992), Valente (1993) e Seixas (2012). Entretanto, nem todas as

fontes evidenciaram o fazer jornalístico desses profissionais. As informações encontradas a

8 Cypriano Santos, nascido em Belém a 11 de dezembro de 1859, foi o terceiro da geração a herdar a tipografia e a

prática do jornalismo, entretanto, não fica clara a data em que isso ocorreu. Sabe-se apenas que ele regressou a Belém em

1886, depois de passar seis anos estuando Medicina na Bahia. Desde então, de acordo com Rocque (1968), passou a se

envolver na política e, em janeiro de 1896, Cypriano fundou o jornal Folha do Norte (1896-1974), junto com o

companheiro de partido Enéas Martins.

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respeito de José Lourenço da Costa Aguiar, por exemplo, informam que ele foi um religioso

brasileiro, dedicado “à catequese dos silvícolas, sendo um de seus mais ferrenhos

defensores” (ROCQUE, 1967, p. 80), não sendo mencionado em nenhum momento o

envolvimento com o jornalismo, apesar de seu nome constar no Catálogo Jornais Paraoaras

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985) como redator do jornal A Boa Nova (1871-

1883).

O mesmo caso se repete em relação a Antônio Gonçalves da Rocha, que trabalhou

no Jornal do Commercio (1873-1873). A escassa informação encontrada sobre ele informa

o nascimento e atividades relacionadas à religião: “Cônego, professor de música e canto

gregoriano no Seminário Episcopal de Belém. Nasceu na capital paraense em 1883 e aí

faleceu a 31 de agôsto de 1911” (ROCQUE, 1968, p. 1500). Com outros jornalistas ocorreu

algo semelhante, sendo eles: Frederico Augusto da Gama e Costa9, José Ferreira Cantão

10 e

Samuel Wallace Mac-Dowell11

.

As informações encontradas sobre os outros 11 jornalistas identificados, por sua

vez, apresentam a relação desses indivíduos com o jornalismo, mesmo em casos onde o

jornalismo não aparece como o ofício principal ou de maior destaque em suas carreiras.

Esses profissionais, por meio da atuação como redatores ou fundadores de periódicos,

colaboraram para o desenvolvimento da imprensa em Belém. A cidade, à altura da década

de 1870, já contava com 75 jornais e revistas em circulação, e a presença de seis novos

periódicos diários, tais como: Diário do Commercio (1872-?); Jornal do Commercio (1873-

1873); A America do Sul (1874-?); A Constituição (1874-1886); A Província do Pará

(1876-2002); Diário de Notícias (1880-1898) (SEIXAS, 2012).

Dos jornais da década de 1870, A Província do Pará se destaca por ter se tornado o

diário de maior duração do Estado, “mesmo considerando as interrupções na circulação,

motivadas por questões políticas ou financeiro-administrativas” (SEIXAS, 2012, p.8):

9 Mencionado como redator do jornal Diário de Notícias (1880-1898) no Catálogo Jornais Paraoaras (BIBLIOTECA

PÚBLICA DO PARÁ, 1985), a fonte bibliográfica encontrada sobre ele informa apenas sua carreira como político e autor

do “Manifesto político aos meus patrícios em geral e aos paraenses em particular (a propósito do motim de 11 de junho de

1891 na cidade de Belém)” (ROCQUE, 1968, p. 554). 10 Redator do Diário do Gram-Pará (1853-1892), descrito em Rocque (1968, p. 413) como: “Político paraense. Eleito para

a Câmara Federal na 1º eleição realizada depois de proclamada a República no dia 16 de maio de 1893, sendo a vaga

deixada preenchida por augusto Montenegro”. 11 Redator e proprietário do jornal Regeneração (1873-1877), mas descrito com destaque por sua atuação política:

“Ministro da Marinha e da Justiça (1886-1887), conselheiro de Estado, representou o Pará na Assembléia Provincial, em

muitas legislaturas” (ROCQUE, 1968, p. 1022 ).

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iniciado a 25 de março de 1876, o periódico só deixou de existir em março de 2002

(SEIXAS, 2012).

Ao longo da existência, o jornal foi administrado e redigido por importantes nomes

da política. Um deles foi Joaquim José de Assis, ou Dr. Assis, como também é mencionado

nas fontes bibliográficas. Fundador de A Província do Pará, ao lado de Francisco de Souza

Cerqueira e Antônio José de Lemos, o Dr. Assis era o responsável financeiro do jornal. Os

outros dois jornalistas, respectivamente, assumiram o comando da tipografia e da

administração (ROCQUE, 1976, p. 15). Nas palavras de Rocque (1976, p. 15), “dessa

trindade, o mais importante, e à sombra de quem gravitavam os demais, era o Dr. Assis”.

Nascido em Minas Gerais, em 1830, Joaquim José de Assis era formado em

Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de São Paulo, chegando a Belém em 1855

(ROCQUE, 1976, p. 15). “Rico e latifundiário na Ilha do Marajó” (SARGES, 2002, p. 45),

Joaquim José de Assis era um homem de posses, influente. Na opinião de Rocque (1976), a

verdadeira vocação do Dr. Assis era a política, pois, em 1857, criou o Partido Liberal do

Pará, ao lado de outros políticos da época, como José da Gama Malcher, Frutuoso

Guimarães e João Maria de Moraes. O jornal A Província do Pará, na administração do Dr.

Assis, se definia como órgão do Partido Liberal (BIBLIOTECA DO PARÁ, 1985). Já

Valente (1993) propõe o contrário de Rocque (1976), quando diz que Joaquim José de Assis

era um “jornalista por vocação”, tendo sido fundador de outros periódicos antes de A

Província do Pará: O Pelicano (1872-1874), que defendia a Maçonaria; e O Futuro (1872-

?), que apoiava os ideais da República.

No decorrer do trabalho em A Província do Pará, Joaquim José de Assis

desenvolveu uma forte amizade com Antônio José de Lemos, que, segundo Rocque (1976,

p. 15), “vivia quase que em sua completa dependência”. Ambos frequentavam a mesma loja

maçônica e, durante o período de convivência, “nasceram os fortes laços que uniram os dois

pelo resto da vida” (ROCQUE, 1976, p. 16). Dr. Assis esteve à frente de A Província do

Pará por mais de dez anos. Ele contava com 59 anos de idade quando faleceu, em Belém,

em 15 de junho de 1889. Segundo Valente (1993, p. 11), “ao sentir a aproximação da morte,

Joaquim José de Assis (...) confia a Antônio José de Lemos a guarda de sua mulher, filha e

neta e dos seus enormes haveres”, incluindo aí a posse do jornal A Província do Pará.

A partir de então, A Província do Pará passou a circular tarjada de preto e até 2 de

novembro de 1889 carregava a assinatura da firma Assis & Lemos, tendo alteração a partir

do dia seguinte, quando apresentou a assinatura de Joaquim José de Assis como fundador

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da folha e o nome de Antônio Lemos como de redator chefe (ROCQUE, 1976). Também

havia a indicação da mudança política do jornal, que até então circulava como órgão do

Partido Liberal e passou a se definir como “Órgão Neutro nas Lides Partidárias”

(ROCQUE, 1976, p. 48).

Joaquim José de Assis, dessa forma, foi um dos personagens da história da

imprensa de Belém que reunia as características mais frequentes dos fundadores de jornais

do século XIX, de acordo com o que as pesquisas têm mostrado: era “político finório e

influente” (VALENTE, 1993, p. 9-11). É possível afirmar também que o sucessor do Dr.

Assis no jornal era possuidor de tais características, contudo, Antônio Lemos se

diferenciava de seu antecessor pelas suas origens, tanto geográficas quanto

socioeconômicas. Antônio José de Lemos nasceu a 17 de dezembro de 1843, em São Luís,

capital do Maranhão. Nas palavras de Rocque (1976, p. 16), Lemos “teve infância e

adolescência muito humildes” e, após fazer o curso secundário no Liceu Maranhence,

entrou para a Marinha, partindo para o Rio de Janeiro no ano de 1860.

Nos anos seguintes, Antônio Lemos serviu no conflito entre o Brasil e a República

Oriental do Uruguai e, em seguida, participou da Guerra do Paraguai (ROCQUE, 1976).

Apenas em 1869 foi transferido para a corveta Magé, que rumava em direção ao Pará, onde

passou a trabalhar nas companhias de Aprendizes de Marinheiros do Pará e de Aprendizes

Artífices do Arsenal da Marinha (ROCQUE, 1976).

Depois de Antônio Lemos já ter-se radicado na Província do Pará, Rocque (1976)

e Sarges (2002) concordam que a trajetória política do futuro intendente de Belém

misturou-se com sua trajetória no jornalismo, que começou ao conhecer Joaquim José de

Assis. Era 1876 quando “Antônio Lemos assumiu de vez sua condição de jornalista”

(SARGES, 2002, p. 46), ao adotar a responsabilidade da redação do jornal A Província do

Pará. Com a atuação de Antônio Lemos e Joaquim José de Assis em A Província do Pará,

fica sugerida certa hierarquização na divisão de tarefas no fazer diário do jornal, iniciando

uma estrutura mais empresarial: Joaquim José de Assis entrava como principal financiador

do jornal, enquanto Antônio Lemos o administrava e redigia (ROCQUE, 1976).

Nessa época, o jornalismo em Belém ainda apresentava um notório envolvimento

político, mas, ao considerá-lo, é preciso ter em vista o momento histórico do Brasil que, ao

fim do século XIX, era marcado principalmente pela passagem da Monarquia à República.

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Havia periódicos que defendiam uma forma de governo ou a outra, mas, em Belém, os pró-

republicanos tiveram destaque, levando em conta a grande participação de jornalistas no

Clube Republicano, fundado em 1886, do qual faziam parte, por exemplo, Antônio José de

Lemos e Gentil Augusto de Moraes Bittencourt (ROCQUE, 1976).

Do Clube Republicano surgiu o jornal A República (1886-1887), que congregava os

membros do clube que eram políticos e jornalistas. Um deles foi Gentil Augusto de Moraes

Bittencourt, que nasceu em Cametá, no distrito de Carapajó, a 22 de setembro de 1874

(ROCQUE, 1967). Sua carreira foi mais fortemente marcada pela política, colocando o

jornalismo na posição de instrumento difusor de discursos partidários. Bittencourt foi

governador do Estado (1891) e intendente de Belém (1921). Mais tarde, passou a atuar na

magistratura, sendo nomeado Juiz de Direito de casamentos, em 1890, e desembargador,

em 1891 (ROCQUE, 1967).

Outro redator de A República (1890-1897) foi João Hosannah de Oliveira, nascido

em Belém, a 15 de abril de 1854, filho do capitão Francisco Gregório de Oliveira e de Ana

Maciel de Oliveira (ROCQUE, 1968). O jornalista, que também era político e escritor,

deixou seus estudos eclesiásticos para fazer o curso de Direito em Recife, tornando-se chefe

de polícia na Província do Amazonas, depois de formado (ROCQUE, 1968). “Distinguido-

se também na política e no jornalismo militante” (ROCQUE, 1986, p. 1227), João

Hosannah voltou à Província do Pará para dar continuidade à campanha a favor da

República. Após a Proclamação, assumiu diversos cargos de relevo político durante os

governos de Lauro Sodré e Paes de Carvalho, chegando a tornar-se deputado federal em

1901 (ROCQUE, 1986). Sobre sua carreira como jornalista, Rocque (1986) resume:

Para defender os interesses da Igreja, fundou no Rio de Janeiro um grande

diário, A União, mais tarde, em Petrópolis, o semanário O Cruzeiro. No

Pará, sua atividade jornalística ficou marcada sobretudo no A República,

durante o governo de Paes de Carvalho (ROCQUE, 1968, p. 1227).

Também jornalista de A República foi Theotônio Raimundo de Brito, sobre quem

as fontes bibliográficas consultadas apresentaram pouquíssima informação. Sabe-se apenas

que ele foi deputado federal do Pará nas legislaturas de 1894 a 1897, de 1912 a 1915 e de

1915 a 1918.

Outro jornalista que marcou presença na política foi Américo Marques Santa Rosa,

cujas informações encontradas nas fontes bibliográficas destacam mais sua atuação na

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política do que no jornalismo. Nascido na Bahia, a 22 de janeiro de 1833, Santa Rosa se

formou em Medicina e, em 1855 se mudou para o Pará, onde “trabalhou em vários jornais,

como ‘O Democrata’, nome que tomou o ‘Liberal do Pará’, após o advento da República”

(ROCQUE, 1968, p. 1548). Para além dessa informação, o autor menciona a trajetória

política do profissional como deputado (1878 a 1880) e diretor da Instrução Pública do Pará

(1898). Morreu em Belém a 3 de setembro de 1899 (ROCQUE, 1968, p. 1548).

Antônio Marques de Carvalho foi contemporâneo de Theotônio de Brito, João

Hosannah de Oliveira e Antônio Lemos. Escreveu para o jornal A República e foi um dos

fundadores de A Província do Pará, ao lado do irmão, João Marques de Carvalho, de quem

se sabe apenas que apoiava o partido de Antônio Lemos (ROCQUE, 1968). As

características mais marcantes de Antônio Marques de Carvalho se distanciavam da

política, aproximando-o do mundo literário. Marques de Carvalho foi um dos fundadores da

Academia Paraense de Letras, em 1900. Nasceu em 1867 e morreu em 1915, aos 48 anos de

idade, acumulando ao longo da vida os títulos de jornalista, compositor, pianista, crítico de

arte, professor de francês e poeta paraense (ROCQUE, 1968). Ele escreveu em A Província

do Pará até 1912, quando o prédio onde funcionava o jornal foi incendiado pelos inimigos

políticos de Antônio Lemos. Após esse acontecimento, Marques de Carvalho abandonou o

jornalismo (ROCQUE, 1968).

Outro profissional que também se dividia entre escritor e jornalista era Raul de

Azevedo. Nascido no Maranhão em 13 de fevereiro de 1875, mudou-se para o Pará e, na

última década do século XIX, filiou-se à “associação de rapazes de letras” chamada Mina

Literária (ROCQUE, 1968, p. 219). Raul de Azevedo fez diversas publicações, dentre

livros, crônicas e artigos, dos quais Rocque (1968) destaca: No Amazonas, Ternuras, A

Alma Inquieta das Mulheres, Terras e Homens, entre outros. Na imprensa, Raul Azevedo

foi fundador dos jornais A Gazeta Postal de Belém, Gazeta do Rio Negro, A Fôlha do

Amazonas e Estado do Amazonas (ROCQUE, 1968).

O fim da trajetória da pesquisa se encontra com o fim do século XIX, quando se

notam os primeiros profissionais a ter a imprensa como ofício de destaque, em relação às

profissões que desempenhavam ao mesmo tempo. Exemplo disso são os jornalistas Acrísio

Mota e Guilherme de Miranda, sobre os quais as fontes bibliográficas ressaltam o

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jornalismo como profissão e mencionam o envolvimento desses indivíduos com outros

ofícios de forma secundária.

Nas palavras de Rocque (1968), Acrísio Mota foi um dos jornalistas mais

completos de sua época. “Bom escritor, articulista, cronista, romancista, novelista, contista

e dramaturgo, foi redator de ‘Província do Pará’, do ‘Diário de Notícias’ e, por fim, da

‘Folha do Norte’” (ROCQUE, 1968, p. 1151). Natural de Bragança, no Pará, Acrísio Mota,

nascido a 25 de junho de 1866, era um verdadeiro jornalista escritor: “Seu talento preenchia

todas as seções do jornal, estando sempre apto a escrever, tanto o artigo pensado, como o

folhetim ou o semanário de sensação” (ROCQUE, 1968, p. 1151).

Guilherme de Miranda, por sua vez, nasceu em Belém, a 1º de maio de 1870.

Iniciou seu trabalho no Diário de Belém, aos 17 anos de idade (ROCQUE, 1868). Em

seguida, foi redator na Gazeta Postal (1889-1894), ao lado de Raul Azevedo.

Conclusão

A pesquisa sobre a trajetória dos jornalistas que fizeram parte da imprensa de Belém

no século XIX buscou, de modo geral, conhecer quem eram os indivíduos responsáveis pelo

fazer jornalístico na região, a fim de contribuir para o entendimento sobre como se

desenvolveu o jornalismo como profissão em Belém, desde o ano de 1822, quando surgiu o

primeiro jornal impresso na cidade, até o fim do século XIX, em 1900. A pesquisa, iniciada

em 2011, no âmbito do projeto “Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém”

(SEIXAS, 2009), abordou a década de 1820-1830. Ao retomar a temática em 2015, a partir

dos projetos de pesquisa mais recentes (SEIXAS, 2012, 2016), foram estudadas as décadas

de 1830 a 1860 e, em seguida, 1870 a 1900.

As principais fontes bibliográficas consultadas foram: Borges (1986), Coelho

(2008), Rocque (1967-1968), Salles (1992), Sarges (2002, 1996) e Seixas (2011, 2012,

2015). Ao todo foram identificados 111 jornalistas atuantes na imprensa da capital

paraense, de acordo com os dados do Catálogo Jornais Paraoaras, da Biblioteca Pública do

Pará (1985). Entre 1830 e 1860, constam 58 jornalistas, dos quais encontramos informações

apenas sobre 18. Já entre 1870 e 1900, dos 53 nomes registrados, foram encontradas

informações somente sobre 16 profissionais. Ainda assim, algumas informações foram

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pequenas e escassas sobre alguns jornalistas, enquanto o material encontrado sobre outros

apresentou maior profundidade.

A pesquisa permitiu identificar transformações na consolidação do jornalismo como

uma instituição empresarial em Belém. Diferentemente do início das atividades jornalísticas

na capital (entre 1822 e 1830), quando era comum um único indivíduo fundar e administrar

um periódico, à altura de 1870, cada vez mais grupos de profissionais se articulavam em

prol da atividade jornalística, organizando-se de forma mais complexa na divisão de

funções. Como exemplo tem-se a organização dos jornalistas em A Província do Pará

(1876), onde Joaquim José de Assis ocupava a posição de responsável financeiro e principal

redator, e Antônio José de Lemos era administrador da folha e um dos redatores.

O jornalismo em Belém ainda apresentava bastante envolvimento político, pois

grande parte dos profissionais trabalhava em cargos públicos, na política, ou defendiam

algum partido, com destaque para o conflito entre os conservadores e os republicanos, uma

vez que, próximo ao fim do século XIX, na década de 1880, o Brasil vivia a passagem da

Monarquia à República. Havia periódicos que defendiam uma ou a outra forma de governo,

mas, na capital, os pró-republicanos tiveram destaque, levando em conta a grande

participação de jornalistas no Clube Republicano (ROCQUE, 1976).

A pesquisa também permitiu inferir que, ao final do século XIX, a imprensa em

Belém passou a ganhar destaque como profissão de alguns sujeitos, como, por exemplo,

Acrísio Mota e Guilherme de Miranda, o que se percebeu no destaque dado pelas fontes

bibliográficas ao jornalismo como profissão, ao mencionarem de forma secundária o

envolvimento desses indivíduos com outros ofícios.

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