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Licenciatura em ciências · USP/ Univesp
1.1 Introdução1.2 ConclusãoReferências Bibliográficas
Ubiratan de Paula Santos
1INTRODUÇÃO: CONCEITO SOBRE MEIO AMBIENTE, ASPECTOS
HISTÓRICOS DA RELAÇÃO DO HOMEM COM O MEIO AMBIENTE
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O material desta disciplina foi produzido pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (CEPA) do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) para o projeto Licenciatura em Ciências (USP/Univesp).
Créditos
Coordenação de Produção: Beatriz Borges Casaro.
Revisão de Texto: Marina Keiko Tokumaru.
Design Instrucional: Juliana Moraes Marques Giordano, Melissa Gabarrone, Michelle Carvalho e Vani Kenski.
Estagiárias: Maria Angélica S. Barrios e Tainã Pereira Damião.
Projeto Gráfico: Daniella de Romero Pecora, Leandro de Oliveira, Priscila Pesce Lopes de Oliveira e Rafael de Queiroz Oliveira.
Diagramação: Daniella de Romero Pecora, Leandro de Oliveira e Priscila Pesce Lopes de Oliveira.
Ilustração: Alexandre Rocha, Aline Antunes, Benson Chin, Camila Torrano, Celso Roberto Lourenço, João Costa, Lidia Yoshino, Mauricio Rheinlander Klein e Thiago A. M. S.
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A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
Objetivos da Aula:• Compreender o crescimento das construções nas cidades;• Conhecer o desenvolvimento econômico e tecnológico;• Conhecer as causas que geram riscos à população;• Conhecer o impacto que essas mudanças causam à saúde.
1.1 IntroduçãoA intervenção do homem no ambiente e suas consequências para a saúde humana são problemas
que remontam à Antiguidade, mas foi com a construção das grandes cidades, o aumento do
comércio entre os países, as navegações, o início do capitalismo e o crescimento populacional
a partir nos últimos 300 anos, em particular no último século (Figuras 1.1 a e b) quando esse
crescimento foi exponencial, que a maciça ação do homem na natureza e no modo de produção
se tornou um problema relevante, percebido e progressivamente mensurado.
Curiosidade!A cidade de São Paulo, por exemplo, passou de 840 habitantes, em 1700, para 10 milhões, em 2000. O Brasil evoluiu de 17 milhões para 170 milhões de habitantes do ano de 1900 para o ano 2000.
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1 Introdução: conceito sobre meio ambiente, aspectos históricos da relação do homem com o meio ambiente
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
Esse crescimento populacional ocorreu graças a elevadas taxas de natalidade, ao lado de uma
redução progressiva da taxa de mortalidade, decorrente do maior domínio do homem sobre
a natureza, do aumento da produção de alimentos, da revolução industrial, da implantação de
políticas de saúde pública (saneamento e higiene) e do desenvolvimento das ciências da saúde.
A mortalidade por doenças infecciosas, a mortalidade materno-infantil e por doenças crônicas
- estas mais recentes - sofreram drástica redução.
Como pode ser observado, o crescimento populacional ocorreu com maior intensidade
a partir do grande desenvolvimento econômico impulsionado pela Revolução Industrial e,
sobretudo, no século XX, período de maior impacto das intervenções humanas na natureza,
no ambiente. A construção e o desenvolvimento econômico das grandes cidades geraram a
produção de grandes quantidades concentradas de resíduos sólidos (lixo) e de esgotos com a
decorrente contaminação do solo, dos rios e mananciais de água. O uso intensivo de combus-
tíveis fósseis como o carvão e os derivados do petróleo elevou as concentrações e ampliou a
abrangência da poluição do ar ambiental externa e intradomiciliar. Entretanto, a magnitude
dos primeiros efeitos deletérios da poluição pode, durante certo período, ter sido ocultada pelo
Figura 1.1: Evolução do crescimento populacional global. / Fonte: a. Adaptado de Corson, 1990; b. Adaptado de U.S. Bureau of the Census, World Population, 2001.
b
a
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A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
notável salto de desenvolvimento humano ocorrido nos grandes centros urbanos, o que se
percebeu pelo ritmo exponencial do crescimento da população.
Apenas nas últimas décadas o crescimento populacional vem apresentando taxas menores,
com curvas paralelas das taxas de natalidade e de mortalidade, com aproximação progressiva entre
ambas, principalmente nos países economicamente mais desenvolvidos, inclusive no Brasil. Esse
processo, entretanto, ocorreu - e ainda persiste - com grande desigualdade entre os países
(Figuras 2.2 a 2.12) e foi acompanhado da redução progressiva de espécies animais e vegetais,
de contaminação do solo, da água, do ar, e por mudanças climáticas, que vêm tendo impacto
relevante na mortalidade, na morbidade e na qualidade de vida da população, com consequên-
cias - atuais e futuras - negativas para boa parte da população mundial.
Figura 1.2. Proporção da população com serviços de saneamento (%), 2010. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2012.
Nas Figuras 1.2 e 1.3 pode ser verificada a distribuição desigual entre países e continentes
quanto ao acesso a serviços de saneamento e fornecimento de água tratada. Embora chame
atenção o continente africano, a falta de água e, principalmente, a carência de serviços de
esgotamento sanitário atingem elevados percentuais em outros países. Há que se considerar
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1 Introdução: conceito sobre meio ambiente, aspectos históricos da relação do homem com o meio ambiente
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que, quando falamos em esgoto, não está implícito que, uma vez coletado, ele seja tratado e não
contamine lagos e rios, como ocorre com mais da metade do esgoto coletado no Brasil.
Figura 1.3: Proporção da população com serviços de fornecimento de água (%), 2010. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2012.
O mapa de distribuição da exposição a poluentes, no caso o material particulado com
diâmetro inferior a 10 micrômetros (MP10
), que pode ser inalado, evidencia concentrações menores
em países mais pobres (Figura 1.4), mas maior impacto na mortalidade, reforçando o padrão
de desigualdade regional (Figura 1.5). As Figuras 1.6 e 1.7 ilustram a distribuição do uso de
combustíveis no domicílio para cocção de alimentos e/ou aquecimento interno e do impacto
na morbimortalidade. Seu uso é ainda muito difundido em diversos países, mais prevalente na
zona rural, e seu impacto na morbimortalidade chega a superar o da poluição ambiental; atinge,
sobretudo, grupos mais suscetíveis como crianças, idosos e indivíduos com comorbidades.
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A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
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Figura 1.4: Exposição a material particulado (MP10) em áreas urbanas 2003-2010. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2012.
Figura 1.5: Óbitos atribuídos à poluição ambiental, 2008. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2011.
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1 Introdução: conceito sobre meio ambiente, aspectos históricos da relação do homem com o meio ambiente
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Figura 1.6: Prevalência da população que utiliza combustíveis sólidos no domicílio, 2010. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2012.
Figura 1.7: Anos vividos a menos ou com limitação, atribuídos à poluição no interior dos domicílios, 2004. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2011.
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A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
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Nos mapas que podem ser visualizados nas Figuras 1.8 e 1.9 estão representadas as
expectativas de vida ao nascer bem como o rendimento médio per capita entre regiões
(OMS), demonstrando a grande desigualdade regional. São áreas com crescimento demo-
gráfico elevado, que já sofrem as consequências negativas da atividade humana na natureza,
além da elevada mortalidade decorrente da inexistência dos benefícios do desenvolvimento
econômico, há muito explorados pelos países mais desenvolvidos. Nas Figuras 1.10 a 1.12
observa-se a prevalência de doenças infecciosas em países mais pobres, diferentemente de
neoplasias, que incidem mais em populações com maior percentual de idosos, que são aqueles
com maior expectativa de vida. Em muitos deles, contribui também a presença de riscos
como tabagismo, radiação ionizante, uso de produtos químicos e exposição a poluentes, que
atingem elevadas proporções da população, bem como mudanças climáticas associadas ao
aumento de catástrofes naturais (Figura 1.13).
Figura 1.8: Expectativa de vida ao nascer – ambos os sexos, 2009. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2011.
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1 Introdução: conceito sobre meio ambiente, aspectos históricos da relação do homem com o meio ambiente
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A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
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Figura 1.10: Número de óbitos por malária registrados, 2010. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2012.
Figura 1.11: Taxa de incidência de tuberculose, 2011. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2012.
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Figura 1.12: Taxa de óbitos por câncer/100.000 habitantes, padronizada por idade, sexo feminino, 2008. / Fonte: Adaptado de (OMS), 2011.
< 75
76 - 100
101 - 125
126 - 150
> 150
Data not available
Taxa de óbitos por câncer por 100.000 habitantes
Not applicable
Figura 1.13: Aumento estimado de pessoas (em milhares) expostas a inundações - de 1970 para 2030.
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A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
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Na Figura 1.13 são apresentadas as estimativas de pessoas possivelmente expostas a inundações
em 2030, comparadas com as estimativas feitas para o ano de 1970. Os dados demonstram que,
50 anos depois, as previsões são de aumento do número de expostos e que esse aumento ocorre
de maneira bastante desigual entre os continentes, cuja explicação não está apenas no crescimento
populacional desigual entre os países, com maior número de expostos/vulneráveis, mas que decorre
também de maior número de eventos, que parece estar associado às mudanças climáticas (4).
No Diagrama 1.1 estão representadas, de maneira resumida, as principais intervenções do
homem no ambiente bem como os possíveis riscos de impactos diretos e indiretos na saúde
delas decorrentes, que vêm sendo observados nas últimas décadas.
O mesmo desenvolvimento econômico, que possibilitou melhorar a qualidade de vida e
reduzir a mortalidade em diversos países, vem passando por uma nova fase, com a modificação
dos padrões de consumo e começa a influir negativamente nos indicadores de saúde, além
de retardar a solução de problemas antigos, como a falta de água e de saneamento, que ainda
atingem elevadas porcentagens em diversos países não desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Estima-se que 25% da atual carga de doenças no mundo esteja associada a impactos ambientais.
Diagrama 1.1
• Mudanças climáticas• Depleção de ozônio na estratosfera• Desmatamento e alteração dos solos• Degradação da terra e desertificação• Redução de zonas úmidas• Perda da biodiversidade• Contaminação e depleção de fonte
de água doce• Urbanização e seus impactos• Danos a recifes e ecossistemas costeiros
1 Impactos diretos na saúde
• Inundações, ondas de calor, falta de água, deslizamento de terras
• Aumento da exposição à radiação ultravioleta• Exposição a poluentes
2 Impactos na saúde mediados por ecossistemas
• Alteração do risco de doenças infecciosas• Redução da produção de alimentos
(má nutrição)• Saúde mental pessoal e comunitária• Impactos estéticos• Empobrecimento cultural
3 Impactos indiretos na saúde
• Consequências diversas na saúde devido à redução de meios de subsistência
• Deslocamento da população, favelização, conflitos, e adaptação e mitigação inapropriadas
Impactos na saúdeAlterações ambientais
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1 Introdução: conceito sobre meio ambiente, aspectos históricos da relação do homem com o meio ambiente
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1.2 ConclusãoNesta primeira aula, retomamos aspectos já tratados no Módulo 4 sobre o Ser Humano e
o Meio Ambiente e são apresentados e discutidos aspectos associados aos impactos da ativi-
dade humana no ambiente e suas repercussões na saúde. O grande salto a partir da Revolução
Industrial, que permitiu notáveis avanços na sobrevida e na qualidade de vida da população,
ainda não chegou a contingentes expressivos em países menos desenvolvidos e, pelo modo de
desenvolvimento que se vem firmando nos últimos 50 anos, passou a criar novos fatores de
risco e a impactar negativamente na saúde, principalmente nos países (ex. África subsaariana) e
populações mais pobres (no interior dos mais diversos países, inclusive aqueles com economias
mais desenvolvidas).(10)
Referências BibliográficasA. Prüss-üstün And C. CorvAlán WHo. Preventing disease through healthy envi-
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Health Organization, Geneva, 2009. Disponível em:
<http://www.who.int/healthinfo/global_burden_disease/GlobalHealthRisks_report_full.
pdf>. Acesso: [s/d].
Agora é a sua vez...Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem e
realize a(s) atividade(s) proposta(s).
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A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
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IBGE. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em <http://www.ibge.
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GlossárioWHO: World Health Organization
OMS: Organização Mundial da Saúde