11
Estudo Bíblico Sobre Escatologia Dispensacionalista

Introdução e Setenta Semana (1ª Parte)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Estudo sobre a profecia do profeta Daniel sobre as Setenta Semanas

Citation preview

Estudo Bíblico

Sobre

Escatologia

Dispensacionalista

Introdução

INTRODUÇÃO Destaco aqui alguns detalhes ou termos que considero fundamentais para que tenhamos um acompanhamento satisfatório da sequencia de estudos que ora empreendemos. ESCATOLOGIA: “[Do gr. escathos, últimas coisas + logia, discurso racional] Estudo sistemático e lógico das doutrinas concernentes às últimas coisas. Compreendida como um dos capítulos da dogmática cristã, a escatologia tem por objeto os seguintes temas: Estado Intermediário, Arrebatamento da Igreja, Grande Tribulação, Milênio, Julgamento Final e o Estado Perfeito Eterno.”1 TEMPO DOS GENTIOS: (Lc 21.24) Tem um aspecto político mundial; refere-se ao tempo em que os gentios têm a supremacia sobre Israel; começou com o cativeiro babilônico (606 a.C.) e vai até o tempo em que Israel tenha a supremacia final durante o reino milenar de Cristo, quando Jerusalém será a capital mundial e sede do seu governo de onde sairá a lei que governará as nações (Is 2.3; Zc 8.22,23).2 PLENITUDE DOS GENTIOS: (Rm 11.25) Tem um aspecto espiritual, fala da supremacia celestial da igreja triunfando sobre o mal e reinando com Cristo.3 AS TRÊS CLASSES DE PESSOAS: (1Co 10.32) Em se tratando do plano de Deus para com o homem, Deus vê apenas 3 classes de pessoas sobre a terra, com as quais ele trata individualmente, a saber: 1) JUDEUS: “JUDEU - [Do heb. yeudi: do lat. judeus] A princípio, o judeu era identificado como alguém originário da tribo de Judá. Com a deportação a Babilônia, o nome passou a designar os descendentes de Abraão de uma forma geral.”4 São os naturais de Israel.5 2) GREGOS OU GENTIOS: “GENTIOS - [Do heb. goy: do lat. tardio gentile] Povos que não pertencem à comunidade israelita. São assim chamados por estarem alheios às promessas e às alianças, por causa de sua idolatria e em consequência de sua oposição sistemática ao povo da promessa...”6 3) IGREJA: “[Do heb. Qahal, assembleia do povo de Deus; do gr. Ekklesia, assembleia pública] No Novo Testamento, a palavra é usada em dois sentidos. 1) Corpo místico de Cristo, formado pelos que o recebem como o único e suficiente Salvador; e: 2) Ajuntamento dos fiéis com o objetivo de adorar a Deus. No primeiro caso. temos a igreja invisível; e. no segundo, a igreja visível.”7 “... composta de judeus ou gentios.”8

1 Andrade, 2001, p.55,56

2 Vieira

3 Vieira

4 Andrade, 2001, p.85 – mais detalhes na p.86

5 Vieira

6 Andrade, 2001, p.70 – ver mais detalhes na mesma página

7 Andrade, 2001, p.87 – mais detalhes na p.88

8 Vieira

AMILENISMO: “[Do gr. a. alfa negativo, não + milenismo, referente ao Milênio] Doutrina segundo a qual o Milênio deve ser encarado como simbolismo, ou alegoria, dos bens concedidos por Deus à sua Igreja, a Israel e ao mundo. Em suma: o amilenismo descarta por completo a possibilidade de um milênio literal conforme creem os pré-milenistas. O amilenismo é conhecido também como milenismo realizado e milenismo simbólico.”9 PÓS-MILENISMO: “Doutrina segundo a qual o Milênio é a era da plena atuação da Igreja na terra. O Senhor Jesus, de conformidade com este ensino, reina de forma indireta sobre o mundo através do magistério eclesiástico. Terminado este período, seguir-se-á um tempo de tribulações e angústias quando o bem há de prevalecer definitivamente sobre o mal. Imediatamente, virá a ressurreição geral e a instalação do Tribunal de Deus. Esta doutrina, apesar da eloquência de seus promotores, vem sofrendo repetidos revezes. As duas guerras mundiais vieram demonstrar que a presente era está mui distante do Milênio descrito pelos profetas (Is 2. 7. 35). Aliás, jamais houve um século tão violento e sem misericórdia como o nosso.”10 PRÉ-MILENISMO: “Segundo esta doutrina, o Senhor Jesus virá buscar a Igreja no final desta dispensação para, em seguida, estabelecer o seu Reino Milenial. Os cristãos do primeiro século, via de regra, eram pré-milenistas. Tal posicionamento foi duramente combatido por Orígenes que, influenciado pela filosofia grega, passou a ensinar que o Milênio nada mais era que uma referência alegórica à ação do Evangelho na vida das nações. Após a Reforma Protestante, o pré-milenismo voltou a ser realçado por não poucos teólogos. Hoje, a maioria dos credos evangélicos é pré-milenista.”11 PÓS-TRIBULACIONISMO: “Ensino segundo o qual a Igreja somente será arrebatada após a Grande Tribulação. Embora conte com respeitáveis adeptos, o pós-tribulacionismo se vê fragilizado ao tentar responder a estas perguntas: 1) Como interpretar as passagens da iminência da volta de Cristo? 2) Quando de fato ocorrerá a Grande Tribulação, pois segundo alguns de seus adeptos, ela teria ocorrido no tempo de Nero. 3) Se a Igreja será arrebatada após a Grande Tribulação, este fato não tira do arrebatamento todo o fator-surpresa? Como se vê, o pós-tribulaciomsmo não passa de uma tentativa de se interpretar artificialmente as doutrinas das Ultimas Coisas. “Hoje, esse ensino vem perdendo o fôlego devido aos seus exageros e extravagâncias.”12 MIDI-TRIBULACIONISMO: “Os defensores desta opinião acreditam que a igreja vai passar pela primeira metade da tribulação, e será arrebatada no meio (mid) dos dois períodos de três anos e meio cada. Seus defensores citam At.14:22 para fundamentar esta opinião.”13

9 Andrade, 2001, p.17

10 Andrade, 2001, p.116

11 Andrade, 2001, p.117

12 Andrade, 2001, p.116,117

13 Almeida

PRÉ-TRIBULACIONISMO: “Doutrina segundo a qual Jesus virá arrebatar a sua Igreja antes da Grande Tribulação. Os que sustentam tal posicionamento, baseiam-se principalmente nesta passagem: "Porquanto guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a terra” (Ap 3.10). O pré-tribulacionismo também acredita que a Grande Tribulação é um assunto que diz respeito apenas aos gentios e aos judeus. Como a Igreja acha-se circunscrita noutra dispensação - a graça, não terá de sofrer a ardência do Dia do Senhor. ‘Aceita-se, porém que os salvos experimentarão o que se convencionou chamar de o princípio das dores.’”14 EPIFANIA – “[Do gr. epipháneia. mostrar. aparecer] Manifestação da divindade. Referência ao aparecimento de Cristo para executar o plano redentivo de Deus em sua primeira vinda. Sua segunda vinda é assim também cognominada.”15 PAROUSIA – “[Do gr. parousía] No mundo greco-romano, o termo era usado para descrever a visita oficial e solene de um príncipe a determinado lugar. O anúncio da chegada do potentado obrigava os cidadãos desse lugar a se prepararem devidamente para que nada saísse errado. Tendo em vista tão alto significado. O vocábulo passou a ser usado pelos escritores sacros para descrever o glorioso retorno de Cristo para buscar a sua Igreja (1 Co 15 e 1 Ts 4). Se os antigos esmeravam-se para a chegada de seu príncipe, porque iríamos nós, os redimidos, mostrar-nos descuidados quanto à vinda do Rei dos reis e Senhor dos senhores?”16 14

Andrade, 2001, p.117,118 15

Andrade, 2001, p.55 16

Andrade, 2001, p.112

As

Setenta

Semanas

de

Daniel

SETENTA SEMANAS

Texto Bíblico:

Daniel 9 20 Estando eu ainda falando e orando, e confessando o meu pecado, e o pecado do meu povo Israel, e lançando a minha súplica perante a face do SENHOR, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus, 21 Estando eu, digo, ainda falando na oração, o homem Gabriel, que eu tinha visto na minha visão ao princípio, veio, voando rapidamente, e tocou-me, à hora do sacrifício da tarde. 22 Ele me instruiu, e falou comigo, dizendo: Daniel, agora saí para fazer-te entender o sentido. 23 No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a palavra, e entende a visão. 24 Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. 25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. 26 E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações. 27 E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador.

Considerações iniciais: Há várias profecias no livro do profeta Daniel e todas as profecias dadas por Deus ao Seu servo merecem ser estudas nos detalhes em tempo oportuno, mas para este nosso estudo vamos nos ater à profecia dada a Daniel, constante do capítulo nove de seu livro, que é denominada pelos estudiosos de “A Profecia das Setenta Semanas”. Muitos estudos partem desta profecia para afirmarem seus conceitos e, particularmente, sobre esta linha de interpretação escatológica que ora nos propomos a refletir, que é a Pré-tribulacionista/Pré-milenista/Dispensacionalista, faz mais sentido ainda que analisemos agora a profecia citada porque todo o escopo desta linha de interpretação está condicionado à compreensão que se tem desta profecia. E claro, como também é característica desta linha de interpretação a compreensão de que a própria Bíblia interpreta a Bíblia, no decorrer de nosso estudo outros textos serão utilizados para esclarecer, tanto os detalhes desta profecia das setenta semanas, como o sentido de outras passagens bíblicas que, sozinhas, não se sustentam como pontos de vista teológicos. O Dr. Alva J. McClaim17 comenta que “... a profecia das Setenta Semanas tem um imenso valor evidencial como testemunha da veracidade das Escrituras. A parte da profecia relacionada com as primeiras sessenta semanas já se cumpriu com precisão...” (como se verá neste

17

McClaim, 2002, p.7

estudo) “... e neste cumprimento notável, temos um argumento irrefutável em favor da divina inspiração da Bíblia.”18 O autor citado comenta também que está “... convencido de que nas predições das Setenta Semanas nós temos a chave cronológica indispensável para toda a profecia do Novo Testamento. O grande discurso profético de nosso Senhor, registrado em Mateus e Marcos fixa o tempo da angústia maior e final de Israel definitivamente dentro dos dias da septuagésima semana da profecia de Daniel (Dn 9.27; Mt 24.15-22; Mc 13.14-20). E a maior parte do Apocalipse é simplesmente uma ampliação da profecia de Daniel dentro do quadro cronológico esboçado pela mesma septuagésima semana, a qual se divide em dois períodos iguais de 1.260 dias ou 42 meses ou três anos e meio (Ap 11.2,3; 12.6; 14; 13.5).”19

Contextualizando o texto Bíblico: O texto bíblico que lemos no início sobre a profecia das setenta semanas, trata-se de uma resposta divina a uma indagação que o servo de Deus, Daniel, fizera durante suas súplicas ao Senhor. E qual era o conteúdo desta oração específica? Para entendê-lo bem devemos analisar todo o contexto da oração e as circunstâncias: a) Os judeus estavam cativos em Babilônia desde a época em que foram apanhados por Nabucodonosor e trazidos à força para uma terra estranha. E já se haviam decorridos quase setenta anos (cf. Dn 9.2). O que provocara tal situação? Temos abaixo duas boas explicações: “O profeta Jeremias havia profetizado sobre os 70 anos de cativeiro na Babilônia, com o qual os Judeus foram castigados pela sua desobediência, incluindo o fato de não terem guardado o ‘ano-sabático’ ou Sábado-ano (Shabat). Deus não somente exigiu o sétimo dia da semana como dia de descanso. Ele exigiu o sétimo ano como ano-sabático: ‘... porém, no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha...’ (Lv 25.1-7; Lv 26.33-35). Porque a lei de Deus não foi cumprida, vieram as necessidades sobre o seu povo; ‘para que se cumprisse a palavra do Senhor, por boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação, até que os setenta anos se cumpriram.’ (2Cr 36, 21)”20 "Findaram-se os 70 anos e não ocorria o repatriamento dos judeus. (Dn 9.2; Jr 25.11-12; 29.10). Por que 70 anos de cativeiro e nem mais nem menos? Tratava-se de disciplina de Israel por quebra deliberada dos preceitos divinos exarados em (Lv 25.3-5; 26.14,33-35; 2Cr 36.21). O cativeiro de Judá foi, em grande parte, fruto da desobediência dos Judeus quanto às palavras do Senhor, acima exaradas. Vemos na passagem de Levíticos que Deus determinou a observância de um ano Sabático, ou de Descanso, quando a terra descansava. Isso devia ser observado cada 7 anos. Ora, durante os quase 500 anos que vão da monarquia de Israel ao seu cativeiro, eles não cumpriram o preceito do Senhor. Resultado: Deus mesmo fez a terra repousar, mantendo seus maus ‘Inquilinos’ fora por 70 anos. Ora, 70 anos é o total de anos Sabáticos ocorridos no espaço de 490 anos. (2Cr 36.20,21). ‘E os que escaparam da espada levou para a Babilônia; e fizeram-se servos dele e de seus filhos, até ao tempo do reino da 18

McClaim, 2002, p.7 19

McClaim, 2002, p.8,9 20

Frank, p.5

Pérsia, (...) para que se cumprisse a palavra do SENHOR, pela boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação repousou, até que os setenta anos se cumpriram.’ Deus lida muito bem com pessoas e nações que quebram as suas leis, mesmo as civis, como esta que acabei de mencionar.”21 Daniel conhecia bem os pecados de seu povo e a revelação da profecia das setenta semanas a Daniel se deu no momento em que o profeta, que sempre fora preocupado em buscar continuamente ao Senhor em oração (Dn 6.10; 6.13), também desta vez orava, e nos seguintes termos: “Dario, filho de Xerxes, do país da Média, era rei da Babilônia. No primeiro ano do seu reinado, eu estava estudando os livros sagrados e pensando nos setenta anos que Jerusalém ficaria arrasada, de acordo com o que o Senhor Deus tinha dito ao profeta Jeremias. Em sinal de tristeza, eu vesti uma roupa feita de pano grosseiro, sentei-me sobre cinzas, deixei de comer e orei com fervor ao Senhor Deus, fazendo-lhe pedidos e súplicas. Orei ao Senhor, meu Deus, e fiz a seguinte confissão: — Senhor Deus, tu és grande e poderoso! Tu guardas a aliança que fizeste com os que te amam e obedecem aos teus mandamentos e sempre lhes dás provas do teu amor. Nós temos cometido pecados e maldades; fizemos coisas más e nos revoltamos contra ti; desobedecemos às tuas leis e aos teus mandamentos.” (Dn 9.1-5 - NTLH). Deus dirige os Seus servos e tem o controle da história. Arno Froese22 comenta que Daniel deixou registrada a época e o nome do soberano que estava no poder (Dn 9.1) para que pudéssemos entender a sequência profética. E comenta também que Daniel confiava profundamente em Deus e conhecia as Escrituras. Além disso, reconhecia que Israel colhia o fruto que era resultante de sua própria desobediência, e reconhecia também que o que escrevera o profeta Jeremias era a Palavra de Deus. A passagem bíblica que Daniel leu e na qual baseou a sua oração é: “Toda esta terra ficará arrasada e será um espetáculo horrível. Todas estas nações serão dominadas pelo rei da Babilônia durante setenta anos. Depois disso, eu castigarei o rei da Babilônia e a sua nação por causa do pecado deles. Destruirei o seu país e o deixarei arrasado para sempre. Sou eu, o Senhor, quem está falando.” (Jr 25.11,12 – NTLH). b) A despeito de Daniel reconhecer a pecaminosidade de seu povo e que o castigo imposto por Deus era legítimo e merecido, também conhecia a fidelidade de Deus em cumprir Suas alianças. E por isto também orou: “Ouve, ó meu Deus, e atende a minha oração. Abre os olhos, vê a nossa desgraça e olha para a tua cidade. Fazemos os nossos pedidos por causa da tua grande compaixão e não porque sejamos bons e honestos. Ouve, ó Senhor! Perdoa-nos, Senhor! Atende-nos, Senhor, e vem ajudar-nos. Para que todos saibam que tu és Deus, não demores em nos socorrer, ó meu Deus, pois nós somos o teu povo, e Jerusalém é a tua cidade.” (Dn 9.18,19). Arno Froese comenta que Daniel “... não só implorou o perdão divino, como também lembrou a Deus das promessas que fez em Sua Palavra a respeito da cidade e do povo, porque eles são

21

Profecias - As 70 Semanas de Daniel, p.12 22

Froese, 2005, p.135,136

chamados pelo nome de Deus. Profeticamente, isso tem grande importância. Precisamos estar sempre cientes de que, quando lemos, ouvimos ou falamos sobre Jerusalém e o povo judeu, estamos pisando em ‘terra santa’!”23 Da mesma forma era o entendimento do profeta Jeremias. Jeremias sabia dos pecados de seu povo: “Ah! Senhor! conhecemos a nossa impiedade e a maldade de nossos pais; porque pecamos contra ti.” (Jr 14.20) “Mas por outro lado Jeremias sabia que Deus tinha feito uma aliança eterna e irreversível com seu povo. Em outras palavras, Jeremias quis dizer: ‘Sim, nós pecamos. Sim, nós quebramos a aliança; mas, Senhor, não anules a tua aliança conosco’”.24 E o profeta tinha consciência de que Israel era o povo escolhido e fiava sua confiança na fidelidade de Deus: “Por que serias como homem surpreendido, como poderoso que não pode livrar? Mas tu estás no meio de nós, ó Senhor, e nós somos chamados pelo teu nome; não nos desampares.” (Jr 14.9) c) O fator motivador da oração de Daniel foi que, a despeito de o cativeiro do povo judeu ser um castigo merecido, havia sido profetizado que seria por um período de setenta anos (Jr 25.11,12; Dn 9.2), mas o tempo estava expirando (já se haviam passado aproximadamente 68 anos) e não havia qualquer sinal de que o quadro fosse se alterar. Como resposta a esta oração feita pelo servo de Deus nós temos então uma das profecias mais importantes de toda a Bíblia, a profecia das Setenta Semanas, porque esta profecia permite que se trace uma cronologia dos eventos proféticos desde o tempo de sua revelação até o fim dos tempos. Obviamente que ela tem que ser estudada juntamente com outros textos bíblicos como os profetas, os evangelhos e o Apocalipse. d) Um detalhe importantíssimo é que a profecia das setenta semanas foi uma resposta à oração de Daniel quando orava indagando a respeito do futuro da nação de Israel, não cabendo, portanto, uma interpretação desta profecia sem liga-la diretamente ao povo de Israel, como também não se pode entender que se trata de eventos ligados à igreja como muitos teólogos querem afirmar. Outro problema muito sério que é ocasionado quando se evoca a teologia da substituição25 para se interpretar as profecias fazendo referência a igreja como alvo quando na realidade o centro é a nação de Israel, é que alianças eternas incondicionais feitas por Deus com Israel são

23

Froese, 2005, p.139 24

Froese, 2005, p.139 25

“O que vem a ser essa teologia da substituição? É o ponto de vista de que a Igreja substituiu permanentemente a Israel como o instrumento por meio do qual Deus opera, e que Israel, como nação, não tem um futuro no plano de Deus.” (Ver artigo: Há um futuro Nacional de Israel na Bíblia? Disponível em: <https://www.chamada.com.br/mensagens/futuro_israel.html> Acesso: 21/02/2014.

desconsideradas, turvando o entendimento profético e usurpando assim a riqueza da palavra profética. Não há porque confundir as coisas quando se lê os escritos dos profetas sem querer modifica-los, pois são muito claros.26 Daniel entendia perfeitamente que Deus não só havia feito uma aliança eterna com Israel como Sua nação escolhida, mesmo a despeito de Israel deslizar muitas vezes, como entendia que era o dever da própria nação se considerar propriedade de Deus e valorizar esta condição se mantendo fiel.

Pois bem, vamos então à profecia: O que são “As Setenta Semanas”?

26

Froese. 2005, p.139