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1 INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

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INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

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SumárioPARADIGMAS DE PENSAMENTO ......................................................................................... 3

PARADIGMA TEOCÊNTRICO ...................................................................................................... 3 PARADIGMA ANTROPOCÊNTRICO............................................................................................ 4 PARADIGMA ECOCÊNTRICO ..................................................................................................... 6 O TODO CONTIDO NAS PARTES................................................................................................ 7

EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA NA EMERGÊNCIA DO NOVO PARADIGMA................................... 9 OBJETIVO DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL ............................................................................. 11 ASPECTOS ESTRUTURAIS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL................................................. 13

CONCEITO DE UNIDADE ........................................................................................................... 13 CONCEITO DE VIDA................................................................................................................... 15 CONCEITO DE EGO ................................................................................................................... 16 ESTADOS DA CONSCIÊNCIA .................................................................................................... 16 CARTOGRAFIAS DA CONSCIÊNCIA......................................................................................... 20

ASPECTOS DINÂMICOS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL...................................................... 24 EIXO EXPERIENCIAL.................................................................................................................. 24 EIXO EVOLUTIVO ....................................................................................................................... 24

MANDALAS, SONHOS E MEDITAÇÃO ........................................................................................... 26 MANDALAS.................................................................................................................................. 26

Labirinto................................................................................................................................... 27 MANDALA – PSICOGRAMA CÓSMICO ................................................................................ 28

SONHOS...................................................................................................................................... 28 MEDITAÇÃO................................................................................................................................ 31

A MORTE E O MORRER.................................................................................................................. 34 1ª HIPÓTESE - SISTEMAS EXTRACELULARES DA ENERGIA PSÍQUICA.............................. 36 2ª HIPÓTESE - A MORTE COMO TRANSFORMAÇÃO DO ESTADOS DE CONSCIÊNCIA ... 37 3ª HIPÓTESE - A MORTE COMO PASSAGEM DA CONSCIÊNCIA DE UM SISTEMA ENERGÉTICO A OUTRO ............................................................................................................ 39 4ª HIPÓTESE - O RETORNO A UM CORPO FÍSICO, OU O FENÔMENO DA REENCARNAÇÃO....................................................................................................................... 41

Bibliografia......................................................................................................................................... 43 OBS: ESTE TRABALHO TEM COMO FIM, ORGANIZAR ESTES SABERES COMO BASE DE ENTENDIMENTO DOS CONTEÚDOS DADOS EM SALA DE AULA. FOI CONSTRUÍDO A PARTIR DE DE RECORTES E COLAGENS DOS TEXTOS QUE LHE SERVIRAM DE BASE E QUE ESTÃO LISTADOS NA BIBLIOGRAFIA. A AUTORA DESTE TRABALHO NÃO ASSUME A AUTORIA DESTES ESCRITOS.

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PARADIGMAS DE PENSAMENTO

O termo Paradigma se refere, de acordo com o dicionário Aurélio, a modelo, padrão, estalão. Para Roger Walsh e Francis Vaughan os modelos são representações simbólicas que descrevem as principais características ou dimensões dos fenômenos que representam. Todavia tem-se dado observação para o poder da influência dos modelos e crenças no sentido de moldarem a percepção. Os modelos ou paradigmas não só facilitam a compreensão dos fatos e fenômenos, como também se autovalidam. Isto é, o que percebemos tende a confirmar que nossas crenças e modelos estão corretos. A maior dificuldade nesta observação é que todo esse processo é praticamente inconsciente.

Falar em mudanças paradigmáticas e comparações paradigmáticas é falar em momentos históricos em que ocorreram profundas rupturas no processo cumulativo da cultura humana. Para Clodoaldo Meneguello Cardoso “a ciência normal desenvolve-se num processo cumulativo de conhecimento . Com efeito um paradigma entre em crise quando os cientistas descobrem anomalias.” Ou seja, fenômenso que não se encaixam dentro daquele modelo. As regras e explicações que mantinham o conhecimento até então não se justificam mais.

As revoluções científicas são momentos que embora, sejam difíceis por retratar certa confusão, dúvida e descredibilidade com relação aos modelos, o ultrapassado e o novo, são também, momentos fecundos para novos descobrimentos e entendimentos. Um aspecto importante é que justamente esta dificuldade de se aceitar o novo paradigma é que traz a exigência para que ele se estruture de tal maneira que se possa autovalidar. Outro aspecto a se destacar é que cada modelo pré-existe e sub-existe no outro.

Partindo deste princípio, observando o processo histórico do conhecimento humano, podemos a partir de um modelo também, estudar a existência de três grandes paradigmas que nortearam o pensamento humano ocidental. Segundo Meneguello são os paradigmas teocêntrico, antropecêntrico e ecocêntrico.

PARADIGMA TEOCÊNTRICO

Baseia-se na existência de dois mundos separados. O mundo material e o mundo divinal. A existência do mundo material se explica a partir do mundo divinal ou espiritual. Assim, as doenças, os fenômenos naturais (tormentas, secas, etc) as perturbações psíquicas eram entendidas como manifestações do mundo espiritual – a vontade dos deuses. Os homens e o mundo material se submetiam à vontade dos deuses e o canal de comunicação entre os dois mundos era possível através da figura do curandeiro iluminado ou entidades legitimas junto ao mundo divino.

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Na cultura ocidental o paradigma dos dois mundos foi sustentado por duas tradições religiosas. O Orfismo e a doutrina judaico-cristã. Para o orfismo (doutrina a partir do sacerdote e poeta Orfeu, séc VI ac) a alma é oriunda do outro mundo enquanto o corpo pertence ao mundo material. Presa ao corpo e destinada a se purificar, ela deverá viver muitas encarnações até conseguir expiar suas culpas e voltar definitivamente para o outro mundo. A “vida órfica”com auto-repressão dos prazeres físicos e fuga do mundo terreno seria o único meio de por fim ao ciclo de encarnações, libertando a alma do corpo. Esta é a base para todo um pensamento voltado para a idéia do bem e do mal, para o mundo perfeito, ideal e o mundo imperfeito da matéria.

A outra grande força no Ocidente que deu sustentação para o paradigma teocêntrico foi a judaico-cristã através da Bíblia, onde o conceito de dois mundos distintos , o espiritual e o material, é bem definido. Para este pensamento a concepção monoteísta, um Deus único separa definitivamente os dois mundos, além de eliminar a idéia de muitos deuses – polisteísta. O homem feito a imagem e semelhança de Deus, deve fazer a vontade de Deus, como filho privilegiado que é em comparação ao resto da natureza. A obediência às leis de Deus é considerada virtude e a desobediência é considerada pecado. O religioso e o político passam a caminhar juntos regulando as normas morais da conduta dos homens.

Como no orfismo, a busca pela salvação que está no outro mundo, o espiritual, é que orientava a vida no mundo material.

Para completar a sustentação deste paradigma a teoria geocêntrica de Ptolomeu, afirmava que o universo era finito e se movimentava de maneira circular em torno da Terra. Com esta afirmação era possível localizar o mundo divino acima neste céu finito.

PARADIGMA ANTROPOCÊNTRICO

Relembrando, uma vez que um modelo não consegue explicar determinados fatos começa a ter sua estrutura questionada. O novo paradigma tem suas raízes no paradigma que o antecede e o antigo paradigma se mantém naquele que o sucede. Com estas afirmações podemos seguir ao paradigma antropocêntrico, tendo em vista que ainda permanece muito viva a noção dos dois mundos espiritual e material como entidades separadas.

Este paradigma começou a se estruturar a partir de uma série de acontecimentos que foram pouco a pouco colocando o paradigma teocêntrico enfraquecido e duvidoso para se manter.

A ruptura da Unidade religiosa através das figuras de Lutero e Calvino que questionaram a legitimidade da autoridade papal como único representante do mundo divino.

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No campo econômico o capitalismo comercial colocando em choque o sistema feudal de um lado e a crescente expansão do mercantilismo e do liberalismo burguês do outro.

No campo do saber as novas descobertas na física abalaram profundamente o antigo paradigma. A teoria geocêntrica que havia se mantido por aproximadamente 1000 anos foi substituída pelas descobertas de Copérnico (1496) e Galileu (1564) sobre o heliocentrismo e de Giordano Bruno sobre a infinitude do universo. Ë claro que todos estes fatos não foram acontecendo de maneira fluída sem resistência. Algumas pessoas pagaram com a vida para manter seu saber como no caso de Giordano Bruno que foi torturado e queimado na fogueira pela Inquisição. Assegurar a infinitude do céu equivalia anular a existência de um lugar definido e divino.

O paradigma antropocêntrico é também conhecido como paradigma Newtoniano/Cartesiano devido a grande influência do pensamento do físico Isaac Newton e do filósofo René Descartes.

Com Descartes este paradigma se caracterizou principalmente pelo primado a razão, pelo método analítico e pela concepção antropológica dualista.

Primado a razão- introduziu a “dúvida metódica” – “se duvido, penso. Se penso, logo existo”. Isto é, o pensamento existe, com isto a razão tornou-se a essência do ser humano. Somente por meio da racionalidade podemos solucionar nossos problemas.

Método Analítico – Através da “dúvida metódica”a procura da verdade pode ser alcançada primeiro pela própria dúvida, segundo por dividir o objeto em questão tantas parcelas possível a fim de se descobrir sua essência, depois organizar e rever os pensamentos de tal forma a estruturar a verdade sobre aquele objeto.

Concepção antropológica dualista – mente e matéria –Alma e corpo criados por substância eterna e infinita Deus. Na alma a razão, provinda de Deus, no corpo o determinismo físico.

Com a física de Newton as leis físicas da matéria e a lei de causa e efeito, estabeleciam a possibilidade de se observar, estabelecer e controlar as variáveis da matéria.

Com o movimento do Empirismo Inglês as informações absorvidas pelos 5 sentidos ganhavam caráter de única verdade sobre um fato ou fenômeno. Todo conhecimento deve passar pelas vias dos 5 sentidos para ser considerado objeto da ciência. Deve ser possível de ser observado, quando da impossibilidade devido as limitações dos 5 sentidos, então deve se construir instrumentos que ampliem a captação de informação destes orgãos sensoriais.

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O que não puder se enquadrar no mundo observável e comprovável da razão e da sensação não faz parte dos objetos de estudo e pesquisa ficando relegado ao mundo subjetivo, místico e improvável.

Com estas contribuições o paradigma antropocêntrico se estruturou. O desenvolvimento tecnológico, o crescimento do capitalismo, são as grandes expressões deste paradigma. O homem ganha destaque como aquele capaz de transformar e controlar a matéria. A natureza é objeto a ser transformado para servir o homem, que através da razão possui o conhecimento e o poder da verdade. O próprio olhar para si mesmo expressa estas características dividindo o corpo e a mente. O corpo como máquina foi esmiuçada até máximo do entendimento dos especialistas da área médica, enquanto que a psicologia, ciência que se ocupa da mente também tem o mesmo tratamento, como vemos nos modelos mecanicistas freudiano e behaviorista de Watson.

PARADIGMA ECOCÊNTRICO

Estamos vivendo o momento histórico de transição do paradigma antropocêntrico para o paradigma ecocêntrico. Como vimos anteriormente, alguns fatos começam a sinalizar e denunciar a falta de estrutura do paradigma antropocêntrico que se expressam nas crises no ambiente natural, social e psíquico.

A grave deterioração do meio ambiente pela tecnologia industrial, pela superpopulação, e pela falta de uma consciência ecológica. O perigo de um desastre nuclear. A desestruturação social pela ambição individualista e competitiva. A ênfase pelo consumismo material em detrimento de outros valores. A violência vivida também na forma extrema da fome e da miséria como contraste da injusta distribuição de renda. O uso descontrolado de drogas, álcool, violência, alienação e isolamento espelham a deterioração do mundo psíquico.

Por outro lado, novos conhecimentos oriundos de diferentes áreas do saber humano expressam a emergência deste novo paradigma, como observa Fritjof Capra em seu livro O Ponto de Mutação.

As leis da natureza e da causalidade, os conceitos da matéria subdividida e observada começam a ser substituídos pelos conceitos de inúmeros físicos entre eles Planck, Einstein, Neils Bor,Denis Gabor e David Bohm.

A paritr destes físicos a matéria passa a ser entendida como oscilações entre partícula e onda. Não sendo mais possível determinar quando será uma ou outra. O determinismo se perde, a neutralidade do observador no processo também desaparece. O observador interfere no processo, passa a fazer parte do sistema. O tempo e o espaço que eram referenciais estáticos, passam agora, a ser relativos.

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A parte está contida no todo, assim como o todo está contido nas partes. Foi o que Denis Gabor teorizou. Embora, sua teoria teve que esperar a descoberta do raio Laser e dos computadores para que o princípio da holografia pudesse ser comprovado. Para David Bohm, este conceito se estendeu ao holomovimento, neste conceito Bohm estabelece uma existência primária imanente e uma existência secundária manifesta. O mundo que aparece tangível, estável e visível é só uma ilusão. O que vemos são ondas explícitas, esticadas com uma ordem subjacente, pai e mãe dessa realidade de segunda geração.

Paralela a física as neurociências com Karl Pribam, neurofisiologista, após inúmeras pesquisas junto com Dr. Lashley, quando tentavam encontrar uma área no cérebro responsável pelo aprendizado e memória., começou a concluir que ao contrário, tudo parecia indicar que o material mnêmico distribuia-se por todo seu conjunto. Baseado nos trabalhos de Gabor e Bohm, Pribam criou o modelo holográfico para o cérebro.

O livro Memórias das células de Paul Pearsall levanta outra hipótese, a de que todas as células do nosso corpo guardam informação e que o coração seja o centro regulador dessas informações, enquanto o cérebro seria o responsável pela decodificação dessas informações. Neste livro, o autor sustenta esta hipótese a partir de várias histórias de pacientes transplantados que tiveram acesso a diferentes gostos, hábitos e inclusive histórias de seus doadores.

O TODO CONTIDO NAS PARTES

O químico Ilya Prigogine, prêmio Nobel de química de 1977, com sua teoria das estruturas dissipativas explica certos movimentos vitais irreverssíveis na natureza rumo a uma complexidade sempre crescente. Essa teoria estabelece que as estruturas tal como o cérebro humano precisam de um certo fluxo de energia para se manter em equilíbrio. Esse fluxo se dá através das ondas cerebrais que podem ser medidas pelo eletroencefalograma. Amplas flutuações de energia podem causar uma queda na estrutura antiga estabelecida que se reorganiza então, num novo modo mais complexo, mais elevado. Isto explicaria os estados modificados de consciência, quando as estruturas se reorganizam levando o indivíduo a uma compreensão mais ampla e elevada da essência da vida.

Ainda nas neurociências as pesquisas a partir do eletroencefalograma que possibilitam um maior conhecimentos dos estados alterados da consciência, como no caso dos estudos com ioguis que em estados de meditação apresentam ondas cerebrais características de sono profundo embora estejam totalmente alertas e conscientes. O biofeedback possibilita o indivíduo aprender a controlar seu estado de humor e as consequentes respostas físicas., demonstrando a relação existente entre atenção, vontade, emoção e corpo. As pesquisas sobre a dualespecialização do cérebro, apontando na representação cerebral o que é vivenciado no mundo perceptível, sendo o ocidente mais pragmático e racional, linear, enquanto o

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oriente é mais intuitivo, mágico e espiritual. Nas recentes pesquisas ligadas a esta área encontra-se uma tendência do cérebro global compensatória.

A expansão das drogas nos anos 60/70 trouxeram inevitavelmente a despeito de qualquer juízo crítico, importantes descobertas sobre o funcionamento da psique e acesso a conteúdos psicológicos de níveis de consciência antes não revelados.

Stanislav Grof foi um dos pesquisadores que após ter recebido dos laboratórios Sandoz uma amostra do LSD, (descoberto por Hofman, químico suíço, que se intoxicou acidentalmente e teve uma série de alterações da consciência), acabou tendo sua carreira de psicanalista mudada. Ele mesmo Grof, se colocou como objeto de pesquisa com o LSD e após uma série de experiências as quais, embora fosse totalmente contra seu constructo teórico com médico e psicanalista, ele não podia negar tamanha veracidade de suas impressões vivenciais. Os conteúdos emergentes destas experências, não só dele como também de milhares de pacientes, apontam para níveis do inconsciente que ainda não haviam sido abordados, como veremos adiante nos estudos das cartografias. Atualmente, LSD foi substituído em seu processo terapêutico por um conjunto de práticas baseadas principalmente numa ativação respiratória que acaba por levar o indivíduo aos mesmos níveis antes acessados pelo uso controlado da droga. O que é importante observar é que esse acesso a esses níveis de consciência e a emergência dos materiais ali localizados, aceleram o processo terapêutico.

Cabe ressaltar, que não se trata de enaltecer o uso de nenhuma droga como meio de evolução espiritual. Duas observações se fazem necessárias: o foco destes trabalhos são os conteúdos inconscientes acessados que abriram um amplo campo de conhecimento de pesquisa sobre nossa consciência, alterando inclusive o referencial psicoterápico; a outra observação diz respeito ao que Maslow ressalta como sendo um dos mecanismos de defesa do ego – o mecanismo de dessacralização. Se o uso de substâncias psicodélicas dentro de determinadas comunidades é para facilitar a expansão da consciência e como meio de ligação espiritual, isto se faz dentro de um contexto sócio-cultural, com a anuência e energia da comunidade, com rituais sagrados, jejuns, silêncios, apartamentos, danças, sons, abstinência sexual, levando em contas as fases da lua. O apego a experiências especiais não é o objetivo do processo transpessoal que é a busca da plena consciência, do estado desperto, do sentimento integrador da Unidade.

O paradigma ecocêntrico se caracteriza então:

� Cada aspecto do Universo ao que parece, não é uma coisa nem uma não coisa, mas existe como uma espécie de expressão vibratória ou energética.

� Cada aspecto do Universo, é em si mesmo um todo. Contendo dentro de si mesmo um depósito completo de informações a seu próprio respeito.

� Cada aspecto do Universo parece ser parte de um todo maior.

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� Cada aspecto do Universo contém conhecimentos sobre o(s) todo(s) dentro do(s) qual(is) ele existe.

Interdependência entre os vários planos de totalidade: pessoal, comunitário, social, planetário e cósmico. Tudo que ocorre em um dos planos repercute nos demais. Teocêntrico Antropocêntrico Ecocêntr ico Saber contemplativo – especulativo.

Saber Ativo - critérios na experimentação (sensação). Lógica Matemática (razão) Racionalismo e Empirismo.

Saber na experimentação e no experienciar. Razão, Emoção, Intuição e Sensação.

Fora da fé não há salvação Fora da razão e da Escola Não há salvação material. Isto é progresso

Fora da Unidade o Ser se Sente fragmentado, separado, isolado.

Deus é o centro Separação espírito x Matéria

O homem é o centro Natureza a serviço do homem.

Teia Cósmica – Interdependência Energia Vital .

EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA NA EMERGÊNCIA DO NOVO PARADIGMA

A história da Psicologia inicia-se fundida com a filosofia. Pensar o Ser humano era tarefa dos filósofos e depois dos religiosos. Foi com Descartes, com sua concepção antropológica dualista de mente e corpo, que surgiu as bases para a criação da ciência Psicologia que conhecemos hoje. Em meados do séc. XIX inicia-se o movimento da Psicofisiologia na Universidade de Leipzig na Alemanha. Era o modelo na Psicologia do que já se manifestava nas outras ciências, a visão do psiquismo como algo a ser observado e com leis a serem elaboradas para que se pudesse explicar o funcionamento do psiquismo e do comportamento humano.

Já nesta época William James plantou as bases do que é a Psicologia Transpessoal. Interessava-se com os estudos dos estados da consciência e em experiências espirituais. Algumas das caraterísticas destas experiências por ele assinaladas sào ainda reconhecidas como: inefabilidade (as palavras são limitadas e insuficientes para descrever a dimensão da experiência). Caráter noético (há uma convicção inabalável do sentido de realidade para o sujeito que viveu a experiência) e após a experiência a ausência do medo da morte e mudança no sistema de crenças e valores.

Com a morte de William James estes estudos foram praticamente abandonados e a busca pelo reconhecimento da psicologia como ciência fez emergir a 1ª força da psicologia representada pelo behaviorismo de Watson. O objeto deste estudo é algo que pode ser observado, quantificado e alterado pelos parâmetros da

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pesquisa científica, tudo aquilo que se afasta destes referenciais é desfocado e ignorado, como por exemplo o mundo da imaginação, intuição e subjetividade.

O psiquismo deve ser estudado até que se estabeleça as suas leis de funcionamento, de causalidade entre estímulo e resposta, a ponto de se determinar e controlar o resultado que é o comportamento humano.

Paralelamente a Watson, emerge os trabalhos de Freud, a 2ª força da psicologia – Psicanálise. Alertando para os aspectos do inconsciente como forças que influenciam no comportamento, embora não pudessem ser observadas como orientava o behaviorismo. Há nos trabalhos de Freud também a noção do determinismo, embora inconsciente. Em seu modelo, o psiquismo funcionaria como um “sistema hidraúlico” de pressão e descarga, lidando com aspectos do inconsciente ligados a energia basicamente sexual, mecanismos de defesa, relações entre ID, Ego e Superego. Para Freud todo o funcionamento do psiquismo haveria de ter um componente neurofisiológico, que era apenas uma questão de tempo até se descobrir. Observa-se presente o modelo mecânico do antigo paradigma.

Contemporâneo a Freud, Jung ressaltou para os aspectos estruturais ligados ao inconsciente que permeiam o funcionamento da psique humana e também a base das sociedades, os arquétipos. Estas estruturas apontam para a existência de um inconsciente além do pessoal, o inconsciente coletivo, que também influenciaria nosso funcionamento. Outras três contribuições de Jung merecem destaque. Ainda ligado ao conceito dos arquétipos, a existência de um arquétipo que direciona o Ser humano no caminho da inteireza, da unidade que é o arquétipo da individuação. A integração de todas as partes do psiquismo, seria para Jung um caminho natural da evolução do Ser. Jung incorpora em seus trabalhos a “bússola do psiquismo” formada pelos aspectos da razão, emoção, intuição e sensação (reis). As informações vindas destes diferentes aspectos tendem a moldar o nosso funcionamento. Quanto mais equilibrado estiver nossa escuta para cada um destes aspectos, mais tenderemos a inteireza. É interessante notar, que Jung incorpora em seus trabalhos a intuição, como canal de informação para o indivíduo. Outra contribuição importante, é o conceito de sincronicidade, que estabelece a relação não aparente, não determinada entre eventos psíquicos e acontecimentos exteriores.

Como 3ª força da Psicologia emerge a Psicologia Humanista . O foco de observação amplia-se abarcando não só o entendimento dos processos formadores das psicopatologias mas também, o entendimento dos processos renovadores, atualizadores, criativos e curativos que todo o Ser humano dispõe. Para Maslow, um dos fundadores da psicologia humanista, também o impedimento em vivenciar esses processos, como o da criatividade, por exemplo, podem gerar patologias. A busca do Ser Integral, como forma de se resgatar ao Ser humano aquilo que o transforma e o faz melhor e mais saudável.

Para Victor Frankl fundador da logoterapia a busca do sentido da vida, capacita o Ser humano de uma força mental e emocional imensurável capaz de faze-lo

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suportar as maiores adversidades, como foi seu caso e de tantos outros em um campo de concentração nazista.

Na mesma linha do humanismo em abordar o Ser humano na sua inteireza, procurando restabelecer o sentido inerente da Unidade, estão a Gestalterapia, trabalhando com conceitos básicos de tendência natural da percepção do todo, a presentificação (trabalhar com o aqui e agora) ; a Psicossíntese; a bioenergética e o psicodrama.

São esses aspectos que a Psicologia Humanista busca compreender no Homem. Enquanto se formava o movimento humanista, Maslow comentava que tudo isso era provisório, pois outra força, a 4ª força da Psicologia estava emergindo.

Como 4ª força da Psicologia, a Psicologia Transpessoal reflete na história da Psicologia os novos conhecimentos emergentes do novo paradigma ecocêntrico. É uma ampliação do conhecimento natural e inerente. Assim como vimos acontecer nas outras ciências. Sabemos que as resistências oriundas do antigo paradigma são inevitáveis, fazendo parte do processo transitório de transformação.

Estão entre seus fundadores Abraham Maslow, Anthony Sutich, Victor Frankl, Stanislav Grof, e James Fadiman. Seus principais colaboradores: Roberto Assagioli, Charles Tart, Tartang Tulku, Baba Ram Dass, Daniel Goleman, Ken Wilber, Pierre Weil, Francis Vaughan, Chogyam Trungpa, Laurence Lhe Shan.

Com o surgimento da Psicologia Transpessoal abre-se o leque de pesquisas, não se trata de excluir as abordagens existentes até agora, ao estudarmos, mais adiante, os níveis de consciência e suas cartografias, será possível compreender que cada linha teórica enfoca determinado nível da consciência. É preciso ter esse conhecimento do todo e de suas partes. A Psicologia Transpessoal só está começando seus estudos, e o Todo ainda há muito que se revelar, olhar o Ser humano com uma visão exclusivista é restringir suas possibilidades. Veremos que cada nível de consciência possui suas aquisições próprias, e na passagem para outro nível podem ser gerados bloqueios e fixações próprias que requerem abordagem terapêutica específica. Cada abordagem como vimos até então, atende os requisitos de níveis diferentes uma abarcando a outra.

OBJETIVO DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

A psicologia transpessoal é o estudo e aplicação de diferentes níveis de consciência em direção a Unidade fundamental do Ser. A Psicologia Transpessoal

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favorece ao indivíduo a vivência da energia iluminadora, de onde emerge o ser integral, vivenciando um estado da mente mais lúcido, mais desperto.

É a possibilidade de romper com automatismos, discernindo suas reais capacidades, de tornar possível a atualização desses níveis de experiências de forma harmoniosa, para si e para o ambiente externo.

...”Psicologia Transpessoal, enfocando o estudo da consciência e o reconhecimento dos significados das dimensões espirituais da psique, especialmente os caracterizados com experiência culminante (peak experience) consciência cósmica unitiva, êxtase e plena consciência”. Antony Sutich – l968 Transpersonal Psycology.

Comentei que a Psicologia transpessoal está começando em seus estudos, entretanto muito de seus objetivos já são abordados pelas Psicologias Orientais há milhares de anos. É este encontro da antiga sabedoria oriental com a abordagem científica do ocidente que a Psicologia Transpessoal se propõe abordar. O que do Ser humano que sempre existiu, e não havia sido estudado pelo ocidente? Não se trata da validação pela ciência destes conhecimentos, mas como podemos utiliza-los de uma maneira mais construtiva para todos. Como Fritjof Capra comenta: “A ciência não necessita do misticismo e este não precisa da ciência; entretanto o homem necessita de ambos”.

Como Postulado Básico ou fundamental da Psicologia Transpessoal temos :

TODO CONHECIMENTO, TODA VIVÊNCIA DE REALIDADE É FUNÇÃO DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA EM QUE SE ENCONTRA CADA UM DE NÓS.

V R = F ( E C ) ou P O = N C

V R – Vivência da realidade

F ( E C ) – função do estado de consciência

P O – percepção do objeto

N C – nível de consciência

Em outras palavras, este postulado nos diz que percebemos diferentes realidades, cada um de nós de acordo com o nível de consciência que estamos vivenciando.

ASPECTOS ESTRUTURAIS E DINÂMICOS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

Segundo Vera Saldanha em seu livro A Psicoterapia Transpessoal a Psicologia transpessoal é composta de aspectos estruturais e dinâmicos.

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Os aspectos estruturais são 5 elementos:

� Conceito de Unidade;

� Conceito de Vida;

� Conceito de Ego;

� Estados de Consciência;

� Cartografias da Consciência.

Estes aspectos formam o corpo teórico da psicologia, dão estrutura, firmeza , eixo e integridade à teoria.

Os aspectos dinâmicos são 2 elementos:

� Eixo experiencial;

� Eixo evolutivo.

Estes 7 elementos fundamentais, que veremos a seguir, juntamente com as técnicas transpessoais dão a base de funcionamento para a Psicoterapia Transpessoal.

ASPECTOS ESTRUTURAIS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

CONCEITO DE UNIDADE

Unidade é a propriedade do que não pode ser dividido.

Como vimos anteriormente os conhecimentos oriundos da física quântica e das neurociências apontam em direção a uma unidade essencial cósmica que a tudo permeia. Este nível é o fim da dualidade, das polaridades. É o todo, o absoluto, luz. Inexiste tempo e espaço, é o eterno agora, um eterno ser único, indivisível. A Unidade Fundamental do Ser.

Sujeito e objeto são indissociáveis neste nível do absoluto. Recordando os novos postulados da física o Uno é composto de variações de condensação de energia. A noção de partes se extingue.

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Descrever o absoluto com palavras é uma tarefa impossível, como diz Jean Ives Leloup em seu livro Caminhos da Realização “é pedir ao finito que fale do infinito’. Qualquer coisa que se tente dizer sobre este conceito vai estar restrito às nossas imagens dos níveis egóicos, duais.

O Tao que pode ser pronunciado Não é o Tao eterno

O nome que pode ser proferido Não é o nome eterno

Ao princípio do Céu e da Terra chamo “Não-Ser” À mãe dos seres individuais chamo ‘Ser” Dirigir-se para o ‘Não-Ser’ leva À contemplação da maravilhosa essência; Dirigir-se para o Ser leva

À contemplação das limitações espaciais.

Pela origem, ambos são uma coisa só, Diferindo apenas no nome

Em sua Unidade, esse Um é mistério O mistério dos mistérios

É o portal por onde entram as maravilhas.

(TAO TE KING – LAO TZU)

Quando não se está consciente no nível do absoluto, em Plena Consciência, estamos mergulhados nos níveis da dualidade, da separatividade. Estes conceitos implicam em crises de fragmentação ( partes separadas), em identificações, em apegos e repulsas. Medos de não Ter, de Ter e Perder ou Não Reaver se já Perdeu.

Em seu livro Consciência Cósmica, Pierre Weil faz duas comparações oriundas do budismo que ilustram bem o aspecto da dualidade e da Unidade.

“O mar constitui uma unidade; mas as ondas, comparadas umas com as outras, são pluralidade. As ondas podem ser comparadas com o nosso ego; cada ego olhando para outro ego, cada onda olhando para outra onda, tem a ilusão de ser diferente; na realidade faz parte de um só mar; o ego é onda e mar ao mesmo tempo; ele é individualidade e unidade simultaneamente.”

...”se nós colocamos dentro da água um vaso vazio, ele se enche de água; ele está cercado de água e tem água dentro de si; se quebramos este vaso, só resta o mar; o vaso é o ego que nos impede de ver que somos também o mar.”

A desconexão do sentimento de Unidade gera tensão, ansiedade e disfunções físicas, emocionais, mentais e espirituais.

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Todo o processo terapêutico transpessoal visa resgatar essa Unidade Fundamental.

Nas correntes de Psicologia em geral a busca pelo Conceito de Unidade do Ser, pela Inteireza foi o constante objetivo. Na Psicologia Transpessoal esse conceito, entretanto, se amplia além da unidade da identidade do ego para a unidade cósmica, a essência do Self.

CONCEITO DE VIDA

O conceito de Vida baseado nos postulados do novo paradigma caracteriza-se pela dimensão atemporal.

Vida é uma sequência evolutiva, onde nascer, morrer e renascer fazem parte de um processo – o Processo da Unidade.

As pesquisas e estudos dos níveis da consciência apontam os conceitos de morte e renascimento como fazendo parte da própria existência do indivíduo e além desta existência atual.

Na perspectiva psicológica do ser, vida, morte e renascer estão presentes a cada instante, em que na própria formação da identidade o indivíduo se vê obrigado a se desfazer de inúmeros papéis e imagens a respeito de si próprio. É neste contexto que toda vivência do indivíduo é acolhida como verdade sentida, não importando as dimensões de tempo e espaço em que são vivenciadas.

No livro As fronteiras da evolução e da morte, Pierre Weil estabelece os seguintes postulados dentro deste conceito de vida/morte/renascimento:

� Existem sistemas energéticos inascessíveis aos nossos cinco sentidos, mas registráveis com outros sentidos.

� Tudo na natureza se transforma, e a energia que a compõe é eterna.

� A vida começa antes do nascimento e continua depois da morte.

� A vida emocional, mental e espiritual forma um sistema suscetível de se desligar do corpo.

� A vida individual é inteiramente integrada de forma e forma um todo com a vida cósmica.

� A evolução obtida durante a existência individual continua depois da morte.

Consciência é energia, que é vida, no sentido mais amplo: não apenas a vida biológica, física, mas também a da natureza, do espírito, a vida – energia, infinita.

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CONCEITO DE EGO

Para a Psicologia Transpessoal a estruturação do Ego não é o objetivo final da evolução da psique humana. No entanto, é o caminho, o instrumento. Aquilo que pensamos ser o Eu configura-se como ego, gerando um subproduto, que é a auto-imagem. A morte e o renascimento do ego é a transmutação das relações vivenciais, onde o foco da valoração do exterior muda para uma escuta das vivências do mundo interno. Mantém-se conectado com as necessidades e responsabilidades do cotidiano, mas permeado pela dimensão espiritual.

Este é um conceito que gera polêmicas: Se para alguns, a estruturação do ego seguida de seu transcender faz parte do processo de evolução, para outros, não se pode transceder o que não existe. Para essa linha de pensamento o ego é uma ilusão, reflexo do mundo da dualidade, não tem existência própria. Uma posição em verdade, não exclui a outra, depende do nível de consciência que se está afirmando. No nível das dualidades, mergulhados em maya ( mundo ilusório) é preciso que o ego seja bem estruturado como instrumento para autotranscendência. Só se transcende neste nível aquilo que se possui.

Atribui-se ao ego, suas identificações e apegos a base de todo sofrimento humano. Seu poder é relativo, e deve diluir-se para possibilitar momentos de conexão mais ampla com o Cosmo, aprendendo um tipo de sabedoria supra racional que vai além do intelecto, vivenciando a apreensão direta do conhecimento, integrando a racionalidade em outra ordem de realidade.

PSICANÁLISE TRANSPESSOAL Dualidade – realidade relativa é única. Desconhece o nível do Absoluto.

Dualidade – no plano da relatividade. No nível do Absoluto não existe ego.

Dados são autobiográficos a partir do nascimento.

Dados além dos autobiográficos. Podem transcender a temporalidade. Podem ser antes da concepção.

Dinâmica Psíquica. Dinâmica Psíquica e energética. Visão pessoal da realidade. Conceito de vida finita.

Visão cósmica da realidade. Conceito de vida infinita.

Poder total no indivíduo. Poder parcial no indivíduo. Ego finito, limitado ao corpo físico. Ego pode sobreviver a morte física. Objetivo terapêutico é reforçar o ego. Objetivo terapêutico é adequar o ego. A morte do ego equivale a psicossomatização. Ego pode morrer e renascer e o indivíduo

mantém sua essência, não psicotiza. Diluição do ego é ameaçadora . Diluição do ego pode ser benéfica. Há identificação entre ego e Eu. Não há identificação entre ego e Eu.

ESTADOS DA CONSCIÊNCIA

Estado de Consciência de acordo com Charles Tart é um padrão generalizado de funcionamento psicológico. São elementos geradores dos estados de consciência: a atenção, percepção, identidade e fisiologia. O estado de vigília é

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estabelecido como referencial para se falar dos outros estados. Dentro dessa visão sistêmica da consciência, a passagem de um estado para outro é determinada pela quantidade de energia sob a forma de atenção, que mantém um estado ou provoca a sua ruptura estabelecendo outro, que por sua vez será mantido até sua desestruturação sistêmica. Intervem neste processo toda uma combinação dos elementos anteriormente citados. Em outras palavras a combinação leva à mudança e, a consequente manutenção em determinado estado vai depender da estabilização desses elementos também. Qualquer variação altera a estabilidade preciptando nova mudança de estado. A energia está onde está sua atenção. Sua consciência está, onde está sua atenção.

Destacando o postulado básico da Psicologia Trasnpessoal: O indivíduo percebe a realidade de acordo com o estado de consciência que está vivenciando – P R = F ( E C ) – percepção da realidade é uma função do estado da consciência.

Para William James as linhas divisórias entre um estado e outro são tênues como véus, e muitas vezes um estado influencia a realidade do outro. Ainda, para James, sob certas condições a possibilidade de se conectar mais de um estado ao mesmo tempo facilitaria a emergência de energias mais elevadas. Seriam nestes momentos as ocorrências de aspectos denominados de paranormais, experiências místicas e outras.

Para Grof a consciência é a expressão e reflexo da inteligência cósmica que permeia todo o Universo e toda a existência. Estados “não comuns” de consciência são manifestações naturais da psique humana, e a emergência destes estados podem ser utilizados como caminhos para a cura e evolução. Somos campos ilimitados de consciência transcendendo tempo, espaço e dualidade.

Como base para estudo, os estados básicos da consciência estão divididos em quatro: Vigília, Sono Profundo, Sonho e Plena Consciência. Percebe-se também entre esses estados alguns intermediários. Destacando-se o estado de devaneio entre o estado de vigília e o sono profundo, e o estado de despertar entre o estado de vigília e o estado de plena consciência. Ambos são facilitadores do processo transpessoal. Stanley Krippner em seu artigo Estados Alterados de Consciência lista 20 estados de consciência, mas para nosso estudo trabalharemos com os seis estados mencionados.

ESTADO DE CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA

Registro eletroencefalográfico ( EEG) – ondas beta 14 a 26 ciclos/Seg Funções do ego – separação nítida entre o mundo exterior e o eu.

ESTADO DE CONSCIÊNCIA DE DEVANEIO

Registro EEG – ondas alfa 9 a 13 ciclos/Seg

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Pode ser alcançado através do relaxamento

Imagens e idéias desconexas. Criatividade, atenção difusa. Momento presente. Associação livre.

ESTADOS DE CONSCIÊNCIA DE SONO E SONHO

O sono em si mesmo, está organizado em um padrão regular de ativação do cérebro ( sono de movimento rápido dos olhos REM ) e de quiescência ou descanso (sono de movimento não rápido dos NREM). Os estágios de REM e NREM normalmente, alternam-se em ciclos regulares de 90 a 110 minutos cada um. O sono REM e o NREM têm características fisiológicas específicas.

O sono NREM está dividido em 4 estágios. A medida que o sono progride, do estágio 1 ao estágio 4, o EEG torna-se mais sincronizado ( frequência menor, amplitude maior), até que a assim chamada onda delta de alta amplitude emerge. A extensão dos períodos de sono REM aumenta ao longo da noite, com um declínio subsequente do sono NREM. O sono delta está associado à secreção do hormônio do crescimento e supostamente, está mais associado à restauração física. O limiar de capacidade para despertar é maior durante o sono de onda delta.

O sono é ativado no bulbo cerebral. Mas geralmente não ocorre até que o sistema de vigília também esteja suficientemente aquiescente.

SONHO

Dimensão do não tempoal e do não espacial

Acesso a informações de outros estados de consciência

Linguagem simbólica própria

Todas as pessoas sonham, em média 4 sonhos por noite.

SONO PROFUNDO

Relacionado a inconsciência, estudos recentes sugerem que neste estado há um nível de superconsciência. O ego desaparece, a consciência retorna a ela mesma, e o indivíduo é revitalizado.

ESTADO DE CONSCIÊNCIA DE DESPERTAR

Saída do automatismo. Nível de reflexão, consciência mais ampla de sua própria existência. Despertar do observador em si. Não identificação com padrões de ação e reação.

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Exercícios que podem induzir a este estado: Relaxamento, concentração, meditação, e exercícios de orientação transpessoal.

ESTADO DE PLENA CONSCIÊNCIA OU CONSCIÊNCIA CÓSMICA

Primeiramente descrito nas ciências ocidentais por William James e denominado Consciência Cósmica por R. Bucke em 1901.

Também conhecido por outras denominações tais como: êxtase místico, experiência mística, experiência cósmica, experiência oceânica, experiência transcendental, Nirvana, Samadhi, Satori, Reino do Céu, Sétimo Céu, etc.

Métodos e técnicas elaboradas para se chegar a seus resultados como Ioga, Tai-chi, diferentes técnicas de meditação.

As características básicas isoladas por diferentes autores, segundo Pierre Weil são:

� Unidade – é o desaparecimento da percepção dual Eu – Mundo

� Inefabilidade – a experiência não pode ser descrita com a semântica usual.

� Caráter noético – um senso absoluto de que o que é vivido é real, às vezes muito mais real do que a vivência cotidiana comum.

� Transcendência do tempo-espaço – as pessoas entram numa outra dimensão; o tempo não existe mais e o espaço tridimensional desaparece.

� Sentido do sagrado – o senso de que algo grande, respeitável e sagrado está acontecendo.

� Desaparecimento do medo da morte – a vida é percebida como eterna, mesmo se a existência física é transitória.

� Mudança do sistema de valores e de comportamento – Há uma subestimação progressiva dos valores ditos materiais e do apego ao dinheiro. O “Ser’”substitui o “Ter”.

Fim do sofrimento psicológico, despertar da sabedoria , amor incondicional, capacidade ilimitada, alegria de viver, paz, serenidade e bem aventurança.

Retorno consciente ao estado de sono profundo.

Alterações mensuráveis – EEG (ciclo 1 a 3 ciclos/Seg – ondas deltas), mudanças circulatórias e respiratórias, eletrocutânea, movimentos dos olhos, tamanho do lábio inferior, tônus muscular, dilatação da pupila e variações da voz.

O trabalho terapêutico em diferentes estados de consciência é vital na abordagem transpessoal. Somente através das expansões dos estados da

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consciência de vigília além dos seus limites usuais de realidade cotidiana é que se pode acessar uma Ordem Mental Superior.

CARTOGRAFIAS DA CONSCIÊNCIA

As cartografias da consciência refletem as tentativas de diferentes autores para compreender o psiquismo, suas regiões e sua dinâmica. Há muito que as escolas esotéricas tem como objeto de estudo a evolução da consciência e também se ocupam do mapeamento da mente.

Nas cartografias estão localizadas cada região do psiquismo, seus níveis e os possíveis conteúdos manifestos.

Cada estado de consciência acessa diferentes conteúdos. Segundo Ramacharaca, na tradição filosófica hindu, a partir do SELF, centro de irradiação, vários níveis da consciência se manifestam. Em cada um desses níveis são percebidos aspectos da realidade correspondente ao estado de consciência do indivíduo, ou de onde está o foco de sua atenção.

Basicamente as cartografias transpessoais registram 3 níveis da consciência:

1º Nível – conteúdos autobiográficos – desde o nascimento até a momento atual da existência do indivíduo.

2º Nível - Conteúdos que transcendem os dados biográficos, abarcando as vivências intra-uterinas – inclusive o nascimento.

3º Nível – Antecede o nível intra-uterino.

A cartografia formulada por Kenneth Ring baseia-se nos trabalhos de Stanislav Grof, Timothy Leary e Robert More.

VIGÍLIA PRÉ-CONSCIENTE PSICODINÂMICO ONTOGENÉTICO

REGIÕES PESSOAIS DA CONSCIÊNCIA

INCONSCIENTE TRANSINDIVIDUAL INCONSCIENTE FILOGENÉTICO INCONSCIENTE EXTRATERRENO SUPERCONSCIENTE VÁCUO

REGIÕES TRANSPESSOAIS DA CONSCIÊNCIA

Consciência de Vigília – Conteúdos do cotidiano. Regido pela noção de tempo linear passado, presente e futuro. Pensamento lógico, analítico.

Pré-consciente – Conteúdos facilmente disponíveis a consciência de vigília.

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Inconsciente psicodinâmico – Corresponde ao inconsciente freudiano. Com cargas afetivas ligadas a experiências, pulsões. Memórias a partir do nascimento, que dificilmente vem a tona, ou quando emergem podem vir na forma de sintomas.

Inconsciente ontogenético – São vivências intra-uterinas, representado uma zona de transição do nível pessoal para o transpessoal, incluindo de experiências de morte – nascimento.

Na cartografia proposta por Stanislav Grof este nível é formado por 4 diferentes padrões, aos quais chamou de matrizes perinatais básicas (MPB), que corresponderiam a:

MPB I – Universo amniótico, unidade cósmica, é a experiência dentro do útero, antes do início de qualquer trabalho de parto. Há uma união primal com a mãe. Relaciona-se ao útero agradável, sentido como êxtase, livre de tensões.

MPB II – Devoração cósmica, ou engolfamento cósmico, ‘’utero ruim, sem saída. Experiência do momento em que começam as contrações sem que a cérvice uterina se tenha aberto. Ocorre um verdadeiro antagonismo com a figura materna. Experiência de perigo e ansiedade.

MPB III – Luta, morte e renascimento. Reflete as experiências à medida que se move dentro do canal de parto. Agora já em sinergia com a mãe, o colo do útero está dilatado, embora haja episódios de sufocamento. Relaciona-se a experiências sado-masoquistas.

MPB IV – Morte e renascimento – relaciona-se com as experiências quando realmente se sai do corpo materno. Há a separação física do corpo do bebê e do corpo da mãe.

Cada matriz perinatal possui aspectos biológicos, psicológicos, arquetípicos e espirituais. Assim como, cada matriz pode gerar diferentes patologias.

Inconsciente Transindividual – envolve experiências ancestrais, experiências de encarnações passadas, experiências coletivas, raciais e experiências arquetípicas

As experiências arquetípicas estão relacionadas ao inconsciente coletivo de Jung com sua estrutura arquetípica.

As experiências de encarnações passadas normalmente vem acompanhadas com forte carga emocional, retratando outro tempo e espaço. Há um entendimento da lei do Karma e da própria evolução da consciência.

Inconsciente filogenético – Envolve experiências além das formas humanas, da própria sequência evolutiva do planeta Terra, tanto orgânicas como inorgânicas.

Inconsciente extraterreno – domínio da consciência que se estende além do nosso planeta, experiência de estar fora do corpo, relatos de encontros com entidades espirituais e os chamados guias. Neste nível, ocorrem também relatos

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de fenômenos de percepção extra sensorial PK psicocinesia em objetos) e PES (percepção extra sensorial), como telepatia e clarividência, fenômenos mediúnicos, como escrita automática e possessão por espíritos.

Supraconsciente – Ocorre profundo êxtase existencial, há uma percepção ampliada da realidade, sentimentos de apreensão intuitiva da realidade, compaixão e equanimidade. É um nível disponível, contudo somente é acessado se estamos disponível a ele. Também chamado de superconsciente ou Eu superior.

A psicoterapia trasnpessoal introduz no processo terapêutico este nível de consciência como facilitador do processo de dissolução de conflitos e integração.

Vácuo – Corresponde ao estado do Nirvana na tradição budista. Estado de puro ser. Transcende as palavras. A consciência funde-se com a Mente Universal.

A nível de psicopatologia uma experiência pode resultar de um conflito a nível psicodinâmico, que pode ter suas raízes numa matriz perinatal e arquetípica, ou ainda numa suposta vida passada.

Stanislav Grof introduz o conceito do sistema COEX (sistema de experiência condensada), que pode ser entendido como um agregado de experiências condensadas de diferentes períodos da vida do indivíduo. O denominador comum que as une é o fato de fazerem parte da mesma qualidade emocional ou sensação física. Cada coex pode ter muitas camadas, cada uma delas permeada por seu tema central, sensações e qualidades emocionais. Cada coex tem um tema que o caracteriza. Uma única constelação coex, por exemplo, pode conter todas as principais memórias de eventos humilhantes, degradantes ou vergonhosos. A estrutura da personalidade de uma pessoa pode ter vários COEX, que podem funcionar de maneira autônoma. De acordo com a carga emocional associada aos coex, eles podem se diferenciar em sistemas coex positivos ( memórias agradáveis) e sistemas coex negativos (memórias desagradáveis).

No início de seus trabalhos Grof acreditava que sistema de coex limitava-se aos níveis pessoais da existência do indivíduo, com a continuidade de seus trabalhos ele observou que as coex podem trazer memórias de outros níveis além do pessoal e que podem determinar o funcionamento da nossa psique.

Na cartografia da consciência de Ken Wilber, também conhecida como espectro da consciência, cada nível de consciência comporta uma escola de psicologia e também uma religião. Assim, conflitos que surgem entre esses enfoques são justificados por partirem de princípios, ou seja, de níveis de consciência diferentes. Não são diferenças antagônicas, mas complementares, cada uma delas apresenta um enfoque do ser humano mais ou menos correto e válido quando associado com o seu nível.

Cada nível contém em potencial tendências a determinadas patologias, um tipo particular de alienação do Universo a partir de si mesmo, ou um processo

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inconsciente. Também estão incluídos, em cada nível, aspectos positivas, potencial para o crescimento, virtudes positivas.

Nível do Ego – A integração da persona com a sombra implica num alargamento do campo da consciência. As psicoterapias ocidentais são dirigidas para este nível. Tornar consciente o inconsciente, fortificar o ego, e contribuir para o desenvolvimento de uma “auto-imagem” mais precisa.

Abordagens terapêuticas – Psicanálise, certos aspectos da gestalterapia, análise transacional, psicodrama.

Neste nível o homem pode reintegrar a psique, mas ainda está apartado do seu corpo e do ambiente.

Nível Existencial – Neste nível já com a psique integrada ele pode apreender a totalidade de seu organismo ou de sua existência como ser no mundo

Abordagens terapêuticas – Hatha Yoga, análise bioenergética, integração estrutural de Rolf, terapia das polaridades, psicologias humanistas, terapias de massagens.

No nível existencial, o homem eliminou a dicotomia psique/soma, o que resultou na identificação com seu ser total, porém está alienado do self as experiências do contato com o ambiente e com a totalidade do Universo.

Nível Transpessoal – Este nível é intermediário entre as vivências existenciais e da consciência unitiva.

O senso de identidade expande-se para além da individualidade., sendo rompidas as fronteiras entre o organismo biológico e o Universo.

Há uma suspensão do dualismo, mas o Self ainda é vivenciado separado do Universo. No entanto, o homem já reconhece em si mesmo a existência de alguma instância superior ao seu prórpio e limitado ego.

Abordagens terapêuticas – Amplificação com sonhos (trabalho com arquétipos e mitos), imaginação ativa (análise junguiana), meditação transcendental,psicossínntese.

Nível da mente – A consciência é uma com a energia básica universal.

As disciplinas místicas têm como meta eliminar as separações entre mente, o corpo e o resto do Universo , são caminhos o Zen Budismo, o Vedanta, o Judaísmo (cabala), o Islamismo (sufismo), o Cristianismo.

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ASPECTOS DINÂMICOS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

EIXO EXPERIENCIAL

O aspecto experiencial aborda a forma como a realidade pode ser vivenciada, experimentada. É de Jung a contribuição da bússola da Psique, já comentada anteriormente. As funções Razão, Emoção, Inteuição e Sensação combinadas com as características de introversão e extroversão moldam a maneira com que cada indivíduo se relaciona com a vida. De acordo com Jung, dentro do processo evolutivo de individuação estas 4 funções devem ser desenvolvidas igualmente.

A vivência da realidade está afetada pelo grau ou ausência de cada uma dessas funções e cabe a psicoterapia estimular para que seapresentem de forma harmônica.

A psicanálise trabalha com as funções de razão e emoção e as terapias corporais com as funções sensação e emoção. A Transpessoal procurar equilibrar as 4 funções, trabalhando com o inconsciente superior a partir da intuição, ampliando a vivência da realidade através de insigts deste nível.

A possibilidade de resolução de conflitos em níveis de consciência mais ampliado facilita ao indivíduo a transformação e a transcendência daquela dificuldade. Einstein costumava dizer que a solução de um problema nunca se encontra no mesmo nível em que ele foi criado. Por isso ele mergulhava no exaustivo estudo do problema, reunia todas as possíveis informações e dados a respeito e, depois se afastava, se isolava, ia frequentemente para um lago no Campus da Universidade que trabalhava, e lá num bote no meio do lago, relaxava. Quando retornava já dispunha do início da solução do problema. Einstein dava importância a sua intuição e seu caminho imaginativo.

EIXO EVOLUTIVO

Para a Psicologia Transpessoal as resoluções e insights emanam dos níveis da Supra consciência.

Para Vera Saldanha o acesso a esse nível do supra consciente manifesta o Eixo Evolutivo de Ordem Mental Superior. Na Psicoterapia Transpessoal todo o trabalho conduz a acesso, que apresenta uma percepção mais ampla da realidade do que a consciência de vigília do indivíduo.

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Para Maslow além das necessidades básicas do indivíduo existem também as metas necessidades.

Todo esse processo é natural e inerente à evolução do Ser. Essa instância psíquica apreende a realidade de forma lúcida, sabe aquilo que é necessário e melhor para cada um, em sua jornada, no processo de cura mental e física.

Muitas vezes devido a obstáculos e dificuldades externas, essa voz interna não é ouvida, e o papel da psicoterapia é facilitar esta escuta, favorecendo as ligações com o supra consciente – desbloqueando, dissolvendo, transformando e integrando as áreas da psique conflituada.

O Eixo Evolutivo inclui a bússola e vai além para um nível mais sutil. Traz o sentido da experiência. É quando as nossas experiências fazem sentido na evolução da consciência. É o sentido da nossa evolução pessoal e cósmica, numa integração com a teia que nos permeia.

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MANDALAS, SONHOS E MEDITAÇÃO

Em Psicologia Transpessoal o ser humano é compreendido através do seu processo de crescimento e evolução, incluindo e destacando os potenciais que o definem como humano, amor incondicional, equanimidade, compaixão, criatividade, estado de bem-aventurança. Autores como Assagioli, Jung consideram o processo de crescimento como que direcionado para um plano de supra consciência (Assagioli ), de unidade autônoma, indivisível, uma totalidade. Este processo, a individuação, para Jung não exclui o Universo, ele o inclui.

Alguns instrumentos são naturais e inerentes a esse processo, agem como facilitadores, estando acessíveis a pessoa como fonte de orientação, transformação, e integração, como as Mandalas, os Sonhos e a Meditação.

MANDALAS

Para Jung, o processo de individuação é o caminho em direção ao Centro Interior, entrando em contato com o mistério vivo do nosso inconsciente. Ë o viver simultaneamente em dois planos. Realizar tarefas exteriores, mantendo-se aberto aos sinais tanto dos sonhos, quanto dos acontecimentos exterirores em sintonia com sua vivência interior (sincronicidade) que o Self utiliza para simbolizar suas intenções. A direção para onde se move o fluxo da vida. O próprio Jung, referindo-se a sua vida, comentou que esta havia sido seu inconsciente realizado.

Foi Jung, quem no Ocidente, reconheceu a importância dos traçados mandálicos na história coletiva e pessoal do ser humano.

Mandala diz respeito ao macrocosmo e ao microcosmo. Ao maior e ao menor processo estrutural. Ela é porta entre dois níveis. É terra e homem, compostos pelo mesmo átomo. O homem pode ser projetado no Universo e o Universo no homem.

Cada homem é uma mandala em si mesmo, devendo concentrar-se, para concretizar suas próprias coordenadas polares e alcançar seu centro para abrir as energias contidas dentro dele.

Nos estudos antropológicos observou-se que tribos primitivos aumentavam a produção de trabalhos mandálicos toda vez que a tribo era ameaçada por doenças ou guerras, ou qualquer outra situação de perigo.

Por outro lado, pacientes em hospitais psiquiátricos também apresentam grande número de trabalhos mandálicos, sugerindo uma tentativa da psique de se organizar. Exemplo disso, é o acervo do Museu do Inconsciente no Hospital D.

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Pedro II , Rio de Janeiro, organizado pela Dra. Nise da Silveira, discípula Dr. Jung, no qual se tem acesso a inúmeros trabalhos artísticos de seus pacientes, a grande maioria apresentando mandalas na sua estrutura.

A expressão artística em forma circular ajuda a organização e o fortalecimento da psique, além de facilitar o contato com a essência ou self. Parece que a psique funciona, a nível energético, de forma circular.

Mandala para Jung, é o símbolo que emerge expressando o esforço em direção ao centro interior – Self . Símbolo que se manifesta nas formas artísticas ou oníricas expressando o esforço integrador e terapêutico usado pelos pacientes em sua própria luta pela individuação. A mandala é a mãe de todos os símbolos por seu poder transformador, integrador e harmonizador da psique.

Mandala em sânscrito quer dizer círculo, e no seu significado etmológico da palavra essência de si mesmo.

A formação básica da mandala é o círculo dentro do quadrado. O círculo representando o infinito, nível transpessoal e o quadrado o finito, nível pessoal. É a união do Céu e da Terra, Infinito e Finito, Transpessoal e Pessoal.

A Mandala vem facilitar a realização da pessoa como ser cósmico e redescobrir aquilo que ela já é. Possibilita o Ser Humano integrar sua identidade social com a sua identidade cósmica.

Tipos de Mandala

� Mandalas Geométricas – geralmente usadas para meditação. O iantras são

Mandalas tibetanas com este objetivo.

• Mandalas Tibetanas – Fazem parte de um ritual de desenvolvimento espiritual, no qual o iniciante é preparado através de jejuns, recolhimento, preparado o terreno onde se produzirá a mandala que será a facilitadora do caminho do iniciante para seu batismo, quando a sua consciência refletida, perdida e desdobrada no tempo e no espaço volta a ser una e luminosa.

• Trabalhos Artísticos e arquitetônicos

• Labirintos

LABIRINTO

Simboliza a busca do Centro – O Divino.

Representa a Matriz divina. Percorrendo o labirinto cria-se um espaço onde o mundo visível e o invisível fluem interligados. Quando você começa a perceber o invisível, você pode o impossível.

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Ocidente – percorre os labirintos

Oriente – contempla as mandalas

Mandala como Diagnóstico - Símbolo do Self promove o crescimento através da projeção simbólica da relação consciente e inconsciente.Quando fazemos uma Mandala, através das cores, da forma, do traçado, da pressão colocada no lápis, dos símbolos utilizados projetamos e comunicamos a nossa maneira de ser e estar, assim, com um devido treinamento podemos estudar e compreender o momento vivencial da pessoa.

Mandala como Auto terapia - A medida que vamos desenhando, vamos nos organizando internamente, entrando em contato mais profundo conosco mesmo, o que nos leva a atingir a paz interior. Vamos fechando estruturas, gestalt, situações inacabadas, mal resolvidas. Quando desenhamos uma mandala e esta não parecer agradável, recomenda-se desenhar outra até conseguir um estado de satisfação. Entende-se que a estrutura ainda não havia sido completada, a mandala “pede” outra até se fechar a estrutura.

Mandala como Processo Meditativo – Como método de balancear a personalidade, reflete e antecipa estágios de integração do processo individual de crescimento.

MANDALA – PSICOGRAMA CÓSMICO

Psico – mente

Grama – escrita

Escrita Cósmica da Mente.

SONHOS

Ninguém questiona a veracidade dos sentimentos que se sente depois de um pesadelo ou mesmo de um sonho agradável. O fato é que para o inconsciente a noção da realidade da vigília não existe, todo material que emerge a consciência é recebido como real, como tendo sua existência.

Para Freud, os sonhos possuem uma mensagem cifrada para que determinados conteúdos que foram reprimidos não possam ser compreendidos pelo sonhador, realizando o propósito do sonho que seria a satisfação de um desejo ou a descarga de um núcleo de tensão sem criar um conflito para a pessoa. Já para Jung, o sonhos tem a sua linguagem própria que difere da linguagem lógica e sequencial da vigília, não para despistar o sonhador, mas sim, porque sua linguagem é simbólica, trazendo uma série de mensagens que expressam conteúdos pessoais mas também de toda a história da humanidade e de seus

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processos de evolução. Para Jung, os sonhos não dissimulam ao contrário, para o sonhador que se dedique ao seu entendimento, os sonhos podem vir a auxiliar na integração de várias aspectos de sua psique que possuem atuação inconsciente.

Para muitas culturas simples, ditas primitivas, não há distinção entre sonho e realidade de vigília. Os dois mundos fazem parte de uma mesma realidade, e tudo o que acontece num mundo afeta diretamente o outro e geralmente traz um aprendizado. Além disso, o mundo dos sonhos é respeitado por ser um canal de comunicação com a fonte da espiritualidade, ou mundo dos espíritos. Para essas culturas, muitas mensagens de ancestrais e de espíritos de cura, por exemplo, são comunicadas através dos sonhos.

Para os Naskapi uma tribo indígena do Canadá o sonhos são uma conversa com o “Grande Homem”.

A tribo dos Senoi, na Malásia, foi estudada devido ao baixo índice de violência por parte de seus membros. O que mais se destacou foi a maneira como os Senoi lidavam com seus sonhos. Desde de pequenos, as crianças eram ouvidas em seus relatos, e além de serem respeitadas em seus conteúdos eram orientadas em como lidar com os sonhos. Os sonhos são considerados como sendo uma realidade que deve ser ouvida e vivida. O sonhador é estimulado a considerar sua mensagem, se o sonho for uma expressão de uma emoção de raiva ou mágoa, o sonhador, no estado de vigília, se apazigua com a pessoa do sonho que gerou aquela emoção, podendo trocar presentes como forma de concretização do sonho por exemplo. Por outro lado, o sonhador aprende também, a transformar o conteúdo do sonho, durante o próprio sonho, ou depois, alterando a emoção final. Se é um sonho de queda, o sonhador pode voar, ou pode ir ate o fundo da queda para descobrir o que há lá.

Resumindo os Senoi destacam a relevância dos sonhos, a importância de se discutir seus sonhos com outras pessoas, enfrentar as ameaças nos sonhos, avançar em direção ao prazer, conseguindo resultados mais positivos nos sonhos que se reflete na vigília.

Também na Grécia antiga os sonhos eram considerados como acesso a uma fonte de informação que o sonhador dispunha inclusive para a cura de possíveis doenças. Os gregos possuiam um Tratado de Onirocrítica, que reunia muitos conhecimentos a respeito de como lidar com os sonhos. O Templo de Esculápio esteve ativo por 1000 anos, e se destinava para tratamentos de cura, no qual o sonhador era preparado para dormir e sonhar. Neste processo a cura poderia se dar durante o sonho ou as orientações de como o sonhador deveria proceder para se curar eram trasmitidas no sonho. Ao despertar o sonhador possuia o caminho a seguir.

Sonhos espirituais como os de José com o Faraó relatados na Bíblia, e os de Maomé com o Arcanjo Gabriel e Alá, dentre muitos outros. Sonhos proféticos, hoje conhecidos como sonhos de precognição trazem consigo informação que transcendem tempo e espaço possibilitando ao sonhador um conhecimento

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impossível de ser acessado por outros meios. Grandes ilustres cientistas, inventores e artistas afirmam terem nos sonhos a fonte de suas inspirações como Elias Howe o inventor da máquina de costura que após muitas tentativas infrutíferas para terminar seu intento, teve um sonho no qual era atormentado por uma perseguição de indígenas armados por lanças, as quais possuiam um furo na ponta, quando ele acordou sabia que para resolver seu intento precisava alterar a localização do furo da agulha.

Dimitri Mendeleiev sonhou com a formatação da tabela peródica dos elementos químicos, Neils Bohr com a estrutura do átomo, Robert Louis Stevenson com a história do médico e o monstro e Goethe com Fausto.

Para o budismo o trabalho com os sonhos, conhecido como Yoga onírica, faz parte do trabalho de desenvolvimento da consciência. Tomar plena consciência implica em tomar consciência inclusive durante o período do sono/sonho. Para o budismo tibetano o estado de consciência do sonho se assemelha em muito ao estado de consciência que se estabelece depois da morte. É muito importante para o praticante fazer esta prática todos os dias antes do adormecer como um preparo para o morrer. A yoga onírica, também conhecida como sonhos lúcidos, é aquela que o sonhador adormece tendo consciência que está sonhando.

Este constante observar permite ao praticante estar sempre consciente independente do estado de consciência em que se encontra.

No ocidente, Stephen LaBerge na Califórnia e Alan Wersley na Grã-Bretanha praticamente ao mesmo tempo desenvolveram e lançaram uma prática para alcançar o sonho lúcido. Antes de todo o adormecer o sonhador começa a contar um, estou sonhando; dois, estou sonhando; tres, estou sonhando e assim por diante até adormecer. Em vigília, perguntar-se muitas vezes se está sonhando ou não. Pretender em sonho ter a consciência de estar sonhando. Ao longo de dois meses estes pesquisadores afirmam ser possível este nível de consciência.

Além da tomada de plena consciência, o sonhos lúcidos facilicitam mudanças na personalidade por meio de experiências emocionais corretivas. A possibilidade de se alterar durante o sonho uma situação emocional conflitiva permite dessensibilizar fobias e ensaiar comportamentos mais adequados.

A leitura dos sonhos, Oniromancia, começou nos países mulçumanos no Alcorão. No ocidente, os psicoterapeutas levando em conta os símbolos universais, culturais e pessoais e procuram auxiliar o sonhador nas mensagens inconscientes que emergem a consciência. Usando de sensibilidade e intuição e sabendo que o próprio sonhador é o melhor leitor de seus sonhos.

Os sonhos em psicoterapia abrem caminho direto para os conteúdos inconscientes, permitindo através da linguagem simbólica dos sonhos a integração das experiências diárias com o material inconsciente projetado nas imagens oníricas. Este trabalho de integração dos elementos inconscientes foi destacado por Jung como fundamental no caminho do encontro com o Self.

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Levando em consideração os aspectos em comum das diversas culturas que relevam o sonhar se destaca para um trabalho com os sonhos:

� Dar importância ao sonho;

� Preparo para o adormecer; revisão do dia, de frente para trás (dos últimos acontecimentos até o primeiros do iniciar o dia);

� Programação dos sonhos ( manter na mente de maneira clara, objetiva e curta o que se quer, seja a solução de problemas ou o auxílio em uma cura).

� Mudança dos sonhos negativos; Completar os sonhos inacabados ( o inconsciente não sabe o que é realidade ou não, assim terminar um sonho com um final satisfatório dissolve o conflito emocional gerador do sonho;

� Manter um diário dos sonhos ( estimula a lembrança de cada vez mais materiais oníricos).

MEDITAÇÃO

“São mais vastos os espaços interiores a serem navegados, do que os espaços exteriores onde os homens poderão um dia, lançar suas naves espaciais”. Collins

Entre uma palavra e outra existe o silêncio. No silêncio é a alma quem fala.

“Entrei onde não soube E quietei-me não sabendo, Toda ciência transcendendo. Eu não soube onde entrava. Porém, quando ali me vi, Grandes coisas entendi: Estava tão embevecido, tão absorto e alheado, E o espírito dotado de um entender não entendendo, Toda a ciência transcendendo. Este saber não sabendo, é de tão Alto Poder, Que os sábios discorrendo jamais o podem vencer”. São João da Cruz

Os sonhos são considerados a via real para o inconsciente, enquanto a meditação a via real para o transcendente.

Dois pressupostos orientam para a prática da meditação. O primeiro é que nosso estado habitual da consciência é subótimo, e o segundo pressuposto é que

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embora a mente destreinada esteja obscurecida e fora de controle, o treinamento pode esclarecê-la, e é esse treinamento que catalisa os potenciais transpessoais.

Meditação é o nome que se dá a uma família de práticas em que se treinam a atenção a fim de submeter os processos mentais a um maior controle da vontade, além de cultivar certas qualidades como a percepção, concentração, equanimidade e o amor. Ela visa o desenvolvimento de estados ótimos da consciência e de bem estar psicológico.

A atenção pode ser focalizada num objeto específico, como ocorre na meditação de concentração, ou manter-se aberta, numa percepção inespecífica de toda a experiência. A atenção caracteriza-se ainda, pelo modo não seletivo e não julgador da experiência. A concentração independente da prática caracteriza-se pela direção da atenção completa e contínua para a experiência.

Mas a meditação vai além, pois exige certas escolhas prévias: uma postura ética frente ao mundo e um compromisso com uma instância superior a nós mesmos. Não é possível ter uma atitude predatória em relação ao outro. Se não se reconhece o semelhante, não é possível ser um bom praticamente de meditação.

É através da meditação que é possível empreender a jornada de se descobrir nossa verdadeira natureza e assim encontrar a estabilidade e a confiança de que necessitamos para viver e de acordo com os budistas tibetanos, morrer bem. O propósito da meditação é levar-nos àquilo que realmente somos – nossa consciência pura e imutável que subjaz ao todo da vida. É na imobilidade e no silêncio da meditação, que retornamos num lampejo àquela profunda natureza interior que há tanto perdemos de vista para o mundo dos negócios e das distrações da nossa mente.

Como se medita? Há muitas técnicas e tipos de meditação e acredita-se que com a crescente interação do Ocidente com o Oriente um novo repertório de práticas possam ser geradas, pois as práticas não são petrificadas. Como já foi mencionado, ela pode ser de concentração ou de expansão, dependendo do foco da experiência. Pode ser devocional, quando há comunicação com o conceito de Deus exterior. Poder ser ativa quando a atenção está ligada com a atividade da experiência, o praticante mesmo em ação, no trabalho, num caminhar permanece com atenção e concentração total na experiência. O mais importante a ser destacado é que a meditação é o caminho para o contato com o Eu mais profundo.

Na mente ordinária percebemos a corrente de pensamentos como se fosse contínua; mas não bem isso o que acontece. Entre cada pensamento há um intervalo. Entre o pensamento passado e o que ainda não chegou há uma brecha onde a natureza da mente se manifesta. O trabalho da meditação consiste em tornar mais lentos os pensamentos, afim de tornar aquele intervalo mais e mais evidente.

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Aos poucos com a persistência do treino e o consequente aprofundamento, o praticante amplia a percepção do quanto estavam adormecidos anteriormente, no quanto se apegavam a coisas sem consistência, superficiais e passageiras, impermanentes. A autopercepção também se amplia, tomando consciência de aspectos de sua psicodinâmica ou de sua personalidade antes desconhecidos do próprio praticante. Há um aumento na capacidade de absorção, atenção e concentração. Aos poucos vai ocorrendo uma progressão de percepções de como a mente é construída, de seus processos e de sua dinâmica mutável. Vai se estabelecendo o abandono das motivações pessoais e um crescimento no amor ao próximo, ampliando o sentimento da conexão que permeia a tudo e a todos.

Os efeitos psicológicos podem ser, no início, agradáveis ou desagradáveis, com alternância de emoções internas com calma e equanimidade. Com o aprofundamento maior tranquilidade, emoções positivas e sensibilidade perceptiva e introspectiva vão se instalando. Na sequência, a experiências avançadas trazem profunda paz concentração, júbilo. Intensas emoções positivas com amor, compaixão. Aumento da criatividade e profundo sentimento de autorealização.

Algumas complicações podem ocorrer, normalmente entre os principiantes sem supervisão adequada ou quando de uma prática muito intensa. Pode ocorrer instabilidade emocional, ansiedade, agitação e depressão. Ainda algumas dificuldades para portadores de psicopatologias preexistentes.

A combinação de psicoterapia e meditação pode ser muito produtiva. Jack Cornfield esclarece que até os melhores meditadores tem feridas a curar. Quando na prática meditativa alguns aspectos psicodinâmicos parecem não se diluir e o praticante se vê travado no seu desenvolvimento, esta talvez seja hora de buscar uma psicoterapia.

Quanto aos efeitos fisiológicos, há uma redução no metabolismo e nos rítmos cardíacos e respiratórios. E uma diminuição da concentração de lactato na corrente sangüínea (lactato = ansiedade). Queda da pressão sangüínea. Aumento do fluxo sangüíneo periférico, e redução do colesterol.

Para os aspectos psicossomáticos já se tem comprovado a eficácia na diminuição da gravidade de ataques de asma, enxaquecas e dores crônicas. Também comprovado está a atuação na atenuação das ansiedades, fobias, estresse pós-traumáticos, tensão muscular, insônia, depressão leve e a longo prazo redução de consumo de drogas.

Diante de tantas dádivas, por que muitas vezes parece difícil se dedicar a prática? Para Tarthang Tulku iniciar e se manter no compromisso da meditação é assumir a responsabilidade pelo próprio crescimento e suas implicações. Para Tarthang Tulku cada etapa de crescimento implica em novas aquisições mas também em novas responsabilidades. Talvez aí esteja uma das razões da resistência a esse mergulho interior, o medo de assumir a responsabilidade de próprio crescimento. Outra razão apontada para as dificuldades sentidas pelos ocidentais, além da agitação, a dispersão e a superficialidade é a preguiça. Numa

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sociedade que valoriza o resultado imediato, se não se verifica efeitos rapidamente, a preguiça começa a tomar conta.

Para Sogyal Rinpoche na busca da introdução diária da prática meditativa vale toda a criatividade possível: a criação de um espaço sagrado e silencioso em casa, momentos especiais junto a natureza, um sorriso, um rosto, uma flor pequenina, e até mesmo se deixar aprofundar naqueles momentos espontâneos e naturais de relaxamento e soltura em que muitas vezes nos encontramos. O convite está aí, para Sogyal Rinpoche esta prática é o maior presente que cada um de nós pode dar a si próprio em sua vida.

A MORTE E O MORRER

Para a Psicologia Transpessoal a morte e o morrer compreendem mais um aspecto do estudo sobre a consciência. O que acontece com a consciência neste processo? Nas outras linhas de Psicologia o processo do morrer não foi diretamente abordado, ficando seu estudo relegado à metafísica e às religiões. Dentro do pensamento positivista a morte é finitude e com ela cessa toda e qualquer manifestação de vida.

Há muitas razões para se fugir de encarar a morte calmamente, e tratá-la como uma parte inerente da vida. Uma das mais justificadas se deve ao fato de que hoje em dia, morrer é triste demais, sobretudo é muito solitário, muito mecânico e desumano. Morrer se torna um ato solitário e impessoal porque o paciente, não raro, é removido de seu ambiente familiar e levado as pressas para uma sala de emergência. Há muito, que se perdeu o contato com o morrer. As crianças são afastadas perdendo a oportunidade de uma orientação natural sobre a vida. Para outros, falar sobre a morte parece algo mórbido que pode até “atrair”. Mas, talvez a razão mais profunda em termos de medo da morte, é que não sabemos quem somos. Qual é realmente nossa essência, e o que acontece com esse ser que pensa dentro de nós depois da morte. A finalidade de refletir sobre a morte é possibilitar uma real mudança dentro de nós nos aproximando das profundezas do nosso coração. É possivelmente, apenas no coração da morte que o gosto do que jamais morre será sentido.

Uma das coisas que Elizabeth Kübler -Ross diz ter aprendido com seus pacientes em estado terminal é que ao olharem para trás em suas vidas, duas perguntas se destacavam: Que serviço você prestou? O que fez para ajudar os outros?

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A maior parte de nós acredita ter “muito tempo”, adiamos a nossa preparação. E só nos damos conta da importância deste trabalho na hora da nossa morte. Aí podemos ser devastados pelo remorso. A pergunta é, não será tarde demais?

Dalai Lama nos diz que é claro que todos nós gostaríamos de morrer tranqüilamente, mas também é claro que não podemos esperar morrer tranqüilamente se nossas vidas foram cheias de violência, ou nossas mentes foram quase sempre agitadas por emoções como ódio, apego ou medo. Assim, se queremos morrer bem, devemos aprender a viver bem: se esperamos morrer em paz, devemos cultivar a paz em nossa mente e modo de vida

Compreender a natureza essencial da mente através do estudo da consciência, traz através do estudo da morte e do morrer este aspecto paradoxal: quanto mais se aprofunda nestes conhecimentos, mais se revela o sentido profundo e realizador da vida.

Neste sentido, a Psicologia Transpessoal ao se debruçar sobre os estudos dos estados da consciência nos diferentes níveis amplia a visão do ser. Incorporando ao seu corpo teórico esse estudo que responde a diferentes emergências antes não atendidas. Hoje, a partir dos conhecimentos oriundos dos relatos de vidas passadas é possível se conceber todo um processo psicoterapêutico que abarca e acolhe materiais inconscientes provenientes destas vivências, podendo receber tratamento como qualquer outro bloqueio psicológico liberando a pessoa, e desfazendo uma série de sintomas correlacionados.

Outro aspecto importante a partir do estudo da morte/morrer é o entendimento e orientação no trabalho com os pacientes em processos terminais, acompanhando os que estão para morrer, ou que receberam um diagnóstico de possível morte e seus familiares. Ampliando e dando significado a vida e a morte, recebendo esses pacientes em seu sofrimento e dando oportunidade de falarem da sua dor, seus medos, culpas, arrependimentos e mágoas. Criando momentos de desabafos e serenidade. Resignificando o sentido da vida e principalmente os momentos que ainda estão presentes.

Mas, o que acontece com a consciência neste processo?

Depois das publicações dos livros “Vida após a vida” de Raymond Moody e a “morte e o morrer” de Elizabeth Kübler-Ross ocorreu no meio científico um interesse extraordinário sobre o morrer e sobre a experiência de saída do corpo (ESC). A questão mais importante que se impõe é se há continuidade de existência depois da morte do nosso corpo físico.

Há uma vasta literatura que aponta provas quanto a questão de sobrevida de um sistema de ordem energética, após a morte do corpo físico. Numa tentativa de orientação das várias tendências de pensamento sobre a morte, Pierre Weil em seu livro “A morte da morte” organiza as três teses sobre a morte com seus postulados subjacentes , além de nos apresentar quatro hipóteses básicas para nortear os estudos da consciência neste processo. (Ver quadro a seguir.)

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POSTULADOS SUBJACENTES ÀS TRÊS TESES SOBRE A MORTE Tese da morte definitiva Tese da sobrevida parcial Tese da sobrevida total

1. O mundo só existe como o percebemos pelos cinco sentidos.

1. O mundo só existe como o percebemos pelos cinco sentidos.

1. Existem sistemas energéticos inacesíveis aos cinco sentidos, e percebidos por outras funções.

2. Na natureza tudo tem um princípio e um fim.

2. Na natureza tudo se transforma, nada se perde. Nosso corpo se transforma, e sobrevivemos em nossos filhos.

2. Na natureza tudo se transforma, e a energia que a e compõe é eterna.

3. A vida começa no nascimento e termina na morte.

3. A vida começa no nascimento e termina na morte.

3. A vida existe antes do nascimento e continua após a morte.

4. A vida emocional, mental e espiritual é um produto direto do corpo e intrinsecamente ligado a ele.

4. A vida emocional, mental e espiritual é um produto direto do corpo e intrinsecamente ligado a ele.

4. A vida emocional, mental e espiritual forma um sistema que tem a propriedade de se destacar do corpo.

5. A vida individual é independente da vida do universo.

5. A vida individual é independente da vida do universo.

5. A vidad individual á completamente integrada à vida cósmica e com ela forma um todo.

6. A evolução e apredizado do individuo acabam na morte.

6. Uma parte do aprendizado se transmite aos filhos, amigos, leitores, etc.

6. A evoluçaõ e aprendizado individuais continuam após a morte.

1ª HIPÓTESE - SISTEMAS EXTRACELULARES DA ENERGIA PSÍQ UICA

Os sistemas energéticos de programas e aprendizagens intelectuais , emocionais e vitais são de natureza extracorporal, mais especificamente extracerebrais.

Sob o ponto de vista de Stéphan Lupasco todos os sistemas do universo são formados da mesma energia. A energia se transforma constantemente numa sequência de eventos. Neste sentido, não pode haver morte absoluta, mas apenas potencialização.

Para o neurocirurgião Wilder Penfield através da estimulação direta no cérebro pode-se despertar qualquer memória, no entanto, não é possível estimular a consciência , nem a vontade. Sugerindo uma fonte de energia independente do cérebro. Para ele é o espírito que gerencia opiniões, atos voluntários ou tomadas de decisão.

Já vimos anteriormente os trabalhos de Karl Priban e Daniel Bohm sobre a visão do cérebro como holograma, trazendo possivelmente a informação de um todo maior, e que este seria o reflexo de uma ordem explícita em que a consciência

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seria a determinação de uma ordem implícita, que ambos, consciência e cérebro, fazem parte de uma natureza que os supera. O que se destacaria na hora da morte seria a consciência.

No Brasil, o Dr. Elizer Mendes coordena um trabalho em que sensitivos ao lado de (ou mesmo a distância) pessoas “doentes” podem captar sua dor e os padrões mentais sugerindo que os pensamentos, emoções , comportamentos e mesmo os sintomas físicos são suscetíveis de ser transmitidos de um corpo humano a outro.

O mesmo se dá com os resultados das experiências de Stanislav Grof sem citar outros igualmente sérios pesquisadores que apontam para uma memória não só uterina mas também, do momento da própria concepção ou anterior a este período penetrando nos campos transpessoais além do tempo-espaço. Todas estas experiências nos falam de uma consciência além do cérebro.

Talvez um dos fenômenos que mais despertam interesse no meio científico são os relatos sobre experiências de saída do corpo (ESC ou OBE – out body experience). Muitos destes relatos ficaram conhecidos pelo trabalho do Dr. Moody. Entretanto, outros trabalhos como de Charles Tart também enriquecem estas pesquisas. Já se sabe que estas experiências não estão restritas à situação de quase morte, mas também sob uso de certas drogas, sono, relaxamento, meditação, treinamento sistêmico ou mesmo de maneira espontânea.

A ESC é uma experiência pessoal, na qual geralmente as pessoas que as vivenciaram descreveram como saída do corpo, voar no espaço, perceber seus corpos a distância, deslocar-se para outros lugares, perceber-se muitas vezes ligados ao seu corpo por um cordão e ao final de um tempo, retornar a seus corpos.

2ª HIPÓTESE - A MORTE COMO TRANSFORMAÇÃO DO ESTADOS DE CONSCIÊNCIA

Aquilo que nós chamamos de morte corresponde a uma mudança de estado de consciência, idêntica àquelas observadas nas experiências ditas “saída do corpo”.

“Se tudo o que sabemos da mente é o aspecto que dela se dissolve quando morremos, ficaremos sem ter a mínima idéia do que continua e sem nenhum conhecimento da nova dimensão da realidade mais profunda da natureza da mente. Assim, é vital para todos nós que nos familiarizemos com a natureza da mente enquanto ainda estamos vivos”. Sogyal Rinpoche

Focando a ESC e comparando com pesquisas os relatos de grupo de pacientes em estado terminal e grupo de pessoas com relatos oriundos de estado de sono, efeito por uso de drogas, meditação e experiências espontâneas, observa-se

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grande similitude entre o conteúdo relatado pelos dois grupos. As percentagens de visão de luz, sensação de voar, visão exterior do corpo, inefabilidade, perda do medo da morte indicam que o morrer possui características comuns aos experimentos em certos casos de alteração da vigília para outros estados.

Também os registros das ondas cerebrais no EEG demonstram semelhanças apresentando-se as ondas alfa, teta ou ondas deltas mais lentas no morrer como nos estados de relaxamento, meditação e sono.

No polêmico trabalho do Dr. Moody ele fez uma pesquisa entrevistando pessoas que tiveram a chamada “morte clínica”, isto é uma parada cardíaca durante algum tempo recuperando-se após os cuidados médicos intensivos. Também foram entrevistadas pessoas que sofreram acidentes gravíssimos, com perda mais ou menos longa de consciência.

As pessoas entrevistadas relatam mais ou menos as mesmas experiências: Inicialmente , a pessoa experimentava uma sensação de ruídos que para uns era música, para outros zumbidos. Em seguida, saiam do próprio corpo e eram capazes de ver o trabalho dos médicos, tentando recuperá-los. Nesta situação eram capazes de atravessar paredes e foram capazes de descrever cenas ocorridas naquele momento, em lugares diversos, com uma precisão somente possível para quem estivesse realmente naqueles locais. Entravam então , em um túnel que percorriam até atravessá-lo totalmente, chegando a um lugar onde encontravam um “Ser de Luz” que os recebia e, através de uma comunicação não verbal, fazia com a pessoa uma revisão de sua vida. Não era um julgamento severo, mas uma revisão feita com amor, onde pontos negativos vividos por ela lhe eram mostrados e como deveriam ter sido evitados. Dois pontos eram salientados: a falta de caridade para as outras pessoas e a recusa em aproveitar oportunidades de crescimento. A caminhada continuava até a pessoa chegar a uma espécie de barreira, a qual ela sentia que devia e queria atravessar. Mas quando se dispunha a faze-lo, era puxada para trás e acordava em seu próprio corpo, quando os médicos completavam as manobras de recuperação.

Nestas descrições observa-se a similaridade entre o túnel de passagem do morrer para o túnel de passagem para o nascer. Fazendo um paralelo entre o nascer e o morrer como etapas de uma transformação. Outra observação é sobre a barreira a qual os que foram entrevistados não teriam passado, pode-se imaginar que quem teria passado foram talvez os que morreram.

O trabalho com pacientes terminais tem sido de vital importância no sentido de ampliar o sentido da vida e da morte. Terminais somos todos nós que não sabemos o dia em que vamos nos transformar.

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3ª HIPÓTESE - A MORTE COMO PASSAGEM DA CONSCIÊNCIA D E UM SISTEMA ENERGÉTICO A OUTRO

A mudança do estado de consciência na morte consiste na saída da consciência do corpo físico e a sua permanência em outro sistema.

De acordo com o postulado básico da Psicologia Transpessoal - VR = F (EC), ou seja a vivência da realidade é uma função do estado da consciência no qual estamos experimentando num dado momento. Como vimos anteriormente, nos estados de vigília, sono/sonho e consciência cósmica a consciência está sempre presente. Um véu de esquecimento separa estes estados criando a ilusão de inconsciência.

Nos estudos da Yoga, a partir da vivências em práticas de passagem por diferentes estados de consciência, sabe-se que em cada diferente estado, a consciência toma contato, por meio do “corpo” ou sistema energético que lhe é específico, com um “mundo” correspondente e diferente. Assim para:

Vigília Corpo físico Mundo Físico

Sonho Corpo Sutil Mundo Sutil

Sono Corpo Causal Mundo Causal

Consciência Cósmica Supercausal Supercausal

O objetivo principal tanto da Yoga, quanto das práticas budistas é preparar o ser humano, durante a sua existência, para passar de um corpo a outro, mantendo-se desperto nos níveis de sonho/sono. É desta maneira, que no momento da morte a pessoa está treinada a fazer a passagem para o outro estado de consciência se mantendo desperto e sabendo como agir.

É basicamente, o apego ao mundo físico e sutil, carregado pelas suas paixões e aversões, que impede que a consciência individual compreenda que ela é também universal. Neste caso de desconhecimento, após a morte, ou saída do corpo físico e do estado de vigília, a consciência continua a se identificar com aquilo que era apegada no estado de consciência de vigília: seus comportamentos, crenças, atitudes e valores continuam fora do corpo físico, como no estado de vigília, a consciência continua a se identificar com o corpo, as emoções e as idéias.

Os estudos tibetanos sobre o viver e o morrer contribuem com vasta e profunda literatura. No “Livro Tibetano dos Mortos” e mais recentemente no “Livro Tibetano do Viver e do Morrer” de de Sogyal Rinpoche somos levados passo a passo na descrição do que vai acontecendo de acordo com a visão budista, em termos de mudança, com a consciência nas diferentes etapas deste processo.

Bardo é uma palavra tibetana que significa “transição”, ou intervalo entre o encerramento de uma situação e o início de outra. A palavra bardo é comumente usada para designar o estado intermediário entre a morte e o renascimento, mas na realidade os bardos estão continuamente ocorrendo tanto na vida quanto na

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morte, e são momentos críticos em que as possibilidades de liberação, ou iluminação são intensificadas. O maior e mais intenso desses momentos, no entanto, é o momento da morte.

Para o estudo do viver e do morrer, do ponto de vista do budismo tibetano podemos dividir nossa existência em quatro bardos principais: O bardo natural desta vida, o doloroso bardo da morte, o luminoso bardo do dharmata e o bardo cármico do vir- a- ser.

O bardo natural desta vida compreende o período entre o nascimento e a morte. Muitas vezes parece pouco referir-se a vida como um período de transição, mas comparando ao processo de muitas vidas e muitos renascimentos parece ajustado o conceito. Os ensinamentos nos dizem que é no bardo natural da vida que existem as condições mais favoráveis para se aprender determinadas lições e praticar determinados aprendizados. É somente encarnados que podemos vivenciar, alterar e praticar determinadas experiências.

O bardo doloroso da morte se estende do início do processo de morrer até o fim do que é conhecido como respiração interior; esta, por sua vez, culmina no despontar da natureza da mente, chamada a “Luminosidade Base, no momento da morte. Na morte todos os elementos que integram nosso corpo e mente vão gradualmente e sequencialmente sendo removidos, desligados e desintegram-se. À medida que o corpo morre , dissolvem-se os sentidos e os elementos sutis, vindo em seguida a morte do aspecto ordinário da mente com todas as suas emoções negativas de raiva, desejo e ignorância. Finalmente nada fica para obscurecer a nossa verdadeira natureza. Dois aspectos de nosso ser são mostrados no momento da morte: nossa natureza absoluta e nossa natureza relativa – como somos e como temos sido ,esta vida. As práticas budista e yogas treinam para este processo, também na meditação adiantada o praticante vai se distanciando e dissolvendo de cada elemento mais denso indo de encontro para o mais sutil.

Quando há o despontar da luninosidade da “Clara Luz” é a maior oportunidade para a liberação, entretanto, ainda que a Luminosidade Base se apresente naturalmente a nós todos, muitos estão despreparados para a sua absoluta imensidão. A maioria de nós simplesmente não dispõe de meios para reconhecê-la, porque não se familiarizou durante a vida com o modo de obter esse reconhecimento. O que acontece, então, é que tendemos a reagir de modo instintivo com os nossos medos, hábitos e condicionamentos passados, todos os nossos velhos reflexos. Embora as emoções negativas tenham morrido para a luminosidade aparecer, os hábitos de muitas vidas ainda permanecem, escondidos no fundo da nossa mente ordinária. Isso é o que nos impede de verdadeiramente utilizar esse momento poderoso como uma oportunidade para a liberação. A mente ordinária age como se fosse uma bolha de vidro de nos envolve, apesar de estarmos no meio de um lindo jardim somos impedidos de nos sentir parte.

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O bardo luminoso do dharmata abrande a experiência pós- morte da radiância da natureza da mente, a luminosidade ou “Clara Luz”, que se manifesta como som, cor e luz. Neste bardo todas as experiências que ocorrem são parte da radiância original da natureza da nossa mente. Diferentes aspectos de sua energia iluminada estão sendo liberados. Se podemos reconhecer as manifestações deste bardo como sendo a energia da sabedoria da nossa própria mente, não haverá diferença entre percebedor e percebido, essa é uma experiência de não- dualidade. Entrar por completo nesta experiência é obter a liberação. Sem a prática meditativa que proporciona o reconhecimento deste estado não- dual muitas das manifestações que ocorrem neste bardo podem ser assustadoras a pessoa. O reconhecimento da radiância é que vai permitir a liberação.

O bardo do vir- a- ser inicia-se quando não ocorreu o reconhecimento da Clara luz, nem o reconhecimento da radiância nos diferentes estágios do bardo do dharmata. Todo este processo pode ocorrer na velocidade de um relâmpago. A partir daí, céu e terra voltam a se separar. Subitamente desperta-se no estado intermediário que fica entre a morte e o renascimento. Todas as sementes de nossas tendências habituais ficam ativadas e despertam novamente.

No bardo do vir- a- ser nós revivemos todas as experiências da vida que se encerrou, reexaminando minuciosamente cada detalhe há muito esquecido.

Toda a paisagem e ambiente são modelos pelo nosso carma. Dependendo da qualidade das antigas ações pode-se experimentar momentos de paz e benção ou momentos de desgosto e medo, sendo que todas as experiências são ampliadas sete vezes em intensidade. Provavelmente, é por isso que os grandes mestres frizam tanto na necessidade de diante de dificuldades a pessoa deve procurar se entregar em orações, é mais uma forma de lidar com os “fantasmas” criados pelo nosso carma.

O que distingue e define cada um dos bardos é que todos eles são intervalos ou períodos em que a possibilidade do despertar está particularmente presente. As oportunidades de liberação estão ocorrendo de maneira contínua ao longo da vida e da morte .

4ª HIPÓTESE - O RETORNO A UM CORPO FÍSICO, OU O FENÔMENO DA REENCARNAÇÃO

A consciência individual retirada no corpo sutil, em certas condições ou leis, pode retornar a um outro corpo físico

Ian Stevenson especializou-se no estudo de casos de crianças que dizem lebrar-se de outras existências. Ele criou um setor de parapsicologia dentro do setor de Neuropsiquiatria na Universidade de Virgínia – Eua. A maior parte dos casos tem uma estrutura semelhante - crianças que declaram com insistência que seus pais e mães atuais não são os verdadeiros, e que estes moram em tal cidade

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ou vila. Dizem nomes, fornecem detalhes. Alguns pais chegam a pesquisar e se deslocam para os lugares mencionados. Toda a pesquisa de Stevenson é catalogada e os dados são seriamente estudados no sentido de uma possivel confirmação da hipótese de reencarnação.

Nos adultos lembrar de vidas passadas nem sempre ocorre espontaneamente, algumas vezes podem surgir em meditação, ou sonhos ou com emprego de técnicas de relaxamento e hipnose.

Como vimos anteriormente as pesquisas iniciais sobre os estados da consciência a partir do uso com LSD, enriqueceram com informações a respeito de memórias de outras vidas já vividas pelos participantes das pesquisas.

Nos trabalhos de Denise Desjardins encontra-se várias hipóteses a respeito do processo da reencarnação.

1 – Os fetos se lembram de vidas anteriores.

• Reviver o nascimento faz emergir as impressões da vida passada

• O recém- nascido e a criança se recordam de sua vida passada.

• A imagem do pai e da mãe se duplica com aquela do pai e da mãe da vida anterior

• Alguns sonhos são lembranças de vidas anteriores

• Alguns delírios, obsessões ou idéias fixas são reminiscências de vidas passadas.

• Certas impotências sexuais vêm de traumatismos de vidas anteriores.

• A culpabilidade pode ser transmitida de uma vida a outra, levando a pessoa a condições de autopunição.

• A mãe é seu primeiro psicoterapeuta

Reunindo os conhecimentos que os estudos budistas e yogas, e agora as pesquisas realizadas no Ocidente, delineam-se algumas afirmações: Morrer consiste em uma mudança do estado de consciência de vigília, para outro estado de consciência de sonho, sono profundo ou consciência cósmica, segundo o grau de desapego e descondicionamento alcançado na última existência. Segundo alguns mestres tibetanos se quisermos saber qual o estado da nossa consciência no nosso morrer é só observarmos o estado de consciência nos nossos sonhos. Se conseguimos nos manter lúcidos mesmo em sonho assim será. Se somos levados por emoções e pesadelos , assim será.

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O sistema de energia sutil ( vital, emocional e intelectual ) se separa do corpo graças a um fenômeno parcialmente conhecido pelo nome ESC (experiência de saída do corpo), que tem a propriedade de “destacar-se”.

Consciência individual é apenas uma parte da consciência cósmica que se isola, e provisoriamente se esquece do todo.

O estado de consciência vai determinar o processo do morrer podendo interferir na determinação de um renascimento ou não.

A consciência amplificada que ocorre no momento da morte imprime com exagerada intensidade os últimos pensamentos, sentimentos ou sensações no veículo – quer o chamemos de alma, espírito, corpo sutil – que em caso de renascimento será transmitido para uma vida futura. Muitas vezes eles serão ativados com o trauma do nascimento. O estado da consciência ao morrer “fixa”de alguma forma o complexo cármico na psique transmigradora.

Há uma ampliação intensa da consciência à medida em que a alma do indivíduo passa do atemporal para o temporal, e vice- versa.

O estudo do morrer compõe ainda uma série de outros aspectos. Neste momento, vale ressaltar que ao se olhar para a morte naturalmente constatamos nossa vida. Ter a oportunidade de entrar em contato com profundos ensinamentos que buscam nos orientar em direção a nossa maior realização que é a própria vivência da nossa natureza, é o reconhecimento da nossa existência, ao mesmo tempo que se evidencia a compaixão de olhar o processo evolutivo de nossos companheiros de caminhada rumo a mesma luz.

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