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Cidades visíveis, sujeitos invisíveis: pescadores em Parnaíba nas décadas de 1970 e 1980 PEDRO VAGNER SILVA OLIVEIRA * Introdução As cidades estão para além de um emaranhado de ruas, construções e logradouros. Elas configuram-se enquanto campos de lutas e conflitos sociais, espaços de projetos políticos e de interesses múltiplos. Partindo desse mosaico de vários “lugares” dentro de um, que são as cidades, esta comunicação tem como problemática analisar as relações dos pescadores da praia de Pedra do Sal com a cidade de Parnaíba, no Piauí. Esse estudo histórico busca reconstruir uma Parnaíba que a historiografia local pouco tem explorado. Nos anos 1970 e 1980, ocorriam debates na imprensa sobre o desenvolvimento que o turismo poderia trazer esta cidade. Buscamos, dessa maneira, compreender os modos como Parnaíba era sentida e vivida pelos habitantes da praia e do continente. Para a tessitura desse trabalho, foram utilizadas algumas edições dos jornais que circulavam na cidade no período em questão. A partir da imprensa, podemos observar os discursos, ideias e relações que a cidade” tinha com a praia. Empregamos também a metodologia da História Oral, usando os gêneros de história oral de vida e história oral temática. A História Oral foi uma importante ferramenta para captarmos as experiências que os pescadores tinham com a cidade, bem como seu cotidiano. Se por meio das fontes impressas podemos observar as falas e a forma como a cidade se relacionava com a praia, por meio das narrativas de pescadores entrevistados, fomos capazes de entender o movimento contrário, isto é, da praia para a cidade. Ao invés de confrontarmos as duas fontes - orais e impressas -, achamos mais interessante analisá-las em conjunto, seguindo a recomendação de Alessandro Portelli, quando afirma que “as fontes escritas e orais não são mutuamente excludentes” (PORTELLI, 1997: 26). Nossa proposta foi usar a história oral não enquanto maneira de preencher lacunas, mas como uma fonte que ajudaria a entender melhor as relações humanas na cidade de Parnaíba. * EFLCH/UNIFESP. Mestrando em História, apoio CAPES/DS

Introdução - HISTORIA ORAL · 2016-05-31 · Os habitantes de Parnaíba estão concentrados na sua grande maioria na zona urbana do município (uma realidade que vem de longos anos)

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Cidades visíveis, sujeitos invisíveis:

pescadores em Parnaíba nas décadas de 1970 e 1980

PEDRO VAGNER SILVA OLIVEIRA*

Introdução

As cidades estão para além de um emaranhado de ruas, construções e logradouros. Elas

configuram-se enquanto campos de lutas e conflitos sociais, espaços de projetos políticos e de

interesses múltiplos. Partindo desse mosaico de vários “lugares” dentro de um, que são as

cidades, esta comunicação tem como problemática analisar as relações dos pescadores da praia

de Pedra do Sal com a cidade de Parnaíba, no Piauí.

Esse estudo histórico busca reconstruir uma Parnaíba que a historiografia local pouco

tem explorado. Nos anos 1970 e 1980, ocorriam debates na imprensa sobre o desenvolvimento

que o turismo poderia trazer esta cidade. Buscamos, dessa maneira, compreender os modos

como Parnaíba era sentida e vivida pelos habitantes da praia e do continente.

Para a tessitura desse trabalho, foram utilizadas algumas edições dos jornais que

circulavam na cidade no período em questão. A partir da imprensa, podemos observar os

discursos, ideias e relações que a “cidade” tinha com a praia. Empregamos também a

metodologia da História Oral, usando os gêneros de história oral de vida e história oral temática.

A História Oral foi uma importante ferramenta para captarmos as experiências que os

pescadores tinham com a cidade, bem como seu cotidiano. Se por meio das fontes impressas

podemos observar as falas e a forma como a cidade se relacionava com a praia, por meio das

narrativas de pescadores entrevistados, fomos capazes de entender o movimento contrário, isto

é, da praia para a cidade.

Ao invés de confrontarmos as duas fontes - orais e impressas -, achamos mais interessante

analisá-las em conjunto, seguindo a recomendação de Alessandro Portelli, quando afirma que

“as fontes escritas e orais não são mutuamente excludentes” (PORTELLI, 1997: 26). Nossa

proposta foi usar a história oral não enquanto maneira de preencher lacunas, mas como uma

fonte que ajudaria a entender melhor as relações humanas na cidade de Parnaíba.

* EFLCH/UNIFESP. Mestrando em História, apoio CAPES/DS

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1. Parnaíba, “Princesa do Igaraçu”

Situada no norte do estado do Piauí, a cerca de 350 quilômetros da capital,

Teresina, Parnaíba, na década de 1970, “apresentava-se como uma das principais cidades

do Estado” (MENDES, 2015: 244). Contudo, uma única cidade pode apresentar várias

outras dentro de si mesma, gerando contrastes por meio de marcas visíveis. Segundo

Sandra Jatahy Pesavento:

É pela materialidade das formas urbanas que encontramos sua representação

icônica preferencial, seja pela verticalidade das edificações, seja pelo perfil ou

silhueta do espaço construído, seja ainda pela malha de artérias e vias a

entrecruzar-se em uma planta ou mapa. Pela materialidade visível,

reconhecemos, imediatamente, estar em presença do fenômeno urbano,

visualizado de forma bem distinta da realidade rural (PESAVENTO, 2007:

13).

Se tomarmos a concepção de Pesavento, na qual a arquitetura e outras

materialidades “marcam”, ou melhor, definem o urbano, no caso de Parnaíba, o centro da

cidade e seu entorno é que seria, de fato, a sua parte urbana.

Nas fontes hemerográficas que temos sobre as décadas de 1970 e 1980,

observamos o louvor a essa Parnaíba urbana.

Os habitantes de Parnaíba estão concentrados na sua grande maioria na zona

urbana do município (uma realidade que vem de longos anos) devido à sua

tradição como centro comercial. Este aspecto, alias, a distingue no Piauí onde

até 1980 cerca de 52,09% de seu contingente populacional residia na zona rural

(Inovação. 1985, p.4).

O artigo extraído do Jornal Inovação mostra como a imprensa retratava Parnaíba,

cidade que se distinguia das demais do estado por ser considerada urbana em certa

medida. Contudo, observa-se o limite da urbes. Parnaíba nos anos 1970 e 1980 não era

totalmente urbana. Em 1980, cerca de 22,37% da população parnaibana morava na zona

rural2.

Ainda são poucos os estudos na área de história sobre Parnaíba que se preocupam

com outras áreas dessa cidade que não a denominada parte urbana. Dessa maneira, os

habitantes de lugares mais afastados têm sido – ainda que timidamente - contemplados

pela historiografia local3, deixando a condição de sujeitos “invisíveis” pela escrita da

2Batista Teles. Parnaíba: crescimento populacional In: Jornal Inovação. Março-Abril Maio de 1985, p.4. 3Aos poucos, estudantes de História do Campus de Parnaíba da Universidade Estadual do Piauí, têm

mostrado preocupação em investigar essa outra Parnaíba em algumas monografias. São eles: BRAGA,

Daniel Souza. Catadores de Caranguejo do delta: história e memória (1960-2010); GOMES, Luana

Bittencourt. Ilha de brancas dunas: história e memória do bairro Tatus em Ilha Grande do Piauí (1975-

2015); OLIVEIRA, Pedro Vagner Silva. Correndo na vela: experiências e modos de vida de trabalhadores

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história de Parnaíba. Tendo isso em vista, nosso intento é iluminar um pouco esses

sujeitos e lugares pouco analisados, inserindo-os na historiografia parnaibana.

Um dos problemas que enfrentamos diz respeito a como proceder para delinear

Parnaíba. A geografia oficial é uma classificação bastante proveitosa, contudo, talvez

apresente problemas. Desse modo, devido a especificidade de cada lugar e dos seus

moradores, preferimos4 esmiuçar Parnaíba da seguinte maneira: centro, subúrbio e

povoados insulares5. Seriam esses os espaços, ou melhor, as muitas cidades que

comporiam Parnaíba.

O centro da cidade e suas imediações são sempre descritos na historiografia local

pelos seus espaços de sociabilidade, pelos casarios de diversos períodos, localizados ao

longo da atual avenida Presidente Vargas e pelo seu entorno, pela Praça da Graça e as

duas igrejas, enfim, por logradouros, ruas e casas que contam “a história” de Parnaíba.

Os subúrbios seriam os bairros mais afastados do centro, mas que se localizam no

continente. Apesar de não usarmos o termo zona rural, ela estaria englobada em nossa

classificação como subúrbio, pois estamos levando em conta o espaço físico, não só a

paisagem e sua constituição.

Subúrbio indica uma área pouco assistida pelo poder governamental, o que não

parece ser tão diferente para zona rural parnaibana ou mesmo dos povoados insulares.

Contudo, devido a especificidade desse último, preferimos adotar outra nomenclatura.

Os povoados insulares localizavam-se na outra margem do Igaraçu, no acidente

geográfico chamado Ilha Grande de Santa Isabel. Eram alguns desses povoados insulares:

Morros da Mariana, Canto do Igarapé, Cal, Tatus e Pedra do Sal. Lugares pobres e que

funcionavam como provedores6 de alimentos para Parnaíba. Dentre estes povoados,

do Delta (1975-2014) e SOUZA, Matheus Oliveira. A URBE, O RIO E A ILHA: Parnaíba através de suas

relações com os trabalhadores ribeirinhos do Delta do Rio Parnaíba (1975-2015).

4Classificação feita a partir do “Livro do Centenário da Parnaíba”, em que se afirma que o censo de 1940

acusou que a população parnaibana estaria distribuída nos quadros urbano, suburbano e rural, conf.

CORREIA, Benedito Jonas; LIMA, Benedito dos Santos (orgs.). O livro do centenário da Parnaíba: 1844-

dezembro - 1944. Parnaíba: Gráfico Americana, 1945. Ainda que essa fonte não contemple nosso recorte

temporal, achamos oportuno adaptar essa classificação. 5 Povoado insular é uma classificação nossa, dada para os núcleos populacionais que se localizavam na Ilha

Grande de Santa Isabel, território pertencente à Parnaíba. Ainda que a imprensa da época considere esses

povoados como pertencentes à zona rural, achamos melhor criar uma nomenclatura distinta, pois

acreditamos que as experiências dos moradores, bem como a paisagem do lugar são peculiares devido ao

local que habitam e também pela complexidade do contexto insular, bem como as próprias relações com

Parnaíba. 6Nos jornais que circulavam no final dos anos 1970, encontramos algumas matérias em que os povoados

insulares eram denominados de “celeiros”. Para além, há um livro de crônicas de autoria da professora

parnaibana Maria da Penha Fonte e Silva, publicado no ano de 1987, que elogia a Ponte Simplício Dias,

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encontra-se nosso lócus de pesquisa. Os elos em comum desse lugar com os demais

povoados são vários, desde sua função econômica até as necessidades mais básicas da

população e a riqueza da paisagem natural. Porém, a característica mais marcante de

Pedra do Sal, inexistente nos demais povoados insulares, era e ainda é o mar.

Continuemos nossa visitação pela “Princesa do Igaraçu”. Nos anos 1970, Parnaíba

ganhou o título de 3º Pólo Turístico Nacional. Segundo Mendes, os jornalistas que faziam

parte do Jornal Inovação afirmavam que “os administradores da cidade deveriam intervir

no espaço público a fim de torná-la mais atrativo” (MENDES: 2015, 263). Interessaria

criar infraestrutura para acomodar os visitantes, bem como propiciar o deslocamento

deles para os pontos turísticos.

Anos antes do Inovação circular, haviam sido construídas a ponte Simplício Dias

e a estrada ligando Parnaíba aos Morros da Mariana (sede da Ilha Grande de Santa Izabel)

e à Pedra do Sal. Ambos os empreendimentos tinham como intenção integrar as partes

continental e insular da cidade. Com a ponte e a estrada, se tornaria mais fácil o trânsito

diário de veículos e pessoas para os dois lados do Igaraçu.

A valorização da paisagem não era simplesmente apego à natureza, mas devido às

concepções dadas à paisagem natural nesse período. Estava em pauta nessa época o

incentivo ao turismo no país. Segundo Maria Majaci Moura Silvia, “para atuar no âmbito

regional, o turismo foi inserido no II Plano Nacional de Desenvolvimento – PND, já na

década de 1970, como uma nova “indústria” a ser fomentada” (SILVIA, 2013: 146).

Dado o contexto de fomento ao turismo nesse período e de sua imagem enquanto

gerador de capital, é provável que a ponte e a estrada possuíssem como foco, favorecer

não só o percurso diário dos trabalhadores insulares para o centro da cidade, mas

possibilitar também o fluxo de turistas para a Ilha. Provavelmente, interessaria mais à

prefeitura e ao governo estadual proporcionar condições para os visitantes de Parnaíba

irem à Ilha desfrutar dos seus pontos turísticos, dentre eles a praia de Pedra do Sal.

Dessa maneira, a valorização da paisagem parnaibana decorria do interesse

econômico pelo turismo. O mar surgia como atrativo turístico que, em tese, traria

benefícios sociais e econômicos para a cidade, ou melhor, para parte dela. Mas é intrigante

que, ao se forjar essa imagem, os pescadores que moravam em Pedra do Sal não eram

“ligando estreitamente, num braço fraternal e perene amplexo Parnaíba à Ilha Grande Santa Izabel, o celeiro

da região a Rainha do delta Parnaibano”. SILVA, Maria da Penha Fonte e. Parnaíba, Minha Terra:

crônicas. Parnaíba. 1987, p.26

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sequer mencionados, sendo dessa maneira, sujeitos “invisíveis” da cidade – ainda que

protagonizassem uma atividade econômica relevante.

Se nos jornais, os pescadores pouco “apareciam” na cidade, na praia, seu trabalho e

presença eram também invisibilizados. Pode-se supor que as pessoas que escreviam para

o jornal tinham por interesse “vender” aos seus leitores a praia como lugar de descanso e

lazer. O pescador, pela simplicidade de suas moradias, poderia comprometer a imagem

que a imprensa estava construindo da praia. Veremos agora como eram as vivências desse

grupo de trabalhadores de uma Parnaíba pouco estudada.

2. Pedra do Sal e Parnaíba: pescadores, visitantes e (a) circulação de pessoas

Em Parnaíba, havia pescadores marítimos, sujeitos “invisíveis”, mas que se faziam

presentes. “Invisíveis”, pois, pela imprensa do período em questão, não eram notados seus

problemas sociais, ou pouco eram levados em consideração quanto as suas condições de

vida e trabalho. Contudo, esses personagens históricos existiam, uma vez que os frutos

do seu suor, isto é, da sua força de trabalho, fazem parte da economia local.

As cidades podem ser percebidas também pelos silenciamentos das fontes e dos

sujeitos de sua história. Sabe-se que existiam indivíduos que moravam na parte praiana

de Parnaíba. Devido a esse silêncio, achamos oportuno usar a história oral como

metodologia para captar as experiências dos moradores de Pedra do Sal e analisar as

relações destes com Parnaíba. Observamos os movimentos destes trabalhadores nas duas

partes da cidade, isto é, no centro e no povoado insular chamado de Pedra do Sal.

Pedra do Sal era até as décadas de 1970 e 1980, um povoado de pescadores. Segundo

as narrativas dos colaboradores7, possuía baixa densidade demográfica, sendo composto

por algumas poucas famílias. As casas dos pescadores eram simples:

As casas da Pedra do Sal todas eram de palha. Palha em cima, e arrudiada,

coberta de palha também. As casas da gente sempre foram assim. Quando eu

me entendi eram assim. Poucas casas eram tapadas de barro nas paredes

(Pescada, 2015).

7Colaborador é um termo sugerido por José Carlos Sebe Bom Meihy (2005) para diferenciar o entrevistado

do depoente ou da característica de informante. Segundo o autor é preferível usar colaborador, pois, “afinal

o trabalho da entrevista é algo que demanda dos dois lados pessoais e humanos” (MEIHY: 2005, 124).

Desse modo, o narrador não seria apenas um mero informante e o “entrevistador” o informado. A narrativa

seria construída por ambos os lados.

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Vivendo em condições precárias – como se pode perceber pela descrição de suas

moradias -, os habitantes de Pedra do Sal tinham tradicionalmente a pesca marítima como

uma das principais atividades. Trabalho, ao que parece, efetivamente masculino.

A pescaria no mar era uma atividade árdua, praticada individualmente ou em

pequenos grupos. Do mar, os pescadores traziam “o peixe que é [era] servido nos poucos

bares e restaurantes” (A Libertação. 14/05/1983, p.4). Para além da pesca marítima, havia

outras atividades, tais como: a pescaria em lagoas que se formavam no inverno e a

extração de frutos silvestres. Nessas atividades havia maior participação feminina,

principalmente a coleta de frutas.

Há que se entender que uma mesma cidade é formada por realidades diversas, cada

espaço de uma mesma cidade, possui dinâmicas diferentes. Nossa intenção não é enfatizar

alguma dicotomia entre os povoados insulares, nesse caso Pedra do Sal e o centro de

Parnaíba, mas pensar esses dois lugares como espaços de uma mesma cidade, que é

vivenciada de formas diversas.

Os peixes do mar de Pedra do Sal, além de serem vendidos nos bares praianos, assim

como os pescados provenientes de lagoas e os frutos colhidos, tinham como destino

Parnaíba, mais precisamente o mercado Central, no centro da cidade, e para o de Fátima,

localizado no bairro de mesmo nome.

De acordo com as narrativas dos colaboradores, havia circulação, tanto de moradores

da praia para a cidade como vice-versa. Nos períodos das férias escolares, antes mesmo

do turismo aparecer como política desenvolvimentista, era costume que algumas famílias

que moravam na cidade fossem desfrutar da temporada de férias em Pedra do Sal.

Nesse tempo, vinham o pessoal passar para cá no mês de julho, que era as

férias. Eles vinham passar o mês de julho. Eles vinham comprar o peixe nosso

para eles. Tinha o seu Raimundo Pinto, o senhor José Araujo, os Silvas, e

muitos outros. Eles pagavam depois, era aquele negócio, e era assim. Eles

ficavam ali na frente. Ali na frente era uma ruazinha de casa que era só para

alugar para eles. Era bom quando vinham para cá (Caraca, 2015).

A fala de Antônio Caraca indica circulação. Segundo a narrativa, não era comum

apenas os moradores de Pedra do Sal irem para o centro da cidade. O inverso também

acontecia. Contudo, os movimentos desses grupos de pessoas possuíam singularidades.

Enquanto o pescador ia para a “cidade” vender o peixe, alguns dos citadinos iam à praia

desfrutar o mar e a calmaria da vila de pescadores.

A história oral não é a verdade em si, cristalizada. Mas uma versão. Não estamos

contestando a memória do velho pescador, tampouco é nosso intento desconsiderar sua

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narrativa. Contudo as narrativas na história oral são fontes e como tais devem ser

analisadas.

Portelli observa que a história oral tem sua especificidade por causa das

subjetividades contidas nas narrativas: “a primeira coisa que torna a história oral

diferente, portanto, é aquela que nos conta menos sobre eventos que sobre significados”

(PORTELLI: 1997, 31). Desse modo é importante analisar com mais atenção esse trecho

da narrativa. O narrador contou que existiam casas que eram alugadas para esses

visitantes. Caraca afirmou ainda, que era “bom” quando essas pessoas iam para lá.

A vinda de grupos que moravam no centro de Parnaíba e mesmo em outras cidades

do Piauí e/ou de fora, trazia algumas vantagens: os pescadores teriam lucro maior e certa

comodidade, pois poderiam vender seus produtos aos veranistas que estavam instalados

na praia. Haveria também emprego para as mulheres. Estas, nos meses de julho, lavavam

as roupas dos visitantes. Assim, julho, antes mesmo do “surto” do turismo como política

de desenvolvimento, era um mês que trazia alterações no cotidiano do pescador e dos

demais moradores da praia.

Se os moradores - ou parte deles - do continente vinham para a área praiana no

mês de julho, ou aos finais de semana, os pescadores iam para o centro quase todos os

dias vender peixes. Enquanto a praia era espaço de lazer para o visitante, para o pescador,

se configurava como local de trabalho. Parnaíba, por sua vez, era o lugar em que se vendia

peixe ou em que se buscava tratamento ante alguma doença que acometia algum morador

da praia.

Pedra do Sal, antes dos anos 1980, era carente de educação formal. Antônio

Pescada rememora: “eu comecei a pescar com oito anos de idade. Muito criança. Muito

jovem. Não estudei! Vim aprender a ler com a idade de 48 anos” (PESCADA, 2015).

Nascido em 1953, Pescada, quando criança, possivelmente não frequentou a escola pela

situação de seu pai, pescador cuja visão estava comprometida devido uma doença.

O velho pescador explica: “eu não estudei. Meu pai, só me ensinou a trabalhar na

pesca e com isso eu trabalhando sempre para sustentar a família” (PESCADA, 2015). Se

concordarmos com o que Ecléa Bosi entende sobre história oral - “a fonte oral sugere

mais que afirma, caminha em curvas e desvios obrigando a uma interpretação sutil e

rigorosa” (BOSI, 2003: 20) -, poderemos compreender melhor os significados desse

trecho da narrativa do velho pescador.

A educação formal em uma vila pesqueira, longe do centro da cidade, de certa

maneira era um saber que teria pouco significado na subsistência desse grupo. Nesse

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contexto, não parece absurdo dizer que em Pedra do Sal, ter ciência sobre o regime das

marés, os hábitos dos diversos tipos de pescados e os lugares mais piscosos, teriam maior

significado na vida desses trabalhadores que os saberes escolares transmitidos pela

educação formal.

Mesmo que no centro houvesse escola e outros serviços públicos, como hospitais,

devido a inexistência de estrada entre o povoado e a “cidade”, bem como a distância, era

difícil o deslocamento dos praianos para o centro de Parnaíba.

Para além do problema da educação formal, havia ainda a inexistência do

atendimento de saúde pública e a falta de integração dos povoados insulares com o centro.

Quando alguém adoecia, era transportado para os hospitais na “cidade”. Antônio Caraca

rememorou como faziam em situações como essa:

Levava numa rede! Assim no ombro. Eu ainda levei, eu ainda levei uns ainda.

Ajudei levar, ajudei trazer, era assim. Não tinha estrada, não tinha nada.

Estrada foi feita no tempo que o doutor Alberto Silva foi governador. (Caraca,

2015)

O que chama a atenção não é a informação dada pelo colaborador. Mas sim, a sua

condição de saúde. Pescador aposentado, com 83 anos na época da entrevista, Caraca

atualmente sofre do mal de Alzheimer. Para José Carlos Sebe Bom Mehy, “a velhice,

debilidade física, circunstâncias traumáticas afetam diretamente as narrativas que se

baseiam na memória” (MEHY: 2005, 63).

Apesar da idade avançada e do mal que o aflige, o Alzheimer não apagou de sua

memória o governador piauiense que “fez” a estrada - Alberto Silva - e o que “trouxe”

energia elétrica para o povoado de Pedra do Sal, o governador Hugo Napoleão, que estava

à frente do estado do Piauí de 1982 a 1986.

Alberto Silva governou o Piauí no início dos anos 1970. Nesse período, houveram

mudanças significativas tanto em Parnaíba quanto em Pedra do Sal, especialmente no que

tange ao turismo. Paulatinamente, vieram as melhorias, dentre elas a ponte Simplício Dias

e a estrada.

Chamou nossa atenção o “esquecimento” dos colaboradores referente ao interesse

do Estado em desenvolver a “praia parnaibana” por meio do turismo. Dos seis pescadores

entrevistados, Antônio Batista, mais conhecido como Batista, foi o único que em sua

narrativa fez menção sobre Pedra do Sal nos anos 1970 e os debates sobre o turismo.

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Pedra do Sal é um lugar bonito. O lugar mais bonito é Pedra do Sal. Mas os

governos não querem levantar a Pedra do Sal. O doutor Alberto, quando

ganhou para governo me disse que se ele levantasse a Pedra do Sal, nós iríamos

morar muito longe da praia, porque os turistas iam invadir. (Batista, 2015)

A narrativa desse pescador, assim como a dos demais - excetuando-se a de

Fernando e a de Irineudo –, é toda factual, isto é, tendo os fatos como fios condutores.

Apesar de ser factual e do narrador não ter mencionado nenhum ano preciso nesse trecho,

pode-se deduzir o “tempo” ou período em que aconteceu este fato.

Alberto Silva foi governador do estado do Piauí na primeira metade da década de

1970. Nesse período, Pedra do Sal começava a ser vista como ponto turístico. “Levantar”

na fala do pescador indica promover, desenvolver, melhorar. Parte da narrativa de Batista

teve o ex-governador como um dos temas na entrevista que fizemos. Aliás, o colaborador

lembrou-se de um dos “feitos” de Alberto Silva: a ponte Simplício Dias da Silva.

Erguida em 1975, a construção de concreto sobre o Igaraçu ligava o continente à

ilha. Ir e vir de Parnaíba tornava-se mais fácil. Essa edificação na imprensa aparecia com

a função de integrar o centro aos povoados insulares. Essa intervenção promovida pelo

poder público na cidade precisa ser desnaturalizada.

Segundo a historiadora Raquel Rolnik, “a lógica capitalista passa a ser então um

parâmetro essencial na condição de uma política de ocupação da cidade, que se expressa

também na intervenção do Estado” (ROLNIK: 1995, 54-55). A ponte Simplício Dias

favorecia sim a ocupação, mesmo que temporária - pelo turismo -, de outras partes da

cidade de Parnaíba, nesse caso, os povoados insulares, dentre eles, Pedra do Sal. Vejamos

agora o significado da obra na vida dos pescadores entrevistados.

Antes da ponte, os pescadores tinham que ir caminhando de Pedra do Sal até uma

das margens do rio e posteriormente atravessá-lo de canoa para vender o peixe. O

pescador e terceirizado da empresa Águas e Esgotos do Piauí S.A, Fernando, embora não

tenha vivido em Pedra do Sal antes dessas transformações, narrou o seguinte:

Eu não alcancei os primeiros ônibus para levar o pescado. Mas muitas pessoas

aqui, dizem que quando não tinham estradas, elas iam levar o peixe no ombro,

no calão como chamava, ou de animal. Eles chegavam do mar até 6, 7 horas

da tarde. Aí, iam tratar o peixe. Às 10 horas da noite iam vender o peixe em

Parnaiba. O peixe era salgado, né?! Antes, na fundação da Pedra do Sal, não

existia negócio de gelo. (NASCIMENTO, 2015)

Apesar de não ter vivenciado essas experiências, pois veio morar em Pedra do Sal

somente nos anos 1990, o pescador se “lembra” de como era o cotidiano dessas pessoas

antes da estrada ou da energia elétrica.

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A memória não diz respeito somente à nossa vida, mas também ao grupo que

estamos ligados, é o que Michel Pollak chama de memória herdada ou por tabela. “A

memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa” (POLLAK,

1992: 204). Fernando possui essa “memória”, pois é casado com uma das filhas de

Antônio Caraca, um dos pescadores mais antigos do povoado. É possível que a memória

dos “outros” tenha sido transmitida a ele, seja por causa de sua família ou por causa de

seus colegas de trabalho.

Enquanto Fernando delineia sobre os pescadores que iam vender os pescados no

centro de Parnaíba, seu sogro, Antônio Caraca, descreve como faziam quando precisavam

comprar algo na “cidade”,

Saía daqui, de Pedra do Sal e ia para Parnaíba. Quando era de manhanzinha, a

gente ia chegando lá. Fazia as comprinhas, comprava umas coisinhas e ai uma

hora dessas, 17: 00 em diante, a gente ia chegando. Vinha gente chegando até

de noite. Voltando a pé, todo tempo (CARACA, 2015).

Pelas narrativas citadas anteriormente, pode-se observar certo nível de

dependência do povoado pesqueiro, bem como de seus habitantes com Parnaíba. Segundo

Antônio Carlos Diegues, “para os pescadores artesanais a cidade é o mercado por

excelência, onde dia a dia eles se defrontam com os atravessadores no momento de vender

o peixe. É ali também que vão procurar o combustível, o gelo, o óleo” (DIEGUES,

1983:221). Afinal, Parnaíba “comprava” tanto o peixe oriundo de Pedra do Sal, quanto

vendia alimentos, linhas e vestimentas para os pescadores e suas famílias. Dessa maneira,

havia uma dependência mútua – ainda que não equivalente – dos habitantes de Pedra do

Sal com o centro da cidade e vice-versa.

Conclusões

As cidades são espaços de conflitos e de lutas sociais pela sobrevivência, não

somente de discursos. As relações dos pescadores de Pedra do Sal com a cidade de

Parnaíba eram muitas, mas principalmente de dependência. Era para os mercados da

cidade que iam pescados trazidos do mar pelos homens. A falta de estrutura que

caracterizava a área praiana, obrigava os pescadores e os demais moradores de Pedra do

Sal a se deslocarem para o continente em situações diferentes: tratamentos de saúde,

compras, estudos, venda de pescado e do que produziam.

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Espaço de experiências humanas, a cidade é um lócus complexo e, como tal,

observamos que havia circulação de pessoas motivadas por singularidades próprias. O

pescador, ou mesmo o morador de Pedra do Sal, buscava a cidade para vender o peixe,

trabalhar ou curar-se de alguma enfermidade. Por sua vez, o morador de Parnaíba ia ao

povoado praiano desfrutar da paisagem litorânea para o lazer. Movimento esse que,

possivelmente, aumentou devido a estrutura implantada e que favorecia o deslocamento

de pessoas para ambos os lados do Igaraçu.

Não estamos afirmando, nem queremos indicar que os habitantes do centro e do

entorno de Parnaíba eram ricos, exploradores, e que os moradores de Pedra do Sal eram

pobres e explorados. Por ora, o que se pretende enfatizar é a importância de uma parte de

Parnaíba pouco estudada pela historiografia local, ao invés de fomentar uma dicotomia

estéril ou mesmo algum juízo de valor. Nossa intenção é perceber como os habitantes dos

povoados insulares, mais especificamente de Pedra do Sal, se relacionavam com a cidade

e como estes viviam em um período em que o lugar onde moravam passava por

valorizações e transformações. Nosso objetivo é, antes de tudo, compreender e conferir

visibilidade a sujeitos históricos cuja existência tem sido menosprezada. Como

historiador oriundo dessa região, não posso me furtar a essa tarefa.

Colaboradores:

Antônio Nonato dos Santos (Antônio Caraca), pescador aposentado, 85 anos e Rosangela

dos Santos, dona de casa, 40 anos. Entrevista realizada em 10/02/2015, em Pedra do Sal,

concedida a Pedro Vagner Silva Oliveira e Láila Daniela da Silva Santos.

Antônio Severo do Nascimento (Antônio Pescada). Pescador em atividade, 62 anos.

Entrevista realizada em 02/02/2015, em Pedra do Sal, concedida a Pedro Vagner Silva

Oliveira.

Antonio Raimundo Martins de Oliveira. Pescador em atividade, 62 anos. Entrevista

realizada em 17/07/2014, em Pedra do Sal, concedida a Pedro Vagner Silva Oliveira e

Láila Daniela da Silva Santos.

Antônio Batista dos Santos, pescador em atividade, 65 anos. Entrevista realizada em

04/08/2015, em Pedra do Sal, concedida a Pedro Vagner Silva Oliveira e Láila Daniela

da Silva Santos.

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Carlos Fernando Silva do Nascimento. Terceirizado da empresa Águas e Esgotos do Piauí

S/A e pescador, 49 anos. Entrevista realizada em 20/01/2015, em Pedra do Sal, concedida

a Pedro Vagner Silva Oliveira.

Irineudo Nascimento dos Santos, pescador, 36 anos. Entrevista realizada em 14/04/2014,

em Ilha Grande-PI, concedida a Pedro Vagner Silva Oliveira.

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