77
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE ÁREA DE DOENÇAS INFECCIOSAS E TROPICAIS INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE ALPHAVIRUS EM PACIENTES FEBRIS DURANTE EPIDEMIA DE DENGUE EM MATO GROSSO, BRASIL NAYARA ZUCHI Cuiabá, MT, Brasil 2014

INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE ALPHAVIRUS EM ...ri.ufmt.br/bitstream/1/493/1/DISS_2014_Nayara Zuchi.pdfI NAYARA ZUCHI INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE ALFAVÍRUS EM PACIENTES FEBRIS DURANTE

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

ÁREA DE DOENÇAS INFECCIOSAS E TROPICAIS

INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE ALPHAVIRUS EM

PACIENTES FEBRIS DURANTE EPIDEMIA DE DENGUE EM

MATO GROSSO, BRASIL

NAYARA ZUCHI

Cuiabá, MT, Brasil

2014

I

NAYARA ZUCHI

INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE ALFAVÍRUS EM PACIENTES

FEBRIS DURANTE EPIDEMIA DE DENGUE EM MATO GROSSO,

BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Ciências da Saúde, Faculdade de Medicina da Universidade

Federal de Mato Grosso, Campus Cuiabá, para obtenção do

Título de Mestre em Ciências da Saúde, área de Doenças

Infecciosas e Tropicais.

Orientadora: Renata Dezengrini Slhessarenko

Cuiabá, MT, Brasil

2014

II

Ficha catalográfica

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Z94c Zuchi, Nayara.

CIRCULAÇÃO DO VÍRUS MAYARO DURANTE EPIDEMIA DE DENGUE EM MATO GROSSO, BRASIL / Nayara Zuchi. -- 2014

xii, 68 f. ; 30 cm.

Orientadora: Renata Dezengrini Slhessarenko.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Ciências Médicas, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Cuiabá, 2014.

Inclui bibliografia.

1. Arbovírus. 2. Alphavirus. 3. MAYV. 4. Saúde Pública.

5. Investigação Epidemiológica. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

III

DEDICATÓRIA

Aos meus pais,

que inúmeras vezes abdicaram da própria felicidade pela minha, que não mediram

esforços para que eu pudesse alcançar todos os meus sonhos, que me ensinaram que

honestidade e integridade de caráter são as principais qualidades de um ser humano, e

que as conquistas da vida se realizam na proporção do esforço dedicado.

A vocês dedico a minha vida!

IV

AGRADECIMENTOS

A Deus Pai, pela vida, compaixão, graça e bondade, pelo amor e amparo nos

momentos de pouca fé, por ser a força que dá vida à minha alma.

Agradeço a minha orientadora, Renata Dezengrini Slhessarenko, por me mostrar

o caminho da ciência, pelos ensinamentos, disponibilidade, colaboração e confiança.

Expresso minha gratidão à minha família: Nelson, Angela e “Nerso”, e ao meu

namorado Guilherme, por acreditarem em mim quando eu mesma não acreditava, pelo

apoio incondicional, compreensão, força, incentivo e suporte financeiro.

Agradeço imensamente às companheiras de jornada Letícia, Belgath e Otacília,

aos amigos bolsistas de iniciação científica Fernanda e Breno, ao colega Fábio, e aos

fiéis amigos Thamires, Josiane, Heron, Lucas e Ruberlei, pelo auxílio nos experimentos,

nas escritas, pelo companheirismo, suporte emocional, por todos os momentos vividos.

A bióloga Liliana V.A. Correia, pelo acolhimento, prontidão e disposição em

nos auxiliar e ao colega Ricardo Heinen pela colaboração com a plotagem dos mapas.

Aos professores Dr. Francisco J.D. Souto, Cór Jésus F. Fontes, Rosane C. Hahn,

Bianca B. Galera, Amilcar S. Damazo, Domingos T.O. Martins e demais professores do

PPGCS pelo auxílio imprescindível à realização deste estudo.

Ao Prof. MSc. Marcelo A. dos Santos, Sumako K. Ueda e equipe do MT-

Laboratório pelas amostras biológicas e acolhimento durante o estágio, em especial a

Ana Elisa Vininski pelos ensinamentos, paciência e disponibilidade.

À Universidade Federal do Mato Grosso e ao Programa de Pós Graduação em

Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina pela formação acadêmica e científica.

Aos Professores Dr. Nikolaos Vasilakis, Maurício L. Nogueira e equipe do

Laboratório de Pesquisas em Virologia da FAMERP São José do Rio Preto, Felipe G.

Naveca e equipe do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), Valéria

Dutra, Luciano Nakazato e equipe do Laboratório de Biologia Molecular da Faculdade

de Medicina Veterinária da UFMT pela colaboração fundamental ao estudo.

À Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT) pela

concessão da bolsa de mestrado e ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pelo apoio

financeiro.

V

RESUMO

Dissertação de Mestrado

INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE ALFAVÍRUS EM PACIENTES FEBRIS

DURANTE EPIDEMIA DE DENGUE EM MATO GROSSO, BRASIL

AUTORA: NAYARA ZUCHI

ORIENTADORA: RENATA DEZENGRINI SLHESSARENKO

Introdução: O gênero Alphavirus, família Togaviridae, alberga arbovírus de

importância médica relatados em áreas tropicais mundialmente. Nas Américas, os

alfavírus de maior importância compreendem os das encefalites equinas e o vírus

Mayaro (MAYV). No Brasil, o MAYV tem sido relatado em epidemias de doença febril

principalmente no norte do país. O principal objetivo deste estudo foi investigar a

situação epidemiológica de alfavírus em pacientes febris durante epidemia de dengue

em Mato Grosso (MT).

Material e Métodos: Entre 2011 e 2012, 604 amostras de soro de pacientes com

doença febril aguda suspeita de dengue durante epidemia em MT foram submetidas a

Duplex-RT-PCR seguida de Multiplex-semi-nested-PCR para pesquisa dos alfavírus

MAYV, vírus Aura e os vírus das encefalites equinas do Leste, Oeste e Venezuelana.

Amostras positivas foram confirmadas em dois testes independentes e os produtos de

PCR submetidos a sequenciamento nucleotídico. Amostras positivas foram submetidas

a RT-PCR em tempo real (RT-qPCR) e isolamento viral em cultura de células. Todas as

amostras foram também investigadas para flavivirus em um estudo paralelo.

Resultados: Foram encontrados 15/604 (2,5 %) pacientes positivos para o MAYV em

Cuiabá (9), Várzea Grande (3), Nossa Senhora do Livramento (1) e Sorriso (2). Destes,

12 (80,0 %) apresentaram co-infecções com DENV-4 e 3 (20,0 %) infecções únicas

pelo MAYV. Dentre 13 amostras submetidas a RT-qPCR, 10 (76,9 %) apresentaram

carga viral entre log 0,965-3,321 cópias/µL.

Discussão: Casos esporádicos de infecção pelo MAYV foram identificados durante

uma grande epidemia de dengue no MT em residentes de áreas urbanas, sem histórico

recente de viagem ou visita a áreas rurais e/ou silvestres. A ocorrência do MAYV em

estados adjacentes, em cidades afetadas pela rodovia Cuiabá-Santarém e

soroprevalência em índios Xavantes no estado corroboram a evidência da circulação de

MAYV no MT. Apesar do MAYV ser transmitido principalmente por Haemagogus

janthinomys em áreas silvestres, as evidências encontradas no presente estudo sugerem

a circulação de MAYV em área urbana de MT. Contudo, o ciclo de transmissão do vírus

no estado não foi elucidado. A evidência de circulação do MAYV em indivíduos febris

durante epidemia de dengue em área urbana deve ser motivo de atenção das autoridades

locais de saúde pública para a eventual circulação silenciosa de outros arbovírus no

estado.

Palavras-chave: Arbovírus, alfavírus, MAYV, Saúde Pública, Investigação

Epidemiológica, RT-PCR.

VI

ABSTRACT

Master Thesis

MOLECULAR INVESTIGATION OF ALFAVIRUS IN FEBRILE PATIENTS

DURING A DENGUE OUTBREAK IN MATO GROSSO, BRAZIL

AUTHOR: NAYARA ZUCHI

ADVISOR: RENATA DEZENGRINI SLHESSARENKO

Introduction: The Alphavirus genus, Togaviridae family, comprises arboviruses of

medical importance reported in tropical areas worldwide. In the Americas, the most

important alfaviruses are the equine encephalitis group and Mayaro virus (MAYV). In

Brazil, MAYV has been reported in outbreaks of febrile illness mainly in the North

region of the country. The aim of this study was to investigate the epidemiological

situation of alfaviruses in febrile patients during a dengue outbreak in Mato Grosso

(MT).

Material and methods: Between 2011 and 2012 in MT, 604 serum samples collected

from patients suspected of acute febrile illness were submitted to Duplex-RT-PCR

followed by Multiplex-semi-nested-PCR for MAYV, Aura virus and East, West and

Venezuelan equine encephalitis viruses. Positive samples were confirmed twice in

independent tests and, PCR products were submitted to nucleotide sequencing. Positive

samples were also submitted to Real time RT-PCR (RT-qPCR) and inoculation in cell

culture. The samples were also investigated for flaviviruses in a parallel study.

Amostras positivas foram submetidas a RT-PCR em tempo real (RT-qPCR) e

isolamento viral em cultura de células. Todas as amostras foram também investigadas

para flavivirus em um estudo paralelo.

Results: 15/604 (2.5 %) patients from Cuiabá (9), Várzea Grande (3), Nossa Senhora

do Livramento (1) and Sorriso (2) were positive for MAYV; 12 (80 %) are co-infected

with DENV-4 and 3 (20 %) are single infections with MAYV. Co-infected patients

presented a wider variety of clinical manifestations. Among 13 samples tested by RT-

qPCR, 10 (76.9 %) presented viral load ranging from log 0,965-3,321 copies/µL.

Discussion: Sporadic infections with MAYV were identified during a massive Dengue

outbreak in MT in residents of urban areas without recent history of travel or visit to

rural or sylvatic areas. The occurrence of MAYV infections in neighboring states,

including cities affected by the Cuiabá-Santarém highway and seroprevalence in

Xavante Indians from MT, corroborate the evidence of MAYV circulation in MT.

Despite MAYV is transmitted mainly by Haemagogus janthinomys in sylvatic areas, the

evidence found in this study suggests the circulation of MAYV in urban areas of MT.

However, the transmission cycle of MAYV in MT remains to be determined. The

evidence of MAYV circulation in febrile individuals during a dengue outbreak in urban

areas should cause concerns in the local public health authorities about the eventual

silent circulation of arboviruses in the state.

Keywords: Arbovírus, Alphavirus, MAYV, Public Health, Epidemiological

Investigation, RT-PCR.

VII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Espécies virais pertencentes ao gênero Alphavirus e seus respectivos

hospedeiros, reservatórios, vetores e área de ocorrência.................................................16

Tabela 2. Iniciadores empregados para detecção de alfavírus no soro de pacientes com

doença febril aguda suspeita de dengue em Mato Grosso, 2011 e 2012.........................38

Tabela 3. Características demográficas e epidemiológicas de pacientes com doença

febril aguda suspeita de dengue que demandaram os serviços de saúde do Mato Grosso

de outubro de 2011 a julho de 2012...........,....................................................................45

Tabela 4. Dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais de 15 pacientes com doença

febril aguda, positivos para os vírus Mayaro e/ou Dengue-4 em Mato Grosso, 2012....49

Tabela 5. Sinais e sintomas mais frequentes entre os pacientes com infecção única pelo

vírus Mayaro ou co-infectados com o vírus da Dengue-4 em Mato Grosso, Brasil........50

VIII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Árvore filogenética do gênero Alphavirus, obtida a partir de sequências

parciais do gene da glicoproteína de envelope E1, demonstrando os complexos

antigênicos e as divergências entre as espécies...............................................................15

Figura 2. Diagrama esquemático do genoma (a) e partícula vírica dos alfavírus (b) com

os genes, proteínas e suas funções indicadas...................................................................18

Figura 3. Expressão gênica dos alfavírus.......................................................................22

Figura 4. Ciclo replicativo intracelular dos alfavírus.....................................................22

Figura 5. Patogenia da infecção por alfavírus em hospedeiros vertebrados...................24

Figura 6. Ciclos de transmissão em área silvestre, rural e urbana do vírus Mayaro e seus

respectivos hospedeiros e vetores na América Latina.....................................................28

Figura 7. Ciclos de transmissão dos vírus das encefalites equinas nas Américas..........30

Figura 8. Fluxograma de atividades para análise de 604 amostras de pacientes com

doença febril aguda suspeita de dengue do estado de Mato Grosso................................35

Figura 9. Distribuição da amostragem de pacientes com doença febril aguda suspeita de

dengue por cidade de Mato Grosso para a investigação de alfavírus..............................43

Figura 10. Pacientes positivos por semi-nested RT-PCR para o vírus Mayaro.............47

Figura 11. Distribuição por município dos pacientes positivos para o vírus Mayaro de

acordo com a cidade de residência em Mato Grosso, Brasil...........................................50

Figura 12. Valores do ciclo limiar da TaqMan RT-PCR em tempo real para o vírus

Mayaro nas amostras de soro de pacientes com doença febril aguda.............................51

IX

LISTA DE ANEXOS

Anexo I. Carta de anuência de participação na pesquisa................................................70

Anexo II. Modelo de ficha de investigação de dengue do Sistema de Informação de

Agravos de Notificação...................................................................................................72

Anexo III. Termo de aprovação ética de projeto de pesquisa........................................75

X

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

µL Microlitro

A Anos

Ae. Aedes

AURAV Vírus Aura

BFV Vírus Barmah Forest

C Proteína de capsídeo

cDNA DNA complementar

CHIKV Vírus Chikungunya

cm³ centímetro³

Cx. Culex

DENV Vírus da Dengue

DEPC Dimetil Pirocarbonato

DNA Ácido Desoxirribonucléico

dNTP Deoxinucleotídeo Trifosfato

DTT Dithiothreitol

E/E1/E2 Proteína do envelope viral (1 e 2)

ECP Efeito Citopático

EDTA Ácido etileno-diamino tetracético

EEEV Vírus da Encefalite Equina do Leste

ELISA Ensaio Imunoenzimático

EUA Estados Unidos da América

EVEV Vírus Everglades

FM Faculdade de Medicina

g Gramas

HCl Ácido Clorídrico

ICC Inoculação em Cultivo Celular

IFI Imunofluorescência Indireta

IFN Interferon

IgA/IgG/IgM Imunoglobulinas A, G e M

IL Interleucina

KCl Cloreto de Potássio

KDa Kilodalton

LB/LT Linfócitos B/ Linfócitos T

M Molar

MAYV Vírus Mayaro

MDPV Vírus Mosso das Pedras

MgCl2 Cloreto de Magnésio

MHC Complexo Maior de Histocompatibilidade

MIDV Vírus Milddelburg

Min Minutos

mL Mililitro

XI

mM milimolar

mRNA RNA mensageiro

MS Mato Grosso do Sul

MT Mato Grosso

MUCV Vírus Mucambo

NDUV Vírus Ndumu

Ng Nanograma

Nm Nanômetros

nsP Proteína não estrutural

ONNV Vírus O’ nyong-nyong

OROV Vírus Oropouche

Pb Pares de Base

pH Potencial Hidrogênico

PIXV Vírus Pixuna

PRNT Teste de Neutralização por Redução de Placas

RNA Ácido Ribonucléico

RNV Vírus Rio Negro

ROCV Vírus Rocio

RRV Vírus Ross River

RT-PCR Transcrição reversa e reação em cadeia da polimerase

RT-qPCR RT-PCR em tempo real

seg Segundos

SEMA Secretaria de Meio Ambiente

SES Secretaria Estadual de Saúde

SFV Vírus Semliki Forest

SNC Sistema nervoso central

SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificações

SINV Vírus Sindbis

SLEV Vírus da Encefalite de Saint Louis

SP São Paulo

TAE Tris-Acetato-EDTA

TROV Vírus Trocara

U Unidade

UFMT Universidade Federal do Mato Grosso

UNAV Vírus Uma

VEEV Vírus da Encefalite Equina Venezuelana

WEEV Vírus da Encefalite Equina do Oeste

YFV Vírus da Febre Amarela

XII

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................12

1.1Considerações Gerais...........................................................................................12

1.2 Família Togaviridae............................................................................................13

1.2.1 Taxonomia e filogenia dos alfavírus..........................................................13

1.2.2 Estrutura das partículas víricas e do genoma dos alfavírus........................17

1.2.3 Ciclo replicativo viral intracelular dos alfavírus.........................................18

1.2.4 Patogenia das infecções por Alphavirus em humanos................................22

1.2.5 Epidemiologia dos principais alfavírus relatados no Brasil........................25

1.2.6 Métodos laboratoriais empregados no diagnóstico de alfavírus.................31

2. JUSTIFICATIVA......................................................................................................33

3. OBJETIVOS..............................................................................................................34

2.1 Objetivo geral.....................................................................................................34

2.2 Objetivos específicos..........................................................................................34

4. MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................35

4.1 Caracterização do local de amostragem.............................................................35

4.2 Tipo de estudo, amostragem e procedimentos éticos.........................................36

4.3 Extração de RNA viral a partir de amostras de soro..........................................36

4.4 Iniciadores..........................................................................................................36

4.5 Controles positivos.............................................................................................38

4.6 Duplex RT-PCR para região dos genes nsP1 de alfavírus e NS5 de flavivírus.38

4.7 Multiplex Semi Nested PCR para região do gene da nsP1 de espécies de

alfavírus....................................................................................................................38

4.8 Semi-Nested PCR single para região do gene da nsP1 do MAYV....................39

4.9 Sequenciamento nucleotídico.............................................................................39

4.10 TaqMan RT-PCR em tempo real (RT-qPCR) para o MAYV..........................40

4.11 Inoculação em cultivo celular...........................................................................41

4.12 Análise de dados...............................................................................................41

5. RESULTADOS...........................................................................................................42

5.1 Caracterização da amostragem...........................................................................42

5.2 Caracterização dos casos positivos para alfavírus..............................................45

6. DISCUSSÃO...............................................................................................................52

7. CONCLUSÕES...........................................................................................................56

8. REFERÊNCIAS..........................................................................................................57

9. ANEXOS.....................................................................................................................69

13

1. INTRODUÇÃO

1.1 Considerações Gerais

Os arbovírus (arthropod-borne virus) são em sua maioria zoonóticos, com genoma

RNA, transmitidos por artrópodes hematófagos, classificados principalmente nas famílias

Togaviridae, Flaviviridae, Bunyaviridae, Reoviridae, Arenaviridae e Rhabdoviridae. Esses

vírus são relatados em áreas tropicais, subtropicais e/ou temperadas do planeta, onde há

circulação de vetores, constituindo-se em importante problema de saúde pública

(FORSHEY et al., 2010; MOURÃO et al., 2012; MORELI & COSTA, 2013).

A habilidade dos arbovírus em causar doenças em humanos depende de fatores

ambientais, inerentes ao vírus, aos hospedeiros, bem como do ciclo epidemiológico. As

mudanças climáticas e antropogênicas mundiais, tais como aumento da densidade

demográfica e migração, além de condições de saneamento precárias, adaptação do vírus

ao vetor e aos hospedeiros por variabilidade genômica e antigênica, têm favorecido a

disseminação e o surgimento de novos isolados, permitindo a dispersão desses agentes na

população. A competência vetorial, melhorada a partir de adaptações genéticas, também

pode expandir as taxas de transmissão, criando novos nichos e expandindo os já existentes

(WEAVER & REISEN, 2010).

A transmissão e manutenção das arboviroses envolvem ciclos zoonóticos silvestres

e urbanos, onde hospedeiros vertebrados que desenvolvem viremia com títulos

suficientemente elevados e/ou reservatórios que amplificam o agente em altos títulos por

longos períodos servem de fonte de vírus para vetores, favorecendo sua manutenção na

natureza. Animais que não desenvolvem viremia em títulos suficientemente elevados para

transmitir a vetores são considerados hospedeiros finais (FIGUEIREDO, 2007;

NATHANSON, 2007; MUÑOZ & NAVARRO, 2012). Em ambos os ciclos, há espécies

de artrópodes hematófagos, vetores biológicos, que se infectam durante o repasto em

animais virêmicos e o transmitem para novos hospedeiros susceptíveis após um período de

incubação extrínseco, compreendido entre a infecção do mosquito e a detecção do agente

em sua glândula salivar (NATHANSON, 2007; DEARDORFF & WEAVER, 2010;

BATISTA et al., 2012). Alguns arbovírus podem ser mantidos na natureza em condições

adversas por transmissão transovariana em mosquitos (PESSANHA et al., 2011).

No Brasil, 95% das espécies de arbovírus que circulam de forma esporádica,

endêmica e/ou epidêmica, como os sorotipos do vírus da Dengue (DENV-1 a 4), o vírus da

14

Febre Amarela (YFV), da Encefalite de Saint Louis, Rocio, Mayaro (MAYV), das

Encefalites Equinas Leste, Oeste e Venezuelana (EEEV, WEEV e VEEV) e Oropouche,

são classificadas em três famílias virais: Flaviviridae (gênero Flavivirus), Bunyaviridae

(gênero Orthobunyavirus) e Togaviridae (gênero Alphavirus) (FIGUEIREDO, 2007;

TERZIAN et al., 2009).

1.2 Família Togaviridae

1.2.1 Taxonomia e filogenia dos alfavírus

Os primeiros registros de doenças por alfavírus datam dos séculos XVIII e XIX no

nordeste dos estados Unidos (EUA) e sudeste da Ásia, quando surtos de encefalite e artrite

acometeram equinos. Em 1831, em Massachusetts, houveram 75 óbitos de equinos, sendo

este o primeiro relato de epizootia por alfavírus (HANSON, 1957; TESH, 1982;

SABATTINI et al., 1985). Na Tabela 1, são apresentadas as principais espécies de vírus

classificadas neste gênero, transmitidas por artrópodes hematófagos que acometem

humanos (Tabela 1).

A taxonomia do gênero Alphavirus era originalmente organizada de acordo com

relações antigênicas determinadas em ensaios sorológicos, suplantados por análises

filogenéticas, resultando na identificação de três clades (Semliki Forest, Sindbis-

Encefalites Equinas e dos vírus aquáticos) e pelo menos 30 espécies classificadas em 10

complexos antigênicos ou sorogrupos: EEE, WEE, VEE, Semliki Forest, Barmah Forest,

Milddelburg, Ndumu, Trocara, dos alfavírus aquáticos e de plantas (POWERS et al., 2001;

ICTV, 2012; NASAR et al., 2012). Espécies de vírus classificadas nos complexos VEEV e

EEEV são monofiléticas, enquanto que grande parte dos vírus que ocorrem no Novo

Mundo pertencentes ao complexo WEEV são descendentes de um ancestral que resultou

em recombinação entre os genes das proteínas de envelope E1 e E2 do Sindbis-like vírus e

os genes restantes do ancestral EEEV-like. De acordo com a distribuição mundial, três

topologias indicam a origem dos alfavírus no Velho e no Novo Mundo, e pelo menos duas

introduções transoceânicas (POWERS et al., 2001; HU et al., 2012; MUÑOZ &

NAVARRO, 2012; NASAR et al., 2012).

Estudos filogenéticos permitem a diferenciação e classificação de arbovírus e de

genótipos existentes. O critério para análise e demarcação de espécies envolve informações

antigênicas, genéticas e ecológicas dos vírus. A construção da árvore filogenética do

gênero Alphavirus (Figura 1) baseia-se na comparação de divergências em sequências

15

parciais ou completas do gene da proteína de envelope E1, responsável pela penetração nas

células hospedeiras. A proteína estrutural mais conservada é a do capsídeo e E1, enquanto

que a E2, responsável pela adsorção, é a mais divergente. As espécies do gênero

Alphavirus apresentam cerca de 60 % de similaridade entre as sequencias de proteínas não-

estruturais e 45 % entre estruturais. Análises de máxima verossimilhança demonstram que

a taxa de substituição de nucleotídeos no genoma varia consideravelmente, não sendo

possível estimar o tempo de geração da diversidade genômica dentre os membros deste

gênero (POWERS et al., 2001; MUÑOZ & NAVARRO, 2012; NASAR et al., 2012).

Figura 1. Árvore filogenética do gênero Alphavirus, com sequências parciais do gene da

glicoproteína de envelope E1, demonstrando os complexos antigênicos e as divergências

entre as espécies. Fonte: POWERS et al., 2001.

16

Tabela 1. Espécies virais pertencentes ao gênero Alphavirus e seus respectivos hospedeiros, reservatórios, vetores e área de ocorrência.

Espécie* Principais hospedeiros

vertebrados

Vetores Doença em humanos Distribuição

AURAV16

Desconhecido Ae. serratus, Cx. (melanoconion) spp.1,4

Não relatada17

América do Sul (Brasil e

Argentina)9

BFV16

Humanos, gambás, cangurus

e outros marsupiais3

Ae. spp. e Cx. spp.18

Doença febril, artrite e

exantema15

Austrália9

CHIKV16

Humanos e primatas9,14

Ae. aegypti, Ae. albopictus14

Doença febril, artralgia,

exantema15

África, Sudeste da Ásia, Filipinas,

Índia e Indonésia9

EEEV16

Aves, roedores silvestres9,

humanos e equinos12

Culiseta melanura, Ae. spp. 9 Doença febril e encefalite

15 Costa Leste dos EUA, Golfo do

México, América Central, Caribe,

costa Norte da América do Sul10

EVEV16

Humanos, cães, roedores 15

Cx. cedecei, Cx. melanoconion10

Doença febril e encefalite15

Flórida10

MAYV16

Humanos, primatas e aves

silvestres2

Haemagogus. jantinomis, Ae. aegypti9 Doença febril, artralgia,

exantema15

América do Sul, Trinidad &

Tobago 9

MDPV16

Morcego16

Artrópodes16

Não reconhecida17

América do Norte, Central e Sul17

MUCV16

Macacos, camundongos16

Artrópodes16

Doença febril, encefalite15

América do Sul, Caribe9

ONNV 16

Humanos7 e primatas

15 **Anopheles gambiae

8 Doença febril, artrite e

exantema15

Leste da África9

PIXV 16

Humanos, roedores, equinos

e outros ungulados15

**Orchlerostatus hastatus oligopistus13

Doença febril, mialgia17

Brasil19

17

RNV ¹6 Humanos

15 Vetor: Cx. (Mel) delpontei. Esp. inf.: Ae.

scapullaris e Cx. mollis16

Doença febril, mialgia17

Argentina9

RRV 16 Humanos e mamíferos

silvestres15

Cx. spp., Ae. vigilax, Ae. normanensis,

Mansonia uniformis, Anopheles amictus 11

Doença febril, artralgia e

exantema15

Austrália e Pacífico Sul9

SFV 16

Humanos, pássaros, equinos

e aves15

Cx. tritaeniorhynchus4

Doença febril e encefalite15

África9

SINV16

Humanos e aves15

Cx. univitattus, Cx. modestus, Culiseta

spp., Mansonia africana4

Doença febril, artralgia,

exantema15

Austrália, África, Norte da Europa,

Oriente Médio e Ilhas do Pacífico9

TROV 16

Não relatado Ae. serratus5

Não relatada América do Sul9

UNAV 16

Humanos, pássaros e

equinos16

Psorophora ferox6

Não reconhecida17

América do Sul, Trinidad &

Tobago9

VEEV16

Humanos, equinos e

Roedores silvestres12

Cx. spp. 12

Doença febril e encefalite14

América do Sul e América do

Norte15

WEEV16

Humanos, aves epequenos

mamíferos12,15

Cx. tarsalis, Ae. melanimon e Ae.

dorsalis9

Doença febril e encefalite15

América do Norte e América do

Sul 9,15

*Abreviaturas: Ae: Aedes, Cx: Culex, AURAV: Vírus Aura, BFV: Vírus Barmah Forest, CHIKV: Vírus Chikungunya, EEEV: Vírus da Encefalite Equina do Leste,

EVEV: Vírus Everglades, MAYV: Vírus Mayaro, MDPV: Vírus Mosso das Pedras, MUCV: Vírus Mucambo, ONNV: Vírus O’nyong-nyong, PIXV: Vírus Pixuna,

RNV: Vírus Rio Negro, RRV: Vírus Ross River, SFV: Vírus Semliki Forest, SINV: Vírus Sindbis, TROV: Vírus Trocara, UNAV: Vírus Una, VEEV: Vírus da Encefalite

Equina Venezuelana e WEEV: Vírus da Encefalite Equina do Oeste. **Infecção natural. Referências: ¹RÜMENAPF et al., 1995; ²VASCONCELOS et al., 1998; ³BOYD

et al., 2001; 4POWERS et al., 2001;

5TRAVASSOS DA ROSA et al., 2001;

6DIAZ et al., 2003;

7PASTORINO et al., 2005;

8VANLANDINGHAM et al., 2006;

9GRIFFIN, 2007;

10WILLIAMS & SAVAGE, 2009;

11CDC, 2010;

12PFEFFER & DOBLER, 2010;

13PISANO et al., 2010;

14BOURJOT et al., 2012;

15FLORES, 2012;

16ICTV , 2012;

17WEAVER et al., 2012;

18NAISH et al., 2013;

19PETTERSON et al., 2013.

18

1.2.2 Estrutura das partículas virais e do genoma dos alfavírus

Os vírus do gênero Alphavirus, antigamente denominados arbovírus do grupo A,

apresentam uma fita simples de RNA (Figura 2a) polaridade positiva com 11,8 Kb. O

genoma apresenta CAP 5’ e poli(A) 3’, regiões não traduzidas nas extremidades e oito

genes, que codificam quatro proteínas não-estruturais traduzidas diretamente da ORF

(Open Reading Frame), ocupando dois terços da região próxima à extremidade 5’ do RNA

genômico (42S). O genoma apresenta também cinco proteínas estruturais próximas à

extremidade 3’, expressas a partir RNA mensageiro (RNAm) subgenômico (26S) (KUHN,

2007; HU et al., 2012; VANEY et al., 2013).

O genoma é envolto por um capsídeo de simetria icosaédrica T=4, formado por 240

unidades da proteína C, e envolto pelo envelope lipídico, derivado da membrana

plasmática da célula hospedeira, onde estão inseridos 80 peplômeros formados por três

heterodímeros das glicoproteínas E1 e E2, além da glicoproteína E3 e da proteína

transmembrana 6K (Figura 2b). As partículas virais têm 60 – 70 nm de diâmetro,

densidade de 1.22 g/cm³ e massa molecular de 52 x 106 (KUHN, 2007; FLORES, 2012;

MUÑOZ & NAVARRO, 2012).

Figura 2. Diagrama esquemático do genoma (a) e partícula vírica dos alfavírus (b)

com os genes, proteínas e suas funções indicadas. Fonte: Adaptado de WEAVER &

BARRETT, 2004.

Para o MAYV, dois genótipos têm sido identificados, o L e o D. O genótipo L é

encontrado exclusivamente no Brasil (Pará) com divergência entre estirpes de 0,1 a 0,3 %.

O genótipo D circula na Pan-Amazônia, representado por estirpes isoladas em Trinidad &

Tobago, Peru, Guiana Francesa, Suriname, Brasil e Bolívia, possuindo diversidade entre

19

0,05 a 9 %. (POWERS et al., 2001; MUÑOZ & NAVARRO, 2012).

Para o VEEV, existem seis subtipos: I, II, III, IV, V, VI e diversas variantes de

subtipos A, B, C, D, E e F, agrupados no complexo VEEV. O subtipo I possui as variantes

A, B e C, responsáveis por epidemias e epizootias envolvendo humanos e equinos. Os

subtipos II a VI e subtipo I das variantes D, E e F são enzoóticos, neurovirulentos para

equinos e capazes de causar encefalites fatais em humanos apesar da incapacidade de gerar

títulos virêmicos suficientes para infectar vetores (JOHNSON et al., 1968; DEARDORFF

& WEAVER, 2010; KENNEY et al., 2012; RÜLKER et al., 2012). Quanto à

epidemiologia, o subtipo IAB ocorre nas Américas, o IC na América do Sul, o ID nas

Américas Central e do Sul e o subtipo IF no Brasil. O subtipo II circula no Sul da Flórida e

o III na América do Norte e Sul. Os subtipos IV, V e VI circulam no Brasil, Guiana

Francesa e Argentina respectivamente (OBERSTE et al., 1998; AGUILAR et al., 2004;

KENNEY et al., 2012; RÜLKER et al., 2012).

O EEEV é também classificado no grupo dos vírus das encefalites equinas, possui

variantes antigênicas da América do Norte e Sul, sendo relacionado, ao VEEV e WEEV.

Para o EEEV são descritas as linhagens I, II, III e IV. O subtipo I (AN EEEV) compreende

as estirpes circulantes na América do Norte e Caribe, capazes de causar doenças em

humanos, equinos e outros animais como cães e suínos, estes últimos, considerados

hospedeiros finais. As linhagens II a IV (AS EEEV) ocorrem na América do Sul

associadas a doença em equinos (DE SOUZA LOPES & SACCHETTA, 1974; DIETZ et

al., 1980; ARRIGO et al., 2010; ENCHENG et al., 2013).

O WEEV, outro membro do grupo dos vírus das encefalites equinas, possui 84 %

de homologia com o EEEV, é classificado no complexo antigênico do vírus Sindbis

(SINV) e apresenta variantes antigênicas distribuídas na América do Sul, Caribe e América

do Norte (CALISHER et al., 1988; WEAVER et al., 1997; FLORES, 2012).

1.2.3 Ciclo replicativo viral intracelular dos alfavírus

Os alfavírus infectam uma ampla gama de hospedeiros, além de diversos tipos

celulares in vitro e in vivo. Isso se deve às proteínas de ligação virais (VAPS), que

possuem sítios para adsorção à diferentes receptores celulares, ou ainda utilizam apenas

um receptor conservado entre as espécies infectadas. Alternativamente, é possível que os

alfavírus se associem não especificamente à co-receptores antes da ligação específica ao

receptor, utilizando combinações de receptores e co-receptores para definir o tropismo e a

20

gama de hospedeiros (KONONCHIK et al., 2011; FLORES, 2012; SNYDER et al., 2013;

VANEY et al., 2013).

Dentre os receptores utilizados pelos alfavírus estão as moléculas do complexo

maior de histocompatibilidade I (MHC-I), o receptor de alta afinidade da laminina, sulfato

de heparina, receptores α1β1 de integrina e colágeno (VLA-1, CD49a/CD29), lecitinas

tipo-C, proteínas de resistência natural do macrófago Heat Shock 70 e uma proteína não

identificada associada à células nervosas de 110 KDa (KONONCHIK et al., 2011;

GARDNER et al., 2011; GAY et al., 2012; TANG, 2012). Os vírus Semliki Forest (SFV),

SINV, EEEV, VEEV e WEEV infectam células de Langerhans, dendríticas, linfóides,

macrófagos, musculares esqueléticas, possuindo maior importância em neurônios e células

da glia (FAZAKERLEY et al., 2006; TANG, 2012; LONG et al., 2013). Os vírus

O’nyong-nyong (ONNV), Chikungunya (CHIKV), Ross River (RRV), MAYV e SINV

possuem tropismo por células epiteliais, dendríticas, Langerhans, linfóides, macrófagos,

musculares esqueléticas, além de ósseas e sinoviais, causando artrite e artralgia

(MORRISON et al., 2006; HERRERO et al., 2011). In vitro, membros deste gênero

infectam células de Aedes albopictus C6/36, BHK-21 (baby hamster kidney cells), Vero

(African green monkey kidney), HeLa (câncer cervical humano) e cultivos primários de

embriões de galinhas (HERRERO et al., 2011; KONONCHIK et al., 2011; GAY et al.,

2012; TANG, 2012).

A glicoproteína E2 é responsável pela adsorção ao receptor e a E1 pela fusão com a

membrana. Após a ligação, ocorre penetração na célula por três mecanismos: fusão na

superfície celular, introdução do genoma viral por poros na membrana e, a forma mais

frequente, endocitose mediada por clatrina, processo pH dependente que desencadeia

alterações conformacionais em E1-E2, dissociando-as e expondo o domínio de fusão distal

da E1, promovendo a fusão entre o envelope e a membrana da vesícula endocítica, e a

consequente liberação do nucleocapsídeo no citoplasma da célula hospedeira

(SCHLESINGER & SCHLESINGER, 2007; KUHN, 2007; SHERMAN & WEAVER,

2010; KONONCHIK et al., 2011; MUÑOZ & NAVARRO, 2012; VANEY et al., 2013).

Em células de insetos, o desnudamento viral ocorre por mecanismo independente de pH

(FLORES, 2012).

Após o desnudamento, inicia a expressão gênica, pelo reconhecimento do CAP e do

códon iniciador 5’-AUG por ribossomos celulares, culminando com a tradução de dois

terços proximais da extremidade 5’ do RNA genômico, formando a poliproteína não-

21

estrutural (nsP-1 nsP-2, nsP-3 e nsP-4), responsáveis pela replicação e transcrição do RNA

(SCHLESINGER & SCHLESINGER, 2007; MUÑOZ & NAVARRO, 2012; FOY et al.,

2013). A associação da nsP123 com a nsP4, que possui atividade de RNA polimerase

dependente de RNA (RNApoldepRNA), origina o complexo replicase. Alternativamente,

uma poliproteína completa P1234 pode ser produzida e clivada pela protease nsP2,

gerando o complexo P123 + nsP4, seguido do processamento em nsP1, nsP23 e nsP4, e por

fim nas quatro nsPs individualizadas. O complexo replicase possui, tardiamente, função de

transcriptase, produzindo um RNA mensageiro subgenômico (mRNAsg) além de RNA

genômico a partir do RNA antigenomico (SCHLESINGER & SCHLESINGER, 2007;

LULLA et al., 2012; SREEJITH et al., 2012; FOY et al., 2013).

A nsP1 possui função de metiltransferase e guaniltransferase, catalizando a reação

de formação do Cap na extremidade 5’ do RNA viral, necessário para a síntese de fitas de

RNA antigênomicas (-RNA), e modular a atividade da protease nsP2 (STRAUSS &

STRAUSS, 1994; KUHN, 2007; LULLA et al., 2012; FOY et al., 2013). A nsP2 também

exerce funções de NTPase, RTPase, helicase, proteinase e atua na iniciação da transcrição

do segmento 26S do mRNA subgenômico (STRAUSS & STRAUSS, 1994; SREEJITH et

al., 2012; FOY et al., 2013). A função da nsP3 ainda não é completamente elucidada,

porém, sabe-se que esta possui dois domínios (N e C terminal) com funções distintas na

síntese de RNA (STRAUSS & STRAUSS, 1994; LULLA et al., 2012; SREEJITH et al.,

2012; FOY et al., 2013).

Os genes que codificam as proteínas estruturais são expressos a partir da tradução

do mRNAsg derivado do terço proximal da extremidade 3’ do RNA antigenômico,

resultando em uma poliproteína que é clivada em cinco proteínas estruturais: C – PE2 (E3

+ E2) – 6K – E1 (Figura 3) (SCHLESINGER & SCHLESINGER, 2007; FLORES, 2012;

MUÑOZ & NAVARRO, 2012; FOY et al., 2013).

A proteína C é liberada por autoproteólise, pela formação de uma estrutura

secundária (hairpin) na sua porção C-terminal (SCHLESINGER & SCHLESINGER,

2007; KUHN, 2007; SNYDER et al., 2013; VANEY et al., 2013). O domínio situado na

porção N-terminal da proteína C do RNA genômico, possui o sinal de empacotamento

(SCHLESINGER & SCHLESINGER, 2007; VANEY et al., 2013). A proteína E3

desempenha função de peptídeo guia, fornecendo sequencias sinais para que a

glicoproteína E2 seja clivada no complexo de Golgi. Da mesma maneira, o polipeptídeo

6K possui função guia, fornecendo sequências sinais para E1, facilitando o brotamento das

22

partículas virais e a infectividade (POWERS et al., 2001; KUHN, 2007; NASAR et al.,

2012; ENCHENG et al., 2013). O egresso das novas partículas brota na membrana

plasmática, após interações entre o nucleocapsídeo pré-formado (porção hidrofóbica das

120 subunidades da proteína C) e uma porção citoplasmática C–terminal conservada (Tyr–

Ala–Leu) das glicoproteínas E2 ancoradas na membrana plasmática, levando à liberação da

partícula viral para o meio extracelular (Figura 4) (KUHN, 2007; MOURÃO et al., 2012;

SNYDER et al., 2013).

Figura 3. Expressão gênica dos alfavírus. Fonte: FLORES, 2012.

Figura 4. Ciclo replicativo intracelular dos alfavírus. 1. adsorção; 2. endocitose

mediada por clatrina e desnudamento; 3. tradução e processamento da poliproteína não-

23

estrutural; 4. transcrição de RNAm subgenômico e replicação do RNA; 5. maturação das

proteínas estruturais no complexo de Golgi e retículo endoplasmático, formação do

nucleocapsídeo; 6. brotamento das partículas virais. Fonte: adaptado de KUHN, 2007.

1.2.4 Patogenia das infecções por alfavírus em humanos

A infecção por alfavírus em vertebrados acontece durante o repasto sanguíneo de

vetores infectados, através da inoculação de saliva contendo partículas virais durante a

hematofagia. Após a inoculação viral no meio extracelular, o sítio inicial de replicação

viral são as células dendríticas e de Langerhans, que transportam as partículas virais aos

linfonodos regionais, de onde estas se disseminam via circulação sanguínea a outros órgãos

e tecidos (Figura 5) (TESH et al., 1999; GRIFFIN, 2007; MUÑOZ & NAVARRO, 2012;

LONG et al., 2013). Após a infecção viral, fatores como a susceptibilidade do hospedeiro,

replicação eficiente nos sítios primários, disseminação e imunidade determinam a

intensidade da viremia e a gravidade da doença. Além destes, a habilidade de atingir os

órgãos-alvo depende da duração da infecção, dos títulos virêmicos e da invasivisidade e

virulência do isolado (MORRISON et al., 2006; GRIFFIN, 2007; MUÑOZ & NAVARRO,

2012).

Os sinais clínicos e sintomas das doenças por alfavírus são semelhantes às demais

arboviroses, consistindo em hipertermia, calafrios, mal estar, mialgia, exantemas e artralgia

para o MAYV, CHIKV, SINV, ONNV e o vírus Barmah Forest (BFV), podendo evoluir

para encefalite com cefaleia grave, êmese, irritabilidade, tremor, confusão mental,

fotofobia, inquietação, convulsões, coma e com frequência entre 0,5 % e 35 %, sinais de

meningite como rigidez de nuca e paralisia de nervos craniais nas infecções por EEEV,

VEEV e WEEV. (SCHMALJOHN & MCCLAIN, 1996; MUÑOZ & NAVARRO, 2012;

PERNG & CHEN, 2013). Para os sobreviventes, as sequelas da encefalite podem ser

progressivas e perdurar por toda a vida, decorrentes de meningoencefalite difusa, vasculite

e degeneração neuronal. Células inflamatórias são frequentemente encontradas depositadas

nos neurônios infectados (SCHMALJOHN & MCCLAIN, 1996; GRIFFIN, 2007;

BOURJOT et al., 2012; PERNG & CHEN, 2013).

A febre causada pelo MAYV é uma doença aguda auto-limitante (3-5 dias),

caracterizada por dor epigástrica, êmese, diarreia, cefaleia frontal, artralgia intensa,

mialgia, calafrios, exantema máculo-papular, náuseas, vertigens e fotofobia. A artralgia é o

sintoma clínico mais marcante nas infecções por alfavírus, pode permanecer por semanas e

24

afeta grandes e pequenas articulações (TESH et al., 1999; ABAD-FRANCH et al., 2012;

MOURÃO et al., 2012; MUÑOZ & NAVARRO, 2012). Apesar da viremia do MAYV ser

geralmente transiente e em títulos menores em relação ao DENV, é comum a confusão da

forma febril entre essas arboviroses (TESH et al., 1999; COIMBRA et al., 2007;

WEAVER & REISEN, 2010; MUÑOZ & NAVARRO, 2012).

Figura 5. Patogenia da infecção por alfavírus após inoculação durante o repasto sanguíneo

do vetor em hospedeiro vertebrado, órgãos que podem ser acometidos e doenças passíveis

de serem desenvolvidas. Fonte: adaptado de GRIFFIN, 2007.

O VEEV é um dos mais frequentes causadores de encefalite dentre os Alphavirus,

produzindo doença febril aguda acompanhada de hipertermia, calafrios, mal estar, diarreia,

cefaleia intensa e, em casos mais graves, encefalite após período de incubação de dois a

seis dias em humanos e equinos (SCHMALJOHN & MCCLAIN, 1996; AGUILAR et al.,

2004; FOY et al., 2013). Os sintomas da encefalite incluem letargia, sonolência, rigidez de

nuca, confusão mental, convulsões, ataxia, paralisia e coma, geralmente sem sequelas entre

os sobreviventes. Pouco mais de 4 % das crianças e 0,5 a 3 % dos adultos infectados

desenvolvem encefalite, com taxa de mortalidade que pode ser superior a 35 % em

crianças e 10 % em adultos dependendo do subtipo (SCHMALJOHN & MCCLAIN, 1996;

CFSPH, 2008; KENNEY et al., 2012; FOY et al., 2013). Nas últimas décadas,

epizootias/epidemias associadas ao VEEV têm vitimado milhares de equinos e humanos

nas Américas, em contraste com o EEEV e WEEV, que possuem importância

predominantemente nos EUA (CFSPH, 2008; FORSHEY et al., 2010; RÜLKER et al.,

2012; ENCHENG et al., 2013).

A infecção pelo EEEV em humanos é frequentemente grave e resulta em viremia,

25

sinais e sintomas que persistem por três a 15 dias, caracterizados por hipertermia, êmese,

cefaleia severa, letargia e mal estar. As células mais acometidas são os neurônios,

produzindo encefalite com grau de morbimortalidade em equinos e humanos de 30-70 %,

devido à necrose neuronal, infiltração das meninges, neuronofagia e hemorragia cerebral.

Os sintomas são caracterizados por depressão ou hiperexcitabilidade, paralisia progressiva,

hipertermia severa, coma, podendo evoluir para morte em cinco a 15 dias após a infecção.

Crianças e idosos são mais susceptíveis e, sequelas neurológicas debilitantes ocorrem em

50 % dos sobreviventes (SILVA et al., 2011; ARMSTRONG & ANDREADIS, 2013;

ENCHENG et al., 2013).

A incidência do WEEV é variável. Após período de incubação de três a cinco dias,

observa-se sinais e sintomas como hipertermia, náuseas, cefaleia, inquietação, tremores,

irritabilidade e, nos casos de encefalite, rigidez de nuca, fotofobia, convulsões, confusão

mental, coma e óbito. A taxa de mortalidade da encefalite em adultos é de 3 %, 10 % em

idosos e, sintomatologia é mais grave em crianças, bem como as sequelas são frequentes

(GRIFFIN, 2007; CFSPH, 2008; SHERMAN & WEAVER, 2010; MOSSEL et al., 2013).

Durante a fase aguda das infecções por alfavírus, há a indução de citocinas como

Interferon tipo I (IFN-α e IFN-β), Fator de Necrose Tumoral α (TNF-α) e Interleucinas 1 e

6 (IL-1 e IL-6), de acordo com o nível da replicação viral. O IFN limita a replicação viral

na fase aguda, aumentando a taxa de sobrevivência neuronal em encefalites (GRIFFIN,

2007; RODRIGUEZ-ANDRES et al., 2012; FARMER et al., 2013).

Após a infecção das células de Langerhans, há um aumento na expressão de

complexo maior de histocompatibilidade (MHC-II) e moléculas co-estimulatórias, que

levam à ativação de células T-naive. Linfocitos T CD8+ diminuem os níveis de RNA viral

no Sistema Nervoso Central (SNC), depurando macrófagos infectados. Nas encefalites, o

processo inflamatório mononuclear é caracterizado pela infiltração de células NK,

linfócitos T CD4+, T CD8+, B e macrófagos (ELVIN et al., 2002; GRIFFIN, 2007;

METCALF & GRIFFIN, 2011; RAINEY-BARGER et al., 2013). Epítopos das

glicoproteínas E1 e E2 constituem-se nos principais indutores da secreção de IgM e IgA.

IgM pode ser detectada três a cinco dias após a infecção, IgG sete a 14 dias após e se

mantém por anos. O desenvolvimento de imunidade adquirida coincide com o término da

viremia quando o sistema complemento e os anticorpos neutralizantes que neutralizam as

partículas virais, diminuem a replicação viral intracelular levando a depuração de

imunocomplexos no sistema reticuloendotelial (GRIFFIN, 2007; METCALF & GRIFFIN,

26

2011; FLORES, 2012). A depuração viral no SNC é mediada por imunoglobulinas, uma

vez que a expressão limitada de moléculas MHC-I restringe a ação de linfócitos T CD8+

(GRIFFIN, 2007; METCALF & GRIFFIN, 2011; FARMER et al., 2013; RAINEY-

BARGER et al., 2013).

1.2.5 Epidemiologia dos principais alfavírus relatados no Brasil

Os mosquitos se infectam com os alfavírus durante o repasto sanguíneo em

hospedeiros com viremia suficientemente elevada para infectar os vetores. As partículas

virais infectam células epiteliais do intestino médio do mosquito, atravessam a lâmina

basal, alcançam a hemolinfa e, desta, as glândulas salivares, estabelecendo infecção

persistente. Após período de incubação extrínseco, os mosquitos secretam as partículas

virais juntamente com a saliva na circulação sanguínea dos hospedeiros susceptíveis

(OVIEDO et al., 2011; MUÑOZ & NAVARRO, 2012; LE COUPANEC et al., 2013).

O principal vetor do MAYV em meio silvestre é o Haemagogus janthinomys,

mantendo o ciclo enzoótico em períodos interepidêmicos (Figura 6). Esse vírus também

pode infectar naturalmente espécies de Psorophora e Mansonia, porém sua competência

vetorial não é comprovada, podendo ser transmitido por Cx. e Ae. spp. experimentalmente

(AITKEN et al., 1960; AITKEN et al., 1969; GALINDO et al., 1966; GALINDO &

SRIHONGSE, 1967; MITCHELL, 1991; SMITH & FRANCY, 1991; ABAD-FRANCH et

al., 2012). Primatas e aves silvestres se constituem em hospedeiros amplificadores primário

e secundário, respectivamente. Acredita-se que o homem pode desenvolver viremia

suficientemente elevada para servir de fonte de infecção a Ae. aegypti, Ae. albopictus e Ae.

scapularis (Figura 6) (VASCONCELOS et al., 1998; FORSHEY et al., 2010; LONG et al.,

2011; MOURÃO et al., 2012; MUÑOZ & NAVARRO, 2012). Aves silvestres migratórias

desempenham papel importante na dispersão do MAYV por percorrer longas distâncias em

curto período de tempo (VASCONCELOS et al., 1998).

O MAYV foi isolado pela primeira vez em 1954 no sangue de cinco trabalhadores

rurais em Trinidad & Tobago (ANDERSON et al., 1957). Soroprevalência tem sido

relatada em países da América Central como Panamá, Guatemala e Costa Rica e em

epidemias na América do Sul (ANDERSON et al., 1957; KARABATSOS, 1985;

METSELAAR, 1966; PINHEIRO et al., 1981; TALARMIN et al., 1998; COIMBRA et al.,

2007; MOURÃO et al., 2012; MUÑOZ & NAVARRO, 2012). Este vírus já foi isolado de

27

humanos, animais silvestres e mosquitos e há relatos de doença febril aguda com sorologia

positiva na América do Sul na Colômbia, Venezuela, Suriname, Peru, Guiana Francesa,

Brasil, Equador, Paraguai e Bolívia, sendo observados surtos esporádicos na Pan

Amazônia desde a sua descoberta, contudo dados disponíveis são escassos (TALARMIN et

al., 1998; TESH et al., 1999; TORRES et al., 2004; FORSHEY et al., 2010; MUÑOZ &

NAVARRO, 2012).

No Brasil, o MAYV é endêmico nos estados do Norte e Centro Oeste

principalmente região Amazônica, com soroprevalência de 2-40,9 % (CAUSEY et al.,

1958; COIMBRA et al., 2007; ABAD-FRANCH et al., 2012; MOURÃO et al., 2012;

MUÑOZ & NAVARRO, 2012). A primeira epidemia no Brasil ocorreu em 1955 no Pará

em cerca de 100 trabalhadores de uma pedreira próxima ao rio Guamá. Outras três

epidemias, em comunidade rural de Belterra em 1978 e nas cidades de Conceição do

Araguaia em 1981 e Benevides em 1991 ocorreram também no Pará, além de Itaruma em

Goiás em 1987 com soroprevalência de 16 % em 1991 e em Peixe no Tocantins

(PINHEIRO et al., 1981; VASCONCELOS et al., 1998; TESH et al., 1999). No Mato

Grosso (MT) foi relatada a detecção de anticorpos para MAYV em índios Xavantes em

1968 (NEEL et al., 1968). Ainda na região Centro Oeste, três homens residentes em São

Paulo se infectaram por MAYV em Camapuã, Mato Grosso do Sul (MS) (COIMBRA et

al., 2007). Um caso alóctone foi reportado na França em paciente com histórico de viagem

recente à Amazônia brasileira (RECEVEUR et al., 2010). Anticorpos neutralizantes para

MAYV foram detectados em equinos no Pantanal do MS (PAUVOLID-CORRÊA et al.,

2013b). Evidências epidemiológicas sugerem que a soroprevalência é maior em moradores

de áreas rurais e/ou silvestres, onde ocorre o ciclo silvestre (TALARMIN et al., 1998;

ABAD-FRANCH et al., 2012; MUÑOZ & NAVARRO, 2012). No entanto, casos de

doença febril por MAYV têm sido relatados em residentes de áreas urbanas de Manaus

(ABAD-FRANCH et al., 2012; MOURÃO et al., 2012). Apesar de relatos de elevada

soroprevalência no Brasil, o isolamento do vírus é dificultado pela viremia transiente em

baixos títulos (COIMBRA et al., 2007; MUÑOZ & NAVARRO, 2012).

28

Figura 6. Ciclos de transmissão em área silvestre, rural e urbana do vírus Mayaro e seus

respectivos hospedeiros e vetores na América Latina. Fonte: MUÑOZ & NAVARRO,

2012.

Estirpes silvestres do VEEV circulam entre vetores Cx. (melanoconion) spp., e

roedores silvestres (Oryzomys, Proechimys, Sigmodon, Peromyscus, Heteromys,

Zygodntomys) nas Américas. A maioria das epidemias e epizootias ocorre esporadicamente

quando os subtipos IAB e IC são transmitidos à humanos e equinos por vetores

secundários competentes Ae. spp., Psorophora spp., Anopheles spp., Cx. spp. e

Orchlerotatus taeniorhynchus, que possuem hábitos peridomésticos e agrícolas (Figura 7).

Os subtipos enzoóticos ID e IE são menos frequentes, causando viremia e doença branda

em equinos. No entanto uma única mutação no aminoácido 213 da glicoproteína E2

(T213R) permite que estirpes destes subtipos produzam viremia suficientemente elevada

em equinos para que vetores secundários se contaminem e o transmitam à hospedeiros

susceptíveis. Os meios rurais e silvestres são áreas de risco e, a proximidade de humanos

susceptíveis a equinos infectados pode acarretar epidemias (ANISHCHENKO et al., 2006;

CFSPH, 2008; DEARDORFF & WEAVER, 2010; PFEFFER & DOBLER, 2010;

KENNEY et al., 2012; RÜLKER et al., 2012).

O VEEV afeta humanos e equinos na América Latina desde 1920 (VELASQUEZ,

1939; CASALS et al., 1943). A primeira grande epidemia/epizootia documentada ocorreu

na Colômbia e na região Guajira, Venezuela em 1936 e, a partir de então, surtos ocorreram

periodicamente até 1973 (BECK & WYCKOFF, 1938; VELASQUEZ, 1939; WEAVER et

al., 1996). No final da década de 60, o VEEV causou epizootias equinas e epidemias ao

longo da costa do oceano Pacifico, Colômbia, Venezuela, Peru, Trinidad & Tobago,

29

Equador e em países da América Central, disseminando-se pelo México até o Texas

(KUBES & RÍOS, 1939; LORD, 1974; WEAVER et al., 1996). Nesta mesma época, o

subtipo I, variedade ID do VEEV foi isolado em mosquitos e hamsters sentinelas em

Iquitos, Peru, detectando-se sorologia em humanos e equinos em Pucallpa, Iquitos e

Yurimaguas, Peru (MADALENGOITIA et al., 1973; SCHERER et al., 1975; SCHERER

et al., 1979). O subtipo IE foi isolado em Veracruz, México, em 1963, em hamsters

sentinelas e pool de mosquitos e o subtipo ID foi associado com doença febril aguda em

militares em Pantoja, Peru (OBERSTE et al., 1998; WATTS et al., 1998). Esse vírus é

endêmico na Colômbia e Venezuela, onde em 1995 foi relatada uma das maiores

epidemias com mais de 100 mil casos e aproximadamente 300 casos fatais (WEAVER et

al., 1996). No Brasil, em 1982, a variante IF foi isolada no Vale do Ribeira, São Paulo em

Cx. Melanoconion e em morcegos Carollia perspicilatta (CALISHER et al., 1982). Na

Amazônia brasileira, os subtipos III e IV foram isolados de macacos Cebus e Anopheles

ninbus (VASCONCELOS et al., 1991). Há relatos de evidências sorológicas em humanos

em Iguape, São Paulo e no Paraná (RICHARTZ, 1994; VASCONCELOS et al., 1998;

PFEFFER & DOBLER, 2010) e em cavalos do Pantanal de MT e MS (PAUVOLID-

CORRÊA et al., 2013c; MELO et al., 2012).

O EEEV produz distúrbios neurológicos em humanos e equinos nas Américas,

sendo mantido na natureza em ciclos silvestres envolvendo Culiseta melanura e aves como

hospedeiros primários, roedores secundários, que vivem principalmente em pântanos na

América do Norte. Espécies de Ae., Cx. e Coquilletidea perturbans são vetores

secundários, ampliando a gama de hospedeiros pelos hábitos de hematofagia promíscua

(Figura 7) (CFSPH, 2008; ARRIGO et al., 2010; ESTEP et al., 2013). Estudos recentes

indicam que répteis e anfíbios possam ser hospedeiros (GRAHAM et al., 2012).

O EEEV foi isolado em 1933 em encéfalo de equinos em New Jersey e Virginia,

EUA (TEM & MERRILL, 1933). Em 1938, foi relatado o primeiro surto em crianças com

encefalite com aproximadamente 30 óbitos, em área rural, seguidos de diversas epidemias

no país com casos fatais (WEBSTER & WRIGHT, 1938). O vírus distribui-se do Canadá

ao Norte da Argentina e, na América do Sul três linhagens (II, III e IV) têm sido descritas.

No Brasil, foi isolado em eqüinos em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e

Minas Gerais e em aves na Amazônia (BRUNO-LOBO et al., 1961; WIGG, 1977;

BRAULT et al., 1999; FIGUEIREDO, 2007; WEAVER et al., 2012; CAMPOS et al.,

2013). Sorologia positiva é relatada em humanos e aves no Vale do Ribeira, SP, em

30

equinos do Pantanal e de quatro cidades do Paraná e em aves na Mata Atlântica, SP

(BRUNO-LOBO et al., 1961; IVERSSON et al., 1981; IVERSSON et al., 1993;

FERNÁNDEZ et al., 2000; PAUVOLID-CORRÊA et al., 2010; MELO et al., 2012). Em

Itapetininga, SP, foi isolado de equinos e roedores Oryzomys spp. e sorologia foi detectada

em aves residentes e migratórias (VASCONCELOS et al., 1998). Surtos em equinos foram

relatados também em Pernambuco, Ceará e Paraíba em 2008 e 2009 com mortalidade de

72,9 % e na Ilha de Marajó, Pará (SILVA et al., 2011; CAMPOS et al., 2013). Não há

relatos de surtos em humanos no Brasil.

Com relação ao WEEV, o ciclo de transmissão envolve aves domésticas e

silvestres, que são hospedeiros amplificadores e Cx. tarsalis como vetores. Outros como

Ae. melanimon, Ae. dorsalis e Ae. campestris são vetores secundários e transmitem o

WEEV a humanos e equinos, que são hospedeiros finais (Figura 7). O WEEV também

circula entre mosquitos Ae. melanimon e coelhos Lepus califomicus. A transmissão vertical

em vetores pode ser responsável pela manutenção do vírus durante períodos

interepidêmicos (inverno) em regiões temperadas da América do Norte, onde a transmissão

horizontal é sazonal (FULHORST et al., 1994; CFSPH, 2008; MOSSEL et al., 2013;

PHILLIPS et al., 2013).

O primeiro alfavírus isolado foi o WEEV nos EUA em 1930, a partir do SNC de

dois equinos e, em 1938 de uma criança com encefalite fatal (MEYER et al., 1931).

Encontra-se disseminado nos EUA e Canadá, é descrito no México em epizootias em

equinos e em epidemias em humanos (KARABATSOS, 1978; WEAVER et al., 1997). Na

América do Sul, epizootias já foram descritas na Argentina, Equador, Uruguai e Brasil e,

inquéritos sorológicos demonstram baixa prevalência em humanos (PFEFFER &

DOBLER, 2010; ZACKS & PAESSLER, 2010). No Brasil, a circulação foi relatada em

1960 com evidência sorológica de 22,6 % de prevalência em humanos e 11,4 % em

equinos no RJ (BRUNO-LOBO et al., 1961). Evidências sorológicas já foram descritas em

equinos de diversas cidades do Paraná, na região da Nhecolândia no Pantanal do MS, em

espécies de aves na Amazônia brasileira e de Itapetininga, SP (VASCONCELOS et al.,

1991, 1998; IVERSSON et al., 1993; RICHARTZ, 1994; PAUVOLID-CORRÊA, 2008;

2010).

O vírus Aura (AURAV) foi isolado no Brasil em 1959 em mosquitos Cx. spp. nas

proximidades do rio Aura. Este vírus já foi isolado também em Ae. serratus no Brasil e

norte da Argentina. O AURAV é sorologicamente derivado da recombinação de SINV e

31

WEEV, ainda não há relatos em humanos (CAUSEY et al., 1963; RÜMENAPF et al.,

1995).

Figura 7. Ciclos de transmissão dos vírus das encefalites equinas do Leste (EEEV), Oeste

(WEEV) e Venezuelana (VEEV) e seus respectivos hospedeiros e vetores nas Américas.

Fonte: adaptado de PFEFFER & DOBLER, 2010.

1.2.6 Métodos laboratoriais empregados no diagnóstico de Alphavirus

O diagnóstico das infecções por alfavírus pode ser realizado por Inoculação em

Cultivo Celular (ICC), técnicas sorológicas como Imunofluorescência Indireta (IFI), ensaio

imunoenzimático (ELISA), neutralização por redução de placas (PRNT) e, técnicas

moleculares como reação em cadeia de polimerase (PCR), Loop Mediated Isothermal

Amplification (LAMP) e PCR em tempo real (BRONZONI et al., 2005; PAUVOLID-

CORRÊA et al., 2010; KANG et al., 2012). A ICC e a inoculação em animais são

considerados padrões de referência (DE PAULA & FONSECA, 2004; KENNEY et al.,

2012; KAUR et al., 2013).

A inoculação em camundongos recém-nascidos, hamsters e cobaias possui

desvantagens como custo elevado, baixa sensibilidade e tempo prolongado para isolamento

(DE PAULA & FONSECA, 2004; SANTOS & BENATI, 2008). Contudo, linhagens

celulares são mais práticas e com custo inferior. Células de rim de macaco Rhesus, LLC-

MK2; de Aedes pseudoscutellaris, AP61; BHK-21; Vero e C6/36 são as mais sensíveis aos

arbovírus, sendo as três últimas mais frequentemente utilizadas para diagnóstico de

alfavírus (DEARDORFF & WEAVER, 2010; SHERMAN & WEAVER, 2010; KENNEY

32

et al., 2012; KAUR et al., 2013). A multiplicação viral em células de cultivo pode ser

observada mediante a apresentação de efeito citopático (ECP), formação de placas em

meio semi-sólido e detecção de antígenos e ácidos nucleicos (DE PAULA & FONSECA,

2004; SANTOS & BENATI, 2008; FLORES, 2012). A IFI é amplamente utilizada com

anticorpos primários policlonais anti-alfavírus e/ou anticorpos monoclonais espécie-

específicos, seguidos de anticorpos secundários contra a imunoglobulina G conjugados

com fluoróforos (STORCH, 1994; SANTOS & BENATI, 2008; LUNDSTROM, 2012;

KAUR et al., 2013).

O ELISA permite a detecção de anticorpos e antígenos. Três variações são

utilizadas para arbovírus: ELISA indireto, ELISA-Array (multiplex-ELISA) e ELISA de

captura (MAC ELISA) em amostras de soro, cultura viral, secreções, líquor, leite, e outros.

Anticorpos monoclonais específicos contra os vírus são conjugados a enzimas (biotina-

NHS, peroxidase, catalase, fosfatase alcalina, etc) para que ocorra reação colorimétrica

frente à adição de substratos, na presença de antígenos virais. O ELISA indireto detecta

principalmente IgG. É utilizado em estudos de soroprevalência, uma vez que IgG torna-se

detectável no soro na fase tardia da doença e se mantém por pelo menos 15 meses após a

infecção. O ELISA-array permite a detecção simultânea de antígenos de diferentes

arbovírus do gênero Alphavirus (SILVA, 2010; KANG et al., 2012; REDDY et al., 2012).

O MAC-ELISA permite a detecção de IgM nas primeiras semanas, durante a fase aguda da

infecção (KANG et al., 2012; REDDY et al., 2012).

O Teste de Neutralização por Redução de Placas (PRNT) é considerado o método

de referência para análise de proteção após vacinação por detectar anticorpos

neutralizantes. Sensível e específico permite quantificar níveis de anticorpos circulantes

que neutralizam de forma específica a espécie viral, excluindo ambiguidades produzidas

por reações cruzadas, como para as variantes do VEEV (I a VI), EEEV (I a IV) e MAYV

(L e D) (NI et al., 2007; THOMAS et al., 2009; SIMÕES, 2011).

A reação da cadeia em polimerase (PCR) amplifica quantidades mínimas de

genoma viral em amostras clínicas (acima de 200 cópias para alfavírus) como sangue,

tecidos sólidos, saliva, leite, secreções, sêmen, urina e cultivos celulares previamente

inoculados (PARIDA et al., 2007; SANTOS & BENATI, 2008; PAUVOLID-CORRÊA et

al., 2010; SILVA et al., 2011). As técnicas Multiplex, Nested e Semi-Nested PCR foram

desenvolvidas objetivando otimizar o custo das reações, a sensibilidade, especificidade e

obtenção dos resultados, possibilitando a detecção de co-infecções. É possível utilizar

33

iniciadores universais (pan-Alphavirus) como cM3W e M2W e/ou espécie-específicos para

região conservada do gene da nsP1 e das glicoproteínas E1, E2 e E3 para transcrição

reversa seguida de PCR, estes últimos, frequentemente utilizados em análise filogenética e

genotipagem (BRONZONI et al., 2005; PAUVOLID-CORRÊA et al., 2010; SILVA et al.,

2011; MUÑOZ & NAVARRO, 2012).

O sequenciamento nucleotídico de primeira e última geração permite a confirmação

dos produtos amplificados na PCR e estudos filogenéticos e de genotipagem, bem como

comparação com variáveis biológicas inerentes ao vírus, podendo-se determinar

ancestralidade, origem, adaptação e evolução, relações e divergências entre os alfavírus e a

identificação de novas espécies (TERZIAN, 2008; WEAVER et al., 2012).

A RT-PCR em tempo real amplifica e quantifica material genético pela detecção de

um composto fluorescente intercalante (SYBR Green®, LCGreen® Plus e EvaGreen®) ou

sondas sequencia-específicas (molecular beacons, Scorpion, Sunrise e TaqMan®),

liberadas quando há inserção dos nucleotídeos nas cadeias nascentes ou por excitação da

sonda. Para alfavírus, as mais utilizadas são SYBR Green® e TaqMan® em regiões

conservadas da nsP1 e E1 para MAYV, nsP3, E1 e E2 para CHIKV e outros, em amostras

como sangue, leite, saliva, secreções, urina, sêmen, biópsias e cultivos celulares inoculados

(OLIVEIRA, 2010; REDDY et al., 2012; HUESTON et al., 2013).

O Loop Mediated Isothermal Amplification (LAMP) amplifica exponencialmente

ácidos nucleicos sob condições isotermais em apenas uma etapa (one step). A reação é

rápida, eficiente, sensível e específica, devido ao reconhecimento da sequência alvo por

três pares de iniciadores que hibridizam a oito regiões distintas (NOTOMI et al., 2000;

PARIDA et al., 2007; REDDY et al., 2012). Este método pode ser empregado para a

detecção de 20 cópias ou mais de ácidos nucleicos de alfavírus presentes em amostras de

soro, sangue, líquor e secreções da fase aguda da doença e cultivos celulares com

iniciadores delineados para os genes da nsP1 ou E1 (NOTOMI et al., 2000; PARIDA et

al., 2007; REDDY et al., 2012).

34

2. JUSTIFICATIVA

O MT encontra-se em área tropical, possuindo ecossistema variado em seu

território: Amazônia ao Norte, Pantanal ao Sul e Cerrado no restante do estado, bem como

a região do Araguaia. Esse ecossistema diverso dispõe de condições ecológicas e

climáticas favoráveis à ocorrência das arboviroses, com grande diversidade de espécies de

vetores e animais silvestres que podem participar como hospedeiros amplificadores desses

agentes zoonóticos.

Arbovírus do gênero Alphavirus circulam em artrópodes, animais domésticos,

silvestres e humanos. Vetores infectados constituem fonte de infecção para humanos, que

podem desenvolver doença febril aguda com manifestações clínicas indistinguíveis. Logo,

a etiologia é diferenciada somente por técnicas laboratoriais, tais como o isolamento viral e

a imunofluorescência.

A frequência e circulação de outros arbovírus além do DENV e do YFV no MT são

pouco compreendidas devido à ausência de diagnóstico laboratorial diferencial de rotina e

de estudos com estes arbovírus. Existem relatos frequentes de evidência sorológica,

isolamento e identificação molecular de arbovírus zoonóticos em humanos e animais em

estados adjacentes e, em 1968, anticorpos anti-MAYV foram relatados em índios Xavantes

do MT (NEEL et al., 1968), sendo este o único relato de circulação de MAYV no estado.

Desta forma, considerando a localização geográfica e as características ecológicas do

estado, a circulação de outros arbovírus além do DENV em áreas urbanas e rurais do

estado deve ser investigada.

Anualmente, são relatados diversos casos de doença febril aguda atribuídos ao

dengue, com ou sem confirmação laboratorial no estado. Frequentemente, amostras desses

casos são negativas para os sorotipos do vírus da dengue ou febre amarela quando

submetidas a diagnóstico laboratorial. Neste sentido, a investigação de outros arbovírus

aliada a utilização de métodos moleculares, que apresentam maior sensibilidade, pode

elucidar a ocorrência de outros arbovírus em MT, bem como possibilitar a adequação de

estratégias de vigilância virológica e entomológica. Portanto, o presente estudo, contribui

para a compreensão da dispersão e circulação de alfavírus no estado, permitindo a adoção

de medidas adequadas de diagnóstico, tratamento e prevenção das arboviroses.

35

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

- Investigar através de técnicas moleculares a circulação de alfavírus em pacientes

febris durante epidemia de dengue em Mato Grosso, Brasil, entre 2011 e 2012.

3.2 Objetivos Específicos

- Detectar circulação a entre 2011 e 2012 de alfavírus em população humana em

MT;

- Detectar eventuais co-infecções com alfavírus em pacientes febris de MT;

- Realizar diagnóstico diferencial de pacientes com síndrome febril aguda suspeita

de dengue em MT;

- Identificar eventuais fatores de risco para a infecção por alfavírus em população

humana em MT.

36

4. MATERIAL E MÉTODOS

Neste estudo, investigou-se a circulação de arbovírus do gênero Alphavirus, família

Togaviridae, em pacientes suspeitos de dengue atendidos e amostrados em serviços de

saúde do estado de MT, entre 2011 e 2012. Amostras de soro foram testadas para cinco

alfavírus MAYV, EEEV, WEEV, VEEV e AURAV, por multiplex semi-nested RT-PCR.

Amostras positivas para espécies de alfavírus foram submetidas ao sequenciamento

nucleotídico, TaqMan RT-qPCR e inoculação em cultivo celular. Os resultados foram

analisados junto a fatores de risco (figura 8).

Os resultados positivos para alfavírus foram confrontados com os resultados de um

estudo paralelo que pesquisou a circulação de 11 flavivírus (DENV-1, 2, 3 e 4, febre

amarela, encefalite de Saint Louis, Bussuquara, Ilhéus, Iguape e do Oeste do Nilo) por

Duplex-RT-PCR seguido de Multiplex semi-nested PCR (BRONZONI et al., 2005) e

sequenciamento nucleotídico no mesmo grupo de amostras analisadas no presente estudo.

Figura 8. Fluxograma de atividades para análise de 604 amostras de pacientes com

doença febril aguda suspeita de Dengue que demandaram os serviços de saúde do estado

de Mato Grosso, entre 2011 e 2012.

4.1 Caracterização do local de amostragem

O MT localiza-se na região Centro-Oeste do Brasil, representando 10% do território

nacional. Possui fronteira com o Amazonas e Pará ao Norte; Tocantins e Goiás a Leste;

MS ao Sul; Rondônia e Bolívia a Oeste. Seu território agrupa diferentes ecossistemas: o

37

Amazônico ao Norte é o mais abrangente, ocupando 53,6 % da área do MT, seguido do

Cerrado, com 39,6 % e o Pantaneiro ao Sul, com 6,8 %, reunindo formações florestais

variadas, dentre ombrófila, campinarana florestada, florestas estacionais, cerrado, campo

cerrado, campo limpo e campo de murunduns (SEMA, 2011). O clima é tropical, com duas

estações distintas, a seca e a chuvosa. As chuvas ocorrem entre outubro e abril, enquanto o

período seco prevalece de maio a setembro (EMBRAPA, 2006). Este ecossistema diverso

favorece a disponibilidade e dispersão de espécies de vetores, aves, animais silvestres e

domésticos, além de humanos em áreas rurais (552.321 habitantes) e urbanas (2.482.801

indivíduos) susceptíveis aos arbovírus (IBGE, 2010).

4.2 Tipo de estudo, amostragem e procedimentos éticos

O estudo caracterizou-se como observacional do tipo transversal. Analisou-se 604

amostras de soro de pacientes com doença febril aguda, até o quinto dia a partir do

aparecimento dos sintomas, provenientes de unidades básicas de saúde, prontos-socorros e

hospitais de municípios interligados à Secretaria Estadual de Saúde (SES) do MT entre

outubro de 2011 e julho de 2012, enviadas em nitrogênio líquido (-196oC), ao MT-

Laboratório para o diagnóstico laboratorial de DENV e YFV por ICC e IFI. Alíquotas das

amostras de soro foram separadas para o experimento durante a inoculação (Anexo I) e

transportadas em nitrogênio líquido ao Laboratório de Virologia (LV/FM/UFMT), onde

foram armazenadas a -80°C.

Juntamente com as amostras clínicas, foram adquiridos os registros do Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (SINAN) (Anexo II). Os procedimentos que

envolvem pacientes e amostras clínicas foram previamente aprovados pelo Comitê de Ética

em Pesquisa do Hospital Júlio Müller, FM/UFMT, protocolo 100 de 2011 (Anexo III).

4.3 Extração de RNA viral a partir das amostras de soro

A extração de RNA foi realizada em volume igual a 140 µL de soro com o QIAamp

Viral RNA mini Kit (QIAGEN) segundo especificações do fabricante.

4.4 Iniciadores

Os iniciadores usados nas reações de multiplex semi-nested RT-PCR hibridizam a

regiões conservadas do gene da proteína viral não-estrutural nsP1 dos alfavírus (Tabela 2).

38

Tabela 2. Iniciadores empregados para detecção de alfavírus no soro de pacientes com doença febril aguda suspeita de dengue em Mato

Grosso, 2011 e 2012.

Alvo Primer Sequência Posição no

genoma

Tamanho1 Fragmento

amplificado1

Referência

Gênero

Alphavirus

M2W (+) YAGAGCDTTTTCGCAYSTRGCHW2

164–186 23 433 (PFEFFER et al., 1997)

cM3W (-) ACATRAANKGNGTNGTRTCRAANCCDAYCC

568–597 30

Gênero FG1 (+) TCAAGGAACTCCACACATGAGATGTACT 8270–8297 27 958 (FULOP et al., 1993)

Flavivirus FG2 (-) GTGTCCCATCCTGCTGTGTCATCAGCATACA 9228–9258 30

Multiplex semi-nested RT-PCR para alfavírus

MAYV nMAY (+)3

GGAAGTTGGCCAAGGC 164-189 16 270 (BRONZONI et al., 2005)

VEEV nVEE (+) ACGGAGGTAGACCCATCCGA 199-218 20 400

EEEV nEEE (+) CCACGGTACCGTTGCC 469-484 16 124

WEEV nWEE (+) GGCGGCAGACCTGCTGGAA 363-381 19 208

AURAV nAURA (+) TCAATGCACCTTCGACCA 546-633 18 86

¹Em pares de base. ²Iniciador degenerado, Y = C or T; R = A or G; N = A, C, G, or T; W = A or T; V = A, C, or G. ³Iniciadores utilizados em multiplex semi-nested RT-

PCR com o reverso para alfavírus cM3W (-).

39

4.5 Controles Positivos

Para a padronização da RT-PCR e controle interno das reações, utilizou-se RNA da

estirpe BeAr 20290 do MAYV, cedido pela prof. Dra. Roberta Morais Bronzoni, UFMT

Sinop, e das estirpes do EEEV e Flórida do VEEV, cedidos pelo prof. Dr. Eduardo Furtado

Flores, UFSM, Santa Maria, RS.

4.6 Duplex RT-PCR para região dos genes nsP1 de alfavírus e NS5 de flavivírus

A transcrição reversa a DNA complementar (cDNA) foi realizada com 9,1 µL (~1

µg) de RNA extraído, 4 µL de tampão 5x (250 mM Tris-HCl [pH 8.3], 375 mM KCl, 15

mM MgCl2), 1,6 µL de deoxinucleotídeos trifosfatados (DNTPs) (2,5 mM), 1,4 µL de

dithiothreitol (DTT, 0,1 M), 1 µL de primer alfavírus-específico cM3W (-) a 100 µM, 1 µL

do primer para Flavivirus FG2 (-) a 15 µM, 20 U de inibidor de RNAse (RNAse OUT;

Invitrogen) e 100 U da transcriptase reversa (RT; Superscript III, Invitrogen) completando

20 µL, incubados por 50 min a 50 °C e 15 min a 70 °C.

Para a amplificação pela reação da polimerase em cadeia (PCR) da região de 433

pb do gene nsP1 dos alfavírus, e da região de de 958 pb do gene NS5 dos flavivírus,

utilizou-se 8 µL de cDNA, 5 µL de tampão de PCR 10x (200 mM Tris-HCl [pH 8.4], 500

mM KCl), 2 µL de MgCl2 (50 mM), 1 µL do primer M2W (+) a 50 µM, 1 µL do primer

FG1 (+) a 15 µM, 1 µL de DNTPs (10 mM), 1 U de DNA polimerase (Taq DNA

polimerase recombinante; Invitrogen) e água ultrapura para 50 µL. A reação foi submetida

a um ciclo de 94°C por 1 min, 30 ciclos de 94 °C por 1 min, 53 °C por 1 min e 72 °C por 2

min e extensão final de 72 °C por 5 min. Foram inclusos controles positivos e negativos.

4.7 Multiplex Semi-Nested PCR para região do gene da nsP1 de espécies de alfavírus

Utilizou-se 2 µL do produto da Duplex RT-PCR, 2,5 µL de tampão de PCR 10x

(200 mM Tris-HCl [pH 8.4], 500 mM KCl), 1 µL de MgCl2 (50 mM), 0,5 µL de dNTPs

(10 mM), 0,5 U de DNA polimerase (Platinum Taq DNA polimerase; Invitrogen), 0,5 µL

de primer reverso cM3W (100 µM), 0,5 µL dos iniciadores nMAY (30 µM), nVEE, nEEE,

nWEE e nAURA (15 µM) (Tabela 1) e água ultrapura para 25 µL, sob as mesmas

condições de ciclagem descritas no item anterior, incluindo controles positivos negativos.

Após a amplificação, 12 µL dos produtos foram submetidos à eletroforese em gel

de agarose a 1,5% em tampão Tris-Acetato-EDTA 1 X (TAE; Tris base 2M, ácido acético

glacial, EDTA dissódico 0,5M, pH 8,3), corados com Blue Green Loading Dye (LGC

40

Biotechnology) e visualizados em fotodocumentador (Gel Doc XR+; Bio-Rad) pelo

programa ImageLab (Bio-Rad). Amostras positivas foram submetidas no mínimo a dois

testes independentes a partir do RNA viral, com primers para MAYV e DENV-4.

4.8 Semi-nested PCR single para região do gene da nsP1 do MAYV

Para confirmar a amplificação de vírus Mayaro (MAYV), amostras positivas nas

reações de multiplex foram testadas em reações single com os iniciadores cM3w e nMAY.

Para isso, utilizou-se 2 µL de cDNA, 2,5 µL de tampão de PCR 10x (200 mM Tris-HCl

[pH 8.4], 500 mM KCl), 1 µL de MgCl2 (50 mM), 0,5 µL de dNTPs (10 mM), 0,5 U de

Taq DNA polimerase (Platinum Taq DNA polimerase; Invitrogen), 0,5 µL de primer

reverso cM3W (100 µM), 0,5 µL de primer nMAY (30 µM) e água ultrapura em 25 µL de

volume, submetidos a mesma ciclagem descrita anteriormente. Amostras negativas foram

armazenadas em freezer -80 °C para estudos futuros.

4.9 Sequenciamento nucleotídico

Este foi gentilmente realizado no Laboratório de Biologia Molecular da Medicina

Veterinária, UFMT, Professores Dra. Valéria Dutra e Luciano Nakazato e no Instituto

Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), Prof. Dr. Felipe Gomes Naveca.

Os fragmentos obtidos na semi-nested RT-PCR single para região da nsP1 do

MAYV foram purificados com o kit Performa DTR Gel Filtration Cartridges (Edge

Biologicals), gentilmente cedidos pelo Prof. Dr. Nikolaos Vasilakis, segundo

especificações do fabricante e quantificados após eletroforese em gel de agarose a 1,5 %

em TAE em fotodocumentador Gel DOC XR+ (Bio-Rad) e ImageLab (Bio-Rad). Utilizou-

se o marcador molecular 1 Kb (Thermo Scientific) com bandas com concentração

conhecida de DNA para comparação de intensidade. Os valores foram expressos em

ng/µL.

Os fragmentos purificados e quantificados foram submetidos a PCR com

nucleotídeos marcados, utilizando-se 2 µL de ready reaction premix Big Dye 2,5X

(AmpliTaq DNA polimerase + Pirofosfatase termoestável; Applied Biosystems), 1 µL de

tampão Big Dye Sequencing buffer 5x, 10 µM de primer cM3w ou nMAY (10 µM) e DNA

purificado (~1 µg) para completar 10 µL. A reação foi incubada em termociclador a 96 °C

por 1 min, 40 ciclos de 96 °C por 15 seg, 50 °C por 15 seg, 60 °C por 4 min.

A precipitação do produto de PCR com Big Dye foi realizada pelo método

41

Etanol/EDTA/Acetato de Sódio. Adicionou-se 1 µL de EDTA (125 mM), 1 µL de Acetato

de Sódio (3 M) e 30 µL de etanol PA, incubou-se à TA (15–25°C) por 15 min e

centrifugou-se a 2.500 x g por 30 min a 15 °C. O sobrenadante foi descartado e as amostras

centrifugadas a 185 x g. Lavou-se o DNA marcado com 100 µL de etanol 70 % e

centrifugou-se a 20.000 x g. O sobrenadante foi descartado, centrifugou-se a 185 x g e

incubou-se a TA (15 – 25 °C). Adicionou-se 10 µL de formamida, centrifugou-se a 185 x g

e aplicou-se as amostras no sequenciador 3500 Genetic Analyser (Apllied Biosystems).

Utilizou-se os programas Geneious R7 (versão 7.0.4) e Molecular Evolutionary Genetics

Analysis MEGA (versão 5.05) para alinhamento e comparação das sequências obtidas pelo

Basic Local Alignment Search Tool (BLASTn, genBank, pubmed).

4.10 TaqMan RT-PCR em tempo real (RT-qPCR) para MAYV

Esta técnica, desenvolvida no Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz

Amazônia) juntamente à equipe coordenada pelo Prof. Dr. Felipe Gomes Naveca, foi

aplicada com o intuito de confirmar os dados obtidos e quantificar o material genético

presente nas amostras positivas para o MAYV. Para a transcrição reversa, utilizou-se 5,0

µL de RNA, 0,5 µL de iniciadores randômicos (125 ng), 1 µL de DNTPs (10 µM) e 6,5 µL

de água ultrapura. A reação foi incubada a 95 °C por 2 min e resfriada em gelo por 1 min.

Adicionou-se 4 µL de tampão 5x (250 mM Tris-HCl [pH 8.3], 375 mM KCl, 15 mM

MgCl2), 1 µL de DTT (0,1 M), 50 U (1 µL) de inibidor de RNAse (RNAse OUT;

Invitrogen) e 100 U da RT (Superscript III; Invitrogen). Incubou-se em termociclador por

5 min a 25 °C, 45 min a 50 °C e 15 min a 70 °C. Adicionou-se 1 µL de RNAse H (Life

Technologies), incubou-se por 20 min a 37 °C e 10 min a 95 °C.

A PCR em tempo real (qPCR) foi realizada em Step One Plus Real Time PCR

System (Applied Biosystems), com o TaqMan Advanced Universal Kit (Life Technologies),

segundo especificações do fabricante. Utilizou-se 2 µL de cDNA, 5 µL de 2X qPCR Mix

(Tris-EDTA [10 mM], 1 mM EDTA [pH 8.0], água ultrapura, AmpliTaq fast DNA

polimerase, enzima MMLV termoestável, DNTPs, RNAse out, ROX dye, 1,2 µL de primer

para o MAYV (300 µM), 0,2 µL de sonda MAYV-VIC (100 µM) e água ultrapura para 20

µL. A reação foi submetida a 95 °C por 5 min, 45 ciclos de 95 °C por 3 seg e 60 °C por 30

seg. Foi incluído controle negativo. A quantificação da carga viral equivalente das

amostras foi estimada através do software Prism 6 statistics, utilizando-se uma curva

padrão MAYV obtida em experimentos anteriores, com eficiência (E) da reação calculada

42

segundo a fórmula E=[10(-1/Slope da curva)

-1], resultando em 100 % e R2=1.

4.11 Inoculação em cultivo celular

Amostras positivas para alfavírus foram submetidas ICC em células C6/36 (ATCC

CRL 1660) e Vero (ATCC CCL 81). A linhagem C6/36 foi subcultivada em meio

Leibovitz (Triptose fosfato 2,95 %, aminoácidos não essenciais [10X], L-glutamina 2%,

penicilina [100 U/mL], estreptomicina [100 µg/mL], anfotericina B [5 µg/mL] adicionado

de 10 % de soro fetal bovino (SBF) em placas de poliestireno de 24 cavidades foi incubada

por 1 h a 28 oC com 200 µL das amostras de soro diluídas em meio L-15 a 1:20. Após este

período, o inóculo foi removido e 400 µL de meio de cultivo adicionado, mantendo-se as

placas por cinco dias a 28 oC. Observando-se diariamente para a apresentação de efeito

citopático (ECP) característico em microscópio invertido. Procedeu-se nova passagem, a

partir do inóculo diluído 1:20 em células C6/36.

Células Vero subcultivadas em Meio Essencial Mínimo com sais de Hank’s (MEM

Hank’s, anfotericina B [12 µL/mL], penicilina [2400 U/mL], estreptomicina [2,4 µg/mL])

e 5 % de SBF em placas de poliestireno com 24 poços receberam 200 µL das amostras de

soro diluídas a 1:20 em MEM Hank’s + SBF 2 % e centrifugadas por 30 min a 680 x g a

25 °C (Shell Vial culture), seguidas de 30 min de incubação a temperatura ambiente,

homogeneizando-se a cada 15 min. Após este período, o inóculo foi removido e 1 mL de

meio de cultivo adicionado. As placas foram incubadas por 7 dias a 37 °C, e observadas

diariamente para detecção de ECP.

4.12 Análise de dados

Os dados epidemiológicos obtidos a partir dos registros do SINAN foram digitados

em dupla entrada no Epidata Entry (versão 3.1) e analisados no Epidata Analisys (versão

2.2.2.178). As variáveis socioeconômicas dos indivíduos foram quantificadas e agrupadas

para melhor descrição.

Os dados dos mapas de distribuição amostral em MT foram plotados com auxílio

do programa ArcGIS (versão 9.3).

43

5. RESULTADOS

5.1 Caracterização da Amostragem

Neste estudo, foram analisadas 604 amostras de soro de pacientes com doença

febril aguda suspeita de dengue com menos de cinco dias do início dos sinais e sintomas,

provenientes de 20 municípios do estado de MT (Figura 9), incluindo dois viajantes

provenientes da Bahia e São Paulo que se encontravam em Cuiabá quando adoeceram.

Dentre os pacientes analisados, 538/604 (89,1 %) residiam na região da Baixada Cuiabana,

sendo a maioria 453/604 (75,0 %) procedentes de Cuiabá e 72/604 (11,9 %) de Várzea

Grande (Tabela 3). As cidades de origem dos enfermos foram distribuídas nos

ecossistemas (Amazônico, Cerrado e Pantanal), no entanto concentraram-se na região

central do estado, mais populosa e onde foi observada a maior casuística no período

amostrado é caracterizada pelo ecossistema Cerrado (Figura 9).

Muitos pacientes apresentavam informações incompletas nos registros do SINAN e

nem todos puderam ser incluídos nas análises demográficas e epidemiológicas. De acordo

com a análise dos dados disponíveis, há homogeneidade de distribuição em relação ao

gênero, sendo 300/604 (49,7 %) pertencentes ao sexo masculino e 304/604 (50,3 %) do

sexo feminino, dentre as quais 9/256 (3,5 %) estavam gestantes. Quanto à faixa etária,

278/602 (46,2 %) possuía idade entre 20 e 39 anos. Entre a população estudada com

registro de etnia, a maioria 314/472 (66,5 %) era de indivíduos pardos. Residentes em

áreas urbanas 583/595 (98,0 %), 379/426 (89,0 %) não relatavam visita a área

rural/silvestre próximo ao episódio febril e 309/426 (72,5 %) negaram histórico de doença

semelhante pregressa (Tabela 3). A variação no número de pacientes em cada característica

demográfica é devida a ausência de informações disponíveis nos registros do SINAN.

44

Figura 9. Distribuição da amostragem de pacientes com doença febril aguda suspeita de

dengue por cidade de Mato Grosso, Brasil, entre 2011-2012 para a investigação de

alfavírus por multiplex semi-nested RT-PCR.

Total de amostras por cidade do Estado de Mato Grosso:

A. Cuiabá (455) H. Acorizal (3) O. Cáceres (1)

B. Várzea Grande (72) I. Rondonópolis (3) P. Campo Novo do Parecis (1)

C. Sinop (19) J. Campinápolis (2) Q. Juína (1)

D. Pontes e Lacerda (15) K. Tapurah (2) R. Nobres (1)

E. Sorriso (10) L. Santa Carmem (2) S. Nova Olímpia (1)

F. Poconé (7) M. Nossa Senhora Livramento

(2)

T. Rosário Oeste (1)

G. Nova Mutum (4) N. Tangará da Serra (2)

Ecossistemas: Pantanal Cerrado Amazônia

45

Tabela 3. Características demográficas e epidemiológicas de pacientes com doença febril

aguda suspeita de dengue que demandaram os serviços de saúde de Mato Grosso de outubro de

2011 a julho de 2012.

Características

Total1 MAYV Positivos

N* % N* %

Sexo Masculino 300 49,7 8 53,3

Feminino 304 50,3 7 46,7

Gestante Sim 9 3,5 1 14,3

Não 247 96,5 6 85,7

Idade < 5 18 3,0 0 0,0

(anos) 5 ├┤ 9 40 6,6 0 0,0

10 ├┤ 14 63 10,5 1 6,7

15 ├┤ 19 70 11,6 5 33,3

20 ├┤ 39 278 46,2 5 33,3

40 ├┤59 112 18,6 4 26,7

> 59 21 3,5 0 0,0

Etnia Branca 111 23,5 3 20,0

Parda 314 66,5 12 80,0

Negra 37 7,8 0 0,0

Amarela 5 1,1 0 0,0

Outras 5 1,0 0 0,0

Município de residência Cuiabá 453 75,0 9 60,0

Várzea Grande 72 11,9 3 20,0

Sinop 19 3,1 0 0,0

Pontes e Lacerda 15 2,5 0 0,0

Sorriso 10 1,7 2 13,3

Poconé 7 1,2 0 0,0

Nova Mutum 4 0,7 0 0,0

N. Sra. Livramento 2 0,3 1 6,7

Outros 22 3,6 0 0,0

Zona Urbana 583 98,0 15 100,0

Rural 12 2,0 0 0,0

Histórico de doença pregressa

semelhante

Sim 117 27,5 1 6,7

Não 309 72,5 14 93,3

Histórico de visita à área rural Sim 47 11,0 0 0,0

Não 379 89,0 15 100,0

*Abreviaturas: MAYV: vírus Mayaro, N. Sra. Livamento: Nossa Senhora do Livramento. 1Total: 604 pacientes

testados para alfavírus *6A variação do número total de pacientes em cada característica se deve à ausência de

informações nos registros do SINAN ou à não aplicabilidade de alguns pacientes a determinadas variáveis.

46

5.2 Caracterização dos casos positivos para alfavírus

Após multiplex semi-nested RT-PCR para região da nsP1 dos alfavírus, obteve-se

amplificação em 15/604 (2,5 %) amostras de soro de pacientes com doença febril suspeita

de dengue para o MAYV (Figura 10), sendo 3/15 (20,0 %) positivas somente para o

MAYV e 12/15 (80,0 %) co-infecções com o DENV-4 (Tabela 4). Outros alfavírus

pesquisados, como EEEV, WEEV, VEEV e AURA, não foram detectadas. Amostras

negativas para alfavírus totalizaram 589/604 (97,5 %).

Dentre as 15 amostras positivas para o MAYV, nove (60,0 %) foram oriundas da

cidade de Cuiabá, três (20,0 %) de Várzea Grande, duas (13,3 %) de Sorriso e uma (6,6 %)

de Nossa Senhora do Livramento (Figura 11). A maior parcela dos pacientes positivos para

MAYV 10/15 (66,6 %) foi concentrada na faixa etária entre 15 e 39 anos, sendo ambos os

gêneros acometidos, 7/15 (46,7 %) do sexo feminino e 8/15 (53,3 %) masculino.

Etnicamente, 12/15 (80,0 %) foram classificados como pardos e, 3/15 (20,0 %) como

brancos (Tabela 3).

Os sinais e sintomas mais frequentes entre os pacientes positivos somente para o

MAYV (3/15) foram hipertermia e mialgia, seguidos por artralgia, dor retroorbital e, em

menor proporção, náusea e cefaleia. Pacientes co-infectados apresentaram uma gama maior

de sinais e sintomas, caracterizados principalmente por hipertermia, dor retroorbital e

cefaleia, além de mialgia e em menor proporção prostração, petéquias, êmese e inapetência

(Tabela 5). Não houve entre os positivos, relato de visita recente a áreas rurais e/ou

florestais, consideradas de risco para a infecção pelo MAYV e, somente um paciente relata

histórico de doença pregressa por dengue (Tabela 3).

As sequências da nsP1 obtidas nas reações de single semi-nested RT-PCR para as

amostras #09, 12, 20, 22, 127, 147, 220, 230, 246, 301, 305, 306, 308, 322, 618

apresentaram similaridade de 80-100 % com sequências de estirpes de referência do

MAYV (Genbank, pubmed; números de acesso AF237947.1, DQ138319.1, DQ138320.1 e

DQ138318.1; Tabela 4), confirmando a detecção deste agente pela RT-PCR convencional.

As amostras positivas para o MAYV que continham volume de RNA suficiente

para a realização do teste (13/15; 86,6 %), foram submetidas à RT-PCR em tempo real

para região da nsP1, confirmando os resultados obtidos na multiplex RT-PCR em 10/13

(76,9 %) amostras, com carga viral aproximada entre 100,965

e 103,321

(Tabela 4, Figura 12).

A ICC em células C6/36 e Vero não resultou em isolamento viral.

As 604 amostras foram previamente submetidas a ICC e IFI para pesquisa dos

47

quatro sorotipos do vírus da dengue e para o vírus da febre amarela no MT-Laboratório.

Dentre as amostras positivas para o MAYV, foi possível o isolamento do DENV-4 a partir

de 10 (#9, 12, 20, 127, 147, 220, 230, 305, 308, 322) (Tabela 4). Além disso, em estudo

paralelo onde pesquisou-se 11 espécies de flavivírus por multiplex semi-nested RT-PCR

nas mesmas amostras pesquisadas neste estudo, detectou-se 12 amostras infectadas pelo

MAYV positivas também para o DENV-4.

48

Figura 10. Pacientes positivos por semi-nested RT-PCR para o vírus Mayaro (MAYV) #9

a 618. Controles positivos: MAYV - BeAr 20290 (270 pb); VEEV - Flórida (398 pb);

EEEV - SPAn 14723 (124 pb); NT - controle negativo; M - marcador molecular (1 Kb).

49

Tabela 4. Dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais de 15 pacientes com doença febril aguda, positivos para o vírus Mayaro e/ou

Dengue-4 em Mato Grosso, 2012.

Paciente #

(idade)1

Sexo2

Ocupação Cidade de

origem

Sinais e sintomas clínicos, histórico de doença

pregressa similar

RT-PCR Similaridade com

sequências do MAYV (%)3

RT-qPCR

(log)4

ICC

DENV-4

9 (43) F Empregada

Doméstica

Cuiabá Hipertermia, mialgia, artralgia, náuseas,

petéquias, prurido, dor retroorbital

DENV4/MAYV Estirpe Brasil (97) NT +

12 (10) F Estudante Nossa Sra

Livramento

Hipertermia, mialgia, cefaleia, dor retroorbital DENV4/MAYV Estirpe Brasil (97) 0,965 +

20 (19) M Vendedor Várzea Grande Hipertermia, mialgia, cefaleia, prostração, êmese DENV4/MAYV Estirpe Brasil (97) NT +

22 (40) F Técnica em

Enfermagem

Várzea Grande Hipertermia, mialgia, prostração, dor retroorbital DENV4/MAYV BeAr505411 Pará (100) 3,206 -

127 (16) M Estudante Cuiabá Hipertermia, mialgia, cefaleia, dor retroorbital DENV4/MAYV Uruma Bolívia (85) 1,720 +

147 (48) F Costureira Várzea Grande Hipertermia, mialgia, artralgia, cefaleia, dor

retroorbital, petéquias

DENV4/MAYV Uruma Bolívia (96) 1,418 +

220 (17) M Vendedor Cuiabá Hipertermia, cefaleia, vertigem, náuseas DENV4/MAYV BeH343148 Pará (87) ND +

230 (20) M Pedreiro Cuiabá Hipertermia, mialgia, cefaleia, dor retroorbital,

êmese

DENV4/MAYV BeH343148 Pará (95) 1,880 +

246 (18) M Presidiário Sorriso Hipertermia, mialgia, artralgia, cefaleia, dor

retroorbital, náuseas

MAYV BeH343148 Pará (97) ND -

301 (42) M Comerciante Cuiabá Hipertermia, mialgia, artralgia, dor retroorbital MAYV BeH343148 Pará (95) 1,673 -

305 (20) M Motoboy Cuiabá Hipertermia, cefaleia, dor retroorbital DENV4/MAYV BeH343148 Pará (87) 1,770 +

306 (20) F Auxiliar de

contabilidade

Cuiabá Hipertermia, mialgia, histórico: Dengue MAYV BeAr505411 Pará (86) 1,497 -

308 (16) F Atendente de

Telemarketing

Cuiabá Hipertermia, cefaleia, prostração, dor retroorbital DENV4/MAYV Estirpe Brasil (95) 3,321 +

322 (21) F Atendente Cuiabá Hipertermia, cefaleia, prostração, dor retroorbital,

inapetência

DENV4/MAYV BeAr505411 Pará (90) ND +

618 (33) M Comerciante Sorriso Hipertermia, mialgia, cefaleia DENV4/MAYV BeAr505411 Pará (96) 1,702 -

*Abreviaturas: MAYV: vírus Mayaro, RT-PCR: transcrição reversa seguida de reação em cadeia polimerase, DENV-4: Dengue-4, ICC: inoculação em

cultivo celular, RT-qPCR: transcrição reversa seguida de reação em cadeia polimerase em tempo real, Log: logarítimo. #: número da amostra; idade

expressa em anos; 2M: masculino, F: feminino;

3sequências depositadas no genebank (pubmed), números de acesso: AF237947.1 (Estirpe Brasil genótipo

D), DQ138318.1 (Uruma genótipo D), DQ138320.1 (BeH343148 genótipo D), e DQ138319.1(BeAr505411 genótipo L); 2 Carga viral expressa em

cópias/µL, onde Log=10x; NT: não testada, ND: não detectada.

50

Tabela 5. Sinais e sintomas mais frequentes entre os pacientes com infecção única pelo

vírus Mayaro ou co-infectados com o vírus da Dengue-4 em Mato Grosso, Brasil.

*Abreviaturas: MAYV: vírus Mayaro, DENV-4: Dengue-4. 1N: número de pacientes.

Sinais e

Sintomas

Indivíduos positivos para

MAYV/DENV-4 (n=12)

Indivíduos positivos somente

para MAYV (n=3)

n1 % N %

Hipertermia 12 100 3 100

Cefaleia 10 83,3 1 33,3

Mialgia 8 66,6 3 100

Dor retroorbital 9 75,0 2 66,6

Prostração 4 33,3 0 0,0

Artralgia 2 16,6 2 66,6

Náuseas 2 16,6 1 33,3

Êmese 2 16,6 0 0,0

Petéquias 2 16,6 0 0,0

Inapetência 1 8,3 0 0,0

51

Figura 11. Distribuição por município dos 15 pacientes positivos para o vírus Mayaro

por multiplex semi-nested RT-PCR de acordo com a cidade de residência em Mato

Grosso, Brasil. A. Cuiabá (n= 9); B. Várzea Grande (n= 3); C. Sorriso (n= 2); D. Nossa

Senhora do Livramento (n= 1).

52

Figura 12. Valores do ciclo limiar (Threshold Cycle – CT) da TaqMan RT-PCR em

tempo real para o vírus Mayaro em pacientes com doença febril aguda do Mato Grosso

(2011-2012) em relação à quantificação da carga viral (log do número de cópias/µL),

comparados à curva padrão de controle positivo do MAYV com eficiência de 100 % e

R2 = 1.

53

6. DISCUSSÃO

Neste estudo, investigou-se a possível circulação de arbovírus do gênero

alfavírus em MT durante epidemia de dengue entre 2011-2012, época em que houve a

detecção da introdução do DENV-4 no estado. Em 2012, 44.814 casos foram

notificados em MT, sendo 96,2 % atribuídos ao DENV-4 e 3,8 % ao DENV-1

(CAPELASSI, 2013; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Cuiabá e Várzea Grande

contribuíram com o maior número de amostras, provavelmente pela facilidade de

transporte ao laboratório, maior densidade populacional e casuística nestas cidades em

2012, apresentando 31,7 % dos 43.158 casos de dengue relatados no estado (SES/MT,

2012).

Neste estudo foram encontrados 15/604 (2,5 %) pacientes positivos para MAYV

provenientes de Cuiabá, Várzea Grande, Sorriso e Nossa Senhora do Livramento

(Figura 10), demonstrando a circulação de MAYV em municípios de diferentes regiões

do MT, principalmente em áreas de Cerrado. Os casos ocorreram entre janeiro e maio,

período em que a pluviosidade é aumentada na região, propiciando ambiente favorável à

proliferação de mosquitos transmissores e, consequentemente, favorecendo a ocorrência

de arboviroses. É possível que a transmissão do MAYV ocorra de forma esporádica no

MT, uma vez que somente 2,5 % da população amostrada foi acometida e, entre os

casos, apenas um paciente tinha histórico de doença febril aguda suspeita de dengue.

A viremia pelo MAYV é transiente e a doença febril mais branda quando

comparadas à Dengue, sendo comum a confusão da forma febril dessas arboviroses

(VASCONCELOS et al., 1998; TESH et al., 1999; COIMBRA et al., 2007; WEAVER

& REISEN, 2010). Dentre os pacientes positivos, somente três (20,0%) foram positivos

apenas para MAYV e, sua identificação somente foi possível porque estes pacientes

apresentavam manifestações clínicas e procuraram por atendimento médico. A grande

maioria das amostras positivas para o MAYV, 12/15 (80,0%), foram de co-infecções

com o DENV-4, detectados por Multiplex semi-nested RT-PCR em estudo paralelo e,

dentre essas 12, 10 foram positivas em ICC em células C6/36 no MT-laboratório. É

possível que o número de infecções pelo MAYV seja maior, e que no entanto somente

uma pequena parcela desses pacientes, principalmente aqueles co-infectados com o

DENV, procuram por atendimento médico. O número relativamente pequeno de

amostras positivas para o MAYV dificulta a análise clara da diferença dos quadros

clínicos entre pacientes positivos para MAYV e co-infectados por MAYV/DENV-4. O

54

quadro clínico inespecífico apresentado pelos três pacientes positivos apenas para o

MAYV, caracterizados por hipertermia, cefaleia, náusea, dor retroorbital, mialgia e

artralgia, parece não ter sido muito diferente do quadro observado em pacientes co-

infectados com DENV-4 (Tabela 3). Entretanto, os pacientes positivos apenas para

MAYV apresentaram uma frequência relativamente maior de artralgia do que os

pacientes positivos para MAYV/DENV-4, enquanto os pacientes co-infectados

apresentaram uma maior prevalência de dor retroorbital. Estes achados vão ao encontro

ao descrito em literatura, que demonstra dor retroorbital como sintoma característico de

dengue e artralgia como característica da febre Mayaro (RIGAU-PÉREZ et al., 1997;

GIBBONS & VAUGHN, 2002; TAYLOR et al., 2005; MOURÃO et al., 2012;

MUÑOZ & NAVARRO, 2012).

A ausência de diferença de positividade estatisticamente significativa entre os

gêneros é um dado inesperado para a infecção por MAYV, que está relacionada a ciclos

de transmissão envolvendo primatas e vetores acrodendrofílicos como o Haemagogus

janthinomys em ambiente silvestre. Normalmente é referida como uma doença

ocupacional relacionada a homens adultos jovens que desempenham atividades em

áreas silvestres, como pescadores. Por esta razão, casos de febre do Mayaro são

comumente detectados durante epidemias de febre amarela.

No presente estudo, a ausência de diferença entre as prevalências de infecção

pelo MAYV entre homens e mulheres, aliada a ausência de histórico de visita recente a

áreas rurais e silvestres entre os pacientes, sugerem a transmissão em área urbana. A

maior prevalência de positivos para MAYV em área urbana é corroborada ainda pela

profissão tipicamente urbana dos pacientes. Vetores acrodendrofílicos envolvidos em

ciclos silvestres de transmissão do MAYV não são comumente relatados na área urbana

de Cuiabá (SERRA et al., 2013), onde nove (60,0 %) dos casos positivos foram

detectados.

Neste sentido, estudos envolvendo vigilância entomológica para o MAYV em

área urbana de Cuiabá poderiam contribuir para elucidação do ciclo de transmissão e,

consequentemente, dos achados relatados neste estudo. Espécies de Psorophora spp. e

Mansonia venezuelensis são naturalmente infectados, possuindo capacidade vetorial

sem competência vetorial comprovada, e espécies de Cx. (Melanoconion) e Ae.

albopictus transmitem experimentalmente o MAYV (AITKEN et al., 1960; AITKEN et

al., 1969; GALINDO et al., 1966; GALINDO & SRIHONGSE, 1967; MITCHELL,

1991; SMITH & FRANCY, 1991; ABAD-FRANCH et al., 2012). Neste sentido, este

55

agente que representava importante causa de morbidade em áreas rurais e florestais

(COIMBRA et al., 2007; MOURÃO et al., 2012), poderia estar expandindo seu espectro

geográfico, passando a causar infecções em áreas urbanas. A análise de fatores de risco

demonstra que ciclos diurnos selvagens e noturnos em ambiente

doméstico/peridoméstico estão relacionados a maior exposição de humanos em vilas e

assentamentos na Amazônia, sugerindo uma troca de vetores ou habitats e sua

consequente adaptação a áreas densamente populosas (ABAD-FRANCH et al., 2012).

Quanto à etnia, a maioria dos casos são classificados como pardos (Tabela 3),

provavelmente devido à constituição essencialmente parda da população,

principalmente em Cuiabá, que contribuiu para a maioria das amostras.

As sequencias de MAYV obtidas pelo sequenciamento nucleotídico

demonstraram divergência variável com as estirpes de referência oriundas do Brasil e

Bolívia (Tabela 4). Dentre as amostras confirmadas positivas para MAYV, somente três

foram descartadas no sequenciamento, pois apresentavam amplificação inespecífica

(dados não apresentados). Estes resultados indicam que o sequenciamento nucleotídico

é um método confiável para confirmação de amostras realmente positivas para o

MAYV. Dentre as 15 amostras confirmadas por sequenciamento, três resultaram

negativas na PCR em tempo real, e as demais apresentaram baixa carga viral (Tabela 4;

Figura 12) provavelmente pelo longo período de armazenamento e ciclos de

congelamento/descongelamento, ocasionando a degradação do RNA.

As tentativas de isolamento viral foram negativas, observando-se toxicidade do

inóculo para as monocamadas de C6/36 e, em células Vero, as amostras resultaram

negativas após 7-10 de incubação. É possível que ciclos de

congelamento/descongelamento, aliados ao longo período de armazenamento das

amostras de soro, bem como a sensibilidade reduzida desta técnica em relação à PCR e

aos baixos títulos de viremia apresentados pelos pacientes, possam ter contribuído para

a perda da viabilidade das partículas virais. Neste sentido, no Pará, Azevedo e cols

(2009) isolaram o MAYV em C6/36 a partir de duas amostras de soro dentre 36

pacientes positivos para IgM por ELISA, de um total de 105 amostras analisadas.

Mourão e Cols (2012), dentre 631 pacientes testados, obtiveram 33 positivos por ensaio

imunoenzimático (EIA-ICC) e um confirmado por RT-PCR. Estudos realizados por

Coimbra em 2007 e Talarmin e Cols. em 1998 também corroboram a dificuldade de

isolamento viral observados no presente estudo.

A circulação de outros arbovírus deste gênero não foi detectada. Contudo, em

56

estudo no Pará, em área de influência da Rodovia Cuiabá – Santarém foi relatada

sorologia positiva para EEEV e VEEV em humanos e aves, além do MAYV em

humanos (NUNES et al., 2009), bem como para o EEEV em equinos e para alfavírus

não determinado em jacarés na região da Nhecolândia do Pantanal MS. Neste mesmo

estado, anticorpos neutralizantes para MAYV foram detectados em equinos em 2009 e

2010 (PAUVOLID-CORRÊA et al., 2010; 2013a; 2013b). A ocorrência de alfavírus em

estados adjacentes, aliado ao ambiente favorável para a proliferação de vetores e

presença de população animal e humana susceptível, bem como aves que percorrem

longas distâncias em curto período de tempo e se constituem em hospedeiros

amplificadores para os vírus das encefalites equinas, pode favorecer a dispersão desses

agentes no território Mato-Grossense, enfatizando a importância de estratégias de

vigilância para estas arboviroses.

Este é o primeiro relato de infecção pelo MAYV em residentes de Cuiabá e

região. A detecção de pacientes febris com suspeita de dengue positivos para o MAYV

e negativos para sorotipos do DENV alerta para a importância da inclusão de outros

arbovírus como diagnóstico diferencial de dengue, principalmente durante as epidemias.

A circulação concomitante de DENV e um alfavírus gera preocupações sobre a possível

dispersão do CHIKV no Brasil na iminência de sua introdução. A infecção por CHIKV

apresenta manifestações clínicas indistinguíveis da febre do dengue e febre do mayaro

(STAPLES et al., 2009). Recentemente, o CHIKV foi introduzido no Caribe a partir da

Ásia, sendo este seu primeiro relato no continente Americano (CDC, 2014). A América

Central é considerada uma rota comum de introdução de sorotipos do DENV no Brasil

e, o CHIKV compartilha os mesmos hospedeiros e vetores do DENV.

É importante direcionar e incluir medidas de vigilância e diagnóstico diferencial

de arboviroses, além da dengue e febre amarela no estado, com o intuito de intervir de

forma rápida e efetiva para prevenir e controlar a ocorrência de surtos na população.

Estudos envolvendo vigilância epidemiológica, virológica e entomológica são

necessários para compreender os ciclos de transmissão e a dinâmica das infecções por

alfavírus em MT.

57

7. CONCLUSÕES

A ocorrência de MAYV em pacientes suspeitos de dengue no estado em MT foi

identificada entre residentes de áreas urbanas sem histórico de acesso a áreas

silvestres e rurais;

Evidências moleculares relatadas no presente estudo sugerem a circulação

recente de MAYV em pacientes febris suspeitos de dengue em MT entre 2011 e

2012;

A detecção de pacientes positivos para o MAYV residentes em áreas urbanas,

suas ocupações e a ausência de diferenças entre os sexos, bem como de histórico

de viagem à áreas rurais e silvestres sugerem a transmissão do MAYV em

ambiente urbano;

A detecção de pacientes positivos para MAYV e DENV-4 simultaneamente

sugere co-circulação destes dois arbovírus durante epidemia de dengue em MT;

A detecção de pacientes febris suspeitos de dengue positivos para MAYV e

negativos para DENV sugere a inclusão de MAYV como diagnóstico diferencial

para dengue em MT;

O baixo número de casos identificados neste estudo provavelmente foi

decorrente da viremia transiente em baixos títulos, aliados à sintomatologia

branda da febre do Mayaro, ocasionando menor procura por atendimento médico

pelos pacientes positivos;

Não foi possível identificar ocupação de risco, bem como relação por gênero ou

faixa etária neste estudo, provavelmente pelo pequeno número de pacientes

positivos em relação ao n amostral.

58

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABAD-FRANCH, F. et al. Mayaro virus infection in amazonia: a multimodel inference

approach to risk factor assessment. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 6, n. 10, p.

e1846, 2012.

ADAMS, P. et al. Venezuelan equine encephalitis virus activity in the Gulf Coast

region of Mexico, 2003-2010. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 6, n. 11, p.

e1875, 2012.

AGUILAR, P. V et al. Endemic Venezuelan equine encephalitis in northern Peru.

Emerging Infectious Diseases, v. 10, n. 5, p. 880–888, 2004.

AITKEN, T. H. et al. Mayaro virus isolated from a Trinidadian mosquito, Mansonia

venezuelensis. Science (New York, N.Y.), v. 131, n. 3405, p. 986, 1960.

AITKEN, T. H. et al. A 10-year survey of Trinidadian arthropods for natural virus

infections (1953-1963). Journal of Medical Entomology, v. 6, n. 2, p. 207–215, 1969.

ANDERSON, C. R. et al. Mayaro virus: a new human disease agent. II. Isolation from

blood of patients in Trinidad, B.W.I. The American Journal of Tropical Medicine

and Hygiene, v. 6, n. 6, p. 1012–1016, 1957.

ANISHCHENKO, M. et al. Venezuelan encephalitis emergence mediated by a

phylogenetically predicted viral mutation. Proceedings of the National Academy of

Sciences of the United States of America, v. 103, n. 13, p. 4994–4999, 2006.

ARMSTRONG, P. M.; ANDREADIS, T. G. Eastern equine encephalitis virus--old

enemy, new threat. The New England Journal of Medicine, v. 368, n. 18, p. 1670–

1673, 2013.

ARRIGO, N. C.; ADAMS, A. P.; WEAVER, S. C. Evolutionary patterns of eastern

equine encephalitis virus in North versus South America suggest ecological differences

and taxonomic revision. Journal of Virology, v. 84, n. 2, p. 133–140, 2010.

AZEVEDO, R. S. S. et al. Mayaro fever virus, Brazilian Amazon. Emerging Infectious

Diseases, v. 15, n. 11, p. 1830–1832, 2009.

BATISTA, P. M. et al. Seroepidemiological monitoring in sentinel animals and vectors

as part of arbovirus surveillance in the state of Mato Grosso do Sul, Brazil. Revista da

Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 45, n. 2, p. 168–173, 2012.

BECK, C. E. ; WYCKOFF, R. W. Venezuelan Equine Encephalomyelitis. Science, v.

88, n. 2292, p. 530, 1938.

BOURJOT, M. et al. Prostratin and 12-O-tetradecanoylphorbol 13-acetate are potent

and selective inhibitors of Chikungunya virus replication. Journal of Natural

Products, v. 75, n. 12, p. 2183–2187, 2012.

BOYD, A. M. et al. Experimental infection of Australian brushtail possums,

Trichosurus vulpecula (Phalangeridae: Marsupialia), with Ross River and Barmah

Forest viruses by use of a natural mosquito vector system. The American Journal of

Tropical Medicine and Hygiene, v. 65, n. 6, p. 777–782, 2001.

59

BRAULT, A. C. et al. Genetic and antigenic diversity among eastern equine

encephalitis viruses from North, Central, and South America. The American Journal

of Tropical Medicine and Hygiene, v. 61, n. 4, p. 579–586, 1999.

BRONZONI, R. V. M. et al. Antigenic analysis of the surface glycoproteins of a

Venezuelan equine encephalomyelitis virus (TC-83) using monoclonal antibodies.

Journal of Clinical Microbiology, v. 43, n. 2, p. 696–702, 2005.

BRUNO-LOBO, G. et al. Estudos sobre arbovírus. Isolamento de vírus sorologicamente

relacionado ao sub-grupo Western – sinbdis de um caso de encefalomielite equina no

Rio de Janeiro. Anais de Microbiologia, v. 9, p. 183–195, 1961.

CALISHER, C. H. et al. Identification of a new Venezuelan equine encephalitis virus

from Brazil. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 31, n. 6, p.

1260–1272, 1982.

CALISHER, C. H. et al. Reevaluation of the western equine encephalitis antigenic

complex of alphaviruses (family Togaviridae) as determined by neutralization tests. The

American journal of tropical medicine and hygiene, v. 38, n. 2, p. 447–452, 1988.

CAMPOS, K. F. et al. Surto de encefalomielite equina Leste na Ilha de Marajó, Pará.

Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33, n. 4, p. 443–448, 2013.

CAPELASSI, C. Saúde divulga dados da Dengue de 2013 e o fechamento de 2012.

Disponível em: <www.saude.mt.gov.br/noticia/3291>. Acesso em: 14 mar. 2014.

CASALS, J.; CURNEN, E. C.; THOMAS, L. Venezuelan equine encephalomyelitis in

man. The Journal of Experimental Medicine, v. 77, n. 6, p. 521–530, 1943.

CAUSEY, O., CASALS, J.; SHOPE, R. E.; UDOMSAKDI, S. Aura and Una, two new

group A arthropod-borne viruses. American Journal of Tropical Medicine and

Hygiene, v. 12, n. 5, p 777 - 781, 1963.

CAUSEY, O.; MAROJA, O.; AZEVEDO, M. Epidemia pelo vírus Mayaro no Estado

do Pará. Revista do Serviço Especial de Saúde Pública, v. 10, n. 1, p. 152–154, 1958.

CDC - CENTERS OF DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Arbovirus

Catalog - CDC Division of Vector-Borne Infectious Diseases. Disponível em:

<http://wwwn.cdc.gov/arbocat/catalog-listing.asp?VirusID=402&SI=7>. Acesso em: 25

set. 2013.

CDC - CENTERS OF DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Chikungunya in

the Caribbean - Travel Health Notices. Disponível em:

<http://wwwnc.cdc.gov/travel/notices/watch/chikungunya-saint-martin>. Acesso em: 25

mar. 2014.

CFSPH - THE CENTER FOR FOOD SECURITY AND PUBLIC HEALTH. Eastern

Equine Encephalomyelitis, Western Equine Encephalomyelitis and Venezuelan

Equine Encephalomyelitis. Disponível em:

<http://www.cfsph.iastate.edu/Factsheets/pdfs/easter_wester_venezuelan_equine_encep

halomyelitis.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2013.

COIMBRA, T. L. M. et al. Mayaro virus: imported cases of human infection in São

Paulo State, Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 49, n.

4, p. 221–224, 2007.

60

COSTA, C. A.; SANTOS, I. G. C.; BARBOSA, M. G. Detection and typing of dengue

viruses in Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) in the City of Manaus, State of Amazonas.

Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 42, n. 6, p. 677–681, 2009.

DE PAULA, S. O.; FONSECA, B. A. L. Dengue: a review of the laboratory tests a

clinician must know to achieve a correct diagnosis. The Brazilian Journal of

Infectious Diseases, v. 8, n. 6, p. 390–398, 2004.

DE SOUZA LOPES, O.; SACCHETTA, L. A. Epidemiological studies on eastern

equine encephalitis virus in São Paulo, Brazil. Revista do Instituto de Medicina

Tropical de São Paulo, v. 16, n. 10, p. 253–258, 1974.

DEARDORFF, E. R.; WEAVER, S. C. Vector competence of Culex (Melanoconion)

taeniopus for equine-virulent subtype IE strains of Venezuelan equine encephalitis

virus. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 82, n. 6, p.

1047–1052, 2010.

DIAZ, L. A. et al. Una virus: first report of human infection in Argentina. Revista do

Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 45, n. 2, p. 109–110, 2003.

DIETZ, W. H.; GALINDO, P.; JOHNSON, K. M. Eastern equine encephalomyelitis in

Panama: the epidemiology of the 1973 epizootic. The American Journal of Tropical

Medicine and Hygiene, v. 29, n. 1, p. 133–140, 1980.

ELVIN, S. J.; BENNETT, A. M.; PHILLPOTTS, R. J. Role for mucosal immune

responses and cell-mediated immune functions in protection from airborne challenge

with Venezuelan equine encephalitis virus. Journal of Medical Virology, v. 67, n. 3, p.

384–393, 2002.

EMBRAPA, - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Cultivo

do arroz de terras altas no Estado de Mato Grosso - Clima. Disponível em:

<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Arroz/ArrozTerrasAltasM

atoGrosso/clima.htm>. Acesso em: 27 maio. 2013.

ENCHENG, S. et al. Analysis of murine B-cell epitopes on Eastern equine encephalitis

virus glycoprotein E2. Applied Microbiology and Biotechnology, v. 97, n. 14, p.

6359–6372, 2013.

ESTEP, L. K. et al. Risk of exposure to eastern equine encephalomyelitis virus

increases with the density of northern cardinals. PloS One, v. 8, n. 2, p. e57879, 2013.

FARMER, J. R. et al. Activation of the type I interferon pathway is enhanced in

response to human neuronal differentiation. PloS One, v. 8, n. 3, p. e58813, 2013.

FAZAKERLEY, J. K. et al. Virus tropism, distribution, persistence and pathology in the

corpus callosum of the Semliki Forest virus-infected mouse brain: a novel system to

study virus-oligodendrocyte interactions. Neuropathology and Applied Neurobiology,

v. 32, n. 4, p. 397–409, 2006.

FERNÁNDEZ, Z. et al. Identificação do vírus causador de encefalomielite eqüina,

Paraná, Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 34, n. 3, p. 232–235, 2000.

FIGUEIREDO, L. T. M. Emergent arboviruses in Brazil. Revista da Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical, v. 40, n. 2, p. 224–229, 2007.

FLORES, E. F. Togaviridae. In: FLORES, E. F.; C. (Ed.). Virologia Veterinária. 2. ed.

Santa Maria - RS: Editora da Universidade de Santa Maria, 2012. p. 691–712.

61

FORSHEY, B. M. et al. Arboviral etiologies of acute febrile illnesses in Western South

America, 2000-2007. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 4, n. 8, p. e787, 2010.

FOY, N. J. et al. Hypervariable domain of nonstructural protein nsP3 of Venezuelan

equine encephalitis virus determines cell-specific mode of virus replication. Journal of

Virology, v. 87, n. 13, p. 7569–7584, 2013.

FULHORST, C. F. et al. Natural vertical transmission of western equine

encephalomyelitis virus in mosquitoes. Science, v. 263, n. 5147, e57879, 1994.

FULOP, L. et al. Rapid identification of flaviviruses based on conserved NS5 gene

sequences. Journal of Virological Methods, v. 44, n. 2-3, p. 179–188, out. 1993.

GALINDO, P. et al. An ecological survey for arboviruses in Almirante, Panama, 1959-

1962. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 15, n. 3, p. 385–

400, 1966.

GALINDO, P.; SRIHONGSE, S. Transmission of arboviruses to hamsters by the bite of

naturally infected Culex (Melanoconion) mosquitoes. The American Journal of

Tropical Medicine and Hygiene, v. 16, n. 4, p. 525–530, 1967.

GARDNER, C. L. et al. Heparan sulfate binding by natural eastern equine encephalitis

viruses promotes neurovirulence. Proceedings of the National Academy of Sciences

of the United States of America, v. 108, n. 38, p. 16026–16031, 2011.

GAY, B. et al. pH-dependent entry of chikungunya virus into Aedes albopictus cells.

Infection, Genetics and Evolution : Journal of Molecular Epidemiology and

Evolutionary Genetics in iIfectious Diseases, v. 12, n. 6, p. 1275–1281, 2012.

GIBBONS, R. V; VAUGHN, D. W. Dengue: an escalating problem. BMJ Clinical

Research, v. 324, n. 7353, p. 1563–6, 2002.

GRAHAM, S. P. et al. Serosurveillance of eastern equine encephalitis virus in

amphibians and reptiles from Alabama, USA. The American Journal of Tropical

Medicine and Hygiene, v. 86, n. 3, p. e57879, 2012.

GRIFFIN, D. E. Alphaviruses. In: KNIPE, D. M.; HOWLEY, P. M. (Ed.). Fields

Virology. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. p. 1023–1067.

HANSON, R. P. An epizootic of equine encephalomyelitis that occurred in

Massachusetts in 1831. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v.

6, n. 5, p. 858–862, 1957.

HERRERO, L. et al. Applications of animal models of infectious arthritis in drug

discovery: a focus on alphaviral disease. Current Drug Targets, v. 12, n. 7, p. 1024–

1036, 2011.

HU, T. et al. Identification of a novel Getah virus by Virus-Discovery-cDNA random

amplified polymorphic DNA (RAPD). BMC Microbiology, v. 12, p. 305, 2012.

HUESTON, L. et al. Diagnosis of Barmah Forest Virus Infection by a Nested Real-

Time SYBR Green RT-PCR Assay. PloS One, v. 8, n. 7, p. e65197, 2013.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010.

Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=27&uf=5

1>. Acesso em: 28 maio. 2013.

62

ICTV - INTERNATIONAL COMITEE ON TAXONOMY OF VIRUS. Genus

Alphavirus. Disponível em: <http://ictvonline.org/virusTaxonomy.asp>. Acesso em: 24

set. 2013.

IVERSSON, L. B. et al. Circulation of Eastern equine encephalitis, Western equine

encephalitis, Ilhéus, Maguari and Tacaiuma viruses in equines of the Brazilian Pantanal,

South America. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 35, n. 4,

p. 355–359, 1993.

IVERSSON, L. B.; DA ROSA, A. P.; ROSA, J. T. Serological studies in research on

arbovirus antibodies in the human population of the Ribeira Valley region. II - Survey

of patients of Pariquera-Açú Regional Hospital, 1980. Revista de Saúde Pública, v. 15,

n. 6, p. 587–602, 1981.

JOHNSON, K. M. et al. Recovery of Venezuelan equine encephalomyelitis virus in

Panama. A fatal case in man. The American Journal of Tropical Medicine and

Hygiene, v. 17, n. 3, p. 432–440, 1968.

KADING, R. C. et al. Prevalence of antibodies to alphaviruses and flaviviruses in free-

ranging game animals and nonhuman primates in the greater Congo basin. Journal of

wildlife diseases, v. 49, n. 3, p. 587–599, 2013.

KANG, X. et al. Development of an ELISA-array for simultaneous detection of five

encephalitis viruses. Virology Journal, v. 9, p. 56, 2012.

KARABATSOS, N. Supplement to International Catalogue of Arboviruses including

certain other viruses of vertebrates. The American Journal of Tropical Medicine and

Hygiene, v. 27, n. 2 Pt 2 Suppl, p. 372–440, 1978.

KARABATSOS, N. International Catalogue of Arboviroses Including Certain Other

Viruses of Vertebrates. In: KARABATSOS, N. (Ed.). American Society Tropical

Medicine and Hygiene. 3. ed. San Antonio, 1985. p. 673–674.

KAUR, P. et al. Inhibition of Chikungunya virus replication by harringtonine, a novel

antiviral that suppresses viral protein expression. Antimicrobial Agents and

Chemotherapy, v. 57, n. 1, p. 155–167, 2013.

KELEN, P. T. V et al. Spatial epidemiology of eastern equine encephalitis in Florida.

International Journal of Health Geographics, v. 11, n. 1, p. 47–57, 2012.

KENNEY, J. L. et al. Genetic and anatomic determinants of enzootic Venezuelan

equine encephalitis virus infection of Culex (Melanoconion) taeniopus. PLoS

Neglected Tropical Diseases, v. 6, n. 4, p. e1606, 2012.

KONONCHIK, J. P.; VANCINI, R.; BROWN, D. T. Alphavirus adsorption to mosquito

cells as viewed by freeze fracture immunolabeling. Virology, v. 415, n. 2, p. 132–140,

2011.

KUBES, V.; RÍOS, F. A. The causative agent of infectious equine encephalomyelitis in

Venezuela. Science, v. 90, n. 2323, p. 20–21, 1939.

KUHN, R. J. Togaviridae: The viruses and their replication. In: KNIPE, D. M.;

HOWLEY, P. M. (Ed.). Fields Virology. 1 ed. Philadelphia: Lippincott Williams &

Wilkins, 2007. p. 1002–1022.

LE COUPANEC, A. et al. Aedes mosquito saliva modulates Rift Valley fever virus

pathogenicity. PLoS neglected tropical diseases, v. 7, n. 6, p. e2237, 2013.

63

LONG, K. C. et al. Experimental transmission of Mayaro virus by Aedes aegypti. The

American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 85, n. 4, p. 750–757, 2011.

LONG, K. M. et al. Dendritic cell immunoreceptor regulates Chikungunya virus

pathogenesis in mice. Journal of Virology, v. 87, n. 10, p. 5697–5706, 2013.

LORD, R. D. History and geographic distribution of Venezuelan equine encephalitis.

Bulletin of the Pan American Health Organization, v. 8, n. 2, p. 100–110, 1974.

LULLA, A.; LULLA, V.; MERITS, A. Macromolecular assembly-driven processing of

the 2/3 cleavage site in the alphavirus replicase polyprotein. Journal of Virology, v. 86,

n. 1, p. 553–565, 2012.

LUNDSTROM, K. Determination of alphaviral titers. Cold Spring Harbor Protocols,

v. 2012, n. 7, p. 835–837, 2012.

MADALENGOITIA, J.; FLORES, W.; CASALS, J. Arbovirus antibody survey of sera

from residents of easterns Peru. Boletin de la Oficina Sanitaria Panamericana, v. 7,

p. 25–37, 1973.

MELO, R. M. et al. Ocorrência de equídeos soropositivos para os vírus das

encefalomielites e anemia infecciosa no estado do Mato Grosso. Arquivos do Instituto

Biológico, v. 79, n. 2, p. 169-175, 2012.

METCALF, T. U.; GRIFFIN, D. E. Alphavirus-induced encephalomyelitis: antibody-

secreting cells and viral clearance from the nervous system. Journal of Virology, v. 85,

n. 21, p. 11490–11501, 2011.

METSELAAR, D. Isolation of arboviruses of group A and group C in Surinam.

Tropical and Geographical Medicine, v. 18, n. 2, p. 137–142, 1966.

MEYER, K. F.; HARING, C. M.; HOWITT, B. The etiology og epizootic

encephalomyelitis of horses in the San Joaquin Valley, 1930. Science, v. 74, n. 1913, p.

227–228, 1931.

MS- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Balanço Dengue I Janeiro a abril 2012. Disponível

em: <http://www.slideshare.net/MinSaude/balano-dengue-i-jan-a-abr-2012>. Acesso

em: 20 set. 2013.

MITCHELL, C. J. Vector competence of North and South American strains of Aedes

albopictus for certain arboviruses: a review. Journal of the American Mosquito

Control Association, v. 7, n. 3, p. 446–451, 1991.

MORELI, M. L.; COSTA, V. G. A systematic review of molecular diagnostic methods

for the detection of arboviruses in clinical specimens in Brazil and the importance of a

differential diagnosis. Virology Discovery, p. 1–8, 2013.

MORRISON, T. E. et al. Characterization of Ross River virus tropism and virus-

induced inflammation in a mouse model of viral arthritis and myositis. Journal of

Virology, v. 80, n. 2, p. 737–749, 2006.

MOSSEL, E. C. et al. Molecular determinants of mouse neurovirulence and mosquito

infection for Western equine encephalitis virus. PloS One, v. 8, n. 3, p. e60427, 2013.

MOURÃO, M. P. G. et al. Mayaro fever in the city of Manaus, Brazil, 2007-2008.

Vector Borne and Zoonotic Diseases, v. 12, n. 1, p. 42–46, 2012.

MUÑOZ, M.; NAVARRO, J. C. Virus Mayaro: un arbovirus reemergente en Venezuela

y Latinoamérica. Biomédica, v. 32, n. 2, p. 286–302, 2012.

64

NAISH, S. et al. Forecasting the future risk of Barmah Forest virus disease under

climate change scenarios in Queensland, Australia. PloS One, v. 8, n. 5, p. e62843,

2013.

NASAR, F. et al. Eilat virus, a unique alphavirus with host range restricted to insects by

RNA replication. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United

States of America, v. 109, n. 36, p. 14622–14627, 2012.

NATHANSON, N. Epidemiology. In: KNIPE, D. M.; HOWLEY, P. M. (Ed.). Fields

Virology. 1. ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. p. 424–446.

NEEL, J. V et al. Further studies of the Xavante Indians. IX. Immunologic status with

respect to various diseases and organisms. The American Journal of Tropical

Medicine and Hygiene, v. 17, n. 3, p. 486–498, 1968.

NI, H. et al. Recombinant alphaviruses are safe and useful serological diagnostic tools.

The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 76, n. 4, p. 774–781,

2007.

NOTOMI, T. et al. Loop-mediated isothermal amplification of DNA. Nucleic Acids

Research, v. 81, n. 12, p. e63, 2000.

NUNES, M. R. T. et al. Arbovirus eco-epidemiology in the area affected by the Cuiabá-

Santarém Highway (BR-163), Pará State, Brazil. Cadernos de Saúde Pública, v. 25, n.

12, p. 2583–2602, 2009.

OBERSTE, M. S. et al. Identification and genetic analysis of Panama-genotype

Venezuelan equine encephalitis virus subtype ID in Peru. The American Journal of

Tropical Medicine and Hygiene, v. 58, n. 1, p. 41–46, 1998.

OLIVEIRA, T. M. S. PCR em tempo real: métodos e aplicações. 2010. 111f.

Dissertação (Mestrado em Biologia) - Departamento de Biologia, Universidade de

Aveiro, Portugal, 2010.

OVIEDO, M. V. N. et al. Infection dynamics of western equine encephalomyelitis virus

(Togaviridae: Alphavirus) in four strains of Culex tarsalis (Diptera: Culicidae): an

immunocytochemical study. Research and Reports in Tropical Medicine, v. 18, n. 2,

p. 65–77, 2011.

PARIDA, M. M. et al. Rapid and real-time detection of Chikungunya virus by reverse

transcription loop-mediated isothermal amplification assay. Journal of Clinical

Microbiology, v. 45, n. 2, p. 351–357, 2007.

PASTORINO, B. et al. Development of a TaqMan RT-PCR assay without RNA

extraction step for the detection and quantification of African Chikungunya viruses.

Journal of Virological Methods, v. 124, n. 1-2, p. 65–71, 2005.

PAUVOLID-CORRÊA, A. Estudo sobre arbovírus em populações de equinos e

artrópodes na sub-região da Nhecolândia no Pantanal de Mato Grosso do Sul.

2008. 159f. Dissertação (Mestrado em Biologia Parasitária) - Instituto Oswaldo Cruz,

Rio de Janeiro, 2008.

PAUVOLID-CORRÊA, A. et al. Serologic evidence of the recent circulation of Saint

Louis encephalitis virus and high prevalence of equine encephalitis viruses in horses in

the Nhecolândia sub-region in South Pantanal, Central-West Brazil. Memórias do

Instituto Oswaldo Cruz, v. 105, n. 6, p. 829–833, 2010.

65

PAUVOLID-CORRÊA, A.; CAMPOS, Z. M.; VELEZ, J.; SCHATZMAYR, H. G.; NOGUEIRA, R. M. R.; KOMAR, N. Investigação sorológica para a circulação de

alfavírus em espécimes selvagens de jacaré-do-Pantanal na Sub-região da Nhecolândia

no Pantanal Sul. In: XLIX Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical,

2013a, Campo Grande, MS.

PAUVOLID-CORRÊA, A. et al. Neutralizing antibodies for Mayaro virus in horses

from the Pantanal wetlands, Brazil. In: XXIV Brazilian Congress of Virology & VIII

Mercosur meeting of virology, 2013b, Porto Seguro, BA.

PAUVOLID-CORRÊA, A. et al. Neutralizing antibodies for Venezuelan equine

encephalitis virus in horses from Brazilian Pantanal. In: XXIV Brazilian Congress of

Virology & VIII Mercosur meeting of virology, 2013c, Porto Seguro, BA.

PERNG, G. C.; CHEN, W.J. Arboviral Encephalitis. In: TKACHEV, S. (Ed.).

Encephalitis. Taiwan: Ed. InTech, 2013.

PESSANHA, J. E. M. et al. Cocirculation of two dengue virus serotypes in individual

and pooled samples of Aedes aegypti and Aedes albopictus larvae. Revista da

Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 44, n. 1, p. 103–105, 2011.

PETTERSON, E. et al. Natural infection of Atlantic salmon (Salmo salar L.) with

salmonid alphavirus 3 generates numerous viral deletion mutants. The Journal of

General Virology, v. 94, n. Pt 9, p. 1945–1954, 2013.

PFEFFER, M. et al. Genus-specific detection of alphaviruses by a semi-nested reverse

transcription-polymerase chain reaction. The American Journal of Tropical Medicine

and Hygiene, v. 57, n. 6, p. 709–718, 1997.

PFEFFER, M.; DOBLER, G. Emergence of zoonotic arboviruses by animal trade and

migration. Parasites & Vectors, v. 3, n. 1, p. 35–50, 2010.

PHILLIPS, A. T. et al. Bioluminescent imaging and histopathologic characterization of

WEEV neuroinvasion in outbred CD-1 mice. PLos One, v. 8, n. 1, p. e53462, 2013.

PINHEIRO, F. P. et al. An outbreak of Mayaro virus disease in Belterra, Brazil. I.

Clinical and virological findings. The American Journal of Tropical Medicine and

Hygiene, v. 30, n. 3, p. 137–142, 1981.

PISANO, M. B. et al. Enzootic activity of pixuna and Rio Negro viruses (Venezuelan

equine encephalitis complex) in a neotropical region of Argentina. Vector Borne and

Zoonotic Diseases, v. 74, n. 2, p. 199–201, 2010.

POWERS, A. M. et al. Evolutionary relationships and systematics of the alphaviruses.

Journal of Virology, v. 75, n. 21, p. 10118–10131, 2001.

RAINEY-BARGER, E. K. et al. Virus-induced CD8+ T cells accelerate the onset of

experimental autoimmune encephalomyelitis: implications for how viral infections

might trigger multiple sclerosis exacerbations. Journal of Neuroimmunology, v. 259,

n. 1-2, p. 47–54, 2013.

RECEVEUR, M. C. et al. Infection with Mayaro virus in a French traveller returning

from the Amazon region, Brazil, January, 2010. Euro surveillance : European

Communicable Disease Bulletin, v. 15, n. 18, p. 2–5, 2010.

REDDY, V. et al. Utility of IgM ELISA, TaqMan real-time PCR, reverse transcription

PCR, and RT-LAMP assay for the diagnosis of Chikungunya fever. Journal of

Medical Virology, v. 84, n. 11, p. 1771–1778, 2012.

66

RICHARTZ, R. Detecção de anticorpos inibidores de hemaglutinação para

Alphavirus em soros de eqüinos do Estado do Paraná. 1994. 97f. Dissertação

(Mestrado em Ciências Veterinárias) - Faculdade de Ciências Veterinárias,

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1994.

RIGAU-PÉREZ, J. et al. Dengue: A Literature Review and Case Study of Travelers

from the United States, 1986-1994. Journal of Travel Medicine, v. 4, n. 2, p. 65–71,

1997.

RODRIGUEZ-ANDRES, J. et al. Phenoloxidase activity acts as a mosquito innate

immune response against infection with Semliki Forest virus. PLoS Pathogens, v. 8, n.

11, p. e1002977, 2012.

RÜLKER, T. et al. Isolation and characterisation of a human-like antibody fragment

(scFv) that inactivates VEEV in vitro and in vivo. PloS One, v. 7, n. 5, p. e37242, 2012.

RÜMENAPF, T.; STRAUSS, E. G.; STRAUSS, J. H. Aura virus is a New World

representative of Sindbis-like viruses. Virology, v. 208, n. 2, p. 621–633, 1995.

SABATTINI, M. S. et al. Arbovirus investigations in Argentina, 1977-1980. I.

Historical aspects and description of study sites. The American Journal of Tropical

Medicine and Hygiene, v. 34, n. 5, p. 937–944, 1985.

SANTOS, N. S. O.; BENATI, F. J. Diagnóstico laboratorial das viroses. In: SANTOS,

N. S. O.; ROMANOS, M. T. V; D., W. M. (Eds.). Introdução à Virologia Humana. 2.

ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 83–116.

SCHERER, W. F. et al. Ecologic studies of Venezuelan encephalitis virus in Peru

during 1970-1971. American Journal of Epidemiology, v. 101, n. 4, p. 347–355,

1975.

SCHERER, W. F. et al. Study of VE virus and isolation of SLE, EE, group C, and

GUAMA group arboviruses in the Amazon region of Peru, 1975. Bulletin of the Pan

American Health Organization, v. 13, n. 3, p. 272–284, 1979.

SCHLESINGER, M.; SCHLESINGER, S. Togaviruses. In: ACHESON, N. H. (Ed.).

Fundamentals of Molecular Virology. 1. ed. Nova Jersey: John Wiley & Sons, 2007.

p. 191–200.

SCHMALJOHN, A. L.; MCCLAIN, D. Alphaviruses (Togaviridae) and Flaviviruses

(Flaviviridae). In: Medical Microbiology. 1. ed. Galveston: University of Texas

Medical Branch at Galveston, 1996.

SEMA - SECRETARIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE. Mapa dos Biomas

Mato-Grossenses. Disponível em: <http://www.sema.mt.gov.br/index.php?option=

com_content&view=article&id=170&Itemid=107>. Acesso em: 15 jul. 2013.

SERRA, O. P. et al. Entomological survaillance of adult mosquitoes vectors of

arboviruses in Cuiabá, Mato Grosso. In: XXIV Brazilian Congress of Virology & VIII

Mercosur meeting of virology, 2013, Porto Seguro, BA.

SES/MT - SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MATO GROSSO. Estado

divulga dados da dengue de 1o de janeiro a 20 de dezembro de 2012. Disponível em:

<http://www.saude.mt.gov.br/noticia/3278>. Acesso em: 16 out. 2013.

SHERMAN, M. B.; WEAVER, S. C. Structure of the recombinant alphavirus Western

equine encephalitis virus revealed by cryoelectron microscopy. Journal of Virology, v.

84, n. 19, p. 9775–9782, 2010.

67

SILVA, M. L. C. R. et al. Outbreaks of Eastern equine encephalitis in northeastern

Brazil. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation : Official Publication of the

American Association of Veterinary Laboratory Diagnosticians, v. 23, n. 3, p. 570–

575, 2011.

SIMÕES, M. Avaliação da acurácia e confiabilidade do teste sorológico de

neutralização por redução de placas de lise (micro PRNT) na detecção de

anticorpos para o vírus da Febre Amarela. 2011. 99f. Dissertação (Mestrado

Profissional em Tecnologia de Imunobiológicos) - Instituto de Tecnologia em

Imunobiológicos, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2011.

SMITH, G. C.; FRANCY, D. B. Laboratory studies of a Brazilian strain of Aedes

albopictus as a potential vector of Mayaro and Oropouche viruses. Journal of the

American Mosquito Control Association, v. 7, n. 1, p. 89–93, 1991.

SNYDER, J. E. et al. Reevaluation of the western equine encephalitis antigenic

complex of alphaviruses (family Togaviridae) as determined by neutralization tests.

Journal of Virology, v. 87, n. 15, p. 8511–8523, 2013.

SREEJITH, R. et al. Mapping interactions of Chikungunya virus nonstructural proteins.

Virus Research, v. 169, n. 1, p. 231–236, 2012.

STAPLES, J. E.; BREIMAN, R. F.; POWERS, A. M. Chikungunya fever: an

epidemiological review of a re-emerging infectious disease. Clinical Infectious

Diseases, v. 49, n. 6, p. 942–8, 2009.

STORCH, G. Diagnostic Virology. In: KNIPE, D. M.; HOWLEY, P. M. (Eds.). Fields

Virology. 1. ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 1994. p. 566–604.

STRAUSS, J. H.; STRAUSS, E. G. The alphaviruses: gene expression, replication, and

evolution. Microbiological Reviews, v. 58, n. 3, p. 491–562, 1994.

TALARMIN, A et al. Mayaro virus fever in French Guiana: isolation, identification,

and seroprevalence. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v.

59, n. 3, p. 452–456, 1998.

TANG, B. L. The cell biology of Chikungunya virus infection. Cellular Microbiology,

v. 14, n. 9, p. 1354–1363, 2012.

TAYLOR, S. F.; PATEL, P. R.; HEROLD, T. J. S. Recurrent arthralgias in a patient

with previous Mayaro fever infection. Southern Medical Journal, v. 98, n. 4, p. 484–

485, 2005.

TEN, B. C.; MERRILL, M. H. A serological difference between eastern and western

equine encephalomyelitis virus. Proceedings of the Society for Experimental Biology

and Medicine, v. 31, p. 217–220, 1933.

TERZIAN, A. C. B. DIAGNÓSTICO MOLECULAR DE ARBOVIROSES

BRASILEIRAS EM SOROS DE PACIENTES COM DOENÇA FEBRIL AGUDA.

2008. 71f. Dissertação (Mestrado em Microbiologia) - Instituto de Biociências, Letras e

Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do

Rio Preto, 2008.

TERZIAN, A. C. B. et al. Sporadic oropouche virus infection, acre, Brazil. Emerging

Infectious Diseases, v. 15, n. 2, p. 348–350, 2009.

TESH, R. B. Arthritides caused by mosquito-borne viruses. Annual Review of

Medicine, v. 33, p. 31–40, 1982.

68

TESH, R. B. et al. Mayaro virus disease: an emerging mosquito-borne zoonosis in

tropical South America. Clinical Infectious Diseases, v. 28, n. 1, p. 67–73, 1999.

THOMAS, S. J. et al. Dengue plaque reduction neutralization test (PRNT) in primary

and secondary dengue virus infections: How alterations in assay conditions impact

performance. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 81, n. 5,

p. 825–833, 2009.

TRAVASSOS DA ROSA, A. P. et al. Trocara virus: a newly recognized

Alphavirus (Togaviridae) isolated from mosquitoes in the Amazon Basin. The

American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 64, n. 1-2, p. 93–97, 2001.

VANEY, M.-C.; DUQUERROY, S.; REY, F. A. Alphavirus structure: activation for

entry at the target cell surface. Current Opinion in Virology, v. 3, n. 2, p. 151–158,

2013.

VANLANDINGHAM, D. L. et al. Determinants of vector specificity of o’nyong nyong

and Chikungunya viruses in Anopheles and Aedes mosquitoes. The American Journal

of Tropical Medicine and Hygiene, v. 74, n. 4, p. 663–669, 2006.

VASCONCELOS, P. F. C. Arboviruses. In: Veronesi: Tratado de Infectologia. São

Paulo: Atheneu, 2005. p. 289–302.

VASCONCELOS, P. F. DA C. et al. Epidemiologia das encefalites por arbovírus na

amazônia brasileira. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 33,

n. 6, p. 465–476, 1991.

VASCONCELOS, P.; TRAVASSOS DA ROSA, A. P. A.; PINHEIRO, F. P.

Arboviruses pathogenic for man in Brazil. In: TRAVASSOS DA ROSA, A. P. A;

VASCONCELOS, P. F. C; TRAVASSOS DA ROSA, J. F. S. (Ed.). An overview of

arbovirology in Brazil and neighbouring countries. Belém: Instituto Evandro

Chagas, 1998. p. 71–99.

VELASQUEZ, J. Enfermedades de los animales transmisibles al hombre: peste loca.

Salud Sanidad, v. 8, p. 22–32, 1939.

VILCARROMERO, S. et al. Venezuelan equine encephalitis and 2 human deaths, Peru.

Emerging Infectious Diseases, v. 16, n. 3, p. 553–556, 2010.

WATTS, D. M. et al. Venezuelan equine encephalitis febrile cases among humans in

the Peruvian Amazon River region. The American Journal of Tropical Medicine and

Hygiene, v. 58, n. 1, p. 35–40, 1998.

WEAVER, S. C. et al. Re-emergence of epidemic Venezuelan equine encephalomyelitis

in South America. VEE Study Group. Lancet, v. 348, n. 9025, p. 436–440, 1996.

WEAVER, S. C. et al. Recombinational history and molecular evolution of western

equine encephalomyelitis complex alphaviruses. Journal of Virology, v. 71, n. 1, p.

613–623, 1997.

WEAVER, S. C. et al. Alphaviruses: population genetics and determinants of

emergence. Antiviral Research, v. 94, n. 3, p. 242–257, 2012.

WEAVER, S. C.; BARRETT, A. D. T. Transmission cycles, host range, evolution and

emergence of arboviral disease. Nature Reviews Microbiology, v. 2, n. 10, p. 789–801,

2004.

WEAVER, S. C.; REISEN, W. K. Present and future arboviral threats. Antiviral

Research, v. 85, n. 2, p. 328–345, 2010.

69

WEBSTER, L. T.; WRIGHT, F. H. Recovery of Eastern equine encephalomyelitis virus

from brain tissue of human cases of encephalitis in Massachusetts. Science, v. 88, n.

2283, p. 305–306, 1938.

WIGG, M. D. Isolamento de uma amostra de vírus WEE em Haemagogous

janthinomys. 1977. Dissertação. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 1977.

WILLIAMS, M. R.; SAVAGE, H. M. Identification of Culex (Melanoconion) species

of the United States using female cibarial armature (Diptera: Culicidae). Journal of

Medical Entomology, v. 46, n. 4, p. 745–752, 2009.

ZACKS, M. A.; PAESSLER, S. Encephalitic Alphaviruses. Veterinary Microbiology,

v. 140, n. 3-4, p. 281–286, 2010.

ANEXO I

ANEXO II

ANEXO III