50
ISAPA Brazil 2007 Novembro 2006 no. 1 Copyright 2006 ADAPTA ISSN 1808-8902 ISAPA Brazil 2007 Programas de extensão nas universidades Emoções e a cesta no basquete sobre rodas A educação inclusiva como projeto da escola Limitação: Mito ou realidade Emoções e a cesta no basquete sobre rodas A educação inclusiva como projeto da escola Limitação: Mito ou realidade

ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

  • Upload
    hakiet

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

ISAPABrazil 2007

Nov

emb

ro 2

006

no.

1

Copyright 2006 ADAPTAISSN 1808-8902

ISAPABrazil 2007

Programas deextensão nasuniversidades

Emoções e a cesta nobasquete sobre rodas

A educação inclusivacomo projeto da escola

Limitação: Mito ourealidade

Emoções e a cesta nobasquete sobre rodas

A educação inclusivacomo projeto da escola

Limitação: Mito ourealidade

Page 2: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques
Page 3: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

ADAPTAa revista profissional da Sobama

A revista ADAPTA é uma publicação anual da SociedadeBrasileira de Atividade Motora Adaptada (Sobama).VOL 2 no. 1 - 2006ISSN 1808-8902

EditoresEliane Mauerberg-deCastro [email protected] Inês de Paula [email protected] Nabeiro [email protected] Junghahnel Pedrinelli [email protected]

Diretora de redaçãoEliane Mauerberg-deCastro [email protected]

Diretoras de arteEliane Mauerberg-deCastro [email protected] Frances Campbell [email protected]

Diagramação e capaEliane Mauerberg-deCastro [email protected] da capa: Debra Frances Campbell

ColaboradoresAdriana Ines de Paula [email protected] Mauerberg-deCastro [email protected]

AssinaturasAdriana Inês de Paula [email protected] Nabeiro [email protected]

Submissão de manuscritosAdriana Inês de Paula [email protected]

Para anunciar contateMarli Nabeiro [email protected]

Diretoria ExecutivaPresidente: Eliane Mauerberg-deCastroVice-Presidente: Verena Junghähnel PedrinelliSecretária Geral: Márcia Valéria Cozzani1a Secretária: Joslei Viana de SouzaTesoureira: Adriana Inês de Paula1a Tesoureira: Ruth Eugênia Amarante Cidade e Souza

SobamaEndereço:Departamento de Educação Física, UNESPAv. 24-A, 1515, Bela VistaRio Claro SP 13506-900Fone: 19-3526-4333Fax: 19-3534-0009 ou 19-3526-4321E-mail: [email protected]

Os artigos assinados são de inteira responsabilidadedos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião

dos editores da revista ou da diretoria da Sobama.

ApoioUNESP Rio Claro

1

Page 4: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

4 ArtigosEmoções e a cesta no basquete sobrerodas

Elaine Mara da Silva

pag 4

A educação inclusiva como projeto daescola: O lugar da educação físicaRivana dos Santos Dutra

Silvana de Souza Marques da SilvaRegina Celi da Silva Rocha

pag 7

Limitação: Mito ou realidade.Respondendo a um amigo se limitaçãoexiste apenas quando acreditamos nela

Anamaria Brandi Curtú

pag 13

Programa de Extensão: “Aprendendo como Corpo d’Eficiente”

Marli NabeiroAna Flora Zaniratto Zonta

pag 15

Proefa: Uma tradição de 18 anosEstrutura de um projeto de extensãouniversitária em educação física adaptada

Eliane Mauerberg-deCastro

pag 18

Natação para pessoas com deficiênciamental leve

Milton Vieira do Prado Junior

pág 28

2

Page 5: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

Projeto “Eficientes”Um programa de intervenção englobandodiferentes tipos de deficiências

Cícero CamposValter BrighettiJúlio César TakeharaLucas Portilho NicolettiDenise Ferraz Lima Veronezi

pag 32

Dança de salão para pacientes comtranstornos mentais

Ana Clara de Souza PaivaSandra Regina Garijo de OliveiraCatia Mary Volp

pag 34

A importância da inserção dosprofissionais da educação física adaptadanas equipes multidisciplinares daeducação municipal

Maria Luisa da Costa Fogari

pag 38

Incidência de hipermobilidade articular emmeninas praticantes de ginástica artística

Marisilda ViúdesAdriana Inês de Paula

pag 40

Apoio

Universidade Estadual Paulista, UNESPInstituto de Biociências,Departamento de Educação Física, Rio Claro

3

Page 6: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

No Brasil, o basquete em cadeiras de rodas no contexto doesporte para deficientes cresceu significativamente nosúltimos anos. Assim como ocorre no basquete convencional,o jogador de basquete sobre rodas experimenta momentosde consagração própria e de seus pares sempre que gestosesportivos são executados com precisão e sucesso. Omomento de maior emoção no jogo é, sem dúvida, o da cesta.A cesta é o objetivo maior deste jogo.

O que o corpo expressa quandoquer vencer desafios

Durante qualquer jogo dentro de modalidadesdesportivas, os corpos não só se mobilizam para algum tipode ação, mas expressam uma comunicação rica de significadosque vão desde as intenções até as emoções. Esses mesmoscorpos também captam a comunicação do outro. Expressando

Emoções e a cesta no basquete sobre rodas

Elaine Mara da Silva

4

uma cumplicidade diante da necessidade de determinadomovimento ou manobra, o atleta só atenta para suas emoçõesapós a realização de uma boa jogada. O basquetebol é umjogo extremamente emocionante e a cesta—escore do jogo erazão para emoções—associa-se com desejos, insatisfaçõese necessidades. No caso do jogador de basquete sobre rodas,estas emoções não são diferentes. As emoções correm emmomentos comuns no desenrolar de uma partida debasquetebol. Estes momentos caracterizam o espetáculo.

De modo geral, a emoção impulsiona a motivação que,por sua vez, aumenta a disponibilidade e capacidade para aação eficiente pelo jogador neste espetáculo. Além disso, aemoção pode ser um fator decisivo no desempenho do jogadordurante um jogo importante. Este desempenho no jogo podeser observado enquanto o jogador em cadeira de rodasmanuseia a bola, ou quando está em uma posição de defesa econsegue roubar uma bola do adversário.

Muitas vezes emoções precedem experiências demovimentos com as quais o jogador ainda não temcompetência. Por exemplo, o sucesso na cesta pode, emseguida, levar o jogador a se aventurar com gestos inéditosque ele ainda não sabe que é capaz de fazer (e.g., realizar um“gancho” embaixo da tabela para sair da marcação). Ou seja,o sucesso na execução de uma cesta retro-alimenta a auto-estima e impulsiona o sucesso da próxima cesta. Este processoentre ação e emoção pode ser associado com inúmeros gestosno basquetebol, mas é o sucesso da cesta que confirma acompetência e a vitória do jogador e do time.

Após dez anos acompanhando a rotina de uma equipemasculina nesta modalidade, nós começamos a olhar com

Page 7: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II ..... 5

maior cuidado o que acontece com as emoções do jogadorno momento que ele executa uma cesta. Obviamente, saberobjetivamente sobre o conteúdo emocional no instante daexecução da cesta é muito difícil, principalmente se reunirmoso lado visual jogo, a expectativa do grupo pelo resultado, apresença do público, o placar, momentos dramáticos dacontagem, as torcidas, os juizes, as vaias, os aplausos. Assim,apelamos para a memória e opinião do jogador que é solicitadoa expressar sua emoção sobre um evento passado: a realizaçãoda cesta. Ao expressar-se, o jogador emite sinais de suatomada de consciência sobre o que seu corpo é capaz defazer. Estes sinais são bastante consistentes entre osjogadores.

Assim, as emoções traduzem um diálogo particular dopróprio corpo: ele grita, bate palmas, manobra a cadeira derodas de forma ritualizada, produz barulho intenso. Tudo istoreflete uma prática que o lembrará da relação existente entreas partes do seu corpo. É um instante—(momento) de auto-motivação, auto-recompensa, reforço, reconhecimento domérito próprio.

A cesta como ícone doempoderamento no jogo

Uma jogada convertida em cesta deflagra emoções, asquais entram em cena consigo, com seus pares e com opúblico. O jogador, neste momento, estabelece umacomunicação com o mundo que vai além da “quebra” (desafio)da verticalidade. Emoções próprias são mais prontamentereconhecidas pelo jogador do que detalhes sobre o que elefez, como fez, ou da força que empregou.

Durante o jogo é comum o jogador de basquete sobrerodas perder uma grande quantidade de cestas, mas aoexecutar outras poucas de grande efeito ele alimenta suamotivação na partida. No caso específico do jogador comdeficiência, fazer uma cesta é um bom contexto paraanalisarmos a relação dele com seu corpo, sabermos maissobre a essência da sua imagem corporal. Indiretamente é umbom pretexto para expor o perfil de sua identidade e os efeitosda sua experiência existencial enquanto jogador comdeficiência.

Page 8: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Estas reflexões sobre o atleta que pratica o basquetebolsobre rodas alertam aos profissionais do esporte sobre opapel das emoções. Olhar o fazer uma cesta não deve ficarapenas confinado ao plano de otimização de diferentesestratégias de intervenção nesta modalidade desportiva, mastambém incluir a linguagem do corpo emocionado. Oresultado de preocupações profissionais pode revelar umaabordagem mais humanista no gerenciamento de jogadorescom deficiência que têm metas complexas com o esporte,metas que vão além de um protocolo de reabilitação. Metasque incluem inserção social, visibilidade, conquistas, enfim,empoderamento.

empoderamento.

Nota sobre a autora

Elaine Mara da Silvaé formada em educação física e pedagogia. Atualmente éprofessora da disciplina de educação física adaptada no cursode educação física da UNAERP, campus de Ribeirão Preto.Especialista em educação pelas Faculdades Claretianas deBatatais, e em atividade física e qualidade de vida pelaUNICAMP, onde também é membro do grupo de estudos emimagem corporal. É professora efetiva na Secretaria Munici-pal de Esportes de Ribeirão Preto onde iniciou sua experiênciana área de atividade física adaptada. Tem atuado por 10 anosno basquete sobre rodas e recentemente com atletismo paracegos. É a representante regional do estado de São Paulojunto à Sobama.

Fotos por Livia Cerezoli e Elaine Mara da Silva

Endereço para contato:Rua Elias Dib nº628 Jd AnhangueraRibeirãoPreto, SPCep14092-080Email:[email protected]

6

Page 9: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

A educação inclusiva como projeto da escola:O lugar da educação física

Rivana dos Santos DutraSilvana de Souza Marques da Silva

Regina Celi da Silva Rocha

Refletindo, no desenvolvimento de um trabalho deconclusão de curso, sobre os inúmeros entraves ao processode inclusão dos alunos com necessidades educacionaisespeciais, considerou-se importante investigar como esseprocesso tem se dado na escola e a participação da educaçãofísica neste processo.

Incluir é um desafio que deve ser encarado pelosprofissionais da educação. Mas o simples ato de transferir oaluno portador de deficiência de uma escola totalmenteadaptada às suas necessidades para outra de ensino regular,não significa inclusão.

Desse modo, este estudo buscou compreender oscaminhos que o professor pode percorrer para intervir nasociedade, na tentativa de minimizar o processo de exclusãosocial, e o papel que o professor de educação física poderepresentar dentro desse contexto. Mais especificamente,buscou-se uma análise documental do projeto político-pedagógico, entendendo que projetar é pensar a ação eenvolve, por parte dos gestores e da comunidade escolaruma decisão política, planejamento estratégico das ações ecomprometimento permanente com as ações projetadas. Tais

“Nossa existência e nossas vidas, nossa luta permanentepor aceitação e reconhecimento são um testemunho deresistência contra a exclusão.”

Maria Amélia Vampré Xavier

características tornam o projeto político-pedagógico uminstrumento primordial e fundamental para a implementaçãode uma educação inclusiva.

Segundo Rodrigues (2006, P.302),a escola que pretende seguir uma política de educaçãoinclusiva (EI) desenvolve políticas, culturas e práticasque valorizam a contribuição ativa de cada aluno paraa formação de um conhecimento construído epartilhado—e desta forma, atinge a qualidadeacadêmica e sociocultural sem discriminação.

Mas isso não se dá do nada. A filosofia, as idéias queconsubstanciam tais políticas, culturas e práticas só vão sematerializar a partir da vontade coletiva dos membros daescola, num processo de superação dos preconceitos,reconhecimento das potencialidades de todos os alunos e aconstrução (coletiva) de um projeto político-pedagógico quedê conta do trabalho com a diversidade.

O projeto político-pedagógico é fundamental nesteprocesso, porque é a ‘carta’ onde todos os compromissossão fixados, mas sobretudo é no processo de construção doprojeto político-pedagógico—quando acontecem os debates,os momentos e espaços de reflexão sobre as políticas culturase práticas inclusivas—que se manifestam as intenções, quese demonstra se o coletivo da escola está mesmocompromissado com as propostas que estão assumindo. É aíque se torna transparente se a inclusão se dará de fato e nãoapenas por estar garantida por lei. O que se tem visto hoje,em nome da inclusão, são práticas bastante polêmicas.

(...) Por vezes, fala-se mais da EI como um meroprograma político ou como uma quimera inatingíveldo que como uma possibilidade concreta de opçãonuma escola regular. Tanto a legislação como odiscurso dos professores se tornaram rapidamente‘inclusivos’, enquanto as práticas na escola só muitodiscretamente tendem a ser mais inclusivas. (Idem)

A análise documental dos projetos político-pedagógicosdas escolas, assim como as entrevistas semi-estruturadas

7

Page 10: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....8

com diretores dessas escolas públicas (duas estaduais e duasmunicipais) do município de Barra do Piraí, visou refletir sobreo engajamento dessas escolas no processo de inclusão esobre a função da educação física escolar na inclusão dosalunos com necessidades especiais.

O estudo levantou algumas questões: Será que as escolastêm buscado vencer o preconceito através do trato efetivocom a diferença? É interesse de gestores e professores, buscara capacitação para atuar com essa população tão diversa?Será que estão encarando a diferença como algo natural, comocaracterística dos seres humanos e buscando práticaspedagógicas, culturais e políticas efetivas de inclusão?

A proposta de inclusão

Se analisarmos pelo viés dos ‘direitos,’ a inclusão daspessoas com necessidades especiais está amplamentegarantida: A ONU promulgou, em 1948, a Declaração Univer-sal de Direitos Humanos, assegurando a todas as pessoas,de todas as nações, os mesmos direitos e deveres; aConstituição de 1988, a Declaração de Salamanca, de 1994, aLei de Diretrizes e bases da Educação Nacional, de 1996, en-tre outras, asseguram a inclusão do portador de necessidadesespeciais. Na educação, a inclusão doa alunos comnecessidades educacionais especiais à rede regular de ensinoestá assegurada legalmente, de modo que, hoje não é o alunoque está obrigado a se adaptar à escola, mas a escola que temque se organizar para recebê-lo.

Uma coisa é certa: dentro das atuais condições nãohá como incluir crianças com necessidades especiaisno ensino regular, sem que se ofereça, aos professoresdessas classes, orientação e assistência naperspectiva da qualificação do trabalho pedagógicoali desenvolvido. (Bueno, apud Sobrinho, 2003, p.48).

A capacitação dos professores é um dos primeiros passospara começarmos a pensar em uma escola capaz realmente deincluir um aluno portador de necessidades especiais.

Contribuir para a preparação dos outros alunos para lidarcom as diferenças é tarefa fundamental do professor. Éimportante ter pessoas diferentes no mesmo meio, pois a trocade experiências pode ser extremamente rica.

A prática atual consiste em isolá-los em estabelecimentossegregados longe da realidade, colaborando para que eles sesintam ainda mais inferiores que as outras pessoas. Asegregação em instituições especiais consolidou-se maiscomo um mecanismo de atendimento assistencial e isolamentosocial do que como uma forma alternativa apropriada deformação e reabilitação de pessoas com deficiência. Talsegregação só aumenta os preconceitos e estereótipos a elarelacionados, colaborando para um sentimento deinferioridade, especialmente das pessoas com deficiência.

É importante ressaltar, que aos portadores denecessidades especiais deve-se assegurar o direito aexperimentar o estilo de vida comum, considerado “normal”em sua cultura e ainda, uma formação e reabilitação emambientes regulares, ou menos restritivos, através derecursos ou serviços educacionais especiais.

Uma escola que se pretende inclusiva deve estarcomprometida com as mudanças necessárias a umaexperiência educacional significativas para o aluno, pois omovimento da inclusão parece ser a forma mais social ehumana de favorecer a construção da cidadania, através deuma educação com qualidade para todos.

É importante que se estabeleçam esforços, com objetivoscomuns, onde alunos, professores, dirigentes, funcionários,pais e comunidade, assumam o desafio de abrir caminhosque nos conduzam à construção de um sistema educacionalinclusivo, rejeitando qualquer forma de segregação. Umprocesso coletivo e de cooperação, que desenvolva, na escola,ações políticas, culturais e pedagógicas, voltadas àsexpectativas e necessidades de todos, ou seja, pautadas nadiversidade.

Sendo assim, o trabalho em equipe torna-se fundamentalpara a escola inclusiva.

O professor inclusivo deve buscar a competência paralidar com as dificuldades que terá que enfrentar paraproporcionar uma educação apropriada a todos os alunos,sejam eles portadores de necessidades especiais ou não,prevendo um espaço democrático e comum, afim de que possadesenvolver com êxito os programas inclusivos.

Como bem define Pedrinelli ( 2002, pp. 31-32),participar de um processo inclusivo é estarpredisposto, sobretudo, a considerar e respeitar asdiferenças individuais, criando a possibilidade deaprender sobre si mesmo e sobre o outro, em umasituação de diversidade de idéias, sentimentos eações(...) (...)o professor que adota a proposta daeducação inclusiva considera o aluno um recurso

Page 11: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

importante em sala de aula e aproveita as propostastemáticas que emergem do grupo, valorizando asdiferenças individuais e o potencial dos alunos.

O aprendizado é recíproco e a troca de conhecimentos éessencial para que ocorra um processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma tanto o professor como o aluno,aprendem e ensinam, ou seja, há reciprocidade de ensino eaprendizagem entre alunos e professores.

Em todos os tempos, a educação encarou com estranhezaas inovações. A formação final sempre foi vista,necessariamente, “com níveis semelhantes de conhecimentoe usando estratégias uniformes” (Rodrigues, 2006, p.316).Compreender e aceitar as diferenças intra-individuais de seusalunos também sempre foi complexo para o ensino tradicional.Isso,torna ainda mais “radicais e estranhas as propostas deinovação da escola feitas pela EI (Idem).

A inclusão tem sido entendida de muitas formas diferentes.Para Sobrinho (2003, p. 12), “Incluir é fazer parte, écompreender, é ser compreendido.” Uricoechea (2005), dizque “Inclusão é o termo que se encontrou para definir umasociedade que considera todos os seus membros comocidadãos legítimos.” Inclusão significa entre tantas coisas,“estar com,” afiliação, compreensão, envolvimento, ou seja,traduz-se em mobilizar pais, estudantes, membros dacomunidade para ser parte de uma nova cultura, se uma novarealidade. Já num contesto de educação especial, é a tentativae esforço de se desenvolver um sistema educacional unificadoque seja flexível e com recursos necessários para atender asnecessidades da diversidade de alunos de nossascomunidades.

Numa sociedade como a nossa, onde o preconceito évelado, o diferente é visto com ‘maus olhos.’ A dificuldademaior parece estar na nossa dificuldade em respeitar e lidarcom as “diferenças.” Portanto, mesmo que se promova acapacitação técnica, e se providencie todo o aparato materialnecessário para o acesso das pessoas com necessidadesespeciais no ensino regular, se não houver mudança nasatitudes em relação às diferenças, de modo a eliminar opreconceito e a discriminação, a inclusão permanecerá apenasde “direito” e não de “fato.”

Após milênios de discriminação, marginalização e atémesmo, eliminação de indivíduos com deficiência da face daterra, através de iniciativas racistas e eugênicas, é difícil queo processo de conscientização e aceitação das diferençasocorra de imediato. Construímos uma sociedade pensada eprojetada para um homem padrão, próximo à “normalidade”que, não corresponde à verdadeira condição da maioria dapopulação. Um padrão que se utiliza da diferença parainferiorizar e da igualdade para descaracterizar. O que temtornado a inclusão um processo complexo e lento. Mastambém, o único projeto de sociedade que pode sersustentável e permitir verdadeiro e completo desenvolvimentohumano.

Como nos afirma Bieler (in mimeo)Aqui, agora, dia após dia, temos a responsabilidadede ajudar a construir o momento mágico detransformação—quando nos sentaremos juntos àmesma mesa, com conselhos representando gruposhumanos de todos os tipos; um “Conselho de Jedis,”para celebrar a força, a sabedoria e a riqueza dadiversidade.

Por tudo isso, a EI se apresenta como um desafioencantador.

Projeto político-pedagógico

Atualmente o discurso da autonomia, cidadania eparticipação no espaço escolar vêm ganhando força, sendotemas marcantes do debate educacional brasileiro. Dessemodo, o projeto político-pedagógico despontou no cenárioda escola como espaço de reflexão, momento de decisãopolítica, planejamento estratégico das ações por parte dosgestores e da comunidade escolar e sobretudo, decomprometimento permanente com as ações projetadas.

Segundo Gadotti (2002, p.37),

todo projeto supõe rupturas com o presente epromessas para o futuro. Projetar significa tentarquebrar um estado confortável para arriscar-se,atravessar um período de instabilidade e buscar umanova instabilidade em função da promessa que cadaprojeto contém de estado melhor de que o presente.

É um equívoco pensar que o projeto político-pedagógicovem para negar a história da escola, seu currículo e métodos,a sua comunidade e o seu modo de vida, ou seja, o seuinstituído, ao contrário, um bom projeto coloca frente a frente,o instituído com o instituinte. Isto coloca a escola semprefrente às inovações e diante da necessidade de reavaliaçãode suas práticas, para que ocorram as mudanças necessáriasdentro do campo pedagógico. Por isso, todo projetopedagógico é também político e por isso mesmo, sempre umprocesso inconcluso, uma etapa em direção a uma finalidadeque permanece como horizonte da escola. Um projeto quenão pressupõe constante avaliação não consegue saber seseus objetivos estão sendo atingidos.

O projeto da escola não é de responsabilidade apenas dadireção. Ao contrário, numa gestão democrática, a direção éescolhida a partir do reconhecimento da competência e daliderança de alguém capaz de executar um projeto coletivo.Portanto, ao se eleger um diretor de escola, o que se estáelegendo é um projeto para a escola.

Como vimos o projeto político-pedagógico da escola estáhoje inserido num cenário marcado pela diversidade, o quecomprova que nos dias atuais um projeto padrão seria

9

Page 12: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

insuficiente para satisfazer todos os objetivos das escolas.Tais características tornam o projeto político-pedagógico

um instrumento primordial e fundamental para aimplementação de uma educação inclusiva.

Educação física na inclusão

Investigar sobre a educação física inclusiva nos leva arefletir sobre a necessidade de entender e atender asnecessidades das pessoas com deficiência, o respeito às suascaracterísticas peculiares e seu potencial.

Continuar acreditando que a educação física deve seinspirar em exercícios voltados basicamente para o esportede rendimento, privilegiando o forte, o belo, o robusto, oesteticamente perfeito, o preconceito e a exclusão estarãosempre presentes nas aulas.

Muito se tem investigado e estudado para buscar a melhorforma de atender as necessidades educacionais especiais daspessoas com deficiência.

Segundo Pedrinelli (2002, P. 35), na década de 50 surgiu otermo educação física adaptada, que foi escolhido pelaAmerican Association for Health, Physical Education, Rec-reation and Dance (AAHPERD) para definir “um programadiversificado de atividades desenvolvimentista, jogos, eritmos adequados aos interesses, capacidades e limitaçõesde estudantes com deficiências.” Daí para frente, muitaspropostas têm surgido para o trabalho com essas pessoas.Algumas, específicas para o trabalho em instituiçõesespecializadas—considerado por muitos estudiosos comosegregador—e outras, que visam o trabalho incluindo osdeficientes nas aulas regulares de educação física.

Para Bueno e Resa (2002, P.36),A educação física adaptada para portadores dedeficiências não se diferencia da educação física emseus conteúdos, mas compreende técnicas, métodose formas de organização que podem ser aplicados aoindivíduo deficiente.

Ao professor de educação física cabe, então, proporcionarvivências e oportunidades motoras adaptando-se às maisdiferentes realidades. Mesmo assim, muitos profissionaisquando se deparam com o aluno portador de deficiência física,afirmam não saber como agir devido a sua falta de preparo. Aalguns, falta inclusive interesse e paciência para buscar oconhecimento necessário.

Uma criança com deficiência possui as mesmasnecessidades básicas de uma criança dita “sem problema”—necessidades afetivas, sociais, intelectuais, dentre outras.Como então é possível conceber uma educação física queignore estes fatores?

A educação física é uma área de adaptação que permite aparticipação de todos, em atividades adequadas àspossibilidades de cada um, proporcionando a integração. Para

cada tipo de “deficiência” existe uma maneira de enfatizar asnecessidades a serem contempladas.

Todo o programa deve conter desafios aos alunos,permitindo a participação destes, respeitando suas limitaçõese promovendo autonomia. É importante que o professorsempre tenha conhecimentos básicos sobre seu aluno (tipode deficiência, idade, funções e estruturas que estão sendoprejudicadas, etc.), pois conhecendo o educando, eleprecisará adequar a metodologia a ser adotada. Para Cidade eFreitas (2002, p. 42-43) várias considerações devem ser levadasem conta:

· Em que grupo de educandos haverá maior facilidadepara a aprendizagem e desenvolvimento de todos;· A avaliação constante do programa de atividadespossibilitando as adequações necessárias,considerando as possibilidades e capacidades doseducandos, sempre em relação aos conteúdos eobjetivos da educação física adaptada;· Adaptação de material e sua organização na aula,tempo disponível, espaço e recursos materiais;· Adaptações de objetivos e conteúdos, adequando-os quando for necessário, em função dasnecessidades educativas especiais, dando prioridadea conteúdos e objetivos próprios, definindo mínimose introduzindo novos quando for preciso.

Incluir o indivíduo portador de necessidades especiaisnas escolas significa oferecer oportunidades iguais, apesardas diferenças.

Hoje o modelo de integração da sociedade aceita receberos portadores deficiências desde que estes apresentem umacapacidade de adaptação aos obstáculos. Esta é uma visãoque precisa ser mudada. São as escolas, a sociedade as queprecisam se adaptar para receber os deficientes.

A inclusão é um processo amplo, com transformaçõespequenas e grandes, em ambientes físicos e também namentalidade das pessoas, inclusive do próprio portador dedeficiência.

É preciso “(...) promover uma sociedade que aceite e valo-rize as diferenças individuais, aprenda a conviver dentro dadiversidade humana, através da compreensão e dacooperação” (Cidade & Freitas, 2002, p. 45).

E a educação física muito tem a contribuir neste processoatravés de suas práticas, rompendo as barreiras dopreconceito, promovendo a integração e oportunizando oacesso à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer e acima detudo à atividade física.

Mas é fundamental que a comunidade escolar estejaconvencida do importante papel da educação física nesseprocesso, para que, ao desenvolver o projeto político-pedagógico da escola ela seja parte do compromisso quetoda a escola está assumindo.

O professor de educação física tem que acreditar nainclusão, acreditar que é peça fundamental no processo e ser

10

Page 13: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

o defensor dessa proposta na elaboração do projeto político-pedagógico. Por enquanto, isso parece caminhar a passosbem lentos em grande parte do nosso país.

A busca de dados nas escolas

Buscando dados para fundamentar o estudo, foramanalisados, como recorte, projeto político-pedagógico dequatro escolas públicas do município de Barra do Piraí/RJ.Duas estaduais e duas municipais. Também foram aplicadosquestionários, que por força da delimitação do estudo, foramrespondidos pela equipe de direção da instituição. As escolasforam escolhidas de forma aleatória.A visita às escolas foi feita no início do ano de 2006.

A escola 1 apresentou o PPP de 2004, porque, segundo aequipe da direção, o atual ainda está sendo elaborado. Porém,ao analisar o projeto, observou-se que as propostas eram doano de 2001, parecendo só ter mudado a capa.

Respondendo ao questionário, a diretora afirmou que “oprojeto político-pedagógico é avaliado a cada início de ano,sofrendo as modificações necessárias, valorizando o que deucerto, corrigindo e modificando o que não pode acontecer.”

O objetivo desse projeto é “Promover a inclusãosocial”(p.10).

No corpo do projeto não há alusão à inclusão de alunoscom necessidades educacionais especiais, o que foiconsiderado pela diretora como “um erro”: “a inclusão é feitade forma tão natural... é por isso que não foi mencionada”. Adiretora coloca ainda que, “através de projetos e turmas deaceleração, há a inclusão de alunos com déficits deaprendizagem, que ocorrem devido a deficiências físicas,mentais e sociais.” Mas o aluno portador de necessidadesespeciais só é aceito pela escola se tiver acompanhamentoda Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).

O currículo da escola apresentado no projeto político-pedagógico não inclui aulas de educação física.

A escola 2 apresentou projeto político-pedagógicoelaborado no final de 2004, que segundo a equipe de direção,tem validade para 2005 e 2006.

Segundo a equipe de direção, o projeto político-pedagógico é sempre elaborado em reuniões com osprofessores, funcionários, pais e alunos e a cada dois anospassa por um processo de reavaliação, onde se vê o quefuncionou, o que não funcionou, sendo modificado, quandonecessário, através de adendos.

Entre os objetivos do projeto, a escola deve “propiciaraos alunos portadores de necessidades especiais atendimentoadequado ao seu processo de aprendizagem, respeitando asdiferenças individuais, de modo a lhes assegurar o plenoexercício dos direitos básicos, facultando-lhes, assim, oacesso ao trabalho e à plena integração aos grupos sociais;Integrar, sempre que possível, os alunos portadores denecessidades especiais nas classes comuns do ensino regu-

lar e de jovens e adultos, garantindo o acompanhamentoadequado às suas especificidades.”

A diretora afirma que nesta escola, o aluno portador denecessidades especiais é matriculado como qualquer outroaluno, sem nenhuma restrição. Relatou o caso de um alunocom deficiência mental que estuda na escola, e somente aavaliação dele é diferenciada.

A diretora coloca, ainda, que também houve caso em queo aluno foi “aconselhado” pela psicóloga a estudar em umaescola pequena, pois estava muito agitado, com um grandenúmero de pessoas que circulavam pelo colégio.A escola não inclui a educação física em seu currículo.A escola 3 apresentou o projeto político-pedagógico de 2005,que foi elaborado, segundo a equipe de direção, pela própriadiretora.

O objetivo do projeto político-pedagógico é “formarcidadãos conscientes, dando-lhes oportunidades dedesenvolverem-se como pessoas livres e solidárias. Devemainda estar capacitadas a integrar-se com o meio em que vivemdotadas de conhecimentos, habilidades e atitudes queresultem na melhoria das condições de vida individual e so-cial” (pág.3).

A análise do documento mostrou que a escola nãotrabalha com educação especial e também não apresentanenhum objetivo que pretenda promover a inclusão na gradeescolar. A própria diretora afirma: “não trabalhamos comeducação especial e não temos a pretensão/ de trabalhar,porque não temos equipamentos apropriados e nemprofissionais especializados(...) (...)a maioria dessesprofissionais não demonstra interesse em se atualizar.”

Existe na escola o “Projeto Especial – Aluno Residente,”anexado ao projeto político-pedagógico, voltado para atenderuma clientela carente, buscando desenvolver auto-estima,respeito, convivência e solidariedade.

Esta escola não possui aula de educação física em seucurrículo.

A escola 4 apresentou o projeto político-pedagógicoelaborado em julho de 2005. Segundo a diretora adjunta, aelaboração do projeto político-pedagógico foi realizada portodos os integrantes da escola, tendo como objetivos:“Integrar os envolvidos nas ações de ensino-aprendizagemconsigo mesmo, com outros e com a realidade do meioambiente; Propiciar metodologias que tornem as atividadeseducativas mais significativas e prazerosas para todos”(pág.3).

A diretora afirma trabalhar com alunos especiais há oitoanos, em classes de surdos mudos, deficientes físicos ealguns que apresentam deficiências de aprendizagem, “sóque não consta no projeto político-pedagógico, porque aindanão foi atualizado.”

Afirma a diretora, ainda, que “os profissionais sãoatualizados com capacitações oferecidas pela secretaria deeducação ou com recurso próprio. A escola está à procura deparcerias(...) (...)atualmente existe sete professoras que fazem

11

Page 14: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

curso de libras, além da direção.”Nesta escola os alunos têm aulas de educação física. Re-

lata a diretora que a professora de educação física trabalhacom os portadores de necessidades especiais, principalmentesurdos mudos, só que ainda lhe falta uma capacitação emLíngua Brasileira de Sinais (LIBRAS), pois esta ainda necessitade ajuda para se comunicar com esses alunos.

Refletindo sobre os dados

Os dados demonstram grandes contradições,conhecimentos inconsistentes e equivocados sobre ainclusão, que podem ser grandes entraves a este processo.

Conforme foi dito, o projeto político-pedagógico é funda-mental para o processo de inclusão, principalmente por serespaço de reflexão, de trocas de experiências, de assunçãode compromissos e toda a comunidade escolar com aspropostas do projeto. E como se pode ver há muitascontradições nos projetos das escolas. Existe inclusiveprojeto elaborado pelas mãos solitárias (ou autoritárias?) deuma diretora. A periodicidade também deixa a desejar. Doisanos, por exemplo, pode ser muito tempo para se esperar parareavaliar determinadas propostas que não estão dando certo.

A educação das pessoas com necessidades educacionaisespeciais parece deficitária, equivocada e em alguns casosinexistente. Há ainda a falta de interesse em lidar com aquestão.

Quanto à educação física, então, o quadro é caótico.Somente uma escola admite a disciplina em seu currículo.Isso demonstra o grau de desvalorização e dedesconhecimento do quanto esta disciplina pode colaborarpara o alcance de todos os objetivos propostos nos projetose especialmente no processo de inclusão.

A educação inclusiva parece ainda não ser projeto daescola e a educação física ainda não conquistou o seu espaço,ainda não assumiu o seu lugar.

Considerações finais

É possível perceber o longo caminho que ainda precisamospercorrer no processo de inclusão. Há ainda preconceitos aquebrar, em todas as frentes de trabalho. Na escola regular,na escola especializada, no sistema educacional e nasociedade de uma maneira geral.

As escolas ainda não perceberam a importância do projetopolítico-pedagógico dentro do contexto sócio-político daescola. Falta um envolvimento maior, tanto da comunidadeinterna como da externa à escola. Uma falta de fé nacapacidade da comunidade escolar de participar de umplanejamento coletivo em todas à suas fases.

Também a educação física ainda não conseguiu seestabelecer como disciplina importante na escola. Ainda não

se compreende o seu verdadeiro papel no processo deeducação e especialmente da educação inclusiva.

É importante também compreender que a Inclusão é umprocesso que envolve pessoas. Por isso nunca podemosafirmar que existe um modelo de inclusão que vai ser o idealpara todas as pessoas em todos os lugares. É fundamentalentender que o que vai dar qualidade e promover cadaprocesso de inclusão é o esforço coletivo em refletir bastantee profundamente, propor e apoiar idéias inclusivas e tercoragem de colocá-las em prática, assumindo os riscos deerrar, mas tendo sempre a disposição de aprender com oserros, e a partir daí criar novas práticas.

Referências

Bieler, R. B. (s.d.). Inclusão e Cooperação Universal. Traduçãodo texto original em inglês para o português: Maria AméliaVampré Xavier(in mimeo).

Carvalho, R. E. (1997). Temas em Educação Especial – Rio deJaneiro, WVA Ed..

Cidade, R. E. A. & Freitas, P.S. de (2002). Introdução àEducação Física Adaptada e ao Desporto para PessoasPortadoras de Deficiências. Curitiba: Ed. UFPR.

Cruz, G.C. (2005). A Educação Escolarizada de Pessoas queApresentam Necessidades Educativas Especiais emnossa Paisagem Político-Social. Rede SACI.

Pedrinelli, V.J. (2002). Possibilidades na Diferença: o processode “inclusão” de todos nós. Revista Integração, 14edição especial.

Rocha, R. C. S. (2005). Encarando a Diferença: uma reflexãosobre a Educação Física Inclusiva. Revista AdaptaSobama, 1, 17-21.

Rodrigues, D. (2006). Inclusão e educação: Os olhares sobrea educação inclusiva. São Paulo: Summus.

Romão, J. E.; Gadotti, M. (2002). Autonomia da Escola:Princípios e propostas (5ª edição). São Paulo: Cortez:Instituto Paulo Freire.

Sobrinho, F. P. N. (2003). Inclusão Educacional: Pesquisa eInterfaces. Rio de Janeiro: Ed. Livre Expressão.

Uricoechea, A. S. (2005). Diversidade e Inclusão: A vivênciade um novo paradigma.

Nota sobre as autoras

Rivana dos Santos Dutra e Silvana de Souza Marques daSilva são formandas do curso de educação física do UNIFOA.Regina Celi da Silva Rocha é professora do curso de educaçãofísica do UNIFOA; Mestre em educação, Universidade doEstado do Rio de Janeiro, UERJ.

12

Page 15: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Limitação: Mito ou realidade Respondendo a um amigo se limitação existe apenas quando acreditamos nela

Anamaria Brandi Curtú

Tenho deficiência física e conversando com um amigo eleme perguntou se a limitação é algo que existe objetivamenteou se existe à medida que acreditamos nela. Acabeirespondendo por escrito. Trata-se apenas de um ponto devista pessoal, mas espero que nele haja algum proveito paraos leitores. Ei-lo.

Vamos, primeiramente, estabelecer uma diferença entrelimite e limitação. Falarei de limitação como uma condiçãointrínseca do sujeito. Já limite representará um objeto externoao sujeito. Porém limitação e limite se relacionam de tal maneiraque o limite exerce sua força sobre o sujeito na medida emque exista neste uma limitação.

Outro ponto interessante para reflexão pode ser aconfusão entre limite e limitação objetivos—e só por estaabordagem percebe-se que creio em ambos—e as construçõesculturais que se agregam a eles e que compõem sua porçãosubjetiva. Construções estas, vale lembrar, embebidas pelocaldo do senso comum e da multiplicidade histórico cultural.

As primeiras perguntas a fazer são: existe limitação apenasenquanto existe a idéia de sua existência? Se estamos falandode um conceito, e levando este conceito à plenitude, não crerna limitação não seria o mesmo que atribuir onipotência àhumanidade? Podemos tomar literalmente o axioma "querer époder"? Uma vez que a humanidade passe a ser onipotente,como justificaríamos suas mazelas? Possivelmente lançandomão do já estabelecido argumento de que o progressotecnológico atual está além do progresso moral. E este fatonão seria per si uma limitação? Concluímos, portanto, quelimitação e limite são realidades. A seguir continuaremos oraciocínio sobre em que medida limite e limitação existemsubjetivamente.

Seria tolice desprezar os casos de superação de limitespor procedimentos inusitados, normalmente colhidos nocotidiano, em experiências pessoais, ou mesmo noticiadosem jornais e programas de televisão. Suponho que a colunade sustentação para essa questão—se a limitação só existe àmedida em que acreditamos nela—esteja em partefundamentada neste tipo de conhecimento.

Vejo a capacidade de superação de limites como um traçode onipotência que o homem herdou do Criador, ou aindacomo resultado da construção da idéia que temos dEle. Tragoestas hipóteses sem medo de ser dogmática—já que estetexto não propõe rigor científico.

Evidentemente limites são superados na dependência de

como o sujeito trabalhe sua limitação. A partir deste pontousarei como base minha experiência pessoal com a limitaçãofísica.

Se você tem uma limitação física grave porém passageira,entregar-se a tal condição passivamente não acarreta muitosprejuízos, uma vez que em pouco tempo estará de voltadesempenhando como de costume suas atividades e seuspapéis sociais. Entenda-se por grave aquela que altere muitosua rotina e que lhe imponha significativas restrições.Contudo se a limitação, sendo grave ou não, for permanente—ou seja um problema crônico alterando substancial ourelativamente a rotina—assumir uma atitude passivasignificará enormes perdas sociais, afetivas e físicas. Assim,entregar-se passivamente aos limites impostos por uma pernaquebrada é muito diferente de fazer o mesmo em relação àuma paraplegia ou à perda permanente de um dos movimentosda mão.

Não bastasse afirmar que acredito na existência dalimitação como uma condição a priori, digo ainda que nãoacredito na possibilidade de superá-la. Antes, o que se superasão os limites—marcos externos ao sujeito e móveis porqueestão mais ou menos próximos a este na dependência dograu da limitação. Mas como superamos os limites? Pensoque redimensionando nossas limitações e criando assim umacondição a posteriori. Neste sentido considerar/avaliarlimitações é uma ação diagnóstica, a primeira de uma sériepara superar os limites conforme se deseja. O próximo passoé a criação de estratégias para redimensionar a limitação,verificando se existem meios possíveis—não necessariamenteconvencionais, e na maioria das vezes não o são—para sechegar ao objetivo. È evidente que a capacidade deredimensionar limitações é diretamente proporcional aosinstrumentos/habilidades que o sujeito possui para a criaçãode estratégias de superação dos limites, tais como asinteligências múltiplas, dentre elas a emocional1 .

No caso do deficiente, do idoso e de outros discriminados,os mitos circundantes, ou seja, as construções culturaisconforme mencionado no início do texto, contribuem para aidéia pejorativa que se tem da limitação e criam outros limitesque classificaremos aqui como preconceito. Seguindo estalinha de pensamento teremos o preconceito como o conjuntode limites subjetivos, construídos no ideário, tanto com relação

1 Golleman, D. (1995) Inteligência emocional. (M. Santarrita, Trad.)Rio de Janeiro: Objetiva.

13

Page 16: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

a auto imagem quanto a imagem que terceiros fazem dodiscriminado. Em contrapartida, e justamente pela dimensãoda limitação estar distorcida pelo preconceito, uma vez que alimitação é redimensionada e o limite superado a reação deterceiros poderá ser de espanto e de admiraçãodesproporcionais.

Quanto a esta admiração e a este espanto logicamentecontabilizaremos a empatia: possivelmente o outro não seimagina superando os mesmos limites numa situaçãosemelhante e isso o faz espantar-se.

Neste contexto o conceito atual de inclusão é associado auma série de medidas que um grupo ou uma pessoa tomapara incluir um indivíduo ou um grupo em determinado local/atividade/situação. Já a integração refere-se às ações doindivíduo ou grupo para se integrar em determinado local/atividade/situação. Se ambas as ações—inclusão eintegração—fossem proporcionais as pessoas comdeficiências não seriam alvo de tanta admiração pelasuperação dos limites. No entanto, o que tenho visto, e creioque o leitor também—é que o empenho maior cabe aodeficiente que, em atitude de integração, mobiliza uma sériede esforços para superar os limites, muitos deles existentespor causa de uma inclusão ineficaz ou inexistente. Por issovejo como merecedoras de igual respeito tanto a opção poruma vida restrita ao ambiente doméstico quanto a de se exporaos enfrentamentos necessários à integração social fora decasa. Desde que a escolha seja autônoma e consciente oisolamento pode ser uma forma de preservação da dignidade,pois não deixa de ser uma resposta—de aceitação, mas aindaassim uma resposta—ao universo que exclui. Submeter-se aesta exclusão, parece-me particularmente uma decisão muitocustosa e acarretadora de perdas significativas. Mas estarãotodos os deficientes dispostos e preparados para lutar con-tra a exclusão? Não defendo a passividade e o nãoenfrentamento, mas seres humanos em geral, com deficiênciasou não, deixam em muitos momentos, de lutar por seus direitos.Esta decisão envolve tantos aspectos pessoais que seria maisadequado discuti-la num outro momento. O que pretendo énão desconsiderar o isolamento como intenção de proteçãooriginada em sentimentos de fragilidade e despreparo.Pretendo ainda evitar a postura extremista de cobrar da pessoacom deficiência uma militância permanente e incondicional,como se ela jamais pudesse sentir medo e recuar ante quem aexclui e despreza.

Se a superação de limites pelo redimensionamento delimitações não é privilégio dos discriminados, antes se fazpresente na vida diária do ser humano. Contudo, é noscontextos de privação que se torna mais evidente, maisapreciada, e sobretudo mais necessária. Que fazem asexpressões artísticas e a ciência se não, cada uma a seu modo,buscar e conseguir o que se presume impossível? Penso emChico Buarque burlando a censura com letras de alto teorpolítico disfarçadas de romance como em Apesar de você.Sua estratégia poética redimensionou a limitação da música

que pôde ultrapassar o limite da censura.Falando assim parece até que ser deficiente na nossa

sociedade é muito fácil, bastando criatividade e uma pitadade coragem. Claro que não. Os limites—que inicialmentedefinimos como objetos externos ao sujeito—nos afrontamdiuturnamente. O conceito vigente de contemplar asnecessidades das maiorias impede que se construam prédiossem escadas e elevadores, mas não garantem o acesso àsminorias, que não podem ser servidas por escadas ou porelevadores inadequados, pelo que podemos dizer que aquestão da acessibilidade universal está ainda no plano daideologia. Assim, é inconcebível construir um prédio semescadas e elevadores, imaginando que os moradores oescalem por fora, e que se observados por terceiros, levem apecha de incapazes de voar ou o mérito de heróis porchegarem nos apartamentos mediante enorme esforço. Asnecessidades de acesso da maioria são respeitadas e a imagemacima parece pictórico surrealismo.

Quanto às minorias (àquelas com fogueiras garantidas noAuschwitz de outrora ou com a pensão do INSS para oAuschwitz de agora)2 se quiserem a vida na sua plenitudeprecisarão de muita imaginação, persistência e sangue friopara as escaladas de cada dia, porque a cada degrau, a cadamobiliário inadequado, sua limitação será evidenciada, e olimite será um marco entre capacidade e incapacidade, entreigualdade e desvantagem.

Como se vê, acredito na limitação e no limite. Sei que àprincípio a questão refere-se especificamente a limitação dapessoa com deficiência física, mas sugiro que estendamos oconceito de limitação como uma condição bem mais ampla.Afinal dependermos de um corpo perecível e estarmossubmetidos a uma existência espaço-temporal já não é, emtermos de limitação, bastante considerável?

Dessa forma, cabalmente respondo a questão motivadoradessa reflexão: Não! A limitação existe de forma objetiva. E ogrande problema é quando a subestimamos.

Nota sobre a autora

Anamaria Brandi Curtú, Faculdades integradas FafibeAnamaria Brandi Curtú, Travessa Moreira Cezar, 31Monte Azul Paulista - SP. CEP 14.730-000.E-mail: [email protected] residencial: (17) 3361- 4189, móvel (17) 9115 -3745

2 "O programa de eutanásia para purificar a raça alemã foi umacriação dos médicos. A primeira câmara de gás foi desenhada porprofessores de psiquiatria das doze maiores universidades alemãs.Selecionavam os pacientes e ficavam observando como é quemorriam.(...) Por volta de 1945, haviam eliminado até mesmoveteranos da Primeira Guerra Mundial, por causa dos membrosamputados na guerra.(...)" Paulo Lúcio Nogueira, apud Távora Niess,L.T. e Távora Niess, P.H. (2003) Pessoas portadoras de deficiênciano direito brasileiro (pp. 7-8). São Paulo: editora Juarez de Oliveira.

14

Page 17: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II ..... 15

Programa de Extensão: “Aprendendo com o Corpo d’Eficiente”Marli Nabeiro e Ana Flora Zaniratto Zonta

A Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho(UNESP) é uma instituição pública que agrega até a presentedata (2006), 33 faculdades distribuídas em 23 cidades doEstado de São Paulo, somando um total de 23 campi. O cam-pus da cidade de Bauru, cidade localizada no Centro OestePaulista, reúne três unidades, Faculdade de Engenharia (FE),Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação (FAAC) eFaculdade de Ciências (FC).

A universidade edifica-se em três pilares: o ensino, apesquisa e a extensão, que prestam serviços à sociedade.A Faculdade de Ciências (FC) tem, aproximadamente, 1804alunos distribuídos em onze cursos das áreas: exata, humanae biológica, a qual encontra-se a licenciatura em educaçãofísica, cursos integral e noturno.

“Aprendendo com o Corpo d’Eficiente,” é um projetodesenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa em EducaçãoFísica (LAPEF), sob responsabilidade das professorasdoutoras Marli Nabeiro e Ana Flora Zaniratto Zonta, ambasdo quadro de docentes do Departamento de Educação Física,FC, UNESP de Bauru, o qual oferece o curso de licenciaturaem educação física nos períodos integral e noturno e congregaaproximadamente 280 alunos, 15 professores e 4 funcionários.Além de compor os projetos de extensão do departamento, écadastrado desde 2004 na Pró-Reitoria de ExtensãoUniversitária da Unesp (PROEX), órgão que analisa todos osprojetos de extensão da universidade, quanto ao mérito,recursos humanos e materiais.

A idéia, somada à vontade de concretizar o projeto“Aprendendo com o Corpo d’Eficiente” passou por umagestação longa. Cabe aqui um recorte: desde o ano de 1976trabalhamos com pessoas portadoras de necessidadesespeciais, tendo como foco a dança, a recreação e o esporte.Para instalarmos o projeto, deparamos com várias dificuldadesadvindas do cotidiano acadêmico e, a cada obstáculo

lembrávamos dos versos de Drumont “sempre haverá umapedra no caminho” e para não nos abatermos e tampoucodesistirmos, apoiamo-nos no mito de “Sísifo,” e, levamos apedra ao seu cume, isto é, a concretização do programa“Aprendendo com o Corpo d’Eficiente.”

Vale traçar um percurso histórico para apontar asdificuldades e êxitos.

Antes do ano de 2004, o nosso trabalho era desenvolvidonas instituições que atendem pessoas com deficiênciasvariadas, mas, a estrutura física era desfavorável. Acreditamosque a prática de uma atividade física e expressiva, executadaem lugar apropriado e a possibilidade de acesso e convíviono ambiente universitário, aos usuários do projeto em pauta,geram resultados favoráveis significativos como: asocialização se intensifica; as relações interpessoais sefortalecem; as possibilidades em busca de conhecimento seampliam; a auto-estima se eleva; é possível despertar talentos,ainda, adormecidos; o repertório de movimento é acrescido;o exercício de cidadania é praticado; a visibilidade aumentaestimulando a comunidade universitária.

Acreditando nisso, e com as novas instalações para ocurso de educação física, localizado na praça de esportes daUNESP de Bauru, trouxemos o projeto para ser desenvolvidonessa localidade.Para isso, contamos com a colaboração da Rádio Unesp edemais meios de comunicação para a divulgação, e os própriosusuários, no seu cotidiano, se incumbiram e se incumbem emdifundir a proposta.

O acesso à universidade é feito por transporte coletivo daprefeitura municipal, esta, disponibiliza quatro veículos

Page 18: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....16

adaptados, e os usuários têm o compromisso de agendar,semanalmente, o horário e destino de sua utilização, caso ousuário já tenha agendado para um outro compromisso, ele,fica proibido de utilizá-lo novamente. O órgão responsáveljustifica que, há quatro veículos para atender mais de 500pessoas com deficiências, no período diurno. Este fato geraalguns prejuízos para o desenvolvimento do projeto,considerando que a assiduidade é um fator importante para ocumprimento e alcance de metas, as quais, estão vislumbradasnos objetivos específicos da proposta.As atividades são oferecidas focadas nas preferências e nasnecessidades dos usuários, considerando interessesdistintos, faixa etária diversificada, gênero e deficiênciasvariadas, tais como:

· Deficiências físicas: espinha bífida: mielomeningo-cele; paralisia cerebral; distrofia muscular progressivade Duchenne; lesão medular;· Deficiência sensorial: auditiva e visual; e· Deficiência mental.“Aprendendo com o Corpo d’Eficiente” pretende, pormeio da ação motora e movimentos expressivos,contidos na dança, no esporte e na recreação:· Promover momentos de alegria;· Ampliar o vocabulário corporal, respeitando orepertório individual e cultural;· Oportunizar o relacionamento interpessoal;· Gerar condições para novas descobertaspotencializando a auto-estima e a autoconfiança;· Disponibilizar o ambiente universitário para a trocade experiências, e, talvez, incentivar profissões;· Desmistificar o difícil acesso à universidade; eContribuir na formação global de um cidadão crítico e

sensível.O programa se desenvolve duas vezes por semana da

seguinte maneira:Os usuários são atendidos duas horas semanais com

atividades previamente analisadas e planejadas pelo grupode trabalho: coordenadoras e discentes monitores (bolsistase voluntários), pautadas nos objetivos.

O grupo de trabalho se encontra, além dos horários daaplicação das tarefas práticas, em reuniões de estudo paradesenvolver as seguintes atribuições:

1- Leituras técnicas, de conhecimento geral sobre asabordagens referentes ao assunto; organização e elaboraçãode planos de ensino para as atividades específicas;

2- Avaliação das atividades do encontro anterior;3- Distribuição das tarefas e Indicação dos monitores

para a atuação no próximo encontro com os usuários;4- Informes gerais; e5- Produção de artigos, resumos, vídeos e coreografias

com o intuito de apresentá-los em encontros, congressos,ambientes artísticos e escolares, bem como submetê-los àrevistas e periódicos, pertinentes ao assunto.

Destacamos a apresentação de “Aprendendo com o Corpod’Eficiente ,” no “3° Congresso de Extensão Universitária”intitulado: “Extensão universitária: Um fator de inclusão so-cial?”, promovido pela PROEX, em novembro de 2005, queresultou no 1° lugar da classificação geral da área biológicada UNESP, culminando em uma premiação no valor de R$1.000,00, revertidos na confecção de materiais didáticopedagógico, criados para as necessidades do projeto.

Vale informar que, a cada período há um rodízio dosdiscentes monitores, com o objetivo de todos vivenciarem asdiferentes modalidades e oportunizar uma integração einteração entre usuários e monitores, o que também contribuina formação acadêmica desses futuros profissionais. Hátambém uma regra para a atuação dos discentes monitores:apenas poderão aplicar as atividades os que já concluíram asdisciplinas: Educação Física Adaptada, Atividades Rítmicas,Dança, Atividades Lúdicas e Educação Corporal I.

Assim, o programa foi se estabelecendo com dificuldadese imensa disposição, o que nos impulsiona dar continuidadee realizar um abraço coletivo, para que possamos a cada passoe Aprendendo com o Corpo d’Eficiente romper as barreirasque velam, ainda neste 3º milênio, a visibilidade e o direitopleno de cidadania, de um cidadão dono de um Corpod’Eficiente.

Page 19: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II ..... 17

Nota sobre as autoras

Laboratório de Pesquisa em Educação Física - LAPEFDepartamento de Educação Física, Faculdade de Ciências -UNESP, Bauru.

Coordenadoras:Professoras Doutoras: Marli Nabeiro e Ana Flora ZanirattoZonta.

Discentes Monitores:André L. FerreiraAndréia C. LopesFrancina M. NascimentoFelipe D. LucchesiJuliana C. AngeloLuis Pires Júnior;Maria Luiza S. FioriniPatrícia D. Orlando;Patrícia M. S. NogueiraPriscila J. Garavello;Shirley R. PerissinotoRachel BichuskyRicardo VitórioValéria D. Garcia;Vanessa M. PrazeresUbiratan F. Godoy

Page 20: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Proefa: Uma tradição de 18 anosEstrutura de um projeto de extensão universitária em educação física adaptada

Eliane Mauerberg-deCastro

O que tem de comum entre crianças e adolescentes comsíndrome de Down, deficiência mental, paralisia cerebral,cegos, e a criançada da 5ª-8ª série, cachorros, piscina, jogos,e futuros professores de educação física?

Em 1989, Eliane Mauerberg-deCastro iniciou o Programade Educação Física Adaptada (Proefa) para que alunos deescolas e instituições locais pudessem oferecer umaoportunidade de aprendizado aos alunos do curso deeducação física da UNESP. Esta oportunidade tem se repetidopor 18 anos, durante os quais, mais de uma centena de alunoscolocaram em prática as teorias e técnicas relacionadas à

atividade física adaptada que eles aprenderam durante ocurso de graduação.

O Proefa tornou-se um laboratório de aprendizagem,pesquisa, de educação para a vida. Especialmente organizadopara alunos da graduação em educação física e áreas afins(pedagogia, fisioterapia, etc.) e, mais recentemente alunos depós-graduação, o Proefa materializou métodos específicospara a inclusão de indivíduos com deficiência na atividadefísica regular com alunos não-deficientes de 5a. a 8a. sériedesenvolvendo monitoria junto com os professores(estagiários universitários) do programa. Hoje, o Proefa é umadas poucas oportunidades onde alunos com necessidadeseducacionais especiais são educadores.

A inclusão como o “carro chefe”

Todos estão falando de inclusão das pessoas comdeficiências em ambientes educacionais regulares. Mas istonão é novidade. Isto é lei desde 1996. Futuros professoresprecisam saber como educar estudantes—todo tipo deestudante—e não se desculpar dizendo que não sabem como,ou que não podem incomodar o resto da classe, e assim pordiante. Isto é lei. Temos que nos acostumar e preparar nossosfuturos profissionais e educadores. Para isso o Proefainclusão foi criado. Nele os tutores do Proefa auxiliam naadministração de aulas pelos estagiários e, durante as aulasaprendem a interagir com diferentes tipos de deficiências,reconhecem as necessidades de acordo com a idade do par,desenvolvem uma postura crítica esperada para a idade, têminiciativa no estabelecimento de amizades e demonstrarcuidados com os pares deficientes.

O que se propõe no Proefa?

Os objetivos gerais do Proefa incluem desenvolver e adaptaratividades, em grupo ou individualizada, que promovam ascapacidades motoras básicas proporcionando aosparticipantes com deficiências, melhora do controle postural,habilidades motoras, e capacidades físicas através deexercícios e de atividades motoras específicas (ex. postura,mobilidade, controle de objetos e manipulação, orientaçãoespacial, ritmo, etc.). Esses exercícios e atividades sãoorganizados em forma de circuito e estações de atividades,

18

Page 21: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

jogos recreativos e cooperativos, atividades aquáticas, dança,atividades esportivas. É preocupação principal do Proefapromover, através do modelo de inclusão com tutores de 5ª a8ª séries provenientes de escolas regulares, a socialização, aauto-estima, a auto-competência. O Proefa serve também comolaboratório de pesquisa e aprendizagem para alunos dagraduação em educação física, laboratório para desenvolvertécnicas e possivelmente métodos específicos para a inclusãode indivíduos com deficiência na atividade física regular comalunos não-deficientes desenvolvendo monitoria junto comos professores (estagiários universitários) do programa.

Para o estagiário/voluntário, os objetivos específicos doProefa incluem propiciar um contexto pedagógico/terapêuticoem cada área de atividades abaiuxo relacionadas. Para o alunocom deficiência, estes objetivos incluem:

1. Padrões e habilidade motoras: aperfeiçoar habilidadesmotoras fundamentais e melhorar os níveis de coordenaçãodurante atividades físicas adaptadas,

2. Integração sensório-motora: desenvolver a integraçãosensório-motora durante as tentativas de iniciação demovimento e movimento exploratório, e reduzir movimentosestereotipados e/ou reflexos patológicos, melhorar problemasposturais tanto devido a desordens ortopédicas como devidoa disfunções como tônus aumentado, tônus baixo ouproblemas de equilíbrio,

3. Aprendizagem perceptivo-motora: dar experiências paraincrementar as habilidades perceptivo-motoras como,coordenação olho-mão, rítmo, habilidades de tempo dereação, orientação espacial, sequenciamento de movimentos,memória e atenção às instruções,

4. Auto-conceito positivo e competência social:desenvolver imagem corporal e auto-conceito positivosatravés de oportunidades da prática com sucesso edesenvolver tolerância às frustrações (adaptação aoambiente),

5. Aptidão física e estilo de vida saudável, postura eaparência: melhorar as capacidades físicas como resistênciacardio-respiratória, muscular, força muscular, flexibilidade,

status nutricional.6. Competência em jogos, atividades de lazer e

relaxamento, habilidades esportivas e de competição:introduzir e aperfeiçoar as habilidades motoras diretamenteligadas a modalidades esportivas como: futebol, handebol,basquete, voleibol e atletismo. Muitas destas atividades sãoadaptadas.

Na EFA individualizada os objetivos são parecidos:1. Integração sensório-motora: desenvolver a integração

sensório-motora durante as tentativas de iniciação demovimento e movimento exploratório, e reduzir movimentosestereotipados e/ou reflexos patológicos, Melhorar problemasposturais tanto devido a desordens ortopédicas como devidoa disfunções como tônus aumentado, tônus baixo ouproblemas de equilíbrio,

2. Aprendizagem perceptivo-motora: Dar experiências paraincrementar as habilidades perceptivo-motoras como,coordenação olho-mão, ritmo, habilidades de tempo dereação, orientação espacial, sequenciamento de movimentos,memória e atenção às instruções,

3. Auto-conceito positivo e competência social:desenvolver imagem corporal e auto-conceito positivos

19

Page 22: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

através de oportunidades da prática com sucesso edesenvolver tolerância às frustrações (adaptação aoambiente); Aprender comportamentos sociais que promovamaceitação, inclusão, compreensão de regras e auto-disciplina.Reduzir o isolamento e problemas comportamentais comoagressividade e passividade. Criar um ambiente para acomunicação verbal e a expressão social.

Um outro objetivo também ligado as metas da inclusão égerenciar o programa da pet terapia ou atividade assistidapor animal: É um tipo de serviço coordenado por umprofissional da saúde ou de serviço social. O animal serve deco-terapeuta. Um aluno é designado a um animal e metasespecíficas são traçadas na reabilitação. Os objetivos incluemmelhora no funcionamento físico, cognitivo, social eemocional.

Os números

A cada ano estimamos que em torno de 80 pessoas sãobeneficiadas pela participação no Proefa. Anualmente, 30alunos de educação física, de 5 a 7 alunos de pós-graduaçãoe profissionais de outras áreas (fisioterapia e pedagogia) sãoenvolvidos na coordenação e execução do projeto. Outros30 alunos não-deficientes de 5ª. a 8ª. séries provenientes deescolas regulares de Rio Claro são convidados a atuar comotutores. Aproximadamente 20 participantes com deficiênciamental, sensorial e múltipla são beneficiados pelo Proefa; eem torno de 10 cães são voluntários em sessões específicasde pet terapia.

Em seu formato administrativo, o Proefa atende estágiosobrigatórios e voluntários vinculados à disciplina de educaçãofísica adaptada. O Proefa apóia o Festival de Atividade FísicaAdaptada (FAFA) organizado pelos alunos do 3o. ano deeducação física sob a coordenação geral de Eliane Mauerberg-deCastro.

Articulação do Proefa com propostas de ensino

Os estagiários do Proefa têm a oportunidade de aplicarseus conhecimentos na área de atividade física adaptada,sugerir estratégias na programação semestral, preparar eaplicar planos de aula e de avaliação, e discutir casosindividualmente nas reuniões semanais e mensais.

A maioria das atividades do Proefa inclui também um focomais sistemático de competência social e estruturaçãocognitiva. Por demandas sociais nós entendemos: interaçõespositivas com os pares, liderança no grupo, otimizar o papelde ajudante. Por demandas cognitivas nós entendemos:noções de espaço (delimitações de espaço de aula, entrada,áreas proibidas, área de ação disciplinar, formações feitas emgrupo—círculos, colunas, fileiras, etc.), noções de tempo eduração (noções de quanto tempo os alunos ainda irão jogar,o que foi feito na aula anterior, e o que será feito na próximaaula), atenção e memória (treinamento com memória de curto-prazo—o aluno leva vários segundos para atentar o que oprofessor está falando; aproveitamento da memória de longo-prazo para retomar experiências familiares ao longo da aulaou de aulas anteriores), uso de habilidades abertas (tarefascíclicas ou rítmicas, de execução relativamente rápida) paraalunos com dificuldades atencionais, uso de habilidadesfechadas (movimentos discretos, complexos e com demandade feedback) para alunos com maior competência analítica,incorporação de conceitos de contrastes, ordem e sucessão(ênfase verbal de conceitos como: direita/esquerda, acima/abaixo, encima/embaixo, ontem/hoje/amanhã, um dois três,etc., metade/todo/partes/separação/união/primeiro/segundo/último, etc.).

O que acontece em um ano?

Março 2007: Reunião inicial; administração de atividadesdesenvolvimentistas sensório-motoras, recreação (prazer ediversão) e atividades de relaxamento: Abril 2007: Reuniãomensal; administração de atividades perceptivo-motoras,

20

Page 23: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

condicionamento físico, dança. Maio 2007: Reunião mensal;administração de condicionamento físico, esportes radicaisadaptados, dança e atividades de expressão, peterapia. Junho2007: Reunião mensal; administração de condicionamentofísico, atividades folclóricas de junho, atividade física adaptadapara os pais e visitantes durante o Festival de Atividade FísicaAdaptada (FAFA). Agosto 2007: Reunião inicial; início doprograma; administração de atividades desenvolvimentistassensório-motoras, recreação (prazer e diversão) e atividadesde relaxamento: Setembro 2007: Reunião mensal; administraçãode atividades perceptivo-motoras, condicionamento físico,dança. Outubro 2007: Reunião mensal; administração decondicionamento físico, esportes radicais adaptados, dançae atividades de expressão, peterapia. Novembro 2007: Reuniãomensal; administração de condicionamento físico, atividadesaquáticas, atividade física adaptada para os pais,encerramento. Dezembro 2007: festa de encerramento.

A programação e o ensino

Estilos ou métodos de ensino

Todos os estilos abaixo são recomendados no Proefa• Guia e descoberta• Comando• Criatividade motora• Grupos de aprendizagem cooperativa• Nível de competência dos indivíduos ou educaçãofísica adaptada individualizada

Método de descoberta (tentativa-e-erro): é adotado paraque a criança com diferentes níveis de desenvolvimento possaexplorar individualmente meios apropriados de aprender umahabilidade. Ao fazer isso, a criança pode acomodar seu nívelatual de funcionalidade e depois evoluir no domínio de umahabilidade. Este tipo de estilo inclui repetição (ou prática),tentativa e erro, situações de desafio, de modo a levar o

sucesso aos alunos. Ao longo do programa a instruçãoindividualizada é dada com o objetivo de atender asnecessidades e habilidades individuais de cada criança.

O método de comando: todos os alunos recebem ummodelo uniforme e eles devem alcançá-lo ou pelo menosdemonstrar uma competência mínima; O padrão de movimentoeficiente ou correto é modelado e explicado e os alunos devemaproximar-se deste padrão através da prática em tarefas comatividades específicas; O feedback é corretivo e auxilia osalunos a se aproximarem dos padrões mínimos da idadeapropriada (nenhum feedback pode atrasar mais do que 2segundos); Todos participam da mesma atividade.

Criatividade motora: neste método o aluno descobre opróprio espaço; escolhe o próprio tempo de início e fim; move-se no próprio ritmo; descobre movimentos em respostas àspróprias questões através do processo criativo; o professormove-se pela sala; oferece palavras e frases de aceitação;

observa e mostra interesse; reforça iniciativas.Grupos de aprendizagem cooperativa: os alunos são

encorajados a assumir o papel de instrutor, demonstrandouma habilidade ou corrigindo o outro. Estes alunos podemainda funcionar como auxiliares nas manobras físicas, e comoelementos motivadores. Pode ser feito aos pares ou grupos.

Nível de competência dos indivíduos ou educação físicaadaptada individualizada: esta instrução ou método édesignada para os casos de deficiências múltiplas e complexasdo ponto de vista de função e comportamento. Identifiquecomportamentos específicos que precisam ser mudados ecuidadosamente defina todos os componentes destescomportamentos. Observe, anote, e analise todos oscomportamentos a serem mudados. Selecione e apliqueestratégias específicas para alcançar as mudanças noscomportamentos. Considere o seguinte quando selecionandoestratégias:

• Sinais que chamam atenção, que iniciam e paramuma atividade.

21

Page 24: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

• Rotinas para fazer a transição de uma atividadepara a outra.• Estratégias para superar comportamentosdisruptivos.• Estratégias para resolver ansiedade, medo, eisolamento: Nunca force os participantes naatividade que eles têm medo. Use técnicas deespelho, dança ou terapia do movimento.• Estratégias para o autismo: Toque firme invés deleve; regras têm que ser colocadas em figuras e porescrito; remoção é ineficaz.

As atividades

1) Atividades de desenvolvimento (habilidades motorasfundamentais): Todas estas habilidades devem ser praticadasem ambiente e requerimentos de tarefas diferentes tais como:superfície de apoio e o meio (macio, duro, elástico, inclinado,irregular, em diferentes alturas, meio aquático, meio musical,e meio social); distribuição e layout dos objetos (aberturas efechamentos de passagens, obstáculos em diferentesorientações, distâncias e alturas) relativos à criança e aosobjetos; velocidade, direção e intensidade de execução(rápido/ lento, acima/embaixo, para cima/para baixo, em frente/atrás, etc.);

Postura (estática e dinâmica): ficar em pé sozinho, deitado,levantar de diferentes posições. Locomoção: engatinhar,andar, correr, salto vertical, horizontal, saltar de cima parabaixo, galopar, saltitar.Controle de objetos: pegar, arremessar por cima da cabeça,chutar, rebater, driblar, volear, rolar uma bola.

2) Atividades perceptivo-motoras: estas atividadesenvolvem competências cognitivas estabelecidas das relaçõeslógicas com os objetos e situações. Igualmente inclui asrelações ou demandas sociais. Ou seja, a maioria doselementos acima estão aqui incluídos mas num foco maissistemático de competência social e estruturação cognitiva.Demandas sociais nós entendemos como: interagindo comum par; atribuindo um líder no grupo, fazendo rodízio entrelíderes baseado em talentos individuais e domínio dehabilidades (todas as crianças devem ser incluídas em talexperiência); estabelecendo o papel de ajudante (designeseus alunos a ajudar um ao outro em uma tarefa), fantasiandopersonalidades (guarda, caçador, mãe ou pai, irmão ou irmãpequena, amigo-urso), estimulando o melhor amigo (peça aosalunos para dividirem ou trocarem brinquedos/materiais comoutros—crie o ritual da entrega), atuando como professor(designe professores ajudantes entre os alunos—dê estaoportunidades para todos). Por demandas cognitivas nósentendemos: noções de espaço (delimitações de espaço deaula, entrada, áreas proibidas, área de ação disciplinar,formações feitas em grupo—círculos, colunas, fileiras, etc.),

noções de tempo e duração (informe por quanto tempo aindaeles irão jogar, comente o que foi feito na aula anterior, e oque será feito na próxima aula), atenção e memória (use otreinamento com memória de curto-prazo, mas com foco naatenção—o aluno leva vários segundos para atentar o que oprofessor está falando—; use a memória de longo-prazo pararetomar experiências familiares ao longo da aula ou de aulasanteriores), use habilidades abertas (tarefas cíclicas ourítmicas, de execução relativamente rápida) para alunos comdificuldades atencionais; use habilidades fechadas(movimentos discretos, complexos e com demanda de feed-back) para alunos com maior competência analítica; useconceitos de contrastes, ordem e sucessão (enfatizeverbalmente conceitos como: direita/esquerda, acima/abaixo,encima/embaixo, ontem/hoje/amanhã, um dois três, etc.,metade/todo/partes/separação/união/, primeiro/segundo/último, etc.)

3) Recreação (prazer e diversão) e atividades derelaxamento: Todas as atividades devem conter um certo nívelde liberdade, prazer e flexibilidade para a criatividade. As vezesprazer e alegria são perdidos naquelas atividades de EFA queenfatizam participação restrita (aquela baseada na percepçãodo adulto) e performance. O sucesso dos professores empropiciar que todos os alunos participem depende do humorde ambas as partes. É importante que o professor tenha avontade de participar também das atividades, engajando-seem demonstração ativa, e realmente se divertir. Este tipo departicipação não acontece o tempo todo, mas deve ocorrerespecialmente quando os alunos não estão à vontade comeles mesmos ou com a dinâmica da classe. Atividades derelaxamento devem ser incluídas em cada aula (de preferênciano final) e podem ser: massagem, deitados e escutandomúsica, contando estórias, etc. Estas atividades de massagempoderão ser realizadas tanto no participante como no próprioestagiário—sua função pode associar-se com o conhecimentode limites corporais, morais e de reconhecimento de partesdo corpo e seus estados tônicos. O Proefa inclui tambématividades de massagem com pontos de pressão, Reiki e

22

Page 25: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

meditação. Ocasionalmente insere o contato e promover aadaptação ao uso de animais como veículos de redução destress e ferramenta motivacional (Pet terapia).

4) Dança e atividades de expressão: Estes tipos deatividades estão representados por: expressão através daexploração do espaço, partes do corpo, corpo dos outros,materiais; jogo dramático com os pares ou sozinhos, commarionetes; atividades rítmicas; canto ou vocalização de sonsou canções. Imposições cognitivas e afetivas são ausentesaqui; os alunos devem ser encorajados a expressar livrementee os professores só direcionam esta expressão de formasegura. Incluem-se aqui atividades folclóricas de junho.Realização de uma mini-festa junina.

5) Condicionamento físico: A ênfase do condicionamentofísico é nas capacidades cardiorrespiratória, força e resistênciamuscular, flexibilidade e status da nutrição. O maior desafio,seguindo a recomendação de máxima participação é sobre oslimites motivacionais, de um lado, e fisiológicos, de outro.Caberá aos estagiários determinar individualmente estesníveis e promover mudanças nas capacidades acima. Aprescrição de atividades seja dança aeróbia, step, ginásticanatural, musculação adaptada/localizada, hidroginástica,exercícios respiratórios deve respeitar a freqüência: que é onúmero de vezes que o programa de exercícios é realizado emum determinado período (aula semanal); duração: correspondeà extensão de tempo de realização de cada exercício;intensidade: refere-se à medida de esforço executado noexercício. Medidas de segurança com base nas capacidadesindividuais devem ser seguidas continuamente eindividualmente, com acompanhamento e diferenciação daexaustão x desmotivação. Para controlar estas variáveis, sãomedidas a pressão arterial em repouso, durante a atividademais intensa e no retorno. A atividade aeróbia é muitoimportante para o grupo pois a maioria encontra-se sedentárioe obeso. Além disso, o treinamento com exercícios resistidos(força) é extremamente importante, pois produz efetivamenteo aumento da massa muscular e, conseqüentemente, dometabolismo em repouso. Devido ao estresse excessivo nasarticulações dos indivíduos obesos, as atividades realizadascom sustentação de peso devem ser de baixo impacto parareduzir a possibilidade de lesão.

6) Atividades aquáticas: As atividades aquáticas podemproporcionar, em diversos contextos, oportunidades de estarincluindo pessoas com deficiência nos mesmos programasde pessoas sem deficiência. As atividades aquáticas quasesempre são realizadas em pequenos grupos o que auxilia muitona socialização com outros. Para muitos alunos as atividadesaquáticas oferecem alívio da dor e espasmos musculares;manutenção ou aumento da amplitude de movimento dasarticulações; fortalecimento dos músculos enfraquecidos;aumento na sua tolerância aos exercícios; reeducação dosmúsculos paralisados; melhoria da circulação; encorajamentopara atividades funcionais; manutenção e melhoria doequilíbrio e postura. Aspectos de segurança incluem saber

sobre convulsões/epilepsia, uso de fraldas. Para outrosalunos, aprendizagens específicas relacionadas ao nado serãointroduzidas. As atividades aquáticas ajudam a promoverpadrões e possibilidades de movimentos e capacidade deorientação/navegação que serão associados a estilos denados diferentes. Os princípios e as propriedades da águarefletem-se na adaptação ao meio liquido, na flutuação, nacoordenação da respiração, na propulsão e coordenação debraços e pernas. As atividades como meio para atingir estasmelhorias são: o nado crawl, costas, nado sincronizado, epólo aquático. Quando alunos atingirem um aprendizadoadequado, as atividades aquáticas poderão ser utilizadas emum contexto esportivo com o objetivo de melhora das funçõesmotoras e aptidão física como: velocidade, agilidade epropriocepção; treinamento da resistência cardiovascular(proporcionando ao coração, pulmão, e sistema circulatórioexcelente capacidade de esforço), força muscular, potencia eflexibilidade.

7) Esportes e jogos adaptados: são atividades queincorporam as habilidades dentro do esporte em questão,desafios, orientação espacial, exploração, trabalho em equipe,e devem ser otimizadas segundo a característica do grupo.Em esportes, adaptação significa modificação, ajuste ouacomodação de contextos físicos (equipamentos, locais, ma-terial) e de procedimentos (regras, organização) de umamodalidade ou evento esportivo. O esporte para deficientes

23

Page 26: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

é muitas vezes adaptado às limitações e potencialidades doindivíduo para possibilitar a experiência de novos movimentose novas vivências, promovendo a integração total doindivíduo com a sociedade, e também dar oportunidade paramostrarem seus valores e que são indivíduos úteis eprodutivos. As modalidades selecionadas nesta unidadeincluem handball (normal e sentado), goalball, basquete, vôlei(normal e sentado), atletismo (campo: arremesso de pelota,saltos em distância e altura; pista: corrida de 50 m,revezamento). A equação sucesso versus desafio tem queser monitorada pelo instrutor de acordo com a habilidade emfoco na modalidade em questão. Ou seja, se uma habilidade éde difícil aprendizado, o instrutor deve ajustar a demanda natécnica/movimento ou na regra. Nos coletivos se houver aparticipação de poucos alunos, o instrutor deverá quebrar ogrupo em sub-grupos, unir aluno com tutor (dupla), dividir aquadra em área menores para o coletivo.

8) Peterapia ou atividade assistida por animal: É um tipode serviço coordenado por um profissional da saúde ou deserviço social. O animal serve de co-terapêuta. Um aluno édesigandao a um animal e metas específicas são traçadas nareabilitação. Os objetivos incluem melhora no funcionamentofísico, cognitivo, social e emocional. AAT pode ser em grupoou individual. Incorporando AAA em uma aula de educaçãofísica adaptada:

Contato inicial - É feito num dia separado em forma devisita. A única atividade é a apresentação dos alunos aoscães. Estes permanecem o resto da aula assistindo a atividade. Se os cães não se conhecem é importante que algumassessões sejam feitas com reforço do treino de obediênciacom todos juntos. Os alunos então podem assistir e depoisparticipar conduzindo o seu animal. Muitos cães reagemlatindo uns para os outros. Em território fora de suasresidências, um cão obediente e na guia não irá ameaçar amenos que esteja sendo intimidado. Antes dos animaiscomparecerem, informe os alunos da visita com antecedênciae conte um pouco da história e perfil de cada animal; Recepção: deve ser feita individualmente, sempre com o cão na guia;

antes do contato físico faça o animal ir ao encontro eimediatamente sentar.

Organização de atividades - Após uma ou duas sessõesde observação, os cães podem ser guiados em atividadescomo:

• Circuitos (manobras e deslocamentos).• Pegador (o cão na guia corre junto com o aluno outreinador atrás de uma bola).• Controle em atividades de equilíbrio (o cão podeajudar o aluno a se equilibrar em apoios restritostocando sobre o dorso—alguns cães não permitema abordagem por detrás).• Transporte e condução (incluindo na água).• Socialização em jogos e outras atividades (futebol,basquete, dança).• Contato físico (massagem, carinho, obediência,outros cuidados com o animal).

9) Esportes radicais adaptados: são atividades na naturezaque incorporam desafios, orientação espacial, exploração,trabalho em equipe, e devem ser otimizadas segundo acaracterística do campus da Bela Vista.

10) Atividade física adaptada para os pais: Quaisqueratividades dos itens anteriores podem ser incorporadas emaulas com os pais. Estas atividades podem ser gerenciadaspelas crianças com deficiência e tutores sob supervisão dosprofessores e executadas pelos pais convidados.

Avaliação

A avaliação inclui as seguintes modalidades:Médica: Os participantes têm liberação médica e

informação sobre a saúde geral fornecida pelos pais eprofissionais de uma equipe multidisciplinar (condiçõesclínica, psicológica, física e cognitiva de cada aluno). Oestagiário deve estar informado de qualquer mudança nohistórico do aluno assim como ter competência para detectardetalhes comportamentais indicativos de evolução, regressãoe inalteração de quadro. Para tanto, o estagiário deveperguntar, pesquisar e solicitar dos pais informações quandopertinentes, sempre supervisionado pela coordenadora.

Nível de capacidade física e estado nutricional: avaliaçõesantropométricas no início e final do semestre deverão daruma idéia sobre a eficácia do programa Proefa.

• Medidas antropométricas (circunferência doabdômen, quadril; altura total, troncocefálica; massa(Kg), dobras cutâneas: supra-ilíaca, abdominal,subescapular e tricipital)• Resistência aeróbia: Teste de banco de 5 minutoscom medidas de FC repouso, minuto-a-minuto e 5após.

24

Page 27: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

• Teste de flexibilidade: teste de alcançar sentado• Potência de membro inferior: salto vertical e hori-zontal.• Medidas de pressão arterial durante a unidade decondicionamento físico.

Nível de desenvolvimento motor e coordenação: É fun-damental o uso de protocolos pré- e pós-participação viafilmagens. Habilidades motoras filmadas podem ser baseadasem checklists e comparadas com protocolos sobre o nível dedesenvolvimento do grupo num estágio inicial ou dosregistros de anamnese. Idealmente checklists devem serpreenchidas ao final de cada sessão por observadorestreinados. Existe um volume de dados filmados e algunspublicados sobre os participantes do Proefa nos últimos anos.Cada sessão do Proefa é filmada e fotografada desde 1990.Um volume imenso de dados tem sido computado em diversosformatos ao longo dos anos. Ainda existe um outro volumeintocado que deverá ir sendo processado. O tipo de estudogerado destes registros envolve checklists preenchidas aofinal de cada sessão por observadores treinados, e tambémanálise cinemática e comportamental de habilidades motorasem tarefas motoras específicas.

As experiências e asresponsabilidades do grupo

A cada semestre, grupos de estagiários são subdivididosentre atividades de administração de aula—dois grupos deestagiários encarregados da EFA geral e da EFAindividualizada—e apoio aos tutores.

O contexto teórico-prático do Proefa é direcionado a treinaros estagiários a gerenciar eficientemente grandes grupos deindivíduos com deficiências em contato com pares não-deficientes, e vice-versa. A cada sessão, trinta minutos antesdo inicio da aula propriamente dita, os estagiários e os tutoressão orientados. Discussões críticas e questionamentos são

estimulados entre estes participantes. Mensalmente umareunião geral de duas horas de duração com estagiários érealizada para dar feedback e atualizar a programação curricu-lar. Nestes encontros os estagiários são estimulados a adaptarcom criatividade aulas de EFA segundo restriçõestecnológicas, material e recursos e/ou suporte de outrosprofissionais. Alunos e tutores são orientados a atuar, dentrode sua capacidade de entendimento, com os princípiosfundamentais no trabalho com pessoas com deficiência (nívelde desenvolvimento, socialização, segurança, prazer ecoerência ecológica).

Na análise do desempenho dos alunos universitáriosengajados no Proefa observamos: aperfeiçoamento doconteúdo teórico em EFA, otimização pelas vivências dashabilidades de intervenção profissional e preparação decurrículo, mudanças na consciência crítica e nas atitudes emrelação ao preconceito e discriminação. Ajudar alunosuniversitários, tutores e outros profissionais a aprender apensar analiticamente é uma parte dos desafios do Proefa.Estimular a pensar inclusivamente é parte da missãoeducacional do Proefa.

As atividades de socialização são a base do Proefa, eincluem: a. ensino cooperativo entre os pares em gruposheterogêneos, b. integração de crianças não-deficientes paraatuar como tutores dos pares com deficiência, c.desenvolvimento das habilidades de indivíduos com

25

Page 28: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

deficiência para atuar como tutores de outros grupos comdeficiência. Ocasionalmente o Proefa inseriu o contato comanimais como veículos de redução de stress e ferramentamotivacional (Pet terapia), e como um contexto pararedirecionar a tutoria entre aluno com deficiência para um parde outra espécie, o cachorro.

Todo final do primeiro semestre, alunos do terceiro anode graduação que freqüentam a disciplina educação físicaadaptada organizam o Festival de Atividade Física Adaptada(FAFA). Este evento é apoiado pelo Proefa, e durante o seuencerramento é entregue o prêmio Paulão ao melhor alunoestagiário do Proefa, bem como ao melhor tutor. O prêmioPaulão foi inspirado no aluno com deficiência mentalconhecido como Paulão. Paulo Pamplona, o Paulão é um denossos tutores e alunos mais antigos do Proefa. Quando oProefa foi iniciado em 1989, o Paulão fazia parte do grupo e detodos os semestres dos anos em que foi oferecido. Paulãoinspirou e continua inspirando nossos modelos de inclusãoe de tutores (ou auxiliar) de aula. Paulão é conhecido no cam-pus por sua simpatia, bondade e sociabilidade. Paulão é umexemplo de participação, de vontade de aprender e ensinar.Ele é um colega, amigo e incentivador de nossas açõespedagógicas e humanitárias. Os critérios para o recipiente doprêmio incluem: assiduidade; inovação e coerência didática;liderança; conhecimento; popularidade e carisma com o grupo;habilidade em resolução de problemas; inspirar os colegas. Aescolha é baseada nas fichas de avaliação individual eindicação pelos pares. O prêmio é constituído de mençãopública junto ao Departamento e IB através de ofícioencaminhado ao conselho departamental e diretoria do IB.Além disso, indicação biográfica e de feitos do escolhido nahome page do Proefa e cerimônia pública no Festival deAtividade Física Adaptada com entrega de certificado. Oprêmio é entregue pelo Sr. Paulo Pamplona. O prêmio teveinício em 2003.

Conclusão

Se de fato, estar desenvolvido e fisicamente apto, sãocondições e hábitos precocemente estimulados e, se de fato,intervenção precoce com aqueles que sofreram atrasos é umacondição para o sucesso no desenvolvimento, com quemfica a responsabilidade profissional de garantir educação emsaúde e promoção da inclusão entre as crianças pequenas eadolescentes deficientes e seus pares? E lamentável que aeducação física adaptada ainda esteja restrita aos ambientessegregados. O investimento e apoio em projetos e idéias comoo Proefa podem apontar para soluções em reverter estasituação ou não teremos um modelo de inclusão de sucesso.

Não é fácil para os estagiários e também tutores identificara mensagem estereotipada de que o aluno com deficiênciatem um defeito, é incapaz, difícil de lidar, um peso na família.Esta é a marca cultural que desvia a noção de diferença, dediversidade para a noção de incapacidade, dependência,insanidade, retardo, etc. É extremamente difícil mudar estapercepção das pessoas, mesmo grupos privilegiadoseducacionalmente, como alunos universitários. Durante osemestre advogamos sobre a necessidade de um modeloeducacional, holístico, baseado nas diferenças individuais ena premissa dos direitos fundamentais do ser humano. Nósnos preocupamos em remover da área a influência do modelomédico que permeia a prática profissional e o entendimentoda identidade da pessoa com deficiência. O modelo médico,embora originalmente assumido como neutro, ao longo dahistória, mudou para um caráter parcial, segregacionista. Estemodelo instalou estigmas nas pessoas, ou seja, umasistemática rotulação mesmo com a justificativa deintervenção.

O Brasil, embora, com um longo percurso a seguir comrelação à igualdade e oportunidades irrestritas quanto àeducação física e o esporte para todos, já deu os primeirospassos há muito tempo. Desde os anos 80 vemos iniciativasde ministérios, secretarias estaduais em aprovar legislaçõesmais modernas, publicar material especializado para acessoaos profissionais, e engajar-se em campanhas e programasde apoio ao esporte, saúde e educação do individuo com

26

Page 29: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

deficiência. O Proefa é um resultado de iniciativa voluntáriadentro da universidade, apoiada parcialmente com recursosda mesma, e que reflete a filosofia da inclusão social na áreade educação física.

Como educadores somos responsáveis por disseminarentre alunos, entre a comunidade acadêmica, e a deprofissionais, uma filosofia de inclusão do indivíduodeficiente em vários contextos, por ex., no esporte, na escola,na comunidade. No Proefa, a meta social da inclusão é decididae materializada não só em conjunto com os estagiáriosparticipantes, mas fundamentalmente com os alunos tutores,a escola e a família, e, sempre em sintonia com o que a pessoacom deficiência quer e pode fazer. Nossa preocupação com odesenvolvimento do profissional que atua em contextosmultidisciplinares é a de que este tenha uma clara visão sobresaúde, bem estar e diversidade.

Nota sobre a autora

Eliane Mauerberg-deCastro é livre-docente no DEF da UNESPde Rio Claro. Doutora em psicobiologia, coordena oLaboratório da Ação e Percepção. Autora do livro AtividadeFísica Adaptada . É a atual presidente da Sociedade Brasileirade Atividade Motora Adaptada. É a primeira professorabrasileira visitante junto ao Master Europeu em atividadefísica adaptada promovido pelo Erasmus Mundus (http://www.erasmusmundus.be/)

Para maiores informações sobre a autora, visitem:http://www.rc.unesp.br/ib/e_fisica/hpefa/abertura.htmE-mail: [email protected]: PROEX-UNESP

27

Page 30: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Natação para pessoas com deficiência mental leveMilton Vieira do Prado Junior

A natação para pessoa com deficiência (PCD) é consideradacomo uma atividade física adaptada e vem sendodesenvolvida em instituições que tem por objetivo estimularesta população. A inclusão de atividades no meio líquidopossibilita um ambiente diferenciado, desafiador, rico emestímulos e favorável ao desenvolvimento dos participantes.As habilidades aprendidas quando significativas e compersistência temporal geram alterações motoras, afetivas ecognitivas.

O ambiente aquático possibilita ao indivíduo descobrir eexplorar suas capacidades, potencialidades e ser eficiente narealização dos movimentos que garantem sua locomoção comsegurança na água. Como conseqüência, além de dominar arespiração, flutuação e propulsão, fundamentais na adaptaçãoe execução dos estilos da natação, desenvolvem também, amelhora na coordenação motora, a lateralidade, a ampliaçãodos movimentos articulares, bem como o fortalecimento dosmúsculos que circundam estes grupamentos; ocasionandouma significativa melhora em suas capacidades funcionaiscomo resistência, flexibilidade, equilíbrio, postura.

Entendendo os benefícios da prática da natação é queidealizamos um projeto para incluir na vida da PCD a práticaregular da natação. A intenção inicial era propiciar umavivência motora para usuários da SORRI em Bauru (Sociedadede Reabilitação e Reintegração do Incapacitado) que trabalhacom pessoas com deficiência mental, sendo que, algunsusuários também possuíam deficiência física ou auditiva.Instituição essa que não possuía o profissional de educaçãofísica. Portanto, não era contemplada a estimulação motorano planejamento das atividades. A visão que prevalecia nainstituição é a da ação da fisioterapia, visando à reabilitaçãoe o preparo da PCD para incluir no mercado de trabalho.

Buscando mudar essa rotina, valorizar a prática daatividade motora para a PCD e comprovar a necessidade dacontratação de um profissional de educação física na SORRI-Bauru é que oferecemos o projeto de extensão universitária,vinculado ao Laboratório de Pesquisas em Educação Física(LAPEF) do Departamento de Educação Física da Unesp deBauru.

Projeto este que tem por objetivo o ensino da natação,com ênfase na adaptação ao meio líquido, inicialmenteprojetado para ser desenvolvido dentro da própria instituiçãoque possuía uma piscina, porém, sempre trancada e semnenhuma utilização.

O primeiro desafio foi convencer que as aulas de nataçãonão ofereceriam nenhum risco aos usuários da instituição, jáque, o medo de um acidente durante a atividade na águaimperava entre os responsáveis, professores e funcionáriosda instituição. O início do projeto em 1994, só foi autorizadoser realizado com 2 usuários na piscina da instituição. Porém,nesta etapa enfrentamos muitas dificuldades devido ao fatoda piscina não ser aquecida, o que atrapalhou muito oandamento das aulas, mesmo assim, conseguimos demonstrara importância das atividades na água e despertar o interessenos demais usuários da instituição.

Na continuidade do projeto, conseguimos que as aulasfossem ministradas em duas academias da cidade, as quaispossuem piscina coberta e aquecida, possibilitando aampliação no número de participantes e na regularidade dasaulas, fundamental para possibilitarmos os benefícios destaprática para PCD. Hoje, o projeto conta com dois grupos de10 usuários, que têm aula uma vez por semana.

O estágio atual e a conseqüente ampliação do projetoforam influenciados por dois motivos: a mudança do local(Foto 4) e a participação numa competição “OlimpíadasEspeciais.” O primeiro possibilitou a regularidade nas aulas ea mudança de comportamento da PCD. Já a segunda, sem ser

28

Page 31: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

esta a intenção da atividade gerou motivação nos participantese colocou a instituição na mídia. Isto porque participamoscom sucesso, em provas adaptadas (caminhada na água,flutuação, locomoção com auxílio) e nas provas oficiais (25me 50m) no estilo livre e no nado costa; nas fases: municipal,regional, estadual, brasileira, mundial.

Nesta competição a PCD era agrupada a partir do nível dadeficiência, sendo que para cada categoria os melhores tem-pos eram classificados e paralelamente havia um sorteio comtodos os demais participantes, buscando a participação einclusão de todos. Com este regulamento, tivemos aclassificação de todos para a fase regional realizada no litoralsul de São Paulo; dois participantes para a etapa brasileira,na cidade de Votorantim-SP; e uma menina para a fase mundial,realizada em 2003, na Irlanda do Norte.

Vale ressaltar que muitos participantes do projeto nuncahaviam saído sozinhos da cidade de Bauru; ficado em umalojamento com mais de 2 mil participantes do evento; e claroparticipado de competição. A ida de uma usuária para a fasemundial despertou o interesse da imprensa estadual, regional

29

Page 32: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

e da cidade, o que divulgou o projeto, a Instituição e o maisimportante, o reconhecimento de todos que com a estimulaçãopodemos desenvolver o potencial da PCD e tornando aindamais eficiente nas atividades motoras e nas ações de seu dia-a-dia.Mesmo com este pico no projeto mantivemos nossospressupostos iniciais que era o ensino da natação de formaindividualizada, respeitando as características dosparticipantes, evoluindo cada um em seu ritmo e incluindoesta prática motora na sua rotina de vida. Portanto, da mesmamaneira que verificamos participantes do projeto realizandoos estilos da natação, possuímos também, outros na fase deadaptação ao meio líquido necessitando ainda dominar: acapacidade de flutuar e, principalmente, dominar com eficiênciao controle respiratório. Habilidades estas determinantes paraa propulsão com eficiência no meio líquido. Além disso, temoscomo meta que a própria instituição contrate um profissionalda área para tentarmos incluir esta prática para todos osusuários.

Um aspecto importante na execução do projeto é a tentativade trabalhar nas aulas de forma individualizada com a PCD,ou no máximo em uma relação de 2 usuários por professor(estagiário). Assim, semestralmente tivemos a aprovação deum ou dois bolsistas dentro do projeto; porém, devido aointeresse dos alunos do curso de licenciatura em educaçãofísica da Unesp de Bauru, sempre tivemos a colaboração devoluntários que integravam a equipe que planejava e aplicavaas atividades.

Outro fator importante durante este período foidesenvolver de forma sistemática estudos com diferentesenfoques, tendo como referência os participantes, a estruturadas aulas e o processo de aprendizagem da natação. Istoporque possuímos poucas referências sobre a PCD e asmudanças de comportamento com a prática de atividades naágua. Verificamos que:

a) Houve mudança no perfil antropométrico dos usuários,com diminuição do peso corporal nos indivíduos com excessode peso e fortalecimento da musculatura corporal nos sujeitosectomórfos, com conseqüente melhora na postura corporal;

b) Todos os alunos, dentro do seu nível, evoluíram nodomínio corporal no meio líquido;

c) Através de um teste de desempenho na água realizadono final do semestre, observamos melhoras no comportamentomotor, tais como: equilíbrio, propulsão, respiração,coordenação, força e lateralidade.

d) Ficou evidente a melhora na auto-estima o que éevidenciado no desejo em permanecer no projeto,demonstrando que as aulas foram significativas para osusuários e conseguiram superar o medo e adquirir confiançano contato com a água;

Estes são alguns exemplos dos resultados obtidos du-rante a execução do projeto. Paralelamente, os alunosparticipantes relatam a importância da vivência no projeto

30

Page 33: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

com a PCD o que contribuiu para a sua formação profissionale acadêmica, sendo que vários bolsistas realizaram seustrabalhos de conclusão de curso enfocando a natação e aPCD, bem como divulgaram os resultados em eventoscientíficos da área. Consideramos portanto, que além depossibilitar os benefícios e a aprendizagem dos estilos danatação pela PCD, conseguimos articular na prática do projetoo ensino, a pesquisa e a extensão; objetivo maior de umainstituição que busca a formação de profissionaisqualificados em educação física e no trabalho com a PCD.

Nota sobre o autor

Coordenador:Prof. Dr. Milton Vieira do Prado JuniorLaboratório de Pesquisas em Educação Física (LAPEF) –Departamento de Educação Física – Faculdade de Ciências –Unesp-Bauru

Graduandas:Priscila Julia GaravelloDaniella Camilla CordãoLuciana Gonçalves CasemiroThalita Fernanda de Oliveira

31

Page 34: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Projeto “Eficientes”Um programa de intervenção englobando diferentes tipos de deficiências

Cícero CamposValter Brighetti

Júlio César TakeharaLucas Portilho Nicoletti

Denise Ferraz Lima Veronezi

Pessoas portadoras de deficiência muitas vezes ficamimpossibilitadas de realizar exercícios físicos, principalmentepor falta de oportunidades, além das dificuldades próprias dadeficiência. No caso das pessoas portadoras de deficiênciaauditiva, essas dificuldades estão ligadas principalmente aosprocessos perceptuais e de comunicação, além dedificuldades com o controle do equilíbrio corporal. Já aspessoas portadoras de deficiência física apresentamproblemas principalmente no que se refere à locomoçãoindependente. A paralisia cerebral e a paralisia decorrente depoliomielite dificultam tarefas da vida diária como andar, correr,manipular objetos, transportar pesos, entre outras tarefasfundamentais. Pessoas portadoras de deficiência mentalapresentam um déficit cognitivo, que pode dificultar oentendimento de algumas informações importantes para arealização de certas tarefas motoras. Baseado nessasinformações, fica clara a importância de um trabalho específicode atividade física envolvendo essa população.

O projeto “Eficientes,” desenvolvido pelo curso deeducação física do Centro Universitário de Votuporanga, tevecomo principal objetivo proporcionar um programa deexercícios físicos para indivíduos portadores de deficiênciafísica, mental e auditiva da comunidade. As atividades doprojeto buscavam satisfazer suas necessidades motoras,psicológicas e sociais, além de servir como fonte deexperiência aos alunos de graduação, onde os mesmos tiveramcontato direto com a prática docente relacionada à educaçãoespecial. O projeto teve início em maio de 2002 e, até novembrode 2005 atendeu um total de 60 jovens e adultos, de ambos ossexos, que se deslocavam até as dependências do CentroUniversitário de Votuporanga para realizarem atividadesesportivas e pré-desportivas.

Exercícios visando a melhora do equilíbrio e da locomoção.

32

Page 35: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Atividades que envolvessem ritmo e expressão, com oobjetivo de desenvolver a criatividade e a desenvoltura

Atividades recreativas, visando a socialização e promovendomomentos de descontração por parte dos alunos.

Durante todo o período de realização do projeto pudemosperceber que as atividades realizadas promoveram melhorastanto em relação a aspectos físicos como afetivos e sociais,principalmente por se tratar de um trabalho que teve comoprincipal filosofia a visão de um indivíduo que apresentaalgumas limitações, mas nem por isso deixa de ser umindivíduo participativo na sociedade, um indivíduo eficiente.

Exercícios resistidos, com a utilização de aparelhos demusculação e halteres.

Nota sobre os autores

Cícero Campos, Valter Brighetti, Júlio César Takehara, LucasPortilho Nicoletti e Denise Ferraz Lima Veronezi são do CentroUniversitário de Votuporanga (UNIFEV).

33

Page 36: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....34

Dança de salão para pacientes com transtornos mentais

Ana Clara de Souza PaivaSandra Regina Garijo de Oliveira

Catia Mary Volp

Resumo⎯Este estudo vem mostrar a necessidade da atuação do profissional de educação física eminstituições de saúde mental, juntamente com os outros profissionais da saúde. Primeiramente, relata asituação da saúde mental atual e descreve os benefícios que a atividade física pode proporcionar aospacientes. Traz também as pesquisas recentes da área e incentiva para que muito mais possa ser feito.Demonstra como é fundamental perceber como as atividades com música e dança atuam sobre as pessoas,sendo imprescindível levar em conta as necessidades intelectuais e emocionais de cada um. Por fim, mostracomo está sendo a participação dos pacientes do Centro de Atenção Psicossocial nas oficinas de dança desalão.

Palavras-chaves: atividade física, dança de salão, saúde mental.

Abstract⎯“Ballroom dance for psychiatric patients.” This study shows the importance of professionals ofphysical education working on mental health institutions together with other health professionals. First, itreports the actual mental health situation in Brazilian institutions and describes the physical activitiesbenefits that can be added to the patients’ routine. Second, shows some recent studies on the area claimingthe much needed attention on the body and the expressive movement. Third, it demonstrates how importantis to include activities exploring music and dance so that emotional and intellectual needs of patients arefulfilled. Last, it reports the participation of patients of the Psychosocial Care Center in workshops aboutballroom dance.

Keywords: physical activity, ballroom dance, mental health.

Introdução

Há três anos são ministradas aulas de danças de salão apacientes com transtornos mentais. Logo no primeiro anosurgiu a idéia de transformar esta experiência em um projetounindo dança, música e movimento, para auxiliar no programadesenvolvido pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)da Fundação/Secretaria Municipal de Saúde de Rio Claro. OCAPS atende pessoas com diferentes tipos de transtorno e,especificamente, os pacientes que participam das atividadesde dança apresentam transtorno afetivo bipolar, esquizofrenia,esquizofrenia residual, dependência de benzodiazepínicos,transtorno esquizotípico, depressão, episódio depressivograve/sintomas psicóticos, transtorno de personalidade tipohistriônico e outros transtornos mentais orgânicos nãoespecificados.

No início, o único objetivo era ensinar os passos da dançade salão, objetivo este que foi descartado logo na segundaaula, pois foram encontradas pessoas que permaneciamsentadas durante horas sem se mover ou dizer uma palavra,

sem expressar emoções (“afeto inadequado”), e outras,perturbadas, agitadas, irrequietas e às vezes até violentas.Fatores biológicos, psicológicos e sociais, aliados àpredisposição genética, são agentes causadores das doençasmentais. Muitos pacientes com transtornos mentais nãosomente sofrem de distúrbios emocionais e do pensamentocom também são deficientes em habilidades físicas, sociais eprofissionais. O tratamento e a atenção psicossocialconstante são especificamente úteis para estes tipos deproblemas, principalmente para pacientes com sintomas menosgraves ou cujos sintomas estejam sob controle, ajudando-osa melhorar a atuação como ser social. Por isso há necessidadede se ter, além do conjunto de profissionais especializados, oprofissional da educação física para o desenvolvimentopsicomotor.

Desta forma, as aulas passaram a conter alongamentos,movimentação pelo espaço e passos básicos dos ritmos dadança de salão. Dançar significa trabalhar todo o corpo demaneira integrativa e natural, individual ou coletivamente,sincronizado ou aleatoriamente seguindo um ritmodeterminado pelas próprias emoções, mostrando o lado belo

Page 37: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II ..... 35

e expressivo, proporcionando ao ser humano desenvolverseu potencial e aprimorar suas capacidades funcionais (Paiva,1998). E porque, então, escolher a dança de salão? ParaDeutsch (1997), a dança de salão baseia-se nos movimentosnaturais do ser humano. Ao andarmos para frente e para trás,para um lado e para o outro e ao girarmos, estamos executandomovimentos semelhantes ao que utilizamos nos salões dedanças.

Com o passar do tempo, aumentou o interesse e anecessidade de saber em que estas aulas estariaminfluenciando os participantes. Na profissão e de acordo comeste interesse, é fundamental perceber como as atividadescom música e dança atuam sobre as pessoas, sendoimprescindível levar em conta as necessidades intelectuais eemocionais.

Situação da saúde mental

Uma das grandes preocupações atuais é a crise da saúdemental e a efetivação da reforma psiquiátrica. O processo dereforma da assistência psiquiátrica no Brasil nasceu na décadade 80, quando surgiram as primeiras críticas ao modelo deassistência mais comum: internações hospitalares. No livrode Capra (1988), no capítulo “A busca do equilíbrio,” é relatadoque a abordagem mecanicista da medicina convencional, quevê o corpo humano como uma máquina, é a principal fonte dacrise contemporânea no campo da saúde, com críticas aosistema de assistência médica baseado em hospitais e drogas.Seu relato deixa claro que, no futuro, a assistência à saúdeterá de ir muito além da medicina convencional, passando alidar com toda a rede de fenômenos que influenciam a saúde.Além dos aspectos biológicos das doenças devem-serelacionar as condições físicas e psicológicas de sereshumanos em seu ambiente natural e social. Em 2001, aOrganização Mundial de Saúde (OMS) decidiu dedicar trêsde suas principais atividades à saúde mental. José ManoelBertolote da Equipe de Controle de Transtornos Mentais eCerebrais do Departamento de Saúde Mental e Toxicomania(OMS), disse:

“Das autoridades, esperamos políticas sociais e desaúde mental que não apenas respondam àsnecessidades e aos problemas da população, mastambém contribuam de forma positiva aodesenvolvimento pleno e saudável dos cidadãos eeliminem os fatores de risco e as ameaças maisimediatas à saúde (geral e mental) da população. Dosprofissionais, esperamos que sua dedicação paraincorporar ou intensificar uma atenção especial acertos aspectos que, ao longo dos últimos anos,passaram a ser parte integrante da boa atençãopsiquiátrica: (1) os direitos humanos dos pacientes;(2) os anseios de pacientes e familiares de participar

ativamente nos processos de tratamento propostos;(3) os progressos técnicos recentes, tanto na área dasneurociências, quanto na das ciências sociais, dapsicologia e da saúde pública” (Bertolote, 2000, p.1).

Sobre os direitos humanos dos pacientes a lei nº 10.216,de 6 de abril de 2001 (Brasil, 2001) dispõe sobre a proteção eos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais eredireciona o modelo assistencial. Dentre os itens solicitadospor ela destacamos, no parágrafo único, do Art. 2º item II -“...o direito da pessoa portadora de transtorno mental, sertratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivode beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperaçãopela inserção na família, no trabalho e nacomunidade”(p.15). No Art. 3º fica explícito que

“... é responsabilidade do Estado o desenvolvimentoda política de saúde mental, a assistência e a promoçãode ações de saúde aos portadores de transtornosmentais, com a devida participação da sociedade e dafamília, a qual será prestada em estabelecimento desaúde mental, assim entendidas as instituições ouunidades que ofereçam assistência em saúde aosportadores de transtornos mentais” (p. 15 e 16).

Com o interesse da sociedade cada vez maior em relação àprevenção de doenças, ao prolongamento da vida e àpromoção da saúde física e mental, cresce a consciência queas enfermidades mentais estão se tornando cada vez maisproeminentes como projeção dos problemas de saúde.

Benefícios da atividade físicana saúde mental

Uma das medidas consideradas importantes para ocotidiano do ser humano com certeza é a adoção de um estilode vida ativo. A prática da atividade física regular seria umamedida a ser adotada como reguladora da saúde e tambémcomo agente motivador que possibilita a participação social.Ela é entendida como uma característica inerente ao serhumano com dimensões biológicas, comportamental e so-cial, representando um tema interdisciplinar que tem atraído aatenção de pesquisadores, da mídia e de administradorespúblicos em todo o mundo nos últimos tempos. Pelosbenefícios que a prática de atividade física pode oferecer, osusuários da rede de saúde mental, principalmente, deveriamter acesso a ela, o que representaria melhora nas condiçõesde vida e mudanças de atitude favoráveis à sua própriarecuperação. Por outro lado escrever sobre a intervençãocorporal na saúde mental, principalmente relacionada aostranstornos mentais, é um desafio, considerando a falta debibliografia sobre o tema. A medicina e as ciências domovimento vêm aperfeiçoando-se na experimentação da

Page 38: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....36

atividade física, como procedimento eficaz tanto naprevenção, quanto no tratamento e reabilitação dostranstornos mentais que, em virtude de vários fatoresdecorrentes dos sinais e sintomas, levam o indivíduo aoisolamento, ao sedentarismo e ao desregramento dos hábitosde vida (Roeder, 1999).

Segundo Roeder (1999), no contexto da saúde mental,qualidade de vida significa muito mais do que melhora dossintomas, consiste num conjunto de medidas necessárias aobem estar do indivíduo, como resgate das habilidades sociais,moradia, trabalho, educação, apoio comunitário e lazer, dentretantos fatores. A adoção de um estilo de vida mais ativo atuariacomo agente preventivo da saúde mental.

Agressões exógenas, como abuso de álcool e drogas, ecausas psíquicas provocadas por desgostos, abalos morais,perdas e outros, também prejudicam a sanidade mental. Alémdestes, fatores de ordem social desempenham assinalada açãosobre o funcionamento psíquico, pois o homem sendo umser social, recebe numerosas e constantes influências dasociedade. Excesso de trabalho e de preocupações estafafísica e psíquica, instabilidade de vida, insegurançapermanente, barulho, poluição urbana e tantos outrosproblemas da vida civilizada, devastam o equilíbrio mental dohomem contemporâneo, tornando-o muitas vezes inquieto,intranqüilo, angustiado, deprimido, nervoso e neurótico.Estes fatores aliados à predisposição genética podem serdesencadeantes de transtornos mentais (Gomes apud Roeder,1999).

A educação física na saúde mental, através de atividadessensório-motoras, poderá favorecer o desenvolvimento dacapacidade do indivíduo para sintetizar suas funçõespsicológicas e atributos pessoais. É notória a falta depesquisas na área e ímpar a necessidade de se saber maissobre o assunto. Uma das pesquisas encontrada enfatiza arelação da atividade física e saúde mental durante o processode envelhecimento. Matsudo, Matsudo e Barros Neto (2000),verificaram os efeitos do exercício físico, atividade física etreinamento nas variáveis antropométricas, neuromotoras emetabólicas da aptidão física, juntamente com os principaisaspectos psicológicos associados à saúde mental durante oprocesso de envelhecimento. Foi encontrado que, em relaçãoao aspecto neuromotor, o treinamento específico da forçamuscular leva à hipertrofia das fibras musculares, aumentoda força muscular dos membros superiores e inferiores,melhora na flexibilidade e diminuição de quedas. Da mesmaforma a atividade física apresenta efeitos benéficos nosaspectos psicológicos, sociais e cognitivos, sendo assim umaspecto fundamental do estilo de vida na promoção de umenvelhecimento saudável e bem sucedido. Outro estudo deRoeder e Farias (2000), mostra que o estresse é um dos fatoresde precipitação de doença mental e que através da Teoria daTensão e da Adaptação pode-se compreender como se dá osmecanismos de adaptação do indivíduo ao ambiente e assimdispor de um conjunto de dispositivos que promova a saúde

e o bem estar gerais. Dentre esses dispositivos estão asrotinas de movimentação moderada consideradas como umforte estímulo à melhoria da qualidade de vida da populaçãoacometida por transtorno mental.

Outro trabalho interessante de ser citado é o trabalhorealizado por Nise da Silveira. Apesar de não ser na área daatividade física é um trabalho não-verbal que envolve pinturae modelagem com psicóticos e esquizofrênico. Das primeirasexperiências e da compreensão do processo psicótico e valorterapêutico das seções de terapia ocupacional, nasceu oMuseu de Imagens do Inconsciente. Nise conta, que no iníciofoi reunindo todo um grupo de esquizofrênicos—tirados dopátio do hospício para a Seção de Terapia Ocupacional, destapara o atelier, do atelier para o convívio, onde passou a gerar-se o afeto e, o afeto a estimular a criatividade. Atualmente, oacervo do museu possui cerca de 300.000 documentosplásticos, incluindo telas, cartolinas, papéis e modelagens. Ométodo de trabalho do museu consiste principalmente noestudo de séries de imagens. Isoladas, parecem indecifráveis,mas se verificadas com esmero, elas permitem acompanhar odesdobramento de processos intrapsíquicos (Silveira, 2001).

Danças de salão

Para Deutsch (1997), tanto a dança como a dança de salão,baseiam-se nos movimentos naturais do ser humano. Aoandarmos para frente e para trás, para um lado e para o outroe ao girarmos, estamos executando movimentos semelhantesao que utilizamos nos salões de danças.

Outra definição dada à dança de salão, tambémdenominada dança social ou popular, é de que ela énormalmente dançada por casais que reproduzem passos pré-determinados e variações, com objetivo de entretenimentoou competição em ambientes particulares ou públicos(Encyclopaedia Britannica apud Deutsch, 1997). Através dadança, podemos expressar nossas emoções, tradições, rituaisde vida, atitudes e crenças; comunicar idéias, imagens,símbolos, personalidade e sentimentos em forma demovimento, atuar, concomitantemente, com processos físicose mentais; desenvolver o corpo adquirindo novas habilidades;integrar aspectos mentais, físicos, emocionais e espirituaisda educação através de um processo criativo; melhorar oauto-conceito, a auto estima e a identidade, através do usode movimentos corporais, fornecendo condições para aaquisição de confiança ao indivíduo e ao grupo. Desde quepraticada freqüentemente e adequada às características dopraticante, a dança de salão pode se tornar uma atividadepara melhorar o condicionamento físico. É, assim, umaatividade física de intensidade leve a forte dependendo doritmo e da execução associada a ela, e podemos ainda dizerque ela seria como uma terapia de grupo ajudando nas relaçõespessoais. Ela pode auxiliar nos problemas de níveis mentais,como tensões, depressões leves e ansiedades.

Page 39: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II ..... 37

A pesquisa

No primeiro ano a curiosidade em saber como osparticipantes do programa de dança de salão do CAPSestavam recebendo as aulas levou a estruturar a seguintequestão: Como você se sente depois de fazer aulas de dança?De um grupo de 20 participantes foram obtidas 14 respostasonde à maioria dizia sentir-se bem. Outras respostas foramque a dança deixava-os descontraídos, felizes, com maisânimo, satisfeitos, alegres, relaxados, com um bem estar deespírito muito grande. Um participante respondeu que sesentia muito cansado, mas muito leve também e outrorespondeu que não gostava de dançar, mas achava boa aulade dança. O grupo foi convidado a participar da abertura deum evento da APAE de Rio Claro - Prevenção Eficiente - ondeapresentou uma dança circular. A apresentação para eles foimuito importante, pois ocorreu a integração dos familiarescom a sociedade. Com essas manifestações e observaçõesfeitas das expressões quando estão dançando, pode-seconcluir que a atividade física colabora para reabilitaçãopsicossocial, auxiliando na sociabilidade, na manifestaçãodas emoções, aumentando a consciência corporal, uma vezque ajuda o praticante a entrar em contato com suaspossibilidades, experimentando ao mesmo tempo, suasemoções. Portanto, este trabalho reforça a importância deintegrar ao CAPS, o trabalho do profissional de educaçãofísica.

Considerações finais

Pensar em novas perspectivas para a saúde mental e comoo profissional da educação física situado na área da saúdepode estar contribuindo, trabalhando e proporcionando umamelhora na qualidade de vida desses pacientes é o que visa-se deixar como reflexão aos leitores. Partindo do princípioque o indivíduo é um ser biopsicossocial, e que algunscuidados podem ser tomados para proporcionar uma melhorcondição de vida, juntando-se a isso o modelo comunitárioproposto pela OMS que diz, que os serviços hospitalares eextra-hospitalares devem ser integrados, entende-se que opaciente precisa de medicamentos, moradia, resgate dashabilidades sociais, apoio comunitário, educação, lazer,resgate da auto-estima e percepção de bem-estar psicológico.Neste contexto, o estímulo a práticas de ensino, pesquisa eextensão que favoreçam novas atitudes dos profissionais deeducação física em relação à promoção da saúde mental sãobem vindas e locais como os CAPS que otimizam a saúdenuma perspectiva preventiva devem proliferar-se.

Referências

Bertolote, J. M. (2002). A saúde mental em pauta - Psiquiatria- Unifesp/EPM. Disponível em: http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/editorial05.htm. Acesso em 30 ago.2002

Capra, F. (2000). Sabedoria Incomum. São Paulo: EditoraCultrix, 2000.

Deutsch, S. (1997). Música e Dança de Salão: Interferênciasda audição e da dança nos estados de ânimo. 165fls.Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia,Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.

Brasil, Lei Nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Disponível em:http://www.saude.sc.gov.br/programas_e_projetos/saude_mental/legislação. p. 15,16 e 17.

Matsudo, S. M.; Matsudo, V. K. R.: Neto, T. L. B. (2000).Efeitos benéficos da atividade física na aptidão física esaúde mental durante o processo de envelhecimento.Revista Brasileira Atividade Física & Saúde. v. 5, n. 2,p. 70-76.

Paiva, A. C. S. (1998). Prática randômica e em blocos. Quala melhor maneira de aprender uma coreografia? 1998.33fls. Monografia – Faculdade de Educação Física,Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

Roeder, M. A.; Farias, S. F. (2000). Rotinas de MovimentaçãoModerada: uma perspectiva terapêutica na saúde men-tal. Revista Paraense de Educação Física. v. 1, n. 2, p.71-87.

Roeder, M. A. (1999). Benefícios da atividade física em pessoascom transtornos mentais. Revista Brasileira de AtividadeFísica e Saúde v.4,n2, p.62-76.

Silveira, N. (2001). O mundo das Imagens. São Paulo: EditoraÁtica, 2001.

Nota sobre as autoras

Ana Clara de Souza Paiva é mestre em ciências da motricidadepelo Instituto de Biociências da UNESP de Rio Claro e docenteda Faculdades Integradas FAFIBE Bebedouro e Faculdadede Filosofia Ciências e Letras de São José do Rio Pardo.Sandra Regina Garijo de Oliveira é Professora Ms. daFaculdade de Filosofia Ciências e Letras de São José do RioPardo e da FAFIBE - Bebedouro. Catia Mary Volp é professoraassistente doutora do Departamento de Educação Física daUNESP de Rio Claro.Endereço:Ana Clara de Souza PaivaLaboratório de Comunicação Corporal Expressão e Música(LACCEM)Departamento de Educação Física, I.B. UNESP/ Rio Claro.Av. 24A, n.1515, Rio Claro, SP 13 506-900Fone: (19) 3526 43 29Fax: 3534 0009E-mail: [email protected]

Page 40: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....38

A importância da inserção dos profissionais da educação física adaptada nasequipes multidisciplinares da educação municipal

Maria Luisa da Costa Fogari

Etimologicamente a palavra deficiência significa “defeito,”“imperfeição,” do ser humano. Estes termos agregam outroscomo “barreira,” ou um ser “anormal” para os padrões deestética e beleza prementes na sociedade, entre outros rótulos.A autora Maria Elisa G. Fonseca Tulimoschi, (2004, p. 01),constatou através do pensamento dos autores Peranzoni eFreitas, que: Através da história, o portador de necessidadeseducacionais especiais recebeu diferentes nomes,tratamentos e considerações sempre relacionados aosvalores sociais, filosóficos, éticos e religiosos de cadaperíodo, nas diferentes culturas.

No Brasil, os indivíduos “defeituosos” começaram a sersegregados nas instituições totais com a criação do HospícioPedro II (1841), do Imperial Instituto dos Meninos Cegos(1854) e do Instituto de Surdos-Mudos (1856).

No início do século XX, foi inaugurado no Rio de Janeiro“o primeiro pavilhão escola para crianças anormais,” oPavilhão de Bourneville, e o método utilizado era o de Séguin,isto é, a domesticação. Na década de 20 ocorre a generalizaçãodos testes psicológicos nas escolas.

Aqui a evolução do direito à educação e à escola decorreuda Constituição de 1988 no (art. 208), onde esta preconiza o“atendimento educacional especializado preferencialmentena rede regular de ensino.”

A família é considerada o primeiro grupo social, e aeducação é a segunda etapa na formação do indivíduo, sendoimportantíssimas para a criança adotar vínculos sociais.Em se tratando de educação especial, esta divide-se em:primeira fase, anterior ao século XX (exclusão); segunda fase,no século XX, (segregação); terceira fase, a integração; e aúltima, a inclusão.

Na elide da educação inclusiva, os alunos “normais”freqüentam classes comuns com colegas “portadores denecessidades especiais,” minimizando o preconceito que osseparavam antes. “Assumimos que o conhecimento dasociedade implica o conhecimento da vida cotidiana e queo conhecimento da vida cotidiana implica o conhecimentoda sociedade.” (Penin, 1989, p.35).

Segundo a cartilha: “O acesso de alunos com deficiêncianas escolas e classes comuns da rede regular, da ProcuradoriaFederal dos Direitos do Cidadão, a meta da inclusão será oatendimento ao aluno ́ especial´ a partir da Constituição e daConvenção de Guatemala:

• adaptação dos estabelecimentos de ensino,eximindo as barreiras arquitetônicas, e adaptandoos métodos pedagógicos, mediante a diversidadedo seu alunado.• os serviços de apoio especializado como osprofessores de educação especial, intérpretes delíngua de sinais, instrutores de Libras, professoresdo ensino braile e de outros recursos de ensino eaprendizagem.

Fagner é um exemplo da educação inclusiva. Este garoto,portador de deficiência visual, quando foi transferido parauma classe regular da E.M.E.F Pedro de Oliveira fez amizadecom um aluno “não deficiente,” o Natan. Eles jogam futeboljuntos, e sua bola tem um guizo dentro para orientar omovimento. Que criatividade tudo para que o amigo possater momentos agradáveis de lazer, podemos considerar estefato, uma “amizade inclusiva.”

A amizade, antes de tudo, é mágica, é mistério e milagre.Há algumas estratégias concretas que as pessoaspodem usar para ajudar a construir as amizades nasvidas das pessoas, mas não apenas estratégias. Nãohá soluções simples que funcionem o tempo todo paraconstruir amizades entre as pessoas. Manter essasamizades requer trabalho árduo e energia,especialmente se as pessoas em questão têm longashistórias de segregação, isolamento, solidão profundae poucas oportunidades. (Stainback, 1999, p.169)

Segundo a cartilha Direito à Educação, lançado em 2004pelo Mec em parceria com a SEESP – Secretaria de EducaçãoEspecial, em se tratando de direitos dos portadores denecessidades especiais, a cultura do desporto, do turismo edo lazer, estes rezam desta forma:

Art. 46. Os órgãos e as entidades da administração públicafederal direta e indiretamente responsável pela cultura, pelodesporto, pelo turismo, pelo lazer dispensarão tratamentoprioritário e adequado aos assuntos objeto deste Decreto,com vista a viabilizar, sem prejuízo de outras, as medidas:

I – Promover o acesso da pessoa portadora de deficiênciaaos meios de comunicação social;

II – criar incentivos para o exercício de atividades criativas,mediante:

a) participação da pessoa portadora de deficiência

Page 41: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

em concursos de prêmios no campo das artes e letras;b) exposições, publicações e representações

artísticas ;c) incentivar a prática desportiva formal e não-for-

mal como direito de cada um e o lazer como forma de promoçãosocial.

Art. 47. Os recursos do Programa Nacional de Apoio àCultura financiarão, entre outras ações, a produção e a difusãoartístico cultural de pessoa portadora de “deficiência.”Parágrafo único. Os projetos culturais financiados comrecursos federais, inclusive de programas especiais deincentivo à cultura, facilitando o acesso da pessoa portadorade “deficiência,” possibilitando o exercício dos seus direitos.Para o autor Sassaki (1999), a sociedade desconhece ashabilidades artisticas, intelectuais e culturais do portador denecessidades especiais. Na sua concepção:

A) Pessoa “deficiente” que possui habilidades artísticase literárias é melhor que atuem em conjunto com profissionaisou grupos sem deficiência, para não ficarem segregados.

B) Portadores de “deficiência” se envolvendo com acultura, para o seu desenvolvimento pleno, valorativo, natotalidade social.

Assim, as abordagens incentivam o educador a utilizar-seda interdisciplinaridade, das expressões artísticas através dejogos, brincadeiras, proporcionando atividades sociais emotoras. Iniciativas mostram que a educação, o esporte, acultura e o lazer, são de primordial importância para que ainclusão social ocorra não somente em âmbito estudantil,mas no restante da comunidade.

Os portadores de necessidades especiais geralmente sãosubestimados, e para mostrarem o contrário, necessitam deexperiências bem sucedidas, um passeio ao campo de futebol,concerto, cinema, teatro, isso é, mostrar que o outro interessapor seus desejos, histórias ou planos. Esta contextualizaçãohistórica mostra a importância da arte/educação para que seabram espaços em museus, centros culturais, ginásios deesportes, e em âmbito escolar, através de exposiçõescomunitárias, reforçando a experiência que a arte, o esporte eo lazer, trazem na vida destas pessoas.

Assim, o esperado será a introdução de profissionais daeducação física, especificamente adaptada, para fazerem acoesão: aluno-comunidade-escola, alunos não portadores denecessidades especiais e os ditos portadores.

Os profissionais não estão preparados para a inclusão, enem as famílias estão devidamente informadas sobre osdireitos adquiridos na Constituição de 1988. As equipesmultidisciplinares devem oportunizar a coesão aluno-escola-comunidade através de ações profissionais que incluam arte,lazer e esporte. Porém, é importante lembrar que estas açõesserão confrontadas pela falta de adaptação dos espaçosfísicos, tanto em âmbito estudantil como os logradourospúblicos e privados.

Considerações finais

A filosofia divergente, em âmbito escolar, enriquece osprojetos inclusivos. Várias pesquisas estão em fomento eeste é o momento adequado para que se busquemos espaçosem todos os sentidos, na cultura, no lazer, e especificamentenos esportes.

A mudança depende de recursos financeiros. Oseducadores e profissionais envolvidos com a questão devemerguer a bandeira inclusiva, já que no bojo da história foramesquecidos e desmerecidos.

Será primordial o profissional assistente social se envolvercom esta camada societária, usando de projetos sociaisinclusivos, garantindo a “cidadania plena,” através dosprofissionais do esporte, junto dos outros membrosintegrantes das equipes multidisciplinares.

Referências

Brasil (1988). Constituição da República Federativa do Brasil,promulgada em 05 de outubro de 1988. Organização dotexto: Juarez de Oliveira. 29ª ed. Saraiva, 2002.

Ministério da Educação (2004). Secretaria da Educação espe-cial Educação Inclusiva. Direito à educação: subsídiospara a gestão dos sistemas educacionais. Brasília:Ministério da Educação.

Ministério da Educação (2004). Secretaria da Educação Espe-cial Educação Inclusiva: O acesso de alunos comdeficiência às escolas e classes comuns da rede regular.Brasília: Ministério da Educação.

Penin, S. (1989). Cotidiano e escola A obra em construção –São Paulo: Cortez, vol. 2.

Sassaki, R. K. (2003). As escolas inclusivas na opiniãomundial.2003, disponível em: (http://www.entreamigos.com.br/Semimagem/textos/xeduca) 11de set. 2003.

Stainback, S. W. (1999). Inclusão Um Guia Para Educadores –Porto Alegre: Artes Médicas Sul.

Tulimoschi, M.E.G.F. (2004) Algumas Notas Sobre aContextualização Histórica da Educação Especial noBrasil: um retrato das tendências e suas funções nadinâmica e na estrutura dos serviços aos portadores dedeficiência nas APAES. São Paulo: Dezembro 2004. (http// www.netpsi.com.br/projetos/incluir algumas notas)Acesso em 30 dez 2004.

Nota sobre a autora

Maria Luisa da Costa Fogari é assistente social, formada no‘Centro Universitário Barão de Mauá.” Este trabalho foidesenvolvido para o Programa de Iniciação Científica.E-mail: [email protected]

39

Page 42: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Incidência de hipermobilidade articular em meninaspraticantes de ginástica artística

Marisilda ViúdesAdriana Inês de Paula

40

A presença de hipermobilidade articular entre a populaçãotem sido reconhecida desde a antiguidade. Inúmeros estudosinvestigam desde seus fatores predisponentes, tais comosíndromes hereditárias, diferenças étnicas, defeitos genéticose bioquímicos até os variados sistemas de avaliação utilizadosna detecção dessa desordem. As conseqüências dahipermobilidade articular podem ser benéficas para algunsatletas, contorcionistas e bailarinos, mas também há possíveisconseqüências negativas, como lesões ligamentares edesgaste exagerado da cartilagem articular.

A hipermobilidade articular é caracterizada pela facilidadede movimentar as articulações além do limite normal. É tambémconhecida como hiperlassidão e por frouxidão articular e aspessoas com essa desordem apresentam grande elasticidadearticular, conseguindo realizar muitas contorções do corpo(incluindo articulações com grandes limitações, como as dacoluna, das pernas e das mãos) sem dores, entusiasmandomuito os professores de educação física e os treinadoresesportivos (Figura 1). Essas pessoas têm uma alteração nostecidos que formam os músculos, ossos, articulações,ligamentos e tendões. Essa alteração é de origem genética epode variar de intensidade, que pode ser benigna, moderadaou radical. A hipermobilidade articular é uma condição queafeta mais de 10% da população mundial e, portanto, essequadro merece a atenção dos alunos e dos profissionais queatuam na área de atividade física.

Figura 1. Ilustração da posição de ponte acompanhada dehiperextensão da coluna.

O movimento articular

O movimento numa articulação ocorre como resultado domovimento de uma superfície articular em relação a outrasuperfície. O termo artrocinemática é empregado comoreferência aos movimentos das superfícies articulares.Comumente uma das superfícies articulares está mais estávelque a outra, servindo como base para o movimento, enquantoa outra superfície se desloca nesta base relativamente fixa.Os termos rolagem, deslizamento e rotação são empregadosna descrição do tipo de movimento realizado pela parteconsiderada. O tipo de movimento que ocorre numadeterminada articulação depende da forma das superfíciesarticulares. Em sua maioria, as articulações se enquadram numacategoria ovóide ou selar.

Numa situação ótima, uma articulação tem uma quantidadesuficiente de jogo para permitir a movimentação normal. Seas estruturas de sustentação da articulação estiverem frouxas,a articulação poderá ter jogo ou folga demais, tornando-seinstável. Se as estruturas estiverem apertadas, a articulaçãoterá um movimento demasiadamente pequeno entre assuperfícies articulares, e a quantidade de movimento sofrerárestrição.

Cada articulação possui uma Amplitude de Movimento(ADM) e lesões ocorrem com freqüência quando umaarticulação ultrapassa sua ADM. Em geral a ADM articular édeterminada pelos efeitos combinados: a) do formato dassuperfícies articulares e sua interação geométrica (grau decongruência óssea); b) da contenção proporcionada porligamentos, cápsula articular e outras estruturasperiarticulares; e c) da ação dos músculos ao redor daarticulação. Quando os limites impostos por esses fatoresestabilizadores são ultrapassados, a ADM normal é violada eos tecidos podem ser submetidos a forças capazes de produzirlesões.

Em geral, as articulações podem ser classificadas ao longode um continuum entre mobilidade–estabilidade, o qualespecifica que as articulações que possuem uma congruênciaóssea compacta, numerosas estruturas de apoio ligamentaresou que são circundadas por grandes grupos musculares, serãomuito estáveis e relativamente imóveis. Por outro lado, asarticulações com uma congruência óssea incompleta, apoioextrínseco limitado ou musculatura circundante mínima,tendem a ser muito móveis e instáveis.

Page 43: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Avaliação da hipermobilidade articular

Cada articulação no corpo possui uma ADM que épermissível e específica tanto para cada articulação comopara cada pessoa. A mensuração individual é o método maisseguro para determinar a ADM de cada articulação. Ela podevariar de testes clínicos simples, até métodos maissofisticados que usam avaliação radiológica, técnicasfotográficas e aparelho de mensuração da torção fixa.

O primeiro sistema de avaliação que estabeleceu oscritérios para a hipermobilidade foi planejado por Carter eWilkinson no início da década de 60 e avaliou os seguintesmovimentos articulares: a) oposição passiva do polegar paraa face flexora do antebraço; b) extensão passiva dos dedos afim de que eles estendam-se em paralelo com a face extensorado antebraço; c) a habilidade para estender os cotovelosmais que 10°; d) a habilidade para hiperextender os joelhosmais que 10°; e) uma excessiva amplitude de dorsiflexãopassiva do tornozelo e eversão do pé. Eles definiram ahipermobilidade articular generalizada quando três dos cincotestes de movimento foram positivos e encontrados em am-bos os membros, superiores e inferiores.

Avaliações mais complexas foram elaboradas no início dadécada de 60 por Kirk, Ansell e Bywater; Carter e Wilkinson,com tudo esses procedimentos de teste consumiam muitotempo para o uso rotineiro. Beighton e Horan reexaminaramos teste no final dos anos 60 e estabeleceram um método queavalia a mobilidade articular a partir de uma escala crescentevariando de 0 a 9 pontos, sendo que a somatória de 5 ou maispontos (4 bilaterais e 1 unilateral) permite o diagnóstico dehipermobilidade. Esse teste, conhecido como teste dos novepontos é ilustrado e descrito a seguir.

Teste dos nove pontos

Alguns processos de doença produzem flexibilidadeexcessiva, tais como a síndrome de Ehlers Danlos, a síndromede Marfan e a osteogênese imperfeita. Os indivíduos comdoenças do metabolismo de aminoácido, como homocistinúriae hiperlisinemia, também podem ter hipermobilidade articular.Não existe um limite nítido entre a elasticidade normal e asíndrome de Ehrers Danlos genuína, entretanto, é comumnesses casos a presença da hipermobilidade de nível radical.

A hipermobilidade benigna, por sua vez, consiste numpadrão generalizado da hipermobilidade, desacompanhadoda incidência de queixas músculo esqueléticas e é mais comumem pessoas do sexo feminino. Já a hipermobilidade moderadarefere-se a um padrão generalizado de hipermobilidadeassociado a queixas musculoesqueleticas. Muitas dessaspessoas apresentam um desenvolvimento muscular fraco.

Figura 2. Dorsiflexão passiva e hiperextenção da quintaarticulação metacarpo falangiana. Dedo mínimo além de90graus - 1 ponto para cada mão e dois pontos para ambas.

Figura 3. Aposição passiva do polegar à fase flexora doantebraço -1 ponto para cada polegar.

Figura 4. Hiperextensão do cotovelo além de 10graus -1 pontopara cada cotovelo.

Figura 5. Hiperextensão do joelho além de 10 graus - 1 pontopara cada joelho.

41

Page 44: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Figura 6. Flexão do tronco com joelhos completamenteextendidos para que as palmas das mãos repousem facilmentesobre a superfície de suporte (1 ponto).

A título de ilustração, apresentaremos abaixo os resultados(Figura 7) da utilização do teste dos nove pontos naquantificação e classificação do grau e da incidência dehipermobilidade articular em 78 meninas com idade variandoentre 5 e 12 anos, participantes do curso de ginástica olímpicaoferecido pela Prefeitura Municipal da cidade de São José doRio Preto - SP.

Figura 7. Escore do teste dos nove pontos das 78participantes. A partir dos 5 pontos é diagnosticada ahipermobilidade.

A análise dos resultados indicou uma incidência de 32%de hipermobilidade articular no grupo de meninas ginastas.Esses resultados salientam a importância com a qual a

0

1 2

3

4

5

6

7

8 9

02468

101214161820

pontuação

núm

ero

de p

artic

ipan

tes

hipermobilidade articular deve ser considerada e o teste dosnove pontos é viável e de fácil aplicação para tal detecção,podendo ser adotado na rotina de avaliação dos profissionaisde educação física e auxiliando num acompanhamento maisatento e específico aos seus alunos e atletas comhipermobilidade articular.

Referências

Alter, M.F. Ciência da flexibilidade. 2ª ed. Porto Alegre:Artmed, 1999.

Dantas, E.H.M. Flexibilidade, alongamento e flexionamento.5ª ed. Rio de Janeiro: Shape, 2005.

Fronteira, W., Dawson, D.M., Slovik, M. Exercício físico erehabilitação. Porto Alegre: Artmed, 2001.

Hall, S. Biomecânica básica. 3ª ed. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 2000.

Norkin, C.C., Levangie, P.K. Articulações, estrutura e função.2ª ed. Rio de Janeiro: Artes Médicas, 2001.

Rasch, P.J. Cinesiologia e anatomia aplicada. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 1991.

Smith, L.K., Weiss, E.L., Lehmkuhl L.D. Cinesiologia Clínicade Brunnstrom. 5ª ed., São Paulo: Manole, 1997.

Whiting, W.C., Zernicke, R.F. Biomecânica da lesãomusculoesquelética. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,2001.

Nota sobre as autoras

Marisilda Viudes Arali VieiraEspecialista em bases fisiológicas do movimento humano peloCentro Universitário de Rio Preto e professora do curso deginástica olímpica da SMEL/ São José do Rio Preto.

Adriana Inês de PaulaLicenciada em educação física UNESP de Bauru. Mestre edoutoranda em ciências da motricidade na UNESP de RioClaro. É docente das Faculdades Integradas de Bauru. É aatual tesoureira da Sobama.

E-mail: [email protected]

42

Page 45: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

ISAPA 2007 no BrasilWeb site: http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/isapa/welcome.htm

43

Page 46: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

ISAPA 2007 no BrasilWeb site: http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/isapa/welcome.htm

44

Page 47: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Erasmus Mundus faz sua chamada para inscrições no mestrado europeu ematividade física adaptada 2007-2008

Prazo final: 31 de janeiro de 2007Web site: http://www.erasmusmundus.be/noneu/deadline.htm

45

Page 48: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Para Pan AmericanoWeb site: http://www.brasilnopan.com.br/

46

Page 49: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Web site da Sobama: http://www.sobama.org.br

47

Page 50: ISAPA Brazil 2007 - Página do Câmpus de Rio Clarorc.unesp.br/ib/efisica/isapa/adaptafinalglobal.pdf · O lugar da educação física Rivana dos Santos Dutra Silvana de Souza Marques

..... ADAPTA ..... A revista profissional da Sobama ..... 2006 ..... Ano II .....

Normas para publicação

Apresentação

A revista Adapta é a revista profissional da Sobama. É umoutro órgão de divulgação da Sociedade Brasileira deAtividade Motora Adaptada que foi criada para atender àsnecessidades de divulgação e discussão da práticaprofissional em atividade física adaptada. A revista Adaptaaceita a submissão de manuscritos de profissionais,pesquisadores e interessados em diferentes áreas comoeducação física e esportes, fisioterapia, educação especial,psicologia e outras cujos manuscritos tenham perfisdirecionados à área de atividade física adaptada oupertinentes aos interesses dos leitores da revista Adapta.Cabe ao Conselho Editorial da revista Adapta decidir sobre apertinência da colaboração.

Apreciação pelo Conselho Editorial

O manuscrito é aceito para análise pressupondo-se que:(a) o mesmo não foi publicado e nem está sendo submetidopara publicação em outro periódico; (b) todas as pessoaslistadas como autores aprovaram o seu encaminhamento àrevista Adapta; (c) qualquer pessoa citada como fonte decomunicação pessoal aprovou a citação; (d) fotos eilustrações têm autorização para serem publicadas.

Os trabalhos enviados serão apreciados pelo ConselhoEditorial e os autores serão notificados da aceitação ou recusade seus manuscritos.

Pequenas modificações no texto poderão ser feitas peloEditor ou pelo Conselho Editorial da Revista. Quando estejulgar necessárias modificações substanciais, o(s) autor(es)será(ão) notificado(s) e encarregado(s) de fazê-las,devolvendo o trabalho reformulado no prazo máximo de trêssemanas.

Forma de Apresentação dos Manuscritos

Os manuscritos deverão ser encaminhados comidentificação completa dos autores, digitados em espaçoduplo, fonte tipo Curier, tamanho 12. Para estimar aequivalência considere que uma página impressa dapublicação corresponde a 3 páginas do manuscrito e portanto,recomendamos que o manuscrito tenha no mínimo 6 páginasconsiderando as fotos e/ou ilustrações. As fotos deverãoser indicadas numericamente ao longo do texto e enviadasem arquivo separado. O encaminhamento de arquivos

eletrônicos das figuras em formato JPG é recomendado aosautores para assegurar a qualidade de reprodução.

A apresentação dos trabalhos deve seguir a seguinte ardem:

· Título em português;· Nome de cada autor, seguido por uma afiliaçãoinstitucional;· Indicação do autor a quem o leitor do artigo deve secorresponder seguido de endereço eletrônico;· Nota sobre autores, que deve conter informações taiscomo: nome completo; titulação; filiação profissional,acadêmica ou esportiva; endereço para correspondência; linkpessoal ou institucional, etc.· Texto propriamente dito

Para outros detalhamentos tais como citações de obras,referências bibliográficas ou casos omissos, as normas deinstruções da Revista da Sobama deve ser consultado: http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/sobama/sobamaorg/inicio.htm

Endereço para Encaminhamento

Adriana Inês de PaulaE-mail: [email protected] Adapta - ISSN 1808-8902

48