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ANALISE DA ESTRATÉGIA
SUSTENTÁVEL NAS ORGANIZAÇÕES
COM AUXÍLIO DO MÉTODO AHP
Lucas Rebello de Oliveira (UFF)
Eduardo Ferraz Martins (UFF)
Gilson Brito Alves Lima (UFF)
Helder Gomes Costa (UFF)
O presente estudo irá apresentar uma metodologia para a avaliação
estratégica sustentável das organizações. Este procedimeto integra
conceitos do Método de Análise Hierárquica (Analytic Hierarchy
Process, AHP) aos da Matriz de Alinhamento EEstratégico Sustentável
(MAES), que utiliza conceitos do Balanced Score Card (BSC) e do
Triple Bottom Line (TBL). Baseado na aplicação feita numa
distribuidora de energia elétrica, foram propostos 5 passos para que se
possa avaliar de forma efetiva a inserção da sustentabilidade na
estratégia empresarial.
Palavras-chaves: Planejamento Estratégico; Sustentabilidade; BSC;
AHP
5, 6 e 7 de Agosto de 2010 ISSN 1984-9354
VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável
Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010
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1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Grandes revoluções industriais e tecnológicas marcaram os últimos séculos e foram
determinantes para o surgimento de novas técnicas produtivas em praticamente todos os
setores da economia. Segundo Wiig (1997), a revolução industrial beneficiará aqueles que
melhor administrarem pessoas e os recursos disponíveis, produzindo bens e serviços de
qualidade aceitável e preço competitivo. Essa mudança ampliou significativamente a
capacidade produtiva, contudo este novo contexto gerou uma série de efeitos colaterais para a
sociedade na qual o modelo produtivo esta inserido.
Dentre esses problemas destacam-se concentração de riquezas, desigualdade social,
desemprego, prejuízos ambientais, dificuldades nas relações entre as empresas, e destas com a
sociedade e o meio ambiente passaram a ser problemas enfrentados pela sociedade no seu
cotidiano (ALMEIDA, 2007). A combinação desses efeitos foi fundamental para o
surgimento de diversas correntes de pensamento, estudos e pesquisas com objetivo de criar
um modelo que permita a sociedade manter seu nível de crescimento e, ao mesmo tempo,
aprimorar a interação da humanidade com o meio ambiente e com outros seres humanos.
Dentre os estudos de reconhecida relevância, destacam-se Carson (1962) e Boulding,
(1966), que mudaram a perspectiva das discussões sobre a relação do homem com o meio
ambiente, Friedman (1970) e Freeman (1984), responsáveis pela criação dos conceitos das
abordagem shareholder e stakeholder respectivamente, que direcionam as discussões em
torno da responsabilidade social corporativa. Ressalta-se ainda o Relatório Limites do
Crescimento, de Meadows (1972), estudo que apontou a eminencia de um colapso da natureza
caso a tendencia expanssionista de consumo dos recursos não sofresse significativa redução.
Uma possibilidade de resposta ao paradigma abordado nestes trabalhos surgiu, em
1987, com a apresentação oficial do termo “Sustentabilidade”, na Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), da Organização das Nações Unidas (ONU),
presidida pela ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Definido como a
capacidade de prover o crescimento e suprir as necessidades da geração presente sem afetar a
habilidade das gerações futuras de suprir as suas (CMMAD, 1987), o termo Sustentabilidade
significa, prover o melhor para a economia, para as pessoas e comunidades envolvidas e para
o meio ambiente, tanto agora quanto em futuro indefinido, através de boas práticas.
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Embora o conceito tenha sido definido e aprovado pela grande maioria dos
prticipantes, o mesmo ainda parecia utópico e vago para ser de fato adotado pelas
organizaçãos (DRUMMOND, 1999), e isso dificultava a elaboração de um plano de ações que
promovesse a sustentabilidade empresarial. Elkington (1994) apud Lima (2009) apresentou a
solução para tal problema, apresentando o conceito do “Triple Bottom Line” (TBL), também
conhecido por 3P (People, Planet e Profit), no português seria PPL (Pessoas, Planeta e
Lucro). Essa abordagem ganhou destaque nas discussões empresariais uma vez que criou um
modelo que balisaria as discussões do tema, criando uma atmosfera favorável para a discussão
do assunto por organizações que ainda não haviam se sensibilizado com a questão.
É comum que grandes organizações, tenham operações que causem impactos
ambientais, tenham grande interação com comunidades do entorno da área de operação e
muitas vezes demandem grande investimento financeiro. Outros fatores como a crescente
quantidade de leis e regulamentações criadas nos últimos anos fez com que as questões
sustentáveis se tornassem praticamente obrigatórias para essas organizações (ALMEIDA,
2007). Contudo, apesar da maioria delas tenha incluído a busca pela sustentabilidade em suas
missões e visões, ainda são poucas as organizações reconhecidas como benchmarking no que
se refere as ações de sustentabilidade. Segundo Almeida (2007), isso se deve principalmente a
falta de modelos que aliem de forma eficaz as ferramentas de planejamento estratégico usadas
atualmente com os conceitos da sustentabilidade.
A união do “Balanced Score Card” (NORTON e KAPLAN, 1994), com os conceitos
do TBL geraram a Matriz de Alinhamento Estratégico Sustentável (OLIVEIRA, 2007) a partir
da qual foi possível efetuar análises do grau de inserção dos conceitos da sustentabilidade na
estratégia empresarial. Uma evolução da ferramenta foi a introdução de pesos a cada um dos
quadrantes, utilizando para isso, o Método de Análise Hierárquica (Analytic Hierarchy
Process, AHP) que permitiu analisar o quanto a organização efetivamente insere a
sustentabilidade no seu mapa estratégico (OLIVEIRA, MARTINS e LIMA, 2010).
2. JUSTIFICATIVA E OBJETIVO
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As discussões abordadas no contexto do item anterior admitem a hipótese de que a
sustentabilidade é um dos temas que mais afetam as organizações na atualidade, considerando
que todo processo produtivo gera impactos econômicos, sociais e ambientais. Por outro lado,
a limitação de propostas metodológicas que relacionem o tema da sustentabilidade ao
contexto do planejamento estratégico das organizações faz com que a discussão seja ainda
mais relevante e tenha maior necessidade.
Neste aspecto, o presente estudo busca discutir uma estrutura metodológica preliminar
como base para suporte ao processo de avaliação da inserção das práticas da sustentabilidade
no contexto estratégico das organizações.
3. ABORDAGEM TEÓRICA
3.1 Princípios do Triple Bottom Line
De acordo com os argumentos ressaltados na seção anterior, o conceito do “Triple
Bottom Line” facilitou a adoção de questões sustentáveis nas organizações através de uma
abordagem simples e direta. Com o tempo, os pilares tiveram sua denominação consagrada
em: econômico, social e ambiental. Analisando cada um dos pilares separadamente tem-se as
seguintes definições:
Econômico: criação de empreendimentos viáveis, atraentes para os investidores;
Ambiental: interação de processos com o meio ambiente sem causar-lhe danos
permanentes;
Social: estabelecimento de ações justas para trabalhadores, parceiros e sociedade.
O relacionamento desses três pilares se realiza de tal forma que a interseção entre
dois pilares dois deles resulta em viável, justo e vivível, e dos três resultaria no alcance da
sustentabilidade, conforme mostrado na figura 01.
Recentemente, mais um pilar foi incorporado aos Bottom lines tradicionais: o pilar
cultural. No entanto, uma vez que esse pilar ainda não foi totalmente incorporado pelas
organizações como forma de análise para a sustentabilidade, ele não foi considerado, devido
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ao fato da ferramenta utilizada na metodologia proposta ser baseada em conceitos e
ferramentas com alto grau de aceitação.
Figura 1 - Sustentabilidade Corporativa na abordagem TBL
Fonte: Elkington apud Lima (2009)
3.2 Princípios do Balanced Scorecard
O BSC é o instrumento de planejamento estratégico mais utilizado pelas empresas na
atualidade. Desenvolvido na década de 90 por Robert Kaplan e David Norton, de Harvard, é
uma ferramenta que busca facilitar tanto o entendimento quanto a visualização da estratégia
por todos os integrantes da organização, destacando as relações de causa e efeito entre os
objetivos estratégicos.
A afirmação acima é corroborada por Hikage (2006), sob o argumento de que o BSC
é um sistema de gestão baseado em indicadores de controle interligados logicamente, cujos
benefícios são a tradução da missão e da estratégia em objetivos e medidas organizados nas
perspectivas financeira, dos clientes, dos processos internos e aprendizado e crescimento.
A utilização deste modelo se pauta na mensuração e posterior inter-relação dos
pilares propostos. Os autores atentam para o fato de que cada organização deve definir seus
pilares de acordo com sua estratégia e seus objetivos particulares, sem a obrigatoriedade de
manter os 4 pilares propostos.
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A MAES utiliza os pilares metodológicos de modo que tanto a ferramenta proposta
quanto a abordagem utilizada sejam mais facilmente compreendidas. Na figura 02 pode-se
visualizar o relacionamento entre os pilares do BSC, conforme as perspectivas:
Financeiro
Clientes Planejamento Estratégico e Visão Processos Internos
Aprendizado e Crescimento
Figura 02 – Adaptação do Relacionamento entre os Pilares do BSC
Fonte: Kaplan et Norton (1997)
O significado de cada um dos pilaresconsagrados de acordo com a proposta de
Norton e Kaplan (1997) estão descritos abaixo:
O objetivo da perspectiva financeira é avaliar a lucratividade da estratégia,
permitindo a medição e avaliação dos resultados que o negócio proporciona e quais são suas
necessidades para crescer e se desenvolver, assim como para satisfazer os seus acionistas. Já a
perspectiva do cliente busca identificar os segmentos de mercado visados e as medidas do
êxito da empresa nesse segmento. É responsável por identificar os fatores competitivos que
são importantes para os clientes. Geralmente essa preocupação situa-se em torno de quatro
categorias: tempo, qualidade, desempenho e serviço.
A perspectiva dos processos internos é normalmente elaborada após as perspectivas
financeira e dos clientes. Normalmente essas duas perspectivas fornecem as diretrizes para
seus objetivos. Os processos internos correspondem as diversas atividades realizadas dentro
da organização desde a identificação das necessidades até a satisfação dos clientes. Abrangem
os processos de inovação (criação de produtos e serviços), operação (produção e
comercialização) e de serviços pós-venda (suporte ao consumidor após as vendas).
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A perspectiva do aprendizado e crescimento, que se encontra na base do modelo,
oferece os subsídios necessários para o êxito das demais perspectivas, ou seja, é ela que
identifica se há infra-estrutura necessária para propiciar o crescimento e melhorias em longo
prazo, as quais destas provêm de três fontes principais: pessoas, sistemas e procedimentos
organizacionais. Identifica também as capacidades de que a empresa deve dispor para
conseguir processos internos capazes de criar valor para clientes e acionistas.
3.3 Princípios do Analitic Hierarchy Process
Criado por Saaty (1980) no final dos anos 70, o AHP é uma metodologia de Auxilio
Multicritério à Decisão. Seu objetivo é tratar problemas complexos de escolha de forma
simples, facilitando o processo decisório. Entretanto, alguns autores como Babic (1998) tem
utilizado a metodologia como auxilio na distribuição de pesos na tratativa de um problema.
Os três princípios do pensamento analítico nos quais o método está baseado são:
Construção de hierarquias: No AHP o problema é decomposto em níveis
hierárquicos, como forma de buscar uma melhor compreensão e avaliação do mesmo.
Estabelecer prioridades: Os ajustes das prioridades no AHP fundamentam-se
na habilidade do ser humano de perceber o relacionamento entre objetos e situações
observadas, comparando pares à luz de um determinado foco ou critério (julgamentos
paritários).
Consistência lógica: No AHP, é possível avaliar o modelo de priorização
construído quanto a sua consistência.
Para executar o AHP, Saaty (1980) propõe que sejam seguidas as seguintes etapas:
1. Definir alternativas;
2. Definir os critérios relevantes para o problema de decisão;
3. Avaliar as alternativas em relação aos critérios;
4. Avaliar a importância relativa de cada critério;
5. Determinar a avaliação global de cada alternativa
Ribeiro e Costa (1999) detalharam um pouco mais as etapas para facilitar o processo
de construção da seguinte forma: 1 - Especificação do foco principal ou objetivo geral que se
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espera atingir com a classificação; 2 - Identificação do conjunto de alternativas viáveis para a
priorização; 3 - Identificação do conjunto de critérios relevantes e construção da hierarquia;
4 - Seleção dos julgadores e definição dos métodos para obtenção dos julgamentos paritários.
É nesta etapa de julgamentos paritários que se avalia a importância de cada critério e o
desempenho de cada alternativa à luz dos critérios; 5 - Síntese dos dados obtidos dos
julgamentos, calculando-se a prioridade de cada alternativa em relação ao foco principal; 6 -
Análise da consistência do julgamento, identificando se o quanto o sistema de classificação
utilizado é consiste na classificação das alternativas viáveis, o máximo valor permitido na
razão de consistência (RC) é 10%. Vale registrar que o sistema é composto pela hierarquia,
pelos métodos de aquisição dos julgamentos de valor e pelos julgadores.
Na figura 03 é possível observar, a título de ilustração, um exemplo genérico de uma
hierarquia completa com um nível de critérios. Nessa hierarquia os desempenhos das n
alternativas devem ser analisados à luz de m critérios de forma paritária (par a par), com base
na escala de julgamentos apresentada cujo valor é 1 para alternativas de igual preferência, 3
para o caso de preferência fraca, 5 em casos moderados, 7 quando a preferência é forte e 9
quando é absoluta. Podem ser atribuídos valores intermediários (pares) caso o decisor julgue
necessário.
Figura 3 – Exemplo de Hierarquia do AHP
Fonte: Adaptado de Ribeiro e Costa (1999)
4. ABORDAGEM METODOLÓGICA
A abordagem do problema apresentado no trabalho caracteriza-o como exploratório,
pois “A pesquisa exploratória procura conhecer as características de um fenômeno para
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procurar explicações das causas e conseqüências de dito fenômeno” (RICHARDSON, 1989).
Segundo Yin (2004), um estudo de caso único destaca a sua adoção para pode ser utilizado
para confirmar, contestar ou estender a teoria, podendo ser utilizado para verificar se as
proposições teóricas são corretas ou se há algum conjunto alternativo e relevante de
explanações.
Segundo este autor, o método que utiliza estudo de caso possui a vantagem de lidar
com uma grande variedade de evidências, como documentos, entrevistas e observações. Dessa
forma, a formulação da metodologia proposta deu-se após a aplicação e avaliação das
oportunidades de melhoria percebidas no estudo de caso realizado em uma empresa de
Distribuição de Energia Elétrica de grande porte, amplamente reconhecida, através de
informações de domínio público divulgadas anualmente pela organização, buscas no site
oficial da empresa e evidências coletadas pelos autores em visita técnica.
4.1. ETAPAS UTILIZADAS PARA ANÁLISE ESTRATÉGICA
A primeira etapa considerou a abordagem discutida por Oliveira, Martins e Lima
(2010) e consistiu em conciliar a Matriz para Alinhamento da Estratégia Sustentável (quadro
I) ao AHP com auxílio do programa IPÊ (COSTA, 2004).
Quadro I - Matriz para Alinhamento da Estratégia Sustentável
Pilares Social Econômico Ambiental
Financeiro
Distribuição de ganhos às
partes interessadas
(fornecedores, distribuidores,
comunidades, e demais
interessados)
Criação de estrutura que
sustente outras atividades
na região
Maximização dos lucros
Maximização das
receitas
Investimentos em
tecnologias alinhadas aos
conceitos de P+L e de
inovação
Participação em índices de
sustentabilidade
Participação no programa
de créditos de carbono
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Clientes
Aumento da percepção
externa quanto ao seu
comprometimento social através do
desenvolvimento de
programas sociais junto
aos órgãos públicos ou
privados
Aumento da participação
no mercado
Retenção de clientes
Identificação de novos
mercados
Aumento da percepção
externa quanto ao seu comprometimento
ambiental com o
desenvolvimento de
programas ambientais
Processos
Internos
Transparência, ética e
tratamento justo nos relacionamentos intra-
organizacionais (seleção,
avaliação e contato com
todos os stakeholders)
Otimização de processos
produtivos internos e
externos
Estabelecimento de
padronização, reduzindo
erros e desperdícios
Exigência de práticas
ambientalmente corretas
nos processos intra-
organizacionais
Implantação de normas
ambientais
Aprendizado e
Crescimento
Desenvolvimento cultural e educacional dos
stakeholders do processo
Investimento no
desenvolvimento de
competências necessárias e aderentes aos
resultados da
organização
Conscientização,
desenvolvimento e multiplicação de cultura
ambientalmente
responsável
Fonte: Oliveira (2007)
De forma a permitir a interação proposta, buscou-se a estruturação da árvore de
decisão apresentada na figura 4, a seguir, onde as dimensões social, econômico e ambiental
(TBL) foram alocadas como critérios, e os pilares financeiro, clientes, processos internos e
aprendizado e crescimento (BSC) foram alocados como sub-critérios.
Figura 04 – Adaptação da MAES ao Programa IPÊ
A segunda etapa consistiu na avaliação realizada por especialistas de uma empresa de
Distribuição de Energia Elétrica, através de entrevistas individuais com 1 hora e meia de
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duração, para coleta de dados e de uma reunião conjunta para a avaliação paritária. Nestas
reuniões foram abordados temas referentes à relevância das questões sustentáveis nas ações
estratégicas e operacionais da empresa. A avaliação foi realizada paritariamente com a
utilização escala linear mencionada anteriormente. Tais reuniões permitiram desenvolver um
diagnóstico estratégico da organização. Nesta fase foram utilizados ainda o Relatório de
Sustentabilidade da Organização e o Relatório do Prêmio Nacional de Qualidade. Destaca-se
também a utilização dos mapas estratégicos da empresa na analise do resultado.
Para elucidar o perfil dos avaliadores, serão apresentadas as descrições de cada um a
abaixo. O especialista representante da área financeira se formou em engenharia de produção,
tem 5 anos de experiência na empresa, e já trabalhou em diversas áreas da empresa, desde a
operacional, planejamento estratégico à de relacionamento com o investidor. O especialista
ambiental possui graduação em administração de empresas, e trabalha na empresa a 3 anos,
sempre em áreas relacionadas e meio ambiente como licenciamento e sistema de gestão
ambiental. Por fim, o especialista responsável pelo pilar social também possui graduação em
engenharia de produção, esta na organização a 4 anos e 6 meses. Atuou na liderança de alguns
projetos sociais na área de Responsabilidade social, e também fez parte da área de
planejamento da organização.
A Figura 05 apresenta um exemplo ilustrativo da ferramenta multicritério utilizada
como apoio na avaliação. Nela é possível observar os sub-critérios anteriormente descritos:
Aprendizado, Processos, Clientes e Financeiro, que foram comparados paritariamente.
Ressalta-se que o mesmo estudo foi realizado para as dimensões Ambiental e Social, e antes
disso houve uma análise entre os 3 pilares do TBL.
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Figura 05 – Programa IPÊ Avaliação paritária
A terceira etapa consistiu na avaliação dos pesos gerados. A partir destes resultados foi
possível aumentar o entendimento do posicionamento estratégico da organização. No entanto,
os resultados obtidos na primeira rodada não foram satisfatórios, tanto devido a razão de
consistência (RC) ter ficado acima de 10% em um dos bottom lines, quanto pela distribuição
de pesos entendida como não real pelos especialistas. Devido a isso, o procedimento foi
repetido até os especialistas concordarem com os pesos de cada quadrante. Abaixo são
apresentados os resultados da 1ª rodada de avaliação e o da 2ª, que acabou sendo o resultado
final.
1ª Rodada 2ª Rodada
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Figura 06 – Avaliações dos Especialistas Fonte: Oliveira, Martins e Lima (2010)
A quarta etapa consistiu na avaliação dos resultados obtidos, sem a participação dos
especialistas, com uma análise sobre a evolução dos mapas estratégicos da organização entre
2006 e 2008 (figura 07).
Na época da avaliação, a organização se encontrava em um grande processo de
mudança estratégica, que modificou consideravelmente seus processos. O problema do furto
de energia fez com que a empresa buscasse tecnologias alternativas para o processo de
distribuição. Paralelamente a isso, buscou aprimorar o entendimento das demandas dos
diversos stakeholders com os quais se relaciona, colocando-os como dimensões no mapa
estratégico e iniciou um movimento ambiental mais consistente, buscando obter a certificação
da ISO 14000.
Figura 07 – Mapa estratégico 2008
Na análise final foi percebido que a RC entre os pilares do TBL apresentou melhora,
tendo seus valores reduzidos de 0,025 para 0,008 após a discussão do grupo.
Destacou-se também, a redução da RC do pilar ambiental, 0,135 para 0,095, ou seja,
dentro no limite de 10%. No que se refere à geração dos pesos foi concluído que as diversas
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iniciativas de relacionamento da empresa com seus stakeholders ainda não tiveram o tempo
necessário para obter resultados mais significativos, mas sua existência demonstra a
preocupação da organização com a questão social.
Outro fator destacado foi a inserção de objetivos ambientais no mapa de 2008, que
corrobora o processo de mudança em que a organização se encontrava, deixando claro que
suas iniciativas não eram modismos ambientais, e que ela estava efetivamente preocupada
com a questão. Entrementes, devido ao fato desta preocupação ser recente, o pilar obteve
aumento de peso, da 1ª para a segunda rodada, mas ainda assim teve uma importancia relativa
menor que os outros.
O trabalho fora considerado, à época, satisfatório, no contexto da apresentação de
contribuições ao processo de analise da inserção da sustentabilidade da estratégia, ensejando,
contudo, oportunidades de melhoria no aspecto metodológico.
4.2 Subsídios para Analise da Inserção da Sustentabilidade no Contexto da Estratégia
Organizacional
De forma a subsidiar a realização de uma avaliação mais efetiva, buscou-se a
proposição de 5 passos:
Passo 1: Selecione funcionários de níveis distintos para efetuar a análise. No primeiro
ensaio foram entrevistados 3 especialistas, cada um representando a visão de um bottom line,
no entanto foi percebido em alguns momentos a falta de uma visão integrada que permitisse
avaliar a inserção da sustentabilidade na estratégia sem um pré julgamento devido as
atividades rotineiras de cada um. A sugestão é que nesta etapa sejam selecionados 3
especialistas, um para cada bottom line, como feito na pesquisa anterior, 4 para analisar o
âmbito dos processos do BSC, e dois membros da gerência ou direção, que elucidem questões
estratégicas durante a discussão.
Passo 2: A votação deve ser feita de forma conjunta, e necessita ser consensual. Na
primeira rodada, os três especialistas devem avaliar paritariamente os pilares do TBL e chegar
a um consenso. Caso este não seja alcançado, os dois membros da gerência devem prover
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informações para que se chegue a uma conclusão. O mesmo procedimento será adotado para
as avaliações das perspectivas do BSC, sub-critérios, sendo que neste caso o especialista do
bottom line pode auxiliar na discussão junto aos gerentes. No trabalho anterior uma
dificuldade foi buscar o consenso sem que os especialistas tivessem acesso a todas as
informações sobre a estratégia da organização, por isso ressalta-se a importancia da
participação de membros estratégicos da organização neste processo.
Passo 3: Deixe claro que a razão de consistência não deve ser superior a 10%. Como
esta é uma premissa do AHP, deve ser respeitada de modo que se mantenha a coerência da
sistemática de avaliação. No estudo anterior (OLIVEIRA, MARTINS e LIMA, 2010), a
primeira rodada de avaliação gerou pesos que, segundo os especialistas, não refletiam o grau
de inserção da sustentabilidade na estratégia e ainda apresentou RC superior a 10%. Caso a
distribuição de pesos tivesse apresentado um resultado satisfatório, os avaliadores poderiam
questionar a necessidade de uma nova avaliação unicamente devido a problemas de
consistência.
Passo 4: Avalie os pesos para que não ocorra inversão de ordem de uma rodada para
outra. Embora os percentuais sejam alterados, espera-se que o critério ou sub-critério que
obteve maior peso em uma rodada mantenha esta posição nas demais, visto que houve uma
discussão e foi alcançado um consenso. No trabalho anterior não houve este tipo de problema,
no entanto para que a análise não seja considerada inconsistente, esta regra deve ser
respeitada.
Passo 5: Junto aos avaliadores, relacione as informações com os mapas estratégicos
dos últimos 3 anos, no mínimo. Esta avaliação permitirá visualizar se os objetivos da
organização estão evoluindo em consonância com os paradigmas da sustentabilidade e
forçarão os avaliadores a refletir sobre as iniciativas da organização. No mesmo estudo
mencionado no passo 3, esta avaliação ocorreu, porém não de forma conjunta, e sua
realização só foi possível devido ao fato dos autores terem trabalhado na empresa avaliada, na
área de planejamento estratégico.
A utilização dos passos busca sustentar, de forma estruturada, os gestores
organizacionais no processo de avaliação da inserção da sustentabilidade na estratégia.
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5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE DESDOBRAMENTOS FUTUROS
A adaptação estruturada da MAES ao AHP possibilitou uma análise consistente da
metodologia proposta, tanto sob a perspectiva dos pesos no contexto de abordagem dos
pilares do TBL quanto no contexto das perspectivas do BSC. A avaliação da consistência e os
especialistas que suportam o processo decisório possibilitaram julgamentos racionais e
contribuiu para a validade ao processo.
A análise integrada dos resultados obtidos com os mapas estratégicos junto aos
especialistas possibilitou uma visão efetiva do cenário em que a organização se encontra.
Dentre as sugestões para desdobramentos futuros apresentam-se: desenvolvimento de um
conjunto de indicadores para cada um dos quadrantes da MAES; a análise e respectiva
proposição de novos pilares que integrem os macros processos empresariais ao TBL, e a
verificação da influência da Cultura nas demais dimensões do Triple Bottom Line.
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