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Revista SÍNTESE Direito Previdenciário ANO XIII – Nº 61 – JUL-AGO 2014 REPOSITÓRIO AUTORIZADO Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013 Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087 Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria nº 03, de 31.05.2012 – Registro nº 26 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR DIRETOR EXECUTIVO Elton José Donato GERENTE EDITORIAL E DE CONSULTORIA Eliane Beltramini COORDENADOR EDITORIAL Cristiano Basaglia EDITORA Valdinéia de C. Tessaro de Souza CONSELHO EDITORIAL Danilo Ribeiro Miranda Martins, Érica Paula Barcha Correia, Heloísa Hernandez Derzi, Ivani Contini Bramante, José Aldizio Pereira Junior, Marcus Orione G. Correia, Maria Garcia, Marisa Ferreira dos Santos, Oscar Valente Cardoso, Roberto Luis Luchi Demo, Wladimir Novaes Martinez COMITÊ TÉCNICO Hermes Arrais Alencar, Luciano Marinho Filho, Tatiana Sada Jordão COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Anderson Dario, Bruno Sá Freire Martins, Christian Aggensteiner Catunda, Erica Paula Barcha Correia, Marco Aurélio Serau Junior, Tiago Valero Brait, Wladimir Novaes Martinez ISSN 2237-714X

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Revista SÍNTESEDireito Previdenciário

Ano XIII – nº 61 – Jul-Ago 2014

ReposItóRIo AutoRIzAdo

Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087

Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria nº 03, de 31.05.2012 – Registro nº 26 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS

Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR

dIRetoR eXecutIvo

Elton José Donato

geRente edItoRIAl e de consultoRIA

Eliane Beltramini

cooRdenAdoR edItoRIAl Cristiano Basaglia

edItoRAValdinéia de C. Tessaro de Souza

conselho edItoRIAlDanilo Ribeiro Miranda Martins, Érica Paula Barcha Correia,

Heloísa Hernandez Derzi, Ivani Contini Bramante, José Aldizio Pereira Junior, Marcus Orione G. Correia,

Maria Garcia, Marisa Ferreira dos Santos, Oscar Valente Cardoso, Roberto Luis Luchi Demo,

Wladimir Novaes Martinez

comItê técnIcoHermes Arrais Alencar, Luciano Marinho Filho, Tatiana Sada Jordão

colAboRAdoRes destA edIçãoAnderson Dario, Bruno Sá Freire Martins, Christian Aggensteiner Catunda,

Erica Paula Barcha Correia, Marco Aurélio Serau Junior, Tiago Valero Brait, Wladimir Novaes Martinez

ISSN 2237-714X

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2011 © SÍNTESE

Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE.

Publicação mensal de doutrina, jurisprudência, legislação e outros assuntos trabalhistas e previdenciários.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores.

Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec-tivos tribunais.

A solicitação de cópias de acórdãos na íntegra, cujas ementas estejam aqui transcritas, e de textos legais pode ser feita pelo e-mail: [email protected] (serviço gratuito até o limite de 50 páginas mensais).

Distribuída em todo o território nacional.

Tiragem: 5.000 exemplares

Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração

Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço [email protected].

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Revista SÍNTESE Direito Previdenciário. – Ano 13, n. 61 (jul./ago. 2014)- . – São Paulo: IOB, 2011- . v. ; 23 cm.

Trimestral: 2001-2011. Bimestral: 2011- . Continuação de: Revista de Direito Social. Ano 1, n. 1 (jan./mar. 2001)-ano 10, n. 42 (abr./jun. 2011). Publicação: Sapucaia do Sul: Notadez, 2001-2010; São Paulo: SÍNTESE, 2011. Descrição baseada em: Ano 10, n. 43 (jul./ago. 2011).

ISSN 2237-714X

1. Ciências sociais aplicadas - Periódico. 2. Legislação social - Periódico. 3. Direito previdenciário - Periódico.

CDU: 34:368.4 CDD: 341.67

Bibliotecária responsável Jucelei Rodrigues Domingues – CRB 10/1569

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036‑060 – São Paulo – SPwww.iobfolhamatic.com.br

Telefones para ContatosCobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900E-mail: [email protected]

Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7283888

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Carta do Editor

Nesta edição da Revista SÍNTESE Direito Previdenciário aborda-mos, no Assunto Especial, o tema “O Dano Moral Previdenciário”, com a publicação de um excelente artigo da Dra. Erica Paula Barcha Correia e um Acórdão na Íntegra do TRF da 2ª Região.

A ilustre Professora salienta que

Com a constitucionalização da reparação por dano moral pela Carta Maior de 1988, abriu-se novo horizonte para busca da reparação por dano moral, decorrente do abandono da perspectiva individualista do antigo Código Civil e substituição pela tutela da dignidade humana no plano constitucional.

Já na Parte Geral levamos, a você, leitor, o que há de mais atual e relevante no Direito Previdenciário.

Na Seção de Doutrinas, publicamos um vasto conteúdo de autoria dos Mestres Wladimir Novaes Martinez, Bruno Sá Freire Martins, Tiago Valero Brait e Anderson Dario.

Destacamos, também, a Seção Especial intitulada “Com a Pa-lavra, o Procurador”, com um texto do Procurador Federal Christian Aggensteiner Catunda, abordando “As Novas Regras para a Retirada de Patrocínio nas Entidades Fechadas de Previdência Complementar: As-pectos Econômico-Financeiros e Atuariais”.

Por fim, informamos que foram publicados diversos Acórdãos na Íntegra, Ementário de Jurisprudência, Clipping Jurídico, Tabelas Práticas e Bibliografia Complementar.

Desejamos a você uma excelente leitura!

Eliane BeltraminiGerente Editorial e de Consultoria

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Sumário

Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................................................7

Assunto EspecialO DanO MOral PreviDenciáriO

DOutrina

1. O Dano Moral no Direito PrevidenciárioErica Paula Barcha Correia ........................................................................9

JurisPruDência

1. Acórdão na Íntegra (TRF 2ª R.) ................................................................21

2. Ementário ................................................................................................31

Parte Geral

DOutrinas

1. Monitoramento do Pedido de Benefício por IncapacidadeWladimir Novaes Martinez .....................................................................36

2. A Nova Aposentadoria dos PoliciaisBruno Sá Freire Martins ...........................................................................42

3. O Fator Psicológico Como Forma de Obtenção de Aposentadoria EspecialTiago Valero Brait ...................................................................................62

4. A Repercussão da Prescrição e Decadência no Direito Previdenciário Face ao Recurso Extraordinário nº 626.489Anderson Dario .......................................................................................73

JurisPruDência PreviDenciária

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Superior Tribunal de Justiça ....................................................................86

2. Tribunal Regional Federal da 1ª Região ...................................................96

3. Tribunal Regional Federal da 2ª Região .................................................102

4. Tribunal Regional Federal da 3ª Região .................................................109

5. Tribunal Regional Federal da 4ª Região .................................................123

6. Tribunal Regional Federal da 5ª Região .................................................135

ementário Previdenciário

1. Ementário de Jurisprudência Previdenciária ..........................................145

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Seção EspecialcOM a Palavra, O PrOcuraDOr

1. As Novas Regras para a Retirada de Patrocínio nas Entidades Fechadas de Previdência Complementar: Aspectos Econômico- -Financeiros e AtuariaisChristian Aggensteiner Catunda ............................................................176

eM POucas Palavras

1. Salário-Maternidade: os Avanços da Lei nº 12.873/2013 e os Progressos Ainda por ConquistarMarco Aurélio Serau Júnior ...................................................................213

Clipping Jurídico ..............................................................................................218

Tabelas Práticas ..............................................................................................225

Bibliografia Complementar .................................................................................226

Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................227

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Normas Editoriais para Envio de Artigos1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-

cados em sua área temática.2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação do

Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publi-cações.

3. A priorização da publicação dos artigos enviados decorrerá de juízo de oportunidade da Revista, sendo reservado a ela o direito de aceitar ou vetar qualquer trabalho recebido e, também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor.

4. No caso de publicação dos artigos enviados, não serão devidos direitos autorais, re-muneração ou qualquer espécie de contraprestação a seus autores, sendo apenas en-viado um exemplar da edição da Revista em que o artigo foi publicado, ficando, ainda, a critério do Editor a seleção e aprovação para publicação, a qual será comunicada ao autor.

5. As opiniões emitidas pelo autor em seu artigo são de sua exclusiva responsabilidade.6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí-

dicos da Síntese.7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos

artigos às normas disciplinadas pela ABNT, caso seja necessário.8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU-

TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.

9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-das por ponto.

10. Terão preferência de publicação os artigos acrescidos de “ABSTRACT” e “KEYWORDS”.

11. Todos os artigos deverão ser enviados com “SUMÁRIO” numerado no formato “arábi-co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este item.

12. Os artigos encaminhados à Revista deverão ser produzidos na versão do aplicativo Word, utilizando-se a fonte Arial, corpo 12, com títulos e subtítulos em caixa alta e alinhados à esquerda, em negrito. Os artigos deverão ter entre 7 e 20 laudas. A pri-meira lauda deve conter o título do artigo, o nome completo do autor e os respectivos créditos.

13. As citações bibliográficas deverão ser indicadas com a numeração ao final de cada citação, em ordem de notas de rodapé. Essas citações bibliográficas deverão seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

14. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do texto, organizadas em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, obedecendo às normas da ABNT.

15. Observadas as regras anteriores, havendo interesse no envio de textos com comentá-rios à jurisprudência, o número de páginas será no máximo de 8 (oito).

16. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente para os endereços eletrôni-cos [email protected]. Juntamente com o artigo, o autor deverá preen-cher os formulários constantes dos seguintes endereços: www.sintese.com/cadastro-deautores e www.sintese.com/cadastrodeautores/autorizacao.

17. Quaisquer dúvidas a respeito das normas para publicação deverão ser dirimidas pelo e-mail [email protected].

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Assunto Especial – Doutrina

O Dano Moral Previdenciário

O Dano Moral no Direito Previdenciário

ERICA PAULA BARCHA CORREIAMestre e Doutora em Direito Previdenciário PUC/SP, Diretora da Escola Paulista de Direito Social, Membro do Grupo de Pesquisa Brasil-Alemanha em Seguridade Social, Coautora das obras Curso de Direito da Seguridade Social, Direitos Fundamentais Sociais, Direito Previden-ciário e Constituição, Renda Mínima, entre outras.

SUMÁRIO: A constitucionalização da reparação por dano moral; A distinção entre dano moral e dano patrimonial; O nexo causal necessário à configuração do dano moral; A reparação no Código Civil; O valor da reparação por dano pessoal – Ausência de critérios legais para a fixação do valor da indenização; Da prescrição do pedido de reparação por dano moral; Da competência para ajuizamento da ação; Conclusão; Referências.

Inicialmente, devemos ressaltar que o presente estudo não tem a pretensão de esgotar o tema, mesmo porque a matéria vem sido resolvi-da pelos Tribunais, diante de ausência de regulamentação legal.

Para que possamos abordar tão debatido tema, devemos partir da premissa de que o direito previdenciário, como categoria dos direitos sociais, deve ser analisado na perspectiva dos direitos fundamentais.

Desse modo, como direito fundamental sua proteção está vincu-lada ao princípio constitucional insculpido no art. 1º, III, da CF, que protege a dignidade da pessoa humana.

A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DA REPARAÇÃO POR DANO MORAL

Com a constitucionalização da reparação por dano moral pela Carta Maior de 1988, abriu-se novo horizonte para busca da reparação por dano moral, decorrente do abandono da perspectiva individualista do antigo Código Civil e substituição pela tutela da dignidade humana no plano constitucional1.

1 CF: “Art. 5º [...] X – são invioláveis a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando-se o direito à indenização pelo dano material ou moral”.

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10 ���������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

O direito civil, fundado em valores individualistas, transforma-se, contemplando, agora, direitos e prerrogativas de determinados grupos, considerados frágeis e que reclamam especial proteção da lei, que, na seara do direito previdenciário, destacamos os idosos, as pessoas porta-doras de deficiências, as crianças etc.

Nesta perspectiva, a dignidade humana, tomada como sobreprin-cípio constitucional, alcança todos os setores da ordem jurídica, e, quan-do em cotejo ou colisão com outros princípios, o princípio da dignidade humana não se sujeita a ponderações.

Desse modo, em caso de conflito entre duas ou mais situações ju-rídicas subjetivas amparadas por outros princípios de igual importância hierárquica, a medida será sempre em favor do conceito de dignidade da pessoa humana, que deverá vir à tona no caso concreto.

Ocorrendo um conflito entre uma situação jurídica subjetiva exis-tencial e uma situação jurídica patrimonial, a primeira prevalece, em nome do princípio constitucional da dignidade humana (art. 1º, III, da CF).

Assim, à luz do texto constitucional, podemos conceituar o dano moral como aquele que “configura-se pela alteração no bem-estar psi-cofísico do indivíduo”.

Paulo Eduardo Oliveira refere-se ao dano moral como dano pes-soal, pois a lesão ocorre nos direitos da pessoa humana em suas diversas “integralidades”, quais sejam, “a psicofísica, a intelectual, a moral pro-priamente dita e a social”2.

Destarte, ao invés da consagrada expressão “dano moral”, preferi-mos a denominação “dano pessoal”, por ser a que mais se acomoda, na seara do direito social, aos danos sofridos pela pessoa como um todo, em sua dignidade humana.

Ressaltamos que tais danos não são taxativos e se concretizam sempre que houver violação aos direitos de personalidade e dignidade humana3.

2 O dano pessoal no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2002. p. 18. 3 “[...] tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais

inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral; não há como enumerá-los exaustivamente, evidenciando-se na dor, na angústia, no sofrimento, na tristeza pela ausência de um ente querido falecido; no desprestígio, na desconsideração

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RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �������������������������������������������������������������������������������������������������������������11

Na esfera cível, a integridade psicofísica (física e moral) garante vários direitos de personalidade, como a honra, a vida, a imagem.

Em nome do direito à vida, inclui-se o direito à saúde, previdência e assistência, compreendidas estas como bem-estar psicofísico e social.

Também entendemos como manutenção da integridade psicofísi-ca o direito à existência digna e, como bom exemplo, temos o direito à irredutibilidade dos benefícios previdenciários, como direito fundamen-tal, de caráter alimentar e existencial4.

Exemplificando: a redução de benefício, seja por fator previden-ciário, seja por ato unilateral da autarquia previdenciária, resulta em dano moral previdenciário, por violar proteção constitucional do direito à vida, que é um direito de personalidade.

Portanto, o que configura o dano moral é a alteração no bem-estar psicofísico do indivíduo.

A DISTINÇÃO ENTRE DANO MORAL E DANO PATRIMONIAL

Merece atenção a distinção entre reparação por dano moral e re-paração patrimonial.

No primeiro caso, a lesão é de bem integrante da personalidade e causa dor, sofrimento, tristeza e humilhação à vítima, ao passo que a lesão de ordem patrimonial gera prejuízo econômico passível de repa-ração.

Comum e lamentavelmente, deparamo-nos com decisões judiciais que confundem os dois conceitos e acreditam que a reparação por dano patrimonial supre a indenização por dano moral.

Cabe ressaltar que o dano moral é o efeito não patrimonial da le-são de direito e não a própria lesão.

A fim de espancar tais equívocos, o STJ editou a seguinte súmula:

social, no descrédito à reputação, na humilhação pública, no devassamento da privacidade; no desequilíbrio da normalidade psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou no desgaste psicológico, nas situações de constrangimento moral.” (CAHALI, Yussef Said. Dano moral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 20)

4 Conforme nosso Curso de direito da seguridade social. 7. ed. São Paulo: Saraiva, p. 81, item 2.4.

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12 ���������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

Súmula nº 37 do STJ: são cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.

O NEXO CAUSAL NECESSÁRIO À CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL

A causalidade como pressuposto da responsabilidade civil é con-dição sine qua non para a configuração do dano moral.

O nexo causal diz respeito a elementos objetivos, consistentes na ação (ato comissivo) ou omissão (ato omissivo) do sujeito, nociva ao direito alheio e geradora do dano.

Yussef Cahali adverte que “bastará que se verifique que o dano não ocorreria se o fato não tivesse acontecido”5.

A REPARAÇÃO NO CÓDIGO CIVIL

Como mencionado anteriormente, com a promulgação da CF de 1988, possibilitou-se a reparação civil do dano moral, a dispor, em seu art. 5º, X, serem invioláveis a vida privada, a honra e a imagem das pessoas.

Aqui, ao contrário do dano material, busca-se, diante da impossi-bilidade de recomposição do status quo, uma compensação pecuniária de forma a amenizar a dor sofrida pela vítima.

Para isso, devem ser levados em conta, havendo o nexo causal, a intensidade do ânimo de ofender, o grau da dor, a duração do sofri-mento. Como é o nexo causal que delimita a extensão da reparação, é fundamental definir se os reflexos da ofensa atingem o patrimônio ou o moral do ofendido.

Isto porque há casos de lesão moral que podem atingir o patrimô-nio do ofendido (quando a ofensa à honra resulta em danos materiais) e há casos de lesão material que atingem direitos de personalidade do ofendido como são aqueles nos quais o INSS suspende o benefício inde-vidamente, bem como a demora excessiva e infundada na concessão de benefícios previdenciários.

5 Dano e indenização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980.

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RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �������������������������������������������������������������������������������������������������������������13

Em nosso Código Civil, os direitos de personalidade estão inscritos no Capítulo II, arts. 11 a 21.

Considerando que, pelo conceito constitucional, grande parte dos direitos antes mencionados (pensões, aposentadorias etc.), quando usu-fruídos no âmbito individual, está no contexto do direito de personalida-de, é possível a aplicação do art. 12 do Código Civil.

Essa disposição reza basicamente que se pode atuar no sentido de obstar qualquer atentado ao direito de personalidade (não só atentado, mas a própria ameaça de lesão) com admissão, inclusive, de ressarci-mento em vista das perdas e danos.

Para aquele que tem o benefício previdenciário, que demora a ser pago administrativamente, que foi suspenso sem a observância do devi-do processo legal etc., há a possibilidade de, judicialmente, buscar uma medida que obste a manutenção dessa situação, fazendo o benefício vir a ser, imediatamente, apreciado na esfera administrativa. Além disto, as consequências decorrentes da inadequada atuação do administrador seriam as perdas e danos (art. 12 do Código Civil).

Outrossim, aquele que é incumbido de prestar o serviço público ligado essencialmente a um direito fundamental social deve, sim, inde-nizar por danos que serão, na essência, de natureza pessoal – ou, para alguns, de índole meramente moral (uma dimensão reduzida da pessoa- lidade). O sofrimento é individual – e, como tal, deve ser mensurado –, mas a perda, pela ausência do serviço prestado relacionado a direito fundamental social, é coletiva. Portanto, deve-se zelar de forma firme pelo pagamento do dano moral quando perpetrado por um prestador de serviço público imediatamente ligado a direito fundamental social.

Não podemos olvidar que, nas causas previdenciárias contra o INSS, autarquia federal, aplica-se o disposto o art. 37, § 6º, do Texto Constitucional, que reza sobre a responsabilidade objetiva do Estado.

O art. 186 do CC, ao tratar do atos ilícitos, prescreve que:

Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudên-cia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente mo-ral, comete ato ilícito.

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14 ���������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

O VALOR DA REPARAÇÃO POR DANO PESSOAL – AUSÊNCIA DE CRITÉRIOS LEGAIS PARA A FIXAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO

Nosso sistema pátrio não dispõe de regulamentação legal para a fixação do valor do ressarcimento do dano moral, o que resulta em inde-nizações calculadas por arbitramento.

Diante dessa ausência de critérios legais para a fixação do valor da indenização por dano moral, escolhemos a corrente que adota o cará-ter compensatório, na qual a vítima deve ser indenizada de forma mais ampla e possível, diante da impossibilidade de recomposição do status quo, de modo a amenizar a dor sofrida, segundo o princípio in dubio pro creditoris, tendo em vista que é a parte mais fragilizada nessa relação (e na relação previdenciária, que é o presente caso).

Sendo assim, o primeiro aspecto a ser considerado é a dignidade humana atingida:

– a lesão à vida ou à saúde (morte de segurado pelo cancelamento inde-vido de auxílio-doença) é maior que a honra atingida em um protesto indevido de título ou cheque devolvido indevidamente.

O segundo aspecto a ser considerado é a duração no tempo, ou definitividade do dano.

A jurisprudência mais avançada e, para nós, a mais justa, dispensa a prova da ocorrência do dano moral, sendo ele presumido, baseando-se no fato de que o dano moral é consequência direta de um ato que o ori-ginou, ou seja, in re ipsa como, v.g., demora excessiva na concessão de auxílio-doença6, atraso no pagamento de benefício previdenciário etc.

A respeito da configuração in re ipsa do dano moral, o STJ já se pronunciou a respeito:

Agravo regimental. Agravo de instrumento. Responsabilidade civil. Dano moral configurado. Revisão. Impossibilidade. Óbice na Súmula nº 7/STJ. Agravo regimental improvido. I – A jurisprudência desta Corte firmou entendimento de que não há falar em prova do dano moral, mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o sofrimento, sentimentos íntimos que o en-sejam (REsp 86.271/SP, 3ª T., Rel. Min. Menezes Direito, DJ 09.12.1997).

6 Neste sentido: TRF 4ª R., Processo nº 200271000317124, Rel. Juiz Edgard A. Lippmann Junior, DJU 18.08.2004: Apelação cível. Indenização por danos morais. Atraso na implementação de auxílio-doença causando problemas financeiros à segurada.

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II – O Tribunal a quo julgou com base no conjunto fático-probatório e em cláusulas contratuais, assim, impossível se torna o exame do recurso, nos termos das Súmulas nºs 5 e 7 do STJ. Agravo regimental improvido. (STJ, AGA 200501544351, 3ª T., Sidnei Beneti, DJe 15.08.2008)

Administrativo. Corte no fornecimento de energia elétrica. Prova do dano moral. Suficiência da demonstração do ato ilícito. Remessa dos autos ao tribunal de origem. 1. Interposto o recurso pela alínea c e admitido, cumpre ao Tribunal eleger a tese prevalente e, incontinenti, rejulgar a causa. 2. É cediço na Corte que, “como se trata de algo imaterial ou ideal, a prova do dano moral não pode ser feita por meio dos mesmos meios utilizados para a comprovação do dano material. Por outras palavras, o dano moral está ínsito na ilicitude do ato praticado, decorre da gravidade do ilícito em si, sendo desnecessária sua efetiva demonstração, ou seja, como já sublinhado: o dano moral existe in re ipsa”. Afirma Ruggiero: “Para o dano ser indenizável, ‘basta a perturbação feita pelo ato ilícito nas relações psíquicas, na tranquilidade, nos sentimentos, nos afetos de uma pessoa, para produzir uma diminuição no gozo do respectivo di-reito’”. (REsp 608918/RS, 1ª T., Rel. Min. José Delgado, DJ 21.06.2004)

A respeito da condenação do INSS em danos morais, já há prece-dentes na Justiça Federal, conforme se depreende da leitura dos arestos abaixo:

Entretanto, consoante amplamente explicitado, a lide inicialmente trazida aos autos, da qual decorre o pedido de pagamento de compensação por dano moral, cingia-se à correção de erro no cálculo do salário-de-benefí-cio da aposentadoria especial concedida ao autor, não se referindo acerca de revisão, quanto menos de questão que envolvesse perícia médica.

Com efeito, a parte autora postulou administrativamente a reparação de erro no cálculo da renda mensal inicial do seu benefício, de fácil cons-tatação, e que poderia ter sido tratado como mero erro material e pron-tamente retificado naquela ocasião. De fato, caso tivesse procedido à devida retificação, não haveria se falar em dano ao autor, pois que no exercício da importante função que desempenha, e da grande demanda de atendimentos, a autarquia previdenciária está sujeita à prática de er-ros, tal qual o cometido.

Todavia, a sucessão de falhas e omissões é que confere peculiaridade ao caso, porquanto não foi apenas o equívoco no ato concessório que gerou efeitos danosos ao segurado, mas sim, e principalmente, a desídia do agente da Autarquia na análise do pedido de retificação daquele.

Destarte, não se deve permitir que os agentes responsáveis pela con-cretização de um direito social assegurado constitucionalmente, que

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é a previdência social, possam agir com tamanha negligência. Restou comprovado o ato danoso ao autor, pois que recebeu benefício no valor de um salário mínimo, desde a concessão (12.01.1995, f. 46), ao passo que tem direito à percepção de quantia maior, em consonância com os salários-de-contribuição recolhidos. Também se evidencia a omissão do agente da Autarquia Previdenciária, que, diante da possibilidade de re-paração do erro apontado, emitiu resposta padronizada e desprovida de conteúdo veraz.(Agravo Legal em Apelação Cível nº 0002424-14.2001.4.03.6126/SP, (2001.61.26.002424-1/SP), Rel. Juiz Fed. em Auxílio Nilson Lopes, Agra-vante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, Advogado: Anete dos Santos Simões e outro, Agravada: Hermes Arrais Alencar, decisão de fo-lhas 121/123, Interessado: Amadeu Braz Uzan, Advogado: Sergio Garcia Marquesini e outro)

Assim sendo, seja pelo viés da responsabilidade objetiva, seja pelo viés da observação do regime da responsabilidade subjetiva, é certo que a autarquia previdenciária não se exime da sua obrigação de reparar do dano moral causado ao autor. Nesse contexto, confira-se o seguinte julgado do colendo Superior Tribunal de Justiça:

Processual civil e administrativo. Responsabilidade civil do Estado. Ato omissivo da administração. INSS. Condenação em danos morais. Cabi-mento. Quantum debeatur. Redução. Reexame do conjunto fático-pro-batório. Inviabilidade. Súmula nº 7/STJ. (REsp 1228224/RS, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, J. 03.05.2011, DJe 10.05.2011)

No que se refere aos danos morais, é pacificado em nossa jurispru-dência o entendimento no sentido de que não há necessidade de efetiva comprovação do dano, mas tão somente do fato deflagrador do sofrimen-to ou angústia vivida pela vítima de tal ato ilícito, pois que existem fatos que, por si só, permitem a conclusão de que a pessoa envolvida sofreu constrangimentos capazes de serem reconhecidos como danos morais.

Previdenciário. Agravo legal. Erro no cálculo do salário-de-benefício. Fá-cil constatação. Pedido administrativo de retificação. Desídia na aprecia-ção. Peculiaridades do caso. Dano moral. Ocorrência. I – A parte autora postulou administrativamente a reparação de erro no cálculo da renda mensal inicial do seu benefício, de fácil constatação, e que poderia ter sido tratado como mero erro material e prontamente retificado naquela ocasião. Caso tivesse procedido à devida retificação, não haveria se falar em dano ao autor, pois que no exercício da importante função que de-sempenha, e da grande demanda de atendimentos, a autarquia previden-ciária está sujeita à prática de erros, tal qual o cometido. II – A sucessão

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de falhas e omissões é que confere peculiaridade ao caso, porquanto não foi apenas o equívoco no ato concessório que gerou efeitos danosos ao segurado, mas sim, e principalmente, a desídia do agente da Autarquia na análise do pedido de retificação daquele. III – Restou comprovado o ato danoso ao autor, pois que recebeu benefício no valor de um salário--mínimo, desde a concessão (12.01.1995, f. 46), ao passo que tem direito à percepção de quantia maior, em consonância com os salários-de-con-tribuição recolhidos. Também se evidencia a omissão do agente da Au-tarquia Previdenciária, que, diante da possibilidade de reparação do erro apontado, emitiu resposta padronizada e desprovida de conteúdo veraz. IV – No que se refere aos danos morais, é pacificado em nossa jurispru-dência o entendimento no sentido de que não há necessidade de efetiva comprovação do dano, mas tão somente do fato deflagrador do sofrimen-to ou angústia vivida pela vítima de tal ato ilícito, pois que existem fatos que, por si só, permitem a conclusão de que a pessoa envolvida sofreu constrangimentos capazes de serem reconhecidos como danos morais. V – Agravo legal do INSS não provido. (TRF 3ª R., Agravo Legal em Ape-lação Cível nº 0002424-14.2001.4.03.6126/SP, publ. 21.03.2013)

Processo civil e previdenciário. Agravo legal. Cessação indevida de benefício previdenciário. Responsabilidade civil do Estado. Indeniza-ção por danos morais. Cabimento. 1. A cessação indevida do benefício de auxílio-doença acabou por causar sérios prejuízos à saúde já debi-litada da falecida, por abalo de ordem psíquica e emocional, que foge do âmbito comum, sendo devida a indenização. 2. Assente a ocorrência de dano moral, a quantia merece ser mantida, por ser razoável e pro-porcional ao dano ocasionado à segurada, cuja dor, por encontrar-se gravemente debilitada, foi acentuada pela conduta do INSS, que sus-pendeu o pagamento de verba de natureza alimentar, em momento tão impróprio, sem o restabelecer até o falecimento da segurada, que se viu obrigada a, nos seus últimos dias de vida, demandar contra o Es-tado, pelo reconhecimento de um direito manifesto primo ictu oculi. Precedente. 3. Recurso desprovido. (TRF 3ª R., AC 1590544, Proc. 0002132-98.2006.4.03.6111, 10ª T., Rel. Des. Fed. Baptista Pereira, DJ 27.11.2012, e-DJF3 Judicial 1 05.12.2012)

DA PRESCRIÇÃO DO PEDIDO DE REPARAÇÃO POR DANO MORAL

Nos termos do art. 206, § 3º, V, do novo Código Civil, a pretensão de reparação civil prescreve em 3 (três) anos.

Todavia, entendemos que os direitos fundamentais são imprescri-tíveis.

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DA COMPETÊNCIA PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO

Colacionamos a seguir arestos que consubstanciam entendimento do Superior Tribunal de Justiça e do TRF da 3ª Região a respeito do juízo competente para ingresso de ação previdenciária cumulada com dano moral.

STJ:

Processo civil. Conflito de competência. Ação de indenização por dano moral. Ato administrativo praticado pelo Instituto Nacional de Segurida-de Social – INSS. 1. Tratando-se de ação de reparação por dano moral que tem como fundamento ato administrativo, supostamente indevido, praticado pelo INSS, é competente para o seu processamento e julga-mento a Justiça Federal Comum, por não se tratar na hipótese de de-manda relativa a benefício previdenciário ou dano material ou moral decorrente de acidente de trabalho. 2. Conflito conhecido para declarar competente a Justiça Federal Comum da Seção Judiciária do Estado de São Paulo. (STJ, CC 54773/SP, Proc. 2005/0150525-0, 1ª S., Relª Min. Eliana Calmon, DJ 08.02.2006, publ. 06.03.2006, p. 136)

Caso em que a ação é proposta na justiça estadual:

Processual civil e previdenciário. Conflito negativo de competência. Jus-tiça Estadual e Justiça Federal. Concessão de aposentadoria por idade cumulada com indenização por danos morais. Art. 109, § 3º, da CR/1988. Foro. Opção pelo segurado. Competência da Justiça Estadual. Suscitado. 1. Extrai-se dos autos que o pedido do autor consiste na concessão de aposentadoria por idade, bem como na condenação do INSS ao paga-mento de indenização por danos morais. 2.O autor optou pela Justiça Estadual localizada no foro de seu domicílio, que, por sua vez, não pos-sui Vara Federal instalada, nos termos do art. 109, § 3º, da CR/1988. 3. Entende esta Relatoria que o pedido de indenização por danos morais é decorrente do pedido principal, e a ele está diretamente relacionado. 4. Consoante regra do art. 109, § 3º, da CR/1988, o Juízo Comum Esta-dual tem sua competência estabelecida por expressa delegação constitu-cional. 5.Conflito de competência conhecido para declarar a competên-cia do Juízo de Direito da 1ª Vara de Registro/SP. (CC 2010/0064333-5, Proc. 111447/SP, 3ª S., Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador Con-vocado do TJSP) (8175), DJ 23.06.2010, DJe 02.08.2010 – grifos nossos)

Na esfera da Justiça Federal de São Paulo, tendo em vista o enten-dimento de algumas varas previdenciárias que negam a possibilidade de pedido de dano moral cumulado com matéria previdenciária, entende-

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mos oportuno trazer à baila entendimento do TRF da 3ª Região, refutan-do tais decisões. Senão vejamos:

Previdenciário. Agravo legal em agravo de instrumento. Art. 557, § 1º, do CPC. Cumulação de pedido de indenização por dano moral com pedido de concessão de benefício previdenciário. Possibilidade. Competência do juízo previdenciário para apreciação de ambos os pedidos. 1. Nos termos do art. 292 do Código de Processo Civil, a cumulação de pedidos é permitida, desde que: I – haja compatibilidade entre eles; II – o mesmo juízo seja competente para deles conhecer; III – o procedimento a ser adotado seja comum a todos. No caso em questão, não vislumbro óbice à cumulação dos pedidos de concessão de benefício previdenciário e indenização por danos morais, já que o Juízo Federal da 4ª Vara Previ-denciária de São Paulo/SP (Vara especializada) é competente para apre-ciar ambos os pedidos formulados, isto é, tanto a matéria previdenciária quanto a cível. 2. O pedido indenizatório constitui questão secundária e indissociável da pretensão principal, tendo em vista que a procedência daquele pedido dependerá de a parte autora demonstrar a ocorrência do dano e seu nexo de causalidade com a conduta (supostamente ilícita) do INSS de indeferir, em âmbito administrativo, o benefício pleiteado. 3. Havendo cumulação dos pedidos de concessão de benefício previden-ciário e de indenização por danos morais, os respectivos valores devem ser, em princípio, somados para efeito de apuração do valor da causa (inteligência do art. 259, II, do CPC). Contudo, a pretensão secundária não pode ser desproporcional em relação à principal, de modo que, para definição do valor correspondente aos danos morais, deve ser utilizado como parâmetro o quantum referente ao total das parcelas vencidas e vincendas do benefício previdenciário pretendido. Portanto, caso o r. Juí-zo identifique como excessivo o valor atribuído à indenização por danos morais, vale dizer, ultrapassando o valor pretendido o limite equivalente ao total das parcelas vencidas mais doze vincendas do benefício (inteli-gência do art. 260 do CPC), será perfeitamente possível que ele reduza, de ofício, o valor da causa, ao menos provisoriamente, com vistas à fi-xação da competência para o julgamento do feito. 4. Agravo legal a que se nega provimento. (AI 506520, Proc. 0014267-98.2013.4.03.0000, 7ª T., Rel. Des. Fed. Fausto de Sanctis, DJ 09.09.2013, e-DJF3 Judicial 1 18.09.2013)

CONCLUSÃO

Não obstante a ausência de regulamentação legal para a repara-ção por dano moral e aqui, diga-se, dano moral previdenciário, depa-ramo-nos, cada vez mais, com o acesso do cidadão segurado ao Poder

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Judiciário em busca da reparação de seus direitos lesados ou indevida-mente não reconhecidos. Entretanto, por outro lado, o sucesso de tais demandas nem sempre é obtido, pois a falta de dispositivos em nosso ordenamento jurídico desemboca em decisões que revelam entendi-mentos dos mais variados, sem um consenso doutrinário inclusive (v.g., prova ou não do dano moral) e, muitas das vezes, refratários do instituto da reparação civil.

REFERÊNCIAS

CAHALI, Yussef Said. Dano e indenização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980.

______. Dano moral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha (Coord.). Direito previdenciário e Constituição. São Paulo: LTr, 2004.

CORREIA, Érica Paula Barcha; CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CANOTILHO, J. J. Gomes (Coord.). Direitos fundamentais sociais. São Paulo, Saraiva, 2010.

CORREIA, Érica Paula Barcha; CORREIA, Marcus Orione Gonçalves. Curso de direito da seguridade social. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

VIEIRA DE OLIVEIRA, Paulo Eduardo. O dano pessoal no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2002.

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Assunto Especial – Acórdão na Íntegra

O Dano Moral Previdenciário

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Tribunal Regional Federal da 2ª RegiãoIV – Apelação/Reexame Necessário nº 504379 2005.51.10.003847‑1Nº CNJ: 0003847‑38.2005.4.02.5110Relatora: Desembargadora Federal Simone SchreiberApelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: David Schiavoni MillerApelado: Helena Santos de NoronhaAdvogado: Arlete Fontes Padilha e outroRemetente: Juízo da 3ª Vara Federal de São João de Meriti/RJOrigem: 3ª Vara Federal – São João de Meriti (200551100038471)

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO – PENSÃO POR MORTE – COMPANHEIRA – LEI Nº 8.213/1991 – ATRASADOS – PRIMEIRO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO INDEFERIDO – SEGUNDO REQUERIMENTO DEFERIDO – DANOS MORAIS – JUROS DE MORA – CORREÇÃO MONETÁRIA

1. O termo inicial do benefício é a data do data do óbito se re-querido no prazo legal, ou a data do requerimento administrativo quando este é protocolado em prazo superior a 30 (trinta) dias do óbito, consoante previsto no art. 74, II, da Lei nº 8.213/1991.

2. A ausência de recurso administrativo da decisão denegatória de benefício previdenciário não faz perecer o direito da parte, quanto aos atrasados. Além disso, o deferimento, pela autarquia, de um segundo requerimento só reafirma o direito postulado em data an-terior, no primeiro requerimento.

3. A indenização por dano moral decorrente de violação à honra ou imagem das pessoas, é assegurado pelo art. 5º, inciso X, da CRFB/1988, objetivando atenuar sofrimento físico ou psíquico de-corrente de ato danoso que atinge aspectos íntimos ou sociais da personalidade humana.

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4. O indeferimento do benefício na via administrativa não induz à presunção de ocorrência de dano moral, havendo a necessidade de sua demonstração.

5. Esta Corte tem decidido que a demora na concessão ou a resistên-cia ao direito do autor, por parte da autarquia previdenciária, por si só, não enseja indenização por danos morais e que o pleito inde-nizatório deve vir acompanhado da comprovação inequívoca de dano real, efetivo e demonstração de conduta desidiosa, omissiva e desatenta ou desrespeitosa do INSS (Proc. 2012.51.18.000178-4 Rel. D. F. Messod Azulay; AC 27888/RJ, Rel. D. F. Castro Aguiar; AC 243023/RJ, Rel. D. F. Ricardo Regueira)

6. Os juros moratórios, contados a partir da citação, devem ser fixados em 1% ao mês até a data da entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009. A partir daí, deve ser aplicado o índice da cader-neta de poupança.

7. A correção monetária, a partir da vigência da Lei nº 11.960/2009, deve ser calculada com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice que melhor reflete a inflação acumulada do período.

8. Remessa necessária e apelação do INSS a que se dá parcial provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indica-das, decide a Segunda Turma Especializada do Tribunal Regional Fede-ral da 2ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação e à remessa necessária, nos termos do Relatório e Voto, constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 24 de junho de 2014.

Simone Schreiber Desembargadora Federal Relatora

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RELATÓRIO

Trata-se de remessa necessária e de apelação cível interposta pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, em face de sentença que julgou parcialmente procedente o pedido formulado por Helena dos Santos de Noronha, objetivando o pagamento das prestações devidas no período entre a data do primeiro requerimento 11.01.2002 e o defe-rimento administrativo em 16.02.2004 (fl. 96), da pensão por morte em decorrência do óbito de seu companheiro Dirceu Pereira da Silva, com juros de mora e correção monetária, bem como indenização por danos morais.

À fl. 29, gratuidade de justiça deferida.

A r. sentença, às fls. 123/126 e 133/134, condenou o réu a pagar à autora as parcelas da pensão por morte relativas ao período compreendi-do entre 11.01.2002 e a data da concessão do benefício pela autarquia, corrigida monetariamente pela tabela da Justiça Federal para correção de precatórios, com juros de mora de 12% ao ano, desde a citação, até a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009 e, a partir daí, pela sistemática desta lei.

O juízo a quo ainda condenou o INSS em danos morais que arbi-trou em R$ 2.000,00 (dois mil reais) e determinou a correção monetária deste valor a partir da publicação da sentença mais juros e de mora de 1% ao mês a partir do evento danoso, qual seja, a data do indeferimento do benefício em 28.01.2002. Fixou os honorários advocatícios em 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação, limitado a 1.000,00 e submeteu a sentença ao duplo grau obrigatório.

Em razões recursais, às fls. 136/143, o INSS requereu a reforma da r. sentença a quo, sustentando, em síntese, serem indevidas as pres-tações no período entre o primeiro e o segundo requerimento, e que os documentos apresentados no segundo requerimento não são os mesmos porque o documento de fl. 107 não constava do primeiro requerimento. Aduz que a decisão que nega o benefício administrativamente não en-seja condenação em danos morais e que o não recebimento das presta-ções pleiteadas, não causou nenhuma lesão a justificar tal condenação. Ressalta que era dever da parte apresentar recurso desta decisão admi-nistrativa, o que não fez. Insurge-se, ainda, contra a fixação dos juros

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sobre o valor da condenação em danos morais, sem observância da Lei nº 11.960/2009.

Contrarrazões às fls. 156/157.

O Ministério Público Federal, às fls. 161/166, entendeu desneces-sária sua manifestação.

É o relatório. Peço dia.

Rio de Janeiro, 30 de abril de 2014.

Simone Schreiber Desembargadora Federal Relatora

VOTO

Conheço da apelação, eis que presentes seus requisitos de admis-sibilidade, e da remessa necessária, na forma da Súmula nº 490 do STJ.

Conforme relatado, cuida-se de remessa necessária e de apela-ção interposta pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS contra sentença que o condenou a pagar a autora as prestações devidas no período entre a data do primeiro requerimento 11.01.2002 e o deferi-mento administrativo em 16.02.2004 (fl. 96), da pensão por morte em decorrência do óbito de seu companheiro Dirceu Pereira da Silva, com juros de mora e correção monetária, bem como indenização por danos morais e honorários advocatícios de 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação, limitado a R$ 1.000,00.

Primeiramente, registre-se que inexiste lide em relação à qualida-de de segurado e a condição de companheira da autora que, inclusive, já percebe o benefício de pensão por morte.

Cinge-se a controvérsia ao pagamento de atrasados no período entre a data do primeiro requerimento em 11.01.2002, indeferido, e o segundo em 16.02.2004, no qual obteve deferimento administrativo. Discute-se, também o cabimento de danos morais decorrente do equi-vocado indeferimento do primeiro requerimento e os juros e a correção desse montante.

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Consoante previsto no art. 74, I e II, da Lei nº 8.213/1991, termo inicial do benefício é respectivamente a data do óbito, se requerido no prazo legal, ou a data do requerimento administrativo quando este é protocolado em prazo superior a 30 (trinta) dias do óbito.

Tendo sido o primeiro requerimento protocolado em 11.01.2012, após decorrido o trintídio legal, a autora faz jus ao benefício com termo inicial e todos os seus efeitos financeiros a partir da data deste requeri-mento.

Ao contrário do que afirma o INSS, a ausência de recurso adminis-trativo da decisão denegatória de benefício previdenciário não faz pere-cer o direito da parte, quanto aos atrasados. Além disso, o deferimento na via administrativa de um segundo requerimento só reafirma o direito postulado em data anterior, no primeiro requerimento.

A alegação do INSS de que documento de fl. 107 foi posterior-mente, não pode ser verificada. É, entretanto, irrelevante, uma vez que os demais documentos constantes do processo administrativo são sufi-cientes para a verificação da condição de companheira da autora. Com efeito, Helena Pereira da Silva foi a declarante do óbito, arcou com todas as despesas do funeral, possuía os recibos de pagamento de salário do falecido desde 1991 a 1996, recibos de consulta médica, orçamento de tratamento dentário, além dos vários comprovantes de que Dirceu mo-rava no mesmo endereço fornecido por ela, na Rua Rio de Janeiro, 180, apartamento 201, Mesquita, RJ. E ainda que assim não fosse, o fato é que a autora mesmo tendo ultrapassado o trintídio legal, não permaneceu inerte e buscou a via adequada quando requereu o benefício em um posto do INSS, não podendo ser penalizada por um equivocado indefe-rimento pela autarquia.

Neste sentido veja-se:

“[...]

2. Apesar da alegação do INSS de que se tratam de dois requerimentos administrativos, dos quais o primeiro restou indeferido, ante a perda da qualidade de segurado, servindo como parâmetro apenas o segundo re-querimento, observa-se dos autos que o autor, inicialmente, deu entrada no requerimento no estado das Alagoas, tendo sido negado. Inconforma-do, deu entrada no recurso administrativo, realizando nova perícia, agora na cidade de Recife, tendo sido reconhecida sua incapacidade desde

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05.02.1995, momento em que mantinha a condição de segurado. O re-curso administrativo ainda encontra-se pendente de julgamento.

3. A própria autarquia federal reconheceu o direito do autor ao benefício, demonstrando, assim, que não houve perda da qualidade de segurado, tendo, inclusive, entendido que o suplicante encontra-se incapacitado desde 1995, data esta bem anterior ao do primeiro requerimento admi-nistrativo.

4. Tendo sido reconhecida a qualidade de segurado do suplicante e, ain-da, reconhecendo-se que está incapacitado desde 1995, não há razões plausíveis para a negativa de pagamento dos valores atrasados, referentes ao primeiro requerimento administrativo.

5. No que diz respeito ao pedido de reconhecimento da prescrição quin-quenal das parcelas atrasadas, observa-se que não procede, uma vez que o processo administrativo ainda encontra-se pendente de julgamento, suspendendo, assim, o curso do prazo prescricional, na forma do art. 4º do Decreto nº 20.910/1932.

6. Os honorários advocatícios devem ser mantidos conforme determina-do na sentença, por estar em conformidade com o art. 20, § 4º do CPC, devendo sua incidência ser limitada às parcelas vencidas nos termos da Súmula nº 111 do STJ.

7. Apelação e remessa oficial não providas.”

(TRF 5ª R., Ap-Reex 2503/PE 0006546-46.2008.4.05.8300, 1ª T., Rel. Des. Fed. Rogério Fialho Moreira, DJ 10.07.2009, p. 286, n. 130, Ano 2009)

“[...]

2. A concessão administrativa do benefício previdenciário quando da análise do segundo requerimento protocolado pela requerente em 1999, após o indeferimento do primeiro, implica em reconhecimento do pe-dido autoral quanto ao pagamento das parcelas atrasadas, posto que na data de entrada do primeiro requerimento (1995) a autora preenchia to-dos os requisitos necessários a aposentadoria como trabalhadora rural. Em tais hipóteses, remanesce o direito da parte autora ao pagamento das parcelas atrasadas, entre a data do primeiro requerimento até a conces-são do segundo deferido administrativamente, ressalvada a prescrição quinquenal (ação ajuizada em 2001).

[...]”

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(TRF 1ª R., AC 30531 BA 0030531-06.2010.4.01.9199, 1ª T., Rel. Des. Fed. Kassio Nunes Marques, Data de Julgamento: 29.11.2012, Data de Publicação: e-DJF1 p. 67 de 18.01.2013)

“[...]

4. A alegação do INSS de que na data do primeiro requerimento ad-ministrativo o autor não possuía a carência mínima para concessão do benefício em face de ter exercido atividade urbana durante o período de 15.08.1979 a 01.08.1994, não merece prosperar, tendo em conta que bastava em 1998 o autor ter comprovado o período de carência de oito anos e meio, porém, em tal data o Apelado já havia preenchido período muito superior ao exigido legalmente, conforme se pode observar dos documentos coligidos aos autos, corroborados pela prova testemunhal.

5. Correta a sentença proferida pelo juiz a quo que condenou o INSS a pagar as parcelas vencidas desde a data do primeiro requerimento admi-nistrativo (27.05.1998) até a data da efetiva implantação do benefício de aposentadoria por idade rural do apelante (12.04.2002).

[...]”

(TRF 5ª R., Ap-Reex 5676/CE 0020585-13.2001.4.05.8100, 2ª T., Rel. Des. Fed. Francisco Barros Dias, DJ 22.06.2009, p. 222, n. 116, a. 2009)

Quanto ao direito à indenização por dano moral decorrente de violação à honra ou imagem das pessoas, é assegurado pelo art. 5º, inci-so X, da CRFB/1988, objetivando atenuar sofrimento físico ou psíquico decorrente de ato danoso que atinge aspectos íntimos ou sociais da per-sonalidade humana.

Na lição de Sérgio Cavalieri Filho, “só deve ser reputado como dano moral, a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústias e desequilíbrio no seu bem--estar” (in Programa de Responsabilidade Civil. 3. ed. Editora Malheiros. p. 89), o que não se vislumbra na hipótese dos autos. O fato de a Ad-ministração ter, no exercício de sua competência legal, praticado ato contrariando interesse da autora, não caracteriza sofrimento indenizável a título de dano moral.

Não é todo e qualquer ato administrativo que contrarie o interesse do segurado que dá ensejo ao pagamento de danos morais. O fato de um benefício previdenciário ter sido indeferido administrativamente não in-

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duz à presunção de ocorrência de dano moral, havendo a necessidade de sua demonstração.

No caso em análise, verifica-se que a apelada não logrou trazer aos autos qualquer elemento apto a comprovar eventuais danos sofridos.

Esta Corte tem decidido que a demora na concessão ou a resis-tência ao direito do autor, por parte da autarquia previdenciária, por si só, não enseja indenização por danos morais e que o pleito indeniza-tório deve vir acompanhado da comprovação inequívoca de dano real, efetivo e demonstração de conduta desidiosa, omissiva e desatenta ou desrespeitosa do INSS (Proc. 2012.51.18.000178-4, Rel. D. F. Messod Azulay, AC 27888/RJ, Rel. D. F. Castro Aguiar, AC 243023/RJ, Rel. D. F. Ricardo Regueira).

Na esteira deste entendimento, merece reforma a douta sentença para excluir a condenação por danos morais, uma vez que não demons-trado dano efetivo.

Também no tocante aos juros e correção monetária merece refor-ma a sentença.

Com efeito, a Corte Especial do STJ, no julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1.205.946/SP, (DJe 02.02.2012), de Relatoria do Ministro Benedito Gonçalves, assentou a compreensão de que art. 5º da Lei nº 11.960/2009, por se tratar de norma de caráter eminentemente processual, deve ser aplicada de imediato aos processos em curso, sem, contudo, retroagir a período anterior à sua vigência.

Por sua vez, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento das ADIs 4357 e 4.425 em 14.03.2013, declarou a inconstitucionalidade parcial por arrastamento do art. 5º da Lei nº 11.960/2009.

Em razão dessa decisão, a Primeira Seção do STJ, por unani-midade, na ocasião do julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1.270.439/PR, julgado em 26.06.2013 e publicado no DJe de 02.08.2013, estabeleceu que, nas condenações impostas à Fazenda Pública de natureza não tributária, os juros moratórios devem ser cal-culados com base no índice oficial de remuneração básica e juros apli-cados à caderneta de poupança, nos termos da regra do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com redação da Lei nº 11.960/2009.

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Assim, os juros moratórios, contados a partir da citação, de-vem ser fixados em 1% ao mês até a data da entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, quando deverá ser aplicado o índice da caderneta de poupança, tendo em vista o acórdão proferido pelo STF nas menciona-das ADIs 4.357 e 4.425, considerando constitucional a aplicação da taxa de caderneta de poupança, tendo afirmado sua inconstitucionalida-de apenas para as relações jurídico- tributárias (nesse sentido julgado do STJ, REsp 1.270.439/PR, Rel. Min. Castro Meira).

Quanto à correção monetária, em virtude da declaração de in-constitucionalidade parcial do art. 1º-F da Lei nº 11.960, foi considerada inconstitucional a adoção dos índices de remuneração básica para ca-derneta de poupança para fins de correção monetária das dívidas fazen-dárias de qualquer natureza. Conforme o Recurso Especial Repetitivo nº 1.270.439/PR, deve prevalecer, desde a vigência da Lei nº 11.960/2009, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística como posto no voto vista do Min. Luiz Fux, índice que melhor reflete a inflação acumulada do período.

Neste sentido:

“PROCESSUAL CIVIL – JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA – MATÉRIA PENDENTE DE JULGAMENTO NO STF – ADI 4.357/DF – SOBRESTAMENTO DO FEITO – DESCABIMENTO – ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/1999 – LEI Nº 11.960/2009 – APLICAÇÃO IMEDIATA – IN-CONSTITUCIONALIDADE PARCIAL POR ARRASTAMENTO – ENTEN-DIMENTO FIRMADO PELA PRIMEIRA SEÇÃO NO JULGAMENTO DO RESP 1.270.439/PR, MEDIANTE A UTILIZAÇÃO DA SISTEMÁTICA PRE-VISTA NO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO STJ 08/2008

1. O STJ orienta-se no sentido de que, para fins de aplicação do art. 543-C do CPC, é desnecessário que o Recurso Especial representativo de matéria repetitiva tenha transitado em julgado.

2. A pendência de julgamento no STF de ação em que se discute a cons-titucionalidade de lei não enseja o sobrestamento dos recursos que tra-mitam no STJ. Cabível o exame de tal pretensão somente em eventual juízo de admissibilidade de Recurso Extraordinário interposto nesta Corte Superior.

3. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, incluído pela MP 2.180-35, de 24.08.2001, com a redação alterada pelo art. 5º da Lei nº 11.960, de 29.06.2009, tem natureza processual, devendo recair imediatamente nos processos em tramitação, vedada, entretanto, a retroatividade ao período anterior à sua vigência.

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4. A Primeira Seção do STJ, alinhando-se ao entendimento do STF, no julgamento do REsp 1.270.439/PR, sob o rito dos recursos especiais re-petitivos (art. 543-C do CPC), estabeleceu que, a partir da declaração de inconstitucionalidade parcial do art. 5º da Lei nº 11.960/2009, a) ‘a correção monetária das dívidas fazendárias deve observar índices que re-flitam a inflação acumulada do período, a ela não se aplicando os índices de remuneração básica da caderneta de poupança’; b) ‘os juros morató-rios serão equivalentes aos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta de poupança, exceto quando a dívida ostentar natureza tributária, para a qual prevalecerão as regras específicas’ (REsp 1.270.439/PR, Rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção, DJe 02.08.2013).

5. No caso dos autos, como a condenação imposta à União é de natureza não tributária, os juros moratórios devem ser calculados com respaldo no índice oficial de remuneração básica e juros incidentes sobre a caderneta de poupança, nos termos da regra do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1999, com redação dada pela Lei nº 11.960/2009. Por sua vez, a correção monetária deverá ser calculada com amparo no IPCA, índice que melhor reflete a inflação acumulada do período.

6. Agravo Regimental não provido.

(STJ, 2ª T., AgRg-AREsp 50.407/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 26.09.2013)

Diante do exposto, Dou Parcial Provimento à Apelação à Remessa Necessária, para reformar a r. sentença, a fim de excluir a condenação por danos morais e fixar os juros e correção monetária nos termos da fundamentação supra.

É como voto.

Simone Schreiber Desembargadora Federal Relatora

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Assunto Especial – Ementário

O Dano Moral Previdenciário

Remissão Editorial SÍNTESETendo em vista que o objetivo da Seção Assunto Especial é reunir ementas com o mesmo assunto, as remissões contidas na primeira ementa estendem-se às demais.• Vide RSP nº 59, mar./abr. 2014, ementa nº 1251 do TRF 2ª R.• Vide, também, RSP nº 56, set./out. 2013, artigo de Theodoro Vicente Agostinho e Sérgio Henrique Salvador intitulado “O Dano Moral no Direito Previdenciário: uma Necessária Abordagem”.

1327 – Auxílio-doença – doença incapacitante – conversão em aposentadoria por inva-lidez – dano moral – não caracterização

“Previdenciário. Segurado da Previdência Social acometido de doença incapacitante. Dano moral. Não caracterização. Auxílio-doença com conversão em aposentadoria por invalidez. Laudo médico pericial que atesta incapacidade total e permanente para as atividades laborativas. Concessão do benefício. Honorários advocatícios estipulados em 10% sobre o valor da condenação. Aplicação da Súmula nº 111 do STJ. Recurso adesi-vo do particular improvido. Apelação e remessa oficial do INSS parcialmente providas. 1. Pretensão de obtenção de auxílio-doença com conversão em aposentadoria por inva-lidez e indenização por danos morais, cujo pleito foi deferido parcialmente pelo MM. Juiz sentenciante. 2. Nos termos do art. 59 da Lei nº 8.213/1991, o auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. 3. Entretanto, a aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida a carência exigida, quando for o caso, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz para o trabalho e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistên-cia, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nessa condição. Art. 43 do Regulamento da Previdência Social. 4. Em sequência, laudo médico pericial atesta que tem hipertensão arterial severa, apresentou 2 acidentes vasculares cerebrais e conclui pela incapacidade total e permanente para as atividades laborativas, tendo a necessidade de da ajuda de terceiros para simples rotinas do cotidiano, como, por exemplo, alimentar-se e exercer atividades que necessitem uso de força muscular, situação que se amolda ao art. 45 da Lei nº 8.213/1991. 5. Já em relação ao pedido de indenização por danos morais, igual sorte não socorre a requerente. A indenização em decorrência do dano moral é prevista constitucionalmente no art. 5º, X, da Carta Federal de 1988, como forma de proteção ao direito fundamental à honra, intimidade e privacidade. Nos autos, não há qualquer com-provação da existência de dano moral, ou seja, não se desincumbiu a autora de provar o fato constitutivo do direito à indenização. 6. O autor comprovou devidamente os requi-sitos necessários ao recebimento do benefício previdenciário em questão com alegado início de prova material (fl. 09/22), através de perícia médica (fls. 205/207) dos autos, que atestam a sua incapacidade definitiva para atividade laborativa. Nestes termos, do parágrafo único do art. 59 do Plano de Benefício da Previdência Social. 7. Conforme se colhe dos autos, há informação às fls. 40/43 que o benefício foi concedido administra-tivamente em 2002. Assim, é este o período da incapacidade que deve ser considerado

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para o termo inicial a data do requerimento administrativo e termo final do benefício a sua conversão em aposentadoria por invalidez nos termos da r. sentença, observada a prescrição quinquenal. Precedente – TRF 5ª Região, AC 299244/CE, 3ª Turma, Rel. Des. Fed. Paulo Gadelha. 8. O entendimento consubstanciado na Súmula nº 111/STJ deve ser aplicado na base de cálculo da verba honorária, de modo que fique restrita ao montante das parcelas devidas até a prolação da sentença. 9. Juros de mora e correção monetária mantidos nos termos da sentença. 10. Recurso adesivo improvido. Apelação e remes-sa oficial parcialmente providas.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0003692-90.2010.4.05.8500 – (30045/SE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Lázaro Guimarães – DJe 29.05.2014 – p. 349)

1328 – Dano moral – benefício previdenciário – revisão – IRSM – previsão legal – ob-servação obrigatória – indenização indevida

“Direito previdenciário e processual civil. Revisão de benefício. RMI. INPC. Não carac-terização de dano moral. Apelação desprovida. I – O reajustamento dos benefícios de prestação continuada concedidos pela Previdência Social após a promulgação da Cons-tituição rege-se pelos critérios definidos em lei (art. 201, § 4º, da Constituição de 1988). I – Com a edição da Lei nº 8.542/1992, o índice aplicável ao reajuste dos benefícios previdenciários passou a ser o IRSM. III – A conversão dos benefícios previdenciários em URV, a partir de março de 1994, não acarretou redução do valor do benefício. IV – Os benefícios de prestação continuada, no regime geral da Previdência Social, não serão reajustados com base no IGP-DI nos anos de 1997, 1999, 2000 e 2001. V – O ato que indefere revisão de benefício previdenciário, por não conter, em si, ilicitude, caracteriza um mero dissabor do cotidiano com relação ao segurado, não ensejando, pois, repara-ção de dano moral. VI – Apelação desprovida.” (TRF 2ª R. – AC 2009.51.01.810806-5 – 2ª T.Esp. – Rel. André Fontes – DJe 04.06.2014 – p. 342)

1329 – Pensão por morte – companheira – união estável comprovada – dependência econômica presumida – prescrição quinquenal – dano moral – indenização – descabimento

“Previdenciário. Pensão por morte. Companheira. Lei nº 8.213/19991. União estável comprovada. Dependência econômica presumida. Prescrição quinquenal. Indeniza-ção por danos morais. Descabimento. Honorários. Juros de mora e correção monetária. 1. O benefício de pensão por morte é devido aos dependentes daquele que falece na condição de segurado da Previdência Social e encontra-se disciplinado no art. 74 da Lei nº 8.213/1991. 2. O art. 16 da Lei nº 8.213/1991 indica quem são os dependentes do segurado, incluindo, no seu inciso I, o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menos de 21 anos ou inválido. 3. De acordo com a Lei nº 8.213/1991, verifica-se que, para fazerem jus ao benefício de pensão por morte, os requerentes devem comprovar o preenchimento dos seguintes requisitos: 1) o falecimento do instituidor e sua qualidade de segurado na data do óbito e 2) sua relação de dependência com o segurado falecido. 4. Na espécie, não há duvidas quanto à quali-dade de segurado do instituidor, uma vez que o benefício de pensão por morte já foi con-cedido anteriormente. Por seu turno, a autora demonstrou, de forma inequívoca, a convi-vência marital com o falecido, fazendo jus ao benefício de pensão por morte pleiteado, sendo sua dependência presumida, nos termos o art. 16, I, e § 4º, da Lei nº 8.213/1991. 5. No que diz respeito à prescrição quinquenal, deve-se ser reconhecida a ocorrência da prescrição das parcelas anteriores aos 5 (cinco) anos que precedem ao ajuizamento

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da ação, com a incidência da Súmula nº 85 do eg. Superior Tribunal de Justiça. Tendo sido a demanda ajuizada somente em novembro de 2009, encontram-se prescritas as parcelas anteriores a novembro de 2004. 6. No que tange ao dano moral pleiteado, o cancelamento do benefício por parte do INSS, de acordo com os dispositivos legais de regência, não gera direito à indenização por dano moral. Com efeito, a Autarquia, ao proceder a suspensão do benefício, agiu de forma regular, tendo em vista a existência de indícios de que o benefício fosse irregular. Tais indícios, inclusive, ensejaram o ajui-zamento da ação penal para apuração dos fatos, tendo sido a apelante absolvida. Em tais circunstâncias, a Administração tinha o poder-dever de rever o benefício concedido à apelante. No caso, o pagamento determinado pela sentença de valores devidamente corrigidos é suficiente para satisfazer e ressarcir a pretensão da autora. 7. Decaindo a parte autora de parte mínima do pedido, não há que se falar em compensação de hono-rários. 8. Os juros moratórios, contados a partir da citação, devem ser fixados em 1% ao mês até a data da entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, quando deverá ser aplicado o índice da caderneta de poupança. Quanto à correção monetária, deve prevalecer, desde a vigência da Lei nº 11.960/2009, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice que melhor reflete a inflação acumulada do período. 9. Negado provimento à apelação do INSS. Remessa necessária parcialmente provida, apenas para reformar a r. sentença quanto aos índices de correção monetária e juros de mora. Recurso adesivo da autora parcialmente provido, apenas quanto à compensação de honorários, nos termos do voto.” (TRF 2ª R. – Ap-RN 2009.50.01.012742-1 – (510575) – Relª Juíza Fed. Conv. Simone Schreiber – DJe 04.06.2014 – p. 348)

1330 – Responsabilidade civil – demora e negligência do INSS em conceder a aposen-tadoria por invalidez – configuração

“Direito administrativo e civil. Ação de indenização. Previdência Social. Revisão de be-nefício de auxílio-doença. Dano por privação no gozo do benefício. Sofrimento moral. Improcedência. Apelação desprovida. 1. A ação de indenização por responsabilidade civil do Estado foi fundada na alegação de demora e negligência do INSS em conceder a aposentadoria por invalidez, após a suspensão do auxílio-doença por decisão admi-nistrativa, causando-lhe prejuízos. 2. Reputa-se como dano moral a dor, o vexame, o sofrimento ou mesmo a humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe desequilíbrio em seu bem estar. 3. Como sabido, a responsabilidade civil consiste na obrigação imposta a alguém de ressarcir os danos sofridos por outrem, podendo ser contratual ou extracontratual, subjetiva ou objetiva e os pressupostos clássicos da responsabilidade civil extracon-tratual, também chamada de aquiliana, a teor do art. 159 do caduco Código Civil, e arts. 186 e 927 do atual, consubstanciam-se na ação ou omissão do agente, culpa, em uma de suas três vertentes (negligência, imprudência ou imperícia), relação de causa-lidade e dano experimentado pela vítima. Ocorridos todos esses requisitos, nasce ao causador do evento a obrigação de ressarcir in totum os danos sofridos pelo lesado. 4. Na espécie, o autor recebeu auxílio-doença entre 14.05.2001 e 30.06.2014, sendo o último pagamento efetuado em 07.07.2014 (fls. 100/1). O INSS suspendeu o referido benefício e concedeu a aposentadoria por invalidez em outubro de 2004, regularizando a situação do autor, com o pagamento dos meses em atraso, que no caso foram apenas 3 (três) meses, conforme documentação dos autos. 5. O que gera dano indenizável, apu-rável em ação autônoma, como no caso postulado, é a conduta administrativa dotada de

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particularidades específicas, em aspecto jurídico ou fático, capaz de especialmente lesar o administrado, como no exemplo da prática de erro grosseiro e grave, revelando pres-tação de serviço de tal modo deficiente e oneroso ao administrado, que descaracterize o exercício normal da função administrativa, em que é possível interpretar a legislação, em divergência com o interesse do segurado sem existir, apenas por isto, dano a ser ressarcido, mesmo porque, em caso de atraso ou indeferimento revisado judicialmente, o sistema legal prevê a forma de reparar e recompor a situação jurídica do adminis-trado, lembrando que os juros de mora têm função legal de indenizar pela demora no pagamento devido. 6. Desse modo, não existe direito a indenizar em tal situação, pois a forma específica de reparação de danos, por demora de tal ordem, ocorre com a de-terminação para o pagamento retroativo do benefício, acrescido de correção monetária, juros de mora e encargo sucumbencial. 7. Por fim, cumpre destacar que a juntada de faturas de cartão de crédito e boletos bancários são insuficientes para a caracteriza-ção da ocorrência do dano moral, como postulado na inicial. 8. Apelação desprovida.” (TRF 3ª R. – AC 0013702-73.2004.4.03.6104/SP – 3ª T. – Rel. Juiz Fed. Conv. Roberto Jeuken – DJe 13.06.2014 – p. 254)

Comentário Editorial SÍNTESEO TRF da 3ª Região aplicou a responsabilidade civil do INSS pela demora e negligência na concessão do benefício previdenciário.O Mestre Wladimir Novaes Martinez já se manifestou a respeito:“O dano em si mesmo é prejuízo, isto é, afetação do ser humano. O dano moral agride a pessoa ou seus bens, ainda no âmbito da individualidade, no que ela tem de mais relevante, a sua personalidade.[...]O instituto técnico do dano moral tem vários objetivos. O primeiro deles é reparar um eventual prejuízo causado à pessoa física ou jurídica. Uma tentativa, por vezes vã, de repor aquilo que se perdeu na esfera material e moral das relações humanas.Um segundo escopo é tentar inibir ações deletérias contra a pessoa ou contra o Estado. Uma espécie de certeza da punibilidade.[...]O prejuízo causado ao patrimônio material e à moral dessas pessoas, ainda que con-sumado, demonstrado ou presumido per se não define o dever da indenização corres-pondente, seja reparação ou compensação por vários motivos objetivos ou subjetivos, a responsabilidade do agente não terá nascimento.Não conceder prestação estatal, quando entendido como ausente o direito subjetivo do titular requerente, é decisão do ente gestor que causa desconforto no solicitante, dano material e o moral não reparável. Ausente a ilicitude do ato que determina o direito à reposição da perda não há falar em composição do conflito.” (Curso de direito previden-ciário. 5. ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 1033-1036)

1331 – Servidor público – pensão por morte – menor sob guarda – cancelamento do benefício – dano moral – inocorrência

“Administrativo. Apelação. Servidor. Pensão por morte. Menor sob guarda. Cancelamen-to do benefício. Lei nº 9.717/1998. Revogação do art. 217, II, b, da Lei nº 8.112/1991. Inocorrência. Dano moral inexistência. 1. Sentença que julgou improcedente o pedido autoral, por meio do qual buscava o autor restabelecimento da pensão por morte que recebia na qualidade de menor sob guarda do seu avô, ex-servidor federal. Referido be-nefício teria sido cancelado por determinação do TCU que julgara o mesmo ilegal, sob o argumento de que o art. 5º da Lei nº 9.717/1998 derrogara do regime próprio da previdên-

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cia dos servidores públicos da União a pensão estatutária destinada a menor sob guarda. 2. De fato, o art. 5º da Lei nº 9.717/1998 veda que a União, Estados e Municípios conce-dam, em seus regimes próprios de previdência, benefícios distintos daqueles previstos no Regime Geral de Previdência Social (RGPS). 3. Ocorre que, além da Lei nº 8.112/1990 ser norma específica e anterior à Lei nº 9.717/1998, o referido art. 5º vedou apenas a concessão de benefícios distintos daqueles previstos no RGPS (Lei nº 8.213/1991), nada dispondo quanto à necessidade de se observar o mesmo rol de dependentes em ambos os regimes. Precedentes: TRF1, AC 0006612-98.2011.4.01.3816/MG, Segunda Turma. Rel. Juiz Fed. Conv. Murilo Fernandes de Almeida, E-DJF1 08.05.2013; TRF2, Ap-Reex 201151020031058, Sétima Turma Especializada, Rel. Des. Fed. Luiz Paulo da Silva Araújo Filho, E-DJF2R 04.09.2013. 4. No caso em tela, o benefício concedido (pen-são por morte) encontra previsão nos dois regimes, havendo distinção apenas no rol de beneficiários, uma vez que a Lei nº 8.213/1991, ao contrário da Lei nº 8.112/1990, teve excluído do seu rol o menor sob guarda. 5. Não há que se falar, portanto, em derrogação da Lei nº 8.112/1990, sob pena de se admitir que o intérprete crie restrições, onde a lei não restringe. 6. Estabelecida a vigência do art. 217, II, b, da Lei nº 8.112/1990, e tendo ficado demonstrada a dependência econômica do autor em relação ao seu avô, que de-tinha a sua guarda judicial, sendo o principal responsável pelo seu sustento, configuram--se presentes os requisitos para a concessão da tutela antecipada. 7. Não se vislumbra a hipótese de gerar condenação por dano moral, eis que não restou configurada qualquer ofensa a bem integrante da personalidade do autor, nem demonstrado nenhum ato ile-gal ou arbitrário por parte das requeridas que tivesse exposto a parte autora à situação vexatória, razão pela qual não há que se falar em danos desta natureza. 8. Honorários advocatícios arbitrados em R$ 2.000,00 (dois mil reais). 9. Recurso parcialmente provi-do. Sentença parcialmente reformada.” (TRF 2ª R. – AC 2013.50.54.000239-4 – 5ª T.Esp. – Rel. Des. Marcus Abraham – DJe 30.05.2014 – p. 306)

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Parte Geral – Doutrina

Monitoramento do Pedido de Benefício por Incapacidade

WLADIMIR NOVAES MARTINEZAdvogado Especialista em Direito Previdenciário.

Assim que configurado um Nexo Técnico Epidemiológico Previ-denciário (NTEP) pela perícia médica do INSS, fornecida ao segurado a Comunicação de Resultado de Requerimento (CRER), sobrevêm respei-táveis responsabilidades legais ao empregador em relação ao trabalha-dor que teria sofrido um acidente do trabalho.

À evidência dessa decisão, genericamente nos termos do art. 126 do Plano de Benefícios da Previdência Social (PBPS), caberá a interposi-ção de impugnação administrativa.

DÚVIDAS EMERGENTES

Todavia, pairam dúvidas sobre os diversos procedimentos.

Contado da intimação do NTEP, por intermédio da CRER, qual seria o prazo que o empregador detém para contestar a perícia médica do INSS, prevista no art. 21-A do PBPS?

Sem a declaração do NTEP, qual seria o prazo para contestação da alegada doença ocupacional?

Qual seria o destino do requerimento, onde deve ser protocolado, na sede social da empresa ou cidade em que situada a Agência da Previ-dência Social (APS) definidora do NTEP e do Recurso Ordinário previsto no art. 29 da Portaria MPS nº 548/2011?

Uma empresa poderia acompanhar o trâmite administrativo do procedimento, as decisões interlocutórias e finais? Nesse caso, como se situa o empregado em relação ao contrato de trabalho, que estará man-tido com o empregador?

CONTESTAÇÃO DO NTEP

Concluir pela existência do NTEP é um ato médico jurídico ad-ministrativo de responsabilidade do INSS, quando da perícia médica de

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um auxílio-doença ou da aposentadoria por invalidez, do segurado que alega ter sofrido acidente do trabalho.

Restando comprovado esse infortúnio laboral, deflagram-se con-sequências para o INSS, incluindo os segurados e os empregadores, es-pecialmente a indigitada ação regressiva do art. 120 do PBPS e também na órbita trabalhista.

Por ocasião do exame pericial, o médico perito do INSS avaliará a inaptidão para o trabalho, um requisito material para o deferimento do benefício por incapacidade. No mesmo ensejo, ex vi legis, requerido o benefício, ele declarará ou não a existência de um nexo causal entre o alegado agravo e as tarefas executadas no ambiente laboral da empresa. Ato contínuo emitirá a aludida CRER, prevista no art. 2º, § 2º, da IN INSS 16/2007.

De modo geral, acompanhando os princípios gerais da Lei nº 9.784/1999, o citado art. 126 do PBPS autoriza o empregador a in-gressar com a interposição de recurso ordinário no órgão competente.

Das decisões do Instituto Nacional do Seguro Social processos de inte-resse dos beneficiários e dos contribuintes da Seguridade Social caberá recurso para o Conselho de Recursos da Previdência Social, conforme dispuser o regulamento.

Mas, antes disso, do ponto de vista legal, vige o art. 21-A, § 2º, do PBPS, que reza:

A empresa poderá requerer a não aplicação do nexo técnico epidemio-lógico, de cuja decisão caber recurso com efeito suspensivo, da empresa ou do segurado, ao Conselho de Recursos da Previdência Social.

O prazo estabelecido no art. 377, § 8º, do Regulamento da Previ-dência Social (RPS) é de 15 dias da data da entrega, “na forma do inciso IV do art. 225, da GFIP, que registre a movimentação do trabalhador, sob pena de não conhecimento da alegação em instância administra-tiva”. Em seu art. 4º, a IN INSS 16/2007 explicita melhor essa redação, dizendo que é do momento da entrega da GFIP.

Entretanto, no caso de ser

caracterizada a impossibilidade de atendimento ao disposto no § 8º, mo-tivada pelo não conhecimento tempestivo do diagnóstico do agravo, o requerimento de que trata o § 7º poderá se apresentado no prazo de

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quinze dias da data em que a empresa tomar ciência da decisão da perí-cia médica do INSS referida no § 5º.

Em suma, o prazo perquirido para oposição desse requerimento (primeiro ato formal de contestação) é de 15 dias. Apreciada a questão e mantida a decisão, caberá recurso ao CRPS e, então, dentro de 30 dias (RPS, art. 337, § 7º, e art. 29 da Portaria MPS nº 548/2011).

O requerimento pode ser assinado por um representante da em-presa, como o chefe da Divisão de Recursos Humanos, mas preferivel-mente pelo Departamento Jurídico ou por alguém que detenha poderes para defender a empresa. Não é atribuição do médico do trabalho, que, entretanto, poderá fornecer subsídios técnicos mediante dedução escrita a ser juntada ao pedido.

Sobrevindo o NTEP, pouco importando qual seja o CID, o proce-dimento acima acontecerá em conformidade com o Anexo II do Decreto nº 6.042/2007 (que regulamentou a Lei nº 11.430/2006).

Nos demais casos, tratando-se de doença comum, em princípio não haverá a fixação do nexo causal mesmo em qualquer caso de vincu-lação com as atividades desenvolvidas na empresa.

Comumente, as situações são distintas: a) doença comum e b) doença ocupacional.

Às vezes, discordando da tese da empresa e insistindo em sua opi-nião, o segurado convence a perícia médica do INSS de que é a segunda hipótese, e assim deve ser conduzido o procedimento.

Quando a doença não for ocupacional, será deferido o auxílio--doença comum sem que seja declarado qualquer NTEP.

INTIMAÇÃO DA CRER

Quando um trabalhador sofrer um acidente e for emitida ou não a CAT, mesmo não se tratando de doença laboral, se ele se afastar do trabalho por mais de 15 dias, sob pena de abandono do trabalho, assim que obtiver uma decisão do INSS em relação ao auxílio-doença, como dito, acidentário ou não, ele se obrigará a apresentar ao empregador a Comunicação de Resultado de Exame Médico (CREM) ou a CRER.

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Esse comportamento está diretamente envolvido com as regras de pessoal da Divisão de Recursos Humanos, exigência que deve ser im-posta, ab initio, quando da admissão.

Tanto a CREM quanto a CRER são documentos do segurado e a ele entregues, sem que a empresa receba necessariamente a mesma comu-nicação. Não há notificação empresarial, exceto via trabalhador. Para tomar ciência, a empresa deverá entrar em contato com o segurado; se isso não for possível, na condição de terceira interessada na lide, averi-guará pessoalmente na APS.

Essa informação é importante na medida em que definirá o prazo para apresentação do requerimento ou do recurso. Julga-se que seria ne-cessário obter do segurado uma declaração relativa à cessão desse docu-mento, esclarecendo a data da entrega e solicitando-lhe a CAD-Senha.

Reedita-se o afirmado: dentro da relação entre o trabalhador e a empresa, é dever deste dar ciência dos atos relativos ao contrato de tra-balho. No comum dos casos, essa relação tem sido amistosa e se realiza, mas, por qualquer motivo, se for impossível, a empresa poderá se louvar em outros meios.

Um deles, de posse do número identificador do benefício, devida-mente qualificado, por seu advogado, procurará a APS.

DOENÇA OCUPACIONAL

Requerido e deferido um benefício por incapacidade, se não for declarado o nexo técnico epidemiológico, o sujeito ativo de eventual ação administrativa ou judicial será apenas o trabalhador que presta ser-viços para a empresa.

Caracterizada a doença ocupacional, ainda que sem NTEP, a em-presa desfrutará do prazo de 30 dias para contestá-la junto do CRPS, sem prejuízo de se manter a prestação.

Exposta a pretensão ao Poder Judiciário, conflitando com o segura-do ou o INSS, a empresa terá os cinco anos do art. 104 do PBPS.

Nesse cenário, se o trabalhador obtiver a definição do NTEP me-diante decisão judicial, o prazo é do CPC.

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DESTINO DA INCONFORMIDADE

O requerimento inicial tem como destino o INSS, sujeito passivo da relação, protocolado na APS emitente da CRER suscitada.

A empresa tem de possuir a CRER, mas, se isso não suceder e tão somente obtiver informação verbal do empregado de que houve uma caracterização, se não exibir o documento, terá de recorrer à APS emi-tente de tal CRER.

Não acolhido esse requerimento contestador, caberá recurso ordi-nário dirigido ao CRPS, protocolado na mesma APS, in casu, para a Junta de Recursos (art. 29 da Portaria MPS nº 548/2011).

Através da Divisão Jurídica, o procurador poderá acessar o anda-mento administrativo do processo. Sempre que a empresa protocolar o requerimento e suceder uma decisão indeferitória, o INSS é obrigado a dar ciência ao requerente.

Excepcionalmente, se isso suceder, ela deverá recorrer e, como preliminar de mérito, sustentar que não teve ciência fática.

Repete-se: os dois protocolos devem ser promovidos na APS ju-risdicionante da cidade em que situado o local de trabalho da empresa, APS que emitiu a CRER.

ACOMPANHAMENTO DA LIDE

Durante o lapso de tempo iniciado com o primeiro dos 15 dias precedentes do auxílio-doença até a sua alta médica, o trabalhador deve ser considerado em licença não remunerada.

O seu contrato de trabalho estará suspenso, deflagrando-se os di-versos desdobramentos usuais previstos na legislação trabalhista.

Acontecendo o NTEP, o expediente terá o seu andamento e o se-gurado receberá o auxílio-doença acidentário (NB 91) até a Data de Ces-sação do Benefício (DCB), sem prejuízo de uma eventual contestação judicial ou administrativa.

Em todos os casos, será imprescindível a empresa monitorar o desenvolvimento do trâmite administrativo, máxime em razão do Fator Acidentário de Prevenção (FAP), cujos números serão onerados com o infortúnio decantado pelo INSS.

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Admitindo a ocorrência de um acidente do trabalho, caberá reco-lher o FGTS ou depositar o valor mensal até solução final do questiona-mento, além de garantir a estabilidade no emprego.

Como demonstrado, os procedimentos da empresa são distintos, caso o benefício seja comum ou acidentário.

Por derradeiro, pontua o art. 653 da IN INSS 45/2010:

Ao advogado regularmente inscrito na OAB que comprove essa condição poderá ter vista, para exame na repartição do INSS, de qualquer proces-so administrativo, observado o disposto no parágrafo único do art. 650. (grifo nosso)

Desta forma, monitorando os sucessivos acontecimentos – se não dispuser do CAD-Senha do referido trabalhador, buscará as informações na Internet e, se não for possível –, o empregador, mediante advogado legalmente constituído, poderá ter vista dos autos no INSS.

DAS CONCLUSÕES

O prazo para contestação da emissão da CRER é de 15 dias. Por outro lado, o termo para opor-se a decisão sobre esse requerimento, via recurso ordinário, é de 30 dias.

Fora do NTEP, eventual contestação da alegação de doença ocu-pacional é de 30 dias na administração e de 5 anos na Justiça Federal.

O requerimento deve ser dirigido ao INSS e protocolado na APS da sede do local de trabalho. O recurso ordinário deve ser dirigido à Junta de Recursos e protocolado na APS.

Se lhe foi fornecido o CAD-Senha do segurado, a empresa poderá acompanhar o trâmite na Internet ou indo diretamente à APS, nos termos do art. 653 da IN INSS 45/2010.

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Parte Geral – Doutrina

A Nova Aposentadoria dos Policiais

BRUNO SÁ FREIRE MARTINSServidor Público do Estado de Mato Grosso, Advogado, Pós-Graduado em Direito Público e em Direito Previdenciário, Professor da LacConcursos e de Pós-Graduação na Universidade Federal de Mato Grosso, no ICAP – Instituto de Capacitação e Pós-Graduação (Mato Grosso), no Instituto Infoc – Instituto Nacional de Formação Continuada (São Paulo) e no Complexo Educacional Damásio de Jesus (São Paulo), Membro do Comitê Técnico da Revista SÍNTESE Administração de Pessoal e Previdência do Agente Público, publicação do Grupo IOB. Autor dos livros Direito Constitucional Previdenciário do Servidor Público, A Pensão por Morte e Manual Prático de Aposentadorias do Servidor – Coleção Rede Previdência, bem como de diversos artigos nas áreas de Direito Previdenciário e Direito Administrativo.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Regras constitucionais para aposentadoria especial; 2 A aposentadoria compulsória; 3 A aposentadoria voluntária; 4 Cálculo e reajuste dos proventos; 5 Da inobservân-cia do princípio da contrapartida; 6 Confronto com a legislação dos estados; Conclusão.

INTRODUÇÃO

O Poder Executivo Federal sancionou a Lei Complemen-tar nº 144/2014 dando nova redação à, também, Lei Complementar nº 51/1985, com o objetivo de regulamentar, desta feita nos termos do atual texto constitucional, a aposentadoria dos policiais, objetivando, a princípio, afastar as controvérsias jurisprudenciais que pairavam sobre a redação original da lei modificada.

Ao longo da vigência do Texto Constitucional de 1988, a legisla-ção que regulava a aposentadoria dos policiais sempre trouxe grande controvérsia quanto à sua recepção frente às regras alusivas à aposenta-doria especial do servidor público contidas na Carta Magna, dificulda-des que se acentuaram com as modificações promovidas pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998, 41/2003 e 47/2005.

Agora, ao menos, em tese a norma se adequa aos ditames maiores; contudo, isso não afasta a necessidade de se debater seus comandos em face da redação constitucional em vigor, daí o propósito desse texto.

1 REGRAS CONSTITUCIONAIS PARA APOSENTADORIA ESPECIAL

A atual redação do § 4º do art. 40 da Constituição Federal estabe-lece que:

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§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os ca-sos de servidores:

I – portadores de deficiência;

II – que exerçam atividades de risco;

III – cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que preju-diquem a saúde ou a integridade física.

A Norma Maior franqueou a regulamentação da aposentadoria especial do servidor por intermédio de diversas leis complementares, desde que elas se atenham à concessão do benefício nas 3 (três) frentes enumeradas nos incisos do parágrafo em questão.

O inciso II permite a aposentadoria com critérios e requisitos di-ferenciados nos casos do exercício de atividade de risco, situação que contempla a atividade policial à medida que esta expõe os servidores que a exercem as mais variadas formas de atribuições consideradas pe-rigosas.

A periculosidade consiste na existência de risco imediato para a integridade do servidor, sendo este oriundo das atividades ou operações desenvolvidas por ele no seu labor, decorrentes da natureza ou dos mé-todos utilizados para seu exercício que implicam contato permanente com as situações que ameaçam sua integridade ou lhe impingem risco imediato de sua ocorrência.

Além disso, o novo dispositivo constitucional permitiu que a di-ferenciação de exigências ocorra em todas as modalidades de aposen-tadoria (voluntária, invalidez e compulsória), já que afirma ser possível a definição de critérios e requisitos diferenciados para a concessão das aposentadorias abrangidas pelo regime próprio, sem fazer qualquer ex-clusão das modalidades previstas no art. 40.

Então, está-se diante da possibilidade de existência de aposentado-ria especial voluntária, por invalidez ou mesmo compulsória, ensejando, assim, o reconhecimento de que não se trata de um benefício autônomo.

Isso porque, no âmbito do regime próprio, conforme se depreende de sua evolução histórica, não se constitui em benefício autônomo, mas

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sim em benesse atrelada às regras gerais, já que o permissivo é sempre no sentido de definição de critérios e requisitos diferenciados dos da regra geral1.

Essa natureza não é corroborada por alguns no âmbito do regime geral, pois, para eles, a aposentadoria especial é considerada espécie de prestação previdenciária, de natureza preventiva, destinada a assegurar proteção ao trabalhador que se expõe efetivamente a agentes agressivos prejudiciais à saúde ou à integridade física durante os prazos mínimos de 15, 20 ou 25 anos. Difere das demais aposentadorias e com elas não se confunde. Há quem diga que a aposentadoria especial seria espé-cie do gênero por tempo de contribuição. Divirjo desse entendimento. Aposentadoria especial é um benefício autônomo e seu conceito não se encontra atrelado a nenhum outro benefício previdenciário. Possui suas próprias características, diferenciadas das demais prestações da Previ-dência Social2.

O objetivo de regulamentar a aposentadoria especial do servidor público nos casos de exercício de atividades perigosas levou o art. 1º da lei, em comento, a modificar a ementa da Lei Complementar nº 51/1985, estabelecendo doravante que tal diploma legal:

Dispõe sobre a aposentadoria do servidor público policial, nos termos do § 4º do art. 40 da Constituição Federal.

É fato que a ementa não especificou qual dos incisos do § 4º está sendo regulamentado, já que o mencionou de forma genérica, mas a conclusão lógica induz à regulamentação do inciso II, uma vez que essa é a atividade inerente ao exercício de cargos de natureza policial.

Acerca do conceito de policial afirmamos, ainda sob a égide da redação original da Lei Complementar nº 51/1985, que:

Funcionário policial pode ser tido como todo aquele que exerce ativida-des de segurança, tranqüilidade e salubridade públicas integrantes do rol previsto no art. 144 da Constituição Federal.3

1 MARTINS, Bruno Sá Freire. Manual prático das aposentadorias do servidor público. Coleção Rede Previdência. Ed. Clube dos Autores, 2014.

2 LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Revista de Direito Previdenciário da Escola Paulista de Direito, São Paulo, a. IV, n. 05, p. 01/02, 2008.

3 MARTINS, Bruno Sá Freire. Direito constitucional previdenciário do servidor público. 2. ed. São Paulo: LTr.

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Cabendo mencionar que as funções desempenhadas pelos poli-ciais engloba, ainda, o combate aos ilícitos penais o que as diferencia das demais atividades consideradas perigosas.

E que leva a inaplicabilidade das regras previstas na Lei Comple-mentar nº 51/1985 aos Guardas Municipais, uma vez que estes não se inserem no conceito de policial, por sua missão consistir na defesa do patrimônio municipal.

Exclusão que também alcança os militares estaduais e federais, não pela ausência de combate ao crime entre as suas atribuições, mas por serem regidos por regramentos próprios, nos termos do que impõem os arts. 42 e 142 da Constituição Federal.

Outra modificação, sutil, promovida pela lei, consistiu na adequa-ção do conceito de servidor público, já que a redação original ainda usava a classificação pré-Constituição de 1988, onde existia a figura do funcionário público.

No novel texto, o policial passou a ser denominado servidor, pro-movendo-se, então, a adequação terminológica à classificação de agen-tes públicos vigente no ordenamento jurídico administrativo brasileiro.

Assim, ante a caracterização do conceito de policial, há de se re-conhecer que a nova redação da Lei Complementar nº 51/1985, alcança apenas as polícias civis estaduais, a polícia federal e a polícia rodoviária federal.

2 A APOSENTADORIA COMPULSÓRIA

O art. 1º, em seu inciso I, define que:

Art. 1º O servidor público policial será aposentado:

I – compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de con-tribuição, aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, qualquer que seja a natureza dos serviços prestados;

[...]

É preciso destacar que defendíamos a tese de que a aposentadoria compulsória do policial civil, regulada pelo texto anterior da Lei Com-plementar nº 51/1985, não havia sido recepcionada pela redação origi-nal da Constituição Federal, uma vez que o Texto Maior permitia, na-

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quela época, apenas a existência de critérios e requisitos diferenciados, nos casos de aposentadorias especiais, nas modalidades voluntárias.

Entendimento esse também exarado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, senão vejamos:

Mandado de segurança. Servidor público. Policial civil. Aposentadoria compulsória aos 65 anos de idade. Descabimento. Inciso II do art. 1º da LC 51/1985. Dispositivo não recepcionado pela Constituição Federal. Direito líquido e certo configurado. O inciso I do art. 1º da Lei Comple-mentar nº 51/1985, que trata da aposentadoria especial voluntária do policial civil, foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, con-forme já decidiu o Supremo Tribunal Federal; contudo, o mesmo não ocorreu relativamente ao inciso II do mesmo dispositivo, que estabelece a aposentadoria compulsória aos 65 anos de idade. O art. 40, § 1º, II, da Carta Magna prevê a compulsoriedade da aposentadoria aos 70 anos de idade, sem fazer qualquer exceção. A possibilidade de adoção de requi-sitos diferenciados para a concessão da aposentadoria está prevista no § 4º do art. 40 da Constituição Federal, especificamente, no inciso II, para os servidores que exerçam atividades de risco. Todavia, tal diz respeito à aposentadoria voluntária. E o inciso II do art. 1º da Lei Complementar nº 51/1985 prevê a aposentadoria compulsória aos 65 anos de idade, qualquer que seja a natureza dos serviços prestados, ou seja, não exige que a atividade seja de risco. Portanto, não se justifica o tratamento dife-renciado, quanto à aposentadoria compulsória, para o servidor policial, tendo o impetrante o direito de permanecer no efetivo policial, ocupando o cargo de Comissário de Polícia, até os 70 anos de idade. Segurança concedida. Unânime.4

Mas agora, face à liberdade dada pela atual redação do § 4º do art. 40 da Constituição Federal, que, conforme já dito, autoriza o esta-belecimento de critérios e requisitos diferenciados para todas as modali-dades de aposentadoria, o novo texto reveste-se de constitucionalidade.

Então, a partir de agora, o policial será aposentado compulsoria-mente ao completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, independente-mente de sexo.

Entretanto, ainda existem os defensores da tese de que a aposen-tadoria compulsória do policial é inconstitucionalidade, tanto que foi protocolada junto ao Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de Incons-

4 TJRS, MS 70053095246, Tribunal Pleno, Rel. Francisco José Moesch, J. 29.04.2013.

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titucionalidade nº 5129, pleiteando o reconhecimento da incompatibi-lidade da nova redação da Lei Complementar nº 51/1985 com o Texto Maior.

O argumento utilizado não difere do que apresentamos inicial-mente e que baseou nosso entendimento de inconstitucionalidade dessa modalidade frente à redação original da Carta Maior.

Isso porque, na ADIn, afirma-se que a Constituição Federal prevê a possibilidade de aposentadoria compulsória somente aos 70 (setenta) anos e a legislação infraconstitucional ao trazer requisito diferenciado contraria as previsões constantes no art. 3º, IV (promoção do bem de todos sem discriminação); 5º, I (isonomia) e LIV (princípios da razoabi-lidade e proporcionalidade), todos da Carta Magna – motivo pelo qual, na visão dos autores da ADIn, o autorizo constitucional para o estabele-cimento de critérios e requisitos diferenciados refere-se exclusivamente à concessão de aposentadoria voluntária.

Resta agora aguardar a decisão a ser proferida pela Corte Maior.

É preciso destacar, ainda, que o dispositivo em comento não exige tempo mínimo de serviço na atividade policial, permitindo-se que o ser-vidor policial possa ser aposentado tão logo ingresse no serviço público, mesmo que no estágio probatório.

Isso porque a aposentadoria compulsória, tanto para os servidores em geral quanto para os policiais, não exige tempo mínimo de serviço público ou no cargo para a sua concessão, além do que os posiciona-mentos do Supremo Tribunal Federal, dos quais, diga-se de passagem, divergimos, impedem a concessão do benefício apenas na modalidade voluntária durante o estágio probatório5.

É claro que, para que isso aconteça, faz-se necessário que a res-pectiva legislação policial não preveja idade limite de ingresso na car-reira ou, em o fazendo, que autorize essa investidura após o cidadão completar 67 (sessenta e sete) anos de idade.

5 Ver artigo de nossa autoria intitulado “O estágio probatório e a aposentadoria voluntária”, publicado na L&C Revista de Administração Pública e Política, Editora Consulex, n. 168, jun. 2012; na Revista de Previdência Social, Editora LTr, n. 379, jun. 2012; no Boletim Governet de Recursos Humanos, Governet, a. 8, n. 88, ago. 2012; na Revista Síntese Administração de Pessoal e Previdência do Agente Público, IOB, a. II, n. 10, ago./set. 2012; no Repertório de Jurisprudência IOB, v. I, n. 18, 2. quinz. set. 2013; na Revista Síntese Direito Administrativo, IOB, a. VIII, n. 93, set. 2013; no Repertório de Jurisprudência IOB, v. I, n. 23, 1. quinz. dez. 2013.

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A inexistência de tempo mínimo na atividade policial ou no ser-viço público permite ao policial atuar durante boa parte de sua vida laboral vertendo contribuições para o regime geral e utilizar-se desse tempo, posteriormente, para efeitos de cálculo da proporcionalidade de seus proventos, já que se admite a contagem recíproca de tempo de con-tribuição também nessa modalidade de aposentadoria.

E o tempo de serviço exercido em outras atividades não precisa se dar em atividades tidas como especiais, seja no regime próprio, seja no regime geral, pois o § 4º do art. 40 da Constituição Federal não exige que o tempo considerado para efeitos de concessão do benefício tenha sido exercido exclusiva ou integralmente em atividades dessa natureza.

Essa exigência até estava contida no texto constitucional até o ad-vento da Emenda Constitucional nº 47/2005, período em que o texto do referido parágrafo afirmava que a aposentadoria especial somente poderia existir nos casos de atividades exercidas exclusivamente sob condições especiais.

Mas a emenda de 2005 suprimiu a palavra exclusivamente do tex-to constitucional, afastando essa imposição ou, na melhor das hipóte-ses interpretativas, delegando sua previsão à legislação complementar, o que não ocorreu no caso da definição da aposentadoria compulsória dos policiais.

3 A APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA

No que tange à aposentadoria voluntária, a nova Lei Complemen-tar nº 51/1985 definiu que:

Art. 1º O servidor público policial será aposentado:

[...]

II – voluntariamente, com proventos integrais, independentemente da idade:

a) após 30 (trinta) anos de contribuição, desde que conte, pelo menos, 20 (vinte) anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial, se homem;

b) após 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, desde que conte, pelo menos, 15 (quinze) anos de exercício em cargo de natureza estrita-mente policial, se mulher.

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A grande inovação trazida pela novel redação consistiu no esta-belecimento de requisitos diferenciados para a concessão do benefício a homens e mulheres.

Pela lei, o tempo mínimo de contribuição exigido para o homem é de 30 (trinta) anos e para a mulher, 25 (vinte e cinco) anos.

Poder-se-ia até cogitar que a exigência de tempo de contribuição também se constitui em inovação, mas não é essa a realidade, já que o conceito de tempo de contribuição foi introduzido em 1998 pela Emen-da Constitucional nº 20 e já vinha sendo aplicado no texto anterior, quando se reconhecia a sua recepção pela Norma Maior.

A diferenciação entre homens e mulheres, em sede de aposenta-doria especial, enseja um distanciamento dos preceitos hoje adotados para o regime geral de Previdência Social.

Tudo porque, na redação original do art. 202, existia a previsão de que a aposentadoria especial seria concedida aos 35 anos de trabalho para o homem e aos 30 anos para a mulher.

Mas, com o advento da Emenda Constitucional nº 20/1998, a pos-sibilidade de aposentadoria especial passou a fundamentar-se na expo-sição da saúde e da integridade física do segurado a riscos que, na visão do legislador, a partir de então, é a mesma para ambos.

E não na diferenciação entre sexos ou nas peculiaridades e dife-renças laborais e sociais existentes entre homens e mulheres.

A lei manteve, ainda, a exigência de tempo mínimo no exercício de atividade policial, consistente para o homem em 20 (vinte) anos de serviço e 15 (quinze) anos para as mulheres.

Essa exigência de tempo mínimo na atividade policial, para alguns, constitui-se em uma espécie de carência prevista para o regime próprio; contudo, a nosso ver, assim não pode ser considerada, pois o conceito de carência refere-se ao número mínimo de contribuições mensais que o segurado precisa completar para fazer jus ao benefício.

Enquanto que a redação legal faz menção e impõe apenas o exer-cício de atividade de natureza policial, ou seja, exigência diversa da contida na definição de carência, além do que, em hipóteses excepcio-

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nalíssimas, pode ocorrer de existir tempo de atividade policial e não ter ocorrido o recolhimento de contribuições.

Tanto que a Lei nº 10.887/2004 previu que:

§ 2º A base de cálculo dos proventos será a remuneração do servidor no cargo efetivo nas competências a partir de julho de 1994 em que não tenha havido contribuição para regime próprio.

Como dito anteriormente, o exercício da função policial consiste, a nosso ver, no desempenho de atividades de polícia civil e/ou federal, bem como de polícia rodoviária federal.

Não se enquadram nos ditames da norma outras atividades ineren-tes ao exercício do poder de polícia, por não contemplarem, entre suas atribuições, o combate aos ilícitos penais.

E, quanto às atividades militares, o Superior Tribunal de Justiça já se posicionou no sentido de que não se caracterizam como atividades policiais para efeito de aposentadoria especial, senão vejamos:

Administrativo. Processual civil. Médico legista da polícia civil. Cômputo de tempo de serviço nas Forças Armadas. Aposentadoria especial. Lei Complementar nº 51/1985. Exigência de atividade estritamente policial. Restrição legal. Jurisprudência do STJ. 1. O Tribunal a quo não se ma-nifestou sobre o Estatuto dos Militares, sobre as Leis nºs 3.313/1957 e 4.878/1965, logo, não se fez o necessário prequestionamento. Aplicação das Súmulas nºs 282 e 356 do STF. 2. Não é possível computar o tempo de serviço prestado nas Forças Armadas para concessão de aposentado-ria especial de policial civil, porquanto o art. 1º da Lei Complementar nº 51/1985 exige pelo menos 20 anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial. 3. As atribuições dos militares das Forças Armadas não são idênticas às dos policiais civis, militares, federais, rodoviários ou ferroviários. Enquanto aquelas destinam-se à defesa da Pátria, à ga-rantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, as atribuições dos policiais estão relacionadas com a segurança pública, preservação da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Apesar de as atividades se assemelharem, em razão do uso de armas, hierarquia e coerção para a ordem, possuem finalidades e atribuições distintas. 4. Ademais, a ativida-de estritamente policial a que se refere a Lei Complementar nº 51/1985 não diz respeito apenas ao exercício do cargo em si, mas deve ser enten-dida como o efetivo desempenho de atividades em condições de risco ou que representem prejuízo à saúde ou à integridade física, conforme interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal (ADIn 3817/DF). Tais

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condições não poderiam ser examinadas em sede de recurso especial, em razão da Súmula nº 7/STJ. Precedente do STJ. Recurso especial co-nhecido em parte e improvido.6

Em contrapartida, a legislação não veda a utilização de tempo de atividade policial exercido em um ente para a concessão do benefício em outro ente federado.

No âmbito das regras gerais, o Ministério da Previdência Social manifestou entendimento no sentido de que o tempo mínimo de cargo e carreira exigido para a concessão da aposentadoria deve ser prestado no âmbito do mesmo ente federado.

Esse posicionamento até certo ponto encontra respaldo no orde-namento jurídico, à medida que não se consegue uma definição exata do conceito das chamadas carreiras de Estado, que poderiam, em muito, contribuir para a uniformização delas em todos os entes federados e, por conseguinte, elastecer a aplicabilidade da norma constitucional.

Contudo, no âmbito da atividade policial, não se pode perder de vista o fato de que o seu conceito extrapola os limites organizacionais dos entes federados, já que ela se reveste das mesmas características em qualquer uma das forças de segurança pública onde pode ser desenvol-vida e muitas das vezes, de fato, é desempenhada em conjunto.

Logo, há de se reconhecer a possibilidade de cômputo do tempo de atividade policial exercido em um ente federado por ocasião da con-cessão do benefício em outro ente federado.

Caso contrário, estar-se-ia, inclusive, negando eficácia ao teor do caput do art. 144 da Constituição Federal, que afirma que a segurança pública é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumi-dade das pessoas e do patrimônio.

E não há que se falar, pelo menos a nosso ver, em ordem pública restrita a determinado ente federado, tanto que inexistem forças policiais em âmbito municipal e mesmo assim o combate ao crime é feito, nesse caso, pelas policiais estaduais e federal.

Por fim, vale destacar a aplicabilidade, também no âmbito do be-nefício voluntário, das observações feitas anteriormente quanto à inexis-

6 STJ, REsp 1.357.121/DF, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, DJe 05.06.2013.

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tência de exigência de que o tempo de contribuição seja prestado em sua totalidade sob condições especiais.

4 CÁLCULO E REAJUSTE DOS PROVENTOS

Já no que tange aos proventos, a lei complementar extrapolou os limites impostos pela Constituição Federal para a definição da aposen-tadoria especial.

Isso porque previu em seu texto que os proventos no caso de apo-sentadorias voluntárias de policial seriam integrais, enquanto que o per-missivo constitucional contempla apenas a possibilidade de definição de critérios e requisitos diferenciados para a concessão do benefício, não alcançando a forma de cálculo dos proventos.

A expressão “critério” refere-se a um padrão a ser seguido ou di-ferenciado, enquanto que “requisitos”, no caso em tela, consistem nas exigências a serem observadas para a concessão das aposentadorias.

Resta claro, dessa forma, frise mais uma vez, a não contemplação dos cálculos dos proventos no autorizo constitucional contido no § 4º do art. 40.

É por isso que afirmamos que:

Isso porque o permissivo constitucional restringe-se apenas aos critérios e requisitos constitucionalmente estabelecidos para a concessão da apo-sentadoria especial.

Então, permite-se apenas que as regras relativas a tempo de contribuição e idade, bem como as exigências pertinentes a tempo no serviço públi-co e no cargo em que ocorrerá a aposentadoria sejam modificados por legislação menor.

Os proventos não se constituem em critério ou requisito para a concessão do benefício, mas sim em valor pecuniário ou retribuição financeira que será destinada àquele que tenha preenchido estes critérios e requisitos.7

Assim, a previsão de concessão de aposentadoria especial para os policiais com proventos integrais afronta os ditames constitucionais que delega a sua regulação para a legislação infra.

7 MARTINS, Bruno Sá Freire. Direito constitucional previdenciário do servidor público. 2. ed. São Paulo: LTr.

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Conforme já dito anteriormente, a aposentadoria especial não se constitui em benefício autônomo, estando, portanto, atrelada aos man-damentos contidos na Constituição Federal, inclusive no § 3º do art. 40, que impõe que a base de cálculo dos proventos será a remuneração do servidor no cargo efetivo ou em outras atividades que ele tenha exercido nas competências a partir de julho de 1994.

E, desde o ano de 2004, a Lei Federal nº 10.887 definiu a forma de cálculo da aposentadoria dos servidores tomando por base a média contributiva das suas remunerações de contribuição.

E esse é o entendimento do Ministério da Previdência quanto à expressão “proventos integrais”, senão vejamos:

23. Para esclarecer melhor esse ponto, deve ser abordada a diferença conceitual e prática entre concessão de proventos integrais e a integra-lidade dos proventos em relação à remuneração. A regra dos proventos integrais significa que estes corresponderão a 100% da base de cálculo da aposentadoria. Conforme esclarecido no tópico anterior, a base de cálculo dos proventos antes da Emenda nº 41/2003, correspondia à re-muneração do servidor no cargo efetivo. Depois dessa emenda, a base de cálculo passou a ser calculada pela média das contribuições com li-mite máximo na remuneração do servidor no cargo efetivo. Por outro lado, os proventos proporcionais são concedidos com percentual inferior a 100%, em razão de o segurado não ter cumprido todo o tempo previsto para a inativação. São exemplos de proventos proporcionais ao tempo de contribuição a aposentadoria por idade, a compulsória e a aposentado-ria por invalidez que não seja decorrente das situações especificadas no art. 40, § 1º, I, da Constituição Federal.

24. Deduz-se que as reformas previdenciárias advindas com as Emendas nºs 20, 41 e 47 não excluíram o direito aos proventos integrais dos servi-dores nas hipóteses de aposentadoria voluntária por tempo de contribui-ção e por invalidez conforme nas hipóteses definidas no art. 40, porque não prescreveram a proporcionalidade ou a redução dos proventos da aposentadoria como regra geral permanente. No entanto, apesar de não ter alterado o direito aos proventos integrais, a EC 41/2003 afastou a inte-gralidade dos proventos em relação à remuneração, quando modificou a apuração da base de cálculo dos proventos, substituindo a remuneração do cargo efetivo pela média das maiores remunerações de contribuição (nos termos da MP 167, de 19.02.2004, convertida na Lei nº 10.887, de 18.06.2004).

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25. Em suma, a integralidade dos proventos em relação à remuneração não se confunde com proventos integrais [...].8

Esse entendimento não foi seguido pelo Tribunal de Contas do Es-tado de Mato Grosso em decisão proferida ainda sob a égide da redação original da Lei Complementar nº 51/1985:

Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso. Consulta. Reexame da tese prejulgada na resolução de Consulta nº 59/2010. Previdência. Apo-sentadoria. Policial civil. Aplicabilidade da Lei Complementar Federal nº 51/1985. 1. Enquanto não for editada lei complementar sobre apo-sentadorias especiais pela União, regulamentando o § 4º do art. 40 da Constituição da República, aplicam-se aos policiais civis, quanto à ma-téria, o previsto na Lei Complementar Federal nº 51/1985. 2. O conceito de proventos integrais previsto na referida norma corresponde à última remuneração percebida no serviço ativo e não foi alterado desde a reda-ção original da Constituição Federal de 1988. 3. O escopo de aplicação da Lei Complementar nº 51/1985, será definido conforme a legislação em vigor na data em que ocorrer o preenchimento dos requisitos para a aposentadoria.9

Mas quer nos parecer que a tendência, em seguindo-se o que es-tabelece a Constituição Federal, reside no reconhecimento de aplicabi-lidade da média contributiva no cálculo dos proventos de aposentadoria especial dos policiais.

No que tange à aposentadoria compulsória especial, não houve qualquer definição legal quanto à base de cálculo dos proventos pro-porcionais, ou seja, não se estabeleceu se seriam calculados com base na última remuneração do cargo efetivo ou se com base no resultado da média aritmética simples.

É claro que existirão aqueles que defenderão que, uma vez esta-belecidos proventos integrais na modalidade voluntária, há de se reco-nhecer que o cálculo da proporcionalidade deve basear-se na última remuneração do cargo efetivo, também aqui.

Mas, diante de todos os argumentos antes apresentados, a melhor conclusão reside na utilização do resultado da média contributiva como base de cálculo da proporcionalidade dos proventos.

8 Nota Técnica nº 02/2012/CGNAL/DRPSP/SPPS/MPS.9 Resolução de Consulta nº 55/11 – TCE/MT.

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Quanto ao reajuste dos proventos, a nova lei foi omissa, permitin-do-se, assim, o reconhecimento da aplicabilidade das regras contidas no § 8º do art. 40 da Carta Magna, alusivas ao princípio da preservação do valor real que hoje norteia o reajuste dos proventos dos servidores que se aposentaram após a vigência da Emenda Constitucional nº 41/2003 sem direito adquirido a inativação pelas regras até então vigentes ou não se enquadrem nas regras de transição trazidas ao ordenamento jurídico pela referida emenda e pelas modificações promovidas em 2005 e 2012.

A regra constitucional da preservação do valor real do benefício: 1) assegura o reajustamento dos benefícios – as aposentadorias e pen-sões devem ser corrigidas monetariamente; 2) tem por objetivo a garan-tia permanente da manutenção do valor real – o poder de compra das aposentadorias e pensões deve ser protegido contra os efeitos depre-ciativos da inflação; e 3) os critérios para garantir a manutenção serão definidos em lei10.

O Ministério da Previdência Social, quanto às aposentadorias es-peciais previstas no inciso III do § 4º do art. 40 da Constituição Federal, posicionou-se no sentido de que os proventos devem ser calculados pela média contributiva e o seu reajuste deve se dar de forma a recompor as suas perdas inflacionárias, afirmando que:

Art. 14. No cálculo e no reajustamento dos proventos de aposentadoria especial aplica-se o disposto nos §§ 2º, 3º, 8º, 14, 15, 16 e 17 do art. 40 da Constituição Federal.11

Então, em um primeiro momento, a conclusão acerca dos proven-tos é a de que serão calculados com base na média contributiva e rea-justados com observância do princípio da preservação de seu valor real.

Até porque o Supremo Tribunal Federal tem se posicionado, em sede de mandado de injunção, no sentido de que:

Aposentadoria especial do servidor público. Art. 40, § 4º, III, da Consti-tuição Federal. Aplicação do art. 57 da Lei nº 8.213/1991. Precedentes. Análise das condições de fato e de direito. Atribuição da autoridade ad-ministrativa. Natureza subjetiva do mandado de injunção. Efeito inter partes. Agravo regimental improvido. I – A concessão de aposentadoria

10 IBRAHIM, Fábio Zambitte; TAVARES, Marcelo Leonardo; VIEIRA, Marco André Ramos. Comentários à reforma da previdência. Rio de Janeiro: Impetus, p. 30.

11 Instrução Normativa nº 1, de 22 de julho de 2010 com a redação que foi dada ao artigo pela Instrução Normativa SPPS nº 3, de 23.05.2014.

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aos servidores públicos em razão de atividade exercida exclusivamente sob condições que prejudiquem a saúde ou a integridade física deve ser concretamente analisada pela Administração Pública mediante a aplica-ção integrativa do art. 57 da Lei nº 8.213/1991, que dispõe que os Planos de Benefícios da Previdência Social. II – Incumbe apenas à autoridade administrativa competente para analisar o pedido de aposentadoria es-pecial perquirir sobre as condições de fato e de direito previstas no orde-namento jurídico para a sua concessão, inclusive quanto aos pleitos de paridade e integralidade do benefício previdenciário. III – O mandado de injunção destina-se à concretização, caso a caso, do direito subjetivo constitucional não regulamentado, tendo sua decisão, consequentemen-te, efeito inter partes. Precedentes. IV – Agravo regimental a que se nega provimento.12

5 DA INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA CONTRAPARTIDA

Em que pese o fato de a regulamentação da aposentadoria especial do policial não se constituir em um benefício autônomo, não se pode perder de vista o fato de que ela inseriu, no âmbito dos regimes próprios, benefício até então não concedido e para o qual não se previu a fonte receita responsável por seu custeio.

Essa situação, a uma primeira vista, contraria o princípio da con-trapartida, lançado no § 5º do art. 195 da Constituição Federal, uma vez que, para a criação de benefício previdenciário, de nada adianta a mera edição de lei, pois, sem a previsão da origem dos recursos, a prestação concedida será necessariamente inconstitucional13.

O princípio da contrapartida está diretamente ligado ao do equilí-brio financeiro e atuarial do regime, imposição constitucional constante do caput do art. 40.

O equilíbrio atuarial e financeiro constitui-se em princípio cons-titucional basilar do novo modelo previdenciário brasileiro. Os regimes previdenciários devem ser norteados por esse princípio, significando, na prática, que o equilíbrio atuarial é alcançado quando as contribuições para o sistema proporcionem recursos suficientes para custear os bene-fícios futuros assegurados pelo regime. Para tanto, utilizam-se projeções

12 STF, MI-AgRg 3.564/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 18.11.2013.13 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 17. ed. Rio de Janeiro: Impetus, p. 77.

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futuras que levam em consideração uma série de hipóteses atuariais, como expectativa de vida, entrada em invalidez, taxa de juros, taxa de rotatividade, taxa de crescimento salarial, entre outros, incidentes sobre a população de segurados e seus correspondentes direitos previdenciá-rios. Por sua vez, as alíquotas de contribuição – suficientes para a manu-tenção dos futuros benefícios do sistema – são resultantes da aplicação de metodologias de financiamento reguladas em lei e universalmente convencionadas. O conceito de equilíbrio financeiro está relacionado ao fluxo de caixa, em que as receitas arrecadadas sejam suficientes para cobertura de despesas14.

Portanto, a partir dessas definições, deve-se entender a expressão “equilíbrio financeiro e atuarial” como a garantia de que os recursos do RPPS serão suficientes para o pagamento de todas suas obrigações, tanto no curto prazo, a cada exercício financeiro, como no longo prazo, que alcança todo o seu período de existência15 – motivo pelo qual a nova legislação, ao introduzir novas possibilidades de concessão de aposen-tadoria, deveria ter previsto a forma de seu custeio.

Cabe salientar que essas novas possibilidades de aposentadoria consistem na aposentadoria compulsória e na aposentadoria da mulher, cuja aplicabilidade não encontrava, até então, embasamento constitu-cional e legal em nosso ordenamento jurídico.

No caso da aposentadoria especial voluntária dos homens, é pre-ciso frisar que não se trata de novo benefício ante a existência de posi-cionamentos, inclusive do Supremo Tribunal Federal, quanto à recepção da redação original da Lei Complementar nº 51/1985.

A inobservância dos ditames principiológicos constitucionais, num primeiro momento, constitui-se em ofensa ao Texto Maior, capaz de levar à retirada da norma do mundo jurídico.

Até porque a omissão quanto à fonte de custeio ensejará a redefini-ção das alíquotas previdenciárias exigidas, hoje, dos servidores federais e estaduais, mesmo que não sejam beneficiários da lei, acarretando-lhe

14 GUSHIKEN, Luiz et al. Regime próprio de previdência dos servidores: como implementar? Uma visão prática e teórica. Ministério da Previdência Social. Brasília, v. 17, 2002.

15 NOGUEIRA, Narlon Gutierre. O equilíbrio financeiro e atuarial dos RPPS: de princípio constitucional a política pública de estado. Coleção Previdência Social. Brasília, v. 34, 2012.

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um ônus que, em tese, não lhes compete, já que jamais serão beneficiá-rios das regras contidas na dita lei complementar.

Mas essa mesma redefinição traz à tona a aplicabilidade de ou-tro princípio constitucional do regime próprio, de mesma hierarquia do alusivo ao dever de observar o equilíbrio econômico e financeiro, e, consequentemente da contrapartida, consistente no princípio da solida-riedade.

Pelo princípio da solidariedade, o Estado, utilizando vários instru-mentos de políticas sociais, distribui os efeitos econômicos das contin-gências sociais entre o maior número de pessoas, com o que se efetiva o dever inescusável de prestação mútua diante da adversidade16.

A invocação do princípio pode até ensejar o afastamento da in-constitucionalidade do benefício compulsório e do da mulher, sob o argumento de que a previsão constitucional para sua existência conduz à obrigatoriedade de aplicação do princípio da solidariedade quanto a seu custeio.

Mas, com certeza, implicará a análise do confronto entre princí-pios constitucionais de mesma hierarquia, cuja solução compete à Corte Maior.

6 CONFRONTO COM A LEGISLAÇÃO DOS ESTADOS

A Constituição Federal prevê que:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar con-correntemente sobre:

[...]

XII – previdência social, proteção e defesa da saúde;

[...]

XVI – organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.

[...]

16 BRIGUET, Magadar Rosália Costa; VICTORINO, Maria Cristina Lopes; HORVATH JÚNIOR, Miguel. Previdência social – Aspectos práticos e doutrinários dos regimes jurídicos próprios. São Paulo: Atlas, p. 26.

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§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limi-tar-se-á a estabelecer normas gerais.

§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a efi-cácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

O dispositivo constitucional em questão disciplinou a chamada competência legislativa concorrente que significa que caberá à União a edição de normas gerais sobre a matéria, bem como a produção de regras específicas de interesse dos servidores federais; e aos Estados, Dis-trito Federal e Municípios a edição de normas específicas para seus res-pectivos planos de previdência, respeitadas as regras gerais da União17.

E no âmbito das aposentadorias especiais sempre preponderou o entendimento no sentido de que se faria necessário que a União editasse lei de caráter geral para que somente então os Estados e o Distrito Fede-ral pudessem disciplinar o tema.

Tanto que o parágrafo único do art. 5º da Lei nº 9.717/1998, em que pese a sua inconstitucionalidade, vedou a edição de normas esta-duais tratando das aposentadorias especiais enquanto não ingressasse no mundo jurídico lei federal disciplinadora das normas gerais atinentes à matéria.

Essa exigência sempre foi objeto de cobrança por parte do Mi-nistério da Previdência e, inclusive, com a ameaça de não emissão do certificado de regularidade previdenciária para o regime próprio que a descumprisse.

Ocorre que com o posicionamento do Supremo Tribunal Federal, em sede de mandado de injunção, quanto à possibilidade de aplicação das normas do regime geral para a concessão das aposentadorias dos servidores públicos em razão da omissão legislativa federal, ocorreu um afrouxamento da cobrança, permitindo-se aos Estados a edição de legis-

17 IBRAHIM, Fábio Zambite; TAVARES, Marcelo Leonardo; VIEIRA, Marco André Ramos. Comentários à reforma da previdência. Rio de Janeiro: Impetus, 2004. p. 03.

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lações locais sobre o tema – o que foi feito, por alguns, com fundamento no § 3º do art. constitucional supramencionado, que autoriza o exercício da competência plena quando houver omissão da União.

Essa competência legislativa dos Estados-membros é uma compe-tência concorrente de caráter não cumulativo, surgida da ausência da lei federal. Nesse caso, o Estado-membro fixa princípios que valerão somente em seu âmbito e em consonância com a finalidade de aten-der às suas peculiaridades. Assim, há uma maior autonomia legislativa dos Estados-membros, pois eles podem realizar a iniciativa legislativa de forma completamente independente da União. Como bem esclarece o dispositivo constitucional, na ausência de iniciativa da União, a compe-tência legislativa do Estado-membro torna-se plena, podendo, portanto, inclusive normatizar questões mais amplas. Assim, o diploma que editar deverá ser completo, com normas gerais que forem necessárias dentro de seu âmbito territorial e normas específicas que considerar adequadas à realidade social18.

Ocorre que a superveniência da norma geral federal induz a ob-servância da disciplina contida no § 4º do mesmo artigo constitucional.

Então, nos casos em que os Estados editaram normas regulando a aposentadoria especial dos policiais civis, o advento da nova redação da Lei Complementar nº 51/1985 impõe a suspensão da eficácia da le-gislação local naqueles casos em que houver incompatibilidade com os ditames da lei federal geral, cabendo-lhes analisar sua legislação em face do texto federal e definir aqueles preceitos que o contrariam para, na sequência, afastar sua aplicabilidade.

CONCLUSÃO

A nova lei, inegavelmente, traz avanços e afasta questionamentos que ainda permeavam a aplicação de sua redação original; contudo, surgiram novas polêmicas que ainda serão objeto de discussão judicial.

Inova, no âmbito do regime próprio, ao diferenciar as regras de concessão da aposentadoria especial voluntária entre homens e mulhe-res, respeita o pressuposto da necessidade de se proteger o regime ao

18 Constituição Federal interpretada – Artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. In: MACHADO, Costa (Org.). 3. ed. São Paulo: Manole, p. 198.

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exigir tempo mínimo de exercício na atividade policial, mas deixa a desejar no que tange à regulamentação dos proventos.

Independentemente das controvérsias a nova redação da Lei Com-plementar nº 51/1985, faz surgir uma ponta de esperança quanto à re-gulamentação das demais hipóteses constitucionais de aposentadoria especial do servidor público.

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Parte Geral – Doutrina

O Fator Psicológico Como Forma de Obtenção de Aposentadoria Especial

TIAGO VALERO BRAITPós-Graduando em Direito e Processo do Trabalho (Escola Superior de Advocacia), Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais (Universidade Camilo Castelo Branco), Advogado Militante desde janeiro de 2012.

RESUMO: O artigo salienta a importância de nos abster do entendimento trazido, de forma equivocada, no sentido de seguir de maneira taxativa o rol expresso no anexo IV do Decreto nº 3.048/1999, haja vista este apresentar somente atividades exercidas de forma insalubre. Contudo, as patologias da modernidade nos fazem enveredar no sentido de elastecer este rol, incluindo as atividades penosas, sobretudo as que interferem no fator psicológico.

PALAVRAS-CHAVE: Constituição; direito previdenciário; aposentadoria especial; agente nocivo; fator psicológico.

Em princípio, necessário se faz discorrer no que concerne e quan-do poderá o obreiro obter uma aposentadoria especial.

Este benefício previdenciário é uma espécie do gênero aposenta-doria por tempo de contribuição.

Esta aposentadoria “diferenciada” tem por objetivo compensar, ressarcir o obreiro/segurado que labutou em atividades prejudiciais à sua saúde ou integridade física. O seu diferencial já começa no tempo de labor, ou seja, o segurado fará jus à aposentadoria especial quando tra-balhar durante 15, 20 ou 25 anos nessas condições que o prejudiquem.

Outrossim, para aferi-la, forçoso é que o segurado/trabalhador, bem como a empresa onde este labora, devam recolher contribuições por um período mínimo de 15 anos, ou seja, estarão vinculados ao reco-lhimento, mínimo, de 180 contribuições mensais. Além disso, a alíquota para o cálculo do benefício será de 100% do valor dele e não se aplica o tão “temido e assombroso” fator previdenciário. No tocante a esse fator, diga-se de passagem:

[...] a despeito de a regulamentação trazida pelo fator previdenciário ter sido considerada pelo Supremo Tribunal Federal como simples norma de desdobramento, certo é que implica severa restrição ao direito funda-

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mental em tela, dado imprimir sensível redução do salário-de-benefício a ser percebido pelo segurado, ofendendo suas garantias mínimas de dig-nidade. (Serau Jr., 2009, p. 160)

Contudo, poderá surgir um questionamento importante: onde es-tará a isonomia e o tratamento igualitário, haja vista a alíquota ser de 100% e não aplicação do fator previdenciário?

Passo a explanar de modo simplificado.

A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 201, § 1º, esclarece:

É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a conces-são de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições es-peciais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005) (grifos nossos)

Ou seja, se não fosse concedida tal benesse ao segurado/trabalha-dor, estaríamos diante de uma afronta ao princípio da igualdade, visto que trataríamos os “diferentes” como “iguais”. Sem se olvidar do despre-zo ao princípio da dignidade da pessoa humana, se o trabalhador não fosse contemplado por esta exceção constitucional, haja vista ser uma questão de justiça social. Por este trilhar, em dissertação de Mestrado do Professor Serau Jr., encontramos texto que caminha nesta linha:

Para Ana Olsen, “os direitos fundamentais sociais decorrem da busca do atendimento das necessidades humanas, eles correspondem a impe-rativos da dignidade”. E, por isso, “deveriam ser satisfeitos independen-temente da provisão do mercado” (2008, p. 311). No mesmo sentido, Plauto Fáraco de Azevedo diz que os direitos sociais são “garantia da humana sobrevivência ao abrigo da necessidade” (1999, p. 128). (Serau Jr., 2009, p. 114)

Também gravado no trabalho do mesmo autor:

[...] e ainda [...] a dignidade humana “simboliza, deste modo, um verda-deiro superprincípio constitucional, a nora maior a orientar o constitucio-nalismo contemporâneo, dotando-lhe especial racionalidade, unidade e sentido” (Piovesan, 2003, p. 393). (Serau Jr., 2009, p. 152)

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Vale ressaltar que o art. 7º, XXIII, da mesma Carta Magna dá direito ao trabalhador a um adicional em sua remuneração por despender sua força de trabalho em condições insalubres, perigosas ou penosas. Esse artigo está intimamente ligado ao benefício ora estudado.

Contudo, o que se pode afirmar é que toda aposentadoria especial está relacionada em seu bojo com atividades prejudiciais à saúde e à integridade física, mas nem toda atividade sob essas condições gera por fim este benefício especial – o que, por conseguinte, faz nascer um pre-juízo à pessoa do segurado, como demonstra Serau Jr.:

Ademais, adotada a perspectiva principiológica dos direitos fundamen-tais, há que se ter em mente que a dignidade humana, como sugere Alexy (2007, p. 86-89), seria um dos únicos exemplos de princípio absoluto (que, portanto, não poderia ser diminuído ou restringido por ação do po-der constituinte derivado, do legislador ordinário e, muito menos, pelos poderes administrativos). (Serau Jr., 2009, p. 154)

Assim, restringe diversos trabalhadores que laboram em condições prejudiciais a obter tal benefício.

Nesse sentido, podemos certificar que o INSS somente se pau-ta pelas atividades elencadas no anexo IV do Decreto nº 3.048/1999, considerando-o um rol taxativo e por diversas vezes nega a concessão do benefício. Ademais, este anexo somente expressa em seu corpo ativi-dades exercidas de forma insalubre, restando silente no que diz respei-to às atividades perigosas e/ou penosas!? (O que será que aconteceu?! Acredita-se que nem Freud explica...).

Por outro lado, temos que enaltecer e louvar a jurisprudência e doutrinadores, ainda que de modo tímido e mitigado, visto que não se limitam, como o INSS, a ponto de prejudicar e injustiçar trabalhadores, mas consideram o anexo acima citado como um rol meramente exem-plificativo, possibilitando a qualquer trabalhador que labutou de forma prejudicial à saúde ou integridade física a obtenção da aposentadoria especial. Ou seja, qualquer que trabalhe pelo período de 15, 20 ou 25 anos em atividade insalubre, bem como perigosa e até mesmo penosa, estando incluído no art. 7º, XXIII, acima referido, poderá ter esse direito. Insto em dizer poderá, visto que, para alcançar este especial benefício, necessário se fará provar, perante o Judiciário, que houve trabalho du-rante 15, 20 ou 25 anos de forma prejudicial.

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Nesse passo, interessante vir à baila os seguintes arestos:

Aposentadoria especial. Trabalho em condições prejudiciais à saúde. Profissão não relacionada. Possibilidade. Perícia técnica. Desnecessida-de. Previdenciário. Aposentadoria especial. Trabalho exercido em con-dições prejudiciais à saúde. Profissão não relacionada no rol daquelas ensejadoras do benefício. Possibilidade. Perícia técnica. Desnecessi-dade. 1. A denominação da atividade exercida não constitui óbice ao reconhecimento de tempo de serviço para efeito de aposentadoria es-pecial, conquanto resta comprovado o exercício da prestação de servi-ço em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física do trabalhador. 2. Sendo a prova material e testemunhal suficiente para o convencimento do julgador de que o segurado exerceu atividade insalubre, é desnecessária a realização de perícia técnica. 3. Restando comprovado o desempenho da atividade insalubre por mais de 25 anos, nos termos do Decreto nº 53.831/1964, mantém-se a sentença que, cor-retamente, deferiu ao autor a aposentadoria especial. 4. Apelação e re-messa oficial improvidas. (TRF 5ª R., AC 199.407/CE, (99.05.66383-5), Rel. Araken Mariz, Apelante: INSS, Apelado: Raimundo Pereira Valente, DJ 20.06.2000)

Igualmente:

Profissão de vigilante. Contagem como atividade especial. No REsp 413614, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que o fato do trabalhador usar arma de fogo calibre 38 caracteriza o enqua-dramento da atividade como perigosa porque o rol das atividades consi-deradas insalubres, perigosas ou penosas descritas no decreto é exempli-ficativo e não exaustivo. Rel. Min. Gilson Dipp. Obs.: O art. 147 da IN 95, de 07.10.2003, reconhece a atividade de guarda, vigia ou vigilante como atividade especial, salvo na condição de contribuinte individual (antigo autônomo). (Acórdãos extraídos do livro de Horvath Jr., 2010, p. 289/290)

Demais disso, vale salientar a Súmula nº 198 do extinto Tribunal Federal de Recursos – TFR, por ter grande importância e influência nesta senda:

Súmula nº 198 do TFR: Atendidos os demais requisitos, é devida a apo-sentadoria especial, se perícia judicial constata que a atividade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não inscrita em Regulamento.

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Restando cristalino que, desde esta época, o entendimento era no sentido de se aceitar o modo de atividade perigoso, penoso ou insalu-bre, independentemente de rol, bastando, para tanto, a constatação por perícia judicial.

Além disso, a obtenção da aposentadoria especial pauta-se por meio de agentes nocivos à saúde e à integridade física.

Agentes especificados na Lei de Benefícios nº 8.213/1991 delimi-ta-os em físicos, químicos e biológicos, podendo estes estarem de forma isolada ou até mesmo mesclados.

Por esta vereda, podemos salientar, entre tantos, o entendimento do Professor Sergio Pinto Martins:

Agentes nocivos são os que possam trazer ou ocasionar danos à saúde ou à integridade física do trabalhador nos ambientes de trabalho, em ra-zão de sua natureza, concentração, intensidade e exposição aos agentes físicos (ruídos, vibrações, calor, pressões anormais, radiações ionizantes, eletricidade, eletromagnetismo, umidade, temperatura etc.), químicos (poeiras, gases, vapores, neblinas, fumos, névoas, óleo contendo hidro-carbonetos etc.), biológicos (micro-organismos, como bactérias, fungos, parasitas, bacilos, vírus, vermes etc.). (Martins, 2012, p. 359)

Contudo, hodiernamente não podemos nos pautar taxativamente em agentes físicos, químicos e biológicos e ignorar as modificações, atu-alidades do tempo em que vivemos.

Neste sentido, em aula de direito previdenciário lecionada pelo Professor Marco Aurélio Serau Júnior1, este salienta haver as patologias da modernidade, doenças/enfermidades dos tempos presentes. Essa per-turbação moderna da saúde, mencionada pelo professor, está estreita-mente ligada à atividade exercida de maneira penosa. Essa atividade o INSS não considera como fundamental para o segurado/trabalhador perceber a aposentadoria especial, haja vista considerar somente as in-salubres, como sobredito.

Com efeito, vale dizer que as doenças do trabalho, que não estão mais relacionadas somente com aquelas do tempo “fordista”, e sim, mui-to além, visto que, mesmo que aconteça algum acidente do trabalho ou

1 Aula ministrada no dia 26 de março de 2014, lecionada na Pós-Graduação em Direito e Processo do Trabalho pela Escola Superior de Advocacia – ESA Central.

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doença laboral, podemos inferir que há um cunho psicológico por trás desses acontecimentos – pois as pessoas, de um modo geral, são cobra-das a todo momento, como por exemplo: uma pessoa adquire alguma responsabilidade em determinada empresa, seu estudo já não mais será suficiente, devendo buscar uma outra língua, um curso superior, uma pós-graduação e assim por diante. Ou seja, a mente do homem-médio perturba-se dia a dia pelas responsabilidades, cobranças, metas, que, muitas vezes, não são alcançadas, gerando, por fim, um desgaste dema-siadamente degenerador de uma mente sã. Ainda, há profissões em que a pressão psicológica, no sentido do medo ou temor excessivo, como os vigilantes (ou, no setor público, os agentes carcereiros, da Fundação Casa etc.), consoante mencionado em aresto supradito, e ainda mais, em outras profissões em que há um esforço excessivo de seu físico, gerando por fim, a tão pouco comentada penosidade, que, por falta de legislação específica, acaba por cair no desuso.

Neste estreito caminho, salientamos novamente o entendimento do doutrinador Sergio P. Martins no sentido de que:

Evidencia-se a penosidade quando o trabalho é desgastante, tanto físi-ca como mentalmente. O inciso XXIII do art. 7º da Constituição apenas menciona que deve haver um pagamento de adicional para atividade penosa, porém não existe lei nesse sentido até o momento. [...] (Martins, 2012, p. 359)

Cumpre salientar que há quem afirme existir um quarto agente no-civo, referente ao mérito pretendido nesta simples explanação: o agente psicológico. Para maior confirmação do anunciado:

Alguns doutrinadores, entre eles Wladimir Novaes Martinez, acrescen-tam mais um tipo de agente: os psicológicos, que se constituem nas ad-versidades inerentes ao trabalho, principalmente em caso de funções perigosas, mas igualmente presentes na penosidade. Devem-se à pressão (dos circulantes), à tensão (do tráfego), ao medo (do ambiente), ao risco de acidente (perigo), à repetitividade de gestos (tenossinovite). (Horvath Jr., 2010, p. 278)

Para confirmação do dito supra, jurisprudência recentíssima:

Previdenciário. Conversão de aposentadoria por tempo de contribuição em especial. Reconhecimento de labor exercido em condições especiais. Na conversão do tempo especial em comum, aplica-se a legislação vi-gente à época da prestação laboral; na ausência desta e na potencial

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agressão à saúde do trabalhador, deve ser dado o mesmo tratamento para aquele que hoje tem direito à concessão da aposentadoria (STF, RE 392.559/RS, Min. Gilmar Mendes, DJ 07.02.2006). A conversão do tempo de trabalho em atividades especiais eram concedidas com base na categoria profissional, classificada nos Anexos do Decreto nº 53.831, de 25.03.1964, e do Decreto nº 83.080, de 24.01.1979, sendo que a par-tir da Lei nº 9.032, de 29.04.1995, é necessário comprovar o exercício da atividade prejudicial à saúde, por meios de formulários ou laudos. É pacífico o entendimento jurisprudencial de ser o rol de atividades con-sideradas insalubres, perigosas ou penosas meramente exemplificativo e não exaustivo, pelo que a ausência do enquadramento da atividade tida por especial não é óbice à concessão da aposentadoria especial, consoante o enunciado da Súmula ex-TFR nº 198. O reconhecimento de outras atividades insalubres, penosas e perigosas é admissível, em caso de terem sido exercidas sob ditas condições especiais; não presumidas como aquelas arroladas na legislação pertinente. Quanto à existência de EPI eficaz, a eventual neutralização do agente agressivo pelo uso de equi-pamentos de proteção individual não tem o condão de descaracterizar a natureza especial da atividade exercida, uma vez que tal tipo de equipa-mento não elimina os agentes nocivos à saúde que atingem o segurado em seu ambiente de trabalho, mas somente reduz seus efeitos, não sendo motivo suficiente para afastar o reconhecimento do tempo de serviço em condições especiais pretendida. Precedentes do eg. STJ e desta col. Corte. A filiação ao sistema previdenciário do empregado é obrigatória, bem como o recolhimento das contribuições respectivas, cabendo ao empregador a obrigação dos recolhimentos, nos termos do art. 30, I, da Lei nº 8.212/1991. O trabalhador não pode ser penalizado se tais recolhi-mentos não forem efetuados corretamente, porquanto a autarquia previ-denciária possui meios próprios para receber seus créditos. Os argumen-tos trazidos pelo agravante não são capazes de desconstituir a decisão agravada. Agravo não provido. (Agravo Legal em Reexame Necessário Cível nº 0003804-90.2004.4.03.6183/SP, DE 12.05.2014 – grifos nossos)

Outrossim, nesta mesma seara, com certa veemência, Fábio Luiz dos Passos disserta com acrisolado no que concerne ao agente psicoló-gico:

A aposentadoria especial é justificada pelo acelerado desgaste físico e mental que algumas atividades acarretam aos trabalhadores que as de-sempenham. (Passos, 2013, p. 105 – grifos nossos)

Ademais, existem críticas à aposentadoria especial, no que con-cerne a monetarizar o risco das profissões, como acontece com os adi-

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cionais de periculosidade e insalubridade (adicionais de risco), que demonstra cristalina a indignidade laborativa. Contudo, de forma inteli-gível, o mesmo autor aborda no sentido de que:

[...] é de se observar que este também pode ser visto como o benefício previdenciário com maior conformação aos fundamentos do Estado bra-sileiro, pois ampara o trabalhador submetido a condições com especial potencialidade de dano à sua saúde ou integridade física ou psicológica, possibilitando-lhe o afastamento do mercado de trabalho antes que tais danos se concretizem. (Passos, 2013, p. 105-106 – grifos nossos)

Podemos inferir que a saúde, o trabalho e a segurança são direitos sociais fundamentais elencados na Carta Magna. A proteção à saúde no meio ambiente do trabalho está totalmente vinculada à condição de dig-nidade que é fundamento insculpido do Estado brasileiro. Neste sentido, Serau Jr.:

[...] pode-se assegurar o mínimo vital da pessoa, assim como condições dignas de trabalho (o que atenderia ao primado da dignidade humana), apenas através de uma eficaz regulamentação trabalhista relativa a ques-tão salarial e ao meio ambiente do trabalho. (Serau Jr., 2009, p. 115 – grifos nossos)

De forma ilustrativa e para enriquecimento de informações:

A privação da condição de saúde ou a mutilação física do trabalhador tem o potencial de submetê-lo ao estado de necessidade, pela redução da capacidade de ganho, que fundamenta os denominados benefícios de risco, originando, assim, uma condição de desigualdade social e de marginalização exatamente contrária ao já mencionado objetivo funda-mental do Estado. (Passos, 2013, p. 106-107)A Associação Internacional de Seguridade Social (Perspectivas de Po-lítica Social, n. 22, p. 2-3) registra que a taxa de desemprego entre as pessoas com incapacidade costuma ser equivalente ao dobro da taxa de desemprego do resto da população, bem com que quase um quarto da população com invalidez ou incapacidade de longa duração vive em condições de pobreza. (Passos, 2013, p. 106, nota de rodapé 222)

Diante de tal quadro, não podemos nos restringir e, de maneira limitada, aceitar um simples rol exemplificativo, como o único, acredi-tando que seja taxativo.

Nesta senda, necessário se faz lutar pela melhoria da proteção ao trabalhador e a disposição da veraz eliminação de agentes nocivos à saúde e integridade física e mental dele.

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A Organização Internacional do Trabalho, em 2008, informou a ocorrência anual de 160 milhões de novos casos de doenças relativas ao trabalho no mundo.

Novamente um questionamento se faz necessário: se há milhões de casos de doenças ocupacionais, será que podemos nos dar por sa-tisfeitos em seguir um rol limitadíssimo, que se abstém de atividades perigosas e penosas, estas intimamente ligadas ao agente psicológico?!

A resposta é clara: não.

Não podemos nos estreitar neste caminho “maquiavélico”, onde vemos desmantelada a dignidade da pessoa humana relativa ao segura-do/obreiro.

Outro ponto demasiadamente importante é no sentido de que a preocupação pelos acidentes típicos está por se tornar obsoleta (se por-ventura já não se tornou), visto que o principal foco eram os acidentes industriais; contudo, a quantidade de enfermidades ocupacionais au-menta-se significativamente, vindo a atingir proporções alarmantes no sentido de afastamentos por períodos prolongados. Neste caminho:

Segundo a Associação Internacional de Seguridade Social, a crescente prevalência mundial das enfermidades crônicas gera desafios adicionais para o capital humano, com repercussões negativas nos regimes de Se-guridade Social. O peso das enfermidades crônicas exerce uma grande pressão no financiamento da assistência médica, sobretudo porque os pacientes com enfermidades crônicas consomem em média mais servi-ços de assistência médica que as pessoas com enfermidades contagiosas. (Passos, 2013, p. 108)

Entre tantos comentários e afirmações de que o rol de atividades nocivas à saúde e integridade física e psicológica é meramente exempli-ficativo, ninguém há que possa expressar ser algo novo ou não sabido, haja vista a existência do Enunciado nº 198 do TFR, consoante citação supra, determinar, de forma clara e cristalina, que, mesmo que a ativida-de não esteja no citado rol, se por perícia restar constatada a nocividade, o trabalhador fará jus à aposentadoria especial. Neste caminho, em texto extraído do mestre Passos:

[...] vale observar a citação de Feijó Coimbra em parecer exarado em 1974 sobre o tema:

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Verificando que uma prestação laborativa desenvolve-se em condições de risco específico, ou de maior intensidade do risco social genérico per-tinente ao desgaste físico do trabalhador, quando empenhado em tarefas comuns, a lei presume esteja incapacitado dito obreiro para o trabalho, após o decurso de certo tempo, sempre menor que aquele exigido para a aposentação por tempo de serviço em condições normais [...]. (Passos, 2013, p. 110 – grifos nossos)

Outrossim, Passos complementa que:

As alterações promovidas no rol de condições hábeis a ensejar a con-cessão da aposentadoria especial, a partir do início da década de 1990, bem como as condições legais para a concessão deste benefício, eviden-temente restringem drasticamente o acesso a esta ferramenta de proteção social, tanto pelo estabelecimento de requisitos mais rígidos para o reco-nhecimento destas condições que demandam especial atenção (neces-sidade de efetiva exposição permanente) quanto pela conformação do rol de hipóteses a condições tipicamente industriais, seguindo assim um desenvolvimento em caminho diametralmente oposto à realidade social e ao mercado de trabalho, que se desenvolve no sentido da desindustria-lização, e ignorando o surgimento de inúmeras condições que se apre-sentam “como fator de desgaste físico (ou psicológico, ou emocional) atuante de forma pronunciada”. (Passos, 2013, p. 111)

Por fim, é de essencial importância investir de forma concreta e incisiva no sentido da melhoria do meio ambiente de trabalho e na pre-venção de acidentes, principalmente das enfermidades ocupacionais, haja vista a luta ser árdua contra o sistema, que concede mitigadamen-te o benefício da aposentadoria especial e, se não houver a melhoria dos locais de trabalho, o segurado/trabalhador que laborar de maneira prejudicial à sua saúde e integridade física e psicológica estará sempre à margem de um direito dependente de uma decisão judicial, que sig-nifica a subjetividade da pessoa do juiz, ou seja, mesmo se tratando de um direito social inscrito na Carta da República de 1988, não alcança a eficácia plena que deveria abranger.

Entretanto, devemos ingressar nesta lida travada entre “róis” (ane-xo IV) e “institutos” (INSS) versus doutrinadores e julgadores (estes em defesa da sociedade, mais especificamente aos trabalhadores que sofrem prejuízos físicos e psicológicos), para que, com todas as nossas forças, esforcemo-nos para o “sistema” ir “ao encontro”, e não “de encontro” ao segurado.

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CONCLUSÃO

Por essa singela explanação, podemos perceber que, mesmo a Constituição Federal determinando haver critérios diferenciados (sendo a exceção) para a obtenção da aposentadoria especial e o decreto, em seu anexo IV, regulamentar o estabelecido pela Carta Constitucional, inferimos que não foram abrangidos todos os trabalhadores “diferencia-dos” – haja vista o decreto afrontar o princípio da isonomia, visto que faz diferenças entre obreiros que muitas vezes estão em situações parecidas, ou até mesmo têm sua saúde prejudicada, seu físico e/ou, sobretudo, seu psicológico abalado, vindo a não ser amparado como deveria, por-que o INSS se pauta por este anexo (que somente contém atividades insalubres), deixando a grande maioria dos trabalhadores/segurados de-samparados. Algo inexplicável – visto se tratar de um órgão do governo que está responsável pela “Seguridade Social”, ou seja, pela proteção à saúde do trabalhador.

REFERÊNCIAS

BALERA, Wagner; MIZIARA MUSSI, Cristiane. Direito previdenciário. 8. ed. São Paulo: Método, 2011.

HORVATH JR., Miguel. Direito previdenciário. 8. ed. São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2010.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 32. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2012.

______. Fundamentos de direito da seguridade social. 13. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2012.

SERAU JR., Marco Aurélio. A seguridade social como direito fundamental material. São Paulo: Dissertação de Mestrado, 2009.

PASSOS, Fábio Luiz dos. Previdência social e sociedade pós-industrial. Curitiba: Juruá, 2013.

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Parte Geral – Doutrina

A Repercussão da Prescrição e Decadência no Direito Previdenciário Face ao Recurso Extraordinário nº 626�489

ANDERSON DARIOAdvogado, Pós-Graduando em Direito Previdenciário pela Faculdade Legale.

RESUMO: O presente estudo visa a analisar a aplicação da prescrição e decadência em matéria de direito previdenciário, no que tange aos benefícios do Regime Geral da Seguridade Social, com objetivo de esclarecer a polêmica da decadência no Recurso Extraordinário nº 626.489, onde foi reconhecida a repercussão geral sobre o tema e a aplicabilidade de tais institutos.

PALAVRAS-CHAVE: Previdenciário; prescrição; decadência; RGPS; aplicabilidade; STF.

SUMÁRIO: Introdução; Da prescrição no RGPS; Da decadência no RGPS; Conclusão; Refe- rências.

INTRODUÇÃO

A aplicação da prescrição no direito previdenciário já possui um entendimento uniformizado perante os doutrinadores e a jurisprudência dominante, o qual vem sendo aplicada desde longa data, e, segundo Gisele Lemos Kravchychyn1, “[...] a prescrição que se concretiza contra o segurado normalmente vai dizer respeito à exigibilidade das presta-ções devidas e não pagas nem reclamadas em época própria”2, ou seja, o segurado perde a possibilidade da cobrança das parcelas devidas mais antigas, limitando no tempo a quantidade de parcelas a serem recebidas.

No entanto, a decadência foi prevista no direito previdenciário por meio da Medida Provisória nº 1.523-9/1997, sendo tal medida provisó-ria convertida na Lei nº 9.528/1997, fixando prazo de dez anos, e, com o advento da Lei nº 9.711/1997, o prazo foi reduzido para cinco anos, mas, devido às manifestações das associações, advogados e segurados, o Poder Executivo se viu obrigado estabelecer novamente o prazo de-

1 KRAVCHYCHYN, Gisele Lemos. Prescrição e decadência no direito previdenciário em matéria de beneficio. 3. ed. São Paulo: LTr, 2012.

2 KRAVCHYCHYN, Gisele Lemos. Prescrição e decadência no direito previdenciário em matéria de beneficio. 3. ed. São Paulo: LTr, 2012.

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cadencial em dez anos, em que editou, na ocasião, a Medida Provisória nº 138/2003, sendo convertido na Lei nº 10.839/2004.

Com essas alterações, abriram-se novas discussões relativas à pos-sibilidade ou não de retroação do instituto aos benefícios existentes an-tes do seu surgimento, pois os beneficiários do RGPS perderam o direito de revisão do ato de concessão de seus benefícios, e, dessa forma, o presente estudo busca identificar os aspectos relativos ao instituto da prescrição e da decadência em matéria previdenciária no RGPS, levan-tando questionamentos e discussão sobre o tema.

DA PRESCRIÇÃO NO RGPS

Para que possamos entender o conceito de prescrição, primeira-mente precisamos entender qual é o tipo de prescrição que estamos tra-tando no RGPS, pois existe a prescrição aquisitiva e a extintiva.

A prescrição aquisitiva de direito, segundo Caio Mario da Silva Pereira3, é a “aquisição do direito real pelo decurso do tempo”, ou seja, resume-se a pessoa a desfrutar de um direito por um período de tempo, visando a incorporar ao seu patrimônio um benefício, que, no caso prá-tico, seria o usucapião, conforme previsto no art. 1.238 e seguinte do Código Civil brasileiro.

Já a prescrição extintiva, segundo Sílvio de Salvo Venosa4, “con-duz a perda do direito de ação por seu titular negligente, ao fim de certo lapso de tempo, e pode ser encarada como força destrutiva”. Resumida-mente, é a perda do direito de ajuizar uma ação em virtude da inércia de seu titular durante certo lapso de tempo, ou seja, é a extinção da pre-tensão de exigi-lo, seja ou não por meio de uma ação, e não do direito propriamente dito.

No RGPS, aplica-se a prescrição extintiva ou liberatória, pois afeta o direito apenas em sua exigibilidade. A regra geral de prescritibilidade nos benefícios previdenciários em si não prescreve, mas tão somente as pretensões não reclamadas dentro de certo tempo. Nesse sentido, cabe

3 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: introdução ao direito civil: teoria geral de direito civil. 22. ed. rev. e atual. de acordo com o Código Civil de 2002 por Maria Celina Bodin de Moraes. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

4 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

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destacar o posicionamento do Hélio do Valle Pereira5, quando apresenta que a prescrição não atinge o direito, tanto que o art. 970 do Código Ci-vil nega a repetitividade daquilo que pagou a título de dívida prescrita, pois o direito permanece válido, ficando apenas tolhida a sua exigibili-dade, não sendo o caso de ilicitude, mas sim de simples ineficácia.

Desse modo, o que caracteriza a prescrição é a extinção da pre-tensão de exigi-lo, seja ou não por meio da ação e o que não ocorre com o direito propriamente dito. Pode se dizer que a prescrição é a perda do direito subjetivo, ou seja, o lapso temporal estipulado em lei para mani-festação da intenção de deduzir a pretensão em juízo, e, no direito pre-videnciário, a prescrição quinquenal tem sido aplicada desde o advento do Decreto nº 20.910/19326, em seu art. 1º, quando prevê a prescrição de cinco anos de dívidas passivas ou ações contra as Fazendas Federais, Estaduais ou Municipais, e, nesse sentido, o STJ se posicionou por meio da Súmula nº 85,

nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclama-do, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquê-nio anterior à propositura da ação.

Na atual Lei de Benefícios, foi mantido o mesmo prazo quinque-nal estabelecido no Decreto nº 20.910/1932, conforme previsto no art. 103, parágrafo único7, quando se refere a prestações vencidas ou ainda a requerimentos de restituições ou diferenças devidas pela própria Previdência Social, mas, no entanto, há de ser observadas as causas de impedimento, suspensão e interrupção no curso do prazo prescricional, previsto nos arts. 197 a 202 do Código Civil.

Apenas esclarecendo, a suspensão poderá ocorrer diversas vezes, podendo-se citar a tramitação de processo administrativo que discute o direito do dependente ou segurado, sendo que, finalizado o processo administrativo, retorna-se o tempo faltante para consumar, contando o tempo já decorrido. A interrupção, por sua vez, ocorrerá uma única vez,

5 KRAVCHYCHYN, Gisele Lemos. Prescrição e decadência no direito previdenciário em matéria de beneficio. 3. ed. São Paulo: LTr, 2012.

6 BRASIL. Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932. Regula a prescrição quinquenal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D20910.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014, 10h42.

7 ______. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social e dá outros providencias. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014, 12h15.

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possuindo a função não apenas de parar o curso do prazo prescricional, mas também de fazer com que recomeçasse a correr o prazo por inteiro, deixando de considerar o tempo já transcorrido.

A legislação também tratou de resguardar os direitos dos inca-pazes, pois não corre a prescrição contra eles, na forma elencada no art. 198, I8, combinado com o art. 3, II e III, do Código Civil, destacando--se ainda que o próprio INSS já vem aplicando essa regra, por meio do dispositivo no art. 446, § 1º, da IN 45/20109.

Em matéria de acidente de trabalho, existem diferenças no to-cante ao início da contagem do prazo prescricional nas ações, preten-sões e direitos dos acidentários, na forma prevista pelo art. 104 da Lei nº 8.213/199110. Nas ações derivadas do acidente de trabalho, o início da contagem do prazo prescricional se dá a partir do momento em que o acidente causou ao trabalhador morte, incapacidade temporária, per-manente ou agravamento das sequelas, devendo, em ambos os casos, ser reconhecidos por perícia médica da Previdência Social ou, caso seja necessário, judicial. Inclusive tal entendimento encontra-se pacificado no STF por meio da Súmula nº 23011, que determina que, para as ações de acidente do trabalho, conta-se do exame pericial que comprovar a enfermidade ou verificar a natureza da incapacidade do trabalhador.

Em síntese, a prescrição é o prazo fixado pelo ordenamento jurídi-co para o exercício do direito de ação; mesmo existindo o direito, o que se perde é o instrumento hábil para pleitear o suposto direito, atingindo diretamente no direito previdenciário no que diz respeito à exigibilidade das prestações devidas e não pagas, nem reclamadas na época correta.

DA DECADÊNCIA NO RGPS

Antes de adentrarmos sobre o tema, precisamos entender o con-ceito de decadência. A decadência é um instituto vinculado ao tempo

8 ______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Instrui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 20 mar. 2014, 15h17.

9 ______. Instrução normativa INSS/Pres nº 45, de 6 de agosto de 2010. Das disposições relativas às prestações. Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/38/inss-pres/2010/45_2.htm#cp5_S8>. Acesso em: 20 mar. 2014, 15h25.

10 ______. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social e dá outros providencias. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014, 12h15.

11 ______. Súmulas do Supremo Tribunal Federal – STF. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_201_300>. Acesso em: 20 mar. 2014, 15h48.

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tendo por objetivo a perda do próprio direito, ou seja, a perda do direito pela inércia do titular, pelo fato de não exercê-lo durante um prazo fi-xado em lei, conforme preceituado por Antônio Luiz da Câmara Leal12, e segundo o entendimento de Hélio do Valle Pereira, ambos citados na obra da Gisele Lemos Kravchychyn13, em que declara que a decadência envolve a inserção do fator tempo no próprio conceito de direito subje-tivo.

Assim, podemos conceituar a decadência como perda do direito por não havê-lo exercido no prazo fixado em lei, podendo ser legal ou convencional, conforme prevê o atual Código Civil, em seus arts. 209, 210 e 21114.

A decadência legal configura nos prazos previstos em lei, constitui matéria de ordem pública, podendo ser reconhecida de ofício pelo juiz, mesmo versando sobre direitos patrimoniais, sendo também irrenunciá-vel – enquanto que, na decadência convencional, os prazos são previs-tos por disposições contratuais ou criados pelas partes, podendo apenas e simplesmente ser renunciado por estas, sem restrição ou necessidade de justificativa, podendo ser invocado pela parte interessada a qualquer momento, mas não sendo possível ser alegada de ofício pelo juiz.

Sobre o prazo decadencial, aponta Gisele Lemos Kravchychyn15:

A fluência do prazo de decadência inicia-se normalmente com o nasci-mento do direito em si. Às vezes está vinculado ao exercício do direito de ação, outras vezes não. Entretanto, a doutrina ensina que ao visua-lizarmos um direito cujo exercício está diretamente ligado a uma ação devemos considerar tal prazo como decadência.

No direito previdenciário, no art. 103 da Lei nº 8.213/1991, a de-cadência era vislumbrada apenas quando limitava o direito ao recebi-mento das parcelas não pagas, e, com essa regra, o segurado tinha prazo indefinido para requerer o direito ao benefício, mas por meio da Medida Provisória nº 1.523/1997, convertida na Lei nº 9.528/1997, fora dada

12 KRAVCHYCHYN, Gisele Lemos. Prescrição e decadência no direito previdenciário em matéria de beneficio. 3. ed. São Paulo: LTr, 2012.

13 KRAVCHYCHYN, Gisele Lemos. Prescrição e decadência no direito previdenciário em matéria de beneficio. 3. ed. São Paulo: LTr, 2012.

14 ______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Instrui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 20 mar. 2014, 15h17.

15 KRAVCHYCHYN, Gisele Lemos. Prescrição e decadência no direito previdenciário em matéria de beneficio. 3. ed. São Paulo: LTr, 2012.

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nova redação para o referido dispositivo, passando a estabelecer prazo decadencial decenal a partir do início de sua vigência.

Ocorre que, a partir desse momento, iniciou-se uma confusão ju-rídica, pois ora estabelecia-se um prazo de dez anos e ora de cinco anos nas decisões judiciais; como forma de tentar resolver essa questão, fora promulgada a Medida Provisória nº 1.663/1998, convertida posterior-mente na Lei nº 9.711/1998, que estabeleceu nova redação ao art. 103 da Lei nº 8.213/1991, que reduziu essa alteração do prazo decadencial para cinco anos novamente.

Após a medida provisória entrar em vigor, e com a redução do prazo decadencial, os segurados, associações e advogados, ingressaram com inúmeras ações para revisar os benefícios, onde o Governo Federal acabou sendo obrigado por motivos políticos, restituir o prazo decaden-cial para dez anos, editando-se nova Medida Provisória nº 138/200316, que foi convertida na Lei nº 10.839/2004.

Para ilustrar todas as alterações supradescritas, apresenta-se o qua-dro com a sucessão legislativa no contexto histórico:

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA

Decreto nº 20.910/1932 5 (cinco) anos a contar da data dos fatos

Sem correspondência

Lei nº 8.2013/1991 5 (cinco) anos a contar da data em que deveriam ter sido pagas

Lei nº 9.528/1997 inseriu o instituto, estipulando o prazo de 10 (dez) anos

Lei nº 9.711/1998 Reduziu o prazo para 5 (cinco) anosLei nº 10.839/2004 Restituiu o prazo para 10 (dez) anos

Verifica-se que o prazo decadencial atinge, de forma direta, o benefício chamado de fundo de direito, pois, se eventual benefício for concedido de forma irregular ou indevida, possuía o segurado o prazo de dez anos para apresentar sua reclamação, sob pena de caducidade e assim, mesmo que a decadência afetasse o benefício em si, ele não sofria a extinção total do direito, pois perdia-se o direito de reclamar a revisão do ato que concedeu o benefício, qual seja, o cálculo da renda mensal de forma indevida, mas o direito de seu recebimento seria mantido.

16 ______. Medida Provisória nº 138, de 19 de novembro de 2003. Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/..%5C..%5C45%5C2003%5C138.htm>. Acesso em: 25 maio 2014, 12h49.

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Destaca-se que a Lei nº 10.839/2004 incluiu ainda um prazo de-cadencial, mas este em favor dos beneficiários, pois, no art. 103-A17, estipulou-se o mesmo prazo decadencial de dez anos para que a Pre-vidência Social possa exercer o poder de anular os seus próprios atos e assim, com a redução e a restituição de prazos por meio das medidas provisórias que ocorreram durante este tempo, surgiram diversos confli-tos e questionamentos pelas regras de direito intertemporal.

Devido à grande divergência nos tribunais sobre o tema, por conta de tantas alterações, o STF, na data de 17.09.2010, por meio da matéria discutida no Recurso Extraordinário nº 626.48918, reconheceu a reper-cussão geral do tema, por tratar-se de matéria exclusivamente consti-tucional e uma questão de manutenção da segurança jurídica sobre o tema.

Dessa forma, a decisão tomada pelo STF serviria como parâmetro para todos os processos semelhantes com tramitação por todo o país, ressaltando que o Recurso Extraordinário nº 626.489 foi interposto pelo INSS para reformar o acórdão da Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais do Estado de Sergipe, que entendeu inaplicável o prazo deca-dencial para benefícios anteriores à vigência da medida provisória. A decisão estabeleceu também que, no caso, o prazo de dez anos para pedidos de revisão passa a contar a partir da vigência da medida provi-sória, e não da data da concessão do benefício.

Assim, após três anos de espera, o STF entendeu que o prazo de dez anos para a revisão de benefícios previdenciários é aplicável aos benefícios concedidos antes da Medida Provisória nº 1.523/1997, e, na ocasião, o Ministro Roberto Barroso, relator do recurso extraordinário, expôs que a controvérsia originou-se na Lei de Benefícios, pois esta não continha previsão do prazo para a postulação de benefícios previdenciá-rios e tampouco para os pedidos de revisão – apenas previa o prazo de cinco anos para cobrança das parcelas vencidas.

O Ministro Roberto Barroso enalteceu dois pontos que deveriam ser enfrentados, sendo a validade e o alcance da própria instituição de

17 ______. Medida Provisória nº 138, de 19 de novembro de 2003. Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/..%5C..%5C45%5C2003%5C138.htm>. Acesso em: 25 maio 2014, 12h49.

18 SUPREMO Tribunal Federal – STF. Inteiro teor do acórdão da Repercussão Geral no Recurso Extra-ordinário nº 626.489 Sergipe. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=1955345>. Acesso em: 25 abr. 2014, 18h26.

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prazo para a revisão do ato concessório e a incidência imediata da alte-ração normativa a benefícios concedidos anteriormente à sua vigência, sendo que, no primeiro ponto, o Ministro entendeu que não ocorreu ví-cio na instituição do prazo decadencial e sua incidência sobre os bene-fícios já concedidos, pois não desrespeitou o núcleo essencial do direito, sendo que o legislador buscou equacionar interesses por vezes conflitan-tes. No mais, declarou que, para a obtenção de benefício previdenciário, a disciplina legislativa não introduziu prazo, podendo ser exercido a qualquer momento, sem que se atribua qualquer consequência negativa à inércia do beneficiário.

Segundo o voto do relator, o prazo decadencial introduzido pela Lei nº 9.528/1997 atinge somente a pretensão de rever o benefício, ou seja, de discutir a graduação econômica do benefício já concedido, pois “a instituição de um limite temporal máximo destina-se a resguardar a segurança jurídica, facilitando a previsão do custo global das prestações sociais”19, e, em rigor, esta é uma exigência relacionada à manutenção do equilíbrio atuarial do sistema previdenciário, propósito que tem mo-tivado sucessivas emendas constitucionais e medidas legislativas. “Em última análise, é desse equilíbrio que depende a própria continuidade da previdência, para esta geração e outras que virão”20, sustentou o relator.

De acordo com o Ministro, não há inconstitucionalidade na cria-ção de prazo decadencial razoável para a revisão dos benefícios já re-conhecidos. Ele lembrou que a lei passou a prever o mesmo prazo para eventuais pretensões revisionais da Administração Pública, que, depois de dez anos, também fica impedida de anular atos administrativos que gerem efeitos favoráveis para seus beneficiários. “Considero que o prazo de dez anos é inequivocamente razoável. É tempo mais do que suficien-te para a resolução de eventuais controvérsias interpretativas e para que o segurado busque as informações relevantes”21, afirmou em seu voto.

19 SUPREMO Tribunal Federal – STF. Inteiro teor do voto do acórdão Recurso Extraordinário nº 626.489 Sergipe. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE_626489_decadencia_voto_ 16out2013_final2.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014, 14h47.

20 SUPREMO Tribunal Federal – STF. Inteiro teor do voto do acórdão Recurso Extraordinário nº 626.489 Sergipe. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE_626489_decadencia_voto_ 16out2013_final2.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014, 14h47.

21 SUPREMO Tribunal Federal – STF. Inteiro teor do voto do acórdão Recurso Extraordinário nº 626.489 Sergipe. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE_626489_decadencia_voto_ 16out2013_final2.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014, 14h47.

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O segundo ponto a ser analisado seria a aplicação intertemporal do art. 103 da Lei de Benefício sobre os benefícios previdenciários con-cedidos pelo INSS antes da instituição do prazo decadencial e qual seria o termo inicial do prazo para a revisão desses benefícios; de acordo com o d. relator, verificamos que22

a ausência de prazo decadencial para a revisão no momento em que o benefício foi deferido não garante ao beneficiário a manutenção do regime jurídico pretérito, que consagra a prerrogativa de poder pleitear a revisão da decisão a qualquer tempo. Como regra, a lei pode criar novos prazos de decadência e de prescrição, ou ainda alterar os já existentes. Ressalvada a hipótese em que os prazos anteriores já tenham se aperfei-çoado, não há direito adquirido ao regime jurídico prévio.

E nesse contexto o d. Ministro apresenta que23

o fato de, ao tempo da concessão, não haver limite temporal para o futu-ro pedido de revisão não significa que o segurado tenha o direito adqui-rido a que tal prazo nunca venha a ser estabelecido. O que se exige, ao revés, é a salvaguarda ao núcleo do direito [...].

Com relação ao termo inicial da contagem do prazo decadencial em relação aos benefícios concedidos antes da entrada em vigor da Me-dida Provisória nº 1.523-9/2007, o Ministro informou que a nova lei que introduz prazo decadencial ou prescricional não tem efeito retroa-tivo, devendo ser aplicada de forma imediata, inclusive quanto às situa-ções constituídas no passado, tendo como termo inicial do novo prazo o momento da vigência da nova lei ou outra data posterior nela fixada, não podendo alegar hipótese de direito adquirido protegido pelo art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal.

Dessa forma, os Ministros do STF decidiram, por unanimidade, que o prazo de dez anos para a revisão de benefícios previdenciários é aplicável aos benefícios concedidos antes da Medida Provisória (MP) nº 1.523-9/1997, que o instituiu, prejudicando milhões de brasileiros que possivelmente teriam possibilidade de ter seu benefício revisado.

22 SUPREMO Tribunal Federal – STF. Inteiro teor do voto do acórdão Recurso Extraordinário nº 626.489 Sergipe. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE_626489_decadencia_voto_ 16out2013_final2.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014, 14h47.

23 SUPREMO Tribunal Federal – STF. Inteiro teor do voto do acórdão Recurso Extraordinário nº 626.489 Sergipe. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE_626489_decadencia_voto_ 16out2013_final2.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014, 14h47.

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Mas a matéria está ainda longe de se encontrar realmente pa-cificada, pois a pergunta que fica é: deve incidir o prazo decadencial nos casos em que o segurado busca a concessão do melhor benefício? Esse é o questionamento realizado pelo d. Juiz Federal José Antônio Savaris24, que vem sustentando, em suas decisões, a não incidência do prazo decadencial nas ações que busquem a realização do direito ao melhor benefício, principalmente quando apresenta que

é de se reconhecer que, no mesmo precedente, a eminente ministra re-latora (Ellen Gracie), em seu substancioso voto, expressa que devem ser observadas a decadência e a prescrição. Um olhar ligeiro para a dis-posição final do voto de Sua Excelência nos faria pensar que o prazo decadencial abrange as ações em que se busca a concessão do melhor benefício. Observe-se, desde logo, porém, que a questão relacionada aos prazos preclusivos foi lançada em arremate de um raciocínio maior, sem a mínima digressão a respeito do tema. De todo modo, ainda que venha-mos partir das condições em que assegurado o direito ao melhor benefí-cio no RE 630.501, é preciso perceber em que termos o próprio Supremo Tribunal Federal dispôs que deve ser compreendido o art. 103 da Lei nº 8.213/1991. Essa percepção trará as luzes necessárias para se entender a razão elementar pela qual não incide o prazo decadencial na ação em que se busca a realização do direito ao melhor benefício.

E ainda continua25:

E justamente do RE 626.489 depreende-se que “o direito fundamental ao benefício previdenciário pode ser exercido a qualquer tempo, sem que se atribua qualquer consequência negativa à inércia do beneficiá-rio”, encontrando-se, como se percebe, na mesma linha da decisão re-lativa ao reconhecimento do direito ao melhor benefício. Com efeito, expressou-se o STF no sentido de que “o direito à Previdência Social constitui direito fundamental e, uma vez implementados os pressupostos de sua aquisição, não deve ser afetado pelo decurso do tempo. Como consequên cia, inexiste prazo decadencial para a concessão inicial do benefício previdenciário”. Eis aqui o ponto fundamental: a busca pelo melhor benefício não constitui uma ação revisional propriamente dita, mas uma ação de concessão de benefício. [...] Busca-se, com ela, a mate-

24 SAVARIS, José Antônio. Decadência do direito à revisão e a ação de concessão do melhor benefício. 2014. Disponível em: <http://joseantoniosavaris.blogspot.com.br/2014/05/decadencia-do-direito-revisao-e-acao-de. html>. Acesso em: 30 maio 2014, 12h55.

25 SAVARIS, José Antônio. Decadência do direito à revisão e a ação de concessão do melhor benefício. 2014. Disponível em: <http://joseantoniosavaris.blogspot.com.br/2014/05/decadencia-do-direito-revisao-e-acao-de.html>. Acesso em: 30 maio 2014, 12h55.

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rialização do direito adquirido ao melhor benefício, direito esse que não pode ser afetado pelo decurso do tempo.

Assim, nas ações revisionais em que busca o reconhecimento do direito ao melhor benefício, não consiste em ação de revisão do ato de concessão do beneficio, mas à concessão de prestação previdenciária mais efetiva ou vantajosa, ocorrendo uma extensão do direito adquirido.

CONCLUSÃO

O prazo prescricional aplicada desde o advento do Decreto nº 20.910, de 1932, bem como o prazo decadencial, aplicada desde o advento da Medida Provisória (MP) nº 1.523-9/1997, limitam o direito de revisão dos benefícios previdenciários, mas solidificam os procedi-mentos adotados pelo INSS, buscando evitar o pagamento de indeniza-ções exorbitantes e, quando se trata de direito previdenciário, estamos tratando exclusivamente de matéria alimentar, pois aqui o segurado já prestou seus serviços exaustivamente à sociedade, cumprindo as exigên-cias da norma para o recebimento de seu benefício, e, por esse fato, tem o direito constitucional garantido para ver consolidado em seu patrimô-nio este benefício.

Seguindo essa linha de raciocínio, no tocante à prescrição, restou pacificada a aplicação dos prazos quinquenais previstos nos arts. 173 e 174 do CTN, vez que os recolhimentos e pagamentos realizados à Pre-vidência Social possuem natureza tributária, não havendo espaço para que outra lei ordinária autue e discipline a mesma matéria, sendo certo que a aplicação prescricional atinge basicamente os atos administrativos e regulamentações para fins de pagamento de atrasados.

Já no tocante à decadência, não se pretende fazer, aqui, apologia à não aplicação de prazos decadências para fins de revisão de benefí-cios, mas sim ao próprio direito adquirido do beneficiário previsto na Constituição Federal, em ter a revisão de seu benefício concedido em momento quando não havia previsão legal neste sentido, e assim sendo aplicado tão somente os efeitos da prescrição sobre as parcelas vencidas anteriores ao ajuizamento de uma ação revisional ou requerimento ad-ministrativo, nos termos da Súmula nº 85 do STJ, e não como explanado pelo Ministro Luís Roberto Barroso, e votado por todos membros do col.

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STF no Recurso Extraordinário nº 626.489, tirando desse beneficiário este direito.

Ora, tal mister se faz necessário, pois seja uma decisão judicial ou administrativa, por força de lei, por força de norma constitucional, essa decisão não poderia retroagir ao ato, devendo tal instituto deca-dencial ser aplicado a partir do início de sua vigência, como forma de melhor segurança jurídica, pois, ao mesmo tempo em que a decisão do RExp 626.489 acaba por prejudicar uma parcela dos beneficiários que poderiam ainda tentar uma revisão de seus benefícios concedidos antes de 27.06.1997, favorece uma parcela da população que não poderia ver seus benefícios revisados em razão da Lei nº 9.711/1998, visto que a referida revoga e altera o prazo decadencial de 5 (cinco) anos que teve vigência até a publicação da Lei nº 10.839/2004.

Apesar de todo o exposto, deve-se prevalecer nas relações de se-guro social a ocorrência dos princípios da segurança jurídica, da prote-ção, da confiança, e o devido processo legal, objetivando um direito que transcende os interesses individuais, pois a decisão do col. STF mantém apenas o foco na consequência econômica política e jurídica de sua decisão, esquecendo-se, por um instante, das consequências sociais que se refletirão na sociedade, principalmente em razão das ações anterior-mente distribuídas neste sentido.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932. Regula a prescrição quinquenal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D20910.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014, 10h42.

______. Instrução normativa INSS/Pres nº 45, de 6 de agosto de 2010. Das dis-posições relativas às prestações. Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/38/inss-pres/2010/45_2.htm#cp5_S8>. Acesso em: 20 mar. 2014, 15h25.

______. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social e dá outros providencias. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014, 12h15.

______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Instrui o Código Civil. Dis-ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 20 mar. 2014, 15h17.

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______. Medida Provisória nº 138, de 19 de novembro de 2003. Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/..%5C..%5C45%5C2003%5C138.htm>. Acesso em: 25 maio 2014, 12h49.

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KRAVCHYCHYN, Gisele Lemos. Prescrição e decadência no direito previden-ciário em matéria de beneficio. 3. ed. São Paulo: LTr, 2012.

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SAVARIS, José Antônio. Decadência do direito à revisão e a ação de conces-são do melhor benefício. 2014. Disponível em: <http://joseantoniosavaris.blo-gspot.com.br/2014/05/decadencia-do-direito-revisao-e-acao-de.html>. Acesso em: 30 maio 2014, 12h55.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

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Superior Tribunal de JustiçaRecurso em Mandado de Segurança nº 30.880 – CE (2009/0219669‑9)Relator: Ministro Moura RibeiroRecorrente: Maria Zélia de Menezes Lima e outrosAdvogado: Luciano Brasileiro de Oliveira e outro(s)Recorrido: Estado do CearáProcurador: Daniel Maia Teixeira e outro(s)

EMENTA

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – SERVIDOR APOSENTADO E BENEFICIÁRIO DE PENSÃO POR MORTE – TETO CONSTITUCIONAL – INCIDÊNCIA ISOLADA SOBRE CADA UMA DAS VERBAS – INTERPRETAÇÃO LÓGICO-SISTEMÁTICA DA CONSTITUIÇÃO – CARÁTER CONTRIBUTIVO DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO DO SERVIDOR PÚBLICO – SEGURANÇA JURÍDICA – VEDAÇÃO DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA – PRINCÍPIO DA IGUALDADE – RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA PROVIDO

1. Sendo legítima a acumulação de proventos de aposentadoria de servidor público com pensão por morte de cônjuge finado e também servidor público, o teto constitucional deve incidir isola-damente sobre cada uma destas verbas.

2. Inteligência lógico-sistemática da Constituição Federal.

3. Incidência dos princípios da segurança jurídica, da vedação do enriquecimento sem causa e da igualdade.

4. Recurso ordinário em mandado de segurança provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Senhores Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, em dar provimento ao recurso, nos ter-mos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Jorge Mussi e Marco Aurélio Bellizze votaram com o Sr. Ministro Relator.

Votou vencida a Sra. Ministra Regina Helena Costa.

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Brasília, 20 de maio de 2014 (data do Julgamento).

Ministro Moura Ribeiro Relator

RELATÓRIO

O Exmo. Sr. Ministro Moura Ribeiro (Relator):

Trata-se de recurso ordinário em mandado de segurança interpos-to por Maria Zélia de Menezes e outros contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Ceará que recebeu a seguinte ementa:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – MANDADO DE SEGURAN-ÇA – SERVIDORES PÚBLICOS – AUTORIDADE IMPETRADA – ILEGITI-MIDADE PASSIVA – PODER EXECUTIVO – TETO REMUNERATÓRIO – SUBSÍDIO DO GOVERNADOR – LEI ESTADUAL Nº 13.627/2005 – PRÊMIO POR DESEMPENHO FISCAL – INCLUSÃO – APLICAÇÃO DO INCISO XI, DO ART. 37, COM A REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 41/2003 À CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 C/C ART. 17, DO ADCT – AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO – PRECEDENTES

1. Ilegítima a indicação do Superintendente do Ipec em virtude da pre-vidência estadual ter passado a ser administrada pelos Secretários da Fazenda e da Administração, nos termos da Emenda Constitucional nº 52/2003, embora após a edição da Lei Complementar nº 62, de 14 de fevereiro de 2007, tal atribuição tenha passado a ser desempenhada pelo Secretário de Planejamento e Gestão do Estado do Ceará.

2. Não existe direito adquirido à irredutibilidade de vencimentos se a remuneração do servidor ultrapassa o teto remuneratório implementado em conformidade com a regra contida nas EC 41/2003 à Constituição Federal e EC 56/2004 à Constituição do Estado do Ceará, segundo o prin-cípio da supremacia constitucional, corroborado pelo art. 17 do ADCT.

3. No caso em apreço, verifica-se que em razão da Lei Estadual nº 13.627, de 19 de julho de 2005, ter fixado o valor do subsídio do Governador em R$ 9.691,61 (nove mil, seiscentos e noventa e um reais e sessenta e um centavos), o que ultrapassar esse quantum deverá ser abatido dos venci-mentos/proventos do servidor público estadual.

4. As vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, a exemplo do Prêmio por Desempenho Fiscal – PDF, passaram a integrar o montante da remuneração para fins do cálculo dos vencimentos, conforme o art. 9º

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da EC 41/2003, que constitui norma auto-aplicável, incidindo imediata-mente após a sua publicação, prescindindo de lei específica para regu-lamentá-la.

5. Precedentes desta Corte e dos Tribunais Superiores.

6. Segurança denegada (fls. 468/469).

Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (fls. 510/519).

Neste recurso ordinário, esclareceram que são servidores públicos estaduais aposentados e simultaneamente viúvos de pessoas que tam-bém detinham vínculo funcional com o Estado do Ceará. Argumentaram que o teto constitucional deve incidir em separado sobre os proventos de aposentadoria e de pensão porque tais benefícios seriam acumuláveis. Pontuou que as origens dos proventos seriam diversas, ou seja, que a aposentadoria decorre do vínculo de trabalho, enquanto a pensão por morte é uma espécie de seguro público.

O Estado do Ceará contrariou o recurso (fls. 554/569).

O Ministério Público Federal opinou pelo não provimento (fls. 584/589).

É o relatório.

EMENTA

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – SERVIDOR APOSENTADO E BENEFICIÁRIO DE PENSÃO POR MORTE – TETO CONSTITUCIONAL – INCIDÊNCIA ISOLADA SOBRE CADA UMA DAS VERBAS – INTERPRETAÇÃO LÓGICO-SISTEMÁTICA DA CONSTITUIÇÃO – CARÁTER CONTRIBUTIVO DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO DO SERVIDOR PÚBLICO – SEGURANÇA JURÍDICA – VEDAÇÃO DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA – PRINCÍPIO DA IGUALDADE – RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA PROVIDO

1. Sendo legítima a acumulação de proventos de aposentadoria de servidor público com pensão por morte de cônjuge finado e também servidor público, o teto constitucional deve incidir isola-damente sobre cada uma destas verbas.

2. Inteligência lógico-sistemática da Constituição Federal.

3. Incidência dos princípios da segurança jurídica, da vedação do enriquecimento sem causa e da igualdade.

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4. Recurso ordinário em mandado de segurança provido.

VOTO

O Exmo. Sr. Ministro Moura Ribeiro (Relator):

O recurso merece provimento.

Não desconheço que a jurisprudência desta Corte se firmou no sentido de que a acumulação de proventos de aposentadoria e pensão por morte é possível, desde que restringido o somatório delas ao teto constitucional.

Acredito, entretanto, que a questão deva ser repensada até porque a própria jurisprudência da Corte evoluiu com os direitos de terceira geração.

Como se sabe, a interpretação do texto constitucional não pode ser realizada exclusivamente com base no método gramatical.

É certo que a Constituição Federal estabelece que:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Pode-res da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedece-rá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Consti-tucional nº 19, de 1998)

[...]

XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e em-pregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Fe-deral e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remunerató-ria, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Jus-tiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Mi-

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nistério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

E que:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e funda-ções, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e soli-dário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

[...]

§ 11 Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumulação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras atividades sujeitas à contri-buição para o regime geral de previdência social, e ao montante resul-tante da adição de proventos de inatividade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Constituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, e de cargo eletivo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15.12.1998)

A interpretação meramente gramatical de tais dispositivos levava muitos a afirmar que a possibilidade de percepção conjunta de aposen-tadoria e pensão por morte de cônjuge ficava limitada ao teto constitu-cional.

A lei fundamental, entretanto, deve ser interpretada de forma lógi-co-sistemática e no tempo em que está inserida. Perceba-se que o caput do art. 40, da Constituição Federal, estabelece que a previdência do servidor público tem caráter contributivo. Há até mesmo previsão de contribuição dos inativos para o sistema.

Deste caráter contributivo, como já salientou o Conselho Nacional de Justiça, decorre que a pensão por morte é direito legítimo do benefi-ciário. Confira-se:

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – REGIME PREVIDENCIÁRIO – PERCEP-ÇÃO CONJUNTA, POR MAGISTRADO OU SERVIDOR, DE PENSÃO E REMUNERAÇÃO, SUBSÍDIO OU PROVENTO – HIPÓTESE EXCEPCIO-NAL QUE NÃO SE SUBMETE À DISCIPLINA INSCRITA NO INCISO XI DO ART. 37 DA CF – Diante da natureza contributiva do regime previ-denciário da Administração Pública (art. 40 da CF), a pensão por morte

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regularmente instituída constitui direito legítimo do beneficiário, pouco importando a existência concomitante ou pregressa de vínculo funcional entre este e a Administração Pública. Deve, por isso, ser preservada a percepção simultânea de pensão com outras espécies remuneratórias, observando-se, contudo, sobre qualquer dessas espécies remuneratórias, o teto máximo previsto no Texto Constitucional (art. 37, inciso XI).

(PP/CNJ 445, Rel. Cons. Douglas Alencar Rodrigues, DJ 07.07.2006)

E não poderia ser diferente porque tanto o cônjuge falecido quanto o aposentado contribuíram para o sistema. Têm (ou teriam, se não tives-se havido o passamento), direito individual à contraprestação.

Como já decidiu o Tribunal de Contas da União:

O beneficiário da pensão não receberá melhor tratamento do que o ins-tituidor. Da relação estabelecida em vida pelo instituidor com o Estado resulta o direito do beneficiário à pensão, cujo valor submete-se ao teto constitucional. De outra relação, constituída por outro servidor com o Estado, resulta o direito à remuneração, quando na atividade, e ao pro-vento de aposentadoria, quando na inatividade. A cada uma das relações constituídas aplica-se, isoladamente, o teto constitucional.

(Consulta nº 009.585/2004-9, Plenário, Rel. Cons. Ubiratan Aguiar, Acórdão nº 2.079/2005, DOU 09.12.2005)

A imposição de teto ao somatório da aposentadoria com a pensão por morte, em se tratando de regime contributivo, insisto, implica inegá-vel enriquecimento indevido dos cofres públicos.

Há aqui um aspecto de segurança jurídica a ser observado.

O servidor contribui ao longo de toda a sua carreira para o sistema previdenciário na justa expectativa de que será amparado em sua ve-lhice ou na de que sua família será amparada na sua ausência. Não me parece legítimo que o Estado se aproprie dessas contribuições porque elas merecem a retribuição esperada.

Ademais, não se pode olvidar que a Constituição Federal garante a irredutibilidade de vencimentos (que o Ministro Sepúlveda Pertence costumava considerar “modalidade qualificada de direito adquirido” – MS 24875, Tribunal Pleno, J. 11.05.2006, DJ 06.10.2006, p. 00033, Ement. vol. 02250-02, p. 00284, RTJ vol. 00200-03, p. 01198). E a irre-dutibilidade de vencimentos deve afastar a ideia de decesso remunera-tório.

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A questão deve ainda ser enfocada sob a luz do princípio da igual-dade. A Resolução nº 13/2006, do Conselho Nacional de Justiça, estabe-lece a seguinte regra para os membros do Poder Judiciário:

Art. 6º Para efeito de percepção cumulativa de subsídios, remuneração ou proventos, juntamente com pensão decorrente de falecimento de côn-juge ou companheira(o), observar-se-á o limite fixado na Constituição Fe-deral como teto remuneratório, hipótese em que deverão ser considera-dos individualmente. (Redação dada pela Resolução nº 42, de 11.09.07)

Ora, se aos membros do Poder Judiciário se reconhece que na per-cepção cumulada de proventos de aposentadoria e pensão por morte o teto deve ser averiguado isoladamente, e não pela soma dos benefícios, nada justifica que a regra não seja estendida aos demais servidores.

Vale salientar que esta Corte Superior tem optado, em suas mais recentes decisões e em situações assemelhadas à presente, por deter-minar o isolamento das verbas recebidas para fins de limitação ao teto constitucional:

CONSTITUCIONAL E PROCESSO CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL – DE-CISÃO MONOCRÁTICA QUE, RECONSIDERANDO DECISÃO ANTE-RIOR, DEU PROVIMENTO A RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA – SERVIDOR PÚBLICO – CUMULAÇÃO LEGÍTIMA DE CARGOS – TETO CONSTITUCIONAL – APLICABILIDADE A CADA UM DOS CARGOS – DECISÃO MANTIDA – AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO

1. Tratando-se de cumulação legítima de cargos, a remuneração do ser-vidor público não se submete ao teto constitucional, devendo os cargos, para este fim, ser considerados isoladamente. Precedentes.

2. Vedação ao enriquecimento sem causa.

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg-AgRg-RMS 33100/DF, 2ª T., Relª Min. Eliana Calmon, J. 07.05.2013, DJe 15.05.2013)

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA – CONSTI-TUCIONAL E ADMINISTRATIVO – SERVIDOR PÚBLICO APOSENTA-DO – ACUMULAÇÃO DE PROVENTOS – CARGO TÉCNICO E PRO-FESSOR – TETO REMUNERATÓRIO – RECURSO PROVIDO – ORDEM CONCEDIDA

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A acumulação de proventos de servidor aposentado em decorrência do exercício cumulado de dois cargos, de técnico e de professor, não se submete ao teto constitucional, devendo os cargos serem considerados isoladamente para esse fim. Recurso ordinário provido para conceder a ordem.

(RMS 33.170/DF, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. p/ Ac. Min. Cesar Asfor Rocha, J. 15.05.2012, DJe 07.08.2012)

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL – RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA – SERVIDOR PÚBLICO APOSENTADO – CUMULAÇÃO DE CARGOS PERMITIDA CONSTITUCIONALMENTE – MÉDICO – ART. 17, § 2º, DO ADCT – TETO REMUNERATÓRIO – INAPLICABILIDADE

1. Cuida-se, originariamente, de Mandado de Segurança impetrado por Márcia Silva com objetivo de assegurar o pagamento integral da remune-ração a que tem direito, relativamente a cada um dos vínculos que man-tém com a Administração (dois cargos de médico exercidos na Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo).

2. A partir da vigência da Emenda Constitucional nº 41/2003, todos os vencimentos percebidos por servidores públicos, inclusive os proventos e pensões, estão sujeitos aos limites estatuídos no art. 37, XI, da Consti-tuição.

3. Por outro lado, a EC 41/2003 restabeleceu a vigência do art. 17 do ADCT que, embora em seu o caput afaste a invocação do direito adqui-rido ao recebimento de verbas remuneratórias contrárias à Constituição, os respectivos §§ 1º e 2º trazem exceção ao assegurar expressamente o exercício cumulativo de dois cargos ou empregos privativos de profissio-nais de saúde.

4. Assim, a acumulação de proventos de servidor aposentado em de-corrência do exercício cumulado de dois cargos de médico, legalmente exercidos, nos termos autorizados pela Constituição, não se submete ao teto constitucional, devendo os cargos ser considerados isoladamente para esse fim.

5. Recurso Ordinário provido.

(RMS 38.682/ES, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, J. 18.10.2012, DJe 05.11.2012)

Não me restam dúvidas, portanto, de que é plenamente legítimo o isolamento dos valores percebidos a títulos distintos, fazendo incidir individualmente o teto constitucional.

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Nessas condições, pelo meu voto, dou provimento ao recurso or-dinário e concedo a segurança, garantindo a cada um dos agravantes a percepção isolada dos seus benefícios em acumulação, respeitado o teto constitucional de cada qual, retroagindo o cálculo das diferenças à data da impetração.

Custas ex lege.

Incabível a fixação de honorários.

CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA

Número Registro: 2009/0219669-9

Processo Eletrônico RMS 30.880/CE

Número Origem: 20060018233531

Pauta: 15.05.2014 Julgado: 20.05.2014

Relator: Exmo. Sr. Ministro Moura Ribeiro

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze

Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Áurea M. E. N. Lustosa Pierre

Secretário: Bel. Lauro Rocha Reis

AUTUAÇÃO

Recorrente: Maria Zélia de Menezes Lima e outros

Advogado: Luciano Brasileiro de Oliveira e outro(s)

Recorrido: Estado do Ceará

Procurador: Daniel Maia Teixeira e outro(s)

Assunto: Direito administrativo e outras matérias de direito público – Servidor público civil – Sistema remuneratório e benefícios – Acu-mulação de proventos

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia Quinta Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

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“A Turma, por maioria, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.”

Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Jorge Mussi e Marco Aurélio Bellizze votaram com o Sr. Ministro Relator.

Votou vencida a Sra. Ministra Regina Helena Costa.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1333

Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoApelação Cível nº 2006.33.00.004643‑0/BAProcesso na Origem: 46415020064013300Relator: Desembargador Federal Néviton GuedesApelante: Roberto SilvaAdvogada: Flavia Prado Souza SantosApelado: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcuradora: Adriana Maia Venturini

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO – RESTABELECIMENTO DE BENEFÍCIO – IRREGULARIDADES APONTADAS PELO INSS NA CONTAGEM DE TEMPO DE SERVIÇO – PROVA ORAL – NECESSIDADE – CERCEAMENTO DE DEFESA – OCORRÊNCIA – SENTENÇA ANULADA

1. Prospera a preliminar de nulidade da sentença por inexistência de colheita de prova oral. Isso porque os elementos constantes dos autos não permitem o exame da matéria atinente ao reconheci-mento dos vínculos empregatícios alegados.

2. A jurisprudência desta Corte tem admitido o reconhecimento de tempo de serviço fundado em início de prova material, corrobora-da por prova testemunhal, ainda que a anotação na CTPS do autor seja extemporânea, cabendo ao INSS demonstrar de forma ine-quívoca a incorreção ou falsidade das informações discriminadas.

3. No caso, para comprovar o vínculo empregatício existente en-tre o autor e a Empresa Ranúsio de Araújo Batista, no período de 01.01.1970 a 01.08.1973, é necessária a produção de prova oral, configurando cerceamento de defesa o julgamento antecipado da lide sem a oportunidade de produção de prova testemunhal.

4. Sentença anulada.

5. Apelação do autor a que se dá provimento.

ACÓRDÃO

Decide a Primeira Turma, por unanimidade, dar provimento à apelação do autor para anular a sentença e determinar o retorno dos

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autos à instância de origem para a produção de prova oral e prossegui-mento do feito.

Primeira Turma do TRF da 1ª Região – 19.03.2014.

Desembargador Federal Néviton Guedes Relator

RELATÓRIO

Trata-se de apelação interposta por Roberto Silva contra senten-ça que julgou improcedente o pedido inicial em que objetiva o autor o restabelecimento da aposentadoria por tempo de contribuição (NB 42/113.695.194-3), que fora concedida em 22.07.1999 (fl. 04) e cessa-da em abril de 2003 (fl. 26), após uma auditoria realizada pela referida Autarquia Previdenciária, na qual se constatou irregularidades no reco-nhecimento de alguns vínculos empregatícios.

O autor argúi, preliminarmente, a nulidade da sentença por inexis-tência de colheita de prova oral. Requer, pois, “que os autos sejam bai-xados ao Juízo de origem para a designação da audiência de instrução para o depoimento pessoal do apelante e a imprescindível inquirição do representante da empresa Ranúsio Araújo Batista, ante ao que dispõe o art. 452, II e III do CPC”.

No mérito, afirma que “os documentos ora anexados, contra-põem a r. sentença, [...] e concluem de forma contundente e indubitável que o apelante laborou na empresa Ranúsio De Araújo Batista, entre 01.01.1970 a 01.08.1973, fazendo jus desta forma ao restabelecimento da aposentadoria por tempo de contribuição sob o nº 42/113.695.194-3, arbitrariamente e ilegalmente cessada pela apelada”.

O INSS apresentou contrarrazões às fls. 291/294, afirmando, em síntese, que não merece reparos a sentença recorrida, em razão da ine-xistência de prova material contemporânea ao trabalho alegado, não tendo o autor comprovado o vínculo empregatício por ele desconside-rado.

É o relatório.

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VOTO

Inicialmente, assiste razão ao apelante quando alega nulidade da sentença por inexistência de colheita de prova oral, uma vez que os ele-mentos constantes dos autos não permitem o exame da matéria atinente ao reconhecimento dos vínculos empregatícios alegados.

Com efeito, objetiva o autor o restabelecimento da aposentadoria por tempo de contribuição, cancelada pelo INSS sob o fundamento de terem sido constatadas irregularidades na documentação que embasou a sua concessão.

Pelo que se depreende da leitura da documentação juntada aos autos, o INSS procedeu ao cancelamento da aposentadoria do autor, observando as regras do devido processo legal, pois, como bem funda-mentou o Juiz sentenciante, “o autor foi intimado para apresentar defesa (fls. 147/148), juntou documentos (fls. 149/159), foi intimado da deci-são de suspensão do benefício e lhe foi concedido prazo para recurso (fl. 160), como também efetivamente interpôs o recurso (fls. 174/176)”:

No que tange à matéria de fundo, propriamente dita, afirma o INSS que o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição foi obti-do indevidamente, pois “constatou-se que houve majoração do tempo de serviço trabalhado junto à empresa Ranúsio de Araújo Batista, de 01.09.1973 a 31.10.1976 para 01.01.1970 a 31.10.1976, assim como não foi comprovado o exercício das atividades realizadas em condições especiais junto a Embasa, no período de 01.08.1983 a 28.05.1998” (fl. 171).

A sentença apelada, ao analisar o conjunto probatório, concluiu nos seguintes termos (fl. 267):

[...]

As irregularidades apontadas pela Auditoria (fl. 160) consistem em, tem-po de serviço majorado junto à empresa, Ranúsio de Araújo Batista, no período de 01.09.1973 a 31.10.1976 para 01.01.1970 a 31.10.1976 e não comprovação da exposição a agentes nocivos prejudiciais à saúde e integridade física junto à Empresa Baiana de Águas e Saneamento – EMBASA, no período de 01.08.1983 a 28.05.1998.

Relativamente à primeira apontada irregularidade, na carteira de trabalho do autor apenas foi registrado vínculo trabalhista com a empresa Ranúsio

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de Araújo Batista, no período de 01.09.1973 a 31.10.1976. Os docu-mentos de fls. 12 e 150/151, por não serem contemporâneos ao período de 01.01.1970 a 01.08.1973 e também o recibo de quitação estar apenas assinado pelo autor, não têm força suficiente para a comprovação do alegado vínculo empregatício.

Quanto ao tempo laborado na Empresa Baiana de Águas e Saneamento – Embasa, no período de 01.08.1983 a 28.05.1998, o laudo da perícia judicial (fls. 212/223 e 235/238), confirma as informações e conclusões contidas no DSS-8030 e laudo técnico pericial (fls. 19/20), razão pela qual forçoso concluir pelo erro da Auditoria do INSS em relação à inexis-tência de condições especiais de trabalho do autor na Embasa no referido período.

Entretanto, em razão da não comprovação do vínculo trabalhista na em-presa Ranúsio de Araújo Batista, entre 01.01.1970 a 01.08.1973, não cabe o restabelecimento da aposentadoria por tempo de contribuição nº 42/113.695.194-3.

Com relação ao período de vínculo empregatício impugnado (Em-presa Ranúsio de Araújo Batista – 01.01.1970 a 31.10.1976) afirma o autor, em suas razões de apelação (fl. 281), que “colacionou à baila documento probatório do seu vínculo empregatício com a empresa Ra-núsio de Araújo Batista, no período de 01 de janeiro de 1970 a 01 de agosto de 1973”, no qual “atesta que o apelante laborou na empresa referida na função de mecânico”.

De fato, verificando as alegações do autor, constatam-se diferen-ças nas datas de sua admissão, consignadas tanto no documento de fl. 12 como na sua CTPS (fl. 14). Para amparar sua pretensão, a parte autora juntou aos autos o documento de fl. 115, que é um recibo de quitação, datado de 01.01.1973, referente à sua relação de emprego com a mencionada empresa, do período de 01.01.1970 a 01.08.1973, o qual, supostamente, configuraria início razoável de prova material do exercício de atividade de mecânico.

Verifica-se, contudo, que a jurisprudência desta Corte tem admiti-do o reconhecimento de tempo de serviço fundado em início de prova material, corroborada por prova testemunhal, ainda que a anotação na CTPS do autor seja extemporânea, cabendo ao INSS demonstrar de for-ma inequívoca a incorreção ou falsidade das informações discriminadas. Neste sentido, cite-se, dentre outros, o seguinte julgado:

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100 �������������������������������������������������������������RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

PREVIDENCIÁRIO – RECONHECIMENTO DE TEMPO DE TRABALHO RURAL – CTPS – INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADA POR PROVA TESTEMUNHAL – APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVI-ÇO – REQUISITOS PREENCHIDOS ATÉ A EC 20/1998 – DIREITO AD-QUIRIDO

1. Segundo a legislação de regência (§ 3º do art. 55 da Lei nº 8.213/1991) e o disposto nas Súmulas nºs 149 do STJ e 27 do TRF da 1ª Região, a com-provação da atividade rural está adstrita à existência de início de prova material, corroborada por robusta prova testemunhal.

2. A anotação na CTPS, em conformidade com a jurisprudência conso-lidada nesta Corte, ainda que extemporânea, ao contrário do que alega o INSS, “goza de presunção relativa de veracidade e constitui início de prova material do trabalho no meio rural, sendo que o ônus de ilidir as informações discriminadas incumbe ao INSS, mediante demonstração inequívoca da incorreção ou falsidade das informações discriminadas” (AC 2002.01.99.040793-2/MG, Rel. Des. Fed. Carlos Olavo, Conv. Juiz Federal Guilherme Mendonça Doehler (conv.), Primeira Turma, e-DJF1 p. 81 de 21.01.2010).

3. O registro na CTPS do período trabalhado na Fazenda Morro Quei-mado, confirmado pelos depoimentos das testemunhas na Justificação Judicial são provas suficientes para atestar o cômputo de serviço rural prestado pelo autor, no período de 04.05.1959 a 30.06.1967.

4. A aposentadoria por tempo de serviço, mesmo extinta pela EC 20/1998, foi assegurada àqueles que preencheram os requisitos para a fruição do benefício até o dia 16.12.1998, segundo o art. 3º da referida emenda.

5. No caso dos autos, comprovou o autor tempo suficiente, até 07/1997, para autorizar sua aposentadoria por tempo de serviço.

6. Apelação do INSS e remessa oficial não providas.

(AC 0038103-91.2002.4.01.9199/MG, Rel. Conv. Juiz Federal Charles Renaud Frazão de Moraes (conv.), Primeira Turma, e-DJF1 p. 282 de 15.12.2010)

Assim, para comprovar o vínculo empregatício existente entre o autor e a Empresa Ranúsio de Araújo Batista, no período de 01.01.1970 a 01.08.1973, é necessária a produção de prova oral, configurando cer-ceamento de defesa o julgamento antecipado da lide sem a oportunida-de de produção de prova testemunhal.

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Ante o exposto, dou provimento à apelação do autor para anular a sentença e determinar a remessa dos autos à instância de origem para produção de prova oral e prosseguimento do feito.

É como voto.

Desembargador Federal Néviton Guedes Relator

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 2ª RegiãoIV – Apelação/Reexame Necessário nº 620800 2008.51.01.812637‑3Nº CNJ: 0812637‑97.2008.4.02.5101Relator: Desembargador Federal Paulo Espirito SantoApelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: Istvan Nunes LakiApelado: Sergio Sant’anna CodeçoAdvogado: Jane Couto Barbosa e outrosRemetente: Juízo Federal da 31ª Vara/RJOrigem: Trigésima Primeira Vara Federal do Rio de Janeiro (200851018126373)

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO – APELAÇÃO CÍVEL – APOSENTADORIA ESPECIAL OU POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO – CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM TEMPO COMUM – ENQUADRAMENTO EM CATEGORIA PROFISSIONAL – MARÍTIMO DE CONVÉS – ROL DOS DECRETOS NºS 53.831/1964 E 83.080/1979 – ATIVIDADE ENQUADRADA COMO ESPECIAL ATÉ 28.05.1998 – RUÍDO MÉDIO SUPERIOR A 80 DECIBÉIS – POSSIBILIDADE DE CONTAGEM DIFERENCIADA – TEMPO SUFICIENTE – BENEFÍCIO DEFERIDO

I – Deve ser observado o enquadramento do trabalho suportado pela parte autora como atividade exercida em condições espe-ciais, de acordo com as regras previdenciárias vigentes à época do efetivo exercício da atividade.

II – Até a edição da Lei nº 9.032/1995, a comprovação do tempo de serviço prestado em atividade especial, poderia se dar de duas maneiras: a) pelo mero enquadramento em categoria profissional elencada como perigosa, insalubre ou penosa em rol expedido pelo Poder Executivo (Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979); ou b) através da comprovação de efetiva exposição a agentes no-civos constantes do rol dos aludidos decretos, mediante quaisquer meios de prova.

III – A atividade “marítimo” encontra-se incluída no rol exemplifi-cativo de atividades profissionais consideradas insalubres, perigo-sas ou penosas, inserto no Decreto nº 53.831/1964 (código 2.4.2), o que por si só basta para o deferimento do pedido de conversão

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do referido tempo de serviço, não sendo, pois, necessária a com-provação das condições especiais de trabalho.

IV – O Decreto nº 3.048/1999 (Regulamento da Previdência So-cial) é explícito ao afirmar, em seu art. 70, § 2º, que “as regras de conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum constantes deste artigo aplicam-se ao trabalho prestado em qualquer período”. Daí a aplicação correta do fator 1,40. Entendimento que vem se firmando em recentes pre-cedentes do Eg. Superior Tribunal de Justiça.

V – Exercendo o segurado uma ou mais atividades sujeitas a condi-ções prejudiciais à saúde sem que tenha complementado o prazo mínimo para aposentadoria especial, é permitida a conversão de tempo de serviço prestado sob condições especiais em comum, para fins de concessão de aposentadoria.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos, acordam os Desembargadores Fe-derais da 1ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação e à remessa, nos termos do voto do Relator.

Rio de Janeiro, 13.06.2014.

Des. Fed. Paulo Espirito Santo Relator

RELATÓRIO

Trata-se de remessa necessária e apelação cível (fls. 232/237), in-terposta, pelo INSS, contra sentença (fls. 222/228) da lavra do MM. Juiz Federal, Dr. Marcio Solter, que julgou procedente o pedido formulado por Sergio Sant’anna Codeço, para condenar o INSS a conceder aposen-tadoria por tempo de contribuição, com base num tempo de contribui-ção de 35 anos e 27 dias, e com o pagamento dos atrasados corrigidos monetariamente e acrescidos de juros. Determinou, ainda, a antecipa-ção dos efeitos da tutela.

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Na apelação, o INSS pugna pela reforma da decisão, sob o funda-mento de que não foi atendido pelo autor o disposto na legislação pre-videnciária, inexistindo nos autos provas da efetiva exposição do autor a agentes nocivos à sua saúde, de forma que não faria jus à conversão do tempo especial em comum. Diante disto, não haveria qualquer irre-gularidade quanto ao processo administrativo que negou o benefício do segurado, no qual foi oportunizada a sua regular defesa.

Apresentadas contrarrazões pelo apelado (fls. 248/249), foram os presentes autos ao Parquet Federal (fl. 254), que devolveu os autos opi-nando pela ausência de interesse público a ensejar a sua intervenção no feito.

É o relatório.

Rio de Janeiro, 13.06.2014.

Desembargador Federal Paulo Espirito Santo Relator

VOTO

A presente ação ordinária foi ajuizada por Sergio Sant’anna Codeço, em face do INSS, objetivando reconhecimento do caráter es-pecial dos períodos por ele laborados e, consequentemente, a condena-ção do INSS a lhe conceder o benefício de aposentadoria especial, com o pagamento dos atrasados corrigidos monetariamente e acrescidos de juros, posto que lhe foi negado administrativamente o enquadramento especial de diversos períodos, embora se alegue terem sido preenchidos os requisitos estabelecidos na legislação de regência, já contando o se-gurado com mais de 35 anos de serviço.

Contam-nos os presentes autos que foi negado administrativamen-te ao segurado o benefício em tela, requerido em 11.09.2007 (fls. 14), porque, segundo o INSS, o tempo de contribuição até então comprova-do pelo segurado seria insuficiente à concessão do aludido benefício.

A r. sentença julgou procedente o pedido, alterando os termos do indeferimento administrativo. Apela o INSS pugnando pela reforma da decisão, sob o fundamento de que o autor não teria direito ao reconhe-cimento especial dos períodos reconhecidos pela sentença, não conta-

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bilizando um tempo de contribuição especial superior a 25 anos, não fazendo, assim, jus à concessão do benefício.

O tempo de serviço prestado sob condições especiais e sua con-versão, para efeitos de aposentadoria, é tema dos mais debatidos atual-mente no âmbito do Direito Previdenciário.

Desde longa data, o trabalho prestado sob condições especiais – ou seja, com exposição a agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física – confere ao segurado o direito à aposentadoria especial, na forma prevista na legislação previdenciária.

Considerou o legislador, com elogiável ponderação, que o tra-balhador exposto, por um longo período no ambiente de trabalho, a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou à associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, mereceria aposentar-se um pouco mais cedo.

O cerne da questão proposta nestes autos circunscreve-se à análi-se do aludido período, para avaliar se houve a sujeição à condição espe-cial do trabalho, ou seja, se teria o segurado laborado, de forma habitual e permanente, não ocasional nem intermitente, com prejuízo efetivo à saúde ou à integridade física, exposto à associação de agentes nocivos à sua saúde, a permitir a conversão pretendida.

Deve ser observado o enquadramento do trabalho suportado pela parte autora como atividade exercida em condições especiais, de acordo com as regras previdenciárias vigentes à época do efetivo exercício da atividade.

Até a edição da Lei nº 9.032/1995, a comprovação do tempo de serviço prestado em atividade especial, poderia se dar de duas maneiras: a) pelo mero enquadramento em categoria profissional elencada como perigosa, insalubre ou penosa em rol expedido pelo Poder Executivo (Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979); ou b) através da comprova-ção de efetiva exposição a agentes nocivos constantes do rol dos aludi-dos decretos, mediante quaisquer meios de prova.

No caso do trabalhador marítimo, a atividade encontra-se incluída no rol exemplificativo de atividades profissionais consideradas insalu-bres, perigosas ou penosas, inserto no Decreto nº 53.831/1964, o que por si só basta para o deferimento do pedido de conversão do referido

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tempo de serviço, não sendo, pois, necessária à comprovação das con-dições especiais de trabalho.

Conforme é sabido, para o marítimo, 255 dias embarcados equiva-le a 360 dias em terra, dentro do que se convencionava chamar de ano marítimo, implantado na vigência dos Institutos de Aposentadoria (IAPs). Referida contagem diferenciada tem o intuito de minorar o sofrimento dos trabalhadores marítimos, ocasionado pelo confinamento, porque in-cabível a adoção do mesmo critério de contagem do tempo de serviço prestado pelo segurado que trabalha em terra, o qual conta com jornada de trabalho de 8 horas, retorna ao lar todos os dias, usufrui de descanso semanal.

Quanto ao fator de conversão a ser aplicado, o Decreto nº 3.048/1999 (Regulamento da Previdência Social) é explícito ao afir-mar, em seu art. 70, § 2º, que “as regras de conversão de tempo de ativi-dade sob condições especiais em tempo de atividade comum constantes deste artigo aplicam-se ao trabalho prestado em qualquer período”. Daí a aplicação correta do fator 1,40. Este entendimento vem se firmando no âmbito do Eg. Superior Tribunal de Justiça, conforme se depreende pela leitura dos seguintes arestos:

RECURSO ESPECIAL – FATOR DE CONVERSÃO – ATIVIDADE ESPE-CIAL PARA COMUM – INCIDÊNCIA DO DECRETO Nº 4.827, DE 04.09.2003, QUE ALTEROU O ART. 70 DO DECRETO Nº 3.048, DE 06.05.1999 – APLICAÇÃO PARA TRABALHO PRESTADO EM QUAL-QUER PERÍODO – DECISÃO MANTIDA PELOS SEUS PRÓPRIOS FUN-DAMENTOS – AGRAVO DESPROVIDO

1. Esta Corte Superior firmou compreensão no sentido de ser aplicado ao fator multiplicador, destinado à conversão de tempo de serviço especial em tempo comum, independentemente da época em que a atividade foi prestada, o Decreto nº 4.827/2003, que alterou o art. 70 do Decreto nº 3.048/1999.

(STJ, AgRg-REsp 1151100/MG, 5ª T., Relª Min. Laurita Vaz, J. 06.04.2010, DJe 26.04.2010)

PREVIDENCIÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL – CONVERSÃO DO TEMPO DE SERVIÇO EXERCIDO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS PARA COMUM – FATOR DE CONVERSÃO – ART. 70, § 2º – DO DECRETO Nº 4.827/2003 – AGRAVO REGIMENTAL DO INSS DES-PROVIDO

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1. Tanto no sistema anterior quanto na vigência da Lei nº 8.213/1991, foi delegado ao Poder Executivo a fixação dos critérios para a conversão do tempo de serviço especial em tempo de serviço comum.

2. Na vigência da Lei nº 6.887/1980, os Decretos nºs 83.080/1979 e 87.374/1982 não faziam distinção entre o índice adotado para segurados do sexo masculino e feminino.

3. Por sua vez, a Lei nº 8.213/1991 trouxe nova disciplina para a aposen-tadoria por tempo de serviço, prevendo tempo diferenciado para homens e mulheres: 35 anos para homens e 30 para mulheres. Além disso, facul-tou aos segurados a opção pela aposentadoria com proventos proporcio-nais ao completar-se, no mínimo, 30 anos de serviço para os homens e 25 para as mulheres.

4. Diante desse novo regramento e considerando que os fatores de con-versão são proporcionalmente fixados conforme o tempo de serviço exi-gido para a aposentadoria, o Decreto nº 357/1991, em seu art. 64, man-teve o índice de 1,2 para o tempo de serviço especial de 25 anos para a concessão de aposentadoria especial e o tempo de serviço comum de 30 anos para mulher. Já para o tempo de serviço comum de 35 anos para o homem, estabeleceu o multiplicador em 1,4.

5. Essa disposição quanto ao fator de conversão para o tempo de ser-viço especial de 25 anos foi mantida pelos Decretos nºs 611/1992, 2.172/1997, 3.048/1999 e 4.827/2003, tendo esse último normativo de-terminado que o tempo de serviço especial laborado em qualquer perío-do será regido pelas regras de conversão nele previstas.

6. No presente caso, a atividade profissional desenvolvida pelo segurado (operador de máquina injetora, com exposição a ruído elevado) garante a concessão de aposentadoria especial com tempo de serviço de 25 anos, motivo pelo qual para a conversão desse período, para fins de concessão de aposentadoria ao segurado do sexo masculino (tempo comum máxi-mo de 35 anos), deverá ser aplicado o fator de conversão 1,4.

7. Agravo Regimental do INSS desprovido.

(STJ, AgRg-REsp 1105770/RS, 5ª T., Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, J. 23.02.2010, DJe 12.04.2010)

No mais, o apelado comprovou documentalmente sua exposição a ruídos superiores aos padrões permitidos, eis que exposto na praça de máquinas, conforme laudos e formulários que instruíram o processo ad-ministrativo, a ruídos de 102dB, provocados pelos motores de propulsão e motores auxiliares.

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Com relação ao nível de ruído, o Enunciado AGU nº 29, de 09 de junho de 2008, passou a considerar especial, no âmbito do RGPS, a atividade exercida com exposição a ruído superior a 80 decibéis até 05.03.1997, superior a 90 decibéis desta data até 18.11.2003, e superior a 85 decibéis a partir de então.

Entende-se, de forma pacificada, que o uso de Equipamento de Proteção Individual – EPI não descaracteriza a nocividade causada ao ser humano, não sendo motivo para se afastar a conversão do tempo de serviço para trabalho especial, quando não houver prova da neutraliza-ção por completo da insalubridade para o trabalhador.

No mais, não é obrigatória a autenticação dos documentos acos-tados aos autos, incumbindo à parte contrária o ônus de alegar o vício de forma ou defeito substancial, sob pena de serem considerados autên-ticos.

Conforme se vê da documentação acostada aos autos, aplicando--se o fator de conversão nos períodos devidamente comprovados da atividade de marítimo e da exposição a ruídos, o apelado comprova possuir tempo suficiente para a concessão de sua aposentadoria, eis que conta com um total de 35 anos e 27 dias.

Diante do exposto, nego provimento à Apelação do INSS e à Re-messa, mantendo-se a r. sentença por seus próprios fundamentos.

É como voto.

Rio de Janeiro, 13.06.2014.

Desembargador Federal Paulo Espirito Santo Relator

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoDE publicado em 18.06.2014Apelação Criminal nº 0005841‑61.2012.4.03.6102/SP2012.61.02.005841‑2/SPRelator: Desembargador Federal José LunardelliApelante: Miralva Cardoso CruzAdvogado: Douglimar da Silva Morais (Int. pessoal)

SP0000DPU Defensoria Pública da União (Int. pessoal)Apelado(a): Justiça PúblicaNº Orig.: 00058416120124036102 6ª Vr. Ribeirão Preto/SP

EMENTA

APELAÇÃO CRIMINAL – ART. 171, § 3º, C/C ART. 71, AMBOS DO CÓDIGO PENAL – ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO – SAQUES INDEVIDOS DE BENEFÍCIOS – BENE-FICIÁRIO FALECIDO – CRIME CONTINUADO – PRESCRIÇÃO RETROATIVA DE PARTE DOS CRIMES PRATICADOS – AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – INAPLICABILIDADE – DOSIMETRIA – PENA DE MULTA – RE-DUÇÃO DA QUANTIDADE DE DIAS-MULTA – ADOÇÃO DOS MESMOS CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE – INDENIZAÇÃO DO ART. 387, IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – NECESSIDADE DE PEDIDO EXPRESSO – AFASTAMENTO – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO

Estelionato praticado pela mãe de beneficiário, que após o óbi-to deste, continuou sacando indevidamente, durante oito meses, a prestação previdenciária através de cartão magnético, como se ele vivo fosse, obtendo, desse modo, vantagem indevida para si, em detrimento da Autarquia Previdenciária, correspondente a R$ 3.281,20 (três mil, duzentos e oitenta e um reais e vinte cen-tavos).

Não há que se falar em crime único, mas, sim, de crime continua-do, porquanto cada recebimento indevido de valores perfaz o tipo penal.

Toma-se como dies a quo para a contagem do prazo prescricional, a data da consumação de cada uma das condutas que integram a continuidade delitiva.

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Diante da pena in concreto, é forçoso declarar a extinção da pu-nibilidade de parte dos crimes pelo transcurso do prazo prescri-cional, na forma do art. 110, §§ 1º e 2º, anterior à vigência da Lei nº 12.234/2010, por se tratar de norma penal mais favorável.

Autoria e materialidade delitivas devidamente demonstradas. Evi-denciado o dolo específico, consistente na vontade deliberada de manter o órgão pagador em erro, deixando de comunicar o óbito do beneficiário, a fim de continuar recebendo o benefício.

Conforme entendimento dos Tribunais Superiores, não se aplica o princípio da insignificância à conduta delituosa tipificada no art. 171, § 3º, do Código Penal.

A quantidade de dias-multa deve ser estipulada com base nos mes-mos critérios adotados para a fixação da pena privativa de liberda-de, motivo pelo qual devem ser coerentes e proporcionais.

O art. 387, IV, do Código de Processo Penal estabelece que o juiz fixará o valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. No entanto, a permissão legal de cumulação de pretensão acusatória com a indenizatória não dispensa a existência de expresso pedido formulado pelo ofendido. In casu, não há qualquer pedido do ór-gão ministerial nesse sentido, devendo ser afastada a indenização fixada pelo juízo a quo a título de reparação dos danos.

Apelação parcialmente provida.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indi-cadas, decide a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso de apelação interposto por Miralva Cardoso Cruz para: julgar extinta a pu-nibilidade, pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva estatal retroativa, dos crimes praticados no período compreendido entre feve-reiro de 2008 até 25 de julho de 2008, com fulcro nos arts. 107, inciso IV, c/c arts. 109, inciso V e 110, §§ 1º e 2º (com redação dada pela Lei nº 7.209/1984), todos do Código Penal; reduzir a quantidade de dias--multa, fixando-a em 15 (quinze) dias multa, mantido o valor unitário; reduzir a pena substitutiva de prestação pecuniária, para o equivalente a 01 (um) salário mínimo, destinando-a, de ofício, à União Federal; afastar

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a indenização fixada nos termos do art. 387, IV, do Código de Processo Penal, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 10 de junho de 2014.

José Lunardelli Desembargador Federal

RELATÓRIO

Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal José Lunardelli: Trata-se de apelação criminal interposta por Miralva Cardoso Cruz con-tra sentença proferida pelo Juízo Federal da 6ª Vara Federal de Ribeirão Preto/SP, que a condenou à pena de 01 (um) ano, 06 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa, pela prática do crime previsto no art. 171, § 3º, c/c art. 71, ambos do Código Penal.

Segundo consta da denúncia (fls. 26/27):

“[...] Miralva Cardoso Cruz obteve, na cidade de Guariba/SP, por oito vezes, vantagem indevida em prejuízo do Instituto Nacional do Seguro Social, consistente no recebimento de benefício assistencial de presta-ção continuada destinado à pessoa portadora de deficiência, titularizado pelo seu filho, Luiz Ricardo Cardoso Tossi, no período de 02/2008 até 09/2008, induzindo e mantendo em erro esta autarquia, mediante frau-de, uma vez que este já era falecido, tendo o óbito ocorrido em 24 de fevereiro de 2008.”

A denúncia foi recebida em 24 de julho de 2012 (fls. 28/29).

Defesa escrita à fl. 50.

Interrogatório da ré (fls. 71/73).

Memoriais escritos do Ministério Público Federal, pleiteando a condenação da acusada nos termos em que denunciada (fls. 80/82).

Memoriais da Defensoria Pública da União, pugnando pela ab-solvição com fundamento no art. 386, III e VII, do Código de Processo Penal.

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Após regular instrução, sobreveio a sentença de fls. 90/95, que julgou procedente a pretensão punitiva deduzida na denúncia e conde-nou Miralva Cardoso Cruz como incursa no art. 171, § 3º, c/c art. 71, do Código Penal, à pena de 01 (um) ano, 06 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão no regime aberto e ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa, cada qual fixado no valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época do último crime praticado.

Preenchidos os requisitos do art. 44 do Código Penal, a pena pri-vativa de liberdade foi substituída por duas penas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pe-cuniária ou de outra natureza, no valor equivalente a 02 (dois) salários mínimos ora vigentes.

O magistrado sentenciante fixou, ainda, a indenização pelos da-nos causados ao erário no valor de R$ 3.281,20 (três mil, duzentos e oitenta e um reais e vinte centavos), equivalente à soma dos benefícios previdenciários pagos indevidamente, acrescida de correção monetária desde o pagamento de cada benefício.

Inconformada, a defesa interpôs recurso de apelação. Preliminar-mente, pugna pelo reconhecimento da prescrição retroativa, em rela-ção aos fatos praticados entre fevereiro/2008 até julho/2008. No mérito, pleiteia a absolvição, aduzindo: a aplicação do princípio da insignificân-cia, atipicidade do fato, ausência de dolo e in dubio pro reo. Subsidiaria-mente, requer a redução: a) do valor referente à indenização ao erário; b) dos dias-multa fixados; c) do valor da pena substitutiva de prestação pecuniária (fls. 99/105).

Contrarrazões do Ministério Público Federal, manifestando-se pelo improvimento do recurso (fls. 107/111).

Nesta Corte, o parecer da Procuradoria Regional da República é pelo parcial provimento da apelação, para reconhecer a ocorrência da prescrição retroativa em relação às condutas praticadas de feverei-ro/2008 até julho/2008, mantendo-se, no restante, a r. sentença por seus próprios fundamentos (fls. 114/123).

É o relatório.

À revisão.

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José Lunardelli Desembargador Federal

VOTO

Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal José Lunardelli: Segundo a peça acusatória, Miralva Cardoso Cruz obteve vantagem in-devida mediante fraude, em prejuízo do INSS, uma vez que procedeu à retirada de oito parcelas mensais do benefício previdenciário (período de 02/2008 a 09/2008) do qual seu filho era titular, após a ocorrência de seu óbito (24.02.2008).

Pela sentença de fls. 90/95, a ré foi condenada pela prática do cri-me previsto no art. 171, § 3º, c/c art. 71, do Código Penal, à pena de 01 (um) ano, 06 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e ao pagamento de 20 (vinte) dias multa, cada qual no valor de 1/30 do salário mínimo vigente na data do último crime praticado.

A defesa interpôs o presente recurso de apelação, pugnando, pre-liminarmente, pelo reconhecimento da prescrição, na modalidade re-troativa, em relação aos fatos ocorridos no período compreendido entre fevereiro de 2008 até julho/2008. No mérito, busca a absolvição da ape-lante, alegando, em síntese: a) aplicação do princípio da insignificância, b) atipicidade do fato, c) ausência de dolo, d) in dubio pro reo. Subsidia-riamente, pleiteia a redução da indenização fixada, da prestação pecu-niária e da pena de multa.

Da prescrição. De início, cumpre esclarecer que o crime de este-lionato previdenciário possui natureza binária, razão pela qual, confor-me entendimento consolidado pelos Tribunais Superiores, a natureza do delito depende da condição do agente que o pratica.

Será crime permanente quando praticado pelo próprio beneficiá-rio da previdência social, e nesse caso, o prazo prescricional começará a fluir a partir da cessação da permanência, ou seja, com a supressão do recebimento indevido.

Por sua vez, quando praticado por funcionários da Previdência So-cial ou por terceiros não beneficiários, será crime instantâneo de efeitos permanentes, hipótese em que o termo inicial da prescrição será a data do início do pagamento do benefício fraudulento.

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No presente caso, todavia, não se trata de estelionato praticado pelo próprio beneficiário, tampouco por terceiro, não beneficiário, que comete a fraude por meio da inserção de dados falsos para a obtenção indevida de benefício previdenciário.

Trata-se, na verdade, de estelionato praticado por terceiro, que após o falecimento do beneficiário, continua sacando indevidamen-te, mês a mês, a prestação previdenciária através de cartão magnético, como se ele vivo fosse, obtendo, desse modo, vantagem indevida para si, em detrimento da Autarquia Previdenciária.

Não há que se falar em crime único, mas, sim, de crime continua-do, porquanto cada recebimento indevido de valores perfaz o tipo penal.

Toma-se, portanto, como dies a quo para a contagem do prazo prescricional, a data da consumação de cada uma das condutas que integram a continuidade delitiva.

Feitos tais esclarecimentos, resta perquirir se houve o transcurso do lapso temporal exigido para a configuração da prescrição.

Os fatos foram praticados no período de fevereiro/2008 a setem-bro/2008.

A denúncia foi recebida em 24 de julho de 2012 (fls. 28/29). Sen-tença condenatória registrada em 30 de agosto de 2013 (fl. 96). Houve o trânsito em julgado para o órgão acusador (ciência em 17.09.2013, à fl. 96v).

A apelante foi condenada à pena de 01 (um) ano, 06 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa. Descontado o acréscimo de 1/6 (um sexto) decorrente da continuidade delitiva, consoante o disposto na Súmula nº 497 do Supremo Tribunal Federal, a pena imposta enseja o prazo prescricional de 04 (quatro) anos, segundo a regra do art. 109, inciso V, do Código Penal.

Inaplicável, ao caso, a Lei nº 12.234, de 05 de maio de 2010, que revogou o § 2º do art. 110 do Código Penal, excluindo a contagem do prazo prescricional no período anterior ao recebimento da denúncia, pois os fatos em questão ocorreram antes de sua vigência, não podendo a norma retroagir para prejudicar a ré, nos termos do art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal.

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Verifico o transcurso do prazo de quatro anos entre os fatos ocor-ridos de fevereiro/2008 até parte de julho/2008 e a data do recebimento da denúncia, em 24 de julho de 2012.

Dessa forma, pela pena in concreto, declaro extinta a punibilida-de, pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva estatal retroati-va, somente quanto aos crimes praticados a partir de fevereiro/2008 até 25 de julho de 2008, remanescendo os demais fatos praticados poste-riormente.

Nesse sentido:

EMBARGOS INFRINGENTES – ART. 171, § 3º, C/C ART. 71, AMBOS DO CÓDIGO PENAL – ESTELIONATO PRATICADO CONTRA A PREVI-DÊNCIA SOCIAL – TERCEIRO – PERCEPÇÃO DE BENEFÍCIO INDEVIDO – BENEFICIÁRIO FALECIDO – CONSUMAÇÃO – CRIME CONTINUA-DO – PRESCRIÇÃO RETROATIVA DE PARTE DOS FATOS – REDIMEN-SIONAMENTO DA PENA – I – Sem embargo do fato de não constar explicitamente no voto condutor a adoção, ou não, de posicionamen-to binário no tratamento do estelionato praticado contra a Previdência Social, diferenciando o tratamento jurídico beneficiário/intermediário, trata-se de um caso peculiar em relação ao que se vê ordinariamente, relativo aos pedidos de benefícios instruídos com documentação falsa e a respectiva intervenção de terceiros. II – Autos que relatam que a filha de uma beneficiária, em um primeiro momento, quando do falecimento de sua mãe, quedou-se omissa quanto à necessária comunicação do fato à Autarquia Previdenciária e, em continuidade, durante aproximadamente cinco anos, manteve, mensalmente, a falsidade aludida, percebendo os valores como curadora de sua mãe perante o INSS, como se ela viva fosse, ao realizar retiradas feitas por meio de cartão magnético em nome daquela. III – In casu, mês a mês, a cada retirada, uma nova conduta se consumava, assim se protraindo no tempo até que a Autarquia Previden-ciária descobrisse a farsa (Precedentes da E. 2ª Turma desta Corte – ACr 2006.61.13.001111-6/SP – e do E. Superior Tribunal de Justiça – REsp 1282118/RS). IV – Mantida a majorante aplicada na terceira fase de do-simetria da pena relativa à continuidade delitiva, eis que a conduta frau-dulenta da ré renovou-se por inúmeras vezes, ensejando a pluralidade de ações a fundamentar a aplicação do art. 71, do Código. V – No caso dos crimes continuados, conta-se a prescrição a partir da data da con-sumação de cada uma das ações que compõe a continuidade. Sobre o mesmo tema, determina a Súmula nº 497 do Supremo Tribunal Federal: “Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação”. VI – Diante da pena in concreto calculada, é forçoso de-

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clarar a extinção da punibilidade de parte dos fatos pelo decurso do pra-zo prescricional, na forma da redação do art. 110, § 1º, do Código Penal, anterior à vigência da Lei nº 12.234/2010, por se tratar de norma penal mais favorável, fato que altera o quantum de elevação neste particular. VII – Remanescendo dezoito competências, vale dizer, dezembro/2004, janeiro/2005 até maio/2006, o referido período não faz jus à exasperação de 2/3, como procedido no r. voto condutor, sendo razoável, na espé-cie, redimensioná-la e exasperar a pena em 1/5, estabelecendo-se a pena privativa de liberdade final de 01 (um) ano 07 (sete) meses e 6 (seis) dias de reclusão e 15 (quinze) dias-multa (utilizando-se os mesmos padrões do judicioso voto para a prestação pecuniária), mantido o quantum do dia-multa. VIII – Embargos infringentes não providos. De ofício, reconhe-cida a prescrição da pretensão punitiva estatal retroativa e declarada a extinção da punibilidade somente quanto aos fatos relativos aos meses de maio de 2001 até novembro de 2004, ex vi dos arts. 107, inciso IV, 109, inciso V e 110, § 1º (redação da época dos fatos), todos do Código Penal. Quanto às competências remanescentes, reduzido o quantum de exasperação relativo ao art. 71, do Código Penal para 1/5, resultando na pena privativa de liberdade de 01 (um) ano 7 (sete) meses e 6 (seis) dias de reclusão e 15 (quinze) dias-multa, mantidos os demais termos do r. voto condutor.

(TRF 3ª R., EIFNU 00092432920074036102, 1ª S., Desª Fed. Cecília Mello, Data 13.08.2013)

E, ainda:

RECURSO ESPECIAL – PENAL – ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO PRA-TICADO POR TERCEIRO APÓS A MORTE DO BENEFICIÁRIO – SA-QUES MENSAIS POR MEIO DE CARTÃO MAGNÉTICO – CONTINUI-DADE DELITIVA – APLICAÇÃO – RECURSO DESPROVIDO

Tem aplicação a regra da continuidade delitiva ao estelionato previden-ciário praticado por terceiro, que após a morte do beneficiário segue recebendo o benefício antes regularmente concedido ao segurado, como se ele fosse, sacando a prestação previdenciária por meio de cartão mag-nético todos os meses.

Diversamente do que ocorre nas hipóteses de inserção única de dados fraudulentos seguida de plúrimos recebimentos, em crime único, na hi-pótese dos autos não há falar em conduta única, mas sim em conduta reiterada pela prática de fraude mensal, com respectiva obtenção de van-tagem ilícita. Recurso desprovido.

(STJ, REsp 1.282.118/RS, 6ª T., Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe 12.03.2013 – grifei)

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Da materialidade. A materialidade delitiva restou comprovada pe-las peças de informações e IPL em apenso, em especial, pela certidão de óbito do beneficiário (fl. 19 PI), histórico de créditos (fl. 21 PI), ofício de cobrança (fl. 32 PI), recurso administrativo apresentado pela apelante admitindo os saques dos benefícios (fl. 41 PI), decisão do recurso admi-nistrativo (fl. 45) e planilha de débito (fl. 50 PI).

Segundo apurado pela Gerência Executiva da Previdência Social de Araraquara:

“Consta que os créditos referentes ao benefício NB 87/110.966.390-8 continuaram sendo depositados em conta corrente até a competên-cia 09/2008, a despeito do fato do titular do benefício ter falecido em 24/02/2008” (fls. 58/59 PI).

Conforme ofício do Banco Nossa Caixa, os valores creditados na Conta nº 01.013.449-2 da Agência 0123-6 foram sacados pela ré, não restando saldo credor (fl. 24 PI). O montante do prejuízo causado ao INSS corresponde a R$ 3.281,20 (três mil, duzentos e oitenta e um re-ais e vinte centavos), referente ao período de 25.02.2008 a 30.09.2008 (fls. 49/50 PI).

Da autoria. A autoria, igualmente, restou devidamente comprova-da pela prova dos autos.

A apelante interpôs recurso administrativo à Junta de Recursos da Previdência Social, oportunidade em que admitiu os saques fraudulentos do benefício previdenciário, após o óbito de seu filho:

“Recebeu o benefício acima de Luiz Ricardo Tossi, mesmo após o óbito. Era representante legal e mãe do titular. Recebeu porque estava endivida-da, com os gastos do próprio filho, que ficou internado mais de um mês em um hospital em Ribeirão Preto. Tive gastos com remédios, que alguns eu tinha que comprar, não podia trabalhar para cuidar dele. Solicito que a dívida seja perdoada, pois não tenho condições nenhuma de pagar” (fl. 43 PI).

Ouvida na fase inquisitorial, a ré admitiu a prática delitiva. Merece destaque o seguinte trecho das declarações prestadas, em que a acusada confessou que efetuou as retiradas, consciente da ilicitude (fl. 17):

“[...] que foi responsável pelos saques efetuados após óbito de seu filho Luiz Ricardo, e que somente ela, a declarante, tinha acesso ao cartão magnético previdenciário e senha, reiterando, ainda, que só efetuou três

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saques correspondentes aos três meses da data do óbito, e não oito meses como está sendo dito. Que sabia que não devia ter feito o saque, mas estava com muitas dívidas referentes ao tratamento de seu filho já fale-cido, usando o dinheiro para pagar as dívidas com farmácia, alimentos e outros, e que vivia sozinha no período dos recebimentos previdenciá-rios” (fl. 17 IPL).

Interrogada judicialmente, a ré asseverou que sacou o benefício do qual seu filho era titular, durante três meses após o falecimento deste. Declarou, no entanto, que desconhecia a proibição quanto ao recebi-mento do benefício. Afirmou que após esse período solicitou a baixa junto ao INSS (mídia digital, fl. 73).

O conjunto probatório é solido o suficiente para demonstrar que a ré levantou indevidamente oito parcelas do benefício previdenciário de Luiz Ricardo Tossi, após a ocorrência de seu óbito, em 24 de fevereiro de 2008.

É certo que apenas a apelante possuía a senha bancária e o car-tão magnético da Conta nº 01.013.449-2, que, inclusive, estava em seu nome. Além disso, a acusada residia sozinha à época dos fatos e, con-forme histórico de créditos (fl. 21 PI), os oito benefícios pagos após a ocorrência do óbito foram levantados da mesma forma.

A versão apresentada pela acusada em juízo, no sentido de que sacou, tão somente, três parcelas do benefício previdenciário, sem cons-ciência da ilicitude, foi infirmada pelas provas trazidas aos autos.

O dolo restou evidenciado pela confissão da apelante perante a autoridade policial e nas razões do recurso administrativo. A confissão extrajudicial foi corroborada pelos demais elementos probatórios cons-tantes dos autos, que indicam que a ré tinha plena ciência da ilicitude dos fatos, tendo se valido de fraude com o intuito de obter para si vanta-gem indevida, em detrimento da Autarquia Previdenciária.

Desse modo, presente o dolo específico, consistente na vontade deliberada de manter o órgão pagador em erro, deixando de comunicar o óbito do beneficiário, a fim de continuar recebendo o benefício, afasto as alegações de atipicidade do fato e ausência de dolo.

Outrossim, não há que se falar em absolvição da ré com base no in dubio pro reo, já que cabalmente demonstradas a autoria e materiali-dade delitivas.

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Da inaplicabilidade do princípio da insignificância. Compartilho do entendimento adotado pelos Tribunais Superiores, no sentido de que não se aplica o referido princípio ao delito previsto no art. 171, § 3º, do Código Penal, em razão do alto grau de reprovabilidade da conduta, tendo em vista que o prejuízo não se resume ao valor recebido indevi-damente pela acusada, mas se estende a todo o sistema previdenciário.

Trago à colação os seguintes arestos:

HABEAS CORPUS – PENAL – ESTELIONATO PRATICADO CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL – ART. 171, § 3º, DO CÓDIGO PENAL – PRIN-CÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – INAPLICABILIDADE – ELEVADO GRAU DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA PRATICADA, O QUE NÃO LEGITIMA A APLICABILIDADE DO POSTULADO – ORDEM DENEGA-DA – 1. A aplicação do princípio da insignificância, de modo a tornar a conduta atípica, carece, entre outros fatores, além da pequena expressão econômica do bem objeto de subtração, de um reduzido grau de repro-vabilidade da conduta do agente. 2. Ainda que se admitisse como norte para aferição do relevo material da conduta praticada pelo paciente a tese de que a própria Fazenda Pública não promove a execução fiscal para débitos inferiores a R$ 10.000 (dez mil reais) – Lei nº 10.522/2002 –, remanesceria, na espécie, o alto grau de reprovabilidade da conduta pra-ticada. Esse fato, por si só, não legitimaria a aplicabilidade do postulado da insignificância. 3. Paciente que, após o falecimento de terceiro, rece-beu indevidamente, no período de junho de 2001 a fevereiro de 2003, o benefício de prestação continuada a ele devido, causando prejuízo ao INSS na ordem de R$ 4.000,00 (quatro mil reais). 4. Esse tipo de conduta contribui negativamente com o déficit previdenciário do regime geral, que alcança, atualmente, expressivos 5,1 bilhões de reais. Não obstante ser ínfimo o valor obtido com o estelionato praticado, à luz do déficit indicado, se a prática de tal forma de estelionato se tornar comum, sem qualquer repressão penal da conduta, certamente se agravaria a situação dessa prestadora de serviço fundamental à sociedade, responsável pelos pagamentos das aposentadorias e dos demais benefícios dos trabalhado-res brasileiros. Daí porque se afere como elevado o grau de reprovabili-dade da conduta praticada. 5. Segundo a jurisprudência da Corte “o prin-cípio da insignificância, cujo escopo é flexibilizar a interpretação da lei em casos excepcionais, para que se alcance o verdadeiro senso de justi-ça, não pode ser aplicado para abrigar conduta cuja lesividade transcen-de o âmbito individual e abala a esfera coletiva” (HC 107.041/SC, 1ª T., de minha relatoria, DJe de 07.10.2011). 6. Ordem denegada.

(STF, HC 111918, Dias Toffoli, 29.05.2012 – grifei)

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RECURSO ESPECIAL – PENAL – CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO – ESTELIONATO (ART. 171, § 3º, DO CÓDIGO PENAL) – EXCLUSÃO DA TIPICIDADE – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – INAPLICABILIDADE – RECURSO DESPROVIDO

1. O acórdão recorrido está em consonância com a orientação desta Corte Superior de Justiça, segundo a qual não se aplica o princípio da insignificância à conduta delituosa tipificada no art. 171, § 3º, do Código Penal. Precedentes.

2. Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg-REsp 939850/SC, 5ª T., Relª Min. Laurita Vaz, DJe 06.12.2010)

Da dosimetria da pena. Na primeira fase, a pena-base foi fixa-da no mínimo legal, eis que favoráveis as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal. Ausentes circunstâncias agravantes e atenuan-tes, a pena foi majorada para 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de reclu-são na terceira etapa, pela aplicação da causa de aumento prevista no § 3º do art. 171 do Código Penal.

Em razão da continuidade delitiva, a pena foi elevada em 1/6 (um sexto), tendo sido definitivamente fixada em 01 (um) ano, 06 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, a ser cumprida no regime aberto.

Não obstante parte dos delitos tenha sido atingida pela prescrição, mantenho o aumento de 1/6 (um sexto) decorrente do crime continuado, uma vez que já fixado no patamar mínimo a que se refere o art. 71 do Código Penal.

Pela r. sentença, a pena de multa foi fixada em 20 (vinte) dias mul-ta, cada qual no valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época do último crime praticado.

A quantidade de dias multa deve ser dosada a partir dos mesmos critérios valorados para a fixação da pena privativa de liberdade, o que resulta na necessidade das penas serem coerentes e proporcionais entre si. Por essa razão, para que haja proporcionalidade entre a pena privati-va de liberdade e a pena de multa, reduzo esta para o equivalente a 15 (quinze) dias multa, mantido o valor unitário de 1/30 (um trigésimo), eis que já fixado no limite mínimo.

Preenchidos os requisitos do art. 44 do Código Penal, a pena pri-vativa de liberdade foi substituída por duas penas restritivas de direi-

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tos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniá ria, no valor correspondente a 02 (dois) salários mínimos ora vigentes.

A defesa pugna pela redução do valor atribuído à pena de presta-ção pecuniária ou pela substituição por outra pena restritiva de direitos.

Acolho a pretensão da apelante e reduzo a prestação pecuniária para o equivalente a 01 (um) salário mínimo. Isso porque, ausentes nos autos elementos indicativos da situação econômica da sentenciada, ca-pazes de justificar a fixação da prestação pecuniária acima do patamar mínimo. De ofício, destino-a à União Federal, conforme entendimento adotado por esta Turma.

Da indenização. Conforme trecho da r. sentença:

“Nos termos do art. 387, IV, do CPP, fixo a indenização pelos danos ao erário no valor de R$ 3.281,20 (três mil, duzentos e oitenta e um reais e vinte centavos), equivalente à soma dos benefícios previdenciários pagos indevidamente, acrescida de correção monetária desde o pagamento de cada benefício” (fl. 95).

O art. 387, IV, do Código de Processo Penal estabelece que o juiz fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.

A despeito das controvérsias acerca da aplicabilidade da novel re-dação do dispositivo aos fatos ocorridos antes da sua vigência, entendo que a Lei nº 11.719/2008, responsável pela alteração, é uma norma de natureza processual penal, ensejando aplicação imediata, por força do princípio do tempus regit actum.

Ademais, o dispositivo em testilha tão somente determina a liqui-dação imediata da obrigação de indenizar o dano, dever este há muito disciplinado no art. 91, inciso I, do Código Penal, não trazendo, o novo dispositivo, qualquer inovação no tocante à existência da obrigação de reparar o dano causado.

Nesse sentido:

PROCESSUAL PENAL – INDENIZAÇÃO DO ART. 387, IV, DO CPP – APLICABILIDADE À AÇÃO PENAL EM CURSO QUANDO A SENTENÇA CONDENATÓRIA FOR PROFERIDA EM DATA POSTERIOR À VIGÊN-CIA DA LEI Nº 11.719/2008 – 1. A regra estabelecida pelo art. 387, IV,

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do Código de Processo Penal, por ser de natureza processual, aplica-se a processos em curso. 2. Inexistindo nos autos elementos que permitam a fixação do valor, mesmo que mínimo, para reparação dos danos cau-sados pela infração, o pedido de indenização civil não pode prosperar, sob pena de cerceamento de defesa. 3. Recurso especial conhecido, mas improvido.

(STJ, REsp 201000100227, 6ª T., Sebastião Reis Júnior, DJe Data: 20.06.2012, RT vol. 00926, p. 00831 ..DTPB:.)

No entanto, a permissão legal de cumulação de pretensão acusa-tória com a indenizatória não dispensa a existência de expresso pedi-do formulado pelo ofendido (REsp 201102649781, Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe Data: 09.10.2012; ED-REsp 201102467107, Campos Marques (Desembargador Convocado do TJ/PR), STJ, 5ª T., DJe Data: 26.04.2013 DTPB:.). In casu, na há qualquer pedido do órgão ministe-rial nesse sentido, razão pela qual deve ser afastado o quantum fixado a título de reparação dos danos.

Diante do exposto, dou parcial provimento ao recurso de apelação interposto por Miralva Cardoso Cruz para:

a) julgar extinta a punibilidade, pela ocorrência da prescrição da preten-são punitiva estatal retroativa, dos crimes praticados no período com-preendido entre fevereiro de 2008 até 25 de julho de 2008, com fulcro nos arts. 107, inciso IV, c/c arts. 109, inciso V e 110, §§ 1º e 2º (com redação dada pela Lei nº 7.209/1984), todos do Código Penal;

b) reduzir a quantidade de dias multa, fixando-a em 15 (quinze) dias multa, mantido o valor unitário;

c) reduzir a pena substitutiva de prestação pecuniária, para o equivalente a 01 (um) salário mínimo, destinando-a, de ofício, à União Federal;

d) afastar a indenização fixada nos termos do art. 387, IV, do Código de Processo Penal.

É o voto.

José Lunardelli Desembargador Federal

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 4ª RegiãoApelação/Reexame Necessário nº 5054967‑78.2012.404.7100/RSRelator: Rogerio FavretoApelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSApelado: Anajara Soares (Absolutamente Incapaz (Maior de idade))

Geraldino Soares (Pais)Procurador: Tiago Vieira Silva (DPU) DPU207MPF: Ministério Público Federal

EMENTA

BENEFÍCIO ASSISTENCIAL – PESSOA INCAPACITADA DE PROVER A PRÓPRIA MANUTENÇÃO OU TÊ-LA PROVIDA DE OUTRA FORMA – COMPROVAÇÃO – CONCESSÃO – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS – DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO – CABIMENTO

1. Procede o pedido de concessão do benefício assistencial pre-visto no art. 203, V da CF/1988 quando atendidos os requisitos previstos na Lei nº 8.742/1993.

2. São devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública mes-mo atuando contra pessoa jurídica de direito público que integra a mesma Fazenda Pública, a partir da edição da Lei Complemen-tar nº 132/2009, objetivando o fortalecimento e autonomia admi-nistrativa e financeira da Entidade, bem como o aparelhamento e capacitação de seus membros e servidores por meio das verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação.

3. Os precedentes contrários do Superior Tribunal de Justiça estão baseados na tese da confusão, ou seja, de que a Defensoria Pú-blica é parte do Estado e com ele se confunde. Todavia, a Defen-soria Pública da União não pertence à Autarquia Previdenciária, tratando-se de pessoas jurídicas distintas, com personalidade, pa-trimônio e receita própria, de modo que não há confusão possível entre as Instituições.

4. Como a Instituição possui personalidade jurídica própria e pode executar suas verbas sucumbenciais, pressupõe-se o direito de per-cepção dos honorários por ocasião da atuação judicial vitoriosa.

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5. Entendimento no sentido contrário ensejaria a declaração de inconstitucionalidade do art. 4º, inciso XXI, da Lei Complemen-tar nº 80/1994, alterado pela Lei Complementar nº 132/2009, em vista da expressa previsão da execução e recebimento das verbas sucumbenciais decorrentes da atuação da Defensoria Pública.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indi-cadas, decide a Egrégia 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, adequar os critérios de aplicação de correção monetária e negar provimento à remessa oficial à apelação do INSS, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 10 de junho de 2014.

Desembargador Federal Rogerio Favreto Relator

RELATÓRIO

Trata-se de ação em que a parte autora pretende a concessão de benefício assistencial à pessoa deficiente, a contar da data do primeiro requerimento administrativo, formulado em 09.02.2006.

Sentenciando, o MM. Juiz assim decidiu:

Ante o exposto, afastando a preliminar suscitada e ratificando a ante-cipação da tutela concedida, julgo procedente o pedido formulado na presente ação ordinária, condenando o INSS a conceder à autora Anajara Soares o benefício de amparo assistencial à data retroativa de 09 de fevereiro de 2006.

Em decorrência da concessão acima determinada, deverá o réu pagar à autora os valores relativos ao benefício, que é equivalente ao valor mensal do salário-mínimo, desde aquela data de concessão até a efetiva implementação em folha de pagamento, restando desde logo autorizado a compensar as parcelas pagas na via administrativa por força da tutela concedida antecipadamente.

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O montante, a ser apurado, sofrerá a incidência da correção monetária, desde o período em que seriam devidas as respectivas parcelas, e dos ju-ros moratórios a contar da citação. A atualização monetária se dará pela aplicação dos índices IGP-DI até 03/2006, INPC de 04/2006 a 06/2009 e, a partir de 01.07.2009, pela aplicação dos índices oficiais de remunera-ção básica da caderneta de poupança (em conformidade com o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009). Os juros de mora serão devidos a contar da citação sendo utilizado como taxa (acaso ocorrida a citação anteriormente a junho/2009) 1% ao mês até junho/2009 e, a partir de 01.07.2009, ocorrerá a incidência uma úni-ca vez, até o efetivo pagamento, daqueles juros aplicáveis à caderneta de poupança, de forma não capitalizada, em conformidade com jurispru-dência pacífica da 3ª Seção do TRF 4ª R. (AR 2002.04.01.050791-4, Rel. Celso Kipper, DE 18.06.2010; AC 0017724-92.2010.404.9999, 5ª T., Rel. Hermes Siedler da Conceição Júnior, DE 05.05.2011; e Ap-Reex 2007.72.01.003445-7, 5ª T., Rel. Ricardo Teixeira do Valle Pereira, DE 28.04.2011).

Condeno o réu ao pagamento de honorários advocatícios de sucum-bência, estes fixados em 10% do valor da condenação, a ser apurado, em conformidade com o § 3º do art. 20 do Código de Processo Civil, excluindo-se de tal base de cálculo as parcelas vincendas, consoante Súmula nº 111 do STJ.

Irresignado, o INSS interpôs apelação requerendo a exclusão da condenação referente ao pagamento de honorários advocatícios à De-fensoria Pública da União.

Oportunizadas as contrarrazões, vieram os autos a esta Corte.

O Ministério Público Federal opinou pelo desprovimento da ape-lação do INSS e da remessa oficial.

É o relatório.

VOTO

DO REEXAME NECESSÁRIO

Cabe conhecer da remessa oficial, uma vez que não há condena-ção em valor certo, afastada, por isso, a incidência do § 2º do art. 475 do Código de Processo Civil.

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DO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DEVIDO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA

À época do requerimento administrativo, anteriormente às altera-ções promovidas na Lei nº 8.742/1993 no ano de 2011, os critérios de concessão do benefício assistencial estavam assim dispostos:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de 1 (um) salá-rio mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família.

§ 1º Para os efeitos do disposto no caput, entende-se como família o con-junto de pessoas elencadas no art. 16 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto.

§ 2º Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa portadora de de-ficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o tra-balho.

§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja infe-rior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo.

§ 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo o da assistência médica.

§ 5º A situação de internado não prejudica o direito do idoso ou do por-tador de deficiência ao benefício.

§ 6º A concessão do benefício ficará sujeita a exame médico pericial e laudo realizados pelos serviços de perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.

Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa com deficiên-cia é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho, ou seja, aquela portadora de incapacidade que impede o exercício de atividade remunerada, o que deve ser analisado à luz do caso concreto.

Em relação à criança com deficiência, deve ser analisado o im-pacto da incapacidade na limitação do desempenho de atividades e na restrição da participação social, compatível com a sua idade.

Assim, em conclusão, o benefício assistencial é devido à pessoa com deficiência integrante de grupo familiar em situação de miserabili-dade.

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DO CONCEITO DE FAMÍLIA

O conceito de família, à época do requerimento administrativo, compreendia: o requerente do benefício, o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido, os pais e o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido.

DA CONDIÇÃO SOCIOECONôMICA

Em relação ao critério econômico, o art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/1993, estabelecia que se considerava hipossuficiente a pessoa com deficiência ou idoso cuja família possuísse renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo.

Contudo, o Superior Tribunal de Justiça, por sua Terceira Seção, ao apreciar recurso especial representativo de controvérsia, relativizou o critério estabelecido pelo referido dispositivo legal. Entendeu que, dian-te do compromisso constitucional com a dignidade da pessoa humana, ‘a limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser consi-derada a única forma de se comprovar que a pessoa não possui outros meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua famí-lia, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo’ (REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 3ª Seção, J. 28.10.2009, DJ 20.11.2009).

Além disso, o STJ, órgão ao qual compete a uniformização da in-terpretação da lei federal em nosso sistema, acrescentou, no julgado ci-tado, que ‘em âmbito judicial vige o princípio do livre convencimento motivado do juiz (art. 131 do CPC) e não o sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual essa delimitação do valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de miserabilidade do beneficiado’.

Como se percebe, o entendimento da Corte Superior consolidou--se no sentido de que é possível a aferição da miserabilidade do defi-ciente ou do idoso por outros meios, ainda que não observado estrita-mente o critério da renda familiar per capita previsto no § 3º do art. 20 da Lei nº 8.742/1993.

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Nesse sentido, tenho adotado posição de flexibilizar os critérios de reconhecimento da miserabilidade, merecendo apenas adequação de fundamento frente à recente deliberação do Supremo Tribunal Federal, que, por maioria, ao analisar os Recursos Extraordinários nºs 567.985 e 580.963, ambos submetidos à repercussão geral, reconheceu a incons-titucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei nº 8.742/1993 – LOAS, assim como do art. 34 da Lei nº 10.741/2003 – Estatuto do Idoso.

Com efeito, reconhecida a inconstitucionalidade do critério eco-nômico objetivo em regime de repercussão geral, cabe ao julgador, na análise do caso concreto, aferir o estado de miserabilidade da parte au-tora e de sua família, sendo o caso, a justificar a concessão do benefício assistencial. Cabe registrar que esta Corte – Tribunal Regional Federal da 4ª Região, ainda que por outros fundamentos, vinha adotando uma maior flexibilização nos casos em que a renda per capita superava o li-mite estabelecido no art. 20, § 3º, da LOAS, agora dispensável enquanto parâmetro objetivo de renda familiar.

Em conclusão, o benefício assistencial destina-se àquelas pessoas que se encontram em situação de elevada pobreza, por não possuírem meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua famí-lia, ainda que a renda familiar per capita venha a ser considerada como meio de prova desta situação.

DO CASO CONCRETO

A parte autora nasceu em 30.10.1979, contando, ao tempo do primeiro requerimento administrativo, formulado em 09.02.2006, com 26 anos de idade.

Quanto à incapacidade de prover a própria subsistência ou tê-la suprida de outra forma, tenho que restou comprovada pela prova peri-cial (evento 48).

Informou, o médico perito, que a parte autora possui retardo men-tal grave e comprometimento cognitivo significativo da personalidade (F79) desde a infância. Tais moléstias ocasionam incapacidade total e definitiva para o trabalho e, por não possuir cura, a autora necessita de permanente acompanhamento para atividades habituais.

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Quanto à condição de miserabilidade do grupo familiar da parte autora, o estudo social (evento 15), realizado em 29.11.2012, informa que a parte autora mora com seu pai e dois sobrinhos. Afirma que a ren-da provém unicamente da aposentadoria de seu pai, sendo a renda per capita R$ 155,00. Constata que a autora reside em um terreno invadido e que a moradia é de madeira, encontrando-se em péssimas condições. Além disso, o local não possui saneamento básico e infraestrutura, pos-suindo energia elétrica e água com ligações irregulares.

Assim, diante das considerações, a parte autora está em evidente risco social e depende do benefício para garantir o controle da doença crônica que a acomete e a sua sobrevivência digna, tendo em vista estar inserida em um grupo familiar de vulnerabilidade.

Dessa forma, comprovados ambos os requisitos, deve ser mantida a sentença que determinou a concessão do benefício desde a data do requerimento administrativo, observada a prescrição quinquenal.

DOS CONSECTÁRIOS

A) CORREÇÃO MONETáRIA:

A correção monetária, segundo o entendimento consolidado na 3ª Seção deste TRF4, incidirá a contar do vencimento de cada prestação e será calculada pelos índices oficiais e jurisprudencialmente aceitos, quais sejam:

– ORTN (10/1964 a 02/1986, Lei nº 4.257/1964);

– OTN (03/1986 a 01/1989, Decreto-Lei nº 2.284/1986);

– BTN (02/1989 a 02/1991, Lei nº 7.777/1989);

– INPC (03/1991 a 12/1992, Lei nº 8.213/1991);

– IRSM (01/1993 a 02/1994, Lei nº 8.542/1992);

– URV (03 a 06/1994, Lei nº 8.880/1994);

– IPC-r (07/1994 a 06/1995, Lei nº 8.880/1994);

– INPC (07/1995 a 04/1996, MP 1.053/1995);

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– IGP-DI (05/1996 a 03/2006, art. 10 da Lei nº 9.711/1998, combi-nado com o art. 20, §§ 5º e 6º, da Lei nº 8.880/1994);

– INPC (a partir de 04/2006, conforme o art. 31 da Lei nº 10.741/2003, combinado com a Lei nº 11.430/2006, precedi-da da MP 316, de 11.08.2006, que acrescentou o art. 41-A à Lei nº 8.213/1991, e REsp 1.103.122/PR).

Entendia a 3ª Seção deste Tribunal que a contar de 30.06.2009, data em que passou a viger a Lei nº 11.960/2009, de 29.06.2009, pu-blicada em 30.06.2009 (a qual alterou o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997), deveria haver, para fins de atualização monetária, a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica aplicados à caderneta de poupança.

Não são aplicáveis, todavia, no que toca à correção monetária, os critérios previstos na Lei nº 11.960/2009, que modificou a redação do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, por conta de decisão proferida pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento das ADIs 4.357 e 4.425, que apreciou a constitucionalidade do art. 100 da CF, com a redação que lhe foi dada pela EC 62/2009. Essa decisão proferida pela Corte Constitucional, além de declarar a inconstitucionalidade da ex-pressão ‘na data de expedição do precatório’, do § 2º; dos §§ 9º e 10º; e das expressões ‘índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança’ e ‘independente de sua natureza’, do § 12, todos do art. 100 da Constituição Federal de 1988, com a redação da Emenda Constitu-cional nº 62/2009, por arrastamento, também declarou inconstitucional o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960, de 29.07.2009 (atualização monetária pelo índice de remu-neração da poupança).

Impõe-se, pois, a observância do que decidido com efeito erga omnes e eficácia vinculante pelo STF nas ADIs 4.357 e 4.425, restabele-cendo-se a sistemática anterior à Lei nº 11.960/2009, ou seja, apuração de correção monetária pelo INPC.

A sentença deve ser adequada, quanto à correção monetária, aos critérios acima definidos. De fato, em razão do que decidido pelo Supre-mo Tribunal Federal, as disposições do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009, foram expungi-das do ordenamento jurídico no que toca à correção monetária, a qual,

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como sabido, constitui acessório, sobre o qual pode e deve o órgão jul-gador deliberar. Eliminada do mundo jurídico uma norma legal em ra-zão de manifestação do Supremo Tribunal Federal em ação direta de in-constitucionalidade, não pode subsistir decisão que a aplique, pois está em confronto com a Constituição Federal. Deve, portanto, haja vista os fundamentos constitucionais expostos, ser feita a adequação da correção monetária.

b) JUROs DE MORA:

Até 30.06.2009, os juros de mora, apurados a contar da data da citação, devem ser fixados à taxa de 1% ao mês, com base no art. 3º do Decreto-Lei nº 2.322/1987, aplicável analogicamente aos benefícios pa-gos com atraso, tendo em vista o seu caráter eminentemente alimentar, consoante firme entendimento consagrado na jurisprudência do STJ e na Súmula nº 75 desta Corte.

A partir de 30.06.2009, por força da Lei nº 11.960, de 29.06.2009 (publicada em 30.06.2009), que alterou o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, para fins de apuração dos juros de mora haverá a incidência, uma úni-ca vez, até o efetivo pagamento, do índice oficial aplicado à caderneta de poupança. Registre-se que a Lei nº 11.960/2009, segundo o enten-dimento do STJ, tem natureza instrumental, devendo ser aplicada aos processos em tramitação (EREsp 1.207.197/RS, Rel. Min. Castro Meira, J. 18.05.2011).

Observo que as decisões tomadas pelo Plenário do Supremo Tri-bunal Federal no julgamento das ADIs 4.357 e 4.425 não interferiram com a taxa de juros aplicável às condenações da Fazenda Pública, con-soante entendimento firmado no Superior Tribunal de Justiça a partir do julgamento do REsp 1.270.439. Com efeito, como consignado pela Ministra Eliana Calmon no julgamento do MS 18.217, ‘No julgamento do REsp 1.270.439/PR, sob a sistemática dos recursos repetitivos, esta Corte, diante da declaração de inconstitucionalidade parcial do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1999 (sic) no que concerne à correção monetária, rati-ficou o entendimento de que nas condenações impostas à Fazenda Pú-blica após 29.06.2009, de natureza não tributária, os juros moratórios devem ser calculados com base na taxa de juros aplicáveis à caderneta de poupança’.

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C) HONORáRIOs ADVOCATíCIOs:

Inicialmente, em relação à possibilidade de condenação ao paga-mento de honorários advocatícios sucumbenciais à Defensoria Pública quando há litígio contra o próprio ente do qual ela faz parte, o Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento, na Súmula nº 421, de que ‘os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença’.

Nesse mesmo sentido, o próprio STJ, no REsp 1.199.715/RS, jul-gado por sua Corte Especial como representativo de controvérsia, deci-diu que ‘também não são devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública quando ela atua contra pessoa jurídica de direito público que integra a mesma Fazenda Pública’.

Os precedentes estão baseados na tese da confusão, ou seja, de que a Defensoria Pública é parte do Estado e com ele se confunde. Toda-via, o caso concreto é completamente diverso porque a Defensoria não pertence à Autarquia Previdenciária, tratando-se de pessoas jurídicas distintas, com personalidade, patrimônio e receita própria, de modo que não há confusão possível entre as Instituições. Por essas razões, guardo cautela quanto à orientação majoritária do STJ.

Afora isso, a edição posterior da Lei Complementar nº 132/2009, publicada em 08.10.2009, enseja revisão do referido entendimento, vis-to que alterou o art. 4º da Lei Complementar nº 80/1994, o qual passou a ter a seguinte redação:

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

[...]

XXI – executar e receber as verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação, inclusive quando devidas por quaisquer entes públicos, des-tinando-as a fundos geridos pela Defensoria Pública e destinados, ex-clusivamente, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus membros e servidores; (g.n.)

Assim, apesar da jurisprudência firmada pelo Superior Tribunal de Justiça, entendo que a alteração legislativa visou ao fortalecimento e autonomia administrativa e financeira da Defensoria Pública, a fim de aparelhá-la e capacitar seus membros e servidores por meio das verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação, razão pela qual lhe são de-

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vidos honorários advocatícios sucumbenciais caso seja vencedora na demanda.

Logo, se a Instituição possui personalidade jurídica própria e pode executar suas verbas sucumbenciais, pressupõe-se que possui o direito de percepção dos honorários por ocasião da atuação judicial vitoriosa. Anote-se que embora o julgamento do REsp 1.199.715/RS tenha sido concluído após a entrada em vigor das alterações na Lei Orgânica da Defensoria Pública, o Superior Tribunal de Justiça não aferiu a nova dis-ciplina legal sobre a verba honorária devida aos defensores públicos.

Ainda que se trate de órgãos da mesma fazenda pública, o que se buscou na Nova Lei Orgânica da Defensoria Pública, na verdade, foi uma realocação orçamentária no sentido de privilegiar a instituição de defesa jurídica das pessoas mais carentes. A ausência de condenação ao pagamento de verba honorária significaria dizer, de certa forma, que a Defensoria Pública nunca executará ou receberá honorários advocatí-cios sucumbenciais porquanto a atuação da Instituição limita-se às cau-sas ajuizadas contra a própria União, entidade autárquica ou empresa pública federal, nos termos do art. 109, inc. I, da Constituição Federal.

Outrossim, tendo em vista que o Defensor Público necessita de registro na Ordem dos Advogados do Brasil para desempenhar seu ofício (LC 132/2009 – art. 26 c/c art. 3º, § 1º da Lei nº 8.906/1994), também se aplica a regra estatutária da titularidade e direito autônomo a cobrança dos honorários decorrentes de condenação.

Por fim, registro que entendimento no sentido contrário ensejaria a declaração de inconstitucionalidade do art. 4º, inciso XXI, da Lei Com-plementar nº 80/1994, alterado pela Lei Complementar nº 132/2009, em vista da expressa previsão da execução e recebimento das verbas sucumbenciais decorrentes da atuação da Defensoria Pública.

Dessa forma, são devidos honorários advocatícios sucumbenciais à Defensoria Pública da União quando esta atua como procuradora da parte vencedora em ação ajuizada contra o Instituto Nacional do Seguro Social, os quais devem ser fixados no percentual de 10% das parcelas vencidas até a data da sentença de procedência ou do acórdão que re-forma a sentença de improcedência, nos termos da Súmula nº 111 do Superior Tribunal de Justiça e Súmula nº 76 deste TRF.

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D) CUsTAs pROCEssUAIs:

O INSS é isento do pagamento de custas processuais quando de-mandado no Foro Federal (art. 4º, I, da Lei nº 9.289/1996) e na Justiça Estadual do Rio Grande do Sul (art. 11 da Lei nº 8.121/1985, com a redação dada pela Lei nº 13.471/2010). Quando demandado perante a Justiça Estadual de Santa Catarina, a autarquia responde pela meta-de do valor (art. 33, parágrafo único, da Lei Complementar Estadual nº 156/1997). Contudo, esta isenção não se aplica quando demandado na Justiça Estadual do Paraná (Súmula nº 20 do TRF 4ª R.).

ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

Confirmado o direito ao benefício e inalterados os requisitos para a concessão, resta mantida a antecipação dos efeitos da tutela concedida pelo juízo de origem.

CONCLUSÃO

Adequados os critérios de aplicação de correção monetária.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, voto por adequar os critérios de aplicação de cor-reção monetária e negar provimento à remessa oficial à apelação do INSS, nos termos da fundamentação.

Desembargador Federal Rogerio Favreto Relator

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 5ª RegiãoGabinete do Desembargador Federal José Maria LucenaApelação Cível nº 533841‑PE 0016475‑98.2011.4.05.8300Apte.: Maria Dolores Nery dos SantosAdv./Proc.: Maria Karla Araujo Portella e outroApdo.: UniãoOrigem: 21ª Vara Federal de PernambucoRelator: Desembargador Federal José Maria Lucena

EMENTA

ADMINISTRATIVO – SERVIDOR – REVISÃO DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – TRANSTORNO BIPOLAR – PROVENTOS PROPORCIONAIS – CABIMENTO – ALEGAÇÃO DE ALIENAÇÃO MENTAL – INOCORRÊNCIA

1. Na hipótese vertente, a autora pretende obter revisão do be-nefício de aposentadoria estatutária por invalidez, substituindo o recebimento proporcional por integral, por ser portadora de transtorno bipolar, o que, no seu entender, é doença grave e in-curável.

2. Entretanto, a legislação não deixa dúvidas de que o servidor apenas fará jus aos proventos integrais nos casos previstos no § 1º do art. 186 da Lei nº 8.112/1991. No caso dos autos, verifica-se, através do processo administrativo de aposentadoria da autora, que a Junta Médica Oficial deste TRF concluiu ser ela portadora de transtorno bipolar (CID 10 F31.8). Além disso, ressaltou que tal transtorno não caracteriza “alienação mental” capaz de auto-rizar o pagamento de proventos integrais de aposentadoria, o que resultou na sua aposentação por invalidez com proventos propor-cionais.

3. Ademais, os pareceres exibidos pela autora às fls. 18 e 19, em-bora recomendem a continuidade do tratamento psiquiátrico e acompanhamento psicológico, atestam que ela não apresenta sin-tomas psicóticos nem indicação para interdição.

4. Outrossim, como bem observou o ilustre sentenciante, embora a autora sustente a possibilidade de se converter a aposentadoria

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em proventos integrais, em face de moléstia incurável equivalente às listadas no art. 186, da Lei nº 8.112/1991, a comprovação de que a doença que lhe acomete se equipara àquelas listadas no referido artigo só se mostra possível mediante perícia médica da qual a autora desistiu, não se desincumbindo, portanto, do ônus da prova. Por outro lado, as provas coligidas aos autos conduzem à conclusão de que a autora não faz jus ao recebimento dos pro-ventos integrais.

5. Em arremate, com relação ao pleito de equiparação dos pro-ventos da autora com a remuneração dos servidores da ativa, tal petitório não foi objeto da causa de pedir, como verificou o ilustre sentenciante, não podendo ser objeto de apreciação por este Juízo.

6. No tocante aos honorários advocatícios, objeto do recurso in-terposto, tal verba deverá ser reduzida ao patamar de R$ 3.000,00 (três mil reais), a teor do art. 20, § 4º, CPC e conforme inúmeros precedentes deste TRF. Apelação parcialmente provida, tão so-mente para reduzir os honorários advocatícios.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indica-das, decide a Primeira Turma do Egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação, nos termos do relatório e voto constantes dos autos, que integram o presente julgado.

Recife, 03 de julho de 2014.

José Maria Lucena, Relator

RELATÓRIO

O Desembargador Federal José Maria Lucena (Relator):

Trata-se de apelação cível de sentença que julgou improcedente a pretensão autoral visando à revisão da aposentadoria estatutária por invalidez com proventos proporcionais, além da paridade com os servi-dores da ativa.

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Entendeu o ilustre sentenciante que, a patologia que acomete a autora (transtorno bipolar), não tendo sido considerada alienação mental pela Junta Médica Oficial, nem estando presente no rol das patologias elencadas no art. 186 da Lei nº 8.112/1990, não enseja a pleiteada revi-são dos proventos proporcionais para integrais.

Nas razões de recurso, a demandante insiste no direito a aposen-tadoria com proventos integrais, já que é portadora de doença incapa-citante e o rol do mencionado art. 186 da Lei nº 8.112/1990 não é ta-xativo. Aduziu, ainda, o direito à paridade com os servidores da ativa. Pugnou pela redução dos honorários advocatícios.

Contrarrazões de fls. 439/455

Relatei.

VOTO

O Desembargador Federal José Maria Lucena (Relator):

Ao propor a presente demanda, a autora pretendeu a revisão do benefício de aposentadoria estatutária por invalidez, assim como o paga-mento dos proventos integrais, em paridade com os servidores da ativa.

Dispõe o art. 40, da Constituição Federal:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e funda-ções, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e soli-dário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

I – por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tem-po de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, molés-tia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

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Desta feita, para a concessão do mencionado benefício é im-prescindível que o segurado seja considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsis-tência. Logo, não sendo cumprido este requisito, não haverá direito ao benefício.

Já quanto ao valor dos proventos, o inciso I, do artigo acima transcrito, não deixa dúvidas de que estes serão proporcionais ao tem-po de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, mo-léstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei.

No que diz respeito aos servidores públicos federais, dispõe o § 1º do art. 186, da Lei nº 8.112/1991:

Art. 186. O servidor será aposentado: (Vide art. 40 da Constituição)

I – por invalidez permanente, sendo os proventos integrais quando de-corrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, e proporcionais nos demais casos;

I – compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos propor-cionais ao tempo de serviço;

III – voluntariamente:

a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e aos 30 (trinta) se mulher, com proventos integrais;

b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções de magistério se professor, e 25 (vinte e cinco) se professora, com proventos integrais;

c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25 (vinte e cinco) se mulher, com proventos proporcionais a esse tempo;

d) aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e aos 60 (sessenta) se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de serviço.

§ 1º Consideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis, a que se refere o inciso I deste artigo, tuberculose ativa, alienação mental, esclero-se múltipla, neoplasia maligna, cegueira posterior ao ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia grave, doença de Parkinson, paralisia irreversível e incapacitante, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estados avançados do mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de Imunodeficiência Adquirida – AIDS, e outras que a lei indicar, com base na medicina especializada.

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Na hipótese vertente, a autora pretende obter revisão do benefício de aposentadoria por invalidez, substituindo o recebimento proporcio-nal por integral, por ser portadora de transtorno bipolar, o que, no seu entender, é doença grave e incurável.

Entretanto, a legislação não deixa dúvidas de que o servidor apenas fará jus aos proventos integrais nos casos previstos no § 1º do art. 186 da Lei nº 8.112/1991. A propósito do tema, trago à colação a ementa de julgados elucidativos:

ADMINISTRATIVO – MILITAR – REFORMA – RETIFICAÇÃO – DOENÇA EQUIPARADA À ALIENAÇÃO MENTAL – INOCORRÊNCIA

1. O apelante, militar inativo da Marinha, postula a retificação do ato de sua reforma, de modo que a patologia incapacitante (psicose afetiva bipolar) seja equiparada à alienação mental, apesar de não ter compro-metido sua capacidade de autodeterminação, ao argumento de que a Portaria nº 1.174/MD/2006 não exige tal requisito.

2. Não viola o direito à ampla defesa o indeferimento da produção de prova testemunhal, por se mostrar inócua para a comprovação dos fatos alegados, em vista da natureza da demanda (art. 130 do CPC).

3. Os critérios enumerados no item 2.2, alínea a, da Portaria nº 1.174/MD/2006 devem concorrer conjuntamente para a caracteriza-ção do estado de alienação mental, sob pena de flagrante contrariedade à inteligência das demais normas da Portaria, das quais se extrai que, inde-pendentemente da enfermidade psiquiátrica, a identificação do quadro envolve o comprometimento grave e persistente da personalidade (itens 1.1, 1.2 e 1.3).

4. Embora incontroverso o diagnóstico, assim como sua elevada fre-quência de repetição fásica e a refratariedade ao tratamento, os laudos juntados atestam a ausência de perda da capacidade de autogerencia-mento e não equiparam a patologia com alienação mental, conclusões que somente poderiam ser afastadas pela prova pericial, dispensada pelo demandante. Logo, não faz jus à reforma com base no art. 108, V, da Lei nº 6.880/1980.

5. Apelação improvida.

(TRF 2ª R., AC 584906, 7ª T.Esp., Rel. Luiz Paulo da Silva Araújo Filho, DJU 11.06.2013)

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – MANDADO DE SEGURANÇA – SERVIDOR FEDERAL INATIVO – TRANSTORNO BIPO-LAR DE HUMOR – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PERMANEN-

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TE COM PROVENTOS PROPORCIONAIS – ALEGAÇÃO DE QUADRO DE ALIENAÇÃO MENTAL – INTEGRALIZAÇÃO DOS PROVENTOS – EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 41/2003 – PRELIMINAR DE ILEGITI-MIDADE PASSIVA E MÉRITO

1. Caso em que impugnado, por mandado de segurança contra o Presi-dente desta Corte, o ato de indeferimento do pedido de revisão de apo-sentadoria por invalidez de servidor federal, pretendendo o impetrante a equiparação do diagnóstico de transtorno afetivo bipolar e transtorno de ansiedade generalizada à alienação mental, para que assim, caracte-rizada doença grave, sejam integralizados os proventos de sua aposen-tadoria por invalidez permanente, nos termos dos arts. 186, § 1º, da Lei nº 8.112/1990 e 40, § 1º, I, da CF (com redação anterior à EC 41/2003), com restituição dos retroativos, e declarada sua isenção para o imposto de renda (art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/1988).

2. A preliminar de ilegitimidade do Presidente da Corte, em relação ao primeiro pedido, relativo à isenção fiscal do imposto de renda, deve ser acolhida, nos termos das informações e parecer ministerial, pois, real-mente, como ex-servidor da Justiça Federal, e não deste Tribunal, a atri-buição administrativa para tratar da questão do enquadramento fiscal dos rendimentos do contribuinte, como fonte pagadora e responsável tributá-ria, é do Juiz Federal Diretor do Foro da Seção Judiciária a que vinculado o servidor, sendo competência da autoridade impetrada apenas a verifi-cação, com informes e subsídios da Diretoria do Foro, e a concessão do ato de aposentadoria, pelo que, nestes estritos termos, é que se admite o exame do mandado de segurança, em face da Presidência da Corte.

3. No mérito, quanto ao segundo pedido, relativo à revisão do ato de inativação, dispõe a Constituição Federal que a aposentadoria por inva-lidez permanente, antes como depois da EC 41/2003, apenas é integral se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei (antes art. 40, I; e agora art. 40, § 1º, I, CF). Coube à Lei nº 8.112/1990 indicar como sendo gra-ves, contagiosas ou incuráveis, para fins de aposentadoria por invalidez com proventos integrais, as seguintes doenças: “tuberculose ativa, alie-nação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira posterior ao ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia grave, doença de Parkinson, paralisia irreversível e incapacitante, espondiloartrose an-quilosante, nefropatia grave, estados avançados do mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de Imunodeficiência Adquirida – AIDS, e outras que a lei indicar, com base na medicina especializada” (art. 186, § 1º, com grifos nossos).

4. Embora tenha havido interdição civil, esta ocorreu não porque o autor fosse portador de “alienação mental”, mas por diagnóstico de transtorno

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bipolar do humor, o que jamais foi negado na instância administrativa federal. O laudo oficial, em que fundada a sentença de interdição, foi evasivo quanto ao quadro de “alienação mental”, explicando porque a sentença limitou-se a reconhecer o “transtorno bipolar do humor”, doen-ça mental ou psiquiátrica, sem o estado especial de “alienação mental”. Ofícios e certidão, expedidos pela Vara Estadual, não podem alterar o conteúdo da sentença proferida na ação de interdição, a qual, ademais, não pode interferir nem desconstituir ato praticado pela Administração Federal, sujeita à jurisdição federal. Cabe, com efeito, de forma absoluta à Justiça Federal, e não à Estadual, julgar legalidade do ato de aposenta-doria de servidor federal, inclusive enquadramento no perfil patológico exigido à percepção de proventos integrais por invalidez permanente.

5. Os relatórios e declarações médicas juntados pelo impetrante, indi-cando quadro de alienação mental, foram produzidos de forma unilate-ral, objetivando impugnar laudos oficiais e administrativos, em que, por duas vezes, perante diferentes juntas médicas, uma da Justiça Federal e outra desta Corte, atestou a incapacidade laboral do impetrante por “transtorno bipolar de humor”, com proventos proporcionais.

6. A Classificação Internacional de Doenças, CID-10, publicada pela Or-ganização Mundial de Saúde (OMS), indica que o código F31.9 refere-se ao quadro de “transtorno afetivo bipolar não especificado”, sem enqua-dramento ou equiparação com o quadro clínico de alienação mental. Os atestados médicos particulares juntados, indicando o CID-10 F31.9 e fazendo correlação com o quadro de alienação mental, não são idôneos para desconstituir os laudos elaborados por juntas médicas oficiais, e menos ainda para provar a existência de direito líquido e certo. A CID-10 não prevê código específico para “alienação mental”, aliás sequer faz referência ao diagnóstico, o que, por certo, ocorre porque, conforme des-tacou avaliação médica no PA 2006.03.0214-CJF3R: “segundo explicita a doutrina, a alienação mental não constitui, de fato, uma doença em seu sentido estrito, mas um estado cuja constatação depende, antes de tudo, de um diagnóstico médico específico e afirmativo, que primeiro reconheça a existência de uma moléstia e depois, principalmente, a sua conformação à hipótese legalmente estabelecida”.

7. A Portaria nº 1.675, de 06 de outubro de 2006, do Ministério do Plane-jamento, Orçamento e Gestão – Recursos Humanos, invocada pelo im-petrante, que “estabelece orientação para os procedimentos operacionais a serem implementados na concessão de benefícios de que trata a Lei nº 8.112/1990 e Lei nº 8.527/1997, que abrange processos de saúde, e dá outras providências”, e institui o “Manual para os Serviços de Saúde dos Servidores Civis Federais”, vigente à época da aposentadoria impugnada (22.01.2007), prescreve que: “Alienação Mental é um estado de disso-

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lução dos processos mentais (psíquicos) de caráter transitório ou perma-nente (onde o volume de alterações mentais pode levar a uma conduta antissocial), representando risco para o portador ou para terceiros, impe-dindo o exercício das atividades laborativas e, em alguns casos, exigindo internação hospitalar até que possa retornar ao seio familiar. Em geral estão incluídos nesta definição os quadros psicóticos (moderados ou graves), como alguns tipos de esquizofrenia, transtornos delirantes e os quadros demenciais com evidente comprometimento da cognição (cons-ciência, memória, orientação, concentração, formação e inteli gência).”

8. Como se observa, a alienação mental não é característica de toda e qualquer doença psiquiátrica, sequer configura patologia específica, mas reflete o estado específico de “alteração completa ou considerável da personalidade, comprometendo gravemente os juízos de valor e de reali-dade, bem como a capacidade de entendimento e de autodeterminação, tornando o indivíduo inválido total e permanentemente para qualquer trabalho” (Portaria nº 797 MPOG, de 22.03.2010).

9. Mesmo considerando os critérios normativos indicados pelo próprio impetrante, verifica-se que o “transtorno afetivo bipolar não especifica-do”, CID-10 F31.9, não é necessariamente caso de alienação mental, considerando que, segundo a Portaria MPOG nº 1675, de 06.10.2006: “São necessariamente casos de Alienação Mental: m) estados de de-mência (senil, pré-senil, arterioesclerótica, luética, coréica, doença de Alzheimer e outras formas bem definidas); n) psicoses esquizofrênicas nos estados crônicos; o) paranoia e a parafrenia nos estados crônicos; p) oligofrenias graves”. Por outro lado, conforme tal ato normativo e ain-da de acordo com a Portaria MPOG nº 797, de 22.03.2010, para que haja alienação mental as psicoses afetivas, mono ou bipolar, devem ser “comprovadamente cronificadas e refratárias ao tratamento”, exibir “ele-vada frequência de repetição fásica”, ou ainda conduzir a “comprometi-mento grave e irreversível de personalidade”.

10. Os documentos juntados pelo impetrante não são suficientes, à luz da orientação indicada, para comprovar a situação médico-legal de “alienação mental”, pois houve apenas referência genérica a tal quadro, o que poderia, quando muito, suscitar dúvida em relação ao diagnóstico, porém sua resolução não se faria, em tese, a favor dos laudos particula-res, em prejuízo à presunção própria dos atos oficiais; nem se faria, em concreto, através da via estreita própria do mandado de segurança, ma-nifestamente imprópria para avaliar quadro médico e definir diagnóstico correto em caso de objetiva divergência de opiniões médicas.

11. Diante do quadro firmado nos autos, conclui-se que a decisão de indeferimento da revisão de aposentadoria do impetrante tem amparo

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em fundamentos jurídicos e elementos técnicos para afastar a cogitação de violação a direito líquido e certo, não se tratando, portanto, de ato abusivo ou praticado com vício de ilegalidade reconhecível no plano do mandado de segurança, cabendo lembrar que tal sentir foi igualmen-te adotado pelo parecer ministerial, que se firmou pela denegação da ordem.

12. Extinção do processo, sem resolução do mérito, em relação ao pri-meiro pedido e, quanto ao segundo, denegação do mandado de segu-rança.

(TRF 3ª R., MS 322906, Órgão Especial, Rel. Carlos Muta, DJU 20.03.2012)

No caso dos autos, verifica-se, através do processo administrati-vo de aposentadoria da autora, que a Junta Médica Oficial deste TRF concluiu ser ela portadora de transtorno bipolar (CID 10 F31.8). Além disso, ressaltou que tal transtorno não caracteriza “alienação mental” capaz de autorizar o pagamento de proventos integrais de aposenta-doria, o que resultou na sua aposentação por invalidez com proventos proporcionais.

Ademais, os pareceres exibidos pela autora às fls. 18 e 19, embora recomendem a continuidade do tratamento psiquiátrico e acompanha-mento psicológico, atestam que ela não apresenta sintomas psicóticos nem indicação para interdição.

Outrossim, como bem observou o ilustre sentenciante, embora a autora sustente a possibilidade de se converter a aposentadoria em pro-ventos integrais, em face de moléstia incurável equivalente às listadas no art. 186, da Lei nº 8.112/1991, a comprovação de que a doença que lhe acomete se equipara àquelas listadas no referido artigo só se mos-tra possível mediante perícia médica da qual a autora desistiu, não se desincumbindo, portanto, do ônus da prova. Por outro lado, as provas coligidas aos autos conduzem à conclusão de que a autora não faz jus ao recebimento dos proventos integrais.

Em arremate, com relação ao pleito de equiparação dos proventos da autora com a remuneração dos servidores da ativa, tal petitório não foi objeto da causa de pedir, como verificou o ilustre sentenciante, não podendo ser objeto de apreciação por este Juízo.

No tocante aos honorários advocatícios, objeto do recurso inter-posto, tal verba deverá ser reduzida ao patamar de R$ 3.000,00 (três

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mil reais), a teor do art. 20, § 4º, CPC e conforme inúmeros precedentes deste TRF.

Posto isso, dou parcial provimento à apelação da autora, tão somente para reduzir os honorários advocatícios ao patamar de R$ 3.000,00 (três mil reais).

Assim voto.

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Parte Geral – Ementário de Jurisprudência

1338 – Ação regressiva – INSS – contribuição ao SAT – acidente do trabalho – ausência de responsabilidade patronal – impossibilidade

“Administrativo e processual civil. Ação regressiva do art. 120 da Lei nº 8.213/1991. Legitimidade ativa do INSS. Indenização. Compensação da contribuição SAT. Impossi-bilidade. Culpabilidade e honorários advocatícios. Revisão. Súmula nº 7/STJ. 1. O INSS tem legitimidade para pleitear o ressarcimento previsto no art. 120 da Lei nº 8.213/1991. 2. É assente nesta Corte Superior que a contribuição ao SAT não exime o empregador da sua responsabilização por culpa em acidente de trabalho, conforme art. 120 da Lei nº 8.213/1991. Nesse sentido: REsp 506.881/SC, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma, DJ 17.11.2003; e EDcl-AgRg-EDcl-REsp 973.379/RS, Relª Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada do TJPE), Sexta Turma, DJe 14.06.2013. 3. O acórdão recorrido entendeu haver negligência do ora agravante, pois contribuiu para o acidente de trabalho, de forma que tal fato para ser infirmado exige o revolvi-mento fático-probatório vedado pela Súmula nº 7/STJ. 4. A revisão da verba honorária implica, como regra, reexame da matéria fático-probatória, vedado em recurso especial (Súmula nº 7/STJ). Excepciona-se apenas a hipótese de valor irrisório ou exorbitante, não se configurando neste caso. 5. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-AG-REsp 294.560 – (2013/0032233-4) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 22.04.2014 – p. 1468)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSP nº 45, nov./dez. 2011, Assunto Especial intitulado “Ação regressiva”.

Comentário Editorial SÍNTESECuida o v. acórdão do cabimento da ação regressiva pelo INSS.O TRT da 2ª Região já se manifestou no seguinte julgado:“AÇÃO REGRESSIVA – ACIDENTE DO TRABALHO – NORMAS DE SEGURANÇA DO TRABALHO – NÃO OBSERVAÇÃO – MEDIDA CABÍVEL – INSS. Ação regressiva. Aci-dente de trabalho. Normas de segurança do trabalho não observadas. Art. 20 da Lei nº 8.213/1991. Prescrição. Art. 206, § 3º, V, do Código Civil. 1. Não se aplica a regra de imprescritibilidade, prevista no art. 37, § 5º, da Lei Maior, quando o caso não se refere a pedido de ressarcimento em face de agentes públicos, em razão de ilícitos por eles praticados. A imprescritibilidade é exceção e não pode ser interpretada de forma ampliativa, para abarcar hipóteses não previstas expressamente pela norma. 2. No caso o INSS ajuizou ação contra empresa, para obter ressarcimento dos valores pagos a título de auxílio-doença e auxílio-acidente, nos termos do art. 120 da Lei nº 8.213/1991. Alega que a pessoa jurídica ré teria desobedecido as normas de segurança do trabalho, o que deu ensejo ao acidente que lesionou o segurado da Previdência Social. Entretanto, não foi observado o prazo prescricional de três anos, previsto no art. 206, § 3º, V, do Código Civil, pois a demanda é de ressarcimento, fundada nos arts. 186 e 927 do CC, e art. 120 da Lei nº 8.213/1991. 3. A sentença resolveu adequadamente a questão, ao assinalar que ‘o prazo de 3 (três) anos estipulado pelo art. 206 do Código Civil refere-se à prescrição do próprio fundo de direito’. 4. Apelação da Transocean Sedco Forex do Brasil Ltda. não conhecida. 5. Apelação do INSS desprovida. Sentença confirmada.” (TRF 2ª R., AC 2009.50.01.004903-3, Rel. Frederico Gueiros, DJe 13.07.2012)O direito de o INSS ingressar com a ação nascerá com o pagamento ao segurado do benefício de auxílio-doença decorrente do acidente de trabalho sofrido por ele.A ação regressiva está prevista nos seguintes dispositivos da Lei nº 8.213/1991:“Art. 120. Nos casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicadas para a proteção individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis.Art. 121. O pagamento, pela Previdência Social, das prestações por acidente do traba-lho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem.”

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O Procurador Federal José Aldízio Pereira Junior explica:“A questão, aliás, vai além da previsão expressamente prevista nesse dispositivo legal, porque, em verdade, a responsabilidade civil, no caso, decorre, precipuamente, da regra que se hospeda no art. 159 do antigo Código Civil, reproduzido nos arts. 186 e 927 do atual Código Civil, que assim estabelecem:‘Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.’‘Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, vio-lar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.’‘Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.’‘Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, abso-luta ou relativamente incapaz.’Sendo assim, pode-se, fácil e imediatamente, concluir: ainda que não existisse expressa previsão na legislação previdenciária a esse respeito, persistiria – em face da regra geral do Código Civil – a responsabilidade da empresa negligente no tocante à obrigação de ressarcir os cofres públicos pelos prejuízos causados à autarquia previdenciária, uma vez que esta é que foi obrigada a suportar o ônus decorrente da concessão de um benefício que poderia ter sido evitado caso o empregador tivesse observado as regras de segu-rança do trabalho – inobservância, portanto, de um dever jurídico a que ele, com essa qualidade, está inafastavelmente vinculado.Vale registrar, a propósito, a pertinência dessa ilação, porquanto as empresas, quando apresentam sua defesa em juízo, em face das ações contra elas propostas, invariavel-mente alegam a inconstitucionalidade do art. 120 da Lei nº 8.213/1991, anteriormente transcrito, com o fito de eximirem-se da responsabilidade reparatória.Argumentam que a inconstitucionalidade surgiria em face da previsão do art. 7º da Constituição Federal, por força do qual foi instituído o Seguro de Acidente de Trabalho a cargo do empregador, o que seria suficiente para cobrir todos os custos decorrentes dos acidentes que envolvam a pessoa do trabalhador.A propósito, confira-se a norma constitucional pertinente:‘Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:[...]XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;[...]XXXVIII – seguro de acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indeni-zação a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;[...].’Como se observa, esse direito é dirigido ao trabalhador, que, por meio desse seguro – terminologia que acaba camuflando a sua verdadeira natureza jurídica, que é a de con-tribuição social –, vê-se coberto pelos eventos de natureza especialmente acidentária.Contudo, observe-se, como já alinhado, que essa é uma proteção outorgada ao traba-lhador, que, por sua vez, é o beneficiário da contribuição paga pelo seu empregador.Como se vê, portanto, o Seguro de Acidentes do Trabalho – SAT não gera, evidentemen-te, qualquer proteção em favor da empresa contribuinte. É, sobretudo, um direito social, constitucionalmente assegurado ao trabalhador. O propósito deste seguro, entre outros, é o de não deixar o trabalhador, nos momentos de infortúnio, desprotegido e dependente da boa vontade do seu empregador, como outrora acontecia.Demais disto, o fato de contribuir com este seguro – como já se disse, pois não se trata exatamente desta espécie jurídica – não garante, pelo menos ao empregador, a cobertu-ra contra qualquer evento danoso ocorrido ao trabalhador, o que equivaleria a dizer que o empregador, ou quem for a ele equiparado, nos termos do art. 195, I, da CF, estaria numa situação de completa irresponsabilidade.

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Noutro giro, o empregado, isto sim, é quem, como vítima, faz jus à proteção previden-ciária, mas não a empresa causadora do acidente, que, se tiver concorrido para a ocor-rência danosa, por meio de culpa, está legalmente obrigada a indenizar os cofres públi-cos pelos custos decorrentes da concessão do benefício previdenciário correspondente.

Diferentemente do que parecem pretender as empresas acionadas, a contribuição para o custeio de acidentes de trabalho não poderia funcionar – afinal, não existe amparo legal para isto – como excludente do nexo causal do evento danoso causado aos cofres públicos.” (Apontamentos sobre a ação regressiva de acidentes de trabalho. Disponível em: online.sintese.com. Acesso em: 30 abr. 2014)

1339 – Acidente de trabalho – consolidação das lesões que o incapacita para o traba-lho que habitualmente exercia – princípio da persuasão racional do Magistrado – auxílio-acidente – possibilidade

“Direito previdenciário. Acidente de trabalho. Consolidação das lesões que o incapacita para o trabalho que habitualmente exercia. Princípio da persuasão racional do Magis-trado. Auxílio-acidente. Possibilidade. Recurso de agravo a que se nega provimento. 1. Consta na inicial que a autora trabalhava como costureira na Empresa Vicunha Têxtil S/A. Como desempenhava atividades repetitivas, ao longo do seu contrato de trabalho, desenvolveu doenças ocupacionais, a saber, sinovite e tenossinovite (CID 10 M 65) e mononeuropatias dos membros superiores (CID 10 G 56). A empresa emitiu CAT em 08.12.2002 para percepção do auxílio-doença por acidente de trabalho (B91), fato este que perdurou até 15.05.2006. A perícia realizada (fls. 47) afirma que a lesão sofrida cau-sou perda ou redução de sua capacidade para o trabalho. Juntou a autora, com a inicial e ao logo da instrução processual, laudos médicos dando conta da existência das molés-tias e da redução da capacidade para o exercício laboral. 2. No que pertine a avaliação da prova pericial, necessário se faz a referência ao princípio da persuasão racional do Magistrado ou princípio do livre convencimento motivado do juiz. Isto significa que o julgador pode embasar suas decisões com base nas provas existentes nos autos, levando em conta sua livre convicção pessoal motivada. 3. A Lei nº 8.213/1991, que trata sobre os benefícios da Previdência Social, com redação dada pela Lei nº 9.528/1997. Sendo assim, demonstrada a redução da capacidade da autora/recorrida para o exercício la-boral que habitualmente exercia, tem-se como razoável a concessão do benefício do auxílio-acidente na forma da Lei nº 8.213/1991, com as alterações implementadas pela Lei nº 9.032/1995, ou seja, no percentual de 50% (cinquenta por cento) sobre o salário--de-contribuição, devendo ser implementado a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença acidentário. 6. À unanimidade de votos, negou-se provimento ao presen-te recurso.” (TJPE – AG-ApRN 0000561-32.2007.8.17.0001 – 3ª CDPúb. – Rel. Des. Luiz Carlos Figueirêdo – DJe 11.07.2014 – p. 851)

1340 – Aposentadoria – ato concessório – publicação com a indicação do valor dos proventos – obrigatoriedade

“Aposentadoria. 2. Obrigação de que o ato concessório seja publicado com a indica-ção do valor dos proventos, conforme determina o art. 10, XV, da Instrução Normativa nº 46/2010 TCE-PR. Inteligência dos princípios constitucionais da publicidade, da mora-lidade e da supremacia do interesse público sobre o privado. 3. Jurisprudência. Registro do ato.” (TCEPR – Processo nº 263652/12 – Acórdão nº 827/14 – 2ª C. – Auditor Thiago Barbosa Cordeiro – 03.04.2014)

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Transcrição Editorial SÍNTESEInstrução Normativa nº 46/2010 TCE-PR:

“Art. 10. Os processos de concessão de aposentadoria serão instruídos com os seguintes documentos:

[...]

XV – Ato de concessão da aposentadoria, constando o nome do servidor, cargo até então ocupado, fundamentação legal da concessão e o valor dos proventos, firmado pelo Chefe do respectivo Poder;

[...].”

1341 – Aposentadoria – averbação de tempo de serviço prestado na condição de aluno aprendiz – requisitos estabelecidos na Súmula nº 96 do TCU – inobservância

“Pessoal. Aposentadoria. Averbação de tempo de serviço prestado na condição de aluno aprendiz. Não atendimento aos requisitos estabelecidos na Súmula TCU nº 96, conforme parâmetros explicitados no Acórdão nº 2.024/2005-TCU-Plenário. Impossibilidade de cômputo do mencionado período para obtenção de aposentadoria estatutária. Ilegalida-de do ato. Negativa de registro. Possibilidade de obtenção de nova aposentadoria, por fundamento diverso do informado no ato examinado. Determinações. Ciência.” (TCU – Acórdão nº 1952/2014 – 1ª C. – Rel. Min. Augusto Sherman – DOU 13.05.2014)

Transcrição Editorial SÍNTESESúmula nº 96 do TCU:

“Conta-se para todos os efeitos, como tempo de serviço público, o período de trabalho prestado, na qualidade de aluno-aprendiz, em Escola Pública Profissional, desde que comprovada a retribuição pecuniária à conta do Orçamento, admitindo-se, como tal, o recebimento de alimentação, fardamento, material escolar e parcela de renda auferida com a execução de encomendas para terceiros.”

1342 – Aposentadoria – cômputo de tempos de serviço de atividade rural – ausência comprovação – ilegalidade

“Pedido de reexame. Aposentadorias ilegais pelo cômputo de tempos de serviço de ati-vidade rural sem comprovação do recolhimento das contribuições e por inclusão nos proventos de uma interessada da parcela judicial referente ao resíduo de 3,17%. Razões recursais suficientes para demonstrar que a incidência do percentual nos proventos se dá apenas sobre os quintos incorporados. Possibilidade jurídica de manutenção da parcela, nos termos do art. 10 da Medida Provisória nº 2.225-45/2001. Conhecimento. Provimen-to parcial.” (TCU – Acórdão nº 1962/2014 – 1ª C. – Min. Relatora Ana Arraes – DOU 13.05.2014)

1343 – Aposentadoria – contagem de tempo celetista para aquisição de licença espe-cial não gozada – cômputo em dobro como tempo de contribuição – possibili-dade

“Aposentadoria. Município de Arapoti. 2. Contagem de tempo celetista para aquisição de licença especial não gozada contada em dobro como tempo de contribuição do servidor. Possibilidade, desde que relativa a período anterior à EC 20/1998. Legalidade e registro, contrariando a instrução técnica e o parecer ministerial.” (TCEPR – Processo nº 560793/11 – Acórdão nº 815/14 – 2ª C. – Rel. Auditor Thiago Barbosa Cordeiro – DETC 06. 05.2014)

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1344 – Aposentadoria – incorporação de URP – pagamento autorizado por decisão judicial – erro na proporção dos proventos – ilegalidade

“Pessoal. Aposentadoria. Incorporação de URP relativa a fevereiro de 1989. Existência de sentença judicial que permite o pagamento da vantagem. Aposentadoria proporcio-nal. Emenda Constitucional nº 20/1998, art. 8º, § 1º. Erro na proporção dos proventos. Continuidade do pagamento amparada por decisão judicial. Ilegalidade e negativa de registro. Determinações. Ciência à interessada. 1. É ilegal a incorporação ad aeternum das parcelas de URP aos proventos do servidor, após a data-base seguinte à que serviu de referência ao julgado, senão quando expressamente determinado no comando da decisão judicial e na forma de vantagem pessoal nominalmente identificada, observado, con-tudo, o procedimento estabelecido no Acórdão nº 2.161/2005-TCU-Plenário (subitens 9.2.1.1 e 9.2.1.2). 2. É ilegal a concessão de aposentadoria proporcional, baseada no art. 8º, § 1º, da Emenda Constitucional nº 20/1998, quando o cálculo dos respectivos bene-fícios não guarda conformidade com o disposto nos incisos I, II e III daquela regra (art. 8º, § 1º).” (TCU – Acórdão nº 1883/2014 – 2ª C. – Rel. Min. José Jorge – DOU 06.05.2014)

Transcrição Editorial SÍNTESEEmenda Constitucional nº 20/1998:“Art. 8º Observado o disposto no art. 4º desta Emenda e ressalvado o direito de opção a aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas, é assegurado o direito à aposentado-ria voluntária com proventos calculados de acordo com o art. 40, § 3º, da Constituição Federal, àquele que tenha ingressado regularmente em cargo efetivo na Administra-ção Pública, direta, autárquica e fundacional, até a data de publicação desta Emenda, quando o servidor, cumulativamente: (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)I – tiver cinqüenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher; (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)II – tiver cinco anos de efetivo exercício no cargo em que se dará a aposentadoria; (Re-vogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)III – contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; e (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)b) um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)§ 1º O servidor de que trata este artigo, desde que atendido o disposto em seus incisos I e II, e observado o disposto no art. 4º desta Emenda, pode aposentar-se com proven-tos proporcionais ao tempo de contribuição, quando atendidas as seguintes condições: (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)I – contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)a) trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)b) um período adicional de contribuição equivalente a quarenta por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior; (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)II – os proventos da aposentadoria proporcional serão equivalentes a setenta por cento do valor máximo que o servidor poderia obter de acordo com o caput, acrescido de cinco por cento por ano de contribuição que supere a soma a que se refere o inciso anterior, até o limite de cem por cento. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)”

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1345 – Aposentadoria – MPT – contribuição previdenciária – ausência do recolhimen-to – efeitos

“Aposentadoria. Ministério Público do Trabalho. Concessão com fundamento no art. 3º da Emenda Constitucional nº 47/2005. Não comprovação do recolhimento das contri-buições previdenciárias relativas ao período do exercício da advocacia, averbado para possibilitar a emissão do ato. Impossibilidade de inativação com fundamento no art. 40, §1º, inciso III, alínea b da CF/1988. Necessidade de retorno à atividade para fins de apo-sentação de acordo com as normas em vigor à época da aposentadoria. Desnecessidade de emissão de novo ato. Ciência aos interessados (TCU – Acórdão nº 1742/2014 – 2ª C. – Min. Rel. Raimundo Carreiro – DOU 29.04.2014)

1346 – Aposentadoria – parcela complementar de caráter temporário – não absorção – concessão de vantagem sem preenchimento dos requisitos legais – ilegalidade

“Aposentadorias. Não absorção de parcela complementar, de caráter temporário, de-corrente do enquadramento previsto na Lei nº 11.091/2005. Concessão da vantagem prevista no art. 192 da Lei nº 8.112/1990 sem preenchimento dos requisitos legais cor-respondentes. Ilegalidade de dois atos. Perda de objeto de um ato, ante o falecimento do interessado, com determinação à Sefip para autuação e apreciação dos atos (inicial e alteração) relativos à pensão civil por ele instituída, com dispensa da manifestação do órgão de controle interno, em razão da identificação de irregularidade em atos já cadas-trados nos sistemas informatizados do TCU, relativa à não absorção da vantagem pessoal nominalmente identificada (VPNI) decorrente de redução remuneratória ocorrida com a aplicação do comando estatuído na Emenda Constitucional nº 70/2012. Legalidade dos demais atos” (TCU – Acórdão nº 1661/2014 – 1ª C. – Rel. Min. Weder de oliveira – DOU 29.04.2014)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 8.112/1990:

“Art. 192. O servidor que contar tempo de serviço para aposentadoria com proven-to integral será aposentado: (Mantido pelo Congresso Nacional) (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.1997)

I – com a remuneração do padrão de classe imediatamente superior àquela em que se encontra posicionado; (Mantido pelo Congresso Nacional) (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.1997)

II – quando ocupante da última classe da carreira, com a remuneração do padrão corres-pondente, acrescida da diferença entre esse e o padrão da classe imediatamente ante-rior. (Mantido pelo Congresso Nacional) (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.1997)”

1347 – Aposentadoria – recebimento por força de tutela antecipada – restituição dos valores pagos – impossibilidade

“Direito previdenciário e processual civil. Agravo legal. Restituição dos valores pagos. Impossibilidade. Caráter alimentar do benefício previdenciário. Princípio da irrepetibili-dade dos alimentos. Desprovimento. 1. Desnecessária a restituição dos valores recebidos a título do benefício de aposentadoria, usufruído por força da tutela antecipada, devido ao seu caráter alimentar, em razão do princípio da irrepetibilidade dos alimentos. Preceden-tes do STJ. 2. Agravo desprovido.” (TRF 3ª R. – Ag-AC 0027918-13.2012.4.03.9999/SP – 10ª T. – Rel. Des. Fed. Baptista Pereira – DJe 28.05.2014 – p. 2176)

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1348 – Aposentadoria especial – normas do Regime Geral de Previdência Social – apli-cabilidade

“Processual civil. Agravo. Art. 557, § 1º, do CPC. Aposentadoria especial de servidor público. Aplicação das normas do Regime Geral de Previdência Social. Legitimidade passiva. INSS. Precedentes do STF. Repercussão geral. Juros de mora. Esclarecimento. Art. 1º-F da Lei nº 9.494/2001, com alterações das leis posteriores. Manual de cálculos da Justiça Federal. Resolução nº 267/2013 do CJF. Agravo do INSS improvido. Agravo da União parcialmente provido. 1. Decisão em consonância com a jurisprudência domi-nante deste eg. Tribunal e do Superior Tribunal de Justiça. Previsão do art. 557, § 1º-A, do CPC respeitada. 2. Objetivo: rediscutir a avaliação probatória. 3. Considerando que a parte agravante não conseguiu afastar os fundamentos da decisão agravada, esta deve ser mantida. 4. Conversão do tempo de serviço prestado em atividade especial para comum, sob o regime celetista, relativo ao período em que esteve vinculado ao Regime Geral de Previdência Social. Período anterior à instituição do regime jurídico único. Direito adquirido. INSS. Legitimidade passiva. Precedentes do STJ e Cortes Regionais. STF: repercussão geral reconhecida. 5. Aposentadoria especial de servidor público. Apli-cação das normas do Regime Geral de Previdência Social (art. 40, § 4º, da Constituição Federal). Precedentes do STF. 6. Juros moratórios devem respeitar a alteração introduzida no art. 1º-F da Lei nº 9.494/2001, com redação alterada por leis posteriores. Manual de Cálculos da Justiça Federal. Resolução nº 267/2013 do CJF. 7. Decisão mantida, com esclarecimento sobre os juros moratórios. Agravo do INSS improvido. Agravo da União parcialmente provido.” (TRF 3ª R. – AG-AC 0800760-74.1998.4.03.6107/SP – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Fontes – DJe 14.03.2014 – p. 324)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSP nº 58, jan./fev. 2014, artigo de Sérgio Henrique Salvador intitulado “Aposen-tadoria Especial: Um Benefício Previdenciário Extinto?”.

Transcrição Editorial SÍNTESEConstituição Federal:“Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)[...]§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de apo-sentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)I – portadores de deficiência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)II – que exerçam atividades de risco; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)III – cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)”

1349 – Aposentadoria por idade – rurícola – documentos novos – efeitos

“Previdenciário. Processual civil. Ação rescisória. Carência da ação. Preliminar confun-de-se com o mérito. Aposentadoria por idade. Trabalhador rural. Erro de fato não carac-

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terizado. Documentos novos inservíveis. Inexistência de violação a literal disposição de lei. Improcedência da ação. Ônus da sucumbência. 1. A preliminar de carência de ação, por tangenciar o mérito, com este deve ser analisada. 2. Erro de fato não caracterizado. Instaurada a controvérsia entre as partes, havendo valoração das provas e sendo o v. julgado correspondente à realidade dos autos, não se verifica o fenômeno jurídico decor-rente das hipóteses contidas nos §§ 1º e 2º do art. 485 do Código de Processo Civil. 3. Os ‘documentos novos’, apresentados para fundamentar o pleito desta ação, consistem em: certidão emitida pelo 2º Tabelionato de Notas e Protesto de Atibaia, atestando que, em 04.08.1997, foi lavrada escritura de venda e compra; cópia de certidão de matrícula do referido imóvel; pedido de venda de mercadorias agrícolas em nome do marido da auto-ra; pedido de talonário de nota fiscal de produtor rural em nome do filho; nota fiscal de produtor em nome do filho; certidão de nascimento do filho; e fotografias. 4. A certidão emitida pelo 2º Tabelionato de Notas e Protesto de Atibaia e a cópia de certidão de ma-trícula, referentes a imóvel localizado em perímetro urbano, não se prestam como início de prova material, pois trazem a qualificação da autora como ‘do lar’ e do marido como ‘fiscal de obras aposentado’. O mesmo diga-se a respeito da certidão de nascimento do filho, na qual consta a profissão do marido como ‘servente’ e da autora como ‘domés-tica’. 5. Os pedidos de venda de mercadorias agrícolas em nome do marido da autora (fls. 95/105) e a nota fiscal de produtor em nome do filho, datados de 2009 e 2010, não atendem ao conceito de documento novo, pois confeccionados após a decisão rescin-denda (20.10.2008). 6. O pedido de talonário de nota fiscal de produtor rural em nome do filho, datado de 2007, não é indicativo, por si só, do efetivo labor campesino, além de não possuir relação de contemporaneidade com a prestação laboral, considerados o implemento da idade em 2000 e o ajuizamento da ação originária em 23.08.2004. 7. As fotografias não retratam a autora no mourejo rural, apresentam o plantio de hortaliças e um homem, não identificado, trabalhando. Vale dizer, à míngua de elementos seguros, as fotografias não podem ser aproveitadas, por não ser possível estabelecer um liame com a atividade que se pretende demonstrar à autora. 8. Não se faz presente a figura de documento novo, prevista na lei processual, a ensejar a rescisão do julgado. Os docu-mentos trazidos pela parte autora ou ressentem-se do requisito da novidade ou em nada alteram o resultado do julgado. 9. Ainda que não expressamente invocado o inciso V do art. 485 do Código de Processo Civil, examino a suposta violação literal à disposição de lei. 10. Alega a parte autora ter o acórdão rescindendo negado vigência aos arts. 26 e 143 da Lei nº 8.213/1991. 11. Entendo não terem sido violados os dispositivos aponta-dos. Com base no princípio do livre convencimento motivado, a prestação jurisdicional foi entregue de acordo com uma das soluções possíveis para a situação fática apresen-tada, à luz da legislação de regência. 12. Matéria preliminar rejeitada. Ação rescisória improcedente. 13. Sem condenação em verbas de sucumbência, por ser a parte autora beneficiária da justiça gratuita.” (TRF 3ª R. – AR 0017758-21.2010.4.03.0000/SP – 3ª S. – Relª Desª Fed. Daldice Santana – DJe 23.04.2014 – p. 38)

1350 – Aposentadoria por idade rural – preenchimento dos requisitos – impossibili-dade

“Previdenciário. Aposentadoria por idade rural. Preenchimento dos requisitos. Não concomitância. Impossibilidade. Requisitos. Atividade rural. Início de prova material. Aplicação do art. 48, caput e § 3º, da LBPS. Possibilidade. Cumprimento imediato do acórdão. 1. É devido o reconhecimento do tempo de serviço rural, em regime de eco-

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nomia familiar, quando comprovado mediante início de prova material corroborado por testemunhas. 2. Não é possível, em caso de aposentadoria por idade rural, dispensar a necessidade de implementação simultânea dos requisitos de idade e trabalho durante o interregno correspondente à carência, uma vez que o benefício, no caso, não tem caráter atuarial, e não se pode criar regime híbrido que comporte a ausência de contribuições e a dispensa do preenchimento concomitante das exigências legais. 3. A descontinuidade prevista no § 2º do art. 48 da LBPS não abarca as situações em que o trabalhador rural para com a atividade rural por muito tempo e depois retorna ao trabalho agrícola, uma vez que dispõe expressamente que a comprovação do labor rural deve-se dar no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício. 4. Exceção à regra seriam os casos dos empregados rurais em que houve o recolhimento de contribuições previdenciárias, hipótese em que o tempo poderia, em tese, ser computado para efeito de implemento do número de meses correspondente à carência da aposentadoria por idade rural prevista no art. 48, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.213/1991. Contudo, não existia previsão, na legislação previdenciária que precedeu à Lei nº 8.212/1991, de contribuição, pelo empregador rural pessoa física, que incidisse sobre a folha de salários dos empregados rurais, obri-gação esta exclusiva das empresas. Hipótese em que o tempo de atividade rural como empregado de pessoa física não pode ser computado para efeito de carência para a con-cessão de aposentadoria por idade rural. 5. Implementado o requisito etário (65 anos de idade para homem), é possível o deferimento de aposentadoria por idade com a soma de tempo de serviço urbano e rural, na forma do art. 48, §§ 3º e 4º, da Lei nº 8.213/1991, incluído pela Lei nº 11.718/2008. 6. Determinado o cumprimento imediato do acórdão no tocante à implantação do benefício, a ser efetivada em 45 dias, nos termos do art. 461 do CPC.” (TRF 4ª R. – AC 0021379-04.2012.404.9999/RS – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Celso Kipper – DJe 21.05.2014 – p. 450)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSP nº 57, nov./dez. 2013, ementa nº 1071 do TRF 5ª R.

1351 – Aposentadoria por invalidez – contribuinte individual – perda e recuperação da qualidade de segurado – contribuição previdenciária – recolhimento retroativo – incapacidade preexistente – impossibilidade

Previdenciário. Aposentadoria urbana por invalidez. Contribuinte individual. Perda e recuperação. Qualidade de segurado. Recolhimento retroativo de 1/3 das contribuições. Incapacidade preexistente. Impossibilidade de concessão do benefício. 1. A sentença proferida está sujeita à remessa oficial, eis que de valor incerto a condenação imposta ao INSS. 2. No caso concreto: CNIS/INFBEN/Plenus (fls. 140/142): o autor possuía vín-culo celetista até junho/1995; em nov./2005 votou a contribuir ao RGPS, recolhendo 4 parcelas retroativas aos meses de 07/2005 até 10/2005, como contribuinte individual. Concessão de auxílio-doença: de 2005 até 2007 (fls. 141). Comunicado de decisão ad-ministrativa (fl. 35): indeferimento do pedido de prorrogação do auxílio-doença, pois ‘não foi constatada, em exame realizado pela perícia do INSS, a incapacidade para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual’. Laudo pericial (fls. 118/120): constatou a incapacidade total e permanente da parte em decorrência de lesão cerebral a par-tir de out./2005. 3. A parte autora deixou de contribuir para a Previdência Social em 1995, permaneceu por mais de 10 anos sem vínculo comprovado com a previdência, e voltou a contribuir em novembro de 2005, quando já se encontrava incapacitada em razão do acidente ocorrido em out./2005. 4. Dispõe o art. 24, parágrafo único, da Lei

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nº 8.213/1991 que, ‘havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições ante-riores a essa data só serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação à Previdência Social, com, no mínimo, 1/3 (um terço) do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência definida para o benefício a ser requerido’. 5. O termo inicial da carência, após a perda da qualida-de de segurado, é o do recolhimento da primeira contribuição sem atraso (art. 27, II, do PBPS) para os segurados obrigados pessoalmente ao recolhimento, como é o caso do contribuinte individual. 6. O recolhimento retroativo será computado apenas como tempo de contribuição, não o sendo para efeito de carência nem para fins de manuten-ção da qualidade de segurado quando já tenha sido ultrapassado o ‘período de graça’ (LBPS, art. 27, II, c/c art. 15). 7. Incapacidade da parte autora ocorreu quando ainda não havia efetuado os 4 (quatro) recolhimentos sem atraso necessários para que pudesse recuperar a sua condição de segurada, nos moldes do parágrafo único do art. 24 da Lei nº 8.213/1991, sendo, portanto, impossível o deferimento do benefício. 8. Na hipótese de ter sido concedida tutela antecipada em 1º grau, a S1/STJ, em acórdão proferido no REsp 1384418/SC, submetido ao regime do art. 543-C do CPC, firmou entendimento de que, ante o caráter precário da antecipação de tutela, de conhecimento inescusável (art. 3º da LINDB), mostra-se desproporcional o Poder Judiciário desautorizar a repo-sição do principal ao Erário quando reconhecida a improcedência do pedido em 1º ou 2º graus de jurisdição. 9. Apelação do INSS e remessa oficial providas.” (TRF 1ª R. – AC 0009593-87.2010.4.01.9199/MG – Rel. Juiz Fed. Conv. Carlos D’Avila Teixeira – DJe 03.07.2014 – p. 125)

1352 – Aposentadoria por invalidez – incapacidade para o trabalho – qualidade de segurado – manutenção – benefício devido

“Apelação cível. Previdenciário. Aposentadoria por invalidez. Incapacidade para o tra-balho. Qualidade de segurado. Requisitos presentes. Juros. Correção monetária. Hono-rários advocatícios. 1. É possível a concessão de tutela antecipada, ainda que de ofício, em ações de natureza previdenciária, tendo em vista a natureza alimentar do benefício previdenciário e por se encontrarem presentes os requisitos específicos do art. 273 do CPC. Precedentes. 2. Comprovada a incapacidade da parte autora para o exercício de sua atividade habitual, bem como demonstrados a qualidade de segurado e o cumpri-mento da carência, a concessão do pleiteado auxílio-doença é medida que se impõe. 3. A comprovação da qualidade de trabalhador rural é requisito para a concessão da aposentadoria por invalidez, fazendo-se prova através de princípio razoável de prova material e prova testemunhal extreme de dúvidas, inclusive acerca da carência de 12 (doze) meses de trabalho rural, necessária à concessão do benefício. 4. O laudo pericial constante dos autos concluiu que a parte requerente é totalmente incapaz para exercer o trabalho rural, de onde se conclui que é insuscetível de reabilitação pelo INSS, haja vista sua baixa escolaridade, idade e progressão da doença, não podendo exercer ativi-dades que lhe garantam o sustento. A moléstia diagnosticada não permite o exercício da atividade de rurícola, sendo improvável que vá ocorrer readaptação ou nova inserção em mercado de trabalho, a permitir sua sobrevivência. 5. Por se tratar de rurícola. Sem formação educacional que permita o exercício de outra atividade que exija menos vigor físico. É imperativa a incapacidade da parte autora, pessoa de idade avançada que sofre de doença em progressão. 6. O termo inicial para fruição do benefício é: a) a partir do dia imediato ao da cessação do auxílio-doença (art. 43, caput); b) a contar do décimo

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sexto dia do afastamento da atividade ou a partir da data da entrada do requerimento, se entre o afastamento e a entrada do requerimento decorrerem mais de trinta dias (art. 43, § 1º, a), para o segurado empregado); c) a contar da data do início da incapacidade ou da data da entrada do requerimento, se entre essas datas decorrerem mais de trinta dias ao segurado empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual, especial e facultativo, (art. 43, §, 1º, b); d) a contar do ajuizamento da ação, quando não houver requerimento administrativo e não for possível mensurar no laudo a data do início da incapacidade. 7. A orientação jurisprudencial da 1ª Turma é no sentido de que o termo inicial do benefício é a data do requerimento administrativo. Na falta deste, deve ser fixado na data do ajuizamento da ação, salvo comprovação, por perícia médica, da data da invalidez. Não havendo recurso da parte autora quanto à fixação de dies a quo de forma diferenciada, deve-se manter a data prevista no comando decisório, dada a impossibilidade de reformatius in pejus. 8. O INSS deverá rever todos os benefícios con-cedidos, ainda que por via judicial, para avaliar a persistência, a atenuação ou o agrava-mento da incapacidade para o trabalho alegada como causa para a sua concessão. A Lei nº 8.213/1991 é expressa em determinar (art. 101) que o segurado se submeta aos pro-cedimentos periódicos a cargo da Previdência Social – exame médico, tratamento e processo de reabilitação profissional, sob pena de suspensão do benefício. 9. A correção monetária e os juros moratórios incidentes sobre as parcelas atrasadas, nas ações conde-natórias, tanto em sede previdenciária quanto na seara administrativa, sendo o devedor a Fazenda Pública, devem observar as orientações do Manual de Cálculos da Justiça Federal ora em vigor. 10. Em se tratando de causas ajuizadas perante a Justiça Federal, o INSS está isento de custas por força do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289/1996, abrangen-do, inclusive, as despesas com oficial de justiça. A isenção se repete nos Estados onde houver lei estadual assim prescrevendo. 11. Em atendimento ao disposto no art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil, os honorários advocatícios devem ser fixados no percentual de 10% (dez por cento) incidentes apenas sobre as parcelas vencidas até a prolação da sentença, nos termos da Súmula nº 111 do eg. STJ. Em caso de acórdão que reforme a sentença de improcedência, devem eles ser fixados no percentual de 10% (dez por cen-to) incidentes apenas sobre as parcelas vencidas até o proferimento do acórdão, nos ter-mos da Súmula nº 76 do TRF4. Em todo caso, serão sempre limitados ao valor constante na sentença, sob pena de reformatio in pejus. 12. Apelação da parte autora a que se nega provimento. 13. Remessa oficial a que se dá parcial provimento para, mantendo a sen-tença que concedeu a aposentadoria rural por invalidez, no valor de um salário-mínimo, fixar o pagamento dos juros e correção monetária conforme fundamentação.” (TRF 1ª R. – AC 2009.01.99.001353-4/MG – Rel. Des. Fed. Ney Bello – DJe 16.05.2014 – p. 133)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSP nº 59, mar./abr. 2014, ementa nº 1218 do TRF 4ª R.

1353 – Aposentadoria por invalidez – prova pericial insuficiente – benefício indevido

“Processual civil. Aposentadoria por invalidez. Requerimento de nova prova pericial. Indeferimento. Cerceamento de defesa. Revisão do entendimento do Tribunal de origem. Reexame da matéria fático-probatória. Impossibilidade. Incidência da Súmula nº 7/STJ. 1. Hipótese em que o Tribunal a quo assentou que não houve cerceamento de defesa, pois as provas apresentadas foram suficientes para formar a convicção do juiz. 2. A pretensão de revisão do entendimento proferido na origem implica, no caso, reexame da matéria fático-probatória dos autos, o que é vedado em recurso especial, conforme

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Súmula nº 7/STJ. 3. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-AG-REsp 468.748 – (2014/0019107-2) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 22.04.2014 – p. 1587)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSP nº 59, mar./abr. 2014, ementa nº 1219 do TRF 4ª R.

1354 – Aposentadoria por invalidez – revisão – concessão por transformação de auxí-lio-doença – ausência de período contributivo entre os benefícios – cálculo da RMI – efeitos

“Previdenciário. Revisão de benefício. Aposentadoria por invalidez concedida por trans-formação de auxílio-doença. Ausência de período contributivo entre os benefícios. Cál-culo da renda mensal inicial nos termos do art. 36, § 7º, do Decreto nº 3.048/1999. Recurso desprovido. 1. A aplicação do art. 29, § 5º, da Lei nº 8.213/1991 ocorre somen-te quando os benefícios por incapacidade são permeados por períodos contributivos. 2. Se a aposentadoria por invalidez é decorrente da transformação do auxílio-doença, o cálculo da renda mensal inicial deverá observar o disposto no art. 36, § 7º, do Decre-to nº 3.048/1999, cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo eg. STF, sob o regime da repercussão geral (STF, RE 583.834, Rel. Min. Ayres Britto). 3. Recurso desprovido, corrigindo-se de ofício a r. sentença para excluir a condenação da parte autora nos ônus sucumbenciais.” (TRF 3ª R. – AC 0000109-96.2012.4.03.6103/SP – 10ª T. – Rel. Des. Fed. Baptista Pereira – DJe 28.05.2014 – p. 2167)

1355 – Aposentadoria por tempo de contribuição – relação de emprego entre pai e filho – inexistência – contribuição previdenciária – recolhimento obrigatório

“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de contribuição. Cômputo de tempo de tra-balho urbano. Vínculo empregatício entre pai e filho. Inexistência. Sócio de fato. Neces-sidade de recolhimento das contribuições previdenciárias. 1. No caso concreto: período cuja averbação se busca: 01.01.1954 – 31.12.1969; labor prestado pelo autor em firma individual do pai (padaria); documentos apresentados (assinados pelo postulante): notas de recibos de mercadorias compradas pela empresa; guias de aquisição de produtos no atacado; guias de recolhimento de contribuições sociais para o IAPI; guia de recolhimen-to de FGTS dos funcionários; cartas endereçadas ao pai, dispondo sobre a administração da padaria; recebimento de Notificação Fiscal em nome da empresa; prova testemunhal: postulante não recebia remuneração fixa, embora também desempenhasse atividades também desenvolvidas por alguns funcionários. 2. A sentença proferida está sujeita à remessa oficial, eis que de valor incerto a condenação imposta ao INSS. 3. O Decreto nº 35.448/1954, assim como a Lei nº 3.807/1960, vigentes à época do período cujo reconhecimento se pleiteia no caso, afirmavam que os titulares de firma individual, os administradores e os sócios eram segurados obrigatórios da Previdência Social. 4. Se o autor atuava como verdadeiro ‘sócio de fato’ na firma individual de seu pai, embora não possa ele ser considerado empregado, é indubitável o labor desempenhado. Deve o postulante, todavia, realizar o aporte das respectivas contribuições previdenciárias para o reconhecimento do período. O cumprimento dessa exigência não detém natureza tri-butária, mas indenizatória do sistema previdenciário para fruição dos benefícios por ele mantidos, não havendo que se falar em decadência ou prescrição (v.g., AgRg-REsp 1129734/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, T6/STJ, DJe 24.10.2011). 5. À luz dos arts. 52 e 53 da Lei de Planos de Benefícios da Previdência Social, para concessão do benefício

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de aposentadoria por tempo de serviço, com o cômputo de períodos até 15 dez. 1998, exige-se o preenchimento de dois requisitos: carência (art. 144) e tempo de serviço (25 anos, para mulher, e 30 anos, para homem, na forma proporcional; atingindo-se a forma integral com 30 anos, para mulher, e 35 anos, para homem). 6. Somados os 21 anos, 10 meses e 2 dias de tempo de serviço reconhecidos na via administrativa ao período discutido na demanda, verifica-se que o autor preenche os requisitos para a aposenta-doria integral (mais de 35 anos de serviço), condicionada, contudo, ao recolhimento das contribuições previdenciárias relativas a esse último período. 7. Apelações do au-tor, do INSS e remessa oficial parcialmente providas.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 0028067-22.2001.4.01.3800 – Rel. Juiz Fed. Carlos D’Ávila Teixeira – DJe 13.06.2014 – p. 221)

1356 – Aposentadoria por tempo de serviço – médico veterinário – atividade especial – dados do CNIS – reconhecimento

“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de serviço/contribuição. Requisitos. CNIS. Atividade especial. Habitualidade e permanência. Agentes nocivos biológicos. Categoria profissional. Médico veterinário. Equipamentos de proteção individual. Laudo. Contri-buinte individual. Aposentadoria especial. Fonte de custeio. Marco inicial do benefício. Cumprimento imediato do acórdão. 1. Os dados constantes do Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS são hábeis a comprovar tempo de serviço ou contribuição, conforme disposto no art. 19 do Decreto nº 3.048/1999, quando o INSS não aponta dúvida fundada acerca dos registros ali lançados. 2. O reconhecimento da especialidade e o enquadramento da atividade exercida sob condições nocivas são disciplinados pela lei em vigor à época em que efetivamente exercidos, passando a integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador. 3. Considerando que o § 5º do art. 57 da Lei nº 8.213/1991 não foi revogado pela Lei nº 9.711/1998 e que, por disposição constitucional (art. 15 da Emenda Constitucional nº 20, de 1512-1998), permanecem em vigor os arts. 57 e 58 da Lei de Benefícios até que a Lei Complementar a que se refere o art. 201, § 1º, da Constituição Federal, seja publicada, é possível a conversão de tempo de serviço especial em comum inclusive após 28.05.1998. Precedentes do STJ. 4. Até 28.04.1995, é admissível o reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou por sujeição a agentes nocivos, aceitando-se qualquer meio de prova (exceto para ru-ído e calor); a partir de 29.04.1995, não mais é possível o enquadramento por categoria profissional, devendo existir comprovação da sujeição a agentes nocivos por qualquer meio de prova até 05.03.1997 e, a partir de então, por meio de formulário embasado em laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. 5. Para a caracterização da especiali-dade, não se reclama exposição às condições insalubres durante todos os momentos da prática laboral, sendo suficiente que o trabalhador, em cada dia de labor, esteja expos-to a agentes nocivos em período razoável da jornada, salvo exceções (periculosidade, por exemplo). 6. A habitualidade e permanência hábeis aos fins visados pela norma – que é protetiva – devem ser analisadas à luz do serviço cometido ao trabalhador, cujo desempenho, não descontínuo ou eventual, exponha sua saúde à prejudicialidade das condições físicas, químicas, biológicas ou associadas que degradam o meio ambiente do trabalho. 7. A exposição a agentes nocivos biológicos, decorrentes do contato com ani-mais doentes e com produtos de animais infectados, enseja o reconhecimento do tempo de serviço como especial. 8. A atividade de médico veterinário exercida até 28.04.1995 deve ser reconhecida como especial em decorrência do enquadramento por categoria profissional. 9. Os equipamentos de proteção individual não são suficientes, por si só,

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para descaracterizar a especialidade da atividade desempenhada pelo segurado, deven-do cada caso ser apreciado em suas particularidades. 10. O laudo pericial acostado aos autos, ainda que não contemporâneo ao exercício das atividades, é suficiente para a comprovação da especialidade da atividade. 11. O tempo de serviço sujeito a condições nocivas à saúde, prestado pela parte autora na condição de contribuinte individual, deve ser reconhecido como especial, tendo em vista que: (a) a Lei de Benefícios da Previdên-cia Social, ao instituir, nos arts. 57 e 58, a aposentadoria especial e a conversão de tempo especial em comum, não excepcionou o contribuinte individual; (b) o Regulamento da Previdência Social, ao não possibilitar o reconhecimento, como especial, do tempo de serviço prestado pelo segurado contribuinte individual que não seja cooperado, filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, estabeleceu diferença não consignada em lei para o exercício de direito de segurados que se encontram em situações idênticas, razão pela qual extrapola os limites da lei e deve ser considerado nulo nesse tocante; (c) para a concessão de aposentadoria especial, prevista nos arts. 57 e 58 da Lei de Benefícios, existe específica indicação legislativa de fonte de custeio (§ 6º do mesmo art. 57 supra-citado, combinado com o art. 22, inciso II, da Lei nº 8.212/1991); (d) sequer haveria, no caso, necessidade de específica indicação legislativa da fonte de custeio, uma vez que se trata de benefício previdenciário previsto pela própria Constituição Federal (art. 201, § 1º, c/c art. 15 da EC 20/1998), hipótese em que sua concessão independe de identifi-cação da fonte de custeio, consoante precedentes do STF. 12. Comprovado o tempo de serviço/contribuição suficiente e implementada a carência mínima, é devida a aposen-tadoria por tempo de contribuição integral, computado o tempo de serviço até a DER, a contar da data do requerimento administrativo, nos termos do art. 54 c/c art. 49, II, da Lei nº 8.213/1991. 13. Quanto ao marco inicial da inativação, os efeitos financeiros devem, em regra, retroagir à data de entrada do requerimento do benefício (ressalvada eventual prescrição quinquenal), independentemente de, à época, ter havido requerimento es-pecífico nesse sentido ou de ter sido aportada documentação comprobatória suficiente ao reconhecimento da atividade especial, tendo em vista o caráter de direito social da Previdência Social, o dever constitucional, por parte da autarquia previdenciária, de tor-nar efetivas as prestações previdenciárias aos beneficiários, o disposto no art. 54, com-binado com o art. 49, ambos da Lei nº 8.213/1991, e a obrigação do INSS de conceder aos segurados o melhor benefício a que têm direito, ainda que, para tanto, tenha que orientar, sugerir ou solicitar os documentos necessários. 14. Determinado o cumprimen-to imediato do acórdão no tocante à implantação do benefício, a ser efetivada em 45 dias, nos termos do art. 461 do CPC.” (TRF 4ª R. – AC 0004419-70.2012.404.9999/RS – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Celso Kipper – DJe 03.07.2014 – p. 261)

1357 – Aposentadoria por tempo de serviço – rurícola – labor anterior aos 14 anos de idade – reconhecimento

“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de serviço/contribuição. Requisitos. Atividade rural. Início de prova material. Labor rural anterior aos 14 anos de idade. Aproveitamen-to do tempo de serviço exercido pelo segurado no interregno que mediou o protocolo do benefício e o ajuizamento da ação. Cumprimento imediato do acórdão. 1. É devido o reconhecimento do tempo de serviço rural, em regime de economia familiar, quando comprovado mediante início de prova material corroborado por testemunhas. 2. Com-provado o exercício da atividade rural, em regime de economia familiar, no período anterior aos 14 anos, é de ser reconhecido para fins previdenciários o tempo de serviço

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respectivo. Precedentes do STJ. 3. No caso concreto, somando-se o tempo incontroverso até a data do requerimento administrativo aos períodos de labor rural ora reconhecidos, a parte autora não implementa tempo suficiente à concessão da aposentadoria preten-dida, razão pela qual o benefício não seria devido. 4. No entanto, é possível considerar determinado tempo de serviço ou contribuição, ou ainda outro fato ocorrido entre o requerimento administrativo do benefício e o ajuizamento da ação, para fins de conces-são de benefício previdenciário ou assistencial, ainda que ausente expresso pedido na petição inicial. 5. Considerando que as ações previdenciárias veiculam pretensões de direito social fundamental (Constituição Federal, arts. 6º, 194, 201 e 203), impõe-se dar às normas infraconstitucionais, inclusive às de caráter processual, interpretação condu-cente à efetivação e concretização daqueles direitos, respeitados os demais princípios constitucionais. 6. A autarquia previdenciária, mesmo em juízo, não se desveste de sua condição de Estado (na forma descentralizada), devendo efetivar o dever de assegurar os direitos relativos à saúde, à Previdência e à assistência social (CF, art. 194) em toda oportunidade propícia para tal, inclusive no curso de processo judicial. 7. Jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça e deste Tribunal no sentido de que nas ações previdenciárias compreende-se o pedido como sendo o do melhor benefício a que o se-gurado ou beneficiário tem direito, devendo-se, para tanto, considerar a implementação de seus requisitos até o momento do ajuizamento da ação sempre que não for possível a sua concessão com base nos elementos fáticos ocorridos até o requerimento adminis-trativo, sem que isso implique violação aos princípios da adstrição ou da estabilização da lide, razão pela qual não é extra ou ultra petita a decisão que a) concede aposenta-doria por invalidez quando pleiteado auxílio-doença; b) defere auxílio-doença quando requerida aposentadoria por invalidez; c) concede auxílio-acidente quando o pleito for-mulado era o de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez; d) defere aposentado-ria por invalidez quando pleiteado auxílio-acidente; e) concede renda mensal vitalícia quando formulado pedido de aposentadoria por invalidez; f) concede auxílio-doença quando requerida renda mensal; g) defere benefício assistencial em vez de renda mensal; h) concede benefício assistencial quando pleiteado aposentadoria por invalidez ou auxílio- -doença; i) concede aposentadoria por idade rural quando pleiteado benefício assisten-cial; j) concede aposentadoria por idade, com base em tempo de trabalho urbano, quan-do pleiteada aposentadoria por idade rural; k) concede aposentadoria por idade quando requerida aposentadoria por tempo de serviço/contribuição; l) concede aposentadoria por tempo de serviço/contribuição quando requerida aposentadoria por idade urbana ou aposentadoria especial. 8. Inexistência, igualmente, de violação aos princípios do contraditório e ampla defesa, na medida em que o INSS, por ocasião da contestação, pode (e deve) manifestar-se sobre a pretensão deduzida em juízo, bem como as modi-ficações de fato e de direito até então ocorridas, especialmente quando a comprovação do cumprimento dos requisitos do benefício independe do aporte de nova documenta-ção, porquanto verificável por dados obtidos no sistema cadastral eletrônico (CNIS) da própria autarquia previdenciária. 9. Entendimento que (a) não contraria os arts. 49 e 54 da Lei de Benefícios – que se aplicam aos casos em que, já por ocasião do requerimento administrativo, estiverem presentes os pressupostos para a concessão do benefício previ-denciário –, (b) tampouco macula a legalidade do ato administrativo que, corretamente, indeferiu o benefício: embora legal o indeferimento à época do requerimento, ilegal a manutenção daquela decisão, ante a alteração dos pressupostos fáticos e a nova pro-vocação, por parte do segurado, de um posicionamento da Autarquia, consistente no

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ajuizamento de ação previdenciária. 10. Irrelevância, em tais casos, da ausência de novo requerimento administrativo, visto que o ajuizamento da ação evidencia a reiteração do desejo de obtenção do benefício por parte do segurado ou beneficiário, e o benefício previdenciário ou assistencial, em tais casos, será concedido a partir do ajuizamento da ação, não mais do requerimento, evitando-se, assim, enriquecimento sem causa por parte doa autor da ação. 11. Na hipótese, computado o tempo de contribuição até a data do ajuizamento da demanda, ocasião em que restaram preenchidos os requisitos legais (tempo de contribuição e carência), é devida a aposentadoria por tempo de contribuição integral, a contar da data do ajuizamento da ação (26.08.2010). 12. Determinado o cum-primento imediato do acórdão no tocante à implantação do benefício, a ser efetivada em 45 dias, nos termos do art. 461 do CPC.” (TRF 4ª R. – AC 0007105-35.2012.404.9999/SC – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Celso Kipper – DJe 09.07.2014 – p. 372)

1358 – Auxílio-doença – qualidade de segurado e incapacidade laborativa – comprova-ção – benefício devido

“Agravo de instrumento. Previdenciário. Auxílio-doença acidentário. Qualidade de se-gurado e incapacidade laborativa devidamente comprovados. Quadro depressivo grave. Assalto no ambiente do trabalho. Ausência de elementos a infirmar as conclusões da decisão agravada. Agravo de instrumento desprovido à unanimidade. Cuida-se de agra-vo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto pelo INSS – Instituto Nacional do Seguro Social em face de decisão interlocutória (fls. 78/81) proferida pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara de Acidentes do Trabalho da Comarca do Recife que, nos autos da Ação Ordinária nº 0176740-39.2012.8.17.0001, deferiu o pedido de tute-la antecipada para determinar que a autarquia previdenciária implante, de imediato, o auxílio-doença acidentário 91 requerido pelo autor. O agravante alega (fls. 02/06), em apertada síntese, ausência de demonstração dos requisitos necessários à concessão de tutela antecipada (verossimilhança das alegações e prova inequívoca). Ademais, defende que os exames e relatórios médicos trazidos pelo autor estão todos ilegíveis e não há único sequer que ateste que o ora agravado ainda está, no momento atual, incapacitado para o labor. Em que pese os argumentos trazidos pelo agravante, o fato é que não há motivos a ensejar a modificação das conclusões exaradas pelo Magistrado de primei-ro grau, pois restam presentes todos os requisitos necessários à concessão do auxílio- doença acidentário. Isso porque, neste juízo preliminar, entendo restar bastante verossí-mil o preenchimento de todos os requisitos necessários à concessão do auxílio-doença previdenciário, quais sejam: a) a qualidade de segurado do Regime Geral de Previdência Social; b) o cumprimento do período de carência, conforme o caso; e c) a ocorrência de incapacidade temporária para o trabalho que supere o prazo de 15 (quinze) dias conse-cutivos. A qualidade de segurado restou demonstrada, pois na linha do que prescreve o art. 12, inciso I, alínea a, da Lei nº 8.212/1991, são segurados obrigatórios do RGPS to-dos aqueles que prestam serviço de natureza urbana ou rural a empresas, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, sendo essa a hipótese do agra-vado, pois sofreu dois assaltos no ambiente de trabalho ocorridos respectivamente em 13.07.2011 e 15.06.2012 se deram na pendência de relação de trabalho, como se infere de cópia da CTPS acostada à fls. 23. Quanto ao cumprimento do período de carência, o art. 26, inciso II, da Lei nº 8.213/1991 prescreve que o auxílio-doença, nos casos de acidentes de qualquer natureza (inclusive acidentes de trabalho), independe de qualquer período de contribuição, sendo este, portanto, dispensável no presente caso. Já em rela-

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ção à ausência de verossimilhança no tocante à existência de incapacidade geradora de auxílio-doença, a tese igualmente não merece prosperar, pois o laudo médico acostado aos autos à fls. 63, datado de 03.12.2012, afirma que o autor necessita de afastamento de suas atividades laborais pois é portador de quadro depressivo grave. Vale ressaltar que o agravado faz uso contínuo dos seguintes psicofármacos: rivotril, amitriptilina, clo-nazepam e sertralina. O fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação se encontra no fato de que o auxílio-doença e demais benefícios acidentários possuem ca-ráter alimentar, além de que, caso o agravado, mesmo sem condições, veja-se forçado a voltar a desempenhar suas atividades laborais, por não ter outro meio de conseguir o seu sustento, a doença pode progredir e afetar irreversivelmente a sua saúde, o que causaria um dano irreparável. Nesse ponto é indispensável ressaltar que o autor se encontra afas-tado do seu estabelecimento de trabalho desde 26.06.2012. Acresço ainda ao presente caso, que o nexo causal encontra-se comprovado mormente quando se leva em consi-deração que o próprio agravante já concedeu ao agravado o benefício auxílio-doença acidentário, espécie 91 (fl. 31). Portanto, entendo que a prudência deverá prevalecer como uma das virtudes cardeais, procurando o julgador não causar prejuízo às partes, devendo sempre deixar predominar a observância dos princípios constitucionais. Agravo de instrumento desprovido à unanimidade.” (TJPE – AI 0011376-81.2013.8.17.0000 – 3ª CDPúb. – Rel. Des. Antenor Cardoso Soares Junior – DJe 11.06.2014 – p. 225)

1359 – Auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez – antecipação de tutela – veros-similhança demonstrada – liminar concedida

“Agravo de instrumento. Previdenciário. Auxílio-doença/aposentadoria por invalidez. Antecipação de tutela. Verossimilhança demonstrada. Decisão reformada. Ante a pre-sença de prova inequívoca, hábil a produzir um juízo de verossimilhança das alegações, e fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, é de se conceder medida antecipatória.” (TRF 4ª R. – AI 0000722-94.2014.404.0000/RS – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Rogerio Favreto – DJe 22.04.2014 – p. 195)

1360 – Benefício previdenciário – decadência – observação

“Previdenciário. Decadência para revisão do ato de concessão de benefício previden-ciário. Art. 103 da Lei nº 8.213/1991. Orientação do Supremo Tribunal Federal. RE 626.489. 1. A despeito da posição pessoal do Relator, considerando o que decidido pelo Supremo Tribunal Federal, sob regime de repercussão geral, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 626.489/SE (Plenário, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, 16.10.2013), e a orientação do Superior Tribunal de Justiça externada no julgamento dos REsps 1.309.529 e 1.326.114 (regime de recurso repetitivo), e ainda nos REsps 1.406.361, 1.406.855 e 1.392.882, são aplicáveis à decadência prevista no art. 103 da Lei nº 8.213/1991 as seguintes diretrizes: a) em relação aos benefícios deferidos antes da vigência da MP 1.523-9/1997 (depois convertida na Lei nº 9.528/1997), o prazo decadencial tem início no dia 01.08.1997; b) nos casos dos benefícios concedidos posteriormente à vigência da Medida Provisória nº 1.523-9/1997, o prazo decadencial tem início no dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação; c) concedido o benefício, o prazo decadencial alcança toda e qualquer pretensão, tenha sido discutida ou não no processo administrativo; d) não há decadência quando o pedido administrativo tiver sido indeferido pela Autarquia Previdenciária, incidindo apenas a prescrição quinquenal sobre as prestações vencidas. 2. A pretensão de reconhecimento de direito adquirido

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ao melhor benefício (RE 630.501) implica discussão sobre a graduação econômica de benefício já deferido, pois o segurado entende que a RMI deveria ser mais elevada, pre-servada a DER, porque em DIB hipotética anterior as condições para a concessão seriam mais favoráveis. Está, assim, sujeita a prazo decadencial. 3. Decadência reconhecida no caso concreto, pois o benefício foi deferido antes da vigência da MP 1.523-9/1997 e a ação proposta mais de dez anos contados a partir de 01.08.1997.” (TRF 4ª R. – AC 0001859-87.2014.404.9999/SC – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Ricardo Teixeira do Valle – DJe 22.04.2014 – p. 168)

1361 – Benefício previdenciário – revisão – RGPS – alteração no teto – efeitos

“Direito constitucional e previdenciário. Revisão de benefício. Alteração no teto dos benefícios do regime geral de previdência. Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003. Reflexos nos benefícios concedidos antes da alteração. Direito intertemporal. Ato jurídico perfeito. Juros e correção monetária. Honorários advocatícios. Majoração. 1. No caso, trata-se de sentença ilíquida, posto que desconhecido o conteúdo econômi-co do pleito, inaplicável o § 2º do art. 475 do Código de Processo Civil. Igualmente não incide o § 3º desse artigo, tendo em vista que a sentença não se fundamentou em juris-prudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do Tribunal Superior competente. 2. No julgamento do RE 564.354/SE, o Pleno do egrégio Supremo Tribunal Federal (Relª Min. Carmem Lúcia, Julgamento 08.09.2010), decidiu pela aplicação dos tetos previstos nas Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003 aos benefícios concedidos em datas anteriores. 3. Não ofende o ato jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional nº 20/1998 e do art. 5º da Emen-da Constitucional nº 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados ao teto do regime geral de previdência, estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que pas-sem a observar o novo teto constitucional (STF, RE 564.354-RG/SE). 4. Considerando que no caso em apreço, de acordo com os documentos acostados aos autos, notadamente a Carta de Concessão/Memória de Cálculo, o salário-de-contribuição da parte autora foi limitado ao teto, está correta a sentença que lhe assegurou o direito à revisão da renda mensal inicial de seu benefício, com a aplicação dos tetos estipulados pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003, respeitada a prescrição quinquenal. 5. Juros e correção monetária nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal. 6. Os ho-norários advocatícios devem ser fixados em 10% (dez por cento) sobre as prestações vencidas até a prolação da sentença, nos termos do enunciado da Súmula nº 111 do STJ e da jurisprudência consolidada desta Corte. 7. Apelação do INSS e remessa oficial, tida por interposta, parcialmente providas para fixar o pagamento dos juros e da correção monetária conforme orientações do Manual de Cálculos da Justiça Federal. 8. Recurso adesivo da parte autora provido para que a verba honorária seja fixada na forma acima expendida.” (TRF 1ª R. – AC 0056044-03.2012.4.01.3800/MG – Rel. Des. Fed. Néviton Guedes – DJe 18.07.2014 – p. 195)

1362 – Benefício previdenciário – revisão – vinculação ao salário-de-contribuição – ausência

“Previdenciário. Processo civil. Agravo. Art. 557, § 1º, do CPC. Art. 285-A do CPC. Apli-cabilidade. Revisão de benefício. Ausência de vinculação aos salários-de-contribuição. I – Em se tratando de matéria exclusivamente de direito, pode a lide ser julgada anteci-padamente, inclusive nos termos do art. 285-A do Código de Processo Civil, não sendo

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necessária a transcrição da sentença proferida no processo análogo, cabendo somente a reprodução do teor da mesma. II – Encontra-se desprovida de amparo legal a pretensão da parte autora em ter seu benefício previdenciário reajustado pelos mesmos índices de reajustamento do valor teto do salário-de-contribuição e de suas classes, conforme portarias expedidas pelo Ministério da Previdência Social. III – Embora o art. 20 da Lei nº 8.212/1991, em seu parágrafo primeiro, estabeleça que os valores do salário-de-con-tribuição serão reajustados na mesma época e com os mesmos índices que os do rea-justamento dos benefícios de prestação continuada, não há que se dar interpretação de reciprocidade, uma vez que os benefícios em manutenção têm seus reajustes regulados pelo art. 201, § 4º, da Constituição da República. IV – Agravo da parte autora improvido (art. 557, § 1º, do CPC).” (TRF 3ª R. – AG-AC 0007080-17.2013.4.03.6183/SP – 10ª T. – Rel. Des. Fed. Sergio Nascimento – DJe 18.06.2014 – p. 1139)

1363 – Contribuição previdenciária – débito – Câmara Municipal – responsabilidade tributária – Município

“Processual civil. Agravo regimental no recurso especial. Tributário. Contribuição previ-denciária. Débito da Câmara Municipal. Responsabilidade do Município. Precedentes. 1. A orientação das Turmas que integram a 1ª Seção desta Corte pacificou-se no sentido de que ‘a Câmara Municipal não possui personalidade jurídica, mas apenas personalida-de judiciária, a qual lhe autoriza apenas atuar em juízo para defender os seus interesses estritamente institucionais, ou seja, aqueles relacionados ao funcionamento, autonomia e independência do órgão, não se enquadrando, nesse rol, o interesse patrimonial do ente municipal’ (REsp 1.429.322/AL, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 28.02.2014). Consequentemente, não pode ser demandada em razão do descumprimen-to de obrigação tributária, relativa à contribuição previdenciária, pois o sujeito passivo da contribuição incidente sobre a remuneração de membros da Câmara Municipal é o Mu-nicípio (que figura na condição de pessoa jurídica de direito público). Desse modo, cabe ao Município responder pelo inadimplemento de contribuição previdenciária devida por seus órgãos. No mesmo sentido: AgRg-REsp 1.303.395/PE, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 28.06.2012; REsp 859.562/PB, 1ª T., Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 07.05.2007. 2. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-REsp 1.448.598 – Proc. 2014/0084645-1/PE – 2ª T. – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – DJe 11.06.2014)

1364 – Contribuição previdenciária – fornecimento de moradia gratuita – Convenção Coletiva de Trabalho – incidência – possibilidade

“Processual civil e tributário. Fornecimento gratuito de moradia celebrado em Conven-ção Coletiva de Trabalho. Possibilidade de incidência de contribuição previdenciária. Aferição da natureza salarial da utilidade-habitação. Interpretação das cláusulas do instrumento coletivo e de reexame fático-probatório dos autos. Aplicação das Súmulas nºs 5 e 7 do STJ. 1. Cinge-se a controvérsia à possibilidade de incidência de contribui-ção previdenciária sobre parcelas relacionadas ao fornecimento de utilidade-habitação. 2. O Tribunal de origem expressamente consignou que as habitações fornecidas pelo empregador aos empregados eram gratuitas e destituídas de natureza salarial, conforme previsto nas Convenções Coletivas de Trabalho juntadas aos autos, hipótese que se en-quadraria no Enunciado da Súmula nº 167/TFR. Insuscetível de revisão o referido enten-dimento, por demandar interpretação de cláusulas de convenção coletiva e reexame do

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conjunto fático-probatório, atraindo a aplicação das Súmulas nºs 5 e 7 do STJ. Agravo regimental improvido.” (STJ – AgRg-REsp 1.452.741 – (2014/0106041-4) – 2ª T. – Rel. Min. Humberto Martins – DJe 01.07.2014 – p. 761)

1365 – Desaposentação – renúncia ao benefício de aposentadoria por tempo de contri-buição – concessão de outro mais vantajoso – possibilidade

“Previdenciário. Desaposentação. Renúncia ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição objetivando a concessão de outro mais vantajoso. Possibilidade. De-volução de valores. Desnecessidade. Termo inicial do novo benefício. I – É pacífico o entendimento esposado por nossos Tribunais no sentido de que o direito ao benefício de aposentadoria possui nítida natureza patrimonial e, por conseguinte, pode ser objeto de renúncia. II – Caracterizada a disponibilidade do direito, a aceitação da outra pessoa envolvida na relação jurídica (no caso o INSS) é despicienda e apenas a existência de ve-dação legal poderia impedir aquele de exercer seu direito de gozar ou não do benefício. III – Somente a Lei pode criar, modificar ou restringir direitos, pois assim estatui o inciso II do art. 5º da Constituição da República. O art. 181-B do Dec. nº 3.048/1999, acrescen-tado pelo Decreto nº 3.265/1999, que previu a irrenunciabilidade e a irreversibilidade das aposentadorias por idade, tempo de contribuição/serviço e especial, como norma regulamentadora que é, acabou por extrapolar os limites a que está sujeita. IV – Esta 10ª Turma consolidou entendimento no sentido de que o ato de renunciar ao benefício não envolve a obrigação de devolução de parcelas, pois, enquanto perdurou a aposentado-ria, o segurado fez jus aos proventos, sendo a verba alimentar indiscutivelmente devida. V – A desaposentação não representa desequilíbrio atuarial ou financeiro ao sistema protetivo. Com efeito, as contribuições posteriores à aquisição do primeiro benefício são atuarialmente imprevistas e não foram levadas em conta quando da verificação dos requisitos de elegibilidade para a concessão da primeira aposentadoria. Continuando a contribuir para a Previdência Social após a jubilação, não subsiste vedação atuarial ou fi-nanceira à revisão do valor do benefício. VI – O novo benefício é devido desde a data do requerimento administrativo, quando o INSS tomou ciência da pretensão da parte autora. VII – Apelação da parte autora provida.” (TRF 3ª R. – AC 0010518-51.2013.4.03.6183/SP – 10ª T. – Rel. Des. Fed. Sergio Nascimento – DJe 11.06.2014 – p. 509)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSP nº 57, nov./dez. 2013, artigo de Dirce Namie Kosugi intitulado “Desaposen-tação e Reaposentação – Aspectos Atuais Gerais”.

1366 – Fraude – benefício previdenciário – suspensão – cabimento

“Previdenciário. Apelação do autor. Suspensão do benefício ocorrida em virtude de fraude. Ausência da comprovação de legalidade dos vínculos por parte do segurado. Recurso não provido. I – Inicialmente, cabe frisar que é legalmente prevista a revisão da renda mensal inicial pela autarquia, procedimento, portanto, efetivado com permissivo no art. 103-A da Lei nº 8.213/1991. Também com fundamento no art. 154 do Decre-to nº 3.048/1999, é importante ressaltar que o ressarcimento de valores irregularmente percebidos, em razão de percepção de benefício irregular, é procedimento previsto na legislação previdenciária. Desta forma, verificado que o ato de concessão foi praticado em desconformidade com legislação que rege a matéria, nasce para a Administração Pú-blica o poder de invalidá-lo, tendo em vista o dever de obediência à legalidade a que se encontra transcrita, mesmo que o segurado não tenha dado causa ao erro. II – Na senten-ça impugnada restou consignado que, ‘no que concerne ao vínculo de trabalho ocorrido

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de 01.01.1967 a 30.06.1980), mantido com a empresa Todima Ind. e Com. de Móveis Ltda., além de o citado vínculo não constar no CNIS (fl. 91), pesquisas levadas a efeito pela Auditoria do INSS, junto a responsável pela empresa Todima e ao Ministério do Tra-balho e do Emprego (fls. 201 e 242), assim como, diligência determinada por este Juízo, encaminhada à Caixa Econômica Federal (fls. 463 e 468), apuraram a falta de veracidade do contrato de trabalho em questão, mesmo por que, durante parte de seu suposto perío-do de vigência (01.01.1967 a 30.06.1980) o autor, comprovadamente, manteve relação de emprego com outras empresas (de 07.02.1974 a 22.07.1977 e de 12.12.1977 a 1979 – fl. 91 e 468). E que, ‘embora o autor tenha comprovado ser, de fato, titular do número de inscrição de contribuinte individual 1.100.251.665-4 (fls. 127/129 e 304/436), o que fora questionado pela autarquia ré, não é verdade que ele tenha vertido contribuições por mais de 17 anos, entre 1980 e 1998, como considerado na concessão do benefício, uma vez que o sistema registra a recepção de apenas 127 recolhimentos, equivalentes a menos de 11 anos de contribuição. E, ainda, ‘como ele não mais contribuiu para a Previ-dência Social a partir de 1992, sobressai também a falsidade dos salários-de-contribuição considerados no período básico de cálculo (março de 1995 a fevereiro de 1998 – fls. 36 e 89). Mesmo admitidos válidos os demais os vínculos, e aqueles referentes à contribuição individual, o autor acumula apenas o equivalente a cerca de 20 anos, insuficiente para a respectiva concessão’. Desta forma, o Magistrado concluiu que Autarquia Previdenciária agiu com correção ao suspender o benefício em foco, após apurar a falta de fidedignida-de dos elementos considerados no processo concessório. III – Quanto às alegações con-tidas no recurso em análise, não obstante a afirmação de que houve anotações de opção pelo FGTS em sua Carteira de Trabalho – CTPS, assim como, depósitos realizados em conta bancária vinculada ao Banco Nacional Brasileiro S/A, não há uma comprovação efetiva de tais depósitos, restando prejudicada qualquer possibilidade de reforma da sen-tença apelada. IV – Conforme já explanado por esta 1ª Turma Especializada em outros julgados que possuíram como objeto de análise o conteúdo probatório, é necessário reiterar que cabe ao autor a juntada de provas que levem à verossimilhança de sua ale-gação, ônus que lhe cabe conforme dispõe o art. 333, I, do CPC. Da mesma forma, cabe ao réu a demonstração de que inexistem documentos que justifiquem a procedência do pedido do autor (inciso II do mesmo dispositivo processual). Acrescento, ainda, que o recorrente não pode alegar impropriedades indefinidamente, sem demonstrar a prova de seus argumentos, sob o risco do recurso tornar-se uma peça processual meramente procrastinatória. E sobre a questão probatória, esta colenda Turma tem acompanhado o entendimento majoritário do eg. STJ, assim como deste Tribunal, a exemplo dos jul-gados em destaque (STJ, EREsp 236589/ES, Corte Especial, DJ 23.06.2003, p. 231, TRF 2ª Região, Quinta Turma, AC 216906, Processo: 199902010530918/RJ, Rel. Juiz Gui-lherme Calmon Nogueira da Gama, Data Publicação 27.10.2004, TRF 2ª Região, Quin-ta Turma, AC 301923, Processo: 200202010382980/RJ, Rel. Juiz Raldênio Bonifácio Costa, Data Publicação 11.09.2003). Portanto, tendo em vista a ausência de compro-vação dos vínculos concernentes à Empresa Tótima, a sentença deverá ser mantida. V – Apelação não provida.” (TRF 2ª R. – AC 2011.51.01.800970-7 – 1ª T.Esp. – Rel. Des. Abel Gomes – DJe 02.07.2014 – p. 298)

1367 – IR – benefício previdenciário – pagamento em atraso – incidência

“Tributário. Agravo regimental no recurso especial. Imposto de Renda. Juros de mora. Benefício previdenciário pago em atraso. Incidência. Precedente do STJ. Agravo não

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provido. 1. A 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça dirimiu a controvérsia existente e firmou compreensão segundo a qual, em regra, incide imposto de renda sobre juros de mora, de modo que é devido o tributo se esse acréscimo decorre de pagamento em atraso de concessão ou revisão de benefício previdenciário (REsp 1.089.720/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 1ª Seção, DJe 28.11.2012). 2. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-REsp 1.451.288 – Proc. 2014/0101951-2/RS – 1ª T. – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – DJe 11.06.2014)

1368 – IR – isenção – pensão de ex-combatente – portador de incapacidade ou invali-dez – cabimento

“Tributário. Ação ordinária. Isenção de Imposto de Renda. Pensão de ex-combatente. Art. 53 do ADCT. Art. 6º, XII, da Lei nº 7.713/1988. Isenção restrita ao ex-combatente portador de incapacidade ou invalidez. Precedentes do STJ. 1. A controvérsia posta em juízo cinge-se à análise acerca da incidência ou não do Imposto de Renda sobre os valores pagos a título de pensão especial de ex-combatente das forças expedicionárias brasileiras, cuja reforma não resultou de incapacidade ou invalidez física. 2. O inciso XII do art. 6º da Lei nº 7.713/1988 outorga isenção de Imposto de Renda sobre pensões concedidas para ex-combatentes e seus familiares em situações específicas, em que se encontre o beneficiário incapacitado ou haja falecido, por conta de moléstia ou aciden-te relacionado com sua participação em operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial. 3. O princípio da igualdade é inaplicável para fins de extensão dos efeitos da norma de isenção a todos os ex-combatentes indiscriminadamente, na medida em que a isonomia exige que seja deferido tratamento equânime apenas àqueles que se encontrem em situação de igualdade, o que não ocorre na hipótese em exame. A conclusão exata da letra da lei é no sentido de conceder a todos os ex-combatentes a percepção de pen-são especial, mas apenas conceder àquele ex-combatente portador de invalidez – física ou psicológica – o benefício fiscal da isenção tributária. Jurisprudência do STJ. 4. No caso dos autos, a autora comprovou ser detentora de pensão especial do ex-combatente Dogmar Affonso de Camargo, falecido em 29.04.1993, com direito ao recebimento do benefício a partir de 06.06.1995. Pensão mensal de 2 ten. 5. Contudo, não há compro-vação acerca da condição de incapacidade ou invalidez do ex-integrante da FEB, insti-tuidor da pensão em exame. Logo a autora não faz jus à isenção pleiteada. 6. Apelação desprovida.” (TRF 2ª R. – AC 0001362-64.2011.4.02.5107 – 3 T. – Rel. Juiz Fed. Conv. Luiz Norton Baptista de Mattos – J. 03.06.2014 – DEJF 12.06.2014 – p. 234)

1369 – IR – servidor aposentado – isenção – moléstia grave – prova pericial – dispen-sabilidade

“Tributário. Processual civil. Ação ordinária. Imposto de Renda. Servidor aposentado. Isenção. Moléstia grave. Prova pericial oficial dispensável. Livre convencimento. O art. 30 da Lei nº 9.250/1995 impõe como condição para concessão da isenção do Im-posto de Renda a comprovação da moléstia grave por meio de laudo pericial oficial, contudo, tal dispositivo não vincula o Magistrado em sua livre apreciação das provas dos autos. O laudo pericial oficial não é indispensável se o juiz, com base em outras provas dos autos, entender estar devidamente comprovada a existência de moléstia grave capaz de assegurar a isenção de Imposto de Renda, nos termos do art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/1988. Agravo regimental improvido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 514.195 – (2014/0110196-9) – 2ª T. – Rel. Min. Humberto Martins – DJe 27.06.2014 – p. 190)

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1370 – Pensão por morte – erro de fato – ocorrência – efeitos

“Ação rescisória. Previdenciário. Pensão por morte. Erro de fato. Ocorrência. Rescisó-ria procedente. Qualidade de segurado. Dependência econômica. Demanda subjacente procedente. 1. Para que a ação rescisória seja acolhida pela hipótese do inciso IX do art. 485, conforme contempla o seu § 1º, a decisão rescindenda deve haver admitido fato inexistente, ou considerado inexistente aquele que efetivamente tenha ocorrido. Acrescentem-se a isso os termos do § 2º, tendo por indispensável a ausência de pro-nunciamento judicial ou de controvérsia sobre o fato. Em uma ou noutra situação é necessário que o erro, por si só, seja capaz de garantir o resultado que favoreça a parte contrária. 2. Não obstante a expressa manifestação a respeito da qualidade de segurado do de cujus, resta claro que a r. decisão ora impugnada partira do pressuposto de que se tratava de um contribuinte individual, para quem a lei permite a extensão do período de graça pelo dobro do tempo estabelecido no inciso VI do art. 15 da Lei de Benefícios. Incorreu, dessa forma, em erro de fato, o que dá ensejo a desconstituição do julgado. 3. O extinto segurado recolheu mais de 120 contribuições previdenciárias para o INSS. Dessa forma é de ser considerada a ampliação do período de graça disciplinada no § 1º do art. 15 da Lei de Benefícios. 4. Dispensável a demonstração da dependência econômica da esposa do segurado falecido, pois, segundo o art. 16, § 4º, da Lei de Benefícios, ela é presumida em relação ao cônjuge. 5. Pedidos da ação rescisória e da demanda subjacente julgados procedentes. Prejudicado o agravo regimental.” (TRF 3ª R. – AR 0009939-96.2011.4.03.0000/SP – 3ª S. – Rel. Des. Fed. Nelson Bernardes – DJe 23.04.2014 – p. 43)

1371 – Pensão por morte – neta incapaz – declaração de vontade existente – relevân-cia – benefício devido

“Previdenciário. Pensão por morte neta incapaz que antes da morte do avô já fora con-templada com declaração de vontade deste, a fim de ser beneficiária de sua pensão ad-ministração que concedeu o benefício desde 2006, e unilateralmente cassou em 2012. Descabimento. Possível a prevalência dos arts. 152 e 153, da Lei Complementar Esta-dual nº 180/1978 sobre as regras do Regime Geral da Previdência Social, pois em ne-nhum momento contraria ou restringe direitos previsto na Lei Geral (Lei nº 8.213/1990). Prevalência da autonomia do ente estadual. Procedência da ação mantida. Recurso da SPPREV não provido.” (TJSP – Ap 0005871-95.2013.8.26.0053 – São Paulo – 9ª CDPúb. – Rel. Rebouças de Carvalho – DJe 28.05.2014 – p. 1447)

1372 – Pensão por morte – restituição de valores recebidos indevidamente – efeitos

“Previdenciário. Agravo legal. Pensão por morte. Restituição de valores recebidos in-devidamente. Decisão fundamentada. I – O benefício de pensão por morte encontra-se disciplinado pelos arts. 74 a 79 da Lei nº 8.213/1991 e é devido ao conjunto de depen-dentes do segurado que falecer ou tiver morte presumida declarada. A Lei nº 9.528, de 10.12.1997, introduziu alterações, estabelecendo que o deferimento contar-se-á do óbito, quando o benefício for requerido, até trinta dias desse; do pedido, quando reque-rido, após esse prazo e da decisão judicial, no caso de morte presumida. II – O art. 16 da Lei nº 8.213/1991 relaciona os dependentes do segurado, indicando no inciso I: o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho, de qualquer condição menor de 21 anos ou inválido; no II – os pais; e no III – o irmão, não emancipado de qualquer con-

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dição, menor de 21 anos ou inválido. Na redação original, revogada pela Lei nº 9.032, de 28.04.1995, ainda contemplava a pessoa designada, menor de 21 anos ou maior de 60 anos ou inválida. Frisa no § 4º que a ‘dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e, das demais, deve ser comprovada’. III – É vedada a conces-são da pensão aos dependentes do segurado, que perder essa qualidade, nos termos do art. 15 da Lei nº 8.213/1991, salvo se preenchidos todos os requisitos para a concessão da aposentadoria. IV – Constam dos autos: certidão de casamento da autora com o fale-cido, em 19.05.1990; certidão de óbito do marido da autora, ocorrido em 10.04.2007 (morte de causa desconhecida; deu entrada sem vida no hospital), quando contava com 38 anos de idade; o falecido foi qualificado como autônomo, casado com a autora; Carta de concessão da pensão nº 144.041.378-6 à autora, com início de vigência a partir de 10.04.2007; extratos do sistema CNIS da Previdência Social, verificando-se que o fale-cido possuiu vínculos empregatícios em períodos descontínuos, compreendidos entre 01.10.1986 e 25.10.1999, e duas contribuições individuais, uma relativa à competência de 02.1987 e a outra relativa à competência de 03.2007, sendo que esta última foi verti-da em 17.04.2007; resumo de documentos para cálculo de contribuição em nome do de cujus, mencionando que ele possuía tempo de contribuição comum de 11 (onze) anos, 1 (um) mês e 14 (quatorze) dias; relatório de auditagem do benefício concedido à autora, emitido em 25.09.2007 pela Seção de Reconhecimento Inicial de Direitos da Previdên-cia Social, que concluiu que a pensão foi concedida indevidamente, visto que o faleci-do possuía dois NITS: o primeiro, nº 1.120.941.919-4, conta com atividade cadastrada de pedreiro autônomo, com um único recolhimento, referente a 02.1987, e o outro, nº 1.228.153.505-5, sem atividade cadastrada para contribuinte individual, havendo um último recolhimento, como empregado, referente a 10.1999, e um referente a 03.2007, como contribuinte individual, efetuado após a morte; assim, considerando que o último recolhimento válido refere-se a 10.1999, o falecido havia perdido a qualidade de segu-rado na época do óbito, não podendo os dependentes quitar contribuições após a morte apenas para fins de manutenção da qualidade de segurado; comunicado remetido pelo INSS à autora (há uma informação manuscrita indicando ciência em 28.09.2007, mas não consta assinatura da requerente), informando que foi constada irregularidade na concessão da pensão e indicando os motivos para tanto e informando que o benefício será suspendo, contanto a autora com prazo para oferecimento de defesa; impresso da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), indicando que o falecido possuía certificado de registro nacional de transportador rodoviário de carga, categoria TAC-MG, com validade 21.03.2009; declaração prestada em nome de ‘Construosa Ltda.’, em pa-pel simples, informando que o falecido prestou serviços de transportes de 03.04.2001 a 30.01.2007; declaração firmada em nome de ‘Helio Material de Construção’, em papel simples, informando que o falecido prestou serviços de transportes de 05.04.2002 a 25.02.2007; Carta comunicado da Autarquia, com data 20.11.2007, informando a au-tora acerca da cessação do benefício, isto que a defesa e os documentos apresentados foram considerados insuficientes, tendo a autora prazo para interposição de recurso; guia da Previdência Social em nome da autora, código de pagamento 9008, no valor de R$ 4.777,20. V – A requerente comprova ser esposa do de cujus, através da certidão de casamento, sendo, nesse caso, dispensável a prova da dependência econômica, que é presumida. VI – O recolhimento de uma contribuição previdenciária post mortem, relati-va à competência de 03.2007, em 17.04.2007. VII – Recolhimentos posteriores ao óbito conferem ao falecido a qualidade de segurado. VIII – A contribuição anterior refere-se à

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competência 10.1999 (vínculo empregatício cessado em 25.10.1999). Não há notícia de que, após tal data, o falecido tenha mantido vínculo empregatício, recolhido contribui-ção previdenciária válida ou recebido de benefício previdenciário. Assim, ele não mais ostentava a qualidade de segurado por ocasião de seu óbito, em 10.04.2007. IX – Os documentos constantes dos autos constituem indício da atividade do falecido na época do óbito (motorista autônomo). O desempenho de tal labor vincula o de cujus ao Regime Geral da Previdência Social, nos termos do art. 11, IV, da Lei nº 8.213/1991, na redação vigente por ocasião do falecimento. X – O de cujus, na data da sua morte, contava com 38 (trinta e oito) anos de idade e há, nos autos, comprovação de que esteve vinculado ao Regime Geral de Previdência Social por cerca de 11 (onze) anos, condições que não lhe confeririam o direito à aposentadoria. XI – Não comprovado o preenchimento dos requisitos legais para concessão de pensão por morte, previstos na Lei nº 8.213/1991, o pedido de restabelecimento da pensão não merece ser reconhecido. XII – O pedido de cancelamento da cobrança de valores referente ao período durante o qual a autora recebeu o benefício deve ser acolhido. XIII – O col. STJ firmou entendimento de que, demonstrado o recebimento de boa-fé pelo segurado ou beneficiário, não são passí-veis de devolução os valores recebidos a título de benefício previdenciário, posto que se destinam à sua própria sobrevivência, circunstância que o reveste de nítido caráter alimentar. XIV – Decisão monocrática com fundamento no art. 557, caput e § 1º-A, do CPC, que confere poderes ao Relator para decidir recurso manifestamente improcedente, prejudicado, deserto, intempestivo ou contrário à jurisprudência dominante do respec-tivo Tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior, sem submetê-lo ao órgão colegiado, não importa em infringência ao CPC ou aos princípios do direito. XV – É pacífico o entendimento nesta eg. Corte, segundo o qual não cabe alterar deci-sões proferidas pelo relator, desde que bem fundamentadas e quando não se verificar qualquer ilegalidade ou abuso de poder que possa gerar dano irreparável ou de difícil reparação à parte. XVI – Não merece reparos a decisão recorrida, que deve ser mantida, porque calcada em precedentes desta eg. Corte e do col. Superior Tribunal de Justiça. XVII – Agravo improvido.” (TRF 3ª R. – AG-AC 0013650-29.2008.4.03.6301/SP – 8ª T. – Relª Desª Fed. Tania Marangoni – DJe 27.06.2014 – p. 893)

1373 – Pensão por morte estatutária – ausência de prévio requerimento administrativo – concessão – carência de ação – configuração

“Administrativo. Processual civil. Pensão por morte estatutária. Concessão. Impossibili-dade. Carência de ação. Ausência de prévio requerimento administrativo. Extinção sem resolução do mérito. Art. 267, I, c/c art. 295, III, do CPC. Sentença reformada. 1. Discute--se nos presentes autos a concessão da pensão por morte estatutária à viúva de ex-com-batente, que deixou de ser paga ao próprio instituidor do benefício, quando em vida, em face de opção pela pensão especial de ex-combatente, porquanto se entendia, à época, pela impossibilidade de cumulação entre os referidos benefícios. 2. A sentença recorrida deferiu o pedido de antecipação da tutela e julgou procedente o pedido, para condenar a União a conceder à autora a pensão por morte e a pagar-lhe as parcelas vencidas nos últimos 5 (cinco) anos anteriores ao ajuizamento da ação e as devidas até a efetiva im-plantação, corrigida monetariamente e acrescida de juros moratórios, nos termos da Lei nº 11.960/2009, bem como no pagamento de honorários advocatícios fixados em 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação. 3. A União alega, preliminarmente, a ausência dos requisitos autorizadores à concessão da antecipação da tutela, e, no mérito,

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a falta de interesse processual da recorrida, em face da ausência de requerimento admi-nistrativo, pugnando pela extinção do processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, VI, do CPC, com inversão do ônus da sucumbência, ou, caso reste vencida, pela exclusão da condenação em honorários advocatícios ou redução do percentual fixado pelo Juízo a quo. 4. A Constituição Federal assegura o princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional. Entretanto, em se tratando de benefício de previdenciário e/ou esta-tutário, é necessário que a parte interessada, inicialmente, requeira administrativamente a sua concessão, para que ao órgão competente possa verificar se estão ou não reunidos os requisitos legais. 5. Somente com a negativa é que nasce o direito de ação. A lide é caracterizada por uma pretensão resistida. Se não houve qualquer oposição por parte da Administração Pública, inexiste contenda e, consequentemente, direito de ação. 6. O Poder Judiciário não pode substituir-se ao administrador, analisando os pedidos de con-cessão de benefício de previdenciário/estatutário ainda não submetidos ao órgão compe-tente para o deferimento ou indeferimento do pleito. 7. Inexistindo pretensão resistida do pleito em questão, não há interesse legítimo para o exercício do direito de ação. 8. Sendo a autora carecedora da ação, deve o processo ser extinto, sem apreciação do mérito, na forma do art. 267, I, c/c art. 295, III, do CPC. 9. Apelação e remessa oficial providas.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0004735-89.2010.4.05.8200 – (30321/PB) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Rogério Fialho Moreira – DJe 15.05.2014 – p. 272)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSP nº 55, jul./ago. 2013, Assunto Especial intitulado “Prévio Requerimento Ad-ministrativo”.

Comentário Editorial SÍNTESECuida a hipótese de apelação, interposta pela União, contra a sentença que: a) defe-riu o pedido de antecipação da tutela e julgou procedente o pedido, para condenar a União a conceder à autora a pensão por morte e a pagar-lhe as parcelas vencidas nos últimos 5 (cinco) anos anteriores ao ajuizamento da ação e as devidas até a efetiva implantação, acrescidas, uma única vez, até a data do pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, nos termos da Lei nº 11.960/2009, bem como no pagamento de honorários advocatícios fixados em 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação; e b) julgou improcedente o pedido em relação à ECT, deixando de condenar a autora em honorários advocatícios, por ser bene-ficiária da justiça gratuita. Custas ex legis.Em suas razões recursais, a União alegou, em síntese, que: não estão presentes os re-quisitos autorizadores à concessão da antecipação da tutela, tendo a sentença recorrida contrariado aos incisos I e II, e § 2º, do art. 273, do CPC; não restou caracterizada a pretensão resistida pela administração ao pagamento da pensão estatutária, pois não houve a negativa do direito, sequer houve a interposição de requerimento administrativo, configurandos e a carência de ação, ante a falta de interesse de agir.Requereu, ao final, a imediata atribuição do efeito suspensivo ao presente apelo, em face da antecipação dos efeitos da tutela na sentença recorrida, e pelo provimento do recurso, para extinguir o processo nos termos do art. 267, VI, do CPC, invertendo-se o ônus sucumbencial, alternativamente, caso reste vencida, seja excluída a condenação em honorários advocatícios ou reduzido o percentual fixado pelo Juízo a quo.As contrarrazões foram apresentadas pela autora.A sentença foi sujeita ao duplo grau de jurisdição.De acordo com o voto do d. Relator:“Discute-se nos presentes autos a concessão da pensão por morte estatutária à viúva de ex-combatente, que deixou de ser paga ao próprio instituidor do benefício, quando em vida, em face de opção pela pensão especial de ex-combatente, porquanto se entendia, à época, pela impossibilidade de cumulação entre os referidos benefícios.

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Alega a União, preliminarmente, a ausência dos requisitos autorizadores à concessão da antecipação da tutela, e, no mérito, a falta de interesse processual da recorrida, em face da ausência de requerimento administrativo, requerendo, ao final, a extinção do processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, VI, do CPC, com inversão do ônus da sucumbência, ou, caso reste vencida, a exclusão da condenação em honorários advocatícios ou a redução do percentual fixado pelo Juízo a quo.A Constituição Federal assegura o princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional. Entretanto, em se tratando de benefício de previdenciário e/ou estatutário, é necessário que a parte interessada, inicialmente, requeira administrativamente a sua concessão, para que ao órgão competente possa verificar se estão ou não reunidos os requisitos legais.Somente com a negativa é que nasce o direito de ação. A lide é caracterizada por uma pretensão resistida. Se não houve qualquer oposição por parte da Administração Públi-ca, inexiste contenda e, conseqüentemente, direito de ação.O Poder Judiciário não pode substituir-se ao administrador, analisando os pedidos de concessão de benefício de previdenciário/estatutário ainda não submetidos ao órgão competente para o deferimento ou indeferimento do pleito.Inexistindo pretensão resistida do pleito em questão, não há interesse legítimo para o exercício do direito de ação.”No mesmo sentido já se manifestou o col. Superior Tribunal de Justiça, in verbis:“PREVIDENCIÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL – AÇÃO CONCESSÓRIA DE BENEFÍCIO – PROCESSUAL CIVIL – CONDIÇÕES DA AÇÃO – INTERESSE DE AGIR (ARTS. 3º E 267, VI, DO CPC) – PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO – NECESSIDADE, EM REGRA.1. Hipótese em que, na origem, o segurado postulou ação com o escopo de obter be-nefício previdenciário sem ter requerido administrativamente o objeto de sua pretensão.2. A presente controvérsia soluciona-se na via infraconstitucional, pois não se trata de análise do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF). Precedentes do STF.3. O interesse de agir ou processual configura-se com a existência do binômio necessi-dade-utilidade da pretensão submetida ao juiz. A necessidade da prestação jurisdicional exige demonstração de resistência por parte do devedor da obrigação, mormente em casos de direitos potestativos, já que o Poder Judiciário é via destinada à resolução de conflitos.4. Em regra, não se materializa a resistência do INSS à pretensão de concessão de be-nefício previdenciário não requerido previamente na esfera administrativa.5. O interesse processual do segurado e a utilidade da prestação jurisdicional concreti-zam-se nas hipóteses de a) recusa de recebimento do requerimento ou b) negativa de concessão do benefício previdenciário, seja pelo concreto indeferimento do pedido, seja pela notória resistência da autarquia à tese jurídica esposada.6. A aplicação dos critérios acima deve observar a prescindibilidade do exaurimen-to da via administrativa para ingresso com ação previdenciária, conforme as Súmulas nºs 89/STJ e 213/ex-TFR.7. Agravo Regimental provido.” (AgRg-AREsp 152.247/PE, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. p/o Ac. Min. Herman Benjamin, Órgão Julgador: STJ, 2ª T., J. 17.05.2012, Deci-são: por maioria, Publicação: DJe 08.02.2013)Assim sendo, entendeu o ilustre Relator que a autora é carecedora da ação, devendo o processo ser extinto, sem apreciação do mérito, na forma do art. 267, I, c/c art. 295, III, do CPC.

1374 – Pensão por morte estatutária – viúva e companheira – óbito de uma das titula-res – reversão da sua cota-parte aos titulares remanescentes – reconhecimento

“Administrativo. Pensão estatutária. Viúva e companheira. Art. 217, I, a e c, da Lei nº 8.112/1990. Óbito de uma das beneficiárias leva à reversão de sua cota-parte aos ti-

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tulares remanescentes. Art. 223, I, da Lei nº 8.112/1990. Apelação e remessa necessária desprovidas. 1. Encontrando-se presentes os requisitos cumulativos previstos no art. 273 do CPC, não há qualquer óbice legal para tanto, porquanto, nos termos do Enunciado nº 729 da súmula do STF, é possível a concessão de tutela antecipada contra a Fazenda Pública em causas que ostentem natureza previdenciária, como as discussões que envol-vem pensão por morte de servidor público. 2. O caso sob análise não se enquadra nas hipóteses elencadas no art. 2º-B da Lei nº 9.494/1997, que apenas veda o deferimento da antecipação de tutela nos casos de concessão de aumento ou equiparação salarial ou de decisão que importe em criação de despesas não previstas em orçamento. 3. Compa-nheira e viúva eram ambas beneficiárias de pensão por morte vitalícia, enquadrando-se no art. 217, I, a e c, da Lei nº 8.112/1990, respectivamente, e, a teor do art. 218, § 1º, da Lei nº 8.112/1990, recebiam quotas-partes iguais, ou seja, 50% (cinquenta por cen-to) cada uma. 4. Com o óbito da então viúva do ex-servidor, em 14.07.1996, a pensão deveria ter sido integralizada à autora, observando-se o disposto no art. 223, I, da Lei nº 8.112/1990, que determina a reversão da pensão vitalícia aos remanescentes desta categoria, quando ocorrida a morte de um de seus titulares. 5. Remessa necessária e apelação desprovidas.” (TRF 2ª R. – AC-RN 2005.51.10.006041-5 – 5ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes – DJe 25.03.2014 – p. 541)

Transcrição Editorial SÍNTESE• Súmula nº 729 do Supremo Tribunal Federal:“A decisão na ADC-4 não se aplica à antecipação de tutela em causa de Natureza previdenciária.”• Lei nº 8.112/1990:“Art. 217. São beneficiários das pensões: I – vitalícia:a) o cônjuge;”“Art. 223. Por morte ou perda da qualidade de beneficiário, a respectiva cota reverterá: I – da pensão vitalícia para os remanescentes desta pensão ou para os titulares da pen-são temporária, se não houver pensionista remanescente da pensão vitalícia;[...].”

1375 – Previdência Social – crime de estelionato – comprovação – pena – substituição – possibilidade

“Penal. Processual penal. Apelações. Estelionato. Art. 171, § 3º, do Código Penal. Pres-crição. Termo a quo. Materialidade e autoria comprovadas. Substituição da pena privati-va de liberdade por duas penas restritivas de direito. 1. No que se refere ao beneficiário de benefício da Previdência Social supostamente fraudulento, cuja conduta consiste em auferir, mês a mês, a prestação previdenciária a que sabe não possuir direito, o momento consumativo do delito prolonga-se no tempo, vindo a perdurar enquanto subsistir o rece-bimento ilícito do benefício. Trata-se, portanto, de crime permanente, no qual todo mês o beneficiário, tendo a possibilidade de sustar o dano, opta por manter a Previdência So-cial em erro e receber ilicitamente o benefício. Aplicação de precedente jurisprudencial do eg. Supremo Tribunal Federal. 2. In casu, tendo em vista que a acusada, ora apelada/apelante, foi denunciada por ter supostamente percebido fraudulentamente benefício previdenciário (fls. 000003/000006), conclui-se que o termo a quo do prazo prescri-cional é a data da cessação do recebimento fraudulento do benefício, por aplicação do art. 111, III, do Código Penal, que na hipótese dos autos perdurou até agosto/2005

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(fl. 000004). Verifica-se, assim, que o termo a quo do prazo prescricional ocorreu em agosto/2005, quando cessou a percepção fraudulenta do benefício previdenciário (fl. 000004). 3. Da análise dos autos, verifica-se, que a materialidade e a autoria do delito pelo qual a acusada, ora apelante, foi condenada em primeiro grau de jurisdição restaram comprovadas nos autos, na forma do que vislumbrou a v. sentença apelada (fls. 185/192), particularmente às fls. 187 e 189/191. Presentes, assim, no caso em co-mento, a materialidade e a autoria do tipo penal pelo qual foi condenada a acusada em primeiro grau de jurisdição, não há que se cogitar na ausência ou insuficiência de provas a embasar a prolação de uma sentença penal condenatória, nem, tampouco, na ausência de dolo. 4. Deve, ainda, ser aduzido que, por aplicação in casu do art. 44 do Código Penal, a acusada faz jus à substituição da pena privativa de liberdade por duas penas restritivas de direito, a serem definidas pelo MM. Juízo da Execução. 5. Apelação do Ministério Público Federal provida. Apelação da acusada desprovida.” (TRF 1ª R. – ACr 0003480-80.2008.4.01.3802 – Rel. Des. Fed. ÍTalo Fioravanti Sabo Mendes – J. 20.05.2014)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSP nº 57, nov./dez. 2013, ementa nº 1096 do TRF 2ª R.

Comentário Editorial SÍNTESEO art. 171, § 3º, do Código Penal in verbis:

“Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, indu-zindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

[...]

§ 3º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou benefi-cência.”

Por cometer o crime de estelionato, a 4ª Turma do TRF da 1ª Região deu provimento à apelação do Ministério Público Federal contra a sentença que condenou uma mãe ao receber durante 22 meses, após a morte da filha, o benefício de amparo assistencial da garota deficiente.

Consta dos autos, que a apelante recebia o benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A apelante teria recebido duas visitas da assistente social e, nessas duas situações, mentiu dizendo que a filha não estava em casa, conforme ficou registrado pelos depoimentos da assistente.

Foram apresentadas provas testemunhais e documentais. Então, a apelante foi conde-nada de acordo com o art. 171, § 3º, do Código Penal. Inconformada, a ré apelou ao TRF1, argumentando a “ausência de dolo, consubstanciado na vontade da recorrente, tudo isso para absolver a recorrente”.

Em sede de recurso, o Ministério Público Federal requereu nova data de prescrição do crime.

O Relator do caso confirmou a materialidade da sentença.

Vale trazer trecho do seu voto:

“Não há que se cogitar na ausência ou insuficiência de provas a embasar a prolação de uma sentença penal condenatória, nem, tampouco, na ausência de dolo”, asseve-rou o Magistrado. Ítalo Fioravanti Sabo Mendes ainda citou jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo a qual: “Enquanto a fraude perpetrada por terceiro consubstancia crime instantâneo de efeito permanente, a prática delituosa por parte do beneficiário da previdência, considerada relação jurídica continuada, é enquadrável como permanente, renovando-se ante a periodicidade do benefício (STF, HC 99112/AM,

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Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª T., julgado por unanimidade em 20.04.2010, publicado no DJe-120 de 01.07.2010, p. 01244)”.Quanto à apelação do Ministério Público, o desembargador a esta deu provimento, fa-zendo a alteração da data prescricional de acordo com art. 111, III, do Código Penal.O parágrafo III do artigo dispõe que “nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência”. O Relator, ainda, substituiu a pena privativa de liberdade para duas penas restritivas de direito. A decisão foi unânime.

1376 – Servidor público – ex-celetista – serviço prestado em condições insalubres – contagem de tempo especial para fins de aposentadoria – reconhecimento

“Administrativo. Servidor público. Ex-celetista. Serviço prestado em condições insalu-bres. Contagem de tempo especial para fins de aposentadoria. Reconhecimento da pre-tensão no curso da ação. Arts. 269, II, e 460 do CPC. 1. A jurisprudência da Suprema Corte e do col. Superior Tribunal de Justiça já firmaram o entendimento de que os servi-dores públicos federais ex-celetistas que trabalhavam em condições consideradas espe-ciais de periculosidade, insalubridade ou penosidade, antes da transposição do vínculo para o regime estatutário, têm direito à contagem especial do tempo de serviço prestado nesta condição, nos termos da legislação previdenciária vigente à época. Precedentes. 2. A ocorrência de fato superveniente, no curso da ação, que possa influir na solução da lide, deve ser levada em consideração no momento de decidir, nos termos do art. 462 do CPC. 3. Vislumbra-se hipótese em que a Fundação Oswaldo Cruz, após a contesta-ção e antes da sentença, concede aposentadoria à autora, por intermédio da Portaria nº 1.460, de 28.11.2012, asseverando que, para o cômputo do tempo de aposentadoria, já se incluiu o período constante na Certidão de Tempo de Serviço Especial, emitida pela fundação ré em 07.10.2012, referente a conversão de tempo especial em tempo comum, do período trabalhado em condições especiais, de acordo com o que dispõe a Orientação Normativa nº 10, de 08.11.2010, documentos que gozam de presunção de veracidade e legitimidade, cujo conteúdo não foi refutado. 4. Extinção da ação em razão do reconhecimento jurídico do pedido, nos termos do art. 269, II, do CPC. 5. Remessa necessária conhecida e desprovida.” (TRF 2ª R. – REO-ACív. 2009.51.01.012120-2 – 7ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. José Antonio Lisbôa Neiva – DJe 18.03.2014 – p. 410)

1377 – Servidor público – policial federal – prisão preventiva – absolvição criminal – tempo de serviço – aposentadoria especial – contagem – possibilidade

“Administrativo. Policial federal preso preventivamente. Absolvição criminal. Contagem do tempo de serviço no cargo estritamente policial. Contagem para fins de aposentadoria especial. Possibilidade. Dispõe o art. 394 do Decreto nº 59.310/1966 que o funcioná-rio policial terá o direito: I – à contagem do tempo de serviço relativo ao período em que tenha estado preso ou suspenso preventivamente, quando do processo não houver resultado pena disciplinar ou esta se limitar à repressão; II – à contagem do período de afastamento que exceder do prazo de suspensão disciplinar aplicada; III – à contagem do período de prisão administrativa ou suspensão preventiva e ao pagamento do ven-cimento e de todas as vantagens do exercício, desde que reconhecida a sua inocência. A Lei Complementar nº 51/1985 estabelece que o funcionário policial será aposentado voluntariamente, com proveitos integrais, após 30 (trinta) anos de serviço, desde que conte, pelo menos 20 (vinte) anos de exercício em cargo de natureza estritamente poli-cial. O tempo de prisão ou suspensão do policial, se absolvido, pode ser contado para efeito de aposentadoria especial, pois o que a lei exige é exercício em cargo e não exer-

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cício em atividade estritamente policial. Apelação provida.” (TRF 4ª R. – AC 5005505-58.2012.404.7002/PR – 3ª T. – Sérgio Renato Tejada Garcia – J. 07.05.2014)

Comentário Editorial SÍNTESEA apelação é oriunda de sentença que julgou improcedente o pedido do autor, policial federal, que consistia na pretensão de contagem, como tempo de serviço de atividade exclusivamente policial, dos períodos em ele esteve preso para fins de investigação e, consequentemente, negou o pedido de abono de permanência.O Juízo a quo entendeu que é ilegal considerar o período em que o autor esteve afastado, já que não exerceu atividade exclusivamente policial.Inconformado, o autor interpôs o recurso em questão almejando a reforma da sentença.Ao analisar a apelação, a 3ª Turma do TRF 4ª Região entendeu que a Lei Complementar nº 51/1985, que dispõe sobre a aposentadoria do funcionário policial, não exige que, para fins de aposentadoria, o policial esteja em atividade, mas sim em cargo de natureza estritamente policial. Conforme podemos observar no art. 1º, I, da referida norma:“Art. 1º O funcionário policial será aposentado:I – voluntariamente, com proveitos integrais, após 30 (trinta) anos de serviço, desde que conte, pelo menos 20 (vinte) anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial; [...]”Sendo assim, concluiu que o período que o apelante esteve afastado preventivamente de suas funções, não o afastou do cargo, mesmo que não tenha exercido qualquer ativida-de, logo, o tempo deve ser contado para todos os efeitos legais.Por fim, deu provimento ao recurso, reformando a sentença.Do voto do Relator, destacamos:“[...] Por certo o tempo em que o policial esteve afastado preventivamente de suas fun-ções – e depois restou absolvido – não ficou afastado de seu cargo, embora não estivesse exercendo nenhuma atividade, de modo que o respectivo tempo deve ser contado para todos os efeitos legais.É o que dispõe o Decreto nº 59.310/1966:Art. 394. O funcionário policial terá o direito:I – à contagem do tempo de serviço relativo ao período em que tenha estado preso ou suspenso preventivamente, quando do processo não houver resultado pena disciplinar ou esta se limitar à repressão;II – à contagem do período de afastamento que exceder do prazo de suspensão disci-plinar aplicada;III – à contagem do período de prisão administrativa ou suspensão preventiva e ao pa-gamento do vencimento e de todas as vantagens do exercício, desde que reconhecida a sua inocência.Assim, não há como deixar de dar trânsito ao pedido veiculado na inicial para julgá-lo procedente, reconhecendo o direito do autor à contagem do tempo no cargo de policial para fins de aposentadoria voluntária do período de 79 dias em que esteve preso, bem como dos 2.332 dias que ficou afastado/suspenso preventivamente. [...].”

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Seção Especial – Com a Palavra, o Procurador

As Novas Regras para a Retirada de Patrocínio nas Entidades Fechadas de Previdência Complementar: Aspectos Econômico- -Financeiros e Atuariais

CHRISTIAN AGGENSTEINER CATUNDAEspecialista em Previdência Complementar da Superintendência Nacional de Previdência Complementar – Previc, Graduado em Atuária pela Universidade Federal do Ceará – UFC e em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, Pós-Graduado em Direito Tributário, Coorde-nador para Alterações da Coordenação Geral para Alterações – CGAT da Diretoria de Análise Técnica – Ditec da Previc.

RESUMO: Análise da Resolução CNPC nº 11/2013, a nova norma que regula a retirada de patro-cínio nas Entidades Fechadas de Previdência Complementar – EFPC, com ênfase em seus aspec-tos econômico-financeiros e atuariais. Apresenta-se uma breve fundamentação constitucional e legal da retirada de patrocínio, destacando-se a preocupação do legislador quanto à solvência econômico-financeira e atuarial dos planos de benefícios. Comenta-se a regulamentação anterior da Resolução CPC nº 06/1988, destacando-se que essa norma já não atendia às demandas atuais do sistema de previdência complementar. Mostram-se os principais pontos da nova regu-lação relacionados a aspectos econômico-financeiros e atuariais, enfatizando-se os seus reflexos nos direitos dos participantes e assistidos e nos compromissos do patrocinador que se retira. Comentam-se as diversas opções oferecidas aos participantes e assistidos do plano por ocasião do processo de retirada de patrocínio, apontando as suas diferenças em relação à norma anterior. Enfatiza-se a alternativa do plano instituído por opção, mostrando-se as suas pré-condições e ressaltando-se a possibilidade de instituição de fundo de sobrevivência para garantia do paga-mento de benefício vitalício para os participantes mais longevos. Descrevem-se outras disposi-ções pertinentes da norma. Conclui-se pela conveniência da nova regulação, destacando-se a sua importância para o desenvolvimento do regime fechado de previdência complementar.

PALAVRAS-CHAVE: Previdência complementar; retirada de patrocínio; atuária.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Fundamentação constitucional e legal da retirada de patrocínio; 2 A re-gulamentação anterior: Resolução CPC nº 06/1988; 3 A nova regulamentação: Resolução CNPC nº 11/2013; 3.1 Precificação dos ativos financeiros do plano; 3.2 Avaliação atuarial de retirada; 3.3 Individualização da reserva matemática dos participantes e assistidos; 3.4 Apuração e trata-mento da insuficiência ou do excedente patrimonial do plano de benefícios; 3.4.1 Tratamento do excedente patrimonial; 3.4.2 Tratamento da insuficiência patrimonial; 3.4.3 Apuração da reserva matemática individual final; 3.5 Opções oferecidas aos participantes e assistidos do plano por ocasião da retirada de patrocínio; 3.5.1 Transferência para outro plano de benefícios de caráter previdenciário; 3.5.2 Recebimento dos recursos em parcela única; 3.5.3 Combinação de op-ções; 3.6 Plano instituído por opção; 3.6.1 Fundo de sobrevivência; 3.7 Outras disposições; 3.7.1 Custeio das despesas administrativas relativas ao processo de retirada; 3.7.2 Dívidas do patro-cinador e dos participantes; 3.7.3 Tratamento do exigível contingencial; Conclusão; Referências.

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INTRODUÇÃO

A Resolução CNPC nº 11, de 13 de maio de 2013, publicada no Diário Oficial da União em 27 de maio de 2013, trouxe uma nova regu-lamentação para a retirada de patrocinador e de instituidor no âmbito do regime de previdência complementar operado pelas Entidades Fechadas de Previdência Complementar – EFPC. A norma anterior que versava so-bre o assunto – Resolução CPC nº 06, de 1988 –, em virtude de seu des-compasso com o novo marco regulatório da previdência complementar instaurado a partir da publicação da Lei Complementar nº 109, de 2001, era considerada ultrapassada e não garantia a necessária segurança jurí-dica ao processo de retirada.

A nova regulação também buscou definir diversos conceitos per-tinentes à retirada de patrocínio, bem como simplificar e padronizar os procedimentos, a fim de proporcionar maior clareza e transparência ao processo e minimizar a possibilidade de conflitos entre as partes envol-vidas que, na vigência da norma anterior, muitas vezes tinham que ser resolvidos na esfera judicial.

Este trabalho tem por objetivo analisar, com enfoque nos aspectos de natureza econômico-financeiros e atuariais, as principais alterações decorrentes da nova normatização da retirada de patrocínio, com reper-cussão nos direitos dos participantes e assistidos e nos compromissos do patrocinador que se retira. Com essa finalidade, serão tratados neste estudo os seguintes tópicos trazidos a lume pela nova resolução: preci-ficação dos ativos financeiros do plano; avaliação atuarial de retirada; individualização da reserva matemática dos participantes e assistidos; apuração e tratamento da insuficiência ou do excedente patrimonial do plano de benefícios; opções oferecidas aos participantes e assistidos do plano por ocasião da retirada, com destaque para a possibilidade de criação de plano instituído para manutenção dos participantes e assisti-dos na entidade fechada, além de outras disposições pertinentes.

1 FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL DA RETIRADA DE PATROCÍNIO

Duas das principais características do regime de previdência com-plementar encontram previsão expressa no art. 202 da Constituição Fe-deral, que alberga o fundamento constitucional desse regime:

Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdên-

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cia social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que ga-rantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar. (grifos nossos)

A primeira característica a ser destacada é a facultatividade. A ade-são ao regime de previdência complementar não é compulsória. Não há qualquer norma que obrigue uma empresa a aderir a um plano da previdência privada ou a nele permanecer, bem como não há qualquer vinculação do empregado a aceitar ser participante de um plano de pre-vidência oferecido pela empresa patrocinadora, ou a ele manter-se vin-culado.

Da facultatividade resulta a natureza contratual da previdência privada, ao contrário da natureza institucional da previdência pública, que possui filiação obrigatória. Trata-se de uma relação jurídica de direi-to privado, embora esteja também acompanhada de matérias típicas de direito público. Na lição de Pulino (2011, p. 282), o art. 202 da Consti-tuição Federal, conquanto indiretamente se refere, de modo inequívoco, ao caráter contratual do regime de previdência complementar, quando enuncia que tal regime deverá contar com reservas capazes de garantir o “benefício contratado”.

Em sintonia com as características acima apontadas, a Lei Com-plementar nº 109, de 29 de maio de 2001, prevê, em seus arts. 25 e 33, a possibilidade de rompimento do vínculo contratual da empresa patrocinadora ou da entidade instituidora com o respectivo plano de benefícios:

Art. 25. O órgão regulador e fiscalizador poderá autorizar a extinção de plano de benefícios ou a retirada de patrocínio, ficando os patrocinado-res e instituidores obrigados ao cumprimento da totalidade dos compro-missos assumidos com a entidade relativamente aos direitos dos partici-pantes, assistidos e obrigações legais, até a data da retirada ou extinção do plano.

Parágrafo único. Para atendimento do disposto no caput deste artigo, a situação de solvência econômico-financeira e atuarial da entidade deve-rá ser atestada por profissional devidamente habilitado, cujos relatórios serão encaminhados ao órgão regulador e fiscalizador.

[...]

Art. 33. Dependerão de prévia e expressa autorização do órgão regulador e fiscalizador:

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[...]

III – as retiradas de patrocinadores;

[...] (grifos nossos)

Segundo Martinez (2003, p. 246), os motivos dessa decisão pela retirada podem ser diversos, com destaque, entre outros, para a aliena-ção ou insolvência da empresa patrocinadora, ou, ainda, por “volição própria e até por desencanto com o sistema”. Merece realce, porém, o seguinte alerta do renomado autor:

Cuidados têm de ser tomados. Quando a patrocinadora se afasta sem que o plano esteja capaz de enfrentar os tumultos supervenientes, essa ação causará prejuízos irreversíveis para os participantes. Estes poderiam, no curso do tempo, ter encontrado outros meios de proteção, e o dano daí defluente carece ser indenizado. (Op. cit., p. 246)

O Guia Previc – Melhores Práticas em Licenciamento (2012, p. 19), editado pela Superintendência Nacional de Previdência Com-plementar – Previc, traz algumas alternativas à decisão do patrocinador pela retirada de patrocínio, sinalizando que essa medida deve ser adota-da apenas em casos extremos:

94. Anteriormente à decisão de retirar o patrocínio, é salutar que o pa-trocinador conheça as outras alternativas possíveis, pois a retirada é a medida mais extrema a ser adotada.

95. A patrocinadora pode saldar e fechar o plano de benefícios a novas adesões ou optar por rescindir o convênio de adesão firmado com deter-minada EFPC e firmar novo convênio de adesão com outra EFPC, proce-dendo a transferência total de gerenciamento de planos.

96. Igualmente é possível a transferência parcial de grupos de partici-pantes e reservas de um plano de benefícios para outro, bem como a proposição de fusões, cisões ou incorporações de planos.

97. Outra alternativa é possibilitar a saída espontânea de participantes de um plano de benefícios para aderir a outro oferecido pela patrocinadora, por meio de migrações.

98. Se nenhuma dessas possibilidades se revelar adequada, caberá ao patrocinador avaliar a opção pela retirada de patrocínio.

Cabe, sobretudo, enfatizar da leitura do supramencionado art. 25 da Lei Complementar nº 109/2001 a preocupação do legislador quanto

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à solvência econômico-financeira e atuarial da entidade (e, por conse-quência, do plano de benefícios), que deverá ser atestada por profis-sional habilitado em relatórios que deverão ser encaminhados à Previc por ocasião do processo de retirada. Para Messina (2011, p. 95-96), tal procedimento de certificação objetiva dar ao patrocinador ou instituidor que se retira “a certeza do limite final das obrigações assumidas”, ou, no caso de retirada parcial de patrocínio, ao patrocinador que remanesce no plano “a certeza de que não assumirá obrigações que pertenciam ao patrocinador ou ao instituidor retirante”.

Como será visto com mais detalhes neste trabalho, o estudo da situação econômico-financeira e atuarial do plano de benefícios deverá contemplar, também, o cálculo do valor da reserva matemática indivi-dual de cada participante e assistido, com o objetivo de estimar o seu di-reito acumulado ou adquirido, respectivamente, de acordo com disposto no regulamento do plano de benefícios e em linha com o arcabouço jurídico vigente.

2 A REGULAMENTAÇÃO ANTERIOR: RESOLUÇÃO CPC Nº 06/1988

A norma que até maio de 2013 regulamentava as operações de retirada de patrocínio nas EFPC era a Resolução CPC nº 06, de 7 de abril de 1988, que tinha, portanto, início de vigência anterior à edição da Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001. Tal resolução, editada ainda sob a égide do marco regulatório anterior da previdência comple-mentar – a Lei Federal nº 6.435, de 15 de julho de 1977 –, já não atendia às demandas atuais do sistema, conforme relatado por alguns autores:

Os processos de retirada de patrocínio no âmbito das Entidades Fechadas de Previdência Complementar eram regidos, até 27 de maio último, pela Resolução CPC nº 6, de 1988, uma das normas mais antigas ainda vigen-tes no RPC [Regime de Previdência Complementar], sendo, inclusive, anterior à publicação das Leis Complementares nºs 108 e 109, ambas de 29 de maio de 2001. Os conceitos estavam desatualizados e não mais atendiam as demandas atuais [...]. (Cunha Júnior, 2013, p. 9)

Por outro lado, havia o consenso, também, de que a norma vigente [Re-solução CPC nº 06/1988] estava superada e não atendia com segurança jurídica os pleitos de retirada de patrocínio eventualmente encaminha-dos, dado o descompasso entre suas regras genéricas e os conceitos que ao longo do tempo vieram sendo sedimentados no âmbito da previdência

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complementar, o que, por vezes, dava margem a percepções subjetivas que fragilizavam o processo. (Messina, 2013, p. 246)

No tocante aos aspectos econômico-financeiros e atuariais, po-demos destacar os seguintes mandamentos da resolução ora revogada1:

i) avaliação atuarial de retirada e individualização da reserva matemática dos participantes e assistidos: a Resolução CPC nº 06/1988 previa a uti-lização de metodologia e hipótese atuarial específica para a retirada de patrocínio. No caso de participante ainda não elegível a benefício pelo plano, a reserva matemática correspondia ao valor presente do benefí-cio projetado, proporcionalizado em relação ao tempo de vinculação à entidade, ou ao tempo de serviço, e considerando-se nula a hipótese de crescimento salarial. Para os participantes ativos já elegíveis e para os assistidos, a reserva matemática era equivalente ao valor presente do benefício projetado integral;

ii) tratamento da insuficiência ou do excedente patrimonial: na hipótese de o ativo do fundo ser insuficiente para a cobertura das reservas mate-máticas de participantes e assistidos, o patrocinador que se retirava deve-ria integralizar ou assegurar a integralização do valor correspondente à diferença verificada. Caso o ativo do fundo fosse superior ao valor neces-sário para a cobertura das reservas matemáticas, o excedente, deduzido das despesas administrativas decorrentes da retirada, era rateado somen-te entre os participantes e assistidos, de forma proporcional ao valor de suas reservas matemáticas individuais;

iii) opções com relação aos participantes e assistidos do plano por oca-sião da retirada: eram previstas as seguintes opções, de escolha do patro-cinador, em comum acordo com a entidade: a) permanência na entidade; b) transferência para outra entidade aberta ou fechada; ou c) pagamento à vista do valor presente do benefício mensal, quando não fosse possível a manutenção dos benefícios nas mesmas condições vigentes, no caso de assistidos, ou do valor dos fundos correspondentes, individualmente calculados, no caso de participantes ativos;

iv) custeio das despesas administrativas relativas ao processo de retirada: caso não existisse excedente patrimonial suficiente para o custeio dessas despesas administrativas, elas poderiam ser pagas pelo ativo do fundo, desde que previamente autorizadas pelo órgão fiscalizador.

Com relação ao cumprimento pelo patrocinador dos compromis-sos assumidos com a entidade, relativamente aos direitos dos participan-

1 Ver Anexo da Resolução CPC nº 06/1988.

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tes e assistidos até a data da retirada do plano, Cazetta (2006, p. 100) ponderava o seguinte, no contexto da antiga resolução:

A despeito da possibilidade plena e permanente do exercício de retirada de patrocínio, todas as obrigações assumidas até a correspondente de-cisão devem ser rigorosamente cumpridas, pelo patrocinador, delas se excluindo apenas os valores das obrigações de natureza projetada não atinentes ao cálculo dos benefícios (e das reservas) proporcionais, como ocorre, por exemplo, com as hipóteses de elevação dos salários insertas nos cálculos atuariais.

Destaque-se, ainda, em relação à regulamentação anterior, que a norma revogada não especificava a forma de precificação dos ativos financeiros do plano, nem o tratamento a ser conferido ao fundo ad-ministrativo ou a outros fundos previdenciais porventura existentes na contabilidade do plano. Também não se referia a contratos de dívida do patrocinador ou a eventuais demandas judiciais em que a entidade figurasse como parte.

3 A NOVA REGULAMENTAÇÃO: RESOLUÇÃO CNPC Nº 11/2013

A Resolução CNPC nº 11, de 13 de maio de 2013, publicada no Diário Oficial da União em 27 de maio de 2013, trouxe as novas regras disciplinadoras do processo de retirada de patrocínio no âmbito do regi-me de previdência complementar operado pelas EFPC.

A Instrução Previc nº 03, de 4 de julho de 2013, por sua vez, tra-tou dos procedimentos operacionais a serem adotados pelas EFPC para fins de instrução do pedido de autorização de retirada de patrocínio, complementando e esclarecendo alguns dispositivos da supracitada re-solução.

Segundo Cunha Júnior (2013, p. 10), o propósito da nova norma foi atualizar as regras então existentes e colocá-las em sintonia com as demandas atuais do sistema. Buscou-se disciplinar, de forma moderna e responsável, a retirada de patrocínio, de forma a garantir a proteção dos interesses dos participantes e assistidos, com a preservação de seus direitos acumulados ou adquiridos e dando-se também a estes a opção pela manutenção da proteção previdenciária.

Verifica-se, ademais, conforme apontado por Messina (2013, p. 378 e 379), que a novel regulamentação almejou simplificar e pa-

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dronizar procedimentos, a fim de proporcionar maior clareza e transpa-rência ao processo de retirada, com vistas à preservação da segurança jurídica, minimizando, assim, a possibilidade de conflitos entre as partes envolvidas.

Serão abordados, a seguir, os pontos da nova norma relacionados a aspectos econômico-financeiros e atuariais, que se refletem de forma determinante nos direitos dos participantes e assistidos e nos compro-missos do patrocinador que se retira, compreendendo, por esse motivo, o objeto primordial deste estudo.

3.1 pRECIfICAÇÃO DOs ATIVOs fINANCEIROs DO pLANO

De acordo com art. 8º da Resolução CNPC nº 11, de 2013, o pro-cesso de retirada de patrocínio deverá ser protocolado na Previc acom-panhado de estudo da situação econômico-financeira e atuarial do pla-no de benefícios. Tal estudo deverá contemplar, entre outros tópicos, a “precificação de ativos a valores de mercado2”.

Segundo Domeneghetti (2009, p. 371), a precificação ou “marca-ção” a mercado é o procedimento legal adotado pelos investidores (aqui incluídas as EPFC) e instituições financeiras que estabelece um valor para cada título, com base em seu preço de fechamento no mercado financeiro, com o intuito de saber quanto vale a sua carteira de inves-timentos. Para os ativos sem liquidez ou pouco negociados, há regras específicas para apuração do valor de mercado3.

A Resolução CGPC nº 04, de 30 de janeiro de 2002, que estabele-ce critérios para registro e avaliação contábil de títulos e valores mobili-ários no âmbito das EFPC, determina, em seu art. 2º, que os títulos e va-lores mobiliários classificados na categoria de “títulos para negociação4” devem ser precificados a valor de mercado, no mínimo por ocasião dos balancetes mensais, balanços e demonstrativos de investimentos dos planos de benefícios.

Ocorre que a própria Resolução CGPC nº 04/2002, em seu art. 3º, dispõe que os títulos e valores mobiliários classificados na cate-

2 Ver inciso II do art. 8º da Resolução CNPC nº 11/2013.3 Ver § 2º do art. 2º da Resolução CGPC nº 04/2002.4 O § 1º do art. 1º da Resolução CGPC nº 04/2002 dispõe que podem ser registrados na categoria de

“títulos para negociação” os títulos e valores mobiliários adquiridos com o propósito de serem negociados, independentemente do prazo a decorrer da data da aquisição.

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goria “mantidos até o vencimento5” devem ser, de forma distinta, avalia-dos pelos respectivos custos de aquisição, acrescidos dos rendimentos auferidos, os quais devem impactar o resultado do período. Trata-se da chamada “marcação na curva”, procedimento que é adotado por muitas EFPC na precificação de tais modalidades de ativos financeiros.

Por essa razão, o estudo da situação econômico-financeira e atua-rial do plano de benefícios poderá apontar, no tocante à precificação dos ativos financeiros do plano que se retira, uma diferença significativa em relação ao valor desses mesmos ativos consignados na contabilidade antes da decisão pela retirada, com reflexos diretos no resultado (exce-dente ou insuficiência patrimonial) do plano de benefícios.

Sendo assim, a Resolução CNPC nº 11/2013 dispõe que a diferen-ça a menor entre o valor da avaliação e o da realização de ativos finan-ceiros após a sua precificação a valores de mercado deverá ser arcada exclusivamente pelos patrocinadores6. Nesse mesmo sentido, a Instru-ção Previc nº 03/2013 exige, para a finalização do processo de retirada de patrocínio, a comprovação do aporte realizado pelo patrocinador em relação a essa diferença7.

Igualmente de forma inovadora em relação ao regramento ante-rior, a norma recém-aprovada também faculta a negociação de ativos entre o plano de benefícios sob retirada de patrocínio e os demais planos administrados pela entidade fechada, ou mesmo com o respectivo patro-cinador, na hipótese de essa operação mostrar-se necessária à efetivação do processo de retirada. Para tanto, devem ser atendidas as seguintes condições8:

a) manifesto interesse das partes envolvidas;

b) aprovação pela Diretoria Executiva e pelo Conselho Delibe-rativo da EPFC, com anuência do Conselho Fiscal; e

c) autorização prévia da Previc.

5 O § 2º do art. 1º da Resolução CGPC nº 04/2002 prevê que, na categoria de “títulos mantidos até o vencimento”, podem ser registrados os títulos e valores mobiliários, exceto ações não resgatáveis, para os quais haja intenção e capacidade financeira da EFPC de mantê-los em carteira até o vencimento, desde que tenham prazo a decorrer de no mínimo 12 (doze) meses a contar da data de aquisição, e que sejam considerados como de baixo risco de crédito com base em classificação efetuada por agência classificadora de risco.

6 Ver art. 18 da Resolução CNPC nº 11/2013.7 Conforme disposição do art. 6º, III, da Instrução Previc nº 03/2013.8 Previstas no parágrafo único, incisos I a III do art. 18 da Resolução CNPC nº 11/2013.

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Tal possibilidade de negociação de ativos dentro da própria enti-dade, ou com os patrocinadores, tem o objetivo de evitar negociações açodadas e desvantajosas no mercado financeiro, em virtude da neces-sidade premente de liquidação de ativos decorrente do processo de re-tirada.

3.2 AVALIAÇÃO ATUARIAL DE RETIRADA

O estudo da situação econômico-financeira e atuarial do plano de benefícios, que precisa acompanhar o pedido de autorização para retirada de patrocínio, também deverá conter a avaliação atuarial9 do plano de benefícios, a ser realizada na data-base10 por atuário legalmen-te habilitado.

Uma novidade trazida pela Resolução CNPC nº 11/2013 é a exi-gência de manutenção das hipóteses atuariais, dos regimes financeiros e do método de financiamento utilizados na avaliação atuarial do exer-cício imediatamente anterior ao do pedido de retirada11. O Guia Previc – Melhores Práticas Atuariais para Entidades Fechadas de Previdência Complementar (2012, p. 19) traz esclarecimentos a respeito dos três ter-mos técnicos aqui destacados:

Hipóteses atuariais

63. As hipóteses atuariais constituem as bases técnicas da avaliação atua-rial de um plano de benefícios, representando um conjunto de estima-tivas de natureza demográfica, biométrica, econômica e financeira que, durante o período futuro considerado na avaliação do plano, espera-se que se realizem com bom nível de segurança.

64. A avaliação atuarial é feita com base em hipóteses atuariais adequa-das às características do plano de benefícios, de sua massa de partici-pantes, assistidos e beneficiários, ao ambiente econômico e à legislação vigente, bem como à atividade desenvolvida pelo patrocinador ou insti-tuidor.

[...]

9 Conforme disposto no inciso I do art. 8º da Resolução CNPC nº 11/2013.10 De acordo com o art. 2º, I, da Resolução CNPC nº 11/2013, a data-base é aquela em que serão posicionados

os cálculos referenciais que servirão para instrumentalização do processo de retirada de patrocínio.11 Ver art. 8º, I do § 1º da Resolução CNPC nº 11/2013.

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Regimes financeiros

86. Os regimes financeiros determinam a forma adotada para o financia-mento dos benefícios, ou seja, como serão quantificadas as contribuições necessárias face aos fluxos de pagamento de benefícios e demais despe-sas previstos para o plano. O dimensionamento das reserva matemáticas é função do regime adotado: repartição simples, repartição de capitais de cobertura ou capitalização.

[...]

Métodos de financiamento

91. No regime financeiro de capitalização, o método de financiamento define a estratégia de capitalização do plano de benefícios, determinan-do a forma de distribuição, no tempo, do custo dos benefícios futuros. Recomenda-se que o atuário faça uma descrição do funcionamento de cada método de capitalização aplicável, esclarecendo as suas vantagens e desvantagens e as perspectivas de evolução do custo em cada caso, de forma a permitir a escolha do método mais adequado aos benefícios do plano, levando-se em consideração o perfil da massa de participantes e, se for o caso, de assistidos.

[...]

93. Cabe lembrar que a substituição do regime ou do método de finan-ciamento pode resultar em alteração do resultado atuarial do plano de benefícios. Assim, preliminarmente à decisão pela substituição do regime ou método, é preciso prever a forma de equacionamento de eventuais insuficiências decorrentes dessa modificação. Mudanças nos regimes ou métodos devem ser embasadas em estudo atuarial.

Assim, no regime de capitalização, que é obrigatório na previdên-cia complementar para o financiamento dos benefícios programados e continuados12, o método de financiamento determina a dinâmica de acumulação de recursos no plano e, por consequência, o custo normal necessário em cada instante futuro para o financiamento dos benefícios.

O valor da reserva matemática obtido em cada avaliação atuarial também é função do método de financiamento adotado, que deve guar-dar relação com as características do plano de benefícios e com o perfil da massa de seus participantes. Os métodos de financiamento usual-mente adotados na previdência complementar são os seguintes: Crédi-

12 Conforme o item 5.1 do Anexo da Resolução CGPC nº 18, de 28 de março de 2006, que estabelece parâmetros técnico-atuariais para estruturação de planos de benefícios de EFPC.

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to Unitário Tradicional, Crédito Unitário Projetado, Idade Normal de Entrada, Agregado e Prêmio Nivelado Individual13. Frise-se, ainda, que, para os planos na modalidade de benefício definido, com benefícios financiados em regime de capitalização, o método de financiamento mí-nimo permitido pelas normas aplicáveis à previdência complementar é o Crédito Unitário Tradicional14.

Como visto anteriormente, a antiga Resolução CPC nº 06/1988 previa a utilização de metodologia e hipótese atuarial específica para a retirada de patrocínio. No cálculo das reservas matemáticas referentes aos participantes ativos ainda não elegíveis, os critérios preconizados por esta norma – benefício projetado proporcionalizado e utilização da hipótese de crescimento salarial nulo – eram semelhantes àqueles ado-tados pelo Crédito Unitário Tradicional, método usualmente utilizado em situações de descontinuidade de planos de benefícios. Por ser o mé-todo mínimo permitido para o regime de capitalização, ele também é o que produz as menores reservas matemáticas, se comparado aos demais métodos de financiamento utilizados no regime de previdência comple-mentar.

Nesse ponto, cabe destacar, sobretudo, a relevância da hipótese de crescimento salarial para o cômputo das reservas matemáticas de um plano de benefícios, conforme a lição de Rodrigues (2008, p. 129):

A prática do crescimento real médio dos salários: o desempenho dos ganhos salariais no cálculo das reservas matemáticas pode ser o fator de maior impacto no modelo agregado de cálculo. Tanto mais jovem a média de idade do grupo, para uma mesma taxa de crescimento salarial, maior será o efeito desta premissa sobre as reservas matemáticas.

O aumento de um ponto percentual no crescimento salarial pode provo-car o acréscimo de até 30% das reservas matemáticas. Sua oscilação tem um desempenho de alta exponencialidade.

Além disso, como a norma ora revogada mostrava-se silente em relação às demais hipóteses atuariais utilizadas na avaliação atuarial decorrente da retirada de patrocínio, também era comum a adoção de outras hipóteses distintas daquelas utilizadas na avaliação atuarial ante-rior ao pedido de retirada, tal como a hipótese de rotatividade, que era

13 Para uma descrição dos principais métodos de financiamento do regime de capitalização adotados na previdência complementar, ver Ferreira (2009, p. 330-342) e Chan (2006, p. 76-82).

14 Conforme a regra disposta no item 6 do Anexo da Resolução CGPC nº 18/2006.

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ordinariamente considerada nula na avaliação retirada, em consonância com o entendimento de que se estava lidando com uma situação de descontinuidade do plano de benefícios.

Essa alteração dos parâmetros da avaliação atuarial de retirada, autorizada pela norma precedente, poderia incidir em valores de reser-vas matemáticas significativamente diferentes daqueles anualmente di-vulgados aos participantes e assistidos do plano, e, em regra, resultava em um subdimensionamento desses valores, com alteração do resultado atuarial (déficit ou superávit) do plano de benefícios.

A nova regulamentação, portanto, ao estipular a manutenção das hipóteses atuariais, métodos e regimes de financiamento da última ava-liação atuarial, buscou evitar uma alteração brusca das reservas mate-máticas e do resultado do plano de benefícios por ocasião da avaliação atuarial decorrente da retirada de patrocínio, tal como era comum ocor-rer na vigência da norma anterior.

Ressalve-se apenas que, em virtude da disposição contida no in-ciso I do § 1º do art. 8º do novo normativo, a avaliação atuarial de reti-rada deverá sempre ser realizada com “testes prévios de aderência” das hipóteses atuariais nela adotadas, que compreendem exames estatísticos realizados pelo atuário para aferir a adequação e aderência das hipóte-ses atuariais às características da massa de participantes e assistidos do plano de benefícios. Embora a própria norma (nem a Instrução que a complementa – Instrução Previc nº 11/2013) não forneça maiores de-talhes sobre a questão, é possível inferir a partir da legislação vigente15 que, caso seja verificada desconformidade em relação a alguma hipó-tese adotada na última avaliação atuarial do plano, tal hipótese deverá ser alterada, de forma a garantir que a avaliação atuarial de retirada seja sempre efetuada com a utilização hipóteses aderentes e adequadas à massa de participantes do plano, na data-base da avaliação.

A avaliação atuarial será dispensada16 quando o plano for construí-do na modalidade de contribuição definida “pura”, isto é, aquele plano cujos benefícios tenham seus valores permanentemente ajustados ao sal-do da conta mantido em favor do participante, sem apresentar qualquer

15 A Resolução CGPC nº 18/2006 determina, no item 1 do seu Anexo, que “as hipóteses biométricas, demográficas, econômicas e financeiras devem estar adequadas às características da massa de participantes e assistidos e ao regulamento do plano de benefícios de caráter previdenciário”.

16 Conforme disposição do inciso II do § 1º do art. 8º da Resolução CNPC nº 11/2013.

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benefício (ou parcela de benefício) estruturado na modalidade de bene-fício definido. Nesse caso, o total das reservas matemáticas é obtido sem a necessidade de cálculo atuarial, pela soma das contas individuais de todos os participantes e assistidos, e o plano tem resultado nulo, ou seja, não apresenta déficit ou superávit atuarial, pois o total das reservas ma-temáticas corresponde justamente ao patrimônio de cobertura do plano.

Já no que respeita aos planos estruturados na modalidade de con-tribuição variável, que apresentam simultaneamente características de benefício definido e de contribuição definida, a avaliação atuarial po-derá ser dispensada total ou parcialmente17, a critério da Previc. Tal dis-pensa deverá ser solicitada pela entidade ainda no início do processo, e será avaliada, caso a caso, pela Previc com base nas características do plano e em seu nível de exposição a risco atuarial. O mesmo tratamento será conferido na hipótese de plano da modalidade de contribuição defi-nida que ofereça benefícios de risco mutualistas por morte, invalidez ou morbidez, pois esses riscos podem levar ao surgimento de desequilíbrio atuarial (déficit ou superávit) do plano.

O novo diploma normativo também exige que a avaliação atuarial de retirada seja enviada à Previc acompanhada de:

a) relatório que informe a existência de contratos de dívida de patrocina-dores e outros compromissos por eles assumidos18: as dívidas a cargo do patrocinador, já contabilizadas no ativo do plano, bem como outros compromissos por ele assumidos, decorrentes de equacionamento de déficit atuarial anterior, custeio de serviço passado dos participantes ou outros motivos, deverão informados de forma pormenorizada nesse relatório, para quitação de acordo com os prazos previstos na reso-lução;

b) relatório pormenorizado das demandas judiciais em que a entidade fechada figure como parte19: tal relatório, a ser realizado pela área ju-rídica da entidade, deverá descrever todas as ações judiciais em curso e ser acompanhado de avaliação técnico-jurídica sobre a sua possi-bilidade de êxito, bem como de esclarecimento sobre os respectivos provisionamentos efetuados no exigível contingencial da contabilida-de do plano.

17 De acordo com o inciso III do § 1º do art. 8º da Resolução CNPC nº 11/2013.18 Ver art. 9º, I, e art. 20 da Resolução CNPC nº 11/2013.19 Conforme disposto no art. 9º, II, da Resolução CNPC nº 11/2013.

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Está ainda prevista a possibilidade de a Previc determinar, de ofí-cio ou mediante solicitação de participantes, assistidos ou do próprio patrocinador do plano de benefícios, a realização de avaliação atuarial por outro atuário independente legalmente habilitado20, para a confir-mação dos valores consignados na avaliação atuarial de retirada. Trata--se aqui de uma “segunda opinião”, solicitada em caso de dúvida pelas partes envolvidas ou pelo próprio órgão fiscalizador, que vai confirmar ou refutar os valores calculados pelo atuário responsável pelo plano de benefícios.

3.3 INDIVIDUALIzAÇÃO DA REsERVA MATEMáTICA DOs pARTICIpANTEs E AssIsTIDOs

O problema da individualização da reserva matemática – para a determinação do direito previdenciário de cada participante e assistido em um plano de benefício – ocorre nos planos coletivos, solidários ou mutualistas, que apresentam modelagem de benefício definido ou de contribuição variável. A respeito dessa dificuldade para a obtenção da reserva matemática individual nos planos coletivos, vale mencionar a lição de Ferrari (2002, p. 141):

É importante compreender que a solidariedade adotada pela maioria dos planos previdenciários das entidades fechadas cria dificuldades para se isolar direitos previdenciários individuais. Mas esse é um ponto sobre o qual a legislação tem a obrigação de apresentar critérios que assegurem justiça tanto para os participantes que se desligam como para os rema-nescentes de planos previdenciários.

A nova resolução enfrentou esse problema, estipulando a forma de obtenção do valor individualizado da reserva matemática dos par-ticipantes e assistidos, que servirá de parâmetro para a quantificação (ou valoração) de seus direitos acumulados e adquiridos por ocasião da retirada de patrocínio, em conformidade com as disposições do regula-mento do plano.

Com efeito, tem-se como regra geral21 que o valor individualizado da reserva matemática deverá corresponder ao valor presente dos bene-fícios em regime de capitalização, líquidos das contribuições de assisti-do e do custeio administrativo, quando aplicáveis.

20 Ver art. 10 da Resolução CNPC nº 11/2013, que também prevê essa possibilidade em relação à avaliação dos investimentos do plano.

21 Ver § 2º do art. 8º da Resolução CNPC nº 11/2013.

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A norma também traz regras específicas, de acordo com as seguin-tes categorias de participantes e assistidos:

i) assistidos e participantes já elegíveis a benefício pelo plano: deverá ser considerada, quando prevista no regulamento do plano, reversão do benefício de aposentadoria em pensão por morte;

ii) participantes ativos ainda não elegíveis a benefício: o valor presente do benefício deverá ser calculado de forma proporcional ao tempo de participação no plano, acrescido, quando aplicável, do tempo de serviço passado reconhecido na forma do regulamento;

iii) participantes ativos, elegíveis ou não a benefício pelo plano: deverá ser sempre garantido o valor mínimo correspondente ao instituto do res-gate.

As regras de cálculo atuarial mostradas acima não se aplicam aos planos de contribuição definida, ou à parcela de contribuição definida das demais modalidades de planos de benefícios, pois, nesse caso, os participantes e assistidos terão direito simplesmente ao valor correspon-dente ao respectivo saldo de conta individual mantido em seu nome22.

Outra inovação no tocante ao cálculo da reserva matemática indi-vidual está prevista no art. 8º do novo normativo:

Art. 8º [...]

[...]

§ 5º Em relação aos assistidos de planos de benefícios estruturados na modalidade de benefício definido ou de contribuição variável, o valor in-dividualizado da reserva matemática será calculado considerando que a sobrevida esperada, independentemente da tábua de mortalidade utiliza-da, não será inferior a sessenta meses, cabendo ao patrocinador assumir a responsabilidade pela diferença de custos decorrentes dessa reavaliação de cálculos.

O preceptivo acima prevê, para os planos estruturados nas moda-lidades de benefício definido e de contribuição variável, a garantia de cálculo de uma reserva matemática mínima para os assistidos do plano de idade mais avançada. Em relação a esses participantes, o valor indi-vidualizado da reserva matemática deverá ser calculado considerando

22 Conforme disposição do § 3º do art. 8º da Resolução CNPC nº 11/2013.

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uma sobrevida esperada mínima de 60 meses (ou cinco anos), indepen-dentemente da tábua de mortalidade adotada na avaliação atuarial.

Em outros termos, todos os assistidos terão garantido um valor in-dividual de reserva matemática equivalente, no mínimo, ao valor pre-sente do benefício que recebem, considerando o seu pagamento mensal por mais cinco anos, mesmo que a tábua de mortalidade adotada na avaliação atuarial indique para esse participante, em função de sua ida-de avançada, uma sobrevida esperada inferior a esse prazo.

Para exemplificar essa situação, são mostradas na tabela a seguir as sobrevidas esperadas em algumas idades selecionadas, calculadas com a utilização de duas tábuas de mortalidade comumente adotadas nas avaliações atuariais dos planos de benefícios da previdência com-plementar:

TAbELA Nº 1: sObREVIDAs EspERADAs EM IDADEs sELECIONADAs – TábUAs AT-83 MAsCULINA E AT-2000 MAsCULINA

IDADE (ANOS)SOBREVIDA ESPERADA (ANOS)

AT-2000 MASCULINA AT-83 MASCULINA60 23,6 22,680 9,5 9,095 4,0 3,7

100 2,9 2,7Fonte: Cálculos do autor a partir dos dados do Banco de Tábuas Biométricas disponibili-zado pelo Instituto Brasileiro de Atuária – IBA.

A partir da observação dos dados da tabela acima, observa-se que um assistido que tenha 60 anos na data da avaliação atuarial não teria a sua reserva matemática individual afetada pela regra aqui aludida, pois a sua sobrevida esperada, caso a avaliação atuarial adotasse a tábua de mortalidade AT-2000 Masculina, seria de aproximadamente 24 anos, enquanto que essa mesma sobrevida estimada pela tábua AT-83 Mascu-lina seria de aproximadamente 23 anos – períodos superiores, portanto, ao prazo mínimo de cinco anos estabelecido na resolução. O mesmo raciocínio aplica-se ao assistido que tenha 80 anos de idade na data da avaliação, pois, nesse caso, as sobrevidas esperadas seriam de aproxi-madamente 10 e nove anos, respectivamente.

Já para um assistido de idade mais provecta, que conte 95 ou 100 anos de idade na data da avaliação atuarial de retirada, embora ambas

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as tábuas de mortalidade consideradas na tabela acima prevejam para esse assistido sobrevidas esperadas inferiores a quatro anos, a sua re-serva matemática individual deverá ser calculada, independentemente da tábua adotada e da respectiva sobrevida estimada, considerando um prazo mínimo de pagamento do benefício por cinco anos, contados da data da avaliação.

Os encargos decorrentes de acréscimos das reservas matemáticas individuais em virtude da aplicação da regra acima comentada serão atribuídos unicamente ao patrocinador que se retira. O objetivo dessa medida é dar uma proteção adicional aos assistidos de idade mais avan-çada, reduzindo significativamente a possibilidade de que os recursos que lhes caberão no processo de retirada se esgotem antes de seu fale-cimento.

3.4 ApURAÇÃO E TRATAMENTO DA INsUfICIêNCIA OU DO ExCEDENTE pATRIMONIAL DO pLANO DE bENEfíCIOs

Uma vez realizados os cálculos necessários para a obtenção e in-dividualização das reservas matemáticas dos participantes e assistidos, o total das reservas matemáticas assim obtidas deverá ser comparado com os ativos financeiros do plano, para a apuração do resultado patrimonial decorrente da avaliação atuarial de retirada de patrocínio.

Observa-se, nesse ponto, que como norma em regra prevê a descontinuidade do plano de benefícios, não há mais que se falar em déficit ou superávit atuarial – pois um ou outro seria resultante de cál-culo prospectivo, considerando os eventos futuros probabilísticos do plano –, mas em insuficiência ou excedente financeiro em relação ao total de recursos necessários para o cumprimento das obrigações que decorrem da retirada de patrocínio – pois o ativo do plano deverá ser integralmente realizado para a liquidação do passivo apurado na ava-liação de retirada.

Com relação à obtenção desse resultado patrimonial, o novo nor-mativo determina23 que devam ser considerados até mesmo os recur-sos correspondentes à reserva de contingência, à reserva especial, ao fundo administrativo e aos fundos previdenciais, com exceção, neste último caso, daqueles fundos constituídos com fins específicos, cujos

23 Ver art. 11 da Resolução CNPC nº 11/2013.

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recursos deverão continuar vinculados ao seu propósito original, con-forme previsto no respectivo regulamento e na nota técnica atuarial do plano.

Tal determinação é consentânea com o encerramento do plano de benefícios, em regra decorrente da retirada de patrocínio, pois, nessa situação, os fundos e reservas acima aludidos perdem a sua finalida-de específica, determinada na legislação da previdência complementar. Com efeito, a Resolução CGPC nº 26/200824 dispõe que a reserva de contingência e a reserva especial têm por finalidade, respectivamente, a “garantia dos benefícios contratados, em face de eventos futuros e incer-tos”, e a “revisão do plano de benefícios25”. Sendo o plano de benefícios encerrado em consequência da retirada de patrocínio, não haverá, por óbvio, mais nenhum benefício futuro a garantir, e nem restará mais a necessidade de rever benefícios a serem concedidos pelo plano, ficando assim os valores correspondentes a essas duas reservas disponíveis para a cobertura das obrigações decorrentes da retirada.

O mesmo raciocínio poderá ser aplicado ao fundo administrativo, bem como aos fundos previdenciais em geral, não vinculados a uma finalidade específica, cuja criação tem normalmente o escopo de mi-nimizar o efeito de oscilações de variáveis atuariais sobre os resulta-dos futuros do plano. Terminando-se o plano, os recursos acumulados nesses fundos ficarão disponíveis para serem utilizados na cobertura de obrigações decorrentes do processo de retirada.

Já os fundos previdenciais criados com fins específicos foram ex-cepcionados da regra aqui aludida, pois os recursos neles acumulados continuarão vinculados à finalidade com que foram criados, no momen-to da realização do ativo e da liquidação do passivo do plano. Assim, por exemplo, os valores já alocados em fundos previdenciais para desti-nação e utilização de reserva especial, previstos no art. 17 da Resolução CGPC nº 26/2008, não ficarão disponíveis para a cobertura das obriga-ções decorrentes do processo de retirada de patrocínio.

24 A Resolução CGPC nº 26, de 29 de setembro de 2008, regula as condições e os procedimentos a serem observados pelas EFPC na apuração do resultado, na destinação e utilização de superávit e no equacionamento de déficit de seus planos de benefícios.

25 Ver arts. 7º e 8º da Resolução CGPC nº 26/2008, respectivamente.

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3.4.1 Tratamento do excedente patrimonial

Caso a avaliação atuarial de retirada indique que o plano possui ativos financeiros de valor superior ao total das reservas matemáticas individuais, será apurado um excedente patrimonial, que deverá ser des-tinado às partes envolvidas de acordo com as seguintes regras26:

a) o valor do excedente que corresponda à reserva de contin-gência deverá ser destinado exclusivamente aos participantes e assistidos do plano, na proporção das respectivas reservas matemáticas individuais apuradas para a retirada de patro-cínio;

b) já o valor do excesso patrimonial que corresponda à reserva especial, aos fundos previdenciais sem fins específicos e ao fundo administrativo deverá ser inicialmente rateado entre patrocinador, de um lado, e participantes e assistidos, de ou-tro, observando-se a proporção das contribuições normais en-tre esses dois grupos. Uma vez executado esse rateio, o valor que caberá a cada participante ou assistido, relativamente ao montante atribuível ao segundo grupo, será também determi-nado na proporção dos valores individualizados das reservas matemáticas obtidos para a retirada de patrocínio.

Os critérios de rateio do excedente patrimonial correspondente à reserva especial e a forma de obtenção do valor que caberá a cada participante e assistido são os mesmos previstos na Resolução CGPC nº 26/2008 para a destinação de superávit dos planos em funcionamento normal. Nesse aspecto, por uma questão de coerência, o legislador pre-feriu manter a mesma regra geral adotada para os planos que apresentam superávit atuarial, revogando a disposição anterior da Resolução CPC nº 06/1988, que, para a situação específica da retirada de patrocínio, dispunha que o excedente financeiro, deduzido das despesas adminis-trativas decorrentes da retirada, seria rateado somente entre os partici-pantes e assistidos do plano.

Destaque-se que a norma optou por fazer menção a valores “cor-respondentes” à reserva de contingência, à reserva especial e aos fundos nela aludidos, tendo em vista que, com a extinção do plano de benefí-

26 Ver art. 13 da Resolução CNPC nº 11/2013.

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cios, tais reservas e fundos perdem a sua finalidade, não mais subsistin-do de forma efetiva. Seus respectivos valores, portanto, são meramente referenciais, sendo utilizados apenas para a apuração das importâncias atribuíveis a participantes, assistidos e patrocinadores no processo de retirada. No cálculo desses valores referenciais, por certo, deverão ser mantidos os mesmos parâmetros previstos na legislação aplicável para aquelas reservas, ou seja, o excedente patrimonial de até 25% das re-servas matemáticas deverá ser entendido como reserva de contingência e a parcela do excedente que supere esse percentual deverá ser tratada como reserva especial.

A Resolução CGPC nº 11/2013 também traz dispositivo27 que per-mite, sob certas condições, destinar o excedente patrimonial de forma diversa da acima relatada. Para tanto, deverá ser comprovado pela enti-dade fechada que a regra de destinação proposta resulta em vantagens adicionais para os participantes e assistidos do plano. Deste modo, po-deria ser proposta, por exemplo, com a concordância do patrocinador e mediante a homologação expressa da Previc, uma regra que determinas-se a destinação de todo excedente financeiro aos participantes e assisti-dos do plano. Entretanto, as entidades fechadas que tenham patrocínio público, regidas pela Lei Complementar nº 108, de 29 de maio de 2001, não poderão usufruir de tal prerrogativa.

3.4.2 Tratamento da insuficiência patrimonial

Na situação de ser verificada insuficiência patrimonial, ou seja, quando os ativos do plano não forem suficientes para a cobertura da totalidade das reservas matemáticas, a nova regra prevê28 que a forma de rateio dessa insuficiência será análoga àquela prevista para a situação de excedente patrimonial, antes comentada. De igual modo, aqui também deverão ser identificados quais são os montantes atribuíveis aos partici-pantes e assistidos, de um lado, e ao patrocinador, de outro, observada a proporção contributiva do período em que se deu a formação dessa insuficiência, a partir das contribuições normais vertidas nesse período. O valor atribuível a cada um dos participantes e assistidos a partir dessa divisão deverá ser calculado em função das suas respectivas reserva ma-temáticas individuais apuradas para retirada de patrocínio.

27 Conforme art. 13, §§ 2º e 3º, da Resolução CNPC nº 11/2013.28 Ver art. 12, combinado com art. 14 da Resolução CNPC nº 11/2013.

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Neste tópico, a norma da retirada foi até mais detalhada do que a própria Resolução CGPC nº 26/2008, que regula a forma de equacionar o déficit atuarial nos planos em funcionamento normal, pois esta última norma apenas dispõe que deve ser observada a proporção contributiva normal do período em que seja apurado o resultado deficitário, mas não chega a definir como efetuar o rateio da insuficiência entre participantes, assistidos e patrocinador, nem como obter o montante que cabe aos dois primeiros na referida divisão, ao contrário do tratamento mais pormeno-rizado que ela mesma confere para a situação de superávit.

Observa-se novamente aqui uma mudança de paradigma em relação à revogada Resolução CPC nº 06/1988, pois a regra anterior determinava que o patrocinador que se retirava deveria integralizar ou assegurar a integralização do valor correspondente à insuficiência pa-trimonial então verificada. É preciso atentar, porém, que a avaliação atuarial de retirada efetuada sob a regência da antiga resolução costu-mava apontar valores de reservas matemáticas inferiores aos verificados na última avaliação atuarial oficial do plano – e, por consequência, di-minuir substancialmente ou mesmo reduzir a zero a insuficiência pa-trimonial que ficaria a cargo do patrocinador – uma vez que adotava a hipótese de crescimento salarial nulo nos cálculos atuariais.

A insuficiência patrimonial poderá também ser equacionada de forma exclusiva ou majoritária pelo patrocinador privado que se retira, mediante homologação da Previc, desde que essa medida seja favorável aos interesses de participantes e assistidos. Já as EFPC com patrocínio público deverão necessariamente considerar a proporção contributiva do plano de benefícios, da maneira anteriormente relatada.

3.4.3 Apuração da reserva matemática individual finalA partir dos valores das matemáticas individuais calculados na

avaliação atuarial de retirada, obtêm-se as “reservas matemáticas indivi-duais finais” pelo acréscimo ou subtração, respectivamente, dos valores individualmente atribuíveis aos participantes e assistidos do plano, re-lativos a excedente ou a insuficiência patrimonial, calculados da forma acima explicitada.

Todos os valores individualizados das reservas matemáticas deve-rão ser calculados de forma referencial na data-base, para protocolo do processo de retirada de patrocínio na Previc, recalculados na data do

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cálculo29 e atualizados financeiramente deste então até a data-efetiva30, na qual deverá ocorrer a efetiva liquidação de todos os compromissos previstos no processo. A atualização financeira deverá ser efetuada pela rentabilidade líquida dos recursos garantidores do plano obtida entre essas duas últimas datas.

3.5 OpÇõEs OfERECIDAs AOs pARTICIpANTEs E AssIsTIDOs DO pLANO pOR OCAsIÃO DA RETIRADA DE pATROCíNIO

O art. 16 da Resolução CNPC nº 11/2013 trouxe as diversas op-ções a serem oferecidas aos participantes e assistidos por ocasião de retirada de patrocínio:

Art. 16. Os participantes e assistidos exercerão seu direito de opção, in-dividualmente, em relação ao montante dos recursos que lhes couber:

I – pela adesão ao plano instituído por opção, quando cabível, mediante prévia e expressa manifestação individual;

II – por sua transferência para outro plano de benefícios de caráter previ-denciário, observadas as disposições legais aplicáveis;

III – pelo seu recebimento em parcela única; e

IV – pela combinação de opções previstas nos incisos II e III.

[...]

As alternativas acima dizem respeito à destinação que será dada à reserva matemática individual final de cada participante ou assistido do plano, devidamente atualizada para a data efetiva. Ao contrário do que dispunha a norma anterior (que atribuía a escolha ao patrocinador, em comum acordo com a entidade), as alternativas acima são de livre eleição dos participantes e assistidos, em consonância com o princípio da autonomia da vontade que predomina nas relações contratuais da previdência complementar.

29 De acordo com o art. 2º, IV, da Resolução CNPC nº 11/2013, a data do cálculo corresponde ao último dia do mês em que ocorrer o ato da Previc que autorizar a retirada de patrocínio, momento em que os cálculos serão posicionados visando a mensurar os direitos e obrigações das partes em face da retirada de patrocínio, e substituindo os valores que foram referencialmente calculados na data-base.

30 Conforme dispõe o art. 2º, VII, da Resolução CNPC nº 11/2013, a data-efetiva é aquela acordada entre a EFPC e o patrocinador, em que deverá ocorrer a liquidação de todos os compromissos previstos no termo de retirada de patrocínio.

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É importante também acrescentar que a norma também prevê31, para a situação específica de retirada parcial de patrocínio32, que os as-sistidos, bem como os participantes que optarem pelos institutos do au-topatrocínio ou do benefício proporcional diferido, poderão ter a alter-nativa adicional de permanecer no plano de benefícios, desde que haja concordância dos demais patrocinadores do plano. A retirada parcial de patrocínio, nessa circunstância, terá os mesmos efeitos da cessação do vínculo empregatício, para fins de opção dos participantes pelos institu-tos antes referidos.

A opção pela adesão a plano instituído (inciso I do supracitado art. 16), dada a sua relevância e complexidade, será objeto de item es-pecífico (item 3.6) neste trabalho. Passemos, então, à análise das demais alternativas oferecidas aos participantes e assistidos do plano que se en-contra sob retirada de patrocínio.

3.5.1 Transferência para outro plano de benefícios de caráter previdenciário

Nesta alternativa, o participante ou assistido opta pela transferên-cia de seu direito previdenciário – representado pelo montante de sua reserva matemática individual final – para outro plano de benefícios.

Tal transferência poderá ser efetuada de forma individual ou cole-tiva para qualquer “plano de benefícios de caráter previdenciário”, que é aquele operado por entidade fechada ou aberta de previdência com-plementar, ou por seguradora do ramo vida que tenha sido autorizada a operar essa modalidade de plano33.

É notório que essa opção tem a vantagem de manter a finalidade previdenciária em relação aos recursos transferidos, pois eles continu-arão a ser utilizados, no plano de destino, para a concessão de benefí-cios previdenciários ao participante ou assistido optante. As condições para a concessão desses benefícios, entretanto, serão aquelas previstas no regulamento do plano de destino, podendo ou não diferir daque-las consignadas no plano de origem. Assim, o plano de destino poderá eventualmente exigir condições de elegibilidade aos benefícios distintas

31 Ver art. 5º da Resolução CNPC nº 11/2013.32 De acordo com art. 4º, §§ 1º a 3º, da Resolução CNPC nº 11/2013, ocorrerá uma “retirada parcial” de

patrocínio quando remanescer no plano de benefícios algum patrocinador e grupos de participantes ou assistidos, ao contrário da situação de “retirada total”, na qual não remanesce nenhum patrocinador, resultando no encerramento do plano de benefícios e cancelamento de seu registro junto à Previc.

33 Ver arts. 2º e 36, parágrafo único, da LC 109/2001.

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daquelas previstas no plano de origem, prever forma diferenciada de pagamento dos benefícios (renda temporária no lugar de renda vitalícia, por exemplo) ou mesmo não ofertar todos os benefícios do plano origi-nal (v.g., não oferecendo benefícios de risco).

Embora a transferência de recursos para outro plano de benefício possa se dar individualmente, a entidade fechada ficará encarregada de apresentar aos participantes e assistidos do plano proposta de transferên-cia de recursos em negociação coletiva, objetivando ganho de escala. Tal negociação coletiva poderá resultar, v.g., em redução da taxa de administração ou de carregamento a ser cobrada pelo plano receptor, em benefício dos optantes.

As transferências de recursos para outro plano de benefícios de-verão ser previamente autorizadas pela Previc, devendo ser observadas nessa transferência a aplicação das “disposições legais aplicáveis”, in-clusive as de natureza tributária34.

3.5.2 Recebimento dos recursos em parcela única

Essa alternativa envolve a “financeirização” dos direitos acumu-lados ou adquiridos por participantes e assistidos, visto que vincula os direitos previstos no contrato previdenciário ao montante corresponden-te da reserva individual final, permitindo o seu recebimento pelo partici-pante ou assistido em parcela única.

No tocante aos participantes ainda não elegíveis, a natureza finan-ceira de seu direito acumulado já é determinada de forma manifesta pela própria Lei Complementar nº 109/2001, quando esta estabelece, em seu art. 15, parágrafo único, no contexto do instituto da portabilidade, que o “direito acumulado corresponde às reservas constituídas pelo parti-cipante ou à reserva matemática, o que lhe for mais favorável”. Assim, para esses participantes, a nova norma facultou o recebimento desse direito à vista, ou a sua transferência para outro plano de benefícios, uma vez que a retirada de patrocínio configura uma situação análoga a da quebra do vínculo empregatício, dado que o respectivo patrocinador deixará de ter qualquer ligação com o plano de benefícios.

34 As disposições legais de natureza tributária aplicáveis à transferência de participantes e respectivas reservas entre planos de benefícios estão previstas na Lei nº 11.053, de 29 de dezembro de 2004, que dispõe sobre a tributação dos planos de benefícios de caráter previdenciário.

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Já com relação aos participantes elegíveis e assistidos, tal natureza financeira já não resta tão evidente, pois a leitura do texto do § 1º do art. 68 da Lei Complementar nº 109/2001 poderia levar ao entendimen-to de que estes teriam a garantia de recebimento de seus benefícios de acordo com as regras do regulamento do plano vigentes do momento da elegibilidade:

Art. 68. [...]

§ 1º Os benefícios serão considerados direito adquirido do participante quando implementadas todas as condições estabelecidas para elegibili-dade consignadas no regulamento do respectivo plano.

A despeito da disposição legal supracitada, a nova norma da reti-rada decidiu conceder aos assistidos e participantes elegíveis os mesmos direitos oferecidos aos demais participantes, permitindo o pagamento de seus direitos pelo seu equivalente financeiro, em parcela única. Sobre o as-sunto, merecem destaque as considerações de Cunha Júnior (2013, p. 15):

Em relação aos assistidos, entendeu-se que estes devem ter os mesmos direitos dos participantes ativos nos casos de retirada de patrocínio, per-mitindo o pagamento de seus benefícios também em parcela única. Tal opção baseia-se na compreensão de que não há óbice legal em permitir que os assistidos e elegíveis tenham o direito de optar pelo recebimento de suas reservas em parcela única ou por resgate parcial numa eventual retirada de patrocínio [...].

Entende-se que o recebimento em parcela única não implica restrição ao direito dos assistidos e elegíveis. Trata-se, tão somente, de uma mudança na forma de recebimento do benefício contratado e prevista em regula-mento do plano.

O entendimento de que há um fundamento financeiro no con-ceito de direito adquirido também é compartilhado por Messina (2013, p. 371), em comentário ainda a respeito da norma anterior:

Esta regra de retirada previa (e ainda prevê, pois vigente), inclusive, o pagamento do valor presente do benefício mensal, aos participantes as-sistidos e pensionistas, indicando claramente que o conceito do direito adquirido (que é o ostentado por participantes assistidos e pensionistas, posto já em gozo de benefício) para o caso de retirada de patrocínio é também financeiro.

E haveria conflito em relação a conceito de direito adquirido e a sua aparente relativização diante da hipótese de retirada de patrocínio ou da insolvência de um plano de benefícios? Na verdade, não. O que ocorre,

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como antes dito, é a necessidade de identificação desta garantia do or-denamento jurídico diante da realidade do contrato previdenciário e da dinâmica de um plano de benefícios.

Com efeito, do ponto de vista técnico, o montante da reserva ma-temática individual final, calculada segundo a metodologia antes expli-citada neste trabalho (que abrange o cálculo do valor presente atuarial dos benefícios mensais futuros com a manutenção das hipóteses atua-riais, dos regimes financeiros e do método de financiamento utilizados na avaliação atuarial imediatamente anterior ao do pedido de retirada), representa a conversão para valores financeiros do direito ao qual cada participante ou assistido faz jus no processo de retirada. O seu paga-mento em parcela única, em renda vitalícia ou por prazo fixo, determina apenas a forma de usufruto futuro desse direito, com a manutenção do valor presente atuarial ou financeiro equivalente.

Estaria resguardada, portanto, a finalidade legalmente prevista de garantir aos participantes elegíveis e assistidos – que mereceram uma proteção especial da legislação, tendo em vista a garantia constitucio-nalmente prevista do direito adquirido – um direito equivalente ao do benefício contratado segundo as regras consignadas no regulamento do plano de benefícios.

3.5.3 Combinação de opções

Conforme já relatado, embasada no princípio da autonomia da vontade do direito privado, a norma da retirada de patrocínio concedeu aos participantes e assistidos a opção de continuar no regime de previ-dência complementar, por meio da transferência para outro plano de benefícios de caráter previdenciário, ou de receber à vista o valor equi-valente a sua reserva matemática individual final.

A norma também admite a combinação entre as duas opções ofer-tadas, de forma a ampliar o leque de possibilidades à disposição dos par-ticipantes e assistidos do plano. Assim, o participante poderá optar por receber à vista uma parcela de sua reserva matemática individual final e transferir para outro plano de benefícios a parcela restante, calibrando a sua cobertura previdenciária de acordo com a sua necessidade.

Os procedimentos necessários para o exercício do direito de op-ção aqui aludido e sua operacionalização deverão ser providenciados pela entidade fechada.

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3.6 pLANO INsTITUíDO pOR OpÇÃO

Ocorrendo a retirada de patrocínio, entre as alternativas colocadas à disposição dos participantes e assistidos do plano pelo art. 16 da Re-solução CNPC nº 11/2013, tem-se a possibilidade de adesão, “quando cabível”, a plano instituído por opção.

Entretanto, conforme pode ser inferido a partir da expressão des-tacada no artigo supracitado, a criação do novo plano para recepcionar os participantes e assistidos optantes por essa alternativa está sujeita a certas condições35:

i) prévia concordância da entidade fechada: a criação do plano deverá ser solicitada pela entidade à Previc na data do protocolo do processo de retirada de patrocínio, devendo ser encaminhada a essa autarquia, como parte integrante do processo, toda a documentação necessária para a aprovação do regulamento do novo plano de benefícios, prevista na legislação aplicável;36

ii) fundamentação em estudos de viabilidade técnica: a criação do novo plano também precisará estar baseada em estudo que comprove a sua viabilidade futura, em face do número projetado de participantes e as-sistidos. Deverá ser apresentada a projeção dos recursos garantidores do plano, das contribuições e dos benefícios previstos por um prazo razoá-vel, de pelo menos cinco anos. O estudo deverá contemplar, ainda, a projeção do custeio para a cobertura das despesas administrativas do pla-no, especificando as taxas de carregamento e de administração a serem cobradas dos participantes e/ou assistidos. Por fim, o relatório do estudo deverá conter manifestação conclusiva, a partir dos dados nele informa-dos, a respeito da viabilidade econômico-financeira do novo plano de benefícios.

A revogada Resolução CPC nº 06/1988 previa a possibilidade de manutenção dos participantes e assistidos na EFPC após a retirada de pa-trocínio, mas não enfrentava a polêmica questão da manutenção desses participantes e assistidos em um plano sem patrocinador.

Essa omissão da norma anterior suscitava inúmeros questionamen-tos, sobretudo com o advento da Lei Complementar nº 109/2001, que, ao teor de seu art. 31, refere-se ao patrocinador e ao instituidor como

35 Conforme art. 4º da Instrução Previc nº 3, de 4 de julho de 2013.36 A documentação necessária para aprovação, pela Previc, de regulamento de plano de benefícios está listada

no inciso V do § 1º do art. 5º da Resolução CGPC nº 08, de 19 de fevereiro de 2004.

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indispensáveis para o acesso dos participantes às entidades fechadas de previdência complementar. Ademais, em relação aos planos na moda-lidade de benefício definido ou de contribuição variável, que estão su-jeitos a risco atuarial relacionado ao mutualismo – podendo, por esse motivo, vir a desenvolver déficits atuariais –, a figura do patrocinador é de suma importância para o compartilhamento desse risco, aumentan-do a garantia do pagamento dos benefícios futuros dos participantes e assistidos.

Com o objetivo de contornar essa questão, a nova resolução da retirada de patrocínio permitiu a criação de plano sem patrocinador para recepcionar os participantes e assistidos que optem por essa alternativa, desde que o plano criado seja do tipo “instituído”, ou seja, a norma impôs a necessidade de um instituidor para a criação e manutenção do novo plano.

Tal como previsto no art. 31 da Lei Complementar nº 109/2001, os planos instituídos são aqueles acessíveis somente aos associados ou membros de instituidores – pessoas jurídicas de caráter profissional, clas-sista ou setorial –, o que dá aos participantes e assistidos desses planos a coesão e identidade de grupo necessária à criação/manutenção do plano de benefícios, nos moldes de legislação atual.

Ainda de acordo com o art. 31 da Lei Complementar nº 109/2001 (§ 2º, I e II), os planos instituídos devem terceirizar a gestão dos recursos garantidores das reservas técnicas e provisões e ofertar exclusivamente planos de benefícios na modalidade de contribuição definida. A norma que regulamenta a criação e manutenção dos planos constituídos por instituidor37 determina, ainda, que nesses planos o benefício de renda programada será pago por prazo determinado ou deve ser equivalente a um percentual do saldo de conta, e que tais planos não podem ofere-cer garantia mínima de rentabilidade. O risco atuarial e financeiro dos planos instituídos, portanto, é mitigado, o que reduz a necessidade de retaguarda de um patrocinador. Note-se que a responsabilidade exclu-siva pelo custeio (tanto administrativo quanto previdenciário) do plano criado na circunstância da retirada de patrocínio ficará a cargo dos par-ticipantes e assistidos que por ele optarem, embora a norma que regula

37 A Resolução CGPC nº 12, de 17 de setembro de 2002, regulamenta a constituição e o funcionamento dos planos de benefícios constituídos por instituidor.

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os planos instituídos também preveja a possibilidade de aportes de ter-ceiros, inclusive do próprio instituidor.

Para facilitar a criação do novo plano, a nova resolução dispensou o respectivo instituidor da comprovação de número mínimo de parti-cipantes (exigência que ficará suprida pela apresentação do estudo de viabilidade técnica, antes comentado) e de tempo de registro de pessoa jurídica, requisitos que são exigidos para a criação de plano instituído fora da circunstância da retirada de patrocínio.

3.6.1 Fundo de sobrevivência

Conforme relatado no item anterior, o plano instituído por opção só poderá ser criado na modalidade de contribuição definida, com pre-visão de pagamento do benefício de renda programada exclusivamente por prazo determinado ou por valor equivalente a um percentual do saldo da conta individual mantida em nome do participante.

Entretanto, alguns participantes poderão vir a sobreviver por um prazo superior ao determinado para o pagamento de seu benefício, ou mesmo além do esperado pela expectativa média de sobreviva prevista pela tábua de mortalidade. Como o valor do benefício é permanente-mente ajustado ao saldo existente na conta individual, nas situações des-critas o participante corre o risco de ter, respectivamente, o seu benefí-cio cessado, por exaurimento da conta individual, ou significativamente reduzido, em função da diminuição não prevista do saldo remanescente nessa conta.

Tais situações podem ainda ser agravadas pelo fato de a legislação não permitir – com o objetivo de mitigar o risco financeiro do plano – a garantia de rentabilidade mínima no âmbito do novo plano, o que também pode levar a uma diminuição imprevista dos saldos das contas individuais mantidos em favor dos participantes, em virtude de even- tual queda na rentabilidade obtida pelo plano em suas aplicações finan-ceiras.

A criação do fundo de sobrevivência38 visa a garantir o pagamento de um benefício de valor constante por prazo indeterminado, para que o participante mais longevo possa ter a continuidade de sua renda, de forma vitalícia. O pagamento do benefício seria assegurado por meio da

38 Previsto no art. 2º, VIII, da Resolução CNPC nº 11/2013.

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constituição de um fundo de caráter coletivo e mutualista, que garantiria que o benefício não fosse extinto ou reduzido na situação de o partici-pante atingir idade avançada, superior à expectativa média de sobrevi-vência prevista pela tábua de mortalidade.

A instituição do novo fundo, que, sem dúvida, representaria uma evolução do ponto de vista da proteção previdenciária aos participantes e assistidos, dependerá de regulação futura do órgão regulador da previ-dência complementar (atualmente o Conselho Nacional de Previdência Complementar – CNPC), que deverá enfrentar nessa tarefa questões de difícil solução, relacionadas à viabilidade para constituição e manuten-ção do equilíbrio econômico-financeiro e atuarial de tal fundo previ-dencial. É preciso lembrar que, na situação de retirada de patrocínio, o custeio total, bem como a responsabilidade por eventuais desequilíbrios futuros do fundo, caberá exclusivamente aos participantes e assistidos que optarem pelo plano instituído.

Embora caiba ao CNPC determinar os padrões mínimos de segu-rança econômico-financeira e atuarial, com o objetivo de preservar a liquidez, a solvência e o equilíbrio do fundo de solvência (com funda-mento no inciso II do art. 3º da Lei Complementar nº 109/2001), compe-tirá ao atuário responsável pelo novo plano instituído por opção realizar a sua estruturação técnica e estabelecer as suas regras de constituição e reversão, que deverão estar detalhadas na nota técnica e parecer atuarial e nas notas explicativas às demonstrações contábeis, a teor do disposto na legislação específica sobre fundos previdenciais39.

A constituição de fundo de sobrevivência em planos na modalida-de de contribuição definida não representa propriamente uma novidade em termos da legislação relacionada à previdência privada, posto que a lei que regula a instituição de regime de previdência complementar para os servidores públicos federais (Lei nº 12.618, de 30 de abril de 2012) já contém previsão nesse sentido40. Nesse regime, entretanto, a responsabi-lidade pelo custeio do fundo é atribuída tanto aos participantes quanto ao patrocinador, e a grande quantidade de participantes dos planos cria-dos para o servidor público garante uma maior estabilidade estatística,

39 Conforme art. 5º da Resolução CGPC nº 26/2008.40 Ver § 1º do art. 17 da Lei nº 12.618, de 30 de abril de 2012, que prevê a criação do Fundo de Cobertura

de Benefícios Extraordinários (FCBE), que inclui entre as suas finalidades a cobertura da sobrevivência do assistido além do prazo previsto para pagamento do benefício.

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reduzindo as contribuições necessárias para a sua manutenção, bem as-sim o risco de desequilíbrios futuros.

3.7 OUTRAs DIspOsIÇõEs

O novo normativo também traz outras disposições relacionadas a aspectos econômicos e financeiros do processo de retirada de patrocí-nio, como será visto nos itens a seguir.

3.7.1 Custeio das despesas administrativas relativas ao processo de retirada

Diferentemente da regra anterior, que admitia, em algumas situa-ções, a utilização do excedente financeiro do plano para custeio das despesas administrativas decorrentes do processo de retirada, a nova regulamentação atribuiu esse encargo exclusivamente ao patrocinador que se retira.

Tais despesas envolvem o custo para a realização do estudo da situação econômico-financeira e atuarial do plano, da precificação a mercado dos ativos, da comunicação aos participantes e assistidos, bem como para a preparação e envio de toda a documentação necessária e execução operacional do processo de retirada. Todas essas despesas deverão ser contabilizadas em separado das despesas correntes do plano efetuadas até a data efetiva, para a quitação pelo patrocinador.

3.7.2 Dívidas do patrocinador e dos participantes

Todos os débitos vencidos e vincendos a cargo do patrocinador que se retira, bem como os demais valores sob sua responsabilidade em virtude do processo de retirada, deverão ser quitados à vista até a data do aporte41, que é aquela formalmente acordada entre a entidade fechada e o patrocinador, respeitando-se o prazo máximo de até trinta dias da data efetiva.

As dívidas do patrocinador, que deverão ser indicadas no relatório que acompanha a avaliação atuarial, envolvem os montantes já conta-bilizados no ativo do plano, derivados de contribuições em atraso ou de outros motivos, bem como outros compromissos por ele assumidos e contabilizados no passivo, decorrentes de equacionamento de déficit

41 Segundo o disposto no art. 20 da Resolução CNPC nº 11/2013.

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atuarial, custeio de serviço passado dos participantes ou contribuições extraordinárias efetuadas para finalidades diversas.

Os encargos decorrentes do processo de retirada são aquelas obri-gações – já comentadas ao longo deste trabalho – que a nova resolução atribuiu de forma exclusiva ao patrocinador, em virtude do rompimento unilateral do contrato previdenciário:

a) o equacionamento do montante que lhe for conferido de eventual in-suficiência patrimonial do plano;

b) o custeio da diferença entre a reserva matemática mínima equivalente a cinco anos de benefício, garantida aos assistidos de idade avançada, e a reserva matemática atuarialmente calculada para esses assistidos;

c) a assunção da diferença a menor entre o valor da avaliação e o da realização de ativos financeiros após a sua precificação a valores de mercado;

d) o custeio das despesas administrativas do processo de retirada de pa-trocínio.

As dívidas contraídas por participantes e assistidos, inclusive aque-las originadas de empréstimos e financiamentos efetuados junto ao pla-no de benefícios, também deverão ser pagas à vista até a conclusão do processo de retirada. Na hipótese de o participante ou assistido não dispor de recursos para a quitação dessas obrigações, poderá ser efetua-do o encontro de contas devedoras e credoras, mediante a dedução do valor da dívida do montante que lhe couber no processo de retirada de patrocínio42.

3.7.3 Tratamento do exigível contingencial

O Guia Previc – Melhores Práticas Contábeis para Entidades Fe-chadas de Previdência Complementar traz as seguintes recomendações em relação à contabilização do exigível contingencial nos planos de benefícios:

66. A estrutura do exigível contingencial prevista na planificação das EFPC tem o objetivo de reconhecer contabilmente os valores das provi-sões associadas às gestões previdencial, administrativa e de investimen-tos segregadas por plano de benefícios e PGA. O registro deve estar em

42 Ver art. 22, III, e parágrafo único da Resolução CNPC nº 11/2013.

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consonância com as normas editadas pelo Conselho Federal de Conta-bilidade – CFC.

67. Para a correta explicitação dos riscos envolvidos, reais ou potenciais, as EFPC devem registrar com a acurácia devida as provisões contingen-ciais relacionadas a ações judiciais, em especial as referentes às questões previdenciais, trabalhistas e tributárias.

[...]

71. O valor a ser provisionado deve ser calculado com base na melhor estimativa de desembolso, determinada pela administração da EFPC, de-vendo ter cuidado para que o passivo não seja subavaliado ou superava-liado em virtude do grau de incerteza que envolve essa estimativa.

Uma vez cumpridas as recomendações acima expendidas no to-cante à necessidade de provisionamento do exigível contingencial do plano sob retirada de patrocínio, o tratamento a ser conferido aos va-lores consignados nessa rubrica deverá constar do termo de retirada de patrocínio43, com detalhamento das ações a serem efetuadas em relação a cada valor provisionado, observada a legislação aplicável à espécie.

CONCLUSÃO

A possibilidade de retirada de patrocínio tem previsão expressa na legislação e fundamento constitucional, com embasamento na caracte-rística da facultatividade e na natureza contratual do regime de previ-dência complementar. Para a realização da retirada do patrocinador ou instituidor, entretanto, faz-se necessária a comprovação da situação de solvência econômico-financeira e atuarial do plano de benefícios.

A norma que anteriormente regulamentava as operações de reti-rada de patrocínio era a Resolução CPC nº 06/1988, que se mostrava defasada e já não atendia as demandas atuais do sistema, pois trazia disposições de caráter genérico, desvinculadas do arcabouço normativo atual da previdência complementar.

A nova regulamentação dada pela Resolução CNPC nº 11/2013 trouxe importantes novidades com relação à definição de conceitos e procedimentos inerentes ao processo de retirada, visando a uma melhor

43 Conforme art. 21 da Resolução CNPC nº 11/2013.

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definição dos direitos de participantes e assistidos, bem como do patro-cinador que se retira.

No tocante especificamente aos aspectos econômico-financeiros e atuariais, a nova regra trouxe importantes inovações, como a precifi-cação dos ativos financeiros do plano pelo valor de mercado, a manu-tenção das hipóteses atuariais, métodos e regimes financeiros da avalia-ção atuarial anterior à retirada e a garantida de uma reserva matemática mínima para os assistidos de idade mais avançada no caso de planos de benefícios nas modalidades de benefício definido e de contribuição variável.

A apuração e o tratamento da insuficiência e do excedente patri-monial do plano de benefícios buscaram um maior equilíbrio entre os direitos de participantes e assistidos, de um lado, e do patrocinador, de outro. Os valores individualmente atribuíveis aos participantes e assis-tidos da insuficiência ou do excedente patrimonial irão compor as suas respectivas reservas matemáticas individuais finais, cujos valores devi-damente corrigidos representarão os montantes de recursos que lhes ca-berão no processo de retirada. Já a parcela atribuível ao patrocinador de eventual insuficiência patrimonial do plano deverá ser por ele integra-lizada antes do final do processo de retirada, de acordo com os prazos previstos pela nova resolução. Em virtude do rompimento unilateral do contrato previdenciário, a nova norma também atribuiu ao patrocinador outros encargos decorrentes da retirada, como o custeio das despesas administrativas inerentes ao processo.

Foram também regulamentadas as diversas opções a serem ofere-cidas aos participantes e assistidos do plano por ocasião da retirada de patrocínio, permitindo-se a sua transferência para outro plano de be-nefícios de caráter previdenciário, o recebimento dos seus recursos em parcela única ou mesmo a combinação entre essas duas opções. Outra alternativa colocada à disposição dos participantes e assistidos é a pos-sibilidade de adesão, quando cabível, a plano instituído por opção, na modalidade de contribuição definida. Neste caso, a nova norma da reti-rada também prevê a criação de um fundo de sobrevivência, a ser ainda regulamentado no futuro, para viabilizar o pagamento de um benefício vitalício aos participantes optantes.

Assim, ao estabelecer de forma mais clara e racional o procedi-mento da retirada de patrocínio – principalmente em relação aos as-

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pectos econômico-financeiros e atuariais – e primar pela proteção dos interesses de todas as partes envolvidas, a nova Resolução CNPC nº 11/2013 contribui para dar maior segurança e credibilidade ao regime de previdência complementar, colaborando, de forma inequívoca, com o seu desenvolvimento e modernização.

Observação: As opiniões expressas neste artigo são de inteira res-ponsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição da Previc.

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Seção Especial – Em Poucas Palavras

Salário-Maternidade: os Avanços da Lei nº 12�873/2013 e os Progressos Ainda por Conquistar

MARCO AURÉLIO SERAU JUNIORMestre e Doutorando em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo, onde pesquisa o acesso à justiça na área previdenciária e os meios alternativos à solução do conflito previden-ciário, Especialista em Direito Constitucional pela Escola Superior de Direito Constitucional, Especialista em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo, Professor universitário e de cursos de pós-graduação. Autor de diversos artigos jurídicos publicados no Brasil e no exterior, além de diversas obras.

RESUMO: O artigo analisa criticamente o avanço legislativo trazido pela Lei nº 12.873/2013 em relação ao benefício previdenciário do salário-maternidade. A referida norma importou para o plano legislativo diversos progressos já reconhecidos pela jurisprudência. Pode-se mencionar, porém, que se abriu mão de uma oportunidade política para avançar ainda mais, estendendo o benefício para outras situações de contingência social ainda não contempladas expressamente na legislação previdenciária.

PALAVRAS-CHAVE: Direito; previdenciário; salário-maternidade; ampliação; revisão conceitual.

SUMÁRIO: Introdução; 1 As alterações advindas da Lei nº 12.873/2013; 2 Conquistas que não se incorporaram ao texto legislativo; Conclusões; Referências.

INTRODUÇÃO

A Lei nº 12.873/2013 proporcionou grandes avanços no tema do salário-maternidade. Incorporou algumas conquistas que já se vinham obtendo pela via judicial.

Outras questões de grande importância, porém, não foram trazidas para o texto legal.

Neste trabalho, a proposição é de comentar os avanços já positiva-dos e indicar os caminhos que poderiam ter sido trilhados.

Parte-se da premissa de que os direitos fundamentais são direi-tos fundamentais, intimamente vinculados com a dignidade da pessoa humana, assim comportando interpretação ampliativa em benefício do segurado, seja pela esfera legislativa ou por meio de atuação da via ju-dicial (Serau Jr., 2011).

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1 AS ALTERAÇÕES ADVINDAS DA LEI Nº 12.873/2013

O benefício previdenciário do salário-maternidade, previsto nos arts. 71 a 73 da Lei nº 8.213/1991, é a garantia do afastamento remune-rado do trabalho à mãe, biológica ou adotante, a contar do parto ou da obtenção da guarda judicial para fins de adoção, pelo prazo de cento e vinte dias.

Esse direito previdenciário possui respaldo nos documentos técni-cos e tratados patrocinados pela Organização Internacional do Trabalho, especialmente visando a coibir a discriminação à mulher no mercado de trabalho e sua inserção econômica.

Com efeito, a política da OIT determina que a despesa das empre-sas com a remuneração da mulher, nesse período, fique a cargo do sis-tema previdenciário oficial, reduzindo o impacto econômico da medida protetiva e, com essa estratégia, evitando-se a discriminação à mulher no campo laboral (Garcia, 2010).

A Lei nº 12.873/2013 aprimorou o sistema até então vigente. Fruto da conversão da Medida Provisória nº 619, de 06.06.2013, deu nova redação ao art. 71-A e acrescentou os arts. 71-B e 71-C da Lei de Bene-fícios (Lei nº 8.213/1991).

Em síntese, o benefício passa a ser devido aos segurados de ambos os sexos, no caso de adoção, e pelo mesmo prazo de 120 dias, sem dis-tinção em virtude da idade da criança; além disso, independentemente de se tratar de adoção ou não, permanecerá sendo pago ao cônjuge ou companheiro(a) sobrevivente no caso de falecimento do(a) primeiro(a) beneficiário(a) (Lazzari, Castro, 2014: 838; Rocha, Baltazar Jr., 2014).

Não foram alterados os critérios para concessão do benefício, como carência ou evento de contingência social definido em lei, tam-pouco os critérios de cálculo do valor do benefício.

2 CONQUISTAS QUE NÃO SE INCORPORARAM AO TEXTO LEGISLATIVO

O Poder Judiciário possui dificuldades institucionais na tarefa de ampliação dos direitos previdenciários. Propicia uma resposta satisfa-tória em âmbito individual, mas, no plano coletivo, há dificuldade de mensuração do impacto das decisões judiciais nas políticas públicas (Scheingold, 2004; Faria, 1992, p. 21). Normalmente, os Tribunais não

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conseguem estabelecer uma ligação entre as disputas individuais que avaliam e os conflitos estruturais que dividem a sociedade (Santos, 2011, p. 102).

As decisões judiciais em geral não conseguem elaborar formula-ções de direitos generalizáveis a todos os objetivos sociais e a toda co-letividade. Os resultados são mais casuísticos e oportunísticos que du-radouros e gerais; os litígios costumam ficar restritos às partes em juízo, embora muitas vezes o conflito apresente profunda repercussão social ou seja fruto de lutas sociais de espectro bem mais amplo (Scheingold, 2004, p. 05-06, 107-108).

Paradoxalmente, e apesar de suas insuficiências, a arena judicial pode contribuir para reconfigurar a arena política (Scheingold, 2004, p. 08-09). Esse é justamente o caso da ampliação do benefício do salário--maternidade. A jurisprudência que existia em relação a esse benefício foi relevante na definição desse aspecto da política pública previden-ciária.

A alteração normativa promovida permite, a partir de então, o be-nefício do salário-maternidade para os pais adotivos1, inclusive em ter-mos de relação homoafetiva ou família monoparental. Ademais, propi-cia-se o benefício previdenciário ao pai viúvo, no caso de óbito da mãe.

Pode-se vislumbrar que a preocupação do legislador, redundando na edição da Lei nº 12.873/2013 e ampliação do salário-maternidade, é a proteção integral à criança. O mote do salário-maternidade, antes direcionado apenas à proteção materna, ou substancialmente vinculado a essa contingência social, agora deriva e se altera, destinando-se espe-cialmente à proteção da criança (Lazzari; Castro, 2014: 842-843).

Diante deste relevante fundamento que motivou a alteração legis-lativa, não se compreende tenha o avanço parado no ponto em que foi editada a norma jurídica aqui analisada. Mais poderia ter sido feito.

Por exemplo, poder-se-ia indicar com mais precisão que o bene-fício também é voltado à proteção da criança (ficando a proteção da

1 No caso da mãe adotiva, especialmente, o Poder Judiciário já havia reconhecido a inadequação do art. 71 da Lei de Benefícios, tendo sido declarada a inconstitucionalidade do art. 71-A do mesmo diploma legal na Ação Civil Pública nº 5019632-23.2011.404.7200, em trâmite perante a 1ª Vara Federal de Florianópolis/SC, decisão posteriormente mantida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Tais decisões judiciais constaram, inclusive, da Exposição de Motivos da Medida Provisória nº 619/2013, posteriormente convertida na Lei nº 12.873/2013 (Rocha; Baltazar Jr., 2014: 347-348).

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216 ����������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS

mãe no mesmo plano), ou que o benefício é substancialmente voltado à proteção da criança, em posição de primazia face à mãe. Essa altera-ção parcial da contingência social protegida poderia ensejar, talvez, a transformação do nome do benefício, adequando-o à nova realidade protegida.

Avultando em primeiro plano a proteção à criança, não à mãe (ou ficando o amparo à mãe somente no mesmo plano do amparo à crian-ça), seria possível implementar-se a possibilidade de revezamento do benefício entre os genitores, a partir de um ou dois meses do nascimen-to, como já ocorre em alguns países europeus, conforme a conveniência do casal (inserção no mercado de trabalho; possibilidades de carreira e nível salarial; mudança cultural com abandono de concepções machis-tas, etc.).

Tais possibilidades, não incorporadas à legislação, tornarão, em algum momento, a ser apreciadas pelo Poder Judiciário, pois toda ex-pectativa social não transformada em norma jurídica suscita conflito e estes são resolvidos, rotineiramente, na via judicial.

CONCLUSÕES

A análise crítica que se procurou fazer neste trabalho indica que a Lei nº 12.873/2013 importou para o plano legislativo diversos progressos já reconhecidos pela jurisprudência, como a atribuição do benefício do salário-maternidade aos pais adotivos, inclusive no caso de relações ho-moafetivas ou família monoparental, assim como ao pai viúvo.

Contudo, perdeu-se singular oportunidade político-social para que se pudesse avançar ainda mais, ampliando o cabimento do benefí-cio para outras situações de contingência social ainda não contempladas expressamente na legislação previdenciária e que certamente recairão, em momento futuro, sob apreciação do Poder Judiciário.

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Clipping Jurídico

Novos valores de depósitos recursais entram em vigor em 1º de agosto

O Tribunal Superior do Trabalho divulgou os novos valores referentes aos limi-tes de depósito recursal previstos no art. 899 da CLT. Os valores, que entram em vigor a partir de 1º de agosto, foram reajustados pela variação acumulada do INPC do IBGE do período de julho de 2013 a junho de 2014. A nova tabela prevê o depósito de R$ 7.485,83 para a interposição de recurso ordinário e de R$ 14.971,65 para recurso de revista, embargos, recurso extraordinário e recur-so em ação rescisória. Vejamos:

Limites de Depósitos Recursais na Justiça do Trabalho

Novos valores para depósitos recursais na Justiça do Trabalho (Ato nº 372/2014 do TST, DJe de 17.07.2014, vigência a partir de 01.08.2014)

Recurso ordinário R$ 7.485,83Recurso de revista, embargos, recurso ex-traordinário e recurso em ação rescisória

R$ 14.971,65

Ação rescisória – Depósito prévio de 20% do valor da causa, salvo prova de misera - bilidade, nos termos do art. 836 da CLT, alterado pela Lei nº 11.495/2007, cujos efei- tos começaram a fluir a partir do dia 24.09.2007.

Fonte: Tribunal Superior do Trabalho

Empresa é condenada a ressarcir ao INSS despesas com benefício decorren-te de acidente de trabalho

Em recente decisão, por unanimidade, a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) negou provimento à apelação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em ação regressiva, ajuizada pela autarquia, destina-da ao ressarcimento de valores desembolsados a título de pensão por morte decorrente de acidente de trabalho. Em agosto de 2008, o segurado falecido, empregado da empresa ré, instalava vigas para cobertura quando uma delas encostou em fios de alta voltagem, provocando sua queda, de uma altura de seis metros do solo, e, consequentemente, sua morte. A sentença de primeiro grau condenou a empresa a indenizar o INSS porque ficou caracterizada a sua culpa concorrente, uma vez que, mesmo disponibilizando equipamento de segurança a seus funcionários, não fiscalizou a correta utilização destes pelos empregados, nem se preocupou em desligar a rede elétrica, providência indispensável para a realização da tarefa desempenhada pelo segurado que morreu. O valor da indenização foi fixado na metade da quantia que foi paga pelo Instituto aos de-pendentes do falecido. O INSS recorreu requerendo o reconhecimento de culpa exclusiva da empresa demandada, bem como a necessidade de constituição de capital por parte dela para assegurar o cumprimento da prestação jurisdicio-nal. O Colegiado decidiu manter o julgado de primeiro grau, se manifestando no seguinte sentido: “Importa ressaltar que o empregador deve comprovar não

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somente o fornecimento dos equipamentos de segurança, mas também o cum-primento de seu dever consistente na exigência e fiscalização do cumprimento das normas de segurança pelos seus funcionários, prova da qual, in casu, a em-presa requerida não se desincumbiu”. O relatório da fiscalização do acidente, em que se baseia a decisão do TRF3, aponta as seguintes irregularidades no que se refere ao cumprimento das normas e medicina do trabalho: 1. falta de ela-boração e implementação de um programa de prevenção de riscos ambientais; 2. falta de manutenção de instalações elétricas em condições seguras de fun-cionamento, com rede elétrica isolada adequadamente; com chaves elétricas com isolamento completo das partes energizadas; e com cabeamento e plugs adequados nas máquinas e equipamentos; 3. falta de expedição de ordens de serviço e treinamento de funcionários com relação aos riscos no ambiente de trabalho, em especial queda de altura, choque elétrico e ruído. Ficou demons-trada, ainda, pelo depoimento das testemunhas, culpa concorrente do empre-gado para ocorrência do acidente, o que motivou a condenação da empresa ao pagamento apenas da metade das despesas suportadas pelo INSS. No que se refere à constituição de capital, entendeu o Colegiado que tal providência so-mente se faz necessária quando a dívida for de natureza alimentar. No caso em questão, o INSS já instituiu pensão por morte em favor dos dependentes do se-gurado falecido e reclama da empresa ré o reembolso dos gastos realizados, uma vez que a obrigação da requerida não tem caráter alimentar. O INSS requereu ainda a inclusão das prestações vincendas na base de cálculo dos honorários, no que ficou desatendido, já que, como houve sucumbência recíproca, cada parte arcará com a remuneração de seus advogados. A decisão está amparada por precedentes jurisprudenciais do Superior Tribunal de Justiça, do TRF1, do TRF2 e do próprio TRF3. No Tribunal, o processo recebeu o nº 0004320-91. 2011.4.03.6110/SP. Fonte: Tribunal Regional Federal da 3ª Região

Câmara reduz contribuição de patrão e empregado doméstico para o INSS

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou ontem (15), em caráter conclusivo, o Projeto de Lei nº 7.082/2010, do Senado, que reduz para 6% a alíquota da contribuição pre-videnciária paga por patrões e empregados domésticos. Atualmente, o índice é de 12% para os empregadores e varia de 8% a 11% para os domésticos, de acordo com o salário. A proposta agora poderá seguir para a sanção da Presi-dente da República, Dilma Rousseff, a menos que haja recurso para que seja votada também em Plenário. É bem provável que seja apresentado recurso, por-que o texto vinha sendo colocado em pauta pela CCJ há algumas semanas, mas sem conseguir ser apreciado porque o governo é contrário e tem uma proposta alternativa. • Alternativa: O líder do PSB, Deputado Beto Albuquerque (RS), lembrou, durante a discussão da matéria, que está pronto para ser analisado pelo Plenário o PLP 302/2013, que regulamenta os direitos dos domésticos após

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a aprovação da Emenda Constitucional nº 72, responsável por estender à cate-goria benefícios assegurados aos demais trabalhadores. “O Colégio de Líderes está negociando a votação do PLP, que é mais completo, e não deveríamos ter duas propostas sobre o mesmo tema”, disse Albuquerque. A proposta do PLP é reduzir para 8% a contribuição paga pelos empregadores, mas dentro do total de encargos de 20% sobre o salário do trabalhador, incluindo INSS, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e seguro por acidente de trabalho. Como contrapartida, o patrão não será responsável pela multa do FGTS caso venha a demitir o doméstico. O Instituto Doméstica Legal, que reúne patrões e empregados em defesa do emprego doméstico, apoia a medida. O Presidente da entidade, Mário Avelino, que estava presente na votação de hoje, lembra que o atraso na regulamentação dos direitos trabalhistas dos domésticos tem aumentado a insegurança dos empregadores e provocado demissões. • Guia de Recolhimento: Relatora na CCJ, a Deputada Sandra Rosado (PSB-RN) votou pela constitucionalidade do PL 7.082/2010. Entre outros dispositivos, o projeto prevê também a instituição da Guia de Recolhimento de Previdência Social de Doméstico (GPSD), com a inclusão da identificação do empregador doméstico. Isso vai permitir à Previdência localizar o patrão, que é quem desconta o INSS do empregado e é responsável pelo recolhimento, facilitando, assim, o proces-so. • Dedução do IR: O mesmo texto retira a possibilidade de o empregador deduzir a contribuição previdenciária no Imposto de Renda. O argumento é que essa dedução beneficia apenas os patrões de maior renda, que usam o modelo completo da declaração. Fonte: Câmara dos Deputados Federais

STJ vai julgar incidente de uniformização sobre inclusão de gratificação natalina no cálculo de benefício

O Ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), admitiu o processamento de incidente de uniformização de interpretação de lei federal contra decisão da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU) a respeito da inclusão da gratificação natalina no cálculo de be-nefício previdenciário concedido antes da Lei nº 8.870/1994. A TNU entendeu ser indevida a inclusão da gratificação natalina no período básico de cálculo para fins de cálculo da renda mensal inicial de benefício previdenciário, seja a data do início do benefício anterior ou posterior à vigência da Lei nº 8.870. No entanto, em análise preliminar, o ministro verificou que o STJ possui juris-prudência dominante em sentido contrário ao da TNU. Para a Corte Superior, a inclusão da gratificação no cálculo do salário de benefício é possível até a vigência da Lei nº 8.870. Diante da aparente divergência de entendimentos, Herman Benjamin determinou o envio de ofícios aos presidentes da TNU e das Turmas Recursais para solicitar informações e comunicar a admissão do incidente, que será julgado pela Primeira Seção do STJ. Esta notícia se refere ao processo: Pet 9598. Fonte: Superior Tribunal de Justiça

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Menor criado por família tem direito à pensão por morte mesmo sem ado-ção regularizada

A 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negou recurso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e concedeu pensão por morte retroa-tiva a um menor que vivia sob a guarda de um agricultor falecido, morador de Presidente Getúlio, em Santa Catarina. Ainda que não oficialmente adotado, a Corte considerou que o adolescente era dependente econômico e tinha direito ao benefício. A ação buscando o benefício para o filho foi movida pela viúva em julho de 2007, dois anos após a morte do companheiro. Na época, o menor tinha 13 anos. Ela alegou que vivia com o falecido há mais de 20 anos e que ambos criavam o menor desde seu nascimento, pois este teria sido rejeitado pela mãe biológica. O falecido era agricultor e responsável por prover a família. Conforme o INSS, não teria ficado comprovada a dependência econômica do menor. A Turma, entretanto, considerou as provas testemunhais como suficien-tes. Restando comprovado que o guardião de fato da parte autora era efetiva-mente o responsável por sua assistência material, moral e educacional, justa-mente as obrigações exigidas do guardião judicial, deve ser aquele equiparado a este, para fins previdenciários, escreveu o Relator, Desembargador Federal Celso Kipper, no voto. “Ora, dada a íntima relação entre a guarda e a tutela, e a importância de ambas para a educação, a convivência familiar, a dignidade, o respeito e a assistência material e moral da criança e do adolescente, penso que não se pode dar tratamento previdenciário diverso aos menores que se encontrem sob uma ou outra modalidade de colocação em família substituta”, afirmou o Magistrado. Embora atualmente o beneficiário já tenha 20 anos, ele deverá receber os valores retroativos à data do óbito do segurado, 1º de outubro de 2005, com juros e correção monetária. Fonte: Tribunal Regional Federal da 4ª Região

Período de licença por doença em pessoa da família pode ser contado como de efetivo exercício

O tempo usufruído por servidor da Justiça Federal em razão de licença por mo-tivo de doença em pessoa da família é reconhecido como de efetivo exercício, quando não excede a trinta dias, a cada doze meses, a partir da edição da Lei nº 8.112, de 11.12.1990. Este foi o entendimento do Colegiado do Conselho da Justiça Federal (CJF), em julgamento de processo administrativo proferido em sessão ordinária realizada nesta quarta-feira (25), da relatoria do Presidente do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, Desembargador Federal Francisco Wildo Lacerda Dantas. O processo teve origem em pedido de servidora do Tri-bunal Regional Federal da 4ª Região que requereu o reconhecimento, como de efetivo exercício, do período em que esteve de licença por motivo de doença em pessoa da família – no caso, foram cinco dias de afastamento, em 04.10.1993

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e de 19.04.1993 a 22.04.1993. O objetivo da servidora é que esse tempo fosse reconhecido para possibilitar a incorporação de parcela relativa ao exercício de cargo em comissão aos proventos de sua futura aposentadoria, conforme art. 193 da Lei nº 8.112/1990 (revogado pela Lei nº 9.527/1997) e Resolução CJF nº 159/2011. Até 10.12.1997, data da edição da Lei nº 9.527, o servidor que tivesse exercido cargo em comissão, de chefia ou de assessoramento, por cinco anos consecutivos ou dez anos interpolados, podia aposentar-se com a gratificação de maior valor incorporada aos seus proventos. Conforme esclarece o relator, o período gozado por servidor a partir de 12 de dezembro de 1990 – data de publicação da Lei nº 8.112 – em razão de licença por motivo de do-ença em pessoa da família passou a ser reconhecido como de efetivo exercício para todos os fins. Além disso, prossegue o magistrado, o CJF determinou que a Administração proceda à revisão dos casos já ocorridos, que se enquadram nas disposições do art. 24, caput e parágrafo único, da Lei nº 12.269/2010 (que modificou o art. 83 da Lei nº 8.112). Esta alteração normativa conferiu status de efetivo exercício à licença por motivo de doença em pessoa da família, quando a licença gozada não exceder a trinta dias, em cada período de doze meses, a contar da data da primeira licença. O relator acrescenta, ainda, que nesse caso não há prescrição em favor da União. Assim, o Colegiado decidiu que os períodos em que a servidora esteve afastada em razão de licença por mo-tivo de doença em pessoa da família não interrompem a contagem do tempo de exercício no cargo em comissão que ela ocupava nessas datas. Processo ADM-2013/00596. Fonte: Conselho da Justiça Federal

Servidor do INSS é demitido por cometer fraudes contra Autarquia

“As provas produzidas nos autos de Processo Administrativo Disciplinar com-provaram que a pena de demissão imposta ao autor revelou-se coerente e razoá-vel em face das graves infrações disciplinares por ele praticadas no exercício de suas atribuições [...]”. Com essas palavras, a 1ª Turma do TRF da 1ª Região, em consonância com o relator, reformou a sentença que havia determinado a reintegração de um servidor público demitido e ainda condenado a União a indenizá-lo por danos morais. O autor do processo fora demitido em razão de diversas irregularidades administrativas praticadas no Posto de Benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em Macapá/AP, onde trabalhava e supostamente havia liberado valor superior ao montante devido a segura-do, por intermédio de documento específico, sem conhecimento da autoridade hierarquicamente superior. O servidor, juntamente com outra servidora, havia montado um esquema que, no caso, funcionou da seguinte forma: a esposa de um segurado (e sua curadora) havia requerido o auxílio-doença em favor de seu marido, no Posto do INSS, recebendo, quarenta dias após, uma carta informan-do que deveria receber no banco o valor de cerca de dez mil reais. Quando a senhora foi ao posto, levaram-na para falar com uma das envolvidas, dizendo

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que o valor do benefício estava errado e por isso seria cancelado. Em segui-da, outro participante do esquema, dizendo-se advogado, foi à casa da vítima, oferecendo-se para liberar o dinheiro em troca de 50% do valor. A curadora do segurado recebeu, logo após, outra carta, avisando que o dinheiro estava a sua disposição, tendo ela prontamente levantado o valor sem comunicar aos servidores, como havia sido instruída. Tendo conhecimento do levantamento do dinheiro, dois dos servidores mencionados foram à casa da beneficiária re-petidas vezes para exigir-lhe R$ 9.000,00 sob diversas alegações, mas foram informados de que ela já havia gasto o dinheiro. Pressionada de todos os lados, a curadora então foi à Polícia Federal, que abriu inquérito policial. Durante o inquérito, ficou provado que os servidores agiram de má-fé e que a Autarquia em nenhum momento exigira a devolução do dinheiro pelo beneficiário. Além disso, ficou demonstrado que o servidor monitoraria o depósito do valor para, no momento do recebimento, surrupiar o valor da senhora e se apropriar dele para dividir com os colegas envolvidos, só que foi surpreendido pela curadora do beneficiário, que se antecipou e recebeu o valor sem avisá-lo. O Relator, Desembargador Federal Néviton Guedes, entendeu que havia inúmeras provas contra o autor e que ele infringira diversos artigos da Lei nº 8.112/1990, cujas consequências culminam – de acordo com a própria lei – em demissão. Desse modo, a Administração agiu corretamente acatando o parecer da comissão de sindicância que apurou os fatos e indicou a demissão do autor e dos demais envolvidos. Ressaltou o desembargador em seu voto: “Assim postos os fatos, forçoso concluir que a pena de demissão imposta ao autor revelou-se coerente e razoável em face das graves infrações disciplinares por ele praticadas em con-luio com terceiros, que foram devidamente apuradas e comprovadas adminis-trativamente, não havendo como não reconhecer que ‘[...] o logro se fez claro, há que se considerar a trama urdida, de evidente participação dos indiciados, em conluio com o falso advogado, com alvo precípuo de provocar devolução ilícita do substancial valor retroativo, quantia esta do mais lídimo direito do be-neficiário’”. A Turma acompanhou, à unanimidade, o relator. Nº do Processo: 2006.31.00.001022-7. Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região

Tribunal determina que INSS pague honorários advocatícios à DPU

A 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) decidiu, em jul-gamento realizado na última terça-feira (10/06), que a Defensoria Pública da União (DPU) deve receber honorários advocatícios quando atua como procu-radora da parte vencedora em ação ajuizada contra o Instituto Nacional do Se-guro Social (INSS). Conforme a decisão, de relatoria do Desembargador Federal Rogerio Favreto, o objetivo é promover o fortalecimento e a autonomia admi-nistrativa e financeira da entidade, bem como o aparelhamento e a capacitação de seus membros e servidores por meio de verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação. Segundo Favreto, ainda que a DPU atue contra pessoa jurídica

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de direito público que integra a mesma Fazenda Pública, a partir da edição da Lei Complementar nº 132/2009, tornou-se possível o pagamento dos honorários advocatícios. • O processo: A decisão de pagamento de honorários à DPU foi tomada em processo que concedeu benefício assistencial a uma maior incapaz, portadora de retardo mental. O pagamento deverá retroagir à data do requeri-mento administrativo, fevereiro de 2006. A autora receberá um salário-mínimo mensal, acrescido de juros e correção monetária, da referida data até a efetiva implementação em folha de pagamento. A DPU deverá receber o equivalente a 10% das parcelas vencidas até a data do acórdão. Segundo Favreto, nesse caso, trata-se de pessoas jurídicas diversas, DPU e INSS, com personalidade, patrimônio e receita própria, de modo que não há confusão possível entre as Instituições. Nº do Processo: 5054967-78.2012.404.7100. Fonte: Tribunal Re-gional Federal da 4ª Região

Fechamento da Edição: 30�07�2014

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Imposto de Renda, INSS e Fatores de Atualização de Salário-de-ContribuiçãoIMPOSTO DE RENDA Base de cálculo em R$ Alíquota % Parcela a deduzir do imposto em R$ Até 1.787,77 – – De 1.787,78 até 2.679,29 7,5 134,08 De 2.679,30 até 3.572,43 15,0 335,03 De 3.572,44 até 4.463,81 22,5 602,96 Acima de 4.463,81 27,5 826,15 Dedução por dependente 179,71

INSS – JANEIRO/2014Tabela de contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso, para pagamento de remuneração a partir de 1º de janeiro de 2014.

Salário-de-contribuição (R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%) Até 1.317,07 8,00% De 1.317,08 até 2.195,12 9,00% De 2.195,13 até 4.390,24 11,00%

TABELA DE ATUALIzAÇÃO MONETÁRIA DOS SALÁRIOS-DE-CONTRIBUIÇÃO PARA APURAÇÃO DO SALÁRIO-DE- -BENEFÍCIO (ART� 33 DO DECRETO Nº 3�048/1999)Julho/2014 (Portaria nº 297, de 14.07.2014) Mês e Fator Simplificado (Multiplicar)mar/01 ............. 2,616666abr/01 .............. 2,595899mai/01 .............. 2,566893jun/01 ............... 2,555648jul/01 ................ 2,518873ago/01.............. 2,478718set/01 ............... 2,456608out/01............... 2,447308nov/01 .............. 2,412330dez/01 .............. 2,394134jan/02 ............... 2,389832fev/02 ............... 2,385300mar/02 ............. 2,381015abr/02 .............. 2,378398mai/02 .............. 2,361865jun/02 ............... 2,335936jul/02 ................ 2,295986ago/02.............. 2,249864set/02 ............... 2,197991out/02............... 2,141457nov/02 .............. 2,054944dez/02 .............. 1,941557jan/03 ............... 1,890513fev/03 ............... 1,850360mar/03 ............. 1,821400abr/03 .............. 1,791658mai/03 .............. 1,784343jun/03 ............... 1,796378jul/03 ................ 1,809042ago/03.............. 1,812667set/03 ............... 1,801498out/03............... 1,782779nov/03 .............. 1,774969dez/03 .............. 1,766489jan/04 ............... 1,755954fev/04 ............... 1,742018mar/04 ............. 1,735250abr/04 .............. 1,725415mai/04 .............. 1,718370jun/04 ............... 1,711524

jul/04 ................ 1,703009ago/04.............. 1,690667set/04 ............... 1,682256out/04............... 1,679401nov/04 .............. 1,676551dez/04 .............. 1,669206jan/05 ............... 1,654973fev/05 ............... 1,645593mar/05 ............. 1,638385abr/05 .............. 1,626511mai/05 .............. 1,611843jun/05 ............... 1,600639jul/05 ................ 1,602401ago/05.............. 1,601921set/05 ............... 1,601921out/05............... 1,599522nov/05 .............. 1,590298dez/05 .............. 1,581756jan/06 ............... 1,575454fev/06 ............... 1,569490mar/06 ............. 1,565889abr/06 .............. 1,561672mai/06 .............. 1,559801jun/06 ............... 1,557775jul/06 ................ 1,558867ago/06.............. 1,557154set/06 ............... 1,557465out/06............... 1,554977nov/06 .............. 1,548320dez/06 .............. 1,541844jan/07 ............... 1,532343fev/07 ............... 1,524871mar/07 ............. 1,518494abr/07 .............. 1,511842mai/07 .............. 1,507921jun/07 ............... 1,504011jul/07 ................ 1,499363ago/07.............. 1,494580set/07 ............... 1,485814out/07............... 1,482108

nov/07 .............. 1,477675dez/07 .............. 1,471349jan/08 ............... 1,457214fev/08 ............... 1,447228mar/08 ............. 1,439884abr/08 .............. 1,432578mai/08 .............. 1,423468jun/08 ............... 1,409933jul/08 ................ 1,397218ago/08.............. 1,389161set/08 ............... 1,386250out/08............... 1,384173nov/08 .............. 1,377287dez/08 .............. 1,372073jan/09 ............... 1,368106fev/09 ............... 1,359405mar/09 ............. 1,355204abr/09 .............. 1,352499mai/09 .............. 1,345101jun/09 ............... 1,337079jul/09 ................ 1,331487ago/09.............. 1,328431set/09 ............... 1,327369out/09............... 1,325249nov/09 .............. 1,322076dez/09 .............. 1,317202jan/10 ............... 1,314048fev/10 ............... 1,302586mar/10 ............. 1,293531abr/10 .............. 1,284412mai/10 .............. 1,275103jun/10 ............... 1,269644jul/10 ................ 1,271042ago/10.............. 1,271932set/10 ............... 1,272823out/10............... 1,265987nov/10 .............. 1,254446dez/10 .............. 1,241657jan/11 ............... 1,234252fev/11 ............... 1,222758

mar/11 .............. 1,216190abr/11 ............... 1,208216mai/11 .............. 1,199579jun/11 ............... 1,192780jul/11 ................ 1,190162ago/11 .............. 1,190162set/11 ............... 1,185184out/11 ............... 1,179875nov/11 ...............1,176111dez/11 .............. 1,169445jan/12 ............... 1,163511fev/12 ............... 1,157608mar/12 ............. 1,153110abr/12 .............. 1,151039mai/12 .............. 1,143719jun/12 ............... 1,137463jul/12 ................ 1,134513ago/12.............. 1,129655set/12 ............... 1,124595out/12............... 1,117554nov/12 .............. 1,109675dez/12 .............. 1,103715jan/13 ............... 1,095608fev/13 ............... 1,085620mar/13 ............. 1,080004abr/13 .............. 1,073563mai/13 .............. 1,067266jun/13 ............... 1,063544jul/13 ................ 1,060574ago/13.............. 1,061954set/13 ............... 1,060258out/13............... 1,057403nov/13 .............. 1,050992dez/13 .............. 1,045347jan/14 ............... 1,037874fev/14 ............... 1,031377mar/14 ............. 1,024818abr/14 .............. 1,016483mai/14 .............. 1,008616jun/14 ............... 1,002600

Tabelas Práticas

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Bibliografia Complementar

Recomendamos como sugestão de leitura complementar aos assuntos abordados nesta edição os seguintes conteúdos:

ARTIGO DOUTRINÁRIO

• Aposentadoria Especial de Engenheiros Andrea M. Limongi Pasold Juris SÍNTESE ONLINE e SÍNTESENET, disponível em: online.sintese.com

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Índice Alfabético e Remissivo

Índice por Assunto Especial

DOUTRINA

Assunto

O DanO MOral PreviDenciáriO

• O Dano Moral no Direito Previdenciário (Erica Paula Barcha Correia) ............................................9

Autor

erica Paula Barcha cOrreia

• O Dano Moral no Direito Previdenciário ...............9

ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

Assunto

O DanO MOral PreviDenciáriO

• Previdenciário – Pensão por morte – Companhei-ra – Lei nº 8.213/1991 – Atrasados – Primeiro re-querimento administrativo indeferido – Segundo requerimento deferido – Danos morais – Jurosde mora – Correção monetária (TRF 2ª R.) ... 1326, 21

EMENTÁRIO

Assunto

O DanO MOral PreviDenciáriO

• Auxílio-doença – doença incapacitante – con-versão em aposentadoria por invalidez – danomoral – não caracterização ........................1327, 31

• Dano moral – benefício previdenciário – revisão – IRSM – previsão legal – observação obrigatória – indenização indevida ..............................1328, 32

• Pensão por morte – companheira – união está-vel comprovada – dependência econômica pre-sumida – prescrição quinquenal – dano moral – indenização – descabimento ...................1329, 32

• Responsabilidade civil – demora e negligência do INSS em conceder a aposentadoria por inva-lidez – configuração ..................................1330, 33

• Servidor público – pensão por morte – menor sob guarda – cancelamento do benefício – danomoral – inocorrência .................................1331, 34

Índice Geral

DOUTRINA

Assunto

aPOsentaDOria

• A Nova Aposentadoria dos Policiais (Bruno Sá Freire Martins) .....................................................42

aPOsentaDOria esPecial

• O Fator Psicológico Como Forma de Obtençãode Aposentadoria Especial (Tiago Valero Brait) ....62

BenefíciO PreviDenciáriO

• Monitoramento do Pedido de Benefício por In-capacidade (Wladimir Novaes Martinez) .............36

PrescriçãO

• A Repercussão da Prescrição e Decadência no Direito Previdenciário Face ao Recurso Extraor-dinário nº 626.489 (Anderson Dario) ...................73

Autor

anDersOn DariO

• A Repercussão da Prescrição e Decadência no Direito Previdenciário Face ao Recurso Extraor-dinário nº 626.489 ...............................................73

BrunO sá freire Martins

• A Nova Aposentadoria dos Policiais ....................42

tiagO valerO Brait

• O Fator Psicológico Como Forma de Obtenção de Aposentadoria Especial ...................................62

WlaDiMir nOvaes Martinez

• Monitoramento do Pedido de Benefício por In-capacidade ..........................................................36

COM A PALAVRA, O PROCURADOR

Assunto

PreviDência cOMPleMentar

• As Novas Regras para a Retirada de Patrocínio nas Entidades Fechadas de Previdência Com-plementar: Aspectos Econômico-Financeiros eAtuariais (Christian Aggensteiner Catunda) ........176

Autor

christian aggensteiner catunDa

• As Novas Regras para a Retirada de Patrocínio nas Entidades Fechadas de Previdência Com-plementar: Aspectos Econômico-Financeiros eAtuariais ............................................................176

EM POUCAS PALAVRAS

Assunto

saláriO-MaterniDaDe

• Salário-Maternidade: os Avanços da Lei nº 12.873/2013 e os Progressos Ainda por Con-quistar (Marco Aurélio Serau Júnior) ..................213

Page 228: ISSN 2237-714X Revista SÍNTESE - bdr.sintese.com 61_miolo.pdf · dos Mestres Wladimir Novaes Martinez, Bruno Sá Freire Martins, Tiago Valero Brait e Anderson Dario. Destacamos,

228 ����������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

Autor

MarcO auréliO serau JúniOr

• Salário-Maternidade: os Avanços da Lei nº 12.873/2013 e os Progressos Ainda por Con-quistar ...............................................................213

ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

Previdenciário

aPOsentaDOria esPecial

• Previdenciário – Apelação cível – Aposenta-doria especial ou por tempo de contribuição – Conversão de tempo especial em tempo co-mum – Enquadramento em categoria profissio-nal – Marítimo de convés – Rol dos Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979 – Atividade en-quadrada como especial até 28.05.1998 – Ruí-do médio superior a 80 decibéis – Possibilidade de contagem diferenciada – Tempo suficiente –Benefício deferido (TRF 2ª R.) ..................1334, 102

aPOsentaDOria POr invaliDez

• Administrativo – Servidor – Revisão de aposen-tadoria por invalidez – Transtorno bipolar – Pro-ventos proporcionais – Cabimento – Alegação de alienação mental – Inocorrência (TRF 5ª R.) ................................................................1337, 135

BenefíciO assistencial

• Benefício assistencial – Pessoa incapacitada de prover a própria manutenção ou tê-la pro-vida de outra forma – Comprovação – Conces-são – Honorários advocatícios sucumbenciais – Defensoria pública da União – Cabimento (TRF 4ª R.) ...............................................1336, 123

esteliOnatO

• Apelação criminal – Art. 171, § 3º, c/c art. 71, ambos do Código Penal – Estelionato previ-denciário – Saques indevidos de benefícios – Beneficiário falecido – Crime continuado – Prescrição retroativa de parte dos crimes prati-cados – Autoria e materialidade comprovadas – Princípio da insignificância – Inaplicabilida-de – Dosimetria – Pena de multa – Redução da quantidade de dias-multa – Adoção dos mesmos critérios para fixação da pena privativa de liber-dade – Indenização do art. 387, IV, do Código de Processo Penal – Necessidade de pedido expresso – Afastamento – Recurso parcialmenteprovido (TRF 3ª R.) ..................................1335, 109

PensãO

• Direito constitucional e administrativo – Servi-dor aposentado e beneficiário de pensão por morte – Teto constitucional – Incidência isola-da sobre cada uma das verbas – Interpretação lógico-sistemática da constituição – Caráter

contributivo do sistema previdenciário do ser-vidor público – Segurança jurídica – Vedação do enriquecimento sem causa – Princípio da igualdade – Recurso ordinário em mandado de segurança provido (STJ) .............................1332, 86

teMPO De serviçO

• Previdenciário – Restabelecimento de benefício – Irregularidades apontadas pelo INSS na conta-gem de tempo de serviço – Prova oral – Neces-sidade – Cerceamento de defesa – Ocorrência – Sentença anulada (TRF 1ª R.) ..................1333, 96

EMENTÁRIO

Previdenciário

açãO regressiva

• Ação regressiva – INSS – contribuição ao SAT – acidente do trabalho – ausência de responsabili-dade patronal – impossibilidade ..............1338, 145

aciDente De traBalhO

• Acidente de trabalho – consolidação das lesões que o incapacita para o trabalho que habitual-mente exercia – princípio da persuasão racio-nal do Magistrado – auxílio-acidente – pos-sibilidade .................................................1339, 147

aPOsentaDOria

• Aposentadoria – ato concessório – publica-ção com a indicação do valor dos proventos– obrigatoriedade .....................................1340, 147

• Aposentadoria – averbação de tempo de serviço prestado na condição de aluno aprendiz – re-quisitos estabelecidos na Súmula nº 96 do TCU – inobservância .......................................1341, 148

• Aposentadoria – cômputo de tempos de servi-ço de atividade rural – ausência comprovação– ilegalidade ............................................1342, 148

• Aposentadoria – contagem de tempo celetista para aquisição de licença especial não gozada – cômputo em dobro como tempo de contri-buição – possibilidade .............................1343, 148

• Aposentadoria – incorporação de URP – paga-mento autorizado por decisão judicial – erro naproporção dos proventos – ilegalidade ..... 1344, 149

• Aposentadoria – MPT – contribuição previdenciá-ria – ausência do recolhimento – efeitos .... 1345, 150

• Aposentadoria – parcela complementar de ca-ráter temporário – não absorção – concessão de vantagem sem preenchimento dos requisitoslegais – ilegalidade ..................................1346, 150

• Aposentadoria – recebimento por força de tute-la antecipada – restituição dos valores pagos – impossibilidade ......................................1347, 150

Page 229: ISSN 2237-714X Revista SÍNTESE - bdr.sintese.com 61_miolo.pdf · dos Mestres Wladimir Novaes Martinez, Bruno Sá Freire Martins, Tiago Valero Brait e Anderson Dario. Destacamos,

RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ���������������������������������������������������������������������������������������������������������229 aPOsentaDOria esPecial

• Aposentadoria especial – normas do Regime Ge-ral de Previdência Social – aplicabilidade.. 1348, 151

aPOsentaDOria POr iDaDe

• Aposentadoria por idade – rurícola – documentos novos – efeitos .........................................1349, 151

• Aposentadoria por idade rural – preenchimento dos requisitos – impossibilidade ..............1350, 152

aPOsentaDOria POr invaliDez

• Aposentadoria por invalidez – contribuinte in-dividual – perda e recuperação da qualidade de segurado – contribuição previdenciária – re-colhimento retroativo – incapacidade preexis-tente – impossibilidade ............................1351, 153

• Aposentadoria por invalidez – incapacidade para o trabalho – qualidade de segurado – ma-nutenção – benefício devido ....................1352, 154

• Aposentadoria por invalidez – prova pericial in-suficiente – benefício indevido ................1353, 155

• Aposentadoria por invalidez – revisão – conces-são por transformação de auxílio-doença – au-sência de período contributivo entre os benefí-cios – cálculo da RMI – efeitos ................1354, 156

aPOsentaDOria POr teMPO De cOntriBuiçãO

• Aposentadoria por tempo de contribuição – re-lação de emprego entre pai e filho – inexistência – contribuição previdenciária – recolhimento obrigatório ...............................................1355, 156

aPOsentaDOria POr teMPO De serviçO

• Aposentadoria por tempo de serviço – médico ve-terinário – atividade especial – dados do CNIS – reconhecimento .......................................1356, 157

• Aposentadoria por tempo de serviço – rurícola – labor anterior aos 14 anos de idade – reco-nhecimento .............................................1357, 158

auxíliO-DOença

• Auxílio-doença – qualidade de segurado e incapacidade laborativa – comprovação – benefício devido ......................................1358, 160

• Auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez – antecipação de tutela – verossimilhança de-monstrada – liminar concedida ................1359, 161

BenefíciO PreviDenciáriO

• Benefício previdenciário – decadência – obser-vação .......................................................1360, 161

• Benefício previdenciário – revisão – RGPS – al-teração no teto – efeitos ...........................1361, 162

• Benefício previdenciário – revisão – vinculaçãoao salário-de-contribuição – ausência......1362, 162

cOntriBuiçãO PreviDenciária

• Contribuição previdenciária – débito – Câmara Municipal – responsabilidade tributária – Mu-nicípio .....................................................1363, 163

• Contribuição previdenciária – fornecimento de moradia gratuita – Convenção Coletiva de Tra-balho – incidência – possibilidade ...........1364, 163

DesaPOsentaçãO

• Desaposentação – renúncia ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição – concessão de outro mais vantajoso – possibili-dade ........................................................1365, 164

frauDe

• Fraude – benefício previdenciário – suspensão –cabimento ...............................................1366, 164

ir• IR – benefício previdenciário – pagamento em

atraso – incidência ...................................1367, 165• IR – isenção – pensão de ex-combatente – por-

tador de incapacidade ou invalidez – cabimento ................................................................1368, 166

• IR – servidor aposentado – isenção – moléstiagrave – prova pericial – dispensabilidade .. 1369, 166

PensãO

• Pensão por morte – erro de fato – ocorrência – efeitos ......................................................1370, 167

• Pensão por morte – neta incapaz – declaração de vontade existente – relevância – benefício devido .....................................................1371, 167

• Pensão por morte – restituição de valores rece-bidos indevidamente – efeitos ..................1372, 167

• Pensão por morte estatutária – ausência de pré-vio requerimento administrativo – concessão – carência de ação – configuração .............1373, 169

• Pensão por morte estatutária – viúva e com-panheira – óbito de uma das titulares – rever-são da sua cota-parte aos titulares remanes-centes – reconhecimento .........................1374, 171

PreviDência sOcial

• Previdência Social – crime de estelionato – comprovação – pena – substituição – possibili-dade ........................................................1375, 172

serviDOr PúBlicO

• Servidor público – ex-celetista – serviço pres-tado em condições insalubres – contagem de tempo especial para fins de aposentadoria – re-conhecimento ..........................................1376, 174

• Servidor público – policial federal – prisão preventiva – absolvição criminal – tempo de serviço – aposentadoria especial – contagem –possibilidade ...........................................1377, 174

CLIPPING JURÍDICO

• Novos valores de depósitos recursais entram em vigor em 1º de agosto ........................................218

• Empresa é condenada a ressarcir ao INSS des-pesas com benefício decorrente de acidente detrabalho .............................................................218

Page 230: ISSN 2237-714X Revista SÍNTESE - bdr.sintese.com 61_miolo.pdf · dos Mestres Wladimir Novaes Martinez, Bruno Sá Freire Martins, Tiago Valero Brait e Anderson Dario. Destacamos,

230 ����������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 61 – Jul-Ago/2014 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

• Câmara reduz contribuição de patrão e empre-gado doméstico para o INSS ..............................219

• STJ vai julgar incidente de uniformização sobre inclusão de gratificação natalina no cálculo debenefício ...........................................................220

• Menor criado por família tem direito à pensãopor morte mesmo sem adoção regularizada.......221

• Período de licença por doença em pessoa da família pode ser contado como de efetivo exer-cício ..................................................................221

• Servidor do INSS é demitido por cometer frau-des contra Autarquia ..........................................222

• Tribunal determina que INSS pague honorários advocatícios à DPU ...........................................223

TABELAS PRÁTICAS ..............................................225

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................226

ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ......................227

NORMAS EDITORIAIS PARA ENVIO DE ARTIGOS ..7