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Superior Tribunal de Justiça AgRg nos EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL 86.915 - SP (2014/0254246-2) RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO AGRAVANTE : GLAUCE MARIA LEMOS ROGGÉRIO ADVOGADOS : DÉBORA ROGGERIO E OUTRO(S) DOMINGOS SAVIO ROGGERIO E OUTRO(S) AGRAVADO : SHOPPING INN FLOREAT EMPREENDIMENTOS LTDA ADVOGADO : ANDRÉ COELHO BOGGI E OUTRO(S) INTERES. : PAULO ROBERTO ROGGÉRIO INTERES. : NOTRE DAME INDÚSTRIA E PARTICIPAÇÕES LTDA EMENTA AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. JUSTIÇA GRATUITA (LEI 1.060/50, ARTS. 4º, E 9º). CONCESSÃO. EFICÁCIA EM TODAS AS INSTÂNCIAS E PARA TODOS OS ATOS DO PROCESSO. RENOVAÇÃO DO PEDIDO NA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO. DESNECESSIDADE. AGRAVO PROVIDO. 1. Uma vez concedida, a assistência judiciária gratuita prevalecerá em todas as instâncias e para todos os atos do processo, nos expressos termos do art. da Lei 1.060/50. 2. Somente perderá eficácia a decisão deferitória do benefício em caso de expressa revogação pelo Juiz ou Tribunal. 3. Não se faz necessário para o processamento do recurso que o beneficiário refira e faça expressa remissão na petição recursal acerca do anterior deferimento da assistência judiciária gratuita, embora seja evidente a utilidade dessa providência facilitadora. Basta que constem dos autos os comprovantes de que litiga na condição de beneficiário da justiça gratuita, pois, desse modo, caso ocorra equívoco perceptivo, por parte do julgador, poderá o interessado facilmente agravar fazendo a indicação corretiva, desde que tempestiva. 4. Agravo interno provido, afastando-se a deserção. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Corte Especial, por unanimidade, dar provimento ao agravo regimental para determinar o processamento dos embargos de divergência, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Felix Fischer, Humberto Martins, Maria Thereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Og Fernandes, Luis Felipe Salomão, Mauro Campbell Marques e Benedito Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão, Nancy Andrighi e João Otávio de Noronha. Brasília, 26 de fevereiro de 2015(Data do Julgamento). Documento: 1385748 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/03/2015 Página 1 de 14

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Superior Tribunal de Justiça

AgRg nos EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 86.915 - SP (2014/0254246-2)

RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJOAGRAVANTE : GLAUCE MARIA LEMOS ROGGÉRIO ADVOGADOS : DÉBORA ROGGERIO E OUTRO(S)

DOMINGOS SAVIO ROGGERIO E OUTRO(S)AGRAVADO : SHOPPING INN FLOREAT EMPREENDIMENTOS LTDA ADVOGADO : ANDRÉ COELHO BOGGI E OUTRO(S)INTERES. : PAULO ROBERTO ROGGÉRIO INTERES. : NOTRE DAME INDÚSTRIA E PARTICIPAÇÕES LTDA

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. JUSTIÇA GRATUITA (LEI 1.060/50, ARTS. 4º, 6º E 9º). CONCESSÃO. EFICÁCIA EM TODAS AS INSTÂNCIAS E PARA TODOS OS ATOS DO PROCESSO. RENOVAÇÃO DO PEDIDO NA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO. DESNECESSIDADE. AGRAVO PROVIDO.1. Uma vez concedida, a assistência judiciária gratuita prevalecerá em todas as instâncias e para todos os atos do processo, nos expressos termos do art. 9º da Lei 1.060/50. 2. Somente perderá eficácia a decisão deferitória do benefício em caso de expressa revogação pelo Juiz ou Tribunal.3. Não se faz necessário para o processamento do recurso que o beneficiário refira e faça expressa remissão na petição recursal acerca do anterior deferimento da assistência judiciária gratuita, embora seja evidente a utilidade dessa providência facilitadora. Basta que constem dos autos os comprovantes de que já litiga na condição de beneficiário da justiça gratuita, pois, desse modo, caso ocorra equívoco perceptivo, por parte do julgador, poderá o interessado facilmente agravar fazendo a indicação corretiva, desde que tempestiva. 4. Agravo interno provido, afastando-se a deserção.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Corte Especial, por unanimidade, dar provimento ao agravo regimental para determinar o processamento dos embargos de divergência, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Felix Fischer, Humberto Martins, Maria Thereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Og Fernandes, Luis Felipe Salomão, Mauro Campbell Marques e Benedito Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão, Nancy Andrighi e João Otávio de Noronha.

Brasília, 26 de fevereiro de 2015(Data do Julgamento).

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MINISTRA LAURITA VAZ Presidente

MINISTRO RAUL ARAÚJO Relator

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Superior Tribunal de Justiça

AgRg nos EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 86.915 - SP (2014/0254246-2)

RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJOAGRAVANTE : GLAUCE MARIA LEMOS ROGGÉRIO ADVOGADOS : DÉBORA ROGGERIO E OUTRO(S)

DOMINGOS SAVIO ROGGERIO E OUTRO(S)AGRAVADO : SHOPPING INN FLOREAT EMPREENDIMENTOS LTDA ADVOGADO : ANDRÉ COELHO BOGGI E OUTRO(S)INTERES. : PAULO ROBERTO ROGGÉRIO INTERES. : NOTRE DAME INDÚSTRIA E PARTICIPAÇÕES LTDA

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO RAUL ARAÚJO:

Trata-se de agravo interno interposto por GLAUCE MARIA LEMOS ROGGÉRIO

contra decisão proferida pelo eminente Ministro Presidente desta Corte de Justiça, nos seguintes

termos (fls. 1.696/1.697):

"A petição dos embargos de divergência veio desacompanhada do comprovante de pagamento de custas. A embargante, no corpo da peça recursal, "declara não ter condições, no momento, para arcar com às custas e despesas processuais, requerendo os benefícios da Justiça Gratuita" (fl. 1547). Relatado. Decido. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que o pedido de assistência judiciária gratuita, estando em curso a ação, deve ser formulado em petição avulsa e processado em apenso aos autos principais, nos termos do art. 6º da Lei n. 1.060/50, constituindo erro grosseiro o não cumprimento dessa formalidade. Nesse sentido, "mutatis mutandis" os seguintes precedentes: EDcl no AREsp 512.956/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 24/6/2014; EDcl no AREsp 486.574/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamim, DJe de 24/6/2014; e AgRg no AREsp 459.771/RJ, 1ª Turma, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe de 14/4/2014. Além disso, no caso, mesmo a parte tendo recebido o benefício na origem (fl. 1070), "deve haver a renovação do pedido quando do manejo do recurso, uma vez que o deferimento anterior da benesse não alcança automaticamente as interposições posteriores" (EDcl no AgRg nos EAREsp 221.303/RS, Corte Especial, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe de 27/3/2014; Ainda, mutatis mutandis: AgRg nos EDcl no AREsp 497.645/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 15/08/2014; e EDcl no AREsp 399.852/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe de 7/2/2014. À vista disso, julgo deserto o recurso, com fulcro no art. 511, caput, do Código de Processo Civil, combinado com o art. 21, inciso XIII, alínea e, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça."

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Superior Tribunal de Justiça

Em suas razões recursais (fls. 1.700/1.716), a ora agravante alega que, "tratando-se

os Embargos de Divergência de ação originária, para o novo feito o embargante deve

comprovar o recolhimento das custas devidas no momento da distribuição, ou requerer a

assistência judiciária, ou benefícios da Justiça Gratuita, na forma do art. 4º da Lei no. 1.060,

de 5 de fevereiro de 1950 (...). Deste modo, ao distribuir seus Embargos de Divergência, a

Agravante postulou a assistência judiciária na própria petição inicial da ação de Embargos

de Divergência, como dispõem o art. 13, caput, da Lei no. 11.636, de 2007, e o art. 4º,

parágrafo primeiro, da Lei no. 1.060/50 (...). E, ainda que não se tratasse de uma nova ação,

por ser os Embargos de Divergência feito de competência originária desta Corte Superior,

mas, por hipótese, fosse feito de competência recursal deste Colendo Tribunal, a Agravante

faria jus, pela expressa previsão legal do parágrafo único do art. 13 da Lei no. 11.636/2007,

à admissão de seus Embargos (...). Data maxima venia, a Agravante, que já recebera o

deferimento da assistência judiciária nas instâncias inferiores, reconhecido por este Colendo

Tribunal em feito de competência recursal [Agravo em Recurso Especial e Agravo Regimental

no Agravo em Recurso Especial], postulou, para a nova ação: os Embargos de Divergência,

o pedido de assistência judiciária, na forma descrita no art. 13, caput, da Lei no.11.636, de

2007, c.c. art. 4º, parágrafo primeiro, da Lei no. 1.060/50 (...). Para o fim de deferimento da

assistência judiciária, fez a declaração no corpo da petição inicial, assim como colacionou a

declaração de que trata o art. 4º, parágrafo 1º, da Lei no. 1.060/50, no prazo e na forma

descritos no art. 13, caput, da Lei no. 11.636/2007 ".

Requer, assim, "seja reconsiderada a R. Decisão proferida, ou, sendo diverso o

entendimento de Vossa Excelência, seja então o feito apresentado em mesa para, provido o

Agravo, seja apreciado o pedido de assistência judiciária e este seja deferido, permitindo

assim a admissão e processamento dos Embargos de Divergência, para final provimento ".

É o relatório.

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AgRg nos EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 86.915 - SP (2014/0254246-2) RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJOAGRAVANTE : GLAUCE MARIA LEMOS ROGGÉRIO ADVOGADOS : DÉBORA ROGGERIO E OUTRO(S)

DOMINGOS SAVIO ROGGERIO E OUTRO(S)AGRAVADO : SHOPPING INN FLOREAT EMPREENDIMENTOS LTDA ADVOGADO : ANDRÉ COELHO BOGGI E OUTRO(S)INTERES. : PAULO ROBERTO ROGGÉRIO INTERES. : NOTRE DAME INDÚSTRIA E PARTICIPAÇÕES LTDA

VOTO

O SENHOR MINISTRO RAUL ARAÚJO (Relator):

Inicialmente, destacam-se as circunstâncias do caso concreto:

(I) o benefício da assistência judiciária gratuita foi deferido à parte ora agravante

pelo colendo TJ/SP, no acórdão proferido em embargos declaratórios em agravo de instrumento (fls.

1.066/1.070). Esse foi o ponto fulcral em relação ao qual a parte alegou omissão no aresto do agravo

de instrumento, que foi reconhecida e sanada na via dos aclaratórios;

(II) na petição de recurso especial, a ora agravante informou sua condição de

beneficiária da assistência judiciária gratuita (fl. 1.074), não recolhendo, pois, o preparo recursal no

especial, tampouco no posterior agravo interposto;

(III) prosseguindo, considerando tratar-se de recurso originariamente protocolado no

Superior Tribunal de Justiça (fls. 1.700/1.716), a parte requereu a concessão do benefício de

gratuidade também no ato de interposição dos embargos de divergência (fl. 1.547), juntando a

declaração de pobreza (fl. 1.548);

(IV) a decisão ora agravada, não obstante tenha reconhecido a existência de

concessão anterior do benefício - apontando nos autos até mesmo a folha da decisão deferitória (fl.

1.696) -, decretou a deserção, com base em dois fundamentos: (a) necessidade de renovação do

pedido de assistência judiciária gratuita "quando do manejo do recurso, uma vez que o

deferimento anterior da benesse não alcança automaticamente as interposições posteriores ";

(b) embora a parte tenha renovado o referido pedido, o fez incorretamente na própria petição de

embargos de divergência, quando deveria ter sido em petição avulsa, já que em curso a demanda

(Lei 1.060/50, art. 6º).

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Superior Tribunal de Justiça

A r. decisão agravada, ao julgar desertos os embargos de divergência, alicerçou-se

em jurisprudência desta egrégia Corte Especial, consubstanciada no julgamento do AgRg nos

EAREsp 221.303/RS, na sessão de 18 de dezembro de 2013. Na oportunidade, à unanimidade de

votos, concluiu-se, nos termos da ementa do v. acórdão, que "o preparo deve ser feito no

momento da interposição do recurso, sob pena de deserção, sendo certo, outrossim, que na

hipótese de o recorrente ser beneficiário da justiça gratuita, deve haver a renovação do

pedido quando do manejo do recurso , uma vez que o deferimento anterior da benesse não

alcança automaticamente as interposições posteriores " (grifou-se).

Nesse mesmo sentido há precedente anterior desta eg. Corte Especial: AgRg nos

EAREsp 321.732/RS, julgado na sessão de 16 de outubro de 2013.

Com base nesses precedentes, têm sido proferidas diversas decisões no âmbito do

Superior Tribunal de Justiça, tal como a ora agravada. Ocorre que, ao contrário do que normalmente

sucede, esse entendimento merece ainda outras reflexões.

Para bem situar a questão, cumpre transcrever as normas constitucionais e legais

pertinentes (algumas transcrições parcialmente grifadas):

Constituição Federal

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:(...)II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;(...)XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;(...)LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;(...)LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;

CPC

Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente , o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.

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Superior Tribunal de Justiça

§ 1º São dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal .........................................................................................................................

Lei 1.060/50

Art. 4º. A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família. .......................................................................................................................

Art. 6º. O pedido, quando formulado no curso da ação, não a suspenderá, podendo o juiz, em face das provas, conceder ou denegar de plano o benefício de assistência. A petição, neste caso, será autuada em separado, apensando-se os respectivos autos aos da causa principal, depois de resolvido o incidente.........................................................................................................................

Art. 9º. Os benefícios da assistência judiciária compreendem todos os atos do processo até decisão final do litígio, em todas as instâncias .

Lei 11.636/2007

Art. 9º Quando se tratar de feitos de competência originária, o comprovante do recolhimento das custas deverá ser apresentado na unidade competente do Superior Tribunal de Justiça, no ato de protocolo.

Art. 10 Quando se tratar de recurso, o recolhimento do preparo, composto de custas e porte de remessa e retorno, será feito no tribunal de origem, perante as suas secretarias e no prazo da sua interposição.Parágrafo único. Nenhum recurso subirá ao Superior Tribunal de Justiça, salvo caso de isenção, sem a juntada aos autos do comprovante de recolhimento do preparo..........................................................................................................................

Art. 13. A assistência judiciária, perante o Superior Tribunal de Justiça, será requerida ao presidente antes da distribuição, e, nos demais casos, ao relator.Parágrafo único. Prevalecerá no Superior Tribunal de Justiça a assistência judiciária já concedida em outra instância .

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RISTJ

Das Despesas ProcessuaisArt. 112. No Tribunal, serão devidas custas nos processos de sua competência originária e recursal, nos termos da lei.

Em observância aos princípios constitucionais da inafastabilidade da tutela

jurisdicional e do devido processo legal (CF, art. 5º, XXXV e LIV), é assegurada a concessão

do benefício da assistência judiciária gratuita às partes, sendo suficiente para sua obtenção que o

interessado, em se tratando de pessoa física, afirme não dispor de recursos suficientes para custear

as despesas do processo sem sacrifício do sustento próprio e de sua família (CF, art. 5º, LXXIV). A

assistência jurídica integral e gratuita tem natureza de direito público subjetivo, sendo uma das

garantias constitucionais do cidadão brasileiro.

Como se observa na legislação transcrita, o estado de miserabilidade não admite

preclusão, de maneira que o pedido de assistência judiciária pode ser requerido a qualquer tempo e

em qualquer grau de jurisdição, no processo de conhecimento ou, extraordinariamente, na própria

execução. Não há um momento procedimental específico para autor, réu ou interveniente

requererem o benefício. Destarte, nada obsta a apreciação do pedido de assistência judiciária

gratuita em segunda instância ou já na instância extraordinária.

Quando o benefício é requerido pela parte na primeira oportunidade que lhe caiba

falar nos autos, o art. 4º, caput , da Lei 1.060/50 garante bastar a afirmação na própria petição de

que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem

prejuízo próprio ou de sua família, a fim de gozar dos benefícios da assistência judiciária gratuita.

Razoável é que se entenda, pois, poder o autor requerer o benefício na inicial, o réu na resposta e o

interveniente na primeira manifestação processual, de modo que, nesses casos, o pedido será

processado nos próprios autos.

A propósito:

"Justiça gratuita. Acaso o recorrente deseje auferir os benefícios da justiça gratuita, deverá requerê-los no próprio recurso, para que o órgão de interposição (a quo, normalmente) ou o relator os conceda. Prevê o art. 6º da Lei Federal nº 1.060/50: 'O pedido, quando formulado no curso da ação, não a suspenderá, podendo o juiz, em face das provas, conceder ou denegar de plano o benefício de assistência. A petição, neste caso, será autuada em separado, apensando-se os respectivos

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autos aos da causa principal, depois de resolvido o incidente'. Não se pode levar ao extremo a literalidade do dispositivo, a impor ao recorrente a elaboração de duas petições (a do recurso e a do requerimento da assistência judiciária). Seria formalidade excessiva e desnecessária. O que se quer afirmar, com razão, é que, já tendo postulado (Apresentado a sua peça inicial: petição inicial, contestação, recurso, se terceiro) a parte somente poderá requerer a justiça gratuita promovendo um incidente com este objetivo. Se o autor pode requerer os benefícios na petição inicial, retirar esta possibilidade do réu (na contestação) e do terceiro (na sua petição de ingresso, no caso, o recurso) seria, além de tudo, interpretação em dissonância com o princípio da igualdade " (DIDIER JR, Fredie e Leonardo José Carneiro da Cunha. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais , Vol. 3, 8ª ed., JusPodivm: Salvador, 2010, p. 66, grifou-se)

Por outro lado, se a ação estiver em curso e as partes já houverem tido a

oportunidade de realizar sua primeira manifestação nos autos, o pedido de gratuidade deverá ser

deduzido em petição avulsa, a qual será processada em apenso aos autos principais, sem suspensão

do feito, consoante o disposto no art. 6º da Lei 1.060/50.

Por isso, nessa última hipótese, com base no art. 13, caput, da Lei 11.636/2007, esta

Corte de Justiça possui orientação firmada no sentido de que caracteriza erro o pedido de

assistência judiciária gratuita formulado, no curso da demanda, perante o STJ, na própria petição

recursal, e não em petição avulsa. Nessa linha de entendimento, citam-se os seguintes julgados:

Corte Especial - AgRg nos EAg 1.345.775/PI, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe

de 21/11/2012; Primeira Turma - AgRg no REsp 1.169.046/PR, Rel. Min. SÉRGIO KUKINA,

DJe de 11/11/2014; AgRg no AREsp 423.408/MG, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJe de

18/12/2013; Segunda Turma - AgRg no AREsp 589.057/SP, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN,

DJe de 3/2/2015; AgRg no REsp 1.395.173/RS, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe de

29/9/2014; Terceira Turma - AgRg nos EDcl no AREsp 423.888/RS, Rel. Min. RICARDO

VILLAS BÔAS CUEVA, DJe de 2/2/2015; REsp 1.446.201/SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI,

DJe de 9/9/2014; AgRg no AREsp 314.489/AL, Rel. Min. SIDNEI BENETI, DJe de 9/10/2013;

Quarta Turma - AgRg no AREsp 576.881/RS, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, DJe de

2/2/2015; AgRg no AREsp 568.804/RJ, Rel. Min. RAUL ARAÚJO, DJe de 19/12/2014; AgRg no

AREsp 88.934/SP, Rel. Min. MARCO BUZZI, DJe de 12/11/2012; Quinta Turma - AgRg no

AREsp 184.436/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ, DJe de 26/8/2013; AgRg no AREsp 243.872/RS,

Rel. Min. MARILZA MAYNARD - Desembargadora convocada do TJ/SE -, DJe de 23/11/2012;

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Sexta Turma - AgRg no AgRg no Ag 1.254.046/SP, Rel. Min. NEFI CORDEIRO, DJe de

4/8/2014; AgRg no Ag 1.252.414/MS, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe de

16/3/2011.

Então, desde que adequadamente formulado o pedido e uma vez concedida, a

assistência judiciária gratuita prevalecerá em todas as instâncias e para todos os atos do processo,

nos expressos termos assegurados no art. 9º da Lei 1.060/50 (reiterado no parágrafo único do art. 13

da Lei 11.636/2007). Portanto, somente perderá eficácia a concessão do benefício em caso de

expressa revogação pelo Juiz ou Tribunal, quando comprovada a mudança da condição

econômico-financeira do beneficiário, já que a decisão que concede a gratuidade está condicionada

à cláusula rebus sic standibus , primando pela precariedade e não gerando preclusão pro judicato .

Com efeito, a concessão da assistência judiciária gratuita, por compor a integralidade

da tutela jurídica pleiteada, comporta eficácia para todos os atos processuais, em todas as instâncias,

alcançando, inclusive, as ações incidentais ao processo de conhecimento, os recursos, as rescisórias,

assim como o subsequente processo de execução e eventuais embargos à execução,

independentemente de novo pedido.

Nesse contexto, uma vez formulado pedido de assistência judiciária gratuita em

qualquer tempo ou grau de jurisdição, o seu deferimento produzirá efeito ex nunc . É certo que não

terá eficácia retroativa, contudo somente deixa de surtir efeitos naquele processo quando

expressamente revogado, sendo despicienda a constante renovação do pedido a cada instância e

para a prática de cada ato processual.

A renovação do pedido de gratuidade da justiça somente se torna necessária quando

houver anterior indeferimento do pleito ou revogação no curso do processo. Para tanto, o

interessado deve reformular o pleito, em petição avulsa (Lei 1.060, art. 6º), e provar a alteração de

sua situação econômico-financeira. Daí, o magistrado competente, em uma nova avaliação, poderá

deferir ou não o benefício requerido.

Essa é a interpretação mais adequada da legislação invocada, especialmente da Lei

1.060/50 (arts. 4º, 6º e 9º), e consentânea com os princípios constitucionais da inafastabilidade da

tutela jurisdicional e do processo justo, com garantia constitucional de concessão do benefício da

assistência judiciária gratuita ao necessitado (CF, art. 5º, XXXV, LIV e LXXIV).

Ademais, não há previsão legal que autorize a exigência de renovação do pedido de

assistência judiciária gratuita, já concedido, em cada instância e a cada interposição de recurso,

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mesmo na instância extraordinária. Ao contrário, o art. 9º da Lei 1.060/50 é expresso e estabelece a

eficácia da decisão deferitória do benefício em todas as instâncias e graus de jurisdição. No tocante

aos recursos de competência do Superior Tribunal de Justiça, inclusive, o art. 13, parágrafo único, da

Lei 11.636/2007 - que dispõe acerca das custas judiciais devidas no âmbito desta Corte - consagra,

explicitamente, a prevalência do benefício da assistência judiciária gratuita concedido em outra

instância.

Assim, é importante frisar que não se faz necessário para o processamento do

recurso que o beneficiário refira e faça expressa remissão na petição recursal acerca do anterior

deferimento da assistência judiciária gratuita, embora seja evidente a utilidade dessa providência

facilitadora. Basta que constem dos autos os comprovantes de que já litiga na condição de

beneficiário da justiça gratuita, pois, desse modo, caso ocorra equívoco perceptivo, por parte do

julgador, poderá o interessado facilmente agravar fazendo a indicação corretiva, desde que

tempestiva.

Cabe lembrar, por oportuno, que a Constituição Federal consagra o princípio da

legalidade (CF, art. 5º, II), que dispensa o particular de quaisquer obrigações em face do silêncio da

lei (campo da licitude). Assim, uma vez que não se pode obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer

algo senão em virtude de lei, com maior razão não se poderá obrigar alguém a fazer algo apesar de

a lei expressamente dispensar a providência (máxime para cassar garantia constitucional).

Se as normas não fazem exigência específica, expressa, mas, ao contrário,

dispensam a providência, parece inteiramente vedado ao intérprete impô-la, para extrair de tal

interpretação consequências absolutamente graves a ceifar o direito de recorrer da parte.

É princípio basilar da hermenêutica que não pode o intérprete restringir onde a lei não

restringe, condicionar onde a lei não condiciona ou exigir onde a lei não exige. A respeito do tema,

CARLOS MAXIMILIANO, ao discorrer sobre a regra de hermenêutica "ubi lex non distinguit

nec nos distinguere debemus: onde a lei não distingue, não pode o intérprete distinguir ",

afirma que "quando o texto dispõe de modo amplo, sem limitações evidentes, é dever do

intérprete aplicá-lo a todos os casos particulares que se possam enquadrar na hipótese geral

prevista explicitamente; não tente distinguir entre as circunstâncias da questão e as outras;

cumpra a norma tal qual é, sem acrescentar condições novas, nem dispensar nenhuma das

expressas " (Hermenêutica e Aplicação do Direito, 17ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 247).

Feitas essas ponderações, havendo, no caso dos autos, anterior deferimento do

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benefício de assistência judiciária gratuita pelo col. Tribunal a quo , a decisão deferitória tem plena

eficácia no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, salvo decisão em contrário, não podendo ser

considerados desertos os embargos de divergência opostos pela ora agravante.

Como dito, diante da existência de gratuidade de justiça já antes deferida pela

instância a quo , nos próprios autos, o novo pedido formulado nos embargos de divergência

mostrava-se desnecessário, pois renovado por mero excesso de cautela, prescindindo de apreciação,

sendo irrelevante tenha sido formulado no mesmo petitório ou em petição avulsa. O benefício

permanece concedido, nos termos da legislação aplicável.

Nesse diapasão, a conclusão de que a anterior concessão do benefício continua

produzindo efeitos nos subsequentes recursos interpostos, inclusive naqueles apresentados

diretamente nesta Superior Corte de Justiça, é suficiente, por si só, para afastar os dois fundamentos

que deram base à decisão ora agravada, ou seja, a necessidade de renovação do pedido e a

exigência de que tivesse sido feito por petição avulsa.

Diante do exposto, dá-se provimento ao agravo interno, para, reformando-se a r.

decisão agravada, determinar-se sejam processados os embargos de divergência, com a devida

distribuição e conclusão dos autos para análise de sua admissibilidade.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTOCORTE ESPECIAL

AgRg nos

Número Registro: 2014/0254246-2 PROCESSO ELETRÔNICO EAREsp 86.915 / SP

Números Origem: 190361282010826000 201102057760 3081170609 5830320081170609 990101903610 99010190361050000

EM MESA JULGADO: 26/02/2015

Relator

Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO

Presidente da SessãoExma. Sra. Ministra LAURITA VAZ

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. HAROLDO FERRAZ DA NOBREGA

SecretárioBel. FRANCO DEYBSON SORIANO DE ARAÚJO

AUTUAÇÃO

EMBARGANTE : GLAUCE MARIA LEMOS ROGGÉRIOADVOGADOS : DOMINGOS SAVIO ROGGERIO E OUTRO(S)

DÉBORA ROGGERIO E OUTRO(S)EMBARGADO : SHOPPING INN FLOREAT EMPREENDIMENTOS LTDAADVOGADO : ANDRÉ COELHO BOGGI E OUTRO(S)INTERES. : PAULO ROBERTO ROGGÉRIOINTERES. : NOTRE DAME INDÚSTRIA E PARTICIPAÇÕES LTDA

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Locação de Imóvel

AGRAVO REGIMENTAL

AGRAVANTE : GLAUCE MARIA LEMOS ROGGÉRIOADVOGADOS : DOMINGOS SAVIO ROGGERIO E OUTRO(S)

DÉBORA ROGGERIO E OUTRO(S)AGRAVADO : SHOPPING INN FLOREAT EMPREENDIMENTOS LTDAADVOGADO : ANDRÉ COELHO BOGGI E OUTRO(S)INTERES. : PAULO ROBERTO ROGGÉRIOINTERES. : NOTRE DAME INDÚSTRIA E PARTICIPAÇÕES LTDA

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Corte Especial, por unanimidade, deu provimento ao agravo regimental para determinar o processamento dos embargos de divergência, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Felix Fischer, Humberto Martins, Maria Thereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Og Fernandes, Luis Felipe Salomão, Documento: 1385748 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/03/2015 Página 13 de 14

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Mauro Campbell Marques e Benedito Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão, Nancy Andrighi e João

Otávio de Noronha.

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