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O NATAL DO HIGHLANDER JANET CHAPMAN 7º Livro da Série Pine Creek Revisão inicial: Tininha, Letícia Thorne e Ludmila Serra Revisão Final: Fidalga e Raissa

J C - Pine Creek Highlander 07 - O Natal Do Highlander (Rev. PRT)

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O NATAL DO HIGHLANDER JANET CHAPMAN 7º Livro da Série Pine Creek

Revisão inicial: Tininha, Letícia Thorne e Ludmila Serra

Revisão Final: Fidalga e Raissa

Quem de vocês não acredita em milagres se prepare, por que vai tê-los de qualquer maneira!

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RESUMO

Camry MacKeage não tinha intenção de dizer a seus pais que deixou seu trabalho como física da NASA para viver com cães cangurus em uma cidade pequena aproveitando as férias sozinha na costa do Maine, com seus peludos amigos Tigrão e

Max. A mãe de Camry confiou ao cientista Lucas Pascal a tarefa de fazer sua filha voltar pra casa para a festa familiar anual de solstício de inverno. Mas Luke esconde

seu próprio segredo, e precisa de um pouco de magia para ganhar a confiança de Camry... e muita sedução para entrar no seu coração.

Comentário da Tininha: Mais um grande sucesso dessa escritora que criou um universo fantástico, onde ela mistura Highlanders vindos do século XII para o século XXI. Parece uma receita de confusão, mas não é. Ela tem um modo de escrever fascinante, envolvente, e as histórias nos deixam presas a cada página.

Temos Camry, uma das filhas do casal do primeiro livro, que foi a única que seguiu os passos da mãe. Tornou-se cientista espacial e, por um acaso do destino, acaba trocando emelhos com outro cientista rival, Luke. Começa a guerra entre eles, como o satélite Podly, criação de Grace, mãe de Cam, no meio dos dois. Um passe errado (será?) e o satélite se esborracha na Montanha de Pine Creek. Quando Cam se desilude com sua profissão acaba numa remota cidadezinha servindo atrás do balcão de um bar e sendo babá de cachorro. E esses cachorros são personagens deste livro também.

Janet Chapman mais uma vez cria suas cenas famosas por arrancar lágrimas dos nossos olhos, quando o casal está a procura do satélite caído e Luke resolve abrir seu coração, contando como ele descobriu o amor aos 20 anos. Fan-tás-ti-co! E tem outras cenas também de arrancar suspiros...

E uma figurinha fofa aparece para meter o bedelho na confusão criada (oi?) e esse é um dos mistérios do livro. Acham que vou contar? Nananina. Terão que ler para saber. Só vou contar que esse livro é tão bom quanto todos os outros Pine Creek. Leiam!

Comentário da Fidalga: Livro gostoso, leve, com cenas hot, e principalmente, cheio de momentos familiares incríveis. Adoro a forma como essa família se ama, e como agrega os novos personagens. O destino, como sempre, rege a vida dos principais personagens e faz um cético ficar de joelhos diante das evidências de que a magia existe.

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Capítulo 1

A única coisa que impedia Grey de estrangular o homem que estava agachado e tremendo diante da sua lareira era que ele não queria perturbar Grace. E pelo fato de que sua esposa já estava bastante pálida e parecia que desmaiaria a qualquer momento, Greylen MacKeage se contentou em gritar com seu genro, o chefe de polícia Jack Stone que trouxe o homem quase congelado até eles.

Aparentemente também atordoado pelas notícias, Jack somente deu de ombros.— Você se importaria em repetir o que acabou de dizer, Sr. Pascal? — Grace sussurrou,

enquanto apertava os braços da cadeira. — Por que acho que não escutei direito da primeira vez.

Luke Pascal virou para esquentar as mãos no fogo, seu olhar preocupado dardejou para Gray antes de voltar a Grace.

— Quando fui para a NASA e pedi para vê-la uns dois meses atrás, fui informado que Camry não trabalhava lá desde dezembro do ano passado. Então fui ao seu apartamento e descobri que o vendeu na primavera passada. Desculpe-me, eu obviamente a choquei, Dra. Sutter, mas pensei que a senhora sabia.

Juro por Deus, se Pascal não parasse de chamar sua esposa de Dra. Sutter, Grey realmente estrangularia o bastardo.

— E como é que você conhece a nossa filha? — ele perguntou.Luke Pascal levantou de sua posição abaixada e o enfrentou. — Eu tenho me comunicado com Camry por e-mail há algum tempo. — Ele se moveu

desconfortavelmente. — Ou tinha, até este verão, quando de repente parou de responder aos meus e-mails.

Grace de repente saltou de pé, o que fez com que Pascal desse um passo atrás. — Você é o francês que estava incomodando Camry?A face fria de Pascal corou. — Prefiro pensar que nós estávamos comprometidos em uma animada discussão

científica. Certamente não foi minha intenção perturbá-la. — Ele fez uma careta. — Embora a julgar por alguns dos seus e-mails, talvez eu possa ter atingido um nervo ou dois.

— E você diz que ela parou de enviar e-mails no verão passado.— Logo depois que sugeri que eu deveria vir para a América para que pudéssemos

colaborar um com o outro. — Minha filha não achou que era uma boa ideia? — Gray perguntou, chamando a

atenção de Pascal novamente.O homem deu outro passo para trás. — De acordo com seu último e-mail, eu tenho que dizer não, não achou.— Mas você veio de qualquer maneira.Seu hóspede que estava se descongelando lentamente olhou para Grace, obviamente

sabendo que ela era a cientista da família e aparentemente decidindo que preferia lidar com ela.

— Estou finalmente perto de desvendar o segredo da propulsão iônica. — disse ele, mostrando com o polegar e o dedo indicador uma distância mínima. — Tenho certeza que se eu e Camry tentássemos resolver o problema juntos, poderíamos ter um protótipo funcionando dentro de um ano.

— E a resposta dela?— Um enorme e sucinto não. — ele murmurou, retornando em direção ao fogo. Seus

olhos de um azul marinho se moveram de Grace para Grey. — Você não falou com ela no último ano?

Jack bufou e Grey lhe lançou um olhar, virando-se então para Pascal.

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— Camry veio para casa várias vezes, mas sempre nos levou a acreditar que estava voltando para a Flórida sempre que nos deixava.

— E já que ela tem um telefone celular — Grace interrompeu — nós nunca ligamos para o laboratório. — Ela desabou para trás na cadeira balançando a cabeça. — Acabei de falar com ela há alguns dias, e me disse que seu trabalho estava indo muito bem. — Ela levantou os olhos angustiados para Grey. — Por que ela não nos contou que deixou a NASA? E se ela vendeu seu apartamento onde está vivendo agora?

Não querendo discutir assuntos de família na frente de um estranho, Grey foi em direção ao hall de entrada.

— Venha, Pascal. Vou levá-lo ao nosso resort hotel e arrumar um quarto para você.— Não. — disse Grace, saltando em pé novamente. — Luke ficará aqui em GU Brath.— Isso não é necessário. — disse Pascal, lendo corretamente o desejo de Grey que ele

condenadamente desse o fora da sua casa. — Eu realmente não quero me intrometer. Se apenas puder dormir em uma cama quente uns dias para descongelar — disse ele com um arrepio involuntário. — e colocar comida quente na minha barriga, estarei pronto para ir embora. Eu realmente deveria estar voltando para a França de qualquer maneira, antes de ser despedido.

— Mas você não veio aqui para colaborar com Camry?— Mas Camry não deseja colaborar comigo, Dra. Sutter.Grace fez um gesto com a mão como se não tivesse importância, então de repente

enlaçou seu braço com o dele, enquanto passavam por Grey em direção as escadas que conduziam aos quartos.

— Por favor, pode me chamar de Grace, Luke. Eu não sou chamada de Doutora há anos. Onde estão seus pertences?

— No meu carro alugado, soterrado embaixo de três metros de neve em algum lugar lá fora. — disse, apontando com sua mão. — Eu não tinha ideia que o Maine tivesse tempestades de neves tão violentas no início da estação. Pensei que fevereiro e março eram os meses de nevascas. Devo ter caminhado uns dezesseis quilômetros antes que Jack Stone viesse no snowmobile. Grace parou na escada e se virou para os homens.

— Jack você poderia achar o carro de Luke e trazer seus pertences? Jack assentiu. — Não é problema, mãe Mac.Ela começou a subir as escadas, com Luke logo atrás. — Eu vou arrumar algo para você vestir, e enquanto está tomando uma ducha quente,

arranjarei uma boa refeição para você. Eles caminharam ao longo da sacada e Pascal deu uma última olhada cautelosa para o

vestíbulo antes de desaparecer pelo corredor.Grey virou para o seu genro, mas Jack levantou a mão. — Dê-me duas horas, e serei capaz de dizer tudo o que você quer saber sobre Luke

Pascal, até seu peso e quando nasceu.— E você descobrirá onde diabos está Camry.— Bem, isso pode ser um pouco mais difícil. — Jack disse a ele. — Se Cam está mentindo para nós por mais de um ano sobre o local onde está

trabalhando e vivendo, ela certamente é inteligente o suficiente para não deixar uma trilha para seguir.

— Eu ligarei para ela e você poderá rastrear o sinal do celular.Jack balançou a cabeça. — Para isso seria necessária a implicação dos agentes do FBI, e duvido que eles

considerem que um pai que procura a filha crescida seja uma ameaça à segurança nacional.— Então use suas próprias habilidades para ir ao encalço de fugitivos.— Muitas vezes precisava de meses para encontrar aquelas crianças, Grey, e depois na

maioria das vezes foi pura sorte. Talvez Winter ou Matt possam ajudar. Ou Robbie.

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— Não, não quero envolver mais ninguém nisso. Camry mentiu para eles também, e eu preferiria descobrir sua razão primeiro, e não constrangê-la na frente de toda a família.

Jack assentiu. — Eu respeito isso. Vou calmamente localizá-la, mas talvez leve algum tempo. E de

qualquer maneira a festa de aniversário do solstício é só daqui a pouco mais de duas semanas. Você poderá perguntar a ela o que está acontecendo então.

— Ela não vem este ano. Alegou que não poderia se ausentar do trabalho.— Sinto muito. Deve ser duro descobrir de um estranho que sua filha está mentindo

para você. Mas o que eu não consigo entender é o porquê.Jack riu baixinho. — De todas as suas meninas Cam seria a única a nos enrolar, mas mentir? — Ele

balançou a cabeça. — Essa é a última coisa que eu esperaria dela.Grey olhou para a sacada. — Ela não é a única mentindo para nós. A única coisa que Pascal disse que eu acredito é

que a nevasca o pegou de surpresa. Pela aparência de sua barba e do estado de suas roupas, ele está acampado durante algum tempo. Onde exatamente você o achou?

Jack foi para porta e pôs a mão na maçaneta. — Cerca de trinta e dois quilômetros ao norte da cidade, em uma das estradas de carga

que conduzem a Montanha Springy .— E que desculpa ele deu para estar no meio do nada?— Ele disse que estava à procura de um antigo acampamento que seu avô possuía. Mas

no momento que me apresentei, ele mencionou o nome de Camry. Foi aí que soube que ele estava procurando o que caiu do céu ao norte daqui no verão passado. — Jack olhou para a sacada vazia, depois de volta para Grey. — Você realmente vai deixá-lo ficar em casa?

Grey abriu o seu primeiro sorriso da tarde. — Mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda, Stone.— E Pascal é seu inimigo?— Até que prove o contrário, é.

***** Luke estava sob o chuveiro abençoadamente quente, rangendo os dentes contra a dor

de seus dedos do pé descongelando, e começou a se barbear com a navalha que encontrou no banheiro completamente provido. Com a evidência de seus dois últimos meses de vida como um homem das cavernas lentamente se dissolvendo, ele se perguntou se não tinha pulado da frigideira direto ao fogo.

Primeiro e provavelmente o mais surpreendente, Grace Sutter MacKeage não era o que ele tinha esperado de uma mulher com um enorme currículo acadêmico, dos quais dois eram doutorados, no papel de uma dona de casa. Com toda certeza ela não parecia ter um osso nerd no seu corpo. Luke sabia que ela deveria estar com sessenta anos e era a mãe de sete meninas, mas ela não parecia ter mais de cinquenta.

Seu marido, entretanto, enviou calafrios em Luke que não teve absolutamente nada a ver com seu estado próximo ao congelamento. Greylen MacKeage deveria ter mais ou menos setenta anos, e cada maldito ano de experiência se mostrou nos seus olhos verdes agudos e penetrantes. Quando Luke mencionou inocentemente que Camry não estava trabalhado para NASA há mais de um ano, Greylen pareceu pronto para matar o mensageiro, como se de alguma forma a culpa fosse dele que Camry tivesse mentido para eles.

Quando Luke descobriu que seu salvador era Jack Stone, que ele sabia que era casado Megan, a irmã de Camry, pensou que sua sorte tinha finalmente mudado. Isto é, até ele ficar cara a cara com a mulher cujo trabalho de vida tinha destruído. Fez tudo o que podia fazer para não se jogar aos pés da Dra. Sutter e implorar seu perdão por destruir Podly.

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Embora para ser justo, ele só estava tentando espionar as transmissões do Podly, não sequestrar o pequeno satélite. E ele com certeza não tinha a intenção de fazê-lo cair da órbita. Mas ter caído tão perto de Pine Creek... isso foi muito estranho.

E ainda ter seu ídolo de infância recebendo-o em sua casa e tratá-lo com nada além de bondade. Bem, ele definitivamente estava indo para o inferno por seus enganos.

Luke se virou para deixar a ducha quente sobre seu rosto bem barbeado e começou a lavar o cabelo. Stone não acreditou nele sobre a busca de um antigo acampamento de família, Lucas leu a suspeita nos olhos do tranquilo policial, antes mesmo de terminar de contar a mentira. Então, ele mudou para a meia-verdade de que conhecia Camry MacKeage e que achava que ela vivia em Pine Creek. O Chefe Stone então carregou Luke em seu snowmobile e conduzido a máquina através da cidade até a estância de esqui da Montanha de TarStone, e até ao que somente poderia descrever como um castelo. Inferno, eles ainda tiveram que atravessar uma ponte levadiça para alcançar a porta da frente!

Então o que deveria fazer agora? Passou os últimos cinco meses à procura de Podly: os três primeiros passando por cima de dados de trajetória, e os dois últimos vasculhando a Montanha Springy. E ele ainda não tinha a menor ideia de onde esse satélite estava; a maldita coisa poderia estar no fundo do Lago Pine Creek pelo que sabia.

Mais uma vez Luke lutou com o impulso esmagador de se lançar aos pés de Grace, implorar seu perdão e em seguida, pedir para ajudá-lo a encontrar seu satélite que ele tinha perdido. Mas tudo que ele teve que fazer foi recordar a figura de Greylen MacKeage, olhos verdes agudos e da espada antiga letal que viu pendurada sobre a lareira. Confessar poderia ser bom para sua alma, mas ser preso como espeto por um marido enfurecido era uma coisa completamente diferente.

Que trouxe o pensamento de Luke de volta à filha deles; Camry se parece mais com sua mãe ou com seu pai?

Seu pai, ele diria, a julgar por alguns de seus mais contundentes e-mails, que realmente disparou seu desejo de conhecê-la pessoalmente.

Isto é, até hoje. Agora ele não tinha tanta certeza se queria se trancar em um laboratório com Camry, porque se ela havia herdado qualquer dos genes do papai highlander, um deles podia não sair vivo.

Talvez Grace fosse a MacKeage com a qual ele deveria estar tentando colaborar. Certamente não se importaria de cumprir o seu sonho de infância de trabalhar com a lendária mulher. Foi Grace Sutter MacKeage no fim de tudo, quem o despertou para a viagem espacial. Quando tinha doze anos encontrou um artigo que ela escreveu em uma revista científica, onde falava sobre sua pesquisa em curso por um combustível de foguetes mais eficiente.

Mas ela provavelmente estava agora mesmo no telefone com sua filha Camry, revelando sobre sua chegada inesperada e decididamente sem cerimônia. E Camry certamente estaria dizendo para a mãe chutar sua bunda congelada.

Como seu esforço altruísta tinha se transformado em um fiasco?Tudo o que ele estava tentando fazer era desbloquear o segredo para propulsão de íon,

mas acabou por destruir a última peça do quebra-cabeça, em vez disso. O que Grace pensaria se soubesse que seu experimento que durou quarenta anos, foi espalhado ao longo de vários quilômetros quadrados de terreno montanhoso e densa floresta?

Ela sabia. O mundo civilizado inteiro sabia que algo tinha caído nestas montanhas; ele só não sabia se Grace estava ciente que era seu amado Podly.

Finalmente capaz de sentir os seus dedos do pé novamente, Luke fechou a água e se secou. Enrolou a toalha em volta da cintura, e no grande e aconchegante quarto decorado com bom gosto que foi dado a ele, parou exausto.

Enquanto estava no chuveiro, alguém colocou roupas limpas sobre a cama, atiçou o fogo da lareira e pôs uma bandeja de comida em uma mesa em frente.

Oh, sim. Ele definitivamente ia para inferno.

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Capítulo 2

— Realmente não me preocupo sobre o que Jack vai descobrir sobre Lucian Pascal Renoir. — disse Grace, deixando cair o roupão e entrando no chuveiro. Ela pôs de repente sua cabeça pra fora para olhar Grey no espelho do banheiro. — Estou mais preocupada sobre onde Camry está.

— Como diabos pode ter vivido comigo durante trinta e cinco anos e não ter aprendido nenhuma noção de segurança? — Grey falou com sua navalha parada a meio caminho do rosto. — Você deu as boas vindas a um completo estranho na nossa casa, e até mesmo lhe mostrou seu laboratório hoje.

Grace fechou a cortina do chuveiro, ensaboou a esponja dela com sabão lilás e deu um passo para baixo da ducha.

— Eu não preciso de noção de segurança. Eu tenho você.Ela sorriu quando o ouviu bufar. — E se você pudesse ter visto Luke quando o levei até meu laboratório esta manhã,

você entenderia por que eu não preciso saber tudo sobre ele. — continuou ela. — O homem realmente manteve as mãos nos bolsos, como se estivesse com medo de tocar em qualquer coisa, e falou numa voz baixa e reverente. Levei quase uma hora para convencê-lo que poderia passar a tarde sozinho ali e até atualizar seu e-mail se quisesse.

A cortina do chuveiro, de repente se abriu, e seu marido com o rosto metade coberto com creme de barbear meteu a vista.

— Você deixou um cientista rival sozinho no seu laboratório a tarde toda? — Ele suspirou pesadamente. — É isso o que eu falo Grace. Às vezes você é muito confiante para o seu próprio bem.

Ela o empurrou para fora e fechou a cortina.— Você está deixando uma corrente de ar entrar. E Luke não é um cientista rival porque

não estou competindo com ninguém. Estamos todos trabalhando com o mesmo objetivo de ver a humanidade viajar para outros planetas.

A cortina do chuveiro se abriu novamente e Gray entrou, roubou a esponja dela, e começou a ensaboar o seu peito largo.

— O homem praticamente tem perseguido nossa filhinha por um ano, e você lhe deu acesso completo ao trabalho dela junto com o seu.

Grace não teve coragem de salientar que ele ia cheirar a lilases o dia todo amanhã.— E assim que você e Jack descobrirem onde Camry está — ela disse —, pretendo enviar

Luke atrás dela.Grey deixou a esponja cair surpreso. — Você não vai! Você me convenceu de não chamá-la ao celular ontem e exigir que nos

dissesse onde está, mas quando a encontrarmos eu irei buscá-la, não Pascal. Não confio no bastardo. Ele está mentindo para nós desde que chegou aqui. Nem sequer nos disse seu verdadeiro nome.

Grace enrolou os braços ao redor do seu pescoço e se inclinou para ele. — Ele nos disse a maior parte do seu nome. — ela sussurrou correndo um dedo sobre

sua mandíbula apertada. — E ele não estava mentindo sobre Camry ter se demitido. Chamei o seu antigo chefe esta manhã e ele me disse que foi forçado a deixar Camry ir porque ela estava muito atormentada e sem foco, estava perturbando todo mundo no trabalho. Sei que você acha que deve ser o único a ir buscá-la. — ela disse rápido, colocando o dedo sobre seus lábios quando ele tentou falar. — Mas pense nisso, Grey. Se você arrastar Camry para Gu Brath antes que ela esteja pronta para voltar para casa sozinha, vai afastá-la ainda mais.

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— Então o que te faz pensar que Pascal pode fazer o que eu não posso? Camry ficou tão zangada com o homem que parou de enviar e-mails pra ele.

Grace se abaixou e pegou a esponja, virou seu marido e começou a lavar suas costas. — Exatamente. Luke deve ter atingido poderosamente um nervo exposto para ela se

afastar do diálogo empolgante que eles estavam tendo. Você não lembra como Camry estava no inverno passado, Grey? Ela estava tão entusiasmada com seu trabalho e com tanta raiva de Luke, ela poderia ter voado pra lua debaixo do próprio poder. Mas então de repente tudo parou no verão passado.

— Porque Pascal disse que estava vindo para a América.— Exatamente. Ficar cara a cara com alguém que ela estava apaixonadamente

envolvida, obviamente a assustou como o inferno.Ele se virou e olhou para ela. — Camry não tem medo de nada.— Não? Então por que ela está mentindo para nós há mais de um ano? E por que não

veio para casa desde o solstício de verão? Por que não vai conhecer Luke pessoalmente? E por que está se escondendo de nós, e dele, e do trabalho que ama?

Grey encostou sua testa na dela e fechou os olhos.— Eu não sei. Pensei que não havia nenhum problema que nossas filhas não podiam

trazê-los até nós. Grace colocou os braços ao redor de sua cintura.— Isso não é algo que você pode corrigir Grey. Camry tem que corrigir a si mesma. Ela sorriu para ele.— E eu sinceramente acredito que Lucian Pascal Renoir é só o catalisador para ela

retornar triunfante para a vida novamente.— Você acredita que enviando um mentiroso após o outro conseguiremos nossa

garotinha de volta?— Não, acredito que duas pessoas. Cada uma delas parece estar desesperadamente

necessitando de um milagre, e podem consegui-lo. E também acredito que da próxima vez que virmos a nossa “garotinha” ela será uma mulher plenamente realizada e capaz, e Luke Pascal terá aquele olhar confuso em sua cara que todos os homens adquirem quando de repente percebem que encontraram seu par.

— E Camry é o par de Pascal?— Sim, MacKeage. — disse Grace imitando seu sotaque conforme ela deslizou as mãos

ao longo das costelas dele. — Acho que aqueles jovens tolos e mentirosos merecem absolutamente um ao outro. Eu preciso de você hoje à noite, marido. — Ela sussurrou.

Seus braços em volta dela se apertaram e Grace sentiu a evidência da necessidade dele empurrando em sua barriga. De repente ele chegou por trás dela e desligou a água, varreu-a em seus braços fortes e a levou para o quarto.

— Você sinceramente acredita que em todos os nossos anos juntos eu ainda não saiba o que você está fazendo quando entra toda macia e flexível nos meus braços durante uma de nossas pequenas discussões? — ele perguntou, colocando-a na cama e em seguida, rapidamente cobrindo seu corpo úmido com o dele.

Ela arrastou um dedo sobre seu sorriso.— Prefiro acreditar que apenas aponto um caminho razoável de ação e, sendo o homem

sábio que você é simplesmente vê as coisas do meu jeito. — E você ensinou este truque para nossas filhas? — Todas as sete. — ela disse com um sorriso encantador. — Que Deus tenha piedade de sua alma mulher. — ele murmurou, cobrindo sua boca

com a dele.

*****

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Grace levantou os olhos do belo cartão de Natal que estava segurando e sorriu para Grey, do outro lado da mesa de café da manhã.

— Pode dizer a Jack parar de procurar Camry. — ela disse, empurrando um envelope para ele. — Porque acabamos de encontrá-la.

Gray pegou o envelope, viu que não havia um endereço do remetente e franziu o cenho.— Leia o carimbo do correio. — ela instruiu.— Back Cove no Maine?Ele estendeu a mão para ela.— Camry nos enviou um cartão de Natal? Grace entregou o cartão que tinha um anjo encantador na frente, flutuando numa

pequena clareira da floresta cercada por pinheiros polvilhados com neve. — Antes de abrir o cartão e ler, leve um momento para estudar a imagem. — ela falou.

— Além do anjo, o que você vê?— Vejo um corvo escondido nas árvores. — ele disse com sua carranca aprofundando.Grace arqueou uma sobrancelha. — Nós conhecemos algum corvo?Seu cenho franzido virou uma carranca definitiva, e ele abriu o cartão. — Seu bisneto ainda não nascido não nos enviou um cartão de Natal. Veja. — ele disse,

tocando no interior do cartão. — Não foi assinado por Tom, foi assinado apenas com um F. Sua carranca voltou. — O que esta pessoa que se chama F quer dizer nos agradecendo por criar uma filha tão

maravilhosa? Ele virou o cartão para ver se havia algo escrito no verso, assim como Grace fez antes.

Não encontrando nada ele releu a nota curta. — Só isso? Apenas “agradecer por criar uma filha tão maravilhosa?” Ele ou ela nem

mesmo diz qual filha. — Ele jogou o cartão sobre a mesa entre eles. — Poderia ser qualquer uma de nossas garotas maravilhosas.

— F está se referindo a Camry. — Grace insistiu pegando o cartão e sorrindo para o anjo bonito. Ela se levantou e caminhou até o mapa do Maine, pendurado ao lado da porta traseira na linha dos cabides dos casacos. — Eu nunca ouvi falar de Back Cove e você?

Grey veio e também estudou o mapa.— Não. Mas Cove indica enseada, por isso deve ser no litoral. — Ou em qualquer um dos seis mil lagos e lagoas do Maine. — Ela foi até o computador

no balcão ao lado da geladeira, abriu o Google Earth e digitou “Back Cove, Maine”. — Você tem razão, fica no litoral. — disse ela, apontando para o mapa na tela. — É cerca de cinquenta quilômetros ao norte de Portland.

Luke Pascal entrou na cozinha, mas parou na porta quando Grey virou e franziu a testa para ele.

— Luke. — disse Grace, passando por cima e segurando o cartão. — Descobrimos onde Camry está. Ela está vivendo em Back Cove no Maine.

Assim que ele pegou o cartão, ela o levou até o computador. — É uma pequena cidade no litoral, ao norte de Portland. Luke moveu o olhar da tela do computador para o cartão aberto em sua mão, então o

virou pra ver se havia alguma coisa escrita no verso.— Quem é F? — ele perguntou.Grace afastou a questão com um gesto de mão como se não tivesse importância, correu

para a mesa e pegou o envelope. — Nós não sabemos, mas é evidente que é alguém que conhece Camry.— Mas ele ou ela nem sequer menciona seu nome. — Luke disse tomando o envelope e

lendo o carimbo do correio. Ele olhou incerto para Grey, em seguida a Grace.— Então como você sabe que é sobre Camry que esta pessoa F está falando?

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— Claro que é. Todas nossas filhas são maravilhosas, mas Camry é a única que está sumida agora.

— Esta caligrafia parece feminina. — disse ele fechando o cartão para estudar o anjo na frente. Ele voltou os olhos com simpatia sobre Grace. — Percebo que é angustiante não saber onde Camry está Dra. Sutt, quer dizer, Grace. — ele corrigiu depressa lançando um olhar frenético a Grey.

Grace finalmente teve que explicar a Luke que seu marido preferia MacKeage a Sutter, antes que o jovem cientista começasse a chamá-la pelo seu nome.

— Mas o que eu não entendo — continuou ele, —, é como você pode concluir que um cartão de Natal com assinatura incompleta, que nem sequer menciona o nome dela, diz a você que Camry está vivendo em Back Cove.

— Você acredita em magia, Luke? — ela perguntou ignorando o resmungo pouco sutil de seu marido.

— Magia?Luke repetiu com uma carranca. — E coincidência casual? — Desculpe. Grace suspirou e tomou o cartão e o envelope dele.— Ok! Então vamos apenas chamar de intuição materna, certo? — ela balançou o cartão

entre Luke e Grey. — Vocês simplesmente terão que confiar em mim quando digo que Camry está vivendo em Back Cove. Ela olhou para o relógio dela, em seguida a Luke. — São somente nove horas. Se sair logo depois do almoço, estará lá com tempo suficiente para se instalar no hotel.

— Desculpe? — ele repetiu, parecendo ainda mais confuso. Grey suspirou, só que muito mais pesadamente do que Grace.— Você está indo para Back Cove, Pascal, para falar com nossa filha sobre sua volta para

casa. Os olhos de Luke se arregalaram e ele deu um passo atrás. — Eu?— Mas você só tem duas semanas para que isso aconteça. — Grace interrompeu. — Nós

a queremos em casa para o solstício de inverno.Luke deu mais um passo atrás, seu alarme evidente. — Considerando o último e-mail que Camry me enviou, sou provavelmente a última

pessoa que ela quer ver. E isto é realmente um assunto de família, você não acha? Não deveriam ser vocês a ir atrás dela?

— Nós não podemos. — Grace disse a ele. — Mas por quê? — Ele perguntou, puxando a manga da sua camisa. — Porque ela não pode saber que nós sabemos que foi demitida da NASA, muito menos

que sabemos que está mentindo para nós. — Grace explicou. — Ela tem que querer voltar para casa, e precisa nos dizer pessoalmente o que esteve fazendo durante o último ano.

— Então como vou convencê-la a voltar para casa se não posso revelar como vocês estão preocupados com ela?

— Isso deve ser fácil para você, Renoir. — Grey disse. — Você tem apenas que trabalhar melhor sobre as mentiras que esteve contando pra nós.

Luke baixou seu olhar para os pés de Grace, mas então de repente enrijeceu como se combatesse algum impulso e olhou para Grey.

— Meu nome completo é Lucian Pascal Renoir, mas sou conhecido por Luke Pascal... às vezes. — Ele puxou sua manga novamente como se a camisa emprestada o irritasse. — E porque Camry me conhecia como Lucian Renoir dos meus e-mails, e por que pensei que ela poderia estar aqui quando Jack Stone me encontrou, eu disse que meu nome era Pascal, assim eu não seria jogado na neve lá fora voando.

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— Então, quando você chegar a Back Cove — disse Grace puxando uma cadeira na mesa, pedindo-lhe para se sentar. —, sugiro que continue usando 'Luke Pascal’.

— Mas... Ela deu um tapinha no seu ombro.

— Vai ficar tudo bem, Luke. — ela o assegurou, indo para o forno e pegando o prato de ovos e torradas que manteve aquecido para ele. — Logo que termine seu café da manhã, pode arrumar seus pertences e me dar as roupas que precisam ser lavadas. Então vamos entrar na Internet e encontrar um hotel pra você em Back Cove. É uma cidade pequena, por isso não deve levar muito tempo para encontrar Camry.

— Meu carro foi recuperado?Grace colocou o prato diante dele.

— Jack e seu auxiliar o trouxeram de volta esta manhã. Está estacionado na garagem superior atrás da cozinha.

— Realmente, Dra. Sutter, eu não acho que devo ser o único a ir atrás da sua filha.— Claro que deve ser você, Luke. Porque se conheço Camry, no momento em que tiver

coragem de dizer a ela que Podly está espalhado em mais da metade da Montanha Springy, ela vai te arrastar de volta aqui tão rápido que a sua cabeça vai ficar girando.

Luke bateu os olhos azul-marinho nela, seu rosto pálido.— V-você sabe sobre Podly? — ele sussurrou olhando para Grey, antes de olhar para ela.

— Você sabe que foi o seu satélite que caiu aqui no verão passado? Grace foi até a geladeira para pegar um pouco de suco, dando a seu marido igualmente surpreso um sorriso presunçoso enquanto passava por ele.

— Você acredita honestamente que eu não saberia que alguém estava espionando as transmissões do Podly? — Ela perguntou enquanto buscava o suco para Luke. — Todo o tempo em que você e Camry estiveram botando fogo na internet com seus e-mails, eu estava observando você observar Podly. — Será que Camry sabe? — Ele perguntou, distraidamente tomando o suco que ela lhe entregou.

— Eu nunca contei para ela. Mas se ela tivesse se dado ao trabalho de verificar, certamente é inteligente o suficiente para ter descoberto. Mas então, duvido que ela teria ido à procura de um intruso.

— Mas você foi? Grace deu de ombros. — Um velho hábito dos meus dias trabalhando para a Companhia Espacial Starship. Ele olhou para o seu prato.

— Então você também sabe que causei o mau funcionamento do satélite. — Ele olhou para ela com os olhos cheios de um sincero remorso. — Sinto muito. Eu realmente não sei o que fiz para causar esta falha. Passei três meses revisando os dados no meu próprio laboratório, e os últimos dois meses vasculhando a montanha, esperando poder encontrar partes recuperáveis e descobrir o que deu errado. Ele virou no seu assento para enfrentá-la totalmente e tomou a mão dela entre as suas.

— Você tem a minha palavra Dra. Sutter, eu traria o que encontrasse diretamente para você. Eu, eu lamento muito. — repetiu ele.

Grace deu um tapinha em seu ombro. — Eu acredito em você, Luke. — Ela cutucou seu prato que estava rapidamente esfriando a comida. —Agora coma para buscarmos suas malas e você se dirigir para Back Cove. Quanto mais cedo você encontrar Camry, mais cedo poderá convencê-la ajudar a encontrar o nosso satélite. Podly tinha blindagem térmica no caso de algo assim acontecer, então há uma boa chance do banco de dados ter sobrevivido a reentrada na atmosfera. Camry conhece estas montanhas muito bem, e entre seus dados da trajetória e seu amor por um bom desafio, tenho certeza que ambos estarão trancados em meu laboratório com Podly até o solstício de inverno. Coma. — ela repetiu, apontando para sua comida quando ele tentou dizer alguma coisa.

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Ele apertou a boca fechada com uma careta e pegou o garfo. Grace pegou seu marido também carrancudo e o levou até a escada dos fundos. — É isso? — Grey perguntou assim que chegaram ao corredor no andar superior. — O homem destrói o trabalho de sua vida e você não só o entrega a ele, como praticamente entrega a nossa filha também? — Luke não destruiu nada. — ela disse, puxando-o para seu quarto e fechando a porta. — Ele só disse que espatifou Podly. — Não, ele disse que achava ter causado a falha de Podly. — Ela deu um passo para seus braços e começou a brincar com um dos botões de sua camisa. — E eu simplesmente o deixei acreditar que fez. — ela disse suavemente. As mãos de Grey foram aos seus ombros. — Você derrubou o satélite? — Eu estava bastante ocupada para corrigir naquele momento, Grey. Se você se lembrar corretamente, nossa garotinha foi dar à luz a nossa neta naquele exato momento. — Então se você não causou a falha e nem Pascal, então quem foi?

— Não faço ideia. — Ela começou a brincar com seus botões novamente, desabotoando o primeiro. — Talvez a mesma pessoa que nos enviou aquele cartão de Natal? Porque quais são as possibilidades do meu satélite falhar assim tão perto da minha casa? — Ela observou. — As chances disso acontecer são astronômicas, Grey. Tem que ser a magia.

Ele estendeu a mão interrompendo-a, assim que ela desfez o próximo botão. — Minha preocupação com você está aumentando, esposa.

— Como é? — Ela perguntou, ainda conseguindo desabotoar o próximo botão. — Você vem agindo muito parecida comigo ultimamente.Grace ficou totalmente imóvel. Oh Deus, ele tinha razão! Ela tinha se transformado em

guerreira, só que em vez de manejar uma espada, sua arma era o engano.Ela se dirigiu à porta.— Vou contar tudo a Luke.— Oh, não você não vai. — ele disse, varrendo-a em seus braços com uma risada e

caminhando para a sua cama. — Se você confessar a Pascal, então serei obrigado a ir buscar Camry, e eu concordo que acabaria mal para todos nós.

Ele abriu os braços e ela caiu em sua cama, então rapidamente se colocou em cima dela. — Eu não estou chateado, pois um Pascal culpado vai atrás de Camry, só que eu mesmo não

tinha pensado nisto. — Ele começou a desabotoar os botões da blusa dela. — Mas então, eu não tinha todas as peças do quebra-cabeça, não é? Então, quando você iria me contar que seu pequeno satélite está espalhado em mais da metade da Montanha Springy? Eu o teria encontrado pra você, Grace.

— Eu sei que você teria, e o amo por isso. Mas o Podly realmente não é mais meu, Grey. É o futuro de Camry. E eu preciso que ela queira ir encontrá-lo.

— E o segredo para a propulsão iônica está sentado agora mesmo debaixo de um metro de neve?

— Sim.Ele deixou de despi-la. — Você resolveu o quebra-cabeça? Então temos que ir buscá-lo! Ele começou a se levantar, mas Grace o puxou de volta.— Não, nós não vamos. Podly está mantendo o segredo durante vinte anos. Acho que pode

esperar outras duas semanas.— Vinte anos! Você resolveu o problema vinte anos atrás e o deixou na órbita da Terra todo

esse tempo? Grace esse é o trabalho da sua vida!— Não fique tão animado. — ela o acalmou, cavando suas bochechas nas palmas das suas

mãos e desenhando seus lábios com os polegares. — Eu não encontrei a resposta, Camry fez quando tinha doze anos.

Ele tentou se sentar, mas ela o manteve sobre ela.

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— Um dia quando Camry tinha doze anos ela ficou no laboratório comigo trabalhando em um projeto para sua feira de ciências da escola. Mas então ela começou a olhar por cima do meu ombro fazendo uma pergunta após a outra sobre o que eu estava fazendo. E quando eu lhe disse o problema específico que eu estava tendo, ela simplesmente apontou para a tela e perguntou por que eu simplesmente não trocava a posição de dois inteiros aparentemente desconectados na equação que eu estava trabalhando.

Ela gentilmente acariciou seu rosto quando ele franziu a testa, e deu uma risada suave. — Não me peça para explicar isso agora, ou ainda estaremos nesta cama quando a primavera

chegar. De qualquer forma pode ter sido uma pergunta de uma criança sem alfabetizar, mas foi pura genialidade. Eu inverti os números, o que me forçou a diversas mudanças, e dentro de uma hora eu sabia que poderia fazer o trabalho de propulsão iônica.

— E por que não gritou ao mundo?— Porque desbloquear o código criou todo um novo conjunto de problemas. Eu realmente

não podia afirmar que tinha dominado a propulsão iônica, porque eu não descobri como realmente controlá-lo. — Ela suspirou. — Os íons podem ser usados para mais do que apenas propulsão Grey, pois eles também podem ser usados como uma arma. Eu não estava pronta para ir por este caminho, porque não tinha certeza se o mundo estava pronto para isso.

— E agora? — ele perguntou. — Se Camry e Pascal encontrarem Podly como você espera e eles descobrirem o segredo, o mundo agora estará pronto?

— Você não acha que eu tenho me feito essa pergunta todo esse tempo? Ele se levantou ligeiramente.— Então é isso que você tem feito nos últimos 20 anos quando se trancava no seu

laboratório? Em vez de tentar compreender como tornar a propulsão iônica viável, esteve trabalhando em como evitar que fosse usada como uma arma? — Ele franziu a testa novamente. — Você conseguiu?

— Quase. Mas tenho certeza que se Camry, Luke e eu juntarmos nossas cabeças, podemos entregar ao mundo um sistema de propulsão que pode ser usado para a viagem espacial. — Ela cobriu sua face com suas mãos novamente. — E se algum outro cientista pegar nosso trabalho e convertê-lo numa arma... bom, eu finalmente fiz as pazes com o fato que tudo que posso controlar é a minha contribuição para a humanidade, que será um sistema de propulsão mais eficiente.

— E se Pascal não se sente da mesma maneira? — Então ele terá que viver com a sua decisão, como todo cientista. — Ela sorriu. — Mas às

vezes nós simplesmente temos que confiar na magia, não é mesmo, quando ela começa a mexer com a gente? Se você olhar para todas as coincidências que trouxe Luke à nossa porta, tem que perceber que não essa coisa da coincidência.

Grey gemeu, encostando sua testa na dela. — Se você está tentando me dizer que Winter ou Matt tem algo a ver com isso, eu juro que eu

vou... Grace cobriu sua boca com o seu dedo.— Não. — ela disse com uma risada. — Acredito que é alguém ainda mais mágico.— Quem?— No solstício de inverno, quando minha casa estiver transbordando com todos os meus

filhos e netos, então vou dizer quem eu acho que é. Faça amor comigo, marido. Faça-me viajar além das estrelas sob seu poder.

Capítulo 3

Ao mesmo tempo em que um meio congelado Lucian Pascal Renoir estava atravessando a ponte levadiça de Gu Brath, Camry MacKeage estava sendo arrastada em direção à praia de Back Cove por três cães enormes e um bassê, sem pensar que era um presente de Deus para o mundo. Logo que

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ela viu que a praia estava completamente deserta, o que não era surpreendente, considerando que estava apenas alguns graus acima de zero, Camry soltou todas às quatro coleiras e liberou seu controle.

— Vão em frente! — ela gritou, correndo atrás deles com uma risada.— Corram até cair para que possamos chegar em casa e tirarmos um cochilo. Eu tenho que

tomar conta do bar hoje à noite! Ela correu atrás deles por, talvez, mais de um quilômetro, até que uma pontada em seu lado a

obrigou a parar. Ela estava curvada com as mãos sobre os joelhos, observando sua ofegante respiração condensando no ar frio, de modo que ouviu o que soou como alguém soluçando.

Camry ficou reta e olhou em volta, mas viu apenas os cães que corriam de volta para ela, descobriram que ela já não os seguia mais. Ela foi em direção à grama morta e rugosa, roseiras separando a praia da estrada velha do município, seu ouvido ligado na direção do som que estava vindo. Ela parou de repente ao ver uma menina, amontoada, tremendo dentro de uma jaqueta totalmente inadequada com o rosto enterrado em seus joelhos.

— Ei, olá. — disse Cam, aproximando-se lentamente. A menina levantou sua cabeça bruscamente, seus olhos azuis cristalinos enormes com a

surpresa.Cam parou alguns metros de distância quando a menina olhou ao redor freneticamente, como

se procurasse uma rota de fuga.— Ei, está tudo bem. — disse ela suavemente, empurrando as mãos nos bolsos. Ela deu de

ombros, sorrindo para a garota.— Desculpe-me se te assustei. Pensei que a praia estava deserta. Os três cães enormes caíram sobre Camry levantando areia. Com seu grito pararam e

começaram a lutar um com outro a seus pés. O bassê, sua língua chicoteando sua bochecha, ofegante para recuperar o atraso, a direção mudou de repente.

— Tigger! — Camry gritou assim que o bassê se lançou para a menina.A garota já soluçando pegou o pequeno cão com um suspiro, depois deu uma risadinha

estrangulada quando Tigger começou a lamber seu rosto. Os outros três cães, de repente, perceberam que havia um novo brinquedo em sua praia e decolaram. Camry investiu atrás deles, mas só foi capaz de pegar apenas um pela coleira. Os outros dois se chocaram contra a garota, jogando-a de costas e forçando-a a cobrir o rosto para se proteger de suas línguas babando.

— Max! Ruffles! Saiam de cima dela! — Cam gritou. Seu solitário cativo arrastando-a para resgatar a garota. Ela finalmente teve de abrir mão do pastor alemão lamentoso, a fim de lidar com o labrador negro e o golden retriever. Ela empurrou os dois cães maiores pra longe da garota e pegou Tigger em seus braços, então teve que usar o joelho para empurrar para longe o pastor, que estava determinado a dar suas próprias lambidas.

Desesperada para salvar a menina de ser lambida até a morte, Camry desceu Tigger, agarrou a garota que estava rindo histericamente e arrastou-a a seus pés.

— Puxa me desculpe. — disse ela, tentando afastar os cães animados. — Eles não vão te machucar, prometo.

A menina imediatamente ficou séria e piscou para ela. — Eles são realmente apenas bolos quadrúpedes. — Cam disse, agarrando a coleira de Max

quando o labrador tocou a menina de volta. Cam empurrou o cão para longe, então pegou um pequeno pedaço de madeira flutuante.

— Pegue. — ela gritou o arremessando em direção à praia. Os três cães maiores imediatamente correram atrás dele, mas Tigger se sentou e começou a

choramingar olhando para a menina. A jovem pegou o bassê e abraçou, apertando-o em seu peito. — Sou Camry. E este pacote de encanto que você está segurando é Tigger. A menina não disse nada, apenas esfregou o rosto contra o pelo de Tigger. — Você vive por aqui? — Cam perguntou, esquadrinhando a estrada atrás das dunas baixas

por sinais de um carro, embora não estivesse segura se a menina tinha idade suficiente para dirigir. — Não. — a menina sussurrou. Seus belos olhos azuis cautelosos.

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— Você tem um nome? — Fiona.Cam nem sequer tentou esconder sua surpresa. — Sério? Fiona? — Ela deu um largo sorriso. — Eu tenho uma sobrinha de cinco anos e meio

chamada Fiona. Hum... Fiona de quê? A menina não respondeu, simplesmente esfregou sua bochecha novamente por cima do pelo

de Tigger.Cam suspirou. A julgar pelo estado de suas roupas e o fato de que estava relutante em dar seu

nome completo, Camry imaginou que a menina era uma fugitiva. Outro fato que contribuiu foi que Fiona parecia não ter visto uma barra de sabão ou água quente durante uma semana ou uma refeição decente em dias. Ela estava pálida e tremendo, e parecia tão vulnerável que Cam tinha um desejo absurdo de puxá-la em seus braços e abraçá-la.

— Se você não mora por aqui, então deve apenas estar de passagem. Tem um lugar para ficar esta noite?

— Disseram-me que tem um abrigo em Portland. Camry lutou para impedir de mostrar seu horror. Certamente a menina não estava pedindo

carona! — Portland fica a 50 quilômetros daqui. Eu digo a você que — disse ela apontando para a

praia — moro perto, tenho uma cama extra na minha casa. E tenho realmente essa enorme lareira que poderíamos acender um fogo gostoso, e uma provisão de água quente que vai deixar você tomar um banho de uma hora de duração, se quiser.

Ela inclinou a cabeça com um sorriso torto. — E justamente estava planejando dirigir amanhã até Portland, assim eu poderia lhe dar uma

carona. Ou seja, supondo que ela não conseguisse convencê-la a ir para casa em vez disso. Quando

viu que Fiona a estava seguindo — embora hesitante — Cam virou e lentamente começou a caminhar pela praia em direção a sua casa.

— Tenho que ir trabalhar hoje à noite — ela continuou conversando —, mas o pub onde atendo tem algumas das melhores comidas deste lado de Portland. — Ela sorriu para Fiona que tinha entrado no passo ao lado dela, abraçando Tigger firmemente, aparentemente desfrutando do calor.

Mas então, de repente, Fiona correu para o interior e o coração de Cam afundou ao ver a menina disparar, até que percebeu que estava levando Tigger!

— Ei, meu cachorro! — Ela gritou, perseguindo-a. Fiona de repente parou na grama e baixou Tigger, indo para trás de um arbusto e virando com

uma mochila grande em sua mão.Cam suspirou de alívio. — Ah, bom. — disse ela, partindo pela praia de novo como se nada tivesse acontecido. — Eu também tenho uma máquina de lavar e secar roupa, se você precisar lavar sua roupa.— O que seu marido dirá sobre me deixar ficar a noite? — Fiona perguntou, correndo para

recuperar o atraso com o pacote pendurado sobre os ombros e Tigger em seus braços.— Não tenho um marido.— Oh. Então está divorciada? Camry lhe deu um olhar enviesado.

— Não. Nunca fui casada. Fiona parou e piscou para ela. — Quantos anos você tem? Camry piscou de volta. — Quase 32. Por quê? — E você nunca esteve casada?Ela começou a andar novamente. — Pelo que eu saiba, não é crime estar com trinta e dois anos e solteira. E você? É casada? — Estou só tenho dezesseis! — Cam sorriu.

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— Não acredito que seja crime estar solteira aos dezesseis anos também. Assim, Fiona, o que é tão excitante sobre ficar em um abrigo em Portland?

A menina não respondeu por várias batidas do coração, então calmamente disse. — Deve ser melhor do que viver em casa.— Estou vendo. Muito ruim, é isso?— Meu pai é impossível. Parece como se a cada vez que me viro, ele está me dando um

sermão sobre algo. Cam bufou. — Conte-me sobre isso. O que há entre pais e filhas, afinal? É como se no minuto em que

nascemos o gene de um homem desse chutes em alta velocidade. Fiona parou novamente. — Seu pai também deu sermões pra você?— Você está brincando? Ele ainda me dá. — Com trinta e dois anos? Ela abraçou Tigger mais perto. — Às vezes meu pai me trata como se eu não tivesse o bom senso para sair da chuva. Ele não

gosta da maioria dos meus amigos, especialmente os meninos, e não gosta de como me visto.Camry agarrou o pau da boca do pastor e jogou pela praia, enviando os três cães correndo

atrás dele. Ela começou a caminhar novamente. — Oh, sim! Basta esperar até que você esteja fora da faculdade daqui a dois anos e ainda

solteira. Então mudará os sermões de avisos de que "todos os homens são lobos” para “como é que não consegue encontrar um homem?" E quando estiver com trinta, eles mudam novamente "você não pode me dar netos se não encontrar um marido.” — disse ela imitando o sotaque das terras altas do pai.

Fiona sorriu da expressão severa que Camry deu junto com o sotaque e cobriu a boca com a mão.

— Está falando sério? — ela perguntou, arregalando seus grandes olhos azuis. — Os sermões nunca vão parar?

— Não. E sabe por quê? — Por quê? — Porque nós filhas matamos nossos pais de susto. Eles nos amam até a morte e se

preocupam tanto conosco que não podem suportar não termos um marido para cuidar de nós. — Assustamos nossos pais? — Fiona bufou. — Não acho que algo assusta meu pai.Camry viu a menina abraçar Tigger em um arrepio e começou a caminhar novamente. — Você o assusta porque ele te ama. — Aquela é a sua casa? — ela disse apontando para a pequena cabana situada em um

escarpado.Camry riu. — Não exatamente. Só estou alugando. E você? Você é rica? Fiona bufou. — Dinheiro não é tudo, você sabe. — Mas com certeza ajuda a comprar calças jeans de marca, mochilas caras e relógios

extravagantes, não é? — Disse ela apontando para o relógio no pulso da garota. — Não tenho culpa se meus pais são ricos. — Fiona disse defensivamente.

— Não, assim como não tem culpa que eles provavelmente estão tão preocupados agora que têm todos os policiais no estado procurando por você. Quanto tempo esteve fugindo, Fiona? — Não muito tempo. — ela retrucou dando meia volta e indo para a casa.

Cam deu um forte assobio e os três cães saltaram para cima dela.— Venham, vamos tirar a areia de vocês antes de seus amados mestres virem buscá-los. — ela

disse para eles correndo para alcançar Fiona.— Ei, eu não seria uma adulta responsável se não tivesse, pelo menos, tentado apontar que

sua família está muito preocupada com você.

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— Eles provavelmente não perceberam que estou ausente. — Confie em mim, qualquer pai que ama você o suficiente para dar sermões, definitivamente

sabe quando não está dormindo em sua cama. Juro que não conseguiria andar furtivamente fora da nossa casa depois do anoitecer, sem encontrar meu pai no final da calçada.

Ela abriu a porta e fez sinal para Fiona ir na frente para a varanda cercada. — Não deixe os cães entrarem na casa. Tenho primeiro que limpar a areia deles. Apenas

coloque Tigger no chão e vá se aquecer. Serei rápida. — Vou ajudar. Camry lhe entregou uma toalha velha. — Ok. O nome do labrador é Max, o Golden é Ruffles e o pastor é Suki. Tenho que deixá-los

brilhando antes que seus pais os busquem em uma hora. — Eles não são seus? — Meu Deus, não. O que eu quero com este pacote enorme de bebês? Apenas cuido dos cães

enquanto seus donos trabalham para comprar a ração deles. Você sabe, como uma espécie de creche para cães.

— Só isso? Isso é o que você faz para viver? — Paga as contas. E também trabalho em um pub nas noites de sexta e sábado. Fiona ficou boquiaberta perto dela.— O que? Mas você disse que tinha quase trinta e dois anos. Como não tem uma carreira de

verdade?— Você quer dizer igual a dona de casa Suzy ou presidente dos Estados Unidos? Ou talvez

cientista espacial, algo assim? A garota corou até as raízes de seu cabelo loiro sujo. — Sinto muito. Não quis dizer que você tinha que ser algo tão brilhante como uma cientista

espacial. É só que... bem, você parece tão inteligente e tudo o mais. — Ela apontou para os cães. — Quero dizer, isto é tudo que você vai fazer pelo resto da sua vida, pajear os cães de outras pessoas e servir bebidas nos fins de semana?

Camry agarrou Max e começou a escovar a areia de suas pernas. — Ciência espacial não é tudo que você acha que é tachado para ser. — ela murmurou. —

Você vai ficar aqui fora tremendo a tarde toda ou vai me ajudar a limpar esses vira-latas?Camry passou os dois dias seguintes tentando persuadir Fiona a chamar os seus pais, todo o

tempo se assegurando em não parecer com um pai, com medo que a menina fugisse sozinha novamente. Mas todos os seus esforços lhe deram uma companheira de quarto, que de repente não parecia ter nenhuma pressa de partir.

Ela ficou atordoada e sem palavras na primeira noite quando Fiona emergiu da chuva vestindo as roupas que ela tinha lhe emprestado. A menina estava incrivelmente bonita; o cabelo ondulado até a cintura era de fato castanho avermelhado, a aparência dela era sem defeito, e as roupas se ajustaram muito melhor do que fizeram em Cam, sua figura teria feito um homem morto sentar e prestar atenção. Inferno, se ela fosse o pai de Fiona não desperdiçaria seu tempo lhe dando sermões, a prenderia em seu quarto até que ela tivesse trinta anos!

Na segunda noite ela tinha falado com Dave Bean — dono do Back Grill — sobre deixar Fiona limpar algumas mesas para pagar toda comida gordurosa que ela estava devorando como se tivesse uma perna oca.

Mas era tarde de domingo e Camry estava se sentindo mais como um pai preocupado do que uma companheira de quarto à medida que Fiona ficou pronta para o trabalho. É por isso que ela tinha Dave ao telefone, dando-lhe o inferno porque deu a menina um emprego permanente!

— Você não pode ter uma pessoa de dezesseis anos no balcão, Dave. — Cam rosnou no seu telefone celular. — O Conseolho Tutelar vai vir atrás de você pela contratação de uma menor.

— Isso não foi o que você disse na noite passada quando amavelmente indicou que a limpeza das mesas era perfeitamente legal. — Dave rosnou de volta. — Decida-se, Cam.

— Só é legal quando eu estiver trabalhando lá. Ei, espera. Se você a contratasse, que nome poria no formulário do imposto de renda?

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— Fiona Smith.Camry bufou. — Ela te deu um número de Seguro Social. Qual foi?— Agora, Cam, você sabe que não posso dar isso para qualquer um.Camry deu uma olhada para certificar se Fiona estava ainda no quarto se arrumando, virou as

costas e baixou sua voz. — Mas ela é uma fugitiva, Dave. Eu chamei a polícia sexta-feira, mas eles não têm qualquer

adolescente ausente que se ajuste com sua descrição. Preciso desse número para descobrir quem ela é realmente, assim poderei chamar seus pais.

Um suspiro pesado veio através do telefone. — Eu sei. Mas você está me colocando numa situação difícil aqui. Eu prometo, a primeira

coisa que farei amanhã de manhã será enviar as informações de Fiona para meu contador e pedir para ele verificar. Mas é provavelmente um número falso, assim como Smith é obviamente falso.

— E você a contratou de qualquer maneira.— Porque eu estava desesperado para encontrar pessoal de limpeza. As crianças de hoje não

querem trabalhar por um salário honesto, querem mamãe e papai apenas lhes dando dinheiro. E, além disso — ele disse baixando sua própria voz — não ousei dizer não quando ela me pediu um trabalho, porque como você, a quero por aqui tempo suficiente para encontrar seus pais.

Cam suspirou em derrota. — Pelo menos isso vai nos dar tempo. Mas como é que vou ficar de olho nela quando não

estou escalada para trabalhar? Ela vai estar rodando em torno de seu bar sendo vigiada por todos os homens solteiros e casados da região.

— É domingo à noite e eu tenho quase todas as mesas reservadas até às nove. — informou Dave. — E você sabe por quê? Porque estive distribuindo folhetos informando que contratei novos funcionários.

— Então também quero trabalhar hoje à noite.— Betty estará cobrindo o bar hoje à noite. — Então vou servir às mesas.— Eu ainda estou me recuperando desde a última vez que você serviu as mesas. Você é uma

boa bartender, MacKeage, mas como garçonete...— Eu juro, não vou despejar nada em ninguém. Um suspiro aflito veio através do telefone. — Vigiarei sua menina. Ela estará apenas limpando as mesas.— Ela pode limpar às sextas-feiras e sábados.— Mas nunca tive mais de duas reservas em um domingo à noite.— Deve significar que você precisa de pessoal extra.Ele suspirou novamente. — Você promete que não vai bater boca com meus clientes e nem despejar nenhum alimento

neles? — Palavra de escoteiro. — E você usará um dos meus novos uniformes de garçonete?—... Aquelas coisas penduradas no quarto de trás são uniformes? — Ela bufou. — Pensei que

queria transformar o local em um bar familiar, não em algum bar pseudo-colonial com garçonetes vestidas como prostitutas.

— Supõe-se que Back Cove tenha sido um esconderijo de piratas por volta do século XIX, estou simplesmente jogando para cima a velha lenda. Passei toda noite e esta manhã redecorando o lugar.

— Fiona não estará usando uma blusa decotada e um desses bustiês de couro. Juro que vou chamar o Conselho Tutelar se a colocar em um daqueles trajes machistas.

— A maioria dos meus ajudantes de cozinha são garotos, Cam. Fiona pode usar calça e uma camiseta, como eles. Mas — ele disse antes que ela pudesse falar algo — você pode servir as mesas esta noite se estiver disposta a usar o novo uniforme.

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Droga, droga, droga. Ela não queria se vestir como uma mulher atraente! Por outro lado, tampouco queria que Fiona trabalhasse sem ela.

Mas se tentasse falar com a menina contra seu novo emprego, não estaria agindo melhor que os pais de Fiona. E ela seria amaldiçoada se agisse como mãe da menina.

— O que vai ser Cam? Vem para o trabalho ou não? — Estarei lá. — ela retrucou finalizando a chamada quando ouviu a risada de Dave, atirando o telefone no sofá.

— Você vai ficar para jantar quando me acompanhar? — Fiona perguntou enquanto entrava no quarto. — Porque ainda não há nada na geladeira.

Camry fechou os olhos e contou até dez, enquanto tinha uma nova visão sobre a própria mãe, que tinha conseguido criar sete meninas sem perder sua sanidade. Ela abriu os olhos, e, sim, sua companheira de quarto ainda estava vestida como uma prostituta.

— Um... é uma das roupas que seu pai se opôs? — Fiona olhou para si mesma e, em seguida, sorriu para Cam.

— Sim. Ele me perguntou se eu tinha roubado alguma piranha na última vez que me levou para Nova York.

— Bem... correndo o risco de soar como seu pai — Camry disse com um sorriso torto, escolhendo cuidadosamente as palavras —, há alguma chance de conseguir que use uma camiseta enorme e uma calça jeans minha hoje à noite?

Camry ergueu a mão para evitar a objeção se formando nos lábios de Fiona, respirou fundo e saltou direto na areia movediça.

— Não é que eu não ache que seja uma roupa fabulosa, mas você estará trabalhando em um bar, Fiona. E certamente tem idade suficiente para perceber que alguns homens quando tomam cerveja um pouco mais do que deveriam, esquecem que este é o século XXI e que as mulheres não foram colocadas na terra apenas para seu entretenimento. — Ela deu de ombros. — Eu sei que é arcaico, mas também sei que você é brilhante o suficiente para perceber que às vezes, nós, as mulheres estamos em melhor situação minimizando nossos atrativos em vez de... acentuando-os.

Fiona olhou para ela durante um longo tempo, sem dizer nada, de repente sorriu. — Ok. — disse ela girando e voltando para o quarto. — Posso usar seu jeans preto?

— Sim, vá em frente. — disse Cam fechando os olhos aliviada, de repente se lembrando porque o simples pensamento de ter filhos a assustava como o inferno.

Capítulo 4

Luke deslizou na cabine do Go Back Gril , o cheiro de comida gordurosa enchia o lugar, mas o fazia salivar. Embora ele ainda estivesse tentando se recuperar de dois meses vivendo de nada além de comida de acampamento e sopa reidratada, ele tinha que admitir que os resultados pareciam muito bons mesmo.

Quando se viu nu no espelho do banheiro em Gu Brath naquela primeira noite, ficou atordoado ao perceber que perdeu mais de onze quilos de gordura.

Mas ele provavelmente adicionou quatro quilos e meio de músculos duros e firmes, e pela primeira vez em anos, Luke estava mais do que casualmente ciente de seus 1,88 metros do corpo de ombros largos que abrigava seu cérebro. Ele realmente esteve passando tempo demais no laboratório, e assim que voltasse a trabalhar, teria que se lembrar de fazer mais exercícios.

— Cerveja? — A garçonete perguntou tão logo ele abriu o menu. — O que você tem de vinho importado? — Ele perguntou distraidamente, examinando as

várias ofertas de comida que eram cuidadosamente acompanhadas por fotos. — Tinto, branco ou rosé. — O que você tem de tinto importado?

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— Vamos lá. Vinho tinto da casa, vinho branco da casa ou rosé. — ela disse secamente. — Se quiser qualquer coisa mais extravagante, vai ter que dirigir até Portland. Nós servimos quarenta e duas cervejas diferentes, drinks e vinhos da casa.

Luke finalmente levantou o olhar com um cenho franzido, só para ficar de cara com um... par de cremosos seios brancos, sendo empurrados de maneira indecente pra fora de uma blusa decotada e um espartilho de couro preto impossivelmente apertado.

A mulher a quem pertencia aqueles seios ergueu o queixo dele com a ponta do lápis, forçando seu olhar até seu rosto carrancudo.

— Tinto, branco ou rose. — ela repetiu entredentes. — Vou de Guinness. — ele disse, erguendo cuidadosamente seu queixo pra fora do lápis dela

e olhando de volta para o menu. — E o maior bife que você tiver, uma batata assada — carregada — e coleslaw. E — disse um

pouco mais forte quando ela começou a sair —, uma salada grande, sem cebola, com molho de queijo azul.

Quando ela saiu pisando duro, Luke ouviu uma risadinha suave acima do barulho dos clientes. A jovem limpando a mesa do outro lado do corredor continuou a rir por trás de sua mão enquanto observava a sua garçonete partindo, então olhou de volta para ele. Luke olhou ao redor para ter certeza que ele era o causador de sua diversão, então sorriu para ela.

— Você acha que eu deveria lhe dar uma gorjeta maior por aquele truque, ou não deixo nada? — Ele perguntou.

A jovem garota lançou seu trapo no balde dentro do carrinho de pratos sujos, e caminhou para mais perto.

— Precisou de um ato do Congresso para metê-la naquele uniforme hoje à noite. — ela disse. — Acrescente a isso o fato daquele espartilho de couro ser desconfortável, e você tem sorte que ela só usou aquele lápis para fechar sua boca, em vez de usá-lo para cutucar seus olhos fora. — De repente ela estendeu sua mão. — Olá, sou Fiona.

Surpreso, mas absolutamente encantado pela franqueza da bela garota, Luke a tomou a mão que ela oferecia e gentilmente a sacudiu.

— Luke Pascal. — Você mora aqui em Go Back Cove, Luke? — Ela perguntou. — Ou está só de passagem? — Eu me registrei no hotel do outro lado da rua há poucos minutos atrás, mas pretendo ficar

por algum tempo. Estou de licença do trabalho, e pensei em passar algum tempo na costa enquanto estou visitando o Maine.

— O mar de inverno é tão desolado e de aparência tão solitária, você não acha? — Ela perguntou. — Às vezes é só um cinza sombrio que suavemente vai e vem em seu fluxo, como se estivesse esperando por seu verdadeiro amor aparecer, e às vezes é agitado e irritado, furioso porque o amor está demorando muito para aparecer. — ela disse sonhadoramente, seu sorriso triste e os olhos azuis cristalinos fazendo seu rosto praticamente brilhar.

Luke decidiu que ela não estava charmosa, ela era encantadora. Era bonita, equilibrada e que falava bem, e o lembrou de sua meia-irmã mais nova, Kate, que tinha uma veia dramática de uma milha de largura e uma imaginação romântica para combinar.

— Mesa três precisa ser limpa. — sua garçonete disse a Fiona enquanto ela batia a garrafa de Guinness de Luke com força — e não o copo — em cima da mesa sem nem sequer olhar para ele. — Se não quiser ser despedida na sua primeira noite, é melhor se manter em movimento.

Completamente imperturbável pela dura manipulação da garçonete, Fiona enfiou a mão no bolso do seu avental e lhe entregou algum dinheiro. — Aqui. Isto é da mesa Três.

— Um trocado? — A garçonete rosnou, olhando fixamente para o único dólar em sua mão. Fiona bufou suavemente. — Eu vi o homem deixar uma nota de dez pra você, mas quando foi pagar a conta, a mulher

com ele a enfiou em sua bolsa e substituiu com uma nota de um. A garçonete deu as costas a Luke para sussurrar para a menina.

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— Eu disse a Dave que estas fantasias estúpidas iriam se voltar contra nós. Vá em frente, é melhor se apressar. — Ela começou a ir embora com a menina, ainda sussurrando. — Tem que parar de fraternizar com os clientes, Fiona. Isto é um pub, não um clube.

— Sinto muito, Camry. Sempre esqueço porque gosto de conhecer pessoas novas. Luke não ouviu mais nada da conversa enquanto se afastavam, mas girou para olhar

fixamente para as costas delas. Camry? Como Camry MacKeage? Que diabos estava fazendo uma física trabalhando em um

bar, vestida como uma meretriz do século XVIII? Não, não podia ser ela. A probabilidade de tropeçar com a Dra. MacKeage depois de estar na

cidade a menos de uma hora tinha que ser uma em um milhão. Não que Go Back Cove fosse próspera ou algo parecido. E Fiona podia até ser a pessoa F que

enviou o cartão de Natal. Como Grace chamava isso? Mágica? Coincidência fortuita? Luke levantou sua cerveja e tomou um longo gole. Não. Ele não acreditava em nada além da

triste realidade, e desde que se pudesse apoiá-la com números. Ainda assim, se ele descobrisse que Miss Simpatia tinha penetrantes olhos verdes —

assumindo que ele pudesse manter seu olhar no rosto dela tempo suficiente para descobrir — então os números tinham acabado de girar um pouco mais a seu favor, não é?

— Aqui. — Camry estalou, batendo com o dólar no balcão diante de Dave. — Ponha isso na conta dos danos.

— Que danos? — Seu chefe perguntou, procurando freneticamente ao redor. — Os danos que vou cometer da próxima vez que um de seus preciosos clientes me

enganarem. Juro que se eu tivesse visto aquela mulher trocar minha gorjeta, eu a teria perseguido porta afora e enfiado aquela estúpida nota de um dólar sua garganta abaixo. — Ela puxou o espartilho, que não estava apenas cortando seus peitos, mas cortando sua respiração, e fez uma cara feia para Dave. — Eu disse a você que estes uniformes estúpidos teriam o efeito contrário. Os homens estão deixando boas gorjetas, mas as mulheres com eles estão ridicularizando assim que eles viram as costas. Para alguém que alega que está tentando manter um pub de família, você parece estar se movendo em direção exatamente oposta. As clientes não gostam de serem servidas por prostitutas com sua anatomia escapulindo, e as mães não gostam de seus filhos olhando fixamente pra saia curta da garçonete.

Dave suspirou. — Doris me disse que ela teve um problema semelhante com a inclinação, mas também disse

que os homens desacompanhados estão deixando o dobro do que costumam deixar. — Ele sorriu, empurrando a nota de um dólar de volta através do balcão. — Então isso equilibra as coisas.

— Eu quase derrubei três bandejas de comida por causa desses saltos estúpidos. — ela murmurou, trocando seu peso para dar ao seu pé direito um descanso. — Servir com esses saltos deve ser contra os códigos de segurança para garçonetes ou algo assim. Se nós não matarmos alguém deixando uma bandeja cair, pelo menos poderíamos romper um tendão.

— Não é como se eles fossem estiletes ou algo do tipo; eles só tem cinco centímetros de altura.

— Doris tem quase sessenta anos, Dave. Ela está mancando. Ele suspirou novamente. — Eu já disse que ela voltasse para o seu tênis, mesmo que eles pareçam ridículos. — Você quer dizer, mais ridículo do que uma avó mostrando decote suficiente para fazer um

santo babar e perna o suficiente pra fazer inveja num puro-sangue? Ele levantou sua mão. — Okay. Okay. Os saltos foram uma má ideia, e talvez as saias estejam um pouco curtas. —

Ele deu de ombros. — Mas ei, o resto do meu novo tema parece ser um sucesso. As crianças realmente gostam dos tapa-olhos e das espadas que venho dando, e acho que nós queimamos totalmente um liquidificador hoje à noite fazendo Zingers de bandeiras de piratas com caveiras.

Ele se debruçou em cima do balcão em direção a ela.

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— E eu vi você espicaçando Fiona algumas vezes quando ela começou a puxar assunto com os clientes. Não faça. Eles gostam de conversar com ela, e ela está dando ao lugar uma sensação acolhedora e amigável.

— Será que você também viu aquele cara tentar deslizar uma nota de vinte dólares no bolso do seu avental?

Dave se endireitou com uma cara feia. — Eu achei que ela lidou com isso bastante bem. Diferente de sua pequena proeza no mês

passado, ela não despejou acidentalmente sua bebida na cabeça dele. Ela apenas balançou seu dedo para ele e saiu correndo.

— O meu cara não estava tentando rechear de dinheiro o meu avental. Dave suspirou mais alto e mais duro. — Conte-me novamente por que você trabalha aqui? Camry deu um tapinha no queixo com o dedo. — Nossa, deixe-me pensar. Talvez porque no Dia de Colombo eles me jogaram escadas abaixo

e fecharam a cidade quando os turistas partiram? — Portland está logo abaixo na estrada. — Prefiro a paz e tranquilidade deste lugar. — Está certo, Dra. MacKeage, esqueci que você veio pra cá da Flórida. — Ele bufou. — O

problema com vocês, tipos inteligentes, é que acham que nós que trabalhamos duro não sabemos como administrar nossos próprios negócios.

Camry olhou para ele boquiaberta. — Eu não sou uma acadêmica esnobe. A única razão para que você inclusive saiba que tenho

um doutorado é porque a sua ficha estúpida de emprego me pediu para listar meu nível de escolaridade.

— Para que você tivesse que adicionar uma página inteira de todos os seus diplomas? — Ele olhou de repente fixamente por cima de seu ombro por vários segundos, em seguida baixou o olhar para o bar.

— Betty. — ele disse, apontando a garçonete mais próxima. — Não sirva mais bebidas para a cabine nove, ok? Todos aqueles quatro caras já beberam o suficiente. E se derem qualquer problema para a Wanda, diga a ela pra vir me ver e lidarei com eles.

— Certo Dave. — disse Betty, retornando ao liquidificador que ela deixou correndo. — E aonde você quer chegar? — Cam perguntou a Dave no minuto que teve sua atenção

novamente. — Sobre o que estávamos falando? — Acredito que você acabou de deixar implícito que sou esnobe. — Ah, qual é, MacKeage. — ele disse com um sorriso repentino. — Você precisa pegar leve.

Não pega bem diante do pessoal quando você dá esporro no chefe. E não quero ter que demiti-la, porque — ele se debruçou mais perto — eu realmente gosto de você. — ele sussurrou. Seu sorriso alargando enquanto se endireitava de volta. — Seu tipo me lembra de uma Jack Russel terrier que eu costumava ter que estava sempre rosnando pra mim, como se precisasse de uma boa briga para se manter entretida.

— Eu lembro a você de seu cachorro? — Eu amei aquela cadela, que Deus guarde a alma da Pip. — disse com uma risada. Ele

arqueou suas sobrancelhas para ela. — Quer saber como finalmente ela sossegou? — Não realmente. — Arrumei um namorado para ela, que por sua vez teve uma ninhada de filhotinhos. Aqueles

filhotinhos conseguiram abrandar minha queridinha direitinho. Cam apenas o olhava boquiaberta. — Então, a moral desta pequena história — ele teve a audácia de continuar —, é que em vez

de fazer cara feia para seus clientes, talvez devesse tentar sorrir para eles. Ela fechou sua boca em um estalo e fez uma cara feia para ele. Ele suspirou.

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— Você tem vivido em Go Back Cove e comido aqui pelo que... sete ou oito meses? E trabalhando para mim por dois? E em todo esse tempo, eu nunca vi você nem uma vez sequer com um encontro.

— Talvez eu seja gay. — ela retrucou. Dave riu. — Não. Não são as garotas que eu vejo você observando, são os homens. Oh, você está

interessada, tudo bem. Só está muito assustada para realmente jogar com os garotões. Camry fez questão de visualmente procurar a parede atrás do balcão, inclusive ficando nas

pontas dos pés para olhar por todo o comprimento da parede dos fundos do bar. — O que está procurando? — Seu diploma em psicologia. Seu riso veio diretamente da barriga enquanto ele pegava o talão e o dinheiro de um cliente

que caminhou até ali para pagar sua conta. — Meu diploma é da Escola de golpes duros, filha, e me levou trinta anos atendendo no bar

para ganhá-lo. — Ele apertou algumas teclas na caixa registradora, então lhe deu uma piscada. — Observe Fiona trabalhando hoje à noite, Cam, e talvez aprenda algo. Aquela menina tem o dom de fazer as pessoas sorrir. Como foi o jantar? — Ele perguntou ao homem, entregando-lhe seu troco.

— Delicioso. — o cliente disse, dando um olhar para Camry — especificamente para seu peito. — Ouvi que a comida daqui é boa, mas gosto especialmente dos uniformes. — Ele pigarreou. — Exceto talvez que eles não fiquem tão bem em todas as suas garçonetes. — Ele se debruçou mais perto de Dave e abaixou sua voz, para que Camry não pudesse ouvir.

Mas claro que ela ouviu. — Aquela garçonete mais velha. — ele continuou em um sussurro. — Fiquei esperando que os

laços de seu espartilho estourassem e mutilassem alguém, e ela tropeçou e quase derramou cerveja em mim.

— Nós estamos repensando os uniformes. — Ou você simplesmente podia contratar garçonetes mais jovens. — o devasso sugeriu. — Doris é a mulher mais bonita aqui. — Camry rosnou para ele. — E a porra da melhor

garçonete que temos! O homem se afastou pra longe com alarme, praticamente correu para a porta. Dave suspirou novamente. — Você vai pegar leve? — Você vai cair na real? — Ela disse, dando meia volta e rumando para a cozinha. Honestamente, ela realmente não sabia por que trabalhava aqui. Fora que poderia ser divertido. E ela não era como algum estúpido velho Jack Russel terrier! Ela era uma pessoa feliz, caramba, mesmo com seus dedos dos pés cheios de bolhas.

Capítulo 5

— Bom Deus, o que está errado? — Fiona perguntou, empurrando seu carrinho de serviço com rodinhas na cozinha e parando ao lado de Camry.

— O que? Nada. Por quê? — Porque você parece como se quisesse esmurrar alguém. Camry respirou fundo — pelo menos o máximo que seu estúpido espartilho permitia — e

forçosamente sacudiu seu mau humor. — Desculpe. Estava só me perguntando por que eu trabalho aqui. — Porque você ama pessoas. — Eu amo?

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— Claro que sim, boba. — disse Fiona com uma risada, dando um soco de brincadeira no seu braço. — Você passa a semana toda com um bando de cachorros, então precisa trabalhar aqui nos fins de semana para se lembrar que é humana.

— Meus cães são mais comportados que alguns clientes. — Você estaria morta de tédio se passasse todo o seu tempo em torno de pessoas bem

comportadas. É isso o que eu mais gosto em você, Cam. Você diz o que pensa, e apoia o que diz com ação.

— Eu faço? — Com certeza. Tome-me por exemplo. Sei que está querendo me intimidar arrancando meu

sobrenome para que possa chamar meus pais, mas tem me tratado como uma adulta, embora eu ainda não seja. Isso por que você não pode se forçar a mexer na minha mochila para achar minha identidade.

— Como sabe que não mexi? — Porque eu ainda estou aqui, não é? E sabe por quê? Porque eu faço você se lembrar de si

mesma quando tinha a minha idade, e é por isso que está tão determinada que eu ligue para os meus pais sozinha.

Camry lhe lançou um sorriso torto. — Você disse que tinha dezesseis ou sessenta? — MacKeage! Seu pedido para a mesa dez está ficando frio. — o cozinheiro gritou da beirada

do fogão. — Onde diabos está seu pager? Estou tocando há dez minutos. Cam passou a mão na parte de trás da sua cintura. — Droga, deve ter caído. Provavelmente foi chutado pra debaixo de alguma mesa. — ela

murmurou, indo em direção às lâmpadas de aquecimento para pegar sua encomenda. — Ou, mais provavelmente, no bolso de alguma criança de quatro anos de idade.

— Eu te ajudo a procurar por ele. — disse Fiona, abandonando seu carrinho de serviço para segui-la dentro do salão de jantar. — Começo procurando pelo chão enquanto você entrega a comida para o Luke.

— Luke? — Cam repetiu, tecendo seu caminho através do pub lotado. — O cara grandão que parece um sonho na mesa dez. — Fiona explicou, andando em volta

dela para interferir quando uma criança se trançou nos pés delas, acenando com uma espada de plástico e usando um tapa-olho. Ela redirecionou a criança de volta aos seus pais, então olhou para Cam. — Não acha que ele é um sonho? Seus olhos são realmente de um profundo azul marinho, e seu cabelo quase longo o suficiente para amarrar atrás. Adoro cabelo comprido em um homem, você não?

Cam deu uma olhada em direção à mesa dez. — Ele é velho o suficiente para ser seu pai. A menina fez um som exasperado. — Não acho que ele é um sonho para mim, boba, acho que ele é perfeito para você. Mas ele

só vai estar na cidade por pouco tempo, pois ele está de licença, então você precisa trabalhar rápido. Você devia dar a ele seu número de telefone quando for levar sua conta.

Camry quase soltou a bandeja pesada que estava levando. — O que? Pensando aparentemente que era uma pergunta retórica, Fiona começou a interferir nas

corridas das crianças novamente, ocasionalmente se curvando para procurar por baixo das mesas. Decidindo que era melhor ter uma conversa com sua colega de quarto na volta pra casa do trabalho, Cam se dirigiu em direção às cabines laterais. Mas justamente quando Fiona passava pela mesa dez, uma mão de repente serpenteou pra fora da mesa nove, agarrou o braço da menina e puxou-a para dentro da cabine dos homens bêbedos.

O ganido de surpresa de Fiona também estava atado com dor quando ela bateu no canto da mesa. Sem perder o ritmo, Cam correu adiante com toda a intenção de remover a sujeira de idiotas. Só que naquele exato momento, o Cara dos Sonhos da mesa dez disparou de sua própria cabine e

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também se lançou para o idiota — seu ombro batendo na bandeja cheia de comida, arrancando-a das mãos de Camry e jogando-a no chão.

O pandemônio se seguiu quando dois amigos bêbedos do idiota se empurraram para ir atrás do Cara dos Sonhos, ao mesmo tempo em que Camry também entrou na briga. Só que a porra dos saltos conseguiram se enroscar nos pratos quebrados e na comida, e ela acabou caindo, ao invés de entrar na briga.

Sua cabeça explodiu de dor quando sua bochecha bateu no cotovelo de um homem, que estava armando um golpe para dar no Cara dos Sonhos. A força do soco lançou-a em cima de uma mesa, espalhando pratos e comida sobre as pessoas que tentavam ficar fora do caminho.

Camry se endireitou e virou de um lado para o outro, procurando freneticamente por Fiona no emaranhado de corpos. Ela viu a menina se preparando para enfiar um garfo no braço do idiota que estava tentando tirá-la debaixo da mesa pelo seu cabelo. Cam gritou o nome da menina com toda a força de seus pulmões, esperando que Fiona pudesse ouvi-la acima do ruído de pratos quebrando e os grunhidos e rosnados dos homens lutando.

Mas já era muito tarde. Mesmo que Fiona tentasse deter seu balanço descendente no momento que seus olhos foram rapidamente para Camry, o garfo ainda encontraria seu alvo. O resultar O grito de dor que se seguiu veio quando um outro dos homens bêbedos voou para trás, enviando Camry para o chão com seu próprio grito de dor, enquanto seu tornozelo torcia debaixo do peso de sua aterrissagem em cima dele.

Quase tão depressa quanto começou, o pandemônio cessou quando Dave, junto com vários dos clientes regulares do pub, começaram a agarrar os homens pela nuca e afastá-los do Cara dos Sonhos e Camry.

Fiona imediatamente rastejou pra cima e ergueu Cam para uma posição sentada, envolvendo seus braços em torno dela protetoramente. Cam tirou o garfo de sua mão bem na hora que Dave e se abaixou na frente delas.

— Maldição, vocês estão bem, meninas? — Ele perguntou, afastando o cabelo do rosto de Camry.

Cam deu um pulo quando seus dedos tocaram sua bochecha latejante. — Só quero me sentar aqui um minuto, okay? — Ela disse com voz trêmula, endireitando

cuidadosamente a perna direita. — Eu fui apunhalado! — Um homem gritou. — Estou sangrando! Aquela vadia me apunhalou! Dave baixou o olhar para o garfo em sua mão, o qual Camry imediatamente lançou debaixo de

uma mesa próxima. — Fique aqui até que a ambulância chegue. — disse ele, levantando-se e indo para a vítima

que reclamava em voz alta. Fiona ajoelhou atrás de Camry e a puxou contra ela para apoiá-la. — Fora esse olho roxo que já está começando a inchar — Fiona disse —, o que mais dói? — Meu tornozelo está latejando pra caramba. — Camry sussurrou. Ela se virou para olhar

para Fiona. — Diga-me o que deu em você para apunhalar aquele cara com um garfo? Não acha que foi um pouco... exagerado?

Fiona deu de ombros. — Meu pai sempre me disse que se alguma vez fosse abordada, eu deveria ver tudo como

uma arma, e não hesitar em usá-lo. — Seu pai realmente disse isto? Ela sobriamente acenou com a cabeça. — Ele me disse que era melhor não pensar como uma mulher, mas como um guerreiro. — Ela

sorriu de repente. — E a maior arma de uma mulher é a surpresa, porque homens não esperam que a gente devolva a luta.

Camry piscou para ela. — Seu pai e o meu devem ter lido o mesmo livro sobre como criar filhas. Oh, Deus, não

consigo respirar. — ela gemeu, torcendo seu rosto pra frente, tentando conseguir levar ar aos seus

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pulmões enquanto freneticamente puxava os cordões do seu espartilho. — Ajude-me a tirar esta coisa estúpida.

Fiona tentou desatar o laço na frente, mas não conseguiu soltar o nó. — Luke. — ela gritou quando ele se sentou ao lado delas, segurando um guardanapo em sua

têmpora. — Ajude-me. Camry não consegue respirar. — Corte esta maldita coisa fora. — Cam ofegava, tentando encontrar uma posição que lhe

permitisse respirar. — Ai! Meu Tornozelo! — Pare de se debater. Você está piorando as coisas. — Luke disse. Ele soltou o guardanapo

para que pudesse segurá-la, em seguida desabotoou uma bolsa em seu cinto com a outra mão. Ele puxou um canivete suíço e o abriu para expor a lâmina. — Ajude-me, Fiona. — ele instruiu, puxando o laço com o nó. — Mantenha o peito dela fora do caminho.

Camry cobriu seus próprios seios. — Você não pode ver o que está fazendo com seu olho cheio de sangue. — ela disse,

preocupada que ele pudesse cortar mais do que apenas os laços. Enquanto ela cobria sua preciosa anatomia com as mãos, Fiona usou as mãos dela para

bloquear a visão de Cam do que ele estava fazendo. — Ele não vai cortar você, prometo. — a menina disse com toda a bravata de alguém cujos

seios não estavam a polegadas de uma lâmina afiada. Camry sentiu vários puxões em seu torso, uma liberação muito bem-vinda da pressão, e de

repente ela podia respirar novamente! Tentou rolar para o lado, mas descobriu que Luke estava escarranchado em seus quadris. Seu peso de repente desapareceu, mas em vez de ficar de pé, ele rolou para deitar no chão ao lado dela.

— Respire devagar ou vai hiperventilar. — ele instruiu, também respirando com dificuldade. — Droga, acho que tenho um par de costelas quebradas.

Fiona ergueu Camry em posição sentada mais uma vez, acomodando-se atrás dela para apoiá-la enquanto Luke rolava em direção a ela com um gemido, em seguida se pôs de joelhos.

— Onde mais você está machucada? — Ele perguntou. — Ela torceu o tornozelo. — Fiona respondeu por ela. Luke se esgueirou até suas pernas e muito suavemente deslizou seu sapato para fora do seu

pé direito. Foi quando ele levantou os olhos para ela que seu olhar de repente parou, e Camry percebeu que ele podia olhar completamente por baixo de sua blusa não confinada! Mas quando ela bateu a mão no peito e seu olhar abaixou, percebeu que ele também podia olhar direto pra sua saia levantada! Ela começou a se mexer enquanto arrastava a barra, tentando puxar sua saia pra baixo, ao mesmo tempo que também tentava levantar a frente da sua blusa.

— Qual é o seu problema? — Ele disse em um estalo, caindo pra trás quando seu pé esquerdo chutou sua coxa — aparentemente bastante perto de sua virilha.

— Nada! — Vou prestar queixa contra quem quer que tenha me apunhalado. — A vítima de Fiona

gritou de três mesas abaixo. Ainda segurando sua blusa contra o peito, Camry deixou sua cabeça cair sobre os joelhos com

um gemido. — Juro por Deus, nunca mais vou pisar em outro bar. — ela murmurou, lembrando da última

vez que alguém quis prestar queixas contra ela, depois de uma briga de bar em Pine Creek, no último verão.

Fiona deu um tapinha em suas costas. — Vou contar a Dave que fui eu quem espetou aquele idiota. Camry se endireitou. — Você não vai. Se as autoridades descobrirem sua idade, então Dave vai ter problemas. —

Ela sorriu de repente. — A menos que queira que seus pais recebam um telefonema da polícia, dizendo a eles que sua filha desaparecida está sentada na cadeia. Só pense no sermão que seu velho pai vai te dar então. Você não verá a luz do dia por anos.

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— O que você quer dizer com filha desaparecida? — Luke perguntou, seu olhar zanzando entre Cam e Fiona. Ele finalmente parou em Fiona. — Você fugiu de casa ou algo assim?

— Algo assim. — disse Fiona. O olhar de Luke saltou para Camry. — Você sabe que ela é uma fugitiva e não fez nada sobre isto? — Suponho que eu poderia tê-la deixado na praia. Ou deixá-la pedir carona para Portland

para que pudesse ficar em um abrigo.Luke meteu a mão no bolso, tirou seu celular e o entregou para Fiona. — Você tem que ligar para seus pais neste minuto, mocinha. Eles devem estar morrendo de

preocupação com você! Camry não podia acreditar no quanto o cara era denso. Mais ainda, não podia acreditar que Fiona realmente pegou o telefone, sacudiu-o abrindo e

começou a apertar teclas. Sua boca ficou escancarada em choque, Cam ficou piscando atordoada para Luke. Ele lhe atirou um sorriso presunçoso, cheio de si. — Aparentemente ela responde a autoridade masculina. Fiona de repente passou o telefone de volta para Luke. — Você não ligou para eles! — Eu vou. Eventualmente. — Ela deu a ele um sorriso igualmente presunçoso. — Mas

adicionei o número de Camry na sua lista. Por via das dúvidas, caso queira chamá-la, como vai estar por aqui durante algum tempo e não conhece ninguém.

Luke baixou o olhar para o seu telefone. Ele começou a apertar as teclas com o seu polegar, seus olhos de repente se arregalaram, e ele bateu seu olhar de volta para Camry.

Cam estendeu sua mão. — Me dá isso. Ele sacudiu o telefone, fechando-o, e o enfiou em seu bolso. — A primeira coisa que vou fazer amanhã será mudar meu número. — Ok, a polícia e a ambulância estão aqui. — disse Dave, vindo para eles. — Gente. — ele

disse para os clientes atordoados no salão de jantar. — Sinto muito pela perturbação. Se vocês pararem no balcão na saída, minha equipe dará a vocês vales para uma refeição grátis.

Primeiro, entretanto, acredito que a polícia desejará falar com cada um de vocês antes de irem embora. Vocês todos voltem a visitar o Go Back Gril novamente, certo? E tragam seus amigos!

Ele se abaixou na frente de Camry. — Cristo, Cam, que inferno de olho roxo que você conseguiu aí. — Ele fez uma careta para o

seu tornozelo. — E precisa radiografar esse pé. A ambulância vai vir levá-la e você somente dirá a eles para enviar a conta para mim.

— Tudo que eu preciso é de um saco de gelo, porque está somente torcido. E não vou subir em uma ambulância. Elas são para pessoas tendo ataques cardíacos ou com hemorragia.

Sua carranca ficou mais sombria. — Não me faça usar minha voz de chefe. — ele disse despedindo-se dela, e virando para Luke

e estendendo sua mão. — Dave Bean, Sr...? — Pascal. — disse Luke, tomando sua mão. — Luke Pascal. — Sinto muito Luke, que tenha sido pego nesta confusão. Mas vi que você veio em socorro de

nossa menininha — ele disse, apontando com a cabeça em direção a Fiona — e agradeço a você. A maioria das pessoas não são tão rápidas em se envolver com o problema dos outros.

Luke deu de ombros.— Eu tenho uma irmã mais nova com a mesma idade de Fiona. — A comida é por conta da casa enquanto você estiver na cidade, Luke. — Dave olhou para o

corte de Luke que estava sangrando, e o modo que ele estava segurando suas costelas. — Você vai com Cam na ambulância e deixe-os te examinarem no hospital. Esse corte pode precisar de pontos, e você pode ter algumas costelas quebradas. Cobrirei as despesas médicas. Ele se voltou para Camry.

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— Você agiu bem, filha. Não se preocupe sobre alguém prestando queixa. Na hora que eu estiver com aqueles quatro, eles desejarão sair em linha reta da cidade. — Ele corou e desajeitadamente deu um tapinha em seu ombro. — Leve o tempo que precisar para voltar a andar com seus próprios pés. Quer que eu chame alguém? Sua família, talvez?

— Não! — Camry disse um pouco mais enfaticamente do que pretendia dizer, fazendo Dave se encolher. — Quero dizer, obrigada, mas realmente não estou tão machucada. — Ela sorriu para Fiona. — E acontece que tenho uma companheira de quarto no momento, que pode me ajudar e ser minhas mãos e pés por alguns dias.

Dois paramédicos chegaram empurrando uma maca. Um dos homens se abaixou na frente de Luke e apontou uma lanterna minúscula em seus olhos. O outro fez o mesmo com Camry. Ele deve ter decidido que viveria, porque sorriu para ela. — Pode subir na maca sozinha ou vai se arriscar que eu te deixe cair se meus joelhos ficarem fracos quando eu te levantar?

— Quero trocar de roupa e colocar minha calça jeans e suéter antes de ir pra qualquer lugar. — Por quê? Eles vão tirar tudo de novo de você no hospital. — Passou o olhar por cima de sua

fantasia, então sorriu para ela novamente. — O que você está vestindo é adorável. E de qualquer maneira, o Dr. Griswel está trabalhando na emergência hoje à noite, e ele tem uma coisa com pernas... quero dizer, tornozelos. Aposto que vai te colocar na frente da punhalada e do corte facial.

Camry fez um esforço para ficar de pé, mas o paramédico robusto de repente a ergueu nos braços, levantou e colocou na maca.

— É muito bom que você não tenha aberto um sorriso — ele disse secamente, abrindo um cobertor em cima dela — ou eu realmente teria ficado com meus joelhos fracos.

— Fiona, por que não pega a bolsa e as roupas de Camry? — Luke sugeriu assim que seu paramédico o ajudou a se levantar. — E pode ir na ambulância com ela. Eu vou segui-las no meu carro, assim posso trazê-las para casa depois.

— Vamos tomar um táxi na volta. — Camry disse a ele, segurando o cobertor até em cima do peito. Ela olhou para o paramédico do Luke. — Ele não devia estar dirigindo, devia?

— Não. Camry finalmente encontrou seu sorriso, e se certificou que fosse condenadamente

presunçoso. Fiona pode ter colocado a ideia na cabeça de Luke que ela pudesse ficar agradecida com sua atenção dando seu número a ele, mas que se danasse se iria entreter algum turista entediado de licença.

— Eu me ofereceria para levá-la pra casa do hospital — disse Dave, caminhando até a maca. Ele acenou em direção à polícia que conversava com as pessoas que faziam fila para obter seus vales. — Mas temo que estarei preso aqui até altas horas da madrugada. — Ele deu um passo mais perto. — Tire esse sorriso do rosto, MacKeage. O cara salvou nossa garotinha, afinal. — ele sussurrou.

— Não gosto de homens insistentes. — ela sussurrou de volta. — E com toda certeza não quero encorajá-lo a ser bom.

Dave bufou. — Posso ver que isso tem funcionado muito bem para você.

Capítulo 6

Camry acordou com uma língua molhada babando a orelha dela, mas não ficou alarmada porque reconheceu a respiração do seu cachorrinho Max. Ela rolou pra longe com um gemido, sem vontade de abrir os olhos por medo de aumentar o latejar em sua têmpora.

Isto é, ela rolou até encontrar um corpo que não era canino. Sentou-se com um sobressalto, agarrou a cabeça para impedi-la de rachar, e caiu para trás contra o travesseiro com um gemido mais alto ainda.

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— O que está lambendo meu rosto? — Luke Pascal disse rouco ao lado dela. — Sei que não é sua língua, MacKeage, porque é muito amigável.

— Esta é Ruffles. — ela murmurou. — E ela é uma assanhada sem vergonha. Existe uma razão para que esteja na minha cama, Pascal? Não que isso importe, porque se não estiver fora dela em dois segundos, vou escurecer seu outro olho.

— Você me daria um minuto? Minha cabeça está me matando, e estou com medo que uma costela perfure meu pulmão se eu me mover nesse instante.

— O que você está fazendo aqui? — Ouvi você choramingando durante a noite, então entrei e te chequei. Devo ter caído no

sono antes que pudesse sair. — Esta é uma mentira descarada, porque eu nunca choramingo. — Que diabos eles nos deram no hospital? — Obviamente algum analgésico muito poderoso. Hum... por acaso não tem nenhum

sobressalente no seu bolso, não é? — Cuecas boxer não tem bolso. — Eu tenho algum para ambos. Max desça. — Fiona disse, subindo para o lado de Camry na

cama. — Você, também, Ruffles. Vá, xô! Camry sentiu a cama afundar e abriu uma fresta do seu olho bom para ver Fiona segurando

um comprimido e um copo de água. Cam abriu sua boca e a menina jogou o comprimido, então ergueu sua cabeça para lhe dar água. Assim que acabou, Fiona se levantou e deu a volta na cama para fazer o mesmo com Luke.

— O médico me advertiu que vocês dois estariam bastante doloridos esta manhã. Max! Eu te disse para ir para a sala de estar!

— Sussurre. — Cam sussurrou. — Desculpe. — Por que Luke está aqui? — Cam perguntou. — O paramédico da ambulância bonzinho ligou para a esposa dele, e ambos ficaram na sala

de espera comigo. Então nos deram uma carona pra casa e me ajudaram a acomodar vocês dois para passar a noite. John pôs Luke na minha cama, e sua esposa, Glenna, me ajudou a colocá-la na sua. Dormi no sofá, então não sei como vocês dois acabaram juntos na cama. — ela terminou, parecendo muito encantada.

— Não, quero dizer por que Luke está na minha casa? — Oh, isto. Quando o médico me deu instruções para vocês dois, percebi que Luke deveria

ficar conosco por alguns dias. — Ela sorriu para o único olho brilhante de Cam. — Depois dele vir tão galantemente em meu socorro na noite passada, pensei que era o mínimo que poderíamos fazer.

— Ele não se importa que falem dele como se não estivesse aqui. — disse Luke. — E obrigado. — ele murmurou, somente para gemer quando Tigger saltou em cima na cama, empurrando a ambos. — Quantos cachorros você possui, afinal?

— Nenhum. — Cam disse a ele. — Mas tomo conta de quatro. — Você é babá de cachorros? Por quê? — Para pagar as contas. Camry ouviu Fiona suspirar. — Ela ainda está tentando decidir o que quer ser quando crescer. — Com licença? — Luke disse. — Neste momento ela está dividida entre ser Suzy Dona-de-casa ou presidente dos Estados

Unidos. Eu disse que ela era inteligente o suficiente para ser uma cientista espacial se quisesse, mas ela não acha que seria tão excitante.

Aparentemente Luke ficou tão impressionado, que não podia comentar. Cam sentiu um tapinha em seu braço, e viu Fiona de pé ao lado dela novamente. — Não se preocupe com os cachorros. Eu os levo para passear pelos próximos dias. O médico

disse que você precisa poupar este tornozelo. Ela olhou para Luke, então de volta para Cam.

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— E Luke tem algumas costelas bastante contundidas, e o doutor Griswel disse que provavelmente elas doeriam mais se estivessem quebradas. — Ela sorriu. — Mas não se preocupe; ele os mandou para casa com bastante analgésico.

— Ele pode, pelo menos, caminhar de volta para sua própria cama? — Cam perguntou. — Ele pode, tão logo Fiona saia. — disse Luke. — Porque ele está vestindo apenas uma cueca

boxer. Fiona varreu Tigger em seus braços, deu meia volta com uma risadinha e partiu. Luke ainda não se moveu. — Ela se foi. — Eu sei. Que tal me dar tempo suficiente para a pílula surtir efeito? — Você tem cinco minutos, Pascal. — Então, você toma conta de cachorros e serve mesas para viver? — Não, tomo conta de cachorros pela semana e atendo no bar nos fins de semana. Eu estava

servindo mesas na última noite só pra poder manter um olho em Fiona. — Há quanto tempo ela está... desaparecida? — Eu a encontrei na praia nesta última sexta-feira. Ela me disse que fugiu de casa quatro dias

antes disso. — E você não conseguiu fazê-la contar nada a respeito de sua família? — Não. E não me atrevo a forçar, porque tenho medo que ela fuja de mim. — Cristo, seus pais devem estar enlouquecendo. Você pelo menos ligou para a polícia para ver

se eles têm algum relato de garota desaparecida? — Foi a primeira coisa que fiz na sexta-feira, enquanto ela estava tomando banho. Eles

disseram ninguém que se encaixasse na descrição da Fiona foi dada como desaparecida. Hum... obrigada por salvá-la ontem à noite. Dave estava certo, muitos homens não teriam se envolvido, especialmente considerando que havia quatro idiotas bêbedos. Inferno! Havia um monte de outros homens sentados ali mesmo ontem à noite, mas não vi nenhum deles saltando de suas cadeiras.

— Tenho uma meia irmã da idade da Fiona. — Fiona disse que você está de licença. De que? Ele ficou mudo por vários segundos, então riu suavemente. — Você acreditaria que de ciência espacial? Camry ficou perfeitamente imóvel, nem sequer se atrevendo a respirar enquanto tentava

calcular as probabilidades de dois físicos entrando em uma briga de bar e acabando deitados na mesma cama na manhã seguinte.

— E sabe de uma coisa? — Ele continuou. — Ao contrário do que você disse a Fiona, acontece que acredito que é uma profissão excitante.

— Como mastigar números até que seus olhos embaralhem pode ser empolgante? Especialmente se esses números de repente parem de fazer o menor sentido?

— Você sabe alguma coisa sobre física matemática, não é? — Eu sei que deve ser frustrante pra caramba. — E ser babá dos cachorros de outras pessoas é excitante? — Os cachorros não questionam cada maldita coisa que eu digo em um e-mail, ou

amavelmente apontam meus erros. — Eu não sabia que cachorros usavam e-mail. — ele disse com a diversão entrelaçada em sua

voz. Camry lhe deu um empurrão. — A pílula obviamente está fazendo efeito agora. — Ai, minhas costelas! Definitivamente não está funcionando ainda. — Desculpe. Ela sentiu a cama empurrar e abriu uma fresta do seu olho só o suficiente para ver que ele

rolou em direção a ela, escorando a cabeça na mão.

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— Então você é babá de cachorros porque eles acham que você é a coisa mais inteligente desde o pão fatiado, não é isto? Você não se importa de ter uma discussão interessante com um adversário digno de vez em quando?

Camry puxou o cobertor até o queixo e o colocou entre eles. — Gosto de uma boa discussão quando a pessoa com quem estou discutindo não é tão cheia

de si a ponto de insistir em vir para a América para me esclarecer em pessoa. — Hmm, estou um pouco perdido aqui. Pensei que estávamos falando sobre discussão em

geral, mas parece que você está falando sobre algo um pouco mais específico. Mente elaborando? — Não. Vá embora, Pascal. Ele deitou de volta sobre seu travesseiro e suspirou. — Estou faminto. Nem consegui jantar ontem à noite. — Há um pouco de maionese na geladeira. Pode comer. — Só isso? Você não cozinha? — Por que me incomodar, quando tenho apenas que ir ao Go Back Grill? — Talvez você devesse apender mais para ser presidente quando crescer, em vez de Suzy

Dona-de-casa. — Ele suspirou novamente. — Suponho que ninguém faça entregas nesta cidade semideserta. Talvez Dave ou uma de suas garçonetes possam trazer alguma coisa pra nós.

— Dave trouxe o SUV de Cam pra casa ontem à noite. — Fiona disse, caminhando de volta no quarto carregando uma bandeja de comida e colocando-a entre eles.

Cam se sentou lentamente, o cheiro enchendo sua boca de água. — Ele trouxe comida também? — Não, dirigi até o supermercado esta manhã e consegui voltar antes dos vira-latas chegarem.

— Fiona disse a ela, colocando o travesseiro nas costas dela contra a cabeceira. — Você tem carteira de motorista? — Quase. — disse Fiona, dando a volta para arrumar o travesseiro do Luke no lugar. — E

assim que essas pílulas derrubarem ambos, vou esperar até lá e então correr para o hotel de Luke e trazer suas coisas. A chave do quarto está em suas calças, Luke? Qual é o número do seu quarto?

— Você não pode dirigir com quase uma carteira. — Cam disse a ela. — Você deveria ter um adulto com você.

— Não se preocupe que eu bata com sua caminhonete, Cam. Venho dirigindo em estradas de transporte de carga desde que tinha dez anos. — a menina disse. — Vou levar Suki comigo e ponho seus óculos de sol nela. Ela é grande o suficiente para parecer com um adulto.

— Estradas de transporte de carga? — Camry disse se recuperando. — Isto significa que você vive no oeste do Maine.

— Eles têm estradas de transporte de carga em Aroostook e nos condados de Washington também. — Fiona pegou Tigger no meio do salto quando o dachshund tentou saltar em cima da cama, então voltou pra fora do quarto com o cachorro. Ela parou na porta.

— Eu vou deixar Max e Ruffles aqui, e vou levar Suki e Tigger comigo. Luke, o número do seu quarto?

— Ele vai voltar para o hotel esta manhã. — Camry disse a ela. — É o quarto sete. — ele disse, pegando uma torrada. — E não desfiz a mala, então você vai

encontrá-la em cima da cama. — Você não vai se mudar pra cá conosco. — Você ouviu o que o médico disse a Fiona. Estarei com muita dor pelos próximos dias, e não

é seguro tomar medicamentos potentes se não há ninguém por perto para se certificar que eu não me mutilarei. Preciso de supervisão, e já que você precisa também, poderíamos muito bem ser supervisionados juntos.

— Isso faz perfeito sentido para mim. — disse Fiona da entrada. — E eu certamente não me importo de cuidar de vocês dois. De fato, isso me permitirá saber se quero ser uma enfermeira quando crescer. — A garota, que parecia estar se divertindo demais, arqueou suas sobrancelhas para Camry. — Ao contrário de alguém por aqui, eu quero tudo isso: uma carreira e um marido e filhos antes do meu relógio biológico começar a tiquetaquear pra baixo.

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Camry agarrou uma laranja da bandeja para arremessar nela. — Sua pirralha! Luke a arrebatou de sua mão antes que ela pudesse jogar. — A comida não! Camry apontou pra Fiona. — Espera só até seu pai se apoderar de você, mocinha. Pretendo estar bem ao lado dele,

ajudando-o a te dar um sermão. E assim que eu puder caminhar, vou examinar todos os seus pertences para descobrir seu sobrenome.

— Tarde demais. Queimei tudo com meu nome na lareira esta manhã. — Camry ofegou, sinceramente ferida.

— Você não confia em mim? Fiona deu um passo mais perto. — Claro que confio, Camry. É em Luke que eu não confio. — ela disse, revirando seus olhos. —

Quero dizer, ele é um homem. Luke começou a lançar a laranja nela, mas Camry a arrancou de sua mão e começou a

descascá-la. Fiona deu meia volta com uma risada, enxotou os outros três cachorros diante dela, e fechou a porta do quarto.

— Ela está morando com você só alguns dias, e você já corrompeu sua opinião a respeito dos homens. — Luke acusou, um pouco antes de dar uma mordida na torrada.

— Tenho absoluta certeza que Fiona já descobriu sobre vocês homens bem antes de eu encontrá-la. Ela me disse que fugiu de casa porque seu pai não parava de dar sermões nela.

— Porque ele a ama. Ela parou de descascar a laranja e olhou para ele. — Por que os homens não podem amar suas esposas e filhas sem ficar dando sermões nelas

até cansar? — Como diabos eu deveria saber? Nunca tive esposa ou filha. — E uma namorada? Tem uma dessas? — Não no momento. — ele disse olhando fixamente pra baixo em sua torrada. — Eu não

pareço ter nenhum problema em conseguir uma namorada, só não consigo mantê-la. — Porque você fica dando sermões até cansar. — Não, não é isto. — Ele pegou o prato de ovos e começou a comer, conversando entre

mordidas. — Elas nunca ficam tempo suficiente para eu alcançar a fase do sermão. — Ele a examinou. — Assumindo que até exista uma. — disse ele, voltando a engolir sua comida.

Camry se viu bastante intrigada. Podia ver por que Luke Pascal não tinha dificuldade em arrumar namoradas, já que Fiona esteve correta sobre ele ser um sonho Tinha o corpo de um atleta — que realmente não batia com a coisa de físico — e seus olhos eram de um belo azul profundo. Quanto ao seu cabelo, bem, ela tinha que admitir que gostava dele comprido; dava-lhe uma aparência rude, rebelde, que também não combinava com sua profissão.

Seu tórax não era de se desprezar também. Seus ombros eram largos e seus peitorais bem definidos, generosamente polvilhado com um pelo que parecia macio, certamente tocou sua campainha.

— Por que você não pode manter uma namorada? — Ela questionou se perguntando se talvez ele tenha colocado uma bomba no quarto. Afinal ele era um nerd, mesmo que tivesse uma boa dose de força muscular.

— De acordo com as mulheres que ainda estavam falando comigo quando elas empacotaram suas escovas de dente, sou chato. Aparentemente você senhoras precisam da atenção não dividida de um homem. — ele disse, parecendo mais confuso que resignado.

Camry quase desatou a rir, mas se conteve quando percebeu que ele estava falando sério. — Então você passou todo seu tempo trabalhando em vez ficar com suas namoradas? — Se elas queriam estar comigo, por que não vieram ficar no meu laboratório? Okay, o cara era realmente sem noção.

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— Talvez você devesse tentar namorar outros físicos. Sabe, outro cientista que entenderia ser ignorada?

— Você conheceu muitas cientistas mulheres? — Ele realmente estremeceu. — Elas me assustam terrivelmente.

— Assustam? Como? — Eu posso citar três nomes que vem imediatamente à minha cabeça que puxam seus cabelos

pra trás tão apertado, que parece como se tivessem arruinado a cara esticando. — Ele estremeceu novamente. — E duas mulheres me vêm à mente que podiam provavelmente chutar minha bunda em três segundos. — Ele bufou. — E muitas cientistas tem a personalidade de ratos de laboratórios.

Camry não sabia por que, mas achou aquilo extremamente engraçado. — E a maior parte dos cientistas homens que conheci — disse ela no meio de uma risada —

não pareciam dançar melhor que um saco de papel molhado! — Ei, eu posso dançar. — E conheci peixe com mais personalidade que a maioria deles. Luke começou a rir também. — Okay, você me pegou. Eu também peguei você. — Camry jogou as cobertas pra trás e

começou a balançar suas pernas pra sair da cama. — Ei, aonde você vai? — ele perguntou agarrando seu braço. — Você não pode andar. — Tenho que usar o banheiro. Ele sorriu. — Eu também. Okay, vamos fazer o seguinte. Você espera aí mesmo, eu dou a volta pra te

ajudar, já que não tenho um tornozelo torcido. — Certo, mas vou usar o banheiro primeiro. — Luke deixou seu prato na bandeja entre eles,

então deu a volta até o lado dela. Camry quase caiu, inclinando a cabeça para olhar para ele. — Você é muito maior quando está seminu. — Seus olhos pararam no meio do caminho para

cima, e ela estendeu a mão e tocou suas costelas. — Uau, esta é uma tremenda de uma contusão. — Seu olhar finalmente chegou ao rosto maltratado. — Você tem certeza que é um físico? Você certamente se virou muito bem sozinho ontem à noite.

— Estive trabalhando fora. — ele disse estufando seu peito, só para deixá-lo afundar com um gemido à medida que embalava suas costelas. — Certo. Dê-me sua mão e não ponha nenhum peso em seu tornozelo.

Camry deu uma risadinha. — Acho que sua pílula está fazendo efeito. — Não. Ainda posso sentir minhas costelas. Ela se puxou pra fora da cama — grata que Fiona a meteu em um pijama de flanela — então

agarrou o braço dele enquanto se equilibrava na perna boa. — Minha pílula também não está fazendo efeito. Tanto minha cabeça quanto meu tornozelo dói. Não me deixe cair.

— Eu não vou. Você sabe por que, MacKeage? — Ele perguntou, levando-a para o banheiro. — Por quê? — Porque você é absolutamente linda quando sorri. Ela sorriu para ele. — Você não é tão ruim assim para um físico. — Eles alcançaram o banheiro e Camry transferiu

seu peso do seu braço até a pia. — Okay. Vá embora. — Você não vai demorar uma eternidade, vai? Eu realmente tenho que ir também. — ele

disse. Ela acenou em direção ao quarto. — Urine fora da janela ou algo assim. Não tenho nenhum vizinho. Ele saiu e Cam fechou a porta, trancando-a e mancou pelo banheiro. — Sabe o que eu acho? — Luke chamou através da porta do banheiro. — Nossa! Não tenho a menor ideia. O que?

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— Sabe aquele cara com quem você estava tendo uma discussão por e-mail? Acho que você devia encontrá-lo pessoalmente.

— Para que eu possa dar um soco no nariz dele? Ele não respondeu imediatamente. — Você realmente acha que ele era cheio de si mesmo? — Ele era um sabe-tudo, hipócrita, um filho da puta arrogante. Luke não disse nada. — E se eu alguma vez encontrá-lo pessoalmente, enfiarei seu laptop garganta abaixo. — Ela

bufou. — Ele provavelmente tem 1,60m e cento e oitenta quilos, careca como uma águia e usa óculos de garrafa de Coca-Cola.

— Ele realmente te deixou chateada, não é? — Luke disse suavemente. Depois de acabar de cuidar dos seus negócios, Camry mancou até a pia, olhou no espelho e

gritou. A maçaneta sacudiu. — O que está errado? Você caiu? — Não, acabei de me olhar no espelho. — ela disse com uma risada ligeiramente histérica,

cuidadosamente tocando seu olho inchado. Soou como se Luke tivesse batido sua cabeça na porta. — Droga, você me matou de susto!— Matei a mim mesma de susto. — Ela lavou e secou suas mãos, correu os dedos pelo seu

cabelo desgrenhado, e destrancou a porta. Luke tropeçou pra dentro do banheiro quando o ela abriu. — Sua vez. — ela disse. — Só preciso lavar as mãos e jogar um pouco de água no meu rosto. — Por quê? Ele sorriu torto. — Fiz xixi fora da janela. — Eu estava brincando. — Você demorou muito. — ele disse, andando em volta dela para usar a pia. Ela lhe daria um crédito, ele não gritou quando se olhou no espelho, mas ofegou. — Nós não fazemos um par? — Ela perguntou, sorrindo pra ele no espelho. — Pelo menos

temos dois olhos bons entre nós, e você pode andar e eu posso... eu posso... — Ela abaixou sua cabeça. — eu posso nunca mais entrar em outro bar. Toda vez que entro em apuros, é em um bar.

Ele ergueu seu queixo com o dedo. — Você pode ir comigo. Não deixarei você entrar em apuros.— Disse a aranha para a mosca. — Sorria novamente. — Não. Dói meu rosto. — Por causa de seu olho roxo ou só quando está perto dos homens em geral? — Ei, eu sou uma pessoa feliz, droga. — Uau, aquela pílula certamente dissipou rápido. Devo pedir a Fiona para te dar outra? Camry estendeu as mãos pra cima e agarrou as orelhas dele, puxou sua cabeça para baixo, em

seguida o beijou em cheio na boca. — Aí! — Ela estalou. — Isso é feliz o suficiente pra você? Ele a puxou para os seus braços, embalou a cabeça dela no seu ombro e devolveu o beijo —

um pouco mais forte e definitivamente muito mais longo...Okay, ele não continuava perdendo namoradas porque soltava bombas no quarto. Este cara

sabia beijar. E daí, ela também sabia. De fato, ela tinha aperfeiçoado o beijar. Camry teve fraqueza nos joelhos — especialmente aquele que mantinha seu peso — e caiu

contra ele quando sua língua começou a fazer coisas deliciosas com a dela. Ela quase caiu em prantos quando ele se afastou subitamente.

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— Cristo, você é assustadora. — ele disse rouco, seus olhos azuis trancados nos seus. Sua cabeça girou em confusão. — Assustadora? — Ela repetiu, correndo a ponta do dedo sobre a mandíbula dele. — Como

assim? Ele inclinou a cabeça dela para trás novamente e começou a beijar seu rosto, então arrastou

suaves e trêmulos beijos pescoço abaixo. Camry tremeu com florescente paixão. É. Definitivamente ele tocou sua campainha. Não, espere, havia uma campainha de verdade tocando em algum lugar. Ela se afastou. — Oh meu Deus, que horas são? É a minha mãe! — Você tem mãe? — Luke murmurou tentando beijá-la novamente, a evidência de sua

própria paixão crescente cutucando sua barriga. — Ela vai ligar de volta. — Camry se desembaraçou do seu abraço e mancou em direção à cama. — Mas se eu não responder, ela vai ligar para o meu laboratório. — De repente mudou de direção quando percebeu que seu celular não estava na sua mesinha de cabeceira.

— Vamos, onde diabos você está? — Ela olhou ao redor do quarto, seu olhar afiado em cima da mesa e agarrou sua bolsa.

— Oi, mãe. — disse ela assim que sacudiu seu celular, abrindo-o. — Nossa! Já é segunda-feira? Estive tão envolvida com meu trabalho, que nem sei que dia é hoje.

Ela saltou quando Luke pegou em seu braço, então o deixou ajudá-la a chegar até a cama para que pudesse se sentar.

— Sério? — Ela disse ao telefone enquanto acenava para ele se afastar. — Um metro? É cedo para tanta neve, não é? Mas é bom para o negócio de esqui.

Ela franziu a testa para Luke quando, em vez de partir, ele deu a volta e sentou ao seu lado da cama e começou a comer sua laranja.

— Humm, mãe? Pode esperar um minuto? Alguém acabou de entrar. Fique na linha... isso só vai levar um minuto.

Ela achou a tecla de Mudo e a apertou com seu polegar, em seguida pegou a laranja dele. — Não pode ver que eu estou tendo uma conversa pessoal aqui? Volte para a sua própria

cama. — Mas é pequena. E aquela maldita coisa é muita curta para mim. — Ele pegou a torrada em

seu prato de ovos mexidos e a despediu com um gesto. — Não me deixe detê-la. Só vou terminar meu café da manhã e tirar um cochilo.

— Você não vai dormir na minha cama. — Será mais fácil para Fiona se ambos estivermos no mesmo quarto. Ela arqueou uma sobrancelha. — Então você não se importaria se sua irmã mais nova cuidasse de dois virtualmente

estranhos compartilhando a mesma cama? Ele franziu o cenho para ela, então encheu a boca de torrada. Camry liberou a tecla Mudo e segurou o telefone de volta em sua orelha. — Posso te ligar mais tarde, mãe? Há uma coisa acontecendo aqui que necessita da minha

atenção. O que? — Ela suspirou. — Sim, temo que ainda não possa ir para casa para o solstício. Eu sei, mas você, melhor do que ninguém, deveria entender como é este trabalho. Eu realmente não me atrevo a perder meu foco por muito tempo. E não posso trabalhar em casa durante o feriado por causa de todo o caos. Certo, falo com você mais tarde. Sim, amo você também. Adeus, mãe. Diga a papai que o amo. — ela disse correndo, logo antes de encerrar a chamada.

— Você não vai para casa para o Natal? — Luke perguntou, dando outra mordida na torrada. Camry encheu sua boca com o que restava da laranja. — Espere, você disse que se não respondesse, sua mãe ligaria para o seu laboratório. Você

tem um laboratório? — Ele dramatizou olhando para todas as portas no quarto, então apontou para a porta do armário. — É ali? Que tipo de laboratório é? — Ele ofegou dramaticamente. — Não é um

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laboratório de metanfetamina! — Ele sacudiu sua cabeça. — E você está preocupada sobre que impressão daremos a Fiona estando na mesma cama.

— Pode ficar sério? Melhor ainda, saia daqui. — De que tipo de laboratório você está falando, MacKeage? Ela se recostou na cabeceira da cama com um suspiro, e empurrou seus ovos com um garfo ao

redor do prato. — Eu costumava ser uma física de propulsão espacial. — Você é uma cientista espacial? De verdade? Espere, você disse que costumava ser. Como

assim, você não é mais uma física? — Ele sorriu. — O que aconteceu, você de repente esqueceu como contar depois de dez sem usar os dedos dos pés?

Ela olhou para ele. — Não, fiquei enrolada. — Enrolada? — Ele bufou. — Os verdadeiros cientistas não ficam enrolados, MacKeage. Nós

batemos em paredes de tijolos às vezes, mas ou achamos uma maneira de contorná-los ou começamos a cavar através deles. Espere. — ele disse estalando os dedos.

— Será que sua parede de tijolos não tem nada a ver com aquele sujeito com quem você estava tendo a discussão por e-mail?

— O desgraçado arrogante me mandou uma equação que contradizia completamente três anos do meu trabalho. — ela rosnou, lançando o garfo através do quarto, onde este bateu na parede e caiu no chão. — E então teve a audácia de sugerir que deveríamos trabalhar no problema juntos.

— Então você está com raiva porque um colega cientista quer trabalhar com você, ou porque a equação que ele te enviou estava correta?

— O nome dele é Lucian Renoir. Deus, até seu nome soa arrogante. Mas sou eu quem vai dar ao mundo um sistema de propulsão de íons viável — ela disse batendo no peito —, considerando que ele só quer vir aqui e roubar meu trabalho.

— Humm, há uma pequena falha em sua teoria, MacKeage. Ele não pode roubar o que não existe. Você foi embora, lembra? — Ele de repente sorriu para ela. — Mas se acha que este tal Renoir tem 1,60m e pesam cento e oitenta quilos, talvez você esteja esperando ele coaxar a qualquer minuto, e então você vai começar a trabalhar novamente?

Uma vez que lançou o garfo, Camry usou os dedos para comer os ovos mexidos. — Não posso começar novamente se não descobrir como desenrolar. — Ela olhou para ele,

então olhou de volta para a bandeja. — Ele... a equação que me enviou estava correta. Eu tive que refazer quase dois anos de trabalho antes de encontrar onde o tiro saiu pela tangente. — Ela o examinou. — Mas embora eu tenha encontrado o problema, ainda não consegui descobrir como consertá-lo.

— Talvez Renoir possa ajudar você. — Mas se ele pode fazer este trabalho, então eu deveria ser capaz também. — Ela realmente

sorriu. — Mas duvido que ele possa fazer isto sozinho, porque ele realmente não é tão brilhante. — Ele não é?— Ele não pode nem descobrir que minha mãe é a Dra. Grace Sutter. — A Dra. Sutter, que costumava trabalhar para StarShip Spaceline? Droga, li todos os seus

documentos. Foi ela quem me levou para a ciência espacial quando eu tinha doze anos. Cam bufou. — Ela me apresentou a eles em seu ventre.— Então por que você não está colaborando com ela? Ela olhou de volta para a bandeja e franziu o cenho. — Eu tentei, mas ela se recusa. Ela se afastou de repente da propulsão iônica quando eu era

uma criança, e começou a se trancar em seu laboratório para trabalhar em outra coisa. — Ela bufou. — Provavelmente receitas de biscoitos. Ter sete filhas parece ter levado sua paixão pela ciência ao limite. — Ela olhou para ele. — Vocês homens não têm que se preocupar com a gravidez mexendo com seus hormônios, então nunca perderão seus limites.

Seus olhos azuis marinhos a estudaram por vários segundos.

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— É isso que você pensa que aconteceu com sua mãe? — O que mais poderia ser? Ela estava muito perto de aperfeiçoar o íon de propulsão quando

conheceu meu pai e começou a ter bebês, e trinta e cinco anos mais tarde, ainda não temos um sistema viável.

— Mas os papéis que eu li foram escritos... — Ele pareceu se afastar em pensamentos. — Eu tinha em torno de doze anos então, e tenho trinta e três agora. — voltou a olhar para ela. — Sua mãe ainda estava publicando apenas vinte anos atrás. E acredito que ela publicou recentemente uns seis anos atrás, entretanto não sobre propulsão iônica. Ela ainda está no jogo, Camry. Pelo menos não foi embora de repente para começar a servir mesas e ser babá de cachorros.

Cam não disse nada enquanto baixava o olhar para a bandeja novamente. — O que realmente fez você ir embora, MacKeage? — Seus olhos de repente se arregalaram.

— Será que tem algo a ver com o que Fiona disse há apenas um minuto? Talvez você não esteja de pé diante de uma parede de tijolos, mas esteja bem no meio de uma crise da meia-idade. — Ele apontou pra porta do quarto. — Quando você tinha a idade da Fiona, você não queria isso tudo também: uma carreira e um marido e filhos? Mas onde você teve um dos três, agora não tem nenhum. — Ele sorriu de repente. — Ou você está realmente de licença, trabalhando nas metas dois e três?

— Não tenho intenção alguma de me casar e ter filhos. — Nunca? Isto é muito tempo. — Não vejo você correndo para arrumar uma esposa e filhos. Ele soltou um enorme bocejo e de repente escorregou pra baixo na cama. — Eu provavelmente estaria casado agora se pudesse manter uma namorada tempo

suficiente para fazer uma proposta a ela. Simplesmente não consigo encontrar uma que fique ligada no que eu faço.

Camry o encarou, embora seus olhos estivessem fechados. Mas então ela também soltou um bocejo. Começou a empurrar a bandeja em direção a ele para fazer um espaço pra ela, só que de repente se lembrou de suas costelas contundidas. Ela colocou a bandeja no chão ao lado da cama, deslizou debaixo das cobertas e virou suas costas para ele.

Talvez em vez de propulsão iônica, ela deveria trabalhar na ciência dos homens tendo bebês, então a Mãe Natureza poderia estragar com seus hormônios para umas mudanças.

Capítulo 7

Luke se sentou esparramado no sofá quatro dias mais tarde, assistindo o Infomercial explicando como maquiagem à base de mineral faria sua pele parecer como se não estivesse usando nada, tão entediado que estava extremamente perto de chorar.

Como diabos Camry fazia isto cinco dias por semana, semana após semana? Tá certo, os cachorros entretiam — por dez minutos — mas como ela fazia pra se aguentar

nesta casa todos os dias, fazendo praticamente nada? Como alguém, até com meio cérebro, não justificaria o ar que respirava, pelo menos sem tentar ser produtivo?

Quando ela mencionou sua discussão via e-mail na primeira manhã, Luke se sentiu culpado por talvez ter sido responsável por Camry ter se afastado do seu trabalho. Mas pelo que chegou a conhecê-la durante os últimos quatro dias, veio a perceber que sua pequena crise de meia-idade teve mais a ver com sua mãe — e seu conceito de família em geral — do que com ele ou seu trabalho.

Ele agora acreditava que Camry tinha medo de ser exatamente como sua mãe, em vez de querer imitá-la com medo de que se ela se apaixonasse por um homem e tivesse bebês, aquilo confundiria seu cérebro, e com medo de perder sua paixão pela ciência — que ela prontamente admitiu que adquiriu no útero — justamente como ela acreditava que aconteceu com sua mãe.

E Luke tinha certeza que ter medo de qualquer coisa era tão incompreensível para Camry MacKeage, como não fazer nada o dia todo era para ele.

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É por isso que ele passou os últimos quatro dias tentando descobrir como ele poderia dar o pontapé inicial em Camry — não apenas fazer com que ela voltasse ao trabalho, mas também voltasse para sua família. Admitir que ele era Lucian Renoir certamente poderia fazer o truque, mas não estava convencido de que isso iria empurrá-la na direção oposta.

A menos que ele também confessasse que destruiu o satélite de sua mãe. Porque se isso não a fizesse querer matá-lo enquanto dormia, talvez ela pelo menos tentasse matá-lo na arena científica.

Não que isso importasse, considerando que ele cometeu suicídio profissional no momento em começou a espionar o Podly.

Luke levou sua mão dentro do saco de celofane que Fiona deu a ele antes de ir ajudar Camry a tomar banho, e tirou um punhado de salgadinhos de milho. Quatro cabeças se levantaram e oito orelhas se animaram. Quatro línguas babando apareceram, e oito olhos marrons esperançosos se fecharam na mão se movendo em direção à sua boca.

Luke de repente ergueu a mão acima da cabeça, então a arremessou para o lado, em seguida rapidamente a disparou para o outro lado — tudo enquanto as máquinas caninas de comer observavam seus movimentos com a intensidade de um míssil teleguiado focado em seu alvo.

— Vocês são bestas descomplicadas. — ele murmurou, lançando os salgadinhos no chão. Enquanto estavam ocupados mastigando os biscoitinhos e inalando as migalhas espalhadas

em seus narizes, Luke discretamente enfiou a mão no saco de novo e rapidamente encheu sua própria boca, enquanto distraidamente assistia a transformação mágica do rosto de uma mulher que estava manchado de vermelho até ficar visivelmente impecável.

Camry MacKeage certamente não precisava deste produto; ela não estava usando nenhuma maquiagem naquela primeira manhã que acordou ao lado dela, e sua pele parecia impecável para ele — exceto pela contusão em sua face esquerda e ao redor do olho, que só agora estava começando a desaparecer.

Ela também se sentiu bastante bem em seus braços quando o beijou de forma imprudente ali mesmo no banheiro, e da mesma forma imprudente ele devolveu o beijo.

Quando decidiu vir para a América, Luke sabia que Camry tinha algo em torno de 1,60m, mas esperava que o peso dela estivesse na casa dos cento e oitenta quilos. E não teria machucado também, se tivesse brotado chifres na foto dela logo após ele a ter encontrado na Internet. Considerando seu histórico com as mulheres, ele teria preferido que a Dra. MacKeage fosse qualquer coisa menos linda, porque não queria que nem uma pitada de tensão sexual influenciasse seu trabalho.

Tanto para aquele sonho impossível. Merda, se ambos não tivessem sido tão espancados naquela primeira manhã, ele não estaria chorando de tédio agora porque teria passado os últimos quatro dias fazendo amor com ela.

Não que ele não tivesse tentado. Isso se tornou uma espécie de jogo entre eles — ou talvez desafio fosse uma palavra melhor

— onde paqueravam direto até os limites da paixão plenamente desenvolvida, então se retirava para o que Luke somente podia descrever como inferno devasso. Ele estava tão sexualmente frustrado, e com tanta luxúria por Camry MacKeage, que da próxima vez que ela o beijasse, não se importaria se os cachorros assistissem, pretendia tomá-la aqui mesmo no sofá.

Droga, ele quase se cravou nela esta manhã, quando acordou e a encontrou em sua cama. Olhando diretamente no seu rosto com os mesmos olhos verdes penetrantes de seu pai, ela teve coragem de dizer que o ouviu choramingando em seu sono, mas que caiu no sono antes dela poder retornar à sua cama.

Fiona, aparentemente nem um pouco impressionável, chegou, estalou um comprimido na boca de cada um, e disse a eles que ia correndo comprar mantimentos. Começando a suspeitar que a adolescente estava inclinada romanticamente a mantê-los dopados para que pudessem continuar jogando em suas camas, Luke começou a esconder sua pílula dentro da boca, então a deslizava atrás da cabeceira da cama no momento que a menina dava as costas.

Se Camry teve um problema com ratos, certamente os roedores estavam felizes agora.

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Em uma tentativa de se distrair de sua furiosa luxúria, Luke tentou se concentrar em Fiona ao invés disso, especificamente em descobrir seu sobrenome para que pudesse localizar seus pais. Mas, aparentemente, os adolescentes de hoje eram muito mais afiados do que ele fora, porque quando ele fugiu de casa, não fez nem dezesseis quilômetros antes do seu padrasto encontrá-lo. André arrastou Luke pra casa, entregou-lhe um serrote e um machado, e o fez cortar, picar e empilhar oito fardos de lenha à mão enquanto contemplava o inferno que ele fez sua mãe passar.

Luke nunca mais fugiu de casa até a idade de vinte e quatro anos. Ele ouviu a porta do quarto abrir e soube que Camry — provavelmente revestida no aroma de

sabonete de lilás para outra de suas batalhas devassas — estava vindo se sentar ao lado dele enquanto Fiona levava os cachorros para seu passeio matinal. O solstício de inverno estava há apenas uma semana, e Luke percebeu que tinha somente uns dois dias restantes, para conversar com Camry a respeito de ir para casa antes dela alegar que ele estava completamente recuperado e o chutasse em sua bunda sexualmente frustrada pra fora.

Ele suspirou, correndo para dar lugar a ela no sofá enquanto batia levemente no seu bolso para se certificar que se lembrou dos preservativos. Já era tempo, ele decidiu esta manhã enquanto estava se barbeando, lançar um ataque frontal de sola: primeiro no corpo de Camry — porque ele real e dolorosamente a queria — e em seguida na consciência dela.

— Estou saindo para caminhar com os vira-latas. — disse Fiona enquanto colocava sua jaqueta. — Há algo que algum de vocês precise antes de eu ir?

— Uma cerveja seria bom. — Luke disse, não se importando se era apenas dez da manhã, porque ele estava muito entediado. Dave trouxe um pacote com seis, mas Fiona o escondeu, alegando que ele não podia misturar cerveja com os remédios que ela pensava que ele ainda estava tomando.

— Se você não tomar seu comprimido da tarde, pode tomar uma hoje à noite com a ceia. — ela prometeu, estalando as coleiras dos quatro cachorros sacudindo o rabo e foi lá pra fora.

— Você parece estar se locomovendo muito bem. — disse Luke quando Camry roubou seu saco de salgadinhos de milho. — Como o tornozelo está?

— Pronto para correr uma maratona. — disse ela enchendo a boca de biscoitinhos. — Vai mesmo perder tempo comendo ou podemos ir direto para a parte das carícias da

diversão da manhã? Elas só duram uma hora. Ela o olhou, piscando seus lindos olhos verdes, e Luke percebeu que havia uma aresta em sua

voz. Ele sorriu. — Ou podemos pular a parte das carícias e chutar as coisas bem no ponto. Mas sugiro que

usemos sua cama, porque a sobressalente realmente não é grande o suficiente para nós dois — como você descobriu esta manhã, quando eu galantemente a salvei de cair em seu sexy... traseiro.

Ela piscou para ele novamente. Okay, então talvez ir direto ao ponto não era a melhor abordagem afinal. Ele jogou seu braço

por cima do encosto do sofá atrás dela, levou sua outra mão dentro do saco de salgadinhos, e mastigou distante enquanto esperava que ela fizesse o primeiro movimento.

Assumindo que ela faria isto em cinco minutos. Imaginava que precisaria de pelo menos quarenta e cinco minutos no quarto, o que lhe dava apenas dez minutos como margem de manobra no caso de Fiona caminhar rápido hoje.

Camry o atacou em três. O saco de biscoitinhos de repente saiu voando e ela subiu no seu colo; antes mesmo dele

terminar de engolir, ela emoldurou seu rosto com as mãos delicadas e o beijou. Rapidamente se recobrando do ataque surpresa, Luke passou os braços em volta dela e a deixou fazer o que quisesse com ele, por que...

Bem, porque assim que ela conseguisse se colocar em um frenesi realmente bom, ele tinha esperança de chegar a usar dois dos três preservativos do bolso.

E uma vez que ela estivesse tão exausta que nem pudesse falar, e esperançosamente muito suave para se importar, então ele de maneira casual mencionaria quem ele realmente era.

Então contaria o que fez com o Podly.

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E poderia muito bem pedir a ela para ajudá-lo a encontrar o pequeno satélite para que pudessem devolvê-lo à sua mãe, e os três poderiam se trancar no laboratório de Gu Brath até que tivessem um sistema de propulsão viável para apresentar ao mundo.

Percebendo que estava prestes a arrebentar o zíper do seu jeans, e vendo como Camry desabotoou sua camisa e estava fazendo coisas perversamente deliciosas aos seus mamilos com sua língua, Luke segurou seu traseiro, levantou-se e foi em direção ao quarto dela.

Ela nem sequer notou a mudança súbita de lugar, estava tão ocupada se colocando em um frenesi. E quando a deitou na cama, deitou seu corpo sexualmente frustrado ao lado dela, e começou a retirar sua blusa, ela muito gentilmente o ajudou.

Surpreso por ainda ter o senso de espírito de olhar no relógio na mesa de cabeceira, Luke deu a si mesmo cinco minutos para deixá-la nua.

Ela sozinha o deixou nu em dois. E se desnudou em um. Luke começou a se perguntar quem estava seduzindo quem. — Linda. — ele murmurou, sua boca se arrastando sua garganta abaixo a caminho de seus

seios encantadores, e suas mãos... merda, ele simplesmente a tocava em todos os lugares, já que cada milímetro quadrado o transtornava.

Embora achasse que ela já tinha trabalhado bastante para se colocar em um frenesi, Luke descobriu que ela estava apenas começando. Camry se voltou de repente tão selvagem e urgentemente agressiva, que o lembrou da nevasca que o deixou totalmente imobilizado por dois dias inteiros com sua intensidade.

Ela não perdeu tempo explorando as partes do seu corpo que não pareciam imensamente interessantes. As mãos dela foram direto para sua virilha, e Luke esteve bem perto de corcovear, jogando-os pra fora da cama quando ela embrulhou os dedos ao redor dele.

Onde diabos ela tinha jogado suas calças com os preservativos? Alarmado ao ver sua cabeça mergulhando na mesma direção de suas mãos, e temendo que

quatro dias de crescente frustração acabassem em três segundos se ele não conseguisse se controlar, Luke agarrou seus ombros e a arrastou pra cima ao lado dele.

Entretanto ele teve que fixar as mãos dela acima de sua cabeça e lançar sua perna sobre as dela para impedi-la de jogá-los pra fora da cama.

— Devagar. — ele disse rouco, tentando recuperar o fôlego. Ela também estava arquejando como se realmente tivesse corrido uma maratona, e Luke se

preocupou que se só ficar nus os deixava sem fôlego, o sexo em pleno desenvolvimento poderia realmente matá-los.

Ele deslizou sua mão livre das costelas até sua pélvis, e a encontrou úmida, quente e definitivamente pronta para ele.

Onde diabos estava sua calça! Ela fez um som áspero de prazer e arqueou pelo seu toque. Luke aumentou a pressão e

deslizou um dedo dentro dela, recuou e repetiu a dança inebriante. Ela apertou ao redor dele, seu corpo vibrando com a tensão crescente enquanto ela fazia força contra o domínio sobre seus pulsos. Seu clímax foi tão repentino e gloriosamente empolgante como uma explosão cósmica.

E ele não diminuiu a velocidade nem um pouquinho. Tão arrebatado na onda de prazer que estava testemunhando, Luke não percebeu que

afrouxou seu aperto. E antes que percebesse, as mãos de Camry estavam de volta em sua virilha, fazendo coisas gloriosamente empolgantes com ele.

E tão de repente quanto ela, ele fez uma vergonha total de si mesmo. Desabou para trás na cama ao lado dela com um gemido e olhou fixamente para o teto,

tentando recuperar o fôlego enquanto se perguntava o que tinha acabado de acontecer. A pequena Senhorita Explosão Cósmica também arquejava entrecortadamente, rolou e se

aconchegou contra ele com um suspiro. Ela deu um tapinha em seu tórax. — Obrigada. Eu realmente estava precisando disso.

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Capítulo 8

Luke puxou os preservativos não usados pra fora do bolso de sua calça duas manhãs depois e os lançou em seu saco de viagem tipo necessárie com um bufo de escárnio. Ele tinha acabado de experimentar dois dias do melhor sexo de sua vida, e ainda não tinha chegado a usar uma daquelas malditas coisas. Ainda não conseguiu descobrir como podia estar tão sexualmente saciado sem tecnicamente fazer sexo, ou como Camry MacKeage conseguiu enganá-lo fazendo-o acreditar que estava.

Droga, que tipo de jogo pervertido ela estava jogando? Eles fizeram de todas as maneiras, menos de cabeça pra baixo, mas realmente eles não fizeram!

Luke de repente estendeu a mão para o seu saco-nécessaire, puxou um dos preservativos e o colocou de volta no bolso. Ele iria para ela agora, por Deus, e vá pra puta que o pariu se seria usado como algum brinquedinho conveniente para afastar seu tédio.

Da próxima vez que ficassem nus juntos, ele pagaria o seu blefe e, ou ela cairia dentro de verdade ou ele pegaria o próximo voo para a França. Para o inferno com ela e esta confusão toda. Ele esteve se iludindo por muito tempo, mantendo a esperança que havia alguma coisa de valor na porra daquele satélite para ser salvo. E estar excitado com uma mulher era uma coisa, mas deliberadamente ser usado por ela era... isto era...

Droga, ele realmente se sentiu violado! Inflamando-se com justa indignação e nem um pouco de orgulho ferido, Luke saiu

intempestivamente do banheiro à procura da sereia de olhos verdes. Encontrando a casa vazia, permaneceu na sala de estar, perplexo. Fiona deve ter levado os

cachorros para seu passeio mais cedo, e Camry deve ter ido com ela. Estou fodido! Será que ela já estava entediada com ele?

Mas espere. Ela não podia ficar lá fora uma hora inteira; seu tornozelo ainda não estava assim tão forte. Luke agarrou o casaco, com toda a intenção de se sentar nos degraus e emboscá-la quando ela retornasse. Só que ele quase caiu por cima dela quando correu porta afora da varanda, porque Camry estava sentada no topo do degrau. Ela nem se incomodou em olhar para cima quando ele deu um encontrão nela, simplesmente continuou a olhar fixamente para baixo, para algo em sua mão.

Imediatamente sentindo que algo estava errado, Luke se sentou calado ao lado dela. Foi então que notou que ela estava segurando um cartão aberto. E apesar dele não conseguir ler, a caligrafia parecia estranhamente familiar. Quando Camry ainda não reconheceu que ele estava ali, olhou em torno procurando por Fiona, inclusive se levantando para observar a praia, olhando em ambas as direções procurando pela menina.

— Ela se foi. — disse Camry, sua voz sem qualquer emoção. Luke se sentou. — Ela levou todos os cachorros ao supermercado? — Os cachorros não vêm aos sábados. Ele olhou de relance para Camry com crescente alarme. — Ela vai voltar logo? — Ela não vai voltar. Os pelos em seu pescoço se arrepiaram, suas entranhas apertaram dolorosamente e cada

músculo em seu corpo enrijeceu. — Ela fugiu? — Ele sussurrou. Ele se levantou novamente. — Vamos lá. Temos que encontrá-

la. Não me importo com o quanto ela parece madura, não podemos deixá-la vagando por aí sozinha! Camry ainda não se moveu. — Ela está bem. Ela foi embora para... casa. Luke respirou fundo numa tentativa de controlar seu coração acelerado e sentou ao lado dela

com um suspiro desanimado. — Tudo que ela nos deixou foi um cartão? Não podia nem nos dizer adeus pessoalmente?

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Camry deixou a mão cair entre os joelhos, voltando com um envelope, e Luke finalmente percebeu a caixinha que permanecia no degrau abaixo dela, entre seus pés.

— Fiona deixou isso para você. — ela disse, entregando-lhe o envelope. Seu coração começou a acelerar novamente quando viu seu nome — Lucian Pascal Renoir —

em uma caligrafia caprichada que era definitivamente familiar. Ele levantou o olhar para Camry, mas ela continuou a olhar fixamente para o oceano. Ele deslizou seu dedo debaixo da aba fechada hermeticamente e tirou um cartão exatamente como aquele que Grace e Greylen MacKeage receberam há mais de uma semana.

Ele o abriu. Por favor, não desista dela, Luke leu em silêncio, porque todo mundo precisa de um milagre

de vez em quando, e você é o dela. Ela desenhou um rostinho sorridente, o Smiley, então continuou. E mesmo você achando que isto é difícil de acreditar nesse exato momento, ela é o seu milagre. Tenham uma grande aventura juntos, você dois. Eu te verei novamente... mais cedo do que você pensa. Ela havia desenhado outro Smiley antes de assinar: Com todo meu amor, Fiona Gregor.

Luke ergueu seu olhar para o oceano. Gregor. Por que o nome soava familiar? Fiona Gregor. — Você não tem um cunhado chamado Gregor? — Ele perguntou. — Matt. Ele é casado com minha irmã Winter. — Camry disse ainda olhando para o mar. —

Fiona é filha deles. E minha sobrinha. Ele franziu o cenho para ela. — Você não reconheceu sua própria sobrinha? Ela deixou o olhar cair para o cartão em sua mão. — Eu não a reconheci porque neste momento ela tem apenas cinco meses e meio de idade. O coração do Luke começou a tentar martelar saindo do seu peito novamente. Ele não sabia o

que mais o alarmou: o que Camry estava dizendo ou sua total falta de emoção. Ela obviamente leu o seu nome no envelope que entregou, então sabia exatamente quem ele era. Por que não estava indo para sua jugular ou pelo menos gritando que cortaria sua cabeça?

E que diabos ela queria dizer que Fiona tinha somente cinco meses de idade? Isso tinha que ser algum tipo de piada bizarra. E como Fiona descobriu seu nome completo, afinal? Ele bufou. — Aparentemente nosso respeito pela pirralha para não mexer nos seus pertences não foi

recíproco. Ela obviamente mexeu na minha mala quando a pegou para mim. Ele segurou o envelope com seu nome nele diante de Camry, mas quando ela continuou sem

responder, ele deixou a mão cair na coxa. — Sei que você provavelmente não vai acreditar em mim, mas eu ia te contar hoje. — Ele se

mexeu desconfortavelmente, disfarçando a ação deslizando o cartão de volta no envelope. — Na verdade passei a semana toda tentando descobrir como te contar. Eu... também precisa saber que sua mãe me pediu para vir aqui e falar com você para ir pra casa para o Natal.

Ela finalmente olhou para ele, seus olhos cheios de horror. — Mamãe sabe que estou morando no Maine? — Ela Sussurrou. — P-papai sabe também? Luke assentiu. Ela estava de pé e descendo as escadas tão rápido que ele levou um momento para perceber

ela estava escapando. A caixa colorida embrulhada desceu escada abaixo, o cartão que ela esteve segurando se arrastando atrás dela.

Luke deu um salto e a perseguiu. — Camry! — Ele gritou, arrancando para a praia, espantado que ela pudesse correr tão rápido

com seu tornozelo. — Espere! Deixe-me explicar! Droga. Pare! Você vai machucar seu tornozelo de novo!

Levou um tempo incrivelmente longo para alcançá-la, então teve que agarrá-la para conseguir que ela parasse, torcendo para aguentar o ímpeto da queda deles. Mas em seguida foi forçado a se

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proteger de seus punhos o esmurrando, seu coração quase parando quando percebeu que ela estava soluçando enquanto batia nele.

Ele finalmente acabou por abraçá-la com tanta força que seus golpes se tornaram ineficazes, e segurou sua cabeça junto à sua bochecha.

— Shhh. — ele sussurrou, envolvendo suas pernas ao redor dela parar deter sua luta. — Está tudo bem. Tudo vai ficar bem.

Ela de repente ficou mole. — Deixe-me ir. Ele riu sem humor. — Sem chance, senhora. Você pode apenas me ouvir? — Ele disse rapidamente quando ela

começou a lutar novamente. — Passei os últimos dois meses procurando em Springy Mountain pelo satélite da sua mãe que caiu ali no verão passado.

Ela ficou imóvel novamente, só que desta vez permaneceu cautelosamente tensa. — Mas fui pego em uma nevasca, e seu cunhado Jack Stone me encontrou e levou até os seus

pais. — ele continuou rapidamente. — Disse a eles quem eu era. Bom, disse que era Luke Pascal, mas que era o homem com quem você esteve se correspondendo durante o último inverno. Enfim, eu não estava ciente que eles não sabiam que você já não trabalhava mais para a NASA, então pode me culpar por isso. Mas foi o cartão de Natal que Fiona lhes enviou, que os levou a acreditar que você estava vivendo aqui em Go Back Cove.

Ele deu de ombros, fazendo-a dar de ombros com ele. — Não sei por que eles mesmos se recusaram a vir buscá-la. Mas sua mãe disse algo sobre

precisar que você quisesse voltar para casa. Então me pediu para vir buscá-la. Ele suspirou, apertando o rosto em seu cabelo. — Não sei se alguma coisa disso está fazendo algum sentido, Camry, ou até mesmo se estou

conseguindo passar pra você. Só sei que seus pais te amam imensamente, e eles estão... ai, inferno, estão magoados e confusos e provavelmente morrendo de medo do motivo pelo qual você esteja mantendo segredo deles por tanto tempo.

Ela ficou completamente mole de novo, e desta vez Luke sabia que não estava fingindo. Poderia ter algo a ver com seus soluços silenciosos, ou o fato de que em vez de afastá-lo, ela o estava segurando com um desespero dilacerante.

Ele deslizou os dedos pelo seu cabelo. — Sinto muito. — ele murmurou. — Estou tão arrependido por não contar a você a mando de

quem eu vim, e lamento por deixar seus pais me convencerem a vir atrás de você em primeiro lugar. Isto não era da minha conta, mas já que estou completamente envolvido agora, tenho que perguntar: por que você não pôde contar a sua mãe o que estava acontecendo com o seu trabalho?

Ele afrouxou o aperto só o suficiente para erguer seu queixo, e seu coração quase parou novamente diante da dor que viu em seus olhos. Ele tirou uma lágrima do rosto dela e sorriu ternamente.

— Você tem a minha palavra, MacKeage: não vou correr para a casa da sua mamãe e tagarelar. Isto é inteiramente entre você e ela. Mas tendo encontrado Grace e vendo o quanto ela te ama, não posso compreender por que você não pôde ir até ela com o seu problema. — Ele alargou o sorriso. — Quanto ao seu pai, aquele homem me assustou pra caramba, quase tanto quanto você me assusta.

Ela piscou para ele e Luke respirou aliviado, imaginando que a pior parte já tinha passado. Ele relaxou o aperto ainda mais, e quando ela não começou a se inclinar em sua direção, ele a soltou totalmente, rolando suavemente de cima dela e se sentando. Mas quando ela tentou se levantar, ele pegou seu pulso e a segurou sentada ao lado dele.

— Só um minuto. Há mais uma coisinha que você precisa ouvir. Ela não tentou romper seu aperto, mas simplesmente olhou fixamente para o oceano. Luke respirou fundo. — Estive espiando o satélite da sua mãe por vários meses antes de começar a me

corresponder com você. Fiquei fascinado com o que sua mãe estava fazendo, e eu mesmo estive

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trabalhando no mesmo problema por quase dez anos. Sei que fui injusto, mas eu estava ficando tão frustrado e desesperado, que simplesmente não liguei mais.

Ele a examinou. — Eu juro, não foi minha intenção roubar o trabalho de sua mãe; só queria encontrar algo —

qualquer coisa — que pudesse mudar meu próprio trabalho junto. Mas no verão passado algo deu terrivelmente errado, e Podly de repente saiu da órbita e caiu bem ao norte de Pine Creek. Passei os últimos dois meses procurando por ele em Springy Mountain, esperando poder levá-lo até Grace para que ela pudesse salvar alguma parte do trabalho dela.

— Você não acha estranho que Podly caiu tão perto de Pine Creek? — Ela perguntou, sua voz rouca com os soluços persistentes.

Ele franziu a testa. — Bem, admito que é mais do que um pouco desconcertante. — Ele se virou para encará-la, e

ergueu a mão para que pudesse segurá-la. — Mas o que estou tentando dizer a você, é que estou na verdade profundamente arrependido pelo que fiz. E estou pedindo outra chance. Por favor, deixe-me provar a você que embora nada justifique o que eu fiz, minhas intenções sempre foram honradas.

Ela se soltou, cruzou as mãos no colo e olhou fixamente para o oceano novamente. — Por favor, não me exclua, Camry. Deixe-me provar minha sinceridade. Ajude-me a

encontrar Podly e devolvê-lo a sua mãe. — Não posso voltar para casa nunca mais. — ela sussurrou. Abraçou os joelhos contra o peito,

lágrimas enormes se derramando pelo seu rosto enquanto ela continuava olhando para o oceano. — Não posso enfrentar nenhum deles. Parece que estive mentindo desde sempre. Estive mentindo para minha família inteira. — Ela deixou sua cabeça cair nos joelhos. — Eles nunca vão me perdoar.

Luke se inclinou e limpou uma lágrima com seu polegar. — Então você está dizendo que se uma de suas irmãs tivesse uma pequena crise de meia-

idade, e tentasse encobrir e lidar com isso sozinha, você não a perdoaria? — Você não entende. Isto não aconteceria com uma de minhas irmãs. As mulheres MacKeage

não têm crises de meia-idade, porque estamos muito ocupadas sendo brilhantes, bem sucedidas e felizes.

Luke bufou, depois sorriu quando ela olhou para ele. — Ninguém passa a vida evitando paredes de tijolos. Apostaria meu último dólar que cada

uma de suas irmãs atingiu pelo menos uma, se não várias paredes. — Ele tomou sua mão novamente e a segurou nas dele. — Você pode estar diante de uma no momento, mas ela não é o fim da estrada. Se não pode contorná-la, então você apenas tem que achar um modo de atravessá-la. E sua mãe — ele disse, dando-lhe um apertão — está desesperada para te ajudar. E seu pai... bem, aposto que ele daria seu braço direito para ajudar você a passar por isso. — Ele se debruçou adiante para olhá-la nos olhos. — E eu também, Camry.

Ela não disse nada, puxando a mão para longe para abraçar seus joelhos novamente enquanto desviava a vista para o oceano.

Luke virou para assistir as ondas lambendo suavemente em direção a eles. — Vendi minha alma tentando desbloquear o segredo da propulsão iônica, mas no decorrer

da semana passada, decidi que não dou mais a mínima a respeito disso. — Ele a examinou e respirou profundamente. — Diga-me como te ajudar a consertar isto. — pediu suavemente. — Faço o que você quiser... exceto ir embora. Vou para casa enfrentar seus pais com você, ou se preferir, vou buscá-los e trazê-los até aqui. Ou posso levá-la para a casa da minha mãe na Columbia Britânica e esperar até que esteja pronta para ir para a sua casa.

Ela permaneceu em silêncio, então subitamente se levantou. — Preciso pensar. Ele também se levantou. — Não tenho nenhum problema com isto. — caminou ao lado dela enquanto se dirigiam para

casa. — Desde que você entenda que eu não vou embora.

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Capítulo 9

Camry caminhava praia abaixo em um ritmo acelerado, sua cabeça parecendo como se fosse explodir devido às lágrimas que desesperadamente lutava para conter. Tanta coisa aconteceu esta manhã, ela não tinha certeza se iria se recuperar. Foi golpeada com tantas mentiras e meias verdades sobre tantas coisas — a menor não era a do que estava caminhando em silêncio ao lado dela.

Ele era Lucian Renoir, o homem dos seus sonhos e pesadelos há mais de um ano. Em seus sonhos, ela trabalhava lado a lado com uma versão fantasiosa do físico bonito,

compartilhando suas paixões científicas de dia e cedendo à suas paixões sexuais de noite. Mas também tinha um pesadelo recorrente envolvendo um igualmente belo Dr. Renoir, onde

ele estava de pé em um pódio e ela estava agachada diante dele vestindo nada além de sua roupa de baixo. Ele estava falando dela na frente de uma assembleia de seus pares, expondo detalhadamente sua incapacidade de resolver até a equação mais simples. Sua mãe e seu pai, todas as suas brilhantes e bem sucedidas irmãs sentadas na primeira fila, suas cabeças baixas com vergonha.

Mas todos os seus sonhos e pesadelos combinados não eram nada comparados a Lucian Renoir em pessoa. Ele era ainda mais bonito do que ela tinha imaginado: definitivamente mais alto, muito mais magro, e de aparência mais robusta do que o homem na foto mal tirada que encontrou na internet. Estava com o cabelo comprido e o corpo bem marcado, ela achou o que a impediu de suspeitar de ter batido de frente com um colega físico na improvável cidade de Go Back Cove.

É por isso que se sentiu como se tivesse levado um soco no estômago esta manhã, quando leu o nome no cartão que Fiona tinha deixado. Tendo se afeiçoado muito a Luke enquanto se recuperavam juntos, e achando-se cada vez mais sexualmente atraída por ele a cada dia que passava, ela realmente começou a tecer fantasias de segui-lo para sua casa no fim de suas férias. Ela melhor do que ninguém podia lidar com o fato de ser ignorada quando ele se envolvesse em seu laboratório, e esperava que sua paixão pelo seu trabalho pudesse realmente contagiá-la, e talvez até mesmo empurrá-la de volta ao jogo.

Mas ele não era o bom e velho Luke Pascal, não é? Ele era Lucian Renoir. Aquele que trouxe de volta seu pesadelo de ficar encolhida em um

palco ao invés de realizar seu sonho de passar os dias no laboratório e as noites na sua cama. Eles alcançaram os degraus da varanda, e Luke recolheu a caixa alegremente embrulhada que

Fiona deixou com os cartões na mesa da cozinha, antes da menina desaparecer tão misteriosamente quanto apareceu apenas uma semana atrás.

Ele estendeu a mão com o presente para ela, mas Camry enfiou suas mãos nos bolsos. — É endereçado a nós dois. — Ela disse. — Você abre.

Ele enfiou a caixa debaixo do braço, juntou os cartões que voaram até a grama alta, em seguida subiu a escada e segurou a porta aberta. Camry o precedeu para dentro e foi diretamente para o quarto, fechou e trancou a porta, então se jogou na cama e se debulhou em lágrimas.

Luke estava encostado na bancada da cozinha, bebericando sua terceira cerveja do pacote de seis que ele achou na geladeira, e olhou fixamente para a caixa que colocou na mesa junto com os dois cartões de Fiona. Simplesmente não parecia certo abrir o presente sem Camry.

Ele também não sentiu que era certo ler a nota que Fiona deixou para ela, mas já que estava voando baixo no declive escorregadio do engano, leu de qualquer maneira. Ele realmente gargalhou, apesar de se sentir super mal quando descobriu que a adolescente romântica deixou para Camry uma nota quase idêntica à sua.

Bem curta e idealista, a nota da menina pedia a Camry para não desistir dele, e ela repetiu que eles eram um milagre um do outro. A única divergência foi que Fiona terminou a nota de Camry dizendo que veria sua tia favorita na próxima semana, no solstício de inverno.

Luke torceu a tampa de outra cerveja e tomou um longo gole. Cristo, a casa parecia vazia sem a pirralha e os vira-latas. Os soluços angustiantes vindos do quarto — que não parou até que ele ouviu o chuveiro ligar vinte minutos atrás — era a única lembrança de que ele não estava sozinho.

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Jurou por Deus que não sabia o que fazer. Seu coração doía para ver Camry feliz, mas não podia descobrir como fazer isso acontecer. E não fazia ideia do que podia dizer para encorajá-la a enfrentar seus pais. Merda, ele era de tanta ajuda quanto às notas enigmáticas que Fiona deixou para eles.

Um milagre? Que diabos a menina queria dizer com eles eram um milagre um para o outro? Eles estragaram tanto suas próprias vidas que se questionou se inclusive tinham competência para ser babás de cachorros.

Luke se endireitou quando ouviu a porta do quarto abrir. Rapidamente empurrou as garrafas de cerveja vazias no suporte e pôs de volta na geladeira, exceto a que estava tomando. Entretanto agarrou uma das garrafas cheias e a deixou na mesa, e mal tinha acabado de fazer isto e voltar a se encostar na bancada quando Camry entrou na cozinha.

Ela se sentou, cruzou as mãos em cima da mesa, respirou fundo e olhou para ele. — Ok, estou pronta. Você pode começar. — disse ela com sua voz rouca. De repente levantou

a mão quando ele tentou falar. — Só gostaria que você fizesse isto no máximo em uma hora, porque ainda tenho algumas coisas pra pensar.

— Humm... começar o que? — O sermão que você está morrendo de vontade de me dar desde que chegou a Go Back

Cove. — ela disse, seu tom querendo dizer que ele era um pouco denso para entender o óbvio. — Eu estava morrendo de vontade de te dar um sermão? — Ele repetiu, sentindo-se denso. —

Sobre o que? — Enrijeceu subitamente. — Você quer dizer, falar sobre o erro em sua equação? Camry, eu disse a você, não dou mais a mínima para isso.

Ela olhou boquiaberta para ele. Ele suspirou. — Ok, olha. Se você quiser conversar sobre isto nós podemos, mas em outro momento. Agora

prefiro ouvir sobre você. — Ele tomou um gole de coragem líquida, então olhou de volta para ela. — Eu realmente preciso saber como estão as coisas entre nós, porque preciso de verdade que você não me deixe de fora.

Ela fechou sua boca em um estalo, abriu várias vezes como se estivesse procurando as palavras, então finalmente sussurrou.

— Você é de verdade? Luke se mexeu inquieto, então de repente se encolheu quando ela saiu disparada de sua

cadeira e correu em sua direção. Ele prendeu a respiração quando ela repentinamente se abaixou ao mesmo tempo que tirava o cinto fora e abaixou suas calças!

Ele deu um passo para o lado com alarme. — O que você está fazendo?— Estou olhando pra ver se você ainda tem suas bolas. — Minhas o que? — Ele berrou, afastando-se ainda mais. Ela caminhou de volta para sua cadeira, sentou-se e cruzou as mãos na mesa novamente. — Não se preocupe, elas ainda estão lá. Então vamos prosseguir com isto, ok? Eu disse a você,

ainda tenho algumas coisas pra pensar. — Prosseguir com que? — Ele grunhiu, arrastando uma perna da calça. — Seu sermão. Luke suspirou longo, alto e de coração. — Por favor, diga-me, o que eu deveria falar com você? — Que sou uma filha egoísta e insensível. Enquanto está expondo o quanto sou

extremamente mentirosa e inútil, poderia também passar rapidamente pela minha covardia. A lâmpada finalmente acendeu e Luke estava absolutamente quieto, então desabou na

cadeira oposta a dela. — Camry. — disse suavemente. — Não há nada que eu possa dizer a você que não possa ou

que já não tenha dito a si mesma. Ela voltou a olhar boquiaberta para ele. Ele sacudiu sua cabeça.

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— Obviamente você esteve atacando a si mesma por causa disso durante o ano inteiro; não estou a ponto de atacar você também. — Ele cobriu suas mãos com uma dele. — Mas posso trabalhar muito bem em equipe. Pense o quanto precisar, mas enquanto está nisso, tente pensar sobre como posso te ajudar. Qualquer curso de ação que você decidir, estou com você cem por cento.

— Por quê? Ele recuou, não tendo visto esta determinada pergunta vindo. — Por que simplesmente não vai embora? — Ela expressou. — Como você mesmo disse, isso

realmente não é da sua conta. — Bem, não é. — ele concordou, escolhendo as palavras cuidadosamente. — Ou não era até...

por volta de terça-feira, eu acho. — O que aconteceu na terça-feira? — Caí de cabeça de desejo por você. Foi a vez dela recuar, e sim, ela estava olhando pra ele de boca aberta novamente. Luke alcançou o bolso da calça, tirou o preservativo e o deixou em cima da mesa. — Você sabe o que é isso?— É um preservativo. — E sabe pra que é usado? — Prevenir gravidez indesejada e doenças venéreas. Ele assentiu. — Nada mal para quem costumava ser uma cientista. Diga-me, você já viu alguma fora do

pacote? — Ele perguntou, rasgando a embalagem para abrir. Ela se recostou em sua cadeira ainda mais. — Só estou perguntando por que enquanto você estava no quarto esta última hora pensando,

eu mesmo estive pensando um pouco. E sabe sobre o que eu estava pensando? — Ele deslizou o preservativo fora da embalagem, então ergueu uma sobrancelha esperando por sua resposta.

— N-não. — ela sussurrou e seu olhar caiu para o preservativo novamente. Luke o abriu rolando, em seguida o deixou sobre a mesa entre eles, enquanto erguia a garrafa

fechada de cerveja, torcia a tampa e recostou de volta na sua cadeira. — Estava pensando sobre como você aperfeiçoou a arte de satisfazer um homem na cama tão

bem, que ele nem percebe que não está tendo relações sexuais. Ela empalideceu até as raízes do seu lindo cabelo vermelho. Ele se debruçou adiante para descansar os braços na mesa. — Acho que você deve saber — ele continuou suavemente — que esta manhã quando

percebi o que realmente vem acontecendo nos últimos dois dias, quis torcer seu belo pescocinho. Mas em algum momento na última hora — ele disse apontando em direção ao quarto — tudo de repente fez sentido.

Ele se debruçou ainda mais perto, olhando-a diretamente nos olhos. — Você é virgem. — disse ele declarando um fato, não fazendo uma pergunta. — Você tem

estado com tanto medo que ter um filho roube sua paixão pelo seu trabalho, que nunca foi capaz de ir até o fim.

— Realmente não acho que isto seja da sua conta. — Você é uma mulher tão apaixonada, Camry, dentro e fora da cama. Tudo que você faz é a

todo vapor, sem barreiras, cento e dez por cento. — Ele se recostou na sua cadeira novamente. — Então, para responder à sua pergunta por que eu simplesmente não vou embora, é porque não posso. Pela primeira vez na minha vida adulta, estou deixando minha cabeça de baixo tomar minhas decisões. Sinto desejo por você Camry, e estou te pedindo pra fazer o que Fiona também pediu, que é para você não desistir de mim. Vamos resolver nossos problemas juntos.

— E-eu não me dou muito bem com compromisso. — ela sussurrou, olhando de volta para o preservativo.

— Claro que sim. — ele contradisse. O que certamente trouxe os olhos dela para os seus. — Você se compromete completamente, só não a longo prazo. Você acerta forte e rápido, então cai fora antes que um cara perceba o que está acontecendo... ou melhor, o que não está acontecendo.

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Isso fez com que a palidez saísse de suas bochechas. Ela fixou as mãos na mesa e se levantou, presumivelmente melhor para olhar para ele de cima.

— Se você pensa que vou deixar você me chantagear para fazer sexo, pense novamente, cara. — Chantagear você! — Ele disse com uma risada estrangulada. — Com o que? Droga! Sou eu

quem devia me preocupar em ser chantageado. Você e sua mãe têm sujeira o suficiente sobre mim não só para arruinar minha carreira, mas para me jogar na prisão por destruir um satélite de milhões de dólares.

Ela desabou de volta em sua cadeira. — Minha mãe sabe que você estava espionando o Podly? — Desde o início, aparentemente. — ele admitiu. — E ela também sabe que eu causei o impacto. Droga, ela é uma chantagista. Usou minha

culpa para vir atrás de você. Camry enterrou o rosto entre as mãos e bateu com sua cabeça na mesa fazendo um som oco. — O que vamos fazer? — Ela murmurou. — Como algum dia irei encará-la de novo?Luke quase deu um pulo gritando, estava tão feliz em ouvi-la falando em termos de nós. Ele se

ergueu, porém, e foi para a geladeira e tirou a última garrafa de cerveja, esperou até ela finalmente se sentar antes de entregá-la para ela.

— Não tenho nenhuma ideia do que vamos fazer. — disse ele sentando novamente. Deslizou a caixa alegremente embrulhada em direção a ela. — Mas talvez devêssemos começar abrindo o presente da Fiona. É possível que a pirralhinha intrometida tenha nos deixado outra pista enigmática. Quero dizer, tendo em vista o quanto ela é tão mágica que pode ter cinco meses de idade e dezesseis anos ao mesmo tempo.

Camry cuspiu toda a cerveja que estava dentro da sua boca por cima do presente, da mesa e de Luke.

— Oh Deus, não me diga que você acredita em magia! — Ela gritou, seu olhar horrorizado trancado no dele.

Luke enxugou seu rosto com as costas da mão. — De que diabos você está falando? Eu estava brincando, Camry. Fiona — se é que este é seu

nome verdadeiro — obviamente descobriu que você tinha uma sobrinha chamada Fiona Gregor, e decidiu mexer com sua cabeça. Ela é uma adolescente; é seu trabalho enlouquecer os adultos. Acreditar em magia. — ele murmurou. — O que há com vocês MacKeages, afinal? Não acredito em magia, coincidências fortuitas, intuição materna ou milagres. Sou um cientista e só acredito no que posso fazer backup off line, fatos concretos.

Camry absortamente brincava com a fita do presente enquanto o olhava pelo canto do olho. — Então você não acredita que é astronomicamente impossível que o satélite da minha mãe

tenha caído próximo a casa dela, ou que chegou a Gu Brath na mesma época em que Fiona estava enviando seu cartão aos meus pais? E não parece uma estranha coincidência para você que tenha se chocado comigo, minutos depois de chegar a Go Back Cove? Ou que acabamos juntos na cama na sua primeira noite aqui, ou...

Ele segurou sua mão para detê-la. — As probabilidades de todas essas coisas acontecendo são enormes, admito, mas não

Impossível. — Ok. Então que tal calcular as probabilidades do Podly colidir em Springy Mountain na hora

exata do solstício de verão? Que também acontece de ser no exato momento, bem no segundo — sinto-me obrigada a assinalar — que Fiona Gregor nasceu.

Ele franziu o cenho. — Isto está empurrando as coisas um pouco demais, eu acho. Ela deslizou a fita fora da caixa e cuidadosamente desembrulhou o presente, então ergueu a

tampa de papelão apenas o suficiente para olhar para dentro. No início ela franziu a testa, então de repente seus olhos se arregalaram. Ela ergueu o olhar para Luke, girou a caixa e a empurrou através da mesa.

— Okay, então me explique isso usando fatos frios e concretos.

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Luke ergueu a ponta da caixa e também franziu o cenho, sem saber ao certo o que ele estava olhando. Mas depois seus olhos se arregalaram como os de Camry. Estendeu a mão, e cuidadosamente como se fosse manusear o Santo Graal, ergueu ligeiramente o instrumento carbonizado do tamanho de um punho... que de fato tinha as palavras STARSHIP SPACELINE gravados em letras minúsculas do lado.

— Vamos lá — disse Camry complacentemente —, explique o que esta parte do Podly está fazendo na minha cozinha, ou como uma adolescente de cinco meses de idade conseguiu colocar suas mãos nele em primeiro lugar, quando deveria estar enterrado debaixo de um metro de neve em algum lugar em Springy Mountain.

Com suas mãos tremendo porque estava com medo de deixar cair, Luke colocou cuidadosamente o que parecia ser o transmissor do satélite na mesa.

— Por favor, diga que estou sonhando. — Sinto muito, Luke, gostaria de poder. — ela disse bem suavemente. Estendeu a mão e

pegou o transmissor, o que o fez se encolher. Ela riu. — Isto já sobreviveu a uma queda bastante longa. — disse com voz arrastada. — Acho que pode sobreviver à minha manipulação.

Ela virou para estudá-lo e de repente o minúsculo instrumento fez um som agudo. Camry o soltou enquanto os dois saltaram de surpresa. O transmissor rolou ou para fora da mesa, e Luke fez uma investida para ele ao mesmo tempo

em que ela. Mas eles caíram tentando pegá-lo, e o precioso instrumento caiu no chão. Rolou pelo linóleo, bateu contra o fogão e fez um som suave.

Esparramados de barriga pra baixo, ambos olharam fixamente para ele, absolutamente sem palavras.

A maldita coisa tocou novamente. — Ele ainda está funcionando? — Luke sussurrou. Olhou para ela. — Você acha que... pode

ter sobrevivido mais do satélite? Ela não respondeu de imediato, aparentemente incapaz de afastar o olhar do transmissor. Ela

finalmente olhou para ele, seus olhos brilhando intensamente — exatamente como faziam quando ela estava prestes a arrancar suas roupas.

— Acho que teremos que ir até Springy Mountain para responder a essa pergunta. — Como é? — Ele sussurrou, sem se atrever a ter esperança... mas esperando, de qualquer

maneira. Ela se endireitou de joelhos, agarrou suas garrafas de cerveja de cima da mesa e deu uma

para Luke, assim que ele se sentou, encostando-se nos armários. Ela se acomodou no chão ao lado dele e tomou um longo gole de sua cerveja — engolindo, desta vez — então subitamente sorriu.

— A meu ver, temos três escolhas. Podemos arrombar a garagem de manutenção do resort de esqui da minha família e roubar um dos veículos de neve; podemos roubar alguns cavalos do meu primo Robbie; ou podemos ir de raquete de neve os mais de sessenta quilômetros para Springy Mountain. A escolha é sua, Dr. Renoir.

Ela estava indo para casa! E o estava levando com ela! — Tenho uma quarta escolha. — ele ofereceu cuidadosamente, não querendo jogar areia...

ou conseguir ser retirado da equipe dela. — Pode ir para casa e contar a seus pais o quanto você os ama, então pedir a eles se podemos pegar emprestado um veículo de neve. Tenho certeza que vão ficar tão felizes em ver você, que de bom grado nos emprestarão um.

Ela o olhou de relance. — O que? — Ele perguntou, suas esperanças minguando. — Pensei que você disse que faria qualquer coisa para me ajudar. — Irei. Eu vou. — Ele correu a mão pelo cabelo se perguntando se sua cabeça de baixo não

seria a morte dele. — É só que tenho absoluta certeza que você e eu já enganamos seus pais o suficiente. Roubar deles é mais ou menos como adicionar insulto ao dano, você não acha?

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— Ok! Então, vamos roubar de Robbie. — disse ela rolando de quatro e rastejando em direção ao transmissor. — Montar a cavalo em Springy será mais frio, mas isso é muito melhor que as raquetes.

Ele agarrou seu braço para detê-la, então a persuadiu a dar a volta para enfrentá-lo. — Camry, você vai ter que lidar com seus pais eventualmente. — Eu vou, assim que encontrarmos o Podly. Ele aumentou seu aperto. — Você acha que não pode ir para casa a menos que esteja levando presentes? — Ele sacudiu

sua cabeça, seus olhos nunca deixando os dela. — Ouça um traseiro de primeira de um filho e enteado — os pais não querem nada de seus filhos, além de amor. E a lição que me levou os seis anos mais difíceis de aprender é que amá-los significa confiar neles.

Ela pestanejou, então de repente se lançou em seu tórax, golpeando-o de costas contra os armários. Luke rapidamente abaixou sua cerveja no chão para embrulhar seus braços ao redor dela ao mesmo tempo em que ela enterrava o rosto em sua camisa.

Ele colocou sua cabeça no seu peito. — Vai ficar tudo bem, eu prometo. — Eles nunca vão me perdoar. — Claro que sim. Eles já perdoaram. — Ele ergueu seu queixo. — Apenas estão esperando que

você perdoe a si mesma. — Mas você não entende. — ela sussurrou, enterrando seu rosto novamente. — Então explique para mim. — ele pediu, segurando-a firmemente contra ele. Ela suspirou calmamente, sem dizer nada. Luke se contentou em apenas segurá-la enquanto olhava fixamente para o minúsculo

transmissor ao lado do fogão... e resignou-se ao fato de que estava prestes a adicionar o roubo de um veículo de neve à sua lista crescente de crimes.

Capítulo 10

Luke levou menos de vinte minutos para meter seus pertences na mala, assim poderia passar o resto da tarde estudando o transmissor do Podly — que por alguma razão havia parado de apitar. Camry ficou no seu quarto, supostamente fazendo as malas, mas Luke suspeitava que ela estivesse tirando um cochilo. Era início da noite e eles estavam sentados na mesa um diante do outro, comendo a única coisa que ele sabia cozinhar: ovos mexidos e torradas.

Ou melhor, Camry estava comendo. Ele estava passando um inferno de uma lição de deixar que sua cabeça de baixo desse a última palavra.

— O que quer dizer com eu tenho que ficar no hotel? — Ele repetiu. — Pensei que íamos para Pine Creek pela manhã?

— Decidi não ir até quarta-feira. — Ela falou empurrado seu garfo nos ovos. — Ou talvez terça-feira à noite, então chegaremos em Pine Creek por volta da meia noite. Será mais fácil roubar o veículo de neve então.

Porra, ela o estava abandonando! — Então vamos partir hoje à noite. — ele ofereceu, tomando cuidado em manter sua

compostura sem demonstrar frustração. — Quanto mais cedo nós chegarmos, mais cedo encontraremos o resto de Podly. Assisti o Canal do Tempo a tarde toda, e eles estão falando sobre outra nevasca se dirigindo para o norte pela quinta ou sexta-feira. Com sorte, podemos entrar e sair da montanha antes da neve cair.

Ela o olhou confusa. — Você disse que passou dois meses procurando pelo Podly. Espera que desta vez só por que

estou com você, que nos dirigiremos diretamente até o satélite, o colocaremos na veículo de neve, e

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estaremos fora da montanha em questão de dias? Provavelmente levaremos semanas para achar onde ele colidiu.

— Então temos muito mais motivos para sair agora. — Eu não posso. — ela murmurou, cutucando seus ovos um pouco mais forte. — Tenho uns

compromissos aqui que tenho que cuidar primeiro. — Que compromissos? — Cuido de quatro cachorros, lembra? Não posso simplesmente ir de repente e deixar meus

clientes sem cuidado nem um dia.— São cachorros, Camry, não crianças. Podem ficar em casa enquanto seus donos trabalham,

como cachorros normais fazem. — Mas prometi aos donos do Tigger e do Max que cuidaria deles no feriado de Natal. Os

Hemples vão para a Inglaterra amanhã, e se supõe que ficarei com Tigger por um mês inteiro. E a mãe do Max está indo na terça para Wisconsin, e não voltará até depois do Ano novo.

— Ligue para eles e diga que você tem uma emergência familiar ou algo assim. — Quer que eu minta para eles? Luke amavelmente se impediu de assinalar que ela esteve mentindo para seus pais por quase

um ano. — Então vamos ligar e encontrar acomodações alternativas para seus mascotes. Certamente

há canis por aqui. — Tigger não pode ficar em um canil! Ela ficaria assustada por toda sua vida. E Max também.

Por que você acha que estas pessoas me tem como babá deles? Eles não são cachorros, são família. Luke suspirou, não querendo fazer a seguinte pergunta, mas vendo como sua cabeça de baixo

estava no comando, perguntou de qualquer maneira. — Então qual é o seu plano? Ela voltou a olhar seus ovos. — Vamos ter que levar Tigger e Max conosco. — disse tão baixinho que Luke teve que se

debruçar adiante para ouvi-la. Ele se jogou para trás. — Você espera levar dois cachorros para Springy Mountain no meio do inverno? Camry, a

profundidade da neve é mais alta que Tigger. E o veículo de neve estará lotado com nós dois e nosso equipamento. Onde está planejando colocar Max? Ele é do tamanho de uma pessoa.

— Podemos levar a maior parte de nosso equipamento no teto, e roubaremos um dos maiores transportes de neve do resort. Deste modo podemos até dormir nele se precisarmos.

Luke deixou sua cabeça cair nas suas mãos e ficou olhando fixamente o seu prato. Ela mudou de ideia sobre ele ir com ela, ou realmente pretendia ir para casa afinal?

Ela tocou seu braço e ele ergueu a cabeça. — Você tem a minha palavra, não estou tentando te abandonar. — ela disse, aparentemente

lendo sua mente. — É só que enquanto eu estava fazendo as malas esta tarde, de repente me lembrei que me comprometi pelo próximo mês. — Ela deu um sorriso torto. — Encontraremos Podly, prometo. E quem sabe, talvez Max e Tigger possam ser úteis. Ambos são de raça de caçadores; podem cheirar o satélite para nós.

Luke entrelaçou seus dedos com os dela. — Se não está tentando se livrar de mim, então por que tenho que voltar para o hotel até

terça-feira? Suas bochechas ficaram de um adorável rosa e abaixou seu olhar. Ela tentou se afastar, mas

Luke soltou sua mão com um bufo. — Você estará fora daqui dez minutos depois que eu partir. Só não vai para casa, estará

fugindo novamente. — Isto não é verdade! É só que... eu não quero... droga, não serei uma boa companhia pelos

próximos dois dias! Só quero ficar sozinha, está bem? Volte na terça-feira à tarde, e partimos depois do jantar.

— Boa companhia...? De que diabos você está falando?

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Suas bochechas ficaram de um vermelho abrasador. — Olha, hoje começou meu período, ok? E durante os próximos dois dias, serei uma miserável

e dolorida resmungona. Ele estava tão aliviado que começou a rir. Camry se levantou de um salto e correu pra fora da cozinha. Luke imediatamente ficou sério. — Ei, espere! Sinto muito! — disse correndo atrás dela. A porta do seu quarto quase o golpeou quando ela a empurrou para fechá-la, e conseguiu

trancá-la antes que ele pudesse abri-la. Ele bateu sua cabeça na porta com um grunhido. — Camry, sinto muito. Eu não estava rindo de você. Quero dizer, não de verdade. Droga, não

me deixe de fora. — Vá embora. — ela disse, sua voz vinha através da madeira há apenas uns centímetros dele.

— Estarei bem aqui na terça-feira, prometo. Deus! Era um idiota. Para um homem que se arrumou para obter vários diplomas, parecia não

ter a mínima ideia quando se tratava de mulheres. O que era de se surpreender, considerando que passou os primeiros treze anos de sua vida em uma casa cheia de mulheres.

— Mencionei que fui criado por uma mãe solteira, minha avó e minha tia? — Ele perguntou, sua cabeça ainda descansava na porta.

— Não. — ela sussurrou depois de vários segundos. — E posso certamente atestar que o velho mito é verdade, que quando as mulheres vivem

juntas, suas menstruações gravitam no mesmo horário. — Ele riu. — O que isso tem de engraçado? — Ela grunhiu. — Só pensei em seu pobre pai, vivendo em uma casa com oito mulheres. — Isto é um comentário machista! — Não é machista, trata-se de um fato científico. — Vá embora, Luke. Ele se endireitou, afastando-se da porta, correndo os dedos por entre seu cabelo. Merda. Não

queria ir. — A única razão por que assinalei ter sido criado por mulheres, foi para informar que não me

importo por quanto você fique resmungona. Posso manejar qualquer coisa que você jogue. — Ele hesitou. — Exceto que me diga para ir embora.

Quando ela não respondeu, Luke caminhou até a sala de estar, jogou-se no sofá e olhou para o transmissor que estava na mesinha de café. Inclinou-se e recolheu o instrumento obstinadamente silencioso.

— Você obviamente foi projetado por uma mente feminina. — ele murmurou. — Por que diabos as mulheres tem que ser tão complicadas?

— Porque é nosso trabalho. Luke saltou, agarrando-se desajeitadamente ao transmissor, mas ele ainda saiu voando

quando Camry se deixou cair no sofá ao lado dele. — Porque os homens são criaturas simples, as mulheres precisam ser complicadas para

equilibrar as coisas. — continuou, impedindo-o de ir atrás do transmissor se aconchegando no peito dele.

Luke embrulhou os braços ao redor dela e suspirou fortemente. — Verdade que sua mãe te dizia para desaparecer o tempo todo? — Não, minha tia que dizia. Ela era uma mulher resmungona todos os dias, mas não era até

que com nove ou dez anos percebi o que para ela significa alguns dias do mês. — Ele bufou suavemente. — O dia que nos mudamos da casa da vovó e fomos para a casa do meu padrasto, minha mãe realmente se desculpou por me fazer viver com a tia Faith por treze anos.

— Por que tia Faith era tão resmungona? — Quem sabe? Minha hipótese é que ela era amarga. Mesmo quando meu pai biológico

desapareceu no dia em que descobriu sobre mim, acho que Faith estava com inveja que mamãe teve

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um caso apaixonado. — Ele deu de ombros. — Faith não teve muita sorte com os homens, e finalmente decidi que ela era solitária.

— Talvez tivesse mais sorte se não fosse tão resmungona. Luke riu sem humor. — Eu de fato disse isso a ela uma vez. Foi quando minha mãe conheceu André Renoir. Eu

tinha onze anos. Tia Faith passou de resmungona para abertamente hostil quanto mais minha mãe se apaixonava por André.

Camry levantou a cabeça de estalo. — André Renoir se tornou seu padrasto? Luke assentiu. — Quando eu tinha treze anos. E me adotou legalmente no dia em que se casaram. — Ele

empurrou sua cabeça no peito dele para que deixasse de olhá-lo. — Não me importava com o André até então, já que ele fazia minha mãe feliz. Mas não vi por que eu de repente tinha que mudar meu nome também, tanto quanto deixá-lo decidir a minha vida.

Ela levantou sua cabeça novamente. — Ele era ruim com você? — Oh não. André é um bom homem, e estava sinceramente interessado em mim. — ele disse,

empurrando-a de volta contra ele. — Mas durante os primeiros treze anos da minha vida, fiz o que quis sem receber muitas críticas. Eu me trancava no quarto por dias com meus livros e meu computador, e ninguém me perturbava. Mas depois que nos mudamos para a casa do André, o homem me arrastava para o ar livre, dizendo que precisava tirar o mau cheiro de mim.

Luke riu. — Ele tentou me ensinar a jogar beisebol, mas eu continuava rebatendo mal as bolas de

propósito. Então ele me levou para caçar com ele, e eu fiz tanto barulho caminhando pelo bosque que afugentei todos os animais. Mas graças a Deus pela paciência do homem, não importava o quanto eu sabotasse suas boas intenções, ele continuava tentando... até o dia que fugi de casa.

— Você fugiu de casa? Quantos anos tinha? — Quatorze. Minha mãe e André me disseram que eu teria uma irmãzinha. — Ele começou a

rir. — Ainda que eu soubesse sobre os pássaros e abelhas, estava horrorizado ao perceber, de repente, que eles estavam fazendo sexo. Esperei até que eles foram pra cama aquela noite, então fui embora.

— Pra onde foi? — Ela perguntou com uma risadinha. — Decidi voltar e viver com minha avó e tia Faith, então comecei a caminhar para Vancouver,

que ficava a pouco mais de cento e sessenta quilômetros de distância. Mas não me importei. Só queria minha velha vida egocêntrica de volta, com tia resmungona e tudo.

— E aí? Elas te aceitaram de volta? — Não fiz nem dezessete quilômetros. Era pleno inverno e André me encontrou meio morto

de frio, marchando tropegamente no acostamento da estrada. Não disse uma só palavra em todo o caminho de volta pra casa. Mas quando entramos no jardim, em vez de me deixar ir para dentro e me aquecer, ele me arrastou para onde guardávamos a lenha e...

— Ele bateu em você? — Ela ofegou enquanto se endireitava. Luke sorriu pela sua expressão feroz. — Não. Mas esta foi a primeira vez que o vi com raiva. Ele me deu uma serra e um machado, e

me disse que começasse a cortar a lenha do próximo ano. E enquanto o fazia, era para pensar numa simples pergunta e lhe dar a resposta quando eu acabasse.

— E qual foi a pergunta?— Ele me perguntou qual era a definição de amor. Os olhos de Camry se arregalaram com antecipação. — E o que você disse a ele que era o amor? Luke bufou. — Eu tinha quatorze anos... que diabos eu sabia sobre amor? Ela se arrastou pra fora do sofá e se levantou olhando para ele.

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— Mas tinha que ter dito algo a ele! Obviamente você não morreu congelado no abrigo de lenha.

Luke se pôs de pé, então caminhou e pegou o transmissor antes de olhar para ela novamente. — Oh, eu dei com uma resposta que pelo menos me trouxe de volta pra casa, entretanto não

me impediu de cortar oito fardos de lenha. André me disse que minha vinda era apenas o começo, mas que ele saberia que eu compreendi o resto quando eu finalmente me desculpasse com minha mãe.

— E você o fez? Ele assentiu. — Quando eu tinha vinte anos. — Então, qual é a definição de amor? — perguntou com a expressão ansiosa novamente. Luke a olhou especulativamente, perguntando-se até onde poderia empurrá-la. — Se você me deixar ficar, contarei a caminho de Pine Creek. Ela realmente bateu o pé de frustração, então imediatamente agarrou sua perna e pulou de

volta no sofá. — Agora olhe o que você me fez fazer. — ela murmurou erguendo seu pé sobre a mesinha de

café enquanto olhava para ele. — Isto é chantagem. — Pode agradecer à sua mãe por me ensinar isto. — Ele se sentou à mesa, lançou o

transmissor em seu colo e deixou o pé dela na sua coxa, então ele pôde tirar sua meia e esfregar seu tornozelo. — Quando terminei de cortar lenha, disse a André que amar significava não magoar alguém que me amava.

Ela se reclinou e começou a brincar com o transmissor. — Essa foi uma boa resposta para um garoto de quatorze anos. — Mas incompleta, de acordo com André. — Por que ele simplesmente não te disse a resposta toda?— Não pense que não perguntei. Mas ele disse que não é algo que uma pessoa pode explicar

para outra; eu tinha que sentir amor para saber. Ela de repente sorriu. — Então você tampouco pode me dizer, o que significa que acaba de desistir de sua chance de

me chantagear para ficar. Ele arqueou uma sobrancelha. — Ou só te deixei um pouco curiosa para me deixar ficar. — Como descobriu? — Eu disse a você que me desculpei com minha mãe quando eu tinha vinte anos. Não está

nem um pouco curiosa sobre o porquê então? Ela olhou para o transmissor, dando de ombros indiferentemente. — Talvez. Mas Luke sabia que estava morrendo de curiosidade para saber — provavelmente se

perguntando se alguma garota partiu seu coração. — Posso ficar? — Ele perguntou suavemente. Ela olhou para cima, um brilho de desafio em seus olhos. — Só se me der uma pista sobre o que aconteceu quando você tinha vinte anos e que te levou

a ter sua grande epifania. Oh sim, ele daria agora — só tinha que metê-la dentro. Luke ficou olhando fixamente por cima

de sua cabeça como se estivesse considerando sua oferta, então finalmente prendeu o olhar no dela. — Eu morri.

Capítulo 11

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Camry saiu do estacionamento de L.L.Bean em Freeport no final da tarde de terça-feira, seu companheiro de crime estava sentado ao lado dela, dois cachorros e toda a sua parafernália no banco de trás, e a parte de trás do seu SUV repleta de equipamento de camping e suprimentos.

Luke imediatamente ficou absorto no novo e supostamente melhorado dispositivo de GPS que acabara de comprar, e Camry virou em direção ao norte na Interestadual 95 com um sorriso de antecipação. Por mais que amasse seus amigos caninos e ser bartender no bar do Dave, percebeu que não havia nada como uma viagem de acampamento em pleno inverno para soprar as teias de aranha — e um Cara de Sonho que justamente acontecia de estar com desejo por ela, para adicionar uma pitada de interesse.

Cam pensou em todos os namorados que teve ao longo dos anos, e tentou decidir se ela passou algum tempo com algum deles que sequer chegasse aos pés do fim de semana que acabou de passar com Luke. Os últimos três dias foram incrivelmente íntimos — o que Cam achou bastante interessante, já que ela sempre comparou intimidade com fazer amor. Mas ela compartilhou sua cama com Luke por três maravilhosas noites celibatárias, e não podia se lembrar da última vez que dormiu tão profundamente.

Cam se meteu no tráfico com uma risadinha silenciosa, lembrando o que aconteceu domingo de manhã. Desde que Fiona explodiu seu disfarce, Lucian Renoir, o físico, de repente emergiu e Luke se levantava muito antes do amanhecer, sacava seu laptop e começava a mastigar números. Quando ela entrou correndo na sala de pijama, frenética por que ele de repente decidiu a se desfazer dela, encontrou-o escrevendo em uma das paredes.

Aparentemente tão absorto em seu trabalho que nem estava ciente que esteve usando sua parede como um quadro, Luke pareceu confuso quando ela gritou. Ele se desculpou profusamente enquanto ia para a cozinha buscar um pano úmido, mas logo foi ele quem gritou quando retornou e a encontrou escrevendo sobre uma de suas equações. Passaram o restante do dia cobrindo mais duas paredes com equações enquanto rastreavam a queda do Podly no solstício — uma trajetória que desafiava todas as leis da física. E Camry não só não se incomodou em trocar seu pijama, mas esqueceu-se completamente de estar resmungona e miserável.

Ainda estava um pouco agitada pela rapidez com que Luke descobriu seu joguinho de deixar seus namorados pensarem que tiveram um sexo alucinante. Merda, ela ficou tão boa nisso, que praticamente se convenceu que era completamente satisfatória.

Os homens certamente nunca reclamaram. Exceto Luke: depois de apenas dois dias ele quis torcer seu pescoço. Ainda não podia acreditar

que ele realmente tirou um preservativo, abriu a maldita coisa, e então perguntou se ela sabia o que era. Deveria ter ficado indignada, mas ao invés disso se perguntou o que ele planejava fazer com sua... virgindade. Será que ele continuaria seu pequeno caso sensual em seus termos ou a via como um desafio agora? Teria esperanças de levar as coisas para o próximo nível?

Não estava preocupada que ele a empurrasse a percorrer todo o caminho; Luke não parecia ter um osso insistente em seu corpo. Camry sorriu para a estrada adiante. Sem dúvida tentaria empurrá-la, apesar de toda a sua pompa civilizada, ele ainda era um macho em perfeito funcionamento.

Entretanto, ela também gostava de um bom desafio. — De acordo com meu GPS, estamos indo a 122 quilômetros por hora. — ele disse em meio

ao silêncio, relanceando o olhar por cima do hodômetro. Camry manteve seu pé constante no acelerador. — Estou apenas acompanhando o pouco tráfico que há. Um gemido veio do banco traseiro, e Luke olhou de relance por cima do ombro. — Humm... Max não parece muito bem. Está babando e seus olhos estão cheios de água.— Ele tem enjoo quando anda de carro. O remédio que dei a ele em Freeport fará com que

ele durma logo. — Você pretende mantê-lo drogado a viagem toda?

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— Max não precisará de remédio assim que entrar na veículo de neve; estará excitado demais por estar em uma aventura. Só fica doente em carros porque se preocupa que possa estar indo para o veterinário.

Luke começou a apertar as teclas no seu GPS novamente. Camry o tirou de sua mão e o deixou no painel ao seu lado na caminhonete, fora do seu

alcance. — Certo. Eu não fiz você voltar para o seu hotel e estamos na estrada. Então solta a língua, Dr.

Renoir. Se você morreu quando tinha vinte anos, como ainda continua respirando? — Porque o rio bravio que me matou também me jogou em uma pedra e chutou o ar de volta

aos meus pulmões. Ela franziu o cenho. — Desde o início, Luke. E sua intrigante historinha tem que dar uma boa explicação do que o

fez se desculpar com sua mãe. Ele começou a embalar novamente tudo o que veio com o GPS. — Você já sabe que tenho uma irmãzinha chamada Kate. Bem, quando ela tinha cinco anos,

minha mãe, André e eu a levamos ao canil na véspera de Natal, e ela escolheu um cachorro monstruoso que parecia ter oito ou nove anos de idade. Era negro como carvão e com o pelo áspero, não tinha metade de uma de suas orelhas e seus olhos estavam turvos com uma catarata em desenvolvimento. Tentei fazer com que ela escolhesse um dos outros cachorros, ou pelo menos algo de aspecto menos patético, mas Kate reclamou que queria aquele porque era o cachorro mais bonito do mundo e ela o amaria para sempre.

Ele deu de ombros. — Ela insistiu em chamá-lo de Maxine, embora eu explicasse que ele era macho. Mas na

manhã de Natal quando Kate levou Maxine pra brincar lá fora, quase duas horas se passaram antes que alguém percebesse que eles não estavam no jardim.

— Duas horas? — Foi uma daquelas coisas de “pensei que ela estava contigo”. Mamãe pensou que Kate saiu

montada para visitar nosso vizinho com André, e André saiu pensando que ela estava em casa brincando com os brinquedos que ganhou de Papai Noel.

Ele inclinou sua cabeça para trás e fechou os olhos, e Camry percebeu que embora tivesse prometido contar sua história, obviamente isto não seria fácil para ele.

— Quando André voltou e mamãe percebeu que Kate não estava com ele, todos nós começamos a procurar por ela. Quando não a encontramos uma hora depois, voltamos pra casa e mamãe ligou para a polícia para começar a organizar uma busca. André e eu pusemos as raquetes de neve e começamos a procurar em direções opostas.

— Mas se você precisou de raquetes de neve, Kate e o cachorro não deixaram rastros que pudessem seguir? — Cam sussurrou, de repente com medo que isto seria tão ruim de ouvir quanto era de contar.

Ele a olhou, logo olhou para fora de sua janela ao bosque escuro pelo qual estavam passando. — Tivemos uma nevasca dois dias antes, e Kate e Maxine eram muito leves, de modo que

puderam caminhar na superfície, enquanto que André e eu continuamos quebrando através dele. Finalmente nos afastamos longe o suficiente um do outro, de tal modo que já não podia mais ouvi-lo chamando por Kate. Mas eu podia ouvir o rugido distante do rio. — Ele titubeou, então disse suavemente. — Foi quando dei um passo debaixo de uma árvore gigante que abrigava a neve da chuva, e encontrei as pegadas de uma criança e um cachorro.

Olhou através do para-brisa, mas Cam sabia que não estava vendo a estrada. — Comecei a correr na direção que levavam as pegadas, as quais iam diretamente para o rio. Camry apertou o volante ainda mais. — Eu sei que Kate sobreviveu, porque você disse que ela tem a idade da Fiona. Então não

quero mais ouvir esta história, Luke. — Sim, você quer. — Ele se estendeu para ela e bateu levemente em sua coxa. — Porque foi

aí que aprendi exatamente o que fiz minha mãe passar quando fugi seis anos antes. — Ele respirou

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fundo, mas deixou sua mão sobre sua perna. — Nunca antes e desde então nunca estive tão assustado. Comecei a suar frio, tendo imagens horrorosas de Kate sendo arrastada pelo rio. Odiei esse maldito cachorro por atraí-la até o bosque, e jurei que quando os encontrasse torceria seu negro e horrível pescoço.

A mão em sua coxa se apertou, então de repente se foi. — Ainda tenho pesadelos sobre o que vi quando cheguei ao rio. Kate estava balançando na

borda do gelo, apenas alguns metros acima da água turbulenta. Ela estava totalmente imóvel, e aquele cachorro — aquele bonito e sarnento vira-lata — tinha seus dentes cravados no seu casaco, segurando-a para que não caísse. — Luke olhou para ela. — Não tenho a mínima ideia de quanto tempo Maxine a segurou assim, mas juro que se Kate caísse, ele tinha toda a intenção de ir com ela.

Camry verificou o espelho retrovisor e guiou sua caminhonete para o lado da interestadual, freando para parar no acostamento antes de desligar o motor. Fechou os olhos e enterrou o rosto nas mãos dela no volante.

— Ei, está tudo bem. — disse ele, aconchegando sua cabeça na palma larga dele. — Eu tirei minhas raquetes de neve e cuidadosamente caminhei para eles. Maxine estava tremendo incontrolavelmente e sua boca estava ensanguentada pela tensão em seus dentes. Suas patas também estavam ensanguentadas e pude ver onde ele arranhou a camada de gelo, tentando puxar Kate pra cima.

Imaginando a cena muito vivamente em sua cabeça e temendo o que estava por vir, Camry se remexeu no assento e se lançou em seus braços.

Luke a embalou contra seu peito e continuou baixinho. — Enquanto me aproximava, senti a placa de gelo começar a se romper. Nesse momento ouvi

vários gritos, e percebi que André e alguns outros homens nos encontraram. Mas era tarde demais. Agarrei o casaco de Kate e a puxei para cima, arrancando-a da boca do Maxine, então a lancei o mais longe que pude sobre a placa de gelo, enquanto esta se abria. O cachorro e eu caímos no rio.

— Oh, Deus. — Camry sussurrou. — A água devia estar gelada. — Literalmente tirou meu fôlego. A força da correnteza me golpeou contra as pedras e me

seguraram ali embaixo até que pensei que meus pulmões iriam estourar. — E v-você morreu. Seus braços a rodearam mais forte. — De repente eu já não sentia mais frio, e tudo ficou... tranquilo.— Então você voltou. — A correnteza deve ter me jogado em outra pedra, e rompi a superfície e voltei a aspirar o ar

de volta aos meus pulmões. Mas estava completamente desorientado. Então algo se enganchou no ombro da minha jaqueta e senti um arranhão em minhas pernas.

— Maxine. — Exatamente como fez com Kate, aquele maldito cachorro se agarrou a mim e começou a

nadar contra a correnteza. Havia luz suficiente para que eu pudesse ver que o rio estava congelado onde se transformava em água lisa mais adiante, e sabia que se não chegássemos até a margem, seríamos varridos para debaixo do gelo.

— Vocês dois conseguiram. — Eu consegui. — E-e Maxine? — Passei as três semanas seguintes procurando seu corpo, mas nunca o achei. — Ele morreu! — Cam choramingou, enterrando o rosto na sua camisa. Ela esmurrou seu

braço. — Eu disse que não queria ouvir esta história! — Eu nunca disse a ninguém o que aconteceu depois que caí no rio; nem sobre meu

afogamento, nem o que Maxine fez. — Luke murmurou em seu cabelo. Isso a surpreendeu. — Mas por quê? Não poderia pelo menos querer que Kate soubesse que Maxine morreu

salvando sua vida?

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— Pareceu muito pessoal para compartilhar com mais alguém. Ou talvez... muito assustado era uma palavra melhor. Então simplesmente deixei que todo mundo estivesse agradecido que Maxine salvou a vida de Kate. — Ele suspirou fortemente. — O cachorro não a atraiu ao bosque; ele a seguiu.

Cam relaxou contra ele. Ainda estava chateada que Maxine não tivesse sobrevivido, mas extremamente contente que Luke conseguiu.

— Averiguou por que Kate deixou o jardim da casa? — Ela nos disse que estava procurando por uma pedra especial na bonita piscina de pedras

que se lembrava de ter visto naquele verão, quando ela e André pescaram no rio. — O que a fez pensar que poderia encontrá-la com toda aquela neve no chão? — Crianças de cinco anos não pensam sobre pequenos e bobos detalhes como este; só vão

atrás do que querem. Tudo que Kate estava enfocada era achar uma pedra especial que pudesse me dar de Natal. Ela me contou naquela noite quando veio ao meu quarto depois que chegamos do hospital que não queria que eu retornasse para a faculdade sem algo que me recordasse de nossa casa... e dela.

Ele respirou entrecortadamente. — Fiquei transtornado. Ela quase morreu tentando encontrar uma pedra estúpida para mim,

e comecei a berrar com ela. Mas em vez de explodir em lágrimas como uma criança normal, sabe o que ela fez?

Camry não disse nada por que não pôde.— Ela envolveu seus bracinhos ao redor das minhas pernas e me disse que me amava tanto,

que seu coração doía quando pensava em mim sentindo a sua falta do mesmo modo que ela sentia a minha. — Ele deu outro suspiro entrecortado. — Daí explicou que podia se sentar no meu quarto sempre que sentia minha falta, mas que eu não tinha nada para me lembrar dela quando estava longe na faculdade.

— Meus joelhos se dobraram — ele continuou com voz rouca — e ajoelhei até abraçá-la. Mas antes que pudesse fazê-lo, Kate levantou seu minúsculo punho e abriu os dedos para revelar uma pedra salpicada de branco e preto na sua palma. Ela me disse que era menor que a pedra que queria encontrar para mim, mas que foi obrigada a agarrar a mais bonita que pôde alcançar na lagoa, porque Maxine a manteve presa pelo casaco.

Luke abaixou sua cabeça para apertar sua face contra a dela. — Sabe o que é realmente o amor, Camry? O amor não é intransigente, não tem pretensões,

é incondicional e às vezes faz seu coração doer. Eu me desculpei com Kate por ter gritado, e ela deu um tapinha na minha bochecha e disse que sabia que eu estava irritado porque eu a amava... da mesma maneira que Maxine rosnou quando ela desceu para a água. Kate disse e eu cito, “Maxine não me deixou cair no rio porque ele sabia que eu o amaria para sempre”.

Luke descansou seu queixo na cabeça dela com um suspiro. — Nunca prestei muita atenção à Kate durante seus primeiros cinco anos de vida. Não tinha a

menor ideia do que fazer com uma criança, e quando ela era bebê, eu estava fora na faculdade na maior parte do ano, ou trabalhando na cidade ou com meus amigos durante todo o verão. Mas isso não a impediu de me amar tanto que seu coração doía quando eu ia embora.

Ele ergueu o queixo de Cam fazendo com que ela o olhasse, para ver seu terno sorriso no resplendor das luzes que passavam.

— Coloquei Kate na cama, logo desci as escadas para a sala de estar, ajoelhei e me desculpei com minha mãe por fugir quando tinha quatorze anos. Então me desculpei com André por ser um bastardo egoísta e o agradeci por não desistir de mim.

Ele se mexeu embaixo dela sem interromper seu abraço, então pressionou algo na palma da sua mão.

— Aqui. Se você tentar realmente com vontade, aposto que pode sentir o amor também. — sussurrou, dobrando seus dedos sobre o minúsculo e suave objeto. — No verão seguinte, logo antes de ir para a faculdade novamente, levei Kate até o rio e construímos um enorme montículo de pedra em homenagem a Maxine. Então procurei até que achei uma pedra muito especial e a dei para Kate.

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Ela a abraçou junto ao seu coração e disse que era a pedra mais bonita que jamais viu. — Ele apertou o punho de Cam. — Carrego esta pedra desde aquele Natal. Não importa onde esteja no mundo ou o que esteja fazendo, só tenho que alcançá-la em meu bolso para saber que sou intransigentemente, humildemente e incondicionalmente amado.

Ele levou sua mão até a boca e a beijou. — E a moral da minha história pelo que percebi, é que algumas vezes nossas lições mais

profundas vêm de uma criança de cinco anos de idade, e algumas vezes se mostram como um cachorro velho e sarnento.

— Ou como um colega cientista que por alguma razão cravou seus dentes em mim, e se recusa a deixar ir até que vá para minha casa e me desculpe com minha mãe?

Ele de repente enrijeceu. — Não. — disse com um grunhido. Colocou-a de volta em seu assento. — Não me compare a

Maxine. Aquele cachorro era um herói valente e abnegado, enquanto que eu sou um egoísta filho da puta que não pensou duas vezes em roubar o trabalho da sua vida.

Ela ofegou suavemente. — É assim que você se vê? Ele a examinou, as luzes da estrada acentuando as duras feições de seu rosto. — Fiona estava equivocada, Camry. Não sou o milagre de ninguém. — Mas você não quis destruir Podly. — Com toda certeza pensava em usar os dados que estava tentando baixar. — ele disse,

voltando a olhar pra fora de sua janela. Camry olhou fixamente pelo para-brisa, desesperadamente querendo contar a Luke que ele

não causou o impacto do Podly, Fiona o fez. Mas embora em algum momento lhe falasse disso, simplesmente não teve coragem de abrir essa Caixa de Pandora em particular.

Ligou a caminhonete, verificou se vinha algum veículo e acelerou de volta para a interestadual. Talvez Fiona estivesse errada. Afinal, milagre era coisa de magia, e a magia não era conhecida por recompensar os sequestradores e os não tão bons e inúteis mentirosos. Era mais propensa a brincar com eles do modo que um gato brincava com um rato — ou do modo que uma sobrinha travessa fazia uma coisa com um satélite — logo antes de enviar pra baixo algum karma bem ruim.

Sim, bem... se ela e Luke tinham dívidas a pagar, Camry não podia pensar em uma pessoa melhor com quem pagar. Porque ao contrário do que ele podia pensar dele mesmo, ela sabia que, exatamente como Maxine, Lucian Renoir não tinha nenhuma intenção de deixar o rio turbulento arrastá-la pra longe.

Capítulo 12

Eles chegaram a Pine Creek um pouco depois da meia-noite, mas levaram outras duas horas para conseguir pôr suas mãos em uma veículo de neve — que eles praticamente roubaram debaixo dos narizes do pessoal do resorte TarStone Mountain Ski. Era quase três horas da madrugada quando voltaram para a caminhonete que esconderam a vários quilômetros do resort, e Luke não podia decidir se Camry desejava morrer ou se simplesmente se divertia se infiltrando pelas sombras.

Entretanto aprendeu algumas coisas interessantes de si mesmo. A primeira é que ele provavelmente deveria continuar com a física, já que certamente morreria de fome se tivesse que roubar para viver; e a segunda é que ainda que passasse a noite inteira suando frio, preferiria fazer qualquer ato ilegal com Camry. Neste ponto ele esteve tentado a baixar o olhar pra frente das calças dela para ver qual equipamento ela tinha em seu pacote; a mulher parecia ter nervos de aço, o foco de um Seal, e a mente de um chefe do crime.

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Ela também teve um perverso sentido de oportunidade; como quando se esconderam no quarto da oficina enquanto esperavam que um dos trabalhadores amavelmente reabastecesse o veículo que eles tinham a intenção de... pedir emprestado. Aparentemente tendo ficado um pouco entediada, Camry foi atrás do pacote do Luke. Mas justamente quando ele estava tentando lutar com suas mãos, afastando-as da fivela do seu cinto, as luzes da garagem de repente apagaram e o homem saiu.

Camry imediatamente retornou aos modos de criminoso, deixando a Luke — e sua aturdida cabeça de baixo — estendido em um canto em completa escuridão, perguntando-se quando exatamente perdeu a cabeça.

Finalmente Camry tirou o veículo de neve, parou ao lado de seu SUV e desligou o motor, acendeu as luzes do interior e lhe dedicou um sorriso presunçoso.

Luke arrancou seus dedos da manivela que esteve apertando em um agarre mortal. — Você se importaria de me explicar quais eram as suas intenções lá na garagem? — Tentava roubar nosso transporte. Foi o que fiz. — Não, quero dizer quando estávamos presos nos escondendo atrás do equipamento. Não

era exatamente nem a hora nem o lugar para darmos um amasso. E, além disso, pensei que você estava... humm, fora do mercado por alguns dias.

Seu sorriso se tornou francamente descarado. — Ei, só porque a roda gigante não está funcionando não quer dizer que o parque de diversão

inteiro está fechado. — ela disse com uma gargalhada, abrindo a porta e saltando. Luke a seguiu com um olhar fixo, perplexo. Imediatamente soltou uma gargalhada e foi atrás dela, feliz ao perceber que seu namorico

ainda estava de pé — o que o deixou feliz por ter escapado até a farmácia ontem e comprado uma caixa inteira de preservativos.

Camry abriu a porta de trás da caminhonete para deixar os cachorros saírem enquanto Luke se aproximava, ainda rindo.

— O que é tão engraçado? — Ela perguntou. — Oh, nada. Só estava pensando em como esta excursão na natureza vai ser muito mais

interessante do que a última que eu fui. Tigger saltou da caminhonete atrás de Max, somente para dar um ganido de surpresa e

subitamente desaparecer. Luke pescou o basset da neve e voltou a colocá-lo no assento. — Sim, Tigger. — disse ele ignorando o cachorro trêmulo. — Aposto que isto não é

exatamente como você imaginou sua festa de pijama de Natal com a tia Cam, não é? — Seu suéter está na mochila verde. — Camry disse. Ela abriu a porta de trás e começou a

transferir seu equipamento para a veículo de neve. — Só faça um círculo na neve com os pés para que ela possa fazer xixi.

Luke cavou na mochila, achou o que parecia com o suéter de uma boneca e começou a vestir Tigger. Ou tentou, percebendo que deveria ter prestado mais atenção quando Kate o enganou para brincar de boneca com ela.

— Pelo menos é rosa choque, assim seremos capazes de te encontrar. — ele murmurou, empurrando o que esperava que fosse o pescoço por cima da cabeça de Tigger. — O que vamos fazer para conseguir combustível? — Ele perguntou a Camry. — Não me lembro de ver nenhum posto de gasolina em Springy Mountain quando estive ali.

— Eu roubei este veículo em particular porque ele usa diesel. Megan e Jack estão construindo um camping no lago na base da montanha, o que significa que levaram para lá um tambor de combustível no verão passado que podemos usar.

— Ouviu isto, Tig? Vamos ensiná-lo a roubar também. Desse modo podemos compartilhar uma cela na cadeia, assim não ficará morrendo de medo.

Luke finalmente suspirou derrotado, levantou Tigger e a levou para a parte de trás da caminhonete.

— Aqui. — disse ele segurando o cachorro para Camry. — Você descobre esta geringonça e eu carrego nosso equipamento.

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Ela escondeu as mãos atrás das costas. — Você precisa praticar para quando tiver filhos. — ela disse, seus olhos brilhando com

diversão. Luke abraçou o basset meio vestido contra seu peito. — Decidi não ter filhos porque temo que possam confundir meu cérebro. Camry imediatamente ficou séria, deu a volta, agarrou seus sacos de dormir e se encaminhou

para o veículo de neve. Luke sorriu ao vê-la pisando forte e se afastando, e esfregou a cabeça de Tigger com a barba

incipiente que começou a crescer há três dias antes de sua viagem de camping. Oh sim, seria uma aventura muito interessante. Camry apertou os dentes enquanto se agarrava na manivela para se impedir de sair voando

pelo para-brisa, repensando sua brilhante ideia de ensinar Luke como dirigir a veículo de neve. — Você está visando pisar cada maldita pedra e tronco caído? — Não é como se estivessem marcados com sinais de IMPACTO. — Colocou Max no banco de

trás. — Não posso vê-los porque Max continua respirando no vidro, embaçando-os. — Espere. Pare aqui. — ela disse. — Acho que este é o desvio que precisamos tomar. — Você acha? Cam franziu o cenho para ele. — Faz anos que estive tão ao norte. Eu me orientarei assim que o sol se levantar. — Ela se

esticou e desligou o motor, abriu a porta e quase caiu quando Max a empurrou e passou por ela. — Ok, seu pirralho crescido, está na hora de estabelecermos algumas regras. — ela disse saltando depois do cachorro. Segurou a cabeça do labrador e o manteve diante dela, seu nariz a apenas centímetros do dela. — Primeiro, você espera até que eu diga que pode sair. E segundo, você fica no banco de trás com Tigger. Se tentar rastejar até o banco da frente conosco novamente, viajará no teto com o nosso equipamento.

— Isso pôs o temor de Deus nele. — Luke disse, dando a volta na veículo de neve com Tigger em seus braços. Ele parou para olhar ao redor na escassa luz do amanhecer. — Podem ter se passado anos desde que você esteve aqui em cima, mas acabei de passar dois meses percorrendo estes bosques. Esta estrada nos leva ao lado sul de Springy. — Ele apontou em outra direção. — E aquele outro caminho nos levará mais perto do lago, e eventualmente ao redor do lado norte da montanha.

— Então devemos ir por esse caminho. — ela disse. — Já que seus dados da trajetória do satélite assinalam que vem do norte.

— Exceto que não é assim. — ele contradisse. — Baseado em sua órbita no momento em que deixou de funcionar corretamente, Podly deveria ter colidido no lado sul de Springy.

Cam parou de acomodar a neve para fazer um buraco para Tigger e olhou para ele. — Então está sugerindo que procuremos no mesmo bosque que você já passou dois meses

procurando ou quer olhar onde realmente está o satélite? Porque acontece que sei que está no lado norte da montanha.

Ele estreitou seus olhos. — Como? — Porque assisti sua descida inteira. — Você realmente viu? Cam tirou Tigger de seus braços e colocou o basset no círculo que ela fez. — Winter estava tendo seu bebê neste exato momento, e minhas outras irmãs e eu

estávamos sentadas na varanda da frente de sua casa, esperando a grande chegada. Foi quando notamos o que pensávamos que era um meteorito riscando o céu, dirigindo-se direto para Springy Mountain. E vinha do norte, indo em direção ao sul. Nós todas vimos, mas nesse momento mamãe saiu de casa gritando que tínhamos uma nova sobrinha. — Ela deu de ombros. — Esqueci disso completamente até sábado, quando você me disse que Podly colidiu ao norte de Pine Creek em junho passado.

Luke a olhou fixamente, boquiaberto.

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— Então adivinho que vamos para o norte, não é? Espera. Você disse que estava na casa da Winter. Ela teve seu bebê em casa?

Cam assentiu. — Minha mãe e todas as minhas irmãs tiveram seus bebês em casa. É um tipo de tradição

MacKeage. Sua boca abriu de novo. — O que isso tem de estranho? — Ela perguntou. — Mulheres têm bebês em casa desde que

vivemos nas cavernas. — Mas, e se algo der errado? Estão a quilômetros de distância do hospital mais próximo. Vendo que Tigger terminou com seus assuntos, Cam a deixou na veículo de neve, então se

voltou para Luke. — Creio que se possa dizer que também é nossa tradição ter partos relativamente fáceis. A expressão de Luke se tornou ilegível. — Então se você for ter um bebê... esperaria tê-lo em casa também? — Esperar? Não. Cada uma de minhas irmãs escolheu ter seus bebês em casa com uma

parteira, mas elas não esperaram. De fato, papai praticamente implorou a elas que fossem para o hospital. — Ela começou a olhar ao redor procurando Max. — Mas se eu decidir ter filhos, gostaria de seguir a tradição.

Luke a pegou pela manga da blusa e a virou para encará-lo. — Isso te assusta? — É um ponto discutível, já que não vou ter filhos. — Porque eles roubariam sua paixão pela ciência? — Ele perguntou suavemente. — E porque quero que seja minha escolha, não do universo. — O que? Camry o olhou durante vários segundos, então se sentou na trilha que a veículo de neve

deixou com um suspiro. — Okay, já que você está loucamente fissurado em mim, suponho que tenha o direito de

saber por que tenho sido... relutante em ter relações sexuais.Ele bufou, mas logo levantou a mão quando ela lhe fez uma cara feia. — Certo, vamos ficar com o relutante. — Sentou-se ao lado dela. — E o que é que tem a ver o

universo com fazer sexo? Cam hesitou, perguntando-se até que ponto de seus antecedentes familiares poderia revelar.

Quanto mais tempo passava com Luke, mais percebia que ele não era como todos os outros homens com quem ela saiu. Ele era...

Merda. Pela primeira vez em sua vida estava tentada a arriscar tudo por um homem. E já que ele também estaria arriscando tudo, certamente merecia saber no que estava se

metendo, não é? Ela deu meia volta para enfrentá-lo, fez várias tentativas para começar, então finalmente

disse. — Alguma vez ouviu falar que o sétimo filho de um sétimo filho é dotado? Ele arqueou uma sobrancelha. — Creio que escutei algo a esse respeito. — Bem, minha mãe deveria ser o sétimo filho de um sétimo filho, mas quando ela nasceu

menina, todos pensaram que era o fim disto. Mas em vez do fim, o nascimento de Grace Sutter foi de fato o início de um axioma ainda mais estranho. Veja, minha mãe e seus seis irmãos, e sua irmã Mary, todos nasceram no solstício de verão.

Ele se jogou para trás, ambas as sobrancelhas se levantadas com incredulidade. — Todas as oito crianças? Ela assentiu. — Mas é aqui onde tudo fica mais improvável. Mamãe teve sete filhas, e todas nós nascemos

no solstício de inverno. Luke bufou.

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— Agora você está brincando comigo. Cam pegou na sua manga e o olhou diretamente nos olhos, deixando-o ver que ela estava

mortalmente séria. — Os filhos das minhas irmãs foram nascendo em datas fortuitas ao longo dos anos, todos

com exceção de Fiona, que nasceu neste solstício de verão. E Winter é a sétima filha da minha mãe. — É só uma data no calendário, Camry. Milhões de crianças estiveram nascendo em um dos

solstícios. Mas o que tem isso a ver com sua relutância em fazer sexo? — Bem, existe outra tradição em nossa família. — disse ela baixando o olhar e soltando sua

manga. — Parece que todas as minhas seis irmãs ficaram grávidas na primeira vez que fizeram amor com seus maridos. — ela sussurrou.

Ele não disse nada durante vários segundos, então perguntou suavemente. — E todas elas eram virgens quando conheceram seus maridos? — Não. Ou pelo menos algumas delas não eram. — Ela olhou fixamente pra fora no bosque.

— Acredito que Winter era. Heather se casou quando tinha dezoito anos, então ela pode ter sido também. Mas tenho quase certeza que Megan, Sarah, Chelsea e Elizabeth não eram. — Levantou o olhar para Luke. — Mas sua virgindade não é a questão. Todas ficaram grávidas na primeira vez que fizeram amor com o homem com quem finalmente se casaram.

— E é por isso que você não chega até o fim porque tem medo que... o que? Que possa ficar grávida e então tenha que se casar com o pai? Mas controle de natalidade é muito confiável hoje em dia.

— Foi isso que Megan, Sarah e Elizabeth pensaram. Eu sei que Sarah estava tomando pílulas anticoncepcionais e Megan me disse que Jack usou um preservativo. Mas não está vendo? É como se o universo escolhesse seus maridos para elas.

— Elas não tinham que se casar com aqueles homens, Camry. Isso foi escolha delas. — Mas eles se amavam. — Então qual é o problema? Tudo acabou bem. Ela se levantou, cruzando os braços para se abraçar enquanto encarava o bosque. — Mas e se eu quiser amar alguém e não ter bebês com ele? — Girou para olhá-lo de frente.

— Onde está escrito que não posso ter um sem o outro? Ele caminhou para ela e emoldurou seu rosto esfregando os polegares na sua face, e Cam se

deu conta surpresa que estava chorando. Ele pressionou os lábios em sua testa, então a tomou nos braços e a segurou contra o peito. — Isto não está escrito em nenhum lugar, Camry. Se alguma vez decidir se casar, será com o

homem que você escolher, não que o universo decidir. E se tiver um bebê com ele, será escolha de vocês dois.

— Mas eu quero fazer amor com você. — ela sussurrou. Ele jogou a cabeça para trás e a olhou com surpresa. — Você quer? — ele sorriu um tanto embriagadamente. — Você está louca por mim? Ela enterrou o rosto em seu peito novamente. — Não sei o que estou sentindo. — ela rosnou. — Além de confusão. E se fizermos amor e eu

ficar grávida? — Você não vai. Tomaremos precauções. Cam derreteu contra ele com um forte suspiro. — O Pai Daar disse que se um bebê quer nascer, nenhum anticoncepcional o impedirá. — Pai Daar? Ela olhou para ele. — Ele é um velho padre que costumava viver em uma cabana lá em cima em TarStone, mas

agora vive na costa com o irmão do Matt, Kenzie Gregor. Daar esteve ao nosso redor desde sempre, e presidiu o casamento dos meus pais e o das minhas irmãs. E sempre nos disse desde pequenas que se uma criança quer nascer, nascerá, e que só temos que aceitar o que a Providência decidir.

Luke lhe deu seu sorriso torto.

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— Por favor, não leve a mal, mas para uma cientista você tem alguns conceitos realmente estranhos.

Ela se aconchegou de volta contra ele. — Não posso evitar. —Ela disse com outro suspiro. — Nasci em uma família realmente

estranha. — Ela olhou para ele. — Então... ainda sente desejo por mim? Ou consegui te assustar? Ele arqueou uma sobrancelha. — Isso dependeria se seu pai viria atrás de mim com uma arma. Greylen me parece bastante

antiquado. — Ele sorriu. — Esta é a verdadeira razão que suas irmãs casaram com os homens de quem ficaram grávidas?

Cam brincou com o zíper em sua jaqueta. — E se papai viesse atrás de você com uma arma — perguntou, finalmente olhando em seus

olhos —, você me converteria em uma mulher honesta ou saltaria no primeiro avião de volta para a França?

— Hmmm... eu não sei. Cam se contorceu para se libertar, mas Luke a segurou de novo contra ele com uma

gargalhada, e acomodou sua cabeça debaixo do seu queixo. — Me dá um minuto aqui, MacKeage. Por um lado, não estou mais pronto do que você está a

respeito de ter um bebê, mas... — abaixou a cabeça para olhar em seu olho. —, mas quanto mais tempo passamos juntos, mais desejo eu sinto por você. E tenho uma caixa inteira de preservativos que odiaria desperdiçar. Entretanto... — De repente ele a soltou, sacudindo sua cabeça. — Não, estou muito cansado neste instante para saber o que eu faria. Então vamos para o norte encontrar um lugar para acampar, e tirarmos um cochilo. — Deu a volta e se encaminhou para o bosque na direção em que Max foi. — Não se preocupe, será a primeira a saber o que eu decidir. — ele disse por cima do ombro.

Cam ficou boquiaberta enquanto ele se afastava. De todos os... Espere. Ele a esteve provocando? Mas ninguém brincava com ela. Nunca. Não se atreviam porque sabiam que de vez em

quando ficava furiosa. Sempre o fazia. Cam de repente sorriu. Então ele queria tirar um cochilo, não é? Subitamente franziu o cenho. Ele comprou uma caixa inteira de preservativos?

Capítulo 13

Quando terminaram de montar acampamento, na metade do caminho acima no lado norte de Springy Mountain — depois de pararem no monte de construções de Megan e Jack para reabastecer o veículo de neve — Camry estava tão exausta que não se importava se morresse virgem; simplesmente não tinha energia para ainda ficar com Luke.

Os cachorros cooperaram, e imediatamente se acomodaram em sua caminha nova de cachorro dentro da enorme barraca que ela e Luke acabaram de montar. Conseguir que Luke cooperasse, porém, era outra história, já que o homem parecia mais nervoso que um gato em um quarto cheio de cadeiras de balanço.

— Eu disse a você que essas barrinhas energéticas estavam carregadas de açúcar e cafeína. — ela murmurou, tirando suas roupas exteriores.

Ele olhou pra cima para tirar suas botas. — Estaríamos acampando em um banco de neve nesse instante se eu não as comesse. —

disse ele assinalando a barraca em que estavam. — Estou acordado há mais de trinta horas. Despindo suas roupas de baixo térmicas, Cam rastejou nos sacos de dormir que montaram

juntos.

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— Se você tivesse cochilado como eu fiz ontem em vez de escapar sorrateiramente para comprar preservativos, não teria precisado comê-las. Agora não conseguirá dormir.

— Oh, vou dormir muito bem. — ele disse, rastejando ao lado dela. Luke deixou escapar um bocejo — que a fez bocejar por sua vez — e cruzou as mãos sobre seu

estômago. Mas ao invés de cair adormecido, Camry notou que ele começou a girar os polegares enquanto olhava fixamente o teto de barraca.

— Você percebe que assim que seu pai descobrir que um de seus veículos de neve está desaparecido, ele vai saber que foi você que o roubou?

— Eu sei. — O que vai fazer sua mãe acreditar que você estará em casa para o Natal? — Vá dormir Luke. Ele ficou em silêncio durante sessenta segundos. — Só que Grace não parecia estar preocupada a respeito do Natal. — Ele murmurou,

aparentemente falando consigo mesmo, tanto quanto com ela. — Ela me pediu que você estivesse em casa para o Solstício.

Apesar de ter seus olhos fechados, percebeu que os polegares dele pararam de girar e que ele estava olhando para ela.

— Na hora achei que era estranho, mas agora sei que é porque é seu aniversário. — Ele bufou. — Tanto quanto o aniversário de todas as suas irmãs.

— Vá dormir Luke. Um total de noventa segundos se passou antes dela senti-lo rolando em direção a ela. — E já que o seu grande dia é vinte de dezembro, pensei que talvez pudéssemos pegar um

avião depois da sua festa do aniversário e passar o Natal com a minha família na Columbia Britânica. Isso a fez abrir seus olhos. — O que? Apoiando a cabeça em sua mão enquanto a encarava, ele descansou a outra mão em seu

ventre para acariciar seu quadril. — Será divertido. — ele disse com um sorriso ansioso. — Minha mãe e André estão morrendo

de vontade de te conhecer, e Kate está fora de si de curiosidade. Ela me enviou pelo menos dez torpedos por dia na semana passada, perguntando sobre você.

— Você contou à sua família sobre mim? — Claro. E prometi que a levaria para casa para conhecê-los. — Mas, por quê? — Cam sussurrou, horrorizada ante a ideia de conhecer a família dele,

levando-se em consideração que ela não podia nem enfrentar a dela. — O que você disse a sobre mim?

De repente ele se deixou cair de costas, cruzou as mãos sobre seu ventre e ficou olhando fixamente para o teto da barraca novamente.

— Disse a eles que assim que eu tivesse coragem pediria a você para se casar comigo. Camry se levantou como um raio. — Você o quê? — Ela tentou gritar, mas saiu apenas um chiado. Ele não havia realmente acabado de mencionar a palavra que começava com C, não é? Ele também se sentou e tomou suas mãos subitamente trêmulas nas dele. — Eu ia esperar até depois de encontrarmos o Podly e tivesse feito as pazes com seus pais

para pedir. — Duas manchas de vermelho se ressaltaram por entre sua barba escurecida. — De fato, planejei até comprar um anel e oferecê-lo de joelhos, mas... — Ele levou suas mãos até sua boca e as beijou. — Mas quando me falou sobre suas estranhas tradições familiares e ainda admitiu que queria fazer amor comigo de qualquer maneira, comecei a pensar que talvez eu deveria tomar vantagem descarada de sua confusão e propor antes de fazermos amor.

Ele largou suas mãos para fechar sua boca que estava aberta, em seguida imediatamente colocou o dedo em cima de seus lábios para impedi-la de dizer qualquer coisa.

Não que ela pudesse.

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— Sei que isto é bastante repentino pra você, então realmente não quero que me dê uma resposta agora.

— Mas você me deseja. — Cam conseguiu sussurrar por trás de seu dedo. Ele se estendeu e pegou suas mãos novamente. — Oh, definitivamente te desejo. Mas enquanto estávamos escondidos na garagem da oficina,

percebi que o desejo não se compara com a intimidade que compartilhamos na semana passada. — Ele tomou o que parecia ser um fôlego para tomar coragem e levou as mãos dela ao seu peito, acima do seu coração que batia solidamente. — Então, Camry MacKeage, você me daria a honra de considerar passar o resto de sua vida tendo intimidade comigo?

Ela deixou o olhar cair para suas mãos entrelaçadas. — E-eu tenho que pensar sobre isto. Ele soltou o que soou como um suspiro aliviado e se deixou cair de costas no colchão inflável,

puxando-a com ele e a aconchegando ao seu lado. — Obrigado. Mas enquanto pensa, gostaria que considerasse mais uma coisa. — Ele pinçou

seu queixo para cima de forma que ela olhasse para ele. — Casar-se comigo poderia ser sua chance de triunfar sobre o universo.

— Como? — Por se casar antes de fazer amor com seu marido. Desse modo nunca poderá questionar

que é você quem está fazendo a escolha, não a Providência. Cam recostou a cabeça em seu ombro e olhou fixamente seu tórax. — Mas o que acontece se eu me caso com você, então fazemos amor e não fico grávida? —

Ela sussurrou, enrugando sua camisa com o punho. — Isso significaria que você não é o homem com quem eu deveria me casar.

De seu peito escapou um profundo suspiro. — Camry, querida, você tem que parar de permitir que o medo de que algo possa ou não

ocorrer dite sua vida. Seu único fundamento para supor que o que aconteceu com suas irmãs tem alguma relação com o que venha a te acontecer, é sua crença que a tradição é ainda um número tangível. Mas o próprio fato de que suas irmãs amavam os homens com que se casaram, impede qualquer correlação direta com o fato de terem ficado grávidas. Se você fosse desenvolver uma matriz, com tradição sendo X e as ocorrências aparentemente relacionadas sendo Y, creio que veria como elas realmente raramente se cruzam. De fato, eu ficaria surpreso se tal equação pudesse até ser escrita, por que...

Camry abafou um bocejo e se fundiu frouxamente contra ele com profunda e absoluta satisfação. Porque graças a Deus, o próprio fato que ele lhe fizesse um sermão fez o coração de Cam se encher com a compreensão que ele a amava de verdade!

E vendo como seus ouvidos não estavam querendo deixar de ouvi-lo também... isso poderia significar que ela retribuía seu amor?

Capítulo 14

Em algum lugar nos confins do sono, Luke escutou Max e Tigger se agitando — segundos antes de ouvir o zíper da barraca deslizando para se abrir. Ao compreender que não era Camry abrindo o fecho porque estava firmemente aconchegada contra ele, fez a adrenalina de Luke disparar em alarme.

— Vocês estão invadindo território particular. — disse o homem segurando um rifle a centímetros do seu peito, sua voz era um grunhido ameaçador.

Luke cortou um gritinho de surpresa de Camry, empurrando-a para trás de suas costas quando ela também despertou.

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— Nós não estamos procurando problemas. — ele disse ao velho de barba branca e cabelo selvagem. — Só estamos fazendo um pequeno acampamento de inverno.

Camry espiou por baixo do braço do Luke. — Você é quem está invadindo. — ela disse. — Esta montanha pertence a Jack e Megan

Stone. — Vocês parecem com corretores imobiliários para mim. — grunhiu o homem, porém abaixou

o cano do rifle ligeiramente. O que desconcertou Luke ainda mais, por que agora estava apontado para sua virilha. — Nós não somos corretores. — disse, colocando-se de lado para ficar na frente de Camry

novamente. Olhou para Max e Tigger, perguntando-se por que nenhum dos cachorros parecia particularmente preocupado. De fato, pareciam completamente contentes por ter companhia. — Estamos de férias do trabalho, respirando um pouco de ar fresco da montanha antes de irmos para casa passar o Natal com nossas famílias.

— Sou Camry MacKeage. — disse Camry, inclinando-se em volta dele novamente. — Minha família vive em Pine Creek. Somos donos do resort Tarstone Mountain Ski.

O cano da arma abaixou mais vários centímetros enquanto o homem arqueava suas sobrancelhas grossas com surpresa.

— Camry MacKeage, você disse? — Seus olhos se estreitaram novamente fixos em Luke. — Você é Lucian Renoir?

Luke enrijeceu. — Sim. A expressão do seu hóspede não convidado de repente se tornou impaciente. — Está tudo certo, então! — disse saindo da barraca — e levando sua arma com ele. Tigger e

Max saíram atrás dele. — Estou há semanas esperando que vocês apareçam! — Ele continuou do lado de fora. — Eita, vocês dois levaram tempo suficiente para chegar até aqui!

Luke girou para Camry com sua sobrancelha arqueada inquisitivamente. Quando ela só deu de ombros, ambos correram para colocar as botas. Colocaram suas

jaquetas em cima de suas roupas de baixo térmicas e se apressaram para a abertura da barraca, mas Luke puxou Camry para detê-la.

— Deixe-me ir primeiro. — É óbvio que ele é somente um velho ermitão inofensivo. — Que justamente sabe nossos nomes? Passei dois meses nesta montanha e nunca vi nem

rastro dele. Assim, só pra me agradar, deixe-me ir lá fora primeiro? Ela olhou fixamente dentro dos seus olhos pelo que pareceu uma eternidade, então

subitamente sorriu e fez um gesto em direção à abertura da barraca. — Seja meu convidado, Maxine. Luke lhe atirou uma cara feia de advertência, logo assomou pela porta para encontrar o

homem sentado no chão, rindo incontrolavelmente enquanto Tigger atacava seu rosto com a língua. Max estava deitado de costas com as quatro patas no ar, seu rabo batendo na neve enquanto o sujeito esfregava sua barriga. Luke procurou em volta pela arma e a viu apoiada na roda da veículo de neve, ao lado do... próximo ao...

Ele saiu da barraca, arrastando Camry com ele. No momento em que ela se levantou, Luke sorrateiramente se moveu em direção ao gato.

— É o que eu acho que é? — Oh meu Deus. — ela ofegou suavemente. — Isso parece com o Podly. Ou pelo menos sua

carcaça exterior. — Ela relanceou o olhar brevemente para o homem, que parecia ter esquecido completamente deles para ficar brincando com os cachorros. — Ele está usando nosso satélite como trenó?

— Vá verificar. — Luke sussurrou, caminhando em direção ao homem. Parou e estendeu sua mão para ele. — Pode me chamar de Luke, Sr...?

O homem ainda rindo pegou a mão do Luke, mas em vez de sacudi-la, usou-a para se levantar.

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— Eita, parece que estou ficando mais velho em vez de mais jovem. — ele riu, finalmente sacudindo a mão do Luke. — Meu nome é Roger AuClair. Gosta desse trenó, Senhorita MacKeage? Eu estaria disposto a vendê-lo para você. — disse a Camry. — Ou se quiser, posso fazer um igual a esse, só que com pedaços de madeira.

Ele se aproximou dela. — Um de madeira custaria menos que este aqui, porque estas coisas não caem do céu todo

dia, sabe? — ele disse, correndo uma mão artrítica sobre o metal carbonizado. — Ainda tenho que dar um pequeno polimento. Você tem algum doce nessa sua luxuosa máquina de neve? — Ele perguntou, perscrutando pela janela do veículo. Voltou a olhar para Camry. — Estou aberto a barganha. Pau a pau, qualquer coisa que eu construa para você em troca de qualquer coisa que você tenha que seja doce, seja feito em casa ou comprado em loja.

— Creio que temos algumas barras de cereais doce. — Camry ofereceu com óbvio divertimento. Olhou para Luke, então baixou o olhar para o trenó, então de volta a Roger. — Mas em vez de negociar comigo esta bela peça, você não teria outras partes do que quer que tenha caído do céu que poderíamos trocar?

— Algo deste tamanho, talvez? — Luke acrescentou, sustentando suas mãos a alguns centímetros de distância. — Mais ou menos quadrada, e bastante pesada para seu tamanho?

— Pode ser. — disse Roger arranhando a barba enquanto seu olhar se moveu para Luke. — Sabe alguma coisa sobre antena parabólica? Porque esta coisa — ele murmurou, chutando o trenó — bateu na antena da minha televisão no meu telhado em junho passado, um pouco antes de se estatelar nas árvores atrás da minha cabana. Adaptei outra antena com as partes dessa maldita coisa, mas só capta a metade dos canais que costumava. — Seu olhar estreitou. — Eu poderia encontrar algo do tamanho que você quer, se você recuperar todos os meus canais que entravam. Além daquelas barrinhas doces que a senhorita acabou de mencionar.

— Sei alguma coisa sobre antenas parabólicas. — Luke ofereceu. Roger pegou seu rifle, agarrou a alça da corda do seu trenó, e começou a andar pelo caminho

ao lado de onde eles estavam acampados. — Então vamos, gente! Nós só temos duas horas de luz do dia. E hoje é quarta-feira, e

Survivor vai passar hoje à noite. Já perdi quase seis meses de episódios. Luke permaneceu ao lado de Camry, os dois assistindo o homem desaparecer em uma curva,

Max pisando em seus calcanhares. Tigger ficando enrodilhada na neve profunda correu atrás deles e começou a choramingar.

Luke recolheu o cachorro. — AuClair te parece familiar? — Ele perguntou, ainda sem afastar o olhar da estrada. — Seus

olhos verdes, talvez? — Não posso dizer — murmurou Camry — com todo aquele cabelo selvagem cobrindo tudo.

— Levantou os olhos para Luke. — Como ele sabe nossos nomes? E o que quis dizer que esteve esperando que aparecêssemos há semanas?

— Suponho que vamos ter que perguntar a ele. — Luke abriu a porta do veículo de neve e meteu Tigger ali dentro, logo se dirigiu de novo para a barraca. — Vamos nos vestir e arrumar tudo aqui para que possamos alcançá-lo.

Luke rastejou para dentro da barraca, sentou-se no saco de dormir e tirou suas botas para colocar as calças.

— Você sabe alguma coisa sobre antenas de televisão? — Ele perguntou. — Porque fora amarrar o velho ermitão e saquear sua casa — o que, apesar de minhas ações até este momento, é um crime que me recuso considerar — parece que vamos ter que consertar sua antena se quisermos o banco de dados do Podly.

Camry abotoou as calças, então deslizou de volta em suas botas. Estendeu a mão e desligou o catalisador do aquecedor, depois arrumou rapidamente seus sacos de dormir antes de voltar para o lado de fora.

— Quantos cientistas espaciais precisam para consertar uma antena de televisão? — Ela perguntou com uma risadinha.

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— Dois. — disse Luke, arrastando-se atrás dela. Abraçou-a e beijou a ponta do seu nariz. — Um de pé no telhado segurando o papel alumínio, e o outro para dizer que direção virar. — Voltou a beijá-la, então a abraçou com tanta força que ela gritou. — Acabamos de encontrar Podly. — ele sussurrou.

— Não vamos começar a celebrar ainda. — ela advertiu. — Pelo que sabemos, Roger AuClair desmantelou o banco de dados e o está usando como lata de chá.

Luke a arrastou até o veículo de neve. — Nem sequer pense nisso!

*****

Camry sentou-se à mesa bamba da velha cabana em ruínas sorvendo o chá de menta que Roger fez, antes de levar Max e Tigger lá pra fora para supervisionar Luke enquanto ele consertava a antena.

A cabana se dividia em dois aposentos, a parede divisória formada por raquetes de neve; vários esquis quebrados e um número enorme de varas retorcidas — alguns com a casca cuidadosamente removida para expor belos nós da madeira. Um sortimento de pratos e panelas amassadas estava nitidamente empilhado em prateleiras embaixo de um balcão que estava cedendo, sustentando uma pia esmaltada esburacada e uma bomba manual que parecia mais enferrujada do que sólida.

O grande fogão de madeira no centro da parede lateral irradiava o calor de uma sauna, e estava coberto com panelas de ferro fundido que flutuava um vapor que tinha cheiro cítrico e de cravo.

Basicamente, Cam poderia ter pensado que estava bem no meio do século XIX, se não fosse pela televisão gigante de tela plana pendurada na parede oposta. A cada lado dela, subindo do chão até as vigas, tinham prateleiras repletas de livros. Situado há apenas alguns metros diante da televisão, estava uma fina poltrona de couro reclinável que parecia como se pertencesse a uma cobertura de Nova Iorque. E espalhado em cada canto disponível ao redor da cabana, estava o que pareciam ser pedaços do Podly — uns do tamanho de um tablete de chiclete, outros tão grandes quanto uma bola de basquete.

Porém, ela não viu nada que se assemelhasse a um banco de dados. Ao ouvir os passos de Luke no telhado — que rangiam sob seu peso ameaçadoramente —

Cam alcançou o transmissor do Podly no seu casaco e o tirou do bolso. Ela se levantou para olhar pra fora pela janela e viu Roger sentado no chão, lutando com os dois cachorros em êxtase enquanto ele gritava instruções para Luke.

Cam baixou o olhar para o transmissor. — Eu não sei o que você está fazendo, Fiona. — ela sussurrou enquanto começava a caminhar

em torno da cabana, segurando o minúsculo instrumento diante dela. — Mas se isto é pelo babador que te dei que dizia Pedra do Xamã, você é uma menina inteligente o bastante para saber que eu estava só tentando irritar seu papai. Será uma maravilhosa druida igual aos seus pais, provavelmente ainda mais poderosa. E realmente, apreciei de verdade passar um tempo com você nesta última semana — inclusive se você estava somente brincando comigo. Mas por favor, Fiona, não arrume confusão com Luke. Ele é um homem tão bom, e está se esforçando tanto para tentar compensar o fato de ter espionado as comunicações do Podly. Ajude-me a ajudá-lo a encontrar o banco de dados... inteiro. — ela pensava enquanto continuava indo de um lado pro outro pela cabana.

— Ah, e enquanto está nisto, podia me ajudar a averiguar se esta dor no meu peito é porque amo Luke mais do que temo a magia? Porque se é isso o que está fazendo meu coração doer, então temo que também vai ter que me ajudar a encontrar coragem para fazer algo a respeito.

O pequeno transmissor de repente soou, e Cam prendeu o fôlego. — Onde? — sussurrou, movendo o instrumento pra esquerda e depois pra direita. Soou novamente quando ela começou a caminhar em direção à frente da cabana, dando uma

série de apitos que aumentaram em frequência. Conforme o movia pra frente e pra trás como um

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dispositivo de rastrear, ele finalmente a levou até a parede da frente, então começou a vibrar quando ela passou ao lado de um quadro velho e cheio de poeira na altura dos olhos.

Cam levou um momento para perceber que estava olhando uma espécie de certificado. Ela abaixou a manga do seu suéter e esfregou para tirar o pó, e subitamente franziu o cenho.

Roger AuClair era um juiz de paz? Entrecerrou os olhos para ler a data, mas a tinta estava manchada pelo que pareceu ser uma

impressão digital. Alguma coisa de junho, no ano dois mil e... alguma coisa.Ela segurou o transmissor próximo à armação, e este começou a vibrar excitadamente de

novo. O coração de Cam martelava loucamente, e uma agitação de borboletas alçou voo em seu ventre.

— O que está dizendo? — Ela sussurrou. A porta de cabana ao seu lado se abriu de repente surpreendendo Cam, que lançou o

transmissor para o ar com um ofego de surpresa. Deu um salto igual a um surpreso Roger, fazendo com que Luke tropeçasse nele quando o velho ermitão parou de repente. Todos os três viram quando o transmissor caiu no chão, rodou contra a poltrona de couro reclinável e apitou ruidosamente.

Roger se aproximou dele e o levantou ao mesmo tempo em que Max tentou agarrá-lo — Eita, o que você está fazendo aqui com esta coisa infernal? — Ele perguntou segurando o

instrumento em direção a Camry. — Faça com que pare este maldito barulho, Senhorita MacKeage, ou juro que vou descarregar meu rifle nele.

Quando Cam olhava para ele boquiaberta, empurrou o transmissor para Luke. — Pensei que vi esta coisa pela última vez quando a dei para Fiona. Luke se deteve bruscamente. — Você disse Fiona? Ela esteve aqui? — Claro que esteve aqui. — Roger pousou com força o transmissor na mão do Luke. — Quem

você acha que me disse que os esperasse? — Fiona Gregor? — Luke olhou indecisamente para Camry. — Qual a idade dela? Roger levantou as sobrancelhas até que se juntaram. — Sim, Gregor. E nunca sei que idade ela tem quando aparece. — Estendeu seu braço no nível

do olho. — Mas desta vez ela estava na sua adolescência, mais ou menos dessa altura, com o cabelo loiro comprido e grandes olhos azuis. — Ele beijou seus dedos com uma beijoca alta. — E assa as tortas mais doces deste lado do céu.

— Quando Fiona esteve aqui? — Camry perguntou. — Bem, deixe-me ver. — Roger murmurou, alisando sua felpuda barba branca, então

tamborilou seus dedos contra ela como se estivesse contando. — A última vez foi há quase três semanas. — Ele apontou com a cabeça em direção ao transmissor. — Eu troquei suas seis tortas de maçã por esta coisa. Mas o que ela não sabia era que eu teria dado a ela gratuitamente. — Ele de repente franziu o cenho, apontando para eles. — Mas não vá contar a ela quando a vir, você ouviu? Isso a magoaria. — ele disse com um aceno de cabeça. — Ela estava fora de si de tão contente, pensando que estava recebendo a melhor parte do trato, porque eu não contei que isto de repente começava a apitar sem nenhuma razão. Passei boa parte do último verão despedaçando esta cabana procurando por um rato antes de perceber que era essa coisa fazendo aqueles barulhinhos.

Camry se aproximou mais de Luke e deslizou sua mão na dele, respirando fundo pra arrumar coragem quando ele a apertou.

— Vi que você é um juiz de paz, Sr. AuClair, e queria saber se você realiza casamentos? — perguntou apertando a mão do Luke quando ele enrijeceu. — E o que cobra por seus serviços.

— Pois bem. — disse Roger, seus olhos cintilando na luz do sol que entrava pela porta aberta. — Depende do que você poderia ter que eu quisesse. — Ele arqueou uma sobrancelha grossa. — Estaria disposto a negociar por aquele seu cachorro grande, já que perdi meu próprio amigo fiel preto faz quase treze anos. Ele não era tão bonito quanto o seu Max, já que lhe faltava um pedaço de uma orelha e seus olhos eram enevoados, mas ele era todo coração, eu garanto. — Ele assentiu com a cabeça. — Eu casaria vocês dois por Max, mas podem ficar com Tigger. Ela é bastante amigável, mas não parece tão prática, quase não tem patas e precisa vestir aquele suéter justinho.

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— Eu sinto muito, mas Max é... — Você pode nos desculpar, Sr. AuClair? — disse Luke cortando Cam e a arrastando porta

afora. — É só por um instante. Luke a levou a uma distância considerável da cabana, logo deu a volta para encará-la. — Você se importaria de me dizer o que está fazendo? — Ele perguntou, uma borda distinta

em sua voz. — Estou aceitando sua proposta. — Agora? Quer que um velho ermitão louco nos case? — Ele pegou em seus ombros. —

Camry, esta não é a hora nem o lugar. Pedi que se casasse comigo faz apenas algumas horas, e isto não é tempo suficiente para que possa tomar este tipo de decisão.

O coração de Cam começou a bater com tanta força que suas costelas realmente doeram. — V-você mudou de ideia? — Não! — Suas mãos aumentaram o aperto em seus ombros. — Mas se nós não estivermos

legalmente casados você não acreditará que está triunfando sobre o universo. — Mas ele é um juiz real de paz de verdade. Vi seu certificado pendurado na parede. — Aquele certificado provavelmente é tão antigo quanto a cabana. — Não, foi emitido para Roger AuClair pelo estado do Maine no ano dois mil e qualquer coisa.

É real. Inclusive tem o selo do Maine nele. — Mas não temos uma licença. Ou testemunhas. E não sou um cidadão americano. Esta não é

uma decisão que possa tomar em algumas horas e então fazer em dois minutos. — Vocês jovens não precisam se preocupar com a papelada. — disse Roger acenando com

alguns documentos enquanto se encaminhava para eles. — Vão estar legalmente casados. Fiona me trouxe sua licença. — continuou Roger quando Luke deu a volta, surpreso. Entregou os documentos para ele. — Preencheu com todas as suas informações e até assinou como sua testemunha.

— Isto é impossível. — Luke esquadrinhou a página, então passou a ler a página seguinte. — Quem diabos é esta outra testemunha, Thomas Gregor Smythe? — Ele perguntou, dirigindo-se a Cam quando ela ofegou.

— E-ele é um velho ermitão que costumava viver em Pine Creek. E também é neto de... Winter. — ela sussurrou, sua aflição se transformou em temor quando Luke deu um passo atrás.

Ela olhou brevemente para Roger AuClair, então de volta para Luke. Só que em vez de explicar calmamente o que ela finalmente percebeu que estava acontecendo, Cam de repente se lançou em seus braços.

— Passei minha vida inteira fugindo da magia! — Ela exclamou. — E em vez de me odiar por isso, a magia te trouxe pra mim! — Ela olhou pra cima, piscando para conter as lágrimas enquanto apertava sua jaqueta. — Por favor, Luke, preciso que você me ame sem intransigência, sem pretensões, e... e incondicionalmente. — ela terminou em um sussurro desesperado.

Luke a agarrou pelos ombros e segurou afastada dele. — Mas a verdadeira Fiona Gregor só tem cinco meses de idade. E sua mãe é mais jovem que

você. Thomas Smythe não pode ser neto de Winter, já que ele nem sequer nasceu ainda. — ele rosnou. — Nada disso está fazendo o menor sentido, Camry.

— Milagres não têm que fazer sentido — interveio Roger, chamando a atenção de Luke. — esta é a parte incondicional do amor, Renoir. É o que faz com que um velho vira-lata sarnento segure uma criança que o amaria para sempre por quase uma hora, e obriga uma mãe a esperar vinte anos — ele disse, olhando para Cam — deixando o segredo da propulsão iônica da órbita do mundo até que sua filha esteja pronta para tomar posse do seu destino. — Ele acenou com a cabeça em direção aos documentos que Luke segurava esmagados em seu punho. — E estas são oportunidades dadas para aqueles corajosos o bastante para olhar profundamente dentro de si mesmos, e aceitar o que vem — com falhas e tudo — os milagres como eles são.

— Não é da magia que você esteve fugindo, Camry. — ele continuou suavemente. — É da sua extraordinária paixão pela vida. Os poderes da sua irmãzinha sempre pareceram tão esmagadores que assumiu que você mesma não tinha nenhum. Mas a magia funciona para todos, inclusive aqueles que

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não a aceitam, e os que não a entendem. — Ele lhe deu uma piscada, fazendo um gesto para Luke. — Principalmente aqueles que não entendem.

— Q-quem é você de verdade? — Ela sussurrou. Ele alisou a frente do seu casaco esfarrapado com um dar de ombros. — Vamos apenas dizer que sou um velho parente distante, de acordo? — Ele inchou o peito.

— Mas asseguro aos dois que tenho a autoridade — e os meios — para fazer que seu casamento seja legal e vinculante. Isto é, se ambos forem valentes o suficiente para seguir seus corações.

Ele levantou a mão quando ela tentou fazer outra pergunta. — Quanto à sua pequena preocupação sobre ficar grávida, permita-se assegurar que a escolha

sempre foi sua. E agora do Luke também, é óbvio. — ele acrescentou com um aceno de cabeça. — Suas irmãs sabiam que queriam filhos, então a Providência simplesmente concedeu a cada uma delas seu desejo — embora talvez não exatamente quando elas desejaram — ele acrescentou com uma risada.

Ele manteve seus braços abertos para abarcar o entorno. — Para colocar em termos que vocês possam entender, a vida não é nada além de uma matriz

infinita e interconectada. Ela é executada em uma equação bastante simples na maioria das vezes, só parecendo complexa quando entra em conta o livre arbítrio. E o livre arbítrio sempre triunfa sobre a Providência. — disse ele dando outra piscada para Camry. — Assim ambos podem deixar os filhos fora da equação, olhem profundamente dentro de vocês mesmos e reconheçam o milagre que Fiona pediu a cada um de vocês que fosse do outro.

Deixou os braços cair para dar de ombros. — Não se pode cometer um erro se seguir seu coração. Não se tiver a coragem de ir aonde

isso te leva. Não existem decisões erradas, só a consequência de não tomar nenhuma decisão por fugir da vida em vez de caminhar em direção a ela. — terminou dizendo suavemente, seus olhos cálidos e seu sorriso encorajador.

Silêncio absoluto se instalou em torno deles. Roger AuClair imediatamente esfregou as mãos, sua expressão se tornou expectante. — Então, gente, vamos ter um casamento ou não? Porque se eu não puder ter o cachorro,

então isso vai custar esta máquina de neve extravagante em que vocês chegaram, e esta é a minha oferta final. — declarou, subitamente voltando ao papel de velho ermitão.

Franziu i cenho quando Cam e Luke continuaram de pé em silêncio, olhando para ele fixamente.

— Está bem então. — disse levantando as mãos com as palmas viradas para eles. — Vejo que precisam pensar um pouco. Vou deixar vocês para que discutam sobre isso entre si, porque sei que são duas pessoas inteligentes o suficiente não tomar o casamento com leviandade, vi que cada um de vocês tem um punhado de diploma. — Ele deu a volta e se encaminhou para a cabana, Max e Tigger saltando atrás dele. — Só não leve muito tempo, porque se vocês não estiverem engatados antes que Survivor comece, vou separar aqueles sacos de dormir e colocar cada um acampado em cantos opostos da minha cabana. — Ele parou na porta e virou para olhar para eles, seus olhos verdes afiados brilhando com diversão. — Porque até que eu dê minha bênção, o parque de diversão inteiro está fechado.

Capítulo 15

— Quando você falou com ele sobre Maxine? — Luke perguntou em voz baixa quando Roger desapareceu no interior da cabana.

— Eu não falei.

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— Então como ele sabia o que aconteceu com Kate há treze anos? — Ele segurava os documentos em direção a ela. — E esta licença; como Fiona pôde ter dado a ele três semanas atrás, antes sequer que me conhecesse? Cada pedaço de informação aqui está correto, até o nome do meu pai biológico.

Camry não disse nada, olhando fixamente para os documentos em ua mão. Luke ergueu o queixo dela para que olhasse para ele. — Como Roger AuClair pode saber tanto sobre nós? — Ele perguntou, lutando contra o

alarme o carcomendo por dentro. — Até seu comentário sobre o parque de diversões. É quase como se ele estivesse escutando nossas conversas durante a semana passada.

Luke de repente levou a mão ao seu bolso e tirou o transmissor. — Isto — ele rosnou, segurando-o entre eles. — não é um transmissor, é algum tipo de

dispositivo de escuta! — Jogou o braço para trás e o lançou longe, observando enquanto se partia em pedaços contra uma árvore, então pegou a mão de Camry e se dirigiu ao veículo de neve. — Não posso explicar o que está acontecendo e muito menos por que, mas vamos cair fora dessa montanha.

Ele abriu a porta e tentou erguê-la para dentro, mas Camry se soltou e deu vários passos para trás.

— Oh, certo. Os cachorros. — Foi em direção à cabana. — Não, Luke! — Ela gritou, agarrando seu braço e dando a volta diante dele. — Espere. Eu

posso explicar. — disse, seus olhos buscando os dele. — I-isso é magia. — ela sussurrou. — Sei que você não acredita em nada além dos fatos frios e duros. — ela disse correndo, agarrando seus braços para segui-lo quando ele retrocedeu. — Mas a mesma energia que alimenta a você e a mim é exatamente a mesma energia que alimenta o universo. Desde o berço fui ensinada que é a magia que alimenta a vida — silenciosamente, benevolentemente e... sem pretensões em seu desejo de ver cada um de nós alcançarmos nosso pleno potencial. — Ela abaixou o olhar para seu peito. — E passei toda a minha vida adulta fugindo disso. — Levantou a vista, sorrindo com tristeza. — Até que acordei uma manhã para encontrar um bonito, sexy e modesto cientista espacial na minha cama, que não pareceu nem de longe me levar tão a sério quanto eu mesma me levo.

— Eu sempre te levei a sério. — Luke mal conseguiu dizer. Ela o deixou ir e se abraçou, seu sorriso mostrou sua humilhação enquanto sacudia sua cabeça

em negação. — Fui tão arrogante que é de se espantar que minha cabeça passe pelas portas. Culpei todo

mundo dos meus problemas, menos a mim mesma; minha mãe não colaborava comigo, algum idiota na França estava tentando roubar meu trabalho, todas as minhas irmãs eram tão felizes que eu gostaria de chutá-las, e... — Ela estendeu a mão e agarrou seu rosto com as mãos tremendo. — E então você apareceu por arte da magia. E pela primeira vez em muito tempo quero ser extremamente feliz também. Com você.

Ela o abraçou pela cintura e apertou o rosto no seu coração que batia com força. — Durante a semana passada, eu me vi me apaixonando por um homem que enxerga paredes

de tijolos como oportunidades, um colega beligerante como um desafio, e um companheiro de quarto resmungão como parceiro íntimo.

Inclinou sua cabeça para trás para olhá-lo nos olhos, e os joelhos de Luke se converteram em gelatina diante da crua verdade que viu neles enquanto se enchiam de lágrimas.

— Quero estar contigo para sempre Luke, ver a vida da maneira que você a vê. Eu não precisava de algumas horas para considerar sua proposta; só de coragem para admitir pra mim mesma que eu amo tanto você, que meu coração dói quando penso em um futuro que não te inclua. Nunca me senti tão viva, Luke. Normalmente isto me apavoraria, mas você me faz ser corajosa.

Ela cobriu sua boca com os dedos quando ele tentou falar. — Há mais. — ela sussurrou. — E... e é importante que ouça isto de mim. — Ela deu um passo

fora dos seus braços — fazendo os joelhos do Luke quase cederem — e endireitou os ombros com um suspiro trêmulo. — Os olhos de Roger AuClair te parecem familiares porque são o reflexo dos olhos do meu pai, e os meus, e de todos os MacKeage nascidos desde que o mundo é mundo. Somente Winter tem olhos azuis, como a minha mãe. E Fiona. — Ela fez um gesto para a cabana. — Se eu tivesse que

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adivinhar, diria que Roger é um dos meus autênticos antepassados, nascido em uma época em que a magia era respeitada ao invés de ser considerada suspeita, como é hoje. Esse é o porquê dele parecer para você — para nós — com um velho ermitão inofensivo.

Ela deixou seus braços caírem dos lados. — Eu sou do clã MacKeage das Highlands, e me amar significa aceitar a magia que governa

nossa ciência. — Ela limpou uma lágrima que escorria pela sua bochecha, seus lindos olhos verdes estavam presos aos dele, expondo sua vulnerabilidade completamente. — Então se ainda quiser passar o resto da sua vida comigo depois de tudo que viu hoje, e pode aceitar em sua mente que isto é só a ponta do iceberg, então peço a você que deixe Roger nos casar — agora, neste lugar mágico.

As pernas de Luke finalmente cederam e ele caiu de joelhos, estendendo-lhe os braços. Camry se lançou neles com um grito de alívio, e o abraçou tão apertado que ele grunhiu.

— Agora, aqui mesmo. — Ele disse em seu cabelo. Inclinou a cabeça dela para trás. — Mas só porque estou loucamente apaixonado por você. — ele grunhiu, cobrindo sua boca com a dele.

— Okay, então! — Roger AuClair disse enquanto se encaminhava para eles. — Vamos dizer logo estes votos antes que vocês deixem estes pobres cachorros enrubescidos!

Luke se forçou a parar de fazer amor deliciosamente com a boca de Camry e levantou o olhar, só para piscar diante do homem vestido de... vestindo um...

Camry cobriu sua boca aberta com a mão. — Não pergunte Luke, só aceite. — ela disse, apoiando sua testa contra a dele com uma

risadinha. — É uma coisa druida. — Seria a primeira vez na minha vida — disse Roger —, mas se vocês dois quiserem proferir

seus votos de joelhos, não me importo. Luke se pôs de pé puxando Camry com ele e imediatamente a colocou ao seu lado enquanto

enfrentava o que só poderia se descrever como... por Deus! O homem se parecia com um mago de conto de fadas.

Roger AuClair vestia uma túnica negra bordada com ouro que chegava até o chão, um grosso cinturão de couro cravejado com joias suficientes para servir de resgate de um rei, e um chapéu pontudo que parecia um cone, igual ao que Mickey Mouse usava no filme Fantasia da Disney — que Luke deve ter assistido umas cem vezes com Kate.

— Querem a versão curta ou a muito, muito longa que provavelmente se prolongará mais do que meu programa Survivor? — Roger perguntou. De repente deu um largo sorriso para Luke. — Vejo que seus luxuosos doutorados valem o papel em que foram impressos, Renoir. Estou conseguindo assistir todos os meus canais agora.

— Obrigado. — disse Luke. — Gostaríamos da versão curta, por favor. O velho ermitão começou a se apalpar de cima abaixo, até que sua mão de repente

desapareceu dentro de sua túnica, somente para reaparecer com um livro que devia pesar mais de seis quilos, se é que alguém já o pesou alguma vez. Ele começou a folhear as páginas, murmurando para si mesmo.

Luke relanceou o olhar para Camry escondida debaixo de seu braço, e a encontrou sorrindo para ele. Ela deu um tapinha em seu tórax.

— Não se preocupe, o parque de diversões estará aberto a noite toda. — Posso ser velho, moça, mas não sou surdo. — Roger murmurou, ainda folheando a

brochura. — Então vamos lá. — disse levantando sua voz com autoridade, lançando-se numa litania gutural que soava mais como se estivesse sendo cuspida, do que falada.

— Com licença. — Luke interrompeu. — Isto não é latim. Roger lhe atirou um olhar sombrio. — É gaélico. — Baixou o olhar para seu livro com um suspiro profundo. — Agora tenho que

começar de novo.Assim o fez. — Mas como se supõe que vou saber o que estou prometendo? — Luke perguntou. Roger se deteve no meio do caminho com um olhar furioso dirigido a Camry. — Cale a boca dele, moça, ou se encontrará casada com um sapo.

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Camry golpeou o quadril do Luke. — Deixe de interrompê-lo. Luke se inclinou para sussurrar em seu ouvido. — Ele pode realmente me transformar em um sapo? Roger deu um profundo suspiro novamente. — Você tem todo o resto de suas vidas para ela lhe explicar a magia, Renoir. Por favor,

podemos acabar com isso? — Olhou para o céu, então de volta para Luke. — Meu programa começa daqui a vinte minutos.

Luke percebeu de repente que o sol já tinha se posto, e que estava completamente escuro ali fora. Salvo que os três pareciam estar de pé sob uma espécie de luz brilhante que parecia emanar de Roger. Luke passou uma mão trêmula pelo rosto.

A magia que governa nossa ciência, Camry dissera. Enquanto ele pensava que loucura poderia ser o termo mais exato. Roger se lançou em sua litania de novo pelo que soava como uma soma total de oito ou dez

orações, logo imediatamente parou e olhou para Camry com expectativa. — Aceito. — disse ela. Roger virou seu olhar expectante para Luke. Oh, que diabos. — Aceito. — ecoou com firmeza. Roger fechou seu livro com um estalo. — Agora podem trocar seus anéis. — ele disse com um gesto majestoso. Luke sentiu os ombros de Camry afundando. — Nós não temos anéis. — ela disse. — Não planejávamos exatamente nos casar hoje. — Luke disse arrastando as palavras, dando

um apertão de amparo em Camry. — Vamos direto a uma joalheria quando chegarmos a Pine Creek.— Deveriam usar os anéis que Fiona deu a vocês. — disse Roger. — É o presente de

casamento dela para vocês. Ela teve muita dificuldade para achar a pedra adequada para fazê-los. — Fiona nunca nos deu nenhum anel. — Camry disse. As sobrancelhas do Roger se ergueram até a aba do seu chapéu pontudo. — Não deu? Mas ela disse que pretendia presenteá-los em um recipiente que tinha um

significado muito especial para vocês dois. Inclusive me mostrou o papel em que iria embrulhá-los. Era azul escuro, coberto com reluzentes estrelas douradas.

Luke ficou tenso. — O transmissor! — Camry disse com um ofego. Ela se arremessou do abraço de Luke e

correu em direção à árvore onde ele o jogou. — Vamos, AuClair. — disse Luke indo atrás dos cachorros que a seguiram. —Precisamos de

sua luz. Luke imediatamente se ajoelhou ao lado de Camry e começou a procurar na neve. — Não se preocupe, nós os encontraremos. — ele assegurou a ela, recolhendo e descartando

peças minúsculas de escombros de metal. — Aqui! Achei um! — Camry gritou, segurando algo no alto. De repente o lançou longe. —

Não, era apenas um anel de borracha. Luke empurrou Max pra fora do caminho, então pegou algo da boca de Tigger. Segurou-o

contra a luz que emanava de Roger. — Isto pode ser um deles. — Entregou-o para Camry. — Parece ser feito de um tipo de pedra. Ela também o segurou contra a luz do Roger, a seguir olhou para Luke. — É salpicada de preto e branco, exatamente como a pedra que Kate deu a você. Onde está

sua pedra, Luke? — No meu bolso. — disse metendo a mão no bolso de sua calça. Quando não a achou,

procurou no outro bolso. Mesmo quando não a encontrou, ficou de pé e começou a enfiar as mãos em cada bolso que tinha. De repente ficou quieto, olhando-a.

— Eu a perdi.

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— Não, esta é a pedra especial que Kate te deu. — disse, segurando-a no alto para ele. Luke tomou o círculo de pedra lisa dela, que certamente parecia ter sido cortada da pedra

minúscula que Kate deu a ele. — Mas isto é impossível. Lembro claramente que estava no meu bolso esta manhã. Roger bufou, olhando para Camry. — Tem certeza que quer se casar com um homem que não acredita em nada além de fatos

duros e frios? O passo não está completamente dado, moça; não dei minha bênção ainda. Você ainda pode voltar atrás.

Camry se pôs de quatro e começou a procurar na neve novamente. — Não estou arrependida. — ela murmurou. — Luke, ajude-me a encontrar o seu anel. Esse

deve ser meu, porque é muito pequeno para o seu dedo. Por Deus, ele também não estava arrependido! Não se importava se estava enlouquecendo,

desde que o fizesse com Camry. Luke desceu ao lado dela e retomou a busca. — O que não posso entender — disse Roger perscrutando por cima dos seus ombros, sua luz

realmente os ajudava —, em primeiro lugar, é como o atento presente de Fiona acabou aqui, aos pedaços.

Luke se ergueu sobre os joelhos, arqueando uma sobrancelha. — Você não tem uma espécie de bola de cristal que possa examinar para que te diga? Roger lhe atirou uma cara feia ameaçadora. — Pelo que sei as mulheres não gostam tanto assim de beijar sapos. Camry agarrou a manga do Luke e o arrastou de volta para baixo. — Deixe-o em paz e me ajude a encontrar o seu anel. A luz de repente começou a desvanecer, e Luke se deu conta que Roger estava se dirigindo

montanha abaixo. — Onde você está indo? — Ele gritou. — Separar seus sacos de dormir. — o velho ermitão murmurou. — Porque daqui a dez

minutos pretendo estar sentado na minha cadeira assistindo a noite toda a maratona de Survivor. — Achei! — Camry gritou, lutando para se levantar. Ela agarrou a mão do Luke e correu para

Roger. — Certo. — Ela agarrou mão do Luke e correu para Roger. — Okay, já dissemos “sim, aceito”, agora o que?

— Bom, agora deslizem os anéis em seus respectivos dedos, e digam os votos com suas próprias palavras.

— Mas não tivemos tempo de escrever nossos próprios votos. Espere! — Ela deu um gritinho quando Roger deu as costas novamente. Tomou as mãos do Luke e o olhou diretamente nos olhos. — Prometo amar você para sempre, Lucian Pascal Renoir — ela sussurrou deslizando a anel de pedra lisa em seu dedo — sem intransigências, despretensiosamente e incondicionalmente. — Ela lhe deu um sorriso enviesado. — E prometo nunca mentir pra você ou enviar e-mails grosseiros, ou imaginar dez maneiras diferentes de fazê-lo implorar por misericórdia, ou...

Luke cobriu sua boca sorridente. — Vamos pelo menos manter nossos votos no reino da realidade. — Ele ergueu sua mão e

deslizou o anel de pedra lisa no dedo dela. — E prometo a você, Camry MacKeage, te amar e honrar com cada fôlego que tomo, para sempre. E prometo nunca roubar seu trabalho. — ele adicionou com seu próprio sorriso torto. — Ou melhor, te dar um sermão até que suas orelhas caiam. E se decidir continuar no caminho do crime, eu definitivamente terei que devolvê-la.

Roger bufou. — Então tá. Acho que vocês dois se merecem, pois vejo que não vão encontrar ninguém

disposto a aguentar qualquer um de vocês. — Ele levantou as mãos, abarcando a ambos. — Assim, dou minha bênção para esta união e os declaro marido e mulher, que Deus tenha misericórdia de nossas almas. — ele terminou com um murmúrio, indo em direção à cabana.

— Espere. Não chegamos à parte em que beijo minha noiva agora? — Luke perguntou. Roger se voltou e fez uma cara feia para ele.

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— Não até que você volte para sua barraca. — Deu a volta e foi para sua cabana de novo, batendo levemente em sua perna para chamar os cachorros. Abriu a porta para deixá-los entrar, então se virou. — Vou ficar com Max e Tigger esta noite, assim os pobres animais não ficarão traumatizados. — Ele apontou para o veículo de neve. — E vocês vão caminhar até a sua barraca. Essa luxuosa máquina de neve agora é minha.

— Mas você não pode ficar com ela. — disse Camry. — Nós realmente só pegamos emprestada do meu pai. Temos que devolvê-la.

— Ah não, você não vai. Trato é trato, senhorita MacKeage. — De repente fez a Luke um aceno de desculpas. — Perdão, quis dizer Dona Renoir. O que significa que ela é problema seu agora. — Voltou a olhar para Camry. — Seu pai estará tão agradecido por tudo, que tenho certeza que iria querer que eu tivesse a máquina pelo meu papel em tirá-la das mãos dele.

Quando Camry começou a ir em direção ao homem velho, Luke fez com que ela se voltasse e começou a descer a montanha.

— Vamos Dona Renoir. — ele disse com uma risada. — Antes que ele transforme você em um sapo.

Capítulo 16

Com o anoitecer, a lua quase cheia iluminando o caminho e o ranger da neve fria mantendo o ritmo de sua respiração, sua caminhada de mais de um quilômetro e meio até a barraca foi feita em silêncio. Cam assumiu que Luke estava tentando assimilar tudo o que aconteceu. E apesar de que teria adorado explicar a ele sobre Roger, Fiona e a cadeia de eventos aparentemente não relacionados que os levaram a caminhar de mãos dadas esta noite pelo resto de suas vidas juntos, honestamente não sabia como explicar algo que mal compreendia. A única coisa que sabia com certeza era que amava Luke mais do que amou qualquer outra coisa no mundo — inclusive sua adorada Ciência.

Ela de repente parou de caminhar. — O que foi? — Luke perguntou, rodeando-a para segurar seus ombros. — Seus pés estão

congelando? — Ele riu suavemente. — Falando em sentido figurado, quer dizer. Ela olhou para ele com assombro. — Não. Subitamente acabei de perceber que a única coisa mais poderosa que o amor da

minha mãe pelo seu trabalho, é o seu amor por papai. Porque se eu tivesse que escolher entre você e meu trabalho, eu escolheria você.

— Ahh, querida. — disse Luke a abraçando, logo a apertou com força. — Grace nunca teve que escolher nada, porque sabia que poderia ter tudo. — Inclinou-se de novo para sorrir para ela. — Passei apenas alguns dias com seus pais, mas foi tempo suficiente para ver que seu pai não tem que ser cientista para entender a paixão da sua mãe pelo trabalho. Ele parece seu maior fã, apoiando-a cem por cento. Ele não construiu aquele belo laboratório?

— Sim. — Ele não roubou nada de sua mãe, Camry, fortaleceu-a. E aposto que também encorajou

todas as garotas a seguir seus próprios sonhos, não é? — Algumas vezes a ponto de querermos gritar. — E sua mãe não apoiou sempre a paixão do seu pai? O Resort TarStone Mountain Ski não

poderia ter se tornado conhecido mundialmente sozinho.Ela sorriu para ele. — Acho que isso é outra coisa que podemos adicionar à nossa definição de amor: sua

capacidade de se expandir exponencialmente. Isso não é nem um pouco restritivo, é ilimitado.Ele beijou a ponta do seu nariz com uma risada encantada. — E está pronta para adicionar mais uma paixão em sua lista em expansão, Sra. Renoir?

Digamos... algo que envolva ficarmos nus juntos?

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Ela brincou com o zíper em sua jaqueta. — E-eu ouvi que quando uma pessoa sobe na roda gigante pela primeira vez, o passeio pode

ser um pouco assustador. Ele beijou o topo de sua cabeça, então tomou sua mão e a levou para a barraca. — Não, só dá medo a quem tem o coração fraco. Com seus genes de highlander, é mais

provável a pessoa que vai subir com você estar assustada. Cam se deteve exatamente quando estava para abrir a entrada da barraca e olhou pra cima. Luke estava assustado? Bem, droga. Ela estava tão focada em suas próprias preocupações a respeito de finalmente

chegar até o final, que nem sequer pensou no que ele deveria estar sentindo. Merda, que homem queria a responsabilidade de iniciar uma virgem de trinta e dois anos em fazer amor?

Ela abriu o zíper da barraca e se arrastou para dentro, então colocou sua cabeça pra fora para impedi-lo de entrar.

— Pode me dar alguns minutos? — Ela perguntou. — Vou ligar o aquecedor e esquentar a barraca.

— Oh, claro. Desculpe. Claro. — ele disse dando um salto e se afastando rapidamente. Meteu as mãos nos bolsos. — Leve o tempo que precisar.

Luke parou no meio da estrada cheia de bolsas olhando fixamente para o céu noturno, e acariciou o anel de pedra que era do tamanho perfeito de sua mão esquerda enquanto pensava sobre tudo que aconteceu esta tarde.

Ou ele realmente começou muito antes de hoje? Pode ser que o modo como se encontrava nesta montanha, casado com a mulher de seus sonhos ter realmente começado um ano atrás, quando ele deu de cara com a chave em seu computador que o colocou em contato com Podly? Nesse momento, assumiu que a magnitude do que ele acabava de fazer era o que causou aquela faísca que corria por seu braço, abalando-o profundamente. Só que agora não tinha tanta certeza se foi a culpa que fazia seu coração bater descontroladamente, mas sim a nítida sensação que uma mão minúscula invisível tinha empurrado seu dedo pairando sobre aquele botão.

Era verdadeiramente possível que uma diabinha com olhos azuis penetrantes e um sorriso contagioso, pudesse ter estado exercitando sua magia?

Luke examinou a barraca que brilhava na noite escura e fria, a lanterna dentro delineava os movimentos de uma silhueta débil, mas decididamente feminina. Depois de hoje, tinha que acreditar que qualquer coisa era possível, a prova inegável era que ele acabou de se casar com a mulher mais notável, mais ultrajante, mais sexy que ele já conheceu.

O verdadeiro milagre aqui, pelo que lhe dizia respeito, era que Camry o amava. — Você deve estar congelando, Luke. Entre aqui e me deixe te aquecer. — Já vou. — ele gritou de volta. Luke respirou profundamente o ar frio, com esperança de se livrar do nó que começou a se

formar em seu estômago durante o passeio montanha abaixo. Para se concentrar como fez nestes últimos dias e na realidade conseguir usar um dos seus preservativos... bem, tudo mudou na oficina quando percebeu que não estava apenas sentindo desejo por Camry: estava apaixonado por ela.

Mas nem sequer em seus sonhos mais selvagens esperou que sua suíte de lua de mel fosse ser em uma barraca, sua cama de núpcias um saco de dormir, ou seu casamento ser abençoado por um... mago.

E ele com toda certeza não esperava que sua noiva fosse virgem. — Vruum! Vruum! Luke olhou bruscamente para a barraca. — Oh meu Deus, Luke, ouviu isto? A roda gigante está começando sem você! Entre aqui antes

que perca o passeio! Luke colou o queixo no seu peito, o nó em seu estômago se desenrolando em uma risada

estrangulada. O que estava fazendo aqui fora se preocupando que sua forma de fazer amor não estivesse à altura das expectativas de Camry, quando devia estar preocupado em sobreviver a ela?

Ele abriu o zíper de sua jaqueta e correu para a barraca.

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— Mantenha suas mãos longe desses controles, senhora! — Ele gritou, caindo de joelhos na frente da barraca. — É necessário um operador experiente que saiba o que está fazendo para dar início às atividades da roda gigante. — Ele puxou seu suéter e as roupas de baixo térmicas por cima de sua cabeça, então desafivelou seu cinto e empurrou sua calça abaixo. — Se apertar o botão errado, pode ser que eu leve a noite toda para conseguir que funcione corretamente.

— Vruum, vruum. — ela ronronou com uma risadinha. — Oh! Acho que o encontrei, Luke. Rápido, entre aqui e me diga se esse é o botão certo.

Ele teve que se sentar na jaqueta para soltar os cadarços das botas, mas em vez de desfazê-los, acabou com um punhado de nós.

— Pare de brincar com o equipamento! — Ele puxou a bagunça que fez com seus cadarços, o que só serviu para apertá-los. — Isto é o meu trabalho!

Quando seu ronronar se tornou um gemido sensual, Luke tirou seu canivete suíço da bolsa e cortou os cadarços de ambas as botas. Abaixou as calças e a parte de baixo da roupa térmica, a seguir se virou e entrou na barraca.

— Tem alguma ideia de qual é a penalidade por brincar com tão delicado equipam... — Luke fechou sua boca num estalo sem fôlego. — Meu Deus, você é linda. — ele sussurrou.

— Você também não é nada mal. — ela sussurrou de volta, abrindo os braços para ele. Mas em vez de cobrir o corpo dela com o seu, ele se instalou ao lado dela, apoiou a cabeça na

mão e deixou seu olhar viajar sobre seu corpo belo, nu e convidativo. — Exatamente qual botão você apertou para fazer aquele barulho maravilhoso? — Ele

perguntou. — O “vruum, vruum”? — Não, aquele doce gemidinho sexy. — Oh, aquele barulho. — Ela apontou para sua barriga. — Você podia tentar apertar aqui e

ver o que acontece. Luke imergiu o dedo em seu umbigo e ela ofegou fortemente. — Não, não é isso. — ele murmurou, caminhando com seus dedos aos seus seios. Ela imediatamente o deteve. — Suas mãos estão frias. Luke se deixou cair de costas e cruzou as mãos frias atrás da cabeça. — Então acho que o parque de diversões estará fechado até que se esquentem. — Talvez eu possa acelerar o processo. — ela murmurou, rodando e se arrastando pra cima

dele. Percorreu com seus dedos cálidos do seu peito até os ombros, debruçou-se e tocou os lábios dele com os seus. — Eu me pergunto quais os botões que você tem. — ela disse na sua boca. — E que tipo de barulhos posso conseguir que você faça.

Ela sem dúvida obteve um gemido dele quando meneou seus quadris em cima do comprimento de sua seta enquanto sua boca se apoderava da dele. E enquanto ela fazia amor deliciosamente com sua boca, Luke tentou pensar onde pôs sua necessaire.

De repente ele se endireitou de um salto, envolvendo-a com seus braços para impedi-la de cair.

— Porra, os preservativos estão no veículo de neve! Ela se afastou para ver seus olhos. — Nós precisamos mesmo deles... ou não? — Esta é uma decisão que não tomaremos hoje. Ela lhe atirou um sorriso convencido. — Então teremos que usar os preservativos que eu trouxe. Luke caiu pra trás. — Você trouxe preservativos? — Duas mentes brilhantes não pensam igual? Você não é o único sapo com tesão nesta

barraca. Luke estremeceu. — Não vamos nos referir a nós mesmos como sapos, certo?

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— Ohhhh, faça isto outra vez. — disse ela com um gemido, meneando intimamente os quadris contra ele. — Acho que você acabou de encontrar um dos meus botões.

Luke ficou completamente quieto. — Os preservativos. — Debaixo do me travesseiro. — ela murmurou, puxando sua cabeça para a dela, assim podia

atacar sua boca novamente. Luke tateou cegamente debaixo do seu travesseiro enquanto ela se lançava em um frenesi

realmente bom, beijando-o insensatamente e correndo as mãos com frenesi sobre seus ombros, suas unhas provocando calafrios que percorriam todo seu corpo. Mas de repente ficou quieto novamente quando encontrou os preservativos e contou três caixas.

Três pacotes por caixa somavam nove. Puta merda, ela pensava que ele era Superman? Ele pegou uma das caixas, lutou para afastar sua boca, e se sentou. Ela imediatamente pegou

os pacotes de sua mão, rasgou um, abrindo-o, então deslizou por suas pernas abaixo e começou a rolar pra baixo o preservativo nele.

Luke apertou os dentes contra a explosão de sensações — tanto visual quanto tátil — que dispararam por cada célula no seu corpo conforme ela tentava desajeitadamente colocar o envoltório nele. A lanterna projetava seu resplendor em seus seios bonitos, seus movimentos fazendo seus mamilos pontudos roçarem suas coxas. Suas mãos acariciavam seu saco enquanto seus dedos deslizavam lentamente pelo comprimento de sua seta, e Luke sentiu gotas de suor brotar em sua testa. Razão pela qual tão logo ela terminou, ele arrebatou suas mãos pra longe e rolou pra cima dela.

— Minha vez de te deixar louca. —grunhiu, acomodando-se entre suas coxas. Ela imediatamente ergueu seus quadris, as mãos se agarrando aos seus ombros. — Sim, deixe-me louca. — ela pleiteou com urgência. — Quero sentir você dentro de mim,

Luke. Lá no fundo, onde sinto dor. Sua tensão era palpável, seu desejo desesperado. Procurando por qualquer sinal de

desconforto, Luke se acomodou até estar a ponto de penetrá-la, então colocou uma mão entre eles e a acariciou intimamente. Estava surpreendentemente úmida, escorregadia e pronta para ele — só que parecia estar prendendo a respiração.

— Se você desmaiar vai perder a melhor parte. — disse ele com uma risada forçada, sentindo-se um pouco desesperado. Ele beijou a ponta do seu nariz, então fixou seus olhos de novo nela. — Feche os olhos e se imagine abrindo-se para mim. Sinta-me deslizando em você nesta primeira vez, Camry, e saboreie cada pequena sensação ondulante.

Desceu mais seu peso e se introduziu nela, sentindo como se esticava para acomodá-lo enquanto ele roçava seus lábios por cima de suas pálpebras, a seguir espalhou beijinhos pela sua bochecha.

— Levante os quadris. — ele disse na sua orelha. — E me encontre no meio do caminho. Sentiu-a pressionar os calcanhares no saco de dormir ao lado de suas coxas, e Luke deslizou

mais fundo quando se ergueu para ele. — Sinta como você me rodeia, fazendo-me seu. — ele continuou com doçura quando seu

fôlego ficou preso com um ofego. Introduziu-se completamente, capturando seu som de aflição em sua boca, então

imediatamente ficou quieto, erguendo a cabeça para sorrir aos seus olhos maravilhados. — Olá, esposa. Ela lhe devolveu um sorriso hesitante. — O-olá, marido. — Você está bem? Ela pensou um pouco, então assentiu. — Estou bem. E-então é isso? Foi isso que eu estive perdendo todos esses anos? Luke arqueou uma sobrancelha. — O que exatamente estava esperando?

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— Bem — disse ela, com os cantos da boca se levantando —, acho que esperava fogos de artifício ou algo parecido. Ou pelo menos, alguns gemidos e gritos.

Ele arqueou sua outra sobrancelha. — Eu a ouvi gemendo. Duas manchas vermelhas apareceram em suas bochechas. — Eu quis dizer você. — Oh. Bem, Sra. Renoir, tão logo você me dê sinal verde que está tudo bem eu me mover,

verei se não posso assustá-la para arrancar alguns gemidos e gritos. — O que está errado com esta roda gigante? Não está se movendo? — Ela fez um tsc, tsc, tsc.

— E você me disse que era um operador experiente. Humm... por que está tremendo? — perguntou com as mãos flexionadas nos ombros dele.

— Porque é tão quente e apertada e é tão bonita, que isso está tomando cada pingo de força que possuo para não me introduzir em você como um idiota irracional.

Seus olhos se arregalaram, sua boca formando um perfeito O. Sentindo sua restrição deslizando, Luke forçou um sorriso. — Tenho uma ideia: por que não se move primeiro? No segundo que ela se remexeu hesitante — aquilo enviou foguetes de prazer atravessando-o

— Luke percebeu que foi realmente uma má ideia. Deixou sua testa cair sobre a dela com um gemido. — Não, não se mova. — Eu sinto muito. Sou muito quente, apertada e bonita pra você? Ele levantou sua cabeça para olhar fixamente para ela e a viu sorrindo para ele. — Vruum-vruum, marido. — ela sussurrou. O último fio de sua restrição se rompeu com uma gargalhada. Luke se apoiou nos cotovelos

para entrelaçar os dedos pelo seu cabelo, e atacou sua boca enquanto erguia os quadris, apenas o suficiente para empurrar dentro dela novamente. Engolindo seu gemido de prazer, ele repetiu a ação, levantando-se de novo para que pudesse ver as emoções em seu rosto.

Suas mãos se moveram dos ombros até seu tórax, seus dedos o apertando, seus choramingos encorajadores ficaram mais exigentes. A respiração dela ficou entrecortada à medida que ele aumentava o ritmo, e Luke sentiu como o apertava com força ao se levantar para ir de encontro às suas investidas. Meteu a mão entre eles e a acariciou, olhando seus olhos vidrados enquanto ela se arqueava pra cima ao seu toque.

— Goze comigo, Luke! — Exclamou com sua respiração ficando cada vez mais entrecortada enquanto se movia inquieta, esforçando-se para alcançar sua liberação.

Luke se pôs de joelhos, agarrou seus quadris e a elevou com suas punhaladas. Queria sussurrar palavras de encorajamento, mas descobriu que estava além da fala, cada fibra de seu ser estava completamente focada na explosão crescendo dentro dela.

De repente ele ficou quieto, segurando no alto de suas coxas e passou a acariciá-la novamente. Seu clímax explodiu com um grito de total abandono, e ela apertou ao redor dele com ondas pulsantes de calor derretido.

Seu próprio clímax golpeou duro e rápido, arrancando um grito de sua garganta enquanto suas convulsões selvagens o arrastavam no turbilhão, sua mente esvaziando de todos os pensamentos, exceto um: que milagres vinham embalados em um baita soco poderoso.

Capítulo 17

— Vou matar as minhas irmãs. — murmurou Cam assim que pode falar, seu coração acelerado ameaçava quebrar suas costelas.

— Por quê?— Por que se esqueceram de mencionar que sexo é realmente alucinante.

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Luke rodou para cima dela e apoiou a cabeça na mão.— Alucinante heim?Em silencio agradeceu à sua sábia mãe por ensinar todas as suas filhas a tratar com delicada

sutileza o ego masculino, Cam estendeu a mão e acariciou o agitado peito de Luke.— Tenho certeza que é porque tive um experiente operador de controles.Ele grunhiu concordando e logo apoiou as costas.— Desde que você perceba que não teria sido alucinante com nenhum dos seus ex-

namorados. Já que foram tão idiotas para não ser dar conta de que não estavam fazendo sexo, também não saberiam que botões pressionar e muito menos quando.

Cam se encolheu contra ele com um suspiro de total satisfação, seu sorriso divertido se transformou num bocejo.

— Melhor dormir um pouco. — ela murmurou, apoiando o rosto sobre seu agitado coração. — Porque assim que me recupere vou começar a tocar seus botões.

Luke estava relutante em abrir os olhos, preocupado que se Camry percebesse que estava acordado poderia atacá-lo novamente. A insaciável mulher conseguiu de alguma forma manter a roda gigante funcionando a noite toda, às vezes tão rápido que ele se sentia tonto. Também conseguiu diminuir seu saudável estoque de camisinhas e Luke decidiu que compraria uma capa vermelha e uma camisa com um grande S na frente.

— Está acordado? — perguntou de dentro do saco de dormir, onde seu nariz gelado pressionava suas costas.

— Não.— O sol já nasceu?— Deve ter nascido, porque não posso ver meu sopro.A ponta do saco de dormir se dobrou e dois olhos verdes sonolentos piscaram para ele.— Acho que temos que nos vestir e ir resgatar Max e Tigger antes que Roger os aceite e os

ponha a perder.— Isso parece um bom plano. — disse Luke, sem se mover. — Vá você e salve-os enquanto eu

fico aqui para desmontar nosso acampamento.— Oh não! — Abriu o saco de dormir e imediatamente começou a lutar com sua roupa. —

Você vem comigo. — Ele é seu parente distante. Deve passar algum tempo sozinha com ele antes de irmos. —

disse se sentando e procurando sua calça. Finalmente lembrou que tinha tirado a roupa lá fora e tirou o saco de dormir de seus ombros. — Pode pegar minhas roupas? — perguntou, vendo que ela estava quase completamente vestida. — O aquecedor deve ter ficado sem combustível.

— Faz horas. — Jogou a cabeça pela porta da tenda, dando uma boa olhada para seu lindo traseiro e logo reapareceu com suas roupas e botas. — Parece que já tem um tempo que está nevando. — disse, sacudindo a neve de suas calças antes de entregá-las. — E tem que vir comigo até o Roger para ajudar a roubar de volta sua veículo de neve.

— Bom, por que não? — disse bufando e deslizando nas suas roupas frias. — O que pode nos acontecer de ruim roubando um homem que pode nos transformar em sapos? Pelo menos mantemos nossos crimes em família.

— E enquanto estivermos ali, vou distrai-lo para que possa encontrar o banco de dados. — disse entregando a Luke suas botas. — O que aconteceu com seus cadarços?

Ele colocou as botas e amarrou o que tinha sobrado dos cadarços.— Parece que me lembro de alguma coisa sobre você iniciando a lua de mel sem mim.Ela pestanejou, suas bochechas ruborizaram num intenso tom de vermelho. Luke segurou seu

rosto entre as mãos.— Bom dia esposa!— Estamos realmente casados, não é verdade? — murmurou em resposta.— Depois da noite passada, espero que sim.— Alguma duvida?

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— Só que nossa suíte de lua de mel foi uma barraca em vez de um quarto de hotel cinco estrelas no Taiti.

— Oh, não! Adoro que nossa noite de núpcias tenha sido aqui na natureza. — pegou suas mãos para segurá-las entre as dela. — A tenda foi acolhedora e íntima e juro a você que foi como se fôssemos as únicas pessoas da Terra. — Seus olhos brilharam com alegria. — E também tem a recompensa de que ninguém além dos animais te ouviu gritar pedindo clemência.

— Muito bem, isso é tudo. — grunhiu, puxando-a pelas costas para imobilizá-la com seu corpo. — Tem um botão mais secreto que não toquei a noite. — ele disse, levantando a voz acima de um riso. — Por que não queria que desmaiasse sobrecarregada pela paixão, mas agora eu...

Um suporte de fibra de vidro caiu e arrastou a tenda em cima deles.— Droga, disse que não era uma tenda para todos os climas. — Levantou-se de quatro.

Usando seu corpo como um novo suporte para a tenda. — Mas, oh não, você quis a grande para que tivesse lugar para os cachorros. Assim que parar de rir, pode encontrar a saída e se arrastar pra fora?

Ele gemeu quando o cotovelo dela bateu no seu peito, acertando seu quadril quando a cabeça dela bateu na sua virilha e ela caiu para trás dando risadas.

— Vá logo. — grunhiu agitando a tenda para tirar um pouco da neve pesada. — Precisamos descer da montanha antes que a tempestade se intensifique.

Finalmente ela se arrastou para fora e manteve a saída aberta para ele. Luke deu um empurrão final na tenda e mergulhou até a abertura, enquanto o resto da neve deslizava pelo seu pescoço.

— Maravilha. — ele disse, levantando-se e sacudindo a neve do seu pescoço. Virou ao seu redor para perceber que a visibilidade era menor que 500 metros. — Já temos entre quinze a vinte centímetros de neve pesada e úmida, mas se a temperatura cair e o vento aumentar, não poderemos ver além dos nossos próprios narizes.

— Roger não ficará realmente com a veículo de neve, não é verdade? — perguntou, sacudindo mais neve dos ombros.

— Se ele não devolver quando pedirmos, eu ameaço quebrar sua antena parabólica e aí ele não teria nenhum canal.

Camry começou a desfazer o que tinha ficado da tenda.— Gosto da sua mente criminosa.Enquanto enrolava a tenda e tirava o resto do suporte, Luke pegou tudo que estava dentro e

começou a fazer um monte com o resto do equipamento para recolher na volta. Em vinte minutos recolheram todo o equipamento e meia hora depois chegaram à cabana. Ou melhor, chegaram onde teria que estar a cabana.

— Ela se foi! — disse Camry consternada.— É impossível. Devemos ter passado por ela. O vento ficou mais forte, tornando pior a

visibilidade. — Não, é este o lugar. — Apontou à sua direita. — Lembro claramente desse pinheiro com a

marca do incêndio onde Podly se espatifou. A cabana deveria estar aqui!— Um lugar não pode desaparecer completamente numa noite.Ela se virou para ele ofegante.— E levou junto Tigger e Max!Luke passou a mão coberta pela luva no rosto, tentando tirar sua descrença junto com alguns

flocos de neve da sua barba.— Bom, vamos pensar nisso. Deve haver uma explicação lógica para o fato de não

conseguirmos encontrar a cabana, ou Roger, ou os cachorros. — Franziu o cenho enquanto ela ofegava. — Outra explicação que não seja magia.

— Já sei! Uma nave espacial aterrissou e levou Roger, Tigger e Max na volta para Marte para colocá-los no seu zoológico.

Luke suspirou.— Isso é tão possível como tudo que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas.— Ouça, escutou isso? — apontou para a esquerda. — Aí está de novo, é Max latindo. Venha!

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— Camry espera! — Luke a chamou, perseguindo-a enquanto desaparecia na neve ofuscante. — Não sabe com o que topará adiante!

Mas quando chegaram ao abrigo das densas arvores a visibilidade melhorou consideravelmente. Pararam para escutar de novo e começaram a correr na direção do som dos dois cachorros que latiam. Patinaram e pararam quando viram Max e Tigger sentados debaixo de uma enorme e imponente arvore, no trenó feito dos restos de Podly. Max imediatamente saltou e correu para eles, e Tigger, vestida não somente com seu suéter rosa, mas também com o que parecia uma pequena versão de um chapéu de bruxo começou a uivar em protesto.

— Oh, bom garoto. — disse Camry ficando de joelhos para abraçar Max. — Você nos ajudou a encontrá-los sem abandonar sua amiga.

Luke foi caminhando e pegou Tigger e se afastou para evitar que lambesse seu rosto.— Está bem, Tig. — aninhou-o. — Mamãe e papai estão aqui. Não deixaremos a montanha

sem você.— Mamãe e papai? — repetiu Camry rindo e caminhando para eles. Coçou Tigger atrás das

orelhas com afeto e aprumou o chapéu pontiagudo do cachorro antes de olhar para o trenó, que agora parecia ter uma pequena lona como uma tenda na parte superior.

— Bom, pelo menos se assegurou que estivessem cômodos. E julgando pela neve na lona, não estiveram aqui mais do que uma hora. Ei, tem mais alguma coisa no trenó. — ela disse, entrando. Pegou um pequeno pote de café.

— Não acredito que seja grande o suficiente para ser o banco de dados. Luke sentou Tigger no trenó, em cima do que parecia ser um colchão cheio de palha e pegou o

pote dela, somente para quase deixá-lo cair quando o que quer que fosse que estivesse dentro começou a apitar. Camry o tomou de sua mão e abriu o pote.

— É o transmissor. — gritou sacudindo-o. — E está consertado!Quando tentou entregá-lo, Luke meteu as mãos nos bolsos.— Essa coisa infernal está possuída. — grunhiu se afastando. Repentinamente suspirou. —

Oh, Deus, agora falo como Roger.Camry colocou o transmissor no seu bolso e revistou a lata novamente.— Tem um bilhete — disse, tirando um envelope que entregou a ele. — e está dirigido a você.Luke caiu por terra levando Max junto com ele.—Leia você, já tive o bastante de Roger Auclair e toda sua geringonça.Ela se deixou cair junto dele, tirou um colorido cartão de dentro do envelope e o virou para

ver a frente. Luke levantou o envelope.— Mas não é a letra de Fiona. — Voltou a olhar sua mão.— E aí, o que diz?— Querido Lucian. — Leu e se deteve, olhando-o divertida.— O que?Olhou o cartão de novo, pigarreou e continuou.— Já deve ter bastante das minhas geringonças, jovenzinho, mas temo que tenha que me

aguentar um pouco mais, se espera ficar com o milagre sentado ao seu lado. — Ela sorriu. — No caso de estar se perguntando, ele fala de mim.

Como Luke só arqueou sua sobrancelha, ela voltou a ler o cartão.— Tem dois dias para que Camry esteja de volta aos amorosos braços de seus pais. Na

verdade, um dia, nove horas e dezesseis minutos a contar deste momento. Se chegar a Gú Brath um segundo depois do solstício de inverno, seu casamento com a mulher dos seus sonhos nunca terá acontecido.

— O bastardo não pode fazer isso!—Tsc-tsc. — ela disse e entregou o cartão. — Não fui eu. Olha, ele escreveu aqui mesmo. —

Ela pegou o cartão da frente dele de novo. — Tsc, tsc. — repetiu. — É perigoso insultar um druida e ainda que não acredite nele, neste momento não somente sou seu maior aliado, como também sou o único meio para que consiga o que parece ser uma missão impossível para você. Sua ciência sozinha

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não te levará muito longe, Dr. Renoir, antes terá que admitir que exista algo mais além da vida, que números, equações e frios e duros dados.

Parou de ler e virou para ele.— De que missão impossível ele fala? — perguntou com olhos cheios de preocupação.— Está brincando conosco, Camry. Não será a primeira vez que desci a montanha numa

tempestade. Ambos somos fortes e saudáveis e não devemos levar nem um dia para chegar a Pine Creek. — Ele fez um gesto para a árvore ao lado do trenó. — Especialmente com raquetes para a neve.

Ela olhou para onde ele apontava e depois para ele.— Mas deixou só um par.Luke levantou e caminhou para a árvore, dando um tapinha em Tigger pelo caminho. Virou

para Camry e sorriu.— Talvez, a meu ver, o que parece ser minha missão impossível é te levar todo o caminho

para casa no trenó.Ela não devolveu o sorriso.— Não gosto disso, Luke. — murmurou com os olhos obscurecidos pela preocupação. — Por

que diria que tem que me levar, quando sou perfeitamente capaz de ir por mim mesma?— Por que o velho bastardo está brincado conosco. — repetiu, caminhando e sentando-se ao

seu lado. Atraiu-a aos seus braços. — É apenas um velho ermitão entediado, Camry, que gosta de teatro. — Ofegou. — Chegou

tão longe que se vestiu de feiticeiro para causar mais efeito.— Então, onde ele está?— Foi embora com nosso veículo de neve. Quando voltarmos a Pine Creek, provavelmente o

encontraremos estacionado na estrada principal. Roger estará sentado no bar fazendo que as pessoas paguem por suas bebidas, enquanto fala sobre os dois cientistas espaciais que enganou para que acreditassem em magia.

Ela se afastou.— Então não acreditou em nada do que aconteceu ontem? Quando pronunciou seus votos,

só... estava... me agradando? — Olhou o cartão em sua mão. — Portanto, se pensa que isto foi uma piada, então também acredita que não estamos na realidade casados.

Ele pôs os dedos debaixo de seu queixo e levantou seu rosto para que o olhasse.— No que me diz respeito, nós nos tornamos marido e mulher na noite passada. Assim que

voltarmos para a civilização o faremos legalmente.— Mas a magia é real, Luke.Ele beijou a ponta do seu nariz e logo sorriu.— Eu sei que é, por que acabo de passar uma noite especial e muito mágica com uma mulher

mágica.Deu-lhe outro beijo, desta vez na boca e se levantou.— Portanto, Senhora Renoir, é melhor irmos. Quero pelo menos descer o lago antes que a

tempestade fique mais intensa. Podemos esperar no acampamento de sua irmã pela noite e depois reiniciar descansados o caminho pela manhã.

Ela olhou o cartão nas suas mãos.— Mas tem mais.— Não se preocupe em ler. — murmurou Luke sentando-se junto ao trenó e colocando as

raquetes de neve. — Não me interessa mais o que Roger Auclair tem a dizer.

Capítulo 18

Cam sentou-se no trenó esfregando suas bochechas contra Tigger, observando Luke enquanto caminhava para onde a neve se acumulava.

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Insistiu em caminhar, mas quando regressaram à barraca e organizaram as coisas que queriam levar, percebeu que não tinha raquetes de neve e só atrasaria mais o progresso da viagem enquanto a tempestade aumentava.

Engoliu um soluço, seu peito doía tanto que quase podia escutar seu coração partindo em dois. Não só porque Luke não acreditava na magia, mas porque ele achou necessário fingir que acreditava. Ficou ali de pé como um noivo sério no dia de seu casamento e deixou que Roger os casasse, mesmo pensando que tudo era uma charada. Ou talvez farsa fosse uma palavra melhor.

Mas por quê? Se Luke a amava como dizia, e ela o amava da mesma maneira, então por que não podia ser honesto com ela?

Cam enterrou a cabeça nos pelos de Tigger, desejando ter sua mãe ali. Necessitava que sua mãe explicasse a ela porque tinha se apaixonado por alguém tão cabeça dura, protetor..., sabe-tudo. Não se importava que Lucas Pascal Renoir fosse bonito, sexy e inteligente e ainda fosse forte, valente e leal, se não pudesse permitir que a magia entrasse na sua mente, então não poderia amá-la sem concessões, sem pretensões e incondicionalmente.

O trenó de repente se deteve e Luke voltou a abrir a entrada da barraca. Quando ela não virou para olhar para ele, deslizou seu dedo debaixo do seu queixo e levantou seu rosto. Ela prendeu a respiração.

— Está chorando? — perguntou passando o polegar nas suas bochechas. — Droga, deveria ter me falado que estava sentindo frio! — Agachou-se e começou a desatar os cordões de suas botas. — São seus pés? Se doem é um bom sinal de não se congelaram ainda. Encontrarei um lugar para nos refugiarmos para fazer uma fogueira.

Ela cobriu suas mãos para detê-lo.— Não estou com frio.— Então por que está chorando? — viu como ela ficava rígida. — Camry, você tem que voltar

à realidade. O que penso sobre magia não importa, contanto que acredite que te amo. — Eu te disse ontem que me amar significava aceitar o que sou.— Eu aceito, você é Camry Mackeage, não, droga, Camry Renoir, a física que tem me deixado

louco por mais de um ano. — Ele aninhou seu rosto entre as palmas de suas mãos, seus polegares acariciando suavemente sua face. — A mulher por quem me apaixonei nos poucos dias em que a conheci pessoalmente. — Seus toques se intensificaram. — Como posso te fazer entender que nada importa tanto quanto o amor que sentimos?

Ela cobriu sua mão com a dela.— Acreditando, Luke. — murmurou. — Acreditando sinceramente que milagres não são algo

que acontece somente nos livros e nos filmes, que há mais do que a ciência pode explicar. Ele se afastou visivelmente, sentando-se nos seus calcanhares. — Então está dizendo que só pode amar um homem que pensa como você? E que não posso

na te amar realmente porque não posso entender como sua sobrinha de cinco meses de idade pode ter na verdade dezesseis? Como um velho ermitão pode ser na verdade seu ancestral, assim como um druida? — titubeou — É isso que está dizendo, Camry?

Sem poder encará-lo, olhou para Tigger.— Não sei o que estou falando. — murmurou e de repente se voltou para ele. — Acreditaria

na minha mãe? Se a Dra. Grace Sutter te explicasse a magia, você acreditaria?Ele se levantou e colocou-se diante do trenó.— Discutiremos isso depois. — disse e o vento levou suas palavras. Colocou a corda por cima

dos ombros e olhou para trás. —Certifique-se de me dizer se sente frio.Assentiu sem poder falar pelo nó na sua garganta. Luke chamou Max ao seu lado e avançou, o

trenó deu um salto para frente. Cam enterrou o rosto no pescoço de Tigger, a imagem da expressão ferida de Luke queimava seus olhos como areia quente.

Já tinha escurecido quando chegaram ao acampamento de Megan e Jack Stone e Luke estava mais do que um pouco surpreso por tê-lo encontrado, considerando que tiveram que lutar contra a escuridão e a tempestade. Mas com suas ultimas forças desvanecendo para arrastar Camry, Tigger e eventualmente Max, assim como seu pouco equipamento e acabou cedendo à súplica de Camry,

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deixando-a colocar as raquetes de neve e rebocá-lo nos últimos quilômetros. Aceitou finalmente quando percebeu que era uma descida e que ambos estariam melhor se ele guardasse sua força para a excursão de amanhã.

Com eficiência, esforço e uns poucos troncos de madeira que encontraram ao redor do acampamento, utilizaram o quebra- vento da barraca para construir um improvisado refúgio, e depois engatinharam para dentro do saco de dormir junto com os cachorros, para compartilhar seu calor corporal. Luke fez um sanduíche com Camry, colocou-a entre ele, Max e Tigger, e logo dormiram quase antes sequer de fecharem os olhos. Mas quando acordou de manhã estava só. Levantou-se gritando o nome de Camry enquanto se dirigia até a entrada.

— Estou aqui. — respondeu da margem com os braços abertos. — Olhe, Luke. Não é lindo?Ele passou a mão pelo rosto sacudindo o último vestígio de terror e suspirou enquanto se

levantava. Piscou por causa do forte brilho do sol que chegava ao extremo do lago congelado enquanto olhava ao redor, surpreso pelo modo que o vento estava absolutamente calmo. Era o país das maravilhas do inverno até onde podia ver, tudo coberto por uma brilhante e pura neve.

— Sim, é lindo. — disse, ainda que seu pensamento estivesse na dificuldade que aquela beleza traria à sua caminhada de hoje. Mas pela restrição do tempo de Roger, ficar ali não era uma opção. Luke colocou as botas e caminhou até ela.

— Quanto gelo você acha que tem no lago? — perguntou, observando a extensão coberta pela neve.

— Entre 15 a 30 centímetros, mas em algumas partes pode haver menos de três centímetros. — Sacudiu a cabeça. — E com a neve cobrindo tudo não tem como saber onde é ou não seguro.

Luke agachou-se e pegou um pouco de neve e a esfregou no rosto, tremendo até que as últimas teias de sono desapareceram.

— Então acho que seguiremos pelo caminho. Quanto tempo faz que está acordada?— Meia hora. Acendi uma pequena fogueira e derreti um pouco de neve para fazer uma sopa.

— Fez um sinal para o acampamento que ardia a uns metros de distância. — Max, Tigger e eu já comemos. O resto é pra você.

— Por que não me acordou? — perguntou, aproximando-se e levantando a panela de carvão.— Imaginei que se levantaria sozinho assim que descansasse o necessário. — Sentou junto

dele, levantou um pau e reuniu as brasas. — Pensei sobre o que disse ontem. — continuou suavemente sem olhá-lo. — E concordo que devemos esquecer o ultimato de Roger de que devemos chegar a Gú Brath antes do solstício. — Olhou para ele brevemente e voltou seu olhar para o fogo. — As únicas pessoas que têm que dizer algo a respeito de nosso casamento somos nós. Chegaremos à minha casa quando tivermos que chegar, e estaremos casados legalmente quando quisermos e com quem quisermos.

Ela o segurou pela manga e olhou-o diretamente com seus agudos olhos verdes com uma expressão desafiadora.

— Somos uma equipe e juntos podemos conquistar o mundo se quisermos e ganhar a Providência sem sequer começar a suar. — Aproximou-se e levantou suas mãos, tocando seu anel. — Aparentemente sou eu quem se esqueceu de que a parte incondicional do amor funciona para ambos os lados. — Murmurou, sorrindo torto enquanto levantava seus olhos novamente para ele. — Eu te amo Luke, por ser exatamente quem é.

Lentamente abaixou a panela na neve para não derramar e lentamente pegou suas mãos e apertou contra ele suspirando.

— Obrigado. — murmurou em seu cabelo. — Por me amar tanto.Ela se derreteu contra ele, seu próprio suspiro mal era audível sobre o som de inspirar. — O que? — Luke baixou o olhar para ver o nariz de Tigger na panela de sopa. — Ei, isso é

meu! — uivou, agarrando a cadela basset e a empurrando para Camry. — Sua cachorra estava comendo minha sopa!

— Minha cachorra? Você que se dizia pai ontem.— Acho que deveríamos amarrá-los no trenó e fazer que nos arrastem hoje.

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— Vamos crianças. — ela disse com um risinho enquanto se colocava de pé. — Vamos empacotar enquanto papai toma o café da manhã. Temos um longo dia adiante. Só pensem nas fabulosas histórias que contarão a Suki e Ruffles quando chegarmos. — Chamou-os enquanto agachava para entrar no refúgio.

Luke franziu o cenho para a sopa e utilizou seus dedos para tirar o pelo da borda, antes de beber diretamente da panela. Merda! Se ele representaria o papel de cachorro do trenó hoje, o que era um pouquinho de pelo na sua sopa?

Capítulo 19

Apesar do sol ineficaz sobre o céu do sul, Luke era um poço de suor em menos de duas horas de viagem. Respirando pesadamente pela forma íngreme que se deslizava a montanha, virando bruscamente a esquerda se deteve no meio do caminho, tirou a corda e flexionou os ombros. Tirou o GPS do bolso, apertou alguns botões e percebeu que estavam apenas a alguns quilômetros do desvio para Pine Creek, ainda que só restassem outros trinta e sete quilômetros depois disso.

— Está bem, todo mundo caminhando por um tempo. — disse, colocando o GPS no bolso e calçando novamente as luvas. — Exceto Tigger, claro.

Camry acabava de colocar Tigger na frente de suas pernas para ficar de pé quando ouviu um ruído surdo pelo ar.

— O que é isso? — perguntou olhando ao redor.Luke levantou o olhar e a adrenalina o percorreu quando viu a cobertura de neve que

deslizava pela crista de cima se dirigindo diretamente a eles.— Avalanche! — gritou agarrando a corda imediatamente. — Fiquem no trenó! Não poderão

correr na neve profunda.— Max, vem! — gritou, caindo para trás quando Lucas sacudiu o trenó e saiu correndo.O ruído ficou mais forte, fazendo eco no escarpado barranco de granito, a neve empurrava

uma onda gelada de ar adiante que provocava calafrios percorrendo a coluna de Lucas. Desviou para o grupo de árvores que cresciam na borda, mas suas raquetes de neve ficaram presas no emaranhado de desníveis entre as rochas e caiu de joelhos. Deu um último empurrão forte na corda para jogar o trenó para ele, o grito de Camry foi sufocado por um muro de neve chocando-se contra eles.

A corda escapou de suas mãos e se enroscou nas suas raquetes enquanto Lucas caía sem poder fazer nada num mar de ondas brancas, lutando o tempo todo para não perder contato com o trenó. O barulho era ensurdecedor, a neve pesava incrivelmente enquanto os maltratava interminavelmente. O cadarço de uma de suas botas arrebentou, a raquete amarrada nele lançou sua bota, tirando-a de seu pé.

Sua mão tocou o que parecia um metal, mas nesse momento a corda deu um puxão antes de liberar a raquete de sua outra bota, deixando-o em liberdade para continuar sua turbulenta queda livre pelo solo. Tão repentinamente como havia começado, terminou.

Lucas bateu contra um objeto inanimado, o ar saindo de seus pulmões num assovio. Um estranho silêncio se estabeleceu em torno dele, seu corpo afundado em algo que parecia concreto, cada maldita célula em seu corpo gritava de agonia. A neve comprimiu tudo ao seu redor apertando seus pulmões, tornando quase impossível respirar, e quando ele abriu os olhos, literalmente não podia ver nada além de seu nariz.

— Camry! — Incapaz até de escutar seu próprio grito, Luke se moveu freneticamente pra frente e pra trás para se libertar. Seus dedos roçavam o que parecia uma casca e enquanto aumentava lentamente a cavidade ao redor de si, seu joelho encostou na árvore que deteve sua queda

Lentamente, cuidadosamente, foi capaz de trabalhar com seus braços ao lado de sua cabeça e escavou a neve, afastando-a de suas orelhas. Ficou quieto, atento a qualquer ruído que pudesse dizer que Camry estava bem, ou pelo menos que Max chegou a salvo. Mas quando escutou somente o

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sangue golpeando em suas veias, Lucas se concentrou em averiguar onde estava acima. Sua conjectura baseada no fato de que quanto mais se movia, mais deslizava para sua esquerda o fez começar a cavar acima de seu ombro direito. Seu punho golpeou de repente o ar! Apertou os dentes contra os protestos de seus músculos maltratados e tratou de começar a tirar seu corpo enquanto empurrava a neve de cima dele. De repente ouviu um latido.

— Max! — gritou através da pequena abertura que estava criando. — Esse é meu garoto! Vamos, Max! — A abertura então se fechou quando um nariz se enterrou nela e uma língua morna saiu disparada e tocou seus punhos.

— Bom garoto, Max! — disse Luke com um sorriso. — Venha me pegar, garoto. Escave!Com Max cavando de cima para baixo e Luke arranhando no outro sentido, finalmente foi

capaz de liberar seu peito.— Bom garoto! — Riu quando Max se lançou contra seu peito e começou a lamber seu rosto.

Empurrou o cachorro, mostrando sua lateral. — Continue cavando. Tenho que me libertar para que possamos encontrar Camry.

Com a ajuda de Max, Luke foi finalmente capaz de se alavancar e arrastar para cima da neve. Imediatamente ficou de joelhos e olhou ao redor.

— Está bem Max. Use seu nariz maravilhoso e encontre Camry. Vamos! — disse ficando de pé, e de novo ignorando seus músculos queixosos e o fato que tinha apenas uma bota. Deu uma palmada com entusiasmo. — Encontre Camry, Max!

O labrador imediatamente saltou do buraco que Lucas acabava de sair e começou a choramingar e fuçar.

— Ela não está aí. Venha, vamos brincar de gato e rato. Encontre Camry! — repetiu, batendo a perna para apressar o cachorro. — E Tigger! Vamos procurar Tigger!

Luke deu vários passos para o compacto emaranhado de neve, sua esperança aumentou quando notou que foi um deslizamento relativamente pequeno, só cerca de uma centena de metros de extensão e 180 metros de profundidade. Olhou ao redor para ver se via algo escuro, como um gorro, uma luva ou... nada. Levou as mãos à boca.

— Camry!Ele ficou quieto escutando.— Porra, Camry responde!Mas a única coisa que ouvia era o aterrador silêncio.— Está bem, Auclair. — grunhiu, tropeçando no centro da pequena avalanche. — Se é meu

melhor aliado, então me ajude a encontrar um milagre! Luke estava tremendo tanto que teve que parar, firmar suas pernas e descansar as mãos nos

joelhos, numa tentativa de acalmar seu acelerado coração.— Ajude-me! — sussurrou, fechando os olhos diante de suas ardentes lágrimas. — Mostre-me

onde olhar.De repente prendeu seu fôlego, sem mover um músculo quando ouviu um fraco chiado. Ainda

sem respirar inclinou a cabeça de um lado para o outro. Ali logo à sua esquerda, o apito inconfundível do seu transmissor Podly. A última vez que se lembrava de tê-lo visto, Camry o colocara no bolso de sua jaqueta para ler a nota que Roger deixara. Ainda estaria no seu bolso?

— Max! Vem! — gritou dando vários passos à esquerda e caindo de joelhos. Agarrou o agitado cachorro e o manteve imóvel. — Escute!

E ali estava novamente, um som ligeiramente mais forte. — Ouviu isso, garoto? Vá atrás do brinquedo. Vamos, desenterre o brinquedo! — Exortou,

colocando as mãos na neve. — Escave Max!Cavaram um buraco de pelo menos três metros de profundidade quando Max de repente

levantou a cabeça com o pequeno chapéu de mago na sua boca.— Sim, encontrou Tigger! — exclamou Luke, cavando freneticamente. Se Tigger estava ali,

havia uma grande probabilidade que Camry estivesse com ela.Sua mão acertou repentinamente o metal.— Camry. — gritou — Responda-me!

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— Luke. — foi um som sufocado, fazendo que se direcionasse.— Camry.— Lu... Cavou com mais força, trabalhando pelos dois lados do trenó de metal, até que sentiu a lona.

Tirou a luva para colocar os dedos debaixo da lona e tocou na jaqueta.— Já te alcancei! — gritou. Teve que empurrar Max para fora do caminho quando o cachorro

tentou colocar o nariz na abertura. — Continue cavando nessa parte. Max. — disse, dando tapas na neve na parte da frente do trenó.

Enquanto Max escavava, Lucas cuidadosamente tirava mais neve da lona até que foi capaz de tirar o suficiente para ver o interior. Mas a única coisa que pôde ver foi o vermelho da jaqueta de Camry. Saiu do buraco e se ajoelhou no lado oposto, agarrou a borda da lona e puxou com todas as suas forças.

Pouco a pouco se soltou, deixando descoberto o corpo dobrado de Camry incrustado no trenó, teve medo de que não pudesse respirar.

— Max não! — Luke agarrou Max pelo pescoço quando o cachorro começou a cheirar o cabelo de Camry, arrastou o labrador para fora do buraco e o afastou.

Lucas então montou sobre o buraco apoiando cada pé de um lado do trenó.— Camry, querida. — sussurrou, tirando a luva de novo e enroscando cuidadosamente seus

dedos trêmulos nos cabelos dela. Seguiu pela sua mandíbula para localizar seu pescoço e logo colocou o dedo contra seu pulso fraco. — Com cuidado. — disse quando ela se moveu com um gemido. — Não se mova. Não sabemos se quebrou algo.

— Tigger. — Ela disse fraca, com a voz afogada, por que seu rosto estava entre os joelhos, olhando para baixo.

— Ao inferno com Tigger. — grunhiu — Preciso saber onde está ferida. Pode sentir seu corpo, Camry? Suas pernas? Seus braços?

— P-pegue Tig... — Sussurrou. — N-não posso respirar.Luke passou seus dedos cuidadosamente ao longo do seu corpo, entre o braço e o peito e

finalmente percebeu que ela estava abraçando a basset com tanta força que não havia espaço para seus pulmões se expandirem. Procurou mais profundamente até que sentiu o suéter de Tigger, agarrou a lã e a puxou lentamente. Camry gemeu outra vez quando o suave corpo da cadela subiu lentamente. Logo que foi capaz de colocar ambas as mãos ao redor de Tigger, Luke aplicou mais pressão enquanto cuidadosamente movia a cachorra de um lado para o outro, liberando finalmente a cadela-salsicha, colocou-a sobre a neve em cima do buraco.

Imediatamente olhou para Camry e a viu se mexer novamente, seu peito expandido soltou um trêmulo suspiro.

—Está tudo bem querida, é sua vez. — Apertou o ombro por cima da sua jaqueta envolvendo, ao mesmo tempo, sua mão ao redor de seu pescoço para manter a cabeça segura, e se aproximou. — Se você sentir qualquer dor aguda me avisa, ok? Agora vou te tirar. Não tente ajudar, apenas relaxe e deixe que eu faça todo o trabalho.

Tentou puxar só o suficiente para comprovar como estava presa, depois ficou imóvel, observando se havia sinais de dor. Puxou um pouco mais forte, sentiu que se movia com liberdade e puxou um pouco mais que antes, e se deteve de novo. Deslizou seu braço debaixo da cabeça como apoio e colocou a mão novamente na sua jaqueta. Usando seu próprio corpo como escudo, endireitou-se lentamente enquanto ela se liberava do trenó, até que esteve encostado na parede da cova com ela diante dele.

— Pode sentir as pernas e os braços? — Sussurrou ao seu ouvido, que agora estava do lado de sua cabeça.

— A perna direita d-dói.Luke estava tão aliviado que beijou seu cabelo.— Isso é bom. Deixaria-me realmente assustado se me dissesse que não podia sentir nada.

Está bem. — Ele disse respirando devagar para acalmar seu tremor. — Vou endireitar os joelhos de modo que fique de pé e depois te levantarei nos meus braços. Existe a possibilidade de que tenha

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quebrado a perna direita, mas tenho que te levantar e te pôr na neve. — Beijou seu cabelo outra vez. — Pronta?

Ela fez um pequeno som e assentiu ligeiramente com a cabeça que seguia apoiada. Agachou-se e pegou suas pernas, apertando os dentes contra seu grito de dor e a levantou sobre seu peito.

— Tranquila, agora. O pior já passou. — disse com voz baixa, roçando os lábios em suas frias bochechas molhadas de lágrimas. Com cuidado para não cair no trenó, pouco a pouco deu uma volta, levantou-a e a colocou suavemente ao lado da cova. Deslizou os braços debaixo dela se assegurando de que seu corpo estivesse completamente apoiado na neve.

— Tigger. — ela sussurrou, inspirando o ar em respirações profundas.— Primeiro você. — disse entredentes, tendo que empurrar Max quando o cachorro

choramingando começou a lamber o rosto dela.— Não está respirando. — disse Camry debilmente dando um empurrão em Luke. — Por

favor... ajude a Tig.Olhou por cima do ombro o corpo inerte da cadela. Porra!— Acredito que... sinto muito, creio que está morta. — ele disse voltando a abrir

cuidadosamente a calça de esqui de Camry.— P-por favor, Luke. — soluçou.Ele se virou sussurrando um palavrão, cruzou a cova e se inclinou para colocar seu ouvido

contra a lateral de Tigger. Pareceu escutar um fraco batimento cardíaco e colocou o rosto no seu focinho, tentando encontrar sinais de respiração.

— Ajude-a. — sussurrou Camry.Luke deslizou dois dedos debaixo do suéter de Tigger acima de suas costelas e depois usou

sua outra mão para levantar o nariz da cadela para poder fechar a boca sobre ele. Soprou suavemente, sentindo a subida do peito da cachorra e soprou mais outras vezes. Tigger se agitou logo, dando um leve gemido e Luke pegou a cadela.

— Vamos, garota. — sussurrou para mostrá-la a Camry. — Assim, garota. Continue respirando. — Colocou Tigger na neve no côncavo do seu braço e logo tomou sua mão para que ela deixasse de apertar a cadela em seu peito. — Não tente agarrá-la. Simplesmente deixe que se mantenha ao seu lado. Ela está respirando. É só tratar de deixá-la abrigada junto a você.

Afastou o cabelo de Camry e inclinou-se mais perto.—Dói alguma coisa mais, além de sua perna direita? As costelas? As costas? — Perguntou

desabotoando a jaqueta. Deteve-se e soprou as mãos para esquentar seus dedos congelados e lentamente levantou sua blusa de gola alta, tirando-a da calça para poder explorar seu abdômen. — Concentre-se em você, Camry. — grunhiu quando levantou o olhar e a encontrou se esforçando para ver Tigger. Tocou seu queixo para fazer com que o olhasse e depois forçou um sorriso para suavizar a brusquidão. — Estou preocupado com uma hemorragia interna. Lembra-se de algo te apertando conforme caía? Ou sua cabeça batendo em algo? — perguntou estudando suas pupilas, as quais, graças a Deus, pareciam iguais.

—E-eu estou bem, mas meu pé está latejando.Forçou um sorriso maior, passando suas trêmulas mãos pela frente de novo.— Escolheu uma maneira horrível de pular sua vez de puxar o trenó. O olhar dela percorreu seu rosto e tocou em suas bochechas.—Está sangrando.Também tocou sua bochecha e sorriu de novo.— Eu te conheço o que... duas semanas? E já me acertaram duas vezes. Deveria levar consigo

uma etiqueta de advertência.— Sinto muito.Beijou seus lábios trêmulos.— Eu não. — sussurrou. Endireitou-se e voltou a se levantar. — Está bem. É hora de avaliar os

danos.Max logo chegou correndo arrastando uma das raquetes de neve.

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— Bom garoto, Max! — Disse Luke, pegando rapidamente quando o cachorro quase jogou a raquete de um metro de largura em cima de Camry. — Encontre minha bota! Vamos. — disse. — Encontre mais coisas, Max.

Tigger gemeu e começou a se retorcer. Lucas pegou a basset quando começou a cair no buraco que ele estava de pé.

— Parece que está se recuperando bem. — disse colocando a cadela de pé e mantendo-a quieta. Soltou-a assim que a viu abanar o rabo e olhou para Camry. — Se disser para alguém que fiz respiração boca a boca num cachorro, vou publicar na Web a foto que tirei com meu celular onde estava com trajes de garçonete de taberna.

Antes que pudesse responder, moveu-se de novo para abrir o zíper da perna direita da calça de esqui.

— Não vejo nenhum osso sobressalente. — disse com falsa alegria, por que viu que seu pé estava torcido num ângulo antinatural.

Pegou seu canivete suíço, abriu uma lâmina e levantou as sobrancelhas.— Sempre fantasiei brincar de médico com uma linda mulher. — Voltou a olhar para sua

perna. — Tenho que cortar a calça de esqui e a calça comprida do joelho pra baixo para ver o que aconteceu. — Ergueu as sobrancelhas de novo. — Assumindo que eu pudesse ver algo, já que não depila as pernas a mais de... dias?

— Só faça logo. — ela grunhiu, ficando rígida. — E me diga se está quebrado ou só deslocado.Oh, sabia que estava quebrado, só não sabia o quanto a fratura era ruim. Tirou as calças e a

calça comprida afastando-as de sua perna e cortando-as com a faca, expondo sua pele inchada avermelhada por baixo da meia de lã.

— Sim, está quebrada. — murmurou, cortando cuidadosamente a meia da bota. Ele ficou quieto enquanto ela soltava um suspiro e olhou-a. — Não posso dizer se é a perna ou o tornozelo. Tenho que tirar a bota, Camry. Vou fazer o mais suave possível.

— Deixe-a aí.— Não. O pé está inchado e isso só vai deixar pior.Ela fechou os olhos.— Então faça.Luke cuidadosamente cortou os cadarços e largou a faca para abrir a bota, fazendo uma

careta quando ela suspirou novamente.—Tranquila. — cantarolou, levantando de novo a lingueta da bota. Deslizou uma mão debaixo

de seu tornozelo e puxando o calcanhar da bota, tirou-a lentamente.— Não, pare!Ele ficou quieto, vendo como ela inspirava com força várias vezes antes de apertar os dentes.— Está bem. Faça.Prendeu a respiração enquanto começava a tirar novamente, trabalhando o mais rápido que

podia para não prolongar sua agonia, mas com cuidado para não machucá-la. A bota por fim saiu, levando a meia com ela e Luke fechou os olhos.

— Acredito que o tornozelo está quebrado. — sussurrou e olhou para ela. — Não tem sangue. Assim, vou imobilizá-lo o melhor que puder. Depois vou escavar para tirar o trenó e vamos te levar para um hospital num estalar de dedos. Onde fica a casa mais próxima daqui?

Ela pensou um momento.— Se seguimos pelo caminho cerca de dezesseis quilômetros e depois cortar pela baía,

acredito que tenham algumas casas habitadas durante o ano todo nesse ponto.O interior de Luke se comprimiu. — Você acha que a baía está congelada?— D-deve estar.Abaixou seus olhos para o tornozelo e depois para ela e negou com a cabeça.— Não é uma lesão potencialmente mortal, Camry, desde que não se choque contra nada.

Então prefiro não arriscar nos afogarmos para economizar alguns quilômetros. A que distancia está a casa da sua irmã? Ela não vive desse lado da baía?

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— A uns trinta quilômetros daqui.Lucas pôs suavemente o pé sobre a perna aberta da sua calça de esqui e entrou no buraco no

qual seu pé esteve todo esse tempo.— Se eu conseguir encontrar a outra raquete, podemos chegar lá antes da meia noite. —

Conseguiu ficar de joelhos e começou a cavar no trenó. Tirou o saco de dormir e o colchão de palha, mas não viu o resto do seu equipamento. — O equipamento deve ter soltado. — disse levantando-se com o saco de dormir, que desenrolou e pôs em cima dela. — Vou encontrá-lo. Gostaria de ter pelo menos a lanterna para passarmos a noite e o kit de primeiros socorros.

— Como soube onde escavar para me encontrar? — perguntou, ajudando-o a colocar o saco em torno dela.

Pegou o colchonete e colocou uma ponta debaixo de seus ombros, mas antes de abaixar a cabeça, beijou suavemente seus lábios com um leve sorriso.

— Esse maldito transmissor começou a apitar e Max e eu seguimos o som.Ela piscou para ele.— Eu não estou com o transmissor. — sussurrou. — E-eu o joguei no lago esta manhã, quando

decidi... ver as coisas da sua forma. — disse.— Jogou fora? Mas eu o ouvi. Max também ouviu. Foi assim que conseguimos te encontrar!— É impossível, Luke. — Procurou debaixo do saco. — Não estou com ele. — De repente ficou

sem ar e sua mão reapareceu segurando o transmissor. — Oh meu Deus. — sussurrou, entregando-o. — Como isso é possível?

Luke estava muito perto de começar a rir histericamente quando o instrumento minúsculo logo soltou um alegre apito. Pegou o transmissor e o examinou.

— Isso continua girando como uma moeda falsa. — olhou atentamente. — Nem sequer deve ter sua própria fonte de energia, portanto como diabos continua fazendo barulho?

Virou a cabeça para o outro lado.— Não faço ideia.Ele virou suavemente seu rosto para que o olhasse.— Não se trata de viver com minhas crenças, Camry, a custo das suas. — disse em voz baixa.

— Eu estava errado ao fingir concordar com você e com Auclair em vez de dizer que pensava que era tudo uma farsa. — Segurou o transmissor para que o visse. — Mas essa coisa infernal — disse com um sorriso de lado — parece decidida a me fazer acreditar. — Colocou-o no bolso, voltou a beijá-la e saiu da cova.

Tirou a neve da bota da raquete que Max encontrara, sentou-se e a calçou. Arrastou-se e levantou a borda do saco de dormir do seu pé direito.

— Ainda está inchado. — disse, cobrindo com cuidado o pé outra vez. — Vou procurar nosso equipamento antes de imobilizá-lo. Gostaria de encontrar a bolsa de primeiros socorros, por que coloquei os analgésicos que tínhamos nela. Você está confortável o suficiente?

— Estou bem. Onde está Tigger?— Parece estar completamente recuperada e está fuçando a neve com Max. Vou passar uns

vinte minutos procurando e depois vamos embora daqui, com ou sem equipamento. Só feche os olhos e descanse. Temo que será uma tarde dolorosa.

— Sinto muito. Gostaria de te ajudar.Ele riu entredentes.— Se quiser ajudar, então imagine que nosso veículo de neve aparece por arte da magia

enquanto vou buscando meus próprios milagres.

Capítulo 20

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Como “as tarefas aparentemente impossíveis” foram feitas, Luke decidiu que isso era muito ruim. O retorno à civilização pareceu bastante desalentador ainda que ambos houvessem regressados sãos como uma maçã. Mas tirar Camry desses bosques com o tornozelo quebrado, sem matá-la no processo, poderia ser uma tarefa quase impossível. A menos que...

Luke colocou a mão no bolso e tocou no transmissor. Como céus continuava essa maldita coisa aparecendo justo quando mais precisavam? Ele acreditou em Camry quando disse que o jogou fora nessa manhã, da mesma forma que ele fez nos outros dias, quando atirou-o contra a árvore e o viram partir-se em cem pedaços. Mesmo assim estava ali outra vez e ambos escutaram apitar agora mesmo. Max tinha escutado também. E os cachorros não sabiam nada sobre milagres, não é verdade?

Luke andou até um ponto escuro na neve e pensou na determinação de Maxine em resgatar tanto Kate quanto ele, inclusive à custa de sua própria vida. O fato de que Maxine havia aparecido na deposito de animais, justo algumas horas antes que Kate decidisse escolher um cachorro, ou que um menino de cinco anos tivesse visto um velho cachorro mestiço e sarnento, que nenhum dos adultos podia ver era na verdade o começo de um milagre ou simplesmente uma sequência de coincidências? Mas, isso teria alguma importância se tudo tivesse terminado bem? Bom, exceto Maxine.

Luke parou de repente e enfrentou o que parecia ser o grande chapéu pontiagudo de Roger Auclair que estava na neve. Por Deus, de onde veio? Esteve no trenó o tempo todo e ele não tinha visto? Se Camry o tivesse encontrado, com certeza não o revelaria agora, não é mesmo? Não depois de saber o que ele pensava do feitiço de Auclair que ela aceitou entusiasmada. Talvez a pergunta que deveria fazer era se a magia realmente governava a ciência e se poderia ser manipulada? Inclusive por um incrédulo que estava bastante desesperado para tentar? Luke olhou ao redor e viu Max e Tigger que cavavam na neve a vários metros de distância, pelo visto descobriram algo digno de salvação. Olhou para Camry e viu-a caída silenciosa com o braço sobre o rosto para se proteger do sol.

— Como você está? — disse.— Estou bem — respondeu, sem se mexer. —, desde que não me mova.Algo caiu dele. Inclinou-se outra vez e recolheu uma carta que se parecia com a que Roger

tinha deixado. Abriu e pulou o que Camry já tinha lido, continuou de onde ela parou.Se você guarda qualquer pensamento sombrio de que tive alguma coisa haver com o apuro

em que está, Renoir, então reconsidere. O livre arbítrio determina as circunstâncias, não a magia. A vida é um frágil presente e se você não é capaz de integrar tudo isto: o bem, o mal e o feio; então pode deixar também de respirar, já que isso é um tudo ou nada.

Então a resposta a sua pergunta é sim: igual aos seus números a magia pode ser manipulada. Te disse diretamente no outro dia, quando dizia a Camry que cada um tem o poder dentro dele de criar. Quero dizer, assumindo que se cria com o coração.

Os únicos muros que limitam as pessoas são os que elas mesmas criam. Pense no seu próprio muro, por exemplo, no que está tentado agora rodear. Se pudesse ser tão valente para sugerir... Por que não segue o conselho que Camry te deu, simplesmente o ignorando? Tem o poder de fazer isso, simplesmente apagando por um tempo seu cérebro analítico, para escutar o que seu coração diz. Se fizer, verá que o que considera um obstáculo, na realidade, são vantagens.

Se você precisa de mais tempo, então pare o relógio, e se quer aliviar a dor de Camry apenas encontre uma maneira. É um assunto simples: decida o que tem que acontecer e depois haja como se isso já tivesse acontecido.

Os milagres são realmente mais percepção que realidade. Se tudo que você vê são obstáculos, retroceda dois passos para cada um avançado, mas se é capaz de perceber a magia neles, perceberá que os obstáculos são na realidade bênçãos disfarçadas.

Agora a decisão é sua, Renoir. Sua lógica pode te levar somente até onde está agora mesmo, se quer levar Camry para casa, tem que confiar no que seu coração diz para fazer. Apenas lembre de quando tinha treze anos, Luke, se pergunte se já experimentou o que é crer num milagre. Temo sobre a outra decisão que deverá tomar antes de que tudo isso acabe. Para ela deverá dar um verdadeiro salto de fé, mas espero que quando tiver que fazê-lo não seja um conflito cérebro-coração, Doutor.

Sabe que Camry tem uma tia que pode curá-la, ainda que devamos considerá-la como um caminho pouco convencional, não é? Libby Macbain estará em Gu Brath para a celebração do solstício

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com todos. Deveria levá-la diretamente ali, ao invés de perder um precioso tempo levando Camry a um hospital e arriscando que ela nunca volte a caminhar corretamente outra vez.

— Maldição, Auclair. — resmungou Luke, fulminando a carta com o olhar. — Realmente me trouxe até aqui, velho bastardo. Uma tia que pode curar magicamente seu tornozelo. — resmungou passando a mão na cara.

— Encontrou a bolsa de primeiros socorros, Luke? — disse Camry. — Me cairia bem tomar um calmante agora.

Cristo, o que estava fazendo lendo a alucinação de um velho louco! Amassou a carta e a jogou na neve, junto com o estúpido chapéu de Roger.

— Acredito que Max e Tigger desenterraram algo. — disse correndo para os cachorros. — O que encontraram? — perguntou, dissimulando sua raiva e fazendo passar por excitação pelo que haviam encontrado.

Afastou Tigger do caminho, agachou sobre o superficial buraco que tinham feito e pegou o que desenterraram.

— Camry, encontraram nossa mala de viagem! — levantou-se. — Bom trabalho, garotos. — disse limpando a perna. — Vamos. Agora encontrem minha outra raquete de neve!

Caminhou e se ajoelhou ao lado de Camry, pegou a raquete de neve que Max encontrou antes e a mostrou para os cachorros, deixando-os cheirá-la. — Veem isso? Encontrem a outra raquete de neve e darei a cada um uma grande vasilha de sopa esta noite.

Eles moveram a cabeça de trás para frente, escutando-o e depois ambos saíram correndo de repente em diferentes sentidos. Luke sorriu para Camry.

— Se voltam com a raquete de neve, vou ter que deixar de chamá-los de simples bestas. — abriu a mala e procurou até encontrar a bolsa de primeiros socorros. — Você viu se machucou em outro lugar? — perguntou, abrindo a bolsa e explorando o conteúdo. Alarmou-se quando ela não respondeu. — Onde mais dói?

— Acho que quebrei algumas costelas. — sussurrou, mostrando a dor em seus olhos. — Posso respirar bem, meu pulmão não está ferido nem nada. Mas e se a caminhada no trenó terminar de quebrar minhas costelas?

Luke fechou os olhos. Ela tocou seu braço.— Talvez devesse ir só buscar ajuda. Pode me levar até as árvores, fazer um fogo e os

cachorros podem ficar comigo. Irá muito mais rápido se não tiver que arrastar o trenó. Poderia voltar num minuto para me buscar.

— Não te abandonarei. Se algo acontecesse comigo, ninguém saberia que você está aqui fora.— Meu pai sabe. Roubamos sua moto neve, lembra?— Mas podem passar dias antes que comecem a nos procurar. — negou com a cabeça. — Não

te abandonarei. — repetiu. — Conseguiremos juntos ou morreremos tentando juntos.Voltou a explorar a bolsa e pegou o comprimido.— Estas servirão. — disse abrindo o frasco. Pegou uma das garrafas de água da neve que

tinham derretido essa manhã e colocando um comprimido na sua boca, abaixou a cabeça enquanto bebia. — Bom, vou desenterrar o trenó enquanto damos um tempo para que o remédio faça efeito.

— Luke. — disse, agarrando-o pela manga quando começou a levantar. — O que fazia há uns minutos atrás, quando estava de pé sozinho lá em cima? Parecia que estava lendo algo.

— Encontrei a carta de Auclair e li desde onde você parou.— Algo de interessante? — perguntou, olhando em seus olhos.— Não realmente. Só uma discussão filosófica de como posso fazer um milagre somente

decidindo que quero fazê-lo. — Encolheu os ombros. — Dizia inclusive que tenho o poder de parar o tempo somente pensando nisso. Não, sem pensar nisso. — resmungou, deslizando-se na cova ao lado dela. Dedicou-lhe um sorriso forçado. — Disse que tinha que apagar meu cérebro analítico e pensar com meu coração. Feche os olhos, Camry. — disse sem querer ver o otimismo que os fazia brilhar. — Relaxe e deixe que o remédio faça efeito.

Murmurou uma maldição diante do olhar ferido que ela ofereceu antes de virar a cabeça e fechar os olhos. Luke também se afastou e foi trabalhar no trenó. Precisou aproximadamente de dez

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minutos para desenterrá-lo e mais dez para arrumar um dos esquis para que pudesse deslizar pela neve outra vez. Acabou de ajustar o equipamento nas costas, quando chegou Tigger trotando com o GPS na boca. Luke tateou o bolso, pensando que devia ter deixado cair durante a avalanche.

— Boa garota, Tig! — disse mexendo no pelo da cabeça dela. — Retiro cada um dos maus pensamentos que tive sobre você. Você e seu companheiro Max são malditamente mais inteligentes que muitas pessoas que conheço. — Beijou-a no pelo. — E vou te comprar um armário completo de bonitos suéteres.

Ao que parece, sem querer ficar excluído, Max chegou trotando e arrastando a outra raquete de neve. Luke apoiou seus calcanhares. Os cachorros realmente tinham encontrado tudo o que precisavam? Mexeu a cabeça incrédulo se perguntando se sabiam a situação desesperada em que se encontravam.

— Que bom para vocês pequeninos. Ganharam definitivamente sua comida, assim como um par de medalhas de heróis que vou entregar pessoalmente.

De repente correram outra vez para buscar mais tesouros. Luke deu a volta para mostrar a Camry o que encontraram, mas estava adormecida. Levantou a ponta do saco de dormir e estremeceu quando viu o inchaço que tinha no tornozelo.

— Camry, querida. — disse suavemente, sacudindo com cuidado seu ombro. — Preciso que esteja acordada enquanto imobilizo seu pé, assim saberei se alguma coisa estiver ruim.

Olhou-o com os olhos obscurecidos pela dor e pelo analgésico e concordou com a cabeça.Luke se abaixou junto a sua perna, mas justo quando ia abrir o saco de dormir novamente os

cachorros chegaram pulando, cada um trazendo algo. Só que ao invés de entregar seus achados a ele, entregaram a Camry. Max deixou cair o grande chapéu pontiagudo sobre seu peito e Tigger deixou cair à carta amassada. Depois, ambos se sentaram, Max apoiando o pescoço no seu ventre e Tigger enroscou-se ao lado de seu ombro.

Luke suspirou. Alguma vez iria se livrar de Roger Auclair?— Tenho uma ideia. — disse, levantando o saco de dormir e expondo seu tornozelo. —Pode

terminar de ler a carta de Roger enquanto brinco de médico contigo. — disse sorrindo. — E podia colocar o chapéu e tentar falar com ele.

Seus olhos encheram de lagrimas e seu queixo tremeu. — Não... não ria de mim, Luke.— Não! Não estou rindo de você. Estou tentando nos distrair. Aqui... — disse alisando a carta

e entregando a ela. — Bom, vamos ouvir outro sábio conselho que o velho Roger tem para mim. — arqueou as sobrancelhas. — Talvez no final da carta, diga onde escondeu a veículo de neve.

Provavelmente, tanto por curiosidade quanto para seguir com a brincadeira de Luke, Camry começou a ler em voz alta onde parou de ler ontem pela manhã. Usando os cadarços que tirou da outra bota e um par de calças que pegou na mala, Luke, com cuidado começou a imobilizar seu tornozelo. Fez uma pausa quando ela parou de ler com um gemido de dor.

— Sinto muito. Tentarei ir com cuidado. Continue lendo.— Mas Roger disse que há uma possibilidade de que nunca possa andar corretamente outra

vez. — ela sussurrou com o queixo tremendo outra vez. — Luke você tem que fazer o que ele diz e me levar diretamente a tia Libby. Ela é realmente uma traumatologista muito especializada, mas também tem um dom para curar as pessoas apenas com seu toque.

— Você não só caminhará corretamente, como correrá uma maratona neste verão. — disse apertando o braço dela. — Continue lendo. Chegou ao ponto onde parei.

Seus olhos olharam pra ele, buscando um maldito sinal de que acreditava. Luke dissimulava. Voltou a se concentrar em seu pé, envolvendo a perna em várias camadas, desde o joelho até mais abaixo do calcanhar. Depois suavemente vimobilizou o calcanhar, cuidando para que não ficasse muito apertado ao redor do inchaço. Ouviu ela tomando fôlego e estremecendo, depois começou a ler outra vez.

Avisei que isto ia parecer impossível pra você, Renoir. Mas fazer um milagre é realmente a parte fácil, enquanto admitir que realmente tenha controle de seu próprio destino é o que realmente aterroriza. Te desejo a melhor das sortes, jovem, não só nesta viagem imediata, mas também na

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viagem da sua vida. Agora não se sinta mal por ter te deixado antes que pudesse me agradecer por tudo o que fiz por você, nos encontraremos outra vez algum dia, então terá a oportunidade. Boa Sorte, Renoir! Seu fiel servo, Roger de Keage.

Luke bufou.— Se nos encontramos outra vez, provavelmente torcerei seu pescoço.— Meu Deus! — ela sussurrou. — É o pai do clã Mackeage.— O pai de todas as piadas de mau gosto você quer dizer. — disse resmungando.— Um... tem um P.S.Luke bufou outra vez.— O velho bastardo realmente gosta de pontuar.Ela olhou preocupada a carta.— P.S. — leu. — São seis horas e quarenta e quatro minutos, Renoir, quem sabe pode

começar a pensar nesse milagre.

Capítulo 21

Quatro horas mais tarde, Luke estava preocupado porque ao invés de salvar a vida de Camry, podia muito bem matá-la. Pele terceira vez em meia hora caiu de joelhos ao lado do trenó completamente esgotado pela velocidade dos passos que se impôs. Jogou para trás a lona. Tigger piscou de dentro da jaqueta de Camry e emitiu um triste queixume, então lambeu sua pálida bochecha antes de olhar para Luke outra vez.

— Eu sei, Tig. — disse ofegando enquanto tirava as luvas. Levantou a mão e tocou o pescoço de Camry, sentindo sua fraca pulsação, que se debilitou constantemente durante as últimas quatro horas. — Estou preocupado com ela também. Está fazendo um bom trabalho mantendo-a quente. — cantarolou, deslizando a mão debaixo de sua jaqueta para se assegurar de que o peso da cadela ainda estava no colchão e não fazendo pressão sobre as costas de Camry. Acariciou a orelha de Tigger. — Espero que o remédio a mais que dei lhe dê sono e não a deixe mais fraca.

Envolveu Max com seus braços quando o cachorro se aproximou e xeretou Camry, gemendo de preocupação também.

— Bom equipe, temos que conseguir um novo plano de ação. — sussurrou com a mão trêmula e acariciando-a com força. — Por que este não está funcionando.

Max enfiou o nariz dentro do trenó ao lado do corpo de Camry e tirou a cabeça com o chapéu pontiagudo de Roger na boca deixando-o cair sobre o rosto de Camry. Quando Luke o afastou, Max colocou o focinho no cabelo de Camry e se queixou.

— Bom, se isso te faz sentir melhor, colocarei sobre ela. — disse Luke e com cuidado trocou o gorro de lã que ela tinha pelo pesado chapéu de veludo.

Camry se mexeu e dois leves sinais de coloração apareceram nas suas bochechas.Luke explorou com o dedo sua pulsação outra vez e encontrou-a muito mais forte. — Uau! — exclamou ofegando baixo. — Isso seguramente ajudou. — Deu uma olhada para

Max e Tigger. — Alguma outra ideia? Neste momento estou aberto a tudo, sem importar o quão irracional possa parecer.

Max de repente saiu correndo, virou e adentrou no bosque. Deteve-se e começou a latir. Luke levantou, gemendo quando seus músculos protestaram, cobrindo novamente o trenó com a lona.

—Vamos, Tig. Vamos ver aonde Max vai. — resmungou, encaixando os arneses no ombro e começando a caminhar, mas subitamente apressou o passo com as esperanças renovadas. Talvez Max tivesse cheirado uma fogueira de lenha ou algo mais que significasse que a ajuda estava próxima.

Quando alcançou o ponto que o labrador tinha entrado no bosque, Luke viu que ele parecia estar rastreando. Max estava uns vinte metros adiante, olhando-o e mexendo o rabo. Latiu outra vez e ingressou no bosque.

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Luke deu uma olhada para trás vendo o caminho civilizado que tdeixou e depois tratou de enxergar entre as árvores. O sol estava se pondo, ainda que não fosse mais do que quatro horas da tarde. Era o dia mais curto do ano e Luke sabia que enfrentaria a noite mais longa do ano. Mas ainda no pouco de luz que restava pode ver que o lago estava a menos de um quilometro de onde estavam. Fora de sua vista, Max começou a latir excitado. Luke olhou para trás. Não queria gastar energia inutilmente, mas também não queria deixar passar a ajuda. Tigger repentinamente saltou do trenó e começou a empurrar para que seguissem o mesmo caminho que Max.

— Suponho que devo segui-lo. — resmungou, retrocedendo para olhar Camry. Quando viu que ela estava muito menos pálida que antes, virou e seguiu os cachorros. O rastro levou-o a margem, Luke se deteve ao lado de Max e Tigger, que olhavam para lago mexendo tanto os rabos que levantavam a neve.

Luke tirou o GPS do bolso, olhou a tela que disse exatamente onde estavam e comprovou que ainda faltavam vinte e cinco quilômetros até a casa de Winter.

Um calafrio correu sua espinha ao lembrar-se da carta de Roger, era como se tivesse retrocedido dois passos para cada um que tinham dado. Percorreu apenas três quilômetros em quatro horas. Isso significava que nesse ritmo, levando em consideração que só podiam ficar mais lentos pelo cansaço que sentiam, iam levar dias para sair do bosque. Reduziu o mapa na tela e viu que diminuía a distancia indo pela diagonal atravessando o rio, Pine Creek estava só a dez quilômetros de distância de chão plano com lua cheia para iluminar o caminho. E com o gelo possivelmente muito fino que não seria capaz de ver. Tinha que arriscar afogar Camry... para salvar seu pé? Mas não era realmente seu tornozelo que o preocupava. Tinha medo de que ela entrasse em estado de choque. Ainda que ele não soubesse muito sobre emergências médicas ou de outro tipo, estava bastante seguro de que se tornaria fatal se não a tratasse a tempo.

Aproximou-se do trenó e retirou a lona, deixou-se cair sobre a neve e tirou a luva e rodeou a mão sobre a mão de Camry. Olhou a grande extensão do lago diante dele. Podia realmente apagar seu cérebro tempo suficiente para seguir seu coração? Justamente como quando tinha treze anos, quando encontrou Kate e Maxine? Não deixou de valorizar a probabilidade de salvar Kate contra a de se afogar? Droga! Não estava pensando em nada, só seguiu seu instinto. Nada importava, exceto se afastar do rio. E se ambos tivessem se afogado, bom... teria morrido sabendo que ela não morreu sozinha. Mas por algum milagre, nenhum dos dois morreu. Era isso que Roger quis dizer em sua carta, quando escreveu que Luke tinha experimentado o que era um milagre quanto precisou?

Sendo honesto cosigo mesmo, desde que encontrou o rastro de Kate e Maxine debaixo daquela árvore até que chegou à cobertura de gelo quebrada atrás deles, sentiu que o tempo tinha parado. Chegou ao rio no que pareceram ser poucos segundos, ainda que estivesse a quase dois quilômetros de distância, tirou a raquete de neve, se distanciou da segurança que proporcionavam e se afastou delas, sem nenhum sentido de urgência. Suas ações não foram apressadas nem em câmera lenta também. O tempo realmente deixou de existir. Então por que diabos estava tão decidido a negar que os milagres existem? Por que ao admitir que existiam, isso significaria que realmente havia alguma falha, um fator desconhecido na sua querida ciência, algo que ele não poderia quantificar... ou controlar.

E Deus sabe que passou toda a adolescência sentindo-se fora de controle por sua concepção acidental e sua chegada ao mundo. As três mulheres que exerceram o papel de suas mães, o casamento de sua mãe com um homem decidido da mesma forma a cria-lo e inclusive a chegada de uma irmãzinha que não tinha pedido.

Então, talvez o verdadeiro milagre naquele rio não tinha absolutamente nada a ver com Kate, e sim com o fato de que, pela primeira vez na sua vida, tinha deixado de ser o egocêntrico que foi durante toda a vida para amar alguém mais que a si mesmo de forma incondicional, sem pretensões nem intransigências.

Uma condição que durou por quatro semanas até que voltou a escola e recuperou seu velho hábito de colocar a si mesmo antes de todos. Firmou-se no seu egocentrismo até que acabou o seu curso, sem ajudar a ninguém a menos que isso repercutisse num maior benefício para ele, chegando até a roubar o trabalho de outros quando não conseguia o sucesso com seu próprio trabalho.

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Por Deus, merecia morrer ali fora. Mas Camry, tão certo quanto o calor do fogo não a abandonaria, por que a amava exatamente como era. E tão certo como o ar que ele respirava ele a amava mais do que a si mesmo. Assim, talvez fosse o momento de ouvir o seu coração. Luke olhou o relógio e viu que eram quatro horas. Levantou a mão de Camry e beijou o anel de pedra no seu dedo, colocou a mão no saco de dormir e se pôs de joelhos beijando o seu rosto quente.

— Bem, bela adormecida. — sussurrou. — É o momento em que faço algo mágico. — Tirou o chapéu de Roger de sua cabeça. — É uma pena que estará dormindo durante o milagre que estou a ponto de fazer.

Levantou-se, pegou Tigger e colocou dentro da jaqueta de Camry. Depois tirou a mala da parte detrás do trenó e jogou-a na neve. Chamou Max, dando golpes na perna.

— Vamos Max. Suba a bordo você também. — Colocou o labrador onde não incomodasse nem Camry e nem Tigger. — Papai Noel chegará a Gu Brath no solstício de inverno este ano e sou a rena que vai fazer esse trenó voar. Se segurem! — terminou com uma gargalhada, fechou a lona e a segurou de um lado.

Colocou-se na frente do trenó, passou a corda nos ombros, colocou a mão no bolso para tirar as luvas vestindo-as e depois tirou o GPS de um bolso e o transmissor do outro.

— Bom, Rudolph, leve meu trenó à casa de Camry, porque a mãe espera suas filhas para apagarem as trinta e duas velas em duas horas e quinze minutos aproximadamente. A coisa infernal soltou um apito.

Luke o colocou no bolso com uma gargalhada e entrou no lago. Deu um passo e depois outro, seguindo o ritmo dos suaves apitos que saiam de seu bolso.

Capítulo 22

Luke ia tão profundamente concentrado na tarefa de por um pé diante do outro que demorou um pouco a perceber que algo o impedia de escutar o rítmico apito do transmissor. Levou seu olhar para a neve iluminada pela lua diante dele e se deteve.

Max começou a latir, Luke agarrando a corda retrocedeu e abriu a lona. O labrador se jogou para fora correndo para as luzes da cidade que estava diante deles, latindo freneticamente.

Luke comprovou com cuidado que Camry ainda dormia, com seu rosto vermelho relaxado e com a jaqueta se mexendo com o balanço do rabo de Tigger, a mimada salsichinha.

— Você fez um bom trabalho, garota. Manteve-a quente. Se segure, já estamos quase chegando.

Luke fechou a lona e seguiu Max, logo estava na margem, passou diante das lojas e chegou à rua principal. Levantou a mão para parar um furgão que tinha reduzido a velocidade para deixá-lo passar.

Aproximou-se da porta do motorista e disse:— Preciso que me leve a estação de esqui da montanha TarStone. — disse quando o

motorista abaixou o vidro e indicou o trenó. — Minha esposa está ferida. Poderia, por favor, nos levar?

O homem estacionou e saiu do carro, tropeçando nas raquetes de neve de Luke.— Com certeza. — disse indo para o trenó e empurrando Max para tirar a lona.

Repentinamente se enrijeceu. — Inferno, mas essa é Camry Mackeage. — disse virando-se para Luke. — Você disse que é sua esposa?

Luke pôs suas raquetes dentro do furgão e aproximando-se retirou a lona completamente.— Tem algum problema com isso? — perguntou tirando Tigger da jaqueta e colocando-a nos

braços do homem.

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— Não, senhor, mas te desejo boa sorte. — Ele apontou com a cabeça o trenó. — Camry quebrou o joelho do meu irmão durante uma briga em meu bar faz aproximadamente seis meses. — Depois de pegar Tigger com um braço estendeu a mão. — Peter Johnson.

Luke apertou sua mão.— Luke Renoir. Então, devo supor que não nos levará?— Ah, Santo Deus! Não. — ele disse com uma gargalhada. — Meu irmão mereceu tanto o

joelho quebrado quanto a reprimenda que dei quando se recuperou. Vamos. — disse abrindo a porta traseira do furgão para colocar Tigger dentro. Fez um sinal para que Max subisse e aproximou-se do trenó. — Santo Deus! Deve estar muito ferida se não acorda. — disse quando Luke levantou Camry em seus braços. — Enfie essa buzina em outro lugar! — ele gritou para o carro de trás quando o motorista buzinou. Correu para abrir a porta lateral do passageiro. — O que ela tem?

— Tem o tornozelo quebrado e talvez um par de fissuras nas costelas. — disse Luke colocando Camry suavemente no assento e deslizando-a para o meio. Sentou-se com cuidado ao seu lado depois passou o braço sobre ela e colocou a perna imobilizada sobre a sua. — Poderia subir o trenó na calçada? Voltarei para pegá-lo mais tarde.

Pete fechou a porta, pegou o trenó e o colocou na parte de trás do furgão.— Se ela está com tornozelo quebrado é melhor levá-la para o hospital em Greenville. — disse

colocando o carro em movimento.— Não, tenho que chegar a sua casa antes que entre em estado de choque. Tem uma tia

traumatologista que poderia ajudar enquanto pedimos uma ambulância.— Libby Macbain. — disse. — A conheço e sim, essa é provavelmente uma boa ideia. A

doutora Libby manteve viva mais de uma pessoa enquanto esperavam a ambulância. — Deu uma olhada em Luke antes de voltar a concentrar-se na estrada. — O que aconteceu? Foi um acidente de veículo de neve ou algo assim? Você parece que esteve caminhando um bom pedaço.

— Uma avalanche. — disse Luke colocando seu dedo sobre o pulso de Camry, suspirando aliviado quando sentiu que seus batimentos eram estáveis e fortes.

— Uma avalanche? Isso é raro por aqui. Onde foi?— Justamente ao sul de Springy Mountain.Pete o olhou surpreso. — Arrastou-a até aqui nesse improvisado trenó? Atravessando o lago? Demonstrou ter mais

coragem que miolos ou um fenomenal anjo da guarda. — Deu outra olhada para Luke. — O lago não está congelado em todas as partes sabe?

— Pelo visto estes últimos dez quilômetros estavam sim.Pete virou para pegar o caminho da estação de esqui da montanha TarStone.— E o que é esse chapéu tão engraçado? —perguntou.Luke se apertou ainda mais contra a cabeça de Camry.— É presente de aniversário de um parente.— Ah sim, é verdade. Hoje é seu aniversário. — Deu uma olhada para Luke outra vez. —

Comentavam na cidade, no verão passado quando Camry estava aqui, que ela não tinha namorado. Quando vocês casaram?

— Faz alguns dias? Pete riu entre os dentes.— Maldita forma de passar uma lua de mel também. Mas suponho que passar a lua de mel

nas montanhas no meio do inverno ao invés de uma praia quente no Caribe não é exótico demais para Camry.

Voltou sua atenção para a estrada e deteve-se na calçada de Gu Brath. Parou na ponte que levava a porta principal e fechou o furgão com um suspiro enquanto olhava diretamente para Luke.

— Os Mackeages são os pilares da comunidade, mas são... Uhn, um pouco estranhos. São um clã muito unido, junto com os Macbains. — Abriu sua porta e sorriu para Luke. — Eu sentia algo pela irmã mais velha de Cam, Heather, quando estávamos no ensino médio, mas seu pai me assustou tanto que nunca me atrevi a chamá-la para sair. Precisa de ajuda para levar Cam para dentro? — perguntou, dando uma olhada na casa bem iluminada.

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— Não, já a peguei. — disse Luke abrindo a porta. — Se puder, só traga os cachorros.— Os soltarei e eles seguiram vocês. — Olhou a casa outra vez e Luke jurou ver o homem

tremer. — Tenho que abrir meu bar. Abrimos as cinco e o pessoal está me esperando.Luke parou no momento de sair e levantou o punho. Por todos os Santos, seu relógio marcava quatro e quinze!Um veículo parou atrás deles, as portas se abriram e fecharam e um homem e uma mulher

aproximaram-se do lado do furgão que Luke estava e olharam demoradamente para a porta aberta.— Ai, meu Deus, Camry! — bufou a mulher que carregava um menino de colo. —Robbie,

carregue-a. Está ferida.— Não, eu a levo. — disse Luke saindo com cuidado do automóvel com Camry em seus

braços, ficando de costas para o homem alto e se virou. — Muito obrigado por sua ajuda, Pete. — disse enquanto se afastava a passo largos pela ponte. — Te procurarei mais tarde.

— Poderia se assegurar de que os cachorros entrem? — Luke perguntou, passando pela entrada, o som das vozes e brincadeiras de crianças saltou aos seus sentidos. Parou e olhou ao seu redor, piscando pelo ar quente que umedecia seus olhos e até retrocedeu quando várias pessoas correram para ele.

— Camry! — alguém gritou. — Mamãe! Papai! Camry está aqui e está ferida!Outro homem se adiantou e estendeu as mãos para pegá-la, mas Luke retrocedeu outro

passo.— Não, eu seguro ela. A sua tia Libby está aqui?— Minha mãe é a Libby. — disse Robbie colocando uma mão nas costas de Luke e o

conduzindo para a sala de estar. — Deve chegar aqui logo. Por que você não coloca Cam no sofá? — Luke entrou na sala de estar, mas ao invés de soltá-la, sentou-se com Camry em seus braços, depois, com cuidado, estirou sua perna direita no sofá a seu lado.

— O que aconteceu com ela? — perguntou uma das mulheres.— Está com o tornozelo quebrado e talvez algumas fissuras nas costelas. — Luke abriu a

jaqueta, mas rapidamente levantou a mão quando a mulher tratava de tirar o chapéu de Camry. — Não, isto fica aqui até que Libby Macbain chegue.

O mar de gente que se amontoava ao redor deles inesperadamente se abriu.— Camry! — Grace gritou ficando de joelhos diante de Luke. Tocou as bochechas de Camry e

logo levantou os olhos e sorriu para Luke, seus olhos brilhavam com lágrimas. — A trouxe para casa. — sussurrou levantando a mão e tocando em sua barba. — Obrigada.

Greylen Mackeage passou para frente de sua esposa e estendeu as mãos como se pretendesse pegar Camry em seus braços. Luke a apertou com mais força contra ele.

— Não. Eu seguro ela.— Está ferida. — grunhiu Greylen.— Deixe-a, Grey. — disse Grace suavemente, acariciando as bochechas de Camry outra vez. —

Está em boas mãos e vai ficar bem.— O que aconteceu? — perguntou Grey, ajoelhando-se ao lado de sua esposa e tocando

também as bochechas de Camry. Fulminou Luke com o olhar. — Vocês caíram da veículo de neve? Porque ela não acorda? Está em coma? — perguntou tentando tirar o chapéu. Luke o segurou em seu lugar. — Isso fica aqui até que sua tia chegue. — repetiu. — Fomos pegos numa pequena avalanche e ela quebrou o tornozelo. Libby Macbain irá curá-la. — disse desafiante.

Greylen fixou o olhar em Luke surpresa.— Você sabe. — sussurrou.— Eu sei. — disse Luke com um movimento de sua cabeça. — E você deve saber que ela é

minha esposa.— Não me lembro de ter dado a você minha permissão, Renoir.Luke sorriu abertamente.— Um parente distante seu deu por você.Greylen arqueou o cenho.— E posso saber quem foi?

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— Roger Auclair. Ele franziu a testa. — Não conheço ninguém chamado Roger Auclair.— Não? E como Roger de Keage? — Greylen elevou os ombros e seus verdes olhos se

estreitaram.— Encontraram Keage?Luke sinalizou a cabeça de Camry.— Esse é seu chapéu. — Ele sorriu abertamente outra vez. — E ele te agradece a veículo de

neve, disse que você queria que ele ficasse com a moto.— A tia Libby está aqui. — alguém disse.As pessoas que tinham se amontoado ao redor deles outra vez se afastaram do caminho e

uma mulher magra de uns sessenta anos inclinou-se sobre o ombro de Grace para tocar o rosto de Camry. Ficou de pé silenciosamente durante vários segundos e depois levantou seus olhos até Luke e sorriu.

— Você conseguiu trazê-la aqui bem a tempo. Robbie — disse fazendo sinais. — a levará até seu quarto para mim, não é?

— Não. Eu carrego. — disse Luke, inclinando-se para frente para se levantar.— Deixe que Robbie a leve. — pediu Greylen. — Parece quase incapaz de andar.— Eu a carrego. — resmungo Luke alavancando-se do sofá e levantando. Caminhou atrás de

Grace que abria caminho no mar de pessoas até as escadas.— Vai deixá-la cair, Renoir, e será melhor que você quebre seu próprio pescoço na queda. —

disse Greylen, caminhando ao seu lado.— Ah, deixe de uma vez essa pose Grey. — disse Grace com um sorriso passando o braço pelo

dele aproximando-o até que ficou ao seu lado. — Ela já não é sua filha. Agora é a esposa de Luke.— Não é um matrimonio legal. — resmungou Grey.— Não? Então gostaria de apostar que amanhã pela manhã quando nos informarmos no

cartório não encontraremos sua licença de matrimonio devidamente registrada? — perguntou.— Supõe-se que Pendaär é quem casa nossas garotas.Grace riu outra vez.— Estou certa que Daär abrirá uma exceção diante de Roger Keage.Se Luke não estivesse a ponto de cair no chão, com certeza acharia intrigante essa conversa.Mas estava tão esgotado que só queria ver Camry abrir os olhos e rir dele, para poder entrar

em coma durante uma semana. Chegaram ao primeiro andar e seguiu Grace e Greylen pelo corredor, enquanto Libby Macbain caminhava ao seu lado. Ela levantou a mão e silenciosamente o pegou pelo cotovelo e em menos de três passos seu esgotamento desapareceu e repentinamente sentiu que podia ganhar uma maratona.

Parou e olhou para ela.— Você tem uma resistência assombrosa, Luke. — disse-lhe sorrindo. — E um coração

poderosamente forte e bastante barulhento.— Sim. — disse, sentindo-se um pouco tonto diante da onda repentina de energia que

percorria por ele. — E às vezes, realmente posso escutá-lo.

Capítulo 23

— Poderá me perdoar algum dia? — sussurrou contra o peito de seu pai que a abraçava na sua cama.

Sua mãe, que tinha os dois nos braços a apertou com força.— Te perdoamos um segundo depois que Luke nos contou.Os braços de seu pai também a apertaram e os lábios acariciaram seu cabelo.

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— Realmente te perdoamos mesmo antes de que soubéssemos filha, por que te amamos. — Ele levantou a cabeça para olhá-la. — Supomos que você contaria quando tivesse um problema.

Cam suspirou fechando os olhos com um sorriso e encolheu-se mais estreitamente preparando-se para a iminente conversa.

— Mas devia ter contado. — sua mãe se apressou, pelo visto esperando evitar que seu marido a reprendesse. — Logo ficou evidente para seu pai e para mim que Luke seria capaz de te ajudar melhor do que nós poderíamos.

— Ficou? — resmungou o pai.— Sim. — disse Grace. — Por isso ao invés de ir a Go Back Cove para te buscar ele mesmo, seu

pai achou que seria melhor mandar Luke.— Achei? — suspirou alisando o cabelo de Cam. — Sou um homem sábio!— Assim que, o pai sábio, — disse Cam com um sorriso bobo. — sabia que estava enviando

meu futuro marido para me buscar ou esperava que ao ficar diante dele já caísse loucamente apaixonada por ser alto, forte, bonito e elegante... justamente como você?

Apertou o abraço.— Que se apaixonasse por ele foi ideia de sua mãe. Eu estava absolutamente encantado com

a ideia de que permanecesse como uma solteirona toda a vida.Cam bufou e virou a cabeça para olhar a mãe.— Eu… não conseguimos encontrar o banco de dados de Podly. Temo que esteja perdido para

sempre.Grace acariciou seu braço e se sentou.— Talvez. Mas você e Luke realmente não precisavam dele, verdade? — perguntou

levantando-se da cama e virando com um sorriso. — Com ambos os cérebros trabalhando juntos, duplicarão imediatamente meu trabalho assim que se trancarem no meu laboratório.

Cam também se sentou, mas parecia que estava colada nos braços do pai. Ela acariciou seu peito e sorriu abertamente a ele.

— Não vou longe. — sussurrou.Quando ele de má vontade abriu os braços, se levantou da cama e logo girou.— Exceto para fazer uma rápida viagem à Columbia Britânica para ver os pais de Luke e sua

irmã, mas voltaremos diretamente aqui depois do Natal.— Temo que se for a Columbia Britânica não vai encontrar com eles. — disse Grace. — Porque

estarão aqui.— Estarão aqui? Mas como fez para convidá-los?Grace foi até a porta do banheiro e a abriu.— Vamos, precisa de um banho. A festa começa em menos de uma hora. E respondendo a sua

pergunta, parece que a mãe de Luke recebeu um cartão pelo correio, convidando todos a Gu Brath para o Natal. — Seus olhos brilharam divertidos. — Quando a sua mãe ligou para perguntar sobre o convite, mencionou que o cartão tinha um lindo anjo no verso e que estava assinada por F.

— Ah meu Deus! — disse Cam, cobrindo a boca com as mãos. — Ela enviou a família de Luke um cartão também?

— Sabe quem é F? — perguntou seu pai se levantando da cama.Cam olhou seu pai e depois sua mãe.— Umm… é Fiona.Grey arqueou a sobrancelha.— Nossa Fiona?Cam suspirou.— É uma longa historia papai. Te contarei tudo sobre minhas duas semanas interessantes

amanhã, tudo bem? Estou morrendo de vontade de mergulhar numa banheira com água quente. — Olhou para sua mãe. — Onde está Luke agora?

Grace começou a encher a banheira vertendo uma grande quantidade de sais de banho lilases, perfumando a água que caia em cascata.

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— Acho que Kate se jogou em Luke no momento que saiu do banho. Essa garota é definitivamente encantadora. — Abraçou Camry e beijou-a no rosto. — Bem vinda a sua casa minha filha! Nunca senti tanto sua falta como quando percebi que realmente estava perdida.

— Mas agora me encontrei. — Cam sussurrou abraçando-a com força. — Fiona, Luke e Roger Auclair me ajudaram a encontrar-me. — Jogou-se para trás. E... e você, mamãe. Você sempre esteve aqui, mesmo no meu coração, guiando-me a todo momento.

Cam virou para seu pai, no caminho para o banheiro e se jogou contra ele.— E você também papai. — gritou. — Quase podia te ouvir me dando sermão, dizendo o

quanto me ama.Ele apertou-a tanto que ela gritou.— Lamentavelmente acredito que não vou te dar sermões nunca mais. Agora é a missão de

seu marido.Cam levantou os olhos.— Mas Luke não é muito bom nisso papai. Realmente tentou uma vez, mas cada vez o

escutava menos, até que deixei de escutá-lo de uma vez. De fato, dormi.Ele a abraçou com uma gargalhada e beijou o alto de sua cabeça.— Verei o que posso fazer para remediar isso. Bem vinda a casa, minha preciosa highlander.

Capítulo 24

Luke se sentou no enorme refeitório de Gu Brath, mais que um pouco constrangido e completamente intimidado pela enorme magnitude da festa. As buliçosas criança menores, que Luke ouvia chamarem de pagãos, tinham ganhado temporariamente o quarto de jogos abaixo, deixando os adultos com um minuto em paz. Mas ainda ficavam quarenta pessoas sentadas ou de pé ao redor da mesa de seis metros de comprimento, além dos pés tinha no chão uma grande quantidade de globos e serpentinas e cada um deles usava um maldito chapéu de festa.

Exceto ele e Tigger.Diante da insistência um pouco ameaçadora de Camry, Luke pôs o chapéu de Auclair e Tigger

tinha sua própria versão miniatura. Que Kate risse dissimuladamente não estava ajudando absolutamente em nada seu mau

humor, muito menos as contínuas solicitações de que a olhasse, e que cada vez que a obedecia tirava-lhe uma foto com o celular. Luke estava certo de que várias delas já estavam postadas na internet. Enquanto esperavam Winter, que pelo que parecia chegava tarde a suas festas de aniversário, Luke tentava associar o rosto de cada irmã com seu nome. Não se saia muito bem, já que acabavam de lhe apresentar a todas de uma vez. E quanto aos maridos e filhos... Bom, o único que podia distinguir bem era Jack Stone. Mas claro, as pessoas no geral lembram do salvador de alguém.

— Luke, deixe que Max suba no seu colo. — disse Camry, inclinando-se para perto para que pudesse escutá-la entre as animadas conversas. — Ele se sente mal por que tenho Tigger nos meus braços.

— Bom, porque demônios não? Não estou ridículo o bastante com meu chapeuzinho para carregar um cachorro de vinte e cinco quilos agitado demais no meu colo também?

Virou um pouco a cadeira, acertou alguém, pediu desculpa e batendo no peito disse:— Vem Max. Fique quieto e dividirei com você um pedaço do bolo depois que soprem as

velas. — Max pulou, mas tentou subir na mesa, mais interessado no presente que estava ao lado de Camry que no bolo. — Não garoto. Senta! — ordenou Luke.

Max ficou quieto durante exatamente seis segundo e jogou-se novamente sobre o presente.Ao mover-se para pegá-lo, a cadeira voltou a bater na pessoa situada a suas costas e

murmurando uma maldição, tanto Luke quanto Max caíram no chão com o presente firmemente agarrado na boca de Max.

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Camry olhou o chão, tentando obviamente não rir.— Está tendo um mal dia, Luke? — perguntou soltando um risinho.— Você não sabe nem da metade, já que dormiu a maior parte do dia. — disse levantando-se.

Tentou lutar para tirar o presente da boca de Max, dolorosamente consciente do repentino silêncio que se instalou no salão e de que todos estavam com os olhos fixos neles. — Vem. — ressoou baixinho. — Me dá Max.

O cachorro abriu as mandíbulas sem nenhuma advertência soltando o tesouro. Luke estava tão surpreso que voltou a bater na paciente pessoa que estava atrás dele ao mover-se tentando agarrar o presente que voava para a mesa.

Aterrissou diretamente sobre do bolo de aniversário de Camry com um ploft, enviando diminutos mísseis do glacê sobre qualquer um desafortunado o bastante para estar sentado perto. Deixando o presente no bolo e Max no chão, Luke arrumou seu pontiagudo chapéu e se sentou.

O presente de repente soltou um apito longo que perfurou o ar e fez o bolo vibrar.Camry ofegou tão forte que devia ter doído.Luke simplesmente fechou os olhos com um gemido. Ah, sim! Milagres a parte, estava tendo

um dia muito ruim.— Ouviu isso? — disse Camry dando-lhe uma cotovelada forte o bastante para deixar uma

marca.— A metade de Pine Creek ouviu. — resmungou abrindo os olhos justo a tempo de segurar

Tigger quando ela entregou o cachorro e se levantou.— Mamãe! — gritou ainda que ele não soubesse o porquê, já que o cômodo estava em

absoluto silêncio. — O que é o meu presente?Grace encolheu os ombros.— Não tenho ideia. — Indicou todos os presentes colocados ao lado de cada um dos bolos de

suas filhas. — Seu presente foi entregue essa tarde por um mensageiro especial. Tinha um cartão dirigido a mim que dizia que podia guardar meu presente até o ano que vem, porque sem duvida você provavelmente preferia ganhar este em troca.

— Mas de quem é?Grace encolheu os ombros outra vez.— O cartão não dizia.— E você trouxe-o para casa sem saber o que tinha dentro? — perguntou Grey ficando de pé

como também o fizeram Jack Stone, Robbie Macbain e vários homens mais, incluindo Luke. Greylen aproximou-se e tirou o presente do bolo. — Por Deus mulher devia ter pensado melhor.

— Tudo bem, Grey. — disse Grace levantando-se também. — Tenho uma ideia do que é. O cartão também dizia que vinte anos era muito tempo para que alguém esperasse para ver seu sonho se realizar e também dizia que a paciência era própria da maternidade. — Indicou o presente. — E depois do que Camry nos disse antes, agora também tenho uma boa ideia de quem seja. Por isso guardei-o no alpendre e coloquei-o na mesa faz apenas cinco minutos.

Camry ofegou outra vez com tanta força que bateu contra Luke, enquanto arrancava o presente da mão de seu pai.

— É o banco de dados! — gritou rasgando o papel verde escuro, no qual escreveu longas séries de equações com letras douradas.

Deixou o papel sobre a mesa e pegou a caixa metálica negra do tamanho de um pacote de seis latas de refrigerante. O pegou para olhar para Luke e depois virar para ver sua mãe.

— É o banco de dados de Podly, não é mamãe?Grace deixou-se cair na cadeira, pálida como um fantasma, com enormes lágrimas caindo por

suas bochechas e enquanto sorria, eclipsava as três enormes lâmpadas em forma de aranha com luzes brilhantes que estavam sobre a mesa.

— S-ssssim. — sussurrou.Camry se aproximou dela, pôs o banco de dados nas mãos de Grace e abraçou sua mãe com

força.— O temos, mamãe. Temos a chave da propulsão de íons.

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— N-não. — Grace disse tremula, devolvendo-lhe. — Você tem a sua chave. — Acariciou as bochechas de Camry. — Descobriu o segredo da propulsão de íons quando tinha doze anos. Um dia enquanto estava no laboratório trabalhando num projeto escolar se levantou e olhando o que eu fazia sobre meu ombro sugeriu que mudasse duas integrais da equação na qual trabalhava. Sendo assim, foi você que descobriu filha, não eu.

Camry gritou surpresa.— Mas por que não gritou para todo o mundo? Mamãe! Podia já estar viajando para Marte!Grace olhou Luke, depois seu marido e logo o banco de dados na mão de sua filha.— Não quis o que vinha junto com sua exposição para o mundo. — sussurrou. Levantou os

olhos para Camry, com o rosto vermelho. — Sei que parece que fui muito desatenta ao deixar a você a apresentação da nossa descoberta ao mundo, mas é justamente o contrário. Não disse a ninguém por que isso significaria deixar Gu Brath durante dias ou talvez semanas, para supervisionar o processo. — Olhou para Greylen com os olhos cheios de lágrimas. — Então, muito egoísta, guardei em silêncio, impedindo que o mundo interferisse no meu verdadeiro sonho que era ficar em casa cada dia da minha vida com meu marido e minha família os quais amo mais que tudo no universo.

Limpou as lágrimas que caíam pelo seu rosto com as mãos. — Mas você filha… tem um marido que não só viajará com você, como também te apoiará

em tudo como o meu fez. — finalizou bruscamente, olhando a Greylen com um terno sorriso.Greylen percorreu um passo de distancia que o afastava de Grace, tirando Camry do seu

caminho, e a abraçou, levantando-a do chão e enterrando o rosto no seu pescoço.Camry se aproximou de Luke chorando. Ele entregou Tigger a qualquer pessoa que estava de

pé do seu lado e abraçou-a. A porta principal inesperadamente fechou-se com um golpe, sacudindo as lâmpadas.

— Estou aqui! — gritou uma mulher. — Deveriam ter começado sem mim! Fiona vomitou no meu vestido de aniversário quando saímos e tive que voltar para trocar — entrou correndo no refeitório. — Juro que ela fez de prop... — deteve-se no meio da palavra. — O que perdi?

Pelo visto ninguém pensava em responder.— O que aconteceu? Mamãe por que está chorando? — perguntou percorrendo toda mesa

até seus pais. De repente patinou até parar ao lado de Luke. Ela olhou Camry ainda em seus braços, depois para ele. — Quem é você? — perguntou.

— Se você é a Winter, então sou seu novo cunhado, Luke Renoir.— Meu o quê? — trocou a menina de braço, para pegar Camry e ficar na sua frente. — Meu o

quê? — repetiu. — Você se casou? — Ela tocou as bochechas molhadas de Camry e depois a cabeceira da mesa. — Porque todo mundo está chorando? O que perdi?

A menina que segurava de repente soltou um forte gemido e começou a chorar.— Ah! Entregue-a a mim. — disse Camry, entregando o banco de dados a Luke enquanto

pegava o bebê. — Vai ver mamãe e papai. Eles te contarão o que aconteceu.Enquanto Winter se dirigia ao outro extremo da mesa, Camry acertou com seu quadril o

cotovelo de Luke.— Venha. Vamos para a sala de estar. Lá estaremos mais tranquilos. Tem alguém muito

especial que quero que conheça.Luke a seguiu entre a sussurrante multidão, sorrindo sinistramente para Kate enquanto ela

tentava fazer novas fotos com seu celular, mas parou quando viu o gesto que sua mãe fazia. Ele deu-lhe um beijo na bochecha, inclinou-se próximo a ela e disse:

— Acha que isso é divertido? — sussurrou — Pois então espere até conhecer alguns de seus parentes distantes.

Fez um sinal com a cabeça para André e seguiu Camry até a entrada, onde encontrou com um sorridente alto e bonito, melhor dizendo... extremamente bonito homem.

Não se preocupou em confundir esse cunhado com os demais.— Esse é o marido de Winter, Matt Gregor. Matt este é meu marido, Luke Renoir. — Matt

deu-lhe a mão. — Bem vindo à família Luke! — Seus agudos olhos dourados brilhavam divertidos.

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Olhou para Camry enquanto se afastava com sua filha que estava aspirando as melecas e depois virou-se para Luke olhando fixamente seu chapéu antes de dirigir-se a ele:

— Como está o velho Roger? — perguntou.— Acho que tão escandaloso como sempre foi. O sorriso de Matt aumentou.— Sim, mas quer dizer que está bem. Como ele enganou você e Cam?— Com a melhor veículo de neve de Greylen.Matt arqueou as sobrancelhas.— Verdade? A troco de que?— De nos casarmos. — Luke deu uma olhada na sala de estar, depois olhou para Matt. — E

sua encantadora filha assinou como testemunha, junto com seu neto Thomas Gregor Smythe.— Essa garota vai me matar. — resmungou. Olhou atrás de Luke, movendo a cabeça. —Se

você e Cam resolverem ter filhos, orem para que sejam meninos. — Fez um gesto sinalizando o refeitório ruidoso outra vez. — Juro que não sei como Greylen sobreviveu ao crescimento das sete filhas. — Com um estremecimento encolheu os ombros com seu medo paternal. Matt deu uma palmada no ombro de Luke e guiou-o pelo cotovelo até a sala de estar. — Será melhor que afaste sua mulher de Fiona antes que Cam decida que necessita do seu próprio bebê.

— Ah! E Luke... — disse Matt quando Luke estava a ponto de entrar na sala de estar. — Obrigado por vigiar minha filha semana passada.

— Acredite, foi um prazer. — disse Luke com um movimento de cabeça.Logo Matt jogou a cabeça para trás, virou e entrou no refeitório. Luke se aproximou de Camry

e sentou ao seu lado no sofá. Ela imediatamente colocou Fiona no seu colo.— Onde está o banco de dados? — perguntou.Luke olhou entretido os grandes olhos azuis que o olhavam fixamente e sorriu.— Deixei-o na mesa. — disse distraidamente, balançando-a suavemente com seus joelhos.— Ola senhorita Fiona. Viajou muito ultimamente? Já decidiu o que quer ser quando crescer?A resposta de Fiona foi tentar colocar suas duas mãos juntas, ainda que falhasse mais vezes do

que conseguia, e fazer bolhas de saliva enquanto soltava pequenos risos que faziam com que sua barriga se movesse.

— Ela vai ser uma cientista espacial como sua tia Cam. — murmurou Camry, inclinando-se sobre o braço de Luke enquanto acariciava o cabelo loiro de Fiona. — Não é linda? — sussurrou. Virou a cabeça para trás para olha-lo. — Não gostaria de ter uma filha como ela?

Justamente o que Matt tinha dito. Luke estremeceu de medo.O que fez com que Fiona aplaudisse com ambas as mãos juntas e risse ainda mais forte. De

repente a menina olhou para a mão de Luke e tocou seu anel. Camry pôs sua mão ao lado e o bebê devagar tocou em seu anel.

— São realmente bonitos Fiona. — sussurrou Camry. — E cada vez que olharmos para eles pensaremos em você.

— Cinco minutos para o solstício! — gritou alguém do refeitório. — Cam, venha aqui. Mamãe está acendendo as velas!

Ainda inclinando-se pesadamente sobre o braço de Luke, Camry inclinou a cabeça para sorrir pra ele.

— Suponho que isso significa que alcançou seu milagre, doutor Renoir, e estamos legalmente casados. Para sempre.

Ele beijou-a na ponta do arrebitado nariz.— Intransigentemente, sem pretensões e incondicionalmente, doutora Mackeage-Renoir.

Para sempre. Derreteu-se sobre ele com um suspiro. — Graças a esta menininha. — disse, inclinando-se para beijar a atrativa rechonchuda

bochecha de Fiona e depois se levantou.— Vamos. — disse saindo do cômodo. — Não me importa que meu bolo de aniversario esteja

destroçado, tenho a intenção de comer até a última migalha. — Lançou nele um olhar de perto da

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porta com olhos brilhantes. — Imagino que o açúcar deve conseguir te excitar em aproximadamente uma hora. Vroom-Vroom, marido. — ronronou enquanto desaparecia no refeitório.

Luke imediatamente cobriu os ouvidos de Fiona com suas mãos.— Você não escutou isso! — abraçou-a com um suspiro. — Obrigada. — sussurrou.Finalmente levantou-a e segurou-a em frente ao seu rosto.— Então senhorita, acha que devo dizer a Camry que não perca seu tempo decifrando os

dados de Podly?A pequena e linda querubim fechou seus bonitos olhos num grunhido.— Foi o que pensei. — riu. Apertando-a contra seu peito e seguindo logo depois sua esposa.

— Então está no embrulho que Roger lhe deu!

FIM

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