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o Kula jornal espaço de troca entre estudantes de ciências sociais da usp edição #2 julho/agosto de 2011 opinião . política . sociedade . movimento estudantil e educação . contos e crônicas . poesia . arte Segurança pública e universidade

j o r n a l edição #2 o ulaceupes.fflch.usp.br/.../files/kula_2_0.pdfO KULA é uma publicação do Cen-tro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais (CeUPES), o centro acadêmico

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o Kulaj o r n a l

espaço de troca entre estudantes de ciências

sociais da usp

edição #2 julho/agosto de 2011

opinião . política . sociedade . movimento estudantil e educação . contos e crônicas . poesia . arte

Segurança pública e universidade

O KULA é uma publicação do Cen-tro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais (CeUPES), o centro acadêmico do curso de Ciências Sociais da USP, construída em reuniões abertas da Comissão de Comu-nicação, Cultura e Arte da entidade. Todas as contribuições publicadas em O KULA, tanto no que diz respeito à forma quanto ao conteúdo, são de responsa-bilidade exclusiva dos autores que as assinam e não refletem necessariamente a opinião da atual gestão do centro acadêmico nem do conjunto dos estudantes do curso. Críticas e sugestões serão sempre muito bem-vindas e devem ser encaminha-das por meio dos contatos relacionados abai-xo. Uma versão digital de O KULA estará disponível em breve.

Centro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais - CeUPESGestão Cirandeia - 2010/2011Blog: http://ceupes2011.wordpress.comE-mail: [email protected]: @ceupesFone: 3091-3748

As imagens dessa edição foram retiradas da internet. Caso você seja o autor de alguma delas, entre em con-tato com o CeUPES para a publicação dos créditos de autoria na próxima edição.Imagem da capa: Banksy, artista de rua inglês.

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Por que “O KULA”?

editorialO desafio continua 3

capa: segurança pública e universidadeSegurança pública e universidade: sintomas do que a USP não quer enxergar 4

Fora PM! Não à repressão! 5

políticaViva Lula! 6

sociedadeA Marcha das Vadias 7

Quando a juventude entra em cena: música e violência urbana na periferia 8

movimento estudantil e educação Breves considerações sobre nosso currículo 9 Por uma construção coletiva do Estatuto Social do CeUPES 10

As conchas dessa ediçãoespecial 11crônicas e contos

Poesia 13O menino que foi de encontro à mãe 14

poesia Selva mística 16 Prolixo 17 Re-fa-zen-da 18 Sino 19 Mastigado 20 Livre 21 Muda 22 Todos nós 23

charges e quadrinhos 24

retratos sociais 25

prestação de contas do CeUPES 26

Os rituais do kula descritos por Malinowski na obra Os Argonautas do Pacífico Ocidental fazem parte, como diz o próprio autor, de uma instituição social complexa que abarca diferentes sociedades das ilhas Trobriand. Como um de seus objetivos, o kula permite que diferentes grupos sociais tro-quem produtos entre si, gerando uma imensa rede de comér-cio. Os principais objetos no kula, porém, não são os de sub-sistência, mas sim os vaygu’a (longos colares feitos de conchas vermelhas) e os mwali (braceletes feitos de conchas brancas). Estes objetos, que nunca param em uma só mão, conferem grande prestígio a quem o detém por determinado tempo. É interessante notar que quanto mais o objeto tenha sido troca-do e tenha viajado pelas ilhas, mais prestígio e reconhecimen-to ele confere ao seu dono temporário. Fica claro, portanto, que as sociedades trobriandesas dão grande valor à troca e ao que vem de fora, trazendo no-vas perspectivas e ferramentas de interpretação do mundo. O jornal O KULA procura incentivar exatamente esta prática de troca de opiniões e perspectivas entre os alunos de Ciências Sociais. Esperamos, dessa forma, que o intercâmbio de idéias e reflexões faça parte da rotina de nosso curso.

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Se foi com grande satisfação que apresentamos a primeira edição de O KULA, é com contentamento ainda maior que chegamos agora a esta segunda edição, ainda mais pelo fato de ela ter sido gestada em época de provas e entrega de trabalhos. Valeu o sufoco! O pontapé inicial já foi dado, mas o desafio de le-var adiante uma publicação construída de forma aberta e plural continua, para que todxs estudantes de Ciências Sociais possam compartilhar informações, experiências, opiniões, conhecimentos e tudo o mais que lhes interes-sar. Como muitxs já devem estar sabendo a esta altura do campeonato, as edições sempre tratarão de um tema de capa, escolhido em reunião prévia da Comissão Aber-ta de Comunicação, Cultura e Arte do CeUPES. A este tema de capa será sempre reservada uma seção especial do jornal, o que não impede que exista espaço para todos os tipos de manifestação, sejam elas por meio de artigos, poemas e contos, ou por meio de charges e tirinhas, as quais aliás também são muito bem-vindas e não precisam estar necessariamente de acordo com a capa, assim como os textos, pois existirão também outras seções, conforme a demanda da galera colaboradora. Nesta edição, a capa traz o riquíssimo tema “Segu-rança pública e universidade”, que nos permite abordar esse assunto, trazido à tona principalmente após a morte do estudante da FEA no primeiro semestre deste ano, para além da simples dicotomia dos favoráveis ou con-trários à entrada ou permanência da Polícia Militar no campus. E, antes que nos esqueçamos, não custa lembrar: para que esta iniciativa vingue, o esforço e a participação de todxs são essenciais, pois sem eles este jornal não tem razão de ser. Se gostar ou não gostar de algo, escreva para a gente. Críticas e elogios são sempre muito bem-vindos e com eles, de quebra, você ajuda a tornar as pró-ximas edições mais legais. Bom proveito!

Gestão Cirandeia 2010/2011

O desafio continua

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editorial

A relação entre segurança pública e universidade definitiva-mente não é um tema novo, que sur-giu nos últimos meses em vista de algum problema inédito. A preocu-pação com a segurança é inerente a qualquer ambiente coletivo, e a uni-versidade não está de forma alguma isenta dessa discussão. Entretanto, o debate sobre a questão da segu-rança veio à tona com o assassinato de um estudante da FEA no pri-meiro semestre, e muitas vezes tem ficado restrito a posicionamentos favoráveis ou contrários à presença da Polícia Militar no campus. Embora seja importantís-simo discutir a presença da PM, a centralidade dessa discussão me parece sintomática de uma incapa-cidade de refletir sobre problemas mais profundos da concepção de universidade vigente. Em outras palavras: dar importância demais à presença ou ausência da PM no campus é um bom jeito de desviar o foco dos reais problemas de insegu-rança na USP. Isso vale para ambos os lados: rejeitar a PM num discur-so meramente negativo é desconsi-derar que de fato existem assaltos, estupros e assassinatos dentro do campus – crimes aos quais deve-mos responder de alguma forma. A administração da universidade,

Segurança pública e universidade sintomas do que a USP não quer enxergar

Por Henrique Mogadouro da Cunha

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por outro lado, finge ignorar o ca-ráter elitista que tenta fazer da USP uma ilha da fantasia, com catracas e câmeras, asfalto bem iluminado e pontos de ônibus no escuro. O argumento mais razoável contra a presença da PM diz res-peito à negligência da Reitoria e da Prefeitura do Campus frente a rei-vindicações antigas da comunidade universitária sobre a questão da se-gurança, como a iluminação, a ocu-pação do espaço do campus com mais moradia, a ampliação do efe-tivo da Guarda Universitária e uma melhoria na frequência dos circula-res. Muita gente responde: “é claro que essas medidas são importantes, mas sozinhas não resolvem nada, assim como a PM sozinha também não resolve nada. Precisamos das duas coisas”. Parece muito razoá-vel, mas esse argumento cai por ter-ra quando olhamos para as medidas efetivas tomadas pela administração da universidade, que segue ignoran-do sumariamente as demandas por mais iluminação, transporte, mora-dia estudantil e por uma ampliação do efetivo da Guarda Universitária. Ou seja: aumentar a presença da Polícia Militar no campus é uma forma muito confortável de não in-vestir esforços e recursos em medi-das mais complexas e importantes. Sabendo que a maior presença da PM tem sido uma medida isolada, que não complementa, mas negligencia outras necessidades, podemos questio-nar também a eficácia dessa medida. Afinal, militarizar o campus significa realmente aumentar a segurança dos estudantes, funcionários e professo-res da USP? Porque, na maior parte da cidade de São Paulo, o que se nota é uma diferença significativa na segu-rança dos lugares bem iluminados e

movimentados, enquanto a presença ostensiva da PM, que existe na cidade toda, tem efeito preventivo insignifi-cante. A questão que devemos discutir não é se a PM pode ou não entrar na USP – porque, ao contrário do que diz o Reitor, não se trata de um “tabu”. O que está em questão é: realizar blitzes dentro da universidade, revistar moto-ristas “sem cara de USP” e perseguir estudantes que consomem drogas ilíci-tas são medidas que realmente inibem crimes violentos? Acredito sincera-mente que não. Basta lembrar que a PM estava realizando uma blitz dentro do campus no mesmo instante em que o estudante da FEA foi morto. Por fim, uma contradição salta aos olhos no discurso dos de-fensores da presença da PM: bradando que a universidade faz parte da cidade e que estamos sujeitos às mesmas leis que vigoram lá fora, pedem também um maior controle do acesso ao cam-pus. De fato, se existe Polícia Militar em toda a cidade de São Paulo, e a uni-versidade faz parte dessa cidade, pare-ce lógico que a ausência dessa polícia no interior do campus não seria mais que um privilégio dos já privilegiados frequentadores da universidade. Mas essa afirmação contém uma informa-ção que não pode ser desvinculada do problema da segurança: o acesso à universidade pública não pode ser um privilégio. Na Semana de Ciências Sociais deste ano, um debatedor disse, representando o Núcleo de Direito à Cidade: “quando nós trancamos o Bra-sil para fora da USP, o Brasil entra na USP de um jeito que nós não gosta-mos”. Não está na hora de pôr o dedo em algumas feridas que a universidade está tentando esconder?

Henrique Mogadouro da Cunha é estudante do quarto ano e faz parte da gestão Cirandeia.

capa: segurança pública e universidade

O incidente que vitimou, den-tro do campus da USP, um estudante da FEA de 24 anos em maio deve ser repudiado. A morte do estudante, que foi baleado ao reagir a um assalto, está longe de ser uma exceção no cotidiano das grandes cidades brasileiras, marca-das por contradições que muitas vezes se convertem neste tipo de violência. Nesse sentido, a morte do estudante, como a morte de todas as vítimas do crime organizado, deve ser repudiada. Esse episódio, no entanto, teve grande repercussão na grande mí-dia graças ao fato de ter ocorrido no campus de uma universidade pública e, dentro da USP, resultou numa reação das autoridades universitárias que nos chama a atenção. Alguns diretores de unidades e funcionários do alto esca-lão da direção da Universidade vêm a público com um discurso que, além de reacionário e impróprio para a ocasião, impressiona pelo tom oportunista. Para o atual reitor da USP, prof. João Grandino Rodas, é necessá-rio aumentar a presença da polícia no campus. Rodas diz que esta questão é um tabu para a comunidade universitá-ria, e que há um setor da comunidade responsável por esse tabu: “são grupos pequenos de resistência, mas muito efe-tivos, (pois) aparecem na mídia, fazem cartazes e são barulhentos". E conclui que “sobrou um grande ranço e daí há

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FORA PM! NÃO À REPRESSÃO!

aquela ideia de que o campus é um ter-ritório livre e a polícia militar não en-tra”. Algumas considerações sobre o que Rodas diz devem ser feitas. Em primeiro lugar, a PM já tem uma pre-sença ostensiva no campus, resultado de um decreto de sua própria autoria. O que ele espera além disso? Que a PM inicie revistas nos pedestres, intercepte suspeitos e faça interrogatórios nos in-tervalos das aulas? Em segundo lugar, como lembra o Sintusp, em sua carta pública sobre a morte do estudante, a guarda universitária foi desmantelada e terceirizada por Rodas, resultando em um efetivo muito mal preparado e cujo objetivo primeiro é a repressão às ativi-dades estudantis extra-classes. Na verdade, o teor da decla-ração de Rodas, como um todo, revela uma incompreensão absoluta do real significado do que é uma universidade pública. E a artilharia de Rodas tem um alvo direto, não se dirige contra a "ban-didagem" - como é possível que um reitor possa usar tal expressão? - mas sim contra aqueles que Rodas chama de "grupos de resistência". Tais "grupos de resistência" nada mais são que todos aqueles – es-tudantes, professores, funcionários, entidades, organizações políticas e movimentos – que não compactuam com o projeto de universidade dessa burocracia da qual Rodas faz parte. A

universidade ideal para Rodas é aquela das blitz de prevenção, não apenas nas avenidas da cidade universitária, mas também nas salas de aula, nas assem-bléias e festas, em que se revistam e vi-giam as idéias e o pensamento crítico. A universidade ideal para Rodas é aquela do capital, a serviço do capital, que faz do livre pensamento algo obsoleto, que espera transformar o ensino em um condomínio privado, cheio de grades e guaritas, a ser vendido como um em-preendimento de luxo no mercado. O que Rodas chama de "gran-de ranço" é, na verdade, uma grande resistência que é, ao mesmo tempo, a essência do ser de uma universidade pública. Reconhece o próprio reitor – com um rancor digno de um padre da inquisição – "há aquela ideia de que o campus é um território livre". Sim, Sr. Reitor, o campus é um território livre onde todas as atividades são lícitas, um espaço crítico e de reflexão, de contes-tação das contradições políticas e so-ciais que esta sociedade carrega e não consegue resolver. Além das declarações, a reito-ria efetivamente solicitou à Secretaria de Segurança Pública que reforce a atuação da polícia no campus. Entre as medidas planejadas, está a instalação de uma base da PM no campus e a criação de um pelotão composto por policiais-estudantes, soldados da PM matricula-dos na USP, que “entenderiam melhor o que pensam os universitários”, ou seja, saberiam melhor como reprimir as atividades estudantis. A presença da PM no campus não evitou nem evitará assassinatos. A PM, no entanto, esteve e estará sem-pre pronta para reprimir a organização dos estudantes, como fez em 2009, ao impedir os piquetes dos funcionários em greve e reprimir ato de estudantes e funcionários. Devemos, por isso, nos posicionar contra a presença da PM no campus.Alisson Bittencourt é estudante do quarto ano.

capa: segurança pública e universidade

NÃO à construção da base da PM no campus e aos policiais-estudantesPor Alisson Bittencourt

Polícia Militar na USP em junho de 2009.

A luta do povo latino-americano vive em um período histórico marcado pelo posiciona-mento defensivo em relação aos avanços do imperialismo, porém em diversos países houve conquistas significativas e no Brasil não foi dife-rente, porque a vitória eleitoral do ex-presidente Lula, em 2002, abriu um novo ciclo político para a conquista de avanços sociais para a população brasileira, mantém uma postura antiimperialista na América Latina e colabora para a alteração de correlação de forças no mundo. Também, a direita neoliberal vê a cada ano suas bancadas no senado e na câmara diminuírem e é rejeitada, cada vez mais, pela população.

E não é por acaso que os setores mais conservadores atacam justamente a esquerda que integra o governo federal, pois é essa es-querda que consegue materializar idéias, muda a vida das pessoas, participa da história do país, impede os avanços do imperialismo, fortalecen-do as instituições democráticas e as políticas contra o neoliberalismo. Assim, é fundamental que a esquerda participe do processo eleitoral para vencer, conseguindo eleger uma bancada de representantes significativa, pois graças a isso é possível oferecer avanços sociais à população

Viva Lula!Por João Paulo Gatti

política

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e realizar políticas anti-neoliberais, outrossim o fortalecimento das instituições democráticas im-pedem que os setores golpistas tentem dar algum golpe no país, que é uma possibilidade real mes-mo depois do período militar, e proporciona, ao longo do tempo, o aprofundamento do debate de idéias, que é fundamental para a construção de uma democracia, conseguindo conter os avanços do imperialismo.

Os setores mais conservadores temem esse campo político da esquerda, pois é o setor que participa ativamente da disputa hegemônica da sociedade, existindo em todos os movimentos sociais do país, porque a idéia de transformação da realidade permanece viva e obtém resultados concretos na vida cotidiana das massas, o que significa perigo aos interesses das elites. Pois, a esquerda radical é aquela que consegue materiali-zar suas palavras, melhora a vida das pessoas, faz a direita temer e não possui o posicionamento individualista de abandonar o país quando mais for preciso por interesses particulares.

Com isso, o governo Lula proporcio-nou avanços favoráveis para o Brasil, contendo avanços do imperialismo, fortaleceu as institui-ções democráticas, proporcionou avanços so-ciais significativos para a população, aumentou a transparência política e econômica, abriu um novo ciclo histórico para o país e a maior parti-cipação do Estado na economia foi fundamental para que houvesse o sucesso político e a inclusão social. Essa nova etapa histórica proporciona uma série de possibilidades para que o debate de idéias seja aprofundado, a população se organize e lute por seus direitos, exista o fortalecimento das instituições democráticas e a que os pensa-mentos progressistas e democráticos continuem crescendo, cada vez mais, na disputa hegemônica da sociedade. Portanto, só temos que agradecer a contribuição dada por um dos maiores líderes da história da América Latina. Viva Lula!

João Paulo Gatti é estudante do segundo ano.

A Marcha das Vadias (Slut Walk, em seu nome original) foi idealizada por estudantes canadenses do sexo feminino no começo deste ano, após conselhos polêmicos dados por um policial que palestrava em uma universidade em Toronto, no Canadá. Enquanto falava sobre seguran-ça, o policial aconselhou as estudantes a não se vestirem como sluts, ou vagabundas, de forma a evitar o assédio sexual e os estupros. Entendendo que neste discurso estava implícita a noção de responsabilização da vítima feminina pelas agressões sofridas, além de uma ideia de categoria de mu-lher estuprável, as estudantes organizaram a marcha em Toronto, na qual as participantes usavam trajes curtos e mostravam a maior parte de seus corpos, na tentativa de ressignificar o termo slut e afirmar que o motivo gerador de violência contra a mulher não está contido em suas roupas ou comportamento, mas sim em noções androcên-tricas que sexualizam o seu corpo o tempo todo, atrelan-do-o a condutas morais que nem sempre se encaixam nas condutas “reservadas” às mulheres. A atípica repercussão da Marcha – atípica se considerarmos a baixa repercussão que costumam ter os eventos motivados por pautas feministas – decorrente principalmente da atenção dada pela mídia internacional, influenciou mulheres de outros países a debater o assunto e a organizar marchas semelhantes mundo afora, em di-versas cidades. No Brasil, os debates podiam ser acompanhados em alguns fóruns da Internet, nos quais a preocupação principal das mulheres (feministas ou não) era a significa-ção que a marcha iria adquirir aqui: se é possível e conve-niente a tentativa de ressignificação de um termo (“vadia”) cunhado no interior da lógica machista; se as participantes da marcha, ao usarem roupas curtas, seriam objetificadas e julgadas por seu corpo, ainda que sua intenção fosse jus-tamente exercer sua liberdade quanto à sua roupa e seu comportamento sem serem estigmatizadas; finalmente, se tamanha atenção midiática estaria relacionada à exibição dos corpos das participantes. É bom ressaltar, como procurei fazer acima, que em nem todos os lugares do Brasil a marcha foi organi-zada somente por feministas. As preocupações citadas são, então, perpassadas por este fato, já que nem todas as participantes ali presentes estavam motivadas pelo mes-mo entendimento e debate. No entanto, grande parte das feministas permaneceram entusiastas da Marcha, por con-siderar que, além de ser um evento no qual claramente estavam colocadas pautas há muito tempo reivindicadas

sociedade

A Marcha das VadiasPor Izabela Nalio

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pelo movimento feminista, as não-feministas estavam ali reivindicando alguma liberdade que não lhes pertence, ou manifestando-se contra um tipo de violência contra a mu-lher que é muito explícito para não revoltá-las: o estupro. Considerando talvez que ali fosse uma oportunidade para propor o debate que aprofundasse as causas e contextua-lizasse a ocorrência da violência física e sexual mais extre-mada que é o estupro – a dominação masculina que se dá através do corpo feminino, fundamentada em dicotomias construídas para a manutenção da própria dominação e que é também imposta através da violência simbólica – parecia legítimo estar ali. Afinal, não é deste debate árduo e cotidiano que também é feito o feminismo?

Do debate à ação, a edição paulistana da Marcha das Vadias começou na Praça do Ciclista com uma inter-venção sensacional, que sintetizava as frases escritas nos cartazes que as manifestantes carregavam: um grupo de mulheres sentadas lado a lado, mordendo maçãs como se estivessem entediadas com o que o fruto proibido lhes im-punha. Os cartazes, a maioria produzidos ali na hora, tra-ziam mensagens como “Em uma sociedade machista, to-das as mulheres são vadias”, e foram colados na porta do teatro no qual o pseudo-humorista Rafinha Bastos apre-senta shows de conteúdo extremamente preconceituoso e desrespeitoso. Isto porque Rafinha, em uma demonstra-ção de seu humor “politicamente incorreto”, disse que as mulheres estupradas costumavam ser feias, e que portanto deveriam agradecer ao estuprador. O fato de Rafinha ter sido considerado o twitteiro mais popular no mundo todo, além de ter seus shows lotados, só nos confirma o quanto estamos distantes de fazer com que o machismo seja le-vado a sério e quão importante é esta luta que seguimos travando.

Izabela Nalio é estudante do terceiro ano e faz parte da gestão Cirandeia.

Intervenção na Marcha das Vadias de São Paulo.

Recentemente os dados quantitativos sobre a violên-cia urbana das instituições como a Fundação SEADE e IBGE demonstram que, por um lado, em linhas gerais, houve uma redução nas taxas de homicídios nos últimos anos. A este respeito, ao contabilizar os óbitos por grupos etários, sexo e natureza, verificou-se, por exemplo, que no período de 1998-2008 ocorreram no país 966.598 óbitos por causas violentas entre a população masculina. Isto quer dizer que, em média, ocorreram a cada dia no Brasil 241 mortes do sexo masculino no período, sendo 150 destas ocorridas precocemente entre os homens com idades entre 15 e 39 anos. No início dos anos 90 em um momento preceden-te ao referido acima, estes problemas sociais já haviam sido tematizados através da percepção e sensibilidade dos jovens ligados ao movimento hip-hop ― o movimento hip-hop sur-giu nos bairros negros nova-iorquinos no final dos anos 70. Trata-se de um movimento juvenil que articula a arte gráfica (grafite), a dança (breake) e a música (rap). A sua inserção no Brasil ocorreu em meados dos anos 80 através da breakdance. Em outras palavras, a música serviu de linguagem expressiva para que os jovens descrevessem a realidade na qual viviam: a violência, o descaso das autoridades, a insegurança, em sínte-se, o medo. Este é o pânico, o(s) drama(s) presenciado(s) pela juventude nos bairros periféricos das grandes cidades — Ho-locausto urbano (faz-se alusão ao álbum do grupo Racionais MC’s, 1990). Dessa forma, antes mesmo das pesquisas feitas pelas instituições e de seus respectivos bancos de dados es-tatísticos, os jovens da periferia urbana já tinham, empirica-mente, a noção de campo e principalmente uma classificação em linguagem nativa deste ambiente. A violência neste caso não fora apreendida apenas através dos números, mas tam-bém por meio das falas cotidianas dos próprios jovens, que são traduzidas em linguagem sonora — uma voz ativa (faz-se alusão à música do Grupo Racionais MC’s, 1993). Os proble-mas experimentados pelos jovens na periferia da metrópole

sociedade

Quando a juventude entra em cena: música e violência urbana na periferia

Por Diego Corrêa de Araújo

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paulistana foram focalizados pelos diferentes músicos de rap. No início dos anos 90 os rappers surgiram no espaço urbano como cronistas da vida na metrópole, fazendo uma espécie de Raio X do Brasil (álbum do grupo Racionais MC’s, 1990). Não lograram o sucesso mercadológico das grandes estrelas da música popular – o grupo Racionais MC’s foi o que obteve maior visibilidade, porém o gênero foi acolhido pelos jovens da periferia, uma vez que o discurso musical se mostrara em perfeita sintonia com a realidade em que viviam. A legitimida-de da música advém exatamente do fato de ser esta uma fala “desde dentro” em que o artista e o público não se encon-tram distanciados, nem ao nível da fala/discurso, tampouco da experiência social. Disto decorre certamente a identificação (ouvir música: Programação pra morrer ― Trilha Sonora do Gueto, 2003). O rap tornou-se a linguagem expressiva das ruas e guetos, suas atividades são manifestações claras de oposição à violência por meio da arte. Os rappers da zona sul pau-listana começaram a se pensar como parte de uma história marcada por exclusões e conflitos, nos quais aproximaram os afro-descendentes em diferentes contextos, assim, a periferia foi assumida como território privilegiado de suas narrativas. Atualmente a violência ainda permanece como um proble-ma social principalmente para os cidadãos que se encontram nas periferias das grandes cidades. De forma certa ou errada ela continua sendo caso de polícia (ouvir música: Caso de polícia, Rappin’ Hood, 2001). Mas, por outro lado, os ra-ppers tornaram-se os principais porta-vozes da juventude, denunciando os problemas étnicos e sociais, se apropriando historicamente de referências internacionalizadas da cultura negra, narrando a vida como ela é nas margens dos grandes centros urbanos.

Diego Corrêa de Araújo é estudante do segundo ano e líder da banda Mundo Cana.

Mano Brown, líder do grupo Racionais MC’s.

Breves considerações sobre nosso currículoPor Max Gimenes

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movimento estudantil e educação

Apaixonados por História ou Geografia no colégio. Interessados em estudar línguas. Não raro, aqueles que para o vestibular se prepararam basicamente com a leitura da lista de livros obrigatórios e olhe lá. Em comum, apontaria até o mais charlatão dos testes vocacionais, a preferência, ainda que matizada, pela área de Humanas. Temos aí talvez um possível estereótipo do estudante de Ciências Sociais. Acontece que essa preferência pelas humanidades não quer dizer necessariamente que o estudante que opta por nosso curso não tenha aptidão ou mesmo gosto pelas demais áreas do conhecimento, sejam elas as biológicas ou as ditas exatas. Significa, apenas, que ele escolheu um caminho por meio do qual orientar seus estudos. Nada mais legítimo, aliás, para o momento histórico em que vivemos. As Ciências Sociais parecem comportar um amplo arco de possibilidades, inclusive para cada um de seus três pilares. Ao mesmo tempo, no entanto, percebemos que a in-terdisciplinaridade em nosso curso não parece levada assim tão a sério. Este texto está longe de apresentar uma reflexão amadurecida ou mesmo uma proposta devidamente sistema-tizada sobre o tema, até porque o espaço é insuficiente, mas antes se presta a contribuir de alguma forma com o debate. E para tanto, adverte-se, parte das expectativas e experiên-cias pessoais daquele que o assina. Por um lado, enfrentamos alguns castigos obrigató-rios fora de nosso prédio, como a disciplina Fundamentos de Economia para as Ciências Sociais, oferecida na FEA, que parece existir apenas para defender o indefensável, ou seja, justificar o modelo sócio-econômico vigente, em vez de estudá-lo criticamente. E há também a via crucis que representa a disciplina Noções de Estatística, dada pelo IME a diversos cursos da USP. Nesta parece não haver diálogo sequer com as pesquisas quantitativas estudadas em Métodos e Técnicas de Pesquisa I, e sua utilidade no âmbito do curso parece reservada apenas àqueles cuja perspectiva de futuro seja roubar o lugar de um estatístico num instituto de pesquisas e calcular ele próprio dados que, no limite, precisaria apenas saber como interpretar e manejar enquanto cientista social. Por outro lado, não podemos complementar a con-tento nossa formação cursando disciplinas que nos interes-sam em outras unidades devido à limitação na contagem dos créditos das chamadas Optativas Livres. Ao aproximar o es-tudo da literatura ao estudo da sociedade, por exemplo, a crítica literária nos marcos propostos por Antonio Candido

oferece instrumentos importantes para quem se encontra em qualquer dos lados dessa fronteira, a saber, dedicando-se ao terreno da literatura ou da sociedade. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, foi oferecida pelo Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada a disciplina Teoria Literária I, e o curso ministrado pelo exuberante professor Joaquim Alves de Aguiar abordou, em linhas gerais, vida, obra e método crítico de Candido. Ao estudante de Ciências Sociais é imposta a obri-gatoriedade de disciplinas como as oferecidas por FEA e IME. Entretanto, caso queira cursar outras matérias como Teoria Literária ou as aparentemente interessantíssimas oferecidas pelo IEB para este segundo semestre, terá de se contentar com o caráter de Optativas Livres reservado aos créditos cursados (nem sequer de Optativas Eletivas, veja só). Optativas Livres do mesmo modo que algum curso de Astronomia eventualmente disponibilizado pelo sistema JúpiterWeb (e que não me venham dizer que o movimen-to dos astros é, para o entendimento das relações sociais, de importância comparável ao estudo da linguagem, da literatura ou da cultura). Fato é que todo currículo deve ser a todo tempo discutido, nem que seja para que eventualmente cheguemos à conclusão de que ele tal como está é mesmo a melhor res-posta para determinado momento, realidade e propósitos. Como inspiração, a nos lembrar que o currículo não é algo imutável, há a experiência dos colegas do curso de Geogra-fia, que aparentemente a partir da mobilização de professo-res e estudantes conseguiram se livrar da obrigatoriedade das aulas no IME. É possível, e eu diria que é também bastante desejá-vel, que um dia vivamos num mundo em que seja admissível ler Rousseau ou Dostoiévski pela manhã, plantar ou pescar de tarde e fazer uns exercícios de qui-quadrado à noite. Não sendo esse infelizmente nosso caso hoje, quando a espe-cialização parece ser pré-condição para a sobrevivência social do indivíduo, parece-me preferível que um estu-dante de Ciências Sociais, uma vez em dia com o que é realmente basilar da área, possa se concentrar naquilo que verdadeiramente lhe interessa, e não é senão isso o que de-sejo não só a mim e a meus colegas de hoje, mas também àqueles que ainda estão por vir a esses corredores.

Max Gimenes é estudante do terceiro ano e faz parte da gestão Cirandeia.

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movimento estudantil e educação

Penso que construir democraticamente um Es-tatuto Social para o CeUPES é uma das propostas mais ousadas que a Gestão Cirandeia se propôs a realizar durante este ano. Mas o que é o Estatuto Social? Um documento que organiza o funcionamento de uma en-tidade, e no nosso caso deve versar sobre questões que vão desde a existência e peridiocidade de reuniões de diretoria abertas à voz dxs estudantes até quórum míni-mo de uma assembléia para reconhecermos que as de-cisões tiradas coletivamente representam o conjunto de estudantes. Hoje, quem decide se a gestão do CeUPES fará reuniões abertas? Quantos decidem o quórum mí-nimo de uma assembléia? Por mais que esta decisão seja da própria assembléia, seria justo supormos que esta, quando esvaziada, poderia representar a voz e o conjun-to de estudantes do curso? Ou, ainda, quais os critérios para que xs estudantes possam chamar uma assembléia extraordinária? O Estatuto Social não é só um conjunto de re-gras burocráticas, mas sim um instrumento que legitima a própria atuação do centro acadêmico, vez que, caso construído democraticamente pelos estudantes, tal esta-tuto representará aquilo que estes entendem como prin-cípios e procedimentos justos para o CeUPES. Significa que, para além das abstrações e valores constantes na carta-programa (que também constituem parte impor-tante do seu conteúdo, mas não se encerram em si, pois precisam de métodos e práticas coerentes para se con-cretizar), todas as gestões do centro acadêmico terão um compromisso institucional com xs estudantes (que terão mecanismos para cobrar o centro acadêmico por isso) sobre aquilo que xs estudantes formularam e de-cidiram para o Centro Acadêmico (e não apenas aquilo que eles ‘receberam’ na carta programa). A construção do Estatuto Social também deve-rá oferecer novas perspectivas para que possamos dis-cutir, de forma mais realista, a questão da autonomia financeira da entidade (ou seja, quais são as possíveis

fontes de recursos do Centro Acadêmico – como os va-lores referentes ao aluguel da sala de xerox, que antiga-mente eram repassados ao CeUPES). Esta autonomia é fundamental para que a entidade possa promover suas atividades de forma independente e sustentável, e para que possamos discutir e realizar mudanças com relação à utilização do Espaço Verde e da sala do CeUPES (que já foram iniciadas e fazem parte comum da pauta dxs estudantes de nosso curso, e precisam ser aprofundadas durante este semestre). Porque a democracia na entidade deve ser um direito, não um privilégio ou política de gestão. O méto-do democrático é muito mais importante do que o dis-curso democrático, não só por ser mais justo e legítimo, mas por ser capaz de abranger diversidades, perspecti-vas, ideais e valores que proporcionam grande enrique-cimento na cultura política do nosso curso. Sabemos que não são as palavras ou a simples existência do Estatuto Social as nossas garantias de que, a partir disso, todos os direitos e conquistas estudantis serão respeitadas, ou que os problemas terão soluções mágicas sem esforço e participação política. Inúmeros são os exemplos de entidades que possuem Estatuto Social e que o ignoram solenemente (assim como inú-meros são os desrespeitos aos direitos básicos da so-ciedade brasileira descritos na nossa Constituição Fe-deral). Entendemos, entretanto, que a partir de projetos políticos que tenham estudantes como protagonistas na formulação dos seus próprios direitos quanto à re-presentação estudantil, damos poder àqueles que são a justificativa da própria existência do Centro Acadêmico. Acreditamos também nos muitxs estudantes que se mostraram dispostxs durante o primeiro semes-tre a construir métodos alternativos que aumentem nosso espaço de diálogo e debate, porque quanto mais convictos daquilo que acreditamos, mais podemos man-ter nossa mente aberta a novas idéias, e quanto mais seguros daquilo que representa o nosso projeto polí-

Por uma construção coletiva do Estatuto Social do CeUPES

Por Gabriel Neves Martins

tico, mais estaremos dispostos a debatê-lo de forma ampla, aberta e fraterna. Por mais que esta seja uma proposta política da Gestão Cirandeia, entendemos que este projeto deve ser dxs estudantes, ou seja, construído de uma for-ma radicalmente horizontal e de-mocrática, superando as amarras de fóruns cuja participação, ge-ralmente, se restringe a coletivos políticos organizados, para trazer este debate ao conjunto mais am-plo de estudantes possível. Está mais do que na hora de aceitar-mos e realizarmos os debates so-bre as diferenças que constituem nossas ideologias, concepções e práticas sem que isso signifique uma negação a priori com relação ao grupo que a sugeriu. São estes os motivos que, para o segundo semestre, a construção do Estatuto Social é uma de nossas prioridades. En-tendemos que esse esforço nos permitirá dar um grande salto de qualidade na organização da nos-sa entidade, o que é indispensá-vel para que, enquanto estudan-tes, possamos cada vez mais nos aprofundar nas discussões sociais e políticas que nos afetam indis-criminadamente, e estabelecer de forma construtiva um cenário cada vez mais receptivo para a participação dxs estudantes. E aí, vamos todxs pen-sar e discutir o assunto? Vamos nos tornar os protagonistas das mudanças que entendemos se-rem necessárias no nosso curso? Que tal decidirmos, juntos, o que deve ser e como deve funcionar o CeUPES, centro acadêmico de Ciências Sociais?

Gabriel é estudante do terceiro ano, faz parte da gestão Ciran-deia e é advogado (formado na PUC/SP). Escreve no blog http://questionar.wordpress.com

especial

Platéia da SECS na sala 101 do prédio de ciências sociais. 11

Com direito a 15 mesas de debates e 2 minicursos ao todo, rolou entre os dias 23 e 27 de maio a VII Semana de Ciências Sociais da USP, cujo tema desta vez foi “Desenvolvimento urbano: desigualdades e conflitos”. Entre os convidados, participaram professores, pesquisadores, jornalistas e integrantes de movimentos sociais, que proporcionaram a diversos estudantes, não só de nosso curso e faculdade, mas também de outros lugares, a oportunidade de refletirem sobre questões importantes de nossa realidade, tais como planejamento urbano, moradia, transporte, trabalho, educação, cultura, opressões etc. Realizada pelo CeUPES em conjunto com estudantes do curso, a Semana contou também com o apoio dos departamentos de Antropologia, Ciência Política e Sociologia, bem como da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP, além da ANPOCS, das revistas Cult e Caros Amigos, dos jornais Brasil de Fato e Le Monde Diplomatique Brasil e da editora Expressão Popular.

A VII Semana de Ciências Sociais da USP

especial

c r í t i caParticipou de algum evento cultural, assistiu a um filme ou a uma peça de teatro, leu um livro? Se gostou ou não gostou, não importa, escreva uma resenha para compartilhar com seus colegas as impressões que teve. O KULA também é um espaço para o exercício da crítica.

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De cima para baixo, da esquerda para direita: Juca Kfouri (cientista social e jornalista), Marisa Feffermann (Tribunal Popular), Lúcio Kowarick (urbanista) e José Arbex Jr. (jornalis-ta). Embaixo, oficina de Hip Hop com Fabah e Leon (grafiteiros).Fotos: por Fernanda Ortega, exceto o retrato de Lúcio Kowarick (terceira fotografia dessa página), de Juliana Bueno.

PoesiaPor Erick Nascimento Vidal

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crônicas e contos

Eram onze horas na manhã, um dia chuvoso, calmo, de céu branco, místico, perdido em sua neblina. O sol, eu sabia, estava escondido, atrás de tudo, cansado de sua vida. Às vezes, afinal, ditadores precisam ditar também o tem-po e as circunstâncias, para que não sejam ditados por eles. Um dia perfeito, enfim, às ilusões. Eis que, quando eu era embebido pelo meu delicioso café, suave, com uma boa dose de açúcar, à maneira infantil que se pretende adulta, chegou um carro. Mas parou na casa ao lado, não em frente à minha, onde todos estão ainda dormindo. Que interesse haveria em coroar um rei? Tirar-me-iam da névoa e nada, simplesmente, haveria acontecido. Pois saibam que ontem conheci um ho-mem, experiente em sua já quarta década de vida, mas vida mesmo, com direito a prazeres, dores, meretrizes, arte... toda sorte de mulheres. Oh, sim, um grande homem. Poderia ser comum, uma fruta qualquer, e teríamos sido mutuamente ig-norados não estivesse eu a ler um livro. Tchékhov... Prontos, os dois, a me irrigarem os pensamentos, e no dia seguinte, naquela deliciosa manhã, o carro parou no vizinho para fazer germinar uma plantinha, singela, aromática, suave de todas as formas, mas que, mesmo sem um sol condutor, e até por isso, desejava ser um enorme pé-de-feijão! Acompanhe, caro leitor, sua mágica fotossíntese enquanto andamos pela meta-lingüística. A mulher saiu do carro, que não sei bem se chegava mesmo ou se só parava para cheirar o orvalho que aquelas fadas verdes, com seus vários, finos bracinhos lhe traziam sobre o negro esterco áspero em que cavalgava. Mas o par estava parado, e foi na verdade a saída daquilo tudo, como percebem. Ela chamou pela dona da casa: "ô ...!". Não, sua voz não era rude, tampouco afinada demais. Era doce, agra-dável, pueril mezzo soprano. E não precisou mais dizer: já me seduzira. Acordei de meu sonho amargo de café forte, para atender ao meu desejo de fraterno açúcar. Pois ela me tragou à sua maneira, despreocupada, como um desses beija-flores que aparecem nos dias mais tempestuosos, convergem nossas divagações, olhares, nosso ouvir, nosso cheirar, e revelam os anseios mais puros, até que se esvaem, escravi-zando, felicitando. Seu rastro é sorriso. São seres superiores, não há dúvida. O carro foi embora, alegre, enamorado das plantinhas que viera ali amar... A moça foi embora, como se nada tivesse acontecido (e o que poderia ter acontecido?)... A vizinha voltou aos seus afazeres e...tudo continuou. Sem

'de repente', sem essas tensões da vida normal das pessoas normais. Somente a casualidade quotidiana e sonhatriz. Na verdade, o carro ficou, a moça ficou. A vizinha, coitada, nun-ca nem a vi. Aqueles dois, porém, escravo e senhora, ficaram. Atingimos os céus, eu e minha boba historinha, apoiados nas usuais digressão, diversão e fuga. Não sei ain-da que fim teve o louco pé-de-feijão gigante, não lembro, mas talvez o leitor mo diga e talvez depois me conte da sua manhã chuvosa. Antes, contudo, ele precisa encontrar, ao acaso, um grande homem, para que ele faça chover. O que é afinal, poesia, senão a estranha alquimia do comum no mís-tico e maravilhoso, a fecundação pela insistente pretensão de grandiosidade dos mais nobres e íntimos sentimentos? Pois digo-lhe, leitor, que em cada canto em que um bom homem vê uma laranjeira, há poesia: a natureza é poetisa. E resta aos homens servirem a ela, correrem atrás de sua fugacidade de verde passarinho a voar em infinito.

A propósito da laranjeira...

Havia uma laranjeira que tinha várias laranjas. Não nos enganemos, eram todas laranjas! Porém, havia uma que não era bem laranja. Era um tanto avermelhada...não! Azul era, e solitária, melancólica. Um dia, todas as laranjas deci-diram cair e uma disse "É época de cair!", ao que as demais responderam "Caiamos, pois", em uníssono. A árvore riu-se de seus frutos toscos, libidinosos, bastardos, dominados pe-las outras laranjas em suas laranjeiras iguais, querendo ser em verdade maçãs mas sendo cada vez mais laranjas. E assim o fruto azul ascendeu e, no chegar o seu tempo, perguntou à planta: "Queremos que eu caia?". Mas olhe! Olhe ao redor, com atenção, seja um tanto daltônico, escape à cor laranja, pois...que bela! Há uma amora!

Sobre o carro

"Onde será que vamos? Sê bondosa, sorte: não gos-taria de simplesmente chegar: quero parar, sentir, e ir em frente, pois és minha musa e quero conhecer-te toda!"

Erick Nascimento Vidal é estudante do primeiro ano.

é uma sala fechada. tudo escuro. há apenas uma batida sincopada. tum-tum-tum. os dedos grudados no chão, as unhas cravadas na madeira. a expressão é de horror, os olhos esbugalhados, os dentes à mostra, o maxilar fortemente contraído, até os curtos cabelos estão para cima. tum-tum-tum.

um ranger interrompe a percepção da batida e uma fresta de luz ofusca a escuridão. a porta e a fresta vão se abrindo para revelar uma sombra. esta, cospe uma pergunta que faz tremer as paredes e o ouvido do ga-roto aterrado: filho?

há uma leve movimentação de pés descalços sobre o assoalho, os braços do garoto se firmam no apoio do chão: está prestes a se levantar, mas a batida tum-tum sinco tum-tum pada retorna e ele cambaleia. filho? ele junta forças novamente e consegue se levantar. tem domínio sobre o seu corpo novamente, está pleno de energia. avança resoluto em direção ao vulto. seus passos são decididos e vão no mesmo ritmo que seu coração. agora, a sala parece muito grande, é como se estivesse caminhando em um longo corredor. não consegue ver as paredes, a escuridão abafa tudo o que existe. o que existe são apenas seus passos retumban-tes e a sombra no fim do corredor, que parece se dis-

tanciar cada vez mais. filho?... é sussurrado, de longe – mal consegue ouvi-lo –, pelo vulto. o garoto mur-mura qualquer coisa e começa a caminhar mais rápido.

de repente, algo como uma parede invisível surge em sua frente e o derruba, uma força irreconhecível que impede o avanço do jovem. ele então compreende que não será nada fácil chegar à sua mãe, tampouco o será à sua sombra sequer. a partir de agora, o garoto possui outra atitude em relação ao mundo: não mais susten-ta a expressão de horror: está arfante, sua um pouco e, depois de obstruído pela parede invisível, caminha impaciente de um lado para o outro, sempre com os olhos fixos no vulto ao fim do cômodo. a escuridão ainda esconde tudo que não é luz: roubando as cores das coisas, parece abafar o mundo, jogar um pano pre-to por cima das coisas, esconder seus sons e suas for-mas, transformando tudo numa mesma massa densa e indistinta: para o garoto, esse mundo parece impreg-nado de um odor, de uma sensação, que se exprime entre a boca e o nariz e a cabeça: fétida, pesada: ele se sente impregnado e pesado pela escuridão, misturado e preso em sua massa indistinta.

filho, por que você não vem até aqui...? disse o vul-to ao longe, mas que soou claramente no ouvido do garoto, como se sua mãe lhe falasse no ouvido. isso fez com que seu sangue esquentasse, com que sentis-se sua cabeça formigar e seus passos irem e voltarem mais rápidos. nunca conseguiria chegar à sombra de sua mãe, não com aquela obscenidade invisível, que não tinha forma nem cheiro, porque o garoto não a via, que ficava magicamente em seu caminho: deixava entrever a mãe mas impedia que passasse. é quando ele avista outra fresta de luz num dos lados da sala que sua mente consegue se acalmar novamente. caminha em sua direção e a cada passo o facho de luz aumenta. ao

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o menino que foi de encontro à mãe

Por Caio Andreucci

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contrário do que se passou com sua mãe, esse rastro de luz logo ficou bem próximo do garoto, que viu ser de uma abertura no chão, uma escada, que ele, pronta-mente, sem hesitar por um passo que fosse, começou a descer.

era uma escada velha e decrépita, rangia e tremia a cada passo, não tinha corrimão, se assemelhava mui-to a um túnel: após alguns degraus, o garoto estava rodeado por paredes e por um teto que descia na mes-ma inclinação que os degraus. conforme vai descendo, o ambiente vai se tornando mais iluminado: logo ele consegue ver as paredes, o teto e os degraus, todos fei-tos de tábuas de madeira. também, o ambiente vai se tornando mais úmido e frio. mais alguns degraus está tudo iluminado, como se estivesse a céu aberto num dia de sol sem nuvens. as tábuas vão ficando mais úmi-das conforme desce e mais alguns degraus abaixo os degraus aparecem afundados n’água. o garoto estanca. senta e começa a inspirar e expirar calmamente. é um jovem de bela fisionomia: é linda a sua expressão que mescla determinação, cansaço e serenidade. ao mesmo tempo em que tem um objetivo claro, menospreza-o, sabe que é indiferente encontrar ou não sua mãe. mas assim como o despreza, o considera digno o suficiente para seu cansaço.

de um repente o garoto se levanta e volta a descer a escada e começa a afundar nas águas. os primeiros passos são gelados, mas ele logo se acostuma e já está com a água à altura de seu queixo, e, nesse ponto, ele para novamente. inspira profundamente e olha para a água que o rodeia como se calculasse algo. seus olhos então lampejam um brilho de confiança e ele reco-meça sua descida. parece não haver diferença entre a gravidade dentro e fora d’água, o garoto continua descendo como antes: com passos iluminados, firmes, resolutos. no entanto, agora debaixo d’água, ele não consegue respirar e isso começa a lhe fazer mal, pouco a pouco. é linda a expressão desse jovem: ele caminha com o brilho da dor e da confiança no rosto: caminha em direção ao sufocamento. logo perde a consciência por conta da falta de ar, mas isso não tira a firmeza de sua expressão e o brilho de seus olhos: mesmo incons-ciente vai em direção ao objetivo que lhe é indiferente.

alguns contam que horas depois seus órgãos tinham perdido a vida, mas que seus olhos ainda brilhavam morte e vida e suas pernas continuavam descendo a passos firmes a escada infindável, e que assim ele per-manece e permanecerá eternamente.

Caio Andreucci é estudante do segundo ano.

Selva MísticaPor Luís Kobra

selva místicaou sala cinzasimplesmentesalto por ai

já encontreiuma alma gêmeamais de um milhãode vezes más

traçando trapézios em cacos de vidrosum mistério caro que preciso

(...fechando os olhos eu vi o céu fugindo)

selva místicaou cela friasobe a cortinada ocasião

o vento rasganossas vestesnas ruínas me ancoro

o raio raro no adormecidouma tela branca pro infinito

(...fechando os olhoso teto foi sumindo)

não há mais medomas me resguardo

não há mais medomas me resguardo

e crio um novo...

Luís Kobra é estudante do terceiro ano.

poesia

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P r o l i x oPor Erick Nascimento Vidal

O essencial. Avante o essencial!Somente o essencial!Trabalhoa máquina, sim, o novo, o popular, o belo, amputado, afogado, esmagado cérebro,a máquina, sim, o novo Estado, belo, popular, igual ao nado cansado daborboleta desalada – trabalho – que envelhece – ga-nho – enrubesce – nado – morre... Nada.

Erick Nascimento Vidal é estudante do primeiro ano.

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poesia

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Para cantar no ritmo das batidas do coração (se possível, bater na carteira e cantar junto, mas lembre-se, nas batidas do coração).

Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum, Tum tá, Tum tá, Tum tá Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum tá...

Estigma!Uma palavra pra poder pensar,Uma palavra talvez pra poder distanciarO olhar entre você e euOu ainda, entre eu ele e vocêOu quem sabe entre nós e o MUNDOEnfim... um olhar bem profundo.A intenção aqui não é complicarE muito menos... de r e - l a - t i - v i - z a r!Comecemos então com caso do JoséUm rapaz que não era visto como ele querComum: “como esses que se vê no mundo”Ixiiiiiiii........ Que... absurdo!Não era visto, se pá invisível, com a roupa do trampo, trabalho um oficio.Mas... muita gente nem percebia, que ele limpava... a vidraça da salinha.Sala, vidraça, por entre ela, FAZENDA – Um recanto, que muita gente entra e nem se esquenta.Que um dia seus avos olharam, seus pais olharam, provavelmente seus filhos também vão olhar... quiçá também não vão esquentar... tá na FAZENDA – árvores, campos...iiiiiii, pra que se esquentar...Mas o José não pode nem enxergar, e nem se apropriar de um pouquinho das coisas que-se-passavam por láMas um dia desses ele teve um pequeno espaço e pode soltar a voz dentro e no meio Palácio:Agora acelera as batidas do coração: Tum Tum tá, Tum Tum tá, Tum Tum tá, Tum Tum tá, Tum Tum tá, Tum Tum tá...Veja bem com seus olhos bem A B E R T O S que eu estou no CHÃO e você está lá no CÉU...

Não quero sabero seu sobrenome o seu endereço nem seu telefoneporque eu já sei que você deixou seu coração na mão.Não quero saber se você vem de carrose você vem de táxiou de aviãoporque já sei que você perdeu seu coração, MEU IRMÃO.Não quero saber se você tem RAZÃOse você tem JUÍZOse pá COMPAIXÃOporque já sei que você perdeu o que tocava o seu coração.

Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum, Tum tá, Tum tá, Tum tá Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum tá, Tum tá...

Diego Corrêa de Araújo é estudante do segundo ano e líder da banda Mundo Cana.

R E - F A - Z E N - D APor Diego Corrêa de Araújo

S i n oPor Daniel Vinha

A corda aco rdaA gente que dormeP uxando o s inoS eu som un i fo rmeEm ba ixo em c imaO s ino t imbraEm ba i xo em c imaEm ba ixo em c imaEm ba ixo em c ima .O s ino é s ina lDe a lgoAss im como a s a l ga sAss im como a s águasHá mi lha re sDe s ina sTrá s o s monte sAcorda r am condesAcorda r am re i sE o s v i l a re jo sE os re inosS em s inoO Re i o rdenava :– Em teu c ava lo, monte s !E t r aga s um s ino !Após busc adoBa lanç avaEm ba i xo em c imaEm ba ixo em c imaEm ba ixo em c ima .Não achadoO s ino to rnava- seAlgozMas re s t a a vozE o povo g r i t aEm ba i xo em c imaEm ba ixo em c imaEm ba ixo em c ima .

Daniel Vinha é estudante do primeiro ano.

poesia

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poesia

MastigadoPor Gustavo Berbel

meu limite: restritofeito palavra proibidaviolentamente tapada

[amordaçado]

nesse assassinato cotidianodespedaço minutosdevoro horassegundos(como seu corpo)tantas vezes preso entre meus dentesmastigado pelo meu ímpetodigerido em solidão

poesia

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LivrePor Gustavo Berbel

no tempo que os sonhospermitidos como todos desejoscorriam leves livres pelo caminhosuas curvascada contornoia de encontro à linha volátilda mais obscura vontade

Gustavo Berbel é estudante do terceiro ano.

poesia

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Por Fábio Hideki Harano

poesia

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Fábio Hideki Harano é estudante do terceiro ano. Estes e outros poemas, assim como tiras e charges, podem ser encontradas em http://www.facebook.com/fabiohidekiharano.

Por Fábio Hideki Harano

poesia

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Por Henrique Mogadouro da Cunha

Henrique Mogadouro da Cunha é estudante do quarto ano e faz parte da gestão Cirandeia.

charges e quadrinhos

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retratos sociais

Pintando o Mundo - Foto tirada no Parque Ibirapuera em São Paulo.

Por Ana Beatriz Carvalho e Silva

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INÍCIO DO PERÍODO: 23/3/2011 - R$ 2.119,50 SAÍDAS Data Valor (r$) Descrição 25/mar 498,96 Compra de botões 30/mar 105 Chaveiro: troca da fechadura da sala do CeUPES e cópia de chaves 31/mar 400 Compra de botões 31/mar 714 Compra de botões 31/mar 40 Compra de gelo 31/mar 500 1ª parcela da compra do equipamento de som

11/abr 50 Contribuição mensal ao DCE 12/abr 500 Compra de cerveja 13/abr 1000 Empréstimo para o fundo de greve das funcionárias da limpeza 15/abr 309,40 Compra dos botões que restaram para o fundo de greve

4/mai 900 Compra de botões - Festa do Bigode 10/mai 10,3 Cópias - Xerox 10/mai 2,5 Papelaria 11/mai 25 Cartazes da festa SeCS on the Beach 12/mai 20 Cópias - Xerox 13/mai 50 Contribuição mensal ao DCE 17/mai 297,5 Compra de botões 19/mai 838,5 Compra de botões e lacres numerados 19/mai 42,45 Decoração para festa SeCS on the beach 20/mai 5 Papelaria 20/mai 1.081,39 Compra de botões e lacres numerados 20/mai 40 Compra de gelo

2/jun 15 Cópias - Xerox 3/jun 298,08 Compra de botões 7/jun 1,5 Papelaria8/jun 50 Contribuição mensal ao DCE 9/jun 496,80 Compra de botões 17/jun 10 “Varais” Nota nº 64 17/jun 8,1 Papelaria 20/jun 15 Cópias - Xerox 21/jun 1.895,37 Compra de botões e lacres numerados 22/jun 1.008,46 Compra de botões e lacres numerados 22/jun 3,5 Papelaria 22/jun 5 Cópias - Xerox 22/jun 27 Compra de gelo 22/jun 54 Compra de gelo 22/jun 84,36 Compra de lacres numerados 23/jun 789,48 Compra de botões 23/jun 734,58 Compra de botões 23/jun 277,05 Compra de lacres numerados 23/jun 70 Compra de botões 25/jun 700 Participação na Festa Junina da FFLCH

1/jul 950,56 Repasse para o CAF relativo à festa Preparada 5/jul 200 Aluguel de equipamento de som para a festa Preparada

total 15.123,84 26

Prestação de contas do CeUPESmarço a julho de 2011

Contribua você também com a construção do jornal!

Para ficar por dentro das próximas reuniões e/ou saber

mais sobre a iniciativa, acesse: ceupes2011.wordpress.com/jornal.

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ENTRADAS Data Valor (r$) Descrição

15/abr 1.000 Retorno do empréstimo ao fundo de greve das funcionárias da limpeza 5/jul 966,10 Repasse da atlética referente à Festa junina

total 1966,1 Nota: Ainda não foi realizada a contabilidade referente à Semana de Ciências Sociais (SeCS), que envolve, inclu-sive, a entrada de verbas provenientes dos departamentos do curso e os gastos referentes à divulgação e realização do evento. Somando isso à arrecadação ao longo de todo o período com festas e vendas de botões e lacres nume-rados, obtemos o valor total presente em caixa. FINAL DO PERÍODO: 16/7/2011 - R$ 4.291,80

Nota: Do total apontado em caixa, o valor de R$417,00 refere-se ao dinheiro arrecadado durante o trote solidário e deverá ser doado. Além disso, o valor de R$ 352,00 foi o lucro obtido com a Festa do Bigode e deverá ser rever-tido para o Espaço Verde. E o valor de R$ 200,00 será entregue, como combinado, ao casamento coletivo LGBT. Considerando isso, o total líquido em caixa é R$ 3.322,80.