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O jornal das lutas comunitárias e da cultura popular Ano 5 - Número 43 Abril de 2010 Enchente e mais tragédias, de novo Descobrindo talentos Jovens da região lançam livros Patrimônio Histórico da Baixada de Jacarepaguá abandonado pelos governos Página 7 Página 6 fotos de Marcelo Ávila Agora que a grande mídia começa diminuir espaço nas suas páginas sobre a tragédia dos cerca de sete mil desabrigados e mais de 255 mortos soterrados por lama, pedra e lixo no Rio de Janeiro, o Jornal Abaixo-Assinado não quer deixar cair no esquecimento e vai fundo na discussão do problema das chuvas na cidade. Em artigo na página 3, Almir Paulo recorre a um texto “As enchentes” escrito por Lima Barreto no Correio da Noite, em 19 de janeiro de 1915, para mostrar que o problema é antigo e de conhecimento dos governos e questiona o prefeito Eduardo Paes sobre os investimentos na Geo-Rio. O deputado Chico Alencar salienta, em artigo na página 4, que as chuvas no Rio, inevitáveis, poderiam produzir menos óbitos e desabamentos. Então, a responsabilidade é também dos governantes, que, como hábito, cuidam mais de obras ‘grandiosas’, cosméticas ou rodoviárias do que de saneamento, habitação segura, dragagem de rios, e coleta contínua e seletiva de lixo. O fotógrafo Marcelo Ávila registrou em fotos os estragos causados pela chuva na comunidade Santa Maria, na Taquara, e na Praça Seca. Evidenciando a necessidade de uma política habitacional para nossa região. As autoridades precisam assumir sua culpa em vez de buscar desculpas. A responsabilidade é humana e política e não vale culpar os mortos. Choramos como cidadãos a perda de vidas valorosas e desejamos que a dor dos que perderam seus entes queridos sirva para mudar os rumos da política dos podres poderes em nosso Estado e em nossa cidade Leia mais nas páginas 3, 4 e 5.

Jaaj 43 abr10

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O jornaldas lutas

comunitáriase da cultura

popular

Ano 5 - Número 43Abril de 2010

Enchente e mais tragédias, de novo

Descobrindo talentosJovens da região lançam livros

Patrimônio Histórico da Baixada deJacarepaguá abandonado pelos governos

Página 7 Página 6

fotos de Marcelo Ávila

Agora que a grande mídia começa diminuir espaço nas suas páginas sobre a tragédia doscerca de sete mil desabrigados e mais de 255 mortos soterrados por lama, pedra e lixo no Riode Janeiro, o Jornal Abaixo-Assinado não quer deixar cair no esquecimento e vai fundo nadiscussão do problema das chuvas na cidade. Em artigo na página 3, Almir Paulo recorre a umtexto “As enchentes” escrito por Lima Barreto no Correio da Noite, em 19 de janeiro de 1915,para mostrar que o problema é antigo e de conhecimento dos governos e questiona o prefeitoEduardo Paes sobre os investimentos na Geo-Rio. O deputado Chico Alencar salienta, emartigo na página 4, que as chuvas no Rio, inevitáveis, poderiam produzir menos óbitos edesabamentos. Então, a responsabilidade é também dos governantes, que, como hábito, cuidammais de obras ‘grandiosas’, cosméticas ou rodoviárias do que de saneamento, habitação segura,dragagem de rios, e coleta contínua e seletiva de lixo. O fotógrafo Marcelo Ávila registrou emfotos os estragos causados pela chuva na comunidade Santa Maria, na Taquara, e na PraçaSeca. Evidenciando a necessidade de uma política habitacional para nossa região.

As autoridades precisam assumir sua culpa em vez de buscar desculpas. A responsabilidadeé humana e política e não vale culpar os mortos.

Choramos como cidadãos a perda de vidas valorosas e desejamos que a dor dos queperderam seus entes queridos sirva para mudar os rumos da política dos podres poderes emnosso Estado e em nossa cidade Leia mais nas páginas 3, 4 e 5.

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Ano 5 - Número 43 - Abril de 2010

[email protected].: (21) 7119-6044

Caixa Postal 70514 – Taquara – RJCEP 22.740-971

Publicação mensal daRPC Editora Gráfica LtdaCNPJ 08.855.227/0001-20

Conselho Editorial Almir Paulo, Ivan Lima, Manoel Meirelles,Val Costa, Jayme Rocha, Sílvia Regina,

Paulo Silva, Luciana Araujo,Sônia dos Santos, Cláudio Mattos,

Pedro Ivo e Maraci Soares

Colaboraram nessa ediçãoIone Santana, Jerônimo da Silva, JaneNascimento, Maurício Lafayete, Elena

Barros e Tatiana Santiago

Diagramação e Arte-finalJane Fonseca

Mala-direta: Governo Federal; CâmaraFederal (bancada do Rio); Governo do

Estado; Assembléia Legislativa; Prefeitura;Câmara Municipal; Tribunal de Justiça;partidos políticos; Acija; Acibarra; Acir;

sindicatos; cooperativas; associações demoradores; FamRio; Famerj; Faferj; Faf-Rio;

Ong’s; Ibase; Fase; Viva Rio; rádios comunitárias

As matérias assinadas são deresponsabilidade dos autores

Distribuição gratuita

EXPEDIENTE

Cartas dos leitores

Cartas Informe nome completo, telefone eendereço. O jornal se reserva o direito de, semalterar o conteúdo, resumir ou editar as cartas.

[email protected]. postal 70514 – Taquara – 22.740-971

Desabafo contra Viação Santa MariaCansei do monopólio da empresa de transporte Santa

Maria em setores de Jacarepaguá (AP4), como na Estradados Bandeirantes. Há dias em que espero o ônibus por até40 minutos. Depois eles seguem em direção à Vargem Grandelotados. Os ônibus da linha 747 estão obsoletos. Já assistium motorista colando a caixa situada abaixo do volante comfita isolante. Outro dia um dos bons profissionais que há naempresa me contou que houve redução do número de carrosda linha 747, de mais de 30 passaram a cerca de 17.*Sílvia Regina, moradora de Vargem Grande, por e-mail

A violência nas escolasA violência nas escolas está cada dia pior. E o que mais

me assusta é justamente o fato de que a maioria dos casosnão são publicados, não chegam aos jornais e a sociedadenão fica sabendo. Todos os dias vários e vários professoresestão sendo atacados, principalmente por alunos do 6º ao 9ºano (ensino fundamental) com idade entre 12 e 17 ou 18anos. Resultado: professores traumatizados e afastados, sóisso.

Li em O Dia on line de 05/04/2010: “Alunos espancamdiretora – Educadora tentou separar briga entre estudantesde colégio municipal em Vila Isabel e foi atacada. Ameaçadade morte pelo grupo, que também depredou escola,profissional pediu afastamento. Professores temem voltar àunidade”.

Ninguém toma atitudes. Eu soube por alto um outro caso

de uma professora em quem um aluno colocou uma bomba(não sei se caseira ou bombinha) e machucou sua barriga.Cadê a divulgação e atitudes?

*Geny Guimarães, professora, por e-mail.

JAAJ na escolaDistribui no dia 9 de março o Jornal Abaixo-Assinado deJacarepaguá nas três turmas do 3º ano em que sou professorde História. Leitura atenta e interessada e debates foi o quemais observei, um SUCESSO escolar. Na próxima ediçãogostaria de ter uns duzentos exemplares para distribuição edivulgação do JAAJ nas minhas seis turmas. Como faço paraobter os jornais em abril?*Iremar Adelmo, professor, morador do Pechincha, por e-mail.

Resposta do JAAJ: Professor Iremar, ficamos felizescom o trabalho que o senhor realizou com o nosso jornal,significa que nossa proposta editorial está no caminhocerto. Será um enorme prazer entregar-lhe os 200exemplares mensalmente, para que o senhor possadesenvolver o debate e a reflexão junto com seus alunos

Caro leitor, agora mensalmente vocêpoderá obter o exemplar do JornalAbaixo-Assinado de Jacarepaguá,gratuitamente, nos seguintes endereços:

Taquara• Centro Comercial Barão da Taquara(Prédio da Caixa)• Centro Comercial Unicenter Taquara• Padaria Nobreza• Clube PortuguêsFreguesia• Centro Com. Unicenter Freguesia• Passarela da FreguesiaPechincha• Academia Personal Studio – Estr.Tindiba, nº 185Praça Seca• Condomínio Residencial Florianópolis- portaria na R. Florianópolis, nº 1.521.• Academia Rio Swin – Rua CândidoBenício, nº 2.339

Informações e Assinaturas pelo telefone(21) [email protected] Postal 70514 – Taquara/RJ –Cep 22.740-971

Saiba onde encontrar o

Jornal Abaixo-Assinado

*Luciana Araujo

“Todos têm direito ao meioambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum dopovo e essencial à sadia qualidade

de vida, impondo-se ao PoderPúblico e à coletividade o dever de

defendê-lo e preserva-lo para aspresentes e futuras gerações”.

Este é o artigo 225 da nossaConstituição Federal de vital importânciapara a compreensão e aplicação de todoas leis brasileiras que tratam da temáticada proteção ao meio ambiente.

A partir da Constituição de 1988 aproteção ambiental foi incluída comoalgo fundamental, indispensável asobrevivência da espécie humana,contemplando, desta forma, o direito aomeio ambiente ecologicamenteequilibrado como um direito humanofundamental.

A Constituição ao proteger o meioambiente, não protege apenas a

natureza, ou seja, a flora, mas sim atodos os elementos que constituí abiosfera, ou esfera da vida, e que dãoorigem aos ecossistemas, no qual inclui-se o homem.

O meio ambiente, então, é um direitode todos, porém um meio ambienteecologicamente equilibrado, ao mesmotempo em que é um bem de uso comum– ou seja, pertence ao povo, e não aoparticular, nem ao Estadoexclusivamente. O dever de gestor dessepatrimônio cabe, assim, tanto ao poderpúblico quando a coletividade, paragarantir seu uso sustentável na atualidade,e para que as gerações futuras tenhamtambém a possibilidade de usufruir dessemesmo ambiente natural, garantindo o usoprolongado dos recursos da Terra.

Sendo os direitos humanos aquelesdireitos essenciais e fundamentais agarantir a dignidade da pessoa humana,tanto em caráter individual quantocoletivo, que devem ser reconhecido erespeitados por todos, o direito a um meioambiente essencial a sadia qualidade devida é um Direito Humano Fundamental,

O direito fundamental ao meio ambiente

capaz de garantir a todo os homens,indistintamente, os direitos que todos osseres humanos possuem de igualdade,liberdade, fraternidade e dignidade.

A proteção ao meio ambiente nãodeve ser exigida somente do PoderPúblico, todos nós somos co-responsáveis pela proteção ambiental,ou seja, devemos proteger e denunciara degradação ambiental.

Reconhecer o meio ambiente comoum direito fundamental é o primeiropasso para a sua efetivação e a garantiade um ambiente saudável para nós epara as futuras gerações, como dispostono artigo 225 da Constituição Federal.

*Geógrafa

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OpiniãoEditorial

O Jornal Abaixo-Assinado soma-se as diversas forças políticas e ao povo do Estado

do Rio de Janeiro contra a aprova-ção pela Câmara dos Deputados deuma emenda a um projeto de lei queregulamenta a exploração do petró-leo da camada pré-sal, de autoria dosdeputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), Humberto Souto (PPS-RS) eMarcelo Castro (PMDB-PI).

A emenda Ibsen, como ficou co-nhecida, muda as regras da divisãodos royalties pagos pelas empresaspetrolíferas comocompensação pe-los impactos de-mográficos, am-bientais e de infra-estrutura causa-dos pela explora-ção do petróleo.Pelas regras atu-ais, a maior partedos royalties vaipara a União, paraos Estados e mu-nicípios onde háprodução de petró-leo. Os demais Estados recebemapenas uma pequena parcela dodinheiro.

Com o argumento de que é pre-ciso dar tratamento igualitário aosEstados, a emenda Ibsen mantém afatia de 40% da União na divisão

dos royalties e todos os Estados emunicípios dividirão os 60% res-tantes, seguindo os critérios de par-tilha dos fundos de Participação dosEstados e Municípios.

Esses novos critérios de partilhade royalties dos campos pré-sal e dosjá existentes trará uma perda para oEstado do Rio de Janeiro em maisde R$ 4,6 bilhões de arrecadação.Um duro golpe contra o povo cariocae fluminense.

Acreditamos que o debate sériosobre a divisão do pré-sal (a camada

está a cerca de300 quilometrosda costa e a 7.000metros de profun-didade no oceano,só começarão agerar renda den-tro de dez anos)aconteça sem o-portunismo elei-toral porque o cer-to é que a divisãodos royalties pre-serve o equilíbrioda federação, re-

compense os Estados mais afetadospela extração do petróleo e, so-bretudo, garanta o desenvolvimentode todo o país, em especial sirva paramelhoria da educação, saúde, ge-ração de emprego e o cuidado am-biental.

O petróleo é nosso!

“...o certo é que adivisão dos royalties

preserve o equilíbrio dafederação, recompense

os Estados maisafetados pela extração

do petróleo e, sobretudo,garanta o

desenvolvimento detodo o país...”

Você escreve e nós publicamosMoradores de Jacarepaguá, Praça Seca, Vila Valqueire, Camorim,Cidade de Deus, Rio das Pedras, Barra, Recreio e das Vargens.Queremos sua participação no nosso jornal. Você pode escrever enós publicamos na íntegra suas reivindicações, suas denúncias esua visão sobre os problemas da sua comunidade e da região. Enfim,entre no debate e na luta para construir um bairro melhor. Solte o seuverbo e grito em nossas páginas.

[email protected] Postal 70514 – Taquara/RJ – Cep 22.740-971

Solidariedade ao mestre Miguel BaldezO Jornal Abaixo-Assinado de Jacarepaguá presta sua solidariedade

ao professor Miguel Baldez, que após 42 anos de trabalho, foi demitido daUniversidade Cândido Mendes por defender ensino superior de qualidade egarantias trabalhistas.

Nossa solidariedade ao mestre Miguel Baldez tem por objetivohomenagear a trajetória de luta de Baldez já que boa parte dos seus 80 anosde idade foram dedicados à luta em defesa dos oprimidos sempre ao ladodos movimentos sociais e por uma sociedade mais justa e igualitária.

AS ENCHENTES“As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro,

inundações desastrosas. Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicialinterrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas inundaçõescausam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de haveres e destruição deimóveis.

De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado dodever de evitar tais acidentes urbanos. Uma arte tão ousada e quase tão perfeita,como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples problema.

O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares, dos freios elétricos, não pode estarà mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida integral.

Como está acontecendo atualmente, ele é função da chuva. Uma vergonha!Não sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problemanão é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheirosmunicipais, procrastinando a solução da questão.”

Rio:Caos nosso a cada chuva.

E os principais culpados são os governos

Caro leitor, sabe quem escreveu o textoacima? Sabe em que jornal e em que ano?

Este texto “As enchentes” foiescrito por Lima Barreto no Correioda Noite, em 19 de janeiro de 1915.

O texto do escritor Lima Barretoparece atual ao abordar as chuvas doinício do século passado. São quase 100anos que sofremos com a falta deplanejamento do poder público.

O problema é que nossas cidadesnão estão preparadas para enfrentaressa situação. Por quê será? Vejamoso que acontece com nossa cidademaravilhosa.

O relatório do Tribunal de Contasaponta falhas e deficiências na limpezade rios e canais da cidade do Rio porparte da Prefeitura. As verbas paracontenção de catástrofes foramdiminuídas. No Plano Plurianual daPrefeitura, os recursos previstos de 2010a 2013 para a Geo-Rio totalizam R$ 37milhões. De 32 áreas de risco contidasno Plano Municipal de Redução deRiscos de 2005 até agora nenhuma delasrecebeu as obras necessárias. De 2007a 2009 a verba empenhada pela Geo-Rio foi de R$ 46 milhões – 28% do quemostrava a necessidade de intervençõescom obras de contenção no valor totalde R$ 159,8 milhões, para beneficiar

387.346 pessoas em 448 áreasvistoriadas pelo órgão.

Enquanto isso, a prefeitura dosenhor Paes prevê gastar R$ 120milhões com publicidade. A Cidade daMúsica já consumiu uns R$ 500milhões, e ainda pode consumir uns R$100 milhões. E inexistem comoprioridades da Prefeitura (e do GovernoEstadual também) obras de prevençãode acidentes geológicos.

Nossa cidade continua esburacadae mal iluminada, qualquer chuvinha asruas ficam alagadas, os bueirosentupimentos. Rios e canaistransbordam porque falta dragagem elimpeza. Constantes apagões, depois daprivatização da Light. A água nastorneiras tem faltado como há muitotempo não se via, apesar dapropaganda governamental com a“nova” Cedae.

Agora vem o Lula, o Sérgio Cabral,o Eduardo Paes e o Jorge Roberto daSilveira, diante do caos acontecendo,darem declarações que culpam achuva ou os mortos. Creio que todosnós queremos o compromisso compolíticas públicas que nos respeitemcomo cidadãos e seres humanos dianteda dor.

*Coordenador Editorial do JAAJ

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Enchentes

Chico

Alencar

Chico

Alencar

Nosso Rio de Janeiro transborda.As forças da natureza geramdestruição e morte. O dilúvio desteabril atinge níveis pluviométricosimpressionantes. Mas não podemosficar na dolorosa constatação datragédia. O ser humano criou, hátempos, tecnologias e mecanismosque impedem que fiquemos tãoexpostos à pesada ação da natureza.Natureza que, por sinal, dando sinais,reage de forma cada vez mais violentaàs insanas alterações que temosprovocado no planeta.

As chuvas no Rio, inevitáveis,poderiam produzir menos óbitos edesabamentos. Então, aresponsabilidade é também dosgovernantes, que, como hábito,cuidam mais de obras ‘grandiosas’,cosméticas ou rodoviárias do que desaneamento, habitação segura,dragagem de rios, e coleta contínua eseletiva de lixo. Mas cada cidadãotambém tem sua responsabilidade,desde o aparentemente prosaicohábito de jogar papel higiênico emvasos sanitários ao lixo lançado aesmo, nas ruas e praças.

Não é por acaso, muito menos porum desígnio cruel de Deus, que asvítimas das enchentes sejam sempreos pobres, com raríssimas exceções!São as principais vítimas porque nãohá política habitacional, porque não háoferta de alternativas aos que moramem áreas de risco, porque não hálimpeza urbana adequada em nossascomunidades faveladas, porque não

há manutenção em galerias pluviais efluviais, porque não há educaçãoambiental cidadã para todos, porquenão há sequer ação preventiva quantoa temporais anunciados. Seria levianoe demagógico dizer que a ação públicaevitaria todo e qualquer desastre, masque ela minimizaria danos epreservaria vidas, não há dúvidas!

Em nome da dor das famíliasenlutadas, dor concreta, lágrimas reais,muito mais pungente que abstrata“lamentação pelo Rio”, é preciso agir,mudar posturas, iniciar políticas delongo prazo, sem o olhar imediatistado voto fácil. E cada um de nóstambém tem a obrigação de fazer asua parte, na atitude diária e nasolidariedade emergencial, com maisconsciência do que é viver emcoletividade.

Em nome do pranto sentido detantas famílias, que acontece aqui eneste momento, é preciso encaminharsoluções imediatas, envolvendo apopulação como partícipe, e não ficarprojetando só os Jogos Olímpicos de2016 ou vinculado aos interesses dasgrandes empreiteiras eincorporadoras, financiadoras decampanhas eleitorais. Estas sóenxergam as cidades como lugar denegócios e o solo urbano comomercadoria. O jogo da vida, dasobrevivência, está sendo jogadoagora, e a população carioca efluminense está perdendo. Nessatragédia, na verdade, todosperdemos.

*Professor de História e DeputadoFederal pelo PSOL-RJ

A tragédiapoderia sermenor

(21) 7119-6125 / (21) 7119-6163 E-mail: [email protected]

Na opinião do arquiteto Canagé Vilhena, morador das Vargens, “enfimaconteceu o que se esperava: Vargem Grande e Vargem Pequena formam agoraa Veneza Carioca. Os canais assoreados, há muitos anos, impedem o fluxonormal das águas pluviais. Estes bairros estão sob a água, agora às 3horas damadrugada do dia 6 de março de 2010.Segundo a prefeitura a cidade só ficarápronta para enfrentar as enchentes a partir do ano que vem. Até lá vamosconviver com a conversa oficial de sempre. Até lá vamos continuar vendo aprefeitura e governo do estado recebendo verbas emergenciais para mantertudo como sempre esteve. Mais uma vez São Pedro será responsabilizado.”

Mansão em Vargem Grande, situada ao final da Rua Capitão Pedro Afonso. Vizinhosrelataram que moradores sairam com ajuda do Corpo de Bombeiros.

As chuvas que atingiram aRegião Metropolitana do Rio deJaneiro no início de abril deixarammilhares de desabrigados edesalojados. Na Baixada deJacarepaguá, a situação tambémnão foi diferente. Recreio dosBandeirantes, Vargem Grande,Praça Seca e a comunidade deSanta Maria foram as áreas maisatingidas pelas chuvas. Muitasdessas pessoas perderam tudo e sópossuem a roupa do corpo. Visando

Doação e apoio asvítimas das enchentesJornal Abaixo Assinado e Personal Studio

se juntam para ajudar as vítimas das enchentesna Baixada de Jacarepaguá.

amenizar essa situação, o JAAJ e aPersonal Studio irão recolheralimentos não perecíveis, produtosde higiene pessoal e roupas paradoar às vítimas das enchentes. A suaparticipação é essencial!

Local para doações:Estr. do Tindiba, 185 sala 104Pechincha - das 17h às 21h.Telefone (21) 3327-4007

Prof. Jéferson.

Vargens sofreu com as chuvas

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PoesiaO poema da professora Elena Barros,moradora da Taquara, traduz nossaindignação com as 255 mortes nasenchentes do início de abril.

Imagens que falamImagens que falam na moldura fria

e colorida das fotos da vida real.Imagens que gritam o caos e o abandono,

o desespero total.O descuido, a irresponsabilidade,

a não-comunhão.Imagens aflitas, perdidas, destroçadas,

imagens distorcidas,imagens mutiladas de vidas, muitas vidas,

carregadas em enxurradasmeio à multidão.

Quero olhar pela lente do beloe ver o Rio de verde e amarelo –

cidade, estado, nação.Imagens que esperam em desassossego

o socorro burocrático do descasoe da desatenção...

Enchentes

Há anos a população da Baixada de Jacarepaguá sofre com as chuvas. Saigoverno, entra governo, nada muda. É só promessa. Um ano no governo,Eduardo Paes nada fez. O governador Sérgio Cabral, em fim de mandato,nada fez na região. Os rios continuam sem serem dragados, os moradoresvivem em áreas de risco e nenhuma casa foi construída na região. Não temjeito: a culpa é dos governantes!

Marcelo Ávila, fotógrafo e morador do Pechincha, registrou em primeiramão para o Jornal Abaixo-Assinado o drama das comunidades da Praça Secae da Taquara, em especial dos moradores da Comunidade de Santa Maria.

Novamente, uma tragédia anunciada

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Yakaré upá guá

*Val CostaPatrimônio Histórico pode ser

definido como um bem material,natural ou imóvel concebido porsociedades do passado e quepossuiu importância artística,cultural, religiosa, documental ouestética. O Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional –IPHAN- é o responsável pelagestão, proteção e preservação dopatrimônio histórico e artísticobrasileiro. Além desse órgão, o estadodo Rio de Janeiro conta também como Instituto Estadual do PatrimônioCultural – Inepac- que se dedica àpreservação do patrimônio culturalestadual, elaborando estudos,fiscalizando obras, emitindo parecerestécnicos, pesquisando, catalogando eefetuando tombamentos.

Detentora de um dos maioresacervos históricos da cidade, a Baixadade Jacarepaguá possui vários vestígiosque remontam ao período do Brasilcolonial e que se encontramabandonados pelo poder público.Dentre os quais, destaca-se o Marco 5(cinco) das Sesmarias da Tijuca,localizado na Estrada do Joá nº 690 e

tombado pelo Inepac em 3 desetembro de 1965, através do processo03/300.396/65.

Em 1565, Estácio de Sá, doou àcidade uma sesmaria deaproximadamente 130 Km2. Essavasta extensão de terras englobavaBarra da Tijuca, São Conrado, Gávea,Leblon, Copacabana, Flamengo,Catete, Gamboa e Saúde, indo até anascente do Rio Comprido. Em 1753,a Câmara Municipal marcou operímetro da sesmaria com 21 pedraslavradas, todas com a inscrição CMA,de Câmara. Ao longo dos séculos, essesmarcos foram gradativamente sendodestruídos ou aterrados. O único querestou foi o marco localizado em umterreno na Estrada do Joá. Semqualquer tipo de identificação, esseimportante vestígio da história dacidade necessita muito mais que umtombamento, que é um ato de cunhojurídico, mas principalmente de açõesefetivas para preservá-lo.

Outro bem tombado, desta vez peloIPHAN, que desapareceu da nossapaisagem, foi o prédio construído, em1885, pelo médico-sanitarista Cândido

O abandono do Patrimônio Histórico da Baixada de Jacarepaguá

Líder conta à históriada Fazenda Mato Alto

Entrevista com Presbítero Alves, na fotoao lado com dona Letícia, é morador e

líder comunitário da Fazenda Mato Alto

JAAJ: Fale um pouco sobre a história da FazendaMato Alto e do aparecimento da comunidadenessas terras.Sr. Alves: Quando o IPASE adquiriu estas terras , colocou aqui pessoaspara tomar conta. Assentou no Casarão a família do Sr. Floriano, quepassou, esse senhor, a ser o primeiro administrador da Fazenda MatoAlto. Outros administradores sucederam-lhe e outras famílias foramassentadas.

JAAJ: Quais as iniciativas que a Associação de Moradores teve parapreservar o “Casarão”?Sr. Alves: A comunidade foi contemplada com o programa Favela Bairro.Quando a equipe da Prefeitura veio inspecionar a comunidade paraimplantação do programa, eu levei essa equipe para ver o Casarão, epedi-lhes que estudassem a possibilidade do tombamento do mesmo e oaproveitassem para usá-lo como posto médico. A resposta foi que ficariamuito caro, e não valeria a pena.

JAAJ: Qual a importância da preservação do patrimônio históricopara as gerações do presente e do passado?Sr. Alves: A preservação do patrimônio histórico é importante no sentidode dar conhecimento às gerações do presente e do futuro, como foi, oque foi, para que foi e porque foi que aconteceu cada construção.

Pesquisadores lançam blog sobrea Baixada de Jacarepaguá

Os professores Val Costa e Luciana Araujo lançaram, no final do anopassado, um blog para divulgar as suas pesquisas sobre a Baixada deJacarepaguá. Nele, os pesquisadores expõem os seus artigos e avisam sobreas palestras e eventos que participam. O objetivo é desenvolver um espaçovirtual dinâmico, onde moradores, pesquisadores ou apaixonados pela regiãopossam contribuir com fotos e textos. Se você tem uma foto antiga, imagemou documento sobre a Baixada de Jacarepaguá, mande para o blog que ospesquisadores terão prazer em postá-la.

O endereço do blog: http://barra-jpa.blogspot.com/E-mail para contato: [email protected]

pelo Instituto de Pensões e Assistênciaaos Servidores do Estado – IPASE –que construiu um conjunto habitacionalna propriedade no ano de 1956. Aoadquiri-lo, o Instituto cedeu o casarãopara o Sr. José Floriano de SouzaPortas, que foi o primeiro administradordessas terras na era IPASE, atuandocomo guarda florestal da fazenda. Hoje,esse importante vestígio históriconecessita, além de um tombamentourgente dos órgãos competentes,reformas que possam mantê-lo de pé.

A preservação e a conservação dopatrimônio histórico, cultural eambiental é dever de toda a sociedade.Conscientizar as atuais e futurasgerações da importância dessesvestígios do passado possibilita formaruma identidade local, fundamental paraconstruir uma cidadania participativa.

*Professor e Pesquisador

Benício da Silva Moreira.Localizado na Rua CândidoBenício número 2.610, essaresidência serviu de moradia parao popular médio até o ano de suamorte, em 1897. Em 8 de marçode 1954, foi inaugurado no mesmoprédio o Educandário NossaSenhora da Vitória, pelo professorJoão Fernandes da Cruz. Após amorte do seu fundador, em 2000,o terreno começou a ser ocupado

por um loteamento e o prédio foigradativamente destruído.

Pode-se citar ainda o casarão daFazenda Mato Alto, localizado no bairroda Praça Seca. Essas terras foramvendidas pelo neto do Barão daTaquara, Zezé, no final da década de1930, ao jornalista do extinto periódico“A Noite”, Geraldo Rocha Este. Emdezembro de 1943, foram compradas

D. Letícia e Sr. Alves

Terreno abandonado na Estrada do Joáonde está o Marco V

Vista panorâmica da Baixada de Jacarepaguá

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Descobrindo talentos

Entrevista com Ulisses Júnior

JAAJ: Como surgiu a ideia deescrever o livro?Ulisses: A ideia de escrever o“Visões de um Aprendiz” surgiuda necessidade que eu tinha (eainda tenho) de compartilharcom as pessoas, conhecidas minhas ou não, umpouco daquilo que penso a respeito dosrelacionamentos intrapessoais e interpessoais, ouseja, as relações que criamos com a gente mesmoe as que temos uns com os outros.

JAAJ: Por que optar por escrever sobreespiritualidade e fé?Ulisses: A opção por escolher falar sobreespiritualidade e sobre fé nasce justamente daquiloque enxergo como base para uma vida maissaudável: a crença em algo superior a nós. Nãofalo sobre religião, falo sobre fé, de diferentes tiposde fé e especialmente a nossa relação com elas. JAAJ: Como a escola e a família contribuírampara estimular o seu gosto por livros?Ulisses: Escola e família: duas instituiçõesimportantíssimas para a formação de qualquercidadão de bem.Venho de uma família pobre,onde o estímulo para o estudo era muito

privado, pois as condições de meu paiserralheiro e minha mãe dona de casa erammuito limitadas. Sendo assim, desde muito cedobusquei alternativas para suprir o que mefaltava em relação à educação e acesso aconteúdos maiores, como o estudo de umalíngua, por exemplo no meu caso, o inglês.Muitas vezes eu tinha que ser uma espécie deautodidata para conseguir aprender eapreender determinados conteúdos,determinadas matérias na escola pública ondeeu estudava, pois na minha época não haviadistribuição de material didático, como livrosou cadernos de apoio e, como muitas vezes meuspais não podiam comprar os livros solicitados,devido ao alto preço, eu tinha de me virar como que pudesse. Passei então a frequentar umabiblioteca pública que existia próximo a minhacasa. Foi lá que, pouco a pouco, comecei a tercontato com o mundo da leitura, dos livros, dosautores e, gradativamente, despertei o gostopor alguns assuntos. Essas visitas à bibliotecame ajudaram muito, pois, sem saber, eutrabalhava vários aspectos e despertava emmim mesmo alguns hábitos que, mais tarde, sócontribuíram com a minha formação, como, porexemplo, o acesso à cultura universal, atravésdos livros de história e geografia, de literaturae até mesmo de psicologia.

Entrevista com Marco Aurélio

JAAJ: Como surgiu a idéia deescrever um livro?Marco: A idéia de escrever “ODiário de um Explorador”surgiu a partir da terceiraleitura do livro de Val Costa,professor de História da minhaescola, Garriga de Menezes.Antes da decisão de escrevermeu livro, tentei editar vários outros, até que,finalmente, nasceu “O Diário de umExplorador”. Minha avó e minha mãe,principalmente, contribuíram bastante para aconstrução do livro de forma contínua, sempreme apoiando nas horas complicadas da edição. JAAJ: Por que optar por uma história deaventura fictícia?Marco: Decidi optar por esse gênero ao veralguns filmes de aventura fictícia nos cinemas.Estava jogando na Internet quando comecei aler sobre algumas “historinhas” de ficção no sitedo game e me impressionei pela criatividade deseus criadores, decidi escolher esse gênero ao leressas histórias no próprio site do jogo. JAAJ: Como a escola e a família contribuírampara estimular o seu gosto por livros?Marco: Sempre me interessei por livros dediferentes gêneros. Como disse anteriormente,ao ler pela terceira vez o livro do professor Val,decidi escrever o meu. A escola estimula o meugosto por livros, me apresentando várias obrasda literatura brasileira. A minha família sempreme presenteia com livros, principalmente quandovamos a eventos como a Bienal.

Moradores da região lançam livros

“Natureza & Arte” é o nome da Exposiçãode Arte da artista plástica Jane Bastos que estáaberta à visitação na Sala de Exposição do EspaçoCultural da Estácio de Sá – Campus Jacarepaguá,na Estrada do Capenha, nº 1.535, Freguesia.

A artista Jane Bastos, nascida no Rio deJaneiro, desde a infância gostava de desenhare pintar a natureza. Sempre buscou na natureza

sua inspiração para seu trabalho. Ambientalista,formou-se em História Natural, em CiênciasBiológicas e fez Pós-Graduação na áreaambiental. Há trinta anos trabalhaprofissionalmente na área do meio ambiente.Paralelamente à carreira científica, freqüentoudiversos ateliês onde aprendeu diferentestécnicas em estilos figurativos e abstracionadose fez vários cursos livres de História da Arte.

A exposição “Natureza & Arte” foiinaugurada dia 25 de março a vai até o dia 28de abril de 2010, das 10 às 21h, de segunda asexta-feira.

Esse mês o Jornal Abaixo-Assinado de Jacarepaguá (JAAJ) apresenta duas entrevistas comjovens escritores da Baixada de Jacarepaguá. A primeira foi realizada com Ulisses Junior. Ele élocutor e professor de Inglês e Português. Seu livro, “Visões de um Aprendiz”, aborda questõessobre filosofia e fé. O segundo autor tem apenas 13 anos. É o adolescente Marco Aurélio, aluno doprofessor Val Costa, que está lançando a aventura fantástica “O Diário de um Explorador” Ambos oslivros são edições independentes e mostram um pouco da riqueza cultural da nossa região.

Exposição

Natureza & Arte

Jovens escritores,Marco Aurélio eMatheus Palermo

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