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7/31/2019 Joao Pedro p Cruz
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JOO PEDRO PEDROSA CRUZ
DANO FONTICO RESULTANTE DE LESES DO NERVO LINGUAL
So Paulo
2008
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Joo Pedro Pedrosa Cruz
Dano fontico resultante de leses do nervo lingual
Dissertao apresentada Faculdade deOdontologia da Universidade de So Paulo,para obter o ttulo de Mestre, peloPrograma de Ps-Graduao em CinciasOdontolgicas
rea de Concentrao: Odontologia Social
Orientador: Professor Dr. Rogrio Nogueirade Oliveira
So Paulo
2008
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Catalogao-na-PublicaoServio de Documentao OdontolgicaFaculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo
Cruz, Joo Pedro PedrosaDano fontico resultante de leses do nervo lingual / Joo Pedro Pedrosa
Cruz; orientador Rogrio Nogueira de Oliveira. -- So Paulo, 2008.138p.; 30 cm.
Dissertao (Mestrado - Programa de Ps-Graduao em CinciasOdontolgicas. rea de Concentrao: Odontologia Social) -- Faculdade deOdontologia da Universidade de So Paulo.
1. Fontica articulatria Nervo lingual Leses 2. Parestesia NervoLingual 3. Odontologia Legal
CDD 614.1BLACK D873
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,
DESDE QUE CITADA A FONTE E COMUNICADA AO AUTOR A REFERNCIA DA CITAO.
So Paulo, ____/____/____
Assinatura: Joo Pedro Pedrosa Cruz
E-mail: [email protected] / [email protected]
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FOLHA DE APROVAO
Cruz JPP. Dano fontico resultante de leses do nervo lingual [Dissertao deMestrado]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.
So Paulo, / /
Banca Examinadora
1)Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________
Titulao:____________________________________________________________
Julgamento:_____________________ Assinatura:___________________________
2)Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________
Titulao:____________________________________________________________
Julgamento:_____________________ Assinatura:___________________________
3)Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________
Titulao:____________________________________________________________
Julgamento:________________________Assinatura:_________________________
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DEDICATRIA
A Deus, continuamente presente nesses tempos de enorme esforo e extremaperseverana.
Aos meus pais, Pedro e Tereza, pelo amor incondicional, por tornarem a minha vidamuito mais fcil, pelos conselhos reconfortantes nos momentos de conflito e pelodesapego dos interesses pessoais em funo da felicidade de nossa famlia. Essaconquista nossa!
s irms Marla e Idy, pelo amor fraterno puro e simples, pela co-responsabilidade nomeu sucesso e pelas opinies sempre consideradas nas decises.
A Nanda, minha princesa, pelo amor, companheirismo e cumplicidade em momentosdeterminantes de minha vida e pela presena constante e decisiva, mesmo quandodistante.
A Erivaldo, Maria, Nayara, Ded, Joo e toda a Famlia ERMANAY, verdadeirosirmos em So Paulo, pelo exemplo de famlia, de cuidado com o prximo e,
principalmente, pela lio de vida.
Ao meu orientador Professor Dr. Rogrio Nogueira de Oliveira pela dedicao pesquisa e docncia em Odontologia Legal e, especialmente, pela prontaorientao, decisiva para o bom andamento das tarefas, pelo cuidado, grandeconfiana e valorizao do meu trabalho.
Ao colega Perito Criminal Antnio Csar Morant Braid pela dedicao FonticaForense, por simplificar o que parecia incompreensvel e pela humildade em dividiros conhecimentos indispensveis realizao dessa dissertao.
Ao Professor Dr. Lus Carlos Cavalcante Galvo pelo apoio acadmico, pelasvaliosas e sempre atrativas lies de Odontologia Legal e pelo empenho nodesenvolvimento e valorizao dessa rea apaixonante e de enorme relevnciasocial.
A Professora Valria Souza Freitas, pela amizade e apoio, exemplo de ser humano ede profissional, sempre apostando em mim, responsvel por uma parcelaimportante do meu sucesso.
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AGRADECIMENTOS
A Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, pela oportunidade emdesfrutar de um aprendizado de tamanha qualidade.
Ao Prof. Dr. Rogrio Nogueira de Oliveira pela compreenso, amizade, excelenteorientao e estmulo ao meu desenvolvimento profissional.
Ao Professor Dr. Moacyr da Silva, exemplo de dedicao e paixo pela Odontologia,sempre muito cuidadoso com seus alunos e verdadeiros admiradores.
Ao Professor Dr. Dalton Luis de Paula Ramos pelos ensinamentos em Biotica e,especialmente, pelo incentivo inicial para o andamento da ps-graduao.
Aos Professores do Departamento de Odontologia Social da Faculdade deOdontologia da Universidade de So Paulo Rodolfo Francisco H. Melani, MariaErclia de Arajo, Hilda F. Cardozo, Michel Crosato e Jos Leopoldo F. Antunes pelocompartilhamento dos saberes.
Ao Perito Criminal Antnio Csar Morant Braid, pela disponibilidade e dedicao ao
desenvolvimento da cincia forense e pelas incansveis, e sempre produtivas,discusses.
A Professora Camila da Silva Souza Ozores, Coordenadora do Curso deOdontologia da Faculdade Nobre, pelo grande apoio e competente colaborao paraa pesquisa.
Ao Professor Ulisses Anselmo da Silva, pela disponibilidade em apoiar odesenvolvimento da pesquisa.
Ao Departamento de Polcia Tcnica da Bahia, nas pessoas do Diretor Geral Dr.Raul Barreto e do Diretor do Interior Dr. Claudemiro Pires Filho, pelo incentivo aodesenvolvimento dos trabalhos cientficos, que s tm a colaborar com os avanosna segurana pblica e, principalmente, nas prticas forenses.
Ao Dr. Walker Souza Silva Filho pela compreenso e grande competncia naCoordenadoria Regional de Polcia Tcnica de Irec.
Aos voluntrios da pesquisa, pelas participaes, sem as quais no seria possvelcumprir o planejado para este trabalho.
A Marla, pelas opinies decisivas para o meu trabalho, sempre acatadas pela razoe consistncia.
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Aos amigos e irmos Toinho, Mateus, Tcio, Leo, Daniel, Anderson, Tonzinho, LeoHulk, Augusto, Bruno e Marquinhos pela grande amizade e presena constante,facilitando demais as passagens pelos problemas e comemorando sempre asconquistas!
A Giselle, grande amiga, exemplo de sucesso, pelo apoio no desenvolvimentopessoal e, especialmente, profissional.
A Nilton, pela grande ajuda no desenrolar metodolgico da pesquisa.
A Jamilly Musse e Andria Baraldi, contemporneas no mestrado, pelascontribuies e convivncia positivas para o meu aprendizado.
Ao Dr. Marcelo Sampaio, Diretor do Instituto de Criminalstica Afrnio Peixoto - ICAPdo Departamento de Polcia Tcnica da Bahia, pela cesso do espao e infra-estrutura do ICAP.
Ao Professor Antnio Csar Oliveira de Azevedo, Diretor do Departamento de Sadeda Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, por autorizar a execuo dapesquisa no espao da Clnica Odontolgica.
Ao Professor Dr. Mrcio Freitas, exmio professor e pesquisador, pela concesso dasua sala, extremamente importante para a realizao dos experimentos.
A Dra. Maria ngela Drea Leal, responsvel pelo Centro de Triagem e Urgncia daUniversidade Estadual de Feira de Santana, por ter disponibilizado o consultrioodontolgico pesquisa.
Ao Professor Dr. Nelson Fernandes de Oliveira, pelo direcionamento nos estudosestatsticos.
Aos amigos da Clnica Odontolgica da UEFS pela ajuda, em especial a Geo,Zorilda, Edmia e ao vigilante Dante, sempre solcitos diante das necessidades.
s secretrias do Departamento de Odontologia Social da FOUSP pela eficincia ecuidados dispensados durante o curso.
bibliotecria Maria Cludia Pestana pela apurada e competente orientao quanto formatao desse extenso trabalho.
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, colaboraram para mais essa etapa devalor inestimvel em minha vida.
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Deus sempre providencia algum
anjo que vai a nossa frente e nos
conduz pelo caminho seguro
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Cruz JPP. Dano fontico resultante de leses do nervo lingual [Dissertao deMestrado]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.
RESUMO
Modificaes neurosensoriais, decorrentes de complicaes relacionadas a
tratamentos odontolgicos, esto entre as principais causas de litgio envolvendo
cirurgies-dentistas. Um dos nervos mais acometidos nestes casos o nervo lingual.
Entre os inconvenientes apontados nas queixas judiciais esto as dificuldades na
articulao dos sons da fala nessas situaes. Neste contexto, o objetivo desse
estudo foi verificar se h dano funo fontica resultante da ausncia de
sensibilidade unilateral da lngua induzida por anestesia do nervo lingual.
Participaram do estudo 10 sujeitos voluntrios, brasileiros, do sexo masculino, com
idade entre 21 e 27 anos. Foram realizadas as anlises perceptual e acstica das
falas gravadas antes e depois da anestesia do nervo lingual. Alm disso, os sujeitos
da pesquisa responderam a um questionrio com o objetivo de avaliar o nvel de
desconforto e dificuldade na produo da fala. Aps assinatura do TCLE e avaliao
clnica e fonoaudiolgica, os sujeitos foram divididos em dois grupos. As gravaesconsistiram em conjuntos de vogais e palavras. Para o segundo grupo, a leitura de
um texto foi acrescentada para o estudo da fala encadeada. Para a anlise
perceptual foram observados os comportamentos das falas em relao
inteligibilidade, ao pitch, loudness e co-articulao. Para o segundo grupo, a fala
encadeada foi analisada quanto ao ritmo, fluidez, co-articulao e velocidade de
produo. No foram observadas quaisquer diferenas nos parmetros perceptivo-
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auditivos definidos para o estudo. Para a anlise acstica, realizou-se o estudo de
cinco vogais isoladas e da fricativa sibilante /s/. Foram extrados e comparados os
valores dos dois primeiros formantes das vogais /a, / , /i/, / e /u/. Foi possvel
observar que, apesar de existirem diferenas nos valores absolutos dos formantes,
eles se mantiveram em faixas de freqncias caractersticas das vogais faladas nos
dois momentos e, alm disso, nenhum indivduo relatou qualquer dificuldade em
relao produo das vogais. Os parmetros escolhidos para anlise comparativa
da consoante sibilante /s/ foram: a localizao do pico espectral de maior amplitude,
o coeficiente de assimetria, o coeficiente de curtose e o centro de gravidade. As
anlises demonstraram que os padres desses parmetros tambm foram mantidos
aps a aplicao da anestesia. Ademais, no foram encontradas diferenas
estatisticamente significantes entre os dois momentos, para os parmetros
analisados. Apesar de 03 sujeitos (30%) relatarem dificuldades na produo de
determinados fonemas, as anlises das gravaes de suas falas demonstraram no
haver nenhuma diferena significativa entre os dois momentos. O presente trabalho
ofereceu informaes importantes a respeito de tcnicas que podem ser utilizadas
nas percias envolvendo o dano fontico. Ficando claro que preciso uma
interpretao criteriosa dos resultados apresentados, especialmente nas anlises
acsticas. Os resultados encontrados permitem concluir que no houve danofontico resultante da inibio funcional unilateral do nervo lingual para o grupo
pesquisado.
Palavras-chave: Avaliao de danos - Nervo lingual Parestesia
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Cruz JPP. Phonetic damage resulting from lingual nerve injuries [Dissertao deMestrado]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.
ABSTRACT
Sensorineural changes due to complications related to dentistry treatments are
between the main litigation causes involving dentists. One of the most affected
nerves in these situations is the lingual nerve. Speech changes are related as a
complication in these cases. The purpose of this study was to analyze the possible
phonetic damage resulting from lingual nerve sensorial alterations induced by
anesthesia. The study group consisted of 10 men, aged between 21 and 27 years.
Perceptual and acoustic analyses of the speech samples recorded before and after
the lingual nerve anesthesia were performed. Moreover, the subjects answered a
questionnaire to discuss the level of discomfort and difficulty in speaking. The
informers were divided into two groups. The recording consisted of a combination of
vowels and words. A text reading was added for the second group. Perceptual
analyses studied the behavior of the intelligibility, pitch, loudness and co-articulation.
For the second group, the pace, fluidity, co-articulation and production speed were
evaluated. There were no differences in perceptive parameters defined for the study.
The acoustic analyses of isolated vowels /a/, / , /i/, / , /u/ were performed. The first
two formant frequencies values were analyzed. It was possible to observe that,
despite of the differences in absolute values of formants, they were located in bands
of frequencies that are characteristics of the vowels spoken, in both moments. In
addition, none of the subjects reported any difficulty in produce vowel sounds. The
parameters chosen for acoustic analysis of /s/ sound were: location of the greater
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 2.1 - Vista pstero-superior do assoalho da cavidade oral...........................29
Figura 2.2 - Inervao aferente da lngua................................................................ 29
Figura 2.3 - Representao esquemtica comparativa entre o trato vocal e um
sistema pneumtico.............................................................................. 39
Figura 2.4 - Ao da musculatura intrnseca da laringe. a. Posio de fonao. b.
Posio de respirao......................................................................... 42
Figura 2.5 - Representao esquemtica de pontos de articulao consonantais do
portugus: 1. bilabial; 2. labiodental; 3. linguodental; 4. linguopalatal; 5.
linguovelar............................................................................................. 50
Figura 2.6 - Espectrograma da palavra coisa produzido no Praat, verso
5.0.27.................................................................................................... 71
Figura 2.7 - Grfico baseado em FFT da vogal /a/, extrado do Programa Praat,
verso 5.0.27........................................................................................ 72
Figura 2.8 - Grfico baseado em LPC da vogal /a/, extrado do Programa Praat,
verso 5.0.27........................................................................................ 73
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Figura 2.9 - Espectrogramas das consoantes fricativas /s/, /z/, // e //. Nota-se a
maior concentrao de energia nas zonas de altas freqncias e
ausncia de barra de sonoridade na consoante /s...............................78
Figura 5.1 - Grficos individuais de disperso dos dez sujeitos, representando os
valores dos formantes F1 e F2 das vogais /a/, //, /i/, / / e /u/ e a
comparao entre os espaos das vogais antes e aps a anestesia do
nervo lingual........................................................................................ 102
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LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Valores mdios de F1 e F2 das vogais orais do portugus brasileiro,
para homens...................................................................................... 74
Tabela 5.1 - Valores do primeiro pico espectral, extrados dos espectrogramas da
sibilante /s/ dos informantes.............................................................. 104
Tabela 5.2 - Valores do centro de gravidade, extrados dos espectrogramas da
sibilante /s/ dos informantes............................................................. 105
Tabela 5.3 - Valores do coeficiente de curtose extrados dos espectrogramas da
sibilante /s/ dos informantes.............................................................. 106
Tabela 5.4 - Valores do coeficiente de assimetria, extrados dos espectrogramas
da sibilante /s/ dos informantes......................................................... 107
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LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 - Contra-indicaes aos anestsicos locais............................................36
Quadro 5.1 - Apresentao do formante F1 das vogais /a/, / , /i/, / e /u/ antes e
depois da aplicao da anestesia unilateral do nervo lingual. Os valores
com diferenas mnimas perceptveis ao ouvido humano esto grifados
em amarelo, se diminudos e, em azul, se aumentados.......................97
Quadro 5.2 - Apresentao do formante F2 das vogais /a/, //, /i/, // e /u/ antes e
depois da aplicao da anestesia unilateral do nervo lingual. Os valores
com diferenas mnimas perceptveis ao ouvido humano esto grifados
em amarelo, se diminudos e, em azul, se aumentados.......................97
Quadro 5.3 - Destaque das diferenas mnimas significativas de F1, em porcentagem,
entre os dois momentos (antes e depois da anestesia), de acordo com
Flanagan (1955) ................................................................................... 98
Quadro 5.4 - Destaque das diferenas mnimas significativas de F2, em porcentagem,
entre os dois momentos (antes e depois da anestesia), de acordo com
Flanagan (1955) ................................................................................... 98
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEP Comit de tica em Pesquisa
cm centmetro
cm2 centmetro quadrado
Hz hertz
dB decibelFAN Faculdade Nobre
FFT Fast Fourier Transform
FOUSP Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo
F1 primeiro formante
F2 segundo formante
LPC Linear Predictive Coding
ms milisegundo
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana
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LISTA DE SMBOLOS
marca registrada
pargrafo
% por cento
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SUMRIO
p.
1 INTRODUO.....................................................................................19
2 REVISO DA LITERATURA...............................................................23
2.1 O nervo lingual..................................................................................... 27
2.1.1 Neuroanatomia funcional....................................................................... 272.1.2 Leses neurais.................................................................................... 30
2.1.3 Anestesia local do nervo lingual.............................................................. 35
2.2 A funo fontica.................................................................................. 37
2.2.1 Fisiologia e anatomia do aparelho fonador............................................... 38
2.2.2 Articulao da fala................................................................................ 45
2.2.2.1 vogais............................................................................................. 452.2.2.2 ditongos........................................................................................... 48
2.2.2.3 consoantes....................................................................................... 48
2.2.3 Avaliao do dano fontico.................................................................... 51
2.2.4 Metodologias de estudo dos sons da fala.................................................63
2.2.4.1 anlise perceptivo-auditiva.................................................................. 63
2.2.4.2 anlise acstica................................................................................ 692.2.4.2.1 vogais.......................................................................................... 73
2.2.4.2.2 consoantes fricativas.................................................................... 77
3 PROPOSIO...................................................................................83
4 MATERIAL E MTODOS....................................................................84
4.1 Amostra............................................................................................... 84
4.2 Material................................................................................................ 85
4.3 Mtodo................................................................................................. 87
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4.3.1 Das gravaes.................................................................................... 87
4.3.2 Da anestesia do nervo lingual................................................................ 88
4.3.3 Do questionrio...................................................................................894.4 Critrios para anlise das gravaes...................................................... 90
4.4.1 Anlise perceptual................................................................................ 90
4.4.2 Anlise acstica................................................................................... 91
4.4.2.1 das vogais........................................................................................ 92
4.4.2.2 da consoante fricativa........................................................................ 92
4.5 Procedimentos estatsticos................................................................... 93
5 RESULTADOS.....................................................................................95
5.1 Da anlise perceptivo-auditiva...............................................................95
5.2 Da anlise acstica............................................................................... 96
5.2.1 Vogais isoladas...................................................................................96
5.2.2 Fricativa sibilante /s/........................................................................... 103
5.2.2.1 pico espectral.................................................................................. 1035.2.2.2 centro de gravidade......................................................................... 105
5.2.2.3 coeficiente de curtose.......................................................................106
5.2.2.4 coeficiente de assimetria...................................................................107
5.3 Do questionrio.................................................................................. 108
6 DISCUSSO.......................................................................................109
7 CONCLUSES...................................................................................121
REFERNCIAS.....................................................................................122
APNDICES..........................................................................................130
ANEXOS................................................................................................ 137
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1 INTRODUO
A Odontologia Legal a especialidade da cincia odontolgica responsvel
pelo estudo dos fenmenos relacionados ao sistema estomatogntico capazes de
causar, de alguma forma, prejuzo ao homem, sobretudo nos casos que resultam em
questes judiciais (CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2005). Entre as
causas de litgio envolvendo cirurgies-dentistas destacam-se as alteraes
nervosensoriais e motoras decorrentes de leses relacionadas a tratamentos
odontolgicos. Os principais nervos afetados nesses casos so o alveolar inferior,
nasopalatino, bucal e o nervo lingual. Tais estruturas correspondem a ramos do
quinto par craniano, sendo responsveis pelo suprimento nervoso da mucosa bucal
e da pele.
As leses neurais ocasionadas podem ser transitrias ou permanentes.
Aquelas envolvendo o nervo nasopalatino e o nervo bucal so de menor morbidade,
uma vez que a rea de inervao desses dois ramos relativamente pequena e a
reinervao da regio afetada costuma ocorrer rapidamente (PETERSON et al.,
2005). Fato diferente dos casos de leses do nervo lingual e alveolar inferior, pois,
nestes, as leses resultam em uma alterao sensorial que tem como efeito um
srio desconforto para os pacientes (BENEDIKTSDTTIR et al., 2004).
O nervo lingual um ramo exclusivamente sensitivo do nervo mandibular. Em
seu trajeto emite ramos para a face interna da gengiva inferior e regio sublingual,
para os dois teros anteriores, face inferior, dorsal e bordas laterais da lngua
(LIMA,1996; ROBERTS; SOWRAY, 1995).
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As principais leses dessa estrutura esto relacionadas a procedimentos
cirrgicos, especialmente remoo de terceiros molares inferiores impactados ou
semi-impactados. O elenco de causas de injrias ao nervo lingual inclui edema,
hematoma e infeco locais; acidentes com instrumentos rotatrios; manipulao de
retalho mucoperiosteal lingual e fraturas da tbua ssea lingual. Uma outra etiologia
relevante est associada ao bloqueio anestsico do nervo alveolar inferior para os
mais variados procedimentos clnicos, inclusive os no cirrgicos (ROBINSON;
FORD; MCDONALD, 2004). Nesses casos, h uma predileo para a ocorrncia de
parestesia, disestesia ou anestesia do nervo lingual em comparao com o nervo
alveolar inferior (POGREL et al., 2003).
Modificaes sensitivas na regio orofacial podem interferir na fala,
mastigao e nas interaes sociais do indivduo. At mesmo mudanas
aparentemente mais simples podem afetar significativamente a qualidade de vida do
paciente (CAISSIE et al., 2005).
Apesar dos pacientes recuperarem a sensao normal sem tratamento na
maioria dos episdios, deficincias permanentes so muito pouco toleradas e
grande parte resulta em aes legais contra cirurgies-dentistas (CAISSIE et al.,
2005). As principais queixas judiciais apresentadas pelos querelantes so mudanas
no paladar, dormncia, disfunes orais como mordedura da lngua e dificuldade naproduo da fala (ROBINSON; LOESCHER; SMITH, 2000).
Tendo em vista que a integridade anatomofuncional da pessoa um bem
jurdico tutelado pelo Estado por se constituir em interesse de toda a sociedade. E,
no mesmo sentido, o Direito Civil protege o direito ao ressarcimento por possveis
prejuzos resultantes de qualquer atentado integridade pessoal. A avaliao
criteriosa dos danos decorrentes por meio de percia mdico-legal ou odonto-legal, a
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depender da sede do dano, extremamente necessria para a justa aplicao
dessas normas (CARDOZO, 1997).
No caso do nervo lingual esse dano funcional se deve ao fato de ser ele o
responsvel pela sensao ttil da poro anterior da lngua. A lngua um rgo de
estrutura quase completamente muscular preso pela base parede inferior da
cavidade bucal. Ela imprescindvel a diversas atividades fisiolgicas humanas,
participando direta e indiretamente de funes essenciais como a mastigao,
deglutio e de maneira especial da produo da fala. Nesta ltima funo, a lngua
representa um dos principais articuladores fonticos, apresentando grande
flexibilidade e exercendo papel fundamental no resultado dos sons da fala (BRAID,
2003; PALMER, 2003).
Os efeitos fonticos determinados por alteraes de sensibilidade do nervo
lingual j foram pesquisados em outros pases. Esses estudos concluram que as
injrias neurosensoriais da lngua podem levar a implicaes acsticas devido
diminuio da preciso no posicionamento deste rgo para a articulao de
fonemas (NIEMI et al., 2002, 2004, 2006).
Em tais situaes, o indivduo apresenta a necessidade de modificar a
configurao articulatria para produzir sons de voz acusticamente aceitveis (NIEMI
et al., 2002, 2004, 2006). Sendo que essas modificaes podem ser objetivamenteestudadas por meio de medies e anlises instrumentais das ondas sonoras
produzidas pelo falante (BRAID, 1999).
Apesar dessas consideraes, so escassos os estudos a respeito do real
prejuzo fontico decorrente das leses do nervo lingual. Assim como, so raras as
pesquisas que tratam das implicaes dessas leses funo fontica, tanto de
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forma objetiva, avaliando as conseqncias acsticas, quanto em relao
percepo do prprio sujeito que as apresenta e do ouvinte.
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2 REVISO DA LITERATURA
O exerccio da Odontologia no territrio nacional brasileiro regulamentado
pela Lei 5081 de 24 de agosto de 1966. Esse dispositivo destaca, entre as
competncias do cirurgio-dentista, a realizao de percia odontolegal nos foros
civil, criminal, trabalhista e em sede administrativa (BRASIL, 1966).
O Conselho Federal de Odontologia, atravs da Resoluo 63 de 2005, define
as especialidades que podem ser praticadas por um cirurgio-dentista, bem como
relaciona as atividades pertinentes a cada especialidade (CONSELHO FEDERAL
DE ODONTOLOGIA, 2005). A Odontologia Legal, na resoluo supramencionada,
conceituada no artigo 63 e em seu pargrafo nico, verbis:
Art.63. Odontologia Legal a especialidade que tem como objetivo apesquisa de fenmenos psquicos, fsicos, qumicos e biolgicos que podematingir ou ter atingido o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmofragmentos ou vestgios, resultando leses parciais ou totais reversveis ouirreversveis.Pargrafo nico. A atuao da Odontologia Legal restringe-se anlise,percia e avaliao de eventos relacionados com a rea de competncia docirurgio-dentista, podendo, se as circunstncias o exigirem, estender-se aoutras reas, se disso depender a busca da verdade, no estrito interesse dajustia e da administrao.
De acordo com Vanrell (2002), o perito odontolegista o profissional mais
indicado para fazer o exame das leses corporais que envolvem o sistema
estomatogntico, como tambm para realizar a avaliao dos danos decorrentes
dessas leses. Essa avaliao, atravs da percia odonto-legal, de suma
importncia, por ser a integridade biopsquica da pessoa um bem jurdico tutelado
pelo Estado. E, alm disso, o cidado tem o direito ao ressarcimento por prejuzos
decorrentes de qualquer atentado a essa integridade protegido pelo Direito Civil
(CARDOZO, 1997).
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A grande maioria das ofensas sade biopsquica decorrente de agresses
pessoais e acidentes, seja de trnsito ou de trabalho. Porm, h um crescimento
exponencial no nmero de processos envolvendo leses ocasionadas por erros
mdicos ou odontolgicos. Nesses casos, o perito tambm requisitado a agir no
sentido de avaliar, a partir de uma metodologia cientificamente reconhecida, e de
forma objetiva e impessoal, os danos corpreos de um paciente que questiona a
prtica de um determinado profissional.
Para Lydiatt (2003), a partir de 1970 houve um aumento considervel no
nmero de processos contra profissionais da rea da sade, bem como no nmero e
nos valores de indenizaes pagas por tais profissionais.
De Paula (2007) realizou um levantamento, atravs da Internet, das
jurisprudncias a respeito das aes de responsabilidade civil movidas contra
cirurgies-dentistas no Brasil. Foram estudadas 478 jurisprudncias, nas quais, em
99,3% dos casos foi considerada a responsabilidade direta do agente. Nesse estudo
pode-se perceber ainda que, dentre as especialidades odontolgicas, a cirurgia
estava envolvida em 32,9% dos processos nos quais foi possvel identificar a rea
especfica de atuao do profissional. O autor concluiu que h uma tendncia ao
crescimento do nmero de processos contra cirurgies-dentistas, bem como ao
aumento da quantidade de Estados brasileiros com experincias desse tipo.Segundo o Conselho Regional de Medicina do Estado de So Paulo
CREMESP, em sete anos, o nmero de mdicos denunciados aumentou 75%,
sendo que 35% das denncias se relacionam suposta m prtica profissional.
Entre os fatores ligados ao aumento das denncias, destaca-se a entrada de mais
mdicos no mercado de trabalho, o crescimento populacional, deficincias do ensino
mdico, a falta de atualizao profissional ao longo da carreira e a maior
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conscientizao da populao quanto a seus direitos de cidadania (CONSELHO
REGIONAL DE MEDICINA DE SO PAULO, 2007).
Vanrell (2002) chama a ateno para o elevado nmero de processos contra
cirurgies-dentistas nos Conselhos Regionais de Odontologia, foros civis, criminais e
trabalhistas. Relacionando esse acrscimo principalmente proliferao
indiscriminada de instituies de ensino, responsveis pelo lanamento, no mercado,
de profissionais com formao heterognea que cometem erros com prevalncia
acima do normal; ao descontentamento dos pacientes, especialmente pelo desajuste
da relao profissional/paciente; e situao econmico-financeira da sociedade,
exacerbando a susceptibilidade para quaisquer perdas que os erros possam
significar.
Para Marques et al. (2006, p. 7), infelizmente, os casos de erros profissionais
envolvendo cirurgies-dentistas so uma constante, quer seja por
desconhecimento, ignorncia, m formao ou at disponibilidade da vtima, que no
aconchego do seu ser sofre e consente.
A elevao nos ndices de procura por justia est diretamente ligada ao
desenvolvimento industrial, ao processo de urbanizao e conseqente tomada de
conscincia de direitos por parte da sociedade. O crescimento desses fatores
provocou um aumento no nmero e no tipo de conflitos e a principal conseqnciafoi a maior demanda pelos servios do Judicirio (SADEK, 2004).
De acordo com Sadek (2004), testes de correlao entre indicadores de
desenvolvimento socioeconmico e quantidade de demandas que chegam at os
servios judiciais indicam que as variveis sociais e econmicas provocam reflexos
na demanda pelo Judicirio e no desempenho deste poder. O mesmo autor destaca
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ainda que melhoras no IDH (ndice de desenvolvimento humano) possuem
correlao positiva com o aumento no nmero de processos iniciados na justia.
Bacellar (2008) associa o aumento no nmero de processos judiciais
proliferao de conflitos decorrentes do aumento populacional brasileiro. Colocando
ainda que, com a ampliao do acesso justia, sentida no Brasil, notadamente a
partir do advento da Constituio da Repblica de 1988, sintomaticamente, houve
uma redescoberta da Justia pelo cidado.
Segundo Haas e Lennon (1995) as leses nervosas tm sido relatadas como
as causas mais comuns de aes judiciais contra cirurgies-dentistas e cirurgies
maxilofaciais. Os pesquisadores relacionam esse fato ao grande estresse que pode
ser levado ao paciente acometido por essa condio. Stacy e Hajjar (1994) chamam
a ateno para a angstia do paciente com essas leses e a possibilidade de
ocorrncia dos processos.
Peterson et al. (2005) relata que as estruturas com maior probabilidade de
serem lesadas durante uma cirurgia odontolgica so os ramos do nervo trigmeo.
Refere ainda que os ramos mais envolvidos nessas situaes so o nervo
mentoniano, o nervo lingual, o nervo bucal e o nervo nasopalatino. Sendo que o
nervo lingual raramente se regenera se for gravemente traumatizado. Alm disso,
segundo esse autor, as injrias neurais so, freqentemente, um bom campo deprocessos contra cirurgies-dentistas. E os tratamentos mais comumente
relacionados s acusaes so as exodontias, implantes e tratamentos
endodnticos.
Caissie et al. (2005) qualificam as leses neurosensitivas ocasionadas por
cirurgies-dentistas como um problema complexo com implicaes mdico-legais
importantes. Em seu estudo, os autores apresentaram a experincia clnica dos anos
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de 1990 a 2001 e relataram uma amostra de 165 pacientes com alguma parestesia
relacionada ao nervo mandibular. Sendo que, em 20% dos casos foi dado inicio a
um processo legal.
Para Behnia, Kheradvar e Shahrokhi (2000), leses do nervo lingual esto
entre as principais complicaes de cirurgias orais e maxilofaciais so as leses do
nervo lingual. E a razo fundamental para essas leses relaciona-se s variaes
anatmicas e, conseqentemente, impossibilidade do cirurgio de saber a sua
precisa localizao.
Lydiatt (2003), revisando os casos de processos ocorridos nos jris civis
estaduais e federais dos Estados Unidos de 1987 a 2000, encontrou 33 casos de
litgio envolvendo leses do nervo lingual. Nesses, os acusados eram cirurgies-
dentistas clnicos gerais em 52% dos processos. De acordo com essa reviso,
60,6% dos veredictos favoreceram o ru e a mdia de indenizao, poca, foi de
cerca de trezentos e seis mil dlares.
2.1. O nervo lingual
2.1.1 Neuroanatomia funcional
O nervo lingual, como nervo perifrico, apresenta trs componentes bsicos:
axnios, clulas de Schwann e tecido conjuntivo. Os axnios so agrupados em
feixes paralelos, conhecidos como fascculos, revestidos por bainhas de tecido
conjuntivo frouxo. Cada axnio individualmente revestido pelo tecido denominado
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endoneuro. O endoneuro limita-se internamente pela membrana basal da clula de
Schwann que forma a bainha de mielina, no caso dos nervos mielinizados, com
funo crtica de suporte axonal regenerativo e de isolante eltrico para uma melhor
conduo dos impulsos nervosos. Na bainha de mielina, so encontrados intervalos
circunferenciais, de maneira intermitente, denominados ndulos de Ranvier. Os
feixes de axnios so revestidos pelo perineuro, formando os fascculos. O conjunto
de fascculos finalmente revestido pelo epineuro, constitudo de tecido conjuntivo
frouxo, se estendendo ao longo de todo o nervo (MACHADO, 2005; SIQUEIRA,
2007).
Bernard e Mintz (2003) alertam os dentistas e cirurgies bucomaxilofaciais
para a importncia do conhecimento das variaes anatmicas do nervo lingual no
sentido de se evitar leses dessa estrutura durante as cirurgias orais.
O nervo lingual um ramo sensitivo do nervo mandibular que, por sua vez,
origina-se do nervo trigmeo. A partir de sua origem (5 a 10 mm abaixo da base do
crnio), o nervo lingual toma uma direo descendente, para baixo e para frente,
delineando o trajeto frente e por dentro do nervo alveolar. Descreve ainda uma
curva, guiando-se para o lado interno da cavidade bucal atingindo a lngua na regio
do terceiro molar inferior (Figura 2.1). Na parte interna da lngua, dirige-se para a sua
ponta na qual anastomosa-se com seu homlogo, inervando os 2/3 anteriores damesma (Figura 2.2). Durante esse trajeto, o nervo lingual emite ramos sensitivos
para a face interna da gengiva e assoalho bucal (regio sublingual) (LIMA,1996).
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Fonte: Netter FH. Atlas Interativo de Anatomia Humana. Novartis Medical Education.Traduzido por: Artmed Editora; 1999.Figura 2.1 Vista pstero-superior do assoalho da cavidade oral
Fonte: Netter FH. Atlas Interativo de Anatomia Humana. Novartis Medical Education.Traduzido por: Artmed Editora; 1999.Figura 2.2 Inervao aferente da lngua
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Behnia, Kheradvar e Shahrokhi (2000) realizaram um estudo anatmico em
699 nervos linguais de 430 cadveres frescos, e observaram que em 85,05% o
nervo situava-se em posio tpica na regio dos terceiros molares, ou seja, prximo
tbua ssea lingual e abaixo da crista ssea lingual. Porm, em 14,05% dos casos
o nervo estava situado acima da crista ssea lingual e em 0,15% havia um desvio
para regio retromolar.
2.1.2 Leses neurais
De acordo com Caissie et al. (2005), alteraes sensoriais envolvendo o
sistema estomatogntico podem interferir na fala, mastigao e nas interaes
sociais do indivduo. Ainda, segundo tais pesquisadores, at mesmo modificaes
aparentemente simples podem comprometer de forma expressiva a qualidade de
vida do paciente.
Danos severos ao nervo lingual podem resultar em dormncia permanente,
perda do paladar, devido ao envolvimento do nervo corda do tmpano, e disestesia
da poro dos dois teros anteriores da lngua do lado afetado, levando a umasituao de angstia vitalcia (BERNARD; MINTZ, 2003; POGREL et al., 2003).
A incidncia de leses do nervo lingual relatada na literatura bastante
varivel, indo de 0,02 a 22% dos pacientes submetidos cirurgia de terceiro molar.
De acordo com Renton e McGurk (2001), segundo dados do Servio de Sade
Nacional Britnico, entre 30 e 3000 pacientes so acometidos por dano permanente
do nervo lingual a cada ano.
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As leses do nervo lingual podem ocorrer durante exodontia de terceiros
molares inferiores, osteotomias, procedimentos pr-protticos, exciso de cistos e
tumores, cirurgia na ATM, tonsilectomia, injeo anestsica local para bloqueio do
nervo alveolar inferior, entubao, laringoscopia, explorao do ducto
submandibular, cirurgia de glndulas salivares, cirurgia do tringulo submandibular,
leso por broca cirrgica ou superaquecimento e ainda por tratamento cirrgico das
fraturas sseas e de lbio e palato fissurados (GOMES et al., 2005; LYDIATT, 2003;
PETERSON et al., 2005).
Bernard e Mintz (2003) relatam que as injrias ao nervo lingual podem ocorrer
por compresso direta, inciso ou exciso durante remoes de terceiros molares,
cirurgias periodontais, exrese de tumores e tambm em casos de traumas
resultantes de procedimentos realizados na regio retromolar.
Chuah e Mehra (2005) relatam um caso de perda de sensibilidade bilateral do
nervo lingual subseqente a uma cirurgia para expanso rpida de maxila
considerada sem qualquer complicao trans-operatria.
A literatura relaciona entre as causas de injria ao nervo lingual: trauma pela
agulha durante a anestesia local, pelo bisturi, por instrumento rotatrio durante a
remoo de osso ou do dente, pelo esmagamento ou estiramento acidental do
nervo, pela fratura de parte da tbua ssea lingual mandibular ou por instrumentosoutros; compresso da sutura e ainda devido a certos medicamentos utilizados
durante a cirurgia ou para tratamento de alguma complicao como nos casos de
alveolite (GOMES et al., 2005; LE, 2006; POGREL).
Pogrel et al. (2003), discutindo danos ao nervo lingual subseqentes a
bloqueios anestsicos do nervo alveolar inferior, afirmam que o mecanismo
etiolgico das injrias nestes casos ainda no est claro e, entre as teorias de
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possveis causas, relacionam o trauma direto pela agulha, a hemorragia dentro do
epineuro e um potencial neurotxico do prprio anestsico.
Krafft e Hickel (1994) estudaram 12.104 pacientes nos quais foi aplicada
anestesia de bloqueio mandibular sem qualquer interveno cirrgica. Nesse estudo
no foi encontrado nenhum caso de anestesia completa e permanente da lngua.
Ocorreram distrbios de sensibilidade do nervo lingual em apenas 18 casos, dos
quais em 17 houve a recuperao da sensibilidade da lngua dentro de seis meses e
no ltimo, aps um ano, havia uma leve diminuio na sensibilidade da lngua. O
que levou os pesquisadores a conclurem que a anestesia por si s no tem um
impacto decisivo na incidncia dos distrbios sensoriais do nervo lingual resultantes
de procedimentos cirrgicos.
Jerjes et al. (2006) estudaram os casos de danos nervosos permanentes
subseqentes a 1.087 cirurgias de terceiros molares realizadas de 1998 a 2003.
Aps uma semana das cirurgias, os pesquisadores observaram 71 casos (6,5%) de
parestesia do nervo lingual. A maioria dos quais se resolveu at o final dessa
primeira semana. Aps dois anos, a parestesia persistiu em 11 pacientes (1%).
Benediktsdttir et al. (2004), analisando a exodontia de 388 terceiros molares,
observaram cinco casos de parestesias (1,5%), duas das quais relacionadas ao
nervo lingual de forma temporria.Segundo Pogrel et al. (2003), a incidncia relatada nos poucos estudos
tratando de leses nervosas relacionadas a traumas decorrentes exclusivamente de
bloqueios anestsicos do nervo alveolar inferior da ordem de 1:26.000 a 1:800.000
bloqueios realizados. Ainda informam que a maioria dos estudos descreve uma
incidncia 70% a 80% maior de leses do nervo lingual em relao ao alveolar
inferior nesses casos. O autor sugere que essa predileo relaciona-se ao padro
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unifascicular do primeiro na regio da lngula, onde o bloqueio alveolar inferior
depositado em cerca de 33% dos casos.
Elian et al. (2005) classificam o resultado das injrias neurosensitivas em:
1. Parestesia, correspondendo a uma alterao na sensibilidade que se
manifesta como dormncia, ardncia ou formigamento; podendo refletir
em alterao na sensao de dor em um nervo especfico ou em uma
sensao anormal, tanto provocada quanto espontnea, no
necessariamente desconfortvel ou dolorosa;
2. Disestesia, caracterizada por sensaes dolorosas anormais, tanto
espontneas quanto provocadas;
3. Analgesia, como a ausncia de dor diante de um estmulo normalmente
doloroso;
4. Anestesia, quando h ausncia da percepo de qualquer estmulo
nocivo ou no nocivo da pele ou mucosa.
Harn e Durham (1990) apresentaram a classificao de leses neurais
proposta por Seddon1 que considera trs tipos de leses nervosas.
1. Neuropraxia definida como uma disfuno nervosa temporria que
no causa degenerao significativa ou interrupo da continuidade
axonal. A recuperao pode ser esperada dentro de alguns dias a 3semanas.
2. Axonotmese uma injria traumtica que causa degenerao distal do
axnio neural sem interrupo do endoneuro. A regenerao ocorre
com o retorno para a normalidade ou quase normalidade dentro de 6 a
8 semanas.
Seddon HJ. Three types of nerve injury. Brain 1943,66:237
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3. Neurotmese leso considervel com significante interrupo neural e
distoro da estrutura neural. A regenerao inicial ocorre nas
primeiras 6 a 8 semanas, o que pode confundir clinicamente essa leso
com a axonotmese. A regenerao alcana o pico depois de 18 meses,
podendo ocorrer parestesia ou anestesia residual. Uma formao
cicatricial pode interferir na regenerao axonal, resultando em um
neuroma traumtico.
Prado (2004), baseando-se na classificao de Seddon1 para leses neurais
afirma que nos casos de neurotmese ocorre uma seco anatmica completa do
nervo ou uma extensa leso por avulso ou esmagamento. No se podendo,
portanto, esperar uma recuperao espontnea significativa.
Prado (2004) apresenta ainda a proposta de Sunderland2 para uma
classificao mais completa para as leses neurais.
1. Leso de primeiro grau: interrupo fisiolgica da conduo do axnio
no local da leso, porm sem interrupo anatmica axonal.
Recuperao espontnea dentro de poucos dias ou semanas.
2. Leso de segundo grau: ruptura evidente do axnio, porm
preservao da integridade do tubo endoneural.
3. Leso de terceiro grau: ruptura de axnios e tubos endoneurais, pormpreservao do perineuro.
4. Leso de quarto grau: ruptura de axnios e endoneuro, porm
preservao de perineuro e epineuro localizados, portanto, no h
seco completa de todo o tronco.
5. Leso de quinto grau: transeco neural completa com distncia
varivel entre os cotos nervosos.
2Sunderland S. A classification of peripheral nerve injuries producing loss of function. Brain1951;74:491.
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6. Leso de sexto grau: transeco neural parcial, mas parte restante do
nervo sofreu leso de quarto, terceiro, segundo ou raramente primeiro
graus.
Tanto nos esmagamentos como nas seces de nervos perifricos ocorre a
degenerao da extremidade distal do axnio e da leso da extremidade proximal
at o primeiro ndulo de Ranvier, conhecida como degenerao walleriana.
O mais desejvel aps uma leso de um feixe nervoso o retorno
espontneo da sensao normal. A possibilidade de isso ocorrer depende tanto da
severidade da leso quanto do nervo envolvido. Sendo que a resoluo espontnea
nos casos de seco do nervo lingual mais improvvel se comparado aos que
envolve o nervo alveolar inferior, contido em um canal sseo que o protege e
direciona as fibras nervosas na regenerao (KRAUT; CHAHAL, 2002).
2.1.3 Anestesia local do nervo lingual
De acordo com Robinson, Ford e McDonald (2004), os agentes anestsicos
utilizados em Odontologia so classificados de acordo com sua estrutura qumica
bsica em steres e amidas. Os principais anestsicos utilizados atualmente so do
grupo amida. Entre eles esto a articana, a bupivacana, a mepivacana, a
prilocana e a lidocana.
Segundo Malamed (2005), a contra-indicao absoluta administrao de
anestsico local, independendo assim do tipo de substncia utilizada, a alergia
documentada e reprodutvel. Alm dessa, relata uma srie de contra-indicaes
relativas relacionadas a determinadas substncias (Quadro 2.1).
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Problema Mdico Drogas a serem evitadasColinesterase Plasmtica atpica steres
Metemoglobulinemia idioptica ou congnita Articana, prilocanaDisfuno heptica significativa (ASA III-IV) Amidas
Disfuno renal significativa (ASA III-IV) Amida ou steres
Disfuno cardiovascularsignificativa (ASA III-IV)
Altas concentraes devasoconstrictores (como na
adrenalina racmica fio pararetrao gengival)
Hipertireoidismo clnico
Altas concentraes devasoconstrictores (como na
adrenalina racmica fio pararetrao gengival)
Lustig e Zusman (1999) estudaram as complicaes imediatas decorrentes de
2.528 aplicaes anestsicas locais odontolgicas realizadas por um experiente
cirurgio oral e maxilofacial, em 1007 pacientes. Neste estudo, os autores utilizaram
como anestsico a Lidocana a 2% com hidrocloreto de nordefrina como
vasoconstrictor. A intercorrncia mais severa relatada foi sncope em apenas um dos
casos e foi observada sensao de choque pelos pacientes em 63 injees, sem
qualquer outra complicao. Os autores concluram que a anestesia local em
Odontologia se trata de um procedimento seguro quando a tcnica apropriada
aplicada.
O nervo lingual passa prximo de ou em contato com a regio posterior da
mandbula na rea do terceiro molar, logo acima da linha milo-hiidea. Nesse caso,
a soluo de 0,5 ml nos tecidos moles dessa regio no lado desejado normalmente
suficiente para uma boa anestesia desse nervo (ROBINSON; FORD; MCDONALD,
2004).
Fonte: Malamed S. Manual de Anestesia Local, 2005.Quadro 2.1 - Contra-indicaes aos anestsicos locais
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Segundo Malamed (2005), ao se realizar o bloqueio anestsico do nervo
alveolar inferior, em grande parte das vezes, tem-se uma adequada anestesia do
nervo lingual devido difuso do anestsico para a regio deste ltimo. Porm, nos
casos negativos, deve-se injetar uma parte da soluo anestsica restante (cerca de
0,1 ml) para a complementao da anestesia.
Niemi et al. (2002, 2004, 2006), ao simular a parestesia do nervo lingual
atravs da anestesia local, utilizaram 0,8 ml de Cloridrato de Articana a 4% com
adrenalina na concentrao de 1:200.000, como vasoconstrictor, aplicados no lado
lingual da regio retromolar. Os autores constataram o sucesso da anestesia com o
estmulo no lado da lngua anestesiado, atravs de uma sonda odontolgica de
ponta aguda.
2.2. A funo fontica
Entre as funes exercidas pelo aparelho estomatogntico, destacam-se a
esttica, mastigatria, de deglutio, de respirao e a fontica. A funo fontica
corresponde aos mecanismos de atuao dos rgos, aparelhos e sistemas docorpo humano responsveis pela produo da fala.
A fala surgiu na histria da evoluo humana como uma adaptao dos
rgos comunicao verbal diante da necessidade do homem se expressar ao
conviver em sociedade (LIEBERMAN; BLUMSTEIN, 1996). Apesar disso,
considerada uma caracterstica essencialmente humana. Sendo uma das funes
mais exigentes da atividade muscular, uma vez que requer a coordenao rpida e
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ordenada de mais de oitenta msculos diferentes para a sua execuo, alm do
perfeito arranjo entre diferentes estruturas anatmicas (BRAID, 2004; LAVER, 1994).
Os primeiros estudos das linguagens e dos sons da fala provm dos
gramticos gregos e snscritos do terceiro e quarto sculos antes de Cristo.
Destaque foi dado a essa cincia no sculo XVIII quando Ferrein, em 1741, tentou
explicar como as cordas vocais produzem a fonao. Em meados do sculo XIX,
Mller formulou a teoria do filtro-fonte da produo da fala, postulada, por Gunnar
Fant, em 1960 e que se tornou a base das pesquisas sobre a fala humana. De
acordo com essa teoria a fala o resultado da interao entre uma fonte de energia,
representada pelo resultado da vibrao das cordas vocais na laringe, e filtros
supressores da transferncia de energia sonora para certas freqncias,
representados pelo comprimento e formato do trato supralaringeal (LIEBERMAN;
BLUMSTEIN, 1996).
O grande avano nos estudos da fala se deu realmente a partir do final de
1930 com a descoberta da espectrografia da voz e tcnicas como fotografias de alta
velocidade, cinerradiografia e eletromiografia (FRY, 1994; LIEBERMAN;
BLUMSTEIN, 1996).
2.2.1 Fisiologia e anatomia do aparelho fonador
luz da Fisiologia, a fala desenvolvida fundamentalmente a partir da
interao de trs sistemas atuando de modo sucessivo na produo de um resultado
final. So eles o sistema respiratrio ou subglotal, laringeal ou glotal e
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supralaringeal. Basicamente, h a formao de uma corrente de ar emitida pelos
pulmes que percorre o trato respiratrio at atingir a laringe, onde se encontram as
cordas vocais. A depender do intuito do indivduo, essas cordas abrem-se e fecham-
se, em alta velocidade, de modo a transformar o pulso de ar contnuo emitido pelos
pulmes em vibraes. Estas finalmente so lanadas ao trato vocal e nasal, onde
ocorrem as ltimas modificaes, antes de se apresentarem como fala (BRAID,
2004; FRY, 1994; LAVER, 1994).
O aparelho fonatrio composto por todo o trato respiratrio, dos pulmes ao
nariz, mais a boca, englobando, portanto, todos as partes do corpo humano que
participam normalmente da produo dos sons da fala. Este aparato pode ser
comparado a um dispositivo pneumtico, consistindo em um fole e vrios tubos,
vlvulas e cmaras com a funo de pr o ar em movimento e controlar o seu fluxo
(CATFORD, 1988). A figura 2.3 mostra um esquema grfico comparativo de um
sistema pneumtico com o aparelho fonatrio.
Fonte: Catford JC. A practical introduction to phonetics. OxfordUniversity Press; 1988. p. 8.Figura 2.3. Representao esquemtica comparativa entre o trato vocale um sistema pneumtico
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A distncia das cordas vocais at os lbios em um trato vocal masculino
adulto de cerca de 17 cm. A rea de qualquer seco do trato tem grande variao
se forem considerados desde a faringe at a regio posterior da lngua, abaixo do
palato duro e entre os dentes, mas 5 cm2 pode ser considerada uma rea
representativa desses espaos (FRY, 1994).
importante salientar que a funo biolgica natural dos rgos acima
relacionados no a fala, mas sim a respirao, a mastigao e a deglutio
(LAVER, 1994; LIEBERMAN; BLUMSTEIN, 1996). medida que a espcie humana
evoluiu, esses sistemas foram modificados para se adaptarem s condies
impostas pelo prprio meio como conseqncia da seleo natural. O homem
adaptou esses rgos comunicao verbal como uma necessidade de convivncia
inerente vida em sociedade (LIEBERMAN; BLUMSTEIN, 1996).
A funo primria do sistema respiratrio promover oxignio. Os humanos
tm um sistema de quimioceptores que monitoram os nveis de gs carbnico e
oxignio dissolvidos no sangue e no liquido crebro-espinhal. Estes quimioceptores
aumentam a respirao quando os nveis de gs carbnico esto muito altos e,
contrariamente, diminuem a respirao quando estes nveis caem (FRY, 1994;
LAVER, 1994).
A fala ocorre durante a expirao e quando o ser humano fala a corrente dear necessria nem sempre coincide com a requerida pela respirao. O organismo
humano, visando ajustar a respirao s necessidades da velocidade de fala,
controla o volume do ar egresso dos pulmes e pode tambm reduzir o tempo de
inspirao para cerca de 15 % do ciclo total da respirao. Evidenciando-se assim, a
prevalncia da demanda de ar para a fala sobre a respirao (LIEBERMAN;
BLUMSTEIN, 1996).
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Essa expirao de ar ocorre ativamente sob controle dos msculos do trax,
do abdmen e tambm atravs da distenso do diafragma durante a fala. A
contrao do abdmen provoca a compresso de seus rgos internos sobre os
pulmes expulsando o ar nele contido. Tal ar expelido dos pulmes percorre, como
uma corrente de fluxo contnuo, a traquia e alcana a laringe, podendo sofrer
alteraes neste rgo (LAVER, 1994).
A laringe a poro localizada no alto da traquia onde se localizam as
pregas vogais, responsveis pela variao do que, na sua inatividade, seria uma
corrente de ar contnua expelida dos pulmes. Esta corrente de ar contnua, a partir
de movimentos de abertura e fechamento das pregas vocais, transformada em
uma srie de pulsos de ar percebidos como vibraes (LIEBERMAN; BLUMSTEIN,
1996). A ocorrncia ou no desta transformao vibratria ser determinada pelo
falante, que decidir, de acordo com a realizao fontica desejada, a forma de
configurao de sua laringe (BRAID, 2003).
O espao por onde ocorre a passagem do ar na laringe denominado de
glote e o fenmeno vibratrio que acontece em alguns sons ocorre, mais
precisamente, na regio das pregas ou cordas vocais (JOHNSON; SANDY, 1999).
Estas so definidas como pregas de ligamentos, distendidas transversalmente na
laringe, presas em sua poro anterior pela cartilagem tireide e, na parte posterior,pelas cartilagens aritenides. Graas a estas cartilagens e aos msculos que as
comandam possvel aproximar as cordas vocais e assim fechar a glote. O
fenmeno da fonao consiste exatamente na abertura e fechamento das cordas
vocais, de forma rpida, sob controle da musculatura laringeal, energizada pela
corrente de ar sada dos pulmes. Alm desse movimento, h a formao de pulsos
deslocando-se superficialmente na superfcie externa das pregas vocais. Estes so
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conhecidos como mucosal wave, colaborando para o perfeito e sincronizado
movimento das pregas vocais (BRAID, 2003; MALMBERG, 1998). A figura 2.4
mostra imagens de laringoscopia direta da laringe em posio de fonao e de
respirao.
ab
b
Fonte: Sobotta J. Atlas de anatomia humana. Volume 1, Cabea, Pescoo e ExtremidadeSuperior. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p. 133.Figura 2.4. Ao da musculatura intrnseca da laringe. a. Posio de fonao. b. Posio derespirao
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Aps a passagem pela laringe, essa corrente continua o seu percurso e
atinge o sistema supralaringeal onde, por fim, passa pelas ltimas transformaes
antes de resultar nos sons da fala. Este ltimo sistema inicia-se a partir da faringe,
imediatamente ao fim da laringe, at os lbios e nariz. As modificaes no ar
egresso da laringe podem ocorrer ainda na faringe, mediante movimentos prprios
ou da lngua. Porm, no trato vocal que ocorre a maior parte das obstrues e
constries, pelos articuladores, diretamente relacionadas s alteraes do ar sado
da laringe (JINDRA; EBER; PESAK, 2002; JOHNSON; SANDY, 1999; MCCORD;
FIRESTONE; GRANT, 1994).
Para a produo da fala, alm da atividade muscular, necessria a
participao direta dos demais rgos constituintes da cavidade oral. Do ponto de
vista fisiolgico, a boca faz parte do sistema supralaringeal do aparelho fonador
(CALLOU; LEITE, 1995). Ela participa direta e indiretamente da fonao atravs dos
movimentos da mandbula, lngua e lbios, do formato do palato e da presena e
posio dos dentes (FRY, 1994; JINDRA; EBER; PESAK, 2002).
A mandbula o osso do maxilar inferior que porta os dentes inferiores e
forma a articulao temporomandibular com os ossos temporais. Sendo dotada de
movimento, pode alterar o volume da cavidade oral (MCMINN, 2000). Essa
estrutura, durante a fala, executa movimentos variveis para frente, para trs, parabaixo e para cima, de acordo com o som desejado (BRAID, 2003; LIEBERMAN;
BLUMSTEIN, 1996).
Os lbios permitem mudanas de comprimento e forma do conduto vocal, por
exemplo, alongando e arredondando o conduto para a articulao da vogal /u/, ou
obstruindo a passagem de ar durante a produo da consoante /p/ (BRAID, 2003).
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O palato, que forma o teto da cavidade bucal, consiste de duas partes. A
poro anterior conhecida como palato duro, formado basicamente de osso
coberto por mucosa. A parte posterior corresponde ao palato mole, tambm
conhecido com vu palatino, formado por msculos e tecido mole (LIEBERMAN;
BLUMSTEIN, 1996). Este, quando abaixado, ocasiona a passagem do ar para a
cavidade nasal e quando levantado, obstrui essa passagem (FRY, 1994).
Os dentes participam tanto da conformao acstica da cavidade bucal,
influenciando indiretamente na formao das vogais, quanto da articulao das
consoantes. As unidades dentrias influem diretamente na produo do som tanto
durante a passagem de ar entre as ameias quanto atravs da sua combinao com
outros articuladores, especialmente os lbios e a lngua (JOHNSON; SANDY, 1999;
MCCORD; FIRESTONE; GRANT, 1994).
Segundo Braid (1999) os dentes incisivos centrais superiores exercem
fundamental importncia na articulao dos sons fricativos anteriores, como os
labiodentais, dentais e alguns alveolares, pois, sem eles, so prejudicados os efeitos
de estridncia e sibilncia dos sons originais, a exemplo de /f, v, s e z/. O som
padro dessas consoantes produzido por meio do rudo gerado pela passagem do
fluxo de ar em alta velocidade por um conduto de constrio com a participao
efetiva dos dentes incisivos superiores atuando como um obstculo passagem dear (MCCORD; FIRESTONE; GRANT, 1994).
A lngua o articulador dotado de maior flexibilidade, tendo a capacidade de
curvar-se em diversas posies e pontos, na ponta, no dorso ou nas bordas, alm de
movimentar-se em qualquer direo. Isso possvel devido a sua constituio
anatmica de basicamente dois grupos de msculos (BRAID, 2003; PALMER, 2003).
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E devido a essa propriedade motora importante, a lngua exerce um papel
fundamental no resultado final dos sons da fala, sendo capaz de obstruir ou formar
constries em qualquer ponto ou pontos da cavidade bucal a partir de uma
aproximao dos demais articuladores como os dentes, o palato duro ou o vu
palatino (BRAID, 2003; BRESSMANN et al., 2004; CALLOU; LEITE, 1995; FRY,
1994; LIEBERMAN; BLUMSTEIN, 1996; MALMBERG, 1998).
2.2.2. Articulao dos sons da fala
2.2.2.1 vogais
As vogais ou, mais precisamente, a conformao oral para vogais,
especificada a partir de trs parmetros: posio vertical da lngua (alta/fechada e
baixa/aberta), posio horizontal da lngua (frontal e posterior) e posio dos lbios
(arredondadas e no arredondadas) (CATFORD, 1988). Elas so desenvolvidas a
partir de amplificaes acrescentadas energia gltica. So formadas faixas defreqncias, caracterizadas por uma maior energia acstica, representativas de
grupos de harmnicos conhecidos como formantes do som (LIEBERMAN;
BLUMSTEIN,1996; RUSSO; BEHLAU, 1993).
De acordo com Malmberg (1998) principalmente graas aos movimentos da
lngua que possvel variar o efeito ressoador da faringe e da boca,
correspondentes aos formantes responsveis pelos timbres das vogais.
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Para um estudo universal das vogais, de forma criteriosa e isenta de
ambigidades, foi criado pelo fontico ingls Daniel Jones um sistema de oito vogais
cardeais. Estas so vogais de referncia utilizadas para avaliar o timbre voclico
para todas as lnguas do mundo, servindo de escala de comparao da configurao
da lngua e lbios com todas as vogais existentes (BRAID, 2003; CATFORD, 1988).
De acordo com Russo e Behlau (1993), o portugus brasileiro apresenta sete
vogais orais e cinco discutveis vogais nasais. As vogais orais do portugus e suas
classificaes quanto anterioridade e altura da lngua, grau de abertura da boca e
arredondamento de lbios, respectivamente, so:
/a/ (pato) - central, baixa, aberta, no arredondada;
/
// (pra) anterior, mdia, fechada, no arredondada;
/i/ (pipa) anterior, alta, fechada, no arredondada;
/ (coca) posterior, mdia, aberta, arredondada;
/o/ (gorda) posterior, mdia, fechada, arredondada;
/u/ (tatu) posterior, alta, fechada, arredondada.
Segundo Catford (1988), as vogais cardeais relatadas acima podem ser
realizadas a partir dos seguintes movimentos:
Vogais cardeais anteriores
/i/ a lngua deve estar bem tensa e posicionada o mais superior e
anteriormente na cavidade oral, sem produzir frico; a ponta da
lngua fica em contato com a regio posterior dos dentes inferiores,
possvel sentir o contato entre os lados da lngua e os dentes
superiores, dos molares aos caninos; os lbios so mantidos
recuados;
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// a lngua continua tensa e posicionada o mais anteriormente possvel
e com a ponta em contato com a regio posterior dos dentes
inferiores; em relao vogal /i/, a lngua abaixada apenas no
ponto de contato com caninos e primeiros molares, mas ainda
possvel sentir o contato entre os lados da lngua e os molares
posteriores; os lbios so mantidos recuados;
/
os lbios so mantidos recuados;
/a/ a lngua continua posicionada o mais anteriormente possvel, sendo
colocada numa posio mais inferior em relao vogal //; os
lbios so mantidos recuados.
Vogais cardeais posteriores
// a lngua posicionada o mais posteriormente possvel, e, no sentido
vertical, colocada em uma posio mdia, com abertura da boca,
avano e arredondamento dos lbios;
/o/ a lngua posicionada o mais posteriormente possvel, e,
verticalmente, colocada em uma posio mdia, com a boca maisfechada, em relao vogal / / e com avano e arredondamento
dos lbios;
/u/ a lngua posicionada o mais posteriormente possvel, e,
verticalmente, colocada em uma posio alta, com a boca mais
fechada, em relao s demais vogais posteriores e com avano e
arredondamento dos lbios.
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2.2.2.2 ditongos
O ditongo uma combinao de dois sons vogais que se realizam
dinamicamente e em seqncia, de modo que o trato configura-se a produzir um
primeiro som vogal e, durante a realizao, modifica-se para concluir produzindo um
segundo som vogal. As duas vogais no so percebidas separadamente, mas sim
como um som caracterizado pela transio gradual, comeando no primeiro
elemento e passando gradativamente ao segundo. Sendo o primeiro elemento
conhecido como onglideou ncleo do ditongo e o segundo elemento como offglide
ou semivogal (BRAID, 2003; CATFORD, 1988).
2.2.2.3 consoantes
As consoantes so descritas basicamente a partir das caractersticas deponto e modo de articulao e da ocorrncia ou no de sonoridade. Sendo que o
ponto de articulao o local do trato vocal onde se d a maior constrio
passagem do ar por aproximao ou toque dos articuladores (BRAID, 2003). J o
modo de articulao diz respeito maneira como se realiza a articulao do som e a
sonoridade, por fim, relaciona-se ocorrncia ou no de vibrao das pregas vocais
durante a realizao de consoantes.
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Segundo o modo de articulao, Braid (2003) relaciona, entre outros, os
seguintes tipos consonantais:
Oclusivas quando h a ocluso total da passagem do ar em algum local da
cavidade oral.
o Orais Plosivas: aps o bloqueio da passagem do ar pela lngua ou
lbios e pelo fechamento velofarngeo, ocorre a liberao
abrupta da corrente de ar levando exploso. Ex: /p, b, t, d,
k, b, g/.
o Nasais combina-se o fechamento do canal bucal com uma posio
rebaixada do vu palatino e uma passagem livre do ar pelo
nariz. Ex: /m, n/ e /
Fricativas produzidas pela canalizao da corrente de ar por uma estreita
constrio formada num ponto do trato vocal e com o fechamento velofarngeo e
uma forte frico das partculas de ar com as paredes dos articuladores, resultando
em uma turbulncia audvel. Ex: /f, v, s, z/ e / / (chiado).
Lquidas com abertura considervel do trato vocal e constrio em algum
ponto.
o Laterais com a corrente de ar passando entre a lngua e as
bochechas. Ex: /l/.
o Vibrantes o articulador permanece em movimento vibratrio durante a
realizao da consoante. Ex: /r/ (caro).
Quanto sonoridade, as consoantes podem ser classificadas em: sonoras,
quando h movimento vibratrio das pregas vocais, ou seja, fonao, por exemplo,
nas consoantes /z, b, d/; ou surdas, quando no h fonao durante a sua produo,
como em /s, f, p, t/.
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De acordo com Russo e Behlau (1993), para o portugus brasileiro, segundo
o ponto de articulao, as consoantes so divididas em:
Bilabiais com aproximao ou toque dos lbios. Ex: /p,b,m/
Labiodentais com envolvimento de lbio inferior e dentes superiores
anteriores. Ex: /f,v/
Linguodentais ou alveolares - a lngua articula-se com os dentes
anteriores ou alvolos dentrios anteriores. Ex: /t,d,n,c,s,z,l/
Palatais ou ps-alveolares com aproximao ou toque da lngua no
palato. Ex: / /
Linguovelares ou velares com articulao entre a lngua e o vu
palatino. Ex: /k,g, /
A figura 2.5 apresenta um esquema grfico representando os pontos de
articulao das consoantes do portugus brasileiro.
Fonte: Russo I, Behlau M. Percepo da fala: anlise acstica do portugus brasileiro. SoPaulo: Lovise Cientfica, 1993. p. 38.Figura 2.5. Representao esquemtica de pontos de articulao consonantais do portugus:1. bilabial; 2. labiodental; 3. linguodental; 4. linguopalatal; 5. linguovelar
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Malmberg (1998) distingue ainda as consoantes em momentneas, com
ocluso completa seguida de uma abertura brusca, como uma exploso; e
contnuas, com a diminuio no dimetro do canal de passagem do ar e que podem
ser prolongadas tanto quanto permita o ar pulmonar.
2.2.3. Avaliao do dano fontico
O dano corporal, do ponto de vista forense, corresponde aos prejuzos,
acarretados sade de uma pessoa, relacionados deteriorao, inutilizao ou
destruio de algum rgo, sentido ou funo, como tambm, s alteraes
psicolgicas decorrentes desses prejuzos.
O interesse jurdico no dano est justamente nos direitos da vtima e na
responsabilidade de quem o casou. A sua avaliao pode ser realizada a partir de
diferentes perspectivas e mtodos periciais, a depender do mbito do direito (penal,
civil, trabalhista ou administrativo) a que est relacionado (BOUCHARDET, 2006).
De acordo com Magalhes (1998)3 apud Bouchardet (2006) esse dano pode
apresentar-se em quatro dimenses fundamentais que seriam: o organismo, asfunes, o plano psquico e o meio ambiente com o qual o indivduo interage. Em
Odontologia Forense, o dano, em sua dimenso funcional, corresponde s seqelas
relacionadas s funes exercidas pelo sistema estomatogntico, dentre as quais
encontra-se a funo fontica.
No mbito penal, o objeto de tutela nos casos envolvendo o dano corporal a
integridade biopsquica, no apenas a incolumidade individual, mas o interesse
3Magalhes. Estudo tridimensional do dano em direito civil: leso, funo e situao (suaaplicao mdico-legal). Coimbra: Almedina; 1998. cap. 1, p. 24-83.
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social representado no direito vida e integridade pessoal de todos os membros
de uma comunidade (BOUCHARDET, 2006; CARDOZO, 1997). Para Cardozo
(1997):Esse direito [ integridade pessoal] prescinde de qualquer atributoindividual (idade, profisso, condio social et.), considerando que qualquerleso pessoal que limite a atividade e o potencial individual representa umdano que perturbar as relaes de convvio social e, em ltima instncia,refletir sobre a sociedade como um todo.
O caput do artigo 129 do Cdigo Penal Brasileiro conceitua leso corporal
como a ofensa integridade corporal ou sade de outrem. Segundo o 1, III, a
leso considerada de natureza grave se resulta em debilidade permanente de
membro, sentido ou funo, tendo o acusado como pena a recluso de um a cinco
anos (BRASIL, 1999).
O termo sentido est relacionado percepo do indivduo em
relao a estmulos externos, os cinco sentidos humanos so: viso, audio, olfato,
paladar e tato. Funo refere-se ao mecanismo de atuao dos rgos, aparelhos e
sistemas, as sete funes principais so: digestiva, respiratria, circulatria,
secretora, reprodutora, sensitiva e locomotora. Sendo assim, os cinco sentidos
fazem parte da funo sensitiva. Acrescenta-se s funes do corpo humano a
fontica, esttica e mastigatria. Para Frana (2001), tanto o membro quanto o
sentido, do ponto de vista jurdico, no devem ter significado anatmico, antes umadefinio funcional, para que possam ser considerados quanto debilidade.
De acordo com o art. 129, 2, III do Cdigo Penal, se a leso resulta em
perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo a pena para o acusado de
recluso de dois a oito anos. O 6 expressa que, se a leso for caracterizada como
culposa, a pena deve ser de deteno de dois meses a um ano. Sendo destacada
no 7 a necessidade de aumento de um tero da pena se a leso for resultado da
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inobservncia de regra tcnica de profisso, arte ou ofcio, ou ainda, se o agente
deixa de prestar imediato socorro vtima ou se no procura diminuir as
conseqncias dos seus atos (BRASIL, 1999).
De acordo com Frana (2001), a debilidade permanente de uma funo diz
respeito ao enfraquecimento, reduo ou debilitao, de carter permanente, da
capacidade funcional, ou seja, dos mecanismos de atuao de determinados
rgos, aparelhos ou sistemas. Sendo que a percia deve estabelecer, sempre que
possvel, o grau dessa debilitao, pois um processo do direito penal pode gerar um
outro no mbito civil, alm de dar, ao julgador, a oportunidade de atribuir um critrio
mais justo. Se a debilitao no chega a 3% da reduo da capacidade funcional do
indivduo a leso deve ser considerada leve. Todavia, se uma debilidade
permanente ultrapassa o limite terico dos 70%, deve ser considerada como perda
ou inutilizao e, como tal, deve ser vista como leso gravssima(FRANA, 2001,
p. 92). Para Cardozo (1997), a alterao deve ser da ordem de 80 a 100% para a
caracterizao da perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo. A perda diz
respeito ausncia, ao desaparecimento, enquanto na inutilizao, apesar do rgo,
aparelho ou sistema estar presente, encontra-se invalidado, ou seja, de fato
inutilizado para a sua funo original.
A leso culposa aquela que, no havendo a inteno ou ainda, noassumindo o responsvel o risco de ela ocorrer, caracteriza-se por negligncia,
imprudncia ou impercia por parte do acusado. Nestes casos, segundo Frana
(2001), o perito deve: considerar o dano quanto extenso, dimenso,
caractersticas e particularidades, valorizando no apenas os aspectos somticos;
estabelecer a relao de causalidade entre a ao do acusado e o dano ocorrido;
caracterizar a previsibilidade do dano acontecer, levando em conta as circunstncias
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que o ato se realizou; e, ao responder os quesitos relacionados s leses culposas,
procurar, utilizando-se de respostas objetivas e diretas, definir a intensidade da
culpa.
Segundo Bouchardet (2006, p. 57), ao tratar da avaliao pericial da
debilitao ou perda funcional decorrente de leses corporais envolvendo o
complexo maxilofacial:
[...] necessrio que a percia seja permeada de sutileza [...] levando emconta as funes mastigatria, esttica e fontica, de acordo com ointeresse de cada exame. Entretanto, o que se observa na prtica que osperitos, quando respondem aos quesitos relativos debilidade e perda defuno, levam em conta apenas os ndices mastigatrios [...] semconsiderar a relevncia dos coeficientes estticos e fonticos da vtima.
H que se diferenciar a avaliao do dano corpreo do ponto de vista penal,
da anlise pericial no mbito cvel. Esta ltima tem como principal preocupao a
reparao, a partir do estabelecimento de um valor indenizatrio, considerando as
perdas, de natureza econmica ou no, resultantes de um prejuzo integridade
fsica, funcional ou psquica da vtima. No foro cvel, o direito de indenizao surge
da responsabilidade pelos danos e prejuzos derivados dos atos ilcitos, executados
tanto de forma dolosa quanto culposa (BRION, 1988).
O cdigo civil brasileiro (BRASIL, 2002) referencia o dano e a obrigao de
reparao dos prejuzos causados nos seguintes itens:
Art. 927. Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repar-lo.Pargrafo nico. Haver obrigao de reparar o dano, independentementede culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividadenormalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,risco para os direitos de outrem.
Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ouimprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda queexclusivamente moral, comete ato ilcito.
Art. 187. Tambm comete ato ilcito o titular de um direito que, ao exerc-lo,excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econmico ousocial, pela boa-f ou pelos bons costumes.
Art. 188. No constituem atos ilcitos:
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I - os praticados em legtima defesa ou no exerccio regular de um direitoreconhecido;II - a deteriorao ou destruio da coisa alheia, ou a leso a pessoa, a fimde remover perigo iminente.Pargrafo nico. No caso do inciso II, o ato ser legtimo somente quando
as circunstncias o tornarem absolutamente necessrio, no excedendo oslimites do indispensvel para a remoo do perigo.
Art. 935. A responsabilidade civil independente da criminal, no sepodendo questionar mais sobre a existncia do fato, ou sobre quem seja oseu autor, quando estas questes se acharem decididas no juzo criminal.
Art. 949. No caso de leso ou outra ofensa sade, o ofensor indenizar oofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes at ao fim daconvalescena, alm de algum outro prejuzo que o ofendido prove haversofrido.
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido no possa
exercer o seu ofcio ou profisso, ou se lhe diminua a capacidade detrabalho, a indenizao, alm das despesas do tratamento e lucroscessantes at ao fim da convalescena, incluir penso correspondente importncia do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciao que elesofreu.Pargrafo nico. O prejudicado, se preferir, poder exigir que a indenizaoseja arbitrada e paga de uma s vez.
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso deindenizao devida por aquele que, no exerccio de atividade profissional,por negligncia, imprudncia ou impercia, causar a morte do paciente,agravar-lhe o mal, causar-lhe leso, ou inabilit-lo para o trabalho.
Art. 389. No cumprida a obrigao, responde o devedor por perdas edanos, mais juros e atualizao monetria segundo ndices oficiaisregularmente estabelecidos, e honorrios de advogado.
Art. 393. O devedor no responde pelos prejuzos resultantes de casofortuito ou fora maior, se expressamente no se houver por elesresponsabilizado.Pargrafo nico. O caso fortuito ou de fora maior verifica-se no fatonecessrio, cujos efeitos no era possvel evitar ou impedir.
Para Frana (2001), o estabelecimento das quantias indenizatrias deve
objetivar, alm da reparao do dano patrimonial ou econmico, o ressarcimento dos
prejuzos relativos ao dano extrapatrimonial ou existencial. O dano patrimonial
relaciona-se aos bens que compem o patrimnio material da vtima, ou seja, ao
grupo de relaes jurdicas passveis de definio monetria (BOUCHARDET,
2006). O dano extrapatrimonial adquire uma abordagem subjetiva por se caracterizar
pelos prejuzos de cunho psquico, moral, sentimental, e no levar a um prejuzo de
repercusso econmica direta para o indivduo.
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As avaliaes referentes aos danos de natureza patrimonial ou
extrapatrimonial devem considerar especificamente o nexo de causalidade e o
estado anterior da vtima. O nexo de causalidade expressa a relao e
proporcionalidade entre a ao do acusado de ter causado os prejuzos e o dano
propriamente dito. Deve estar claro que h uma leso real, produzida por um trauma
especfico, sendo possvel relacionar o local deste com a sede daquela, dentro de
uma cronologia coerente e depois de excluda qualquer outra causa estranha
traumtica (FRANA, 2001). A avaliao do estado anterior da vtima elucida a
influncia das condies fsicas e psicolgicas pregressas nos parmetros de
avaliao do dano. Este estudo possibilita a personalizao da avaliao que acaba
por considerar o dano em seu carter individual e no em relao a uma mdia
populacional. Tal abordagem tem como principal objetivo a reparao dos prejuzos
de forma suficiente, uma vez que se buscar a restituio da vtima de acordo com o
estado que se apresentava anteriormente (BOUCHARDET, 2006; FRANA, 2001).
O perito, ao realizar uma avaliao de dano corporal, deve abordar e definir
de maneira clara o quantum doloris (pretium doloris) e se, comparativamente ao
estado anterior da vtima, os prejuzos se refletiram em incapacidade temporria
genrica ou profissional, incapacidade permanente genrica ou profissional, dano
esttico ou prejuzo de afirmao pessoal.Os termos quantum doloris e pretium dolorisso aplicados para assinalar e
quantificar o sofrimento moral, a dor fsica e os danos psicolgicos da vtima, em
carter temporrio, com o fito de reparao. A quantificao desse aspecto
extremamente subjetiva e, por isso, aconselhvel que o perito responsvel por
essa avaliao lance mo de escalas de valores. Tais escalas oferecem parmetros
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numricos teis para efeito de valorao e comparao dos prejuzos relacionados
aos aspectos psicolgicos (CARDOZO, 1997; FRANA, 2001; MARQUES, 2006).
Cardozo (1997) sugere a utilizao da escala fundamentada no modelo
italiano para a quantificao do pretium doloris (1. muito leve ou insignificante; 2.
leve; 3. moderado; 4. mdio; 5. suficientemente importante; 6. importante; 7. muito
importante)
De acordo com Frana (2001), o quantum doloris pode ser qualificado e
apresentado durante a discusso do laudo pericial, em nveis baseados na seguinte
escala: 1. pouco significante; 2. significante; 3. moderado; 4. importante; 5. muito
importante.
A incapacidade temporria diz respeito fase, aps o trauma, na qual a
vtima apresenta-se em impossibilidade de execuo das suas atividades cotidianas
(CARDOZO, 1997). Deve ser considerada parcial ou total e do ponto de vista
genrico ou profissional, cessando a partir da estabilizao clnica ou funcional da
vtima, ou seja, quando esta se apresenta curada ou com as leses resultantes do
trauma consolidadas (MARQUES, 2006). Neste ltimo caso tem-se, de acordo com
Frana (2001), um estado definitivo do dano, porm, a presena, ainda, de seqelas
com prejuzo anatmico, funcional, psquico ou misto.
A incapacidade permanente tem como conseqncia a inaptido pararealizao de aes relacionadas s atividades essencia