Joao Pedro p Cruz

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  • 7/31/2019 Joao Pedro p Cruz

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    JOO PEDRO PEDROSA CRUZ

    DANO FONTICO RESULTANTE DE LESES DO NERVO LINGUAL

    So Paulo

    2008

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    Joo Pedro Pedrosa Cruz

    Dano fontico resultante de leses do nervo lingual

    Dissertao apresentada Faculdade deOdontologia da Universidade de So Paulo,para obter o ttulo de Mestre, peloPrograma de Ps-Graduao em CinciasOdontolgicas

    rea de Concentrao: Odontologia Social

    Orientador: Professor Dr. Rogrio Nogueirade Oliveira

    So Paulo

    2008

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    Catalogao-na-PublicaoServio de Documentao OdontolgicaFaculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo

    Cruz, Joo Pedro PedrosaDano fontico resultante de leses do nervo lingual / Joo Pedro Pedrosa

    Cruz; orientador Rogrio Nogueira de Oliveira. -- So Paulo, 2008.138p.; 30 cm.

    Dissertao (Mestrado - Programa de Ps-Graduao em CinciasOdontolgicas. rea de Concentrao: Odontologia Social) -- Faculdade deOdontologia da Universidade de So Paulo.

    1. Fontica articulatria Nervo lingual Leses 2. Parestesia NervoLingual 3. Odontologia Legal

    CDD 614.1BLACK D873

    AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR

    QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,

    DESDE QUE CITADA A FONTE E COMUNICADA AO AUTOR A REFERNCIA DA CITAO.

    So Paulo, ____/____/____

    Assinatura: Joo Pedro Pedrosa Cruz

    E-mail: [email protected] / [email protected]

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    FOLHA DE APROVAO

    Cruz JPP. Dano fontico resultante de leses do nervo lingual [Dissertao deMestrado]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.

    So Paulo, / /

    Banca Examinadora

    1)Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________

    Titulao:____________________________________________________________

    Julgamento:_____________________ Assinatura:___________________________

    2)Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________

    Titulao:____________________________________________________________

    Julgamento:_____________________ Assinatura:___________________________

    3)Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________

    Titulao:____________________________________________________________

    Julgamento:________________________Assinatura:_________________________

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    DEDICATRIA

    A Deus, continuamente presente nesses tempos de enorme esforo e extremaperseverana.

    Aos meus pais, Pedro e Tereza, pelo amor incondicional, por tornarem a minha vidamuito mais fcil, pelos conselhos reconfortantes nos momentos de conflito e pelodesapego dos interesses pessoais em funo da felicidade de nossa famlia. Essaconquista nossa!

    s irms Marla e Idy, pelo amor fraterno puro e simples, pela co-responsabilidade nomeu sucesso e pelas opinies sempre consideradas nas decises.

    A Nanda, minha princesa, pelo amor, companheirismo e cumplicidade em momentosdeterminantes de minha vida e pela presena constante e decisiva, mesmo quandodistante.

    A Erivaldo, Maria, Nayara, Ded, Joo e toda a Famlia ERMANAY, verdadeirosirmos em So Paulo, pelo exemplo de famlia, de cuidado com o prximo e,

    principalmente, pela lio de vida.

    Ao meu orientador Professor Dr. Rogrio Nogueira de Oliveira pela dedicao pesquisa e docncia em Odontologia Legal e, especialmente, pela prontaorientao, decisiva para o bom andamento das tarefas, pelo cuidado, grandeconfiana e valorizao do meu trabalho.

    Ao colega Perito Criminal Antnio Csar Morant Braid pela dedicao FonticaForense, por simplificar o que parecia incompreensvel e pela humildade em dividiros conhecimentos indispensveis realizao dessa dissertao.

    Ao Professor Dr. Lus Carlos Cavalcante Galvo pelo apoio acadmico, pelasvaliosas e sempre atrativas lies de Odontologia Legal e pelo empenho nodesenvolvimento e valorizao dessa rea apaixonante e de enorme relevnciasocial.

    A Professora Valria Souza Freitas, pela amizade e apoio, exemplo de ser humano ede profissional, sempre apostando em mim, responsvel por uma parcelaimportante do meu sucesso.

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    AGRADECIMENTOS

    A Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, pela oportunidade emdesfrutar de um aprendizado de tamanha qualidade.

    Ao Prof. Dr. Rogrio Nogueira de Oliveira pela compreenso, amizade, excelenteorientao e estmulo ao meu desenvolvimento profissional.

    Ao Professor Dr. Moacyr da Silva, exemplo de dedicao e paixo pela Odontologia,sempre muito cuidadoso com seus alunos e verdadeiros admiradores.

    Ao Professor Dr. Dalton Luis de Paula Ramos pelos ensinamentos em Biotica e,especialmente, pelo incentivo inicial para o andamento da ps-graduao.

    Aos Professores do Departamento de Odontologia Social da Faculdade deOdontologia da Universidade de So Paulo Rodolfo Francisco H. Melani, MariaErclia de Arajo, Hilda F. Cardozo, Michel Crosato e Jos Leopoldo F. Antunes pelocompartilhamento dos saberes.

    Ao Perito Criminal Antnio Csar Morant Braid, pela disponibilidade e dedicao ao

    desenvolvimento da cincia forense e pelas incansveis, e sempre produtivas,discusses.

    A Professora Camila da Silva Souza Ozores, Coordenadora do Curso deOdontologia da Faculdade Nobre, pelo grande apoio e competente colaborao paraa pesquisa.

    Ao Professor Ulisses Anselmo da Silva, pela disponibilidade em apoiar odesenvolvimento da pesquisa.

    Ao Departamento de Polcia Tcnica da Bahia, nas pessoas do Diretor Geral Dr.Raul Barreto e do Diretor do Interior Dr. Claudemiro Pires Filho, pelo incentivo aodesenvolvimento dos trabalhos cientficos, que s tm a colaborar com os avanosna segurana pblica e, principalmente, nas prticas forenses.

    Ao Dr. Walker Souza Silva Filho pela compreenso e grande competncia naCoordenadoria Regional de Polcia Tcnica de Irec.

    Aos voluntrios da pesquisa, pelas participaes, sem as quais no seria possvelcumprir o planejado para este trabalho.

    A Marla, pelas opinies decisivas para o meu trabalho, sempre acatadas pela razoe consistncia.

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    Aos amigos e irmos Toinho, Mateus, Tcio, Leo, Daniel, Anderson, Tonzinho, LeoHulk, Augusto, Bruno e Marquinhos pela grande amizade e presena constante,facilitando demais as passagens pelos problemas e comemorando sempre asconquistas!

    A Giselle, grande amiga, exemplo de sucesso, pelo apoio no desenvolvimentopessoal e, especialmente, profissional.

    A Nilton, pela grande ajuda no desenrolar metodolgico da pesquisa.

    A Jamilly Musse e Andria Baraldi, contemporneas no mestrado, pelascontribuies e convivncia positivas para o meu aprendizado.

    Ao Dr. Marcelo Sampaio, Diretor do Instituto de Criminalstica Afrnio Peixoto - ICAPdo Departamento de Polcia Tcnica da Bahia, pela cesso do espao e infra-estrutura do ICAP.

    Ao Professor Antnio Csar Oliveira de Azevedo, Diretor do Departamento de Sadeda Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, por autorizar a execuo dapesquisa no espao da Clnica Odontolgica.

    Ao Professor Dr. Mrcio Freitas, exmio professor e pesquisador, pela concesso dasua sala, extremamente importante para a realizao dos experimentos.

    A Dra. Maria ngela Drea Leal, responsvel pelo Centro de Triagem e Urgncia daUniversidade Estadual de Feira de Santana, por ter disponibilizado o consultrioodontolgico pesquisa.

    Ao Professor Dr. Nelson Fernandes de Oliveira, pelo direcionamento nos estudosestatsticos.

    Aos amigos da Clnica Odontolgica da UEFS pela ajuda, em especial a Geo,Zorilda, Edmia e ao vigilante Dante, sempre solcitos diante das necessidades.

    s secretrias do Departamento de Odontologia Social da FOUSP pela eficincia ecuidados dispensados durante o curso.

    bibliotecria Maria Cludia Pestana pela apurada e competente orientao quanto formatao desse extenso trabalho.

    A todos aqueles que, direta ou indiretamente, colaboraram para mais essa etapa devalor inestimvel em minha vida.

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    Deus sempre providencia algum

    anjo que vai a nossa frente e nos

    conduz pelo caminho seguro

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    Cruz JPP. Dano fontico resultante de leses do nervo lingual [Dissertao deMestrado]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.

    RESUMO

    Modificaes neurosensoriais, decorrentes de complicaes relacionadas a

    tratamentos odontolgicos, esto entre as principais causas de litgio envolvendo

    cirurgies-dentistas. Um dos nervos mais acometidos nestes casos o nervo lingual.

    Entre os inconvenientes apontados nas queixas judiciais esto as dificuldades na

    articulao dos sons da fala nessas situaes. Neste contexto, o objetivo desse

    estudo foi verificar se h dano funo fontica resultante da ausncia de

    sensibilidade unilateral da lngua induzida por anestesia do nervo lingual.

    Participaram do estudo 10 sujeitos voluntrios, brasileiros, do sexo masculino, com

    idade entre 21 e 27 anos. Foram realizadas as anlises perceptual e acstica das

    falas gravadas antes e depois da anestesia do nervo lingual. Alm disso, os sujeitos

    da pesquisa responderam a um questionrio com o objetivo de avaliar o nvel de

    desconforto e dificuldade na produo da fala. Aps assinatura do TCLE e avaliao

    clnica e fonoaudiolgica, os sujeitos foram divididos em dois grupos. As gravaesconsistiram em conjuntos de vogais e palavras. Para o segundo grupo, a leitura de

    um texto foi acrescentada para o estudo da fala encadeada. Para a anlise

    perceptual foram observados os comportamentos das falas em relao

    inteligibilidade, ao pitch, loudness e co-articulao. Para o segundo grupo, a fala

    encadeada foi analisada quanto ao ritmo, fluidez, co-articulao e velocidade de

    produo. No foram observadas quaisquer diferenas nos parmetros perceptivo-

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    auditivos definidos para o estudo. Para a anlise acstica, realizou-se o estudo de

    cinco vogais isoladas e da fricativa sibilante /s/. Foram extrados e comparados os

    valores dos dois primeiros formantes das vogais /a, / , /i/, / e /u/. Foi possvel

    observar que, apesar de existirem diferenas nos valores absolutos dos formantes,

    eles se mantiveram em faixas de freqncias caractersticas das vogais faladas nos

    dois momentos e, alm disso, nenhum indivduo relatou qualquer dificuldade em

    relao produo das vogais. Os parmetros escolhidos para anlise comparativa

    da consoante sibilante /s/ foram: a localizao do pico espectral de maior amplitude,

    o coeficiente de assimetria, o coeficiente de curtose e o centro de gravidade. As

    anlises demonstraram que os padres desses parmetros tambm foram mantidos

    aps a aplicao da anestesia. Ademais, no foram encontradas diferenas

    estatisticamente significantes entre os dois momentos, para os parmetros

    analisados. Apesar de 03 sujeitos (30%) relatarem dificuldades na produo de

    determinados fonemas, as anlises das gravaes de suas falas demonstraram no

    haver nenhuma diferena significativa entre os dois momentos. O presente trabalho

    ofereceu informaes importantes a respeito de tcnicas que podem ser utilizadas

    nas percias envolvendo o dano fontico. Ficando claro que preciso uma

    interpretao criteriosa dos resultados apresentados, especialmente nas anlises

    acsticas. Os resultados encontrados permitem concluir que no houve danofontico resultante da inibio funcional unilateral do nervo lingual para o grupo

    pesquisado.

    Palavras-chave: Avaliao de danos - Nervo lingual Parestesia

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    Cruz JPP. Phonetic damage resulting from lingual nerve injuries [Dissertao deMestrado]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.

    ABSTRACT

    Sensorineural changes due to complications related to dentistry treatments are

    between the main litigation causes involving dentists. One of the most affected

    nerves in these situations is the lingual nerve. Speech changes are related as a

    complication in these cases. The purpose of this study was to analyze the possible

    phonetic damage resulting from lingual nerve sensorial alterations induced by

    anesthesia. The study group consisted of 10 men, aged between 21 and 27 years.

    Perceptual and acoustic analyses of the speech samples recorded before and after

    the lingual nerve anesthesia were performed. Moreover, the subjects answered a

    questionnaire to discuss the level of discomfort and difficulty in speaking. The

    informers were divided into two groups. The recording consisted of a combination of

    vowels and words. A text reading was added for the second group. Perceptual

    analyses studied the behavior of the intelligibility, pitch, loudness and co-articulation.

    For the second group, the pace, fluidity, co-articulation and production speed were

    evaluated. There were no differences in perceptive parameters defined for the study.

    The acoustic analyses of isolated vowels /a/, / , /i/, / , /u/ were performed. The first

    two formant frequencies values were analyzed. It was possible to observe that,

    despite of the differences in absolute values of formants, they were located in bands

    of frequencies that are characteristics of the vowels spoken, in both moments. In

    addition, none of the subjects reported any difficulty in produce vowel sounds. The

    parameters chosen for acoustic analysis of /s/ sound were: location of the greater

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    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 2.1 - Vista pstero-superior do assoalho da cavidade oral...........................29

    Figura 2.2 - Inervao aferente da lngua................................................................ 29

    Figura 2.3 - Representao esquemtica comparativa entre o trato vocal e um

    sistema pneumtico.............................................................................. 39

    Figura 2.4 - Ao da musculatura intrnseca da laringe. a. Posio de fonao. b.

    Posio de respirao......................................................................... 42

    Figura 2.5 - Representao esquemtica de pontos de articulao consonantais do

    portugus: 1. bilabial; 2. labiodental; 3. linguodental; 4. linguopalatal; 5.

    linguovelar............................................................................................. 50

    Figura 2.6 - Espectrograma da palavra coisa produzido no Praat, verso

    5.0.27.................................................................................................... 71

    Figura 2.7 - Grfico baseado em FFT da vogal /a/, extrado do Programa Praat,

    verso 5.0.27........................................................................................ 72

    Figura 2.8 - Grfico baseado em LPC da vogal /a/, extrado do Programa Praat,

    verso 5.0.27........................................................................................ 73

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    Figura 2.9 - Espectrogramas das consoantes fricativas /s/, /z/, // e //. Nota-se a

    maior concentrao de energia nas zonas de altas freqncias e

    ausncia de barra de sonoridade na consoante /s...............................78

    Figura 5.1 - Grficos individuais de disperso dos dez sujeitos, representando os

    valores dos formantes F1 e F2 das vogais /a/, //, /i/, / / e /u/ e a

    comparao entre os espaos das vogais antes e aps a anestesia do

    nervo lingual........................................................................................ 102

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 - Valores mdios de F1 e F2 das vogais orais do portugus brasileiro,

    para homens...................................................................................... 74

    Tabela 5.1 - Valores do primeiro pico espectral, extrados dos espectrogramas da

    sibilante /s/ dos informantes.............................................................. 104

    Tabela 5.2 - Valores do centro de gravidade, extrados dos espectrogramas da

    sibilante /s/ dos informantes............................................................. 105

    Tabela 5.3 - Valores do coeficiente de curtose extrados dos espectrogramas da

    sibilante /s/ dos informantes.............................................................. 106

    Tabela 5.4 - Valores do coeficiente de assimetria, extrados dos espectrogramas

    da sibilante /s/ dos informantes......................................................... 107

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 2.1 - Contra-indicaes aos anestsicos locais............................................36

    Quadro 5.1 - Apresentao do formante F1 das vogais /a/, / , /i/, / e /u/ antes e

    depois da aplicao da anestesia unilateral do nervo lingual. Os valores

    com diferenas mnimas perceptveis ao ouvido humano esto grifados

    em amarelo, se diminudos e, em azul, se aumentados.......................97

    Quadro 5.2 - Apresentao do formante F2 das vogais /a/, //, /i/, // e /u/ antes e

    depois da aplicao da anestesia unilateral do nervo lingual. Os valores

    com diferenas mnimas perceptveis ao ouvido humano esto grifados

    em amarelo, se diminudos e, em azul, se aumentados.......................97

    Quadro 5.3 - Destaque das diferenas mnimas significativas de F1, em porcentagem,

    entre os dois momentos (antes e depois da anestesia), de acordo com

    Flanagan (1955) ................................................................................... 98

    Quadro 5.4 - Destaque das diferenas mnimas significativas de F2, em porcentagem,

    entre os dois momentos (antes e depois da anestesia), de acordo com

    Flanagan (1955) ................................................................................... 98

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CEP Comit de tica em Pesquisa

    cm centmetro

    cm2 centmetro quadrado

    Hz hertz

    dB decibelFAN Faculdade Nobre

    FFT Fast Fourier Transform

    FOUSP Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo

    F1 primeiro formante

    F2 segundo formante

    LPC Linear Predictive Coding

    ms milisegundo

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana

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    LISTA DE SMBOLOS

    marca registrada

    pargrafo

    % por cento

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    SUMRIO

    p.

    1 INTRODUO.....................................................................................19

    2 REVISO DA LITERATURA...............................................................23

    2.1 O nervo lingual..................................................................................... 27

    2.1.1 Neuroanatomia funcional....................................................................... 272.1.2 Leses neurais.................................................................................... 30

    2.1.3 Anestesia local do nervo lingual.............................................................. 35

    2.2 A funo fontica.................................................................................. 37

    2.2.1 Fisiologia e anatomia do aparelho fonador............................................... 38

    2.2.2 Articulao da fala................................................................................ 45

    2.2.2.1 vogais............................................................................................. 452.2.2.2 ditongos........................................................................................... 48

    2.2.2.3 consoantes....................................................................................... 48

    2.2.3 Avaliao do dano fontico.................................................................... 51

    2.2.4 Metodologias de estudo dos sons da fala.................................................63

    2.2.4.1 anlise perceptivo-auditiva.................................................................. 63

    2.2.4.2 anlise acstica................................................................................ 692.2.4.2.1 vogais.......................................................................................... 73

    2.2.4.2.2 consoantes fricativas.................................................................... 77

    3 PROPOSIO...................................................................................83

    4 MATERIAL E MTODOS....................................................................84

    4.1 Amostra............................................................................................... 84

    4.2 Material................................................................................................ 85

    4.3 Mtodo................................................................................................. 87

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    4.3.1 Das gravaes.................................................................................... 87

    4.3.2 Da anestesia do nervo lingual................................................................ 88

    4.3.3 Do questionrio...................................................................................894.4 Critrios para anlise das gravaes...................................................... 90

    4.4.1 Anlise perceptual................................................................................ 90

    4.4.2 Anlise acstica................................................................................... 91

    4.4.2.1 das vogais........................................................................................ 92

    4.4.2.2 da consoante fricativa........................................................................ 92

    4.5 Procedimentos estatsticos................................................................... 93

    5 RESULTADOS.....................................................................................95

    5.1 Da anlise perceptivo-auditiva...............................................................95

    5.2 Da anlise acstica............................................................................... 96

    5.2.1 Vogais isoladas...................................................................................96

    5.2.2 Fricativa sibilante /s/........................................................................... 103

    5.2.2.1 pico espectral.................................................................................. 1035.2.2.2 centro de gravidade......................................................................... 105

    5.2.2.3 coeficiente de curtose.......................................................................106

    5.2.2.4 coeficiente de assimetria...................................................................107

    5.3 Do questionrio.................................................................................. 108

    6 DISCUSSO.......................................................................................109

    7 CONCLUSES...................................................................................121

    REFERNCIAS.....................................................................................122

    APNDICES..........................................................................................130

    ANEXOS................................................................................................ 137

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    JOOPEDROPEDROSACRUZ 19

    1 INTRODUO

    A Odontologia Legal a especialidade da cincia odontolgica responsvel

    pelo estudo dos fenmenos relacionados ao sistema estomatogntico capazes de

    causar, de alguma forma, prejuzo ao homem, sobretudo nos casos que resultam em

    questes judiciais (CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2005). Entre as

    causas de litgio envolvendo cirurgies-dentistas destacam-se as alteraes

    nervosensoriais e motoras decorrentes de leses relacionadas a tratamentos

    odontolgicos. Os principais nervos afetados nesses casos so o alveolar inferior,

    nasopalatino, bucal e o nervo lingual. Tais estruturas correspondem a ramos do

    quinto par craniano, sendo responsveis pelo suprimento nervoso da mucosa bucal

    e da pele.

    As leses neurais ocasionadas podem ser transitrias ou permanentes.

    Aquelas envolvendo o nervo nasopalatino e o nervo bucal so de menor morbidade,

    uma vez que a rea de inervao desses dois ramos relativamente pequena e a

    reinervao da regio afetada costuma ocorrer rapidamente (PETERSON et al.,

    2005). Fato diferente dos casos de leses do nervo lingual e alveolar inferior, pois,

    nestes, as leses resultam em uma alterao sensorial que tem como efeito um

    srio desconforto para os pacientes (BENEDIKTSDTTIR et al., 2004).

    O nervo lingual um ramo exclusivamente sensitivo do nervo mandibular. Em

    seu trajeto emite ramos para a face interna da gengiva inferior e regio sublingual,

    para os dois teros anteriores, face inferior, dorsal e bordas laterais da lngua

    (LIMA,1996; ROBERTS; SOWRAY, 1995).

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    JOOPEDROPEDROSACRUZ 20

    As principais leses dessa estrutura esto relacionadas a procedimentos

    cirrgicos, especialmente remoo de terceiros molares inferiores impactados ou

    semi-impactados. O elenco de causas de injrias ao nervo lingual inclui edema,

    hematoma e infeco locais; acidentes com instrumentos rotatrios; manipulao de

    retalho mucoperiosteal lingual e fraturas da tbua ssea lingual. Uma outra etiologia

    relevante est associada ao bloqueio anestsico do nervo alveolar inferior para os

    mais variados procedimentos clnicos, inclusive os no cirrgicos (ROBINSON;

    FORD; MCDONALD, 2004). Nesses casos, h uma predileo para a ocorrncia de

    parestesia, disestesia ou anestesia do nervo lingual em comparao com o nervo

    alveolar inferior (POGREL et al., 2003).

    Modificaes sensitivas na regio orofacial podem interferir na fala,

    mastigao e nas interaes sociais do indivduo. At mesmo mudanas

    aparentemente mais simples podem afetar significativamente a qualidade de vida do

    paciente (CAISSIE et al., 2005).

    Apesar dos pacientes recuperarem a sensao normal sem tratamento na

    maioria dos episdios, deficincias permanentes so muito pouco toleradas e

    grande parte resulta em aes legais contra cirurgies-dentistas (CAISSIE et al.,

    2005). As principais queixas judiciais apresentadas pelos querelantes so mudanas

    no paladar, dormncia, disfunes orais como mordedura da lngua e dificuldade naproduo da fala (ROBINSON; LOESCHER; SMITH, 2000).

    Tendo em vista que a integridade anatomofuncional da pessoa um bem

    jurdico tutelado pelo Estado por se constituir em interesse de toda a sociedade. E,

    no mesmo sentido, o Direito Civil protege o direito ao ressarcimento por possveis

    prejuzos resultantes de qualquer atentado integridade pessoal. A avaliao

    criteriosa dos danos decorrentes por meio de percia mdico-legal ou odonto-legal, a

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    JOOPEDROPEDROSACRUZ 21

    depender da sede do dano, extremamente necessria para a justa aplicao

    dessas normas (CARDOZO, 1997).

    No caso do nervo lingual esse dano funcional se deve ao fato de ser ele o

    responsvel pela sensao ttil da poro anterior da lngua. A lngua um rgo de

    estrutura quase completamente muscular preso pela base parede inferior da

    cavidade bucal. Ela imprescindvel a diversas atividades fisiolgicas humanas,

    participando direta e indiretamente de funes essenciais como a mastigao,

    deglutio e de maneira especial da produo da fala. Nesta ltima funo, a lngua

    representa um dos principais articuladores fonticos, apresentando grande

    flexibilidade e exercendo papel fundamental no resultado dos sons da fala (BRAID,

    2003; PALMER, 2003).

    Os efeitos fonticos determinados por alteraes de sensibilidade do nervo

    lingual j foram pesquisados em outros pases. Esses estudos concluram que as

    injrias neurosensoriais da lngua podem levar a implicaes acsticas devido

    diminuio da preciso no posicionamento deste rgo para a articulao de

    fonemas (NIEMI et al., 2002, 2004, 2006).

    Em tais situaes, o indivduo apresenta a necessidade de modificar a

    configurao articulatria para produzir sons de voz acusticamente aceitveis (NIEMI

    et al., 2002, 2004, 2006). Sendo que essas modificaes podem ser objetivamenteestudadas por meio de medies e anlises instrumentais das ondas sonoras

    produzidas pelo falante (BRAID, 1999).

    Apesar dessas consideraes, so escassos os estudos a respeito do real

    prejuzo fontico decorrente das leses do nervo lingual. Assim como, so raras as

    pesquisas que tratam das implicaes dessas leses funo fontica, tanto de

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    forma objetiva, avaliando as conseqncias acsticas, quanto em relao

    percepo do prprio sujeito que as apresenta e do ouvinte.

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    2 REVISO DA LITERATURA

    O exerccio da Odontologia no territrio nacional brasileiro regulamentado

    pela Lei 5081 de 24 de agosto de 1966. Esse dispositivo destaca, entre as

    competncias do cirurgio-dentista, a realizao de percia odontolegal nos foros

    civil, criminal, trabalhista e em sede administrativa (BRASIL, 1966).

    O Conselho Federal de Odontologia, atravs da Resoluo 63 de 2005, define

    as especialidades que podem ser praticadas por um cirurgio-dentista, bem como

    relaciona as atividades pertinentes a cada especialidade (CONSELHO FEDERAL

    DE ODONTOLOGIA, 2005). A Odontologia Legal, na resoluo supramencionada,

    conceituada no artigo 63 e em seu pargrafo nico, verbis:

    Art.63. Odontologia Legal a especialidade que tem como objetivo apesquisa de fenmenos psquicos, fsicos, qumicos e biolgicos que podematingir ou ter atingido o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmofragmentos ou vestgios, resultando leses parciais ou totais reversveis ouirreversveis.Pargrafo nico. A atuao da Odontologia Legal restringe-se anlise,percia e avaliao de eventos relacionados com a rea de competncia docirurgio-dentista, podendo, se as circunstncias o exigirem, estender-se aoutras reas, se disso depender a busca da verdade, no estrito interesse dajustia e da administrao.

    De acordo com Vanrell (2002), o perito odontolegista o profissional mais

    indicado para fazer o exame das leses corporais que envolvem o sistema

    estomatogntico, como tambm para realizar a avaliao dos danos decorrentes

    dessas leses. Essa avaliao, atravs da percia odonto-legal, de suma

    importncia, por ser a integridade biopsquica da pessoa um bem jurdico tutelado

    pelo Estado. E, alm disso, o cidado tem o direito ao ressarcimento por prejuzos

    decorrentes de qualquer atentado a essa integridade protegido pelo Direito Civil

    (CARDOZO, 1997).

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    A grande maioria das ofensas sade biopsquica decorrente de agresses

    pessoais e acidentes, seja de trnsito ou de trabalho. Porm, h um crescimento

    exponencial no nmero de processos envolvendo leses ocasionadas por erros

    mdicos ou odontolgicos. Nesses casos, o perito tambm requisitado a agir no

    sentido de avaliar, a partir de uma metodologia cientificamente reconhecida, e de

    forma objetiva e impessoal, os danos corpreos de um paciente que questiona a

    prtica de um determinado profissional.

    Para Lydiatt (2003), a partir de 1970 houve um aumento considervel no

    nmero de processos contra profissionais da rea da sade, bem como no nmero e

    nos valores de indenizaes pagas por tais profissionais.

    De Paula (2007) realizou um levantamento, atravs da Internet, das

    jurisprudncias a respeito das aes de responsabilidade civil movidas contra

    cirurgies-dentistas no Brasil. Foram estudadas 478 jurisprudncias, nas quais, em

    99,3% dos casos foi considerada a responsabilidade direta do agente. Nesse estudo

    pode-se perceber ainda que, dentre as especialidades odontolgicas, a cirurgia

    estava envolvida em 32,9% dos processos nos quais foi possvel identificar a rea

    especfica de atuao do profissional. O autor concluiu que h uma tendncia ao

    crescimento do nmero de processos contra cirurgies-dentistas, bem como ao

    aumento da quantidade de Estados brasileiros com experincias desse tipo.Segundo o Conselho Regional de Medicina do Estado de So Paulo

    CREMESP, em sete anos, o nmero de mdicos denunciados aumentou 75%,

    sendo que 35% das denncias se relacionam suposta m prtica profissional.

    Entre os fatores ligados ao aumento das denncias, destaca-se a entrada de mais

    mdicos no mercado de trabalho, o crescimento populacional, deficincias do ensino

    mdico, a falta de atualizao profissional ao longo da carreira e a maior

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    conscientizao da populao quanto a seus direitos de cidadania (CONSELHO

    REGIONAL DE MEDICINA DE SO PAULO, 2007).

    Vanrell (2002) chama a ateno para o elevado nmero de processos contra

    cirurgies-dentistas nos Conselhos Regionais de Odontologia, foros civis, criminais e

    trabalhistas. Relacionando esse acrscimo principalmente proliferao

    indiscriminada de instituies de ensino, responsveis pelo lanamento, no mercado,

    de profissionais com formao heterognea que cometem erros com prevalncia

    acima do normal; ao descontentamento dos pacientes, especialmente pelo desajuste

    da relao profissional/paciente; e situao econmico-financeira da sociedade,

    exacerbando a susceptibilidade para quaisquer perdas que os erros possam

    significar.

    Para Marques et al. (2006, p. 7), infelizmente, os casos de erros profissionais

    envolvendo cirurgies-dentistas so uma constante, quer seja por

    desconhecimento, ignorncia, m formao ou at disponibilidade da vtima, que no

    aconchego do seu ser sofre e consente.

    A elevao nos ndices de procura por justia est diretamente ligada ao

    desenvolvimento industrial, ao processo de urbanizao e conseqente tomada de

    conscincia de direitos por parte da sociedade. O crescimento desses fatores

    provocou um aumento no nmero e no tipo de conflitos e a principal conseqnciafoi a maior demanda pelos servios do Judicirio (SADEK, 2004).

    De acordo com Sadek (2004), testes de correlao entre indicadores de

    desenvolvimento socioeconmico e quantidade de demandas que chegam at os

    servios judiciais indicam que as variveis sociais e econmicas provocam reflexos

    na demanda pelo Judicirio e no desempenho deste poder. O mesmo autor destaca

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    ainda que melhoras no IDH (ndice de desenvolvimento humano) possuem

    correlao positiva com o aumento no nmero de processos iniciados na justia.

    Bacellar (2008) associa o aumento no nmero de processos judiciais

    proliferao de conflitos decorrentes do aumento populacional brasileiro. Colocando

    ainda que, com a ampliao do acesso justia, sentida no Brasil, notadamente a

    partir do advento da Constituio da Repblica de 1988, sintomaticamente, houve

    uma redescoberta da Justia pelo cidado.

    Segundo Haas e Lennon (1995) as leses nervosas tm sido relatadas como

    as causas mais comuns de aes judiciais contra cirurgies-dentistas e cirurgies

    maxilofaciais. Os pesquisadores relacionam esse fato ao grande estresse que pode

    ser levado ao paciente acometido por essa condio. Stacy e Hajjar (1994) chamam

    a ateno para a angstia do paciente com essas leses e a possibilidade de

    ocorrncia dos processos.

    Peterson et al. (2005) relata que as estruturas com maior probabilidade de

    serem lesadas durante uma cirurgia odontolgica so os ramos do nervo trigmeo.

    Refere ainda que os ramos mais envolvidos nessas situaes so o nervo

    mentoniano, o nervo lingual, o nervo bucal e o nervo nasopalatino. Sendo que o

    nervo lingual raramente se regenera se for gravemente traumatizado. Alm disso,

    segundo esse autor, as injrias neurais so, freqentemente, um bom campo deprocessos contra cirurgies-dentistas. E os tratamentos mais comumente

    relacionados s acusaes so as exodontias, implantes e tratamentos

    endodnticos.

    Caissie et al. (2005) qualificam as leses neurosensitivas ocasionadas por

    cirurgies-dentistas como um problema complexo com implicaes mdico-legais

    importantes. Em seu estudo, os autores apresentaram a experincia clnica dos anos

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    de 1990 a 2001 e relataram uma amostra de 165 pacientes com alguma parestesia

    relacionada ao nervo mandibular. Sendo que, em 20% dos casos foi dado inicio a

    um processo legal.

    Para Behnia, Kheradvar e Shahrokhi (2000), leses do nervo lingual esto

    entre as principais complicaes de cirurgias orais e maxilofaciais so as leses do

    nervo lingual. E a razo fundamental para essas leses relaciona-se s variaes

    anatmicas e, conseqentemente, impossibilidade do cirurgio de saber a sua

    precisa localizao.

    Lydiatt (2003), revisando os casos de processos ocorridos nos jris civis

    estaduais e federais dos Estados Unidos de 1987 a 2000, encontrou 33 casos de

    litgio envolvendo leses do nervo lingual. Nesses, os acusados eram cirurgies-

    dentistas clnicos gerais em 52% dos processos. De acordo com essa reviso,

    60,6% dos veredictos favoreceram o ru e a mdia de indenizao, poca, foi de

    cerca de trezentos e seis mil dlares.

    2.1. O nervo lingual

    2.1.1 Neuroanatomia funcional

    O nervo lingual, como nervo perifrico, apresenta trs componentes bsicos:

    axnios, clulas de Schwann e tecido conjuntivo. Os axnios so agrupados em

    feixes paralelos, conhecidos como fascculos, revestidos por bainhas de tecido

    conjuntivo frouxo. Cada axnio individualmente revestido pelo tecido denominado

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    endoneuro. O endoneuro limita-se internamente pela membrana basal da clula de

    Schwann que forma a bainha de mielina, no caso dos nervos mielinizados, com

    funo crtica de suporte axonal regenerativo e de isolante eltrico para uma melhor

    conduo dos impulsos nervosos. Na bainha de mielina, so encontrados intervalos

    circunferenciais, de maneira intermitente, denominados ndulos de Ranvier. Os

    feixes de axnios so revestidos pelo perineuro, formando os fascculos. O conjunto

    de fascculos finalmente revestido pelo epineuro, constitudo de tecido conjuntivo

    frouxo, se estendendo ao longo de todo o nervo (MACHADO, 2005; SIQUEIRA,

    2007).

    Bernard e Mintz (2003) alertam os dentistas e cirurgies bucomaxilofaciais

    para a importncia do conhecimento das variaes anatmicas do nervo lingual no

    sentido de se evitar leses dessa estrutura durante as cirurgias orais.

    O nervo lingual um ramo sensitivo do nervo mandibular que, por sua vez,

    origina-se do nervo trigmeo. A partir de sua origem (5 a 10 mm abaixo da base do

    crnio), o nervo lingual toma uma direo descendente, para baixo e para frente,

    delineando o trajeto frente e por dentro do nervo alveolar. Descreve ainda uma

    curva, guiando-se para o lado interno da cavidade bucal atingindo a lngua na regio

    do terceiro molar inferior (Figura 2.1). Na parte interna da lngua, dirige-se para a sua

    ponta na qual anastomosa-se com seu homlogo, inervando os 2/3 anteriores damesma (Figura 2.2). Durante esse trajeto, o nervo lingual emite ramos sensitivos

    para a face interna da gengiva e assoalho bucal (regio sublingual) (LIMA,1996).

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    Fonte: Netter FH. Atlas Interativo de Anatomia Humana. Novartis Medical Education.Traduzido por: Artmed Editora; 1999.Figura 2.1 Vista pstero-superior do assoalho da cavidade oral

    Fonte: Netter FH. Atlas Interativo de Anatomia Humana. Novartis Medical Education.Traduzido por: Artmed Editora; 1999.Figura 2.2 Inervao aferente da lngua

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    Behnia, Kheradvar e Shahrokhi (2000) realizaram um estudo anatmico em

    699 nervos linguais de 430 cadveres frescos, e observaram que em 85,05% o

    nervo situava-se em posio tpica na regio dos terceiros molares, ou seja, prximo

    tbua ssea lingual e abaixo da crista ssea lingual. Porm, em 14,05% dos casos

    o nervo estava situado acima da crista ssea lingual e em 0,15% havia um desvio

    para regio retromolar.

    2.1.2 Leses neurais

    De acordo com Caissie et al. (2005), alteraes sensoriais envolvendo o

    sistema estomatogntico podem interferir na fala, mastigao e nas interaes

    sociais do indivduo. Ainda, segundo tais pesquisadores, at mesmo modificaes

    aparentemente simples podem comprometer de forma expressiva a qualidade de

    vida do paciente.

    Danos severos ao nervo lingual podem resultar em dormncia permanente,

    perda do paladar, devido ao envolvimento do nervo corda do tmpano, e disestesia

    da poro dos dois teros anteriores da lngua do lado afetado, levando a umasituao de angstia vitalcia (BERNARD; MINTZ, 2003; POGREL et al., 2003).

    A incidncia de leses do nervo lingual relatada na literatura bastante

    varivel, indo de 0,02 a 22% dos pacientes submetidos cirurgia de terceiro molar.

    De acordo com Renton e McGurk (2001), segundo dados do Servio de Sade

    Nacional Britnico, entre 30 e 3000 pacientes so acometidos por dano permanente

    do nervo lingual a cada ano.

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    As leses do nervo lingual podem ocorrer durante exodontia de terceiros

    molares inferiores, osteotomias, procedimentos pr-protticos, exciso de cistos e

    tumores, cirurgia na ATM, tonsilectomia, injeo anestsica local para bloqueio do

    nervo alveolar inferior, entubao, laringoscopia, explorao do ducto

    submandibular, cirurgia de glndulas salivares, cirurgia do tringulo submandibular,

    leso por broca cirrgica ou superaquecimento e ainda por tratamento cirrgico das

    fraturas sseas e de lbio e palato fissurados (GOMES et al., 2005; LYDIATT, 2003;

    PETERSON et al., 2005).

    Bernard e Mintz (2003) relatam que as injrias ao nervo lingual podem ocorrer

    por compresso direta, inciso ou exciso durante remoes de terceiros molares,

    cirurgias periodontais, exrese de tumores e tambm em casos de traumas

    resultantes de procedimentos realizados na regio retromolar.

    Chuah e Mehra (2005) relatam um caso de perda de sensibilidade bilateral do

    nervo lingual subseqente a uma cirurgia para expanso rpida de maxila

    considerada sem qualquer complicao trans-operatria.

    A literatura relaciona entre as causas de injria ao nervo lingual: trauma pela

    agulha durante a anestesia local, pelo bisturi, por instrumento rotatrio durante a

    remoo de osso ou do dente, pelo esmagamento ou estiramento acidental do

    nervo, pela fratura de parte da tbua ssea lingual mandibular ou por instrumentosoutros; compresso da sutura e ainda devido a certos medicamentos utilizados

    durante a cirurgia ou para tratamento de alguma complicao como nos casos de

    alveolite (GOMES et al., 2005; LE, 2006; POGREL).

    Pogrel et al. (2003), discutindo danos ao nervo lingual subseqentes a

    bloqueios anestsicos do nervo alveolar inferior, afirmam que o mecanismo

    etiolgico das injrias nestes casos ainda no est claro e, entre as teorias de

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    possveis causas, relacionam o trauma direto pela agulha, a hemorragia dentro do

    epineuro e um potencial neurotxico do prprio anestsico.

    Krafft e Hickel (1994) estudaram 12.104 pacientes nos quais foi aplicada

    anestesia de bloqueio mandibular sem qualquer interveno cirrgica. Nesse estudo

    no foi encontrado nenhum caso de anestesia completa e permanente da lngua.

    Ocorreram distrbios de sensibilidade do nervo lingual em apenas 18 casos, dos

    quais em 17 houve a recuperao da sensibilidade da lngua dentro de seis meses e

    no ltimo, aps um ano, havia uma leve diminuio na sensibilidade da lngua. O

    que levou os pesquisadores a conclurem que a anestesia por si s no tem um

    impacto decisivo na incidncia dos distrbios sensoriais do nervo lingual resultantes

    de procedimentos cirrgicos.

    Jerjes et al. (2006) estudaram os casos de danos nervosos permanentes

    subseqentes a 1.087 cirurgias de terceiros molares realizadas de 1998 a 2003.

    Aps uma semana das cirurgias, os pesquisadores observaram 71 casos (6,5%) de

    parestesia do nervo lingual. A maioria dos quais se resolveu at o final dessa

    primeira semana. Aps dois anos, a parestesia persistiu em 11 pacientes (1%).

    Benediktsdttir et al. (2004), analisando a exodontia de 388 terceiros molares,

    observaram cinco casos de parestesias (1,5%), duas das quais relacionadas ao

    nervo lingual de forma temporria.Segundo Pogrel et al. (2003), a incidncia relatada nos poucos estudos

    tratando de leses nervosas relacionadas a traumas decorrentes exclusivamente de

    bloqueios anestsicos do nervo alveolar inferior da ordem de 1:26.000 a 1:800.000

    bloqueios realizados. Ainda informam que a maioria dos estudos descreve uma

    incidncia 70% a 80% maior de leses do nervo lingual em relao ao alveolar

    inferior nesses casos. O autor sugere que essa predileo relaciona-se ao padro

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    unifascicular do primeiro na regio da lngula, onde o bloqueio alveolar inferior

    depositado em cerca de 33% dos casos.

    Elian et al. (2005) classificam o resultado das injrias neurosensitivas em:

    1. Parestesia, correspondendo a uma alterao na sensibilidade que se

    manifesta como dormncia, ardncia ou formigamento; podendo refletir

    em alterao na sensao de dor em um nervo especfico ou em uma

    sensao anormal, tanto provocada quanto espontnea, no

    necessariamente desconfortvel ou dolorosa;

    2. Disestesia, caracterizada por sensaes dolorosas anormais, tanto

    espontneas quanto provocadas;

    3. Analgesia, como a ausncia de dor diante de um estmulo normalmente

    doloroso;

    4. Anestesia, quando h ausncia da percepo de qualquer estmulo

    nocivo ou no nocivo da pele ou mucosa.

    Harn e Durham (1990) apresentaram a classificao de leses neurais

    proposta por Seddon1 que considera trs tipos de leses nervosas.

    1. Neuropraxia definida como uma disfuno nervosa temporria que

    no causa degenerao significativa ou interrupo da continuidade

    axonal. A recuperao pode ser esperada dentro de alguns dias a 3semanas.

    2. Axonotmese uma injria traumtica que causa degenerao distal do

    axnio neural sem interrupo do endoneuro. A regenerao ocorre

    com o retorno para a normalidade ou quase normalidade dentro de 6 a

    8 semanas.

    Seddon HJ. Three types of nerve injury. Brain 1943,66:237

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    3. Neurotmese leso considervel com significante interrupo neural e

    distoro da estrutura neural. A regenerao inicial ocorre nas

    primeiras 6 a 8 semanas, o que pode confundir clinicamente essa leso

    com a axonotmese. A regenerao alcana o pico depois de 18 meses,

    podendo ocorrer parestesia ou anestesia residual. Uma formao

    cicatricial pode interferir na regenerao axonal, resultando em um

    neuroma traumtico.

    Prado (2004), baseando-se na classificao de Seddon1 para leses neurais

    afirma que nos casos de neurotmese ocorre uma seco anatmica completa do

    nervo ou uma extensa leso por avulso ou esmagamento. No se podendo,

    portanto, esperar uma recuperao espontnea significativa.

    Prado (2004) apresenta ainda a proposta de Sunderland2 para uma

    classificao mais completa para as leses neurais.

    1. Leso de primeiro grau: interrupo fisiolgica da conduo do axnio

    no local da leso, porm sem interrupo anatmica axonal.

    Recuperao espontnea dentro de poucos dias ou semanas.

    2. Leso de segundo grau: ruptura evidente do axnio, porm

    preservao da integridade do tubo endoneural.

    3. Leso de terceiro grau: ruptura de axnios e tubos endoneurais, pormpreservao do perineuro.

    4. Leso de quarto grau: ruptura de axnios e endoneuro, porm

    preservao de perineuro e epineuro localizados, portanto, no h

    seco completa de todo o tronco.

    5. Leso de quinto grau: transeco neural completa com distncia

    varivel entre os cotos nervosos.

    2Sunderland S. A classification of peripheral nerve injuries producing loss of function. Brain1951;74:491.

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    6. Leso de sexto grau: transeco neural parcial, mas parte restante do

    nervo sofreu leso de quarto, terceiro, segundo ou raramente primeiro

    graus.

    Tanto nos esmagamentos como nas seces de nervos perifricos ocorre a

    degenerao da extremidade distal do axnio e da leso da extremidade proximal

    at o primeiro ndulo de Ranvier, conhecida como degenerao walleriana.

    O mais desejvel aps uma leso de um feixe nervoso o retorno

    espontneo da sensao normal. A possibilidade de isso ocorrer depende tanto da

    severidade da leso quanto do nervo envolvido. Sendo que a resoluo espontnea

    nos casos de seco do nervo lingual mais improvvel se comparado aos que

    envolve o nervo alveolar inferior, contido em um canal sseo que o protege e

    direciona as fibras nervosas na regenerao (KRAUT; CHAHAL, 2002).

    2.1.3 Anestesia local do nervo lingual

    De acordo com Robinson, Ford e McDonald (2004), os agentes anestsicos

    utilizados em Odontologia so classificados de acordo com sua estrutura qumica

    bsica em steres e amidas. Os principais anestsicos utilizados atualmente so do

    grupo amida. Entre eles esto a articana, a bupivacana, a mepivacana, a

    prilocana e a lidocana.

    Segundo Malamed (2005), a contra-indicao absoluta administrao de

    anestsico local, independendo assim do tipo de substncia utilizada, a alergia

    documentada e reprodutvel. Alm dessa, relata uma srie de contra-indicaes

    relativas relacionadas a determinadas substncias (Quadro 2.1).

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    Problema Mdico Drogas a serem evitadasColinesterase Plasmtica atpica steres

    Metemoglobulinemia idioptica ou congnita Articana, prilocanaDisfuno heptica significativa (ASA III-IV) Amidas

    Disfuno renal significativa (ASA III-IV) Amida ou steres

    Disfuno cardiovascularsignificativa (ASA III-IV)

    Altas concentraes devasoconstrictores (como na

    adrenalina racmica fio pararetrao gengival)

    Hipertireoidismo clnico

    Altas concentraes devasoconstrictores (como na

    adrenalina racmica fio pararetrao gengival)

    Lustig e Zusman (1999) estudaram as complicaes imediatas decorrentes de

    2.528 aplicaes anestsicas locais odontolgicas realizadas por um experiente

    cirurgio oral e maxilofacial, em 1007 pacientes. Neste estudo, os autores utilizaram

    como anestsico a Lidocana a 2% com hidrocloreto de nordefrina como

    vasoconstrictor. A intercorrncia mais severa relatada foi sncope em apenas um dos

    casos e foi observada sensao de choque pelos pacientes em 63 injees, sem

    qualquer outra complicao. Os autores concluram que a anestesia local em

    Odontologia se trata de um procedimento seguro quando a tcnica apropriada

    aplicada.

    O nervo lingual passa prximo de ou em contato com a regio posterior da

    mandbula na rea do terceiro molar, logo acima da linha milo-hiidea. Nesse caso,

    a soluo de 0,5 ml nos tecidos moles dessa regio no lado desejado normalmente

    suficiente para uma boa anestesia desse nervo (ROBINSON; FORD; MCDONALD,

    2004).

    Fonte: Malamed S. Manual de Anestesia Local, 2005.Quadro 2.1 - Contra-indicaes aos anestsicos locais

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    Segundo Malamed (2005), ao se realizar o bloqueio anestsico do nervo

    alveolar inferior, em grande parte das vezes, tem-se uma adequada anestesia do

    nervo lingual devido difuso do anestsico para a regio deste ltimo. Porm, nos

    casos negativos, deve-se injetar uma parte da soluo anestsica restante (cerca de

    0,1 ml) para a complementao da anestesia.

    Niemi et al. (2002, 2004, 2006), ao simular a parestesia do nervo lingual

    atravs da anestesia local, utilizaram 0,8 ml de Cloridrato de Articana a 4% com

    adrenalina na concentrao de 1:200.000, como vasoconstrictor, aplicados no lado

    lingual da regio retromolar. Os autores constataram o sucesso da anestesia com o

    estmulo no lado da lngua anestesiado, atravs de uma sonda odontolgica de

    ponta aguda.

    2.2. A funo fontica

    Entre as funes exercidas pelo aparelho estomatogntico, destacam-se a

    esttica, mastigatria, de deglutio, de respirao e a fontica. A funo fontica

    corresponde aos mecanismos de atuao dos rgos, aparelhos e sistemas docorpo humano responsveis pela produo da fala.

    A fala surgiu na histria da evoluo humana como uma adaptao dos

    rgos comunicao verbal diante da necessidade do homem se expressar ao

    conviver em sociedade (LIEBERMAN; BLUMSTEIN, 1996). Apesar disso,

    considerada uma caracterstica essencialmente humana. Sendo uma das funes

    mais exigentes da atividade muscular, uma vez que requer a coordenao rpida e

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    ordenada de mais de oitenta msculos diferentes para a sua execuo, alm do

    perfeito arranjo entre diferentes estruturas anatmicas (BRAID, 2004; LAVER, 1994).

    Os primeiros estudos das linguagens e dos sons da fala provm dos

    gramticos gregos e snscritos do terceiro e quarto sculos antes de Cristo.

    Destaque foi dado a essa cincia no sculo XVIII quando Ferrein, em 1741, tentou

    explicar como as cordas vocais produzem a fonao. Em meados do sculo XIX,

    Mller formulou a teoria do filtro-fonte da produo da fala, postulada, por Gunnar

    Fant, em 1960 e que se tornou a base das pesquisas sobre a fala humana. De

    acordo com essa teoria a fala o resultado da interao entre uma fonte de energia,

    representada pelo resultado da vibrao das cordas vocais na laringe, e filtros

    supressores da transferncia de energia sonora para certas freqncias,

    representados pelo comprimento e formato do trato supralaringeal (LIEBERMAN;

    BLUMSTEIN, 1996).

    O grande avano nos estudos da fala se deu realmente a partir do final de

    1930 com a descoberta da espectrografia da voz e tcnicas como fotografias de alta

    velocidade, cinerradiografia e eletromiografia (FRY, 1994; LIEBERMAN;

    BLUMSTEIN, 1996).

    2.2.1 Fisiologia e anatomia do aparelho fonador

    luz da Fisiologia, a fala desenvolvida fundamentalmente a partir da

    interao de trs sistemas atuando de modo sucessivo na produo de um resultado

    final. So eles o sistema respiratrio ou subglotal, laringeal ou glotal e

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    supralaringeal. Basicamente, h a formao de uma corrente de ar emitida pelos

    pulmes que percorre o trato respiratrio at atingir a laringe, onde se encontram as

    cordas vocais. A depender do intuito do indivduo, essas cordas abrem-se e fecham-

    se, em alta velocidade, de modo a transformar o pulso de ar contnuo emitido pelos

    pulmes em vibraes. Estas finalmente so lanadas ao trato vocal e nasal, onde

    ocorrem as ltimas modificaes, antes de se apresentarem como fala (BRAID,

    2004; FRY, 1994; LAVER, 1994).

    O aparelho fonatrio composto por todo o trato respiratrio, dos pulmes ao

    nariz, mais a boca, englobando, portanto, todos as partes do corpo humano que

    participam normalmente da produo dos sons da fala. Este aparato pode ser

    comparado a um dispositivo pneumtico, consistindo em um fole e vrios tubos,

    vlvulas e cmaras com a funo de pr o ar em movimento e controlar o seu fluxo

    (CATFORD, 1988). A figura 2.3 mostra um esquema grfico comparativo de um

    sistema pneumtico com o aparelho fonatrio.

    Fonte: Catford JC. A practical introduction to phonetics. OxfordUniversity Press; 1988. p. 8.Figura 2.3. Representao esquemtica comparativa entre o trato vocale um sistema pneumtico

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    A distncia das cordas vocais at os lbios em um trato vocal masculino

    adulto de cerca de 17 cm. A rea de qualquer seco do trato tem grande variao

    se forem considerados desde a faringe at a regio posterior da lngua, abaixo do

    palato duro e entre os dentes, mas 5 cm2 pode ser considerada uma rea

    representativa desses espaos (FRY, 1994).

    importante salientar que a funo biolgica natural dos rgos acima

    relacionados no a fala, mas sim a respirao, a mastigao e a deglutio

    (LAVER, 1994; LIEBERMAN; BLUMSTEIN, 1996). medida que a espcie humana

    evoluiu, esses sistemas foram modificados para se adaptarem s condies

    impostas pelo prprio meio como conseqncia da seleo natural. O homem

    adaptou esses rgos comunicao verbal como uma necessidade de convivncia

    inerente vida em sociedade (LIEBERMAN; BLUMSTEIN, 1996).

    A funo primria do sistema respiratrio promover oxignio. Os humanos

    tm um sistema de quimioceptores que monitoram os nveis de gs carbnico e

    oxignio dissolvidos no sangue e no liquido crebro-espinhal. Estes quimioceptores

    aumentam a respirao quando os nveis de gs carbnico esto muito altos e,

    contrariamente, diminuem a respirao quando estes nveis caem (FRY, 1994;

    LAVER, 1994).

    A fala ocorre durante a expirao e quando o ser humano fala a corrente dear necessria nem sempre coincide com a requerida pela respirao. O organismo

    humano, visando ajustar a respirao s necessidades da velocidade de fala,

    controla o volume do ar egresso dos pulmes e pode tambm reduzir o tempo de

    inspirao para cerca de 15 % do ciclo total da respirao. Evidenciando-se assim, a

    prevalncia da demanda de ar para a fala sobre a respirao (LIEBERMAN;

    BLUMSTEIN, 1996).

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    Essa expirao de ar ocorre ativamente sob controle dos msculos do trax,

    do abdmen e tambm atravs da distenso do diafragma durante a fala. A

    contrao do abdmen provoca a compresso de seus rgos internos sobre os

    pulmes expulsando o ar nele contido. Tal ar expelido dos pulmes percorre, como

    uma corrente de fluxo contnuo, a traquia e alcana a laringe, podendo sofrer

    alteraes neste rgo (LAVER, 1994).

    A laringe a poro localizada no alto da traquia onde se localizam as

    pregas vogais, responsveis pela variao do que, na sua inatividade, seria uma

    corrente de ar contnua expelida dos pulmes. Esta corrente de ar contnua, a partir

    de movimentos de abertura e fechamento das pregas vocais, transformada em

    uma srie de pulsos de ar percebidos como vibraes (LIEBERMAN; BLUMSTEIN,

    1996). A ocorrncia ou no desta transformao vibratria ser determinada pelo

    falante, que decidir, de acordo com a realizao fontica desejada, a forma de

    configurao de sua laringe (BRAID, 2003).

    O espao por onde ocorre a passagem do ar na laringe denominado de

    glote e o fenmeno vibratrio que acontece em alguns sons ocorre, mais

    precisamente, na regio das pregas ou cordas vocais (JOHNSON; SANDY, 1999).

    Estas so definidas como pregas de ligamentos, distendidas transversalmente na

    laringe, presas em sua poro anterior pela cartilagem tireide e, na parte posterior,pelas cartilagens aritenides. Graas a estas cartilagens e aos msculos que as

    comandam possvel aproximar as cordas vocais e assim fechar a glote. O

    fenmeno da fonao consiste exatamente na abertura e fechamento das cordas

    vocais, de forma rpida, sob controle da musculatura laringeal, energizada pela

    corrente de ar sada dos pulmes. Alm desse movimento, h a formao de pulsos

    deslocando-se superficialmente na superfcie externa das pregas vocais. Estes so

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    conhecidos como mucosal wave, colaborando para o perfeito e sincronizado

    movimento das pregas vocais (BRAID, 2003; MALMBERG, 1998). A figura 2.4

    mostra imagens de laringoscopia direta da laringe em posio de fonao e de

    respirao.

    ab

    b

    Fonte: Sobotta J. Atlas de anatomia humana. Volume 1, Cabea, Pescoo e ExtremidadeSuperior. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p. 133.Figura 2.4. Ao da musculatura intrnseca da laringe. a. Posio de fonao. b. Posio derespirao

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    Aps a passagem pela laringe, essa corrente continua o seu percurso e

    atinge o sistema supralaringeal onde, por fim, passa pelas ltimas transformaes

    antes de resultar nos sons da fala. Este ltimo sistema inicia-se a partir da faringe,

    imediatamente ao fim da laringe, at os lbios e nariz. As modificaes no ar

    egresso da laringe podem ocorrer ainda na faringe, mediante movimentos prprios

    ou da lngua. Porm, no trato vocal que ocorre a maior parte das obstrues e

    constries, pelos articuladores, diretamente relacionadas s alteraes do ar sado

    da laringe (JINDRA; EBER; PESAK, 2002; JOHNSON; SANDY, 1999; MCCORD;

    FIRESTONE; GRANT, 1994).

    Para a produo da fala, alm da atividade muscular, necessria a

    participao direta dos demais rgos constituintes da cavidade oral. Do ponto de

    vista fisiolgico, a boca faz parte do sistema supralaringeal do aparelho fonador

    (CALLOU; LEITE, 1995). Ela participa direta e indiretamente da fonao atravs dos

    movimentos da mandbula, lngua e lbios, do formato do palato e da presena e

    posio dos dentes (FRY, 1994; JINDRA; EBER; PESAK, 2002).

    A mandbula o osso do maxilar inferior que porta os dentes inferiores e

    forma a articulao temporomandibular com os ossos temporais. Sendo dotada de

    movimento, pode alterar o volume da cavidade oral (MCMINN, 2000). Essa

    estrutura, durante a fala, executa movimentos variveis para frente, para trs, parabaixo e para cima, de acordo com o som desejado (BRAID, 2003; LIEBERMAN;

    BLUMSTEIN, 1996).

    Os lbios permitem mudanas de comprimento e forma do conduto vocal, por

    exemplo, alongando e arredondando o conduto para a articulao da vogal /u/, ou

    obstruindo a passagem de ar durante a produo da consoante /p/ (BRAID, 2003).

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    O palato, que forma o teto da cavidade bucal, consiste de duas partes. A

    poro anterior conhecida como palato duro, formado basicamente de osso

    coberto por mucosa. A parte posterior corresponde ao palato mole, tambm

    conhecido com vu palatino, formado por msculos e tecido mole (LIEBERMAN;

    BLUMSTEIN, 1996). Este, quando abaixado, ocasiona a passagem do ar para a

    cavidade nasal e quando levantado, obstrui essa passagem (FRY, 1994).

    Os dentes participam tanto da conformao acstica da cavidade bucal,

    influenciando indiretamente na formao das vogais, quanto da articulao das

    consoantes. As unidades dentrias influem diretamente na produo do som tanto

    durante a passagem de ar entre as ameias quanto atravs da sua combinao com

    outros articuladores, especialmente os lbios e a lngua (JOHNSON; SANDY, 1999;

    MCCORD; FIRESTONE; GRANT, 1994).

    Segundo Braid (1999) os dentes incisivos centrais superiores exercem

    fundamental importncia na articulao dos sons fricativos anteriores, como os

    labiodentais, dentais e alguns alveolares, pois, sem eles, so prejudicados os efeitos

    de estridncia e sibilncia dos sons originais, a exemplo de /f, v, s e z/. O som

    padro dessas consoantes produzido por meio do rudo gerado pela passagem do

    fluxo de ar em alta velocidade por um conduto de constrio com a participao

    efetiva dos dentes incisivos superiores atuando como um obstculo passagem dear (MCCORD; FIRESTONE; GRANT, 1994).

    A lngua o articulador dotado de maior flexibilidade, tendo a capacidade de

    curvar-se em diversas posies e pontos, na ponta, no dorso ou nas bordas, alm de

    movimentar-se em qualquer direo. Isso possvel devido a sua constituio

    anatmica de basicamente dois grupos de msculos (BRAID, 2003; PALMER, 2003).

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    E devido a essa propriedade motora importante, a lngua exerce um papel

    fundamental no resultado final dos sons da fala, sendo capaz de obstruir ou formar

    constries em qualquer ponto ou pontos da cavidade bucal a partir de uma

    aproximao dos demais articuladores como os dentes, o palato duro ou o vu

    palatino (BRAID, 2003; BRESSMANN et al., 2004; CALLOU; LEITE, 1995; FRY,

    1994; LIEBERMAN; BLUMSTEIN, 1996; MALMBERG, 1998).

    2.2.2. Articulao dos sons da fala

    2.2.2.1 vogais

    As vogais ou, mais precisamente, a conformao oral para vogais,

    especificada a partir de trs parmetros: posio vertical da lngua (alta/fechada e

    baixa/aberta), posio horizontal da lngua (frontal e posterior) e posio dos lbios

    (arredondadas e no arredondadas) (CATFORD, 1988). Elas so desenvolvidas a

    partir de amplificaes acrescentadas energia gltica. So formadas faixas defreqncias, caracterizadas por uma maior energia acstica, representativas de

    grupos de harmnicos conhecidos como formantes do som (LIEBERMAN;

    BLUMSTEIN,1996; RUSSO; BEHLAU, 1993).

    De acordo com Malmberg (1998) principalmente graas aos movimentos da

    lngua que possvel variar o efeito ressoador da faringe e da boca,

    correspondentes aos formantes responsveis pelos timbres das vogais.

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    Para um estudo universal das vogais, de forma criteriosa e isenta de

    ambigidades, foi criado pelo fontico ingls Daniel Jones um sistema de oito vogais

    cardeais. Estas so vogais de referncia utilizadas para avaliar o timbre voclico

    para todas as lnguas do mundo, servindo de escala de comparao da configurao

    da lngua e lbios com todas as vogais existentes (BRAID, 2003; CATFORD, 1988).

    De acordo com Russo e Behlau (1993), o portugus brasileiro apresenta sete

    vogais orais e cinco discutveis vogais nasais. As vogais orais do portugus e suas

    classificaes quanto anterioridade e altura da lngua, grau de abertura da boca e

    arredondamento de lbios, respectivamente, so:

    /a/ (pato) - central, baixa, aberta, no arredondada;

    /

    // (pra) anterior, mdia, fechada, no arredondada;

    /i/ (pipa) anterior, alta, fechada, no arredondada;

    / (coca) posterior, mdia, aberta, arredondada;

    /o/ (gorda) posterior, mdia, fechada, arredondada;

    /u/ (tatu) posterior, alta, fechada, arredondada.

    Segundo Catford (1988), as vogais cardeais relatadas acima podem ser

    realizadas a partir dos seguintes movimentos:

    Vogais cardeais anteriores

    /i/ a lngua deve estar bem tensa e posicionada o mais superior e

    anteriormente na cavidade oral, sem produzir frico; a ponta da

    lngua fica em contato com a regio posterior dos dentes inferiores,

    possvel sentir o contato entre os lados da lngua e os dentes

    superiores, dos molares aos caninos; os lbios so mantidos

    recuados;

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    // a lngua continua tensa e posicionada o mais anteriormente possvel

    e com a ponta em contato com a regio posterior dos dentes

    inferiores; em relao vogal /i/, a lngua abaixada apenas no

    ponto de contato com caninos e primeiros molares, mas ainda

    possvel sentir o contato entre os lados da lngua e os molares

    posteriores; os lbios so mantidos recuados;

    /

    os lbios so mantidos recuados;

    /a/ a lngua continua posicionada o mais anteriormente possvel, sendo

    colocada numa posio mais inferior em relao vogal //; os

    lbios so mantidos recuados.

    Vogais cardeais posteriores

    // a lngua posicionada o mais posteriormente possvel, e, no sentido

    vertical, colocada em uma posio mdia, com abertura da boca,

    avano e arredondamento dos lbios;

    /o/ a lngua posicionada o mais posteriormente possvel, e,

    verticalmente, colocada em uma posio mdia, com a boca maisfechada, em relao vogal / / e com avano e arredondamento

    dos lbios;

    /u/ a lngua posicionada o mais posteriormente possvel, e,

    verticalmente, colocada em uma posio alta, com a boca mais

    fechada, em relao s demais vogais posteriores e com avano e

    arredondamento dos lbios.

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    2.2.2.2 ditongos

    O ditongo uma combinao de dois sons vogais que se realizam

    dinamicamente e em seqncia, de modo que o trato configura-se a produzir um

    primeiro som vogal e, durante a realizao, modifica-se para concluir produzindo um

    segundo som vogal. As duas vogais no so percebidas separadamente, mas sim

    como um som caracterizado pela transio gradual, comeando no primeiro

    elemento e passando gradativamente ao segundo. Sendo o primeiro elemento

    conhecido como onglideou ncleo do ditongo e o segundo elemento como offglide

    ou semivogal (BRAID, 2003; CATFORD, 1988).

    2.2.2.3 consoantes

    As consoantes so descritas basicamente a partir das caractersticas deponto e modo de articulao e da ocorrncia ou no de sonoridade. Sendo que o

    ponto de articulao o local do trato vocal onde se d a maior constrio

    passagem do ar por aproximao ou toque dos articuladores (BRAID, 2003). J o

    modo de articulao diz respeito maneira como se realiza a articulao do som e a

    sonoridade, por fim, relaciona-se ocorrncia ou no de vibrao das pregas vocais

    durante a realizao de consoantes.

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    Segundo o modo de articulao, Braid (2003) relaciona, entre outros, os

    seguintes tipos consonantais:

    Oclusivas quando h a ocluso total da passagem do ar em algum local da

    cavidade oral.

    o Orais Plosivas: aps o bloqueio da passagem do ar pela lngua ou

    lbios e pelo fechamento velofarngeo, ocorre a liberao

    abrupta da corrente de ar levando exploso. Ex: /p, b, t, d,

    k, b, g/.

    o Nasais combina-se o fechamento do canal bucal com uma posio

    rebaixada do vu palatino e uma passagem livre do ar pelo

    nariz. Ex: /m, n/ e /

    Fricativas produzidas pela canalizao da corrente de ar por uma estreita

    constrio formada num ponto do trato vocal e com o fechamento velofarngeo e

    uma forte frico das partculas de ar com as paredes dos articuladores, resultando

    em uma turbulncia audvel. Ex: /f, v, s, z/ e / / (chiado).

    Lquidas com abertura considervel do trato vocal e constrio em algum

    ponto.

    o Laterais com a corrente de ar passando entre a lngua e as

    bochechas. Ex: /l/.

    o Vibrantes o articulador permanece em movimento vibratrio durante a

    realizao da consoante. Ex: /r/ (caro).

    Quanto sonoridade, as consoantes podem ser classificadas em: sonoras,

    quando h movimento vibratrio das pregas vocais, ou seja, fonao, por exemplo,

    nas consoantes /z, b, d/; ou surdas, quando no h fonao durante a sua produo,

    como em /s, f, p, t/.

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    De acordo com Russo e Behlau (1993), para o portugus brasileiro, segundo

    o ponto de articulao, as consoantes so divididas em:

    Bilabiais com aproximao ou toque dos lbios. Ex: /p,b,m/

    Labiodentais com envolvimento de lbio inferior e dentes superiores

    anteriores. Ex: /f,v/

    Linguodentais ou alveolares - a lngua articula-se com os dentes

    anteriores ou alvolos dentrios anteriores. Ex: /t,d,n,c,s,z,l/

    Palatais ou ps-alveolares com aproximao ou toque da lngua no

    palato. Ex: / /

    Linguovelares ou velares com articulao entre a lngua e o vu

    palatino. Ex: /k,g, /

    A figura 2.5 apresenta um esquema grfico representando os pontos de

    articulao das consoantes do portugus brasileiro.

    Fonte: Russo I, Behlau M. Percepo da fala: anlise acstica do portugus brasileiro. SoPaulo: Lovise Cientfica, 1993. p. 38.Figura 2.5. Representao esquemtica de pontos de articulao consonantais do portugus:1. bilabial; 2. labiodental; 3. linguodental; 4. linguopalatal; 5. linguovelar

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    Malmberg (1998) distingue ainda as consoantes em momentneas, com

    ocluso completa seguida de uma abertura brusca, como uma exploso; e

    contnuas, com a diminuio no dimetro do canal de passagem do ar e que podem

    ser prolongadas tanto quanto permita o ar pulmonar.

    2.2.3. Avaliao do dano fontico

    O dano corporal, do ponto de vista forense, corresponde aos prejuzos,

    acarretados sade de uma pessoa, relacionados deteriorao, inutilizao ou

    destruio de algum rgo, sentido ou funo, como tambm, s alteraes

    psicolgicas decorrentes desses prejuzos.

    O interesse jurdico no dano est justamente nos direitos da vtima e na

    responsabilidade de quem o casou. A sua avaliao pode ser realizada a partir de

    diferentes perspectivas e mtodos periciais, a depender do mbito do direito (penal,

    civil, trabalhista ou administrativo) a que est relacionado (BOUCHARDET, 2006).

    De acordo com Magalhes (1998)3 apud Bouchardet (2006) esse dano pode

    apresentar-se em quatro dimenses fundamentais que seriam: o organismo, asfunes, o plano psquico e o meio ambiente com o qual o indivduo interage. Em

    Odontologia Forense, o dano, em sua dimenso funcional, corresponde s seqelas

    relacionadas s funes exercidas pelo sistema estomatogntico, dentre as quais

    encontra-se a funo fontica.

    No mbito penal, o objeto de tutela nos casos envolvendo o dano corporal a

    integridade biopsquica, no apenas a incolumidade individual, mas o interesse

    3Magalhes. Estudo tridimensional do dano em direito civil: leso, funo e situao (suaaplicao mdico-legal). Coimbra: Almedina; 1998. cap. 1, p. 24-83.

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    social representado no direito vida e integridade pessoal de todos os membros

    de uma comunidade (BOUCHARDET, 2006; CARDOZO, 1997). Para Cardozo

    (1997):Esse direito [ integridade pessoal] prescinde de qualquer atributoindividual (idade, profisso, condio social et.), considerando que qualquerleso pessoal que limite a atividade e o potencial individual representa umdano que perturbar as relaes de convvio social e, em ltima instncia,refletir sobre a sociedade como um todo.

    O caput do artigo 129 do Cdigo Penal Brasileiro conceitua leso corporal

    como a ofensa integridade corporal ou sade de outrem. Segundo o 1, III, a

    leso considerada de natureza grave se resulta em debilidade permanente de

    membro, sentido ou funo, tendo o acusado como pena a recluso de um a cinco

    anos (BRASIL, 1999).

    O termo sentido est relacionado percepo do indivduo em

    relao a estmulos externos, os cinco sentidos humanos so: viso, audio, olfato,

    paladar e tato. Funo refere-se ao mecanismo de atuao dos rgos, aparelhos e

    sistemas, as sete funes principais so: digestiva, respiratria, circulatria,

    secretora, reprodutora, sensitiva e locomotora. Sendo assim, os cinco sentidos

    fazem parte da funo sensitiva. Acrescenta-se s funes do corpo humano a

    fontica, esttica e mastigatria. Para Frana (2001), tanto o membro quanto o

    sentido, do ponto de vista jurdico, no devem ter significado anatmico, antes umadefinio funcional, para que possam ser considerados quanto debilidade.

    De acordo com o art. 129, 2, III do Cdigo Penal, se a leso resulta em

    perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo a pena para o acusado de

    recluso de dois a oito anos. O 6 expressa que, se a leso for caracterizada como

    culposa, a pena deve ser de deteno de dois meses a um ano. Sendo destacada

    no 7 a necessidade de aumento de um tero da pena se a leso for resultado da

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    inobservncia de regra tcnica de profisso, arte ou ofcio, ou ainda, se o agente

    deixa de prestar imediato socorro vtima ou se no procura diminuir as

    conseqncias dos seus atos (BRASIL, 1999).

    De acordo com Frana (2001), a debilidade permanente de uma funo diz

    respeito ao enfraquecimento, reduo ou debilitao, de carter permanente, da

    capacidade funcional, ou seja, dos mecanismos de atuao de determinados

    rgos, aparelhos ou sistemas. Sendo que a percia deve estabelecer, sempre que

    possvel, o grau dessa debilitao, pois um processo do direito penal pode gerar um

    outro no mbito civil, alm de dar, ao julgador, a oportunidade de atribuir um critrio

    mais justo. Se a debilitao no chega a 3% da reduo da capacidade funcional do

    indivduo a leso deve ser considerada leve. Todavia, se uma debilidade

    permanente ultrapassa o limite terico dos 70%, deve ser considerada como perda

    ou inutilizao e, como tal, deve ser vista como leso gravssima(FRANA, 2001,

    p. 92). Para Cardozo (1997), a alterao deve ser da ordem de 80 a 100% para a

    caracterizao da perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo. A perda diz

    respeito ausncia, ao desaparecimento, enquanto na inutilizao, apesar do rgo,

    aparelho ou sistema estar presente, encontra-se invalidado, ou seja, de fato

    inutilizado para a sua funo original.

    A leso culposa aquela que, no havendo a inteno ou ainda, noassumindo o responsvel o risco de ela ocorrer, caracteriza-se por negligncia,

    imprudncia ou impercia por parte do acusado. Nestes casos, segundo Frana

    (2001), o perito deve: considerar o dano quanto extenso, dimenso,

    caractersticas e particularidades, valorizando no apenas os aspectos somticos;

    estabelecer a relao de causalidade entre a ao do acusado e o dano ocorrido;

    caracterizar a previsibilidade do dano acontecer, levando em conta as circunstncias

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    que o ato se realizou; e, ao responder os quesitos relacionados s leses culposas,

    procurar, utilizando-se de respostas objetivas e diretas, definir a intensidade da

    culpa.

    Segundo Bouchardet (2006, p. 57), ao tratar da avaliao pericial da

    debilitao ou perda funcional decorrente de leses corporais envolvendo o

    complexo maxilofacial:

    [...] necessrio que a percia seja permeada de sutileza [...] levando emconta as funes mastigatria, esttica e fontica, de acordo com ointeresse de cada exame. Entretanto, o que se observa na prtica que osperitos, quando respondem aos quesitos relativos debilidade e perda defuno, levam em conta apenas os ndices mastigatrios [...] semconsiderar a relevncia dos coeficientes estticos e fonticos da vtima.

    H que se diferenciar a avaliao do dano corpreo do ponto de vista penal,

    da anlise pericial no mbito cvel. Esta ltima tem como principal preocupao a

    reparao, a partir do estabelecimento de um valor indenizatrio, considerando as

    perdas, de natureza econmica ou no, resultantes de um prejuzo integridade

    fsica, funcional ou psquica da vtima. No foro cvel, o direito de indenizao surge

    da responsabilidade pelos danos e prejuzos derivados dos atos ilcitos, executados

    tanto de forma dolosa quanto culposa (BRION, 1988).

    O cdigo civil brasileiro (BRASIL, 2002) referencia o dano e a obrigao de

    reparao dos prejuzos causados nos seguintes itens:

    Art. 927. Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,

    fica obrigado a repar-lo.Pargrafo nico. Haver obrigao de reparar o dano, independentementede culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividadenormalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,risco para os direitos de outrem.

    Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ouimprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda queexclusivamente moral, comete ato ilcito.

    Art. 187. Tambm comete ato ilcito o titular de um direito que, ao exerc-lo,excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econmico ousocial, pela boa-f ou pelos bons costumes.

    Art. 188. No constituem atos ilcitos:

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    I - os praticados em legtima defesa ou no exerccio regular de um direitoreconhecido;II - a deteriorao ou destruio da coisa alheia, ou a leso a pessoa, a fimde remover perigo iminente.Pargrafo nico. No caso do inciso II, o ato ser legtimo somente quando

    as circunstncias o tornarem absolutamente necessrio, no excedendo oslimites do indispensvel para a remoo do perigo.

    Art. 935. A responsabilidade civil independente da criminal, no sepodendo questionar mais sobre a existncia do fato, ou sobre quem seja oseu autor, quando estas questes se acharem decididas no juzo criminal.

    Art. 949. No caso de leso ou outra ofensa sade, o ofensor indenizar oofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes at ao fim daconvalescena, alm de algum outro prejuzo que o ofendido prove haversofrido.

    Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido no possa

    exercer o seu ofcio ou profisso, ou se lhe diminua a capacidade detrabalho, a indenizao, alm das despesas do tratamento e lucroscessantes at ao fim da convalescena, incluir penso correspondente importncia do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciao que elesofreu.Pargrafo nico. O prejudicado, se preferir, poder exigir que a indenizaoseja arbitrada e paga de uma s vez.

    Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso deindenizao devida por aquele que, no exerccio de atividade profissional,por negligncia, imprudncia ou impercia, causar a morte do paciente,agravar-lhe o mal, causar-lhe leso, ou inabilit-lo para o trabalho.

    Art. 389. No cumprida a obrigao, responde o devedor por perdas edanos, mais juros e atualizao monetria segundo ndices oficiaisregularmente estabelecidos, e honorrios de advogado.

    Art. 393. O devedor no responde pelos prejuzos resultantes de casofortuito ou fora maior, se expressamente no se houver por elesresponsabilizado.Pargrafo nico. O caso fortuito ou de fora maior verifica-se no fatonecessrio, cujos efeitos no era possvel evitar ou impedir.

    Para Frana (2001), o estabelecimento das quantias indenizatrias deve

    objetivar, alm da reparao do dano patrimonial ou econmico, o ressarcimento dos

    prejuzos relativos ao dano extrapatrimonial ou existencial. O dano patrimonial

    relaciona-se aos bens que compem o patrimnio material da vtima, ou seja, ao

    grupo de relaes jurdicas passveis de definio monetria (BOUCHARDET,

    2006). O dano extrapatrimonial adquire uma abordagem subjetiva por se caracterizar

    pelos prejuzos de cunho psquico, moral, sentimental, e no levar a um prejuzo de

    repercusso econmica direta para o indivduo.

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    As avaliaes referentes aos danos de natureza patrimonial ou

    extrapatrimonial devem considerar especificamente o nexo de causalidade e o

    estado anterior da vtima. O nexo de causalidade expressa a relao e

    proporcionalidade entre a ao do acusado de ter causado os prejuzos e o dano

    propriamente dito. Deve estar claro que h uma leso real, produzida por um trauma

    especfico, sendo possvel relacionar o local deste com a sede daquela, dentro de

    uma cronologia coerente e depois de excluda qualquer outra causa estranha

    traumtica (FRANA, 2001). A avaliao do estado anterior da vtima elucida a

    influncia das condies fsicas e psicolgicas pregressas nos parmetros de

    avaliao do dano. Este estudo possibilita a personalizao da avaliao que acaba

    por considerar o dano em seu carter individual e no em relao a uma mdia

    populacional. Tal abordagem tem como principal objetivo a reparao dos prejuzos

    de forma suficiente, uma vez que se buscar a restituio da vtima de acordo com o

    estado que se apresentava anteriormente (BOUCHARDET, 2006; FRANA, 2001).

    O perito, ao realizar uma avaliao de dano corporal, deve abordar e definir

    de maneira clara o quantum doloris (pretium doloris) e se, comparativamente ao

    estado anterior da vtima, os prejuzos se refletiram em incapacidade temporria

    genrica ou profissional, incapacidade permanente genrica ou profissional, dano

    esttico ou prejuzo de afirmao pessoal.Os termos quantum doloris e pretium dolorisso aplicados para assinalar e

    quantificar o sofrimento moral, a dor fsica e os danos psicolgicos da vtima, em

    carter temporrio, com o fito de reparao. A quantificao desse aspecto

    extremamente subjetiva e, por isso, aconselhvel que o perito responsvel por

    essa avaliao lance mo de escalas de valores. Tais escalas oferecem parmetros

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    numricos teis para efeito de valorao e comparao dos prejuzos relacionados

    aos aspectos psicolgicos (CARDOZO, 1997; FRANA, 2001; MARQUES, 2006).

    Cardozo (1997) sugere a utilizao da escala fundamentada no modelo

    italiano para a quantificao do pretium doloris (1. muito leve ou insignificante; 2.

    leve; 3. moderado; 4. mdio; 5. suficientemente importante; 6. importante; 7. muito

    importante)

    De acordo com Frana (2001), o quantum doloris pode ser qualificado e

    apresentado durante a discusso do laudo pericial, em nveis baseados na seguinte

    escala: 1. pouco significante; 2. significante; 3. moderado; 4. importante; 5. muito

    importante.

    A incapacidade temporria diz respeito fase, aps o trauma, na qual a

    vtima apresenta-se em impossibilidade de execuo das suas atividades cotidianas

    (CARDOZO, 1997). Deve ser considerada parcial ou total e do ponto de vista

    genrico ou profissional, cessando a partir da estabilizao clnica ou funcional da

    vtima, ou seja, quando esta se apresenta curada ou com as leses resultantes do

    trauma consolidadas (MARQUES, 2006). Neste ltimo caso tem-se, de acordo com

    Frana (2001), um estado definitivo do dano, porm, a presena, ainda, de seqelas

    com prejuzo anatmico, funcional, psquico ou misto.

    A incapacidade permanente tem como conseqncia a inaptido pararealizao de aes relacionadas s atividades essencia