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Entrevista a Manuel veiga programação‘ 16 Abril a julho 7ª Festa da Marioneta s e mes t r al - distrib uiç ão g r a t u it a j o r n a l A R T E M R E D e 0 7 J U N T O S . M A I S F O R T E S E AGORA NÓS - PROJETO ODISSEIA

Jornal Artemrede 7

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Page 1: Jornal Artemrede 7

Entrevista a Manuel veiga

programação‘ 16 Abril a julho

7ª Festa da Marioneta

semestral - distribuição gratuita

jornal

ARTEMREDe

07

JUNTOS.MAIS FORTES

E AGORA NÓS - PROJETO ODISSEIA

Page 2: Jornal Artemrede 7

Ficha TécnicaProprietário * ArtemredeDiretor * António Sousa MatosEditora * Marta MartinsCoordenação de Conteúdos Nádia Sales Grade | Wake Up!

Conteúdos Nádia Sales Grade | Wake Up! Rita Torcato | Wake Up!DesignGuda - give u design art

Tiragem * 34 000Periodicidade * SemestralTipografia Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, S.A.Capa © Vânia Cerqueira

O primeiro Jornal Artemrede de 2016 contém um conjunto de notícias que demonstram que este ano temos vários e estimulantes desafios pela frente, tanto ao nível político como no campo artístico. O primeiro destes desafios é o crescimento da rede através da adesão do Município de Lisboa. Se qualquer crescimento é sempre desafiante, porque implica uma aprendizagem para o trabalho em parceria, o conhecimento mútuo de metodologias, objetivos e expetativas, a entrada na Artemrede da cidade de Lisboa transporta em si um valor simbólico e uma responsabilidade acrescida. Criada há 11 anos, a Artemrede foi sempre composta por municípios de diferentes escalas e geo-metrias, mas teve o seu foco, inicialmente, nos teatros municipais e na programação (complementar) destes equipamentos. Nos últimos anos as valências da Artemrede já não se esgotavam nos teatros e desde o Plano Estratégico 2015-2020 que a missão da rede se alterou, assumindo-se como um instrumento de desenvolvimento cultu-ral dos territórios. É como consequência deste reposicionamento que a adesão de Lisboa se concretiza, como explica o atual Diretor Municipal de Cultura, Manuel Veiga, na entrevista a este Jornal. Esta é também a reflexão que estará na base do 1º Fórum Político da Artemrede, que terá lugar a 23 de Maio, em Abrantes.

Com esta iniciativa a Artemrede pretende promover a discussão política, entre os autarcas da rede, assim como contribuir para a formulação e implementação de políticas públicas, na área cultural e da gestão autárquica. Este 1º Fórum Político irá debruçar-se sobre o papel da cultura no desenvolvimento sustentável dos territórios e elaborar propostas para a concretização desta premissa.

Subjacente a este princípio está a transversalidade da cultura e a importân-cia de articulação entre as diferentes áreas de intervenção na sociedade. O projeto ODISSEIA, promovido pela Artemrede e cofinanciado pela Fundação Calouste Gulbenkian, é um exemplo das possibili-dades de cruzamento entre arte e inclusão social. Com uma duração de 3 anos e envolvendo 6 municípios da rede, este projeto corporiza, assim, uma atuação da rede enquanto instrumento de coesão social em matéria de acesso à cultura.

São muitos e estimulantes os desafios que temos pela frente, pelo que contamos com toda a rede, e para além dela, na sua concretização. O Jornal tem duas edições por ano, mas os canais de comunicação da Artemrede estão sempre abertos, através dos meios digitais ou tradicionais. Mais novidades serão divulgadas em breve!

A Direção da Artemrede

© ARTEMREDE . Teatros AssociadosPalácio João Afonso, Rua Miguel Bombarda, nº 4 R C, 2000-080 SantarémE [email protected]: www.facebook.com artemrede.teatros.associados

T +351 243 322 050T +351 243 321 878

EDITORIALjuntos.mais fortes

A ARTEMREDE é um projeto de cooperação cultural que tem como missão promover a qualificação e o desenvolvimento dos territórios onde atua, valorizando o papel central dos teatros e de outros espaços culturais enquanto pólos dinamizadores e promotores das artes e da cidadania.

Integram atualmente a Artemrede os municípios de Abrantes, Alcanena, Alcobaça, Almada, Barreiro, Lisboa, Moita, Montijo, Oeiras, Palmela, Santarém, Sesimbra, Sobral de Monte Agraço e Tomar.

Associados

Assessoria de Comunicação e Imprensa

Design Gráfico do Jornal

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Manuel Veiga integrou, há 11 anos atrás, a equipa de consultores responsável pelo estudo sobre a criação de uma rede de cineteatros na região de Lisboa e Vale do Tejo, encomendado pela Comissão de Coordenação do Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, e que deu origem à Artemrede. Hoje é Diretor Municipal de Cultura da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa (CML), município que aderiu à Artemrede no início de 2016 e que, com esta adesão, procura sobretudo intensificar as relações com outros municípios através de projetos comuns e contaminações recíprocas.

Que memórias guarda dos tempos em que participou no processo de criação da Artemrede? E o que é hoje para si a Artemrede?Foi um trabalho muito intenso e interes- sante acompanhar a primeira fase da Artemrede. Fiquei a conhecer os cinetea-tros que existiam na região de Lisboa e Vale do Tejo porque percorri toda essa região e visitei equipamentos com características muito distintas, tanto ao nível técnico como ao nível dos recursos humanos. Recolhemos informação para conseguirmos identificar a oferta cultural que existia neste território e, seguidamente, lançarmos a primeira pro-gramação da Artemrede, que estava inicial-mente muito focada nos cineteatros. Hoje é com muito gosto que observo a evolução da Artemrede para outras áreas que vão para além dos espaços dos cineteatros, como a requalificação dos próprios recursos técnicos e humanos dos municípios. A Artemrede cresceu de uma forma sus-tentada e hoje em dia já não é uma rede de cineteatros, mas sim uma rede de municípios que tem várias valências e que pode ser um verdadeiro instrumento de desenvolvimento cultural dos territórios.

Que razões levaram a CML a aderir à Artemrede e que tipo de projetos gosta-riam de desenvolver no âmbito da rede? É muito importante para nós participar numa rede de cooperação ao nível insti-tucional, pois sabemos que Lisboa não se esgota nas suas fronteiras, a área metropo-litana de Lisboa move muitas pessoas que vêm consumir e oferecer cultura. Nunca estivemos fechados nem na cidade nem no concelho de Lisboa, mas através da Artemrede vamos poder trabalhar de outra forma com um conjunto de muni-cípios, criar sinergias, retirar vantagens para ambos. Com a Artemrede estamos a institucionalizar algo que já acontece, mas ao mesmo tempo vamos participar noutro tipos de projetos em áreas como a forma-ção, a qualificação dos nossos técnicos, ou os projetos com as comunidades locais. A Câmara Municipal de Lisboa vai articular com a Artemrede através da Direção Municipal de Cultural (DMC), um dos principais braços do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa. Na DMC não temos espaços convencionais de apre-

sentação de espetáculos, temos uma rede de bibliotecas, arquivos, investigação, mas ao nível da programação artística vai ser um desafio para a Artemrede, pois queremos receber projetos artísticos em espaços não convencionais de apresenta-ção, mais próximos das comunidades.

Os projetos a desenvolver com a Artemrede podem ser uma forma de aproximação a comunidades que tam-bém estão ausentes dos próprios espa-ços convencionais, como um teatro ou uma sala de cinema? Nós gerimos a rede de bibliotecas e arqui-vos municipais, capacitamos os agentes culturais, damos apoios financeiros e não financeiros. Como exemplo perfeito disso abrimos recentemente o Pólo Cultural Gaivotas, onde criámos um gabinete de apoio ao agente cultural, trabalhamos na mediação, colocando os agentes culturais em contacto uns com os outros e temos uma ligação muito forte à academia e à investigação. Para além disso, queremos muito trabalhar com as comunidades, com os direitos sociais, com a educação, com os serviços educativos, é este o trabalho que nos interessa desenvolver e que faz todo o sentido no âmbito da Artemrede.

Quais são as principais vantagens para a Artemrede de ter agora um Município na rede como Lisboa?Lisboa vem, sem dúvida, dar escala à Ar-temrede e pode trazer muitos benefícios até ao nível mais operacional e instrumental, como nos projetos internacionais. Estamos a desenvolver um programa de cidade-

-piloto para a implementação da Agenda 21 para a Cultura, um compromisso que também está consignado no Plano Es-tratégico da Artemrede, e do qual podem resultar sinergias, de que todos os municí-pios e a rede podem beneficiar.

Em que é que vai consistir o programa cidade-piloto da Agenda 21 da Cultura? Vão ser aplicadas medidas concretas ao nível local?Este programa vai desenvolver-se ao longo do próximo ano e meio com uma equipa de peritos da organização mundial União das Cidades e Governos Locais, que vai acom-panhar e ajudar a desenvolver o programa. A ideia é identificarmos os nossos pontos fortes e fracos quando olhamos para os compromissos assumidos pela Agenda 21 da Cultura, através de um documento de autoavaliação que nos foi facilitado pela instituição. Vamos analisar o que Lisboa já faz em termos de metas e compromissos em relação à Agenda 21 da Cultura, e vamos tentar aplicar este documento na sua totalidade, de forma faseada. É um trabalho que estamos a fazer em paralelo com um novo processo de reflexão sobre as Estratégias Culturais para Lisboa, que no fundo é uma atualização de um progra-ma estratégico realizado em 2009, e que terá também como preocupação a incorpo-ração dos valores da Agenda 21 da Cultura, que coloca a cultura como quarto pilar para o desenvolvimento sustentável.

E que outros efeitos poderá ter esta discus-são no plano municipal?É imperativo reforçar este posicionamento da cultura como central no desenvolvimen-

to de políticas ao nível municipal. É urgente que as pessoas percebam o poder transformador da cultura porque a cultura permite dar um salto qualitativo quando está em diálogo com outras áreas. Por isso o grande desafio, no âmbito da CML, é o trabalho com áreas adjacentes, um trabalho em rede dentro da própria câmara com outros pelouros, e externamente, com outras instituições semelhantes e com todo o tipo de entidades que possam fortalecer esta visão da cultura com um poder transformador. Hoje em dia o mundo funciona assim, não há nada que seja estanque, as fronteiras são fluídas e dinâmicas.

Mencionou também que estão a desen-volver novas Estratégias Culturais para Lisboa. Pode dar-nos uma ideia do que serão estas novas estratégias que estão a ser pensadas para Lisboa?Estamos a lançar um novo exercício de planeamento estratégico em Lisboa, o último tinha sido feito em 2009 e, entretan-to, a cidade sofreu muitas transformações. Um dos fenómenos mais importantes para a nossa cidade tem sido o turismo, que tem reflexos muito evidentes na área cultural. Estamos à procura de respostas, a pensar no que mudou, como mudou e como vamos adaptar-nos. Conseguimos implementar muitas medidas e projetos que definimos em 2009 e chegou agora o momento de repensar os nossos objetivos e responder aos novos desafios deste novo mundo. Desta nova estratégia faz também sem dúvida parte a adesão a redes como a Artemrede, que é no fundo assumir Lisboa como uma cidade que diariamen-te sai das suas fronteiras.

Temos também como objetivo a interna-cionalização pois queremos posicionar Lisboa como uma cidade acolhedora, que está voltada para fora. Nesse sentido, vamos aproveitar a nomeação de Lisboa como Capital Ibero-Americana em 2017 para lançar esta visão de uma Lisboa em diálogo permanente com outras culturas.

Que projeção internacional pode um evento desta natureza dar a Lisboa? O que vai realmente acontecer?Esperamos conseguir apresentar já em junho deste ano uma programação para a Lisboa – Capital Ibero-Americana em 2017. Vamos convocar toda a cidade para esta celebração, para além dos servi-ços e equipamentos municipais. Queremos que este evento deixe marcas e que não seja apenas passageiro, não só para Lisboa, mantendo a partir daí uma relação com os países ibero-americanos, como também gostaríamos de conseguir dar um salto qua-litativo na visibilidade que é dada à Capital Ibero-Americana, organizada pela União de Cidades Capitais Ibero-Americanas. Acreditamos que Lisboa pode fortalecer este evento por ser uma capital com condi-ções históricas e contemporâneas para tal: Lisboa é uma encruzilhada de culturas por natureza.

Manuel Veiga

“É muito importante para nós participar numa rede de cooperação ao nível institucional, pois sabemos

que Lisboa não se esgota nas suas fronteiras, a área metropolitana de Lisboa move muitas pessoas que vêm

consumir e oferecer cultura.”

Entrevista

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Page 4: Jornal Artemrede 7

©Patrícia Almeida

©Rita Bonifácio

© Rita Torcato

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© Rita TorcatoProjeto OdisseiaArtemredeODISSEIA é um projeto artístico de intervenção social, promovido pela Artemrede em seis municípios associados – Almada, Barreiro, Moita, Oeiras, Santarém e Sesimbra – de 2016 a 2018, cofinanciado pelo programa PARTIS – Práticas Artísticas de Inclusão Social, da Fundação Calouste Gulbenkian.

Constituído por três componentes artísticas - Teatro/Dramaturgia, Artes de Rua e Cinema/Música – ODISSEIA é dirigido a jovens entre os 16 e os 25 anos, e tem como objetivo principal a aquisição, por parte destes jovens, de conhecimentos artísticos e o alargamento dos seus horizontes através do acesso a formação especializada e à participação em processos de criação artística, desenvolvendo assim as suas competências e aumentando a sua autonomia e poder de decisão.

Cada um dos seis municípios envolvidos neste projeto acolhe uma ou mais sessões de apresentação do ODISSEIA, abertas ao público, que permitem não só identificar os jovens que queiram participar no projeto, como aproximar o mesmo das comunidades desde o início. Estão já marcadas para Abril sessões de esclarecimento em Oeiras (20 de Abril às 16h, no Projeto Entrecult) e no Barreiro (27 de Abril, às 18h, no Auditório Municipal Augusto Cabrita).

O projeto ODISSEIA arrancou com a componente de Teatro/Dramaturgia e com o ator e encenador Rui Catalão, que está já em residência artística, no Vale da Amoreira, na Moita, para a criação do espetáculo E Agora Nós (ver página 5). A ideia para este espetáculo surgiu no seguimento de uma oficina de teatro – Agora, Faz Tu! - dirigida pelo artista nesse mesmo bairro em 2015 no âmbito da Artemrede. Dessa experiência nasceu a vontade de continuar o trabalho com alguns jovens participantes, nomeadamente aprofundando o processo de formação e a metodologia proposta por Rui Catalão – ‘o trabalho de cena como um laboratório de formas de vida’ – e criando um espetáculo de teatro profissional. Ao longo da residência artística têm tido lugar ensaios abertos, em que várias comunidades locais tiveram a oportunidade de assistir e participar no processo criativo da peça E Agora Nós, contribuindo com reações e estímulos para a criação do espetáculo, num espírito de partilha de experiências com a equipa artística.

A segunda componente do projeto Odisseia, Artes de Rua, será desenvolvida em 2017 e está a cargo da dupla de artistas António Oliveira e Julieta Rodrigues, da companhia Radar 360, com o projeto Histórias em Viagem [título provisório], e incluirá disciplinas artísticas diversas, como artes circenses, música, teatro físico e artes visuais. Por fim, o realizador e músico António-Pedro será o orientador da oficina Do Filme à Música, na qual os formandos irão aprender a preparar, rodar e montar uma curta-metragem, assim como compor e gravar a respetiva banda sonora. O resultado será um filme musicado, o qual será exibido em todos os teatros envolvidos no projeto (e não só), enquadrado na mostra Curtas Migratórias, que reunirá as curtas-metragens dos seis grupos.

Para a concretização deste projeto a Artemrede conta com a parceria da cooperativa de solidariedade social RUMO no acompanhamento social e na avaliação, assim como com uma rede alargada de parceiros locais, com trabalho desenvolvido na área social ou cultural, em cada um dos municípios envolvidos.

“Gosto de sentir que o meu trabalho, de certa forma, cristaliza uma fase da vida que é vivida

com muita intensidade, mas da qual estamos permanentemente a despedir-nos (…)”

Rui Catalão

Page 5: Jornal Artemrede 7

“E Agora Nós” resulta de um convite estendido pelo artista Rui Catalão a três dos jovens que, em 2015, participaram na oficina de teatro “Agora, Faz Tu!”, promovida pela Artemrede. Rui Catalão, que em 2011 apresentou com alunos do segundo ano da escola profissional Balleteatro do Porto a peça “Domados, ou não” e com jovens do bairro social Terraços da Ponte o projeto “Quinta do Mocho”, está habituado a trabalhar com os mais novos, admitindo o seu fascínio por esta idade de entusiasmo e descoberta. “Gosto de sentir que o meu trabalho, de certa forma, cristaliza uma fase da vida que é vivida com muita intensidade, mas da qual estamos permanentemente a despedir-nos. A descoberta de si próprio, a relação com os outros, os medos, as expetativas de futuro, as pequenas vaidades, os complexos com o corpo e a imagem…”. No que respeita ao método de trabalho utilizado, descreve-o como estando em constante evolução: parte de uma tradução pessoal sobre a Composição em Tempo Real desenvolvida pelo coreógrafo João Fiadeiro, com quem trabalhou durante três anos, mas transforma-se e adapta-se conforme as circunstâncias e a própria resposta dos intervenientes.

Para Vânia Lopes, uma das atrizes do elenco deste “E Agora Nós”, essa é uma das caraterísticas mais interessantes do trabalho que têm vindo a desenvolver. “Uma das coisas que mais me motiva com o Rui é que ele fixa regras, mas não nos impõe os temas que quer trabalhar, deixa que sejamos nós a decidir. Independentemente de ser um encenador conhecido, respeitado, trata-nos como colegas de trabalho, ouve as nossas opiniões, as nossas ideias.” Com 23 anos de idade, Vânia teve a sua primeira experiência de teatro em 2009 com o Grupo de Teatro do Oprimido de Lisboa, uma organização não-

governamental que, através da teatralização da realidade, pretende consciencializar o público para questões sociais. A discriminação, a desigualdade, o racismo, o papel da mulher na sociedade, são temas que lhe interessam no palco e fora dele, mas nesta peça será que existe um tema em particular? O ator Adriano Diouf, de 26 anos, que em tempos também fez parte do Grupo de Teatro do Oprimido, acredita que não. “No fundo o que interessa é falar de temas pessoais, sejam eles quais forem. Porque se dissermos algo só para ser bonito, não vai ser interessante, não vai ser nosso.” E aquilo que se diz é o mais desafiante, como explica o terceiro elemento deste grupo de atores, Jéssica Ribeiro, com apenas 20 anos: “Nós não levamos nada escrito nem planeado, tudo o que fazemos é conforme o decorrer da ação, respondemos conforme as perguntas que nos são feitas. Eu gosto disso, é muito difícil, mas é bom.”

Os três atores já se conheciam antes deste projeto, e é justamente a partir de uma experiência comum que ele começa a delinear-se. Quando frequentavam a escola secundária, havia um grupo de alunos que todos os dias se reunia à entrada para comentar quem por ali passava. Nenhum comportamento, forma de vestir, ou mesmo penteado escapava incólume ao escrutínio daquilo a que chamavam “rodinha”. Certo dia, num dos encontros com Rui Catalão no Centro de Experimentação Artística do Vale da Amoreira, a “rodinha” surgiu naturalmente e foi também, com naturalidade, incorporada na peça. É a partir dela que surge aquilo a que o encenador chama o “jogo das perguntas difíceis” onde o sim e o não são proibidos e a cada questão se responde com uma história. Que tipo de história? Histórias pessoais, de cada um deles ou de ninguém, que são passado mas estão presentes, e são, quase sempre, difíceis de partilhar. Mas, neste jogo, a partilha é a única possibilidade, porque a alternativa é arder. E para não arder, é preciso continuar a queimar.

E AGORA NÓS, UM FOGO QUE

ARDE MAS NÃO QUEIMA

O projeto Odisseia arranca com E Agora Nós, uma coprodução

Artemrede, Teatro Maria Matos e Câmara Municipal da Moita.

Com estreia marcada para o dia 6 de maio no Fórum Cultural

José Manuel Figueiredo, na Baixa da Banheira, o espetáculo

passará por mais sete municípios associados da Artemrede:

Alcanena, Almada, Barreiro, Oeiras, Palmela, Santarém e Sesimbra.

Juventude: uma despedida constante

Um espetáculo imprevisível

Uma rodinha que arde mas não queima

© Vânia C

erqueira

Em Montagem

“No fundo o que interessa é falar de temas pessoais, sejam eles quais forem. Porque se dissermos algo só

para ser bonito, não vai ser interessante, não vai ser nosso.”

Adriano Diouf

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programação’13

AGORA, FAZ TU!Rui Catalão

MoitaSÁB 02 Abr | 16h30Centro de Experimentação Artística

PalmelaSÁB 07 Mai | 15h00Centro Cultural do Poceirão

MEMÓRIAS PARTILHADASSteve Johnstone (Teatro de Montemuro e TNDMII)

AlcobaçaSÁB 09 Abr | 21h30Cine-teatro João d’Oliva Monteiro

Sobral de Monte AgraçoSÁB 16 Abr | 21h30Cine-teatro Sobral de Monte Agraço

BANQUETE DANÇANTE Marina Nabais  

Almada SÁB 16 Abr | 16h00Solar dos Zangallos

Abrantes Qui 19 Mai | 10h30 e 14h30Palácio dos Governadores - Castelo

GUARDA MUNDOSTeatro da Didascália (Teatro da Didascália)

BarreiroSÁB 16 Abr | 16h00Auditório Municipal Augusto Cabrita

MontijoSÁB 21 Mai | 21h30Cinema Teatro Joaquim d’Almeida

Sobral de Monte AgraçoSÁB 04 Jun | 21h30Cine-teatro Sobral de Monte Agraço

A VOZ PÚBLICAJuliana Pinho e Rita Brito (Teatro O Bando)

SesimbraSÁB 16 Abr | 15h00DOM 17 Abr | 15h00Cineteatro Municipal João Mota

PLAY FALSEAntónio Cabrita e São Castro [acsc]

Sobral de Monte AgraçoSÁB 30 Abr | 21h30Cine-teatro Sobral de Monte Agraço

AlcobaçaSÁB 16 Jul | 21h30Cine-teatro João d’Oliva Monteiro

E AGORA NÓS Rui Catalão

MoitaSEX 06 Mai | 21h30Fórum Cult. José Manuel Figueiredo

PalmelaSÁB 07 Mai | 21h30Centro Cultural do Poceirão

COM UMA PERNA ÀS COSTAS Mário Afonso (Carta Branca - Associação Cultural)

Almada SÁB 14 Mai | 10h30 e 15h00Biblioteca José Saramago - Feijó

NINHOS, TEATRO PARA BEBÉSSofia Veira (Associação Aqui Há Gato)

Sobral de Monte AgraçoDOM 22 Mai | 16h00Cine-teatro Sobral de Monte Agraço

AlcanenaSÁB 03 Jul | 16h30Cine-Teatro São Pedro

CONSTRUÇÃO MARIONETAS DE LUVA Cláudia Fróis (Chão d’Oliva)  

Abrantes Qua 25 Mai | 10h30Cine-teatro S. Pedro

Almada SÁB 04 Jun | 11h00Solar dos Zangallos

BAILATECA, LIVROS QUE DANÇAM Mário Afonso (Carta Branca - Associação Cultural)  

Almada SÁB 11 Jun | 10h30 e 15h00Biblioteca Maria Lamas - Monte da Caparica

PARECE UM PÁSSARO Raimundo Cosme

PalmelaQUI 02 Jun |Centro Comunitário de Águas de Moura

Artes Circenses Artes de Rua MúsicaCinemaMultidisciplinar

Crianças e Jovens Teatro Dança

Oficinas

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GUARDA MUNDOSTeatro da Didascália“Guarda Mundos” explora universos fantásticos através do jogo com peças de roupa, lençóis, peluches e cabides. É uma viagem vertiginosa, recheada de personagens grotescas, num espetáculo acrobático, mágico e com uma forte componente visual.

PLAY FALSE António Cabrita e São Castro [acsc]Prémio Melhor Coreografia 2015 da Sociedade Portuguesa de AutoresNesta viagem pela condição humana, pelo que somos e o que nos condiciona, quem melhor do que Shakespeare para falar sobre o nosso comportamento? Play False é uma dança que se inspira nas principais personagens da obra deste autor para pensar… o ser humano.

PARECE UM PÁSSARORaimundo Cosme Quinto livro do ciclo de leituras “Livros com Pernas para andar”, realizada em parceria com a Associação para a Promoção Cultural da Criança, que conta a história de David Machado sobre um menino que encontra um curioso chapéu…

Nota de AgendaPor motivos alheios à Artemrede, a presente agenda poderá sofrer alterações. Consulte em www.artemrede.pt a agenda completa e atualizada.

programação’16

a julho

Abril

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O Plano Estratégico e Operacional da Artemrede para o período de 2015 a 2020, resultado de um trabalho conjunto de reflexão e discussão no qual participaram todos os Municípios Associados da Artemrede, prevê como primeira prioridade estratégica a inscrição da cultura no centro das políticas governativas.

Tendo desenvolvido ao longo dos anos a cooperação e o trabalho em rede entre executivos municipais de diferentes filiações político-partidárias, a Artemrede ambiciona intensificar a participação de autarcas na reflexão sobre as artes e a cultura através da organização anual de um Fórum Político, cuja primeira edição tem data marcada para a manhã do dia 23 de maio, em Abrantes, município que celebra

neste ano o centenário de elevação à categoria de cidade.

Este encontro, que irá reunir presi-dentes de câmara e vereadores, assim como convidados especiais, visa analisar e debater assuntos políticos relevantes, criando um espaço para o desenvolvimento, entre pares, do pen-samento político e o intercâmbio de ideias e práticas políticas e de gestão municipal. Trata-se, igualmente, de promover a reflexão e o discurso po-líticos em torno de temas relevantes para o desenvolvimento cultural dos territórios.

O Fórum Político reunirá os convida-dos para uma discussão em privado, mas partilhará os seus resultados publicamente através de uma confe-rência de imprensa a realizar imedia-tamente após o encontro.

Porquê fazer parte da Artemrede?

§ Porque a cultura é um pilar do desenvolvimento sustentável e deve ser considerada ao mesmo nível que os fatores económicos, sociais e ambientais. Não é possível falar de desenvolvimento sem cultura.

§ Porque trabalhar em rede amplia o conhecimento, promove o diálogo e a apropriação de boas práticas.

§ Porque a cooperação e a partilha de ideias e experiências, ao nível supramunicipal, permitem ultrapassar problemas locais.

§ Porque as redes criam espaço e tempo para a reflexão, para a avaliação e para o crescimento.

§ Porque as redes apostam nas pessoas, criam relações e promovem a construção de pontes, aproximando posições e realidades distintas em torno de um bem comum.

§ Porque a Artemrede acumula 11 anos de experiência no trabalho em rede a defender e a implementar a ligação entre cultura, territórios e comunidades.

§ Porque a Artemrede assume a participação das populações na vida cultural como elemento indissociável de construção de uma sociedade democrática e próspera, assim como o reconhecimento dos teatros como equipamentos públicos de proximidade, com um capital de confiança das comunidades que importa não desperdiçar.

§ Porque a Artemrede promove a criação artística contemporânea e a apresentação de obras de criadores nacionais e internacionais, em todas as áreas artísticas.

§ Porque a Artemrede elege como prioritários os projetos artísticos que criam laços com as comunidades e imergem nos territórios.

§ Porque a Artemrede reconhece a importância das atividades de carácter educativo e pedagógico na aproximação às artes e na experimentação artística.

§ Porque a Artemrede capacita os profissionais de cultura dos municípios associados, através de formação especializada, a lidarem com uma atividade cultural cada vez mais complexa.

§ Porque a Artemrede é, assim, um instrumento de correção das assimetrias regionais, proporcionando uma oferta cultural regular, de qualidade, integrada, a população que a ela dificilmente teria acesso de outra forma.

A ARTEMREDE EM NÚMEROS

Municípios Associados: 14 População abrangida: 1 milhão e 300 mil habitantes Território de Intervenção: 3500 km2 distribuídos de Abrantes a SesimbraEspaços de apresentação: 20 Teatros; 110 equipamentos culturais de proximidade

Desde 2005 colaboraram com a Artemrede quase 250 companhias e artistas, foram realizadas cerca de 1400 apresentações, de 280 espetáculos e mais de 400 atividades educativas. Durante este período mais de 160 mil espectadores assistiram ou participaram nas atividades desenvolvidas pela Artemrede.

Fórum Político

Artemrede

23 de Maio | Abrantes Passo a passo rumo ao futuro

A rede: em foco

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Na rua que ainda tem o seu nome, o velho Teatro Eduardo Costa encontrava-se, nos anos 40, decrépito

e em riscos de ruir. Em sua vez, era num palco improvisado que a Associação dos Bombeiros

Voluntários acolhia o movimento de teatro amador da região, e os muros da Quinta do Sobral serviam de

tela às projeções cinematográficas. Mas estas eram soluções precárias e, com o tempo, tornou-se evidente a necessidade de construção de um espaço que agregasse

ambas as valências, um Cineteatro. Foi assim que, através da constituição de uma Sociedade Anónima

e com a cedência do terreno pela Câmara Municipal, se partiu para a sua construção. Os relatos da época

espelhados nos Livros das Festas da Vila informam que “toda a população contribuiu, mesmo os mais pobres não

deixaram de subscrever a importância de 500$00, paga em prestações.” Relembram ainda a inauguração,

para a qual “foi convidada a Companhia da grande e popular actriz Maria Matos”. Apesar dos esforços, os custos foram elevados e, em 1968, o edifício que havia, entretanto, sido hipotecado à Caixa Geral de Depósitos, foi encerrado. A população não desistiu, e através de uma nova campanha de angariação de fundos, foram pagas as dívidas e a gestão do espaço entregue à Associação dos Bombeiros Voluntários que ali acolheu, anos a fio, peças de teatro, cinema, dança, canto e eventos festivos

variados. Com a entrada nos anos 2000, altura em que as condições deixaram de ser apropriadas à realização de espetáculos e não havendo por parte da Associação os meios financeiros necessários para uma reestruturação, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel que, agora munido de avançadas tecnologias aos níveis acústico, estético e de segurança, voltou a funcionar em 2006, assumindo-se como um espaço cultural que é de todos e para todos.

A atribuição do nome do ator Ruy de Carvalho ao Auditório integrado no Centro Cívico de Carnaxide

decorreu de um processo natural, no seguimento do que a Câmara Municipal de Oeiras havia já concretizado com outros espaços públicos, associando-lhes nomes de

grandes figuras do teatro português, como são os casos de Eunice Muñoz, Lourdes Norberto ou Amélia Rey Colaço. A inauguração deste Auditório, a 29 de abril de 2004, foi

assinalada com a estreia da peça “A Educação de Rita”, com Sofia Alves e Victor de Sousa, e com a presença do

ator, seus familiares e amigos, bem como um grande número de populares. Muito querido do público, Ruy de

Carvalho é, com 89 anos de idade e 74 de carreira, um dos mais célebres atores portugueses. Nascido em Lisboa,

terminou o curso de Teatro e Formação de Atores no Conservatório Nacional com uma média de 18 valores,

comprovando assim o seu talento e enorme vocação.

Estreou-se profissionalmente em 1947, no Teatro Nacional com a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, na comédia “Rapazes de Hoje” de Roger Ferdinand, e desde então nunca mais parou. Fez parte de diversas companhias, trabalhou com Filipe La Féria, interpretou peças de Molière, Tennessee Williams, Tchekov, Eça de Queirós, entre muitos outros. Foi King Lear nos 150 anos do Teatro

Nacional Dona Maria II, estendeu a sua atividade além-fronteiras, trabalhou em rádio e televisão e, no cinema, foi dirigido por realizadores como Artur Ramos, António da Cunha Telles, João Mário Grilo, Manoel de Oliveira, entre outros. O reconhecimento do seu contributo para a cultura portuguesa valeu-lhe diversos prémios e condecorações, entre as quais se destaca a Ordem do Infante D. Henrique.

Muitos anos passaram desde o dia 1 de agosto de 1947 que viu dar início, na atual Rua 25 de abril, às obras de

construção do Cine-Teatro São Pedro. Não podendo contar com quaisquer apoios monetários, o projeto original da

autoria de José de Lima Franco e Raul Tojal, levou ainda cerca de sete anos a concluir, tendo sido inaugurado a 20 de novembro de 1954. Uma espera que acabou por

compensar quando, no espetáculo de inauguração, não foi apresentada uma peça, mas sim três. Do Teatro Nacional

D. Maria II, e pela Companhia de Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, chegaram “Prémio Nobel” de Fernando Santos e Leitão de Barros, “As Árvores Morrem de Pé” de

Alejandro Casona e “A Ceia dos Cardeais” de Júlio Dantas. Foram dois dias de festa, com bailes e convívio depois

dos espetáculos, e marcaram o início de duas décadas de grande dinamismo cultural. Mas em 1986, a

crise económica, a falta de público e a impossibilidade de suportar o custo das obras necessárias para manter o espaço em funcionamento, levaram ao encerramento do Cine-Teatro que só voltou a abrir portas em 2008, após uma extensa reconstrução que apenas preservou a fachada original. Em jeitos de celebração, no 60.º aniversário desta

sala, o espetáculo “Esta é uma História com Muita Gente Dentro” da autoria e encenação de Vicente Batalha e com interpretação da comunidade de Alcanena e do Grupo de Teatro “Boca de Cena”, de Minde, recuperou de forma simbólica as três peças mencionadas anteriormente e com as quais o Cine-Teatro São Pedro havia sido inaugurado.

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AlcanenaCine-Teatro São Pedro

Palco de grandes estreias

OeirasAuditório Ruy Carvalho

Uma homenagem merecida

Sobral de Monte Agraço

Cine-Teatro de Sobral de Monte AgraçoUma população sedenta de cultura

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