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Edição piloto - Laboratório do curso de Jornalismo da Unibrasil ! Capital Ciência Canibalismopodeenlouquecervocê Canibalismopodeenlouquecervocê Canibalismopodeenlouquecervocê Canibalismopodeenlouquecervocê

Jornal Capital Ciência #1

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Produto experimental de Jornalismo Científico realizado pelos Midiabólicos, alunos da Agência Experimental de Jornalismo, em 2007.

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Edição piloto - Laboratório do curso de Jornalismo da Unibrasil

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Capital Ciência é uma edição especial do curso de Jornalismo da Unibrasil,e tem como proponentes os Midiabólicos, alunos do grupo de projetos especiais.São eles: Adriano V. Carneiro, Andressa Berkenbrock, Heitor Hayashi,Katy Mary de Farias , Rodolfo Stancki, Sheila Gorski e Thiago Lapa.

Orientados pelo professor e jornalista bastante responsável Victor E. Folquening (RP 3411/13/25v), que também coordena o curso de Jornalismo das Faculdades Integradas do Brasil, a Unibrasil,dirigida academicamente pelo seu presidente, professor doutor Clèmerson Merlin Clève.

A Unibrasil fica na rua Konrad Adenauer, 442, bairro Tarumã. O telefone da coordenação de Jornalismo é (41) 3361.4252 ou 4259.

O endereço virtual: [email protected] site do Cepjor: http://jornal.unibrasil.com.br

O exemplar que tens em mãos se serve do projeto gráfico de Adriano V. Carneiroé um dos mil que foram prensados pela gráfica do jornal O Estado do Paraná.

desses espaços infinitosSob muitos aspectos, Capital Ciência, segundo produto do grupo Midiabóli-

cos, é uma espécie de síntese do modelo de formação que o curso de Jornalismo da Unibrasil vem se empenhando em oferecer. Um procedimento pedagógico que privilegia o talento, o esforço, o mérito, a recusa ao senso comum e às res-postas prontas.

Combina conhecimento técnico e formação humanística. E, principal-mente, tenta apontar alternativas, correndo riscos (mesmo que sutis) nor-malmente sufocados no cotidiano da profissão.

A proposta do Capital Ciência é explorar a linguagem do jornalismo científico, sem, com isso, desprezar modelos exteriores. Ele é pautado pelos projetos de conclusão de curso defendidos no curso de Comunicação Social/Jornalismo da Unibrasil no segundo semestre de 2007. Os alunos-repórteres, no entanto, não têm compromisso com a abordagem das monografias e de-mais trabalhos de conclusão de curso. Por exemplo, uma das reportagens so-bre autismo se inspira, simultaneamente, na problemática do agendamento, levantada tangencialmente no projeto “Almanaques para Jornalistas”, e em um livro-reportagem sobre a síndrome, “O autismo é outra história”.

Veremos sinais do jornalismo literário, assimilado em pelo menos duas disciplinas do curso, do jornalismo popular, das influências de jornalistas tão distintos quanto o irônico Daniel Pearl, o preciso José Hamilton Ribei-ro (que nos concedeu entrevista exclusiva para a reportagem sobre con-seqüências psicológicas das amputações) e o meticuloso Joseph Mitchell, quanto autores da literatura ficcional contemporânea, como J. M. Coetzee e James Lee Burke.

Há, também, textos assinados conjuntamente por professores e alunos – o que reforça o compromisso de pensar no aprendizado como um esforço de toda a comunidade acadêmica. O Midiabólicos é formado, por sinal, por seis professores orientadores e dez alunos, provenientes de praticamente todos os períodos do curso.

A variedade de citações explícitas e cuidadosamente mimetizadas vai além dos textos e chega ao projeto gráfico, que já havia experimentado al-guns elementos incomuns no Capital Literária, lançado pelo Midiabólicos no último semestre. O projeto visual é inspirado nas célebres capas de disco pro-duzidas pelo designer Red Miles e o fotógrafo Francis Wolf para o selo de jazz Blue Note a partir dos anos 50. Este próprio editorial segue uma homenagem de terceira geração, se inspirando nos artigos de contracapa dos lps da grava-dora, assinadas pelo produtor e crítico Alfred Lion.

Poderíamos dizer:“Sob muitos aspectos, Live at Caverna, segundo disco ao vivo do Midiabó-

licos, é uma espécie de síntese do tipo de música que duas gerações de com-positores e instrumentistas vinham praticando na costa leste da metrópole. Um som que privilegia a experiência, mas sobretudo o talento e a disposição de sair do boogie woogie que dominava Curitiba naqueles tempos”.

Mais uma vez a variedade tem seu peso pedagógico: o que faz um pro-fissional se tornar competitivo e sair da mera condição de “empregado” (ou desempregado) é a quantidade e qualidade de informações que consegue assimilar, manter e articular criativamente. Sem repertório, o estudante de Jornalismo é refém, no mínimo, de discursos provincianos, lotados da supers-tição do pensamento positivo, corporativismo e medo.

O apelo à qualidade e ao compromisso inegociável com os princípios da Uni-brasil Records pauta o álbum Capital Ciência. E esperamos que tenha a honra de influenciar novas experimentações, novos caminhos, novas esperanças.

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RODOLFO

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“Eu parei de sentir a mão que não tenho mais”, percebe o paciente. O problema é que ele costu-mava sentir, meses depois de perder o membro.

“É um caso de sen-sação fantasma”, indica Alceu de Andrade Junior, fisioterapeuta na Asso-ciação de Reabilitação do Paraná (APR). “Tem gente que acha que ficou louca quando sente um mem-bro amputado e pergun-ta-se: ‘como eu sinto se ele não existe?’”.

Acontece porque o cérebro recebe todas as informações sensoriais e constrói um mapa do cor-po. Há pessoas que após seis meses da cirurgia deixam de sentir o mem-bro inexistente enquanto outras permanecem com essa sensação para o resto da vida. “Tudo depende dos estímulos lançados”, conta Andrade.

José Hamilton Ribeiro conta que às vezes acor-dava de noite para ir ao banheiro e se levantava como se fosse bípede. “O resultado era um belo

tombo. Mas hoje dificil-mente acon-tece um sonho em que eu es-teja com toda a integridade física”.

Q u a n d o o membro fantasma se manifesta, é o padrão per-ceptivo que está ativado. Todas as per-

cepções e experiências que esse membro viveu estão gravadas no cór-tex cerebral. “O cérebro parece agir por conta própria. Quando machu-camos nossa perna sen-timos dor. Quando não se tem mais essa perna, o cérebro acha que ela está parada e estimu-la coceiras e dores para que você a movimente”, diz o psicólogo da APR, Edson Pancera.

Ao contrário do que se pensa, a origem dessa sensação é muito mais de

natureza física do que psí-quica, como afirma a fisio-terapeuta Lilian de Souza Alves, que há 16 anos tra-balha com amputados na Clínica Ortopédica Catari-nense. “Existe diferença entre sensação fantasma e dor fantasma. A sensa-ção é a coceira, formiga-mento. Já a dor fantasma pode ser conseqüência de um nervo exposto, por exemplo, quando o pa-ciente não teve uma cirur-gia bem sucedida”.

Os nervos são os maio-res responsáveis pelas dores no coto – resto do membro am-putado. Uma possível expli-cação para a dor é de que ela seja pro-vocada pelos neurônios que controlam o envio de si-nais químicos, ativam re-ceptores de membrana e desencadeiam a contra-ção muscular. Segundo Andrade, a sensação fan-tasma é esperada, a dor não. “Tratamentos como massagem, bandagens, compressas quentes no coto, diminuem a sensibi-lidade”.

O trabalho corporal é parte mais importante do

tratamento. Lílian afirma que a fisiote-rapia pós-amputa-ção de um membro é baseada no forta-lecimento, alonga-mento e encontro do novo eixo do corpo. “No caso da falta de um membro inferior os músculos do lado do membro

devem ser fortalecidos a fim de estabilizar o eixo e o lado oposto alonga-do”.

Todos os músculos do corpo, principalmente do tronco, devem ser forta-lecidos nessa etapa para a transferência de peso. Além de exercícios de tô-nus e trofismo muscular, a resistência à fadiga, fle-xão, extensão, são de igual importância, como afirma Alceu de Andrade Junior. “Colocamos a pessoa para trabalhar em frente ao es-

pelho, ela vê como está”. Hamilton Ri-beiro afirma: “Mole-za não existe. Com duas pernas, ou com uma, cada um tem a sua ralação”.

Pancera explica que os pacientes têm duas etapas de tratamento psicoló-gico: a individual e a em grupo. “Na tera-pia individual existe

o foco na vida da pessoa, problemas anteriores e o que mudou. Na terapia em grupo existe o foco da amputação, que é o pro-blema em comum”.

O trabalho em conjun-to da fisioterapia com a psicologia é importante, pois o objetivo maior é a adaptação à prótese e a volta a capacidade de an-dar. Durante esse proces-so o fisioterapeuta verifica as mudanças do paciente e repassa as impressões ao psicólogo.

Lilian Alves enumera as etapas pós-amputação.

“Primeiro vem a revolta, depois o luto e a aceita-ção”. O luto, por exemplo, é muito importante e é como o luto pela perda de um ente. Há quem faça de conta que está tudo bem, que nada aconteceu.

“Tive a princípio três medos. morrer, me tornar uma pessoas incapaz de ganhar a vida com meu trabalho e o medo profis-sional de ser conhecido apenas como o repórter que esteve no Vietnã e não fez mais nada”, con-ta Hamilton Ribeiro, que passou 11 dias com médi-cos americanos no hospi-tal de campanha. “Me mo-vimentei com cadeiras de rodas e muletas e vi que, mesmo com limitação, te-ria energia para continuar minha pro-fissão”. Supe-rar o terceiro medo, para Hamilton, foi o mais demo-rado. Manter-se como um repórter com-petitivo era um desafio.

O corpo pode respon-der negativa-mente ao trauma da am-putação, mas com força de vontade empregada pelo paciente a recupe-ração será menos dolo-rosa e mais rápida. “Está vendo aquele senhor ali? Ele logo vai melhorar, não duvido”, conta An-drade apontando para um senhor que acabara de chegar trazendo um pacote de balas para os médicos.

A rainha Vishpla, o jornalista José Hamilton Ribeiro e parte dos aciden-tados com motocicletas enfrentaram uma batalha. A amputação. Segundo o Rig-Veda, documento mais antigo da literatura hindu, Vishpla perdeu a perna durante uma guerra, ganhou uma prótese de ferro e retornou à ba-talha. Ribeiro escreveu sobre o fim da própria perna em uma mina escon-dida no Vietnã de 1968. Brasil, 2007: acidentes com motocicletas são res-ponsaveis por 70% das amputações cirúrgicas.

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Ondasciência

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Ondas sonoras e o cérebro. Robert Jourdain, autor de “Música, Cérebro e Êxtase” (Editora Objetiva, 1998), diz que, para aproveitar “de verdade” a música, precisa-mos estar atentos aos processos básicos que ocorrem no ouvido humano ao som do ritmo e da melodia.

As ondas sonoras, que chegam ao tímpano do ou-vido, fazem vibrar três ossinhos, que são ligados a uma estrutura chamada cóclea. A cóclea é cheia de líquido por dentro. Os sons fazem esse líquido balançar e se transformar em impulsos químicos e nervosos, que registram em nossa mente as diferentes qualidades dos sons que estamos ouvindo. O que muitos não sa-bem é que “as raízes dos nervos auditivos – os nervos do ouvido – são distribuídas mais amplamente e têm conexões mais extensas do que os de qualquer outro nervo no corpo...[Devido a essa extensa rede] dificil-mente existe uma função no corpo que possa não ser afetada pelas pulsações e combinações harmônicas de tons musicais”. A investigação da influência da música no corpo humano foi conduzida, em grande parte, por um ramo da medicina conhecido como “musicotera-pia.” Em 1944, “The Music Research Foundation” (A Fundação de Pesquisa da Música) foi estabelecida em Washington, D. C., com objetivo de explorar e desen-volver novos métodos para controlar o comportamen-to humano e as emoções.

O governo americano financiou esta pesquisa por causa da necessidade premente de tratamento psiquiátrico para os ve-teranos de guerra, que sofreram lesões ligadas às ondas de choque dos bombardeios durante a Segunda Guerra Mun-dial. Estudos mostraram que o impacto da músi-ca no sistema nervoso e as mudanças emocionais provocados direta ou in-diretamente pelo tálamo afetam processos tais como a freqüência cardía-ca, a respiração, a pressão

sangüínea, a digestão, o equilíbrio hormonal, o hu-mor e as atitudes. Isto nos ajuda a entender por que a batida impulsionadora e incessante do rock e da música eletrônica, exer-cendo um impacto dire-tamente sobre o corpo, pode ter uma gama tão extensa de efeitos físicos e emocionais.

Os neurônios são célu-las nervosas que têm suas extremidades separadas por um espaço mínimo (chamado sinapse). Para que uma célula possa transmitir um simples impulso elétrico para ou-tra, ela emite substâncias químicas chamadas neu-rotransmissores (NT), res-ponsáveis pela passagem do impulso elétrico.

Existem formas de esti-mular a liberação dos neu-rotransmissores. O ritmo definido por uma freqüên-cia sonora – uma marcha militar, por exemplo - age como efeito biopsicoe-letroacustico e cria uma sensação completamente diferente da criada por uma marcha fúnebre. Uma outra forma de estímulo são as “ambientações” ur-banas para a música ele-trônica. Um outro tipo de freqüência é unido à so-nora: a cromática. As cores também têm freqüências muito particulares que estimulam diretamente a liberação/captação dos NTs e dos neuroreceptores (NR) pelos neurônios.

A música eletrônica buscou inspiração nos efeitos psicológicos des-pertados por tambores em rituais indígenas/africanos. A exposição à música com ritmos “de-sarmônicos” – quer seja a “tensão” causada pela dissonância ou “barulho” ou os balanços antinatu-rais de acentos rítmicos deslocados, síncopes, e

polirritmos, ou tempo impróprio – pode resul-tar em uma variedade de mudanças no indivíduo, incluindo uma freqüência cardíaca alterada com sua correspondente alteração na pressão sangüínea; uma estimulação exces-siva de hormônios (es-pecialmente os opióides ou endorfinas) causando uma alteração no esta-do da consciência, desde mera estimulação num extremo do espectro até a inconsciência no outro extremo.

O que a propósito foi feito pelo rock alguns anos antes. O rock é uma mistura do jazz, do blues e da música country, Hi-tler quis acabar com as in-fluências da música negra (jazz, sobretudo), estabe-lecendo normas para de-terminar o que constituía a música ideal para o povo alemão. Interessante é que exatamente após sua queda surgiu o rock’n’roll com ritmos mais sincopa-dos que o próprio jazz... E também com um caráter mais agressivo.

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Nas embalagens de ra-ção para cães consta uma advertência que soa mis-teriosa para a maioria das pessoas – proibido uso na alimentação de ruminan-tes. O recado é fruto de um estudo sobre as doen-ças que surgem durante o processo de criação ani-mal. Poucos sabem que o alerta está diretamente ligado à doença da “vaca louca”.

Sandra Santos Sousa não sabe. Ela é dona de Toby – cachorrinho que, aliás, nem come ração, “só arroz misturado com comida” Apesar de traba-lhar como encarregada da seção de ração de um su-permercado, Sandra não conhece o significado de “ruminante”.

Toby e Sandra até po-deriam se dar ao luxo de desprezar a advertência, pois não são ruminantes.Mas as vacas são.

Em 1986, a encefalopa-tia espongiforme bovina, depois celebrizada como “vaca louca”, apareceu na Ta

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canibalismofaz mal à saúde!

Inglaterra, depois nos Esta-dos Unidos e Canadá. A po-pulação chegou a repensar o consumo de carne. Não conhecia a doença, não fa-zia a mínima idéia de como ela havia surgido e, princi-palmente, não sabia quais eram os riscos.

Os animais do Reino Unido haviam sido alimen-tados com rações à base de restos de animais, nes-te caso carneiros, o que é proibido. A utilização de proteína de origem animal é permitida somente para o trato de animais não ru-minantes. Farinha de ossos, sangue, e outros restos são usadas principalmente por dois fatores: custam mais barato que as vegetais (soja, milho) e produzem um maior ganho de peso e, por conseqüência, menor tempo de confinamento. Porém, o fato de a matéria-prima ser proveniente de inúmeros fornecedores di-ficulta o controle sanitário efetivo nas indústrias.

A principal suspeita é a de que aqueles carneiros,

utilizados na ração dos bovinos, estariam conta-minados com o “scrapie”. Essa é uma doença no sistema nervoso causada pela combinação de prí-ons similares do hospedei-ro e do invasor (canibalis-mo direto ou indireto). O príon é uma proteína pre-sente no sistema nervoso dos seres vivos. Não é um vírus já que não apresenta ácido nucleico. Possivel-mente, esses ovinos con-sumiram restos de animais da mesma espécie, ou semelhante, não proces-sados devidamente, ou seja, aquecidos a 121°C durante 20 minutos em um equipamento chama-do autoclave.

Como em uma reação em cadeia, o que acon-teceu aos bovinos da In-glaterra, que consumiram carneiros com o “scrapie”, também pôde ser obser-vado em humanos que comeram carne contami-nada com a “vaca louca”. Alguns desenvolveram a síndrome de Creutzfel-dt-Jacob, doença que já havia sido estudada em tribos canibais da Nova Guiné. Novamente, príons invasores encontraram similares no hospedeiro (canibal), se uniram e for-maram uma nova estrutu-ra dentro do cérebro. Essa nova “parte estranha”, ao ser eliminada pelo sistema imunológico da própria pessoa, deixava “vácuos” que prejudicavam as co-nexões cerebrais e causa-vam a morte.

Para evitar o problema, o pesquisador da Embrapa, Carlos Bellaver, diz que os criadores podem ajudar no controle sanitário. O con-sumidor deve conferir se as marcas asseguram a quali-dade ISO e se respeitam o Manual de Boas Práticas de Fabricação, do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal e do Sindicato Nacional dos Co-letores e Beneficiadores de Sub-produtos.Um problema mais próximo

Além das doenças ci-tadas, a alimentação ina-

dequada oferece outros riscos à saúde humana e animal. As aves urbanas são um bom exemplo. Al-gumas já se acostumaram a se alimentar dos restos de comida. Embora a pro-babilidade de elas desen-volverem doenças seme-lhantes ao “scrapie” ou à “vaca louca” seja mínima, o consumo prolongado pode acarretar outros ti-pos de danos à saúde.

A médica veterinária Vanessa Yuri de Lima utiliza os pombos que salpicam as praças (Columbi livia) como exemplo. “A alimen-tação inadequada, como pipoca, arroz e pão, contri-buiu para que a expectati-va de vida desses animais, que em seu habitat natural seria de até 15 anos, caísse para 3, no máximo 5 anos”.

O desequilíbrio, além de demonstrar a piora na saúde da espécie, também traz riscos ao ser humano. Quando as aves são ali-mentadas, o processo de seleção natural deixa de existir, pois, não há mais competição pela comida. A conseqüência é o aumento populacional com a poste-rior degradação do meio. As secreções e excreções dos pombos carregam uma quantidade muito alta de creatinina, fonte de nitrogênio para um fungo extremamente patogênico, o Criptococus neoformans. Vanessa alerta: “Esse fungo, principalmente quando há uma alta concentração de aves, pode levar a uma en-fermidade que acomete o sistema respiratório e até a uma meningite”.

Os exemplos citados indicam que a intervenção humana na natureza pode produzir efeitos não previs-tos e de difícil recuperação. A necessidade de produ-ção de alimentos em larga escala, o estresse e a polui-ção, interferem na fisiologia animal e são responsáveis diretos pelo surgimento de novas doenças.

“O Toby não é ruminan-te, com certeza”.

O que não é garantia, convenhamos.

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Sandra Sousa trabalha com ração e não conhece os ruminantes

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Rlo cu AHospital em Piraquara é um dos últimos

a isolar a insanidade

- O que é isso? O que é isso?É um homem quem

diz. Mas não prestamos muita atenção. Ele está deitado numa cama típi-ca de hospital. Move-se inutilmente de um lado para o outro, tentando se levantar. Está amarrado. Faz perguntas e a gente o observa de olhos vira-dos. Aquele homem é um inconveniente. Está em crise de abstinência, e foi preciso medicá-lo e re-duzir seus movimentos. Algumas pessoas incon-venientes conseguem ser inconvenientes inclusive numa clínica psquiátrica. Passemos adiante.

O Hospital de Neu-ropsiquiatria San Julian, em Piraquara, tem 35 anos, e os últimos tem-pos têm sido uma loucu-ra. Conta com 450 leitos que aceitam todo o tipo de homens indesejáveis, desde que voluntaria-mente. Nisso se incluem drogados e alcoólatras, grupos que ocupam 350 camas. Há uma ala espe-cial para que não pertur-bem a sociedade. Nas pa-lavras de quem trabalha lá, é a parte mais pacata do Hospital. Os viciados podem até relaxar numa área destinada ao consu-mo do tabaco – uma dro-ga que não diz respeito ao hospital.

Os outros 100 leitos são para os doentes men-tais, que ficam separados dos outros. São pessoas com as mais diversas en-fermidades psicológicas

convivendo no mesmo lugar. O hospital aceita maníacos, depressivos, esquizofrênicos, psicóti-cos, suicidas em poten-cial, e até mesmo obesos. Somos alertados de que essa parte do hospital não é muito agradável para se visitar. As pessoas vêm cumprimentar você. As pessoas querem atenção. E isso é constrangedor.

Michel Foucault estu-dou descobriu que os pri-meiros loucos a serem iso-lados da sociedade foram os árabes, no século VII. Quando eles ocuparam a Espanha, séculos mais tar-de, o costume se espalhou pela Europa. Mas esses “hospícios” não recupera-vam os internos. A inten-ção era apenas isolá-los. O tratamento aos loucos em geral era pior do que aos prisioneiros. Durante a Revolução Francesa, o alienista Philippe Pinel as-sumiu uma dessas casas e decidiu acabar com os costumeiros maus-tratos. Começou a tratar os lou-cos como doentes, e pas-sou a estudar e classificar seus problemas mentais. E formaram-se assim os primeiros “manicômios”.

No Brasil, começou-se a aceitar todo o tipo de indesejáveis nos mani-cômios, e não apenas os loucos. A exemplo do que acontecia nos primeiros hospícios, os pacientes fi-cavam ali pra sempre. Em outras palavras, eles não se recuperavam. O Hos-pital San Julian age de forma diversa. Ainda que

as enfermeiras afirmem que “transtorno mental não tem cura”, o pacien-te pode sair de lá depois de 80 dias. Só que alguns pacientes retornam. Con-traem o que chamam de “hospitalismo”. Não vi-vem mais sem o hospital. As enfermeiras garantem que há “elevado índice de recuperação”, embora só se tenha certeza do ín-dice de altas.

Os internos fazem suas atividades diárias numa área de 110 mil m². Pela manhã, os vicia-dos fazem a oração da serenidade, admitindo a impotência diante da droga. Depois cantam o Hino Nacional. São eles mesmos os responsáveis pela higiene e pelas ativida-des cotidianas. Os pacientes formam peque-nos grupos e se revezam para cuidar do varal, do corredor, do banheiro, etc. A intenção dos a d m i n i s t r a d o -res do hospital é fazer com que larguem o vício, mas sem sempre é possível. Às ve-zes é a própria vi-sita que traz dro-gas escondidas. Para evitar isso, as roupas dos pacientes são revistadas quan-do eles tomam

banho. Alguns pacientes recebem alta e voltam na semana seguinte, com medo dos traficantes.

Para os loucos, as melhores atividades são as festas de aniversário, onde eles podem dançar à vontade, sem se preo-cupar com o que os ou-tros irão pensar. Também existem gincanas, filmes e atividades culturais. Há uma sala com uma tele-visão e uma placa aler-tando que não se deve usar o aparelho durante a hora do almoço e após a novela das oito. E dessa forma os pacientes ten-tam suavizar a sua esta-dia, em meio a uma ou outra visita familiar.

Mas só essas diver-sões podem não bastar quando se tem algum problema mental. É pre-ciso mais, é preciso con-versar sempre que puder, e cumprimentar todas as pessoas, mesmo que elas se recusem. Em alguns casos, é preciso puxar assunto com qualquer pessoa diferente que aparecer pelos corredo-res. Ou falar que hoje

à noite voltaremos pra casa, mesmo que seja o nosso primeiro dia. Con-vidar as pessoas a visitar a nossa família, ainda que não as conheçamos. Dor-mir no primeiro lugar que encostarmos. Andar com o nariz sujo. Murmurar coisas que ninguém en-tende, reclamar que não estão tendo mais tantas danças como antigamen-te. E ouvir das enfermei-ras apenas um sorriso de complacência. Afinal, não tem cura. Basta que se diga um “aham”, um “tá bom”, e o louco pára de perturbar as 170 pessoas que trabalham no hospi-tal. É bom não contrariar, afinal. Mexem a boca para mostrar que estão falan-do, mas ninguém ouve som algum, ninguém sabe o que querem real-mente, e ninguém quer realmente saber.

Em 2001 foi aprova-do o projeto de lei que propõe a extinção gra-dual dos manicômios, e a substituição por outros mecanismos de assistên-cia. No Hospital San Ju-lian houve a diminuição do número de leitos. E o que se critica por lá é que não há realmente uma rede de ajuda para so-lucionar o problema – a psiquiatria é considerada por eles mesmos como “o patinho feio da Saú-de”. O Conselho Federal de Psicologia diz que há ao menos 60 mil pessoas internadas em quase 300 manicômios pelo Brasil. A intenção é desinstitu-cionalizar a loucura, divi-dindo o problema entre Estado e sociedade. E invocar os direitos huma-nos para tirá-los do cár-cere privado. Enquanto o processo da Reforma Psi-quiátrica não se conclui, a sociedade pode dormir tranqüila, sabendo que os indesejáveis estão de-vidamente isolados do nosso convívio.

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OtorporCoelhodo cesar

O novo documentário produzido por alunos do Projeto Olho Vivo, sob coordenação do cineasta curi-tibano Luciano Coelho, retrata a imposição religiosa na vida de cinco crianças. “O trabalho deles é de rom-per com a postura social que prevalece”. A frase é do também cineasta paranaense Eduardo Baggio, que se declara fã dos vídeos do Projeto. Mesmo negando a ação social como objetivo principal de sua produção cinematográfica dos últimos quatro anos, Coelho é re-conhecido pelas ácidas críticas sociais. “Acho que rom-per com preconceitos é uma conseqüência. Os filmes nascem muito mais de uma curiosidade de ver como vive o outro”.

O Olho Vivo é fruto da parceria com o ator Marcelo Munhoz, inicia-da em 2003. Apoiada na proposta de revitaliza-ção do bairro Rebouças, lançada pela Prefeitura de Curitiba, o espaço se propôs a oferecer cursos de formação cinemato-gráfica a baixo custo e a intervir nas causas de comunidades carentes e marginalizadas. Depois se desvencilhou do pro-jeto municipal.

“Prefiro o Luciano me-nos engajado, confesso. Entendo, no entanto, sua necessidade de dar voz a seu lado mais político, com preocupações so-ciais”. Paulo Camargo é jornalista, mestre em ci-nema e editor do Cader-no G da Gazeta do Povo. Na estréia de O Fim do Ci-úme (2003) escreveu uma matéria que se esmerou em dar conta de toda a produção cinematográ-fica de Coelho. Falou de todos os filmes que o ci-neasta havia produzido até então, oito.

Antes do Projeto, o último filme de autoria de Coelho foi Amarelo,

Vermelho, Verde, fotogra-fado por Beto Carminatti. O vídeo foi vencedor do I Festival do Minuto de Curitiba, em 2002. Depois disso, o cineasta passou quatro anos se dedican-do a orientar os alunos nas produções dos docu-mentários. Durante esse período, recebeu duas encomendas: Recorda-ções e Ações, em 2004, que conta a história de pessoas portadoras do vírus HIV; e Camaleão, em 2005, que recolhe depoi-mentos sobre a condição social do homem homos-sexual, e também abor-da a questão do uso de banheiros públicos em terminais de ônibus para relações sexuais.

“Na verdade, o Vida de Balcão é a minha re-tomada como diretor”. Na reinauguração da Ci-nemateca de Curitiba, em 29 de maio de 2007, os vídeos ganhadores do I Edital Digital da Funda-ção Cultural de Curitiba foram apresentados pela primeira vez ao público. Nos últimos minutos de Vida de Balcão - Antiga Curitiba de Hoje, a pla-

téia emudeceu: o vilão da história, opressor dos se-nhorinhos donos dos so-breviventes armazéns da cidade, é representado pela figura de Beto Richa, atual prefeito de Curitiba e presente ao evento. Em seguida, palmas. E mais palmas. Vida de Balcão foi o filme mais ovaciona-do da noite.

A platéia se comoveu com o sr. Darif que, enru-gado e dono de uma bar-ba totalmente grisalha, conseguiu vencer os 80 anos de idade, mas per-deu o armazém da família e a casa em que morava há pelo menos 60.

Por detrás do cerca-do de cimento, as pare-des brancas da fachada de uma pequena casa. A luz nublada do dia ajuda a construir o ar melan-cólico, proposto já nas primeiras notas do vio-lão que compõe a trilha sonora. A porta se abre, discretamente. Espera-mos Darif colocar-se para o jardim. Olha para os

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lados como se estives-se em busca de alguma coisa. Em off, começa a contação de sua história. A voz é enferrujada, as palavras pouco articu-ladas – são resmungos, doces. Se por vezes não se entende o que é dito, perdoa-se. Abre o portão, continua olhando para os lados, e vai atravessando o tapete de grama rala que se estende até a rua. O chinelo de pano não ajuda a manter os passos firmes. Darif segue calça-da acima, deixando porta e portão abertos.

Quando o plano se abre, um outdoor grita na tela: “Breve aqui mais uma Loja. Festval – o su-per especial”. Darif está indo ao encontro do an-tigo estabelecimento da família, trajeto que cos-tumeiramente percorre, para visitar, não só na memória, o cimento e os tijolos que o abrigaram quase a vida toda.

Os muros estão picha-dos. Ele arregala os olhos para admirar-se. Traz as mãos abraçadas por trás das costas, o que faz com que o corpo se curve ain-da mais para frente. Força a cabeça para cima. Não aquieta os passos enquan-to observa a antiga casa. Ensaiado?

Bertolt Brecht desa-provaria. O teatrólogo alemão considerava a emoção fator alienante. Mesmo que a obra do ci-neasta paranaense esteja distante de ser chamada brechtiana, há de se con-siderar uma semelhança significativa entre as obras de um e de outro: a defesa das classes oprimidas.

O fator moral da obra artística também causa desconfiança nos estetas que temem o comprome-timento da autonomia da arte. Luigi Pareyson observa que existe uma idéia de que a interven-ção moral poderia sub-jugar o papel da arte, tra-tando-a como ferramenta para uma outra tarefa.

Uma das grandes questões, defendidas pe-los autores considerados fundamentais na cha-mada Screen Theory, é a suposta perda de cons-ciência do indivíduo du-rante o espetáculo cine-matográfico. Ainda que não se possa negar essa vocação particularmente mimética, sob a qual o cinema proporciona uma representação icônica especialmente verossí-mil, não é apenas ele que possui o poder de cons-truir objetos e cenários no imaginário humano, ou de produzir a sensa-ção do real.

No teatro, Brecht chamou de “dramatismo aristotélico” todo aquele que provoca a identifica-ção emotiva do especta-dor com os personagens do drama. E relacionou esse processo a uma per-da de consciência, que por sua vez provocaria um “não-engajamento” do espectador.

Contra essa entre-ga emocional, Brecht construiu o conceito de “estranhamento”: cau-sar o distanciamento das questões sentimen-tais para que retome o controle e se posicione crítica e racionalmente em relação à obra apre-sentada.

“A minha intenção é emocionar”

Nos últimos quatro anos, Luciano Coelho tem se dedicado à produção de documentários que retratam indivíduos de grupos marginalizados na sociedade: negros, po-bres, prostitutas, umban-distas, soropositivos, ho-mossexuais, transexuais...

O discurso de respon-sabilidade social impres-so nas obras é explícito. Os personagens são, sem exceção, vítimas de suas condições sociais. Figuras que nunca transgrediram a legislação do país, que nunca desobedeceram aos fundamentos da ética kantiana, mas que, como

nas tragédias gregas, são impiedosamente conde-nadas pelo destino.

O argumento narrati-vo desses objetos se ba-seia, principalmente, no depoimento de cada per-sonagem. Coelho desfaz a massa. Cada entrevis-tado, embora represente um grupo social, fala de si. Conta sua própria vida, divide sua intimidade.

A intenção do autor em emocionar a platéia é clara. Dos 27 filmes produ-zidos sob a direção ou co-ordenação de Coelho, 16 deles – o que corresponde a 59 % do total – se encai-xam na descrição acima.

O que nos permite

“ver” os filmes de Coelho apenas pela perspectiva analítica.

Desde os meados dos anos 80, alguns teóricos da Filosofia Analítica, mais voltados para o ci-nema, se apoiaram na ciência cognitiva para atacar as idéias da Screen Theory sobre a recepção cinematográfica. A idéia era apresentar argumen-tos menos obscuros que os oferecidos pelas teo-rias semióticas e psicana-líticas quando aplicadas ao cinema. Mais do que isso: teóricos como Nöel Carroll e Nöel Bursch re-jeitavam a abordagem lingüística que analisava a arte cinematográfica como linguagem.

Ao contrário dos te-óricos que se basearam nas teorias derivadas do pensamento de Lacan e Althusser para entender o processo de interpre-tação do espectador, os cognitivistas defendem que os estímulos visuais e auditivos presentes nos filmes são os responsá-veis por gerar significado na mente do receptor. O cinema, portanto, serviria como um dispositivo da imaginação, um detona-dor perceptivo.

Embora os cogniti-vistas não neguem a im-portância da psicanálise, atribuem a ela a função de compreender apenas

o que há de irracional e emocional na recepção dos filmes. David Bor-dwell afirma que não há qualquer razão para imputar ao inconsciente atividades que possam ser explicadas em outros termos.

A decodificação do conteúdo dos filmes aconteceria através de esquemas mentais – dos quais, alguns, seriam na-tos e comuns a qualquer espectador, outros, cons-truídos de acordo com o contexto sócio-cultural de cada receptor.

A questão sobre o “contrato de leitura” é recorrente nas obras de Richard Allen, Murray Smith, David Bordwell,

Kendal Walton e Noël Car-roll. Os debates sobre a credibilidade da obra de não-ficção, a provocação emocional dos filmes, a indicialidade do fato an-terior à representação... Todas essas discussões são esclarecidas por esses autores através da idéia de que o espectador en-tra em acordo, conscien-temente, com o autor, o cineasta, para que a leitu-ra do objeto seja feita de maneira condizente com o contexto.

Voltemos à pergunta do título: a intenção de Luciano Coelho em emo-cionar a platéia compro-mete o engajamento do espectador? Baggio diz que não: “Os recursos de imagem e som utilizados para causar uma certa melancolia funcionam muito bem”.

Coelho poderia ser acusado de desviar o objeto artístico de seus princípios mais genuí-nos. Pareyson defende que o ato artístico já constitui um ato moral. A arte pode ser tanto mo-ral quanto imoral, sem que isso coloque em xe-que a sua essência.

Murray Smith argu-menta que responder emocionalmente não anestesia a disposição de intervir sobre ques-tões sociais: pelo contrá-rio, pode nos habilitar a apreender experiências que não as nossas e, des-se modo, a utilizar esse conhecimento para agir sobre o mundo de um modo mais eficiente.

A estratégia de Coelho parece funcionar à medi-da que desperta o poder imaginativo da mente e intensifica o processo de empatia com os perso-nagens, proporcionando ao espectador a “quase-experiência” de um outro ponto de vista.

Nos próximos meses, o novo documentário dirá se o torpor ainda conduz Luciano Coelho à razão.

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