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JORNAL DA CONTAG 1Filiada à:
Veículo informativo da
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES
CONTAGANO XII • NÚMERO 138 • SETEMBRO DE 2016
ELEIÇÕES 2016:VOTE PARA FORTALECER
A AGRICULTURA FAMILIAR
Jornal da
JORNAL DA CONTAG2
EDITORIAL
PRESIDÊNCIA
Alberto Ercílio BrochPresidente da CONTAG
Vai ter luta!
O Senado Federal chancelou o golpe
parlamentar contra a Constituição
e a soberania popular. Com 61
votos a favor e 20 contra, no dia 31 de
agosto de 2016, foi aprovado o afastamen-
to definitivo da presidenta Dilma Rousseff,
mesmo sem comprovação de crime de res-
ponsabilidade durante o seu governo. Essa
decisão só comprova que o impedimento
da presidenta era uma disputa pelo poder,
de imposição de um novo projeto político
para o País sem passar pelas urnas.
Temer assume a Presidência da República
sem a legitimidade do voto dos brasileiros(as),
carregando os interesses do grande capital
nacional e internacional que tem como alia-
da a elite política brasileira que lhe colocou
no poder. Com o impeachment, a agenda
liberal pré-anunciada será implantada pelo
governo ilegítimo com rigor, sob a alegação
da austeridade necessária para o equilíbrio
fiscal e monetário para o País voltar a crescer.
Começou com a extinção dos Ministérios
que executavam as políticas sociais, dentre
os quais citamos o da Previdência Social e
do Desenvolvimento Agrário, afetando direta-
mente a classe trabalhadora rural.
A redução de investimentos em saúde,
educação e moradia é certa. A reforma da
Previdência virá com força (proposta será
enviada pelo Governo ao Congresso ainda
em setembro) e na sequência virá a refor-
ma trabalhista, com a retirada e flexibiliza-
ção dos direitos dos trabalhadores(as). Os
programas sociais serão, aos poucos, es-
vaziados e haverá grandes manifestações
de luta por parte dos movimentos sociais
e sindical. A reação do governo será, sem
dúvida, criminalizar estas mobilizações com
base na Lei Antiterrorismo. O cenário futuro
indica tempos difíceis e não haverá a paci-
ficação pretendida por Temer, pois a classe
trabalhadora, ao sentir o aperto, reagirá e
irá para a rua defender seus interesses.
A CONTAG reafirma a esse Governo
que não aceitará retrocessos nos direi-
tos conquistados com muita luta pelos
trabalhadores(as) rurais e agricultores(as)
familiares. Sabemos o quanto foi difícil con-
quistar as políticas específicas que temos
hoje. Muitos companheiros(as) tombaram
e outros foram torturados e perseguidos.
Perdemos e ganhamos muitas batalhas,
por isso vamos seguir firmes na luta, repre-
sentando e defendendo os interesses e di-
reitos conquistados pela classe trabalhado-
ra rural e por um país mais justo e igualitário.
As eleições municipais se aproximam
e se apresentam como oportunidade
e desafio para o MSTTR, que decidiu
participar do processo eleitoral com mi-
lhares de candidatos(as) aos cargos de
vereador(a), vice e prefeito(a) de centenas
de municípios deste imenso Brasil. Dia 2
de outubro é o momento para iniciarmos
a mudança, fortalecendo a agricultura
familiar no seu município, votando cons-
ciente em candidatos(as) orgânicos ou
naqueles que realmente sejam compro-
metidos com a agricultura familiar, com a
classe trabalhadora rural.
Neste sentido, conclamo todas as li-
deranças do MSTTR para que participem
ativamente das eleições municipais, cum-
prindo o papel cívico de mobilizar, escla-
recer e orientar a categoria dos trabalha-
dores rurais agricultores(as) familiares para
que votem conscientes e em candidatos
realmente comprometidos com seus in-
teresses. Desta vez não votaremos em
candidatos(as) ficha suja, corruptos, latifun-
diários, que escravizam trabalhadores(as) e
que buscam interesses pessoais. As elei-
ções municipais se traduzem na base fun-
damental para as futuras e desejadas reno-
vações nas Assembleias Legislativas dos
estados, na Câmara dos Deputados e no
Senado, hoje compostas por uma classe
política retrógrada e conservadora que não
representa as demandas e necessidades
da maioria da população brasileira.
Vamos trabalhar para eleger candidatos(as)
comprometidos(as) com os nossos interes-
ses e com o nosso projeto político de de-
senvolvimento rural sustentável e solidário.
Somente assim, podemos melhorar a qua-
lidade de vida e trabalho das famílias e das
comunidades rurais do nosso Brasil.
O nosso voto faz a diferença. Faça a sua
parte: vote pela agricultura familiar!
Verônica Tozzi
JORNAL DA CONTAG 3JORNAL DA CONTAG 3
SECRETARIA GERAL ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2016
Voto consciente
Frente à atual conjuntura política e
econômica brasileira, as eleições
municipais em 2016 ganham im-
portância ainda maior daquela que já lhe
é peculiar. Iniciamos um processo eleito-
ral em um cenário de ameaças de perda
de direitos trabalhistas e sociais (como a
reforma da Previdência) e de falta de cre-
dibilidade daqueles que foram eleitos(as)
como nossos(as) representantes diante
de vários casos de corrupção que envol-
vem vários partidos. Temos que ter cuida-
do para que o sentimento de indignação
não nos leve a tomar decisões erradas,
como não querer participar do processo
eleitoral e votar de qualquer jeito.
As eleições municipais se caracterizam
por podermos discutir nossos problemas
locais, conversando diretamente com os
candidatos e as candidatas. É muito im-
portante que os agricultores e agriculto-
ras familiares influenciem as plataformas
de governo de tal modo que assumam
o compromisso de garantir recursos e
ações que promovam o desenvolvimen-
to rural sustentável, como: recursos para
infraestrutura (estradas, água, energia
elétrica, moradia digna, armazéns, entre
outros), recursos para incentivo à pro-
dução (sementes, insumos, assistência
técnica, serviços ambientais, entre ou-
tros), o compromisso de efetivação de
políticas como o PNAE e PAA, recursos
para políticas sociais, em especial Saúde
e Educação do Campo (inclusive se com-
prometendo com o não fechamento de
escolas no campo). Esses são alguns
exemplos de políticas importantes para
o campo brasileiro, mas cada região tem
suas pautas específicas que precisam
ser aprofundadas.
As eleições municipais não estão sepa-
radas de temas e projetos nacionais e têm
forte influência nas ações dos governos (es-
tadual e federal) e no Congresso Nacional.
Para a secretária Geral da CONTAG,
Dorenice Flor da Cruz, é preciso que os
candidatos e as candidatas às Prefeituras
e Câmaras Municipais assumam compro-
missos com pautas de interesses da cate-
goria, em nível nacional. “Precisamos que
os candidatos e as candidatas assumam
posição contra a reforma da Previdência,
a favor da Reforma Agrária, pela manuten-
ção e ampliação do Programa Nacional de
Habitação Rural, pelo retorno do Ministério
do Desenvolvimento Agrário e em defe-
sa do fortalecimento e garantia da de-
mocracia, que foram nossas pautas na
Mobilização Nacional realizada em junho
deste ano”, afirmou a secretária.
As eleições municipais serão as primei-
ras a serem realizadas após a aprovação
do fim do financiamento empresarial de
campanhas eleitorais, uma importante
vitória da sociedade brasileira na qual o
MSTTR participou ativamente. É preciso
agora exercer o nosso papel de cidadão
e ajudar a combater práticas ilegais, a
exemplo do Caixa 2, denunciando essas
irregularidades à Justiça Eleitoral.
Para a dirigente, o Movimento Sindical
deve exercer seu protagonismo nesse pro-
cesso eleitoral e motivar a participação de
todos os trabalhadores e as trabalhadoras.
“É preciso transformar o sentimento de in-
dignação em participação ativa e coletiva
nesse momento, pois só assim consegui-
remos influenciar positivamente nas elei-
ções municipais”, afirmou.
É preciso fortalecer plataformas de governo que assumam o compromisso de promover o desenvolvimento rural sustentável e solidário
ACESSE O BANNER SOBRE AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS NO SITE DA CONTAG!Informações úteis e relevantes para candidatos(as) e eleitores(as): no banner sobre as Eleições
Municipais no site da CONTAG colocamos conteúdo para fortalecer a participação da Agricultura Familiar no processo eleitoral. No banner é possível encontrar sugestão de carta aos candidatos(as), folder sobre o combate ao Caixa 2, tabela de limite de gastos na campanha, além de subsídios para a construção da plataforma política dos(as) candidatos(as) - como as pautas do Grito da Terra Brasil, Marcha das Margaridas, Festival da Juventude, anais dos Congressos e Plenária da CONTAG - além do link para o site do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral - www.mcce.org.br.
ELEIÇÕES 2016VOTE PELA AGRICULTURA FAMILIAR
JORNAL DA CONTAG4 JORNAL DA CONTAG4
JUVENTUDE RURAL POR UM FUTURO MELHOR
Juventude na política
Ajuventude rural está cada vez mais
consciente da importância da luta
para garantir o cumprimento das
leis que podem promover o desenvolvi-
mento rural sustentável e solidário, com
políticas públicas para educação, saúde,
lazer, saneamento básico, acesso à infor-
mação e tecnologia, além de meios para
garantir renda e produção de alimentos
saudáveis. Atuar por meio do Movimento
Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais (MSTTR) é um dos principais cami-
nhos para essa luta, e que pode levar a
outras formas de ação.
Nas próximas eleições municipais,
muitos(as) jovens trabalhadoras(es) rurais
se colocaram na linha de frente para abrir
espaço dentro de Prefeituras e Câmaras
Legislativas. Se eleitos(as), esses(as) jovens
pretendem levar novas ideias e, principal-
mente, uma nova maneira de fazer política:
mais interessada no bem da sociedade e
menos nos interesses pessoais e/ou parti-
dários. Muitos(as) deles trazem a bagagem
da formação político-sindical e da experi-
ência dentro do Movimento, trabalhando
da defesa dos interesses de todos(as) os
trabalhadores(as) rurais, especialmente os
da juventude, com as bandeiras da suces-
são rural e de acesso a políticas para a
vida digna no campo.
Participantes da Comissão Nacional
de Jovens Trabalhadores(as) Rurais
do MSTTR, Maria das Dores Monteiro
Freire da Silva, a Das Dores, e
Sérgio Paulo Roque Almeida, o Paulinho,
disputam espaço para a juventude rural
também dentro da política partidária.
Concorrendo ao cargo de vice-prefeita
no município de Nazaré do Piauí (PI), Das
Dores afirma que o seu objetivo é defen-
der os interesses da juventude e “fazer
com que as coisas aconteçam”. Para a
jovem, um dos desafios desta jornada é
lidar com o preconceito contra a falta de
experiência da juventude. “Mas essa falta
de experiência é compensada pelo com-
promisso que temos com a melhoria da
vida do nosso povo. Trabalhando dentro
do MSTTR sabemos exatamente o que
precisamos, e queremos agir para mudar
a realidade”, afirmou Das Dores.
Candidato a vereador do município de
Maués (AM), Paulinho afirma que a parti-
cipação dos jovens na política é impor-
tante porque é uma forma de “renovar o
atual cenário político, trazer novas ideias
e construir juntos um futuro melhor para
o nosso município”. Para ele, a vantagem
de ser jovem e atuar nesse espaço de ci-
dadania é que “a maior parte do eleitora-
do está desacreditado nos políticos anti-
gos e querem gente nova nos poderes,
seja Legislativo ou Executivo. O jovem
acredita no jovem”.
A secretária de Jovens Trabalhadores
e Trabalhadoras Rurais da CONTAG,
Mazé Morais, acredita que a participa-
ção dos(as) jovens em todos os âmbi-
tos de participação política é fundamen-
tal para as pautas da juventude sejam
priorizadas, e para que novas práticas
possam surgir. “A atuação dentro das
Prefeituras e das Câmaras Legislativas
significa trabalhar diretamente com
ações que vão mudar a vida do povo.
Significa poder efetivamente implemen-
tar tudo aquilo que a gente luta diaria-
mente. Precisamos ocupar esses espa-
ços com comprometimento e ética para
garantir qualidade de vida para o nosso
povo”, afirma Mazé Morais.
Atuar dentro dos poderes Legislativo e Executivo é fundamental para assegurar políticas públicas que garantam vida digna no campo, na floresta e nas águas
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
JORNAL DA CONTAG 5
A hora é de enfrentar os desafios
para garantir os direitos das mu-
lheres depois da concretização
de um duro golpe contra a democracia e
as políticas de inclusão e desenvolvimen-
to social para as mulheres. “O dia 31 de
agosto marcou o impeachment de todas
as mulheres brasileiras. “Vimos, estarreci-
das, o julgamento de nossa companhei-
ra, que, mesmo sem crime, foi julgada e
condenada pelos algozes, senadores que
representam os interesses neoliberais.
A força, altivez e coragem, refletidas em
nossa sempre presidenta Dilma Rousseff,
transmitiram a cada mulher de coração
valente que a nossa dor precisa se trans-
formar em força de resistência. Resistência
com a qual as mulheres, historicamente,
têm buscado para enfrentar o machismo,
o patriarcado e, agora, mais do que nun-
ca, a queda da democracia. Nós margari-
das não nos curvaremos: a cada ataque
nos tornamos mais fortes e com a certeza
do nosso papel nesta conjuntura. É com
essa força que daremos as respostas a
estes algozes nas urnas desde as eleições
municipais, e até 2018 trabalharemos de
corpo e alma na formação política de nos-
sas bases. Nós queremos, nós podemos!
Resistência e luta Margaridas: a luta conti-
nua!” afirma Alessandra.
MARGARIDAS CONTRA O GOLPE
MULHERES RURAIS
Força, resistência e coragem: seu nome é mulher“As mulheres brasileiras têm sido, neste
período, um esteio fundamental para mi-nha resistência. Me cobriram de flores e me protegeram com sua solidariedade.
Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostra-
ram suas garras, as brasileiras expres-saram, neste combate pela democracia e pelos direitos, sua força e resiliência. Bravas mulheres brasileiras, que tenho a honra e o dever de representar como
primeira mulher Presidenta do Brasil”. Dilma Rousseff, 31 de agosto de 2016.
Roberto Stuckert Filho/PR
A força e a coragem são consideradas
fundamentais também para a educado-
ra e feminista Socorro Silva, para quem o
impeachment de Dilma Rousseff represen-
ta uma marcha violenta sobre a presença
das mulheres nas decisões dos rumos da
sociedade. “Querem nos impor que esse é
o resultado para as mulheres que ousam
desafiar o machismo e descolonizar os es-
paços dominados pelos homens! Querem
dizer ‘Aqui não é o lugar de vocês!’. Mas
nos reinventamos e colocamos em xeque
todos os sistemas de dominação das mu-
lheres. Este é o recado que deixamos, re-
forçado no discurso de Dilma para um ple-
nário branco, machista, elitista: podem tirar
nossas vidas, podem suprimir nossos es-
paços de participação política, podem rou-
bar nossos corpos, mas não terão nossa
alma e nem nossos sonhos...se é impossí-
vel extinguir uma raça é mais impossível ex-
tinguir sonhos de liberdade! Enquanto exis-
tir uma mulher, haverá resistência!”, afirma.
OS IMPACTOS DO GOLPE PARA AS MULHERES –
O fortalecimento do machismo se reflete no
aumento expressivo dos casos de violência
contra a mulher. Nos seis primeiros me-
ses de 2016, a Central de Atendimento à
Mulher - Ligue 180 realizou mais de 555 mil
atendimentos. Este número é 52% supe-
rior ao primeiro semestre de 2015. Houve
aumento de 147% nos casos de estupro,
142% de cárcere privado e de 133% nos
relatos de violência doméstica e familiar.
Sofreremos ainda grandes impactos nos
avanços conseguidos nos últimos 13 anos.
O governo golpista de Michel Temer rebai-
xou a Secretaria de Política para Mulheres
(SPM) para um mero “penduricalho” do
Ministério da Justiça, sem força nem recur-
sos: o orçamento para políticas para mu-
lheres, igualdade racial e juventude foi dimi-
nuído recentemente em R$ 12 milhões. Esse
contingenciamento prejudicará, por exem-
plo, a continuidade de programas como
as Unidades Móveis de Enfrentamento à
Violência Contra as Mulheres. Há o risco
ainda da paralisação do funcionamento
das Casas da Mulher Brasileira existentes,
também financiadas pela SPM, além da
não continuação da construção e imple-
mentação de Casas em outros estados.
“Outro grande impacto poderá ser a
aprovação da Reforma da Previdência pro-
posta pelo governo Temer, que impacta
duplamente na vida das mulheres rurais, já
que se propõe igualar a idade entre homens
e mulheres e também rurais e urbanos. Não
admitiremos retrocesso a uma das maio-
res conquistas da Constituição Federal de
1988”, aponta Alessandra Lunas.
JORNAL DA CONTAG6
POLÍTICAS SOCIAIS NÃO AOS RETROCESSOS
A luta está só começandoGoverno Temer apresenta propostas ao Congresso Nacional que prejudicam trabalhadores e trabalhadoras rurais
Luiz Fernandes
O governo que assume atualmen-
te a direção de nosso País re-
presenta os interesses da elite
política e econômica brasileira, que sem-
pre se beneficiou do Estado para satis-
fazer os próprios privilégios. Representa
ainda os interesses do capital estran-
geiro, apoiados pelos grandes meios de
comunicação. Nesse cenário, existe a
possibilidade real de desrespeito às ga-
rantias dos direitos dos trabalhadores(as),
especialmente dos rurais, previstos na
Constituição de 1988.
Uma das primeiras medidas do Governo
de Michel Temer foi enviar ao Congresso
Nacional a Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) nº 241/2016, que,
se aprovada, impactará profundamente
nos direitos dos trabalhadores(as). A re-
ferida PEC propõe o congelamento dos
gastos públicos por 20 anos, período em
que o dinheiro economizado será cana-
lizado para o pagamento dos juros da
dívida pública, que atualmente consome
quase metade (45%) do orçamento do
País. Isso significa não poder aumentar os
gastos públicos, além da inflação do ano
anterior, em áreas essenciais à população
brasileira como na saúde, educação, as-
sistência social, previdência e habitação
por toda uma geração. Vale lembrar que
para o pagamento dos juros da dívida pú-
blica o governo não impõe nenhum limite.
Outra proposta em discussão no
Congresso é a PEC 04/2015, que prevê a
elevação da Desvinculação dos Recursos
da União (DRU) para 30%. Atualmente,
a DRU é de 20%, o que significa que o
governo brasileiro já tem autorização do
Congresso para usar 20% do orçamento
da União como achar necessário. Essa
medida atinge o sistema de Seguridade
Social brasileira que garante à população
brasileira o acesso às políticas de saúde,
previdência e assistência social. Ou seja, o
governo, que a todo momento propaga o
“rombo” nas contas da Previdência Social,
quer desvincular 30% do orçamento da
Seguridade Social para destinar a outras
finalidades. É mais um retrocesso nos di-
reitos sociais dos trabalhadores(as) rurais,
especialmente dos rurais, cuja proteção
previdenciária é financiada com os recur-
sos do orçamento da Seguridade Social.
A reforma da Previdência também é
uma ameaça cada vez mais próxima. O
atual governo federal pretende apresen-
tar ao Congresso Nacional, ainda nes-
te mês de setembro, uma proposta que
iguala para 65 anos a idade mínima para
aposentadoria para trabalhadores(as) ru-
rais e urbanos, de ambos os sexos. Essa
medida não considera o caráter especial
dos(as) trabalhadores(as) rurais que, se-
gundo dados do IPEA, começam a tra-
balhar antes dos 14 anos, em condições
de trabalho muito mais árduas e penosas
que os urbanos, e sem acesso às políti-
cas públicas básicas como educação,
saúde, saneamento, lazer e outras tantas.
Outra medida pretendida pelo Governo
Temer é a desvinculação do índice de re-
ajuste dos benefícios da Previdência ao
índice de reajuste do salário mínimo. Essa
ação terá como consequência a perda do
poder de consumo para os beneficiados,
além de grande impacto na economia dos
munícipios e, principalmente, na redução
da pobreza e da desigualdade de renda.
“Estamos diante de uma encruzilhada
em que ou nós avançamos e fazemos o
enfrentamento para não deixar o governo
retirar nossos direitos, ou retrocedemos e
perdemos os benefícios da nossa cate-
goria. Os desafios são enormes e não há
outra saída a não ser mobilizar, fazer luta
e enfrentamento e resistir, como sempre
fizemos em toda nossa trajetória de luta.”,
afirma o secretário de Políticas Sociais da
CONTAG, José Wilson Gonçalves.
JORNAL DA CONTAG 7
Oúltimo Censo Agropecuário foi
realizado em 2006. Passaram-
se dez anos e, mais uma vez,
foi adiada a realização de uma nova edi-
ção por falta de recursos. O projeto apre-
sentado para a sua execução, orçado em
R$ 360 milhões e proposto para o
Ministério do Planejamento para a inclu-
são na Lei Orçamentária Anual, foi pra-
ticamente extinto. Após sucessivos con-
tingenciamentos, sobrou apenas R$ 10
milhões para este fim, o que torna a sua
realização impossível.
Na metodologia prevista para o Censo
Agropecuário 2016 estava prevista a in-
vestigação de 5,3 milhões de estabeleci-
mentos em todo o País, com coleta em
campo em 2017 e divulgação dos resulta-
dos em 2018. O objetivo era chegar a to-
dos os estabelecimentos nos segmentos
de agricultura, pecuária, avicultura, apicul-
tura, sericicultura, extração vegetal, silvi-
cultura, beneficiamento e transformação
de produtos agropecuários e as atividades
neles desenvolvidas.
A partir dessa contagem censitária são
obtidas informações detalhadas sobre as
características do(a) produtor(a) e do esta-
belecimento, bem como sobre a economia
e o emprego no meio rural, entre outros
aspectos. O Censo também permite dis-
ponibilizar para a sociedade e aos diversos
ministérios estatísticas fundamentais para
o maior conhecimento do setor e para a
elaboração e acompanhamento de polí-
ticas públicas, aperfeiçoando o processo
de melhor alocação de recursos tanto no
governo federal quanto em governos esta-
duais e municipais.
Por meio do Censo Agropecuário é pos-
sível aferir a qualidade dos registros for-
POLÍTICA AGRÍCOLA PESQUISA
Falta recurso para o Censo AgropecuárioCONTAG cobra urgência na investigação censitária para que governo e
entidades conheçam as transformações ocorridas no campo na última década
mais, como Cadastro Nacional de Imóveis
Rurais (CNIR), Cadastro de Imóveis Rurais
(CAFIR), Cadastro Ambiental Rural (CAR),
Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF), e
outros. Portanto, “é fundamental que es-
ses registros formais estejam em pleno
funcionamento a fim de conferir, em me-
nor espaço de tempo, dados estatísticos
que podem nos auxiliar em relação ao de-
senvolvimento do País”, destacou o se-
cretário de Política Agrícola da CONTAG,
David Wylkerson.
Como um governo toma decisões de
gestão sem informações? Como saber
o que mudou no rural e na agropecuá-
ria brasileira? Para a CONTAG, o Censo
Agropecuário tem grande importância para
o desenvolvimento do Brasil e deve ser en-
tendido como um investimento e não um
gasto. “O Censo Agropecuário é a base
fundamental para que qualquer governo
possa melhorar as ações das políticas pú-
blicas. E como o último foi realizado em
2006, em dez anos ocorreram muitas trans-
formações no campo, da agricultura fami-
liar, da agricultura patronal, das relações de
trabalho, da maneira de ver o campo, e o
Brasil precisa conhecer essa realidade para
rever ou fortalecer e inovar no que propõe.
Isso é muito importante para os governos
e para nós das entidades. O Censo nos
dá uma real amostragem da situação que
vivemos no campo, inclusive com a diver-
sidade regional”, explicou o presidente da
CONTAG, Alberto Broch.
O Censo Agropecuário 2006 já conse-
guiu avançar bastante na qualificação das
informações sobre as realidades do rural
brasileiro. “No próximo Censo, é preciso
aperfeiçoar os mecanismos para se fazer
essa escuta e pesquisa, para captar com
maior qualidade a diversidade das agri-
culturas existentes no Brasil, melhorar as
informações sobre a estrutura agrária e
conhecer melhor a agricultura familiar”, de-
fendeu David.
David observa, ainda, que “seria fun-
damental aproximar a base de dados das
Declarações de Aptidão ao Pronaf (DAPs)
do Censo Agropecuário, a fim de podermos
avaliar ao longo da história quais os fatores
que promoveram a evolução do setor”.
Arquivo CONTAG
JORNAL DA CONTAG8
TRABALHO DIGNO
ASSALARIADOS(AS) RURAIS
À beira de um colapso Fiscalização do trabalho está em seu pior momento nos últimos 20 anos,
com um déficit de mais de mil auditores fiscais
A legislação brasileira prevê a exis-
tência de, no mínimo, 3.640 car-
gos de auditor fiscal do trabalho
no Brasil. No entanto, de acordo com
dados do Ministério do Trabalho, estão
em atividade hoje 2.525 auditores fiscais,
distribuídos nos 26 estados e no Distrito
Federal. Isso significa um déficit de 1.140
profissionais que poderiam reforçar o tra-
balho de fiscalização das leis trabalhistas
em todos os setores da economia. E esse
déficit pode ser ainda maior: de acordo
com o Sindicato Nacional dos Auditores
Fiscais do Trabalho (Sinait), dos 2.525
auditores em atividade, 500 já podem se
aposentar a qualquer momento.
A distribuição de auditores fiscais tam-
bém é tema de preocupação, especial-
mente para os estados da região Norte. A
soma dos auditores dos cinco estados é
de 181 profissionais. O Amapá é o estado
que tem menos auditores em todo o Brasil,
apenas 11. Os fiscais precisam enfrentar
deslocamentos longos, passar dias viajan-
do, o que dificulta a execução de um maior
número de ações. A região Centro-Oeste
é a segunda em menor número de audito-
res: são 224, distribuídos desigualmente,
sendo apenas 41 em um estado das pro-
porções de Mato Grosso do Sul, e 56 no
Distrito Federal.
A realização de concurso público para
preencher, e aumentar, os cargos de au-
ditores fiscais é uma demanda antiga da
CONTAG aos Ministérios do Planejamento
e do Trabalho e Emprego, e está sem-
pre presente na pauta do Grito da Terra
Brasil. Mas não são apenas os baixos nú-
meros que preocupam quem defende os
trabalhadores(as) brasileiros(as), principal-
mente os rurais. As condições de traba-
lho dos auditores fiscais são precárias. De
Número de Auditores Fiscais por Unidade Federativa
Taxa de ilegalidade ou informalidade (%)
* Sede em Brasília: 82 auditores fiscais
1334
38
44
49
104
112
90
178
80
97
67
28
41
60
3275
89,9
66,1
61,5
73,2
68,9
82,1
65,6
78,2
7636
58
36
13 11
133
259
424
274
89,7
74,8
75,7
64,2
48,6
82,578,9
56
53,7 71,3
57,924,8
38,4
45,9
51,8
23,3
34,9
42
12,5
acordo com a auditora
Jacqueline Carrijo, não
há carros e nem motoristas
suficientes, assim como recur-
sos de diárias para quando os
fiscais precisam viajar para exe-
cutar suas funções.
“Em Goiás, temos apenas três
auditores para atender o meio rural nos
246 municípios do estado. Mas não
temos equipamentos de se-
gurança ou de comunicação
necessários, e sabemos que há
muita violência e muitas ameaças aos
auditores que fazem ações no campo bra-
sileiro”, aponta Jacqueline Carrijo. O presi-
dente do Sindicato Nacional dos Auditores
Fiscais do Trabalho (Sinait), Carlos Silva,
aponta que o número de fiscalizações no
campo tem caído ano a ano, não apenas
por causa do pequeno número de audito-
res, mas por um problema que nenhum
governo, nas últimas duas décadas, se
dedicou a solucionar, que é o da seguran-
ça do auditor fiscal do trabalho.
Para o secretário de Assalariados e
Assalariadas Rurais da CONTAG, Elias
D’Angelo Borges, a área rural é a mais
sensível a todas essas condições ina-
dequadas porque exige melhores con-
dições de prestação do serviço. “Temos
uma situação de estrangulamento na
auditoria fiscal do trabalho que é muito
grave e preocupante. É inimaginável que
o Estado brasileiro, com todas as condi-
ções que tem de oferecer proteção aos
trabalhadores e trabalhadores, não invis-
ta em um setor tão importante para com-
bater a informalidade, o trabalho escravo,
além de garantir o trabalho digno para to-
dos e todas, e a repressão das injustiças
sociais e trabalhistas.”
POLÍTICA AGRÁRIA CONJUNTURA POLÍTICA
A mão armada do latifúndioMomento político atual impõe retrocessos aos direitos que foram duramente conquistados pela classe trabalhadora e
agrava a violência no campo
Assassinatos, ameaças, despe-
jos, prisões arbitrárias, violência
de toda ordem: os conflitos no
campo produzidos pela mão armada
dos representantes do capital nacional e
internacional continuam fazendo vítimas
entre os(as) trabalhadores(as) rurais.
Neste mês de agosto foram assassina-
dos o presidente da Associação Terra
Nossa, Ronair José de Lima, na área do
Complexo Divino Pai Eterno, município
de São Félix do Xingu (PA) – e o traba-
lhador rural Antônio Luiz Araújo, assas-
sinado por pistoleiros em Wanderlândia
(TO), onde outras lideranças sindicais
também estão ameaçadas por luta-
rem pelo direito às terras das Fazendas
Boqueirão, onde residem 82 famílias.
O golpe parlamentar, judicial e midiá-
tico concretizado no Brasil levará, com
certeza, a um aumento da violência e
das violações de direitos no campo. O
atual governo pretende ampliar a venda
de terras para estrangeiros, eliminar as
desapropriações e entregar o patrimônio
público ao mercado com processos de
titulação sem rigor nos critérios.
Além disso, o desmonte dos direitos
dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as)
- especialmente os rurais com a extin-
ção do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), desvinculação dos be-
nefícios previdenciários ao salário mí-
nimo, o acórdão do Tribunal de Contas
da União (TCU) que paralisa a refor-
ma agrária e retira dos movimentos
sociais o papel de mediação entre os
acampados e o Estado - são exem-
plos de medidas que aumentam a in-
segurança no campo.
De acordo com levantamentos da
Comissão Pastoral da Terra (CPT), 40
trabalhadores(as) morreram na luta
pela terra até meados de agosto deste
ano. O número é 33% maior que o re-
gistrado em 2015, quando 30 pessoas
foram assassinadas em todo o ano. O
número de tentativas de assassina-
to também aumentou - foram 43 até
agosto de 2016 e 28 em igual período
do ano passado – assim como o nú-
mero de famílias expulsas do campo
por ação de pistoleiros e jagunços:
764 em 2016, contra 389 em 2015.
IMPUNIDADE E MOROSIDADE DO ESTADO –
“A violência está vinculada ao pro-
cesso de disputa pela terra determi-
nado pelo capital, à impunidade pela
inação e parcialidade do Judiciário e
com a ação morosa do Estado, que
pode piorar ainda mais, com a con-
cretização do golpe contra a demo-
cracia. Além do mais, a maioria dos
membros do poder Judiciário tem
agido como instrumento dos interes-
ses do capital, e não dos trabalhado-
res e trabalhadoras brasileiros(as)”,
afirma o secretário de Política Agrária da
CONTAG, Zenildo Xavier.
Neste cenário, destaca-se ainda o
fortalecimento da repressão e crimina-
lização dos movimentos sociais. A Lei
12.850/2013 – que “define organização
criminosa e dispõe sobre a investigação
criminal, os meios de obtenção da pro-
va, infrações penais correlatas e o pro-
cedimento criminal” – tem sido utilizada
para decretar a prisão de lideranças da
luta do campo, a exemplo de quatro in-
tegrantes do Movimento dos Sem Terra
no estado de Goiás.
“Todos os movimentos sociais do
campo devem lutar contra essas forças
conservadoras que querem negar o pa-
pel da luta pela terra e dos movimentos
sociais, além de desmantelar todos os
avanços conquistados desde 2003.
Precisamos garantir que a terra seja efe-
tivamente um direito de todos(as), para
garantir o desenvolvimento sustentável e
solidário de nosso País, com produção
de alimentos saudáveis e proteção da
biodiversidade”, conclui Zenildo Xavier.
JORNAL DA CONTAG 9
JORNAL DA CONTAG10
A natureza que cura
Chás, compressas, pomadas, unguentos... No
campo, florestas e águas desse imenso Brasil,
todos nós já utilizamos alguma vez remédios fei-
tos com ervas ou substâncias naturais. Nossas avós e
bisavós, tias ou vizinhas sempre tinham uma receita para
tratar desde dores de cabeça até diabetes ou artrites.
São conhecimentos milenares, passados de geração em
geração e que precisam ser preservados, pois represen-
tam não apenas a cultura de nossos antepassados, mas
também a sabedoria que vêm da experiência vivida.
O tratamento com plantas passou a ser chamado
pelo meio acadêmico de “fitoterapia” – e desde 2006 é
reconhecido como forma de terapia medicinal utilizada
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Se hoje em dia até
mesmo médicos e enfermeiros da rede pública de saúde
utilizam, além das drogas produzidas por laboratórios far-
macêuticos também substâncias naturais, isso é devido
a muita luta de homens e mulheres que por séculos pre-
servaram esses conhecimentos e enfrentaram precon-
ceito e violência.
Há centenas de anos mulheres que curavam com plan-
tas eram perseguidas por “bruxaria”, e precisavam es-
conder sua sabedoria e suas práticas. Graças à ciência e
à busca por alternativas aos tratamentos alopáticos, hoje
temos cada vez mais reconhecimento das vantagens da
fitoterapia. Em Minas Gerais, a farmacêutica Telma Sueli
Mesquita Grandi reuniu cada uma das 383 espécies de
plantas medicinais que crescem e vivem no estado em
um livro digital chamado ‘Tratado das plantas medicinais
mineiras’, ao qual você pode ter acesso na página da
Secretaria de Terceira Idade, dentro do site da CONTAG.
“Precisamos lutar pela formação de profissionais para
que se tenha segurança do consumo e transmissão de
conhecimento das ervas medicinais. Também é impor-
tante sensibilizar as comunidades e resgatar o cuidado
e a forma tradicional de cuidar, além de disseminar o
conhecimento sobre as ervas medicinais em sua totali-
dade: como colher, utilizar, que doenças curam, o que
previnem. A terceira idade precisa ainda apresentar a uti-
lização das ervas medicinais para a nova geração como
alternativa à farmacologia”, afirma a secretária de Terceira
Idade da CONTAG, Lucia Moura.
SAÚDE
TERCEIRA IDADE
Conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais podem garantir saúde e prevenir doenças
RECEITASNa oficina sobre ervas medicinais da 2ª Plenária Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Terceira Idade e Idosos(as), os(as) participantes compartilharam algumas receitas. Confira:
PRESSÃO ALTA (COMBATER) - 1 chuchu inteiro, lavado. Partir em 4 e ralar. Passar em um pano branco, limpo, tirar o sumo e tomar fazendo uma oração. Se a pressão estiver muito alta, tomar 2x ao dia, uma colher.
PARA HEPATITE - Picão: usar 2g em 1 copo com água durante 15 dias. Tomar um copo de hora em hora.
ARTRITE - Usar Jucá (também conhecida como Pau-ferro, Jucaína, Icainha, Miraobi, Miraitá, Muiraitá, Guratã, Ipu, Árvore Leopardo e Muirapixuna) ou lobeira. Cortar em pedaços e colocar em infusão por 10 dias. Passar no local / Caroço de abacate – ralar o caroço e colocar no álcool, deixando por 10 dias, passar no local. / Negra-mina (ou erva-cidreira-do-mato) – infusão por 10 dias e passar no local. / Chá de canela de velho – chá por infusão.
ANSIEDADE - Folhas de capim santo, bem verdinhas. Picar bem picadinhas. Bater no liquidificador com mel. Tomar duas vezes ao dia, antes do almoço e antes do jantar.
Rafael Fernandes
JORNAL DA CONTAG 11
MEIO AMBIENTE CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
Queimando o futuro
Utilizada pelo grande e pequeno(a) agricultor(a) para limpar e preparar o solo para o plantio ou formação
de pastos, a queimada é uma prática tradi-cional no meio rural brasileiro há centenas de anos por ser um método de baixo custo e bastante prático. As queimadas são utili-zadas ainda para controlar pragas, renovar pastagens e facilitar colheitas.
No entanto, apesar da tradição e da fa-cilidade, as queimadas têm consequên-cias graves para o meio ambiente no curto, médio e longo prazos. Quando o “mato” é queimado, junto com ele são queimados também insetos e pequenos animais fun-damentais para a manutenção da qualidade do solo, além de o fogo provocar também o ressecamento da terra e a eliminação de nutrientes essenciais para a vida.
“Os efeitos negativos das queimadas são muito maiores que os benefícios que elas trazem no curto prazo: prejudicam a biodi-versidade, a dinâmica dos ecossistemas, au-mentam a erosão do solo, afetam a qualida-de do ar e a vida dos animais silvestres. As queimadas provocam, por exemplo, o dese-quilíbrio entre espécies que poderiam ajudar no combate biológico de pragas. Muitas ve-
zes, as queimadas fogem do controle dos(as) agricultores(as) e provocam incêndios de grandes proporções, que danificam rede elétrica, rodovias, ferrovias, e até mesmo residências”, destaca o secretário de Meio Ambiente da CONTAG, Antoninho Rovaris.
O corpo de Bombeiros, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e organizações não-governamentais realizam anualmente estudos sobre o tamanho das queimadas no Brasil e o risco que elas significam não apenas para o meio ambiente mas também para a sociedade.
De acordo com esses estudos, o perío-do que vai de julho a outubro é quando as queimadas são mais frequentes no Brasil, porque a umidade do ar diminui muito, es-pecialmente nas regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste e parte do Sudeste. Neste ano, o fenômeno El Niño agrava essa situ-ação, pois ele aumenta a temperatura dos oceanos e desregula a quantidade de chuva especialmente da Região Norte.
A queimada ainda é uma prática comum entre agricultores(as), mas usar o fogo não traz nenhum benefício ao produtor
COMO EVITAR INCÊNDIOS - É importante ressaltar que existe diferença entre queimada e incêndio. Incêndio é uma queimada sem controle. É preciso to-mar todos os cuidados para que queimadas não virem incêndios:
- É fundamental conhecer bem o terreno; - Construir valas ou aceiros; - Evitar queimar se o vento estiver muito forte; - Ter sempre à mão equipamentos para acabar com o fogo como abafado-
res, aradores e baldes de água ou mangueiras; - Permanecer no local por mais duas horas depois que terminar a queima-
da para verificar se não há nenhum outro foco de calor; - E, principalmente, pedir autorização para o órgão ambiental competente,
que fornecerá todas as orientações necessárias (período e horários permi-tidos, por exemplo). É sempre bom lembrar que o fogo para agricultura e pecuária deve ser evitado nos meses mais secos e quentes do ano.
NÃO CUSTA LEMBRAR: MALEFÍCIOS DAS QUEIMADAS1) Eliminam do solo nutrientes essenciais às plantas, como nitrogênio, potássio e o fósforo;2) Além de prejudicar a flora, também matam animais silvestres e prejudicam a biodiversidade;3) Reduzem a umidade do solo e acarreta a sua compactação, o que resulta no desencadeamento do processo erosivo e outras formas de degradação da área;4) Provocam alterações nas características físicas, químicas e biológicas do solo, o que contribui para a degradação e redução da capacidade produtiva da terra;5) O fogo deteriora também a qualidade do ar, levando até ao fechamento de aeroportos por falta de visibilidade;6) Ao escapar do controle, as queimadas atingem o patrimônio público e privado (florestas, cercas, linhas de transmissão e de telefonia, construções, etc.).7) Alteram a composição química da atmosfera e influem, negativamente, nas mu-danças globais, tanto no efeito estufa quanto na redução da camada de ozônio.
JORNAL DA CONTAG 11
JORNAL DA CONTAG12
FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SINDICAL 10 ANOS ENFOC: EU FAÇO PARTE!
Agosto foi um mês de grandes ce-
lebrações e de importantes ati-
vidades do Movimento Sindical.
Destaca-se a comemoração dos dez
anos da Escola Nacional de Formação da
CONTAG (ENFOC), durante o Seminário
Internacional sobre Movimentos Sociais
e Educação Popular na América Latina:
Perspectivas e Desafios da Atualidade,
nos dias 12, 13 e 14 de agosto, em
Brasília, envolvendo mais de 20 organi-
zações sindicais e movimentos campo-
neses, Universidades e ONGs de sete
países latino-americanos, com forte
atuação político-pedagógica a partir da
Educação Popular.
Segundo o secretário de Formação
e Organização Sindical da CONTAG,
Juraci Souto, o Seminário fez uma avalia-
ção sobre a influência e a importância da
Educação Popular e da formação política
e ideológica nesse processo de retomada
de governos de direita não só no Brasil,
mas em outros países da América Latina.
“O Seminário também trouxe como foco
a reflexão de que as pessoas precisam
se conscientizar que, em função da fra-
gilidade das instituições legalmente cons-
tituídas, tais como os poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, estamos apostan-
do muito no poder do povo. Ou o povo
reage, ou o povo restabelece essa aliança
com a democracia porque, se depender-
mos desses poderes, vamos sentir afora
o que hoje está acontecendo no Brasil”,
avaliou o dirigente.
Foi realizado também nesse período,
de 8 a 15 de agosto, o 2º módulo do
Curso Nacional da ENFOC, em Brasília.
Lugar de transformAÇÃO políticaReflexão sobre a importância da Educação Popular nos atuais cenários conjunturais na América Latina, em especial no Brasil, marca a celebração de uma década de Formação Política da Escola Nacional de
Formação da CONTAG
Ao final de oito dias de intenso e prazero-
so mergulho na reflexão sobre a história,
a concepção e a prática de dirigentes e
lideranças que constróem cotidianamen-
te o MSTTR, e na Educação Popular
enquanto referência para a prática po-
lítico-pedagógica de enfrentamento à
onda conservadora que avança sobre a
América Latina, os educandos e educan-
das retornaram para suas comunidades
bastante motivados(as).
Um dos pontos altos do 2º módulo
foi a reflexão sobre a vivência do Tempo
Comunidade, destacando criteriosamente
as dificuldades, as iniciativas e as apren-
dizagens, em especial, aquelas com o uso
das tecnologias a partir da ferramenta da
plataforma digital “Moodle”.
Vivenciar um processo de formação con-
tinuada e em regime de alternância requer
estabelecer conexão permanente entre os
momentos, espaços e tempos formativos.
Nesse sentido, as várias atividades como
a pesquisa sobre a história do MSTTR,
reuniões nos territórios e comunidades,
apresentação da ENFOC e os encontros
no ambiente virtual para trocar impressões
sobre os textos lidos, estimulou a reflexão
permanente sobre o momento conjuntural
vivido no Brasil e na América Latina.
Para marcar esse momento de consoli-
dação da ENFOC como um lugar de trans-
formAÇÃO política, foi realizada uma linda
e forte celebração, no dia 13 de agosto,
com homenagens, místicas, momento de
confraternização, além de visita ao ipê
plantado na fundação da Escola. Junto à
árvore foi plantada uma “cápsula dos so-
nhos para 2026”.
“Quando avaliamos a existência da
ENFOC nesses dez anos e retornamos ao
local onde tudo começou, com a planta-
ção do ipê na sua inauguração, percebe-
mos que aquela árvore cresceu bastan-
te, o equivalente ao tamanho da nossa
Escola. E ali, mais uma vez, depositamos
os nossos sonhos, as nossas esperanças
e eu tenho certeza que os sonhos ali de-
positados se tornarão realidade. Afinal, a
nossa Escola está impregnada nas nossas
mentes e nos nossos corações”, disse,
Juraci, emocionado.Verônica Tozzi
JORNAL DA CONTAG 13
VICE-PRESIDÊNCIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS SEMINÁRIO INTERNACIONAL
Os movimentos sociais têm um pa-
pel fundamental na formação po-
lítica e popular que visa construir
um projeto de sociedade e de vida base-
ado nos referenciais de emancipação hu-
mana e na transformação das sociedades
injustas e opressoras. Com o objetivo de
refletir sobre esse papel dos movimentos
frente ao desafio de fortalecer a Educação
Popular na América Latina, tendo como
foco o cenário político colocado para a re-
gião, foi realizado o Seminário Internacional
Movimentos Sociais e Educação Popular,
nos dias 12 a 14 de agosto de 2016, em
Brasília, ação que integrou a agenda do
2º módulo do Curso Nacional da ENFOC
e de avaliação dos 10 anos da Escola. A
atividade reuniu lideranças, dirigentes de
movimentos sociais e educadores(as) po-
pulares da Argentina, Brasil, Chile, Costa
Rica, Equador, México e Uruguai.
“Esse nosso encontro, nesse momento
político que passa a região, foi importan-
te para reconhecermos que temos mui-
tas dores iguais, que existem injustiças.
Ao nos encontrarmos, pudemos nos so-
lidarizar e fortalecer o nosso trabalho e
Fortalecimento da Educação Popular na América LatinaLideranças de movimentos sociais debatem o papel da
formação para a emancipação e libertação dos sujeitos do campo e da cidade
a nossa ação movimentista. O Seminário
também nos fez reconhecer que esse
sistema que queremos construir é contra
hegemônico para construir poder popu-
lar e para construir esperança”, desta-
cou a secretária geral do Conselho de
Educação Popular da América Latina e
Caribe (Ceaal), Rosy Zúniga.
O coordenador pedagógico do Centro
Andino para Formação de Líderes Sociais
(Cafolis), Fernando Rosero, mostra preo-
cupação com a situação política brasileira,
com os riscos de aumentar a desigualda-
de e pobreza no País. “Vemos com muita
preocupação o que está acontecendo no
Brasil na atualidade. Agora, mais do que
nunca, é necessário retomar os princípios
da educação popular, retomar as grandes
orientações e aprofundar o tema das me-
todologias de trabalho, com esta perspec-
tiva de resgate, do conhecimento e dos
saberes dos povos tradicionais”, refletiu.
Nesse sentido, o secretário geral da
Confederação das Organizações de
Produtores Familiares, Camponeses
e Indígenas do Mercosul Ampliado
(Coprofam), Fernando López, destacou a
importância da formação na construção
da cidadania e no enfrentamento de um
cenário de retrocesso nos direitos. “Foi
muito importante realizar esse seminário
em um momento histórico e na perspec-
tiva de que os movimentos sociais têm na
formação a possibilidade construir cidada-
nia como forma de enfrentar e reverter os
processos de garantia de direitos”.
Nessa mesma lógica, o vice-presidente
e secretário de Relações Internacionais da
CONTAG, Willian Clementino, destaca a
importância da formação para a libertação
e para a luta da classe trabalhadora. “Talvez
não nos libertemos da política imposta por
governos de direita e conservadores, mas
poderemos libertar a consciência do nos-
so povo para não ficarem aprisionados à
revelia do que quer e o que pensa essa di-
reita para os trabalhadores e trabalhadoras
do campo e da cidade.”
Diante de todo o debate e reflexão no
Seminário Internacional, foi reafirmado
pelos(as) participantes que o movimentos
sociais são a razão de ser da educação
popular porque nos últimos anos foram
os sujeitos das principais transformações
que a sociedade brasileira passou no sen-
tido de justiça social, de políticas mais
redistributivas, de geração de renda e de
equidade. “Grande parte das políticas de-
senvolvidas nos Governos Lula e Dilma
foram fruto de proposições que nasceram
da sociedade civil. Então, qual é o papel
da Educação Popular? É fortalecer os
movimentos sociais. E fortalecer de que
maneira? Qualificando a sua prática, for-
mando suas lideranças e capacitando os
movimentos sociais para terem uma atitu-
de cada vez mais protagonista na política”,
explicou Pedro Pontual, membro do Ceaal.
13
Barack Fernandes
JORNAL DA CONTAG14
FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO SUSTENTABILIDADE POLÍTICO-FINANCEIRA
Deliberada no 11º Congresso
Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais (CNTTR),
a implementação pela CONTAG do
Orçamento Sindical Participativo (OSP) a
partir de 2017 já está em fase adiantada
de planejamento. Entre os meses de se-
tembro e novembro serão realizados cinco
Encontros Regionais de Aprofundamento
sobre OSP. Em novembro, está previs-
to um encontro nacional, para unificar a
proposta que será apresentada para o
Conselho Deliberativo, no mesmo mês. Já
estão agendados os encontros da região
Sudeste (27 e 28 de setembro) e da região
Sul (16 e 17 de novembro).
Entre os objetivos do OSP estão articu-
lar o projeto político com o Planejamento
Estratégico da CONTAG, permitindo uma
gestão participativa, democrática e de cor-
responsabilização. Além disso, o OSP pre-
tende definir coletivamente as prioridades
da agenda política, articulando-as com o
planejamento estratégico e financeiro a par-
tir das demandas levantadas pelo conjunto
do Movimento Sindical de Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais (MSTTR).
“O planejamento estratégico e financeiro,
a gestão administrativa eficiente, a partici-
pação da base nas decisões e o orçamen-
to sindical participativo como estratégia
política são peças importantes para a sus-
tentabilidade político-financeira e para uma
gestão eficiente que garanta democracia e
a melhoria da arrecadação de Sindicatos,
Federações e da CONTAG”, afirma o se-
cretário de Finanças e Administração da
CONTAG, Aristides Santos.
De acordo com os anais do 11º CNTTR,
o planejamento estratégico e o Orçamento
Sindical Participativo devem ser adotados
pois fortalecem as entidades sindicais e
Transparência e eficiência CONTAG inicia a implementação do Orçamento Sindical Participativo
César Ramos
O QUE É OSP? Orçamento Sindical Participativo é uma forma de definir coletivamente as ações prioritárias para a aplicação de recursos. É um instrumento de gestão que fortalece a democracia, a transparência e a corresponsabilização entre as direções e a base do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.
potencializam o processo formativo de
base. Neste processo, definem-se coleti-
vamente as prioridades da agenda política:
os planos de trabalho e a organização dos
recursos financeiros são definidos a partir
das demandas levantadas pelo conjunto.
O Orçamento Sindical Participativo deve-
rá ser implementado pela CONTAG a partir
do 12º Congresso, que será realizado em
março de 2017. Mas todas as Federações
e Sindicatos do MSTTR devem implemen-
tar progressivamente o OSP, para garantir
cada vez mais transparência ao processo
de execução orçamentária, além de garan-
tir que os recursos arrecadados sejam utili-
zados com a luta pela garantia e ampliação
dos direitos dos trabalhadores e trabalha-
doras rurais brasileiros.
JORNAL DA CONTAG 15
Luiz Fernandes
CONTAG
AUDITORIA DA DÍVIDA PÚBLICA
Sem dinheiro para políticas públicas, mas muito dinheiro para pagar juros bancários
Você sabe o que é a dívida pú-
blica? É a dívida que o governo
contrai quando pega dinheiro
emprestado de bancos para fazer inves-
timentos ou cumprir suas obrigações.
Pegar dinheiro emprestado e pagar a
dívida não deveria ser problema, não é?
Mas a dívida pública brasileira é obscura e
cresce a cada ano devido a juros incons-
titucionais, consumindo dinheiro que de-
veria ser usado para os investimentos na
melhoria da vida do povo brasileiro.
Esses juros sobre juros, combinados
com operações econômicas imorais, au-
mentam a dívida pública a patamares in-
sustentáveis. Por exemplo, em 2015, qua-
se metade (42,43%) do PIB brasileiro foi
destinado para o pagamento de juros da
dívida pública brasileira. Isso significa que
R$ 962 bilhões foram destinados a ban-
cos. Mas, quais bancos? Aí está outro pro-
blema: a informação de quanto pagamos e
para quem (quais bancos e instituições fi-
nanceiras) são considerados sigilosos pelo
Estado. Por quê?
É preciso apontar a contradição que
existe em destinar 42,43% do orçamento
do País para pagar juros e reservar 0,8%
do PIB para investimentos na agricultura e
apenas 0,07% para a organização agrária.
Além disso, não é possível compreender
como o governo federal destina R$ 962
bilhões para pagar juros dessa dívida, mas
alega um déficit no orçamento de R$ 111,2
bilhões. Esse déficit é justificativa para cor-
tes nas políticas públicas e para o encami-
nhamento e aprovação de projetos como
o PL 257/16 e a PEC 241/16, que congela
por 20 anos os investimentos sociais.
“Isso afeta principalmente a parcela da
sociedade que não tem alternativa fora dos
serviços públicos. A dívida é usada como
justificativa para projetos que desvinculam
receitas sagradas da saúde e da seguri-
dade social, da assistência social para pa-
gar juros e para justificar contrarreformas
como a da Previdência, a trabalhista, para
as privatizações contínuas de patrimônio
público estratégico”, explica a auditora
aposentada da Receita Federal e coorde-
nadora nacional do movimento Auditoria
Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli.
É PRECISO AUDITAR A DÍVIDA – O movimento
Auditoria Cidadã da Dívida defende que a
dívida pública brasileira seja auditada, ou
seja, analisada detalhadamente e de for-
ma transparente por pessoas isentas. “A
CONTAG apoia todas as iniciativas para
aumentar o conhecimento sobre o tema
e também a a auditoria cidadã da dívida
pública brasileira. Se o dinheiro das traba-
lhadoras e trabalhadores do Brasil, inclusi-
ve dos rurais poderia ser investido para as
políticas sociais, mas estão sendo usadas
para pagar juros abusivos de uma dívida
que nem sabemos para quem pagamos,
isso precisa mudar”, afirma a secretária
geral da CONTAG, Dorenice Flor da Cruz.
A necessidade de auditoria da dívida
finalmente foi percebida pelo Congresso
Nacional: mais de 250 parlamentares, en-
tre deputados e senadores, assumiram
o compromisso de participar da Frente
Parlamentar Mista pela Auditoria da Dívida
Pública com Participação Popular. A Frente
foi lançada no dia 9 de agosto na Câmara
dos Deputados, com a participação de re-
presentantes de mais de 70 entidades da
sociedade civil, entre eles a CONTAG, e
dezenas de parlamentares.
Há décadas o dinheiro público é usado pelo Estado para pagar a dívida pública. Mas não sabemos quem são os credores e nem onde foi investido o dinheiro contratado
Juros e amortização da dívida
Previdência Social
Encargos especiais
42,43%
22,69%
8,95%
5,13%
4,14%
2,88%
3,91%
3,05%
0,80%
0,13%
5,55%
0,07%
Saúde
Trabalho
Educação
Assistência Social
Organização agrária
Agricultura
Gestão ambiental
Outros
Transferências a estados e municípios
JORNAL DA CONTAG16
Qual a relação entre a dívida públi-
ca e a corrupção em nosso país?
A relação é direta. As investigações
sobre as dívidas públicas no Brasil e em
outros países nos permitiu identificar a
existência de um “Sistema da Dívida”.
Esse sistema utiliza o endividamento
público às avessas, isto é, em vez de servir
para trazer recursos aos orçamentos pú-
blicos, o processo de endividamento tem
direcionado os recursos públicos principal-
mente para o setor financeiro privado. Esse
fato configura uma grande corrupção.
Esse esquema funciona por meio de
diversos mecanismos que geram dívidas,
na maioria das vezes sem qualquer con-
trapartida real, seguidos de outros me-
canismos que promovem seu contínuo
crescimento. Adicionalmente, diversas
ilegalidades e ilegitimidades foram apura-
das inclusive por investigações feitas pela
CPI da Dívida Pública.
Para operar, tal sistema conta com
privilégios legais, políticos, econômicos,
em conjunto com a grande mídia, além
de determinante suporte dos organismos
financeiros internacionais (FMI e Banco
Mundial) para impor medidas que favo-
recem a atuação do “Sistema da Dívida”.
A corrupção é também uma das en-
grenagens, porque é intrínseca a esse
ENTREVISTAA
rqui
vo p
esso
al
EXPEDIENTE / Jornal da CONTAG – Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-Presidente/ Secretário de Relações Internacionais Willian Clementino da Silva Matias | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Elias D'Angelo Borges | Finanças e Administração Aristides Veras dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto | Secretaria Geral Dorenice Flor da Cruz | Jovens Trabalhadores Rurais Mazé Morais | Meio Ambiente Antoninho Rovaris | Mulheres Trabalhadoras Rurais Alessandra da Costa Lunas | Política Agrária Zenildo Pereira Xavier | Política Agrícola David Wylkerson Rodrigues de Souza | Políticas Sociais José Wilson Sousa Gonçalves | Terceira Idade Maria Lúcia Santos de Moura | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected] | Internet www.contag.org.br | Edição e Reportagem Verônica Tozzi | Reportagem Lívia Barreto | Projeto Gráfico e Diagramação Fabrício Martins | Impressão Viva Bureau e Editora
www.contag.org.br facebook.com/contagbrasil @contagBrasil youtube.com/contagbrasil
modelo que tem sacrificado as finanças
do País e justificado a privatização de
grande parte do nosso patrimônio e a
concentração de nossa renda e riqueza.
É urgente modificar essa situação.
De que maneira a dívida pública pre-
judica os trabalhadores(as) rurais?
A dívida tem consumido a maior par-
te do orçamento federal a cada ano e
grande parte dos orçamentos estaduais
e municipais, prejudicando a destinação
de recursos para as políticas sociais de
saúde, educação, previdência, assistên-
cia etc., que afetam tanto trabalhadores e
trabalhadoras rurais como urbanos.
Adicionalmente, essa imensa subtra-
ção de recursos pela dívida impede in-
vestimentos essenciais em diversas áreas
que afetam diretamente trabalhadores e
trabalhadoras rurais, por exemplo: Orga-
nização Agrária recebeu apenas 0,07%
dos recursos do orçamento federal em
2015; Agricultura apenas 0,8%, Gestão
Ambiental 0,13%.
O setor financeiro e grandes corpo-
rações são os que mais se beneficiam
dessa chamada dívida e estão se apo-
derando de bens públicos em todo o
mundo, exercendo perigosa dominação
sobre países e povos. No Brasil também
o objetivo é se apoderar das nossas
terras e dos nossos recursos minerais.
Fazem isso por meio desse Sistema da
Dívida, que se vale do nosso deficiente
sistema político, ocupado em sua gran-
de maioria por pessoas financiadas jus-
tamente por esse mesmo setor financei-
ro e grandes corporações.
Quais as consequências de uma
auditoria cidadã da dívida pública?
A auditoria cidadã da dívida é a ferra-
menta que possibilitará jogar luz sobre o
Sistema da Dívida e redirecionar a nos-
sa economia para que possamos viver
a realidade de abundância que existe
em nosso País. A auditoria irá garantir a
transparência e coibirá práticas corrup-
tas. Ademais, a auditoria da dívida é uma
determinação da Constituição Federal,
que nunca foi cumprida.
Auditoria é uma investigação baseada
em documentos e dados. A auditoria vai
procurar contratos, registros contábeis e
estatísticos, além de atos legais e outros
documentos relacionados ao processo
de cada dívida contraída pelo setor públi-
co (Governo Federal, Estadual, Municipal,
Banco Central, e empresas públicas).
A auditoria é indispensável para des-
mascarar o sombrio Sistema da Dívida
e transparentar a razoabilidade dos nú-
meros apresentados; quais foram os
mecanismos e operações que geraram
dívidas desde a sua origem; quem se
beneficiou dos recursos; em que esses
foram aplicados; verificar se foram cum-
pridas as normas legais e administrativas
existentes; quais os impactos sociais,
ambientais e etc.
A auditoria deveria ser uma praxe, pois
a sociedade que paga essa conta tem o
direito de ter acesso às informações.
MARIA LUCIA FATTORELLI é coordenadora nacional do movimento Auditoria Cidadã da Dívida, que investiga a dívida brasileira e pressiona pela realização de uma auditoria oficial, prevista na Constituição Federal, mas nunca realizada. Auditora fiscal da Receita Federal aposentada, Maria Lucia prestou assessoria técnica à CPI da Dívida Pública realizada na Câmara dos Deputados em 2010 e participou da auditoria oficial da dívida do Equador, que foi concluída em 2008 e trouxe grandes mudanças no direcionamento de recursos para políticas públicas naquele país.