16
Filiada à: Veículo informativo da CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES CONTAG ANO XII • NÚMERO 138 • SETEMBRO DE 2016 ELEIÇÕES 2016: VOTE PARA FORTALECER A AGRICULTURA FAMILIAR Jornal da

Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG 1Filiada à:

Veículo informativo da

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES

CONTAGANO XII • NÚMERO 138 • SETEMBRO DE 2016

ELEIÇÕES 2016:VOTE PARA FORTALECER

A AGRICULTURA FAMILIAR

Jornal da

Page 2: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG2

EDITORIAL

PRESIDÊNCIA

Alberto Ercílio BrochPresidente da CONTAG

Vai ter luta!

O Senado Federal chancelou o golpe

parlamentar contra a Constituição

e a soberania popular. Com 61

votos a favor e 20 contra, no dia 31 de

agosto de 2016, foi aprovado o afastamen-

to definitivo da presidenta Dilma Rousseff,

mesmo sem comprovação de crime de res-

ponsabilidade durante o seu governo. Essa

decisão só comprova que o impedimento

da presidenta era uma disputa pelo poder,

de imposição de um novo projeto político

para o País sem passar pelas urnas.

Temer assume a Presidência da República

sem a legitimidade do voto dos brasileiros(as),

carregando os interesses do grande capital

nacional e internacional que tem como alia-

da a elite política brasileira que lhe colocou

no poder. Com o impeachment, a agenda

liberal pré-anunciada será implantada pelo

governo ilegítimo com rigor, sob a alegação

da austeridade necessária para o equilíbrio

fiscal e monetário para o País voltar a crescer.

Começou com a extinção dos Ministérios

que executavam as políticas sociais, dentre

os quais citamos o da Previdência Social e

do Desenvolvimento Agrário, afetando direta-

mente a classe trabalhadora rural.

A redução de investimentos em saúde,

educação e moradia é certa. A reforma da

Previdência virá com força (proposta será

enviada pelo Governo ao Congresso ainda

em setembro) e na sequência virá a refor-

ma trabalhista, com a retirada e flexibiliza-

ção dos direitos dos trabalhadores(as). Os

programas sociais serão, aos poucos, es-

vaziados e haverá grandes manifestações

de luta por parte dos movimentos sociais

e sindical. A reação do governo será, sem

dúvida, criminalizar estas mobilizações com

base na Lei Antiterrorismo. O cenário futuro

indica tempos difíceis e não haverá a paci-

ficação pretendida por Temer, pois a classe

trabalhadora, ao sentir o aperto, reagirá e

irá para a rua defender seus interesses.

A CONTAG reafirma a esse Governo

que não aceitará retrocessos nos direi-

tos conquistados com muita luta pelos

trabalhadores(as) rurais e agricultores(as)

familiares. Sabemos o quanto foi difícil con-

quistar as políticas específicas que temos

hoje. Muitos companheiros(as) tombaram

e outros foram torturados e perseguidos.

Perdemos e ganhamos muitas batalhas,

por isso vamos seguir firmes na luta, repre-

sentando e defendendo os interesses e di-

reitos conquistados pela classe trabalhado-

ra rural e por um país mais justo e igualitário.

As eleições municipais se aproximam

e se apresentam como oportunidade

e desafio para o MSTTR, que decidiu

participar do processo eleitoral com mi-

lhares de candidatos(as) aos cargos de

vereador(a), vice e prefeito(a) de centenas

de municípios deste imenso Brasil. Dia 2

de outubro é o momento para iniciarmos

a mudança, fortalecendo a agricultura

familiar no seu município, votando cons-

ciente em candidatos(as) orgânicos ou

naqueles que realmente sejam compro-

metidos com a agricultura familiar, com a

classe trabalhadora rural.

Neste sentido, conclamo todas as li-

deranças do MSTTR para que participem

ativamente das eleições municipais, cum-

prindo o papel cívico de mobilizar, escla-

recer e orientar a categoria dos trabalha-

dores rurais agricultores(as) familiares para

que votem conscientes e em candidatos

realmente comprometidos com seus in-

teresses. Desta vez não votaremos em

candidatos(as) ficha suja, corruptos, latifun-

diários, que escravizam trabalhadores(as) e

que buscam interesses pessoais. As elei-

ções municipais se traduzem na base fun-

damental para as futuras e desejadas reno-

vações nas Assembleias Legislativas dos

estados, na Câmara dos Deputados e no

Senado, hoje compostas por uma classe

política retrógrada e conservadora que não

representa as demandas e necessidades

da maioria da população brasileira.

Vamos trabalhar para eleger candidatos(as)

comprometidos(as) com os nossos interes-

ses e com o nosso projeto político de de-

senvolvimento rural sustentável e solidário.

Somente assim, podemos melhorar a qua-

lidade de vida e trabalho das famílias e das

comunidades rurais do nosso Brasil.

O nosso voto faz a diferença. Faça a sua

parte: vote pela agricultura familiar!

Verônica Tozzi

Page 3: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG 3JORNAL DA CONTAG 3

SECRETARIA GERAL ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2016

Voto consciente

Frente à atual conjuntura política e

econômica brasileira, as eleições

municipais em 2016 ganham im-

portância ainda maior daquela que já lhe

é peculiar. Iniciamos um processo eleito-

ral em um cenário de ameaças de perda

de direitos trabalhistas e sociais (como a

reforma da Previdência) e de falta de cre-

dibilidade daqueles que foram eleitos(as)

como nossos(as) representantes diante

de vários casos de corrupção que envol-

vem vários partidos. Temos que ter cuida-

do para que o sentimento de indignação

não nos leve a tomar decisões erradas,

como não querer participar do processo

eleitoral e votar de qualquer jeito.

As eleições municipais se caracterizam

por podermos discutir nossos problemas

locais, conversando diretamente com os

candidatos e as candidatas. É muito im-

portante que os agricultores e agriculto-

ras familiares influenciem as plataformas

de governo de tal modo que assumam

o compromisso de garantir recursos e

ações que promovam o desenvolvimen-

to rural sustentável, como: recursos para

infraestrutura (estradas, água, energia

elétrica, moradia digna, armazéns, entre

outros), recursos para incentivo à pro-

dução (sementes, insumos, assistência

técnica, serviços ambientais, entre ou-

tros), o compromisso de efetivação de

políticas como o PNAE e PAA, recursos

para políticas sociais, em especial Saúde

e Educação do Campo (inclusive se com-

prometendo com o não fechamento de

escolas no campo). Esses são alguns

exemplos de políticas importantes para

o campo brasileiro, mas cada região tem

suas pautas específicas que precisam

ser aprofundadas.

As eleições municipais não estão sepa-

radas de temas e projetos nacionais e têm

forte influência nas ações dos governos (es-

tadual e federal) e no Congresso Nacional.

Para a secretária Geral da CONTAG,

Dorenice Flor da Cruz, é preciso que os

candidatos e as candidatas às Prefeituras

e Câmaras Municipais assumam compro-

missos com pautas de interesses da cate-

goria, em nível nacional. “Precisamos que

os candidatos e as candidatas assumam

posição contra a reforma da Previdência,

a favor da Reforma Agrária, pela manuten-

ção e ampliação do Programa Nacional de

Habitação Rural, pelo retorno do Ministério

do Desenvolvimento Agrário e em defe-

sa do fortalecimento e garantia da de-

mocracia, que foram nossas pautas na

Mobilização Nacional realizada em junho

deste ano”, afirmou a secretária.

As eleições municipais serão as primei-

ras a serem realizadas após a aprovação

do fim do financiamento empresarial de

campanhas eleitorais, uma importante

vitória da sociedade brasileira na qual o

MSTTR participou ativamente. É preciso

agora exercer o nosso papel de cidadão

e ajudar a combater práticas ilegais, a

exemplo do Caixa 2, denunciando essas

irregularidades à Justiça Eleitoral.

Para a dirigente, o Movimento Sindical

deve exercer seu protagonismo nesse pro-

cesso eleitoral e motivar a participação de

todos os trabalhadores e as trabalhadoras.

“É preciso transformar o sentimento de in-

dignação em participação ativa e coletiva

nesse momento, pois só assim consegui-

remos influenciar positivamente nas elei-

ções municipais”, afirmou.

É preciso fortalecer plataformas de governo que assumam o compromisso de promover o desenvolvimento rural sustentável e solidário

ACESSE O BANNER SOBRE AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS NO SITE DA CONTAG!Informações úteis e relevantes para candidatos(as) e eleitores(as): no banner sobre as Eleições

Municipais no site da CONTAG colocamos conteúdo para fortalecer a participação da Agricultura Familiar no processo eleitoral. No banner é possível encontrar sugestão de carta aos candidatos(as), folder sobre o combate ao Caixa 2, tabela de limite de gastos na campanha, além de subsídios para a construção da plataforma política dos(as) candidatos(as) - como as pautas do Grito da Terra Brasil, Marcha das Margaridas, Festival da Juventude, anais dos Congressos e Plenária da CONTAG - além do link para o site do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral - www.mcce.org.br.

ELEIÇÕES 2016VOTE PELA AGRICULTURA FAMILIAR

Page 4: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG4 JORNAL DA CONTAG4

JUVENTUDE RURAL POR UM FUTURO MELHOR

Juventude na política

Ajuventude rural está cada vez mais

consciente da importância da luta

para garantir o cumprimento das

leis que podem promover o desenvolvi-

mento rural sustentável e solidário, com

políticas públicas para educação, saúde,

lazer, saneamento básico, acesso à infor-

mação e tecnologia, além de meios para

garantir renda e produção de alimentos

saudáveis. Atuar por meio do Movimento

Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais (MSTTR) é um dos principais cami-

nhos para essa luta, e que pode levar a

outras formas de ação.

Nas próximas eleições municipais,

muitos(as) jovens trabalhadoras(es) rurais

se colocaram na linha de frente para abrir

espaço dentro de Prefeituras e Câmaras

Legislativas. Se eleitos(as), esses(as) jovens

pretendem levar novas ideias e, principal-

mente, uma nova maneira de fazer política:

mais interessada no bem da sociedade e

menos nos interesses pessoais e/ou parti-

dários. Muitos(as) deles trazem a bagagem

da formação político-sindical e da experi-

ência dentro do Movimento, trabalhando

da defesa dos interesses de todos(as) os

trabalhadores(as) rurais, especialmente os

da juventude, com as bandeiras da suces-

são rural e de acesso a políticas para a

vida digna no campo.

Participantes da Comissão Nacional

de Jovens Trabalhadores(as) Rurais

do MSTTR, Maria das Dores Monteiro

Freire da Silva, a Das Dores, e

Sérgio Paulo Roque Almeida, o Paulinho,

disputam espaço para a juventude rural

também dentro da política partidária.

Concorrendo ao cargo de vice-prefeita

no município de Nazaré do Piauí (PI), Das

Dores afirma que o seu objetivo é defen-

der os interesses da juventude e “fazer

com que as coisas aconteçam”. Para a

jovem, um dos desafios desta jornada é

lidar com o preconceito contra a falta de

experiência da juventude. “Mas essa falta

de experiência é compensada pelo com-

promisso que temos com a melhoria da

vida do nosso povo. Trabalhando dentro

do MSTTR sabemos exatamente o que

precisamos, e queremos agir para mudar

a realidade”, afirmou Das Dores.

Candidato a vereador do município de

Maués (AM), Paulinho afirma que a parti-

cipação dos jovens na política é impor-

tante porque é uma forma de “renovar o

atual cenário político, trazer novas ideias

e construir juntos um futuro melhor para

o nosso município”. Para ele, a vantagem

de ser jovem e atuar nesse espaço de ci-

dadania é que “a maior parte do eleitora-

do está desacreditado nos políticos anti-

gos e querem gente nova nos poderes,

seja Legislativo ou Executivo. O jovem

acredita no jovem”.

A secretária de Jovens Trabalhadores

e Trabalhadoras Rurais da CONTAG,

Mazé Morais, acredita que a participa-

ção dos(as) jovens em todos os âmbi-

tos de participação política é fundamen-

tal para as pautas da juventude sejam

priorizadas, e para que novas práticas

possam surgir. “A atuação dentro das

Prefeituras e das Câmaras Legislativas

significa trabalhar diretamente com

ações que vão mudar a vida do povo.

Significa poder efetivamente implemen-

tar tudo aquilo que a gente luta diaria-

mente. Precisamos ocupar esses espa-

ços com comprometimento e ética para

garantir qualidade de vida para o nosso

povo”, afirma Mazé Morais.

Atuar dentro dos poderes Legislativo e Executivo é fundamental para assegurar políticas públicas que garantam vida digna no campo, na floresta e nas águas

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Page 5: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG 5

A hora é de enfrentar os desafios

para garantir os direitos das mu-

lheres depois da concretização

de um duro golpe contra a democracia e

as políticas de inclusão e desenvolvimen-

to social para as mulheres. “O dia 31 de

agosto marcou o impeachment de todas

as mulheres brasileiras. “Vimos, estarreci-

das, o julgamento de nossa companhei-

ra, que, mesmo sem crime, foi julgada e

condenada pelos algozes, senadores que

representam os interesses neoliberais.

A força, altivez e coragem, refletidas em

nossa sempre presidenta Dilma Rousseff,

transmitiram a cada mulher de coração

valente que a nossa dor precisa se trans-

formar em força de resistência. Resistência

com a qual as mulheres, historicamente,

têm buscado para enfrentar o machismo,

o patriarcado e, agora, mais do que nun-

ca, a queda da democracia. Nós margari-

das não nos curvaremos: a cada ataque

nos tornamos mais fortes e com a certeza

do nosso papel nesta conjuntura. É com

essa força que daremos as respostas a

estes algozes nas urnas desde as eleições

municipais, e até 2018 trabalharemos de

corpo e alma na formação política de nos-

sas bases. Nós queremos, nós podemos!

Resistência e luta Margaridas: a luta conti-

nua!” afirma Alessandra.

MARGARIDAS CONTRA O GOLPE

MULHERES RURAIS

Força, resistência e coragem: seu nome é mulher“As mulheres brasileiras têm sido, neste

período, um esteio fundamental para mi-nha resistência. Me cobriram de flores e me protegeram com sua solidariedade.

Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostra-

ram suas garras, as brasileiras expres-saram, neste combate pela democracia e pelos direitos, sua força e resiliência. Bravas mulheres brasileiras, que tenho a honra e o dever de representar como

primeira mulher Presidenta do Brasil”. Dilma Rousseff, 31 de agosto de 2016.

Roberto Stuckert Filho/PR

A força e a coragem são consideradas

fundamentais também para a educado-

ra e feminista Socorro Silva, para quem o

impeachment de Dilma Rousseff represen-

ta uma marcha violenta sobre a presença

das mulheres nas decisões dos rumos da

sociedade. “Querem nos impor que esse é

o resultado para as mulheres que ousam

desafiar o machismo e descolonizar os es-

paços dominados pelos homens! Querem

dizer ‘Aqui não é o lugar de vocês!’. Mas

nos reinventamos e colocamos em xeque

todos os sistemas de dominação das mu-

lheres. Este é o recado que deixamos, re-

forçado no discurso de Dilma para um ple-

nário branco, machista, elitista: podem tirar

nossas vidas, podem suprimir nossos es-

paços de participação política, podem rou-

bar nossos corpos, mas não terão nossa

alma e nem nossos sonhos...se é impossí-

vel extinguir uma raça é mais impossível ex-

tinguir sonhos de liberdade! Enquanto exis-

tir uma mulher, haverá resistência!”, afirma.

OS IMPACTOS DO GOLPE PARA AS MULHERES –

O fortalecimento do machismo se reflete no

aumento expressivo dos casos de violência

contra a mulher. Nos seis primeiros me-

ses de 2016, a Central de Atendimento à

Mulher - Ligue 180 realizou mais de 555 mil

atendimentos. Este número é 52% supe-

rior ao primeiro semestre de 2015. Houve

aumento de 147% nos casos de estupro,

142% de cárcere privado e de 133% nos

relatos de violência doméstica e familiar.

Sofreremos ainda grandes impactos nos

avanços conseguidos nos últimos 13 anos.

O governo golpista de Michel Temer rebai-

xou a Secretaria de Política para Mulheres

(SPM) para um mero “penduricalho” do

Ministério da Justiça, sem força nem recur-

sos: o orçamento para políticas para mu-

lheres, igualdade racial e juventude foi dimi-

nuído recentemente em R$ 12 milhões. Esse

contingenciamento prejudicará, por exem-

plo, a continuidade de programas como

as Unidades Móveis de Enfrentamento à

Violência Contra as Mulheres. Há o risco

ainda da paralisação do funcionamento

das Casas da Mulher Brasileira existentes,

também financiadas pela SPM, além da

não continuação da construção e imple-

mentação de Casas em outros estados.

“Outro grande impacto poderá ser a

aprovação da Reforma da Previdência pro-

posta pelo governo Temer, que impacta

duplamente na vida das mulheres rurais, já

que se propõe igualar a idade entre homens

e mulheres e também rurais e urbanos. Não

admitiremos retrocesso a uma das maio-

res conquistas da Constituição Federal de

1988”, aponta Alessandra Lunas.

Page 6: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG6

POLÍTICAS SOCIAIS NÃO AOS RETROCESSOS

A luta está só começandoGoverno Temer apresenta propostas ao Congresso Nacional que prejudicam trabalhadores e trabalhadoras rurais

Luiz Fernandes

O governo que assume atualmen-

te a direção de nosso País re-

presenta os interesses da elite

política e econômica brasileira, que sem-

pre se beneficiou do Estado para satis-

fazer os próprios privilégios. Representa

ainda os interesses do capital estran-

geiro, apoiados pelos grandes meios de

comunicação. Nesse cenário, existe a

possibilidade real de desrespeito às ga-

rantias dos direitos dos trabalhadores(as),

especialmente dos rurais, previstos na

Constituição de 1988.

Uma das primeiras medidas do Governo

de Michel Temer foi enviar ao Congresso

Nacional a Proposta de Emenda

Constitucional (PEC) nº 241/2016, que,

se aprovada, impactará profundamente

nos direitos dos trabalhadores(as). A re-

ferida PEC propõe o congelamento dos

gastos públicos por 20 anos, período em

que o dinheiro economizado será cana-

lizado para o pagamento dos juros da

dívida pública, que atualmente consome

quase metade (45%) do orçamento do

País. Isso significa não poder aumentar os

gastos públicos, além da inflação do ano

anterior, em áreas essenciais à população

brasileira como na saúde, educação, as-

sistência social, previdência e habitação

por toda uma geração. Vale lembrar que

para o pagamento dos juros da dívida pú-

blica o governo não impõe nenhum limite.

Outra proposta em discussão no

Congresso é a PEC 04/2015, que prevê a

elevação da Desvinculação dos Recursos

da União (DRU) para 30%. Atualmente,

a DRU é de 20%, o que significa que o

governo brasileiro já tem autorização do

Congresso para usar 20% do orçamento

da União como achar necessário. Essa

medida atinge o sistema de Seguridade

Social brasileira que garante à população

brasileira o acesso às políticas de saúde,

previdência e assistência social. Ou seja, o

governo, que a todo momento propaga o

“rombo” nas contas da Previdência Social,

quer desvincular 30% do orçamento da

Seguridade Social para destinar a outras

finalidades. É mais um retrocesso nos di-

reitos sociais dos trabalhadores(as) rurais,

especialmente dos rurais, cuja proteção

previdenciária é financiada com os recur-

sos do orçamento da Seguridade Social.

A reforma da Previdência também é

uma ameaça cada vez mais próxima. O

atual governo federal pretende apresen-

tar ao Congresso Nacional, ainda nes-

te mês de setembro, uma proposta que

iguala para 65 anos a idade mínima para

aposentadoria para trabalhadores(as) ru-

rais e urbanos, de ambos os sexos. Essa

medida não considera o caráter especial

dos(as) trabalhadores(as) rurais que, se-

gundo dados do IPEA, começam a tra-

balhar antes dos 14 anos, em condições

de trabalho muito mais árduas e penosas

que os urbanos, e sem acesso às políti-

cas públicas básicas como educação,

saúde, saneamento, lazer e outras tantas.

Outra medida pretendida pelo Governo

Temer é a desvinculação do índice de re-

ajuste dos benefícios da Previdência ao

índice de reajuste do salário mínimo. Essa

ação terá como consequência a perda do

poder de consumo para os beneficiados,

além de grande impacto na economia dos

munícipios e, principalmente, na redução

da pobreza e da desigualdade de renda.

“Estamos diante de uma encruzilhada

em que ou nós avançamos e fazemos o

enfrentamento para não deixar o governo

retirar nossos direitos, ou retrocedemos e

perdemos os benefícios da nossa cate-

goria. Os desafios são enormes e não há

outra saída a não ser mobilizar, fazer luta

e enfrentamento e resistir, como sempre

fizemos em toda nossa trajetória de luta.”,

afirma o secretário de Políticas Sociais da

CONTAG, José Wilson Gonçalves.

Page 7: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG 7

Oúltimo Censo Agropecuário foi

realizado em 2006. Passaram-

se dez anos e, mais uma vez,

foi adiada a realização de uma nova edi-

ção por falta de recursos. O projeto apre-

sentado para a sua execução, orçado em

R$ 360 milhões e proposto para o

Ministério do Planejamento para a inclu-

são na Lei Orçamentária Anual, foi pra-

ticamente extinto. Após sucessivos con-

tingenciamentos, sobrou apenas R$ 10

milhões para este fim, o que torna a sua

realização impossível.

Na metodologia prevista para o Censo

Agropecuário 2016 estava prevista a in-

vestigação de 5,3 milhões de estabeleci-

mentos em todo o País, com coleta em

campo em 2017 e divulgação dos resulta-

dos em 2018. O objetivo era chegar a to-

dos os estabelecimentos nos segmentos

de agricultura, pecuária, avicultura, apicul-

tura, sericicultura, extração vegetal, silvi-

cultura, beneficiamento e transformação

de produtos agropecuários e as atividades

neles desenvolvidas.

A partir dessa contagem censitária são

obtidas informações detalhadas sobre as

características do(a) produtor(a) e do esta-

belecimento, bem como sobre a economia

e o emprego no meio rural, entre outros

aspectos. O Censo também permite dis-

ponibilizar para a sociedade e aos diversos

ministérios estatísticas fundamentais para

o maior conhecimento do setor e para a

elaboração e acompanhamento de polí-

ticas públicas, aperfeiçoando o processo

de melhor alocação de recursos tanto no

governo federal quanto em governos esta-

duais e municipais.

Por meio do Censo Agropecuário é pos-

sível aferir a qualidade dos registros for-

POLÍTICA AGRÍCOLA PESQUISA

Falta recurso para o Censo AgropecuárioCONTAG cobra urgência na investigação censitária para que governo e

entidades conheçam as transformações ocorridas no campo na última década

mais, como Cadastro Nacional de Imóveis

Rurais (CNIR), Cadastro de Imóveis Rurais

(CAFIR), Cadastro Ambiental Rural (CAR),

Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF), e

outros. Portanto, “é fundamental que es-

ses registros formais estejam em pleno

funcionamento a fim de conferir, em me-

nor espaço de tempo, dados estatísticos

que podem nos auxiliar em relação ao de-

senvolvimento do País”, destacou o se-

cretário de Política Agrícola da CONTAG,

David Wylkerson.

Como um governo toma decisões de

gestão sem informações? Como saber

o que mudou no rural e na agropecuá-

ria brasileira? Para a CONTAG, o Censo

Agropecuário tem grande importância para

o desenvolvimento do Brasil e deve ser en-

tendido como um investimento e não um

gasto. “O Censo Agropecuário é a base

fundamental para que qualquer governo

possa melhorar as ações das políticas pú-

blicas. E como o último foi realizado em

2006, em dez anos ocorreram muitas trans-

formações no campo, da agricultura fami-

liar, da agricultura patronal, das relações de

trabalho, da maneira de ver o campo, e o

Brasil precisa conhecer essa realidade para

rever ou fortalecer e inovar no que propõe.

Isso é muito importante para os governos

e para nós das entidades. O Censo nos

dá uma real amostragem da situação que

vivemos no campo, inclusive com a diver-

sidade regional”, explicou o presidente da

CONTAG, Alberto Broch.

O Censo Agropecuário 2006 já conse-

guiu avançar bastante na qualificação das

informações sobre as realidades do rural

brasileiro. “No próximo Censo, é preciso

aperfeiçoar os mecanismos para se fazer

essa escuta e pesquisa, para captar com

maior qualidade a diversidade das agri-

culturas existentes no Brasil, melhorar as

informações sobre a estrutura agrária e

conhecer melhor a agricultura familiar”, de-

fendeu David.

David observa, ainda, que “seria fun-

damental aproximar a base de dados das

Declarações de Aptidão ao Pronaf (DAPs)

do Censo Agropecuário, a fim de podermos

avaliar ao longo da história quais os fatores

que promoveram a evolução do setor”.

Arquivo CONTAG

Page 8: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG8

TRABALHO DIGNO

ASSALARIADOS(AS) RURAIS

À beira de um colapso Fiscalização do trabalho está em seu pior momento nos últimos 20 anos,

com um déficit de mais de mil auditores fiscais

A legislação brasileira prevê a exis-

tência de, no mínimo, 3.640 car-

gos de auditor fiscal do trabalho

no Brasil. No entanto, de acordo com

dados do Ministério do Trabalho, estão

em atividade hoje 2.525 auditores fiscais,

distribuídos nos 26 estados e no Distrito

Federal. Isso significa um déficit de 1.140

profissionais que poderiam reforçar o tra-

balho de fiscalização das leis trabalhistas

em todos os setores da economia. E esse

déficit pode ser ainda maior: de acordo

com o Sindicato Nacional dos Auditores

Fiscais do Trabalho (Sinait), dos 2.525

auditores em atividade, 500 já podem se

aposentar a qualquer momento.

A distribuição de auditores fiscais tam-

bém é tema de preocupação, especial-

mente para os estados da região Norte. A

soma dos auditores dos cinco estados é

de 181 profissionais. O Amapá é o estado

que tem menos auditores em todo o Brasil,

apenas 11. Os fiscais precisam enfrentar

deslocamentos longos, passar dias viajan-

do, o que dificulta a execução de um maior

número de ações. A região Centro-Oeste

é a segunda em menor número de audito-

res: são 224, distribuídos desigualmente,

sendo apenas 41 em um estado das pro-

porções de Mato Grosso do Sul, e 56 no

Distrito Federal.

A realização de concurso público para

preencher, e aumentar, os cargos de au-

ditores fiscais é uma demanda antiga da

CONTAG aos Ministérios do Planejamento

e do Trabalho e Emprego, e está sem-

pre presente na pauta do Grito da Terra

Brasil. Mas não são apenas os baixos nú-

meros que preocupam quem defende os

trabalhadores(as) brasileiros(as), principal-

mente os rurais. As condições de traba-

lho dos auditores fiscais são precárias. De

Número de Auditores Fiscais por Unidade Federativa

Taxa de ilegalidade ou informalidade (%)

* Sede em Brasília: 82 auditores fiscais

1334

38

44

49

104

112

90

178

80

97

67

28

41

60

3275

89,9

66,1

61,5

73,2

68,9

82,1

65,6

78,2

7636

58

36

13 11

133

259

424

274

89,7

74,8

75,7

64,2

48,6

82,578,9

56

53,7 71,3

57,924,8

38,4

45,9

51,8

23,3

34,9

42

12,5

acordo com a auditora

Jacqueline Carrijo, não

há carros e nem motoristas

suficientes, assim como recur-

sos de diárias para quando os

fiscais precisam viajar para exe-

cutar suas funções.

“Em Goiás, temos apenas três

auditores para atender o meio rural nos

246 municípios do estado. Mas não

temos equipamentos de se-

gurança ou de comunicação

necessários, e sabemos que há

muita violência e muitas ameaças aos

auditores que fazem ações no campo bra-

sileiro”, aponta Jacqueline Carrijo. O presi-

dente do Sindicato Nacional dos Auditores

Fiscais do Trabalho (Sinait), Carlos Silva,

aponta que o número de fiscalizações no

campo tem caído ano a ano, não apenas

por causa do pequeno número de audito-

res, mas por um problema que nenhum

governo, nas últimas duas décadas, se

dedicou a solucionar, que é o da seguran-

ça do auditor fiscal do trabalho.

Para o secretário de Assalariados e

Assalariadas Rurais da CONTAG, Elias

D’Angelo Borges, a área rural é a mais

sensível a todas essas condições ina-

dequadas porque exige melhores con-

dições de prestação do serviço. “Temos

uma situação de estrangulamento na

auditoria fiscal do trabalho que é muito

grave e preocupante. É inimaginável que

o Estado brasileiro, com todas as condi-

ções que tem de oferecer proteção aos

trabalhadores e trabalhadores, não invis-

ta em um setor tão importante para com-

bater a informalidade, o trabalho escravo,

além de garantir o trabalho digno para to-

dos e todas, e a repressão das injustiças

sociais e trabalhistas.”

Page 9: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

POLÍTICA AGRÁRIA CONJUNTURA POLÍTICA

A mão armada do latifúndioMomento político atual impõe retrocessos aos direitos que foram duramente conquistados pela classe trabalhadora e

agrava a violência no campo

Assassinatos, ameaças, despe-

jos, prisões arbitrárias, violência

de toda ordem: os conflitos no

campo produzidos pela mão armada

dos representantes do capital nacional e

internacional continuam fazendo vítimas

entre os(as) trabalhadores(as) rurais.

Neste mês de agosto foram assassina-

dos o presidente da Associação Terra

Nossa, Ronair José de Lima, na área do

Complexo Divino Pai Eterno, município

de São Félix do Xingu (PA) – e o traba-

lhador rural Antônio Luiz Araújo, assas-

sinado por pistoleiros em Wanderlândia

(TO), onde outras lideranças sindicais

também estão ameaçadas por luta-

rem pelo direito às terras das Fazendas

Boqueirão, onde residem 82 famílias.

O golpe parlamentar, judicial e midiá-

tico concretizado no Brasil levará, com

certeza, a um aumento da violência e

das violações de direitos no campo. O

atual governo pretende ampliar a venda

de terras para estrangeiros, eliminar as

desapropriações e entregar o patrimônio

público ao mercado com processos de

titulação sem rigor nos critérios.

Além disso, o desmonte dos direitos

dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as)

- especialmente os rurais com a extin-

ção do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), desvinculação dos be-

nefícios previdenciários ao salário mí-

nimo, o acórdão do Tribunal de Contas

da União (TCU) que paralisa a refor-

ma agrária e retira dos movimentos

sociais o papel de mediação entre os

acampados e o Estado - são exem-

plos de medidas que aumentam a in-

segurança no campo.

De acordo com levantamentos da

Comissão Pastoral da Terra (CPT), 40

trabalhadores(as) morreram na luta

pela terra até meados de agosto deste

ano. O número é 33% maior que o re-

gistrado em 2015, quando 30 pessoas

foram assassinadas em todo o ano. O

número de tentativas de assassina-

to também aumentou - foram 43 até

agosto de 2016 e 28 em igual período

do ano passado – assim como o nú-

mero de famílias expulsas do campo

por ação de pistoleiros e jagunços:

764 em 2016, contra 389 em 2015.

IMPUNIDADE E MOROSIDADE DO ESTADO –

“A violência está vinculada ao pro-

cesso de disputa pela terra determi-

nado pelo capital, à impunidade pela

inação e parcialidade do Judiciário e

com a ação morosa do Estado, que

pode piorar ainda mais, com a con-

cretização do golpe contra a demo-

cracia. Além do mais, a maioria dos

membros do poder Judiciário tem

agido como instrumento dos interes-

ses do capital, e não dos trabalhado-

res e trabalhadoras brasileiros(as)”,

afirma o secretário de Política Agrária da

CONTAG, Zenildo Xavier.

Neste cenário, destaca-se ainda o

fortalecimento da repressão e crimina-

lização dos movimentos sociais. A Lei

12.850/2013 – que “define organização

criminosa e dispõe sobre a investigação

criminal, os meios de obtenção da pro-

va, infrações penais correlatas e o pro-

cedimento criminal” – tem sido utilizada

para decretar a prisão de lideranças da

luta do campo, a exemplo de quatro in-

tegrantes do Movimento dos Sem Terra

no estado de Goiás.

“Todos os movimentos sociais do

campo devem lutar contra essas forças

conservadoras que querem negar o pa-

pel da luta pela terra e dos movimentos

sociais, além de desmantelar todos os

avanços conquistados desde 2003.

Precisamos garantir que a terra seja efe-

tivamente um direito de todos(as), para

garantir o desenvolvimento sustentável e

solidário de nosso País, com produção

de alimentos saudáveis e proteção da

biodiversidade”, conclui Zenildo Xavier.

JORNAL DA CONTAG 9

Page 10: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG10

A natureza que cura

Chás, compressas, pomadas, unguentos... No

campo, florestas e águas desse imenso Brasil,

todos nós já utilizamos alguma vez remédios fei-

tos com ervas ou substâncias naturais. Nossas avós e

bisavós, tias ou vizinhas sempre tinham uma receita para

tratar desde dores de cabeça até diabetes ou artrites.

São conhecimentos milenares, passados de geração em

geração e que precisam ser preservados, pois represen-

tam não apenas a cultura de nossos antepassados, mas

também a sabedoria que vêm da experiência vivida.

O tratamento com plantas passou a ser chamado

pelo meio acadêmico de “fitoterapia” – e desde 2006 é

reconhecido como forma de terapia medicinal utilizada

pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Se hoje em dia até

mesmo médicos e enfermeiros da rede pública de saúde

utilizam, além das drogas produzidas por laboratórios far-

macêuticos também substâncias naturais, isso é devido

a muita luta de homens e mulheres que por séculos pre-

servaram esses conhecimentos e enfrentaram precon-

ceito e violência.

Há centenas de anos mulheres que curavam com plan-

tas eram perseguidas por “bruxaria”, e precisavam es-

conder sua sabedoria e suas práticas. Graças à ciência e

à busca por alternativas aos tratamentos alopáticos, hoje

temos cada vez mais reconhecimento das vantagens da

fitoterapia. Em Minas Gerais, a farmacêutica Telma Sueli

Mesquita Grandi reuniu cada uma das 383 espécies de

plantas medicinais que crescem e vivem no estado em

um livro digital chamado ‘Tratado das plantas medicinais

mineiras’, ao qual você pode ter acesso na página da

Secretaria de Terceira Idade, dentro do site da CONTAG.

“Precisamos lutar pela formação de profissionais para

que se tenha segurança do consumo e transmissão de

conhecimento das ervas medicinais. Também é impor-

tante sensibilizar as comunidades e resgatar o cuidado

e a forma tradicional de cuidar, além de disseminar o

conhecimento sobre as ervas medicinais em sua totali-

dade: como colher, utilizar, que doenças curam, o que

previnem. A terceira idade precisa ainda apresentar a uti-

lização das ervas medicinais para a nova geração como

alternativa à farmacologia”, afirma a secretária de Terceira

Idade da CONTAG, Lucia Moura.

SAÚDE

TERCEIRA IDADE

Conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais podem garantir saúde e prevenir doenças

RECEITASNa oficina sobre ervas medicinais da 2ª Plenária Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Terceira Idade e Idosos(as), os(as) participantes compartilharam algumas receitas. Confira:

PRESSÃO ALTA (COMBATER) - 1 chuchu inteiro, lavado. Partir em 4 e ralar. Passar em um pano branco, limpo, tirar o sumo e tomar fazendo uma oração. Se a pressão estiver muito alta, tomar 2x ao dia, uma colher.

PARA HEPATITE - Picão: usar 2g em 1 copo com água durante 15 dias. Tomar um copo de hora em hora.

ARTRITE - Usar Jucá (também conhecida como Pau-ferro, Jucaína, Icainha, Miraobi, Miraitá, Muiraitá, Guratã, Ipu, Árvore Leopardo e Muirapixuna) ou lobeira. Cortar em pedaços e colocar em infusão por 10 dias. Passar no local / Caroço de abacate – ralar o caroço e colocar no álcool, deixando por 10 dias, passar no local. / Negra-mina (ou erva-cidreira-do-mato) – infusão por 10 dias e passar no local. / Chá de canela de velho – chá por infusão.

ANSIEDADE - Folhas de capim santo, bem verdinhas. Picar bem picadinhas. Bater no liquidificador com mel. Tomar duas vezes ao dia, antes do almoço e antes do jantar.

Rafael Fernandes

Page 11: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG 11

MEIO AMBIENTE CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Queimando o futuro

Utilizada pelo grande e pequeno(a) agricultor(a) para limpar e preparar o solo para o plantio ou formação

de pastos, a queimada é uma prática tradi-cional no meio rural brasileiro há centenas de anos por ser um método de baixo custo e bastante prático. As queimadas são utili-zadas ainda para controlar pragas, renovar pastagens e facilitar colheitas.

No entanto, apesar da tradição e da fa-cilidade, as queimadas têm consequên-cias graves para o meio ambiente no curto, médio e longo prazos. Quando o “mato” é queimado, junto com ele são queimados também insetos e pequenos animais fun-damentais para a manutenção da qualidade do solo, além de o fogo provocar também o ressecamento da terra e a eliminação de nutrientes essenciais para a vida.

“Os efeitos negativos das queimadas são muito maiores que os benefícios que elas trazem no curto prazo: prejudicam a biodi-versidade, a dinâmica dos ecossistemas, au-mentam a erosão do solo, afetam a qualida-de do ar e a vida dos animais silvestres. As queimadas provocam, por exemplo, o dese-quilíbrio entre espécies que poderiam ajudar no combate biológico de pragas. Muitas ve-

zes, as queimadas fogem do controle dos(as) agricultores(as) e provocam incêndios de grandes proporções, que danificam rede elétrica, rodovias, ferrovias, e até mesmo residências”, destaca o secretário de Meio Ambiente da CONTAG, Antoninho Rovaris.

O corpo de Bombeiros, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e organizações não-governamentais realizam anualmente estudos sobre o tamanho das queimadas no Brasil e o risco que elas significam não apenas para o meio ambiente mas também para a sociedade.

De acordo com esses estudos, o perío-do que vai de julho a outubro é quando as queimadas são mais frequentes no Brasil, porque a umidade do ar diminui muito, es-pecialmente nas regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste e parte do Sudeste. Neste ano, o fenômeno El Niño agrava essa situ-ação, pois ele aumenta a temperatura dos oceanos e desregula a quantidade de chuva especialmente da Região Norte.

A queimada ainda é uma prática comum entre agricultores(as), mas usar o fogo não traz nenhum benefício ao produtor

COMO EVITAR INCÊNDIOS - É importante ressaltar que existe diferença entre queimada e incêndio. Incêndio é uma queimada sem controle. É preciso to-mar todos os cuidados para que queimadas não virem incêndios:

- É fundamental conhecer bem o terreno; - Construir valas ou aceiros; - Evitar queimar se o vento estiver muito forte; - Ter sempre à mão equipamentos para acabar com o fogo como abafado-

res, aradores e baldes de água ou mangueiras; - Permanecer no local por mais duas horas depois que terminar a queima-

da para verificar se não há nenhum outro foco de calor; - E, principalmente, pedir autorização para o órgão ambiental competente,

que fornecerá todas as orientações necessárias (período e horários permi-tidos, por exemplo). É sempre bom lembrar que o fogo para agricultura e pecuária deve ser evitado nos meses mais secos e quentes do ano.

NÃO CUSTA LEMBRAR: MALEFÍCIOS DAS QUEIMADAS1) Eliminam do solo nutrientes essenciais às plantas, como nitrogênio, potássio e o fósforo;2) Além de prejudicar a flora, também matam animais silvestres e prejudicam a biodiversidade;3) Reduzem a umidade do solo e acarreta a sua compactação, o que resulta no desencadeamento do processo erosivo e outras formas de degradação da área;4) Provocam alterações nas características físicas, químicas e biológicas do solo, o que contribui para a degradação e redução da capacidade produtiva da terra;5) O fogo deteriora também a qualidade do ar, levando até ao fechamento de aeroportos por falta de visibilidade;6) Ao escapar do controle, as queimadas atingem o patrimônio público e privado (florestas, cercas, linhas de transmissão e de telefonia, construções, etc.).7) Alteram a composição química da atmosfera e influem, negativamente, nas mu-danças globais, tanto no efeito estufa quanto na redução da camada de ozônio.

JORNAL DA CONTAG 11

Page 12: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG12

FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SINDICAL 10 ANOS ENFOC: EU FAÇO PARTE!

Agosto foi um mês de grandes ce-

lebrações e de importantes ati-

vidades do Movimento Sindical.

Destaca-se a comemoração dos dez

anos da Escola Nacional de Formação da

CONTAG (ENFOC), durante o Seminário

Internacional sobre Movimentos Sociais

e Educação Popular na América Latina:

Perspectivas e Desafios da Atualidade,

nos dias 12, 13 e 14 de agosto, em

Brasília, envolvendo mais de 20 organi-

zações sindicais e movimentos campo-

neses, Universidades e ONGs de sete

países latino-americanos, com forte

atuação político-pedagógica a partir da

Educação Popular.

Segundo o secretário de Formação

e Organização Sindical da CONTAG,

Juraci Souto, o Seminário fez uma avalia-

ção sobre a influência e a importância da

Educação Popular e da formação política

e ideológica nesse processo de retomada

de governos de direita não só no Brasil,

mas em outros países da América Latina.

“O Seminário também trouxe como foco

a reflexão de que as pessoas precisam

se conscientizar que, em função da fra-

gilidade das instituições legalmente cons-

tituídas, tais como os poderes Executivo,

Legislativo e Judiciário, estamos apostan-

do muito no poder do povo. Ou o povo

reage, ou o povo restabelece essa aliança

com a democracia porque, se depender-

mos desses poderes, vamos sentir afora

o que hoje está acontecendo no Brasil”,

avaliou o dirigente.

Foi realizado também nesse período,

de 8 a 15 de agosto, o 2º módulo do

Curso Nacional da ENFOC, em Brasília.

Lugar de transformAÇÃO políticaReflexão sobre a importância da Educação Popular nos atuais cenários conjunturais na América Latina, em especial no Brasil, marca a celebração de uma década de Formação Política da Escola Nacional de

Formação da CONTAG

Ao final de oito dias de intenso e prazero-

so mergulho na reflexão sobre a história,

a concepção e a prática de dirigentes e

lideranças que constróem cotidianamen-

te o MSTTR, e na Educação Popular

enquanto referência para a prática po-

lítico-pedagógica de enfrentamento à

onda conservadora que avança sobre a

América Latina, os educandos e educan-

das retornaram para suas comunidades

bastante motivados(as).

Um dos pontos altos do 2º módulo

foi a reflexão sobre a vivência do Tempo

Comunidade, destacando criteriosamente

as dificuldades, as iniciativas e as apren-

dizagens, em especial, aquelas com o uso

das tecnologias a partir da ferramenta da

plataforma digital “Moodle”.

Vivenciar um processo de formação con-

tinuada e em regime de alternância requer

estabelecer conexão permanente entre os

momentos, espaços e tempos formativos.

Nesse sentido, as várias atividades como

a pesquisa sobre a história do MSTTR,

reuniões nos territórios e comunidades,

apresentação da ENFOC e os encontros

no ambiente virtual para trocar impressões

sobre os textos lidos, estimulou a reflexão

permanente sobre o momento conjuntural

vivido no Brasil e na América Latina.

Para marcar esse momento de consoli-

dação da ENFOC como um lugar de trans-

formAÇÃO política, foi realizada uma linda

e forte celebração, no dia 13 de agosto,

com homenagens, místicas, momento de

confraternização, além de visita ao ipê

plantado na fundação da Escola. Junto à

árvore foi plantada uma “cápsula dos so-

nhos para 2026”.

“Quando avaliamos a existência da

ENFOC nesses dez anos e retornamos ao

local onde tudo começou, com a planta-

ção do ipê na sua inauguração, percebe-

mos que aquela árvore cresceu bastan-

te, o equivalente ao tamanho da nossa

Escola. E ali, mais uma vez, depositamos

os nossos sonhos, as nossas esperanças

e eu tenho certeza que os sonhos ali de-

positados se tornarão realidade. Afinal, a

nossa Escola está impregnada nas nossas

mentes e nos nossos corações”, disse,

Juraci, emocionado.Verônica Tozzi

Page 13: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG 13

VICE-PRESIDÊNCIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS SEMINÁRIO INTERNACIONAL

Os movimentos sociais têm um pa-

pel fundamental na formação po-

lítica e popular que visa construir

um projeto de sociedade e de vida base-

ado nos referenciais de emancipação hu-

mana e na transformação das sociedades

injustas e opressoras. Com o objetivo de

refletir sobre esse papel dos movimentos

frente ao desafio de fortalecer a Educação

Popular na América Latina, tendo como

foco o cenário político colocado para a re-

gião, foi realizado o Seminário Internacional

Movimentos Sociais e Educação Popular,

nos dias 12 a 14 de agosto de 2016, em

Brasília, ação que integrou a agenda do

2º módulo do Curso Nacional da ENFOC

e de avaliação dos 10 anos da Escola. A

atividade reuniu lideranças, dirigentes de

movimentos sociais e educadores(as) po-

pulares da Argentina, Brasil, Chile, Costa

Rica, Equador, México e Uruguai.

“Esse nosso encontro, nesse momento

político que passa a região, foi importan-

te para reconhecermos que temos mui-

tas dores iguais, que existem injustiças.

Ao nos encontrarmos, pudemos nos so-

lidarizar e fortalecer o nosso trabalho e

Fortalecimento da Educação Popular na América LatinaLideranças de movimentos sociais debatem o papel da

formação para a emancipação e libertação dos sujeitos do campo e da cidade

a nossa ação movimentista. O Seminário

também nos fez reconhecer que esse

sistema que queremos construir é contra

hegemônico para construir poder popu-

lar e para construir esperança”, desta-

cou a secretária geral do Conselho de

Educação Popular da América Latina e

Caribe (Ceaal), Rosy Zúniga.

O coordenador pedagógico do Centro

Andino para Formação de Líderes Sociais

(Cafolis), Fernando Rosero, mostra preo-

cupação com a situação política brasileira,

com os riscos de aumentar a desigualda-

de e pobreza no País. “Vemos com muita

preocupação o que está acontecendo no

Brasil na atualidade. Agora, mais do que

nunca, é necessário retomar os princípios

da educação popular, retomar as grandes

orientações e aprofundar o tema das me-

todologias de trabalho, com esta perspec-

tiva de resgate, do conhecimento e dos

saberes dos povos tradicionais”, refletiu.

Nesse sentido, o secretário geral da

Confederação das Organizações de

Produtores Familiares, Camponeses

e Indígenas do Mercosul Ampliado

(Coprofam), Fernando López, destacou a

importância da formação na construção

da cidadania e no enfrentamento de um

cenário de retrocesso nos direitos. “Foi

muito importante realizar esse seminário

em um momento histórico e na perspec-

tiva de que os movimentos sociais têm na

formação a possibilidade construir cidada-

nia como forma de enfrentar e reverter os

processos de garantia de direitos”.

Nessa mesma lógica, o vice-presidente

e secretário de Relações Internacionais da

CONTAG, Willian Clementino, destaca a

importância da formação para a libertação

e para a luta da classe trabalhadora. “Talvez

não nos libertemos da política imposta por

governos de direita e conservadores, mas

poderemos libertar a consciência do nos-

so povo para não ficarem aprisionados à

revelia do que quer e o que pensa essa di-

reita para os trabalhadores e trabalhadoras

do campo e da cidade.”

Diante de todo o debate e reflexão no

Seminário Internacional, foi reafirmado

pelos(as) participantes que o movimentos

sociais são a razão de ser da educação

popular porque nos últimos anos foram

os sujeitos das principais transformações

que a sociedade brasileira passou no sen-

tido de justiça social, de políticas mais

redistributivas, de geração de renda e de

equidade. “Grande parte das políticas de-

senvolvidas nos Governos Lula e Dilma

foram fruto de proposições que nasceram

da sociedade civil. Então, qual é o papel

da Educação Popular? É fortalecer os

movimentos sociais. E fortalecer de que

maneira? Qualificando a sua prática, for-

mando suas lideranças e capacitando os

movimentos sociais para terem uma atitu-

de cada vez mais protagonista na política”,

explicou Pedro Pontual, membro do Ceaal.

13

Barack Fernandes

Page 14: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG14

FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO SUSTENTABILIDADE POLÍTICO-FINANCEIRA

Deliberada no 11º Congresso

Nacional dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais (CNTTR),

a implementação pela CONTAG do

Orçamento Sindical Participativo (OSP) a

partir de 2017 já está em fase adiantada

de planejamento. Entre os meses de se-

tembro e novembro serão realizados cinco

Encontros Regionais de Aprofundamento

sobre OSP. Em novembro, está previs-

to um encontro nacional, para unificar a

proposta que será apresentada para o

Conselho Deliberativo, no mesmo mês. Já

estão agendados os encontros da região

Sudeste (27 e 28 de setembro) e da região

Sul (16 e 17 de novembro).

Entre os objetivos do OSP estão articu-

lar o projeto político com o Planejamento

Estratégico da CONTAG, permitindo uma

gestão participativa, democrática e de cor-

responsabilização. Além disso, o OSP pre-

tende definir coletivamente as prioridades

da agenda política, articulando-as com o

planejamento estratégico e financeiro a par-

tir das demandas levantadas pelo conjunto

do Movimento Sindical de Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais (MSTTR).

“O planejamento estratégico e financeiro,

a gestão administrativa eficiente, a partici-

pação da base nas decisões e o orçamen-

to sindical participativo como estratégia

política são peças importantes para a sus-

tentabilidade político-financeira e para uma

gestão eficiente que garanta democracia e

a melhoria da arrecadação de Sindicatos,

Federações e da CONTAG”, afirma o se-

cretário de Finanças e Administração da

CONTAG, Aristides Santos.

De acordo com os anais do 11º CNTTR,

o planejamento estratégico e o Orçamento

Sindical Participativo devem ser adotados

pois fortalecem as entidades sindicais e

Transparência e eficiência CONTAG inicia a implementação do Orçamento Sindical Participativo

César Ramos

O QUE É OSP? Orçamento Sindical Participativo é uma forma de definir coletivamente as ações prioritárias para a aplicação de recursos. É um instrumento de gestão que fortalece a democracia, a transparência e a corresponsabilização entre as direções e a base do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.

potencializam o processo formativo de

base. Neste processo, definem-se coleti-

vamente as prioridades da agenda política:

os planos de trabalho e a organização dos

recursos financeiros são definidos a partir

das demandas levantadas pelo conjunto.

O Orçamento Sindical Participativo deve-

rá ser implementado pela CONTAG a partir

do 12º Congresso, que será realizado em

março de 2017. Mas todas as Federações

e Sindicatos do MSTTR devem implemen-

tar progressivamente o OSP, para garantir

cada vez mais transparência ao processo

de execução orçamentária, além de garan-

tir que os recursos arrecadados sejam utili-

zados com a luta pela garantia e ampliação

dos direitos dos trabalhadores e trabalha-

doras rurais brasileiros.

Page 15: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG 15

Luiz Fernandes

CONTAG

AUDITORIA DA DÍVIDA PÚBLICA

Sem dinheiro para políticas públicas, mas muito dinheiro para pagar juros bancários

Você sabe o que é a dívida pú-

blica? É a dívida que o governo

contrai quando pega dinheiro

emprestado de bancos para fazer inves-

timentos ou cumprir suas obrigações.

Pegar dinheiro emprestado e pagar a

dívida não deveria ser problema, não é?

Mas a dívida pública brasileira é obscura e

cresce a cada ano devido a juros incons-

titucionais, consumindo dinheiro que de-

veria ser usado para os investimentos na

melhoria da vida do povo brasileiro.

Esses juros sobre juros, combinados

com operações econômicas imorais, au-

mentam a dívida pública a patamares in-

sustentáveis. Por exemplo, em 2015, qua-

se metade (42,43%) do PIB brasileiro foi

destinado para o pagamento de juros da

dívida pública brasileira. Isso significa que

R$ 962 bilhões foram destinados a ban-

cos. Mas, quais bancos? Aí está outro pro-

blema: a informação de quanto pagamos e

para quem (quais bancos e instituições fi-

nanceiras) são considerados sigilosos pelo

Estado. Por quê?

É preciso apontar a contradição que

existe em destinar 42,43% do orçamento

do País para pagar juros e reservar 0,8%

do PIB para investimentos na agricultura e

apenas 0,07% para a organização agrária.

Além disso, não é possível compreender

como o governo federal destina R$ 962

bilhões para pagar juros dessa dívida, mas

alega um déficit no orçamento de R$ 111,2

bilhões. Esse déficit é justificativa para cor-

tes nas políticas públicas e para o encami-

nhamento e aprovação de projetos como

o PL 257/16 e a PEC 241/16, que congela

por 20 anos os investimentos sociais.

“Isso afeta principalmente a parcela da

sociedade que não tem alternativa fora dos

serviços públicos. A dívida é usada como

justificativa para projetos que desvinculam

receitas sagradas da saúde e da seguri-

dade social, da assistência social para pa-

gar juros e para justificar contrarreformas

como a da Previdência, a trabalhista, para

as privatizações contínuas de patrimônio

público estratégico”, explica a auditora

aposentada da Receita Federal e coorde-

nadora nacional do movimento Auditoria

Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli.

É PRECISO AUDITAR A DÍVIDA – O movimento

Auditoria Cidadã da Dívida defende que a

dívida pública brasileira seja auditada, ou

seja, analisada detalhadamente e de for-

ma transparente por pessoas isentas. “A

CONTAG apoia todas as iniciativas para

aumentar o conhecimento sobre o tema

e também a a auditoria cidadã da dívida

pública brasileira. Se o dinheiro das traba-

lhadoras e trabalhadores do Brasil, inclusi-

ve dos rurais poderia ser investido para as

políticas sociais, mas estão sendo usadas

para pagar juros abusivos de uma dívida

que nem sabemos para quem pagamos,

isso precisa mudar”, afirma a secretária

geral da CONTAG, Dorenice Flor da Cruz.

A necessidade de auditoria da dívida

finalmente foi percebida pelo Congresso

Nacional: mais de 250 parlamentares, en-

tre deputados e senadores, assumiram

o compromisso de participar da Frente

Parlamentar Mista pela Auditoria da Dívida

Pública com Participação Popular. A Frente

foi lançada no dia 9 de agosto na Câmara

dos Deputados, com a participação de re-

presentantes de mais de 70 entidades da

sociedade civil, entre eles a CONTAG, e

dezenas de parlamentares.

Há décadas o dinheiro público é usado pelo Estado para pagar a dívida pública. Mas não sabemos quem são os credores e nem onde foi investido o dinheiro contratado

Juros e amortização da dívida

Previdência Social

Encargos especiais

42,43%

22,69%

8,95%

5,13%

4,14%

2,88%

3,91%

3,05%

0,80%

0,13%

5,55%

0,07%

Saúde

Trabalho

Educação

Assistência Social

Organização agrária

Agricultura

Gestão ambiental

Outros

Transferências a estados e municípios

Page 16: Jornal da CONTAG · nossa sempre presidenta Dilma Rousseff, ... valente que a nossa dor precisa se trans-formar em força de resistência. Resistência com a qual as mulheres,

JORNAL DA CONTAG16

Qual a relação entre a dívida públi-

ca e a corrupção em nosso país?

A relação é direta. As investigações

sobre as dívidas públicas no Brasil e em

outros países nos permitiu identificar a

existência de um “Sistema da Dívida”.

Esse sistema utiliza o endividamento

público às avessas, isto é, em vez de servir

para trazer recursos aos orçamentos pú-

blicos, o processo de endividamento tem

direcionado os recursos públicos principal-

mente para o setor financeiro privado. Esse

fato configura uma grande corrupção.

Esse esquema funciona por meio de

diversos mecanismos que geram dívidas,

na maioria das vezes sem qualquer con-

trapartida real, seguidos de outros me-

canismos que promovem seu contínuo

crescimento. Adicionalmente, diversas

ilegalidades e ilegitimidades foram apura-

das inclusive por investigações feitas pela

CPI da Dívida Pública.

Para operar, tal sistema conta com

privilégios legais, políticos, econômicos,

em conjunto com a grande mídia, além

de determinante suporte dos organismos

financeiros internacionais (FMI e Banco

Mundial) para impor medidas que favo-

recem a atuação do “Sistema da Dívida”.

A corrupção é também uma das en-

grenagens, porque é intrínseca a esse

ENTREVISTAA

rqui

vo p

esso

al

EXPEDIENTE / Jornal da CONTAG – Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-Presidente/ Secretário de Relações Internacionais Willian Clementino da Silva Matias | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Elias D'Angelo Borges | Finanças e Administração Aristides Veras dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto | Secretaria Geral Dorenice Flor da Cruz | Jovens Trabalhadores Rurais Mazé Morais | Meio Ambiente Antoninho Rovaris | Mulheres Trabalhadoras Rurais Alessandra da Costa Lunas | Política Agrária Zenildo Pereira Xavier | Política Agrícola David Wylkerson Rodrigues de Souza | Políticas Sociais José Wilson Sousa Gonçalves | Terceira Idade Maria Lúcia Santos de Moura | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected] | Internet www.contag.org.br | Edição e Reportagem Verônica Tozzi | Reportagem Lívia Barreto | Projeto Gráfico e Diagramação Fabrício Martins | Impressão Viva Bureau e Editora

www.contag.org.br facebook.com/contagbrasil @contagBrasil youtube.com/contagbrasil

modelo que tem sacrificado as finanças

do País e justificado a privatização de

grande parte do nosso patrimônio e a

concentração de nossa renda e riqueza.

É urgente modificar essa situação.

De que maneira a dívida pública pre-

judica os trabalhadores(as) rurais?

A dívida tem consumido a maior par-

te do orçamento federal a cada ano e

grande parte dos orçamentos estaduais

e municipais, prejudicando a destinação

de recursos para as políticas sociais de

saúde, educação, previdência, assistên-

cia etc., que afetam tanto trabalhadores e

trabalhadoras rurais como urbanos.

Adicionalmente, essa imensa subtra-

ção de recursos pela dívida impede in-

vestimentos essenciais em diversas áreas

que afetam diretamente trabalhadores e

trabalhadoras rurais, por exemplo: Orga-

nização Agrária recebeu apenas 0,07%

dos recursos do orçamento federal em

2015; Agricultura apenas 0,8%, Gestão

Ambiental 0,13%.

O setor financeiro e grandes corpo-

rações são os que mais se beneficiam

dessa chamada dívida e estão se apo-

derando de bens públicos em todo o

mundo, exercendo perigosa dominação

sobre países e povos. No Brasil também

o objetivo é se apoderar das nossas

terras e dos nossos recursos minerais.

Fazem isso por meio desse Sistema da

Dívida, que se vale do nosso deficiente

sistema político, ocupado em sua gran-

de maioria por pessoas financiadas jus-

tamente por esse mesmo setor financei-

ro e grandes corporações.

Quais as consequências de uma

auditoria cidadã da dívida pública?

A auditoria cidadã da dívida é a ferra-

menta que possibilitará jogar luz sobre o

Sistema da Dívida e redirecionar a nos-

sa economia para que possamos viver

a realidade de abundância que existe

em nosso País. A auditoria irá garantir a

transparência e coibirá práticas corrup-

tas. Ademais, a auditoria da dívida é uma

determinação da Constituição Federal,

que nunca foi cumprida.

Auditoria é uma investigação baseada

em documentos e dados. A auditoria vai

procurar contratos, registros contábeis e

estatísticos, além de atos legais e outros

documentos relacionados ao processo

de cada dívida contraída pelo setor públi-

co (Governo Federal, Estadual, Municipal,

Banco Central, e empresas públicas).

A auditoria é indispensável para des-

mascarar o sombrio Sistema da Dívida

e transparentar a razoabilidade dos nú-

meros apresentados; quais foram os

mecanismos e operações que geraram

dívidas desde a sua origem; quem se

beneficiou dos recursos; em que esses

foram aplicados; verificar se foram cum-

pridas as normas legais e administrativas

existentes; quais os impactos sociais,

ambientais e etc.

A auditoria deveria ser uma praxe, pois

a sociedade que paga essa conta tem o

direito de ter acesso às informações.

MARIA LUCIA FATTORELLI é coordenadora nacional do movimento Auditoria Cidadã da Dívida, que investiga a dívida brasileira e pressiona pela realização de uma auditoria oficial, prevista na Constituição Federal, mas nunca realizada. Auditora fiscal da Receita Federal aposentada, Maria Lucia prestou assessoria técnica à CPI da Dívida Pública realizada na Câmara dos Deputados em 2010 e participou da auditoria oficial da dívida do Equador, que foi concluída em 2008 e trouxe grandes mudanças no direcionamento de recursos para políticas públicas naquele país.