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CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES Jornal da Terra Movimento sindical sai em defesa de uma Palestina Livre e Soberanal Página 7 ano 4 nº 37 setembro de 2011 www.cut.org.br As plenárias da CUT, os temas e a visão de Lula, 30 anos depois Página 3 Página 2 30 anos do Movimento, Página 7 O que a CUT defende para acabar com a desigualdade no campo Trabalhadores dos setores público e privado vão à luta por condições dignas de trabalho um jornal popular A aposentada e agricultora Laudeir Cardoso convive com a seca em Bicas, na zona rural de Monte Azul (MG)

Jornal da Terra · 2014-08-27 · A foto acima mostra a assembleia dos professores mineiros, que se mantiveram em greve -assim como os cearenses- por mais de 100 dias para cobrar

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CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES

Jornal da

Terra

Movimento sindical sai em defesa de uma Palestina Livre e Soberanal Página 7

ano 4 nº 37 se tembro de 2011 www.cut .o rg .br• • •

As plenáriasda CUT,os temas e a visão de Lula, 30 anos depoisPágina 3 Página 2

30 anos doMovimento,Página 7

O que a CUT defende para acabar com a desigualdade no campo

Trabalhadores dos setorespúblico e privadovão à luta por condições dignas de trabalho um jornal popular

A aposentada e agricultora Laudeir Cardoso convive com a seca em Bicas,

na zona rural de Monte Azul (MG)

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Esta edição do Jornal da CUT inaugura uma

nova fase da publicação. Em seu terceiro ano de

existência, nosso Jornal passa a enfocar com

maior profundidade e em um número maior de

páginas, um único tema.

Iniciamos pelo tema da reforma agrária: como

está, para onde deve ir quais propostas

defendemos. Como não poderia deixar de ser, as

reportagens tocam no tema sempre candente da

concentração de terras nas mãos de poucos.

O mês de outubro nos traz também a realização

da 13ª Plenária Nacional da CUT, que acontece

entre os dias 4 e 7, na cidade de Guarulhos (SP).

A Plenária, batizada com o nome de nosso

saudoso companheiro Waldemar de Oliveira, ex-

presidente da Conticom que nos deixou em abril

do ano passado, vai debater a organização da

CUT, refletir sobre ações e posicionamentos

futuros frente à nova conjuntura e reafirmar a luta

pela liberdade e autonomia sindical – etapa cuja

superação é impresc indíve l para a

transformação da estrutura sindical no Brasil e

para a ampliação dos direitos dos trabalhadores.

Vamos juntos, porque juntos somos fortes.

Somos CUT

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Jornal da CUT é uma publicação mensal da Central Única dos Trabalhadores. Presidente: Artur Henrique da Silva Santos. Secretária nacional de Comunicação: Rosane Bertotti. Direção Executiva: Antonio Lisboa Amâncio do Vale; Aparecido Donizeti da Silva; Carmen Helena Foro; Dary Beck Filho; Elisângela dos Santos Araújo; Expedito Solaney; Jacy Afonso de Melo; Jasseir Alves Fernandes; João Felício; José Celestino; Julio Turra; Junéia Martins Batista; Manoel Messias; Maria Julia Nogueira; Pedro Armengol; Quintino Severo; Rogério Pantoja; Rosana Sousa de Deus; Rosane Silva; Shakespeare Martins de Jesus; Vagner Freitas; Valeir Ertle. Jornalista responsável: Isaías Dalle (MTB 16.871). Redação e edição: Isaías Dalle, Leonardo Severo, Luiz Carvalho, Paula Brandão, Vanessa A. Paixão (secretaria e revisão), William Pedreira da Silva e Éder Eduardo (programador). Projeto gráfico e diagramação: TMax Propaganda. Capa: Valter Campanato, Impressão: Bangraf. Tiragem: 20 mil exemplares.

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Nesta edição, homenageamos os trabalhadores que cruzaram os braços para cobrar direitos e respeito. A foto acima mostra a assembleia dos professores mineiros, que se mantiveram em greve -assim como os cearenses- por mais de 100 dias para cobrar do governador Antonio Anastasia (PSDB) o pagamento do Piso Salarial Nacional. Também estendemos nossos cumprimentos aos companheiros dos Correios, em luta por melhores salários. Já no setor privado, desde o dia 27 de setembro os bancários suspenderam as atividades para cobrar dos banqueiros a divisão dos lucros extraordinários acumulados ao longo do ano passado.

Agen a

Creche pública e de qualidadeA Contracs-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT) lança dia 12 de outubro a Campanha Nacional de luta pela creche pública e de qualidade para todas as crianças de 0 a 7 anos.

Seminário de Comunicação da CUT-RJCom o objetivo de discutir os atuais desafios da comunicação sindical cutista, à luz das novas tecnologias e das lutas pela democratização das comunicações, a CUT-RJ realizará nos dias 13 e 14 de outubro um Seminário de Comunicação.

CUT no 1º Encontro Mundial de BlogueirosA cidade paranaense de Foz do Iguaçu sediará entre os dias 27 e 29 de outubro o 1º Encontro Mundial de Blogueiros com o tema “O papel das novas mídias na construção da democracia”. Na compreensão da CUT, a defesa da Telebrás e de um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) regido pelo interesse público e não pelo das teles faz parte da nossa agenda comum, assim como a regulamentação dos artigos constitucionais que garantem a complementaridade do sistema público, privado e estatal.

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Artur Henrique, presidente nacional

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Nas Plenárias da CUT, decisões que ajudaram a mudar o Brasil

Naquele tempo, as resoluções ainda eram escritas à mão, nem tanto pela tecnologia da época, mas pelo espírito que permeava uma central que dava seus primeiros passos como instituição formal.

A primeira Plenária Nacional da CUT aconteceu no dia 18 de maio de 1984, em São Paulo. Na verdade, a numeração ainda não existia, o encontro era conheci-do apenas como Plenária Nacional. Segundo o livreto “Cronologia das Lutas”, editado pela CUT em 2009, a principal resolução daquele debate apontava para o boicote ao colégio eleitoral – que escolheria Tancredo Neves sem voto popular no ano seguinte.

Na segunda, realizada em dezembro de 1985, em São Bernardo, destaque para a reafirmação da luta por uma nova estrutura sindical, com a ratificação da Convenção 87 da OIT – projeto inconcluso até hoje.

Entre os dias 5 e 7 de junho de 1987, nova Plenária Nacional, também na cidade do ABC paulista, aprova a realização de um abaixo assinado para defender as emendas dos movimentos sociais à Constituição Federal que estava sendo elaborada em Brasília.

Dois anos depois, aquela que seria a quarta Plenária elaborou resolução defendendo a suspensão do pagamento da dívida externa, a necessidade de realizar a reforma agrária e a valorização dos salários contra a especulação financeira. O encontro aconteceu no mês de agosto de 1989, em São Bernardo do Campo.

A aprovação de uma campanha salarial unificada, com todas as categorias, dentro do conceito de contrato coletivo nacional, foi uma das decisões da Plenária que aconteceu em agosto de 1990, em Belo Horizonte.

A numeração finalmente foi adotada em julho de 1992, naquela que foi intitulada a 5ª Plenária Nacio-nal da CUT, em São Paulo – na verdade, numa conta simples, tratar-se-ia da sexta plenária. Uma das resoluções mais impactantes, naquele momento, foi a defesa do impeachment do presidente Collor.

Na 6ª Plenária, em agosto de 1993 na cidade de São Paulo, as resoluções engajavam a militância na campanha contra a fome e a miséria, capitanea-da por Betinho, confirmavam a participação da CUT nas câmaras setoriais, posicionavam-se contra o processo de revisão da Constituição que os conservadores queriam instituir e aprovavam a cota de 30% para as mulheres nas direções de nossas entidades.

Com homenagem a Zumbi dos Palmares, a 7ª Plenária defendeu, entre outras posições, a constru-ção do Sistema Democrático de Relações do Traba-lho. A Plenária aconteceu em São Paulo.

Canudos, luta popular no sertão nordestino no final do século 19, foi a homenageada da 8ª Plenária, também realizada em São Paulo, no mês de agosto de 1996. O mote principal das resoluções foi a luta

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contra o desmonte do Estado e do emprego por parte do governo FHC.

A 9ª Plenária, batizada de Santo Dias, realizada entre 17 e 20 de agosto de 1999, decidiu pela realização da Marcha dos 100 mil – que ocorreria em novembro daquele ano – e o combate à Alca, proposta que seria derrotada pela mobilização popular.

Em maio de 2002, precedendo a eleição de Lula presidente, a 10ª Plenária, em São Paulo, foi a primeira em que a CUT defendeu abertamente o voto no candidato majoritário do PT.

A 11ª Plenária, que ocorreu em maio, na capital paulista, teve entre a s principais resoluções a defesa de uma política de valorização permanente do salário mínimo, que viria a ser conquistada nos anos seguin-tes graças às mobilizações das Marchas Nacionais do Salário Mínimo. O encontro também aprovou a participação da CUT no Fórum Nacional do Trabalho com o objetivo de promover a reforma sindical – projeto que ficou pronto em 2005 mas que, por força da crise política daquele ano, ficaria parada no Congresso.

Coincidindo com o aniversário de 25 anos da CUT, a 12ª Plenária apontou como estratégia para o período seguinte a disputa da hegemonia no movimento sindical, reafirmando a construção e consolidação da Plataforma da CUT para a Classe Trabalhadora. A Plenária foi encerrada com uma grande passea-ta/comemoração em São Bernardo, no dia 8 de agosto.

Cena do filme “Lula Relembra 1ª Conclat 30 Anos Depois”, uma produção da CUT e da Tatu Filmes, que terá sessão especial na 13ª Plenária Nacional e cuja versão em DVD será distribuído aos delegados e delegadas. O filme capta reações e comentário de Lula enquanto ele assiste ao filme 1ª Conclat, realizado em 1981 e do qual ele é um dos protagonistas.

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Nos últimos oito anos, programas sociais de transferên-cia de renda e políticas públicas como a valorização do salário mínimo permitiram que mais de 20 milhões de pessoas deixassem a extrema pobreza no Brasil. O cenário de mobilidade social, porém, não é o mesmo quando o assunto é a distribuição de terra, ainda um sério obstáculo para fazer avançar a democracia.

De acordo com o mais recente censo agropecuário, divulgado em 2006 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os estabelecimentos com menos de 10 hectares, apesar de representarem 47% do total de propriedades rurais do país, não possuem nem 3% das terras. Já as propriedades com mais de mil hecta-res, menos de 1% das propriedades, são donas de 44% da área total.

Um estudo do geógrafo e pesquisador da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) Bernardo Mançano Fernandes aponta ainda que, em 1992, havia 245 milhões de hectares de terras nas mãos de grandes empresas, contra 86 milhões em posse de propriedades familiares. Em 2011, o número cresceu para 443 milhões para o primeiro grupo contra 148 milhões para o segundo. Explosão que ocorre, segundo ele, por conta da expansão da derrubada das florestas e do cresci-mento do registro de imóveis por quem não o fazia para não pagar imposto.

“O Brasil realiza um modelo de reforma agrária não ofensiva, em que o governo promove o assentamento majoritariamente em áreas do próprio governo. O que ocorre é a regularização de posseiros, não há redistribu-ição de terra”, critica, lembrando que o índice Gini, que mede o grau de desigualdade segundo a renda domicili-ar per capita, não mudou.

O resultado dessa desigualdade é o conflito no campo, que segundo relatório da CPT ( omissão Pastoral da Terra) cresceu 30% em 2010 comparado a 2009. Apenas no Pará, onde o agronegócio mais expande seus domí-nios, quatro trabalhadores foram assassinados neste ano.

Apesar dos desafios ainda presentes, a Coordenadora Geral da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf), Elisângela Araújo, acredita que o Brasil passou a enxergar a agricultura familiar como parte de um novo modelo de desenvolvimento nos últimos oito anos e cita como exemplos o Programa de Aquisição de Alimentos, a diminuição dos juros para empréstimos, a manutenção dos R$ 16 bilhões destinado ao Plano Safra da Agricultura Familiar – que aumentou 75% entre 2000 e 2009, segundo dados do Ministério da Agricultu-ra – e, principalmente, a Política de Garantia de Preço Mínimo para os produtores familiares.“Era uma antiga reivindicação nossa”, destaca.

De acordo com a medida anunciada pela presidenta Dilma Rousseff, em caso de quebra de safra, o produtor

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Brasil começa a enxergar agricultura familiar como alternativa de desenvolvimento, mas falta investimento em pesquisa e em estrutura

poderá vender seu produto ao governo por um preço mínimo que garanta o custeio e uma parte do lucro, evitando, assim, o endividamento das famílias.

Dívidas, que, segundo Elisângela, exigem maior ousadia do governo federal. “O programa de seguro agrícola ainda não é suficiente e não temos uma política resolvida de assistência técnica e pesquisa. Até porque, os que vieram antes do presidente Lula sucatearam as empre-sas públicas e agora é necessário reconstruir. Ainda não há transferência de conhecimento. A água para produção no semi-árido brasileiro, por exemplo, ainda é um desafio e para expandir precisamos vencer distâncias climáticas e biomas por meio da assistência técnica e da pesquisa financiadas pelo Estado.”

Segundo ela, o próximo passo é fazer com que a agricultura familiar também consiga trabalhar em ampla escala, porém, num modelo sustentável. “A agricultura familiar precisa avançar para a universalização de um modelo agroecológico. Nós que somos responsáveis por quase 70% dos alimentos na mesa do Brasil precisamos ser o contraponto, já que o agronegócio faz com que o Brasil seja o campeão em uso de agrotóxico”, diz.

Por outro lado, a opinião comum é que a reforma agrária A dívida com a reforma agrária e com a juventude –

veria ter tido mais atenção do governo Lula. “Tanto pela destinação do orçamento quanto em relação à família assentadas, deixamos muito a desejar. Há casos, por exemplo, de famílias assentadas há quatro anos, mas que continuam na condição de acampadas. Entrarão nas estatísticas, mas nunca conseguiram receber do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) a infraestrutura necessária”, avalia Débora Nunes, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Dados do Incra indicam que entre 2003 e 2010 foram incorporados a assentamentos 48,3 milhões de hectares de terras e 614 mil famílias. Os números representariam 66,4% do total de assentados no país. Mas, representan-tes dos movimentos sociais afirmam que o levantamento incluiu famílias que já estavam produzindo, mas sem a titulação da propriedade.

Para a dirigente do MST, o fato é que o Estado não pode abrir mão do processo de assentamento por acreditar que já é uma questão resolvida, sendo necessário agora apenas o financiamento da produção familiar. “Há mais de 4 milhões de pessoas ainda demandando um lugar para viver e plantar .

Ela acrescenta ainda que as policias públicas precisam

agir em conjunto. A reforma agrária é um problema da União, mas do ponto de vista do desenvolvimento do assentamento, se os governos estaduais e municipais também não atuarem em parceria para construir estra-das, fornecer abastecimento de água, saneamento, informação, tecnologia, não iremos garantir condições de permanência no campo e agregar valor ao que produzi-mos”, explica.

De acordo com Débora, há ausência de ações para evitar a evasão dos jovens. “Como nossos filhos permanecerão no campo se não tivemos escola, como em Alagoas, onde não há sequer uma escola em área de assenta-mento? Temos avançado, mas precisamos que os programas levem em conta as especificidades do ambiente rural, ao invés de transportar o que é ensinado na cidade. E se há carência no acesso a esse direito básico, imagine em outras áreas como o lazer, a educa-ção, a comunicação”, indica.

O fundamental é que para um Brasil realmente sem miséria, prioridade da presidenta Dilma, lembra Débora Nunes, a democratização do campo é indispensável. “Não iremos garantir a soberania alimentar e a superação da miséria se não fizermos a reforma agrária. Basta ver como os assentamentos conseguem desenvolver as regiões onde estão.”

Produção familiar

Responsável por 70% dos alimentos na mesa dos brasileiros cobra apoio do Estado para universalizar o modelo agroecolófico

Campanhas em pauta

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Concentração de terra é um ataque à democracia CUT quer reforma do

imposto territorial ruralSegundo o presidente da CUT, Artur Henrique, há três medidas fundamentais para democratizar o acesso à terra no Brasil: aprovar a PEC 438 do Trabalho Escravo – que destina à reforma agrária propriedades onde for constatada a presença de trabalhadores em situação análoga à escravidão –, definir o limite de propriedade da terra e mudar o imposto territorial rural.

Sobre o primeiro ponto, o dirigente destaca as dificuldades encontradas por lideranças do PT e do PCdoB, favoráveis ao tema no Congresso, em colocar a questão em votação diante da pressão de represen-tantes do agronegócio. Há nove anos o projeto aguarda decisão da Casa.

Artur lembra ainda que a discussão sobre o limite de propriedade da terra, fundamental para que mais pessoas tenham onde morar e plantar, permanece parada. “Não conseguimos sequer a atualização dos índices de produtividade da terra”, critica.

Por fim, ele ressalta a necessidade de definir a progressividade do imposto territorial rural, dentro do

pacote da reforma tributária, para mudar a situação atual em que os grandes latifundiários concentram um percentual enorme de terras e pagam valores irrisó-rios. “Precisamos mudar o modelo agrário brasileiro atualmente voltado principalmente para a exportação de commodities. Devemos ter um equilíbrio entre o agronegócio e o fortalecimento da agricultura familiar.”

Todas essas questões, lembra Artur, passam pela reforma política que, por sua vez, depende da mobili-zação dos movimentos sociais. “Precisamos mudar a correlação de forças no Congresso. A reforma agrária é absolutamente capitalista e foi feita nos países mais desenvolvidos do mundo onde não há grandes proprietários de terra como há no Brasil.

Mas, para isso, temos que ter parlamentares compro-metidos com trabalhadores do campo e da cidade. E isso só acontecerá quando tivermos financiamento público de campanha e não apenas representantes eleitos com recursos investidos pelos bancos, pelos grandes proprietários de terra e por grandes empre-sas, como empreiteiras.”

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Reforma do Código favorece apenas agronegócio

Código Florestal: Resultado de intensa pressão dos movimentos sociais, as mudanças propostas ao Código Florestal foram o centro das discussões na Câmara dos Deputados, em especial no primeiro semestre de 2011. O polêmico relatório apresentado pelo Deputa-do Aldo Rebelo (PCdoB-SP) estarreceu a sociedade e promoveu uma queda de braços em que, de um lado estão os interesses do latifúndio e agronegócio, e do outro, a sociedade civil organizada brasileira: trabalha-dores do campo e da cidade, movimentos de luta pela terra, intelectuais, artistas, pastorais, universidades, ambientalistas. Após muita negociação e pressão da sociedade, o relatório na Câmara sofreu modifica-ções, mas ainda muito aquém das necessárias.

Hoje, no Senado Federal, é perceptível que os parlamentares estão mais conscientes da legislação atual, das implicações e riscos que as novas propostas estão trazendo e das conseqüências para o Brasil e para o mundo de uma mudança irresponsável, aos moldes do que propunha o relator Aldo Rebelo, na Câmara.

O Código já foi aprovado pela Comissão de Constitui-ção e Justiça do Senado, no entanto, poderá voltar a ela caso se comprove ao longo das demais comissões alguma inconstitucionalidade. O senador Luiz Henrique (PMDB-SC) comprometeu-se a articular alterações nas demais comissões de Ciência e Tecnologia, seguido da Agricultura e da Comissão de Meio Ambiente, cujo relator será o Senador Jorge Viana (PT-AC).

Lamentavelmente, no Senado foi mantida a proposta de anistia aos que desmataram até o ano de 2008, algo que equivale a 29,6 milhões de hectares,

segundo dados do IPEA. Esses ficariam livres das multas, assim como da restauração das áreas degradadas. Existe ainda outro complicador, o não cumprimento da meta de 38% de redução de emis-sões de CO2 até 2020 assumidos pelo Brasil na COP 15. As consequências equivalem à possibilidade de mais 47 milhões de hectares desmatados, ou seja: uma retomada “colonial” em pleno século XXI.

Diante disso, a CUT tem a importante missão de continuar a lutar pelo reconhecimento da agricultura familiar como um modelo sustentável de produção que não dá à terra o mesmo tratamento do agronegócio, porque o agricultor familiar não produz com o mesmo impacto ambiental que o grande latifundiário e não está envolvido com grandes concentrações de terra. Historicamente, os movimentos sociais travam uma disputa com o modelo expropriador do latifúndio e do agronegócio brasileiro, pelo manejo sustentável da terra e da floresta e estão cada vez mais unidos na exigência de um modo de produção e consumo que garantam a manutenção da vida no planeta.

Unidade essa que está expressa em espaços como no Comitê em Defesa das Florestas e do Desenvolvimen-to Sustentável, lançado em junho deste ano, que mantém também um endereço onde você pode participar de um abaixo-assinado contra a reforma para pior do Código Florestal. Basta acessar

e divulgar.

Além disso, perante um cenário de crise mundial e em um momento em que o mundo está voltado para o debate da disputa pelo modelo de desenvolvimento, é necessário dialogar com a sociedade sobre a urgência

www.flo-restafazadiferenca.com.br

de um modelo de produção e consumo sustentáveis. E para isso teremos um amplo campo de debate na Conferência Rio +20, que acontece na capital carioca duas décadas após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92), também no Rio de Janeiro. Esse será um momento fundamental para o país assegurar compromissos e responsabilidades assumidas pelas nações.

O desafio para o movimento sindical é atuar de forma unificada, fortalecendo a unidade dos trabalhadores e intensificando o intercâmbio de experiências para pressionar os governantes e fazer com que saiam dessa conferência com transformações reais e submetidas a compromissos de cumprimento.

Para a CUT, é fundamental que o debate sobre o desenvolvimento sustentável leve em conta a geração de emprego verde dentro da estrutura de trabalho decente, a taxação de fluxo financeiro para financiar o desenvolvimento sustentável e a proteção ao ecossis-tema, além da proteção social como forma de diminuir a pressão sobre os recursos naturais.

a luta contra a pressão ruralista e latifundiária

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Dados da luta agrária no Brasil

Quem tem

TERRAApesar de representar 84,4% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros, a agricultura familiar ocupa apenas 24,3% do total de terras.

Quem Produz

Mesmo com uma área territorial menor, a agricultura familiar é responsável por 70% dos produtos que vão à mesa dos brasileiros e emprega 74% de todo o pessoal que trabalha no campo.

Quem ocupou terras no Brasil

(entre 2000 e 2009)MST (75,13% das ocupações), Contag (9,40%), Fetraf (3,07%), MLST (2,70%, CPT (2,33%), Movimentos Indígenas (1,86%), OLC (1,69%), CUT (1,55%), MTL (1,27%) e MAST (1%)

Segundo levantamento do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), a bancada do agronegócio, uma das mais eficientes do Congresso, conta com 140 deputados federais e 18 senadores. Já a bancada sindical é composta por 83 deputados e 8 senadores. Desses, cinco tem origem na agricultura.

Quem manda

Carmen Foro Secretária de Meio Ambiente da CUT

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A presidente da Fenatrad, Creuza Oliveira, esteve em Genebra

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Mar de solidariedade nas ruas pela Palestina livre e soberana

Um mar de solidariedade tomou as ruas de todo o mundo no dia 20 de setembro em apoio ao reconhe-cimento do Estado da Palestina, já! Na capital paulista, a passeata convocada pela CUT e demais centrais, movimentos sociais e partidos populares, defendeu o direito do povo palestino à sua Pátria, soberana, livre da opressão israelense.

Conforme o presidente da CUT, Artur Henrique, “o povo brasileiro está nas ruas para dizer que apoia a criação do Estado palestino e é contra a posição que Israel e Estados Unidos vão defender na ONU. Viva a Palestina, a justiça, a paz e a liberdade”.

Discursando nas escadarias do Teatro Municipal, o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Antonio Felício, deu um depoimento emocionado sobre o que viu quando esteve na Palestina, ao lado da secretária geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), Sharon Burrow, durante as comemorações do 1º de Maio deste ano. “São 800 quilômetros de muro com os quais os israelenses impedem que os palestinos circulem em seu próprio país, são muros que servem para lhes roubar a água, para impedir que suas crianças vão à escola, para segregar. É uma política de assentamentos ilegais para expulsar a população que não se dobra à política belicista e excludente”, denunciou.

Entre outros, participaram da mobilização militantes do MST, UNE, UBES, Marcha Mundial das Mulheres e dirigentes do PT, PCdoB, PSB e PPL.

Representando a Coordenação dos Movimentos Sociais, Rosane Bertotti frisou que “a amplitude aqui demonstrada é fundamental para conseguirmos

derrotar a política de terrorismo de Estado e apar-theid adotada por Israel contra os palestinos”.

Encerrando o ato, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, destacou que “a partir de hoje, a luta pelo estado palestino independente, livre e com Jerusalém como capital ganha uma nova dimensão”. Ibrahim denunciou a manutenção nos cárceres de Israel de milhares de presos políticos palestinos e enfatizou que é chegada a hora de

libertar Israel do belicismo de seus mandatários de direita. O embaixador lembrou que em Ramalah, na Cisjordânia, onde atualmente está sediada a Autoridade Nacional Palestina (ANP), próxima ao busto do ex-presidente e líder Yasser Arafat, “a principal rua da cidade tem o nome de Brasil”. “Obrigado Lula, obrigado Dilma, obrigado povo brasileiro”, concluiu.

A presidenta Dilma Rousseff, primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU, reiterou o compromisso do Brasil com o reconheci-mento do Estado palestino.

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Há 30 anos nascia um jornal que tinha lado e não se envergonhava disso. Aliás, não fazia questão nenhuma de maquiar essa postura porque surgia exatamente para ser uma voz dissidente em um Brasil sob a vergonha da ditadura militar.

Em “Jornal Movimento, Uma Reportagem” (Editora Manifesto, 362 páginas), Carlos Alberto de Azevedo conta, com reportagens de Marina Amaral e Natalia Viana, a trajetória do semanário que esteve ao lado dos movimentos populares para enfrentar a repressão e foi pioneiro na defesa de temas como a redemocratização,

a anistia geral, ampla e irrestrita e pela Assembleia Nacional Constituinte.

Apoiado por uma estrutura sem ajuda das redes sociais que nem existam, foi lançado a partir de uma empresa formada com a contribuição de 500 pessoas, entre intelectuais, estudantes e trabalhadores. E reuniu em suas 334 edições jornalistas que fundiam o exercício da profissão à militância. Nomes como Raimundo Pereira, Elifas Adreato, Bernardo Kucinski, Flávio Aguiar, José Miguel Wisnik e Ricardo Kotscho participaram da publicação que já nasceu censurada.

Como não poderia deixar de ser, o movimento sindical do ABC, nos anos 1980, foi assunto constantes e pauta de diversas reportagens e análises.

O livro faz parte do projeto convidado do Programa Petrobrás Cultural e é resultado da pesquisa de documentos inéditos e mais de 60 entrevistas. Acompa-nha ainda um caderno de fotos e um DVD com todas as edições do jornal.

A publicação também está disponível para download. Para baixar, acesse o link: http://bit.ly/kSmU1f.

Movimento: 30 anos de um jornal popular

Embaixador agradece a Lula, Dilma e ao Brasil

In ernacional

CUT participou de ato em São Paulo pelo reconhecimento do Estado da Palestina