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Assmann - Kant
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01/05/2015 Jornal Floripa Total um jornal de opinião para ser lido
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Boa tarde Sextafeira, 01 de Maio de 2015
Relendo... Emanuel Kant, O que é o Iluminismo Edição: 27 / Por SELVINO JOSÉ ASSMANN
Foi Foucault, um pensador reconhecido pelo vanguardismo, quem resgatou este texto
... Kant, redigido em 1783, das leituras ideologizadas do século XIX.
Longe de ser um texto comprometido com uma visão ultrapassada da realidade, na leitura de
Foucault, Kant aparece questionando o presente a partir do presente. Ele se torna assim pioneiro
de uma linha do pensamento crítico que albergará pensadores tão distintos como Hegel,
Nietzsche, Weber, Adorno, Heidegger, Habermas e Foucault, entre outros.
Mas qual seria a atualidade de Kant? O Iluminismo kantiano é um chamado ao abandono de uma
situação políticocultural degradada (“menoridade”), pela qual não cabe responsabilizar a nada,
nem a ninguém, mas sim ao próprio indivíduo. A situação de inferioridade na qual se encontram
os seres humanos não é resultado de particulares estruturas produtivas ou despotismos, mas de
uma atrofia das capacidades intelectuais de cada um de nós pela “falta de uso”, por assim dizer.
É por preguiça ou covardia que nos deixamos conduzir por tutores em ver de sermos autônomos
(maiores de idade). Num sentido político, Kant é o fundador da crítica aos diversos tipos de
paternalismos, populismos e supostas ideologias da “libertação” que circulam pelo mundo. E uma
transformação profunda não se define através da condução das massas por um líder “iluminado”,
nem pela derrubada do déspota de turno que eventualmente as subjuga.
Muito pelo contrário, a verdadeira transformação deriva da mudança do “modo de pensar”. O
destino do homem é a liberdade. Aqueles políticos, revolucionários ou conservadores, que
condicionam a liberdade para perseguir fins supostamente mais elevados, condenam o homem à
menoridade, e a sociedade à decadência.
Fragmentos escolhidos de “O que é o Iluminismo”*
O iluminismo é a saída do homem de um estado de menoridade que deve ser imputado a ele
próprio. Menoridade é a incapacidade de servirse do próprio intelecto sem a guia de outro.
Imputável a si próprios é esta menoridade se a causa dela não depende de um defeito da
inteligência, mas da falta de decisão e da coragem de servirse do próprio intelecto sem ser
guiado por outro. Sapere aude! (tem a coragem de saber!). A coragem de servirte da tua própria
inteligência! é, portanto, o lema do Iluminismo.
É tão cômodo ser menor! Se eu tiver um livro que pensa por mim, um diretor espiritual que tem
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01/05/2015 Jornal Floripa Total um jornal de opinião para ser lido
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consciência por mim, um médico que decide por mim sobre a dieta que me convém etc., não
terei mais necessidade de me preocupar por mim mesmo. Embora eu goze da possibilidade de
pagar, não tenho necessidade de pensar: outros assumirão por mim essa enjoada tarefa. De
modo que a estrondosa maioria dos homens (e com eles todo o belo sexo) considera a
passagem ao estado de maioridade, além de difícil, também muito perigosa, e provêm já os
tutores que assumem com muita benevolência o cuidado vigilante sobre eles. Depois de têlos
em um primeiro tempo tornado estúpidos como se fossem animais domésticos e ter
cuidadosamente impedido que essas pacíficas criaturas ousassem mover um passo fora do
andador de crianças em que os aprisionaram, em um segundo tempo mostram a eles o perigo
que os ameaça caso tentassem caminhar sozinhos. Ora, este perigo não é assim tão grande
como se lhes faz crer, pois ao preço de alguma queda eles por fim aprenderiam a caminhar: mas
um exemplo deste gênero os torna em todo caso medrosos e em geral dissuade as pessoas de
qualquer tentativa ulterior.
É, portanto, difícil para cada homem particular desembaraçarse da menoridade que para ele se
tornou quase uma segunda natureza. Ele chega até a amála e, no momento, é realmente
incapaz de servirse de seu próprio intelecto, pois nunca lhe foi permitido colocálo à prova.
Regras e fórmulas, estes instrumentos mecânicos de um uso racional, ou melhor, de um abuso
de suas disposições naturais, são os laços de uma menoridade eterna. Mesmo que deles
conseguisse se soltar, mais não faria que um salto inseguro até mesmo sobre os mais pequenos
buracos, pois não estaria treinado a tais movimentos livres. Portanto, apenas poucos
conseguem, com a educação do próprio espírito, desembaraçarse da menoridade e apesar de
tudo caminhar com passo seguro.
Talvez uma revolução poderá, sim, determinar a liberação em relação a um despotismo pessoal
e de uma opressão ávida de ganho ou de poder, mas nunca uma verdadeira reforma do modo de
pensar. Todavia, também é verdade que apenas aquele que, iluminado ele próprio, não tem medo
das sombras e ao mesmo tempo dispõe a garantia da paz pública de um exército numeroso e
bem disciplinado, pode enunciar aquilo que uma república não pode arriscarse a dizer: raciocinai
o quanto quiserdes e sobre tudo aquilo que quiserdes; apenas obedecei! Revelase aqui um
estranho e inesperado curso das coisas humanas; como, de resto, em outros casos,
considerando esse curso em tamanho grande, quase tudo nele parece paradoxal. Um maior grau
de liberdade civil parece favorável à liberdade do espírito do povo, e todavia põe a ela limites
intransponíveis; um grau menor de liberdade civil, ao contrário, oferece ao espírito o espaço para
desenvolverse com todas as suas forças. Portanto, se a natureza desenvolveu sob este duro
invólucro o germe do qual ela toma o mais inteiro cuidado, isto é, a tendência e vocação para o
livre pensamento, esta tendência e vocação gradualmente reage sobre o modo de sentir do povo
(motivo pelo qual este, pouco a pouco, tornase sempre mais capaz da liberdade de agir) e
finalmente até sobre os princípios do governo, o qual percebe que é vantagem para si próprio
tratar o homem, que doravante é mais que uma máquina, de modo conforme com a dignidade
que ele tem.
Apresentação por HÉCTOR RICARDO LEIS e SELVINO JOSÉ ASSMANN
* Extraídos de: http://rgirola.sites.uol.com.br/Kant.htm
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