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J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C Ano 6 | Número 46 | abril de 2005 | Belo Horizonte/MG distribuição GRATUITA “Belíndia”. Assim o economis- ta Edmar Bacha definiu a situação do Brasil, uma mistura de qualida- des relacionadas com a riqueza da Bélgica e com a pobreza da Índia. A expressão, cunhada em 1974, ain- da é válida, apesar de a campanha do governo anunciar os avanços econômicos do País. Mesmo assim, o Brasil continua entre os países que apresentam índice de desigualdade inaceitável conforme os critérios da Organização das Nações Unidas (ONU) para medir o desenvolvi- mento. O Ponto mostra essa situa- ção na economia (quem ganha e quem perde com a política dos ju- ros altos), na educação (os alunos ca- rentes e abastados da Universidade Federal de Minas Gerais), na saúde (a desnutrição e obesidade infantil), na política (a retórica do alto e do baixo clero), na cultura (a concen- tração de atividades na região cen- tro-sul) e na mídia (chacinaXlivro de Paulo Coelho).Publica ainda ma- téria especial que mostra por meio do lixo produzido em uma região de Belo Horizonte (Barragem San- ta Lúcia/São Bento), marca da con- vivência tão próxima de um bairro habitado por pessoas de alto poder aquisitivo e de uma localidade tipi- camente de favela (foto), é possí- vel observar a disparidade entre as rendas da população brasileira. Essa relação foi muito bem explorada pela mídia na co- bertura da morte de João Pau- lo II e na eleição de Bento XVI. A partir da análise de textos, fotos, charges e pro- gramação gráfica publicados nos grandes jornais do Brasil, fica evidente que a relação en- tre mídia e religião merece um aprofundamento muito maior do que as costumeiras queixas a respeito do poder político das igrejas. Teologia da libertação Uma palestra sobre a Teologia da Libertação vai marcar o lança- mento desta edição de O Ponto ,no dia 4 de maio, às 9h30, na sala 309, na Faculdade de Ciências Huma- nas da Fumec.Na ocasião também será abordado um dos temas mais discutidos no momento: a relação entre mídia e religião. MITO e espetáculo DESIGUALDADE DESIGUALDADE BH, cidade típica da convivência entre uma minoria rica e os 80% de brasileiros que vivem com uma renda muito baixa [ página 8 e 9 ] Victor Shuwaner Ilustração: Juliamo Mendonça sobre fotografia de Max Rossi/Reuters

Jornal O Ponto - abril de 2005

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - abril de 2005

J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C

A n o 6 | N ú m e r o 4 6 | a b r i l d e 2 0 0 5 | B e l o H o r i z o n t e / M G

d i s t r i b u i ç ã oG R A T U I T A

“Belíndia”. Assim o economis-ta Edmar Bacha definiu a situaçãodo Brasil, uma mistura de qualida-des relacionadas com a riqueza daBélgica e com a pobreza da Índia.A expressão,cunhada em 1974,ain-da é válida, apesar de a campanhado governo anunciar os avançoseconômicos do País.Mesmo assim,o Brasil continua entre os países queapresentam índice de desigualdadeinaceitável conforme os critérios daOrganização das Nações Unidas(ONU) para medir o desenvolvi-mento. O Ponto mostra essa situa-ção na economia (quem ganha equem perde com a política dos ju-ros altos),na educação (os alunos ca-

rentes e abastados da UniversidadeFederal de Minas Gerais), na saúde(a desnutrição e obesidade infantil),na política (a retórica do alto e dobaixo clero), na cultura (a concen-tração de atividades na região cen-tro-sul) e na mídia (chacinaXlivrode Paulo Coelho).Publica ainda ma-téria especial que mostra por meiodo lixo produzido em uma regiãode Belo Horizonte (Barragem San-ta Lúcia/São Bento),marca da con-vivência tão próxima de um bairrohabitado por pessoas de alto poderaquisitivo e de uma localidade tipi-camente de favela (foto), é possí-vel observar a disparidade entre asrendas da população brasileira.

Essa relação foi muito bemexplorada pela mídia na co-bertura da morte de João Pau-lo II e na eleição de BentoXVI. A partir da análise detextos, fotos, charges e pro-gramação gráfica publicadosnos grandes jornais do Brasil,fica evidente que a relação en-tre mídia e religião mereceum aprofundamento muitomaior do que as costumeirasqueixas a respeito do poder

político das igrejas.

Teologia da libertaçãoUma palestra sobre a Teologia

da Libertação vai marcar o lança-mento desta edição de O Ponto,nodia 4 de maio,às 9h30,na sala 309,na Faculdade de Ciências Huma-nas da Fumec.Na ocasião tambémserá abordado um dos temas maisdiscutidos no momento: a relaçãoentre mídia e religião.

MITOe espetáculo

DESIGUALDADEDESIGUALDADEBH, cidade típica daconvivência entre

uma minoria rica e os 80% de brasileiros que vivem com uma renda muito baixa

[ página 8 e 9 ]

Victor Shuwaner

Ilustração: Juliamo M

endonça sobre fotografia de Max Rossi/Reuters

01-Capa - Rafael W. 5/2/05 1:11 PM Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - abril de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo

2 OPINIÃO

Daniel Gomes4º período

No Brasil, a caminhada demãos dadas entre desenvolvi-mento econômico e social foi ra-ramente vista.Para o leigo,a cons-tatação do desenvolvimento dopaís vem por meio de compara-ção com o primeiro mundo.Desnecessário dizer que essa é amaneira mais equivocada deabordar o tema.As condicionan-tes à época do desenvolvimentode países como Inglaterra e EUAsão absolutamente distintas das dehoje.Não é correta a hipótese dese trilhar o mesmo caminho des-ses países para atingir o mesmoresultado.

Refletindo sobre o Brasil, édifícil apontar o problema prin-cipal que assola o país, mas umdeles é a péssima distribuição derenda. Isso acontece,entre outrascoisas, porque grandes multina-

cionais se instalam por aqui commuitas regalias por parte do go-verno, investem milhões, dão al-guns milhares de empregos, maslevam para seu país de origem osmilhões (muitos mais do que oinvestimento) em lucros, arran-cando dos trabalhadores que elaemprega parte dos seus rendi-mentos. Isso demonstra que oBrasil se torna um mero quintaldo exterior. Mão-de-obra bara-ta, instalação facilitada e impos-tos baixos entre outros.Tudo is-so gera lucros tremendos quenunca ficam no país.

Ao contrário de facilitar avinda de fábricas de bens indus-triais,o Brasil deveria investir emfábricas de bens de consumo,quesão de acesso a todos. Isso con-tribuiria para o crescimento deum mercado interno, que hojepraticamente inexiste, distribui-ria renda e possibilitaria um de-senvolvimento sustentável.

Bruno Figueiredo6º período

A distância entre o que seimagina da Índia e o que de fa-to se vê por lá é imensa.A po-pulação do país já é superior a1 bilhão de pessoas e o territó-rio é menor que a metade daárea brasileira. 250 milhões depessoas, número maior que oda população tupiniquim, vi-vem abaixo da linha da pobre-za. Nós “ganhamos” apenas nadesigualdade social, a maior domundo.

O táxi que peguei ao sair doaeroporto de Nova Delhi, a ca-pital indiana, seguiu através deruas sujas e por um trânsito en-louquecido ao som de uma or-questra ensurdecedora de buzi-nas. Quando olhava pela janelae tudo ao redor parecia com aperiferia de São Paulo, penseique havia caído na maior fura-da. O choque cultural foi gran-de, e deve ser ainda maior paraaqueles que esperam encontrarpessoas praticando Yoga e vacascoloridas vagando pelas ruas. Oque se vê é um número massi-vo de pessoas vestidas com tra-pos sujos, com um sorriso semos dentes e que dividem o es-paço com vacas, porcos e ma-cacos.A pobreza escancarada fa-zia me sentir culpado por serum turista.

A independência “não vio-lenta”da Índia ocorreu em1947 e hoje o país a maior de-mocracia do mundo. Sua moe-da é a Rupia Indiana, que equi-vale pouco mais de oito centa-vos de real. Sua economia cres-ceu 8% nos últimos dois anos eo desemprego atinge 9,5%.Qualificados técnicos de infor-mática são exportados, porém,por um preço de banana.

81.3% dos indianos são hin-dus,uma religião que possui umsistema de casta que condenatodos a um lugar fixo na hie-rarquia social. Dentro de umsenso comum mundial, a Índiaé sinônimo de evolução espiri-tual e misticismo, o que é mo-da inclusive no Brasil. Mas oque pude perceber é que o paísé “ZEN” para muito poucos.

Não há fato melhor para a imprensa do quea morte um líder mundial ou uma tragédia dede grandes proporções como a do tsunamis,por exemplo. E isto está evidente na cobertu-ra dada pela imprensa mundial à morte do pon-tífice João Paulo II.A Rede Globo de Televi-são se portou como a mais emblemática do cir-co que foi montado em Roma.Antes mesmodo papa morrer, a Globo enviou sua principalequipe de telejornalismo para montar o teatrodo sensacionalismo, pois, assim que a Santida-de morresse, estariam todos prontos para o es-petáculo. E não deu outra: foi muito emocio-nante ver o William Bonner fora do Jornal Na-cional, em postura serena e com voz vibrante,firme,passar toda uma consternação pessoal emmeio a caretas e a um possível lacrimejar.Comisto,ocorreu uma espetacularização da notícia,que redundou em uma exploração maciça doacontecimento e fez o telejornalismo da Glo-bo aumentar seus índices de audência.

Mas a pergunta é outra: como fica a IgrejaCatólica diante desta “tragédia”? A igreja,assimcomo a imprensa, fica bem frente à bizarricedo velório do papa. Por um lado, quanto maiso féretro do Santo Padre for exposto e divul-gado em doses maciças para mais de um bilhãode fiéis,melhor.Assim a Igreja Católica se far-tará dos lucros que advirão da publicação emmassa, reconquistará fiéis que se perderam aolongo do tempo para as igrejas evangélicas epara as outras religiões.E ainda manterá sua he-gemonia por mais um século, quem sabe.

A imprensa,com a mesma postura da Igre-ja em se manter poderosa, política e lucrativa,aproveitou e fez do enterro o show maior dahumanidade, que estava faminta de novidadesadvindas do mundo dos sonhos.Para isto,ma-ta papas a todo instante, ressuscita outros re-pentinamente, faz política, contempla o pecu-liar, transforma e reforma valores sociais, cons-troi castelos sobre espumas.

A peregrinação continuou; forças do Beme do Mal caminharam para Roma. Lá estevi-veram Bush, Lula,Tony Blair, Severino, e todauma leva de penitentes peregrinos. Roma foio melhor lugar no mundo para ressuscitar al-guém e para fazer política.

A cobertura jornalística sobre a mortede João Paulo II tem diversas justificativas,entre as quais os numerosos fiéis da religiãocatólica, e o fato de ele ter permanecido 26anos a frente do Vaticano, e ainda por de tersido o papa que melhor soube lidar com amídia.

Ao contrário do que alguns afirmam,João Paulo II não foi o papa mais conserva-dor que já houve. Como atribuir esse títu-lo ao único papa da história que pisou emuma mesquita e que pediu desculpas em no-me da Igreja Católica pelas atrocidades porela cometidas ao longo dos tempos?

Exigir de uma instituição milenar quemodifique em uma década ou menos seusconceitos devido a inovações como a cami-sinha e a biotecnologia pode ser com-preensível, mas depositar toda a insatisfaçãono chefe da Igreja é fácil e injusto.

Injusto também é considerar a morte dopapa responsável pela deficitária coberturaque a mídia brasileira apresentou sobre achacina ocorrida no dia 2 de abril na Bai-xada Fluminense. Por mais chocante quetenha sido o episódio,como de fato foi, aprevisível morte do papa ainda foi tida co-mo um acontecimento grandioso, e por-tanto, merecedor de maior espaço na mídia,por ser um fato de importância mundial. Is-so não justifica as inexpressivas matérias queabordaram a chacina. Sendo assim, a culpaé da mídia brasileira, não do papa.

O fato é que, independente dos outrosacontecimentos ocorridos em 2 de abril, enos dias seguintes, a morte de João Paulo II,a comoção dos fiéis e a presença de mais deum milhão de pessoas na praça do Vaticanomereceram sim a cobertura jornalística quetiveram, pois são fatos de alcance mundial,e que entraram para a história por conte-rem dados tão expressivos.

Pode-se não concordar com todos ospensamentos e atitudes de Karol Wojtyla,mas sua persistência e determinação,que per-duraram até a hora de sua morte, merecema admiração e a atenção até mesmo dos maiscéticos.

Índia, umaterra decontradições

Brasil, quintal daindústria mundial

Vinicius Lacerda2º período

O crescimento da econo-mia nacional está presente nasmanchetes dos jornais cons-tantemente; desde um exce-lente superávit primário atéministro afirmando que a pa-lavra crise será extinta dos di-cionários brasileiros. Contudo,basta analisar um pouco me-lhor a realidade interna do Bra-sil para notar que este supostocrescimento ainda não atingeas camadas pobres.

De acordo com a última pes-quisa feita pelo IBGE,e apresen-tada por seu presidente,EduardoNunes, a concentração de rendano país diminuiu,mas a “descen-tralização”de renda é muito len-ta.No nordeste, por exemplo, os50% mais pobres ficam com16,1% dos rendimentos da região,enquanto 1% detém quase omesmo valor, 14,7%. Esses nú-

meros comprovam que ainda nãohá sustentabilidade ou mesmo ga-rantias para afirmar que estejaacontecendo um crescimento deforma integral. Ao contrário,constata-se apenas o que semprefoi visível: a má distribuição derenda, causadora da exclusão so-cial, é a realidade do país.

As iniciativas governamentaisatuais tem obtido resultados satis-fatórios.Mas essas atitudes apenasterão efeito direto para os brasi-leiros em longo prazo.E, até estedia,a tendência é de que os meiosde comunicação continuem amostrar todo este suposto cresci-mento,enquanto a acessibilidadedas pessoas pobres aos serviçosprestados pelo governo é restritae muitas vezes nula.Devemos simnos alegrar ao ler que o Brasil nãoassinou o contrato com o FMIpor não precisar mais dele;só nãodevemos esquecer que nosso cres-cimento ainda está lá fora; aquidentro nada ainda mudou.

Contrastes dapolítica econômica

A porção Bélgica da “Be-líndia”de Edmar Bacha ocu-pa somente 20% do Brasil.Agrande maioria dos brasileirosvive no lado Índia,alguns ocu-pando a parte abaixo da linhade pobreza.Esse aspecto ten-de a ser relegado a um segun-do plano diante da campanhaque apregoa as conquistaseconômicas do governo Lu-la. Por isso é necessário sem-pre chamar atenção para a si-tuação que continua fazendodo Brasil um dos países commaior grau de desigualdadedo mundo.A idéia difundidade que primeiramente é pre-ciso sanear os cofres públicos

para depois cuidar da parte so-cial está gerando tensões mui-to fortes que não deixam derepresentar perigo para a re-cente democracia brasileira.

Um outro tema impor-tante nesta edição é a cober-tura jornalística da morte deJoão Paulo II e da eleição deBento XVI. A grande im-prensa mostrou mais uma vezque sabe aproveitar-se muitobem da força de comunicaçãodo mito - e o papado é umafonte inesgotável de imagense fatos - para transformá-loem espetáculo e, conseqüen-temente, em vendagem dejornal e audiência na TV.

A cobertura jornalística sobre amorte do papa pode ser consideradasensacionalista?

SIMAgnus Moraes7º período NÃO

Laura Damasceno1º período

Coordenação Editorial: Prof. Mário Geraldo Rocha da

Fonseca (Jornalismo Impresso) eProf. Leovegildo Pereira Leal (Redação Modelo)

Conselho Editorial Profª Ana Paola Valente (Edição), Prof. José Augusto (Proj.Gráfico), Prof. Paulo Nehmy (Publicidade), Prof. Rui Cezar

(Fotografia), Prof. Fabrício Marques (Trepj II) e Profª. Adriana Xavier (Infografia)

Monitores do Jornalismo Impresso:Carlos Fillipe Azevedo, Rafael Werkema e

Renata Quintão

Monitores da Redação Modelo: Fernanda Melo e Pedro Henrique Penido

Monitores da Produção Gráfica:Déborah Arduini e Fernando Almada

Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda:Isabela Rajão e Renato Meireles

Projeto Gráfico:Prof. José Augusto da Silveira Filho

Ilustração e charge: Juliano Mendonça

Tiragem desta edição:6000 exemplares

Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127e-mail: [email protected]

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro

BH/MG

Professor Pedro Arthur VicterPresidente do Conselho Curador

Profª. Romilda Raquel Soares da SilvaReitora da Universidade Fumec

Prof. Amâncio Fernandes CaixetaDiretor Geral da FCH/Fumec

Profª. Audineta Alves de Carvalho de CastroDiretora de Ensino

Prof. Benjamin Alves Rabello FilhoDiretor Administrativo e Financeiro

Prof. Alexandre FreireCoordenador do Curso de Comunicação Social

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

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Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e vsam refletir as diversas tendências do pensamento

02-Opinião-Carlos F. 5/2/05 12:52 PM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editoras e diagramadoras da página: Paula Cerutti e Stella Santiago

POLÍTICA 3

“dircianês”

“severinês”

O estilo político do governo atráves da retórica da Casa Civil

A língua do ‘alto clero’

A língua do ‘baixo clero’Discurso popularesco do presidente da Câmara quebra protocolo

Gabriela OliveiraGuilherme BarbosaMayra Abranches

Pedro Bcheche4º período

“Mijar na rabichola”,“supo-sitório do governo”,“falei numarroubo”. Estas expressões sãocomuns nas falas de SeverinoCavalcanti, presidente da Câ-mara dos Deputados e ponto dereferência dos políticos de pou-ca expressão na mídia, conheci-dos como integrantes do ‘baixoclero’. Esta linguagem rica emjargões populares é uma manei-ra de identificar e de facilitar acomunicação entre os parla-mentares dessa classe e os elei-tores que os elegeram.

A professora de Português daEscola Balão Vermelho, CláudiaSiqueira, afirma que o deputadoSeverino Cavalcanti utiliza umdiscurso direto e objetivo, trans-formando a linguagem em uminstrumento de trabalho. “Elebusca um saber instrumental queo ajuda a dominar a expressão emanusear a linguagem para se co-municar com o povo”, explica.

Cláudia ainda aponta falhasna fala do deputado e as comodefine capacidade limitada.“Muito mais sério que revelar

a fragilidade de seus falares, éconstatar a capacidade do de-putado em deformar conceitose transmitir ao povo a comple-ta limitação de suas idéias. É la-mentável ouvir o representan-te do povo articular uma lin-guagem fragmentada do saber.”Revolta-se.

O poder do discurso de Se-verino tem ocupado um espa-ço considerável na mídia queantes era dedicado à sincerida-de, à emoção e à simplicidadeda fala do presidente Lula. Ofato de usarem as mesmas ar-mas retóricas pode tirar umpouco do impacto e da resso-nância do discurso do presi-dente. Severino e Lula perten-cem a uma classe de políticosque utilizam bastante o aspec-to emocional em detrimentoda razão, são simples na argu-mentação e fogem da eloqüên-cia tradicional da política.

A diferença de conteúdo nalinguagem tem origem na traje-tória política de cada um. Em-bora sejam de família humilde,pernambucanos que foram paraSão Paulo,Lula seguiu a vida sin-dical, enquanto Severino teveuma carreira política tradicional.

Em um de seus polêmicosdiscursos, o presidente da Câ-

mara declarou de forma pitores-ca:“Limitaremos a edição dessasmedidas, não para inibir a com-petência do Poder Executivo,mas para desopilar a delegaçãoque o povo deu aos parlamenta-res, que terão aresauração da in-dependência e de seu poder,por-que a Câmara não será apenas osupositório do Executivo”.

A fala de Severino Caval-canti causa desconforto no meiopolítico porque ele torna públi-

co, aquilo que a maioria dos par-lamentares dizem nos bastidoresde Brasília. Sua virtude está nofato de mostrar exatamente co-mo funcionam as negociaçõesde cargos e benefícios que abun-dam em torno do poder. Umdeputado com uma formaçãomais acadêmica e que faça umuso adequado da língua portu-guesa pode perfeitamente agircomo Severino, só o faz commais elegância e discrição.

“ Não há quem não goste de umelogio. Esse negócio de só meter ocacete nos Deputados é muito ruim”

“Está na mesa do Deputado Ciro No-gueira, que hoje será sacramentadopelo presidente da República,porque, se o presidente não assinara indicação do Ciro, amanhã o PPpoderá ser aliado do PFL. Outeremos um Ministro, ou tomaremosuma posição”

Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dosDeputados

Ana Carolina Cervantes,Polyana Rocha, Simone

Monção eYany Mabel4º período

José Dirceu apresenta umdiscurso “malicioso”, sempreatento à mídia e a forma que asua imagem é apresentada aopúblico, então é a partir daí queele monta seu novo discurso,uma localização confortável edesconfortável ao mesmo tem-po.Assim é classificado o dir-curso do Ministro Chefe da Ca-sa Civil segundo Admir Borges,professor de Marketing na Fa-culdade de Ciências Humanasda Fumec.“José Dirceu, quan-do faz uma declaração, na reali-dade tenta perceber se a im-prensa vai cair em cima. Quan-do ele percebe isso, tenta se es-quivar dizendo: ‘Eu não sabia,eu não participei, eu não estavanisso, isso é coisa dos outros.’Masquando ele percebe que é algofavorável, alguma coisa de posi-tivo aí ele assume o ato comoseu” explica Admir. E comple-ta:“Para mim é o seguinte: doponto de vista estratégico polí-tico ele não tem feito efetiva-mente nada, então ele aparecena mídia para explicar o inex-plicável. Ele tem essa capacida-

de. Porém você não vê nada deconteúdo,alguma coisa que mo-difique ocenário. Eleestá sempresaindo pelatangentesem secomplicar.Às vezes atése divergin-do de Lula,ele procuramostrar quenão há umadivergência.A maneiracomo fala,nos mostra uma série de insatis-fações, mas sempre arrematacom a idéia de que nós estamosaqui para isso.” indigna-se.

José Dirceu, há 18 meses dareeleição, demonstra sua insatis-fação com uma reforma ministe-rial que ainda nem aconteceu.Is-so devido ao veto do presidenteLuís Inácio Lula da Silva.“Fiqueina mão com essa reforma”,disseDirceu,segundo Eunício Olivei-ra,ministro das comunicações,ementrevista ao jornal o Globo dodia 31 de março. Durante cincomeses Dirceu se dedicou às mu-danças ministeriais do governo,até que,em março, foi surpreen-dido pelo presidente Lula ao ser

informado que faria mudançasmínimas no ministério.O minis-

tro, quefoi desau-torizadopor Lulade cuidardas no-meaçõespara oscargos doministé-rio, des-mentiuque estavapossivel-mente ir-ritado

com o afastamento de coordena-ção política e disse em resposta àmatéria “Irritação máxima” dojornal O Globo do dia 31/03 que“um ministro não é desautoriza-do pelo presidente, um ministrocumpre o que o presidente de-termina; logo, não procede à in-formação” , defende.

Antes mesmo do presidenteLula tomar a decisão de vetar oministro; José Dirceu já haviapensado em sair das articulaçõesda reforma ministerial. Não é aprimeira vez que Lula desautori-za uma articulação do chefe daCasa Civil. No inicio do gover-no,Dirceu queria nomear minis-tros do PMDB, e Lula não acei-

tou a proposta. Mais tarde, opróprio presidente reconheceuo erro de não colocar o partidoem seu ministério.

Trajetória PolíticaMineiro de Passa-Quatro, Dir-ceu iniciou a vida “política”quando se ligou ao movimen-to estudantil no qual exerceuvárias atividades até 1968,quando foi preso, durante umCongresso da União Nacionaldos Estudantes, UNE. Em1969, foi libertado com outrosmilitantes em troca do embai-xador dos Estados Unidos, se-qüestrado em 1969, no Rio deJaneiro.Teve sua nacionalidadecassada e foi banido. No exíliotrabalhou e estudou em Cuba.De 1971 a 1979 viveu clan-destinamente no interior doParaná. José Dirceu retornou àvida pública com a anistia. Foium dos fundadores do PT, par-tido do qual foi secretário deformação (1981-1983) e se-cretário geral (1983-1993). De-putado Estadual (1987-1991)e Deputado Federal (1991-1995 e 1999-2003). Em 1984representou o PT no ComitêIntrapartidário Pró-EleiçõesDiretas para Presidente, tor-nando-se um dos coordenado-res da campanha Diretas Já.

“Do ponto de vistaestratégico político

ele não tem feitonada, então ele

aparece na mídiapara explicar oinexplicável”

Admir Borges, professor de marketing

da Universidade Fumec

Armas retóricasZÉ DIRCEU

para iniciantes

03-Política- Paula e Stella 5/2/05 12:15 PM Page 1

Page 4: Jornal O Ponto - abril de 2005

consumidorFernando Prado, Juliana Morato

e Rodrigo Mascarenhas5º período

A autorização para a venda de medicamentos fracionados, quepossibilita ao consumidor adquirir a quantidade exata do produ-to indicado pelo médico, já está em vigor, mas aguarda a regula-mentação oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária( An-visa). No dia 4 de março, o Ministério da Saúde, por meio da An-visa, abriu uma consulta pública com du-ração de 30 dias para que a população e en-tidades pudessem enviar críticas e suges-tões via e-mail, que serão incorporadas noregulamento técnico.A audiência foi rea-lizada no dia 13 de abril e cerca de 70 re-presentantes de entidades civis, indústria,profissionais de vigilância sanitária e so-ciedade opinaram sobre a proposta da An-visa para fracionamento de medicamentos.Decretado pelo presidente Luís Inácio Lu-la da Silva, em 20 de janeiro deste ano, ofracionamento dos remédios tem geradocontrovérsias. Enquanto os laboratórios far-macêuticos estão preocupados com o ris-co de falsificação e manipulação inade-quada, os consumidores temem a perda deinformações contidas nas embalagens e bu-las dos medicamentos.

Tanto o Sindicato dos Farmacêuticosquanto o Conselho Regional de Farmá-cias asseguram que este decreto presiden-cial chega em boa hora. O grande proble-ma é que a medida ainda não está com-pleta. "A lei poderia ser estendida à indús-tria farmacêutica, obrigando-a a vendermedicamentos fracionáveis, ou seja, vocêtira uma unidade e ela mantém todas as in-formações sobre o medicamento. Isso po-de até aumentar o custo para a indústria,mas é diluído na produção", explica Wal-tovânio Cordeiro de Vasconselos, diretordo Sindicado dos Farmacêuticos de MinasGerais (Sinfarmig).

De acordo com o Ministério da Saúde,os medicamentos fracionados serão vendi-dos apenas com prescrição médica e o far-macêutico, que é essencial nesse processo,terá que colocar uma etiqueta na embala-gem do remédio já fracionado com informações sobre o produ-to, como o nome do responsável pelo fracionamento.Ainda parafracionar o medicamento, as características originais do remédioterão de ser garantidas.

O médico, que hoje prescreve o medicamento colocando ape-nas o número de comprimidos diários e o espaço de tempo em

que isso deve ser feito, deverá, com o fracionamento, indicar quan-tos comprimidos serão utilizados e, portanto, comprados pelo pa-ciente.Além disso, ele vai ter que mencionar a quantidade neces-sária para todo o tratamento. O anestesista e pediatra, Paulo Lo-bato, diz que não custa nada para o profissional prescrever tais in-formações. "A segurança do paciente é nossa maior preocupação.A sobra dos medicamentos muitas vezes atrasa o tratamento, vis-to que pode haver o uso excessivo".

O coordenador do Instituto Brasileiro de Defesa do Consu-midor (Idec), Sezifredo Paz, acredita quese os medicamentos forem adequadamen-te subdivididos em frações, sob a supervi-são de um farmacêutico em estabeleci-mentos propícios, o consumidor irá eco-nomizar até 20%. Em entrevista à Agên-cia Brasil, Paz diz que "a compra da doseexata dos medicamentos pode proporcio-nar uma economia para os consumidores,pois nem sempre o número de cápsulaspresentes nas embalagens corresponde aonecessário para o tratamento. A sobra demedicamentos é um problema, tanto doponto de vista da intoxicação como da au-to-medicação."

Falsificação de embalagensA grande preocupação dos laboratórios

e das grandes redes remete à falsificaçãodas embalagens. "Algo que é aparente-mente consensual é que os estabeleci-mentos que farão o ato do fracionamen-to serão credenciados, farmácias autoriza-das pela Anvisa. Na primeira fase do pro-cesso, apenas os remédios com tarja ver-melha poderão ser vendidos na quantida-de exata que o consumidor necessita. Xa-ropes e pomadas só poderão ser fraciona-dos em hospitais, porque é onde há umcontrole maior do estoque", explica o di-retor de medicamentos da Anvisa, DirceuRaposo de Mello, por meio da assessoriade imprensa.

Segundo dados oficiais do Sinfarmig,a indústria farmacêutica do Brasil está en-tre as dez que mais faturam no mundo in-teiro e o país é um dos maiores consumi-dores de medicamentos do mundo, apesardo baixo poder aquisitivo da população.

"De todos os produtos passíveis de causar intoxicação nas pes-soas, os medicamentos estão em primeiro lugar. Eles intoxicammais do que agrotóxicos, produtos domésticos, sanitários e pica-das de animais peçonhentos, além de serem responsáveis por 29%de todas as intoxicações registradas;" afirma o diretor da Fede-ração Nacional dos Farmacêuticos, Rilke Novato Público.

“ A lei poderia serestendida à indústriafarmacêutica,obrigando-a a vendermedicamentosfracionáveis, ou seja,você tira uma unidadee ela mantém todasas informações sobreo medicamento”

Waltovânio Cordeiro, diretor do Sinfarmig

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editora e diagramadora da página: Renata Quintão

4 SAÚDE

Fracionamento

Informação é o remédioFarmácias populares possibilitamacesso a classe mais carente

Uma das principais dúvidas dos consumidoresrefere-se à perda das informações contidas nas em-balagens e bulas dos remédios. Para a advogada doIdec, Maria Lumena Sampaio, o fracionamento ébenéfico desde que regulamente esse tipo de ques-tão."A bula e a embalagem têm informações essen-ciais como prazo de validade, composição, reaçõesadversas,responsável técnico,endereço completo dofabricante, dosagem e todas essas informações de-vem ser preservadas para o consumidor",diz.

Segundo a farmacêutica Graziella Rivelli, ofracionamento pode prejudicar a estabilidade domedicamento, uma vez que o produto não teráa identificação apropriada. "Este projeto preci-sa ser revisado para ser incrementado com su-cesso nas farmácias. É necessário que seja reali-zada uma avaliação por todos os setores envol-vidos", afirma a farmacêutica.

É fundamental a presença do farmacêuticono processo de fracionamento. Se isso não forrealizado por esse profissional e for feito semcontrole nenhum, há possibilidade de se vendermedicamentos falsificados, fraudados. "Quandose tem um farmacêutico responsável por essefracionamento, é a profissão dele que está emjogo", argumenta Waltovânio.

Se na farmácia existe um laboratório ade-quado e um controle de qualidade de todos osmedicamentos, o fracionamento não acarretaráprejuízo aos farmacêuticos."É certo que o tra-balho do farmacêutico e até do auxiliar de far-mácia vai redobrar, porque agora eles terão que

pegar um medicamento, cortar a cartela, contar,etiquetar, fazer uma nova embalagem e entre-gar para o paciente", afirma Waltovânio.

A cada processo de fracionamento, será entre-gue uma bula para o paciente.Até o mês de agos-to, provavelmente, a Anvisa termina o processo demudança das bulas.A resolução já está em estágiofinal, e a indústria farmacêutica já está apresen-tando novas bulas. Se ela produzisse um fracioná-vel, poderia vender a cartela com 10 ou com 20comprimidos, mas de forma que se possa cortareste comprimido e a informação inerente ao me-dicamento como data de fabricação/validade,nú-mero do lote, nome do produto, a concentração,a forma farmacêutica; enfim, o consumidor nãoperderia nenhuma informação.

O fracionamento consiste na subdivisão de ummedicamento em frações menores, a partir da suaembalagem original, sem o rompimento da emba-lagem primária, mantendo os seus dados de iden-tificação.Além de possibilitar economia para o pa-ciente,o fracionamento também evitará o risco deacidente por intoxicação e a auto-medicação, já quenão haverá sobra de remédios para ser armazenadaem casa.Para que o consumidor tenha acesso às in-formações contidas na bula, a Anvisa solicitará quea indústria farmacêutica forneça um número maiordo impresso para ser entregue junto com as frações.A Anvisa também desenvolve um programa parasolucionar a ausência de bulas, pelo qual o farma-cêutico poderá acessar e imprimir os dados refe-rentes ao remédio através do site da agência.

Tão importante quanto implantar e fiscalizar ocumprimento e a observância dos limites impostospela regulamentação desse decreto é a ampliaçãodos programas públicos, federais e estaduais,de aces-so das populações mais carentes aos medicamentos.Dotar as cidades de farmácias populares e,mais queisso, fornecer medicamentos através da rede públi-ca de saúde às pessoas comprovadamente carentesé fundamental para que se consiga melhorar o ce-nário sanitário do Brasil.

Apesar de merecer regulamen-tação e fiscalização rigorosa porparte da Anvisa, o decreto presi-dencial, que consiste no fraciona-mento de medicamentos, tem co-mo principal objetivo beneficiaros consumidores.Além de ampliaro acesso da população aos produ-tos, já que a aquisição da quanti-dade exata de comprimidos porcerto representará uma redução novalor a ser pago pelo consumidor,haverá também uma diminuiçãodos riscos de auto-medicação e in-toxicações decorentes da ingestãoinadequada.

Segundo o diretor da Federação Nacional dosFarmacêuticos, Rilke Novato Públio, o fraciona-mento de medicamentos tem três aspectos louvá-veis: o econômico, o terapêutico e o mediador dasaúde pública. O econômico possibilita as pessoasde comprarem medicamentos sem despender maisdinheiro. Já o terapêutico,é usada a quantidade exa-

ta que foi prescrita. Se o médico, por exemplo, re-ceita 21 comprimidos,deve-se tomar apenas os 21.Entretanto,vende-se numa caixa de 30 comprimi-dos e a maioria das pessoas acabam consumindo 30comprimidos e, assim, tem uma dose super-tera-pêutica,ou,às vezes,uma dose sub-terapêutica,pe-lo fato de não ter dinheiro. Prescreveu 21 e vocêsó tem dinheiro pra comprar 14 ou 15 e acaba com-prando menos.Com relação à saúde pública,as pes-

soas sempre ficam com excesso demedicamentos em casa e acabamusando de forma indevida. "Semdúvida, quem ganha mais com ofracionamento é o consumidor",diz o diretor.

Em 2001, o Sindicato dos Far-macêuticos de Minas Gerais (Sin-farmig) apresentou à Câmara dosDeputados um Projeto de Lei que,de forma clara e objetiva, propôs aobrigatoriedade por parte da in-dústria farmacêutica de adotar a fa-bricação de medicamentos apre-sentados na fórmula sólida (com-

primidos, cápsulas, drágeas e supositórios) em car-telas que sejam fracionáveis, sendo que cada unida-de resguarde as informações de procedência e deidentificação do produto, como nomes do princí-pio ativo, número do lote, data de fabricação e da-ta de validade."O projeto está arquivado,mas o ob-jetivo é a discussão para que tenhamos uma propo-sição sobre o fracionamento”, afirma Públio.

"Sem dúvida,quem ganhamais com o

fracionamentoé o consumidor"

Rilke Públio, diretor da Fede-

ração Nacional do Farma-

cêuticos

Lei permite que população economize com o compra de medicamentos por cartela

A possibilidade de compra de medicamentos na

quantia exata favorece o cidadão de baixa renda

Beneficia

Rodrigo Mascarenhas

Rodrigo Mascarenhas

04-Saúde-Renata Quintão 5/2/05 12:51 PM Page 1

Page 5: Jornal O Ponto - abril de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editora e diagramadora da página: Tahiana Alcântara

SAÚDE 5

Desnutrição e obesidadeTanto a ausência quanto a fartura alimentar de crianças preocupam seriamente as autoridadesDaniel Cerqueira de Almeida

4º período

Os índices de desnutriçãoinfantil em Belo Horizonte va-riam muito de acordo com aregião.Em dados levantados pe-la Secretaria Municipal de Saú-de, das 10.230 crianças atendi-das, cerca de 13% na faixa de de0 a 5 anos, apresentam algumgrau de desnutrição.A Pastoralda Criança, entidade não lu-crativa que acompanha o de-senvolvimento nutricional decrianças em comunidades ca-rentes, possui atualmente 3.652crianças cadastradas, e desse to-tal, 5,1% sofre de desnutri-ção.Esses dados, se comparadoscom o dos anos passados, de-monstram uma queda no totalde crianças desnutridas, embo-ra o ideal ainda esteja longe deser atingido.Entretanto, se con-siderarmos que as crianças atin-gidas pertencem a comunida-des muito carentes, o declíniorepresenta um grande passo nocombate à desnutrição.

O problema da desnutriçãoé decorrente de diversas causassociais. Esse problema tem queser combatido o mais rápidopossível, pois pode prejudicar ir-remediavelmente a formação dascrianças.

As razões responsáveis peladesnutrição são várias, sendo amais importante delas a máqualidade da alimentação dascrianças, que na maioria dos ca-sos vem acompanhada de ou-tras doenças infecciosas que co-laboram o mal estar da criança.A falta de tempo e oportuni-dade, falta de experiência outotal ignorância das mães, tam-bém é algo a ser considerado,uma vez que elas não possuem

conhecimento sobre a alimen-tação correta não reconhecen-do os sintomas da desnutriçãoe como combate-los. O fato dehaver certa relutância por par-te das mães leva as crianças aosPostos de Saúde , muitas vezespor vergonha, também contri-bui para agravar o quadro.

Entre as regiões mais afeta-das pela desnutrição em BeloHorizonte destacam-se: PadreEustáquio, Morro das Pedras,Grajaú, Sion e Calafate. Namaioria dos casos, as comunida-des residentes nessas regiões sãoformadas por famílias carentes,que quase sempre por mais dedois filhos e pais relativamentejovens que possuiem nenhumaou quase nenhuma formaçãoeducacional e que, em geral,nãopossuem emprego. Isso faz comque a situação em que vivem se-ja de extrema miséria muitas ve-zes as famílias não tem sequer, oque comer. As famílias então,sem qualquer informação e co-nhecimento nutricional, acabampor adotando uma alimentaçãocarente nutrientes.

Para combater esse com-portamento, o Ministério daSaúde e a Pastoral da Criançaprocuram ensinar a essas co-munidades a Alimentação Al-ternativa, que além de possuiralto valor nutricional, é de bai-xo custo e acessível às comu-nidades.São ações simples co-mo ensinar a usar até o últimopedaço de alimentos comoabóbora; folhas verdes; usar fru-tas para fazer vitaminas, a cria-ção e uso da farinha enrique-cida que é formada por ovo,sendo rica em cálcio e proteí-nas, o incentivo ao aleitamen-to materno, alimentação im-prescindível para as crianças.

Alimentaçãoinadequadacausa males

Atualmente a alimentação damaioria da sociedade é inade-quada. Nós trocamos refeiçõesformadas por alimentos ricos emnutrientes por lanches que apre-sentam um alto índice de subs-tancias muitas vezes prejudiciaisà saúde.Esse tipo de alimentaçãoé extremamente condenada porespecialistas, pois pode acarretarmales como a desnutrição.

Essa desnutrição,denomina-da de “desnutrição oculta”, queatinge crianças de até 5 anos dequalquer classe social,ocorrequando o organismo está ca-rente de Ferro,mineral necessá-rio para o transporte de oxigê-nio no sangue. Este tipo é maisdifícil de ser detectado, pois namaioria dos casos a criança nãochega a perder peso.

A carência de ferro é o dis-túrbio nutricional mais comumem todo o mundo,afetando tan-to os países industrializados quan-to as nações em desenvolvimen-to.Enquanto a anemia afeta cer-ca de 2 bilhões de pessoas em to-do o mundo - um terço da po-pulação mundial -, a deficiênciade ferro atinge quase 5 bilhões.Em todo o mundo, 39% dascrianças em idade pré-escolar sãoanêmicas e 52% das grávidas tam-bém, das quais mais de 90% vi-vem em países em desenvolvi-mento.A anemia por deficiênciade ferro (anemia ferropriva) pre-judica o desenvolvimento psico-motor, a coordenação e o apro-veitamento escolar, além de di-minuir a atividade fisica e a capa-cidade de trabalho.Trabalho de acompanhamento nutricional feito pela Pastoral da Criança

Cresce o númerode infantes obesos

Aline Ferreira, DanielaVenâncio, Erivelton Lopes e

Renata Vaz 5º período

O aumento da violência ea constante preocupação coma segurança criaram uma ge-ração dependente da tecno-logia como forma de distra-ção. As crianças passam amaior parte do tempo nafrente da TV ou do compu-tador, levando uma vida se-dentária e deixando para trásas brincadeiras de rua e umavida mais saudável.

Segundo o endocrinolo-gista e metabologista Hamil-ton Junqueira Júnior, a con-seqüência desse comporta-mento inadequado é a obesi-dade, já que beliscar gulosei-mas enquanto se assiste à TVé um hábito muito comumentre os telespectadores mi-rins.“Hoje em nosso consul-tório atendemos uma série decrianças obesas. Isso é assus-tador, pois as crianças vão termuito mais riscos de compli-cações com o passar dos anos,se não forem tratadas e con-troladas a tempo”.

Um estudo publicado pe-la Sociedade Brasileira de En-docrinologia e Metabologia,Sbem, indica que 15% dascrianças no país são obesas.Es-sa tendência é recente: apenasnos últimos 20 anos a obesi-dade infanto-juvenil cresceu240%. Ao trocar alimentossaudáveis por doces, refrige-rantes e alimentos industria-lizados, as crianças criam ummau hábito alimentar que po-de se estender até a vida adul-

ta.“Crianças obesas podem fa-zer parte dos grupos de riscocom maiores probabilidadesde virem a sofrer, na idadeadulta, de distúrbios tais co-mo a hipertensão, diabetes,doenças respiratórias, trans-tornos coronarianos, proble-mas ortopédicos, alguns tiposde câncer e apnéia do sono”,afirma a nutricionista Ma-nuella Mendonça.

Além das possíveis com-plicações clínicas da obesida-de, existem também os pro-blemas de ordem psicológica.Com o crescente apelo esté-tico de um padrão de belezacada vez mais magro, as crian-ças com excesso de peso ten-dem a ter problemas de baixaauto-estima e sofrem precon-ceitos entre os colegas.A psi-cóloga Maria Helena Balbo,da escola Barquinho Amare-lo, diz que a padronização fei-ta pela mídia afeta até crian-ças de três anos. “A criançapode não se incomodar comsua aparência, mas quando elapercebe que o grupo a exclui,ela passa a não se aceitar e is-so a prejudica socialmente”,afirma Maria Helena.

Para que as crianças nãotenham problemas com obe-sidade os cuidados devem sertomados nos primeiros dias desua vida: bebê deve ter umaalimentação inicial baseada so-mente no leite materno, quefornece todos os nutrientesnecessários para os seus pri-meiros meses. Quando elascomeçam a ingerir uma ali-mentação mais sólida, os paisdevem acostumá-las a possuiruma alimentação saudável.

Um exemploque vale a penaser seguido

Em Belo Horizonte amaioria das cantinas é terceiri-zada e a escola muitas vezes nãoinfluencia no que é vendidoaos seus alunos. O serviço pres-tado por empresas terceiriza-das é vantajoso para as escolas,pois diminui os custos e as res-ponsabilidades com encargostrabalhistas de funcionários.Existem algumas escolas queproduzem o seu próprio lan-che: um exemplo é a escola in-fantil Barquinho Amarelo, lo-calizada na zona sul da capital.

A escola conta com umamerenda diversificada dentro dospadrões alimentares considera-dos corretos.Os alimentos pre-parados possuem ingredientesque vêm diretamente da fazen-da de uma das diretoras da es-cola.O cardápio,que oferece to-dos os dias frutas e sucos natu-rais, também conta com gulo-seimas nutritivas e caseiras.

Para estimular o consumo aescola trabalha a capacidade lú-dica dos alunos dando nomescriativos aos pratos do dia. Aaluna Maria Eduarda, de 4anos, prefere os alimentos maissaudáveis.“Gosto mais de me-lancia que de pastel, é mais gos-toso!” diz Duda. Para as crian-ças que passam o período inte-gral na escola é servido tam-bém um almoço no mesmo es-tilo do lanche.

Os pais podem decidir entrepagar pelo lanche da escola ouenviar da própria casa. Quemusa lancheiras está expressamenteproibido de levar refrigerantes esalgadinhos. Como a mensali-dade da escola tem um preçoelevado, poucos podem pagaruma escola que possui esses ser-viços para seus filhos.Criança da Escola Infantil Barquinho Amarelo é beneficiada com alimentação saudável

Renata Vaz

Daniel Cerqueira

05- Saúde-Thayana Alcântara 5/2/05 12:14 PM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editora e diagramadora da página: Nayana Rick

6 ECONOMIA

Brenno Rocha, Camila Leite,Eduarda Santos e Thanit Xavier

4º período

O fato é que quanto maior a arrecadação dosbancos, menor a capacidade de produção e cap-tação de renda dos trabalhadores.“A maioria de-las não suporta o pagamento de juros elevadís-simos e poucas sobrevivem até o quinto ano”,afirma o administrador de empresas Carlos Klein.

É verdade que existe má gestão, gente quequer abrir um negócio sem ter o mínimo pre-paro ou o mínimo tino comercial para escolhero negócio corretamente. No Brasil, o crédito aomicroempreendedor existe só no papel. De acor-do com Carlos Klein, fica muito mais atraenteemprestar para o governo, que é um ótimo pa-gador, do que emprestar para o micro investi-dor, que estatisticamente vai falir antes de po-der pensar em pagar suas dívidas.Cerca de 95%de pedidos para a obtenção de crédito é rejei-tada pelos bancos.

Segundo Paulo Rocha, proprietário de umaloja em um bairro de classe média alta de BeloHorizonte, a insatisfação é total em relação àstaxas de juros cobradas pelo banco no qual con-seguiu o crédito.“A obtenção de crédito é qua-se inviável, já que o banco parte para um tipode análise na qual não confia no microempre-sário”, indigina-se Paulo. Porém quando con-seguiu o crédito, sofreu um outro problema, re-tornar ao banco o que lhe foi oferecido atravésdo crédito juntamente com as altíssimas taxas

de juros e ainda assim conseguir um retorno co-mercial satisfatório.

Segundo o membro do Conselho Regional deeconomia,PARECON,Geraldo Magela,o empre-sário não deve buscar crédito, mas sim investir seupróprio capital no negócio.“ Assim, o empresárionão terá que lidar com juros abusivos cobrados pe-los banco.”Esclarece Magela.

Após pouco mais de três anos da candidatura deLula,o avanço observado na política econômica bra-sileira é abaixo do esperado. Devido às dívidas pú-blicas,o capital produtivo é penalizado com impos-tos altos,e leis trabalhistas onerosas que dificultam oinvestimento do micro empresário.Por outro lado,o capital especulativo é premiado com altos juros,edívidas protegidas contra a inflação e garantia de pa-gamento às custas do patrimônio da União.Os em-presários pagam altos juros e sofrem uma concor-rência desleal perante grupos internacionais.

As emissões de novos títulos do governo fede-ral, colaboraram para que a dívida pública internachegasse em fevereiro a R$ 845,4 bilhões,um cres-cimento de R$ 18,69 bilhões em relação a janeiro.

Outro fator que contribuiu para o aumento dadívida é o processo da taxa de juros básica, a Selic,que desde o mês de setembro sofreu um aumentode 18,75% ao ano. Hoje, a dívida é altíssima e po-de ser considerada impagável.

O microempresário deve contar com aorientação do SEBRAE, sociedade civil que temo objetivo de promover a competitividade e odesenvolvimento sustentável dos empreendi-mento de pequeno porte.

Anualmente os bancos di-vulgam números surreais refe-rentes ao lucro líquido que ob-tiveram. No caso do Brasil, es-sas instituições apresentam lu-cros cada vez mais assustadores.

De acordo com o presiden-te do Sindicato dos Bancáriosde Belo Horizonte, FernandoFerraz, os bancos são empresasque cuidam do dinheiro de seusclientes e têm como função in-termediar a poupança das famí-lias e os investimentos do setorprivado.“Confiamos nossa pou-pança a uma instituição finan-ceira, que além de proteger nos-so dinheiro, gera também re-muneração sobre nosso investi-mento”, afirma.

Para o economista EduardoGiannetti, os lucros dos bancosnão são legítimos, e cita comoexemplo o banco BNDS,o úni-co do Brasil que faz emprésti-mos para investimentos priva-dos.“Ele pega o dinheiro de umfundo compulsório dos traba-lhadores, remunera esse fundoe o empresta a empresários, que,para disponibilizar crédito a seusclientes, cobram uma alta taxade juros”, analisa Eduardo.

A burguesia endividada gas-ta mais do que tem, deixa defazer poupança, compra tudofinanciado e consome todas aslinhas de crédito oferecidas.As-sim é gerado o caos na econo-mia, aquecendo o comércio emdatas festivas através do uso dosfinanciamentos, e depois, pas-sando meses sem consumir umúnico centavo.

Bancos faturam muito alto

Enquanto o sistema financeirocontabiliza lucros exobirtantes, opequeno empresário padece paraconseguir linha mínima de crédito

Camila Guimarães,Ernane Léo eTiciana Cunha

4º período

A alta taxa de juros gera lucros abusivos pa-ra os bancos. Segundo uma pesquisa realizadaem 2004 e publicada em 25 de fevereiro des-te ano pela firma Economática, o lucro líqui-do divulgado pelos bancos no ano passado te-ve um crescimento de 32,9%.

Ainda nesta pesquisa, a firma constatou queos cinco maiores bancos do país por volume deativos e de capital aberto (Banco do Brasil,Bra-desco, Itaú, Unibanco eBanespa), obtiveram emconjunto,um lucro líqui-do recorde de R$12.893bilhões.Os altos lucros dosetor bancário brasileirosão resultados da políticado aumento da taxa dejuros e da taxa básica queo Tesouro Nacional e oBanco Central pagam aosbancos nos títulos da dí-vida interna. O Estadobrasileiro, já falido, é obrigado a arcar com asdespesas desses juros, aumentando a carga tri-butária e cortando investimentos e despesas quepoderiam ser aplicadas em toda área social.

A alíquota de juros é estabelecida todo mêspelo Conselho de Política Monetária (Copom)órgão controlado pelo presidente do BancoCentral. Para o professor de Economia da FCHda Universidade Fumec, Fernando Nogueira,os bancos, que em algumas operações, comoo crédito pessoal, cobram juros superiores a100% ao ano, também argumentam que essa éuma ferramenta para enfrentar a alta taxa deinadimplência e combater a inflação.“No en-tanto, a elevação dos juros reduz o ritmo decrescimento de preços porque inibe os inves-

timentos e sufoca a demanda do mercado. Is-to significa contrair a atividade produtiva e au-mentar o desemprego” acrescenta.

De acordo com Paulo Feitosa, professor deEconomia da Face Fumec, nem só de altas ta-xas de juros vivem os bancos. “Outras duasfontes de renda das instituições bancárias sãoos ganhos com a prestação de serviços bancá-rios e com a demanda de crédito, em funçãoda recuperação da economia brasileira”, ana-lisa. Segundo Feitosa, deve-se levar em conta,além do custo do dinheiro, a formação da ta-xa de juros que o banco cobra de seus clien-

tes, o custo da adminis-tração do dinheiro e ocusto do controle que obanco tem de exercercom quem toma o em-préstimo. Ele diz aindaque “tudo se dá comonuma relação comercial.Quem tem mais ‘bala naagulha’ pode comprarmais caro, quem temmais oligopólio cobramais caro no mercado.”

Somando-se o lucro dos bancos citados,chegamos à quantia de R$ 14.312 bilhões. Sãonecessários cerca de 55.046 milhões de brasi-leiros, ganhando um salário mínimo por mêspara se alcançar este lucro obtido pelas cincomaiores instituições bancárias citadas ante-riormente.“Além de adiar qualquer perspec-tiva de o país livrar-se da marcha acelerada pa-ra o subdesenvolvimento irreversível, devidoà falta de investimentos públicos na infra-es-trutura econômica e social, a política econô-mica em curso torna tal desfecho ainda maiscrítico, pois inviabiliza a sobrevivência das pe-quenas e médias empresas, gerando desem-prego e uma baixa generalizada dos salários”,analisa o economista Jairo Carvalho.

Contradição dos juros altos

ABN AMRO RealR$ 1.237.000.000,00BradescoR$ 3.060.000.000,00BrasilR$ 3.024.000.000,00ItaúR$ 3.776.000.000,00

Caixa EconômicaR$ 1.419.000.000,00

Lucro dos Bancos em 2004

Microempresas pedem falência

“A elevação dos jurosreduz o ritmo decrescimento de

preços porque inibeos investimentos”

Fernando Nogueira, professor de

economia da Universidade Fumec

06-Economia - Nayana Rick 5/2/05 12:11 PM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editor e diagramador da página: Rafael Werkema / Colaborou:Thiago Lobato

FUMEC 7

Luana Bastos e Poliane Bosco1º período

Desde que foi lançada, aquarta edição da revistaMediação do curso de Comu-nicação Social da UniversidadeFumec vem sendo debatida porjornalistas e cronistas quecobrem a modalidade esportivaconsiderada a paixão nacional:o futebol. A revista apresentareflexões sobre o tema centralque é “Mídia e Futebol” e tocaem pontos fundamentais paraquem acompanha ou vive nomeio, como: a espetacularizaçãodo esporte; os acordosmilionários envolvendo direitosde transmissão, contratos depublicidade e promoção deídolos; o efeito agenda,responsável pela mesmice nosprogramas esportivos, etc.

Cobrir futebol sem torcer“É preciso debater sobre o

assunto, pois o futebol é oesporte mais popular do país”,defende Dimara Oliveira,editora e apresentadora doprograma Minas Esporte, datevê Band. Ex-assessora deimprensa do Cruzeiro, Dimaradestaca o artigo “Quando ojornalista vira torcedor, comofica a cobertura esportiva?”, dojornalista português Rui Flores.“Por uma questão ética, tive que

deixar de ser torcedora”, explicaa apresentadora.

O assunto interessoutambém jornalistas de rádio e damídia impressa.Rogério Hilário,editor do caderno de Esportesde O Tempo defende: “ojornalista deve assumir uma

postura neutra em relação a seutime de coração, senão o leitorsai prejudicado”.O comentaristada rádio Itatiaia salienta que, nahora da transmissão, éfundamental que a paixão peloclube não transpareça para oouvinte, para não influenciar naobjetividade da informação.

No artigo da Mediação,RuiFlores apresenta um panorama

das dificuldades de relaciona-mento entre a imprensaportuguesa e as fontes poderosasdos clubes. “É fundamentalfazermos essa discussão. O jor-nalismo esportivo brasileiro émuitas vezes desprezado, mauvisto pelos demais colegas deprofissão.Mas essa trajetória vemmudando à medida em que oprofissionalismo que cerca oesporte cresce”, opina Dimara.

O editor Rogério Hilárioainda complementa que apreocupação com a imparcia-lidade contribuiu muito parauma melhoria substancial daslinhas editoriais esportivas.

AgendamentoA questão do agendamento

apresentado pela revista foi outroassunto que chamou a atençãodos jornalistas esportivos.“A gentevê isso muito nos programas emgeral”, afirma Dimara Oliveira.Mas ela defende: “a imprensamineira se destaca no cenárionacional e é referência emcobertura esportiva”.

A apresentadora aindadestaca que o jornalismoesportivo precisa de maiscriatividade e de profissionaiscada vez mais capacitados, paraque haja uma diferenciaçãosignificativa entre as matérias eque estas não caiam na“mesmice”.

Mediação elaborapesquisa sobremídia e futebol

Luana Ferraz e Vinícius Lacerda2º período

Com o tema “Convergênciasde Linguagens na Publicidade”,a Logus, 11º Agência Modelo docurso de Publicidade ePropaganda da UniversidadeFumec, vem realizando otrabalho de conscientização dosestudantes sobre o uso dabiblioteca da Faculdade deCiências Humanas.

“Estamos fazendo umacampanha para que o alunoaproveite mais o espaço dabiblioteca. Queremos que oestudante perceba que lá existemoutros livros além daqueles rela-cionados com os cursos dauniversidade” explica DiogoSalomão, estudante e produtorgráfico da agência. “Estamosproduzindo peças que mostramque a biblioteca possui livros dearte, saúde, romances, ou seja,livros que não fazem parte dagrade curricular dos cursos daFumec, mas que estão lá”,complementa Diogo.

Apesar de ser a décimaprimeira agência experimental,a Logus é a primeira ter umatemática.“As convergências daslinguagens da propaganda fazemreferência a novas formas detrabalho a que publicidade temse direcionado. É uma coisarecente,uma inovação nos meiosde comunicação”, esclareceÉrick Costa, aluno e diretor dearte da Logus. “Nossa idéia émostrar a separação do conceito,da imagem, do texto, da forma

e justamente trabalhar nesseparadoxo”, analisa Erick Costa.

A Logus também vai trabalharpeças informativas para sinalizaçãointerna da biblioteca.“Os cartazesda biblioteca hoje sãoconsiderados pelos alunos comoinfantis.A nossa idéia é adaptar alinguagem universitária aoscartazes”, defende DiogoSalomão.“Isso ilustra bem comoestamos trabalhando aconvergência de linguagens.Vamos elaborar textos maisinformativos,quase jornalísticos,ou seja,menos abstratos”, finalizaÉrick Costa.

ExperimentaçãoA agência modelo procura

recriar o ambiente de trabalho dopublicitário. A Logus, além deelaborar a campanha da biblioteca,realizará um trabalho com umcliente externo real. O intuito éformar profissionais capacitados,com teoria e prática. “Aquiestamos observando, criticando,aprendendo e exercendo a práticapublicitária”, opina KatíusciaPereira, responsável peloatendimento da agência Logus.

Para a execução dos trabalhos,os alunos recebem acompanha-mento da Lápis Raro, agênciamadrinha da Logus. Segundo adiretora da Lápis Raro, DanieleValadares, é uma ótimaoportunidade para a troca deexperiências “O interessante éque a agência modelo é umapossibilidade de se pensar práticapublicitária na universidade e nomercado de trabalho”.

Dimara, editora do Minas Esporte, destaca a importância de se discutir a temática da revista

O lançamento da agênciaLogus, realizado em abril, foiuma oportunidade para osestudantes da Fumec conhe-cerem um pouco da práticacotidiana publicitária.

Para falar desse assunto, aLogus convidou o publicitário eautor do livro “Propaganda éisso aí”, Zeca Martins. Opublicitário fez uma análisesobre a informação comomatéria prima do publicitário.“É fundamental que não só osestudantes, mas publicitáriostratem a informação como fatorprimordial para a criação.E issoé um diferencial no nossomeio”, evidencia.

Daniele Valadares,diretora daLápis Raro, completou opensamento de Martins,dizendoque “é perceptível uma procuracada vez maior pela dife-

renciação.Até mesmo porque osclientes estão com verbasmenores e investindo cada vezmenos”.Ela afirma que é precisomaximizar cada vez mais opoder, o fôlego de investimentodos clientes, dos parceiros eanunciantes, e daí essanecessidade: de realizar umtrabalho diferenciado”, diz.

Para Zeca Martins, para sepeparar para enfrentar os desafiosda profissão,“o estudante precisacriar seu próprio espaço e perderfronteiras geográfica”. Segundoele,“o mercado está mudando,tanto de tamanho quanto denatureza, necessitando deprofissionais diferenciados.Hoje,o mercado é sem educação.Porisso a idéia de trabalhar com asconvergências de linguagens éimportante” finalizou opublicitário.

Revista do curso de Comunicação Social daFumec abre debate sobre a influência dos meiosde comunicação na percepção do público frente aoesporte considerado a paixão nacional

É fundamentalfazermos essadiscussão. Ojornalismoesportivobrasileiro émuitas vezesdesprezado,mau visto pelosdemais colegas

Dimara Oliveira, apresentadora

Agência experimental Logus trabalhacom as ‘convergências de linguagens’

Lançamento da agência experimental Logus, da Fumec

Peça de conscientização para campanha da biblioteca

Prática cotidiana publicitáriafoi discutida no lançamento

Aline Santos

Fernanda Melo

Fernanda Melo

Zeca Martins:“nosso mercado de trabalho é sem educação”

07-Fumec - Thiago Lobato 5/2/05 12:10 PM Page 1

Page 8: Jornal O Ponto - abril de 2005

O POBelo Horizonte

Editor e diagramador da página: Rafael

8 ESPECIAL

Ana Paula Ferreira, Natália Andrade, Wânia Ferreira

e Henrique Lisboa4º período

Mais uma vez, a mídia errou.E a cobertu-ra da morte do papa é uma prova disso. Embusca de um “furo de reportagem”, a impren-sa não fez o básico no jornalismo:checar as in-formações. O que rendeu falhas pitorescas.Amídia chegou a “matar” João Paulo II antes dahora.A seguir, alguns erros que deixaram lei-tores,ouvintes e telespectadores confusos comas informações truncadas.

“Mea culpa”“João Paulo II piora e perde a consciência”.

Esta foi a manchete da Folha de São Paulo dosábado, dia 2 de abril.Enviado a Roma espe-cialmente para acom-panhar os últimos diasde vida do pontífice, orepórter Clóvis Rossiescreve nessa matéria àFolha,que a notícia deque o papa havia per-dido a consciência foinegada pelo Vaticano. Na verdade, João PauloII sofreu um choque séptico e um colapso car-diovascular,como anunciou o médico e jorna-lista espanhol Joaquín-Navarro Valls,porta-vozdo Vaticano há 20 anos.O boletim médico di-zia que o papa estava lúcido,mas que o seu es-tado era muito grave.Falta de atenção? É mui-to improvável.Afinal,nenhum outro jornal nodia, a não ser o Estado que cravou “Papa perdea consciência; mas coração resiste”, abordou oagravamento do estado de saúde do pontíficedessa forma. Mas não faz diferença, no outrodia é só corrigir o pequeno “deslize”.

Na seção Erramos de domingo, dia 3 deabril, a Folha retratou-se como quem corrigeum engano banal, daqueles que nem fazem“tanta diferença”; informando que ao con-trário do que havia sido dito na manchete, opapa não perdera a consciência.

1º de abril“O papa se apaga serenamente”.Após essa

declaração feita pelo cardeal polonês AndréaDeskur e do súbito agravamento do estado desaúde do pontífice, informado pelo porta-vozdo Vaticano Joaquín-Navarro Valls ao ler o pri-meiro boletim do dia 1º de abril, a agência ita-liana ADNKronos, anunciou a morte cerebraldo pontífice.A notícia reproduzida pelos maio-res veículos de comunicação do mundo con-seguiu, por um certo tempo, causar o impacto

que as “empresas” jornalís-ticas sempre desejam,que éo de satisfazer os desejos ca-pitalistas de seus anuncian-tes e da massa sempre ávi-da e sedenta por mais umevento que retifique o con-sumismo.As programaçõesdiárias de praticamente to-das as televisões italianas fo-

ram substituídas e passaram a transmitir somenteinformações ligadas ao papa e programas espe-ciais que apresentavam a retrospectiva de umavida que chegara ao fim.

Usando uma linguagem que une o pontí-fice a Deus e que o jornalismo, cada vez maissensacionalista, gosta de utilizar para alavancaràs vendas, o vigário de Roma,Camillo Ruini,declarou a frase que foi manchete em diversosjornais:“O papa já vê e toca o senhor”. Jorna-listas que já estão no mercado há bastante tem-po e estudiosos em história da Igreja que lota-ram a cidade de Roma durante os últimos dias

de vida do papa João Paulo II,“associaram” oacender das luzes do apartamento do terceiroandar do Vaticano – de cujas janelas o pontífi-ce saudava os fiéis – à morte do papa. Isso por-que,há 40 anos,a anunciação da morte de João23 foi precedida do mesmo “ritual”.Diante dis-so,ou por extrema sede pelo furo, várias emis-soras internacionais de TV anunciaram que opontífice falecera antes mesmo que fosse pro-ferido um anúncio oficial.O jornalismo é fei-to de suposições? Será que não era necessáriouma investigação maior?

A primeira a divulgar essa falsa notícia foi,segundo a matéria do jornalista Clóvis Rossià Folha de São Paulo no dia 02 de abril, a TVestatal russa.Tudo isso obrigou que o Vatica-no viesse a público desmentir as informaçõesprecipitadas, criadas e veiculadas pela mídia,

em especial as divulga-das pela rede de TVitaliana Sky e a TVamericana CNN, quetiveram de se retratarde que o papa estives-se morto. Os jornalis-tas também erram.Mas um dos exercíciosmais difíceis do jorna-

lismo é o reconhecimento do erro. Coinci-dentemente, era 1º de abril! Falta de ética oumera coincidência?

As mentiras e as desmentiras são freqüen-tes, não apenas com o tema “A morte do Pa-pa”, mas em vários outros assuntos divulga-dos pela imprensa em geral.O jornalismo nãoé fruto somente da produção dos jornalistas.Os leitores também têm poder sobre isso e,portanto, devem reivindicar os seus direitosde terem acesso às informações corretas, quesão de interesse público. Afinal, é o leitorquem decide qual jornal vai comprar.

Déborah Arduini6º período

A cobertura da morte do papa gerou desenhos de páginasbastante criativos. Um farto material sobre João Paulo II foi pu-blicado, e a linguagem visual procurou atingir sempre o emo-cional do público, atraindo-o com grandes fotografias e poucostextos.Mas não basta uma boa fotografia.A forma que esta ima-gem toma com o texto é que chama a atenção.

É só analisarmos os recursos utilizados na capa do Correio Bra-ziliense do dia 02/04/2005. O fundo preto, que expressa o senti-mento de luto é unido a uma imagem de freiras, vestidas de preto,rezando.Muitos jornais utilizaram a mesma fotografia,mas o deta-lhe é que nenhum diagramador fez o que o jornal braziliense fez:ele ousou.O texto,abaixo do título que faz referência à fotografia,fala do momento da morte do pontífice. Na mesma mancha pre-ta, o designer distribui bem as chamadas para as matérias secundá-rias sobre o assunto. Elas têm o mesmo peso ou importância, porisso colocadas do mesmo tamanho.Mas o conjunto ficou bem ela-borado: imagem casada com texto e boa disposição na página.

O problema da ousadia é que se corre o risco de espetacu-larizar o fato. E o pior, o texto, que é a fonte de informaçãodo impresso, acaba ficando como coadjuvante. É só ver os“erramos” dos jornais. Páginas bonitinhas com informaçõeserradas.

E quem não costuma arriscar nos desenhos das páginastambém corre o risco de espetacularizar o fato. Por exem-plo:a mesma imagem das freiras foi usada pelo jornal Es-tado de Minas, sem a montagem.A imagem,pelo seutamanho,acaba se sobrepondo ao texto.

O material sobre a morte do papafoi, na maior parte, vi-sualmente atrativo.Mas e a infor-mação?

Mito e es

Daniel Gomes4º período

Na era da informação, João PauloII foi o maior e mais conhecidomito. Além de levar consigo umpoder de comunicação já intrín-seco ao seu caráter mítico, utili-

zou-se das maravilhas da mídia moderna para am-plificar esse aspecto de forma jamais vista.O mi-to existe desde a civilização antiga e guarda em situdo aquilo que é inalcançável e incompreensí-vel ao homem. Passada de geração em geração, aidéia do mito ganha força na medida em que setorna familiar para uma sociedade. O mito é seuespelho negativo e é nele que toda uma comu-nidade joga seus desejos, anseios,medos e sonhos.Por causa disso,o poder de comunicação do mi-to em si já é fabuloso.

Entretanto,Karol Jozéf Wojtyla veio a falecer,segundo o historiador Peter Burker,na era do “in-foentretenimento”, a já conhecida mistura per-versa entre jornalismo e entretenimento.O con-glomerado midiático moderno se comporta demaneira autofágica a cada nova supertransmissão,a cada nova mega-cobertura, a cada nova hiper-retrospectiva.Ao farejar a morte do Santo Padrea meses de distância, a mídia começou a prepararseu ritual autofágico, tendo como prato princi-pal o mito do papa João Paulo II.

Tudo isso se materializou nos seus últimos diasde vida quando, sob extrema agonia, a imagemdo papa correu o mundo. João Paulo II, em ple-na Praça de São Pedro, fez caretas ao perceber quenão conseguiria falar pela última vez aos fiéis, ávi-dos pelas palavras do líder maior,que se transfor-mou em ícone supremo no instante seguinte àsua morte.A imprensa internacional filmou seucorpo exposto por horas e elevou a lendária ima-gem do pontífice à enésima potência.A mídia deuo troco no mito ao utilizar-se de seu inimitávelpoder de comunicação, seja simbólico, seja oral,seja como ícone, para armar o espetáculo multi-mídia. O circo da comunicação estava feito e oastro da hora era o papa.A exploração do podermidiático por parte de Wojtyla teve uma contra-partida inesperada e a mídia não perdoou o iner-

te corpo de quem a usou com facilidade e graça.Ao longo de seu pontificado, João Paulo II

construiu e alimentou o mito para o qual ele pa-rece ter sido feito sob medida. Segundo Artur daTávola, autor do livro “Comunicação é Mito”, opapa guardava sob sua imagem três símbolos:o dopai, o do herói e o do velho sábio, esse último oque Távola chama de “arquétipo do inconscientecoletivo”. A sociedade contemporânea tem sen-tido profundamente a falta dessas três referênciase, pelo fato de ser cada vez mais difícil haver pes-soas que reúnam esses aspectos, a mídia trata defazer sua parte e fabricar seu mito.De preferênciaem série, para consumo rápido. O homem KarolWojtyla, segundo Távola, conseguiu reunir essascaracterísticas com maestria e se tornou a luz pa-ra onde todos (ou o bilhão de pessoas católicas nomundo) deveriam olhar.Távola ressalta que parahaver um mito, há que se ter algo que o alimen-te, e aí entra o público.O processo de comunica-ção entre o mito e o público é bilateral e sem um,o outro não existe.Dentro dessa dialética,a mídiaserve de intermediária e leva o mito ao público evice-versa.A diferença aqui é que o mito em ques-tão se trata de alguém com uma cultura invejável,cuja história de vida permitiu que assumisse umaposição muito além de uma lenda fabricada, algotão comum na sociedade contemporânea, caren-te de identidade e significado.

João Paulo II foi um mito de fato por reu-nir em si os símbolos pelos quais o público an-siou nessas últimas décadas.Ele não só queria le-var sua mensagem além, como realmente tinhaalgo a dizer, o que não ocorre em mitos fabri-cados. Nesse ponto, o papa foi brilhante. Utili-zou-se maciçamente dos meios de comunica-ção para que sua mensagem chegasse a quem aquisesse receber. O que não se esperava era quea mídia fosse surgir soberana após a sua morte,cobrando um alto preço pelos serviços presta-dos por 26 anos seguidos.

A morte de João Paulo II foi um prato cheio para a imprensa.A imagem de sofrimento do pontíficefoi superexplorada e, mais uma vez, armou-se o espetáculo da mídia sobre um grande mito

Habemus errorem

Prato cheio paradiagramadores

Juliano MendonçaJuliano Mendonça

08 e 09 -Especial - Rafael W. 5/2/05 12:00 PM Page 1

Page 9: Jornal O Ponto - abril de 2005

ONTOte – Abril/2005

Werkema / Colaborou: Cristina Chaves

ESPECIAL 9

Juliano Mendonça2º Publicidade

A charge jornalística tem por escopo trabalhar o hu-mor como uma arma de ataque,na maioria das vezes, à po-lítica. Com um enfoque crítico, ela denuncia os absurdos,contrasta as desigualdades, satiriza um determinado acon-tecimento da mídia, sem abrir mão do humor ao tratar deassuntos sempre atuais.

O humor requer certa dose de ironia. E a ironia ridi-culariza, debocha, não perdoa. Por isso, dizem que nocéu não há humor. Há uma certa desumanizaçãoquando o assunto se refere ao sagrado, uma aversãoaos prazeres carnais, não se podendo ultrapassar cer-tos limites.

Então,diante de toda a complexidade que existe noslimites da fé, como os jornais poderiam abordar, por

meio de charges, um assunto tão delicado que foi a mortedo Papa João Paulo II?

Ao analisarmos algumas charges publicadas,notamos queo humor foi sutil, tratando a morte do papa com todo umeufemismo característico da própria ideologia cristã. Lá es-tavam os anjinhos ensaiando uma bela recepção.O dedo deDeus, dos afrescos de Michelangelo na Capela Sistina, vin-do libertar o papa de sua agonia. No lugar onde a televisãonão alcança, assistimos pela janela ao papa sentado em meio

às nuvens do céu.E a missa chega ao fim,“Ite...missa est”,um último adeus, guardando o mundo em seu coração.Enfim,as charges acabaram se desarmando.Serviram deponte para ajudar o papa,na travessia entre os dois mun-dos, a vencer a morte.Deixaram-nos com uma sensa-ção de que João de Deus não tinha morrido, ele real-mente continuava vivo após a morte, ilustrado nas pá-ginas dos jornais a caminho do paraíso.

Daniel Carlos5º período

Quando foi eleito Sumo Pontífice da Igreja Católica, em 1978,Karol Wojtyla começou a ter seus grandes momentos clicados por fo-tógrafos de todo o mundo, tornando-se assim o primeiro papa de ape-lo realmente midiático.

João Paulo 2º, que sempre fora retratado pelas câmeras como umhomem forte, talvez “invencível”, foi fotografado em um momentode profunda dor e angústia diante de milhares de fiéis, na janela deseu quarto no Vaticano durante sua bênção no domingo de Páscoa,em 27 de março.

Daí a pergunta: esse sofrimento deveria ser retratado de forma tãofranca a milhares de pessoas em todo o mundo? Ora,o papel da imprensaé justamente esse, relatar, seja por meio de texto ou material fotográfi-co,os fatos de forma mais fiel possível.No momento em que o papa seexpôs em sua janela a milhares de peregrinos e a jornalistas,ele,que sou-be lidar com a mídia como ninguém, estava sujeito a ser flagrado pelaslentes presentes na Praça de São Pedro.

O problema é que parte da imprensa publicou apenas as cenas dra-máticas da aparição do Pontífice e deixou de lado as fotos nas quais eletambém aparece de forma serena diante da multidão. O site do “TheNew York Times”,por exemplo,divulgou toda a sequência – da sereni-dade ao desespero – em um exemplo de jornalismo ético.

A fotografia entra no âmbito do “direito de ver”, que é o direitode se informar através de documentos visuais. Por isso, a imprensa de-ve ter o cuidado de retratar com totalidade as imagens capturadas, pa-ra se evitar a parcialidade ou o sensacionalismo.

A mídia acertou sim ao publicar as fotos da angústia de João Pau-lo II,mas parte dela errou ao publicar apenas as cenas dramáticas, tal-vez, por ter a certeza de que seria grande a rentabilidade do “espetá-culo”, ao contrário da cena comum da bênção Pascal.

pe áculo

No Céu, o humor é sutil

Fotógrafos: de olho nosofrimento do pontífice

Tiago Nagib6º período

“Habemus Papam. Cardinale Ratzinger”.Após a escolha do car-deal alemão Joseph Ratzinger como novo papa, boa parte da im-prensa brasileira e mundial começou a traçar um perfil equivoca-do do novo líder da Igreja, destacando seu trabalho na antiga San-ta Inquisição, seus confrontos com teólogos da teoria da libertação,chamando-o de ultra-conservador e dizendo que a Igreja se fe-charia. Basta dar uma folheada nas revistas Época eVeja publicadasno período da escolha.

Apesar da importância que Ratzinger teve durante o pontifi-cado de João Paulo II, essa mesma parte da imprensa, curiosamen-te, não entendeu porque a Igreja escolheu um cardeal tão velho e"conservador" para exercer a autoridade máxima de Sumo Pontí-fice da Igreja de Roma.Um papa idoso seria a transição entre doislongos pontificados.

A imprensa esqueceu também que o Vaticano é uma entidadetradicionalista por si só, que não está disposta a abrir mão de seusdogmas. Começou, então, a bombardear Bento XVI, publicandouma série de meias verdades. Como fez a rede britânica BBC, quesoltou nota afirmando que o atual papa foi membro da JuventudeHitlerista e do exército alemão durante a 2ª Guerra Mundial, semsequer mencionar em quais condições e o porquê de sua partici-pação no exército nazista.A BBC não disse que sua família era con-trária aos nazistas, e que a convocação era obrigatória. Não ressal-tou sua amplamente reconhecida capacidade intelectual.

No Brasil, grande parte da imprensa, em um patriotismo pri-mário, lamentou a não escolha de um pontífice brasileiro.A alega-ção, simplista, era a de que o Brasil é o maior país católico do mun-do e por isso o papa tinha que ser brasileiro. A eleição de um no-vo pontífice teve, para a mídia, o mesmo tom de uma campanhaeleitoral.

E enquanto isso, os leitores se afogam em um mar de informa-ções truncadas, carregadas de opinião sem nenhuma base.

Joseph Ratzingere a gula da mídia

Foto publicada na Folha de São Paulo / 27.03.2005

Aroeira - O Dia (RJ) / 05-04-2005Dálcio - Correio Popular (SP) / 02-04-2005

J.Bosco - O Liberal (PA) / 03-04-2005

Son Salvador - Estado de Minas (MG) / 04-04-2005

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Page 10: Jornal O Ponto - abril de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editor e diagramador da página: Daniel Gomes / Colaboraram: Luana Moreira e Rafael Werkema

10 MÍDIA

Daniel Gomes4º período

Mais uma vez a imprensadeixa de cumprir seu papel prin-cipal: o de vigilância social.Nosprimeiros dias imediatamenteapós a chacina ocorrida no esta-do do Rio de Janeiro no dia 30de março, os jornais nacionaisem sua maioria ignoraram sole-nemente o fato, relegando-o achamadas de capa que sequerconseguiam trazer para si umpouco da atenção dispensada àmorte do papa João Paulo II.

A chacina que aconteceu nosmunicípios de Nova Iguaçu eQueimados, região metropolita-na do Rio,já figura entre as maio-res barbáries já cometida no Bra-sil. O crime, que teve até agora12 policiais militares indiciadospor homicídio, resultou em 30pessoas mortas,entre elas mulhe-res e menores de idade,em pou-co mais de uma hora e meia deação dos criminosos.Pelo caráterhediondo do massacre,que já noprimeiro dia tinha como suspei-tos membros da Polícia Militar daregião, a imprensa brasileira de-veria ter dado destaque ao me-nos equivalente àquele dado aosfatos que ocorreram no Vaticano.

Dos jornais brasileiros,desta-ca-se o Globo que, talvez pelaproximidade com o acontecido,soltou uma grande manchete decapa no dia 2 de abril, sábado, oque dividiu a atenção do leitor

com a morte do papa, ainda queo sumo pontífice ocupasse todaa metade superior da página.

A Folha de São Paulo, na suaedição de 2 de abril, agiu damesma forma, reservando a me-tade superior de sua capa à mor-te do líder religioso.Na metadeinferior, com o título altamen-te impróprio segundo Jânio deFreitas e Marcelo Beraba, colu-nistas do próprio jornal, o diá-rio estampou na capa uma fotodos corpos de três pessoas mor-tas no assassínio.A manchete di-zia "Massacre no Rio deixa 30mortos" o que, segundo os co-lunistas, leva o leitor a pensarque o ato ocorreu na capital doestado,denegrindo a imagem dacidade.

O próprio New York Times,grande jornal americano, trouxeem suas páginas manchete mui-to parecida,o que contribui ain-da mais para a má fama da cida-de junto ao estrangeiro. Já no dia4 de abril, segunda-feira, um diaapós a morte do papa,a Folha sol-tou um rígido editorial intitula-do "Terror Brasileiro", conde-nando a negligência do Estadoperante a impunidade e a conta-minação dos órgãos de seguran-ça pública pela corrupção e mar-ginalidade.Ainda assim, em suacapa a Folha ostentava uma belís-sima foto da praça de São Pedrono Vaticano e, sob ela, a seguintemanchete: "Roma espera 2 mi-lhões pelo Papa".Ao pé da pági-

na,uma pequena cha-mada sobre o crimecom o título "PF in-vestiga dez PMs porchacina" comentava asinvestigações em curso.

O resultado dessacobertura,que por vezesgerou excelentes maté-rias como na própria Fo-lha de São Paulo, é que ocrime não teve o devidoreconhecimento junto àpopulação brasileira.O fa-to de policiais militares saí-rem às ruas e matarem pes-soas inocentes a esmo é amais clara solidificação da fa-lência do Estado de Direitobrasileiro.A impunidade, apobreza e a violência, são sin-tomas de um câncer socialque há muito toma conta dopaís. Segundo o editorial daFolha de São Paulo citado aci-ma, "o Brasil vem pagando umpreço alto pela ineficiência comque o agravamento do quadroda segurança pública tem sidotratado no país, em que pesemalgumas tentativas isoladas demoralização".Se o agravamentodo quadro em questão é tratadode maneira insuficiente, cabe àimprensa brasileira torná-lo pau-ta fixa nas rodas de discussão dosgovernantes brasileiros.De nadaadianta pleitear o tratamentocorreto das mazelas sociais se aimprensa também se omite aonão tratá-las com destaque.

Bruno Augusto, Daniel Rui e Tiago Parrela

4º período

Coincidência ou não,Veja,Época e Isto É, as três revistas se-manais de maior tiragem noBrasil, escolheram o escritorPaulo Coelho, que lançou seulivro “O Zahir”, como matériade capa na terceira semana domês de março.Tal fato levantoudúvidas quanto ao tipo de jor-nalismo praticado nos semaná-rios considerados referência dosegmento no país.

Na disputa por qual seria aprimeira publicação a abordar otema,a revista Isto É saiu na fren-te, e,na manhã da sexta-feira,dia18 de março, estava nas bancascom o escritor Paulo Coelho eum texto exclusivo sobre qual asensação do autor de lançar maisum livro.Na mesma noite, o si-te da revista Época já mostravasua capa com o autor do livro“O Zahir”, que teve um capí-tulo inteiro publicado naquelaedição da revista.Os leitores queforam às bancas no dia seguintese depararam com o endeusa-mento de Paulo Coelho pela re-vista Veja, que mencionou no-mes de personalidades famosasque são leitoras do escritor.

A overdose visual de PauloCoelho nas revistas foi conside-rada pela Editora Rocco,que pu-blica o livro no Brasil, como umsucesso em se tratando de estra-tégia de marketing. Os livreirosda Agência Status,de Belo Hori-zonte,afirmam nunca terem vis-to uma divulgação como esta pa-ra a venda de um livro.

Essa coincidência colocou emquestão o jornalismo praticadopelos veículos citados, que estácondicionado aos acordos e par-

cerias entre os veículos de co-municação e empresas do entre-tenimento para transformar emnotícia lançamentos que consi-deram importantes.Alécio Cu-nha, repórter de cultura do jor-nal mineiro Hoje em Dia afirmaque, para as revistas Veja e Isto Énão tomarem “furo”,que no jar-gão jornalístico significa deixarde dar uma notícia em primeiramão,a Época divulgou o novo li-vro em um espaço reservado,mantendo as relações mercado-lógicas que prestam estas revistas.

Desta forma, a notícia perdesua qualidade e faz com que o li-vro deixe de ser um produto cul-tural para se tornar mercadoria.As revistas, que são um tipo demídia impressa, estão se preocu-pando mais com a vendagem dos

produtos que com a cultura emsi.Ao dar espaço a determinadosautores, escritores ou músicosunanimemente, a imprensa nãopermite que os leitores possamacompanhar de forma crítica olançamento de produções cultu-rais diferenciadas, tanto nacionaiscomo internacionais. Seria a re-tratação de uma falsa cultura,umacultura fabricada.

O papel da imprensa, maisdo que julgar a produção cul-tural, é o de divulgar equili-bradamente todo tipo de ma-nifestação artística. Cabe a ca-da leitor, individualmente, ana-lisar esse tipo de situação e ti-rar suas próprias conclusões;avaliar o que é divulgado parapoder saber por si só se o queestá sendo dito pela mídia real-

mente é aquilo que corres-ponde as suas idéias e concep-ções a respeito de sua cultura.O caso das três revistas brasi-leiras de maior credibilidade éum bom exemplo do que real-mente devemos avaliar.

Infelizmente, não se podemais querer separar cultura emercadoria. O produto cultu-ral é feito hoje com o objetivoda venda. Fica claro dentro dasociedade contemporânea o fa-to de que os costumes particu-lares de cada geração se mistu-ram devido ao fenômeno daglobalização. É de se lamentarque revistas tão importantesquanto as citadas acima contri-buam para que as pessoas te-nham cada vez mais distânciade sua identidade original.

Já o mago e escritor brasileiro “hipnotizou” e monopolizou capa das principais revistas brasileiras

A credibilidade do jornalis-mo cultural exercido pelas re-vistas Veja, Época e Isto É é pos-to em dúvida quando seus dire-tores não conseguem justificar aescolha de qual seria a matériade capa das edições da semana.As revistas anteciparam suas pu-blicações sem justificativa.

A revista Isto É tinha outrasduas matérias que poderiam terestampado a capa da edição.Umdos assuntos seria o documentoque acusa as tropas brasileiras doHaiti de despreparo, e o outroum relato sobre a vida dos doisbrasileiros condenados à pena demorte na Indonésia. A revistaÉpoca, que poderia ter optadopelos financiamentos do BNDESpara megaprojetos ou pela con-tratação de petistas para a centralde abastecimento de São Paulo,já havia acertado, em dezembroúltimo,um acordo com a Edito-ra Rocco, que se comprometeua ceder um capítulo exclusivo dolivro para ser publicado na edi-ção.A Veja, por meio de seus di-retores, preferiu não comentarsobre a capa.A publicação traziaainda uma continuação da re-portagem que mostra que as Farcteriam financiado a campanhaeleitoral do PT em 2002.

No campo da literatura, damúsica e em outras artes, é co-mum que os artistas tenham suaimagem transformada em sím-bolo de referência para suas obras.

O professor da Faculdade deCiências Humanas Fabrício Mar-ques enfatiza que as pessoas co-locam a embalagem,o consumoe a futilidade em primeiro planoe deixam o conteúdo, o cidadãoe o que é de interesse público pa-ra depois. Ele cita a revista Car-ta Capital,que não não deixou denoticiar o lançamento do livro,tratando a publicação dentro dospradrões habituais.A capa da re-vista estampava uma reportagemsobre a queda de Daniel Dantasdo banco Opportunity.“De tu-do o que aconteceu no Brasil eno mundo, ao colocar o lança-mento do livro como fato prin-cipal,você está prestando um des-serviço aos leitores.”,argumenta.

Nessa situação, o chamadojornalismo de mercado coloca olivro do escritor,que seria o mo-tivo principal das matérias, emum segundo plano. Ele se tornacoadjuvante da imagem de seuautor,que é tido como o “o maisglobal e influente dos brasileiros”e vende milhões de exemplaresde suas obras mundo afora.A pu-blicidade que o autor tem comessa ação é inimaginável.

Não se questiona a relevân-cia qualitativa do escritor e sima linha jornalística praticada pe-los veículos citados o fato colo-cado em questão é a mercanti-lização da notícia que perde seucaráter informativo ao ser trata-da como produto de consumo.

Revistas ignoraminteresse público epriorizam mercado

Chacina ocorrida no estado do Rio de Janeiro jáfigura entre as maiores da história, mas passadesapercebida pela imprensa nacional

Paulo Coelho em primeiro

Morte em segundo plano

Edições de O Globo e Folha de S. Paulo de 2 de abril de 2005

10-Mídia-Daniel Gomes 5/2/05 12:48 PM Page 1

Page 11: Jornal O Ponto - abril de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editora e diagramadora da página: Paula Costa

EDUCAÇÃO 11

O preço de umdiploma na UFMGHá quem possa gastar até R$ 3 mil nacompra de alguns livros e quem não consigase manter nem com ajuda de custos

Lídia Rabelo, Lígia Ríspoli e Paula Luzia4º período

O Brasil ainda não conseguiu diminuir suasdesigualdades sociais nas universidades. Os alu-nos que vêm de escolas públicas, de baixa ren-da, dificilmente conseguem passar no vestibu-lar devido à dificuldade do processo seletivo eà falta de estrutura existente no ensino públi-co. Os que passam, mal conseguem se manter,pois os gastos com livros, alimentação, entre ou-tros, ficam muito caros.Além disso, os horáriosde aula são alternados e o aluno não conseguetrabalho. Dessa forma os estudantes que tantose empenharam em conseguir alcançar o nívelsuperior acabam abandonando o curso por fal-ta de condições financeiras. Existem algumasinstituições de apoio como a Fundação Men-des Pimentel (FUMP) que auxilia os estudan-tes da UFMG.De acordo com a presidente daFump, Maria José Grilo, os alunos que recebemos benefícios são classificados por meio de umquestionário que avalia a condição sócio-eco-nômica dos estudantes.

Segundo Maria José Grilo,“ FUMP é defi-nida no estatuto da UFMG, na questão da li-nha de desenvolver os programas de assistênciaestudantil da universidade, apesar de ser de di-reito privado por ser uma fundação. O fundode bolsas é mantido com uma taxa de R$145,00 na hora da matrícula, que é obrigatória(essa é a maior parte da receita da fundação) etambém com a restituição de bolsa.A moradiaé bancada com o saldo do vestibular (existe aisenção da taxa de matrícula para alunos caren-tes) e com a taxa paga pelos alunos não-caren-tes. O restaurante é mantido com o subsídio daUFMG.”

Estudantes do curso de Belas-Artes daUFMG, campus Pampulha, que se encaixam noperfil de não serem considerados carentes, maspassam dificuldades, explicaram os obstáculosque atravessam para fazer o curso.

Aline Lopes, 22 anos , 5º período de Belas-Artes, mora em Matozinhos e a prefeitura dacidade garante gratuidade no transporte paraestudantes. Pega condução em horários deter-minados. Daniele Ascipriano, 25 anos, do 8º pe-ríodo, mora em Betim e pega, todos os dias, 3ônibus, gasta R$ 15 reais por dia incluindo al-moço.As aulas são em diversos horários. Às ve-zes tem uma às 7:50 da manhã e outra às 9:30da noite. Isso impede que elas trabalhem e obri-gam-nas a ficarem o dia inteiro na universida-de. O almoço é feito no bandejão, que custa-va R$ 2,30 passou para R$ 2,50, o que causou

revolta nos alunos, provocando uma manifesta-ção. Patrícia de Paula,23,formada em Belas-Ar-tes mas cursando matérias opcionais, é de Ma-to Grosso, faz pesquisa e recebe, mais ou me-nos, R$ 240 reais por mês e tem uma ajuda dopai, mas ainda assim tem dificuldades.As garo-tas reclamam do absurdo em relação ao preçodo material que usam. Para conseguirem bene-fícios da FUMP elas esclarecem que o proces-so é bem burocrático. Conseguir moradia pe-la instituição é um dos mais difíceis, mas elasfalam que tais lugares são ótimos, tem compu-tador, água e luz.Aline explica que quanto maisperíodo para frente você está, mais difícil ficapara conseguir os benefícios. Ela mesma con-seguiu um recentemente mas quando formarterá que pagar aos poucos. Daniele conseguiusomente agora um benefício e já está se for-mando.

Bandejão mais caroApós o final das férias, o bandejão passou de

R$2,30 para R$2,50, surpreendendo os alunosda UFMG. Com o aumento, eles se mobiliza-ram para pressionar a Fundação Mendes Pimentel(Fump). Lucimar Pacheco , estudante do 6º pe-ríodo de Geografia, compara os preços da UFMGcom outras universidades públicas do país. NaUniversidade Federal de Viçosa (UFV) é R$ 1,50,e na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)e Universidade Nacional de Brasília (UNB), R$1,00. Nesses locais, alunos carentes não pagam,enquanto em Minas pagam R$ 0,75.“As uni-versidades estão passando por uma ‘privatizaçãobranca’. Hoje o Governo Federal quer legalizara atuação destas fundações dentro das universi-dades públicas com o projeto da Reforma Uni-versitária. Essa reforma destrói o ensino públicopara salvar da crise os donos das instituições pri-vadas.”reitera Pacheco.

Nessa crítica está incluído sua discordânciacom a Fundação.A Universidade Federal cobrataxas dos estudantes semestrais que se não fo-rem pagas o aluno é impedido de fazer matrí-cula e perde o direito de estudar. A Fump ga-nha dinheiro com moradia universitária, taxasde vestibular e dinheiro de bolsas que são reem-bolsáveis. Lucimar e outros alunos sentem napele essas decisões que atrapalham o desenvol-vimento do estudante e suas condições de semanter na escola superior. Quando questiona-do sobre como são amenizadas as barreiras dedificuldade dos estudos através da UFMG, Fumpe DCE, ele é taxativo: “Não tem amenização.Ou se vira e dá um jeito ou você é obrigado adesistir de estudar, não porque você quer, maspor não ter condições mesmo”.

Débora Resende,Joseane Santos,

Lorena Campolina e Marcela Ziviani

4º período

O Projeto de Lei número3.627/04 levanta a discussãoda democratização do acessoao Ensino Superior e das uni-versidades públicas com a pre-sença de estudantes de classessociais baixa e altas.

Em relação a UFMG, 55%dos alunos vieram de escolas par-ticulares.De acordo com a CO-PEVE (Cooperativa Permanen-te do Vestibular) no útimo vesti-bular da UFMG, o número de

candidatos provenientes de es-colas particulares foi de 50%.Noscursos como Medicina,Veteri-nária e Odontologia essa pre-sença também é muito grande.

O que se discute dentro daUFMG é a quantia gasta parater um diploma, onde não sepaga pela mensalidade, mas aca-ba-se superando os gastos deuma faculdade particular. Umexemplo é o curso de Odon-tologia. A aluna Raquel Gui-marães, 22 anos, do 4° perío-do, conta que já no 2º períodoteve um gasto de aproximada-mente R$3 mil apenas commaterial instrumental.“A cadadia surgem materiais, técnicas

e equipamentos inovadores.Precisamos ter certeza na es-colha do curso e consciênciados gastos necessários duranteeste período”. Essa é a opiniãodo estudante Mauro Castro, do8° período, que gastou até ho-je com material, exceto os li-vros, cerca de R$10 mil.

No curso de Medicina, vá-rios estudantes são de classemédia e de classe média alta.“Em geral, o aluno de medici-na não tem como trabalhar e,mesmo antes de chegar à fa-culdade, ele se dedica total-mente ao estudo”, ressalta AnaCarolina Flores, 25, do 7° pe-ríodo.

Os Carentes

Os abastados

Vitrine

Pro

jeto

1º de Maio - Dia Mundial do Trabalho1º de Maio - Dia Mundial do Trabalho

Ren

ato

Mei

rele

sDia de não bater o ponto

Preço do bandejão aumenta e alunos protestam para pressionar instituição

Camila Coutinho

11- Educação- Paula Costa 5/2/05 6:44 PM Page 1

Page 12: Jornal O Ponto - abril de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editoras e diagramadoras da página: Gabrielle Costa e Melina Rebuzzi

12 CIDADE

Aline Valério, Isabella Antunes, LucianaRibeiro, Max Valadares, Raquel Alves,

Rosáurea Patrocínio e Tathiana Mendes4º período

Imagine se você dependesse do lixodo vizinho para sobreviver? Essa é a rea-lidade de diversos moradores do aglo-merado Santa Lúcia, região Centro-Sulda capital, que tiram do lixo do São Ben-to, bairro limítrofe, o que necessitam pa-ra sobreviver.

É o caso do carroceiro José Natal, 47,morador do Santa Lúcia. Há mais de 20anos ele vive do lixo que recolhe nas ruasda região.Cadastrado na Unidade de Re-ciclagem de Pequenos Volumes (URPV)da Prefeitura de Belo Horizonte paraatendimento de coleta de entulho e lixonos bairros da região da Barragem SantaLúcia, o carroceiro já encontrou diversosobjetos que poderiam ser reutilizados.“Em uma casa do São Bento,me assusteiquando encontrei 17 sacos fechados deargamassa, uma caixa de cerâmica da me-lhor qualidade e uma pia de mármore quesó não fiquei com ela porque era maiordo que minha cozinha”, relata.

José Natal é um dos 35 mil mora-dores da região onde as diferenças so-

ciais são explícitas. De um lado está aprobreza do morro do Papagaio, Barra-gem Santa Lúcia,Vila Esperança e VilaEstrela. Do outro, a classe média alta dosbairros São Bento e Vila Paris, com seusprédios altos e casas luxuosas. José, quesai de casa todos os dias cedo, por voltadas 6h, tira o sustento de sua família da-quilo que as pessoas não querem mais.“Vivo somente com o que ganho navenda do lixo. Sustento minha mulher,dois filhos e três netos com mais ou me-nos 20 reais por dia”, conta o catador.Ele afirma ainda que já encontrou di-versos materiais semi-novos. “Já acheium colchão e roupas que pareciam tersido usados uma única vez”, ressalta.

José Natal, que trabalha na Unidadede Reciclagem, conta que alguns mora-dores separam tudo o que pode ser re-ciclado e chamam os carroceiros parabuscar.“Os próprios moradores do SãoBento separam o material que pode serreciclado, entram em contato com aURPV e eu vou buscar”, disse José Na-tal.Outro que também ganha a vida atra-vés do lixo dos bairros da região é Van-der Rocha, carroceiro há cinco anos, pe-ga no lixo o que para muitos não temmais valor algum.“Recolho o que po-

de ser reciclado, como papel, papelão,plástico, garrafas pet e latinhas. Mas ásvezes aparece alguma coisa que dá prausar e levar pra casa”, diz Vander.

Segundo Jadir Reis Silva, responsá-vel pela URPV da região, a maior par-te do lixo do São Bento que pode serreaproveitado são sobras de material deconstrução, como telhas, tijolos, areia,terra, madeira, etc. Parte desse materialé vendido, e o restante é enviado para oaterro sanitário da prefeitura, que utili-za restos de material de construção pa-ra a pavimentação de ruas e avenidas dacidade. Jadir relata que é comum che-gar na URPV carroças com máquina delavar roupa, fogão, pneus em boas con-dições de uso, vídeos-cassete, geladeiras,móveis, furadeiras e outras coisas.

Cristina Barbosa, funcionária daURPV, explica que alguns objetos sãousados até mesmo na própria Unidade,como o relógio da parede, o rádio, o fo-gão e a cadeira giratória.“O indivíduoacha que o rádio não está funcionandoporque a tomada está com mau conta-to, então joga fora, aí a gente pega e tro-ca a tomada e funciona novamente. Àsvezes nem troca a tomada, é só mexerali e volta a funcionar”, relata.

Moradores do aglomerado Santa Lúcia vivem do que encontramno lixo do bairro São Bento. Funcionários da Unidade deReciclagem de Pequenos Volumes da região também aproveitamos objetos dispensados pela classe média alta

Carlos Fillipe Azevedo7º período

O economista Edmar Bacha, em 1974,criou a expressão "Belíndia" (junção morfo-lógica de Bélgica com a Índia para retratar oBrasil). Na verdade, ele teve o objetivo de de-monstrar que o nosso país ora parece a Bél-gica ora parece a Índia. A Bélgica é um paísde primeiro mundo, com pequenas dimen-sões territoriais, renda per-capita altíssima, ele-vado índice de cultura, localizado no noroes-te da Europa com cerca de 10 milhões de ha-bitantes.

Do outro lado está a Índia, com uma po-pulação de aproximadamente 1 bilhão de ha-bitantes, com grandes dimensões territoriais,renda per-capita baixíssima, alto índice deanalfabetismo, desemprego e muita pobreza.Assim como o Brasil, Belo Horizonte se en-quadra neste contexto e apresenta os mesmossintomas de uma crescente desigualdade so-cial. Os contrastes são evidentes em muitasdas regiões da capital mineira, como porexemplo, na região centro-sul da BarragemSanta Lúcia, onde podemos perceber lado alado, prédios luxuosos e aglomerados pau-pérrimos.

Mas,afinal,o queé “Belíndia”?

Rosáurea Patrocínio

São Bento eSanta Lúcia

Barragem(aglomerado)

98,65%41,5%54,17% 3,31%0,79% 0,19%0,03%

0,39% -0,76% -0,20%

Destino do lixo nos bairros São Bento, Santa Lúcia e Barragem Santa Lúcia

DestinoColetado por serviçode limpeza

Coletado emcaçamba de serviçode limpeza

Queimado napropriedade

Jogado em terrenobaldio ou logradouro

Jogado em rio oulago Outro destino

Local

Fonte: PBH

12 e 13 - Cidades - M. e G. 5/2/05 12:40 PM Page 1

Page 13: Jornal O Ponto - abril de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editoras e diagramadoras da página: Gabrielle Costa e Melina Rebuzzi

CIDADE 13

Aline Valério, Luciana Ribeiro, Max Valadares e Raquel Alves

4º período

“O pessoal dá tudo para uma vizinha que tra-balha na Barragem.Se for um móvel, por exem-plo,ela identifica uma pessoa que precisa e o pró-prio interessado vai buscar”.As palavras de Ma-ria Catarina Carvalho dos Santos evidenciam acontradição entre o “morro e o asfalto”. Mora-dora há 23 anos da parte nobre do Santa Lúcia,ela conta que aquilo que não serve mais para elaé doado a carroceiros e pessoas interessadas. “Umavez, utilizei o serviço de carroceiro da prefeitu-ra para me livrar de um colchão de molas que nãousava mais.Como o objeto não tinha destino de-finido, ofereci ao carroceiro que foi buscar. Eleaceitou na hora”, ilustra Maria Catarina.

Beatriz Carvalho Soares de Gouveia, mora-dora do São Bento, jogou fora três portas de su-cupira que estavam em bom estado durante umareforma em sua residência. “Coloquei as portasna rua, próximas à lixeira, porque não iria con-tratar um serviço de caçamba apenas para reco-lhê-las.Quando retornei ao local vi que as por-

tas já não estavam mais lá, pois tinha certeza deque alguém ia precisar,”explica. Ela reconheceque esta foi a única vez em que agiu dessa for-ma, pois sempre doa objetos ou aciona o servi-ço de coleta a domicílio.

ReciclagemA reciclagem e a coleta seletiva são as me-

lhores formas de resolver a questão do lixo ur-bano - um dos maiores problemas do planeta.Alguns moradores do São Bento, ao invés de jo-garem fora aquilo que não é útil para eles e quepode ser reciclado, estão preferindo separar osmateriais ou doá-los para catadores ou carrocei-ros. É o caso de Henrique Rosseti, engenheiroelétrico. Morador da região, ele afirma que temo hábito de juntar materiais recicláveis em suacasa.“Aqui em casa, quando eu faço uma festa,junto todas as latinhas e chamo um carroceiropara vir buscar.O mesmo faço com jornais e pa-péis”, acentua. Ele conta que quando faz umareforma em casa, doa os móveis que não utiliza-rá mais, bem como os materiais de construção.

A moradora do bairro Santo Antônio (quetambém possui uma área de frente à Barragem),

Maria das Graças Ferreira, explica que havia pon-tos de coleta seletiva no bairro São Bento e noaglomerado e que o projeto não funcionou por-que vândalos começaram a depredar os contêi-neres, de ambos os pontos de coleta, para retirarmateriais de dentro deles.“Eles faziam muita su-jeira e destruíam os contêineres”, relata. Ela ex-plica que quando os pontos de coleta seletiva fo-ram retirados, os moradores do prédio onde re-side tentaram fazer uma coleta seletiva por con-ta própria esperando algum retorno financeiro,o que não deu certo porque a quantidade dematerial recolhido era pequena demais.“O pes-soal do prédio desanimou quando viu que nãoestava dando nenhum lucro.Eu participava ape-nas por uma questão ambiental”, diz.

Elza Souza Lima,moradora da parte nobre doSanta Lúcia,opina:“A prática da doação é neces-sária”.Ela incentiva seus familiares e amigos a nãojogarem nada fora.“Nós doamos os utensílios do-mésticos, roupas usadas e brinquedos para insti-tuições de caridade, caseiros de sítios e parentesdos empregados do prédio.Essas coisas não joga-mos no lixo.Quando trocamos algum móvel tam-bém doamos”, finaliza a moradora.

Aline Valério, Isabella Antunes, LucianaRibeiro, Max Valadares, Raquel Alves, Rosáurea

Patrocínio e Tathiana Mendes4º período

As contradições observadas na região da Bar-ragem Santa Lúcia passam ainda pela questão dasegurança. Moradores de ambos os lados sofremcom a violência e se protegem como podem.En-quanto de um lado os moradores protegem suascasas com muros altos, cercas elétricas, circuitosinternos de tv e vigias, do outro os moradoresconvivem com a violência dia-a-dia sem nenhumdesses aparatos. Ronaldo Alves Souza, feirante,que trabalha há três anos na região, conta que pa-ra evitar os assaltos dos carros dos clientes os co-merciantes se juntaram para pagar um vigia.“Nóspagamos um rapaz para tomar conta dos carrosdos nossos fregueses. Os carros eram sempre ar-rombados”, conta.

A falta de policiamento é uma reclamação dosmoradores de ambos os lados.“Quando chama-mos a polícia ela demora muito.Outro dia acon-teceu um tiroteio no morro e a polícia demoroumuito a vir. Quando eu tinha 12 anos, teve umtiroteio na minha rua. Fui atingida por uma ba-la e uma amiga que estava comigo morreu”, con-ta Heleninha Ramalho, 16, moradora do aglo-merado.

Maria Catarina Carvalho dos Santos, mora-dora da parte nobre do Santa Lúcia, relata queuma um dos carros que estava estacionado den-tro da garagem do prédio onde reside foi atingi-do por uma bala.“O tiro era destinado a alguémque estava parado na frente do prédio, mas aca-bou entrando na garagem e atingindo o vidro deum dos carros”, relata.

Segundo o Cabo Assis do 22º Batalhão da Po-lícia Militar, localizado na Barragem Santa Lú-cia, a causa da demora da polícia quando solici-tada é pela dificuldade de deslocamento das via-turas, já que o batalhão é responsável pelo patru-lhamento de uma grande área da região. Outrosgrandes problemas para polícia são os freqüentestrotes pedindo viaturas, e solicitações para casosdesnecessários.

O lixo é luxo para alguns Violênciaevidencia adesigualdade

“O pessoal dátudo para umavizinha quetrabalha naBarragem. Se forum móvel, porexemplo, elaidentifica umapessoa queprecisa e oprópriointeressado vaibuscar”

Maria Catarina, moradora do

bairro São Bento há 23 anosDesigualdade: luxo e pobreza dividem o mesmo espaço na região da barragem

Victor Scwhaner

Victor Scwhaner

12 e 13 - Cidades - M. e G. 5/2/05 12:40 PM Page 2

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Camila Lanarchi, LetíciaEspinola e Luisa Gomes

5º período

O Projeto desenvolvido pe-lo Serviço Voluntário de Assis-tência Social (Servas), tem de-senvolvido um programa com aparceria de artistas, produtores ecasas de espetáculos que vêmajudando muitas instituiçõescom doações de alimentos, rou-pas, brinquedos, medicamentose até mesmo material escolar.OConselho Metropolitano de Be-lo Horizonte é um dos benefi-ciados com a pareceria do pro-grama. Marileide Araújo, coor-denadora do Conselho e doprograma que recebe doaçõesem troca de meia entrada em ca-sa de espetáculos e shows, afir-ma que foram arrecadados apro-ximadamente 3.100 quilos dealimentos não perecíveis com oServas, durante os meses de ou-tubro de 2004 a março de 2005.

O convênio com as institui-ções cadastradas tem a duraçãode 3 meses. Entretanto, caso onúmero de arrecadações seja in-ferior ao esperado pelo progra-ma, o convênio pode ser pror-rogado por até mais 2 meses.Se-gundo Marileide, ao se pagarmeia entrada e doar um quilode alimento não perecível mui-ta gente pode ser ajudada, mas,

infelizmente,o número de arre-cadações acaba sendo inferior aonúmero de pagantes de meia en-trada,pois, com a desculpa de es-quecer o alimento em casa,mui-tas pessoas acabam não levandoo pedido,e assim a entidade con-veniada fica prejudicada.

Segundo a coordenadora doConselho, é necessária umamaior conscientização da popu-lação para aumentar o númerode doações, pois a entidade fi-lantrópica fica com apenas 20%das doações e os outros 80% sãodivididos de maneira igualitáriaentre o Servas e o Cedec. Des-sa forma, caso não haja umamaior participação das pessoasem levar o alimento à casa de es-petáculos a entidade pode ser se-riamente prejudicada.

O Conselho Metropolitanode BH faz parte do programaSolidariedade e Cultura e, emparceira com o Palácio das Ar-tes, estará recebendo os donati-vos arrecadados durante o pa-gamento de meio ingresso nosespetáculos apresentados. Entreos dias 13,14 e 15 de abril acon-teceu no Palácio das Artes o“Concertos Tim ”, onde foramdoados alimentos que o Conse-lho Metropolitano de BH irádistribuir para outras entidadesfiliadas a eles, como a Cidade domeninos São Vicente de Paula e

o Lar das Idosas Clotilde Mar-tins. Marileide disse que esseevento já ocorreu anteriormen-te e não costuma render umagrande quantidade de donati-vos, pois as pessoas que vão aosconcertos geralmente não levamo alimento e a meia entrada aca-ba sendo vendida da mesmo for-ma, ou seja, não há um contro-le sobre as meias entradas ven-didas e os alimentos que foramarrecadados.“É necessário umcontrole maior sobre a vendados ingressos que delimitam odesconto em troca do quilo dealimento,pois muitas pessoas vãoao espetáculo, pagam meia en-trada,não levam as doações e fi-ca por isso mesmo. Com isso,acabamos perdendo donativos equem realmente necessita deajuda não poderá ser amparado.É preciso maior consciência evontade de ajudar a quem pre-cisa”. indigna-se Marileide.Nodia 30 de abril, também no Pa-lácio das Artes aconteceu oshow ‘TOM é 10’, do humoris-ta Tom Cavalcanti. Segundo acoordenadora, este é um even-to bastante falado e que nas ou-tras edições renderam umaquantidade bastante satisfatóriade alimentos.“Esperamos queaté o final de abril, outras pes-soas possam ser ajudadas” con-clui Marileide Araújo.

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editora e diagramadora da página: Renata Quintão

14 CIDADE

Cultura

O Palácio das Artes pro-moveu, nos dias 13, 14 e 15 deabril o “Concertos Tim”. Aabertura do evento, que acon-teceu na quarta-feira, 13 deabril, contou com a participa-ção da Orquestra Sinfônica deMinas Gerais e do pianista Nel-son Freire. O concerto é maisuma parceria com o ProgramaSolidariedade e Cultura, de-senvolvido pelo Servas.

Todos os eventos que parti-cipam deste projeto contam coma colaboração de um cabo daPolícia Militar e uma voluntáriade uma entidade beneficente,que fazem a coleta dos donati-vos durante a entrada nos espe-táculos.Neste evento, a institui-ção beneficiada foi a Cidade dosMeninos São Vicente de Paula,que contou com o apoio da vo-luntária Miriam dos Santos. Ocabo da PM, Carlos AlbertoNascimento, também participouda arrecadação. Segundo ele, osdonativos recolhidos são envia-dos para a Defesa Civil,onde sãodistribuídos para a população ca-rente em todo o estado de Mi-nas Gerais.

A aposentada Ana MariaCamargo, de 62 anos, semprefreqüenta espetáculos culturaisdeste tipo.“Além de estar co-laborando com pessoas menosfavorecidas, ainda tenho a pos-sibilidade de ir mais vezes emeventos culturais, por estar pa-gando um preço mais acessí-vel”, declara.

Infelizmente, o programaainda não possui uma fiscaliza-ção mais rígida. Muitas pessoasque recebem o desconto no in-gresso acabam não levando osalimentos, visto que não existeum controle na entrada.A co-merciante Maria Antônia Pi-nheiro, de 47 anos, não entre-ga suas doações com freqüên-cia. Desde que percebeu a fal-ta de conferência, ela não pos-sui mais esta preocupação.

Um passo fundamental pa-ra o sucesso do programa é oapoio por parte da população.Interessados em apoiar o Pro-grama ‘Solidariedade e Cultu-ra’ podem contribuir de duasformas: por meio da doação dealimentos, para o público emgeral, ou da adesão ao Projeto,para produtores.

O Programa conta com acolaboração do público dos es-petáculos e eventos culturaisparticipantes da iniciativa, quetêm o beneficio do desconto.Doações avulsas de alimentosnão-perecíveis e itens de pri-meira necessidade podem serefetuadas diretamente ao Ser-vas ou ao Cedec-MG, por in-termédio do Minas Solidária.

Produtores que estivereminteressados em aderir à inicia-tiva, devem ser filiados às enti-dades parceiras e preencher otermo de adesão, que deve serentregue ao Servas no prazomáximo de 15 dias antes darealização do espetáculo.

Através de iniciativa própria,artistas,produtores culturais e ca-sas de espetáculos estabeleceramparceria com o Servas, ServiçoVoluntário de Assistência Social,com o objetivo da criação doprojeto “Solidariedade e Cultu-ra”. O Servas é uma instituiçãocivil, de direito privado, sem finslucrativos, que tem como obje-tivo promover e executar açõessociais em Minas Gerais.

O programa foi lançado emagosto de 2003, como um dosdesdobramentos do Minas So-lidária, que foi instituído em20 de janeiro de 2003 comoresposta à sociedade organiza-da de Minas Gerais em conse-qüência das chuvas que atingi-ram o estado na época.

Os donativos são recolhidosno local dos eventos,pela Coor-denadoria Estadual de DefesaCivil (Cedec-MG) e por volun-tários das entidades beneficiadas.

Segundo a assessoria de co-municação do Servas, a cada trêsmeses é realizado um rodízio en-tre as entidades beneficiadas comos donativos.Atualmente,o pro-grama está realizando parceriacom o Lar dos Idosos ClotildeMartins da SSPV,o Obras SociaisSenhora da Glória, o ConselhoMetropolitano São Vicente dePaula e o Hospital Sofia Feldman.

A casa de shows ChevroletHall, antigo Marista Hall, sem-pre incentiva esse tipo de par-ceria.De acordo com a assesso-ria de imprensa do local,não ca-be a eles fazer a opção pela par-

ticipação no projeto.“Nós pro-curamos sempre informar aosprodutores de eventos a exis-tência do programa, mas isto sópode ser definido por eles”.Além de ceder espaço para a ar-recadação dos alimentos,o Che-vrolet Hall procura divulgar o“Minas Solidária” em todas aspeças gráficas e inclusive no si-te da empresa.

O “Solidariedade e Cultu-ra” já entregou mais de 240 to-neladas de alimentos não pere-cíveis a cerca de 77 entidadessociais em todo o estado deMinas Gerais e a diversas fa-mílias carentes de quase 68municípios. Segundo o asses-sor de imprensa do Servas,Marcos Arthur, apenas no anode 2004 23 municípios foramcontemplados e 64 entidadesbeneficiadas.As primeiras ces-tas básicas distribuídas pelo“Solidariedade e Cultura” be-neficiaram famílias do Nortede Minas,Vales do Jequitinho-nha e Mucuri. Posteriormen-te, outras regiões foram bene-ficiadas, ainda em 2003.Hoje as doações são destinadasa todo o estado, e possuem pre-ferência os municípios que so-frem os efeitos da seca e daschuvas, ou que têm baixo Índi-ce de Desenvolvimento Hu-mano (IDH). Entidades sociaisde ação permanentes, comocreches, instituições de longapermanência para idosos, entreoutros, também são beneficia-das pelo Projeto.

Solidariedadee

Artistas, produtores e casas de espetáculoinvestem no Serviço de Assistência Social(Servas) para a doação de itens básicos parainstituições socias carentes

Programas sociais incentivam a doação de alimentos em casas de espetáculo

Incentivo solidário População se mobilizapara ajudar projetos

Voluntários recolhem doações que ajudam todo o estado

Luisa Gomes

Luisa Gomes

Luisa Gomes

Luisa Gomes

14 -Cidade-Renata Quintão 5/2/05 6:45 PM Page 1

Page 15: Jornal O Ponto - abril de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editor e diagramador da página: Frederico Cadar

ESPORTE 15Minas se reforça para o BrasileirãoAtlético e Cruzeiro correm atrás de reforços para qualificar seus elencos para o campeonato

Fatos, eventos cu l tura is, cur ios idades, not íc ias da c idade, do país e do mundo. No jorna lO Ponto, você encontra tudo isso e análise sobre os assuntos que mobilizam a opinião pública.Se você quer ser um comunicador soc ia l de o lho no presente e s in ton izado com o fu turo,você prec isa ler O Ponto.

Pra quem não é informado, tudo pode dar errado.

Pra quem não é informado, tudo pode dar errado.

Terceiro títuloestá na mirados mineiros

O futebol de Minas Geraispossui dois títulos do campeo-nato brasileiro, o primeiro con-quistado em 1971 com o Atlé-tico vencendo o Botafogo noMaracanã e se tornando o pri-meiro campeão brasileiro.A se-gunda conquista mineira nacompetição veio 32 anos depoiscom o Cruzeiro vencendo ocampeonato brasileiro de 2003,ano em que a equipe celesteconquistou a tríplice coroa.

Mesmo com apenas duasconquistas nacionais, as equi-pes mineiras têm bom retros-pecto na competição. O Atlé-tico foi vice-campeão nos anosde 1977,1982 e 1999, e fican-do entre os quatro primeirosem algumas oportunidades. Jáo Cruzeiro ficou em segundolugar nas edições de 1974, 1975e 1998 e chegando às semi-fi-nais em várias vezes.

A 34ª edição do campeo-nato brasileiro, que teve iníciono dia 23 de abril, conta coma presença de 22 equipes, nosistema de pontos corridos,sendo que os quatro primeirostem vaga garantida na taça li-bertadores e os quatro últimoscolocados da competição se-rão rebaixadas para série B dopróximo ano.

Carlos Augusto Macedo eVinicius Azevedo

6º periodo

Depois de uma fraca campa-nha no campeonato brasileiro de2004,Atlético e Cruzeiro refor-çam seus elencos para brigar pe-las primeiras posições na compe-tição mais importante do futebolbrasileiro.Os diretores dos clubesmineiros se empenham ao máxi-mo para buscar jogadores de qua-lidade que possam apresentar umfutebol de alto nível.

A diretoria cruzeirense refor-ça a equipe celeste e espera reto-mar as vitórias.Com 12 reforçosaté o momento,entre eles o late-ral Athirson, o zagueiro Argel, ovolante Fabio Santos,o meia Lo-pes.Para o torcedor Renato Cor-radi,21 anos,o Cruzeiro tem ple-nas condições de lutar pelo títu-lo.“O futebol está nivelado porbaixo, com poucas equipes denível técnico bom.Acredito queo Cruzeiro tem condições debuscar o título”,diz o o torcedor.O balconista Michel Faria, 25anos, pensa diferente:“É precisoque o Cruzeiro contrate maisquatro reforços para que entre nocampeonato com condições dedisputar o título”.

Já o Atlético que,no ano pas-sado, lutou contra o rebaixamen-to,espera agora apagar a imagemnegativa que foi deixada para ostorcedores.Segundo o torcedorCarlos Magno, 18 anos, o galotem que melhorar muito se qui-ser conquistar o título brasileiro.

“O time ainda é muito fraco.Uma equipe que fica em quartolugar no campeonato mineironão tem condições de disputar ocampeonato brasileiro que é mui-to difícil”afirma o torcedor. Osdestaques entre os 11 reforços dotime atleticano para a temporada2005 são os retornos dos ídolosEuller e Marques.“Eles vão darmais qualidade ao ataque atleti-cano que não foi muito bem anopassado. O galo que terminou na19ª posição com 53 pontos no úl-timo campeonato, espera queneste ano possa brigar pelo titu-lo junto com o Cruzeiro.

Palavra dos clubesPara o assessor de impren-

sa do Atlético, Dhomênico Be-ring, a expectativa no clube éa melhor possível,“Toda a im-prensa nacional dão os clubesde São Paulo como favoritos eninguém comenta sobre o Ga-lo, que aos poucos vai traba-lhando e pode acabar sendo asurpresa do campeonato. Oclube possui um bom elenco ecom os possíveis reforços vaisurpreender e superar muitosfavoritos”.

Para Marcone Barbosa as-sessor do Cruzeiro, o objetivoceleste é conquistar o título na-cional.“O clube tem um bomgrupo de jogadores, tem umbom treinador e uma das me-lhores, senão a melhor estrutu-ra do Brasil, o que nos creden-cia como um dos favoritos aotítulo”. Times mineiros estão otimistas para a disputa do Campeonato Brasileiro

Arquivo O Ponto

15 -Esportes- Frederico Cadar 5/2/05 12:08 PM Page 1

Page 16: Jornal O Ponto - abril de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Abril/2005

Editor e diagramador da página: Marcelo Carvalho

16 CULTURA

A população que mora em bairros distantesdo centro tem poucas escolhas perto de suascasas e precisa se deslocar para a regiãocentro-sul se quiser ir a um show ou apenasse sentir incluída culturalmente

O Circuito Cultural Praça da Liberdade ficará no local onde ho-je funcionam as diversas instituições do Governo,como as secretarias,além do próprio Palácio da Liberdade.Toda a área será destinada pa-ra museus,cinemas,cafés, restaurantes, livrarias e outros espaços de in-tegração cultural.

A mudança do local das atuais secretarias conta com o apoio doprefeito Fernando Pimentel.A atitude é uma iniciativa que contribuipara ampliar a cena cultural do Estado e de Belo Horizonte,que ain-da possui um número restrito desses espaços, se comparada a outrascapitais, como São Paulo,Rio de Janeiro e Porto Alegre.

O projeto será dividido em duas fases. Na primeira, os projetosculturais serão implantados a partir da transferência das Secretarias daFazenda,Educação,Transportes e Obras Públicas e Defesa Social,alémda Reitoria da UEMG e do Prédio Rainha da Sucata, e utilizarãotambém prédios que já estavam na praça, sendo utilizados como es-paços culturais,como o Palácio da Liberdade,a Biblioteca Pública Es-tadual, o Museu Mineiro, e o Arquivo Público Mineiro.

A Secretaria da Fazenda vai ser adaptada para sediar a OrquestraSinfônica de Minas Gerais.O prédio ocupado pela Secretaria de De-fesa Social será convertido em bares,cafés, restaurantes e livrarias,como nome de Centro Cultural Banco do Brasil.A Secretaria da Educa-ção será transformada em um Centro de Referência do Professor.ASecretaria de Transportes e Obras Públicas juntamente com o Cen-tro de Mineralogia,Gemas e Jóias abrigarão centro de cinemas, artescênicas, música, oficina do livro, além do Espaço Giramundo, o maisrepresentativo grupo de teatro de bonecos do país.

O prédio de quatro andares que atualmente é a sede da Univer-sidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) será um museu interati-vo, onde serão divulgados o conhecimento científico e tecnológico,assemelhando-se à Casa da Ciência, do Rio de Janeiro, e a EstaçãoCiência de São Paulo.

Na segunda fase do projeto,prédios no entorno da praça tambémvão entrar no circuito, como os do Ipsemg,Detran-MG,a Secretariade Cultura e outros imóveis do governo.

Para o antigo prédio do BEMGE da praça 7 vão as secreatarias deDefesa Social e a de Ciência e Tecnologia.A Secretaria da Fazendaserá em um anexo na rua da Bahia com Gonçalves Dias. O projetoprevê ainda a construção de um Centro Administrativo no lugar doAeroporto Carlos Prates.

Prefeitura investe em culturaA Prefeitura de Belo Horizonte, através da recém-criada Funda-

ção Municipal de Cultura,desenvolve projetos no intuito de descen-tralizar a cultura na capital.

De acordo com Hermany Auxiliadora Vasconcelos, coordenado-ra do Departamento de Fomento e Desenvolvimento Cultural daFundação Municipal de Cultura,o apoio à cultura é uma das priori-dades da prefeitura

Projetos criados como um incentivo à participação civil em even-tos culturais são realizados nas nove regiões da capital. Taiseventos, segundo a coordenadora, contr ibuirão para a revi-talização de espaços públicos e potencializarão os equipa-mentos culturais de Belo Horizonte.

Desenvolvido por todas as Secretarias da prefeitura e pe-la Fundação de Cultura, o programa BH Cidadania foi im-plantado no ano passado e visa à expansão artística e cultu-ral na capital mineira.

O Programa para Jovens; o Programa Arte e Cultura; asOficinas de Arte e Cultura e a Mostra Anual de Teatro In-fantil são projetos que fazem parte da ação cultural exerci-da pela Prefeitura e pelas Secretar ias e objetivam a promo-ção da sensibilização artística de cr ianças e jovens.

Espaços Culturais concentrados na região Sul

Secretarias saem de cena e dão

lugar à epaços de integração

Bárbara Maciel, Enzo Menezes e Carlos Lamana1º período

O Governador do Estado de Minas Gerais,Aécio Neves, anunciou no dia 17 de março, a im-plantação de um novo espaço cultural para a po-pulação.O Circuito Cultural Praça da Liberdade.A iniciativa foi muito bem recebida pela popula-ção,uma vez que a área cultural muitas vezes é es-quecida pelos governos.O projeto visa beneficiartoda a população,mas privilegia, principalmente,os moradores da região centro-sul da cidade, lo-cal onde o circuito será implantado.

Para Maria de Fátima da Silva, secretária da Di-retoria de Atuação Estratégica do Hemominas emoradora do bairro Santa Inês na região leste deBelo Horizonte, reclama da falta de opções de la-zer nas proximidades de sua casa.“Geralmente te-nho que pegar uma hora de ônibus para poder ira um bom cinema”, afirmou.A idéia da concen-tração de espaços culturais agradou à Maria de Fá-tima.“É uma forma de valorizar o que a cidadetem de bonito e que era usado para uma funçãoque a população não conhece”alegou em relaçãoao Circuito Cultural da Praça da Liberdade.

A concentração na parte centro-sul da capitalé evidente.A região da Savassi, Centro e Sul porexemplo, abriga dez cinemas, enquanto que háapenas outros cinco espalhados pelo resto da ci-dade.As maiores casas de shows, teatros, algunsshoppings e a maioria dos centros culturais tam-bém se encontram nessa região, enquanto outras,como a Norte e a Noroeste não contam com amesma disponibilidade. Esse é um grave proble-ma que foi observado entre os moradores das áreasmenos favorecidas da região metropolitana de Be-lo Horizonte. Habitantes de algumas dessas áreasreclamam da falta de opções culturais.Para Sirle-ne Braga que mora em Santa Luzia região me-

tropolitana de BH,não possui muito contato comeventos culturais.“É cansativo pra mim trabalharo dia inteiro e pegar condução para longe parapoder assistir a uma peça de teatro. Não que eunão gostaria” alegou a Sirlene. Apesar da indis-ponibilidade de espaços culturais em seu bairro,Sirlene não pensa em fazer reivindicações paramudar esse tipo de situação. Ela afirma ser difícila prefeitura fazer algo em relação a isso.Apesardos vários programas voltados para a expansãocultural, ela acha insuficiente para incentivar a po-pulação a participar de eventos culturais.

De acordo com Viviane Cipriano, auxiliar debiblioteca do Espaço Cidadão Liberalino de Oli-veira, na Pedreira Prado Lopes, a comunidadedepende de centros comunitários como o queela trabalha para desenvolver atividades cultu-rais. O espaço, que funciona há seis anos e con-ta com verba municipal para se manter, atendediariamente em torno de 100 pessoas de todasas faixas etárias em diversas atividades. O espa-ço possui cinemateca, brinquedoteca para ascrianças e atividades com grafite para os jovens,além de um grupo de 3ª idade.A biblioteca tam-bém serve de referência para a comunidade, masprecisa ser regularmente atualizada, contandocom doações para ampliar seu acervo.

Uma solução seria a democratização dos espa-ços culturais,oferecendo mais apoio a iniciativas co-mo a da Pedreira Prado Lopes,uma vez que o cen-tro da capital já se encontra saturado.É importanteressaltar a importância do apoio privado para isso,já que o próprio Circuito da Praça da Liberdadeconta com investimentos de grandes empresas.

Devido às necessidades de demanda de áreascomo a saúde e a segurança pública, muitas ve-zes a cultura é relegada para segundo plano.Ati-tudes como a criação do Circuito são benéficasnesse sentido, mas excluem boa parte da cidade.

Complexo da Praça da Liberdade abrigará novo Circuito Cultural

Arquivo O Ponto

Espaços culturais existentes na capital mineira

BIBLIOTECAS

Região Centro Sul:13Norte: 9Leste: 7Outras: 13

CENTROS CULTURAIS

Região Centro Sul:53Norte: 7Leste: 12Outras: 18

TEATROS

Região Centro Sul:12Centro: 7Leste: 4Outras: 4

CINEMAS

Região Centro Sul:7Centro: 3Outros: 5

Fonte: PBH

16-cultura - Marcelo Carvalho 5/2/05 12:05 PM Page 1