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Ano 7 | Número 53 | Abril de 2006 | Belo Horizonte/MG DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Classe artística de MG padece por falta de recursos [ página 16 ] JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto Reunião do BID acelera obras em Belo Horizonte A 47º reunião do BID reali- zada na capital mineira fez com que os governos estadual e fe- deral além prefeitura municipal acelerassem o ritmo das obras em vários trechos da cidade. Entre as obras realizadas destacam-se o recapeamento da avenida Amazonas, a mo- dernização do Expominas (se- de do evento) e do aeroporto in- ternacional de Confins. O setor privado também in- vestiu para o encontro, princi- palmente o setor hoteleiro, que espera que BH torne-se um im- portante centro de negócios ca- paz de atrair turistas de todas as partes. As obras fazem parte ainda do plano de transformar BH em sede de eventos e assim esti- mular o turismo de negócios. Câmara não chega a acordo e reforma política será reduzida A Câmara Federal segue discutindo a reforma política, mas só se sabe que ela será realizada em escala reduzida. Além de não definir regras para a fidelidade partidária, a origem dos recursos recebi- dos pelos candidatos, o texto que aborda o limite de gastos para a campanha eleitoral ain- da foi modificado, possibili- tando assim que cada partido estabelecesse seu próprio li- mite. A reforma pode também não valer para as eleições des- te ano, pois a constituição pre- vê que alterações na legisla- ção eleitoral nescessitam ain- da de um ano de antecedên- cia para fazer efeito. O Ponto experimenta com a forma Esta edição marca o início do processo de reformulação gráfica de O Ponto. Faz parte de um es- tudo interdisciplinar realizado pe- lo Laboratório de Planejamento Gráfico em conjunto com os Labo- ratórios de Jornalismo Impresso, de Redação Modelo e de Fotografia. O objetivo é aproximar a progra- mação visual da linha editorial do jornal laboratório, que propõe a prática de um jornalismo crítico. Nessa fase, realizamos um estudo tipográfico e a reformulação da lo- gomarca e iniciamos a aplicação de novos diagramas. Com isso, abrimos outras pos- sibilidades de experimentação, res- peitando a dinâmica da comuni- cação e a linha pedagógica que orienta a prática laboratorial do curso de Comunicação Social, na habilitação Jornalismo. Estrutura ultrapassada torna Neves insegura Ultrapassada e sem recursos, maior penitenciária do estado dificulta reintegração de setenciados e não garante segurança para a população da região MISÉRIA Precariedade das condições de sobrevivência leva crianças e adolescentes à mendicância pelas ruas e sinais de trânsito de BH. Eles são obrigados a trabalhar desde cedo para ajudar no orçamento doméstico e acabam tendo desrespeitado seu direito à infância. Minas alcança novo recorde em vendas externas Em fevereiro, Minas alcan- çou nova marca para as expor- tações, chegando a vender cer- ca US$ 1 bilhão ao exterior, mas estes números ainda podem crescer mais. Para Paulo Rettore, presi- dente da Conap, a falta de apoio do governo aliado ao câmbio desfavorável impedem um maior crescimento das expor- tações. Além disso, o Estado tem suas vendas concentradas em produtos primários de baixo va- lor agregado e não exporta tec- nologia. Máquinas trabalham na extração de minério em Nova Lima O PONTO VAI À PENITENCIÁRIA JOSÉ MARIA ALKMIN E CONSTATA QUE AS FALHAS DO SISTEMA COMPROMETEM SEGURANÇA E REINTEGRAÇÃO [ páginas 4 e 5 ] Pesquisadora Regina Mota fala sobre TV Digital e alerta: “ Não há pressa na escolha do padrão” Victor Schwanner Daniel Gomes Luciana Ribeiro Divulgação [ página 3 ] [ página 10 ] [ página 7 ] [ página 6 ] [ páginas 8 e 9 ]

Jornal O Ponto - abril de 2006

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - abril de 2006

A n o 7 | N ú m e r o 5 3 | A b r i l d e 2 0 0 6 | B e l o H o r i z o n t e / M G D I S T R I B U I Ç Ã O G R AT U I TA

Classe artística de MGpadece por falta de recursos

[ página 16 ]

JORNAL LABORATÓRIODO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto

Reunião doBID aceleraobras em BeloHorizonte

A 47º reunião do BID reali-zada na capital mineira fez comque os governos estadual e fe-deral além prefeitura municipalacelerassem o ritmo das obrasem vários trechos da cidade.

Entre as obras realizadasdestacam-se o recapeamentoda avenida Amazonas, a mo-dernização do Expominas (se-de do evento) e do aeroporto in-ternacional de Confins.

O setor privado também in-vestiu para o encontro, princi-palmente o setor hoteleiro, queespera que BH torne-se um im-portante centro de negócios ca-paz de atrair turistas de todasas partes.

As obras fazem parte aindado plano de transformar BH emsede de eventos e assim esti-mular o turismo de negócios.

Câmara nãochega a acordoe reformapolítica seráreduzida

A Câmara Federal seguediscutindo a reforma política,mas só se sabe que ela serárealizada em escala reduzida.

Além de não definir regraspara a fidelidade partidária, aorigem dos recursos recebi-dos pelos candidatos, o textoque aborda o limite de gastospara a campanha eleitoral ain-da foi modificado, possibili-tando assim que cada partidoestabelecesse seu próprio li-mite.

A reforma pode tambémnão valer para as eleições des-te ano, pois a constituição pre-vê que alterações na legisla-ção eleitoral nescessitam ain-da de um ano de antecedên-cia para fazer efeito.

O Pontoexperimentacom a forma

Esta edição marca o início doprocesso de reformulação gráficade O Ponto. Faz parte de um es-tudo interdisciplinar realizado pe-lo Laboratório de PlanejamentoGráfico em conjunto com os Labo-ratórios de Jornalismo Impresso, deRedação Modelo e de Fotografia.O objetivo é aproximar a progra-mação visual da linha editorial dojornal laboratório, que propõe aprática de um jornalismo crítico.Nessa fase, realizamos um estudotipográfico e a reformulação da lo-gomarca e iniciamos a aplicaçãode novos diagramas.

Com isso, abrimos outras pos-sibilidades de experimentação, res-peitando a dinâmica da comuni-cação e a linha pedagógica queorienta a prática laboratorial docurso de Comunicação Social, nahabilitação Jornalismo.

Estrutura ultrapassadatorna Neves insegura

Ultrapassada e sem recursos, maior penitenciária do estado dificulta reintegração de setenciados e não garante segurança para a população da região

MISÉRIA Precariedade das condições de sobrevivência leva crianças e adolescentes àmendicância pelas ruas e sinais de trânsito de BH. Eles são obrigados a trabalhar desdecedo para ajudar no orçamento doméstico e acabam tendo desrespeitado seu direitoà infância.

Minas alcançanovo recorde emvendas externas

Em fevereiro, Minas alcan-çou nova marca para as expor-tações, chegando a vender cer-ca US$ 1 bilhão ao exterior, masestes números ainda podemcrescer mais.

Para Paulo Rettore, presi-dente da Conap, a falta de apoiodo governo aliado ao câmbio

desfavorável impedem ummaior crescimento das expor-tações.

Além disso, o Estado temsuas vendas concentradas emprodutos primários de baixo va-lor agregado e não exporta tec-nologia.

Máquinas trabalham na extração de minério em Nova Lima

O PONTO VAI À PENITENCIÁRIA JOSÉ MARIA ALKMIN E CONSTATA QUE ASFALHAS DO SISTEMA COMPROMETEM SEGURANÇA E REINTEGRAÇÃO

[ páginas 4 e 5 ]

Pesquisadora Regina Mota fala sobre TV Digitale alerta: “ Não há pressa na escolha do padrão”

Victor Schwanner

Daniel Gomes

Luciana Ribeiro

Divulgação

[ página 3 ]

[ página 10 ]

[ página 7 ]

[ página 6 ]

[ páginas 8 e 9 ]

01 - Capa - Tiago Nagib 06.04.06 16:11 Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - abril de 2006

O P I N I Ã O2 o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Fernanda Melo

00Coordenação EditorialProfª Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso) eProf. Fabrício Marques (Redação Modelo)

Conselho Editorial Prof. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy(Publicidade), Prof. Rui Cézar (Fotografia),Prof. Fabrício Marques (TREPJ II) e Profª. Adriana Xavier (Infografia)

Monitores de Jornalismo ImpressoDaniel Gomes, Fernanda Melo e Tiago Nagib

Monitores da Redação ModeloCamila Coutinho e Daniela Venâncio

Monitores de Produção GráficaJoão Hudson e Rafael Matos

Monitores do Laboratório de Publicidade e PropagandaRicardo Alves e Daniel Chaves

Projeto GráficoProf. José Augusto da Silveira Filho

Tiragem desta edição6000 exemplares

Lab. de Jornalismo ImpressoTel.: 3228-3127e-mail: [email protected]

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro Belo Horizonte - Minas Gerais

Professor Pedro Arthur VicterPresidente do Conselho Curador

Profª. Romilda Raquel Soares da SilvaReitora da Universidade Fumec

Prof. Amâncio Fernandes CaixetaDiretor Geral da FCH/Fumec

Profª. Audineta Alves de Carvalho de CastroDiretora de Ensino

Prof. Benjamin Alves Rabello FilhoDiretor Administrativo e Financeiro

Prof. Alexandre FreireCoordenador do Curso de Comunicação Social

o pontoOs artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Jo rna l Laboratór io do curso de Comunicação Soc ia lda Facu ldade de C iênc ias Humanas -Fumec

DANIEL GOMES

6º PERÍODO

Em fevereiro, o SupremoTribunal Federal considerouconstitucional a resolução doConselho Nacional de Justiça(CNJ) que proíbe o nepotismono Poder Judiciário. Por contadisso, mais de dois mil servido-res que possuem algum grau deparentesco com ocupantes decargos de chefia no Judiário fo-ram exonerados, mesmo aque-les que exerciam seus cargospor meio de liminares.

Apesar da decisão quaseunânime dos ministros do Su-premo (nove votos a um) e dapromessa do presidente da Câ-mara, Aldo Rebelo, de colocarem votação a proibição da con-tratação de parentes tambémpara o Legislativo, fica a sensa-ção de que usou-se um curati-vo para tratar um câncer.

São vários os argumentos ereivindicações daqueles que de-fendem ou condenam o nepo-tismo, como, por exemplo, o fa-to de que os parentes contrata-dos nem sempre são os maiscompetentes para os cargosque ocupam. Por outro lado, ocargo de confiança exige al-guém de confiança. Como tercerteza da confiabilidade de al-guém aprovado em concurso,por mais competente que seja?

O problema se encontra ba-sicamente em dois pontos: a ex-cessiva oferta dos chamadoscargos de confiança e o corpo-rativismo que assola muitas ins-tituições no Brasil. O primeiro

é um problema sistêmico e o se-gundo de ordem cultural.

Uma solução ainda maisrestritiva em relação ao nepo-tismo seria, talvez, a imple-mentação de cotas para paren-tes. Desta forma, haveria chan-ce de concursados ocuparemmais cargos e, portanto, havermais emprego e também ga-rantia de competência. Haveriatambém possibilidade de o ma-gistrado ou político ter alguémde sua confiança ao seu lado.Essa é uma medida plausível,mas haveria de passar por umaanálise crítica para ser tomada.

O segundo problema é maissério e difícil de resolver, poistrata-se de uma questão de va-lores, educação, enfim, pontossubjetivos na construção deuma sociedade, principalmen-te uma tão complexa como a doBrasil. O corporativismo, que éa tendência de profissionais damesma área acobertarem con-dutas anti-éticas de seus cole-gas, prejudica sobremaneira ofuncionamento saudável dasengrenagens do Estado, dasempresas e até mesmo das re-lações familiares.

Medidas unilaterais comocondenar o nepotismo são umesforço para combater o privi-légio de parentes de magistra-dos e políticos, mas constituemapenas um passo em direção aum Estado funcional e relativa-mente livre de corrupção. Oproblema é maior, mais pro-fundo, e depende também daconscientização de pessoas co-mo nós e nossos filhos.

TIAGO NAGIB

8º PERÍODO

Os jovens franceses dão aomundo um novo exemplo deluta pelos direitos já conquis-tados. O governo do primeiroministro Dominique de Ville-pin acredita que, para estabe-lecer uma maior igualdade, épreciso que os jovens france-ses percam seus direitos, con-quistados à décadas. Villepinconseguiu aprovar no parla-mento a nova lei trabalhistaque permite a empregadoresdemitirem menores de 26 anossem apresentar justa causa oupagar indenizações. Villepinalega que o desemprego entreos jovens na França é muitoalto e, para estimular novascontratações, as empresas nãoprecisariam de pagar o que édevido. Hoje, os jovens fran-ceses marcham por todo opaís, contra a nova lei que ex-torque seus direitos, tendoreunido 1,5 milhão de pessoas,só em Paris, no último dia 18de março.

A França, representantemáxima da sofisticação da cul-tura ocidental, não deve e nãopode se trair. Símbolo do Es-tado de bem estar social, eladeve permanecer na vanguar-da, amparando seus cidadãoscomo todos as demais naçõesdeveriam fazer. Os francesesnão podem deixar-se levar pe-lo modelo norte-americanoneo liberal, também adotadopela Grã-Bretanha na Europa.

Há quem diga que o Esta-do não deve intervir na eco-nomia, e que deve se ater ape-nas às suas funções básicascomo saúde, educação e se-gurança. Esquecem do casodo governo argentino, que le-vou ao pé da letra a cartilhaneoliberal de privatizações nadécada de 90. Como resulta-do, o país quebrou, permane-cendo a mercê das grandesmultinacionais. O Estado temque controlar os setores bási-cos, mas também deve se fa-zer presente na economia. Nãoprego aqui uma revolução so-cialista aos moldes soviéticos,mas sim uma eficaz interven-ção do Estado, onde for pre-ciso, afinal, quem se preocupamais com o bem estar do tra-balhador, o governo ou asmultinacionais?

Empresas de capital mistocomo a Air France ou a Re-nault, que ainda contam comparte de suas ações nas mãosdo governo francês ,devemservir de exemplo.

O principal objetivo do Es-tado não deve ser o cresci-mento a todo custo, mas sim aqualidade de vida de sua po-pulação. Villepin diz que querpromover uma maior igualda-de entre os jovens na França,mas essa igualdade precisa sernecessariamente nivelada porbaixo?

Assim sendo, viva a juven-tude francesa, porque ela é averdadeira França, capaz deseguir sendo o exemplo paratoda a civilização ocidental.

FERNANDA MELO

7º PERÍODO

Após inúmeras discussõessobre qual modelo de tv digi-tal o Brasil deveria adotar, aFolha de São Paulo divulgouno dia oito de março a supos-ta escolha do presidente Lulade adotar o padrão japonês(ISDB). Mas as discussõesacerca desse assunto não temsido nada democráticas. Pres-tes a viver um dos momentosmais importantes da comuni-cação com a digitalização datransmissão e recepção dos si-nais de TV e Rádio, os debatessobre tema parecem assumirum caráter bem mais políticodo que técnico. Por trás dasavaliações, existe um discursoque vem sendo mantido dis-tante da sociedade. A maioriada população desconhece osfatores que influenciam o go-verno na sua decisão.

A escolha pelo modelo ja-ponês trará vantagens para asgrandes empresas de comuni-cação do país -entre as quaisestão as Organizações Globo.Apesar da pressão de diversossegmentos da sociedade paraque seja feita uma ampla dis-cussão junto à população, a de-

cisão poderá ser tomada le-vando em conta o lobby dasgrandes emissoras de TV a fa-vor do padrão japonês. Se-gundo o próprio presidente,não seria inteligente do pontode vista político contrariar es-sas empresas no ano em quedisputará a reeleição. Já asgrandes TVs do Brasil defen-dem que o modelo japonêspermitirá maior controle na-cional sobre o conteúdo queestará sendo transmitido.

O ministro Hélio Costa, quecoincidentemente já foi repór-ter da Rede Globo, argumen-tou que o padrão japonês temmaior qualidade técnica e que,do ponto de vista tecnológico,é superior ao americano e aoeuropeu. O que não foi nenhu-ma surpresa já que no dia 31de janeiro, em audiência reali-zada na Câmara dos Deputa-dos, em Brasília, o ministro dasComunicações defendeu a uti-lização do modelo japonês, omesmo defendido pelas Orga-nizações Globo. O Centro deMídia Independente (CMI) e oSindicato dos Jornalistas deMinas já se manifestaram acu-sando o ministro de favorecero monopólio por parte degrandes empresas.

Apesar do governo negara decisão, sabe-se que o mi-nistro Hélio Costa, juntamen-te com a ministra da Casa Ci-vil,Dilma Rousseff, já negociaum pacote de investimentosem troca da escolha. Enquan-to isso, percebemos a ausênciade uma análise mais profundados outros modelos. Já o de-senvolvimento de um modelonacional, defendido por estu-diosos e pesquisadores, per-manece ainda mais distante, re-forçando o trocadilho de que"no Brasil nada se cria, tudo secopia”. Isso porque o governonão pode perder tempo na cor-rida eleitoral e nem perder umaaliada poderosa como a RedeGlobo, que já mostrou nas elei-ções de 89, durante o caso Col-lor, o seu poder de eleger e der-rubar um presidente. E com orisco de um possível monopó-lio após a implantação do mo-delo japonês, a sua influênciaserá ainda maior, derrubandoa utopia de que a televisão de-ve ser um meio de comunica-ção democrático. Enquantoaguardamos o desenrolar dasdecisões , continuamos sendoiludidos pelo jingle global "...afesta é sua, a festa é nossa, é dequem quiser, quem vier".

BRUNO FERREIRA

8º PERÍODO

"De mil passarás, mas doismil não chegarás". Essa fraseque muitos juram encontrarna bíblia, precisamente noApocalipse, serve para o cal-vário que Romário vem tra-çando, ou seja, com tanta in-fluência, criticas e tanta ajuda,é certo que aos mil ele chega-rá, mas dois...

LTS Bremenhavem. Nomede remédio? Marca de roupa?Código Americano usado pe-la Nasa? Que nada! Esse ai émais um time que o Vasco en-frentou para Romário marcarna sua caminhada rumo aomilésimo. Time da liga de mas-ters da Alemanha. E foi poresse motivo, e pelo tamanhoda barriga dos adversários,que Romário resolveu não jo-gar. Sábia decisão! Até porque

o mais novo tinha a idade dobaixinho, 40 anos, e o mais ve-lho, 54 aninhos. Motivo demuitos risos em São Januáriona última semana.

As opiniões se divergementre amigos, rivais, adversá-rios, companheiros de clube.Enfim, o gol de número mil nacarreira do atleta tornou notí-cia nos jornais. O Vasco trans-formou tal objetivo em umprojeto intitulado; "Romáriomil gols". Com a finalidade dealcançar a marca e desconfia-do, talvez, da capacidade doatleta, a trupe do senhor Eu-rico Miranda e companhia ti-veram a "brilhante" idéia derealizar alguns amistosos comtimes de pequena expressãono mercado nacional. Mas éjustamente ai que mora e nas-ce o pesadelo dos algarismos,o Vasco vem enfrentando comuniforme e árbitros profissio-

nais, times no mínimo desco-nhecidos; Duque de Caxias,Rio Branco, Angra dos Reis,Villa Rio, Olaria e Sagrada Es-perança, aliás, esperança é oque move Romário. Ele acre-dita que não existe problemanenhum com estes amistosose que irá alcançar a marca.

Baixinho de futebol, gran-de o certo é que Romário nãoprecisa alcançar os mil golspara obter a glória do torce-dor, pois foi e será lembradosempre como um dos maioresjogadores de futebol do mun-do todo. Portanto, vamos es-perar, acompanhar, enfrentare caminhar junto com o cra-que em busca do gol mil, sejalá com quem for o próximoadversário. A propósito; vocêsabe quantos gols faltam?Quantos ele tem?Nem eu!Masrepito: "De mil passarás, masdois mil não chegarás".

LARISSA SOARES

5º PERÍODO

Uma forma interessante deidealizar uma matéria jornalís-tica, na esperança que ela sejaminimamente interessante, évasculhar edições antigas dejornais buscando inspiração napauta e apurações de temposjá passados.

Nos arquivos do jornal Fo-lha de São Paulo, para citar so-mente um veículo, do mês demarço de 1996, ou seja, de dezanos atrás, depara-se com o ar-ticulista Clóvis Rossi, direto dacidade de Santiago do Chile,discorrendo sobre os proble-mas de corrupção nas institui-ções políticas da América Lati-na e sobre as múltiplas denún-cias de captação de recursosde origem ilícita para financia-mento de campanha eleitoral.No mesmo período é possívelencontrar um Aloysio Biondi,que foi editor de economia des-te mesmo veículo, denuncian-do uma "operação abafa" doentão governo FHC, na qual osdonos do poder negavam quetivessem qualquer conheci-mento sobre rombos, negocia-tas e maracutaias bancárias emgeral. Temos também um Car-los Heitor Cony indignado como tesoureiro da campanha elei-toral tucana, Sérgio Motta, e

com os escândalos dos fundosdessa campanha. Ele cita umafrase de um outro tesoureiro,de um outro governo, PauloCésar Farias, que disse em umde seus inúmeros depoimentosà CPI e à Polícia Federal, que"enquanto não forem mudadasas regras do financiamento dascampanhas eleitorais, tudo deque me acusam será repetido".Profético. Cony fala tambémdos planos e das armações doPSDB para se manter durante20 anos no Planalto, mesmaacusação que se faz hoje ao PTde Lula. Lendo o Painel do Lei-tor encontramos diversos ci-dadãos indignados com os es-cândalos políticos, com o des-respeito às leis por parte dosparlamentares, que tratam oque é público como se privado,com as práticas eleitoreiras ir-responsáveis, com os "homensque impedem o progresso ecrescimento do Brasil".

Nos artigos de 10 anos atrásvemos o mesmo quadro de ho-je. Não mudou a pauta, nem ocenário político, os atores des-se palco sombrio continuammais ou menos os mesmos enão mudamos nós, continua-mos assistindo passivos, repe-tindo os mesmos erros de ava-liação, a imoralidade daquelesque agem por nós e em nossonem um pouco santo nome.

Nepotismo e acultura brasileira

A pauta não mudouDemocracia da TV digital

A verdadeiraFrançasobrevive

Tabuada do Romário

02 - Opiniao - fernanda melo 06.04.06 16:12 Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - abril de 2006

O QUE É? Legislação Eleitoral

Fidelidade Partidária

Verticalização

Financiamento Público de Campanha

Voto Distrital Misto

Entenda o significado de alguns termosligados a legislação partidária nas Eleições:

P O L Í T I C A 3o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Daniel Mafra

Reforma, mas nem tantoREGRAS ELEITORAIS SÃO MUDADAS, MAS PROJETO MAIS UMA VEZ RECEBE MUITAS CRÍTICAS

FELIPE NUNES

RÚBENS MARRA

5º PERÍODO

A poucos meses das elei-ções, os parlamentares anali-sam às pressas emendas e pro-jetos de lei para amenizar apressão da opinião pública pormudanças nos processos polí-tico e eleitoral.

Em resposta às sucessivasdenúncias e escândalos envol-vendo o abuso de poder eco-nômico, irregularidades na cap-tação de recursos de campanhae os altos custos das propagan-das eleitorais, a Câmara dos De-putados passou a discutir umsubstitutivo de lei do deputadoMoreira Franco (PMDB-RJ) queimpõe limites aos gastos, às ar-recadações e às propagandasdos candidatos. Mas o projeto,que repercutiu na mídia comouma reforma efetiva, não pro-moverá de fato mudanças con-cisas e não abrangerá pontosfundamentais e importantes dalegislação, como pode ser cons-tatado em sua redação.

O conceito de uma reformapolítica é mais amplo e envolvemais estudos e definições doque apenas estes projetos queagora tramitam pelo Congres-so. "O tema reforma políticatem sido muito usado comouma espécie de 'remédio' paraos problemas do Brasil, masnão é tão simples assim." opinao cientista político EduardoMartins. Ele adverte que umareforma política eficiente im-plica em mudanças que tam-bém terão reflexos em médiose longos prazos e que devemservir para fortalecer o sistemademocrático.

Medidas “tímidas”O substitutivo de lei do de-

putado federal Moreira Francotem entre seus artigos a proibi-ção de showmícios, de distri-buição de brindes, da divulga-ção das despesas pela internete de um teto para os gastos, ain-da não estipulado. Refere-sesomente às campanhas e aosrecursos de propaganda doscandidatos. Se bem aplicadasas novas normas podem ajudara controlar o abuso de podereconômico e propiciar uma

igualdade maior de condiçõesna disputa eleitoral. No entan-to, emas como fidelidade parti-dária, voto distrital misto e fi-nanciamento público de cam-panha ficaram de fora.

O deputado estadual doPDT Sebastião Helvécio acre-dita que as medidas estabeleci-das "são muito tímidas" e nãochega a considerá-las como re-forma eleitoral. O deputadoacredita ainda que, em curtoprazo, é impossível a realizaçãoda reforma, pois "neste ano, to-das as atenções estão voltadaspara as eleições e o Congressoestará paralisado". O deputadoressaltou que "pelo menos averticalização foi mantida, o quejá é um ganho para o país".

Alguns itens se tornarampolêmicos pela possível inefi-cácia. Por exemplo, o texto queaborda o teto para as despesasde campanha previa que a Jus-tiça Eleitoral fixasse um valorcaso o Congresso não o votas-se. Dias depois, foi modificado,e agora, caso não haja votação,os partidos é que vão estipulareste limite de gastos.

Além disso, as possíveis mu-danças correm o risco de nãose tornarem válidas para as elei-ções de 2006. A ConstituiçãoFederal determina um prazo deum ano de antecedência paraque alterações na legislação querege o processo eleitoral entremem vigência. Portanto, qualquermodificação para as eleiçõesdeste ano teria como prazo li-mite 30 de setembro de 2005.Cabe ao TSE (Tribunal SuperiorEleitoral) e ao Supremo julga-rem a questão.

Propostas descartadasPropostas com maior

abrangência até tramitaram pe-lo Congresso, mas não saíramdo papel. Uma das mais signi-ficativas foi a do então ministrodo STF Carlos Mário Velloso,que nos anos de 1995 e 2005 or-ganizou uma comissão de ju-ristas de todo Brasil, formulouum anteprojeto e entregou aoparlamento. O texto tocava empontos importantes e polêmi-cos da legislação, mas sequerfoi votado.

Colaborou: Tiago Nagib

Deputado recordistaem troca de partidos

É possível um deputado fe-deral passar por sete partidosem um único mandato? Aatuação parlamentar do depu-tado Zequinha Marinho (PSC-PA) responde a pergunta. Eleé um recordista na Câmara,não em número de projetosapresentados, mas nas trocasde partidos, sete ao todo. In-centivado por governos queprecisam obter uma maioriaparlamentar a qualquer custo,Marinho justifica suas andan-ças: “Acho que não tem nadade mais”, argumenta.

Em 1994, o empresárioSérgio Naya (PPS-MG) foi umdos deputados mais votadosem Minas Gerais, com votosem quase todos os municípios.Ele não chegou a visitar qua-se nenhuma das cidades queforam invadidas por recursosfinanceiros disponibilizadosaos chefes políticos locais. Odeputado federal não terminouo seu mandato, cassado porfalta de decoro parlamentar.

Naya foi eleito através doque se configura abuso de po-

der econômico, suportado poruma campanha eleitoral cara.Muitos dos eleitores, nuncahaviam visto ou ouvido as pro-postas de Naya. Foram atraí-dos pela distribuição de cami-setas, canetas, “santinhos” epela sensação de sucesso queo dinheiro traz. O candidatoconhecia os eleitores que lhecolocaram no Congresso.

Os exemplos nos lembramda necessidade de uma refor-ma política no sistema eleito-ral brasileiro. Limite de gastos,voto distrital misto e a fideli-dade partidária podem não sa-nar todas as contradições dosistema democrático nacional,mas podem evitar que distor-ções como essa sejam recor-rentes. O voto distrital mistoassegura que ao menos umdeputado seja do lugar que elerepresenta e que ele participedo jogo democrático em igual-dade de condições entre os de-mais. Garante a não plorifera-ção de partidos de aluguel que,sem filosofia, se vendem porqualquer 20 mil reais.

Um dos assuntos polêmi-cos da atual reforma políticaé o financiamento público decampanha. A lei eleitoral bra-sileira vigente permite queempresas privadas, pessoasfísicas e jurídicas, façam doa-ções para as campanhas po-líticas de todos os níveis, maso dinheiro público jamais po-de entrar como parte dos re-cursos financeiros das cam-panhas.

A nova proposta visa ape-nas o financiamento público,com objetivo de tornar maisjusta a disputa entre candi-datos tenham mais ou menosrecursos para investir emsuas campanhas, como afir-ma o relator da reforma o de-putado Ronaldo Caiado (PFL-GO). Mas a realidade é que is-to não assegura que certospartidos não sejam favoreci-dos, afirma o Presidente daComissão de Direito Políticoe Eleitoral da OAB de SãoPaulo Everson Tobaruela.

Ele ressalta ainda que fi-nanciamento público no Bra-

sil já existe, com os horárioseleitorais no rádio e na tele-visão. “É o custo mais alto deuma campanha, e isto quempaga é o governo” ressalta. Ogoverno deixaria de investirem áreas sociais para finan-ciar campanhas onde nada sepode garantir que sejam jus-tas. "Os possíveis valores po-deriam ser muito bem aplica-dos nas áreas sociais, nossasituação já é dramática". des-taca o desembargador Kel-sen. Ainda de acodo como desembargador, a estrutu-ra da Justiça Eleitoral não ésuficiente para coibir futurasdistorções e que irregulari-dades podem surgir. "Haven-do recurso público, nada vaiimpedir de determinados po-líticos obterem, através devias escusas, recurso tambémdo financiamento privado".De fato, a fiscalização e a apli-cação das leis são falhas. Os escândalos e a crise docaixa dois comprovam que in-felizmente existem muitosmeios de se burlar as leis.

Financiamento públicoé assunto polêmico

Larissa Carneiro

Kelsen do Prado Carneiro, Presidente do TRE/MG, diz que a fidelidade partidária é imprescindível para coibir distorções

Partidos estão financeiramente irregularesO desembargador Kelsen

do Prado Carneiro, Presidentedo TRE-MG (Tribunal RegionalEleitoral de Minas Gerais), acre-dita que a reforma política pas-sa não só por uma mudança nasregras das eleições, mas tam-bém pela organização e forma-ção dos partidos políticos. Pa-ra ele a fidelidade partidária éimprescindível para coibir dis-torções. Outro aspecto desta-

cado pelo desembargador é onúmero excessivo de partidos:“Muitos partidos não têm rele-vância e servem apenas para,em eleições, ter a sua legendacomo se fosse de aluguel, espe-rando as benesses daqueles quevão administrar os Estados oua União”, analisou.

A situação financeira demuitos dos partidos em MinasGerais está irregular. O TRE-

MG divulgou que apenas três(PFL, PRP e PSDC) dos 27 par-tidos existentes no Estado ti-veram suas contas de 2004 de-vidamente aprovadas. Outroscinco passaram pelo processo,mas com ressalvas. As infra-ções mais comuns foram a demovimentação de recursos dofundo partidário sem passarpor uma conta bancária e gas-to acima do limite legal com a

folha de pessoal. Os partidosreprovados podem ter o re-passe das verbas do fundopartidário suspenso.

Ao serem notificados, ospartidos têm um prazo limitepara corrigirem suas irregula-ridades e apresentarem a tem-po as suas justificativas. Maspodem também recorrer dasdecisões junto ao TRE ou TSE(Tribunal Superior Eleitoral).

João Hudson

O primeiro de um determinado distrito eleitoral, do qual faz parte e o segundo pelo sistema de proporcionalidade.

O dinheiro público seria a única fonte de financiamento das campanhas dos candidatos, sendo o valor estipulado pela representatividadedo partido.

As alianças estaduais têm de seguir a orientação dasfederais.

Obrigatoriedade de manutenção dos eleitos no mesmo partido que os elegeu durante o mandato.

03 - Politica - Daniel Mafra 06.04.06 16:12 Page 1

Page 4: Jornal O Ponto - abril de 2006

P O L Í T I C A4 o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Daniel Gomes

“Modelo não precisaser definido agora”

O PONTO CONTINUA O DEBATE SOBRE TV DIGITAL E OUVE A PESQUISADORA REGINA MOTA. ELAAFIRMA SER FALSA A NOÇÃO DE QUE É PRECISO ESCOLHER O PADRÃO DIGITAL COM RAPIDEZ EQUE A NOVA TECNOLOGIA É UMA OPORTUNIDADE ÚNICA PARA DEMOCRATIZAR OS MEIOS DE

COMUNICAÇÃO NO BRASIL; E ALERTA: “ESTAMOS COLOCANDO O DEDO NA FERIDA”

Regina Mota concede entrevista sobre TVdigital na TV Comunitária de Belo Horizonte:“Quando pensamos em TV digital, nãopodemos mais pensar na televisão comoconhecemos. É um novo serviço”

DANIEL GOMES

6º PERÍODO

“A escolha do modelo é política, e não técnica”. A afirmaçãoé da professora do Departamento de Comunicação Social daUFMG Regina Mota. A professora, que coordenou a pesquisapara o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tele-comunicações) sobre inclusão social na plataforma digital doSistema Brasileiro de Televisão Digital, é uma das maiores au-toridades no assunto no país e concedeu entrevista a O Ponto.

Regina Mota deixa claro que a pressa na escolha do mode-lo de TV digital (TVD) é inimiga da perfeição. “Não há necessi-dade de o Brasil definir o modelo agora”, afirma. Segundo ela,existem relacionamentos entre os radiodifusores (emissoras derádio e televisão) e os japoneses que justificam a preferência pe-lo padrão japonês.

A pesquisadora vai além e ressalta que um ministro nuncase colocou publicamente para defender uma teconologia comoo atual ministro das Comunicações, Hélio Costa. Para ela, Cos-ta está claramente apoiando os radiodifusores. Em março, asprincipais emissoras de TV do país publicaram um anúncio emvários jornais defendendo o modelo japonês e alegando que aescolha tem que ser feita com rapidez. “Está tudo dito. Não hánada por trás”. explica Mota.

Na entrevista, a especialista afirma que, antes de qualquerdecisão, é preciso haver um estudo aprofundado com partici-pação de profissionais de diversas áreas para que possa ser cons-truído um marco regulatório conceitual. “Mas que esse marco

não seja uma lei qualquer apenas viabilizando o negócio”, sa-lienta.

Ao apontar as possibilidades da TVD na vida do cidadão bra-sileiro, Regina Mota alerta: “Quando pensamos em TVD, nãopensamos mais na televisão como a gente conhece. É um novoserviço”, explica. De acordo com a professora, não é uma ques-tão de melhoria na qualidade de imagem e som, e sim de inclu-são social de uma grande parcela da população que não têmacesso à saúde, lazer e educação. “É uma questão de ampliar euniversalizar esse acesso”, diz.

Escolha difícilApós se comprometer a anunciar o modelo que permitirá

com que o Brasil ingresse na era da TVD por duas vezes, o go-verno voltou atrás. A Rede Globo anunciou testes no Rio de Ja-neiro e em São Paulo com transmissão digital já na Copa doMundo deste ano. Conforme noticiado em O Ponto de dezem-bro de 2005, a data da primeira transmissão digital comercialcontinua sendo 7 de setembro, conforme informação da asses-soria do Ministério das Comunicações. Entretanto, esta data po-de mudar, se houver atraso na escolha do padrão.

O Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação(www.fndc.org.br) vem prestando um grande serviço à popu-lação e, segundo Mota, as pessoas podem ainda não entendero impacto dessa tecnologia, mas o debate foi ampliado signifi-cativamente. Sua entrevista vai ajudar o leitor a entender que omodelo é importante, mas a real dimensão desse debate vai mui-to além do que vem sendo divulgado no noticiário tradicional.

Fotos: Daniel Gomes

04 e 05 - Política - Daniel G. 06.04.06 16:54 Page 1

Page 5: Jornal O Ponto - abril de 2006

TV DIGITAL: UM JOGO DE CARTAS MARCADAS?

Mesmo que a TV digital (TVD) não seja um jogo de cartasmarcadas, o caráter desse jogo é político. Por mais que sejustifique tecnicamente ou economicamente a escolha, elatem conseqüências imediatas na política. Se o governo fe-char um acordo com os radiodifusores (emissoras de rádioe televisão) para atender a uma demanda de interesse queeles têm em um determinado padrão, está se selando um acor-do, mesmo que não seja explícito à sociedade. E esse acor-do, não sabemos até que ponto pode ser comprometedor pa-ra as escolhas futuras.

MARCO REGULATÓRIO CONCEITUAL

Bato o pé nessa tecla há três anos, pois isso nem estava cla-ro para o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Te-lecomunicações) quando eles começaram a trabalhar essa ques-tão. Eu levantei os problemas do marco regulatório muito cedoe tenho certeza que, aos radiodifuso-res, não interessa um novo marco re-gulatório. A situação da radiodifusãohoje no Brasil é anônima. Significa quenão há verdadeiramente uma legisla-ção. Tem uns traços de legislação, umplano de emendas aqui e ali e, portan-to, nada disso é válido do ponto de vis-ta do cenário tecnológico, econômicoe geo-político.

É fundamental estabelecer neces-sidade prévia a qualquer tipo de esco-lha de um marco regulatório. Mas queo marco não seja meramente uma leiqualquer "viabilizando" o negócio, esim um marco conceitual. Ele tem deser erigido dentro de uma questão maisampla.

Podemos montar um consórcio para isso, tem gente traba-lhando com isso em Brasília, na UFPA, aqui, na USP... Podería-mos montar um grupo de especialistas do direito, da comuni-cação, da educação, da área tecnológica e desenvolver isso. Is-so sem ficar restrito à visão meramente de quem ganha, de quemvai ser esse marco regulatório.

SISTEMA BRASILEIRO DE TELEVISÃO DIGITAL (SBTVD)

Defendo o SBTVD sem desconsiderar toda a necessidade deque esse sistema seja composto com elementos mais flexíveispara incorporar desenvolvimentos comuns com outros siste-mas e para futuras trocas e exportações.

Na verdade, a verba direcionada ao desenvolvimento doSBTVD não foi cortada, esim deixou de ser repassa-da. Eram R$65 milhões eforam distribuídos R$54milhões. As pesquisas fo-ram feitas dentro dos con-tratos que previstos. Umacoisa mágica, genial, abso-lutamente fantástica. Doponto de vista do desen-volvimento tecnológico,existia um prazo. Foi umtrabalho brilhante que temconseqüências internacio-nais. Quer dizer, há umafalta de visão. É uma po-breza... o país não tem um problema de pobreza material, esim de pobreza espiritual. É pobre de espírito.

O Estado precisa definir o que quer, onde entra, onde nãoentra. Em nenhum momento você vai me ouvir falar que soucontra a atuação da iniciativa privada nesse campo. Aliás, eusou a favor da competição, mas sou a favor de diversificar essacompetição. Da entrada de mais capitalistas, mais explorado-res...

ENTRADA DAS TELES NO JOGO

Eu não defendo a entrada das teles, pois não tenho a clare-za do impacto da entrada delas. Não tenho uma opinião forma-da. Uma das coisas que temos que ter se queremos inclusão so-cial por meio da TVD é garantir que o canal de retorno, que per-mite a interatividade com o usuário, seja gratuito.

POSSIBILIDADES DA TVD NO BRASIL

Imagina só, você pode integrar um país dentro dessa pers-pectiva da potencialidade da TVD com uma tecnologia que per-mite um salto qualitativo na vida de todas as pessoas. Não digoisso só materialmente, não. Dos que estão distantes de infor-mação qualificada. Dar a chance às pessoas de produzir suasdemandas mais direcionadas.

Quando pensamos em TVD, não pensamos mais a televisãocomo a gente conhece. Não tem nada a ver. É um serviço novocom inúmeras possibilidades. É um novo serviço utilizando oespectro eletromagnético que a gente sabe de várias possibili-dades hoje e não sabe o tanto que ainda pode existir.

Na medida em que você compacta a informação, você só vaiabrir espaço... e os radiodifusores gostam de falar que "não temtanta gente assim que tem condição de colocar uma progra-mação no ar"... mas eles só pensam nisso! Pode-se pensar emum sem-número de possibilidades. Você pode colocar uma áreanesse espectro direcionada a treinamentos regionais, uma fai-xa para comunicação de dados de todo tipo, bibliotecas, etc.Uma série de usos que não estão ainda bem pensados.

O uso na saúde é enorme! A possibilidade de incrementaruma telemedicina de altíssimo nível só pra melhorar a saúde daspessoas no país inteiro. É uma questão de ampliar o acesso daspessoas e universalizar esse acesso.

HÉLIO COSTA

Um ministro nunca, jamais, se colocou publicamente paradefender uma tecnologia da forma como esse ministro está secolocando. Isso obriga uma certa explicitação do jogo que, nãoacho nem que está por trás, mas pela frente. Os radiodifusores

publicaram um anúncio em todos os jornais brasileiros defen-dendo a escolha. Então não há nada por trás. Tudo está dito.

Falei ao ministro: "não queremos discutir o padrão". A es-colha do padrão compromete o modelo. Se facilitarmos para osjaponeses, eles vêm com tudo e depois não há santo que rever-ta essa situação. O ministro defende claramente os japoneses."Ah, os japoneses são bons porque vão trazer uma fábrica decomponentes para o Brasil". Aí o pessoal da área no Brasil chiae diz que tem condições sim de fazer isso aqui.

Tive um "arranca-rabo" com o ministro na UFMG muito de-sagradável. Ele inclusive me mandou calar a boca. Ficou ummal-estar entre o reitor (professor Ronaldo Tadêu Pena) e o pro-tocolo dele e eles permitiram que eu falasse por três minutoscontados no relógio pelo assessor. Eu disse a ele: "o senhor po-de até estar correto nas suas escolhas, mas nada do que o se-nhor enunciou que as emissoras poderão fazer é legalmente per-mitido e o senhor sabe disso. Eu quero saber se o senhor vai dara essa concessão de seis megahertz um novo caminho, uma no-va canalização reservada à digitalização". Que tipo de conces-

são é essa? Num cenário de alta definição os ra-

diodifusores podem utilizar seis megahertze, caso eles utilizem o mpeg4 (sistema decompactação de informação digital), que épossível compatibilizar com a TVD japone-sa, eles podem utilizar só quatro megahertzpara alta definição e têm uma faixa livre dedois megahertz, onde podem fazer multi-programação. Desses, um megahertz po-de ser utilizado para mais um programa eo restante para dados, o que é totalmenteproibido por lei. Hoje, a lei que rege a ra-diodifusão diz claramente que a concessãose refere a um canal de imagem e som. Is-so significa que eles não podem veicularmais absolutamente nada a não ser imageme som.

MODELO JAPONÊS

A gente pensa esse negócio hoje pra daqui a 100 anos. A es-colha que fizermos hoje não pode servir pra hoje. A escolha temque ser previdente. Tem que pensar como é que essa tecnolo-gia vai impactar as futuras gerações. Os netos dos caboclos daAmazônia. Os bisnetos dos indígenas.

A grande vantagem do suposto atraso na escolha do siste-ma para o Brasil é que todos esses modelos, americano, euro-peu e japonês, estão revendo seus modelos. Eles foram pensa-dos para uma determinada realidade, alguns escolheram altadefinição, outros escolheram liberar o espectro. Como a tecno-logia desenvolve rápido demais, a obsolescência das escolhas

também seria grande. Se tivéssemos feito a escolha no final dogoverno FHC, como seria o caso, estaríamos todos pagando ro-yalties hoje.

Não há necessidade de o Brasil definir o modelo agora. OJapão fez algum tipo de acordo com as emissoras daqui porquejá é um velho parceiro delas. Venderam o sistema PAL (-M, sis-tema de codificação de imagem dos televisores brasileiros), aSony desenvolveu todos os equipamentos especialmente parao Brasil, então existe uma série de relacionamentos que a gen-te não sabe até onde vão. Até onde tem dívidas contratadas, atéonde tem ofertas mirabolantes, mas que dizem respeito apenasao sistema privado.

Então isso é interesse dessas emissoras, porque é uma coi-sa absurda o "xiitismo" delas. Só pode ter alguma coisa que nãoestá sendo dita. Não é mais barato para o Brasil desenvolver opróprio sistema? Não é melhor, mais autônomo, mais determi-nado, mais independente? As próprias emissoras deveriam es-tar bancando as pesquisas junto com o Estado. Quando o Es-tado repassou a verba de pesquisa, me perguntei se iríamos gas-tar R$65 milhões para bancar um "sistemazi-nho" para as emissoras privadas? Que coisaabsurda! A única justificativa para gastarmosum dinheiro desses é pra fazer um sistemaque seja para o país inteiro. Que seja para ainclusão social, sobretudo.

PROBLEMA SISTÊMICO

Com a discussão da TVD, está se deli-neando no país a dimensão do poder que osradiodifusores têm, que já não é tão grandeem termos econômicos. Comparativamenteao poder das teles, eles são meio "pobres".Mas o poder de comunicação, que é o poderefetivo, é grande, e eles têm um lobby fortejunto ao poder Executivo e ao poder Legisla-tivo.

Esse é o grande nó que temos de desfazer, essa relação quese constitui tão bem harmonizada no país. O que estamos pro-pondo é o mesmo que pedir a todos os poderes que abrissemmão de seus poderes. Isso se constitui sobretudo porque o Exe-cutivo concentra poder decisório demais na mão dele com res-peito à radiodifusão.

Já o Legislativo concentra uma conseqüência desse primei-ro, que é interesse mesmo, pessoal. Nós temos hoje no Con-gresso, 5% de deputados com interesse direto em radiodifusão,mas não é um número preciso. Se fizéssemos um estudo sérioque se provasse com certidões de cartório e os mandatos eleti-vos a coincidência dos donos de emissores e os mandatários de

diplomas, deputados, vereadores, prefeitos, ministros, a genteficaria horrorizado. Esse número subiria muito.

CONGRESSO APÁTICO

Considero a entrada do Congresso Nacional nessa questãomuito tardia. Temos um grupo grande do qual participo, quetem engenheiros, tecnólogos, pessoas da área de comunicação,da área academia, os mais variados, trabalhando junto, discu-tindo, tirando dúvidas e etc. Temos feito constantemente umapressão em cima do Congresso e ele custou, resistiu. Ninguémqueria assumir. Para sairmos no apagar das luzes de 2005 comum "projetinho" lá, só pra colocar a existência desse projeto naCâmara foi uma luta.

COBERTURA DA IMPRENSA SOBRE TVD

A imprensa tem feito um noticiário mais limitado, padrãopress release do assunto. Se a Abert (Associação Brasileira deEmissoras de Rádio e Televisão) envia uma informação, vão láe publicam. Mas quem vê quais questões estão conectadas? Pe-lo que a imprensa se interessa? Pelo fato! "O ministro falou. AAbert falou. Roberto Franco (diretor de tecnologia do SBT epresidente da Sociedade de Engenharia de Televisão – SET) fa-lou". Saiu o fato, eles noticiam. Saiu um relatório, eles noticiam.Mas não têm o interesse de informar profundamente. Teria si-do muito bom se a imprensa tivesse acompanhado de 2003 atéagora o que vem ocorrendo com uma constância.

Isso não diz respeito à radiodifusão? Como é que a radiodi-fusão está cobrindo o assunto? A cobertura inexiste. Eventual-mente, só se o ministro (das Comunicações, Hélio Costa) falar,ele aparece. Mais nada. Eu nunca dei um depoimento, o Takas-hi (Tome, engenheiro eletricista pela Unicamp, coordenou a ela-boração do Relatório Integrador dos Aspectos Técnicos e Mer-cadológicos da Televisão Digital pela Anatel em 2001) nunca deuum depoimento, o (Marcelo Krönich) Zuffo (professor do LSI –Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica daUSP) nunca deu um depoimento, ninguém no Brasil que temcompetência pra falar desse assunto jamais falou sobre isso.

DEBATE PÚBLICO

Estamos colocando o dedo na ferida. É um movimento his-tórico. Estamos vivendo um momento de privilégio porque, pe-la primeira vez, há um debate que não fica apenas circunscritoa outro interesse.

E aí vai uma crítica não aos colegas, mas à postura assumi-da muitas vezes pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalis-tas), pois ela considera que se são preservados os interesses re-lacionados à imprensa, estar-se-ia preservando os interesses dasociedade. Isso não é suficientemente absoluto.

Durante muito tem-po, esse debate esteve po-larizado entre sindicalistas,digamos assim, e donos deemissoras e o governo orarepresentando um lado,ora representando o outro.Hoje você tem um cenáriomuito diferenciado comtécnicos, a academia, enti-dades outras da sociedadeparticipando do debate.Esse debate da área tecno-lógica esta muito acirradojá que a TVD é uma tecno-logia híbrida e convergen-

te porque aciona outras bases de interesse que vão muito alémsó meramente da radiodifusão. Hoje você tem muitos outrosplayers (produtores de conteúdo) que estão envolvidos e inte-ressados.

Mesmo que as pessoas ainda não entendam o impacto queessa tecnologia vai ter na vida delas, o debate já foi ampliadosignificativamente.

BLOCO BRASIL-RÚSSIA-ÍNDIA-CHINA (BRIC)

Adorei (a proposta que a China fez ao Brasil de construir umprotocolo de TVD). É o maior mercado do mundo. Existia logoem 2003, quando entrei em contato com o pessoal, a possibili-dade de se tentar um acordo com a China e esse negócio nãofoi adiante. Eu acho esse BRIC maravilhoso. É a oportunidadede pensar uma questão emergente soberana e auto-determiná-vel para a TVD.

A população da Rússia, do Brasil e da China... pegar a ca-pacidade de trabalho dos chineses, aquela cultura milenar, a dis-

ciplina, a minúcia, uma tradição maravi-lhosa que se mantém. Pegar a capacida-de de abstração dos indianos, que são osmelhores e maiores informatas do mun-do. E o Brasil é capaz de, com pouco, fa-zer muito.

A SOCIEDADE ESTÁ PREPARADAPARA A TVD?

A gente não pode nem querer e nemimaginar algo que não sabemos o que é.O cidadão vai querer as coisas na medi-da em que ele puder dominar o assuntosimbolicamente para que isso entre noimaginário dele. Essa é a necessidade detornarmos público este debate. Se vocêperguntar para um sujeito no ponto de

ônibus o que ele quer em relação ao transporte público, achaque ele tem condição de responder? Claro que sim! É a mesmacoisa.

Para que essa política dê certo, cada brasileiro precisa sabero que quer com a TVD. Acho engraçado essas pesquisas que aspessoas fazem pra embasar os relatórios do CPqD. Eu li várias."As cinco questões que as pessoas querem porque querem". Co-mo assim? Aí está lá portabilidade, mobilidade... Espera aí, co-mo as pessoas podem saber o que elas querem com esse negó-cio se elas não fazem a menor idéia do que seja? Eu garanto quehoje não tem gente suficiente nesse país pra fazer escolha ne-nhuma. Nem de alta definição porque não sabe o que é isso.

P O L Í T I C A 5o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Daniel Gomes

“Não há necessidadede o Brasil definir omodelo agora. Aspróprias emissorasdeveriam estarbancando as pesquisasjunto com o Estado”

“Um ministro nunca,jamais, se colocoupublicamente paradefender umatecnologia da formacomo esse ministroestá se colocando”

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E C O N O M I A6 o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Daniela de Castro

Desequilíbrio marca exportações mineiras

O desenvolvimento tecno-lógico é fundamental para a in-serção do setor produtivo nomercado globalizado. Para aanalista Cynthia Santana, tem-se que buscar estratégias pa-ra fomentar a competitividadedas empresas. Daí o apoio dasincubadoras de empresas, co-mo instrumento de geração denovos empreendimentos, vol-tado tanto para os setores tra-dicionais da economia comopara os segmentos de alta tec-nologia. “As incubadorasconstituem-se em um espaçofísico que oferece infra-estru-tura básica, apoio técnico eadministrativo, assistência ju-rídica e de marketing às microe pequenas empresas recémconstituídas”, explica Santana.E resultam, geralmente, deparcerias de várias institui-ções, que cedem recursos ecompetência técnica aos no-vos empreendedores.

A analista esclarece que oobjetivo destas empresas é ageração de produtos de altovalor agregado, com enfoqueem tecnologias que evoluamrápida e permanentemente. Aeconomista Fernanda Álvaresrevela que a mortalidade deum empreendimento novo si-tua-se em torno de 80% no iní-cio, mas o apoio de uma incu-badora diminui esses percen-tuais.

Cynthia Santana tambéminforma que, atualmente, jáexistem cerca de 400 empresasincubadas no Estado, que ge-ram mais de dois mil empre-gos e faturaram, em 2005, cer-ca de R$22 milhões. O Progra-ma de Incentivo às Incubado-ras de Base Tecnológica de Mi-nas Gerais (Prointec) foi cria-do pelo Banco de Desenvolvi-mento de Minas Gerais,BDMG, em 1991, e visa à ge-ração de empresas de alta tec-nologia, empregos de elevadaqualificação e estímulo às par-cerias entre o setor empresa-rial, universidades e centrosde pesquisa.

O presidente do Sindicatodas Indústrias de Material Plás-tico de Minas Gerais (Simplast),Marcelo Pimenta Pereira, le-vanta outros problemas en-frentados pelos empresários,no que se refere à exportação.“O setor plástico não tem mui-tas vantagens competitivas,porque é um produto que nãopossui valor agregado”.Um dosmotivos apontados pelo presi-dente é o fato de as máquinas,que fazem embalagens de plás-tico, serem semelhantes nomundo todo. Então, o que con-ta é o valor do frete. E o fretebrasileiro é pouco atraente, re-flexo das estradas e meios detransporte precários. “Sem dú-vida, as rodovias brasileiras sãomais um fator que encarecenosso frete”. Além disso, Pe-reira apresenta o roubo de car-ga como outro problema gra-ve. “Uma petroquímica quefornecia grãos para plástico co-meçou a sofrer concorrênciados próprios produtos rouba-dos, o que abaixava os preços.

Eles fizeram então um esque-ma de logística, de muita pro-teção às cargas, e isso foi agre-gado ao preço do produto ven-dido”, explica o presidente.

No Brasil, existem apenastrês petroquímicas, uma no RioGrande do Sul e outra na Ba-hia, que correspondem a 80%do consumo e mais uma emSão Paulo. Quando um cami-nhão é roubado, a carga não éreposta. Logo, o empresárioaumenta o preço do seu pro-duto, como garantia de umeventual prejuízo. Outras ques-tões são colocadas por Marce-lo Pereira, tais como o câmbioe a brutal concorrência da Chi-na. “Se o Brasil já possui essadificuldade com o frete, torna-se mais difícil concorrer com aChina. Lá existe, entre outrosfatores, o aspecto sócio-cultu-ral. O operário fica doze horasmontando peças, sem olhar pa-ra o lado, e a mão de obra émuito barata, o que reflete nopreço final da mercadoria”, es-clarece o presidente.

Marcelo acrescenta que háexceções à regra, como a fá-brica de camisetas do JoséAlencar, vice-presidente da Re-pública, que é moderna a pon-to de ter mais competitividadedo que os produtos chineses.Um dos poucos produtos plás-ticos que o Brasil consegue ex-portar são as sacolas de su-permercados, principalmentepara os Estados Unidos e Mer-cosul, já que na Europa sua fa-bricação é proibida por ques-tões ambientais. A tampa tam-bém é um produto que o paístem tecnologia e competitivi-dade para exportar, segundoPereira. Já vender frasco de de-tergente para fora é mais difí-cil, pois o setor não disponibi-liza de infra estrutura sufi-ciente para compactação dacarga. “Existem, apesar das di-ficuldades, esforços de nossaárea para fomentar a exporta-ção. O Expoplastique é um pro-jeto que visa facilitar os em-presários a exportarem mais”,finaliza Pereira.

CAMILA GUIMARÃES

LÍGIA RÍSPOLI

6º PERÍODO

Minas Gerais fechou o mêsde fevereiro com recorde his-tórico das exportações, acu-mulando receita de US$1 bi-lhão. As vendas externas mi-neiras alcançaram quaseUS$14 bilhões nos últimos do-ze meses, o que deixou o esta-do em segundo lugar no ran-king brasileiro, atrás apenasde São Paulo.

Dados da Secretaria de De-senvolvimento Econômico deMinas Gerais revelam que, em2006, a receita das empresasmineiras ultrapassarão os US$15 bilhões, com crescimentodas vendas de produtos tradi-cionais, como o minério de fer-ro, café em grão, ferro-gusa eaço bruto. A comemoração dogoverno estadual, no entanto,esconde o desequilíbrio e odesfavorecimento do mercadomineiro quanto à tecnologia.

Uma análise do cenárioeconômico de Minas mostraque pouco espaço se tem da-do à exportação de produtoscom maior valor agregado,como materiais eletrônicos .Por exemplo, ao invés de es-timular a venda de jóias, ven-de-se a pedra bruta. No lugarde vender mel em embalagenstrabalhadas, para valorizar oproduto no exterior, vende-seem galões. E o que ocorre,comumente, é que o país com-prador trabalha as embala-gens, de maneira a lucrarmais. Portanto, Minas expor-ta a matéria-prima e importao produto manufaturado.

Mel e derivadosO gerente comercial do

Mel Santa Bárbara, Samir Fe-lipe, aponta o maior obstácu-lo encontrado pela empresa:as embalagens, que são mui-to caras. De acordo com o ge-rente, em regiões mais frias énecessária uma embalagemprópria para que o mel nãocristalize. Além disso, deve-seinvestir em pesquisas paraconhecer as peculiaridades decada região. “A empresa éuma das poucas que vendemo produto na própria embala-gem. Por causa disso, há difi-culdades para os comprado-res fecharem negócio, já queestão acostumados a comprar

em galões”, diz. Segundo Sa-mir, uma solução para o au-mento da competitividade nomercado externo seria o go-verno estadual apoiar e in-centivar as empresas emeventos e feiras internacio-nais, o que permitiria umamaior visibilidade dos produ-tos para exportação.

A Cooperativa Nacional deApicultura Ltda (Conap), fun-dada em 1991, com sede emNova Lima, começou a ex-portar própolis, mel in naturae outros produtos agregados,como geléia real em 1996. Deacordo com o presidente Pau-lo Raimundo Rettore, o ex-portador, geralmente, quercomprar e colocar sua própriaembalagem. “Infelizmente nãocontamos com muito apoio dogoverno, mas estamos tendoo incentivo do Sebrae, quepromove visitas internacio-nais para conhecer a fábrica”.Segundo ele, de 2002 a 2005,Minas ficou com o terceiro lu-gar nacional na exportação demel.

No total do território na-cional, atualmente, são ven-didas cerca de 45 mil tonela-das do produto, o que é con-siderado pouco por Rettore,já que, no mesmo período, aChina vendeu 700 mil tonela-das e a Argentina 200 mil. “Te-mos condições de exportarmais. Além disso, o câmbioestá desfavorável, o que tam-bém dificulta as exportações”,conclui Rettore.

De acordo com o profes-sor de administração da Fu-mec, Alexandre Brito, todasas operações de comércio ex-terior implicam em conversãode moedas. Portanto, o níveldo câmbio influencia a lucra-tividade da exportação e im-portação.

O presidente da FederaçãoMineira de Apicultura (Fe-map), Irone Martins Sampaio,revela que Minas é o maiorexportador de própolis dopaís, com foco no Japão, Co-réia e China. Segundo Sam-paio, o setor está passandopor dificuldades, mas o mer-cado existe. “Para exportar,não basta produzir. Temosque organizar o setor, buscara união, participar de feiras,e, acima de tudo, conhecer omercado que se pretende in-serir”, conclui.

Setor plástico disponibilizapequeno valor no mercado

A busca de nova estratégia como via de sucesso

Ana Paula Machado

Para o presidente da Conap, Paulo Rettore, o câmbio desfavorável também conspira contra as exportações

BALANÇA O que Minas Gerais mais compra e vendeRafael Matos

EXPORTAÇÕES Os degraus da burocraciaRafael Matos

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38

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30

FONTE: Fiemg

FON

TE: w

ww

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orta

min

as.c

om.b

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1 Identificar mercados de destino

2 Viabilidade da exportação

3 Contato com o importador

4 Credenciais como exportador

5 Aspectos tributários

6 Canal de distribuição

7 Via de embarque

8 Pagamento

9 Embarque

10 Despacho aduaneiro

11 Operação de câmbio

O que as empresas mineiras têm queenfrentar na hora de exportar

APESAR DO RECORDE HISTÓRICO, MINAS EXPORTA MAIS MATÉRIA-PRIMA DO QUE TECNOLOGIA

Exportaçoes em US$Importações em US$

06 - Economia - Daniela de C. 06.04.06 16:14 Page 1

Page 7: Jornal O Ponto - abril de 2006

C I D A D E 7o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editores da página: Camila Coutinho e Daniel Gomes - Diagramadores da página: Daniel Gomes e Henrique Lisboa

Infância trocada porTROCADOS

ALINE SANTOS

DANIELA VENÂNCIO

ERIVELTON LOPES

RENATA VAZ

7º PERÍODO

Com rodinhos nas mãos,um grupo de cinco garotos lim-pa pára-brisas na Praça RaulSoares, região central de BeloHorizonte. Todos são morado-res da Favela da Ressaca.

Em vez de estarem estu-dando ou brincando, encon-tram no trabalho infantil umaforma de escapar da crimina-lidade e ajudar a família.W.S.G. tem 15 anos e é o maisvelho da turma. O mais novotem apenas cinco anos de ida-de. "O pessoal da justiça ficafalando que a gente não podetrabalhar. E a gente fala assim,quem não tem pai, os filhostêm que trabalhar" - reclamaF.A.S.F., 14, outro integranteda turma.

A falta de condições dospais para oferecer o mínimo ne-cessário para o filho os obrigaa mandar a criança para traba-lhar nas ruas como forma decomplementar a renda familiar.Sem opção, a criança vai ven-der balas, fazer malabarismo,lavar pára-brisas dos carros,pedir dinheiro nos sinais e ou-tros tipos de trabalho.

“O grande problema do tra-balho infantil é que perde acriança, a sociedade e o país,que deixa de contar com a cria-tividade e com a educação deuma geração", diz a técnica daSecretaria Executiva do Con-selho Municipal dos Direitos daCriança e do Adolescente, CiraMaria Barreto.

As crianças que trabalhamnas ruas têm seus direitos esta-belecidos no Estatuto da Crian-ça e do Adolescente violados, eé dever do Conselho Tutelar as-segurá-los. Segundo a presi-dente do Conselho Tutelar daregião Centro-Sul, Adélia Al-

meida, o Conselho não traba-lha sozinho. Ele é acompanha-do por segmentos como Edu-cação, Saúde, Ministério Públi-co e o juizado com os progra-mas de geração de renda. "Pre-cisamos que essa rede estejabem equipada para que possa-mos ter a resposta que espera-mos. A rede existe, mas preci-sa ser aprimorada", ressalva.

Outro fator que mantém omenor na rua é que muitos de-les ganham mais que os pais.“Como convencer esse pai a ti-rar seu filho da rua? Se a nossasociedade não se convencer queela tem um papel fundamentalpara romper com isso, vai sermuito difícil", lembra Adélia.

Preconceito"Eles falam não com a gen-

te e nem se importam com o fa-to de estarmos trabalhando. Àsvezes acham que a gente estáquerendo assaltar, mas a gentenão quer isso não", desabafa oadolescente W.S.G., 15, vítimade preconceito. A juíza de di-reito da Vara Infracional da In-fância e Juventude de Belo Ho-rizonte, Valéria Rodrigues, re-lata que, a cada 15 casos de ado-lescentes infratores, apenas trêstêm o histórico de trabalho nasruas.

O secretário-adjunto de De-fesa Social de Minas Gerais,Luís Flávio Sapori, diz que oproblema da criminalidade emBH não são os adolescentes quetrabalham nas ruas."Hoje, omaior problema é o adulto bemvestido que assalta e furta", de-clara Sapori.

Outro problema são os adul-tos que "alugam" crianças pa-ra trabalhar nas ruas por eles."Elas são vítimas do trabalhoinfanto-juvenil, da exclusão e,muitas vezes, vítimas das famí-lias que as exploram. Muitossão usados por pessoas de má-fé para conseguir dinheiro", dizSapori.

TRABALHO INFANTIL ROUBA AINFÂNCIA DE CRIANÇAS EADOLESCENTES EM BH

Muros coloridos e cara dejardim de infância. Assim é aCasa da Acolhida Marista deBelo Horizonte. A casa, queacolhe cerca de 90 crianças eadolescentes em risco pessoalou social, de oito a 14 anos deidade, é uma entidade sem finslucrativos e atende principa-lente à população vinda doaglomerado da Barragem San-ta Lúcia.

O objetivo do projeto é evi-tar que as crianças que já esti-veram nas ruas sendo explora-das criem vínculos com drogas,criminalidade, violência e vidanas ruas. Para isso, as criançase adolescentes permanecem nacasa durante metade do dia ena outra metade freqüentam re-gularmente a escola, o que épré-requisito para estar lá. Nacasa, as crianças recebemacompanhamento sócio-fami-liar, acompanhamento psicoló-gico, oficinas culturais, orien-tação sexual, pedagógica eatendimento médico e odonto-lógico, entre outros.

Segundo a psicóloga, LenaSangawa, que coordena o pro-jeto há nove anos, "na casa setem direitos, deveres e regras aserem cumpridas e, às vezesquando necessário, até casti-gos". Lena afirma também queo grande desafio é trazer os paispara o convívio da instituição."Infelizmente, 90% deles têmenvolvimento com o tráfico dedrogras", afirma a psicóloga.As mães também participamdos programas oferecidos pelacasa como cursos, eventos eacompanhamento psicológico,pois, segundo a coordenadora,também deve haver um traba-lho em conjunto entre a famíliae a criança em risco social.

O Conselho Municipal dosDireitos da Criança e do Ado-lescente é um dos órgãos quefiscaliza ONGs como a Casa daAcolhida com o objetivo de me-lhorar a qualidade de vida decrianças e adolescentes. O Con-selho também é responsávelpor formular políticas para es-te público.

Crianças em riscotêm alternativa

Criança no sinal: esmola e preconceito em mais um dia difícil

Segundo uma pesquisa rea-lizada pela Prefeitura de BeloHorizonte em 2004 como partedo projeto "Programa de Erra-dicação do Trabalho Infantil",que teve início em 2000, foramidentificadas 1.099 crianças eadolescentes em situação detrabalho nas ruas centrais e nosprincipais corredores da cida-de que acessam todas as re-giões. Dessas, 793 (72,2%) resi-dem em Belo Horizonte e as de-mais na Região Metropolitana.Esses resultados referem-se ex-clusivamente ao público do tra-balho infanto-juvenil residen-tes em Belo Horizonte.

Nessa pesquisa não foramincluídas aos menores com tra-jetória de vida nas ruas, que sãoaquelas que romperam o vín-

culo familiar, vivem exclusiva-mente nas ruas, andam em gru-pos e podem trabalhar ou não.Já as crianças que trabalhamnas ruas e que foram contem-pladas na pesquisa têm resi-dência na maioria das vezes emaglomerados, passam a maiorparte do dia sem referência fa-miliar, e estão em situação dedesamparo.

As crianças e os adolescen-tes que trabalham nas ruas en-frentam o cansaço nas salas deaula, têm um baixo rendimen-to e deixem de freqüentar a es-cola. Ainda segundo a pesqui-sa, a maior tendência à evasãoescolar é entre os jovens de 15a 17 anos, ao passo que crian-ças entre 7 e 12 anos de idadetêm assiduidade maior.

Escola não é prioridade

Victor Schwanner

Victor Schwanner

07 - Cidade - Daniel e Camila 06.04.06 16:55 Page 1

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Editor e diagramador da p

E S P E C I A L8 o poBelo Horizonte

Paredes descasca-das, infiltrações,vazamentos for-mando poçasd’água pelo chãodos pavilhões,má iluminação,móveis danifica-dos e uma bi-blioteca desati-

vada, ainda que num local on-de funciona uma escola, re-forçam o abandono dapeni-tenciária José Maria Alkmin.Foi o que presenciamos apóscruzarmos a segunda porta-ria que dá acesso à parte ad-ministrativa, cozinha, enfer-maria e, após passar pelasgaiolas, aos quatro pavilhõesque preservam seus nomesoriginais: Capela, Cinema, La-voura e Máxima. Nas celasindividuais há uma cama dealvenaria, sanitário e tornei-ra. A limpeza realizada sema-nalmente nos pavilhões pelospróprios sentenciados deixamuito a desejar. As oportuni-dades de profissionalização afim de facilitar sua ressociali-zação são mínimas devido arebeliões que danificaram apenitenciária.

Falta de segurançaAs normas de segurança

não são cumpridas com rigor.“O próprio sistema tem cons-ciência das suas precariedadese vulnerabilidades”, admite Jo-sé Carlos, diretor de seguran-ça. Quando questionado sobrerevistas de funcionários, quedeveriam ser minuciosas, con-cordou que existe corporati-vismo. “A revista é superficial.Quando há alguma descon-fiança é feita uma revista mi-nuciosa. Caso contrário, não”,admite.

Quanto à não realizaçãoda revista em nossa equipe, odiretor se limitou a justificarque preferiu “evitar cons-trangimentos”, já que estáva-mos autorizadas, seríamosacompanhadas e não tería-mos acesso aos pavilhões esentenciados. No entanto, ti-vemos, embora a maioria dossentenciados em regime fe-chado estivesse no banho desol. Além disso, já de possede nossos pertences, aindadentro da penitenciária, con-versamos com alguns semi-abertos sem a presença deagentes, inclusive falamos aocelular.

José Carlos argumentouque “normalmente o semi-aberto comporta-se melhor.Ele sabe que se fizer algo er-rado poderá ser recolhido eperderá os benefícios já ad-quiridos”. Ainda assim, o di-retor administrativo, GalbertRocha, há 11 anos no sistemae três na direção, afirma que aestrutura que assiste o semi-aberto é mais propensa a fu-gas. “A fuga de semi-abertosocorre, porém bem menos queantes. Visando diminuir esseíndice, realizamos várias cha-madas. Se o sentenciado nãoestiver presente perderá o di-reito à descida (saída tempo-rária autorizada pela justiça)”.

José Carlos diz não serpossível maior rigor da suaequipe em toda a área devidoà debilidade da estrutura. “Éarcaica. O ideal seria que a pe-nitenciária fosse toda mura-da, já que parte dela faz divi-sa com fazendas que permi-tem o acesso à mesma”, es-clarece o diretor que ainda su-gere: “para evitar que a dro-ga seja enterrada no campo,o ideal seria cimentá-lo comuma malha de aço por baixo,telar a área, além de reduzir oespaço, pois a saída de um pa-

vilhão por vez facilitaria acontenção de uma rebelião”.

Secretaria de Defesa SocialOs diretores contam que

vários projetos foram enca-minhados à Secretaria de De-fesa Social (SEDS), mas pou-cos foram atendidos. O as-sessor de comunicação daSEDS, Hugo Teixeira, admiteque as necessidades da Alk-min sejam muitas por esta seruma unidade prisional da dé-cada de 30. “Sempre que ne-cessário, reparos de emer-gência são feitos.

Os investimentos prioritá-rios do governo estadual nosistema prisional são a am-pliação do número de vagas ea redução de seu déficit”.O as-sessor lembra que Minas nãoconta com unidades prisionaisfederais, portanto, o estadoarca com o ônus, já que nãohá repasses do Fundo Peni-tenciário Nacional (Funpen)do Ministério da Justiça parao estado.

Segundo Galbert, está sen-do realizada na Alkmin umareforma de toda parte hidráu-lica e elétrica que custou R$120mil, além da construção de umnovo alojamento. “As licita-ções não podem ultrapassarR$150 mil”, conta.

Outro drama enfrentadopela Alkmin, segundo o dire-tor administrativo é a falta defuncionários e armas de gros-so calibre. “Precisamos deequipamentos não letais, co-mo bombas de gás lacrimogê-neo, escudos e capacetes, in-dispensáveis à contenção derebeliões. Há ainda a carênciade veículos e equipamentos deinformática”.

Os agentes externos, queficam nas muralhas e laterais,utilizam as armas de fogo pu-ma e calibre 38. Já os internosusam apenas tonfas, uma es-pécie de cacetete. Hoje a Alk-min tem 300 agentes. Destes,a minoria são efetivos. “O idealseria que tivéssemos em cadaequipe dentro dos pavilhõespelo menos 100 agentes.Quanto ao número de contra-tados, é maior devido a nãoabertura do concurso”, infor-ma José Carlos.

Atual DireçãoA direção recebe elogios

pelo trabalho feito na recon-dução de sentenciados, embo-ra a última rebelião tenhaocorrido em 2002. “Antes erao preso quem dava as ordensdentro da cadeia. Os agentesjá não tinham mais estímulopara trabalhar”, relembra o di-retor de segurança.

O agente Rubens Ribeiro,26 opina que “uma má admi-nistração pode gerar rebe-liões, assim como regalias de-mais aos sentenciados”. LuciSilva, 49, funcionária da Se-cretaria de Defesa Social, há25 anos na Alkmin, afirma quehoje os funcionários se sen-tem mais seguros. “Antes, norefeitório tínhamos um con-tato corpo a corpo com maisde 600 presos num intervalode uma hora e meia. Hoje ape-nas três presos trabalham co-nosco”, diz.

Outro fator que incita re-beliões é a alimentação, querequer uma atenção especial.De acordo com a nutricionis-ta da empresa responsável pe-la alimentação da penitenciá-ria Renata Viana, a seguran-ça é fundamental. “Se eu sou-ber de um prato que vai de-sagradar aos sentenciados,troco”, explica.

Colaborou: Ana Paula Ferreira

A poucos metros do ponto final do ônibus 5527 emRibeirão das Neves-MG, encontra-se uma simples can-cela e uma guarita que abrigava um funcionário da pe-nitenciária José Maria Alkmin. Nenhum isolamento,senão a cancela, impedia o acesso ao local. Esta vul-nerabilidade foi a primeira impressão que a equipe dojornal O Ponto teve da penitenciária mais antiga deMinas.

Após nos identificarmos, portando uma autoriza-ção do diretor geral da casa, Solon Eustáquio de Cas-tro, nossa entrada foi autorizada. Caminhamos algunsmetros até a censura, outra guarita. Neste trajeto, numambiente que remete a idéia de uma vila, descobrimosque alguns funcionários abrigam as casas distribuí-das pelo local. Além das moradias, na área existe tam-bém um museu histórico e um centro destinado à rein-tegração do sentenciado, a Ceapa - Central de Apoioàs Penas e Medidas Alternativas.

Ao sermos identificadas na censura, que se limitoua recolher nossos pertences e guardá-los em um es-caninho, sem sequer fazer em nós alguma vistoria, pas-samos pela primeira portaria acompanhadas de umaagente penitenciária que esteve conosco até bem pró-ximo do final desta jornada.

Uma enorme ansiedade tomou conta de nós. A von-tade de apurar o que estava intra-muros foi maior doque qualquer receio que o sistema penitenciário pos-sa instigar.

Fomos conduzidas primeiramente ao gabinete doatual diretor de segurança, José Carlos de Souza, nosistema há mais de 25 anos, que solicitou que fôsse-mos acompanhadas por todo o tempo por dois agen-tes penitenciários que se revezavam a fim de atende-rem sua demanda de trabalho, cuidar da nossa segu-rança e dos nossos passos.

Com este critério, adentramos ao sistema.

Um passo além da cancela

SOCORESTRUTURA PRECÁRIA DA PENITENCIÁRIA JOSCOMPROMETE SEGURANÇA E DIFICULTA REIN

LUCIANA RIBEIRO

6º PERÍODO

08 e 09 - Especial - Ana Paula 06.04.06 16:15 Page 1

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E S P E C I A L 9

página: Ana Paula Ferreira

ontote – Abril/2006

"Matei meu irmão e a espo-sa dele porque batiam muitoem minha mãe. Artigo 121, cri-me hediondo, homicídio". As-sim, Marcos Dell-Orto, 36, deResplendor–MG, em condicio-nal desde agosto de 2002, seapresenta à equipe do jornal OPonto.

O sentenciado que estevena penitenciária José MariaAlkmin em regime fechado esemi-aberto nos conta como es-ta contribuiu para sua reinte-gração social. Segundo ele,trinta dias após ter adentradoao sistema já estava trabalhan-do com atividade remunerada.

O convite partiu de funcio-nários da penitenciária e elesoube aproveitar a oportuni-dade. Marcos conta orgulhosoque procurou estudar, já quechegou à penitenciária prati-camente analfabeto. "Foi mui-to bom para preencher o tem-po ocioso, além de reduzir apena. O aprendizado é algo queninguém tira de você", diz. Em99, após passar para o regimesemi-aberto, começou a estu-dar em escolas fora do am-biente penitenciário o que per-mitiu que cursasse o 2º grau

(supletivo) e se formasse em de-zembro de 2001. Seu bomcomportamento lhe propor-cionou ainda neste ano, antesmesmo de receber a condicio-nal, um emprego fixo comomotorista na Eldorado. Paraele, foi isto que contribuiu pa-ra que pudesse buscar sua res-socialização.

Nesta fase, fala que foi bemacolhido pela sociedade e quenunca sofreu com discrimina-ção. "Nunca senti nenhuma in-diferença. Sempre souberamque eu estava e ainda me en-contro em condicional. Na es-cola, todos sempre me trataramcom muito carinho. Mas, tenhoconsciência que meu caso é iso-lado", comenta. No entanto, al-gumas das pessoas que esta-vam sentadas em mesas aonosso redor, se levantaramquando o mesmo relatou o de-lito que havia cometido.

Devido à ociosidade, muitossentenciados, segundo Marcos,passam a maior parte do tem-po pensando numa forma deescaparem da penitenciária eretornarem ao crime. Cita o cri-me que cometeu como um pro-blema de ordem familiar. Diz

que antes sempre trabalhou,que nunca havia se envolvidocom drogas nem cometido cri-me algum. Confessa que se ar-repende do que fez, portantonão se considera um bandido."Alguns presos entram ali eacham que aquilo é o fim da vi-da deles. Para esses não há pos-sibilidade de reintegração. Otrabalho que tem que ser feitoé identificar o perfil de cada pre-so. O que levou o preso a co-meter aquele crime. Aí você temcomo identificar se ele é bandi-do ou não", opina Marcos. Napenitenciária sempre preferiuficar sozinho para evitar pro-blemas. "Às vezes um colegaapanha e você acaba se envol-vendo", conta.

Casado e pai de uma meni-na de um ano e meio, Marcostem planos de continuar os es-tudos e prestar concurso paraagente penitenciário. "Quero fa-zer o concurso e trabalhar namesma penitenciária em quepassei todos esses anos, parapassar para as pessoas que es-tão lá que se eu tivesse deixadominha vida acabar ali eu não te-ria chegado aonde cheguei. Es-te é o meu sonho", conclui.

Ao chegar a Alkmin o sen-tenciado é informado das nor-mas do sistema, dos benefíciose serviços oferecidos. Este tra-balho chama-se Acolhida. Lo-go se inicia o processo de ela-boração do PIR (Programa In-dividualizador de Ressocializa-ção), que consiste numa entre-vista com o núcleo de avalia-ção, composto por um assis-tente social e uma psicóloga.Este também passará por umaavaliação do núcleo de saúde.Todas as informações são re-gistradas em um prontuário, vi-sano padronizar o atendimen-to.

Raquel Nogueira, 48, psicó-loga da SEDS, que atua na Alk-min há sete anos como con-tratada admite que há carên-cias que comprometem a res-socialização. “Estamos em rees-truturação, com menor frentede trabalho e cursos técnicos.Falta possibilidade de profis-sionalização, que comprometediretamente a readaptação so-cial e emocional do sentencia-do. Sem trabalho, fica ocioso”,explica Raquel.

O semi-aberto Rubert Silva,35, no sistema desde 94 por as-salto a banco, diz que o as pou-cas oportunidades de trabalhooferecidas não garantem umafutura atuação no mercado,pois “a maioria das atividadessão agrícolas e os sentenciadosde centros urbanos”, relata.

A coordenadora do Cesec(Centro de Ensino SuplênciaContinuada), escola situada naAlkmin, Rejane Marza, acredi-ta no trabalho que faz com ossentenciados. “Estamos volta-dos à reintegração. Com rigi-dez é dado uma chance aos quequerem aprender. São poucos.O interesse maior é a remissãoda pena”, lamenta Rejane. A ca-da três dias estudados ou tra-balhados, o sentenciado tem di-reto a um dia de redução da suapena. Mauro Garcia, 43, cum-pre pena por tráfico de drogasdesde 2003. Em geral, sente-sesatisfeito com o que a Alkminlhe proporcionou. Porém quei-xa: “há vários sentenciados queainda têm muita cadeia parapagar e que está repetindo a 8ªsérie porque aqui não tem 2º

grau. Deveria ter mais oportu-nidades de trabalho”, desaba-fa. De acordo com a coordena-dora, está sendo pleiteado ocurso médio junto à SEDS. Noentanto, “a demanda que temosé insuficiente. Disseram quetalvez ainda este ano”, informa.

No espaço destinado aos se-mi-abertos fica a CEAPA –Central de Apoio às Penas eMedidas Alternativas. O órgãopossibilita ao egresso até umano extinto da pena a oportu-nidade de ressocialização, en-caminhando-o a cursos profis-sionalizantes custeados, inclu-sive o transporte, pela SEDS.

Denilton Lima, 31, há seisno sistema por homicídio, achaque a reintegração depende dosentenciado, mas este precisado apoio da sociedade que de-veria dar-lhe uma chance. “Émuito fácil julgar”, desabafa.Para ele, a penitenciária deve-ria ajudá-los com uma carta en-caminhando-os a um emprego.“ Para os que não conseguemtrabalho, retornar ao crime tor-na-se uma questão de tempo”,opina.

Alkmin: carências e falta deinteresse de sentenciados

Sentenciado em condicional éexemplo de força de vontade

Fundada em 1938, apenitenciária maisantiga do Estado deMinas necessita dereformas urgentes emsua estrutura

Marcos Dell-Orto, em condicional, almeja tornar-se agente penitenciário na José Maria Alkmin

Luciana Ribeiro

Ana Paula Ferreira

RRO!SÉ MARIA ALKMIN EM NEVESNTEGRAÇÃO DE SENTENCIADOS

SEGURANÇA Reintegração x Oportunidade de TrabalhoJoão Hudson e Rafael Matos

08 e 09 - Especial - Ana Paula 06.04.06 16:15 Page 2

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C I D A D E10 o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor da página: Ana Carolina Cervantes / Diagramador da página: Daniel Gomes

Obras no metrô ameaçam comércioANA PAULA MACHADO

5º PERÍODO

Os 55 estabelecimentos co-merciais da estação do metrôde Belo Horizonte, terminal doEldorado, que oferecem osserviços de lanchonete, sor-veteria, tabacaria, chaveiro,banca de noticias e bijuteriasaos usuários, podem ser fe-chados. As obras de revitali-zação do metrô iniciadas pelaCBTU (Companhia Brasileirade Transportes Urbanos) emdezembro de 2005 é o argu-mento que faltava para aCBTU pressionar a saída doscomerciantes do local.

Os comerciantes permane-cem na estação por contrato as-sinado com a CBTU que per-mite a utilização da área per-tencente ao governo federal. Osestabelecimentos notificados, oRei do Kibe, a Pastelândia, a Ta-bacaria do Zazá e a Bombo-nielle Sorveteria, em outubro de2005, entraram com uma açãoque ainda está em andamento.

Segundo Edson Amorim,45, coordenador de obras dometrô de BH, a área comercial,será substituída por um novocentro comercial, com a con-tratação de outros funcioná-rios pela companhia. De acor-do com Amorim, a CBTU nãopossui controle sobre os gas-tos de água e energia elétricarealizados pelos comerciantesnotificados.

ImpasseO aluguel dos locais varia

de R$ 316 a R$ 3.300. Carla Ro-drigues dos Santos, 29, daBombonielle Sorveteria dizque a CBTU não tem argu-mentos suficientes para retiraros comerciantes que estão emsituação regular e com todadocumentação em dia.

A CBTU vai investir R$1milhão e 600 mil nessas obrasque fazem parte de um proje-to para a linha Eldorado/Vila-rinho, que existe há dois anos.Com a revitalização, é previs-ta a retirada de cerca de 300pessoas. “São 15 anos traba-lhando aqui e não acho corre-to a gente simplesmente sairsem indenização”, afirma Ri-cardo Solto, 42, comercianteda Tabacaria do Zazá.

A CBTU, segundo Oswal-do Bispo, 28, gerente da Pas-telândia, tem de garantir o ser-viço dos funcionários. “Tenhodois filhos, um de 7 anos e ou-tro de 1 ano e 2 meses e só te-nho esse serviço”, conta Os-waldo. Os comerciantes co-lheram 8 mil assinaturas e rea-lizaram manifestações na bus-ca de um acordo. Entretanto,nada foi resolvido pela CBTU.“Não dizem se vamos voltar oucriar outro espaço e como is-so será feito”, diz ValdivinoFernandez, 36, gerente do Reido Kibe.

Grande parte dos comer-ciantes tem muito tempo deserviço na estação Eldora-do/Vilarinho e temem a difi-culdade de outro emprego nocaso de serem demitidos.

Os objetivos principaisdas obras de revitalização naestação Eldorado, afirma Ed-son Amorim, são os de ga-rantir a integração metrô/ôni-bus, aumentar o número daslinhas de ônibus com a cons-trução de plataformas para aslinhas, bem como reorgani-zar o espaço interno da esta-ção. Os estabelecimentos po-deriam ser mantidos ou mes-mo regularizados em conjun-to com a revitalização do es-paço, pois as obras não atra-palham o comércio presenteno local.

Mariana Celle

CBTU INVESTIRÁ R$1,6 MILHÃO NA REVITALIZAÇÃO, MAS COMERCIANTES TEMEM EXPULSÃO

Belo Horizonte recebe ‘maquiagem’ para BIDGOVERNO DE MINAS E PBH SE EMPENHAM PARA REUNIÃO DA CÚPULA FINANCEIRA MUNDIAL E REFORMAM CAPITAL

ANA LUÍSA BARCELOS E

LAURA AGUIAR

5º PERÍODO

O evento com a cúpula fi-nanceira mundial, que reuniu47 países na capital mineira,obrigou o Governo de MinasGerais e a prefeitura de BeloHorizonte a acelerar diversasobras para receber os cerca desete mil participantes. A reali-zação da 47ª Reunião Anual doBanco Interamericano de De-senvolvimento (BID), entre osdias 28 de março e 5 de abril,fomentou consideráveis inves-timentos estruturais em diver-sos setores de BH. Algumasobras já estavam sendo execu-tadas e foram aceleradas deacordo com as necessidades dareunião. As mudanças fazemparte do processo de interna-cionalização da cidade, peloseu potencial no desenvolvi-mento do turismo de negócios.

A avenida Amazonas, viade melhor acesso à sede oficialdo evento, foi recapeada e re-formada num trecho de 10 qui-lômetros (da rua dos Caetés,no centro da cidade, até a pra-ça Magnesita, na divisa com omunicípio de Contagem) de-pois de alguns anos de espera.

Recapeada pela última vezem 1994, o projeto só foi ini-ciado em 20 de janeiro desteano, quando a verba foi libe-rada pelo governo do estado.Também naquela região foiconstruída uma passarela queliga o metrô do bairro Coração

Eucarístico à sede do encon-tro, o Centro de Feiras e Ex-posições de Minas Gerais (Ex-pominas), na qual foram dis-cutidos os rumos políticos daDiretoria Executiva a serem se-guidos ao longo do ano. Am-bas as obras – avenida e pas-sarela - foram financiadas pe-lo governo federal, num custode mais de R$ 9 milhões.

O Expominas transformou-se no mais moderno centro deconvenção do país com capa-cidade para 45 mil pessoas. Étambém o único a oferecer cli-matização e tratamento acús-tico e conta com 500 pontos detelefonia, detecção e alarmecontra incêndio e segurançaeletrônica, custando um totalde R$152 milhões, sendo maisde R$40 milhões só com a re-frigeração do local. “A 1ª eta-pa da obra já existia. Foi ini-ciada no governo de EduardoAzeredo, mas agora faltava asua arrancada final”, afirmouo prefeito da capital, Fernan-do Pimentel, durante a coleti-va de inauguração do Expo-minas.

Outra importante reformafoi a do Aeroporto Internacio-nal Tancredo Neves, em LagoaSanta (Grande BH), realizadapela Infraero. O investimentode cerca de R$ 4,5 milhões pos-sibilitou a revitalização da pin-tura para garantir mais clari-dade ao local e a reforma dasescadas rolantes, além da ins-talação de um elevador parapessoas portadoras de defi-

ciência e pontes, ambos naárea de desembarque.

Setor privadoDiversos estabelecimentos

também mudaram para aten-der à demanda do encontro.Rodrigo Mangeratti, gerentecomercial do Mercure Hotel,que fica na Av. do Contorno,no Lourdes, explica que devi-do ao encontro do BID, váriasmodificações foram realizadas,como a reestruturação da suí-te Jr. (troca de carpete, im-plantação de móveis e aquisi-ção de utensílios novos), a re-forma do piso das áreas sociaise o reforço no sistema de se-gurança digital. “Esses são ostrês, talvez, os maiores inves-timentos, além do investimen-to no funcionário”, afirma Ro-drigo, referindo-se ao treina-mento de cerca de 70% de seusfuncionários.

SegurançaO esquema de segurança,

reforçado para o evento, foicomposto pela Polícia Militar,responsável pela supervisão,as Polícias Civil e Federal e oCorpo de Bombeiros. Ainda fo-ram utilizados 200 veículos, en-tre automóveis, camionetas ouminivans, 45 vans ou doblôs eônibus, e as urgências médicastambém receberam atenção es-pecial para assegurar o coti-diano da população, mas prin-cipalmente a fim de evitarmaiores complicações duran-te o encontro.

Obras da discórdia: apesar da boa iniciativa, CBTU não entra em um acordo com os comerciantes que atuam na estação Eldorado

Expominas em obras: mais moderno centro de convenções do país e capacidade para 45 mil pessoas

Mariana Celle

10 - Cidade - Ana Carolina 06.04.06 16:15 Page 1

Page 11: Jornal O Ponto - abril de 2006

M Í D I A 11o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Daniel Cerqueira

LONGA SOBRE VIDA DO JORNALISTA TRUMAN CAPOTE MOSTRA OUTRO LADO DESSA RELAÇÃO LAURA CARVALHO

FABIANA COLARES

3º PERÍODO

O filme "Capote", do dire-tor Bennet Miller, retomouuma discussão que teve seuauge nas décadas de 60 e 70 eandava esquecida: a funçãodo “Jornalismo Literário”. Ga-nhador do Oscar de melhorator para Philip SeymourHoffman no papel do jorna-lista Truman Capote e indica-do a outros quatro – melhorfilme, diretor, roteiro adapta-do e atriz coadjuvante –, anarrativa recria as condiçõesem que foi escrita sua obra-prima: A sangue-frio, do pró-prio Capote.

O livro é considerado umdos maiores romances do sé-culo XX, sendo valorizado tan-to do ponto de vista jornalísti-co quanto do literário. A obra,em conjunto com outras comoA luta de Norman Mailer e No-tícia de um sequestro de Gar-cia Márquez, compuseram omovimento – que aconteceuprincipalmente nos EstadosUnidos – conhecido como “No-vo Jornalismo”.

O filmeO longa é baseado na his-

tória que começa em 15 de no-vembro de 1959, quando a fa-mília Clutter é encontrada mor-ta em seu rancho em Holcom,Kansas/EUA. Capote, que nes-sa época era colaborador darevista The New Yorker, já de-vidamente conhecido pelo ar-tigo que daria origem ao filmeBonequinha de luxo, decideviajar para a cidade atrás de al-guém que lhe fornecesse os de-talhes sangrentos da tragédia.

Capote percebeu que pos-suía um vasto material a serexplorado e ganha permissãode seu editor para aprofundara matéria, que mais tarde setransformaria no livro.

Para se ter uma idéia sobreCapote, não podemos esque-

cer de que ele se tornou famo-so não só por ser competentecomo escritor e como jorna-lista. Ele era egoísta, melin-droso, efeminado e de voz fi-na.

Para o professor mestre emLiteratura Fabrício Marques,ele era uma “persona” e soubefazer marketing. Foi conside-rado um dos precursores des-sa corrente do jornalismo. OsSertões, de Euclides da Cunha,foi escrito muito antes da exis-tência de Capote, mas ele sou-be aproveitar a oportunidade.

Uma outra questão polê-mica retratada no filme, quetambém pode ser aplicada aoutros autores que seguiramessa corrente, é a relação coma fonte. Capote se tornouamigo dela durante o tempoem que se dedicou para es-crever a série de reportagensque resultaram no livro Asangue frio. Nesse ano e meioque investigou o caso, seaproximou tanto de suas fon-tes que chegou a ponto dementir para conseguir infor-mações. “Apesar dos meiosque ele se utilizou, não se po-de negar que ele tinha umdom natural de escrever”,afirma Marques.

Para o professor e jorna-lista Alexandre Freire, é es-sencial que o jornalista apurepessoalmente e não por tele-fone ou por e-mail. Segundoele “lugar de jornalista é narua”. Além disso, é ideal queo redator esteja conectadocom a fonte e com o assuntotratado. “Aquele praticante doJornalismo Literário tem queser capaz de estabelecer rela-ções. É preciso que ele capteo que a fonte diz, não o que eladeclara, porque assim, ele po-derá perceber o que está portrás daquele fato”. Desta for-ma, o jornalista tem elementopara que a dimensão poéticanão seja perdida. Com o in-tuito de conservar esses as-pectos, Truman não anotava

suas entrevistas; ao invés, eleguardava mentalmente asconversas e era capaz de lem-brar de 94% de tudo para de-pois transcrever palavra porpalavra. Após a morte dos as-sassinos – sentenciados a for-ca – Capote declarou publica-mente que ficou aliviado ao sa-ber que ambos foram conde-nados a morte, pois de formacontrária, A Sangue Frio po-deria jamais ser publicado,pois a morte dos mesmos erao final que ele tanto aguarda-va para seu livro.

AtualmentePara Fabrício Marques, o

jornalismo que segue o lide epretende ser objetivo tenta or-ganizar um mundo que é con-fuso e “tem a tendência dequerer tornar ortodoxo ummundo que é heterodoxo”. Jáo Jornalismo Literário faz ocontrário: mostra toda a com-plexidade existente na reali-dade.

De acordo com SandroVaia, diretor de redação do Es-tado de São Paulo,"a relaçãofonte e jornalista precisa seracima de tudo honesta, comoem tudo nas relações huma-nas. Um grande furo de re-portagem jamais poderá serobtido se o respeito à ética nãofor mantido”.

Em seu livro A arte de fazerum jornal diário, o jornalistaRicardo Noblat afirma que nãoda certo fazer amizade comfontes de informação. "Elasimaginam que você as poupa-rão por serem amigos. Se nãoforem poupadas, se sentirãotraídas e acumularão mágoas".Noblat afirma também que ojornalista deve ser uma pessoade poucos amigos. Não bastaapenas possuir uma fonte. Énecessário que o jornalista sai-ba cuidar dela, "procurá-lassempre. Nem que seja para jo-gar conversa fora", explica No-blat.Colaborou: Camila Coutinho

Phillip Seymour como Trumam Capote: notável pelo relacionamento que mantinha com as fontes

Exercite sua imaginação

Nasceu a 13ª Agência Modelo

Ética e justiça na notícia

HENRIQUE FARES

5º PERÍODO

Se por um lado o filme “Ca-pote”, de Bennet Miller, retra-ta um jornalismo mais humano– aquele egocêntrico e exibi-cionista, sempre atrás de umfuro de reportagem doa aquem doer - o filme “Boa noi-te, Boa Sorte” de George Cloo-ney mostra a outra face do jor-nalismo, a justa, leal, apruma-da, do jornalista que se preo-cupa com os valores éticos etenta assim melhorar o mundo.

A história, ambientada nosanos 50, mostra uma paranóiaanti-comunista que deu-se ini-cio quando o Senador de Wis-consin, Joseph McCarthy, queinaugurou uma verdadeira se-mi-ditadura nos EUA, taxandode comunista e inicianou umacaça as bruxas a todos aque-les que não concordavam comseus atos administrativos. Épor esse cenário de inseguran-ça que o filme passeia, mos-trando o âncora de TV EdwardR. Morrow ( David Strathairn ), o produtor Fred Friendly (opróprio Clooney ) e sua equipede repórteres desafiando o go-verno em sua luta para apre-sentar os dois lados da nebu-losa questão. Em seu progra-

ma, Morrow - que usa o bor-dão "Boa noite e boa sorte" co-mo frase de encerramento - re-vela o jogo sujo de McCarthye torna-se alvo do senador, ini-ciando um acalorado debatepela liberdade de expressão econseqüente queda deMcCarthy.

Ao contrário de Capote,Murrow não fazia jornalismopara fama ou para si mesmo,muito pelo contrário, seu com-

promisso estava totalmentevoltado com a verdade e parao público. “Nós (jornalistas) nãocriamos a notícia. Nós apenasdivulgamos”

Se o tópico de liberdade deexpressão já era relavante nadécada de 50 parece ainda maisimportante hoje, tempos emque a integridade na mídia e napolítica rareia a cada eleição, acada renovação editorial. Cloo-ney tem plena consciência dis-

so e a mensagem está lá praquem quiser - ou puder - en-tender. Sai o macartismo, en-tra o Bush do Patriot Act, a FoxNews, sai o comunismo e en-tra o terrorismo. Tudo implíci-to, mas a crítica é incisiva.Porisso, “Boa Noite e Boa Sorte”não se trata de um filme sobrealgum acontecimento históri-co que pode ser considerado“morto e enterrado”. É sim, umfilme que se torna ainda me-lhor, pela impressionante con-temporaneidade de seu tema.

Vale lembrar que, não fazmuito tempo, o atual governofederal brasileiro tentou reim-plantar a censura aos órgãosde comunicação, principal-mente os eletrônicos.Não épreciso então ir muito longepara achar situações seme-lhantes aquelas mostradas nofilme.

A influência da película foitão grande que um site espe-cial foi criado com a exclusivafinalidade de incentivar a so-ciedade a participar nas ques-tões da imprensa, localizadoem www.participate.net. Talvezcom isso e - alavancado pelasindicações ao popular Oscar -o filme até consiga abrir algunsolhos. Quem sabe? Boa sortepara todos nós.

Jornalismo “a sangue frio”Attila Dory/Sony Pictures Divulgação

“Nós (jornalistas)não criamos anotícia. Nós apenas adivulgamos.”

Edward R. Morrow

FILME DE GEORGE CLOONEY “BOA NOITE, BOA SORTE”REVELA A NOBREZA E SUTILEZA DAS INVESTIGAÕES

11 - Mídia - Daniel Cerqueira 06.04.06 17:00 Page 1

Page 12: Jornal O Ponto - abril de 2006

S A Ú D E12 o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Aline Valério

Doação de orgãos ainda é tabu QUANTIDADE DE CIRURGIAS PARA TRANSPLANTES É INSUFICIENTE EM MINAS GERAIS

FABIANA BARRETO,MARINA RIGUEIRA E

RAQUEL VALLE

1ºPERÍODO

O pai do estudante José Li-ma, 25, precisa de um rim e en-trou para a fila dos transplan-tes há dois meses. Ele é mais umentre as 4.291 pessoas que es-tão na mesma fila esperandopor um novo rim.

José já viu essa cena em ou-tra ocasião: “Eu perdi um tioque aguardava o mesmo órgão.Temos esperança e medo. Elenão pôde esperar muito e temoque meu pai também não con-siga”, conta o estudante.

Doar órgãos e tecidos temuma grande importância, nãosó a de salvar vidas. Muitas ve-zes essa prática alivia a dor dafamília que perde alguém, co-mo se o ente querido pudessecontinuar vivo em outra pessoa.

Mesmo assim, grande par-cela da população ignora essesfatos, muitos devido à falta deinformação e de interesse, e en-quanto isso, o número de can-didatos a transplantes inscritosna longa lista de espera crescecontinuamente.

Comissões As chamadas Comissões In-

tra Hospitalares de Doações deÓrgãos e Tecidos existem emhospitais com mais de 80 lei-tos. São comissões médicas,compostas por, no mínimo,três membros e foram criadashá cerca de três anos. São no-meadas em atos formais das di-reções dos hospitais ondeatuam e todos os médicos de-vem ser diretamente vincula-dos à diretoria desses hospi-tais. Um dos membros é eleitocoordenador e deve participarde um curso específico paraexercer o cargo.

Os integrantes são respon-sáveis pela detecção de possí-veis doadores e devem viabili-zar o diagnóstico de morteencefálica, primeiro passo pa-ra iniciar o processo de retira-da dos órgãos. Eles estudamas leis relacionadas ao trans-plante de órgãos no Brasil, en-tre outras práticas necessáriaspara exercer bem seu traba-lho, que tem por pressupostoa diminuição da imensa fila deespera.

Além disso, as comissões es-tão articuladas com as centraisde captação de órgãos e tecidospara viabilizar o processo.

ProcedimentosO procedimento padrão co-

meça quando o coordenador dacomissão faz o processo deabordagem dos familiares dopossível doador e em seguida oMG Transplantes é acionado. Épreciso que dois médicos dife-rentes realizem os testes paracomprovação da morte encefá-lica, em um intervalo de tempoque varia de acordo com a ida-de do doador. O protocolo obe-dece à resolução do ConselhoFederal de Medicina e é igualpara todos os hospitais, sejameles públicos, particulares ou fi-lantrópicos.

Após o resultado começa abusca pelo receptor, que estaráentre os vários inscritos na lis-ta de espera. Os candidatos àcirurgia são cadastrados comtodas as indicações necessáriaspara que a localização seja rá-pida. Esse procedimento ajudana verificação de compatibili-dade do organismo do recep-tor para o transplante que logoserá feito.

Esses receptores são classi-ficados e agrupados em ordemestabelecida pela data de ins-crição e pelas características decompatibilidade do organismo.

O que provoca a quedaO número de cirurgias de

transplantes realizadas em to-do o país vinha obtendo umacurva crescente desde o ano de1993. Entretanto, em 2005 foiobservada uma grande quedao que não foi diferente para oestado de Minas Gerais.

Segundo o médico MauroCarneiro, do MG transplantes,a queda existe devido ao maufuncionamento das ComissõesIntra-hospitalares de Órgãos eTecidos, já que elas não fazemo que efetivamente deveriam etêm como obstáculo adicionala escassez de recursos.

Segundo a assessoria doMG Tranplantes, não existeuma explicação concreta paraa queda e que o número detransplantes caiu em vários es-tados. Alega ainda que o go-verno do estado tem investidobastante.

Quem acompanha a pro-gramação veiculada pela mídiaem geral já viu que, embora aqueda do número de trans-plantes seja crescente, nenhu-ma peça publicitária foi pro-duzida para tentar reverter oquadro. Assim como as pro-pagandas em favor da doaçãode sangue têm alcançado bonsresultados, projeto semelhan-te seria valioso para conscien-tizar a população sobre a im-portância de doar órgãos e te-cidos.

A estudante Lúcia Macha-do, 23, conta que tinha medode doar sangue, mas mudou deidéia depois de ver algumaspropagandas na tv. “Parecia fá-cil, então procurei o Hemomi-nas. Se o MG Transplantes fi-zer algo assim também vai fun-

cionar. Eu só vejo cartazes de-les em hospitais”, declara.

A aposentada Maria JoséCosta, 76, também acredita naeficiência dos apelos publicitá-rios e torce para que um dia lis-ta de espera dos transplantesseja algo menos penoso. O fi-lho mais velho de Maria Josésofria de diabetes e faleceuaguardando um transplante derins. “Com mais campanhas,principalmente na tv, as famí-lias ficariam sensibilizadas enão negariam a retirada de ór-gãos”, opina Maria.

O MG Transplantes con-corda que a publicidade é im-portantes e lançará uma novacampanha este ano. Contudoafirma que a falta delas não éo motivo da queda. Colaborou: Aline Valério

Publicidade pode ajudar

Embora muitos pensemque a infecção hospitalar é ogrande obstáculo para a efe-tivação da doação de órgãos,na prática não é isso queocorre. Segundo o Dr. Mau-ro Carneiro, do MG Trans-plantes, a infra-estrutura tec-nológica dos hospitais temevoluído de forma satisfató-ria, o que proporciona umacrescente diminuição dos re-gistros de ocorrência dadoença. "As infecções hospi-talares não têm relação dire-ta com a queda dos trans-plantes, mas a diminuição dosregistros, de certa forma,proporciona às famílias dos

receptores conforto e segu-rança", afirma.

Ainda de acordo com oDr. Mauro, existem apenasdois fatores que impedem aefetivação da doação dos ór-gãos. Um deles é a contra-in-dicação médica, que dependediretamente do doador. Nes-se caso, se for constatado queo paciente tenha tido algumadoença que possa compro-meter o receptor dos órgãos,como AIDS, ou hepatite, en-tre outras, o transplante nãopode ser feito.

O outro fator, muito maisfreqüente na rotina dos hos-pitais, diz respeito às famílias.

A maioria não autoriza a doa-ção, impedindo a retirada dosórgãos, e é nesse momentoque as Comissões Intra-hos-pitalares de Doação deÓrgãos e Tecidos deveriamatuar. "Pelas leis vigentes nãoé necessário que o possíveldoador tenha o seu desejo dedoação registrado em ne-nhum documento. Apenas afamília pode decidir se a doa-ção será ou não autorizada",explica o médico.

A secretária Regina Silva,53, faz questão de que sua fa-mília doe seus órgãos se hou-ver possibilidade. O marido,cujo nome ela não revelou, é

diabético e aguarda há doisanos por um transplante derins. “Ele sofre muito com assessões de Hemodiálise. Se eufosse compatível já teria doa-do um dos meus rins a ele. Éduro pensar que muitas fa-mílias podem doar os órgãosde parentes e se recusam a fa-zê-lo”, lamenta.

A queda acentuada do nú-mero também está relaciona-da ao número desproporcio-nal entre as doações de ór-gãos realizadas e o númeroassustador de pessoas quenecessitam deles, a maioriadisparada esperando há mui-to tempo por um rim.

Infecção hospitalar não é principal causaMG Transplantes: número de doações e cirurgias passam pela conscientização da população e pelo fim do preconceito

o pontoCRÍTICO

ALINE VALÉRIO

6º PERÍODO

Engana-se quem pensa queser o primeiro da gigantesca filados transplantes é sinal de con-tentamento. Assim que surge umórgão, os testes de compatibili-dade são feitos, obedecendo à or-dem de procura, mas muitas ve-zes aquele que ocupa o primeirolugar não é compatível ao órgãodisponível.

O drama de quem precisa deum transplante de rins é aindamaior, pois esse é hoje o órgãomais procurado dentre as pessoascadastradas na lista do MG Trans-plantes. Vários nomes estão lá porcomplicações causadas, princi-palmente, pelo Diabetes, que

atualmente atinge uma parcelaconsiderável da população.

Muitos, como eu, já perderamum pai que estava esperando porum órgão. Somente nós sabemosa dor e a angústia da espera, prin-cipalmente depois que se esgotamtodas as chances de um doadorda própria família ser compatível.

Se as coisas não mudarem enão houver uma mobilização,muitas pessoas ainda vão aguar-dar em vão, pois em pleno séculoXXI as famílias proíbem a retira-da de órgãos de entes queridossimplesmente por acharem que is-so é uma mutilação do cadáver.Isso sem contar as questões reli-giosas, às quais eu não me opo-nho e também não discuto.

Existem 5.398 pessoas aguar-dando por um transplante e gran-de parte pode ser salva apenascom um sim. Vale a pena pensarnisso com cuidado.

Henrique Lisboa

TRANSPLANTES Realizados em MinasRafael Matos

Cai o número total de transplantes realizados no estado

12 - Saúde - Aline Valerio 06.04.06 16:16 Page 1

Page 13: Jornal O Ponto - abril de 2006

E D U C A Ç Ã O 13o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Débora Resende

Lições de INTOLERÂNCIA

Invista em si mesmo.Invista em si mesmo.

A universidade amplia os horizontes eleva você rumo à realização dos seus sonhos.

Mas tudo isso só é possível com muitadedicação e trabalho.

Cada volta é um recomeço. A partir de agora a escolha é sua.

Tome uma atitude, valorize seu tempo .

A universidade amplia os horizontes eleva você rumo à realização dos seus sonhos.

Mas tudo isso só é possível com muitadedicação e trabalho.

Cada volta é um recomeço. A partir de agora a escolha é sua.

Tome uma atitude, valorize seu tempo .

PEDRO HENRIQUE VIEIRA

1º PERÍODO

“Quem você pensa que é?Dobra a sua língua pra falarcomigo, porque sou eu quempaga seu salário!” Insulto co-mo estes são cada vez maisfreqüentes e comuns dentrodas salas de aulas nas escolasparticulares de classe médiade Ensino Médio e Superior.Segundo o aluno D.F.V, de 16anos que estuda no ColégioPromove, escola privada tra-dicional da capital, o desres-peito contra os professores éconstante dentro da institui-ção. “Uma vez um professorpegou um colega colando naprova, e tomou a sua avalia-ção. Revoltado, o aluno foi pracima desse professor, pra ba-ter mesmo!”, relata. D.F.V. dizque a agressão só não acon-teceu porque outros colegas efuncionários impediram. “ Omenino ameaçou dizendo queo seu pai, que é vereador, vi-ria na escola e colocaria o pro-fessor na rua”, complementa

A intolerância às regras, afalta de limites na educação e ofato de estarem pagando peloensino são algumas das razõesda dificulade de relacionamen-to entre professores e alunosda rede privada, de acordo coma psicóloga Lúcia Couto, tera-peuta infanto-juvenil, especia-lizada em orientação familiar.Segundo a psicóloga, esse des-respeito é fruto da má educa-ção dentro de casa. Hoje ospais, por não terem tempo dis-ponível, acreditam, ainda quepor conveniência, que o fato deestarem pagando alto pelo en-sino, os deixa “livres” da tarefade educar seus filhos. Os paisjogam a responsabilidade deuma boa educação apenas pa-ra a escola, mas não conside-ram que os professores são areferência da instituição”, ava-lia Lúcia. A psicóloga comentaque o professor hoje não é maisvisto dentro da sociedade co-mo um mestre. “Isso é culpatambém da coordenação dasescolas que muitas vezes nãose preocupam em formar o la-do humano do estudante.Visammais o interesse mercadológi-co do que há por traz do alu-no”, ressalta a psicóloga.

Uma pesquisa inédita reali-za pela UNESCO em 2003, como tema “Violência nas Escolas”,mostra que 1/5 dos 33.655 alu-nos e 3.099 professores entre-vistados em 14 capitais brasi-leiras já presenciaram atos deviolência nas escolas.

A coordenadora de ensinodo colégio Arnadinum, MariaIsabel Isoni, diz que o coman-do de sala depende também doprofessor. “Ele deve demons-trar autoridade e impor res-peito no início do curso.” Acoordenadora relata que mui-tos não respeitam o horário dejogar bola, e quando são re-preendidos ofedem os funcio-nários.”Eles falam que estãopagando e por isso podem jo-gar na hora que quiser”, con-ta Maria Isabel.

O professor de Informáti-ca da Feamig (Faculdade deEngenharia de Minas Gerais)Arízio Alves das Neves tam-bém afirma que muitos alunosse acham melhores e se colo-cam na posição de donos daescola pelo fato de estarempagando. “Muitos deles se re-ferem ao professor como umempregado e fazem exigên-cias”, conta Arízio que tambémculpa os pais: “Sou professorhá 16 anos, e percebo que ospais atualmente não se preo-cupam em ensinar valores mo-rais aos filhos, usando a faltade tempo como desculpa”,avalia o professor.

A diretora do Sinpro-MG(Sindicado dos Professores deMinas Gerais), Celina Arêas,conta que a maioria das esco-las particulares “abafam” ca-sos como estes para que a im-prensa não manche a imagemdas instituições. Celina relataque ocorrem muitas situaçõesde agressões ao professoresem escolas privadas, mas pou-cos educadores chegam a re-gistrar. “Os professores da re-de privada muitas vezes nãodenunciam temendo serem de-mitidos. Na maioria das vezes,a escola se posiciona ao ladodo aluno”, relata a diretora”.

“Os jovens de hoje rece-bem toda condição para cons-truírem um país melhor, e é ta-refa dos pais cobrarem isso deseus filhos”, conclui a psicoló-ga Lúcia Couto

Violência émaior na redepública

Ameaças, agressão verbale física. A diretora do Sinpro,Celina Arêas conta quenas es-colas públicas é mais fre-qüente a violência contra pro-fessores. Muitos são tão pres-sionados que pedem demis-são pelo medo que incidentesmais graves possam aconte-cer. “Em algumas escolas é oaluno quem comanda a clas-se e não o professor.”,relataCelina.

A pesquisa “Vitimizaçãonas Escolas: Clima Escolar eAgressões Físicas” dirigida pe-la vice-coordenadora do Ob-servatório de Violência nas Es-colas no Brasil, Miriam Abra-movay, tem como objetivomostrar o relacionamento en-tre alunos e professores, e co-mo a violência está presentenas Redes Públicas de Ensino.A pesquisa foi realizada emcinco capitais e no Distrito Fe-deral, em 143 escolas públicasmunicipais e estaduais, commais de 12 mil estudantes, ten-do um resultado alarmante,pois 21,7% dos estudantes jáviram brigas com canivetes nasescolas e 12,1%, revólveres.

Quanto à relação entre osalunos e professores, o estudorevela que 10% dos estudan-tes indicam que o relaciona-mento é péssimo; e 47% que ébom. Mas nas entrevistas, osalunos ressaltam que “xinga-mentos” e agressão física co-mo cadeiradas são constantesem sala de aula. Alguns revol-tados com a impunidade che-gam a pedir demissão devidoà forma como são tratados, .

Maria de Lourdes Resen-de, professora da escola esta-dual Ribeiro de Oliveira acre-dita que deve haver uma maiorrigidez no ensino primário, pa-ra que o aluno desenvolva orespeito pelo professor. “Épreciso uma formação rigoro-sa dentro de sala para que ascrianças reconheçam o pro-fessor como um exemplo”,afirma a professora.

Desrespeito provoca pânico

CLIMA DE HOSTILIDADE ENTRE ALUNOS E PROFESSORES PROVOCA CONFLITOS EM SALA

No dia nove de março, umaluno de 15 anos do concei-tuado Colégio Santa Doro-téia,no bairro Sion, explodiuuma bomba caseira no ba-nheiro da escola. Dois alunosda mesma idade foram atingi-dos por estilhaços de vidro,mas por sorte não se feriram.

De acordo com o alunoJoão Soares, 18 , a explosãopoderia ter causado até víti-mas fatais. “A escola parou,houve um grande tumulto e sósoubemos tudo que aconteceurealmente depois. Muitas pes-soas ficaram chocadas, mastambém vi muitos rindo”, co-menta João. A direção do co-légio impediu o acesso da im-prensa, na tentativa de impe-dir a divulgação do ocorridomas os jornais locais noticia-ram o atentado. O jornal OPonto procurou a diretoria daescola que não se manifestouaté o fechamento dessa edição.

O aluno P.H.S, de 18 anos,do colégio particular PadreMachado, conta agressõesverbais acontecem todos osdias, tanto de professoresquanto de alunos. Ele já pre-senciou uma discussão que

quase ocasionou agressão fí-sica: "O professor ofendeu umaluno que conversava e que ti-rava notas ruins. Revoltado, oaluno começou a xingá-lo,chutou as carteiras e tentou jo-ga-lás no professor. O pessoalque impediu". Conta o jovem.

O assessor de orientaçãoeducacional do Padre Macha-do, Antônio Carlos Faria, dizque o professor não pode sesentir intimidado diante deuma agressão por parte de umaluno. Segundo ele, quandoocorre certos casos desse tipono colégio, a coordenação en-tra em contato com os pais pa-ra que eles tomem conheci-mento do ocorrido e ajudem aescola a evitar que a situaçãoaconteça novamente. “ É Mui-to importante que os pais par-ticipem plenamente da edu-cação de seus filhos”, diz.Tanto alunos quanto educado-res dizem que nada é feito pa-ra lidar com o problema daviolência, e esse descaso é umaforma da escola absorver es-tes impactos , equilibrando-seentre a ordem e a desordem,mas sem balançar a reputaçãoda instituição.

Reproduçãodo quadro“Duelo deGarrotazos”,de FranciscoGoya

Reprodução

13 - Educacao - Debora Resende 06.04.06 16:17 Page 1

Page 14: Jornal O Ponto - abril de 2006

F U M E C14 o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Eduarda Santos

Você, do 2º ao 7º período do curso de Publicidade e Propaganda, crie um anúnciode 27,09 x 14,5 cm em preto e branco sobre o tema do mês e entregue no LabPP.O melhor anúncio será publicado no jornalO Ponto com a assinatura do vencedor.

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Tema do mês :8 de Abril - Dia do Profissional de Marketing

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Tema do mês :8 de Abril - Dia do Profissional de Marketing

VitrineProjeto

NATHALIA DRUMMOND

PEDRO IVO CORREA

TARSILA COSTA

1ºPERÍODO

Criado em 1966, o ProjetoRondon é um dos mais impor-tantes projetos da história doBrasil. Inicialmente chamadode “Operação Zero”, a idéiapartiu de alunos da Escola deComando e Estado Maior doExército e tinha como objeti-vo proporcionar o contato dosestudantes com a Amazônia etrabalhar em benefício das co-munidades carentes da região.Com o seu sucesso, o projetose estendeu levando o nomedo Marechal Cândido Maria-no da Silva Rondon, militar ehumanista defensor dos povosindígenas.

O projeto ficou 18 anos pa-ralisado devido a desvios nomanuseio dos recursos finan-ceiros e ao envolvimentos dosorganizadores com correntespolítico-partidárias e ideoló-gicas, que o desvirtuavam desuas reais finalidades.

Em 2005, o projeto foi re-tomado por iniciativa da UNE,União Nacional dos Estudan-tes, em parceria com o Minis-tério da Educação e com oapoio dos demais Ministérios

– Forças Armadas, GovernosEstaduais, Prefeituras Munici-pais, Associação Nacional dosRondonistas, ONG’s, Organi-zações da Sociedade Civil deInteresse Público e Organiza-ções da Sociedade Civil – as-sumindo um novo formato.Neste novo modelo, para a via-bilização das propostas, foicriado um grupo Interminis-terial para estabelecer as dire-trizes e os objetivos do proje-to e definir a sistemática detrabalho a ser adotada.

As Instituições de Ensino,junto aos estudantes, são en-carregados da parte operacio-nal, contribuindo com o de-senvolvimento sustentável decomunidades carentes das Re-giões Norte e Nordeste do paíse de Minas Gerais.

A Universidade Fumec, em2005 participou da operaçãoAcre, em Assis Brasil, e em2006, das operações Amazô-nia, em Laranjal do Jari (AP),e Minas Gerais, nas cidades deItamarandiba, de PresidenteKubistschek e de Santo Antô-nio do Itambé.

A participação dos alunos,é voltada para a inclusão so-cial destas comunidades, vi-sando a conscientização dosdireitos e deveres dos cida-

dãos. “O objetivo em relaçãoaos alunos era uma formaçãointerdisciplinar viabilizada pe-lo contato com a realidade dascomunidades mais carentes ea formação de líderes que te-nham um olhar mais profun-do causado pelo acesso àque-la realidade brasileira, alémdisso aproximar o ministérioda defesa da população”, diz oprofessor Tadeu Sampaio.

Os municípios são benefi-ciados com a capacitação deagentes de saúde, campanhaseducativas de prevenção aDST/AIDS, atualização de pro-fissionais de ensino, projetosde coleta de lixo e saneamen-to básico.“A participação noprojeto é uma experiência ma-ravilhosa; ímpar! É impossívelcontinuar a mesma pessoa.Voltamos totalmente sensibili-zados e mais humildes, choca-dos com a precariedade dascondições na comunidadeatendida”, diz a participantedo projeto, Suzana Abrantes,aluna do 7º período de Psico-logia.

A Instituição, professorese alunos, também solicitam adoação de livros de literaturainfantil, juvenil e romances,que serão utilizados nas pró-ximas etapas do projeto.

ÉRICA FERREIRA

MARINA FONSECA

RAQUEL JONES

THANIT LAGES

5º PERÍODO

Com o intuito de garantir asegurança dos alunos e funcio-nários da Universidade Fumec,a instituição instalou um planode controle que conta com ca-tracas e câmeras de monitora-mento, além de seguranças nasproximidades. Com a instala-ção de catracas, que ainda per-manecem sem funcionamento,e a utilização de um acompa-nhamento monitorado por câ-meras, alguns alunos questio-nam a eficiência e necessidadede todo esse arsenal para a se-gurança na universidade.

A Reitoria da Instituição es-tá desenvolvendo três projetosquanto à segurança. A Fumecconta com um serviço tercei-rizado feito pela empresa desegurança CSN. Segundo opresidente da UniversidadeFumec, Pedro Arthur Victer, asegurança interna e externa da

Instituição é realizada por se-guranças preparados para si-tuações de risco e que não por-tam armas.

Um dos projetos que estãosendo desenvolvidos pela Rei-toria, prioriza a acessibilidade;principalmente em relação aosportadores de deficiência físi-ca. Como esclarece Victer,“atualmente a entrada de defi-cientes é feita pelo estaciona-mento, criando um risco devi-do a passagem de carros, oprojeto conta com a criação deuma área destinada a passa-gem a essas pessoas e tambémpara melhorar o acesso dasmesmas dentro da Instituição”.

O presidente explica que ascatracas ainda não estão emfuncionamento porque a Fun-dação estuda as formas maiseficazes para sua aplicação, “aimplementação dos serviçosdas catracas ainda não pode sertotalmente efetivada porque es-tamos testando processos, co-mo leitura digital”.Victer tam-bém enfatiza o impacto causa-do pela criação do Campus, “A

criação do Campus diminuiu oíndice de criminalidade, que noperíodo das férias sofre um au-mento potencial”.

Ao coletar opiniões de doismoradores da região próximaa universidade Fumec, obser-va-se que as idéias são diver-gentes. A consultora de modaFernanda Alvarenga, mora-dora da Rua Alfenas, não per-cebe positividade nas ações daUniversidade; “os segurançasnão estão preparados paraagir, passam a maior parte dotempo conversando ou dis-persos”. A dona de casa Lur-des Barbosa, moradora da RuaCobre, é uma das beneficiadaspela segurança da FUMEC.Segundo Barbosa, a regiãooferece perigo nos dias em queos seguranças da Universida-de não estão em serviço, “sá-bado e domingo, a rua ficadesprotegida e os assaltos sãoconstantes”.

Proteção ou vigilânciaAs tecnologias atuais apre-

setam as novas formas para

Fumec participa do Projeto Rondon

Danielle Rodrigues

Catracas para controle de entrada de pessoas na Universidade Fumec: a instituição conta com a ajuda de seguranças e equipamentos eletrônicos para a proteção dos alunos e funcionários

Fumec implementa plano de segurança

complementar a segurança,como por exemplo, o uso decatracas nas entradas da Uni-versidade e câmeras eletrôni-cas de vigilância em todos oscorredores e salas. Na univer-sidade Fumec, foram instala-das oito catracas em 2002 e em2005 foram adicionadas câ-meras eletrônicas nas depen-dências da instituição para o

controle e segurança local.Mas a questão que se coloca é:essa tecnologia protege ou ini-be os alunos?

O professor de Direito daFCH e atual presidente daOAB Minas Gerais, RaimundoCandido, considera que, “es-ses aparelhos eletrônicos têmsido utilizados por uma ques-tão de segurança, é preciso ve-

rificar até onde esses procedi-mentos de segurança não in-vadam a privacidade e ativi-dade das pessoas,mas acimade tudo está o bem da coleti-vidade segura”. Marina Duar-te, aluna do 3º período de Ar-quitetura Fumec afirma acre-ditar que, “mesmo as catracasnão funcionando, elas inibemações inadequadas”.

UNIVERSIDADE UTILIZA RECURSOS TECNOLÓGICOS CONTRA VIOLÊNCIA E ROUBO NO CAMPUS

ALUNOS TÊM CONTATO COM COMUNIDADES CARENTES

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E S P O R T E 15o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Brenno Rocha

Pequenos roubam a cena no MineiroGUILHERME ABREU

VICTOR FERREIRA

3º PERÍODO

Nos últimos anos, os clu-bes do interior de Minas Ge-rais vêm chamando a atençãonão só pelas boas colocaçõesalcançadas ao fim do Cam-peonato Mineiro, mas tam-bém pelo bom futebol apre-sentado. O desempenho sur-preendente é atribuído pelosclubes, ao grande planeja-mento, à melhora na estrutu-ra e ao tempo maior de pre-paração, no início do ano.

Neste ano, Ipatinga eItuiutaba foram os clubes quefizeram as melhores campa-nhas entre os times do inte-rior mineiro. O Ituiutaba la-menta a derrota para o De-mocrata de Sete Lagoas, naultima rodada do campeona-to. O tropeço fora de casa, so-mado à vitória do Américaem cima do Democrata deGovernador Valadares, no In-dependência, fez com que otime ficasse de fora da fase fi-nal do Mineiro.

Segundo o jornalista es-portivo da Rádio Cancela deItuiutaba, Edmar Mariano, acidade já estava mobilizadaachando que o Ituiutaba con-seguiria se classificar. “O po-vo abraçou a causa e torciapara que o Ituiutaba conse-guisse a classificação. Os tor-cedores têm um grande res-peito pela diretoria, já quedesde que o time se profis-sionalizou, em 98, o Ituiutabavem crescendo de produçãoe superando as expectativas.Fica agora a esperança debons resultados na Série C doBrasileiro”, explicou.

O Ipatinga manteve a boaescrita do ano passado e con-firmou sua passagem para oquadrangular final do cam-peonato, terminando a pri-meira fase em primeiro, àfrente de Cruzeiro, Atlético eAmérica, respectivamente.Desta forma, o time assegu-rou a vantagem de jogar o se-gundo jogo da fase final emcasa.

O gerente administrativodo clube, Ademar Teodoro,atribui a boa fase e os bonsresultados à boa estrutura doIpatinga, ao grande planeja-mento executado, a manu-

tenção da base de 2005 e aoempenho dos jogadores nostreinamentos. Começamos atrabalhar dois meses antes doque todos os outros clubes docampeonato, mantivemos abase do ano passado e comcerteza pretendemos lutar pe-lo título novamente este ano”,afirmou Teodoro.

O Ipatinga, juntamentecom América e Ituiutaba, se-rão os representantes minei-ros na Série C do Campeona-to Brasileiro, que começa nosegundo semestre.

Bons Resultados

Em 2002, a Caldense, sa-grou-se campeã, quebrandouma hegemonia de 42 anos detítulos conquistados somentepor times da capital. Na épo-ca, o Campeonato Mineiro sócontou com a participaçãodos times do interior, já queos três “grandes” de Belo Ho-rizonte disputavam a extintaCopa Sul-Minas. Os melhoresclassificados disputaram o Su-percampeonato Mineiro comos times da capital. O diretorde futebol da equipe de Poçosde Caldas, Luís Antônio Fon-seca, afirma que a “Veterana”alterna bons e maus momen-tos nos Mineiros disputados.Ele destaca a conquista de2002, porém não se esqueceda campanha de 2004, quan-do o time terminou a primei-ra fase em quarto lugar na ta-bela, e foi considerada a equi-pe campeã do interior.

No ano passado, o Ipatin-ga, clube considerado uma “fi-lial” do Cruzeiro, e então comapenas sete anos de fundação,teve ajuda essencial de sua“matriz”. Para a disputa dacompetição, o time celesteemprestou 17 jogadores parao time do interior, além da co-missão técnica, liderada pelotécnico Ney Franco, ex-co-mandante das categorias debase do clube da capital. Iro-nicamente, na final, o Ipatin-ga enfrentou o Cruzeiro. Noprimeiro jogo, empate por 1 a1, no Ipatingão e no jogo devolta, o Tigre do Vale do Açodeu show e conseguiu uma vi-tória incrível por 2 a 1, em ple-no Mineirão e conquistou oprimeiro título de sua curta,mas promissora história.

Mineirão entra na onda do Grande IrmãoESTÁDIO INVESTE EM CÂMERAS PARA TENTAR MELHORAR SEGURANÇA

LUISA SILVEIRA

LUDMILLA RANGEL

3º PERÍODO

A maioria dos freqüenta-dores do Estádio GovernadorMagalhães Pinto, mais conhe-cido como Mineirão, já se sen-te mais tranqüila durante osjogos realizados no estádio. Nodia 7 de fevereiro, foi inaugu-rado o novo sistema de moni-toramento do Mineirão, que setornou o primeiro estádio emMinas Gerais a utilizar a tec-nologia.

O estádio foi equipado com17 câmeras de vigilância in-terna e externa a fim de com-bater a violência, trazendoconforto e segurança aos tor-cedores. O monitoramento ele-trônico capta a movimentaçãodos freqüentadores, atenden-do a recomendação do Esta-tuto do Torcedor, que estabe-lece a necessidade de monito-ramento nos estádios com pú-blico superior a 20 mil pessoas.As câmeras se encontram nasbilheterias, no estacionamen-

to, no hall principal e nas ave-nidas de acesso em torno doestádio, possibilitando tam-bém o monitoramento dosônibus. Uma das vantagensdeste sistema é auxiliar a açãoda Policia Militar, identifican-do e inibindo possíveis infra-tores.

O diretor de infra-estrutu-ra do Mineirão, Ricardo Raso,diz que toda a ação daADEMG (Administração dosEstádios de Minas Gerais) temcomo base, o binômio segu-rança e conforto para seususuários. Segundo dados doórgão, poucas ocorrências fo-ram efetivadas no último mês- a maioria delas é devida àperda de documentos e desa-cato à autoridade. As ocor-rências criminais diminuíramde quatro por jogo, para umaem cada dois jogos. “A novainstalação não tem como prin-cípio aumentar o número defreqüentadores, mas sim pro-mover uma melhor estadia dosmesmos”, afirmou o diretor.

A Comissão de Monitora-

mento da Violência em Even-tos Esportivos e Culturais (CO-MOVEEC), formada pelo Mi-nistério Público, Polícia Civil,Polícia Militar, Juizado Espe-cial Criminal, Juizado da In-fância e da Juventude, Fede-ração Mineira de Futebol,BHTrans e Corpo de Bombei-ros, foi responsável pelo pro-jeto de monitoramento no Mi-neirão e já registrou reduçãode mais de 70% nas ocorrên-cias criminais. O objetivo des-ta implantação é garantir umamaior rapidez nos processosjunto à ação da Polícia Militar.

O torcedor Victor Coliva deOliveira acredita na eficiênciadas câmeras. “Com elas é maisfácil identificar os falsos tor-cedores que vão aos estádiospara brigar e não pra torcer.Assim é possível puní-los, dei-xando o estádio apenas comaqueles que realmente queremtorcer, e evitando que os timessejam obrigados a jogar comportões fechados”, explicou.

O assessor da Polícia Co-munitária, capitão Cláudio Jo-

sé Dias, e o superintendentede Integração de Defesa So-cial, Genlison Ribeiro Veferi-no, dizem que o novo sistemade segurança potencializou aatuação preventiva da polícia,porque inibe possíveis vânda-los que freqüentam o estádio,ajudando à trazer de volta asfamílias para o Mineirão. Elesrelatam que no dia do jogo deestréia, houveram 13 condu-ções à delegacia ADIDA - lo-calizada dentro do Mineirão -e apreensão de 4 artefatos(bombas caseiras).

O diretor responsável pelatorcida organizada cruzeiren-se Facção Independente, AldoCardoso Junior, o Tuti, diz queas câmeras não fazem muitadiferença dentro do estádio,principalmente, porque os la-drões roubam e se misturamao público. Desta forma, até apolícia chegar no local, o la-drão já desapareceu. Entre-tanto, Tuti afirma: “Tenho 12anos de Mineirão e acreditoque hoje ele está bem melhordo que há alguns anos atrás.

Veteranos são trunfo das equipes mineirasNa contramão do mercado

nacional da bola, que tradicio-nalmente revela craques e osnegocia com clubes do exterior,as equipes que disputam o Mi-neiro apostam suas fichas emjogadores experientes.

Este ano, o zagueiro Wel-lington Paulo e o atacante Eul-ler voltaram a vestir a camisaamericana e são alguns dos

principais responsáveis pelacampanha que levou o time àclassificação para as semifinaisdo torneio.

O Galo manteve os jogado-res vindos da base como estru-tura principal do time titular.Contudo, o técnico alvinegro,Lori Sandri, sugeriu a contra-tação do zagueiro Marcos, seuex-comandado no Paraná Clu-

be. O ataque foi reforçado comas contratações de Alberto e Ja-melli, ex-santistas, que há anosestavam na Europa. O Cruzei-ro foi a equipe que mais inves-tiu em contratações para estatemporada. Dentre elas, se des-taca o centroavante Élber.

No interior, o Uberlândiaconta com Elivélton (ex-Cru-zeiro). O Democrata de Sete La-

goas, que revelou João Carlos(ex-Corinthians e Cruzeiro),conta novamente com o za-gueiro. Já o Ipating, dispõe deRodrigo Posso (ex-Cruzeiro) edos gols de Camanducaia (ex-Santos). O Guarani tem Aga-menon, o URT, o artilheiro Di-tinho, e o Villa Nova trouxe Do-nizete Amorim (ex-Cruzeiro) devolta ao futebol mineiro.

TIMES DO INTERIOR TÊM BOAS CAMPANHAS E AMEAÇAM A HEGEMONIA DOS GRANDE CLUBES

Estádio Magalhães Pinto recebe câmeras para vigília constante

Arquivo O Ponto

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C U L T U R A16 o pontoBelo Horizonte – Abril/2006

Editor e diagramador da página: Camila Guimarães

DANIELA DE CASTRO

LÍGIA RISPOLI

6º PERÍODO

Cena um. Tomada um.Ce-nário: Produção cultural emMinas. Dá-se início à filma-gem de mais um projeto que,depois de ter passado sob ocrivo da burocracia que per-meia a política pública de cul-tura em Minas, finalmente saido papel. Apesar dos adia-mentos iniciais, produtores,diretores e artistas estão oti-mistas quanto à expansão domercado cultural mineiro,principalmente após a criaçãodas leis federais, estaduais emunicipais de incentivo à cul-tura, a partir da década de 90.

O economista e consultorFrancisco Caram acredita que70% da produção cultural mi-neira dependem desses in-centivos no momento. Mesmoque apresentem limitações,Caram os defende. “Os proje-tos culturais não são priori-dade para nenhum governoem nosso país. O problema éque o fomento à cultura de-pende imensamente dessasleis hoje”, critica.

Uma contradição das leisde incentivo é o fato de o se-tor cultural demandar recur-sos e a sustentação das leisocorrer por meio da transfe-rência fiscal. “ A falta de re-

cursos é uma das principaisdificuldades enfrentadas pe-los que estão empenhados nagestão cultural. O setor pri-vado é apontado como opçãono financiamento de projetosem troca de redução ou isen-ção de impostos”, explica Ca-ram. Belo Horizonte implan-tou sua lei de incentivo à cul-tura em 1993. Os empresáriospodem patrocinar projetosculturais à sua escolha, em va-lores equivalentes a, no máxi-mo, 20% dos débitos mensaisreferentes ao Imposto SobreServiços (ISS). A lei estadualrecebe isenção do ImpostoSobre Circulação de Merca-dorias e Prestação de Servi-ços (ICMS) e a federal do Im-posto de Renda. Outra fontede recurso para o fomento acultura provém do Fundo deProjetos Culturais, da esferamunicipal, que aplica seus re-cursos em projetos experi-mentais ou comunitários, quenão tenham facilidade de con-seguir patrocínio.

DificuldadesSegundo Caram, o setor

de captação de recursos seprofissionalizou e foi carteri-zado. “Os grandes patrocina-dores estão atrelados às em-presas especializadas nesteserviço. As dificuldades deobtenção de verbas se encon-

tram na captação de bons pa-trocinadores”, explica . Outradificuldade enfrentada pelosetor é apontada pela produ-tora de cinema Márcia Vala-dares. Segundo ela, o pontofraco, não só em Minas Geraiscomo em todo o país, é a dis-tribuição comercial das pro-duções audiovisuais, que é di-ficultada pela pouca possibi-lidade de exibição e a restri-tação aos circuitos de mos-tras/festivais. Já Caram acre-dita que uma melhora na po-lítica pública de cultura no Es-tado traria divisas, fomenta-ria o turismo e projetaria a ci-dade. O presidente da Asso-ciação Curta Minas, CláudioConstantino, acredita que hámuito ainda a ser feito. “É ne-cessária uma mudança dementalidade do setor empre-sarial, para que este reconhe-ça o investimento em cultura.Diria que viver é uma coisa esobreviver é outra. Ainda é di-fícil viver de arte em Minas ouno Brasil. Poucos conse-guem”, desabafa Constantino.Para ele, muitos projetos nãosão captados devido à depen-dência das leis de incentivo.“Só o fundo municipal, que éo incentivo direto, não dá con-ta. A criação do fundo esta-dual pode ser um suporte im-portante para o setor”, con-clui.

Outras formas de incenti-vo disponibilizadas pelos go-vernos e empresas privadassão os editais e concursos.Constantino explica que os deorigem federal dependemsempre do cronograma de li-beração dos recursos porparte de outros ministérios,como Fazenda e Planejamen-to e, quando há atraso, os edi-tais não são lançados ou es-tão sujeitos a variações, sejade número de beneficiados oude valor dos prêmios.

Para Clarissa Campolina,diretora e uma das fundado-ras da TEIA, que é um coleti-vo de pesquisa, criação e pro-dução audiovisual, os con-cursos disponíveis para aprodução cultural são pro-postas interessantes para osartistas, uma vez que propor-cionam liberdade de criação.“Esses concursos podem serbons se considerarmos quenão é necessário ir à empre-sa captar recursos, o que per-mite que seu projeto possamanter-se autoral”, afirmaClarissa.

Maria Maria. Prelúdios.Missa do Orfanato. Benguelê.A trajetória da companhia dedança contemporânea minei-ra, Grupo Corpo, fundada em1975 a partir do ideal de seisirmãos e alguns amigos, nemsempre foi de flores, mas simpassou por momentos de es-pinhos e dificuldades. “A faltade dinheiro, em muitos mo-mentos, criou embaraços queforam driblados com espíritode sacrifício temporário. Éra-mos obstinados, teimosos”,lembra Cristina Castilho, umadas fundadoras da companhia,sobre os principais obstáculosos quais tiveram que superar.“Foram anos de muito traba-lho, mas tivemos um surpren-dente e enorme sucesso com onosso primeiro espetáculo,Maria Maria, o que nos possi-bilitou consolidar o Grupo”,acrescenta Cristina.

O Grupo Corpo de Dançaé uma exceção à regra em umcenário cultural, que não ofe-rece oportunidades para queartistas vivam de seus traba-lhos. Atualmente, conta comum corpo de baile de 22 baila-rinos e visibilidade nacional einternacional. A busca inces-sante por uma identidade vin-

culada a uma idéia de culturanacional, reflete-se em cada es-petáculo produzido pela equi-pe, que mescla dança clássica,folclore e danças de rua. Se-gundo Cristina, o Corpo faz,habitualmente, uma turnê na-cional de dois meses e duas outrês internacionais, numa mé-dia de 85 apresentações porano.

A artista plástica mineiraLuciana Lírio concorda com aafirmação de que é possível vi-ver de arte no Brasil, o que,também, é compartilhado porCristina Castilho, quandoquestionada sobre o assunto.“Os nossos 30 anos de estradarespondem esta pergunta”.Quanto às dificuldades na cap-tação de verbas para produziros espetáculos, hoje já não astêm. “Somos patrocinados pe-la Petrobrás, por meio da LeiFederal de Incentivo à Cultu-ra”, afirma.

Para um grupo de dança dereconhecimento internacional,não faltam empresas dispos-tas a oferecer patrocínio, emtroca de benefícios fiscais eprojeção nacional.“O que im-porta é que temos sido bemacolhidos e aplaudidos em to-da parte”, conclui Castilho.

Existe vida pós-campanha de popularização?LEONARDO FERNANDES

LUIZA DE SÁ

5º PERÍODO

A 32ª edição da Campa-nha de Popularização do Tea-tro e da Dança ultrapassou amarca de 220 mil espectado-res em relação ao ano passa-do. Foram apresentados 104espetáculos no período de 5de janeiro a 26 de fevereiro.Este mesmo número só foiatingido em 2005, após acampanha, ao longo de dezmeses e com muita dificulda-de.

Diversas razões são atri-buídas ao esvaziamento dosteatros no decorrer do ano.Para o diretor de teatro PedroPaulo Cava, a campanha vi-ciou um tipo de público a irao teatro nos dois primeirosmeses do ano. Segundo o di-

retor, uma alternativa paraque o teatro não seja esvazia-do no pós-campanha é queexistam, o ano inteiro, in-gressos de peças a preços po-pulares, que possibilitem ummaior acesso ao teatro. Deacordo com o ator, produtore diretor, Carluty Ferreira, umgrande problema é o fato desurgirem espetáculos somen-te para a Campanha, com aúnica finalidade de entrarneste evento. “Este fato podecontribuir para a falta deoferta de peças no períodopós-campanha”, explica.

Falta de investimentoOutro grande problema é

a falta de investimentos dopoder público no setor cultu-ral. “O governo tem que as-sumir sua obrigação de for-mação e educação da sensi-

bilidade, da inteligência refi-nada do cidadão e dar condi-ções de trabalho para o artis-ta ao longo do ano”, afirma adiretora teatral Rita Clemen-te. “A popularização funcio-na durante dois meses e norestante do ano, continuamosnossa saga elitista”, comple-ta. A diretora lembra aindaque, com exceção das apre-sentações gratuitas nas ruas,a maioria dos espetáculos tea-trais e de dança, em Belo Ho-rizonte, conta com um públi-co de classe média. Só quemtem acesso financeiro, tem ohábito cultural de freqüentaro teatro, já que o preço do in-gresso está cada vez mais ele-vado e os espetáculos se con-centram na região centro-sulda capital. Segundo ela, aCampanha já não cumpre seupapel de popularização.

CLASSE TEATRAL AFIRMA QUE OS TEATROS SÃO ESVAZIADOS APÓS FIM DO EVENTO

Editais econcursos sãoopções deprodução

Flores e espinhos

CULTURAEM MINASFALTA DE OPORTUNIDADES E RECURSOSASSOMBRA CLASSE ARTÍSTICA MINEIRA

Arquivo Pessoal Cuia Guimarães

O diretor e ator Carluty Ferreira contesta o funcionamento da campanha de popularização

Rafael Barbosa

Cenas de gravação do curta-metragem, de direçao e roteirode Pablo lobato ,“Aranha” (nome provisório), filmado comrecursos do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura

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