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J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C Ano 6 | Número 47 | Maio de 2005 | Belo Horizonte/MG distribuição GRATUITA América Latina sem espaço na mídia Classe média está cada vez mais pobre PBH lança campanha contra esmolas [ página 4 ] [ página 3 ] [ página 5 ] JOVENS, RICOS E Violência cresce em locais freqüentados por pessoas da classe média, como algumas escolas particulares e shoppings de regiões ricas de Belo Horizonte. Pais omissos, instituições de ensino em busca do lucro e consumismo são os responsáveis DELINQUEN TES ‘PEGAS’ : O Mega Space, em Santa Luzia, região metropolitana de BH, é um dos locais onde são praticadas corridas perigosas. No entanto, é um dos divertimentos que mais atraem a juventude dos bairros abastados “América” pode incentivar a emigração de brasileiros O movimento de pessoas interessadas em adquirir passa- porte na sede da Polícia Fede- ral em Belo Horizonte é gran- de, como comprovam as enor- mes filas em frente ao local, no bairro Gutierrez (foto). Boa parte dos interessados chega com um objetivo bem preciso: tentar entrar nos Estados Uni- dos da América (EUA). Este fa- to tem contribuído para levan- tar uma questão que passou a ser objeto de análise por parte de psicólogos,sociólogos e es- tudiosos da comunicação, e que coloca em pauta o assunto principal da novela América, da Rede Globo: a imigração para os EUA.Ao tocar tão di- retamente no assunto,a novela estaria alertando ou incenti- vando a prática perigosa de en- trar sem visto em território americano? Para muitos, a ma- neira como a novela mostra a situação, como se desenhasse o mapa para a entrada ilegal, aca- ba por incentivar esta prática que tem sido combatida pelos governos brasileiro e norte- americano. [ páginas 10 e 11 ] [ página 13 ] Guillermo Tângari PAGINAS 8 E 9 Isabella Melo

Jornal O Ponto - maio de 2005

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - maio de 2005

J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C

A n o 6 | N ú m e r o 4 7 | M a i o d e 2 0 0 5 | B e l o H o r i z o n t e / M G

d i s t r i b u i ç ã oG R A T U I T A

América Latina sem

espaço na mídia

Classe média está

cada vez mais pobre

PBH lança campanha

contra esmolas[ página 4 ][ página 3 ] [ página 5 ]

JOVENS, RICOS E

Violência cresce em locais freqüentados por pessoas da classe média,como algumas escolas particulares e shoppings de regiões ricas de

Belo Horizonte. Pais omissos, instituições de ensino em busca do lucroe consumismo são os responsáveis

DELINQUENTES

‘PEGAS’ : O Mega Space, em Santa Luzia, região metropolitana de BH, é um dos locais onde são praticadas corridas

perigosas. No entanto, é um dos divertimentos que mais atraem a juventude dos bairros abastados

“América” pode incentivara emigração de brasileiros

O movimento de pessoasinteressadas em adquirir passa-porte na sede da Polícia Fede-ral em Belo Horizonte é gran-de, como comprovam as enor-mes filas em frente ao local, nobairro Gutierrez (foto). Boaparte dos interessados chegacom um objetivo bem preciso:tentar entrar nos Estados Uni-dos da América (EUA). Este fa-to tem contribuído para levan-tar uma questão que passou aser objeto de análise por partede psicólogos,sociólogos e es-tudiosos da comunicação, e quecoloca em pauta o assunto

principal da novela América,da Rede Globo: a imigraçãopara os EUA.Ao tocar tão di-retamente no assunto, a novelaestaria alertando ou incenti-vando a prática perigosa de en-trar sem visto em territórioamericano? Para muitos, a ma-neira como a novela mostra asituação, como se desenhasse omapa para a entrada ilegal, aca-ba por incentivar esta práticaque tem sido combatida pelosgovernos brasileiro e norte-americano.

[ páginas 10 e 11 ]

[ página 13 ]

Guillermo Tângari

PPAAGGIINNAASS 88 EE 99

Isabella Melo

01 - Capa - Carlos e Rafael 6/6/05 11:48 AM Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - maio de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo

2 OPINIÃO

Carlos Augusto Macedo6º período

Na segunda-feira, 21 demarço, Dia Internacional paraa Eliminação da DiscriminaçãoRacial, data criada pela ONUforam enviadas cartas aos pre-sidentes da Fifa, UEFA e RealFederação Espanhola de Fute-bol, nas quais as pessoas pediammedidas concretas para coibirmanifestações racistas. Entre es-sas medidas estão a elevação dapunição para torcidas organi-zadas que agridem jogadoresnegros e das multas dadas aosclubes – recentemente o LaCoruña foi multado em apenas600 euros (R$ 2.160,00) porinsultos de torcedores a Ro-berto Carlos, do Real Madrid.

Os atos racistas em estádioseuropeus, particularmente naEspanha, se intensificaram nosúltimos meses. Já foram vítimasdo preconceito os brasileiros

Juan e Roque Júnior, do Ba-yern Leverkusen, e RobertoCarlos, entre outros.

O objetivo central é mos-trar a indignação causada poresse processo de discriminaçãoe expressar solidariedade às pes-soas que sofrem esse precon-ceito.Mas de que adianta fazercampanhas em TVs e rádios detodo o país e promover umarede de Diálogos contra o Ra-cismo formada por mais de 40ONGs, se a sociedade não qui-ser mudar.Vários “ Desábatos”(jogador do Quilmes, preso porofença ao Grafite do São Pau-lo) vão aparecer e vão ficar im-punes, pagando multas simbó-licas e fazendo com que o ní-vel do futebol brasileiro e in-ternacional se enfraqueçam epercam sua originalidade e hu-manidade. O preconceito é umatraso para o futebol que é umesporte que deveria unir os po-vos de diferentes etnias.

Lorena Assis e Mariana Cyrne1º período

O ser humano ao nascer re-cebe da sociedade padrões de“normalidade”.Talvez por co-modismo ou até por covardia,o homem aceita tais padrõessem mesmo analisá-los. Essaforma de imposição social ge-ra o preconceito.

Nota-se que é desde a infân-cia que a discriminação marca ocotidiano de todas as pessoas. Élamentável que crianças tenhamque lidar com problemas “de gen-te grande”, sofrem rejeições, sementender ao certo o porquê daexistência de tantas restrições edistinções.

As instituições de ensino tor-nam-se palco de várias formas depreconceito.As crianças são ro-tuladas por apelidos e são excluí-das devido a sua cor, religião, al-tura, peso ou dificuldades deaprendizagem.

Entre as meninas,a beleza fí-sica e a moda, são fatores que co-locam de lado aquelas que não seenquadram no grupo.Até mes-mo a formação de uma fila emordem de tamanho, na qual omaior sempre fica por último,po-de gerar uma sensação de exclu-são. Para a cabeça de uma crian-ça,a idéia de ficar por último po-de ser algo constrangedor.

Algumas críticas são extre-mamente destrutivas para algu-mas crianças devido à sua ino-cência e imaturidade para absor-vê-las. Seu rendimento escolarcai e são tomadas pelo desânimo,podendo perder a vontade debrincar, de conviver socialmen-te e tornando-se agressivas eamarguradas.Psicólogos afirmamque tais exclusões podem gerartraumas e resultar em adultos in-felizes que trazem consigo umacarga de preconceito que acabapor se disseminar, formando as-sim um ciclo vicioso.

A sociedade precisa ser maismaleável e compreender a ne-cessidade de aprendermos a con-viver,respeitando as diferenças.Opreconceito destrói a auto-esti-ma,distorce a personalidade e fe-re os preceitos dos direitos hu-manos de igualdade.

A queda do poder aquisitivo da classe mé-dia proporciona o aumento da violência e dacriminalidade entre jovens que não pertencemàs favelas e nem aos subúrbios das cidades. Sãojovens que freqüentam as melhores escolas epossuem acesso à informação, mesmo assim tor-nam-se violentos, cometendo atos de desespe-ro e de total perda de valores.A classe média éo segmento da sociedade que mais é esmagadopelos crescentes impostos do país, onde os po-bres não possuem condições de pagar e os ricossonegam.Assim percebem que o padrão de vi-da que possuíam antes não permanece o mes-mo,levando ao descontentamento e à desespe-rança.A classe média,em geral assalariada, se vêlimitada e perdendo seus direitos num país on-de os ricos empresários comandam. Precisampagar a escola dos seus filhos,que a cada ano so-fre um aumento absurdo,com o mesmo salárioque não é reajustado a anos.

Convivem de perto com os altos padrõessociais, seja em festas,nos shoppings ou no cír-culo de amigos, mas não possuí condições deacompanhar estes padrões,permanecendo sem-pre à margem do conforto que conhece, masnão consegue ter. Esta situação causa extremafrustração e insegurança,o que leva a classe mé-dia a permanecer sempre escondida atrás de más-caras para disfarçar as suas dificuldades financei-ras. Não conseguem aceitar os novos padrões.O medo de não corresponderem às expectati-vas que os cercam os assombra.O pavor de nãoconseguirem se manter dentro dos padrões ha-bituais os assusta.Vivem lutando pra não seremexpirrados pra fora do seu meio social.

Assim,o que vemos é o crescimento dos ín-dices de criminalidade envolvendo jovens daclasse média. Roubam para comprar drogas eesquecerem suas frustrações,roubam para com-prar o tênis da moda, roubam familiares paraviajarem com os amigos,matam os pais por de-sentendimentos banais e por estes não conse-guirem dar aquilo que desejam.A solução pa-ra este problema é o desapego aos bens mate-riais,passando a valorizar a vida e o ser,em de-trimento do ter, tendo a noção das suas condi-ções reais de vida e não se deixando levar pe-los valores midiáticos.

O aumento da violência entre os jovensda classe média está ligado a diversos fatorese não pode ficar restrito a análise de apenasalguns deles como, por exemplo, a diminui-ção do poder aquisitivo dos brasileiros.É fun-damental refletir sobre as múltiplas causasque podem levar os jovens a procurar o ca-minho da violência para lidar com os seusconflitos, que além da violência pode estarligado a outras questões sociais, a perda devalores, de referência, a falta de limite, fato-res psíquicos que estão presentes na fase daadolescência, período conturbado em que ojovem busca criar a sua identidade diante datransição da fase da infância para a fase adul-ta. Essa crise de valores mostra que o tipo deindividualismo desenvolvido pelo capitalis-mo contemporâneo está ligado ao tipo devisão de mundo absolutamente materialista.

Os meios de comunicação interferem deforma imperativa ao consumo intenso.O quepode provocar nos jovens uma busca inces-sante e alienada para se obter os produtos,que na maioria das vezes prometem o bem-estar e a felicidade. Muitas vezes o consumoexagerado faz com que o jovem se perca epassa a se tornar o único “objetivo” de suavida. Outra questão importante é que nessafase a formação dos grupos é muito comum,e muitas vezes para se integrar nele devemestar enquadrados em certas regras, comopor exemplo ter o tênis de tal marca, etc. Oque pode vir a aumentar a competição en-tres os grupos e entre os membros, poden-do gerar violência no intuito de se afirma-rem diante do outro.

Diante disso, percebemos que muitas ve-zes o adolescente busca, por exemplo, noconsumo e na violência, uma forma de seauto-afirmar e de lidar com os conflitos queenfrenta diante de tantas perdas e de deci-sões que devem tomar para se posicionardiante do mundo.Assim eles se perdem dian-te desse turbilhão de apelos para o consumo,levando a uma alienação maciça impedindoque eles próprios passem a desenvolver umaauto-crítica , que é fundamental para a to-mada de decisão diante da sua vida.

Exclusãocomeça nainfância

Preconceito é ummal para o futebol

Paula Caetano7º período

A rivalidade no futebol entreBrasil e Argentina parece au-mentar cada vez mais. Mas apóso caso Desábato-Grafite (no qualo jogador argentino foi preso aoofender o jogador brasileiro du-rante jogo São Paulo contra oQuilmes) pode-se dizer que essarivalidade atingiu o nível do ri-dículo.

Assim como todos os grupose comunidades,o futebol tem seuscódigos de conduta específicos.Dentreos quais considera-se ofen-sa em campo, referências à se-xualidade, à origem, à raça e atémesmo à mãe do adversário.Por-tanto, quando o jogador argenti-no Desábato chamou de “negrode merda” o jogador brasileiroGrafite, teria o mesmo significa-do se ele o tivesse chamado“bra-sileiro de merda”.

É claro que o que aconteceunão foi um caso clássico de ra-cismo.O episódio se insere cla-ramente nas disputas que ocor-re em jogos de futebol princi-palmente ao se tratar de Brasil eArgentina.

Mas a questão gira em tornoda falta de informação dos co-mentaristas esportivos sobre seupoder de influenciar a grandemassa. Este tipo de comporta-mento prejudicou as relações en-tre os países, pois não é exigidodesses comentaristas um conhe-cimento geopolítico ou uma sen-sibilidade para entender os as-pectos maléficos da xenofobia.

A falta de conhecimento doscomentaristas faz com que infor-mações equivocadas e recortadassejam transmitidas aos especta-dores como verdadeiras.Por tan-to, ao invés de informar eles de-sinformam.E não a mal pior quea desinformação.

Imprensa e o casoDesábato-Grafite

Nos últimos meses, a gran-de imprensa tem dado muitodestaque para a questão da vio-lência entre e com os jovens. Oenvolvimento com o tráfico dedrogas; a formação de "gangs"que se enfrentam nas escolas,boates, nos shoppings e nospróprios bairros onde moram.

Nesta edição, o jornal OPONTO procura demonstrarque este tipo de situação atépouco tempo estava associadaàs classes mais baixas da socie-dade e que agora está cada vezmais presente entre os jovensde classe média e no cotidianode todas as famílias.

Outro assunto desta ediçãoé o aumento muito grande daimigração ilegal, já que muitosbrasileiros, devido à falta deperspectivas econômicas donosso país, são impulsionadospelo sonho de enriquecer eembarcam de forma ilegal pa-ra outros países com o objeti-vo de oferecer o mínimo deconforto para suas famílias. Aquestão que se levanta é a danovela “América”: será que es-ta produção da Rede Globonão estaria incentivando a cor-rida ilegal dos brasileiros paratrabalharem nos Estados Uni-dos?

A diminuição do poder aquisitivo da classe médiainfluencia no aumento da violência dos jovens?

SIMFernanda Melo5º período NÃO

Carlos Fillipe Azevedo7º período

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Coordenação Editorial: Prof. Mário Geraldo Rocha da

Fonseca (Jornalismo Impresso) eProf. Leovegildo Pereira Leal (Redação Modelo)

Conselho Editorial Profª Ana Paola Valente (Edição), Prof. José Augusto (Proj.Gráfico), Prof. Paulo Nehmy (Publicidade), Prof. Rui Cezar

(Fotografia) e Profª. Adriana Xavier (Infografia)

Monitores do Jornalismo Impresso:Carlos Fillipe Azevedo, Rafael Werkema e

Renata Quintão

Monitores da Redação Modelo: Fernanda Melo e Pedro Henrique Penido

Monitores da Produção Gráfica:Déborah Arduini e Fernando Almada

Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda:Isabela Rajão e Renato Meireles

Projeto Gráfico:Prof. José Augusto da Silveira Filho

Ilustração e charge: Juliano Mendonça

Tiragem desta edição:6000 exemplares

Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127e-mail: [email protected]

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro

BH/MG

Professor Pedro Arthur VicterPresidente do Conselho Curador

Profª. Romilda Raquel Soares da SilvaReitora da Universidade Fumec

Prof. Amâncio Fernandes CaixetaDiretor Geral da FCH/Fumec

Profª. Audineta Alves de Carvalho de CastroDiretora de Ensino

Prof. Benjamin Alves Rabello FilhoDiretor Administrativo e Financeiro

Prof. Alexandre FreireCoordenador do Curso de Comunicação Social

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

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02 - Opinião - Carlos Fillipe 6/6/05 11:46 AM Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - maio de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editor e diagramador da página: Marco Antônio Astoni

POLÍTICA 3Equador, uma história de crises

Débora Resende, LorenaCampolina, Marcela Ziviani e

Mayra Abranches4º período

Após vários dias de violen-tos protestos populares, resul-tando em centenas de feridos emuitos manifestantes detidos, opresidente do Equador, LucioGutiérrez, foi deposto pelo par-lamento sob alegação de “aban-dono de cargo.

Como tem sido freqüente narecente história da América La-tina,a população da capital equa-toriana, principalmente a classemédia, saiu às ruas de Quito, deforma explosiva exigindo a de-posição do presidente Lucio Gu-tiérrez, lembrando o ocorrido naArgentina em 2001,que resultouna queda de Fernando De LaRua e na Bolívia em 2004, coma fuga do presidente Sanchez deLozada. Entre os motivos apon-tados para tais manifestações que,resultaram na crise política dostrês países latinos americanos,des-taca-se a grave situação econô-mica que afeta diretamente a po-pulação,resultado da aplicação dapolítica neoliberal e da corrup-ção dos governos.

A situação instável do Equa-dor, que em menos de uma dé-cada teve três presidentes depos-tos por protestos populares,Ab-dalá Bucarám (1997), Jamil Ma-huad (2000) e o último, LucioGutiérrez, viveu recentementesemanas de crise e de incertezapolítica e social. Gutiérrez foiafastado pelo parlamento comampla maioria dos votos, e o vi-ce-presidente Alfredo Palácionomeado para o cargo.

Lucio Gutiérrez, ex-militar,

eleito com amplo apoio popu-lar, assumiu a presidência em ja-neiro de 2003 com promessa defazer uma política contrária aoimperialismo norte americano,reivindicando o rompimento dosacordos com Fundo MonetárioInternacional (FMI) que estavalevando a população do Equa-dor, a um dos índices mais bai-xos de desenvolvimento huma-no das Américas.No entanto,es-sas promessas foram quebradasuma a uma, logo nos primeirosmeses de seu governo, imple-mentando um plano econômi-co neoliberal no país e dolari-zando a economia.Além disso,Gutiérrez declarou ser “o prin-cipal aliado”de George W.Bushna América Latina.

No Equador, há uma basemilitar em Manta, estabelecidapelo governo norte-americanoem parceria com presidentes an-teriores. Uma das bandeiras dapopulação equatoriana era queGutierrez colocasse fim na ope-ração da base militar.E o que fezo presidente? Nada.Aliás, sub-meteu-se ã política norte ame-ricana,não só na economia,mastambém dando continuidade àbase militar de Manta. Com is-so, a situação econômica e so-cial do Equador, agravou-se. Opaís tornou-se ainda mais de-pendente dos EUA, que estásempre atento ao abundante pe-tróleo encontrado na costaequatoriana e à polêmica basemilitar, que serve como centrode suas operações na Amazônia.

A Organização dos EstadosAmericanos (OEA) prometeuapoiar os esforços equatorianospara fortalecer suas instituiçõespúblicas. O chefe da delegação

equatoriana do Conselho Per-manente da Organização dosEstados Americanos (OEA),Blasco Peñaherrera,pediu a apli-cação da Carta Democrática In-teramericana para solucionar acrise do país. E com base nessacarta, restaurar as instituições de-mocráticas e a constitucionali-dade no Equador.

Uma missão enviada aoEquador pela Organização dosEstados Americanos (OEA) re-comendou que o país sul-ameri-cano inicie urgentemente umdiálogo nacional para resolver ascrises políticas que se sucedemdesde 1997 e promova o plura-lismo e a tolerância mútua. Po-rém, o governo equatoriano re-jeitou o relatório da OEA, quemanifesta preocupações sobre suaestabilidade política e inclui pro-postas sobre como fortalecer suademocracia.

Economia dolarizadaA professora de Direito In-

ternacional da Universidade Fu-mec,Flávia de Ávila,explica que“uma dos principais objetivos daOEA é a defesa do continenteamericano” mas ressalta que demaneira geral “há uma pressãomuito grande da OEA para quehaja processos democráticos den-tro da América”.

Assim, desde a adoção dodólar como moeda nacionalpelo Equador, no ano 2000,dois presidentes eleitos já fo-ram destituídos, a democraciaencontra-se comprometida, oEstado de direito fragilizado ea desesperança agrava-se na al-ma do povo equatoriano, quevive sem perspectivas de umfuturo melhor.

América Latina fora da pautaMuito se discute quanto ao

tratamento da imprensa brasi-leira dado aos assuntos políticose econômicos dos países daAmérica Latina. Segundo váriosespecialistas, os temas latino-americanos não são considera-dos prioritários e não há umacontinuidade na cobertura. Osassuntos internacionais noticia-dos na imprensa brasileira ga-nham espaço pela importânciaque tem em si ou então pelo in-teresse dos Estados Unidos e Eu-ropa. Sendo assim,os jornais es-tão sempre sendo surpreendidospelas crises nesses países.

Para o jornalista da editoria in-ternacional do Jornal Estado de Mi-nas,José Carlos Santana,a imprensanão valoriza os acontecimentos lati-nos americanos devido a vários fa-tores:“O primeiro deles é porquenão temos correspondentes nos paí-ses latino-americanos,e,assim,fica-mos reféns das agências de notíciasque,por sua vez,não priorizam osassuntos do continente”.

Outros problemas são conse-qüência dessa cobertura descontínuados fatos.Para Santana,a questão éque manter correspondentes custamuito.“Não temos condições demanter correspondentes no exterior,ou,pelo menos,nos países mais im-portantes da América Latina.E asagências, todas norte-americanas eeuropéias,não se interessam pelo queacontece aqui embaixo,entre Atlân-tico e Pacífico”.

No entanto, as agências in-ternacionais de notícias criam umelo cada vez mais forte com a mí-dia. Isso pode explicar o fato deas atenções estarem geralmentevoltadas para a Europa e EstadosUnidos, onde as agências demaior influência são filiados. “Senão podemos ter corresponden-tes, temos de usar as agências, eacreditar que elas nos oferecemum produto bem acabado e deboa qualidade:a retratação do fa-

to,acontecido onde não estamospresentes, com nossos repórte-res” conclui Santana.

Protestos popularesA queda do presidente do

Equador, Lucio Gutierrez é adécima interrupção de um man-dato constitucional nos últimos16 anos na América do Sul. NoBrasil, ocorreu com FernandoCollor de Melo no Brasil. Emambos os casos, a população foiàs ruas para pedir a deposiçãodos presidentes.

Entretanto, há alguns aspec-tos diferenciados entre a depo-sição no Brasil e no Equador.Após 31 meses de gestão, o pri-meiro presidente brasileiro elei-to por voto popular,Collor , re-nunciou o cargo para evitar seuimpeachment que ocorreu semderramamento de sangue, gol-pe militar ou qualquer tipo deviolência. Foi um processo pelavia legal e demonstrou amadu-recimento do povo e dos polí-ticos brasileiros, caso considera-do excepcional para a AméricaLatina. Collor pregava a mora-lidade,combate à corrupção,po-rém em seu governo foramconstatados muitos casos de cor-rupção.Lucio Gutierrez foi des-tituído pelo congresso por 62votos a zero.Para evitar um lon-go processo de impeachment,osparlamentares decretaram “aban-dono de cargo”.

Diferentemente do queocorreu no Brasil, os equatoria-nos saíram às ruas em intensoprotesto,onde polícia teve de re-primir alguns manifestantes.NoBrasil, estudantes foram as ruaspedir pelo impeachment deCollor, em uma mobilização pa-cífica.Em 2006, seis dos 12 paí-ses da América do Sul tem elei-ções presidências .Além de Bra-sil, o Peru, a Colômbia, a Vene-zuela, o Chile e o Equador.

Brasil e Argetina:

Há algum tempo as re-lações entre Brasil e Argen-tina não caminham bem. Ospresidentes Luiz Inácio Lu-la da Silva e Néstor Kirch-ner estão longe de ser gran-des companheiros. Enquan-to o Brasil busca influênciasinternacionais, a Argentinase incomoda com essa situa-ção em meio a sua crise, re-clamando da agressiva polí-tica externa brasileira e apro-veitando isso para ganharapoio popular.

Um dos elementos quecontribuíram para a perspec-tiva de um cenário de dis-puta política entre Brasil eArgentina é a influência en-tre a relação entre os doispaíses exerce sobre os pro-blemas internos dos vizi-nhos. O esforço das diplo-macias dos dois países temsido evitar que a antipatiamútua interfira no projeto deintegração política.

Entretanto, a xenofobiaentre Brasil e Argentina cres-ce à medida que o modeloglobalizado separa os ho-mens entre poderosos e abas-tados, pobres e excluídos. Ea tendência é aumentar como crescimento da nossa eco-nomia comparada à dos ar-gentinos. Entre tais naçõeslatinas, o preconceito vem

operando em várias dimen-sões.

Apesar de estar quebradafinanceiramente, a Argentinanão aceita ser tratada comouma nação irrelevante. Re-centemente, os argentinos avi-saram que são contra a can-didatura do Brasil a uma va-ga permanente no Conselhode Segurança da ONU, umaobsessão dos formuladores dapolítica externa brasileira.Re-clamaram também da decisãodo Brasil de dar asilo e res-gatar o presidente deposto doEquador, Lucio Gutierrez,sem consultá-los. O Brasilnão apoiou quando Argenti-na deu calote e brigou com oFMI. Leandro Desábato, jo-gador argentino é preso noBrasil por preconceito e dis-criminação contra o jogadorGrafite do São Paulo. Ar-gentina queixa de que as con-dições de financiamento e fa-cilidades fiscais do Brasil pro-vocam migração de indústriase desestimulam a instalaçãode empresas no país.

Dessa forma, a históriadas relações entre esses doispaíses, segue um princípiobásico:toda vez que a econo-mia de um deles supera a dooutro, começam a surgir osatritos diplomáticos.

Deposição de Lucio Gutiérrez é a terceira no país nos últimos oito anos; OEA promete ajuda

Relações estremecidas?

Bruno Freitas

José Santana: faltam correspondentes na América Latina

03 - Política - Marco Astoni 6/6/05 11:43 AM Page 1

Page 4: Jornal O Ponto - maio de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editor e diagramador da página:Tiago Nagib

4 ECONOMIAQueda da classe média é assustadoraPoder aquisitivo do trabalhador brasileiro vem despencando após longos períodos de crise Cristiano Fares, Felipe Torres e

Rubens Marra3º período

A constatação que se faz ho-je é que classe média brasileira es-tá mais pobre. A queda de seupoder aquisitivo está diretamen-te relacionada com a modifica-ção da estrutura capitalista neoli-beral dos anos 90.

O Plano Real foi implanta-do em junho de 1994 com trêsobjetivos claramente definidos:o equilíbrio das contas nacionais,uma unidade referencial de va-lor (URV) e a contenção da in-flação por meio da substituiçãoda moeda. Para colocar o planoem ação,o então Ministro da Fa-zenda Fernando Henrique Car-doso optou por uma políticaeconômica fundada na atraçãodo capital externo para financiaro déficit público brasileiro.O su-perávit primário foi o caminhoescolhido para o pagamento dadívida brasileira. No entanto, oscustos sociais desta política fo-ram enormes.O aumento da ta-xa de juros gerou endividamen-tos,queda do poder aquisitivo dapopulação e principalmente daclasse média brasileira.

O funcionalismo públicoque era a base tradicional da clas-se média no Brasil, começou asofrer intervenções drásticas atra-vés das privatizações que muda-ram a lógica de funcionamentode muitos setores do país.O de-semprego ganhou então grandesproporções. Pela primeira vez a

classe média foi a principal afe-tada com as manobras econô-micas do Ministério da Fazen-da.A dinâmica trabalhista e in-dustrial passou por um novoprocesso organizacional.

Reflexos do neoliberalismoA nova estrutura industrial

permeou a flexibilização e a au-tomação do trabalho fazendocom que o trabalho formal fosseafetado pela informalidade semgarantias. Os investimentos emmaquinários e tecnologia foramconstantes,mas esqueceram-se deinvestir no social.Com isso,o de-semprego cresceu e a força sindi-cal perdeu muito a sua potencia-lidade.Trabalhadores ficaram semreferências para reivindicarem seusdireitos, resultando em completafalta de apoio.Para o professor deeconomia da PUC Minas, Car-los Eduardo Flores a situação fu-giu do controle e facilitou a pro-pagação do sub-emprego:“Estamodificação da estrutura capita-lista, abriu caminho para a sub-contratação de empregados,o queé um desrespeito à legislação tra-balhista.”

Com a ascensão de Fernan-do Henrique a Presidência daRepública,a situação piorou.Emseus oitos anos de governo,o viésda atração de capital estrangeirofoi posto em prática.O capital ex-terno deveria encarregar-se dodéficit público brasileiro.A polí-tica econômica de superávit pa-ra contenção da dívida foi privi-legiada.Daí ocorreu um forte au-

mento dos juros.A classe médiaencontrou-se em uma situaçãode bloqueio indireto das comprasà vista, dando lugar ao crédito.Muitos se endividaram.“O con-sumo não caiu com a queda dopoder aquisitivo da população,pois as compras no crédito subs-tituíram as compras à vista.”, sa-lienta Carlos Flores.

O funcionalismo público so-freu com a política econômicaadotada pelo governo FHC.Pri-

vatizações foram realizadas emuitas medidas de contenção decustos como demissões de fun-cionários e cortes salariais foramimplantadas. Os salários foramgradativamente fixados e o prin-cípio do arrocho salarial se esta-beleceu. Isso em um período dedesvalorização da moeda que le-vou a um crescimento da infla-ção. Maria das Graças FerreiraBittencourt é funcionária públi-ca aposentada pelo IPSEMG.Ela

garante que seu poder de com-pra diminuiu drasticamente de-pois do início do Plano Real:“Desde 1994 não temos au-mento e a inflação aumentoumuito. Nosso poder de comprajá não é o mesmo”. Ela aindadestaca a perda de direitos ad-quiridos ao longo do tempo:“Perdemos o plano quinquená-rio (prêmio pelo tempo de ser-viço), as férias prêmio e muitasoutras conquistas”. Os funcio-

nários públicos sempre se apoia-ram nestas vantagens para suamanutenção familiar e a imple-mentação de novos negócios,co-mo pequenas, médias empresas.

Com os cortes, criou-se umgrande número de desemprega-dos que ficaram desamparados,sem condições de reerguerem suarenda e vida. O trabalho infor-mal se desenvolveu de forma im-pressionante. Com isso a classemédia sofre assustadoramente.

Dólar em baixa atingeempresas e consumidores

Vinícius Lacerda2º período

Já faz um ano que o dólarvem se desvalorizando pouco apouco e o consumidor brasilei-ro, juntamente com grande par-te das empresas, têm sentido osresultados no bolso. Cresce cadavez mais cresce o número de via-gens para o exterior, compras deeletrodomésticos,quitação de dí-vidas atreladas ao dólar e investi-mentos.

Nas últimas semanas o dólartem sido cotado a níveis infe-riores de meados de 2002. Estaconstante valorização do realjustifica a busca crescente paraviagens ao exterior, que em al-guns casos pode sair mais bara-ta que uma viagem para dentrodo Brasil. Espera-se um cresci-mento de 15% dos pacotes in-ternacionais vendidos em julhoem comparação com o mesmomês do ano anterior. SegundoJosé Carlos Vieira, presidente daregional mineira da Abav-MG(Associação Brasileira das Agên-cias de Viagens), esperava-se umaumento da procura de 10%apenas em viagens para o exte-rior.No entanto, com esta cres-cente queda do dólar espera-seagora um aumento de 30%.

Com a desvalorização dodólar, os preços dos eletrodo-mésticos associados a moedanorte-americana vem caindo.Esta queda possibilita uma maiorgrau de acesso do consumidorpara estes produtos através depreços mais baixos.

Grande parte das empresasbrasileiras também celebram onovo patamar do dólar, pois es-tas possuem hoje um podermaior quitar suas dívidas emmoeda extrageira. Anterior-mente, as dívidas eram prolon-gadas e isto gerava grandes ju-ros, impossibilitando maiores in-vestimentos. Este quadro passapor modificações com a quedado dólar.Tal fato pode ser com-

provado através da pesquisa fei-ta pela consultoria Economáti-ca, que pesquisou 80 empresas,e conclui que houve um cresci-mento de 55% do lucro entrejaneiro e março deste ano emcomparação com o ano anteriorpara essas empresas. Isso viabili-zou a diminuição em R$ 9 bi-lhões de suas dívidaso no pri-meiro trimestre desse ano.

Com o dólar baixo, muitaspessoas se arriscam em investir.No entanto, analistas financeiroscrêem que tal investimento po-de torna-se demasiado perigo-so, uma vez que a taxa cambialtende a permanecer no proces-so atual. Porém, com a políticaatual, estas taxas devem perma-necer constantes ou elevarem-

se. Por isto, investir nos fundoscambiais é conveniente apenaspara pessoas que tem dívidasatreladas a moeda norte-ameri-cana ou para aqueles que farãouma viagem ao exterior.

É imprescindível assinalarque a desvalorização do dólarnão apresenta apenas caracte-rísticas positivas.A desvaloriza-ção resultaria em perda decompetitividade de produtosbrasileiros no exterior e umaumento no índice de inflação,o que tornaria o país inseguropara investimentos e causar da-nos diretos no consumo. Porprecaução é essencial que haja-políticas de proteção para quea economia nacional não sejasurpreendida.

Fenômeno de empobrecimentotambém aconteceu no exterior

Não foi somente no Brasilque o fenômeno da diminuiçãodo poder aquisitivo da classe mé-dia se manifestou nos últimosdez anos.Muitos países da Amé-rica Latina e do Leste Europeutambém sofreram com o mesmoprocesso. A América Latina jávem de um processo histórico-econômico de fuga de capitais ede ajustes econômicos. Refor-mas baseadas na lógica capitalis-ta internacional, imposta pelospaíses desenvolvidos, como asprivatizações,por exemplo. Já ospaíses do Leste Europeu, passa-ram por uma transição de siste-ma, do Comunismo para o Ca-pitalismo, e com isso tiveram dereestruturar toda sua situação po-lítica e econômica. No conti-nente americano,a Argentina foium dos casos mais evidentes.De-pois de um fracassado planoeconômico baseado na paridade

do peso em relaçào ao dólar, opaís passou por um grande pe-ríodo de recessão.Ocorreram su-cessivos aumentos do desemprego, reduções dos salários e que-bra das pequenas empresas.“Ogoverno De la Rúa tentou re-presentar o rosto da classe mé-dia maltratada por Menem,masnão se visualizou outra saída e aArgentina continuou a políticade contenção dos gastos públi-cos”, destaca o professor argen-tino,de Economia Política e Re-lações Internacionais da PUCBelo Horizonte, Javier Vadell.Acontenção de gastos públicos naArgentina continua.O Equadortambém enfrenta semelhante cri-se.Em 2000 o país também do-larizou sua economia.A políti-ca do cambio fixo não deu cer-to e o desemprego e a perda dopoder aquisitivo por parte de suapopulação foram expressivos.Vá-

rias manifestações públicas acon-teceram e no dia 20 de Abrildeste ano o seu presidente Lu-cio Gutiérrez foi destituído.

A mudança de regime noleste europeu, sobretudo na Po-lônia, do comunismo para o ca-pitalismo causou um grande im-pacto social.Boa parte da popu-lação não se deu por satisfeita enão se acostumou com o novosistema.A abertura para o capi-tal privado em vários setores daeconomia trouxe consigo o de-semprego, o aumento das desi-gualdades sociais e a perda daqualidade de vida da classe mé-dia.As pessoas estão se readap-tando,buscando soluções.É co-mo explica o Cônsul Honorá-rio da Polônia em Belo Hori-zonte,Sr. Jerzy Markiewicz:“An-tes o Estado promovia emprego,agora, as pessoas têm que pro-curar emprego e sobreviver”.

Manifestantes protestam em Buenos Aires contra o “corralito” durante a crise em 2002

Agência de turismo da Face lucra com a queda cambial

Tatiana Soureaux

Bruno Figueiredo

04 - Economia-Tiago Nagib 6/6/05 11:41 AM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editor e diagramador da página: Vinícius Cavalcanti

CIDADE 5

Prefeitura combate esmolasIsabela Antunes, Joseane

Oliveira, Rosaurea Patrocínioe Tatiana Mendes

4º período

Em praticamente todo se-máforo de Belo Horizonte, acena é quase sempre a mesma:crianças pedindo esmolas, fa-zendo malabarismos, venden-do guloseimas, ou simples-mente sendo exploradas pelospróprios pais para conseguiremum pouco de dinheiro.

Se essa situação é apenas umincômodo para os motoristas,por trás dela há um grande pro-blema social. A Prefeitura deBelo Horizonte tentará sanar es-se problema, através de umacampanha para convencer a po-pulação a não dar esmolas aspessoas nas vias públicas, ale-gando que lugar de criança é naescola e não nas ruas mendi-gando ou trabalhando.

De acordo com a assessoriade imprensa da Secretaria Mu-nicipal de DesenvolvimentoSocial, a Prefeitura já mantémum programa semelhante, atra-vés da Secretaria RegionalCentro-Sul, intitulado “Dar es-mola só piora”, e adverte a po-pulação de que o fato de daresmolas só alimenta a mendi-cância, já que dia após dia es-sas pessoas estarão novamentena rua pedindo esmolas. Acampanha também visa cons-cientizar quem quiser ser soli-dário, para que contribua comas associações e entidades fi-lantrópicas cadastradas no con-selho municipal de assistênciasocial ao invés de dar dinheiroem espécie a essas pessoas, quepoderiam fazer um proveitonegativo. O atual programa épara reprimir a mendicância nohipercentro da cidade e região,e a intenção agora é divulgar aidéia a toda a população que

ainda está bem desavisado doque está sendo proposto, des-regionalizar a campanha e cen-tralizar o serviço de todas as re-gionais da cidade com essemesmo propósito.

Segundo Marcos Aníbal,coordenador do programa Mi-guilim, mantido pela Prefeitu-ra de Belo Horizonte atravésda Secretaria Municipal de De-senvolvimento Social, dar es-molas, sopão, pão ou lanche aosmoradores de rua, são atitudespaliativas, que pioram esse qua-dro de mendicância. “Quere-mos educar as crianças. Essasatitudes imediatistas não levama nada. Quando é que essa pes-soa vai ter a oportunidade dereceber uma ajuda de verda-de?”, questiona.Voltado para oatendimento e assistência àscrianças e adolescentes comtrajetória de vida nas ruas, des-de 1993 o programa Miguilimfaz da abordagem das criançasna rua, até a inclusão dessascrianças na escola formal e dosadolescentes em cursos profis-sionalizantes ou no primeiroemprego.

Há quem defenda a intençãoda prefeitura,mas muitas pessoase até mesmo entidades que tra-balham com crianças de rua sãocontra. Segundo a assessoria daPastoral de Rua da Arquidiocesede Belo Horizonte, essa campa-nha é absurda, já que o cidadãotem livre arbítrio para decidir oque fazer com seu dinheiro.A fal-ta de esmola precisa ser substituí-da por políticas públicas efetivas,que garantam trabalho e mora-dia a essas pessoas.O governo quejá foi muito criticado pela falta deiniciativas em pról do cidadão,vaibuscando nessa campanha o quepode significar o fim de um dosmaiores problemas da cidade, aesmola presente em toda a regiãode Belo Horizonte.

Campanha que já é modelo nas grandes capitais do país será adotada em Belo Horizonte

Prefeitura de Belo Horizonte tenta sanar problema de pedintes através de campanha educativa

Comerciantesreclamam demendigos

Michelle Dias, 29, morado-ra do bairro São Geraldo, dizque nos fins de semana sai decasa por volta das 18 horas e fi-ca na rua até as crianças ven-derem boa parte das mercado-rias, como balas, chicletes eamendoins. Para ela, ficar porperto é uma maneira de prote-ger a criança.“Tenho que ficarpara tomar conta dos meus fi-lhos. É muito perigoso”, expli-ca. Segundo Michelle, os me-nores conseguem vender maisdo que ela e que o filho maisvelho. “As pessoas ficam compena do menorzinho e as vezesacontece de um cliente sócomprar todo o estoque dele”,conta. Questionada se as crian-ças estão na escola ela diz quesim, mas prefere não contarmaiores detalhes.Ao ser inda-gada se as crianças gostam detrabalhar, ela desconversa e saiirritada.

O comerciante OrlandoLopes que diariamente obser-va as crianças que ”trabalham”no semáforo em frente sua lo-ja, na Avenida Cristiano Ma-chado, afirma que ja viu váriasvezes algumas crianças tentan-do agredir motoristas, que fe-cham os vidros na aproximaçãodos menores. “A situação dosmoradores de rua aqui no bair-ro há tempos está insuportável”,acrescenta o comerciante queatribui a queda das vendas e afuga da clientela ao grande nú-mero de moradores de rua epedintes naem toda a região.

Medida da prefeitura gera polêmica epopulação parece incerta sobre soluções

Levar um filho para traba-lhar na rua pode parecer absur-do, mas é a difícil realidade dealguns dos 200 mil desempre-gados da região metropolitanade Belo Horizonte, que resis-tem vivendo de empregos in-formais e buscam nessa situa-ção a única e desesperada alter-nativa de sobrevivência. Na si-tuação de misé-ria em quegrande parte dapopulação vive,fica difícil negarajuda ao próxi-mo. Para enti-dades queapoiam a causadas pessoas quevivem nas ruas,como a Pastoralde Rua, entida-de ligada à Ar-quidiocese deBelo Horizon-te, uma campanha como estaque a Prefeitura irá lançar éconsiderada complicada, já queenvolve questões subjetivas, re-ligiosas e da solidariedade como próximo.“Um tipo de cam-panha como esta não resolve aquestão social. O ato de dar es-molas passa por questões pes-soais de cada um”, afirma IrmãCandice, uma das coordenado-ras da Pastoral.Além disso, a Ir-mã considera que não se podeproibir as pessoas de dar esmo-las, se o Governo não oferecenada em troca.“É preciso fazeruma investida em políticas pú-

blicas na questão”, enfatiza. Oideal seria se as pessoas se com-prometessem a ajudar funda-ções adequadas e confiáveis deassistência às famílias carentes,acompanhando todo o proces-so e verificando o que é feitocom o dinheiro doado.“Se elasestão na rua é por necessidade”,disse Irmã Candice.

Mas há quemprefira não daresmolas e vêna campanhada Prefeiturauma soluçãopara erradicar,de vez, essa la-mentável si-tuação demendicância.“ eu não douesmolas; prefi-ro doar para aigreja a ajudaras pessoas que

precisam”, disse a pedagoga efuncionária pública Márcia Pe-reira.“Muitos parecem não darvalor. Às vezes eu dava sobrasde comida, e o que sobrava de-les eles jogavam na rua, sujan-do a calçada da minha própriacasa”, acrescenta.

Essa campanha da Prefeitu-ra segue modelos de outras ci-dades como São Paulo,Ameri-cana, Joinville e Florianópolis.Em todas essas cidades a popu-lação respondeu bem aos ape-los da administração municipalpara que não dessem esmolasou comprassem algum produ-

Campanha para retirar moradores de rua segue o modelo de outras capitais do país

“Umacampanhacomo estanão resolvea questãosocial.”

Irmã Candice, coordenadora

da Pastoral de Rua da arqui-

diocese de Belo Horizonte.

to de adultos e crianças notrânsito e hoje é difícil ver pe-dintes nas ruas dessas cidades.As famílias agora são obrigadasa recorrer aos serviços de assis-tência social do município, queas obriga a manter as criançasna escola. Segundo a Secreta-ria Municipal de AssistênciaSocial, em Belo Horizonte ain-da existem cerca de 150 a 200crianças de rua.

Segundo o Código Penal, apena para os pais de meninos derua que trabalham informal-mente pode variar entre crimesde corrupção de menores(art.136), abandono intelectual(art. 246) no caso de menoresde 6 a 14 anos que estiverem fo-ra da escola, trabalhando na ruae de exploração da mendicân-cia (art. 247) quando o menorde 18 anos mendiga ou serve de

mendigo para despertar a pie-dade pública.Nestes casos, a pe-na de prisão simples varia de 15dias a três meses, podendo seraumentada se a contravenção épraticada de modo vexatório,ameaçadora ou fraudulenta,me-diante situação de moléstia oudeformidade. A iniciativa daPBH mostra boa intençao mascom ceteza irá trilhar um cami-nho bem complicado.

Carolina Ribeiro Lara

Carolina Ribeiro Lara

05 -Cidades - Vinicius 6/6/05 11:39 AM Page 1

Page 6: Jornal O Ponto - maio de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editora e diagramadora da página: Ana Cláudia Esteves

6 EDUCAÇÃOEscolas abertas no fim-de-semanaProjeto “Escola viva comunidade ativa” combate o alto índice de violência dentro e fora das escolas

Alunos em atividade física no pátio da escola com uma boa margem de segurança

Projeto buscaespaços deeducação e paz

Em comemoração ao AnoInternacional para uma Cultu-ra de Paz em 2000, a UNES-CO lançou o programa“Abrindo Espaços: Educação eCultura para a Paz” , que pro-punha a abertura das escolaspúblicas nos períodos de finalde semana, com atividades deesporte, arte e cultura, procu-rando incentivar uma culturade cidadania e não violêncianos jovens e nas comunidadesescolares.

Ao mesmo tempo em queo programa visa a educação, eletambém possui como alvo ocombate a exclusão social, oincentivo à participação cultu-ral, conscientização sobre aprevenção de DST-AIDS, ocuidado com o meio ambien-te, contribuição para a dimi-nuição da violência e o desen-volvimento social.

O projeto é focado em trêsitens: o jovem, a escola e a co-munidade.A idéia é privilegiarjovens em situações de vulne-rabilidade social.A natureza dotrabalho é educativa e trans-formadora. Além de integrarjovens e comunidades, a ofer-ta de atividades esportivas, ar-tísticas e culturais ajuda na so-cialização e contribui para a re-construção da cidadania.

Bolsas de estudo serãodistribuídas em Minas Gerais

Izabela Magalhães1º período

A Universidade do Estado deMinas Gerais (UEMG), junta-mente com o governo federallança o primeiro programa bol-sista do estado,para alunos negroscotistas de instituições publicasdo ensino superior. Em uniãocom o Programa Integrado deAções Afirmativas para Negros(Brasil Afroatitude), esse progra-ma visa inicialmente, favorecercerca de quinhentos universitá-rios de dez universidades públi-cas diferentes.A UEMG possuicerca de 200 alunos cotistas, di-vididos nas suas três unidades,Fa-culdade de Educação, Escola deDesign, Escola de Música e Es-cola Guignard.Destes cotistas,78são afrodescendentes,para eles se-rão destinadas 50 bolsas.

O valor das bolsas de estudosserá de aproximadamente 240reais mensais que deverão ser uti-lizados principalmente para a rea-lização de pesquisas relacionadasa temas como a AIDS e a situa-ção social, econômica e culturaldos arodescendentes.As bolsas se-rão pagas durante um período de12 meses. Com o programa, ogoverno federal pretende produ-zir estatísticas que eliminem osub-registro do quesito raça/cor

e de outras variáveis importantesno monitoramento da saúde dapopulação.

De acordo com a coordena-dora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro da UEMG,Cláudia Or-nelina,o projeto visa o fortaleci-mento e a permanência dos cos-tistas negros na Universidade.

Diversas parcerias foram for-madas para que esse programade integração das ações de afir-

mação dos negros fosse concre-tizado, fortalecendo essencial-mente o combate à epidemia epossibilitando as práticas de im-plementação de ações afirmati-vas inclusivas e permanentes aosuniversitários negros cotistas.Es-sas parcerias foram feitas em con-junto com a Secretaria de Ensi-

no Superior (SESU/MEC),Se-cretaria Especial dos direitos Hu-manos (SEDH/PR) e tambémcom a Secretaria de Políticas dePromoção da Igualdade Racial(Seppir/PR).

Aos poucos as universidadespúblicas estão se conveniando aoBrasil Afroatitude implementan-do programa,para tal é necessárioter um cronograma de execução,contendo entre outros itens,a es-trutura da equipe que coordena-rá o programa na instituição,o le-vantamento de dados e elabora-ção do perfil dos estudantes cotis-tas e o oferecimento de capacita-ções para os alunos para atuaremem projetos de iniciação científi-ca, extensão e monitoria.

Dez universidades fazem par-te do projeto: a Universidade deBrasília (UNB); a UniversidadeFederal do Paraná (UFPR); aUniversidade Federal de São Pau-lo (Unifesp); a Universidade Fe-deral de Alagoas (UFAL);a Uni-versidade Federal da Bahia (UF-BA); a Universidade Estadual daBahia (UEBA); a UniversidadeEstadual de Londrina (UEL); aUniversidade Estadual do MatoGrosso do Sul (UEMS); a Uni-versidade Estadual do Rio de Ja-neiro (UERJ) e a UniversidadeEstadual de Minas Gerais(UEMG).

Andrezza Nadella: oportunidade de ingressar em uma univesidade de Minas Gerais

Fernanda CampolinaDaniel Cerqueira

4º período

A violência nas escolas pú-blicas de Belo Horizonte temapresentado um declínio subs-tancial. De acordo com a Polí-cia Militar, desde a implantaçãodo projeto “Escola Viva,Comu-nidade Ativa” em 2004, houveuma queda de 57% no númerode ocorrências como lesões cor-porais, ameaças a funcionários efurto consumado.Em 2005,ape-sar de não haver dados exatos, onúmero de ocorrências conti-nuou a decair. Em 2003 o nú-mero de ocorrências chegou a83, em 2004 esse número caiupara 38.

Iniciado em 2003,o projetoconsiste na abertura das escolasdurante os finais de semana pa-ra a realização de atividades delazer, e tem como objetivo pro-mover mudanças na qualidadedas interações entre as escolas ea comunidade, afim de aumen-tar a sintonia entre ambas, ba-seando-se na colaboração e res-peito mútuo. Para isso, o proje-to disponibiliza para cada esco-la recursos financeiros e assis-tência técnica, além de equipesde profissionais da Secretária deEducação.”Isso é muito bom pa-ra nós, por que assim nós fica-mos sabendo onde nossos filhosestão, ao invés de ficarem por aina rua, podendo acabar mexen-do com coisa errada”disse Ro-salinda Aguiar, mãe de um dosjovens matriculados na Escola

Estadual Menino de Jesus. Já pa-ra Maria José de Paula, o pro-grama acaba ajudando na rendafamiliar,“ Com a minha filha es-colinha, eu não preciso tomarconta dela, ai eu posso trabalharmais um dia.”.

Algumas escolas ja manti-nham suas instalações abertas pa-ra a comunidade antes do pro-grama, com a implantação, umtotal de 81 escolas foram orien-tadas a manterem suas instala-ções abertas por um período mí-nimo de 4 dias por ano.

Nascido da necessidade deatender alunos matriculados nasescolas localizadas nas áreas derisco social e de alto índice deviolência, o “Escola Viva,Co-munidade Ativa” se tornou umdos mais importantes projetosdesenvolvido pela Secretária deEducação.”Esse índice de redu-ção merece ser comemorado,pois foi conseguido em curtoprazo”, disse a secretária de Es-tado e Educação,Vanessa Gui-marães Pinto. No segudo se-mestre de 2005 o prjeto abran-gerá mais 78 novas escolas da re-gião metropolitana de Belo Ho-rizonte.

Um subprojeto a foi im-plantado em janeiro de 2005intitulado “Aluno de Tempo In-tegral”, que oferece aulas de re-forço aos alunos da rede estadualsendo implantado em 78 das 81escolas que participam do pro-jeto. Aproximadamente 6 milalunos,cerca de 10%,serão be-neficiados.

12 de Junho - Dia dos Namorados

Vitrine

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4H

“O projeto visao fortalecimentoe a permanênciados cotistasnegros naUniversidade.”

Coordenadora do Núcleo de

Estudos Afrobrasileiro da

UEMG

Vitor Schuwaner

06 - Educacao- Ana Esteves 6/6/05 11:38 AM Page 1

Page 7: Jornal O Ponto - maio de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editor e diagramador da página: Ubirajara Varela

FUMEC 7

Ana Carolina Cervantes eSimone Monção

4º período

A Universidade Fumecvem conseguindo alcançaruma posição de destaque en-tre as outras grandes institui-ções de ensino superior do es-tado de Minas Gerais no âm-bito da pesquisa instituciona-lizada. Como prova disso, elapromoveu no período de 10 a12 de maio, o 3º Semináriode Pesquisa e Iniciação Cien-tífica e 2º Seminário de Ex-tensão, que tiveram importan-tes desdobramentos. O even-to contou com o apoio de ins-tituições como a Fundação deAmparo à Pesquisa do Estadode Minas Gerais (Fapemig) ea Fundação Nacional de De-senvolvimento do Ensino Su-perior Particular (Funadesp).

O seminário foi mais um

passo dado no processo de in-vestigação científica perma-nente.

O Propic é um programade pesquisa e iniciação cientí-fica da Fumec, que tem comoobjetivo viabilizar a introdu-ção do universitário à pesqui-sa, sob orientação de profes-sores. De acordo com os or-ganizadores, desta vez o Pro-pic-Fumec recebeu para apre-ciação 59 projetos.Todos elesestão relacionados com os cur-sos oferecidos pela universi-dade nas diversas áreas do sa-ber e mostram com clareza avinculação da pesquisa com oensino. Como, por exemplo,“A questão da psicologia doindivíduo em Theodor Ador-no” do professor Douglas Gar-cia Alves Júnior(Cooordena-ção Fumec/Funadesp) e desua equipe de estudantes Pau-la Campolina e Tiago Morei-

ra ambos do Propic/Fumec.Os resultados do seminá-

rio permitiram a compreen-são primeiramente da consti-tuição da subjetividade do in-divíduo.

O evento também superouas expectativas em relação àpresença e interação dos alu-nos nas palestras, discursos,mesas redondas.

Um dos principais objeti-vos do Propic é estimular ocorpo docente da Universida-de Fumec, ou seja, estimulartodos os seus alunos a implan-tar e consolidar linhas de pes-quisa e de extensão.Além dis-so, uma outra finalidade seriadespertar entre os estudantesde graduação a vocação cien-tífica e estimular a participa-ção, elaboração e execução deprojetos de pesquisa, orienta-dos por professores qualifica-dos.

O cotidiano dequem freqüentaa Associação

Lucas de Oliveira, de apenas9 anos, morador da Vila AcabaMundo, é uma das 220 criançasque participam do Projeto Que-rubins.Todos os dias ele acorda às6h30 e vai para a Escola Benja-mim Jacolar,onde permanece atéàs 11h30.Depois,volta para casa,almoça e vai para o projeto.“Láeles oferecem almoço para todasas crianças,mas ele prefere comeralgo em casa”,conta a mãe do ga-roto. De 13h30 às 16h, o jovemtem a oportunidade de participarde várias oficinas, entre elas ca-poeira,apoio escolar, artes plásti-cas,esportes,percussão e música.

Lucas é considerado um ga-roto muito nervoso.Chega a serchamado de problemático, porcausa de seu temperamento.Porisso mesmo é que ele recebeacompanhamento dos psicólo-gos voluntários, estudantes docurso de psicologia da Fumec.

A mãe do garoto garante queo trabalho que o Projeto Que-rubins realiza está sendo muitoimportante. Não só para ela e ofilho,mas para toda a comunida-de da vila Acaba Mundo comoum todo.“Preciso trabalhar ou àsvezes sair para resolver algumproblema e não tenho comquem deixar meu filho. Ficotranqüila porque sei que lá ele es-tá protegido,”afirma a mãe.

Outras famílias ainda ressal-tam que esta iniciativa tem aju-dado muito no desenvolvimen-to e na formação dos meninoscomo cidadãos e contribuindopara uma formação pessoal maiscompleta.

Ana Carolina Cervantes,Leonardo Koroth, Simone Monção e

Yany Mabel4º período

Há cerca de um ano, a Uni-versidade Fumec vem apoiandoo projeto da Associação Queru-bins, que trabalha para resgatar acidadania e a auto-estima decrianças e adolescentes.Com dezanos de existência, a associação,sem fins lucrativos atende cercade 220 crianças e adolescentesem situação de risco social. Co-nhecidos também como queru-bins,os jovens são estudantes comidade entre 6 e 18 anos, que par-ticipam das oficinas disponíveis

no projeto.A iniciativa dá prefe-rência para moradores da Vila Aca-ba Mundo, localidade onde a ins-tituição está instalada,mas atendetambém interessados de outras vi-las de Belo Horizonte.

O projeto vem sendo amplia-do constantemente.“Os meninosda vila precisam de um incentivopara levantar a auto-estima e res-gatar a sua cidadania”explica o au-xiliar da coordenação da Associa-ção Querubins, Ronilson Mário.E foi reconhecendo a necessidadede um acompanhamento psicoló-gico que a Fumec se integrou aoprojeto, apoiando o trabalho deeducação das crianças e contri-buindo para que elas tenham aperspectiva de novos horizontes,

principalmente através da arte.Cerca de cinco alunos do cur-

so de Psicologia visitam o localduas vezes por semana para pres-tar serviço de apoio psicológicoaos jovens que apresentam algumtipo de dificuldade, identificada pe-los próprios voluntários.

A iniciativa tem dado tão cer-to que até os próprios pais estãoprocurando tais serviços.“Muitascrianças trazem problemas de ca-sa e isso prejudica seu desenvolvi-mento e integração nas oficinas.Por isso,é muito importante e ne-cessário o auxílio de um profissio-nal da área”, relata o auxiliar dacoordenação, Ronilson Mário.

O trabalho dos estagiários vemsendo realizado há dois anos sob

a coordenação da Profa.Ana Sen-ra de Psicologia e Educação doCurso de Psicologia da Universi-dade Fumec.Ela também está im-plantando o projeto de extensãoque amplia as ações da psicologiaclínica à escola e às famílias dascrianças.

Atividades diversas

As oficinas começam às 8h eterminam às 16h, com intervalospara café da manhã e almoço.En-tre as diversas atividades incluídasestão: dança de rua, artes plásti-cas, esportes, produção e manu-tenção de hortas comunitárias,apoio e reforço escolar, dançacontemporânea, dança livre, dan-ça da África, capoeira de Angola,

percussão, orientação sexual,mú-sica e entale.Além das oficinas, oprojeto conta também com ati-vidades extras.

Formando cidadãos

Segundo Luciana Rocha, es-tudante do 8º período de psico-logia da Fumec e estagiária noprojeto Querubins,“a criança vaipara a associação para se formarcomo um sujeito completo”.Além da Universidade Fumec,apóiam o projeto a MineraçãoLagoa Seca, a Magnesita, a Cons-trutora Santa Bárbara, o Institu-to Ayrton Senna, a Telemig Ce-lular, a banda musical Skank e aONG Corpo Cidadão / Proje-to Sambalelê / Petrobrás.

Fumec investe em pesquisas institucionais

Você ainda não sentiu a faltaque vai fazer.

O desmatamento causa a desertificação e provoca a seca.

E você só vai se dar conta disso quando tudo acabar.

17 de Junho - Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca.

Vencendo os desafios para se consolidar como umagrande instituição, a Fumec investe na formação de

novos jovens pesquisadores

Os “querubins” participam de atividades como danças, artes plásticas e música

Fernando Prado

Fernando Prado

Projeto Querubin: com dez anos de existência atende cerca de 220 crianças por mês

UniversidadeFumecincentiva acidadaniaProjeto de Extensão resgataauto-estima dos ‘querubins’ daAcaba Mundo e outras vilas deBelo Horizonte

07 - Fumec - Ubirajara Varela 6/6/05 11:36 AM Page 1

Page 8: Jornal O Ponto - maio de 2005

O POBelo Horizonte

Editor e diagramador da página: Willian

8 ESPECIAL

Aline Valério, Luciana Ribeiro, Max Valadares e Raquel Alves

4º período

Sexta-feira, 11h. Os estudantes saemapressados dos colégios particulares pa-ra não perderem seu compromisso: umabriga agendada para acontecer em fren-te ao shopping Pátio Savassi, região daSavassi, Centro-sul da capital. Os envol-vidos são jovens, entre 10 e 17 anos, declasse média e classe média alta.“O quemais me espantou foi a quantidade dejovens envolvidos e o descaso dos segu-ranças do shopping”, afirma a estudan-te de psicologia Marina de Castro Al-ves, 26. Moradora vizinha do estabele-cimento,Marina se espantou com a bru-talidade do fato.“Eu só vi porque meuprimo, F.C.M., 14, estudante do colégioModelo, já sabia que a pancadaria esta-va agendada e me avisou”, relata.

Esse fato tem se tornado comum epreocupa em Belo Horizonte.As medi-das adotadas pelos professores e diretoresdas escolas para lidar com a violência ten-dem a ser as tradicionais, como: acionara Polícia ou ainda erguer muros mais al-tos para conter a violência externa.Mas,quando o problema, ou parte dele, co-meça dentro da própria instituição?

O fato de essas escolas serem pagas enão possuírem normas que sejam reco-nhecidas e respeitadas pelos alunos aca-ba por desviar a relação de respeito en-tre o aluno e o professor, tornando-a umarelação comercial. Os adolescentes aca-bam se sentindo superiores aos educa-dores, uma vez que seus pais pagam pe-lo serviço prestado.

Pesquisa realizada em 2004 pelo Cen-tro de Estudos da Criminalidade e Se-gurança Pública (Crisp) da UFMG reve-la que as escolas que combatem a vio-lência com “mãos firmes” e sabem im-por limites aos adolescentes são as me-nos atingidas com o problema.

As brigas no Pátio Savassi, na maio-ria das vezes, por exemplo, acontecempor algo sem importância. J.T.D., 16, alu-na do Colégio Marista Dom Silvério, ex-plica que até uma palavra mal com-preendida é motivo para desentendi-mentos. Para ela, o problema das brigascomeça em casa, com a educação dadapelos pais.“Os pais deveriam impor li-mites aos filhos desde cedo”, opina.

L.C.M., 17, estudante do colégio Sa-grado Coração de Maria, já presenciouuma briga no Pátio Savassi. Segundo ela,adolescentes entre 13 e 15 anos começa-ram a se enfrentar dentro do shopping,mas os seguranças intervieram.“A brigasó foi terminar em frente a uma droga-ria, que fica ao lado”, relata.

Em uma nota ao Jornal O Ponto, a as-sessoria de comunicação do shopping Pá-tio Savassi afirmou que a diretoria temciência do problema e que já tomou asdevidas providências cabíveis, preferindonão mais se manifestar sobre o assunto,

“uma vez que já foi amplamente discuti-do pela mídia”.

Ainda segundo L.C.M., anterior-mente as brigas ocorriam somente noMcDonald’s localizado na Savassi, e osprincipais causadores eram as “Patys” e“Boys”, como são chamados os adoles-centes que ali freqüentam o local.“Emfrente ao McDonald´s tem a cafeteria queé freqüentada por punks, góticos e ska-tistas e quase não havia briga, somente osboys,‘filhinhos de papai’ é que brigavam”,afirma.

Na escola da estudante também hábrigas,mas em pequenas proporções.“Asbrigas que acontecem,geralmente são deturmas de nossa escola contra as de ou-tros colégios”, conclui a aluna L.C.M..Os estudantres combinam entre si quaisvão ser os locais para o “acerto de con-tas”, e chegam a deslocar até para outrasescolas.

Drogas e álcoolO consumo de bebidas alcoólicas por

menores é outro fator que proporcionabrigas nas proximidades do shopping.

Um funcionário de uma loja, que pe-

diu para não ser identificado por medode perder o emprego, assegura que é co-mum a praça de alimentação do Pátio es-tar repleta de menores consumindo be-bidas alcoólicas. Em uma das vezes queflagrou os jovens bebendo, chegou a cha-mar o Juizado de Menores, mas não foiatendido.

Além de bebidas alcoólicas, é comumo consumo de drogas e cogita-se a pos-sibilidade de tráfico nos banheiros do Pá-tio, segundo relatos de funcionários. Ofato é confirmado pelo cabo EuflásioAlves de Souza, do 22º Batalhão da PM,confirma que o uso e tráfico de ‘drogasleves’ (como loló e tiner) são comunsdentro e nas portarias do estabeleci-mento.“Em uma sexta-feira, na porta-ria da rua Lavras, cinco adolescentes fo-ram detidos com seis frascos de loló namochila”, conta. Segundo o cabo, osmenores chegaram a ser apreendidos eencaminhados para a Delegacia da Ado-lescência e Juventude de Belo Hori-zonte (Dopcad), mas foram liberadosapós o registro da ocorrência. O Caboafirma ainda que as brigas não aconte-

cem apenas no Pátio, mas também noChevrolet Hall. "Os shows que acon-tecem lá tem a participação de meno-res, pois o juizado liberou a entrada dejovens com idade a partir de 16 anos,sendo que antes a idade mínima era de18. Por isso acontece um aglomeradode jovens, o que gera confusões", diz.

A equipe de reportagem de O Pon-to entrou em contato com o Dopcadpara obter registros do perfil das ocor-rências que envolvem jovens infratores,mas o departamento não tem esse his-tórico. O setor de estatísticas da PM foiprocurado, mas até o fechamento destaedição, os dados não haviam sido dis-ponibilizados.

Para psicóloga Lisley Maria Luiz Batis-ta,“os jovens de hoje andam com a cabe-ça apta a receber todo o tipo de novidadee isso desperta a curiosidade, tornando-osvítimas do mundo das drogas”, justifica.

Uma outra pesquisa, realizada pelaUniversidade Federal de Minas Gerais,revelou que 22% dos alunos consideramsuas escolas como violentas e inseguras,principalmente onde a circulação de pes-soas estranha é facilitada.

FurtosFuncionários do Pátio Savassi con-

tam que nas sextas-feiras, dia de maiormovimento no local, o índice de furtosaumenta consideravelmente.“Um rapazcom cerca de 16 anos roubou um bonéde aproximadamente R$ 150,00 emuma loja e colocou na mochila. O se-gurança não conseguiu contê-lo, masum funcionário de uma das lojas con-seguiu. O rapaz vestia-se bem e usavaum tênis caro. O shopping reforçou asegurança, mas as lojas não”, relata umvendedor do shopping.

Cabo Alves revela que após conteruma briga entre adolescentes ricos, foichamado para apurar o furto de um ócu-los avaliado em R$1800.“Um adoles-cente de classe média furtou o objeto deoutro jovem”, conta.

ConivênciaUm dos fatores que contribui para a

delinqüência juvenil é a impunidade. Oadolescente que se envolveu em uma bri-ga, furtou, consumiu ou traficou drogas,de acordo com o Código Penal, não po-de ser preso.“Nós só o apreendemos e oencaminhamos ao Dopcad”, explica Ca-bo Alves. Segundo ele, parte dos jovensapreendidos costuma ser reincidente e is-so acontece por conivência ou omissãodos pais.“Basta o pai do menor ter in-fluência que ele é rapidamente liberado”,denuncia cabo Alves.“Um adolescenteque se envolveu em uma briga, atingin-do outro jovem com um soco inglês, ha-via sido apreendido.Na viatura, o pai doagressor interviu e exigiu que o garotofosse levado por ele.É esse tipo de atitu-de, conivente, que garante a reincidênciados delitos”, finaliza.

Grande parte das instituições particulares de ensino e dosshoppings de regiões ricas de Belo Horizonte se tornou ringueno qual jovens com alto poder aquisitivo têm se enfrentadoquase que diariamente. São gangues de adolescentes entre 10e 17 anos que brigam por motivos banais, como rixas entrecolégios.A violência também chegou ao ambiente universitárioe professores são ameaçados por alunos insatisfeitos com opróprio rendimento.Autoridades, educadores e psicólogosapontam pais omissos e coniventes, escolas em busca do lucroe o uso de álcool e drogas como os principais responsáveispara o problema que muitos acreditavam que só atingia osmais pobres da sociedade

Pátio Savassi se tornou ringue de brigas entre jovens

Vitor Schwanner

VIOLENCIAentre joven

“Em uma sexta-feira,na portaria do shoppingda rua Lavras, cincoadolescentes foramdetidos com seisfrascos de loló namochila”

Euflásio Alves de Souza, cabo da PM

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ESPECIAL 9ONTOte – Maio/2005

Chaves / Colaboração: Rafael Werkema

Infoarte: Juliano Mendonça

Professores são vítimas dealunos em escolas privadas

Ana Paula Ferreira,Gabriela Oliveira

Natália Andrade e Wânia Ferreira

4º período

A perda de regras e de normasque definem o papel de aluno ede professor torna o relaciona-mento algo a ser “construído”,“re-forçado”, em um ambiente noqual a própria legitimidade da au-toridade do professor é questio-nada, confrontada, e o poder doaluno de orientar o ritmo das au-las tido como válido.

De acordo com a professorada FUMECe antropóloga Josefi-na Lobato,“manter o silêncio du-rante as aulas”,que sempre foi ti-do como inerente do ambienteacadêmico, é sentido pelos alu-nos como uma demanda a seraceita ou não, dependendo daboa-vontade dos mesmos.

Para o aluno de design daUniversidade Fumec Sávio Hen-rique de Oliveira,“muitos estu-dantes consideram a escola par-ticular como um supermercado,em que o cliente tem sempre a

razão”.Em virtude disso,a maio-ria das escolas particulares tratamseus alunos como clientes.Devi-do a essa forma de pensar,chega-se a ponto de um aluno vir aagredir um professor por este nãoabonar a sua ausência em sala deaula na lista de chamada. “Na

maioria dos casos, fica tudo porisso mesmo e às vezes o professoré até advertido pela direção da es-cola”, afirma o estudante.

Essa sensação de poder que o

aluno sente frente ao professorem escolas particulares deve-se àidéia errônea que eles possuemde que, ao pagar a mensalidade,estão pagando os professores e,portanto,estes são seus emprega-dos e estão a seus serviços.

Alguns especialistas delegamesse problema aos pais, por nãoestarem presentes na vida de seusfilhos, e por tentarem compen-sar essa falta dando todo o tipode suporte material.“O supor-te material dado pelos pais, nãosupre a falta de um relaciona-mento afetivo e os filhos utili-zam a violência para chamar aatenção”, destaca a psicólogaRenata Abreu.

As atitudes dos alunos queenfrentm os professores eatra-palham as aulas e causam idig-nação. “O grande problema éque a falta de limites e de res-peito e o abuso de poder dessesseres imprudentes, tanto dentrode casa, quanto nas escolas temcausado grande prejuízo a umapequena maioria que buscaaprender na escola para aplicarno futuro”, desabafa Sávio.

Ana Paula Ferreira, Gabriela Oliveira, Natália Andrade e

Wânia Ferreira 4º período

A violência em escolas, as-sociada na maioria das vezes deforma preconceituosa somen-te à classe pobre e marginali-zada, atinge e também é prati-cada por alunos de escolas pri-vadas. Essa constatação assustapais, alunos e professores, e éapontada como fator preocu-pante pelos meios de comuni-cação.

A capacidade desses jovensde classe média e alta de se en-volverem tão facilmente embrigas sem nenhum motivoaparente vem incomodandomuita gente.

Segundo a psicóloga Re-nata Abreu, o problema é o fa-to de esses jovens se acharemno direito de cometerem taisdelitos.“Muitos desses adoles-centes agem dessa forma sim-plesmente por possuírem umalto poder aquisitivo, para sa-

tisfazer seu próprio ego quenunca se encontra satisfeito epor saberem que seus pais re-solverão tudo no final”, afirmaa psicóloga.

Para quem pretende teruma formação acadêmica comcapacidade reflexiva e uma boaformação ética, que conserveos princípios básicos da boaeducação, as escolas particula-res têm deixado a desejar.

De acordo com a pedago-ga especializada em sociologiada educação, Cybele Almeidade Freitas, cada vez mais, as ins-tituições privadas não se preo-cupam em educar e formarbons cidadãos.“No sistema emque estamos inseridos, o capi-talismo, as escolas se preocu-pam em formar indivíduosempreendedores, para no fu-turo competirem entre si e ser-virem à indústria do entrete-nimento e do comércio”, re-lata.

Izabel Galvão, superinten-dente de ensino, afirma que “asescolas privadas considera da-nosos os efeitos que a publici-

dade das situações de violên-cia podem ter sobre suas ma-trículas. “Elas têm todo inte-resse em manter sigilo deeventuais ocorrências”, afir-ma. Já Wanderley Codo, espe-cialista no combate a este tipode delito, destaca que o índi-ce de violência continua cres-cendo e ameaçando as escolasdo país.

Pesquisas realizadas em BH,mostram outro agravante quevão de encontro às situaçõesque se encontram nas escolasparticulares.A maior parte, cer-ca de 60% dos pais e mães, des-ses alunos tem escolaridade su-perior (completa ou não), en-quanto 45% dos pais de alunosde escolas públicas possui até aquarta série do ciclo primárioou são analfabetos.

O processo de degradaçãodo ensino faz parte da históriada educação no país, decorren-te de más administrações. “Aforte influência do capitalismotransformou a educação em ummercado onde o lucro”, relataCybele.

Ensino particular não égarantia de boa educação

A CRESCEs de classe média

“Muitosestudantesconsideram aescola particularcomo umsupermercado,em que o clientetem sempre arazão”

Sávio Henrique, estudante

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Lídia Rabelo, Paula Luzia e Polyanna Rocha4º período

Milhares de brasileiros arriscam suas vidas atravessando afronteira entre o México e os Estados Unidos de formairregular. São pessoas que vão em busca do que conside-ram um sonho: melhorar financeiramente a própria vida

e de seus familiares. Em conseqüência, centenas deles são presos e atémortos durante a travessia.

É em cima desta questão que a Rede Globo tematizou seu horárionobre com a novela”América”.A trama global é fonte de uma polêmi-ca que leva autoridades e estudiosos a questionar: a novela é um incen-tivo ou um alerta aos perigos existentes na travessia?

O professor e pesquisador do curso de Comunicação Social do UNI-BH Luiz Ademir de Oliveira, jornalista e mestre em Comunicação pe-la UFMG, defende que, antes de se fazer esse debate, é fundamental cha-mar a atenção de todas as classes para mudanças estruturais que são ne-cessárias na sociedade brasileira, e também, as possíveis causas para a emi-gração. Ele afirma que é preciso analisar o papel dos governos, das orga-nizações não-governamentais e da própria sociedade civil em relação aosproblemas sociais.“Dentro desse contexto, por exemplo, o jornalista ho-je, muitas vezes, tem assinado este pacto de mediocridade, legitimandouma mídia que humilha o brasileiro e não tem responsabilidade social.Temos que sair da passividade e sermos mais críticos”, opina Oliveira.

A psicóloga social Mara Lúcia Fernandes analisa como a mídia, atra-vés da novela “América”, pode influenciar o comportamento das pes-

soas.“O canal está em 99% da mídia considerada a ‘janelinhado mundo’. Por isso, é preciso ficar atento quanto à sua

influência”, enfatiza. Para ela, o deserto, a fronteira, o do-mínio dos ‘coiotes’ (pessoas que auxiliam na travessia)

têm sido os únicos pontos negativos res-saltados pela novela.A re-

dução do territórionorte americano à

esplêndida ci-dade de

Miami ven-de a impressãode que no pri-meiro mundotudo e todos sãodesprovidos dedificuldades e mi-

sérias de qualquer na-tureza, e podem desfrutar

alegres, orgulhosos e dan-çantes do prazer de serem

imigrantes latinos.“Essa se-qüência de imagens pode cus-

tar muito caro (custo da pró-pria vida), principalmente para

a platéia pertencente a uma rea-lidade brasileira totalmente carente

de expectativas que, fundamentalmente, nãoconsegue distinguir a realidade existente no pri-

meiro mundo daquela dramatizada na “América” daGlobo”, aponta Mara Lúcia.

Outra questão importante levantada pela psicóloga é que,na briga por audiência, a novela impõe uma fantasia de con-

sumo ao brasileiro: o sonho de vencer na vida por meio deprofissões extremamente desvalorizadas em território nacional,

como o garçom, o faxineiro, a dançarina, o motorista, a domésti-ca, etc.“O desejo transfigura a realidade, na ficção as coisas não são

muito diferentes e esse é o grande perigo de se tratar assuntos polêmi-cos em meios de comunicação de massa”, alerta.

Mas para o professor de Comunicação Luiz Ademir Oliveira, é pre-ciso abandonar a idéia de que a mídia tem um poder quase onipoten-te sobre a sociedade. “Não existe uma massa manipulável”, explica.Contudo, ele acrescenta que em um país como o Brasil, cheio de ma-zelas sociais e com altas taxas de analfabetismo, a influência da mídia éconsideravelmente importante. Dessa maneira, o professor sustenta aopinião de que se pode analisar essa influência sob vários olhares. “Éimportante que a mídia coloque assuntos polêmicos em pauta para queas pessoas possam buscar mais informações. Mas também é preciso lan-çar um olhar crítico, tendo em vista que a novela é um produto quebusca audiência. Para isso, a trama banaliza os fatos e muitas vezes mos-tra um mundo de fantasia que pode influenciar de forma negativa àspessoas mais vulneráveis”, finaliza.

O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editores e diagramadores da página: Rafael Werkema e Renata Quintão

10 MÍDIA

Lídia Rabelo, Paula Luzia ePolyanna Rocha

4º período

Maria Eunice Gonzaga Perei-ra,mãe do adolescente R.P.G.,queatravessou ilegalmente a fronteirado México com os EUA, consi-derou “sensacionalista”a cobertu-ra da mídia a respeito do caso.

O fator que mais a constran-giu foi a divulgação do valor queo filho precisava para pagar os in-termediadores. “Se as pessoasabrem o jornal e vêem uma no-tícia como essa, minha segurançafica comprometida, pois poderiame tornar alvo de bandidos”, re-volta-se a mãe do jovem.

Segundo ela, a mídia vem tra-tando a questão de forma superfi-cial, pois desconsidera as questõessociais que envolvem o assunto.Além disso, no caso de R.P.G., aimprensa desmereceu seu senti-mento e de seu filho no períodoem que o jovem ficou preso.

DramaMaria Eunice passou por três

experiências difíceis: a ida con-turbada de seu marido que ten-tou atravessar a fronteira três ve-zes, mas somente na quarta teveêxito; seu filho mais velho quepassou 23 dias no deserto sem darnotícias; e o caso de R.P.G. quefoi preso pelas autoridades.

Eunice relata que, nesse últi-mo caso, o filho, menor, passoupor muitas dificuldades.“O mo-mento de maior angústia foi

quando meu filho ligou dizendoque estava preso. Mesmo deses-perada tive que passar tranqüili-dade para ele” relembra.

O menor ficou quatro mesesencarcerado em uma casa de de-tenção para menores na cidade deSanto Antônio, noTexas. Na ins-tituição, estudava 8 horas por diae ainda trabalhava.Nesse período,ganhou um dólar por dia e aindatrouxe um presente para mãe.Duas vezes por semana, mãe e fi-lho se falavam para matar as sau-dades e também para saber emque condições o menor se en-contrava.

Maria Eunice acredita que,após a exibição da novela “Amé-rica”, o esquema clandestino setornou mais difícil, isso “porquemostra exatamente como a tra-vessia é realizada, assim a polícianorte-americana seguirá o rastrodos imigrantes”.

O fato noticiado sobre o me-nor de Betim retrata, em grandeparte, a promessa ilusória deprosperidade que causa a imi-gração ilegal. Os motivos deR.P.G. segundo sua mãe, eram asaudade do pai e a necessidadede ajudar sua família. Mas a de-cisão da travessia de R. P. G. nãopartiu somente de Maria Euni-ce, foi um consenso entre ela eseu ex-marido e filho mais ve-lho que já está nos EUA, e, cla-ro, de sua própria vontade. “Amãe, mesmo contra sua vontade,aposta nos sonhos de seus filhos”,justifica Eunice.

“América”ilusão deprosperidade?

Novela da Rede Globo levantapolêmica sobre a imigração ilegalnos Estados Unidos, mas esvazia adiscussão sobre as mazelas sociaisbrasileiras

Para mãe do menorde Betim, mídia foisensacionalista

10 e 11 - Midia - Rafael W. 6/6/05 11:32 AM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editores e diagramadores da página: Lígia Ríspoli e Rafael Werkema

MÍDIA 11“É preciso desmistificaro sonho americano”

Lígia Ríspoli4º período

O deputado federal JoãoMagno (PT) concedeu uma en-trevista a O Ponto sobre a imi-gração ilegal. Seu papel nessaproblemática é grande, pois elee o senador Hélio Costa propu-seram ao Congresso um proje-to para a criação de uma Co-missão Parlamentar Mista de In-quérito (CPMI) que visa, den-tre outras coisas, a moderniza-ção da legislação de amparo aoemigrante. Em março, o depu-tado participou de um seminá-rio para discutir os direitos hu-manos dos imigrantes brasilei-ros, realizado pela Universidadede Harvard, Boston.

O PONTO - Após os atenta-dos do 11 de setembro, os EUAaumentaram a fiscalização aosimigrantes ilegais, e o Brasil es-tá na lista de países de risco.Es-sa política norte-americana temfundamento?João Magno - A política norte-americana para os imigrantes é com-pletamente descabida, autoritária ediscriminatória, que se acirrou pro-fundamente em função da paranóiaque se abateu nas autoridades dosEUA em relação ao terrorismo.Maso curioso é que está provado que osterroristas que agiram nos atentadosde 11 de setembro de 2001 estavamem situação regular, trabalhavam etinham identificação norte-america-na. Um país que se autodenominaa maior democracia do planeta, aomeu ver, age de maneira violenta epreconceituosa em relação aos imi-grantes, ao ponto de tratá-los comocriminosos comuns, de alta periculo-sidade contra a segurança nacional.OP - O que é a CPMI? O queela propõe? Existem possibili-dades reais de se concretizar?JM - A Comissão Parlamentar

Mista de Inquérito tem a finalida-de de apurar crimes e outros delitospraticados com a emigração ilegal debrasileiros para o exterior, especial-mente os Estados Unidos. O proje-to já recebeu o apoio dos presidentesda Câmara e do Senado, dos parti-dos políticos e das principais lideran-ças.Além da questão criminal, queenvolve as máfias de coiotes e agen-

ciadores que atuam no Brasil,no Mé-xico e nos Estados Unidos,queremoscom a proposta modernizar as leisbrasileiras de amparo à emigração epropor mudanças nos consulados eembaixadas brasileiras, tendo em vis-ta o novo momento histórico do Bra-sil,que deixou de ser um país de imi-grantes para tornar-se, nos últimos25 anos, um país de emigrantes.OP - Como foi o seminário emHarvard?JM - O seminário foi importanteporque pela primeira vez foi deba-tido um tema que vem ganhandoforça também entre os intelectuais:o respeito aos direitos humanos dosimigrantes brasileiros. Durante trêsdias de debates, o fenômeno migra-tório foi abordado sob vários aspec-tos, e mais de sessenta teses sobre oassunto foram apresentadas.OP -Vem sendo divulgado pelaimprensa mundial que os EUAestão intensificando a repressãoem suas fronteiras. O que o se-nhor acha disso?JM - A repressão na fronteira com oMéxico intensificou assustadoramen-te depois de setembro de 2001.É pre-ciso ressaltar que a repressão existecontra todos os imigrantes, não só osbrasileiros. Os mexicanos, por exem-plo, são em grande número e tambémsofrem com a violência dos agentesnorte-americanos nas fronteiras. Re-centemente, tomamos notícia de queestariam sendo organizadas milíciaspara combater a imigração ilegal.Masa xenofobia dos norte-americanos érefletida em todo o território.Sincera-mente, essa postura só tende a acirrara violência, a discriminação e a dete-rioração das condições de vida dos imi-grantes que tentam entrar no país.OP - E como o senhor analisaa cobertura da mídia norte-ame-ricana? JM - A mídia oficial norte-ameri-cana, no meu entender, trata destaquestão de forma preconceituosa, semconsiderar a dimensão econômica esocial que tem o imigrante na vidados norte-americanos.OP - E a novela “América”,darede Globo? Incentiva ou não aemigração de brasileiros?JM - Acredito que a novela nãotem papel preponderante no aumentodo número de prisões de brasileirosque tentam atravessar ilegalmente afronteira do México com os Estados

Unidos.Ela tem,na verdade, a mis-são de levantar um problema con-temporâneo do Brasil, possivelmen-te indicando até alguns caminhos aserem seguidos para a sua supera-cão, o que pode ajudar muito, porexemplo, na conscientizacão da so-ciedade sobre os riscos da travessia edesmitificando o sonho americano.OP - Quem são os intermedia-dores e os coiotes? Qual o perfildeles?JM - Estas pessoas formam máfiasperigosas, especializadas em extor-quir pessoas, falsificar passaportes ecorromper autoridades.Temos infor-mações de que,muitas vezes, são ad-vogados e policiais que se organizampara intermediar as viagens ilegais,podendo ter ramificações com o nar-cotráfico. Geralmente, eles utilizamempresas de viagens como fachadapara montarem as redes criminosas.OP - Quais são os motivosmais alegados pelos brasileirospara saírem do Brasil?JM - Até meados dos anos 80, osque optavam em viver no exterior ofazia motivados pelo turismo ou ne-gócios.A partir daquela década, como acirramento da crise social e a frus-tração de vários planos econômicos,um contingente cada vez maior detrabalhadores brasileiros vem dei-xando o país em busca de melhorescondições de vida e trabalho.OP - Quanto a imigração ile-gal movimenta em capital?JM - Ainda é impossível contabili-zar financeiramente o que é apuradocom as redes de agenciadores. Mas épossível vislumbrar altas somas, ten-do em vista que uma travessia pelafronteira México-Estados Unidos cus-ta em média 10 mil dólares por pes-soa; ou seja, 30 mil reais. Por outrolado, dados não-oficiais revelam quehoje são cerca de três milhões de bra-sileiros vivendo no exterior, princi-palmente Estados Unidos,Europa eÁsia, entre legais e ilegais.Esse pes-soal foi responsável por enviar cercade 6 bilhões de dólares de divisas pa-ra o Brasil em 2004, superando atémesmo o que o nosso país arrecadoucom a exportação de soja. Por isso oGoverno Lula deve apoiar esses bra-sileiros, inclusive com a Caixa Eco-nômica Federal oferecendo um con-vênio que possibilita a cobrança detaxas mais razoáveis para a remessade dólares pelas vias legais.

OP - A situação da emigraçãoé como a de uma guerra?JM - Não diria que a situação daemigração é igual a uma guerra,massim que a repressão à imigração ile-gal, especialmente nos Estados Uni-dos, tornou-se assunto de segurançanacional.De fato, as autoridades nor-te-americanas adotaram aparato deguerra e o recrudescimento da re-pressão resultou em dados alarman-tes como este: em abril, mais de4.800 brasileiros foram detidos nafronteira mexicana, o que dá a in-crível média de 160 prisões por dia.OP - As pessoas que saem doBrasil estão conscientes dos ris-cos que correm. O que faz valertanto a pena esses riscos?JM - A grande maioria das pessoasque saem do Brasil de maneira ile-gal para os Estados Unidos não têmtotal consciência dos riscos de cor-rem, até mesmo de perderem a vida.A ação dos coiotes e agenciadoresnesses casos é alimentar uma in-dústria do sonho americano, ven-dendo facilidades e ilusões que, defato, não são reais.OP - E em relação às mortes?Como as famílias pobres fazempara reclamar os corpos? Em quemedida o governo ajuda?JM - Esta é uma questão que que-remos aprofundar na CPMI que es-tamos organizando no CongressoNacional. O Brasil precisa moder-nizar a sua legislação de amparo aoemigrante, agindo em sintonia comoutros países para enfrentar este pro-blema.Por exemplo, sabemos que osconsulados brasileiros arrecadam al-tas somas em dólar com a emissão depassaportes e vistos para turistas quequerem visitar o Brasil.No entanto,quando um brasileiro morre no ex-terior, esteja ele legal ou não, o Ita-maraty não pode utilizar esses re-cursos para custear o traslado do cor-po,mesmo nos casos de carência com-provada da família. Então, precisa-mos mudar isso, criar mecanismos pa-ra que as nossas instituições possamajudar os brasileiros que optam porviver em outros países.Estamos em-penhados em garantir melhores con-dições para os emigrantes, seja com-batendo as redes que alimentam aclandestinidade ou modernizando anossa legislação vigente voltada pa-ra o bem-estar dos nossos irmãos aon-de quer que eles estejam.

Esta afirmação é do deputado federal João Magno, que fala aO Ponto da proposta de criação de uma Comissão ParlamentarMista de Inquérito para apurar crimes e outros delitos praticadoscom emigrantes ilegais brasileiros

Lígia Ríspoli4º período

O que, ao longo de sua histó-ria, torna um homem tão seme-lhante a outro é a busca de um so-nho. Na Bíblia, vemos a saga dosjudeus à procura da “Terra Prome-tida”.E ainda hoje, os judeus per-seguem esse objetivo guerreandocontra os palestinos.Na Grécia An-tiga, por exemplo, Platão já escre-via sobre um governo e um mundoideal, em seu “Mito da Caverna”.São Tomás Morus escreveu um li-vro,“Utopia”, em que também pro-pagava as idéias de um governoideal.A história da humanidade éfeita nações que batalharam por umsonho. E também por loucos dita-dores que não hesitaram em sacri-ficar vidas para alcançar um mun-do considerado ideal.

Compreendendo a alma e a

história humana, é possível en-tender assim porque tantos brasi-leiros fogem do país à procura daterra prometida, que, atualmenteé os Estados Unidos. Nessa fuga,há de tudo um pouco: pessoas quepossuem boas condições financei-ras, entretanto arriscam-se paraenriquecer ainda mais; outras, semperspectivas nenhuma, sem nadaa perder.

É ser muito superficial culparapenas o fator econômico brasileiroque, evidentemente, contribui paraa fuga.Assim como responsabilizaros norte-americanos pela política epropagacão ideológica .Compreen-dendo apenas um ponto de vista,não é possível entender a realida-de, que é contraditória. Basta ana-lisarmos o caso dos estados de Mi-nas Gerais e Goiás. Eles são os quemais “exportam” trabalhadores enão estão entre os piores em Índi-

ce de Desenvolvimento Huma-no(IDH). Por que então mineirose goianos migram? Será que nãotemos que discutir sobre o imperia-lismo cultural, que lucra com a ven-da de ilusões?

A classe média baixa quer ter osprivilégios da alta, que é o “direito”ao inglês, a uma casa chique, a umbom carro. Supérfluo? Nenhum serhumano quer apenas comida, casa,saúde e educação. Nós somos tam-bém movidos pelo prazer. Mas nãose pode generalizar e crer que tudoé uma procura incessante por ele. Te-mos uma carência social enorme.OBrasil e toda a América Latina pas-sam e sempre passaram por difíceissituações econômicas,que contribuempara as migrações. Às vezes os go-vernos não garantem nem mesmo osdireitos básicos (moradia, alimenta-ção, educação, saúde e lazer), como éo caso do nosso país.

Quando surge um tema dessepara ser discutido na mídia, namaior parte das vezes, a discussãoé vazia. É o que ocorre, por exem-plo, na novela “América”, da re-de Globo. É uma trama que pa-rece não ter o objetivo nem de en-sinar nem de “desensinar”, umaatitude neutra que, muitas vezes,incomoda. Passam os anos e mui-tos temas interessantes das nove-las globais acabam servindo ape-nas como fundo de mais um dra-ma mexicano misturado ao famo-so água-com-açúcar hollywoodia-no, sempre com “happy end”. E overdadeiro tema é assassinado emnome de números de audiência.Mas a esperança é a última quemorre. Espero ver Sol ou um ou-tro personagem simpático morrerno deserto mexicano, revelando asnuances de uma realidade nemsempre bonita.

“A políticanorte-americanapara osimigrantes écompletamentedescabida,autoritária ediscriminatória,que se acirrouprofundamenteem função daparanóia que seabateu nasautoridades dosEUA em relaçãoao terrorismo”

“Há 25 anos, oBrasil deixou deser uma naçãode imigrantespara se tornarum país deemigrantes”

Estamosempenhados emgarantir melhorescondições para osemigrantes, sejacombatendo asredes quealimentam aclandestinidadeou modernizandoa nossa legislaçãovigente voltadapara o bem-estardos nossosirmãos aondequer que elesestejam

“O Brasilprecisamodernizar asua legislaçãode amparo aoemigrante,agindo emsintonia comoutros paísespara enfrentareste problema”

“Os imigrantesforamresponsáveispor enviaremcerca de 6bilhões dedólares para oBrasil em 2004,superando atémesmo o que onosso paísarrecadou coma exportação desoja”

“Não diria que asituação daemigração éigual a umaguerra, mas simque a repressãoà imigraçãoilegal,especialmentenos EstadosUnidos, tornou-se assunto desegurançanacional”

10 e 11 - Midia - Rafael W. 6/6/05 11:32 AM Page 2

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O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editora e diagramadora da página: Déborah Arduini

12 COMPORTAMENTO

Bruna Cerqueira6º período

Tudo começou depois quea estudante Aline Silveira Soa-res, então com 18 anos, foi as-sassinada em outubro de 2001.O estudante capixaba EdsonPoloni Lobo, de 23 anos, é acu-sado de ter participado do as-sassinato durante um ritual ma-cabro, inspirado em um jogo deRPG. O crime ocorreu emOutro Preto-MG, onde o Po-loni fazia um curso superior deCinema eVídeo.

Quase quatro anos depois, oRPG voltou a ser vítima deacusações. Desta vez, a PolíciaCivil prendeu,no início do mês,dois acusados de assassinar oaposentado Douglas AugustoGuedes, a esposa dele, HeloísaAndrade Guedes, corretora deimóveis e o filho do casal Tia-go Guedes, no bairro Praia do

Morro, em Guarapari, EspíritoSanto. Mayderson de VargasMendes, de 21 anos, e RonaldRibeiro Rodrigues, de 22, con-fessaram que mataram a famíliadurante um jogo de RPG. Oscorpos foram encontrados nodia cinco de maio deste ano.

A pergunta que logo vemem mente é: o RPG pode mes-mo criar um assassino? É pos-sível que o jogo incite a vio-lência de tal modo a fazer umjogador confundir real e ima-ginário, pegar uma arma e co-meter um assassinato? MarcosFurtado, psicanalista e consul-tor de adolescentes afirma quenão. "A violência urbana temrelação com o instinto primi-tivo, pressões sociais, fragilida-de e doença mental. Má edu-cação influi um pouco. Gené-tica, também",afirma.

Trocando em miúdos, aquestão é muito mais estrutu-

ral, sociológica, histórico-com-portamental do que se imagina.

O sociólogo Cleyton Var-gas também compartilha daidéia de que a violência urba-na é um problema amplo, deanálise histórica de indivíduopara indivíduo, não genérica eseria uma idéia simplista demaisculpar o RPG pelos atos deviolência.“Percebo este tipo deviolência como manifestaçãonatural, enquanto primitiva, daagressivdade do ser humano.Assim acredito que a violênciaexerce cada vez mais fascíniona medida em que se tornouuma válvula de escape para aspressões e neuroses modernas.Evidentemente, aqueles indi-víduos que a levam às últimase primitivas conseqüências, aoato de matar, são personalida-des frágeis e doentes. Limite esanidade são sinônima”, com-pleta Vargas.

Assassinatos em Guarapari abrem discussão sobreas influências nocivas deste jogo

no bancode réus

O RPG ou roleplaying ga-me foi criado no início da dé-cada de 1970, muito antes dafebre dos jogos eletrônicos.Gary Gygax e Dave Arneson,dois estudantes de história dacidade de Lake Geneva, emWisconsin, nos EUA, eram fãsde jogos de guerra, os "wargames", com temáticas medie-vais. Não a Idade Média ver-dadeira e histórica, mas sim ummundo fantasioso, habitado pormagos, elfos e dragões, inspira-dos em livros como "O Senhordos Anéis" de J. R. R.Tolkien.Da vontade de jogar em mun-dos assim surgiu o Chainmail("cota-de-malha"), jogo deguerra ambientado em um ce-nário fictício chamado Grey-hawk.

Gygax e Arneson entraramtão fundo no universo do jogoque logo veio a idéia de criar

um ambiente real. Onde asguerras fossem decididas nãosó através da batalha, mas tam-bém pela diplomacia. O queaconteceria se um diplomatafosse enviado ao reino inimigopara tentar negociar a paz, aoinvés de um exército pelejarnuma batalha? Mais que de-pressa os dois rapazes elabora-ram as estratégias e as estatísti-cas de um só personagem, as-sim como tinham antes feitocom os exércitos. Para nego-ciar a paz não bastavam núme-ros: para o jogador, era precisointerpretar o personagem, as-sim como a história, como sefosse uma peça de teatro, só quesem roteiro. O resultado foi acriação de um jogo onde nãose jogava com exércitos, e simcom personagens daquelemundo de fantasia: mago, guer-reiros, anões e elfos.

O trabalho de Gary Gygaxe Dave Arneson fez surgir oprimeiro jogo de RPG, o Dun-geons & Dragons. Inicialmen-te o D&D era apenas um su-plemento para o jogo de mi-niaturas Chainmail, mas aca-bou por dar origem a um gê-nero de entretenimento com-pletamente novo.

Empire of Petal Throne foilançado em 1975 pela TSR,mesma empresa que lançou oDungeons & Dragons. Alcan-çou pouco sucesso de vendas.O autor, professor universitá-rio M.A.R. Barker, abandonouos clichês das lendas medievaispara criar um mundo comple-tamente diferente, habitado pe-los Ahoggya, Pe Choi e deze-nas de outras raças bizarras, quese inspiravam em lendas aste-cas, egípcias e de outros povosda história.

Arte de criar histórias medievaispermanece viva

A regra é não se preocuparcom ela. O mais importante nojogo é interpretar.As normas eos dados são usados somenteem situações duvidosas, ondenão se sabe se vai conseguirefetuar uma ação. São necessá-rias também para orientar nacriação dos personagens.A sor-te sempre se faz presente. As-sim, cada um faz sua ação, deacordo com a personalidade dopersonagem. Isso ajuda a de-terminar quanto um persona-gem é mais forte, ou menos in-teligente do que o outro. Quaissão suas as principais habilida-des aquilo que ele faz e é bom,e o quanto ele é bom.

Paulista de Mogi das Cru-zes, Fernando Ladeira, 45 anos,engenheiro e jogador de RPG

desde os 24, afirma “nunca co-nheci alguém, em ambientes dejogo que freqüentava, que te-nha tido algum problema quepoderia ter sido relacionado aoroleplaying game, pelo contrá-rio. O jogo só faz bem a mime a meus amigos. Fiz muitasamizades, aprendi estratégias, anoção de justiça, lealdade, lutapelos ideais, luta pelos objeti-vos", conta.

Quando questionado sobreos assassinatos associados ao jo-go, Ladeira é sarcástico "Entãoeu seria um Serial Killer. JogoRPG há mais de vinte anos enunca tive problemas com ele.”Ele ainda afirma que o jogo sólhe trouxe vantagens e queaprendeu a ser mais expansivoe a se relacionar melhor com

as pessoas. “Antes do jogo euera muito introvertido, calado,apático.Vinte anos depois es-tou eu aqui, realizado profis-sionalmente e cheio de amigos,entre os quais RPGistas doBrasil inteiro”,afirma

Quem condenaRogério Augusto Si-

man, advogado criminalista eestudioso em casos de crimesjuvenis teoriza que não se po-de culpar somente o jogo pe-los crimes, mas eles se tornamuma ameaça para quem temum histórico violento.“Há jo-vens que possuem estrutura so-cial e/ou familiar abalada. Quetem problemas de convívio, derejeição. Já teve até casos desuicídios”,alega.

Prática do RPG pode serbenéfica para os jogadores

Ilustração de um jogo de RPG de Frank Frazetta, com intervenção de Carlos Fillipe Azevedo

RPG

12 - Comportamento - Deborah 6/6/05 11:31 AM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo

COMPORTAMENTO 13

Anna Flávia Ferreira, Clarissa Damas, Gabriela Falci, Marina Santana

1º período

Mesmo freqüentando o Mega Space, localreservado para a competições de arrancadas, nacidade de Santa Luzia região metropolitana deBelo Horizonte, jovens de classe média arriscamsuas vidas na volta para casa realizando ‘pegas’ ou‘rachas’(expressões que são usadas para definir ascorridas ilegais de carros nas ruas da cidade) naMG 020. O piscar das setas se torna um irrecu-sável convite para o perigo.Renato Pinheiro, 35anos, além de participar das competições no lo-cal corre nas ruas e já perdeu quatro carros emacidentes e ainda assim aceita “convites”para par-ticipar de ‘rachas’ . Ele alega que ter um carropreparado o induz a correr e acima de tudo ga-nhar a competição faz muito bem ao seu ego.

Segundo a psicóloga Melissa Alves Pinto Coe-lho, sair de lá e continuar correndo é complica-do.“Isso demonstra a necessidade que eles sen-tem de superar os limites, sendo colocada acimada própria vida”.

Os ‘rachas’ não acontecem apenas com a par-ticipação de carros. O jovem, que não quis seridentificado, G.F.J. de 21 anos, é proprietário deuma motocicleta e sofreu um acidente quandoperdeu o controle e bateu no muro de uma ca-sa após participar de um racha.“Quando sofri oacidente, quebrei um braço e me machuequeimuito.Graças a Deus estou vivo e, agora, tiro ra-

chas uma vez ou outra. Sei que corro o risco demorrer, mas não consigo parar de correr”. Deacordo com os depoimentos, os amigos se co-municam por telefone celular ou nas ruas e ave-nidas para combinarem o local dos rachas.Asapostas podem variar de acordo com o que ca-da participante tem no bolso, mas às vezes elescorrem apenas por prazer.

Dra. Melissa diz que os ‘pegas’ são um desa-fio muito comum na adolescência, o que confi-gura uma necessidade de auto-afirmação na qualo carro é visto como um objeto de poder.

A imprudência ultrapassa todos os limites.Hilton Júnior, 40 anos, diz ter participado dos‘pegas’ que aconteciam na região do Mineirãoe confessa ter ensinado seu filho de 13 anos adirigir. Já A.Q., um adolescente de 17 anos, par-ticipa de rachas com os amigos no bairro SãoBento mesmo sem possuir habilitação. O garo-to diz que a adrenalina é muito forte e que pre-tende continuar correndo.A psicóloga ainda ex-plica que essa necessidade de auto-afirmaçãovem desde criança e que as influências podemocorrer através dos jogos de videogame e atémesmo por filmes.

O perigo não está restrito apenas aos com-petidores. Cristiano Lopes, um executivo de 30anos, sofreu um acidente assistindo aos ‘pegas’que aconteciam na BR 040. Existem grupos dejovens que se articulam pela Internet e exaltama prática dos ‘rachas’ e ‘pegas’. Há páginas, assimcomo comunidades no Orkut (site de relacio-

namentos da rede) em que os integrantes reali-zam enquetes sobre as maiores velocidades al-cançadas e compartilham depoimentos. Elescomparam seus veículos e realizam campeona-tos em que o carro mais preparado e com maio-res investimentos é premiado.

Bruno Vieira Abreu, proprietário de uma lo-ja de peças automotivas, afirma que tamanho in-vestimento varia de 2,5 a 40 mil reais. Os altosvalores envolvidos na preparação de um auto-móvel fazem desta uma prática elitizada. JúniorBitoca, um empresário de 28 anos, possui umcarro próprio para correr e o considera sua prio-ridade. Já investiu muito dinheiro no automó-vel e se orgulha disso.Bitoca conta que já foi ca-paz de desembolsar todo o seu salário na pre-paração do carro e afirma que ao ser chamadopara um ‘pega’, não agüenta a pressão e gosta demostrar que corre mais.

De acordo com Dra. Melissa, esta necessida-de de auto-afirmação está a um passo da delin-qüência.Os jovens se arriscam cada vez mais e avontade de superação parece não ser saciável.Es-se ‘vício’ é preocupante e suas conseqüências sãocarregadas por toda a vida.

Diferença entre ‘pega’e arracandaA arrancada consiste na disputa de dois car-

ros de cada vez acelerando forte por 402,25m,podendo em poucos segundos atingir velocida-des superiores a 200 Km/h.As primeiras provasdessa modalidade surgiram no ano de 1976 e

aconteciam ao lado da fábrica da FIAT, em Be-tim.Atualmente, as provas acontecem no MegaSpace, uma estrutura montada em Santa Luzia eque recebe cerca de 2 mil pessoas toda quinta-feira. Considerado um dos maiores centros deeventos do Brasil, o local conta com uma infra-estrutura completa, dispondo de praça de ali-mentação, grande área verde e estacionamento .A pista de arrancada possui 302 metros e foi cons-truída em 2003 com o aval da prefeitura da ci-dade.De acordo com a organização do local, nasprovas de Arrancada “você pode dar vazão ao seudesejo de acelerar, com muita segurança e totalorganização”. Por volta das 22 horas acontece a"Sessão Cavalo-de-Pau", onde pilotos exibem ahabilidade e o domínio sobre as máquinas.

O Mega Space sedia o Campeonato Mineirode arrancada e uma das etapas do CampeonatoBrasileiro, o que demonstra a notoriedade da ar-rancada como esporte.As equipes disputam em17 categorias e como prêmio recebem troféus.Ocompetidor da categoria STTD-B (Street TurboTração Dianteira-B) Hudson Luigi, empresário,23 anos, é integrante da equipe ByMax e diz es-tar ansioso para a próxima etapa do Mineiro queacontecerá no dia 12 de junho.Segundo Hudson,mais conhecido entre os competidores como Ma-caco,“quem gosta de correr deve ir pro Mega enão fazer pegas nas ruas,pois há uma estrutura queoferece segurança.Carro turbo é perigoso, a pes-soa deve ser cuidadosa e não achar que domina amáquina”.

Excesso de velocidade é aprincipal infração em BH

De acordo com estatísticas daBHTRANS (Empresa responsá-vel pelo Transporte de Belo Ho-rizonte) foram emitidas 434.990notificações de trânsito em 2004,sendo que a infração po excessode velocidade máxima permiti-da correspondeu a 49,82% dasmultas referentes ao mesmo ano.Sabe-se que também cabe à Po-lícia Militar notificar ocorrênciasde pegas e rachas nas ruas de Be-lo Horizonte e, dentre o núme-ro total citado,216.704 notifica-ções foram de responsabilidadeda PM. Esse dado mostra que adelinqüência ainda é uma cons-tante em nossa cidade.

Embriagados, os jovens pra-ticantes de pegas e rachas per-dem completamente a capaci-dade de avaliar os perigos e sesentem encorajados a correr.Se-gundo a Associação dos Detransdo Brasil, o excesso de velocida-de está diretamente relacionadocom a ingestão de álcool, pre-sente em 61% dos acidentes detrânsito. Quanto maior a con-centração da substância no san-gue do motorista, maior proba-bilidade tem ele de provocar um

acidente de trânsito. O sistemanervoso é a sede dos principaisefeitos do álcool, que age comopotente estimulante.

Vem ocorrendo uma visívelredução na taxa de mortalidadepor acidentes de trânsito, frutode campanhas e projetos educa-tivos “Se beber não dirija, se di-rigir não beba”, assim como daimplantação de radares eletrô-nicos e de uma maior fiscaliza-ção. Para se ter uma idéia, em1997 a taxa de mortalidade porcada 10 mil veículos era de 6.3mil.Ano passado este númerosofreu uma queda, sendo redu-zido para 3 mil.

Ainda assim,é preciso que asautoridades prossigam com o tra-balho de reeducação no trânsito,investindo nos projetos preven-tivos e tomando medidas admi-nistrativas severas com o objeti-vo, principalmente os jovens, deterem uma postura de direçãodefensiva.Deve-se conscientizá-los de que pegas e o excesso develocidade aliado ao uso indis-criminado do álcool resultam nu-ma falta de civilidade, obediên-cia e responsabilidade. Mulheres participam das arrancadas do Mega Space

atraem juventude

Guillermo Tângari

Guillermo TângariGuillermo Tângari

Carros são modificados com o objetivo de melhorar o desempenho nas provas

Pegas

13 - Comportamento - Carlos 6/6/05 11:30 AM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editor e diagramador da página: Bruno Ferreira

14 ESPORTETimes mineiros na terceira divisãoClubes de Minas encontram dificuldades para disputarem a série C do Campeonato Brasileiro

Bruno Ferreira6º Período

Mesmo sem data definida pa-ra o começo da competição, al-guns times mineiros já garantiramsuas participações na competiçãodeste ano.A falta de reforços e asituação financeira que se encon-tram os clubes mineiros,pode seralguns dos fatores que impedemque as equipes tenham um bomdesempenho na série C. O Amé-rica,que foi rebaixado da segun-da divisão, o Ipatinga, atual cam-peão mineiro,o Villa Nova que fi-cou em 5º lugar e o Ituiutaba queterminou a competição em 6º eficou com a vaga da URT que noúltimo dia 15 de maio enviouuma carta a Federação Mineira deFutebol desistindo de participarda competição.

O Departamento Técnicoda Confederação Brasileira deFutebol (CBF),divulgou na ter-ça-feira, dia 03 de maio, as dire-trizes básicas para o Campeona-to da Série C de 2005. O prazopara as Federações Estaduais in-dicarem seus representantes nacompetição é 30 de junho.Comisso, será preciso que os campeo-natos estaduais que oferecem va-ga para a Série C e torneios sele-tivos em todo o país terminematé o dia 29 de junho.

O ofício assinado pelo Dire-tor do Departamento Técnico daentidade,Virgílio Elísio, abordapontos como prazo de desistên-cia de clubes e condições dos es-tádios que abrigarão jogos dacompetição.Os estádios indica-

dos pelas federações deverão terlaudos técnicos oficiais, que de-verão ser enviados à CBF, rela-tando as condições de segurança,combate a incêndio e higiene,conforme estabelece o Estatutodo Torcedor.

O modelo da competição de-ve ser mantido,as equipes são di-vididas em grupos, onde os doismelhores se classificam,depois se-gue o tradicional mata-mata atéchegar aos quatro melhores dacompetição, onde estes se en-frentarão entre-si,os dois que maispontuarem sobem para a segun-da divisão.No ano passado, qua-tro equipes se classificaram parao quadrangular final;America-no/RJ, Limoeiro/CE, UniãoBarbarense/SP e Gama/DF. Naocasião, a equipe Paulista e o ti-me do Distrito Federal subirampara a série B .

Este ano estima-se que maisde 60 equipes irão disputar a ter-ceira divisão, tornando a compe-tição mais competitiva.Dos clu-bes mineiros que irão entrar emcampo na série C apenas o Itui-tuba, equipe do Triângulo Mi-neiro, ainda não disputou a “ter-ceirona”.Alguns times do estadode Minas Gerais fizeram parte dahistória da competição,vale des-tacar o América, que foi vicecampeão em 1990 quando per-deu o campeonato para o Atléti-co de Goiás. Outra equipe quetem página na história da tercei-ra divisão, é o desconhecido Es-portivo, da cidade de Passos, in-terior de Minas,que foi vice cam-peão em 1988. América busca reencontrar o caminho das conquistas no campeonato desse ano

Ipatinga seprepara paradisputar série C

O Ipatinga atual campeãomineiro, tem se mostrado bas-tante motivado com suas no-vidades para a disputa da sérieC. Pelo menos é o que de-monstra o elenco do time emrelação as decisões do presi-dente Itair Machado, junta-mente com o técnico NeyFranco. Eles se reuniram coma diretoria do Cruzeiro, paradefinir detalhes da parceria en-tre as duas equipes.

A parceria que deu certo nacompetição mineira, será apre-sentada agora para o cenárionacional. Alguns jogadores doCruzeiro vão disputar a série Cpelo Ipatinga.

Além dos reforços cruzei-renses, mais quatro jogadoresque fizeram parte da inéditaconquista do estadual perma-necerão no clube. Os volantesCharles e Léo Silva, e os ata-cantes André e Márcio Diogo,juntamente com o goleiro Ro-drigo Posso, ex jogador do cru-zeiro que obteve seu passe.

Outro jogador que acertousua vinda para a equipe do Va-le do Aço, é o zagueiro Lean-dro Amaro, que atuava na equi-pe junior do Cruzeiro. Segun-do Itair Machado, a contrata-ção de mais três zagueiros e ummeia, são prioridades para aequipe na disputa.

Letícia Espindola

Fatos, eventos cu l tura is, cur ios idades, not íc ias da c idade, do país e do mundo. No jorna lO Ponto, você encontra tudo isso e análise sobre os assuntos que mobilizam a opinião pública.Se você quer ser um comunicador soc ia l de o lho no presente e s in ton izado com o fu turo,você prec isa ler O Ponto.

Pra quem não é informado, tudo pode dar errado.

Pra quem não é informado, tudo pode dar errado.

14 - Esporte - Bruno Ferreira 6/6/05 11:28 AM Page 1

Page 15: Jornal O Ponto - maio de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editor e diagramador da página: Carlos Augusto Macedo

ESPORTE 15

Estádios vazios para torcedores brigõesGigante da Pampulha poderá deixar de sediar alguns jogos do campeonato brasileiro devido à violência das pessoas que frequentam o estádio

Que a violência está alastra-da pelo país e que todos somosas vítimas dessa guerra civil to-dos nós já sabemos. As causasdisso é o fato de cada vez maisos aparelhos ideológicos do es-tado (família, religião, escolas)estarem perdendo espaço na vi-da das pessoas. No entanto otom grave ocorre quando me-canismos antes tidos como lo-cais de encotros de nações, deconfraternização, como é o ca-so dos jogos de futebol entre di-ferentes nacionalidades, trans-forma-se em rinha. Ha poucomais de um mês o jogador Gra-fite, se envolveu em um caso deviolência racista.O jogador, emdepoimento à polícia disse queseu adversário, Leandro Desá-bato do Quilmes da Argentina,o chamou de “negro de merda”.O caso não é o primeiro nemserá o último, como afirma ojornalista Joelmir Beting .O ca-so passou e a pauta da mídiatambém, ficamos aguardando opróximo ato de violência praque a discussão retome e aiquem sabe alguma coisa mudeno esporte brasileiro.

Revelações de Minaspara o mundo da bola

Carlos Augusto Macedo6º período

Os garotos de ouro de Atlé-tico e Cruzeiro são promessas quepodem se tornar realidade, Ra-mon de 16 anos do Galo e Ker-lon do Cruzeiro de 17 são osprincipais jogadores da seleçãobrasileira sub-17,que conquistouem abril passado o titulo sul-americano da categoria.As duasjovens promessas têm muita coi-sa em comum.Ambos são mi-neiros, meias e nasceram na re-gião do Vale do Aço.Sem contarque os dois também passaram pe-lo futebol de salão e tem Ronal-dinho Gaúcho como ídolo econseguem manter uma vidabem simples.A prova de toda es-sa simplicidade é que os dois atle-tas ainda moram nos alojamen-tos das categorias de base de seusclubes e costumam pegar caronacom os jogadores profissionais pa-ra irem treinar.

Ramon marcou cinco gols nocampeonato que classificou oBrasil para o campeonato Mun-

dial Sub-17 que vai ocorrer en-tre 16 de setembro e 2 de outu-bro, no Peru.Já a promessa cru-zeirense foi o artilheiro da com-petição com oito gols marcadosem apenas sete jogos.Na “final”contra o Uruguai,na qual o Bra-sil se tornou campeão, eles mar-caram os dois gols do empatecom a azul celeste.

O destaque foi tanto que Ti-te e Levir culpi, técnicos de Atlé-tico e Cruzeiro respectivamen-te ficaram muito interessados nosgarotos.Ramon logo quandochegou ao Centro de treina-mento em Vespasiano já foi inte-grado ao grupo de profissionaisdo Galo,e Kerlon que vinha sen-do observado por Levir começaa ter suas chances na equipe prin-cipal do Cruzeiro.

Mas um fato curioso que tor-nou o meia Kerlon famoso, nãofoi a artilharia do campeonato,mas sim a jogada “da Foquinha”na qual o jogador extremamen-te hábil vai levando a bola em di-reção ao gol adversário com a ca-beça.O jogador já havia mostra-

do essa jogada nos campeonatosda base do Cruzeiro, mas foi nosul-americano que ela ficou fa-mosa para todo o país e até mes-mo para o exterior.Seus marca-dores sem ter como parar e as-sustados com a jogada só conse-guem parar o meia com falta.Ojogador do Cruzeiro já passou poroutros tipos de preparações paraque a jogada fosse aprimoradajuntamente com o seu fute-bol.Kerlon fez outros esportes,como natação para pegar mais re-sistência, taekwondo para adqui-rir mais habilidade e atletismo pa-ra obter mais força física.

Ramon já foi integrado aoplantel principal do galo e ho-je é uma opção de Tite para otime. O sucesso relâmpago deKerlon e Ramon fez com queempresários já os procurassempara representá-los no campoda bola.Kerlon já possui dois,um no estado de São Paulo,Daniel Pereira e outro na Itá-lia, Nino Raiola.Ramon quequem assume e administra seusnegócios é seu pai.

Brenno Rocha, GuilhermeBarbosa, Henrique Lisboa e

Pedro Bcheche4º período

A partir desse ano, começa avigorar uma punição bastante po-lêmica no futebol brasileiro quejá ocorre há algum tempo na Eu-ropa: jogos com portões fechadospara equipes cuja torcida provo-cou tumulto durante as partidas.O fato do futebol europeu, queé um modelo de organização teradotado este procedimento paradiminuir a violência nos estádios,influenciou decisivamente os di-rigentes brasileiros a seguir estemétodo, deixando de fora umaparte fundamental do espetáculodo futebol, que é o público, amassa torcedora.

O esporte, sendo parte inte-grante da sociedade,não está imu-ne aos problemas sócio-econô-micos do país.O cidadão,que so-fre angústias e frustrações que vãodesde a própria insegurança vitalaté os problemas mais levianos davida cotidiana, ao chegar no es-tádio,assume a identidade do co-letivo, dissolvendo muitas vezesseus próprios valores em nomede algo maior que o de si mes-mo,no caso,seu time do coração.Assim,a atitude agressiva e a vio-lência surgem quase juntos comoconseqüência da acumulação de

tanta frustração, e nisso o espor-te atua como um canal universalde liberação da agressividade.Porisso não são os raros os momen-tos de pura selvageria e desordemnos estádios.Tornando-se neces-sário implantar uma legislaçãoque contenha medidas enérgicaspara coibir cenas de vandalismovistas nos últimos tempos. Masuma punição que impede o tor-cedor de assistir a uma partidamerece uma discussão se esta é amedida adequada, não existindomelhores formas de sanção.

Carlos Eduardo Oliveira,sub-editor de Esportes do jornal Es-tado de Minas, acha justa a puni-ção porque avalia como ineficazos métodos que vem sendo apli-cados.“Alguma coisa tinha queser feita, pois as outras formas depenalização não eram tão enér-gicas quanto essa.O Atlético,porexemplo, foi punido no ano pas-sado, mas pôde jogar em Ipatin-ga onde continuou em casa,con-tando com o apoio de sua torci-da. Só perder o mando de cam-po não é válido.” Ele ainda con-sidera cedo para analisar se a me-dida vai atingir o seu objetivo,queé o de diminuir a violência nosestádios.Ele avalia que nesses ca-sos a responsabilidade é dos clu-bes.“O clube é responsável peloseu torcedor.”Oliveira aponta fa-lhas no sistema de vigilância dos

estádios.“Deveriam ter mais câ-meras de monitoramento paraidentificar os torcedores que ge-ram tumulto”.

PrejuízoPara Marcone Barbosa,asses-

sor de imprensa do Cruzeiro Es-porte Clube, o prejuízo de umapartida com portões fechados po-de ser grande.“Isso pode variarde jogo para jogo. Para grandesclubes como o Cruzeiro,que temmédia histórica de público noCampeonato Brasileiro de 20 miltorcedores, isso gera uma receitabruta em trono de R$ 140 milpor jogo.”Marcone acha a pena-lização de portões fechados umaboa iniciativa mas adverte que sóisso pode não ser suficiente paradiminuir a violência nos está-dios.Ele vê uma influência doquadro sócio-econômico do paíse não concorda com a responsa-bilização dos clubes pelos seusrespectivos torcedores.“É difícilresponsabilizar o clube pelos atosde seus torcedores.Imagine,se emuma briga de torcidas organiza-das,um torcedor morre? Será queo clube é o responsável por aque-la morte? O comportamento dostorcedores em um estádio de fu-tebol tem a ver mais com umaquestão cultural e de educaçãodo povo do que propriamentecom o clube”, afirma.

Racismo geraproblema nofutebol

Ficha Técnicados atletasmineiros• Nome: Ramon Osni Mo-reira Lage•Nascimento: 24/05/1988,Em Nova Era (MG)• Altura/Peso: 1,80 e 69 Kg• Chegada ao clube: 1998• Convocações para a se-leção brasileira: 10, para asequipes Sub-15, Sub-16 eSub-17.• Títulos pela Seleção:Sul-americano Sub-17 na Ve-nezuela (2005).

• Nome: Kerlon MouraSouza• Nascimento: 27/01/1988,em Ipatinga (MG)• Altura/peso: 1,67 e 66kg•Chegada ao clube:2001• Convocações para a se-leção brasileira: Nove, pa-ra as equipes Sub-15,16 e 17.• Títulos: Sul-americanoSub-17 (2005) e mundialitodo mediterrâneo (2003 e2004),pela seleção : campeo-nato mineiro juvenil (2004)e copa integração juvenil(2004).

Destaque do time azul busca agora sua chance como titular

Cristina Raso

Fabíola Paiva

Punições podem acabar prejudicando clubes cujas torcidas provocam tumulto com frequência

15 - Esportes - Carlos Augusto 6/6/05 11:27 AM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Maio/2005

Editor e diagramador da página: Bernardo Macedo

16 CULTURA

Marcela Boecha eCarlos Lamana1º período

No dia 24 de maio, o dire-tor e roteirista Jorge Furtado,homenageado da mostra “En-contro com o Cinema Brasilei-ro”, foi convidado a palestrar so-bre sua vida e obra no Paláciodas Artes, integrando a progra-mação do Circuito CulturalBanco do Brasil. Furtado pro-duziu, além de seus famosos lon-gas Houve uma vez dois verões eO homem que copiava, vários cur-tas premiados no Brasil e no ex-terior, como O dia em que Dori-val encarou a guarda” e “Ilha dasflores.

Após a exibição do filme Ohomem que copiava, Furtado fezuma breve introdução apre-sentando suas novas tendênciasrelativas a próximas produçõescinematográficas. Uma das ten-dências apontadas pelo diretoré a de serem produzidos, commaior ênfase, documentáriosespecialmente para a televisão,

considerando o pouco espaçopara esse tipo de trabalho.

Quando a sessão foi abertapara perguntas,Furtado foi inda-gado sobre a diferença do suces-so entre filmes baseados em his-tórias verídicas e filmes fictícios.O diretor declarou:“Filmes degrande sucesso são aqueles anco-rados na realidade, o documen-tário de maior sucesso é Carandi-ru.Todos nós já sabíamos o queera o Carandiru antes ver ao fil-me.Um outro real que foi mun-dialmente conhecido foi Olga.Mesmo Cidade de Deus é um fil-me que é uma ficção, mas é ba-seado num livro que não é todoficção. Se pensarmos num filmecomo Eliana e os golfinhos, Elianaé uma pessoa de verdade.As pes-soas sabem quem ela é.Os filmesque são ficção pura são raros.Acho que os exemplos maioressão, Lisbela e o prisioneiro, Os nor-mais”, relata. Furtado tem a fic-ção como a representação de de-sejos inconfessáveis que nunca se-rão ditos em um documentário.Esse tipo de trabalho precisa re-

tratar a realidade fielmente.Umavez que o cineasta interfere narealidade de uma pessoa para rea-lizar um documentário, suas vi-das nunca serão as mesmas.

“O homem que copiava”, umade suas recentes obras, foi citadocomo exemplo de uma ficção ba-seada na realidade da “geração docontrole remoto na mão”,que sa-be um pouco sobre diversos as-suntos, segundo o autor.Esse ra-ciocínio apresenta-se no filme noprotagonista André, vivido porLázaro Ramos,ao passo que o jo-vem possui uma “cabeça frag-mentada”, pois esse é um perso-nagem que surgiu de um con-ceito de fragmentação.

Para finalizar seu discurso,Furtado disse que o cinema bra-sileiro encontra-se em um mo-mento próspero, no qual os fil-mes estão se diversificando.

Crítica ao cinema nacionalJorge Furtado, quando inda-

gado em relação à defasagem doestudo de cinema no Brasil, afir-mou que este deixa a desejar e

que o nosso país tem uma gran-de carência de roteiristas.A me-lhor opção de acordo com o di-retor seria cursar uma faculdadede Filosofia ou Letras para depoisrealizar uma especialização em ci-nema. como exemplo citou seupróprio filho,que agora está cur-sando Filosofia buscando traçar acarreira de cineasta: “Por maisque a tecnologia avance, o con-tador de histórias sempre será ne-cessário”, concluiu.

Para o diretor, o desafio dosescritores de obras literárias é di-ficultar a adaptação de livros pa-ra as grandes telas e o obstáculopara diretores é conseguir ummodo de torná-los produções docinema.

Ele afirma que a leitura é es-sencial para um indivíduo que al-meja se tornar um cineasta. Paraele os três pontos que um futurodiretor deve apresentar são o gos-to pela leitura,pela escrita e pelocinema.Vários livros possuemdescrições cinematográficas,quefacilitam no processo de criaçãodo roteirista.“O homem que copiava” sucesso do diretor Jorge Furtado

Histórias e casos de um jornalistaFernanda Melo5º período

Conhecido por sua extre-ma gentileza no trato com aspessoas, o jornalista Zuenir Ven-tura só sai dessa posição quan-do o assunto é a luta pelo jor-nalismo sério. Uma vez jogouum balde de tinta marrom emum colega de profissão que ocaluniara, simbolizando a exis-tência da imprensa marrom, ex-pressão usada para o jornalismosem caráter. Essa é uma das his-tórias contadas pelo próprioZuenir no seu mais novo livro:Minhas Histórias dos Outros pe-la Editora Planeta Brasil.

Aos 74 anos, Zuenir Ventu-ra é um exemplo de jornalistaapaixonado pelo o que faz.Co-lunista do jornal “O Globo”,da revista “Época”, “CorreioPopular” e do site “no míni-mo”, o autor dividiu seu tem-po entre uma crônica e outrapara vasculhar o próprio passa-do, arquivos de jornais e revis-tas onde trabalhou e a memó-ria de amigos próximos.

O livro foi classificado pe-lo próprio autor como uma “al-terbiografia”, no qual relata, demaneira curiosa, os principaisfatos e acontecimentos que pre-senciou no Brasil em seus 50anos de profissão. O autor con-ta casos e histórias de busca pe-la veracidade das informações,revelando os bastidores domundo jornalístico. Zuenir seconsidera uma testemunha deseu tempo e seu novo livro, deacordo com ele, era uma dívi-da a si mesmo.

Entre os principais fatos re-tratados no livro estão o mis-tério da morte de Glauber Ro-cha e do jornalista VladimirHergoz, o caso da bomba doRio Centro, o suicídio malcontado de Pedro Nav; a Re-volução do Cravos em Portu-gal, o golpe militar de 64, suaentrevista com Fidel Castro, achegada da Aids, a foto que ti-rou da calcinha de JacquelineKenedy, além da tanga de cro-chê de Fernando Gabeira.

São partes de um quebracabeça que ajudam a construiruma trajetória de sucesso pro-fissional e pessoal, misturandohistórias inusitadas e algumasconflitantes, como o caso doassassinato de Chico Mendes.Na época, Zuenir foi critica-do por ter infringido a lei bá-sica do jornalismo ao adotar o

menino Genésio, testemunhado caso.

“A saga de uma testemu-nha” é o capítulo mais dramá-tico do livro onde o autor re-vela os limites da ética profis-sional e da indignação pela in-justiça. Zuenir não se arrepen-de da sua atitude e diz que omito da objetividade jornalís-tica e da isenção não passa deuma hipocrisia. O autor nãoacredita na imparcialidade danotícia e prefere escancarar averdade.

Seu relato sobre a morte deChico Mendes tornou-se umareferência para o jornalismo in-vestigativo e para as grandes re-portagens.Para Alésio Cunha,repórter do caderno de cultu-ra do Jornal Hoje em Dia, Zue-nir é um exemplo de jornalis-ta que não se prende à objeti-vidade imposta pela profissãopara contar cada acontecimen-to de maneira apaixonante. Eleafirma ter se comovido com asituação limite vivida pelo au-tor ao adotar o menino Gené-sio, hoje refugiado e suposta-mente entregue ao alcoolismo:“Se ele não tivesse interferidono caso para proteger a teste-munha, o menino teria sidomorto. Este capítulo ainda es-tá em aberto”, acredita.

Violência preocupa autorZuenir Ventura é um na-

cionalista nato, apesar dos inú-meros descontentamentos como Brasil. Sua insatisfação maior,atualmente, é a situação da vio-lência no estado do Rio de Ja-neiro, enfrentada pelo governoGarotinho. Para ele é muitotriste ver o apartheid socialpresente na cidade, onde aspessoas se escondem em con-domínios de luxo ao invés deperceberem que a violência éum problema de todos.

O autor já expressara suagrande preocupação com aviolência no livro “ CidadePartida”, onde passou novemeses frequentando à favela Vi-gário Geral.

Formado em Filosofia, pe-la Universidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ), Zuenir Ven-tura passou praticamente portodos os veículos de comuni-cação. Suas principais obrasliterárias são 1968- o ano quenão terminou, Cidade Partida,Chico Mendes-Crime e Castigo,Inveja-Mal secreto e um Um vo-luntário da pátria.

Nascido em Além Paraíba,Minas Gerais, Zuenir Venturasempre carregou consigo o so-nho de se tornar um jornalistaatuante. Foi professor universitá-rio e seu primeiro emprego co-mo repórter foi no Tribuna da Im-prensa, em 1958. Passou por di-versos jornais do país, dividindoseu tempo entre as reportagens ea literatura.Criou o suplemento‘Idéias’,do Jornal do Brasil e é umdos fundadores da Escola Supe-rior de Desenho Industrial.

Amigo íntimo de GlauberRocha,o autor expressou seu fas-cínio pelo cinema ao escrever oroteiro do filme Paulinho da Vio-la- meu tempo é hoje.

Em 1980, fez uma entrevis-ta histórica com Carlos Dru-mond de Andrade, onde o poe-ta o recebeu depois de décadasde silêncio.

Convidado pelo jornalista, etambém amigo, Afonso Borges,Zuenir Ventura esteve em BeloHorizonte,no dia 18 de maio,pa-ra lançar o seu mais recente livro“Minhas Histórias dos Outros”,no auditório da Cemig.Cerca de200 pessoas compareceram naedição do “Projeto Sempre umPapo” para ouvir sobre as histó-rias do jornalista. Sua mulher,Mary Ventura, esteve presente, etambém o arquiteto Gustavo Pe-na e os jornalistas Ruy de Al-meida e Mauro Werkema. Zue-nir contou sobre a adoção de seufilho e foi incentivado de manei-ra pessoal pelo jornalista AfonsoBorges.

Entre os casos mais curio-sos dos bastidores jornalísticos,Zuenir Ventura contou de ma-neira cômica a ocasião que aimprensa o matou: “ Ligaram

para minha casa e minha em-pregada disse brincando que euhavia morrido, no outro diasaiu no Estadão que eu havia si-do atropelado”, conta o jorna-lista. Para ele este fato mostra airresponsabilidade da mídia e acorrida desesperada pelo furode reportagem sem a devidaapuração:“Meu filho ficou comesta notícia durante duas horas.Encontrei com um amigo, quetrabalhava na “ Veja” e ele medisse: ‘Que bom que você estávivo!’, senti até um tom de iro-nia”, relata.

Zuenir Ventura ainda co-mentou sobre o acelerado au-mento da violência entre as pes-soas de classe média e sobre acriação da Cartilha dos DireitosHumanos: “As expressões nãocriam o preconceito”, acredita.

Questionado sobre o futuro

do jornalismo,o autor afirma queeste deve ser sempre investigati-vo e que o homem público, co-mo os políticos, não devem terprivacidade nenhuma.A imprensaatual se tornou,para ele,uma iver-dadeira ndústria do espetáculo:“Tivemos quase uma overdose denotícias sobre a morte do Papa”,exemplifica.

Zuenir acredita que aindaexistam pessoas honestas no ra-mo, e critica a arrogância quemuitos jornalistas assumem: “Ojornalismo é uma profissão fasci-nante, onde se tem um contatoquase visceral com os fatos, masnunca deve-se cair na tentação davaidade”, alerta.

O autor ainda reforça a im-portância de se discutir a ética nasredações e se diz otimista com aprofissão: “ Ainda há espaço pa-ra as grandes reportagens”.

Zuenir Ventura relata os principais acontecimentos que testemunhou em seus 50 anos de profissãoAna Cristina Branco

O autro Zuenir Ventura lançou o seu livro “Minhas histórias dos outros” no Palácio das Artes

Autor critica a indústria do espetáculoe a irresponsabilidade da mídia

Jorge Furtado é homenageado nacapital mineira e analisa suas obras

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16- Cultura - Bernardo Macedo 6/6/05 11:25 AM Page 1