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Denúncia de agressões: um passo para o fim da violência doméstica. Ano7 | Número 62 | Maio de 2007 | Belo Horizonte/MG DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Analise de Jesus explica o que é a “aula diferente”. [ página 16 ] [ páginas 8 e 9 ] JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto Vista da mina da Brumafer, ao pé da Serra; são evidentes os impactos que a mineração tem causado por mais de 40 anos e a incompatibilidade com o meio ambiente COM UM SUBSOLO RICO EM MINÉRIO, SERRA DA PIEDADE TORNA-SE ALVO DE MINERADORAS 70% dos detentos voltam para a prisão A chamada política de res- sociabilização vem sendo te- ma de discussões polêmicas entre os especialistas no as- sunto. Programas de trabalho e estudo dentro das penitenciá- rias propõem a substituição do caráter punitivo das detenções pelo valor educativo, dando possibilidade ao detento de, quando em liberdade, inte- grar-se à sociedade como for- ça de trabalho produtiva e não mais no mundo do crime. Tais políticas refletem uma situação alarmante no setor penitenciário brasileiro. Re- centes pesquisas divulgaram que de cada dez detentos co- locados em liberdade, sete voltam a cometer crimes, e reforçam a necessidade do trabalho educacional para os mais de 250 mil presos das penitenciárias brasileiras. TV Pública: necessidade ou interesse Nomeado Ministro da Co- municação Social pelo presi- dente Lula, o jornalista Fran- klin Martins reacende a dis- cussão sobre a criação de uma rede de TV Pública para o Brasil. O debate ganha força com a promessa do governo Lula de democratizar os meios de comunicação no Brasil, mas já levanta preocupações entre a categoria: “a proposta é de uma TV pública ou apenas de fortalecer uma estrutura esta- tal de TV, voltada aos interes- ses do Governo Federal em dar publicidade a suas ações?”. Em defesa da profissão Os jornalistas de todo o país convivem desde 2001 com a ameaça do Supremo Tribunal Federal (STF) de desregula- mentação da profissão. O decreto de lei que regula- menta a profissão de jornalis- tas desde 1969 está provisoria- mente suspenso por uma deci- são da juíza Carla Rister, da 16ª Vara Cível da Justiça Federal em São Paulo. Atualmente, diversas enti- dades ligadas à categoria se or- ganizam em torno da luta pela defesa do diploma para os cur- sos de jornalismo do país. A Serra da Piedade, loca- lizada nos municípios de Sa- bará e Caeté, é considerada patrimônio natural, histórico, cultural, paisagístico e religio- so de Minas Gerais , porém es- tá ameaçada pela exploração de minério. O pároco do Santuário Nos- sa Senhora da Piedade vem so- frendo pressões de setores po- líticos e econômicos por lutar contra a exploração na Serra. Essa luta, juntamente com en- tidades de proteção ao meio ambiente, se intensifica com a aprovação da lei 16.133/06, con- siderada por esse setores “frau- dulenta”, porque altera os li- mites de preservação da Serra da Piedade, abrindo mais espa- ço para a atividade minerárá- ria. A mineração também é te- ma de discussão em Concei- ção do Mato Dentro (MG), so- bre a construção de um mine- rioduto, uma vez que a cida- de, após enfrentar esses pro- blemas no passado, investe agora no turismo ecológico. SINAL VERMELHO Grandes metrópoles do país se transformam em palco para o trabalho infantil nas ruas. Só em Belo Horizonte, 729 crianças trabalham ilegalmente, em pontos como os semáforos, onde balas são oferecidas aos motoristas que param nos sinais. Rugby quer ganhar BH O Rugby, esporte de ori- gem anglo-saxônica, vem ga- nhando espaço no Brasil gra- ças ao empenho de estran- geiros, imigrantes no país. O esporte reúne em Belo Hori- zonte integrantes de diversas nacionalidades em um só ti- me. O BH Rugby é o único ti- me da capital mineira e con- ta com esportistas de vários lugares do mundo, normal- mente países onde o esporte é popular. Em Minas há cerca de se- te times. Segundo a diretoria do BH Rugby, o primeiro ti- me de Minas surgiu em Var- ginha, em 1995, oito anos an- tes de chegar em BH. Museu da Esquina Música, política, cachaça, boemia. Interesses em co- mum que fizeram, nos anos 60, com que Milton Nasci- mento e os irmãos Lô e Már- cio Borges marcassem a his- tória da música brasileira com o Clube da Esquina. Hoje, um sonho idealiza- do por Lô Borges e sua espo- sa torna-se realidade. É o mu- seu Clube da Esquina, um museu virtual que conta a his- tória dos amigos que fizeram barulho pela ruas de Minas. O grupo de amigos que fez nomes como Flávio Ven- turini, Beto Guedes e Toninho Horta está há mais de 40 anos separado, mas unido pela mú- sica. [ páginas 12 e 13 ] [ página 3 ] [ página 7 ] [ páginas 4 e 5 ] [ página 6 ] [ página 15 ] [ página 10 ] Minas de destruição Lígia Ríspoli - 8º Período Samuel Aguar - 4º Período Arquivo O Ponto

Jornal O Ponto - maio de 2007

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - maio de 2007

Denúncia de agressões: um passo parao fim da violência doméstica.

A n o 7 | N ú m e r o 6 2 | M a i o d e 2 0 0 7 | B e l o H o r i z o n t e / M G D I S T R I B U I Ç Ã O G R AT U I TA

Analise de Jesus explica oque é a “aula diferente”.

[ página 16 ] [ páginas 8 e 9 ]

JORNAL LABORATÓRIODO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto

Vista da mina da Brumafer, ao pé da Serra; são evidentes os impactos que a mineração tem causado por mais de 40 anos e a incompatibilidade com o meio ambiente

COM UM SUBSOLO RICO EM MINÉRIO, SERRA DA PIEDADE TORNA-SE ALVO DE MINERADORAS

70% dos detentosvoltam para a prisão

A chamada política de res-sociabilização vem sendo te-ma de discussões polêmicasentre os especialistas no as-sunto.

Programas de trabalho eestudo dentro das penitenciá-rias propõem a substituição docaráter punitivo das detençõespelo valor educativo, dandopossibilidade ao detento de,quando em liberdade, inte-grar-se à sociedade como for-

ça de trabalho produtiva e nãomais no mundo do crime.

Tais políticas refletem umasituação alarmante no setorpenitenciário brasileiro. Re-centes pesquisas divulgaramque de cada dez detentos co-locados em liberdade, setevoltam a cometer crimes, ereforçam a necessidade dotrabalho educacional para osmais de 250 mil presos daspenitenciárias brasileiras.

TV Pública:necessidadeou interesse

Nomeado Ministro da Co-municação Social pelo presi-dente Lula, o jornalista Fran-klin Martins reacende a dis-cussão sobre a criação deuma rede de TV Pública parao Brasil.

O debate ganha força coma promessa do governo Lulade democratizar os meios decomunicação no Brasil, mas jálevanta preocupações entre acategoria: “a proposta é deuma TV pública ou apenas defortalecer uma estrutura esta-tal de TV, voltada aos interes-ses do Governo Federal emdar publicidade a suas ações?”.

Em defesa daprofissão

Os jornalistas de todo o paísconvivem desde 2001 com aameaça do Supremo TribunalFederal (STF) de desregula-mentação da profissão.

O decreto de lei que regula-menta a profissão de jornalis-tas desde 1969 está provisoria-mente suspenso por uma deci-são da juíza Carla Rister, da 16ªVara Cível da Justiça Federalem São Paulo.

Atualmente, diversas enti-dades ligadas à categoria se or-ganizam em torno da luta peladefesa do diploma para os cur-sos de jornalismo do país.

A Serra da Piedade, loca-lizada nos municípios de Sa-bará e Caeté, é consideradapatrimônio natural, histórico,cultural, paisagístico e religio-so de Minas Gerais , porém es-tá ameaçada pela exploração deminério.

O pároco do Santuário Nos-sa Senhora da Piedade vem so-frendo pressões de setores po-líticos e econômicos por lutarcontra a exploração na Serra.Essa luta, juntamente com en-tidades de proteção ao meioambiente, se intensifica com aaprovação da lei 16.133/06, con-siderada por esse setores “frau-dulenta”, porque altera os li-mites de preservação da Serrada Piedade, abrindo mais espa-ço para a atividade minerárá-ria.

A mineração também é te-ma de discussão em Concei-ção do Mato Dentro (MG), so-bre a construção de um mine-rioduto, uma vez que a cida-de, após enfrentar esses pro-blemas no passado, investeagora no turismo ecológico.

SINAL VERMELHO Grandes metrópoles do país se transformam em palco para o trabalhoinfantil nas ruas. Só em Belo Horizonte, 729 crianças trabalham ilegalmente, em pontoscomo os semáforos, onde balas são oferecidas aos motoristas que param nos sinais.

Rugby querganhar BH

O Rugby, esporte de ori-gem anglo-saxônica, vem ga-nhando espaço no Brasil gra-ças ao empenho de estran-geiros, imigrantes no país. Oesporte reúne em Belo Hori-zonte integrantes de diversasnacionalidades em um só ti-me.

O BH Rugby é o único ti-me da capital mineira e con-ta com esportistas de várioslugares do mundo, normal-mente países onde o esporteé popular.

Em Minas há cerca de se-te times. Segundo a diretoriado BH Rugby, o primeiro ti-me de Minas surgiu em Var-ginha, em 1995, oito anos an-tes de chegar em BH.

Museu daEsquina

Música, política, cachaça,boemia. Interesses em co-mum que fizeram, nos anos60, com que Milton Nasci-mento e os irmãos Lô e Már-cio Borges marcassem a his-tória da música brasileiracom o Clube da Esquina.

Hoje, um sonho idealiza-do por Lô Borges e sua espo-sa torna-se realidade. É o mu-seu Clube da Esquina, ummuseu virtual que conta a his-tória dos amigos que fizerambarulho pela ruas de Minas.

O grupo de amigos quefez nomes como Flávio Ven-turini, Beto Guedes e ToninhoHorta está há mais de 40 anosseparado, mas unido pela mú-sica.

[ páginas 12 e 13 ]

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[ página 15 ][ página 10 ]

Minas de destruiçãoLígia Ríspoli - 8º Período

Samuel Aguar - 4º Período

Arquivo O Ponto

01 - Capa - Léo F. 17.05.07 10:12 Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - maio de 2007

O P I N I Ã O2 o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Daniel Gomes

Coordenação EditorialProfª Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso)

Coordenação da Redação ModeloProf. Fabrício Marques

Conselho EditorialProf. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy(Publicidade), Prof. Rui Cézar (Fotografia),Prof. Mário Geraldo (TREPJ) e Profª. Adriana Xavier (Infografia)

Monitores de Jornalismo ImpressoDaniela de Castro, Henrique Lisboa e Lígia Ríspoli D’Agostini

Monitores da Redação ModeloDaniel Gomes e Leonardo Fernandes

Monitores de Produção GráficaEduardo Ponzio e Rafael Barbosa

Monitores do Laboratório de Publicidade e PropagandaAlisson Masaharu e Marina Valadas

Projeto GráficoProf. José Augusto da Silveira Filho

Tiragem desta edição5000 exemplares

Consultora em pesquisa iconográficaProfª. Zahira Souki

Colaboradora voluntáriaCamila Guimarães, Ana Paula Condessa e Lídia Rabelo

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 – Cruzeiro Belo Horizonte – Minas Gerais www.fumec.br

Prof. Emerson Tardieu de AguiarPresidente do Conselho Curador

Profª. Romilda Raquel Soares da SilvaReitora da Universidade Fumec

Profª. Audineta Alves de Carvalho de CastroDiretor Geral da FCH/Fumec

Prof. Rosemiro Pereira LealDiretor de Ensino

Prof. Bruno de Morais RibeiroDiretor Administrativo e Financeiro

Prof. Alexandre FreireCoordenador do Curso de Comunicação Social

o pontoOs artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

TV digital trazbenesses parapublicidade

PEDRO HENRIQUE LOBO

2º PUBLICIDADE

É comum hoje encontrarmospropagandas de alimentos des-tinadas somente ao público in-fanto-juvenil. Com isso, estamosvendo um quadro crescente deobesidade nesse público-alvo. Asituação é bastante preocupan-te, já que o consumo desses ali-mentos está diretamente ligadoa essas propagandas, que têmum alto nível de influência sobreos as crianças. Será que estasprogramações das mídias estãoadequadas? E será que o con-sumo não está excessivo?

Pesquisas feitas nos EstadosUndios no ano de 2006 revelamque aquele país corre sérios ris-cos de sofrer uma epidemia deobesidade. O estudo mostroutambém que crianças, especial-mente com menos de seis anos,entram no grupo de risco. Essascrianças estão sendo influencia-das pela enxurrada de propa-gandas de alimentos como re-frigerantes, snacks e fast-foods,já que no lá são encontradas vá-rias inovações nesse ramo.

No Brasil, cerca de 89,7%das propagandas alimentíciasveiculadas no horário de maiorvisibilidade infanto-juvenil sãode alimentos com alto índice degordura e açúcar, segundo o Ob-servatório de Políticas de Segu-rança Alimentar e Nutrição. Mas

o país hoje adota um sistemaapenas regulador, onde é mo-derada a comercialização de al-guns produtos no interior de es-colas, como guloseimas e ali-mentos industrializados. Massão esquecidas as influênciasmidiáticas sobre as criançasquando assistem à TV ou nave-gam na internet.

Mas a culpa não está so-mente com os meios de comu-nicação. A má orientação dospais e educadores no processode educação alimentar está pre-sente no mundo inteiro. É im-portante o acompanhamentodiário das refeições das crian-ças, principalmente longe dosolhos dos pais. Cerca de 98%dos pais brasileiros se dizempreocupados com a alimentaçãodos filhos, mas 60% não sabemo que eles comem na escola. Is-so deixa a criança propícia à per-suasão da propaganda e ao con-sumo do produto.

Os governos deveriam ado-tar sistemas mais rígidos de con-trole. Países como a Finlândiaproíbem propagandas promo-cionais (que oferecem brindes).

Não só os finlandeses, masoutros países já adotaram práti-cas mais saudáveis para as pro-pagandas alimentícias. Eles jáperceberam que a inexperiênciae a credulidade do público in-fantil é grande, e se torna aindamaior sem a devida orientação.

DANIEL GOMES

8º PERÍODO

“Tenho um colega no curso de Farmáciaque veio da área de comunicação. Vira-e-me-xe ele pergunta aos professores a razão dis-so ou o porquê daquilo. O pessoal fica achan-do que ele é meio esquisito, pois fica questio-nando coisas óbvias, que são do jeito que sem-pre foram”.

Essa frase foi dita por uma estudante deFarmácia da UFRGS no 3º ano em uma con-versa comigo. Imediatamente questionei-a seo curso tem alguma cadeira onde se discutaÉtica ou coisas afins. A resposta foi não.

Indaguei então se eles discutem isso aomenos fora da sala. “Vocês discutem a deci-são do Lula de quebrar a patente do medica-mento contra a Aids?”, perguntei. “Não. Nomáximo algo tipo ‘bah, tu viu aquilo?’. ‘Bah,vi’, e fica por isso mesmo”, ela respondeu.

Não só de estudo de boa qualidade viveum cidadão comprometido com a comuni-dade em que vive e o país em que nasceu.Quando se fala em um comunicador socialcrítico, mote do curso de comunicação da Fu-mec, na realidade dever-se-ia dizer profissio-nal crítico.

Essa colega do Sul reclamou que o cursoé muito voltado à técnica e que ela se encon-trou lá dentro apenas quando lidou com se-res humanos. Ora, pois, todo curso e toda pro-fissão têm, em maior ou menor grau, o con-tato com as pessoas. Daquela profissão de-pendem vidas da mesma forma que aquelaprofissão depende da vida de outrém.

Desta forma, é fundamental aliar o domí-nio da técnica ao questionamento sobre o fima que se propõe o uso daquela técnica. Vive-mos tempos inescrupulosos, é verdade, maspor mais que as pessoas sejam antiéticas, éimportante saber o que é certo e o que é er-rado, e é importante também saber sob quecircunstâncisa se julga o que é certo e o queé errado.

O cidadão, o contribuinte de uma socie-dade melhor, é aquele que utiliza os seus co-nhecimentos, sejam eles básicos ou de nívelsuperior, para a melhoria da vida das pessoas.Saber, qualquer um pode. Basta estudar. Serum ser humano melhor já é algo mais difícil.Isso começa a partir do momento em que seacorda de manhã e surge a seguinte pergun-ta: “Por que as coisas são como são?”. Se nãogostar da resposta a que chegar, reaja. Ain-da há tempo de mudar.

FREDERICO MESQUITA

8º PERÍODO

Em mais uma demonstração de total des-preparo psicológico para comandar a segu-rança de um evento, a PM mineira foi prota-gonista de um novo absurdo exagero de vio-lência contra pessoas de bem, pelo menos atéque se prove ao contrário.

No domingo, após o grande clássico da fi-nal do campeonato mineiro 2007, onde o Atlé-tico sagrou-se campeão frente a seu arqui-ri-val Cruzeiro, um princípio de tumulto cha-mou a atenção. O Galo fazia a festa no gra-mado quando, de repente, um tumulto no tú-nel que dá acesso ao campo do Mineirão mu-dou o foco das comemorações.

O atual presidente do Atlético, Ziza Vala-dares, percebeu que seus convidados, os dadiretoria e dos jogadores, estavam sendo bar-rados no túnel e tentou argumentar com ospoliciais para que permitisse a entrada dosmesmos. O mais inusitado é que uma dessaspessoas impedidas de subir era o ex-presi-dente do Galo Ricardo Guimarães, que não

deveria ser considerado e tratado como umestranho que não foi convidado para a festa.

Os PMs alegaram que as pessoas que nãopossuíssem credencial não iriam passar. Lo-go em seguida, disseram que estes só passa-riam sob a responsabilidade do presidente al-vinegro, que a assumiu perante as câmeras.Mas a PM começou a bater deliberadamenteem todo mundo, mulheres, meninas, inclusi-ve em Ricardo Guimarães e no próprio Ziza.

Vale lembrar também o episódio de vio-lência do jogo entre Vila Nova e Cruzeiro,ocorrido em 4 de fevereiro deste ano, no es-tádio Castor Cifuentes, em Nova Lima, onde54 pessoas ficaram feridas, incluindo crian-ças e mulheres. Na ocasião, o governador Aé-cio Neves, admitiu que houve excesso na atua-ção da PM e informou que providências te-riam que ser tomadas, mas nada foi feito atéo momento.

Não dá mais para aceitar estas atitudesensandecidas e injustificáveis que a PM da ca-pital vem promovendo já há algum tempo.Chega de impunidade. Onde estão os culpa-dos? A sociedade exige respostas!

Obesidade é reflexode má educação

LÍGIA RÍSPOLI

8º PERÍODO

O advogado de uma em-presa mineradora entrevistadopara a matéria de capa de OPonto utilizou um argumentode que a defesa da natureza de-pende do homem. Não sei se elequis dizer se por causa disso amineradora deveria continuarou se deveria parar. É uma fra-se, a meu ver, ambígua. Se apreservação da natureza só po-de existir por ser um conceitoexclusivamente humano, maisum motivo para preservar: doponto de vista antropocêntrico,ou seja, o homem, como o cen-tro do universo, deve saber daimportância de preservar a na-tureza para sua sobrevivência.

Podemos discorrer sobre di-versos pontos de vista: dos ani-mais, da Terra vista do univer-so, da água escassa, das ciên-cias, não importa. Mas não po-demos perder o foco: a nature-za não vai suportar por muitotempo as alterações com osatuais ritmos de produção. Nãopodemos mais nos dar aºo luxode ler sobre impacto ambientale simplesmente fechar os olhos.É necessário ir além: o que euconsumo que não me faz falta?Onde estou desperdiçando? Is-so sob uma esfera privada, por-que jogar tudo nas costas doscivis não vai resolver tudo.

É aí que entra o poder polí-tico, para garantir a preserva-ção ambiental e punir exem-plarmente quem desrespeita,para não permitir que uma em-presa de mineração ache serum direito fazer lobby da ma-neira como quer na esfera po-lítica, para que uma minerado-ra não queira negociar com ter-ras como se fossem... nada.

Um ponto de vista que, fe-lizmente, aos poucos começa atomar forma nos jornais mun-diais: falar do meio-ambienteexige pensar em qualidade devida e sobrevivência, em ser ci-dadão, exigir direito à vida e fa-zer cumprir os deveres sociais.

E, já que está tudo interli-gado, não nos esqueçamos deque a sociedade e as empresasmineradoras são formadas pormilhares de indivíduos; nãoexiste uma meta inalcançável.

A propósito: nota zero paraa mineração e o seu fraco ar-gumento de que é preciso ex-plorar a qualquer custo, comose apenas o lucro pudesse ditartodas as regras sociais. Nãoquero esperar que um outropoeta gauche confidencie sertriste e orgulhoso por ser feitode ferro, pelas calçadas de suacidade serem de 90% ferro e asalmas também de 90% ferro. E,como ele lembra, “Itabira é ape-nas uma fotografia na pare-de./Mas como dói!”.

Os custos dodesenvolvimento

Estudar é preciso;ser crítico também

Violência no campo

ALINE LAYOUN

2º PUBLICIDADE

O tema TV Digital tem sidoum dos mais discutidos no Bra-sil desde 2002. A maioria dosbrasileiros não domina o pala-vreado utilizado nas reporta-gens referentes ao assunto. Vi-sitando alguns sites de per-guntas e respostas na internet,deparei-me com dúvidas quenos parecem muito simples co-mo: “o que muda em minha vi-da com a TV digital?” ou, ain-da: “eu vou ter que trocar mi-nha TV por uma nova?”.

A TV que cada um tem emcasa não precisa ser trocada.A pessoa terá que comprar umadaptador, conhecido comoset-top box, que permitirá quesua TV receba sinal digital.Qualquer TV será compatívelcom o aparelho, desde que te-nha entrada para DVD ou vi-deocassete. O preço do adap-tador varia entre R$ 300 e R$800. Se o consumidor, no en-tanto, não quiser comprar umadaptador, poderá assistir nor-malmente à programaçãoaberta na sua TV atual, pois aprevisão de tempo para mi-gração do sistema analógicopara o digital é de 10 anos. Atélá, as emissoras são obrigadasa manter a transmissão nor-mal.

No campo da publicidade,a interatividade da TV digitalapresenta um papel funda-mental. Se você, estudante depublicidade, ouviu falar que apropaganda será extinta coma implantação dela, pode ficardespreocupado. Pelo contrá-rio, ela deve criar um relacio-namento muito mais próximoentre uma marca e o compra-dor. Como isso acontece?

Num comercial, por exem-plo, o telespectador poderia serconvidado a entrar num anún-cio para saber mais sobre umproduto. As informações ex-tras seriam mostradas direta-mente na tela. Ao usar o con-trole remoto, o telespectadorpoderia, ainda, efetuar a com-pra dessa mercadoria.

O padrão japonês (ISDB –sigla em inglês para Transmis-são Digital de Sistemas Inte-grados), escolhido para ser im-plantado no Brasil, é o únicodos padrões que já estavapronto para transmissões pa-ra dispositivos portáteis (re-ceptores em carros) e móveis(celulares). Além disso, Lulaorientou seus ministros a ne-gociarem com o Japão paraque o anúncio da escolha pro-duzisse ganho político em anoeleitoral. Os japoneses con-cordaram ainda com a im-plantação do padrão de formamais lenta, o que diminui oscustos para o consumidor, poispoderá manter sua TV.

O que podemos concluir éque a TV digital vai ser boa pa-ra todo mundo. E a escolha pe-lo padrão japonês foi boa paraLula, é boa para a Globo e, porsorte, é boa para o povo, mes-mo que haja opiniões diver-gentes quanto a isto.

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Socialda Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Tel: 3228-3127 – e-mail: [email protected]

Cristina Barroca - 6º Período

02 - Opinião - Daniel Gomes 17.05.07 10:13 Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - maio de 2007

P O L Í T I C A 3o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Camila Guimarães e Daniela de Castro Silva - 8º Período

Em busca de uma TV pública

CAMILA GUIMARÃES

DANIELA DE CASTRO SILVA

8º PERÍODO

A proposta do presidenteLula de se criar uma rede pú-blica de televisão desperta de-bates com diversos setores dasociedade civil, Congresso,TVs privadas, órgãos de im-prensa e categorias sindicaisem prol da discussão acercada democratização dos meiosde comunicação. O anúncioganhou força após a nomea-ção do jornalista e comenta-rista político Franklin Mar-tins, no final de março, comoministro responsável pela co-municação social do Gover-no federal. Em matéria nojornal Estado de São Paulo,estima-se um investimento deR$250 mil para implantar arede. Prevê-se que a TV doExecutivo, como será chama-da, entre em vigor até o finaldeste ano.

Mas, dúvidas pairam noar, em relação à conceituação,tipo de gestão e financia-mento desta rede nacional. Oprofessor de telejornalismoda Fumec, Alexandre Cam-pello, esclarece que uma

emissora pública de televisãoé, por princípio, administra-da sem a interferência das es-feras do Estado, de maneirademocrática, e atende, exclu-sivamente, ao interesse pú-blico. Contudo, diante doanúncio do presidente Lula,surge uma incógnita se a pro-posta é de ter um sistema pú-blico ou apenas fortaleceruma estrutura estatal de TV,voltada aos interesses do Go-verno federal em dar publici-dade as suas ações. “Um bomexemplo disso, em Minas Ge-rais, é a Rede Minas onde,mesmo com o papel educati-vo e cultural desempenhadoem momentos significativosde sua programação, a emis-sora se mostra totalmente re-fém aos interesses do Palácioda Liberdade e do governa-dor”, critica Campello.

Em entrevista à AgênciaBrasil, o ministro da Secreta-ria-Geral da Presidência, LuizDulci, afirmou que o objetivoda TV do Executivo é mesmoprestar serviço público e ex-pandir o sistema já existente,integrado pela Empresa Bra-sileira de Radiodifusão - Ra-diobrás. Sobre o financia-

mento, o governo cogita apossibilidade de trabalharcom patrocínio privado, co-mo a TV Cultura de São Pau-lo, ou aos moldes da BBC in-glesa.

A Associação Brasileiradas Emissoras de Rádio e Te-levisão (Abert), representan-te do setor privado, apóia adecisão com ressalvas, poisteme que a rede pública, aoinvés de complementar, inva-da o espaço das emissoras co-merciais. O presidente da As-sociação Brasileira de Televi-sões e Rádios Legislativas(Astral), Rodrigo Lucena, con-testa a resistência por partedas emissoras comerciais,que já consolidadas e volta-das para o entretenimento,diferem da TV pública, cujofoco está na educação, no de-bate e no jornalismo com pro-fundidade. Já o presidente daFederação Nacional dos Jor-nalistas (Fenaj), Sérgio Muri-lo, defende que a rede públi-ca é sinônimo de democrati-zação dos meios de comuni-cação e vem para rompercom o monopólio dominadopor algumas famílias, pelaigreja e por grupos políticos.

Ministro aposta na TV DigitalO senador e ministro das

Comunicações, Hélio Costa,acredita que a comunicação noBrasil está no limiar de umagrande revolução tecnológica.“É o fim da TV da forma que co-nhecemos hoje”. Para ele, a che-gada da TV digital no país vaidemocratizar os meios de co-municação, por permitir a re-serva de quatro canais que co-locarão em prática a rede pú-blica. Um deles será voltado pa-ra um conteúdo educativo, ou-tro para difundir a cultura bra-sileira, a TV do Executivo, e oúltimo que ele considera maisrelevante, o canal da comuni-dade. Este último será voltadopara a regionalização da pro-gramação, com produção e di-vulgação de conteúdos locais.

Costa expôs essas opiniõesdurante o Fórum de Debatesorganizado no início de maio,pelo Sindicato dos Jornalistasde Minas Gerais (SJPMG). A

discussão mediada pelo presi-dente licenciado do Sindicato,Aloísio Lopes, girou em tornodo tema o “Novo cenário da co-municação brasileira – Lei ge-ral – Tecnologia digital e RedePública de TV”.

O ministro acredita que oDecreto nº 5.820, que dispõesobre a implantação do Sis-tema Brasileiro de TelevisãoDigital Terrestre, SBTVD-T, eestabelece diretrizes para atransição da transmissão ana-lógica para o digital, permiti-rá que todos tenham acesso auma TV diversificada, plura-lizada e democratizada. Cos-ta ainda adianta que até janei-ro de 2008, o sistema digital e arede pública de TV já estarãoimplantados em Belo Horizon-te e que, em 10 anos, as pes-soas terão em casa um termi-nal onde terão acesso a TV, rá-dio, internet e telefone, con-vergidos no mesmo aparelho.

O correspondente da Globo News em Londres, Jader de Oli-veira, trabalhou na rede BBC inglesa por 30 anos. De seu cur-rículo ainda consta uma passagem pela revista Veja, pelo OGlobo, pelo Corrreio Braziliense e Estado de Minas, onde tam-bém atuou como correspondente. Direto da capital inglesa,o jornalista concedeu entrevista por e-mail para O Ponto.

O PONTO: Como foi sua experiência na BBC inglesa?Jader de Oliveira: Eu trabalhei na BBC de 1968 a 1999, quesignificou uma excelente experiência profissional e humana.Na época, era uma seção formada por apenas 11 profissio-nais contratados e uns cinco colaboradores. As nossas trans-missões iam ao ar à noite, mantendo uma tradição que vinhada época da II Guerra Mundial. Hoje, a BBC possui boa po-sição na internet. Atua como excelente agência de notícias efornece material para emissoras de rádio e televisão.

O P: Qual a diferença entre uma TV pública como a BBCde Londres e outra estatal?J.O: A BBC é uma organização pública de mídia e inteira-mente singular. O governo tem poderes para escolher o pre-sidente, mas aí cessa tudo. O que pesa mesmo é a junta degovernadores, que escolhe o diretor-geral. Este é o verda-deiro administrador da rede e deve ser alguém da área, comlonga experiência em televisão e rádio. Tentativas de inter-ferência do governo na BBC têm sido rechaçadas vigorosa-mente. A mais recente se refere à cobertura do suicídio docientista David Kelly, que denunciou a forma com que o go-verno manipulou as informações sobre a possível existênciade armas de destruição em massa no Iraque. A TV estatal,por outro lado, é sempre tida como uma peça de propagan-da do governo do dia. A melhor solução foi encontrada pe-la Espanha. Lá, a TVE era uma caixa de ressonância do go-verno. O atual governo resolveu o problema de credibilida-de dando ao Parlamento a escolha da direção da emissora.

O P: O senhor acredita que é possível implantar no Bra-sil uma TV pública aos moldes da inglesa? J.O: Acho difícil instalar no Brasil ou em qualquer outro país.Seu sistema (BBC) é único, aprimorado ao longo do tempocom grande acompanhamento do público, que o vigia comzelo e permanente interesse. Imagine um sistema em que opúblico paga uma anuidade para ter o direito de assistir aosprogramas de rádio e TV, em que o dinheiro vai diretamen-te para a BBC, sem passar por qualquer repartição pública.Isso seria difícil no Brasil.

O P: A indicação do jornalista Franklin Martins poderáajudar na implantação da TV do Executivo?J.O: O Franklin Martins, que conheci aqui em Londres aotempo em que era correspondente do Jornal do Brasil, é umjornalista sério e muito responsável. Se ele tiver habilidadebastante para escapar das injunções políticas - injunções queocorrerão sempre - muito bem. Mas esta será sempre umatarefa profundamente desgastante. Boa sorte para ele.

O P: Como pode ser avaliada a relação publicidade e im-prensa, já que o atual Ministério da Comunicação Socialserá responsável por administrar ambas?J.O: A relação entre publicidade e imprensa é hoje muito es-treita. Os veículos, que vivem numa situação de crescente in-digência, dependem das verbas públicas. Tende a criar obri-gações editoriais de reciprocidade. Tome, por exemplo, o ca-so do rádio. Em todas as partes do mundo, o rádio fica commenos de 10% do bolo da propaganda comercial. O Brasilpossui, creio, mais de cinco mil emissoras de rádio, muitassem qualquer estrutura. Dividir o pouco da publicidade en-tre elas é distribuir migalhas. Aí vem o processo de avilta-mento, de associação com políticos e isso não é bom para aindependência de um veículo. Mas é o que, infelizmente, acon-tece no Brasil e em muitos outros países também.

“Seria difícil no Brasil”

Na discussão de como se-ria a rede pública de TV maisadequada para ser implanta-da no Brasil, o ministro HélioCosta cita o exemplo da Bri-tish Broadcasting Corporation(BBC), responsável por em-pregar cerca de 20 mil fun-cionários, com receita de R$12bilhões anuais.

Maya Santana, jornalista eex-editora chefe da BBC Bra-sil, acredita na qualidade edi-torial do conteúdo divulgado.Quanto ao modo de financia-mento, em que os cidadãospagam uma anuidade, tornao veículo “independente dogoverno e dá ao espectadormais poder para interferir naprogramação”. Santana aler-ta que não caberia neste mo-mento, no Brasil, criar maisuma taxa para financiar estenovo canal, que então deveráser financiado pelo governo.“Portanto, será um canal es-tatal, muito diferente da BBC”,conclui a jornalista.

BBC é umexemplo derede pública

Hélio Costa discute particularidades do sistema digital em BH

A PROPOSTA DO GOVERNO DE CRIAR UM CANAL DO EXECUTIVO REABREPOLÊMICA SOBRE DEMOCRATIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Daniela de Castro Silva - 8º Período

Ilustração - Camila Piovesana

03 - Política - Dani e Camila 17.05.07 10:14 Page 1

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C I D A D E S4 o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Carla Medeiros - 6º Período

DADOS DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO MOSTRAM QUE2,5 MILHÕES DE CRIANÇAS NO PAÍS TÊM OCUPAÇÕES NO MERCADOINFORMAL; SÓ EM BELO HORIZONTE, 729 DELAS TRABALHAM ILEGALMENTE

ENZO MENEZES E FELIPE IZAR

5º PERÍODO

A infância perdida nas faixas de pedestre,assentada no meio fio enquanto o sinal estáaberto. Pedir esmola, equilibrar nos ombrosdo amigo para fazer malabarismos. Em bus-ca de trocados, tomam conta de carros esta-cionados e vendem balas. São as formas detrabalho infantil mais encontradas nos cen-tros urbanos. Só em Belo Horizonte, 729 crian-ças trabalham nas ruas, segundo dados da pre-feitura.

De acordo com a Organização Internacio-nal do Trabalho, OIT, 2,5 milhões de criançastrabalham em todo Brasil. A OIT aponta ain-da outras faces desse crime: associação como narcotráfico, exploração sexual e trabalhona agricultura.

Sem socialização saudável e formas de la-zer, crianças ficam sujeitas às intempéries dasruas e enfrentam os riscos do convívio diáriocom a violência. Lêem a indiferença das pes-soas, ao invés de livros. O ‘Pivete’ estigmati-zado em cada um. O ‘não’ frio que recebem

em todas as frestas da sociedade. Sem pers-pectivas, o ciclo de dependência se reproduz.

“A sociedade pensa, de modo geral, que épreferível a infância trabalhar ao invés de rou-bar. Mas não dá outras opções para as crian-ças que estão nas ruas”, analisa Marilza Nas-cimento, procuradora do Ministério Públicodo Trabalho em Minas. Ela explica que o MPTou a Delegacia Regional do Trabalho fiscali-zam denúncias de trabalho infantil. No casode uma empresa, o MPT tira a criança da fun-ção e propõe ao proprietário assinar um Ter-mo de Ajustamento de Conduta para não con-tratar outras, sob pena de multa. “Também po-demos ajuizar uma ação na justiça. Sobre otrabalho nas ruas, encaminhamos as criançaspara os Conselhos Tutelares”, exemplifica. Em2006, 105 representações contra esse trabalhoforam abertas pelo MPT, nesse ano o númerode representações já chega a 65, até abril.

Se a criança não possuir registro em algumConselho Tutelar, a Prefeitura tenta resgatá-la das ruas através do seu programa de com-bate ao trabalho infantil. Para isso, há psicó-logos e sociólogos que as abordam, fazem ca-

dastro e as encaminham aos programas de in-clusão social.

Porém, não é tão simples tirá-los das ruas.Segundo Maria Clara Braga, assistente socialda PBH, a criança, principalmente até os 9anos, é incentivada pelos pais a trabalhar. “OBolsa Família e o Bolsa Escola não conseguemsuprir as necessidades familiares, e o dinhei-ro ganho nas ruas, muitas vezes, supera o va-lor das bolsas”, afirma. De acordo com Braga,25,5% das crianças ganham em média R$ 280nas ruas. O teto dos programas do governonão ultrapassa R$ 95.

Tirar das ruas os jovens até 17 anos é maisdifícil por já terem identidade com o trabalho.“Eles se sentem produtivos e, além de ajuda-rem em casa, conseguem dinheiro para saciaras vontades de um adolescente”, diz Maria Cla-ra. Por isso, 77% dos que trabalham nas ruastêm entre 10 e 17 anos.

Ação parlamentarA Frente Parlamentar em Defesa dos Di-

reitos da Criança e do Adolescente foi criadana Assembléia Legislativa em 2000, com base

no Estatuto da Criança e do Adolescente. Umade suas funções é combater o trabalho infan-til na esfera legislativa. Para isso, deputadosdialogam com movimentos sociais que com-batem a exploração de crianças, além de for-mularem políticas públicas em defesa dos jo-vens.

O deputado André Quintão (PT), coorde-nador do grupo desde 2003, define as maio-res dificuldades encontradas pela Frente: “Acriança que estuda e trabalha se afasta da es-cola, movida pelo cansaço e pela chance deganhar mais se permanecer mais tempo nasruas”, explica. “Além disso, há a questão cul-tural, pois alguns pais estimulam que os filhostrabalhem. Não há uma noção dos males des-sa prática, como se só houvesse essa opçãopara a infância pobre”, questiona.

A procuradora Marilza do Nascimento tam-bém analisa a questão sob a ótica cultural:“Não vemos crianças de classe média nas ruas.Isso reflete a má distribuição de renda e a ne-cessidade que as leva a trabalhar. A socieda-de devia se indignar, no entanto, convivemoscom a prática todos os dias”, destaca.

Fábio Moura - 5º Período

Infância

Garotos fazem malabares nas ruas como se estivessem em um picadeiro: diversão inocente em um mundo de adultos

A sociedade pensa, demodo geral, que épreferível a infânciatrabalhar ao invés deroubar. Mas não dáoutras opções para ascrianças que estão nasruas.

Marilza Nascimento, procuradora do

Ministério Público do Trabalho em Minas

O Bolsa Família e o BolsaEscola não conseguemsuprir as necessidadesfamiliares, e o dinheiroganho nas ruas, muitasvezes, supera o valor dasbolsas. Um pouco mais deum quarto das criançasganham em média R$280 nas ruas.

Maria Clara Braga, assistente social da

Prefeitura Municipal de BH

04 e 05-Cidades infancia-Carla 17.05.07 09:40 Page 1

Page 5: Jornal O Ponto - maio de 2007

C I D A D E S 5o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Carla Medeiros - 6º Período

Dez horas da noite. Mariana* pega os cadernos e volta daescola para casa, cansada, porque trabalhou o dia todo. Oschinelos gastos testemunham seus passos, o estômago queralgum alimento, a cabeça pede descanso. Seria apenas maisuma garota que estuda à noite. Seria. Ela tem quatorze anos.

-Por que você estuda à noite? -Trabalho de dia. - Você faz malabarismo nesse sinal? – Seus braços finos

carregam uns gravetos. Mal carregam gravetos. Nove horas da manhã. É quando sua jornada começa, ao

lado da irmã, Joyce*. Joyce tem dez anos. Reveza com a irmão passeio entre os carros, busca moedas.

- Muita gente dá trocado. Muita gente fecha o vidro. Enquanto os carros passam, rói as unhas, sob a sombra

de uma árvore no canteiro central. Não aparenta mais de cin-co anos. Desconfia.

Mariana fica atenta enquanto estamos por perto. Corremao atravessar a avenida, de mãos dadas, e descobrem umamulher escondida entre as árvores. Apontam onde estamos,ficam inquietas. A mãe entende logo, nossa presença é hos-til. Manda as duas de volta para o sinal e desaparece.

- Não, foto não! Elas correm e escondem o rosto, rindo. Mal percebem que

a infância foge entre aqueles canteiros, sem freios, com as fo-lhas que caem no asfalto e os carros passam por cima.

Sábado, 10 horas da manhã. É quando Vagner*, dois ir-mãos e dois amigos vão para a avenida ganhar dinheiro. Mui-ta gente trabalha aos sábados, mas poucas são suas idades -Vagner* tem 17, Luan*, 15, Francisco*, 14, Antônio* 10, e Lu-cas*, apenas 8 anos.

“Ajudo minha família”, afirma o mais velho. “Às vezes mechamam de vagabundo, me mandam arrumar trabalho. Já rou-bei e fui preso, essa vida não é pra mim”, desabafa.

- Luan, você estuda?- Não. Tá difícil arrumar vaga. A moça do Bolsa Escola foi

lá em casa e prometeu um lugar para mim, mas até hoje nãocumpriu a promessa. Eu quero estudar, ter um futuro.

Os meninos fazem malabarismo com fogo. Sobem nos om-bros dos amigos, são prodigiosos no espetáculo que realizam.Enfrentam carros e pessoas apressadas que assistem ao show,ora com um olhar de indulgência, ora com admiração, quasesempre com desinteresse. Mas os garotos se orgulham de mos-trar o que sabem. Gostam quando tiramos fotos.

- Tira mais!E, como alguns paradoxos inexplicáveis, sorriem para a

câmera, como se a felicidade dependesse de pouco.- Como você aprendeu a fazer malabarismo, Francisco?

Você estuda?- Aprendi com meu irmão, Vagner. Estudo. Mas tenho que

trabalhar para ajudar em casa.Às vezes, olham para o céu em busca de força. E se depa-

ram com prédios imponentes, tão altos que parecem ser infi-nitos.

Os pequenos da rua sobrevivem entre o limite de suas for-ças e o sem fim. Limitados para sonhar, mas infinitamente so-nhadores. Limitados para agir, mas infinitamente habilidososem suas ações.

A extremidade de uma faixa amarrada em um poste, en-tre duas avenidas. A outra ponta Luiz* estende, quando oscarros param no sinal. Ele se cansa de puxar a faixa o dia to-do. Nela, um pedido para ajudar uma equipe de esportistascom deficiência física.

Antes, trabalhava nas ruas todos os dias, e fazia peque-nos bicos. Hoje só sai de vez em quando.

- Minha mãe não me deixa trabalhar – Uma das poucasfrases do garoto durante a conversa. E a única com vee-mência. Seus gestos e sua fala denotam a fragilidade em umgaroto de 17 anos.

- Ela não gosta quando eu venho pra rua, me manda irestudar. Mas eu não quero saber de escola, não.

Luiz ajuda João, 25 anos, jogador do time que pede aju-da na rua com uma faixa colorida. João recolhe as moedasna janela dos carros, e move habilmente sua cadeira de ro-das. Encostado em um poste, Luiz fica calado. Parece tími-do, com vergonha, com medo. Escondido da mãe ele traba-lha. Não é possível ao menos dizer se em troca de algo. Osdois ficam sem graça e desconversam quando perguntamosquanto Luiz ganha ali. Quase nada. Talvez pouco. Talvez per-ca muito mais, sem saber.

Bruno Chiari - 4º Período

A Comunicação Social no Século XXI

Supera barreiras étnicas e geográficas,visando o progresso, os avanços

tencnológicos e a integração social

VitrineProjeto

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a: Pr

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ga 5º

H

A reportagem de O Ponto acompanhou meninose meninas que trocam, sem saber, um crescimen-to saudável por trocados que não os tiram das ruas.

A garota desconfiada

Por uma boa causa?

Sobre ombros amigos

*Os nomes dos entrevistados são fictícios

Muita gente dátrocado. Muitagente fecha o

vidro.

Joyce*, 10 anos

Ela não gostaquando eu venho

pra rua, memanda estudar.

Mas eu não querosaber de estudar

não.

Luiz*, 17 anos

Tá difícil arrumarvaga. (...) Eu

quero estudar, terum futuro.

Luan*, 15 anos

nas ruas

Crianças e adolescentes vendem doces nas ruas das grandes metrópoles para sua sobrevivência

04 e 05-Cidades infancia-Carla 17.05.07 09:40 Page 2

Page 6: Jornal O Ponto - maio de 2007

P O L Í T I C A6 o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Paula Emmanuella - 6º Período

Impasse da ressocialização

O difícil retornoPESQUISAS REVELAM QUE AINDA É GRANDE O NÚMERO DE PRESOS QUE VOLTAM AOSCRIMES. MAS PROFISSIONAIS REFORÇAM A IMPORTÂNCIA DA INTEGRAÇÃO SOCIAL.

BRUNO CHIARIC E

PAULA EMMANUELLA

4º E 6º PERÍODOS

Mais de 250 mil pessoascumprem pena nas prisões doBrasil. Menos da metade dapopulação carcerária tem sidopreparada para o processo dereintegração. Segundo o Ins-tituto Latino Americano dasNações Unidas para Preven-ção do Delito e Tratamento doDeliquente ( Ilanud), sete emcada 10 brasileiros voltam apraticar crimes após deixar aprisão. A equipe do jornal OPONTO foi ao Complexo Pe-nitenciário do Nelson Hungríapara acompanhar o dia dosdetentos.

Os presos estudam e traba-lham e, a cada três dias traba-lhados ou seis dias estudadoshá uma redução de um dia napena a ser cumprida.

O Programa de Ressocia-lização do Detento visa pre-parar o preso para voltar aoconvívio da sociedade. Se-gundo a psicóloga do Com-plexo Penitenciário NelsonHungria, Vilene Eulálio deMagalhães, a prisão, em seusprimórdios, foi criada parapunir. Magalhães diz que osistema penitenciário evoluiumuito, graças aos DireitosHumanos. As autoridadesperceberam que para convi-ver com os presos era neces-sário educá-los e ressociali-zá-los.

Para Magalhães, maiori-dade penal e agravação daspenas são inoperantes, comoé muito colocado pela mídia.Segundo a psicóloga, todosos países que investiram em

projetos sociais, conseguiramdiminuír a criminalidade.

O criminologista GreshamSykes, autor de “Sofrimentosno Cárcere”, enumera que opreso tem cinco sofrimentos.O primeiro sofrimento é a pri-vação da liberdade; o segun-do é aquele no qual o presoestá privado dos bons servi-ços , o terceiro está na abs-tenção de relações sexuais. Oquarto é aquele na qual o pri-sioneiro está submetido a re-gras institucionais. E o quin-to é o preconceito vividoquando saem dos presídios,já que a cultura da prisão re-fletirá na cultura da socieda-de.

Oficinas oferecidasDe acordo com a psicólo-

ga, é o Estado quem diz quepreso tem direito a trabalho. ANelson Hungria oferece ofici-nas como a marcenaria, tor-nearia, lavanderia, horta, jar-dim, reciclagem, fábrica de la-tinhas e oficina mecânica.

O diretor de segurança doComplexo Penitenciário Nel-son Hungria, Cosme Ribeiro,diz que 86 presos já trabalham.Segundo Eduardo Pedra, res-ponsável pela lavanderia e hi-gienização dos presos, o pre-so pode trabalhar com o tem-po de casa e comportamento.A maioria é remunerado, masoutros são a pedido do juiz.

De acordo com um deten-to, que não quis se identificar,o trabalho ocupa o seu dia eassim ele pôde se tornar umapessoa melhor. Para a mora-dora do bairro Nova Conta-gem, Vera Nunes, o preso de-veria trabalhar com carteiraassinada. “Errar todo mundo

erra. Ele não é animal, é umser humano. Só precisa ocu-pa-lo 24 horas para não dartempo de pensar besteira”,afirma.

Já o presidiário César Tra-montina, preso por homicídio,diz que “cadeia não concertaninguém, as pessoas culpam osistema, mas a culpa é nossa.As pessoas trabalham para fi-car fora da cela, por que den-tro é muito chato”.

EducaçãoPara Rejane Marza, peda-

goga da Defesa Social, outramaneira de ressocializar ospresidiários é fornecer estudopara eles. No Nelson Hungriajá existe o EJA ( Educação pa-ra Jovens e Adultos), autori-zada pelo MEC.

Segundo Marza, os profis-sionais recebem orientaçãoem âmbito nacional, além daescola ser readaptada para asnecessidades dos presos. São36 turmas para 423 alunos. Aescola pode comportar até 468presos de 1415 detentos. É ne-cessário que atenda no míni-mo 35% da população carce-rária do Complexo.

EJAO EJA conta com dois seg-

mentos. O primeiro ofereceturmas de primeira a quarta sé-rie. E o segundo de quinta a oi-tava serie. O ensino médio co-meçou ano passado e a escolafornecerá um histórico paraquando os presos saírem. Osdetentos precisam de 75% dafreqüência e 60% de aprovei-tamento. Marza também res-salta que já existe um projetode curso profissionalizante pa-ra o segundo semestre de 2007.

A psicóloga Magalhães diz queas pessoas acham que todopreso quer estudar. Os presosrelatam que as vezes vão paraescola devido a remissão de pe-na. Segundo Magalhães ospresos não deveriam ter re-missão, uma vez que é positi-vo para eles mesmos e atrapa-lha quem leva o curso com se-riedade.

Para o diretor de Atendi-mento e à integração, além daEscola, existe uma assistênciasocial de forma ampla no Com-plexo, onde fornece documen-tos, menos o CPF, tratamentomédico, psicológico e odonto-lógico. A psicóloga diz que es-ses tratamentos são básicos. Aauxiliar de Enfermagem DivinaReis, explica que a maior difi-culdade que o Complexo en-contra é a falta de medicamen-tos. E a casa não tem comocomprar.De acordo com um preso, que

não quis se identificar, de 23anos, esses projetos feitos empenitenciária são importantes.“O mundo do crime é cadeia oumorte. Meu maior medo é quemeu filho siga o mesmo cami-nho”, afirma. Para a estagiáriaRebeca Alvarenga, “a NelsonHungria não é hotel de luxo, épenitenciária, mas os presostambém têm direito à dignida-de”, afirma.

Custo da violênciaJá existem algumas tentati-

vas de meensuração de custosda violência feitas no Brasil.Uma pesquisa feita pelo BID es-timou que a violência custa 84bilhões de dólares ao Brasil ou10,5%do PIB nacional. O paísgasta, em média, R$1500 , pormês com cada preso.

Histórico dos presídios écolocado em xeque

Professores e historiado-res ensinavam que os euro-peus deportavam seus crimi-nosos para o Brasil Colonialno século 16,como forma depuni-los, de acordo com Elai-ne Maria Geraldo dos Santos,no artigo Saúde Mental e Di-reitos Humanos no SistemaPenitenciário Brasileiro. Se-gundo Elaine, a imigraçàocompulsória desses deserto-res servia também para gerarpequenos povoados, a fim dedesenvolver uma populaçãonativa européia.

A República brasileira,após o período Imperial, pas-sou por inovações no campojurídico, na forma de julgar elidar com os reclusos. Essasinovações foram influencia-das pela Declaração Univer-sal dos Direitos Humanos, fei-tos na Revolução Francesa,em 1789.

No Brasil, a AntropologiaCriminal surge no período daabolição da Escravidão e to-ma conotação racista.

Em 1910, após muitos pe-didos dos juristas é inaugurado o Gabinete de Identifica-

ção Criminal. Atualmente, aLei Penal obriga o Estado aprestar assistência material epsicológica aos indivíduossob sua custódia, nos presí-dios e penitenciárias.

Até meados do século 20,doentes mentais, mendigos ecriminosos dividiam o mes-mo sistema penitenciário.Is-so porque nao havia institui-ções específicas para recolherde imediato os doentes men-tais.

Um exemplo disso é a Casade Detenção do Recife , querecebia tanto mulheres quan-to homens e doentes mentais,encaminhando-os ou para oPresídio de Fernando de No-ronha ou para o Hospital deAlienados.

Para a psicóloga VileneEulálio de Magalhães, o sis-tema penitenciário evoluiumuito no Brasil, pois, inicial-mente, a penitenciária foicriada e planejada para punir.Com o tempo as autoridadesperceberam que para convi-ver com os presos seria ne-cessário reeducá-los e resso-cializá-los.

Complexo Penitenciário era para ser de segurança máximaO Complexo Penitenciá-

rio Nelson Hungria, localiza-do em Nova Contagem, na re-gião metropolitana de BeloHorizonte, criado em 1988,comporta 1380 detentos comuma capacidade de 1415.

Existem 12 pavilhões pa-ra 90 presos, com celas indi-viduais e dois anexos, presosprovisórios, que comportam

4 presos por cela. SegundoCosme Ribeiro, diretor de Se-gurança do Complexo, des-de seu surgimento, já tinha opropósito de segurança má-xima.

Mas um preso do Com-plexo, que não quis se identi-ficar, foi acusado de receberpacote de balas de maconha.Segundo o preso, que cumpre

pena por assalto, isso nãopassou de uma armação. Se-gundo a psicóloga Vilene Eu-lálio, muitas vezes há coni-vência da própria família.

O diretor de Atendimentoe à Integração, Israel Vilela,afirma que há casos onde osvisitantes engolem as drogase depois tomam laxante paraque a droga seja retirada. Por

razões como essas sào ne-cesscessários métodos maisseguros, como a revista.

As visitas ocorrem aos fi-nais de semana, como afirmaÂngela Souza, esposa de umdos detentos.

Ribeiro fala do respeito aospresos. “Cada um tem umdom, um jeito, é importantedosar isso”, afirma.

Trabalho realizado pelos presidiários no Nova Hungría, na oficina de Marcearia oferecido pelo Complexo Penitenciário

Preso trabalhando na oficina de lavanderia do Complexo

Bruno Chiaric - 4º Período

Bruno Chiaric - 4º Período

06 - Política - Paula 17.05.07 09:41 Page 1

Page 7: Jornal O Ponto - maio de 2007

E D U C A Ç Ã O 7o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Lorena Abrantes - 6º período e Tiago Haddad

Jornalistas sob ameaça do STFSUSPENSÃO DO DIPLOMA RETOMA DISCUSSÃO SOBRE DESREGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO

TIAGO HADDAD

5º PERÍODO

O Ministério Público Fede-ral move, desde 2001, umaação civil pública contra a exi-gência do diploma de jornalis-ta para o exercício da profis-são, alegando que o diploma éum “entulho autoritário da di-tadura”. O Decreto-Lei 972 de1969, reivindicação da catego-ria desde 1918 - quando no ICongresso Brasileiro de Jor-nalistas foi colocada a necessi-dade de um curso específico denível superior para o ofício dejornalista - está suspenso pro-visoriamente em todo o paíspor uma decisão da juíza Car-la Rister, da 16ª Vara Cível daJustiça Federal em São Paulo.

As principais lideranças sin-dicais acreditam que por trásdessa medida está uma tentati-va das entidades patronais decomunicação de desregula-mentação da profissão, con-quista histórica da categoria,que trava uma luta pelo reco-nhecimento profissional desdeseu primeiro congresso. Atual-mente, sindicatos de jornalistasde todo o país juntos à Fenaj(Federação Nacional dos Jor-nalistas) e demais entidades queapóiam a luta, estão tocando a“Campanha pela Informação deQualidade: em defesa da for-mação e regulamentação pro-fissionais dos jornalistas" que

propõe diversas atividades, in-clusive nomeou o mês de abrilcomo o “Mês Nacional de Lu-ta”, pelo fato de 7 de abril ser oDia do Jornalista.

A desregulamentação daprofissão irá permitir, no jor-nalismo a entrada de pessoassem compromisso com a qua-lidade da informação, pois se-gundo o presidente do Sindi-cato dos Jornalistas Profis-sionais de Minas Gerais(SJPMG), Ellian Guimarães,“essa desregulamentação sóvem agravar, porque além devocê precarizar o mercado detrabalho, você reduz saláriose coloca pessoas que não têmcompromisso com o objetoque é a comunicação, com ademocracia dos meios de co-municação”. E questiona: “ojornalista, que mexe com acabeça das pessoas, com odia-a-dia das pessoas, nãotem de ter formação? É mui-to estranha essa postura”.

Sob a alegação de ferir a li-berdade de expressão, o Su-premo Tribunal Federal (STF)concedeu uma liminar que pos-sibilita a pessoas não habilita-das em curso superior de jor-nalismo o exercício dessa pro-fissão. Um dos argumentos uti-lizados pela juíza Carla Risterfoi o de que o exercício da “pro-fissão de jornalista não requerqualificações profissionais es-pecíficas, indispensáveis às téc-

nicas, em que o profissional quenão tenha cumprido os requisi-tos do curso superior pode vira colocar em risco a vida de pes-soas”. Esse argumento ataca di-reitos conquistados pela cate-goria, e que hoje, estão garan-tidos na Constituição Federal.

O que está em jogoO presidente da Associação

dos ex-alunos de ComunicaçãoSocial da Fumec, Adriano Boa-ventura, acredita que “nós te-mos que saber que o jornalis-mo é uma ciência. Porque vo-cê não vai formar uma pessoaem fazer lead, fazer textos, ouatualizar uma página na inter-net. Você tem que formar umindivíduo que seja capaz deperceber os problemas na so-ciedade e transcrever isso pa-ra um jornal diariamente”, ar-gumenta Boaventura. E com-pleta: “Em vez de fazer do jor-nalismo uma prática, mais doque esclarecedora, mas com-bativa, você está tirando o sta-tus de ciência que o jornalismopossui, que tem uma teoriacientífica, e escolas que discu-tem o jornalismo”, por exem-plo, a escola de Frankfurt, naqual o Projeto Político-peda-gógico do curso de Comuni-cação Social da Fumec se ba-seia. Para Boaventura, o queestá em jogo com essas medi-das são duas questões centrais:a qualidade da formação do es-

Tiago Haddad

Manifestação de jornalistas em Ouro Preto, no 21 de abril, a favor da exigência do diploma

tudante; e a precarização daprofissão de jornalista, pois as-sim se permite achatar salários,rebaixar pisos e tirar direitosdo trabalhador do jornalismo.

Boaventura acrescenta ain-da que “abrindo mão da exi-gência do diploma damosoportunidade para todos os pi-caretas de plantão que enxer-gam no jornalismo uma ma-neira de manipulação da opi-nião pública em favor da ideo-logia dominante, em favor dospatrões da comunicação”.

Para a secretária de Reda-ção do jornal Hoje em Dia, Ma-ria Eugênia Lages, “a questãoda desregulamentação e da nãoexigência do diploma é uma for-ma de desorganizar a catego-ria. Assim qualquer pessoa po-de escrever, qualquer pessoa

pode falar, pode fazer. Acho quenão é bem assim. Isso é um re-trocesso para a categoria”. E fazuma comparação: “a mesmacoisa é eu poder achar que en-tendo muito de direito e quererir amanhã ao Fórum e defenderuma pessoa. Porque eu tambémacho que o direito você podeaprender, eu posso ler os códi-gos. Não é uma questão de cor-porativismo”. Maria Eugêniaacredita ser necessário um co-nhecimento específico para oexercício da profissão, e argu-menta: “não vem me dizer queuma pessoa formada em arqui-tetura vai chegar aqui e vai sa-ber cobrir um acidente com 20mortos e chegar lá e achar queé tudo normal. Não é assim”.

Outra opiniãoA reportagem encontrou

adeptos da idéia do fim daexigência do diploma atémesmo no próprio meio, co-mo o Coordenador do Cursode Comunicação Social daUniversidade Fumec, CarlosAlexandre Freire. “Eu achoque o diploma não tem im-portância quase nenhuma.Ele faz parte de um entulhoautoritário da ditadura. O di-ploma, no sentido de cerceara entrada, nessa área, de in-telectuais com capacidade detrabalhar como jornalista” de-fende. Freire acredita que “oque garante a boa qualidade

do jornalista é um sistema deregulação social, que cobredas instituições de formaçãode comunicadores sociais queelas sejam transparentes, se-jam abertas, tenham o proje-to pedagógico discutido”, en-tre outras coisas. Para Freire,tais medidas são o que pe-sam, e não o diploma. “Di-ploma é um estatuto buro-crático que pode até servir àsvezes ao bem, mas ele serveigualmente ao mal”, conclui.

A campanha nacional emdefesa do diploma começouem abril e se estende ao res-to do ano. O SJPMG tomoucomo medidas a realização deabaixo-assinado, disponívelno site (www.sjpmg.org.br),que será “encaminhado aosministros do STF, ao Ministé-rio do Trabalho e Emprego.Vai ter uma mesa itinerantepara passar em praças públi-cas a fim de tentar conquistaras pessoas para que venhamaderir esta causa também”,diz o presidente do Sindica-to. Já Boaventura chegou amencionar que “o SJPMGjunto à Fenaj tinham que teruma posição mais firme eenérgica na defesa dos inte-resses da profissão, ou seja,do diploma, que é fundamen-tal para o exercício da profis-são” e completa: “a exigênciado diploma é a exigência dosaber. E o saber é libertário”.

“O jornalista, quemexe com a cabeçadas pessoas, com o

dia-a-dia daspessoas, não tem de

ter formação? Émuito estranha essa

postura”

Ellian Guimarães

Presidente do SJPMG

“Liberdade, essa palavra”

LUIZA DE SÁ

7º PERÍODO

Aqueles que hoje voltam aquestionar a exigência do diplomapara o exercício do jornalismo cos-tumam alegar que isso seria umdos entulhos autoritários da dita-dura. Mas um verdadeiro autori-tarismo foi o que vimos na mani-festação do último 21 de abril, emOuro Preto, com a presença de es-tudantes de comunicação social ejornalistas. Estávamos lá com oSindicato dos Jornalistas de MinasGerais realizando um ato públicoem defesa do diploma de jornalis-mo. Outras pessoas chegavam combandeiras do PSDB, algumas como nome “Aécio”. Conversei com trêsdelas. Perguntei o motivo que oshavia levado até lá e eles disseramque haviam recebido R$ 50,00.Não souberam dizer de quem.

Dividida por um cercado pro-tegido por policiais, a parte da fren-te da praça estava reservada a es-sas pessoas. Na parte de fora fica-

mos os movimentos sociais e ma-nifestações dos não-governistas.Assim, não haveria problemas coma cerimônia de entrega da Me-dalha da Inconfidência. O que sevia eram muitas bandeiras azuis eamarelas e, curiosamente, as pes-soas que agitavam essas flâmulas,tinham uma fita colorida no bra-ço. Daquelas que se usam paracontrole de camarote de shows. E,afinal, era um controle.

A manifestação dos jornalistase estudantes agitou a praça. Aspessoas que circundavam a ban-deira de 5 metros de comprimentoe se revezavam ao megafone cha-maram a atenção rapidamente.Principalmente da polícia, que nosrecebeu com hostilidade e trucu-lência. À medida que a palavra deordem ecoava, pessoas se aproxi-mavam do movimento. Algumas ti-ravam fotos da faixa que defendiaqualidade da formação e pegavampanfletos; outras xingavam e al-guns ficavam à espreita.

Quando a frase “Liberdade praexercer o jornalismo” começou aser ouvida, começaram as amea-ças. “Segunda-feira você tá demi-tido”, falava raivoso um homem deóculos escuros a um jornalista que

se manifestava. “Eu vou te dar umtiro na cara, fica esperto”, fala ou-tro, ameaçando o estudante TiagoHaddad. Segundo ele, quando re-trucaram falando que iam fazer umboletim de ocorrência, o homemrespondeu: “quero ver quem vai as-sinar esse B.O.”.

Quando a situação ficou maisperigosa e um grupo de uns 30 ho-mens se juntou para agredir umjornalista, os integrantes do movi-mento tiveram que zelar pela suasegurança e saíram de lá. Em con-traste com o clima que reinava den-tro da área cercada, no lado de fo-ra, a praça símbolo de liberdadeestava violenta demais.

O que é curioso: na entrada dacidade de Ouro Preto, onde a polí-cia rodoviária controlava a chega-da ao centro, tinha um arco enor-me, que passava por cima da pis-ta. E lá, se apropriavam de CecíliaMeireles e seu Romanceiro da In-confidência: “Liberdade, essa pala-vra/que o sonho humano alimen-ta/que não há ninguém que expli-que/e ninguém que não entenda...".

Liberdade? Cecília Meireles de-via estar viva para ver o que fize-ram da liberdade, na praça do po-vo, em 21 de abril de 2007.

o ponto

07 - Educaçao Lorena Abrantes 17.05.07 09:44 Page 1

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E D U C A Ç Ã O8o po

Belo Horizonte

Editor e diagramador da página

LÍGIA RÍSPOLI8º PERÍODO

O PONTO: O que é aula dife-rente?

Analise Silva: Sempre ouvi dosmeus colegas que não adianta ten-tar trabalhar com nenhuma prá-tica diferente, com nenhuma au-la inovadora, porque os jovens re-sistem a essas práticas. Quandoeu fiz o mestrado, desenvolvi aquestão se existe ou não umapreocupação com a juventude nanossa formação de licenciatura.Quando percebi que essas ex-pressões apareciam: “práticas ino-vadoras”, “práticas pedagógicasinovadoras”, “aula inovadora”,elas vinham acompanhadas deeventos como música, dança, pin-tura ou desenho. O que estou pes-quisando no doutorado são quesignificados os jovens estudantespobres, no noturno da rede pú-blica municipal de Belo Horizon-te, atribuem à essa prática inova-dora pois segundo os professo-res, os alunos a rejeitam.

A partir da entrevista com 44jovens, consegui perceber quenão há somente um significado esim nove deles. Dois dão sentidonegativo, outros sete são positi-vos. O que eles me afirmaram é ocontrário do que os professoreshaviam dito. Um dos significadosnegativos é que a aula diferente éuma perda de tempo. Eles sãomuito claros quando me dizem oseguinte: “eu já saí da escola umavez, tive que parar de estudar, fuireprovado antes. Para mim, quan-do o professor dá essa aula dife-rente eu estou perdendo tempo”.Pareceu-me muito um discursoque ele ouviu durante a vida in-teira. O outro significado negati-vo foi para mim uma surpresa im-pactante; eu até voltei chorando

para a casa quando ouvi isso pe-la primeira vez. Para alguns, asaulas diferentes são aquelas emque se consegue aprender algu-ma coisa, ou seja, o diferente éaprender, como se o normal fos-se uma não aprendizagem.

OP: Mas o fato de ter sete atri-buições positivas é um bom si-nal, não?

AS: É bom, até porque eu entreinessa pesquisa com a idéia deque os jovens não queriam essaspráticas diferentes. Para algunsalunos a escola pode dar, de al-guma forma, elementos que elesvão precisar para o mercado detrabalho e para o tal “subir na vi-da”. Uma abordagem determi-nada pela educação tradicional.É o que se entende como ir paraa escola para ser instrumentali-zado, para receber a formaçãonecessária para ter uma profis-são. A escola para esse estudan-te não é um direito. Ele se vê co-mo alguém que está sendo ape-nas preparado para o trabalho.

Nesse sentido, uma meninaprestou um depoimento esclare-cedor: “desde bem pequenininha,eu escuto pelo menos três vezesao dia (ela diz como se fosse ummedicamento) que escola é lugarde gente séria, de estudar, de vi-rar gente séria. Quando a pro-fessora propõe brincadeiras, eufico achando ótimo porque só as-sim mesmo para a gente levar es-sa vidinha difícil. Mas que euacho esquisito aula de brincar, is-so eu acho. Parece enrolação, sa-be?”. Tem outro estudante quediz: “tem aula que a gente nãoaprende nada, nem se tiver des-cansado. Aliás, aula diferente équando aprendo, porque na au-la de todo dia eu não aprendo na-da.”

Esses jovens já internalizaramuma mensagem que tem sidopassada para eles há algum tem-po: de que se eles não conse-guem aprender, o problema é de-les. Para os alunos não há pro-blema com a estrutura das insti-tuições, o problema é com a au-la normal. Da perspectiva socialda escola, isso reflete um quadrograve. Estou tentando trabalharna tese que a transmissão do co-nhecimento é uma partilha dosaber. Mas a partir desse pres-suposto os estudantes estão forado processo, pois eles não se per-cebem como sujeitos. O proble-ma não é com o que se ensina, écomo eles não aprendem.

Uma observação! Desses 44 jo-vens, 95% deles são negros. Al-guns estudos atestam para esseaspecto da etnia, evidenciam quenão é tão coincidência a maioriaesmagadora dos estudantes no-turnos nas escolas públicas ser ne-gra. E isso é exclusão social. Amim incomoda que um livro di-dático dedique apenas um capítu-lo para falar sobre etnia. Essa éuma questão profunda e poucodiscutida. No meu trabalho, e tam-bém para preservar a identidadede meus entrevistados, dei a cadaum deles, aleatoriamente, o nomede um país africano e foi umacoincidência serem 44 entrevista-dos e 44 países.

OP: E qual foi o seu objetivo comisso?

AS: Conhecer a etnia e deixarmarcado que não passou desper-cebido o fato que não considerocoincidência que 95% deles sejamnegros, já que estou trabalhandocom o recorte de jovens pobresno noturno. Mandei cartas paratodos os entrevistados convidan-do-os para assistir a apresenta-

ção. Recebi duas cartas de volta.Uma mãe me ligou falando que afilha casou e estava morando noRio de Janeiro. Outros me ligaramfalando que não poderiam ir por-que estavam trabalhando no ho-rário da apresentação, mas acha-ram legal eu não tê-los esqueci-do. Nesse contato com as escolasfiquei sabendo também que umdos meus entrevistados tinha si-do assassinado. Não é natural,mas normal. É um dado da reali-dade. Infelizmente lidamos comum número crescente de jovenspobres que tem matado e morri-do. É um dado triste e recorren-te. Aliás, acho que estudos sobreisso precisam ser mais aprofun-dados, mais qualitativos e menosquantitativos, mudar de aborda-gem. Com relação à criminalida-de, deve-se levar em considera-ção os sujeitos envolvidos, sendopobres ou não, negros ou não,analisando a estrutura da nossasociedade que trabalha no senti-do da exclusão, ou melhor, da in-clusão peversa. Uma falsa inclu-são que diz que você está incluí-do, mas na verdade continua tra-tando-lhe como diferente.

OP: Eles não têm opções...

AS: Exato. Eu passei por uma si-tuação interessante, perguntei naescola se eles tinham uma turmamais participativa para me apre-sentar, com jovens mais ativos. Re-cebi das quatro escolas a indica-ção de cinco turmas. Não neces-sariamente foram turmas dos jo-vens que entrevistei na tese. Dos159 estudantes do noturno, trêsdeles participam de movimentosestudantis, 13 se relacionam commovimentos culturais e 18 tem vín-culos com movimentos religiosos.A escola é o espaço público maisfreqüentado pelos jovens. Isso é

indiscutível. Muitas vezes ela é aúnica instituição pública na qualeles têm acesso, o que despertauma relação que eles não têm emnenhum outro espaço, com ne-nhuma outra pessoa. Quando fa-lam de escola, não falam de algoque não queiram, mas de algo queeles querem modificado. Outra fa-la pertinente aponta: “Eu não seiquem falou para os professoresdaqui. Agora tudo o que aconte-ce a gente tem que dançar hip-hop. Eu não sei. Alguém aqui gos-ta de hip-hop? (um colega levan-ta a mão). Tá. Você gosta. Mas vo-cê dança?” Então ele fala que não,e ela diz: “Aí tá vendo. Ele nãodança! Mas agora toda vez a gen-te tem que dançar hip-hop”. Éuma questão da escola se apro-priar da cultura juvenil e instru-mentalizá-la.

OP: Isso tem a ver com a in-dústria cultural. A cultura dosjovens é algo que vem de cimapara baixo.

AS: Concordo, até porque existeuma séria de grupos de hip-hopque ninguém sabe que existe. Umaquestão evidente é que os alunosquerem ser ouvidos, eles me di-zem isso o tempo todo. Agora, co-locam também a questão do limi-te. Uma estudante fala do profes-sor bravo: “Eu não ligo do pro-fessor ser bravo. Tem que ser bra-vo mesmo. Tem até momento queeu nem escuto o que ele está fa-lando. O que eu não quero é pro-fessor que nem sabe que eu exis-to.” Achei muito forte isso. Eles re-conhecem um determinado com-portamento que não está ade-quando à aquele espaço e mani-festam sua insatisfação na relaçãocom a escola, o que pode ser po-sitivo: “Quando o professor fazuma aula diferente é quando ele

JOVENS QUEREM MUDAR PESQUISA REVELA QUE ESTUDANTES DO NOTURNO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DESEJA

Analise de Jesus da Silva, 42, concluiu seu doutorado este anopela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pro-fessora de história da rede pública de Belo Horizonte há 26

anos, seu trabalho não deixa de ser uma reflexão do que é ser profes-sor e os desafios que esses profissionais enfrentam com os alunos. “Jo-vens Estudantes Pobres: significados atribuídos às práticas pedagógi-cas denominadas inovadoras por seus professores” é um pequeno re-corte do ensino municipal, com estudantes do turno noturno. Durantea pesquisa, a professora entrevistou 44 jovens de diferentes escolas dacapital. O que se revela é um confronto de opiniões que questiona osmétodos utilizados pelos professores e a real aprendizagem dos estu-dantes da rede pública de educação. Até que ponto uma aula é real-mente inovadora? Novas práticas são necessariamente sinônimo deboas aulas?

Analise atualmente leciona para crianças. Para descrever quem é anossa entrevistada, nada melhor do que extrair um trecho em que elase explica: “De onde falo? Falo do lugar que ocupo há 26 anos comoprofessora da rede pública municipal de educação em BH e pelo tra-balho exercido durante 19 anos com jovens estudantes pobres no no-turno e durante 14 anos com Educação de Jovens e Adultos.”

08 e 09-entrevista-rafael 17.05.07 10:15 Page 1

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E D U C A Ç Ã O 9ontoe – Maio/2007

a: Felipe Torres e Rafael Barbosa

QUADRO DA EDUCAÇÃO

Ele fala que preparou a aula com todo carinho e que a gente nem

liga. Eu fico com pena, mas se ele perguntasse antes do que eu gos-

to, o que eu ainda não sei e o que eu já enchi de saber, ele não fi-

cava puto e nem eu.

Mauritânia

Ser professor é mais forte que dar aula.

Dar aula é ficar repetindo o que já tem no

livro. Ser professor é contar pra mim as

coisas que você sabe e escutar as que eu sei

e ver onde é que isso tudo vai dar.

Chade

Pôxa vida! Eu fiz uma aula tão agradável. Preparei uma au-

la tão gostosa, e quando chego lá... todo mundo desanimado. Quer

dizer, na verdade a aula que a gente acha que é gostosa, não é na-

da é... Falta este ‘antes’. Então, se pudesse pegar o aluno antes de

acontecer a aula e conversar com ele, assim: vamos ver se você gos-

ta disto?’ Perguntar antes, fazer junto com ele.

Argélia

AM PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PRÓXIMAS ÀS SUAS EXPERIÊNCIAS COTIDIANAS

não me vê como um marginal, umassaltante, um assassino, um cor-rompido, um traficante”. O jovemé sempre visto como causador dedistúrbios, é sempre visto comoum problema.

OP: Isso é a visão da burguesiade que o jovem deve ser pobree dependente da família?

AS: Sim.Da necessidade da bur-guesia deixar claro que a nobrezapossui bens em excesso, mas queisso está errado. A partir do finaldos anos 90, a imagem da juven-tude estampada no país é a ima-gem da juventude pobre. Quandovocê abre o jornal e vê alguma coi-sa sobre o jovem ele é, na maio-ria das vezes, tratado como pobre,negro e homem. A imagem do jo-vem é o do que está na “boca”, quevai te assaltar. É a imagem do ne-gativo. De vez em quando você vêpinçada algumas imagens positi-vas, naquela perspectiva de inclu-são perversa.

OP: Quando você ensina, porexemplo, capoeira eu tenho aimpressão dessa inclusão per-versa, que a pessoa tem que so-breviver só com essa opção, es-tou certa?

AS: Sim. Um outro significadoque os jovens disseram sobre aaula diferente é que ela contribuipara a humanização do estudan-te pobre. A humanização dentroda perspectiva que a gente nãonasce humano, se humaniza e vaiaprendendo a se relacionar. Temum menino no depoimento quediz o seguinte: “Eu não to aquipra ficar rico, rico eu ficava na“boca”. E essa história de em-preguinho ´melhorzinho`... nãosei se existe mesmo... eu tô aquié pra virar gente”. Essas falas es-

tão desvinculadas das manifes-tações de identidades juvenis. Porexemplo, tem um outro que fala:“ Eu sou jovem, eu não sou peri-goso. Perigosa é a vida que o sis-tema me obriga a viver. E olhaque já estava assim quando eunascí”. E outro estudante: “Temprofessor que escuta a gente como corpo todo e não só com a ore-lha. Conversa, sabe?!” Isso de-monstra que os jovens questio-nam a falta de diálogos nas au-las, pedem uma construção cole-tiva. A aula diferente permite es-sa busca de auto-estima.

OP: Aula diferente dá impressãode ser algo muito bem prepara-do...

AS: Tem um depoimento que dizassim: “Foi na aula do Gana queeu aprendi onde tem teatro, cine-ma, música e dança ‘0800’. Se elenão trouxesse aqueles papeizi-nhos de propaganda e não desseforça para gente ir... Ele levou agente lá para ver o filme da maté-ria que nós estávamos estudando.Toda vez ele traz mais papéis so-bre lugares legais. Sério!” Outro:“A gente andou pela cidade qua-se toda. Eu vi lugares que eu nemsabia que existiam aqui em BeloHorizonte. A gente quase não saido bairro, né? Passagem de ôni-bus é muito caro. Ele ensinou tam-bém onde tem tele-centro e umalan house baratinha aqui perto.Eu fiz meu e-mail de lá”. Mais umaluno: “Eu não sabia que existiamlugares de deixar o currículo pa-ra procurar emprego. Foi a Naní-bia que trouxe e nos mostrou oslugares, os tipos de emprego e ossalários. Ela ensinou a gente aprocurar no jornal também. Elatrazia o jornal da casa dela e agente via, mas agora tem um pro-jeto de jornal na escola e a gentepode ver todos os dias se quiser.Por isso que, para mim, a aula de-la é diferente”. Então, na aula di-ferente não tem uma pessoa fa-zendo algo revolucionário, sãoprofessores ensinando-os a teremacesso, aprender a conversar.

OP: É engraçado porque elestêm uma visão otimista, mesmocom todos os problemas.

AS: Sim. Saí da pesquisa com acerteza de que eles não rejeitavama aula diferente, pelo contrário,demandavam. O que eles rejeitamé o estereótipo contra eles, o olharnegativo da sociedade. Eles dei-xaram claro que sabem das difi-culdades, que não consideram jus-to que seja cobrado deles, comose fosse obrigação da juventude,resolver os problemas sociais. Éclaro que eu estou fazendo umaleitura a partir das biografias pes-quisadas. Então o que eu percebié que eles pedem uma pedagogiaque trabalhe com a juventude. Elesquerem ser tratados apenas comojovens.Colaborou: Henrique Lisboa

Se a gente chega e não aprende nada que sirva, é muito ruim. Dá vontade de

desistir! Eu mesmo, às vezes, penso muito em desistir, porque vir prá escola e não

aprender é muito ruim! No dia que eu aprendo eu fico muito feliz, porque na

aula normal eu não aprendo nada mesmo.

Nigéria

Samuel Aguiar - 4º Período

08 e 09-entrevista-rafael 17.05.07 10:16 Page 2

Page 10: Jornal O Ponto - maio de 2007

E S P O R T E10 o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Amanda Capucci - 6º período

FLORA LIBÂNIO

4º PERÍODO

Em busca de um estilo devida mais saudável e uma filo-sofia educativa, homens, mu-lheres e crianças, conterrâneose estrangeiros, se reúnem emquadras brasileiras para prati-car um esporte de origem an-glo-saxônica pouco conhecidono país: o rugby. Existem al-guns campeonatos nacionais ehá registro de times em váriosestados brasileiros, inclusiveem Minas Gerais. Há cerca desete times espalhados pelo es-tado, nas cidades: Belo Hori-zonte, Governador Valadares,Três Corações, Poços de Cal-das, Juiz de Fora e em Vargi-nha, que possui dois clubes.

Segundo a Associação Bra-sileira de Rugby (ABR), a pre-visão para 2007 é que sejamrealizados no país os campeo-natos amazonense, fluminense,paulista, paranaense, copa doBrasil e Liga Sul, além de uni-versitários e femininos, queabrangem todo o país.

Times “importados”O esporte atrai um grande

número de estrangeiros que vi-vem no Brasil. O BH Rugby é oúnico time em Belo Horizonte,atualmente possui dez argenti-nos, três franceses, dois italia-nos e já tiveram jogadores daNova Zelândia e Chile, paísesonde o esporte é popular. Mui-tas pessoas que vêm do exte-rior, jogam rugby desde a in-fância, e por estarem inseridosna “cultura rugby”, quando mu-dam de país imediatamenteprocuram um clube local, e fa-zem do esporte um meio de seadaptar a uma nova cultura.

O técnico do time juvenil ejogador do BH Rugby, Alejan-dro Marolla, 30, mais conheci-do como ‘Cabezón’, nasceu nosEstados Unidos, mas foi criadona Argentina, onde começou ajogar rugby aos dez anos. Se-gundo ele, o esporte o ajudoua se adaptar à cultura brasilei-ra e conheceu grandes amigosfazendo o que mais gosta.

Marolla conta que muitaspessoas apresentam melhorasdepois que começam a jogarrugby. A maioria chega assus-tada e com medo, mas na me-dida em que começam a jogare a se familiarizarem com o es-porte vão ganhando auto-con-fiança. Esse benefício se refle-te na vida das pessoas comoum todo, tornando-as mais for-tes para enfrentarem os desa-fios da vida.

Em relação à segurança eriscos de lesões, Marolla contacom duas coisas para que issonão aconteça: em primeiro lu-gar a preparação do jogador,que aprendeu a forma corretade cair e derrubar durante ojogo, e em segundo lugar, aconfiança mútua entre os joga-dores de respeitar as regras im-postas. Assim, o jogo flui demaneira positiva e sem gran-des problemas.

Participação femininaA estudante da UFMG Lau-

ra Orozco, 23, é da Costa Ricae está no Brasil há um ano emeio. Ela recebeu o convite deum amigo, em 2005, para as-sistir a uma partida do BHRugby que lhe chamou aten-ção. Ela conta que, através dapropaganda boca-a-boca, vá-rias mulheres foram agregan-do ao clube até fundarem o ti-me feminino. O que mais agra-da a estudante no rugby, é o fa-to de não exigir um biótipo es-pecífico. Todas as pessoas po-dem jogar, sejam altas, baixas,magras ou fortes, alem de serum esporte completo. Segun-do Laura o esporte lhe pro-porcionou grandes amizades,e que hoje faz parte do seu dia-a-dia.

O chileno Manuel Schiaffi-no, foi o sócio-fundador do BHRugby, treinou e jogou pelo clu-be, de 2004 até julho de 2006,quando mudou para Vitória-ES, onde atualmente tenta fun-dar um time local. Schiaffinoconheceu o esporte aindacriança e jogou em vários timesem seu país. Na opinião dele oesporte lhe proporcionou mui-

tas experiências positivas, co-mo as amizades, países que co-nheceu e clubes que visitou.Quando era jovem, o que maislhe incentivava era a vontadede vencer e ser o melhor. Hoje,fica muito satisfeito em ver ascrianças dando os primeirospassos no rugby e ver o Brasilacordando para um esporteque segundo ele traz e ainda vaitrazer muitas alegrias. “O bra-

sileiro tem espírito de ‘rugbier’,pois é solidário, amigo e alegre.Eu sou um homem feliz devidoao esporte. O rugby é a minhavida”.

O estudante paulista ZenonStasevskas, 17, conheceu o es-porte durante um intercâmbiona Nova Zelândia, considera-da a capital mundial do rugby,e desde então não parou mais.De volta ao Brasil, iniciou sua

participação no projeto vo-luntário “Rugby para todos”,que ensina o jogo para crian-ças de uma favela paulista.Oestudante tem muitos elogiosao rugby, por ser um esporteque desenvolve um espírito deequipe e que deixa vestígiospositivos como amizade, con-fiança, respeito e concentra-ção, mesmo quando se para dejogar.

De Londres para Minas,rugby apresenta suas armas

O Scrum é uma formação fixa de disputa de bola, em decorrência de faltas leves

Estudiosos do rugby acre-ditam que foi inventado peloestudante William Web Ellis,durante uma partida de fute-bol na Rugby School de Lon-dres, em 1823. O jovem teriase irritado com o jogo e cor-rido pelo campo com a bolaagarrada nos braços, apesarda irritação dos outros joga-dores que tentavam impedi-lo agarrando-o a qualquercusto.

A segunda versão contra-ria o estudante. Muitos contamque a bola carregada já faziaparte do jogo há muito tempo,principalmente entre 1820 e1830, na própria Rugby School.

A filosofia rugby prega queo juiz e o time adversário me-recem respeito, uma vez quesem eles não haveria jogo. Oterceiro tempo, festividadeapós o jogo para descontrair,é oferecida pelo time da casa,em consideração ao time ad-versário que teve o trabalho deviajar para jogar. O rugby tam-bém estimula a cooperação en-tre os jogadores, formando ci-dadãos respeitosos.

Segundo a diretoria do BHRugby, o primeiro time oficialde rugby em Minas surgiu em1995 em Varginha, o MinasRugby; em 2000 o time sedesmantelou em dois. O es-porte chegou em Belo Hori-zonte no final da década de90. Um grupo de ex-universi-tários da UFV que costuma-vam jogar rugby em Viçosa,quando mudaram para capi-tal procuraram continuar jo-gando. Porém, a união nãovingou, e após anos sem con-tato, os ex-universitários sereencontraram em 2003. Che-garam a competir algumas ve-zes no Rio e mais uma vez otime não seguiu adiante.

Somente no final de 2003 éque foi possível consolidar umtime de rugby em BH.

Um jogo quenasceu da fúriade um jovem

POUCO CONHECIDO, ESPORTE AJUDA GRINGOS A SE ADAPTAREM À CULTURA MINEIRAFotos: Laura Carvalho - 5º Período

Cristina Barroca - 6ºPeríodo

10 - Esporte - Amanda Capucci 17.05.07 09:46 Page 1

Page 11: Jornal O Ponto - maio de 2007

E D U C A Ç Ã O 11o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Marcus Valadares - 6º Período

Acesso à informaçãocontra a desigualdade

DificuldadesFLORA LIBÂNIO

4º PERÍODO

Salas de aula de escolas munici-pais de Belo Horizonte enfrentam di-ficuldades quanto ao acesso à tec-nologias e material didático, o queprejudica o aprendizado de línguasestrangeiras nesses locais. Essa fal-ta de acesso à informática e à opor-tunidades de aprendizado de uma se-gunda língua, acaba por agravar adisparidade social da realidade bra-sileira.

Astréia Soares, socióloga e pro-fessora das universidades Fumec eNewton de Paiva acredita que a glo-balização traz novas demandas, o quegera novas formas de exclusão. “Afalta de ‘capital cultural’ (conheci-mento e informação) sempre foi um

forte fator de exclusão no mercadode trabalho. Porém, a globalizaçãotrouxe a demanda por novas habili-dades, dentre elas o domínio de ou-tras línguas e da informática”. Se-gundo a professora, há uma novapreocupação mundial com a “info-inclusão”, uma vez que a chegada denovas tecnologias resultou em inú-meros ‘analfabetos instrumentais’não apenas entre as classes popula-res, mas também em outros seg-mentos da sociedade, como os pro-fissionais mais velhos e com menorcondição de reciclar seus conheci-mentos.

O fator de relevância nesses no-vos domínios está relacionado a umproblema estrutural brasileiro quepode vir a ser agravado: à desigual-dade social. De um lado, estão as

classes privilegiadas. Trata-se de es-tudantes com boa base educacionale acesso a diversos e sofisticados re-cursos em casa e na escola. Do ou-tro, as classes baixas, estudantes ge-ralmente defasados, que arcam comas conseqüências do despreparo enegligência de alguns educadores eda realidade do sistema público.

A Escola Municipal Padre Gui-lherme Peters é uma delas. Algunsmeses atrás a escola recebeu seu pri-meiro DVD. Antes, contava com ape-nas dois vídeos VHS para nove tur-mas. Materiais importados, essen-ciais para um bom aprendizado dequalquer língua estrangeira, são mui-to caros para o orçamento dos alu-nos. Visto que o ato de xerocar é cri-me, resta aos professores produzi-rem seu próprio material. Do outro

lado, estão as instituições privadas.Apesar de a maioria dos colégiosparticulares ter um ensino de línguasestrangeiras insuficiente, grande par-te dos alunos pode freqüentar cursi-nhos extra-classe. A falta do ensinomédio não constitui um problema, jáque esses estudantes tem uma boabase educacional, acesso a sofistica-dos recursos e condição financeiraprivilegiada.

Ana Paula Chaves, professora deinglês da Escola Municipal PadreGuilherme Peters já teve contato comessas duas realidades de ensino e re-trata a dificuldade de produzir-se ma-terial didático com falta de recursos.“Quando eu trabalhava em cursinhode inglês, além da escola possuir vá-rios recursos como laptop, DVD´s elançamentos, os alunos não questio-

navam os preços dos materiais, sim-plesmente os apresentavam. Nas ins-tituições públicas preciso elaborarmeu próprio material, o que sai maisbarato do que livros importados”, re-trata.

Para a professora, o aprendiza-do de línguas estrangeiras deve sermais valorizados, já que traz bené-ficios concretos ao estudante “Acre-dito que o status conferido ao saberda língua inglesa está no retorno aolongo prazo, como vantagem pro-fissional e possibilidade de se co-municar com povos de diversas ori-gens”, explica Chaves. Ela lembraainda que o aprendizado da línguatraz vantagens práticas, como saberoperar um computador e cash ele-trônico que constam de comandosem inglês.

Com o fim de qualificar pro-fissionalmente professores deinglês e espanhol das redespúblicas municipal e estadual,a professora de Letras daUFMG, Deise Prina, idealizouo projeto Educação Conti-nuada de Professores de Lín-gua Estrangeira-Educonle.Desde 2002, o projeto envol-ve alunos da graduação de le-tras (bolsistas ou voluntários),pós-graduandos da Faculda-de de Letras (Fale ) e outrosvoluntários, que são ou visamser professores de inglês ouespanhol. O projeto contem-pla aulas de metodologia, mi-nistradas às sextas-feiras pormestrandos e doutorandos daLetras, de 14 às 17:30h, e au-las de língua estrangeira, aossábados, ministradas por mo-nitores (que são graduandosda Letras) de 9 às 12h.

O desempenho dos parti-cipantes do projeto é avalia-do por meio de portfolios,provas, preparação de mate-rial didático, seminários, tra-

balhos escritos e orais, o quepossibilita a ligação entre teo-ria prática e trabalho coleti-vo.

A professora de inglês daEscola Municipal Vinicius deMoraes e espanhol do Se-brae-MG, Regina Maria Men-des, graduada pelo Educon-le, ressalta que o projeto é degrande importância, devidoa falta de preparo dos profis-sionais. “Muitos professoreschegam despreparados paraa sala de aula, pois geral-mente têm como único méto-do a tradução, o que é com-provadamente errôneo. O usodas quatro destrezas - escri-ta, fala, audição e leitura- sãoindispensáveis para um bomaprendizado da língua es-trangeira”.

Muitas questões que to-cam estudantes de escolaspúblicas são alvos de preo-cupação por parte dos pro-fessores, entre elas, Mendesdestaca a defasagem educa-cional. “Alguns alunos che-

gam a 8ª série quase analfa-betos, pois lêem mecanica-mente. Isso acontece porquepassam de ano sem venceretapas, o que deixa lacunasdifíceis de se resolver e atra-palha a compreensão de umidioma estrangeiro. Para quenenhum dos alunos, nem osmais avançados e nem os deaprendizado básico fiquemprejudicados, passo exercí-cios graduados em níveis e osalunos mais avançados sen-tam em dupla com os maisfracos”, explica.

Já Miriam Jorge, atualcoordenadora geral do Edu-conle, acredita que “não hádefasagem específica em re-lação à língua portuguesa. Háum preconceito lingüístico re-lacionado aos que não usamo português padrão, consi-derado mais correto”. Paraela,”pela aprendizagem deuma língua estrangeira, o alu-no tem oportunidades de re-fletir não só sobre a nova lín-gua em questão, mas também

sobre a própria língua ma-terna.

Cida Araújo, doutorandoda FALE e coordenadora dosalunos da graduação e moni-tores do projeto, cita algunsdesafios vivenciados pelosprofissionais envolvidos.“Trabalhamos com o propó-sito de desenvolver uma no-va mentalidade a respeito doensino e da aprendizagem deum idioma estrangeiro. De-paramo-nos com pessoas quetêm um difícil objetivo a atin-gir em pouco tempo. Adultosnormalmente são mais tími-dos que crianças e evitam seexpor diante de colegas. Des-sa maneira, o tempo todo,tentamos ajudar os partici-pantes a vencerem a barreirada timidez e a acreditarem emsua capacidade”. O Educon-le tem, atualmente, duraçãode dois anos e, segundo es-timativas do programa, o pro-jeto beneficia, direta e indi-retamente, entre 7,5 mil e 15mil alunos a cada ano.

A FALTA DE APARATOS TECNOLÓGICOS E DE MATERIAIS DIDÁTICOS IMPORTADOSPREJUDICA ALUNOS DAS REDES PÚBLICAS NO APRENDIZADO DE UMA SEGUNDA LÍNGUA

no ensino da língua estrangeira

Foto Paula Ribas

A professora Ana Paula Chaves, professora de inglês, mesmo com todas as dificuldades do ensino público, estimula seus alunos no aprendizado de uma segunda língua

Professores de inglês e espanhol podemreciclar didática em projeto da UFMG

A desigualdade social na edu-cação e suas conseqüências,é um assunto que há muitotempo vêm preocupando osespecialistas. O sociólogofrancês Pierre Bourdie cha-mou a atenção para a exis-tência do capital cultural, tãoimportante quanto à condi-ção sócio-econômica.

A socióloga Astréia Soa-res destaca que, fatos como odespreparo de muitos educa-dores, falta de recursos e ca-rência dos alunos geram umaenorme defasagem educacio-nal e afeta a escola como umtodo. “Penso que as iniciati-vas em educação não devemser abordadas com base nasdesigualdades sociais, massim organizadas pedagogica-mente, tendo como horizon-te os desafios provocados poresta desigualdade”.

Para ela, a reivindicaçãopor mais recursos para edu-cação é fundamental para oBrasil, “mas não se deve es-perar por elas para se im-

plantar novos conteúdos naescola pública”.

A aprendizagem de umnovo idioma pode vir a serum recurso a mais para oaprendizado do português epara o combate “a desigual-dade socia. Para estimular econscientizar seus alunos so-bre a importância desse tipode ensino, Regina MariaMendes, professora de lín-guas graduada pelo projetoEduconle, explica que “a lín-gua sempre foi instrumentode dominação e que sem elanào é possível impôr-se so-cialmente”.

Astréa Soares afirma, ain-da, que a“informação é umdos bens mais caros da nos-sa época. “Democratizar oacesso ao conhecimento éfundamental para diminuir-se a desigualdade no mundo.Logo, o ensino de outras lín-guas ou linguagens configu-ra-se como um passo impor-tante para construção da ci-dadania”, conclui Soares.

Arquivo O Ponto

11 - Educacao - Marcus 17.05.07 09:51 Page 1

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E S P E C I A L12 o pontoBelo Horizonte – Maio/2006

Editor e diagramador da página: Lígia Ríspoli - 8º Período

LÍDIA RABELO

8º PERÍODO

A cada nova curva, a pai-sagem muda. Ao longo da su-bida, rochedos imponentesmostram sua beleza e con-trastam com a vegetação quevai ficando cada vez mais ras-teira. A neblina se torna maisdensa em dias frios e nubla-dos, é possível sentir as pe-quenas gotas d’água que seformam. Em dias de sol avis-tam-se as cidades de Belo Ho-rizonte, Sabará, Caeté, LagoaSanta e Raposos. Muitos pe-regrinos sobem a serra oracantando, ora rezando; sozi-nhos, em pequenos grupos,em multidões, todos movidospela fé, pois lá no alto o san-tuário abriga a Padroeira deMinas Gerais que é Nossa Se-nhora da Piedade. É tambémum lugar convidativo para olazer, por abrigar uma belezanatural e cultural de grandevalor.

Este lugar que inspirapoesia é chamado de Serra daPiedade, localizada nos mu-nicípios de Caeté e Sabará, a48 quilômetros de Belo Hori-zonte, é um dos picos maiselevados da Cordilheira do

Espinhaço, com 1.783 metros.É um patrimônio natural, his-tórico, cultural, paisagísticoe religioso de Minas Gerais.O Conjunto Arquitetônico ePaisagístico do Santuário deNossa Senhora da Piedade foitombado pelo IPHAN (Insti-tuto do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional) em 1956,em 1989 é declarada Monu-mento Natural pela Consti-tuição Estadual e em 2001 foieleita “Símbolo de Caeté”. Em2004 a Assembléia Legislati-va de Minas Gerais aprovoua Lei nº 15.178/2004 que defi-ne os limites de conservaçãoda Serra da Piedade. A Serratambém abriga o Observató-rio Astronômico Frei Rosárioda UFMG (Universidade Fe-deral de Minas Gerais), queocupa o segundo lugar emimportância entre os obser-vatórios existentes no Brasil.

Por ter um subsolo ricoem minério, a serra tornou-se alvo das mineradoras. Ma-ria Teresa Viana de FreitasCorujo, membro do Movi-mento SOS Serra da Piedadediz: “a CVRD, a Belgo-Arce-lor e a Vallourec & Mannes-mann, insistem em pressio-nar todas as instâncias para

viabilizar suas atividades ex-trativas apesar de toda a im-portância mais do que com-provada desse Monumento ePatrimônio de Minas Geraise do Brasil”. Porém, como ex-plica a Superintendente Exe-cutiva da Amda (AssociaçãoMineira do Meio Ambiente),Maria Dalce Ricas, qualqueratividade econômica tem queobedecer aos limites ambien-tais, históricos, culturais ecientíficos. “No caso da mi-neração, o parâmetro ‘mine-rar onde está o minério’ nãopode ser aplicado integral-mente, porque há locais emque o valor desses atributosé maior do que os benefícioseconômicos que podem sergerados”, relata Maria Dalce.É necessário ainda, em casoscomo estes, um minucioso es-tudo técnico, e um rigormaior no licenciamento deatividades minerárias, “parase garantir que o passivo am-biental não seja deixado paraa sociedade”, conclui MariaDalce. A Superintendente daAMDA diz que a Brumafer,empresa de mineração insta-lada na Serra da Piedade,“nunca agiu com responsabi-lidade ambiental, a Amda tem

correspondência da Feam,datada de 1989, que reconhe-ce não estar a empresa cum-prindo com as condicionan-tes ambientais, mas nada foifeito”, explica.

Segundo o pároco do San-tuário Nossa Senhora da Pie-dade, padre Marcos AntônioGomes, a atividade de mine-ração é incompatível com otombamento federal. “A Ser-ra da Piedade sofre com oataque da ganância por par-te das mineradoras que que-rem minerar em torno de to-da a Serra. Se isso acontecerela perderá aquilo que tem demais belo, a paisagem no seuentorno”, argumenta. Alémdisso, Padre Marcos relata:“venho sofrendo pressões tu-do quanto é ordem, lobby(grupo de pressão junto a po-líticos para a votação de leisde seu interesse), vereadores,prefeitos e de deputados, fa-vorecimentos econômicos...”.Ele afirma ter recebido umaproposta de um deputado deque a igreja teria benefícioscom as mineradoras casopermitisse a mineração naserra, ou seja, eles construi-riam uma catedral em trocada mineração.

A SERRA DA PIEDADE É CONSIDERADA PATRIMÔNIO NATURAL,HISTÓRICO, CULTURAL, PAISAGÍSTICO E RELIGIOSO DE MINASGERAIS, E MESMO ASSIM ESTÁ AMEAÇADA PELA MINERAÇÃO

Nós temos ainformação de quehouve um lobbymuito grande dasmineradoras emcima dosdeputados

Frei Gilvander, do Movimento

Capão Xavier Vivo

As mineradorastêm grande forçapolítica na ALMGpor financiaremcampanhaseleitorais demuitos deputados

Deputado Durval Ângelo (PT-MG)

Estudos técnicos realizadospelo IEF (Instituto Estadual deFlorestas) e pelo IEPHA (Insti-tuto do Patrimônio Histórico eArtístico de Minas) em 2004,levaram à sanção da lei15.178/2004, que “Define os li-mites de conservação da serrada Piedade, conforme o art. 84,parágrafo 1º, do Ato das Dis-posições Constitucionais Tran-sitórias da Constituição do Es-tado”. E no dia 19 de maio de2006, obedecendo aos limitespropostos nesta lei , foi homo-logado o tombamento Estadualda Serra da Piedade. Mas nodia 26 de maio de 2006 foi san-cionada pelo Governador doEstado a lei 16.133/2006 que al-terou os limites da Serra.

Um dos coordenadores doMovimento Capão Xavier Vi-vo, Frei Gilvander, relata: “es-sa lei muda o traçado da áreade proteção, e isso é grave,porque, nós temos a informa-ção que houve um lobby mui-to grande das mineradoras emcima dos deputados”. O Freiacrescenta: “já fizeram pros-pecção minerária em váriospontos da Serra da Piedade eidentificaram que há muito mi-nério no subsolo da serra e elesquiseram com isso tornar viá-vel em breve conseguir licen-ciamento para instalar lá di-versas minas”. O deputado es-tadual Durval Ângelo (PT-MG)disse que as mineradoras têmgrande força política na As-sembléia Legislativa de Minaspor financiarem campanhaseleitorais de muitos deputados,isso pode ser verificado no si-te do TRE. Como um dosmembros do Movimento SOSSerra da Piedade, Maria Tere-sa Viana de Freitas Corujo afir-ma : “a emenda inserida na leifoi vergonhosamente fraudu-lenta, pois alterou os limites de-finidos em 2004 para fins depreservação da Serra da Pie-dade, ratificados pelo IEPHAem 2005. Os novos limites pro-postos não representam o Con-junto Paisagístico da Serra daPiedade – Monumento Naturalde Minas Gerais e deixaram defora propositalmente as áreaspretendidas pela mineração”.

BrumaferA empresa de mineração,

Brumafer Mineração LTDA es-tá instalada na Serra da Pieda-de, no município de Sabará há

aproximadamente 40 anos. Oadvogado da Brumafer, JoãoPaulo Campello de Castro, dizque a empresa realiza sua ati-vidade respeitando os limitesdo tombamento federal. A leimudou em consequência dosmunicípios de Caeté e Sabaráfazerem pressão. O advogadorelata: “esses dois municípiostiveram suas perdas e, atravésde suas lideranças locais, de-putados, eles solicitaram umaretificação da área, de tal ma-neira que a área da Brumafernão fosse mais incluída nessemonumento natural”. Em Cae-té, segundo Castro, as perdasforam relativas ao comércio eaos empregos, em Sabará pe-los impostos gerados pela mi-neradora. Porém, segundo oadvogado, “isso não alterou emnada, porque essa área já seencontra tombada pelo IEPHA,então não altera em nada aquestão da nova lei”, comple-menta.

A lei 16.133 foi considera-da pelo Ministério Público Es-tadual “inconstitucional” portratar de assuntos diferentes esem conexão, Lei essa, conhe-cida no jargão Parlamentar co-mo “Frankenstein” (emendaque trata de um assunto dife-rente do proposto). Essa lei ex-clui justamente a área de mi-neração da Brumafer, onde es-tá o maior passivo ambientalda região, da área de preser-vação. A ação civil pública mo-vida pelo Ministério Públicoobteve uma liminar que impe-de a mineração na Serra, e amineradora Brumafer estácom suas atividades paradasdesde de janeiro de 2006.

As entidades de proteçãoao meio ambiente na luta con-tra a atividade minerária, en-tre elas o Santuário Nossa Se-nhora da Piedade, MovimentoSOS Serra da Piedade, Movi-mento Capão Xavier Vivo,MACACA (Movimento Artís-tico, Cultural e Ambiental deCaeté), Projeto Manuelzão, en-tre outros, querem a anulaçãodessa lei. Como relata o topó-grafo e representante do MA-CACA, Wanderley Pinheiro, aexploração mineral na serracausa um impacto visual mui-to grande e “o fundamento dotombamento é o aspecto pai-sagístico, a Serra da Piedade éreferência há mais de trezen-tos anos”, explica.

Lei inconstitucional

MINERADORAS SEMPIEDADE DA SERRA

Fotos: Divulgação

12 e 13 - Mineração - L e L. 17.05.07 09:37 Page 1

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E S P E C I A L 13o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Lígia Ríspoli - 8º Período

O Movimento SOS Serrada Piedade criado em julho de2001, é, segundo Maria Tere-sa Viana de Freitas Corujo,um movimento voluntário deentidades e cidadãos, que tra-balham em favor da preser-vação da Serra da Piedade.“O SOS demonstra a capaci-dade da sociedade civil de seorganizar e lutar por algo queirá beneficiar a maioria daspessoas e não uma minoriaque só busca o lucro e desco-nhece os aspectos funda-mentais da vida”, afirma Ma-ria Teresa.

Maria Tereza explica quea relação tanto a comunidadede Sabará, quanto de Caeté,e todos que conhecem a Ser-ra da Piedade é muito forte.“E daí a necessidade da suapreservação mesmo diante dausual alegação de empregos”,diz. O metalúrgico ReinaldoGomes, morador de Sabará,se mostra indignado com adestruição da natureza em de-trimento da mineração. Elerelata: “o que vemos aqui éque a natureza está sendodestruída pelas mineradoras,e recurso para a cidade ne-nhum, tudo é mandado paraoutros países, já tivemos nas-cente aqui que forma des-truídas”.

Uma pesquisa foi realiza-da no município de Caeté emAbril de 2004 pelo InstitutoDataFato de Itabira-MG, a pe-dido da Câmara Municipal deCaeté, uma das questões le-

vantadas foi: Existe um gran-de debate a respeito da mi-neração na Serra da Piedade.Você é a favor ou contra per-mitir a mineração na Serra daPiedade? 95,8 % dos entre-vistados disseram ser contraa mineração.

O secretário do Desenvol-vimento Sustentável e MeioAmbiente de Caeté, RenéHenrique Cardoso Renault,fala que a posição do municí-pio de Sabará. “Nós não de-fendemos a empresa Bruma-fer, o que a gente defende nomunicípio é um desenvolvi-mento de fato sustentável”,explica o secretário. Para ele,muitos falam hoje em preser-vação, mas esquecem da so-brevivência do homem. Eleexplica que Caeté busca apossibilidade de conciliar es-se desenvolvimento. “Paraproporcionar melhor quali-dade de vida para as pessoas,e melhor qualidade de vidapassa pela questão social,econômica, e é claro, a ques-tão ambiental”, finaliza.

A secretária de Meio Am-biente de Sabará, Júnia Cibe-le relata: “somos favorável aoentendimento, a união de for-ças mesmo, em prol do de-senvolvimento sustentável, is-to é, com as leis devidamentecumpridas, com os projetostodos licenciados, e resgataros empregos, arrecadaçãoque a prefeitura perdeu, naverdade o município teve umaperda grande na arrecadação,

tanto com os impostos dire-tos quanto indiretos, que sãoterceirizados”.

A Brumafer, segundo oadvogado, João Paulo Cam-pello de Castro fez a seguin-te proposta para os órgãosambientais do Estado: “ mi-nerar mais seis anos e fazer arevitalização dessa área”. Pro-posta esta que não foi aceita.O advogado acrescenta queexiste um entrave. “Durante30, 40 anos a atividade mine-ração foi executada na Serrada Piedade, e não teve ne-nhum cidadão, não teve ne-nhuma SOS Serra da Pieda-de, não teve nenhum Minis-tério Público que fizesse ob-jeção pela mineração. Entãocriou-se um imenso passivoambiental, e o paredão queexiste lá, é um paredão imen-so, da altura de um prédio deuns 12 andares, e que se nãotiver um bom senso isso vaificar lá para sempre”, relataCastro.

A superintende executivada AMDA, Maria Dalce Ricas,vê a situação como extrema-mente delicada: “por um ladotemos um passivo ambientalcuja recuperação é altamen-te onerosa e é difícil aceitaruma cicatriz eterna na Serra;por outro, é preciso certezaabsoluta de que a continui-dade da exploração da minada Brumafer resulte na cor-reção do mesmo e em outrosbenefícios”, explica MariaDalce.

Os impasses da mineração

LÍGIA RÍSPOLI

8º PERÍODO

A cidade de Conceição doMato Dentro em Minas Ge-rais, parte da Serra do Cipó,fica a quase 200 quilômetrosde Belo Horizonte. Com tre-zentos anos de história, elasurge por causa da minera-ção, devido à sua riqueza au-rífera. Essa é a história das“Minas Gerais”, tendo já mar-cado em seu nome o motivode sua existência. Quando amineração acabou, a cidadeficou abandonada à própriasorte, fato comum quando asreservas se exaurem. Nos úl-timos anos, ela foi impulsio-nada pelo turismo, graças,principalmente, às cachoeiras,

como a do Tabuleiro, que éconsiderada a mais alta do es-tado e a terceira do Brasil,permaneceram intocadas pe-lo isolamento da região. A ci-dade localiza-se em uma áreadivisora das bacias do Rio SãoFrancisco e do Rio Doce, naSerra do Espinhaço. Desdeentão, a cidade tem investidonessa estrutura de turismo,como asfaltando a estrada queleva ao local.

Agora, há uma tentativade aprovar a construção deum minerioduto, em um dis-trito ao lado de Conceição doMato Dentro, Alvorada de Mi-nas, que se estenderá até SãoJoão da Barra, no Rio de Ja-neiro. De acordo com o ge-rente de meio ambiente da Se-

cretaria Municipal de MeioAmbiente de Conceição, Cris-tiano Floriano, um dos im-pactos será a retirada da águade Conceição para o Rio deJaneiro. Quanto à mineração,lembra o gerente, trará os im-pactos ambientais esperados.

Cristiano Floriano defen-de que espera-se a compen-sação ambiental, ou seja, re-cuperação do lugar depois damineração, mas ele explicaque nem sempre é o suficien-te. Pessoalmente, ele acreditaque tem que olhar os dois la-dos, porque se existe os im-pactos ambientais, também háo desemprego, e é difícil ex-plicar para um pai de famíliasem emprego que a minera-ção pode não ser boa. O Santuário é o objetivo final dos que vão à Serra para rezar ou mesmo contemplar a vista

Do alto da Serra da Piedade é possível avistar BH, Sabará, Caeté, Lagoa Santa e Raposos

Mineração assombra cidade turística

Foto: Lígia Ríspoli - 8º Período

Foto: Lígia Ríspoli - 8º Período

Foto: Lígia Ríspoli

A Serra da Piedade, aquase 50 quilômetros

de Belo Horizonte,abriga o ObservatórioAstronômico da UFMG

e o Santuário NossaSenhora da Piedade,

além de oferecerestrutura turística,

como o restauranteque fica no seu topo

12 e 13 - Mineração - L e L. 17.05.07 09:38 Page 2

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C O M P O R T A M E N T O14 o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Laura Aguiar - 6º período

CARLOS EDUARDO MARCHETTI

4º PERÍODO

Dentro da lógica da sociedade deconsumo, a felicidade também pas-sa a ser um produto vendável prin-cipalmente com o aval do mercadoeditorial. Sob uma função imperati-va, palavras de ordem como felici-dade, amor, sucesso, liderança e pla-nejamento parecem delimitar osgrandes temas dos livros de auto-aju-da, que se apresentam segmentadosem grande quantidade de ramifica-ções. Fundamentados em frases deefeitos e no dogma de que o sucessoprofissional e conjugal dependem emgrande parte da força interior, talsegmento traz à tona uma argu-mentação que muitas vezes se rendeaos aspectos emotivos e financeirosque rondam o dia-a-dia.

A literatura de auto-ajudaparece ter bebido na fonte das lin-guagens comuns à administração eao marketing, com inclinação tam-bém à psicologia e ao esoterismo,adaptando-as ao formato adequadopara seu público-alvo. Em contra-partida, o mercado editorial dessesegmento apresenta sucessivas taxasde crescimento, seja a partir de no-vas publicações ou por meio dasvendagens de best-sellers.

De acordo com Fábio Diegues,assessor de comunicação da Câma-ra Brasileira do Livro (CBL), não exis-te ainda uma pesquisa oficial e espe-cífica (consumidores, ramificações)para o segmento de auto-ajuda, em-bora seja inegável sua força no mer-cado editorial. Já Armando Anton-gini, diretor-executivo da CBL, afir-ma em matéria publicada no jornalO Globo, que o segmento auto-aju-da apresentou em 2005 um cresci-mento entre 5% e 10% ao ano noBrasil. Como os números de 2006ainda não foram definidos, a estima-tiva da CBL é de que tenham sidolançados cerca de 600 títulos de au-to-ajuda no ano, com mais de três mi-lhões de exemplares vendidos. Des-te total, cerca de 30% seriam volta-dos para o universo corporativo.

ConceitoCom ou sem dados concretos, é

perceptível o crescimento deste seg-mento, principalmente no meio cor-porativo encabeçado em grande par-te pelos best-sellers de escritores nor-te-americanos, além de autores devariados ramos profissionais comoo técnico da Seleção Brasileira de Vô-lei, Bernardinho e o médico Lair Ri-beiro.

Diante dessas questões a de-finição do que vem a ser a literaturade auto-ajuda ainda é bastante dis-cutível. Ao abordar temas variadoscomo auto-estima, dependência quí-mica, depressão, desenvolvimentoprofissional, meditação, relaciona-mentos, estresse, sucesso e espiri-tualidade, sua argumentação nãoobedece padrões que delimitem seuconceito.

Para a psicoterapeuta Ma-ria Tereza Alves, os autores de au-to-ajuda excluem de sua análiseaquilo que é peculiar de cada indi-víduo e produzem nos mesmos (in-divíduos) certo conforto ao abordaro que é comum a todos. “Os psicó-logos que dão orientação para paisde adolescentes ou pais de criançasestão tratando de problemas que sãocomuns àquela faixa etária. Nessahora há uma normalização do pro-blema”, esclarece. A psicoterapeu-ta explica que “o livro de auto-aju-da pode acabar entrando nessaquestão sendo muito negativo. Nãohá uma felicidade fácil e nem umafelicidade o tempo todo. Muitos au-tores pegam o filão da auto-ajudacom o intuito de ganhar dinheiro eacrescentam um monte de manda-mentos e soluções mágicas que sãomuito frustrantes. Daí que entra asdiferenças entre os autores”, com-pleta.

FelicidadeEM BUSCA DA

COM PROMESSAS DE FELICIDADE IMEDIATA, LIVROSDE AUTO AJUDA SÃO SUCESSO DE VENDAS NO BRASIL

Uma grande discussão fomenta-da por profissionias dos meios aca-dêmico e científico é sobre o utilita-rismo presente na argumentação demuitos livros de auto-ajuda, em es-pecial aqueles ligados a preceitosempresariais. Ao colocarem a razãoa favor dos interesses próprios, a lin-guagem empregada colabora para aformação de indivíduos possessivose competitivos que fazem da angús-tia e da deficiência valorativa umabusca subjetiva.

No livro Sociologia e moderni-dade, o sociólogo José Mauricio Do-mingues critica a abordagem de LairRibeiro ao falar do indivíduo mo-derno e as transformações da socia-bilidade. Segundo o sociólogo, Ri-beiro mistura recomendações práti-cas (racional-utilitárias) a outros te-mas do universo semântico-ideoló-gico para construir uma miscelâneaentre a linguagem técnica e científi-ca. “Ribeiro não é, sem dúvida, umdos pensadores mais sofisticados denosso tempo, mas sua enorme ven-dagem de livros é significativa deuma ‘adequação’ do escritor aos de-sejos e ideologias de seu público”,critica. Para o sociólogo, essa buscautilitária do sucesso individual seriaum aspecto crucial da moralidade damassa contemporânea.

No best-seller O sucesso nãoocorre por acaso, Lair Ribeiro afir-

ma que para alguns ganharem ou-tros não precisariam perder. O queocorre segundo ele é que riqueza oupobreza, felicidade ou sofrimento,fome ou fartura dependeriam das es-colhas e percepção de cada indiví-duo. Essa é a mesma abordagem tra-balhada por Robert Kiyosaki, autordo best-seller Pai rico, pai pobre. Pa-ra o escritor norte-americano cadaindivíduo tem o poder de determi-nar o destino do dinheiro que chegaàs mãos, pois a escolha seria de ca-da um.

Segundo Lair Ribeiro, a educa-ção é um pilar de sustentação quenos ensina até certo ponto, pois é ne-cessário que busquemos a parte prá-tica. “O conhecimento por si só nãovale nada. Hoje existe muita infor-mação e o mundo exige competên-cia de ação. É o auto-conhecimentoque dá entusiasmo, pois para cuidardos outros é preciso cuidar primei-ro de você mesmo”, preconiza. “BillGates (presidente da Microsof) e Ste-ve Jobs (fundador da Apple) não têmcurso universitário completo.A Ge-neral Eletric é a maior empresa domundo e foi fundada por quem?Thomas Edison, que também não ti-nha curso universitário. A educaçãoé relativa. O que nos falta é uma edu-cação pragmática”, polemiza.

O que chama a atenção para al-gumas argumentações acima é que

muitas delas ignoram que entre ohomem e suas desavenças pessoaisestá a sociedade que o rodeia e umaideologia que a sustenta. Com isso apalavra liberdade tem hoje um novosignificado, pois ao contrário do queafirma Kiyosaki, a escolha não de-pende de cada um, visto o simplesargumento de que as desigualdadessão evidentes. Seu uso (liberdade)está muito mais voltado para um ca-ráter pessoal. As supostas perdas dereferência deixam o individuoaquém das bases antes considera-das sólidas e nessa busca desen-freada por um referencial o sujeitoprende-se a si mesmo. O antropo-centrismo é suplantado pelo ego-centrismo e o indivíduo, agora mas-sificado, busca como fim a sua au-to-realização.

“O sucesso do segmento de au-to-ajuda é mais um reflexo da so-ciedade em que vivemos. As pessoasperderam o espaço da convivênciaonde se trocava experiência. Hoje jánão se ‘pode’ falar de suas dificul-dades, afim de esconder qualquerdeficiência, pois estas passaram aserem lidas como despreparo”, res-salta a psicóloga Maria Eliane. “Énesse ponto que as relações inter-pessoais têm dado espaço para o in-dividualismo promovendo uma so-ciedade que vive na base da apa-rência e do imediato”, afirma.

Uma visão individual do mundo

Discussão CientíficaFalar bem ou mal da literatura

de auto-ajuda delimitaria muito adiscussão. De acordo com Maria Te-reza, o conhecimento científico dapsicologia e da psicanálise pode sersimplificado pelos livros de auto-ajuda, mas nem sempre será preju-dicial, pois esta premissa dependedas intenções e de outros aspectossubjetivos, tanto do leitor como doescritor.“A literatura de auto-ajudapresente em artigos de jornais ouem livros, pode às vezes abrir umcaminho e mostrar para a pessoaque ela não é a única com aquele ti-po de problema. A auto-ajuda temum alcance e uma função, desdeque uma pessoa que tenha poucabagagem não se meta a escrever”,critica.

Compartilhando a mesma opi-nião, a psicóloga Maria Eliane An-drade, acredita que há mais de umtipo de auto-ajuda. Especializadaem treinamentos educacionais ecorporativos, Maria Eliane afirmaque um dos mais freqüentes exem-plos de auto-ajuda seria aquele emque o sucesso pessoal e profissio-nal são decorrentes da aplicação deregras e fórmulas prontas. Funcio-nando como superstição (do tipo"não passe debaixo de uma esca-da") a auto-ajuda produz um efeitotemporário. De acordo com a psi-cóloga, após mudar seu comporta-mento por dois ou três meses a pes-soa acabaria não sustentando-o,uma vez que, os fundamentos paraessa nova atitude não foram traba-lhados.

Um segundo tipo, no entanto, jáatinge um nível de abstração umpouco menor, pois segundo MariaEliane, o indivíduo pode com-preender melhor a situação a qualesta passando e procura atuar deforma não restrita a certas regras.A psicóloga afirma não utilizar li-vros que acompanham essas abor-dagens em seus treinamentos, de-vido ao seu curto alcance prático etambém porque as variáveis com asquais alguns autores trabalham sãoincompletas e insuficientes para me-lhorar a dinâmica de uma equipeempresarial.

Outras DefiniçõesAo tomar como base a discus-

são sobre o bom ou mal uso da li-teratura de auto-ajuda, bem comoo preconceito presente nas falas derepresentantes dos meios acadêmi-co e científico, as editoras preferemadotar uma classificação “cuidado-sa” sobre aquilo que muitos gene-ralizam como auto-ajuda.

Segundo Áurea Amaral, asses-sora de imprensa da Editora Cres-cer, tal denominação é inadequada.“Não usamos o termo auto-ajuda, esim, tratamos nossos livros comoterapêuticos, de crescimento pes-soal e relacionamento interpessoal”,explica. Na verdade, tais termos nãodiferem da denominação orginal;remetem à mesma coisa, mas compalavras diferentes. Localizada emBH, a editora atua em todo Brasil,por meio de distribuidores e livra-rias, e tem como principais temasabordados a busca da auto-estimae relacionamentos amorosos (pai-xão e traição). Dentre seus princi-pais autores estão John Powell, An-ne Morrow Lindbergh e ClaraFeldman.

De acordo com Lair Ribeiro, umdos mais bem sucedidos autores delivros de auto-ajuda no país, a im-prensa inteira não sabe definir o quevem a ser esse segmento e muitas ve-zes o trata equivocadamente. “A li-nha divisória entre o que é e o quenão é self-help é indefinido e vago,embora todo conhecimento devesseser denominado como auto-ajuda”,afirma. Médico, palestrante e escri-tor, Lair Ribeiro é autor de 29 livrosdentre os quais 13 best-sellers e 19 játraduzidos em outra línguas.

Patrícia Dumont 5ºG

Best-sellers nacionais e internacionais, os livros de auto-ajuda abusam de mandamentos e fórmulas prontas

14 - Comportamento - Laura 17.05.07 09:53 Page 1

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C U L T U R A 15o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editor e diagramador da página: Silvia Guerreiro

Música vem da Esquina UNIÃO DOS IRMÃOS BORGESE MILTON NASCIMENTORESULTOU EM UMMOVIMENTO DE GRANDEIMPORTÂNCIA PARA AHISTÓRIA DA CIDADE DEBELO HORIZONTE: O CLUBEDA ESQUINA

Esquina da Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis no bairro Santa Tereza onde os integrantes se reuniam todas as tardes

CARLOS VINICIUS LACERDA

5º PERIODO

Com o início em 1963, emBelo Horizonte, o Clube da Es-quina representa, até hoje, ummovimento musical relevantepara o cenário nacional. Mo-vimento criado por uma ir-mandade unida através do in-teresse pela música, política e,claro, por cachaça.

Milton Nascimento e os ir-mãos Borges foram os pro-pulsores do movimento ao seconheceram no edifício Levy,na Avenida Amazonas. Miltonacabara de chegar de TrêsPontas, cidade onde morava.Os encontros tornaram-se as-síduos e regados a batidas delimão. Enquanto isso, o então

menino, Lô estudava harmo-nia com o guitarrista ToninhoHorta, com o qual fundou,posteriormente, a banda TheBeavers. Desta forma, foi plan-tada a primeira semente doque seria o Clube da Esquina.

Em 1966, Milton Nasci-mento já tocava em casas no-turnas de Belo Horizonte e al-cançado alguns prêmios deimportância, como o quarto lu-gar no Festival Nacional deMúsica Popular da TV Excel-sior de São Paulo. Pouco tem-po depois, em 1967, três músi-cas suas foram escolhidas pa-ra o II Festival Internacionalda Canção: “Travessia”, quemarcou sua primeira parceriacom Fernando Brant.

Enquanto Milton já des-pontava, com o disco “Coura-ge” (1968), o Clube da Esqui-na não parava de crescer. Nes-se período aconteceu a chega-da de nomes de peso, comoFlávio Venturini, Vermelho eTavinho Moura. Juntamentecom Lô Borges, Beto Guedese Toninho Horta, eles se apre-sentavam em shows chamadosFio da Navalha.

Contudo , até então essasreuniões e apresentações des-te grupo de músicos não ti-nham nenhum nome. Até naesquina da Rua Divinópoliscom a Rua Paraisópolis, notradicional bairro de Santa Te-reza, Márcio Borges sugeriueste nome pois sempre ouviaa mãe respondendo quando

perguntavam onde estavamseus filhos: “ Claro que lá naesquina, cantando e tocandoviolão”.

Em 1972, Milton Nasci-mento e Lô Borges, entram emestúdio para gravar o primei-ro LP do Clube da Esquina.Com uma mixagem de váriosestilios musicais, como bossanova, Beatles, toadas, conga-das, choro, jazz, folias de reise rock progressivo, e com le-tras de grande força poética,o primeiro disco do Clube foiimbuído de originalidade euma sonoridade reconhecidaaté os dias atuais. “Lembro-mebem daquela época, apesar denão tê-los conhecido pessoal-mente, fui muitas vezes aosshows e, até hoje ainda escu-

to as músicas do Clube commuito gosto” lembra-se Álva-ro Gomes, nascido em BeloHorizonte e frequentador doBairro Santa Tereza. Este mo-vimento originado em Minasteve uma repercussão musicaljá que músicas como “O tremazul” - de Lô e Ronaldo, re-gravada por ninguém menosque Tom Jobim em seu últimodisco, (Antônio Brasileiro) -,“Tudo o que você poderia ser”- de Lô e Márcio Borges -, “Na-da será como antes” e “Cais” -ambas de Milton e Ronaldo -marcaram o movimento maisimportante no Brasil depois da“Tropicália”. Segundo TatianaDias,30, chefe de pesquisa doGrupo, “é importante lembrarque o Clube não é uma banda

e sim uma parceria entre osmúsicos mineiros”.

Com o tempo, cada um se-guiu seu caminho. Em 1978,Milton lançou o “Clube da es-quina 2”, onde reuniu a velhaguarda e novos integrantes pa-ra lançar outro disco. “ Nuncahouve uma separação, os mú-sicos ainda mantém contatoentre si e com o Clube”, contaTatiana.

Na década de 80, os inte-grantes possuem seus proje-tos independentes,que incluemlivros, produções culturais emúsica. Notou-se em Minas osurgimento de várias bandasnessa época com parte da di-luição das idéias difundidaspelo Clube da Esquina, comoSkank, PaTo Fu e Sepultura.

Clube da Esquina

A criatividademineiraque inovoua músicabrasileira

Um sonho que setornou realidade

O museu Clube da Esquinatem com principal objetivo res-gatar histórias contadas pelosprotagonistas do grupo Clubeda Esquina e por pessoas quede alguma maneira vivencia-ram momentos junto à eles.“O Museu é virtual, não é físi-co”, conta Luciene que traba-lha no museu. Ele traz histó-rias contadas desde o surgi-mento do Clube até os diasatuais.

A idéia do museu surgiu deum sonho que Márcio Borgesteve, “ele sonhou que estavana boate Berimabu no edifícioMaleta” relatou Tatiana Dias,30, chefe de pesquisa do Clu-be. Após esse sonho a mulherde Márcio sugeriu que elecriasse um museu para guar-dar todas as sua memórias, efoi aí que ele começou a cor-rer atrás de seu sonho para fa-zer com que ele se tornasserealidade.

Todos os músicos envolvi-dos no projeto Clube da Es-

quina mantêm contato atravésde entrevistas para o site eatravés de seu acervo pessoal,inclusive os que obtiverammaior sucesso na carreira mu-sical. Eles continuam unidospela música.

O Museu surgiu graças àlei de incentivo à cultura queaprovou o projeto de Borges.Futuramente eles pensam emfazer um museu real do Clube,onde as pessoas possam visi-tar e conhecer com mais deta-lhes da trajetória dos músicosmineiros. No momento, o Mu-seu passa por uma nova fase,que é tornar-se trilingue , pa-ra poder, asim, divulgar me-lhor a história do Clube,e atin-gir um público maior.

O “Museu-Vivo” é umacontrapartida do Museu Clu-be da Esquina, onde são feitosshows e palestras gratuitas emescolas e praças. “O Museu-Vi-vo busca divulgar o movimen-to, para manter viva a idéia ini-cial”, disse Tatiana.

Separados, masunidos pela música

Após o término do Clube da Esquina cada participante se-guiu seu caminho. Mas o que nota-se é que o entrelaçamentoprofissional e pessoal ainda existe. Parcerias musicais são cons-tantes, seus encontros no bairro Santa Tereza não são mais fre-quentes, mas mesmo assim a amizade continua. Dentre todosos integrantes alguns obtiveram mais repercussão e seguem fa-zendo o que sabem de melhor: música.

O que obteve mais destaque foi, sem dúvida, Milton Nasci-mento. Desde criança suas aptidões musicais já eram notadaspor todos. Em 1963 mudou-se para BH para estudar economia.Mas sua carreira musical já estava traçada. Prova disto foramsuas vitórias nos festivais de 1966 e 1967 onde ganhou o prêmiode melhor intérprete e segundo lugar com “Travessia”, músicasua e de Fernando Brant. Após gravar seu primeiro disco, foipara os EUA em 1968, onde obteve reconhecimento interna-cional e o fez ter destaque dentre os demais integrantes do Clu-be. Hoje, desponta-se como um dos maiores cantores e com-positores brasileiros.

Lô Borges também foi bastante reconhecido internacional-mente, contudo seu maior reconhecimento se deu na Europa.Há pouco tempo esteve no Japão, onde fez uma turnê com dezapresentações. Em 1966, lançou o CD “Meu Filme” com parti-cipações de Caetano Veloso e Chico do Amaral. Em 1999, emparceria com Samuel Rosa, do grupo Skank, montou um proje-to que uniu o repertório de ambos.

Fernado Brant, sempre foi mais dedicado à composição. Éformado em direito e já trabalhou como repórter. Sua leal par-ceria com Milton lhe trouxe definitivamente para o mundo mu-sical. É considerado o principal letrista de Milton.

Roberta Aranha 5º Período

Marina Valadas - 6º Publicidade e Propaganda

15 - cultura silvia 17.05.07 09:55 Page 1

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S E G U R A N Ç A16 o pontoBelo Horizonte – Maio/2007

Editoras e diagramadoras da página: Mariana Isoni e Lígia Ríspoli- 6º e 8º Períodos

DENÚNCIA É A ESPERANÇAPARA MULHERES QUE SOFREMVIOLÊNCIA, MAS NEM SEMPREÉ A SOLUÇÃO

LÍDIA RABELO

8º PERÍODO

A agressão doméstica éuma forma comum de mani-festação de violência na famí-lia, que na maioria das vezesse torna invisível. É uma vio-lação dos direitos humanosmais exercitados, porém, me-nos reconhecidos. Segundo acoordenadora do NEMS (Nú-cleo de Estudo Mulher e Saú-de) e professora da UFMGAnayansi Correa Brenes, noBrasil está por se fazer valero direito da mulher na horado atendimento, seja ele so-cial ou policial. “É preciso umsistema que acolha, proteja eauxilie uma vítima para queela perca o medo” reforçaAnayansi. A professora aindaacrescenta que as ações degoverno para esse tipo deatendimento são muito buro-cratizada: “perdendo-se as-sim, o elemento motivador deuma luta das mulheres, pormulheres engajadas na políti-ca, no cenário das lutas femi-nistas, por décadas”, conclui.

Segundo dados de umapesquisa realizada em 2001pela Fundação Perseu Abra-mo, foi detectado que “em to-do o país cerca de uma em ca-da cinco brasileiras (19%) de-claram espontaneamente tersofrido algum tipo de violên-cia por parte de algum ho-mem; 16% relatam casos deviolência física; 2% citam al-guma violência psíquica e 1%lembra do assédio sexual”.Pesquisa sobre a violência do-méstica contra a mulher doData Senado realizada emmarço de 2007 “constata queem cada 100 mulheres brasi-leiras, 15 vivem ou já viveramalgum tipo de violência do-méstica”.

“Perfis de mulher” é o tí-tulo do projeto que recebeuapoio do Proex – Programa de

extensão da Fundação Minei-ra de Educação e Cultura (Fu-mec), que conta também coma parceria da Comdim (Coor-denadoria dos Direitos daMulher da Prefeitura de BeloHorizonte) e com apoio daSecretaria de Estado de Cul-tura de Minas Gerais.

A maior parte do docu-mentário é feita de depoi-mentos das mulheres que es-tão abrigadas na Casa Abri-go Sempre Viva, que perten-ce à Prefeitura Municipal deBelo Horizonte. Essas mulhe-res correm risco de seremmortas por terem denuncia-do os seus parceiros e nessacasa recebem segurança eacompanhamento psicológi-co até saírem da situação derisco e poderem reconstruirsua vida. Como relata a pro-fessora da FCH (Faculdade deCiências Humanas) da Uni-versidade Fumec, produtorae diretora do vídeo, Maria deFátima Augusto, essas mu-lheres ao saírem de casa te-mendo serem mortas, deixamtudo para trás “deixam suamemória, e muitas vezes atéos filhos”.

O cinema que Maria deFátima propõe e acredita,“nasce da observação coti-diana do personagem”. Umadas formas de não mostrar orosto das mulheres que estãoem situação de risco e não po-dem aparecer, será a inserçãode desenhos nas cenas. Fo-ram filmadas também váriasestátuas de mulheres “impo-nentes e dignas” para mostrarque elas estão numa situaçãode violência nesse momento,mas que com apoio adequa-do elas vão encontrar umasaída.

A leiDiante da situação alar-

mante em que se encontra aviolência doméstica no país,

espera-se que a “Lei Maria daPenha”, 11 340, sancionadaem 7 de agosto de 2006, sejauma solução, ou uma tentati-va de coibir este tipo de cri-me, como é proposto no seuartigo 1º: “Esta lei cria meca-nismos para coibir a violên-cia doméstica e familiar con-tra a mulher, nos termos do §8º do art. 226 da ConstituiçãoFederal, da Convenção sobrea Eliminação de Todas as For-mas de Discriminação contraas Mulheres e da ConvençãoInteramericana para Preve-

nir, Punir e Erradicar a Vio-lência contra a Mulher; dis-põe sobre a criação dos Jui-zados de Violência Domésti-ca e Familiar contra a Mulher;altera o Código de ProcessoPenal, o Código Penal e a Leide Execução Penal; e dá ou-tras providências”.

Maria de Fátima Augus-to conta que descobriu atra-vés das pesquisas que morretodos os dias uma mulher noBrasil vítima desse tipo deviolência, isso só o que é re-gistrado.

Para Maria de Fátima,existem vários fatores que de-vem ser considerados nessetipo de violência. O que a pro-fessora ouviu muito em suapesquisa foi que a maior par-te das mulheres ainda acredi-tam no mito do amor român-tico, são casos de “mulheresque sonham com um prínci-pe encantado, que namoraum cara que ela considera ba-cana, aí logo após o casa-mento ou até mesmo no na-moro ele se revela agressivo,ainda assim elas acreditam

que o amor pode mudar essecomportamento” relata Ma-ria de Fátima. Outro fator quechama atenção, segundo aprofessora é o machismo, queé “quando o homem acredi-ta que a mulher tem que sersubmissa a ele, não podemsair de casa não podem tra-balhar”, diz. A cineasta vê quea situação no país ainda émuito complicada, pois não éconsiderada por muitos co-mo um problema social e simum problema que deve ser re-solvido no âmbito familiar.

Em busca de justiça, mulherobtém lei em seu nome

A Lei 11.340 recebeu o no-me de “Lei Maria da Penha”em homenagem a Maria daPenha Maia, mulher que setornou um símbolo da violên-cia doméstica no país. O dife-rencial na história de Maria daPenha foi a persistência e de-terminação que ela teve embuscar justiça.

Em 1983 seu marido, Mar-co Antônio Herredia, profes-sor universitário, tentou matá-la. Da primeira vez ela foi atin-gida por um tiro e ficou para-plégica, depois ele tentou ele-trocutá-la. Ela o denunciou eno mesmo ano as investiga-ções começaram, mas só fo-ram apresentadas ao Ministé-rio Público no ano seguinte.Oito anos depois Herredia, foicondenado a oito anos de pri-são, mas por meios judiciaisnão cumpriu a pena. Somenteem 2002, quando o caso che-gou à Comissão Interamerica-na dos Direitos Humanos daOrganização dos EstadosAmericanos (OEA), que aca-tou, pela primeira vez, a de-núncia de um crime de violên-cia doméstica. O agressor foi

preso e cumpriu dois anos deprisão.

Foram mais de 20 anos deluta para ver a condenação deseu ex-marido, nesse percur-so ela se tornou membroatuante em movimentos so-ciais contra violência e impu-nidade. Hoje é Vice-coordena-dora da Associação de Paren-tes e Amigos de Vítimas deViolência (APAVV) no Ceará,onde nasceu e mora.

A atitude em denunciar, co-mo fez Maria da Penha, é de-fendida pela Desembargadorado Tribunal de Justiça do Esta-do do Rio Grande do Sul, Ma-ria Berenice Dias. Ela enfatizaque “a agressão deve ser de-nunciada no seu nascedouro, adenúncia serve como um fatorinibidor”. Mas existe o fato emque muitas mulheres não têmcoragem ou levam muito tem-po até fazê-lo. É o que explicaa Coordenadora do Condim,Márcia Cássia Gomes, “podemser fatores ligados a nossa cul-tura que impõe padrões decomportamento conjugal queculpabiliza a mulher pelo fra-casso de seu casamento”.

As diferentes interpretaçõesda lei Maria da Penha

No quadro “Flood” Paula Rego mostra o desespero da mulher

Pintora portuguesa Paula Rego expressa a agonia da mulher em seu quadro “Dog Woman”, Pastel de Óleo, 1994, Tate Gallery

A Lei Maria da Penha, co-mo toda lei, recebe elogios,mas também críticas. A de-sembargadora do Tribunal deJustiça do Estado do Rio Gran-de do Sul Maria Berenice Diasrelata que a lei serviu de gran-de estímulo para as mulheresdenunciarem as agressões so-fridas, pois “antes a questãoera maltratada pela justiça ehavia aquela consciência deimpunidade, pagamento decestas básicas, era um deses-tímulo para as mulheres emdenunciarem a violência, eagora a lei vem didaticamenteidentificando o que é violênciadoméstica e imprimindo umprocedimento muito célere noatendimento”, explica Bereni-ce. Mas ela acrescenta aindaque para o funcionamento dalei é preciso, além da instala-ção dos Juizados, a melhoriade políticas públicas que pos-sam dar apoio às vítimas. Alémdisso ela declara que “é preci-so quantificar a violência, por-que ela não é quantificada”,declara. Isto faz com que a vio-lência fique invisível e não re-ceba a importância devida.

Para a coordenadora doCondim (Coordenadoria dosDireitos da Mulher da Prefei-tura de Belo Horizonte) Már-cia Cássia Gomes, a lei é uminstrumento de grande valida-de, pois através dela os casosserão resolvidos com maiorrapidez. Márcia tambémacrescenta que “as medidasprotetivas agilizam a parte prá-tica como separação de cor-pos, guarda de crianças e ca-so necessário abrigamento pa-ra mulheres que estão com asua integridade física ameaça-da”.

Já para a professora de Di-reito da Universidade FumecSilvana Lobo, esta é uma leique “não traz praticamente ne-nhuma mudança em relaçãoaos crimes que podem ser co-metidos contra a mulher”. Elaainda acrescenta que “já exis-tem leis que dêem conta de pu-nir este tipo de crime. O pro-blema está no Judiciário queestá atolado com tantos pro-cessos e não tem pessoal sufi-ciente para tratar esses casoscom a agilidade que uma leiexige.”

MARCAS DA AGRESSÃO

16 - Segurança Mariana Isoni 17.05.07 09:56 Page 1