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dcc Mobilização: Reforma Trabalhista ineficiente provoca insatisfação e manifestações populares Ano7 | Número 64 | Julho/Agosto de 2007 | Belo Horizonte/MG DISTRIBUIÇÃO GRATUITA [ página 04 ] JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto Crise no América Com 95 anos de história, o América vive uma crise sem precedentes. Rebaixado para a segun- da divisão do campeonato mineiro e vetada sua participação na série C do campeonato brasileiro, o clube busca opções para a atual crise finaceira e administrativa para não deixar de existir. Den- tre as principais alternativas estão a construção de um shopping center, investimentos em terre- nos e a Timemania, espécie de loteria esportiva as- sinada recentemente pelo presidente Lula. PARAFUSO A MAIS O idealizador e editor da piauí esteve na Fumec e falou aos alunos sobre o processo de produção da revista, com toques de humor e influências literárias no desenvolvimento das reportagens. S.O.S Hemominas Durante o inverno, a Fundação Hemominas enfrenta dificuldades para atender à demanda dos hospitais em todo o estado, porque os níveis dos bancos de sangue chegam a sofrer quedas de até 50%. Além do menor comparecimento de voluntários, a gripe é outro vilão, pois pessoas que contraíram o vírus só podem doar sangue após uma semana sem apresentar sintomas, e quem tomou sua vacina preventiva precisa esperar até 28 dias. Nesse cenário, o Hemominas busca alternati- vas, como coletas externas em empresas, universida- des e até cidades vizinhas. [ página 16 ] [ páginas 14 e 15 ] [ página 06 ] Rafael Dutra 3º período Savassi insegura [ página 10 ] REGIÃO NOBRE DA CAPITAL ENFRENTA VIOLÊNCIA RELACIONADA A GANGUES DE CLASSE MÉDIA, E BUSCA REFORÇO POLICIAL Debaixo do tapete O Boulevard Arrudas foi construído com a pro- messa de melhorias no trânsito no centro de BH e a revitalização da região. Mas especialistas afir- mam que os problemas do rio apenas foram em- purrados para debaixo do concreto. Ao invés de solucionar os problemas ambientais, os R$ 40 mi- lhões investidos na obra serviram prioritariamente aos interesses de propaganda governamental, e não contemplaram a recuperação do Arrudas, que corre poluído por debaixo do cimento. LIVRO E PALCO Ator da Companhia Pombal em cena. Os indígenas do Amazonas serviram de inspiração para o livro “Tawé: nação Munduruku”, de Walter Parreira; o psicólogo viveu na tribo, e resgata na obra a cultura e os problemas enfrentados pelos indígenas; além da montagem teatral, a história agora também pode ser produzida para o cinema. [ página 05 ] [ páginas 08 e 09 ] Lígia Ríspoli

Jornal O Ponto - Julho/agosto de 2007

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - Julho/agosto de 2007

dcc

Mobilização: Reforma Trabalhista ineficienteprovoca insatisfação e manifestações populares

A n o 7 | N ú m e r o 6 4 | J u l h o / A g o s t o d e 2 0 0 7 | B e l o H o r i z o n t e / M G D I S T R I B U I Ç Ã O G R AT U I TA

[ página 04 ]

JORNAL LABORATÓRIODO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto

Crise no AméricaCom 95 anos de história, o América vive uma

crise sem precedentes. Rebaixado para a segun-da divisão do campeonato mineiro e vetada suaparticipação na série C do campeonato brasileiro,o clube busca opções para a atual crise finaceirae administrativa para não deixar de existir. Den-tre as principais alternativas estão a construçãode um shopping center, investimentos em terre-nos e a Timemania, espécie de loteria esportiva as-sinada recentemente pelo presidente Lula.

PARAFUSO A MAIS O idealizador e editor da piauí estevena Fumec e falou aos alunos sobre o processo de produçãoda revista, com toques de humor e influências literáriasno desenvolvimento das reportagens.

S.O.S HemominasDurante o inverno, a Fundação Hemominas enfrenta

dificuldades para atender à demanda dos hospitais emtodo o estado, porque os níveis dos bancos de sanguechegam a sofrer quedas de até 50%. Além do menorcomparecimento de voluntários, a gripe é outro vilão,pois pessoas que contraíram o vírus só podem doarsangue após uma semana sem apresentar sintomas, equem tomou sua vacina preventiva precisa esperar até28 dias. Nesse cenário, o Hemominas busca alternati-vas, como coletas externas em empresas, universida-des e até cidades vizinhas.

[ página 16 ]

[ páginas 14 e 15 ]

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Rafael Dutra 3º período

Savassiinsegura

[ página 10 ]

REGIÃO NOBRE DA CAPITAL ENFRENTAVIOLÊNCIA RELACIONADA A GANGUES DECLASSE MÉDIA, E BUSCA REFORÇO POLICIAL

Debaixo do tapete O Boulevard Arrudas foi construído com a pro-

messa de melhorias no trânsito no centro de BHe a revitalização da região. Mas especialistas afir-mam que os problemas do rio apenas foram em-purrados para debaixo do concreto. Ao invés desolucionar os problemas ambientais, os R$ 40 mi-lhões investidos na obra serviram prioritariamenteaos interesses de propaganda governamental, enão contemplaram a recuperação do Arrudas, quecorre poluído por debaixo do cimento.

LIVRO E PALCO Ator da Companhia Pombal em cena. Os indígenas do Amazonas serviram de inspiração para o livro “Tawé: naçãoMunduruku”, de Walter Parreira; o psicólogo viveu na tribo, e resgata na obra a cultura e os problemas enfrentados pelosindígenas; além da montagem teatral, a história agora também pode ser produzida para o cinema.

[ página 05 ]

[ páginas 08 e 09 ]

Lígia Ríspoli

01 - Capa 10.08.07 15:45 Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - Julho/agosto de 2007

O P I N I Ã O2 o pontoBelo Horizonte –Julho/ Agosto/2007

Editor e diagramador da página: Enzo Menezes 6º período

Coordenação EditorialProfª Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso)

Coordenação da Redação ModeloProf. Fabrício Marques

Conselho EditorialProf. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy(Publicidade), Prof. Rui Cézar (Fotografia),Prof. Mário Geraldo (TREPJ) e Profª. Adriana Xavier (Infografia)

Monitores de Jornalismo ImpressoCristina Barroca, Enzo Menezes, Lídia Rabelo, Lígia RíspoliD’Agostini e Poliane Bôsco

Monitores da Redação ModeloCarlos Eduardo Marchetti e Leonardo Fernandes

Monitores de Produção GráficaEduardo Pônzio e Rafael Barbosa

Monitores do Laboratório de Publicidade e PropagandaAlisson Masaharu e Marina Valadas

Projeto GráficoProf. José Augusto da Silveira Filho

Tiragem desta edição5000 exemplares

Consultora em pesquisa iconográficaProfª. Zahira Souki

Colaboradora voluntáriaLaura Aguiar

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 – Cruzeiro Belo Horizonte – Minas Gerais

Professor Emerson Tardieu de AguiarPresidente do Conselho Curador

Profª. Romilda Raquel Soares da SilvaReitora da Universidade Fumec

Profª. Thaís EstevanatoGestora Geral

Prof. Rosemiro Pereira LealGestor de Ensino

Prof. Bruno de Morais RibeiroGestor Administrativo e Financeiro

Prof. Rodrigo Fonseca e RodriguesCoordenador do Curso de Comunicação Social

o pontoOs artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Da liçãoque fica

ENZO MENEZES

6º PERÍODO

“Pois é, não deu. Deixa assimcomo está, sereno”.

Recesso, fim, não importa.Antes de trocar sua presençamítica no imaginário dos fãspara ser só mais uma páginaburocrática para o rock na-cional, o Los Hermanos resol-veu parar. Apenas um des-canso após uma década de tra-balho contínuo, um tempo pa-ra se dedicar a outras ativida-des ou o fim mesmo, por quenão, porque encheu o saco to-car junto?

Ao invés de gravar um dis-co apenas para preencher pra-teleiras, ou tentar empurrarhits fáceis goela abaixo via fms- não, acho que isso eles nemcogitariam... -, os quatro pre-feriram a sensatez: publicar nosite um comunicado oficial,sem direito a nota para a im-prensa nem rasgos histéricos,fazer três shows de despedidano Rio, e ir cada um pra sua ca-sa – apesar de continuarem “jo-gando truco toda quinta-feira”,como diz a nota. Até no fimousaram – e saíram de cenacom dignidade.“Guilhotina? Eu que controloo meu guidom!”

Uma ousadia do Los Her-manos foi desafiar a gravado-ra, há seis anos, ao apresen-tar um disco com harmoniastortuosas e letras acima damédia para quem esperava só

mais um grupo de pop rock aoenfrentar o dilema do segun-do álbum.

A aposta do grupo em lan-çar um produto bem traba-lhado e com cara própria foifeita, a cara feia e as pressõesda major já eram esperadasmas, como o disco estava fei-to mesmo, deixa estar. E pa-rece que o Los já sabia o re-sultado, na ironia de “Cadê teusuin”: (que vale ler para en-tender como foi composta):“Desista moleque, quem é quete indica? Cadê teu suingue?”. “Olha lá que os bravos são es-cravos, sãos e salvos de sofrer”

A banda se tornou em pou-co tempo uma referência com-portamental para milhares dejovens e para a música popu-lar - nem tão do povo, mas... –como não se via há tempospor aqui.

E diferentemente dosatuais ídolos pop: sem gritosde guerra para animar a ‘tor-cida’ nem pensar que ‘atitude’e ‘rebeldia’ são artigos co-mercializados em lojas de ska-te. Ao contrário: com toquesde bossa nova, indie rock e fi-losofia existencialista – por quenão? – os hermanos chegaramao auge da contestação emcomposições como O Vence-dor: “Olha lá quem acha queperder é ser menor na vida. (..)eu que já não sou assim muitode ganhar, junto as mãos aomeu redor, faço o melhor quesou capaz”. Pois é.

LÍDIA RABELO

8º PERÍODO

Falar em ética na sociedade atual é ex-tremamente problemático, se for no jor-nalismo então, essa questão se torna maisdelicada. Se levarmos em conta o que nos-sa imprensa vem fazendo nos últimosanos... parece que a palavra ética sumiu dodicionário. Mas qual é mesmo o conceitode ética que o dicionário nos traz? Ética é:“parte da filosofia que estuda os valoresmorais e os princípios ideais da condutahumana. Conjunto de princípios moraisque se devem observar no exercício deuma profissão” (Dicionário Multimídia Mi-chaelis). O que há de segredo nesse con-ceito que sempre discutí-lo torna-se um as-sunto polêmico?

Há quem defenda que a ética não podeser apenas dos jornalistas, mas também dasociedade. Esta foi posição do professorde jornalismo da UFMG (Universidade Fe-deral de Minas Gerais) Dalmir Francisco:“[...] ou a sociedade briga para ter seu es-paço, e aí o jornalista não tem como es-conder, ele tem legitimidade para contar,a não ser que a empresa o pressione, ouvamos continuar tendo um jornalismo quenão fala com a sociedade, fala com os do-nos do poder”. Pode perceber que essa po-sição tira um pouco dos ombros do jorna-lista a responsabilidade, embora eu acre-dite que uma postura ética deve ser man-tida por todos os setores sociais, jornalis-

tas, sociedade e também donos dos meiosde comunicação. Para Cláudio Abramo aética do jornalista não se diferencia da dosoutros cidadãos. “Sou jornalista, mas gos-to mesmo é de marcenaria. Gosto de fazermóveis, cadeiras, e minha ética como mar-ceneiro é igual a minha ética como jorna-lista – não tenho duas. Não existe a éticaespecifica do jornalista: sua ética é a mes-ma do cidadão” (ABRAMO, 1993: 109).

É válido destacar também que estamosvivendo num sistema que privilegia bonsresultados financeiros a qualquer custo.No capitalismo, o que predomina é a lógi-ca de mercado, e o jornalismo nasce nes-se sistema e está atrelado a ele. Nesse cír-culo vicioso a informação é produzida ob-jetivando, na maioria das vezes, conseguiraudiência, e daí a espetacularização em queela é submetida. Jornais, telejornais, re-vistas, sites, recheados de matérias espe-tacularizadas, denuncismo, escândalos dapolítica, invasão de privacidade de famo-sos, entre vários outros elementos que en-vergonham e vão contra os princípios dobom jornalismo, que é divulgar informa-ções verdadeiras. Portanto, ao vermos es-sa crise de identidade do jornalismo, é pre-ciso repensar nossos valores críticos e mo-rais perante essa situação alarmante, essacrise não pode ser o fim do bom jornalis-mo, mas algo que valha para a reação dosprofissionais e da sociedade para a cons-trução de uma imprensa democrática e queprivilegie o cidadão.

LEONARDO FERNANDES

8ºPERÍODO

Fazendo uma leitura do úl-timo artigo que publiquei nojornal O Ponto, intitulado “Li-berdade: cuidado com essa pa-lavra”, percebi que eu havia co-metido um erro que compro-metia em muito o conteúdo dotexto. Ao tratar do polêmicocaso da RCTV (Radio CaracasTelevisión) usei de forma invo-luntária a palavra “fechamen-to” para falar, na verdade, danão-renovação da concessãopara o funcionamento da emis-sora. Na Venezuela esta auto-rização funciona como no Bra-sil, através de concessões pú-

blicas, ou seja, o estado é o res-ponsável pela autorização defuncionamento das emissorasde rádio e televisão.

Este erro, a princípio pou-co importante, reflete como es-tamos todos condicionados aodiscurso dos grandes veículosde comunicação do Brasil, eque aqui, desempenham papeltão ou mais miserável que aemissora venezuelana. A utili-zação da palavra “fechamen-to” por esses veículos cumprea tarefa de criminalizar a pos-tura do governo da Venezue-la, caracterizando-o como umgoverno ditatorial. Nesta me-dida, uma prática que está le-galmente amparada torna-se

aos olhos estrangeiros umaameaça ao aparelho democrá-tico. E enquanto isso...

O Rio de Janeiro vive hojeuma guerra civil sem prece-dentes, e o que a Rede Globofez por isso? Nada, saturaramde “PAN”. Usando exatamen-te o discurso da democracia, ogoverno norte-americano pra-tica um verdadeiro genocídioem todo o mundo, e, para osglobais, as vidas se tornarammeras estatísticas. O GovernoLula foi, na história, o governoque mais fechou, e agora sim,FECHOU, rádios comunitáriase universitárias no país, e en-quanto isso os empresários sótem a comemorar. Censura?!

Hã?! Onde?! Ninguém pareceter percebido nada...

O que se sabe é que há mui-to tempo grandes empresas decomunicação mereceram emalgum momento sofrer esseou outro tipo de intervenção.Em 1989, foi a Rede Globo aresponsável por uma porcaedição de um debate que fezeleger o “Fernandinho”, der-rotando surpreendentemen-te o, naquela época, sindica-lista petista. Ainda em 2007várias sucursais desta emis-sora deverão ter suas con-cessões renovadas para con-tinuarem em funcionamento.Agora pergunte ao Lula o queele vai fazer...

Além do que se vê

PAULA RIBAS

6º PERÍODO

Toda vez que um crime vio-lento ganha a atenção nacio-nal, a mesma discussão tem iní-cio. Mesmo que os praticantesjá tenham sido identificados ecapturados pela polícia, im-prensa e sociedade civil seunem em uma busca virtual pe-los “verdadeiros” culpados. Nocaso do menino João Hélio,por exemplo, a maioridade pe-nal foi eleita a grande vilã.

A procura agora é pelos“verdadeiros” responsáveis pe-lo espancamento da domésti-ca Sirley Dias, de 32 anos, emum ponto de ônibus no Rio deJaneiro. Para os agressores,universitários entre 19 e 21anos, a culpa é da própria Sir-ley. Eles explicaram à políciaque só atacaram a mulher por-que pensaram que ela fosseuma prostituta.

A mídia e a sociedade dis-cutem dois possíveis culpados.Um deles é a impunidade. Defato, ela deve ter uma parcelade culpa. Uma semana depoisda agressão à Sirley, um salva-vidas foi espancado por qua-tro jovens de 18 anos, tambémno Rio. Todos foram liberadossob fiança de R$ 2 mil, pagapelos pais.

Os pais, aliás, são os outrospossíveis culpados para a mí-dia e para as pessoas em ge-ral. E a declaração de um de-

les, Ludovico Ramalho Bruno,de 47 anos, veio bem a calhar.Pai de um dos agressores deSirley, ele não acha justo man-ter presas “crianças” que es-tão estudando e trabalhando.Não deve ser justo porque es-sas “crianças” podem contri-buir muito para o Brasil, estu-dando e trabalhando. Não sãocomo outros marginais que co-metem crimes e não fazem na-da pelo país. Essas criançascometem crimes, mas tambémestudam e trabalham.

Realmente, os pais tambémdevem ter sua parcela de cul-pa. Podemos culpá-los por suaarrogância, por ensinarem aosfilhos que são melhores queprostitutas e marginais. Pode-mos culpá-los por seus valores,por pensarem que seus filhosestudiosos e trabalhadores es-tão livres do rótulo de bandido,que são diferentes das criançasfaveladas. Podemos culpá-lospor tudo isso, se analisarmosde forma bem generalizada aclasse média brasileira.

Quem é o culpado, afinal?Todos. A doméstica Sirley, porse vestir como prostituta, lu-dibriando assim os pobres me-ninos. A impunidade, sempreela, incentivando crianças declasse média a cometer crimescomo marginais. E os pais, éclaro, pela má criação dos pim-polhos. Só não têm culpa osagressores, vítimas de in-fluências negativas. Tadinhos.

Imagina se a culpafosse do agressor

Ética: de quem é essa responsabilidade?

Não renovar, não censurar!

LÍGIA RÍSPOLI

8º PERÍODO

“O retrato de Dorian Gray”,de Oscar Wilde, é o atual clás-sico que estou tendo a oportu-nidade de ler. O melhor dosclássicos é o seu caráter deatualidade constante e de umalinguagem universal. Não seiainda o que o romance me pre-para, mas um momento quejá achei peculiar é quando obelo Dorian, ao contemplarsua própria imagem em umquadro, começa a reparar, emseu sorriso, um pequeno sar-casmo. O seu desejo talvez ti-vesse se realizando: ele jamaisenvelheceria e o seu qadrocomeçaria a adquirir as mar-cas da vida em seu lugar.

Isso me lembra uma outrahistória, de Edgar Allan Poe, naqual o nome me foge ã memó-ria: o artista pinta a sua amadadia após dia, até que, findasua arte, ele vê a perfeição noquadro, e sua amada dá seuúltimo suspiro de vida. Meperdoem se a história não ébem assim, mas o que impor-ta, nos dois casos, é o ensi-namento que se tenta passar.

Várias interpretações po-dem ser tiradas dos textos cita-dos, como, por exemplo, umacrítica à arte. Mas gosto maisda lição humanista que as duashistórias possuem. E o que es-ses clássicos nos ensinam hoje,em nossa sociedade? Acho quenão poderia existir desejo maiordo que ser sempre jovem. Talcomo na história de Narciso,hoje existe esse grande apelo eestímulo ã beleza eterna, prin-cipalmente em relação às mu-lheres, mas também os homensjá estão vulneráveis.

A pergunta honesta quenos cabe é: vale a pena? Amaior beleza que existe é o dajuventude ou do rosto que nãoesconde a vida, que já deixousuas marcas? Passando a inda-gação para um livro: o melhorlivro é o de páginas em brancoou o escrito? Claro, existembons e maus livros. Mas ,quantas pessoas não devemestar escrevendo más históriasatrás da desesperada busca doelixir da eterna juventude!

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Socialda Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Tel: 3228-3127 – e-mail: [email protected]

Cristina Barroca 7º período

02-Opiniào 10.08.07 15:46 Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - Julho/agosto de 2007

P O L Í T I C A 03o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editores e diagramadores da página: Enzo Menezes e Felipe Izar - 6ºPeríodo

Clima de pizza éreforçado pelalentidão doPoder Judiciário

CPIMANIANACIONAL

CORRUPÇÃO É MAIS INVESTIGADA DURANTE O GOVERNOLULA, MAS BARREIRAS POLÍTICAS IMPEDEM A PUNIÇÃODOS INDICIADOS PELOS RELATÓRIOS DAS COMISSÕES

Uma das marcas do governo Lula é a instala-ção recorde de Comissões Parlamentares de

Inquérito - CPI’s. Denúncias de práticas decorrupção e crimes contra a administração

pública provocaram um aumento das inves-tigações por parte dos congressistas, numaocorrência até então nunca vista na históriapolítica brasileira. No primeiro mandato dogoverno petista (2003-2006) foram instala-

das 24 Comissões Paralmentares de Inquéri-to, sendo 5 no Senado, 10 na Câmara e 9

mistas (que englobam as duas casas).

Somando CPI’s do Senado e CPMI’s, fo-ram 12 no período Collor/Itamar e 11nos dois mandatos de FHC - contra 14nos últimos quatros anos. Em 2007,uma Comissão já foi instalada - a doApagão Aéreo - e os parlamentares bus-cam assinaturas para pelo menos maisuma. Mas obstáculos impedem resulta-dos concretos: acordos para impedircassações, falta de vontade política e alentidão do Poder Judiciário dão a sen-sação de esvaziamento das Comissões.

LUANA BASTOS

POLIANE BOSCO

6º PERÍODO

Um fator que con-tribuiu para oaumento das in-vestigações é aparticipação da

mídia. Os meios de comuni-cação de massa acompanhamde perto as pautas dos parla-mentares, e não poupam mu-nição quando estouram de-núncias. Mas, apesar de co-locar as discussões na agen-da do dia, a mídia tradicionalse prende na divulgação defuros e se esquece de analisaro contexto em que são vaza-das as informações.

Para Luiz Carlos Gambo-ji, professor de direito da Fu-mec, as denúncias aparecemcom mais frequência, mas is-so não quer dizer, necessa-riamente, que a corrupçãocresceu. “O país está em pro-cesso de aperfeiçoamento desua democracia, o que con-tribuiu para o aumento dasinvestigações”, analisa.

Espetáculo Mas divulgar o que aconte-

ce nos bastidores do governo– sem entrar na questão do in-teresse político que move ascoberturas da mídia tradicio-nal – não significa um aumen-to da cobrança popular por umpaís mais democrático e umaadministração transparente.“Diversas vezes a cobertura damídia prejudica o andamentodas CPIs, pois com a presençade câmeras e microfones osparlamentares transformam asinvestigações em espetáculo”,critica Gamboji. Outra questãoque o professor coloca é o fa-to dos jornais veicularem cer-tas acusações antes do térmi-no das investigações, prejudi-cando a imagem de pessoasque a princípio parecem en-volvidas, mas no final podemser inocentadas.

De acordo com a cientistapolítica Denise Falcão, um fatorimportante para o crescimentono número de investigações é aorganização da oposição. “Aoposição ao governo está mui-to bem articulada, o que fazcom que consigam os votos pa-ra criar CPI’s”, acedita.

O deputado estadual DurvalÂngelo, do PT, também reco-nhece a organização da oposi-ção: “A democracia se faz comconflito, a sociedade ganha comuma oposição vigilante, que de-nuncia irregularidades.”

Para Denise Falcão, a Polí-cia Federal também tem méri-tos, pois cumpre melhor seupapel, apesar das acusações decontribuir para o espetáculo,quando divulga operações deforma bombástica “Os casosde corrupção são mais fre-qüêntes porque há uma apu-ração melhor dos fatos, e a PFtrabalha para desvendar os es-quemas”, salienta.

Após a aprovação de umrelatório final, as CPI’s pas-sam a depender da atuação,por exemplo, do Poder Judi-ciário, e de órgãos como a Po-lícia Federal para punir os in-diciados. Elas também de-pendem da própria bancada,que recebe a recomendaçãopara cassar parlamentares.

Mas a lentidão do Judiciá-rio arrasta os processos, e,quando é proferida a decisãofinal, o caso já esfriou na mí-dia e os acusados continua-ram em atividade. Assim, ain-da que as Comissões cum-pram, ao menos em tese, oseu papel de investigar, a fal-ta de vontade política - queculmina nos acordões para li-vrar parlamentares de perderseus direitos políticos - e en-traves burocráticos impedema punição dos envolvidos.

Com o volume de infor-mações divulgado pela im-prensa, a população pareceperdida entre tantos des-membramentos das CPIs, e fi-ca com a sensação de que elassempre acabam em “pizza”.Quando os resultados dos tra-balhos não aparecem, o quefica é a sensação de impuni-dade, pela dependência deconciliações no Congresso eda atuação de outras esferas.Luiz Carlos Gamboji explicaque isso acontece porque ascomissões têm a função deinvestigar e apurar denúni-cas, mas não podem conde-nar. O Ministério Público re-cebe os relatórios finais, pa-ra dar início à ação judicialcabível em cada caso. “Elestambém podem sugerir polí-ticas para correção de algu-ma imperfeição, ao identifi-car os atos ilícitos pratica-dos”, completa

Os acordos para livrar de-putados da cassação foramclaros antes das eleições de2006. Na CPI dos Correios,por exemplo, foi pedida a cas-sação de 19 deputados, mas12 escaparam, e 4 renuncia-ram para não perder seus di-reitos políticos por 8 anos.

Para o deputado estadualDurval Ângelo, a populaçãofrequentemente tem um con-ceito errado sobre o papeldas CPIs porque alguns dospróprios membros das Co-missões as apresentam comoa única forma de redenção ecorreção de todas as mazelasda sociedade. “O CongressoNacional não pode ser trans-formado em uma delegacia.A banalização das CPI’s pro-voca um descrédito por par-te da sociedade em relaçãoao papel de fiscalização doCongresso”, acredita.

Camila Piovesana 2 ºperíodo Publicidade

03 Política - Enzo e Felipe 10.08.07 15:46 Page 1

Page 4: Jornal O Ponto - Julho/agosto de 2007

P O L Í T I C A04 o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editor e diagramador da página: Leonardo Fernandes

LEONARDO FERNANDES

8º PERÍODO

E de repente a rua estava to-mada. Era o “23 de maio de lu-ta”, como bem disse a estudan-te de filosofia da UniversidadeFederal de Minas Gerais(UFMG) Glória Trogo. A praçaestava lotada e o debate no al-to do carro de som chamava aatenção. Bandeiras de váriasentidades de movimentos so-ciais não paravam de aparecer.O movimento daquele dia faziaparte de um calendário de lutasorganizado por diversas enti-dades de inúmeras categoriasdos trabalhadores e estudantes.Em 25 de março de 2007 foi rea-lizado em São Paulo o Encon-tro Nacional Contra as Refor-mas Neoliberais. O movimentocaracteriza as reformas do Go-verno Federal como parte dapolítica neoliberal proposta emconsenso com o Banco Mundiale o Fundo Monetário Interna-cional (FMI). A pauta daquelamanifestação tratava em espe-cial da proposta da ReformaTrabalhista feita pelo Governo.Em meio aos gritos de “1,2,3,4,5mil, ou pára essa reforma ou pa-ramos o Brasil” conversei comCacau, coordenador regionalda Conlutas – MG. Para ele asreformas do governo federaltem demonstrado o compro-misso como projeto neolibe-ral de privatizações de todosos setores, e o desafio dosmovimentos sociais vêm exa-tamente no sentido da suareorganização.

A Conlutas foi criada em2006, em São Paulo, como uma

entidade de oposição às políti-cas do Governo Federal, e co-mo uma alternativa à CUT, quedepois de 2003, com a eleiçãode Lula, se manteve claramen-te ao lado do Governo Federal.O curioso é que nesta manifes-tação também se via bandeirasda CUT, da UNE, e de partidose sindicatos ligados à base go-vernista. As intervenções des-tas entidades deixavam claroque a unidade no movimento serestringia a questões específi-cas da Reforma Trabalhista co-mo a Emenda 3 e o direito degreve. Segundo partidos e or-ganizações de oposição à polí-tica do governo, o direito degreve, uma das pautas da Re-forma Trabalhista e Sindical doPAC – Programa de Aceleraçãodo Crescimento – que tenta re-gulamentar o direito, fere a au-tonomia de organização dostrabalhadores na medida emque estabelece critérios para sedecidir sobre a greve ou cons-trange os trabalhadores da li-vre organização como no pará-grafo 1º do artigo 5º da refor-ma, que fica estabelecido “...aadesão à greve implicará naperda de remuneração...”

O ato do dia 23 de maiocontou com cerca de 1500pessoas, entre trabalhadores,estudantes, crianças e apo-sentados, organizados em di-versas entidades de movi-mentos sociais, como sindi-catos; muitos em greve. Ca-cau explica que este movi-mento luta contra o decretoda Emenda 3 que para os mo-vimentos sociais de esquerdaferem constitucionalmente os

direitos históricos da classetrabalhadora .

Todo o ato aconteceu de for-ma pacífica e percorreu desdea Praça Sete no centro, com di-reito a uma parada em frente àPrefeitura de Belo Horizonte(PBH) onde professores da re-de municipal de ensino e servi-dores municipais protestaramcontra as políticas do prefeitoFernando Pimentel (PT). Paraos servidores municipais quesaíram em defesa do reajustesalarial e contra os cortes tra-balhistas da PBH, as medidasadotadas pela atual gestão daprefeitura de Belo Horizontecerceiam direitos dos trabalha-dores da rede municipal.

Junto aos servidores muni-cipais também estavam no pro-testo, membros do Movimentodos Sem Teto, que defendiam aReforma Urbana e puxavam abandeira da Reforma Agráriajunto ao Movimento dos SemTerra, que também estava pre-sente na manifestação.

A próxima parada não es-tava prevista pela organizaçãodo ato. Enquanto os organiza-dores convidavam os manifes-tantes a subirem até a porta doPalácio da Liberdade, a Tropade Choque e a Cavalaria da Po-lícia Militar se posicionavam aotopo da Avenida João Pinheiro,na entrada da Praça impedindomais tarde a passagem da ma-nifestação. Os manifestantes fi-caram em polvorosos com bar-reira da PM. Enquanto no car-ro de som os manifestantescomparavam o Governo Esta-dual à ditadura militar de vinteanos atrás, os estudantes e tra-

balhadores que tentavam abrirpassagem chamavam os PMspara a luta, na tentativa de con-vencê-los de que também eramtrabalhadores explorados peloGoverno de Aécio Neves.

Depois de quase meia horade intensa negociação entre osorganizadores do ato e as au-toridades da PM, a manifes-tação foi autorizada a passar,contando que não rompessea outra barreira criada pelosmilitares em frente à Biblio-teca Pública, exatamente aolado do Palácio do Governo.“Isso é simbólico!” – gritouum trabalhador.

Em frente à Biblioteca Mu-nicipal as palavras de ordem

passavam sempre pelas políti-cas de censura e total privati-zação de setores básicos comoeducação e saúde praticadaspelo Governo Neves.

A manifestação termina edeixa em minha memória as úl-timas palavras dos auto falan-tes: “Pátria livre, venceremos”!

Mais tarde, acompanhandoos noticiários e alguns blogs nainternet, percebi que o “23 demaio de luta” ultrapassava asmontanhas de Minas e se espa-lhava por todo o país. Naque-le mesmo dia, várias mani-festações ocorreram peloBrasil, inúmeros sindicatosentraram em greve, e a ju-ventude dava exemplo de re-

sistência; completava-se 18dias de ocupação da reitoria daUSP, em São Paulo, que duroumais de 50 dias, outras reitoriaseram ocupadas em Alagoas, noMato Grosso, e estudantes dediversas universidades públicasorganizavam atos de repúdio àpolítica privatista da Universi-dade Pública que, para o Movi-mento Estudantil Organizadonestas universidades, está cla-ramente apoiada pela ReformaUniversitária proposta pelo Go-verno Lula. Ao meu entender,já não seria mais uma questãode agitação por campanhas sa-lariais, ou movimentos isolados.Um sistema de governo foicolocado em xeque.

Uma barricada de pneus, lo-na preta no lugar do portão deentrada, cartazes por toda par-te, e uma faixa com letras gar-rafais: “Ocupação”. Assim seencontrava a reitoria da USP, amaior Universidade do país,ocupada desde o dia 3 de maiopelos estudantes.

A principal causa da ocupa-ção foi o decreto de criação daSecretaria Estadual de EnsinoSuperior em São Paulo anun-ciada pelo governador José Ser-ra no início do semestre. Se-gundo os estudantes, o decre-

to fere a autonomia universitá-ria e acelera o processo de pri-vatização das universidades es-taduais. “Só vimos isso aconte-cer na ditadura militar” uma dasfrases mais faladas pelos estu-dantes. O decreto ainda propõea reformulação do Conselhode Reitores das Universida-des Estaduais Paulistas(Cruesp) e a transferência dagestão financeira das univer-sidades para o Sistema Inte-grado de Administração Fi-nanceira para Estados e Mu-nicípios (Siafem).

A organização da interven-ção dava exemplo para as maisricas universidades do país. Ba-nheiros sempre muito limpos,comissões de segurança, ali-mentação, comunicação, tudopara justificar o sucesso de maisde 50 dias de ocupação. Alémdos estudantes mobilizados, ou-tros setores da USP também semanifestaram. A Adusp (Asso-ciação de Docentes da USP)manteve uma greve que chegoua durar 19 dias. O sindicato dosfuncionários manteve a grevecom o indicativo de não ceder

às pressões do governo. “Nãocedemos enquanto os estudan-tes permanecerem em luta” afir-mou uma funcionária no inícioda Plenária Nacional de Estu-dantes que aconteceu no dia 16de junho na Reitoria ocupada.

A Assembléia foi convoca-da com apenas 2 dias de ante-cendência para o dia 15 de ju-nho na USP na plenária nacio-nal de estudantes. A organiza-ção do evento esperava reunircerca de 800 a 1000 estudantesde todo o país, recebendo apro-ximadamente 600 estudantes.

Segundo os organizadores, obaixo quórum se deu tanto porconta do pouco tempo para aorganização quanto pela mobi-lização que ocorre em diversasUniversidades do país. “Muitasreitorias ou diretorias estão ocu-padas, o que impede que maisestudantes estejam presenteshoje na USP” explica Glória Tro-go, estudante UFMG.

A pauta da Plenária consis-tia na reorganização do Movi-mento Estudantil Nacional e nacriação de um calendário unifi-cado nacionalmente de lutas.Durante todo o dia as discus-sões rolaram à solta. Os princi-pais pontos das discussões fo-ram as defesas da Educação pú-blica, o que incluía a luta Con-tra a Reforma Universitária doGoverno Lula, e a oposição aUnião Nacional dos Estudantes,hoje, principal apoiadora doGoverno Federal, além de ne-nhuma punição aos estudantese trabalhadores em luta.

Segundo a grande maioriados estudantes presentes naPlenária, a Reforma Universi-tária, o Proune e o Reúne sãoataques à Universidade públicanum processo de privatizaçãoda educação. O Projeto de Re-forma Universitária que vemsendo implementado através de

medidas provisória apresentourecentemente propostas quevem sendo combatidas por di-versos setores de organizaçãopor todo o país. Em nota à so-ciedade, o Andes – SindicatoNacional dos Docentes do En-sino Superior – crítica pontosda do projeto como o aumentodo número de professores poralunos, que sobe de 10 para 14estudantes por profissional. Anota ainda critica o programade financiamento universitá-rio, com disposições previstaspelo PAC, que reduzem gastose condicionam a liberação derecursos para o ensino supe-rior.

Desde o início do primeirosemestre de 2007, inúmerasmanifestações estudantis fo-ram registradas em todo opaís. Outras universidadescomo a Universidade Federalde Alagoas (UFAL), a Univer-sidade Federal do Rio Gran-de do Sul (UFRGS), a Unicame a Unesp (estaduais paulis-tas) e mais recentemente a Fe-deral do Pará (UFPA), do Riode Janeiro (UFRJ), do Espíri-to Santo (UFES) e de Juiz deFora (UFJF) também foramocupadas ou sofreram algu-ma intervenção do movimen-to estudantil.

Estudantes na Sorbonne do BrasilBarreira policial impede passagem de manifestantes na praça da Liberdade em Belo Horizonte.

Entrada da Reitoria da USP, que ficou ocupada mais de 50 dias. Nas faixas, reivindicações por mais verbas para a educação pública.

Foto: Leonardo Fernandes

MOVIMENTOS SOCIAIS DÃO RESPOSTAS AOS PROJETOS DE REFORMAS DO GOVERNO FEDERAL

Ilustração: Rafael Dutra - 3º Jornalismo

Foto: Samuel Aguiar - 5º Jornalismo

04 luta de classes - léo 10.08.07 15:47 Page 1

Page 5: Jornal O Ponto - Julho/agosto de 2007

C I D A D E 05o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editoras e diagramadoras da página: Patrícia Dumont, Vanessa Fernandes e Lígia Ríspoli - 6º e 8º Períodos

O nímero de veículos da Polícia Militar reforçando o policiamento da Praça da Savassi aumentou para tentar conter a violência crescente na região: um dos motivos são as gangues de jovens

Priscilla Cambraia - 6º período

Savassi reage a onda de violênciaPARA CONTER A VIOLÊNCIA EM UM DOS BAIRROS MAIS NOBRES, POLICIAMENTO É REFORÇADO

LORENA ASSIS E

PRISCILLA CAMBRAIA

6º PERÍODO

A região da Savassi,em Belo Horizonte, sem-pre foi vista como a re-gião mais charmosa dacapital. Conhecida porseus exuberantes hotéise restaurantes, e pelo co-mércio que atende à altaclasse mineira, a Savassié um ambiente tranqüiloideal para os turistas quebuscam a beleza e o re-quinte do local. No en-tanto, essa realidade vemse contrastando com oaumento da violência queassombra a região, prin-cipalmente à noite e du-rante a madrugada.

Assim, as ruas da Sa-vassi vêm sendo disputa-das por gangues, margi-nais, mendigos, assaltan-tes e traficantes que ame-drontam os freqüentado-res e moradores da re-gião e afrontam, cada vezmais, os policiais respon-sáveis pela segurança dolocal. Para amenizar essasituação, o Conselho deSegurança Pública (Con-sep) fez um levantamen-to e viu a urgente neces-sidade de aumentar o po-liciamento da região.

A Coordenação Ge-ral de Segurança da Po-lícia Civil, juntamentecom a comunidade, polí-cia civil e militar e o Cor-po de Bombeiros fizeramuma pesquisa e se sur-preenderam com o nú-

mero de ocorrências naregião da Savassi, nesteprimeiro semestre. Entreos meses de janeiro eabril, houve 239 furtos,número que se aproximada metade do número to-tal do ano passado, quechegou a 575 casos re-gistrados. Em 2006houve dois assassina-tos, e esse ano a mortedo médico Ricardo Soa-res Alves, assassinadopor um morador derua, em tentativa de as-salto, abriu a contagem.

O comandante do 1°Batalhão, tenente-coro-nel Carlos Putini Neto,garantiu que existe umnovo esquema para a se-gurança da Savassi. An-tes, o patrulhamento daárea contava com seisviaturas, duas bicicletas,uma dupla de motoquei-ros, uma patrulha de Pre-venção Ativa e policia-mento a pé. Agora háuma necessidade maiorde reforçar o policia-

mento, principalmentedurante à noite, ma-drugada, finais de se-mana e feriados.

De acordo com Van-drelias Martins, jornalei-ro há 23 anos na Praça daSavassi, esse reforço jápode ser notado. “Houverealmente o aumento dopoliciamento aqui na Sa-vassi”, afirma. Porém,Vandrelias não acreditaque a situação seja real-mente da forma que es-tá sendo mostrada. “Euacredito que essa vio-lência causada pelos jo-vens das gangues seja,de certa forma, umcomportamento dife-renciado, uma contra-cultura”, completa.

O que se observa éque a característica de lu-gar tranqüilo, ideal parapasseios, compras e en-contros intelectuais ain-da não abandonou a Sa-vassi. Durante o dia, a re-gião enfrenta problemasinerentes a uma região

nobre e atrai assaltos,que são consideradosnormais pela sociedade.Porém, segundo o ge-rente da lanchonete McDonald`s, GuilhermeHenrique da Cruz, é du-rante à noite e na ma-drugada, que a situaçãose agrava. “O horáriomais crítico do restau-rante é entre meia-noitee 8 da manhã. Os jovensvêm aqui para lancharnesse horário depois dasfestas e arrumam tumul-to, brigas, tudo. Fizemosuma reclamação ao 1°Batalhão, pedindo queeles viessem aqui maisvezes, e com o trabalhodeles está melhorando”,afirma. Guilherme semostra muito preocupa-do com a situação, já queos funcionários da lan-chente são alvos de as-saltos constantes duran-te as trocas de turnos.

Para tanto, além dosquatro carros de atendi-mento comunitário e dosquatro da CompanhiaTático Móvel, será do-brado o número de via-turas. Outra medida ado-tada foi o levantamentofeito pela Secretaria Mu-nicipal de Políticas Urba-nas, que pesquisou o ti-po de ocupação de todosos quarteirões e o volu-me do tráfego da região,com o intuito de requali-ficar a Savassi para atrairmais turistas, o que tam-bém beneficiaria o co-mércio local.

Jovens de classe média integram gangues O aumento da violência

na Savassi trouxe ao co-nhecimento de todos ogrande número de gan-gues que “freqüentam” aregião. Um grupo bastantepeculiar são os dark. “Essesjovens que se vestem de pre-to sempre estão aqui na Sa-vassi, mas nunca se com-portaram de forma violen-ta”, revela Vandrelias Mar-tins, dono de uma banca dejornais na região.

Porém, hoje a região édominada por gangues,cujos integrantes se ba-seiam em estatutos de or-ganizações criminosas dopaís, atuando de formaviolenta e vingativa.

As gangues atacam ou-tros jovens, roubam bonés,celulares e tênis, o que aca-ba por provocar medo epavor em quem circula pe-la região. Dentre os quase30 bandos existentes, osmais conhecidos são: Bon-de do Arrastão (BA), ElitePerdida (EP), Vândalos daMadrugada (VM) e a Ban-ca Nervosa (BN).

O que pouco se sabe éque a maioria dos jovensenvolvidos em ganguespertencem à classe média,tornando ainda maior oimpacto dessa violência nasociedade.

O menor, F.B.A, ex-in-tegrante de uma das gan-

gues, conta que entrou nogrupo para se protegerdas brigas. “Para entrar nogrupo foi fácil. Eu era domesmo bairro que os ou-tros integrantes e torcía-mos pelo mesmo time.Mas quando decidi sair dagangue, fui chamado decovarde e fui ameaçado”.

De acordo com o te-nente-coronel Carlos Puti-ni Neto, a Polícia Militarvem tentando desarticularas gangues, através dapromoção de encontroscom os pais dos adoles-centes envolvidos, comouma das forma de identi-ficar os demais membrosdos grupos.

Bairro também é ponto preferencialentre os moradores de rua da capital

Além da violência queaumenta e das gangues quecomandam os passos dequem circula pela região, aSavassi divide espaço comos moradores de rua.

Devido ao grande nú-mero de marquises, a re-gião oferece ótimo abrigoaos sem-teto e muitas pes-soas contribuem com rou-pas e alimentos.

Como o público é itine-rante, fica difícil saber exa-tamente o número certo depessoas que vivem nasruas da região, é o que in-forma a Secretaria Muni-cipal Adjunta de Assistên-

cia Social. De acordo como órgão existem muitasofertas de moradia e abri-gos, repúblicas e alber-gues, porém a procura nãotem um resultado positivo.

Segundo o último cen-so do Ministério do De-senvolvimento Social eCombate a Fome, o núme-ro de moradores de rua emBelo Horizonte cresceu27% em oito anos.

Mas a responsabilida-de da fixação dos mendi-gos nas ruas é de quemmais reclama da situação:moradores e comerciantes.“A gente só fica onde é

bem tratado e consegue al-gum respeito das pes-soas”, afirma João Ferrei-ra dos Santos que vive naSavassi há cerca de umano. “Aqui a gente ganhatudo que quer. Muita gen-te ajuda. Tem dia que ga-nho até R$ 30”, completa omorador de rua João.

“A situação se tornouum problema global, quepara ser solucionado afe-taria toda a sociedade”,argumenta a moradoraMaria Chiara Faria. “Se aspessoas continuarem aju-dando, essa situação nun-ca irá mudar”, encerra.

Priscilla Cambraia - 6º período

O jornaleiro Vandrelias acredita que a violênciados jovens na Savassi é uma contracultura

Armas não matam

pessoas matam.

Punhos não machucam

pessoas machucam.

Pés não chutam

pessoas chutam.

Segurança depende de todos.

05 Cidade - Violência Savassi 10.08.07 15:47 Page 1

Page 6: Jornal O Ponto - Julho/agosto de 2007

C I D A D E06 o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editoras e diagramadoras da página: Izabela Zarife, Luíza Rezende, Marcela Boechat e Lígia Rispoli - 6º e 8º períodos

Joana D’arc, presidente daONG Vibra Mais (Vida para aBacia do Ribeirão ArrudasMeio Ambiente e IntegraçãoSocial), e membro do projetoManuelzão, acha que a obranão condiz com o que foi pla-nejado, além de comprometero valor ambiental. “Sabemosque o rio foi pavimentado, o queé uma injustiça com o meio-am-biente, simplesmente decidiramrealizar a obra sem consultarninguém. Alguns membros par-ticiparam das assembléias, masfoi coisa para ‘inglês ver’, elescumpriram todo o processo,porém sem dar chance paraqualquer intervenção maiorpara sequer uma análise doprojeto no Arrudas.”

À frente da Ong desde o iní-cio de sua fundação, Joana dizter sido em vão a mobilizaçãofeita pelos interessados no pro-jeto do Arrudas, que acabousendo realizado da maneira queo governo pensou ser mais viá-vel. “Fui contra, e todos aquicompartilham dessa idéia, par-ticularmente posso falar por mi-nha ONG, que definitivamentedefende a revitalização. Nós,do 3º setor, nos empenhamosao máximo, o que de nadaadiantou e jogaram concretono córrego sem medo”.

Quanto aos valores divul-gados pelo governo de Minas(R$40 milhões), Joana acha abu-sivo, tendo em vista que umaidéia de tratamento à médioprazo, mesmo que mais com-

plexa e demorada, financeira-mente falando, poderia se con-cretizar de modo mais brando,deixando de lado o cunho elei-toral da construção do Boule-vard. “Não temos idéia do cus-to, mas com certeza ficaria maisbarato um tratamento do cór-rego, assim como temos feitono Manuelzão. Porém, sabecomo é né, as eleições estãoaí e o que for de interessemaior no campo político pro-vavelmente prevalecerá dian-te da vontade do povo”, afir-mou a presidente da ONG.

Sobre o futuro do local, econservação do que foi cons-truído, Joana foi categórica: “Orio tem condições de sair da-quele estado, e o que foi feito lánão passou apenas de uma ten-tativa mais viável e custosa deresolver o problema, incomodaver uma situação assim”.

Segundo Rafael Lovatto,morador da região, o trânsitomelhorou bastante, porém noinício da construção, porque-hoje o fluxo é praticamente omesmo de antes da existênciado Boulevard. “No começo foiuma maravilha, porém agorao movimento voltou a ser in-tenso, sem falar no perigo daspraças e imediações”.

O estudante afirmou tam-bém que esperava mais diantedo que foi feito, pois “na pro-paganda era tudo mais amploe bonito, mas na verdade pramim isso aqui foi mais um tapaburaco em larga escala do rio.”

ALEXANDRE HENRIQUE E ANA

PAULA CONDESSA

4º E 8º PERÍODOS

Com o intuito de melhoraro tráfego na região centrooeste da capital, foi feito umprojeto para a pavimentaçãoda superfície do Rio Arrudas.Com o projeto aprovado, asobras já estão em fase deconclusão. Nomeado de Bou-levard Arrudas, o projeto depavimentação começa naAvenida dos Andradas, nocruzamento com a alamedaEzequiel Dias e vai até a ruaRio de Janeiro, junto ao aces-so ao túnel da Lagoinha. Nes-te trecho, a cobertura do ri-beirão Arrudas vai dar lugara pistas mais largas para otráfego, faixas preferenciaispara o transporte coletivo eum completo tratamento pai-sagístico, além de ciclovia notrecho entre a alameda Eze-quiel Dias e o viaduto SantaTereza. O valor da obra giraem torno de R$40 milhões.

Projeto ManuelzãoO projeto Manuelzão, que

visa à recuperação da baciado Rio das Velhas tem a pro-posta de mudança da cons-ciência e do comportamentoda sociedade, promovendo odesenvolvimento sustentávelambiental, político, social ecultural. Além disso, é umadas referências em questão derecuperação de córregos eum bom exemplo de que averba utilizada poderia, defi-

nitivamente, ser aproveitadade outras maneiras.

Antônio Leite, coordenadordo projeto, acredita que a obradefinitivamente melhorou otrânsito da região. Porém, comum melhor plano, talvez fossecabível uma revitalização docórrego naquele trecho. “Aprincípio éramos contra. O rionaquele local está numa situa-ção crítica e a questão viáriaprevaleceu. Mas no fundo, a ci-dade não deveria escondê-lodebaixo do cimento. Só lamen-tamos porque foi um ataque aoque pregamos como instituiçãoambiental. Isso é triste”.

A preocupação de preser-var os rios tem sido uma ten-dência mundial: a ONU pre-vê que em 2050 mais de 45 %da população mundial não te-rá mais a porção mínima in-dividual de água para supriras necessidades básicas. Oprincipal uso que o Brasil fazda água é na agricultura eaproximadamente 60% destaágua é usada para fins do-mésticos. Apenas 15 % sãousados para fins comerciais esó 13% nas indústrias.

Atualmente, Leite vê a cons-trução do projeto Boulevard deuma forma positiva. Mas, nemsempre foi assim. “Comparece-mos nas audiências públicas dediscussão sobre a mudança, fi-zemos um depoimento pareci-do com o que estou lhe fazen-do agora, mas fomos uma vozsolitária, a população optou pe-la praticidade e assim foi feito”,diz o então coordenador. Ele

também ressalta a importânciade uma conscientização, quedeveria ter se iniciado há tem-pos, já que a luta do projetofoi dada pelo aspecto de me-lhoria da qualidade de vidado local, além de um futuroaproveitamento do rio: “Se ti-véssemos cuidado melhor doribeirão, não enfrentaríamoshoje esse tipo de dilema. En-tretanto, não foi assim, e foifeita aquela intervenção am-biental. O que infelizmentetêm sido a tônica de taisobras promovidas pelo go-verno, lidar da maneira maisfácil a favor da conveniência”.

Para Antônio, um projeto depreservação e até reconstitui-ção do ribeirão seria mais po-sitivo. Contudo, o tratamento éalgo trabalhoso e demorado, enão atenderia à demanda do lo-cal no prazo desejado. “A con-cepção de engenharia de trá-fego falou mais alto, real-mente existe muito conges-tionamento naquela área”.

O projeto Manuelzão possuiuma meta para 2010, que con-siste em primeiramente não dei-xar jogar lixo nas vertentes docórrego, e depois torná-lo, emgrande parte, completamenteutilizável. “Cabe à Copasa in-vestir nessa que é tarefa gigan-tesca, pode parecer saudosis-mo, mas o ideal seria que, umdia o Arrudas ficasse exposto,para contemplação. Ouso dizerque próximo à região de gene-ral Severiano, com empenho,em pouco tempo chegaremos àesse ponto de conservação”.

O enterro do Arrudas O Boulevard Arrudas, obra estimada em R$ 40 milhões de reais, apesar de ter melhorado o trânsito na região, vem causando discussões a respeito das agressões causadas ao meio ambiente

A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO BOULEVARD NÃO CONSIDERA A PRESERVAÇÃO DA ÁGUA

Obra fere o interesse público

Samuel Aguiar - 5º período

“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linhareta, dura, inflexível, criada pelo homem.O que me atrai é a curva livre e sensual,a curva que encontro nas montanhas do meu país.

No curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar,no corpo da mulher preferida.

De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.”

Oscar Niemeyer. 100 anos de talento.

Um estudo do IPCC-2001(Painel Intergovernamentalde Mudanças Climáticas) , fei-to nas regiões Sul, Sudeste eCentro-Oeste, evidenciou quehá uma redução na disponi-bilidade dos recursos hídri-cos. Os impactos disso serãosentidos na produção agríco-la e na vazão dos rios, afe-tando os biomas. De acordocom a pesquisa, a quantida-de de água total na Terra édistribuída de forma que97,5% estão nos oceanos emares; 2,5% é de água doce,sendo que 68,9% da quanti-dade geral de água doce for-mam as calotas polares, ge-leiras e neves que cobrem asmontanhas altas da terra e osrestantes 29,9% de água do-ce são de águas subterrâneas.

As fontes de água são ri-cas, mas são mal distribuídaspela superfície do planeta, ha-vendo um desequilíbrio dosrecursos hídricos no globo. Aágua é fundamental para odesenvolvimento de algumasatividades o que, conseqüen-temente, faz com que os locaiscom escassez de água tenhamlimitações maiores para seudesenvolvimento, como naregião Nordeste do Brasil.

As águas no Brasil se en-contram concentradas emtrês bacias hidrográficas dopaís: Amazonas, São Fran-cisco e Paraná. Nelas estãoconcentradas cerca de 80%da produção hídrica do país.

O preço da água

06 Cidade - Rio Arrudas 10.08.07 15:47 Page 1

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E C O N O M I A 07o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editoras e diagramadoras da página: Paula Ribas e Marcela Fogaça 6º Período

Investidores caseirosHOME BROKERS POPULARIZAM INVESTIMENTOS PELA INTERNET E MOVIMENTAM BOVESPA

VINÍCIUS LACERDA

ROBERTA ARANHA

6º PERÍODO

Investir no mercado deações via Internet não é algodistante da realidade dos bra-sileiros. De acordo com levan-tamento divulgado pela Folhade São Paulo em maio, as cor-retoras on-line já contam commais de 243 mil pessoas físicasque investem em ações via In-ternet. Só neste ano, foram re-gistrados 23,4 mil novos clien-tes na Bovespa. Atualmente,os investidores caseiros sãoresponsáveis pela movimenta-ção de 10% de todo o volumede negócios da Bolsa.

“É uma evolução natural. Àmedida que você vai se apro-fundando e estudando sobre omercado de capitais, você vaiconhecendo várias pessoasiguais a você. Você conhecepessoas nos treinamentos, nosgrupos de discussões, nasapresentações das "S/A's" pa-ra o mercado”, conta BernardGeneroso Neiva Ferreira, in-vestidor caseiro.

Investidor precoceFormado em Administra-

ção pelo Ibmec, Bernard, 24anos, teve seu primeiro con-tato com a Bolsa de Valoresainda na adolescência, o queo ajudou a desenvolver rapi-damente seus conhecimentosna área. Assim, Bernard deci-diu largar o estágio que faziana época para dedicar maiorparte de seu tempo aos inves-timentos.“O meu primeirocontato com o mercado fi-nanceiro foi aos 14 anos deidade, quando apliquei partedo meu salário em um fundode investimento atrelado aações do índice Bovespa.Após três meses acompa-nhando a fundo a evoluçãodesta aplicação e analisandoas ações que compunham acarteira e os relatórios deacompanhamento de merca-do fornecidos pelo banco, de-cidi por entender melhor asistemática deste mercado”,explica.

ABC do investidor caseiroComo a maioria dos in-

vestidores caseiros, ele tam-bém teve certo receio em in-vestir seu dinheiro através daInternet. Normalmente,quando uma pessoa físicatem a intenção de investir,procura um clube de investi-mento ou alguma empresaque preste esse tipo de servi-ço. Contudo, todas estas em-presas ou clubes cobram ta-xas de administração que va-ria de 1% a 4% do patrimô-nio. Além disso, não aceitamqualquer quantia como in-vestimento. Isso faz com queo número de investidores queopta pelo serviço de HomeBroker cresça, pois além denão serem obrigados a pagaresta taxa de administração,existe uma grande vantagemno acesso às aplicações.Elespodem fazer ou desfazer in-vestimentos com apenas umclique no mouse.

Negociante caseiroO Home Broker é um

instrumento que permite anegociação de ações via In-ternet. Para que ele seja uti-lizado, é necessário que apessoa seja cadastrada emalguma corretora, para as-sim, liquidar suas opera-

ções. Mas não basta somen-te ser cadastrado.

Fernando José CavalieriGuimarães, economista e in-vestidor da bolsa de valoreshá mais de vinte anos, afirmaque qualquer pessoa que de-cida entrar em contato com omercado financeiro, atravésda Internet ou de grupos deinvestimentos, deve antes detudo, estar informada. Se-gundo Guimarães, analisar omomento econômico e políti-co que o país vive no momen-to da aplicação, é fundamen-tal para se realizar um bom in-vestimento.

“Perceber se omomentoeconômico epolítico sãofavoráveis à bolsa éo mais importante.”

Apesar de não dedicar seutempo somente aos investi-mentos, Fernando acredita queé possível se dedicar exclusi-vamente ao mercado de ações.Mas observa que é necessárioter muita disciplina e atençãoao mundo financeiro, que porser inconstante, pode gerarprejuízos para pessoas que to-mam suas decisões baseadas

apenas em dicas ou no “fee-ling”. “Acho possível viver ex-clusivamente de operações nabolsa via Internet, desde quese tenha muita disciplina, in-formações muito precisas ebastante sangue frio. Escolheruma boa corretora, começardevagar, investindo valoresque não comprometam seuscompromissos e que não fa-çam perder o sono em caso de quedas mais bruscas são fato-res importantes para obter su-cesso nesta área”, aconselha.

PraticidadeMais prático, Bernard indi-

ca que o passo inicial para in-vestir, é entrar no site da Bo-vespa, onde qualquer pessoapode esclarecer todas as dúvi-das iniciais e conhecer como oprocesso de investimento é fei-to. Segundo ele, fazer cursospara entender o mercado atra-vés da Internet é uma excelen-te saída para quem nunca tevecontato com Home Brokers,corretoras de investimentos oucom a própria Bolsa de Valo-res. “Com a ‘massificação’ des-te perfil de investidor, a biblio-grafia sobre este assunto ficoufarta. Na própria Internet exis-tem vários Guias de Investi-mentos muito bons, além devários livros que estão dispo-níveis no mercado. Um que euindico para quem está come-çando é o Mercado de Capitais:Fundamentos e Técnicas, doautor Juliano Lima Pinheiro”.

Além de proporcionar aoinvestidor praticidade e rapi-dez nas negociações, as corre-toras on-line oferecem vanta-gens como acompanhamentoda carteira de ações, acesso acotações, consulta a posiçõesfinanceiras on-line, extrato daconta, retiradas financeiras,notas de corretagem e envio deordens programadas. Mas pa-ra obter todos esses benefícios,o investidor deve ter atençãoredobrada na escolha da cor-retora, afinal, somente corre-toras de valores regulamenta-das na Bovespa podem ofere-cer serviço de Home Brokeraos seus clientes.

Os estilosde investir

Ao aplicar o próprio di-nheiro em ações da bolsa, ge-ralmente o investidor traça ob-jetivos que passam pela ex-pectativa de retorno e aversãoa perda do que foi investido.No limiar da trajetória encon-tram-se os mais diferentes ti-po de investidores.

Existem os conservadores,que procuram ter uma segu-rança alta dentro do mercadofinanceiro. Este tipo de inves-tidor aplica uma quantia me-nor de ativos, com menor ris-co e com retorno mais estávelao longo do tempo.

Existem também aquelesque são moderados. Estes ob-tém um retorno ao longo dotempo. Exemplificando, emuma escala de 1 a 10, ele arris-ca 5 de seus ativos.

Por fim, temos o chamadoinvestidor agressivo. Este apli-ca seus ativos em ações quetem um risco muito alto mas,em contrapartida, com retor-nos financeiros elevados. Ge-ralmente, são experientes.

Pode parecer tentador serum investidor agressivo. Con-tudo, é fundamental que se te-nha experiência para exercertais tipos de investimento, ca-so o contrário, grande perdaspodem acontecer àquelas pes-soas impulsivas que agem semconhecimento.

Aprenda obásico

O site da Bovespa ensina obásico para quem tem interes-se em entrar para o mundodos investimentos on-line.O que são ações?Ação é um pedacinho de umaempresa. Com um ou mais pe-dacinhos da empresa, você setorna sócio dela. Sendo maisformal, podemos definir açõescomo títulos nominativos ne-gociáveis que representam, pa-ra quem as possui, uma fraçãodo capital social de uma em-presa.Quais são os tipos de ações?As ações podem ser:- Ordinárias (ON): que conce-dem o direito de voto nas as-sembléias da empresa;- Preferenciais (PN): que ofe-recem preferência no recebi-mento de resultados ou noreembolso do capital em casode liquidação da companhia.Entretanto, as ações preferen-ciais não concedem o direitode voto, ou o restringem.Como posso investir emações?Você deve procurar uma Cor-retora de Valores. As Corre-toras e outros intermediáriosfinanceiros dispõem de pro-fissionais voltados à análise demercado, de setores e de com-panhias, e com eles você po-derá se informar sobre o mo-mento certo de comprar e ven-der determinadas ações paraobter melhores resultados.Além disso, você pode inves-tir por meio de Fundos deAções, administrados por umbanco ou mesmo por uma cor-retora, sendo que as decisõesem relação a quando e emquais ações investir, nesse ca-so, são tomadas pelo banco oucorretora. Outra opção é a deinvestir através de um clube deinvestimento, no qual um gru-po de pessoas físicas se reúnee procura uma corretora, pa-ra aplicar recursos em umacarteira de ações.

Paula Ribas 6º Período

Fonte: DataFolha

Fonte: Sebrae - MG

07 Economia - Investidores 10.08.07 15:48 Page 1

Page 8: Jornal O Ponto - Julho/agosto de 2007

E S P E C I A L08 o poBelo Horizonte – Ju

Editor e diagramador da página:

Tawé um povo

LÍGIA RÍSPOLI E

LÍDIA RABELO

8º PERÍODO

Karl Marx e Friederich En-gels ficariam com invejado nativo brasileiro Wal-ter Parreira, não neces-sariamente pela filosofia

que Walter passou em seu livro “Ta-wé – nação munduruku”, mas pelomotivo que gerou o livro. Marx foium grande crítico do excedente, ge-rador de lucros, na sociedade capita-lista. Engels, parceiro intelectual deMarx, é autor do livro “A origem dafamília, da propriedade privada e doEstado”. Na ditadura brasileira, en-quanto as notícias que se tem poraquele período é o de terror e tortu-ras, Walter e sua esposa colocaramuma mochila nas costas e partiramrumo ao desconhecido, a única cer-teza era de que iriam para o norte.Eles tiveram a oportunidade deaprender, ao vivo e a cores como umasociedade desprovida de proprieda-de vivia. E não eram os hippies, in-venção norte-americana. Eram osmundurukus, tribo indígena da Ama-zônia.

Longe do romantismo de José deAlencar, em que sua personagem in-dígena Iracema se apaixona perdi-damente por um branco, “sô Valto”,como era chamado pelo cacique Ta-wé, é que se apaixona por uma triboque nunca tinha tido contato com o

homem branco. Em uma experiênciaque pode-se dizer única, “sô Valto” esua esposa Maria Francisca, Kika, oumelhor, “Alê-alê-ô”, como a chama-va os curumins por ensiná-los músi-ca com esse refrão, passaram maisou menos 2 meses escondidos pelasmatas selvagens da Amazônia. Maseles não tentam ensinar os valoresocidentais para os índios e nem vãomorar para sempre com eles, vão co-mo visitantes e quando sentem inco-modá-los saem de suas moradas, semdeixar rastros de destruição.

Ser índio, de acordo com o Esta-tuto do Índio da Constituição Fede-ral de 1988, “é todo indivíduo de ori-gem e ascendência pré-colombianaque se identifica e é intensificado co-mo pertencente a um grupo étnicocujas características culturais o dis-tinguem da sociedade nacional”. Seríndio no Brasil de hoje também é ter12% do território brasileiro, paraquem já foi dono de 100% desse ter-ritório chamado Brasil, o equivalen-te a 247 povos ou 180 línguas que, deacordo com o ex presidente da Funai(Fundação Nacional do Índio), Mér-cio Pereira Gomes, em declaração àAgência Reuters em janeiro de 2006,os índios têm muita terra, o que cau-sou comoção entre lideranças indí-genas. Os índios, dentro da catego-ria de características que os distin-guem da sociedade nacional, explicaWalter, “não se encaixam no modocapitalista de produção”, em outras

palavras, não acumulam excedente.Se não existe esse excedente, todo diaé dia de caçar e garantir sobrevivên-cia, e se não há caça, há o risco demorrer de fome, daí a importância degrandes territórios para a sobrevi-vência do povo indígena. “São 12.000anos de registro de humanos no Bra-sil vivendo dessa maneira, conquis-tando o dia de hoje”, explica o autor.

E diante dessa dependência doque a natureza oferece é que o índionão poderia ter propriedade fixa, eletem que ir onde existe alimento. E étambém por isso que o índio não des-trói o ambiente em que vive: ele é asua sobrevivência. E também por is-so os filósofos europeus morreriamde inveja: antes da idéia do comunis-mo existir pelo mundo, as matas bra-sileiras já abrigavam povos sem bensmateriais, com compartilhamento desua produção, sem excedente. Wal-ter fala de uma anedota que conta-ram a ele: “Uma vez os índios foramcaçar com um homem branco. Pega-ram um jacaré para se alimentar. Ha-via outro, do lado, fácil de pegar. Ohomem branco pergunta: vocês tam-bém não vão pegar esse? E os índios,surpresos: Você come dois jacarés???Porque nós comemos só um”. Por es-se diferente modo de vida, é que a vi-são do índio sobre a natureza, sobrea terra, as mulheres, os curumins, afauna se diferencia tanto do homembranco, o que Parreira define comouma relação sagrada e que por mui-

to tempo passou uma idéia falsa deingenuidade dos índios, por exemplo,não ligarem para o ouro, já que nãoera de comer. E como Marx defendia,o homem pensa como vive.

Ideologia nas escolasWalter explica que não é por aca-

so a visão distorcida que o homembranco aprende nas escolas, do índioprimitivo, ingênuo, bobo. É que elesnão se adequam no modo capitalistade produção, e por nunca terem en-tendido muito a lógica do homembranco é que davam péssimos escra-vos. E se sentiam acuados, se suici-davam, ou melhor, se suicidam. Masquando tentam também se adaptar àsociedade, são vistos como “deserto-res”, que não tem nada de índio, e porisso não merecem direitos do Esta-do. Mas voltando aos bancos escola-res, é nele que os invasores ensinamàs suas crianças que o outro é infe-rior. “A escola procura formas deconvencer a sociedade, de maneiraque essa não se importe com as in-vasões. Como a sociedade legitimizaas invasões? Descaracterizando a cul-tura daquele povo, discriminando ooutro. É a mesma coisa dos EUA queinvade o Iraque: quem reage é terro-rista, o que acaba por deslegitimizarqualquer reação. O mesmo na Dita-dura brasileira: quem reagia tambémera subversivo”, explica Walter. E elelembra que a imprensa também estáa serviço dessa ideologia, de manei-ra a ocultar ou revelar os fatos, deacordo com conveniências dessaideologia. “Eu vou contar uma pe-quena história que aconteceu aqui emMinas Gerais, numa tribo dos Kre-nak, indo para o Espírito Santo detrem passa no território deles, um lu-gar maravilhoso. Eles têm um ritualde tempo em tempo pegar os malesda tribo e chegar às margens e jogarno rio para ir embora, é um ritual depurgação, de purificação, assim co-mo toda cultura possui, quando se re-za pelo sinal da santa cruz, você es-tá fazendo esse ritual, que é tirar osinimigos de perto da gente, candom-blé, umbanda, todos tem danças pa-ra espantar os males, dos Krenak éisso. Aí eles ficam em paz, apazigua-dos e continuam a viver. O que é queaconteceu com esse povo, dois qui-lômetros abaixo no rio, é que cons-truíram uma represa, então o que co-meçou a acontecer, na visão deles, éque os males começaram a ficar re-presados, não iam embora mais. Co-mo se o católico não pudesse mais fa-zer o sinal da cruz, os índios se de-sesperaram, não sabiam o que fazer,daí começaram a se suicidarem, por-que o mundo simbólico deles é outro.

O problema da terra é muito co-mum entre os índios, como explica omissionário frei Edison, na obra deWalter: “Há um mês atrás fazendei-ros invadiram e se apossaram dasmelhores terras dos Xavante e, se nãome engano, dos Kayabi. E a mesmacoisa numa outra região, chamadaDiamantino, em Mato Grosso. Lá, in-clusive, os índios começaram a pre-parar sua resistência. Mas eles vãopela via legal primeiro, pela lei do ho-mem branco – que ele próprio, bran-co, faz e não respeita. Nesse lugar,Diamantino, por exemplo, os índiospediram que o chefe da Funai na re-gião resolvesse o problema e ele nãoresolveu. Pediram, então, que cha-massem o presidente da Funai, e eleacabou indo mesmo lá, mas disse pa-ra esperarem porque ele não podiaresolver na hora – eles não aceitaram,claro. Ora, não podia resolver na ho-ra...! Os índios estavam sendo inva-

didos, eles não podiam esperar...! Es-perar o quê?! Se o governo não to-mava providências era porque, cla-ro, estava do lado dos fazendeiros –ou mineradores, não sei -, estava de-fendendo os interesses dos invaso-res. Eles queriam tempo, isso sim, pa-ra tirar os índios, e não os invasores.Mas os índios não aceitaram a len-galenga da Funai. (...) Exigiram en-tão a presença do ministro do Inte-rior – e ele foi, mas disse a mesma coi-sa, que precisava de tempo. (...) Co-mo não pode ser resolvido na hora oproblema de alguém ter invadido ese instalado em suas terras? Se al-guém entrasse na casa ou nas terrasdo senhor ministro, é lógico que elechamaria a polícia e resolveria o ca-so na hora. (...) Eles não arredaram opé e pediram então presença sabe dequem? Do Presidente da República!!!-dizendo assim: ‘ Ele não é um gene-ral (na época da Ditadura)? Então elepode colocar seus soldados para ex-pulsarem os homens de nossa terras-se ele não fizer isso, nós mesmos va-mos fazer!’ Eu não sei ainda como fi-cou...”

AlcoolismoA Companhia Pombal Arte Espa-

ço Alternativo, de teatro, esteve pre-sente em Belo Horizonte. A peça re-presentada na capital mineira, de acor-do com um ator munduruku, era paracontar um pouco a história de seu po-vo. O teatro trata do tema do alcoolis-mo, que tem sido um dos grandes pro-blemas entre diversas tribos. Walter,no livro, também aborda essa questãoao conversar com o próprio caciquesobre o assunto, no qual ele fala:“Quando o ‘civilizado’ dá ao índio umagarrafa de cachaça, ele sabe o quequer, ele já sabe aonde vai chegar. E,muitas vezes, ele não dá só a cachaça,ele dá presentes também para enga-nar. (...)Se um índio ganha uma espin-garda, ele vai ficar satisfeito, porqueela vai facilitar muito a vida, vai trazermais quantidade de caça, mais ali-mento. Mas onde ele vai fazer a muni-ção? Flecha, a gente faz toda hora,igual arco, armadilha para peixe. Mascomo a gente vai conseguir as balas?Aí vem a dependência.” Tawé lembraainda: “A vida do índio é dura, e a ca-chaça é uma ilusão que vem para en-ganar. A gente tem que tomar muitocuidado. O índio é bom, aceita tudo,aceita as coisas novas com facilidadee os homens ruins aproveitam isso. Oíndio não tem maldade, ele não vê amaldade que o pariwat (homem bran-co) tem, não entende que o pariwat táé interessado em tomar sua terra, fa-zer um garimpo ali, levar o que sua ter-ra tem.”Ser índio continua a ser tarefa árdua.De acordo com a Funai “hoje, no Bra-sil, vivem cerca de 460 mil índios, dis-tribuídos entre 225 sociedades indíge-nas, que perfazem cerca de 0,25% dapopulação brasileira. Cabe esclarecerque este dado populacional consideratão-somente aqueles indígenas que vi-vem em aldeias, havendo estimativasde que, além destes, há entre 100 e 190mil vivendo fora das terras indígenas,inclusive em áreas urbanas. Há tam-bém 63 referências de índios aindanão-contatados, além de existirem gru-pos que estão requerendo o reconhe-cimento de sua condição indígena jun-to ao órgão federal indigenista”. So-bre a importância dos índios hoje, Wal-ter explica: “Se eu pudesse eu coloca-va essa tribo (a que ele visitou) em umredoma de vidro, para ficar intocado,que era para a gente ver e também asgerações futuras, a sociedade evoluí-da que existe.”

O LIVRO NARRA UMA VIAGEM PELA SELVA DA AMAZÔNIA E RESGATA OS DESAFIOS ATUAISQUE OS ÍNDIOS ENFRENTAM NO BRASIL BIGODE BIGODEBIGODE BIGODEBIGODE BIGODE

Ilustrações cedidas por Ivana Andrés

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ontoulho/Agosto/2007

Leonardo Fernandes - 8º Período

E S P E C I A L 09

A peça de teatro “A sagados Munduruku” conta a his-tória de um índio que vive fo-ra da aldeia e que é afastadode um espetáculo por pre-conceito racial e cultural. Se-gundo o diretor da peça LuizVitalli a obra de Walter foi degrande importância para a pe-ça. Após conhecê-la, ele acres-centou várias coisas que con-siderou importante para o es-petáculo. Vitalli fala da huma-nidade com que Walter nar-rou a história dos Munduru-ku, e imagina um filme quan-do lê trechos do livro. Luís Vit-tali é diretor, ator de teatro, ci-nema e televisão, roteirista pa-ra televisão, escritor, teatró-logo e produtor cultural / mul-timídia. Além disso, é diretorda Cia Pombal Arte EspaçoAlternativo, Organização NãoGovernamental em Manaus,sem fins lucrativos com maisde 20 anos, que desenvolvetrabalhos na área de teatro,música, dança, artes visuais emanuais, literatura, dentre ou-tros.

O diretor esteve em BeloHorizonte em junho paraapresentação da peça “A sa-ga dos mundurukus”. Ele ofe-receu também um workshopcuja técnica trabalhada foi de“Teia Teatro”, que trabalhacom o envolvimento da platéiana construção coletiva de umapeça. O workshop foi ofere-cido no projeto “Sábado comArte” da Universidade Fumec.Abaixo segue a entrevistaconcedida pelo artista, na qualfala de sua vontade de trans-

formar o livro “Tawé- A sagados mundurukus” em um fil-me.

Luís Vitalli: Para falar da idéia,tenho que falar do livro, doWalter como pessoa. Esseacontecimento especial, esseencontro (entre eles) só foipossível através dos mundu-rukus, o que é muito inusitado.O livro é um romance apaixo-nante. A literatura de Walter écomo uma fotografia, um fil-me, ele conduz a gente no pro-cesso. Conduz a gente como sepegasse a nossa mão e fizessea gente viajar pelo mundo en-cantado que ele viajou. En-cantado que digo, não por umafloresta encantada, mas en-cantado pela forma como elese apropria das palavras. Euimagino tudo se transforman-do em cena. É um filme quepassa pela minha cabeça, euacho que ele quase não tem pa-lavras, é um filme mais de con-dução emocional e visual, por cau-sa da forma como ele olha.

Eu já passei muitas vezespor várias nações indígenas, jáfui em vários lugares. E o Wal-ter caiu como uma folha, paraque eu possa entender emo-cionalmente e intelectualmen-te os ensinamentos indígenas.O livro vai muito além das na-ções indígenas, ele conseguecolocar os próprios pensa-mentos, a narrativa faz comque a gente respire toda a at-mosfera. É um livro pedagógi-co, é um romance de ficção, éuma narrativa vivida, ele con-segue colocar tudo isso em um

só livro. É isso que me encan-ta da possibilidade de fazer umfilme.

OP: Fale mais sobre os índiosque moram na cidade, tema desua peça teatral.

LV: É que nem japonês quan-do sai de sua terra: continua aser japonês. É um aprendiza-do constante. Os valores (indí-genas) são outros, a perspec-tiva de vida é outra, a questãoreliogiosa passa por outro ca-minho. E o preconceito estáinstalado no ser humano, agente que se vigiar e policiar.No cotidiano mesmo fazemosisso, julgamos o outro. Ma-naus, por exemplo, que é umacidade cruel e desordenada,como a maioria das cidades,está meio de diversas naçõesindígenas. Para se ter umaidéia, o Brasil tem mais de 220nações indígenas diferentes.Quase que 220 línguas. E achoque isso é uma riqueza muitogrande, que a gente tem quesaber. Nós todos, brasileiros,somos descendentes de índios.Das três raças (africana, euro-péia e indígena), a mais forte éa indígena, mas é que mata-mos esta história, este passa-do milenar. Quando você vai auma aldeia, você percebe queesse passado milenar está pre-sente.

A peça conta a história doíndio que vai à cidade e bata-lha, sem perder identidade. Osatores são índios, representameles próprios e também per-sonagens “brancos”.

A campanha da fraternida-de promovida pela igreja cató-lica neste ano tem como tema“Fraternidade e Amazônia” ecomo lema “Vida e missão nes-te chão”. De certo modo se po-de desconsiderar a atualidadee necessidade em se tratar dotema em nossa sociedade con-temporrânea cerceada pelas in-justiças sociais, pela não cons-ciência em preservar a nature-za e tudo que nela existe, pelaarrogância e pelo poder.

Um trecho da oração de-monstra muito bem os proble-mas que os homens tem causa-do para a Amazônia e princi-palmente para o povo indígenaque com isso vem perdendo ter-ritório, os latifúndios que se es-tendem, o corte de madeira ir-regular que destrói a floresta, aprocura por minerais. “Nin-guém cuida melhor da florestado que o índio, ninguém temmais carinho pela mata, pelosanimais, pelas plantas do queele” relata Walter. Ele explicaque os índios tem um imensorespeito pela floresta e por to-do tipo de vida que ali existe,eles são os que mais preservama natureza. Essa discussão queé colocada pela igreja reforçaque existe algo muito impor-

tante que deve ser preservado,embora em alguns momentosa igreja por meio das missõesreligiosas seja contraditória emrelação aos índios. Como expli-ca o psicólogo, as missões porum lado atuam de modo favo-rável na defesa dos territóriosindígenas, mas por outro tra-zem consigo um discurso colo-nizador que desqualifica, des-caracteriza a cultura indígena.“As missões religiosas vêm im-buídas de fato de arrogarem umsaber civilizado que aquele sel-vagem desprovido de conheci-mento não tem, então desqua-lifica a vida do índio e os colo-cam como se eles fossem igno-rantes e selvagens, e daí passaro saber para eles, eles tem queencaixar nessa concepção de vi-da, nos nossos valores , que é aocidental e “civilizada”, esse éo discurso de todo colonizador,desqualificar a cultura do outropara impor e fazer valer a sua”,reforça Walter. Os Mundurukusvivem o evangelho, na opiniãode um missionário citado no li-vro “Tawé- nação munduruku”,que está no seu modo de viver,no respeito, no amor que temcom o próximo, embora não co-nheçam a Bíblia sagrada, pornão reconhecer a língua.

o e vários ensinamentos

Religião paraos índios

Livro pode se tornar um filme

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S A Ú D E10 o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editoras e diagramadoras da página: Luana Bastos e Poliane Bôsco 6º período

Fatores como a gripe impedem o comparecimento dos doadores de sangue; só em julho, o número de doações no Hemocentro de Belo Horizonte caiu 30% em relação ao ano passado

ENZO MENEZES

FELIPE IZAR

6º PERIODO

Durante o outono e o in-verno, os níveis do banco desangue das 19 unidades daFundação Hemominas sofremuma queda. A baixa no esto-que é devido ao grande nú-mero de doadores em poten-cial que ficam impedidos dedoar sangue porque contraí-ram o vírus da gripe – ou to-maram sua vacina preventiva.Outra razão é a maior ocor-rência de doenças respirató-rias, que passam a ser o focode campanhas de saúde, e achegada do período de férias.

O reflexo disso foi regis-trado pelo Hemominas: emabril, o comparecimento decandidatos a doação de san-gue caiu 50% em relação aoresto do ano. No mesmo pe-ríodo do ano passado, a que-da foi de 30%. Em maio desteano houve um desfalque de20% de candidatos. No iníciode agosto, os estoques estão30% mais baixos. A queda dedoações prejudica o banco desangue, que com um númerorestrito de amostras não dáconta de atender à demandados hospitais.

Segundo Flávia Loureiro,gerente técnica do Hemocen-tro de Belo Horizonte, umapessoa só pode doar sangueapós sete dias sem apresentarsintomas da gripe. “Para aspessoas que tomaram a vaci-na, o período se estende por28 dias”, explica. Flávia dizque o Hemominas atende cer-ca de 120 hospitais em BeloHorizonte e mais de 400 emtodo o Estado.

Transfusões Manhã de terça-feira, sala

de espera do Hemocentro daFundação Hemominas, na Ala-meda Ezequiel Dias, Belo Ho-rizonte. Hernani Marcelo deOliveira, 46 anos, aguarda an-sioso para o gesto que já setornou rotineiro em sua vida:o pedreiro já perdeu as contasde quantas vezes doou sangue,desde 1995. Em poucos minu-tos ele vai se deitar em uma ca-deira reclinável, ver seu braçoser esterilizado com álcool eem seguida sentir uma levefincada de agulha. Durante al-guns minutos seu sangue vaipassar por um tubo, e logo de-

pois ser recolhido por um téc-nico. Após identificação, ofrasco será levado para umhospital, provavelmente nãomuito distante dali, e um pa-ciente receberá a transfusão.A quantidade de sangue reti-rada pelo braço de Hernani ,meio litro, não lhe fará falta al-guma, mas poderá salvar a vi-da do paciente que o recebe.

“Doei pela primeira vezporque um amigo precisava.Tive a felicidade de saber quemeu sangue era compatívelcom o dele. A partir dessemomento, criei uma respon-sabilidade com a doação desangue e descobri que dessaforma podemos salvar vidas”,comemora Hernani. O pedrei-ro confessa que teve um pou-co de medo na primeira vezem que doou, mas garante nãoter sentido nenhuma dor. “Aspessoas têm medo. Tenho umamigo que até hoje não tevecoragem de vir comigo. Masrealmente não dói”, enfatiza.

A estudante Carina Borges,28, não conseguiu doar sanguenesse dia. “Hoje, infelizmente,não vou poder doar porque es-tou gripada”, lamenta. Ela ha-via marcado uma entrevista deestágio no Hemocentro e que-ria aproveitar para fazer suadoação. Apesar de não ter da-do certo, Carina mostrou in-sistência : “Mas vou voltarquando estiver melhor”, afir-ma a estudante.

Aline Pabliane, estudantede direito da Milton Campos,doou sangue há 3 anos, quan-do um parente precisou fazeruma transfusão. Desde então,a cada quatro meses procurao Hemocentro na capital. “Sódeixei de doar uma vez, por-que eu estava com pressão al-ta e princípio de anemia. Eusinto obrigação de doar, équase uma questão ideológi-ca”, acredita.

Combate ao estoque baixoO Hemominas já possui al-

guns métodos para reverteresse quadro, “Para suprir odesfalque de candidatos à doa-ção de sangue, nós usamos al-guns recursos para mobilizardoadores. Temos acesso a umalista com o cadastro das pes-soas que já doaram, e entra-mos em contato por meio detelefone e carta, com a inten-ção de convocá-las a uma no-va doação”, explica Dulce Ma-

ria Rodrigues, responsável pe-lo setor de captação da Fun-dação Hemominas. Ela contaque pelo telefone 0800-310101o candidato pode marcar o ho-rário e o dia em que deseja fa-zer a doação. “Há também areposição de sangue. Existeum convênio da Hemominascom os hospitais, no qual osparentes dos pacientes que re-cebem sangue são convidadosà doar”, afirma.

Outra alternativa a curtoprazo é a coleta externa. Ela éfeita fora da área física da Fun-dação Hemominas, e pode serrealizada em empresas, asso-ciações de bairros, universi-dades,e cidades da região me-tropolitana, mediante deslo-camento da equipe médica eequipamentos. Também po-dem ser realizadas palestrasde sensibilização antes do diada coleta.“Nestas palestars asdúvidas dos candidatos à doa-ção podem ser esclarecidas”,explica Dulce.

“Para que a coleta externaseja compensadora, é neces-sária a coleta de, no mínimo,50 bolsas de sangue. Existe umcusto relativamente alto parao deslocamento da equipe emontagem das condições deatendimento, de maneira amanter a segurança para odoador e qualidade do sanguecoletado. É necessário, por-tanto, realizar pré-cadastrodos candidatos”, salienta. Dul-ce Maria lembra que, de acor-do com a lei federal, o funcio-nário que efetivar a doação desangue tem direito a um dia dedescanso, negociado com aempresa.

“A coleta externa serve pa-ra conscientizar as pessoas so-bre a importância da doaçãode sangue. Além disso, facili-ta a vida do doador e o deixamais tranquilo, pois levamosos equipamentos necessáriosà coleta no seu ambiente deconvivência”, diz Zélia Ottoni,coordenadora do setor de Co-letas Externas do Hemocentrode Belo Horizonte.

Alguns pré-requisitos pa-ra quem quiser doar: ter de 18a 65 anos; peso acima de 50quilos; ter e estar com boasaúde; não apresentar sinto-mas de gripe e não ter tido he-patite após os dez anos de ida-de. Os homens podem doarsangue até quatro vezes aoano, e as mulheres, três.

Em busca de futuros doadores Numa manhã de terça-fei-

ra, um garoto tímido observa-va quem passava enquanto es-perava sentado no fundo dasala de espera do Hemocentroda capital. O jeito de meninologo se confirmou: “Tenho 16anos”. Mas para doar vocêprecisa ter ao menos 18. O quevocê faz aqui? “Estou aqui commeu padrasto. Mas quando eufor maior de idade vou doarsangue também. Quero salvarvidas”, argumenta.

Essa idéia do estudanteFrancisco Conrado pode serum retorno animador paraum projeto da Fundação He-mominas, “O Doador do Fu-turo”. O projeto tem o objeti-vo de informar e conscienti-zar a população sobre a im-portância da doação de san-gue, principalmente aos jo-vens menores de idade, quesão futuros candidatos à doa-ção. É, portanto, um planeja-mento a longo prazo desen-volvido pela Fundação.

Segundo Dulce Maria Ro-drigues, o projeto envolve pa-lestras em escolas, apresenta-

ção de teatros e organizaçãode gincanas relacionadas aosangue para as crianças, alémdo atendimento aos filhos dedoadores - enquanto eles es-tão no Hemocentro - atravésde jogos que se referem à doa-ção. “A intenção é alertar osjovens o mais cedo possível so-bre a importância da doaçãode sangue. Temos que trans-formar isso em um ato de ci-dadania”, explica.

O projeto conta tambémcom um “Curso de Mutiplica-dores”. “Esse programa servede orientação para pessoasque exercem influência sobreos jovens e têm muito contatocom eles - como professores -a disseminarem a relevânciada doação”, explica Dulce. Se-gundo ela, apenas campanhasde conscientização para todaa população podem ajudar asanar os problemas da falta dedoação de sangue, e progra-mas que contemplem ações alongo prazo podem contribuirpara os bancos de sangue da-rem conta das necessidadesdos hospitais.

Falta de consciênciaO Presidente da Associa-

ção dos Pais, Amigos e Pa-cientes de Doença Falciformedo Estado de Minas Gerais(Dreminas), Cláudio HenriqueMachado, diz que além da fal-ta de consciência das pessoassobre a importância da doaçãode sangue, ainda existem ou-tros motivos para preocupa-ção, a discrimiação racial.“Principalmente a anemia fal-ciforme – doença em que amaioria dos portadores sãonegros – há uma discrimina-ção muito grande. E isso vaidesde o atendimento - ou fal-ta de atendimento – ruim noshospitais até a dificuldade deinserção no mercado de tra-balho”, explica.

Cláudio conta que uma mu-lher teve que ligar para a polí-cia para conseguir que seu fi-lho fosse atendido em um hos-pital. Para ele, o ideal seria odesenvolvimento de um pro-jeto para inclusão social desspessoas, pois só assim a qua-lidade de vida delas seria dig-na de um ser humano.

Baixa no Hemominas FALTA DE DOADORES DIFICULTA O ATENDIMENTO Ã DEMANDA DOS HOSPITAIS DA CAPITAL

Enzo Menezes

O projeto “Doador do Futuro” pretende conscientizar os jovens sobre a importância da doação

Enzo Menezes

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E D I T O R I A ##o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editor e diagramador da página:

Coração quente paradias frios nos bancosde sangue.

Doe sangue e aqueça oseu coração.

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S A Ú D E12 o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editores e diagramadores da página: Enzo Menezes, Ana Paula Condessa, Rafael Barbosa e Lígia Ríspoli 6º e 8º períodos

ANA PAULA CONDESSA

8º PERÍODO

As medicinas chamadasalternativas ou complemen-tares são tradicionais emseus países de origem. Quan-do elas vêm para o Ociden-te, passam a ser vistas comum outro olhar, de algo mis-terioso, curioso, místico oumero charlatanismo. Isso sedá porque é a forma queolhamos para práticas medi-cinais desenvolvidas com ba-se em uma forma de pensa-mento diferenciada em rela-ção à linha ocidental, ou car-tesiana, da medicina tradi-cional. Elas são tratadas co-mo se fossem apenas algocomplementar à medicinatradicional. No entanto, es-sas técnicas nada têm de re-centes, já que a maioria exis-te há mais de 300 anos.

O médico Paulo Tavares

diz que esse preconceito é ge-rado pela própria herança cul-tural e pela forma como se deua formação do pensamentohumano ocidental. “A medici-na como conhecemos tem he-rança nos campos de batalhada Europa, dos médicos mili-tares que estavam ligados àguerra”, conta Tavares. Ele ob-serva que essa herança é en-contrada no uso das expres-sões da linguagem médica co-mo lutar contra a doença, le-vantar barricadas para prote-ger o doente e outras.

A própria forma como sedá o estudo da medicina naalopatia, em que o olhar domédico se volta para umaparte do corpo, pelas pró-prias divisões das especiali-zações médicas, se distanciado paciente, que tem suasparticularidades, seus hábi-tos, seus sentimentos e sofreà sua maneira. “O cliente an-da decepcionado com o aten-

dimento desumanizado nes-sa medicina”, diz Tavares.

Nesse contexto, surge aacupuntura, que faz parte damedicina tradicional chinesae tem registro de três milanos. A metodologia dessaprática considera a respostaindividual que cada pacientepode apresentar de formaque o equilíbrio é seu princí-pio básico de funcionamento.A doença na medicina chine-sa é vista como um desequi-líbrio da energia vital do cor-po causado por fatores inter-nos ou externos. “O corposem saúde está em desequilí-brio e a acupuntura age deforma a tentar reequilibrá-lo”,afirma Luis Cláudio, fisiote-rapeuta e acupunturista doInstituto Isisa/IMAM.

Outra prática com mais de300 anos de história é a ho-meopatia. Ela foi oficialmen-te introduzida no Brasil pelofrancês Benoît Jules Mure,

discípulo direto de SamuelHahnemann, pai dessa medi-cina. Mure chegou ao paísdepois de realizar uma pere-grinação na Europa, onde di-fundiu e divulgou os princí-pios da então nova arte médi-ca. Na homeopatia, a doençaé encarada como um dese-quilíbrio da energia vital docorpo. Há uma relação dosprincipais sintomas que éusada como parâmetro paraque o homeopata estabeleçaqual é a melhor forma de tra-tar a doença.

A medicina indiana che-gou recentemente no Brasil,mas já existe há 5 mil anos emsua terra de origem. Ela tra-balha com a prevenção dedoenças. O presidente do Ins-tituto de Terapia Oriental SolNascente, Ulisses Martins Fi-lho, diz que essa medicinapropõe dietas, exercícios físi-cos e boa alimentação, à ba-se de cereais, verduras, fru-

tas, alimentos naturais e semo consumo de carnes. Ele pre-ga a integração entre corpo eespírito e entre o meio e ossentidos.

O embate não se dá nosentido de que as medicinaschamadas de complementa-res neguem a medicina clás-sica, mesmo porque algunstratamentos necessitam deacompanhamento feito porexames da medicina clássica.“O grande segredo é englo-bar e integrar técnicas”, dizCláudio. Para ele não existeuma medicina melhor, mes-mo que ainda haja descrençasno tratamento das medicinasalternativas. “Tudo que pode-mos fazer em prol do pacien-te é o que vale”, conclui ele.

Por esse motivo o Ministé-rio da Saúde baixou decretopara integrar a acunpuntura aoSistema Único de Saúde (SUS),visando atender ãs diferentesnecessidades dos pacientes.

A indústria farmacêuticaserve e alimenta a medicinaalopática, que possui medica-mentos de grande eficiênciano tratamento de doenças.Mas há casos que não têm cu-ra na medicina tradicional ouque o medicamento serve ape-nas ao tratamento de algunssintomas. Muitas pessoas, pre-sas ao método ocidental, nãoconseguem se curar porquenão procuraram alternativas.

A indústria farmacêutica sealimenta do consumo dos me-dicamentos, mesmo em casosque outros tipos de tratamen-to dispensariam seu uso. Luis

Cláudio relata casos de pa-cientes, principalmente osmais idosos,que tomam co-quetéis de remédios diaria-mente, e poderiam ter seussintomas combatidos casobuscassem outros métodos detratamento, sem a ingestão defórmulas químicas, que atacamo organismo. “Os medica-mentos são padronizados, semlevar em conta as individuali-dades de cada paciente”, afir-ma. Assim, segundo ele, nãohá um esforço para curar odoente, e sim o de mantê-lo re-fém do remédio. Ele ressaltaque a indústria farmacêutica

tira a capacidade que o médi-co tem de fazer formulas indi-vidualizadas para cada caso.

As medicinas alternativastêm uma farmácia diferente,com uso de elementos naturaisque são receitados para o pre-paro pelo paciente, ou manipu-lados em farmácias com for-mulas individualizadas. “É pre-ciso entender que toda técnicatem seus limites, compreenderesse limite é muito importante”,alerta Luís Cláudio. O pacienteque tem de buscar bons profis-sionais precisa entender comoeles trabalham, para saber oslimites de cada atuação.

O Ministério da Saúde, em3 de maio de 2006, baixou umaresolução para implantar a acu-puntura, a homeopatia e a an-troposofia no SUS. A resoluçãofoi feita segundo o artigo 87 daConstituição Federal que tratada integralidade da atenção, doatendimento, como diretriz doSUS. A partir disso, surge oprograma de Homeopatia,Acupuntura e Medicina Antro-posófica do SUS, coordenadopor Cláudia Srass Santos, mé-dica homeopata, Nina TerezaBrina, médica antroposófica eIracy Aparecida Ansaloni Soa-res, farmacêutica homeopata.

Ele conta com 27 médicos: 16homeopatas, 9 acupunturistase 2 antroposóficos.

O número de consultas rea-lizadas nas medicinas alterna-tivas pelo SUS vem crescendo.Em 2003 eram 15.980 e passouem 2004 para 18.894, já em 2005foram 21.492 pessoas atendi-das. O início do tratamento sedeu em 1994 para a homeopa-tia e medicina antroposófica. Apercentagem de participaçãoda população, relacionada aonúmero de consultas é na ho-meopatia de 60%, na acupun-tura de 35 % e na medicina an-troposófica de 5 %.

Medicina entre ocidente e oriente

População temacesso pelo SUS

O paciente vai ao acupun-turista, depois de ter passadopor vários médicos, sem tercomo tratar suas dores nascostas. O homem não conse-guia andar de tanta dor e che-gou de cadeiras de rodas aoconsultório de Luiz Cláudio.Evitava movimentar-se muito,para não forçar sua coluna.

Já na primeira seção, após40 minutos com agulhas, elesaiu caminhando e deixou acadeira de rodas de lado. Naterceira sessão já saiu do con-sultório sem sentir nenhumador. Luiz Cláudio conta queforam três meses de trata-mento com acupuntura e quecom a redução progressiva dador, introduziu exercícios fí-sicos no tratamento.

Em um caso que ilustra es-sa interação, Cláudio contaque uma mulher apareceu noseu consultório com uma dorde cabeça intensa que se des-cobriu ser desencadeada porum cisto na cabeça; por issofoi necessário um acompa-nhamento neurológico, maso tratamento foi todo feitocom a acupuntura.

O professor Ulisses Mar-tins atende os pacientes emVenda Nova, na mesma casaonde mora. Logo na entradatiram-se os sapatos, deixadosà porta. Quando cheguei, eleatendia a três pacientes. Erauma família, a avó, a mulhere o marido. Eles afirmaramque o tratamento de suas do-res avançou consderavel-mente, e que obtiveram re-sultados que não foram con-seguidos com anos de tenta-tivas via alopatia.

Bruno Chiari - 5º período

A Homeopatia, descoberta peloalemão Samuel Hahnemann, se desenvolveu por volta de 1800.No Brasil a homeopatia surgiupelas mãos do francês BenoitMure em 1844, e funciona no SUSdesde de 1994.

A acupuntura surge em 90aC, há 5mil anos atrás na China. No Brasil aacupuntura foi reconhecida comoespecialidade médica em agosto de1995. O atendimento no SUS começoua ser realizado em 1996.

A medicina Antroposófica surge naEuropa Central. A pioneira dessetrabalho foi a médica Ita Wegma, em1920. No Brasil começa a ser praticadaem 1939, e está oficialmente presentenos serviços do SUS desde 1994.

História da medicina alternativa

90 a.c

1800 1920

10 a.c

A medicina Indiana foidesenvolvida a partir daépoca de Buda sendopraticada na índia desde10ac.

Arte

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Pacientes dizemque acupunturaé mais eficiente

A acumpultura é uma das práticas da medicina chinesa que trabalha o equilíbrio entre corpo e mente no tratamento de várias doenças

A MEDICINAALTERNATIVA E

REMÉDIOSNATURAIS

OFERECEMEQUILÍBRIO ENTRE

CORPO E MENTE,ALÉM DE

QUALIDADE DEVIDA PARA QUEM

PROCURA OPÇÕESQUE A MEDICINA

TRADICIONAL NÃOOFERECE

Alternativas para as fórmulasfarmacêuticas convencionais

12 Saúde - Medicina Altern 10.08.07 15:49 Page 1

Page 13: Jornal O Ponto - Julho/agosto de 2007

banais, frutos da solidão mascarada do indiví-duo. Quanta dificuldade, quantos “contras” elenotava ao seu redor. Tantas formas de controleexercidas nas pessoas, o tempo todo sentindo umcerto monitoramento de cada passo dado forade casa. Chegava mesmo a pensar se não o vi-giavam dentro de casa, quão absurdo seria! Tal-vez estivesse se tornando neurótico, ou coisa si-milar, pois pensava numa suposta conspiraçãocontra os direitos das pessoas, a ponto de as tor-narem meros fantoches do poder. Quanta lou-cura. Como manter sua própria identidade emum lugar que não é mais seu? Ficando o indiví-duo totalmente perdido, torna-se uma verdadei-ra batalha acordar e seguir em frente.

A manhã daquele dia estava muito fria, e elenão quis sair da cama. Sua mãe o chamou assimque percebeu que ele não levantaria para ir à fa-culdade. Num ato quase raro, ele disse não. Can-sara-se de fazer tudo sempre da mesma forma.Era tempo de inovar. Todos os dias ele estava so-zinho. Por dentro, um sentimento de coisa ne-nhuma. “Quanta bobagem querer sair do pró-prio mundo, da realidade!” Era o que diziam àsua mãe quando ela contava dos devaneios do fi-lho. Pobre mulher. Em seus olhos, o filho podiaver quanta decepção e tristeza que ela sentia, eisso o atingia profundamente. A dor da mãe, ador do filho, a casa cheia de dor espalhada.

O que sucedeu com ele, ninguém soube ou seatreveu a dizer. Tempos depois, a casa onde mo-ravam foi fechada. A mãe parecia ter se evapo-rado no mundo, nunca mais apareceram notícias.Por cima da cabeceira do jovem, um cadernogrosso chamava a atenção: “De volta ao começo– uma obra para quem realmente acredita nooutro mundo”. Silêncio.

C R Ô N I C A S 13o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editor e diagramador da página: Enzo Menezes 6ºperíodo

Morreu...Acode! Morreu...Estava esbodegado da noite passada. Meia gar-rafa de whisky ao pé da cama. Estava esbode-gado da vida... Tinha tripla. Dormia tranqüilo o sono pesado que é a morte.Olhos entreabertos e na cabeceira a imagem deNossa Senhora e um manual “Comece o dia fe-liz”. Virou Santo. Esqueceram-se os pecados.Que noites mal dormidas e bebedeiras sem fim?Traição? Que atire a primeira pedra quem nun-ca traiu.

- Esse foi digno. Nunca matou nem roubou.

- Esse vai cuidar de nós. Morreu santo. Mortesagrada de quem merece.

- Só vão assim, aqueles escolhidos!

Para trás deixou uma viúva comadre. Lia “150maneiras de paparicar seu marido”

A morteLeu o horóscopo: “Hoje, apesar de toda tensão que está ainda re-caindo sobre você neste momento, há uma ten-dência de se sentir equilibrado/a e com boa dis-posição para o contato social.Hoje, a Lua em Aquário promete revelar segre-dos e tirar estruturas falsas da sua vida. Preo-cupe-se menos com o trabalho e mais com a pes-soa amada neste dia. Sua atenção exagerada pe-los negócios pode deixá-lo/a ansioso/a demais eatrapalhar o bom andamento do trabalho.”

Como todo bom burguês assistiu a segunda edi-ção do jornal. (tinha discurso até para a morte).E como todo bom burguês dormia em cama se-parada. Afinal é um dos luxos da velhice, evitar oaborrecimento acumulativo de noites mal dormi-das, resultado de sucessivas cotoveladas e roncos.

Um bom horóscopo. Seria uma boa vida. Deve-ria estar certo. Afinal de contas trabalhou tan-to. Havia sido o monge e o executivo, o pai ricoe o pai pobre.Nada errado.Nenhum erro, errado.Com certeza eram perdoáveis. Uns tropeços aqui,buracos ali. O manual seguido a risca.Ninguém é perfeito!Mas hoje não pensava em vida e morte, pensa-va em delícias.Cansou de não fumar. Afinal era seu grandecharmeCansou de não beber. Era sua graça.Cansou de não comer gordura. Mataria por umalingüiça gorda, esguichando óleo e gordura.Queria sal, muito sal.Queria a vida ordinária, canalha.

Disse o médico:Um ataque cardíaco acontece quando parte de seucoração não recebe oxigênio em quantidade sufi-ciente. O coração é um músculo e precisa de oxi-gênio que é fornecido pelo sangue dos vasos san-güíneos, conhecidos como artérias coronárias. Um coágulo sangüíneo em uma dessas artériaspode bloquear o fluxo de sangue para o múscu-lo cardíaco o que acarreta prejuízos ao coraçãoe a depender do tempo de duração deste blo-queio, uma parte do coração morre fazendo com

que pare de funcionar corretamente. Ataquescardíacos podem ocorrer caso seu coração pas-se a precisar subitamente de mais oxigênio du-rante exercícios intensos. Fragmentos de coles-terol podem crescer no interior das artérias di-minuindo seu diâmetro. Além disso, coágulossangüíneos podem então se formar nesta arté-ria estreitada e bloqueá-la.

Mais foi porque estava na hora!Nada é por acaso!

A viúvaQuero de volta o que é meu por direito. Esse cor-po que é meu.Quero a mão.Só a mão já serve. Se bem que os braços também! Quero o corpo, o espaço que ele preenchia.Egoísta!Nem disso abriu mão. Essa vez era a minha.

........

Bati meu cartão de ponto. E pro inferno comtodos esses.O panfleto do céu tinha design mais atraenteque o da terra.

........

A viúva nada viu.Acordou e o viu duro, roxo.Dormia tranqüilo o sono pesado que é a morte.Olhos entreabertos e na cabeceira a imagem deNossa Senhora. Virou Santo. Esqueceram-se os pecados.

Dor que sufoca.

Eu nem sabia o que significava. Essa pala-vra nem ao menos me remetia a qualquer ou-tra para que eu pudesse vê-la num texto, fraseou, ao menos num dicionário. Não havia refe-rências. A conheci num tempo em que ela nãofazia muito sentido pra mim, mas foi mesmodesta forma, com a música. Duas vozes. Ins-trumentos. Doces. Graves. Melodia que fica namente e agrada o coração (antes era só a mú-sica que trazia essas sensações). Mas do que fa-lo aqui é do seu nome, não dela própria.

Palavra que começa com um arranhão masdepois se deleita. Não é grande, não é peque-na. É ideal. Mesmo que ainda vazia do signi-ficado que eu buscara, buscava, buscaria. Ounão. Ouvi certa vez: artesanato, madeira, pre-ço, relicário. Ahn?! Mas como condicionar umvalor a uma palavra feita também de madei-ra? Não pensei mais. A música afastou-se. Apalavra a seguiu e me deixou por um tempo.Eu disse, um tempo.

O cômodo colorido naquela rua de pedrasesteve lá desde o primeiro dos quatro dias e nooutro também, mas somente esteve lá. Feitopara olhar. Enquanto algumas horas se passa-vam daquele sábado nublado o cômodo pôdetomar forma. Antes disso: ansiedade, palpita-ção, insegurança, telefonemas, outras dúvidase mais outras. Um outro assunto. Não serviriade nada e nada serviu. O roteiro foi seguido,mas, desta vez, não estava mais condicionado.

Era fluido. Escadas, curva, bica, igreja, árvo-re, pedras. O cômodo tinha novos visitantes.Texturas, formas, laranjas, azuis e mais ama-relos, rosas e verdes e mais, e mais. No cantoesquerdo alguém apontou. Apontou para quê?Retangular, vertical, com abertura, um tipo detorre religiosa, enfeitado, detalhes. Precisavaser mesmo naquele lugar, rua, cidade, região,estado, país. Fiquei satisfeita. Dessa forma nãohavia mais como esquecer a palavra. Maisuma para o vocabulário, para a vida.

Mais sete dias. A palavra esquecida é ago-ra realmente parte da vida. O que está acon-tecendo? O dia amanheceu mais uma vez e apaz ainda não voltou. Continuo usando o co-lar, vendo milhões de vasos sem flor e tentan-do trocar a eternidade, mas isso não é permi-tido. Já tentamos. Várias vezes, cada vez mais,mas o esforço não foi o suficiente para vencero dia. De onde veio essa semente e para ondevai? Ninguém tem respostas. Todos só temoslembranças, mas agora lembranças preenchi-das. Desta vez foi a música que seguiu a pala-vra, e ganhou mais um seguidor. Agora somosdois. Seguidores conscientes e confusos. Oslábios não poderiam mesmo mais se tocar. Fo-ram embora. Outro lugar foi invadido. Mes-mo que seja estranho se sentirem agora comovelhos amigos. Mas as últimas três frases daúltima estrofe ecoam enquanto tentam (re-)conviver com a rotina, a saudade e o medo.

“Chorar a vida. Brindar à morte...Quem sabe o que é normal...

Refúgio perdido, liberdade banida.Corpo inóspito...

Descobre então uma alma insana...A alma que morre aos poucos,

perdida no vácuo de um pesadelo

Então é isso. Mais uma vez tentara em vãoentender o que se passava em seu interior, re-pleto de dúvidas e medo. O medo sempre o im-pedira de realizar seu mais antigo sonho, de serverdadeiramente livre. Mera utopia. Cada diase assemelhava a algo solitário, incompleto. En-tretanto, algumas vezes os dias lembravam umvelho vulcão, atormentado por sentimentos afli-tivos, e já cansado de queimar.

Notava-se que era um sujeito de poucosamigos, talvez por opção própria, apesar de,às vezes, queixar-se da falta de interesse dosoutros pela sua vida, bem como da falsidadealheia, considerada por ele como sendo umvício repugnante. Assim, acostumou-se a an-dar só... a chorar sem ter ninguém por perto.A falar para o vácuo. Essa vida farta de au-sências gerava nele um sentimento dilace-rante, queria se livrar de tudo o que lhe faziasentir prisioneiro. Da solidão, das dores in-definíveis, das incompreensões.

No parque de sua cidade, ele andava co-mo quem estivesse caminhando nas nuvens,meio disperso e observando os incontáveispássaros no céu. Os pombos despertavam cu-riosamente seu interesse. Gastava horas a fiocom eles. Suspeitava que a forma de amar dos

pombos era tão doce quanto a liberdade de-les... fazendo-os voar como o vento. O vento.Já havia escrito sobre o vento. “O vento meparece ser uma música que faz as flores dan-çarem... mas talvez nem todas dancem, pois ovento pode ser também uma música que só éouvida à surdina de um sonho”.

Quem o conhecia, sentia uma grande em-patia. Ele era uma boa pessoa. O que, então, ofazia se sentir isolado, sem compartilhar seusmomentos de forma completa, sempre descon-fiando e culpando-se? Certa vez resolveu refle-tir sobre o medo que o consumia dia e noite, so-bre o desejo pulsante de ficar em paz consigomesmo. “O paraíso visto na paralisação do me-do se torna um sonho acima da solidão. Comoser um grão de areia que recebe o fardo de umdiamante? Uma terra estéril não pode ser umcampo com pétalas que flutuam”.

Poucas relações tivera em sua vida insossa.Era um amante percorrendo caminhos incer-tos. Solitários procurando certos amantes. To-dos, no fundo, abandonados e prontos para se-rem aceitos. Escrevia todas as suas angústias eseus versos eloqüentes. Nas noites chuvosas, elesentia-se especialmente só. O caderno sobre amesa cheia de papéis e livros era sua única com-panhia. As folhas suportavam tudo. Passava mui-to tempo sentado na sua dura cadeira de metal.Lá fora se ouvia apenas os sussurros da noite.Era difícil dormir. Ele ainda morava com a mãe,no auge de seus 25 anos. Era uma controlado-ra, regulando seus horários e bisbilhotando suascoisas. Na verdade, isso refletia sua preocupa-ção materna. Afastava-se cada vez mais da vi-da que havia fora de sua casa, e seu mundo oesmagava sempre que tentava sair dele.

Certo dia ele estava no ônibus em direção àsua faculdade, quando um silêncio perturbadorse fez presente. Era curioso pensar naquelaspessoas sentadas umas do lado das outras, semdesenvolver ou sequer ensaiar qualquer comu-nicação...Era interessante, ninguém se conhe-cia, mas todos estavam ali, no mesmo lugar, tãopróximos e tão distantes ao mesmo tempo. Cla-ro que era algo insignificante, incomum de sepensar, mas ele assim mesmo pensara, e podiaver a solidão pairando sobre cada um envoltoem seu próprio mundo. Por que não conversar,não conhecer quem se senta ao nosso lado, afi-nal é algo sugestivamente amistoso, mas nin-guém naquele ônibus parecia querer sair de suaindividualidade. Nada. Nenhum som sequer en-tre as pessoas. Achou tudo meio estranho, sem-pre haveria de ter gente conversando, falandoexpressivamente...mas parecia que naquele dianinguém ali estava disposto a ser sociável. Pa-ra ele, especificamente para ele, não fazia dife-rença, ele também, de certa forma, detestavaquem quer que fosse puxando assunto a seu la-do. Uma intromissão. Definitivamente ele pre-feriria ser anti-social a um chato inconvenien-te. Então por que aquele silêncio total entre aspessoas o incomodou a ponto de o fazer pensarsobre aquilo? Seria um paradoxo pensar queele, sempre calado e inserido em suas idéias, in-comodava-se com o fato do silêncio e da indivi-dualidade das pessoas.

Ao longo do tempo, ele se via cada vez maisdeslocado da sociedade, do seu ritmo inquie-tante. O espaço virtual, onde grande parte daspessoas se encontra inserida, não o atraía emnada. Achava tudo superficial. Eram discursosque, aos olhos dele, não passavam de vazios e

O dia final LUCIANA FRAHYA - 7ºG

Relic

ário

MAR

IAN

A CE

LLE

Morreu MARCELABOECHAT

6ºG

8ºG

INCOMPREENSÃO EO ESTRANHAMENTODO COTIDIANO.DUAS CRÔNICASDESTA EDIÇÃOREVELAM SUJEITOSPERDIDOS. CONFIRAAINDA A SURPRESADE DESCOBRIR UMAPALAVRA ATRAVÉSDE UMA CANÇÃO.

Cristina Barroca- 7º período

13 crônicas 10.08.07 15:50 Page 1

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M Í D I A14 o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editor e diagramador da página: Cristina Barroca e Rafael Barbosa 7º e 8º períodos

((

Um parafuso a mais

CRISTINA BARROCA E HENRIQUE LISBOA

7º E 8º PERÍODOS

No dia 29 de maio o editor e idealizador da revista piauí, JoãoMoreira Salles, esteve na Universidade Fumec e realizou umapalestra no auditório Phoenix. João foi apresentado pela asses-soria de comunicação da Faculdade de Ciências Humanas e lo-go após pediu ao coordenador da mesa, o professor doutor Fra-brício Marques, para que direcionasse a conversa já que ele, Mo-

reira Salles, não tinha um roteiro pré-definido. Assim Marquesfez o prólogo e iniciou. João discursou sobre a rotina produtivada revista, sua gênese, a ausência de reunião de pauta, a influênciado documentário, até a origem do nome que, segundo ele, é apergunta mais feita sobre a piauí. Logo após a palestra o editorconcedeu uma entrevista à Radio Fumec e depois uma coletivapara os estudantes de jornalismo Ligia Dagostini, Rafael Bar-bosa, Lidia Rabelo, Ana Paula Condessa, Rubens Marra, Cristi-na Barroca e o professor Getúlio Neuremberg.

na mprensa

Cabelos pretos repicados,franjinha estilo gueixa, os ócu-los sem armação ao redor dalente e com as hastes grossase escura, blusinha regata rosacom a alça do sutiã branco àmostra. Ela surge com olharatento e apreensivo, comoquem enxerga de longe um pe-queno incômodo no canto doquarto:- Agora só tem um pernilongo.

Ela não mostra muita preo-cupação com a situação pois,parece estar certa que o fim doinseto de cerca de 15 mm e pe-so de apenas de 2 a 2,5 mili-

gramas, está chegando ao fim.Então, ela contorna a cama decasal no centro do quarto e seaproxima da vítima. Avista aarma do crime em cima da ca-ma e pensa rápido:- Agora eu vou matar!

Ela pega a revista piauí so-breposta na cama e se colocaem posição de ataque.“Olha o tamanho desse perni-longo!“ diz admirada. (PAH! PAH! PAH!)- Acho que matei.

Não satisfeita com o achis-mo, ela se curva ao chão, qua-se em posição genupeitoral, a

mesma em que napoleão ficouao ser impedido de montar emseu cavalo, para verificar amorte assassínia do inseto. - Matei. Tá aqui no chão.

Esta descrição de um vídeocaseiro e sem propósito, dis-ponibilizada no portal youtu-be.com, se tornou propagandada revista piauí. E esta é ape-nas uma das histórias inusita-das com que João Moreira Sal-les colhe risos dos alunos daFumec, durante a palestra. Arevista também já foi patroci-nadora oficial do I Campeona-to Mundial de Ioiô, realizado

em São Paulo, com dopping euma página reservada para ogrande campeão. Assim tam-bém, dedicou página de agra-decimento ao então ministro,mas agora ex-ministro da de-fesa, Waldir Pires. Uma home-nagem de gratidão pelo au-mento das vendas de exem-plares nos aeroportos brasilei-ros, em tempos (ainda presen-te) de apagão aéreo. A revistapara quem tem um parafuso,ou pernilongo, ou ainda umioiô a mais é dificilmente defi-nida pelo seu autor como sen-do bem humorada, e sem ge-

neralizações. “A gente sempreencarna as histórias num per-sonagem singular. Ela é meioinvertebrada, no sentido deque ela não tem editoria, elanão tem colunas, ela não tempáginas que pertencem a Fu-lano ou Beltrano. O que per-mite que a revista mude mui-to a cada número.” Com umaredação pequena, com cercade 13 pessoas nunca houveuma única reunião de pautapara predeterminar os assun-tos do próximo número. Aforma de tratar um tema comoviolência e extorção, se sinte-tiza no exemplo do seriadoamericano, “24 horas”, em quesoldados estadunidenses noIraque, estariam sendo in-fluênciados pelas cenas de tor-tura da série.

O nome piauí foi escolhidopor ser cheio de vogais, e apartir de uma teoria de Gil-berto Freyre, de que os paísestropicais são de nomes moles,simpáticos, o que torna o no-me da revista doce e de fácilapego afetivo, de acordo como seu idealizador. “Piauí foi oprimeiro nome que me ocor-reu quando eu pensei na re-vista. E não como um deboche,como as pessoas a princípioacharam. Eu não tenho nadacontra o Piauí , para a falar averdade, nada a favor também.Eu nunca fui ao Piai... na ver-dade, eu já fui quando eu tinha15, 16 anos de idade. Foi mui-to rápido e bom, mas não foi aviagem mais marcante da mi-nha vida. Não tive nenhumaepifania no Piauí.” Como qual-quer outra revista em seu iní-cio, a revista encontra suas di-ficuldades no mercado brasi-leiro mas, João Moreira Sallesgarante “a piauí vai existir pormuito tempo, mesmo perden-do dinheiro. Mas é claro queela não foi feita para perder di-nheiro, então a gente imaginaque dentro de quatro ou cincoanos a gente consiga recupe-rar o que foi investido nela, eque a partir daí ela seja umarevista que caminhe com aspróprias pernas e possa seeternizar.”

O PONTO: Por que o nomepiauí e qual a linha editorialda revista?João Moreira Salles: Essa éuma pergunta de 1 milhão dedólares. A piauí é uma revistade assuntos gerais, e eu achoque o que a define é a maneiracomo os temas são tratados,porque vários deles são com-pletamente fora do radar da im-prensa tradicional. O nome, decerta maneira, indica isso. Apiauí aponta para um Brasil quenão é muito coberto, e é umpouco a vontade da revista fa-zer isso: trazer histórias. É umarevista sobre assuntos periféri-cos, e não necessariamenteuma revista que trata das can-dentes questões brasileiras. Agente foge dessas coisas.

OP: Vocês trabalham com co-laboradores voluntários oupessoas fixas? E são remu-neradas? Como é que é a es-trutura lojística da redação?JMS: Tudo. A gente trabalhacom uma redação de 13 pes-soas. Fica no Rio de Janeiro, oque eu acho que dá à revista,não um tom carioca, que elanão tem, mas ela fica mais re-laxada, digamos assim. E euacho bom que a revista não se-ja uma revista muito dura e se-vera. Não é uma revista escri-ta por jornalistas e nem sequerpor escritores, ainda que jor-nalistas e escritores escrevampara a piauí. Tem sambista, temuma matéria escrita pelo TomZé. A gente já publicou um diá-rio de um ascensorista. Vocêpoderia imaginar, em primei-ra mão, que nada mais semgraça que a vida de um ascen-sorista - naquele negócio su-bindo e descendo - e ele escre-veu um diário de uma semanasobre a vida dele. E é maravi-lhoso! Porque a especificidadedo ascenssorista é que ele sóouve as histórias até a metade.Ele nunca sabe o fim. Porqueas pessoas saem quando con-tam o resto. Tem pedreiro, temcostureira, tem médico e temestudante de jornalismo. Todomundo escreve para a piauí.

14 15 joao moreira 10.08.07 15:50 Page 1

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OP: Por dirigir documentá-rios, o senhor possui uma sig-nificativa experiência na áreada comunicação, porém umpouco diferente, apesar de teralguma semelhança com ojornalismo. Brincando umpouco com o campo do cine-ma e do teatro, como foi o seulaboratório para fazer o jor-nalismo impresso?JMS: Para mim, é quase o con-trário. Eu aprendi a fazer do-cumentário lendo textos de não-ficção. Especificamente um de-terminado tipo de jornalismoque foi inventado nos EUA, queganhou o nome de jornalismonarrativo, seja lá o que for. Es-ses textos clássicos influencia-ram muito na minha maneirade fazer cinema. Então eu diriaque o caminho é inverso, querdizer, eu aprendi a fazer docu-mentário lendo. Eu fiz um do-cumentário sobre o NelsonFreire e eu filmei durante doisanos. É claro que nenhuma ma-téria será apurada ao longo de2 anos, mas nós temos matériasque são apuradas ao longo de3 meses, o que significa que ojornalista fica em contato comseu personagem ao longo detrês meses. Esse é um prazo quenão existe na imprensa brasi-leira. Essa é uma definção queeu trouxe do documentário:tempo. Ela precisa de tempo.

OP: Eu conheço pessoas quenão têm uma formação liga-da, digamos assim, à cultura,o jornalismo, e acabam fa-zendo essa incursão. E a suaformação é econômica. Comofoi essa incursão no docu-mentário e também no jorna-lismo, a partir do momentoque você abriu esse espaçopara criar uma revista?JMS: No documentário foi poracaso. Eu me formei em eco-nomia, foi um curso que eu nãome arrependo de ter feito. Naépoca, o grande problema doBrasil era a inflação, era im-possível viver nesse país comaquelas taxas que chegavam a80% ao mês. Era como hoje é aviolência, digamos assim. Eu es-tudei no departamento de eco-nomia da PUC, e como os pro-fessores eram exigentes, os alu-nos também precisavam ser,porque se não eles dançavam,eram jubilados por falta de no-tas. Então eu aprendi a estudar;eu fui um bom aluno de econo-mia. Mas eu sabia que eu nãoseria um economista. Ao meformar, o Waltinho (Walter Sal-les), meu irmão, tinha acabadode voltar do Japão, e trouxe 70horas de um material que ele ti-nha filmado, e me pediu paraorganizar aquilo. E eu organi-zei. Fiz o roteiro, fiz o texto, e asérie se chamou Japão e foi aoar pela Manchete. Deu certo, e,no ano seguinte, eu estava fil-mando na China, EUA, e nun-ca mais parei. Eu não sou umcinéfilo, eu não sou um voca-cionado para o cinema. Em re-lação ao jornalismo, foi comoeu já falei, eu sempre fui maisinfluenciado pelas coisas que euli, do que pelas coisas que eu vi.É uma transição natural. A piauífica no mesmo prédio da vi-deofilmes, quer dizer, eu suboum andar, eu sou documenta-rista; eu desço um andar eu soupiauiense. Tudo isso no territó-rio da não-ficção.

OP: Muitas revistas buscamum público específico, bus-cam se especializar em meioa esse novo mercado, e eugostaria que você falasse umpouco sobre qual é o lugar darevista piauí neste meio de es-pecialização e segmentação.JMS: A gente se posiciona emlugar nenhum. Porque nós nãosomos uma revista especializa-da, nós somos uma revista depúblico geral. É mais uma coi-sa à contra-mão. Não somos

segmentados, o que é difícil pa-ra o mercado publicitário, por-que ele não sabe direito quemé o leitor da piauí, e nós tambémnão. É difícil definir nosso pú-blico. E eu te diria, quando foicriada essa frase, que é diverti-da, ainda que seja um pouqui-nho pretenciosa - “A revista pa-ra quem tem um parafuso amais” - é de certa maneira o quea gente imagina que seja o lei-tor da piauí. É um cara que pro-vavelmente tem um nível uni-

versitário, uma pessoa curiosaem relação ao Brasil, normal-mente alguém que lê, que fre-quenta livraria, que está insa-tisfeito de certa maneira, ouacha que a dieta da imprensabrasileira não é suficiente parao apetite que ele tem. O que nãosignifica que a imprensa brasi-leira não seja boa. Ela é muitoboa em alguns momentos, masela é muito parecida. Então eume senti um pouco órfão. Eunão encontrava na banca umarevista que me desse outro tipode coisa. Que a Veja, Época,Bravo, todas essas revistas dão,entende? E a piauí foi criada pa-ra oferecer uma alternativa.Não é uma revista que se possacomparar a qualquer outra. Aquestão é saber qual é o tama-nho do orfanato. Se for grande,a revista vai dar certo, se for pe-queno, não dará, se for médio,ela existirá ali na linha da água.Por enquanto, parece que o or-fanato não é tão pequeno quan-to as pessoas imaginam.

OP: A sua trajetória e a da re-vista se misturam um poucopor causa da perspectiva crí-tica. Fale da importância des-se viés crítico, que está fal-tando nos jornais tradicionais.Como vocês procuram colo-car isso na revista?JMS: É um grupo de pessoasmuito diferente, mas que sãomeio parecidas, em espírito, eudiria. São pessoas que estão umpouco cansadas. Eu estou umpouco cansado da imprensa

que urra, que berra, que é in-dignada, que denuncia, o quenão quer dizer que isso não se-ja importante. Eu acho que éimportante ter uma imprensaaguerrida, que fique no calca-nhar das pessoas, que denun-cie, mas não pode ser só isso,não pode ser só leituras irrita-das. Há maneiras e maneiras dese fazer críticas. Uma delas éserrar o punho, levantar ouapontar com dedo e dizer “vo-cê é culpado”, a outra maneira,

que é a maneira da piauí, é atra-vés da ironia, do sarcasmo, dohumor, é através de não se le-var a sério pessoas que seacham sérias. Nunca ridiculari-zar, porque é um gesto de cimapara baixo, mas eu acho que asátira é importante. Eu achoque a ironia com os poderososé importante. E toda vez que apiauí mostrar seus caninos nun-ca vai ser gritando, urrando, de-nunciando, berrando, mas vaiser um pouco como nós fizemoscom o Waldir Pires ( ex-minis-tro da Defesa) no anúncio quepublicamos em homenagem aele por ele ter sido tão eficienteem atrasar todos os voôs doBrasil. Porque em função disso,as pessoas puderam ler a piauínos aeroportos. A gente vendeumuita revista. E essa é uma ma-neira de dar uma rasteira me-lhor. De tanto berrar, ninguémmais ouve. Ela não é o “planetadiário”, não é o “casseta”, porisso é muito difícil definí-la. Elaé séria, ela é tola, ela é diverti-da, ela é sisuda, ela é tudo aomesmo tempo. E é muito varia-da, então, é muito difícil que vo-cê abra a piauí e não encontrealguma coisa que você real-mente goste e queira ler. Aomesmo tempo, eu acho que édifícil você ler ela inteira. Por-que de repente tem o perfil deum banqueiro e você não se in-teressa, mas tem um grupogrande de pessoas que se inte-ressam. Aí você vai ler Molvâ-nia, que é um país que não exis-te e que é divertidíssimo. Então,

tem sempre alguma coisa quevai te pegar na piauí, porque elaatira para todos os lados. É umametralhadora giratória.

OP: O que você acha do jor-nalismo narrativo no telejor-nalismo brasileiro? Ele exis-te? Em que medida ele exis-te? Deveria melhorar? Por-que essa é uma proposta dejornalismo interessante. JMS: De que jornalismo? Medá um exemplo.

OP: Por exemplo, você achaque a Rede Globo faz...JMS: Não!

OP: ... um telejornalismo nar-rativo.JMS: Não! O que a Rede Globonão faz é aquilo que ela já fez hátempos atrás, na época do Glo-bo Repórter, da década de 70.As reportagens hoje geralmen-te fala do Tuiuiu, da marmotado campo, do Pantanal... Elesadoram o Pantanal! A cada qua-tro Globo Repórter, três são so-bre o Pantanal. Eles têm um fas-cínio pelo boto cor de rosa. Masé a velha linguagem que existedesde a década de 30. Um re-pórter que narra na terceirapessoa, que aparece diante dacâmera e faz as cabeças. Quan-do ele entrevista alguém, temsempre o plano de corte paraele, que é feito depois, porquea gente sabe que só tem umacâmera e ele fica dizendo quesim com a cabeça como se eletivesse ouvindo o que a outrapessoa estivesse dizendo aque-la hora. É uma linguagem ab-solutamente envelhecida que seutiliza na televisão há mais de40 anos. Não tem um pingo decriatividade. Onde é que vocêvai encontar criatividade na Re-de Globo? Certamente não é noGlobo Repórter. O Luciano Car-valho faz coisas que inovam. Eunão gosto de todas elas, mas elefaz. O núcleo do Guel Arraes fazalgumas coisas que tentam rein-ventar. Na televisão, o Ermano

Viana e a Regina Casé estãotentando uma maneira de lidarcom o real, que não é a tradi-cional, mas que eu acho quetem problemas. Eu acho que aRegina Casé se sente mais im-portante que o tema. Agora,parabéns pelo fato de tentarmudar a forma. O diabo, é queas pessoas não acham, ou ain-da não se deram conta de queo essencial não é o Pantanal, éa forma como se trata o Panta-nal. E ainda tem a coisa abo-

minável do repórter participa-tivo, que veste máscara, mer-gulha, ou salta de helicóptero,enfim, essas coisas são gastase velhas. Eu pergunto: qual foio último Globo Repórter que fi-cou na cabeça de vocês? (silên-cio por 3 segundos) Não ficounenhuma. Acho que isso é sin-tomático.

OP: você identifica jornalis-mo que trabalha com a nar-rativa em outras publicaçõesno Brasil?JMS: Certamente na internettem muita coisa. No jornalismoimpresso está havendo esse flo-rescimento de revistas novas,que indicam que as pessoas es-tão querendo escrever de for-ma diferente. Algumas maté-rias da Rolling Stones tem isso.Nenhuma revista cuida tantodo texto quanto a piauí, o pro-cesso de edição é muito demo-rado. O texto vai para o editor,volta para o autor, o autor me-xe, volta para o editor... Algunstextos são escritos e reescritosquatro ou cinco vezes. Depoisvai para uma editora de estilo,gramática, coerência, clareza edepois para um checador. Naimprensa brasileira hoje emdia, só tem duas publicaçõesque tem checagem, a piauí e aVeja, o que é provavelmente im-pressionante, e assustador. Eeditor de eslito, gramática, cla-reza, fluência de texto, só a piauítem. Agora, eu acho que vocêencontra aqui, ou ali, matériasque são muito boas, e que vão

um pouco nessa veia de um jor-nalismo que nao tem que res-ponder logo de cara aquelascinco famosas perguntas, queeu não sei nem quais são,“quem”, “como”, “onde”, “deque jeito”, “se vestido ou não”.Nós não temos isso.

OP: Com o enxugamento dasredações nos meios impres-sos, por questão de custos,muitos jornalistas procurama Internet, principalmentenas formas dos blogs; procu-ram fazer um jornalismo li-terário na Internet, quebran-do com essa ditadura do lidee sublide. Como você vê esseadvento dos blogs?

JMS: Eu acho muito bom esaudável, porque indica que aspessoas querem ler e escrever.Me dá um pouco a sensação deque a gente voltou ao século 18,em que as pessoas escreviamdiários. Aqueles romances epis-tolares. A primeira pessoa queme indicou isso, curiosamente,foi o Humberto Eco. Me lem-bro de ler, há uns 10 anos, eledizendo que a Internet recupe-raria o gosto da leitura e da es-crita. E eu acho que ele tem ra-zão. Eu não sou nenhum leitorde blog não, mas alguns eu ve-jo, nenhum com regularidade,mas um dos problemas dosblogs, eu acho, é o excesso denarcisismo. Os blogs são sem-pre escritos a partir do próprioumbigo, e nem todo mundotem uma vida interessante, oupor outra, talvez todo mundotem uma vida interessante, masnão sabe escrever com interes-se a vida que leva. Na maioriadas vezes, os blogs dizem maisou menos a mesma coisa: “euestou aqui entediada, sábado demanhã, está chovendo lá fora,eu estou olhando pro meu livroaberto do Johnny Fontane -sempre o Johnny Fontane, eunão entendo porquê, mas osblogueiros sempre tem um li-vro aberto do Johnny Fontane- e aí falam da música que estãoouvindo, há um certo tédio exis-tencial, não vale mais a penasair, “o que eu faço da minha vi-da? Passei dois dias inteiros as-sistindo televisão”. Não sei, temalguma coisa um pouco com-placente nos blogs. Parece queas pessoas estão com poucaenergia e garra para sair lá fo-ra e falar de outras coisas quenão sejam de si mesmas. Então,tem muito blog que sofre dessemal, o mal da primeira pessoa.

OP: Você tem ministrado mui-tas palestras em centros uni-versitários. Como avalia esseinteresse dos jovens porgrandes reportagens, pelojornalismo narrativo e pelapiauí? JMS: Eu acho o máximo por-que tentaram me convencerque uma revista dessas era sópara quem tinha mais de 40anos de idade. E que quem temmenos de 30, não tem paciên-cia para ler textos longos. Masao contrário do que as pessoasdizem, há um equilíbrio. É evi-dente que nem todo mundo tema vontade de ler a piauí, masmuita gente tem. E o que eupercebo nas universidades é umentusiasmo muito grande e euacho que é sincero, de pessoascomo vocês, que conhecem arevista, e escrevem para as se-ções, e que dizem “olha, nãogostei disso, não gostei daqui-lo”. Tem comunidades no orkutsobre a piauí, as pessoas dis-cutem apaixonadamente a re-vista, e eu acho que essa é umaótima notícia. Eu tenho im-pressão de que a Veja não inte-ressa muito a quem tem menosde 30 anos de idade. Vai ler porobrigação, porque é a revistamais importante do Brasil. Maseu não sei se é uma revista lidapor prazer.

M Í D I A 15o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editor e diagramador da página: Cristina Barroca e Rafael Barbosa 7º e 8º períodos

“ A CADA QUATRO GLOBO REPÓRTER, TRÊS SÃO SOBRE O PANTANAL. ELES TÊM UM FASCÍNIOPELO BOTO COR DE ROSA. MAS É A VELHA LINGUAGEM QUE EXISTE DESDE A DÉCADA DE 30.”

João Moreira Salles e amistura da piauí

14 15 joao moreira 10.08.07 15:50 Page 2

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E S P O R T E16 o pontoBelo Horizonte – Julho/Agosto/2007

Editor : Rodrigo Bertolini/ Diagramadores: Rodrigo Bertolini e Rafael Barbosa: 7º e 8 períodos

CalvárioVICTOR DE OLIVEIRA

BRUNO MARTINS

6º período

O juiz vai apitar o fim do jo-go, olha para o meio de cam-po, e termina a partida. RioBranco de Andradas dois,América zero. Com apenasquatro pontos ganhos em dezjogos disputados, o Américanão tem mais chances de es-capar da zona de rebaixamen-to e agora está matematica-mente rebaixado para a Se-gunda Divisão do Campeona-to Mineiro.

O único decacampeão mi-neiro, clube que completou95 anos de história no cenárioesportivo nacional este ano,entra na sua pior fase, com aconfirmação da descida parao módulo II -segunda divisão-do campeonato mineiro. Masesse problema não é novida-de para o clube, que nos últi-mos anos disputou a Série Ae hoje se encontra na Série C– última divisão do campeo-nato nacional-, e para piorara situação, esse ano sua parti-cipação foi vetada após o re-baixamento no campeonatoestadual.

Para o presidente damaior torcida organizada doclube, a Seita Verde, CarlosAmeba, é inegável que essaé a pior crise no clube e tal ex-plicação se deve as sucessõesde más administrações. "OAmérica foi dilapidado aolongo dos últimos anos porgestões irresponsáveis e ime-diatistas que quebraram oclube. A queda para a Série Cfoi anunciada, o América es-teve perto de cair em 2003 enada foi feito para que issonão se repetisse no próximoano . Sem planejamento esem um time competitivo, caí-mos em 2004. De lá pra cá co-meçou o inferno astral ame-ricano, que culminou com es-te rebaixamento vergonhosono Campeonato Mineiro".

O representante da banca-da do Alterosa Esporte, Otá-vio de Toledo,também com-partilha da mesma opinião, pa-ra ele o América sofreu deconsecutivas administraçõesincompetentes e desastrosasque fizeram péssimos contra-tos que acarretaram em 30 mi-

lhões de dívidas trabalhis-tas."Não existe sorte ou azarno futebol, existe competênciae trabalho ou incompetência efalta de trabalho. O Américateve dirigentes que não sou-beram administrar e não en-tendem nada de futebol. Fo-ram gradativamente afundan-do o clube até a terceira divi-são. Nem na terceira esse anoele está,e agora caiu pra se-gunda do mineiro".

Categoria de Base O América sempre foi re-

conhecido nacionalmente pe-las suas revelações provindasdas categorias de base, quesempre tiveram lugar de des-taque dentro do clube. Váriosatletas saíram do clube para setornarem reconhecidos joga-dores do futebol mundial che-gando a vestir a amarelinha daseleção. São exemplos recen-tes o Wagner, que agora está

no futebol árabe, o Fred queatualmente está no Lyon daFrança, Gilberto Silva no Ar-senal da Inglaterra, além de jo-gadores do passado como Tos-tão e Éder Aleixo que ficaramconsagrados no futebol ves-tindo a camisa dos seus rivais.

Apesar de grandes talen-tos revelados e vários títulosnos campeonatos de base, oclube sempre pecou na vendadesses jogadores ao negociarvalores abaixo do mercado dabola. Incompetência dos diri-gentes, amadorismo ou sim-plesmente necessidade de di-nheiro para pagar as contas,são as respostas para os ca-sos ,como do Evanilson, hojeno Sport Recife. Vendido pa-ra o Cruzeiro, o jogador foirevendido seis meses depoispara o futebol alemão 10 ve-zes a mais do valor que foracomprado Casos semelhantesaconteceram nas vendas dos

passes de Gilberto Silva, Frede Wágner.

Para piorar a situação dabase americana, o Cruzeiro,este ano, emprestou ao clube,alguns jogadores juniores ven-cedores da copa São Paulo -principal campeonato da cate-goria júnior do futebol. Os jo-gadores chegaram ao novoclube para integrar o elencoprofissional do coelho, o quelimitou as chances dos junio-res do próprio clube partici-parem do elenco principal. Ofato foi duramente criticadopor vários torcedores.

Pensando nisso, JorgeMurta, vice-presidente das ca-tegorias de base do clube,anunciou que será criada a As-sociação Amigos da base, quepretende reviver os tempos deouro da base americana. Com-posta por torcedores ilustres,a base terá um investidor queterá direito a um percentual

na venda de dois jogadorespor ano: "Vamos abrir o lequee outras pessoas poderão in-vestir", declara Murta. Atual-mente o custo mensal das ca-tegorias de base gira em tor-no de R$ 120 mill por mês.

Reconhecendo o atual su-cateamento da base, MoisesTeixeira, coordenador geraldas categorias de base, acre-dita que esse novo projeto se-rá de total importância parabase do América e ressaltaque todo atleta do clube terábenefícios médicos, psicoló-gicos, dentários, e principal-mente educacionais: "Esseprojeto vai dar uma nova es-trutura física à base do Amé-rica e iremos voltar a ser umreconhecido celeiro de jovenstalentos", resalta. O objetivo,segndo Moises, é não deixarque algumas jovens promes-sas deixem o clube precoce-mente.

COM O REBAIXAMENTO NO CAMPEONATO MINEIRO, COELHO BUSCA REESTRUTURAÇÃO

Já não bastavam as crisesfinanceiras que todo clubebrasileiro normalmente têm,o América praticamente eli-mina qualquer forma de re-ceita esse ano com o seu fute-bol. Com o rebaixamento nocampeonato mineiro, e a nãoconquista da vaga para a sé-rie C do campeonato brasilei-ro, o clube fica a mercê deamistosos até a chegada daTaça Minas Gerais, que tem oseu inicio previsto para se-tembro.

Sem o futebol, não há pa-trocínio, sem patrocínio nãohá receita. Então como o clu-be fará para honrar com seuscompromissos financeiros,com seus funcionários e atle-

tas? Afinal, quem investiria éem um time na atual situaçãodo América?

Segundo o vice-presiden-te de patrimônio, Olímpio Na-ves, a solução imediata estásendo a permuta do terrenoTrês Barras – localizado nocentro de Contagem, na Re-gião Metropolitana de BeloHorizonte- que viria em trocacom uma construtora. Alémda realização de construçõesde benfeitorias no local e noCT , seria cedido ao clubeuma participação no aluguelde apartamentos.

“O nosso objetivo é gerarreceita, por meio do patrimô-nio do América. Com estaaprovação do projeto, fare-

mos uma licitação e a minhaestimativa é de que, em 120dias, já possamos conhecer aempresa vencedora", afirmouNaves.

Outro foco do clube é a Ti-memania que foi sancionadapelo presidente Lula que pro-porcionará a criação de umaloteria nos moldes da mega-sena, mas que os apostadoresescolherão, ao invés de nú-meros, escudos de 80 timesbrasileiros. O dinheiro arre-cadado pela nova loteria ser-virá para os clubes saldaremsuas dívidas com o GovernoFederal.

Os clubes e o governo ain-da precisam normatizar a ma-neira com que o dinheiro se-

rá distribuído entre as agre-miações participantes. A idéiainicial seria a participação devinte clubes da Série A, vinteclubes da Série B e mais qua-renta, com pelo menos um ti-me de cada estado. Irá se criarum critério para definir quemestá melhor e não quem foimelhor.

Também já esta em pautano clube medidas para o sa-neamento financeiro. Hoje oclube encontra-se com cercade 100 ações trabalhistas najustiça. O clube busca com acriação do "condomínio deações", instalado em dezem-bro passado, a negociação detodas essas dívidas. AntônioBaltazar, presidente do clube,

acredita na resolução de todasessas dividas em um futuropróximo.

"Assim, o passivo traba-lhista vem sendo quitado gra-dativamente e, o que é maisimportante: sem comprome-ter a vida do clube. Pelos meuscálculos, em cinco anos tudoestará resolvido ", explicou opresidente. Todo mês o Amé-rica reserva em juízo 10% desuas receitas para a quitaçãodos débitos.

O estádio do Horto, o In-dependência, que hoje trazprejuízos para o clube de R$30 mil mensal, também entrano plano futuro do Américapara a construção de umaArena Multiuso.

Shopping éesperança derecuperação

Com a aprovação do con-selho e liberação das obras, jáé possível ver os primeirosmovimentos de obras no imó-vel da Avenida dos Andradas,terreno da antiga sede do clu-be. Lá será construído umshopping Center com 289 lo-jas. O centro de compras, de23 mil metros quadrados, te-rá como principal atrativo oHipermercado Carrefour, coma previsão de inauguração atéo fim deste ano. O projeto querecebe o nome de PlanetaAmérica, além do shoppingcontará com um complexo es-portivo e social de 11 mil me-tros quadrados, e com a sedeadministrativa do clube, quepossuirá 1,5 mil metros qua-drados.

De acordo com o vice-pre-sidente de comunicação doclube, Alencar da Silveira Ju-nior, parte do valor do arren-damento de 50% do shoppingpor 20 anos será feita com atransferência ao clube de umlote a ser anexado ao CT Lan-na Drumond, na região daPampulha. As dimensões doterreno poderão variar entre90 mil metros quadrados a110 mil metros quadrados.

A partir do inicio de 2008,o América começa a recebero repasse de R$ 60 mil pormês. As outras lojas darão aoclube R$ 30 mil mensais. A se-de administrativa e a área so-cial, a princípio, serão entre-gues um ano e meio após oshopping entrar em funcio-namento. Mas é possível quehaja antecipação para de-zembro de 2008. Os outros50% do Planeta América se-rão divididos igualmente en-tre o clube e o grupo em-preendedor.

Segundo o presidente doAmérica, Antônio Baltazar, oclube espera que o projetoPlaneta América se torne àredenção financeira do clubefuturamente. "Com o patri-mônio e as finanças sanea-das, será criada a estruturanecessária para o retorno doclube à elite do futebol brasi-leiro", explica Baltazar.

Alguns torcedores doAmerica estão muito empol-gados com o projeto e crêemque o Planeta América podeser o pontapé inicial para o re-nascimento do clube. É o ca-so de Carlos Ameba. Segun-do ele, os problemas do Amé-rica não se resumem a ques-tões financeiras, mas tambémadministrativas.

“O patrimônio do clubecrescerá consideravelmentecom o Planeta América e se-rá mais uma fonte de recur-sos. Ganharemos com o alu-guel das lojas e os eventuaisacordos de patrocínio quecom certeza surgirão . É fatoque esta não é a salvação dalavoura, não vai ser o Plane-ta América sozinho que irágarantir a volta por cima doclube no futebol, mas sem dú-vidas é um grande começo",acrescenta Carlos Ameba.

Americano

Depois do rebaixamento do campeonato mineiro, o ct Lanna Drumond fica a maior parte do tempo com seus campos vazios

Dívidas assolam o clube em crise financeira

Bruno Novais - 6º Período

16 Esporte - América 10.08.07 15:51 Page 1