49
Revista laboratório do Curso de Jornalismo Caco Barcellos: lições de um vitorioso As múltiplas facetas da índia Adana Kambeba Apac abre portas para uma segunda chance ESSE SEXO NÃO É MEU Burocracia no SUS adia realização do sonho de mudança de sexo para transexuais Ano 4 | Número 6 - Agosto de 2012

Revista Ponto & Vírgula - Ano 4 | Número 6 - Agosto de 2012

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista Ponto & Vírgula - Ano 4 | Número 6 - Agosto de 2012

Citation preview

Em ipsustis dip et, vulput nit inisi Henim quat

Revista laboratório do Curso de Jornalismo

Caco Barcellos: lições de um vitorioso

As múltiplas facetas da índia Adana Kambeba

Apac abre portas para uma segunda chance

ESSE SEXO NÃO É MEUBurocracia no SUS adia realização do sonho de mudança de sexo para transexuais

Ano 4 | Número 6 - Agosto de 2012

Sheila Castro fala sobre suas expectativas para as Olimpíadas

expediente

ÍnDice

Amor entre irmãos motiva livro sobre superação e Síndrome de Down

Caco Barcellos

Adana Kambeba

Matéria de capa

Sheila Castro

Reportagem Apac

Frente e Verso

Ensaio Fotográfi co

Mano Down

Câmera Escondida

Em destaque

Turbulência no Ecad

Guia Cultural

Universidade FumecPresidente da Fundação: Prof. Mateus José FerreiraReitor: Prof. Dr. Eduardo Martins de LimaVice-reitora: Profª. Guadalupe Machado DiasPresidente do Cons. de Curadores: Prof. Tiago FantiniDiretor-Geral: Prof. Antônio Marcos NohmiDiretor de Ensino: Prof. João Batista de M. FilhoDiretor Adm-Financeiro: Prof. Fernando M. NogueiraCoordenador do Jornalismo: Prof. Ismar Madeira

Ponto e VírgulaEditor: Prof. Aurelio José SilvaEditora: Profª. Vanessa CarvalhoCoordenação Editorial: Profª. Vanessa CarvalhoCoordenação Proj. Gráfi co: Prof. Aurelio José SilvaApoio Técnico: Luis Filipe P. B. AndradeApoio Técnico: Daniel Washington S. MartinsRevisão de texto: Prof. Dr. Luiz Henrique BarbosaLogomarca: Rômulo Alisson dos SantosGráfi ca: Rona EditoraTiragem: 1.000

Conselho EditorialProf. Alexandre SalumProfª. Ana Paola M. Amorim ValenteProf. Aurelio José SilvaProfª. Dúnya AzevedoProfª. Vanessa Carvalho

Pág. 06

Pág. 11

Pág. 15

Pág. 20

Pág. 24

Pág. 31

Pág. 32

Pág. 38

Pág. 40

Pág. 42

Pág. 44

Pág. 48

ENSAIO FOTOGRÁFICO

A Avenida Afonso Pena ganha

destaque pelas lentes da equipe

de reportagem da Ponto e Vírgula

Pedro Henrique Vieira dá um “show de bola” depois de formado

Foto: Raquel Couto

A reformulação de uma revista é sempre um desafio para os seus edi-tores. Como definir o novo projeto editorial, considerando o perfil do leitor da publicação? O que deve permanecer e quais as lições que as edições anteriores nos deixam? Qual o melhor projeto gráfico para aten-der aos novos rumos editoriais da revista?

Com as dúvidas inerentes a todo processo de criação, mas com muita vontade de acertar na condução de uma nova Ponto e Vírgula, os atuais editores tinham apenas uma certe-za: fazer uma revista com a cara de nossos alunos. Afinal, esse é o sen-tido de uma publicação situada em um campus universitário que abriga um curso de Jornalismo. Não podí-amos nos esquecer se tratar de uma revista-laboratório e sua identidade deveria refletir a produção de nossos estudantes.

Por esse motivo, tratamos de dei-xar explícito para os alunos da dis-ciplina Edição Especial em Revista que o futuro da Ponto e Vírgula es-tava nas mãos deles: eles seriam os responsáveis por todo o trabalho. Portanto, participariam de todas as etapas. Nesse percurso, eles coman-daram, com muita energia e criando polêmicas, as definições de pautas e quais seções seriam mantidas, a seleção das fotografias, a apuração e elaboração das reportagens e, fi-nalmente, a programação visual das páginas. Os palpites não eram ape-nas bem-vindos, mas necessários. A equipe também era heterogênea e criativa: alunos de diferentes perío-dos do curso, iniciantes e veteranos, revezaram-se na direção da rotina produtiva da revista.

Uma única resposta eles recebiam dos editores: sim, vocês devem parti-

cipar ativamente na Ponto e Vírgula. E foi o que eles fizeram: o resultado pode ser visto aqui, nas páginas que ilustram entrevistas e reportagens desta edição. O trabalho revelou uma grata surpresa: a Ponto e Vír-gula recriou-se, com perfil profissio-nal e interdisciplinar, seguindo as diretrizes que o Conselho Editorial da revista elaborou.

Em resumo, a revista Ponto e Vír-gula chega à 6ª edição com um novo projeto gráfico e editorial, com mo-dificações no seu visual, em algumas seções e na forma de apresentação das entrevistas. O logotipo também foi modificado e ganhou um ar mais moderno e adequado ao público. A tipologia das letras foi alterada para tornar a leitura mais confortável.

Quanto às seções, a revista – que até o momento priorizava ex-clusivamente a entrevista no estilo pingue-pongue – a partir de agora vai trazer também re-portagens de fôlego, perfis de ex-alunos que encontraram seu espaço no mercado de traba-lho, ensaio fotográfico, análises opinativas mais densas e inova com um guia cultural que dá destaque a atrações tradicionais e novas tendências culturais na capital. As entrevistas continu-am tendo seu destaque e sua impor-tância indiscutível na linha editorial da revista e a coluna “frente e ver-so” foi mantida por trazer pontos de vistas antagônicos sobre o mesmo assunto.

A unidade gráfica do produto fica evidente por reproduzir tanto o for-mato quanto as cores do logotipo na diagramação. As seções da revista estão marcadas por tarjas nas cores da logo e o tipo de papel também mudou. A revista ganha ainda mais

atratividade com cores nas páginas internas. “Por ser um produto la-boratorial de uma universidade, é o espaço adequado para experimentar novas propostas na tentativa de res-ponder aos desafios impostos pela modernização do mercado editorial brasileiro e mundial”, afirma o pro-fessor Aurelio Silva, coordenador do novo projeto gráfico

Boa leitura!

Vanessa Carvalho e Aurelio Silva

atualizar é preciso!

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 20124

editoriaL

Fo

to d

e c

ap

a: R

ob

ert

o R

eis

/Div

ulg

ação

Esse espaço, a partir desta edição, é para você, leitor, manifestar-se. Uma ferramenta em que poderá ex-pressar suas ideias e opiniões. Para isso, acesse o site www.conecta.fu-mec.br, clique no link publicações e deixe seu recado, ou fale conosco pelas redes sociais.

Se a regra número um para os es-pecialistas é que “revista se faz para o leitor”, com certeza, essa publicação laboratorial do curso de Jornalismo da Fumec está preocupada com isso; afi nal, a sua existência só tem senti-do se houver pessoas com interesse de receber esse tipo de comunicação e interagir com ele. Sendo assim, o primeiro tema abordado nas aulas da disciplina Edição Especial, res-ponsável por discutir e implementar a reformulação gráfi ca e editorial da revista, no último semestre letivo, foi o leitor.

Direcionamos as discussões para tentar entender um pouco mais so-bre os receptores da revista. Quem são, o que pensam, como se com-portam, quais seus hábitos e expec-tativas? Para fortalecer esse vínculo, é fundamental conhecer melhor o leitor e mantê-lo sempre em men-te, e como prioridade, em todas as decisões editoriais. Conhecê-lo e compreendê-lo é central em toda es-tratégia editorial.

Optou-se, então, por iniciar o processo por uma amostragem desse público, receptores diretos da pu-blicação. Assim, os alunos da disci-plina saíram a campo e aplicaram um questionário aos universitários do curso de jornalismo de todos os períodos. Partindo de um modelo de leitor ideal, elaboraram questões e confrontaram essas características com a realidade, buscando enten-der os interesses, desejos e necessi-dades do leitor. Essa foi a primeira

de muitas iniciativas que serão de-senvolvidas para consolidar os laços da Ponto e Vírgula com os leitores. As pesquisas de opinião deverão se tornar ferramentas constantes de avaliação do trabalho e de feedback dos leitores.

Os resultados dessa pesquisa, com retorno de mais de 60% dos participantes, você pode conferir no infográfi co que acompanha o texto nesta página. O leitor da Ponto e Vírgula está na faixa etária entre 17 e 35 anos, classe social A e B, uni-versitário, moderno, comunicativo e conectado às redes sociais. Dentre os assuntos que mais lhe interessam, cultura vem em primeiro lugar, se-guido por comunicação, esportes e comportamento. A internet é a pla-taforma mais procurada pelos res-pondentes para obter informações; e a rede social mais utilizada, atual-mente, é o Facebook (63%). O jor-nalismo cultural é o tipo de produ-ção informativa que mais interessa aos inqueridos. Os participantes da pesquisa apontaram ainda a repor-tagem como o estilo mais atrativo em uma revista, seguida pelas entre-vistas e fotografi as. Já o local de la-zer preferido são os bares e baladas.

Partindo desses dados como re-fêrencia, reforçamos o convite para que você, leitor, interaja conosco. Sua opinião é fundamental para o sucesso do nosso produto. A opor-tunidade também é ótima para re-forçar nosso pacto: sua fi delidade e colaboração em troca de um conte-údo que é importante para você, do seu interesse, que vai levá-lo a saber o queria saber e até o que não sabia que precisava saber

Seja bem-vindo!

Prof. Aurelio José da Silva

é para VocÊ, leitor! PERFIL DO LEITOR

Público-Alvo

A-B conectado cultural17 - 35anos classe

Assuntos de interesse

Cul

tura

Co

mun

icaç

ão

Co

mp

ort

amen

to

Esp

ort

e

Tecn

olo

gia

Po

lític

a

26%23%

18% 17%

8% 8%

Como se informaComo se informa

32% 25% 15%

15% 13%

38% Cultural

Qual tipo de jornalismo te interessa

33% Esportivo13% Investigativo07% Celebridades06% Político

03% Outros

Infografi a: Vitor Komura

Leitura de revista

32% 16% 14% 11% 8%

O que atrai em uma revista

Reportagem

Fotografi a

Entrevista

Crônica

47%

18%

26%

9%

alunos de

JORNALISMO

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 5Imagens: Google Images

espaço do Leitor

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 20126 Foto: Tiago Ferreira

entrevista - CaCo BarCeLLos

De taxista a contaDor De histórias

“O jornalismo me abriu várias portas”, afirma Cláudio Barcelos de Barcellos, 62, um dos profissionais mais renomados do Brasil e com mais de 30 de atuação profissional na comunicação. Repórter de uma das maiores emissoras de televisão do país, tornou-se modelo de repórter por sua ética e moral. Com vasta experiência no jornalismo – inclusive internacional –, é referência e fonte de inspiração para jovens estudantes que buscam uma formação diferenciada.

Por: Laís Seixas e Júlia Falconi

Caco Barcellos se especializou em jornalis-mo investigativo e se tornou autor de obras premiadas como os livros- reportagem Rota 66, que conta a história da polícia que mata em São Paulo; e Abusado, o dono do morro Dona Marta, que retrata o tráfico nos morros cariocas. Atualmente, comanda o programa televisivo semanal Profissão Repórter, em que orienta uma equi-pe de jovens profissionais a mostrar diferentes ângulos de um mesmo fato, de uma mesma notícia. Mas, antes de ocupar esse lugar de destaque profissional, Caco Bar-cellos teve que superar muitos percalços. De família humilde, testemunhou ainda na infância, na Vila São José de Murialdo, periferia de Porto Ale-gre, onde nasceu, a violência e brutalidade de agentes da polícia local e injustiças sociais.

Na universidade, Barcellos iniciou sua tra-jetória rumo ao jornalismo, passando por dois cursos di-ferentes: Matemática e Engenharia Civil. Após dois anos cursando Engenharia Civil, percebeu que seu interesse e afinidade eram maiores pelo jornalismo. Como já se graduava na área, Caco Barcellos tentou um estágio no

jornal Folha da Manhã, do grupo gaúcho Caldas Júnior. Foi aceito após revelar que trabalhava há cinco anos como taxista. A primeira matéria produzida pelo jornalis-ta iniciante foi uma experiência que teve com um passageiro muito “falastrão” e

bêbado que o procurava todos os dias na cooperativa de táxi para contar suas histó-rias e ganhar sua amizade. Como todo es-tagiário, Barcellos era alvo de gozações na

redação, mas lidou de forma passiva com as brincadeiras dos colegas veteranos. Permaneceu por três anos escrevendo histó-

rias que observava e vivenciava em um dos mais importantes jornais de Porto Alegre. Na mesma épo-

ca em que estagiava, participou da fundação da primeira Cooperativa de Jornalistas da América do Sul (Coojor-nal). Entrou para a imprensa alternativa, na década de 1970, escrevendo em um dos mais importantes jornais da categoria, o Versus.

Assim que se formou, decidiu viajar pelo mundo e co-nhecer outras culturas. Por cinco anos, seu sustento foi ob-

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 7

CaCo BarCeLLos - entrevista

tido por meio de matérias que enviava ao Jornal da Tarde, em São Paulo. Em 1979, foi morar em Nova York. Lá assistiu à ação de grupos que lutavam contra a ditadura de Somoza. Chegou a pegar um avião para fazer a cober-tura da ação, mas foi capturado por sandinistas, feito refém e declarado espião, correndo risco de morte.

A ação em Nicarágua resultou no primeiro livro de Barcellos, que conta a história de crianças guerrilheiras. O jornalista foi libertado por ordem de um líder sandinista de apenas 13 anos, que comandava o grupo. Daí o título do livro: Nicarágua: a Revolução das Crianças. O movimento sandinista abordado pelo livro tirou o país das garras do ditador Anastasio Somoza.

De volta ao Brasil, um ano depois, Caco trabalhou na revista IstoÉ e, em seguida, na Veja, em São Paulo. Suas matérias ganharam repercussão e ser-viram de passaporte para seu ingresso na televisão. O convite para trabalhar em uma emissora partiu de Luiz Fer-nando Mercadante. Mas, Barcellos optou por ficar viajando e voltou para Nova York.

Em Nova York, passou a acom-panhar os documentários exibidos na programação local e se apaixo-nou pela televisão. Decidiu aceitar a proposta de uma emissora brasileira. Em sua trajetória profissional, Caco Barcellos ganhou inúmeros prêmios, tais como o “Vladimir Herzog”, pela produção de uma reportagem sobre os vinte anos do atentado militar no Riocentro. Ganhou renome interna-cional ao receber o “Prêmio Especial das Nações Unidas” como um dos jornalistas que mais se destacaram no mundo nos últimos 30 anos.

Em entrevista à Ponto e Vírgula, Caco Barcellos falou sobre sua vida e seu percurso rumo ao êxito profis-sional. Quanto à sua retidão moral, afirma ter herdado de seu pai e trans-formado esse princípio em uma das ferramentas primordiais utilizadas no seu cotidiano jornalístico.

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 20128 Foto: José Willian Borges

entrevista - CaCo BarCeLLos

Ponto e Vírgula: Como você percebeu que era um conta-dor de histórias?

Caco Barcellos: Eu nasci na pe-riferia de Porto Alegre. Sempre vi-venciei histórias impressionantes e sempre gostei de escrever. Eu tinha um cachorro que me ajudava muito como jornalista. Como eu tinha que sair para passear com ele, aproveita-va esse passeio para conhecer lugares e, depois do passeio, escrevia tudo que eu aprendia. Eu adorava quan-do tinha algum maluco de rua que parava para conversar comigo. Eles eram ouvintes muito bons. Contava minhas histórias e eles prestavam atenção. Descobri que desde sempre eu era um contador de histórias.

Por que você escolheu o jornalismo?

Quando descobri que era possí-vel contar uma história profissio-nalmente, fiquei muito encantado e, como tudo na minha vida, foi por acaso. Estava fazendo o jornal do Centro Acadêmico da Faculdade de Matemática; ninguém quis fazer esse jornal. Apareci por lá e, inicial-mente, fui o único a fazê-lo. Acabei conhecendo uns hippies que passa-ram a fazer o jornal comigo. Nós sa-íamos para vender esse jornal juntos e, um dia, um jornalista comprou e gostou. O veículo desse jornalista estava passando por uma mudança. Era um jornal muito conservador; precisava dar uma renovada na re-dação. Então, ele convidou toda a nossa redação hippie para ir a uma reunião de pauta. Alguns foram. Eu fui e fiquei. Foi quando eu consta-tei que ali era uma oportunidade de contar uma história e ainda receber por isso. Eu pensei: “Meu Deus, isso é muito bom.”

Como surgiu o interesse pelo jornalismo investigativo?

Esse passo também foi por acaso.

Talvez pelo fato de eu ter começado na carreira durante a Ditadura Mi-litar. Ao receber uma missão do seu chefe de reportagem para ir atrás de uma determinada história que en-volvesse alguém da ditadura, se você procurasse dez, ouviria cinquenta nãos. Mas você tinha que contar a história independentemente disso. Então, acabei desenvolvendo uma coisa muito simples que é contar a história de qualquer maneira, fugin-

do das fontes oficiosas, e, como todo mundo sabe, a ditadura foi uma fase importante da história que envolveu a vida de muita gente. Se as autori-dades não querem falar, vamos atrás de outras pessoas envolvidas indi-retamente, vítimas da história, por exemplo. Então, eu sempre buscava meios de contar a história. Isso nem se trata de jornalismo investigativo. Qualquer história que você vá con-tar, se é um profissional dedicado, tem que bater em todas as portas sempre e buscar uma solução. En-tão, foi isso. Comecei em uma si-tuação adversa e aprendi a desviar da adversidade, ou melhor, coloquei isso a meu favor.

Você é a favor ou contra o uso da câmera escondida? Você acha ético?

Ético ou não ético, é um profis-

sional que utiliza um equipamento. A câmera pode de fato ter um uso não ético. Digamos que a use para invadir a privacidade dos outros. Claro que não é legal fazer isso. Vai sempre depender. Comparando com a câmera grande, eu acho que ela transforma muito mais a realida-de. Não gosto da câmera pequena. Acho a imagem esteticamente feia. Não acho a resolução legal. Não uso; até porque gosto que a gente se apresente para as pessoas como re-pórter. Tenho orgulho de dizer: “Sou repórter”.

Qual o caminho para ser um jornalista bem-sucedido?

Você saber usar seus potenciais, tirar proveito de uma oportunida-de que seja favorável a você. Acho que sempre é uma coisa positiva. Se, consciente da trajetória, souber tirar proveito disso, vai trazer uma bagagem pessoal incrível. Depois que vira profissional, então, cada dia você tem um aprendizado na rua diferente. Se você souber ouvir, es-tiver atento à história de cada um, vai se tornar um grande profissional. Raramente alguém não guarda con-sigo uma história maravilhosa. Às vezes, não se descobre porque está desatento. Depende dos nossos ouvi-dos, da nossa sensibilidade; sempre é possível aprender muito com cada pessoa. O repórter é um observador do cotidiano, um curioso eterno. O que a gente busca essencialmente é o equilíbrio. De uma forma ou de ou-tra, a sua opinião está ali.

Quais as ferramentas funda-mentais para se tornar um grande profissional?

A minha principal ferramenta é o meu princípio moral. Cresci vendo meu pai fazendo uma força enorme para educar os filhos e aprendi o es-sencial na vida. Isso para mim é um princípio enorme. Não posso tirar a

“Acho que em vez de contar primeiro, você deve ter seu

ritmo para contar melhor”

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 9

CaCo BarCeLLos - entrevista

importância do meu pai. Ele re-presenta tantos brasileiros que têm a trajetória como a dele e foi mui-to relevante para a minha vida. Eu aprendi um ditado: “Se você avan-çar sempre, você pode correr riscos, dependendo da situação; mas, em vez de brecar, mude a marcha, vai bem devagar, mas avançando sem-pre, nem que tiver que dar ré, mas sempre em movimento”. Então, sempre tento seguir a parte daqueles que querem avançar, no sentido de continuar, prosperar na vida. Minha ferramenta é muito mais de ordem subjetiva do que uma microcâme-ra ou uma câmera grande. É algo maior do que a simples realização de uma tarefa. A minha herança é a ferramenta moral.

Como você vê os novos jornalistas? Qual o rumo do jornalismo? Houve mu-danças?

Houve uma grande mudança com a revolução digital. Ago-ra temos equipamentos que nem imaginávamos no passado. Por exemplo: como uma história de guerra seria contada quando eu era jovem como vocês? Eu ia es-perar um mês e meio, dois meses para entender o que estava acon-tecendo. Então, faltavam meios de como chegar à guerra, fazer a matéria; faltavam recursos para fazer a matéria. Hoje, a bomba, antes de cair em determinado lo-cal, já tem milhares de câmeras apontadas, esperando por ela, re-

gistrando ao vivo a história, por meio desses equipamentos mara-vilhosos. Então, é uma mudança incrível. Acho que a principal consequência dessa mudança é a loucura de você correr atrás para contar primeiro. Acho que em vez de contar primeiro, você deve ter seu ritmo para contar melhor. Porque o equipamento não faz história sozinho. Contando me-lhor, sempre será uma forma de

você se destacar. Ser um repórter bem informado sempre será fundamen-tal para a sua carreira. Você tem que saber so-bre a história que vai contar.

Com tudo que você vivenciou e com esse longo históri-co de reportagens, existe alguma coisa que você vê hoje que o impressione?

Quase todo dia. Eu não consigo andar sem me impressionar com cada coisa que eu vejo, em qualquer lugar do

mundo. Depende do seu jeito de observar cada história. Para ser bem preciso, já vi milhares de pessoas levarem tiros, já vi a repressão de uma Ditadura Mili-tar, mas, a cada dia, aparece algo novo para me impressionar. E o que me choca muito ainda é que não há direitos humanos respei-tados; os direitos trabalhistas não existem. É impressionante demais ver os contrastes sociais. Outra coisa que acho inadmissível é essa violência policial. Como é que a gente pode ter a polícia mais vio-lenta do mundo? E acho também impressionante e questionável o ser humano aceitar passivamente essa tortura

Caco Barcellos exibe taxímetro durante palestra em que conta sobre o início de sua carreira como jornalista, quando ainda trabalhava como taxista e ouvia inúmeras histórias de seus passageiros

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201210 Fotos: Tiago Ferreira

entrevista - CaCo BarCeLLos

ÍnDia, atriz,

atiVista e futura méDica

Flávia Drummond e Aldeci Madeira

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 11Foto: Ismar Madeira

adana KamBeBa - entrevista

ÍnDia, atriz,

atiVista atiVista e futura méDica

adana KamBeBa - entrevista

Atriz do filme Xingu (2012), do di-retor Cao Hamburger, em que faz par romântico de Cláudio Villas Bôas, inter-pretado pelo ator João Miguel, Adana é indígena do povo Kambeba, da Ama-zônia, e, atualmente, caloura do curso de medicina da Federal em Belo Hori-zonte. Circulando entre duas realidades distintas, no encontro com a equipe de reportagem da revista Ponto e Vírgula, Adana deixou ex-plícitas nos seus trajes as influências multiculturais que compõem sua figura forte, porém, reservada. Usando uma calça bege e camiseta preta, estampa suas raízes in-dígenas por meio de brincos, pulseiras e colares.

“Eu digo sempre que pertenço às duas realidades. Tanto a realidade da floresta quanto a urbana, da cida-de. Então consigo transitar entre as duas. Compreendo os dois mundos. Às vezes, chego a ser uma tradutora, uma espécie de diplomata, alguma coisa assim entre uma realidade e outra”, explica Adana, que tem como missão, além de ser porta-voz da realida-de dos povos indígenas, tornar-se médica e promover o diálogo entre as práti-cas ocidentais e a medicina tradicio-nal dos povos indígenas.

A entrevista ocorreu em uma pracinha da moradia estudantil. Adana pediu para não falar de sua vida pessoal e para priorizar assuntos “relevantes”. Durante o encontro, falou sobre suas origens, sobre os povos indígenas, suas prioridades no momento, suas convicções, sobre a escolha por Belo Horizonte entre quatro cidades para cursar medicina e revelou também que o ingresso no universo cinematográfico aconteceu por acaso, embora seja cantora, compositora e instru-mentista, e que sempre manteve uma forte ligação com as artes.

Antes do filme Xingu, a única experiência de Adana com inter-pretação foi na minissérie “O auto do boi-bumbá”, dirigida por Cle-ber Sanches e veiculada em rede de tevê local de Manaus. No filme Xingu, sua personagem, Kaiulu, acompanha de perto o processo de demarcação de terras, envolve-se com um dos irmãos Villas Bôas e tem um filho com ele. O longa-metragem, que retrata um marco da defesa dos indígenas no Brasil, resgata a trajetória dos irmãos Cláu-dio, Orlando e Leonardo Villas Bôas, na década de 1940, em que coorde-

naram a Expedição Roncador-Xingu, que tinha como objetivo reconhecer a

explorar a região central do país. Res-ponsáveis pelo contato com índios iso-

lados, os Villas Bôas criaram, em 1961, o Parque Nacional do Xingu, onde atualmen-

te vivem mais de 5.000 índios de 14 etnias. No filme, os irmãos são interpretados pelo trio

de atores João Miguel (Cláudio), Felipe Camargo (Orlando) e Caio Blat (Leonardo). Leia, a seguir, os

principais trechos da entrevista com Adana Kambeba e confira no site www.conecta.fumec.br vídeo com entre-vista na íntegra.

Ponto e Vírgula: Adana Kambeba ou Danielle Soprano, como você gosta de ser chamada?

Adana Kambeba: Na verdade, eu tenho três nomes: em português, é Danielle Soprano Pereira. Meu nome indígena é Adana Kambeba Omagua e o meu terceiro nome é Toteem Kambeba. Danielle foi minha mãe quem me deu. Toteem foi de um grupo indígena com quem

Envolvida em projetos multiculturais, a índia Adana Kambeba, par romântico de um dos irmãos Villas Bôas em Xingu, filme do diretor Cao Hamburger, fala à Ponto

e Vírgula sobre sua experiência no cinema, a defesa dos povos indígenas e seus planos para conciliar vida

artística e acadêmica.

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201212

entrevista - adana KamBeBa

convivi. Toteem é nome de uma bo-neca indígena talhada na madeira e pintada de urucum e carvão. Acha-ram-me muito parecida com a bone-ca. Adana Kambeba Omagua tam-bém foi escolhido em grupo. Adana é o nome de uma moça de uma len-da indígena. A mais bonita do povo Tupi. Eu pertenço ao tronco Tupi e acharam que eu era muito bonita e me chamaram de Adana Kambeba. Pode me chamar por qualquer um dos três nomes. Todos sou eu e eu sou eles.

Como é o povo Kambeba? Tem alguma característica específica que o diferencie dos outros?

Tem sim. Na verdade, o meu povo se chama Omagua, que quer dizer o povo das Águas. Posteriormente, foi apelidado por Kambeba. Kambeba quer dizer cabeça chata. Akanga quer dizer cabeça e Pewa quer dizer chata. Akanga Pewa, cabeça chata. Então, o que aconteceu: Akanga Pewa, Akanga Peva... Kambeba foi se tornando Kambeba, que, na ver-dade, é um apelido.

Você sabe quantos são os Kambebas?

Não, não sabemos quantos nós somos. O que posso dizer é onde estamos. Porque andei pelas aldeias, visitei meus parentes. O nosso povo está presente na Amazônia peruana e na Amazônia brasileira, até porque

a noção de território não existia. Na verdade, não era nem Amazônia, tinha outro nome. Não existia essa demarcação de terra. Em questão de território, estamos presentes no alto, médio e baixo Solimões e também em Manaus, Manacupu...

Você morava em uma aldeia?Não. Eu nasci em Manaus. Lá

tem a área urbana e uma área de floresta, bem preservada, com ca-racterística rural, com igarapé e rio. Então, eu cresci nesta parte de floresta e, depois, tive que ir para o lado mais urbano, por causa dos es-tudos. Eu digo sempre que pertenço às duas realidades. Tanto a realidade da floresta quanto a urbana, da cida-de. Então, consigo transitar entre as duas. Compreendo os dois mundos. Às vezes, chego a ser uma tradutora, uma espécie de diplomata. Às vezes, os próprios caciques e lideranças indígenas me procuram para pedir conselho, orientações, porque não entendem muitas coisas do mun-do urbano. Às vezes, antropólogos, pessoas que estudam os indígenas me procuram para saber como é o mundo indígena para também ter uma noção.

Você trabalhou como educa-dora?

Sim. Eu fui alfabetizadora bilín-gue do meu povo. Ensinei português e tupi amazônico, que é a segunda língua do meu povo. Havia outro

professor comigo ensinando por-tuguês e a língua materna, que é o Kambeba, nossa primeira língua.

Você fez parte do elenco do filme Xingu. Como foi convi-dada a fazer parte do elenco? Você já havia atuado antes?

Sim. Eu já havia atuado antes numa minissérie local, que faz re-ferência às tradições do Amazonas, que é o Boi Bumbá e tinha inserção de elementos indígenas. Chegar ao filme Xingu foi através de uma ami-ga minha, Mara Pacheco, que é core-ógrafa e bailarina no Amazonas. Ela me ligou e fomos lá, tirei fotos de perfil, de frente, fiz gravação, falei na língua, traduzi. Falei: pronto, estão satisfeitos? Então, tchau. Agora vou cuidar da minha vida... Já não esta-va nem me lembrando disso, eu es-tava envolvida com o movimento in-dígena, articulando patrocínio, uma série de coisas, não estava pensando nisso. Umas três semanas depois, me ligaram: ‘Meus parabéns’. Eu fiquei assustada! O que que foi? O que tá acontecendo? ‘Você passou no filme Xingu. Vai fazer o par romântico do protagonista do filme’.

Você acha que o filme Xin-gu foi um retrato dos povos indígenas?

Como é um filme de época, mos-trou o que aconteceu naquela épo-ca, que foi justamente o processo de criação e demarcação do Parque

˜˜

Set de filmagens do filme Xingu

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 13Fotos: Ismar Madeira (esq), Divulgação (dir)

adana KamBeBa - entrevista

Xingu. Sendo assim, ele foi fiel e teve muita participação de nós, in-dígenas. O diretor, apesar de ter fei-to cinco anos de pesquisa, ouvia a todos. Tivemos grande participação no enredo da história. Acho que foi bem fiel. Fomos protagonistas na história. Ele quis passar essa ima-gem porque, antes, apenas os irmãos Villas-Bôas eram tidos como heróis e o filme deixa claro que teve parti-cipação indígena e que, se não fosse essa parceria entre indígenas e não indígenas, isso não teria acontecido.

Como foi trabalhar com um diretor já consagrado e ato-res famosos?

João Miguel (meu par romântico) é um excelente ator e também uma excelente pessoa. Trabalhar com o diretor Cao Hamburger foi muito bom. Uma excelente pessoa. Muito respeitador, ético, profissional, segu-ro no que faz e muito sensível para certos assuntos. Outra pessoa talvez não tivesse essa sensibilidade. Para mim, foi uma experiência muito boa conhecer os atores, as atrizes, a for-ma de trabalhar do diretor e da equi-pe. Eu fiquei três meses com eles.

Como foi a sua personagem?Minha personagem foi a Kaiulu,

do povo Trumai. Ela está viva. Eu conversei com a neta dela um tempo atrás e perguntei como ela está. Ela está sob acompanhamento médico porque é uma senhora de idade. Ela

teve uma importância muito grande. Além de ter sofrido, ver a aldeia ser massacrada, ela mostrou resistência, força, se deu a chance de continuar vivendo, inclusive de participar desse processo de demarcação. Porque ela acompanhou os irmãos e acabou se envolvendo com um deles, o Cláu-dio, e teve até um filho com ele. Eu gostei muito da personagem e tive a oportunidade de conversar com um dos filhos dela e disse para ele que foi uma grande satisfação represen-tar a sua mãe.

Você saiu do Amazonas e veio parar em Minas Gerais. Como escolheu a UFMG? Como foi esse processo?

Eu estava indecisa entre quatro uni-versidades: São Paulo, Rio de janeiro, Paraná e Minas Gerais. Então, fiz um estudo para ver qual das quatro ofere-cia melhor estrutura física e humana, porque a maioria das universidades oferece, no máximo, uma bolsa de ajuda. E somente isso. E a UFMG, por meio de Fump (Fundação Universita-ria Mendes Pimentel) e parceria com a Funai (Fundação Nacional do Índio), possibilita não somente uma bolsa de ajuda, mas também moradia, alimen-tação, transporte. Temos acompanha-mento, dentro da própria universidade, temos uma tutoria que nos acompanha para resolvermos problemas acadêmi-cos. Então, temos todo um aparato que nos possibilita ficar aqui, continuar aqui. Isso é muito importante.

Você quer retornar ao Ama-zonas? Devolver para o seu povo o que está aprendendo na faculdade?

Sim, quero voltar. Tenho sauda-de da minha casa. Quero fazer esse diálogo porque, aqui, estou apren-dendo a medicina ocidental, mas lá, no Amazonas, existe a medicina tradicional dos povos indígenas. No meu ver, não existe medicina maior ou menor. Então, penso em provo-car um diálogo para que ambas pos-sam se complementar, onde pode ter tanto a atuação do médico como também a do pajé. Uma ligação. Um diálogo. Um complemento. Sei que mesmo fazendo uma faculdade de medicina eu também terei, futu-ramente, que fazer uma preparação para ser pajé. Tem que se estudar para poder ter essa noção.

Quer fazer mais filmes? Eu penso em conciliar as duas

agendas. A agenda acadêmica e a artística. Se não conseguir fazer isso, vou optar pela agenda acadêmica. Eu tenho consciência que vou ser muito mais útil sendo médica do que atriz. E não me limito somente à arte cêni-ca. Também sou compositora e can-tora do meu povo. Eu componho na língua e canto na língua. Já fiz muitas apresentações em vários lugares do Brasil. Também sou pesquisadora do meu povo. E, como estou fazendo faculdade de medicina, eu não posso executar esse projeto de uma vez só e, sim, de forma paulatina

Em cena do longa

com o ator Caio Blat

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201214 Fotos: Divulgação (esq), Ismar Madeira (dir)

entrevista - adana KamBeBa

esse sexo não é meuNa luta pelo direito à readequação sexual, homens e

mulheres enfrentam, além do preconceito, as dificuldades e burocracias para realizar cirurgias pelo SUS

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 15Fotos: Roberto Reis/Divulgação

reportagem

Leo Tenório e João Nery (sup.), Aghata Lima (inf. esq.) e Eduardo Barbosa

Por Lais Seixas e Ana Luisa Altieri

Sentir-se um estrangeiro no pró-prio corpo. Esse é o sentimento que impulsiona muitos homens e mu-lheres a enfrentar os preconceitos e a marginalização e optar pela mu-dança de sexo. Mas, além de ter que transpor a incompreensão da famí-lia, dos amigos e da sociedade, outra barreira se ergue diante desse grupo: conseguir a sonhada cirurgia para a readequação sexual.

Embora o registro da primeira ci-rurgia feita em uma mulher no Brasil

para mudar de sexo seja do ano de 1977, a discussão é recente no país. João W. Nery, que antes era Joana, foi o pioneiro. Aos 27 anos realizou a cirurgia, mas sua história só veio a público em 1985, quando lançou o livro Erro de Pessoa.

Depois da iniciativa de João Nery, feita de forma ilegal – esse tipo de procedimento só foi autorizado em 1997 –, pouco se evoluiu em termos de direitos quando uma pessoa que nasceu no gênero feminino quer

transformar seu corpo. Quem opta pela mudança hoje precisa escolher entre pagar de R$ 7 mil a R$ 15 mil, em uma clínica particular, ou enfren-tar a burocracia e a enorme fila de espera em um dos cinco hospitais universitários que estudam e aper-feiçoam esses procedimentos.

Para os homens que buscam um corpo feminino, somente a partir de 2009, o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a realizar a operação de readequação sexual e, mesmo

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201216 Fotos: Roberto Reis/Divulgação

reportagem - esse sexo não é meu

assim, poucos hospitais estão capa-citados para fazê-la. Em 2011, fo-ram realizados 648 procedimentos ambulatoriais de acompanhamento e administração hormonal e 58 pro-cedimentos cirúrgicos, conforme da-dos do sistema DATASUS.

O diretor-adjunto do departa-mento de controle de HIV-Aids e hepatite, do Ministério da Saúde, Eduardo Luiz Barbosa, afirma que o SUS não tem preparação para re-alizar as cirurgias para transexuais, pois esses procedimentos requerem capacitação e o acompanhamento psicológico e hormonal por um lon-go período. “Hoje não se tem nem uma norma e, portanto, sem norma, o SUS não pode trabalhar. Além disso, teria todo um processo de qualificação do serviço. As próprias meninas (transe-xuais) falam das dificuldades de conseguir essa cirurgia porque poucos médicos hoje conhecem a prática”.

Além das di-ficuldades técni-cas enfrentadas, muitos transexuais dizem sofrer preconceito até mesmo dentro das unidades de tratamento. Na carta de direitos dos usuários do SUS, elaborada pelo Ministério da Saúde, o sistema preconiza que o nome social seja adotado. Então, homens e mulheres que não se iden-tificam com seu nome de batismo po-dem ser tratados como preferem, mas Barbosa acrescenta: “Outra questão complicada é que na unidade de saú-de a pessoa esbarra com a questão da moralidade, né? Seja do guarda na portaria, do atendente no balcão, da enfermeira e até do médico. Então, há uma série de desafios que precisamos contornar e modificar através da ca-pacitação para um tratamento mais qualificado à LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais)”.

Exemplo de superação dessas di-ficuldades é a vida de Leonardo Te-nório, um trans-homem que nasceu em corpo feminino, mas se identifica com o gênero masculino. Léo, como é mais conhecido, é militante na luta pelos direitos de Gays, Lésbicas, Bis-sexuais, Transexuais e Simpatizantes (GLBTS). “Nós precisamos que o Ministério da Saúde estabeleça um serviço mais amplo, abrangente, me-nos psiquiatrizante, menos patologi-zante, que preserve a autonomia do indivíduo trans, que aceite pessoas transgêneras que não são transexu-ais, pessoas com menos de 21 anos, que não entram no grupo benefi-ciado, e que o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Federal de Psicologia se posicionem para que isso possa acontecer logo.”

Segundo o Conselho Na-cional da Saúde, os transexuais sentem falta de mais estabele-cimentos para a cirurgia. O acesso à saúde e a utilização

de receitas falsas para a compra de hormônio são algumas das dificul-dades enfrentadas. O Brasil tem ape-nas quatro hospitais credenciados e especializados localizados no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul. Portanto são pou-cas as possibilidades. A mudança de sexo ocorre há 15 anos na rede pública de saúde. A cirurgia para a população transmasculina não é dis-ponibilizada pelo SUS e, para Tenó-rio, isso é uma forma de preconceito social “Nós compreendemos que a falta da cirurgia para homem-trans é uma forma de machismo porque, biologicamente, nós nascemos com o corpo feminino e quem nasce com o corpo feminino na sociedade tem menos direito de se dispor sobre o próprio corpo, um corpo que desde

“As próprias meninas (transexuais) falam das dificuldades

de conseguir essa cirurgia”

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 17Fotos: Guilherme Vilela/Divulgação

esse sexo não é meu - reportagem

o nascimento é destinado a procriar e ser objeto de desejo da masculi-nidade heterossexual. A cirurgia só pode, na verdade, ser feita através de pesquisa científica a titulo expe-rimental, e no mundo não funciona dessa forma; o mundo ainda não acordou para a realização de cirur-gias de homens transexuais.”

Enfrentar um corpo que não é psi-cologicamente o seu é a maior bar-reira que um, ou uma, trans tem que passar, ter vergonha de seu físico, não se ver como realmente é. Aga-tha Lima é trans e conta como fazia para driblar a sua própria imagem: “Muitas meninas se automutilam para conseguir passar na frente na fila de espera do SUS. Essa eu digo que é a transexual 100%, né, que o órgão dela causa um constrangimen-to tão grande, que ela não consegue se olhar no espelho inteira, que nem eu, por exemplo, sempre tive um es-pelho no meu quarto de dois metros. Só que do chão até um metro, eu co-locava uma toalha, porque eu não queria me ver de frente; de qualquer maneira eu ia me ver. Então, quando eu virava de costas, eu tirava a to-alha. Então algumas, em momentos de desespero, chegam a automutila-ções, mas isso é muito problemático

é muito perigoso, porque muitas ve-zes prejudicam as próprias cirurgias, complicando ainda mais o processo, mas acontece muito sim no Brasil.”

Transexual, gay, lésbica, homos-sexual, bissexual. Os termos são inú-meros para representar esses grupos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que, em 2011, 60 mil casais do mesmo sexo já moravam juntos no Brasil e para grupos militantes o número de gays é estimado entre 6 a 10 milhões de pessoas no país. O dia 17 de maio é considerado o Dia Internacional contra a Homofobia, pois foi nesse dia que, em 1990, a Assembleia Ge-ral da ONU retirou essa classificação e declarou: “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. Resta saber até quando essa população terá de su-portar os preconceitos da sociedade, mesmo conhecendo seus direitos.

Com a reforma sanitária iniciada há poucas décadas no Brasil a partir da criação do SUS, muito já avan-çamos na efetivação do direito hu-mano à saúde. Atualmente, a popu-lação brasileira sabe e reconhece a importância do SUS. Hoje, 80% dos brasileiros(as) se beneficiam exclusi-vamente do SUS na atenção à saúde,

e 100% da população se beneficia das ações coletivas como a vigilân-cia sanitária (controle dos alimen-tos, bebidas, remédios e ambientes de trabalho) e epidemiológica (vaci-nas e controle de epidemias). Não há como negar a evidência dos dados.

No entanto, se o SUS é reconheci-do como um dos melhores sistemas de saúde do mundo, por outro lado, sua implementação ainda deixa muito a desejar e encontra grandes problemas. É preciso, por exemplo, melhorar a cobertura e a qualidade da atenção básica - especialmente através da Saúde da Família, am-pliar o acesso à alta e média comple-xidade, a organização da referência entre os serviços e a assistência far-macêutica.

O enfrentamento desses proble-mas não depende de soluções má-gicas ou de ações de curto prazo. Exige ações estruturais de médio e longo prazo que deem conta de en-frentar uma herança histórica brasi-leira que, durante séculos, impediu o reconhecimento dos direitos da grande maioria da população.

O direito à Saúde, por exemplo, só foi reconhecido na Constituição de 1988 e isso exige mudanças cul-turais profundas

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201218 Foto: Roberto Reis/Divulgação

reportagem - esse sexo não é meu

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 19Ilustração: Luis Filipe Pena

esse sexo não é meu - reportagem

Bissexual:Pessoa que se relaciona afetiva e sexualmente com pessoas de ambos os sexos/gêneros. Bi é uma forma reduzida para denominar os bissexuais

Pansexual: Pessoas cujo desejo sexual é abrangente, podendo se dirigir inclusive a objetos

Intersexual (hermafrodita): Pessoa que nasce apresentando uma anatomia sexual (com os dois órgãos reprodutivos) que não se ajusta às definições típicas do feminino ou do masculino

Androginia: Qualquer indivíduo que assuma postura social, especialmente a relacionada à vestimenta, comum a ambos os gêneros

Drag queen:Homem que se veste com roupas femininas, de forma satírica e extravagante para o exercício da profissão, em shows e outros eventos

Lésbica: Mulher que é atraída afetivamente e/ou sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero

Homossexual: Pessoa que se sente atraída sexual, emocional ou afetivamente por pessoas do mesmo sexo/gênero

Drag king:Versão “masculina” da drag queen, ou seja, trata-se de uma mulher que se veste com roupas masculinas para fins de trabalho

T-Lover:Pessoas que sentem atração por travestis e/ou transexuais. Em geral, essas pessoas assumem a identidade heterossexual ou bissexual

Transexual: Pessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. Homens e mulheres transexuais podem se submeter a intervenções médico-cirúrgicas para a adequação dos seus atributos físicos de nascença, inclusive genitais

Travesti: Pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade

Transformista: Indivíduo que se veste com roupas do gênero oposto movido por questões artísticas

Transgênero: Pessoas que transitam entre os gêneros. São pessoas cuja identidade de gênero transcende as definições convencionais de sexualidade

Crossdresser (CD):Indivíduo que, sendo de um sexo, veste-se e age como os do sexo oposto, mas não assume publicamente uma identidade social feminina. Portanto, geralmente não faz uso de hormônios e não faz cirurgias corretivas em seu corpo, pois, em sua rotina diária, tem uma vida social masculina

glossário

Mais de 200 atletas representa-ram o Brasil nas Olimpíadas deste ano, com sede na capital inglesa, Londres. Uma das modalidades es-portivas que mais vêm se destacan-do no cenário mundial é a prati-cada por Sheilla Castro, 28, atleta que brilhou na conquista do bi nos Jogos Olímpicos deste ano. A Sele-ção Brasileira de Vôlei já alcançou sete medalhas de ouro em com-petições desde 2005. Dedicação e habilidade são atributos que, cer-tamente, definem Sheilla Castro.

Acreditar no trabalho de equipe é, segundo a atleta, um dos prin-cipais ingredientes do sucesso do grupo. Em manifestação emocio-nada no dia 11 de agosto deste ano, após partida do título contra os Estados Unidos, em um vídeo gravado para seu blog oficial ( http://esportes.terra.com.br/jogos-olimpicos/londres-2012/sheillacas-tro/blog/2012/08/11/bicampeas/ ), a atleta reafirma essa máxima: “Olha, eu falei né, e é ouro. Eu sei que os fãs acreditaram, mas mui-ta gente não acreditou. A gente acreditou, correu atrás. O Brasil é superação, é tudo. Não tem nem o que falar.”

Com boa impulsão, aliada com técnica e potência, Sheilla joga na posição diretamente oposta ao le-vantador, priorizando o ataque. A entrevistada desta edição da re-vista Ponto e Vírgula foi também campeã olímpica em Pequim, em 2008, e uma das líderes da equipe na conquista do Pan (veja relação

eu falei: é ouro!

Por Vitor Komura

Nome: Sheilla Tavares de CastroNascimento: 01/07/1983Natural de: Belo Horizonte - MGAltura: 1,85mTítulos: Campeonato Mineiro pelo Minas Tênis Clube (2002 e 2003);Campeonato Carioca pela Unilever (2011 e 2012)Superliga pelo Minas Tênis Clube e Unilever (2001/2002 e 2010/2011);Campeonato Italiano pelo Pesaro (2008);Grand Prix com a seleção brasileira (2005, 2006, 2008 e 2009);Pan-americano com a seleção brasileira (2011);Olimpíadas com a seleção brasileira (2008).Olimpíadas com a seleção brasileira (2012).

Sheila Castro

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201220 Fotos: Divulgação/Assessoria de Imprensa

entrevista - sheiLa Castro

das conquistas).A jogadora, recém-contratada

pelo Sollys/Osasco, é considerada uma das melhores em sua posição no mundo e uma das maiores atle-tas de todos os tempos no Brasil. Tem no currículo quatro Grand Prix (competição internacional) e duas Superligas, principal compe-tição nacional. Nesta entrevista, a atleta fala sobre sua carreira, con-vivência com a cultura italiana e o vôlei no Brasil.

P&V: O começo de sua car-reira foi complicado?

Sheila Castro: Como a maioria dos atletas, foi tudo complicado. Comecei de maneira bem informal. Comecei no colégio com incenti-vo de um professor. Fui evoluindo e pegando jeito e fui indicada, por ele, indo jogar no Mackenzie, clube tradicional na cidade. Cresci e evolui bastante por lá.

Por que escolheu o vôlei? Desde criança, sempre fui mui-

to alta e magra. Sempre me diziam para praticar esportes, principal-mente vôlei. Tive apoio de professo-res e treinadores. Evolui muito e fui percebendo que era isso mesmo que eu queria para minha vida.

Depois do Mackenzie, você atuou no Minas Tênis Clube. Dali, você foi jogar na Itália. Como foi sair de BH e lidar com a distância da família?

Isso trouxe muito amadureci-mento, sem dúvida. Fui para a Itá-lia muito nova, sem conhecer nada do mundo e tive que crescer na marra. Mas, hoje em dia, digo que foi uma grande lição de vida. As saudades da família eram gran-des em diversos momentos, mas priorizei e me dediquei 100% ao voleibol, o que foi ideal para mi-nha carreira.

E como é conviver em outra cultura? Como foi seu perío-do de adaptação?

Sempre é complicado, principal-mente no começo. Mas, na cidade em que fiquei [Pisaro], fui super bem recebida e não tive muita dificuldade de aprender a língua. A cultura ita-liana é fascinante. Dentro do time, todos tiveram paciência para me ajudar.

Qual é o seu ídolo no espor-te?

A Fofão (ex-levantadora da se-leção brasileira, atualmente no Rio de Janeiro). Ela é batalhadora, se esforça em treinos e sempre foi um exemplo de profissional para mim. Tive a honra de atuar com ela no Minas Tênis, São Caetano e seleção. Até hoje, mesmo com 42 anos, ela mostra ótimo voleibol e se dedica muito.

Você já está acostumada a disputar competições internacionais, mas, mes-mo assim, ainda há aquele “frio na barriga” antes de cada jogo ou decisão?

Apesar da rodagem, sempre há ansiedade. Gosto de desafios, jogos difíceis são como batalhas. Transformo ansiedade em moti-vação. Entro ainda mais concen-trada e querendo dar o meu me-lhor.

Na última temporada, no Unilever, vocês passaram de invictas a questionadas e irregulares. Como foi essa transição? Como o atleta lida com isso?

É natural. Ninguém consegue jogar 100% por muito tempo. Fizemos uma campanha irretocá-vel, com 18 vitórias seguidas. Ser derrotado é muito difícil de assi-milar, ainda mais nessa situação. Para nós, atletas, foi difícil enten-der, porque tínhamos um grande time, mas, na decisão, o Osasco foi superior. Temos que pegar os erros e transformá-los em acer-tos. Todo atleta é competitivo, mas é preciso tirar lição de tudo de errado que foi feito.

Seleção brasileira foi campeã das Olimpíadas, Pan Americano e Grand Prix

“Olha, eu falei né, e é ouro. Eu sei que os fãs acreditaram,

mas muita gente não acreditou”

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 21Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa

sheiLa Castro - entrevista

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201222 Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa

entrevista - sheiLa Castro

Nosso país passou a ser re-ferência no esporte, devido aos títulos olímpicos e mun-diais, tanto no vôlei mas-culino, como no feminino. Você, como atleta, acredita que isso aconteceu por qual motivo?

A conquista do ouro olímpico em 92 foi crucial para o vôlei. Dali, várias pessoas passaram a se interessar pelo esporte e a jogar. Com isso, tivemos uma boa safra de atletas, muito investimento na base, com trabalho forte e sério, investimento em mais equipes, o que tornou os campeonatos mais competitivos. Acredito que essa soma de fatores foi ideal para essa geração vitoriosa. Além dis-so tudo, a dedicação de todos os atletas também foi fundamental. O voleibol, ao longo dos anos, está sendo tratado de maneira bem profissional, o que gera um alto nível.

Como é para você participar com uma equipe dos jogos olímpicos?

É um sonho. Todo atleta sonha com isso; é a principal competição mundial. Alto nível de competitivi-dade. A dedicação, suor e trabalho árduo de toda sua carreira são com-pensados quando vejo o nome na lista de convocadas para qualquer competição, mas, para as Olimpía-das, é uma sensação indescritível.

Como foi a conquista do seu primeiro título olímpico, com seleção de vôlei em 2008, em Pequim?

Foi um momento mágico. É um objetivo de vida cumprido. Lembro-me de tudo: das partidas, dos lances e da cerimônia de premiação. Foi emocionante. (a seleção também ga-nhou o último jogo por 3 a 1 contra as norte-americanas) Só de lembrar me emociono. É incrível a energia e a atmosfera das Olimpíadas.

A seleção foi campeã na ulti-ma edição. Como foi a pres-são por um novo título?

Em toda competição que o Bra-sil entra, o time é visado. Temos um elenco formado há muito tempo e essa pressão é normal. Temos de pensar em como lidar com isso. O grupo se conhece bem e a união é importante.

O treinador da seleção, Zé Roberto Guimarães, mantém praticamente o mesmo grupo há anos. Os títulos conquis-tados e a força do grupo foram importantes armas para competir e enfrentar os fortes adversários?

Sem dúvida. A união e a força do conjunto são fundamentais, além da ex-periência e maturidade. Tudo isso conta a nosso favor. O voleibol vem evoluindo a cada dia e está cada vez mais difícil de vencer, principalmente pela estatura e força dos adversários

Sheilla Castro (número 13) comemorando o título Pan-americano. Com praticamente o mesmo grupo, a seleção disputou as Olimpíadas 2012, em Londres.

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 23Fotos: Divulgação/Assessoria de Imprensa

sheiLa Castro - entrevista

Modelo APAC de prisão oferece programa de humanização e habilitação para detentos e traz à tona discussão sobre direitos humanos, execução penal e as precárias condições das cadeias públicas

Por Duda Ramos , Florence Botinha e Alexandre Carvalho

liberDaDe no cárcere

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201224

25

LiBerdade no CárCere - reportagem

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012Fotos: Duda Ramos

Jackson Antônio conta sua história de vida na prisão comum e, hoje, na APAC de Nova Lima.

O sincero relato acima é de Jack-son Antônio da Silva, 41 anos, que matou seis pessoas, quatro delas em cadeia do sistema penitenciário comum. O local ao qual ele diz ser grato e chama de “casa” é o sistema alternativo prisional Amando ao Próximo Amamos A Cristo (APAC),

situado em Nova Lima, região me-tropolitana de Belo Horizonte. Jack-son Silva, que está na APAC há um ano e três meses, é um dos 494.598 presos no país, mas deixou de ser apenas uma estatística para se tor-nar uma promessa de superação.

O modelo APAC nasceu em 1972,

em São José dos Campos – interior de São Paulo -, por iniciativa do advogado paulista Mário Ottobo-ni que, juntamente com um grupo cristão, buscou uma alternativa para as aflições vividas pelos detentos dentro das penitenciárias do estado paulista. Ottoboni iniciou o que está

“Eu passei 20 anos no sistema carcerário comum e não foi fácil porque, infelizmente, eu tive que matar para defender a minha vida. Passei por nove rebeliões e sou um dos poucos presos que restaram do caso da Ciranda da Morte. Não foi fácil vencer esses 20 anos porque eu nunca fui respeitado, nem pelos presos, nem pelos policiais. Ninguém acreditou em mim. Os policiais me viam como um monstro, os presos me viam como um monstro... A coisa mais difícil é você querer ser do bem e não conseguir. Eu tive que passar por muitas coisas... Tentei o suicídio, perdi a minha juventude, mas hoje eu sei que tinha que passar por esse sofrimento para ser o Jackson que sou e estar neste lugar. Hoje eu sou muito grato à casa e uso a ruindade do passado para transformar em amor.”

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201226

reportagem - LiBerdade no CárCere

se tornando uma das entidades civis mais discutidas e estudadas na atua-lidade. Vivendo de doações, e excep-cionais contribuições do governo, as APAC´S – hoje com unidades em vá-rios estados – também contam com o auxílio de cidadãos que, quando interessados, envolvem-se em ativi-dades com os reabilitandos. Nesse sistema, os detentos são divididos em três regimes: fechado, semiaberto e aberto. Cada regime corresponde a um nível de maturidade de cum-primento de pena, ou seja, o detento assume as responsabilidades e liber-dades de acordo com seus méritos, comportamento e disciplina.

De acordo com o Conselho Na-cional de Justiça (CNJ), o Brasil tem a terceira maior população carce-rária do mundo, perdendo apenas para os EUA e para a China. O país de dimensões continentais também expande sua grandeza para as gra-des, cadeados, algemas e gastos com esse sistema que, em tese, deveria as-segurar aos cidadãos menos violên-cia e o direito à reabilitação. As más condições das prisões de segurança máxima, a superlotação e a falta de programas de inclusão social dos detentos são motivos de críticas no âmbito dos direitos humanos, insti-gando uma discussão que fez nascer da iniciativa privada um modo revo-lucionário de lidar com a prisão no país.

A ousadia do modelo APAC surge para se contrapor à realidade atual, em que homens de baixa, média ou extrema periculosidade vivem em prisões que valorizam a violência, ou seja, a força e a coerção, para conter a própria violência. Para o advoga-do criminalista Virgílio de Mattos, a reabilitação do detento na APAC recebe influências incisivas do cris-tianismo. “Uma crítica que se pode fazer ao método é quanto à consti-tucionalidade da medida, que relega para um tipo de religião - a cristã - a administração de penas privativas

de liberdade em um Estado laico.” ao ingressar em uma APAC, identifi-cam-se, por todos os cantos, símbolos do cristianismo. Mattos pontua essa presença, mas reitera: “É questão importante, mas que não diminui a ‘humanidade’ do método. Punir pri-vando de liberdade faz desaparecer a ‘humanidade dos humanos’. No mé-

todo APAC, não há um processo de ‘animalização’ do preso, sem ar, sem espaço, sem dignidade”, afirma o criminalista que é também membro do Fórum Mineiro de Saúde Mental, do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade.

A carência por prisões mais hu-manas é tratada com certa dualida-

Reabilitandos mostram instalações da APAC.

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 27

LiBerdade no CárCere - reportagem

de por Mattos: “Toda cidade onde houvesse presos deveria contar com o método APAC. É um absurdo que não se tenha na capital do estado, uma APAC.” Por outro lado, para o advogado, a construção de prisões não é algo benéfico. “Prisão não traz benefícios em nenhuma hipótese, só malefícios. Qualquer prisão só está condenada a atestar a falência da sociedade mesmo se a pensássemos, como foi inicialmente no século XVIII, como algo para retirar a pena do corpo do condenado. A prisão, a pena privativa de liberdade, nasce com o capitalismo e se desenvolve com ele. Enquanto houver explora-ção do homem pelo homem, haverá necessidade de prisões; isso é ineren-te ao capitalismo.”

Novos RumosA missão de promover o reen-

contro do criminoso com o seu lado humano mobiliza um programa

chamado Novos Rumos, do Tribu-nal de Justiça de Minas Gerais. Para o desembargador e coordenador do programa, Joaquim Alves, carências básicas geram a criminalidade no país. “A pobreza, o desamparo e a falta de oportunidade de se aperfei-çoar intelectualmente transformam a pessoa em uma presa fácil para o crime”, afirma o desembargador. “A dignidade da pessoa depende de ter o apoio de uma mão amiga e íntegra que a ajude na reabilitação. E eu te-nho visto isso acontecer”, alerta.

Seu gabinete, com vista ampla de 23° andar, localizado em um edifí-cio no centro de Belo Horizonte, não fica muito distante do Fórum

Lafayete, onde se encontram o pri-meiro e o segundo fórum do júri. Lá são julgados os crimes contra a vida. Em uma saleta no subsolo do La-fayete, sem janela, sem peso de pa-pel ou de cristal e com pilhas e mais pilhas de processos, estão quatro funcionários trabalhando frenetica-mente. São 11h45 de uma manhã de terça-feira e a sessão começa às 13h. Duas becas indicam a presen-ça de promotores no recinto. Sobre o tema APAC, Patrícia Habkouk é a única a se manifestar com uma fala

curta e exaltada. A promotora reconhe-ce o método APAC e valoriza seu traba-lho de reabilitação do presidiário, mas refuta sua abrangên-cia para todo tipo de execução penal. “O nosso público-alvo é muito violento. Aqui eles matam e come-moram. Ou seja, não dá pra pensar em método APAC para um criminoso que nem reconhece o seu ato.” A promotora de Justiça usa como exemplo os delin-quentes da Pedreira

Prado Lopes que, segundo ela, de-safiam e desrespeitam a polícia, ofi-ciais e todo tipo de autoridade. “Eles nos peitam, xingam e, até o último minuto, apesar das provas, negam os crimes mais atrozes.”

Saindo dos porões do Fórum rumo à Câmara dos Vereadores da Capital, o discurso adquire um tom mais político. O vereador Adriano Ventura, também professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica), defende a necessidade de incentivos do município para a implantação de uma APAC feminina. “Hoje já existe uma movimentação por parte da co-munidade civil, pressionando o esta-

Reabilitandos mostram os trabalhos realizados na Apac

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201228

reportagem - LiBerdade no CárCere

do a oferecer recursos à construção de uma APAC só para mulheres.” O vereador frisa, porém, que a existên-cia dessa pressão tem origem nos en-traves políticos que a atual gestão da prefeitura coloca.

A APAC de Nova Lima, fundada em julho de 2002, enfrentou protes-tos devido ao preconceito da popu-lação, que ficou aflita com a vinda dos criminosos. A apreensão, por não conhecer o sistema, é normal. Mas, quando se visita o local, as impressões são outras. A equipe de reportagem da REVISTA PONTO E VÍRGULA foi ciceroneada por João Carlos Silva, recuperando do regime semiaberto, que mos-trou cada canto de forma séria e minuciosa, sempre enfatizando o amor. “Aqui o amor é que coman-da tudo. Nós damos e recebemos carinho, atenção e autoestima para tirar o pensamento ruim do criminoso.”

O sistema prisional alterna-tivo conta hoje com 70 detentos em regimes aberto, semiaberto e fechado. No regime aberto, o recuperando já está pronto para enfrentar o mercado de traba-lho, podendo sair para trabalhar durante o dia e retornar à APAC depois da jornada de trabalho. Os dormitórios possuem de beliches, e os presos são responsáveis pela limpeza e arrumação diárias. No refeitório, os procedimentos são os mesmos: todos se alimentam e são obrigados a prezar pela higiene e bons modos. Segundo João Carlos Silva, o regime aberto é o último passo para a recuperação total do detento.

Já no regime semiaberto, o foco é a profissionalização. O homem é preparado para exercer seu papel de cidadão, fazendo cursos de alfa-betização, de marceneiro, padeiro, bombeiro hidráulico, pintor, entre outros. Esses ofícios são executados dentro da APAC para que o recupe-

rando possa, assim, dar sustento à sua família e ajudar a entidade. O tempo nunca é ocioso. Todos levan-tam às seis da manhã, tomam café e iniciam as atividades que lhes são designadas para o dia. Os recupe-randos fazem redes esportivas, en-feites, refazem carteiras escolares, e têm uma padaria com produtos feitos por eles mesmos. Cristovam Márcio, recuperando da ala semia-berta, marceneiro, ressalta a impor-

tância do trabalho na APAC. “Aqui, o trabalho nos dá oportunidade de crescer na vida e ser uma pessoa de bem. Temos respeito e dedicação de todos.”

Embora a APAC seja uma alterna-tiva mais humana ao sistema comum, ela ainda mantém seu caráter de pri-são. É no regime fechado que essa realidade de privações se faz mais presente. Nesse regime primário do sistema, as ações são voltadas para a interiorização e espiritualidade. O

recuperando tem tempo e condições de rever suas atitudes. Eles são sub-metidos a aulas de valorização hu-mana, terapia individual, conversas com pedagogos, assistentes sociais e psicólogos. O esforço nesse estágio é trazer para o universo do recupe-rando temas mais positivos e o culti-vo dos bons pensamentos.

ConvêniosA APAC tem convênio com di-

versas empresas. A confecção de redes esportivas é mais um exem-plo dessa logística. A empresa fornece o material e um instrutor para ministrar cursos aos recupe-randos, que se tornam aptos ao trabalho. O reabilitando Guido Neves, responsável pela produ-ção, ressalta, além do valor tera-pêutico, o valor financeiro dessas práticas. “É uma renda boa, pois podemos ajudar nossas famílias lá fora. Quando sair, quero trabalhar com isso.”

A metodologia de recuperação do ser humano é visível e bem diferente do sistema tradicional. Enquanto nos presídios comuns o preso sobrevive, na APAC ele rece-be condições de se recuperar e tem uma perspectiva de ser reintegra-do à sociedade.

Jackson, João, Guido e tantos outros homens da APAC estão re-conquistando sua autoestima. Na

APAC, Jackson diz ter renascido das cinzas. Ali encontrou a parcela de paz que jamais sentiu durante o difícil ca-minho que sua vida trilhou. Como dizem que as coisas boas atraem ou-tras coisas boas, durante a visita da reportagem à APAC, Jean Carlos da Silva, um dos reabilitandos que cum-pria detenção no regime fechado, recebeu a notícia da sua progressão: passou para o regime semiaberto. De joelhos, com os outros detentos todos ao seu redor, cantando com as mãos para o alto, Jean agradeceu essa mu-dança e chorou

Celas com portas abertas na Apac

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 29

LiBerdade no CárCere - reportagem

Novo portal de conteúdo multimídia do curso de

Jornalismo da Fumec

Acesse, informe-se e compartilhe!

Infe

lizm

ente

, viv

emos

em

um

a so

cied

ade

onde

em

toda

s as

inst

ânci

as t

emos

fal

catr

uas

e en

gana

dore

s. P

esso

as q

ue

pode

m s

e ap

rove

itar

da

situ

ação

e t

irar

pro

veit

o do

mo-

men

to, a

mea

çand

o a

segu

ranç

a da

s m

ulhe

res.

C

omo

terí

amos

um

con

trol

e pa

ra s

aber

se

o “h

omem

” fo

i “re

alm

ente

” tr

ansf

orm

ado

em m

ulhe

r? É

um

a si

tuaç

ão

mui

to d

ifíc

il de

con

trol

ar. N

ão p

odem

os s

aber

o q

ue r

eal-

men

te s

e pa

ssa

na m

ente

das

pes

soas

.A

gora

, par

a qu

e o

tran

sexu

al n

ão s

e si

nta

inco

mod

ado

e at

é m

esm

o co

nstr

angi

do, fi

ca a

opç

ão q

ue n

orm

alm

ente

exi

ste

nos

banh

eiro

s pú

blic

os m

ascu

linos

: o u

so d

os b

o-xe

s fe

chad

os c

om p

orta

s, q

ue g

aran

te a

pri

vaci

dade

e já

é

norm

al n

os b

anhe

iros

em

ger

al.

Em

sín

tese

, acr

edit

o qu

e se

um

a le

i for

cri

ada

gara

ntin

-do

o u

so d

os b

anhe

iros

por

mul

here

s e

tran

sexu

al j

unto

s po

de s

im v

ir a

cau

sar

prob

lem

as f

utur

os e

nvol

vend

o pe

s-so

as d

e m

á ín

dole

, qu

e,

apro

veit

ando

da

si

tua-

ção,

ven

ham

ger

ar tr

ans-

torn

os

mai

ores

e

até

mes

mo

atos

per

igos

os à

vi

da d

as m

ulhe

res.

travestis e transexuais devem usar o banheiro das

mulheres?

Eu

sou

com

plet

amen

te

a fa

vor

que

cada

pe

ssoa

, in

depe

nden

te d

a su

a or

ient

ação

sex

ual

ou i

dent

idad

e de

nero

, sin

ta-s

e à

vont

ade

para

esc

olhe

r o

espa

ço q

ue v

ai

freq

uent

ar. A

cho

que

não

exis

te u

ma

pres

criç

ão.

Não

sei

ond

e es

tá e

scri

to q

ue b

anhe

iro

fem

inin

o ou

m

ascu

lino

se r

efer

e ao

sex

o ou

ao

gêne

ro d

a pe

ssoa

. M

esm

o as

sim

, se

foss

e, t

em d

iver

sos

auto

res

aí q

ue v

ão

ques

tion

ar:

o qu

e é

sexo

, o

que

é gê

nero

e o

que

é a

co

nstr

ução

des

sas

duas

coi

sas?

Ent

ão, e

u so

u to

talm

ente

a f

avor

de

que

cada

pes

soa,

in

depe

nden

tem

ente

da

sua

form

a de

vid

a, e

scol

ha o

es

paço

que

est

á m

ais

a vo

ntad

e pa

ra u

sar.

Out

ra c

oisa

, qu

e as

pes

soas

par

em d

e se

pre

ocup

ar

com

o u

so d

o ba

nhei

ro e

com

ecem

a s

e pr

eocu

par

se

essa

s pe

ssoa

s es

tão

na e

scol

a, s

e el

as e

stão

per

dend

o di

reit

os,

se

elas

es

tão

apan

hand

o na

s ru

as

e po

r qu

e el

as

estã

o vi

vend

o de

ssa

form

a.

Nos

so

pens

amen

to

está

o er

rado

qu

e nã

o co

nseg

uim

os

enxe

rgar

isso

.

Revi

sta

Po

nto

& V

írg

ula

— #

##

de #

##

#Fo

tos:

Arq

uiv

o p

esso

al

vers

ofr

ente

&

Polêmica voltou à tona após o cartunista Laerte Coutinho, 60, que se veste com roupas de mulher desde 2010, ter sido proibido de usar o banheiro feminino em pizzaria de São Paulo

Raf

aela

Vas

conc

elos

Fr

eita

s Mes

tran

da e

m P

sico

-lo

gia

Soci

al p

ela

UFM

GIn

tegr

ante

do

Núc

leo

de

Dir

eito

s H

uman

os e

Cid

ada-

nia

LG

BT

- N

UH

/UFM

GR

ede

Uni

vers

itár

ia d

e D

iver

sida

de

Se

-xu

al -

RU

DS/

MG

Past

or R

icar

do R

elci

Bac

hare

l em

R

elaç

ões

Públ

icas

pel

a PU

C

Min

as

e pa

stor

pe

la

Igre

ja

Pent

ecos

tal

Mis

téri

o do

Pov

o

Revi

sta

Po

nto

& V

írg

ula

— #

##

de #

##

#Fo

to:

Arq

uiv

o p

esso

al

De

segu

nda

a se

gund

a, 2

4 ho

ras

por

dia,

a v

ida

puls

a em

um

a da

s pr

inci

pais

ave

nida

s de

Bel

o H

oriz

onte

: a

Afo

nso

Pena

. Em

linh

a re

ta, c

om 4

,3 k

m d

e ex

tens

ão, c

omeç

a na

Pra

-ça

Rio

Bra

nco,

em

fren

te à

rod

oviá

ria,

cru

za a

s pr

inci

pais

ave

-ni

das

do h

iper

cent

ro d

a ca

pita

l min

eira

– c

omo

a A

maz

onas

e

a do

Con

torn

o –,

e t

erm

ina

na P

raça

da

Ban

deir

a, a

os p

és d

a Se

rra

do C

urra

l, ou

tro

cart

ão-p

osta

l de

BH

.In

augu

rada

à é

poca

da

fund

ação

da

capi

tal

de M

inas

, a

aven

ida

é ho

je o

cor

ação

eco

nôm

ico

e um

dos

ref

eren

ciai

s ur

-ba

nos

dos

belo

-hor

izon

tino

s. É

pon

tuad

a po

r pr

aças

, mon

u-m

ento

s, p

onto

s tu

ríst

icos

e c

ultu

rais

. Ent

re e

les,

o o

belis

co –

o

fam

oso

piru

lito

da P

raça

Set

e –,

o m

onum

ento

a T

irad

ente

s,

na p

raça

de

mes

mo

nom

e, o

Pal

ácio

das

Art

es, o

Mus

eu d

os

Bri

nque

dos

- lo

caliz

ado

em u

ma

casa

do

patr

imôn

io h

istó

ri-

co -

e o

Tea

tro

Fran

cisc

o N

unes

, no

int

erio

r do

pat

rim

ônio

am

bien

tal

mai

s an

tigo

da

cida

de:

o Pa

rque

Mun

icip

al –

ver

-da

deir

o oá

sis

da n

atur

eza

em m

eio

às g

rand

es c

onst

ruçõ

es.

A A

fons

o Pe

na s

urpr

eend

e pe

las

suas

pec

ulia

rida

des.

Úni

ca

aven

ida

da c

apit

al a

ofe

rece

r tá

xis

lota

ção

em t

oda

a su

a ex

-te

nsão

, é t

ambé

m u

m c

orre

dor

onde

oco

rrem

as

mai

s im

por-

tant

es m

anif

esta

ções

pol

ític

as d

e B

elo

Hor

izon

te. N

as n

oite

s,

profi

ssi

onai

s do

sex

o of

erec

em s

eus

serv

iços

. D

uran

te o

dia

, no

s la

rgos

can

teir

os c

entr

ais,

a n

atur

eza

se f

az p

rese

nte

por

mei

o de

fl or

es e

árv

ores

nat

ivas

- c

omo

quar

esm

eira

s, ip

ês, s

i-bi

puru

nas,

pau

s-fe

rro,

den

tre

outr

as -

que

com

plet

am a

pal

eta

de c

ores

dig

na d

e um

a pi

ntur

a de

Mon

et.

Est

e en

saio

fo

togr

áfi c

o,

com

pa

rtic

ipaç

ão

de

Joan

na

Del

’Pap

a, R

aque

l Cou

to, L

ucas

Cru

z, M

arce

lo T

ito

e Is

abel

a R

esen

de, b

usca

ret

rata

r al

guns

des

ses

aspe

ctos

que

faz

em d

a A

fons

o Pe

na u

m s

ingu

lar

cart

ão-p

osta

l e

um í

cone

par

a os

m

inei

ros.

Sej

a do

car

ro,

com

o pe

dest

re,

ou d

o al

to d

os p

ré-

dios

, a v

isão

des

se c

orre

dor

rum

o à

Serr

a do

Cur

ral é

sem

pre

um m

otiv

o de

pra

zer

para

o o

bser

vado

r.

olh

ar

es n

a a

fo

nso

pe

na

ensa

io

Joanna D

el’P

ap

a

Isab

ela

Resend

e

Isab

ela

Resend

e

Raq

uel C

outo

Raq

uel C

outo

Isab

ela

Resend

e

Lucas C

ruz

Raq

uel C

outo

Isab

ela

Bo

rges

Lucas C

ruz

Raq

uel C

outo

Lucas C

ruz

Marc

elo

Tito

Raq

uel C

outo

A Hashtag é a revista digital do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Fumec editada semestralmente. Servindo como ponte de mão dupla entre os alunos e o mercado publicitário, a Hashtag trará informações do mercado e levará a produção dos alunos para além dos limites da Universidade. Pesquisas dos professores do curso, questões importantes e polêmicas na área de comunicação, marketing e publicidade, campanhas bem-sucedidas ou censuradas, eventos, feiras, seminários voltados para a área são temas abordados na revista.

Boa leitura!

mano Down é o caraEduardo Gontijo, ou simplesmente

“Dudu”, é ator, músico, namora, tem 21 anos e tem síndrome de Down. Se isso poderia parecer um fator limitador, ao contrário, ele se destaca em várias atividades, sobrepondo-se a currículos de muitos que não tem a síndrome. É uma pessoa encantadora e transmite seu amor e carinho. Toca pandeiro, cavaquinho, tarol e faz parte de um grupo de samba que se chama Trem dos Onze. Buscando vencer obstáculos e conscientizar as pessoas, seu irmão Leonardo Gontijo resolveu escrever o livro Mano Down.

O livro apresenta uma história de amor entre dois irmãos especiais e descreve as etapas da vida do Dudu, seu relacionamento com os pais, irmãos, familiares, professores e amigos. Além disso, à medida que o autor menciona as experiências vividas e as dificuldades encontradas pela família e por ele próprio, também esclarece ao leitor alguns dados e informações a respeito da Síndrome de Down.

Leonardo e Dudu vêm cada vez mais mostrando que temos que aprender com a diversidade, lidar com as diferenças, que somos

todos parte de um todo e que, no fundo, queremos ser aceitos. Diante disso, eles vem ministrando palestras com os temas trabalho em equipe, motivação, perseverança e comunicação, com objetivo de levar às pessoas e às organizações uma mensagem de determinação e coragem. A partir do conceito de “Inclusão”, eles contam, por meio de falas e músicas, o percurso de dois irmãos em busca de superação. Em entrevista à revista Ponto e Vírgula, Leo Gontijo conta um pouco dessa linda história de amor incondicional.

Por Alexandre Carvalho e Vitor Komura

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201238

entrevista - Leonardo gontijo

Fotos: Divulgação

1. Como surgiu a idéia de es-crever o livro Mano Down?

Surgiu da vontade imensa de de-clarar ao mundo inteiro meu amor pelo Dudu. Antes do livro já havia es-crito cartas, músicas para ele, porém o livro foi uma forma que encontrei para presenteá-lo no seu vigésimo primeiro aniversário. Antes era so-mente uma ideia, mas depois fui con-cretizando e me empolgando cada vez mais. Quando comentava sobre o livro com meus amigos, parentes, todos apoiaram incondicionalmente. A cada página escrita, eu tinha mais motivação para realizar esse sonho.

2. Quais foram as maiores difi culdades para escrever o livro? Preconceito?

Foi a minha falta de habilidade com a escrita. Costumo dizer que o amor pelo Du é tão grande que fez um aluno mediano em português escrever um livro. Além do tempo e concentração neces-sária. Vivemos em um mundo preconceituoso em que todos não aceitam o diferente e ain-da por cima discriminam sem razão alguma. Mas o orgulho e o amor que tenho pelo meu irmão me deu muita força pra superar isso.

3. Você acredita que o livro desempenhe uma função social ao tratar da Síndrome de Down?

Penso que sim, apesar de que quando escrevi, não pla-nejei desempenhar isso, pois a intenção era declarar para todos o meu amor incondi-cional pelo Dudu. Pelo que tenho recebido de retorno, com certeza, vem desempe-nhando uma função social para sociedade e em especial para os pais e comunidade down. O livro está abrindo

a cabeça das pessoas. Vários projetos estão sendo realizados e eu procurei ter muito cuidado para que o Dudu se torne um exemplo para todos.

4. Como foi a reação dos seus pais na época que o Dudu nasceu?

Na época não existia tantos exames e o despreparo dos médicos ao dar a notícia foi muito grande. Penso que esse tipo de notícia, independentemen-te da forma como é dada, é um mo-mento de dor. No caso do meu pai, essa dor foi amenizada por ele já ter outros três fi lhos. O sonho de um fi lho perfei-to, com saúde, vai por água abaixo.

Depois vem o sentimento de culpa, tanto do pai, quanto da mãe, por não ter conseguido gerar um fi lho saudável. Segundo conta meu pai, após o perío-do de negação, ele enxergou o Dudu como uma pessoa especial, que lhe en-sina todos os dias o sentido da vida.

Ele percebeu logo que nada se pode fazer contra o destino, a não ser aceitá-lo e vivê-lo da melhor forma. Minha mãe, Marina, mais religiosa, com seu instinto maternal, aceitou bem a notícia e ajudou muito a man-ter a família unida, envolvendo todos no desenvolvimento do Dudu.

5. Você acha que os pro-fessores estão preparados para lidar com pessoas com Síndrome de Down?

Abordo um pouco disso no livro. Penso que nossa sociedade de uma forma geral não esta preparada. Não aceitamos os diferentes. (Costumo di-zer que como são inteligentes as pes-soas que pensam como nós e como perdemos com isso.) O ser humano precisa abrir a cabeça. Hoje em dia os professores estão um pouco mais preparados, mas mesmo assim ainda existe muito amadorismo.

6. Você pensa em escrever outro livro sobre alguma outra paixão que você tenha? Qual a men-sagem que o livro deve passar para os leitores?

Por tudo que está acontecendo, penso sim. Precisarei de tempo; de toda forma, já tenho ma-terial e inspiração para o Mano Down 2. Quem sabe no aniversário de quarenta anos. A mensa-gem que procuro passar é que o amor é tudo, que quem tem limite é mu-nicípio e que temos que aprender com a diver-sidade, com o diferente que somos todos parte

de um todo e que no fundo todos queremos ser aceitos Carta escrita por Dudu sobre o livro escrito por seu

irmão, Leonardo

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 39

Leonardo gontijo - entrevista

Foto: Divulgação

é aceitaVel graVar sem ser notaDo?

O uso de câmeras escondidas e microfones ocultos em produções jornalísticas é um verdadeiro dilema ético

Por Raquel Couto

É um tema que gera po-lêmica e opiniões diversas. O fato é que a tecnologia está facilitando cada vez mais a exploração desses instrumentos. As imagens são sedutoras para quem assiste e facilitadoras para quem grava. O código de ética dos jornalistas é am-bíguo quando trata essa questão, pois, ao mesmo tempo em que conside-ra a pratica inadequada, abre uma “brecha” para o seu uso. “O jornalista não pode divulgar informa-ções obtidas de maneira inadequada, por exemplo, com o uso de identidades falsas, câmeras escondidas ou microfones ocultos, salvo em casos de incon-testável interesse público e quando esgotadas todas as outras possibilidades de apuração”, afirma o códi-go. Nesse caso, o dilema é saber o que pode ser consi-derado interesse público e o limite entre o necessário e o abusivo. Fica então nas mãos do jornalista avaliar todos os fatores: o interesse da sociedade em ter informações, o direito legítimo de todo cidadão à privacidade e o fator principal que envolve esse tipo de

ação, a segurança. Afinal, é de extre-ma responsabilidade do jornalista a proteção das fontes, a sua e a de sua equipe. Mantém-se o dilema ético: É aceitável gravar sem ser notado?

Para Marcos Barbosa Lima, que já atuou como repórter investigativo, lo-cutor de rádio e trabalhou em assessorias de comuni-cação, é válido gravar sem ser notado, mas o profis-sional alerta: “Sou a favor da utilização desses apa-ratos tecnológicos quan-do feito com consciência e segurança para todos”. O repórter justifica a uti-lização desses recursos se houver interesse público envolvido, mas alerta que, “quando há exposições dos fatos, põe-se em risco a integridade física de pes-soas, locais e até mesmo a dos repórteres investi-gativos”. Mas reforça: “é impossível prever todos os efeitos colaterais de uma ação como essa, não pode-mos nos esquecer do caso TIM LOPES e de vários outros casos ou descasos do jornalismo investiga-tivo. O código faz agir o livre arbítrio sobre o que publicamos. No entanto,

responsabiliza o jornalista se algo der errado. Minha experiência mos-trou que devemos ter cautela com tudo que publicamos justamente por não saber, ou poder prever, por

O premiado jornalista Lucas Figueiredo afirma que já usou microfone escondido, já se

apresentou com nome falso e já usou gravador escondido mais

de uma vez

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201240 Foto: Arquivo Pessoal

reportagem - Câmera esCondida

completo, quais efeitos as notícias podem causar”.

O premiado jornalista Lucas Fi-gueiredo, que já teve reportagens veiculadas em mais de vinte jornais, revistas e rádios do Brasil e do exte-rior e é autor dos livros-reportagem Morcegos negros, Ministério do si-lêncio, O operador, Olho por olho e Boa ventura! afirma que já usou mi-crofone escondido, já se apresentou com nome falso e já usou gravador escondido mais de uma vez. Mas concor-da com Lima quando se pede “cautela” no uso dos equipamentos e reforça: “Essa é uma ferramen-ta que você deve usar em último caso, é sempre um grande perigo quando o jornalista se arvora de um poder como esse de usar uma câmera escondia, por exemplo. Por isso eu acho que você só pode usar es-ses instrumentos quando existe um assunto de in-teresse público, altamente relevante, ou seja, um caso de corrupção, desvio de dinheiro, que a sociedade precise tomar conheci-mento daquela informação... mas não podemos banalizar esse tipo de ferramenta, que só deve ser usada em casos extremos, e com acompa-nhamento dos chefes, da direção do órgão de imprensa. Tem que ser uma discussão sempre colegiada.”

Ana Paola Amorim, professora de Ética e Legislação do curso de jornalismo da Universidade Fumec, considera um abuso o uso desses instrumentos e afirma: “Não po-demos ficar acima da lei. Grande parte daqueles que usam câmeras escondidas desconsidera e passa por cima de questões legais e de questões éticas. Eu acho um abuso a câmera escondida, principalmente quando se ignoram os aspectos legais e os

aspectos éticos e, muitas vezes, igno-ram até mesmo os princípios jorna-lísticos. Nós não temos a obrigação de garantir a informação a qualquer custo, temos a obrigação de garan-tir a informação de qualidade e nem sempre a câmera oculta é garantia de qualidade.”

O Código de ética traz também um dilema quanto aos deveres do jornalista. Ao mesmo tempo em que

ele deve “divulgar os fatos e as infor-mações de interesse público; comba-ter e denunciar todas as formas de corrupção”, deve também “respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão”.

Hugo Teixeira, diretor executivo da Rede Minas, jornalista, professor universitário na Fumec, considera que não há justificativa para o re-pórter utilizar esses mecanismos e ressalta: “O jornalista nunca terá au-torização da Justiça para utilização desses recursos, porque o jornalista não está investido dessa autorida-de que o estado concede; portanto, quando ele faz uso disso, ele nunca o fará com autorização judicial. Eu acho que há uma certa ultrapassa-

gem de um limite entre o que é legal e o que não é legal, que, mesmo com todas as dificuldades para encontrar á informação, não ha uma justifica-tiva para o repórter utilizar desses mecanismos como câmera oculta e microfone oculto”.

Para o jornalista e cinegrafista Saulo Luis, essas ferramentas devem ser usadas estritamente para o bem social. Saulo é de origem humilde,

cresceu na periferia de Belo Horizonte e, agora, como jornalista, se ve no papel de Robin Wood moderno, com o dever de ajudar os desfavorecidos. Com mais de 25 anos de profissão, o jornalista já registrou mui-tos flagrantes com a câmera escondida, sempre fazendo denúncias e destacando problemas sociais. Recen-temente participou de uma série de reportagens sobre o crack em Minas Gerais, que foi ao ar no MGTV e Jornal Nacional, da Rede Globo. “Depois de esgota-das todas as possibilidades de gravarmos a reportagem de maneira convencional, adotamos o último recurso

possível que é o uso da microcâmera. Tenho 25 anos de profissão e nunca vi essa ferramenta prejudicar uma pessoa inocente. Em todas as oportunidades em que atuei, foi sempre o malfeitor que foi flagrado por nossas reporta-gens. Vivemos sobre a batuta de um estado de direito lento, burocrático e que não acompanha a velocidade e demandas da nossa sociedade”, afir-mou Saulo, mostrando que suas ações são pautadas por um ideal de jornalis-mo romântico.

Essa polêmica parece não ter fim. Você é capaz de responder a indaga-ção: É aceitável gravar sem ser nota-do? Fica o dilema

Veja vídeo-reportagem no portal Conecta: www.conecta.fumec.br

O jornalista Saulo Luis defende o uso de microcâmera

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 41

Câmera esCondida - reportagem

Foto: Franco Serrano

Todo universitário recém-forma-do sente um frio na barriga quando acaba seu curso superior e é preciso pensar na sua colocação no merca-do de trabalho. A angústia nos pri-meiros meses pós-formatura parece inevitável. Pensando em minimizar essa ansiedade, a Ponto e Vírgula inaugura este espaço para localizar e desvendar quais caminhos percor-rem os recém-formados do curso de jornalismo da Fumec que conquis-taram seu lugar no tão concorri-do mercado profissional. A coluna “Destaque” trará o perfil desses ex-alunos e pretende mostrar, aos atu-ais estudantes, as dicas e estratégias desses profissionais. Nesta edição, o

destaque é o jornalista Pedro Hen-rique Vieira, formando da turma de 2009.

Contratado assim que se formou, como promoção após estágio na TV Horizonte, Vieira encontrou nesse espaço a oportunidade de mostrar as competências e conhecimentos adquiridos ao longo do curso, aliado s à sua personalidade e background cultural.

Jornalista factual em alguns mo-mentos, comentarista esportivo em outros; essa é a vida de Pedro Vieira hoje, depois de três anos de forma-do. Atuando na rádio Globo e CBN , iniciou sua trajetória profissional no programa televisivo Aqui Esportes,

da TV Horizonte. É pesquisador da área futebolística e professor do en-sino superior, e em 2008, publicou o livro O coração da Massa.

Como estudante de jornalismo, procurou aproveitar ao máximo as oportunidades de infraestrutura oferecidas pela Universidade. O que contribuiu muito em sua aprendi-zagem, segundo ele, foi o insistente aproveitamento dos laboratórios da Fumec. Bem humorado, - ele conta: “Eu era piolho de laboratório; fica-va lá até umas cinco da tarde. Os técnicos não aguentavam mais olhar para minha cara”. Foi monitor vo-luntário do jornal O Ponto e do la-boratório de telejornalismo e lembra

Ex-aluno da Fumec encontrou seu lugar no jornalismo esportivo

nas onDas Do ráDio

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201242

em destaque - pedro henrique vieira

Fotos: Ana Clara Maciel e Isabela Resende

com carinho dos professores que o incentivaram durante o curso.

Antes de começar a carreira foca-da no futebol, estagiou no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) e na Fundação de Am-paro à Pesquisa do estado de Mi-nas Gerais (Fapemig). Pedro afirma que, independentemente da área ou função, a experiência de estagiar é sempre válida, já que é sempre possível absorver novos conteúdos. Como exemplo, fala da sua atuação no TRE: “Quando comecei a traba-lhar na área futebolística eu percebi que não cheguei tão cru no que diz respeito a normas jurídicas do es-porte”.

Nos últimos oito meses de curso, ele estagiou na produção do progra-ma Aqui Esporte, da TV Horizonte, onde ganhou seu passaporte para

o mundo esportivo. Assim que se formou, foi efetivado na emissora e atribui essa contratação a sua deter-minação. “Comecei a mostrar meu trabalho no estágio e fui crescendo e alcançando meu espaço”, conta Pedro. Nessa fase, conquistou a ad-miração de profissionais renomados da área que o indicaram para seus próximos trabalhos.

Inserido na área jornalística, ele expõe uma nova questão aos estu-dantes. A importância de o profis-sional ser multimídia, ou seja, saber dominar todas as áreas do jorna-lismo. “A concorrência é acirrada, já tem pouco mercado, quem não sabe fazer uma ou outra coisa perde espaço para o concorrente. Então, quem sabe fazer texto, tem uma boa dicção, grava bem, domina os pro-gramas e ainda consegue agregar co-

nhecimento é considerado um pro-fissional completo para o mercado atual”, avalia Pedro.

Na sede da Rádio Globo, Pedro Henrique Vieira reconhece que todo o esforço valeu a pena. “Meu sonho era ser jornalista. Tive a oportunida-de de conquistar meu espaço e me consolidar na área. Tem que ter raça e disposição porque se trabalha mui-to, mas o jornalismo é gratificante. Somos formadores de opinião, e é muito legal você se sentir importante para a sociedade”, conta, mostrando que dedicação e carisma foram, para ele, as características fundamentais para o sucesso profissional

Por Ana Clara Maciel e Isabela Resende

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 43

pedro henrique vieira - em destaque

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201244 Ilustração: bbstormwallpapers.com

opinião

o preço Da mÚsica

Por Izabela Linke

Após uma série de denúncias e cobranças indevidas (e absurdas), o Escritório Central de Arrecadação e

Distribuição entrou na pauta e evidenciou a problemática política de direitos autorais existente no Brasil. Repudiado

por alguns, abraçado por outros, o Ecad vive uma fase turbulenta e perigosa – porém, reveladora.

Um blog de design, sete cola-boradores, nenhum fim lu-crativo. O Caligraffiti é um

entre muitos blogs, tumblrs e sites que surgem a cada dia como uma reunião de amigos que querem es-crever sobre seus interesses e dividir suas experiências e gostos com o res-to do planeta. Querem visibilidade – ainda que modesta –, querem espaço e possibilitar encontros. Enfim, que-rem compartilhar.

Mas, como o Caligraffiti desco-briu no final do mês de fevereiro, o compartilhamento tem um preço. Pelo menos para o Ecad, que deci-diu cobrar R$ 352,59 mensais dos donos do blog pelos direitos auto-rais de vídeos do Youtube e do Vi-meo que figuravam no site. Depois da confusão e do susto levado pelos blogueiros, a notícia caiu na rede e o boca-a-boca se espalhou.

O problema é que a tal cobrança é ilegal. Como a Google e o Ecad já têm um acordo assinado que prevê o pagamento dos direitos autorais pelos vídeos hospedados no Youtu-be, cobrar dos usuários pelo com-partilhamento dos vídeos constitui uma dupla cobrança pelo mesmo produto. “Na prática, esses sites não hospedam nem transmitem qualquer conteúdo quando asso-ciam um vídeo do YouTube em seu site e, por isso, o ato de inserir víde-os oriundos do YouTube não pode ser tratado como ‘retransmissão’. Como esses sites não estão execu-tando nenhuma música, o ECAD não pode, dentro da lei, coletar qual-quer pagamento sobre eles”, afirma Marcel Leonardi, diretor de políticas públicas e relações Governamentais do Google Brasil, em nota oficial pu-blicada no blog do Youtube Brasil.

Não foi a primeira vez que o ór-gão de arrecadação passou por uma situação parecida. Depois de cobrar R$1.875 reais pelas músicas que se-riam tocadas em uma festa de casa-mento, o Ecad foi processado pelos

noivos e condenado a indenizá-los em R$5 mil reais, além de devolver a quantia paga na ocasião do casa-mento. Relatos de fiscais interrom-pendo cerimônias para cobrança de direitos autorais não são tão raros quanto se pensaria.

A burocracia cheia de brechas e uma política defasada e sem fisca-lização permitem ao Ecad uma li-berdade quase sórdida para realizar suas atividades. Instituído por uma legislação de 1973 e mantido pela Lei de Direitos Autorais, de 1998, o órgão não é fiscalizado desde 1990, quando o Conselho Nacional de Di-reitos Autorais (CNDA) – juntamen-te como Ministério da Cultura – foi dissolvido pelo governo Collor. Isto é, há mais de 20 anos o gato não está; portanto, os ratos fazem a festa.

O Escritório Central de Arreca-dação e Distribuição é uma insti-tuição privada, administrada por nove associações de música. Conta com 27 unidades, 840 funcionários, 52 escritórios de advocacia e 110 agências autônomas espalhadas pelo Brasil. São 3.225 milhões de obras catalogadas, 1.194 fonogramas, 81 mil boletos emitidos por mês, 443 mil “usuários de música” cadastra-dos e 540.526.527 de reais de arre-cadação no ano passado. (Os dados

são do site oficial do ECAD)Sem fiscalização externa, o órgão

goza de total liberdade administra-tiva, tendo todas as suas regras e decisões definidas em uma assem-bleia geral formada por membros das associações que compõem o próprio ECAD. São elas a Abramus (Associação Brasileira de Música e Artes), Amar (Associação de Músi-cos, Arranjadores e Regentes), Assim (Associação de Intérpretes e Músi-cos), Sbacem (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escri-tores de Música), Sicam (Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais), Socinpro (Socie-dade Brasileira de Administração e Proteção de Direitos Intelectuais), UBC (União Brasileira de Composi-tores), Abrac (Associação Brasileira

de Autores, Compositores, In-térpretes e Músicos) e Sadembra (Sociedade Administradora de Direitos de Execução Musical do Brasil).

Por ter como base uma lei que data de 1998, uma época anterior à onda da internet no Brasil, uma reestruturação na política dos direitos autorais se faz mais do que necessária. Em pauta nos mandatos dos ex-mi-nistros Gilberto Gil e Juca Fer-reira, a reforma da Lei de Direi-to Autoral deveria ser debatida em caráter de urgência, mas não é o que se vê diante do atual ce-nário do Ministério da Cultura,

regido agora pela ministra Ana de Hollanda. Aliás, o que se vê é o con-trário, e é exatamente por isso que algumas dúvidas sobre as relações entre o MinC e o ECAD começaram a surgir.

Assim que assumiu a pasta, uma das medidas tomadas pela ministra foi remover do site do Ministério o selo do Creative Commons – projeto que licencia obras intelectuais e vai de encontro à política do ECAD. De-pois disso, ela nomeou Márcia Re-

Para quem esperava com sede por um

momento de mudança e avanço nas políticas

culturais do país, o que se pode assistir,

por enquanto, é uma marcha para o

retrocesso.

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 45

o preço da músiCa - opinião

gina Barbosa para o cargo de diretora de Direitos Intelectu-ais, por indicação de um advo-gado do ECAD e nomeou ain-da um ex-fiscal do órgão para seu assessor especial no Rio de Janeiro. Pode-se dizer que essas “coincidências” são, no míni-mo, curiosas.

Matérias dos portais dos principais veículos questio-naram também essa estreita relação entre Ana de Hollanda e o ECAD. O jornal O Globo publicou uma troca de e-mails entre os direto-res das associações que compõem o órgão, indicando uma grande proxi-midade com a atual gestão do MinC. O Estado de S. Paulo, Estado de Mi-nas, Folha de S. Paulo, G1, Carta Capital, o Observatório da Cultura, dentre outros, não deixaram o as-sunto amornar. Não fosse o bastan-te, o ECAD ainda sofreu denúncias de formação de cartel e exacerbação de competência legal.

O caminho que se seguiu a partir daí foi algo esperado. O Senado Fe-deral recebeu um pedido de abertura de CPI para investigar o escritório de arrecadação, assinado por 28 sena-dores, inclusive o autor do pedido, senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). O pedido foi aceito e a CPI foi instalada e apresentou seu relató-rio final no último dia 26 de abril. A investigação concluiu que houve cartelismo, formação de quadrilha e pediu o indiciamento de 15 direto-res ligados ao órgão por apropria-ção indébita, falsidade ideológica, agiotagem e crime contra a ordem econômica, além de sugerir que o es-critório passe a ser fiscalizado pelo Ministério da Cultura.

O ECAD publicou em seu site uma resposta oficial (www.resposta-doecad.org.br) às acusações e à im-prensa, alegando que o foco econô-mico e político é que motivou essa investigação, o que nada tem a ver com a causa da arrecadação e dis-

tribuição dos direitos dos músicos. Afirmou também que a CPI não apresentou documentos que com-provem suas acusações e que não se preocupa com a fiscalização externa. “O ECAD é uma instituição priva-da que jamais recebeu subvenções por parte do governo e não neces-sita de tutela pelo Estado. Contudo não teme qualquer tipo de supervi-são que venha a ser realizada, desde que seja técnica, sem viés político, dentro dos limites constitucionais, e que preserve o direito do autor de fixar o preço pela utilização de sua obra. A instituição entende que tal supervisão poderá, inclusive, atestar o profissionalismo e a transparência com que vem sendo conduzida a ges-tão dos direitos autorais no Brasil”, afirma o documento oficial redigido pela própria instituição.

De acordo com matéria publicada na Carta Capital, “Ana de Hollanda poderia ser indiciada por ‘advocacia administrativa’, quando funcionário público patrocina, direta ou indire-tamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário”.

Para quem esperava com sede por um momento de mudança e avanço nas políticas culturais do país, o que se pode assistir, por enquanto, é uma marcha para o retrocesso. Em vez de abraçar o progresso tecnológico e tentar criar, ou reformar, políticas que incorporem o novo panorama cultural e social em que vivemos, o que se vê é uma falta de compreen-são e rejeição das novas possibilida-

des. Depois de afirmar que “a pirataria vai matar a produção cultural brasileira”, Ana de Hollanda deu a entender que se o que esperamos é progres-so, talvez tenhamos que esperar mais um pouco.

As críticas à ministra não param. E vem de todos os la-dos. Foi feita uma carta aberta pedindo a saída de Hollanda e sugerindo um novo nome para

a pasta – Danilo Miranda, diretor do SESC –, assinada por milhares de artistas e encabeçada por ninguém menos que Fernanda Montenegro. De Marilena Chauí até os coletivos de produção independente do Brasil, o consenso é o visível despreparo e atraso do MinC.

Além dos abaixo-assinados que circularam vastamente pela internet e ganharam assinaturas de todas as classes, profissões e lugares, a rede também abriga blogs e sites de re-púdio à gestão de Ana de Hollanda, ao MinC e ao ECAD. Um exemplo é o ‘Fora Ana de Hollanda’ (fora-anadehollanda.blogspot.com.br), um blog que reúne matérias, notas, artigos de opinião, vídeos, críticas e outras postagens sobre a gestão da ministra. O blog faz questão de ressaltar que ”não é contra a pessoa Ana de Hollanda, mas à sua política desastrosa e conservadora” e afirma que defendem “irrestritamente a li-berdade do ACESSO UNIVERSAL à cultura e ao conhecimento”.

Outro exemplo é o tumblr que foi criado após a vergonhosa atua-ção no ECAD na cobrança a noivos e blogs, o ‘Porra, Ecad!’ (porraecad.tumblr.com). De autoria de Gabriel Meissner, o tumblr conta com o apoio da Revista Entremundos. Lá se pode acompanhar a postagem de links para centenas de matérias, en-trevistas e declarações sobre o ECAD e a política de direitos autorais do Brasil – além de poder mandar suas perguntas ou protestos.

Em tempos de redes sociais, financiamento

coletivo, formatos digitais e compartilhamento

constante, não cabemos mais naquela lei de 1998.

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201246

opinião - o preço da músiCa

Info

rmaç

ões

tir

adas

do

sit

e o

fici

al d

o C

reat

ive

Co

mm

ons

A reforma se faz necessária. Em tempos de redes sociais, financia-mento coletivo, formatos digitais e compartilhamento constante, não cabemos mais naquela lei de 1998, há muito ultrapassada e que só ser-ve para proteger os interesses de um órgão arbitrário como o Ecad.

O artista que paga para tocar suas próprias músicas não é uma fi-gura rara no Brasil. No palco ou na plateia, não importa. A insatisfação é coletiva e não tem medo de mos-trar a cara - finalmente. A reforma

se faz urgente.

Creative CommonsCriado pelo Professor Lawrence

Lessig, da Universidade de Stanford em 2001, o Creative Commons é um projeto que visa o licenciamento de obras intelectuais de uma maneira livre. O CC permite que o direito autoral seja mantido, porém que a obra tenha mais permissões de uso e compartilhamento.

A sua missão, como definida pe-los próprios criadores e desenvolve-

dores, é a de maximizar a criativi-dade digital, o compartilhamento e a inovação. Mantido através de do-ações (que qualquer um, inclusive, pode fazer), o CC propõe seis tipos de licenças que vão desde a abertura total até o seu oposto. No Brasil o Creative Commons é dirigido pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e coordenado por Ronal-do Lemos. A organização é muito apoiada pelo ex-ministro da cultura, Gilberto Gil

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 47Foto: creativecommons.org.br

o preço da músiCa - opinião

RoodbossO Roodboss Soundsystem é um

um projeto que leva aos espaços públicos de Belo Horizonte a mú-sica e a alegria jamaicana. Ao som de ska, rocksteady e reggae, o gru-po transforma qualquer lugar em festa. Durante seus quase 5 anos de existência, já passaram pelo evento 10.000 pessoas. A festa é gratuita e as datas e os locais são informados no site do Roodboss. Classificação: nenhuma. Todos são bem vindos. Saiba mais: www.roodboss.com.

“O Roodboss sempre faz bom uso do espaço público e toda edi-ção é uma grande festa alegre e

cheia de gente”, Juliana Vallim, 23 anos, estudante.

Sexta BásicaHá mais de um ano, os Djs JJBZ,

Fael, Thiagão e Yuga se reúnem mensalmente no Mercado das Bor-boletas, local onde a festa nasceu e ganhou sua personalidade. O públi-co médio gira em torno de 750 pes-soas por edição e é muito variado. A Sexta Básica sempre conta com Djs convidados e intervenções artís-ticas. Cada edição é um pouco te-mática. No som, um bocadinho de tudo, mas prevalecem brasilidades, funk, soul, hip hop e rock. O preço de entrada é R$ 15 com nome na

lista amiga e R$ 20 sem o nome na lista. Bebidas são vendidas no bar montado no evento. Classificação: 18 anos. Saiba mais: www.face-book.com/sextabasica

“Eu gosto da Sexta Básica, por-que além de acontecer em um lugar totalmente inusitado e agradável, o Mercado das Borboletas, tem tam-bém o som incrível que os Djs to-cam, trazendo sempre tudo que é bom para a pista ferver”. Érico Ri-cardo, 21 anos, estudante.

Alta FidelidadeA Alta Fidelidade é uma festa

mensal que acontece em Belo Hori-zonte há 3 anos. A proposta é sim-ples: Os Djs Deivid, Fael, Garrell, JJBZ e Kowalsky se revezam nas pi-capes ao longo da noite, todos muni-dos de seus discos de vinil. Não exis-te regra para os estilos musicais, na Alta FIdelidade rola todo e qualquer estilo de música boa: funk, soul, re-ggae, rock, disco, rap, brasilidades e o que mais der na telha dos Djs. As festas acontecem em locais variados, de acordo com a disponibilidade das casas e interesse dos Djs. Os preços variam entre R$ 25 e R$45, depen-dendo da edição. Os ingressos devem ser comprados antecipadamente nos postos de venda. Bebidas são vendi-das no local. Classificação: 18 anos. Saiba mais: www.altafidelidade.org

“Os Djs da Alta Fidelidade usam vinil, o que dá outro astral pra festa, de exclusividade. Não perco uma e a cada festa é mais divertido”. Julia Boynard, 21 anos, estudante.

para DançarPor Giulia Mendes e Marcela Xavier

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201248

guia CuLturaL

Foto: Divulgação

Bar do OrlandoNa ativa desde 1919, a antiga

loja de artigos para pesca hoje é um botequim. As prateleiras aco-modam itens de mercearia que vão desde sabão em pó a papel higiêni-co, cachaça e enlatados. Sem fres-cura, o bar não conta com nada em especial, além da simplicidade de poder degustar o tira-gosto e a cer-veja nos banquinhos da praça ali em frente, em Santa Tereza. Uma estufa armazena o famoso torres-mão, especialidade da casa. Classi-ficação: todas as idades.Endereço: Rua Alvinópolis, 460 – Santa Tere-za. Saiba mais: (31) 3481-2752

“O bar do seu Orlando é gosto-so para se tomar uma cerveja, pois fica de frente para uma praça onde os bancos viram mesas do bar. Fa-cilmente encontramos amigos, um violão e um bom samba por lá”. Eduardo Zica, 24 anos, estudante.

Café ArcângeloO Café Arcângelo é referido por

seus frequentadores como “a va-randa mais charmosa da cidade”. Situado no edifício Maletta, o Ar-cângelo funciona como café e bar, e conta com um espaço interno aconchegante e uma varanda que fica de frente para a rua da Bahia, cartão postal da cidade. O aten-dimento é feito por uma equipe extremamente amigável, e, no car-dápio, além de drinks exclusivos e elaborados por um barman com-petente, o cliente encontra também petiscos de bar, drinks à base de café e chás.Classificação: todas as idades. Endereço: Rua da Bahia,

1148, sobreloja 02, Centro. Saiba mais: https://www.facebook.com/arcangelocaffe

“O Arcângelo trouxe de volta o charme do centro da cidade. O ambiente é super gostoso, com a vista para o Centro de Cultura. O atendimento e o cardápio também colaboram para que o lugar se tor-ne mais agradável”. Glico Gênio, 25 anos, designer gráfico.

Godofrêdo BarO bar Godofrêdo é um reduto

dos amantes da boa música. Qua-se na esquina onde foi formado o Clube da Esquina, em Santa Tereza, a casa recebe a presen-ça de músicos renomados em um repertório que mescla chorinho, canções dos Beatles e sucessos do Clube da Esquina. O clima acon-chegante fica completo com o chop gelado, os petiscos de boteco e a simpatia de Luciane Mendes, sócia do local.Apresentações no piano com Gabriel Guedes e Ro-drigo Borges acontecem todas as sextas. A entrada varia de R$ 8 a R$ 15, dependendo do dia da se-mana. Classificação: todas as ida-des. Endereço: Rua Paraisópois, 738 – Santa Tereza. Saiba mais: (31) 3483-6341 e www.godofre-dog.com

“Existe em Belo Horizonte um bar e restaurante musical com agradáveis surpresas traduzidas em notas que merecem uma visita. Esse lugar se chama Godofrêdo”. Marco Aurélio Prates, 38 anos, fo-tógrafo.

Rodrigo borges e Gabriel Guedes no Godofrêdo Bar

para sentar e curtir

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 2012 49

guia CuLturaL

Foto: Divulgação

Lord PubO Lord Pub faz sucesso, há seis

anos, com a fórmula: cerveja gela-da, gente bonita e shows ao vivo de rock nacional e internacional das bandas mais tradicionais de BH. A decoração da casa remete ao clima medieval, com quadros e guitarras de ícones da música. O estabeleci-mento possui dois andares e capa-cidade para 450 pessoas. A noite começa com o agito do VJ, com os melhores clipes de rock and roll de todos os tempos. Sushi bar e espa-ço lounge com petiscos e bebidas para todos os gostos. A entrada varia de R$ 12 a R$ 15, de acordo com o dia da semana e as atrações. Classificação: 18 anos. Endereço: Rua Viçosa, 263 - São Pedro. Saiba mais: (31) 3281-4166 e www.lor-dpub.com.br

“Lord Pub é uma casa noturna muito atrativa, que abriu há alguns anos, sempre se destacando com bandas descoladas de rock. No local ocorreu uma exuberante reforma, principalmente no quesito tecnoló-gico, como a renovação da decora-ção, a modernização do ambiente e

o isolamento acústico. Sempre uma boa pedida”, Mário Henrique Coe-lho, 39 anos, diretor escolar.

Jack Rock Bar

O Jack Rock Bar abriu em 2003 e desde então se consolidou como uma das principais casas notur-nas de Belo Horizonte a oferecer música boa para os fãs do gêne-ro. Do nome à decoração do lo-cal, tudo remete ao rock. O Jack tem também um palco, que conta com a apresentação de duas ban-das por noite nos fins de semana. O bar conta com uma variado cardápio de comidas e bebidas. O preço de entrada varia entre R$ 12 e R$ 15. Classificação: 18 anos. Endereço: Av. Contorno, 5623 – Funcionários. Saiba mais: (31) 3227-4510 www.jackrock-bar.com.br

“O Jack é um lugar bem legal para escutar rock and roll. A cer-veja é gelada, o ambiente é agra-dável, o atendimento é bom e a sinuca é um atrativo a mais”. Ro-mulo Santos, 27 anos, estudante.

Circus Rock BarTotalmente inspirado no filme

“The Rolling Stones Rock and Roll Circus”, de 1968, em que Mick Jagger e outras lendas do rock faziam uma festa icônica no picadeiro de um circo, Circus Rock Bar conta com dois anda-res e um espaço que acomoda até 600 pessoas. O primeiro piso tem um palco em formato de pi-cadeiro e lá acontecem shows de bandas e performances cênicas. No segundo andar fica o sushi bar e um espaço lounge. Classi-ficação: 18 anos. Endereço: Rua Gonçalves Dias, 2010 – Lourdes. Saiba mais: (31) 3275-4344 / 3223-0090 e www.circusrock-bar.com.br

“O Circus Rock Bar é referên-cia quando se fala em casas de show em BH. Um padrão inte-ressante de balada de rock, com estrutura, tamanho, atendimento e instrumentos de muita qua-lidade. Bom para os músicos e para os clientes também”. Kicko Campos, 37 anos, músico.

para quem gosta De rock

Espaço reformulado do Lord Pub

Circus Rock Bar aposta em decoração de picadeiro

Jack Rock Bar: tradicional em BH

Revista Ponto & Vírgula — agosto de 201250 Fotos: Divulgação

guia CuLturaL