12
Ano 8 | Número 67 | março de 2008 | Belo Horizonte/MG DISTRIBUIÇÃO GRATUITA JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto Patrimônio cultural Na contramão do clima frenético predominante nas baladas, em BH, três locais mantêm o ambiente boêmio como principal chamariz para seu público. Cantina do Lucas, Bar do Bolão e La Greppia são mui- to mais que uma simples sugestão. São os representantes mais famo- sos dos bares que preservam a tradição boêmia em Belo Horizonte. A fama da Cantina do Lucas se espalhou e o local foi tombado co- mo patrimônio cultural e, atualmente, faz parte do roteiro turístico da capital mineira. Histórias e personagens como o garçon Olympio, que durante 40 anos se dedicou ao tradicional bar da capital, também dão charme ao local. [ página12] Obstáculo à locomoção Mesmo com uma legislação específica, os portadores de necessidades especiais ainda encontram dificuldades para se locomover nas vias públicas da capital. Segundo entre- vistados, muitas barreiras ainda prevalecem e nem mesmo os prédios públicos atendem os requisitos da lei. Outra reclama- ção constante é que menos da metade do transporte público é adaptado às necessidades dos cadeirantes. Em Belo Ho- rizonte, o número de pessoas portadoras de necessida- des especiais é estimado em 280 mil. Em Minas, esse núme- ro chega a 2,6 milhões. [página 05] A arte de reciclar o comportamento Drama de familiares de desaparecidos ganham as ruas em forma de protesto [ página 03] Riscos da profissão repórter Cine volta à cena e é ampliado Trânsito é problema na capital Na briga diária por audiência O glamour do jornalismo policial cedeu espaço ao medo. Os repórteres dessa área en- frentam muitos riscos em bus- ca de uma boa matéria. Em 2007, noventa e cinco jornalistas foram assassina- dos no mundo todo. Na Amé- rica Latina esse número che- gou a onze. As agressões e ameaças são freqüentes, e a insegurança le- va estes profissionais a recor- rerem à ajuda da polícia. A fundação Municipal de Cultura irá reformar o Cine San- ta Tereza para que volte a fun- cionar como na década de 40. A recuperação do local, um dos mais antigos cinemas da capital, tem previsão de início para este mês e prome- te dar novos ares para o co- mércio da região. A reabertura do Centro Cultural é uma reinvindicação dos moradores do bairro. O ci- nema foi desativado na déca- da de 1980. Biblioteca, oficinas de ar- tes e exposições sobre o Clu- be da Esquina são promessas de atração para o local.O ci- nema também contará com uma sala de exibição de 140 lu- gares. Além do Santa Tereza, Ci- nema Brasil e Cine Paladium também voltarão à ativa. [ página 11] O aumento de veículos no trânsito de Belo Horizonte já está obrigando os órgãos res- ponsáveis a buscar soluções para evitar que a capital mi- neira enfrente os mesmos transtornos de grandes cen- tros urbanos como São Paulo. Para reduzir o caos nas ruas centrais, a BHTrans, em- presa que regula o trânsito da capital mineira, criou e im- plantou o CIT (Controle Inteli- gente de Tráfego). O sistema conta com auxi- lio de câmeras de TV, paineis de mensagens variáveis e sis- tema centralizados de semá- foros. Por meio desses equi- pamentos, equipe técnica mo- nitora o tráfego, controla o tempo dos semáforos e infor- mar ao motorista sobre as con- dições do trânsito nos princi- pais pontos da cidade. [ página 04 ] O jornalismo popular tem ocupado cada dia mais espa- ço na mídia brasileira. Com a TV isso não é diferente. Qua- se todas as emissoras abertas têm um programa desse esti- lo. Sua principal característi- ca é a identificação com o pú- blico, mostrando matérias do cotidiano dos seus telespec- tadores. Marcado pelo sensaciona- lismo, essa linha do jornalismo se esforça para acabar com o preconceito. Os programas têm apostado na melhoria edi- torial para se firmarem como um jornalismo de qualidade. [ página 09] CRISTINA BARROCA E LAURA AGUIAR A idéia de fazer uma reportagem sobre lixo surgiu nas aulas de jornalismo científico no semestre que passou. Fi- camos responsáveis por visitar um tal “centro de recicla- gem”. O dead line se aproximava, mas estávamos cada vez mais distantes do tema. Resolvemos enfim, marcar uma vi- sita. O ônibus que nos levaria ao nosso destino passou por nós quando a caminho do ponto. O desânimo quase nos fez desistir. Tomamos a próxima linha. O lugar que nunca che- gava, e nós, que estamos há pouco tempo na cidade, não fa- zíamos a mínima noção de nossa localização. Dentro do ôni- bus, movidas pelo desconhecido e pelo então inevitável pre- conceito, temíamos a estrutura do lugar. Imaginavamos ce- nas de um barraco perdido no meio do nada. Descemos do ônibus e tivemos que caminhar alguns metros. Nos depara- mos com um muro que ocupava todo o quarteirão. Era enor- me e lindo. Todo enfeitado com obras de arte; flores, bor- boletas e formigas feitas de alumínio. Muitas cores e o pre- domínio do verde. Ficamos impressionadas, mas também envergonhadas pelo conceito antecipado. Descobrimos que nosso descaso não foi menor que o descaso daqueles que não pensam numa forma de ajudar o seu próprio ambiente. Fomos muito bem recebidas pela equipe do Centro Mineiro de Referência em Resíduos e a vontade era de ficar horas e horas a mais naquele pequeno quarteirão que pensa gran- de pelo planeta; e além de tudo, tem uma consciência ante- cipada muito além do que parece óbvio. [ páginas 06 e 07] Foto: Cristina Barroca Observação:Brasil, Guatemala, El Savador, Honduras, Paraguai e Peru registraram a morte de 1 jornalista. [ página 08] Laboratório de Produção Gráfica

Jornal O Ponto - março de 2008

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

Citation preview

Page 1: Jornal O Ponto - março de 2008

A n o 8 | N ú m e r o 6 7 | m a r ç o d e 2 0 0 8 | B e l o H o r i z o n t e / M G D I S T R I B U I Ç Ã O G R AT U I TA

JORNAL LABORATÓRIODO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto

Patrimônio culturalNa contramão do clima frenético predominante nas baladas, em

BH, três locais mantêm o ambiente boêmio como principal chamarizpara seu público. Cantina do Lucas, Bar do Bolão e La Greppia são mui-to mais que uma simples sugestão. São os representantes mais famo-sos dos bares que preservam a tradição boêmia em Belo Horizonte.

A fama da Cantina do Lucas se espalhou e o local foi tombado co-mo patrimônio cultural e, atualmente, faz parte do roteiro turístico dacapital mineira. Histórias e personagens como o garçon Olympio, quedurante 40 anos se dedicou ao tradicional bar da capital, também dãocharme ao local.

[ página12]

Obstáculo à locomoçãoMesmo com uma legislação específica, os portadores

de necessidades especiais ainda encontram dificuldadespara se locomover nas vias públicas da capital. Segundo entre-vistados, muitas barreiras ainda prevalecem e nem mesmo osprédios públicos atendem os requisitos da lei. Outra reclama-ção constante é que menos da metade do transporte público é

adaptado às necessidades dos cadeirantes. Em Belo Ho-rizonte, o número de pessoas portadoras de necessida-

des especiais é estimado em 280 mil. Em Minas, esse núme-ro chega a 2,6 milhões.

[página 05]

A arte de reciclar ocomportamento

Drama de familiares dedesaparecidos ganham as ruasem forma de protesto

[ página 03]

Riscos daprofissãorepórter

Cine voltaà cena e éampliado

Trânsito éproblemana capital

Na brigadiária poraudiência

O glamour do jornalismopolicial cedeu espaço ao medo.Os repórteres dessa área en-frentam muitos riscos em bus-ca de uma boa matéria.

Em 2007, noventa e cincojornalistas foram assassina-dos no mundo todo. Na Amé-rica Latina esse número che-gou a onze.

As agressões e ameaças sãofreqüentes, e a insegurança le-va estes profissionais a recor-rerem à ajuda da polícia.

A fundação Municipal deCultura irá reformar o Cine San-ta Tereza para que volte a fun-cionar como na década de 40.

A recuperação do local,um dos mais antigos cinemasda capital, tem previsão deinício para este mês e prome-te dar novos ares para o co-mércio da região.

A reabertura do CentroCultural é uma reinvindicaçãodos moradores do bairro. O ci-nema foi desativado na déca-da de 1980.

Biblioteca, oficinas de ar-tes e exposições sobre o Clu-be da Esquina são promessasde atração para o local.O ci-nema também contará comuma sala de exibição de 140 lu-gares.

Além do Santa Tereza, Ci-nema Brasil e Cine Paladiumtambém voltarão à ativa.

[ página 11]

O aumento de veículos notrânsito de Belo Horizonte jáestá obrigando os órgãos res-ponsáveis a buscar soluçõespara evitar que a capital mi-neira enfrente os mesmostranstornos de grandes cen-tros urbanos como São Paulo.

Para reduzir o caos nasruas centrais, a BHTrans, em-presa que regula o trânsito dacapital mineira, criou e im-plantou o CIT (Controle Inteli-gente de Tráfego).

O sistema conta com auxi-lio de câmeras de TV, paineisde mensagens variáveis e sis-tema centralizados de semá-foros. Por meio desses equi-pamentos, equipe técnica mo-nitora o tráfego, controla otempo dos semáforos e infor-mar ao motorista sobre as con-dições do trânsito nos princi-pais pontos da cidade.

[ página 04 ]

O jornalismo popular temocupado cada dia mais espa-ço na mídia brasileira. Com aTV isso não é diferente. Qua-se todas as emissoras abertastêm um programa desse esti-lo. Sua principal característi-ca é a identificação com o pú-blico, mostrando matérias docotidiano dos seus telespec-tadores.

Marcado pelo sensaciona-lismo, essa linha do jornalismose esforça para acabar com opreconceito. Os programastêm apostado na melhoria edi-torial para se firmarem comoum jornalismo de qualidade.

[ página 09]

CRISTINA BARROCA E LAURA AGUIAR

A idéia de fazer uma reportagem sobre lixo surgiu nasaulas de jornalismo científico no semestre que passou. Fi-camos responsáveis por visitar um tal “centro de recicla-gem”. O dead line se aproximava, mas estávamos cada vezmais distantes do tema. Resolvemos enfim, marcar uma vi-sita. O ônibus que nos levaria ao nosso destino passou pornós quando a caminho do ponto. O desânimo quase nos fezdesistir. Tomamos a próxima linha. O lugar que nunca che-gava, e nós, que estamos há pouco tempo na cidade, não fa-zíamos a mínima noção de nossa localização. Dentro do ôni-bus, movidas pelo desconhecido e pelo então inevitável pre-conceito, temíamos a estrutura do lugar. Imaginavamos ce-nas de um barraco perdido no meio do nada. Descemos do

ônibus e tivemos que caminhar alguns metros. Nos depara-mos com um muro que ocupava todo o quarteirão. Era enor-me e lindo. Todo enfeitado com obras de arte; flores, bor-boletas e formigas feitas de alumínio. Muitas cores e o pre-domínio do verde. Ficamos impressionadas, mas tambémenvergonhadas pelo conceito antecipado. Descobrimos quenosso descaso não foi menor que o descaso daqueles quenão pensam numa forma de ajudar o seu próprio ambiente.Fomos muito bem recebidas pela equipe do Centro Mineirode Referência em Resíduos e a vontade era de ficar horas ehoras a mais naquele pequeno quarteirão que pensa gran-de pelo planeta; e além de tudo, tem uma consciência ante-cipada muito além do que parece óbvio.

[ páginas 06 e 07]Foto: Cristina Barroca

Observação:Brasil, Guatemala, El Savador,Honduras, Paraguai e Peru registraram amorte de 1 jornalista.

[ página 08]

Laboratório de Produção Gráfica

01 - capa 27.03.08 12:38 Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - março de 2008

O P I N I Ã O02 o pontoBelo Horizonte – março/2008

Editor e diagramador da página: Carlos Eduardo Marchetti - 6º G

Coordenação EditorialProf Aurélio José (Jornalismo Impresso)

Conselho EditorialProfª Dúnya Azavedo (Proj. Gráfico), Profª Maria Fiúza (Fotografia)

Monitores de Jornalismo ImpressoPoliane Bôsco e Cristina Barroca

Monitores da Redação ModeloCarlos Eduardo Marchetti

Projeto GráficoProf. José Augusto da Silveira Filho

Tiragem desta edição5000 exemplares

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 – Cruzeiro Belo Horizonte – Minas Gerais

Professor Emerson Tardieu de AguiarPresidente do Conselho Curador

Professor Antônio Tomé LouresReitor da Universidade Fumec

Profª. Thaís EstevanatoDiretora Geral

Prof. João Batista de Mendonça FilhoDiretor de Ensino

Prof. Antônio Marcos NohmiDiretor Administrativo e Financeiro

Profª. Cláudia Fonseca Coordenador do Curso de Comunicação Social

o pontoOs artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Brasil,nacionalismo,carnaval efutebol

CARLOS EDUARDO MARCHETTI

6º PERÍODO

Numa clara intenção de fortalecer o dis-curso favorável ao agronegócio, os “colo-nistas” *, numa cajadada só, promovem olinchamento de toda e qualquer luta dos mo-vimentos socias no campo e ainda defen-dem o projeto de desenvolvimento/domi-nação do agronegócio. Além da sempreatual luta pela reforma agrária, os movi-mentos sociais peleiam para impedir a no-va jogada do capital: institucionalizar o cul-tivo de sementes trangênicas.

O “colonista” Denis Rosenfield, reforçaessa disputa em “Campo Vermelho”, textopublicado no Estadão no dia 18 de fevereiro.

“O ano de 2008 se revela pródigo, pelomenos em invasões e em iniciativas do MSTque procuram pôr em questão a modernaprodução agrícola.”

Essa mesma moderna produção agríco-la brasileira mantém uma postura explora-tória em relação aos trabalhadores do cam-po, apropriando-se da produção de manei-ra tão rústica que nos lembra as primeirasmanifestações do capitalismo em nosso país.

Seguindo sua cartilha, o “colonista” fazo seguinte questionamento:

“Será que os produtores agrícolas deve-riam dar ao Estado e aos ditos movimentossociais o resultado de seu próprio empreen-dedorismo, de seu próprio trabalho? Exige-se isso dos setores industriais, financeiros,de serviços e comerciais?

Primeiro, o empreendedorismo referidonão passa de mera exploração do capital, ouserá que o “colonista” não conhece a situa-ção do trabalhadores das grande proprie-dades canavieiras, por exemplo?

Segundo, os setores industriais, finan-ceiros, serviços e comerciais são combati-dos com a mesma envergadura. Afinal, porque discutimos a manutenção do superávit,os altos lucros dos bancos e o viés partidá-rio que pôs fim à CPMF?

Eis que surge uma pérola no texto:“O Estadão estampou, há alguns dias, emmanchete de primeira página, o desmata-mento realizado por assentados. As provassão abundantes. O MST, quando desmata,esconde e, no entanto, não deixa de alardeara sua defesa do meio ambiente”.

Quer dizer então que devemos condenaro MST pelo desmatamento que realiza! E osmadeireiros? E os latifundiários? E as em-presas de celulose? E os exploradores damão de-obra barata e escrava do campo? Nenhuma menção, afinal, para o PIG**, aculpa é inexoravelmente do governo e seus(ex)aliados históricos.

Como já é de praxe, não poderiam fal-tar ataques a outros líderes da America La-tina como Fidel e Chávez. Não obstante,aquilo que Rosenfield chama depreciativa-mente de “luz chavista”, pode ser entendi-do como representação da luta pela terrae contra a exploração histórica prevale-cente. Se as camadas populares dialogampor meio de entidades representativas e searticulam sobre os mesmos interesses, cul-pe a História! Afinal, o capital não faz omesmo?

Enquanto filósofo, Rosenfield não passade um colonista com carteirinha de sócio-torcedor do PIG.*Colonista: que expõem as idéias do patrãocomo se fossem suas. Submetida ao pensa-mento hegemônico** PIG: Partido da Imprensa Golpista

LUCAS MENDONÇA

6 ºPERÍODO

Para falarmos de educação,primeiramente temos de falarde como ela está situada, ouseja, há de se fazer uma duraavaliação que observe o de-senvolvimento da educação noBrasil e no mundo, com o ob-jetivo de saber o resultado ob-tido com as atuais políticas pe-la educação. O resultado des-ta avaliação: a privação do di-reito à sabedoria humana.

Esta privação é impostapela realidade econômica ca-pitalista, que utiliza a educa-ção como meio de obter lucro.Isto inclui a privatização devárias universidades públicas,que tem como objetivo tornara produção científica voltadaapenas para o mercado do-minado pelas multinacionais.

O interesse do mercado éo lucro na venda de suas mer-cadorias para manter uma ta-xa de lucro crescente, e isto éincompatível com as urgên-cias sociais que temos hoje,mundialmente.

Apenas cerca de 15% dosjovens brasileiros tem acessoà universidade. Destes estu-dantes, poucos deles possuema possibilidade de obter umaformação de qualidade, quefaça no mínimo o estudantese compreender numa reali-dade historicamente cons-truída pelos homens e de quetanto o seu ser é social, quan-to a sociedade é passível detransformações pelo seu su-jeito.

As universidades públicasbrasileiras estão em miséria,contando com aproximada-mente 1,5% do PIB nacional.E para suprir a deficiência do

Estado várias empresas in-vestiram na criação de diver-sas universidades privadasque contam também comsubsídios do governo quan-do participam do ProUni. Oensino nestas universidadesnão se propõe a formar su-jeitos críticos que pensem eatuem na realidade transfor-mando-a, mas sim que a rea-lidade imposta pelo capitaltransforme o estudante emmais um assalariado.

No Brasil, temos valiosíssi-mas referências no que se re-fere à educação, como PauloFreire, que propunha uma pe-dagogia crítica capaz de for-mar a consciência dos estu-dantes através da educação po-pular. Ou Maurício Tragten-berg, que produziu muito ma-terial a respeito da ‘PedagogiaLibertária’ que nos propõe:* Gestão da educação pelos di-retamente envolvidos no pro-cesso educacional e a ‘devolu-ção do processo de aprendi-zagem às comunidades ondeo indivíduo se desenvolve’; * Autonomia do indivíduo, ‘oindivíduo não é um meio, é ofim em si mesmo; * Solidariedade, crítica perma-nente de todas as formas edu-cativas que estimulam ou fun-damentem-se na competição; * Crítica a todas as normaspedagógicas autoritárias.

O estudante tem hoje apossibilidade agarrar-se naciência e na tecnologia, tãodesenvolvida que temos ho-je, para produzir conheci-mento e práticas na universi-dade que emancipe a socie-dade no todo, tendo sempreconsciência de que é esta acondição da emancipação in-dividual de cada um de nós.

Educação humanista

É a luta de classes, estúpido!

FELIPE CHIMICATTI

5 º PERÍODO

Ora ou outra algum brasi-leiro constitui no seio do seudiscurso um inflamado impe-rativo ufanista, orientado emsua maioria pela (excelente)seleção de futebol que o paíspossui ou pela extensa festi-vidade que o carnaval pro-põe. Atribuem a jogadores edesfiles de escola de sambaas manetes do nosso nacio-nalismo e, especialmente nes-ses períodos, a política é es-quecida ou, eufemisticamen-te, pormenorizada.

Ser dessa forma brasilei-ro é bem menos do que sercidadão, basta uma curta mo-bilização sazonal e pronto, es-tá lá um nacionalista de mãocheia. Drummond em Algu-ma Poesia assim escreve: “Eutambém já fui brasileiro/mo-reno como vocês./ Ponteeiviola, guiei forde/e aprendi namesa dos bares/que o nacio-nalismo é uma virtude/. Mashá uma hora em que os baresse fecham/e todas as virtudesse negam”. E ao encerrar asportas desse bar também seencerra nossa pátria e nossasconvicções nacionais; é comose no fado tropical de Buar-que tornássemos a ser colô-nia velada dos outros, muitopor constituir em outras pá-trias o modelo ideal e alcan-çável de civilização.

VirtudeDeveras ser brasileiro e se

reconhecer como tal é umavirtude, mas, o reconheci-mento se perde na maior par-te do ano, perde-se nas polí-ticas tortas que presidem asinstâncias do poder, perde-sena desigualdade abissal queo país contempla, perde-se nacontemplação exagerada aoestrangeiro.

Lima Barreto, outro autorbrasileiro, dos idos de oito-centos, também produziu fe-roz crítica ao nosso naciona-lismo.

Em seu romance O TristeFim de Pilocarpo Quaresma,um homem de aproximada-mente quarenta anos, funcio-nário público, devoto ao Bra-sil e a sua cultura, vê seu ufa-nismo ser negado em própriosolo nacional - muito por seuexacerbado amor a pátria -,tendo nas suas convicçõesnacionais a razão para suadesgraça.

Um homem que, mesmoacreditando piamente em suanação, não é contemplado co-mo brasileiro, e sim comolouco. E, ao ver o carnaval, ofutebol e a bandalheira coe-xistirem de forma harmônica,num estilo bem romano depão e circo, resta-nos refletirnos bares que encerram suasportas tarde demais, nas se-leções dos glamorosos joga-dores de futebol com seus as-tronômicos salários e no car-naval do povo que festeja oorgulho de ser brasileiro maiscinco dias no ano.

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Socialda Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Tel: 3228-3127 – e-mail: [email protected]

Avalie esta edição: [email protected]

Agenda inútil e a farsa eleitoralENZO MENEZES

7ºPERÍODO

Agenda, no jornalismo, é basicamente is-so: os veículos elegem certos assuntos e du-rante um período próximo o tema escolhi-do bombardeia os meios de comunicação,em detrimento de outras notícias com maiorinteresse público. Várias razões explicam aagenda (do medo do concorrente noticiare você, não; à apuração preguiçosa, porexemplo), que tenta justificar sua ocorrên-cia forjando um ineditismo (já reparou quequando há o desabamento de um prédio,no dia seguinte vários prédios também 'de-sabam'? Ou quando há um ataque de pit-bulls, muitos cachorros, no dia seguinte, re-solvem 'fazer' algumas vítimas também?).

Bem, vejamos o caso da eleição presi-dencial dos EUA, por exemplo. Não exa-tamente a eleição, mas a disputa interna dospartidos para eleger, entre alguns nomesde ex-senadores, ex-governadores e ex-pre-feitos, os indicados de democratas e repu-

blicanos para concorrer à presidência dopaís em 4 de novembro de 2008. E a gran-de mídia brasileira se farta com explicaçõessobre o funcionamento das eleições, cobreo dia-a-dia dos pré-candidatos, explica con-seqüências para a política externa e inter-na, discute propostas....uma cobertura in-vejável. E daí?

A quem interessa essa cobertura mas-siva da pré-escolha? Dizem que a eleiçãonos EUA afeta todo o planeta, por isso ointeresse público em torno da questão.Aaaah tá, isso explica muito o suposto in-teresse de um lavrador no interior do Cea-rá pela indicação de McCain ou a desis-tência de Huckabee. A situação cria um pa-radoxo: não sei citar seis vereadores da mi-nha cidade, sei o nome de todos os pré-can-didatos. Não sei o que seis deputados mi-neiros pensam sobre temas relevantes pa-ra a política nacional, mas posso relacio-nar os interesses de democratas e republi-canos sobre petróleo, Iraque, previdência....e nem são as eleições ainda.

Eu acredito na comunicaçãoFERNANDO KELYSSON

3º PERÍODO

É sentida, pelos mais sen-síveis, uma tensão no ar. O cli-ma está carregado, não sei sepercebem. No trânsito, o maisinócuo deslize, e a saraivadade buzinas são certeiras. E oclima marcial que se instala emocasiões onde se reúnem pes-soas que ambicionam o mes-mo objeto. A fila, por exemplo,é uma situação extremamenteperigosa. No elevador, no pon-to de ônibus, no restaurante etantos outros lugares onde so-mos obrigados a estarmosbem pertinhos uns dos outros,nós, seres humanos, muitas ve-zes começamos a nos estra-nhar como se não fossemos,todos, irmãos.

Sabemos que sempre hou-ve, mas parece que na pós-mo-dernidade há mais, um climade enfrentamento, de disputaonde o ego quer sobrepujar oalter. E então as fichas simbó-licas são colocadas à mesa pa-ra o grande jogo da vida ondesempre um quer aniquilar ooutro. Aliás “o outro” nuncaesteve tão renegado como ho-je. E isto é perigoso para to-dos, mas principalmente paraos comunicadores. Sem o “ooutro” não há comunicação. Adireção do olhar de um jorna-lista deve estar apontada sem-

pre para o outro e muito pou-co para si mesmo, pois é nooutro que este se reconhece.

Acredito que passou o tem-po das armas. Não queremosmais o que destrói. A emanci-pação econômica, por si só, ja-mais irá dignificar o homem.E o mais sério; a ciência pode-rá piorar as coisas se gerarefeito contrário, produzindoindivíduos mais obstinados pa-ra o mal. A ciência foi, e estásendo colocada à serviço doegoísmo e do capitalismo vo-raz.

O capital seja ele humano,cultural ou econômico, bemcomo a ciência devem se cur-var à um profundo exercícioda ação comunicativa. Haber-mas nos apontou um caminhoimportante: o espaço livre pa-ra o processo dialógico ondetodos podem ter razão, ondepodemos renegar nossas cer-tezas e admitir que o outro po-de ter razão. Quem sabe istoseja democracia. Não é em vãoque os Mass Media consegui-ram impor cultura, induzir mo-dus de vida. É uma pena queao invés desses meios fazeremnascer um grande grupo de in-teresse universal, criou-se umagrande massa fragmentada gi-rando em torno de si. Masmesmo assim, eu acredito nacomunicação, e quem sabe de-la, a comunhão.

Cristina Barroca 8ºG

02 - opinião 27.03.08 12:39 Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - março de 2008

C I D A D E 03o pontoBelo Horizonte – Março/2008

Editora e diagramadora da página: Lorena Assis 7º Período

Avalie esta edição: [email protected]

Os DesaparecidosFAMÍLIAS DE DESAPARECIDOS DEMONSTRAM SEU SOFRIMENTO E PEDEM MAIS

INVESTIMENTOS DO ESTADO NA DIVULGAÇÃO E NAS INVESTIGAÇÕES

MARCELA BOECHAT

THIAGO PRATES

WANDERSON ADDA

7º E 2º PERÍODOS

Em um ano, foram 264 pessoas desapare-cidas em Minas Gerais. Destes, 147 são da ca-pital. Os dados gerais da Policia Civil mostramque ao longo da existência do departamento,1236 casos foram solucionados, sendo 75 crian-ças , 389 adolescentes , 697 adultos e 65 idosos.

A delegada Cristina CoelliCicarelli, responsável pela Di-visão de Referência da PessoaDesaparecida, em Belo Hori-zonte, afirma que o número dedesaparecidos em Minas Ge-rais compõe um quadro “nor-mal”. “Enquanto 40 pessoasdesaparecem a cada dois me-ses em Belo Horizonte, em SãoPaulo, 30 pessoas desaparecempor dia. Permanecemos numíndice compatível”. A delega-da lembra ainda que quando ocaso passa de desaparecimen-to para seqüestro ou contenhaqualquer outro caráter crimi-nal, o Departamento de Ope-rações Especiais da Secretariade Segurança Pública de Mi-nas Gerais, Deoesp/MG, tor-na-se o setor responsável.“Não podemos dizer que foi se-qüestro ou rapto. Foi um de-saparecimento”, ressalta o pe-dreiro Rivaldo de Freitas Fer-reira, 34, pai de Douglas Frei-tas desaparecido na capital emmarço de 2006.

O importante para a dele-gada é não deixar esse índiceaumentar conforme ocorreuem 2006, quando uma quedano número médio de pessoasdesaparecidas foi registrada.Segundo ela, as fugas são mui-tas vezes motivadas por maustratos, exploração infantil e ou-tros tipos de abusos dentro decasa. “90% dos casos são cons-tituídos por atos voluntários”,enfatiza a Delegada.

Benoni Beltrão, pai de Pe-dro Augusto Beltrão, afirmaque o cansaço, a luta, e a si-tuação angustiante de ter umfilho desaparecido é algo quenão deseja a ninguém. “Há 30anos moro neste local. Meu fi-lho sempre fazia aquele traje-to. A papelaria fica a 150m daminha casa”.

Benoni não acredita que seu filho fugiu decasa. Espera por informações que, na maioriadas vezes, são desencontradas. Vários foramos telefonemas e informações dadas a respei-to de Pedro, mas nenhuma pista concreta. Asuspeita de seqüestro foi descartada já que ne-nhum pedido de resgate foi feito.

O caso de Pedro Augusto e de Douglas de

Freitas, jogador mirim do atlético, impressio-na a sociedade. Ambas as famílias consegui-ram grande apoio e dizem que o empenho daDelegada Cristina Coelli e dos funcionários daDelegacia Especializada na Localização de Pes-soas Desaparecidas é mais que satisfatório. Ainfra-estrutura e os recursos, entretanto, dei-xam a desejar. “Lá não é uma delegacia. É umdepartamento. Tem poucos funcionários, nãoé ‘aquela` equipe. Vamos supor que se tenhaum desaparecimento. O departamento tem co-

mo colocar carro na rua e a equipe faz real-mente o que pode. Na minha opinião existemuita limitação porque não tem uma equipeinvestigativa, uma equipe de inteligência”, re-força a mãe do menino Pedro, Cléia Maria San-tos.

Em resposta à crítica da mãe de Pedro Au-gusto, o chefe do Departamento de Investiga-

ções da Polícia Civil, delegado Antônio Faria,salienta que houve um concurso em andamentoe, em breve, a polícia poderá contar com umefetivo maior para atender os familiares e daragilidade às investigações dos casos de desa-parecidos.

Segundo a socióloga Cristina Leite, os de-saparecimentos não podem constituir um qua-dro chamado “normal”. A responsabilidade pe-las crianças e adolescentes não é somente dospais. Segundo o Estatuto da Criança e do Ado-

lescente, toda a sociedade é responsável. “Nanossa sociedade ninguém presta atenção emninguém. O Pedro desapareceu no centro dacidade e ninguém o viu? As pessoas só pensamnelas mesmas. Você vai para o Centro agar-rando a bolsa”, denuncia Cristina.

O movimento “Onde estão nossas crian-ças?”, do qual a socióloga faz parte, tem como

um de seus objetivos a mudança de visão dasociedade como um todo. “Os desapareci-mentos não são novidade. Com o caso do Pe-dro e do Douglas os problemas que eram daperiferia, distantes, chegaram a outras classes.Os casos dos meninos chamam atenção das au-toridades. Não há uma variação no índice es-tatístico dos desaparecimentos, mas a socie-dade não pode se conformar”, enfatiza a So-cióloga.

É justamente contra essa conformidade queas famílias com entes desapa-recidos estão lutando. Elas seunem e criam uma rede deações, na tentativa de cons-cientizar as pessoas para o queé cada vez mais incidente nosgrandes centros urbanos, osdesaparecimentos. Na maioriados casos os parentes das víti-mas de desaparecimento nun-ca haviam tido contato ouprestado atenção especial aoscasos divulgados. Só tomamconhecimento após a perda deum ente.

MovimentoNo dia 30 de setembro do

ano passado, realizou-se umato com o objetivo de chamaratenção de toda sociedade edo poder público para o nú-mero crescente de casos depessoas desaparecidas.Os ami-gos e parentes de Pedro Au-gusto Beltrão, desaparecido nodia 08 de agosto de 2006, jun-tamente com várias outras fa-mílias, criaram o movimento“Onde estão nossas crianças:não espere desaparecer al-guém que você ama para suasolidariedade aparecer”. Seuprimeiro ato foi realizado narua da Bahia esquina com ruaGoiás, local onde o menino foivisto pela última vez.

O movimento cobra atitudee pretende escancarar a indig-nação de cada um que sofrecom os desaparecimentos defamiliares e amigos.

“Em 2006 realizamos o 1°Ato público “Onde Estão Nos-sas Crianças?”, com a partici-pação de centenas de pessoas.Isso só foi possível graças aoapoio voluntário de empresas,instituições e pessoas que con-tribuíram com recursos, osmais diversos, para o sucessoda caminhada. Em 29 de se-

tembro de 2007, realizamos o 2° Ato Público“Onde Estão Nossas Crianças?”.

Precisamos novamente da ajuda e apoio detodos que puderem participar com patrocínio,trabalho, doação de materiais, enfim, todos osrecursos necessários para a produção e exe-cução deste evento”, declara a mãe de PedroAugusto, Cléia Maria da Conceição Santos.

• A família do desaparecido não precisa esperar 24h . Assimque a pessoa sair da rotina, a família já pode entrar em con-tato com a Polícia Civil.

• Os principais motivos que levam as crianças a sairem de ca-sa: conflito familiar, a falta de afetividade e limites.

• Os dolescentes saem de casa devido aos conflitos e choquede geração com a família. Alguns dos motivos são a violênciadoméstica e abuso sexual.

• Os adultos que desaparecem geralmente têm algum tipo dedeficiência mental. Saem pela rua e geralmente se perdem.

Fontes: Frederico Cabral - Psicólogo

Tatiane Falconi - Assistente Social

Projeto Conviver

Medidas adotadas para se evitar o desaparecimento• Orientar os filhos a não aceitarem doces, presentes, ou qualqueroutro objeto de estranhos, podendo aceitá-los de conhecidos eparentes, somente com prévio consentimento dos responsáveis.• Manter bom relacionamento com a vizinhança.• Procurar conhecer as pessoas que convivem com seu filho.• Participar ativamente dos eventos envolvendo o seu filho, comoaqueles ocorridos em escolas e aniversários.• Ensinar ao seu filho o seu nome completo, endereço e telefone eos nomes dos pais e irmãos.• Não autorizar o seu filho a brincar na rua sem a supervisão de umadulto conhecido.• Evite deixar o seu filho em casa sozinho.• Providenciar a carteira de identidade do seu filho, através doInstituto de Identificação.• Observar o comportamento de novos vizinhos em relação aotratamento dispensado aos menores que com eles convivem,

comunicando à Polícia qualquer fato suspeito.• Observar, em via pública, o trânsito de menores desacompanhados,idosos e portadores de necessidades especiais, caso apresentemdesorientação, possibilidade de extravio ou mesmo dificuldade deexpressão, comunique o fato à Polícia para que prestem a devidaassistência antes que ocorra o seu paradeiro. O ideal é que vocêpossa levar a pessoa até o posto policial mais próximo.• Comunicar e registrar o desaparecimento do menor ou do adultoimediatamente após constatada a sua ausência, na Divisão deReferência da Pessoa Desaparecida. Deve-se apresentar fotografiae documentação do ausente, caso existente, para início da busca. Para o menor, é necessária a apresentação da cópia da certidão denascimento. No entanto, a ausência do documento não impede oregistro e a busca.

Fique Atento

Fonte: http://www.desaparecidos.mg.gov.br/

03 - cidade 26.03.08 17:15 Page 1

Page 4: Jornal O Ponto - março de 2008

C I D A D E04 o pontoBelo Horizonte – Março/2008

Editora e diagramadora da página: Illona Reis - 7ºG

Avalie esta edição: [email protected]

Mais carros que passageirosO QUE OS ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS FAZEM PARA MELHORAR O COTIDIANO DOS MOTORISTAS

O objetivo do CIT é coor-denar, agilizar e organizar otráfego para que o motoristareduza o seu tempo de viageme economize gasolina. Os car-ros ficam menos tempo para-dos devido ao maior controlesobre o tempo dos semáforos.Com isso, a poluição atmosfé-rica, e a sonora, também sãoreduzidas, pelo simples fato dehaver uma emissão menor degases poluentes e barulho.

O custo da implantação doCIT em Belo Horizonte foi deaproximadamente R$ 21 mi-lhões. Com o sistema, estima-se que será reduzido em 26% otempo em que o motorista ficaparado no semáforo, contri-buindo também com a reduçãode acidentes

O sistema funciona em trêsetapas: A primeira é o monito-ramento do tráfego, através decâmeras instaladas pela cidadeque são coordenadas pelo Cen-tro de Controle Operacional(CCO). A segunda se refere ao

controle do tempo dos semá-foros nas interseções, por meiodo monitoramento das câme-ras e a terceira é o painel demensagem variável que infor-ma o motorista, em tempo real,a situação do trânsito nos prin-cipais pontos da cidade. Infor-ma também obras nas pistas,rotas alternativas e ocorrênciade acidentes. O sistema estáinstalado em 263 cruzamentosda área central da capital.Ocontrole funciona em toda aárea central.

O sistema conta com o au-xílio das câmeras de TV, dospainéis de mensagens variáveise dos sistemas centralizados desemáforos. "Na área central, omodo de trabalhar da máqui-na foi alterado. Foram implan-tados sensores no pavimento,que medem continuamentequal é o fluxo do trânsito e en-viam para os computadores doCentro de Controle Operacio-nal, (CCO), para calcular qualseria o melhor tempo do sinal

verde para aquele momento",enfatiza a supervisora do CIT,Gabriela Pereira. Como exem-plo, podemos citar a seguintesituação: Se na Praça Sete otrânsito estiver congestionado,

o tempo do sinal verde serámaior. Se a pista estiver livre,nesse caso, o tempo do sinalverde será menor.

Além destas vantagens di-recionadas aos motoristas, oinstrumento age também comeficiência na manutenção dossinalizadores de trânsito,"Antigamente o agente deve-ria ir a todos os cruzamentosde Belo Horizonte para con-

certar manualmente cada umdos semáforos. Hoje, daquide dentro (do CCO), nós po-demos fazer isso com rapi-dez", afirma Gabriela Perei-ra.

Fiscais entram em cena Os fiscais de trânsito entram

em ação quando a situação nasruas se torna caótica, traba-lhando para conter tumultoscausados por diversos aspec-tos: semáforos queimados, aci-dentes, imprudência de algunsmotoristas e falta de uma me-lhor sinalização.

A profissao de fiscal detrânsito existe desde 1992, po-

rém foi só em janeiro de 1998,com a implementação do no-vo código brasilero de trânsi-to, que a quantidade de pro-fissionais se intensificou emBelo Horizonte. Hoje existemaproximadamente 350 fiscaisque controlam e ajudam nafluidez do tráfego.

O trânsito em Belo Hori-zonte já não é mais calmo co-mo há cinco anos. Os fiscais detrânsito desempenham um pa-pel fundamental nas ruas, jáque são eles que coordenamtoda a movimentação e a or-ganização das pistas. Fiscal detransito há sete anos, o paulis-ta Luís Mário diz que é um tra-balho que deveria ser melhorremunerado e reconhecido. “Otrabalho do fiscal às vezes édeixado de lado, tanto pelaprefeitura quanto pelos moto-ristas, que vêem em nós, umaforma de atraso no dia-a-dia”,afirma Luís Mário.

O trabalho estressante, osbaixos salários e a falta de re-conhecimento são reclama-ções dos fiscais. “Sustentar aminha família com o salárioque eu ganho não é fácil, masmuitos brasileiros também fa-zem maiores milagres”, afir-ma. Mas a principal queixa ésobre as condições de traba-lho. “Estamos expostos a todotipo de pessoa, e em carros avalentia aumenta”, enfatiza ofiscal. As agressões físicastambém são freqüentes, poisa figura do fiscal não é bemvista por grande parte dosmotoristas.

Desta forma, a urgente me-lhoria e adequação do trânsi-to ao aumento de veículos nacapital não diz respeito so-mente aos motoristas. Os fis-cais de trânsito, assim como oscontroladores do CIT, traba-lham de forma exaustiva, sejadentro das salas da BHTranscom sistemas caros de contro-le à distância do tráfego, coma ajuda dos painéis informati-vos, ou trabalhando nas ruas,contando apenas com os sonsdos apitos.

As cameras do CIT BHTRANS (Controle Inteligente de Tráfego) fazem monitoramento 24h dosprincipais corredores da Capital, verificando a fluidez do transito e evitando congestionamentos

Basta sair de casa paraperceber que a situa-ção do trânsito em Be-

lo Horizonte não está nadaboa. O caos que se estabele-ceu pelas ruas da capital nãoé nenhuma novidade e vemsendo debatido por diversossetores da sociedade. Essadiscussão é embasada na in-dignação dos motoristas, narevolta dos pedestres e nabusca de solução pela Prefei-tura, juntamente com aBHTrans, órgão que gerenciao trânsito da Capital.

A cidade de Belo Hori-zonte foi planejada para abri-gar cerca de 200 mil habitan-tes. Hoje, esse número chegaa aproximadamente três mi-lhões, incluindo a região me-tropolitana, segundo dadosdivulgados pela Prefeitura. Oresultado de tudo isso é ocrescente aumento de veícu-los que circulam na cidade.

O departamento de Trân-sito de Minas Gerais (Detran)afirma que a frota da capitaltem, atualmente, cerca de ummilhão e cinquenta e oito milcarros. Com um crescimentoanual que varia de 4% a 8%desde o início da década, otrânsito caótico parece umasituação difícil de evitar.

Esses dados preocupamnão apenas os órgãos res-ponsáveis pelo trânsito, mastambém a sociedade, cada vezmais prejudicada com os con-gestionamentos, tumultos,demora nos percursos e como estresse decorrente do trá-fego intenso.

O aumento efusivo da fro-ta de automóveis na capitalmineira surpreendeu até mes-mo a BHTrans, que não haviase preparado para tamanhademanda. Em busca de me-lhorias para essa situação, aPrefeitura de Belo Horizonte,através da BHTrans, em par-ceria com a Companhia Bra-sileira de Trens Urbanos(CBTU), implementou o Con-trole Inteligente de Tráfego,(CIT), que consiste em umanova tecnologia de controlesemafórico centralizado.

Para aliviar a situação nocurto prazo, medidas comoessa surgem como soluçõesemergenciais.

CLARISSE SIMÃO

FREDERICO ROSSIM

LORENA ASSIS

3º E 7º PERÍODOS

Centro de Controle busca melhorar o trânsito

Samuel Aguiar 6ºG

Amanda Araújo 6ºG

“ Fui agredido verbalmente várias vezes,mas amigos meus já sofreram agressõesmais sérias e esse é o pior problema daprofissão ”

Luís Mário, fiscal

Congestionameto na Avenida Afonso Pena

04 - cidade 26.03.08 17:13 Page 1

Page 5: Jornal O Ponto - março de 2008

C I D A D E 05o pontoBelo Horizonte – Março / 2008

Editora e diagramadora da página: Vivian Guerra 7º Período

Avalie esta edição: [email protected]

Locomoção DeficienteAPESAR DE LEIS ESTABELECIDAS Á SEU FAVOR, OS DEFICIENTES FÍSICOS DE BELO HORIZONTEAINDA NÃO TÊM RECURSOS QUE GARANTAM SUA ACESSIBILIDADE NO MUNICÍPIO

FERNANDA VITERBO

VIVIAN GUERRA

7º PERÍODO

Atualmente, 24,5 milhões de pessoasda população brasileira sofrem com al-gum tipo de deficiência sejamental, física, sensorial, en-tre outras. Des-sas, 2,6 mi-lhões estãoem MinasGerais. Da-dos comoesses só con-firmam a necessi-dade do tratamentoprioritário e apropriadoaos deficientes, que na maio-ria das vezes , não existem nos locais pú-blicos ou são incompletos. Nos trans-portes públicos, temos algumas condi-ções oferecidas, como a plataforma ele-vatória , o assento exclusivo e o espaçopara a cadeira de rodas com o botão deparada na altura da pessoa. Mas da fro-ta de 2.815 ônibus, apenas 761 têm oequipamento.

Apesar da pouca quantidade , essassão condições que facilitaram a vida dosdeficientes. Emerson Jr. , deficiente fí-sico, diz que os recursos oferecidos ain-da não são suficientes, pois existem ôni-bus que não comportam cadeiras de ro-das e nem dispõem de espaço paraguiá-las. Ele alega também que a dis-tância entre o piso do ônibus e a cal-çada é muito alta, o que dificulta suaentrada e saída veículo. “Prefiro andarcom uma pessoa próxima que me orien-te e me ajude. As pessoas na rua mui-tas vezes não sabem lidar com o apare-lho usado pelo deficiente”, completaEmerson Jorge Almeida, também por-tador de deficiência física. Emersompossui um carro adaptado para uso ma-nual, mas afirma que quando precisausar o táxi, os motoristas custam a pa-rar , pois sabem que terão que ajudá-loa entrar no carro e conseqüentementegastarão um tempo maior. Além dasbarreiras arquitetônicas, os deficientes

têm de enfrentar as barreiras sociais,como os maltratos dos motoristas e co-bradores do transporte público. Jorgediz também que nunca passou dificul-dade com a vaga exclusiva, mas sabeque tem muitas pessoas que as utilizamsem precisar.

Nos prédios públicos, segundo a lei,é obrigatório o acesso para deficientes,como rampas e elevadores. No entato,ainda existem muitos lugares que nãoobedecem essa lei, fazendo com que osportadores de necessidades especiais te-nham que pedir ajuda. “O hospital é oúnico local público que eu sei que possoir sozinho” , diz Emerson sobre o aces-so exclusivo nos hospitais.

Para os deficientes visuais, atraves-sar a rua não é fácil. Sueli Teixeira dizque sempre utiliza sua bengala e contacom a colaboração de outros pedestres.

“Mesmo com o barulho, as ve-zes não dá para saber quan-do o sinal está aberto ou fe-

chado”. O governo nãooferece muita assis-

tência para defi-cientes visuais,nem nas ruas enem nos trans-

portes. Apesar das tentativas

do governo, as pessoas portadoras dedeficiência ainda acham que o poder pú-blico pode buscar melhorar mais aindaa qualidade de vida dos deficientes. Exis-tem muitos problemas que com o tempopodem ser ajustados, tais como passeiospúblicos quebrados, raízes de árvoresque afloram da terra, calçadas com des-níveis ou escorregadios, lixeiras, postes,telefones públicos e placas de propa-ganda nas calçadas.

Ritmo de mudanças é lento edeficientes são prejudicados

Leis? Há muitas. Tanto nos âmbitosmunicipal, estadual e federal. Mas quemdisse que elas são seguidas?

O ritmo das mudanças é lento, ad-mite o próprio secretário Municipal deDireitos de Cidadania, Newton de Sou-za, e a lei municipal 9.078, publicada emjaneiro de 2005, ainda é constantemen-te ignorada.

O presidente do Conselho Municipalde Pessoas Portadoras de Deficiência ecoordenador dos Direitos das PessoasPortadoras de Deficiência, José CarlosDias, disse que a regulamentação da leifoi colocada em discussão na última reu-nião do Conselho, no dia 13 de agostodo ano passado. Segundo ele, a ausên-cia da regulamentação é fruto da faltade esforço geral. Belo Horizonte possui,atualmente, cerca de 280 mil pessoascom algum tipo de deficiência.

Guia de acessibilidadeEnquanto a lei não é regulamentada,

trabalhos educativos são implementa-dos como o lançamento, em 2004, dosguias de acessibilidades urbana epredial, feitos em parceriacom a Prefeitu-ra de Belo Ho-rizonte (PBH),com o ConselhoRegional de Enge-nharia, Arquiteturae Agronomia de MinasGerais (Crea-MG), e queorientam construtores, enge-nheiros e arquitetos. José Carlos ressal-ta que as mudanças arquitetônicas não

beneficiam apenas os deficientes, mastambém idosos, obesos, mães com crian-ças no colo e pessoas com lesões tem-porárias.

O Ministério Público (MP) e o Creatêm parceria firmada para fiscalizar aadequação dos prédios deuso público. “O defi-ciente também é con-sumidor, mas tematé barzinhos sembanheiros adap-tados e sem ram-pa de acesso.Tudo isso nacidade que éconsiderada a capital dos bares”, alerta aarquiteta Vera Carneiro, assessora técni-ca da Câmara de Arquitetura do Crea eque fez parte da Comissão de Acessibili-dade da entidade. Ela afirma que faltamuita coisa a ser feita, apesar de a cida-de já ter registrado alguns avanços e deconsiderar, atualmente, o cenário alenta-dor.

A assessora técnica do Crea lembraque o ideal seria que qualquer deficien-

te fosse capaz de ir e vir sozinho.”Serajudado ou empurrado não é a condi-

ção ideal. Em outros países, o deficienteviaja de ponta a ponta sem precisar deajuda”, comenta.

O secretário Newton de Souza dizque as obras de revitalização do Centroe novos prédios a serem construídos nomunicípio adotam as normas de acessi-bilidade e aponta que os atuais prédiosda prefeitura foram adaptados.

“O ideal seria que qualquerdeficiente fosse capaz de ir evir sozinho.”

Vera Carneiro , assessora técnica da Câmara deArquitetura do Crea.

Principais barreiras enfrentadas

Flagra : Carro estacionado em local reservado para deficientes, no centro de Belo Horizonte.

Leonardo Sattre

Cadeirantes epessoas comdificuldade demobilidade

• Falta de rampas e/ou elevadores em prédios de uso público eprivado• Passeios, canteiros e praças semrebaixamento• Rampas com a inclinação ina-

dequada• Obstáculos nos passeios, comoburacos, postes, paralelepípedos

Deficientes visuais

• Elevadores sem teclado em braile• Caixas eletrônicos sem comando

de voz ou teclado em braile• Falta de guias nos passeios• Semáforos sem aviso sonoro

Deficientes auditivos

• Falta de intérpretes de Libras(Língua Brasileira de Sinais) emestabelecimentos públicos, privados e comerciais• Programas de TV sem legendasnem intérpretes

05 - cidade 26.03.08 17:15 Page 1

Page 6: Jornal O Ponto - março de 2008

Não-geraçãoM E I O A M B I E N T E06 o ponto

Belo Horizonte – Março/2008

Editora e diagramadora da

Uma consciêncCRISTINA BARROCA

LAURA AGUIAR

8ºPERÍODO

Ana Paula da Silva e Warley Nascimento cursam o 3ºano do Ensino Médio de uma escola pública da rede

estadual. Ambos estão com 18 anos e pretendemprestar vestibular, ele para Publicidade e Pro-

paganda e ela sonha em se formar, primei-ro, em Educação Física, e depois, em Ar-

tes Cênicas. “Porque eu amo teatro”, ex-plica. O que há em comum entre estesdois estudantes não é apenas a faixaetária e o período escolar, eles tam-bém são cidadãos preocupados como meio ambiente e com uma socieda-de mais organizada e responsável. “Euvou aprender a preservar e reutilizar

coisas para diminuir o impacto sobreo meio ambiente . Eu não sabia que li-

xo tinha utilidade, que dava oportunida-de de emprego”, comenta Warley.

Um dia, os dois foram surpreendidospor panfletos e apresentações na escola, que

traziam a novidade da existência de um local comuma iniciativa inédita e de propostas que visavam uma

melhor qualidade de vida para a população. E que por mais com-

plicado e distante que pareça, o desafio se mostravasimples e até mesmo divertido. Tiveram que pas-sar por uma prova de seleção em que foramanalisados mais de 300 concorrentes. Eenfim, conseguiram entrar para o Cen-tro Mineiro de Referência em Resí-duos. “Quando a coordenadora fa-lou, eu achei legal porque nós jo-gamos lixo na rua em qualquer lu-gar e não estamos nem aí. Agora,aprendendo, podemos repassar oconhecimento na escola e em ou-tros lugares”, conta Ana Paula.

Mas Centro Mineiro de quê?Referências em quê? O que tem is-so? Trata-se então de um espaçoaberto aos municípios, empresas,comunidades e cidadãos no apoio aum tratamento adequado. “Oferece in-formações, experiências e capacitaçõestécnicas e gerenciais para transformar re-síduos em geração de renda”, assim definidopelo Servas (Serviço Voluntário de Assistência So-cial), um dos parceiros do projeto. Este é um programa do Governo de Minas, por meio daSecretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e da Funda-ção Estadual do Meio Ambiente (Feam), que funciona como um centro de capacitação profis-sional, e também como irradiador de informação e conhecimento, com espaços para mostras,exposições, convenções, seminários, encontros técnicos e biblioteca especializada.

“QUANTO TEMPO O MUNDO AINDA VAI DURAR COM ESSA POLUIÇÃO?”Alunos do ensino fundamental questionam sobre o meio ambiente em mural do CMRR

O que se encontra no CMRRO interessante é que os

alunos não só e simplesmen-te aprendem a reciclar e fazerobras de arte com o material(papel, plástico ou vidro). Ca-mila Piastrelli comenta quenas outras oficinas os produ-tos são reciclados, mas queno caso do papel “os alunosproduzem por meio de reci-clagem e depois criam outrosprodutos como agendas.”Mas também entendem queaquele papel que eles estãousando é necessário e reutili-zável. Ou seja, o foco não es-tá na reciclagem, mas, sim, nageração do resíduo. “É im-portante focar nisso porque,se não o fizermos, haverá umconsumismo absurdo com adesculpa da reciclagem”, ex-plica Ellen Dias.

A questão de redução degeração do resíduo é traba-lhada eficientemente, conta amonitora. Tomando comoexemplo o papel, ele só seráreciclado se tiver os dois ladosutilizados, pois se houver umlado em branco, ele vira blo-

co de notas. Assim tambémacontece com o uso da água.Os próprios alunos entendemque é preciso aproveitar o ex-cesso de água que se retira naformação do papel.

InventárioPara a pessoa ter uma

postura crítica sobre os resí-duos ela deve, em primeirainstância, ter conhecimentosobre a situação em questão.Um lixão ou aterro sanitário:Qual a forma adequada dedisposição do lixo? De quemé a competência para dispore tratar o lixo que você gera?Como se posiciona MinasGerais em relação aos resí-duos? Pois bem. Nesta salade inventário esses conceitossão esclarecidos. Toda sexta-feira, o Centro recebe alunosde outras escolas. São visitasorientadas e eles costumamficar 30 minutos recebendorespostas a todas as pergun-tas, e passam cerca de 2 ho-ras no local. É o programaPortas Abertas.

Cozinha ExperimentalMuitas vezes, o que joga-

mos fora é o que tem maiorpotencial nutritivo e o lugarde maior disperdício numacasa é a cozinha.

A partir daí, foi criadoum espaço onde será traba-lhado o reaproveitamento in-tegral dos alimentos, com ointuito de atingir as donas decasa e faxineiras de escolas.Ellen exemplifica com umacasca de banana e ensinaque “se você lavar e tiver umprocedimento adequado, po-de colocá-la na massa de umbolo e com certeza vai ficarmuito saboroso.”

BibliotecaO assunto nao-geração

de resíduos é novo. Encon-trar livros específicos e com-por uma boa biblioteca é di-fícil, mas, mesmo assim, oCentro possui um acervoainda pequeno, mas já comalgumas informações técni-cas sobre resíduo e consumoconsciente.

Avalie esta edição: [email protected]

Warley

Ana Paula

Foto

: Cris

tina Barro

ca

Alunos na oficnica de papel do centro

Foto: Cristina Barroca

06/07 - meio ambiente 26.03.08 17:14 Page 1

Page 7: Jornal O Ponto - março de 2008

o de resíduos:M E I O A M B I E N T E 07o ponto

Belo Horizonte – Março/2008 Avalie esta edição: [email protected]

a página: Cristina Barroca - 8º período

cia antecipadaExercer a cidadania por intermédio da não-geração de resíduos é uma experiência que exige

criatividade e vontade de mudar o quadro ambiental, e nada tem a ver com quantos anos se tem. As idades para fazer parte deste time são diversificadas e vão desde crianças com 12 a se-

nhoras de 60 anos. Segundo Ellen Dias, a coordenadora de comunicação e eventos do CentroMineiro de Referência em Resíduos, o que atrai essas pessoas ao centro é a possibilidade degeração de trabalho e até mesmo com renda.E complementa dizendo que isto não passa de“um modelo de desenvolvimento econômico tendo como alicerce a educação ambiental”.

A Secretaria de Estado da Educação selecionou 24escolas públicas estaduais para a participarem

da seleção. Com 97 alunos desde agosto atédezembro do último ano, o curso comple-

tou um total de 320 horas. “A carga ho-rária podia até ser maior”, sugere a

professora do módulo de papel, as-sociativismo e consumo em meio am-biente, Sandra Ramos. Ao se for-marem, os alunos serão gestores deresíduos e com qualificação.

O curso é baseado em qua-tro áreas: resíduos de supermerca-do, serviços de saúde, de postos de

combustíveis e da construção civil.Isso quer dizer que o aluno, além do

diploma do ensino médio, pode adqui-rir um certificado complementar que é o

de técnico na área de resíduos. Algumas empresas já mostraram interesse

em empregar esses técnicos. E a demanda para a

inserção desses alunos no mercado é fa-vorável. “O objetivo maior do curso éque o aluno descubra que deseja fa-zer alguma coisa na área”, afirmaSandra. Além de todo associati-vismo e empreendorismo ofere-cido pelo curso, os alunos tam-bém podem usufruir de valetransporte, material didático,uniforme, almoço ou lanche.

Camila Piastrelli está cur-sando o 6º período de ArtesVisuais. No CMRR (Centro Mi-neiro de Referência em Resí-duos), ela começou como alunada oficina de papel, e de acordocom o seu desenvolvimento, pas-sou a ser monitora de sua própriaturma e a ajudar nas visitas guiadasnas sextas-feiras. Agora, ela monitoratambém o curso de gestão. “Sempre tive mui-to interesse por reciclagem e por estar estudandolicenciatura em artes visuais. É interessante ter contato com alunos”, explica.

Antes, havia no local o depósito da Casa do Rádio. A empresa faliu e como pagamento dei-xou o espaço para o Estado. De acordo com Ellen, o Juiz da Fazenda Pública proferiu umasentença em que obrigatoriamente, no local, deveria ser desenvolvido ações de educação pa-ra jovens. Foi aí que surgiu o CMRR, uma vez que as pessoas envolvidas perceberam que umdos grandes desafios da educação ambiental é em relação á geração de resíduos.

A capital mineira sem os lixões

CURIOSIDADES* No refeitório, as mesas e as ca-deiras são todas feitas de mate-riais reaproveitados, como lona,banners e madeiras doadas pelaCemig.

* A Cozinha Experimental aindanão está funcionando. Em breve,os alunos das oficinas poderãoaprender como reutilizar alimen-tos; que são os itens mais desper-diçados na casa.

* Na sala de Inventário de Resí-duos, qualquer pessoa que estejavisitando o Centro tem a oportu-nidade de saber mais sobre a si-tuação dos redíduos na sua região(dentro de Minas Gerais).

Pensar não dói. Desde seusprimórdios o ser humano pen-sa. Ou pensa que pensa. Comos desafios ambientais que omundo atual já começou a en-frentar, o homem está tendo aoportunidade de repensarsuas ações. Ou seria pensar?

Enfim, repensar é o pri-meiro dos cinco Rs. Os outrossão Reutilizar, Reciclar, Resí-duos e Recusar. O que não fal-tam são motivos para repen-sar no futuro do planeta: de-gelo polar, aumento nas tem-peraturas médias, extinção devárias espécies e redução deáreas verdes. As estatísticasnão mentem: cerca de 1,2 bi-lhão de pessoas no planetanão têm acesso à água potá-vel (Fonte: ONU); O Brasil é oquarto maior emissor de ga-ses de efeito estufa no plane-ta, sendo mais de 70% dasemissões de dióxido de car-bono (CO2) vindas do desma-tamento da Amazônia (FonteGreenpeace). Para satisfazer

as necessidades de água, demateriais e de energia, o serhumano consome 20% a maisdo que o planeta pode ofere-cer (Fonte: Instituto Akatu); em30 anos, as espécies de águadoce sofreram uma reduçãode 30% (Fonte: WWF); anual-mente, 1,5 milhão de pessoasmorrem no mundo em funçãode doenças respiratórias, cau-sadas principalmente, pelaqueima de combustíveis fós-seis (Organização Mundial daSaúde -OMS); dentre outras.

Portanto, a tarefa de re-pensar começa pela sensibili-zação para a mudança decomportamento e em seguida,por meio da internalização doconceito de responsabilidadeindividual, o ser humano pas-sa a adotar atitudes ambien-talmente favoráveis no seu co-tidiano. A construção de umfuturo sustentável só será pos-sível com a soma de esforçosindividuais para uma mudan-ça no modo de pensar e agir.

Consumo sustentável éaquele que o individuo sabeusar os recursos naturais pa-ra satisfazer suas necessida-des, sem comprometer as as-pirações das gerações futuras.Repensar os valores e princí-pios que guiam as ações é oprimeiro passo para o consu-mo sustentável.

No ato da compra, leve suaprópria sacola, compre so-mente o que você sabe que vai,de fato, utilizar e se possível reu-tilize quantas vezes for possível. Procure por itens com dife-renciais ecológicos, seja nopróprio produto, seja em seuprocesso produtivo. Se vocêmora perto do trabalho, ca-minhe em vez de usar o carroou ônibus. Acendeu a luz, apa-gue-a depois. Enquanto esco-var os dentes, deixe a tornei-ra fechada. São ações pe-quenas e individuais, mas, setodos as fizerem, o efeito/be-nefício será longo e coletivo.Repense, ainda há tempo.

Ellen Dias

Camila Piastrelli

Foto

: Cris

tina Bar

roca

Foto: Cristina Barroca

Foto: Laura Aguiar

O repensar dos cinco Rs

Flor de papel feita por alunos do CMRR

06/07 - meio ambiente 26.03.08 17:14 Page 2

Page 8: Jornal O Ponto - março de 2008

M Í D I A08

O PONTO:Você já cobriu al-gum fato policial em que te-ve medo de morrer?Raphael Ramos: Não. Quasesempre ao sairmos para a pau-ta já sabemos que a polícia es-tará no local e buscamos assimnos resguardar de qualquerperigo iminente. Apesar dis-so, já fiz uma matéria onde oclima do local era tenso devi-do à situação. Nesse caso fuifazer uma matéria na Pedrei-ra Prado Lopes onde uma fa-mília estava sendo expulsa dolocal por traficantes. Para fa-zer essa cobertura, a equipeprecisou de escolta policial,além da ajuda de líderes co-munitários para subir o aglo-

merado. O clima estava tenso,mas não tive medo de morrer.

OP: Você já sofreu algum ti-po de violência?RR: Violência física não. Po-rém, muitas vezes, a equipe daqual faço parte já foi hostiliza-da por parentes de pessoas en-volvidas na matéria. Isso é co-mum nessa área de polícia.Acredito que isso aconteçamuito porque lidamos com aspessoas no momento em queelas estão mais emocionadas.Seja porque perderam um pa-rente querido ou, então, por-que estão sendo acusadas di-retamente de algum crime e es-tão sendo pressas. Mas isso éalgo

que não temos como fugir.

OP: Você gosta de cobrir fa-tos policiais? Você tem medode trabalhar na área?RR: Gosto sim e não tenho me-do! Trabalhar com jornalismopolicial é um aprendizado con-tínuo. A busca pela informaçãoe o trato com a fonte são umpouco diferentes. Isso requersempre um cuidado especial.Acredito que isso é o que dife-rencia a cobertura policial deoutras coberturas. Somos“obrigados” a sempre ter umcuidado especial na hora de fa-zer uma pergunta, na hora deconseguir uma informação pa-ra não espantarmos a fonteque, na maioria dos casos, es-

tá influenciada pela emoção. Is-so acaba nos dando um jogode cintura que é muito impor-tante na profissão de jornalis-ta e também pode ser utilizadaem outras situações. Acreditoser essa uma experiência quepoucas áreas do jornalismo po-dem possibilitar.

OP: Você possui técnicaspróprias ?

RR: Não tenho uma técnic-própria. Apesar disso, posso di-zer que sempre tomo algunscuidados. O respeito à fonte éum deles. O jornalismo policiallida com a emoção o tempo to-do e acredito que respeitar is-so é sempre muito importante.É lógico que a busca pela in-formação deve ser constante,porém, acredito que ela devarespeitar alguns limites de to-

dos aqueles que estão envolvi-dos em uma história, seja nomomento em que estas pessoasse manifestem ou então nãoqueiram falar. E isso é um tra-balho de sensibilidade que ojornalista deve ter no momen-to da apuração. É importantetambém cuidado na hora de es-crever, pois o grande poder depenetraçao da imprensa podemudar a vida de uma pessoa.

ANDRE MOURA

LUCAS BARBOSA

7º PERÍODO

O jornalismo policial nãosustenta mais o rótulo de ele-gância que lhe foi atribuídonos livros e filmes antigos. Oglamour da reportagem in-vestigativa deu lugar ao medoe a apreensão. A violência au-mentou muito nos últimosanos e a facilidade de se com-prar armas faz com que qual-quer simples ocorrência poli-cial se transforme em uma ver-dadeira guerra.

Na história do jornalismopolicial, muitos repórteres fo-ram agredidos, torturados eem alguns, casos até mortos,porém, nos últimos anos essescasos têm se tornado mais co-mum. Episódios como o as-sassinato do jornalista Tim Lo-pes, que foi morto por trafi-cantes em 2002, quando faziauma reportagem em uma fa-vela, fazem muitos jornalistasoptarem por outras áreas daprofissão.

A atuação como repórterpolicial, que até pouco tempofoi tida por muitos jornalistascomo um desafio obrigatóriopara ingressar na profissão,por ser uma área que apura o

“faro” para furos e ajuda a de-senvolver a veia de investiga-dor, não é mais visto dessamaneira. A maioria dos jorna-listas abandona a crônica po-licial com pouco tempo, porcausa do medo da violência.

A busca por notícias é in-tensa e os jornalistas estãosempre atrás de furos. Ao con-trário do que ocorre em ou-tras editorias, a cobertura po-licial tem um enfoque que, namaioria das vezes, desagradaa principal personagem damatéria. Por isso, o repórtersofre várias represálias. “Aviolência raramente é física,normalmente ela vem pormeio de ameaças telefônicasou e-mails. Quando feitas nocalor dos fatos, nem devemser consideradas porque qua-se sempre são desabafos.” Co-menta o repórter policial dojornal “Diário da Tarde” Lan-dercy Hemerson. Ele tambémdiz que é preciso antes de tu-do, avaliar as condições de se-gurança e jamais se expor auma situação de risco. “O re-pórter da área de polícia deveter noção dos limites de suaprofissão, não deve agir comoa polícia, ele deve saber que éum repórter policial, mas nãoé da polícia”, explica.

O repórter Carlos Vianaconta que passou por várias si-tuações de risco.” Já estive emsituações muito complicadasenvolvendo tiroteios, desaba-mentos e, pasmem, até o arre-messo de uma granada queacabou ferindo duas mulheresem um beco do Bairro Caba-na, na região oeste de BH”,lembra. Para ele nunca se de-ve estar perto demais do peri-go a ponto de se arriscar semnecessidade, “Esse posiciona-mento não significa deixar decorrer riscos, porém, vale maiso senso de auto-preservaçãodo que buscar um prêmio quepossa colocar em risco a pró-pria vida.” afirma.

O maior desafio que essesjornalistas encontram é conti-nuar publicando suas maté-rias, mesmo correndo riscos.O medo e a insegurança aca-bam fazendo parte da rotinado repórter e, por isso, as re-portagens policiais devem sermais trabalhadas do que asnormais, analisando cuidado-samente versões contrárias edocumentos, comparando da-dos e revendo depoimentos egravações, sem se esquecernunca de que a verdadeira fun-ção do repórter policial, é de-nunciar.

Os perigos do jornalismo policialREPÓRTERES ENFRENTAM AMEAÇAS E AS MAIS DIVERSAS SITUAÇÕES DE RISCO, EM BUSCA DEBOAS MATÉRIAS E FUROS JORNALÍSTICOS. ASSUNTOS E HISTÓRIAS NÃO FALTAM NO DIA-A-DIA

Arquivo O ponto

As coberturas de conflitos urbanos tranformam o jornalismo em uma profissão perigosa

Arquivio pessoal

Raphael Ramos, repórter policial do jornal O Tempo, que atua a apenas doisanos na área,diz que nunca correu risco de morrer pois sempre busca o apoio dapolícia antes de sair para fazer uma matéria. o jornal O ponto, conversou com orepórter sobre seu trabalho.

Riscos fazem repórterbuscar apoio policial

Editores e diagramadores da página: Bruno Martins e Fábio Moura7ºPeríodo

o pontoBelo Horizonte – Março/2008

Observação: Países como Brasil, Guatemala, El Savador, Honduras, Pa-raguai, Peru, Mianmar, China, Quirguistão, Turquia, Estados Unidos eZimbábue, registraram a morte de 1 jornalista.

Fonte: Associação Mundial de Jornalistas

08 - mídia 26.03.08 17:14 Page 1

Page 9: Jornal O Ponto - março de 2008

M Í D I A 09o pontoBelo Horizonte – Março/2008

Editora e diagramadora da página: Fernanda Viterbo 7º Período

Avalie esta edição: [email protected]

Um novo round para o

TELEJORNAIS EM MOLDES POPULARES SÃOAPRIMORADOS E BUSCAM ALCANÇAR AUDIÊNCIAEM TODAS AS CAMADAS DA POPULAÇÃO

JORNALISMOFERNANDA VITERBO

BRUNO NOVAIS

7º G

Talvez grande parcela dasociedade tenha mesmose cansado de telejornais

tradicionais, longos e padro-nizados, apesar de sérios e crí-veis. Não é à toa que o jorna-lismo popular ganha espaçoem todas as emissoras do Bra-sil e um número ainda maiorde telespectadores a cada dia.

No início de ano 2006,uma pesquisa realizada pelarede Globo apontou que obrasileiro tem dificuldades deentender reportagens maiscomplexas. O fato levou o jor-nalista e apresentador Wil-liam Bonner a comparar seutelespectador com o chefe dafamília Simpson. Infeliz naanalogia, Bonner foi, ao me-nos, sensato ao notar que onúmero de telespectadores doclássico jornalismo era menore perdia para novos jornais,exibidos em outras emissoras.

Aqui agoraA reestréia do "Aqui ago-

ra", no último dia 3 de março,reforça a retomada dessa fór-

mula na luta pela audiência dotelespectador. Depois de 11anos afastado da grade deprogramação do SBT, o pro-grama foi repaginado na ten-tativa de dar uma renovadano popularesco telejornal desucesso dos anos 90. De fato,essa nova maneira de fazerjornalismo tem atraído aatenção e a fidelidade do te-lespectador brasileiro.

O jornalismo popularconseguiu superar a espeta-cularização e, hoje, pode serproduzido com seriedade,sem que seu único e principalobjetivo seja a venda. Infor-mar através de um modelopopular e ser um represen-tante social de determinadaparcela da população são asintenções dos jornais popula-res na televisão. Em MinasGerais, o “Minas Urgente”, daTV Bandeirantes, o “BalançoGeral”, exibido pela Record eo “Jornal da Alterosa”, da TVAlterosa, são bons exemplosde telejornais feitos nos mol-des populares.

Ao contrário do que acon-tece no jornalismo tradicio-nal, o popular busca conhe-cer a cultura do povo e se ins-

talar no mesmo patamar emque seus problemas estão.Dessa forma, é construídauma identificação com os te-lespectadores, que passam aconfiar no que assistem devi-do à proximidade que o jor-nal estabelece com o meio emque vivem.

A linguagem utilizada nosprogramas populares tambémé responsável pela compatibi-lidade com o seu público, jáque a formalidade dá lugar aosimples e coloquial, bem maisiminente nas classes C e D, al-vo dessa vertente jornalística.Enfim, o uso de gírias, expres-sões populares e a clareza natransmissão das informaçõesintensificam a relação entreemissor e receptor. “A princi-pal diferença do popular parao tradicional é a linguagem e aposição do apresentador, quepode se expressar”, afirma Ri-cardo Sapia, apresentador do“Minas Urgente”.

O jornalismo popular foiconstruído com o intuito deinformar classes menos fa-vorecidas sobre os proble-mas econômicos, políticos esociais existentes, além dealertar a sociedade sobre co-

mo cobrar seus direitos. De acordo com Sapia, a

tendência na televisão brasi-leira é que os jornais popula-res estejam cada vez mais pre-sentes na grade das emissoras,já que a população se interes-sa por esse tipo de jornal maisdinâmico, com comentários eexplicações de especialistas so-bre as notícias de cada dia.

Diferente do habitual, queparece desprovido de preocu-pações sociais, os programaspopulares adotam o entrete-nimento e prestação de servi-ços, além de ter o próprio te-lespectador como um colabo-rador do conteúdo que serámostrado todos os dias. Em al-guns casos, médicos e advo-gados são chamados ao estú-dio para responder perguntasfeitas por telefone ou e-mail,outros, patrocinam testes deDNA ou ajudam encontrarpessoas desaparecidas.

De acordo com o apresen-tador do “Balanço Geral”,Carlos Viana, o telejornal po-pular é aquele que atende opovo em seus direitos e seaproxima de todas as cama-das, ajudando a resolverquestões do cotidiano.

Popular x SensacionalInfelizmente, essas produ-

ções midiáticas ainda carre-gam um preconceito históricoconstruído pela elite do jorna-lismo que, muitas vezes, atri-bui características negativas aesse modo de transmissão eacredita não ser possível pro-duzir um noticiário eficaz semque o sensacionalismo tomeconta da informação.

Apesar de muitos progra-mas brasileiros ainda se en-quadrarem nos modelos es-candalosos e melodramáticos,existe, hoje, emissoras que tra-balham em torno do mercadopopular, mas transmitem in-formações sérias e indispen-sáveis ao cidadão que desejase manter informado.

O sensacionalismo, na ver-dade, funciona como um arte-fato adicional para qualquerprograma televisivo ou im-presso. Cabe à edição e pro-dução utilizá-lo ou não, e essaé uma das diferenças entre jor-nalismo popular de qualidadee um noticiário sensacional,que é regido pelo espetáculo eprioriza a venda.

A apelação aparece quandoo apresentador cria um cená-rio espalhafatoso em cima doque vai ser noticiado, exaltan-do os sentidos de quem assis-te à televisão. A informação, setransforma, portanto, em mer-cadoria, quando o apresenta-dor tenta segurar a audiênciado ibope deixando a matériaprincipal para o fim. “O sensa-cionalismo é usado pra ganharaudiência. Quando tenho algopara mostrar, mostro logo noinício do programa, sem ficarenrolando para depois do in-tervalo”, conclui Sapia.

Nos telejornais populares,as manifestações apelativasacabam contribuindo com omaldoso tabu de que todo jor-nal feito pelo povo e para o po-vo é exagerado. Para o jorna-lista Carlos Viana, em todoprograma que mostra a reali-dade, haverá dias quem cenasmais chocantes serão exibidas,mas garante: “Temos um limi-te para tudo. Queremos, sim,pautas policiais, mas o objeti-vo do programa é informar, enão mostrar sangue”.

“A principal diferença do jornalismopopular para o tradicional é a linguageme a posição do apresentador, que podese expressar”Ricardo Sapia, jornalista apresentador do telejornal MInas Urgnte, exibido diariamente na

TV Bandeirantes.

Notícias populares no BrasilNo Brasil, o modelo de jor-

nalismo popular teve início nasegunda metade da década de60, com o conhecido progra-ma “O Homem do SapatoBranco”, apresentado por Ja-cinto Figueira Junior. O apre-sentador costumava entrevis-tar seus convidados com umsapato branco, com o objetivode passar uma imagem de“médico” do povo, alusão aofato de esses profissionais usa-rem vestimentas brancas. Noprograma, o apresentador sededicava a auxiliar o públicoem seus direitos e mostravacomo caminhava o país em as-pectos políticos e sociais.

Por causa da censura en-frentada pela mídia na épocada ditadura, o programa dei-xou de ser exibido, e só retor-nou às telas na década de 80.Desde então, vários programasdestinados a ajudar o povo apa-receram na TV brasileira e semostraram eficientes e popu-lares no fazer jornalismo.

Já na década de 90, o jorna-lismo popular tornou-se maisfreqüente na grade da televisão,e alcançava altos índices de au-diência. Histórias íntimas e reaisganharam destaque nos tele-jornais, o que marcou uma mu-dança nos padrões de progra-mação. Segundo Lígia Camposde Cerqueira de Lemos, pes-quisadora do Gris (Grupo dePesquisa em Imagem e Socia-bilidade da UFMG) e professo-ra da Faculdade Promove, o

ápice dos telejornais popularesestá na identificaçãodo públicocom a maneira com que as in-formações são passadas.“É umamaneira de falar do desconhe-cido, do estranho, que faz comque o público se aproxime eidentifique com os casos, quesão mais comuns”, afirma.

Ainda de acordo com a es-pecialista, que tem um trabalhode mestrado sobre “Telejorna-lismo dramático e cotidiano”,os jornais populares podem serconsiderados um marco na te-levisão brasileira, pois além demostrarem a realidade de umpaís carente e desigual, são ca-pazes de mobilizar uma parce-la da sociedade que não era tãoinformada como é agora. “O su-cesso do jornalismo popular es-tá no fato de tirar a matéria docotidiano”, acrescenta Lígia.

Fernanda Viterbo

Laura Lima, apresentadorado Jornal da Alterosa

Foto Divulgação

Apresentadores do Aqui Agora que reestreou em março

Foto divulgação

09 - mídia 26.03.08 17:16 Page 1

Page 10: Jornal O Ponto - março de 2008

LAURA CARVALHO

7º PERÍODO

Pressa, ansiedade, estresse e a sensação deque nunca é possível fazer tudo. Estas são ascaracterísticas de um cenário o qual a maioriade nós está habituada a conviver. Pense. Umdia continua tendo 24 horas, 1 hora vale 60 mi-nutos e, aleluia, cada minuto ainda possui 60segundos. O que nos leva a crer então que nãoestamos tendo tempo?

Esta história começou provavelmente naRevolução Industrial, por volta da segunda me-tade do século XVIII, com a invenção de má-quinas que trabalhavam mais rápido que oshomens. Muitas atividades foram agilizadas,entre elas, a capacidade de deslocamento. Oque era comumente realizado pela força ani-mal, tornou-se motorizado. E esse impacto pro-vocou a organização rápida e sólida do tempo.A tecnologia disparou a oferecer velocidade aquem quisesse consumi-la, dando início a umprocesso de aceleração contínua a todas as ati-tudes, profissões e tecnologias.

Nos tempos atuais basta um passeio ao shop-ping para constatarmos ser praticamente im-possível encontrar produtos como celulares eeletrodomésticos, que sejam mais lentos que suaversão anterior.

Ao vivermos as conseqüências de um mun-do em que para tudo vale a regra do “quantomais rápido, melhor”, não podemos desprezaras suas gigantescas proporções que esbarrama todo tempo no bem estar e saúde do ser hu-mano. A dissociação de coisas pequenas e apa-rentemente sem importância também leva adeteriorização social. Repare por exemplo naforma como nos relacionamos com a comida.Ao deixarmos a simples atitude de um almoçoem família perder importância distanciamosde valores essenciais, tranqüilidade, atenção,cuidados e afeto.

A Revista American Psychologist (Vol. 56,no. 1) dedicou, em janeiro de 2001, a sua seçãode "Perspectivas Internacionais" às questõesde "família”". Nela torna-se claro que a funçãoprincipal da família é estruturar a base de nos-sa personalidade. Uma instituição tão antigaquanto o ser humano que garantiu sua própriaexistência por atender às necessidades maisbásicas da vida humana: alimento, segurançae afeto. Sem essas coisas, o homem não con-seguiria sobreviver, tal a fragilidade com quenasce. O que acontece, entretanto, é que a fa-mília moderna abriga conceitos antes nuncaaceitos dentro deste ambiente. A concessão deuniões homossexuais, independentes e o alar-mante numero de gravidez na adolescência.

Os papéis dos pais antes bem defini-dos, agora também sofreram al-

terações, tornou-se mais per-missiva, aceitando-se que

o filho tenha vontadeprópria. Em muitos ca-sos, porém, utilizam aliberdade como justi-

ficativa de sua au-sência. Passaram

da repressão ex-trema para a li-berdade exces-siva: vale tu-do.

Os limitestão necessários

ao desenvolvi-mento do senso de

realidade e respeito aooutro passaram aser consideradosprejudiciais aocrescimento.

É na con-tramão dospreceitos dasociedade deconsumoque surgeum movi-mento cha-mado Slowfood, propon-do a valoriza-ção de uma boaalimentação coma escolha de pro-dutos artesanais epreocupando-se coma estruturação psicoló-gica familiar.

Muitos dizem que a famíliaestá deixando de existir como an-tigamente em que almoços e jantareseram realizados em conjunto. Essa nova ma-neira de viver do século 21 tem deixado as pes-soas individualistas e submissas ao trabalho. Éo caso de Regina Moura, advogada, que perce-beu que sua vida familiar estava cada dia pior.

Assim resolveu aderir ao movimento. Se-gundo ela nunca podia almoçar em casa e sem-pre chegava tarde em conseqüência das inú-meras audiências. Seu trabalho tomava todoo seu tempo e seu casamento e a relação comos filhos enfraqueceu. “Com toda a correria dodia-a dia, estava deixando de lado meus filhose meu marido, chegava em casa por volta dasdez da noite. Via meus filhos só dormindo!”,afirma Regina.

São nos momentos mais íntimos e simplesque se é possível estabelecer uma relação mí-nima de confiança entre pais e filhos, maridoe mulher. Saborear uma boa comida acompa-nhar a alimentação dos filhos ajuda nas rela-ções pesssoais. Essas são as premissas básicasdo Slow –Food.

Criado por Carlos Petrini em 1986 na Itália,o movimento é na verdade um contraponto aoFast-Food, em que o próprio nome já se refe-rencia “comida rápida”. Ao contrário da ordemhabitual praticidade a todo custo o Slow-Foodaparece como alternativa para aqueles que per-cebem a desintegração familiar.

Sua filosofia se opõe à padronização do gos-to, defende a necessidade de informação doconsumidor, protege identidades culturais li-gadas à tradições alimentares e gastronômi-cas, protege produtos alimentares e comidas,processos e técnicas de cultivo e processa-mento herdados por tradição, e defende espé-cies vegetais e animais, domésticas e selvagens.Nesse passo o Slow-food pode ser entendidocomo uma forma de resgate de valores atual-mente perdidos, portanto, ele é de certa ma-neira uma tentativa de construção da sociabi-lidade familiar que vêm se abalando nas últi-mas décadas.

S A Ú D E10 o pontoBelo Horizonte – Março/2008

Editora e diagramadora da página:Vanessa Barbosa Fernandes -7º Período

Avalie esta edição: [email protected]

Com a correria do dia-a-dia, aspessoas estão se preocupando me-nos com costumes e hábitos secula-res adquiridos pelas famílias, issoquando pensam neles. A maioriaprioriza o trabalho, pois precisa de-le pra viver e se contenta com umalmoço rápido, sem pensar nas rea-ções para o organismo, ou até mes-mo com um sanduíche compradonum fast-food de qualquer esquina.

Muitos escolhem esse tipo deservico por ser rápido e fácil, e oconsideram saboroso. Como o pró-prio nome diz, fast-food é uma re-

feição prática, segmentada, que sur-giu na década de 50, fazendo comque valores e hábitos mudassem deforma significativa. Mas a pretensafacilidade esconde consequênciasnocivas à saúde, como denunciadono documentário “Super Size Me -a dieta do palhaço”, de 2004, em queuma pessoa passa um mês se ali-mentando somente no Mc Donald`s,para mostrar os reflexos no orga-nismo. Ele também faz uma críticaao tamanho gigante, o ‘super size’-do título, que cria o hábito de pedirsempre a maior quantidade de ali-

mentos gordurosos, o que futura-mente pode desencadear obesida-de e problemas cardiovasculares.

A maioria das pessoas que se ali-menta por fast food procura prati-cidade e conforto. É a opinião de Jo-sé Carlos Nascimento, de 27 anos,funcionário do MC Donald`s há dezanos e gerente há três, que afirmaque as pessoas os procuram tam-bém pela satisfação e qualidade doproduto, já que o estabelecimentopassou a fornecer saladas, frutas efrango grelhado. Para ele, o seg-mento atende todas as pessoas de

acordo com a vontade,mas dentrodo padrão. Para José Carlos, os vín-culos familiares não está deixandode existir, já que o público-alvo nosfins de semana se caracteriza porpais e filhos reunidos em torno dossanduíches.

Já Fernando Évcei Oliveira, en-genheiro de 24 anos, procura poresse tipo de segmento pelo menostrês vezes por semana. Segundo ele,o custo é alto, mas o benifício valea pena, pois é saboroso, prático rá-pido,confortável e além disso, en-contra-se esse tipo de serviço em

qualquer esquina.”Só estaciono, en-tro e faço o pedido. As consequên-cias são muito ruins, sei que tenhooutras escolhas, mas também apre-cio e gosto muito, mesmo sabendoque não é nutritivo e que não trazbenefícios à saúde, mas sustenta”afirma.

Com isso, o individualismo eFast-Food caminham juntos no mun-do contemporâneo, com a conse-quente padronização de tempo e tra-balho por parte das pessoas, que sededicam menos a hábitos saudáveise comprometem a sociabilização.

Cultura de fast food se massifica

A INTERAÇÃO DO SLOW-FOOD COM A SOCIABILIDADE FAMILIAR NA VIDA MODERNA

Slow atitude,slow food

10 - saúde 27.03.08 12:51 Page 1

Page 11: Jornal O Ponto - março de 2008

C U L T U R A 11o pontoBelo Horizonte – Março/2008

Editora e diagramadora da página:Fabiana Colares 7ºPeríodo

Avalie esta edição: [email protected]

AMANDA LELIS

4º PERIODO

OCine Santa Tereza éum dos mais antigoscinemas de Belo Hori-

zonte e será reaberto ao pú-blico. Depois de abrigar váriascasas noturnas, e permanecerentregue à ação dos vândalose do tempo, o antigo Cine San-ta Tereza volta a ganhar vida.

O prédio de dois andares,localizado na Praça Duque deCaxias, na região leste de BeloHorizonte, será um dos dezcentros culturais que a Funda-ção Municipal de Cultura iráreformar.

O primeiro andar terá umabiblioteca, onde funcionarãooficinas de artes, e contará comfotos, objetos, e documentossobre a trajetória dos compo-sitores e músicos do Clube daEsquina. O segundo pavimen-to manterá a tradição de cine-ma, com um telão e auditóriopara 140 pessoas.

Popularização do cinemaO cinema em Minas nas-

ceu na região central da cida-de e depois se espalhou pelosbairros. Na década de 50, Mi-nas Gerais foi marcada peladiscussão e reflexão sobre ci-nema, mais do que pela exibi-ção. Era a época da populari-zação do cinema.

Em Maio de 1944, o bairroprovinciano aproxima-se maisda modernidade e refinamen-to da metrópole nascente, einaugura, na Praça Duque deCaxias, o Cine Santa Tereza.

Nessa época, o cinema en-cantava o imaginário da po-pulação, as salas de exibiçãoeram freqüentadas por umadiversidade de pessoas que ocaracterizavam como princi-pal forma de lazer e ponto deencontro.

Durante 40 anos, o cine-ma fornecia distração aosmoradores do bairro, pro-movendo a cultura, o conví-vio social e a informação, jáque antes da exibição dos fil-mes eram expostos docu-mentários e noticiários, nar-rando recentes fatos aconte-cidos na capital. Era uma ar-te acessível a todo público.

Luis Góes, pesquisador eescritor, vive no bairro deSanta Tereza há mais de 60anos e tem boas lembrançasdo tempo em que o Cine fun-cionava.

‘’Do cinema eu guardo asboas recordações dos filmes,

dos seriados acompanhadosfielmente, dos flertes, do pas-seio após a exibição, e de ummodo de vida totalmente di-ferente do visto nos dias dehoje.” recorda o pesquisador.

Centro CulturalLuis falou sobre a impor-

tância do cinema para o bair-ro, que além de garantir di-versão era uma arte expostapara todos que se interessa-vam, acessível a todo público,que infelizmente foi perdendolugar para os aparelhos de te-levisão que, aos poucos, inva-diam as casas.

O Cine funcionou de 1944a 1980, quando foi fechado,em fevereiro. O prédio cedeuentão lugar a outras manifes-tações culturais.

Na última semana de ou-tubro e inicio de novembro,após 27 anos, o prédio pas-sou por reformas, para rece-ber a mostra Cine BH. Os be-lo-horizontinos puderam re-viver a época em que o cinefuncionava.

O evento dedicado ao ci-nema nacional fez uma ho-

menagem aos 110 anos da ci-dade e a diferentes momentose gerações da cinematográfi-ca mineira.

Para isso, foi reestrutura-da a parte interna, com algu-mas paredes sendo destruídase o piso reinstalado. Sua fa-chada original será preserva-da, até hoje ela continua co-mo era naquele tempo.

Agora o espaço está sen-do transformado em um cen-tro cultural. As obras come-çaram esse mês. Segundo odiretor de centros culturais daFundação Municipal de Cul-tura, Bernardo Mata Macha-do, o centro deve ser entregueà população até o fim do pró-ximo ano.

Santa TerezaO bairro Santa Tereza,

além de ser um dos bairrosmais tradicionais de Belo Ho-rizonte, é como ponto de cul-tura da cidade, do cinema e damúsica.

Ainda é um bairro boêmio,mas não tem mais programa-ção cultural permanente. Éconsiderado o berço de um dos

grupos mais importantes daMúsica Popular brasileira, OClube da Esquina.

A reabertura das bilhete-rias é aguardada pelos velhosfreqüentadores do Santa Te-reza e de outras salas da ca-pital, como o Cine Pathé, naregião da Savassi.

Com a volta do cine, o co-mércio na região deverá me-lhorar. Comerciantes e mora-dores esperam ansiosos pelareabertura do espaço, ondepoderão relembrar momen-tos que marcaram a históriada cidade e de suas vidas.

Os comerciantes da regiãoserão um dos mais beneficia-dos com a nova casa de cul-tura. As vendas deverão au-mentar, já que o bairro ficarámais movimentado.

Os Centros Culturais queestão sendo realizados focamos eixos da criatividade e daidentidade. E esta é uma rei-vindicação de muito tempodos moradores do bairro, eserá um investimento paratoda a sociedade e um res-gate da história de Belo Ho-rizonte.

O GALPÃO QUE ACOLHEU O CINE SANTA TEREZA, ABRIGOUCASAS NOTURNAS E AGORA VOLTA À TONA COM REFORMASPARA REABRIR O CINEMA AO PÚBLICO

voltaà ativa

Cine Santa Tereza

Clube daEsquina

Foi lançado recentementeno Brasil os “1001 discos pa-ra ouvir antes de morrer”, ori-ginal do inglês Albums youmust hear before. Para defi-nir a lista dos 1001 discos Ro-bert Demery, coordenadoreditorial do projeto, mobili-zou 90 jornalistas e críticos demúsica de todo o mundo.O li-vro contextualiza historica-mente cada álbum.

O Brasil possui cerca de 20representantes da Música Po-pular Brasileira (MPB), dentreeles estão Milton Nascimentoe Lô Borges, dois integrantesdo clube da esquina.

O Clube da Esquina foi ummovimento musical nascido daamizade entre Milton Nasci-mento e os irmãos Borges –Marilton, Márcio e Lô – emSanta Tereza na década de 60.

Em 1972 a EMI gravou oprimeiro LP, Clube da Esqui-na, apresentando um grupo dejovens que chamava atençãopelas composições engajadas,mistura de sons e riqueza poé-tica. Álbum que os consagrourecentemente como um dos1001 discos para ouvir antesde morrer, lançado em âmbi-to mundial.

11 - cultura 26.03.08 17:15 Page 1

Page 12: Jornal O Ponto - março de 2008

C U L T U R A12 o pontoBelo Horizonte – Março/2008

Editoras da página: Joanna Menezes e Lorena Ferrari - 7º Período / diagramador: Rafael Barbosa - 8º Período

CANTINA DO LUCAS, BAR DO BOLÃO E LA GREPPIA SÃO BOASESCOLHAS QUANDO O ASSUNTO É CULTURA E DESCONTRAÇÃO

Sendo a cidade com maiornúmero de botecos por habi-tante, BH não poderia deixarde ter uma história como a dogarçom Olympio Perez Mu-nhoz. Conhecido amistosa-mente pelos boêmios como“seu Olympio”, o garçom tra-balhou durante 40 anos notradicional bar do centro dacidade, Cantina do Lucas,desde a sua fundação em1962 até o ano de 2002, quan-do se viu obrigado a pedir li-cença médica.

O garçom recebeu home-nagens por ter servido e es-banjado seu carisma a tantasgerações. Uma foi da própriaCantina, onde seu prato maisfamoso foi batizado em nomedo célebre funcionário. Outrahomenagem foi a cidadaniahonorária concedida pelo ve-reador Arnaldo Godoy, em1996.

Olympio fez amizade comuniversitários, políticos e ar-tistas, e os serviu durante aépoca de ditadura, quandoiam à Cantina do Lucas e fa-ziam as suas discussões sen-tados à mesa do bar.

Quando a Cantina do Lu-cas foi tombada como Patri-mônio Histórico, em entre-vista, indagado sobre o tom-bamento, Olympio respondeuà repórter: “Podem tombar oque quiserem, não me tom-bando!”

Seu Olympio, um dos gar-çons mais velhos do país, fa-leceu em 2003, depois de tersido internado com pneumo-nia, perto de completar osseus 85 anos. “Seu corpo foivelado no Sindicato dos Jor-nalistas, na avenida ÁlvaresCabral, e enterrado em OuroPreto”, explica Circea Assis,gerente da Cantina.

O garçom quevirou história

Bares da capital mineira mantêm viva a

GABRIELA FALCI

TEREZA LOBATO

7ºG

Vem de longe atradição boêmiade Belo Horizon-te. A noite da ci-dade já foi cúm-

plice de várias gerações deartistas intelectuais. Há anoscom o título de capital brasi-leira dos bares, BH é referên-cia nacional quando o assun-to é boemia.

Dona de uma cultura no-turna a cidade possui bares erestaurantes para todos osgostos e estilos. Alguns dessesse destacam por sua tradição,são estabelecimentos antigos,que permutam por gerações eguardam muito da história lo-cal. Em destaque podemos ci-tar três nomes: Cantina do Lu-cas, Bar do Bolão e La Grep-pia. Fundados há quase meioséculo eles são consideradosopções bem atuais pelos mo-radores da capital.

A Cantina do Lucas é o se-gundo bar do Brasil a sertombado como patrimôniocultural. Fundado em 1962 oestabelecimento traz muito dafundação da cidade e da tra-dição boêmia do belo hori-zontino.

Pouco mudou na Cantinado Lucas nas últimas décadas.O estabelecimento aindaguarda muito da decoração,do cardápio e mantém os gar-çons de longo tempo de ser-viço na casa. Os tempos dosintelectuais são constante-mente relembrados, mos-trando a preocupação com ahistória e a identidade daCantina, sem deixar de ladoo bom serviço e atendimentoao público.

Deco, 65, é garçom daCantina do Lucas há 36 anos.“Sou conhecido por esse ape-lido desde que trabalho aqui.Não sou aquele jogador de fu-tebol de Portugal, mas todosme conhecem assim.” Muitoemocionado, Deco conta dasamizades que fez, dos famo-sos que conheceu e da histó-ria que a Cantina carrega. “Sónão vi a Xuxa e o Pelé, mas vimuitos artistas famoso se sen-tarem nessas mesas.”

Circea Assis, gerente daCantina, conta que o local,fundado há 45 anos, é muitobem frequentado e seu pú-blico principal são artistas,jornalistas, advogados, polí-ticos e empresários. “Aqui aolado está a Universidade Fe-deral de Direito, em virtudedisso, recebemos muitos es-

tudantes, professores e advo-gados” Algumas pessoas vêmao bar diariamente, sentam-se para estudar ou para con-versar com os amigos.”

O funcionário públicoSérgio Fantini costuma fre-quentar a Cantina à noite du-rante a semana, tomar suacerveja, comer o seu tira-gos-to e bater papo com os ami-gos. “Venho aqui há 28 anos.Gosto porque tem 3 ambien-tes diferentes, um de refeição,um interno que é mais tran-quilo, e um externo que tema cara de boteco.”

Do outro lado da cidade,temos o famoso “fim de noi-te”, Bar do Rocha, conhecidocomo Bolão. Foi fundado em1961, pelo “Seu Rocha”, Joséda Rocha Andrade e sua es-posa D.Maria dos Passos Ro-cha, vindos de Ponte Nova.

Ao definir a faixa etáriados frequentadores do Bolão,um dos proprietários SílvioRocha, filho do “Seu Rocha”,brinca dizendo que vai dos 5aos 90 anos. “O ponto fortedo Bolão, que atrai o cliente,é a qualidade da comida, queo faz voltar sempre ao esta-belecimento.” Silvio acreditaser esse o motivo que faz comque o Bolão represente bema boemia mineira, um bom

serviço, com comida e aten-dimento de qualidade, típicodos bares da capital.

Outro local que atrai osclientes até “altas horas damadrugada” é o La Greppia,um bar cultural que oferecerodízios de massas nas noitesmineiras. Funciona com oatual nome desde 1996, sen-do os últimos 7 anos ininter-ruptos de atendimento 24 ho-ras. “Essa é a vantagem donosso serviço que nos faz teruma clientela fixa. A qualquermomento que as pessoas vie-rem, estaremos de portasabertas para servi-los. Isso éboemia.”, complementa o ge-rente Geraldo Totino, que tra-balha na casa há 10 anos.

Freqüentadores assíduosdo La Greppia, o ator AlmariReis e o dramaturgo WesleyMarchiori, confirmam que oatendimento 24 horas é umgrande atrativo, mas tambémapreciam o ambiente que émuito frequentado por artis-tas e tem abertura para a ex-posição de obras de arte.

O La Greppia tem um es-paço reservado em suas pa-redes para a exposição depinturas, fotos e obras de ar-te, que trocam a cada mês, co-mo a da artista Carla Lamo-nier, “Mandalas”.

BoemiaCultura da

Localizada no tradicional Edifício Maleta, a Cantina do Lucas, fundada em 1962, foi tombada como patrimônio cultural de Minas

credito fto

12 - cultura 26.03.08 17:13 Page 1