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Publicação mensal da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES - Maio de 2015 ISSN 2177-9988 www.sedufsm.org.br ACOM PANHE A SEDUFSM NA INTERNET twitter.com/ sedufsm facebook.com/ sedufsm SEDUFSM A UM PASSO DA Diante de um cenário hostil aos direitos dos trabalhadores e ao caráter público da universidade, a mobilização dos professores e do funcionalismo público volta a gritar por espaço na conjuntura política brasileira. Em reunião do setor das Ifes do ANDES-SN, ficou apontado o indicativo de greve docente por tempo indeterminado. O movimento pode ser iniciado no período de 25 a 29 de maio. Leia mais sobre os motivos que podem desencadear a greve e acompanhe a agenda de mobilização nacional na página 10. Projeto diagnostica expansão da UFSM via Reuni Depressão é a doença que mais afasta docentes na UFSM Professora Maristela Souza reafirma caráter precarizado da expansão e diz que metas do Reuni não foram atingidas. Com a palavra, pág. 4 Não apenas na UFSM, mas em âmbito nacional, professores vêm adoecendo de forma acelerada. Transtornos mentais são os mais diagnosticados. Págs. 6 e 7 JORNAL DA Ainda nesta edição: A polêmica que envolve a transferência do CAFW ao IF Farroupilha Premiado diretor palestino esteve em Santa Maria 2015: greves na educação básica sensibilizam o país GREVE Rafael Balbueno Fritz Nunes

Jornal SEDUFSM Maio de 2015

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Jornal SEDUFSM Maio de 2015

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  • Publicao mensal da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES - Maio de 2015 ISSN 2177-9988

    www.sedufsm.org.brACOMPANHE A SEDUFSM NA INTERNET

    twitter.com/ sedufsm facebook.com/ sedufsm

    SEDUFSMA UM PASSO DA

    Diante de um cenrio hostil aos direitos d

    os trabalhadores e

    ao carter pblico da universidade, a mob

    ilizao dos

    professores e do funcionalismo pblico vo

    lta a gritar por

    espao na conjuntura poltica brasileira. E

    m reunio do setor

    das Ifes do ANDES-SN, ficou apontado o

    indicativo de greve

    docente por tempo indeterminado. O mo

    vimento pode ser

    iniciado no perodo de 25 a 29 de maio. L

    eia mais sobre os

    motivos que podem desencadear a greve

    e acompanhe a

    agenda de mobilizao nacional na pgin

    a 10.

    Projeto diagnostica expanso da UFSM via Reuni

    Depresso a doena que mais afasta docentes na UFSM

    Professora Maristela Souza reafirma carter precarizado da expanso e diz que metas do Reuni no foram atingidas. Com a palavra, pg. 4

    No apenas na UFSM, mas em mbito nacional, professores vm adoecendo de forma acelerada. Transtornos mentais so os mais diagnosticados. Pgs. 6 e 7

    J O R N A L D A

    Ainda nesta edio:

    A polmica que envolve a transferncia do CAFW ao

    IF Farroupilha

    Premiado diretor palestino esteve em Santa Maria

    2015: greves na educao bsica sensibilizam o pas

    GREVE

    Rafael Balbueno

    Fritz Nunes

  • Aps um tempo fora de circulao para se reinventar grfica e editorialmente, o jornal da Sedufsm volta s mos dos sindicalizados num momento importante para a categoria. Indicada uma possvel greve para final de maio, o momento de lanarmos mo de todos os veculos de comunicao possveis para informar e dialogar com nossos professores. Nesse sentido, j afirmamos: vem mais por a. Em breve, o sindicato estar de novo com programaes na TV e no rdio, alm de modernizaes no layout de seu site. Pois bem, voltamos j problematizando: um projeto

    precarizado de expanso do ensino superior e ndices crescentes de adoecimento na categoria docente. Que relao de causalidade existiria entre essas duas realidades? Salas superlotadas, aumento no nmero de alunos, sobrecarga de trabalho, produtivismo, novas formas de se relacionar com a universidade tecnologias que amarram ao invs de impulsionar, falta de infraestrutura adequada, desvalorizao do trabalho docente.Nessa edio do jornal da Sedufsm o leitor confere

    uma reportagem especial sobre o estado de sade dos nossos professores, cada vez mais afetados por doenas de ordem mental. Na Ufsm, por exemplo, a depresso o principal transtorno responsvel pelos pedidos de afastamento na categoria, numa sinalizao de que o quadro docente aproxima-se do observado, de forma mais ampla, na classe trabalhadora. Estimativas da Organizao Mundial da Sade (OMS) apontam que, em pouco tempo, a doena ser a que mais afastar trabalhadores das atividades laborais no mundo. J na editoria Com a Palavra, possvel entender o

    cenrio que tem responsabilidade importante no adoecimento da categoria. Maristela Souza, docente do Departamento de Desportos Individuais, coordena um projeto de diagnstico da expanso do ensino superior pblico via Reuni. A partir do estudo, possvel reafirmar uma denncia j publicizada h anos pelo movimento docente: atravs do Reuni, o governo federal apropriou-se de uma pauta historicamente levantada pelos movimentos sociais a ampliao do acesso ao ensino superior e a essa concedeu um trato pragmtico. Ampliou as vagas, fato, porm sem garantir os investimentos necessrios tanto qualidade do ensino quanto s condies de trabalho do quadro funcional.Dialogando com o cenrio poltico e econmico do

    pas, o jornal tambm passeia por temticas como a corrupo e a reforma poltica, e ainda aborda duas grandes greves na educao protagonizadas este ano pelos trabalhadores: a do Paran e a de So Paulo. Aproveite a leitura!

    Clauber

    02 Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDESAO LEITOR

    Precarizao e adoecimento em pauta

    MAIO DE 2015

    A diretoria da SEDUFSM composta por: Presidente: Adriano Figueir; Vice-presidente: Humberto Zanatta; Secretrio-geral: Marcia Paixo; 1 Secretrio: Gianfbio Franco; Tesoureiro-geral: Getulio Lemos; 1 Tesoureiro: Claudio Losekann; Suplentes: Maria Celeste Landerdahl e Hugo Blois Filho.

    Jornalista responsvel: Bruna Homrich Vasconcellos (MTb n 17487) Equipe de jornalismo: Fritz R. Nunes, Ivan Lautert e Rafael Balbueno Equipe de Relaes Pblicas: Fernanda Brusius e Vilma Ochoa Demais funcionrios: Dirleia Balensiefer, Maria Helena Ravazzi, Paulo Marafiga e Rossana Siega

    Diagramao e projeto grfico: J. Adams Propaganda Ilustraes: Clauber Souza e Rafael Balbueno Impresso: Grfica Pale, Vera Cruz (RS). Tiragem: 1.600 exemplares.Obs: As opinies contidas neste jornal so da inteira responsabilidade de quem as assina. Sugestes, crticas e opinies podem ser enviadas via fone (55) 3222-5765 ou pelo email

    [email protected] tambm podem ser buscadas no site do sindicato: A SEDUFSM funciona na Andr Marques, 665, cep 97010-041, em Santa Maria (RS). www.sedufsm.org.br

    EXPEDIENTE

    PALAVRA DA DIRETORIA

    O conjunto dos ataques que tem sido desferidos contra a classe trabalhadora desde o final do ano passado, no ameaam apenas os direitos conquis-tados. O que est em jogo, na verdade, a possibilidade de retrocedermos vrias dcadas na histria do confronto entre o capital e o trabalho neste pas. Estas perdas de direitos sinalizam a entrada do Brasil naquele grupo de pases, como Mxico, China e Coria, onde a degra-dao do trabalho a grande responsvel pelo enriquecimento dos donos do capital.

    Diversas iniciativas se somam nesta ofensiva do capital contra os trabalhadores: a reforma da previdncia realizada pelo governo Lula em 2003, que acabou com a aposentadoria integral no servio pblico; a entrega dos hospitais universitrios para uma empresa privada (EBSERH) que secundariza o ensino e a pesquisa, precarizando o trabalho pela imposio de um produtivismo de mercado; o Plano Nacional de Educao, sancionado pela presidenta Dilma em junho de 2014, que entrega parte da educao pblica (e do dinheiro que a financia) para o setor privado, por meio das parcerias pblico-privadas; as MP's

    664 e 665, propostas no dia 30 de dezembro de 2014 pelo governo federal, alterando, com perdas de direitos, as condies do seguro-desemprego, auxlio-doena, penses e abono salarial; o PL 4330, aprovado a toque de caixa pelo Congresso Nacional, autorizando a ter-ceirizao das atividades fim nos setores pblico e privado, o que significar contratao de trabalhadores com salrios mais baixos, com maior carga de trabalho, menor fiscalizao e maior dificuldade de organizao sindical.

    Mais do que nunca est em jogo um projeto de sociedade que sobrepuja o humano em favor do financeiro, e que coloca todos os trabalhadores deste pas como refns do mercado e suas flutuaes. Responder a estes ataques, mais do que uma questo de sobrevi-vncia, uma tarefa histrica que se impe classe trabalhadora deste pas. Vamos luta, nas ruas, nas fbricas, nas universidades, para mostrar que tudo que conquistamos at hoje no nos foi dado por benefcio, mas por conquista, em duras batalhas!

    S a luta poder impedir o retrocesso deste pas

    *Gesto Sindicato pela Base

  • Segunda-feira, 23 de fevereiro, 9h: a capital do pas comeava a espraiar raios, j pouco tmidos, de um sol que viria a se tornar uma constante na semana daqueles mais de 400 professores. Enquanto isso, no audi-trio do Parlamundi, quatro jovens adentravam o espao com tambores, tringulos e pfanos. Eram as Juvelinas, garotas cujas habilidades so direcio-nadas a manter vivos traos centrais da cultura em especial da msica nordestina. E dentre esses traos, a capacidade de grupalizao uma das que mais se destaca, tendo sido o que melhor caracterizou a abertura cultural do 34 Congresso do ANDES-SN, que, iniciado naquela segunda, estendeu-se at o sbado, 28. Instigados pelas jovens, os professores formaram uma grande roda, que contornou o audit-rio, mostrando a paixo pela brasili-dade, talvez um quase consenso no seio da categoria docente. Ao todo, foram 339 delegados, 62 observadores, 33 diretores nacionais, 71 sees sindicais e 7 convidados durante os seis dias de congresso. A Sedufsm esteve representada por Adriano Figueir, Rondon de Castro, Adriana Zecca, Marcelo Vieira, Getulio Lemos e Luciano Miranda. Finda a atividade, as Juvelinas deram

    espao aos sindicalistas que preenche-ram a grande mesa instalada no palco do auditrio. Era a abertura propria-mente dita, destinada a saudar o incio dos trabalhos no Congresso, que este ano versou sobre a 'Manuteno e Ampliao dos direitos dos trabalha-dores: avanar na organizao dos docentes e enfrentar a mercantilizao da educao'. Compuseram a mesa representaes da CSP-Conlutas, Fasubra, Frente Nacional Contra a Privatizao da Sade, Anel, dentre diversas outras entidades. Apontando para um lugar comum a crtica retirada de direitos, implementada com vigor pelos governos nas esferas federal, estaduais e municipais -, os dirigentes concluram a mesa de abertura com a sinalizao de que, s na luta em unidade com os outros setores da classe trabalhadora, que os professores podem vislumbrar possibilidades de resistncia e avanos.

    Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES 03PANORAMA

    MAIO DE 2015

    34 Congresso do ANDES-SN avana na luta e organizao da categoria docenteNos seis dias que sucederam

    segunda-feira, Braslia abraou debates dos mais diversos. J na primeira tarde, a plenria do Tema I Movimento Docente, Conjuntura e Centralidade da Luta definiu posies centrais a serem defendidas pelo Sindicato Nacional no ano de 2015. Das cinco horas de debates, os docentes sintetizaram a seguinte direo para o ano que se inicia: Avanar na organizao dos docen-tes e na unidade com movimentos e entidades classistas nacionais e internacionais, para enfrentar a mercanti l izao da educao, intensificar a luta pela valorizao do magistrio, combater as polticas neoliberais e defender, intransigen-temente, os direitos dos trabalha-dores. O presidente do ANDES-SN, Paulo Rizzo, lembrou que, h 20 anos, Braslia sediava um congresso da entidade e que, naquele momento, os docentes protagonizaram ato em frente ao Senado e delimitaram o ano que iniciava como centrado na defesa da educao. Na poca, quem presidia o pas era Fernando Henrique Car-doso. Vinte anos depois estamos aqui com outro governo dis-cutindo problemas que j se aprofundavam naquela poca e tive-ram continuidade, problematiza Rizzo.

    Assim como h 20 anos, na mesma cidade e na mira de ataques muito similares, a categoria docente tam-bm aproveitou o congresso para realizar um ato na Esplanada dos Ministrios. Desta vez, contudo, a manifestao foi articulada com outras categorias do funcionalismo pblico e marcou o lanamento da Campanha Salarial 2015 dos Servido-res Pblicos Federais (SPF). Ocorrido em frente ao Ministrio do Planeja-mento, Oramento e Gesto (MPOG),

    Campanha Salarial 2015 na rua

    o ato pressionou para que o ministro, Nelson Barbosa, recebesse uma comisso de servidores e desse o pontap inicial nas negociaes. Contudo, nem Barbosa nem o Secretrio de Relaes do Trabalho da Pasta, Srgio Mendona, atende-

    ram reivindicao dos manifestantes, que per-maneceram em frente ao Bloco K por cerca de trs horas na manh da quarta-feira, 25 de fevereiro. Apesar da int rans ignc ia dos interlocutores do gover-no, Paulo Barela, da CSP-Conlutas, afirmou que os sindicatos pre-

    sentes avaliaram o ato positivamente, afinal, a agitao poltica observada nas falas, apitos e bandeiras tremulantes colocou na rua e na ordem do dia a pauta unificada do funcionalismo pblico.

    Na plenria do Tema II Polticas Sociais e Plano Geral de Lutas -, os congressistas ressaltaram a impor-tncia de o Sindicato Nacional intensificar sua atuao junto CSP-Conlutas, num movimento que ao mesmo tempo visa fortalecer a central sindical qual a entidade docente filiada e aumentar seu enraizamento no cotidiano da catego-ria. Para tal, uma das aes delibe-radas foi a realizao de um Conselho de Associaes Docentes (Conad) extraordinrio, que ocorreu nos dias 2 e 3 de maio. O objetivo central foi sintetizado na temtica aprovada para o evento: Contribuies do

    ANDES-SN reafirma seu papel junto CSP-Conlutas

    ANDES-SN para o 2 Congresso da CSP-Conlutas. Este Conad antecedeu o II Congresso da central, marcado para ocorrer entre os dias 4 e 7 de junho, em Sumar (SP).

    Pauta constante nas lutas travadas pelo Sindicato Nacional, a precarizao do trabalho docente permeou grande parte dos debates feitos no 34 Congresso. E, das diversas facetas atravs das quais os ataques s condies de trabalho e de vida da categoria revelam-se, a ampliao da poltica de Educao Distncia (EaD) foi uma das mais salientadas nesta edio do evento. Tamanha a expresso dessa poltica, alinhavada a diversas outras de precarizao e sucateamento da educao pblica brasileira, que os docentes deliberaram pela realizao de um seminrio nacional para aprofundar o acmulo da categoria sobre a EaD. Junto a isso, o 34 Congresso reforou, ainda, a denncia do ANDES-SN mercantili-zao da educao pblica cuja ressignificao pode ser bem constata-da no texto do Plano Nacional de Educao (PNE), aprovado pelo Congresso Nacional e vigente entre os anos de 2014 e 2024.Como mais uma ao no sentido de

    unificar os trabalhadores da educao e os movimentos sociais combativos que tm esse campo como o lcus de sua ao, os congressistas apontaram a necessidade de estruturao dos comits estaduais e/ou regionais onde esses ainda no existam - para a construo do II Encontro Nacional de Educao (ENE), previsto para acontecer em 2016.

    Na luta contra a preca-rizao do trabalho docenteVinte anos depois estamos

    aqui com outro governo discutindo problemas que

    tiveram continuidade

    Fotos: Arquivo/SEDUFSM

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    Quais as principais concluses que j se delineiam ao final desses dois anos de estudo?

    Foram estabelecidas duas grandes metas pelo Reuni: a relao dos 18 por 1 dezoito alunos por professor e a aprovao de 90% dos estudantes. Em relao aos 18 por 1, o ano de 2011 foi o que mais se aproximou dessa meta. Depois disso comeou a cair. Embora a UFSM tenha expandido em termos de alunos, o nmero de professores con-tratados no acompanhou essa expanso proporcionalmente, em termos da qualidade que uma universidade deveria ofertar. Esse projeto de expanso da universidade quer que o professor, embora num nmero reduzido, tenha mais alunos. Os nmeros nos trazem que a UFSM expandiu significativamente mais de 40% na graduao e mais de 88% na ps-graduao , e assim mesmo no se atingiu a meta dos 18 por 1. Ento quer dizer que para se atingir a meta tem que expandir mais ainda, sem precisar contratar professor. Sobre a aprovao de 90%, em 2011 essa meta foi atingida. Mas por que depois a aprovao foi decaindo? A entra a questo do acesso e da permanncia. O acesso tu tens atravs das cotas, do Enem, etc. Mas a permanncia (assis-tncia estudantil) muito precria.

    E como a senhora analisa a precarizao do trabalho docente nessa perspectiva contraditria de menos contrataes para muito mais trabalho?

    Na poca em que o Reuni foi proposto, o sindicato alertou: um projeto que vem a precarizar o ensino pblico e o trabalho docente. Estamos numa situao de ansiedade. Quando a gente entra numa universidade, pensamos em toda formao que

    ReuniExpanso em nmeros, mas sem qualidade

    temos e que foi proporcionada por algum. Qual o teu papel? tambm proporcionar isso para outras pessoas. E a, quando tu vs, no ds conta porque as condies objetivas no te deixam fazer isso. Isso vai atingindo o teu psicolgico, pois tu te sentes total-mente incapaz de atingir determi-nadas coisas a que te propes como um professor universitrio. Para tu conseguires, preciso abrir mo de muitas coisas pessoais. Tu vais abrir mo de ficar com tua famlia. aquela coisa: ns ou ns. Eu no posso dizer mais eu no quero, eu no posso, porque quem mais que vai pegar? Se o teu outro colega est nessa mesma situao...

    O Reuni acabou deturpando, de certa forma, uma reivindica-o histrica pela ampliao do acesso ao ensino superior pblico...

    Apropriaram-se dessa bandeira de expanso da universidade, que vem dos movimentos populares e dos sindicatos, e deram um trato total-mente pragmtico a ela. Ou seja, expandiram em termos de nmeros, de quantidade, mas comprometeram a qualidade. Na prpria frmula do clculo que se faz nessa relao dos 18 por 1 consta que o aluno de ps-graduao tem um valor maior. Quanto mais alunos de ps, quanto mais tu cresces na ps, mais rpido tu consegues atingir os 18 por 1. aquilo que o ANDES-SN avisava: algumas universidades crescero em gradua-o - os chamados 'escoles' - e outras reforaro a ps-graduao, fazendo uma diviso no processo de formao. a lgica: aqui se trabalha com formao de mo de obra [no ensino] e aqui se tenta elitizar um

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    pouco mais a partir do produtivismo [na ps-graduao].

    Qual a sua avaliao sobre as perspectivas que circundavam o Reuni quando o projeto foi proposto e a realidade atual, oito anos aps sua implantao na UFSM?

    Passaram para a gente aquela imagem de que era algo maravilhoso, de que com a adeso ao Reuni se teria mais contrataes, que o governo iria investir mais a partir desse projeto. S que o prprio projeto est dizendo que no, porque pretende ampliar o nmero de vagas aproveitando os recursos humanos e materiais j existentes na universidade. Vende-ram uma falsa ideia. Naquele mo-mento quem estava estudando isso, quem percebeu essas contradies, avisou. Mas o que aconteceu? Quan-do houve a votao do projeto at as foras policiais estavam l para no deixar essas pessoas chegarem perto.

    O Reuni teria vindo para atender a uma intencionalidade poltica?

    H uma poltica educacional nos pases dependentes que visa inclu-los no sentido da subordinao. No caso da expanso do ensino superior muito claro que se precisa de mo de obra qualificada em determinadas reas - e por isso muitos cursos novos que vm a surgir a partir da. Esses trabalhadores vo se formar de forma

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    aligeirada e sem a relao do trip ensino, pesquisa e extenso, j que isso s para uma minoria, e sero jogados no mercado de trabalho. E no mercado de trabalho vai ter mais essa mo de obra qualificada, que vai ter baixos salrios e isso ocasionar mais desemprego, j que existir um exr-cito de reserva. Ento tem um porque disso, no porque o governo quer intelectualizar o seu povo. porque existe a toda uma poltica de depen-dncia em cima disso, e que veio com toda fora.

    Essa sobrecarga de trabalho vem afetando o processo de aprendizagem dos estudantes?

    Com certeza. Porque o aluno na tua frente ser uma abstrao, ele no vai ser um aluno concreto do qual tu podes estar mais prximo. Tu no tens mais um trabalho de enxergar o teu aluno como algum que tem um nome, que tem uma histria, que tem objetivos ali. Ficamos mais afastados e, com isso, o aluno perde o conhecimento enquanto um instrumento que, na mo dele, servir para auxiliar na compreenso de determinadas coisas na realidade, em todos os mbitos da vida, e no s o conhecimento como uma questo de funcionalidade para um campo de trabalho. uma viso reduzida do conhecimento. No negamos que cada vez mais tenham alunos entrando na universidade, mas que sejam dadas as condies objetivas para que eles tenham qualidade nessa formao.

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    04 Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDESCOM A PALAVRA

    MAIO DE 2015

    MARISTELA SOUZA

    Diagnosticar a implantao do Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais

    (Reuni) na UFSM. Esse foi o objetivo central do projeto coordenado pela professora do departamento de Desportos

    Individuais, Maristela Souza, cujo relatrio final sai em agosto. Advindo de um edital da Capes e integrando o Observatrio da

    Educao (Obeduc), a ideia foi revelar algumas das contradies que despontam de uma expanso precarizada e

    carente dos recursos mais essenciais.

  • Cleber Martins Departamento de Cincias Sociais da UFSMNo tem norma que acabe com a corrup-o. Corrupo com-bate-se com estrutura

    eficiente de controle, transparncia e fiscalizao

    dos recursos pbl icos. necessrio que haja uma disputa mais equilibrada nas campanhas eleitorais. H uma questo concreta: se eu sou de uma empreiteira e eu financio um candidato, provavelmente eu vou querer algum retorno desse candidato. Mas se eu sou um indivduo, qualquer cidado, e apoio financeira-mente um candidato, pode ser que eu tambm queira que ele d um retorno. Como fazer para sair disso? No tem resposta simples. As disputas tm de ser equilibradas e preciso, institucionalmente, criar estruturas para fiscalizao e monitoramento dos recursos pblicos. Se isso no for feito, estaremos daqui a 20 ou 100 anos conversando sobre a mesma questo.

    Rosane Rosa Departamento de Cincias da Comu-nicao da UFSMO pano de fundo da nossa sociedade o capitalismo. Ento ingenuidade pensar

    que as empresas, num surto de caridade, iriam dar

    milhes para um candidato em troca de nada. Se a empresa d, obviamente vai querer um retorno. Ento uma porta de entrada sim para a corrupo. E tem outra coisa tambm: as campanhas se tornaram milionrias. Se o concorrente desenvolve uma campanha milionria em termos tcnicos, como que outro vai ficar com uma campanha muito modesta? Repercutiria diretamente no resultado. Ns s evoluiremos como sistema democrtico quando, em todas as reas, a sociedade tiver conscincia de criar representao, de criar conselhos. A participao popular regula a atuao do Estado e a atuao de outras instituies que influem diretamente no sistema democrtico e poltico.

    Carlos Armani Departamento de Histria da UFSMEu penso que a combinao do fi-nanciamento pblico de campanha que vai ajudar a diminuir a

    promiscuidade pblico privado e do sistema de

    lista fechada de candidatos para o legislativo so dois itens da reforma poltica que podem ajudar a diminuir a corrupo. Uma questo crucial tambm a mudana na cultura. Ou seja, no s uma reforma poltica, uma reforma poltica e cultural, em que esse 'cultural' deve ser entendido como uma espcie de mudana da cultura poltica, da maneira como ns, indivduos, nos relacionamos com a poltica. Isso fundamental especialmente para o fortalecimento dos partidos polticos, da identidade partidria e dessa relao de representatividade partido eleitor, que o que no meu entendimento est fraco na poltica brasileira..

    Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES 05MAIO DE 2015

    OPINIO

    A reforma poltica seria uma via de combate corrupo no pas?

    JURDICO SEM DVIDASWAA trabalha junto da SEDUFSM h 11 anos

    *Por Assessoria de Imprensa do escritrio Wagner Advogados Associados

    O escritrio Wagner Advogados Associados possui mais de 30 anos de experincia na defesa dos docentes e servidores pblicos federais. Iniciado em 1984 pelo scio fundador Jos Luis Wagner, tem sua matriz em Santa Maria, RS. Com a evoluo do trabalho, que especializado em Direito Pblico, hoje

    abrange mais quatro filiais localizadas em Braslia (DF), Macap (AP), Porto Alegre (RS) e Recife (PE). Junto a essa estrutura, outros vinte escritrios de diversas capitais brasileiras advogam em parceria com Wagner Advogados Associados, ampliando as possibilidades de soluo e de resultados positivos para os clientes. O atendimento SEDUFSM e seus filiados se d atravs da assessoria jurdica

    consultiva e contenciosa nas questes funcionais dos docentes e nas demandas da prpria entidade, por meio de estudos, pareceres, atuao em processos administrativos e judiciais desde o ingresso da ao at os tribunais superiores. No decorrer desses 11 anos de atuao conjunta com a SEDUFSM, inmeros

    direitos foram defendidos e muitos resultados positivos foram entregues aos professores. Buscando proximidade com os clientes, alm do atendimento na sede do

    escritrio, ocorrem plantes semanais na SEDUFSM todas as teras-feiras, das 9h s 12h, e so produzidos, permanentemente, materiais informativos de interesse dos servidores, os quais so disponibilizados atravs da pgina wagner.adv.br, e-mails e redes sociais.

    ltima parcela do reajuste no cobre perda salarial. Entenda o porqu:A inflao acumulada de 12 meses, conforme o ndice do IPCA (maro de

    2014 a fevereiro de 2015), alcana o percentual de 7,7%, enquanto o reajuste mdio que os professores da UFSM receberam na folha de maro alcanou apenas 4,72%, o que ocasiona uma perda salarial para a grande maioria. A anlise de Ricardo Rondinel, que alm de docente lotado no departamento de Cincias Econmicas, tambm conselheiro da Sedufsm e secretrio tcnico de pessoal docente da pr-reitoria de Gesto de Pessoas (Progep) da UFSM.Conforme o estudo de Rondinel, o reajuste menor no regime de trabalho

    de Dedicao Exclusiva (DE), 4,5%, que corresponde a mais de 80% dos docentes na UFSM. De acordo com a titulao, o reajuste de 7,4% para os graduados, e menor para os doutores 4,2% (estes representam 84% dos docentes). Os docentes com o menor reajuste so os associados: apenas 2,3%. A classe de professor associado foi criada em maio de 2006, e foi introduzida na carreira entre o professor Titular e o Adjunto.O reajuste pago no ms de maro aos professores, explica Rondinel,

    corresponde terceira parcela decorrente da implementao da chamada nova carreira, que foi alterada em 1 de maro de 2013 pelas Leis n 12.772/2012 e n 12.863/2013. A terceira parcela entrou em vigor em 1 de maro de 2015 e consiste em reajuste no Vencimento Bsico e na Retribuio por Titulao. No se trata de uma Reviso Geral Anual, prevista na Constituio Federal para repor perdas da inflao corrente e no cumprida pelo Governo. Trata-se de um ajuste na tabela de vencimentos e na retribuio por titulao.

    Num momento em que grandes escndalos envolvendo polticos brasileiros so publicizados e a corrupo pauta de protestos e debates, os questionamentos sobre possveis vias de se combater ou minimizar essa problemtica so recorrentes. E a reforma poltica figura, para alguns, como um dos mecanismos capazes de intervir sobre essa questo. Veja, abaixo, a opinio de alguns docentes da UFSM sobre a relao entre corrupo e reforma poltica.

  • 06 Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDESREPORTAGEM ESPECIAL

    MAIO DE 2015

    Quando o trabalho vira doenaO atestado aponta lcera. O docente afasta-se das atividades e convence a si mesmo de que possui uma doena orgnica, passvel de cura com um tratamento medicamentoso e alguns novos hbitos cotidianos. Logo, ele retornar ao trabalho fator que nenhuma relao possuiria com seu adoecimento e dar seguimento frentica rotina de produo, naturalizada como a nica possvel. Contudo, antecedendo dor fsica, j h um tempo ele no conseguia dormir noite ou ouvir o questionamento de um aluno sem que aquilo lhe causasse irritabilidade ou acordasse seus impulsos mais agressivos. Ele estava a ponto de bala.

    A situao, aqui hipottica, tem adquirido contornos cada vez mais reais no cotidiano do trabalho docente. Aquilo que os atestados de afastamentos

    apontam como a causa do problema, , muitas vezes, um sintoma. Uma lcera ou uma bursite podem no ser simplesmente decor-rentes da m alimentao ou de determinado esforo fsico. Podem ser parte de um processo mais complexo de definhamento da sade mental, que, estando intrinsicamente conectada ao corpo humano, encontra formas de sinalizar: 'algo no vai bem por aqui'.

    Isso se d pela natureza psicossomtica de algumas doenas, que podem se mascarar de doenas orgnicas, mas, se analisadas dentro de um

    contexto, so sintomticas de fatores psquicos. Primeiro, o cansao, a fadiga, a irritabilidade, a tristeza e a falta de prazer no trabalho. Depois, a dor de barriga e as dores lombares. O que pouco tem se falado, no entanto, que o adoecimento mental na categoria docente tem hoje como uma de suas principais causas o prprio trabalho.Ao tratarmos de doenas laborais inclumos tanto aquelas clssicas provocadas por atividades insalubres, por exemplo quanto os transtornos mentais e

    comportamentais. Esses ltimos, inclusive, so os que mais vm afastando professores na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

    De 2012 para 2013, os casos passaram de 26 para 58, conforme dados cedidos pelo Setor de Qualidade de Vida da

    instituio. E, dentre esses transtornos, a depresso o carro-chefe, ilustrando um cenrio, para os professores, que no se afasta daquele mais amplo observado no conjunto da classe trabalhadora. Estimativas da Organizao Mundial da Sade (OMS) apontam que, na prxima dcada, a doena ser a mais comum do mundo. J dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dizem que a depresso foi responsvel por 61.044 dos pedidos de afastamento do trabalho no ano de 2013 em nosso pas.

    Foi o que se perguntou a professora da Sociedade Brasileira para o Ensino e Pesquisa (SOBRESP) e da Educao a Distncia (EaD) na Ufsm, Alessandra Pimenta, no decorrer de seus dois anos de mestrado. Eu notava a diferena de comportamento de alguns professores em sala. Geralmente o aluno de ps-graduao problematizador, levanta questes e busca avanar no conhecimento. E em determinadas aulas ningum abria a boca. Via-se que mudava a postura dos colegas. E a tu olhas para o professor e vs que ele est a ponto de explodir, diz a autora da tese de doutorado '(Des)caminhos da ps-graduao brasileira: o produtivismo acadmico e seus efeitos nos professores pesquisadores'.E a resposta central para sua indagao no ficou longe daquilo que o movimento sindical docente vem apontando: o produtivismo acadmico, espcie de valor que hoje encharca o modelo de universidade, de educao e as prprias relaes de trabalho construiu uma lgica perversa da qual o professor dificilmente consegue se desvencilhar. Se por um lado tal lgica pressiona os docentes a produzirem num ritmo quase to acelerado quanto o observado numa linha de produo, por outro, oprime com a desvalorizao aqueles que desenvolvem projetos de extenso considerados pouco rentveis na perspectiva dos rgos fomentadores. A lgica produtivista traz consigo outra intencionalidade, destacada pelo professor do departamento de Medicina do Trabalho da Universidade Federal do Par (UFPA), Jadir Campos: a responsabi-lizao da categoria docente pela captao de recursos oramentrios, uma vez que a universidade pblica vem sofrendo cada vez mais com os cortes de verbas. A suposta 'genialidade' do docente, eleita por critrios definidos pelos interesses do mercado, produto da prpria escassez dos recursos

    (disponibilizados para as IFES), que se tornam alvo de disputa, explica Campos. Na UFPA, assim como aqui, os transtornos mentais so a principal causa de adoecimento na categoria docente. Envoltos como esto, a maioria no se d conta do seu

    Por que a universidade causa adoecimento?

    Depresso o carro-chefe dos afastamentos de docentes na Ufsm

    No meio do caminho alguns no conseguem e acabam adoecendo

  • Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES 07MAIO DE 2015

    processo de adoecimento, de forma que a nica situao capaz de afast-los da rotina frentica de produo , muitas vezes, uma doena aparente-mente orgnica que os incapacite para as atividades. A pessoa est to envolvida naquilo fazer projetos, conseguir recursos, orientar que uma dor de bar-riga faz ela parar depois. E muitas vezes tu vai avaliar e no tem nenhuma doena orgnica que justifique aquele sintoma de dor, pois est relacionado questo mental, diz diz Liliane Brum, mdica coordenadora do Setor de Percia da UFSM. Insnia, dependncia qumica e transtornos de adaptao tambm se incluem entre os principais problemas de ordem psquica que vm afetando os professores da instituio. No meio do caminho alguns no conseguem e acabam adoecendo, problematiza Liliani, ilustrando a relao nada harmnica entre o produtivismo e a sade dos professores. Transtorno campeo em afastar docentes da

    atividade laboral na Ufsm, a depresso caracteriza-se, conforme explica a mdica, pela perda de vitalidade no dia a dia. Cansao, falta de prazer nas atividades do

    cotidiano nas quais figura o trabalho -, distrbios alimentares aumento ou perda de peso -, distrbios no sono insnia ou muita sonolncia -, isolamento e excesso de adinamia (cansao) so alguns dos principais sintomas. Uma vez que se relaciona direta-mente com o cotidiano, o professor afetado tende a transformar seu comportamento em sala de aula, podendo se mostrar irritvel ou aptico.

    Exausto emocional, distanciamento afetivo e baixa realizao profissional. Em quantos atestados de afastamentos figuram esses sintomas? Podemos arriscar: em nenhum. Porm, so esses os indicado-res responsveis por atestar se um trabalhador est ou no acometido pela Sndrome de Burnout. Trans-torno relativamente recente tendo sido descrito, pela primeira vez, em 1974 por Freudenberger, um mdico alemo -, atinge com mais intensidade aque-

    A sndrome por trs dos atesta-dos mdicos nas universidades

    las categorias que possuem contato direto com o pblico. A se incluem, por exemplo, bancrios, profissionais da sade e docentes dos mais variados nveis de ensino. De natureza multifatorial e psicos-somtica, a doena manifesta-se de diversas formas, podendo alterar o comportamento do professor em sala de aula e at incentivar o surgimento de problemas gstricos ou cardacos. Andreia Cezne, professora do departamento de

    Direito da Ufsm, diz que a exausto emocional proveniente da Sndrome est diretamente vinculada ao trabalho. Isso observado quando o professor muda o seu comportamen-to em sala de aula, por exemplo. Antes ele gostava do seu ofcio e, consequen-temente, era cuidadoso e emptico com seus alunos. Agora, ele j detesta o que faz, de forma que o pblico com o qual trabalha corpo discente j lhe causa repulsa. Ento na exausto tu vai ter solido, depresso, raiva, ansiedade, impacincia, irritabilidade a pessoa parece que est sempre de mau-humor, mas um mau-humor relacionado com o ambiente laboral. Tenso, diminuio da empatia. E no so s sintomas psicolgicos: baixa energia, fraqueza, dor muscular, distrbio de sono, dores lombares e cervicais, nusea e problemas no estmago tambm podem ser decorrentes da doena, explica Andreia.

    Quando acometidos pela Sndrome de Burnout, os professores tendem a despersonalizar os sujeitos envolvidos em seu trabalho, ou seja, seus prprios colegas de profisso ou os estudantes com quem interage em sala de aula. O psiclogo do Ncleo de Apoio Aprendizagem na Educao (nima), Renato Favarin dos Santos, explica que, ao despersonalizar, o docente afasta-se cognitiva e afetivamente dos alunos e colegas, conferindo-lhes um tratamento impessoal e indiferenciado. Esse um dos motivos das reclamaes observadas pelo psiclogo em seus

    Adoecimento docente tambm afeta estudante

    atendimentos aos estudantes da instituio. Atritos no relacionamento s vezes justificam-se por postu-ras hostis e impacientes de ambos os lados, porm outras queixas apontam insensibilidade dos profes-sores em relao a demandas e necessidades especiais. Ele ressalta que, no apenas na UFSM, mas no

    conjunto da categoria, a Sndrome e a depresso so os transtornos que mais adoecem e afastam docentes da atividade laboral. E, sabemos que essas patologias interferem na

    qualidade do trabalho docente. Sendo que muitas vezes isso fica evidencia-do de vrias formas, dentre as quais: (a) queda do rendimento profissional; (b) baixa acentuada na identificao com a profisso e satisfao; (c) dificuldades de relacionamento entre os prprios professores e entre professores e os estudantes. Isso tudo acaba por afetar o processo de formao dos estudantes, que no

    compreendem o processo de adoecimento docente, explica Santos. Para o psiclogo, o professor figura como o principal modelo profissional para os estudantes, e eles tendem a reproduzir muitos traos de seus comportamentos disfuncionais relacionados ao trabalho e s relaes que deste derivam. Por isso, no raro, vemos estudantes de graduao tratando de forma impessoal e fria colegas de classe, conclui.

    Walcyr de Oliveira Barros um dos integrantes do Grupo de Trabalho de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA) do ANDES-SN e conta que j h, na entidade, a proposta de que sejam realizados levantamentos, em cada universidade, sobre a questo da sade docente. O GT pensou na pesquisa como instrumento no apenas de conse-guir dados, mas como um instrumento atravs do qual pudssemos dialogar com a nossa base e sensibiliz-la. Se tem algo que, de certa forma, preocupa a cada sujeito justamente seu processo de finitude e as questes de sade, explica Barros, que, mesmo sem o resultado de todas as universi-dades, j aponta a precarizao do trabalho docente como uma das causas basilares para o adoecimento cada vez mais presente na categoria. Essa precarizao tambm acompanha o processo

    de expanso do ensino superior pblico brasileiro, principalmente atravs do Reuni. No somos contra a expanso da universidade, mas forma como foi feita. As prprias contrataes ficaram muito aqum do que seria essa necessidade. Ento voc tem uma ampliao de territrio, mas sem ter material huma-no suficiente, opina o diretor do ANDES-SN.

    ANDES-SN de olho na sade de seus professores

    A exausto emocional

    proveniente da Sndrome est diretamente vinculada ao trabalho

    NEOPLASIAS2012 2013 2014

    TRANSTORNOSMENTAIS E

    COMPORTAMENTAIS

    2012 2013 2014DOENAS DO SISTEMAOSTEOMUSCULAR E DO TECIDO CONJUNTIVO

    2012 2013 2014LESES, ENVENENAMENTOSE OUTRAS CONSEQUNCIAS

    DE CAUSAS EXTERNAS

    2012 2013 2014

    1020

    3040

    5060

    70 Veja quais so as doenas que mais afastam docentes na UFSM

    Depresso hoje a doena mais diagnosticada na universidade.

    Neoplasias e doenas osteomusculares so a segunda causa de afastamentos docentes na Ufsm. Dentre as doenas osteomuscula-res destacam-se as relacionadas coluna vertebral - nombalgias e dorsalgias e as neoplasias em geral. Liliani Brum aponta que, como o contingente de mulheres grande na docncia, as neoplasias mais comuns so as de mama, alm das de intestino e pncreas.

  • Em assembleia realizada pela Sedufsm, em 23 de maro, no campus de Frederico Westphalen (UFSM/Cesnors), alguns professores expuseram dvidas sobre a migrao do Colgio Agrcola de Frederico Westphalen (CAFW) para o Instituto Federal (IF) Farroupilha. A reclamao central, capitaneada pelo diretor do Cesnors, professor Gensio da Rosa, o impacto que esse acordo est causando ao Cesnors, especificamente em Frederico.Para Rosa, o assunto no foi discutido de forma

    mais aprofundada e agora traz efeitos negativos para a UFSM. Ele cita que a diviso da rea total que pertencia UFSM (cerca de 200 hectares), ficando apenas metade para o campus de Frederico, est causando problemas. Segundo o docente, na diviso da rea, estruturas de uso comum foram perdidas, como por exemplo, refeitrio, auditrios, laborat-rios, reas de experimento e maquinrios.Um exemplo que ilustra essa situao ocorreu

    semanas atrs, quando houve o bloqueio dos caminhoneiros na regio, causando escassez de mantimentos. Na ocasio, a direo do IF alegou que a prioridade para as refeies era dos alunos daquela instituio. A partir de ento, segundo o diretor do Cesnors, a alimentao para os acadmicos da UFSM tem sido terceirizada. Em relao aos laboratrios cedidos, Rosa diz que preciso elaborar um termo de cooperao tcnica a cada vez que se quiser fazer uso de tais locais.

    O diretor do Cesnors questiona os valores de avaliao das reas que foram cedidas pela UFSM ao IF. O patrimnio da UFSM que foi cedido teve uma avaliao aproximada de R$ 15 milhes. No entanto, segundo Gensio da Rosa, fazendo uma avaliao prpria, os professores da instituio chegaram concluso de que 100 hectares, com rea construda e mais equipamentos, daria, em preos de mercado, algo em torno de R$ 60 milhes, afora a questo de vagas de docentes e servidores tcnico-administrativos envolvidos. Para Rosa, a negociao foi prejudicial UFSM.O docente diz tambm que ainda no aconteceu o

    repasse dos valores UFSM para que essa possa remontar a estrutura que foi cedida. Todavia, na entrevista por e-mail Sedufsm, o reitor da UFSM, Paulo Afonso Burmann, diz que a previso de que o recurso venha ano a ano (de 2015 at 2017, totalizando R$ 14,5 milhes). E afirma tambm que parte das obras de infraestrutura j est licitada.O repasse acordado de R$ 14.500.000,00, a

    saber: R$ 5.000.000,00 em 2015; R$ 5.000.000,00 em 2016; R$ 4.500.000,00 em 2017. Esses valores devero ser aplicados na construo de Laboratrios de Ensino e Pesquisa, Restaurante Universitrio, Moradia Estudantil, Auditrio e Edifcio de Salas de Aula e em toda a infraestrutura necessria para o funcionamento independente do CESNORS (gua, luz, telefonia, internet, etc). Inclusive, parte destas obras j est licitada, afirma Burmann.

    Docentes questionam valores

    Posio da reitoriaAcompanhe, abaixo, algumas questes enviadas

    ao reitor da UFSM, Paulo Afonso Burmann, junto com as respostas. As questes foram encaminhadas por e-mail no dia 26 de maro e respondidas da mesma forma no dia 7 de abril. Sedufsm- A informao de que a rea total

    somando CAFW e Cesnors corresponde a 200 hectares, e que, a partir desse desmem-bramento, a rea total teria sido dividida ao

    meio. correta essa informao?Reitor- correta e

    consta do acordo de migrao aprovado no Conselho Universitrio (Consun). Na clusula 12 do Termo Aditivo de Cooperao Tcnica entre a UFSM e o Instituto Federal Farroupilha (IFF)

    est previsto que a rea de 190,1 hectares ser dividida na razo de aproximadamente 50%, contemplando ainda dentro da rea os laboratrios de Hidrulica e Mecanizao que esto com projetos do Reuni em andamento. Lembramos que atualmente a UFSM/CESNORS usa rea bem menor do que os 95,5 hectares previstos no acordo. No entanto, no h impedimento para ampliar a rea quando houver necessidade, reconhecidamente indispensvel para o desenvolvimento das atividades de ensino e pesquisa.Sedufsm- Tambm correta a informao

    de que a rea total foi avaliada em R$ 60 milhes e que a parte indenizatria que caberia UFSM corresponde a R$ 12 milhes?Reitor- No procede. Especialmente conside-

    rando que estamos tratando de duas instituies pblicas parceiras e com grande papel no ensino, na pesquisa, extenso e no desenvolvimento regional. Estamos tratando de um processo educacional pblico que deve estabelecer ateno s indenizaes de maneira justa, sensata e equilibrada e no de uma operao de mercado.

    Sedufsm- H algum projeto pronto em relao a refeitrio, auditrio, e outros ele-mentos que deixaram de ser compartilhados pelo CAFW com o Cesnors? Se existe, qual a previso para a implementao desses projetos? H um cronograma para as obras necessrias?Reitor- Os projetos, que ainda no foram

    elaborados, o sero no corrente ano, prevendo a construo da infraestrutura j mencionada, enquanto o RU, auditrio e as unidades bsicas de ensino esto sendo compartilhadas.

    Sedufsm- Em relao s vagas de docentes e TAEs que eram da UFSM, essas foram cedidas ao IF? Haver reposio e em que prazo?Reitor- As reas de Gesto de

    Pessoas das duas instituies esto elaborando o procedimento burocr-tico adequado migrao dos servidores da UFSM para o IFF. No mesmo documento esto sendo solicitados e garantidos para a UFSM

    todos os cdigos de vagas referentes aos Servidores (TAEs e Docentes) que fizeram a opo pelo IFF.

    A posio expressada pelo diretor do Cesnors causou inconformidade em pelo menos um docente do CAFW (agora cedido ao IF Farroupilha), que externou sua opinio atravs do perfil da Sedufsm no Facebook. Conforme o professor Ado Leonel, que disse ter ficado triste com a abordagem feita pelo sindicato, quem trabalha e estuda em Frederico sabe que este ano nosso refeitrio foi terceirizado. Disse ainda que no IF no existe nenhum laboratrio fechado, pelo contrrio, so os laboratrios da UFSM-FW que esto fechados. Leonel cita o setor de mquinas agrcolas, atualmente sob a responsabilidade dele, que nunca teria deixado de realizar qualquer tipo de servio para UFSM. Segundo o docente, as respostas do reitor Paulo Burmman esto coerentes com a verdadeira realidade.

    Discordncia

    08 Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDESDE OLHO NA UFSM

    MAIO DE 2015

    Polmica envolve migrao do CAFW ao IF Farroupilha

    Colgio Agrcola de Frederico agora pertence ao IF Farroupilha.

    Gensio da Rosa:

    Negociao foi prejudicial

    UFSM

    Paulo Burmann: Indenizaes devem ser

    justas, sensatas e equilibradas

    Fritz Nunes

  • 2015 inicia com duas grandes greves na rede pblica

    EDUCAO

    PAINEL

    Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES 09MAIO DE 2015

    Em greve desde o dia 13 de maro, os professores da rede estadual de So Paulo seguem firmes num movimento que, no obstante a cobertura perif-rica reservada pela mdia hegemnica, vem colocando milhares de trabalhado-res na rua em denncia ao descaso do governador Geraldo Alckmin (PSDB). S na assembleia do dia 17 de abril, compareceram mais de 60 mil profes-sores, segundo estimativa divulgada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de So Paulo (Apeoesp).Dentre as principais reivindicaes

    esto aumento salarial de 75,33% para equiparao salarial com as demais categorias de nvel superior, visando alcanar o piso do DIEESE para Profes-sores de Educao Bsica (PEB) I com jornada de 20 horas semanais, sendo ativos ou aposentados; converso do bnus em reajuste salarial; reabertura de classes e perodos fechados, acom-panhando o desmembramento imedia-to das salas superlotadas; ampliao dos repasses de verbas para as escolas; mximo de 25 alunos por sala desde o primeiro ciclo do Ensino Fundamental ao Ensino Mdio; contratao e ingres-so de todos os professores concursa-dos; implantao da jornada do piso e correo das distores no plano de carreira que prejudicam os aposen-tados. Na pauta tambm figuram questes

    mais amplas, que no se restringem categoria docente, mas afetam toda a sociedade, a exemplo da luta contra o Projeto de Lei (PL) 4330 (terceiri-zaes), contra a reduo da maiori-dade penal e contra a criminalizao da greve e dos movimentos sociais.

    Enquanto reservava longos minutos de sua programao para dar visibilidade s manifestaes do dia 15 de maro, que cobravam o

    Mdia silencia educadores

    impeachment da presidente Dilma Rousseff e, em alguns casos, at mesmo interveno militar, as passeatas dos professores grevistas, que chegaram a colocar 40 mil na rua, praticamente no existiram para a grande mdia. Isso fez com que a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, enviasse carta a Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo."Se a Rede Globo defende a

    liberdade de expresso, deve cumprir as regras do Estado democrtico de direito. Como concesso pblica,

    Em seu 34 Congresso, o Sindicato Nacional posicionou-se favorvel a dois temas ampla-mente debatidos na atualidade: a descriminalizao do aborto e das drogas. As posies, quase unnimes dentre os participantes, foram comemoradas, expres-sando que o movimento docente j est pronto para se colocar ativamente na defesa de tais pautas. No debate realizado, a questo de classe foi comum s duas temticas, j que a poltica proibicionista tanto relativa ao aborto quanto s drogas atinge diretamente os setores mais marginalizados da classe trabalha-dora.

    Em sesso plenria no dia 16 de abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que as organizaes sociais (OS) esto autorizadas a prestar servios pblicos de ensino, pesquisa cientfica, desenvolvimento tecnolgico, proteo e preservao ao meio ambiente, cultura e sade. H mais de 15 anos tramitava a Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1923, contrria s normas que regulamentam as OS. Agora, contudo, o STF considerou a validade parcial da ADI apenas no que se refere s leis de licitaes, dando interpretao constitucional s normas que dispensam licitao em celebrao de contratos de gesto firmados entre o Poder Pblico e as OS. Para o ANDES-SN, a deciso representa um ataque direto queles que lutam contra a precarizao das condies

    de trabalho e em defesa dos servios pblicos de qualidade.

    Professores da UFSM/Palmeira problematizam escassez de recursos Os professores da UFSM em Palmeira das Misses

    reuniram-se com o reitor, Paulo Burmann, no dia 16 de abril, para apresentar demandas referentes aos estudantes do curso de Enfermagem. Eles tm de se deslocar at os municpios de Iju e Trs Passos, a fim de realizarem atividades prticas, e no vm tendo o devido auxlio da instituio. Gianfbio Franco, professor do curso e diretor da Sedufsm, explica que a escassez de recursos faz com que antes da metade do semestre j no haja mais verba para subsidiar o transporte dos alunos. O problema, que no recente,

    leva os docentes a terem de buscar recursos de outras reas ou at mesmo tirar dinheiro do prprio bolso.Outro problema relatado que quando os alunos do

    oitavo semestre de Enfermagem precisam fazer estgio, eles vm at o Hospital Universitrio (Husm), porm, no tm direito a ficar na Casa do Estudante, por exemplo. Em reunio do Conselho de Ensino, Pesquisa e

    Extenso (CEPE) de 17 de abril, Burmann afirmou que ir reunir com pr-reitores para encontrar uma sada falta de recursos de Palmeira.

    deve cumprir seu papel de informar populao sobre todos os fatos que possam interessar, diz trecho do documento.

    Organizados contra os projetos de desmonte das carreiras do Quadro Prprio do Magistrio (QPM) e do Quadro de Funcionrios da Educao Bsica (QFEB), propostos pelo governador Beto Richa (PSDB), milhares de trabalhadores paralisaram as atividades desde fevereiro no Paran. Mais recentemente, os profes-sores da rede pblica protagonizaram episdios de luta que j entraram para a histria do estado. No dia 29 de abril, centenas de policiais avanaram para cima dos trabalhadores que protes-tavam em frente Assembleia Legislativa do Paran (Alep), numa tentativa de impedir a votao do projeto de lei (PL) 252/2015 que, dentre outros aspectos, possibilita que o governo de Richa retire, do Fundo Previdencirio, cerca de R$ 142 milhes por ms. Apesar do saldo de cerca de 200

    feridos, a maioria professores, os deputados no encerraram a votao, de forma que o projeto fora aprovado por 31 votos favorveis, 20 contrrios e 2 abstenes.

    No Paran: luta em defe-sa da previdncia

    Mdia silencia educadores

    Douglas Mansur

    20 de maro: Passeata dos professores paulistas na rua da Consolao (SP).

    No Paran: luta em defesa da previdncia

    ANDES-SN aprova descriminalizao do aborto e das

    drogas

    STF valida organizaes sociais (OS) no servio pblico

  • 10 Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDESSEDUFSM

    MAIO DE 2015

    Entre 25 e 29 de maio a categoria docente pode iniciar uma nova greve por tempo indeterminado. Essa foi a orientao do Setor das Instituies Fede-rais de Ensino Superior (Ifes) do ANDES-SN. Contu-do, o que vai definir os rumos da mobilizao so as assembleias de base a serem realizadas pelas sees sindicais. Em Santa Maria, por exemplo, a categoria j deliberou, em plenria no dia 23 de abril, pelo indi-cativo de greve, porm sem data definida. Agora, com a nova proposio do Sindicato Nacional, os docentes da UFSM voltam a se reunir no dia 14 de maio, s 14h, no auditrio Srgio Pires, para decidir se j momento de encorpar um movimento paredista.Ao fazer a defesa da necessidade de se apontar

    para um movimento grevista, o presidente da Sedufsm, Adriano Figueir destacou, no dia 23, que alm da questo salarial e da defesa de uma carreira com qualidade, importante a categoria estar atenta ameaa que paira sobre as universidades federais. Segundo ele, a terceirizao no um discurso distante, mas algo concreto. Alm da deciso tomada pela Cmara dos Deputados, de aprovar a terceirizao para a atividade-fim em todos os setores das iniciativas pblica e privada, Figueir v com preocupao o fato de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter deliberado a favor da possibilidade de contratao de docentes nas universidades atravs de Organizaes Sociais (OS).Na avaliao do presidente da Sedufsm, se em

    algum momento for entendido que a atividade-fim da universidade apenas o ensino, isso significar que a pesquisa e a extenso podero ser efetuadas via contratados atravs das Organizaes Sociais, quebrando o paradigma defendido ao longo de dcadas at os dias atuais, que o da indissociabilidadade entre ensino, pesquisa e extenso.Na mesma linha de Figueir, o professor Joo

    Carlos Gilli Martins, do departamento de Matemtica, destacou que inegvel a existncia de uma ofensiva para que a terceirizao seja ampliada nas universidades federais. A contratao via OS, defendida pela direo da Capes, uma forma de

    ANDES-SN aponta greve para fim de maio

    terceirizao, enfatizou Martins, que tambm conselheiro da Sedufsm.Para Rondon de Castro, professor do departa-

    mento de Cincias da Informao, o que o movi-mento sindical docente vinha prevendo h vrios anos est se concretizando. Na avaliao dele, a brecha para a terceirizao iniciou com a universi-dade abrindo mo de sua autonomia e cedendo o Hospital Universitrio a uma empresa de direito privado, que o caso da Ebserh. Mas, alm disso, Rondon, que tambm conselheiro da Sedufsm, ressaltou que na universidade j existem docentes atuando em Ensino a Distncia (EaD) que foram contratados sem concurso pblico.

    Inaugurado o auditrio Suze ScalconSuze Scalcon o novo nome dado ao auditrio da Sedufsm. No dia 14 de abril, a

    professora, que exerceu o cargo de vice-presidente do sindicato de junho de 2014 a 30 de janeiro deste ano, foi homenageada pela gesto Sindicato pela Base, por seus familiares e colegas de profisso. A docente faleceu em 30 de janeiro, vtima de uma parada cardiorrespiratria, e deixou marcas inesquecveis por onde passou, sendo a intensidade e a doao as suas caractersticas mais ressaltadas pelas pessoas com quem conviveu. No mesmo dia houve o lanamento do livro 'Caminhos gesto de polticas pblicas:

    vivncias em gnero e raa', obra organizada pelas professoras Maria Celeste Lander-dahl (lotada no departamento de Enfermagem e tambm diretora da Sedufsm) e Adriane Roso (lotada no departamento de Psicologia). Em sua fala introdutria ao ato de lanamento, Maria Celeste fez questo de ressaltar que a publicao foi escrita por vrias mos e que o livro tinha tudo a ver com a Suze e uma pena que ela no esteja aqui.

    8 de abril: docentes paralisaram atividades na UFSM CesnorsNos campi de Frederico Westphalen e Palmeira das

    Misses da UFSM, os docentes tambm deliberaram pelo indicativo de greve sem data. Contudo, j apontaram algumas demandas especficas para serem integradas pauta de reivindicaes: precariedade da internet; falta de eventos de integrao entre docentes e servidores TAEs; falta de laboratrios no curso de Engenharia Sanitria e Ambiental; dificuldade de acesso biblioteca, que na nova diviso de espaos ficou para o Instituto Federal Farroupilha; dificuldades com o transporte dos alunos, j que as empresas de nibus estabelecem seus prprios horrios, que muitas vezes no condizem com os horrios das aulas.

    Em Santa Maria, deciso ser tomada em assembleia no dia 14 de maioBruna Homrich

    Rafael Balbueno

  • Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES 11PERFIL

    MAIO DE 2015

    Um colombiano na Boca do Monte

    NA ESTANTE DA SEDUFSM

    QUADRINHOS Rafa

    Hoje docente do departamento de Letras Vernculas da UFSM, Fernando Villarraga-Eslava teve seu primeiro contato com a literatura brasileira quando ainda estudava na Venezuela. De l, em pouco tempo j se encantou com as obras de Machado de Assis, Lima Barreto e tambm com aquelas situadas no mbito do romance nordestino. Quando chegou ao Brasil, em 1985, para realizar seu mestrado na Universidade Estadual de Campinas, viu-se fascinado pela obra de Mrio de Andrade. No por acaso, ento, que o docente,

    embora nascido em Bogot, Colmbia, lecione as disciplinas de Literatura Brasileira e Teoria Literria. J tendo lecionado na Universidade Federal de Sergipe e na

    Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia), chegou UFSM no ano de 2002. Contudo, Fernando no deixa sua paixo a literatura limitar-se s quatro

    paredes da sala de aula. Ele quer mais. Democratizar o acesso leitura, oportunizar a escritores independentes a divulgao de suas obras, combinar arte, reciclagem e cultura sob os princpios da autogesto. Esses so alguns dos pilares que sustentam seu mais novo projeto, a editora Vento Norte Cartonero. Desenvolvida em conjunto com algumas estudantes de mestrado e sem possuir

    vnculos com a universidade, a editora segue o trilho da Elosa Cartonera, primeira da linhagem, surgida no ano de 2003, em Buenos Aires. Utilizando o papelo e a criatividade como matrias-primas centrais, as cartoneras editam livros de forma artesanal e a um preo acessvel. A Vento Norte teve seu lanamento oficial no dia 8 de abril e j trouxe trs livros

    editados. Dentre esses, um do prprio Fernando. 'E agora Jos?' um livro de ensaios sobre algumas anlises desenvolvidas ao longo da docncia em cursos de Letras. Quando questionado sobre a importncia da Vento Norte, Fernando responde

    rapidamente: trata-se de um projeto vital. encontrar ainda a possibilidade de sonhar, defende o docente.

    Solidariedade ao povo palestino na ordem do dia

    A questo palestina foi, mais uma vez, motivo de debate e sensibilizao em Santa Maria. No dia 27 de maro, o Comit Santa-mariense de Solidariedade ao Povo Palestino, do qual a Sedufsm faz parte, organizou uma atividade que garantiu a quase lotao do plenrio da Cmara Municipal de Vereadores. Foi a exibio de '5 Cmeras Quebradas', documentrio produzido ao longo de oito anos por Emad Burnat, campons palestino que vive em Bil'in, pequena aldeia na Cisjordnia. Tendo comprado sua primeira cmera em 2005 por motivos pessoais

    registrar o crescimento do mais novo de seus quatro filhos, Gibreel -, ele logo descobriu que havia adquirido uma arma, cujo poder central seria mostrar ao mundo um cenrio de opresso e sofrimento dirigido pelo estado de Israel e maquiado pela mdia hegemnica. Emad filmou as ofensivas do estado israelense, que construiu uma barreira dividindo Bil'in de um assentamento de colonos judeus e anexou novas faixas de terra ao assentamento, invadindo as propriedades palestinas. O povo de Bil'in une-se, ento, em protestos, e foram nessas situaes em que Emad mais teve de encarar um conflito dentro de si: continuar filmando ou intervir quando os soldados israelenses prendiam ou agrediam seus familiares. Eu queria ser parte da resistncia com a minha cmera, disse Emad, explicando que, embora fosse dodo ver os seus sofrerem, no baixava a cmera, pois aquelas imagens seriam visualizadas posteriormente pelo mundo inteiro. '5 Cmeras Quebradas' foi a primeira produo palestina a receber uma

    indicao ao Oscar, concorrendo na categoria de melhor documentrio estrangeiro no ano de 2013. O nome, inclusive, faz referncia s cinco cmeras quebradas pelos soldados israelenses ao longo dos anos de filmagens. Em uma das ocasies, o instrumento salvou a vida do campons Emad, j que a cmera alojou uma bala disparada em direo sua cabea. A Sedufsm realizou, em parceria com a Revista O Vis e com os

    acadmicos de jornalismo Lassa Sardiglia e Leonardo Cortes, uma entrevista coletiva com Emad. O bate-papo completo est disponvel em nosso site www.sedufsm.org.br.

    O docente encontra a coleo 'Rebeldes Brasileiros: homens e mulheres que desafiaram o poder', confeccionada pela revista Caros Amigos. A coleo, de 383 pginas, apresenta ao leitor uma srie de personagens que, ao longo da histria do pas, protagonizaram episdios de luta e resistncia. Nomes como os de Zumbi, Olga Benrio, Paulo Freire e Graciliano Ramos so rememorados.Embora tenham atuado em conjunturas e condies diversas, algo

    comum a todos esses lutadores o espao perifrico a eles reservado na memria hegemnica nacional. Outras colees da Caros Amigos so 'A ditadura militar no Brasil: a histria em cima de fatos' e 'Revoltas Populares no Brasil', ambas contendo 383 pginas. As trs publicaes esto disponveis na Sedufsm para emprstimo aos docentes sindicalizados.

    CULTURA

    Emad veio ao Brasil participar de uma srie de debates organizados pelas comunidades palestinas do pas

    Fotos: Bruna Homrich

  • 12 Publicao da Seo Sindical dos Docentes da UFSM / ANDESMAIO DE 2015

    MEMRIAH dez anos, ANDES-SN se desfiliava da CUT1 de maro de 2005. Curitiba. O auditrio do prdio da reitoria da Universidade Federal do Paran (UFPR) reunia quase 300 professores de todo o pas, que, no ltimo dia do 24 Congresso do ANDES-SN, precisavam decidir sobre se era o momento ou no de dar um passo frente na histria da entidade. Chegada a votao, 192 mos levantaram-se numa afirmativa que encerrou um processo j iniciado h pelo menos um ano: a desfiliao da Central nica dos Trabalhadores (CUT). O coordenador da mesa naquela plenria, Luiz Henrique Schuch, lembra que a deciso expressou uma anlise de conjuntura j maturada no interior da categoria.Uma parcela do movimento sindical assumia efetivamente a funo de trabalhar pela ordem, especialmente a partir da chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo. A Reforma da Previdncia de 2003 foi emblemtica nesse aspecto. A avaliao da maioria do movimento sindical docente foi de que era aquele o momento, sem sermos vanguardistas descolando-nos da base, mas, ao mesmo tempo, sem admitirmos passivamente conviver com a cpula da CUT, que operava quase como um brao do governo, diz Schuch analisando a importncia daquela deciso.

    Assim como todo processo que envolve ruptura, negao e reconstituio de alternativas, a desfiliao do ANDES-SN central no ocorreu livre de conflitos. E, embora tal deciso, 10 anos depois de tomada, j tenha

    conquistado o entendimento da maioria docente, uma disputa ainda travada no imaginrio social da classe trabalhadora. Para Schuch, isso ocorre porque anos de luta e construo de bandeiras, consgnias, lideranas, cobram mais que um curto perodo de tempo para serem reavaliadas e superadas.E, enquanto correm os anos necessrios compreenso do ltimo ciclo e ao amadurecimento de novas alternativas, o Sindicato Nacional coloca-se como sujeito ativo, no s na organizao das lutas docentes, mas tambm no contato, a cada dia mais estreito, com outras categorias e movimentos sociais organizados. A

    alternativa de organizao que hoje acolhe o ANDES-SN a CSP-Conlutas e, embora Schuch avalie que a central , ainda, bastante pequena para responder s demandas desse momento histrico, acredita que a experincia, que no chega a uma dcada, j vem sendo rica, tanto categoria docente quanto central sindical.

    Mesmo quando o fazer docente lhe impunha uma dinmica de vida que no deixava muito espao para a fotografia, ele buscava incluir, numa orientao aqui, numa disciplina ali, aspectos que quebrassem um pouco da distncia entre sua atividade em sala de aula e o outro ofcio que, voluntariamente, abraou para si. Na disciplina de Instrumentao para o Ensino de Fsica, por exemplo, o vdeo estava incluso em sua prtica pedaggica. Sempre usei a imagem como referncia, diz o docente aposentado do departamento de Fsica da UFSM, Dartanham Baldez Figueiredo, hoje figura conhecida nas manifestaes e atividades culturais, onde frequentemente est, com a cmera em punho. Aps a aposentadoria, passou a ter mais tempo para dedicar seu olhar fotografia.

    EXPRESSES

    Um olhar dedicado fotografiaDARTANHAM BALDEZ FIGUEIREDO - Professor aposentado do Departamento de Fsica da UFSM

    Muito do olhar de Dartanham vem sendo dedicado ao movimento por justia para as vtimas do incndio na boate Kiss

    Manifestante flagrada pelo fotgrafo em protesto do Bloco de Lutas Santa Maria

    A fotografia sempre conta uma histria. E isso que eu busco. Minha fotografia vem carregada das minhas vivncias, daquilo que eu penso, daquilo que eu quero transformar.

    Arquivo/SEDUFSM

    Dartanham Baldez Figueiredo docente aposentado do Depar-tamento de Fsica da UFSM.

    Diogo Reck Figueiredo

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