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Colunas: De olho no Mercado 2 Coluna do Meio 13 Tirinhas do Sobrecapa 14 Literalmente 15 Espaço LIJ 22 Nas entrelinhas da escrita 28 Sem poesia não dá 29 Publicidade 32 Ficção de Gaveta 33 Mais Vendidos 34 O Jornal que divulga a Literatura Nacional Terceiro ano de jornal, pri- meira edição de 2013 e estamos aqui, ainda sob os efeitos das festas, correndo para anotar os últimos pedidos para a virada, preparando as listas de desejos e livros para esse novo período, que se abre para nós feito caderno e tela em branco de escritor. E, como bons ficcionistas, pre- cisamos afinar os lápis, destam- par as canetas e imaginar um a- no muito especial, para prêmio li- terário nenhum botar defeito. Com esse clima é que trazemos matérias especiais para os leito- res do Sobrecapa Literal, falando de tudo um pouco. Então, vamos conferir: A coluna “Espaço LIJ” de Alexandre Gomes está de encher os olhos. Adivinha quem é o entrevistado? Ziraldo! E nas ilustrações: Mauricio Veneza. Dag Bandeira nos ensina, na prática, onde tirar as dúvidas do dia a dia. JP Veiga fala das últimas no- vidades, com a chegada do Kindle, Kobo e outros leitores eletrônicos. Sobrecapa Literal Janeiro/2013 Ano III, Edição 23 Rio de Janeiro, RJ Editorial Ana Cristina Melo Sérgio Bernardo apresenta o silêncio incompleto deixado por Lêdo Ivo. As tirinhas do Begê e do Fábio Sgroi continuam apaixo- nantes. Eu, na coluna “De olho no mercado”, falo da importância das oficinas literárias e dos ca- minhos que um escritor precisa escolher. Então, continuem nesse clima, que está bom demais. O Sobrecapa Literal é assim: arte em múltiplas formas. Leiam, curtam, divulguem. Um 2013 de muita paz para todos! EXPEDIENTE Editora : ANA CRISTINA MELO Colunistas : Alexandre de Castro Gomes Ana Cristina Melo Dag Bandeira JP Veiga Rodrigo Domit Sérgio Bernardo Colaboradores : Begê Danilo Marques Fábio Sgroi

Jornal Sobrecapa Literal - Ano III - Edição 23 Jan/2013

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Edição 23 (Ano III), de Janeiro de 2013, do Jornal Virtual Sobrecapa Literal

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Colunas:

De olho no Mercado 2

Coluna do Meio 13

Tirinhas do Sobrecapa 14

Literalmente 15

Espaço LIJ 22

Nas entrelinhas da

escrita 28

Sem poesia não dá 29

Publicidade 32

Ficção de Gaveta 33

Mais Vendidos 34

O Jornal que divulga a Literatura Nacional

Terceiro ano de jornal, pri-meira edição de 2013 e estamos aqui, ainda sob os efeitos das festas, correndo para anotar os últimos pedidos para a virada, preparando as listas de desejos e livros para esse novo período, que se abre para nós feito caderno e tela em branco de escritor.

E, como bons ficcionistas, pre-cisamos afinar os lápis, destam-par as canetas e imaginar um a-no muito especial, para prêmio li-terário nenhum botar defeito.

Com esse clima é que trazemos matérias especiais para os leito-res do Sobrecapa Literal, falando de tudo um pouco.

Então, vamos conferir:

A coluna “Espaço LIJ” de Alexandre Gomes está de encher os olhos. Adivinha quem é o entrevistado? Ziraldo! E nas ilustrações: Mauricio Veneza.

Dag Bandeira nos ensina, na prática, onde tirar as dúvidas do dia a dia.

JP Veiga fala das últimas no-vidades, com a chegada do Kindle, Kobo e outros leitores eletrônicos.

Sobrecapa Literal Janeiro/2013

Ano III, Edição 23

Rio de Janeiro, RJ

Editorial Ana Cristina Melo

Sérgio Bernardo apresenta o silêncio incompleto deixado por Lêdo Ivo.

As tirinhas do Begê e do Fábio Sgroi continuam apaixo-nantes.

Eu, na coluna “De olho no mercado”, falo da importância das oficinas literárias e dos ca-minhos que um escritor precisa escolher.

Então, continuem nesse clima, que está bom demais.

O Sobrecapa Literal é assim: arte em múltiplas formas. Leiam, curtam, divulguem.

Um 2013 de muita paz para todos!

EXPEDIENTE

Editora:

ANA CRISTINA MELO

Colunistas:

• Alexandre de Castro Gomes

• Ana Cristina Melo

• Dag Bandeira

• JP Veiga

• Rodrigo Domit

• Sérgio Bernardo

Colaboradores:

• Begê

• Danilo Marques

• Fábio Sgroi

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Desvendando a literatura com resenhas, trechos & citações

“Segundo o crítico Gilberto Mendonça Teles, as narrativas de Myriam, mesmo quando construídas em descontinuidade, estabelecem uma tensão entre o discurso e a história. A história nos leva ao interior – escavação, introspecção – enquanto o discurso, “cum-prindo sua natureza, procura o linear – rio que se estira entre a nação e a foz”.” (sobre o romance “São Sebastião blues”, de Myriam Campello).

Fonte: Resenha escrita por Elias Fajardo, no Caderno Prosa (O Globo), em 22/12/2012.

“Nada parece abalar a serenidade e o rigor contemplativo de Cíntia Moscovich. Não es-creve para surpreender, ou perturbar, mas para revelar e unir. Tampouco se interessa pela lacuna, pela elipse e pelo submerso, va-lores literários hoje quase sagrados; ao con-trário, aposta na luz e no simples. Cíntia pa-rece movida por um furor primitivista, como se desejasse aproximar-se da realidade para abraçá-la.” (sobre o livro de contos “Essa coisa brilhante que é a chuva”, de Cíntia Moscovich).

Fonte: Resenha escrita por José Castello, no Caderno Prosa (O Globo), em 01 /12/2012.

“No livro, até há observações inteligentes (...) Mas um romance não se sustenta apenas, ou principalmente, por suas ideias. São as quali-dades do texto e a habilidade do autor de ex-pressar alguma coisa na forma (e não através dela), permitindo uma experiência de leitura transformadora, que fazem a diferença numa

obra de ficção. Se “A máquina de madeira” não convence, não é pela qualidade da pes-quisa ou o interesse do tema. A historio-grafia e o romance histórico se assemelham em alguns aspectos: o aparato documental, o cuidado com a distância temporal e a cons-trução narrativa que põe em enredo os fatos. A principal diferença está no uso da imagi-nação: delimitado por protocolos científicos para o historiador, e livre para o ficcionista. Só que em “A máquina de madeira” a imagi-nação não parece assim tão livre. Ela está quase sempre a serviço das “grandes ques-tões históricas”, interpretações consolidadas do passado brasileiro que, aplicadas de modo didático, engessam os pontos de vista dos personagens. O tempo todo eles e o principal narrador, que de tão colado ao presente im-pede a apreensão do passado em sua dife-rença, recorrem a pílulas de sabedoria que soam impostas: digressões sobre o sentido da civilização (“a corte é uma máscara”), a identidade nacional, o atraso brasileiro, a “oratória tropical”. Ou mesmo reflexões filosóficas de sabor platônico em meio a um diálogo: “A máquina criará distanciamento, tornando as palavras mais impessoais”. O didatismo até poderia se diluir no fluxo nar-rativo, mas não é o caso. “A máquina de madeira” é um livro estruturalmente con-fuso: narradores diversos se alternam com notícias de jornal aleatórias e um diário. Essas descontinuidades emperram a máqui-na romanesca, produzindo uma quebra invo-luntária do pacto ilusionista.” (sobre o romance “A máquina de madeira”, de Miguel Sanches Neto).

Fonte: Resenha escrita por Felipe Charbel, no Caderno Prosa (O Globo), em 29/12/2012.

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Um mestre e seus discípulos

Maria Fernanda Rodrigues assinou uma matéria muito interessante, no Caderno Sabático (Estadão), sobre o novo romance de Luiz Antonio Assis Brasil. Uma matéria (http://t.co/EAJBKyGs) que não trata apenas do lançamento de um livro, mas da vivência de Assis Brasil nas oficinas literárias que ministra há bastante tempo, revelando, por sua vez, novos ficcionistas.

Reproduzo abaixo a matéria, para abrirmos um debate em seguida:

“Na quarta capa do novo romance do gaú-cho Luiz Antonio de Assis Brasil, lê-se a seguinte frase: “Um viverá a notoriedade, a vida pública; o outro, o retiro, a paz do pampa”. Refere-se a Humboldt e a Aimé Bonpland, personagens de Figura na Sombra (L&PM), mas faz lembrar o autor e alguns ex-alunos de sua famosa oficina literária. Assis Brasil tem uma longeva, bem-sucedida e tranquila carreira de 36 anos – 19 livros publicados e alguns títu-los traduzidos – construída em Porto Ale-gre, onde vive. Ganhou alguns prêmios – a maioria no Sul mesmo. Mas não viveu um momento como o que, por exemplo, Michel Laub, Daniel Galera e Luisa Geisler – que frequentaram suas aulas de escrita criativa – estão passando.

Eles foram incluídos na Granta Melhores Jovens Autores Brasileiros, fazem tour pela Europa e Estados Unidos para divul-gar suas respectivas obras, participam de feiras internacionais e estão na mira de editores de países tão diversos como a

Inglaterra e Israel. Andam na casa dos 40, 30 e 20 anos, respectivamente. Já Assis tem 67.

Vários de seus ex-alunos vivem exclusiva-mente da literatura, têm agentes literá-rios, estão sendo traduzidos e são candi-datos a integrar o que se espera ser o novo momento de glória da literatura brasileira porque são bons, claro, e também porque são novidades. Assis Brasil concilia a fic-ção com as funções que o cargo de secre-tário de Cultura do Rio Grande do Sul, que ocupa desde 2011, e de professor uni-versitário impõem.

“Se é jovem, o escritor já ganha pontos a mais. Ninguém quer saber do autor que começa a publicar aos 50. Mas o fato de um escritor merecer atenção, de saída, por força da sua juventude não é algo bom nem mau. Desejo vida literária longa aos que frequentaram minha oficina – eles terão, porém, de conviver com a circuns-tância de que um dia virão outros mais novos do que eles”, reflete o professor.

Algo que o preocupa nessa atual fase de profissionalização da literatura no País é que os autores têm publicado muito – cer-ca de um livro por ano: “Talvez fosse o ca-so de se perguntarem se não vão se arre-pender depois de ter lançado determinada obra”.

O próprio Assis Brasil se arrepende dos primeiros títulos de sua bibliografia; sabe, no entanto, que se não tivesse começado por eles não teria continuado, não teria enjoado de seu estilo e não teria dado uma guinada estética quando, já perto dos 60 e

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com leitores fiéis, trocou a linguagem mais barroca por períodos curtos. Essa é uma característica presente na produção dos jo-vens autores que passam por sua oficina, mas ele credita a mudança a uma ilumina-ção que teve com um livro medieval de sua biblioteca, La Chanson de Roland (1090) – gosta de lembrar que a literatura daquele período esbanja essencialidade. Diz que perdeu leitores quando assumiu o novo estilo. Porém, passou a frequentar prêmios literários nacionais. O Pintor de Retratos, o primeiro da nova fase, venceu o Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, em 2001.

A história de Assis Brasil é como a de mui-tos escritores. Quando menino, era um bom leitor e elogiado na escola por suas re-dações. Foi estudar algo que não estava relacionado à literatura: Direito. Durante e depois do curso, foi violoncelista da Or-questra Sinfônica de Porto Alegre. Passa-dos 15 anos, descobriu que sua função ali não dava vazão à criatividade e começou a escrever. Aos 31, lançou o primeiro livro: Um Quarto de Légua em Quarto, que re-monta ao povoamento açoriano em seu Es-tado. São suas raízes. "É o que sempre buscamos, não?" História e personagens reais continuam presentes em seu trabalho.

Na sua época de formação, não havia um Assis Brasil que desse exercícios, comen-tasse os textos e ensinasse os macetes da ficção. E ele queria aprender. Tomou cora-gem e foi visitar, no Rio de Janeiro, o es-critor Autran Dourado - de quem lera Uma Poética de Romance: Matéria de Carpintaria - com uma lista de perguntas. Fora esse encontro, teve uma formação

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clássica: aprendeu lendo ficção e teoria, escrevendo, ouvindo os outros, acompa-nhando as resenhas de jornais. Já tinha meia dúzia de livros publicados quando a-chou que poderia ajudar os novatos e criou sua oficina, por onde passaram cerca de 600 pessoas em quase 30 anos.

Se é possível ensinar o ofício da escrita é assunto recorrente na academia, na im-prensa e na mesa de bar. Fato é que há vários exemplos de oficinas no mundo in-teiro e aspirantes a escritor procuram o curso nem que seja para aprender a ter disciplina. "Já passou aquela fase do es-critor iluminado, um Balzac. A criação é quando se tem a ideia. Depois é trabalho, reservando espaço para algumas surpre-sas no caminho. Escrever é reescrever e a teoria oferece possibilidades para o texto", explica. Ele diz ainda que é importante aprender a teoria para depois esquecê-la - e essa deve ser uma tarefa ainda mais di-fícil para o professor escritor. "Eu preciso dominar a técnica de tal maneira que ela desapareça e eu estabeleça um contato di-reto entre o que eu penso e o texto."

Após seis anos escrevendo Figura na Sombra, Assis Brasil conta que há meses não consegue produzir nada. Ocupa-se das tarefas da secretaria, que, aliás, mudaram a rotina de escrita dele. Se antes produzia melhor pela manhã, agora só tem os fins de tarde. Nas horas vagas, lê os clássicos. E "por motivos profissionais", obras de ex-alunos.

Professor e aluno de si. "A oficina é um la-boratório e eu participo junto com eles. Falo, e enquanto falo descubro coisas no-

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vas." Pelas contas do professor, dos 600 que passaram por lá apenas por uma questão de diletantismo ou busca profissional, 17 seguiram a vocação - há ainda nomes como Paulo Scott, Carol Bensimon e Cíntia Moscovich. É consenso no meio que todos seriam escritores mesmo que não tivessem feito a oficina, exceto por Luisa Geisler. "De jeito nenhum", diz. Mas Luisa só tem 21 anos e se, quando criança, já escrevia e ilustrava seus livrinhos e vendia para os pais na cozinha de casa, uma hora ela des-cobriria o talento que Assis viu logo de cara. Ela não tinha 18 anos quando fez a o-ficina e escreveu, no período das aulas, Contos de Mentira, e logo depois, Quiçá, ambos vencedores do Prêmio Sesc. "Depois foi só ladeira abaixo", brinca a mais jovem autora da Granta brasileira.

Para Michel Laub, vencedor do Prêmio Brasília de Literatura 2012 e finalista das principais premiações deste ano com Diário da Queda, a oficina é um estímulo para quem tem vocação não desistir. "Agora, os autores são bem diferentes entre si. A oficina não formata nada, não tem um mo-delo a seguir, o que é um dos motivos de seu sucesso", afirma.

"É possível refinar o talento, ajudar a pes-soa a encontrar a própria forma, a voz; mas talento é fundamental", diz Leticia Wierzchowski, autora de A Casa das Sete Mulheres, que virou minissérie da Globo e foi publicado em sete países. "A oficina me deu estofo - além de conforto emocional", di-verte-se. No curso, Daniel Galera aprendeu a ler livros e revisar seus textos com rigor, tendo como ponto de partida um conjunto

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básico de ferramentas teóricas e práticas. Com Assis, aprendeu que "quem tem ta-lento não copia, mas se deixa inspirar pelo trabalho dos outros".

Luisa, Michel, Leticia e Daniel são gaú-chos, mas hoje se nota uma pequena pe-regrinação de aspirantes a escritor para Porto Alegre. "Fico em pânico porque é uma responsabilidade tremenda. E se não der certo? Será que eu tinha que falar para não largarem tudo? Mas posso não estar certo. Tenho que conviver com isso."

O paulista Luís Roberto Amabile é um desses alunos que se mudaram de mala e cuia para o Sul. Deixou um emprego de jornalista em São Paulo, desistiu de com-prar um apartamento e, em 2010, foi se dedicar à ficção. Havia outros forasteiros na turma. "Assis se preocupava com isso, perguntava se estava tudo bem, se tínha-mos conseguido moradia, oferecia ajuda", lembra. Amabile engatou a oficina com um mestrado em escrita criativa, publicou um livro - O Amor É Um Lugar Estranho (Grua) - e quer fazer doutorado em teoria literária.

Rigoroso, generoso, gentil, lorde e gen-tleman foram os adjetivos usados pelos ex-alunos para descrever Assis Brasil. Em 2013, possivelmente eles voltam a se encontrar. Desta vez, nas cerimônias de premiação. "Ficaria muito contente se fosse finalista com meus alunos. Não te-nho problema algum com isso. Eu sei o que é minha literatura, sei suas qualidades e limitações."

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Debatendo...

Um lançamento de autor renomado... Novos ficcionistas... Escolhas que fazemos no tecer literário... Essa matéria fala sobre tudo isso e muito mais. Ela nos faz refletir sobre os ca-minhos que um autor percorre para cons-truir sua voz, carreira e literatura. Passo a passo, aprisionamos muitas ideias, necessá-rias para entendermos as dificuldades que qualquer autor enfrenta nessa jornada.

E não importa se estamos falando de um autor jovem ou experiente, ou se é de um autor de texto barroco ou enxuto, se é um autor de milhares de leitores ou milhares de prêmios. Sempre há de faltar algo, sempre há caminhos a serem percorridos que vão agradar ou não, aos leitores, à crítica, aos júris dos prêmios, e, principalmente, ao próprio escritor.

Quando Assis Brasil se vê alterando sua rotina de escrita, pois precisa assumir as ta-refas da secretaria de Cultura, certamente deve pensar nos caminhos que foi obrigado a deixar para trás. Mas será que outras esco-lhas teriam sido mais fáceis? Certamente, não.

Essa bifurcação de possibilidades talvez seja a própria literatura, no qual cada autor tem o direito de escolher o lado a seguir, desde que tenha coragem de assumi-lo. O que im-porta, na verdade, talvez não seja qual ca-minho iremos tomar, mas como vamos nos sentir confortáveis sobre ele.

As múltiplas possibilidades do jogo literário não se apresentam apenas no momento da criação, mas também na forma como a criação fará parte da nossa vida.

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Na sua resenha de 29/12/2012, a respeito do romance “O teu rosto será o último”, de João Ricardo Pedro, José Castello nos diz:

“A escrita não vem nem quando, nem de onde esperamos. Ela procede de regiões ne-bulosas, que muitas vezes guardam uma aparência inóspita, ou mesmo infértil. Per-corre vias desconhecidas, sobretudo por a-queles que as atravessam. Um dia – como aconteceu com o engenheiro português João Ricardo Pedro, de 39 anos –, sem acreditar muito nisso, você tem um romance pronto. Você só anotava algumas histórias, ideias soltas, imagens vagas – mas, de repente, descobre que tem um livro. Ele parece não lhe pertencer, mas a um desconhecido. Não combina com seu destino e, nem mesmo com seus desejos. No entanto, ele está ali. É preciso, então, a coragem de sustentá-lo”.

Criar é uma tarefa solitária, às vezes, sofrida, mas que, em algum momento, pede, exige, im-plora a leitura do outro. Não importa se essa leitura será feita pelo melhor amigo escritor, pelo mestre de uma oficina literária, ou pelo editor a quem submetemos os originais. No fundo, eles são apenas atalhos. O que nos impele a escrever é o leitor final, é o encontro com ele, que irá gerar novos textos, novas visões do que enxergamos do mundo.

João Ricardo, autor de “O teu rosto será o último” inscreveu seu romance no Prêmio LeYa 2011 e, sem esperar, foi vencedor. Era seu romance de estreia. Como nos revela Castello, “foi escrito – para “suportar o tempo”, como o próprio João declarou depois – em um difícil período de desemprego e desânimo”.

João nasceu numa pequena vila de 15 mil

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habitantes, na periferia de Lisboa, não cur-sou Letras ou Artes, mas Engenharia Eletro-técnica. Sempre trabalhou como engenheiro, mantendo-se apenas como leitor. Foi o de-semprego que o levou a buscar a salvação na escrita. Como diz Castello, “escreveu ‘para si’, e não ‘para os outros’, como, aliás, se escre-vem as melhores coisas”. Escreveu um livro denso e comovente, que, em fins de 2011, ganharia o Prêmio LeYa e, hoje, chega à nona edição portuguesa.

Como poderia João imaginar esse caminho para sua literatura? A criação não determina uma linha reta.

Da mesma forma, podemos prescindir de si-lêncio ou de um espaço confortável para que as ideias pulem de nosso mundo imaginário para o papel, mas é possível que tenhamos que aprender a fazer isso no meio da bal-búrdia de um engarrafamento, ou do vai-e-vem de um saguão de aeroporto. É possível que tenhamos que aprender a escrever à mão, para que nenhuma modernidade nos impeça de registrar nossas ideias, ou a-prender a nos acomodar em bancos e lençóis estrangeiros.

Disso tudo, então, percebemos: não importam os caminhos. Não importa se vamos decidir quem ocupará as brechas do tempo: a criação ou a vida. Não importa se vamos aprender ensinando, ou ensinar aprendendo. Importa que a literatura é isso, é essa mágica, que precisa tirar do conforto seu criador, para convidar o leitor a essa viagem a dois.

Talvez construir a “nossa” literatura seja apenas construir a nossa verdade. Quando um autor iniciante ou experiente escolhe sua

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voz, pode ser que alcance prêmios ou leitores; ou alcance críticas negativas ou positivas; ou apenas acumule mais dúvidas.

Mas o que há de errado em se ter dúvidas? É bom. Podemos duvidar, podemos decidir mu-dar, mesmo que depois de mais de 30 anos como Assis Brasil fez. Podemos mudar no segundo título ou no terceiro, ou no quinto. Podemos nunca chegar a mudar. O impor-tante é nunca deixar de entender que somos sempre estreantes, não importa quantos livros tenhamos publicado.

Duas antologias, dois mestres e muitos caminhos...

Duas antologias especiais foram lançadas a partir de encontros literários, estes comanda-dos por dois grandes mestres, sob as bênçãos de um dos mais renomados cursos de oficina criativa do Rio: a Estação das Letras (http://www.estacaodasletras.com.br).

O primeiro lançamento, ocorrido em 29/11, trouxe nove contistas que foram orientados e estimulados por José Castello. Os encontros deram origem à antologia “Encontros na Estação” (Ed. Oito e Meio).

O segundo lançamento, ocorrido em 7/12, trouxe onze contistas que foram acompanha-dos e provocados por Luiz Ruffato. Desses encontros, nasceu a antologia “Sábado na Estação” (Ed. Apicuri).

Como antologias-irmãs, os livros trazem no-vos ficcionistas, um ar renovado de prosa, que vem sem pretensões, mas com muita segurança. Sem a ideia de marcar gerações,

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são contistas com histórias distintas, cami-nhos já iniciados ou ainda para iniciar no mercado literário.

O importante nesse processo foi a experiência latente de se poder discutir e amadurecer um texto entre seus pares, de não se sentir tão sozinho numa estrada que parece ter muitas portas, mas nenhuma chave.

Na oficina que deu origem à antologia “Encontros na Estação”, o objetivo inicial era a criação do livro. Não foram propostos vários textos, mas apenas um, que seria lapidado e discutido durante oito meses. Um caminho de muitas portas abertas. Vislumbrando em cada colega-escritor um anfitrião-leitor, foi possível para cada contista se fartar de opiniões e im-pressões, durante o processo de gestação.

Assim nasceram os contos de Carmem Garcia, Creusa de Carvalho, Dag Bandeira (colunista do Sobrecapa Literal), Ana Cristina Melo (editora e colunista do Sobrecapa Literal), Ana Claudia Calomeni, Tiago Franco Correa, Daniel Russel Ribas, Leonardo Villa-Forte e Paula Cajaty.

Já os muitos encontros que deram origem à antologia “Sábado na Estação”, eram (e ainda são) nomeados como Laboratórios de Vivência Literária. Exatamente assim, um laboratório, um divã, uma vivência do que nos aflige em cada frase, nos incomoda em cada texto prestes a nascer. E a partir desses entendi-mentos, contos foram sendo rascunhados, lapidados e, por fim, reunidos, num livro que veio para celebrar essas descobertas.

Nascia assim “Sábado na Estação” e os contos, crônicas e impressões de: Adelaide Amorim,

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Alexandre V. Schott, Ângela Nabuco, Beatriz Castanheira, Jozias Benedicto, Lucia Valle, Manuel Aires, Maria Christina Monteiro de Castro, Marta Barcellos, Pedro Tebyriçá e Victor Arruda.

Não é comum hoje em dia que as experiên-cias de uma oficina literária sejam divididas com o público. Assim, é uma boa oportunida-de apreciar o resultado dessas duas anto-logias.

E para dar mais um gostinho doce na boca, confira abaixo a resenha escrita por Elias Fajardo, sobre a antologia “Encontros na Estação”, que foi publicada no Caderno Prosa, em 29/12/2012:

Durante nove meses, os participantes do Estúdio do Conto se reuniram na Estação das Letras e cada um trabalhou basica-mente um texto. Numa época em que se publica com intensidade e que quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade, os encontros mensais foram delineando nar-rativas as mais diversas, unidas pela von-tade comum de mergulhar fundo, de am-pliar fronteiras e romper limitações de um gênero literário que tem na concisão um dos seus atributos. O resultado foi “Encontros na Estação”, coletânea organi-zada pelo crítico e escritor José Castello, que reúne textos “marcados pela vivência ou sobrevivência de seus personagens, i-mersos no caos urbano, refletindo nossas estratégias mais terríveis ou banais para lidar com o amor, a morte, o abandono ou – em outras palavras – nossos sinais mais vitais”, como diz Suzana Vargas, diretora da Estação das Letras, na orelha da obra.

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O volume reúne também pequenos depoi-mentos de cada um dos nove autores so-bre uma experiência que tentou preservar o aspecto individual e solitário do fazer literário ao mesmo tempo em que o situa-va num fórum de discussão permanente. Daniel Russel Ribas, por exemplo, nos informa que seu “Sob a lua” é “como um demônio, uma história antiga de vários nomes. A primeira versão foi escrita há mais de uma década. Desde então, entrou em um casulo e emergiu como uma nova criatura. O que começou como um suspen-se tradicional com um leve toque de per-versão se tornou uma crônica sobre a na-tureza do Mal”. Daí vem o impacto de uma situação amorosa em que nada é o que parece e em que todos os caminhos levam a um descaminho fatal.

Em “Úrsula”, Creusa de Carvalho nos apresenta uma senhora distinta de uns 60 anos que na verdade é um travesti. Úrsula e o narrador se encontram no ele-vador e iniciam uma conversa e uma con-vivência em torno de temas como o cão-zinho de estimação da protagonista, o u-niverso dos travestis, e vivem aventuras no cenário colorido, perigoso e imprevi-sível da Lapa. Chama a atenção o estilo de descrição direta mesclado a uma fina capacidade de observação, humor e deta-lhamentos que enriquecem os persona-gens e as situações vividas por eles.

Em “Fome”, Ana Claudia Calomeni parte de um personagem forte: Custódio, um mendigo que cata lixo, fuma tocos de cigarro e perambula pela cidade onde encontra uma mulher. A ambiguidade e a intensidade deste encontro são muito bem

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exploradas, principalmente no final do conto.

O personagem Custódio também aparece em “Cheiros da vida”, de Dag Bandeira, mas aqui ele é apenas um interlocutor co-adjuvante da história da menina de rua Maralize. Uma garota sem eira nem beira e seus embates com o mundo. Carmen Garcia, Ana Cristina Melo, Tiago Franco Correa, Leonardo Villa-Forte e Paula Cajaty nos falam, cada um a seu modo, de um universo repleto de mistérios, assassi-natos, crises amorosas, desencanto e angús-tia gerados pela revolta e pela violência.

Segundo José Castello, o mais bonito foi testemunhar a aflição de cada contista diante do desconhecido: “Diante daquelas vozes que lhes saíam, roucas, gaguejantes, incoerentes muitas vezes, mais exigindo uma escuta. Só a partir da escuta se pode chegar a uma escrita. Pelo menos, a uma escrita que seja verdade – não como a ciência, que se pretende verdadeira ‘para todos’, mas como faz a literatura, que só se interessa pela verdade de cada um”.

Vitrine de Livros

As duas antologias citadas anteriormente podem ser adquiridas na Vitrine de Livros. Confira, também, os últimos livros do catálogo dessa livraria virtual exclusiva da literatura nacional:

• Maria Quitéria, 32, de Miriam Mambrini

• Tamanho G – Coleção Era uma vez

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o bullying, de Cris Amorim

• Pois é, lá vou eu - Coleção Era uma vez o bullying, de Márcia Cristina Silva

• Tudo por você - Coleção Era uma vez o bullying, de Georgina Martins

• Dor de Garganta - Coleção Era uma vez o bullying, de Ana Letícia Leal

• Encontros na Estação (vários autores), org. de José Castello

• Robinson Titanic, de JP Veiga

• A Construção da Paisagem, de Christiane Angelotti e Rodrigo Novaes de Almeida

• Só 30 contos, de Pablo Kaschner

• Colcha de Retalhos, de Rodrigo Domit

• Por enquanto agora, de Maria Christina Monteiro de Castro

• Carnebruta, de Rodrigo Novaes de Almeida

• Sábado na Estação (vários autores), org. de Luiz Ruffato

Seleção dos melhores posts, direto do Twitter de @anacristinamelo

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“Os nossos escritores não estão acostumados a serem julgados” @rodrigogurgel para Paulo Werneck, na Ilustríssima: http://t.co/jI8ow4IJ (RT @miguelsanchesnt).

A perda da memória é a impossibilidade da escrita: sem experiência, não há literatura. http://ow.ly/fVVAg (RT @jornalrascunho)

[Blog] O agenciamento literário. http://bit.ly/WQQb36 (RT @digestivo)

Empresário brasileiro paga 14º salário a colaboradores que leram um livro por mês http://t.co/N0y75vTL via @admnews. (RT @)

Arte da escrita além da iluminação http://t.co/EAJBKyGs via @estadao.

Com poucos títulos e apostas altas, Jorge Oakim fez da jovem editora Intrínseca uma das maiores do país. http://t.co/TzNzKfyR via @folha_com.

Poder de compra do Vale Cultura já caiu 17% http://folha.com/no1206802 via @folha_com.

Catálogo digital de editoras mais que dobrou em 2012 http://folha.com/no1206351 via @folha_com.

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Antologia de Drummond ganha prêmio voltado a escritor vivo http://folha.com/no1205862 via @folha_com.

O mercado de livros e a vinda dos estrangeiros http://folha.com/no1204631 via @folha_com.

Distribuição do Vale Cultura deve começar em julho, diz ministra – Jornal O Globo - http://t.co/b4zG99mR via @JornalOGlobo

G1 – Governo adia início do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa – notícias em Educação - http://t.co/UgqPFcuj via @g1

Concorrência inflaciona aluguel de espaços em livrarias e reduz variedade dos destaques http://t.co/CD80fkCM via @folha_com.

Leituras avulsas...

No último dia 21/12, a Fundação Biblioteca Nacional divulgou os vencedores das oito categorias do Prêmio Biblioteca Nacional de Literatura 2012. O Prêmio BN tem como objetivo laurear autores, tradutores e proje-tistas gráficos em reconhecimento à qua-lidade intelectual e estética de suas obras, publicadas no período de 1º de setembro de 2011 a 31 de agosto de 2012. A lista dos vencedores e dos jurados está no link: http://www.fbn.br/portal/index.jsp?nu_padrao_apresentacao=25&nu_item_conteudo=2291&nu_pagina=1.

De olho no Mercado

Ana Cristina Melo

O Grupo Editorial Record anunciou a com-pra da editora Paz e Terra. A nova editora se somará aos 14 selos que já compõem o grupo: Record, Civilização Brasileira, José Olympio, Bertrand, Difel, Galera, Galera Record e Galerinha, Verus, Best Seller, Best Business, Nova Era, Best Bolso e Viva Livros.

A coluna Avant-première (Valor Econômi-co) informa que Silviano Santiago e Evandro Nascimento são alguns dos escritores convi-dados a recriar o universo de Clarice Lispector na primeira obra da série “Extratextos”, da editora Oficina Raquel. Segundo a coluna, Machado de Assis e Jorge Luis Borges serão os próximos a ter as tra-mas revisitadas na forma de contos. “O resultado é incrível: personagens consagra-dos ganham nova vida”, conta Luis Maffei, organizador da obra. (Fonte: PublishNews)

Com a chegada dos leitores da Kobo e da Amazon ao mercado brasileiro, muita gente tem se perguntado qual o melhor deles. Carlo Carrenho, do Publishnews, publicou artigo jogando luz sobre essas dúvidas. (Fonte: blog Tipos Digitais, em http://bit.ly/UTdSYC)

O FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvi-mento da Educação) anunciou a abertura das inscrições para o Programa Nacional Bi-blioteca da Escola (PNBE 2014). As pré-ins-crições devem ser feitas até o dia 13 de fevereiro de 2013. O site do FNDE informa que serão selecionados 100 títulos para edu-cação infantil, 100 para os anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) e 50 para

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De olho no Mercado

Ana Cristina Melo

de Suicidas” de Ricardo Lísias (Alfaguara) ; na categoria infantojuvenil, “A máquina do poeta”, de Nelson Cruz (SM); em poesia, “Um útero é do tamanho de um punho”, de Angélica Freitas (Cosac Naify) e em contos/crônicas o vencedor foi “Aquela água toda”, de João Anzanello Carrascoza (Cosac Naify) (Fonte: PublishNews)

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2015 incluirá conteúdo digital, e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, FNDE, convocou uma audiência pública para discutir as inovações do PNLD 2015. (Fonte:)

Apple, Kobo, Amazon e Google: já estão todos por aqui. A Amazon veio e trouxe consigo sua plataforma de autopublicação Kindle Direct Publishing, conhecida como KDP. Autores independentes brasileiros podem vender seus títulos autopublicados na loja do Kindle, disponibilizando-os assim para 175 países. O serviço é gratuito, e o autor ganha 35% das vendas como direito autoral.

Texto sobre a convivência de autores e assessores - http://ow.ly/gq7QJ. �

a educação de jovens e adultos (ensino fun-damental e médio). O FNDE prevê a compra de 10,5 milhões de obras, entre crônicas, no-velas, romances, bibliografias, entre outros. (Fonte: PublishNews)

Por meio da Internet, o leitor que frequenta a Biblioteca de São Paulo pode consultar o catálogo de livros e DVDs da instituição. Basta acessar o site: http://bibliotecadesaopaulo.org.br/catalogo_bn/ (Fonte: PublishNews)

O PublishNews prepara um novo projeto para 2013: o PublishNews Talk Show, que trará convidados especiais do mercado editorial para falar sobre trabalho, histórias e anedotas do mundo dos livros. Os encon-tros acontecerão na livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, em São Paulo, e serão abertos ao público. Para o projeto piloto do Talk Show, a PublishNews TV convidou Pedro Almeida, publisher da Lafonte e colunista do PublishNews. Qual é o olhar que o editor deve ter sobre o livro? O que faz um profissional da área se destacar? Pedro dá dicas e fala ainda sobre o livro Marley & Eu, Nicholas Sparks e outros bestsellers que trouxe ao Brasil. (Fonte: PublishNews)

Mary Del Priori ganhou o Prêmio Pen Clube do Brasil, filiado ao Pen Club International, com Histórias Íntimas. (Fonte: PublishNews)

Saíram os vencedores do Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes). Na categoria romance o premiado foi “O Céu

Ana Cristina Melo

é escritora e divulgadora da literatura nacional.

Mais sobre a autora, em seu site http://www.anacristinamelo.com.br ou seu blog http://canastradecontos.wordpress.com.

Twitter: @anacristinamelo

http://www.facebook.com/anacristinamelo.escritora

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Coluna do Meio Uma coluna nem contra nem a favor do livro em papel. Apenas com uma opinião virtual.

Variz da Meiga

Nesse finalzim de ano, depois de um quase fim de mundo, depois de um lançamento de livro na Livraria Cultura do São Conrado Fashion Mall (muito chique!), depois do lançamento do Kobo, depois da chegada da Amazon, depois de depois... queria dizer para vocês que o livro eletrônico, ou ebook ou livro virtual ou seilá! chegou aqui na terrinha com força total!

Imaginem vocês que as vendas de Tablets, que estouraram a boca de qualquer balão que se tenha notícia, agora deram uma meia trava para que finalmente o pessoal comece a entender e a comprar os leitores de LIVROS! Sim, porque os tablets são, como já falei: computadores pequenos ou telefones grandes, que fazem de tudo um pouco, mas, sem querer ser purista, eles deixam (na maioria) a desejar na leitura de texto - texto apenas, substituindo um livro. Então, chegou a Amazon com seu Kindle e a Livraria Cultura trouxe o Kobo. Sensacionais “Readers”.

Daí, finalmente vou falar de leitores (readers) para livros apenas.

Vamos lá:

Cada leitor de livros tem suas peculiaridades. Quase todos são amarrados às livrarias e editoras que os dão cobertura.

Isso é bom?

Sim e Não!

Não, porque isso limita a compra, limita a pesquisa de preços e acaba você sendo meio que escravinho deles...

Sim, porque você tem acesso à internet sem pagar, passeando pelo site das livrarias e acaba comprando numa rapidez impressionante, baixando e rapidamente começando a ler de uma maneira muito boa - com luminosidade variável em função da luz ambiente e alguns “Pluses a mais”, sensacionais, como dicionários, marcadores de página, pesquisa de situações e de texto, etc. Você recebe as promoções - que sempre acontecem, pode ler 1 ou 2 capítulos antes de comprar o livro e, como você está num ambiente fechado, não existe essa de perder o livro - você pode - depois que compra, apagar e reaver quantas vezes quiser!

Então, como falei para um amigo que comprou um Tablet, acho que é a hora de aproveitar os preços e comprar também um Reader! Baixar uns livros e começar sua biblioteca!

Não deixe de comprar os livros de papel, afinal o cheirinho é ótimo, o virar das páginas faz parte da leitura e o sentir o livro ir adiante é maravilhoso.

Mas, entenda, livro é livro, seja em pedra com escrita cuneiforme, em pano - como já publiquei mais de 20, em papel ou virtual! A coisa é não deixar a peteca cair, é ler e ler, porque a leitura, a cultura, a admissão de conhecimento e situações, as informações que você recebe na leitura, são a gasolina do nosso cérebro e isso fará com que você seja uma pessoa longeva, de raciocínio jovem por toda a sua vida!

Se não der certo, queixe-se à editora do Jornal!

Feliz 2013 para você, obrigado por ler, obrigado por apoiar esse jornal feito com tanto sacrifício e tão bem. Obrigado e até ano que vem, com (espero) animadoras notícias dos ebooks neste final de ano!

Bai!

Variz da Meiga

não existe! Não escreveu a coluna passada e diz que só escreve quando quer! Cara de pau! Mas repito: Ele não existe e é safado! Pois bem, acabei de enquadrar o cara e ele deve seguir escrevendo (semvergonhamente) essa coluna!

Escreva pra ele: [email protected].

JP Veiga (www.jpveiga.com.br ).

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Tirinhas do Sobrecapa

Por Begê e Fábio Sgroi

Begê

Sou ilustrador do Estúdio Turadinhas (http://www.turadinhas.com.br) e criador do Portal do Ilustrador. Ilustro livros infantis, cartilhas. Histórias em quadrinhos e tudo o que vejo pela frente. Além

disso, faço xilogravuras e escrevo.

Fábio Sgroi

Formado e pós-graduado em Design Gráfico e Multimídia, trabalha como ilustrador, criando também projetos gráficos para livros, histórias em quadrinhos institucionais, além de ministrar cursos e palestras na Universidade do Livro, da

Fundação Editora UNESP. http://www.fabiosgroi.com.br.

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Clipping da Coluna Babel

(Do caderno literário Sabático, publicado pelo Estadão. Coluna de Maria Fernanda Rodrigues)

Do Jabuti de Não-ficção aos infantis

A Rocco, que perdeu alguns de seus autores estrangeiros em leilões recentes, tem se voltado mais à literatura brasileira. Foi ela quem deu o maior lance e fez a melhor proposta de edição dos três livros infantis da jornalista Miriam Leitão que estavam sendo disputados por quatro editoras. Isso tudo ocorreu às vésperas do Jabuti, que Miriam venceu na quarta-feira com Saga Brasileira – A Longa Luta de Um Povo por Sua Moeda, melhor obra da categoria reportagem e livro do ano de não ficção. A autora, que estreou na literatura com essa obra, sonhava desde os 10 anos em ser escritora. Agora, aos 59, volta àqueles tempos para se lançar na literatura infantil. A Perigosa Vida dos Passarinhos Pequenos é uma fábula ecológica para leitores de 8 a 80. A ideia surgiu depois que a jornalista encomendou um levantamento das espécies

de sua fazenda – há 156. Já Flávia e o Bolo de Chocolate conta a história de uma menina adotada que se incomoda com a cor de sua pele: marrom. A mãe resolve tirar da casa tudo que é dessa cor até a garota perceber a maluquice e se aceitar. O terceiro é a A Menina do Nome Complicado, narrado por Nathalia, que gosta de brincar com o “h” de seu nome. Todos saem em 2013. (Edição de 01/12/2012)

Troca troca

Corina Campos, diretora comercial na Leya, está de mudança para a editora Gente. Terá o mesmo cargo lá, e chega em janeiro, no momento em que a editora de Rosely Boschini lança um selo de ficção voltado para mulheres. Os primeiros títulos sairão em

março. (Edição de 01/12/2012)

Receios no mundo digital

Enquanto Amazon e Companhia das Letras fechavam contrato – o anúncio foi feito ontem -, a Associação Nacional de Livrarias, que representa as independentes, já se articulava para mandar carta em que expõe alguns receios com relação ao livro digital para Dilma Rousseff, Marta Suplicy e entidades do livro. Fará isso na próxima semana. Entre as sugestões, a de que a diferença de preço entre e-book e livro físico seja de até 30%. E no caso da editora que vende diretamente ao consumidor, que o desconto não exceda 5%. (Edição de 01/12/2012)

Mais da literatura brasileira no exterior

Paulo Scott teve os direitos de seu romance Habitante Irreal vendidos, em novembro, para três países. Sairá na Inglaterra pela And Other Stories, na Alemanha pela Klaus Wagenbach e em Portugal pela Tinta da China. O autor já trabalha num novo romance, a ser publicado também pela Alfaguara. (Edição de 01/12/2012)

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por Ana Cristina Melo

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Troca troca (2)

Dezembro agitado nas editoras. O gerente comercial Denis Barros deixou a Planeta e foi para a Novo Conceito. César González, diretor-geral, assume também o posto. Jaime Mendes, que saiu da Zahar depois de 12 anos para cuidar do comercial da Cosac Naify, sai da editora paulista menos de dois anos depois. Na Leya, agora foi a vez de José Augusto Barrichello, do editorial, sair. E a editora Gabriela Nascimento deixa a Gutenberg. (Edição de 08/12/2012)

História do Mercado Editorial

A Unesp lança em fevereiro um livro que ajuda a explicar o mercado editorial – de Gutenberg à era digital. Em Mercadores de Cultura, John B. Thompson, professor de sociologia da Universidade de

Cambridge, conta como essa indústria, similar a qualquer outra, ou seja, movida por metas e pelo lucro, que emprega, passa bons e maus momentos, foi evoluindo e funciona hoje. São raras as obras que retratam o fazer editorial. Lançada originalmente em 2009, teve logo uma edição revista e ampliada em 2010 com o rápido desenvolvimento do mercado de e-books nos Estados Unidos e na Inglaterra – foco deste volume. Interessante para veteranos e novatos da indústria editorial e para curiosos dos bastidores do livro, o título aborda questões como a profissionalização da função do agente literário, a criação das grandes corporações editoriais, a revolução digital, o crescimento das varejistas e sua interferência no negócio do livro, a incerteza do futuro, entre outros temas atuais. Mostra, sobretudo, como economia e tecnologia têm modificado esta atividade milenar. O assunto é tema, também, de entrevista que o francês André Schiffrin, editor e autor de Negócio do Livro – Como as Grandes Corporações Decidem o Que Você Lê (Casa da Palavra, 2006), deu ao Roda Viva em recente passagem pelo País. O programa irá ao ar em janeiro. (Edição de 15/12/2012)

Selo Juvenil da Autêntica

Sob o comando da autora Sonia Junqueira, o selo juvenil da Autêntica lança, em 2013, cinco clássicos para jovens leitores: Memórias de Um Burro, da Condessa de Ségur; O Romance da Múmia, Théophile Gautier; O Castelo Encantado, de E. Nesbit; Kim, de Rudyard Kipling; e A Guerra dos Botões, de Louis Pergaud. (Edição de 15/12/2012)

Prêmio Benvirá

Foram inscritos 1.505 originais de romances no Prêmio Benvirá – ante os 1.972 da edição da estreia, vencida

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por Ana Cristina Melo

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por Oscar Nakasato, premiado também com o Jabuti. Vale R$ 30 mil e a publicação do livro. Outras quatro obras inscritas, mas não premiadas, acabaram no catálogo da editora. Em janeiro, a equipe da Benvirá escolhe os 10 finalistas e, em fevereiro, a comissão julgadora anuncia o vencedor. (Edição de 15/12/2012)

Literatura infantojuvenil fazendo sucesso nos mais acessados na Nuvem de Livros

Dos 20 livros mais acessados em novembro na Nuvem de Livros, biblioteca digital da Vivo, 8 são infantojuvenis e 3 são da Callis – A Infância de Tarsila do Amaral é um deles. (Edição de 15/12/2012)

Não houve a coluna nas edições de 22/12/2012 e 29/12/2012.

Clipping da Coluna Painel das Letras

(Do caderno Ilustrada, publicado pela Folha de São Paulo. Coluna de Raquel Cozer. A coluna completa pode ser consultada no blog A Biblioteca de Raquel, em http://bit.ly/AB8iXr)

Não houve a coluna em 01/12/2012, por motivo de férias da jornalista.

Corrida digital

Amazon, Kobo e Google estrearam com pendências para não perderem a corrida dos livros digitais no país. Após avisar editoras de que ficariam fora da estreia se não mandassem seus arquivos até terça, a Amazon entrou no ar inclusive sem títulos enviados meses atrás. E alguns textos do site foram vertidos via tradutores online. (...) O Google estreou sem grandes editoras como Companhia das Letras e Ediouro, ainda em negociações. E a Kobo pôde oferecer só 8.000 dos 15 mil e-

books nacionais da Livraria Cultura, já que nem todos os arquivos em PDF foram convertidos ao formato ePub. Mas a loja canadense teve bons números. Antes da estreia, já tinha vendido mil aparelhos de leitura. Desde quarta, 20% dos e-books vendidos foram para o novo aparelho. (Edição de 09/12/2012)

Nova história do Rio, com a evolução do subúrbio

Ruas, edifícios, botequins e suas tipologias guiarão o livro que Michelle Strzoda inicia em sua segunda investida sobre a história do Rio. Com o designer Rafael Nobre e ainda sem editora, a autora de “O Rio de Joaquim Manuel de Macedo” (Casa da Palavra) pesquisará a evolução do subúrbio, da orla e de outras áreas na memória visual do carioca. (Edição de 09/12/2012)

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por Ana Cristina Melo

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Casa Nova para a autora de “A Casa das Sete

Mulheres”

A gaúcha Letícia Wierzchowski, de “A Casa das Sete Mulheres” (Record), está de editora nova. Será dela a primeira ficção nacional da Intrínseca, “Clarões e Sombras”, em junho. O primeiro ficcionista nacional contratado, Miguel Sanches Neto, ainda escreve seu livro. Após estourar com os livros juvenis de Paula Pimenta no selo Gutenberg, a Autêntica planeja investir na ficção adulta. O selo terá, em 2013, títulos como “Sobre o Sexo na Casa Branca”, de Larry Flynt com David Eisenbach. Em seu selo principal, a Autêntica investirá mais em literatura contemporânea, sendo a maior aposta “Tinta”, de Fernando Trias de Bes. Mas os autores de juvenis não serão esquecidos. Prova disso é que a editora

traduziu para o inglês o best-seller “Fazendo Meu Filme 1”, de Paula Pimenta, numa edição digital que deve entrar no ar na semana que vem na Amazon e na loja da Apple. Vai se chamar “Shooting My Life’s Script”, com tradução de Thiago Nasser e revisão de Dan O’Shea. (Edição de 09/12/2012)

Líder nas vendas digitais

É a Apple, e não a Amazon, a loja que mais está vendendo e-books no país. E muito mais. O dado surpreendeu o mercado, especialmente porque a Apple chegou na surdina e vendendo livros em dólares, como cobrança de IOF. O Google Play também tem ido bem, embora mostre pouca intimidade com o mercado nacional – em e-mail recente aos usuários, a empresa informou que em breve as compras poderão ser feitas em “pesos brasileiros”. A Amazon, cujas vendas decepcionaram, vende até menos que a Saraiva em alguns casos. Ambas estão à frente da Kobo, parceira da Livraria Cultura. Entre as pequenas editoras, a KBR,

entusiasta da Amazon, informa que tem vendido mais na loja que em qualquer outra. Nenhuma das lojas divulga números de vendas. (Edição de 15/12/2012)

Vivaleitura adiado para 2013

O Prêmio Vivaleitura, que em 2012 passou à alçada da Fundação Biblioteca Nacional, não será entregue neste ano. Os finalistas foram divulgados, mas a entrega ficou para data indefinida de 2013. Será o primeiro ano desde 2005 sem a entrega do dinheiro aos vencedores da honraria, voltada a instituições que fomentam a leitura. Até 2011, o Vivaleitura era parceria do MEC e do MinC com a Fundação Santillana e a OEI, ONG para educação, ciência e cultura. Ao assumi-lo, a FBN aumentou seu valor, de R$ 90 mil (R$ 30 mil a cada um dos três vencedores) a R$ 540 mil (R$ 30 mil a cada um dos 18 finalistas). Mas o edital condicionava o prêmio “à existência de disponibilidade orçamentária e financeira”. Segundo portaria de 2009, editais devem especificar a fonte dos recursos. Pelo jeito,

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por Ana Cristina Melo

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por Ana Cristina Melo

fez falta assegurar de onde sairia o dinheiro. (Edição de 15/12/2012)

Record compra Paz e Terra: um negócio muito além

Em 2006, Fernando Gasparian ofereceu sua editora, a Paz e Terra, a Sérgio Machado, dono da Record. “Fico triste por não ver os livros nas lojas”, disse. Ficaram de falar após a Feira de Frankfurt, em outubro. Fernando morreu enquanto Machado estava no evento. O negócio que Marcus, filho de Fernando, fechou anteontem com Machado ocorreu pelo mesmo motivo. Com a compra de seu 15º selo, a Record soma 8.700 títulos, mais do dobro do que têm editoras como a Companhia das Letras e a Rocco. Por falar em Frankfurt, na feira deste ano falava-se na compra que a Record estaria realizando. Mas seriam duas editoras, não só uma. “Não há mais nada em vista por ora”, diz Machado. (Edição de 22/12/2012)

Voos de Marcelino Freire

Autor de cinco livros de contos e um de aforismos, Marcelino Freire conclui, em Buenos Aires, seu primeiro romance, “Só o Pó”, que sai pela Record em 2013. O tema: “Muitos velhos. Quando meu parágrafo cansa de um velho, pega outro pelas mãos”. Também no ano que vem, “Contos Negreiros”, do pernambucano, sairá na Argentina, pela Santiago Arcos, traduzido com bolsa da FBN por Lucia Tennina. O selo Edith, criado pelo autor, também repercute lá fora. Um de seus títulos, “Copacubana”, de Hector Bisi, ganhou quatro páginas na elogiada revista literária colombiana “El Malpensante”. A tradução para o espanhol foi encomendada pelo selo a Cristian de Nápoli e está à venda na Amazon. (Edição de 22/12/2012)

Recurso para vitória de Drummond?

A poeta Leila Míccolis, integrante do júri que escolheu “Carlos Drummond de Andrade: Poesia 1930-62”, da Cosac Naify, como vencedora do Prêmio Biblioteca Nacional de Literatura, diz que preferia ter premiado um poeta vivo. “Eu tinha outra escolha, mas respeitei a decisão coletiva.” Seu colega de júri Francisco Orban avalia que caberia à organização decidir se o livro estava habilitado ou não – já que, pelo edital, a inscrição só poderia ser feita pelo autor ou pela editora com autorização por escrito do autor. A BN já manifestou que só analisará o caso se houver recurso de algum concorrente. (Edição de 29/12/2012)

Estreia de Cadão Volpato

O primeiro romance de Cadão Volpato, “Pessoas que Passam pelos Sonhos”, sai em maio pela Cosac Naify.

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por Ana Cristina Melo

O livro chegou a ser anunciado pela editora portuguesa Babel, mas, com a mudança de rumos da casa, que passou a focar em infantis, Volpato conseguiu desfazer o contrato. (Edição de 29/12/2012)

Mais brasileiros no exterior

A literatura pop de Raphael Draccon atraiu a Random House Mondadori. A trilogia fantástica “Dragões de Éter” (LeYa) teve os direitos comprados pela gigante, que deve publicá-la em 2013 no México. (Edição de 29/12/2012)

Clipping da Coluna Prelo

(Do caderno Prosa & Verso, publicado pelo O Globo. Coluna de Mànya Millen)

Para comemorar

A poeta e produtora cultural Suzana Vargas, criadora da Estação das Letras, está terminando o ano em clima de celebração. Responsável pela programação da Biblioteca Municipal de Botafogo desde o ano passado, num projeto chamado Estação Pensamento e Arte, Suzana conseguiu transformar o local numa referência cultural. Em 2012, a Biblioteca abrigou mais de cem eventos, entre oficinas, atividades infantis, leituras, debates e encontros com grandes autores brasileiros e estrangeiros, entre estes últimos Alberto Manguel, canadense de origem argentina, que esteve lá semana passada. A programação atraiu mais de seis mil pessoas, segundo Suzana. “O projeto resultou em uma maior frequência de leitores adultos e mirins. Pode-se mesmo falar de uma redescoberta desse espaço”, diz ela, que também assina a curadoria de outro evento importante, a Bienal do Livro de Campos, que termina amanhã. (Edição de 01/12/2012)

Um caderno especial

Anna Dantes, da Dantes Editora, acaba de lançar um projeto especial que é uma aposta na paixão pela arte de contar histórias. São cadernos, com formato de livro, intitulados “Um lugar na estante”, cada um com 365 páginas em branco para serem preenchidas ao longo do ano. “É um voto da Dantes para que exista um espaço nas estantes para as próprias histórias”, diz Anna. Os cadernos, que têm tiragem pequena, de 150 exemplares (R$ 40 cada, com três estampas de capa diferentes), foram totalmente produzidos nas gráficas da região portuária do Rio, empresas tradicionais em cujo trabalho a Dantes tem investido. No final de 2013, quem se interessar pode apresentar o conteúdo do caderno à editora, que avaliará a

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por Ana Cristina Melo

possibilidade de publicá-lo. Em tempo: Anna é também a autora do caprichado projeto gráfico do livro “Astronautas daqui” (Leya), de Marcelo Yuka, que será lançado segunda-feira, às 19h, na Travessa de Ipanema (R. Visc. De Pirajá, 572.) (Edição de 15/12/2012)

Reforço para a ONG Ler é 10

O escritor Felipe Pena, organizador do livro “Geração subzero” (Record), e os 20 autores da coletânea cederam os direitos autorais da publicação para a ONG Ler é 10, Leia Favela, que forma leitores no Morro do Alemão. Coordenador da ONG, Otávio Jr., que ficou conhecido como Livreiro do Alemão, recebeu este mês a primeira parcela do dinheiro e deu entrada numa Kombi. Ela servirá como biblioteca itinerante para a comunidade. (Edição de 15/12/2012)

Garimpando Lobato

Está chegando às livrarias, pelo selo Globinho, da Globo Livros, uma nova edição de “O garimpeiro do Rio das Garças”, obra infantil de

Monteiro Lobato praticamente desconhecida. Sem qualquer vínculo com as histórias do Sítio do Picapau Amarelo, ela foi lançada em 1924, inspirada nos aventureiros que tentaram fazer fortuna no garimpo de diamantes e ouro na região do Rio das Garças, no Mato Grosso. O protagonista da história, contada com humor, é o matuto João Nariz, dono de um olfato poderoso para farejar diamantes que vai em busca da riqueza na companhia de seu cãozinho. A primeira edição da obra (reeditada pela última vez em 1993) tinha formato próximo dos quadrinhos e ilustrações do artista alemão Kurt Wiese. A nova edição traz desenhos de Guazzelli, com orelha de Marisa Lajolo e

prefácio de Cilza Carla Bignotto. (Edição de 15/12/2012)

Não houve a coluna na edição de 29/12/2012

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Saudade do ano que se vai. Dos amigos que fiz em eventos literários. Das feiras que participei. Dos livros que li. Alguém aí sente saudade dos livros que leu? Eu sinto. Releio mais do que a média. A mesma coisa com filmes e música. Sentimental eu sou...

Já sentiram saudade do futuro? Aquela que dá quando namoramos o livro que ainda não saiu? A expectativa da sequência do filme? As viagens prometidas e os encontros já marcados? A vontade que o tempo passe rapidinho para que possamos matar essa “saudade” de coisas que ainda não aconteceram?

Podem pensar o que quiserem, mas sinto saudade do futuro também. Por isso, fico dividido na virada do ano novo.

Bem, enquanto divago por aqui, deixarei vocês com os convidados do mês. Dois feras da LIJ brasileira e pessoas que eu admiro demais (redundante, eu sei).

Na Ilustra, meu querido amigo aeilijiano: o escritor e ilustrador Mauricio Veneza!

Na Entrevista Foguete, o pai maluquinho de um menino que usa a panela na cabeça: Ziraldo!

Puxa vida! Isso é que é começar o ano com o pé direito.

AEILIJ (www.aeilij.org.br) ► Resenhas do Trevo de Leituras de dezembro: Anna Claudia Ramos lê Pedzeré Linhas e Cores, de Naná Martins... ... que lê O baile das portas, de Marô Barbieri... ... que lê Era uma vez três velhinhas, de Anna Claudia Ramos. ► Resenhas do Trevo de Leituras de janeiro: Sandra Pina lê Coisas de menino, de Eliane Ganem... ... que lê Ninguém me entende nessa casa, de Leo Cunha... ... que lê As (muitas) versões de um (mesmo) beijo, de Sandra Pina.

Espaço LIJ

Alexandre de Castro Gomes

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ENTREVISTA FOGUETE com Ziraldo

► Quantos livros publicados? Destes, quantos como escritor? Escrevi mais de 180 livros. Que eu me lembre. ► Três livros seus para quem não te conhece? O menino quadradinho Os meninos morenos O menino e seu amigo

► Menina Nina traz um texto emocionante em cuja mensagem você homenageia a “Vó Vivi”. Quem mais é homenageado em sua obra? Em alguns de meus livros, vocês podem encontrar algumas homenagens, saudades e lembranças. Por exemplo: O Menino e seu Amigo é a história de minha convivência com meu avô; Os Meninos Morenos fala da minha infância e das pessoas que conheci e convivi nessa época; O Grande Livro das Tias é uma homenagem às tias da minha vida; Uma Professora Muito Maluquinha é um retrato da minha primeira professora; e por aí vai... ► Quando conversamos, depois da entrevista no ABZ, você me contou histórias divertidas sobre sua mãe. Ela era uma “Supermãe”? E aproveitando a brincadeira, você tem algo de “Jeremias, o Bom”? Minha mãe era uma mulher que não gostava de comprar feito. Tinha uma grande necessidade de inventar coisas, de viver a vida a partir do jeito dela. Costurava como poucas e inventou seu próprio método de costura; inventou um jeito de fazer feijão em pó para dar vidros e vidros de presente para as amigas, cheios de um saboroso pozinho marrom; inventou um alfabeto para escrever bilhetes secretos para as filhas. Minha mãe inventava charadas e adivinhas pra brincar com os filhos, como se também fosse criança e me ensinou as letras do alfabeto transformando cada uma delas em um ser vivo: o A era um sujeito de pernas abertas, o B era um camarada bundudo, o C era um comilão com a bocona aberta e por aí vai. Com relação a segunda pergunta: todo mundo tem um pouco de Jeremias dentro de si. ► 80 anos bem vividos, com uma obra fantástica e um dos orgulhos da literatura brasileira. Quais são seus próximos projetos? Continuar a série de livros dos meninos dos planetas, ver o Menino Maluquinho 3 nos cinemas, escrever um romance, etc. etc. etc. Trabalhar... trabalhar... trabalhar...

Espaço LIJ

Alexandre de Castro Gomes

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Alexandre de Castro Gomes

Site do escritor: http://www.ziraldo.com.br Nas últimas edições: Sandra Pina (http://bit.ly/UdTNvo), André Neves (http://bit.ly/SpXI9g), Leo Cunha (http://bit.ly/SDBfoe), Rosana Rios (http://bit.ly/Us756D), Angela Lago (http://bit.ly/Us7i9W) e Luiz Antônio Aguiar (http://bit.ly/RE3Vfa). ILUSTRA com Maurício Veneza Poucos sabem, mas o Mauricio foi a primeira pessoa que me recebeu na AEILIJ. Isso foi em 2009, durante a minha primeira participação no Salão FNLIJ, no Rio de Janeiro. Na época eu lançava o meu segundo livro e ainda não conhecia a Associação. Mauricio me recebeu de braços abertos. Falou sobre o trabalho que faziam e conversamos um tempão sobre a obra do Helio do Soveral. Foi naquele dia que resolvi me associar. Nada como bons papos e novos amigos, não é? As três imagens que seguem mostram etapas do processo da criação do livro Nina África – Contos de uma África menina para ninar gente de todas as idades, com textos de Lenice Gomes, Arlene Holanda e Clayson Gomes, pela Editora Elementar.

O niteroiense Mauricio Veneza teve suas primeiras ilustrações para LIJ publicadas na década de 80. Poucos anos depois, em 87, estreou como escritor. De lá para cá são centenas de histórias com seus traços e letras espalhados por livros em bibliotecas de todo o Brasil.

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Para a imagem acima, Mauricio começou com um esboço a lápis no verso de um papel já impresso. Em seguida finalizou a traço (pincel e nanquim) e digitalizou a imagem. Na segunda figura é visto o primeiro tratamento de cor digital. O traço preto foi convertido num contorno de cor creme, bem próximo do branco. A terceira figura traz a imagem finalizada no computador, já com sombreamento e brilhos, tal como aparece no livro. Site do artista: http://www.aeilij.org.br/home/detalhe_associado.asp?id=420 (http://bit.ly/RE3Vfa). Nas últimas edições: Taline Schubach (http://bit.ly/UdTNvo), Nireuda Longobardi (http://bit.ly/SpXI9g), Sandro Dinarte (http://bit.ly/SDBfoe), Cris Alhadeff (http://bit.ly/Us756D), Bruna Assis Brasil (http://bit.ly/Us7i9W) e Romont Willy (http://bit.ly/RE3Vfa). VAI ROLAR ► 3ª Temporada do ABZ do Ziraldo Canal Brasil – domingo às 12:00 com reapresentação na sexta-feira às 13:45 ► Encontro de autores da Bodega Literária / Coletivo 150 no Rio de Janeiro Data e horário: 19/01 às 19h. Local: Sindicato do Chopp do Leme - RJ ► A ilustração na Literatura Infantil – oficina com Marilia Pirillo Dia 12/01 (sábado) | das 10h às 16h | Carga horária: 5h/aula Valor: R$ 300,00. Local: Estação das Letras – RJ ► Oficina de Ilustração para crianças com Walther Moreira Santos no espaço 3emeio, em Boa Viagem - PE, a partir de 7 de janeiro. Primeira aula aberta ao público em geral ► Sábado das Crianças (entrada franca) Encontro de escritores com o público infantil, troca troca de livros, oficinas de arte e brincadeiras. Local: Estação das Letras Rua Marquês de Abrantes, 177 – Lojas 107/108 – Flamengo – RJ

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Alexandre de Castro Gomes

ENCONTRO DE AUTORES

Pensei em escrever sobre o encontro de autores de LIJ para o artigo do mês e cheguei a conclusão que muitas vezes uma imagem vale mais do que mil palavras. Essa foto, com a Lagoa ao fundo, mostra bem como foi gostosa a nossa reunião. Amigos, livros, abraços... Nosso evento de final de ano ocorreu em 20/12 e já tem novo encontro sendo programado para 2013. Fiquem de olho!

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Alexandre de Castro Gomes

LANÇAMENTOS DO MÊS

Cunauaru de Naná Martins, com ilustrações de Daniele Souza Cardoso

Cakizinho 13/01/13 – 17h – Livraria Argumento, Leblon – Rio de Janeiro

Alexandre de Castro Gomes

é escritor, coordenador de comunicação digital da AEILIJ e criador do Blogão (http://www.blogao.com.br).

Aviso: Se tiver lançamento programado para o mês que vem, mande um e-mail para [email protected] que divulgarei aqui.

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Nas entrelinhas da escrita

Dag Bandeira

Autoajuda Literária

Dag Bandeira

é escritora, autora do romance “Visão Distorcida” (Ed. Vermelho Marinho, 2011) e professora de Português e Inglês.

Em tempos de informação rápida disponí-vel nas mídias eletrônicas, as pessoas têm se mostrado estressadas por não serem capazes de absorver tudo que lhes é oferecido. A vonta-de de melhorar financeira, moral e intelectual-mente as leva a buscas frenéticas de algo para alcançar seus objetivos. Nessa hora, os livri-nhos de autoajuda vêm a calhar. Quem nunca procurou algo do tipo ‘como vencer na vida sem fazer força’, ‘como falar bem em público’, como ser isso ou aquilo etc.? Refletindo, surgiu-me a pergunta: qual a definição de autoajuda? Aí fui ao dicionário e lá encontrei o seguinte:

“Conjunto de informações e orientações que visam a possibilitar a alguém a superação de seus problemas emocionais e dificuldades de ordem prática, ou a conquista de objetivos es-pecíficos, por meio dos próprios recursos men-tais e morais da pessoa.”

Como, por questões éticas, não posso omitir a fonte da minha pesquisa, deixo aqui o site onde fui buscá-la: http://aulete.uol.com.br. A essa altura lembrei-me: quando comecei a es-crever esta matéria fiquei insegura sobre como deveria escrever o vêm, empregado acima. Diz o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa): há os quatro verbos que perde-ram o acento circunflexo na terceira pessoa do plural do presente do indicativo. São eles ler, ver, dar e crer, portanto devemos escrevê-los assim: leem, veem, deem e creem. Ora, vocês devem estar se perguntando, se eu sabia a regra, qual o motivo da dúvida acima. O vêm não é a terceira pessoa do plural do presente do indicativo do verbo vir? Pois é, o ser huma-no é inseguro, daí o sucesso dos livros de au-toajuda. Acessei, portanto, o site http://www.priberam.pt/dlpo. Lá, ao digitar-mos o nome de um verbo, aparece um link

onde se lê: Conjugar. É só clicar e você encontra conjugados todos os tempos e modos verbais do verbo em questão.

Ainda pensando no título para a matéria, mais uma dúvida me ocorreu: como escrever autoajuda? Separado, com hífen ou junto? Acessei, então, http://www.academia.org.br, meu outro tesouro de consultas. Acima do Menu lê-se VOLP. Ao clicarmos ali, a página Busca no Vocabulário aparece exibindo um caixa onde podemos digitar a palavra a ser conferida. No caso da dúvida do hífen, é só escrevermos auto* (auto, asterisco, espaço) e clicarmos em Pesquisar. Todas as palavras compostas pelo prefixo auto são exibidas. Esse procedimento serve para qualquer prefixo ou palavra.

Há regras para a formação de palavras compostas por prefixos, é claro, mas aqui me refiro à solução das dificuldades de ordem prá-tica sobre a língua portuguesa. Aquela saída fácil promovida pelos livros mencionados. Por isso, de agora em diante, passo a chamar mi-nhas fontes de consulta de autoajuda literária e as compartilho com vocês.

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Sem poesia não dá

Sérgio Bernardo

O silêncio incompleto* de Lêdo Ivo

Quando da morte do poeta alagoano Lêdo Ivo, no último dia 23 de dezembro, em Sevilha, Espanha, eu estava (re)lendo seu livro Crepúsculo Civil (Editora Record, 1990) e pensando: “Está aí um dos últimos poetas que realmente acreditam na poesia”. Isso mesmo, crer na poesia como uma entidade, como quem acredita em bruxa ou em um deus. Um ente com o poder de transformar. Aquele tempo durante o qual Lêdo Ivo construiu sua literatura está acabando. São poucos, hoje, os que o viveram. Vejo, atualmente, os que se dedicam aos versos acreditando mais no “ser poeta” que propriamente na poesia. O poeta outsider, fora do contexto, um tipo especial de pessoa. Lêdo Ivo estava imerso no meio da multidão, de tal modo, que quem apenas o visse cruzando a avenida não o diferenciaria do senhor da padaria ou daquele aposentado do carteado. Em 2011, eu o cumprimentei na Festa Literária de Marechal Deodoro (Flimar), na sua Alagoas, onde foi homenageado – com toda a justiça e todo o mérito, diga-se. Não demonstrava a menor afetação, mesmo alvo de todo o paparico comum nessas ocasiões. Ao contrário, parecia até meio tímido, como se no íntimo desejasse mesmo estar a sós, para escrever um pouco do muito que tinha em si - e que deixou impresso em sua vasta obra.

Em homenagem ao poeta, romancista, cronista, contista, ensaísta e jornalista, membro da

Academia Brasileira de Letras e um dos últimos escritores brasileiros que buscaram compreender o século 20 – essa era de assombros –, a coluna publica três momentos de uma poesia que é grande e agora fica incorporada em nós, que a amamos desde sempre.

OS MORCEGOS Os morcegos se escondem entre as cornijas da alfândega. Mas onde se escondem os homens, que contudo voam a vida inteira no escuro, chocando-se contra as paredes brancas do amor? A casa de nosso pai era cheia de morcegos pendentes, como luminárias, dos velhos caibros que sustentavam o telhado ameaçado pelas chuvas. "Estes filhos chupam o nosso sangue", suspirava meu pai.

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Sem poesia não dá

Sérgio Bernardo

Que homem jogará a primeira pedra nesse mamífero que, como ele, se nutre do sangue dos outros bichos (meu irmão! meu irmão!) e, comunitário, exige o suor do semelhante mesmo na escuridão? No halo de um seio jovem como a noite esconde-se o homem; na paina de seu travesseiro, na luz do farol o homem guarda as moedas douradas de seu amor. Mas o morcego, dormindo como um pêndulo, só guarda o dia ofendido. Ao morrer, nosso pai nos deixou (a mim e a meus oito irmãos) a sua casa onde à noite chovia pelas telhas quebradas. Levantamos a hipoteca e conservamos os morcegos. E entre as nossas paredes eles se debatem: cegos como nós. ASILO SANTA LEOPOLDINA Todos os dias volto a Maceió. Chego nos navios desaparecidos, nos trens sedentos, nos aviões cegos/ que só aterrizam ao anoitecer. Nos coretos das praças brancas passeiam caranguejos. Entre as pedras das ruas escorrem rios de açúcar fluindo docemente dos sacos armazenados nos trapiches e clareiam o sangue velho dos assassinados. Assim que desembarco tomo o caminho do hospício. Na cidade em que meus ancestrais repousam em cemitérios marinhos só os loucos de minha infância continuam vivos e à minha espera. Todos me reconhecem e me saúdam com grunhidos e gestos obscenos ou espalhafatosos. Perto, no quartel, a corneta que chia separa o pôr do sol da noite estrelada. Os loucos langorosos dançam e cantam entre as grades. Aleluia! Aleluia! Além da piedade a ordem do mundo fulge como uma espada. E o vento do mar oceano enche os meus olhos de lágrimas.

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Sem poesia não dá

Sérgio Bernardo

O DIA INACABADO Como todos os homens, sou inacabado. Jamais termino de ser. Após a noite breve um longo amanhecer me detém no umbral do dia. Perco o que ganho no sonho e no desejo quando a mim mesmo me acrescento. Toda vez que me somo, subtraio-me, uma porção levada pelo vento. Incompleto no dia inacabado, livre de ser ainda como e quando, sigo a marcha das plantas e das estrelas. E o que me falta e sobra é o meu contentamento. *”O Silêncio Incompleto” é o título de um dos seus poemas

Sérgio Bernardo

Carioca de Botafogo, flamenguista e portelense, Sérgio Bernardo é poeta e também se dedica à crônica e ao conto. Publicou “Caverna dos signos” (2005) e “Asfalto” (2010). Colabora no blog Concursos Literários e divulga seus poemas em http://tudovirapoesia.blogs.sapo.pt/ No Twitter, @Sempoesianaoda. [email protected].

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Vitrine de Livros http://www.vitrinedelivros.com.br

twitter: @vitrinedelivros

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Festival Literatura em Vídeo 2012

A Escola Municipal Monteiro Lobato (RJ) e a Escola SESC de Ensino Médio (RJ) foram eleitas, pelo Júri Técnico, vencedoras do Festival Literatura em Vídeo 2012, realizado pelas editoras Ática e Scipione, com apoio da MTV, da produtora Buriti Filmes e do portal Tela Brasil.

Na escolha popular, a Escola Municipal Secretário Humberto Almeida (MG) e o Colégio Imaculada Conceição (MG) garantiram a primeira colocação, com quase 10 mil votos, em dez dias de votação. Os ganhadores do concurso foram conhecidos dia 10, em cerimônia realizada em Indaiatuba, no Vitória Convention Indaiatuba, interior de São Paulo.

Em reconhecimento à qualidade dos trabalhos, os professores responsáveis pelos curtas eleitos do Júri Técnico foram contemplados com um tablet de 8GB. Os alunos que participaram das produções ganharam um iPod Nano de 8GB e as escolas, um iMac, além de livros das editoras Ática e Scipione. Os dois vídeos produzidos pelos colégios também serão veiculados na programação da MTV para todo o Brasil.

Já os professores que coordenaram as produções eleitas pelo Júri Popular, por sua vez, foram premiados com uma assinatura de um ano da Revista Bravo!. Os alunos da Escola Municipal Secretário Humberto Almeida ganharam um ano grátis da revista Mundo Estranho e os do Colégio Imaculada Conceição, uma assinatura da Superinteressante. As instituições de ensino receberam ainda livros das editoras Ática e Scipione.

Durante o evento, também foram anunciados os destaques das categorias técnicas do festival – Melhor Direção de Arte, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Som. Confira abaixo a relação completa de vencedores:

Júri Técnico

Ensino Fundamental II: Escola Municipal Monteiro Lobato (RJ): O nariz e outras crônicas

Ensino Médio: Escola SESC de Ensino Médio (RJ): O nariz e outras crônicas

Júri popular

Ensino Fundamental II: Escola Municipal Secretário Humberto Almeida (MG): O segredo das tranças

Ensino Médio: Colégio Imaculada Conceição (MG): O Ladrão de Sonhos

Destaques por categoria:

Ensino Fundamental II:

Melhor Direção de Arte: Educandário Santo Antonio (SP): Psicologia de Um Vencido

Melhor Roteiro: Escola Municipal Monteiro Lobato (RJ): O nariz e outras crônicas

Melhor Fotografia: Escola Madre Zarife Sales (PA): A cor do preconceito

Melhor Som: Escola Municipal Monteiro Lobato (RJ): O nariz e outras crônicas

Ensino Médio:

Melhor Direção de Arte: Colégio Imaculada Conceição (MG): O Ladrão de Sonhos

Melhor Roteiro: Escola SESC de Ensino Médio (RJ): O nariz e outras crônicas

Melhor Fotografia: ETEC Coronel Fernando F. da Costa (SP): O Crime do Padre Amaro

Melhor Som: Escola SESC de Ensino Médio (RJ): O nariz e outras crônicas

Para mais informações, acesse: www.literaturaemvideo.com.br.

Fiquem de olho!

A partir da edição 24, a coluna Ficção de Gaveta será assinada pelo colunista Rodrigo Domit.

Ficção de Gaveta

Concursos Literários

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O Ranking Sobrecapa foi modificado. Não mais divulgaremos a posição dos livros, mas apenas os nomes dos livros nacionais que apareceram como mais vendidos na lista das livrarias citadas abaixo. Além das livrarias, utilizamos também a lista divulgada no Publishnews.

Não contabilizamos livros clássicos na lista. A ordem passa a ser alfabética.

Ficção Adulta

� Ágape – Padre Marcelo (Globo Livros)

� As Verdades que Ela Não Diz – Marcelo Rubens Paiva (Foz Editora)

� Barba ensopada de sangue – Daniel Galera (Companhia das Letras)

� Diálogos Impossíveis – Luis Fernando Veríssimo (Objetiva)

� Um lugar na janela – Martha Medeiros (L&PM Editores)

Infantojuvenil

� Agapinho – Padre Marcelo (Globo Livros)

� Depois dos Quinze – Quando tudo começou – Bruna Vieira (Gutenberg)

� Diário de Pilar no Egito – Flávia Lins e Silva (Zahar Editores)

� Fazendo meu filme 1 – A estreia de Fani – Paula Pimenta (Gutenberg)

� Gildo – Silvana Rando (Brinque Book)

� Minha Vida Fora de Série – Paula Pimenta (Gutenberg)

� Quem soltou o Pum – Blandina Franco (Companhia das Letrinhas)

� Soltei um Pum na Escola – Blandina Franco (Companhia das Letrinhas)

Período: Dezembro de 2012

Fonte: Livrarias que enviam a lista para o Jornal Sobrecapa Literal:

Livrarias Curitibas (PR: Curitiba, Londrina, São José dos Pinhais, Maringá; SC: Joinville; SP: São Paulo); Livrarias Catarinense (SC: Blumenau, Balneário Camboriú, Florianópolis); Livraria Cultura (São Paulo, Campinas, Brasília, Recife, Porto Alegre, Fortaleza, Salvador e Internet); Livraria da Vila;

Consulta feita também na lista de mais vendidos publicada no portal Publishnews (http://www.publishnews.com.br).

Mais vendidos

Ranking Sobrecapa

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Assinantes do Sobrecapa Literal não pagam nada, mas recebem em primeira mão o link e os destaques das próximas edições.

Basta acessar o formulário que está em:

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O Sobrecapa Literal nasceu para ser um canal de divulgação não só dos lançamentos literários (complemento ao Site Sobrecapa – http://www.sobrecapa.com.br), como também para ser um ponto de encontro para se pensar e falar de literatura nacional. Um ponto de encontro para leitores e profissionais da área. Então, sinta-se à vontade para sugerir, criticar, elogiar e participar.

Ana Cristina Melo Escritora e Editora do Site Sobrecapa e

do Jornal Sobrecapa Literal

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