JOSUÉ DE CASTRO - fundaj.gov.br · Retorna à sua cidade natal, ... no bojo do movimento que se ... criado a partir do contexto da II Guerra Mundial e coordenada pelo então Minis-

JOSUÉ DE CASTROCRONOLOGIA

Pesquisa: Teresa Cristina Wanderley Neves. Sócia do Centro Josué de Castro (Presidente nos biênios: 2000⁄2002 e 2002⁄2004)

Revisão: Prof. Denis Bernardes – Sócio fundador do Centro Josué de CastroEdição: Antônio Carlos Montenegro – arquiteto da Fundação Joaquim Nabuco eRita de Cássia Barbosa de Araújo – pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

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1908

JOSUÉ DE CASTRO – CRONOLOGIA

Nasce Josué Apolônio de Castro no Recife no dia 5 de setembro. Filho único de Manuel Apolônio de Castro, proprietário de terras e mercador de gado e leite; e de Josefa de Castro, apelidada de Dona Moça. Morou no bairro da Madalena, dos 8 aos 14 anos de idade.

1915/22Estuda em colégios tradicionais do Recife, como o Ginásio Pernambucano e o colégio Chateaubriand.dos 8 aos 14 anos de idade.

1923Segue o curso de Medicina. Terminado o curso preparatório precocemente, encaminhou-se para a Bahia. “Acabei meus preparatórios com 15 anos. Falsificaram-me a idade para que eu pudesse entrar na faculdade”.

1925Muda-se da Bahia para o Rio de Janeiro. Em setembro, lança A Doutrina de Freud e a Literatura Moder-na, seu primeiro artigo, publicado na Revista de Pernambuco.

1927Até se formar, publica alguns ensaios científicos, crônicas, além de fazer crítica cinematográfica e outras incursões no campo da arte (contos, poesias e ensaios). Nomes como Augusto dos Anjos, Cícero Dias, Lula Cardoso Ayres¹, Charles Chaplin, Edgar A. Poe, Goethe, Tolstoi, Ortega y Gasset, Einstein, Freud, Kretschmer, Keyserling, Artur Ramos, entre outros, apareciam nos seus escritos.

1929Forma-se em Medicina aos vinte anos e meio, na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil. Viagem ao México para a posse presidencial do ex-embaixador no Brasil, Pascual Ortiz Rubio.

Na viagem ao México, no dia da posse presidencial, Ortiz é ferido a bala e, dias depois, renuncia ao mandato. Após esse grave episódio, Josué de Castro segue para os Estados Unidos onde permanece quatro meses estagiando na Universidade de Colúmbia e no Medical Center de Nova Iorque.

1930Retorna à sua cidade natal, indo morar com a mãe no bairro da Capunga, iniciando a carreira de médico. “Eu, na realidade, queria era ser psiquiatra, mas o Ulhoa Cintra tinha dois aparelhos de metabolismo. Vendeu-me um. Resolvi fazer nutrição”. Era o primeiro consultório especializado em doenças da Nutrição² na cidade do Recife

¹ Pintor que irá mais tarde ilustrar o livro Geografia da Fome, com o quadro Doida Mortandade. ² Na época, as especialidades não estavam bem definidas. Misturava-se Nutrição com Endocrinologia, área esta que surgiu após os anos 1940.

1932


Após dois anos de experiência como médico em uma fábrica no Recife, que o contratara para aumentar a produtividade de seus funcionários, constata o estado de penúria em que os mesmos viviam. Surge daí o inquérito As condições de Vida das Classes Operárias do Recife. A partir dele e de outros inquéri-tos realizados no Rio de Janeiro, São Paulo e outras localidades do País, constituem-se as bases para o surgimento do salário mínimo, instituído legalmente em 1940, por Getúlio Vargas.

Com a tese O Problema Fisiológico da Alimentação no Brasil, torna-se LivreDocente de Fisiologia da Faculdade de Medicina do Recife. Em 1939, a tese é publicada com o título O Problema da Alimentação no Brasil, pela editora Nacional de São Paulo.

1933Com a experiência no Recife, torna-se chefe da comissão que estudou as condições de vida dos operários, alargando seu estudo inicial, realizado na capital pernambucana e depois em outras locali-dades do País.

Idealiza e funda em setembro, juntamente com Olívio Montenegro, Nelson Coutinho, Aníbal Bruno, Sylvio Rabello, Ulysses Pernambucano, entre outros, a Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais do Recife³. Castro chega a ser um dos seus diretores e trabalha como professor catedrático de Geografia Humana entre 1933 e 1935.

Torna-se chefe da Clínica das Doenças do Aparelho Digestivo e da Nutrição, da Brigada Militar do Estado de Pernambuco, e realiza um curso de especialização em Nutrição, no Instituto de Nutrição na Argentina.

1934Casa-se com Glauce Rego Pinto, que foi sua aluna na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais. Do casamento, teve três filhos: Josué Fernando de Castro, economista; Anna Maria de Castro, socióloga; e Sônia de Castro Duval, geógrafa.

1935Muda-se para o Rio de Janeiro e atravessa meses difíceis de sobrevivência material. Escreve, tenta clínica, faz concurso de Estatística, mas não consegue aprovação. Data desse período a elaboração do livro Alimentação e Raça, que procura desnudar o conceito de raça, argumentando que a fome — um problema de fundo econômico, social e político — era a causa da suposta preguiça, indolência, pouca inteligência e pouca aptidão ao trabalho atribuída a negros e índios, tidos pela intelectualidade hegemônica como raças inferiores.

Lança o livro Salário Mínimo e continua a publicar artigos em jornais, no bojo do movimento que se desenvolvia pela fixação do salário mínimo e pelo reconhecimento dos direitos dos trabalhadores. Passa a chefiar o Serviço Central de Alimentação do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários, que se transformaria no futuro Serviço de Alimentação da Previdência Social (Saps).

³ Surge a partir das dificuldades que Josué de Castro e os demais intelectuais da época encontravam como pesquisadores sociais.

1936


Abre consultório médico que manteve até 1955, no Rio de Janeiro, como clínico e especialista em doenças da nutrição. Torna-se membro da Comissão de Inquérito para Estudo da Alimentação do Povo Brasileiro, realizado pelo Departamento Nacional de Saúde Pública.

1933Publica Documentário do Nordeste, uma coletânea de textos divididos em A Paisagem Viva do Nordeste — cerne para seu futuro e único romance Homens e Caranguejos, de 1965 —; em estudos sociais e, por fim, em estudos biológicos sobre a região.

Elabora, juntamente com Cecília Meireles, uma cartilha de educação alimentar e nutricional para o públi-co infantil denominado A Festa das Letras.

Lança também A Alimentação Brasileira à Luz da Geografia Humana, livro que confirma e amadurece o combate às teses racistas que denominava de “artificialismos decadentes de Gobineau”. Aqui, já se con-figuram alguns traços para o seu mais importante livro: Geografia da Fome, de 1946.

Detentor do prêmio Pandiá Calógeras.

1938Ingressa na Universidade do Distrito Federal⁴ , sonho de cultura e pesquisa de Anísio Teixeira, para ministrar aulas de Antropologia Física. Roquette Pinto, por motivos de saúde, recusa o convite para dar aulas, como professor de Antropologia na recém-criada universidade, e indica Josué de Castro para substituí-lo. Não é por menos que lhe dedica o livro A Alimentação Brasileira à Luz da Geografia Humana.

Lança ainda outros dois livros: Science et Thecnique, publicação do Ministério da Educação, para uma exposição em Paris; e Fisiologia dos Tabus, uma aproximação com a Psicologia, seu antigo interesse, e com a Antropologia, fruto de sua cátedra.

1939Estagia no Instituto Bioquímico de Roma e dá palestras nas universidades de Roma, Nápoles e Gênova. Dessa experiência, no mesmo ano, publica o estudo Alimentazione e Acclimatazione Umana nei Tropici, em Milão.

Às vésperas da II Guerra Mundial, Castro, que se encontrava em Roma com a esposa Glauce e a filha recém-nascida, Anna Maria, viu-se obrigado a fugir às pressas.

Ao voltar da Itália para o Brasil, publica Geografia Humana⁵, livro didático destinado ao 3º ano do atual Ensino Médio. Gradua-se em Filosofia pela Universidade do Brasil, conforme consta na autobiografia resumida que elaborou por ocasião da posse como Deputado Federal pelo Estado de Pernambuco, em 1955. Funda o Centro de Estudos sobre a Alimentação. Idealizador e diretor do Serviço Central de Alimentação, depois transformado no Serviço de Alimentação da Previdência Social (Saps).

⁴ Fundada em 1935, passou a ser Universidade do Brasil em 1938 e, atualmente, UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ).⁵ Na segunda edição, o livro sofre algumas modificações e passa a se chamar Ensaios de Geografia Humana, publicada em 1957, quando se acrescenta a tese Fatores de Localização da Cidade do Recife: um Ensaio de Geografia Urbana.

1940


Continua a ministrar cursos sobre alimentação e nutrição no Departamento Nacional de Saúde Pública e na Faculdade de Medicina, da Universidade do Brasil, coordenando o primeiro curso de especiali- zação em Nutrição, dessa universidade. Funda a Sociedade Brasileira de Alimentação, constituído de futuros dirigentes do Serviço de Alimentação da Previdência Social (Saps), criado no mesmo ano⁶.

1942É convidado oficial do governo da Argentina para estudar problemas de alimentação e nutrição.

Funda a Sociedade Brasileira de Nutrição, presidindo-a por dois anos.

1943Mais uma viagem aos Estados Unidos para estudar questões relativas à alimentação.

Torna-se professor catedrático da cadeira de Nutrição do Curso de Sanitaristas, do Departamento Nacional de Saúde Pública.

Idealizador e designado Diretor do Serviço Técnico de Alimentação Nacional (Stan), da Coordenação de Mobilização Econômica, criado a partir do contexto da II Guerra Mundial e coordenada pelo então Minis-tro João Alberto.

1944Criado, no Rio de Janeiro, o Instituto de Tecnologia Alimentar (ITA), por iniciativa do Serviço Técnico de Alimentação Nacional (Stan), do qual era diretor, que procurava aperfeiçoar a indústria brasileira de alimentação. Era motivo de orgulho por parte de Josué de Castro.

Baseado em estudos realizados pelo ITA, foi assinada portaria que obrigava a iodetação do sal.

1945Viagem ao México e à República Dominicana. Como resultado da viagem, lança no México La Aliment-ación en los Tropicos, um rearranjo de Alimentazione e Acclimatazione Umana nei Tropici.

O Stan é substituído pela Comissão Nacional de Alimentação (CNA)7, que Josué de Castro passa também a dirigir até 1954.

Participa da fundação do Hospital de Clínicas do Rio de Janeiro e passa a ser o seu primeiro vice-presi-dente.

⁶ Uma criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio para fazer frente a um decreto-lei de 1939, que estabelecia a obrigatoriedade das empresas com mais de 500 empregados a instalarem refeitórios para os trabalhadores.⁷ Era um órgão do Conselho Federal de Comércio Exterior que tratava de dar um caráter mais permanente às atividades iniciadas pelo Stan: educação alimentar e assistência à indústria nacional de alimentos

1946


Publica, pela editora O Cruzeiro, sua obra de maior repercussão, Geografia da Fome, ganhador do prêmio José Veríssimo, da Academia Brasileira de Letras.

Quando, terminada a Guerra, foi desfeita a Coordenação de Mobilização Econômica, o ITA passou para a Universidade do Brasil com o nome de Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil. Torna-se o seu primeiro diretor.

1947Visita à França.

Efetiva-se formalmente no cargo de professor da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil por meio do concurso para a cátedra de Geografia Humana, no qual defendeu a tese Fatores de Localização da Cidade do Recife: um Ensaio de Geografia Urbana⁸, publicada em 1948 pela Imprensa Nacional. Permanece professor até 1964.

Membro do Comitê Consultivo Permanente de Nutrição da Organização, das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

1948Delegado da Primeira Conferência Latino-Americana de Nutrição promovida pela FAO⁹, ocorrida em Montevidéu. Na ocasião, Castro foi escolhido membro do Comitê Consultivo Permanente de Nutrição desse mesmo organismo internacional.

Publica o livro Geopolítica da Fome pela Casa do Estudante do Brasil. A obra tem uma publicação mais completa e definitiva em 1951, pela editora Brasiliense. Um dos raros livros consagrado, simultanea-mente, nos EUA e na ex-URSS.

1950Condecorado professor Honoris-Causa da Universidade de Santo Domingos, na República Dominicana, e da Universidade de San Marcos, na capital peruana.

Escolhido para organizar a Segunda Conferência Latino-Americana de Nutrição da FAO, realizada no estado do Rio de Janeiro, em Petrópolis.

Marca o início da carreira política, candidatando-se a deputado federal pelo estado de Pernambuco, pela coligação Democrática Pernambucana, a mesma a que Gilberto Freyre concorreu. Na eleição, obtém 4.770 votos e não consegue se eleger.

⁸ Este trabalho também recebe outro título: A Cidade do Recife, publicada no Rio de Janeiro pela editora Casa do Estudante do Brasil, em 1951.⁹ Três anos depois da primeira conferência mundial ocorrida no Canadá, também promovida pela FAO.

1951


Nomeado vice-presidente para a Comissão Nacional de Política Agrária, criada por Vargas em julho.

Em outubro, sob a presidência do Ministro do Trabalho e a vice de Josué de Castro, constitui-se a Comissão Nacional de Bem-Estar Social (CNBS), que tinha por finalidade a melhoria dos salários reais e da qualidade de vida.

1952Torna-se presidente do Conselho Executivo da FAO, permanecendo até final de 1956. Muitas biografias o citam como “Presidente da FAO”, cargo que não existe, e sim diretor-geral, cargo que nunca assumiu.

Surge o Instituto Brasileiro de Estudos Sociais e Políticos (Ibesp), posterior Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), com o qual Josué de Castro mantem estreito relacionamento, sendo convidado a min-istrar duas conferências denominadas: A China Hoje, em 1957; e A Significação Geopolítica de Brasília, como parte do Curso Extraordinário: Brasília e o Desenvolvimento Nacional, em 1960.

Realiza pesquisa sobre o Padrão de Vida das Populações Brasileiras pela CNBS, seguido de uma proposta de revisão da previdência social.

Recebe menção anual da American Library Association.

Prêmio Franklin D. Roosevelt da Academia Americana de Ciências Políticas pelo livro Geopolítica da Fome

1953Na FAO, Castro estimula a realização da Terceira Conferência Latino-Americanasobre Nutrição, ocorrida em Caracas (Venezuela).

Também fruto da conferência, Castro apresenta o Plano Nacional de Alimentação, sob responsabilidade da CNA. Um marco na trajetória das políticas públicas sobre alimentação e nutrição no Brasil na medida em que as experiências anteriores (Stan e Saps, que continuavam funcionando precariamente) não enfocavam a questão da desnutrição.

Grande Medalha da Cidade de Paris.

1930Indicado para concorrer ao Nobel de Medicina.

Como parte das discussões da Terceira Conferência Latino-Americana sobre Nutrição, da qual fez parte, é iniciada, em março, a Campanha de Merenda Escolar, subordinada ao então Ministério da Educação e Cultura. Atualmente, é o programa governamental mais antigo e mais abrangente de toda a América Latina na área da alimentação e nutrição.

Concorre novamente a Deputado Federal por Pernambuco, mas dessa vez pela coligação Movimento Popular Autonomista (PTB e outros partidos), elegendo-se com 14.076 votos. Na eleição, Castro fez dobradinha com Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas.


Ganha a Grande Cruz do Mérito Médico.

Prêmio Internacional da Paz, do Conselho Mundial da Paz, pela obra Geopolíticada Fome.

1955Assume o mandato de Deputado Federal que vai até 1959. Torna-se vice-líder do PTB e Presidente da Comissão de Saúde, da Câmara dos Deputados.

Lança o livro Três Personagens¹⁰, uma coletânea de seus discursos pronunciados no Congresso Nacional sobre três grandes personalidades, sendo dois cientistas, Albert Einstein e Alexander Fleming, e um político, Franklin Delano Roosevelt.

Participa em agosto, com um grupo de 45 intelectuais, entre os quais Caio Prado Júnior, da fundação da Revista Brasiliense, importante núcleo aglutinador de idéias na área de ciências sociais.

Oficial da Legião de Honra, homenagem concedida pelo governo francês.

1956Conforme proposta da Comissão Nacional de Alimentação, a Campanha de Merenda Escolar passa a ser nacional.

1957Lança três livros, sendo o último de grande impacto: Ensaios de Biologia Social, Ensaios de Geografia Humana e O Livro Negro da Fome. Este último com contundentes críticas às teorias malthusianas e neo-malthusianas, isto é, críticas ao controle da natalidade, uma constante em várias obras que escreveu.

Ao deixar a presidência da FAO, funda em janeiro, coadjuvado por Abade Pierre, a Associação Mundial de Luta Contra a Fome (Ascofam)¹¹, da qual foi eleito presidente. Faziam parte Padre Pire (fundador da Universidade da Paz e prêmio Nobel da Paz), Padre Joseph Lebret, René Dumont, entre outros. No comitê brasileiro, estava Oswaldo Aranha.

Viaja à China de Mao-Tse-Tung e fica impressionado com o plano do governo comunista para erradicar a fome.

Participa da Segunda Conferência Internacional Sobre a Influência das Condições de Vida e do Trabalho Sobre a Saúde, em Cannes, apresentando o estudo Food and Health, relatório sintético acerca da influência do fator alimentar sobre a saúde dos povos.

A convite de Bertrand Russel, participa de uma conferência sobre armas atômicas, no Canadá.

Torna-se membro da Frente Parlamentar Nacionalista, que integrava o Grupo de Ação Política Pró-De-senvolvimento Econômico e Social do Brasil; grupo pluripartidário constituído por mais de 100 parlamen-tares, tendo Josué de Castro como segundo vice-presidente.

Viagem à Polônia.

¹⁰ Escritos que se encontram em Ensaios de Biologia Social.¹¹ Foram realizados importantes projetos, como um plano nacional de complementação protéica das populações mais vulneráveis, um filme sobre o drama das secas na Região Nordeste, um projeto de enriquecimento da farinha de mandioca também no Nordeste, entre outros.

1958


Chega a ser nomeado Ministro da Agricultura por Kubitschek, mas o PTB, principalmente o gaúcho, e a ala conservadora da Igreja Católica, segundo a imprensa da época, pressionaram e desfizeram o ato.

Reelege-se, também com o apoio de Francisco Julião, Deputado Federal por Pernambuco, mas desta vez sendo o mais votado do Nordeste. Em função disso, o nome de Josué de Castro é cogitado para se candidatar à Prefeitura do Recife, mas não se concretiza.

Escreve dois roteiros para o cinema, sua grande paixão: Le Cri, projeto desenvolvido na França; e O Drama das Secas, documentário rodado no mesmo ano pelo cineasta Rodolfo Nanni, ambos sob os auspícios da Ascofam

1959Assume o mandato de Deputado Federal pela segunda vez. Entre outras bandeiras, defende a extensão do direito de voto ao analfabeto, a criação da Universidade de Brasília (idéia de Darcy Ribeiro), e o reata-mento das relações diplomáticas entre o Brasil e a ex-União Soviética, rompidas durante o governo Dutra em 1947.

Devido à grande seca no Nordeste em 1958, promove uma discussão nacional que desemboca na criação da Sudene, fruto também da Operação Nordeste. Em função desse projeto, foi criado um grupo parlamentar das regiões menos favorecidas do País, denominado União Parlamentar Norte-Nordeste, tendo Castro como presidente.

1960Presidente eleito do Comitê Governamental da Campanha de Luta Contra a Fome, iniciativa da FAO.Recepciona Sartre e Simone de Beauvoir.

Na condição de deputado federal, muda-se para Brasília, quando é realizada a primeira sessão do Con-gresso Nacional na nova capital em 22 de abril.

Funda em dezembro, a Academia Nacional de Cultura, em Brasília, com a colaboração de Jorge Amado, Celso Furtado, Vitor Nunes Leal, Barbosa Lima Sobrinho, Gustavo Capanema, Anísio Teixeira, Cecília Meireles, Rachel de Queiroz, Darcy Ribeiro, Cândido Portinari, Vinícius de Morais e Oscar Niemeyer,que se destinava a velar pelo patrimônio cultural do País.

1961Sofre um acidente de avião em Brasília, sem graves consequências.

1962Depois de ter sido cogitado para o cargo de embaixador no Canadá, Castro é designado, pelo então presidente João Goulart, embaixador-chefe da Delegação do Brasil junto a ONU, em Genebra¹².

¹² Diário Oficial da União, em 3 de maio de 1962.


Quando seguia do Brasil para Genebra, o avião em que viajava, ao decolar do Galeão, caiu na Baía de Guanabara, causando a morte de seu neto de apenas dois meses de idade.

Fundador e Presidente do Centro Internacional para o Desenvolvimento (CID)¹³, entre 1965 e 1973.

1963Permanece à frente da Ascofam e é designado para exercer as funções de Representante do Brasil junto ao Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra.

Em outubro, devido às tarefas nos organismos internacionais, renuncia ao mandato de Deputado Federal.

Indicado para o Nobel da Paz

1964Início do regime militar que institucionaliza o Ato Institucional n° 01, em 9 de abril, impondo a cassação de mandato e dos direitos políticos de Miguel Arraes, Seixas Dória, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Leonel Brizola e, como não poderia deixar de ser, Josué de Castro.

Imediatamente, demite-se do cargo de embaixador-chefe em Genebra, e logo depois, em 9 de abril do mesmo ano, tem seus direitos políticos oficialmente cassados por dez anos. Mas não se afasta complet-amente da ONU, pois tornase no mesmo ano membro do Instituto de Formação Humana e Pesquisa dessa Organização, para tratar de assuntos sobre a fome.

Impedido de voltar ao Brasil, Castro escolhe a cidade de Paris como seu novo refúgio

1965Publica Sete Palmos de Terra e um Caixão, escrito especialmente para o público norte-americano e que teve a colaboração do sociólogo Alberto Passos Guimarães. Foi o último livro do autor publicado no Brasil e obra de referência para quem se dedica à questão da reforma agrária no País.

Publica o primeiro e único romance Homens e Caranguejos, espécie de autobiografia da infância no Recife.

Reelaborou novas edições para seus livros e publicou, além de artigos, Où en Est la Révolution en Amérique Latine?, debate que travou com Claude Julien, Juan Arrocha e Mario Vargas Llosa.

Condecorado Professor Honoris-causa da Universidade de Engenharia, de Lima

¹³ O Centro era uma organização não-governamental e sem fins lucrativos que assessorava os países subdesenvolvidos, principalmente os africanos.


1968Publica Latin American Radicalism, um conjunto de ensaios — organizado por ele, Irving Louis Horowitz e John Gerassi — que procurava refletir sobre a esquerda latino-americana.

Lança também A Explosão Demográfica e a Fome no Mundo, mais uma crítica aos neo-malthusianos.

Detentor da Ordem de Adrés Bello, homenagem concedida pelo governo venezuelano.

1969Depois de um ano de docência, o governo francês o designou Professor Estrangeiro Associado ao Centro Universitário Experimental de Vincennes (Universidade de Paris VIII), lecionando também para alunos de pós-graduação no Instituto de Altos Estudos para a América Latina da Universidade de Paris I.Em Vincennes, era responsável pela cadeira de Geografia dos Países Subdesenvolvidos.

Publica o pequeno livro El Hambre – Problema Universal

1970Institui e coordena o grupo de pesquisa em ecologia humana dessa mesma universidade.

Publica O Drama do Terceiro Mundo e O Brasil na Encruzilhada.

Presidente da Associação Médica Internacional para o Estudo e Condições de Vida e Saúde (Amiev).

Indicado para o Nobel da Paz¹⁴.

1972Participa e ajuda a organizar a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, reuni-da Estocolmo (Suécia) em junho de 1972.

197324 de setembro. Falece Josué Apolônio de Castro, aos 65 anos de idade, alguns dias depois de Salva-dor Allende e na mesma semana de Pablo Neruda. Seu corpo é enterrado no cemitério São João Batis-ta, no Rio de Janeiro.

1974Publicação póstuma de América Latina y los Problemas del Desarrollo, pela Monte Ávila Editores.

1980Publicação póstuma do pequeno livro Mensajes, em Bogotá.

¹⁴ A família de Josué de Castro não possui as três indicações para o Nobel de Medicina (1954) e as duas para Paz (1963 e 1970). Informação recolhida por Tânia Silva em sua tese de doutorado Josué de Castro: Para uma Poética da Fome de 1998, pela PUC de São Paulo.

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