Judicialização Da Questão social

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Judicialização da questão social e trabalho dos Assistentes sociais

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    Doutora em Servio Social pela PUCRS.

    Bacharel em Direito.

    Professora e Coordenadora do Ncleo dePesquisas e Estudos em tica e DireitosHumanos, Faculdade de Servio Socialda PUCRS.

    Assistente Social do Poder Judicirio doRio Grande do Sul.

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    Assistente Social.

    Doutoranda em Servio Social na PUCRS.

    Professora do Curso de Graduao emServio Social da UNISINOS.

    RRRRR esumoesumoesumoesumoesumoEmbora sejam inegveis as conquistas

    civilizatrias dos direitos humanos, seureconhecimento e sua operacionalizaotm demandado, alm de lutas histricas,de modo cada vez mais intenso, a interpela-o do Poder Judicirio. O fenmeno dajudicializao da questo social ocorre emuma superposio de responsabilidades doJudicirio s demais instncias da esferapblica. Esta forma de acesso justia sed, via de regra, de forma individual e porum segmento seletivo de sujeitos os queconhecem ou conseguem acessar este canaljurdico. Mas a efetivao dos direitosdepender de outros fatores que no so-mente o seu reconhecimento, como a capa-cidade de atendimento e de financiamento demanda apresentada. Diante destequadro, discute-se este processo deefetivao de direitos que, ao privilegiar cadavez mais a via judicial, rebate no descom-prometimento do Estado com o enfrenta-mento da questo social e na despolitizaoda esfera pblica. Esta conjuntura adversadesafia os assistentes sociais a fazeremsentido tico-poltico em suas respostasprofissionais s demandas de judicializaoda questo social que se apresentamcotidianamente ao Poder Judicirio.

    Palavras-chave: questo social, direitos,polticas pblicas, judicializao.

    AAAAA bstractbstractbstractbstractbstractAlthough the civilizing conquests of

    human rights are undeniable, theirrecognition and enactment have required,in addition to increasingly intense historicstruggles, the involvement of the JudicialBranch. The judicial treatment of socialissues overlaps the responsibilities of theJudiciary with other public institutions.Access to justice takes place, as a rule,individually and by a select group ofsubjects those who know how toaccess this legal channel. But the effectiveenactment of rights depends on otherfactors that include not only itsrecognition, but the capacity to attend toand finance the demand presented. Giventhis situation, this paper discusses theprocess of the effective enactment ofrights, which by increasingly emphasi-zing judicial channels, leads to a reducedcommitment of the State as a whole, toface social issues and toward the depoli-ticization of the public sphere. Thisadverse situation challenges socialassistants to take an ethical-politicaldirection in their professional responsesto the demands of judicialization of thesocial question that is presented daily tothe Judicial Branch.

    Key words: social question, rights, publicpolicies, judicial involvement.

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  • 2 02 02 02 02 0 Beatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastroBeatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastroBeatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastroBeatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastroBeatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastro

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    IntroduoIntroduoIntroduoIntroduoIntroduo

    E ste artigo tem como objetivo discutir a judi-cializao da questo social como uma ten-dncia, hoje em tela, na construo socialde respostas s desigualdades sociais e efetivao dedireitos humanos que reconhece, no Poder Judicirio, ainstitucionalidade privilegiada, no raro em detrimento deum compromisso mais efetivo do Estado e da esfera pbli-ca, em seu sentido mais amplo, para com as demandas dedireitos da populao. Para tanto, em um primeiro momen-to contextualiza-se o processo contraditrio de afirmaodos direitos na sociedade brasileira e, no momento seguin-te, discute-se as diferentes posies acerca da supervalo-rizao do Poder Judicirio no trato dos desdobramentosda questo social. Finalizando, so tematizadas as mudan-as processadas, por conta da Constituio Federal de 1988,na esfera judiciria. So questionadas as repercusses dacentralidade desta instncia estatal, carregada, muitas ve-zes, de autocracia e moralismo na gesto de conflitos e nasmediaes com a realidade concreta, analisando o quantosuas respostas individuais e focalizadas, a demandas queso coletivas e estruturais, reverberam em um imaginriocoletivo de concepo do Sistema de Justia quanto idiade acesso justia em seu sentido mais amplo. Este quadro analisado em suas repercusses enquanto desafios con-cretos competncia das respostas profissionais dos assis-tentes sociais que atuam junto ao Poder Judicirio.

    1 O desafio da af irmao dos direi tos na1 O desafio da af irmao dos direi tos na1 O desafio da af irmao dos direi tos na1 O desafio da af irmao dos direi tos na1 O desafio da af irmao dos direi tos nasociedade brasileirasociedade brasileirasociedade brasileirasociedade brasileirasociedade brasileira

    A luta pela conquista de direitos no Brasil tem seu marcono prprio movimento de ocupao deste solo por euro-peus e no processo de resistncia dos ndios que aqui vivi-am e, mais tarde, dos negros trazidos como escravos docontinente africano.

    Neste sentido, reflete Couto (2004, p.76):

    Os 500 anos de Brasil foram marcados por in-meras transformaes no que se refere tanto formao do Estado brasileiro como constitui-o da sociedade civil. Com caractersticas pecu-liares e permeadas de fatores que conformaram asociedade brasileira, os direitos [...] foram se cons-tituindo a partir de uma realidade histrica parti-cular, na qual transcorreram os perodos coloni-al, imperial, chegando ao republicano.

    Com o advento das constituies brasileiras, a partirde 1824, o Estado de Direito vai sendo conformado, in-corporando, ainda, as grandes convenes internacionais

    que traduzem as diferentes geraes de direitos, desde osdireitos civis, reconhecidos no sculo XVIII, passando pelosdireitos polticos, institudos no sculo XIX, pelos direitoseconmicos e sociais, datados do incio do sculo XX eculminando com os direitos de solidariedade, que surgemno final da primeira metade do sculo XX (RITT, 2002).

    Cabe ressaltar que o ano de 1988 constitui um impor-tante marco na afirmao dos direitos humanos para asociedade brasileira. Naquele ano ocorre a promulgaoda atual Constituio Federal, considerada, pelo seu pro-cesso de construo, assim como pelos seus avanos nocampo dos direitos humanos, como Constituio Cidad.

    Entretanto, no ano seguinte promulgao desta Cons-tituio, eleito presidente do Brasil Fernando Collor deMelo, candidatura esta forjada pelos interesses do grandecapital, tendo, a partir do Consenso de Washington, a in-cumbncia de introduzir no pas o iderio neoliberal.

    Assim fazendo, a partir de 1990, Collor coloca o Esta-do a servio das reformas ditadas pelo reordenamento docapital internacional, subvertendo e negando a lgica cons-titucional de defesa de direitos, alterando, inclusive, o seucontedo, sob o argumento de inscrever o Brasil na moder-nidade e no primeiro mundo, mesmo que sob o preo dafragilizao e desproteo social de sua populao, advin-das dos processos de desregulamentao, flexibilizao eprivatizao (NETTO, 1999).

    Neste sentido, as polticas sociais so operadas de for-ma fragmentada, focalizada e com nveis de financiamen-to que impedem a sua efetivao, tal como concebido noprocesso constituinte e na prpria Carta Magna.

    Mesmo aps o impeachement de Collor, a populaobrasileira, sobretudo os segmentos mais vulnerabilizadosdo ponto de vista socioeconmico, no logrou ver suasdemandas enfrentadas pelo Estado. Ao contrrio, o go-verno seguinte, de Fernando Henrique Cardoso, ao longode seus oito anos de mandato, procedeu viabilizaooperacional das recomendaes do Consenso de Washing-ton, alargando as bases do modelo neoliberal e globalizante.

    Conforme destaca NETTO (1999, p.79-80), a invia-bilizao da alternativa constitucional da construo deum Estado com amplas responsabilidades sociais, garan-tidor de direitos sociais universalizados, foi conduzida porFHC simultaneamente implementao do projeto polti-co do grande capital e acrescenta que

    [...] um projeto desta envergadura e significa-o, colidindo com a ordem constitucional e comas aspiraes da massa trabalhadora [...] s se-ria vivel se pensado num lapso temporal maislargo que o de um s mandato presidencial [...].Por isto mesmo, a questo da reeleio foi, noplano poltico, uma questo crucial: somente asegurana de poder disputar um segundo man-dato poderia garantir a consecuo do projeto.

  • 2 12 12 12 12 1Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .

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    Findo o governo de Fernando Henrique Cardoso, tem-se a eleio de um candidato que se apresentava comorepresentante dos interesses da maioria da populao bra-sileira, embora o conjunto de alianas forjadas, tendo emvista a conquista do poder, denunciasse a ausncia de umamaior coerncia com a base de onde partiu tal candidatura.

    Na atual conjuntura, no governo Lula, renovam-se osdesafios pela afirmao de direitos j que, sob a batuta docapital internacional, um sem fim de concesses so fei-tas a favor da reproduo infinita dos interesses de acu-mulao, em detrimento da garantia de condies de vidadigna maioria da populao brasileira.

    2 As demandas histricas por afirmao de2 As demandas histricas por afirmao de2 As demandas histricas por afirmao de2 As demandas histricas por afirmao de2 As demandas histricas por afirmao dedireitos: a centralidade do Poder Judiciriodireitos: a centralidade do Poder Judiciriodireitos: a centralidade do Poder Judiciriodireitos: a centralidade do Poder Judiciriodireitos: a centralidade do Poder Judicirioem questoem questoem questoem questoem questo

    Tendo por um lado a ampliao dos direitos positivadosna Constituio Federal de 1988, mas por outro, sua nega-o pelo Estado em dife-rentes instncias adminis-trativas, um novo fen-meno aparece na esferapblica aqui concebidacomo campo de disputade diferentes interessessociais, demandando no-vos padres de relaoentre o Estado e a socie-dade civil denominadopor juristas como judi-cializao dos conflitossociais ou, ainda, judicializao da poltica (VIANNA etal., 1999; SORJ, 2000; ESTEVES, 2005; MELO, 2005). Este fen-meno caracteriza-se pela transferncia, para o Poder Judi-cirio, da responsabilidade de promover o enfrentamento questo social, na perspectiva de efetivao dos direitoshumanos.

    Vianna et al. (1999, p. 42) refere que a sociedade ci-vil, especialmente os setores mais pobres e desprotegidos,depois da deslegitimao do Estado como instituio deproteo social, vm procurando encontrar no judicirioum lugar substitutivo, como nas aes pblicas e nosJuizados Especiais, para as suas expectativas de direitose de aquisio de cidadania.

    Nesta mesma direo, Esteves (2005, p.16), colocaque:

    Enfraquecidas as formas de reivindicao so-cial atravs do dilogo parlamentar possibili-tado pela cidadania poltica, atravs do qualse reconheceram direitos que foram positivadosmas no adquiriram eficcia, e da constatao

    de que, muitas das vezes, a prpria atividadegovernamental realizada pelo executivo queimpede a consolidao dos direitos sociais, asociedade passa a incumbir o judicirio na ta-refa de possibilitar a efetividade dos direitossociais e realizao da cidadania social.

    O autor antes citado defende ainda, utilizando Garapon(1999, p. 227-228), que se no sculo XIX, da ordem liberal,houvera uma preponderncia do legislativo, e no sculo XX,sob a gide da providncia, foi a vez do executivo, o sculoXXI caminha para ser o da supremacia do judicirio.

    A prpria Declarao de Viena, datada de 1993, emseu art. 27, determina que

    Qualquer Estado dever dispor de um quadroefetivo de solues para reparar injustias ouviolaes dos direitos humanos. A administra-o da justia, incluindo departamentos polici-ais e de promoo penal e, nomeadamente, a inde-

    pendncia do poder ju-dicial e estatuto dasprofisses forenses emtotal conformidade comas normas aplicveiscontidas em instrumen-tos internacionais de di-reitos humanos, so es-senciais para a concre-tizao plena e no dis-criminatria dos direi-tos do homem [...].

    Piovesan (2003, p. 149, 157), afirma que funda-mental adotar medidas para assegurar maiorjusticiabilidade e exigibilidade aos direitos econmicos,sociais e culturais e que a efetivao destes direitosno apenas uma obrigao moral dos Estados, masuma obrigao jurdica, que tem por fundamento os tra-tados internacionais de proteo, justificando sua de-fesa de que a pobreza constitui-se em uma violaodos direitos humanos.

    Reforando esta tese, Lima Jnior (2002, p. 658-659)afirma que:

    [...] a exigibilidade (inclusive enquantojusticiabilidade a possibilidade de exigir di-reitos face ao Poder Judicirio) , hoje, umimperativo na teoria e na prtica dos direitoshumanos. Afinal, as declaraes de direitos,as Constituies e as leis de um modo geraldeixam de possuir qualquer significao pr-tica se no tiverem a possibilidade de efetivaaplicao.

    ... as declaraes de direitos, as... as declaraes de direitos, as... as declaraes de direitos, as... as declaraes de direitos, as... as declaraes de direitos, as

    Constituies e as leis de um modoConstituies e as leis de um modoConstituies e as leis de um modoConstituies e as leis de um modoConstituies e as leis de um modo

    geral deixam de possuir qualquergeral deixam de possuir qualquergeral deixam de possuir qualquergeral deixam de possuir qualquergeral deixam de possuir qualquer

    significao prtica se no tiveremsignificao prtica se no tiveremsignificao prtica se no tiveremsignificao prtica se no tiveremsignificao prtica se no tiverem

    a possibilidade de efetiva aplicao.a possibilidade de efetiva aplicao.a possibilidade de efetiva aplicao.a possibilidade de efetiva aplicao.a possibilidade de efetiva aplicao.

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    KAKAKAKAKATLTLTLTLTLYSIS vYSIS vYSIS vYSIS vYSIS v. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26

    Entretanto, este autor (p.663) defende que o cami-nho legal no esgota as possibilidades de realizao dedireitos e que h outra forma que se impe efetivaodos direitos humanos, que dada pelas polticas pbli-cas. E falar em polticas pblicas falar em um movi-mento maior quele operado pelos trs poderes que com-pem o Estado. Pressupe falar em sociedade civil or-ganizada, em atores sociopolticos, que, na condio desujeitos histricos, buscam, atravs de um processo deluta, a construo de uma nova histria, de uma novasociedade, com justia.

    Reconhecendo a importncia do Poder Judicirio paraa garantia dos direitos individuais e coletivos, a discussoque ora proposta refere-se responsabilidade do Esta-do em responder as demandas colocadas pela questosocial, sem que haja um privilegiamento do Poder Judici-rio, em detrimento da responsabilizao inicial dos Pode-res Legislativo e Executivo, instncias fundamentais paraa normatizao, definio e execuo das polticas pbli-cas, que so os instrumentos de reconhecimento eviabilizao dos direitos. Mais ainda, sem coliso oudesconsiderao com os mecanismos histricos de con-trole social e de participao da sociedade organizada nagarantia de direitos.

    Sempre que houver o desrespeito aos direitospositivados, o Poder Judicirio tem, no somente a atri-buio legal, mas a obrigao tica de interpelar a institui-o que for, para que a lei seja cumprida. Entendemos,entretanto, que este ente estatal teria uma ao infinita-mente mais impactante e transformadora nas relaessociais se agisse na preveno dos conflitos sociais, de-tendo-se mais ao interesse coletivo do que ao despachode aes ingressadas, via de regra de forma individual epor um reduzido segmento da populao que conhece osseus direitos e possui condies de acessar o Sistema deJustia. Se, por um lado, comemora-se o ingresso de aesjudiciais que exigem a garantia de direitos, por outro, tem-se a realidade do esgotamento da capacidade de respostaa estas aes que tendem a ser, em larga escala, coinci-dentes, pelo Sistema de Justia.

    Esta, inclusive, a preocupao de Esteves (2005, p.14)quando considera que ou os magistrados assumem o pa-pel de guardies da Constituio e garantidores da cida-dania, ou no futuro, talvez prximo, o judicirio seja colo-cado no rol das instituies desacreditadas pela socieda-de e termine como pea de retrica e legitimadora da de-sigualdade social. Cabe questionar, todavia, se a formade assim faz-lo no poderia ser outra, aproximando-sedos demais poderes, comprometendo-os em sua respon-sabilidade, participando de diferentes fruns de constru-o e deliberao de polticas pblicas.

    Neste sentido e posicionando-se de forma contrria defesa da judicializao dos conflitos sociais, Melo (2005,p.1) coloca que

    A judicializao do pas traz um enorme preju-zo sociedade e enriquecimento da classe ju-rdica em face de conflitos infindveis que po-deriam ser resolvidos de outra forma. bvioque h o aspecto cultural, onde se confundeJudicirio com Justia, mas esta no pode sermonoplio de um grupo, todos podem fazer jus-tia, principalmente a conciliatria. O Executi-vo faz justia quando emprega bem as verbas,o Legislativo faz justia quando faz boas leis, oMinistrio Pblico tambm faz justia quandofiscaliza e no omisso, a igreja faz justia, aescola faz justia. E o Judicirio faz injustiatambm, quando realiza concursos sem critri-os de correo publicamente definidos, quan-do promove os que agradam a cpula, quandono participa da vida dos pobres, quando im-pede a fiscalizao da sociedade [...].

    O referido autor adverte que, para efetivar o mono-plio do judicirio, a sociedade impelida a crer que oacesso Justia apenas acesso ao Judicirio. Masacesso justia no apenas entrar tambm saircom a soluo definitiva. Assim, segundo ele, o que seveda ao cidado o exerccio violento do seu direito(MELO, 2005, p. 2).

    Outro aspecto desta judicializao, segundo este autor(p. 2-3), refere-se administrao do pas por instituiesjurdicas autocrticas e sem respaldo popular e acrescen-ta:

    [...] em geral decidem individualmente de acor-do com interesses pessoais e dizem estar fazen-do justia social, a melhor justia social apreventiva e feita com a participao do povo.A maioria dos juristas no sabe como obterum auxlio recluso, ou penso por morte ouuma assistncia social junto ao INSS, pois so-mente conhecem o processo judicial (MELO, 2005,p. 2-3).

    Nesta linha de argumentao, de que justia no sevincula diretamente ou necessariamente ao Poder Judici-rio, Melo (2005, p. 5) tambm afirma que

    [...] justia no pode ser monoplio dos juris-tas, principalmente dos prticos judicialistas.Justia democracia, e onde houver democra-cia haver justia, mas esta no romntica,pois democracia confronto [...]. Na verdade areforma jurdica ser feita por bem ou por mal, melhor que seja por bem e que a classe jurdi-ca participe deste momento, deixando o com-portamento de apenas interpretar as leis e pas-

  • 2 32 32 32 32 3Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .Jud ic ia l i zao da questo soc ia l : rebat imentos nos processos de traba lho dos . . .

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    sar a influenciar o legislativo para fazer boasleis, a funo do jurista muito mais nobre, no mero despachante judicial [...].

    E exatamente esta a concepo de Justia Socialque defendemos, apoiando-nos, ainda, em Aguiar (1995)que toma como pressuposto o fato de a regra fundamen-tal ser o conflito e a har-monia, ou seja, a exceo.Emergindo, assim, a ne-cessidade da justia serconcebida como um de-ver-ser respaldado nocompromisso com a cons-truo de uma ordem so-cial que garanta a cada umo direito que lhe devido(AGUIAR, 1995, p. 44),lastreado, segundo esteautor, na parcialidade.

    A construo da justia, nesta perspectiva, e na dequalquer segmento com ela comprometido, exige aformatao de um processo qualificado, que passa, ne-cessariamente, pelo aprofundamento do conhecimentoacerca da realidade, em uma perspectiva de totalidade.Tal desvelamento levar, possivelmente, tomada de cons-cincia do fenmeno ora, ou ainda, em curso, que se refe-re ao agravamento da questo social entendida porIamamoto (1999, p. 27), como

    [...] o conjunto das expresses das desigualda-des da sociedade capitalista madura, que temuma raiz comum: a produo social cada vezmais coletiva, o trabalho torna-se mais ampla-mente social, enquanto a apropriao dos seusfrutos mantm-se privada, monopolizada poruma parte da sociedade.

    Nesta perspectiva, conforme, com propriedade, coloca Melo(2005, p. 5-6), precisamos encontrar solues e no apenasidentificar problemas, sendo que a questo no apenas ju-rdica, mas tambm poltica e social, e transferir para o Po-der Judicirio a atribuio de responder aos desdobramen-tos da questo social pode ser positivo na medida em que afora da lei ser aplicada, entretanto, se esta prtica for ma-cia ser, possivelmente, ineficaz e injusta, pois privar dodireito queles que no recorrerem a esta esfera estatal.

    3 O Servio Social e a defesa dos direitos3 O Servio Social e a defesa dos direitos3 O Servio Social e a defesa dos direitos3 O Servio Social e a defesa dos direitos3 O Servio Social e a defesa dos direitoshumanos e da justia socialhumanos e da justia socialhumanos e da justia socialhumanos e da justia socialhumanos e da justia social

    A defesa de direitos humanos e de justia social tem sidohistoricamente construda pelo Servio Social e expressa atra-

    vs de seu Cdigo de tica Profissional, tendo a edio de1993 reafirmado, de forma veemente, esse compromisso.

    Conforme Paiva e Sales (1996, p.178),

    O Cdigo de tica de 1993, como o foi tambm ode 1986, no se pretende somente corporativo, mastenciona assegurar vnculos com as prioridades da

    sociedade. Dessa manei-ra, o atual Cdigo se pro-pe a estabelecer nexoscom essas prioridades,as quais vo estar bemexpressas por meio deprincpios e valores. Aperspectiva , ento, bus-car fortalecer uma claraidentidade profissionalarticulada com um pro-jeto de sociedade maisjusta e democrtica.

    Desta forma, o Cdigo de tica Profissional do Assis-tente Social, expressa em seu artigo segundo, a defesaintransigente dos direitos humanos e recusa do arbtrio edo autoritarismo.

    Para tanto, torna-se fundamental o entendimento de di-reitos humanos como universais, indivisveis, interdepen-dentes e inter-relacionados (consoante art. 5 da Declara-o de Viena1 , 1993). Implica reconhec-los como um con-junto de direitos civis, polticos, econmicos, sociais, cul-turais, incluindo tambm os direitos solidariedade, paz,ao desenvolvimento e a um ambiente sadio.

    Convm ressaltar que a busca pela efetivao destesdireitos implica em um processo de enfrentamento de in-teresses divergentes, fundamentalmente econmicos, quese processam nos mbitos nacional e internacional.

    J o quinto princpio do Cdigo de tica Profissionaldo Assistente Social expressa o posicionamento em fa-vor da eqidade e justia social, que assegure universali-dade de acesso aos bens e servios relativos aos progra-mas e polticas, bem como sua gesto democrtica.

    Paiva e Sales (1996, p.190), ao comentarem este prin-cpio, mais especificamente a questo da justia social,expressam que esta

    [...] fala da necessidade imperiosa de se atri-buir a cada um o que seu, no sentido do res-peito igualdade de direitos e aos indivduos.Ela tenta corrigir as insuficincias e problemasdecorrentes do modo de os homens se organi-zarem e produzirem a sua prpria vida. Logo,numa sociedade como a capitalista, a justiafigura sempre como um ideal a ser perseguido,cuja objetividade se assenta, de um lado, sobre

    A defesa de direitos humanosA defesa de direitos humanosA defesa de direitos humanosA defesa de direitos humanosA defesa de direitos humanos

    e de justia social tem sidoe de justia social tem sidoe de justia social tem sidoe de justia social tem sidoe de justia social tem sido

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  • 2 42 42 42 42 4 Beatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastroBeatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastroBeatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastroBeatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastroBeatr iz Gershenson Agu insky e Ec ler ia Huf f de A lencastro

    KAKAKAKAKATLTLTLTLTLYSIS vYSIS vYSIS vYSIS vYSIS v. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26. 9 n. 1 jan./jun. 2006 Florianpolis SC 19-26

    a legalidade, com todo o seu signo controver-so, e, de outro, sobre a igualdade.

    Portanto, justia constitui-se em um devir e um cam-po, por excelncia, para trabalhar a sua construo refe-re-se luta por direitos humanos, uma luta que, necessa-riamente se trava na esfera pblica e em uma dimensomaior que aquela expressa pelo Sistema de Justia. Jpara Aristteles, havia diferena entre o justo e o legal(lei escrita). A lei do eqitativo era superior, pois poderiacorrigir a prpria lei escrita (CAOVILLA, 2003, p.21).

    fundamental ter clareza de que o legal nem semprese associa ao justo e nem tampouco que o justo alcana-se meramente pela via legal. A ausncia de um Estadoque enfrente as desigualdades e a excluso social noter resposta milagrosa junto ao Poder Judicirio. Nes-te sentido, Fvero, Melo e Jorge (2005, p.33) afirmam:

    Em alguns espa-os do Poder Ju-dicirio, [...] fun-es sociais seexpressam maisn i t i d a m e n t e ,como aquelesnos quais trami-tam as aes re-lativas infn-cia, juventude,famlia e crimi-nais. Nessa rea-lidade, expresses da ausncia, insuficincia ouineficincia do poder Executivo na implementaode polticas sociais redistributivas euniversalizantes se escancaram, na medida em que,alm de litgios e demandas que requerem a inter-veno judicial, como regulamentao de guardade filhos, violncia domstica, adoo etc., cadavez mais se acentua uma demanda fora de lugarou uma judicializao da pobreza, que buscano judicirio soluo para situaes que, embo-ra se expressem particularmente, decorrem das ex-tremas condies de desigualdades sociais.

    Neste sentido, cabe ao profissional de Servio Socialprocurar desvelar o cenrio em que est inserido e o con-junto de projetos societrios que esto em jogo, desenvol-vendo uma postura e uma prxis que supere a tendncia,resultado do acmulo de demandas, da adoo de umtarefismo burocrtico, moralizante e que no enfrentaas condies que originam os processos judiciais. Proces-sos esses que, em grande medida, expressam particulari-dades da questo social, necessitando, conforme, Barro-co (2001, p.69), compreender o ethos profissional como

    um modo de ser construdo a partir das necessidades so-ciais e das demandas postas historicamente profisso enas respostas tico-morais dadas por ela nas vrias di-menses que compe a tica profissional.

    Finalmente, pode-se considerar que o potencial dematerializao do Projeto tico-Poltico Profissional dosassistentes sociais, no exerccio profissional junto ao Po-der Judicirio, guarda direta relao com o reconheci-mento das particularidades desta referncia institucionalcomo um espao de lutas de interesses distintos, subme-tido a critrios de legitimao que dizem de uma disputadas formas de se dizer (ou no dizer) tanto o Direito,quanto a sociedade. E o que est em luta neste campotem no ideal liberal da sociedade capitalista contempor-nea o hegemnico. Os mecanismos de legitimao desteiderio so ideolgicos e se materializam nas prticas jur-dicas por diferentes critrios, dentre eles critrios morais

    (AGUINSKY, 2003, p.270). O critrio do agirmoral que letigima o ide-al liberal na institucio-nalidade do Poder Judi-cirio o da legalidadeda moral (FLICKINGER,1995).

    Esse critrio tem umadupla face perversa:ao restringir a racio-nalidade do Direito (li-beral) a uma posio

    meramente organizadora do terreno do agirsocial por parmetros legais, constri uma apa-rente igualdade para a efetivao de interessessubjetivos [...]; mas isso se d base da abstra-o das desigualdades dos interesses em luta, eque dizem da mediao material-econmica davida social(AGUINSKY, 2003, p.271).

    Se o prprio da tica da legalidade da moral um ethosmoralizador da vida social pelo qual o Direito regula asrelaes sociais atravs de uma homogeneidade lgicanos conflitos e contradies, o que resulta que este ethosreproduz a vida social como particularidade em disjunoa possveis mediaes ao que, da questo social, o direitoliberal no diz, antes, abstrai (AGUINSKY, 2003).

    O que as prticas jurdicas convencionais fazem movi-mentar em represso contradio e ao conflito submeti-do deciso do Poder Judicirio, atravs da legalidade damoral, joga dialeticamente para inscrever a histria comopossibilidade do que falha nas prticas jurdicas. no co-rao desta falha que os assistentes sociais inscrevemseu exerccio profissional no campo jurdico. No centrodessa tenso dialtica que se desenham as possibilida-

    fundamental ter clareza de que fundamental ter clareza de que fundamental ter clareza de que fundamental ter clareza de que fundamental ter clareza de que

    o legal nem sempre se associao legal nem sempre se associao legal nem sempre se associao legal nem sempre se associao legal nem sempre se associa

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    des do assistente social tecer subverses no institudo des-sas prticas por gestos de interpretao da contradio,pondo-se a agir ao participar da interface do discurso jur-dico (AGUINSKY, 2003, p. 275) com uma perspectivaampliada de acesso e garantia de direitos.

    Dentre os desafios que se apresentam aos assistentessociais, atravs de uma leitura atenta desta realidade, quese apresenta no cotidiano de seu exerccio profissional noPoder Judicirio, destaca-se a necessidade de investimentono desenvolvimento de competncias em resposta judicializao da questo social. Argumenta-se a favor deuma competncia para o desenvolvimento de um trabalhointerdisciplinar, que se comprometa com a viabilizao dedireitos sociais invisveis jurisdio pela tica da legalida-de da moral. Vale dizer, competncias capazes de articularas demandas dos usurios dos servios jurdicos s polti-cas pblicas e universalizao de direitos em oposio aoque a reproduo do cotidiano como particularidade tendea transformar em problemas morais, defeitos individuais oucasos de boa vontade [...](AGUINSKY, 2003, p.275). Taiscompetncias so mediaes de sentido ao trabalho dosassistentes sociais ao se colocarem intencionalmente emum movimento de resistncia injuno potencialmentevioladora e opressiva dos mecanismos do direito, levada aefeito atravs do monoplio da coero pelo Estado.

    Consideraes finaisConsideraes finaisConsideraes finaisConsideraes finaisConsideraes finais

    O Poder Judicirio vive hoje um momento diferencia-do daquele que historicamente lhe foi atribudo. Se at hpouco menos de duas dcadas, seu papel era eminente-mente controlador e coercitivo, a partir da ConstituioFederal de 1988, com o avano, por um lado, no plano daconquista de direitos humanos e, por outro, com aresponsabilizao do Ministrio Pblico em garantir a de-fesa dos direitos de cidadania, o judicirio passa a ser cha-mado para responder a um conjunto de demandas sobreas quais no possua uma maior aproximao ou mesmovinculao, excetuando-se casos em que havia a opopessoal de determinados juristas.

    No entanto, a tendncia em curso de judicializao daquesto social, ao transferir para um poder estatal, no casoo Judicirio, a responsabilidade de atendimento, via de regraindividual, das demandas populares coletivas e estrutu-rais, nas quais se refratam as mudanas do mundo dotrabalho e as expresses do agravamento da questo so-cial ao invs de fortalecer a perspectiva de garantia dedireitos positivados, pode contribuir para a desresponsabi-lizao do Estado, sobretudo dos Poderes Legislativo eExecutivo, com a efetivao destes direitos, atravs daspolticas pblicas.

    Assim procedendo, cabe questionar se o que se estconstruindo a justia social em seu sentido amplo, atra-

    vs do acesso ao Poder Judicirio. Tal acesso no garan-te necessariamente a resoluo do problema, uma vez queh entraves que independem da boa vontade de operado-res de justia e que dizem respeito ao papel do Estado edo seu atrelamento aos interesses ditados pelo capital. Noanverso deste acesso, no havendo o enfrentamento des-te status quo, reproduz-se, em verdade, a injustia social.Isto porque a justia social se constri coletivamente, nointerior da esfera pblica, em um movimento contraditrioonde se encontram presentes diferentes interesses emdisputa pela direo da sociedade.

    Finalizando, no se trata de negar a importncia aoacesso justia em seu sentido estrito. Entretanto, impor-ta reconhecer que esta via no poder dar conta, sozinha,do enfrentamento questo social, que histrica e es-trutural, demandando um movimento maior que possui, junto esfera pblica, seu palco privilegiado de disputa. Destaforma, h que se empreender uma prxis de acesso justia em seu sentido amplo, sem uma anlise reducionistae ingnua de que a justia ser outorgada pelo Estado,como um ator neutro e comprometido com o bem comum.Este compromisso pertence sociedade, ou sua maio-ria. E os assistentes sociais que realizam seu processo detrabalho junto ao Poder Judicirio, alm de leitura atentadesta realidade, so desafiados a contribuir com o que, daesfera pblica, abstrado nas formas de operar e de res-ponder s prticas jurdicas convencionais.

    Recebido em 19.10.2005.Aprovado em 08.12.2005.

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    NotaNotaNotaNotaNota1 A Declarao de Viena est disponvel em: .

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