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Revista do Seminário dos Alunos do PPGLM/UFRJ, v. 5, n. 1, 2014. (ISSN: 2236-0204) https://seminarioppglm.wordpress.com/revista-do-seminario-dos-alunos-do-ppglm/ 128 JUÍZOS: KANT E FREGE Pablo Barbosa Santana da Silva 1 RESUMO: O presente texto aborda de forma comparativa as teorias do juízo de Kant e de Frege. Na primeira seção se observa o princípio de prioridade dos juízos sobre os conceitos de ambos os filósofos; na lógica tradicional primeiro se começa com a teoria da ideação, para depois se tratar da teoria do juízo e raciocínio, Kant e Frege subvertem essa ordem e tomam o juízo como a unidade lógica primitiva. A segunda seção trata da barra do juízo ἶἷ ἔὄἷgἷ ὀa “ἑὁὀcἷitὁgὄafia” ἷ ἷm “χὅ leis bὠὅicaὅ ἶa aὄitmética”, vlέ 1, além da distinção fregeana entre conteúdos judicáveis, conteúdos não judicáveis, e juízos. É feita, na terceira seção, uma comparação entre as concepções de conteúdo judicável e de juízo de Frege com os juízos problemáticos e juízos assertóricos (proposições) em Kant. A quarta seção trata da distinção fregeana entre conteúdo conceitual e o que ele chama de tom” ὁu iluminação”ΧBeleuchtungΨ, ὃuἷ ἔὄἷgἷ pὁὅtἷὄiὁὄmἷὀtἷ chamὁu ἶἷ “coloração(Färbung). Na quinta seção, a classificação dos juízos de Kant, sua tábua dos juízos é comparada à classificação fregeana ἶὁὅ juíὐὁὅ, §ἂ ἶa “ἑὁὀcἷitὁgὄafia”έ ἔiὀalmἷὀtἷ cὁὀcluímὁὅ ὀa última ὅἷὦὤὁ ὃuἷ mἷὅmὁ ἔὄἷgἷ ὅἷὀἶὁ um crítico de Kant, e estar frequentemente se opondo a ele, é possível encontrar diversas semelhanças entre a teoria do juízo de ambos, e mesmo com a grande originalidade da doutrina do juízo de Frege ele parece influenciado por Kant em alguns pontos. PALAVRAS-CHAVE: juízo, princípio de prioridade, barra do juízo, conteúdo judicável, proposição. ABSTRACT: This paper approches in a comparative form Kant's theory of judgment and Frege's theory of judgment. In the first section we observe the priority principle of judgements over concepts of both philosophers; the tradidional logic first begins with the theory of ideation, then it deals with the theory of judgement and finally it deals with the reasoning, Kant and Frege subvert that order and take juἶgmἷὀt aὅ thἷ pὄimitivἷ lὁgical uὀitέ ἦhἷ ὅἷcὁὀἶ ὅἷctiὁὀ ἶἷalὅ with thἷ ἔὄἷgἷ’ὅ judgement stroke in hiὅ “ἑὁὀcἷpt-ὅcὄipt” aὀἶ iὀ hiὅ “ἦhἷ ἐaὅic δawὅ ὁf χὄithmἷtic”, vlέ1, bἷὅiἶἷὅ ὁf ἔὄἷgἷaὀ’ὅ ἶiὅtiὀctiὁὀ between judgeable contents, unjudgeable contents, and judgments. It is made in the third section a cὁmpaὄiὅὁὀ bἷtwἷἷὀ thἷ ἔὄἷgἷ’ὅ cὁὀcἷptiὁὀὅ ὁf juἶgἷablἷ cὁὀtἷὀt aὀἶ judgment with assertoric judgments and problematic judgments (propositions) in Kant. The fourth section deals with Frege's ἶiὅtiὀctiὁὀ bἷtwἷἷὀ cὁὀcἷptual cὁὀtἷὀt aὀἶ what hἷ callὅ ὁf “tone” ὁὄ “lighting” ΧἐἷlἷuchtuὀgΨ that ἔὄἷgἷ latἷὄ callἷἶ “coloring” ΧἔäὄbuὀgΨέ Iὀ thἷ fifth ὅἷctiὁὀ, Kaὀt’ὅ claὅὅificatiὁὀ ὁf juἶgmἷὀtὅ, hiὅ tablἷ ὁf juἶgmἷὀtὅ iὅ cὁmpaὄἷἶ tὁ ἔὄἷgἷaὀ’ὅ claὅὅificatiὁὀ ὁf juἶgἷmἷὀtὅ, §ἂ ὁf “ἑὁὀcἷpt -ὅcὄipt”έ Finally we conclude in the last section that even Frege being a critic of Kant, and often be opposed to him, It is possible to find many similarities between the theory of judgment of both, and even with the gὄἷat ὁὄigiὀality ὁf ἔὄἷgἷ’ὅ ἶὁctὄiὀἷ ὁf juἶgmἷὀt hἷ ὅἷἷmὅ iὀfluἷὀcἷἶ by Kaὀt iὀ ὅὁmἷ pὁiὀtὅέ KEYWORDS: judgement, priority principle, judgement stroke, judgeable content, proposition. 1. A prioridade dos juízos: Kant e Frege Ao longo da história da lógica diversos filósofos e lógicos como Aristóteles, Ockham, Kant, Hegel, a Jevons et al mantiveram uma classificação da lógica intuitivamente atraente. A lógica tradicional era dividida em três partes, partindo dos elementos mais simples 1 Bacharel e licenciado em filosofia, UERJ, mestrando em filosofia, UFF.

Juízos Kant e Frege

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O presente texto aborda de forma comparativa as teorias do juízo de Kant e de Frege. Naprimeira seção se observa o princípio de prioridade dos juízos sobre os conceitos de ambos osfilósofos; na lógica tradicional primeiro se começa com a teoria da ideação, para depois se tratar dateoria do juízo e raciocínio, Kant e Frege subvertem essa ordem e tomam o juízo como a unidadelógica primitiva. A segunda seção trata da barra do juízo ἶἷΝἔὄἷgἷΝὀaΝ“ἑὁὀcἷitὁgὄafia” ἷΝἷmΝ“χὅ leisbὠὅicaὅΝ ἶaΝ aὄitmética”,Ν vlέΝ 1,Ν além da distinção fregeana entre conteúdos judicáveis, conteúdos nãojudicáveis, e juízos. É feita, na terceira seção, uma comparação entre as concepções de conteúdojudicável e de juízo de Frege com os juízos problemáticos e juízos assertóricos (proposições) em Kant.A quarta seção trata da distinção fregeana entre conteúdo conceitual e o que ele chama de “tom”ΝὁuΝ“iluminação”ΝΧBeleuchtungΨ,ΝὃuἷΝἔὄἷgἷΝpὁὅtἷὄiὁὄmἷὀtἷΝchamὁuΝἶἷΝ“coloração” (Färbung). Na quintaseção, a classificação dos juízos de Kant, sua tábua dos juízos é comparada à classificação fregeanaἶὁὅΝjuíὐὁὅ,Ν§ἂΝἶaΝ“ἑὁὀcἷitὁgὄafia”έΝἔiὀalmἷὀtἷΝcὁὀcluímὁὅΝὀaΝúltimaΝὅἷὦὤὁΝὃuἷΝmἷὅmὁΝἔὄἷgἷΝὅἷὀἶὁΝum crítico de Kant, e estar frequentemente se opondo a ele, é possível encontrar diversas semelhançasentre a teoria do juízo de ambos, e mesmo com a grande originalidade da doutrina do juízo de Fregeele parece influenciado por Kant em alguns pontos.

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  • Revista do Seminrio dos Alunos do PPGLM/UFRJ, v. 5, n. 1, 2014. (ISSN: 2236-0204)

    https://seminarioppglm.wordpress.com/revista-do-seminario-dos-alunos-do-ppglm/

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    JUZOS: KANT E FREGE

    Pablo Barbosa Santana da Silva1

    RESUMO: O presente texto aborda de forma comparativa as teorias do juzo de Kant e de Frege. Na primeira seo se observa o princpio de prioridade dos juzos sobre os conceitos de ambos os filsofos; na lgica tradicional primeiro se comea com a teoria da ideao, para depois se tratar da teoria do juzo e raciocnio, Kant e Frege subvertem essa ordem e tomam o juzo como a unidade lgica primitiva. A segunda seo trata da barra do juzo gacitgafia m leis bica a aitmtica, vl 1, alm da distino fregeana entre contedos judicveis, contedos no judicveis, e juzos. feita, na terceira seo, uma comparao entre as concepes de contedo judicvel e de juzo de Frege com os juzos problemticos e juzos assertricos (proposies) em Kant. A quarta seo trata da distino fregeana entre contedo conceitual e o que ele chama de tomuiluminaoBeleuchtung,ugptimtchamucolorao (Frbung). Na quinta seo, a classificao dos juzos de Kant, sua tbua dos juzos comparada classificao fregeana ju,acitgafiaialmtcclumaltimaummgum crtico de Kant, e estar frequentemente se opondo a ele, possvel encontrar diversas semelhanas entre a teoria do juzo de ambos, e mesmo com a grande originalidade da doutrina do juzo de Frege ele parece influenciado por Kant em alguns pontos. PALAVRAS-CHAVE: juzo, princpio de prioridade, barra do juzo, contedo judicvel, proposio. ABSTRACT: This paper approches in a comparative form Kant's theory of judgment and Frege's theory of judgment. In the first section we observe the priority principle of judgements over concepts of both philosophers; the tradidional logic first begins with the theory of ideation, then it deals with the theory of judgement and finally it deals with the reasoning, Kant and Frege subvert that order and take jugmtathpimitivlgicaluithcctialwiththg judgement stroke in hicpt-ciptaihihaicawfithmtic,vl1,bifgaitictibetween judgeable contents, unjudgeable contents, and judgments. It is made in the third section a cmpai btw th g ccpti f jugabl ctt a judgment with assertoric judgments and problematic judgments (propositions) in Kant. The fourth section deals with Frege's itictibtwccptualcttawhathcallftonelighting luchtug thatg lat call coloring bug I th fifth cti,Kat claificati f jugmt, hitabl f jugmt i cmpa t ga claificati f jugmt, f cpt-ciptFinally we conclude in the last section that even Frege being a critic of Kant, and often be opposed to him, It is possible to find many similarities between the theory of judgment of both, and even with the gatigialityfgctifjugmthmiflucbyKatimpit KEYWORDS: judgement, priority principle, judgement stroke, judgeable content, proposition.

    1. A prioridade dos juzos: Kant e Frege

    Ao longo da histria da lgica diversos filsofos e lgicos como Aristteles,

    Ockham, Kant, Hegel, a Jevons et al mantiveram uma classificao da lgica intuitivamente

    atraente. A lgica tradicional era dividida em trs partes, partindo dos elementos mais simples

    1 Bacharel e licenciado em filosofia, UERJ, mestrando em filosofia, UFF.

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    aos mais complexos, como: (1) doutrina dos termos, (2) doutrina das proposies e (3)

    doutrina dos silogismos. Assim, encontrada a seguinte composio do rganon aristotlico:

    as Categorias (conceitos); Da interpretao (juizos); e os Analticos anteriores e posteriores

    (argumentos). As proposies so construdas a partir de termos, e os argumentos so

    construdos a partir de proposies. E para compreender uma proposio necessrio que

    antes se compreenda os termos que a compem. De maneira anloga, para compreender um

    argumento necessrio compreender primeiro as proposies que compem o argumento.

    iattip,tat,tmificulamxplicauuumtmigifica

    u l ctibui paa igifica a ppi m u l c, 2 princpio de

    composicionalidade de Frege. Alm disso, as teorias do juzo tradicionais possuem ainda uma

    srie de problemas como a ameaa do solipsismo e a assimilao do sensorial ao intelectual.

    Na lgica tradicional, primeiro se comea pelo estudo dos termos para s depois se

    proceder anlise das proposies. E diviso tripartite lgico-lingustica vista acima ainda

    foi mantido que h uma diviso correspondente e paralela nas faculdades discursivas

    humanas. Neste esquema, a teoria do juzo era a segunda parte da epistemologia que lidava

    com as habilidades proposicionais humanas. E o juzo, tradicionalmente, era tido como um

    todo complexo construdo por elementos independentemente significantes; estes elementos

    amcmumt chama iia, , a,uccit Cf. BELL:

    op. cit., p. 3). As ideias (os componentes dos juzos) se originam no contato com a realidade

    sensorial. E os juzos so compostos de tais ideias, juzos so todos complexos construdos

    por ideias. Tradicionalmente, ento, os juzos so obtidos a partir da combinao de conceitos.

    Kant, apesar de herdeiro da lgica tradicional, d um novo significado concepo de juzo

    como combinao de conceitos, uma vez que para Kant a atividade de julgar determina a

    formao de conceitos auiajutitamtfalaatiaulau,a

    ab, ccit 3 Para Frege, os conceitos so obtidos a partir da decomposio do

    contedo de juzos. Assim como Kant, Frege tambm defende que a formao de conceitos

    advm de juzos. Frege destaca que diferente de Aristteles e Boole, sua lgica procede de

    juzos e no de conceitos. Para ambos, Frege e Kant, conceitos s se do no pensamento e no

    juzo e no independentemente. Kant entendia que toda conceitualizao se d apenas no

    2 Cf. BELL: 1979, p. 2. igial that what a tm ma i what it ctibut t th maig fppitiiwhichitccu 3 Cf.: LONGUENESSE: 2005, p. 101, nota 30.

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    nvel do pensamento e do juzo (A68/B93), e toda cognio mediada pela atividade de

    conceitualizao. De forma semelhante se observa na teoria do juzo de Frege que conceitos

    bticontedos de juzosbeurteuilbarer Inhalt) ou de pensamentos, e a atividade

    de pensar no pode ser separada do uso de conceitos.

    Diferente das teorias do juzo tradicionais, na teoria do juzo de Frege a ideao ou

    concepo no precede ou ocorre independentemente de juzos, o mesmo ocorre nas teorias

    do juzo de Kant e Wittgenstein. Os trs tm em comum que o juzo a atividade logicamente

    primitiva. Em uma passagem do texto pr-crtico, A falsa sutileza das quatro figuras

    silogsticas, Kat pa u t um ccit [] s possvel por um juzo (KANT:

    ,pumccitimplicachcalgcmumatacaatticauma

    ciai,pm,umjuKpcit,lccitauciaKatfaumactica

    lgica tradicional por tratar primeiro dos conceitos, depois dos juzos e, por ltimo, dos

    raciocnios. Como se conceitos precedessem juzos e raciocnios ou pudessem existir a

    pit l Ettat, Kat acua um vci a lgica, a mia m u la

    comumente tratada de modo a lidar com os conceitos [...] antes de juzos e silogismos, embora

    aul jam pvi p t K p cit, lc cit m p bva,

    conceitos para Kant s so possveis atravs de juzos e raciocnios. Na Crtica da razo pura,

    Kant afirma que conceitos so meramente predicados de juzos possveis e que o

    entendimento no pode fazer uso desses conceitos a no ser, por seu intermdio, formular

    juzos.K,[-9/B 93-4])

    Muitos intrpretes tm associado o princpio de prioridade dos juzos sobre os

    conceitos (ou simplesmente tese ou princpio de prioridade) de Kant ao de Frege. Para Bell

    (op. cit., pp. 4-5), o princpio de prioridade de Kant uma tese epistemolgica que tem uma

    contrapartida lingustica no princpio do contexto de Frege, a saber, o princpio que diz que:

    apactxtumappiapalavaigificamalgREE1,p.

    Bell tambm compara o princpio de prioridade de Frege ao de Kant. O princpio de

    prioridade constitui um constante fio condutor da lgica fregeana. E observvel em diversas

    passagens de seus escritos, como em uma carta de maio de 1882, escrita a Stumpf:

    ga acit u a fma ccit pa pcr

    juzos, porque isso pressupe que conceitos podem existir de forma

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    independente; preferencialmente, penso que conceitos emergem da

    cmpibakigupumctjuicvl4

    Na lgica de Frege, os juzos so a atividade logicamente primitiva. Por sua anlise

    lgica ser interessada na proposio completa (um clculo proposicional e de predicados), no

    h lugar para identificar um conceito que no esteja em relao com o pensamento expresso

    por uma proposio. Em diversos escritos a lgica fregeana toma como fio condutor que

    conceitos so obtidos mediante a decomposio (Zerfllung) de um possvel contedo de juzo

    ou de um contedo judicvel 5 (posteriormente pensamentos). O contedo judicvel no deve

    ser confundido com o juzo. Na Conceitografia g itigu t ct ju

    ucpapamalgxppumappicmumamacombinao

    de ideias Vorstellungsverbindung) e o reconhecimento de sua verdade. A expresso

    Vorstellungsverbindung ser abandonada por Frege por ele a reconhecer como uma

    xp piclgica g utilia, t, a xp Gedanke pamt paa

    descrever o contedo de um juzo.

    contedos judicveis chama pensamentos a tmilgia

    posterior de Frege ou de proposies na terminologia lgica usual. Deve-se observar que em

    seus primeiros escritos Frege ainda no havia distinguido entre o sentido e a referncia de

    proposies e de nomes prprios. Posteriormente, nas Grundgesetze v. 1, a noo de contedo

    proposicional ser dividida em sentido e referncia; e os valores de verdade, o verdadeiro e o

    falso, sero tomados como a referncia das proposies. A concepo de juzo de Frege, que

    exposta primeiramente na Conceitografia, designa nos seus textos posteriores a 1891 sempre

    o ato mental de reconhecimento da verdade de um pensamento. 6 Durante toda a carreira,

    Frege manter a distino entre o contedo de um juzo e o juzo. Em seus textos de

    maturidade esta distino constituir a diferena entre pensar (apreender um pensamento) e

    julgar (reconhecer a verdade desse pensamento).

    4 FREGE (Wissenschaftlicher Briefwechsel. 164). puEpcit,pigialwItblivthat the formation of concepts can preced judgement, because that presupposes that concepts can exist independently; rather, I think that concepts emerge from the breaking up of a possible conttfjugmt 5 tm beurteilbarer Inhalt ctuma taui p ct juicvl, m igl galmt tauipjudgeable contentmpahlpcontenido enjuiciableuta taualtativa jutiliaa ct um ju pvl, ct ppicial tc tau bailia aConceitografia lcfa,WylliuatfREE1a,ptautiliacontedo asservelpaabeurteilbarer Inhalt,mput tmapacu fcitaaa tauutiliactjuicvllugacontedo asservel 6 Cf.: FREGE: 1964, p. 38, (5) e SCHIRN: 1992, p. 32.

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    2. A barra do juzo de Frege

    Na primeira parte da conceitografia, intitulada definio dos smbolos, depois de

    fazer uma distino fundamental entre letras (ou variveis) e constantes (1), Frege introduz

    sua concepo de juzo. As letras so, na conceitografia, entendidas como sinais que podem

    significar diversas coisas, dependendo do juzo em que se encontram. Elas representam um

    nmero que est indeterminado ou uma funutitmiaautiliaapaa

    xpaavaliauivalppiREEop. cit., p. 59) como as letras a, b e c

    em: (a+b)c = ac + bc. Por sua vez, as constantes so sinais que tm um significado prprio, ou

    um sentido totalmente determinado im, cm a guit ctat a aitmtica

    +,-,,ua lgica,A nova e primeira teoria do juzo de Frege

    exposta a partir do (2) da Conceitografia com a introduo da barra do juzo. Na

    Conceitografia, ju mp xp pl mbl lgic |, u cmpt

    tactpltaju|gtmajuativcmafmaessencial de juzo, sua barra vertical expressa indistintamente um juzo e uma assero.

    Assim, julgar uma proposio qualquer p equivale linguisticamente a afirmar que p

    o caso, que Frege distingue de conceber p (seu contedo judicvel) como uma mera

    combinao de ideias sem reconhecer sua verdade. Posteriormente, Frege distinguir entre um

    pensamento e um juzo. Nas Grundgezetse v. 1 Frege define um pensamento cmti

    um m um val va REE 1, p , , uat juzo

    chcimt a va um pamt REE, p cit, p Na

    Conceitografia, Frege faz a seguinte distino entre contedo judicvel e juzo:

    Um juzo sempre ser expresso por meio do sinal | que se coloca

    esquerda dos sinais, ou combinaes de sinais, que indicam contedo

    de juzo. Caso se omita o pequeno trao vertical que se encontra

    esquerda do horizontal, o juzo se transforma em uma mera

    combinao de ideias (blosse Vorstellungsverbindung), combinao

    esta que no expressa se aquele que a escreveu a reconhece ou no

    como verdadeira. (FREGE: op. cit., p. 59).

    O contedo de um juzo possvel difere do juzo que o reconhecimento da verdade

    de um contedo judicativo. Os contedos judicativos que se transformam em um juzo so

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    expressos da seguinte forma: | AuiAumaltaggamaicula (alfa), e no latina,

    e um sinal que indica o contedo especfico de um juzo que deve ser um contedo judicvel

    ou o contedo de um juzo possvel. A noo de contedo judicvel (Beurteilbarer Inhalt) o

    grmen da ulterior distino fregeana entre sentido e referncia e se tornou suprflua com esta

    distino. No incio das Grungesetze v. 1,7 Frege, baseado na sua distino entre sentido e

    referncia, afirma que dividiu o que ele chamava de contedo judicvel na Begriffsschrift em

    pensamento (o sentido de uma proposio assertiva) e valor de verdade (o referente de uma

    proposio assertiva). A noo de contedo judicvel, no entanto, est mais prxima do que

    foi posteriormente chamado de pensamento. 8 O contedo judicvel o contedo que pode ser

    julgado ou o que expresso em uma sentena assertiva, uma proposio ou pensamento.

    Na Conceitografia, a representao de um contedo que pode se tornar um juzo, um

    ctppicial,mppcipltahitalutact

    A, u p paafaa, cm g ug, p a cicutcia u u a

    ppi u ta ct a Conceitografia s pode ser prefixado a

    contedos proposicionais, ou contedos judicveis, ele unifica o contedo em um todo. No

    caso em que somente o trao de contedo prefixado a contedos proposicionais ( A, B,

    , ...), sem o trao de juzo, isto indica que estes contedos proposicionais so

    pavi a, ma u aia fam ai im + iica a

    cicutaciau+uappiu+m,ctu,afimaaua

    verdade ou asserir a proposio. Algum pode pensar em algo expresso por uma proposio

    como uma mera combinao de ideias, sem, contudo, a reconhecer como verdade. Se um

    contedo proposicional reconhecido como verdadeiro, o trao de juzo , ento, prefixado ao

    trao de contedo.

    Frege distingue ainda, na Conceitografia, entre contedos judicveis ou contedos de

    juzos possveis e contedos no judicveis que so contedos que no podem se tornar

    juzos. Apenas proposies em que um contedo judicvel expresso podem se tornar juzos

    quando o trao de contedo prefixado. Desse modo, pode-iu +, 1

    tcctjuicvi,ma caa, tcctjuicvi

    Posteriormente, nas Grundgesetze v.1 (Cf.: 5, pp. 37-9), Frege dir que o trao de contedo

    7 Cf.: FREGE: 1964, p. 38, 5, nota 14. 8 Cf.: SCHIRN: 1992, p. 32 e ROSADO: 2006, p. 77.

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    ,upaaachamahital,aplicvlacontedos judicveis

    como na Begriffsschrift, mas tambm a contedos no judicveis. Ser acrescentado ainda nas

    Grundgesetze v. 1 que o trao horizontal o nome de uma funo de um argumento cujo

    valor sempre um valor de verdade.

    ial,aGrundgesetze, entendido como um termo conceitual ou um nome

    paaumccitguamblial paaigaumccito, que uma

    fucmumagumtcujvalmpumvalva,apau

    ummfucialutaumbjtuumagumtpaaumccitccit

    if tambm uma la p t mt um luga-argumento, enquanto Frege

    define uma relao como uma funo de dois lugares-argumento cujo valor sempre um

    valva, cm , gp,t,fiicta lamatmtica

    pmipuamtlgic,cm , , ,ucsso numrica, e relaes

    ivaumafuualu A,Bvlia,Atala , cmB

    Nas Grundgesetze v. 1 um termo conceitual quando aplicado a um argumento que

    favaitmvaicmvalEuao qualquer outro argumento

    aplicaal,uvalfalm,uaagumt fiaval

    verdadeiro, tvaicmftagumt2 tmcmft

    vai,lg 22 tambmtmvaicmftEuat2

    tmcmftfal,aalgamt 22 tambmtmfalcmftE

    termos que na Conceitografia no deveriam receber o trao horizontal, por serem contedos

    no judicveis, ou contedos que no tm um valor de verdade na linguagem natural, nas

    Grundgesetze ciacmtcmftfal,aim , caa

    etc. tm como referente o falso. Entretanto, como vimos, s o horizontal no indica uma

    assero, assim como uma equacm+ fGrundgesetze v. 1, 5) tambm

    no, eles meramente designam um valor de verdade, ou um pensamento, sem, entretanto,

    reconhecer sua verdade. Apenas quando a barra de juzo vem antes de um valor de verdade

    este asserido.

    Na Conceitografia, diferente dos contedos judicveis ainda no asseridos, os

    contedos judicveis que so asseridos tm o trao de contedo precedido pelo trao de juzo.

    m, | A iga um ju u u um ct ppicial ai

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    Tomando o exemplo de Frege na Conceitografia , bva u | A iga um

    juzo cmuplmagticatam,uat Aiicaa circunstancia de

    que plmagtic atam pimi ca, ct ppicial ai,

    enquanto no segundo caso no. A funo do trao de juzo indicar assero. O juzo de que

    | pl magtic atam p li cm a cicutcia u plos

    magticatamumfat9 (Begriffsschrift juu| polos magnticos

    atam,| a,xpimua cai sob F,uat aapaxpauF a

    mchcuava,umxpimiacicutciauaumfata

    Grundgesetze v1,umjucm|+iicachcimtavaum

    pensamento, nesse caso especfico um juzo cujo valor de verdade o verdadeiro.

    Frege afirma, no 3 da Conceitografia, que a distino entre sujeito e predicado de

    pucalvciapaaalgica,tammaafimauigcmplx|

    icpicacmumatjuEmumappicmuimmua

    cuitaiacuaxpaiaaliguagmccitgficacmmtvilta

    uimacuitaiacuaumfatppipatitiguiam

    sujeito e predicado, entretanto todo o seu contedo expresso no sujeito, enquanto o

    pica um fat apa tafma cntedo em um juzo. Em suas obras de

    matuiaalabaavalva,aivpicaumfat,

    gutiliapicavambpica,umfatva,

    acrescentam nada a um contedo proposicional, apenas reiteram sua afirmao.

    3. A barra do juzo de Frege e os juzos problemticos e assertricos em

    Kant

    A distino estabelecida nos primeiros escritos de Frege entre contedo judicvel e

    juzo, que so representados respectivamente poutactpuabaa

    ju |, maifta alguma mlhaa cm a iti katiaa t ju

    9 ulliva bva u paa fatia u uma a aia fi fita, g utilia mbl observa ulppaafaaplamialiaacicutciauappiupau| precisaria incorporar um verbo (verb-phappaafaapacicutciaque um fat f a Conceitografia). Sullivan comenta ainda que essas leituras so meramente sugestivas. (Cf.: SULLIVAN: 2004, p. 663).

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    problemticos e assertricos. Na Crtica da razo pura, Kant considera que todos os juzos

    caem em algum dos quatro ttulos que quanto forma lgica so classificados segundo a

    quantidade, qualidade, relao e modalidade. A modalidade constitui para Kant uma funo

    bem particular dos juzos por (diferente da quantidade, qualidade e relao) no afetar o

    ct ju, ma val a cpula m la a pamt m gal

    B100). Na Lgica de Jshe, Kant diz o seguinte sobre o ttulo da modalidade:

    Segundo a modalidade (Modalitt) por cujo momento se determina

    a relao do juzo inteiro com a faculdade do conhecimento , os

    juzos so ou problemticos (problematische), ou assertivos

    (assertorische), ou apodticos (apodiktische). Os problemticos so

    acompanhados da conscincia da mera possibilidade de julgar

    (Mglichkeit); os assertivos, da conscincia da realidade de julgar

    (Wirklichkeit); os apodticos, enfim, da conscincia da necessidade

    de julgar (Nothwendigkeit). (KANT: 2003 c, Ak 108, p. 215)

    Os juzos problemticos so juzos em que (S possivelmente P), ou juzos em que a

    afirmao ou negao meramente possvel (arbitrria). Nele, ainda nada est decidido sobre

    a sua verdade ou falsidade. O juzo assertrico, por sua vez, um juzo em que (S

    efetivamente P); no juzo assertrico, o valor de verdade, a afirmao e a negao,

    considerada como real (verdadeiro). O juzo assertrico tem, ento, um valor de verdade

    determinado. Por fim, o juzo apodtico (S necessariamente P) um juzo em que o valor de

    verdade tomado como necessrio (Cf. KANT: 2008, [A74-5/ B100]). Na Lgica de Jsche

    Kant d os seguintes exemplos das diferenas entre os juzos problemticos, assertricos e

    apodticos:

    Esse momento da modalidade indica, portanto, somente a espcie e o

    modo como algo afirmado ou negado no juzo: ou que nada se

    estabelece a respeito da verdade ou da no-verdade de um juzo, caso

    do juzo problemtico a alma do homem pode ser imortal; ou que se

    determina algo a respeito, como no juzo assertivo a alma do homem

    imortal; ou se exprime enfim a verdade de um juzo com a

    dignidade da necessidade, como no juzo apodtico a alma do homem

    deve (muss) ser imortal. (KANT, Op. cit., Ak 108-9, p. 215-7)

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    Depois desses exemplos, Kant afirma que a diferena entre juzos e proposies

    pua a iti t ju pblmtic atic ju, a la a

    diversas representaes com a unidade da conscincia pensada como meramente

    pblmticaLgica, Ak 109, p. 217). Kant argumenta que, antes de ter uma proposio,

    importante julgar problematicamente. s quando o juzo assertrico que Kant o chama de

    proposio. importante notar que Frege inverte a terminologia kantiana (Cf.:

    LONGUENESSE: 2005, p. 114-5 nota 48) e chama o contedo judicvel (beurteilbarer

    Inhalt,uuxppltact,proposio; ao passo que o juzo

    o contedo judicvel asserido,uuxpplabaaju|Emumtxt

    de 1906 (Introduo lgica) de seus escritos pstumos, Frege diz algo significativo que

    iica ua ifa tmilgica cm Kat, l afima guit Uso a palavra

    pensamento aproximadamente do mesmo modo que os lgicos usam juzo.10 Kant s usa o

    termo proposio a juzos assertricos, enquanto Frege diz na conceitografia (2) que o trao

    ct,umlhatajupblmticmKat,ppaafaapa

    ppiuEuatumjupaaKatcialmtpblmtic,paag

    assertrico. Na Lgica de Jsche, Kant diz o seguinte sobre a diferena entre um juzo e uma

    proposio:

    Sobre a diferena entre juzos problemticos e juzos assertivos

    repousa a verdadeira diferena entre juzos e proposies (Urtheilen

    und Stzen), que de costume se diz residir na mera expresso, sem a

    qual no seria possvel julgar de forma alguma. Nos juzos, a relao

    10 FREGE: 1979, p. 200 (Phostumous Writings). I use the word thought in roughly the same way as logicians use judgement. Frege diz que entende por pensamento aproximadamente o que os lgicos chamam de juzo, uma formulao bem parecida com a concepo kantiana de juzo. Mais adiante Frege diz o seguinte sobre a diferena entre um pensamento e um juzo. FREGE (idem): acmpumpamtUmav que compreendemos um pensamento, podemos reconhec-lo como verdadeiro (fazer um juzo) e dar expresso achcimtuavafaumaaigialTo think is to grasp a thought. Once we have grasped a thought, we can recognize it as true (make a judgement) and give expression to our recognition of its truth (make an assertion).aag,pamt,ui pitvacitficauinteresse da lgica, seguem sempre o princpio de tertium non datur, eles so sempre sentenas verdadeiras ou falsas. Frege ainda distingue a lgica do mito e da fico onde ocorrem pensamentos que no tm valor de verdade que no so nem verdadeiros nem falsos. Frege (1979, p. 197, Phostumous Writings) diz em Um breve exame das minhas doutrinas lgicaspamtmticaficcumvainem falsos. A lgica no tem nada a ver com estes. Na lgica vlido (holds good) que todo pensamento verdadeiro ou falso, tertium non daturNo original: In myth and fiction thoughts occur that are neither true nor false. Logic has nothing to do with these. In logic it holds good that every thought is either true or false, tertium non datur.

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    das diversas representaes com a unidade da conscincia pensada

    como meramente problemtica; numa proposio, entretanto, como

    assertiva. Uma proposio problemtica uma contradictio in

    adjecto. Antes de ter uma proposio, tenho de julgar e julgo sobre

    muita coisa que no assiro (estabeleo, ausmache), o que tenho de

    fazer, no entanto, assim que determino um juzo como proposio.

    Alis, bom julgar primeiro problematicamente, antes de admitir o

    juzo como assertivo, pois a maneira de o pr prova. Alm de que,

    nem sempre necessrio, para nosso propsito, possuir juzos

    assertivos. (KANT, Op. cit., Ak 108-9, p. 217)

    Em seu livro Origins of Analityc Philosophy: Kant and Frege, Reed comete alguns

    erros importantes de interpretao da distino kantiana entre juzos e proposies. Parece que

    ele influenciado por uma leitura fregeana da concepo de Kant de proposio sem,

    entretanto, ter observado a diferena terminolgica entre ambos. Reed afirma o seguinte:

    Kant afirma que a diferena entre uma proposio e um juzo repousa

    na diferena entre um juzo problemtico e um juzo assertrico. Uma

    proposio um juzo cujo valor de verdade tem ainda de ser

    determinado. Em outras palavras, uma proposio um juzo

    problemtico. Uma vez que uma proposio pensada ser verdadeira,

    ela se torna um juzo assertrico. Ela tem um valor de verdade. 11

    Reed afirma que para Kant uma proposio um juzo problemtico, ou que ainda

    no tem um valor de verdade determinado, e quando esse valor de verdade determinado, ou

    ela pensada como verdadeira, passa a ser um juzo assertrico. Entretanto, Kant reserva o

    tm ppi mt a ju assertricos e no a juzos problemticos. O que

    caracteriza incialmente um juzo para Kant que ele problemtico, s quando o juzo

    assertrico que Kant o chama de proposio. Como vimos, neste ponto Kant difere de Frege

    para quem um contedo judicvel ou uma proposio tomada como problemtica, ao passo

    que um juzo sempre assertrico. A diferena fica explcita na Lgica de Jsche quando

    Kat afima u ju, a la a iva pta cm a uia a 11 Cf.: REED: 2007, pp. 44-5. No original: Kant claims that the difference between a proposition and a judgement rests upon the difference between a problematic and an assertoric judgement. A proposition is a judgement whose truth-value has yet to be determined. In other words a proposition is a problematic judgement. Once a proposition is thought to be true, it becomes an assertoric judgement. It has a truth-value.

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    conscincia pensada como meramente problemtica; numa proposio, entretanto, como

    ativa Ak 108-9) 12 Kat afima aia u uma ppi pblmtica uma

    contradictio in adjecto im tat, afima cm R u paa Kat uma

    proposio um juzo problemticcmtumactaitujitajtiv

    tal como afirmar que existem crculos quadrados ou tringulos redondos.

    4. Contedo conceitual

    A anlise tradicional do juzo segue a gramtica e baseada na distino entre sujeito

    e predicado (S P) que Frege abandona na Conceitografia por considerar que a gramtica no

    expressa de forma adequada relaes lgicas. Frege pensava que a linguagem natural no era

    adequada para expressar tais relaes o que o impulsionou a desenvolver sua linguagem

    conceitogrfica, principalmente para dar um tratamento adequado s proposies

    matemticas. No 3 da Conceitografia, Frege observa que partindo da anlise tradicional,

    ua ppi cm 1 gg taam pa pa fam

    ta pl gg, a pimia a v ativa a gua a v paiva, amba tm

    sujeitos e predicados iftujit1ggpicataam

    pa,uatumujitpapicafamtapl

    gg Eta ua ppi ifm tiliticamt, u uat a u g vi a

    chamar tom ou iluminao (Beleuchtung). Frege usou tambm posteriormente a palavra

    colorao (Frbung) que difere do contedo conceitual por no ser um elemento logicamente

    importante no contedo de uma expresso (Cf.: DUMMETT: 1973, p. 1-7 e 1981, p. 298).

    Proposies podem diferir em seu tom quanto s reaes emocionais ou associaes

    psicolgicas, entretanto, isto no relevante para o contedo de uma proposio no que diz

    respeito ao interesse da lgica. A parte do contedo que interessa lgica ou que

    logicamente relevante no contedo de uma expresso Frege chama na Begriffsschrift de

    contedo conceitual.

    Frege no esclarece muito sua noo de contedo conceitual (begrifflichen Inhalt),

    que desaparece do vocabulrio fregeano posterior a 1890 com a distino entre sentido e

    12 Sobre isso ver tambm Longuenesse (2005, pp. 97-8 nota 26 e pp. 114-5 nota 48).

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    referncia. O contedo conceitual aquela parte do contedo de uma proposio que

    relevante para a conceitografia, e se distingue de outros elementos do contedo que no so

    relevantes para consequncias lgicas ou necessrios em uma inferncia. Para Dummett, a

    bva Frege de que apenas o contedo conceitual relevante para as possveis

    consequncias de um juzo [...] totalmente consoante com a ideia de que ele dado por sua

    ci va 13 Na Conceitografia (3), Frege diz que o contedo de dois juzos

    pode diferir de duas maneiras:

    primeiro, pode-se dar que [todas] as consequncias derivveis do

    primeiro juzo, quando este combinado com outros juzos

    determinados, tambm possam sempre ser derivados do segundo

    juzo, quando combinado com esses mesmos juzos; segundo, pode-se

    dar que no seja esse o caso. (FREGE: op. cit., p. 60)

    No primeiro caso, em que se tm dois juzos dos quais se seguem as mesmas

    cclu lgica, cm xmpl a ppi 1 , g chama a pat

    contedo que a mesma em ambas [as proposies], [...] de contedo conceitual. J que s

    ttmigificapaaaccitgafia,lipciaituiualuiti

    tppiuthammmctccitualimppi1

    ggtaampapafamtaplggifmuat

    ao primeiro modo que Frege destaca. Elas tm o mesmo contedo conceitual, o que quer dizer

    que so idnticas do ponto de vista lgico, apesar de no serem estilisticamente ou

    gramaticalmente idnticas.

    5. Classificao dos juzos na Begriffsschrift

    Frege em sua classificao dos juzos bastante original quando comparado

    classificao dos juzos da lgica tradicional ou mais propriamente a classificao Kantiana.

    No 4 da Begriffsschrift, lxamiaigificaaitiu[]vmfita

    t ju p cit, p1 Eta iti notadamente s da tbua dos juzos

    kantiana que, como observa Longuenesse (2005, p. 113), tinha se tornado clssica poca de

    Frege. A distino entre juzos universais e juzos particulares, os dois primeiros ttulos 13 DUMMETT 11,p1igialgmakthatlythccptualcttilvattthpossible consequences of a judgement is [...] wholly consonante with the idea that it is given by the condition of ittuth

    http://www.sinonimos.com.br/notadamente/

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    kantianos da quantidade, mantida, enquanto os juzos singulares no. Para Frege, a distino

    entre juzos universais e particulares, no entanto, uma distino entre contedos judicveis,

    e no propriamente entre juzos; pois ela afeta o contedo de proposies mesmo antes de elas

    serem asseridas ou reconhecidas como um juzo. O mesmo vale para o ttulo da qualidade,

    tanto a afirmao quanto a negao versam sobre o contedo, este sendo reconhecido ou no

    como um juzo. Os juzos infinitos so descartados.

    Egafimauaitijumcatgic,hiptticijuntos s

    tm igifica gamatical im m a ualu xplica b i tat, a

    partir das duas constantes lgicas primitivas da Begriffsschrift (Cf.: 7), o condicional e a

    negao, Frege define tanto a disjuno inclusiva quanto a disjuno exclusiva; ele mostra

    que h uma equivalncia entre proposies hipotticas e disjuntivas de modo que elas so

    interdefinveis. Kant no aceitaria isso, ele defende que juzos hipotticos e disjuntivos so

    distintos atos lgicos do entendimento. Por fim, dos ttulos da modalidade Frege descarta os

    juzos apodticos, e a diferena entre o que Kant chama juzos problemticos e assertricos

    constitui propriamente a diferena entre uma proposio, que expressa pelo trao de

    contedo, e um juzo, que expresso pelo trao de juzo.

    Os juzos assertricos e apodticos para Frege diferem por conta do juzo apodtico

    poder ser derivado de um juzo universal tomado como premissa, enquanto o juzo assertrico

    no possui essa propriedade. Como a necessidade expressa em um juzo assertrico no afeta

    contedo conceitual do juzo p cit, p ,g cia m lvciapaa a

    conceitografia. Em relao a uma ppi aptaa cm pvl im, g

    afirma que h duas possibilidades. Ou o locutor indica desconhecer a proposio cuja negao

    segue de uma lei universal no conhecida, est suspendendo o juzo, ou ele exprime que a

    negao universal da proposio falsa. Longuenesse (op. cit., p. 114) afirma que mesmo

    esta ltima caracterizao fregeana diferindo da de Kant a respeito dos juzos problemticos,

    como componentes em juzos hipotticos e disjuntivos, a viso de Frege similar a de Kant e

    parece inspirada por ela. Para Kant, como foi visto, a modalidade dos juzos no diz respeito

    ao contedo de nenhum juzo individual, mas somente sua relao com a unidade do

    pensamento em geral.

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    Longuenesse (idem) observa que Frege mantm os seguintes juzos da tbua

    kantiana: os dois primeiros ttulos da quantidade, os dois primeiros ttulos da qualidade, e o

    segundo ttulo da modalidade que a assero expressa pela barra de juzo (judgement

    stroke). A estes juzos se adiciona ainda o operador fregeano de condicionalidade que pode

    ser pensado como tendo uma semelhana parcial com o juzo hipottico de Kant, mesmo

    Frege deixando claro que eles so diferentes. Deve-se observar, entretanto, como chama a

    ateno Longuenesse, que a abordagem seletiva da tbua dos juzos kantiana constitui uma

    reformulao drstica das formas das proposies que so mantidas na conceitografia, isso

    tanto no condicional, na expresso de generalidade, como na assero expressa pela barra do

    juzo.

    6. Concluso

    No presente texto foi feito um exame das teorias do juzo de Kant e de Frege de

    modo a observar as semelhanas e diferenas das teorias de ambos. Como foi examinado,

    Kant e Frege concordam que juzos determinam a formao de conceitos; para os dois

    filsofos juzos so logicamente primitivos, e isto significa que, diferente do que defendido

    na lgica tradicional aristotlica, a ideao ou concepo no precede ou ocorre

    independentemente, mas sempre em um contexto judicativo. Alguns autores como Bell

    (1979) e Sluga (1980) defendem que a tese de prioridade dos juzos de Frege pode ser

    derivada da de Kant, embora este assunto no tenha sido desenvolvido nesse artigo, o autor

    pensa que os princpios de ambos so substancialmente diferentes; essa discusso, no

    obstante, tema para outro texto.

    Foi observado ainda que a distino kantiana entre juzos problemticos e

    assertricos,pctivamtaifatuKatchamajuppi,

    possui uma semelhana parcial com a distino estabelecida nos primeiros escritos de Frege

    entre contedo judicvel (expresso pelo tact) e juzo (expresso pela barra

    de ju|g,btat, ivtatmilgiakatiaatppi

    cmpblmticajucm assertrico.

    Outro ponto que destacado no presente texto que a lgica fregeana tem como

    inovao fundamental o abandono da distino sujeito-predicado que substituda pela

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    distino funo-argumento. Frege diverge neste ponto de Kant e da lgica tradicional e sua

    inovao garante maior poder de expresso sua lgica.

    Por fim, se observa o 4 da conceitografia em que Frege examina as distines que

    devem ser feitas entre os juzos e que so relevantes para a lgica. Embora Frege no

    mencione Kant nessa seo da Conceitografia ele est claramente discutindo a tbua do juzo

    kantiana que em sua poca tinha se tornado clssica. Kant havia mantido que os juzos se

    dividem em quatro ttulos (1. quantidade, 2. qualidade, 3. relao e 4. modalidade) quanto

    forma lgica, algumas das distines feitas por Kant so consideradas por Frege como

    desnecessrias para a lgica e so descartadas por ele. Outras distines so mantidas e

    reformuladas.

    BIBLIOGRAFIA BELL, David. Frege's Theory of Judgement. Oxford: Clarendon Press, 1979. DUMMETT, M. Frege. Philosophy of Language. Londres, Duckworth, 1973. _____. Truth and other enigmas. (sixth printing, 1996) Londres: Duckworth, 1978. _____. The interpretation of Freges Philosophy. Londres: Duckworth, 1981. _____. Frege and other Philosophers. New York: Oxford University Press, 1991a. _____. Frege: Philosophy of Mathematics. Londres: Duckworth, 1991b. FREGE, Friedrich L. Gottlob. Conceitografia uma linguagem formular do pensamento puro decalcada sobre a aritmtica. In: Os primeiros escritos lgicos de Frege. So Paulo: Ramon Llull, 2012 a. _____. Aplicaes da Conceitografia. In: Os primeiros escritos lgicos de Frege. So Paulo: Ramon Llull, 2012 b. _____. Sobre a finalidade da Conceitografia. In: Os primeiros escritos lgicos de Frege. So Paulo: Ramon Llull, 2012 c. _____. Sobre a justificao cientfica de uma Conceitografia. In: Os primeiros escritos lgicos de Frege. So Paulo: Ramon Llull, 2012 d. _____. Os fundamentos da aritmtica: uma investigao lgico-matemtica sobre o conceito de nmero. In Peirce e Frege: Col. Os pensadores. So Paulo: Abril Cultural, 1974. _____. The Basic Laws of Arithmetic. California, University of California Press, 1964. _____. [Edio HERMES, Hans et alii]. Phostumous Writings. Chicago: University of Chicago, 1979. KANT, Immanuel. Crtica da razo pura. 6 ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 2008. _____. Crtica da razo pura. In Kant I: Col. Os pensadores. So Paulo: Abril Cultural, 1980. _____. Escritos pr-crticos. So Paulo: Editora Unesp, 2005.

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