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7/17/2019 Kafka e a Primazia Do Estado Na Organização Social
http://slidepdf.com/reader/full/kafka-e-a-primazia-do-estado-na-organizacao-social 1/10
Universidade Federal de Ouro Preto
Instituto de Ciências Humanas e Sociais
Pós-Graduação em Letras: studos da Lin!ua!em
Seminário de Literatura e CulturaData: 28/12/2014
Aluno: Gustavo Moreira Alves
"a#$a e a %rima&ia do stado na or!ani&ação social de sua o'ra
() O *%ico na modernidade
Num mundo em que se resata os valores da Antiuidade Clássi!a"
o#serva$se nas artes o !onte%do entrando em em#ate !om a &orma' As &ormasaristot(li!as" tomadas !omo se &ossem trans$)ist*ri!as" enessavam as o#ras"
im+ossi#ilitando" assim" a emers,o dos !onte%dos' -sso ( +ro#lemáti!o"
+ensando$se a. no que di eel:
'''3 na qualidade !on!reta que os dois elementos da arte" !onte%doe re+resenta,o" t5m o +onto de en!ontro" de !orres+ond5n!ia: assima!onte!e que a &orma natural do !or+o )umano" +or e6em+lo" ( um!on!reto sens.vel sus!et.vel de re+resentar e se !oadunar ao es+.rito
7GL" 1988" +' 4;'
A sa.da seria +ensar n,o em &ormas" mas em !ateorias' < roman!e se
di&ere da e+o+eia enquanto &orma" mas am#os +erten!em = !ateoria (+i!a' A
im+ossi#ilidade da e+o+(ia nos dias de )o>e se dá" !omo >á dito" +orque as
&ormas n,o s,o trans$)ist*ri!as: elas se a>ustam ao !onte%do'
De+ois de Mar6 e ?reud" o indiv.duo se +er!e#eu ameaado de duas
&ormas: uma e6terna e outra internamente' Com esses !onte%dos" de que
&orma se daria" ent,o" a !ateoria (+i!a na modernidade@ No te6to !r.ti!o
Ba&a e o roman!e moderno" Anatol Eosen&eld dis!ute" a +artir das o#ras do
es!ritor de A metamorfose" a +ossi#ilidade de um e+os atualiado'
< +erio que vem de &ora está rela!ionado ao todo do mundo moderno"
ina+reens.vel +elo indiv.duo' For e6em+lo: &aer +arte do quadro de
&un!ionários de uma em+resa n,o te dá uma no,o lo#al do que a!onte!e
dentro dela' A. a ameaa e6terna ( a sensa,o de se estar envolvido em
!orru+es des!on)e!idas dentro desse todo' < mesmo a!onte!e em n.vel
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ma!ros!*+i!o: o in.!io de uma uerra no <riente M(dio +ode levar = &al5n!ia
uma em+resa de autom*veis nos stados Hnidos" sem que a maior +arte das
+essoas entenda essa l*i!a a#surda' Iá a ameaa interna está rela!ionada =s
&oras do in!ons!iente' Claro que elas sem+re estiveram a." mas ( a +artir da
modernidade que se +assa a sa#er de sua e6ist5n!ia' Ao sair de !asa" +or
e6em+lo" +odemos n,o ter !ertea se tran!amos a +orta" uma ve que vamos
automatiando nossos atos' Ao andar" !olo!amos uma +erna na &rente da
outra" sem que +ara isso +ensemos antes" +rimeiro essa +erna" de+ois essa
+erna' < !onvales!ente #audelairiano >á in!ita uma re&le6,o nesse sentido:
quando estamos ruins de uma +erna" !ada +asso ( re&letido" o que nos tira dos
automatismos e &a +er!e#er o mundo !omo se os v.ssemos +ela +rimeira ve'
Al(m disso" o in!ons!iente ( ameaador tam#(m +or n,o nos +ermitir um
!on)e!imento +leno de n*s mesmos' Hm trauma de in&Jn!ia re!al!ado +ode
nos &aer air de uma &orma a#surda sem que ten)amos no,o disso'
Se +or um lado temos o mar6ismo" !om uma +ers+e!tiva )ist*ri!a e
materialista" onde a !lasse e o meio" ou se>a" as !ondies de +rodu,o de
+ensamento" determinam o !onte%do" +or outra temos o &reudismo
rela!ionando o +ensamento )umano !om as &oras do in!ons!iente'
Com esse !onte%do" as &ormas dramáti!a" (+i!a e l.ri!a entram em !rise"
+ois +assa a +are!er im+oss.vel )aver identidade entre elas e o que +ede +ara
ser re+resentado' ntretanto" so#revivem as !ateorias' Eosen&eld" em Ba&a
e o roman!e moderno" vai dier que Ba&a ( o +rimeiro es!ritor a !onseuir
tra#al)ar o le.timo e+os na modernidade' Seus +ersonaens" normalmente
arqu(ti+os do )omem moderno" n,o t5m !ons!i5n!ia do todo' Se antes o leitor
tin)a essa !ons!i5n!ia na o#ra (+i!a" !omo a!onte!ia ao se ler os roman!es
realistas" nos quais o narrador ( onis!iente" aora n,o terá mais" +ois onarrador sa#e tanto quanto o +ersonaem que a!om+an)a' m O processo"
+or e6em+lo" o +rotaonista a!orda" ( +reso e levado a >ulamento e n,o sa#e
o +orqu5' Mas sente !ul+a' < !onte%do" o#viamente moderno" a!om+an)a a
&orma" que dei6a o leitor t,o alienado quanto ele +r*+rio &ora da &i!,o'
Como se +ode o#servar" o e+os ( +oss.vel !om Ba&a +or relativamente
dar !onta do todo moderno' 6+lique$se: uma das !ara!ter.sti!as das e+o+(ias"
a Ilíada e a Odisseia" +or e6em+lo" era dar uma vis,o !om+leta da orania,oso!ial" o que era +oss.vel na Antiuidade Clássi!a' o>e em dia" +or outro lado"
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!omo ( im+oss.vel um roman!e dar !onta do e+os nesse sentido" Ba&a
a+resenta ao leitor um todo so!ial alienante que ( análoo ao todo
ina+reens.vel da modernidade' n&im" Ba&a dá uma no,o do todo que ao
mesmo tem+o é e não é o todo'
+) O tr,!ico na modernidade
< te6to < Filoctetes de S*&o!les e a &e#ia &ala das di&erenas do
Filoctetes de S*&o!les em rela,o =s inter+retaes do mesmo mito +or squilo
e ur.+edes' Frimeiro no que tane = solid,o do +ersonaem$t.tulo K no
traedi*loo do Édipo-rei n,o )á re&er5n!ia a outros moradores em Lemnos:
?ilo!tetes está !om+letamente soin)o' Al(m disso" )á na tra(dia de S*&o!les
a +resena do &il)o de Aquiles" Neo+t*lemo' < +ersonaem está numa eta+a
da >uventude" a e&e#ia" em que >á se !omea a transi,o +ara a vida adulta' A
maior +arte da +ea ( !onstitu.da de diáloos entre ?ilo!tetes" o )er*i
envel)e!ido" e6ilado )á de anos e &erido" e o adoles!ente !u>a >uvenilidade ( a
todo instante su#lin)ada 7ENAN" +' 129;'
< >ovem Neo+t*lemo a!eita" de in.!io" a des+eito de sua re+unJn!iade &il)o de rei" &iel ao seu !aráter oriinal 7 phýsis;" enanar ?ilo!tetesdiriindo$l)e um dis!urso &also" ditado +or Hlisses <disseu +ara osreos3" !om o &im de a+oderar$se de seu ar!o de+ois ele muda deo+ini,o" de!idindo su!essivamente dier a verdade" restituir o ar!o e+or &im a#andonar n,o s* Lemnos mas o !am+o de #atal)a troiano"+ara retornar" em !om+an)ia de ?ilo!tetes" = sua +átria 7ENAN"+' 1O0;'
A tra(dia nisso tudo está no !on&lito &am.lia versus stado" +orque &uir
da ordem #uro!ráti!a desertando da uerra seria trai,o" o que redundaria na
!ondena,o inevitável' Como o te6to de ernant &ala #astante em Ant.ona"
tra(dia do mesmo !on&lito" !)ame$se aten,o +ara ela: na trama" o entronado
Creonte im+ede que se>am &eitos os rituais &%ne#res de seu so#rin)o" Folini!e"
dentro da !idade" +ois esse so#rin)o teria tra.do a ordem da +olis' Assim"
!olo!am$se os interesses do stado em +rimeiro +lano" o que !ontradi a
ne!essidade &amiliar de !on!eder ao >ovem uerreiro os rituais &%ne#res: larar
seu !adáver +ara al(m dos muros da !idade seria !ondená$lo a vaar durante
um s(!ulo =s marens do mundo dos mortos" im+edindo$o de &aer a travessia'
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Ant.ona" irm, de Folini!e" indina$se !om essa +ossi#ilidade' A +ea vai
mostrar e6atamente esse !on&lito: Creonte" re+resentante dos interesses do
stado" versus Ant.ona" de&ensora dos ideais &amiliares' <#serve$se que
!.r!ulo &amiliar e stado t5m" !omo atesta S(rio Puarque de olanda em
Raízes do Brasil " n,o uma rada,o" mas des!ontinuidade e at( o+osi,o'
< !on&lito entre Ant.ona e Creonte ( de todas as (+o!as e +reserva$se sua veem5n!ia ainda em nossos dias' m todas as !ulturas" o+ro!esso +elo qual a lei eral su+lanta a lei +arti!ular &a$sea!om+an)ar de !rises mais ou menos raves e +rolonadas" que+odem a&etar +ro&undamente a estrutura da so!iedade 7<LANDA"19QR" +' 101;'
No te6to < ?ilo!tetes de S*&o!les e a &e#ia" ernant mostra !omo )átens,o entre o universo da !idade re+resentado +elos !idad,os armados" os
)o+litas e '''3 o mundo dos oíkos no universo &amiliar de ?ilo!tetes e de
Neo+t*lemo' < )er*i e6ilado em Lemnos está sem &am.lia" sem !om+an)eiro"
n,o dis+ondo de nen)um ol)ar &raternoT 7ENAN" +' 1O2;' < antaonista"
<disseu" ( antaonista >ustamente +elo e6!esso de +ol.ti!a'
le ( a e6ata ant.tese de ?ilo!tetes" um )i+er!iviliado em &a!e de um
)omem asselva>ado' uma outra vers,o do +ersonaem de Creonte"e +ara retomar a terminoloia que um !(le#re !oro de Ant.ona a+li!aao )omem que s* ( +rovido de tékhnē" lone de ser hpsípolis" ele (!omo o +r*+rio ?ilo!tetes" mas +or raes inversas" um !polis7ENAN" +' 1O8;'
Como <disseu ( da ordem da +olis" da #uro!ra!ia" da lealidade" sua
!omuni!a#ilidade !om ?ilo!tetes se &a im+oss.vel' For isso" Neo+t*lemo"
e&e#o" liado = naturea selvaem" ( quem &a o interm(dio' No &im" )á a
o+,o +elos valores &amiliares em detrimento dos valores !.vi!os" e a tra(dia
está >ustamente no !om+romisso de reintera,o do ?ilo!tetes selvaem =
!idade e na o#ria,o do Neo+t*lemo e&e#o tornar$se )o+lita'
<#serve$se" retomando o !aráter universal do !on&lito &am.lia versus
stado" que n,o se trata de uma luta do #em !ontra o mal" mas do em#ate
entre duas &oras que t5m !ada uma sua leitimidade" o que !on&iura a
tra(dia'
No Prasil" onde n,o se viveu a transi,o +ara a so!iedade #uruesa da
mesma &orma que no el)o Mundo" o !on&lito se mas!ara na medida em que o
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n%!leo &amiliar ( dilatado' For aqui" ainda de+ois da Eevolu,o ?ran!esa" muito
mais do que +ai de &am.lia" o +atriar!a era o sen)or de es!ravos" !a+ataes e
a+arentados' Como atesta o )istoriador S(rio Puarque de olanda" o es!ravo
das +lantaes e das !asas" e n,o somente es!ravos" !omo areados"
dilatam o !.r!ulo &amiliar e" !om ele" a autoridade imensa do +ater$&am.lias
7<LANDA" 19QR" +' 49;' < +oder deste na +r*+ria terra re&letia$se na +ol.ti!a:
muitos sen)ores se envolviam diretamente nos ne*!ios +%#li!os' -sso &aia
!om que a +o+ula,o #ran!a" livre e sem +ro+riedade vivesse o que o
men!ionado )istoriador !)ama de ideoloia do &avor" sendo #ene&i!iada +elo
+ater$&am.lias de maneira que sentia$se ela tam#(m a !lasse dominante' <
tra#al)o" es+(!ie de desonra e .ndi!e de veron)a" era &eito +elos es!ravos'
<utra es+e!i&i!idade #rasileira" +ara al(m da desvaloria,o do tra#al)o"
!onsistia no &ato de os laos &amiliares dessa orania,o serem mais &ortes do
que a ordem #uro!ráti!a" a +onto de a&etarem o !onv.vio so!ial' Assim" numa
orania,o onde se vivia #asi!amente numa ona rural" so# a tutela +atriar!al
e a ideoloia do &avor" !om o trato diário se dando su#stan!ialmente num seio
&amiliar mais do que dilatado" !ria$se nas +essoas uma de&esa !ontra o
!onv.vio #uro!ráti!o: uma es+(!ie de +olide su+er&i!ial que ( na verdade o
!ontrário de +olide !ontrário" in!lusive" de !ivilidade" uma ve que &undada
nas sensi#ilidades e emoes' Dessa &orma" as relaes +ro&issionais" que
deviam se #asear na seriedade" v,o erar a#usos !omo os !on)e!idos +elas
e6+resses >eitin)o" U- 7quem indi!a; e !arteirada' Da. o #rasileiro ser
!)amado +or S(rio Puarque de olanda de )omem !ordial 7<LANDA"
19QR" +' 101;'
Na uro+a" a quest,o ( e6atamente o+osta: os interesses do stado se
so#re+em = ordem &amiliar' < que se dirá" ent,o" do -m+(rio Austro$%naro"que +ariu ?ran Ba&a@ o que se verá adiante'
) O *%ico e o tr,!ico em "a#$a
A "etamorfose ( a o#ra e6em+lar na dis!uss,o que aqui se trava' +i!a"
!omo >á se viu a +artir da re&le6,o de Anatol Eosen&eld" e trái!a" +or mostrar
de que &orma a ordem &amiliar se su#>ua = l*i!a !iviliada' rata$se da)ist*ria de Greor Samsa" um !ai6eiro via>ante que" na !ondi,o de %ni!o
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tra#al)ador da +r*+ria !asa" sustenta +ai" m,e e irm,' < narrador n,o
+arti!i+ante da trama !olo!a o leitor" !omo assinala Eosen&eld" so# a
+ers+e!tiva desse +rotaonista" !ontando a trama em +rimeira +essoa sem
qualquer onis!i5n!ia' De+ois de loo de !ara !ontar que Samsa a!ordou
metamor&oseado num inseto monstruoso" assinala o ol)ar dele +ara os te!idos
que trans+orta em sua &un,o" ol)ar este que se volta +ara a ilus,o de riquea
&iurada nas indumentárias da moldura que tem no quarto um +ou!o +equeno
demais 7BA?BA" 199Q" +' 9;' Mais adiante na narrativa" +er!e#er$se$á outra
&un,o de Samsa: ( dele a !ar+intaria da moldura do quarto'
< +ersonaem" +ara al(m de in!or+orar" &isi!amente" o as+e!to
asselva>ado" !omea a se +eruntar +or que n,o dormir ao inv(s da toli!e do
tra#al)o' le se !om+ara !om outros !ai6eiros que" n,o +ossuindo
de+endentes" +odem tomar !a&( mais tarde' Samsa n,o' Samsa" !aso n,o
tivesse a &am.lia +ara sustentar" >á teria se demitido' Al(m disso" )avia a d.vida'
Faá$la$ia em !in!o ou seis anos e )averia ent,o a rande ru+tura 7BA?BA"
199Q" +' 9;'
Greor Samsa a!ordou um inseto e n,o !onseue sair +ara o tra#al)o'
Anun!iar a doena seria e6tremamente +enoso' m !in!o anos" nun!a tin)a
&i!ado doente' < narrador" so# a *ti!a do +ersonaem" e6+li!ita o medo da
!ensura diriida aos +ais +or !ausa do &il)o +reuioso' Fara o m(di!o" &iura
que se !onsolida na )iienia,o #uruesa" essa su#stituta do Santo <&.!io no
que se !)ama se!ularia,o" s* e6istem +essoas inteiramente sadias mas
re&ratárias ao tra#al)o 7BA?BA" 199Q" +' 10;' Antes que !)eue tal +ro&issional"
entretanto" ( o +r*+rio erente" !olo!ando$se a si mesmo !omo um dos
)omens do !om(r!io 7BA?BA" 199Q" +' 18;" ou se>a" a !lasse #uruesa" quem
dá as !aras:
For que Greor estava !ondenado a servir numa &irma em que =m.nima omiss,o se levantava loo a má6ima sus+eita@ Será quetodos os &un!ionários eram sem e6!e,o vaa#undos@ N,o )avia"+ois" entre eles nen)um )omem leal e dedi!ado que" em#oradei6ando de a+roveitar alumas )oras da man), em +rol da &irma"ten)a &i!ado lou!o de remorso e literalmente im+ossi#ilitado dea#andonar a !ama@ N,o #astava realmente mandar um a+rendi ir +eruntar K se ( que )avia ne!essidade desse interroat*rio@ in)ade vir o +r*+rio erente" era +re!iso mostrar !om isso = &am.lia inteira
K ino!ente K que a investia,o desse !aso sus+eito s* +odia ser !on&iada = ra,o do erente@ 7BA?BA" 199Q" F' 1;
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Note$se a +ress,o e6er!ida +ela ordem do stado" inimia das relaes
&amiliares' < narrador" ou Samsa" tanto &a" +erunta$se se n,o +odia
a!onte!er tam#(m ao erente alo semel)ante' A m,e de&ende Samsa" &ala
que o &il)o n,o tem outra !oisa em mente a n,o ser o tra#al)o" nun!a sai =
noite nos momentos em que n,o deveria se alienar da +r*+ria vida" entrea$se
ao >ornal" !laramente instrumento da ordem #uro!ráti!a" ou estuda )orários de
viaem' Sua distra,o s,o os tra#al)os de !ar+intaria" n,o o +raer do amor ou
do se6o" da !erve>a !om os &amiliares e amios ou da +reuia' udo s,o
.ndi!es de !ar5n!ia nas a&etividades &amiliares em &un,o da orania,o
so!ial'
Ainda dentro do quarto" tran!ado" Samsa es!uta o erente !ensurá$lo no
que di res+eito a seu rendimento insatis&at*rio no tra#al)o' Sen)or erente"
+ou+e meus +ais" ele +ede 7BA?BA" 199Q" +' 20;" e6+li!itando o em#ate entre
stado e &am.lia' A m,e &ala em !)amar um m(di!o o +ai" um serral)eiro +ara
derru#ar a +orta' Samsa" ainda sem !onseuir se mover +ara a#ri$la" es+era
desem+en)os e6!e+!ionais e sur+reendentes do m(di!o e do serral)eiro"
sem +ro+riamente se+ará$los 7BA?BA" 199Q" +' 22;' le toma &oras e lenta e
so&ridamente !omea a destran!ar a +orta' <uam" di o erente" ele está
irando a !)ave" o que +ara Samsa serve !omo est.mulo" mas todos deviam
en!ora>á$lo" in!lusive o +ai e a m,e' <s sinais s,o !laros: re!on)e!e$se o
est.mulo do stado e !are!e$se do &amiliar' < narrador" sem+re so# o +onto de
vista de Samsa" &antasia a aten,o dos +ais: imainando que todos os
a!om+an)avam ansiosos os seus es&oros" mordeu a !)ave !omo um lou!o"
!om todas as &oras que +odia reunir'
Samsa destran!a a +orta e revela$se' < +ai !erra o +un)o !om
e6+ress,o )ostil" de+ois !)ora at( sa!udir o +eito +oderoso 7BA?BA" 199Q" +'24;' < monstro di ao erente: o sen)or está vendo que n,o sou teimoso e
que #osto de tra#al)ar 7BA?BA" 199Q" +' 2R" ri&o meu;' < erente" assustado"
!omea a re!uar risivelmente at( a +orta de sa.da" quando dis+ara em &ua'
Mam,eV Mam,e" di Samsa #ai6in)o em !erto +onto" o que +or um
instante o &a esque!er o erente' m seuida o +ai" des&erindo$l)e ol+es de
#enala" >oa$o +ra dentro do quarto' ?inda assim a +rimeira das tr5s +artes da
)ist*ria'
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A seunda +arte trata da !lausura de Samsa: os !uidados de sua irm,
no que di res+eito = alimenta,o do )omem metamor&oseado inseto e =
arruma,o do quarto onde ele ( &e!)ado" a sensa,o de !lausura de quem &oi
interditado = !ivilia,o" a es+e!ula,o da narrativa en!arnada nesse
+ersonaem +rin!i+al: o +ai !ostumava ler os >ornais +ara a m,e e a irm, e n,o
l5 mais" sil5n!io que ( inter+retado !omo ind.!io de vida tranquila" rande
orul)o" +ostula o narrador" +or ter +odido +ro+or!ionar aos seus +ais e = sua
irm, uma vida assim 7BA?BA" 199Q" +' O4;' So#ram e6em+los do narrador que
adota a es+e!ula,o de Samsa alienada do que de &ato a!onte!e:
Certamente os +ais tam#(m n,o queriam que Greor morresse de
&ome" mas talve n,o su+ortassem tomar !on)e!imento da suaalimenta,o mais do que +or ouvir dier talve &osse +oss.veltam#(m que a irm, quisesse +ou+á$los de uma +equena tristea"uma ve que de &ato eles >á so&riam #astante 7BA?BA" 199Q" +' O9;'
ntre as es+e!ulaes" .ndi!es de sua !ar5n!ia a&etiva no seio &amiliar:
anto a &am.lia !omo Greor a!ostumaram$se a isso: a!eitava$se !omratid,o o din)eiro" ele o entreava !om +raer" mas disso n,oresultou mais nen)um !alor es+e!ial' S* a irm, ainda )avia+ermane!ido +r*6ima a Greor e o +lano se!reto dele era mandá$lano +r*6imo ano ao Conservat*rio" sem +ensar nos altos !ustos queisso re+resentava" os quais seriam ressar!idos de outro modo +oisela" di&erentemente de Greor" ostava muito de m%si!a e sa#ia to!ar violino de &orma !omovente' árias vees durante as !urtas estadasde Greor na !idade men!ionou$se o Conservat*rio nas !onversas!om a irm," mas sem+re a+enas !omo um #elo son)o" em !u>arealia,o n,o se +odia +ensar" e os +ais n,o ostavam de es!utar nem mesmo essas menes ino!entes Greor +or(m +ensava nissode maneira muito de&inida e tin)a a inten,o de anun!iar solenementena noite de Natal 7BA?BA" +' 41$42;'
Des!o#re$se que o +ai uardava din)eiro: se o +aamento da d.vida
+odia ter sido adiantado" aora +elo menos )avia !omo arran>ar as !oisas"
!ontenta$se o narrador invo!ando os +ensamentos de Samsa' < +ai era vel)o"
n,o tra#al)ava )á !in!o anos" n,o +odia se e6!eder' Deveria esse +ai an)ar
din)eiro@ Deveria a irm," !om deessete anos" ainda !riana" an)ar din)eiro@
Uuando a !onversa !)eava a essa ne!essidade de an)ar din)eiro" Greor
se soltava da +orta e se atirava so#re o &rio so&á de !ouro que se en!ontrava ao
lado" +ois &i!ava ardendo de veron)a e tristea 7BA?BA" 199Q" +' 44;'
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Muito se +assa at( que alum mem#ro da &am.lia diri>a a +alavra a
Samsa' Uuando a!onte!e" ( a irm," de +un)os !errados" >á &arta de !uidar
dele: o!5" GreorV 7BA?BA" 199Q" +' R4;'
A seunda +arte da trama termina !om o +ai quase matando Samsa: ele
( im+edido +ela irm,' Nessa +assaem +ra ter!eira +arte" +er!e#e$se ainda
aluma &ora no n%!leo &amiliar:
< rave &erimento de Greor" que o &e so&rer mais de um m5s K ama, &i!ou alo>ada na !arne !omo uma re!orda,o vis.vel" >á queninu(m ousou remove$la" K +are!ia ter lem#rado ao +ai que Greor"a des+eito de sua atual &iura triste e re+ulsiva" era um mem#ro da&am.lia que n,o +odia ser tratado !omo um inimio" mas diante doqual o mandamento do dever &amiliar im+un)a enolir a re+unJn!iae su+ortar" su+ortar e nada mais 7BA?BA" 199Q" F' R9;'
Greor !omea essa ter!eira +arte +er!e#endo que n,o )á mais as
!onversas animadas dos vel)os tem+os' ssa o#serva,o do narrador"
!om+letamente alienada da !ons!i5n!ia do +r*+rio leitor" que lem#ra n,o ter
)avido nen)uma anima,o antes" ( !onduida at( +er!e+,o de que aora
todos tra#al)am' < +ai" antes in%til" n,o tira a &arda nem +ara dormir' A m,e
!ostura" a irm, ( #al!onista' a +artir do momento em que esses tr5s +assam
a ter utilidade na orania,o #uro!ráti!a" a +resena de Samsa tran!ado noquarto vai &i!ando ainda mais insu+ortável' n!errando a o#ra" arrumam$se
inquilinos +ara )a#itar a !asa' numa noite em que a irm, +ea o violino +ara
to!ar" Samsa n,o resiste e sai do quarto' N,o s* a a&etividade +ela irm, está
ali" !omo tam#(m sua &rui,o est(ti!a" uma )umanidade que se so#re+e =s
im+osies do stado" mas quando +er!e#em sua +resena" re>eitam$no' á a
#ria dos inquilinos que n,o sa#iam !oa#itar !om aquela !riatura" indina,o
dos +ais e da irm,' Samsa" arrasado" volta$se +ara o quarto !erto de que omel)or +ara todos seria se ele morresse' No dia seuinte" ele aman)e!e morto"
sem +erder a )umanidade" mas trans&ormado em #i!)o" o#>eti&i!ando no
+r*+rio !or+o a avers,o =s re+resses do +ro!esso !ivilia!ional' ?im da o#ra'
.) / dial*tica do tr,!ico
Ee!entemente" assistindo a uma &ala da +er&ormer leonora ?a#i,o"+ro&essora da s!ola de Comuni!a,o da Hniversidade ?ederal do Eio de
7/17/2019 Kafka e a Primazia Do Estado Na Organização Social
http://slidepdf.com/reader/full/kafka-e-a-primazia-do-estado-na-organizacao-social 10/10
Ianeiro" vislum#rei uma +ossi#ilidade de solu,o +ara esse !on&lito trái!o que
atravessa a )ist*ria da )umanidade' A +ro&essora &alava de que maneira &aia a
amiade ins+irar o seu tra#al)o no sentido de &ortale!er no mundo uma
a&etividade +ara al(m do n%!leo &amiliar' Con!lu. que a amiade nada tem a ver
!om !ordialidade e que ( um tema que mere!e a+ro&undamento" o que
+retendo desenvolver daqui +ara &rente'
0i'lio!ra#ia
ENAN" Iean$Fierre -DAL$NAUH" Fierre' < Filoctetes de S*&o!les e ae&e#ia' m: WWWWWWWWWW' "ito e tra#édia na $récia anti#a' rad' Ana Lia A'de Almeida Frado" ?ilomena Xos)ie irata Gar!ia" Maria da Con!ei,o M'
Caval!ante" Pert)a al+em Gurovit e elio Gurovit' S,o Faulo:Fers+e!tiva" 1999'
GL" Geor Yil)elm ?riedri!)' %stética: a ideia e o ideal' m: WWWWWWWWWW'Os &ensadores: eel -' rad' <rlando itorino" enrique Cláudio de Limaa e AntZnio Finto de Carval)o' S,o Faulo: Nova Cultural" 1988'
<LANDA" S(rio Puarque' Raízes do Brasil ' Eio de Ianeiro: Ios( <lim+ioditora" 19QR'
BA?BA" ?ran' A metamor&ose' rad' Modesto Carone' S,o Faulo: Com+an)ia
das Letras" 199Q'
E<SN?LD" Anatol' Ba&a e o roman!e moderno' m: WWWWWWWWWW' 'etrase leit(ra' S,o Faulo: Fers+e!tiva HSF/HN-CAMF" 1994'