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KATRIANA JACAÚNA FARIAS
AS VARIAÇÕES DIALETAIS PARINTINENSE: CONTRIBUIÇÃO DA
SOCIOLINGUÍSTICA AOS FALARES AMAZÔNICOS/AMAZÔNIDAS
Guajará – Mirim
2010
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KATRIANA JACAÚNA FARIAS
AS VARIAÇÕES DIALETAIS PARINTINENSE: CONTRIBUIÇÃO DA
SOCIOLINGUÍSTICA AOS FALARES AMAZÔNICOS/AMAZÔNIDAS
Dissertação apresentada ao Mestrado em Ciências da Linguagem como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Linguagem, pela Universidade Federal de Rondônia.
Orientador Profª. Drª. Maria do Socorro Pessoa
Guajará – Mirim
2010
Dedico a ......
A minha mãe, em especial, que todo amor me ensinou que é preciso lutar por aquilo que
acreditamos, sempre lembrando que a educação é um bem precioso.
Agradecimentos
Minha crença em Deus me faz acreditar que é possível alcançar objetivos e traçar metas sem
que se perca a dignidade e o respeito, por isso sou grata a Deus e a todas as pessoas que ele
coloca em meu caminho para que me ajudem a vencer: família, amigos, professores, colegas
de curso.
Resumo
Este trabalho apresenta o resultado da pesquisa sobre as variações dialetais parintinense, bem como concepções de linguagem, língua e sociedade, em particular, a descrição da comunidade linguística de Parintins, destacando os aspectos socioculturais. A metodologia da pesquisa seguiu os procedimentos teórico-metodológicos da Sociolingüística que utilizou questões discursivas para coleta da fala de quarenta e oito informantes da zona urbana de Parintins, registradas em gravador digital e transcritas para que se fizesse a análise e a discussão dos dados. Constatou-se, em aspectos fonéticos, a palatalização de consoantes alveolares, em aspectos morfológicos e sintáticos o uso de determinadas formas e construções comuns na fala coloquial e distensa, em aspectos lexicais, o uso de palavras e expressões comuns à região. Este trabalho de pesquisa é relevante, porque estuda a comunidade lingüística de Parintins em uma visão ampla: Língua, Cultura e Sociedade. Palavras-chave: sociolinguística – variação dialetal – comunidade linguística de Parintins
Abstract
This study presents the results of the research into the dialectical variations of the inhabitants of Parintins, Amazonas State, Brazil, as well as the conceptions of speech, language and society, in particular the description of the linguistic community of Parintins, highlighting the socio-cultural aspects. The methodology of the research followed the theoretical methodology procedures of Sociolinguistics which utilized discursive questions for the collection of examples of speech of forty eight subjects of the urban zone of the city, digitally recorded and transcribed for the analysis and discussion of the results. The following traits were encountered: in relation to phonetic aspects, the palatalization of alveolar consonants; in morphological and syntactical aspects, the use of certain forms and constructions common in colloquial and casual speech; and in lexical aspects, the use of words and expressions common to the region. We may consider this study as being relevant because it looks at the linguistic community in ample perspective: Language, Culture and Society. Keywords: socio-linguistics – dialectical variation – the linguistic community of Parintins
Sumário
CAPÍTULO I Estudos Teóricos: Linguagem, Língua e
Sociedade........................................................................................................................11
1.1 Concepções de Linguagem e Língua............................................................11
1.2 Concepções de Sociedade............................................................................28
1.3 Língua, Linguagem e Sociedade..................................................................36
1.4 Variação Dialetal: As Teorias......................................................................40
CAPÍTULO II Parintins e sua Educação
Lingüística....................................................................................................................58
2.1 O Estado do Amazonas .............................................................................58
2.2 Situação Geográfica do Estado do Amazonas...........................................63
2.3 Divisão e Subdivisão Política do Estado do Amazonas...........................66
2.4 Parintins: História, Extensão, Atividades turísticas e Econômicas ..........69
2.5 Parintins: Atividades Turísticas.................................................................83
2.6 A Linguagem e a Identidade Social de Parintins.....................................88
2.7 A Educação Lingüística de Parintins .......................................................93
CAPÍTULO III METODOLOGIA: COLETA, INSTRUMENTOS DA PESQUISA,
ANÁLISE E DISCUSSÃO DE VARIAÇÃO DIALETAL: O CASO SDE
PARINTINS............................................................................................................102
3.1 A Língua Portuguesa na Amazônia........................................................102
3.2 Fonética e Fonologia...............................................................................103
3.2.1 O Sistema Consonantal do Português..................................................103
3.3 Morfologia e Sintaxe..............................................................................104
3.4. Estudos do Léxico.................................................................................105
3.5 Metodologia............................................................................................105
3.6 Análise e Discussão dos Dados: Tabelas com as Ocorrências das Variáveis
Fonéticas......................................................................................................111
3.7 Análise e Discussão dos Dados: A fala dos Informantes
Parintinenses.................................................................................................127
3.7.1 Fala dos Informantes Masculinos com Ensino Superior.....................127
3.7.2 Comentários sobre a Fala dos Informantes Masculinos com Ensino
Superior com Idade entre 18 e 60 anos.......................................................129
3.7.3 Fala dos Informantes Femininos com Ensino Superior......................130
3.7.4 Comentários sobre a Fala dos Informantes Femininos com Ensino
Superior com Idade entre 18 e 60 anos......................................................133
3.7.5 Fala dos Informantes Masculinos com Ensino Médio......................134
3.7.6 Comentários sobre a Fala dos Informantes Masculinos com Ensino
Médio com Idade entre 18 e 60 anos.........................................................137
3.7.7 Fala dos Informantes Femininos com Ensino Médio.......................138
3.7.8 Comentários sobre a Fala dos Informantes Femininos com Ensino
Médio com Idade entre 18 e 60 anos.........................................................141
3.9 Itens Lexicais Encontrados nas Falas dos Informantes
Parintinenses................................................................................................142
3.10 O Boi-Bumbá e a Fala/Cultura dos Parintinenses...............................144
3.11 Análise de Trechos de Fala dos Informantes......................................146
CONSIDERAÇÕES GERAIS..................................................................149
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................152
INTRODUÇÃO
O estudo sobre as Variações Dialetais Parintinense realiza-se no Programa de
Mestrado em Ciências da Linguagem, da Universidade Federal de Rondônia, no campus de
Guajará-Mirim-RO e, está vinculado ao Grupo de Pesquisas Sociolinguísticas – GEPs, situado
em Vilhena-RO, que aborda o tema Língua, Cultura e Sociedade Amazônica/Amazônida.
Nesse contexto amplo da Amazônia está a pesquisa sobre a comunidade lingüística de
Parintins.
O estudo está dividido em três capítulos, a saber: a) No capítulo I há abordagens sobre
concepções de linguagem e língua; concepções de sociedade; comentários sobre linguagem,
língua e sociedade; variação dialetal em que há abordagens sobre as teorias nesse campo de
investigação linguísticas. As abordagens teóricas são importantes para delimitar a área de
estudo, o campo teórico. B) No capítulo II, há abordagens sobre a formação histórica do
Estado do Amazonas, a situação geográfica do Estado do Amazonas, divisão e subdivisão
política do Estado do Amazonas; a formação histórica do município de Parintins incluindo
informações sobre a extensão, as atividades turísticas e as atividade econômicas do município.
Há destaque, no capítulo II, para as atividades turísticas que são realizadas de Janeiro a
Dezembro no município de Parintins. A linguagem e identidade social de Parintins inclui a
pareciação de linguagens e cultura local. Finalizando, no capítulo II há abordagens sobre a
educação linguística de Parintins em que se fala acerca dos colonizadores da região, da língua
falada na época, a chegada da língua portuguesa na Amazônia e a presença de imigrantes e
migrantes na formação da sociedade parintinense. Todo o capítulo II trata de aspectos
socioculturais do Estado do Amazonas e do Município de Parintins.
c) No capítulo III, trata-se da metodologia: coleta, instrumentos de pesquisa, corpus,
que possibilitaram a realização da pesquisa em conformidade como os procedimentos teórico-
metodológicos da Sociolinguística. Em seguida, há a análise e discussão dos dados. Anterior a
isso, há comentários sobre a Língua Portuguesa na Amazônia, Fonética e Fonologia, o
Sistema Consonantal do Português. A análise e a discussão está dividida em duas etapas: a) a
primeira etapa mostra os dados sobre aspectos fonéticos visualizados em tabelas com dados
estatísticos; b) a segunda etapa mostra a análise de trechos da fala de informantes
categorizados em informantes masculinos com Ensino Superior, informantes femininos com
ensino Superior, informantes masculinos com Ensino Médio e informantes femininos com
Ensino Médio. Por fim, há uma análise de trechos da fala de informantes destacando os
aspectos culturais, como o Boi-Bumbá e a fala/cultura dos parintinenses. Os três capítulos,
portanto, materializam a pesquisa sobre As Variações Dialetais Parintinense: Uma
contribuição da Sociolingüística aos falares Amazônicos/Amazônidas.
CAPÍTULO I
CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM, LÍNGUA E SOCIEDADE: ESTUDOS
TEÓRICOS
1.1 Concepções de Linguagem e Língua
A linguagem humana, segundo Koch (2007: 07), “tem sido concebida, no curso
da História, de maneiras bastante diversas”. A partir dessas leituras, tentar-se-á
mostrar, neste capítulo, a contribuição de importantes lingüistas para que se
esclareçam as principais concepções, ou melhor, as concepções que marcaram
historicamente os estudos da linguagem humana. Inicia-se, pois, essa apreciação
abordando o que se entende por linguagem. Em Lyons (1987: 02), o termo linguagem
é assim definido:
A palavra linguagem aplica-se [...] a uma série de outros sistemas de comunicação, notação ou cálculo, sobre o qual se possa discutir. [...] Há outros sistemas de comunicação, tanto humanos como não-humanos, que são sem dúvida naturais ao invés de artificiais, mas que não parecem ser linguagens no sentido estrito do termo, embora a palavra linguagem seja normalmente utilizada para fazer referência a eles. Consideramos expressões como ‘linguagem de sinalização’, ‘linguagem corporal’, ou ‘a linguagem das abelhas’ nesse âmbito.
Depreende-se que a linguagem é um todo que abrange vários sistemas de
comunicação, ou seja, inclui outros tipos de linguagens. Dessa maneira, a língua é um
dos sistemas que pertence à linguagem humana. Sobre o termo língua, Lyons (1987:
02) diz que “não se pode possuir (ou usar) a linguagem sem possuir (ou usar) alguma
língua específica.” Nesse sentido, deve-se entender língua específica, como aquela que
adquire-se nos primeiros anos de vida em contato com a comunidade lingüística da
qual o indivíduo faz parte. Lyons não apresenta uma definição de língua, em sua obra;
apenas comenta as definições dos lingüistas mais conhecidos.
No texto de Martelotta (2008:15-16), a definição do termo linguagem é
semelhante à apresentada em Lyons (1987: 02):
O termo linguagem apresenta mais de um sentido. Ele é mais comumente empregado para referir-se a qualquer processo de comunicação, como a linguagem dos animais, a linguagem corporal, a linguagem da sinalização, a linguagem da escrita, entre outras. Nessa acepção, as línguas naturais, como o português ou o italiano, por exemplo, são formas de linguagem, já que constituem instrumentos que possibilitam o processo de comunicação entre os membros de uma comunidade.[...] No entanto, os lingüistas costumam estabelecer uma relação diferente entre os conceitos de linguagem e língua. Entendendo linguagem como uma habilidade, os lingüistas definem o termo como a capacidade que apenas os seres humanos possuem para se comunicar por meio de línguas. Por sua vez, o termo “língua” é normalmente definido como um sistema de signos vocais utilizado como meio de comunicação entre os membros de um grupo social ou de uma comunidade lingüística.
Lyons (1987) e Martellota (2008) dizem que a linguagem é entendida em um sentido
amplo e que inclui outros sistemas de comunicação. Nos dois autores, a função comunicativa
da linguagem é evidenciada. Entretanto, Martellota acrescenta que a linguagem é entendida
como uma capacidade humana. O homem como o único ser possuidor da habilidade para a
linguagem faz uso de um sistema de signos vocais, a língua, para se comunicar. Essa língua
pode, por exemplo, ser o inglês, o português, o alemão, entre outras.
Antes, observou-se que o termo linguagem foi definido como uma capacidade humana
para usar determinada língua. Essa afirmação implica na definição do termo língua. Ver-se-á,
a seguir, que os dois termos serão usados juntos para demonstrar que a língua pertence a essa
concepção mais ampla que é a linguagem. Quanto a isso, sabe-se que os estudos acerca da
linguagem humana apresentam uma vasta literatura. Por isso, a partir dessas leituras, aborda-
se-á três concepções de língua/linguagem, as quais são discutidas por Geraldi (2006: 41),
Koch (2007:07-08) e Possenti (2006: 49-50).
Para esclarecimentos sobre língua linguagem, Geraldi (2006: 41), destaca as
concepções a seguir.
a) linguagem como a expressão do pensamento é uma concepção que ilumina, basicamente os estudos tradicionais. Se concebermos a linguagem como tal, somos levados a afirmações correntes de que pessoas que não conseguem se expressar não pensem.
b) linguagem como instrumento de comunicação é uma concepção que está ligada à teoria da comunicação que vê a língua como código (conjunto de signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptor certa mensagem.
c) linguagem como forma de interação é a concepção em que “mais que possibilitar uma transformação de informação de um emissor a um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação humana”. Por meio dela, o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria levar a cabo, a não ser falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, construindo compromissos e vínculos que não preexistem à fala”.
Se em uma perspectiva educacional opta-se pela concepção c), significa dizer, como
destaca Geraldi (2006: 41), que a terceira concepção de língua, ou seja, a linguagem como
forma de interação humana, “implica uma postura educacional diferenciada, uma vez que
situa a linguagem como lugar de constituição de relações sociais, onde os falantes se tornam
sujeitos”. Geraldi afirma que: “a língua só tem existência no jogo que se joga na sociedade, na
interlocução”, isto é, a relação locutor/interlocutor em um jogo de perguntas e repostas, nas
quais se negociam sentidos e vínculos entre os falantes e, fazem parte de uma determinada
situação de fala em determinado contexto. Interação implica influência mútua. Em uma
conversa, por exemplo, em que uma pessoa pergunta a outra: ‘Você vai à escola amanhã?’ As
possíveis respostas podem ser de afirmação, dando continuidade à conversa, ou uma resposta
negativa ‘não vou?’, ou ainda, uma resposta interrogativa como ‘porque você quer saber?’ É
esse o jogo verbal que compõe a interação, com pergunta e resposta, que constroem vínculos
entre locutores e interlocutores.
As concepções de língua/linguagem apresentadas em Koch (2007:07-08) são
semelhantes às destacadas por Geraldi (2006: 41). Segundo a autora:
a) linguagem como representação (“espelho”) do pensamento e do mundo é a mais antiga dessas concepções é, sem dúvida, a primeira, embora continue tendo seus defensores na atualidade. O homem representa para si o mundo através da linguagem e, assim sendo, a função da língua é representar (=refletir) seu pensamento e seu conhecimento de mundo.
b) linguagem como instrumento (“ferramenta”) de comunicação. Essa concepção considera a língua como um código através do qual um emissor comunica a um receptor determinadas mensagens. A principal função da linguagem é, neste caso, a transmissão de informações.
c) linguagem como forma (“lugar”) de ação ou interação. Essa “terceira concepção, finalmente, é aquela que encara a linguagem como atividade, como forma de ação, ação inter-individual finalisticamente orientada; como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos semelhantes reações e/ou comportamentos, levando ao estabelecimento de vínculos e compromissos anteriormente inexistentes.
As concepções de línguas apresentadas por Geraldi (2006) e Koch (2007), são
encontradas nas três concepções de língua apontadas por Possenti (2006: 49-50):
A primeira concepção que considera língua legítima a variedade lingüística de prestígio, no Brasil, chamada de língua culta e, que por isso é a eleita para ser ensinada na escola. A segunda concepção é aquela que considera a língua um sistema abstrato alheio ao falante como, por exemplo, o estruturalismo exclui o papel do falante no sistema lingüístico, define a língua como meio de comunicação, o que implica que não há interlocutores, mas emissores e receptores, codificadores e decodificadores. A terceira concepção considera a língua uma variedade utilizada por uma determinada comunidade, reconhecidas como heterônimas. Isto é, formas diversas entre si, mas pertencentes à mesma língua.
Em sua apresentação sobre as três concepções de linguagem Possenti (2006) aponta
para discussões bastante fecundas em trabalhos na área de lingüística. Na primeira concepção
de língua, propõe uma discussão sobre variedade lingüística e língua culta. Vislumbra-se isso,
porque o Brasil é um país com heterogeneidade e diversidade lingüística onde uma variedade
lingüística é eleita para ser oficializada por gramáticas normativas e, conseqüentemente, é
ensinada nas escolas. A segunda concepção propõe uma reflexão sobre a língua prescrita em
gramáticas e destinada ao ensino e sobre a realidade da língua falada pelos usuários. A última
concepção propõe uma discussão da diversidade lingüística e de seu reconhecimento como
tal.
Possenti (2006) esclarece ainda sobre os fatos lingüísticos e os fatos sociais em relação
à linguagem ao afirmar que as línguas não têm um fim em si, mas relacionam-se com os seus
usuários. As línguas variam, não são uniformes em um determinado tempo. As línguas
mudam com o tempo, não são exatamente da mesma forma em dois tempos diferentes nas
suas variedades. A língua padrão, embora incessantemente, considerada ‘a língua’, é apenas
uma variedade da língua que é a mais prestigiada devido ao esforço de gramáticos,
dicionaristas em geral.
O texto de Possenti (2006:49-50), faz alusão ao Estruturalismo. Nesse sentido, a teoria
do signo lingüístico de Saussure fala de linguagem por meio da dicotomia língua e fala.
Porém, Saussure estudou apenas a língua, pois a concebe como produto social e coletivo para
fins comunicativos. É contra isso que Possenti se opõe, porque o papel do falante é
desconsiderado na comunicação. Dessa maneira, a comunicação deixa de ser processo e
torna-se uma forma mecânica. Ou seja, o falante apenas reconhece o código, decodifica e/ou
codifica uma mensagem. Dar ênfase ao falante é colocar em foco o processo comunicativo em
que a escolha do código adequado, a negociação de sentido e o vínculo entre interlocutores se
estabelecem. Possenti (2006) critica também a gramática gerativa, e o faz em virtude de
fatores como, por exemplo, o valor de verdade dos enunciados que consistem em produzir
enunciados de acordo com a gramática da língua.
Pode-se inferir que a análise que Possenti (2006) faz acerca das concepções
apresentadas têm um caráter político em relação à linguagem, em relação à gramática e ao
ensino da língua. Recusa-se a aceitar uma língua ideal, uma forma correta, e deseja um falante
ativo, dono de sua fala, e habilidoso no uso das variedades da língua.
Para contribuir com a discussão sobre as concepções de língua / linguagem
apresentadas por Geraldi (2006), Koch (2007) e Possenti (2006) dispõe-se do texto de Geraldi
(2006) que afirma: “as três concepções de língua / linguagem correspondem a três grandes
correntes dos estudos lingüísticos: a gramatical tradicional, ao estruturalismo e ao
transformalismo e a lingüística da enunciação”. Assim situm-se as três concepções de
linguagem nas correntes de estudos lingüísticos citados por Geraldi (2006). Na concepção de
linguagem como expressão / espelho do pensamento, que iluminou os estudos tradicionais, a
linguagem e o pensamento são vistos como face um do outro. Essa concepção, no campo dos
estudos tradicionais como demonstrou Geraldi (2006: 41), é para Luft (2002: 21) o que:
Chamamos de tradicional a gramática de herança Greco-latina [...] A gramática tradicional tem tido duas orientações: normativa e descritiva, conforme a preocupação dominante de: (a) impor regras de um padrão lingüístico havido como modelar (uso culto formal, sobretudo escrito) ou (b) expor os fatos da linguagem [...] Em todo caso, a Gramática Tradicional sempre foi mais normativa que descritiva, por falta de compreensão exata do fenômeno da linguagem e de uma técnica apropriada de descrição.
A Gramática Tradicional, na perspectiva educacional, tem uma pedagogia voltada para
o ensino da língua–padrão, ou seja, da língua considerada correta, culta. Nesse sentido, diz-se
que ela é normativa. Essa norma-padrão da língua é, na verdade, uma variedade da língua, que
é privilegiada e corresponde a uma elite social que considera correta apenas sua forma de
falar. Os demais falantes são vistos como de indivíduos desprovidos de linguagem, uma vez
que não usam a língua-padrão. Nesse sentido, os indivíduos que não usam a variedade padrão
são vistos, como Geraldi afirmou, como pessoas que não conseguem se expressar, porque não
conseguem pensar e, conseqüentemente não conseguiriam usar uma ‘linguagem correta’para
falar. Segundo Koch (2007) a falta de organização das formas de pensar e falar que a
Gramática tradicional vê nos indivíduos está relacionada ao fato desses indivíduos não usarem
a língua padrão na forma como eles representam o mundo para si mesmo.
A Gramática Tradicional, segundo Luft (2002) impõe regras de um padrão lingüístico.
A esse respeito, Bagno (2002: 28) esclarece que:
Na sociedade greco-romana antiga, para receber o título de cidadão, para poder exercer o poder político de voto e de governo, a pessoa tinha de preencher alguns requisitos. Primeiro: ser do sexo masculino.[...] Segundo: tinha de ser livre. [...] Ora assim como a democracia grega era para uns poucos, também o que se chamava de língua era a língua usada por alguns desses poucos, por uma parcela dessa já minoritária aristocracia política e econômica, esse grupo seleto de homens livres que comandavam a vida de todos os demais seres humanos. [...] Por isso, foi a linguagem usada por eles, por essa aristocracia, que se tornou o padrão, a norma, o molde ideal ao qual todos os demais usos da língua tinham de se ajustar.(p.29)
Pode-se inferirir, a partir das palavras de Bagno (2002), que a língua está relacionada
ao poder, ou seja, a classe que é dominante na sociedade irá estabelecer a língua de prestígio
social, o que, conseqüentemente, é a língua falada por essa mesma elite. Em outras palavras, é
o que se chama de língua-padrão.
Na concepção de linguagem como instrumento de comunicação, adentra-se no campo
da Lingüística Moderna, na qual Ferdinand de Saussure é considerado o fundador. Assim,
segundo Lucchesi (2004: 30):
O ato inaugural da lingüística moderna é geralmente identificado à publicação, em 1916, do Curso de Lingüística Geral, de Ferdinand de Saussure. [...]. Nesta obra estão os princípios da concepção de língua como estrutura. A aplicação ulterior dessa concepção na análise dos fatos lingüísticos e o conseqüente refinamento metodológico resultaram no que se definiu como estruturalismo. Com o advento do estruturalismo, a lingüística passa de um enfoque eminentemente histórico e atomístico para uma abordagem que se aspira à globalidade da língua enquanto estrutura. ”. Essa globalidade, entretanto, não transcende o horizonte fixado pelo sistema de relações objetivas estruturantes, sendo descartados os fatos através dos quais se atualizam as relações da língua com a sociedade. Por outro lado, a abordagem estrutural proclama-se exclusivamente sincrônica: aplica-se somente a um estado da língua, que se imagina estático e discreto; sendo abordagem histórica, ou diacrônica, secundária e suplementar, já que tem por base a comparação de estados fixados ao longo do devir temporal.
Na Lingüística Moderna, há, pois, uma concepção de língua, que segundo a visão
estruturalista, a língua é concebida como estrutura. Dessa maneira, Carvalho (2000: 49-50),
faz a seguinte afirmação:
Do exame exaustivo do Curso de Lingüística Geral, depreendemos três concepções para língua: acervo lingüístico, instituição social e realidade sistemática e funcional. [...] a língua, como acervo lingüístico, é o conjunto de hábitos lingüísticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compreender e as associações ratificadas pelo consentimento coletivo, e cujo conjunto constitui a língua, são realidades que tem sua sede no cérebro.[...] A língua como instituição social [...] é ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. [...] a língua como realidade sistemática e funcional {...] é um sistema de signos que exprimem idéias.
A concepção de língua em Saussure implica em três aspectos, como foi observado
antes: hábito lingüístico, produto social e sistema de signos. A língua, como hábito
lingüístico, exclui o aspecto criativo da linguagem humana e o papel do indivíduo como dono
de sua própria fala. A língua, como produto social exclui a atuação do falante e o coloca no
papel de receptor de uma língua pronta. E a língua, como sistema de signo, é conseqüência de
um pressuposto teórico-metodológico para tornar a lingüística uma ciência autônoma e que,
portanto, exclui de sua análise a fala e o falante. Infere-se que, tal concepção não é suficiente
para uma análise entre língua e sociedade, por exemplo, porque, em sua teoria, não
correlaciona as mudanças sociais às mudanças lingüísticas. Por meio dessas leituras,
constatou que isso se deve ao que, nas palavras de Geraldi (1996: 50):
Herdamos do estruturalismo francês uma concepção de linguagem como capacidade humana de construção de sistemas semiológicos e, emaranhados na discussão sobre o objeto da ciência lingüística, acabamos nos debruçando sobre a língua, entendida como um sistema de signos utilizados por uma comunidade para a troca comunicativa. A descrição do sistema ocupando o tempo do lingüista deste século acabou por relegar a segundo plano a discussão desta capacidade de linguagem que caracterizaria o humano.
Em outras palavras, a língua foi concebida como um sistema de signos usado para a
comunicação. Diante de uma concepção de língua como um sistema usado pelo homem para
estabelecer a troca comunicativa, constata-se que o aspecto comunicativo da língua está na
capacidade do signo de exprimir idéias. Assim, na Teoria do Signo Lingüístico, segundo
Carvalho (2000:27), “o signo é a união do sentido e da imagem acústica. O termo sentido
significa conceito ou idéia”. Então, deduz-se os indivíduos transmitem idéias através do uso
do signo lingüístico. Cabe, então, questionar, não a função comunicativa da linguagem, mas
como se estabelece a comunicação entre os indivíduos. Em relação à troca comunicativa
Fiorin (2002: 26), a afirma que:
No início do século XIX a afirmação de Saussure de que a língua é fundamentalmente um instrumento de comunicação constituiu uma das rupturas principais da lingüística saussureana, em relação às concepções anteriores dos comparatistas e das gramáticas gerais do século XIX. Para esses estudiosos, a língua era uma representação, ou seja, representava uma estrutura de pensamento, que existiria independentemente da formalização lingüística, e a comunicação e a ‘lei do
menor esforço”, que a caracterizavam seriam as causas da “desorganização’ gramatical nas línguas, do seu declínio e transformação em “ruínas lingüísticas”
Do ponto de vista da concepção de língua, a contribuição do Estruturalismo para uma
nova concepção deve-se à ruptura na concepção dos comparatistas e das gramáticas gerais,
embora essa concepção não seja suficiente para uma análise da relação entre língua e
sociedade. Contudo, ela representou um passo importante nos estudos lingüísticos. Sabe-se,
pois, que a concepção de língua para Saussure é uma questão que implica em conceber a
língua como instrumento de comunicação. Mais tarde, o modelo de comunicação na Teoria da
Informação, segundo Fiorin (2002: 30), apresenta a língua como código, como se pode
confirmar na leitura do texto a seguir:
A língua passa a ser denominada código, termo mais abrangente e que pode se referir a sistemas lingüísticos e não-linguísticos como, por exemplo, os códigos de sinais entre as abelhas, o código de trânsito. Na teoria da comunicação o termo código é usado em lugar de língua [...].
A Teoria da Informação vê a comunicação de uma perspectiva diferente das Teorias da
Linguagem, pois, a Teoria da Informação tem por objetivo estipular as quantidades de
informações a serem transmitidas e a economia na mensagem, ou seja, codificação e
capacidade de transmissão do canal. No âmbito da comunicação verbal, oral ou escrita, a
Teoria da Informação apresenta dificuldades como as apontadas por Fiorin (2002: 32):
a) simplificam a comunicação verbal; b) é um modelo linear da comunicação e diz respeito ao plano da expressão e a mensagem é uma seqüência de sinais; c) é um modelo mecanicista que deixa à margem as questões extralingüísticas ou o contexto sócio-histórico e cultural.
A Teoria da Informação vê a língua como código e estabelece como princípios a
quantidade e a economia da mensagem. Por outro lado, a comunicação verbal, do ponto de
vista lingüístico, concebe a língua como um código usado na comunicação, mas há a
preocupação com as características da mensagem. Segundo Fiorin (2002: 34), nesse sentido:
A contribuição da proposta de Jakobson para a comunicação verbal, pode ser entendida nas características da mensagem. Isto é, os textos podem empregar mais de uma função sendo que o que caracteriza a esse texto é a predominância de uma função. E os procedimentos lingüísticos (gramaticais e estilísticos) e discursivos produzem efeitos de sentido relacionados com as funções que permite identificá-las. Inclui-se léxico, expressões e, sintaxe, etc. Então, nos estudos da linguagem há o reconhecimento do papel da comunicação. Entretanto, está não se dá apenas por uma única função.
A leitura acerca da Teoria da Informação é interessante, porque permite verificar,
sobretudo, que a língua é concebida como código e que tal concepção adentrou o campo dos
estudos linguísticos somando-se a concepção de língua como instrumento de comunicação.
Mais tarde, tal concepção foi reformulada por Jakobson, prioritariamente, para a comunicação
verbal, a qual possui elementos básicos como: remetente ou emissor; destinatário ou receptor;
mensagem, referente ou contexto; contato e código. A partir dessas leituras, conclui-se que é
inegável a função comunicativa da linguagem.
Por outro lado, os estudos lingüísticos de Noam Chomsky apresentam uma concepção
de linguagem como uma capacidade inata do homem. Nesse sentido, Lucchesi (2004: 214),
fala que:
[...] Para Chomsky e seus seguidores, a dimensão estrutural e estruturante do fenômeno lingüístico situa-se fora do que pode ser referido por qualquer interpretação da definição saussuriana de língua como fato social. Isso implica dizer que ela não deve ser prioritariamente buscada, nem na língua como objeto histórico e cultural, nem como um sistema que se depreende indutivamente a partir das constâncias observadas em uma quantidade representativa de atos de fala concretos (nesse sentido, um sistema de padrões objetivos, em certa medida análogos aos demais padrões da cultura), e nem mesmo como saber objetivado e transmitido no convívio social (que o falante aceita passivamente, na fórmula do estruturalismo de inspiração durkheimiana, ou como uma folha em branco, conforme o estruturalismo de inspiração behaviorista). Segundo o gerativismo, a dimensão estrutural e estruturante do fenômeno lingüístico situa-se fora de sua dimensão social cultural, e sim em sua dimensão individual psíquico-biológica. Ela se situa na faculdade humana da linguagem; uma faculdade inata, transmitida geneticamente e comum a todos os seres da espécie humana.
Nesse texto, a afirmação de que Chomsky concebe a língua como uma capacidade
inata do homem está para a concepção de linguagem em um sentido amplo, como fora citado
antes nesse capítulo. Além disso, essa concepção se mostra em oposição à concepção de
língua no Estruturalismo. A diferença entre as duas teorias está no fator externo/interno. Para
o Estruturalismo a língua é um fator externo ao indivíduo, enquanto que para o Gerativismo a
língua é um fator interno. Isto é, a linguagem, como fator interno, é entendida como uma
dimensão individual psíquico-biológica. Nesse sentido, Fiorin (2002: 96) fala que:
A Gramática Gerativa assume que os seres humanos nascem dotados de uma faculdade da linguagem, que é um componente da mente/cérebro especificamente dedicado à língua. Essa faculdade da linguagem, em seu estado inicial, isto é, no estado em que ela está logo que a criança nasce, é considerada uniforme em relação a toda a espécie humana. Isso significa que todas as crianças, venham elas a ser falantes de português, chinês ou suahíli, são dotadas da mesma faculdade da linguagem e partem do mesmo estado inicial. Esse estado inicial vai sendo modificado à medida que a criança vai sendo exposta a um determinado ambiente lingüístico. Assim, uma criança que cresce em um ambiente lingüístico em que se fala português desenvolve o conhecimento dessa língua, a partir da interação da informação genética que ela traz no estado inicial de sua faculdade da linguagem com os dados lingüísticos a que é exposta. A mesma coisa vai acontecer com uma criança que cresce ouvindo chinês ou suahíli. Esse conhecimento permite às crianças construírem todas as sentenças possíveis de sua língua e somente elas.
No texto de Neto (2009: 99-100), encontra-se uma explicação mais detalhada sobre a
implicação do fator externo / interno relacionado à linguagem e ao indivíduo:
Em primeiro lugar, o objeto de estudos do Estruturalismo era a língua, entendida como a totalidade dos enunciados que podem ser feitos numa comunidade lingüística [...]. Cabia ao lingüista descrever essa língua, e isso era feito a partir da coleta de um corpus representativo, que era descrito minuciosamente com o instrumental fornecido pelos procedimentos de descoberta. O que chama a atenção de Chomsky é a necessidade de se supor a existência de algo anterior à língua dos estruturalistas: a capacidade que os falantes têm de produzir exatamente os enunciados que podem ser feitos. Em outras palavras, Chomsky desloca a questão fundamental da teoria lingüística para a determinação das regras que regem os corpora representativos, que deixam assim de ser o ponto de partida da teoria lingüística e passam a ser o seu ponto de chegada. Para Chomsky, a comunidade lingüística possui um conhecimento compartilhado sobre os enunciados que podem e os que não podem ser produzidos, e é justamente este conhecimento que precisa ser descrito e explicado pela teoria lingüística. O corpus representativo é resultado
desse conhecimento e partir dele é metodologicamente desinteressante. Para Chomsky, um bom indício da existência deste conhecimentos é a criatividade lingüística: a habilidade que o falante de uma certa língua tem de produzir e de compreender sentenças às quais nunca foi exposto antes.
Para Chomsky, a língua não deve ser analisada como produto, mas como uma
habilidade para gerar esse produto, ou seja, as regras que são internalizadas pelos falantes ao
entrarem em contato com comunidade lingüística primária. Em outras palavras, há um
conhecimento que o falante possui e que o habilita a criar e compreender sentenças.
O conhecimento da língua, a qual se refere Chomsky é o conhecimento lingüístico
adquirido no ambiente no qual o indivíduo interage. Dessa forma, pode-se afirmar que o
indivíduo já domina uma variedade da língua materna. Com esse conhecimento, o individuo é
capaz de construir muitas sentenças, pois já conhece as regras gramaticais de sua língua.
Essas regras gramaticais são entendidas como a possibilidade de construir frases inteligíveis
na língua materna. Em sua teoria, Chomsky buscou descrever e explicar as características
particulares do conhecimento lingüístico adequado e amplamente desenvolvido nos primeiros
anos de vida de um ser humano independentemente de instrução. Assim a Teoria Gerativa se
ocupa do conhecimento lingüístico para explicá-lo e descrevê-lo.
A contribuição da teoria de Chomsky está na possibilidade de descrever e explicar o
conhecimento lingüístico. Segundo Chomsky, o falante nativo internaliza a língua a qual está
exposta. Dessa maneira, o indivíduo é conhecedor de sua língua, e deve ir à escola para
aprender a variedade padrão, que é diferente daquela que ele aprendeu no ambiente lingüístico
de que faz parte. Embora o Gerativismo tenha se esforçado em prol da descrição e explicação
dos fenômenos lingüísticos, essa teoria falha, porque, segundo Koch (2007: 09):
Tanto a Lingüística Eestrutural quanto a Gerativa, portanto, procuravam descrever a língua em abstrato, fora de qualquer contexto de uso. Muitos lingüistas, contudo, especialmente em países europeus (tome-se como exemplo a França, a Alemanha. A Inglaterra), passaram a voltar sua atenção para a linguagem enquanto atividade, para as relações entre língua e seus usuários e, portanto, para a ação que se realiza na e pela linguagem: vai ganhando terreno, aos poucos, a Lingüística Pragmática.
O Estruturalismo ao conceber os estudos lingüísticos fora de qualquer contexto de uso
significa o que Lucchesi (2004: 55) chama de ostracismo, como afirma no seguinte texto:
Ao conceber a língua como um sistema homogêneo e unitário, Saussure não apenas a separou de seu contexto social, como também se viu obrigado a retirar esse sistema lingüístico do devir temporal. Em Sussure, o processo teórico de construção do objeto de estudo da lingüística foi orientado somente para a dimensão estrutural e estruturante da linguagem. Isso impediu, por um lado, uma adequada consideração da determinação dos fatores sociais sobre a língua; e, por outro lado, tornou tal esquema teórico incapaz de incorporar o fato fundamental da dimensão sócio-histórica do fenômeno lingüísticos: a mudança.
Por outro lado, o Gerativismo de Chomsky apesar de conceber a linguagem como uma
capacidade inata do homem, reduz essa capacidade a um conhecimento lingüístico baseado
em valores lógicos. O Gerativismo falha porque, segundo Possenti (2006: 50):
A Gramática Gerativa só considera enunciados ideais produzidos por um falante ideal que pertença a uma comunidade lingüística ideal. Além disso, concebe a língua como espelho do pensamento, o que implica fazer uma semântica de base lógica privilegiando o valor de verdade dos enunciados. E isso representa uma exclusão de todas as outras funções da linguagem.
A linguagem como forma de interação, aponta outro caminho para os estudos
linguisticos e enquadra-se na terceira corrente de estudos lingüísticos, conforme Geraldi
(2006). Essa concepção, para Koch (2007: 11), ou seja, a visão da linguagem como
intersubjetiva deriva de dois grandes pólos: de um lado, a Teoria da Enunciação; de outro
lado, a Teoria dos Atos de Fala. Segundo Koch (ib.: 12):
A Teoria da Enunciação tem por postulado básico que não basta ao lingüista preocupado com questões de sentido descrever os enunciados efetivamente produzidos pelos falantes de uma língua: é preciso levar em conta, simultaneamente, a enunciação – ou seja, o evento único e jamais repetido de produção do enunciado. Isso porque as condições de produção (tempo, lugar, papéis representados pelos interlocutores, imagens recíprocas, relações sociais, objetivos visados na
interlocução) são constitutivas do sentido do enunciado: a enunciação vai determinar a que título aquilo que se diz é dito.
Diferente da Teoria Estruturalista e da Teoria Gerativista, a Teoria da Enunciação
mostra que, mais que descrever os enunciados da língua, é preciso levar em conta as
condições de produção dos enunciados. Isso pressupõe atentar para o tempo, lugar, papéis que
os falantes desempenham quando falam, as relações sociais, os objetivos da interlocução.
Porém, tudo isso só é tomado como princípio, porque, para a Teoria da Enunciação, o sentido
dos enunciados é construído nessas condições de produção. Isso é que constitui a enunciação.
Quanto à inauguração da Teoria da Enunciação, Koch (ib.: 12) declara que:
Teve como precursor o pensador russo M. Bakhtin, ganhou impulso na França com a obra do lingüista Émile Benveniste, que se propôs estudar a subjetividade na língua, o aparelho formal da enunciação. Para tanto, tomou como principais pontos de partida os sistemas pronominais e verbais do francês.
O conceito de enunciado declarado no texto de Koch é esclarecido por Guimarães
(2006: 121) da seguinte maneira: “o enunciado é a frase quando considerada nas condições
em que é dita”. Nesse sentido, Guimarães (2006: 124) onsidera que:
A enunciação é o acontecimento em que a língua funciona e assim constitui sentido. E ao constituir sentido constitui aquele que fala enquanto locutor, e seu interlocutor como destinatário. [...] Nos estudos semântico-pragmáticos, ao se considerarem o sujeito do dizer na enunciação, tratam aquele que fala como o locutor, e aquele para quem ele fala como destinatário.
Segundo Guimarães (2006:126) na enunciação “a linguagem significa, porque há
falantes (portando línguas) que dizem coisas”. Sendo assim, o falante assume papel relevante
na constituição da linguagem e do sentido. Na enunciação, a situação, o lugar e o sentido
compõem aquilo que se denomina língua em funcionamento, enunciada por alguém (falante).
Devemos, pois, entender o termo situação como o conjunto de indivíduos e das coisas
relacionadas com o dizer: a pessoa, enquanto indivíduo, que fala, a pessoa enquanto
individuo, a quem se fala, o ambiente físico especifico no qual se está quando se fala, os
objetos desse ambiente referidos pelas palavras, etc”. Para corroborar esses aspectos
Guimarães (ib.: 124) apresenta o seguinte exemplo:
Se pensarmos na língua portuguesa, o que significa a palavra moça? Poderíamos dizer, consultando nossas memórias ou um dicionário: “mulher jovem (de pouca idade)”. Mas basta pensarmos em algumas frases para observarmos que não é exatamente isso: (23) A moça que passou em frente da loja é minha vizinha. Ela tem 20 anos. (24) A mulher que passou em frente da loja é minha vizinha. È moça ainda. Para a seqüência (24) podemos inclusive pensar que a pessoa referida por a mulher pode ter uma idade que poderia levar a considerá-la como velha, e a palavra moça re-significa esta idade (pensemos no caso de uma mulher de 50 anos). E re-significa, inclusive, porque moça, na seqüência (24) não é referencial como é (23). [...] Por exemplo. Em (23) moça aparece numa expressão referencial a moça , que é predicada no segundo enunciado de (23) por uma idade, enquanto em (24) aparece numa expressão predicativa que acaba por predicar mulher do primeiro enunciado.
O exemplo demonstra que a forma como o falante organiza seus enunciados
compõe o sentido dos enunciados, ora tomando referências lingüísticas, ora re-
significando as palavras usadas, como no caso dos enunciados (23) e (24). Guimarães
lembra, inicialmente, que a palavra moça tem um sentido pronto disponibilizado pelo
dicionário ou internalizado em nossas memórias, porém não é suficiente para a análise
do sentido, uma vez que tal sentido é construído pelo falante.
A Teoria da Enunciação traz o conceito de enunciado como principio para os
estudos sobre a língua, enquanto que na Teoria dos Atos de Fala, Koch (2007: 17) fala
que:
A Teoria dos Atos da Fala surgiu no interior da Filosofia da Linguagem, tendo sido, posteriormente, apropriada pela Lingüística Pragmática. Filósofos da Escola Analítica de Oxford, tendo como pioneiro J. L. Austin, seguido por Searle, Strawson e outros, entendendo a linguagem como forma de ação (todo dizer é um fazer), passaram a refletir sobre os diversos tipos de ações humanas que se realizam através da linguagem: os atos da fala, atos de discurso e atos de linguagem.
Segundo Koch (2007: 18), na teoria dos Atos de Fala há três tipos de atos:
locucionários, ilocucionários e perlocucionários. A autora explica cada um deles da
seguinte maneira:
a) Ato locucionário consiste na emissão de um conjunto de sons, organizados de acordo com as regras da língua. [...] constitui-se de um ato de referência e um ato de predicação. Através do ato de referência, designa-se (pinça-se) uma entidade do mundo extralingüístico e por meio do ato de predicação atribui-se a essa entidade uma certa propriedade, característica, estado ou comportamento (por exemplo: João / é estudioso; a fera / atacou os exploradores).
b) Ato ilocucionário atribui a esse conjunto (proposição ou conteúdo proposicional) uma determinada força: de pergunta, de asserção, de ordem, de promessa, etc. Exemplos: A Terra é redonda (eu assevero que a Terra é redonda); A Terra é redonda? (eu pergunto se a terra é redonda) e Retire-se! (eu ordeno que você se retire)
c) Ato perlocucionário é aquele destinado a exercer certos efeitos sobre o interlocutor: convencê-lo, assustá-lo, agradá-lo, etc., efeitos que podem realizar ou não. Por exemplo, um ato de persuasão pode não persuadir o interlocutor, um ato de ameaça pode não surtir nenhum efeito. O ato ilocucionário, em contrapartida, pelo simples fato de ser enunciado, realiza a ação que nomeia.
Os atos locucionários, ilocucionários e perlocucionários constituem os atos de
fala, que sevem de princípio para a análise da língua. Para finalizar os comentários
sobre os atos de fala, Koch (ib.: 19), diz que:
Todo ato de fala é, ao mesmo tempo, locucionário, ilocucionário e perlocucionário, caso contrário não seria um ato de fala: sempre que se interage através da língua, profere-se um enunciado lingüístico dotado de certa força que irá produzir no interlocutor determinado(s) efeito(s), ainda que não aquele(s) que o locutor tinha mira.
Os atos de fala colocam em relevo a habilidade do falante ao proferir os enunciados.
Nesse papel, os falantes agem por meio da linguagem, uma vez que, como herança da
Filosofia da Linguagem, todo dizer é um fazer. Da mesma forma, Guimarães (ib.: 132) fala
que na Teoria dos Atos de Fala, ‘dizer um enunciado não é somente dizer algo, mas é fazer
algo”, como pode observar no exemplo dado por Koch (ib.: 12):
O dia está bonito, em diversas situações de enunciação, pode ter sentidos bastante diferentes: pode tratar-se de uma asserção (uma simples constatação), de uma pergunta (O dia está bonito?), de uma demonstração de surpresa (o dia está bonito!); pode tratar-se de uma sugestão ou de um convite para um passeio ou mesmo de um aviso ou de uma ameaça (por ex., um amigo me deve um dinheiro; avisei-o de que estava gripado, mas, no primeiro dia bonito, iria cobrar-lhe a dívida. Telefono-lhe e digo: (O dia está bonito). Em síntese: a par daquilo que efetivamente é dito, há o modo como o que se diz é dito: a enunciação deixa no enunciado marcas que indicam (mostram) a que título o enunciado é proferido).
O exemplo de Koch revela a multiplicidade de sentidos que o enunciado ‘O dia está
bonito’ pode assumir depois que é proferido pelo falante. Essa diversidade de sentido não
seria possível decrescer se levesse-se em conta apenas a estrutura da frase: um sujeito +
verbo, uma vez que essa estrutura faz parte da frase em todos os sentidos que ela assume
depois de proferida. Essas condições de produção comentadas mostram-se produtivas para a
análise da língua em uso. Seguindo esse pensamento, Leite (2006: 22-23) afirma que:
[...] a linguagem não é nem simples emissão de sons, nem simples sistema convencional, como quer um certo positivismo, nem tampouco tradução imperfeita do pensamento, vestimenta de idéias mudas e verdadeiras, como concebe um pensamento idealista. Pelo contrário, é criação de sentido, encarnação de significação e como, tal, ela da origem a comunicação”.
Tal concepção está de acordo com a concepção de linguagem como interação humana,
porque abandona a idéia de linguagem como espelho do pensamento, descarta a idéia
mecanicista de uma comunicação onde o indivíduo é passivo, que codifica e decodifica, e
assume o caráter intencional da linguagem que coloca, em relevo, o modo como a língua é
usada para a comunicação. Expõe, portanto, que a linguagem é um trabalho humano. Esse
caráter intencional da linguagem é uma característica humana e com ela o indivíduo torna-se
sujeito e age por meio da linguagem, o que possibilita a criação e efeitos de sentido que
tornam a língua dinâmica. É por isso, que não se pode colocar a linguagem como espelho do
pensamento, porque, segundo Marques (2003: 51), ‘a linguagem é sentido’. E através dessas
leituras conclui-se que a linguagem, como sentido, é construída numa relação entre locutores
e interlocutores, isto é, o sentido não é estático e não cabe em estruturas prontas. A
linguagem, como vista pelo Estruturalismo, não é suficiente, pois se ateve aos planos
fonológicos, morfológicos e lexicais e omitiu a presença do falante e os contextos de uso da
língua, enquanto que, o Gerativismo se ateve à descrição das estruturas das sentenças. Esses
estudos não primavam pelo uso da língua pelos falantes. Nesse sentido, a Gramática Gerativa
também não é suficiente para dar conta de todo o fenômeno lingüístico, porque faz uma
descrição estrutural das seqüências ou cadeias de constituintes em sintagmas e,
especificamente, em sentenças (estruturas gramaticais completas, interpretáveis
independentemente de contexto ou situações). Somente a partir da Lingüística da Enunciação
é que a linguagem passa a ser vista como uma forma de ação por meio da linguagem e lugar
de interação entre os indivíduos, nas manifestações lingüísticas em situações concretas.
Após a apreciação das concepções de língua e linguagem, passa-se às concepções de
sociedade que, como sabe-se ambas compõem o ponto de partida da Sociolingüística.
1.2 Concepções de Sociedade
As concepções de sociedade serão discutidas a partir dos pressupostos teóricos dos
autores clássicos como Durkheim, Marx e Weber. Esses autores, segundo Martins (1994: 37):
Independentemente de suas filiações ideológicas, procuraram explicar as grandes transformações por que passava a sociedade européia, principalmente as provocadas pela formação e desenvolvimento do capitalismo. Seus trabalhos forneceram preciosas informações sobre as condições da vida humana, sobre o problema do equilíbrio e da mudança social, sobre os mecanismos de dominação, sobre a burocratização e a alienação da época moderna. Geralmente, estes estudos clássicos, ao examinarem problemas históricos de seu tempo, forneceram uma imagem do conjunto da sociedade da época. Suas análises também estabeleceram, via de regra, uma rica relação entre as situações históricas e os homens que as vivenciavam, propiciando assim uma importante contribuição para a compreensão da vinculação entre a biografia dos homens e os processos históricos.
No texto de Martins, há a afirmação da importância dos autores clássicos, porque seus
empreendimentos em estudos científicos contribuíram para compreender a sociedade em que
viviam. Em outras palavras, como homens de seu tempo, contribuíram para que a sociedade
pudesse ser estudada através de métodos científicos.
A partir dessas leituras, abordar-se-ão as concepções de sociedade, tomando como
pressupostos teóricos os autores clássicos citados, os quais permitem, através de seus textos,
afirmar que a sociedade vive sob o reflexo do modelo econômico chamado capitalismo, que
influenciou e influencia as esferas da vida social. Quanto a isso, Quintaneiro et alii (2002: 08)
afirmam:
O avanço do capitalismo como modo de produção dominante na Europa ocidental foi desestruturando, com velocidade e profundidade variadas, tanto os fundamentos da vida material como as crenças e os princípios morais, religiosos, jurídicos e filosóficos em que se sustentava o antigo sistema. Profundos câmbios na estrutura de classes e na ossatura do Estado foram ocorrendo em muitas das sociedades européias. A dinâmica do desenvolvimento capitalista e as novas forças sociais por ele engendradas provocaram o enfraquecimento ou desaparecimento, mais ou menos rápido, dos estamentos tradicionais - aristocracia e campesinato - e das instituições feudais: servidão, propriedade comunal, organizações corporativas artesanais e comerciais. A partir da segunda metade do século 18, com a primeira revolução industrial e o nascimento do proletariado, cresceram as pressões por uma maior participação política, e a urbanização intensificou-se, recriando uma paisagem social muito distinta da que antes existia.
Diante de uma mudança social significativa, o que outrora era tradicional vê-se
esfacelado diante da nova ordem social, o capitalismo. Dessa maneira, todas as esferas da vida
social são afetadas, como afirma o texto de Quintaneiro (2002): as crenças, os princípios
morais, religiosos, jurídicos e filosóficos. Os fundamentos do capitalismo transformam
também os fundamentos da vida material. Nesse sentido, emerge uma nova concepção de
sociedade guiada, por exemplo, pela razão e pela força de trabalho, para Martins (1994: 05):
O século XVIII constitui um marco importante para a história do pensamento ocidental e para o surgimento da sociologia. As transformações econômicas, políticas e culturais que se aceleram a partir dessa época colocarão problemas inéditos para os homens que experimentavam as mudanças que ocorriam no ocidente europeu. A dupla revolução que este século testemunha - a industrial e a francesa - constituía os dois lados de um mesmo processo, qual seja, a instalação definitiva da sociedade capitalista.
Pode-se tomar a palavra revolução, como palavra-chave para a instalação da sociedade
capitalista, cujo cerne é o pensamento racional. A discussão das concepções de sociedade,
iniciar-se-á por Durkheim, que concebia a sociedade como um todo harmônico e, portanto,
desse ponto de vista, não era possível perceber uma sociedade permeada de conflitos. Isso se
deve ao que, segundo Martins (1994: 26), é preponderante na obra de Durkheim:
Ao enfatizar ao longo de sua obra o caráter exterior e coercitivo dos fatos sociais, Durkheim menosprezou a criatividade dos homens no processo histórico. Estes surgem sempre, em sua sociologia, como seres passivos, jamais como sujeitos capazes de negar e transformar a realidade histórica.
A partir do texto de Martins, em que a sociedade, na visão de Durkheim, está além do
indivíduo e atua sobre ele através de forças coercitivas, há uma concepção de homem
subjacente a essa concepção de sociedade. Isto é, o homem é um ser passivo e, portanto, as
leis sociais se sobressaem a ele. Essa subjacente concepção de homem é corroborada por meio
do uso das expressões “ser passivo” e “sujeito”. Sujeito seria, pois, aquele que age, que nega e
transforma uma realidade. Em Durkheim, a preocupação com a sociedade é extrema, o que
confirma a concepção de um indivíduo passivo, como principio para que se garanta a ordem
social. Mais adiante, Martins (1994: 26-27) afirma:
Disposto a restabelecer a "saúde" da sociedade, insistia que seria necessário criar novos hábitos e comportamentos no homem moderno, visando ao "bom funcionamento" da sociedade. Era de fundamental importância, nesse sentido, incentivar a moderação dos interesses econômicos, enfatizar a noção de disciplina e de dever, assim como difundir o culto à sociedade, às suas leis e à hierarquia existente. [...]
A pretensa saúde da sociedade se deve a existência de um ser passivo que obedece às
leis que regem uma sociedade. Assim, o homem seria “modelado” segundo os bons hábitos
para a manutenção da harmonia e, assim promover a estabilidade social. Segundo Martins
(1994: 25), para Durkheim:
A divisão do trabalho deveria em geral provoca uma relação de cooperação e de solidariedade entre os homens. No entanto, como as transformações sócio-econômicas ocorriam velozmente nas sociedades européias, inexistia ainda, de acordo com ele, um novo e eficiente conjunto de idéias morais que pudesse guiar o comportamento dos indivíduos. Tal fato dificultava o "bom funcionamento" da sociedade. Esta situação fazia com que a sociedade industrial mergulhasse em um estado de anomia, ou seja, experimentasse uma ausência de regras claramente estabelecidas. Para Durkheim, a anomia era uma demonstração contundente de que a sociedade encontrava-se socialmente doente.
No entanto, a concepção de Durkheim falha por menosprezar a criatividade do homem
e enfatizar a idéia de uma sociedade sem divisões de classe. Ora, se há uma sociedade com
leis e hierarquias, haverá conseqüentemente, em sentido amplo, uma certa divisão, ou seja, há
aqueles que planejam os acordos para manter a harmonia social e há aqueles que executam o
plano para manter a harmonia social.
Em oposição a essa concepção de sociedade de Durkheim, Marx fala de uma
sociedade dividida em classes, conforme pode-se observar nas palavras de Martins (1994: 27):
Se a preocupação básica do positivismo foi com a manutenção e a preservação da ordem capitalista, é o pensamento socialista que procurará realizar uma crítica radical a esse tipo histórico de sociedade, colocando em evidência os seus antagonismos e contradições. É a partir de sua perspectiva teórica que a sociedade capitalista passa a ser analisada como um acontecimento transitório. O aparecimento de uma classe revolucionária na sociedade - o proletariado - cria as condições para o surgimento de uma nova teoria crítica da sociedade, que assume como tarefa teórica a explicação crítica da sociedade e como objetivo final a sua superação.
A divisão em classes, as contradições e os antagonismos vão de encontro com a idéia
de sociedade, no ponto de vista do positivismo, uma sociedade homogênea. Segundo
Quintaneiro et alii (2002: 41-42),:
Marx distingue conceitualmente as classes em si, conjunto dos membros de uma sociedade que são identificados por compartilhar determinadas condições objetivas, ou a mesma situação no que se refere à propriedade dos meios de produção, das classes para si, classes que se organizam politicamente para a defesa consciente de seus interesses, cuja identidade é construída também do ponto de vista subjetivo. [...] A consciência de classe conduz, na sociedade capitalista, à formação de associações políticas (sindicatos, partidos) que buscam a união solidária entre os membros da classe oprimida com vistas à defesa de seus interesses e ao combate aos opressores.
Nessa concepção, há um deslocamento no enfoque sobre a sociedade, na qual a
preocupação com a estabilidade social é substituída pela preocupação com os antagonismos e
as contradições que ocorrem na sociedade. As críticas à realidade social teriam a finalidade de
levar a transformação dessa mesma realidade. Martins (1994: 31-32) declara que:
Vimos anteriormente que a sociologia positivista preocupou-se com os problemas da manutenção da ordem existente, concentrando basicamente sua atenção na estabilidade social. Como conseqüência desse enfoque, as situações de conflito existentes na nascente sociedade industrial foram em larga medida omitidas por esta vertente sociológica. Comprometido com a transformação revolucionária da sociedade, o pensamento marxista procurou tomar as contradições do capitalismo como um de seus focos centrais.
O enfoque marxista é na transformação da realidade permeada de conflitos e
contradições. Para que a mudança social, de fato, aconteça, o indivíduo tem de saber que vive
em uma sociedade divida em classes, que por sua vez vivem em conflitos consequentes do
modelo econômico dominante, ou seja, o capitalismo. Nesse sentido, segundo Quintaneiro et
alii (2002: 26): “A realidade histórica desenvolve-se enquanto manifestação da razão, num
processo incessante de auto-superação desencadeado pelo conflito e pela contradição que lhe
são inerentes. Tal é o movimento dialético, esse caminho que produz a si mesmo.” O texto de
Quintaneiro aponta para o que se pode chamar de fenômeno social como sendo um processo
dinâmico. O movimento dialético existe em função dos conflitos e das contradições na
realidade concreta da sociedade e, é ele quem move o processo de transformação. Martins
(ib.: 32) mostra que:
Para Marx, assim como para a maioria dos marxistas, a luta de classes, e não a "harmonia" social, constituía a realidade concreta da sociedade capitalista. Ao contrário da sociologia positivista, que via na crescente divisão do trabalho na sociedade moderna uma fonte de solidariedade entre os homens, Marx a apontava como uma das formas pelas quais se realizavam as relações de exploração, antagonismo e alienação. [...] As contradições que brotavam no capitalismo e que o caracterizavam, derivavam grosso modo do antagonismo entre o proletariado e a burguesia. Os trabalhadores encontravam-se completamente expropriados dos instrumentos de trabalho, confiscados pelos capitalistas. Estavam submetidos a uma dominação econômica, uma vez que se encontravam excluídos da posse dos meios de trabalho.
No modelo capitalista, a concepção de uma sociedade dividida em classes, de um lado
o burguês e, de outro lado, o proletariado, implica em um cenário de dominação e exploração
do proletariado. Esse último, por possuir menos poder econômico é expropriado, ou seja, é
privado da produção que executa. Além disso, é expropriado da própria liberdade, já que sua
jornada de trabalho é intensa. Nesse sentido, o papel de proletariado lhe garante a função de
‘dominado’. Desse modo, depreende-se que a capacidade do homem é sempre a capacidade
do homem mais forte política e economicamente, enquanto que o proletariado é o que tem
menos poder nessa relação, embora isso não o impeça de reivindicar seus direitos. Por outro
lado, Giddens (1991: 13) afirma que:
No todo, "o lado da oportunidade" da modernidade foi mais fortemente enfatizada pelos fundadores clássicos da sociologia. Tanto Marx como Durkheim viam a Era Moderna como uma era turbulenta. Mas ambos acreditavam que as possibilidades benéficas abertas pela Era Moderna superavam suas características negativas. Marx via a luta de classes como fonte de dissidências fundamentais na ordem capitalista, mas vislumbrava ao mesmo tempo a emergência de um sistema social mais humano. Durkheim acreditava que a expansão ulterior do industrialismo estabelecia uma vida social harmoniosa e gratificante, integrada através de uma combinação da divisão do trabalho e do individualismo moral. Max Weber era o mais pessimista entre os três patriarcas fundadores, vendo o mundo moderno como um mundo paradoxal onde o progresso material era obtido apenas à custa de uma expansão da burocracia que esmagava a criatividade e a autonomia individuais. Ainda assim, nem mesmo ele antecipou plenamente o quão extensivo viria a ser o lado mais sombrio da modernidade.
A crença na Modernidade, como uma era positiva, para o desenvolvimento econômico
e social, paulatinamente, mostra-se mais turbulenta e complexa. As divisões de classes se
tornam mais acentuadas e a sociedade com instituições, cada vez mais, burocráticas. Nessa
nova ordem social, a sociedade é composta, de um lado, por homens que planejam, por outro
lado, por homens que executam. Nesse momento transitório que é o capitalismo, com
mudanças nas esferas sociais, Quintandeiro et alii (2002: 27), mostra no texto seguinte a
questão da esfera religiosa:
Na passagem do idealismo para o materialismo dialético, Ludwig Feuerbach (1804-1872), hegeliano de esquerda, foi uma figura-chave. Feuerbach sustentava que a alienação fundamental tem suas raízes no fenômeno religioso, que cinde a natureza humana, fazendo com que os homens se submetam a forças divinas, as quais, embora criadas por eles próprios, são percebidas como autônomas e superiores.
Mais adiante, Quintandeiro et alii (2002: 28),fasla sobre a alienação como um aspecto
social:
Para Marx e Engels, a alienação associa-se às condições materiais de vida e somente a transformação do processo de vida real, por meio da ação política, poderia extingui-la. Na sociedade capitalista, o sujeito que realiza as potencialidades da história é o proletariado, libertando a consciência alienada que atribui à realidade histórica uma aparência mágica, enfeitiçada.
Para superar a alienação é necessária ação que, conseqüentemente, deve levar à
transformação da realidade. Tal transformação, como ato, é pertinente à natureza dos seres
humanos, por isso, segundo Quintaneiro et alii (2002: 30):
Na busca de atender às suas carências, os seres humanos produzem seus meios de vida. É nessa atividade que recriam a si próprios e reproduzem sua espécie num processo que é continuamente transformado pela ação das sucessivas gerações. A premissa da análise marxista da sociedade é, portanto, a existência de seres humanos que, por meio da interação com a natureza e com outros indivíduos, dão origem à sua vida material.
Os homens constroem sua vida material em um processo de interação entre homem
/homem e homem / natureza. Essa atividade interacional dá sentido a vida social do homem e
concretiza estilos de vida próprios a determinadas comunidades. Adiante, a concepção de
sociedade, na perspectiva de Max Weber, bem como na perspectiva de Marx, mostra-se
contrária à concepção de sociedade positivista de Durkheim. Weber concebe a sociedade
divida em instâncias. No Dicionário Houaiss, encontra-se este significado para a palavra
instância: “conjunto de fatores, funções ou valores que perfazem um determinado domínio,
campo, esfera; categoria, âmbito”. Nesse sentido, cabem as palavras de Quintaneiro et alii
(2002: 116), quando afirmam que, para Weber, a sociedade é um fenômeno puramente
econômico e definido na esfera do mercado. Assim, a esfera econômica compõe as instâncias
da sociedade. Quanto às esferas, para Weber, elas têm funcionamento próprio e suas lógicas
particulares que norteiam a ação dos indivíduos que fazem parte dela. Pode-se dizer que a
lógica de funcionamento dessas esferas torna possível que elas relacionem-se umas com as
outras. Dessa maneira, as esferas que, antes, eram conflitivas, agora, tornam-se propícias
umas as outras, como é o caso da esfera econômica e da esfera religiosa.
Para Weber os grupos que formam as classes podem ser classificados de maneira
positiva ou negativa. O grupo que possui valor positivo apresenta propriedades que lhe
favoreça, como propriedades em forma de terra ou conhecimentos, por exemplo. Aquele
grupo que possui valor negativo é, de alguma maneira, inferior ao primeiro, desde que
possuem menos propriedades. Entretanto, nesse último grupo, são mais comuns às ações
comunitárias. Utilizando essa classificação de grupos em um exemplo atual, citam-se grupos
que vivem em periferias e sofrem com a violência. Geralmente eles reúnem-se para fazer
campanhas para diminuir a violência, já que são moradores do local e compartilham do
sentimento de pertença ao grupo. Porém, para legitimar e ampliar sua campanha para que
tenham seus objetivos alcançados eles buscam apoio do grupo superior a eles e outras esferas
da sociedade, por exemplo, artistas em geral, autoridades.
O panorama das concepções de sociedade através dos autores clássicos, permite inferir
que a sociedade deve ser compreendida como um fenômeno heterogêneo, marcada por
processos históricos, como apresentadas em Marx e Weber. Isto é, uma sociedade divida em
classes e em instâncias o que lhe realça a heterogeneidade, que por sua vez, segundo o
Dicionário Houaiss, aquilo que possui natureza desigual e/ou apresenta diferença de estrutura,
função, distribuição etc. Os processos históricos apontam para sociedades permeadas de
diversidade, porque em sua formação são influenciadas por fatores históricos, geográficos,
econômicos, sociais na compreensão do mundo. Segundo o dicionário Houaiss, diversidade
significa “qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado; variedade”, o que em outras
palavras, a sociedade pode ser interpretada de formas diferentes. É, portanto, possível
empreender mudanças significativas nas esferas da sociedade, embora elas envolvam
processos complexos de reflexão e de ação.
1.4 Língua, Linguagem e Sociedade
Língua, linguagem e sociedade implicam em uma postura reflexiva sobre em quais
aspectos tais concepções se entrecruzam para a compreensão do fenômeno lingüístico. Nesse
sentido, Alkmim (2001: 21) fala que:
Linguagem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Mais do que isso, podemos afirmar que essa relação é a base da constituição do ser humano. A história da humanidade é a história de seres organizados em sociedade e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua.
O estudo das concepções de língua e linguagem, no início deste capítulo, permite uma
compreensão de linguagem como um sistema amplo de comunicação. Nesse campo, a língua
é um dos sistemas da linguagem, que faz do homem um ser com a habilidade para o ato
comunicativo e criativo através da língua. Na relação língua e sociedade é colocada a relação
dos fatos da língua com as esferas sociais. Nesse sentido, conforme Weber, as esferas sociais
são: econômica, religiosa, social, jurídica. Em cada esfera dessa, a língua é usada de uma
forma particular. Um exemplo é a linguagem jurídica com termos latinos que são
compreendidos por quem tem formação na área de Direito e áreas afins. Ou ainda, na esfera
econômica, as diferenças no uso da língua por falantes de classes altas, médias e baixas. As
classes altas e médias tendem ao uso da língua-padrão, prestigiada socialmente, enquanto que
as classes baixas tendem ao uso da linguagem popular, vulgar e, portanto, a menos
prestigiada.
Na concepção de língua, na perspectiva tradicional, que orientou uma sociedade
anterior aos estudos modernos no campo lingüístico, Bagno (2002: 22) fala que:
É uma concepção que trabalha com abstrações. É muito comum falarmos sobre a língua, como se ela fosse um sujeito animado, uma entidade viva: a língua é difícil, a língua oferece a possibilidade de..., podemos classificar esta língua como..., é preciso defender a língua, a língua nasce, vive e morre e assim por diante. Assim, essa língua é pensada como se não estivesse neste mundo, como se fosse um objeto místico a ser buscado sem jamais poder ser alcançado[...].a língua é tratada como se existisse numa outra dimensão, supranatural[...]
A língua é vista como se fosse um ser fora do indivíduo e, como um ser animado, se
sobrepõe a esse indivíduo. Tal concepção de língua vem acompanhada de expressões como a
língua é difícil, etc. Ou ainda, como é comum na experiência de professores de língua
portuguesa, ouvirem de alunos a expressão “não sei falar português”. Se for feita uma análise
dessas expressões, tomando com objeto a língua, chegr-se-á à essa conclusão de uma
concepção de língua como um ser animado, como disse Bagno (2002: 22). Mais adiante,
ainda em Bagno (2002: 27) observa-se que:
Por causa dessa concepção de língua (>norma > gramática) como uma abstração, arrancada de sua realidade social, histórica e cultural, é que existe uma dinâmica muito grande entre as regras gramaticais descritas e prescritas pela norma-padrão (NP) tradicional, ideal de língua (supostamente) codificado nas gramáticas normativas, e o uso real dos recursos lingüísticos, empiricamente verificável, por exemplo, nas múltiplas variedades do português do Brasil.(p. 27)
Essa língua arrancada de sua realidade social, histórica e cultural é que se apresenta
como uma língua supranatural para o falante. Uma língua sobreposta ao falante, lembra as
palavras de Carvalho (2000: 51) que, nesse sentido, aponta para a concepção de língua em
Saussure, que por sua vez foi influenciado pela sociologia:
Aprofundando a base teórica dessa dicotomia fundamental para a compreensão da obra de Saussure, somos levados a reconhecer a influência incontestável e decisiva que o debate entre os dois expoentes da Sociologia de então, Durkheim e Tarde, exerceu sobre ele. [...] Para Saussure, sendo a língua uma instituição social, socialmente devem ser entendidos seus signos, uma vez que o signo é social por natureza. Considera ele que a língua, como representação coletiva, se impõe ao indivíduo inapelavelmente.
A concepção de Saussure retoma a questão de língua com uma entidade sobreposta ao
indivíduo, como na perspectiva tradicional, renovada apenas pelo fato de não atribuir à língua
um caráter de expressão do pensamento, uma vez que apresenta o caráter comunicativo para
língua através da relação da arbitrariedade do signo. Lucchesi (2004: 36-37) demonstra o
parentesco entre o pensamento saussuriano com o positivismo, através da adoção de conceito
de fato social de Durkheim:
A língua como fato social, é, para Saussure, exterior ao indivíduo, e este a aceita passivamente. Em última instância, a constituição desse objeto ideal, a língua unitária e homogênea, opões-se ao seu existir concreto, que se atualiza efetivamente nas relações socioculturais e ideológicas que a atividade lingüística engendra e no interior das quais ela se constitui. Um existir que não se pode apreender fora da relação dialética que reúne o plano do indivíduo ao plano social.
Lucchesi (2004: 49-50), aponta para a questão da concepção de língua do
Estruturalismo:
Concepção de língua como sistema unitário, homogêneo e fechado em sua lógica interna apóia-se decisivamente na idéia de que língua se impõe de maneira inexorável ao indivíduo. Assim sendo, o sistema estaria imune às intervenções das relações sociais. Situa-se, pois, na dialética entre o social e o individual o ponto de superação da rígida dicotomia saussuriana. Essa contradição entre o plano social da língua e o plano do indivíduo falante (abstraído de suas relações sociais) se perpetuará ao longo do desenvolvimento do estruturalismo lingüístico, constituindo um dos pontos cruciais a ser atacados pela ruptura epistemológica implementada pelo modelo teórico da sociolingüística variacionista, na década de 1960. Segundo esse modelo teórico, longe de aceitar passivamente a estrutura da língua, o indivíduo atua sobre essa estrutura, consoante a maneira como está inserido no contexto social.
No texto de Lucchesi (2004) é visível o ponto de ruptura da Sociolingüística com a
dicotomia saussuriana pelo fato de considerar as intervenções das relações sociais no sistema
lingüístico. Essa dialética é que atualiza os usos da língua pelos falantes. O indivíduo deixa de
ser passivo, porque, segundo Conseriu apud Lucchesi (2004: 47), “o indivíduo não muda o
fato social se outros indivíduos não aceitam a mudança.” Em outras palavras, o sujeito não
muda a língua a não ser que a mudança não se faça presente e seja aceita no uso da língua. A
percepção das mudanças no plano social e no plano lingüístico retoma a concepção de
sociedade como um fenômeno heterogêneo, como em Marx e Weber. Uma sociedade
dividade em classes e instâncias será heterogêna, bem como apresentará essa heterogeneidade
no uso da língua pelos falantes. Assim, a ruptura epistemológica afirmada por Lucchesi
(2004: 49-50) será mais acentuada nas décadas posteriores, como mostra Geraldi (1996: 54):
A partir da década de 1980, ao mesmo tempo em que no interior de programas de pesquisa uma concepção nova de linguagem instaurava-se – especialmente na lingüística textual, na análise do discurso e na sociolingüística -, muitos professores universitários brasileiros passam a articular suas reflexões teóricas a propostas alternativas de ensino da língua materna. Às vezes sem respostas suficientemente claras, as sugestões concretas derivaram de análises lingüísticas muito precisas (por exemplo, as marcas de torneios argumentativos presentes em relatores sentenciais, mostrados pela semântica argumentativa). Outras vezes, a eleição de um posto especifico de observação, por exemplo a interação como lugar de constituição de sujeitos e de linguagem, levou à distinção entre redação e texto, e desta distinção a propostas de trabalhos muito próximas daquelas defendidas pela Pedagogia de Freinet.
Essa ruptura epistemológica instaurada pela concepção de língua como forma de
interação permitiu avanços na compreensão do fenômeno lingüístico, uma vez que as
concepções anteriores não se mostravam suficientes para empreender uma análise satisfatória
da linguagem que refletisse em benefícios tanto para o ensino da língua materna como para a
compreensão das mudanças nos usos da língua pelos falantes. Dessa maneira, infere-se que a
relação entre linguagem e sociedade permite trilhar caminhos que tragam avanços em estudos
linguísticos com análises pertinentes aos planos social e lingüístico, entendendo a língua
como uma forma de interação entre os homens. Nessa dialética que é a interação, a influência
de fatores sociais como idade, sexo, classe social, escolaridade, profissão, elementos de
cultura, entre outros, tornam-se fatores pertinentes à análise lingüística.
1.4 Variação Dialetal: As Teorias
A variação dialetal pode ser entendida como uma variação no uso de uma mesma
língua, influenciada por fatores geográficos e sociais como, por exemplo, região geográfica,
sexo, idade e profissão. Pode ser estudada a partir dos pressupostos teórico-metodológicos da
Sociolingüística, que por sua vez está situada no campo do Interacionismo, como afirma
Morato (2009: 311):
Inicialmente, o Interacionismo em Lingüística significou uma reação das posições teóricas externalistas contra o psicologismo que impregnava a ciência da linguagem nos meados do século XX. Assim, num sentido largo do termo, podem ser considerados interacionais aqueles domínios da Lingüística – como a Sociolingüística, a Pragmática, a Psicologia, a Semântica Enunciativa, a Análise da Conversação, a Lingüística Textual, a Análise do Discurso – que se pautam por uma posição externalista a respeito da linguagem, isto é, que se interessam não apenas ou tão somente pelo tipo de sistema que ela é, mas pelo modo através do qual ela se relaciona com seus exteriores teóricos, com o mundo externo, com as condições múltiplas e heterogêneas de sua constituição e funcionamento.
Morato (2009: 311) afirma que a Sociolingüística se pauta numa posição externalista; em
outras palavras, significa dizer que o contexto social faz parte da análise empreendida para
compreender os fenômenos lingüísticos. Do contexto social depreende-se a heterogeneidade e
diversidade do uso da linguagem. Assim, a língua é um dos sistemas da linguagem, que faz do
homem um ser com a habilidade para o ato comunicativo e criativo através da língua.
Na relação contexto social e fenômenos linguísticos, Camacho (2001: 49-50) comenta
algumas teorias em áreas de estudos sobre a relação entre linguagem e sociedade com
enfoques diferentes, as quais são citadas a seguir:
1. Sociologia da Linguagem: lida com fatores sociais como decadência e assimilação de línguas minoritárias, desenvolvimento de bilingüismo em nações socialmente complexas, planejamento lingüístico em nações emergentes. 2. Etnografia da Comunicação: interesse em descrever e analisar as formas dos eventos de fala, em particular, as regras que dirigem a seleção que o falante opera em função dos dados contextuais relativamente estáveis, como a relação que ele
contrai com o interlocutor, com o assunto da conversa e outras circunstancias do processo de comunicação, como espaço e tempo e, sobretudo, as regras que dirigem o modo como cada participante sustenta a interação verbal em curso. Esse estudos, fortemente ligados à analise da conversação, têm-se abrigado recentemente no âmbito da corrente intitulada Sociolingüística Interacional. 3. Sociolingüística Variacionista: pretende o exame da linguagem no contexto social como um fator importante para as soluções dos problemas da teoria da linguagem. Fica claro ao sociolinguísta a que é necessário recorrer às variações derivadas do contexto social para encontrar respostas para problemas que emergem da variação inerente ao sistema lingüístico.
As áreas delimitadas na relação língua e sociedade, apresentam enfoques diferentes
e, no caso do estudo sobre a Variação Dialetal Parintinense, seguir-se-á a teoria da
Sociolingüística, quer quantitativa, quer qualitativa. Então, para a descrição da variação
dialetal falada em Parintins, seguir-se-ão os pressupostos teórico-metodológicos da
Sociolingüística, em um estudo orientado por meio das leituras de: Mollica e Braga (2008),
Tarallo (2001) Labov (2008), Alkim (2001), Camacho (2001) e Lucchesi (2004) entre outros
sociolinguistas. A partir dessas leituras, serão apresentados termos e definições pertinentes à
área da Sociolingüística, esclarecimentos sobre: Qual a concepção de língua para a
Sociolingüística? O que é variação lingüística? Quais os tipos de variação lingüística? Qual o
modelo teórico-metodológico da Sociolingüística? Como tratar as variações lingüísticas no
modelo teórico-metodológico da Sociolingüística ?
Tarallo (2001: 07) afirma que, para a Sociolingüística, a língua é “um veículo de
comunicação, de informação e de expressão entre os indivíduos da espécie humana. [...] e o
ponto de partida da Sociolingüística é a relação entre língua e sociedade”. Essa concepção de
língua, embora especifique os elementos que constituem a concepção de língua para a
Sociolingüística, não impede que se recorra ao texto que apresente maior dimensão dessa
concepção, que por sua vez está no texto de Lucchesi (2004: 198), com a seguinte afirmação:
A concepção de língua como um sistema heterogêneo constitui o momento crucial da ruptura epistemológica que a Sociolingüística opera em relação ao modelo estruturalista. Ao integrar, na concepção de língua como sistema heterogêneo, estrutura e mudança, a Sociolingüística busca construir uma representação teórica do fenômeno lingüístico que articule as suas dimensões estrutural e histórica. Na possibilidade de dar conta dessas duas dimensões antagônicas e fundamentais do fenômeno lingüístico através de sua concepção de língua, apóiam-se as pretensões da Sociolingüística de suceder o Estruturalismo, como condutor da pesquisa lingüística.
O texto de Luchesi afirma que a concepção de língua, como um sistema lingüístico
heterogêne, opera com elementos da estrutura lingüística e com os processos de mudanças
inerentes a esse sistema. Ainda sobre esse assunto, Mollica (2008: 09) declara que “todas as
línguas apresentam um dinamismo inerente, o que significa dizer que elas são heterogêneas.”
Portanto, essa concepção de língua como sistema heterogêneo permite que se delimite o
objeto de estudo para a Sociolingüística que, segundo Mollica (2008: 09-10):
A Sociolingüística considera em especial como objeto de estudo exatamente a variação, entendendo-a como um princípio geral e universal, passível de ser descrita e analisada cientificamente. Ela parte do pressuposto de que as alternâncias de uso são influenciadas por fatores estruturais e sociais. [...]. Antes de tudo, o lingüista deve compreender como se caracteriza uma determinada variação de acordo com as propriedades da língua, verificar seu status social positivo ou negativo, entender o grau de comprometimento do fenômeno variável no sistema e determinar se as variantes em competição acham-se em processo de mudança, seja no sentido de avanço, seja no de recuo da inovação. Em última análise, deve definir se o caso é de variação estável ou de mudança em progresso.
O objeto de estudo da Sociolingüística é a variação, a qual, nas palavras de
Mollica (2008: 10-11), vem descrista assim:
A variação lingüística constitui fenômeno universal e pressupõe a existência de formas lingüísticas alternativas denominadas variantes. Entendemos então por variantes as diversas formas alternativas que configuram um fenômeno variável, tecnicamente chamado de variável dependente.
A variação lingüística desdobra-se em variável e variante lingüística. Essa
variável pode se realizar através de duas variantes, ou seja, duas alternativas possíveis
e semanticamente equivalentes, por exemplo, a marca de concordância no verbo ou a
ausência da marca de concordância. O exemplo de variável lingüística, citado por
Mollica, é a concordância entre verbo e sujeito representada a seguir:
[s]
<s>
[φ]
Os parênteses usados em <s> significam a representação da variável lingüística;
nesse exemplo, é a marca de plural. O colchete com [s] representa a ocorrência da marca de
plural e o colchete com [φ] representa a não-ocorrência da marca de plural, respectivamente
nos exemplos: Os menino[s]/Os menino[φ]. Ambos os colchetes representam as variantes
para a marca de de plural. Para melhor compreensão do assunto, retoma-se a definição de
variante lingüística de Tarallo (2001) e Camacho (2001). Para Tarallo (2001: 08), “variantes
lingüísticas são, portanto, diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo
contexto, e com o mesmo valor de verdade. A um conjunto de variantes dá-se o nome de
variável lingüística”. Para Camacho (2001: 56), “as variantes lingüísticas representam duas ou
mais formas alternativas de dizer a mesma coisa no mesmo contexto. Já o termo variável [...]
trata de uma classe de variantes que constituem, estas sim, duas ou mais formas concretas de
uso”. Tanto em Mollica (2008), como em Tarallo (2001) ou em Camacho(2001) há a mesma
definição para variantes lingüísticas.
Geraldi (1996: 68-69), no texto a seguir, corrobora características que vão além da
visão lingüística sobre a variação, pois mostra uma dimensão social que inclui o que
intuitivamente o falante já sabe, sobretudo, por ser falante da língua e, afirma que:
Como aprendemos a língua no convívio com os outros e como as pessoas se repartem diferentemente na sociedade, a variedade lingüística que aprendemos é aquela falada no grupo social de que fazemos parte. Esta variedade é tão complexa como qualquer outra (também ela é um conjunto de recursos expressivos, e portanto, com uma gramática própria). Como repartição dos homens numa sociedade não é absolutamente sem conseqüências, o acesso a bens culturais da herança do passado se dá de forma diferenciada. Entre estes bens é preciso incluir a variada gama de bens culturais que representam diferentes modos de conceber a vida, as coisas, as gentes e suas relações. [...] a linguagem é precisamente esta atividade constitutiva de sistemas de recursos expressivos que remetem ao sistema de referências, isto é, às diferentes e amplas formas de representação. Aprender uma variedade lingüística é também aprender um sistema de referências.
Além das variações no plano da estrutura da língua, há a variação no plano social, o
qual se pode denominar tipos de variação. Para Mollica (ib.: 12) a variação lingüística:
Pode ocorrer nos eixos diatópico e diastrático. No primeiro, as alternâncias se expressam regionalmente, considerando se os limites físico-geográficos; no segundo, elas se manifestam de acordo com os diferentes estratos sociais, levando-se em conta fronteiras sociais
Alkmim (2001: 34), ao falar dos tipos de variação usa um termo diferente daquele
usado por Mollica, e apresenta o conceito da seguinte maneira:
De uma perspectiva geral, podemos descrever as variedades lingüísticas a partir de dois parâmetros básicos: a variação geográfica (ou diatópica) e a variação social (ou diastrática). A variação geográfica ou diatópica está relacionada às diferenças lingüísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origens geográficas distintas. [...] a variação social ou diastrática, por sua vez, relaciona-se a um conjunto de fatores que têm a ver com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade de fala. Nesse sentido, podemos apontar os seguintes fatores relacionados às variações de natureza social: a) classe social; b) idade; c) sexo; d) situação ou contexto social.
Mollica usa a palavra eixo, cujo significado, segundo o Dicionário Houaiss, é ‘ponto
mais importnte, o centro das atenções, para se referir à variação diatópica e diastrática,
enquanto que Alkmim (2001) usa a palavra parâmetro, cujo significado, segundo o Dicionário
Houaiss, é ‘uma variável para a qual se fixa ou à qual se atribui um valor e, por seu
intermédio se definem outros valores ou funções num dado sistema ou caso. Não cabe nesse
estudo entrar na discussão sobre a adequação dos dois termos usados para falar dos tipos de
variação, apenas, fica o registro do emprego de diferentes termos para nomear os tipos de
variação.
Na área da Sociolingüística, a partir dos textos de Alkmim (2001), Camacho (2001),
Tarallo (2001) e Mollica (2008), depreende-se que as variações nas línguas estão relacionadas
a diversos fatores como: origem geográfica, idade, sexo, situação ou contexto social, classe
social. Esses fatores serão tomados para a análise do fenômeno lingüístico, uma vez que a
Sociolingüística aborda as relações entre linguagem e sociedade. Dessa maneira, segundo
Alkim (2001: 34), de uma perspectiva geral, pode-se descrever as variedades lingüísticas a
partir de dois parâmetros básicos: variação geográfica (ou diatópica) e a variação social (ou
diastrática). Nesse sentido, em Camacho (2001: 57) há o seguinte texto sobre a variação e
suas causas sociais:
Já do ponto de vista da relação com fatores de natureza extralingüística, toda língua comporta variantes: (i) em função da identidade social do emissor; (ii) em função da identidade social do receptor; (iii) em função das condições de produção discursiva. Em função do primeiro fator, pertencem as variantes que se podem denominar dialetais em sentido amplo: variantes geográficas e socioculturais. Em função do segundo e do terceiro fatores, pertencem as variantes de registro ou estilísticas.
A importância dos fundamentos epistemológicos apresentados contribuiem para a
autonomia científica pretendida. Como fora falado antes, a descrição da variação dialetal
parintinense seguirá os pressupostos metodológicos da Sociolinguística Quantitativa e da
Sociolinguística Qualitativa. A Sociolinguística Quantitativa, também chamada de
Variacionista, segundo Tarallo (2001: 07), assume o caos lingüístico como objeto de estudo.
Esse caos lingüísticos se refere à variação e a mudanças inerentes ao sistema lingüístico. Por
isso, é que Tarallo esclarece que o caos lingüístico está para a língua que, a um só tempo, é
heterogênea e diversificada e a situação de heterogeneidade deve ser sistematizada. É isso que
pretende o modelo teórico-metodológico: sistematizar a variação para encontrar as
regularidades, operando, assim, para construir uma representação teórica do fenômeno
lingüístico que articule as suas dimensões estrutural e histórica. Lucchessi (2004: 194), mostra
como o modelo variacionista concebe a estrutura da língua:
Dentro do modelo variacionista, a estrutura da língua seria constituída por unidades e regras variáveis, que, simultaneamente, seriam restringidas pelos contextos estruturais lingüísticos e estariam correlacionados com os fatores sociais. O elemento da estrutura observado constituiria o que a terminologia variacionista designa por variável dependente, enquanto os fatores lingüísticos e sociais que atuam sobre esse elemento são denominados variáveis independentes. Assim, a descrição do sistema lingüístico ou da gramática passaria pelo estabelecimento das freqüências relativas dos valores de cada variável dependente (i. é, de cada variável da gramática) em função das variáveis independentes consideradas. A questão, então, é saber se essa gramática se situa no falante individual ou na coletividade [...]
A explicação apresentada no texto de Lucchesi será ilustrada com o exemplo sobre a
pronúncia da fricativa alveolar [s] em fim de sílaba, na palavra lápis.
[s]
<s>
[∫]
O [s] representa a variável dependente, pois faz parte da estrutura fonológica da língua
portuguesa, mas, nesse exemplo, aparece como arquifonema, porque nessa posição não ocorre
oposição de sentido entre palavras na língua portuguesa. A variante lingüística fricativa
alveolar [s] e a fricativa palatal [∫]. Em determinadas regiões do Brasil pode predominar uma
das duas pronúncias. O exemplo clássico da pronúncia palatal [∫] é a fala do carioca, mas essa
pronúncia é comum aos falantes do Pará e do Amazonas. A origem geográfica dos falantes
desses Estados será tomada como variável independente. Nesse caso, pode-se deduzir que a
variante lingüística [∫] é variante diatópica, ou seja é uma variante regional.
Esse exemplo não foi dado ao acaso, pois segundo Silva (2008: 67) “é certo que, de
início, os fenômenos escolhidos para análise pelos variacionistas, envolvendo pronúncia, eram
bem marcados socialmente.” Os estudos de variação fonológica foram bastante produtivos até
que os variacionista resolveram aplicar os mesmos métodos e técnicas à análise da variação
sintática. Depois se estendeu à semântica e até ao discurso. Portanto, o objeto de estudo da
Sociolingüística é a língua falada. Assim, as variáveis lingüísticas podem ocorrer no plano
fonológico, morfossintático e semântico. Elas serão sistematizadas, codificadas e aplicadas ao
modelo de cálculo estatístico. A Sociolingüística Variacionista teve como precursor o
lingüista Labov, que operou com números e tratamento estatístico os dados coletados em sua
pesquisa. Portanto, a Sociolingüística Quantitativa transcreve a fala e pontua as ocorrências
das variantes, tabula os resultados comparando-os com outros resultados.
A Sociolingüística Qualitativa, segundo Johnstone (2000:02):
Desde o início, os sociolinguistas se dedicaram à pesquisa qualitativa, bem como à pesquisa quantitativa. Desde Dell Hymes (1974) e John Gumperz (1982; Gumperz e Hymes, 1972) que primeiro sugeriu a etnografia e leitura atenta e interpretativa, como forma de estudar o uso da linguagem, como ela afeta e é afetada por contextos sociais e culturais, que o interesse em abordagens qualiativas para o estudo da linguagem em uso se expandiu rapidamente.
Na Sociolinguística Qualitativa pode-se coletar os dados fazendo gravações da fala dos
informantes para, mais tarde, transcrevê-las. Posteriormente, as transcrições das falas serão a
base para as futuras análises. Na Sociolinguística Qualitativa há a possibilidade de trabalhar
com questões discurssivas que podem tratar de relacionamentos, profissão, lugares, viagens
entre outros assuntos que podem ser abordados. Tudo isso pode ser abordado desde que se
prime pela espontaneidade do falante, pois assim ele se sentirá à vontade para falar sobre
essas questões. Por fim, os trechos da fala dos informantes são usados na análise linguística.
A concepção de língua, o objeto de estudo e a construção do modelo teórico-
metodológico da Sociolingüística são importantes para situar o sociolinguísta em seu campo
científico e deixar claro sua perspectiva teórica. Então, será feita a apresentação da forma
como coletar os dados. Nesse sentido, Labov (2008: 242-243) mostra que:
Os passos elementares de localizar e contactar informantes e levá-los a falar livremente numa entrevista gravada são problemas difíceis para os estudantes. [...] há questões metodológicas de amostragem e gravação que simplesmente põem em cena os problemas básicos. Observou-se que bons dados exigem boa gravação, especialmente para a análise gramatical da fala natural. [...]. Mas nossa abordagem inicial da comunidade de fala é governada pela necessidade de obter grandes volumes de fala.
Labov (2008), Silva (2008) e Tarallo (2001) ensinam que a coleta de dados é feita
através de entrevistas gravadas face-a-face com o informante. Para fazê-los falar é preciso ter
um roteiro que, segundo Tarallo (2008), pode referir-se a narrativas de experiências pessoais,
como fora falado antes sobre as questões discursivas que envolvem perguntas sobre
relacionamentos, profissão, lugares e viagens. Porém, os autores aconselham que não se
façam intromissões na fala do informante. O indivíduo precisa se sentir à vontade para falar e
como mostrou Labov (2008) bons dados advêm de uma boa gravação. Quando iniciar a coleta
de dados, pode-se usar gravador de voz com fita cassete ou gravador de voz digital, a esse
respeito, Silva (2008: 118) diz que ‘não há necessidade de se esconder o gravador. Os
Sociolingüistas observam uma norma que diz respeito à ética perante o entrevistador e que
impede que se esconda o fato de que o entrevistado será gravado”. Assim, a postura adequada
é chegar, segundo Labov (2008), de forma simples, na comunidade, sem precisar dizer que
faz parte de um estudo lingüístico ou que é estudante da universidade, pois dessa maneira
você não conseguirá coletar a fala natural.
Silva (2008: 124-125) explica sobre os tipos de contato que se pode ter com os
informantes.Eles podem ser:
Interações livres, entrevistas e testes. A primeira consiste na gravação de dois ou mais interlocutores interagindo. Serve principalmente para análise da conversação, estudos de turno de fala e de pronomes de tratamento. [...]. Para estudos morfofonológicos e / ou sintáticos, são habituais entrevistas do pesquisador com o falante.[...]. Há ainda os testes, geralmente complementares de outro tipo de contato, que permitem a elicitação de dados desejados. Assim, por exemplo, se o estudo é sobre pronomes de tratamento, pode-se projetar um dispositivo para exemplo de um homem velho, vestido de macacão e pedir ao falante que se dirija a essa figura, por exemplo, “pergunte a ele se ele quer pintar a sua casa” e gravar a pergunta.
Tarallo (2001) não forneceu informações sobre a construção de uma ficha social para
coletar as informações sobre os informantes, entretanto, apresentou valiosas informações
acerca de tópicos para realizar as entrevistas. Eis um exemplo em Tarallo (2001: 22): “Jogos,
brincadeiras, de infância, brigas, namoro, encontros amorosos, casamento, amigos, religião,
serviços públicos, etc.” Esses tópicos são denominados questões discursivas. Além de
preparar o instrumento da pesquisa, ou seja, entrevista ou teste, deve-se atentar para a criação
de uma ficha social que, segundo Silva (2008: 131) deve conter “informações a respeito das
características sociais do informante”. Infere-se que essa ficha pode conter perguntas como:
nome, idade, escolaridade, sexo, endereço. Ou ainda, perguntas de interesses culturais como:
qual o tipo de diversão preferida, que tipos de livros costuma ler, etc. A ficha social pode ser
escrita ou gravada. Se a opção for pela ficha gravada, haverá maior quantidade de dados da
fala do informante.
A seleção de informantes, segundo Silva (2008: 121), indica que é mais adequado
seguir a seleção aleatória estratificada:
Para proceder a esse método, divide-se a população em células (“casas, “estratos”) compostas, cada uma, de indivíduos com as mesmas característica sociais, procedendo-se posteriormente, para preencher cada casa, a uma seleção aleatória. Assim se for escolhida como objeto de pesquisa apenas a variável social sexo, pode-se ter, numa casa, 5 homens e 5 mulheres, e a amostra poderá ser teoricamente de 10 indivíduos. Se acrescentarmos a variável classe social, por exemplo, e dividirmos essa variável em três fatores correspondendo às classes alta, intermediária e baixa, já teremos de ter as seguintes casas: 5 homens de classe alta; e- 5 mulheres de classe alta; 5 homens de classe intermediária; e- 5 mulheres de classe intermediária; 5 homens de classe baixa; e- 5 mulheres de classe baixa;
Silva (2008) ensinou como construir a amostra através de células com número igual
de informante para ambos os sexos. Para compor essa amostra precisa-se levar em
consideração a área da comunidade, ou seja, tipos de bairro, as classes sociais, a presença de
imigrantes.
Par proceder com a análise dos dados, Tarallo (2001: 10-11), mostra que o modelo
de análise Sociolingüística deve seguir critérios como:
Levantamento exaustivo de dados da língua falada para análise, dados que refletem mais fielmente o vernáculo da comunidade; descrição detalhada da variável, acompanhada de um perfil completo das variantes que a constituem; análise dos possíveis fatores condicionadores (lingüísticos e não-linguísticos) que favorecem o uso de uma variante sobre a (s) outra (s); encaixamento da variável no sistema lingüístico e social da comunidade: em que nível lingüístico e social da comunidade a variável pode ser colocada; projeção histórica da variável no sistema sociolingüístico da comunidade.
Para a organização dos dados coletados (variáveis fonológicas, morfossintáticas e
semânticas) serão utilizadas tabelas e / ou gráficos com as codificações, ou seja, com o
conteúdo a que se referem os dados estatísticos de cada variável. A ilustração dessas
explicações está nos autores a seguir. Na variável fonológica, o exemplo de aplicação
estatística a dados fonológicos, foi retirado de Gomes e Souza (2008: 74)
Tabela 1 – influência da presença de outra líquida
[l] [r] [r] [O]
APL/TOT % Peso relativo APL/TOT % Peso relativo
Presença de
outra líquida
113/444 25,45 .54 50/306 16,34 .60
Ausência de
outra líquida
635/2014 31,53 .45 82/747 10,98 .39
Na variável morfossintática, o exemplo de aplicação estatística a dados
morfossintáticos, foi retirado de Omena e Duarte (2008: 84)
Tabela 1 – Uso de a gente vs nós, segundo a função sintática
Função Apl/T %
Adjunto adverbial 57/68 84 %
Sujeito 1979/2701 73 %
Complemento 199/277 72 %
Adjunto adnominal 35/253 14 %
total 2270/3299 69 %
Na variável semântica, o exemplo de aplicação estatística a dados semânticos, foi
retirado de Gryner e Omena (2008: 90)
Tabela 5 – Correlação entre a determinação / dimensão do grupo e uso de a gente
Indeterminado Grande .72
Indeterminado Pequeno / intermediário .55
Determinado Grande .50
determinado Pequeno / intermediário .26
Nas tabelas anteriores há informações sobre o total e quantidade de informantes
entrevistados, há a estatística para o uso das variantes delimitadas no estudo, portanto, há
como observar qual variante é mais usada e em que contexto é usada.
A pesquisa sobre a Variação Dialetal Parintinense tem o objetivo de descrever o
dialeto falado em Parintins e pretende por em relevo a contribuição da Sociolingüística aos
falares Amazônicos / Amazônidas, pois como afirma Alkmim (2001: 32):
Ao estudar qualquer comunidade lingüística, a constatação mais imediata é a existência de diversidade ou da variação. Isto é, toda comunidade se caracteriza pelo emprego de diferentes modos de falar. A essas diferentes maneiras de falar, a sociolingüística reserva o nome de variedade lingüística.
Mollica (2008: 10) diz que “a Sociolingüística considera a importância social da
linguagem, dos pequenos grupos sócio-culturais a comunidades maiores”. A esse respeito,
Alkmim (2001: 32) declara que:
A depender do alcance e dos objetos de um trabalho de natureza sociolingüística, podemos selecionar e descrever comunidades de fala como a cidade de New York ou a cidade do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belém. Ou o povo ianomâmi, que vive no Estado do Amapá. Ou, ainda, as comunidades dos pescadores do litoral do Estado do Rio de Janeiro, da ilha de Marajó, dos estudantes de Direito, dos rappers etc.
As palavras de Alkmim corroboram a importância de pesquisas sobre
dialetos, sobretudo, os dialetos da Região Amazônica, como é o caso dessa pesquisa,
em que optou-se pela comunidade lingüística urbana da cidade de Parintins,
selecionando informantes de ambos os sexos, com idade entre 18 e 60 anos, com
escolaridade entre Ensino Médio e Ensino Superior.
O percurso feito desde a apresentação da concepção de língua até os
pressupostos teórico-metodológicos da Sociolingüística é chamado de tratamento
teórico das variações lingüísticas. Assim, a Sociolingüística, segundo Mollica (2008:
09):
É uma das subáreas da Lingüística e estuda a língua em uso no seio das comunidades de fala, voltando a atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos lingüísticos e sociais. Esta ciência se faz presente num espaço interdisciplinar, na fronteira entre língua e sociedade, focalizando precipuamente os empregos lingüísticos concretos, em especial os de caráter heterogêneo.
A simples descrição das variáveis lingüísticas se esgota, portanto, é preciso buscar
nos fatores sociais a fonte que alimenta as mudanças no sistema lingüístico, o que permite
uma reflexão sobre o porquê determinada pronúncia existe em uma comunidade de fala, ou
ainda, porquê determinada classe usa determinada variação morfossintática, entre outras
questões que podem ser abordadas. Essa reflexão é importante, visto que nas palavras de
Mollica (2008: 13):
Toda língua, portanto apresenta variantes mais prestigiadas do que outras. Os estudos sociolingüísticos oferecem valiosa contribuição no sentido de destruir preconceitos lingüísticos e de relativar a noção de erro, ao buscar descrever o padrão real que a escola, por exemplo, procura desqualificar e banir como expressão lingüística natural e legítima.
Descrever é a palavra-chave. Portanto, o ato de descrever implica em buscar
pormenores que contribuam para compreender uma estrutura maior, mais ampla, no caso de
estudos lingüísticos, chegar a uma concepção que entenda a língua em pleno uso pelos
falantes. Como o fez a Sociolingüística ao construir uma concepção de língua como sistema
heterogêneo, que nas palavras de Lucchessi (2004: 172) é exposta assim:
Toda essa nova forma de conceber a relação entre língua e o falante, ou melhor, de integrar a prática lingüística na teorização sobre a língua está intimamente ligada a dois planos distintos do produto teórico: a formalização da língua como um sistema heterogêneo e variável e a visão de uma competência lingüística igualmente heterogênea.
É por esta razão que um estudo sobre a Variação Dialetal de Parintins se faz
necessário e demonstra a contribuição da Sociolingüística ao falares Amazônicos /
Amazônidas. Nesse sentido, Mollica (2008: 15) enfatiza que:
Vale repetir que o pressuposto básico do estudo da variação no uso da língua é o de que a heterogeneidade lingüística, tal como a homogeneidade, não é aleatória, mas regulada, governada por um conjunto de regras. Em outras palavras, tal como existem condições ou regras que obriguem o falante a usar certas formas (a casa) e não outras (casa a), também existem condições ou regras mudáveis que funcionam para favorecer ou desfavorecer, variavelmente e com pesos específicos, o uso de uma ou outra das formas em cada contexto. Isto pressupõe que, na língua, variantes podem estar em competição, no sentido de que ora pode ocorrer uma, ora pode ocorrer outra.
No trabalho sobre a Variação Dialetal Parintinense seguir-se-ão os pressupostos
teórico-metodológicos da Sociolingüística, quer quantitativa, quer qualitativa para a descrição
da variação dialetal parintinense. No capítulo seguinte, será feita a descrição da comunidade
lingüística onde foi realizada a pesquisa sobre a variação dialetal. Nessa descrição da
comunidade urbana de Parintins, estão inclusos elementos da formação histórica, posição
geográfica, economia, transporte, religião, cultura e turismo do município.
CAPÍTULO II
PARINTINS E SUA EDUCAÇÃO LINGUISTICA
2.1 O Estado do Amazonas: Panorama Histórico A exposição acerca de Parintins e sua Educação Lingüística inicir-se-á pelo panorama
histórico do Estado do Amazonas. Dessa maneira, há de se encontrar na história fatos
relevantes que contribuíram para a formação histórica de Parintins como cidade. Além disso,
este estudo é parte de um projeto maior, sobre uma visão tríplice: Língua, Cultura e Sociedade
Amazônica/Amazônida para tratar de linguagem e educação dos povos tradicionais da
Amazônia. Não se tratrá de povos indígenas, como o faz a maioria dos estudos sobre a
Amazônia. Todavia, o objetivo é mostrar a miscigenação entre o nativo da região de Parintins
e o contato com os colonizadores, cujos reflexos estão na língua, na cultura e na sociedade
local.
Como se aprende em aulas de história do Brasil, após a chegada dos portugueses em
1.500, passaram-se trinta anos para que Portugal investisse no país. Quanto à colonização da
Região Amazônica, Santos (1998: 14) fala que:
A ocupação lusitânia da Amazônia só começou efetivamente no ano de 1616, quando os portugueses fundaram uma fortaleza no lugar onde teve início a cidade de Belém, no Pará. [...] Essa ocupação teve objetivos claramente diferentes da colonização da costa leste brasileira, pois a Amazônia significava para os portugueses um problema militar.
O problema a que se refere Santos (1998) é a questão da presença de ingleses,
holandeses, franceses, que se instalaram na Amazônia para exploração econômica e para
apropriarem-se dessas terras. Nesse contexto, a formação histórica do Estado do Amazonas
atende às necessidades político-administrativas que, segundo D’Albuquerque e Marinho
(1999: 147), na época,
Foi criada pela Carta Régia de 03 de março de 1755 de D. José I. de acordo com as informações e solicitações de Mendonça Furtado, que explicava a dificuldade do Governo de Grão-Pará em administrar a contento, sendo a região tão extensa, necessitando estar presente no Rio Negro para conter a onda invasora dos espanhóis, bem assim tomar outras medidas de emergência.
Inicialmente, a criação de Estado do Amazonas passou por processos comuns à época,
como a criação das capitanias, nesse sentido, Collyer (1998: 71) afirma que a criação da
capitania de São José do Rio Negro aconteceu da seguinte maneira:
A idéia inicial era instalar a capitania na foz do Javari, rio que separa o Brasil do Peru. Todavia, como a região do Rio Negro era objeto de disputas pela proximidade com a fronteira, Portugal optou por Barcelos, criando a vila com esse nome dia 06 de maio de 1758. A Coroa Lusa precisava impor sua presença no alto Rio Negro, e assim, por Carta Régia de 03 março de 1755, foi criada a Capitania de São José do Rio Negro, que se constituiria, mais tarde, no embrião político da Província e, depois, do Estado do Amazonas. [...] A criação da capitania foi uma exigência da imensidão do território.
A dificuldade em administrar a região foi fator que impulsionou a decisão de criar uma
organização administrativa na Região Amazônica, uma vez que esta pertencia a capitania do
Grão-Pará e Maranhão. Em seguida, a estratégia foi escolher a vila que pudesse dar condições
comunicativas entre as duas regiões. Dessa maneira, segundo D’Albuquerque e Marinho
(1999: 148), a região de “Mariuá já era uma vila bem aparelhada com edifícios e outras
necessidades, em virtude de ter sido preparada para receber D. José Iturriaga para o acordo
das demarcações, e além de tudo era mais próxima de Belém, que a outra”
Mariuá, segundo Collyer (1998: 72), significa ‘braço grande’. Era a vila mais
desenvolvida naquela época, por isso foi escolhida como local estratégico de administração e
comunicação entre os governos. Mais tarde, segundo D’Albuquerque e Marinho (1999), o
nome da vila foi substituído pelo topônimo Barcelos por ordem das autoridades portuguesas,
em honra às vilas da Casa de Bragança, nome que permanece até os dias atuais. Assim,
instalou-se a Capitania de São José do Rio Negro para a qual foi nomeado o governador
Coronel Joaquim de Melo Póvoas. Santos (2002) mostra uma seqüência de governadores da
Capitania de São José do Rio Negro entre os anos de 1755 a 1823. O primeiro governador foi
Joaquim de Melo Póvoas, entre os anos de 1758 a 1760. Porém, o governador Lobo
D’Almada, pertencente a 9ª Junta Governativa, entre os anos de 1788 a 1799; realizou
mudanças significativas para a constituição do Amazonas enquanto Estado. Para Collyer
(1998: 72) Melo Póvoas figura com freqüência na história do Amazonas por ter sido seu
primeiro dirigente, governando por três anos, enquanto que, Lobo D’Almada, foi um homem
com visão administrativa, como afirma no texto a seguir:
Barcelos, a capital, ficava muito longe, no médio Rio Negro, distante dos rios Madeira e Amazonas, exatamente onde se desenvolveria a navegação e o comércio. Por isso, Lobo D’Almada resolveu, por decisão própria, transferir a sede para o lugar da Barra, mesmo sabendo que faltavam condições jurídicas para tanto, pois a Barra ainda não era vila, mas povoado. Mesmo assim, e contando com o apoio de Pereira Caldas e do naturalista Alexandre Rodrigues Pereira, Almada trouxe a sede para o lugar da Barra em 1791.
A nova capitania estava instalada. Deu-se início, portanto, à estratégia de povoamento.
A Corte de Portugal ordenou que fossem concedidos privilégios aos europeus que casassem
com nativos, isto é, com indígenas. A miscigenação, portugueses e indígenas, deu origem à
família amazonense, cujo tipo humano é o caboclo. Segundo Meireles Filho (2004:125):
Entre os muitos migrantes que ocorreram à Amazônia em busca do “ouro negro (a borracha”, o nordestino tem um papel preponderante. [...] De 1870 a 1912, por quatro décadas, 300 mil nordestinos são levados à região. [...] Além disso, inúmeros estrangeiros, entre portugueses, sírios, espanhóis, ingleses, são atraídos para ocuparem as posições mais qualificadas no comércio e nos serviços, especialmente nas áreas urbanas.
À miscigenação, assim se refere Souza (2001: 93): ‘invólucro biológico que a
miscigenação inventou para enfrentar a região considerada insalubre ao homem branco’.
Seria, pois, uma espécie humana preparada, biologicamente, para viver na floresta. Ainda no
aspecto de povoamento da região, Santos (2002: 46) afirma que:
Pombal adotou a medida de instituir uma companhia de comércio que funcionou durante vinte e dois anos (1755-1778), com as finalidades de introduzir escravos africanos a crédito, dinamizar a agricultura e de incrementar o comércio na região, além de promover o povoamento através da imigração de casais açorianos. A Companhia Geral do Comércio de Grão-Pará introduziu a cultura do café, cacau, arroz e outras.
Após anos de instalação e povoamento, houve a iniciativa, através de um movimento,
para elevar a Comarca à Província. Ainda que a independência administrativa fosse uma
necessidade para a população da Capitania de São José, não era vista como prioritária para os
governadores daquela época. Quanto a isso, Collyer (1998: 87) afirma que: “após a
Proclamação da Independência do Brasil, o Amazonas esperou vinte e sete anos, para se
tornar Província”. Nesse sentido, Collyer (ib.: 87) fala que:
Um movimento revolucionário irrompido em 1832 demonstrou a insatisfação do povo amazonense contra a subordinação ao Pará. Havia um forte sentimento de independência, pois seria impossível aos governantes paraenses administrar satisfatoriamente o Amazonas, que ficava sempre em segundo plano.
O projeto de transformar o Estado do Amazonas em Comarca voltou a ser discutido
em agosto de 1839, mas sua primeira aprovação foi em agosto 1840, permanecendo no
esquecimento. Em 7 de novembro de 1844, o deputado, João Batista de Figueiredo Tenreiro
Aranha, fez o pronunciamento para a indicação de uma representação para que a Comarca do
Alto Amazonas fosse elevada à categoria de Província. Em 5 de setembro de 1850, o senado
aprovou o projeto que, passado ao Governo Imperial, foi sancionado pela Lei nº 592. Nessa
data, comemora-se a Elevação à Categoria de Província do Estado do Amazonas, cuja capital
é Manaus. Nesse sentido, Collyer (1998: 90) afirma:
Somente depois de muitos debates no Legislativo, com calorosos discursos dos contra; destacando-se sempre Campos Vergueiro, a província foi criada. O senado aprovou o projeto que subiu à sanção do Imperador D. Pedro II, transformando-se na Lei 592, de 05 de setembro de 1850. Finalmente foi criada a sonhada Província do Amazonas.
Nesse contexto, exatamente na região de Tupinambarana, acontece uma manifestação
em favor da independência do Amazonas, Saunier (2003: 22) afirma que, em 1755:
Os moradores de São Francisco Xavier dos Tupinambarana (Parintins) unidos aos de Saracá (Silves), protestaram contra a decisão de Portugal em subordinar a Capitania de São José do Rio Negro a do Grão Pará enviando petição a Corte de Portugal, solicitando a autonomia à capitania do Amazonas. Daí certamente começa a história de Parintins, que se reúne para exigir sua autonomia territorial [...]
Parintins estava presente na luta para criar a Província do Amazonas, certos de que
essa atitude contribuiria para a emancipação da Vila Bela da Imperatriz (Parintins). Passadas
as lutas por emancipação, são necessários projetos que contemplem o desenvolvimento da
região. Para desenvolver o recém-criado Estado do Amazonas, Souza (2001:211) afirma que:
A partir de 1967, um decreto presidencial transformou Manaus em Zona Franca imediatamente instalando uma série de indústrias e anunciando uma oferta de quarenta mil empregos. No que toca à divisão do trabalho, as indústrias da Zona Franca operavam as fases finais de montagem e acabamento do produto. Fases que exigiam um número maior de mão-de-obra. Aproveitando a legislação, essas indústrias se estabeleceram numa área da cidade de Manaus, no chamado Distrito Industrial, onde receberam terrenos a preços irrisórios, totalmente urbanizados, como nenhum conjunto habitacional supostamente para pessoas de baixa renda recebeu. E, assim, entrou em atividade um parque industrial de beneficiamento produzindo em toda sua capacidade e operando numa área onde as facilidades eram, na verdade, uma conjuntura favorável.
A partir dessas leituras é permitido afirmar que a Amazônia e os Amazônidas fazem
parte de um processo de integração com o restante do país. Na história do Povo Amazônico, é
observável que a Amazônia foi uma das últimas regiões a ser colonizada e que ainda há
necessidade de fazer parte de inúmeros projetos de integração, como por exemplo, nas esferas
econômica, tecnológica, científica e cultural. Isso fica claro através dos debates nacionais e
internacionais sobre a Amazônia. Para que os amazônidas estejam situados nesse debate é
preciso que eles estajam conscientes da biodiversidade da região, bem como das
potencialidades sociais e culturais.
2.2 Situação Geográfica do Estado do Amazonas O Estado do Amazonas está situado na região Norte do Brasil. Segundo Collyer (1998:
224), o Estado possui uma área de 1.564. 953 km². Ocupa 40,7% do espaço da Região Norte e
18,4% do território brasileiro. Dessa maneira, qualifica-se como a maior extensão territorial
do país. Limita-se ao norte com Estado de Roraima e Repúblicas da Venezuela e Colômbia.
Ao oeste, com Colômbia e Peru. Ao sul com Estado do Acre, com um pequeno pedaço da
Bolívia e com os Estados de Rondônia e Mato Grosso. Ao leste com o Estado do Pará. Como
ilustração dos limites do Estado do Amazonas observe a figura a seguir.
Figura 1 Mapa do Estado do Amazonas
Fonte: Google imagens
Pode-se afirmar que na Amazônia Brasileira, o Estado do Amazonas compõe a
Amazônia Ocidental, que inclui os estados de Roraima e Mato Grosso em oposição à
Amazônia Oriental, que inclui os estados do Pará, Amapá. Em aspectos físicos, há na
Amazônia, terra-firme e várzea, com características diferentes. A Terra firme não fica alagada
nos períodos de enchente, março a junho, enquanto que a área de várzea, ou planície
interiorana, é inundada pelas águas dos rios. No entanto, a área é propícia para agricultura,
pois a decomposição de animais e vegetais durante as enchentes adubam o solo e o torna fértil
para a plantação. É nessas áreas onde há maior concentração da população e das atividades
produtivas do Estado do Amazonas.
Em aspectos geomorfológicos, D’Albuquerque e Marinho (1999: 14) dizem que a
Amazônia caracteriza-se assim:
Não havendo uniformidade na constituição física das terras da Amazônia, ficando algumas submersas durante a enchente dos rios a formar terrenos arenosos ou pegajosos, tijucos, e outras, ao contrário, de solo normal, mais altas, a cavaleiro, mesmo nas fases de cheia, a vegetação apresenta-se perfeitamente distinta nessas suas zonas que constituem VÁRZEA E TERRA-FIRME, respectivamente.
Em Meireles Filho (2004: 27) há mais informaçãoes sobre a Região Amazônia e
afirma que:
De maneira geral, a Amazônia é considerada como uma área da América do Sul coberta predominantemente por florestas tropicais abaixo de 1.500 m acima do nível do mar, onde a variação da média de temperatura dificilmente passa de 2° C, a quantidade de horas de sol entre o dia mais longo e o dia mais curto varia, chove pelo menos 1.500 mm/ano e pelo menos 130 dias/ ano e a umidade relativa do ar é em geral superior a 80% na maior parte do ano.
Quando se fala em Amazônia Brasileira, Meireles Filho (2004: 27) esclarece que ela é
conhecida de três maneiras:
1)como Amazônia Biológica: corresponde a 49% do território brasileiro. Este compreende florestas de diferentes características, bem como cerrados, campos e ecossistemas de transição. 2) como Região Norte: segundo conceito da divisão política do Brasil, esta abrange sete estados: Roraima, Amazonas, Rondônia, Pará, Amapá, Acre, Tocantins, ou seja, 40% do Brasil. 3) como Amazônia Legal: conceito criado em 1953, pela Constituição Federal, para incluir, além dos estados da Região Norte, os estados de Mato Grosso e Maranhão.
As definições apresentadas por Meireles Filho (2004) são mais abrangentes para que
se promova uma discussão sobre a Amazônia, em particular, porque determina aspectos pelos
quais a Amazônia pode ser interpretada. Por exemplo, se o interesse é apenas para a
preservação do meio ambiente, A Amazônia estará sendo interpretada no aspecto biológico.
No entanto, o aspecto biológico está ligado ao aspecto político da Região Norte e ao dilema
preservação e desenvolvimento. Em particular, falar-se-á da realidade específica do Estado do
Amazonas no aspecto pluvial em que se destaca o ano de 2009, a maioria das cidades
localizadas nas áreas de várzea, no Estado do Amazonas, sofreu com as enchentes. Segundo o
Jornal da Amazônia, de 04 de maio/2009, os principais rios do Estado do Amazonas subiram
cerca de 4 cm por dia e isso acarretou situações de alagamento na áreas urbanas de várias
cidades que ficam as margens desses rios, inclusive a capital, Manaus. Entre as cidades que
sofreram com a enchente, destaca-se Parintins, onde as ruas de maior trânsito ficaram
alagadas. A mídia da cidade de Parintins informou que o trânsito de veículos ficou
prejudicado devido às enchentes. Por isso, a Prefeitura Municipal de Parintins tomou
providências tais como: construção de pontes de madeira para serem colocadas nas ruas
invadidas pelas águas; aterramento das ruas em pontos estratégicos para melhorar o trânsito.
Além disso, como informou o Jornal da Amazônia, de 11 de maio/2009, a Secretaria de
Educação do Amazonas – SEDUC -, resolveu suspender as aulas nos municípios afetados
pela enchente. O Estado do Amazonas, segundo informações do Jornal do Amazonas, de 23
de junho de 2009, sofreu, no ano de 2009, a segunda maior enchente de sua história. A
primeira ocorreu no ano de 1953. Este fenômeno, enchente, chamado também de cheia é visto
por Collyer (1998: 223) da seguinte maneira:
As cheias nos rios amazônicos antes de serem desastrosas são benéficas. As inundações, é claro, causam dissabores à população ribeirinha das cidades, notadamente a quem, sem opção, constrói suas casas em áreas impróprias para moradias, até mesmo em leitos de igarapés.
Quando Collyer afirma que a cheia é benéfica pode-se inferir que se trata da fertilidade
que a terra adquire, durante a cheia, e na vazante apresenta-se adubada e pronta para a
plantação. Segundo Collyer (1998: 223):
A água exercita uma superioridade irrecorrível, sendo ela a grande verdade da natureza amazônica. Estabelece-se, portanto, o poder social dos rios, ao qual o homem se submete. E nessa convivência parece estar o grande segredo da relação homem-rio, no interior da Amazônia. Diante do cenário telúrico das águas, o caboclo sente-se pequeno. Tudo é grande demais para suas forças, daí a convivência com as cheias. À medida que as águas sobem, o homem suspende o assoalho de sua casa espremendo-se com sua família entre ele e o assoalho.
A ação de suspender o assoalho à medida que o rio sobe chama-se maromba. Esta
palavra, categorizada como regionalismo amazonense, significa estrado de madeira. É comum
na região na época da enchente. Entretanto, o ano de 2009 foi um ano atípico para o Estado do
Amazonas, pois as situações provocadas pela enchente dos rios da Amazônia afetou, em
vários aspectos, a vida dos amazônidas, como educação, transporte, saúde, abastecimento e
produção. Tudo isso ficou comprometido e exigiu atenção das autoridades locais. As
enchentes acontecem, segundo Meireles Filho (2004), porque as grandes quantidades de
chuva transformam a Amazônia na maior bacia hidrográfica do planeta.
2. 3 Divisão e Subdivisão Política do Estado do Amazonas
O Estado do Amazonas possui 62 municípios. Entretanto, a maioria desses municípios
possui poucos habitantes. Essas grandes extensões de terra do Estado contrastam com a baixa
densidade demográfica, a figura a seguir ilustra a quantidade de municípios amazonenses:
Figura 2 Mapa com as Cidades do Amazonas
Fonte: Google maps
A Capital do Estado do Amazonas é Manaus, sobre isso apresenta-se o seguinte texto
de Lippi e Sieber (2001: 38):
A capital, Manaus, torna-se uma exceção devido ao crescimento populacional. Possuía 1.005.634 habitantes, em 1991, o que representa 67% da população urbana do Estado. Por causa do pólo industrial, é aonde as pessoas vindas dos municípios do interior do Estado vão à procura de melhores oportunidades de emprego. Em termos demográficos, o Estado do Amazonas apresentou em 1991 uma população de 2.102.901 habitantes, dividida em 1.501.807 em áreas urbanas e 601.094 em áreas rurais.
Por outro lado, Meireles Filho (2004: 121), afirma que há em Manaus 1,3 milhões de
habitantes, o que representa 62% da população do Amazonas. Manaus como a demais capitais
do Brasil, tornou-se referência para as cidades interioranas, pois, os recursos materiais para o
desenvolvimento social, econômico e cultural entre outros, se concentram nesses locais.
Assim, são cada vez mais necessárias as políticas que contribuam para o desenvolvimento das
demais cidades. É importante destacar que grande parte das cidades da Amazônia surgiu de
missões religiosas. Os missionários católicos tiveram grande participação no desenvolvimento
social local. Entre os municípios amazonenses, iniciados por missionários, está Parintins,
objeto de estudo nessa pesquisa.
Quanto às subdivisões, o Estado do Amazonas está dividido em Mesorregiões e
Microrregiões. As Mesorregiões são extensões territoriais com características próprias
(físicas, econômico-sociais, humanas, como: norte amazonense, sudoeste amazonense, centro
amazonense e sul amazonense, enquanto que Microrregiões são subdivisões geográficas de
uma região. Portanto, cada Mesorregião possui suas Microrregiões. Observe-se as
Mesorregiões e suas microrregiões no Amazonas. Na mesorregião norte amazonense há:
Microrregião de Rio Negro, Microrregião de Japurá. Na Mesorregião sudoeste Amazonense
há: Microrregião de Alto Solimões, Microrregião de Juruá. Na Mesorregião centro
Amazonense há: Microrregião de Tefé, Microrregião de Coari, Microrregião de Manaus,
Microrregião de Rio Preto da Eva, Microrregião de Itacoatiara e Microrregião de Parintins.
Na mesorregião sul amazonense há: microrregião da Boca do Acre, Microrregião de Purus e
Microrregião do Madeira. Para melhor visualização observe-se a gravura a seguir:
Figura 3 Mesorregiões e Microrregiões do Amazonas Fonte: Google imagens.
Parintins faz parte da Mesorregião centro amazonense, que está na cor verde, à direita
do mapa e compõe a Microrregião de Parintins, formada pelos municípios de Barreirinha, Boa
Vista do Ramos, Maués, Nhamundá, São Sebastião do Uatumã, Urucará e Parintins. Em Lippi
e Sieber (2001: 38) encontra-se a informação de que “a Mesorregião centro Amazonense é a
mais importante do Estado do Amazonas, possuindo uma população de 2.0176.855
habitantes”. Na gravura a seguir destaca-se apenas a Mesorregião de Parintins, no mapa do
Amazonas:
Figura Microrregião de Parintins Fonte: Google maps
Uma das maiores dificuldades do Estado do Amazonas é o acesso aos seus municípios
e a outros centros urbanos, como Sudeste e Centro-Oeste, uma vez que o transporte
predominante é o fluvial. Mas, com a necessidade das empresas da Zona Franca de Manaus
estarem em contato com as outras regiões do país, o transporte aéreo passou a ser freqüente e
tem contribuído para a ligação e acesso às demais regiões do país e até do exterior, embora os
valores desse meio de transporte sejam elevados.
Através desse panorama pode-se verificar que os aspectos histórico-geográficos
estarão presentes na constituição da sociedade e da cultura Amazonense, bem como dos
demais municípios. E nesse sentido, a sociedade e a cultura de Parintins é o foco de estudos.
2. 4 Parintins: história, extensão, atividades turísticas e econômicas A discussão acerca da história de Parintins começa pela discussão do texto de
D’Albuquerque e Marinho (1999: 180), que registram a história do município tomando como
ponto de partida a data de fundação, em 1796:
Teve início com a ocupação de uma ilha pelo capitão José Pedro Cordovil em 1796, a qual deu o nome de Tupinambarana, mas, logo, em 1803, veio estabelecer-se aí uma missão religiosa dirigida por Frei José das Chagas passando a denominar-se Vila Nova da Rainha.
No texto de D’Albuquerque e Marinho, a história de Parintins é contada a partir da
presença do português na região. Todavia, em Saunier (2003: 19) encontrou-se a seguinte
afirmação: “Fundador de aldeias e missões da Companhia de Jesus, o Pe. José Felipe
Bittencourt fundou Parintins a 29 de setembro de 1669, com o nome de São Miguel dos
Tupinambarana”. Na afirmação de Saunier, a história é contada a partir da presença do
missionário, que fundou a missão. Nas palavras de Cerqua (2009: 34), ‘a aldeia de
Tupinambarana foi fundada entre 1660 e 1680 ao tempo do Grão-Pará’, o que soma as datas
registradas por D’Albuquerque e Marinho e Saunier. Cerqua, portanto, situa a história de
Parintins à história do Amazonas, apesar de não precisar as datas e os fundadores. No entanto,
a data da elevação à categoria de cidade é a que prevalece na contagem dos anos que a cidade
de Parintins comemora.
A partir dessas leituras, é adequado contar a história de uma região a partir dos
primeiros nativos que habitavam tal região, para que se proceda de maneira justa e se registre
a contruibuição desses nativos para a criação da cidade. Caso contrário, corre-se o risco de
ignorar a história do Brasil, uma vez que, os portugueses ao chegarem ao país encontram,
inicialmente, os indígenas. Ao contrário, do que pensavam os europeus, o Novo Mundo já era
habitado pelos povos indígenas. Assim, pode-se falar acerca dos primeiros contatos dos
nativos da região de Parintins com os colonizadores. Os fatos nos mostrarão que, antes de
José Pedro Cordovil e do Frei José das Chagas, havia uma diversidade de tribos indígenas na
região. Cerqua (2009: 13) diz que:
Os primeiros moradores foram os índios Aratu, Apocuitara, Yara, Godui, Curiató. Num segundo tempo estes foram subjugados pelos Tupinambás, que vinham da faixa atlântica do Brasil, fugindo da conquista dos portugueses. O movimento migratório dos Tupis em 1.600 tornou-se um verdadeiro êxodo. Entretanto, parece que os Tupis de nossa região vieram em boa parte pelo Madeira e pelo Centro.
Os habitantes nativos da ilha registrados por Saunier (2003) são:
� Maué – que viviam no Tapajós e viveram pouco tempo na ilha Tupinambarana;
� Mundurucu - pertencia à família Tupi e habitavam o médio e o baixo Tapajós e
habitaram por muito tempo Parintins;
� Parauenis – habitavam os rios Iucutu e Surumu e foram deportados para ilha
Tupinambarana como medida punitiva;
� Parintin – habitavam a serra de Parintins. Foram absorvidos pelos Mundurucu
e falavam a língua tupi-guarani;
� Parintintin – habitavam o Rio Madeira eram inimigos dos Mundurucu e
falavam a língua Tupi- Guarani;
� Patuaruana – já habitavam Parintins desde 1669 foram extintos;
� Paraviana - passaram pela ilha Tupinambarana em 1798 e vieram com os
Uapixanas, vindos das regiões da Guiana Francesa e Inglesa e do Rio Branco
(Roraima) foram absorvidos pelos Uapixanas;
� Sapopé - viviam à margem direita do Paraná do Limão e se aldeavam no
Parananema (curso d’agua que forma nossa ilha); tinham os mesmos costumes
dos índios Maué e foram absorvidos pelos mesmo; falavam a língua Tupi-
Guarani;
� Tupinambarana - vieram do litoral devido às perseguições movidas pelos
portugueses e ocuparam a foz do Rio Madeira, no século XVII. Foram
perseguidos de novo, e refugiaram-se no arquipélago de Tupinambarana;
ocuparam por certo tempo Parintins. Pertenciam à família Tupi-Guarani.
Foram extintos;
� Tupinambá - (falsos tupi) vieram do sul e, perseguidos, foram em direção ao
Peru, e de lá, novamente perseguidos, voltaram e ocuparam a Ilha Maracá, no
arquipélago de Tupinambarana. Já estavam em processo de extinção;
� Uapixuna - eram índios que habitavam a Guiana Inglesa e as nascentes do Rio
Branco. Falavam a língua Aruaque.
Segundo Saunier (2003), das dez tribos que habitavam Parintins, apenas os Maué ou
Saterê-Maué, os Mundurucu, os Parintintin e Uapixuna ainda existem. Destaca, em particular,
os Maué, com mais de 3.000 índios que vivem sob a proteção da FUNAI e dos padres do
PIME, nas regiões dos rios Andirá, Maué-Açu e na cidade e Parintins. Falam a língua Tupi-
Guarani. Já os Mundurucu vivem em Reserva Florestal de Mundurucânia e falam a língua
Mundurucu; são 2.500 índios que vivem à margem direita do rio Tapajós, próximo ao Estado
do Pará, enquanto que os Parintintin vivem hoje aldeados à margem direita do Rio Madeira e
em número reduzido; cerca de 200 indivíduos falam a língua tupi-guarani. Os Uapixuna, cerca
de 5.000 indivíduos, vivem na Reserva Florestal Paraima, a Noroeste do Estado de Roraima.
Por outro lado, em Cerqua (2009: 14) encontram-se informações sobre os Parintintin, e afirma
que:
Entre os Tupis havia um grupo chamado Parintintin de que originou o nome da serra e desta a nossa cidade. Eram inimigos ferozes dos demais índios, especialmente dos Mundurucu e pela sua cruel animosidade acabaram sendo escorraçados da região rumo ao Madeira, onde existem alguns descendentes no município de Humaitá.
Quanto aos índios Sateré-mawé, Cerqua (2009), apresenta uma quantidade diferente
daquela apresentada por Saunier (2003) que é de 2.500 índios Sateré-Mawé. Essa quantidade
de indígenas é apenas na região de Parintins. Outro dado a esse respeito, encontra-se em
Moore et alii (2008: 39), que mostra uma população de 7.134 indígenas Sateré-Mawé e
apenas dois estudos sobre a língua. Nesse sentido, a pesquisa sobre a língua dos Mawé, na
região de Parintins, é objeto de pesquisa de dissertação, cujo objetivo é o levantamento do
léxico dessa língua para criação de dicionário em Saterê-Maué/Português .
Os indígenas, sobreviventes à civilização branca, hoje, moram em aldeias, geralmente
em números reduzidos. Assim como as tribos, são extintas as línguas que elas falam. Moore et
alii (2009: 37) afirma que:
A sobrevivência de povos nativos se deu em maior número em áreas remotas especialmente na Amazônia, onde o contato com a sociedade nacional foi mais
recente e menos intenso. Além de ser a região com maior concentração de população indígena do país, a Amazônia apresenta também grande diversidade lingüística e cultural. A região concentra mais de dois terços das línguas indígenas faladas no país.
Moore et alii (2009) afirma que ‘documentar as línguas indígenas na Amazônia é um
desafio, porque há carência na formação de lingüistas treinados nas técnicas e métodos de
pesquisa’. Pode-se afirmar que, não apenas a línguas indígenas sofrem com essa carência; há
também a carência de estudos sobre de dialetos amazônicos falados pelos caboclos da região.
Nesse sentido, a pesquisa sobre a Variação Dialetal Parintinense contribuirá para a
minimização dessa carência de estudos.
Nesse capítulo a história de Parintins começou a ser contada a partir da presença de
nativos, ou seja, antes, de Pedro Cordovil, região onde habitavam os índios Tupinambarana.
Segundo Saunier (2003: 21): “Somente vinte anos depois de fundada a aldeia, chegou na
região o Padre Antônio Fonseca para cuidar dos Tupinambarana que se espalhavam pelo
grande arquipélago do mesmo nome”. Mais tarde, em virtude da colonização da Amazônia
pelos portugueses, efetivaram-se os contatos entre os nativos e os colonizadores, bem como a
chegada de outras tribos à região. Para que esse contato se concretizasse, houve o que se
chamou de catequização dos índios. Na verdade, foi um processo de aculturação, a iniciar pela
perda da identidade lingüística, pois todos os índios eram catequizados na Língua Geral
Amazônica, pertencente ao Tronco Tupi.
As presença de jesuítas com a finalidade de catequização na Amazônia e a fundação
de missões religiosas na região, aponta para a confirmação, e apoiados nas palavras de
D’Albuquerque e Marinho (1999), de que Parintins está entre os municípios amazonenses
fundados por missões religiosas. Dessa maneira, conclui-se que a história de Parintins deve
ser contada a partir dos nativos que a habitavam a ilha, bem como dos primeiros contatos
deles com os missionários e colonizadores. A permanência de missionários na Amazônia
concretizou-se, segundo Santos (2002:36-37), através de um loteamento missionário:
Tal loteamento, teve, de modo geral, a seguinte configuração: os capuchos (franciscanos da Província de Santo Antônio), inicialmente atuavam, em sete
núcleos, entre a boca do Amazonas e o Nhamundá. Com a divisão, couberam-lhes os núcleos da Ilha de Marajó, São José, Bom Jesus, Paru e Urubuquara; os jesuítas ficaram com toda parte a margem direita e os sertões sul do rio Amazonas; os carmelitas foram fixados na zona do rio Negro e no Solimões; os mercedários foram contemplados com a porção que compreendia o rio Urubu e parte do baixo rio Negro; capuchos da Piedade (franciscanos da Província da Piedade), com todas as terras das redondezas de Gurupá, bem como as dos distritos do rio Amazonas até Nhamundá, inclusive o Xingu e o Trombetas.
No texto de Santos (2002), encontra-se a justificativa para a presença de jesuítas na
formação do povoado de Parintins. Comprova-se esse fato, baseados nas palavras de Santos
quando afirma que os jesuítas ficaram com toda a margem direita do rio Amazonas,
justamente a região onde está localizada a cidade de Parintins.
A catequização foi um processo no qual houve a ininterrupta presença dos
missionários religiosos durante a colonização nas regiões do Brasil, bem como na Amazônia.
No caso de Parintins, Saunier (2003) fala da presença dos missionários na ilha
Tupinambarana, datada em 1714, era missionário dos Tupinambarana, o Padre Bartolomeu
Rodrigues, que conhecia profundamente a Língua Tupi. Outro missionário, Padre Antonio
Fonseca, fundou uma povoação e construiu uma capela em honra a Santo Inácio, as margens
de um Rio. Mais tarde, esse local serviria para os habitantes de São Miguel dos
Tupinambarana, os quais se mudaram para a povoação de Guaiacurapá dos Tupinambarana no
rio Uaicurapá. O missionário dessa época era o Padre Manuel Reis, que nomeou a povoação
de São Francisco Xavier dos Tupinambarana construindo uma capela em honra ao santo.
As mudanças de missionários na região de Parintins permite afirmar que à medida que
se deslocava um missionário para a região, mudava-se o nome da povoação, em geral,
usavam-se nomes de santos, sendo esta é uma das características da presença portuguesa na
catequização da Amazônia. Outros fatos sobre a história da colonização no Brasil mostram
que um dos fatores para a dizimação da população indígena foram as epidemias. Na história
de Parintins, observa-se o mesmo fato, segundo Saunier (2003: 22), sabe-se que “foi
registrada a ocorrência de epidemias como as de sarampo, varíola e berberi” que fez decair a
aldeia dos Tupinambarana. Além da epidemia, outro fator que reduziu a população indígena
foram rebeliões e guerra e uma delas foi a Cabanagem, sobre isso Meireles Filho (2004: 118)
conta que:
As classes sociais menos favorecidas, pouco beneficiadas com o processo de independência de Portugal, logo se descontentam com a opressão pela elite local e iniciam um longo período de contestação. Este movimento nativista é, certamente, o de maior significado para a Amazônia, entre 1835 e 1840, por cinco anos, resulta a morte de pelo menos 1/5 dos 150 mil habitantes da província do Grão-Pará (Pará) e Rio Negro (Amazonas).
A Cabanagem nas palavras de Pinheiro (2008: 88) é retratada da seguinte maneira:
Em toda a colônia, as contradições entre brasileiros e portugueses se agudizaram até 1831, quando a pressão para a abdicação do imperador se tornou incontrolável. A volta de Pedro I a Portugal sepultou o sonho de recolonização do Brasil. Os políticos liberais paraenses, associados à elite local, apelam, sem sucesso, à Regência pela indicação de governantes nativos para o Pará. Nos arredores de Belém, Félix Malcher, político influente e homem de posses, organiza seus correligionários para impor uma solução. Tentando reforçar seu poderio, o grupo de Malcher jogou uma cartada perigosa (recusada pelos inconfidentes mineiros em 1789) ao buscar apoio nas camadas mais pobres da população através de inflamados discursos, onde conceitos de igualdade e liberdade eram alardeados de forma retórica.
Enquanto Meireles Filho ressalta a participação das classes sociais menos favorecidas
na rebelião, Pinheiro afirma que a participação dessas classes foi uma estratégia política, na
qual a elite apenas foi deportada, ao passo que a população pobre foi dizimada. Na história de
Parintins não consta que os Cabanos tenham chegado à vila, porém Saunier (2003: 74) declara
que:
Em agosto de 1838, uma expedição saiu de Vila Nova da Rainha contra os cabanos que haviam fortificado em um ponto do rio Mamuru, sendo uma noite, surpreendidos pelos revoltosos. A cilada fora tão bem armada, que ficou inutilizada toda e qualquer defesa, e foram cruelmente assassinadas todas as 30 pessoas que compunham a expedição.
Saunier (2003) declara que a história de Parintins inicia-se a partir da autonomia
territorial, embora não se desconsidere a importância da autonomia territorial para a afirmação
de um povo, permanesse-se no princípio, que toma como ponto de partida, o registro dos
primeiros nativos e colonizadores, como fora demonstrados ao falar das tribos que habitavam
a ilha Tupinambarana. Esses fatos tornam-se, pois, fatores para a compreensão da constituição
da sociedade e da cultura Parintinense.
Em uma região de nativos, a presença do Outro pode ser impactante e conflituosa. No
caso de Parintins, a presença constante de portugueses aconteceu, segundo Saunier (2003: 23),
na ocupação da região em 1796. Conclui-se que os negros chegaram a Parintins por
intermédio do português Pedro Cordovil. A ele foi dada a missão de organizar o núcleo
Tupinambarana. Para isso agrupou índios Maué e Sapopé formando uma fazenda agrícola,
nos moldes auxiliados pelo Marquês de Pombal. Porém, Cordovil foi intransigente ao agrupar
indígenas de tribos diferentes. Outra intransigência foi escravizar os índios. Isso criou
hostilidades nas relações com Cordovil tanto que, em 1798, segundo Saunier (2003: 23),
“Fora enviado por Carta Régia de 12 de março, o Frei José Álvares das Chagas, para conter a
exploração movida por Cordovil e apaziguar as divergências”. O colonizador Pedro Cordovil
foi enviado para desempenhar uma função em nome da Corte, mas desviou-se do propósito
criando conflitos e se tornou um tirano. Esse fato não é exposto por D’Albuquerque e
Marinho (1999: 180), na qual se encontra apenas:
O capitão Cordovil, que se estabeleceu com grande número de servos, pretendia dedicar-se à agricultura, mas sendo agraciado por D. Maria I com uma sesmaria em terras próximas ao lago Miriti, para lá se encaminhou, levando todo seu pessoal e ofertou a ilha de Tupinambarana à D. Maria I.
Saunier (2003: 25) apresenta a seguinte cronologia sobre a Vila Nova da Rainha:
� Em 1818, houve a iniciativa de pleitear a elevação da missão a categoria de
vila;
� Em 1832, foi criada a Freguesia, cujo nome era Tupinambarana;
� Em 1848, a 14 de março, a lei Paraense tornou Parintins vila e município com
a denominação “Vila Bela da Imperatriz”, porém não foi instalada por falta de
preenchimento de formalidades estabelecidas em lei;
� Em 1853, vila e município foram instalados;
� Em 1858 foi elevada à comarca com o nome de Parintins, por emenda do
Deputado Pe. Torquato Antonio de Sousa;
� Em 1880, é elevada a categoria de cidade, a 30 de outubro, com o nome de
Parintins;
Observa-se, desde a fundação de Parintins, como missão, a denominação pelo nome
Tupinambarana, no entanto, quando foi elevada à categoria de vila, município e cidade
recebeu o nome de Parintins, em homenagem aos índios Parintintin. Inferi-se que o Pe.
Torquato deu esse nome por ser conhecedor das tribos e das línguas presentes na região.
Quanto à população de Parintins, nos relatos de Saunier (2003), na época de sua
fundação, era de 495 índios. Quando Pedro Cordovil chegou à região veio acompanhado de
77 escravos e alguns agregados. Depois que Parintins foi elevada à categoria de cidade várias
providências foram tomadas para que se instalasse e funcionasse como tal. Abaixo algumas
datas e acontecimentos importantes na história de Parintins, segundo Saunier (2003). Para
melhor visualização foi criada a tabela a seguir:
Entre 1860 a 1865 Parintins já possui uma Companhia Avulsa
de Infantaria, com 459 soldados.
Em 1869 Escolha de Conselho do Município
Em 1883 Número de eleitores em Parintins era de 314
Em 1893 Primeira eleição municipal de Parintins, na
qual foi eleito o Cel. José Furtado Belém
como primeiro prefeito.
Em 1896 Foi inaugurado o telégrafo em Parintins, era
uma estação de cabo subfluvial da Amazon
Telegraf Company
Em 1901 Instalação da maçônica União, Paz e
Trabalho.
Entre 1902 e 1904 Elaboração do primeiro jornal de Parintins,
cujo nome era Tacape.
Em 1916 A Lei n° 96 desmembrou 14. 652 km² de seu
território para a formação do município de
Nhamundá, atualmente a cidade possui 7.
069 km²
Parintins é um dos municípios com grande importância cultural para o Estado do
Amazonas, demonstrada em sua formação histórica que comprova a atuação de seus lideres
em prol da autonomia territorial do Estado do Amazonas e de seu próprio território, segundo
Bittencourt apud Saunier (2003: 58), “Cabe a Parintins a glória de ter sido o lugar do
Amazonas de onde primeiro partiu a iniciativa da separação, quer da capitania, no tempo
colonial, quer da comarca, no tempo imperial”. Além disso, o sentimento de pertença a esse
território se dá por meio da valorização da sociedade e da cultura constituída a partir de seus
antepassados. Foi, portanto, “a lei provincial n° 499 de 30 de outubro de 1880, que elevou a
sede do município à categoria de cidade com o nome de Parintins”. E a criação do município
ocorreu a 15 de outubro de 1852, pela resolução ou Lei n° 2 do governo da Província do
Amazonas. Situado na Mesorregião 03, atualmente possui 7.069 km² de área territorial”
ilustrados na gravura a seguir.
Figura 5 e 6 Localização de Parintins dentro do Estado do Amazonas
A cidade está situada a 50 metros acima do nível do mar com clima tropical, chuvoso
e úmido. Há duas estações anuais: o inverno de dezembro a maio é considerado época de
chuva. O verão de junho a novembro é época de calor intenso. A vegetação é de floresta de
várzea e terra firme. O relevo do município é constituído de planície e de baixos planaltos
amazônicos, destacando-se a Serra de Parintins. Além do Rio Amazonas destacam-se os rios
Mamuru e o Paraná do Ramos.
O município localiza-se à margem direita do rio Amazonas, distante da capital,
Manaus, 370 km em linha reta e 420 km por via fluvial. Segundo o censo de 1.999 o total
populacional de Parintins é de 80.747 habitantes dos quais 56.125 são de população urbana e
24.622 de população rural. Segundo dados obtidos da Prefeitura Municipal de Parintins, o
município possui cerca de 101.908 habitantes com densidade de 13,3 hab./km², segundo
IBGE 2007, e, sua população é de 20.000 mil crianças entre 8 e 9 anos e 6.000 mil idosos.
Os limites do município são: ao Norte: municípios de Nhamundá e Urucará. Ao Sul:
município de Barreirinha. Ao Leste: o Estado do Pará. Ao sul: o município de Urucurituba.
Segundo D’Albuquerque e Marinho (1999), os povoados registrados em Parintins estão na
tabela a seguir:
Casulos Classificação Parintins Sede São Carlos Povoado Espírito Santo Povoado Colônia Boa Esperança
Povoado
Vila Amazônia Vila Marajó Povoado Lago do Máximo Povoado Maranhão Povoado Nova Vida Povoado Lago do Sumaúma Povoado Lago do Mato Grosso
Povoado
Vila Bom Socorro Vila Panauaru Povoado Remígio Povoado Gringoste Povoado Meriti Povoado Vila Valéria Povoado Lago do Zé Miri Povoado Lago do Mocambo Povoado Lago do Cabori Povoado
Município Parintins
População 49. 748 (população da cidade) 21.574 (população dos povoados) Total: 71. 574
Comunidade do Boto Povoado Fonte: D’Albuquerque e Marinho, 1999.
Segundo os dados obtidos da Prefeitura Municipal de Parintins o povoado de
Mocambo, na tabela anterior, transformou-se em Distrito.
Os ciclos econômicos em Parintins, segundo Saunier (2003), foram Indústria
Extrativa, Cacau, Pecuária, Pau-Rosa e Juta. Os principais produtos extrativos das florestas
eram: castanha, borracha fina, sernambi, caucho, caferana, cumaru, óleos de andiroba,
copaíba, muirapuama, abuta, manacá, cipó, salsa, toros de itaúba, cedro e peles silvestres. O
pescado de pirarucu, a banha de tartaruga, óleo de peixe-boi, peixe-salgado, grude de peixe. O
pescado e as peles silvestres foram os mais exportados. O pirarucu durante os anos de 1917 a
1922 foi o produto que esteve em primeiro lugar nas exportações e foi, segundo Saunier
(2003), o produto que mais canalizou impostos para o Amazonas.
Os cacauais são nativos do município, tendo em extensão nas principais povoações do
Baixo Amazonas. O ciclo do cacau começou com a chegada de José Pedro Cordovil. Em
pouco tempo passou a ser um dos principais produtos e tornou Pedro Cordovil um homem de
riquezas. Os coronéis do cacau fizeram verdadeiras fortunas e construíram vários prédios na
cidade, inclusive palacetes. Nessa época chegavam a Parintins pessoas de vários lugares
como: portugueses, franceses e judeus, assim como moradores de Estados, municípios e vilas
próximas a Parintins. No entanto, a falta de apoio governamental, intensas enchentes e as
grandes produções de cacau no Estado da Bahia declinaram o ciclo de cacau no município.
Saunier (2003) informa que, quanto à pecuária, as primeiras notícias datam de 1919, em que o
município chegou a ser o segundo maior criador, com 19.349 reses.
A indústria de óleo essencial da madeira Pau-Rosa, segundo Saunier (2003), iniciou-se
em 1930. As primeiras usinas de destilação de óleos vegetais foram instaladas em Varre-
Vento, rio Uaicurapá e no Paraná do Ramos. No Varre-Vento era a Companhia Industrial do
Rio de Janeiro, Barros &Cia, e, no Ramos, a Usina do Doutor Hauradour, francês que viveu
muitos anos em Parintins. Depois uma grande empresa comercial e industrial instalou-se no
município com a usina de pau-rosa no Andirá e casas comerciais na cidade, pertencentes a um
português. Na década de 1960, algumas usinas voltaram a funcionar no Amazonas e em
Parintins, no Varre-Vento. O linalol, fixador de perfumes, encontrado em várias madeiras,
principalmente no pau-rosa, foi descoberto quimicamente, e as árvores de pau-rosa madeira
ficaram cada vez mais difíceis, diminuindo a produção.
No cultivo da juta, Saunier (2003) informa que, em 1927, iniciaram as conversações
entre o Governo Japonês e o Brasileiro – Getúlio Vargas – para a aquisição, por parte dos
japoneses, de uma área no município de Parintins, para a instalação de um Instituto Agrícola.
Nesse mesmo ano, conforme o contrato de opção lavrado em 11/03/1927, o governo do
Estado do Amazonas concedeu aos Sr. Geusadaro Yamanichi e Kyreku uma extensão de
terras devolutas com 1 milhão de hectares. Em 1930, o Dr. Tsaukasa Ujetsuba e sua mulher
compraram, de Francisco Barreto Baptista, a localidade de Vila Baptista, depois Vila
Amazônia, como é conhecida até hoje. Em 1931, foi fundado o Instituto Amazônia, pelo Dr.
Tsaukasa Ujetsuba, ministro da Agricultura do Japão, que recebera do presidente Getúlio
Vargas permissão para fundar, na Amazônia, precisamente no município de Parintins, um
Instituto de Estudos Agrícolas para a imigração japonesa. Nesse período chegava a primeira
turma de alunos recém-formados pela Escola Superior de Colonização e acompanhou o Dr.
Tsaukasa Ujetsuba para a inauguração. O Sr. Ryota Oyama, conhecido como o “Pai-da-Juta”,
e respeitado pelos parintinenses, iniciou a adaptação da semente indiana, até que conseguiu,
depois de muito tempo de trabalho, duas árvores robustas, que produziram sementes de
primeira qualidade e originaram os grandes jutais da Amazônia, principalmente de Parintins,
onde começou o plantio em 1939.
A instalação de prensas para a prensagem da juta no município foi feita, pois era
exportada para os mercados do Sul do país, para industrialização de sacos, a fim de
acondicionar grãos em geral. Uma fábrica de tecelagem para fabricação de fios, sacos e telas
foi instalada no Parque Industrial da Fabril Juta, em Parintins, com maquinaria importada da
Irlanda, empregando 800 operários e exportando telas e tapetes para todo o mercado da
América do Sul. A Fabril Juta foi uma das maiores fábricas de tecelagem do norte do Brasil,
mas acabou. Suas instalações e máquinas foram leiloadas para pagar empregados e
fornecedores. Hoje essa área é da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, que abriga o
“curral” de mesmo nome. As gravuras ilustram as instalações da antiga Fabril Juta de
Parintins.
Figuras 6 e 7 Companhia Fabril de Juta de Parintins
Figuras 8 e 9 Construção da Companhia Fabril Juta de Parintins
Fonte: Arquivo Pessoal
Sunier (2003) afirma que os japoneses plantaram arroz com máquina de
beneficiamento, castanhas-do-pará, construíram embarcações de pequeno porte e um hospital
para tratamento de doentes, sob a direção do Dr. Yoshio Toda, que já fazia cirurgia cesariana
e tratamento de impaludismo (malária). Com a II Guerra Mundial o Japão aliou-se à
Alemanha e à Itália, por isso, foram presos e tiveram que se retirar das terras brasileiras. As
terras lhes foram tiradas e vendidas em hasta pública, pelo Banco do Brasil. Em 1993 foi
comemorado os 50 anos de Imigração Japonesa na Amazônia.
Os aspectos econômicos, segundo Saunier (2003), são: avicultura, bovinocultura,
bubalinos, agricultura, olericultura e no comércio temos o setor secundário que é expressivo e
o setor terciário, além de, atualmente, investimentos em turismo.
As leituras de Saunier (2003), D’Albuquerque e Marinho (1999) e Cerqua (2009)
permitem inferir que Parintins é um município com uma riqueza histórica que precisa ser mais
apreciada para que possa ser registrada e sirva como referência para estudos futuros. Afirma-
se isso em virtude da carência de obras que retratem Língua, Cultura e Sociedade de Parintins.
2.4.1 Parintins: Atividades Turísticas Quando se fala de Parintins, para não-parintinenses, a primeira idéia em suas mentes é
“Terra do Boi-Bumbá”, entretanto, não há apenas o boi-bumbá. Atualmente, muitas
apresentações culturais, incentivadas pela Coordenadoria de Turismo, estão sendo realizadas.
O investimento em infra-estrutura e o incentivo das secretarias municipais e estaduais têm
contribuído para o aumento do turismo na cidade de Parintins. Essas informações foram
cediadas pela Secretária Municipal de Turismo.
Há apresentações de pastorinhas festejando o Dia de Reis, 6 de janeiro. É a época em
que os integrantes das pastorinhas saem pelas ruas da cidade comemorando e pedindo
doações. Nesse ano de 2009 houve apresentação na Praça Cristo Redentor, atual Praça
Digital, sob incentivo da prefeitura municipal. A seguir as gravuras sobre as Pastorinhas:
Figura 10 e 11 - Apresentação de Pastorinhas Fonte: http://www.fapeam.am.gov.br
As pastorinhas tornaram-se objeto de estudo de uma pesquisa de Mestrado na área de
Ciências da Comunicação, as informações sobre as pastorinhas foram encontradas no site da
FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas) com a seguinte descrição:
Bailados folclóricos com dramatizações coloridas, danças e cantos que retratam o ciclo natalino na Amazônia. Introduzido no século 16 pelos jesuítas para evangelizar os índios, as pastorinhas – movimento cultural que ainda é conservado por grupos de danças de Parintins, município do interior do Amazonas localizado a 369 km de Manaus (em linha reta) – ganharam destaque nacional e internacional por meio do artigo “Entre o popular e o massivo: como as pastorinhas de Parintins repercutem seus processos comunicacionais”.
De fato, a influência da catequização permanece viva no seio da sociedade
parintinense por meio da manifestação cultural denominada pastorinhas e, sobretudo, essa
manifestação está sendo estudada e registrada como uma maneira de preservar a identidade
cultural.
No período de carnaval o município de Parintins comemora, com estilo próprio,
denominado Carnailha, ou seja, carnaval na Ilha de Parintins. Há muitos blocos carnavalescos
que disputam nos três dias de carnaval. Os blocos são compostos por alas de brincantes
usando abadás e carros alegóricos de pequeno porte. Nesse período há intenso fluxo de
turistas na cidade.
Há também as quadrilhas que são organizadas como blocos nos quais se envolvem
vários bairros da cidade. Sob incentivo da prefeitura municipal é organizada uma semana de
disputas de apresentações das Quadrilhas em dias que antecedem o Festival Folclórico. No
entanto, a manifestação cultural que mais atrai turistas é o Festival Folclórico de Parintins.
Iniciou-se em 1966, na quadra da JAC (Juventude Alegre Católica). Do primeiro festival até o
22º as apresentações aconteceram em locais variados. Até 1975, ou seja, do primeiro ao nono
festival as apresentações se realizaram na JAC da Praça da Catedral de Nossa Senhora do
Carmo. O décimo festival foi realizado na JAC da Rua Jonathas Pedrosa. O 11º e o 12º
festivais foram realizados na quadra CCE (Comissão Central de Esportes) no Parque das
Castanholeiras, atual Quadra Poliesportiva Silvio Miotto. O 13 º, na JAC da Avenida
Amazonas, 14º no CCE. Do 15º ao 17º festivais, ocorreram no Estádio de Futebol Tupy
Cantanhede. O 18º, no Tabladão do povo, cujo nome foi mudado para Anfiteatro Messias
Augusto. No 23º festival, exatamente no ano de 1988, o Festival Folclórico de Parintins
passou a realizar-se no Bumbódromo. Para esclarecimentos, a palavra bumbódromo está
registrada no dicionário Houaiss cuja datação é do mesmo ano em que foi construída a obra,
1988. A definição presente no dicionário é “construção com arquibancadas e área para
apresentação de agremiações de Boi-Bumbá em Parintins, no mês de junho”. A Etimologia é
assim descrita rad. do 1º el. de bumba-meu-boi (ou var. como o 2º el. de boi-bumbá) sob a f.
bumb- + -o- + - dromo, à feição de sambódromo.
O bumbódromo é considerado uma obra monumental, com uma área de 10.000 km²,
com capacidade para 50.000 pessoas. A estrutura é em forma de uma cabeça de boi. É um
complexo que abriga um pronto-socorro e salas de aula de uma escola estadual. Veja-se a
gravura a seguir.
Figura 11 Vista aérea do Bumbódromo de Parintins
Fonte: Google imagens
A cidade, principalmente durante o Festival Folclórico, fica divida, sendo a zona leste
onde há predominância de torcedores pelo Boi-Bumbá Caprichoso e a zona oeste onde há
predominância de torcedores pelo Boi-Bumbá Garantido. Da mesma forma se dá a divisão no
espaço interno do bumbódromo.
Quanto à data da festa houve modificações de interesse econômico e turístico. As
datas tradicionais eram 28, 29 e 30 de junho, no entanto elas não favoreciam o turismo para os
dias do Festival Folclórico. Então, houve a necessidade de fixar como data, para a realização
do festival folclórico, o último final de semana do mês de junho. Essa data, porém, já fez com
que o festival se prolongasse até julho. Isso pode ocorrer quando a última sexta-feira do mês
de junho for dia 30, ou seja, o fim de semana se prolonga até o início do próximo mês. A
modificação na realização do Festival dividiu opiniões. De um lado, aqueles não queriam a
mudança das datas tradicionais e, de outro lado, aqueles que acreditavam na mudança das
datas para favorecer o turismo. Por fim, a modificação contribuiu com a vinda de turistas a
Parintins.
Há poucos anos criaram o Boi-Bumbá em miniatura, ou seja, marionetes de todos os
elementos que compõem o Boi-Bumbá original. Foi criado por jovens parintinenses. A
brincadeira em miniatura conserva a mesma rivalidade que há entre os Bois-Bumbás,
inclusive os nomes e as cores. Esse mini-festival acontece no mês de agosto. Além dos Bois-
Bumbás de miniatura, há os bois-bumbás mirins das escolas públicas. As crianças são
socializadas em sua cultura de acordo com sua fase da vida, a infância. Essas apresentações
ocorrem entre o fim de maio até junho.
A cultura do Boi-Bumbá deu origem ao costume de sair pelas ruas brincando de Boi-
Bumbá. Assim era nas décadas iniciais da festa, em que duas nações, Caprichoso e Garantido,
brincavam diante das casas e ruas de seus torcedores e ainda hoje esse costume é praticado.
Cavalcanti (1999), sobre o Festival Folclórico de Parintins, assim se refere: “Sugiro,
finalmente, a interpretação do Bumbá de Parintins como um novo nativismo que, ao valorizar
as raízes regionais indígenas, afirma positivamente uma identidade cultural cabocla”.
Calvalcanti (1999) escreveu sobre a etnografia da festa e mostra aspectos importantes
para a compreensão do Festival folclórico de Parintins. Destacam-se os seguintes aspectos:
Primeiro, as referências sobre a existência da brincadeira do Boi-Bumbá. A primeira
referência no país data de 1840 e vem do Recife. A segunda referência data de 1859, e vem de
Manaus. A terceira referência foi encontrada em jornais de Belém e de Óbidos, datados de
1850. Segundo aspecto, os nomes do boi: Boi-Bumbá, no Amazonas e no Pará; Bumba-meu-
boi, no Maranhão; Boi Calemba, no Rio Grande do Norte; Cavalo-Marinho, na Paraíba;
Bumba de Reis ou Reis de boi, no Espírito Santo; Boi Pintadinho, no Rio de Janeiro; Boi de
Mamão, em Santa Catarina. O terceiro aspecto, o Bumbá na Amazônia. A região Amazônica
é um importante contexto de referência ao Bumbá de Parintins. Ela fornece o contexto em que
o festival reverbera anualmente, aludindo a muitas dimensões de uma história conturbada.
Segundo Cavalcanti (1999) o surgimento dos bois na cidade foi na segunda década do século
XX. O Boi Garantido teria sido criado em 1913, por Lindolfo Monteverde e oBoi Caprichoso
logo o seguiu; há quem diga no mesmo ano, há quem diga um ano depois, criado pelos irmãos
Roque e Antônio Cid (naturais do Crato, no Ceará) e por Furtado Belém, parintinense. Os
Bois brincavam em terreiros e saíam nas ruas onde confrontavam-se com desafios e
inevitáveis brigas, pois, quando se encontravam, nenhum queria deixar o outro passar, ou
voltar para trás. Para Cavalcanti (1999) esses aspectos levam a conclusão de que o Boi-
Bumbá na Amazônia se adaptou ao contexto de biodiversidade e de diversidade cultural. Esse
contexto é fonte para o Festival de Parintins, que criou uma festa que exige para si a
originalidade, por fazer um espetáculo que conta e reconta a história da Amazônia.
No mês de julho, uma semana após o Festival Folclórico, inicia-se a Festa em
Homenagem a Nossa Senhora do Carmo, padroeira da cidade. O período da festa é de 06 a 16
de julho. Essa festa atrai muitos turistas vindos de vários municípios do Estado do Amazonas
e do Estado do Pará. Em Parintins houve desfile cívico das escolas públicas da cidade, porém
hoje apenas algumas instituições realizam-no. Por outro lado, o município incentiva a prática
esportiva através dos Jogos Escolares, assim como no aspecto cultural com o Festival de
Toadas. Já a Festa de Fim de Ano com fogos na orla da cidade é outra atração turística que
vem ganhando destaque. Por fim, não há como deixar de tratar de arte e não falar de tudo o
que fora citado e, sobretudo no Boi-Bumbá uma brincadeira de amazônidas com
características da cultura local: rios, floresta, peixe, os misticismos, as lendas, os mitos, a
relação com a natureza.
O boi-bumbá tornou-se expressão cultural e, hoje, faz parte da identidade cultural de
Parintins e do Amazonas. Esta cidade, que é apenas uma ilha, consegue fazer uma festa com
muita criatividade e paixão. E, apesar da utilização apenas de transporte fluvial ou aéreo, não
se torna isolada, porque sua cultura favorece a aproximação de culturas também. É uma
cidade interiorana, que vive da pesca, da pecuária, mas a sua arte folclórica tem favorecido o
turismo e em virtude disso está se desenvolvendo. Para ilustração do reconhecimento da
cultura do Boi-Bumbá como expressão cultural observe-se o mapa do Estado do Amazonas a
seguir.
Figura 12 Bois-bumbás como ícones Fonte Google imagens
Em uma perspectiva histórico-cultural, o aprimoramento da organização do Festival
Folclórico tornou a auto-estima do parintinense vigorosa, pois em virtude dessa festa a cidade
está sendo estruturada para se tornar turística, ou seja, para que se desenvolva. Ao se tornar
uma cidade turística ela comunica sua cultura e mostra sua riqueza artística através de várias
linguagens. Nesse sentido, Laraia (1994: 53) afirma que “a comunicação é um processo
cultural, mais explicitamente a linguagem é um produto da cultura, mas não existiria cultura
se o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicação
oral”.
2. 5 A Linguagem e a Identidade Social de Parintins
Gumperz (1984) ao falar de linguagem e identidade social declara que a etnicidade e a
identidade cultural são amplamente estabelecidas e mantidas pela linguagem; no entanto, é
por causa das características históricas dos processos através do quais os grupos são formados
que os símbolos de identidade são criados. Ainda em Gumperz levanta-se a questão: como se
cria a própria identidade social e como ela afeta e é afetada por divisões étnicas, políticas e
sociais? Para entender essa questão, é preciso obter conhecimento dos processos de
comunicação, mas a comunicação não pode ser estudada de forma isolada; deve ser estudada
no contexto de vida das pessoas. Dessa maneira, a Linguagem é um dos pilares para a
construção da Identidade Social de um povo. No caso de Parintins, a sociedade foi construída
pelo contato de imigrantes (portugueses, em sua maioria) e nativos (as diversas tribos que
habitaram a ilha, já citada). Sua Identidade Social é o resultado da miscigenação de branco e
índio, da catequização, da exploração dos recursos naturais da região. É por isso que o
parintinense se reconhece como caboclo, ribeirinho, que sobrevive às enchentes e às secas.
Come o tucumã, a farinha de mandioca, o peixe. Navega pelos rios de barco ou canoa. Banha-
se nas águas doces dos rios e lagos. Vive sua religiosidade, herança dos portugueses. Utiliza
essas experiências em suas manifestações culturais. O parintinense vê a si mesmo como um
ser criativo. Nesse sentido, González e Domingos (2005:42) afirmam que:
A identidade vem definida pela consciência de pertencer a um grupo cultural, conseqüentemente é um conceito que se forma por contraste remetendo sempre à diversidade; cada grupo humano no seu caminhar histórico foi desenvolvendo um estilo de vida próprio, hierarquizando valores, fundamentando o seu atuar em crenças e criando expectativas de futuro. Este patrimônio cultural construído por cada povo na sua luta diária pela sobrevivência representa uma contribuição única em ordem à riqueza cultural da humanidade
O grupo de pesquisa GEPS (Grupo de Pesquisas Sociolinguisticas) em seus pilares
declara que na Sociolinguística, um dos principios é saber que o conhecimento da própria raiz
lingüística não pode ser obstáculo para as interpretações que se faça sobre qualquer parte do
Planeta, no caso a Amazônia. As manifestações da Língua, na Amazônia identificam a
diversidade e a heterogeneidade lingüístico-culturais. Por isso, é preciso estar preparados, ou
preparar-se para conviver com as diferenças em relação aos outros, pois, ser diferente não é
ser errado. Na Amazônia há muito que se dizer sobre o povo, as experiência de vida e o papel
que seu povo desempenha na região. Esse é um dos princípios que norteiam, também o
projeto. Por isso, é importante conhecer a formação histórica, os primeiros colonizadores, os
nativos, as caracteristicas geográficas da região, uma vez que tudo isso formará o contexto no
qual os habitantes vivem e das histórias de vida dos moradores do local.
Na história de Parintins, o contato com os missionários religiosos foi mais harmonioso
que o contato com o primeiro colonizador português, pois este agrupou tribos diferentes na
tentativa de torná-los um só povo, ou seja, povo escravo. Isso gerou conflitos e a presnça dos
missionários foi importante para encontrar caminhos para apaziguar. A influência dos
religiosos foi tanta que hoje a cidade é uma das mais religiosas da região, pois a maioria dos
moradores são seguidores da religião católica. Tal tema não é apenas teórico. É experiência
de parintinense.
Não se pode esquecer que, por Parintins, também passaram franceses, italianos e
japonenses, como em toda colonização brasileira. Estes últimos com uma contribuição
significativa para o desenvolvimento da cidade. Os japoneses aprimoraram o cultivo da juta e
ofereceram serviços clínicos da localidade. Como reconhecimento à atuação dos japoneses
para o desenvolvimento de Parintins, será oferecido o curso de língua japonesa em um centro
de ensino de idiomas da rede pública, conforme informou o diretor do centro de ensino. No
entanto, uma das suas maiores manifestações e que a representa diante das demais regiões do
país é o Festival Folclórico de Parintins. Segundo os antropólogos culturais, todas as pessoas
têm a capacidade de classificar experiências, codificar classificações simbolicamente e
transmitir tais abstrações. Pessoas vivendo em diferentes lugares têm diferentes culturas. É
assim que, no ritmo do dois-pra-lá-dois-pra-cá, nos mitos, nas lendas, na relação com a
natureza, nas transformações do meio ambiente amazônico, revitalizam-se as manifestações
culturais da região, em particular a cultura de Parintins.
Na produção técnica e simbólica observa-se que o festival folclórico é detentor de
múltiplas linguagens que demonstram a etnicidade e identidade cultural do povo. Há uma
diversidade de linguagens. Como foi apresentado no capítulo I, a linguagem é comunicação
em um conceito amplo, que abriga outros sistemas comunicativos como a língua, a música, a
dança. Por isso, diz-se que no Festival Folclórico de Parintins há a linguagem musical das
toadas, na qual a literatura popular se concretiza. Ao longo dos tempos, as toadas se
transformaram em canções temáticas, em defesa da Amazônia. Há a linguagem da dança que
se realiza na “cadência de dois passos pra lá e dois passos pra cá”. É, principalmente, através
da música e da dança que as gerações de parintinenses vivenciam a festa do Boi-Bumbá. E
dessa maneira a cultura é repassada de geração para geração, desde 1913. Nessa arte que é
brincar o Boi-Bumbá há um universo subjacente: a literatura popular, as brincadeiras, as
danças, as crenças, as lendas, as superstições, a culinária, a medicina natural, o artesanato que
constituem a cultura amazônica cabocla parintinense. Todos os parintinenses são sabedores
desses temas.
Com o desenvolvimento da cidade surge a necessidade de uma proposta para todas as
esferas da sociedade. Como exemplo dessa esferas há: a educação e o turismo. A educação
valoriza a cultura e a diversidade cultural como fatores constituintes da identidade social do
parintinense, porque, segundo Laraia (1994: 48), “não basta a natureza criar indivíduos
altamente inteligentes, isto ela o faz com freqüência, mas é necessário que coloque ao alcance
desses indivíduos o material que permita exercer sua criatividade de maneira revolucionária”.
Na proposta para o comércio e turismo, está sendo desenvolvidas as atividades turísticas do
município relatadas no subcapítulo 2.4.1.
A cultura do Boi-Bumbá afeta e constitui as formas de sentir, agir, pensar e falar do
parintinense quando passa a ser vista como um conjunto de múltiplas relações entre imagens,
representações, signos e (inter)ações, tendo como cerne a significação. O “imaginário” é outro
elemento que deve ser entendido como a possibilidade de produção material e produção
simbólica dessa festa. A atividade imaginária articula imaginação e experiência e, envolve a
emoção; ela abrange a realidade sensível e a realidade simbólica. Em outras palavras, o
parintinense usa seu imaginário amazônico caboclo para demonstrar sua forma de ver o
mundo, suas crenças, seus costumes, suas superstições e, sobretudo, reúne todas essas formas
para falar da Amazônia e de preservação. Ele faz de seu contato com o meio ambiente
amazônico sua inspiração artística e através das várias linguagens materializa sua imaginação.
Por isso, todos os elementos que constituem a festa como: a figura do boi, as alegorias
(monumentos gigantes com movimentos e cores) que representam seres ou coisas em geral, os
itens (pessoas que brincam na festa e representam o boi de preferência) constituem uma rede
de significações que só tem sentido se analisadas dentro do contexto cultural amazônico de
Parintins. Nesse sentido, Souza (2001: 216), assim fala: “O Festival Folclórico de Parintins é
não apenas um grande espetáculo de massas que sabe usar a seu favor os veículos de
comunicação, como se transformou na maior e mais importante manifestação cultural dos
povos da Amazônia na virada do século XX para o XXI.”
Um dos itens dessa rede de significações é a toada, ou seja, um tipo de música que faz
parte da cultura do Boi-Bumbá. A linguagem usada por compositores nativos para falar da
cultura de Parintins revela crenças, superstições, lendas, mitos, arte literária popular, culinária,
medicina natural, natureza. As letras das toadas apresentam vários aspectos da cultura e
sociedade parintinense. Para melhor entendimento desse universo cultural, a seguir apresenta-
se, como ilustração, um trecho da toada Utopia Cabocla de Zé Renato e Augusto Lobato:
As borboletas e as libélulas voam/ Para pousar no arco-íris onde sonham em viver / O uirapuru só quer cantar o amor e os curumin / E o beija-flor ao embevecer a própria liberdade/ Viver.../A Amazônia é uma utopia cabocla / Outro gesto solitário faz da festa a poesia/ E do sonho nasce à arte sem saber o que é utopia/ Saber.../ Ser caboclo é ser Guardião da Amazônia, é conhecer/ A alma do rio e o clamor da floresta/ É ouvir a voz dos vento/ E saber dos encantamentos/ Cobra Grande, Curupira Matintaperera/ Yara mãe d'gua e Tapiraiauara...
Nesse trecho fica claro o surrealismo1 que resulta da interpretação da realidade à luz
dos sonhos e dos processos psíquicos do inconsciente. É através do imaginário unido ao
poético que se expressa o sentimento de pertença a esse grupo social e a necessidade de cuidar
do chão onde vivem, a Amazônia, em que evoca-se a emoção provocada pela utopia de uma
Amazônia de caboclos em uma relação recíproca com a natureza. Cria-se uma imagem de
Amazônia utópica onde os seres são livres e podem sonhar. Desse entusiasmado sonho nasce
a arte cabocla. A naturalidade de fazer arte para levantar bandeira de preservação para
defender algo que faz parte da vida cotidiana e buscar, no desejo de fazer a festa, o desafio
para materializá-la. A toada corrobora que a língua e o comportamento lingüístico de seus
falantes estão estreitamente ligados à cultura em que ocorrem. Isto é, a linguagem como
produto resulta de todo o trabalho com a língua, ou comportamento lingüístico que compõe a
identidade de um grupo. Essa identidade se constitui de costumes, crenças, valores que
norteiam a vida em grupo e o caracteriza.
Além das toadas, outro elemento significativo são as cores dos bois-bumbás: azul
(caprichoso) e vermelho (garantido). A população se divide em duas: de um lado a nação azul,
de outro a nação vermelha. As duas cores são ícones para os bois, assim como esses são
ícones para Parintins, Amazonas e Região Norte. O boi garantido, ao usar a cor vermelha se
autodenomina como o boi da raça, o sangue e a paixão pelo boi com base na significação que
a cor sugere. Nesse sentido, Souza (2001: 217) afirma que o “Festival folclórico de Parintins
deve ser encarado pelas políticas culturais como uma forma de expressão e conhecimento de
mundo, sendo considerado uma linguagem e expressão, bem como, uma reafirmação da
identidade cultural.”
Segundo Laraia (1994) a cultura opera de maneira diversa. Uma delas é a forma como
condiciona a visão de mundo do homem, ou seja, o homem aprende padrões culturais, que
consistem na cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo. No caso de
Parintins, a brincadeira do Boi-Bumbá é uma herança cultural que teve início em 1913 com
seus fundadores; passou por várias modificações e vem sendo aprimorada a cada ano. Outra
forma pela qual a cultura opera diz respeito à participação dos indivíduos na cultura. Os
indivíduos participam de diferentes maneiras de sua cultura. Nas palavras de Laraia (1994:
96): “Nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura”. Fatores
1 Definição encontrada no dicionário eletrônico Houasis.
como idade e sexo, são fatores de ordem cronológica e física que limitam a participação do
indivíduo em sua cultura. As palavras de Laraia podem ser corroboradas no exemplo das
escolas de Parintins, que criam um Boi-Bumbá Mirim, para que as crianças possam brincar.
A identidade social é definida historicamente na relação entre os indivíduos entre si e
com a sociedade, uma vez que é um fenômeno reconhecido através da dialética entre o
indivíduo e a sociedade. O caráter simbólico da identidade, a diversidade das culturas não é
devido ao isolamento de comunidades, mas das relações que unem os grupos em uma
comunidade lingüística. Neste capítulo foi relata um pouco da formação histórica da cidade de
Parintins, as atividade econômicas e culturais. A seguir são apresentados aspectos e fatores
referentes à educação lingüística de Parintins. A intenção é provocar reflexões sobre a
identidade lingüística do Parintinense em uma visão tríplice, de acordo com os objetivos do
Grupo de Pesquisas Sociolingüísticas (GEPS): Língua, Cultura e Sociedade Amazônica /
Amazônida.
2. 6 A Educação Lingüística de Parintins
Para Bagno (2007:82) educação lingüística é ‘primeira, primordial se dá logo no início
da vida de qualquer pessoa, quando ela entra num mundo rodeado de outras pessoas que não
param de falar ao seu redor’. Entretanto, para discutir a educação lingüística de Parintins
precisa-se buscar na história da região relatos sobre as línguas indígenas, sobre a Língua Geral
Amazônica e a implantação da Língua Portuguesa como Língua Oficial. Então, é preciso,
nesse caso, entender a formação da sociedade amazônica, que antes era detentora de muitas
línguas indígenas até a chegada da Língua Portuguesa. Com a chegada da Língua Portuguesa
a educação do povo local começou a acontecer por meio da nova língua, com exceção de
lugares na Região Amazônica onde residem indígenas e seus descendentes que preservam
suas línguas maternas. Ao estudar a história da Língua Portuguesa falada no Brasil, aprendeu-
se que ela coexistiu com as línguas indígenas e africanas presentes em território brasileiro. No
caso da Amazônia, uma das últimas regiões a serem ocupadas pelos colonizadores
portugueses, apresenta uma história lingüística particular, pois quando os colonizadores
portugueses iniciaram a ocupação do território amazônico encontraram uma diversidade de
línguas indígenas.
Rodrigues apud Oliveira (2008: 31) fala do contexto social para o desenvolvimento da
(Língua Geral Amazônica) LGA:
A LGA2 desenvolveu-se em uma situação de contato lingüístico entre europeus e povos indígenas no século XVII, entre o norte do Maranhão e o nordeste do Pará [...] No contexto social em que essas línguas se desenvolveram, a miscigenação em grande escala de homens europeus com mulheres indígenas teve como conseqüência a rápida formação de uma população mestiça cuja língua materna foi a língua das mães e não a língua européia dos pais.
A colonização na Amazônia, em geral, iniciou-se na primeira metade do século XVII.
Como foi tratado antes, para povoar a Amazônia foi necessário incentivar a imigração de
europeus e o casamento deles com indígenas A miscigenação, como se sabe, na formação
histórica do Estado do Amazonas, é um fator para a constituição do povoamento da região e o
contato lingüístico entre os povos indígenas e os europeus refletiu-se na educação lingüística
da população mestiça. Em outras palavras a língua materna dos mestiços era a língua da mãe.
Oliveira (2008: 31) diz que a LGA “tendo se desenvolvido inicialmente no Maranhão
e Pará, a partir do Tupinambá, tornou-se a língua falada pelas tropas e missões que criavam
núcleos de povoamento no vale amazônico. Foi essa a língua da ocupação portuguesa da
Amazônia, nos séculos XVII e XVIII”.
O fato de ter chegado uma grande quantidade de colonos à região e o fato de os filhos de
europeus com indígenas aprenderem a língua da mãe, leva à conclusão, segundo Oliveira
(2008: 32) que ‘o contexto social oferecia condições favoráveis ao uso predominante da
língua nativa, que era a língua dos Tupinambá.” Na história de Parintins encontram-se relatos
sobre a presença de índios Tupinambá no século XVI, sendo eles, mais tarde, catequizados,
pelos jesuítas. Pode-se inferir que a partir do século XVI a Língua Geral da Amazônia
espalhou-se pela região e chegou à Ilha Tupinambarana. Como se pode ver, na história de
Parintins, os Tupinambá chegaram à ilha (Parintins) no século XVI, fugidos dos colonos das
regiões sul, sudeste. E quando o capitão português, José Pedro Cordovil chegou à região, ela
já era habitada pelos índios tupinambarana, hoje, extintos. No século XVII, era falada a
2 Língua Geral Amazônica.
Língua Geral Amazônica, uma vez que era a língua usada pelos jesuítas na catequização dos
índios. A Língua Geral Amazônica se estendeu por todo o percurso do rio Amazonas,
inclusive a cidade de Parintins, que se localiza a margem direita desse rio. O uso da LGA
pelos mestiços, jesuítas e colonos portugueses que moravam na região espalhou-se, como
afirma Freire apud Oliveira (2008: 36):
Quanto à expansão da LGA, observa-se que, como idioma oficial das missões da Amazônia, essa língua passou a ser ensinada com relativa sistematização aos índios de diferentes famílias lingüísticas estocados nas aldeias de repartição. Reconhecendo uma situação que já existia de fato, a Coroa Portuguesa decidiu oficializar a LGA como língua da Amazônia. Na Carta Régia de 30 de novembro de 1689, determinou que os missionários deviam ensiná-la não apenas aos índios, mas também aos próprios filhos dos portugueses concentrados nos embriões de núcleos urbanos que se formavam na região.
A expansão da Língua Geral leva à necessidade de ensiná-la a todos que viviam nas
aldeias; isso inclui os Tupi e não-Tupi estocados nas aldeias. Freire apud Oliveira (2008: 37)
retrata que:
Assim, a LGA passou por um processo de expansão e foi sendo moldada em contato com a Língua Portuguesa e com as línguas de diferentes povos Tupi e não-Tupi, falada por índios, estocados nas aldeias de repartição, como também pelos mestiços e até mesmo pelos negros africanos, que a partir do final do século XVII começaram a ser introduzidos na área em quantidades reduzidas. A função da LGA era de comunicação interna e seu uso era fundamentalmente oral e familiar, enquanto que a Língua Oficial da colônia e da administração era o Português. Durante mais de um século, a administração colonial estimulou o uso da LGA em detrimento da Língua Portuguesa, só modificando essa visão em meados do século XVIII.
No texto de Freire corrobora-se que a Língua Portuguesa coexistiu com as línguas
indígenas e africanas presente na região. Nesse sentido, Elia (2003: 121) diz que;
Na fase colonial, a cena é ocupada por três personagens lingüísticos principais: a Língua Portuguesa, as Línguas Indígenas (com prevalência do tupi-guarani) e as Línguas Africanas. Durante os dois primeiros séculos, ocorreu o bilingüismo português-tupi, com predominância quase total do falar nativo. No século XVIII,
graças ao fortalecimento da urbanização, foi-se invertendo a situação e, já para o final do século, estava ...assegurada a vitória da Língua Portuguesa. Quando portanto, o Marquês de Pombal promulgou em 1757 o Diretório que proscrevi o uso oficial da Língua Geral e impunha o da Língua Portuguesa, não criava um fato novo, mas acelerava o desfecho irreversível de um processo sociolingüístico.
Freire apud Rodrigues (2005:) afirma também que “o Português é língua hegemônica
na Amazônia há apenas 150 anos. Até então a presença lingüística da Língua Geral
(Nheengatu) era preponderante, bem como as demais línguas das nações indígenas
existentes”. O Diretório de Pombal, na verdade, Diretório dos Índios, foi uma legislação
promulgada que impunha normas que visavam acabar com as diferenças culturais entre os
povos que habitavam a região. Uma dessas normas foi a implantação da Língua Portuguesa
como Língua Oficial, uma vez que a Língua Geral Amazônica era considerada, na época,
como um língua de povos atrasados. Assim, a identidade étnica e lingüística dos indígenas foi
abalada. Uma das conseqüências disso foi a substituição de nomes indígenas das cidades por
nomes portugueses. O irmão de Marquês de Pombal, Mendonça Furtado Belém, trabalhava na
Amazônia, e contribuiu para que a Língua Portuguesa se tornasse a Língua Oficial. Essa
imposição só conseguiu avançar devido muito mais à morte de milhões de índios por causa
das doenças dos portugueses e a resistência a Cabanagem. O Português, de fato, só chegou à
Amazônia através dos nordestinos. A migração intensa desses nordestinos ocorreu no Ciclo da
Borracha. Nesse sentido retomam-se as palavras de Meireles Filho (2004:125):
Entre os muitos migrantes que ocorreram à Amazônia em busca do “ouro negro (a borracha)”, o nordestino tem um papel preponderante. [...] De 1870 a 1912, por quatro décadas, 300 mil nordestinos são levados à região. [...] Além disso, inúmeros estrangeiros, entre portugueses, sírios, espanhóis, ingleses, são atraídos para ocuparem as posições mais qualificadas no comércio e nos serviços, especialmente nas áreas urbanas.
Souza (2001: 184) ao falar da presença nordestina, em particular de cearenses, faz
referência à situação econômica da época para justificar o deslocamento dessas pessoas para a
Amazônia:
A conjunção de períodos de seca e depressão econômica levou o nordeste brasileiro, especialmente o Estado do Ceará, a participar com maior numero de imigrantes, que a partir de 1877 foram chegando em levas desordenadas, para a seguir se transformar numa rotina perversa, resultando num quadro terrível de exploração humana.
A atitude de Pombal ao impor a Língua Portuguesa como Língua Oficial, bem como a
presença de nordestinos, criaram um novo perfil lingüístico para a região Amazônica. Por
outro lado, os reflexos na escolarização são dramáticos, pois, com a expulsão dos jesuítas, não
haveria mais um ensino de cunho religioso, nem a língua seria mais a mesma. Além dos
nordestinos, vieram também para a Amazônia, segundo Souza (2001: 185-186):
Judeus, bem como outros grupos culturais da Europa e Oriente Médio, a partir de 1810; Sírio-libaneses no século XIX; Italianos, a maioria de vilas do sul da Itália; Japoneses - considerados os últimos grupos de imigrantes estrangeiros - vieram a partir de 1928. Começaram a se instalar em cidades no interior do Pará, depois mudaram para as capitais: Manaus e Belém. Quanto aos migrantes, temos os do Estado do Paraná e Rio Grande do Sul devido a projetos econômicos de Regime Militar.
Devemos ver a situação lingüística da Amazônia além das línguas indígenas, mas sem
desconsiderá-las. Essa postura implica na observação dos sotaques e dos dialetos existentes
nas sociedades que compõe a Amazônia. Nesse sentido, podemse destacar iniciativas do
Estado do Amazonas na área de Educação com investimento na área de formação de
professores indígenas através de cursos de licenciatura especificos. O pesquisador na área de
Sociolingüística deve estudar os dialetos em seu contexto social para que se compreenda a
diversidade lingüística e a heterogeneidade cultural da região. Nesse sentido, o estudo sobre a
Variação Dialetal de Parintins adota essa postura.
No capítulo I, a postura assumida é a que considera a língua, como um fenômeno
lingüístico heterogêneo, incluindo, também, em sua análise os fatores sociais. Em Parintins há
um sotaque e um dialeto particular, os quais serão descritos nos aspectos fonético-fonológico,
morfossintático e semântico. Em Parintins há também outros dialetos tais como: japoneses,
italianos, judeus, gregos, cearenses, paraibanos, cariocas, paraenses. Embora os Parintinenses,
saibam que os japoneses contribuíram significativamente para o desenvolvimento de
Parintins, não há estudos que retratem a língua, cultura e sociedade japonesa na cidade de
Parintins. Sabem-se que os japoneses, os quais são em número significativo, residentes na
cidade, falam a Língua Japonesa em ambiente familiar e, muitos já moraram ou freqüentaram
o país de seus ascendentes. É comum, entre os descendentes de japoneses, viajarem para
trabalhar no Japão e ao voltarem investem suas finanças no comércio local. Atualmente, há
uma proposta da Secretaria Municipal de Educação de oferecer curso de idioma japonês.
Quanto aos italianos, há uma parcela significativa de residentes em Parintins. A
maioria é de religiosos, da Igreja Católica, como padres e bispos. Esses religiosos, a serviço
da Igreja, muito têm contribuído com a educação e saúde no município de Parintins. Na
educação, compartilham os imóveis; como prédio de escolas, hospitais, pastorais, casas de
incentivo às Artes. Há também empresários que constituíram família com parintinenses. Há
famílias de descendentes de judeus, mas pouco sabe-se sobre eles. Em relação aos gregos há
apenas informação da existência de morador origem grega, que cosntituiu família com uma
parintinense, e atua como comerciante de confecções. Os cearenses representam também uma
parcela significativa da população local, eles atuam principalmente no comércio. Há ainda, os
paraenses, principalmente, de Juruti, Faro, Óbidos, Oriximiná, Monte Alegre, Terra Santa,
Santarém, os municípios próximos a Parintins. Já os paraibanos e cariocas são em números
reduzidos.
A dificuldade em não apresentar mais informações nessa descrição se deve ao fato de
não haver dados estatísticos sobre esses migrantes na cidade de Parintins. Tampouco, há
estudos sobre língua, cultura e sociedade dos (i) migrantes com parcela significativa na
população local, como japoneses, italianos, cearenses e paraenses.
Como disse Geraldi (1996), no capítulo I, a linguagem é um conjunto de referências, e
se fala-se determinada língua, com ela se aprende, também, um conjunto de referências. Os
falantes de Língua Portuguesa do Brasil são herdeiros de um conjunto de referências culturais
e lingüísticas dos colonizadores portugueses e dos nativos. Talvez a hegemonia da Língua
Portuguesa na Amazônia não permita que se observe a presença da história das línguas
indígenas como parte da educação lingüística da região, assim como a presença da
diversidade lingüística no seio da sociedade parintinense.
Retomando o que afirmou Bagno (2007:82) sobre educação lingüística ‘primeira,
primordial se dá logo no início da vida de qualquer pessoa, quando ela entra num mundo
rodeado de outras pessoas que não param de falar ao seu redor’ observa-se que essa língua,
segundo Bagno (2007:83), ‘está sujeita a julgamento social, à avaliação das outras pessoas
com quem vamos interagir’. Em afirmações anteriores, Bagno (2007:76) diz que essas
avaliações se distribuem ao longo de uma linha contínua, que vai dos mais estigmatizado ao
mais prestigiado, com amplo espectro de gradação entre esses dois extremos.
O panorama sobre a Educação Lingüística de Parintins desde sua formação histórica
como comunidade lingüística até a formação da sociedade local que usa uma variação
lingüística particular, prepara o caminho que será trilhado no Capítulo III em que se tratará da
Variação Dialetal: O Caso de Parintins.
CAPÍTULO III
METODOLOGIA: COLETA, INSTRUMENTOS DA PESQUISA, ANÁLISE E DISCUSSÃO DE VARIAÇÃO DIALETAL: O CASO DE PARINTINS
Neste capítulo falar-se-á sobre Língua Portuguesa na Amazônia, Fonética e Fonologia,
Morfologia, Sintaxe e Léxico para que se inicie, então, à descrição dos procedimentos
metodológicos da pesquisa, tais como a realização das entrevistas, a transcrição da fala dos
informantes e o modo como se pretende analisar e discutir os dados alcançados com os
informantes da área urbana do Município de Parintins, no Estado do Amazonas.
3.1 A Língua Portuguesa na Amazônia A Língua Portuguesa chegou à Amazônia no período de colonização portuguesa. A
esse respeito, diz Guimarães (2005: 24):
Nesse período, ainda há dois fatos de extrema importância. O primeiro deles é a ação direta do ImpérioPportuguês que age para impedir o uso da Língua Geral nas escolas. Essa ação é uma atitude direta de política de línguas de Portugal para tornar o português a língua mais falada do Brasil. Uma dessas ações mais conhecidas é o estabelecimento do Diretório dos Índios (1757), por iniciativa de Marquês de Pombal, ministro de Dom José I, que proíbia o uso da Língua Geral na colônia. Assim, os índios não poderiam mais usar nenhuma outra língua que não a portuguesa. Essa ação, junto com o aumento da população portuguesa no Brasil, terá um efeito específico que ajuda a levar ao declínio definitivo da Língua Geral no país.
Esse Diretório de Pombal, na verdade, Diretório dos Índios, como foi tratado antes, foi
uma legislação promulgada que impunha normas que visavam acabar com as diferenças
culturais entre os povos que habitavam a Região Amazônica. Uma dessas normas foi a
implantação da Língua Portuguesa como Língua Oficial que, segundo Guimarães (2005: 22),
é a língua de um Estado, aquela que é obrigatória nas ações formais do Estado, nos seus atos
legais. Nessa época, a Língua Geral Amazônica era considerada uma língua de povos
atrasados. Com isso, a identidade étnica e lingüística dos povos que habitavam a região foi
abalada e, muitas línguas indígenas extintas. Hoje, há conhecimento sobre estudos realizados
com o objetivo de registrar línguas indígenas na Amazônia, porém, não se deve registrar
apenas línguas indígenas, é preciso olhar para os dialetos existentes na região, que precisam
ser registrados. Além disso, sabe-se, pois, que esses estudos sobre línguas indígenas incluem
aspectos fonético-fonológicos, morfológicos e sintáticos, o que também pode ser feito em
estudos sobre dialetos.
3. 2 Fonética e Fonologia Simões (2006:17-18) define fonética como:
Parte dos estudos lingüísticos que se ocupa do levantamento de todos os sons produzidos pelos falantes – sons da fala – com vistas a viabilizar distinções dialetais que caracterizam comunidades lingüísticas e, conseqüentemente, seu subagrupamento geográfico (pelas variações diatópicas), social (pelas variações diastráticas) ou mesmo individual (pelas variações diafásicas).
Simões (2006: 18) afirma que “a fonologia não leva em conta as diferenças dialetais,
ocupando-se tão somente das diferenças fonemáticas (entre um fonema e outro, como /p/ e
/b/, por exemplo), as quais produzem as distinções entre significantes e significados na
língua.” Dessa maneira, é pertinente apresentar os fonemas consonânticos do Português do
Brasil, uma vez que, a pesquisa sobre a Variação Dialetal Parintinense requer conhecimentos
de fonética para descrição das variantes lingüísticas encontradas no dialeto parintinense, e,
será útil para observar em quais aspectos as variantes dialetais de Parintins diferem das
demais regiões do Brasil.
3.2.1 Sistema Consonantal do Português
Consoantes Classificação Exemplos
m Nasal, bilabial Marca
n Nasal, alveolar Nervo
ɲ Nasal, palatal Arranhado, banha
b oclusiva, bilabial, sonora Barco
p oclusiva, bilabial, surda Pato
d oclusiva, alveolar, sonora Data
t oclusiva, alveolar, surda Telha
g oclusiva, velar, sonora Gato
k oclusiva, velar, surda Carro, quanto
v fricativa, labiodental, sonora Vento
f fricativa, labiodental, surda Farelo
z fricativa, alveolar, sonora zero, casa, exalar
s fricativa, alveolar, surda seta, cebola, espesso, excesso, açúcar, auxílio, asceta
z fricativa, alveopalatal, sonora gelo, jarro
ʒ fricativa, alveopalatal, surda xarope, chuva
һ Fricativa, glotal, surda Carta, mar
ɾ tepe, alveolar. Variação
ʎ Lateral, palatal, sonora Cavalheiro, malha
l lateral, alveolar, sonora Luz
Fonte: Silva (2001:37)
Os símbolos em negrito, na tabela anterior, foram realçados, porque estarão presentes
na análise da variação dialetal parintinense, pois, os sons representados pelos símbolos [ʃ], [ʃ],
[ʎ], [ɲ] e [Һ] respectivamente /s/ e /z/, /l/, /n/ e /r/ caracterizam a fala, ou seja, o sotaque do
parintinense. Além disso, temos também os aspectos morfológicos que serão observados
dentro dessa variação dialetal.
3.3 Morfologia e Sintaxe
No aspecto morfológico, pode-se dizer que a morfologia é o estudo do vocábulo
mórfico, segundo Silva et al (2007:25):
Mattoso Câmara Jr., baseando-se em Bloomfield, define o vocábulo mórfico ou formal em português, tendo em vista o seu funcionamento a nível de frase. De acordo com o lingüista americano, as unidades formais de uma língua são livres e presas. As primeiras constituem uma seqüência que pode funcionar isoladamente como comunicação suficiente, conforme livros no enunciado: “O que você vai revender?” “livros” . As formas presas só funcionam ligadas a outras, como o prefixo re- em revender e a marca de plural em livro-s . O vocábulo formal ou morfológico apresenta-se, então, como a unidade a que se chega quando não é possível nova divisão em duas ou mais formas. De modo a abranger as partículas proclíticas e enclíticas, em português (artigos, preposições, pronomes átonos etc.) Mattoso Câmara Jr. Introduziu um terceiro conceito, o de formas dependentes as quais funcionam ligadas às livres, conforme se observa em: “As noticias da falsificação do jornal espalharam-se rapidamente.”
Na área da morfologia pode-se discutir questões sobre a marca de plural no sintagma
verbal e sua ausência, o uso de pronomes e suas funções, a formação de palavra a partir de
afixos, no português do Brasil. Assim, proceder a análise dos vocábulos formais identificados
nas entrevistas com os informantes. Passando ao outro nível de análise, há a análise sintática.
Segundo Azeredo (2003: 13), a sintaxe é “como a parte do sistema da língua que permite criar
e interpretar frases” e, complementando essa concepção diz Guimarães et al (2006: 77) que a
sintaxe é “a noção de frase fazendo referência a uma seqüência de palavras sintaticamente
organizadas.” Na área da sintaxe, pode-se estudar as construções sintáticas mais usadas pelos
falantes do português do Brasil, por exemplo, questão de concordância verbal e nominal, uso
de dêiticos como eu, tu, aqui, ali agora, uso do pronome ele como objeto direto , uso do
pronome a gente, uso de prefixos e sufixos comuns na linguagem informal.
3.4 Estudo do Léxico
O léxico será definido como um conjunto de palavras de uma língua, o que para Perini
(2006: 150) significa dizer que “todos sabemos que conhecer uma língua envolve o
aprendizado de um grande número de lexemas (classes de palavras relacionadas de
determinada maneira) que tradicionalmente são colocadas em léxico (isto é, em um dicionário
mental).” Nesse dicionário mental está o registro do léxico característico da região onde o
falante mora e, que, estará subjacente em seu discurso quando lhe forem feitas questões sobre
sua vida nessa comunidade. Nesse trabalho sobre a variação dialetal parintinense listar-se-ão
as palavras identificadas na fala dos informantes parintinenses que, por sua vez, como afirmou
Perini (2006), fazem parte do dicionário mental dos falantes. Por se tratar de um estudo sobre
a variação dialetal parintinense será destacado esse dicionário como léxico característico do
falar parintinense por estarem presentes nas falas coletadas nas entrevistas.
A metodologia utilizada para a pesquisa sobre variação dialetal parintinense registra
48 informantes moradores da zona urbana de Parintins, como será descrita a seguir.
3 . 5 Metodologia da Pesquisa Esta dissertação integra os estudos realizados no projeto Língua, Cultura e Sociedade
Amazônica /Amazônida coordenado pela Professora Doutora Maria do Socorro Pessoa e,
insere-se no GEPS – Grupo de Estudos e Pesquisas Sociolingüísticas, do Programa de
Mestrado em Ciências da Linguagem da Universidade Federal de Rondônia, no Campus de
Guajará-Mirim, cujo objetivo é investigar e registrar a construção da Língua, da Cultura e da
Sociedade Amazônica/Amazônida.
A metodologia utilizada na pesquisa passou pelas seguintes etapas:
a) Primeiro, elaboração de cinco questões discursivas que tratavam de assuntos
como tipo e diversão, relato de um acontecimento marcante na vida pessoal,
preferência por boi-bumbá e a justificativa, descrição de trabalho, relato de
um acontecimento que tenha ouvido falar, que tenha acontecido com outra
pessoa.
b) Segundo, selecionar quarenta e oito informantes moradores do município de
Parintins e residentes na área urbana desse município, sendo eles de ambos
os sexos, com idade entre 18 e 60 anos, com escolaridade entre Ensino
Médio e Ensino Superior.
c) Terceiro, sair a campo para entrevistar os informantes utilizando gravador de
voz digital, essas gravações iniciaram 06 de abril e estendeu-se até 03 de
novembro de 2009, com duração em média de 10 minutos.
Após as gravações das entrevistas, foram iniciadas as etapas de tabulação de
informações acerca dos informantes, tais como idade, sexo, escolaridade, profissão e
naturalidade, como está descrito na tabela 1, na qual os informantes estão sendo identificados
por numeração. Depois foram criados gráficos que pudem ilustrar o perfil dos infomantes
entrevistados como se pode ver nos gráficos de número 1, 2, 3, 4 e 5. Em seguida, foi
iniciada a transcrição das entrevistas, que foi escrita na ortografia oficial do português
respeitando as pausas e ênfase dadas pelos informantes. A partir da transcrição foi iniciado o
processo de análise das falas, ou seja, transcrição das entrevistas foram pontuadas cada
variação fonética observada na falas de cada informantes, bem como aspectos morfológicos e
sintáticos e também análise de aspectos culturais indentificados nas falas desses informantes.
Para que todas essas informações fossem ilustradas foram criadas tabelas para facilitar a
visualização das informações e a análise dos dados, principalmente, com os dados das
realizações fonéticas, nas quais a o registro da quantidade de realizações fonética e a
porcentagem delas. Em outro momento da análise, foram usados trechos da transcrição da fala
dos informantes para identificar aspectos morfológicos, sintáticos e culturais.
Tabela 1 – Dados de Identificação Social dos Informantes
informantes idade Sexo escolaridade profissão naturalidade
01 47 a Fem. Ens. Médio Doméstica Parintins/AM
02 20 a Fem. Ens. Médio Corretora de
empréstimos
Parintins/ AM
03 45 a Masc. Ens. Superior Professor Parintins/ AM
04 30 a Fem. Ens. Médio Doméstica Parintins /AM
05 48 a Fem. Ens. Médio Tec.
Administrativa
Orximiná/PA
06 50 a Masc. Ens. Superior Comerciante Parintins/AM
07 18 a Masc. Ens. Médio Estudante Parintins/AM
08 32 a Fem. Ens. Médio Autônoma Manaus/AM
09 26 a Masc. Ens. Médio Vendedor Juruti/PA
10 29 a Masc. Ens. Médio Tricicleiro Parintins/AM
11 35 a Fem. Ens. Médio Doméstica Parintins/AM
12 36 a Fem. Ens. Superior Professora Parintins/AM
13 22 a Fem. Ens. Médio Estudante Parintins/AM
14 18 a Masc. Ens. Médio Estudante Parintins/AM
15 23 a Fem. Ens. Superior Professora Parintins/AM
16 20 a Fem. Ens. Superior Estudante Parintins/AM
17 40 a Masc. Ens. Superior Professor e
vendedor
Parintins/AM
18 45 a Fem. Ens. Médio Doméstica Óbidos/PA
19 50 a Fem. Ens. Superior Professora Óbidos/PA
20 35 a Masc. Ens. Médio Industriário Parintins/AM
21 20 a Masc. Ens. Superior Estudante Parintins/AM
22 47 a Fem. Ens. Médio Vendedora Parintins/AM
23 49 a Fem. Ens. Superior Professora Parintins/AM
24 35 a Masc. Ens. Médio Comerciante Parintins/AM
25 29 a Masc. Ens. Superior Professor Parintins/AM
26 31 a Masc. Ens. Médio Agente
Comunitário de
Saúde
Parintins/AM
27 22 a Masc. Ens. Superior Estudante Parintins/AM
28 46 a Fem. Ens. Médio Aux. De Serviços
Gerais
Parintins/AM
29 44 a Fem. Ens. Médio Aux. De Serviços
Gerais
Parintins/AM
30 18 a Masc. Ens. Superior Estudante Parintins/AM
31 49 a Masc. Ens. Superior Professor Parintins/AM
32 26 a Fem. Ens. Médio Doméstica Parintins/AM
33 27 a Fem. Ens. Superior Aux.
Administrativa
Parintins/AM
34 18 a Masc. Ens. Médio Marceneiro Nhamundá/AM
35 39 a Masc. Ens. Médio Téc.
Administrativo
Parintins/AM
36 18 a Fem. Ens. Superior Estudante Parintins/AM
37 55 a Masc. Ens. Médio Vigia Noturno Parintins/AM
38 45 a Masc. Ens. Superior Aux. de Serviços
Gerais
Parintins/AM
39 37 a Masc. Ens. Superior Vigia Noturno Parintins/AM
40 44 a Fem. Ens. Superior Professora Parintins/AM
41 50 a Masc. Ens. Superior Professor Téc.
Administrtivo
Parintins/AM
42 39 a Masc. Ens. Médio Segurança Parintins/AM
43 32 a Fem. Ens. Superior Professora Parintins/AM
44 60 a Masc. Ens. Médio Téc.
Administrativo
Parintins/AM
45 60 a Fem. Ens. Superior Professora Maués/AM
46 40 a Fem. Ens. superior Estudante Nhamundá/AM
47 55 a Fem. Ens. Superior Professora Parintins/AM
48 46 a Masc. Ens. Superior professor Parintins/AM
Após a tabela com informações sobre idade, sexo, escolaridade, profissão e
naturalidade, está a descrição dos informantes apresentando informações sobre prática de
religião ou culto, estado civil, profissão e renda desses informantes entrevistados. Veja os
gráficos a seguir.
Gráfico 1 Prática de religião ou Culto
Pode-se observar que a maioria dos entrevistados define-se como católicos. Isso
remete a fatos históricos da formação do município apresentados no capítulo I, isto é, essa
definição pode ser atribuída à herança religiosa dos portugueses que colonizaram a região, em
particular o município de Parintins.
Gráfico 2 Estado Civil dos Informantes
Constata-se que a maioria dos informantes é casada e há uma diferença pequena entre
casados e solteiros. Maior ainda é a diferença entre os dois primeiros grupos e o grupo dos
divorciados.
Quanto às profissões dos informantes, há destaque para a profissão de professor e a de
estudante, seguida da profissão de doméstica. Pode-se inferir que nesse contexto a profissão
de funcionário público é bastante visível diante das demais profissões.
Gráfico 3 Profissão dos Informantes
No gráfico 2, há um índice significativo de informantes casados e solteiros, quando se
relaciona o gráfico 2 com o gráfico 3, observa-se que entre os solteiros está a maioria dos
estudantes e, entre os casados está a maioria dos professores, como se pode visualizar no
gráfico a seguir.
Gráfico 4 relação de do estado civil e profissão dos informantes
Pode-se deduzir que os informantes casados têm estabilidade profissional ou também
pode-se inferir que a estabilidade profissional aumenta o índice do estado civil casado.
Gráfico 5 Renda familiar
Quando perguntados sobre a renda mensal a maioria dos informantes respondeu que
ganha em média um a dois salários mínimos. Alguns responderam que sobrevivem com um
salário mínimo. Por outro lado, há aqueles que declararam que ganham entre três e a quatro
salários mínimos com uma quantidade menor de informantes, bem como aqueles que
declararam que ganham mais de quatro salários mínimos.
Pode-se inferir que os informantes da pesquisa são em sua maioria casados, definem-
se como católicos. A maioria desses informantes exerce a profissão de professor ou estudante
e a maioria deles ganha entre um e dois salários mínimos.
3. 6 Análise e Discussão dos Dados: Ocorrências e Documentos Fonéticos
Para entender o fenômeno lingüístico que acontece em Parintins, foram controladas as
variáveis lingüísticas apresentadas na primeira tabela, no início deste capítulo, as quais serão
descritas a seguir. Essas variáveis foram encontradas na fala dos informantes nascidos e/ou
residentes na área urbana de Parintins e, são marcadas, principalmente, pelo processo fonético
denominado palatalização sobre quais serão feitas considerações.
As variáveis controladas nesse estudo são de duas naturezas: a) a lingüística e b) a
extralingüística. As variáveis de natureza lingüística são os contextos lingüísticos que
envolvem a ocorrência de /l/ lateral alveolar como [ʎ] lateral palatal em contexto da vogal alta
[i], por exemplo, na palavra lixo; a ocorrência de /s/ fricativa alveolar como [ʃ] fricativa
palatal em sílaba fechada no meio do vocábulo e em fim de vocábulo, por exemplo, na
palavra casca; a ocorrência de /z/ fricativa alveolar sonora como [ʃ] fricativa palatal surda em
fim de palavra, por exemplo, na palavra rapaz; a ocorrência de /n/ nasal alveolar como [ɲ]
nasal palatal em contexto da vogal alta [i], por exemplo, na palavra comunidade; a ocorrência
de /r/ como [Һ] fricativa glotal em sílaba fechada no meio da palavra, por exemplo, na palavra
carta e a ocorrência de /r/ como [φ] em processo de apagamento em fim de vocábulo, por
exemplo, na palavra mar. As variáveis de natureza extralingüísticas são: variável diatópica,
pois a pesquisa foi realizada no município de Parintins no Estado do Amazonas, as variáveis
sociais por se tratarem de fatores como idade, sexo e escolaridade. Após essas considerações
iniciar-se-á a descrição lingüística das variáveis e as ocorrências delas.
Inicia-se essa análise de dados pela consoante fricativa alveolar /s/ que aparece em
vocábulos do português do Brasil em posição inicial, média e final (encerrando sílaba), porém
será analisada apenas a realização dessa consoante em coda silábica, ou seja, encerrando
sílaba. Essa fricativa alveolar [s] realizar-se como a fricativa palatal [ʃ] em fim de palavra ou
diante de consoantes surdas como nas palavras raspa, pasta, casca: ra[ʃ]pa, pa[ʃ]ta, ca[ʃ]Ca.
O contexto em que [ʃ] ocorre é antes de consoante surda, ou seja, sem vibração das cordas
vocais, no caso, as consoantes /p/, /t/ e /c/ , respectivamente. Por outro lado, pode ocorrer a
fricativa palatal sonora [ʒ] em palavras como desde, musgo, asma, em que o contexto
modifica-se para consoantes sonoras como /d/, /g/ e /m/, respectivamente, ocorrendo a
pronúncia de [ʃ] como [ʒ] que é um fricativa palatal sonora. Haverá, então, de[ʒ]de, mu[ʒ]go,
a[ʒ]ma. No caso de Parintins, há a realização da palatal [ʃ] em final de palavra como nas
palavras retiradas das entrevistas: três, mais, fatos, colegas, depois, horas, vezes, Parintins,
irmãos. Em palavras como, turista, gostava estado, disposição, pesquisa escola ocorre também
a variante [ʃ]. Em palavras como desde, mesmo, estádio ocorre a variante [ʒ] porque a
presença dos fonemas sonoros /d/ e /m/ causam a mudança da [ʃ] palatal surda para [ʒ] palatal
sonora. Para visualiza-se essas informações seguem as tabelas com os dados coletados com
informantes do sexo feminino e masculino na faixa etária entre 18 e 60 com escolaridade
entre Ensino Médio e Ensino Superior. Os dados da tabela a seguir referem-se à ocorrência da
variável /s/ como a variante [ʃ] em contextos de fim de sílaba e/ou fim de palavra.
Tabela 1 Informantes com Ensino Superior do Sexo Feminino e Masculino
Variável /s/
Variante [ʃ]
Ocorrências de /s/
fricativa alveolar surda
como [ʃ] fricativa
palatal
%
feminino 443 45
masculino 531 54
Total 974
Nos dados da tabela 1 pode-se observar que, na fala dos informantes, de ambos os
sexos, com Ensino Superior, foram pontuados, com muita freqüência, a realização de /s/ como
[ʃ] o que se pode ver no total apresentado. Quanto aos percentuais, há 54% dessas ocorrências
pronunciadas pelos informantes do sexo masculino, permanecendo o mesmo percentual com
as ocorrências de /s/ com informantes do sexo masculino com Ensino Médio.
Tabela 2 Informantes com Ensino Médio do Sexo Feminino e Masculino
Variável /s/
Variante [ʃ]
Ocorrências de /s/
fricativa alveolar como
[ʃ] fricativa palatal
%
Feminino 360 45
Masculino 436 54
Total 796
Observa-se na tabela 2 que as ocorrências de /s/ como [ʃ] são freqüentes em ambos os
sexos com escolaridade de Ensino Médio, permanecendo também uma diferença entre as
ocorrências do sexo feminino e as ocorrências do sexo masculino. Por outro lado, se
comparados às ocorrências dos informantes do sexo feminino e masculino com Ensino
Superior com 974 ocorrências com os informantes do sexo feminino e masculino com Ensino
Médio com 796 vere-se-ão que as ocorrências com os informantes com ensino superior são
em quantidades maiores que a dos informantes com ensino médio. Esses percentuais mostram
que todas as palavras pontuadas na transcrição das entrevistas apontaram para a ocorrência da
fricativa palatal [ʃ]. Essa variável ocorre com ambos os sexos e com os informantes de Ensino
Médio e Superior.
A consoante fricativa /z/
As realizações da fricativa alveolar /z/ em final de sílaba ocorrem como a variante
fricativa palatal [ʃ] como nas palavras rapaz, talvez, vez, feliz, fez, infelizmente, faz, fiz,
felizmente, voz, giz, paz, dez, retiradas da transcrição das entrevistas. Vejam-se os dados das
tabelas a seguir que demonstram as ocorrências dessa variante com informantes do sexo
feminino e masculino na faixa etária entre de 18 a 60 com escolaridade entre Ensino Médio e
Ensino Superior. Os dados das tabelas referem-se à ocorrência da variável /z/ como a variante
[ʃ] em contextos de fim de palavra.
Tabela 3 Informantes com Ensino Superior do Sexo Feminino e Masculino
Variável /z/
Variante [ʃ]
Ocorrências de /z/
fricativa alveolar sonora
como [ʃ] fricativa
palatal
%
Feminino 23 44
Masculino 29 55
Total 52
As palavras pontuadas nas transcrições das entrevistas apontaram a ocorrência de /z/
como [ʃ] com informantes de ambos os sexos com Ensino Superior. Porém há uma pequena
diferença que se destaca com 55% de ocorrência presente na fala dos informantes do sexo
masculino. Ao comparar a tabela 3 com a tabela 4, a seguir, vê-se que entre ambos os sexos
com Ensino Médio permanece uma diferença, porém há destaque para os 57% das ocorrências
para os informantes do feminino.
Tabela 4 Informantes com Ensino Médio do Sexo Feminino e Masculino
Variável /z/
Variante [ʃ]
Ocorrências de /z/
fricativa alveolar sonora
como [ʃ] fricativa
palatal
%
Feminino 22 57
Masculino 16 42
Total 38
Observa-se que o número reduzido de ocorrências de /z/ como [ʃ] são menores que as
ocorrências de /s/ como [ʃ]. Acredita-se que isso se deve quantidade de palavras em que há a
presença de /z/ em fim de palavra na língua portuguesa. Assim, pode-se afirmar que a
pronúncia de /z/ em fim de palavra é palatalizada e torna-se [ʃ] na fala do parintinense.
A consoante líquida /l/
A consoante lateral alveolar [l] em palavras da língua portuguesa pode ocupar três
posições sendo elas: inicial como na palavra lata em que ocorre a lateral alveolar /l/. Em
posição de coda silábica como na palavra calça /l/ realiza-se sob a variante semivogal [w] em
alguns dialetos ou como a variante lateral alveolar velarizada [ƚ] como no dialeto gaúcho. Em
fim de palavra, /l/ pode realizar-se sob a variante semivogal [w] como na palavra girassol. Ou
ainda, pode ocorrer como zero fonético, ou seja, a ausência da líquida lateral /l/, depois de
vogal posterior alta [u] como em azu (azul), útimo (último). Enfim, em coda silábica /l/ pode
haver essas variantes, que se distribuem do ponto de vista diatópico (geográfico) ou
diastrático (social). No entanto, ao distanciar-se da análise da posição de coda silábica e
posição de fim de palavra e para verificar-se a posição, cuja estrutura silábica, seja CV, ou
seja, /l/ em início de palavra e sílaba encontrar-se-á a variante lateral palatal [ʎ] como foi
identificado no dialeto parintinense. Quanto a isso, Silva (1998: 40), faz lembrar que essa
consoante lateral palatal ocorre na fala de poucos falantes do português brasileiro. Essa
variante [ʎ], no dialeto parintinense é uma variante ambiental, porque a presença da vogal
anterior alta [i] provoca a assimilação regressiva do traço anterior dessa vogal anterior alta.
Ou seja, para a realização dessa pronúncia há um deslocamento da língua mais para frente em
direção aos dentes superiores e, ao mesmo tempo, a língua espalha-se mais pelo véu palatino
também conhecido como “céu da boca”. Dessa forma, essa variante lateral palatal [ʎ] não
pode ser posicional, pois pode ocorrer em início, meio e fim de palavra como observa-se nas
palavras: limão; família, lista, feliz; fiscalização; liquidação; sandália; acrílico; polícia; lidar;
responsabilidade, retiradas das transcrições da fala dos informantes.
Para a visualização dos dados apresentar-se-ão as tabelas a seguir que demonstram os
dados coletados com informantes do sexo feminino e masculino na faixa etária entre de 18 a
60 com escolaridade entre Ensino Médio e Ensino Superior. Os dados das tabelas se referem à
ocorrência da variável lateral alveolar /l/ como a variante lateral palatal [ʎ] em contextos em
que há a presença da vogal alta [i].
Tabela 5 Informantes com Ensino Superior do Sexo Feminino e Masculino
Variável /l/
Variante [ʎ]
Ocorrências de /l/
lateral alveolar como
[ʎ] lateral palatal
%
Feminino 75 50
Masculino 73 49
Total 148
O número reduzido de ocorrências demonstra que houve uma quantidade razoável de
palavras em que a realização de /l/ foi sob a variante [ʎ], mas isso é suficiente para afirmar
que as palavras identificadas e pontuadas nas transcrições da fala dos informantes apontaram
para a realização da lateral palatal [ʎ]. Na tabela 5 destaca-se a maior ocorrência50 % com
informantes do sexo feminino. O mesmo não se pode dizer dos informantes com Ensino
Médio em que há maior ocorrência 55% com informantes do sexo masculino como podemos
ver na tabela 6.
Tabela 6 Informantes com Ensino Médio do Sexo Feminino e Masculino
Variável /l/
Variante [ʎ]
Ocorrências de /l/
lateral alveolar como
[ʎ] lateral palatal
%
Feminino 65 44
Masculino 81 55
Total 146
A nasal alveolar /n/
A consoante nasal alveolar /n/ em língua portuguesa aparece em início de palavra
como na palavra mana e em coda silábica como na palavra canto. Essa nasal alveolar /n/ pode
realizar-se sob a variante nasal palatal [ɲ] como na palavra banha com ortografia de nh. Dessa
maneira, pode-se contrastar as palavras mana e banha, uma vez que há dois sons diferentes
representados por símbolos diferentes que conferem sentidos diferentes entre as duas
palavras. Por outro lado, pode-se dizer que a nasal alveolar /n/ quando em contexto de vogal
alta [i] realiza-se sob a variante [ɲ]. Essa ocorrência de [ɲ], segundo Silva (1998: 39), ocorre
na fala de poucos falantes do português brasileiro e, como exemplo disso, há o dialeto
parintinense. Em outros dialetos há pronúncia de glide palatal nasalizada [ỹ] como ocorre na
fala de rondonienses. Veja-se a palavra farinha com transcrição fonética das duas pronúncias:
farinha [fa.ɾ i.ɲa] com a variante [ɲ] e farinha com a variante [ỹ] ou [fa.ɾỹa]. Na pronúncia do
parintinense realizar-se a variante [ɲ]. Vejam-se as tabelas a seguir.
Tabela 7 Informantes com Ensino Superior do Sexo Feminino e Masculino
Variável /n/
Variante [ɲ]
Ocorrências de /n/ nasal
alveolar como [ɲ] nasal
palatal
%
Feminino 22 56
Masculino 17 43
Total 39
Das palavras pontuadas nas transcrições das entrevistas, houve uma quantidade maior
de ocorrências de [ɲ], com 56% , na fala dos informantes do sexo feminino em relação às
ocorrências de [ɲ] na fala dos informantes do sexo masculino com 43%, ambos os
informantes com Ensino Superior. Porém, na tabela 8 observa-se que a maior freqüência [ɲ]
ocorreu com informantes masculinos com Ensino Médio com percentual de 31%, como se
pode ver a seguir.
Tabela 8 Informantes com Ensino Médio do Sexo Feminino e Masculino
Variável /n/
Variante [ɲ]
Ocorrências de /n/ nasal
alveolar como [ɲ] nasal
palatal
%
Feminino 14 31
Masculino 31 68
Total 45
A consoante /r/
A consoante /r/ parece em início de palavra com em rato, em coda silábica como em
carta e em fim de palavra como em mar. Pode realizar-se sob diversas variantes que se
distribuem do ponto de vista diatópico (geográfico) ou diastrático (social). No entanto, a
observação está na posição de /r/ coda silábica e em fim de palavra. Na pronúncia
parintinense observamos a variante fricativa glotal [Һ] em coda silábica, ou seja, quando
temos o /r/ fechando uma sílaba como na palavra porta po[r]ta. Temos outros exemplos
retirados da fala dos informantes com ocorrência da variante fricativa glotal [h] em coda
silábica como nas palavras marcante, organizadores, porque, vermelho, interna, forma, tarde,
aperfeiçoado, Internet, esporte, certa, diversão, aniversário. Também há ocorrências da
fricativa glotal [Һ] em fim de palavra como em maior,vestibular, mulher, rezar estudar. Há
também a ocorrência da fricativa glotal [h] em monossilábicos: ter, por, ser.
Houve, também, zero fonético em coda silábica, ou seja, quando o /r/ encerra uma
palavra como na palavra falar fala[φ]. Constatamos que o zero fonético [φ], também chamado
de apagamento, pode ocorrer em palavras que não são verbos como na palavra amor amo[φ].
No entanto, a análise em nível frasal, mostra que se a palavra seguinte iniciar por vogal há
então, a possibilidade da realização da variante vibrante simples ou tepe alveolar [ɾ] como no
exemplo retirado da fala de um informante “Foi dar uma volta com os amigos...” O /r/ do
verbo dar da[Һ] torna-se [ɾ], porque a palavra seguinte uma inicia por uma vogal. Isso se
torna um contexto para a ocorrência de [ɾ] uma vez que esse som realiza-se entre vogais.
Nas tabelas a seguir demonstram-se os dados coletados com informantes do sexo
feminino e masculino na faixa etária entre de 18 a 60 com escolaridade entre Ensino Médio e
Ensino Superior. Os dados das tabelas se referem à ocorrência da variável /r/ ora como a
variante [h] em contextos de fim de sílaba e/ou palavra, ora como a variante [φ] em contextos
de fim de palavra.
Tabela 9 Informantes com Ensino Superior do Sexo Feminino e Masculino
Variável /r/
Variante [Һ]
Ocorrências de /r/ como
[Һ] fricativa glotal
%
Feminino 137 47
Masculino 149 52
Total 286
Na fala dos informantes femininos com Ensino Superior houve menor ocorrência da
pronúncia da fricativa glotal [Һ] 47% em relação aos informantes do sexo masculino com a
mesma escolaridade. Nos informantes com Ensino Médio houve 58% das ocorrências da
fricativa glotal [Һ] foram na fala de informantes do sexo masculino, em suas falas,
pronunciaram com maior freqüência a fricativa glotal [Һ] com uma diferença significativa em
relação aos informantes do sexo feminino com 41%, como se pode observar na tabela 10.
Tabela 10 Informantes com Ensino Médio do Sexo Feminino e Masculino
Variável /r/
Variante [Һ]
Ocorrências de /r/ como
[Һ] fricativa glotal
%
Feminino 106 41
Masculino 148 58
Total 254
Quando passa-se a observar a tabela 11 vê-se que as ocorrências de apagamento do /r/
em fim de palavra com os informantes do sexo masculino com Ensino Superior tendem ao
zero fonético, ou seja, tendem a apagar o /r/ em fim de palavra com o percentual de 52% em
relação aos informantes do sexo feminino com 47%. Com os informantes com Ensino Médio
a tendência ao zero fonético permanece com os informantes do sexo masculino com 53% em
relação aos informantes do sexo feminino com 46%, como se pode ver na tabela 12.
Tabela 11 Informantes com Ensino Superior do Sexo Feminino e Masculino
Variável /r/
Variante [Һ]
Ocorrências de /r/ como
[Һ] fricativa glotal em
processo de apagamento
[φ]
%
Feminino 153 47
Masculino 166 52
Total 319
Tabela 12 Informantes com Ensino Médio do Sexo Feminino e Masculino
Variável /r/
Variante [Һ]
Ocorrências de /r/ como
[Һ] fricativa glotal em
processo de apagamento
[φ]
%
Feminino 113 46
Masculino 129 53
Total 242
Afirma-se que na fala dos parintinenses há a palatalização das alveolares /s/, /z/, /l/ e
/n/ → [ʃ], [ʃ], [ʎ] e [ɲ], respectivamente e, pôde-se constatar que a realização da consoante /r/
é sob a variante fricativa glotal [Һ], que na fala do parintinense também sofre o processo de
apagamento ou zero fonético em fim de palavra. Passar-se-á então, a análise do uso das
variáveis lingüísticas relacionando-as a variável idade, sexo e escolaridade.
Tabela 13 Informantes do Sexo Feminino com Ensino Médio até Ensino Superior
idade Ocorrência
de /s/ como
[ʃ]
% Ocorrência
de /z/ como
[ʃ]
% Ocorrência
de /l/ como
[ʎ]
% Ocorrência
de /n/
como [ɲ]
% Ocorrência
de /r/ como
[Һ]
% Ocorrência de /r/
como [Һ] em
processo de
apagamento [φφφφ]
%
entre 18 a
30 anos
242 30 14 31 47 35 9 25 58 23 95 35
entre 31 e
45 anos
290 36 16 35 54 40 15 41 91 37 82 30
entre 46 e
60 anos
271 33 15 33 32 24 12 33 94 38 89 33
Total 803 45 133 36 243 266
Com relação às variáveis lingüísticas condicionadas pelo sexo e pela idade constata-se
que em relação à ocorrência de /s/ como a variante fricativa palatal [ʃ] ocorre com maior
freqüência com mulheres entre 31 e 45 anos com 36% e tende a diminuir na fala de mulheres
entre 46 e 60 anos com 33%, enquanto que a pronúncia da variável /z/ como a variante
fricativa palatal [ʃ] tem maior freqüência na fala das mulheres entre 31 e 45 anos com 35%.
Em relação à ocorrência de variante lateral palatal [ʎ] a maior ocorrência dessa variante está
com mulheres com idade entre 31 e 45 anos com e que essa ocorrência diminui entre as
mulheres entre 46 e 60 anos com 24%. A faixa etária de 31 a 45 anos também apresenta
índice percentual elevado na pronúncia da variante nasal palatal [ɲ] com 41%. Porém, na fala
das mulheres na faixa etária de 46 a 60 anos está a maior freqüência na ocorrência da fricativa
glotal [Һ] com 38% e em relação ao processo de apagamento de /r/ em fim de palavra o maior
percentual está com os informantes femininos com idade entre 18 e 30 anos.
Tabela 14 Informantes do Sexo Masculino com Ensino Médio até Ensino
Superior
Idade dos
informantes
Ocorrência
de /s/ como
[ʃ]
% Ocorrên
cia de /z/
como [ʃ]
% Ocorrên
cia de /l/
como [ʎ]
% Ocorrência
de /n/
como [ɲ]
% Ocorrência
de /r/ como
[Һ]
% Ocorrência
de /r/ como
[Һ] em
processo
de
apagament
o [φφφφ]
%
entre 18 a 30
anos
222
22 11 24 31 20 18 40 81 27 85 28
entre 31 e 45
anos
405 41 19 42 82 53 16 35 114 38 124 41
entre 46 e 60
anos
342 35 15 33 41 26 11 24 102 34 93 30
Total 969 45 154 45 297 302
Na tabela 14 pode-se observar as ocorrências das variáveis em estudo com informantes
do sexo masculino com Ensino Médio e Ensino Superior. Os informantes com idade entre 31
e 45 apresentaram maior índice nas ocorrências da variável /s/ como a variante fricativa
palatal [ʃ] com 41%. Os percentuais da faixa etária de 31 a 45 para a variante fricativa palatal
[ʃ], da variante lateral palatal [ʎ], a variante fricativa glotal [Һ] e a variante [φ] permanecem
altos em relação às demais faixas etárias, apresenta declínio apenas na variante nasal palatal
[ɲ]. Por outro lado, os informantes com idade entre 18 e 30 anos apresentaram maior índice na
ocorrência da variante [ɲ] com 40%. Nas próximas tabelas há informações sobre as
ocorrências entre o sexo feminino e masculino de acordo com o nível de escolaridade.
Tabela 15 Ocorrências das Variáveis Estudadas com Informantes do Sexo
Feminino e Masculino com Ensino Superior
infor
mante
Ocorrência
de /s/ como
[ʃ]
% Ocorrên
cia de /z/
como
[ʃ]
% Ocorrên
cia de /l/
como [ʎ]
% Ocorrên
cia de /n/
como
[ɲ]
% Ocorrên
cia de /r/
como
[Һ]
% Ocorrência
de /r/ como
[Һ] em
processo
de
apagament
o [φφφφ]
%
Masc. 531 54 29 55 73 49 17 43 149 52 166 52
Fem. 443 45 23 44 75 50 22 56 137 47 153 47
Total 974 52 148 39 286 319
Quadro 2: Distribuição do corpus
Os informantes do sexo feminino apresentaram maior percentual na ocorrência da
variante [ʎ] e da variante [ɲ], enquanto que os informantes do sexo masculino apresentaram
os maiores percentuais na variável /s/ como variante [ʃ], na variável /z/ como variante [ʃ], na
variante [Һ] e na variante [φ].
Tabela 16 Ocorrências das Variáveis Estudadas com Informantes do Sexo
Feminino e Masculino com Ensino Médio
informa
ntes
Ocorrên
cias de
/s/ como
[ʃ]
% Ocorrên
cias de
/z/ como
[ʃ]
% Ocorrên
cias de /l/
como [ʎ]
% Ocorrên
cias de
/n/ como
[ɲ]
% Ocorrência
s de /r/
como
[Һ]
% Ocorrência de
/r/ como [Һ]
em processo de
apagamento
[φφφφ]
%
Masc. 436 54 16 42 81 55 31 68 148 58 129 53
Fem. 360 45 22 57 65 44 14 31 106 41 113 46
796 38 146 45 254 242
Quadro 2: Distribuição do corpus
Os índices de ocorrências com informantes do sexo feminino são menores para as
demais variantes, com exceção da variável /z/ como variante [ʃ] com 57%. Portanto, há
diferenças nas ocorrências das variantes em estudo. Essas diferenças são visíveis quando são
comparados apenas informantes do sexo feminino com Ensino Médio e Ensino Superior, ou
quando se fazem comparações entre informantes masculinos com Ensino Médio e Ensino
Superior. Também percebem-se as diferenças quando compara-se a escolaridade de
informantes do sexo feminino e masculino com Ensino Médio e Ensino Superior, em que
constatam-se que algumas variáveis são mais freqüentes com determinada faixa etária, ou
com determinado gênero, ou ainda com determinado nível de escolaridade. Tais diferenças
mostram que na língua as variantes se manifestam de maneiras diferentes entre os indivíduos.
Nas tabelas 17 e 18 a seguir tratar-se-á do uso do pronome nós e a gente, identificados
na fala dos informantes parintinenses com idade entre 18 e 60 anos com Ensino Superior e
Ensino Médio.
Tabela 17 Informantes com Ensino Superior do Sexo Feminino e Masculino
Uso de pronomes Uso do pronome nós % Uso de a gente %
Feminino 11 57 27 52
Masculino 8 42 24 47
Total 19 51
Na tabela 17 observa-se que o uso do pronome nós está em declínio, pois apresentou
um número baixo de ocorrência, mas nesse mesmo contexto os informantes do sexo feminino
ainda usam mais o pronome com, com 57% que os informantes do sexo masculino. Inferi-se
que há o favorecimento crescente do pronome a gente para se referir a primeira pessoa do
plural com um percentual de uso maior com os informantes do sexo feminino com 52%.
Tabela 18 Informantes com Ensino Médio do Sexo Feminino e Masculino
Uso de pronomes Uso do pronome nós % Uso de a gente %
Feminino 2 40 15 28
Masculino 3 60 37 71
Total 5 52
Ao tomar como referência a tabela 17 vê-se que o declínio no uso do pronome nós é
mais nítido entre os informantes com Ensino Médio, porém ao contrário dos informantes
femininos com Ensino Superior, os informantes masculinos com Ensino Superior apresentam
maior percentual no uso do pronome nós. O uso do pronome a gente apresenta maior
percentual de uso com os informantes masculinos com 71%.
Nas tabelas 19 e 20 apresentar-se-á a ocorrência do fenômeno lingüístico chamado
aférese que consiste na eliminação da sílaba inicial de uma palavra, que está acontecendo com
o verbo estar e que foi observado na transcrição das entrevistas dos informantes. Constata-se
que esse fenômeno ocorre na fala coloquial em que se tem um discurso menos tenso.
Tabela 19 Informantes com Ensino Superior do Sexo Feminino e Masculino
Presente do indicativo nas 1ª e 3ª do sing. e 3ª
pessoa do plural
Pretérito-perfeito do indicativo nas 1ª e 3ª do
sing. e 3ª pessoa do plural
Aférese da sílaba -
es do verbo estar
-to- % -tá % -tão % -tava % -tavam %
Feminino 3 18 5 62 2 25 4 28 1 50
Masculino 13 81 3 37 6 75 10 71 1 50
Total 16 8 8 14 2
Acredita-sse que as ocorrências de aférese aconteceram, porque as perguntas feitas aos
informantes são de cunho pessoal e tendem a fazer os informantes usarem mais palavras que
os identifiquem como sujeitos do discurso, por isso o uso das primeiras pessoas identificáveis
através das desinências do verbo estar. Tudo isso é observável no percentual das ocorrências,
por exemplo, os informantes masculinos usaram mais tô (estou) com 81% o que demonstra o
discurso em primeira pessoa do singular, enquanto que os informantes femininos
apresentaram apenas 18%. O uso de tá (está) que se refere a terceira pessoa do singular e tem
62% de ocorrência com os informantes femininos e 37% com informantes masculinos. O uso
de tão (estão) terceira pessoal do plural foi mais usado pelos informantes masculinos com
75%. Ao passar para o uso do verbo estar no pretérito-perfeito observa-se o uso de tava
(estava) ora para a primeira pessoa do singular, ora para a terceira pessoa do singular,
portanto o uso de tava foi maior com informantes masculinos com 71%. Por fim, o uso de
tavam (estavam) ficou dividido com 50% para os informantes tanto masculinos como
femininos.
Tabela 20 Informantes com Ensino Médio do Sexo Feminino e Masculino
Presente do indicativo nas 1ª e 3ª do sing. e 3ª pessoa do
plural
Pretérito-perfeito do indicativo nas 1ª e 3ª
do sing. e 3ª pessoa do plural
Aférese da
sílaba -es do
verbo estar -to- % -tá % -tão % -tava % -tavam %
feminino 6 40 3 23 - 10 38 1 50
masculino 9 60 10 76 1 100 16 61 1 50
Total 15 13 1 26 2
As ocorrências de aférese aconteceram também com informantes com Ensino Médio.
Na tabela 20 observa-se, mais uma vez, que os informantes masculinos tiveram maior
percentual de ocorrências no uso da primeira pessoa do singular do verbo estar com 90% de
ocorrências. No uso de to (estou) contra 40% das mulheres. Porém, o uso de tá (está) que se
refere a terceira pessoa do singular que teve 62% de ocorrência com os informantes femininos
com Ensino Superior e apresenta, agora, 76% das ocorrências para informantes masculinos. O
uso de tão (estão) terceira pessoal do plural teve apenas um registro de uso por um informante
masculino. Observa-se que o uso de tava (estava) ora para a primeira pessoa do singular, ora
para a terceira pessoa do singular teve, mais uma vez, maior ocorrência com informantes
masculinos com 61%. E o uso de tavam (estavam) ficou dividido também, com 50% para os
informantes tanto masculinos como femininos.
Portanto, pode-se inferir que os informantes masculinos tantos os que têm Ensino
Superior como aqueles que têm Ensino Médio têm maiores percentuais de aférese que os
informantes femininos com a mesma escolaridade. Durante essa análise optou-se por trabalhar
com tabelas para que melhor observasem as variáveis e suas ocorrências, bem como sobre o
uso dos pronomes nós e a gente e sobre o fenômeno lingüístico chamado de aférese. Passar-
se-á, pois, a analisar trechos das entrevistas retirados das transcrições que foram feitas para
registrar a fala dos informantes. Desses trechos pretende-se retirar informações sobre aspectos
culturais e sobre aspectos lingüísticos como o uso de sufixos, a concordância nominal e
verbal. Os trechos estão divididos em quatro grupos, sejam eles informantes masculinos com
Ensino Superior, informantes femininos com Ensino Superior, informantes masculinos com
Ensino Médio e informantes femininos com Ensino Médio. Serão feitas obsevações sobre os
trechos de falas dos informantes masculinos com escolaridade Ensino Superior, com idade
entre 18 e 60 anos. Tais observações estarão acompanhadas de análises de aspectos
gramaticais correntes na fala desses informantes.
3.7 Análise e Discussão de Dados: Trechos das falas dos informantes 3.7.1 Informantes Masculinos com Ensino Superior com Idade entre 18 e 60 anos Informante 06/50 anos – comerciante Na atualidade a minha diversão principal assim é ir na igreja e lá nu grupo AA.
Então, como de praxe todas as pessoas nascidas em Parintins, do lado de baixo da ilha, é caprichoso. Assimilando aquelas idéia(s). A terra ia quebrando atrás dele parece que queria pegar ele. Atualmente, o que marcou muito foi a minha separação do primeiro casamento né. E morreu um bocado de gente nesse dia,.. Então, nós temos essa preferência mesmo, porque desde infância, vendo os pais da gente torcerem por ele a gente vai também.
Informante 03/45 anos - professor Caprichoso, porque eu acho assim o caprichoso, a cultura dele, a formação dele assim são pessoas assim que eu considero eles honestos entendeu? Aí quando passa um tempo a gente encontra a pessoa né. Bom, geralmente aquela questão de ouvir falar é uma coisa muito relativa e a gente ouvi tanta da coisa né.
Informante 48/46 anos - professor Semana geralmente é muito difícil ter um tempo que permite, não dá. Na verdade, tem muitos fatos aqui na cidade que a gente ouvi os outros falarem. A escola tem vários projetos inclusive agora nesse final de semana, na sexta-feira, nós concluímos um projeto que é o projeto que é desenvolvido anualmente né. Aí o camarada já conta que é ... foram tantas facadas. Mas o pessoal comentou que ele tava igual uma peneira, tava todo furado.
Informante 21/20anos - estudante Eu sempre gostei de ser caprichoso, mas sou garantido, no caso, vermelho... Mas quando a gente soube assim foi um impacto mesmo.
Informante 25/ 29 anos - professor Eu sou de um time lá no interior Final de semana agora a gente vai começar um campeonato lá, a gente vais jogar final de semana. Eu morava com minha avó e ela era garantido e fluiu, consegui me vencer pra lá. Bom...meu trabalho é da seguinte forma, é um pouco meio sacrificoso pra gente que trabalha na zona rural né. To ouvindo mais esses tempos e eu acho que tá sendo...mas na nossa região, por exemplo é...o comentário tá entre a comunidade e redondezas, porque tão lá realmente fazendo o trabalho
Informante 27/ 22 anos - estudante Fui criado torcendo pelo boi. Bom, assim, é...bom o que aparece né. Panfletagem, é mais comum. As empresas que vem de fora, é o que aparece, é o famoso bico
Informante 35/18 anos – estudante Todos da minha família são garantido. Eu tinha que ter colchão, tinha que comprar tudo e não dava pra se manter lá em Manaus. Informante 21/40 anos – professor e vendedor
Ah! Nos interiores mais próximos aqui de Parintins, no caso, especificamente aqui em Parintins, é o Zé Açu, pelo ato de nós termos trabalhado lá bastante tempo né, Olha só, é...o fato de minha família toda ser garantido eu ia sempre de noite pro garantido, Então, eu trabalhava lá na beirinha do curral. Aí eu passei uns seis anos trabalhando lá Agora aqui em casa não, aqui em casa são dividido(s). minha mulher é do garantido, a minha filha também é do garantido, já a minha família por parte de mãe e pai todos são garantido. Eu sou caprichoso. Aí eu comecei a trabalhar lá dentro do bumbódrimo como servente. Aí foi que ele chegou parou aquela crise de nervoso depois que vi ele, realmente senti que ele tava bem. Ele foi lá tirar as pessoas lá pra não brigar aí o cara veio por trás aí esfaqueou ele por cima do coração. Informante 38/45 anos – Auxiliar de Serviços Gerais Agora, atualmente, a gente, não tenho assim, negócio de lazer Eu voltei fazer , ah! O supletivo né, fiz a EJA no São José, aí depois eu fiz o vestibular e passei. Ah! Eu ouço...ouço falar muito em estupro né...Pedofilia né, um das coisa(s) que a gente ouve muito falar agora. Informante 39/37 anos – Vigia Noturno Eu gosto de jogar bola até agora Eu praticamente, tô com trinta e sete ano(s) Minha família é toda, praticamente, todo mundo azul e branco, caprichoso né. Pessoal que trabalha com venda aí fiscalizo se tão tudo legalizado, se tá tudo direitinho, pagando seus imposto(s) se não tão. É o nosso trabalho. Informante 31/49 anos – professor Sou caprichoso doente. Bom, um acontecimento marcante...foi quando eu me graduei e vi no meu lado minha mãe ser minha paranifa. Nasci, me criei, vi o desenvolvimento acontecer todo aí na Francesa. O artista ele começa a desenhar e o aderecista de interior de dentro da área fica observando a parte que ele está montando a alegoria dele. O senhor sabe que os filhos dela são traficante?
Informante 41/ 50 anos – Professor e Auxiliar administrativo Eu saio com os amigos pra tomar uma cervejinha, praticamente todo sábado, é religioso. Às vezes quando tem seresta lá no SINTEAM aí eu vou pra lá, sexta-feira, eu gosto. Os meus filhos são garantido e a minha mãe, meu pai e meus irmãos são todos garantido. Eu sou a ovelha negra da família. Eu tô, apesar de ser professor, eu trabalho na secretaria e o meu trabalho atual é no sistema de matricular informatizada, no sistema da gestão escolar informatizada e o censo escolar do MEC, isso aí eu faço, outras coisas já deixei pros amigos fazerem. Esse aí é o mais difícil e eu faço, que é diretamente na Internet.
3.7.2 Comentários sobre a Fala dos Informantes Masculinos com Ensino Superior com Idade entre 18 e 60 anos
Nesses trechos retirados das falas dos informantes do sexo masculino com
escolaridade Ensino Superior pôde-ses observar alguns aspectos gramaticais mais correntes os
quais são comentados a seguir. Regência do verbo ir com a preposição em + artigo: Ir na ...,
enquanto que a gramática normativa prescreve o uso da preposição a. Concordância verbal
com verbo afastado do sujeito: Todas as pessoas nascidas em Parintins, do lado de baixo da
Ilha, é caprichoso. Eliminação de plural redundante, marcado em geral nos determinantes,
como, por exemplo em Assimilando aquelas idéia(s), em que o plural é eliminado na palavra
idéias. O uso do pronome ele como objeto direto, por exemplo, em Considero eles honestos,
enquanto que a gramática normativa prescreve o uso de pronome oblíquo, ou seja, considero-
os honestos. O mesmo acontece na frase A terra ia quebrando atrás dele parece que queria
pegar ele, em que se usa o pronome do caso reto ele em função de complemento do verbo
pegar. O uso de dêiticos (elementos lingüísticos que indicam lugar ou tempo) como aí, ali,
aqui, lá funciona dentro da situação de comunicação como, segundo Bechara (2002: 190),
avivadores dos objetos e pessoas tratados pelo falante, por exemplo, Aí o camarada já conta
que é ... foram tantas facadas. Estruturas de tópico-comentário, como no exemplo, O artista,
ele começa a desenhar. O uso de sufixos, entre os mais correntes está o sufixo –mente, como
no exemplo, Eu saio com os amigos pra tomar uma cervejinha, praticamente, todo sábado, é
religioso; Semana geralmente é muito difícil ter um tempo que permite, não dá. Outros
sufixos identificados foram –oso em sacrificoso; -agem em panfletagem e –inho (a) em
beirinha e direitinho. O uso do sufixo –oso, segundo a gramática normativa aplica-se para a
formação de adjetivos, porém a forma prescrita é sacrificante. Entretanto, o informante optou
pelo uso do sufixo –oso para formar sacrificoso para qualificar o substantivo trabalho na frase
Bom...meu trabalho é da seguinte forma, é um pouco meio sacrificoso pra gente que trabalha
na zona rural né. No caso do uso da palavra panfletagem na frase Panfletagem, é mais comum
observamos que o falante optou por usar o substantivo panfletagem que, segundo o Dicionário
Houaiss, é considerado um regionalismo. Dessa maneira, o falante usa o substantivo derivado
do verbo pelo uso do sufixo –agem transformando-o em nome de ação para expressar a ação
que realiza, ao invés de usar o verbo panfletar (distribuir panfletos). Por fim, o uso do sufixo
-inho na palavra beirinha e direitinho nas frases Então, eu trabalhava lá na beirinha do
curral nessa frase podemos observar que o uso da palavra beirinha significa muito próximo
ao curral. Na frase ...aí fiscalizo se tão tudo legalizado, se tá tudo direitinho... o sufixo –inho
em direitinho significa dizer que tudo está muito certo, legalizado. Assim, podemos dizer que
os diminutivos servem também para indicar as várias manifestações de emoção e intenção do
falante.
Para continuar com os comentários passar-se-á a falar sobre os informantes femininos
com escolaridade Ensino Superior com idade entre 18 e 60 anos. Os comentários seguirão
conforme o estilo dos comentários das falas dos informantes masculinos com Ensino Superior
com a mesma faixa etária.
3.7.3 Informantes Femininos com Ensino Superior com Idade entre 18 e 60 anos Informante 12/36 anos – professora de Educação Tecnológica e Profissional Eu penso até demais e nesse aí eu não pensei só pensei no momento presente e fui afundo. Caprichoso, hum, acho que é porque eu nasci no... é...onde é o curral onde também tá a maior torcida. E os alunos agora tão fazendo os estágios dessas disciplinas que eu ministrei. Aí vão fazer o relatório e aí já tá praticamente no final do curso. Ah! Assim o que tá assim que eu tô escutando muito é sobre... a cassação do prefeito X né, prefeito de X que ultimamente nos locais que eu ando o pessoal falam sobre isso. Mas ele foi absolvido no Município aí querem julgar ele no Estado, pelo Estado aí eu não sei. Informante 52/60 anos – professora de Ensino Fundamental de 1ª a 4º série Quando eu casei e vim trazer meus filho(s) pra cidade pra estudar foi aí que eu continuei meus estudo(s). Eu digo assim “se não servir pra muita coisa, mas há de servir de bom exemplo pros meus neto(s), meus filho(s) né. E é isso. Desde que eu cheguei aqui em Parintins que eu observei essa brincadeira de boi-bumbá eu sempre dizia que eu torça pelo garantido, mas não é assim... que seja fanatismo né. Antigamente, dia de pagamento a gente ia no banco pegava o nosso dinheiro, vinha por ali fazendo nossos pagamentos. Hoje ... eu tenho ...quando eu vou receber meu dinheiro, lá do banco eu ligo pro meu filho e eu só saio quando ele tá lá na frente. Eu ouvi um comentário que dois motoqueiros é, fecharam uma senhora ali no sinal da avenida Amazonas querendo dinheiro Informante 46/40 anos - estudante Eu e a Samanta nós moramos em Parintins aí nós fomos pra Manaus com a minha outra filha que mora pra lá passar natal junto com ela. É o garantido, porque eu me identifiquei mais com as pessoas de lá. Em qualquer lugar que a gente vá, se a gente deixar uma sementinha né, essa sementinha vai crescer e se transformar em bons frutos. Aí eu acredito que tenha deixado assim um pouquinho de ... um pouquinho de união, de solidariedade junto aquelas pessoas ali. Eu admiro muito eles pela capacidade que eles têm de ser empreendedores. Que eles começaram a vida com uma banquinha de churrasco e agora eles ascenderam tanto que eles já têm imóveis, vários terrenos, tem casa Informante 54/55 anos – professora de Matemática Bem, eu não tenho assim muita preferência por boi, mas sempre que .... se alguém me pergunta, me faz essa pergunta é ... seria o garantido né pelo fato de eu estar mais próxima e que se relaciona, se relaciona mais com as pessoas humildes, mexe mais com essa .. com essa ... que fala muito assim o dia-a-dia do caboco mesmo. Isso daí que a gente fica ... é servi também pra refletirmos, termos muita cautela quando trabalhamos com os alunos.
O fato assim, a gente ... mexe com a nossa classe né, porque nós estamos prestes a fazer ... de repente fazer o que ela ... julgando ... não sei se ela ... a gente não pode fazer um julgamento né, se ela fez ou não, mas que aconteceu que a gente não deixe acontecer com a nossa pessoa.
Informante 19/23 anos - Professora de Ensino Fundamental Logo que eu terminei o Ensino Médio aí passou três meses eu fiz o vestibular e passei. Caprichoso, pela cor. Eu gosto muito da cor e também por causa da minha família que, praticamente, foi herdada, passada de geração em geração meu pai foi criado no Aninga, minha mãe é de lá, então é por isso. Eu trabalho lá no São José no Limão do Meio. Os alunos têm muita dificuldade. Inclusive foi uma...muito difícil, porque nos tínhamos que retornar a alfabetização, porque não sabiam nem, praticamente ler quanto mais é...resolver um problema, alguma coisa assim Mas graças a Deus que foi um ano que a gente teve que, praticamente voltar a estaca zero, esquecer um pouco do conteúdo que eles tavam né e voltar ainda ao processo de um mais um, dois mais dois, que foi difícil. Um colega comentou agora na comunidade o aparecimento de um pássaro lá. Aí ele fazia medo pro pessoal e aí teve um dia que um rapaz de lá atirou no pássaro. Informante 16/20 anos - Estudante Eu gostava assim desde criança do caprichoso...assim só eu e uma irmã minha que somos torcedoras do caprichoso. Eles ainda namoravam, aí ele deixou ela. Eu tentei ajudar ela, mas infelizmente não deu pra ajudar assim ela pra voltar a estudar.
Informante 33/27 anos - Auxiliar Administrativa e Professora de Língua Inglesa
A gente sai pra se divertir um pouco no final de semana. Eu acho que eu ia sofrer muito se eu não tivesse passado logo, porque eu me preparei. Eu formei num ano e eu tava assim com minha mente assim fresquinha e já me esforcei pra estudar e passar no vestibular. Acho que ... por toda a família ser garantido e pela questão dele me emocionar mais. Eu procuro fazer com o maior carinho o que eu posso, que eu tô trabalhando na área que eu gosto, to fazendo aquilo que eu gosto, trabalhando com crianças, que é uma coisa que me dá muita satisfação. Eu ouvi falar e me interessou muito que os professores do ano que vem vão ganhar um notebook pra ser um recurso de apoio muito importante na nossa área. Eu ouvi falar. Informante 41/18 anos - Estudante Eu não saio muito. Eu prefiro ficar em casa mesmo. Garantido, porque é de família mesmo. Eu tenho um estágio de natação na escola do professor Jamil. Eu...eu ajudo na instrução da professora Andréa com as criancinhas lá, aprenderem a nadar
Informante 19/50 anos – Professora exercendo a Função de Auxiliar de Bibliotecária Lá em Manaus que eu gostava de ir pro cinema, teatro. Aqui não tem. Aqui é só mesmo a praça e, às vezes, ensaio de boi. Eu cursei o terceiro grau depois de velha. Eu sempre gostei de vermelho, eu gosto de cores vibrantes, fortes. Ser garantido é vibração.
Este ano eu até vendi na frente de casa, mas depois eu adoeci e só vendi dois dias. Quando construíram o muro da UFAM eles fecharam todo, aí eu faço parte da Mulher, Mulher...nem sei mais...Movimento da Mulher. Nós fomo(s) aí na UFAM eles disseram que eles não iam derrubar. Eles fizeram tipo um murão, altão todo fechado, parecia um presídio.
Informante 23/49 anos - professora Olha a diversão que eu mais gosto, porque eu não tenho realmente uma diversão, não sou muito de sair né. Tenho. Caprichoso né, porque na minha origem, na minha família quando eu me criei assim, todo tempo toda a minha família quase que era caprichoso e eu acho que isso veio. Às vezes a gente não, nós temos momentos na vida que a gente fica chateado, mas a gente releva né. A gente soube da notícia que ela teria falecido...
Informante 40/44 anos - professora Ultimamente, eu não tenho muita opção de lazer. Então, esse livro...hoje quando eu volto a ler, tudo novamente, eu sinto tudo novamente como se eu voltasse a ser adolescente novamente. Caprichoso, porque eu gosto do azul. Mas assim, eu não tenho muito contato com vizinhos, mesmo porque eu moro sozinha e aí quando eu chego do trabalho já é noite. Eu sou muito assim. Eu não fico tão inteirada das coisas que acontecem no meu bairro, as coisa(s) assim.
Informante 43/32 anos – professora Só me divirto no chat diariamente. Aí eu estava muito doente na inscrição. Garantido é uma tradição de família, na verdade, minha mãe morava lá na Baixa. Aí a minha carga é dividida com o horário da tarde né com o turno vespertino. Vou em casa descansar um pouquinho aí já vou pra Aldair Kimura e depois volto pra casa. 3.7.4 Comentários sobre a Fala dos Informantes Femininos com Ensino Superior com Idade entre 18 e 60 anos
Nesses trechos das falas dos informantes femininos houve também os aspectos
gramaticais comentados na fala dos informantes masculinos com Ensino Superior. A Iniciar
pelo uso do pronome ele como objeto como na frase Mas ele foi absolvido no Município aí
querem julgar ele no Estado, pelo Estado aí eu não sei. Esse o uso de ele como objeto é
comum na fala coloquial, num discurso menos tenso. Outro exemplo com objeto está na frase
Eles ainda namoravam, aí ele deixou ela. Ao falar de regência, por exemplo, foram
encontrados exemplos como esse Lá em Manaus que eu gostava de ir pro cinema, teatro, em
que a preposição a prescrita pela gramática normativa é substituída pela preposição para +
artigo o, na fala coloquial, ainda que de pessoas com curso superior. Já sobre o uso de sufixo
houve de forma abundante o uso do sufixo –mente como nas frases Aí vão fazer o relatório e
aí já tá praticamente no final do curso. Então, esse livro...hoje quando eu volto a ler, tudo
novamente, eu sinto tudo novamente como se eu voltasse a ser adolescente novamente, em
que o sufixo –mente é usado para formar advérbios de modo. Ainda sobre sufixo temos
exemplo do uso do sufixo –ão que na gramática normativa é usado Eles fizeram tipo um
murão, altão todo fechado, parecia um presídio na palavra murão o sufixo –ão substitui o
sufixo –alha prescrito pela gramática normativa que formaria o aumentativo muralha. Já com
a palavra altão poderse-ia usar o advérbio muito para indicar a extensão do muro. Outro
sufixo destacado das falas é –inho usado nas frases Vou em casa descansar um pouquinho aí
já vou pra Aldair Kimura e depois volto pra casa. Nessa primeira frase a palavra pouquinho
passa a ter valor superlativo de descansar menos, descansar muito pouco, enquanto que na Aí
eu acredito que tenha deixado assim um pouquinho de ... um pouquinho de união, de
solidariedade junto aquelas pessoas ali a palavra pouquinho assume valor afetivo para
expressar a quantidade de sentimentos envolvidos na fala do informante. Assim, pode-se dizer
que o uso do sufixo –inho é múltiplo e deve ser entendido sempre dentro do contexto da
comunicação. Nesta frase há outro exemplo do uso do sufixo –inho Eu formei num ano e eu
tava assim com minha mente assim fresquinha e já me esforcei pra estudar e passar no
vestibular, em que a palavra fresquinha significa que ela estava com a mente ativa em relação
aos conteúdos cobrados pelo vestibular. Ao falar de concordância nominal toma-se como
exemplo a frase Quando eu casei e vim trazer meus filho(s) pra cidade pra estudar foi aí que
eu continuei meus estudo(s) observa-se nessa frase que o plural é marcado apenas no
determinante meu, isso é o que se tem chamado de eliminação de plural redundante, uma vez
que o plural já está marcado no determinante não é necessário marcá-lo no substantivo. essa
estrutura é muito corrente no discurso coloquial.
Comentar-se-á sobre as falas dos informantes masculinos com escolaridade Ensino
Médio com idade entre 18 e 60 anos. Os comentários seguirão conforme o estilo dos
comentários das falas dos informantes anteriores.
3.7.5 Informantes Masculinos com Ensino Médio com Idade entre 18 e 60 anos Informante 18/18 anos - Estudante Jogar bola...todo dia, agora...nem todo dia, porque a gente trabalha agora á tarde...numa semana, eu acho três, quatro dia(s)...pela tarde como agora. Tenho. Garantido, porque desde pequenininho...alguns garantido outros caprichoso. meu pai não gosta de boi, minha mãe é garantido...é por causa das toada(s).
Foi com meu ex patrão que eu consegui que ele é do garantido...aí...chamaram a gente pra fazer alegoria. Bateu nele, um tapão...ele não esquentou
Informante 20/35 anos - Industriário Eu cheguei também agora em Parintins. Tenho, caprichoso. eu gosto da cor azul e eu acho que ele é o mais bonito...e a cor é mais bonita. Essa gripe que já tá aqui no Amazonas que já matou uma professora recente. O que mais me surpreende é que as pessoas anunciaram na televisão que o nosso país estava preparado pra enfrentar essa gripe e tal e não sei o quê e chegou no Brasil e morre gente direto aí, aí indiguina a gente, porque eles dizem que o país tava preparado e quando chega...chegou a doença. Tá morrendo gente aí direto. Que preparação então, era essa? Só pra iludir a população, o povo.
Informante 34/18 anos - marceneiro Com quinze anos eu me profissionalizei aqui na Kátia Colares, aqui em Parintins e hoje até hoje eu trabalho com isso. Garantido. Que eu...garantido mesmo...eu gosto da cor mesmo. Informante 37/55 anos – Vigia Noturno Olha, a minha diversão de primeiro eu gostava muito de festa assim, sabe? Só que agora eu já não freqüento essas coisas mais. Eu tenho um filho que ele é muito estudioso, sabe? Ele estuda lá na UEA. Ele tá fazendo agora, ele vai estudar pra ser professor. Eu trabalho aqui de vigia uns três ano(s) aqui. Eu me dou muito bem trabalhando aqui. Eu tô acostumado a trabalhar aqui com meus colega(s), minhas colega(s), os professores, diretor. Eu tô me dando muito bem aqui.
Informante 10/18 anos - Estudante A sorte é que tinha caixa d’água em casa pra tomar banho, porque eu tinha que ir pra Igreja...aí cheguei lá. É um negócio que eu nunca esqueço. Tenho pelo caprichoso. não sei. Acho que é porque fui criado próxima do curral. Bom, aula da saudade. Foi quando ninguém esperava...já que ia ser uma aula interessante e foi aquele chororô, um pedindo perdão pro outro, um dizendo o que fez durante o ano. Não foi como planejamos de fazer uma aula legal. Informante 09/26 anos – vendedor Eu ganhava dois mil reais e atualmente, hoje, eu ganho mil e poucos reais. Então, eu fui gastando comigo nas noitadas e enfim, foi aí que eu cheguei lá no fundo do poço. Perdi tudo. Aí tinha o testemunho de uma pessoa ali que ele relatava a situação que ele passou como que ele venceu. Depois desses seis meses, eu consegui um trabalho, não era lá aquelas coisas, mas já consegui me levantar. Não, não tenho. A gente foi num passeio na praia e no primeiro mergulho que ele deu, ele encontrou uma pessoa morta e foi um fato ali que deixou todo mundo assim apavorado.
Informante 10/29 anos - Tricicleiro Diversão é...jogar bola, pescar, beber. Jogo geralmente a tarde aqui na rua ou quando a gente tá assim pro interior a gente joga. Meus pais foram contra até minha mãe não apoiou, não apoiou e agora ela já gosta. Até hoje ainda me lembro. vixi... o boi do coração, o garantido, porque quando eu nasci que eu me entendi na família o pessoal já era a maioria já era garantido: minha mãe, minha avó, meus tios. Já os mais novos, os primeiro(s) era tudo garantido. Eu trabalho ajudando o pessoal a empurrar alegoria pro boi só, cerca de uma semana só.
Informante 24/35 anos - Comerciante Diversão é ... a única diversão que a gente tem agora ...a gente joga bilharito ... é bilhar ... quase todo dia a gente joga bilhar. Acho que seis anos atrás foi um que mais marcou ter ela junto com a gente. Aí depois que ela nasceu já foi outro sistema já. Aí eu passei a gostar. Caprichoso. Eu sou do lado do azul desde ... toda a minha família é caprichoso. Desde pequeno é ... torço pelo azul. A gente trabalha com comércio aqui. O comércio nosso aqui é mercearia, churrasco, essas coisas que vende aqui. Aí relacionado, aqui a gente já tenta montar lá na ... perto do bumbódrimo. E o pessoal tava comentando que iam desligar os bairro(s) aonde não tinha bombeamento, por exemplo, ... bairro de Palmares não existe bombeamento no bairro de Palmares aí, no caso, eles iam desligar o Palmares, porque pra ficar aonde tem bombeamento pra não parar a água entendeu?
Informante 26/31 anos - Agente Comunitário de Saúde Eu tenho uma moto aí eu faço mais é passear. Aí a diversão mais é na ... é no Itaúna né que é conhecida Rua Larga. Poxa. O que ficou marcante mesmo foi uma cena ... foi o falecimento da minha mãe. Já perdi ela tá fazendo quatro anos. Justamente o preventivo que você vai saber se você tem, como você tem. Eu falo muito isso pra minhas comunitária(s) que eu visito de casa em casa, na mesma residência, nas meninas. Preferência mesmo, assim não. Torço pelo caprichoso, mas não sou aquele torcedor assim de gritar, de sair até mesmo de dançar. Durante o festival eu faço uns bicos. Tem alguns setores que tem aí desavenças que eu não sei quem comentou lá. Então, alguns colegas tentaram avisar ela e ela se acha que todo tempo ela tá certa.
Informante 35/39 anos Técnico Administrativo Acho que a diversão que a gente tem é geralmente quando tá um show assim entendeu? Algum evento mesmo da cidade que a gente participa. O marcante foi o que aconteceu até poucos dias que foi dia vinte e nove que a gente ... foi o nosso casamento ... que a gente casou naquele casamento coletivo que houve. A gente já .. a gente já tinha casado no católico, tava faltando só o civil né. Aí a gente casou civil. Foi quando ... o que eu me identifiquei primeiro assim até pela cor também né que é azul. Por causa do boi mesmo, não sei. Simpatia mesmo assim.
Já trabalhei há alguns anos atrás que a gente trabalhava no bar lá no bumbódrimo. Trabalhava lá como garçom lá no bar, mas de uns três anos pra cá a gente não trabalhou mais, porque houve toda uma mudança no pessoal que agora toma conta lá do bar lá no bumbódrimo. São pessoas de fora, não são mais o pessoal daqui. Aí eu também não fui mais também. Era muito cansativo também entendeu? Informante 44/60 anos – Técnico Administrativo Aí a coisa mais marcante mesmo na minha vida foi que eu abandonei eles. Depois que eu saí do seminário aí eu me casei. Olha muito, muito não, como fanatismo não, mas como a minha família, as minhas filhas ela torce pelo caprichoso eu acompanho. Pra mim eu me sinto até orgulhoso dessas duas cores tanto do azul como vermelho, porque isso tudo faz parte da nossa cultura, da cultura parintinense. Então, ela já é divulgada já hoje internacionalmente. Eu amo a escola. Gosto da minha escola. Gosto das minhas colegas. Gosto dos professores. E sobre a disciplina não tem me dado muito trabalho não, porque trabalhamos aqui em grupo entre diretora, coordenadora. Enfim, todos os funcionários. Nós trabalhamos em grupo. Eu ouço falar ... Certas pessoas já mais experientes ... Que têm certas pessoas que dizem assim: - apareci muita cobra grande no rio. Certo? Aí é então, que acontece certo acidente. É que a cobra grande bate a embarcação e aí vai a naufrágio. Aquela arrumação toda. Uns dizem que é cobra grande e já a juventude, que estuda, já tem aquele negócio a dizer: Não acho que isso é um submarino que vive pesquisando o nosso Estado e, às vezes, ele bóia e aparece aquele negócio assim. Informante 42/39 anos – Segurança O que mais eu gosto de me divertir é bola diariamente. Os irmãos lá da Igreja da Assembléia de Deus ali eles pediram pra fazer um ... pediram pra mim levar eles pra fazer uma ... – como é que a gente fala? – uma ... uma oração sabe? Mas demorada assim das dez horas até as três horas da madrugada. Aí certo dia eu vim aí em casa dar uma volta. Quando eu cheguei no canto de casa, no canto da rua de casa aí eu olhei lá pra banda de casa um monte de gente. Garantido. É porque ... porque eu gostei do garantido mesmo. Minha filha, minhas duas filha(s) são garantido. Eu gosto. Elas são pequena(s), mas ficam cantando a música do garantido. Eu gosto né. Perrexé. Não, só meu mesmo. Eu acho legal né. É uma responsabilidade que a gente tem. No momento que a gente entra no trabalho da gente tem que ter muita responsabilidade pelas coisas que a gente tem, pelo que a gente vai é ... segurar, vigiar que a gente tem que ter muita responsabilidade né. 3.7.6 Comentários sobre a Fala dos Informantes Masculinos com Ensino Médio com Idade entre 18 e 60 anos
Nesses trechos houve aspectos gramaticais também comentados nas falas anteriores.
Na frase Eu tô acostumado a trabalhar aqui com meus colega(s), minhas colega(s)...pôde-se
observar a eliminação da marca de plural no substantivo colegas, permanecendo essa marca
de plural apenas nos determinantes meus e minhas. Caso de regência verbal também foi
identificado, como na frase A sorte é que tinha caixa d’água em casa pra tomar banho,
porque eu tinha que ir pra Igreja, em que, mais uma vez, aparece o uso da preposição para +
artigo substituindo a preposição a prescrita pela gramática normativa. O uso de pronome ele
como objeto foi corrente em falas de informantes masculinos e femininos com Ensino
Superior, bem como com informantes masculinos de Ensino Médio, como nas frases O que
ficou marcante mesmo foi uma cena ... foi o falecimento da minha mãe. Já perdi ela tá
fazendo quatro anos/ Aí a coisa mais marcante mesmo na minha vida foi que eu abandonei
eles./ Então, alguns colegas tentaram avisar ela e ela se acha que todo tempo ela tá certa.
Nas três frases observamos que os verbos perder, abandonar e avisar tem como complemento
o pronome ele substituindo os pronomes oblíquos que são considerados de uso padrão nesses
casos. O uso do sufixo –mente também foi identificado na fala desses informantes com
bastante freqüência como nas frases Eu ganhava dois mil reais e atualmente, hoje, eu ganho
mil e poucos reais./ Jogo geralmente a tarde aqui na rua ou quando a gente tá assim pro
interior a gente joga. Nesta frase A única diversão que a gente tem agora ...a gente joga
bilharito, a palavra bilharito significa bilhar que é um tipo de jogo. é uma palavra comum na
fala de parintinenses que gostam desse tipo de jogo. já na frase Foi quando ninguém
esperava...já que ia ser uma aula interessante e foi aquele chororô, um pedindo perdão pro
outro, um dizendo o que fez durante o ano, temos a palavra chororô temos a reduplicação da
sílaba ro. Esse processo de reduplicação é comum na língua, como exemplos há palavras
mamãe e papai nas quais há a reduplicação das sílabas ma e pa o que lhes confere uma
conotação de carinho ao usá-las. No caso da palavra chororô, inferi-se que a reduplicação da
sílaba ro lhe confere a conotação de intensidade da ação de chorar.
Por fim, comentar-se-á sobre a fala dos informantes femininos com escolaridade
Ensino Médio com idade entre 18 e 60 anos. Os comentários seguirão o conforme o estilo dos
comentários das falas dos informantes anteriores.
3.7.7 Informantes Femeninos com Ensino Médio com Idade entre 18 e 60 anos Informante 01/47 anos - Doméstica O Festival Folclórico de Parintins no mês de junho especificamente nos três dias de festival. Foi uma experiência boa apesar de não ser mãe assim verdadeira, mas pra mim foi muito importante e é até hoje importante e é muito bom a gente ser chamado de mãe. Caprichoso. ah! Porque eu gosto da cor azul e branca, porque eu já me entendi é vendo a minha família toda torcendo pelo boi e pra mim o azul ta em todo lugar. Direcionado a festival não, eu não faço. Sou doméstica. Trabalho de casa. Trabalho de artesanato faço crochê são esse tipo de trabalho que eu faço. Minha rotina de trabalho é como sempre lavar, cozinhar, cuidar da casa, ir ao mercado. É esse tipo de trabalho.
Informante 02/20 anos – corretora de empréstimos financeiros Assim marcante é ... quando minha tia ficou doente foi muito, foi muito rápido e até agora ela ta lutando contra essa doença. E até agora ela ainda não conseguiu se curar e a gente fica assim apreensível, porque a gente não sabe o dia de amanhã, até quando ela pode agüentar né sem esse transplante de rim que ela tem que fazer. Eu desde pequena sou garantido. Relacionado ao festival não, mas eu trabalho normalmente. Olha eu trabalho com aposentados, pensionistas, funcionários públicos... Nós trabalhamos também com as Forças Armadas com ... só não com a prefeitura. O Josué ele foi morto por um rapaz... Informante 04/30 anos - Doméstica Eu gosto mais de assistir mesmo, mas eu gosto de dançar. Eu tava sentindo ... tipo assim eu senti que eu fui lá no inferno e voltei. Aí marcou esse pensamento pra mim que, às vezes, quando eu fecho meu olho a modo eu vou ver aquela luz de novo. Caprichoso. eu acho que é porque ... foi desde pequena indo assim no curral do caprichoso. É uma rotina muito cansativa, porque toda manhã eu tenho que botar uma pequena pra ir pra escola. Aí à tarde, tem que botar os dois pra outra escola. Ele tenham um gênio assim que parece que eles não entende as coisas que a gente fala. Aí é uma vida que eu acho cansativa. Que eu ouvi falar na rua hoje foi ... ocorrendo uma casa de prostituição lá que tem criança até de um ano envolvida pelo meio. Foi um boato que eu ouvi e também eu cheguei a ver pessoas entrando pra lá. Informante 32/26 anos - Doméstica Eu gosto muito de dançar Hip-Hop. No caso, a gente tem um grupo de dança né aí a gente todo fim de semana ou a semana todinha a gente fica treinando. Quando ela ficou entre a vida e a more né aí de lá eu pensei que ela não fosse resistir, porque ela sofreu muito com essa doença dela. Pelo caprichoso. Pelo motivo que a minha filha dança né. Ela dança na trupe mirim, meu irmão também ele é coreógrafo e também por eu dançar um bom tempo também lá. Aí desde lá eu comecei a gostar então. Aí meu pai que briga. Pára. Vivi trabalhando. Limpando. Não se cansa não. Não me canso não, quanto mais limpinho pra mim melhor. Um acontecimento que eu ouvi muito assim era falar sobre aqueles policiais que vieram né, que eles vieram aqui em Parintins, pessoal da ROCAM. O pessoal reclamavam muito né que eles mal-tratavam as pessoas. Eu ouvi muito falar isso no rádio, televisão até comentários da vizinhança mesmo. Só ouvia isso, sobre isso. Aí eles foram embora aí parou os comentários. Informante 11/32 anos – Autônoma Porque quando eu tô aqui em Parintins eu fico meio isolada entendeu? Eu não sou de tá na praça. Eu sou mais caseira. Bom, eu acho que o que mexeu muito com a minha família assim... foi a separação dos meus pais. Foi quando nós viemos morar aqui em Parintins. Eu freqüentava mais o caprichoso, mas a emoção é mais forte é no garantido. Praticamente eu vivo pra isso, pro meu trabalho.
Tem que saber passar pro cliente o que que tá acontecendo, o que que a gente tá fazendo, porque muitas das vezes ele não entende e gera um conflito lá no futuro como tá acontecendo hoje né. Informante 15/35 anos - Doméstica Domingo eu gosto de ficar em casa com meus filho(s), família né e brincar de bola, às veze(s) na rua. Eu levo eles no parquinho. Tenho. Garantido, porque a gente cria amor né. Nasci bem dizer na Baixa e bem dizer me criei ali na Baixa. Depois que eu vim morar pra cá, lá perto do curral, porque eu morava na Nações Unidas perto do São José. Sou torcedora, mas não vou muito no ensaio não. Pra mim, até agora eu não tenho reclamado de nada. Vendo tudo o que eu coloco...dá lucro. Tantas coisas que acontece nessa rua: morte dos dois rapazes bem dizer na frente de casa, morte de galeroso que matou outro. Informante 13/22 anos - Estudante Ir na festa duas vezes. Ah! Caprichoso, porque não sei. Desde pequena é só mais caprichoso, por isso que eu fiquei assim, desde criança. E eu gosto do caprichoso... da cor, das toadas. Só dois meu irmão que é pastor foi pra Itapiranga e outra minha irmã que mora... Informante 18/45 anos - Doméstica Foi o nascimento da minha filha. Foi quando eu soube que eu estava grávida e era uma menina e outra foi quando ela nasceu. Boi caprichoso, porque desde pequena minha mãe, meus pais torcem pelo caprichoso. Já é de família isso. Eu trabalho na frente da minha casa vendendo...vendendo comida, bebida. Eu vendo churrasco, vendo refrigerante, pipoca de microondas, só. Essa época é...outras épocas não é muito bom não. A copa. A copa ser no...aqui em Manaus, aqui no Amazonas... pela televisão. Eu acho uma boa idéia né pelo menos o comércio vai movimentar né, a cidade vai ficar mais bonita. Informante 22/47 anos - Vendedora Não tenho boi-bumbá. Eu trabalho como vendedora em loja de confecção...atender as pessoas e ser muito bem comunicativa. Eu chego oito, às oito da manhã e saio às seis e trinta da tarde, da noite. Meu trabalho é longe. Aí passou a viagem todinha implicando que a mulher não tinha cabelo. Quando foi de manhã, eu vi a mulher...tirou o lenço né aí chamei ela pra mostrar pra ela que ela tava enganada sobre a cabeça da mulher, a mulher tinha cabelo.
Informante 28/46 anos – Auxiliar de Serviços Gerais Minha diversão hoje é bolero. Eu gosto...sexta feira. Todas as sextas tô indo agora, quase direto...na porta da esperança. Que até hoje marca é minha separação...foi uma decepção muito grande que eu tive. Que... a menina que o meu marido se envolveu tinha treze anos. Aí foi uma decepção muito grande pra mim. E a outra decepção foi dela também que eu confiei muito nela, que ela deixou assim eu confiar nela e aí não confiei no meu marido, quando acaba a culpada foi toda ela. Garantido, pelas toadas dele...na minha casa é...tem uns que são garantido, tem uns que são caprichoso.
O meu trabalho é eu chegar seis horas da manhã limpar as salas é...depois só manter os corredores limpos. Saio dez horas aí eu retorno de novo duas horas aí já manter de novo o corredor, banheiro limpo. São oito horas. Informante 29/44 anos – Auxiliar de Serviços Gerais Uma coisa que mais marcou na minha vida foi o dia da minha formatura que jamais eu pensei em concluir o Ensino Médio e eu concluí o ano passado, dois mil e oito, levando o curso é...série por série entendeu? E depois, agora de eu tá com meus filhos eu consegui meus estudo(s), mesmo tendo eles e eles estudando também. Aí foi um momento de muita alegria, afinal eu concluí junto com meu filho mais velho, na mesma escola, nós estudamos juntos, concluímos juntos. Tenho. Garantido, porque desde quando eu me entendi eu sempre eu fui garantido...não sei...a minha família é repartida, inclusive, agora, agora, quando eu não tinha meus filho(s) na minha família minhas irmãs umas era garantido outras, caprichoso. Ontem mesmo me contaram, quando eu fui pra igreja, quando eu cheguei, eles já tinham uma notícia que tinha acontecido um acidente em Faro, Terra-Santa, uma coisa assim.
Informante 05/ 48 anos – Técnica Administrativa em Escola Pública O meu boi de preferência é o garantido, mas é porque desde quando eu nasci mesmo a minha família ... alguns tios, parente(s) meu já tinham esse envolvimento no garantido né e foi crescendo ... e eu sou garantido. Eu sou Conselheira agora, Conselheira do Boi Garantido. O trabalho de Conselheiro é fiscalizar todo o dinheiro que no boi: pagamentos, retiradas. Isso tudo. Conselheiro tem que tá fiscalizando dinheiro no boi. Foi esse acontecimento que houve recentemente né e aí não deu pra mim participar só a Isabel que é Conselheira também, ela foi. Um acontecimento também que houve foi uma formatura do pessoal do Serviço Social.
3.7.8 Comentários sobre a Fala dos Informantes Femininos com Ensino Médio com
Idade entre 18 e 60 anos
Mais uma vez houve o caso de regência verbal na frase Ir na festa duas vezes, nesse
caso o diferença está no uso da preposição em + artigo, enquanto que a regência prescrita é a
preposição a para o verbo ir indicando direção. A marca de plural apenas no determinante
como E depois, agora de eu tá com meus filhos eu consegui meus estudo(s), mesmo tendo eles
e eles estudando também, em que o plural veio marcado apenas no determinante meus e
ausente no substantivo estudos, bem como na frase Domingo eu gosto de ficar em casa com
meus filho(s), família né e brincar de bola, às veze(s) na rua, em que há ausência demarca de
plural na no substantivo filhos. O uso do sufixo –mente foi identificado em frases como O
Festival Folclórico de Parintins no mês de junho especificamente nos três dias de festival./
Relacionado ao festival não, mas eu trabalho normalmente. Encontramos nas frases a seguir o
uso do sufixo -inho Não me canso não, quanto mais limpinho pra mim melhor, em que a
palavra assume o significado igual a muito limpo. Nesta frase Aí passou a viagem todinha
implicando que a mulher não tinha cabelo, o uso do sufixo –inho confere a palavra o sentido
duração da viagem, ou seja, durante a viagem. Na frase Eu sou mais caseira...entenderemos
melhor o sentido da palavra caseira quando lermos a frase anterior que acompanha tal frase
Eu não sou de tá na praça, ou seja, o informante disse que não costumar sair com freqüência
para se divertir, preferi fica em casa. Nesse sentido, a palavra caseira formada pelo sufixo –
eira, no Dicionário Houaiss, é considerado um regionalismo do Norte do Brasil e significa
mulher que faz o serviço de casa, o que lhe confere um uso adequado do sufixo –eira usado
para formar nomes de agente. Porém, não é esse sentido que aflora quando se lê as duas
frases. Como foi falado antes a informante se refere a freqüência com que sai de casa para se
divertir. Afirma-se isso, porque essa resposta foi dada a pergunta que tipo de diversão você
mais gosta? Quando trata-se de complemento observa-se que o pronome ele também aparece
como objeto do verbo levar na frase Eu levo eles no parquinho, ou ainda na mesma frase o
uso da preposição em + artigo para o verbo levar, enquanto que a regência prescrita é o uso da
preposição a. Na frase Quando foi de manhã, eu vi a mulher...tirou o lenço né aí chamei ela
pra mostrar pra ela que ela tava enganada, o verbo chamar tem como complemento o
pronome ele. Na frase Saio dez horas aí eu retorno de novo duas horas há o uso redundante
da locução adverbial de novo, pois esse sentido já está presente na palavra retorno.
3.9 Itens Lexicais Identificados na Fala dos Parintinenses
Enfim, como afirmou Perini (2005) os indivíduos possuem um dicionário mental que
armazena as palavras que se aprende ao longo da vida, por isso é que se apresenta a partir de
agora o léxico característico observado na fala dos Parintinenses entrevistados.
Baixa – bairro tradicional da cidade de Parintins. Está situada a oeste do município,
local considerado berço da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido.
Festival – os parintinenses preferem usar apenas a palavra festival como referência a
festa que é intitulada como Festival Folclórico de Parintins.
Ataque – palavra usada no sentido de sintomas de doenças.
Caprichoso – Associação Folclórica que representa as cores azul e branco
Garantido – Associação Folclórica que representa as cores vermelho e branco
Davi Assayag – cantor que iniciou carreira na Associação Folclórica Boi-Bumbá
Caprichoso, porém fez sucesso e tornou-se notório na Associação Folclórica Boi-Bumbá
Garantido em que passou cerca de quinze anos e, atualmente, causou polêmica, porque trocou
de Associação, ou seja, voltou à Associação Folclórica Boi-Bumbá Caprichoso.
Bumbódromo – construção com arquibancadas. Trem a forma de uma cabeça de boi.
Local onde são realizadas as apresentações dos Bois-Bumbás Garantido e Caprichoso. Há
certa confusão quanto à pronúncia dessa palavra, pois é comum ouvirmos a pronúncia
bumbódrimo, em que há a troca da vogal o pela vogal i
Itapiranga – município do Estado do Amazonas
Santarém – município do Estado do Pará, próximo ao Município de Parintins.
chuvarada ou chuvada – chuva muito forte
chuvisco – chuva fina
sereno – orvalho
caolho ou cegueré – pessoa que possui apenas um olho
vesgo – pessoa com estrabismo
bustela – sujeira do nariz
perneta – pessoa que possui apenas uma perna
perna de alicate ou cambota – pessoa que possui pernas curvas
finado – pessoa que já morreu
mão-de-vaca – pessoa avarenta
beberrão – pessoa que toma bebidas alcoólicas
visagem – fantasma
macumbeira – pessoa que faz macumbas
benzedeira ou rezadeira – pessoa que tira mal-olhado, energias negativas
curador – pessoas que cuida de doenças através do uso de plantas medicinais
baladeira – barra com tiras de borracha, estilingue
currica – um tipo de pipa feita sem vara
manja – brincadeira de pega-pega
paneiro – cesta de cipó
carapanã – pernilongo
tocó – animal sem rabo
odor embaixo das axilas – cecê
papagaio – pipa
pessoal – usado no sentido de conjunto de pessoas, a turma, os amigos.
um bocado - relacionado a quantidade, a uma porção de alguma coisa ou pequena
quantidade de algo.
galeroso – o mesmo que marginal
caboco – o mesmo que caboclo
bilharito – jogo de bilhar ou sinuca
boato – notícia muito propalada
sacrificoso - o mesmo que sacrificante
panfletagem – refere-se a ação de panfletar
camarada – regionalismo brasileiro, considerado de uso informal que tem como
significado individuo ou pessoa.
3.10 O Boi-Bumbá e a Fala/Cultura de Parintinenses
Ainda sobre as falas dos informantes, mas desta vez os reunindo em apenas uma
categoria, a de ser parintinense vamos comentar-se-á um aspecto cultural presente nessas
falas. Não haverá identificação da numeração de informantes, pois o foco de análise estrá no
conteúdo coletado. Tratar-se-á, pois, da questão de preferência por boi-bumbá para saber
quais aspectos influenciam nessa preferência e como isso se expressa através da linguagem.
Quando se fez a pergunta aos informantes sobre qual era o boi-bumbá de preferência foram
dadas as seguintes respostas.
Então, como de praxe todas as pessoas nascidas em Parintins, do lado de baixo da ilha, é caprichoso. Caprichoso, porque eu acho assim o caprichoso, a cultura dele, a formação dele assim são pessoas assim que eu considero eles honestos entendeu? Eu sempre gostei de ser caprichoso, mas sou garantido, no caso, vermelho... Eu morava com minha avó e ela era garantido e fluiu, consegui me vencer pra lá. Fui criado torcendo pelo boi. Todos da minha família são garantido. Olha só, é...o fato de minha família toda ser garantido eu ia sempre de noite pro garantido, Então, eu trabalhava lá na beirinha do curral. Aí eu passei uns seis anos trabalhando lá Agora aqui em casa não, aqui em casa são dividido(s). minha mulher é do garantido, a minha filha também é do garantido, já a minha família por parte de mãe e pai todos são garantido. Eu sou caprichoso. Minha família é toda, praticamente, todo mundo azul e branco, caprichoso né. Sou caprichoso doente. Os meus filhos são garantido e a minha mãe, meu pai e meus irmãos são todos garantido. Eu sou a ovelha negra da família. Caprichoso, hum, acho que é porque eu nasci no... é...onde é o curral onde também tá a maior torcida. Desde que eu cheguei aqui em Parintins que eu observei essa brincadeira de boi-bumbá eu sempre dizia que eu torça pelo garantido, mas não é assim... que seja fanatismo né. É o garantido, porque eu me identifiquei mais com as pessoas de lá.
Bem, eu não tenho assim muita preferência por boi, mas sempre que .... se alguém me pergunta, me faz essa pergunta é ... seria o garantido né pelo fato de eu estar mais próxima e que se relaciona, se relaciona mais com as pessoas humildes, mexe mais com essa .. com essa ... que fala muito assim o dia-a-dia do caboco mesmo. Caprichoso, pela cor. Eu gosto muito da cor e também por causa da minha família que, praticamente, foi herdada, passada de geração em geração meu pai foi criado no Aninga, minha mãe é de lá, então é por isso. Eu gostava assim desde criança do caprichoso...assim só eu e uma irmã minha que somos torcedoras do caprichoso. Acho que ... por toda a família ser garantido e pela questão dele me emocionar mais. Eu sempre gostei de vermelho, eu gosto de cores vibrantes, fortes. Ser garantido é vibração. Tenho. Caprichoso né, porque na minha origem, na minha família quando eu me criei assim, todo tempo toda a minha família quase que era caprichoso e eu acho que isso veio. Caprichoso, porque eu gosto do azul. Garantido é uma tradição de família, na verdade, minha mãe morava lá na Baixa. Tenho. Garantido, porque desde pequenininho...alguns garantido outros caprichoso. meu pai não gosta de boi, minha mãe é garantido...é por causa das toada(s). Tenho, caprichoso. eu gosto da cor azul e eu acho que ele é o mais bonito...e a cor é mais bonita. Garantido. Que eu...garantido mesmo...eu gosto da cor mesmo. Tenho pelo caprichoso. não sei. Acho que é porque fui criado próxima do curral. vixi... o boi do coração, o garantido, porque quando eu nasci que eu me entendi na família o pessoal já era a maioria já era garantido: minha mãe, minha avó, meus tios. Caprichoso. Eu sou do lado do azul desde ... toda a minha família é caprichoso. Desde pequeno é ... torço pelo azul. Preferência mesmo, assim não. Torço pelo caprichoso, mas não sou aquele torcedor assim de gritar, de sair até mesmo de dançar. Foi quando ... o que eu me identifiquei primeiro assim até pela cor também né que é azul. Por causa do boi mesmo, não sei. Simpatia mesmo assim. Olha muito, muito não, como fanatismo não, mas como a minha família, as minhas filhas ela torce pelo caprichoso eu acompanho. Garantido. É porque ... porque eu gostei do garantido mesmo. Minha filha, minhas duas filha(s) são garantido. Eu gosto. Elas são pequena(s), mas ficam cantando a música do garantido. Eu gosto né. Perrexé. Caprichoso. ah! Porque eu gosto da cor azul e branca, porque eu já me entendi é vendo a minha família toda torcendo pelo boi e pra mim o azul ta em todo lugar. Eu desde pequena sou garantido. Caprichoso. eu acho que é porque ... foi desde pequena indo assim no curral do caprichoso. Pelo caprichoso. Pelo motivo que a minha filha dança né. Ela dança na trupe mirim, meu irmão também ele é coreógrafo e também por eu dançar um bom tempo também lá. Aí desde lá eu comecei a gostar então. Eu freqüentava mais o caprichoso, mas a emoção é mais forte é no garantido. Tenho. Garantido, porque a gente cria amor né. Nasci bem dizer na Baixa e bem dizer me criei ali na Baixa. Depois que eu vim morar pra cá, lá perto do curral, porque eu morava na Nações Unidas perto do São José. Sou torcedora, mas não vou muito no ensaio não. Ah! Caprichoso, porque não sei. Desde pequena é só mais caprichoso, por isso que eu fiquei assim, desde criança. E eu gosto do caprichoso... da cor, das toadas. Boi caprichoso, porque desde pequena minha mãe, meus pais torcem pelo caprichoso. Já é de família isso.
Garantido, pelas toadas dele...na minha casa é...tem uns que são garantido, tem uns que são caprichoso. Garantido, pelas toadas dele...na minha casa é...tem uns que são garantido, tem uns que são caprichoso. O meu boi de preferência é o garantido, mas é porque desde quando eu nasci mesmo a minha família ... alguns tios, parente(s) meu já tinham esse envolvimento no garantido né e foi crescendo ... e eu sou garantido.
3.11 Análise de Trechos de Fala dos Informantes: O Boi-Bumbá e a Fala/Cultura de
Parintinenses
Entre as respostas dadas, observa-se que a preferência por boi-bumbá implica outras
denominações como: ser Garantido ou ser Caprichoso. O sentido de ser Caprichoso ou ser
Garantido revela a identificação do informante levando em conta fatores como a influência da
família, isto é, desde a infância, muitos desses informantes foram expostos à brincadeira de
um dos bois-bumbás que com o tempo foi se tornando preferência. Outro fator é a local onde
o informante reside. É sabido que a cidade de Parintins apresenta certa divisão em virtude do
local onde residem os torcedores dos bois Garantido e Caprichoso. Dessa maneira, os bairros
tradicionais como Francesa e Palmares são apontados como o lado azul da cidade, ou seja,
onde há, provavelmente, o maior número de torcedores do Boi Caprichoso. Por outro lado, os
bairros de Itaguatinga e São José Operário são apontados como bairros tradicionais onde há
provavelmente a maior torcida do Boi Garantido. Um fator que contribui na preferência dos
informantes por determinado boi-bumbá é quando uma pessoa se identifica com o boi-bumbá
independentemente do local onde mora e da influência da família; isso muitas vezes por meio
de amigos que saem em grupo para se divertirem ou a oportunidade de trabalhos em uma das
Agremiações de Boi-Bumbá. Quando o informante diz que é Garantido ou que é Caprichoso
ele também está definindo sua identidade cultural e sua identidade como parintinense,
torcedor por um boi-bumbá. O uso do verbo ser revela parte dessa identidade parintinense sob
o aspecto cultural.
3.11 Considerações sobre a Análise de Variação Dialetal de Parintins Nesssa análise foram tratadas questões sobre as variações dialetais de Parintins e foi
constatado que as variantes fonéticas sofrem um processo de palatalização, o que se torna uma
característica do sotaque do parintinense. Esse processo de palatalização tem ocorrências
notáveis com informantes do sexo masculino e feminino, com escolaridade entre Ensino
Médio e Ensino Superior e com idade entre 18 e 60 anos. Quanto aos aspectos gramaticais
abordados nessa análise, verificou-se, que no uso informal da língua, a preocupação com a
própria linguagem é posta de lado para que se expressem mais o conteúdo, ou seja, o que se
fala e não o como se fala. Dentre esses aspectos gramaticais estão: a) eliminação da marca de
plural em substantivo, permanecendo este apenas nos determinantes; b) uso de pronome ele
como objeto, como um processo de pronominalização do objeto, isto é, uma maneira de
construir o sujeito, embora diferente daquilo que prescreve o uso padrão da língua; c) a
formação de palavras através do uso de diversos sufixos que a cada contexto adquiriam sua
significação, por exemplo, o sufixo –inho e o uso de léxico característico identificado na fala
dos parintinenses.
Tal análise mostra que, de um lado está aquilo que a gramática normativa prescreve
como uso padrão; de outro lado identificou-se o que, de fato, é usado pelos falantes em
situações reais de comunicação. O uso informal e menos tenso da língua acaba por criar esse
divisor de águas no estudo da linguagem. Assim, de tudo que foi tratado neste capítulo há que
se concordar com Bagno (2007: 168-169):
A língua é uma atividade social, ela é parte integrante (e constitutiva) da vida em sociedade. Por isso as mudanças que ocorrem na língua são fruto da ação coletiva de seus falantes, uma ação impulsionada pelas necessidades que esses falantes sentem de se comunicar melhor, de dar mais precisão ou expressividade ao que querem dizer, de enriquecer as palavras já existentes como novos sentidos (principalmente sentidos figurados, metafóricos), de criar novas palavras para dar uma idéia mais precisa de seus desejos de interação, de modificar regras gramaticais da língua para novos modos de pensar e de sentir, novos modos de interpretar a realidade sejam expressos por novos modos de dizer.
As palavras de Bagno (2007) são pertinentes à concepção de língua que foi adotada no
primeiro capítulo, em que se tratou de linguagem, língua e sociedade, em que a língua é um
sistema heterogêneo e a análise da estrutura lingüística tem como foco a variação, ou seja, a
língua varia impulsionada pela necessidade dos falantes.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
A Sociolinguística ao conceber a língua como um sistema heterogêneo, que sofre
variações conforme as relações sociais que a influenciam, coloca como centro da análise
linguística a variação linguística. Nesse caso, a pesquisa sobre as Variações
Dialetias Parintinense é um estudo das varições linguísticas identificadas na fala dos
parintinenses e de suas relações com o contexto sociocultural da cidade de Parintins. A análise
das Variações Dialetais Parintinense é feitas em duas etapas: a) análise das ocorrências
fonéticas e b) análise de trechos de fala dos informantes.
A pesquisa traz como resultados a análise de aspectos fonéticos alcançados através dos
procedimentos da Sociolinguística Quantitativa que opera com dados estatísticos visualizados
em tabelas em que constam os números de ocorrências de cada varição fonética e o percetual
correspondente. Nessa análise, constatou-se que os aspectos fonéticos no dialeto parintinense
sofrem um processo de palatalização de consoantes, ou seja, as consoantes quando
acompanhadas da vogal /i/ assimilam seu ponto de articulação e modificam a articulação da
consoante, como se pôde ver com as consoantes /s/, /z/, /l/ e /n/ em que o som paltalizado
dessas consoantes são respectivamente [ʃ[, [ʃ], [ʎ] e [ɲ]. Constatou-se, ainda, que no sotaque
parintinense há a ocorrência da pronúncia da consoante /r/ como uma fricativa glotal, cujo
som é representado pelo símbolo [Һ].
A análise de trechos da fala dos informates seguiu os procedimentos da
Sociolinguística Qualitativa. A coleta de dados foi realizada com a utilização de questões
discursivas, porque elas trariam mais naturalidade às respostas dos informantes. Desses
trechos de falas pôde-se observar aspectos morfológicos e sintáticos em que se constatou o
uso de sufixos comuns na linguagem coloquial, uso do sufixo –inho com valor afetivo ou
intensificando o sentido da palavra, o uso do sufixo –ão para formar aumentativo de palvras
com aumentativo irregular; casos de regência verbal não prescritos na gramática normativa,
em particular, com o verbo ir indicando direção em que as preposições mais usadas estão:
em+a,em; construções sintáticas simples com frases curtas e pausadas com uso frequente de
dêiticos, como aí, lá, aqui, agora; uso da marca de plural em determinantes e não nos
substantivos; uso de pronome reto no lugar de pronome oblíquo, em complementos de verbos,
aférese do verbo está consagrado no uso coloquial, como ta, tô, tamos, bem como a
preferência pelo uso de a gente em lugar de nós.
Os aspectos culturais na cultura parintinense são bastante marcados linguísticamente
pelo uso de expressões e léxico característico da região e da cultura do Boi-Bumbá, como a
palavra bumbódromo (local de apresentação dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso),
galeroso (marginal, bandido), carapanã (pernilongo). Esses apestos culturais fazem parte
daquilo que se chama identidade social, cultural e linguística do parintinense. Além disso,
pode-se afirmar que esses aspectos são abordados na festa mais destacada da cidade, o
Festival Folclórico de Parintins que tem contribuído para reafirmar a identidade cultural do
parintinense e do amazonense. Dessa maneira, o aspecto cultural é bem marcado nas
atividades turísticas da cidade, sejam através de datas, seja pela resistência da cultura a
globalização. Mas, de fato, o Festival Folclórico de Parintins é a atividade mais destacada
entre as outras, tanto pela criatividade e grandiosidade, como pelo resgate das heranças
culturais e a reafirmação da identidade cultural.
A pesquisa sobre as variações dialetais parintinense, como se observa não está
reduzida à análises linguísticas, pois houve uma pesquisa sobre a formação histórica do
Município de Parintins, seus primeiros colonizadores, portugueses, e os nativos, tribos
indígenas, que habitavam a região desde 1.600. Essa miscigenação resultou em um povo
caboclo com heranças indígenas na culinária, costumes, crenças, bem como somadas as
heranças dos colonizadores, em particular os portugueses, como na religiosidade. Nesse
contexto, não se esqueceu de situar essa formação histórica do município à formação histórica
do Estado do Amazonas. Na constituição da sociedade parintinense constatou-se a presença
significativa de imigrantes, como italianos e japonense, e migrantes, como nordetinos e
habitantes de municipios que fazem parte da mesma microrregião de Parintins. Tais
considerações, demosntram que estudar uma variação linguística de determinada comunidade
vai além da análise linguística, uma vez que essa se esgota e entre em cena a análise
sociocultural que enriquece a pesquisa e oferece uma visão ampla sobre Língua Cultura e
Sociedade Parintinense.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALKMIN, Tânia Maria (2001). Sociolingüística. Parte I. In: Mussalin, F. e Bentes, A. C.(orgs.), Introdução à Lingüística: Domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez. BAGNO, Marcos; STUBBS, Michael; GAGNÉ, Gilles (2002). Língua Materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola. BECHARA, Evanildo (2002). Moderna Gramática Portuguesa. 37. Ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna. CALVET, Louis-Jean (2003). Sociolingüística: Uma Introdução Crítica. 3 ed.São Paulo: Parábola. CAMACHO, Roberto Gomes (2001). Sociolingüística. Parte II. In: Mussalin, F. e Bentes, A. C.(orgs.), Introdução à Lingüística: Domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez. CARVALHO, Castelar de (2002). Para Compreender Saussure. 9 ed. Petrópolis: Vozes.
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