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H ..,,> - u l-MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO JULHO/AGOSTO 81 - N 0 4 - CRS 50,00 LONDRES VAI EXPLODIR !M E LONDRES EXPLODIU. A MÚSICA DE BOB MARLEY 13/05 DIA NACIONAL DE DENUNCIA CONTRA O RACISMO 07/07- TRÊS ANOS DE M-N-U- ENTREVISTA COM DIRIGENTE SINDICAL NEGRO

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l-MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO JULHO/AGOSTO 81 - N0 4 - CRS 50,00

LONDRES VAI EXPLODIR !M

E LONDRES EXPLODIU. A MÚSICA DE BOB MARLEY

13/05 DIA NACIONAL DE DENUNCIA CONTRA O RACISMO

07/07- TRÊS ANOS DE M-N-U-

ENTREVISTA COM DIRIGENTE SINDICAL NEGRO

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Hé 'B EDITORIAL

Os meses de maio e junho, foram mar- cados por acontecimentos que bem expressam o momento político atual e as perspectivas futuras para a popula- ção trabalhadora e negra de todo o país. Isto sem falar da forte onda de repressão a que estão submetidos os negros e os trabalhadores em virtude da recessão econômica internacional, provocando o desemprego massivo em todo mundo.

Ao 19 de maio, antecedeu-se um atentado terrorista durante um show no Rio de Janeiro para arrecadar fundos para vários movimentos populares. Neste episódio o feitiço virou contra o feiticei- ro, e os elementos do famoso órgão de repressão política, o DOI - CODI; o Capitão de exército Wilson Machado, saiu gravemente ferido, e o Sargento Guilherme Pereira, morreu na explosão. Ambos foram pelos ares juntamente com suas bombas, ao tentarem explodi-las contra populares no Rio Center. Toda imprensa do país, é unânime em afirmar que as provas até aqui levantadas incri- minam os militares.

Vários jornais alternativos foram apreendidos pelos órgãos policiais como forma de calar os setores combativos popu- lares e encobrir as manobras e a conivên- cia do governo com o caso. Até dentro do exército há quem acredita que o terror esta sendo acobertado pela coorporação.

EXPEDIENTE

Diretor responsável Flavio Corranço

UTb - 12724

Chefe de Redação Hamilton Cardoso

Comitê Editorial Milton Barbosa

. Regmaldo Bispo Pereira

. Nenmho do Obaluaê

. L e n i oliveira

. José' Adão

. Cândido Hernondes

Correspondente na Inglaterra:

Meire Sonzago

O Tenente Coronel Nivaldo Dias, por exemplo foi, não só destituído de suas, funções como também punido com 20 dias de prisão, por fazer pronunciamento discordando da forma como vem sendo conduzidas as investigações, e exigindo seriedade e a apuração das responsabili- dades, "doa a quem doer".

O primeiro de maio, envolveu um número muito grande de trabalhadores nas manifestações de comemoração deste dia em todo o Brasil, apesar das comemo- rações oficiais e das tentativas de algumas correntes do movimento sindical tenta- rem se apossar e conduzir sozinhas as manifestações, tirando o caráter unitário das mesmas.

No 13 de maio, houve uma grande manifestação em São Paulo, chamada pelo Movimento Negro Unificado, que contou com a participação massiva da comunidade negra, sinal de bons tempos (veja matéria sobre 13 de maio).

Nos dias 26 e 27 de maio ocorreu o I Encontro Estadual, em defesa da Raça Negra, onde a conquista principal foi o fato de pela primeira vez várias corren- tes do movimento negro do estado, debaterem, com responsabilidade, uma estratégia comum de luta contra os principais problemas que hoje afetam a comunidade negra.

A greve da Fiat, foi sem dúvida a principal manifestação da consciência política - A mais forte expressão deste fato está na frase - "É preferível ser grevista na fábrica do que marginal nas ruas" - Demonstrando assim que a liga- ção marginalidade e desemprego é orgâ- nica, e que a política econômica do go- verno, assim como os imensos lucros conseguidos pelos patrões, tem sido os responsáveis pela miséria da popu- lação trabalhadora deste país. Que o

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governo ao invés de buscar solução para

este caos, atemoriza a população tra-

balhadora com violência policial, ten-

tando evitar com que a população exija

através de mobilizações políticas a

solução imediata destas questões. Em

ambos os casos a imprensa burguesa e

branca não noticiou uma só palavra. São

todas estas questões que nos animam

continuar com esta iniciativa, reafir-

mando sempre a nossa disposição de criar

uma imprensa negra, em desfesa das

reinvidicações da comunidade negra,

seus valores e sua história, e lado a

lado com todos os trabalhadores do

país buscar formas de superar o estado

de opressão em que todos vivemos..

Apesar de todas as dificuldades. A nossa

revista pra variar, continua com sérias

debilidades, não foi possível distribuir

as 5.000 revistas como nos propúnhamos, em dois meses, o que provocou o atraso

desta, pois dependia da venda da outra

para ser impressa. Distribuímos apenas

3.000 revistas. Por outro lado da nossa

meta de 500 assinaturas, efetuamos

apenas 200. Para completar o preço do papel e do material gráfico subiu assusta -

doramente, quase 50%, e não temos como

absorvê-lo, senão através do reajuste da

revista para Cr$ 50,00. Para regulamentar

a tiragem mensal da revista, estamos

lançando uma meta de 1000 assinaturas 10 meses, ao preço de Cr$ 500,00, ou

uma assinatura solidariedade com valor superior ao preço normal.

VIOLÊNCIA POLICIAL

assine a revista do

M.N.U. e divulgue-a

para os anm.gos

A população se organiza. . .

A família de Mário Oswaldo dos

Santos, músico negro assassinado no dia

31 de março deste ano, além da queixa

crime contra os policiais responsáveis

pela sua morte, vão exigir indenização do estado.

O Movimento Negro Unificado vem

acompanhando diretamente esse caso.

Distribuímos um manifesto na missa

de sétimo dia e recolhemos assinaturas

para a CAMPANHA NACIONAL

CONTRA A VIOLÊNCIA POLICIAL.

Na manifestação do dia 13 de Maio,

denunciamos mais uma vez o fato, e

seus familiares inclusive se posicionaram em praça pública.

Essas ações vem se somar aos trabalhos

de denúncias que estamos desenvolvendo

em todo o território nacional, dos crimes

cometidos pelo Esquadrão da Morte na

Baixada Fluminense, do grupo extermi-

nador chamado de Cravo Vermelho em

Minas Gerais e as freqüentes mortes realizadas pela Rota e pelo Tático Móvel

em São Paulo.

A morte de Mário Oswaldo dos Santos,

é mais uma das que acontecem quase que

diariamente nesse país, mas não ficará

impune, pois seus familiares e amigos

estão unidos com o MNU, nas mobili-

zações de denúncia á violência policial,

exigindo justiça aos policiais responsáveis

pela morte e indenização ao estado pela morte do músico.

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OS NÊGfPfOS QÜÇfíM CONTINUAR PROTESTANDO

carta JÍBéf»SOtfÍlft8éi63"AP Colação alertava à todos para que verificassem em suas casas e entre seus amigos, para péfeétíèf a i!graVte]adrytí^èrcftjÍÊrr^ do aê8èímpre^36f\io0 SráílP3 atí/af.u''ní'Queií mh' terTf!limramf'gostíi'áe'mprégac}ò hóle?*^ pefgúmáva ífifflUf ôddèüvn^tà.' r

Nàfcfònaíf; IV^ÍbVlârtSSi00- ism

abn .o 6mu zeaio r snína 'ítíveoibnívnis-i

BUnfim nneioê Sfógâfis-tbntfa o^áeíifrfò, • discursos é ouwos-ftiàni lestáçõés?i Ürüíí-de dois mil negros protestaram no ôWfttó^tlra

oli ctó.Maio no tar^o <ío Pàí^áüdÜ è, oas escâdat-ias. do teatro Munidpàf/tJara lambrarfassim^a passB^em^db Dítí-f^aòlõ- mi de ^EJenoncia' 'toritra^ ó" Tíáciáftfb. Outras -'manifestações 'fd^ám' réâíízáda's ?m Betó iHorizorrteptSãtVãdort 'Ríõ' de Janeiro,; Brasília.'.Oi ato foi ól-^ànizâdò pelo.eMoWmento Nfegrd Unificado e coptou com o apoio de várias outras entidades democráticas da .sociedade brasileira, como Movimento Custo de Vida, União Municipal dos Estudantes Sçcundaristas, Associação das Emprega- das Domésticas de São Paulo.

A maioria dos discursos criticaram- o atual governo e centraram-se princi- palmente no problema de desemprego. "As maiores vítimas dos desemprego somos nós", dizia um dos membros da Executiva Nacional do MNU. A

Biápó^Pérelf^cfêi^Mrai i cresci

F-e ;Wnalc_ am também a

ácente violência policial que vem i*í .. c .;..-',-. mfiítBfí^ Bt2ÍlGÍ0O3 010

atingindo a popufaçab negra: nos somos esmagados psicologicamente; esta e a tarefa da policia: destruir as nossas mentes para rn,élHdir'¥{ôiitíforti>irfâ,ri,, âisse Miltòh'. Dòriá 'Geràlda Severino, domés- tica e membro fundadõVa 8a Associação de sua categoria,' foi "bastante aplaudida quando disse que as domésticas são tra- tadas como escravas tiela Sociedade brasileira: "fui doméstica toda a minha vida e tratada de forma desumana. Eu trabalhei para que vocês, os jovens, hoje

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tivessem mais condição de lutar por nossa gente. E vocês tem que assumir esta responsabilidade, porque eu não sei se vou ter tempo ainda para travar as principais batalhas. . . Vocês têm que garantir a continuidade de nossa luta", disse, do alto da experiência de seus mais de 50 anos de vida. Ela também concla- mou as mulheres negras à luta: "nós somos mulheres e temos que conseguir um lugar ao sol. Temos que lutar, junto com os nossos companheiros que só serão realmente companheiros se compreenderem a nossa luta e dela participarem ativamente; as mulheres negras, no entanto, têm que se organizar. Se organizar e lutar, como domésticas ou na posição que ocuparem na socieda- de. Eu fui doméstica e sempre lutei enquanto tal.. ."

UMA DATA IRREVOGÁVEL

As manifestações do Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo vem sendo realizado desde o ano de 1978, quando o clube 220 comemorava ainda o dia 13 de Maio. Naquela época, as entida- des negras como CENTRO DE CUL- TURA E ARTE NEGRA e outros grupos tais como o grupo Decisão e o Núcleo Negro Socialista debatiam sobre a con- veniência, ou não de se participar das comemorações da abolição da escravatu- ra, já que acreditavam que o 13 de Maio não foi mais que uma farsa do sistema dominante no BrasJI. O CECAN dizia que todos deveriam ignorar a data, ao passo que os outros dois grupos pro- punham a realização de manifestações. Numa Assembléia reunindo militantes e simpatizantes de todos os grupos decidiu-se desenvolver atividades de

denuncia naquela data e em 13 de Maio de 1978 foram distribuídos ma- nifestos á população denunciando a abolição da escravatura e a ineficiên- cia da Lei Áurea para o progresso social da população negra. Naquele mesmo ano, no dia 7 de Julho foi criado o Movimento Negro Unificado, em ato público nas escadarias do Teatro Mu- nicipal.

Um ano depois, o mesmo Movimen- to Negro Unificado aprovou a distribui- ção de cartas e a exibição de faixas de denuncia da abolição durante as mani- festações do clube 220. Assim, em 13 de Maio de 1979, enquanto as autoridades comemoravam a data, os militantes do Movimento Negro Unificado marcavam a sua presença entregando uma carta aberta ao governador do estado, onde reinvindicavam entre outras coisas uma resposta aos processos abertos contra policiais que assassinaram cidadãos con- siderados suspeitos pela polícia. A carta, por pressão dos presentes foi lida pelo ex-presidente do clube 220, Frederico Penteado, que suava, a cada frase. Inicia- ram-se então as manifestações do Dia Nacional de Denuncia Contra o Racismo.

Com a morte de Frederico Penteado, não ocorreram as tradicionais comemo- rações do 13 de Maio, durante o ano de 1980. Ocorreu, no entanto, um ato pú- blico dirigido pelo MNU, que contou com não mais que 500 pessoas. Este ano, no entanto, apesar do clube 220 ter voltado a comemorar a data, o ato público de Denuncia contra o Racismo reuniu mais de duas mil pessoas. Ao final, quando todos estavam nas escadarias do Teatro Municipal e foi anunciado o final da manifestação, os presentes variam. Eles queriam continuar os protestos.

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COHTRA 0~RACI^H( KniRRAEXfLDKnOT 201Í1-HER HEERR

NOS DIAS 18, 19 e 20 de ABRIL O MNU. REALIZOU O SEU 119 CONGRESSO NACIONAL, NA CIDADE DE BELO HORIZONTE

De 18 a 20 de abril, delegados do

Movimento Negro Unificado dos estados

de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas

Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul, estiveram reunidos analisando o que

foi a atuação do MNU no ano de 1980.

Participaram também, convidados es-

peciais, de São Paulo, Rio de Janeiro,

Minas Gerais, Maranhão, Alagoas, Mato

Grosso do Sul e de Brasília.

Novamente foram reafirmados como

pontos principais de luta, a luta contra

o Desemprego e contra a violência poli-

cial.

Em relação ao desemprego analisamos

a nossa atuação no decorrer do ano de

1980, quando cometemos graves erros

e desvios.

No I Congresso, já prevíamos o de- senrolar da crise econômica e suas con-

seqüências para o proletariado como um

todo, com implicações mais graves ainda

recaindo sobre a população negra.

Em vista disso traçamos uma política

de combate ao desemprego a fim de

exigirmos que a própria burguesia assu-

misse a crise que ela mesma criou. Mas na

hora de encaminharmos a luta não tive-

mos claro quais os setores principais de

mobilizações, e em conseqüência muito

pouco conseguimos realizar em relação

a essa questão.

Não conseguimos organizar no interior

da comunidade negra inclusive, a

discussão ern torno desse ponto, e não

nos fizemos presente nos sindicatos exi-

gindo discussão e formas de combate ao

desemprego.

No II Congresso ficou definido que a

área fundamental de luta deverá se dar

junto à classe trabalhadora, com atuação

permanente do MNU nos sindicatos,

discutindo o desemprego e criando

formas de combate através de greves e de grandes mobilizações da rua, colocando

de forma bem clara que quem deve pagar pela crise econômica é a burguesia.

Em relação à violência policial, embora

tenhamos realizado importantes ações de

denúncias, muito pouco conseguimos em

termos organizativos, e não conseguimos

canalizar a sede de justiça, principalmente

da população neg-a.

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Lançamos em junho de 1980 uma

campanha que se propunha a arrastar

nessa luta todos os setores democráticos

do país, mas tal não aconteceu, pois

não demos a organização necessária

para se levar uma luta conseqüente

contra a violência policial que mata

diariamente. Não discutimos com a

comunidade negra principalmente, sobre

a questão da violência, que assombra

constantemente os negros na rua, nem

conseguimos levar essas discussões para

os bairros periféricos, que é onde a

polícia age com maior arbitrariedade.

A luta contra a violência policial

é um combate permanente a ser levado

pelo MNU, através de debates esclare-

cedores da opinião pública e atos públi-

cos de protestos, sempre mostrando a

relação entre desemprego e violência

policial, pois os conflitos sociais aumen-

tem na proporção em que se acentua a crise econômica e o remédio apresenta-

do pelo sistema é reprimir cada vez mais

a população explorada tentando evitar

dessa forma que ela se organize.

Essa luta será organizada pelo MNU

principalmente nas entidades naturais

da população negra, nas escolas de

samba, terreiros de candomblé e umban-

da, clubes recreativos, blocos e afoxés;

denunciando as violências policiais, atra-

vés do rádio, televisão, jornais e revistas;

distribuição de cartas abertas à população

e orientando juridicamente às vítimas.

A Questão da Mulher, a Questão

Cultural, Homossexualismo e Machismo,

foram outros pontos onde se tirou impor-

tantes decisões. Em relação à mulher negra aprovou-se

uma proposta de realizações de Encontros

Regionais, Estaduais e um Congresso

Nacional para encaminhar as lutas funda-

mentais da mulher negra; e uma atuação

mais profunda junto às empregadas do- mésticas, reivindicando seus direitos tra-

balhistas, e buscar apoio junto às classes

trabalhadoras às associações das empre-

gadas domésticas. O MNU que tinha como uma das suas

grandes falhas a falta de um posiciona-

mento claro em relação à cultura negra,

nesse Congresso tirou posições orienta-

doras de como atuarmos na área cultural. Reafirmamos a nossa posição baseada

no princípio de defendermos permanen-

temente a independência das manifesta-

ções culturais negras. Foi aprovada uma

campanha de denúncia de demascara-

mento da linguagem racista, na sociedade

brasileira, seja em relação aos "ditos

populares" ou em relação aos meios de

comunicação de massa, denúncia do pro-

cesso de descaracterização, exploração e

destruição das manifestações e dos valo-

res culturais negros, e demascaramento

dos falsos representantes da cultura negra, que dela se utilizam com fins

promocionais, eleitorais e outros.

Uma discussão que vinha amadure-

cendo no interior do MNU era referente

ao seu caráter enquanto um movimento

político que se propõe a dar resposta

a questões fundamentais da população

negra. Nas discussões do Congresso o MNU

definiu o seu caráter, enquanto movi

mento Autônomo, que se fundamenta

no método democrático, e comporta

diversas correntes, que se comprometem

com os documentos básicos, a linha po-

lítica e as prioridades estabelecidas pelo

conjunto do movimento, e busca viabi-

lizar a solidariedade junto aos movi-

mentos negros e progressistas.

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Entendemos o II CONGRESSO NA- CIONAL DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO como um importante avan- ço na luta do negro e dos oprimidos em geral, pois foram aprofundadas discussões fundamentais para o negro e para o con- junto da população, e importantes passos foram aprovados no processo de correção de um movimento inserido na dinâmica social, e que busca soluções para as questões fundamentais que se colocam hoje para a humanidade como um todo.

il CONGRESSO DAS COMUNIDADES

NEGRAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Organizado pelo Grupo de Vigilância Popular, realizou-se nos últimos dias 9 e 10 de Maio, no Ginásio de Esportes do Pacaembú, em São Paulo, o 19 Congresso das Comunidades Negras do Estado de São Paulo. Compareceram apenas os representantes do MNU, do grupo de secundaristas negros e do Presidente da Câmara Municipal, Paulo Rui de Oliveira, apesar das notícias de que deveriam estar presentes representantes de todas as entidades negras do Estado. Ao invés dos mil assistentes anunciados, apenas 70 pessoas comparecerem para assitir ao envontro. Ramauri, o líder do

GVP, culpou a comunidade negra pelo insucesso do Congresso declarando: "os negros de São Paulo querem nos boico- tar". O milhar de cartazes distribuídos pela cidade ostentando o rosto de uma menina negra foram mandados imprimir por uma empresa de poupança da capi- tal".

"AGVP esta totalmente

desvinculada da rea-

lidade ■ • • da comuni-

dade negra."

Numa tentativa de salvar o congresso, que também foi promovido pela empresa de comercialização de culturas negras, a ACACAB, foi oferecido ao final dos debates de domingo um coquetel, trans- formando, assim, o congresso, numa tarde dançante. Apesar disto, o segundo dia foi uma repetição mais desastrada do primeiro. Menos entidades e menor nú- mero de assistentes.

O grupo de Vigilância Popular é um grupo formado por uma maioria de negros desempregados e sub-empregados, que aglutinados sob a promessa de conseguirem empregos ingressaram ao final do ano passado no Partido Popular, sob a liderança de Ramauri, agora conhe- cido também como Fuluki Nambi. Du- rante seis meses o grupo trabalhou em regime de período integral em busca de filiações ao PP, sendo expulsos recen- temente, em conseqüência de "inabili- dades de seu dirigente", segundo um dos membros da ARPAB-Associação de Renovação Política Afro-Brasileira, um grupo de liberais negros integrantes do Partido Popular.

Em busca de uma explicação para os insucessos do congresso alguns líderes e representantes negros presentes analisa- vam a prática do GVP como "totalmente desvinculada da realidade social e política da comunidade negra, apesar de ser composto por uma maioria de jovens oprimidos econômica e racialmente".

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I ENCONTRO ESTADUAL EM DEFESA DA RAÇA NEGRA

grupo discussão

O I ENCONTRO ESTADUAL EM

DEFESA DA RAÇA NEGRA, realizado

na PUC-Pontifícia Universidade Católica,

nos dias 23 e 24 de maio, marcou um

novo avanço político e organizativo nas

lutas da população negra. Endidades e

grupos de todo o estado de SP inclusive

uma do Rio participaram do I Encontro,

o Movimento Negro Unificado, Grupo

Negro da PUC, Participação Universita-

lista pelo Renascimento Humano, Grupo

Negro Cohab-Anchieta, Grupo Axé, Mo-

vimento Negro de Piracicaba, Centro de

Cultura e Arte Negra-CECAN, Grupo

Negro de Taboão da Serra, GANA de

Araraquara, MONEME de S. Bernardo

do Campo, ACCN de Volta Redonda, MSCCN de São José dos Campos, Chico-

Rei de Poços de Caldas, Grupo Negro da

Pastoral do Negro, ACAB do ABC,

CEAB de Carapicuiba, Grupos de Rio

Claro, Jacarei, Lins e Guarulhos.

cultura negra

Durante o Encontro cerca de 25

entidades discutiram a violência Policial,

o desemprego, participação político do

negro. Cultura, religião, educação e

opressão da mulher negra, objetivando

aprofundar o conhecimento destes pro-

blemas que afligem a população negra

e as formas de encaminhamento das

principais reinvindicações que nortearão

as atividades do Movimento Negro a

nível estadual. Foram levantados vários casos de

violência Policial e votou pela denúncia

permanente de todas as arbitrariedades da

policia e do Estado contra o negro;

elaboração de relatórios a ser enviados as

entidades que lutam pelos direitos huma-

nos, como a OAB—Ordem dos Advogados

do Brasil, ABI—Associação Brasileira de

Imprensa, CJP—Comissão de Justiça e Paz; às entidades de outros países que

desenvolvem esta luta, a ONU—Organiza-

ção das Nações Unidas e aos Governos

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dos países Africanos; Criação de um

grupo de Advogados para dar Assistência

Jurídica às vítimas da repressão e Violên- cia Policial.

O desemprego foi amplamente discu

tido pelos grupos como um problema

que é constante na vida da população

negra. Segundo a FIESP-Federação das

Indústrias de São Paulo, existem cerca de

2 milhões de desempregados só no

Estado de São Paulo. Por isso os grupos

colocaram a necessidade de exigir do

Governo medidas econômicas que garan-

ta o direito ao trabalho, garantido por

lei. Nesse sentido será lançado uma

Campanha Contra o Desemprego, através

de debates, reuniões, mostrando as ver-

dadeiras causas do desemprego e as con-

seqüências para o conjunto da população

da política econômica do governo. Foi

aprovada o apoio a proposta de mobili-

zação e greve geral em 19 Outubro;

redução das jornadas de trabalho sem

redução de salários e uma moção de

apoio e solidariedade aos trabalhadores

da FIAT, que responderam com greve

à ameaça de demissões, finalizando, foi

aprovado uma grande manifestação no

dia 20 de Novembro, Dia Nacional da Consciência Negra.

A participação política foi um tema

bastante agitado, a principal proposta

aprovada foi o incentivo à participação

do negro nos partidos comprometidos com a luta dos explorados e as lutas da população negra.

A questão cultural foi amplamente discutida e entre as várias propostas

aprovadas destaca-se a "Revisão da

História do Negro a partir dos currí-

culos escolares", é uma das reinvindi-

cações, segundo os participantes, mais

importante, pois os opressores deturpam

a história das lutas e de toda a vida de

um povo. Foi aprovado também a exi-

gência de uma auto-crítica por pcrte da

Igreja sobre o papel que ela desempenhou

durante a escravidão. A opressão da

mulher negra foi debatida e aprovou-se

a realização de Encontros Regionais de

Mulheres Negras, nos dias 19 e 20 de

setembro, onde serão mais aprofunda-

das as questões específicas das mulheres e suas lutas.

Manifestando solidariedade à luta

internacional do negro a plenária aprovou

uma moção de protestos contra os assassi- natos de Atlanta - EUA. Bem como

solidariedade a revolta dos negros de

Brixton, na Inglaterra, que foi uma reação

violenta contra o racismo, o desemprego e a Violência Policial.

A proposta dos EUA de criação do

pacto-Atlantido Sul, foi duramente re-

chaçada, pois sob pretexto de defender

o Ocidente este pacto objetiva a perpe-

tuação do domínio da minoria branca

facista, nazista e racista sobre nossos

irmãos da Azonia. E o Brasil torna-se

cúmplice deste projeto na medida em que

mantém relações diplomáticas e comer-

ciais com os racistas. Por isso o I ENCON-

TRO exige o rompimento total das re- lações com a África do Sul.

Ao nível organizativo foi aprovado

uma Secretaria Executiva para enviar

a todos os grupos de São Paulo e outros

Estados o Relatório do I Encontro. Foi

aprovado a criação de um Movimento

Negro Volante com a função de auxiliar

outros grupos, desenvolver atividades cul- turais, etc...

Estas foram as principais resoluções

do I Encontro Estadual em Defesa da

Raça Negra, que para o MNU, marca

um novo saldo político para a comuni-

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dade, na medida em que foi tirado

alguns pontos de lutas sobre as quais

■> Movimento Negro de conjunto dis- cutiu e votou as formas de dar um com-

bate organizado contra a opressão e o

racismo de que o negro é vítima.

VAMOS À LUTA VIVA 0 I ENCONTRO ESTADUAL

EM DEFESA DA RAÇA NEGRA.

MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO (lançado em Brasília)

Transcrito do jornal "Correio Brasi-

liense" do dia 13 de Maio de 1981: O

Movimento Negro Unificado do Distri-

to Federal se lança hoje, dia 13 de maio,

aqui em Brasília, objetivando juntar

nossas forças e lutar em defesa do povo negro em todos os aspectos políticos,

econômicos, social e cultural.

A linha de atuação se baseia na carta-

princípio do MNU, que busca a conquis-

ta de maiores oportunidades de emprego;

melhor assistência à saúde, à educação e

à habitação; reavaliação do papel do

negro na História do Brasil; valorização

da cultura negra e combate sistemático

à sua comercialização, folcloricação e

distorção; extinção de todas as formas de

perseguição, exploração, repressão e vio- lência a que somos submetidos e liber-

dade de organização e expressão do povo

negro.

PAI PEDIU PENA DE MORTE

PARA O FILHO?

O Sr. Sebastião José da Silva, ex-cam-

peão brasileiro de box, no dia 11 de abril

de 1981, escreveu uma carta ao Ministro

da Justiça Ibrahim Abi-Ackel, solicitando

a pena de morte para seu filho.

Esse fato foi apresentado no programa

Fantástico o Show da Vida", da T.V.

Globo, mas não se falou a ver-iade sobre

as intenções do ex-campeão brasileiro. 0 Sr. Sebastião nessa carta comentava

a sua vida difícil de trabalhador brasileiro,

mal pago e vitimado por injustiça por

parte de um ex-patrão, o que lhe deixou

em condições econômicas muito ruim,

com sua esposa vindo, em conseqüência, a falecer.

Falava de como seu filho caiu no

crime, e da falta de possibilidade de

reabilitação. Da falta de emprego, princi-

palmente para o ex-presidiário, e do

círculo vicioso do "entra e sai" da prisão,

e a violência do sistema penitenciário.

Sua carta denunciava as situações hu-

milhantes por que passa um presidiário.

Seu filho isolado em cela forte, não recebia visitas, e devido a esse sofrimen-

to êle escreveu ao Ministro solicitando pena de morte para o filho, pois seria

mais digno.

Enfim a carta termina convidando o Ministro da Justiça a visitar os presidiá-

rios, mas olhar de longe, pois se se apro-

ximar possivelmente poderão cuspir-lhe

no rosto.

\0

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PRISÕES

Preso Comum _ Preso Político

Ao entrarmos numa prisão, a gente

se vé obrigado a reformular várias coisas.

Reformular toda a nossa visão do mundo.

Levando em conta a nossa pouca in-

formação, que nos coloca, como pessoas

pouco aptas á definições com respeito a

vida e ao mundo, lá nos temos refletido,

tudo aquilo que nela e nele se encerra.

Existem governos, intelectuais, indus-

triais, comerciantes que se propuseram

a dirigir todo o conjunto social. Mas,

também existem aqueles, que por moti-

vos diversos, foram jogados à margem; Forçados, por fatores alheios à sua

vontade, lançados à ela por uma estra-

tégia dominadora, que acaba nos forçan-

do a uma atitude de revide. Somos os

marginais no sentido mais amplo do termo.

Quando se chega à uma prisão, tal

como, a "Casa de Detenção de São

Paulo", o primeiro sentimento, quase

sempre é o de culpa. Culpamo-nos dos erros cometidos contra uma sociedade

dita Justa. Após um determinado perío-

do, constatamos que fomos enganados.

Somos obrigados a tomar consciência

do engodo e refazer nossos pontos de

vista. O mundo exterior deixa de servir

de exemplo; Cai a máscara dos "Homens

de Bem". Passamos a ver, que nossa

visão do mundo fora deturpada por falsas informações.

Vemos que a "História" (do homem

branco, é claro!), é a nossa maior do-

cumentação da situação a qual fomos lançados.

A Casa de Detenção, é a Universidade

para aqueles que por motivos diversos,

não puderam freqüentar escolas tradicio-

nais. E, por questão de sobrevivência.

munidos de coragem, se põe contra

este estado de coisas: O desemprego,

o sub-emprego e a violência por parte

dos policiais à nossas famílias. É a con-

testação de todos os valores estabele- cidos pelos dominantes.

Ao ler a "História", numa prisão,

podemos fazer certas comparações, tais

como: A "Descoberta do Brasil" a "Co-

lonização da África" e o resto do 3P

Mundo, nada mais foi, que, um assalto

à mão armada {artigo 157 do nosso

código penal seguido de seus parágra- fos); raptos (tráfico de escravos), la-

trocínios (matar para roubar), estrupos,

etc. Só que seus autores nunca foram

julgados, condenados ou pura e simples- mente acusados de seus crimes.

Atualizando a situação, podemos di-

zer, que toda a sociedade branca brasi-

leira, esta' por demais comprometida

por esses crimes. As chamadas "Famí-

lias Tradicionais", nada mais são, que

descendentes diretos desses assassinos.

E as riquezas que suas "oposições"

reivindicam nada mais são que os frutos

do sangue e suor de nossos ancestrais e

da exploração das propriedades dos

"índios Brasileiros" (que esses nos

perdoem, por não sabermos como se

auto-denominavam).

A Caracterização política de nossa

condição, se dá no fato de que, a gente

enquanto raça negra, marginalizada, cons- tatamos a triste realidade de que, após

quase 500 anos, ainda nos vemos con-

denados por crimes que não cometemos.

Crimes gerados pela pretensão do homem

branco, que se propôs a transformar o Mundo . . . E falhou!

CENTRO DE LUTA NETOS DE ZUMBI

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foto da mamfestaqao de 01/01/7Q

No dia 7 de julho de 1978, era lan-

çado publicamente o Movimento Negro

Unificado nas escadarias do Teatro

Municipal num Ato Público Contra o

Racismo, em protesto à discriminação

racial sofrida por quatro garotos do

time infantil de voleibol do Clube de

Regatas Tietê, e às violências policiais

que mataram Robson Silveira da Luz e

Newton Lourenço, Participaram dessa manifestação mais

de 2.000 pessoas, em sua maioria negras,

e foi por nós considerado um dos passos

mais importantes executados pelo MO-

VIMENTO NEGRO COMO UM TODO,

pois a partir dessa data foi dado uma nova

dinâmica à nossa luta. Esse dia foi transformado pelo MNU

em DIA NACIONAL DE LUTA CON-

TRA O RACISMO, dia em que são rea-

lizadas manifestações em vários estados

do país, onde o MNU possui suas bases.

Em meados de maio de 1978, a po-

pulação negra encontrava-se revoltada

em face da discriminação sofrida pelos

quatro garotos, mas não havia nenhuma

organização para canalizar essa revolta

e transformá-la em forma organizada de

luta. No dia 18 de junho vários grupos e

entidades se reuniram na sede do Centro

de Cultura e Arte Negra e fundaram o

Movimento Negro Unificado. Nessa reu-

nião decidiu-se lancá-lo publicamente no

dia 7 de julho com um Ato Público

Contra o Racismo. Nesse Ato Público

foi distribuído um manifesto, que con-

clamava a população negra a se organizar

para fazer frente ao racismo que margi-

naliza o negro atirando-o no desemprego, no subemprego e marginalidade, trazendo

graves conseqüências para a população

negra e para a sociedade como um todo.

Esse manifesto era assinado pelo Grupo

Afro-Latino América, Grupo Decisão do

Centro de Cultura e Arte Negra, Brasil

Jovem, Instituto Brasileiro1 de Estudos

Africanistas! BE A, Associação Cristã Bra-

sileira de Beneficiência-ACBB, Grupo de

Artista Negros e Grupo de Atletas Negros.

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O que mudou

Durante esses três anos a questão

racial vem sendo amplamente discutida, levantando polêmica em todos os setores

da vida nacional. Várias manifestações

públicas foram realizadas em São Paulo,

Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. Muitas discussões

ocorreram em todo o território nacional,

e todas as organizações políticas do país,

hoje, tem que ter um posicionamento

sobre a questão racial.

Em São Paulo surgiu uma Infinidade

de grupos, tanto na capital como no

interior do estado, e mesmo que estes

grupos não estejam no MNU, propostas

fundamentais colocadas pelo MNU estão

sendo levadas a frente de forma comum.

Todos os partidos são obrigados a

traçar uma política, tanto os legais (Parti-

do dos Trabalhadores-PT, Partido do

Movimento Democrático Brasileiro—

PMDB, Partido Democrático Trabalhista-

PDT, Partido Popular-PP, Partido Demo-

crático Social—PDS) como os semi-legais

(Convergência Socialista-CS, Organiza-

ção Socialista Internacionalista—OSI, Par-

tido Comunista do Brasil PC do B , Par-

tido Comunista Brasileiro—PCB e etc.)

pois é uma discussão que se encontra na

ordem do dia exigindo uma solução. Não

é mais possível escamotear um problema

que oprime a maioria da população bra-

sileira, e atinge a sociedade como um todo.

Como fruto das nossas pressões impor-

tantes transformações vem ocorrendo,

hoje, na sociedade brasileira, seja através

de setores que querem capitalizar em

cima do negro, ou setores que pretendem

desmobilizar a população negra.

Em Maceió-AL, está em criação o

Parque Histórico Nacional Zumbi, envol-

vendo vários interesses; turístico (gover-

no), acadêmico (Reitor e professores) e

pol ítico (entidades negras). A Sociedade Brasileira Para o Pro-

gresso da Ciência-SBPC, terá como um

dos tópicos esse ano a situação do negro, refletindo mobilizações realizadas

nos Encontros anteriores exigindo um

posicionamento mais objetivo da área

acadêmica, que não ficasse apenas nc

estudo, e um ponto bastante significativc

é que a SBPC, será realizada num estado

que tem um contingente populacional

de ± 70% dos negros. Em São Paulo, a União das Escolas

de Samba Paulistanas, vêm gradativa-

mente tomando o carnaval das mãos da

Paulistur, em Salvador-BA, o Movimento

Negro Unificado vem tendo cada vez

maior influência na ação dos Blocos e Afoxés.

Em todo o país surgem novos grupos

e entidades em defesa das reivindicações

da população negra, e já começam a surgir

grupos organizados de negros em catego-

rias importantes como bancários, metalúr-

gicos e no funcionalismo público.

Entendemos o momento como funda-

mental para a consolidação do Movimen-

to Negro, pois a luta contra o desemprego

que já começa a se esboçar de uma forma

mais firme, com os exemplos dados pelas

greves da Volks de São Bernardo do

Campo e da Fiat do Rio de Janeiro, e

com a passeata de duas mil pessoas em

São Paulo, no dia 13 de Maio.

As duas greves e a manifestação

ocorreram num momento de aparente

desmobilização, surpreendendo a todos e

mostrando que vivemos um novo momen-

to, apesar das tentativas de repressão

através das várias formas que nós, inclu-

sive, já conhecemos e estamos aprenden- do a superá-las.

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BOB MARLEY MORREU, VIVA SUA MÚSICA

Robert Nesta (Bob) Marley, mestiço jamaicano, nasceu no dia 6 de abril de 1945, na cidade de Rhoden Hall; seu pai era capitão do exército inglês e sua mãe ja- maicana. Marley, que morreu no dia 11 de maio último, vítima de um câncer no cérebro, tornou-se conhecido e apreciado no mundo inteiro como cantor e compositor de reggae, gênero musical surgi- do na Jamaica, no inicio da década de 60.

A atividade pol ítica sempre

esteve no centro das preo- cupações de Bob Marley, seus pronunciamentos políti- cos e seu apoio ao governo do primeiro ministro "socialista" da Jamaica, Michel Manley, valeram-lhe um atentado em 1976. Na música de Marley ressoa o g^ito de um povo oprimido pelo colonialismo e pelo imperialismo, seu canto, suas letras denunciam a miséria, a injustiça social, o racismo e pregam a união dos negros de todo o planeta con- tra o "demônio capitalista".

Adepto da seita dos rastafarians, que se dizem herdeiros negros dos hebreus, "os ver- dadeiros israelitas", que abominam o álcool, fumam maconha habitualmente adoram Hailé Selassié, Marley chamava os EUA e toda a sociedade capitalista de "Babylonia", um sistema que deve serxlestruido por uma revolução de cunho naturalista e socialista. Os "rasta", que foram perseguidos durante décadas na Jamaica, acham que o negro deve dominar o mundo e preparam desde já a vinda do Millenarium, que será caracterizado pelo desabamento da hierarquia atual das raças. O Ras Tafari, ou seja, Haillé Selassié, Rei dos Reis e Imperador da Abissinia, com o qual os Jamaicanos não têm qualquer relação, foi escolhido pelo anjos para ser o novo messias desse Millenarium; ele é in- vencível, sendo o único a poder controlar a bomba atômica, os "rasta" evocam, até certo ponto, o sonho pan-africanista de Marcus Garvey (1).

(1) Marcus Garvey nasceu na Jamaica, em 1885. Após a primeira guerra mundial, Garvey iniciou um movimento popular entre os negros americanos: apoiado pelos negros do Harlem, que empolgava com seus discursos, fundou a Universal Negro Improvement Association (Associação Universal para a Emancipação dos Negros) - UNIA, com a es- perança de unir todos os negros em um só povo. A idéia central e fundamental de Garvey era nacionalista: reconduzir os negros americanos à terra-msc, à Áfrkia.

O reggae surgiu como uma evolução ou jozz jamaicano, que se chamava Ska, e do Rock Stead, dos quais se distingue por ser uma forma de música que fala diretamente das condições sociais, da pobreza, do povo; o reggae surgiu em um período durante o qual o povo jamaicano tentava desenvolver suas próprias instituições, após a inde- pendência, em 1962. Bob Marley descobriu o batuque singular da Jamaica que, por ser uma ilha pequena e industrializada, gerou uma música com um nível industrial.

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música elétrica, rock'n roll. 0 reggae é música negra radical, em "Slave Driver", Marley

diz — "Toda vez que ouço um chicote, meu sangue esfria; lembro o navio negreiro,

como brutalizaram minha alma; as mesas viraram, vocês vão se queimar". Sua obra é

um grito de liberdade que ecoará através dos tempos".

Trotsky, analisando o movimento de Garvey, dizia que os negros americanos, ao

aderirem á liderança de Garvey, não queriam, na verdade, ir para a África. Isso era para

eles, na realidade, a expressão de um desejo místico de ter um país que fosse deles,

dentro do qual eles seriam libertos da dominação dos brancos, dentro do qual eles po-

deriam tomar nas suas mãos o seu próprio destino. Era a sua maneira de aspirar à au-

todeterminação. Acho que o mesmo raciocínio se aplica, com as devidas adaptações,

ao "rasta" da Jamaica.

ATIVIDADES & DIVERSOS

FECONEZU em Campinas

Vem sendo realizadas em Campinas

reuniões preparatórias do Festival Co-

munitário Negro Zumbi, que este ano terá

como sede esta cidade. Até o momento

foi elaborado um ante-projeto, o qual

foi enviado à Prefeitura Municipal da cida-

de e a diversas entidades locais com a fi- nalidade de buscar apoio para a promo-

ção do evento. Este é o IV FECONEZU, os anteriores realizaram-se em Araraquara

em 1978, Ribeirão Preto em 1979 e em

São Carlos em 1980.

O Feconezu tem como objetivo a

arte, os valores a história e promover a

confraternização da comunidade negra nacional.

FESTA em Carapicuíba

T região, zonas suburbanas de São Paulo.

O programa de lançamento realizou-se

no Centro Comunitátio da COHAB, e

contou com a presença de pessoas e enti-

dades representativas do município. Pro-

gramação: Recital do Poeta Negro Apare-

cido Tadeu dos Santos. Filme "Pretos e

Pardos". Apresentação do Grupo de Ca-

poeira Conceição da Praia. Apresenta-

ção do Luanda Brasil Dança, da COHAB.

O Centro Afro-Brasileiro André Re-

bouças já está integrado no Movimento de Defesa do Menor.

Dia 19 de julho o Centro Afro-Bra-

sileiro André Rebouças irá comemorar

o 39 aniversário do Movimento Negro

Unificado, com nova programação no

Centro Comunitário da COHAB.

O MOAN — do Amazonas Festeja Ani-

versário.

Dia 10 de Maio, foi lançado o Centro

Afro-Brasileiro André Rebouças. É mais

uma entidade negra para lutar em defesa

das reivindicações da população negra,

na região oeste. Carapicuíba, Osasco,

Barueri, e outras pequenas cidades da

O Movimento Alma Negra—MOAN, co-

memorou no dia 09/5/81, seu 19 ani-

versário com Capoeira, Maculelê, Cam-

domblé. Samba de Roda, Afoxé e um

debate sobre o tema Isolamento do

Negro do Contexto Social.

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I ENCONTRO REGIONAL DA MULHER NEGRA

IZl

O I Encontro Regional da Mulher Negra a realizar-se no próximo semestre, partiu da

proposta do Grupo de Mulheres Negras do MNU de aprofundar as discussões sobre os

problemas específicos da mulher e sua preparação para uma maior participação nas lutas

gerais. Torna-se urgente uma maior discussão sobre a constante violência a que as mulheres

são diariamente submetidas. Podemos citar alguns exemplos: a violência que as confina

profissionalmente a exercer funções tais como serviçal, faxineira, etc. . .. Entendemos

que a partir do momento que só tem esta opção profissional, ela torna-se um reflexo

da escravidão, visto que além de ser mão de obra barata, não trabalham em funções

diferentes das da casa grande. Além disso, as mulheres são agredidas quando sentem que a cor da sua pele, impede

que obtenham uma colocação. A violência cultural se abate sobre nós quando observa-

mos que os meios de comunicação a promovem como "Mulata Exportação" (certos

setores, chegaram a criar o dia da Mulata:) (utilizando-se do chavão, de que a mulata é o

genuíno produto brasileiro para a prostituição. Utilizadas como objeto sexual nos anún-

cios, novelas e propagandas em geral, está violência cultural existe, de certa forma, com a

conivência de todos os setores da sociedade. As mulheres negras sofrem estas violências específicas, enquanto membros de uma

raça oprimida e sofrem também a violência comum a todas as mulheres, independente

de raça. A violência da opressão que tenta colocá-las em posição de inferioridade diante

do homem. Isto as força a uma constante luta, para conquistar seus direito de igualdade,

de participação na luta, lado a lado com o homem, em todos os setores como seres hu-

manos; iguais que se completam. Estas e outras questões precisam ser discutidas pelo I Encontro da Mulher Negra. E

necessário que nos mobilizemos em função de que, o maior número possível de mulheres

negras participem deste encontro. Para tal contamos com a ajuda das Entidades Negras

da Comunidade na organização e preparação do nosso I Encontro Regional.

Envie sua carta para o Movimento Negro Unificado, à R. Almirante Marques Leão,

518 Cep 01330-SP, confirmando sua participação na organização do I ENCONTRO DA

MULHER NEGRA.

Lenny de Oliveira

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SENHOR DO OBALUAE

Senhor do Obaluaê, santo que é o

dono da cura, porque foi o Orixá que,

após ter sido curado recebeu o Axé da

cura (dom), e de reconhecer as folhas

que curavam determinadas doenças

Abriu na sua aldeia um hospital. A doença do senhor do Obaluaê,

cobria seu corpo de chagas e pesava. No

Candomblé não usamos o termo fedido para as coisas em putrefação e sim

"pesado", pois o sentimento de repulsa por coisas deteriorada ofende o Santo.

O principal motivo que levou o Sr.

do Obaluaê a ser o primeiro Santo a ter

sua história (Fundamento) contada nesta

coluna, consiste no fato de que ELE foi

o primeiro Orixá a iniciar o TOQUE.

Se chama toque, no ritual do Can-

domblé a festa em que os Orixás são

envocados para receber seus respectivos

RUM (suas cantigas). Diz a lenda que na época dos Orixás

os chefes das Aruandas (aldeias) desen-

volviam a dança, mas não com fins reli-

giosos. O Sr. do Obaluaê foi o primeiro

a convocá-los. OGUM foi o primeiro

Orixá a comparecer, os outros o sucede-

ram. A história do Sr. do Obaluaê, é que,

nascido de NANA BUROKÉ, foi por

ela desprezado. Sendo ELA uma Rainha,

não concebia o fato de ter seu filho

o corpo coberto de chagas. Obaluaê era por todos desprezado.

Todos o hostilizavam, e para não ser

molestado refugiava-se na ISSABA (mato)

Até o cachorro quando se aproxima-

va para lamber-lhe suas chagas, era

visto com desconfiança. Devido insistir tornou-se seu fiel amigo, tornando-se

no fundamento um de seus bichos.

I EM AN JÁ, foi a Santa que se propôs

a cuidar DELE, e o adotou. Para lo-

caüzá-lo em suas fugas, lemanjá criou

unia ferramenta chamada Paixoró, que

preservamos no Candomblé. E um fio

tnnçado de palha da costa e um guiso de metal, que usamos nas obrigações

no tornozelo. Para chama Io ao AJEUM

(comida), foi criado por ELA o Adjá.

Com banhos de ervas e rezas, ELA o

curou, já adulto. A festa anual do Sr. do Obaluaê, é

chamada de Orubagé e, é festejada em

agosto. O Sr. do Obaluaê, na cura, leva este

nome, e tem fundamento na issaba,

quando como OMULU, é o guardião do

campo Santo (cemitério) e dono da

matéria. Seu dia na semana é segunda-feira.

NENINHO DO OBALUAÊ

IMPRENSA NEGRA Livros Revistas

Leia, assine e divulgue Revista do Movimento Negro Unificado Endereço: Rua Almirante Marques Leão,

518 - Bela Vista SP-Capital

Jornal Tição Endereço: Rua Domingos Crescêncio,

408/101 Porto- Alegre

JORNEGRO Endereço: Rua Maria José, 450

Vista SP.

DERÉ BÔ Endereço: Rua Tibiriçá,

Pequena 61

Bela

Ponte

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NACIONAIS

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Reginaldo Bispo Pereira é 19 Secretário da Assuc-Associação de Servidores da Univer-

sidade Estadual de Campinas, além de membro da Comissão Executiva Nacional do Mo-

vimento Negro Unificado, e há 4 anos vem participando nas lutas dos servidores daquela

universidade. A Revista do MNU entrevistou-o sobre as condições de trabalho dos servi-

vidores públicos em geral, sobre a

greve de três dias (3, 4 e 5 de

junho) dos funcionários da Uni-

camp, sobre a situação dos negros

no serviço público, o desemprego,

a greve dos trabalhadores da Fiat

e sobre a proposta de Greve Geral

de Luis Inácio da Silva, o LULA.

MNU - Quais as razões da greve

de três dias dos funcionários da

UNICAMP, e o que ela tem de

comum com a reivindicação dos

funcionários públicos do Estado

de São Paulo. Hoje? Reginaldo - O Estado é o pior

empregador que existe: pratica-

mente não respeita os direitos

trabalhista de ninguém. A imensa

maioria dos funcionários são con-

tratados pela CLT—Consolidação

das Leis Trjbalhistas e no entan-

to não têm o direito a sindicali-

zação, a negociar nossos reajus-

tes através de dissídios coletivos;

nossos reajustes salarías não são

calculados com base no INPC—

índice Nacional de Preços ao Consumidor negociados entre os Reginaldo numa assembléia sindicatos e os patrões; não temos durante O greve reajuste semestral como todas as outras categorias de trabalhadores, estamos sujeitos aos

percentuais ridículos e anuais concedidos segundo a conveniência do governador. O go-

verno não mantém creche para os filhos dos funcionários como garante a lei. As condições

de trabalho são ruins; os funcionários que trabalham sob condição insalubres ou com

risco de acidentes, na maioria não recebem adicionais. Não há equipamento de segurança.

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Na Unicamp por exemplo, não existe

sequer um ambulatório médico e uma

ambulância no Campus para em caso

de acidente atender a comunidade univer-

sitária (estudantes, professores e funcio-

nários), apesar de ser esta uma velha

reivindicação dos 3.500 funcionários.

Raramente um funcionário é promovido,

sem contar com a simpatia dos chefes,

ainda que tenha dez ou quinze, anos de

casa. Foram estas razões encabeçadas pela

reivindicação do pagamento integral

do reajuste salarial, que levaram os fun-

cionários da Unicamp, e quase, aos

funcionários do Hospital das Clínicas,

de SP à greve. MIMU — Você pode explicar-nos melhor

o que aconteceu com o pagamento do

reajuste salarial atrasado desde março.

Como foi isto? Reginaldo — Iniciamos nossa campanha

salarial em janeiro, na época reivindicá-

vamos 147,3% um percentual que repo-

ria nossas perdas salariais de março de 79

a março de 81. O governador acenou,

com índices escalonados de 70 a 1209?,

com índices maiores para salários meno-

res. Foi um balde de água fria, os fun-

cionários ficaram aguardando o melhor,

o que não aconteceu. O projeto com o

reajuste saiu em abril, quando a data

base é Io de março. Em maio recebemos

os salários reajustados em 70% apenas,

e a título de adiantamento, pois segundo

a administração da universidade, o paga-

mento total do reajuste dependia primei-

ramente de um decreto do governador

estendendo a lei do reajuste às autarquias,

o que ainda não tinha sido elaborado;

depois dependia de uma portaria do

reitor sobre acontagem ou não do tempo

de serviço, para efeito dos cálculos finais

do reajuste de cada funcionário.

PREPARAÇÃO E GREVE

Dezessete dias de preparação e três

dias de greve, arrancaram o decreto do

governador, a portaria do reitor, esta

última contando inclusive o tempo de

serviço em outras unidades públicas.

Conseguimos com que o reitor se com-

prometesse com todas as nossas reivin-

dicações e com os prazos por nós esta-

belecidos. O pagamento do reajuste

total num prazo de 30 dias, as demais

reivindicações num praso que vai até

60 dias. Foi um movimento vitorioso

que contou com a adesão de todos os

funcionários, numa demonstração que

fortaleceu politicamente a entidade dos

funcionários, a ASSUC.

MIMU — É verdade que no serviço público

há mais trabalhadores negros que brancos,

diferentemente das empresas privadas.

Qual o motivo disto que condições de

trabalho têm e que funções exercem?

Há racismo no serviço público como no mercado de trabalho em geral? Reginaldo Os negros no serviço público são um número considerável, mas não são maioria. Geralmente ocupam cargos subal- ternos, principalmente funções domésticas. São poucos os que ocupam cargos técni-

cos, de encarregados ou de chefia. Os

casos de direção, então, são raríssimos.

O Estado tem uma função básica em rela-

ção ao capitalismo: salvá-lo em momentos

de crise, injetando-lhe doses de ânimo;

por exemplo. Diante da crise econômica

o papel do estado é comprar mais, com-

prar qualquer coisa para incentivar a

produção e garantir o lucro dos capitalis-

tas; por outro lado cumpre o papel

nestes momentos de absorver uma parte

da mão de obra; o suficiente para que

não ocorra conflitos sociais. Dai sua

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política de remunerar ma! seus trabalha-

dores. A população neg-a, maioria do

povo historicamente desempregada, vê no

serviço público a única forma de obter

um emprego, considerando as sérias difi- culdades para serem admitidos no mer-

cado de trabalho por motivos exclusiva- mente racistas.

Então, recorre a um emprego público,

onde a concorrência é menor pelo fato

dos salários pagos pelo governo não serem

atrativos para os outros segmentos da

população, por outro lado, a comuni-

dade negra, ainda devido ao desemprego

crônico, sempre considerou o emprego

público como mais estável.

Quanto a racismo no critério de sele-

ção não tenho informações, pelo menos

desconheço denúncias, se ha está muito

bem "enrustido". Agora quanto ao ra-

cismo nas promoções, na rigorosidade

por parte dos chefes contra pessoas

negras, vale a lei da sociedade, é tudo

sutileza. Ninguém é racista — afirmam

eles. As punições, certos trabalhos, o

preterimento na hora das promoções.

Seriam mera coincidência, ou como

costumam afirmar os racistas — Seria

"devido a insubordinação e falta de

interesses dos negro"?. Sabemos muito

bem que a verdade não é esta.

GREVE GERAL E MOBILIZAÇÕES MASSIVAS

MNU — O que significou os 42 dias de

greve dos funcionários da Fiat-Diesel

na luta contra o desemprego? A greve

Geral, proposta pelo Lula em IP de

maio, o que significa hoje no movi-

mento dos trabalhadores?

Reginaldo — A greve dos trabalhadores

da Fiat do Rio de Janeiro, foi uma amos-

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tra viva de que os trabalhadores estão se

concientizando do seu papel na luta

contra o desemprego. A frase "é preferí-

vel ser grevista na fabrica, do que um

marginal nas ruas", é uma amostra desta

consciência. Foi uma greve política,

de resistência, derrotada sim, porém

serviu para demonstrar mais uma vez

a necessidade da solidariedade e orga-

nização dos trabalhadores, contra o

governo, os patrões e seu braço arma-

do, a polícia. Estes agiram unitaria-

mente para quebrar o movimento. É

neste sentido que a proposta de greve

geral foi lançada e aprovada no Encon-

tro de trabalhadores Contra a Estrutu-

ra Sindical, em julho de 1980, no Rio

de Janeiro, e hoje é defendida por um

grupo de sindicalistas inclusive o Lula

Trata-se da única forma de arrancar de

governo e dos patrões o congelamenu

dos preços de gêneros de primeira

necessidade, de medidas econômicís

de combate ao desemprego, à inflação,

além do fim das intervenções nos sin-

dicatos e extinção da Lei de Segurança

Nacional.

MNU — Quais as formas de mobilização

capazes de envolver nesta luta os setores

subempregados e desempregados?

Reginaldo — A greve geral bem como as

mobilizações públicas massivas são as ar-

mas de que dispõe a sociedade brasileira pa-

ra combater, hoje, a política recessiva do governo e o fantasma do desemprego.

0 sindicato patronal, a FIESP, fala em 2 milhões de trabalhadores desemprega-

dos só em São Paulo.

Qs trabalhadores empregados hoje,

serão desempregados amanhã. Por outro

lado, só a garantia de seu emprego pode

ser a forma efetiva de unificar a força

política com maior poder de pressão;

cont. pg. 28'

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INTERNACIONAIS

A QUESTÃO DA PALESTINA

/

populares procura

"Nada queremos fazer que possa

perturbar os judeus nos países árabes,

mesmos aqueles que estão estabelecidos

na Palestina. Não queremos expulsar

os judeus, mas estabelecer um Estado

palestino democrático e socialista, no

qual possam viver em harmonia cristãos,

mulçumanos e judeus.

A terra da Palestina é nossa. Somente

nós podemos construir o Estado palestino

independente que almejamos como asilo

pacífico para os fiéis das três grandes religiões" — Yassir Arafat.

A cidade de Kuneitra na Síria, funda-

da no século XVI, considerada a capital

da região de Golan, foi invadida pelas

tropas de Israel em 1967, na chamada

guerra dos seis dias. Foram tomadas

30 km de terra síria, na faixa fronteira

entre Síria e Israel.

Em 1973, após o armistício da 4?

guerra Árabe-lsraelense, quase todas as

casas foram dinamitadas. A igreja e o

hospital foram destruídos.

sobrevive nt es no

do LÍBANO.

Sul

Esse processo tem por finalidade,

não só eliminar a presença física, mas

a própria presença cultural do povo

palestino através da implantação do

Estado do Israel, baseado na ideologia

sionista criada por Theodoro Herzl.

De 29 a 31 de agosto de 1897, reali-

zou-se em Basiléia, na Suiça, o 19 Con-

gresso Sionista, organizado por Theodoro

Herzl, no qual participaram judeus de

diferentes partes do mundo. Este con-

gresso estabeleceu a Organização Sionista

Internacional e declarou ser o objetivo

do sionismo "o estabelecimento de uma

pátria pública e legalmente segura, na Palestina, para o povo judeu".

A Interferência do Imperialismo

Em 1917 a Palestina era um prote-

torado inglês, o Lord Balfour Ministro

das Relações Exteriores da Inglaterra,

tornou pública a Declaração Balfour,

que assegurava o apoio britânico para o

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estabelecimento de uma pátria para o

povo judeu. Na época dessa declaração

91% da população da Palestina era árabe-

muçulmanos e cristãos enquanto a

pequena minoria era formada de judeus,

9%, metade dos quais recentemente chegados.

Os árabes resistiram à imposição bri-

tânica e sionista, e adotaram programas

políticos exigindo a independência de

seu país. Fizeram demonstrações e

greves maciças. Essa resistência atingiu

seu climax em 1936. A primeira reação

britânica foi enviar 20.000 homens à

Palestina para reprimir a resistência

denominada da Rebelião Árabe.

Foi nomeada uma Comissão Real

liderada por Lord Peel para investigar

o problema na Palestina, essa comissão

recomendou a divisão da Palestina em

um estado árabe e um estado judeu. A

comissão destinou ao estado judeu

cerca de um terço da área total da Pales-

tina quando, na época a população judia

possuía apenas 5,6% da área total do

país.

Entre 1939 e 1947, os sionistas mu-

daram seus esforços diplomáticos de Londres para Washington D.C., buscan-

do o apoio dos Estados Unidos. Através

de planos ilegais, e sionismo aumentou

a imigração, até que em 1948, a po-

pulação judia na Palestina tinha alcança-

do 33% da população total e o comando

sionista declarou, aberta e formalmente,

numa conferência realizada nos Estados

Unidos, ser seu objetivo o estabeleci-

mento de um estado independente na

Palestina (Biltmore Program, 11 de maio

de 1942). Neste período aumentaram

gradativamente as ações terroristas do

sionismo contra os árabes da Palestina.

YASSIR ARAFAT Em 29 de novembro de 1947, os Es-

tados Unidos adotaram um plano de

partilha propondo dividir a Palestina,

concedendo 44% da terra à maioria

árabe e 56% da terra à minoria judaica,

com Jerusalém internacionalizada.

No mês de abril de 1948, foi colo-

cado em prática o Plano Sionista "D",

com a finalidade de apoderarem o maior

território possível dentro e fora das

áreas concedidas a eles pela Resolução

de Partilha das Nações Unidas antes do

término do Mandato Britânico sobre a

Palestina, e anterior à declaração do

estado sionista em 15 de maio de 1948.

Inúmeras aldeias foram atacadas, en-

tre elas Deir Yassim em 10 de abril de

1948, quando grupos sionistas aterrori-

zaram os árabes palestinos matando 254

homens, mulheres e crianças. Em 4 de

abril, Abdel Kader el-husseini, lider

da resistência palestina, foi assassinado

quando forças sionistas atacaram a aldeia

árabe de Al Qastal.

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No dia 14 de maio de 1948, Ben

Gurien declarou o estabelecimento do

estado sionista de Israel, na Palestina.

Houve guerra entre Israel e exércitos

dos estados árabes vizinho, ao final da

luta, o estado sionista tinha ocupado

78% da terra Palestina e deixado 750.000

árabes palestinos desabrigados. Os Esta-

dos Unidos reconheceram o Estado de Is-

rael 16 minutos após ele ter sido declarado.

Em 11 de maio de 1949, Israel foi

admitido nas Nações Unidas, sob con-

dição de observar a Resolução de Partilha

de 1947 e a Resolução 194 que exigia

a compensação dos refugiados árabes.

Israel nunca concordou com essas deci-

sões. Reuniu-se o primeiro Conselho Nacio-

nal Palestino, em Jerusalém, no dia 28

de maio de 1964, foi proclamada a

Organização Para Libertação da Palestina

e redigida a Carta Nacional Palestina.

As várias correntes políticos reunidas

numa frente única organizada empenha-

ram-se política e militarmente para a

libertação de seu país, das forças sionista.

Três anos após a formação da O.L.P.

Israel entrou em guerra com Egito,

Jordânia e Síria, ocupando a Margem

Ocidental da Jordânia, a Faixa de Gaza,

as Colinas de Golan e o Sinai. 410.000 novos palestinos refugiados,

abandonaram suas casas na Margem

Ocidental e Faixa de Gaza. O Conselho

de Segurança das Nações Unidas, em

novembro de 1967, publicou uma resolu-

ção exigindo a retirada de Israel desses

territórios ocupados, mas a intimação

não foi respeitada.

Foi adotado em abril de 1972, um pro-

grama político que visava criar num esta-

do democrático, leigo e não partidário, na

Palestina, deixando claro que os palesti-

nos não lutam contra os judeus enquan-

to povo, e sim contra a ideologia sionista

e a ocupação de seu território. Em outubro de 1973 nova guerra

árabe israelense, recuperando a Síria parte

da Colina de Golan, enquanto o Egito

também recuperou parte do Sinai. Em

dezembro de 1973. a Conferência de Paz

de Genebra foi aberta sob patrocínio dos

Estados Unidos e União. Soviética, e na

qual participaram, Israel, Egito e Jordâ-

nia. No ano seguinte à Guerra de Outubro,

os palestinos intensificaram sua atividade

diplomática. Em setembro, uma delega-

ção da O.L.P., teve sucesso em incluir

a "Questão da Palestina" na agenda da

Assembléia Geral das Nações Unidas, e no

mesmo mês 78 nações reconheceram a

Organização Para a Libertação da Pales-

tina como a única representante legí-

tima dos palestinos. 103 nações reconhe-

ceram-na como representante dos pales-

tinos.

No próximo número falaremos sobre as rela-

ções entre Israel e África do Sul. Mostraremos

como agem esses países, a serviço do imperia-

lismo, para barrarem o avanço das forças

progressistas no continente africano.

Milton Barbosa

assine a revista do

M.N.U. e divulgue - a

para os amigos

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LONDRES VAÍ EXPLODIR

"A High Brixton está parecendo-se

com um bueiro e os negros parecem-se

com ratos. Eles emergem das casas velhas

e maltratadas, sem aquecedor central,

sem a primavera de Londres e espalham- se pelas ruas. Trazem pedras nas mãos

e um sonho na cabeça; liberdade. Eles

enfrentam um velho inimigo: a polícia.

Eles combatem um monstro: o racismo.

E o mais incrível á que esta batalha foi ganha: policiais feridos são carregados

por maças ou caminham apoiados pelos

companheiros. Alguns choram, diante

de sua impotência para enfrentar um

bairro inteiro (mas Brixton não é apenas

um bairro, mas vários países. Aqui

existe um resumo da Jamaica, da índia,

de Granada, de Trinidad Tobago, da

África. Isto é um resumo de qualquer

país abaixo do Equador; um reflexo

direto do que existe naqueles campos de

concentração criados pelo colonialismo

europeu: Brixton é um resumo da miséria

dos homens). Não são todos os policiais

que vão se corrigir, a partir daqui. Alguns

vão ficar até mais violentos e tentar hu-

milhar mais os negros. Nós (por que eu

também sou negro) vamos ficar calados

até que possamos explodir em novas

revoltas e o sangue escorrendo pelo corpo

do exército inimigo será, ironicamente,

será a tinta que dará o tom vermelho

das rosas de nossa vitória. Os negros

estão correndo pelas ruas de Brixton,

com tijolos, pedras, garrafas, latas e

desafiando a polícia. Estamos treinando

para a revolução. . ."). Assim, um jorna-

lista descrevia Brixton, durante o motim de abril.

Brixton, para Meire Gonzagai, mili-

tante brasileira do Movimonto negro em

Londres, parece-se com a Brasilândia,

o Parque Peruche, Mauó, Vila Dalila.

Parece-se com qualquer bairro negro do

Brasil. Ali eviste um grande mercado,

onde pode-se comprar feijão, mandioca,

peixe, cosméticos para negros, televisão,

roupas africanas, livros sobre as histórias

dos negros; pentes afro. Os militantes do

movimento negro vão à Brixton para dis-

tribuir panfletos anti-racistas e visitar os

amigos. Toca-se muito soulfunk, ali;

toca-se samba, calipso, música religiosa

africana ou mesmo Rock. Brixton sem

seu mercado não seria a mesma. Eles

vendem comidas típicas de qualquer

país negro do mundo, até do Brasil.

À noite, os bares londrinos fecham às

11 horas. Não se serve mais bebidas, não

há mais músicas. Em Brixton, algumas ruas acendem suas luzes e os negros des- filam com suas boinas e casacos para

protegerem-se do frio e realçar o charme.

Das casas tocam música. Homens e

mulheres colocam-se nas janelas. E

conversa-se, das calçadas com pessoas no

segundo andar do sobrados. As vozes

saem altas enquanto os Blacks gingam os

seus corpos para os olhos de negras lindas.

Brixton não é Londres e o bairro cria

leis independentes.

Os bailes londrinos terminam às 2

horas da manhã. Os bares e os salões de

discoteque fecham no meio da noite.

E hora de descansar, segundo os ingle-

ses. Em Brixton, os bailes vão até as seis horas e ninguém se assusta com os

fumantes de ganja (maconha), assim

como os policiais ingleses que não se

assustam com os bêbados ingleses que

infestam o metro das 11: 30 horas.

Brixton é uma cidade negra dentro da

Inglaterra Branca, e por sto que ela

explodiu.

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BRIXTON, Depois MANCHESTER, BIRMINGHAM, NOTTIGHAN

Escreveu-nos Meire Gonzaga, durante a explosão de Brixton:

"— Um negro estava sentindo-se mal e caiu numa das ruas do bairro. Alguns amigos pediram aos policiais que os ajudassem a levar para o hospiral. Os policiais quiseram prendê-los e os amigos não aceitaram a injustiça. Houve violên- cia policial contra os três "brothers". Cansados de serem tratados como ani- mais, os moradores do bairro reagiram. Brixton explodiu e, sem dúvida, muito breve vai explodir Manchester, Birmin- ghatn, Nottinghan, o norte de Londres, assim como já explodiram, Bristol, Southall, Landbroke Grove e outros bairros e cidades. Um dia a Inglaterra ainda vai explodir e os negros vão dizer como devem ser tratados.. ."

(Na Inglaterra atual existem menos de 3 milhões de negros, para 60 milhões de brancos. Eles chegaram no país a partir de 56, quando o governo inglês estava recrutando trabalhadores no Caribe e na índia. Na época existia excesso de emprego, o que obrigava os patrões a pagar melhores salários: escolhia-se o patrão e não o contrário. Os negros, desorganizados eram obrigados a receber baixos salários. Hoje existe falta de em- pregos na Inglaterra: são 2.600.000 de desempregados (quase o mesmo número de negros) e o governo inglês quer manda- los todos de volta aos seus países, na base do usa quando precisa e joga fora quando quer. Os negros não aceitam e estão repetindo em suas manifestações a seguinte frase: "Nós estamos aqui para ficar".

E ficarão).

E LONDRES EXPLODIU

Escrevia-nos Meire Gonzaga logo após os levantes de 11 de abril em Brixton-"Londres vai explodir",llle Londres explodiu

Na sexta feira,dia 04, rei niciaram-se os choques entre ne" gros e imigrantes contra a polT cia em toda a Inglaterra, comi" çando pelo bairro londrino de Southall,após ataques dos Skins Heads(direitistas brancos de ca beca raspada),os negros enfentã ram a polícia com pedras garra- fas e bombas incendiirias. Nos dias que se seguiram os enfren- tamentos ocorreram em virios bairros de Londres,Liverpoo,Man chester,Birmingham,Wolver Hamp- ton,Preston Chester,Newcastle e em Hull.Após 13 dias de manifes tações,os confrontos já se ex tendiam por 11 distritos londrT nos,e por 30 localidades em to- do o país.

0 governo de Margareth Tha cher apenas fez ameaças negando se em admitir ou buscar solü ções para as reais causas das" manifestações;ameaça usar fuzis com balas de plástico e carros blindados equipados com jatos d'água para reprimir manifestan tes;cria tribunais especiai? i que passaram a operar em todo o '' país aplicando sentenças que j vão até 9 meses de prisão e mui tas de até Cr$ 90.000,00.

0 saldo dos 12 primeiros dias de manifestações foram de 1719 prisões e 518 policiais fe ridos. —

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ATLANTA: UM PROBLEMA LOCAL?

í í j : Hamilton Cardoso

Segundo a imprensa, internacional, já 1 íf:chegai-am a1 2é o numerei de'|ovens negros

aséaísinados èm!Atlanta:'"— õ Responsável i . peloscrimtísé;1 possivelmente üfn rrlahfa- ui t«oi" .MentèFaíTálvez ò èútor fcfoís crrfties x .;; possa ser enquadrado deMro'desta defini- s',, çã?; ftsresponsabilidades poréfnj,3âío:raafe T j^amplas. Vejamos a situa^aosatual de» ne-

gros nprte-americ.anos: emj^erjta^rjegjões do Suij os negros nãp, têm^ pp^tçs-.para,

" uMr; a ijnlsena é aí)so\ütp; no úftimoi ano 'J— ítiês de setenrrofo — os negrbs invadiram

3 ' oHospitâl Sydenhón dq Hàrlem!é criaram, iJiuma administração popular, Istò,'p6r£juè -G^-prefeitura'de Ndvá York bifá^oftaWífqf ' *'todos, osi serviços de aSsistênciasbcfalrse-1

-nguros .sociais, hosipitais, aposentadòrtãs| ^oCtc. v. ma íííOIUTTODO BoinamBJ

(Estaisitu^çãoc é, conseqüência da po|YtJri câ racista do governo, qpe apói os anos

'60, qüàrido,dá luta peJos direitos.civ.fs,. Ljatjw m. í'J IíTSOJ nojsaxi.n ■" nao se preocupou mais em respopdér as necessidades da comUnidácíè^nWgfá, e-pelo contrário desenvòlváii';úrría pòífticá de'

i violenta- repressão adsj movifnérttos ne- gros.- É verdade que ■foram vários e dife- rentes os governos norte-americanos, mas

i,,; nenhum, dei^ - apesan jdas discurseiras . em defesa dos direitos "humanos de Jrm- I my Carter-ficou .nçarcaplp^pçjflualquer

concessão que fosse à.comunidade negra. .' Hoje, 'o atual governo norte-americano "' está ma'fcádo, fíaõ' 'por defesa de direitos

civis ou de combate aó racismo, mas por tima propaganda pat^ioteii-ae nacionalista que visa erguer a moral de todos; os defen- sores da ideologia de grandeía moral, mi- litar, econômica e> facial-dos Estados' Unidos. Reagan, outro diai convocou to- dos os marinheiros dos Estados Unidos a esquecerem-se da Síndrome do Vietnã e reconstruírem a grandeza militar dos EUA da América do Norte.

■)■ "■ ')■; , -.^ í;- ■. i , ■..

[oq e.Jc1 '-) ?.so*'nq 9 ROÍ5Í"f

i3T23Hai/lAM JloqsQ .MOTXSfia MAHOITTOM ,MAHai/IIIVIH4a

O PROBLEMA É INTERNACIONAL .KiB-.üb ,B(7!.iS<!oO 9<ií)W íon-li9V913í3

A questão porém; mãtf fica-ãpénasi na esíera dos Estados:»Unid(?s. E muito me- nos os assaçsma.tos^, de negrqs PCM; motivos raciais são específicos de Atlanta.3;^[ii Conecticüt (EÜÂ), ainda, no passàao. a Klu-Klux-Clan realizou várias manifesta- ções coritra2"á "òòmunidadé negra. É nao eram pacífitíás, as maffifestáçSeí d^fxáVârh vftidàs. Morttíè ferido^' éaintlá â^desifrcJ- ralização dôntr©da comünidáde:'n!égfá.sA polícia assistia Impassível. Impassível, co- mo o governo, i „: , txiia

, Ao mesmo tempo, o proWema da.vio- lencia racial Cfesce em todo^VhdOíjhl? FranÇia, na^r^^lat^rja, nc^ Cajib^j na^fX- ca jdo Syl. |v5enjpr| ^s gpyernosi^^nç^ destes países, qu aipda ps^aovernbs negrqs lacaios,, impassíveis diante, do racisrçio e atfvos ná defesa do poder branco, Em ju- nho de 1980, no WÍ3c,1â?gô?eí;no negro tife Fbrbes^Bdfrihâmf dà^Úwána cbtofcou uma bomba no aiitomèvéPrde,TV\fel^ Rodney. Rodney era dirigente riégrb 'dâ Aliança dos 'Trabalhadores ■da Guianai Anti-.naçista. • Forbes Burnham pode se» considerado um dos. aliados, dos Estados Unidos ç,ln8la|e.p.t,^ frança, ^,1^^ lhadores,negros imigrantes, qug vêmrdp Caribei étri busca de^trabalho^ sgo oeKe: guldos pela polícia. Sem documento de trabalho^' tâó' presos, no metrô, há^ ruas. em qüal^tièr lòcat. Existe atí^a^Guairtiá^e Honra Francesa. Eles matam: negros'6 brancos anti-racistas.i A África do Sul é bastante conhecida. No último dia 16 de junho, foram comemoradas as rebeliões de. Sowetp com enfrentamento policial.- Enquanto isto as tropas sul-africanas es- tão na Namimbia e as forças policiais agredindo os trabalhadores, A imprensa brasileira, assini como a Internacional es- tão caladas diante destas mortes,

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O que tem marcado o cenário interna- cional é o surgimento de organizações co- mo a Guarda de Honra Francesa. Na In- glaterra, existe o National Front, nos Es- tados Unidos, a Klu-Klux-Clan. Todas es- tas organizações são como a Mão Branca brasileira, facistas, policiais, corruptos, loucos e políticos do poder branco, acima de tudo, que estão procurando se fortale- cer dentro da crise econômica internacio- nal. Eles tentam explicar a crise, como fruto direto da melhoria de condições de vida dos negros e outros povos coloniza- dos. Ronald Reagan, por exemplo, diz que os árabes, o povo de El Salvador, os cubanos, os angolanos, as lutas contra o apartheid, tudo o que significa progresso para os povos do mundo gerou crise. Mar- gareth Tatcher, na Inglaterra, diz que a presença dos negros atrapalha o desenvol- vimento econômico do país, quando na verdade, é que uns poucos burgueses, na maioria brancos, estão concentrando em suas mãos toda a riqueza da humanidade. Seja petróleo, seja alimentos, sejam as in- formações ou armas. Aos negros e outros oprimidos restam destinos como o das 26 vítimas de Atlanta, ou então a revolta. Então, os membros da imprensa, irrespon- sáveis, apesar de saberem que não há apenas um assassino em Atlanta — mas que os assassinatos, assim como os manía- cos estão espalhados pelos Estados Uni- dos —, preferem dizer que existe um ma- níaco na cidade. A comunidade negra de Atlanta sabe que esta não é a verdade. E está revoltada

osstne a revista do

M N U e divulgue-a

para os amigos

GRUPO NEGRO DE PORTO ALEGRE E CANABRAVA, denuncia:

A POLICIA É FORA DA LEI MAIS UMA VEZ

Nós, do Grupo de Negros de Porto Alegre e Canabrava, reunimos e dis- cutimos o problema da raça negra na família para o negro não ser desvalo- rizado e desrespeitado. Nós, do Grupo Negro de Porto Alegre e de Canabrava, revoltados com a prisão de duas crianças negras que foram hu- milhadas na cadeia de Porto Alegre pelo delegado Leopoldino. Publicamos isso no Boletim Alvorada para que todo mundo tome conheci- mento de que o filho do negro quando erra vai preso. Onde já se viu prender crianças nesses patrimônios? Porque são negras? Porque suas mães são raparigas? Porque acharam que não tinham ninguém por eles? Pois, é gente; além de todas as denúncias que temos feito dos desmandos dessa polícia, agora mais essa: prender crianças de 8 e 11 anos ! ! ! ! !

Extraído do Boletim da Prelazia de São Felix do Araguaia-Mato Grosso.

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CARTAS

B O B MARLEY

No dia 15 de maio último» morria em Mi ami, Bob Marley, nascido na Jamaica, ilha nas Antilhas ou Caribe. Esta pequena ilha, foi ponto estratégico dos mercadores de es- cravos(prinieiro posto de armazenagem de ne- gros nas Américas). Assim, esta ilha rece- beu diversas culturas e costumes de povos a fricanos. No entanto, a mais marcante foi a infléncia dos negros da Etiópia, que culti- varam naquele solo toda sua herança cultu ral; suas musicas, danças, batuques, costu- mes e religião. Introduziram na cultura ja- maicana, uma nova conceituaçao sociológica, através da seita Rastafária, e do Calípso, influenciador do reggae.

A primeira vez que vi Marley, em um es pecíal da BBC de Londres, pareceu-me que jlT o conhecia pessoalmente. Ali no vídeo, esta va uma imagem diferente, renovadora, sim- ples e objetiva. Consegui mexer com a minha cabeça.

Sua música envolvente, tinha uma melo- dia... bem a "sabor de mélV ritmo forte e marcante, que se dividia em dois compassos. A armônia era "geral'.' Mais "geral" ainda e- ra aquele negro de característica mística , movimentos livres, eletrizantes e rebelde, trazendo consigo toda uma herança afro-jama icana, que se propagou pelo mundo inteiro.

Bob Marley era uma figura controverti- da, protestava com seu reggae, cantava o a- mor e a paz, reinvidicava condições mais hu manas para o povo, pregava a tolerância do homem com a natureza, e lutava contra o pré conceito racial.

Marley passou quatro anos sob ameaça de ser assassinado, infelizmente, morreu de forma igualmente brusca.

Hoje, nos resta apenas a sua imagem e seu espirito, que será cultivado por toda sociedade alternativa de nosso planeta.

Marley sempre dizia: "Jamais pretendo ser estrela, as estrelas não dizem nada'.'

Alceu José Estevan-Campinas

FóKu do S.P, Í6.0/.81

Movimento ne^ro promove protesto

llM"Vim('nlitN.(ir<)|!(iiiu-.n(.. (irg.JMl/(ni. iinivni .1 r.inlc um.i ■•lilMMMlMlla" IH'I(J liirll|ni.s li.' UmvcrMila.lf Kiil.-i..l (i.i H.1I11.. om l)mliii;i purii pioli'sl:ii- imi Ira o qut' fm vliarn.iifn il*' "nrn cia tmrjíiiesíi di» rtiaMI |i.it;> .1 quai 11 iK-fiiii, >< imltn, i\ nmlliri n HomiiNSCXUiil ii;i" ^ãl^ in.ii.s ifw nHTíisohletiisik-isliKlii

Apus n camliihüdii, 1» ma nKcslatiles Ifiain u srjUimtv

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■■Na clõm-la barnwsa ibi Brasil, i' nciíi". <> "i'"" '' miiIlH-i, 11 lnini»sM'<ntal, iiai.san mais IIII»' inrriis nt^etos ilc PS luilo

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continuação da pg. 20

a classe operária, a força o governo e os patrões com a arcarem com a crise que geraram. Quanto as formas de organiza- ção, entendo que a luta contra o desem- prego só pode ser efetiva e vitoriosa, se conseguir mobilizar todos os trabalha- dores empregados, subempregados e os desempregados. Os primeiros através de sindicatos e associações profissionais, sendo que estas entidades devem criar formas de organizar os trabalhadores da categoria recentemente desempre- gados. Por outro lado, os seguimentos subempregados e desempregados que perderam o vínculo com a categoria e que não possuem um organismo pró- prio, devem ser organizados pelos movi- mentos: Negro, da Mulher, pela igreja e pelas associações de bairro. Cabe aos partidos políticos respaldar e oroanizar de forma particular estes segmentos.

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