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LEGIBILIDADE DE UMUARAMA POR MEIO DOS ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS Caroline Salgueiro da Purificação Marques 1 Thaise Moser Teixeira 2 Thiago Morais de Castro 3 Fernanda Antonio Simões 4 Paulo Fernando Soares 5 RESUMO Cada cidade apresenta um desenho, que é formado a partir da configuração de sua morfologia, surgindo como produto das dinâmicas sociais repercutidas na produção do espaço urbano. Neste contexto, temos a morfologia urbana, que é a ciência que estuda as formas, estruturas e formações da cidade. A cidade é constituída por sua arquitetura e objetos que representam seu modo real de transformação da natureza, defendendo assim a tese de que a cidade é um artefato que cresce no tempo. A cidade de Umuarama foi projetada de acordo com as premissas projetuais da Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, tendo os espaços livre públicos como marcos fundamentais para a estruturação de sua malha urbana. O objetivo deste trabalho é proceder a uma percepção geral da paisagem urbana de Umuarama, por meio de registros fotográficos e análise morfo- topoceptiva, com base nos estudos de Kevin Lynch e nos espaços livres públicos desta cidade, identificados na pesquisa de opinião realizada anteriormente por Alexander Hülsmeyer. Esta análise é agrupada em cinco elementos que permitem a aproximação da relação pessoa/ambiente construído do Município no contexto geral. Apresenta-se análise da Praça Santos Dumont, configuradora do espaço urbano central de Umuarama, identificando os elementos descritos por Gordon Cullen. Com este estudo, verificou-se que a Praça Santos Dumont é a praça mais importante, fato este que é comprovado pela memória da população e por possuir um valor simbólico, muito mais pela sua localização que pelo seu projeto arquitetônico. Palavras-chave: Legibilidade urbana. Espaços livres públicos. Análise morfo-topoceptiva. 1 Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana- PEU, [email protected] 2 Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana PEU, [email protected] 3 Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana- PEU, [email protected] 4 Profª. Drª., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC, [email protected] 5 Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC, [email protected]

LEGIBILIDADE DE UMUARAMA POR MEIO DOS ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS

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LEGIBILIDADE DE UMUARAMA POR MEIO DOS ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS

Caroline Salgueiro da Purificação Marques 1

Thaise Moser Teixeira 2

Thiago Morais de Castro 3

Fernanda Antonio Simões 4

Paulo Fernando Soares 5

RESUMO Cada cidade apresenta um desenho, que é formado a partir da configuração de sua morfologia, surgindo como produto das dinâmicas sociais repercutidas na produção do espaço urbano. Neste contexto, temos a morfologia urbana, que é a ciência que estuda as formas, estruturas e formações da cidade. A cidade é constituída por sua arquitetura e objetos que representam seu modo real de transformação da natureza, defendendo assim a tese de que a cidade é um artefato que cresce no tempo. A cidade de Umuarama foi projetada de acordo com as premissas projetuais da Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, tendo os espaços livre públicos como marcos fundamentais para a estruturação de sua malha urbana. O objetivo deste trabalho é proceder a uma percepção geral da paisagem urbana de Umuarama, por meio de registros fotográficos e análise morfo-topoceptiva, com base nos estudos de Kevin Lynch e nos espaços livres públicos desta cidade, identificados na pesquisa de opinião realizada anteriormente por Alexander Hülsmeyer. Esta análise é agrupada em cinco elementos que permitem a aproximação da relação pessoa/ambiente construído do Município no contexto geral. Apresenta-se análise da Praça Santos Dumont, configuradora do espaço urbano central de Umuarama, identificando os elementos descritos por Gordon Cullen. Com este estudo, verificou-se que a Praça Santos Dumont é a praça mais importante, fato este que é comprovado pela memória da população e por possuir um valor simbólico, muito mais pela sua localização que pelo seu projeto arquitetônico. Palavras-chave: Legibilidade urbana. Espaços livres públicos. Análise morfo-topoceptiva.

1 Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-

PEU, [email protected] 2 Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana

PEU, [email protected] 3 Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-

PEU, [email protected] 4 Profª. Drª., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC,

[email protected] 5 Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC,

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1. INTRODUÇÃO

Os efeitos dos objetos físicos perceptíveis e das manifestações externas do espaço urbano são entendidos através das características dos diversos níveis cognitivos, e em princípio pelos ícones urbanos e arquitetônicos de uma cidade, como também pelos espaços livres públicos. Sendo uma organização espacial ou um objeto arquitetônico para entender o potencial informativo e comunicativo da cidade, compreender as múltiplas dimensões, tanto simbólica, humana, arquitetônica, ou urbana, o que caracteriza os elementos que completam a estruturação da linguagem da cidade.

Considera-se a necessidade do conhecimento da identidade e estrutura em nosso meio perceptivo e demonstrar a importância da imaginabilidade no complexo meio urbano, através do desenvolvimento de estudos de percepção do espaço urbano. O atributo de identidade permite conhecer uma praça como marco referencial diferenciado, distinguindo-a dos demais logradouros. A relação entre as praças com o seu entorno compõe a imagem, orientabilidade e legibilidade nas leituras das paisagens pela população com valores simbólicos, transformando em espaços reconhecíveis e representativos.

Nesse sentido, a percepção individual que se tem de uma determinada área ou lugar pode ser expressa por meio de “mapas mentais”. Estes são imagens que uma pessoa faz e transporta em seu sistema cognitivo, que representam uma ponte entre o espaço real e o espaço cultural (memória coletiva) construído com base no envolvimento de afetividade, orientabilidade e imaginabilidade, segundo Lynch (1998). Em 2004, Hülsmeyer realizou uma pesquisa de opinião com objetivo de apresentar quais praças compõem a memória coletiva da população em Umuarama-PR. A primeira identificada foi a Praça Santos Dumont, a qual é o objeto específico de estudo para este artigo.

Este trabalho busca um levantamento e análise morfo-topoceptiva baseado nos estudos de Kevin Lynch dos espaços livres públicos de Umuarama, identificados na pesquisa de opinião realizada anteriormente por Alexander Hülsmeyer. Esta análise é agrupada em cinco elementos que permitem a aproximação da relação pessoa/ambiente construído do Município no contexto geral.

A Praça Santos Dumont, configuradora do espaço urbano central de Umuarama, será analisada especificadamente, através do levantamento historiográfico, desde a sua fundação até os dias atuais, para conhecer-se melhor a própria história da cidade, fortalecendo tradições, valores e identidades, onde será contextualizada com o período histórico e social. O presente trabalho também identificou os elementos descritos por Gordon Cullen presentes na praça, além da sua importância na morfologia urbana da cidade. 2. A CIDADE DE UMUARAMA Os principais configuradores das paisagens urbanas são os ambientes construídos livres públicos, que permanecem sob a forma de praças, parques e jardins públicos, todos aptos as permanências e convívios sociais. A estrutura nos tecidos urbanos destes espaços é adquirida pelos logradouros, espaços destinados à circulação de veículos e pedestres.

Dentre estes espaços livres destaca-se a praça, por apresentar-se historicamente voltadas à sociabilidade, ao território de convergência e reunião máxima, às trocas culturais e comerciais, às práticas políticas e de manifestações festivas, aos ritos e ritualísticas, ao lugar propício ao lazer, expansão e desenvolvimento humano, e assim de irrefutável valor para a história e registro da memória urbana (SILVA, 2009).

O ambiente urbano deste estudo é a cidade de Umuarama é uma cidade situada na região Noroeste do Estado do Paraná. IPARDES (2008) descreve que o Município de Umuarama possui uma área total de 1.227,425 km² compreendido entre as seguintes coordenadas geográficas: latitude 23º 45' 59'' S e longitude 53º 19' 30'' W, a uma altitude média de 430 m.

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2.1 Formação Histórico-Morfológica

De acordo com seu plano geral de ocupação do norte do Paraná, a Companhia de Terras Norte do Paraná (que em 1951 passa a denominar-se Companhia Melhoramentos Norte do Paraná - CMNP) fundou uma rede de cidades, estendendo-se, no tempo e no espaço, de Londrina a Umuarama. A fundação dessas cidades era parte do empreendimento de colonização e venda de glebas destinadas, sobretudo, ao plantio de café (REGO et al., 2004).

Umuarama teve o seu início com a participação pioneira da ocupação indígena. A Prefeitura Municipal de Umuarama-PMU (2008) afirma que, em 1949, constatou-se na região da Serra dos Dourados, atualmente distrito de Umuarama, a presença de índios. Assim, a colonização do atual município de Umuarama deu-se a partir de 26 de junho de 1955.

De acordo com as afirmações de REGO et. al, (2004), Umuarama foi projetada em 1960 para ser mais uma urbanização às margens da ferrovia, embora a ferrovia não tenha jamais atingido a cidade. Com isto, os espaços urbanos ferroviários previstos no projeto original foram ocupados com outros fins. O que teria sido a linha férrea marca o traçado urbano, com trechos de vias serpenteando por um desenho eminentemente geométrico, onde se localiza a Avenida Ângelo Moreira da Fonseca. O que seria o pátio de manobras, uma área retangular central, foi ocupada por quadras loteadas, cujo traçado mal se ajusta à malha urbana precedente. Nesse ponto, ou seja, na imaginária saída da estação ferroviária, há uma praça circular e dela partem três avenidas. Curiosamente deslocada do eixo da avenida central, ao lado da praça circular Praça da Bíblia, diante da estação inexistente, há outra praça com formato idêntico e dimensão menor, onde se instalou a estação rodoviária. A Figura 1 apresenta o primeiro mapa da cidade de Umuarama, projetada pelo engenheiro Wladimir Babcov da CMNP.

Bosque Uirapuru

Figura 1 - Mapa de Umuarama - Espaços públicos e privados (sem escala)

Fonte: Adaptado de REGO, 2006.

Em cada uma das duas avenidas que partem diagonalmente da praça da estação se desenvolve o tema principal do traçado urbano central de Umuarama: dois asteriscos formados pelo encontro de oito vias. A Praça Santos Dumont, do octógono formado pelas quadras dispostas ao

Praça Miguel Rossafa

Portal da UNIPAR/ Igreja Matriz

Proposta da CMNP- Traçado da Ferrovia

Centro Cívico

Proposta da CMNP- Pátio de Manobras

Praça Arthur Thomas

Avenida Paraná

Praça Santos Dumont

Bosque Xetás

Praça da Bíblia/ Rodoviária/

Praça João Paulo VI/ Catedral

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redor de um desses asteriscos surgem às diretrizes para a constituição de vias e quadras na porção central e na região leste da cidade. Em certos cruzamentos de vias importantes, lotes menos regulares dão lugar a praças triangulares e circulares.

Silva et al (2007) afirmam que após as geadas de 1963, 1964 e 1966 e a política de erradicação do café, iniciou-se o êxodo rural, seguido pela atração populacional dos centros urbanos circundantes. E nos anos 70, em atendimento às demandas habitacionais urbanas, surgem os parcelamentos nas áreas correspondentes ao cinturão verde, principalmente, na região sudeste da zona urbana. As políticas públicas para habitação popular estimulam o surgimento de conjuntos habitacionais com baixa qualidade de infraestrutura. Isso resultou nas desestruturações da continuidade dos traçados desenvolvidos pelos engenheiros da CMNP, no início dos problemas sociais e da construção de casas nas periferias da cidade.

A partir da década de 90, o perfil da cidade muda devido à quantidade de cursos fornecidos pela Universidade Paranaense, onde as atividades começam a se desenvolver, como: desenvolvimento imobiliário, supermercados, restaurantes, prestadoras de serviço, casas noturnas, etc. (FERREIRA, 2005). E no setor da agricultura descobre-se, que o arenito Caiuá é ideal para cultivar soja e cana-de-açúcar. No entanto, a pecuária continua a ser predominante. 2.2 Pregnância das Praças

Hülsmeyer (2004, p. 216 a 220), realizou uma pesquisa de opinião, onde 311 pessoas foram entrevistadas no terminal urbano rodoviário, nos períodos da manhã e da tarde, com o objetivo de diagnosticar quais praças fazem parte da memória da população.

A Praça Santos Dumont foi a primeira classificada, sendo lembrada 95 vezes, totalizando 29,5% do total de entrevistados, seguida pela Praça Arthur Thomas com 14%. Seguem, respectivamente, as praças: Bíblia, Miguel Rossafa, Tamoio, 07 de Setembro, Xetás, Anchieta, Hênio Romagnoli, Brasília, Papa Paulo VI, Portugal e Castro Alves.

Esta pesquisa ainda avaliou se as praças contribuem para orientabilidade dos usuários e o que é mais importante se ter em uma praça. Como resultado a pesquisa obteve que 75% dos entrevistados avaliaram as praças como fator que contribui para a condução à legibilidade ou clareza (HÜLSMEYER, 2004). 3. ANÁLISE DOS ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS DE UMUARAMA-PR

Através da análise morfo-topoceptiva, segundo Santo (1995), revela-se o imaginário da cidade por seus signos contextuais (elementos de relação - significação, avaliação, preferências), e visuais (elementos de identidade visual). Revelam-se assim a cidade de Umuarama, preponderantemente, num processo de leitura e contextualização por meio dos espaços livres públicos e a localização dos edifícios históricos.

A principal conclusão de Lynch (1998) está baseada na psicologia comportamental, memória e significado. Os estudos influenciados por esse autor procuram responder a ideais qualitativos, tais como legibilidade, orientabilidade e identidade. É através da identificação dos elementos que as pessoas estruturam sua imagem da cidade, os quais podem ser agrupados em cinco grandes elementos: vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos, onde as vias e os cruzamentos são valorizados.

Essa percepção é feita aos poucos, já que é impossível apreender toda a cidade de uma só vez. Portanto, o tempo é um elemento essencial. Além disso, verificou-se que nada é experimentado individualmente, e sim em relação a seu entorno. Elementos semelhantes, porém localizados em contextos diferentes, adquirem significados também diferentes (LYNCH, 1998).

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Neste trabalho foi realizada a identificação e o levantamento em campo dos cinco elementos físicos de Kevin Lynch (1998) e a análise da área urbana em um contexto geral, a partir da identificação dos principais espaços livres públicos. O objetivo é proceder a uma percepção geral da paisagem urbana de Umuarama, com registro fotográfico, a Figura 2 apresenta a identificação destes elementos físicos no mapa da cidade. Nessa figura também é apresentada a localização dos principais edifícios históricos, os quais registram a história de Umuarama.

Figura 2 – Mapa do traçado inicial de Umuarama – identificação e análise das praças de

acordo com o autor Kevin Lynch Fonte: Adaptado de Prefeitura Municipal de Umuarama, 2008 e SILVA, 2009 no prelo.

A praça a ser estudada mais detalhadamente é a primeira identificada na pesquisa de

Hülsmeyer (2004), a Praça Santos Dumont, identificada na Figura acima pela letra A. Esta praça é

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conhecida como a “Praça dos bancos”, é um marco referencial no contexto geral da cidade e assim, contribui para a leitura da paisagem pela população.

Em todas as praças citadas, que funcionalmente são rotatórias, identificam-se os limites devido às dificuldades de acesso, principalmente na Praça Santos Dumont. A Avenida Paraná é a principal via da cidade e interliga as principais praças, como: Miguel Rossafa, Arthur Thomas, Santos Dumont e da Bíblia. Já a Avenida Castelo Branco, onde se localiza o Bosque Xetás, e a Avenida Ângelo Moreira da Fonseca são identificadas como vias secundárias, contribuindo à identidade urbana do Município. As Figuras 3 e 4 apresentam o registro fotográfico, de acordo com a ordem alfabética apresentada na Figura 2.

Figura 3 – Registro fotográfico das praças analisadas Fonte: Adaptado HULSMEYER, 2004; GOOGLE EARTH, 2007.

Figura 4 – Registro fotográfico das praças analisadas Fonte: Adaptado HULSMEYER, 2004; GOOGLE EARTH, 2007.

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Cada cidadão tem determinadas associações com partes da cidade, e a imagem que ele faz delas está impregnada de memórias e significados. Portanto, nem tudo pode ser generalizado, apesar da aparente “universalidade” dos 5 elementos identificados por Lynch.

As Praças Tamoio, 07 de Setembro, Xetás e Anchieta, são praças de bairro que possuem um importante papel de núcleos de bairros, aglomerando diversas atividades ao seu entorno (HULSMEYER, 2004).

Na maioria dos espaços públicos da cidade de Umuarama, embora as datas de implantação das praças sejam na sua maioria da década de 80, as premissas do movimento moderno tardaram a chegar e continuou-se a elaboração de projetos formalmente ecléticos. A esses projetos foram incorporados alguns elementos típicos da fase moderna, como por exemplo, lazer ativo; e elementos típicos da fase contemporânea como à implantação de comércio e serviços.

4. PRAÇA SANTOS DUMONT O projeto de Umuarama possui características diferentes, das outras cidades colonizadas pela CMNP, como Londrina e Maringá. O traçado urbano na parte central da cidade se caracterizou por ser radial concêntrico, com as vias principais em forma de raios, tendo a Praça Santos Dumont como central, configuradora da identidade urbana da cidade.

Dentro deste processo de planejamento que era comum às cidades nas terras da CTNP, além da determinação das áreas públicas, também a localização dos espaços livres, a sua hierarquia, fazia parte do repertório do projetista. Umuarama nasce, portanto, com seus espaços livres planejados, mas que se diluem em parte na sua implantação, e durante o processo de evolução, conforme se observa na Figura 5.

Figura 5 – Fotos históricas da Praça Santos Dumont

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4.1 Análise segundo Kevin Lynch Como as demais praças estudadas, a implantação da Praça Santos Dumont, como rotatória, nasceu no projeto original da cidade. Projetada em outubro de 1970 e inaugurada em 31 de janeiro de 1972, nascendo a atual configuração, Figura 6. Assim, passou a representar um ideal de modernidade defendido pelos conceitos da CMNP: é a maior praça da cidade e pode ser considerada patrimônio histórico, estando intrinsecamente relacionada à história da cidade, tendo sido palco de acontecimentos da cultura, da política e do civismo, o que marcou a memória da população ao longo das últimas décadas.

Figura 6 – Planta-baixa da Praça Santos Dumont (sem escala)

Identificada como ponto nodal sua característica principal está relacionada ao seu papel simbólico, decorrente de ser a praça mais importante e por estar localizada no centro financeiro e comercial da cidade, conhecida como a “Praça dos bancos”. Possui sua estrutura e forma tipicamente modernistas, através da configuração por planos bidimensionais, grandes áreas de estar, diferenças de nível (patamares) e uso do concreto de forma abundante.

A sua implantação em local com a declividade acentuada não reforça sua hierarquia quanto espaço público referencial no traçado urbano em planta-baixa. Os elementos principais identificados foram ponto nodal e marco, no encontro da Avenida Paraná (Via – elemento principal) e Avenida Castelo Branco (Via - elemento secundário).

O obelisco, localizado dentro do espelho dá água, possui pouca identidade com o imaginário da população local. Talvez até por falta de divulgação do seu simbolismo e significado, que pouquíssimos conhecem. Anteriormente, a edificação existente era utilizada como Biblioteca Municipal, que foi desativada pela falta de uso e pela dificuldade de acesso pelo grande e rápido

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fluxo de veículos ao redor da praça. Os bancos se integram ao projeto da praça, coincidindo com as muretas e muros de arrimo.

O obelisco geométrico central, identificado como marco, é constituído de quatro pilastras de altura variável, revestidas de chapas de aço inoxidável nas superfícies côncavas e concreto aparente, simbolizam “a riqueza, o desenvolvimento impetuoso e a pujança da jovem Umuarama” (A GAZETA DE UMUARAMA, 1972). 4.2 Análise segundo Gordon Cullen

A paisagem urbana é um conceito que exprime a arte de tornar coerente e organizado, visualmente, o emaranhado de edifícios, ruas e espaços que constituem o ambiente urbano. Tal concepção foi primeiramente formulada por Gordon Cullen (1971), em Paisagem Urbana, o qual este trabalho se orienta nessa etapa.

Cullen (1971) cita que a paisagem urbana pode ser apreendida e também suscitar reações emocionais, fato que se processa por meio de três aspectos: ótico (visão serial), local (reações despertando o sentido de localização) e conteúdo (identidade/ constituição da cidade). A proposta é analisar sob o aspecto local para uma leitura urbana da Praça Santos Dumont.

A Figura 7 apresenta uma visão panorâmica da praça a partir da Avenida Paraná, onde se percebe a obstrução total da visão da continuidade da Avenida, pelo desnível e vegetação.

Figura 7 - Vista panorâmica da praça a partir da Avenida Paraná Na Praça Santos Dumont podem-se identificar, segundo Cullen (1971), os seguintes

elementos: Associatividade – Através das oito avenidas e dos cruzamentos, sua função de rotatória e a

difícil localização no espaço e seu entorno; Complexidade – Característica marcante e presente no entorno da praça, é dada pela difícil

orientação devido à convergência de todas as ruas e avenidas em seu perímetro, pelo próprio traçado do espaço em uma área em desnível. O movimento de automóveis, de pessoas, a quantidade de comércio define a complexidade na Praça Santos Dumont;

Ponto focal – O obelisco localizado no espelho d’água é o símbolo vertical da convergência; Edifício barreira – A praça e a antiga biblioteca são identificadas como edifícios barreiras; Delimitação do espaço – O local é cercado por árvores e seu espaço físico é delimitado pela

presença e continuidade do meio-fio e desnível, o qual divide a praça em dois ambientes; Aqui e além – A visualização da posição do observador na parte inferior da praça dá

sensação de aqui e, devido ao desnível, a parte superior da praça dá a sensação de além; Desníveis - A praça é dividida em diferentes patamares; Estreitamento – A sensação é presente ao passar pelas grandes escadarias; Expectativa – A presença das escadarias nos desperta a sensação do desconhecido, a

expectativa de querer ver o que há além;

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Ligação e conexão – Os ambientes são interligados por meio das escadas, caminhos e a pavimentação;

Barreiras – As grandes áreas de estar em diferentes patamares e a presença dos muros de arrimo funcionam como barreiras nestes ambientes.

5. CONCLUSÃO

A paisagem urbana é um patrimônio. A preservação das atmosferas dos bairros e regiões, no entanto, depende dos cuidados sobre os espaços públicos, como as praças da cidade de Umuarama. Em uma primeira leitura da cidade a característica configuracional do espaço urbano é resultante das cognações estabelecidas entre o seu traçado e o sítio físico, onde a estruturação da malha urbana foi definida através da hierarquia dos espaços públicos e privados, livres ou edificados, de modo que o tecido urbano se formou basicamente através da sobreposição de uma malha ortogonal e diagonal, com a inserção de rotatórias interligando os principais eixos.

Os espaços livres públicos identificados segundo as abordagens de Kevin Lynch estão inseridos no traçado inicial da cidade, e correspondem com a malha viária principal estruturadora da localidade atualmente, a Avenida Paraná. Da mesma forma, o ponto focal, bem como a totalidade dos marcos referenciais citados situam-se junto a essa rede de caminhos principais, que expressam também momentos diferenciados do crescimento da cidade sob o aspecto da localidade e legibilidade da paisagem da cidade como um todo.

Quanto à localização, as praças nasceram planejadas, como fios na urdidura do tecido urbano, uma das premissas do traçado urbano desenvolvido pela CMNP. Isto lhes imprimia um potencial elementar como integrador das relações sociais no espaço urbano. Porém, as praças não sofreram originalmente tratamentos paisagísticos que possibilitassem a comparação das suas características com os projetos que viriam nos anos seguintes.

É importante destacar que os elementos da Imagem Urbana que permitiram uma leitura mais direta com a estrutura espacial são marcos e os pontos nodais, que mais diretamente vinculam-se, ao se constituírem em condicionantes e objetivo dos deslocamentos urbanos. Bairros, marcos referenciais e limites permitiram, porém, também algumas vinculações. No caso da Praça Santos Dumont, esta vinculação foi possível por ser a praça mais significante como referencial na malha urbana como na memória coletiva da população, além de possuir elementos arquitetônicos tipicamente modernistas.

A Praça Santos Dumont possui um valor simbólico muito mais pela sua localização que pelo seu projeto arquitetônico. É a praça mais importante de Umuarama, pois a sua história está intrinsecamente relacionada à história da própria cidade.

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